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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE METEOROLOGIA
ESTUDO DE UM SISTEMA CONVECTIVO DE MESOESCALA (SCM)
OBSERVADO NOS DIAS 19 E 20/02/2003
SOBRE O RIO GRANDE DO SUL
LUCIANA BARROS PINTO
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Pelotas, sob a orientação da Profª.
Dra. Cláudia Rejane Jacondino de Campos,
como parte das exigências do Programa de
Pós-Graduação em Meteorologia, para a
obtenção do título de Mestre em Ciências
(M.S.).
PELOTAS
Rio Grande do Sul - Brasil
Fevereiro de 2006
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ii
Dados de catalogação na fonte:
Ubirajara Buddin Cruz – CRB-10/901
Biblioteca de Ciência & Tecnologia - UFPel
P659e Pinto, Luciana Barros
Estudo de um sistema convectivo de mesoescala
(SCM) observado nos dias 19 e 20/02/2003 sobre o Rio
Grande do Sul / Luciana Barros Pinto ; orientador Claudia
Rejane Jacondino de Campos. – Pelotas, 2006. – 84f. –
Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em
Meteorologia. Faculdade de Meteorologia. Universidade
Federal de Pelotas. Pelotas, 2006.
1.Meteorologia. 2.Sistemas convectivos de
mesoescala. 3.Ciclo de vida. 4.Ambiente sinótico. 5.Perfil
vertical. I.Campos, Claudia Rejane Jacondino de. II.Título.
iii
No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque
ainda não chegou ao fim.
(Fernando Sabino)
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iv
Ao meu maior amor: minha família.
v
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a Deus e aos meus pais, José Raimundo Pinto Filho e Maria de
Fátima Barros Pinto, que sempre foram meus exemplos de pessoas honestas e
batalhadoras, pois sem o amor, incentivo, carinho e amizade deles, com certeza não
chegaria até aqui.
À minha orientadora professora Drª Cláudia Rejane Jacondino de Campos, que
desde a graduação me acompanha mostrando sempre o jeito mais claro de colocar
minhas idéias, e que para mim é mais que uma professora é uma amiga que levarei
para toda a vida.
Aos meus irmãos e amigos distantes pelo carinho e apoio.
À minha amiga Jeanine Falconi Acosta pela amizade de todos esses anos, pelas
longas horas de conversas e risadas que sempre me serviram de refúgio.
Aos meus amigos Taís Pegoraro Scaglioni, Mateus Santin e Marcelo Félix Alonso,
pela ajuda, paciência e amizade.
vi
Ao Dr. Daniel Vila que teve um papel fundamental na elaboração desse trabalho,
com a sua ajuda, disponibilidade e atenção.
Ao Celaniro Borges de Farias Junior, funcionário do curso de Pós-Graduação, que
sempre esteve pronto para ajudar.
À Universidade Federal de Pelotas pela oportunidade de realizar o curso de Pós-
Graduação em Meteorologia.
Aos professores do Curso de Pós-Graduação por ensinamentos.
À banca examinadora pelas sugestões valiosas para o aprimoramento deste
trabalho.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela
concessão da bolsa de estudos.
A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização desse
trabalho.
vii
RESUMO
PINTO, LUCIANA BARROS. MS., Universidade Federal de Pelotas, Fevereiro 2006.
Estudo de um Sistema Convectivo de Mesoescala (SCM) observado nos dias
19 e 20/02/2003 sobre o Rio Grande do Sul. Professora Orientadora: Drª. Cláudia
Rejane Jacondino de Campos.
Nesse trabalho, foi feito um estudo das características radiativas e morfológicas,
utilizando a técnica ForTrACC (Vila, 2004) e um estudo do ambiente sinótico e dos
perfis verticais de algumas variáveis, utilizando o modelo BRAMS, do caso de
Sistema Convectivo de Mesoescala (SCM) mais precipitante sobre o Rio Grande do
Sul, ocorrido entre novembro de 2002 a fevereiro de 2003. O caso selecionado foi o
do dia 19 e 20/02/2003, onde apenas um sistema foi o responsável pela precipitação
registrada nas estações meteorológicas em superfície. Esse teve o ciclo de vida de
23 horas, com início às 13 UTC do dia 19/02/03, maturação às 04 UTC e dissipação
às 11:30 UTC do dia 20/02/03. Durante todo esse período, apresentou topos frios
com núcleos com temperatura abaixo de 210 K. Ficou evidenciado também, que o
sistema teve um comportamento semelhante ao modelo conceitual, onde primeiro
viii
sofre uma forte convecção, atingindo valores menores de temperatura, para depois
se expandir no estágio de maturação. Pode-se concluir que a relação entre a
temperatura mínima sobre as estações que foram mais afetadas pelo sistema, e a
precipitação registrada em superfície foi inversa, com os maiores valores de
precipitação coincidindo com os menores valores de temperatura mínima. Pela
simulação feita com o modelo BRAMS, com saídas de 1 em 1 hora, pode-se detalhar
todo o ambiente sinótico onde o SCM encontrava-se durante seu ciclo de vida,
sendo capaz de reproduzir as condições favoráveis para sua iniciação,
desenvolvimento e dissipação. Também foi possível descrever o comportamento dos
perfis verticais do vento, umidade específica, velocidade vertical e temperatura
potencial equivalente, para cada etapa do ciclo de vida do sistema.
Palavras-chave: Sistemas convectivos de mesoescala, ciclo de vida, Ambiente
Sinótico, Perfil Vertical.
ix
ABSTRACT
PINTO, LUCIANA BARROS. MS., Federal University of Pelotas, February 2006.
Study of a Convective Mesoscale System (CMS) observed on 19 and 20 February
2003 on Rio Grande do Sul state. Guiding teacher: Drª. Cláudia Rejane Jacondino of
Campos.
In this work, it was made a study of a Convective Mesoscale System(CMS) more
precipitant on Rio Grande do Sul, occurred between November 2002 and February of
2003, where it was analyzed the: i) radioactive and morphologic characteristics the
CMS, using the technique ForTrACC (Torres, 2004) and ii) sinoptic environment and
vertical profiles of some meteorological variables, using BRAMS model. The selected
case occurred on 19 and 20 February 2003, where just one system was the
responsible for the precipitation registered in the meteorological stations in surface.
This CMS had a life cycle of 23 hours, with beginning at 13 UTC from 02/19/03,
maturation at 04 UTC from 02/20/03 and dissipation at 11:30 UTC from 02/20/03.
During that whole period, it presented cold tops with nuclei with temperature below
210 K. It was evidenced also, that the system had similar behavior to the conceptual
model, where first suffers a strong convection, reaching smaller values of
x
temperature, for later to expand in the maturation phase. It can be ended that the
relationship between the minimum temperature on the stations that were more
affected for the system, and the precipitation registered in surface was inverse, with
the higher precipitation values coinciding with the smallest values of minimum
temperature. For the simulation made with the BRAMS model, using an interval of
exits of 1 hour, could be detailed the whole synoptic environment where CMS was
during its life cycle, being able to reproduce the favorable conditions for its initiation,
development and dissipation. It was also possible to describe the behavior of the
vertical wind profiles, specific humidity, vertical speed and equivalent potential
temperature, for each stage of the system life cycle.
Key-word: Convective Mesoscale System, Life Cycle, Synoptic Environment,
Vertical Profile
xi
ÍNDICE
Páginas
RESUMO ----------------------------------------------------------------------------------------------- vii
LISTA DE FIGURAS ------------------------------------------------------------------------------- xiii
LISTA DE TABELAS--------------------------------------------------------------------------------xvi
INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------------1
ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E RADIATIVAS ---------- 16
INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------------- 16
MATERIAL E MÉTODOS-------------------------------------------------------------------------- 17
RESULTADOS E DISCUSSÃO -------------------------------------------------------------------- 19
AMBIENTE SINÓTICO E PERFIS VERTICAIS--------------------------------------------- 28
INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------------- 28
MATERIAL E MÉTODOS-------------------------------------------------------------------------- 30
RESULTADOS E DISCUSSÃO -------------------------------------------------------------------- 31
Ambiente de grande escala ---------------------------------------------------------------------- 31
xii
Perfis verticais------------------------------------------------------------------------------------- 43
CONCLUSÃO GERAL------------------------------------------------------------------------------ 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS------------------------------------------------------------ 50
ANEXOS------------------------------------------------------------------------------------------------ 57
ANEXO 1: CAMPOS, Cláudia Rejanejacondino de; PINTO, Luciana Barros. Análise das
características físicas e do ambiente sinótico de um SCM ocorrido sobre o Rio Grande do
Sul nos dias 19 e 20 de fevereiro de 2003. In: III CONGRESO CUBANO DE
METEOROLOGÍA, 2005, Havana. CD-ROM do III Congreso Cubano de Meteorología.
2005.--------------------------------------------------------------------------------------------------- 58
ANEXO 2: PINTO, Luciana Barros; CAMPOS, Cláudia Rejane Jacondino de. Análise do
impacto em superfície do Sistema Convectivode Mesoescala ocorrido no norte do Rio
Grande do Sul. In: XIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E VII ENCONTRO
DE PÓS-GRADUAÇÃO, 2005, Pelotas. CD-ROM do XIV Congresso de Iniciação
Científica e VII Encontro de Pós-Graduação. 2005. ------------------------------------------- 68
xiii
LISTA DE FIGURAS
Páginas
FIGURA 1 – Método de calculo da velocidade e direção de propagação do SC....................13
FIGURA 2 – Representação de um diagrama de blocos dos diferentes módulos que integram
o sistema ForTrACC.................................................................................................................14
FIGURA 3 – Precipitação acumulada (mm) das 12UTC do dia 19/02/03 às 12UTC do dia
20/02/03....................................................................................................................................20
FIGURA 4 – Evolução da temperatura mínima e da taxa de expansão dos 66 sistemas que
atuaram sobre a região, das 12 UTC do dia 19/02/03 às 12 UTC do dia 20/02/03..................21
FIGURA 5 – Imagens do satélite GOES 8, no canal infravermelho térmico (TRMM/NCEP),
mostrando a evolução do SCM entre os dias 19 e 20 de fevereiro de 2003.............................23
FIGURA 6 – Evolução do tamanho (pixels) e da Temperatura média (K) do SCM que atingiu
o estado, das 12 UTC do dia 19/02/03 às 12 UTC do dia 20/02/03.........................................24
FIGURA 7 – Evolução do tamanho (pixels) e da Temperatura mínima (K) do SCM que
atingiu o estado, das 12 UTC do dia 19/02/03 às 12 UTC do dia 20/02/03.............................24
xiv
FIGURA 8 – Evolução do tamanho dos topos frios (pixels) do SCM que atingiu o estado, das
12 UTC do dia 19/02/03 às 12 UTC do dia 20/02/03...............................................................25
FIGURA 9 – Evolução da temperatura mínima nas estações meteorológicas de Lagoa
Vermelha e Passo Fundo, das 12 UTC do dia 19/02/03 as 12 UTC do dia 20/02/03. .............26
FIGURA 10 – Imagens de satélite referentes as três etapas do ciclo de vida do SCM, a) início
(13UTC do dia 19/02/2003), b) maturação (07:30UTC do dia 20/02/2003) e c) dissipação
(11:30UTC do dia 20/02/2003). ...............................................................................................32
FIGURA 11 – Campos do BRAMS: a e b) vento (ms
-1
, vetor) e convergência de umidade
(gkg
-1
h
-1
, hachurado), c e d) temperatura (°C, linha) e umidade (g kg
-1
, hachurado) em 1000 e
850 hPa, respectivamente, e e) velocidade vertical (ms
-1
, hachurado) em 850 hPa.................35
FIGURA 12 – Campos do BRAMS de vento (ms
-1
, vetor) e velocidade vertical (ms
-1
,
hachurado), no nível de 500 hPa. .............................................................................................36
FIGURA 13 – Campos do BRAMS: a) vento (ms
-1
, vetor) e divergência (10
-4
s
-1
, hachurado) e
b) temperatura (°C, linha), no nível de 200 hPa.......................................................................36
FIGURA 14 – Campos do BRAMS: a e b) vento (ms
-1
, vetor) e convergência de umidade
(gkg
-1
h
-1
, hachurado), c e d) temperatura (°C, linha) e umidade (g kg
-1
, hachurado) em 1000 e
850 hPa, respectivamente, e e) velocidade vertical (ms
-1
, hachurado) em 850 hPa.................39
FIGURA 15 – Campos do BRAMS de vento (ms
-1
, vetor) e velocidade vertical (ms
-1
,
hachurado), no nível de 500 hPa. .............................................................................................40
FIGURA 16 – Campos do BRAMS: a) vento (ms
-1
, vetor) e divergência (10
-4
s
-1
, hachurado) e
b) temperatura (°C, linha), no nível de 200 hPa.......................................................................40
FIGURA 17 – Campos do BRAMS: a e b) vento (ms
-1
, vetor) e convergência de umidade
(gkg
-1
h
-1
, hachurado), c e d) temperatura (°C, linha) e umidade (g kg
-1
, hachurado) em 1000 e
850 hPa, respectivamente, e e) velocidade vertical (ms
-1
, hachurado) em 850 hPa.................42
FIGURA 18 – Campos do BRAMS de vento (ms
-1
, vetor) e velocidade vertical (g kg
-1
,
hachurado), no nível de 500 hPa. .............................................................................................43
xv
FIGURA 19 – Campos do BRAMS de a) vento (ms
-1
, vetor) e divergência (10
-4
s
-1
,
hachurado) e b) temperatura (°C, linha), no nível de 200 hPa. ................................................43
FIGURA 20 – Perfil vertical de a) vento (ms-1), b) velocidade vertical (ms-1), c) umidade
específica (g Kg-1) e d) temperatura potencial equivalente (K). As linhas de cor azul
representam a fase de iniciação do sistema, as de cor vermelha, a fase de maturação e, as de
cor verde, a fase de dissipação..................................................................................................46
xvi
LISTA DE TABELAS
Páginas
TABELA 1 – Precipitação registrada em superfície (mm). ....................................................27
INTRODUÇÃO
Os fenômenos convectivos são conhecidos pelos danos que causam em
suas áreas de atuação, visto que sua ocorrência, geralmente, vem acompanhada de
precipitações intensas, fortes rajadas de ventos e granizo. No Rio Grande do Sul,
grande parte da precipitação registrada nas estações quentes, é associada a
Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM). Devido à severidade das condições
associadas a eles, os SCM tem sido de grande interesse dos pesquisadores, que
buscam um melhor entendimento de sua estrutura de formação e manutenção, a fim
de se gerar uma previsão mais confiável da ocorrência dos mesmos, para que se
possam diminuir os prejuízos por eles gerados.
Os SCM possuem formas variadas, sendo definidos como Linhas de
Instabilidade (LI), os que possuem forma de linha e, como Complexos Convectivos
de Mesoescala (CCM), os que apresentam um formato circular, ou como,
simplesmente, SCM, os de formas irregulares. Entretanto, esses sistemas possuem
muitas características em comum. Por exemplo, todos os SCM apresentam área
com contínua precipitação, que pode ser parcialmente estratiforme e parcialmente
convectiva.
2
Houze (1993) definiu os Sistemas Convectivos de Mesoescala como sendo
sistemas formados por blocos de tempestades individuais e em linhas, com uma
dinâmica mais complexa do que a dos mesmos, por sua formação ser ocasionada
pela união destes sistemas. Ainda segundo ele, o ciclo de vida dos SCM pode ser
dividido em quatro etapas. Durante o estágio de formação, o sistema surge como um
grupo de células isoladas, ora distribuídas aleatoriamente, ora alinhadas. No estágio
de desenvolvimento as células isoladas crescem e se fundem, gerando uma região
de precipitação com diversos núcleos de precipitação intensa interligados por
regiões de precipitação mais fraca. No estágio máximo, forma-se uma grande região
de precipitação estratiforme a partir de células mais antigas que persistem enquanto
existirem células novas. No estágio de dissipação a formação de novas células
diminui, e o sistema se torna uma larga região de precipitação estratiforme,
enfraquecendo-se, restando apenas algumas células convectivas tênues. Esse
comportamento também foi registrado por Machado e Rossow (1993).
A formação desses sistemas convectivos é originada pela existência de
algumas forçantes que disparam a convecção, geralmente iniciada pela
convergência de ar quente e úmido em níveis mais baixos da atmosfera. Entre os
diversos mecanismos que podem originar essa convergência, podemos citar a
circulação mar e terra, a circulação vale e montanha, a convergência ao longo de
superfícies frontais em latitudes médias, a existência de gradientes de umidade no
solo, os jatos de baixos níveis, entre outros. Segundo Maddox (1983) e Jirak e
Cotton (2003), estudando a região central dos EUA, a condição primordial para a
iniciação, organização e manutenção de um SCM, é uma convergência na média
troposfera, aparentemente forçada por um jato em baixos níveis e uma advecção
quente e úmida. Essa condição foi comprovada por Guedes et al (1994) que ao
estudar a região sul da América do Sul, mostrou que a essa condição estava
também associado um jato em altos níveis.
As principais características que podem ser observadas nos SCM são: em
baixos níveis, uma zona convectiva marcada por um fluxo convergente que alimenta
o sistema e mais particularmente as ascendências convectivas. Atrás deste fluxo,
pode-se observar um fluxo divergente que se incorpora ao sistema. Parte deste fluxo
é desviada para os níveis mais próximos da superfície, atrás do fluxo que entra, e
alimenta as subsidências convectivas. Uma outra parte, a mais larga é acelerada
para trás dentro da região estratiforme onde, por essência, a subsidência de ar
3
ocorre. Nas camadas intermediárias e altas, o fluxo na região convectiva apresenta
um aspecto divergente acima das células convectivas. Após a linha convectiva, este
fluxo se incorpora ao sistema e mais especificamente à região estratiforme sofrendo
deformação (Campos e Chong, 1999). Essas são algumas das características bem
conhecidas dos SCM (Houze e Betts, 1981; Chong et al., 1987; Roux, 1988).
Observa-se também que as subsidências convectivas são claramente separadas da
subsidência de mesoescala. Estas últimas, na região estratiforme contribuem, em
grande parte, para alimentar o fluxo dirigido para trás do sistema e observa-se
também a presença de uma corrente de densidade associada a subsidência
convectiva.
Com relação aos movimentos verticais associados aos SCM, a subsidência
de baixos níveis induz a ocorrência de precipitações convectivas, que são
geralmente associadas a aguaceiros e tempestades de granizos e que alimentam o
ar frio que se acumula abaixo da região convectiva, que forma a frente de rajada do
SCM. Além das subsidências de baixos níveis podem-se observar subsidências de
altitude que tendem a ocorrer em ambos os lados dos núcleos e ascendências, onde
os núcleos de ascendência são organizados verticalmente na região convectiva e
horizontalmente na região estratiforme (Houze, 1993).
Uma outra característica muito importante para se entender a evolução
desse tipo de sistema é o comportamento do perfil vertical de determinadas variáveis
meteorológicas. Guedes e Machado (2003), estudando o perfil vertical das
perturbações convectivas (PC) na região equatorial (15°N e 5°S de latitude e 20°E e
130°W de longitude), para o período de julho de 1983 a dezembro de 1990,
observaram que ao comparar o perfil perturbado com o perfil médio o
comportamento da temperatura e do geopotencial apresentam-se articulados entre si
em todos os níveis de pressão, ou seja, quando há aquecimento ocorre menor
geopotencial e quando há resfriamento aumenta o geopotencial observado.
Mostraram também que durante a evolução da PC, ao longo do seu ciclo de vida, o
geopotencial, a temperatura, a umidade e a velocidade vertical evoluem de forma
combinada entre as fases e acopladas verticalmente, podendo assim, em função
desse acoplamento determinar a iniciação, a intensificação e a duração da própria
PC. Seis horas antes da iniciação já é possível identificar condições dinâmicas e
termodinâmicas que indicariam a presença de uma PC, tais como, aumento da
temperatura, diminuição do geopotencial, aumento da velocidade vertical
4
principalmente em baixos níveis e aumento da umidade atmosférica. E Torres
(2003), estudando os SCM altamente precipitantes no norte e no centro da
Argentina, mostrou que ao longo de todo o ciclo de vida dos SCM, encontra-se uma
profunda camada de convergência, da superfície até a troposfera média, e
divergência na troposfera superior. Essa convergência é associada a um movimento
vertical ascendente em toda a troposfera, que se reduz em torno de um terço na
dissipação. A vorticidade mostra-se ciclônica na troposfera inferior, destacando-se
que em níveis médios da atmosfera, onde é inicialmente ciclônica, diminui entre as
etapas de início e maturação do SCM, incrementando-se novamente durante a
dissipação, enquanto que em altos níveis a vorticidade anticiclônica aumenta
durante todo o ciclo de vida. E, mostra também, que pela análise da temperatura
potencial equivalente, encontra-se uma camada profunda com instabilidade
convectiva desde a superfície até 600hPa, e estabilidade por cima deste nível. Esse
comportamento das variáveis também foi encontrado por Maddox (1983), Cotton et
al (1989) e Laing y Fritsch (2000).
O tamanho médio dos sistemas é associado ao seu tempo de vida, maiores
sistemas têm maior tempo de vida. Com relação ao horário de formação dos
sistemas, a maioria é detectada inicialmente no período da tarde, horário de máxima
atividade convectiva no ciclo diurno sobre o continente e, um máximo secundário de
formação é observado no fim da noite e início da manhã (entre 5 e 6 horas da
manhã), sugerindo estar relacionado com o máximo de convecção sobre os
oceanos, e, que a fase madura dos sistemas têm dois picos, uma pela tarde e outra
durante a noite e primeiras horas da manhã (Machado et al, 1994; Nicolini et al,
2002; Torres, 2003; Vila, 2004 e Zipser, 2004).
Quanto à trajetória dos SCM que se originam a leste da Cordilheira dos
Andes (entre 25° e 40°S), segundo Guedes (1985), Figueiredo e Scolar (1996),
Nicolini et al (2002) e Torres (2003), a tendência desses sistemas é de deslocar-se
para leste. Já Velasco e Fritsch (1987) mostram uma maior variabilidade de
trajetórias com uma tendência a serem mais zonais (de oeste para leste) na
primavera e início do outono e mais meridionais (de sul para norte) no verão.
Para estudar esses tipos de fenômenos, a meteorologia conta com dados de
experimentos realizados ao longo de todo o globo. Esses experimentos geralmente
coletam dados que serão utilizados em pesquisas de diferentes áreas dentro da
5
meteorologia. Para estudos mais focalizados em meteorologia de mesoescala temos
alguns exemplos:
EMEX, realizado sobre a área oceânica tropical da Austrália, durante
os meses de janeiro e fevereiro de 1987 (Webster e Houze, 1991);
TOGA-COARE, durante dezembro de 1992 a fevereiro de 1993 sobre o
Pacífico Ocidental (Webster e Lukas, 1992);
TRMM-LBA foi conduzido na Amazônia de novembro 1998 à fevereiro
1999 (Halverson, et al, 2002);
SALLJEX, de novembro de 2002 a março de 2003, na América do Sul.
(Zipser et al, 2004).
Com o objetivo de se obter um melhor conhecimento do ciclo de vida dos
SCM, assim como um melhor entendimento de suas características físicas e
morfológicas, são desenvolvidas técnicas de acompanhamento dos mesmos. Dentre
essas técnicas, podemos citar o ForTrACC (Forecasting and Tracking of Active
Cloud Clusters), desenvolvida por Vila (2004).
Já para o estudo do ambiente sinótico, para as características dinâmicas e
termodinâmicas dos SCM conta-se hoje com os modelos numéricos de mesoescala,
como o modelo RAMS, que tem sido utilizado por vários países e em diversas áreas
da meteorologia.
Conforme Pielke et al. (1992) pode-se citar alguns exemplos de trabalhos
realizados com o modelo. Simulação de tempestade: Grasso (1993); Formação de
nuvens cumulus: Nicholls et al (1991); Formação de nuvens cirrus em latitudes
médias: Heckman (1991); Sistemas de Mesoescala forçados fisicamente: Wesley
(1991); Circulações termicamente induzidas: Xian e Pielke (1991); Pielke et al
(1990); Lee e Pielke (1992); Dispersão de poluentes na atmosfera: Mora et al (1986);
Camada Limite: Fisch (1996); Fisch et al (1996) e Nobre et al (1996); Termodinâmica
da atmosfera: Carmo (1996); Simulação de CCM: Lima (2004).
Tendo em vista que ainda restam muitas questões a serem respondidas com
relação aos SCM, o objetivo geral deste trabalho foi estudar o comportamento do
sistema ocorrido sobre o R.S. durante os dias 19 e 20 de fevereiro de 2003, que foi o
mais precipitante sobre essa região no período de dezembro de 2002 a fevereiro de
2003, período este que integra o experimento SALLJEX. Os objetivos específicos
foram: descrever o ciclo de vida, em conjunto com as propriedades morfológicas e
6
radiativas deste sistema; descrever o ambiente sinótico no qual o SCM estava
imerso e; analisar o comportamento dos perfis de algumas variáveis meteorológicas
durante as etapas de iniciação, maturação e dissipação do SCM.
7
METEDOLOGIA GERAL
Neste trabalho foram estudadas as características morfológicas e radiativas,
o ambiente sinótico e o perfil vertical de algumas variáveis meteorológicas do
Sistema Convectivo de Mesoescala mais precipitante, ocorrido nos dias 19 e 20 de
fevereiro de 2003. Os dados e a metodologia utilizados são descritos a seguir:
Imagens de satélite
Foram utilizadas as imagens do satélite GOES 8 (75º W, 0º ) com uma
resolução espacial de 4 km x 4 km e resolução temporal de ½ hora, correspondentes
ao canal 4 (10,7 μm, infravermelho térmico), disponíveis via anonymous ftp pelo
“Climate Prediction Center” (NCEP). Estes, foram utilizados como base de dados
para a técnica ForTrACC
Dados de superfície
Dados observados de precipitação das 12, 18 e 00UTC (Coordenada de
Tempo Universal) e precipitação total (medida às 12 UTC) de 24 estações
meteorológicas de superfície, pertencentes ao 8° Distrito do Instituto Nacional de
8
Meteorologia (vinculado ao Instituto Nacional de Meteorologia, INMET). Esses dados
serviram para selecionar quais foram os dias com maiores valores de precipitação
em superfície, para que a partir dessa primeira seleção, fosse possível identificar
qual era o sistema gerador dessa precipitação.
Análises do modelo ETA
Análises do modelo regional ETA, nos horários das 00, 06, 12, 18UTC,
cedidas pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE), serviram como dados de entrada
para a simulação com o modelo BRAMS.
A técnica ForTrACC
A técnica ForTrACC (Forecasting and Tracking of Active Cloud Clusters) cuja
tradução seria Prognóstico e Seguimento de Sistemas de Nuvens Ativos, é um
conjunto de programas que permite a construção automática de uma base de dados
de sistemas de nuvens a partir de imagens de satélite do canal 4 (10,8 μm) do
satélite GOES 8.
Os principais elementos que compõem este sistema são os seguintes:
Um algoritmo de detecção e construção de conglomerados de nuvens
(‘clusters’);
Um programa para o cálculo de diversos parâmetros estatísticos e
morfológicos dos sistemas achados no ponto anterior;
A técnica de seguimento em si, que permite a construção das
trajetórias dos sistemas ao longo de seu ciclo de vida (‘famílias’);
A etapa da geração de imagens virtuais ou sintéticas. Esta é utilizada
para cobrir os horários de imagens faltantes.
9
1. O método de detecção: identificação dos SCM
O método de detecção de um SCM está associado à determinação de um
umbral de temperatura do topo, a partir do qual se pode esperar que esteja refletindo
um sistema convectivo (não garantindo só por este umbral, que pode ser, por
exemplo, um reflexo de cirrus densos). O umbral de temperatura escolhido
arbitrariamente por Vila (2004), foi o mesmo utilizado neste trabalho, ou seja,
temperatura de brilho de 235K para a detecção dos sistemas convectivos. Esta
eleição coincide com os trabalhos de Laurent et al. (2002) e Machado e Laurent
(2004).
Assim mesmo, é importante distinguir aqueles SCM que em alguma etapa
do seu ciclo de vida contiveram núcleos de convecção profunda, daqueles que não
tiveram. Esta distinção busca-se devido a alguns SCM (incluindo alguns cirrus
suficientemente grossos) poderem registrar essa temperatura e não conterem
células de convecção profunda em latitudes médias, o que poderia determinar
propriedades físicas diferentes de cada um desses SCM. Portanto, além de definir
um umbral de temperatura de 235K para a detecção de um SCM deve-se incluir na
análise um segundo umbral de temperatura de brilho para a detecção de convecção
profunda. Neste estudo, assim como em Vila (2004) foi escolhido um umbral de
210K.
Por outro lado, é importante definir quais características devem ter os
núcleos convectivos de um SCM para que o mesmo possa ser descrito tanto
radiativamente como morfologicamente, assim como poder ser seguido ao longo do
seu ciclo de vida. Este tipo de seleção pode afetar fortemente alguns parâmetros
estatísticos como o tempo de vida médio dos SCM, a localização da posição de
formação do sistema convectivo e etc.
2. Cálculo de parâmetros
Para cada SCM são calculados, considerando os dois limiares de
temperatura, os seguintes parâmetros relativos aos SC:
10
Parâmetros morfológicos
Tamanho do SCM (número de pixels e área em km
2
). As coordenadas
de latitude e longitude do centro geométrico do SCM são levadas em
conta;
Raio efetivo do SCM : é o raio de um circulo cuja área seja igual a
área do SCM
Fração convectiva e número de células convectivas: as células
convectivas são definidas como os aglomerados de pixels que
possuem a temperatura de brilho imediatamente mais baixa que o
limiar inferior, sendo neste caso 210K.
Tamanho das cinco maiores células convectivas encontradas no
SCM;
Eixo de inércia;
Inclinação e excentricidade do SCM: o cálculo é baseado numa
representação no plano de todos os pontos do sistema. Após a
aplicação da metodologia dos mínimos quadrados nos pontos, a reta
gerada (e sua ortogonal) serão os novos eixos de inércia. Logo, os
pontos (LATi, LONi) são projetados no novo sistema cartesiano (xxi,
yyi):
onde
o valor β representa a inclinação do sistema
A excentricidade é calculada a partir das seguintes equações:
11
Nesta definição um circulo perfeito tem uma excentricidade igual a 1.
Parâmetros radiativos
Temperaturas média e mínima do sistema;
Temperatura média das cinco maiores células convectivas;
Parâmetros de localização
Coordenadas de centro geométrico;
Coordenadas do centro geométrico das cinco maiores células
convectivas;
Data e hora (GMT).
3. Variáveis incluídas no novo modelo estatístico
O método de identificação de um mesmo SCM no tempo "t" e nas imagens
sucessivas em "t+t", é baseado no critério de máxima superposição da área dos
SCM em imagens sucessivas. O número de pixels mínimo para considerar a
continuidade do SCM é de 200 pixels (aproximadamente 3.200 km
2
) para um t= 30
minutos. Se a superposição for menor, o sistema não é considerado como sendo o
mesmo sistema no tempo anterior.
Quatro tipos de situações são considerados neste algoritmo de
acompanhamento:
Sistema novo ou de geração espontânea (N): É aquele SCM que é
identificado numa imagem e não está presente na imagem anterior ou não cumpre
com o critério de mínima superposição dos SCM.
12
Continuidade (C): É aquele SCM que é identificado numa imagem e está
presente na imagem anterior cumprindo com o critério de mínima superposição dos
SCM. Essa situação pode ser visualizada na Figura 1a.
r sistema no tempo "t+t" é
conside
considerado um processo de “merge”. Neste caso, cada
um dos
com as situações
descrita
Split (S): Quando no tempo “t” existe um sistema que cumpre com o critério
de mínima superposição dos SCM com dois ou mais sistemas no tempo "t+t", é
considerado um processo de “split”. Neste casso, o maio
rado como a continuidade do SCM no tempo “t”. Essa situação pode ser
visualizada na Figura 1b.
Merge (M): Situação contrária à anterior. Quando no tempo “t” existem dois
ou mais SCM que cumprem com o critério de mínima superposição com só um
sistema no tempo "t+t", é
SCM no tempo “t” é considerado como a continuidade de diferentes famílias
de sistemas. Essa situação pode ser visualizada na Figura 1c.
Além dessas considerações sobre o seguimento dos SCM, nesta etapa do
processo é calculada a variação temporal dos parâmetros estatísticos mais
importantes, levando em conta a continuidade do sistema
s no item anterior. As variáveis incluídas numa primeira etapa são: área,
temperatura média do SCM, temperatura mínima e temperatura mínima do kernel de
nove pixels. Outra variável calculada nesta etapa é a velocidade do sistema. O
cálculo é feito naqueles casos em que existe uma continuidade do sistema com a
diferença da posição do centro de massa no instante “t” e o instante "t+t" dividido
por "t". A partir desta informação é possível gerar uma lista que descreve a
variação temporal do SCM durante seu ciclo de vida desde sua primeira detecção
até a dissipação completa.
13
Figura 1: Método de calculo da velocidade e direção de propagação do SC.
4. Descrição do modelo ForTrACC
O modelo ForTrACC está desenhado como um sistema de módulos
independentes que são chamados desde uma rotina central que maneja todo o
processo. Na Figura 2 se pode observar um esquema de blocos dos diferentes
componentes que integram o sistema completo.
14
Figura 2: Representação de um diagrama de blocos dos diferentes módulos que
integram o sistema ForTrACC.
O modelo regional BRAMS
Dentre os modelos regionais mais usados no mundo, está o Regional
Atmospheric Modelling System (RAMS), um modelo de circulação prognóstico
desenvolvido na Universidade do Colorado (EUA) a partir de um modelo de
mesoescala (Pielke, 1974) e de um modelo de nuvens (Trípoli e Cotton, 1982). O
RAMS é fundamentado na integração das equações diferenciais de conservação de
momentum, de massa e de energia, com referência a um sistema de coordenadas
15
que segue o terreno. Por sua complexidade, o modelo RAMS simula qualquer
situação de escoamento e pode ser aproveitado em diversas situações.
O modelo BRAMS 2.0 é baseado na versão 5.02 do modelo RAMS com
diversos aperfeiçoamentos numéricos e de parametrizações físicas. Um diferencial
significativo entre as versões BRAMS 2.0 e RAMS 4.4 encontra-se na
parametrização de convecção, a qual sofreu profundas inovações na versão atual. O
BRAMS 2.0, além da antiga parametrização convectiva de Kuo, acrescentou ao
leque de parametrizações para convecção profunda os esquemas de Grell (Grell e
Devenyi, 2002) e de Cumulus rasos (Souza, 1999).
A simulação com o modelo BRAMS foi realizada com uma grade aninhada e
fixa, sendo a Grade 1 com 108X78 pontos de grade e resolução horizontal de 36 km
(centrada em 27,5°S e 52,5°W, cobrindo uma área de aproximadamente
3888X2808km²), e a Grade 2 com 186X124 pontos de grade e resolução horizontal
de 9 km (centrada em 29°S e 52,5°W, cobrindo uma área de 1674X111 km²).
Utilizaram-se 32 níveis na vertical em ambas as grades. Os passos no tempo nas
grades 1 e 2 foram de 45 e 15s, respectivamente. A simulação teve início às 00UTC
do dia 19/03/03 e terminou às 00UTC do dia 21/03/03, compreendendo um total de
48 h com saídas de 1 em 1h. Estes dados foram analisados sobre superfícies
isentrópicas e depois interpolados para a grade do modelo.
Os dados de inicialização foram informados ao modelo a cada 3h através do
esquema de nudging nos limites laterais da grade maior. Para as duas grades foram
utilizadas as seguintes opções: topografia com resolução de 10km; diferenciação na
fronteira lateral de Klemp e Wilhelmson (1978), parâmetros de radiação segundo
Mahrer e Pielke (1977), parametrização convectiva de Grell e Devenyi (2002),
parametrização dos coeficientes de difusão segundo Mellor e Yamada (1974),
microfísica de nuvens ativada. Essas parametrizações são as que estão sendo
utilizadas operacionalmente no Grupo de Estudos em Previsão Regional
(GEPRA/FURG).
16
ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E RADIATIVAS
INTRODUÇÃO
Os Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) tem sido alvo de interesse
de pesquisadores nas últimas décadas, devido às características de tempo a eles
associados, como precipitações intensas, fortes rajadas de vento e granizo, que
causam sérios dados à população.
Segundo Houze (1993), os SCM são sistemas formados por blocos de
tempestades individuais e em linhas, com uma dinâmica mais complexa do que a
destes blocos, por resultarem dos mesmos. Ainda segundo ele, o ciclo de vida dos
SCM pode ser dividido em quatro etapas. Durante o estágio de formação, o sistema
surge como um grupo de células isoladas, ora distribuídas aleatoriamente, ora
alinhadas. No estágio de desenvolvimento as células isoladas crescem e se fundem,
gerando uma região de precipitação com diversos núcleos de precipitação intensa,
interligados por regiões de precipitação mais fraca. No estágio máximo, forma-se
uma grande região de precipitação estratiforme a partir de células mais antigas que
persistem enquanto existirem células novas. No estágio de dissipação, a formação
de novas células diminui e o sistema se torna uma ampla região de precipitação
17
estratiforme, enfraquecendo-se, restando apenas algumas células convectivas
tênues. Esse comportamento também foi registrado por Machado e Rossow (1993).
Diversos autores (Machado et al, 1994; Nicolini et al, 2002; Torres, 2003;
Vila, 2004 e Zipser, 2004) tem analisado vários SCM com o objetivo de determinar o
seu tamanho médio e seu horário preferencial de formação e de maturação. Esses
estudos mostram que o tamanho médio dos sistemas está associado ao seu tempo
de duração, maiores sistemas têm maior tempo de duração.Com relação ao horário
de formação dos sistemas, a maioria é detectada inicialmente no período da tarde,
horário de máxima atividade convectiva no ciclo diurno sobre o continente e um
máximo secundário de formação é observado no fim da noite e início da manhã
(entre 5 e 6 horas da manhã). Também tem sido observado que a fase madura dos
sistemas tem dois picos, um pela tarde e outro durante a noite ou primeiras horas da
manhã.
Outra característica observada é com relação a trajetória dos SCM que se
originam a leste da Cordilheira dos Andes, que segundo alguns autores (Guedes,
1985; Figueiredo e Scolar, 1996; Nicolini et al, 2002 e Torres, 2003) têm a tendência
de se deslocarem para leste, entre 25° e 40° S.
Para o estudo dos SCM conta-se com experimentos de campo realizados ao
redor de todo o globo, como exemplo podemos citar o SALLJEX (South American
Low-Level Jet Experiment) que visa uma melhor compreensão dos Jatos de Baixos
Níveis na América do Sul, ocorrido de novembro de 2002 a fevereiro de 2003,
abrangendo a janela de 40° a 0° S e 85° a 35° W.
Devido às muitas questões a serem ainda respondidas sobre os SCM, o
objetivo deste capítulo é descrever o ciclo de vida e as propriedades morfológicas e
radiativas do SCM mais precipitante ocorrido sobre o Rio Grande do Sul, durante o
período que integra o experimento SALLJEX, utilizando a técnica ForTrACC.
MATERIAL E MÉTODOS
Neste trabalho foram utilizadas as imagens do satélite GOES 8 (75º W, 0º )
com uma resolução espacial de 4 km x 4 km e resolução temporal de ½ hora,
correspondentes ao canal 4 (10,7 μm, infravermelho térmico), disponíveis via
anonymous ftp pelo “Climate Prediction Center” (NCEP). Em conjunto, utilizou-se
18
dados observados de precipitação das 12, 18 e 24UTC (Coordenada de Tempo
Universal) e precipitação total (medida às 12 UTC) de 24 estações meteorológicas
de superfície, pertencentes ao 8° Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia
(vinculado ao Instituto Nacional de Meteorologia,INMET). O período estudado foi de
novembro de 2002 a fevereiro de 2003 e a região de interesse é o estado do Rio
Grande do Sul (RS).
Primeiramente, analisando os dados de precipitação, foi selecionado o dia
com a maior precipitação em superfície registrada na maioria das estações
meteorológicas. Então, foram analisadas as imagens de satélite correspondentes, a
fim de se identificar à existência sobre o RS de algum tipo de SCM que pudesse ter
gerado essa precipitação.
Após a análise objetiva das imagens de satélite, foi utilizado o programa
diagnóstico do ForTrACC (Forecasting and Tracking of Active Cloud Clusters) para
um melhor detalhamento do ciclo de vida e das características morfológicas e
radiativas do sistema, ou dos sistemas, que atuou(atuaram) sobre a região e que
foi(foram) o(s) responsável(is) pela maior parte da precipitação registrada em
superfície nesse dia.
Como descrito por Vila et al (2004), o ForTrACC é um método automático
para a documentação das características dos SCM através do seu ciclo de vida,
utilizando informações dos canais térmicos dos satélites geoestacionários. Os
principais elementos que compõem este método são os seguintes: 1) um algoritmo
de detecção e construção de aglomerados de nuvens (‘clusters’) usando um limiar
de temperatura; 2) um programa para o cálculo dos diversos parâmetros estatísticos
e morfológicos dos sistemas achados na etapa anterior (Vila, 2003; Machado 1998);
3) uma técnica de seguimento em si, baseada na superposição de áreas entre
imagens sucessivas, o que permite a construção das trajetórias dos sistemas ao
longo de seu ciclo de vida (‘famílias’) (Mathon e Laurent, 2001; Laurent et al, 2002) e
4) a etapa da geração de imagens virtuais ou sintéticas, utilizadas para cobrir os
horários de imagens faltantes. Neste trabalho foram utilizados os limiares de
temperatura de brilho de 235K, para definir o SCM e, de 210K, para definir as células
convectivas imersas nesses SCM, que são os valores utilizados pelo ForTrACC
(Vila, 2004).
Esse programa, como descrito no parágrafo acima, é dividido em etapas, e
uma das principais é a da formação das “famílias”. Nessa etapa, o programa
19
acompanha os sistemas desde o seu surgimento até a sua dissipação, levando em
consideração todas as fusões e divisões feitas por ele ao longo do seu ciclo de vida
e, a esse conjunto ele dá o nome de família. Assim, família é o comportamento dos
sistemas ao longo da sua trajetória durante todo o ciclo de vida. Neste trabalho uma
família será denominada como sistema, ou SCM.
Para a seleção do caso, foi observado para cada estação meteorológica de
superfície do RS, quais foram os SCM que atuaram sobre elas entre às 12UTC do
dia 19/02/03 até as 12 UTC do dia 20/02/03. Para isso, foi utilizado um programa
que confronta o conjunto de sistemas gerado pelo ForTrACC com os dados de
latitude e longitude de cada estação.
Uma vez selecionado o caso e definido o conjunto de sistemas que mais
atuou sobre as estações meteorológicas estudadas, com o conjunto de dados
gerados pelo ForTrACC, pode-se estudar o ciclo de vida, a trajetória e as
características morfológicas e radiativas do sistema.
Por fim, os dados de precipitação das estações em superfície e os dados de
temperatura mínima gerados pelo ForTrACC foram analisados para determinar a
atuação do SCM em superfície.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pela análise dos dados de precipitação em superfície e das imagens de
satélite, correspondente aos dias que apresentaram precipitação, o caso
selecionado foi o ocorrido durante os dias 19 e 20 de fevereiro de 2003, onde em
algumas estações de superfície foram registrados valores de precipitação acima de
75mm.
A figura 3 mostra a precipitação acumulada entre as 12:00 UTC do dia
19/02/03 de fevereiro e às 12:00 UTC do 20/02/03. Pode-se observar pela análise
desta figura, que os maiores valores de precipitação foram registrados no centro e
norte do RS, com um núcleo de valores mais intensos (maiores que 100mm) no
nordeste do estado.
20
Figura 3: Precipitação acumulada (mm) das 12UTC do dia 19/02/03 às 12UTC do dia
20/02/03.
O conjunto de sistemas gerado pelo ForTrACC mostrou que 66 sistemas
atuaram sobre a grade estudada, entre às 12:00 UTC do dia 19 e 12:00 UTC do dia
20 de fevereiro de 2003. O tempo médio de vida destes sistemas foi de,
aproximadamente, 1,9 hora, isso devido ao fato de 71% dos casos (47 sistemas)
terem tempo de vida inferior a 2 horas. Os casos restantes (29%) dos sistemas
tiveram um tempo de vida médio de 5 horas. O deslocamento médio destes
sistemas foi para sudeste, o que reforça a idéia de que a trajetória dos SCM que se
originam a leste da Cordilheira dos Andes (entre 25° e 40°S), tem a tendência de
deslocar-se para leste, como sugerido por Guedes (1985), Figueiredo e Scolar
(1996), Nicolini et al (2002) e Torres (2003).
21
200
205
210
215
220
225
12:00 14:00 16:00 18:00 20:00 22:00 00:00 02:00 04:00 06:00 08:00 10:00 12:00
Hora local (h)
Tmin (K)
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
100
120
140
DA/ DT
TMIN DA/DT
Figura 4: Evolução da temperatura mínima e da taxa de expansão dos 66 sistemas
que atuaram sobre a região, das 12 UTC do dia 19/02/03 às 12 UTC do dia
20/02/03.
A figura 4 mostra a relação entre a temperatura mínima média (abaixo de
210K) e a taxa de expansão média, calculadas de 3 em 3 horas, de todos os 66
sistemas ocorridos sobre o RS entre as 12 UTC do dia 19/02/03 às 12 UTC do dia
20/02/03. Nela observou-se dois picos isolados de maior expansão, o primeiro no fim
da tarde e o segundo no início da manhã, e três picos de temperatura mínima, que
ocorrem próximos aos picos de expansão, o primeiro no fim da tarde, o segundo no
início da madrugada e um último no início da manhã.
Esse comportamento coincide com o descrito por Machado et al (1994),
Nicolini et al (2002), Torres (2003), Vila (2004) e Zipser (2004), onde o horário de
formação dos sistemas tem dois picos, um no período da tarde, horário de máxima
atividade convectiva no ciclo diurno sobre o continente e, outro no fim da noite e
início da manhã, e, que a fase madura dos sistemas têm dois picos, uma pela tarde
e outro durante a noite e primeiras horas da manhã.
Em relação aos sistemas que atuaram sobre as estações meteorológicas em
estudo, todos eram pertencentes ao mesmo sistema, ou seja, dos 66 sistemas
detectados pelo ForTrACC, apenas um foi o responsável pela precipitação registrada
em superfície, conforme descrito na metodologia.
22
O ciclo de vida deste sistema foi de 23 horas, tendo início às 13 UTC do dia
19/02 e, finalização às 12 UTC do dia 20/02, estando presente durante todo o
período de interesse. Isso pode ser observado na Figura 5.
Pela análise das imagens de satélite (Fig. 5) pode-se observar que o sistema
surgiu da dissipação de uma linha de instabilidade às 13:00 UTC (Fig. 5a), cortando
o estado do RS de norte a sul e deslocando-se para leste. Às 16:30 (Fig. 5b)
surgiram novos núcleos convectivos a oeste do sistema principal, que acabaram
unindo-se ao mesmo às 18:00 UTC (Fig. 5c), fazendo com que o deslocamento do
centro de massa desse novo sistema fosse para norte. O mesmo aconteceu às
20:00 UTC (Fig. 5d), quando o sistema que estava no nordeste do estado fundiu-se
com novos núcleos convectivos que surgiram na divisa noroeste com a Argentina e
no sul do Paraguai. A partir deste momento, o sistema ficou estacionado sobre o
norte do estado, onde às 04:00 UTC (Fig. 5f) apresentou uma maior região coberta
por topos frios (com temperatura abaixo de 210K) e, às 07:30 UTC (Fig. 5g),
alcançou sua maior extensão. A partir deste horário, o sistema começou a
enfraquecer e dissipar-se, até deixar o RS às 11:30 UTC (Fig. 5h). É importante
notar que essa descrição da evolução do sistema através das imagens de satélite, é
semelhante à proposta do ciclo de vida dos SCM de Houze (1993) e também
registrada por Machado e Rossow (1993), descrito na introdução deste trabalho.
Notou-se também, que devido ao fato do deslocamento do sistema ser
determinado pelo seu centro de massa, a trajetória deste foi aleatória, pois seu
centro de massa mudou constantemente a cada fusão ou separação sofrido pelos
sistemas que o compunham.
23
a) 19/02 às 13:00 UTC
b) 19/02 às 16:30 UTC
c) 19/02 às 18:00 UTC
d) 19/02 às 20:00 UTC
e) 19/02 às 23:00 UTC
f) 20/02 às 04:00 UTC
g) 20/02 às 07:30 UTC
h) 20/02 às 11:30 UTC
Figura 5: Imagens do satélite GOES 8, no canal infravermelho térmico
(TRMM/NCEP), mostrando a evolução do SCM entre os dias 19 e 20 de fevereiro de
2003.
24
As figuras 6 a 8, mostram a evolução de alguns parâmetros físicos e
radiativos do SCM ao longo do seu ciclo de vida, permitindo uma melhor descrição
do mesmo.
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
50000
12:00 14:00 16:00 18:00 20:00 22:00 00:00 02:00 04:00 06:00 08:00 10:00 12:00
Tempo (h)
Tamanho (pixels)
212
214
216
218
220
222
224
226
228
230
Temperatura média (K)
Tamanho Temperatura média
Figura 6: Evolução do tamanho (pixels) e da Temperatura média (K) do SCM que
atingiu o estado, das 12 UTC do dia 19/02/03 às 12 UTC do dia 20/02/03.
180
5180
10180
15180
20180
25180
30180
35180
40180
45180
50180
12:00 14:00 16:00 18:00 20:00 22:00 00:00 02:00 04:00 06:00 08:00 10:00 12:00
Tempo (h)
Tamanho (pixels)
180
185
190
195
200
205
210
215
Temperatura mínima (K)
Tamanho Temperatura mínima
Figura 7: Evolução do tamanho (pixels) e da Temperatura mínima (K) do SCM que
atingiu o estado, das 12 UTC do dia 19/02/03 às 12 UTC do dia 20/02/03.
25
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
12:00 14:00 16:00 18:00 20:00 22:00 00:00 02:00 04:00 06:00 08:00 10:00 12:00
Tempo (h)
Fração Convectiva (%
)
Fração convectiva
Figura 8: Evolução do tamanho dos topos frios (pixels) do SCM que atingiu o estado,
das 12 UTC do dia 19/02/03 às 12 UTC do dia 20/02/03.
Analisando em conjunto as figuras acima, pode-se observar que o sistema
teve início às 13 UTC do dia 19/02/03, seguido de uma rápida expansão, até às
13:30 UTC, que foi acompanhado de um ligeiro aumento da temperatura média,
embora a temperatura mínima tenha diminuído.
Nas 9 horas seguintes (das 13:30 às 22:30 UTC), o SCM não sofreu
variações significativas no seu tamanho. Sua temperatura média só sofreu alteração
às 18:30 UTC do dia 19/02/03, quando diminuiu de 228,6 K para 219,3 K às 21:30
UTC, do dia 19/02/03. Essa diminuição de temperatura média ocorreu devido a uma
diminuição de temperatura mínima e um aumento, na fração convectiva do sistema,
indicando um período de forte convecção.
A partir do horário das 22:30 UTC do dia 19/02/03, o sistema começou a
expandir-se, até atingir sua máxima área às 7:30 UTC do dia 20/02/03 (44822 pixels,
aproximadamente 717.152 km²). Embora sua maior área tenha sido às 7:30 UTC, o
horário de maior atividade convectiva do sistema foi às 4:00 UTC, quanto o sistema
atingiu menores valores de temperatura média e mínima, e maior valor da fração
convectiva.
Após atingir sua maior extensão, o sistema começou a dissipar-se,
aumentando as temperaturas média e mínima e diminuindo a fração convectiva.
O mais interessante dessa análise é observar que o sistema primeiro sofreu
uma diminuição da temperatura mínima (às 3:30 UTC do dia 20/02/03), para depois
26
alterar a temperatura média (com mínimo às 4:00 UTC do dia 20/02/03) e a fração
convectiva, e só depois então, expandiu-se até atingir sua maior área. Isso confirma
a teoria, descrita por Machado e Rossow (1993) e também observada por Vila
(2004), de que durante a etapa de formação, o sistema alcança um máximo
resfriamento e logo se expande na etapa de maturação.
Em seguida, para verificar se as características do SCM observado pelas
imagens de satélite refletem o que ocorreu em superfície foram estudadas algumas
das estações que tiveram precipitação acima de 75mm, analisando-se o
comportamento da temperatura mínima, e da precipitação registrada em superfície.
A figura 9 mostra o comportamento da temperatura mínima nas estações
meteorológicas de Lagoa Vermelha, Caxias do Sul e Passo Fundo. Essas estações
foram escolhidas por estarem localizadas ao longo da área de maior atuação do
sistema. Observou-se que o comportamento médio da temperatura mínima é
praticamente o mesmo nestas três estações. E, que o sistema atuou,
aproximadamente, ao mesmo tempo em todas elas. Na figura 9, as falhas no gráfico
são referentes a horários onde o sistema não estava atuando sobre as estações, ou
seja, quando sobre as estações não foram registradas temperaturas abaixo de
210K.
180
185
190
195
200
205
210
215
220
225
230
235
240
12:00 14:00 16:00 18:00 20:00 22:00 00:00 02:00 04:00 06:00 08:00 10:00 12:00
Tempo (h)
Temperatura (K)
Passo Fundo Caxias do Sul Lagoa Vermelha
Figura 9: Evolução da temperatura mínima nas estações meteorológicas de Lagoa
Vermelha e Passo Fundo, das 12 UTC do dia 19/02/03 as 12 UTC do dia 20/02/03.
27
Tabela 1: Precipitação registrada em superfície (mm).
Estações Precipitação (mm)
18UTC(19/02) 00UTC(20/02) 12UTC(20/02) Total
Lagoa Vermelha
0,6 7,4 97,2 105,2
Caxias do Sul
8,4 59,2 69,1 136,7
Passo Fundo
999* 32,0 84,5 116,5
*Ausência de dados.
Pode-se notar pela tabela 1, que os valores de precipitação começaram a
ser mais significativos no horário das 00 UTC, que correspondem ao valor
acumulado precipitados entre as 18 UTC do dia 19/02/03 e 00 UTC do dia 20/02/03.
Mas, a maior intensidade de precipitação foi registrada no horário das 12 UTC do dia
20/02/03, que corresponde ao acumulado das 00 UTC, do dia 20/02/03 até às 12
UTC do dia 20/02/03.
Pela análise da figura 9, pode-se dizer que a precipitação está inversamente
relacionada com a temperatura mínima sobre as estações, ou seja, os horários de
maior precipitação coincidem com os de menor temperatura de brilho do sistema que
atuava sobre as estações em estudo, como mostrado por Vila (2004). Pode-se notar
também que o comportamento da temperatura mínima sobre as estações é
semelhante ao comportamento do sistema e, que o horário de menor temperatura
sobre elas é coincidente com o horário de menor temperatura média do sistema, o
que nos leva a concluir que essas estações estão localizadas no centro convectivo
do sistema.
Então, é visto que neste caso, as características do sistema observado pelas
imagens de satélite refletem com confiabilidade o momento de maior atuação do
SCM em superfície, caracterizado pelos maiores valores de precipitação.
28
AMBIENTE SINÓTICO E PERFIS VERTICAIS
INTRODUÇÃO
O estudo dos Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) tem sido
difundido entre os pesquisadores da área há algum tempo, devido ao impacto em
superfície causado por eles. Sua passagem ou existência vem geralmente associada
à precipitação intensa e fortes rajadas de vento.
Para se entender a ocorrência desses sistemas e para uma melhor previsão
dos mesmos, é importante conhecer o ambiente sinótico preferencial para o seu
surgimento, desenvolvimento, manutenção e dissipação. Diversos pesquisadores
têm realizado estudos a fim de se reproduzir um ambiente padrão desses sistemas.
Dentre eles, Maddox (1983) e Jirak e Cotton (2003), estudando a região central dos
EUA, mostraram que a condição primordial para a iniciação, organização e
manutenção de um SCM, é uma convergência na média troposfera, aparentemente
forçada por um jato em baixos níveis e uma advecção quente e úmida. Essa
condição foi comprovada por Guedes et al (1994) que ao estudar a região sul da
América do Sul, mostrou que a essa condição estava também associado um jato em
altos níveis.
29
Para simulação do ambiente sinótico, vários modelos numéricos tem sido
utilizados. Entre esses modelos, podemos destacar o modelo de mesoescala
BRAMS. O modelo BRAMS 2.0 é baseado na versão 5.02 do modelo RAMS
(Regional Atmospheric Modelling System, modelo de circulação prognóstico
desenvolvido na Universidade do Colorado-EUA) com diversos aperfeiçoamentos
numéricos e de parametrizações físicas. O diferencial significativo entre as versões
BRAMS 2.0 e RAMS 4.4 é encontrado na parametrização de convecção, a qual
sofreu profundas inovações na versão atual. O BRAMS 2.0, além da antiga
parametrização convectiva de Kuo, acrescentou ao leque de parametrizações para
convecção profunda os esquemas de Grell (Grell e Devenyi, 2002) e de Cumulus
rasos (Souza, 1999).
Uma outra característica muito importante para se entender a evolução
desse tipo de sistema é o comportamento do perfil vertical de determinadas variáveis
meteorológicas. Esse tipo de estudo mostra a evolução interna das variáveis
meteorológicas do sistema, possibilitando o conhecimento de suas variações com a
altura, em qualquer etapa do ciclo de vida do SCM. Um exemplo desse tipo de
estudo é o de Torres (2003) que, estudando os SCM altamente precipitantes no
norte e no centro da Argentina, mostrou que ao longo de todo o ciclo de vida dos
SCM, encontra-se uma profunda camada de convergência, da superfície até a
troposfera média, e divergência na troposfera superior. Essa convergência é
associada a um movimento vertical ascendente em toda a troposfera, que se reduz
em torno de um terço na dissipação. A vorticidade mostra-se ciclônica na troposfera
inferior, destacando-se que em níveis médios da atmosfera, onde é inicialmente
ciclônica, diminui entre as etapas de início e maturação do SCM, incrementando-se
novamente durante a dissipação. Em altos níveis a vorticidade anticiclônica aumenta
durante todo o ciclo de vida. Este estudo mostra também, que pela análise da
temperatura potencial equivalente, encontra-se uma camada profunda com
instabilidade convectiva desde a superfície até 600 hPa, e estabilidade acima deste
nível. Esse comportamento das variáveis também foi encontrado por Maddox (1983),
Cotton et al (1989) e Laing e Fritsch (2000).
Assim, com o interesse em se obter um melhor entendimento sobre os
mecanismos de formação, manutenção e dissipação desse tipo de sistema, o
objetivo deste capítulo é descrever o ambiente sinótico no qual o SCM, ocorrido
sobre o RS durante os dias 19 e 20 de fevereiro de 2003, estava imerso, e que foi o
30
mais precipitante sobre essa região no período de dezembro de 2002 a fevereiro de
2003. O outro objetivo, é analisar o comportamento dos perfis médio e perturbado da
atmosfera, antes, durante e após a passagem do SCM.
MATERIAL E MÉTODOS
Esse trabalho conta com as análises do modelo regional ETA
(CPTEC/INPE), dos dias 19, 20 e 21 de fevereiro de 2003, período que engloba todo
o ciclo de vida do sistema selecionado na primeira parte desse trabalho. Essas
análises serviram como dados de entrada para a simulação com o modelo BRAMS.
Conta também, com imagens de satélite para mostrar o sistema em cada fase do
seu ciclo de vida.
A simulação com o modelo BRAMS foi realizada com uma grade aninhada e
fixa, sendo a Grade 1 com 108X78 pontos de grade e resolução horizontal de 36 km
(centrada em 27,5°S e 52,5°W, cobrindo uma área de aproximadamente
3888X2808km²), e a Grade 2 com 186X124 pontos de grade e resolução horizontal
de 9 km (centrada em 29°S e 52,5°W, cobrindo uma área de 1674X111 km²).
Utilizaram-se 32 níveis na vertical em ambas as grades. Os passos no tempo nas
grades 1 e 2 foram de 45 e 15s, respectivamente. A simulação teve início às 12UTC
do dia 19/03/03 e terminou às 00UTC do dia 21/03/03, compreendendo um total de
48 h com saídas de 1 em 1h. Estes dados foram analisados sobre superfícies
isentrópicas e depois interpolados para a grade do modelo.
Os dados de inicialização foram informados ao modelo a cada 3h através do
esquema de nudging nos limites laterais da grade maior. Para as duas grades foram
utilizadas as seguintes opções: topografia com resolução de 10km; diferenciação na
fronteira lateral de Klemp e Wilhelmson (1978), parâmetros de radiação segundo
Mahrer e Pielke (1977), parametrização convectiva de Grell e Devenyi (2002),
parametrização dos coeficientes de difusão segundo Mellor e Yamada (1974),
microfísica de nuvens ativada. Essas parametrizações são as que estão sendo
utilizadas operacionalmente no Grupo de Estudos em Previsão Regional
(GEPRA/FURG).
A Grade 1, que abrange a área onde o SCM encontrava-se durante todo o
seu ciclo de vida desde a formação até a sua dissipação, foi utilizada para fazer a
31
análise do ambiente de grande escala. Para isso foram pré-definidos os níveis de
observação em baixos, médios e altos. Em baixos níveis (1000 e 850hPa) foram
analisados os campos de vento, umidade específica, temperatura, convergência de
umidade, divergência e velocidade vertical (w, em ms
-1
, apenas no nível de 850hPa).
Em níveis médios (500hPa) serão analisados os campos de vento horizontal e
velocidade vertical (w). Em altos níveis (200hPa), serão analisados os campos de
vento horizontal, divergência e temperatura. Esses campos serão analisados para
cada etapa do ciclo de vida do sistema (início, maturação e dissipação).
A Grade 2, que está centrada na região onde o SCM apresentou maior
intensidade sobre o RS, foi utilizada para o cálculo dos perfis verticais. Foram
estudados os perfis verticais, de umidade específica, velocidade vertical, vento
horizontal e temperatura potencial equivalente, nos níveis padrões (1000, 925, 850,
700, 600, 500, 400, 300, 200 e 100hPa), para o centro de massa do sistema. Para a
etapa de início (19/02/2003, 13UTC) o centro de massa foi 30,47°S e 53,41°W, na
maturação (20/02/2003, 7:30UTC), 28,67°S e 50,72°W e, na dissipação (20/02/2003,
11:30UTC), 26,46°S e 52,63°W.
Para definir a posição do SCM em cada fase do seu ciclo de vida, pegou-se
a latitude e longitude do centro de massa do sistema calculado pelo programa
ForTrACC (obtido do conjunto de dados utilizados no capítulo anterior).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ambiente de grande escala
Pelas imagens de satélite pode-se observar a posição do sistema em cada
fase do seu ciclo de vida. Foi definido como início a primeira detecção do sistema
(às 13UTC do dia 19/02/2003- Fig. 10a); maturação, como sendo o horário em que o
sistema atingiu sua maior extensão (às 7:30 UTC do dia 20/02/2033- Fig. 10b) e,
dissipação, quando o sistema começou a fragmentar-se e deixar o estado do RS (às
11:30 UTC do dia 20/02/2003- Fig. 10c).
32
De modo geral, pela simulação feita com o modelo BRAMS (figuras não
mostradas), pode-se observar que das 00 às 17UTC do dia 19/02/2003, o vento
apresentava um giro anti-horário com a altura, em todo o RS, incluindo a região de
formação e desenvolvimento do sistema, indicando advecção quente até altos
níveis. Depois desse horário até o final da simulação, os ventos foram de sudeste,
em superfície, na maior parte do tempo, girando no sentido horário com a altura,
evidenciado uma advecção fria. Essa advecção fria foi confirmada pela entrada de
uma massa de ar frio e seco que avançou sobre o estado durante esse período. A
temperatura das 00 até às 21UTC, do dia 19/02/2003, foi aumentado de 24°C a
35°C, na região de formação do sistema. O resfriamento durante o restante da
evolução do sistema, pode ter sido influenciado pela precipitação causada pelo
mesmo, que favoreceu o avanço da massa de ar frio. Durante todo o período foi
verificado um gradiente de umidade sobre o RS e toda a área do sistema. Foi
observada também convergência de umidade e movimento do ar ascendente em
praticamente toda a região do desenvolvimento do ciclo de vida do SCM, os com os
maiores valores coincidindo com a posição dos núcleos mais ativos observados nas
imagens de satélite.
a) b) c)
Figura 10: Imagens de satélite referentes as três etapas do ciclo de vida do SCM, a)
início (13UTC do dia 19/02/2003), b) maturação (07:30UTC do dia 20/02/2003) e c)
dissipação (11:30UTC do dia 20/02/2003).
Para melhor detalhar o desenvolvimento do sistema, será mostrado a seguir
uma análise das variáveis de interesse durante cada etapa do seu ciclo, em baixos,
médios e altos níveis.
33
Etapa de início (19 de fevereiro de 2003, 13UTC).
- Baixos níveis (1000 e 850hPa)
Em 1000hPa, observou-se a presença de uma frente fria no norte do
Uruguai, que está evidenciada por um forte gradiente de temperatura e umidade, e
por um núcleo de convergência de umidade (Fig. 11a). O sistema convectivo formou-
se adiante da frente fria, no leste do estado do Rio Grande do Sul, onde os ventos
foram de NE-N, de aproximadamente 5ms
-1
, devido à presença de um centro de
divergência sobre o oceano, no litoral norte do estado (Fig. 11a). Nesta região havia
um gradiente de umidade específica significativo, assim como no norte do estado
(Fig. 11c). E, a temperatura estava elevada sobre o RS em torno de 27°C (Fig. 11c).
Ao norte da região de formação do SCM, observou-se dois núcleos bem
definidos de convergência de umidade (Fig. 11a), com valores entre 4 e 6gkg
-1
h
-1
.
Essas características são similares às encontradas por Maddox (1983) e Augustine e
Caracena (1994) para os CCM e SCM dos Estados Unidos.
Em 850hPa, os ventos (Fig. 11b) são de NO, de aproximadamente 8 ms
-1
,
sobre o RS, evidenciando um giro anti-horário em relação ao nível de 1000hPa,
indicando uma advecção quente, que é uma das características primordiais para o
surgimento e manutenção do sistema, que é mostrada em vários trabalhos sobre
sistemas convectivos em geral (Vila, 2004; Maddox 1983; Augustine e Caracena,
1994, e outros). Os valores de velocidade aqui encontrados são menores do que os
de Torres (2003) e Maddox (1983), que encontraram valores de 10 e 12ms
-1
,
respectivamente, e maior do que os 5ms
-1
, encontrados por Cotton et al (1989).
Nessa região também observava-se um gradiente de específica, temperatura de
aproximadamente 18°C (Fig. 11d) e, convergência do vento em torno de 0,5.10
-4
s
-1
(não mostrado) e de convergência de umidade, com valores de 2gkg
-1
h
-1
(Fig. 11b).
A convergência de umidade presente nessa região ressalta o que foi encontrado nos
trabalhos mencionados anteriormente. O centro de divergência estava sobre a costa
oeste do estado, já com pouca influência sobre a região do sistema.
Foi observada também, uma faixa de rotação dos ventos de SO para NO ao
longo da região frontal (Fig. 11b), que apresentava gradiente de temperatura e
umidade bem definidos (Fig. 11d), com um núcleo de convergência do vento de
1.10
-4
s
-1
(não mostrado) e de umidade de 4 gkg
-1
h
-1
(Fig. 11b).
34
Sobre a região de formação do SCM tem-se velocidade vertical de 0,05ms
-1
.
Na região anterior à frente fria, um núcleo mais definido de w de aproximadamente
0,1ms
-1
(Fig. 11e). Um outro núcleo de convergência do vento (não mostrado) e de
umidade (Fig. 11b) foi encontrado ao norte da região de formação do sistema com
valores de 1.10
-4
s
-1
e 4gkg
-1
h
-1
, respectivamente.
- Níveis médios (500 hPa)
Em 500hPa (Fig. 12), os ventos foram de 20ms
-1
de NO a N, sobre todo o
estado, que apresentava também um gradiente de temperatura e velocidade vertical
de aproximadamente 0,05ms
-1
. Nesse nível, já não se encontrava mais a advecção
quente caracterizada pelo giro anti-horário dos ventos. Sobre a região frontal, foi
encontrado um núcleo de velocidade de 26ms
-1
, na direção NO-O, com um núcleo
de w de aproximadamente 0,43ms
-1
, indicando convecção profunda devido à
presença da frente fria e um pronunciado gradiente de temperatura (não mostrado).
- Níveis altos (200 hPa)
Em 200hPa (Fig. 13a), foi observado um jato de O sobre o RS, com um
núcleo de velocidade máxima de 50ms
-1
coincidente com a localização da região
frontal em superfície. A presença de um jato de altos níveis, ao redor do local de
formação dos sistemas, também foi encontrado nos trabalhos de Torres (2003) e
Vila (2004), que estudaram sistemas convectivos sul americanos, e Maddox (1983) e
Cotton et al (1989), para CCM norte americanos.
Na região de formação do sistema e na região frontal, a divergência era de
aproximadamente 0,5.10
-4
s
-1
(Fig. 13a), e a temperatura de, aproximadamente, -
52°C sobre toda a região de estudo (Fig. 13b).
35
a)
b)
c)
d)
e)
Figura 11: Campos do BRAMS: a e b) vento (ms
-1
, vetor) e convergência de umidade
(gkg
-1
h
-1
, hachurado), c e d) temperatura (°C, linha) e umidade (g kg
-1
, hachurado)
em 1000 e 850 hPa, respectivamente, e e) velocidade vertical (ms
-1
, hachurado) em
850 hPa.
36
Figura 12: Campo do BRAMS de vento (ms
-1
, vetor) e velocidade vertical (ms
-1
,
hachurado), no nível de 500 hPa.
a)
b)
Figura 13: Campos do BRAMS: a) vento (ms
-1
, vetor) e divergência (10
-4
s
-1
,
hachurado) e b) temperatura (°C, linha), no nível de 200 hPa.
37
Etapa de maturação (20 de fevereiro de 2003, as 7:30 UTC)
- Níveis baixos (1000 a 850 hPa)
Em 1000hPa, no NE do estado, na região de maturação do SCM, observou-
se uma região bem definida de convergência dos ventos, ligada a um núcleo de
convergência no litoral leste (Fig. 14a). A convergência de umidade (Fig. 14a) nessa
região foi de aproximadamente 2gkg
-1
h
-1
com alguns núcleos de 4 a 6gkg
-1
h
-1
sobre
o SCM e um outro núcleo de 8gkg
-1
h
-1
no litoral leste. Nas demais regiões do estado
o vento foi de SO. A linha de convergência da região frontal já estava sobre o
oceano. Sobre todo o RS teve-se forte gradiente de umidade (Fig. 14c), e
temperatura de aproximadamente 24°C, com menores valores a SO e alguns
núcleos em torno de 27°C na região do sistema. Essa ligeira queda da temperatura
na região do sistema, assim como o acréscimo da umidade relativa, em relação à
etapa anterior, também foi apresentado nos trabalhos de Torres (2003) e Maddox
(1989).
Em 850 hPa, na região do sistema, os ventos eram de SO de
aproximadamente 11ms
-1
(Fig. 14b), com forte gradiente de umidade e valores de
temperatura em torno de 18°C (Fig. 14d). Notou-se que, nessa fase, já não era mais
evidente a advecção quente caracterizada pelo giro anti-horário dos ventos com a
altura, como mostrado em Torres (2003) e Vila (2004). Foi observada também uma
região de inflexão de SO para NO, ao longo de todo o litoral do RS (Fig. 14b). O
gradiente de umidade foi mais fraco no centro do estado, onde se tem uma língua
com valores de 8 gkg
-1
(Fig. 14d). Existia um gradiente forte de temperatura sobre
todo o estado (Fig. 14d). Há convergência do vento em algumas regiões ao longo do
SCM, com um núcleo bem definido no NE, na divisa com Santa Catarina, de 2.10
-4
s
-
1
(não mostrado). Na região com convergência de vento havia também convergência
de umidade, com o núcleo de 12gkg
-1
h
-1
(Fig. 14b). A velocidade vertical foi de
0,05ms
-1
em praticamente todo o SCM (Fig. 14e).
38
- Níveis médios (500hPa)
Em 500 hPa (Fig. 15), observou-se a existência de um jato de SO com
núcleo de aproximadamente 47ms
-1
, localizado no oeste do RS e a SO da região do
SCM, indicado forte cisalhamento do vento com a altura, que ajuda na convecção.
Essa convecção foi evidenciada por um núcleo de velocidade vertical de 0,05ms
-1
na
divisa com SC a nordeste do RS e, em pontos isolados da região de ocorrência do
SCM. Esse comportamento do vento difere do encontrado por Torres (2003) e Vila
(2004), pois em ambos trabalhos, foram evidenciados a advecção quente e valores
de velocidade do vento muito menores do que as encontradas neste trabalho.
- Níveis altos (200hPa)
Em 200 hPa (Fig. 16a), observou-se um jato de oeste com velocidade de
aproximadamente 35ms
-1
, e curvatura anticiclônica, na região do SCM, e um núcleo
com velocidade maior que 53ms
-1
sobre o Uruguai e centro da Argentina. Esse
comportamento do vento sobre a região do sistema continua reforçando o
cisalhamento vertical que impulsiona a convecção. A temperatura (Fig. 16b) foi baixa
em toda a região, aproximadamente -52°C, incluindo a de maturação do sistema.
Este comportamento da temperatura é similar ao apresentado por Maddox (1983),
Cotton et al (1989) e Torres (2003). No campo da divergência, via-se que essa ainda
existia embora fraca em toda a divisa com SC a nordeste do RS, o que evidencia
núcleos mais intensos de convecção.
39
a)
b)
c)
d)
e)
Figura 14: Campos do BRAMS: a e b) vento (ms
-1
, vetor) e convergência de umidade
(gkg
-1
h
-1
, hachurado), c e d) temperatura (°C, linha) e umidade (g kg
-1
, hachurado)
em 1000 e 850 hPa, respectivamente, e e) velocidade vertical (ms
-1
, hachurado) em
850 hPa.
40
Figura 15: Campo do BRAMS de vento (ms
-1
, vetor) e velocidade vertical (ms
-1
,
hachurado), no nível de 500 hPa.
a)
b)
Figura 16: Campos do BRAMS: a) vento (ms
-1
, vetor) e divergência (10
-4
s
-1
,
hachurado) e b) temperatura (°C, linha), no nível de 200 hPa.
Etapa de dissipação (20 de fevereiro de 2003, as 11:30 UTC)
- Níveis baixos (1000 e 850hPa)
Em 1000hPa (Fig. 17a), os ventos foram de SO sobre todo o estado.
Observou-se um centro de convergência no litoral leste do estado que gerou um
41
inflexão dos ventos de SO para NO no litoral norte do RS e leste de SC, que foi a
região para onde os núcleos gerados pela dissipação do sistema se deslocaram. Foi
observado em todo o estado o avanço do ar mais seco (Fig. 17c), gerando um
gradiente de umidade de oeste para leste, devido a presença anterior da frente fria
que se deslocou para o oceano. A temperatura foi de aproximadamente 24°C sobre
o RS, com um núcleo de 27°C a NE do estado (Fig. 17c), coincidindo com uma
convergência de 1.10
-4
s
-1
ao longo da divisa com SC e no litoral leste do estado, e
com convergência de umidade de aproximadamente 4gkg
-1
h
-1
(Fig. 17a), a
combinação desses fatores mostra que ainda existia convecção nessa região.
Em 850hPa (Fig. 17b), os ventos são de SO sobre o RS, com velocidade de
17ms
-1
, com uma região de inflexão ao longo do litoral de SC até o litoral leste,
mostrando um comportamento similar ao encontrado no nível de 1000hPa. O
gradiente de umidade (Fig. 17d) avança sobre o estado diminuindo levemente a
umidade sobre a região do SCM. Esse gradiente de umidade é acompanhado de um
gradiente de temperatura, de oeste para leste (Fig. 17d).
Ainda em 850hPa existiram dois núcleos bem definidos de velocidade
vertical (Fig. 17e), um no oeste de SC com valores de 0,1ms
-1
e outro no nordeste
do estado, divisa com SC, que coincidiram com uma região de convergência de
vento e umidade com valores de 2.10
-4
s
-1
(não mostrado) e 8gkg
-1
h
-1
(Fig. 17b),
respectivamente.
- Níveis médios (500hPa)
Em 500 hPa (Fig. 18) , ventos de SO com valores de aproximadamente
30ms
-1
na região do SCM e, uma região de inflexão suave de SO para O ao longo da
costa do RS e SC, onde ainda encontrava-se um pequeno núcleo de w de 0,05ms
-1
.
- Níveis altos (200hPa)
Ventos (Fig. 19a) de ONO de aproximadamente 44ms
-1
sobre todo o RS,
onde a temperatura continuava sendo de -52°C (Fig. 19b). Apenas um pequeno
núcleo de divergência de 0,5.10
-4
s
-1
na costa de SC, mostrando que a convergência
em baixos e médios níveis encontrada nessa região era intensa (Fig. 19a). O
comportamento da divergência, do vento e da temperatura é similar ao encontrado
42
por Maddox (1989) e Torres (2003). Eles mostram que a divergência sobre a região
do sistema diminui em comparação à fase de maturação, que existe um jato em
altos níveis próximo a posição do sistema, com curvatura anti-horária, e baixas
temperaturas sobre o SCM.
a)
b)
c) d)
e)
Figura 17: Campos do BRAMS: a e b) vento (ms
-1
, vetor) e convergência de umidade
(gkg
-1
h
-1
, hachurado), c e d) temperatura (°C, linha) e umidade (g kg
-1
, hachurado)
43
em 1000 e 850 hPa, respectivamente, e e) velocidade vertical (ms
-1
, hachurado) em
850 hPa.
Figura 18: Campo do BRAMS de vento (ms
-1
, vetor) e velocidade vertical (g kg
-1
,
hachurado), no nível de 500 hPa.
a)
b)
Figura 19: Campos do BRAMS de a) vento (ms
-1
, vetor) e divergência (10
-4
s
-1
,
hachurado) e b) temperatura (°C, linha), no nível de 200 hPa.
Perfis verticais
Etapa de início
44
Nessa etapa, foi observado pelo perfil do vento (Fig. 20a, linha azul), que em
baixos níveis, o vento assumia valores pequenos, com um máximo em 925hPa. A
partir de 850hPa, a velocidade do vento começou a aumentar, até atingir um máximo
em 200hPa, o que evidenciou a presença de um jato de altos níveis durante a
iniciação do sistema. Esse comportamento do vento em superfície difere do
conceitual, onde em superfície é encontrado um jato de baixos níveis, que também
foi encontrado por Torres (2003), isso devido ao fato do sistema aqui estudado ter
como forçante em superfície a passagem de uma frente fria. E, em altos níveis, o
comportamento deste sistema é similar ao conceitual.
Observou-se que a velocidade vertical (Fig. 20b, linha azul) era ascendente
abaixo de 925hPa, que não apresentava nenhum tipo de movimento vertical. A partir
desse nível, até aproximadamente 300hPa, o movimento ainda era ascendente com
valores maiores, vindo a tornar-se subsidente nos níveis acima de aproximadamente
250hPa. O máximo da velocidade vertical foi encontrado no nível de 400hPa. O
comportamento da velocidade vertical e a posição do máximo da velocidade de w, é
semelhante ao encontrado por Laing e Fritsch (2000) e Torres (2003), que
mostraram o máximo entre 300 e 400hPa e 400 e 500hPa, respectivamente.
A umidade específica (Fig. 20c, linha azul) apresentou maior valores em
superfície (1000hPa), diminuindo progressivamente para os níveis mais altos.
O perfil da temperatura potencial equivalente (Fig. 20d, linha azul) mostrou
instabilidade apenas nos níveis mais baixos, e estabilidade a partir de 700hPa.
Etapa de maturação
No horário relativo à maturação do sistema (Fig. 20a, linha vermelha), ou
seja, horário no qual o sistema apresentou seu maior tamanho, o vento era fraco em
superfície, mantendo o mesmo valor em 1000 e 925hPa, tendo um pequeno máximo
em 850hPa. A partir do nível de 700hPa, o vento começou a aumentar, até atingir
um máximo em 200hPa, mostrando que o jato observado na fase inicial, ainda
encontrava-se sobre a região do sistema, embora com menor valor. Como já foi dito
na análise da etapa anterior, o comportamento do vento em superfície encontrados
neste trabalho difere do conceitual que apresenta a presença de um jato em baixos
níveis durante todo o desenvolvimento e maturação do sistema, neste caso o vento
é fraco pois o mecanismo de alimentação da instabilidade deste SCM foi a
45
passagem de uma frente fria, que se deslocou para o oceano, deixando sobre a
região de atuação do sistema ventos fracos.
A velocidade vertical (Fig. 20b, linha vermelha) encontrada em superfície
(1000hPa) foi ligeiramente maior do que a da fase de iniciação, com valores nulos
nos níveis de 925 e 850hPa. A partir desse último nível, até aproximadamente
500hPa, foi encontrada uma camada de subsidência. Essa camada de subsidência é
semelhante a encontrada por Cotton et al (1989), e pode ter sido gerada pela
precipitação encontrada nessa fase. Então, em 400hPa observou-se um novo
máximo de ascendência, seguido de uma diminuição que atingiu valores
descendentes novamente, no nível de 200hPa.
A umidade específica era de 14gkg
-1
na superfície, mantendo-se assim até
925hPa, onde a partir desse nível começou a diminuir linearmente com a altura, até
secar completamente a partir de aproximadamente 500hPa (Fig. 20c, linha
vermelha).
O perfil da temperatura potencial equivalente (Fig. 20d, linha vermelha)
mostrou que no horário de maturação, a atmosfera apresentava-se neutra até o nível
850hPa, a partir daí, tornou-se instável até o nível de 500hPa, e estável nos níveis
superiores a esse. Esse comportamento é diferente do encontrado por Maddox
(1983) e Torres (2003). O primeiro autor, no ponto central da fase madura do
sistema, encontrou uma camada praticamente neutra da superfície até 500hPa, e
estável acima disso. O segundo autor, encontrou uma atmosfera instável até o nível
de 600hPa e estável a partir desse nível.
Etapa de dissipação
O vento em superfície, no horário da dissipação (Fig. 20a, linha verde), foi
maior do que nas outras fases do ciclo de vida do sistema, apresentando um ligeiro
máximo em 850hPa. A partir de 700hPa, o vento começa a aumentar até um novo
máximo em 200hPa, mostrando que ainda existia o jato em altos níveis, mas agora
bem mais fraco do nas fases anteriores.
Quanto à velocidade vertical (Fig. 20b, linha verde), notou-se que durante a
dissipação os valores em superfície são maiores do que nas fases anteriores,
sugerindo que ainda existam núcleos convectivos nessa fase. Acima do nível de
800hPa, toda a atmosfera apresentava movimento subsidente.
46
A umidade em 100hPa, foi a mesma da maturação, 14gkg
-1
, com a diferença
que nesse estágio, começou a diminuir bruscamente acima de 925hPa (Fig. 20c,
linha verde).
O perfil de temperatura potencial equivalente (Fig. 20d, linha verde) mostrou
instabilidade até o nível de 600hPa e estabilidade acima deste, o que é similar ao
descrito por Torres (2003) e próximo ao encontrado por Maddox (1983).
a)
B
c)
D
Figura 20: Perfil vertical de a) vento (ms-1), b) velocidade vertical (ms-1), c) umidade
específica (g Kg-1) e d) temperatura potencial equivalente (K). As linhas de cor azul
representam a fase de iniciação do sistema, as de cor vermelha, a fase de
maturação e, as de cor verde, a fase de dissipação.
47
CONCLUSÃO GERAL
Estudando o período referente ao experimento SALLJEX (novembro de 2002
a fevereiro de 2003), tomando como critério de seleção a precipitação acumulada
em superfície, o caso de estudo selecionado foi o ocorrido entre os dias 19 e 20 de
fevereiro de 2003.
A fim de se estudar as características radiativas e morfológicas do SCM, foi
utilizada a técnica ForTrACC (Vila, 2004), utilizados os limiares de temperatura de
brilho de 235K, para definir o SCM e, de 210K, para definir as células convectivas
imersas nesses SCM. Com isso, foram encontrados 66 sistemas na região de
estudo, onde apenas um desses influenciou na precipitação registrada nas estações
meteorológicas do Rio Grande do Sul. Esse sistema teve um ciclo de vida de 23
horas, com início as 13 UTC do dia 19/02/03, maturação às 07:30 UTC e dissipação
às 11:30 UTC do dia 20/02/03. Durante todo esse período, apresentou topos frios,
ou seja, núcleos com temperatura abaixo 210 K. Ficou evidenciado também, que o
sistema teve um comportamento semelhante ao conceitual, onde primeiro sofre uma
forte convecção, atingindo valores menores de temperatura, para depois se expandir
no estágio de maturação.
Tanto no conjunto total dos sistemas, como o que foi selecionado para
estudo, os picos de maturação do sistema coincidem com os dados da literatura, ou
48
seja, dois picos bem marcados, um durante o período da tarde e outro no final da
madrugada e início da manhã.
Devido ao fato deste sistema ter sido marcado por várias fusões e
separações durante seu ciclo de vida, sua trajetória foi aleatória.
Por fim, observou-se também que a relação entre a temperatura mínima
sobre as estações que foram mais afetadas pelo sistema, e a precipitação registrada
em superfície foi inversa, com os maiores valores de precipitação coincidindo com os
menores valores de temperatura mínima.
Assim, podemos concluir que as características do sistema observado pelas
imagens de satélite refletem com confiabilidade o momento de maior atuação do
SCM em superfície, caracterizado pelos maiores valores de precipitação.
Para caracterizar o ambiente sinótico e os perfis verticais de algumas
variáreis meteorológicas durante o ciclo de vida do SCM, foram feitas simulações
com o modelo regional BRAMS. Com isso, pode-se descrever detalhadamente as
condições atmosféricas durante todo o ciclo de vida de um SCM, ocorrido entre os
dias 19 e 20 de fevereiro de 2003. Isso foi feito utilizando duas grades, uma com
resolução horizontal de 36 km (abrangendo toda a área ocupada pelo SCM durante
seu ciclo de vida) e a outra com resolução horizontal de 9 km (centrada na região
onde o SCM apresentou sua maior intensidade sobre o RS).
Utilizando a grade 1, observou-se que desde o início da simulação, as
condições na região eram propícias ao surgimento do sistema, com advecção
quente evidenciada pelo giro anti-horário dos ventos com a altura, aumento de
temperatura e gradiente de umidade em superfície. Durante a etapa de início
observou-se advecção quente em todos os níveis, com os ventos diminuindo a
velocidade em superfície, na região de formação do sistema, dando lugar para a
convergência de umidade em 1000hPa e ao movimento ascendente em 850hPa e
500hPa, um aumento de temperatura e um forte gradiente de umidade. Em 200hPa
foi observado um jato, que persistiu durante todo o ciclo de vida do sistema,
combinado com a divergência dos ventos. Esses fatores combinados alimentavam a
convecção dando início e condições para o desenvolvimento do SCM. Foi observado
também que o sistema se formou anterior à uma frente fria que estava sobre o
Uruguai. Na etapa de maturação a advecção quente já não era mais evidente, o
vento era de SO tornando-se de O com a altura, o que indicava a advecção fria para
a região devido ao avanço de uma massa de ar frio e seco posterior à frente que já
49
se encontrava no oceano. Na região do sistema ainda tinha-se convergência de
umidade e movimento ascendente em praticamente toda a região do SCM, que se
encontrava mais ao norte do estado, acompanhando o deslocamento dos gradientes
de temperatura e umidade. Na dissipação as condições não foram muito diferentes
da maturação, o mais marcante foi que o sistema continuou deslocando-se para
norte, conforme o ar frio entrava debilitando a convergência de umidade e a
velocidade vertical na região onde o sistema se encontrava.
Analisando a grade 2, foi possível descrever o comportamento do vento, da
umidade específica, da velocidade vertical e da temperatura potencial equivalente
durante as três fases do ciclo de vida do sistema. O perfil do vento mostrou poucas
diferenças entre as etapas do ciclo, a mais evidente foi o aumento da altura da
posição do máximo em superfície, de 925hPa na iniciação para 850hPa nas outras
duas fases, mas durante todo o ciclo ficou evidente a presença de um jato em alto
em 200hPa. O perfil da velocidade vertical mostrou que durante todas as fases do
ciclo a ascendência diminui entre os dois primeiros níveis, e que a iniciação é a
única etapa que apresenta movimento ascendente em praticamente todos os níveis.
O perfil de umidade específica mostra que a fase mais úmida em superfície é a de
maturação, onde se teve também uma diminuição mais acentuada com a altura. E o
perfil da temperatura potencial equivalente mostrou um comportamento em baixos
níveis diferente em cada fase do ciclo, com instabilidade apenas até 925hPa na
iniciação, na maturação a instabilidade estava entre 925 e 500hPa e na dissipação,
havia instabilidade da superfície até 600hPa.
Com essa análise, foi possível detalhar não só o comportamento das
variáveis meteorológicas em grande escala que afetam a ciclo de vida do SCM, mas
também analisar o perfil interno do sistema em cada fase do seu ciclo de vida,
possibilitando um argumento a mais na compreensão desse fenômeno.
Desde modo, ficou claro que o estudo do SCM, utilizando o modelo regional
BRAMS em conjunto com a Técnica ForTrACC, possibilita um melhor detalhamento
tanto das condições atmosféricas de grande escala, como das características
específicas do sistema durante todo o seu ciclo de vida.
50
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57
ANEXOS
58
ANEXO 1: CAMPOS, Cláudia Rejanejacondino de; PINTO, Luciana Barros. Análise
das características físicas e do ambiente sinótico de um SCM ocorrido sobre o Rio
Grande do Sul nos dias 19 e 20 de fevereiro de 2003. In: III CONGRESO CUBANO
DE METEOROLOGÍA, 2005, Havana. CD-ROM do III Congreso Cubano de
Meteorología. 2005.
ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E DO AMBIENTE SINÓTICO
DE UM SCM OCORRIDO SOBRE O RIO GRANDE DO SUL NOS DIAS 19 E 20 DE
FEVEREIRO DE 2003
Claudia Rejane Jacondino de Campos e Luciana Barros Pinto
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Campus Universitário, s/n°, caixa
postal 354,
CEP 96010-900, Pelotas RS, Brasil, Fax: 55-053-3275-7329, e-mail:
INTRODUÇÃO
Os Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) tem sido alvo de interesse
de pesquisadores nos últimos tempos, devido às características de tempo a eles
associados, como precipitações intensas, fortes rajadas de vento e granizo, que
causam sérios danos a população.
Diversos autores (Machado et al, 1994; Nicolini et al, 2002; Torres, 2003;
Vila, 2004 e Zipser, 2004) têm analisado vários SCM com o objetivo de determinar o
seu tamanho médio e seu horário preferencial de formação e maturação. Esses
estudos mostram que o tamanho médio dos sistemas está associado ao seu tempo
de vida, maiores sistemas têm maior tempo de vida. Com relação ao horário de
formação dos sistemas, a maioria é detectada inicialmente no período da tarde,
horário de máxima atividade convectiva no ciclo diurno sobre o continente e, um
máximo secundário de formação é observado no fim da noite e início da manhã
(entre 5 e 6 horas da manhã). Também tem sido observado que a fase madura dos
59
sistemas tem dois picos, um pela tarde e outro durante a noite e primeiras horas da
manhã.
Outra característica observada é com relação a trajetória dos SCM que se
originam a leste da Cordilheira dos Andes, que segundo alguns autores (Guedes,
1985; Figueiredo e Scolar, 1996; Nicolini et al, 2002 e Torres, 2003) têm a tendência
de se deslocarem para leste, entre 25° e 40°.
Para se entender a ocorrência desses sistemas, e para uma melhor previsão
dos mesmos, é importante conhecer o ambiente sinótico preferencial para o seu
surgimento, desenvolvimento, manutenção e dissipação. Diversos pesquisadores
têm realizado pesquisas a fim de se reproduzir um ambiente padrão desses
sistemas. Entre eles, Maddox (1983) e Jirak e Cotton (2003), estudando a região
central dos EUA, mostraram que a condição primordial para a iniciação, organização
e manutenção de um SCM, é uma convergência na média troposfera,
aparentemente forçada por um jato em baixos níveis e uma advecção quente e
úmida. Essa condição foi comprovada por Guedes et al (1994) que ao estudar a
região sul da América do Sul, mostrou que a essa condição estava também
associado um jato em altos níveis.
Devido às muitas questões a serem ainda respondidas sobre os SCM, o
objetivo deste trabalho é descrever o ciclo de vida, as propriedades morfológicas e
radiativas do SCM mais precipitante ocorrido sobre o Rio Grande do Sul, durante o
período que integra o experimento SALLJEX, e o ambiente sinótico em que ele
estava imerso.
MATERIAL E MÉTODOS
Neste trabalho foram utilizadas as imagens do satélite GOES 8 (75º W, 0º )
com uma resolução espacial de 4 km x 4 km e resolução temporal de ½ hora,
correspondentes ao canal 4 (10,7 μm, infravermelho térmico), disponíveis via
anonymous ftp pelo “Climate Prediction Center” (NCEP). E, em conjunto, utilizou-se
dados observados de precipitação das 12, 18 e 24UTC e precipitação total (medida
as 12 UTC) de 24 estações meteorológicas de superfície, pertencentes ao 8° Distrito
do Instituto Nacional de Meteorologia (8°Dism./INMET). O período estudado foi de
novembro de 2002 a fevereiro de 2003, e a região de interesse é o estado do Rio
Grande do Sul.
60
Primeiramente, analisando os dados de precipitação, foi selecionado o dia
com a maior precipitação em superfície registrada na maioria das estações
meteorológicas. Então, foram analisadas as imagens de satélite correspondentes, a
fim de se identificar à existência sobre o RS de algum tipo de SCM que pudesse ter
gerado essa precipitação.
Para a confirmação de qual(is) da(s) família(s) de sistemas, ocorrida(s)
sobre o estado nesse dia, foi(foram) a(s) responsável(is) pela maior parte da
precipitação registrada, foi utilizado o programa ForTrACC (Forecasting and Tracking
of Active Cloud Clusters). Essa técnica estuda as características dos SCM através
do seu ciclo de vida, utilizando informações dos canais térmicos dos satélites
geoestacionários. Os principais elementos que compõem este sistema são os
seguintes: 1) um algoritmo de detecção e construção de aglomerados de nuvens
(‘clusters’) usando um umbral de temperatura; 2) um programa para o cálculo dos
diversos parâmetros estatísticos e morfológicos dos sistemas achados no ponto
anterior (Vila, 2003; Machado 1998); 3) uma técnica de seguimento em si, baseada
na superposição de áreas entre imagens sucessivas, o que permite a construção
das trajetórias dos sistemas ao longo de seu ciclo de vida (‘familias’) (Mathon e
Laurent, 2001; Laurent et al, 2002) e 4) a etapa da geração de imagens virtuais ou
sintéticas, utilizadas para cobrir os horários de imagens faltantes. Neste trabalho
foram utilizados os limiares de temperatura de brilho de 235K, para definir o SC e, de
210K, para definir as células convectivas imersas nesses SCM, que são os valores
utilizados pelo ForTrACC (Vila, 2004).
Para a seleção do caso, foi observado, para cada estação meteorológica de
superfície do RS, quais foram às famílias que atuaram sobre elas entre as 12UTC do
dia 19/02/03 até as 12 UTC do dia 20/02/03. Para isso foi utilizado um programa que
confronta o conjunto de famílias gerado pelo ForTrACC com os dados de latitude e
longitude de cada estação.
Então, uma vez selecionado o caso, e definido o conjunto de famílias que
mais atuou sobre as estações meteorológicas estudadas, com o conjunto de dados
gerados pelo ForTrACC, pode-se estudar o ciclo de vida, a trajetória e as
características morfológicas e radiativas do sistema.
Para o estudo do ambiente sinótico foram utilizadas as análises do modelo
regional ETA (CPTEC/INPE), dos dias 19, 20 e 21 de fevereiro de 2003, período que
61
engloba todo o ciclo de vida do sistema selecionado, que serviram como dados de
entrada para a simulação com o modelo BRAMS.
A simulação com o modelo BRAMS foi realizada com uma grade com
108X78 pontos de grade e resolução horizontal de 36 km (centrada em 27,5°S e
52,5°W, cobrindo uma área de aproximadamente 3888X2808 km. Utilizaram-se 32
níveis na vertical. Os passos no tempo nas grades 1 e 2 foram de 45 e 15 s,
respectivamente. A simulação teve início às 12UTC do dia 19/02/03 e terminou às
00UTC do dia 21/02/03, compreendendo um total de 48 h com saídas de 1 em 1 h.
Estes dados foram analisados sobre superfícies isentrópicas e depois interpolados
para a grade do modelo.
Os dados de inicialização serão informados ao modelo a cada 3 h através do
esquema de nudging nos limites laterais da grade maior. Serão utilizadas as
parametrizações que estão sendo utilizadas operacionalmente no Grupo de Estudos
em Previsão Regional (GEPRA/FURG).
Foram analisadas as seguintes variáveis: em baixos níveis (1000 e 850 hPa)
serão analisados os campos de vento, umidade específica, temperatura,
convergência de umidade, divergência e velocidade vertical (w, em ms
-1
, apenas no
nível de 850 hPa); em níveis médios (500 hPa) serão analisados os campos de
vento e velocidade vertical (w) e, em altos níveis (200 hPa), serão analisados os
campos de vento, divergência e temperatura. Esses campos serão analisados para
cada etapa do ciclo de vida do sistema (início, maturação e dissipação).
RESULTADOS
Pela análise dos dados de precipitação em superfície e das imagens de
satélite, correspondente aos dias que apresentaram precipitação, o caso
selecionado foi o ocorrido durante os dias 19 e 20 de fevereiro de 2003, onde em
algumas estações de superfície foram registrados valores de precipitação acima de
75mm, sendo que os maiores valores de precipitação foram registrados no centro e
norte do RS, com um núcleo de valores mais intensos (maiores que 100mm) no
nordeste do estado.
62
a) Ciclo de vida
O ciclo de vida desta família foi de 23 horas, tendo início às 13 UTC do dia
19/02 e, finalização as 12 UTC do dia 20/02, estando presente durante todo o
período de interesse. Pela figura 1 podemos ver que o sistema surgiu a partir da
dissipação de uma linha de instabilidade as 13 UTC do dia 19/02/03 (Figura 1a e
1b). O ciclo de vida desse sistema foi marcado por várias fusões com novos
aglomerados convectivos que se formaram no norte do estado do RS e sobre o
oeste do Paraguai (Figura 1c). As 04 UTC do dia 20/02/03, o sistema atinge a sua
fase mais ativa (Figura 1d), e então após esse horário expandiu-se até atingir o seu
maior tamanho, as 07:30 UTC (Figura 1e), vindo a dissipar-se e deixar o RS depois
desse horário (Figura 1f).
63
a) 19/02 as 13:00 UTC
b) 19/02 as 16:30 UTC
c) 19/02 as 20:00 UTC
d) 20/02 as 04:00 UTC
e) 20/02 as 07:30 UTC
f) 20/02 as 11:30 UTC
Figura 1: Imagens do satélite GOES 8, no canal infravermelho térmico
(TRMM/NCPE), mostrando a evolução do SCM entre os dias 19 e 20 de fevereiro de
2003.
Pela figura 2 pode-se ver que durante todo o período o sistema apresentou
topos frios, ou seja, núcleos com temperatura abaixo 210 K, com o menor valor de
64
temperatura mínima as 04 UTC. Já a maior área coberta pelo sistema ocorreu as
07:30 UTC. Esses horários de menor temperatura mínima e maior tamanho deixam
evidenciado também, que o sistema teve um comportamento semelhante ao
conceitual, onde primeiro sofre uma forte convecção, atingindo valores menores de
temperatura mínima, para depois se expandir no estágio de maturação.
180
5180
10180
15180
20180
25180
30180
35180
40180
45180
50180
12:00 14:00 16:00 18:00 20:00 22:00 00:00 02:00 04:00 06:00 08:00 10:00 12:00
Tempo (h)
Tamanho (pixels)
180
185
190
195
200
205
210
215
Temperatura mínima (K)
Tamanho Temperatura mínima
Figura 2: Evolução do tamanho (pixels) e da temperatura mínima (K) do
SCM que atingiu o estado, das 12 UTC do dia 19/02/03 as 12 UTC do dia 20/02/03.
b) Ambiente sinótico
De modo geral, pela simulação feita com o modelo BRAMS, pode-se
observar que das 00 as 17 UTC do dia 19/02/2003, o vento apresentava um giro
anti-horário com a altura, em todo o RS, incluindo a região de formação e
desenvolvimento do sistema, indicando advecção quente até altos níveis. Depois
desse horário até o final da simulação, os ventos foram de sudeste, em superfície,
na maior parte do tempo, girando no sentido horário com a altura, evidenciado uma
advecção fria. Essa advecção fria foi confirmada pela entrada de uma massa de ar
frio e seco que avançou sobre o estado durante esse período. A temperatura das 00
até as 21 UTC, do dia 19/02/2003, foi aumentado de 24°C a 35°C, na região de
formação do sistema. O resfriamento durante o restante da evolução do sistema,
65
pode ter sido influenciado pela precipitação causada pelo mesmo, que favoreceu o
avanço da massa de ar frio. Durante todo o período foi verificado um gradiente de
umidade sobre o RS e toda a área do sistema. Foi observada também convergência
de umidade e movimento do ar ascendente em praticamente toda a região do
desenvolvimento do ciclo de vida do SCM, os com os maiores valores coincidindo
com a posição dos núcleos mais ativos observados nas imagens de satélite.
CONCLUSÃO
Analisando o conjunto de famílias gerado pelo FORTRACC, observou-
se que o SCM teve ciclo de vida de 23 horas, com início às 13UTC do dia 19/02/03 e
dissipação às 12UTC do dia 20/02/03. Esse SCM originou-se no centro do RS e
deslocou-se para o norte, tendo sua maior extensão na madrugada e início da
manhã do dia 20/02/03. Analisando os campos de vento(m/s), temperatura(°C) e
umidade específica(g/Kg) em 1000, 850, 500 e 200hPa e a velocidade vertical(m/s)
em 850 e 500hPa, pode-se constatar que o sistema surgiu devido a presença de
uma frente fria ao sul do Estado, caracterizada por gradientes de temperatura e
umidade, confluência dos ventos em superfície e valores positivos de velocidade
vertical na região frontal. Essa frente dissipou-se e deixou sobre a região nordeste
do estado uma região de convergência dos ventos associada a altos valores de
temperatura e umidade, que manteve o sistema até o ar frio tomar conta dessa
região, resultando na dissipação deste. A metodologia utilizada permitiu uma
descrição clara do ciclo de vida do sistema, e definiu quais as forçantes sinóticas
influenciaram em cada fase do seu ciclo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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METEOROLOGIA E VII CONGRESSO LATINO AMERICANO E IBÉRICO DE
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Norte y Centro de Argentina. Tese de doctorado. FCEyN-UBA, 2003.
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VILA, D. A.: Sistemas Convectivos Precipitantes de Mesoescala sobre Sudamerica:
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UBA, 2004.
ZIPSER, E.J.; SALIO, P.; NICOLI, M. Mesoscale Convective Systems activity during
SALLJEX and the relationship with SALLJ events. CLIVAR, Exchanges –Scientific
Contributions.n. 29, march 2004.
68
ANEXO 2: PINTO, Luciana Barros; CAMPOS, Cláudia Rejane Jacondino de. Análise
do impacto em superfície do Sistema Convectivode Mesoescala ocorrido no norte do
Rio Grande do Sul. In: XIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E VII
ENCONTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO, 2005, Pelotas. CD-ROM do XIV Congresso de
Iniciação Científica e VII Encontro de Pós-Graduação. 2005.
ANALISE DO IMPACTO EM SUPERFÍCIE DO SISTEMA CONVECTIVO DE
MESOESCALA OCORRIDO NO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL
PINTO, Luciana Barros
1
, CAMPOS, Cláudia Jacondino
2
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Campus Universitário, s/n°, caixa
postal 354,
CEP 96010-900, Pelotas RS, Brasil. E-mails:
(1)
(2)
RESUMO
O estudo dos Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) tem sido de grande
interesse dos estudiosos devido à severidade das condições de tempo associadas a
eles, visto que sua ocorrência vem, geralmente, associada a precipitações intensas
e fortes rajadas de ventos. O objetivo deste trabalho é confrontar os dados de
superfície, de 24 estações meteorológicas de superfície (8° Distrito de Meteorologia-
INMET) com a estrutura observada nas imagens de satélite (GOES-8, resolução
espacial de 4x4 km e resolução temporal de 30 minutos, no infravermelho, cedidas
pelo CPTEC/INPE), a fim de analisar a intensidade de precipitação causada pelo
SCM, ocorrido ao norte do RS, nos dias 19 e 20/02/03.
Analisando o conjunto de famílias gerado pelo FORTRACC (Vila, 2004), junto com
os dados de precipitação em superfície e as imagens de satélite, observou-se que o
SCM em estudo teve um ciclo de vida de 23 hrs, com inicio as 13 UTC do dia 19 e
dissipação as 12 UTC do dia 20. Esse SCM originou-se no centro do RS e deslocou-
69
se para o norte, tendo sua maior extensão na madrugada e início da manhã do dia
20, período onde, segundo os dados de precipitação, foi o mais chuvoso em todas
as estações atingidas pelo SCM.
Dentre as 24 estações, 9 apresentaram precipitação acima de 75mm durante a
ocorrência do SCM, mas só foram analisadas 5 delas, devido a falhas nos dados
das outras. Nestas, o pico de precipitação ocorreu no horário das 00 UTC do dia 20.
A pressão teve um aumento gradativo durante o ciclo de vida do SCM. A umidade
relativa apresentou um padrão no qual teve-se um aumento antes do pico de
precipitação, e uma diminuição após o mesmo. O comportamento da temperatura do
ar foi marcado por menores valores durante o pico de precipitação, com exceção de
Caxias do Sul, onde se teve um aumento durante o mesmo.
Conclui-se então que o conjunto dos dados de superfície com as saídas do
programa FORTRACC caracterizaram com bastante precisão a relação do SCM com
a precipitação registrada.