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AÇÕES PARABÓLICAS
Uma análise do ensino de Jesus através de suas ações.
Dissertação de Mestrado
por
Claiton André Kunz
em cumprimento parcial das exigências
do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação
em Teologia para obtenção do grau de
Mestre em Teologia
Escola Superior de Teologia
São Leopoldo, RS, Brasil
Abril de 2006
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2
BANCA EXAMINADORA
AÇÕES PARABÓLICAS
Uma análise do ensino de Jesus através de suas ações.
____________________________________
Autor: Claiton André Kunz
____________________________________
Presidente: Dr. Uwe Wegner (EST)
____________________________________
1º Examinador: Dr. Nelson Kilpp (EST)
____________________________________
2º Examinador: Dr. Vilson Scholz (ULBRA)
Aprovada em ___/___/___
São Leopoldo
2006
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3
KUNZ, Claiton André. Ações parabólicas: uma análise
do ensino de Jesus através de suas ações. São
Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 2006.
SINOPSE
O presente trabalho é uma análise de um dos métodos de ensino
de Jesus. As chamadas ações parabólicas, empregadas pelos
profetas do Antigo Testamento, também são utilizadas por Jesus
Cristo. A pesquisa procura atestar este uso e estabelecer
alguns critérios referentes ao mesmo. Na primeira parte são
examinados alguns aspectos gerais que dizem respeito às ações
parabólicas, como por exemplo, sua conceituação, seu uso, o
propósito de serem utilizadas e algumas de suas
características. Na segunda parte, são abordados alguns
aspectos mais formais das ações, no que diz respeito à análise
da forma, à historicidade, à intencionalidade e também à
interpretação. Nesta parte, especialmente na análise da forma,
são estabelecidos alguns critérios para a identificação de
ações parabólicas. Finalmente, na terceira parte, é
apresentada a ação parabólica da Maldição da Figueira,
relatada por Marcos e Mateus, como exemplo. As ações
parabólicas são um meio de pregação, mas constituem-se em si
mesmo a própria proclamação.
4
KUNZ, Claiton André. Ações parabólicas: uma análise
do ensino de Jesus através de suas ações. São
Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 2006.
ABSTRACT
This dissertation is an analysis of one of the Jesus’
teachings methods. Parabolic actions, which were used by the
Old Testament prophets, were also used by Jesus Christ. This
research tries to attest this use and establish some criteria
for its analysis. In the first part, some general aspects that
they concern the parabolic actions are examined, as, for
example, their conception, their use, the purpose for which
they were used and some of their characteristics. In the
second part, some formal aspects of the actions are examined,
as, for example, literary form, historical analysis,
intentional analysis and interpretation. In this part,
especially in the analysis of the literary form, some criteria
for the identification of parabolic actions are established.
Finally, in the third part, by way of example, the parabolic
action of the Cursing of the Fig Tree, as told by Marcos and
Matthew, is analysed. Parabolic actions are a preaching
method. But, much morethan an aid to preaching or a way of
illustrating a message, they themselves are the messages.
5
AÇÕES PARABÓLICAS
Uma análise do ensino de Jesus através de suas ações.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..........................................6
I – ASPECTOS GERAIS DAS AÇÕES PARABÓLICAS ...........8
1.1 Conceitos ............................................ 8
1.1.1 Parábola Relatada .............................. 8
1.1.2 Ação Parabólica ............................... 11
1.2 Uso de Ações Parabólicas ............................ 16
1.2.1 No Antigo Testamento .......................... 17
1.2.2 No Novo Testamento ............................ 20
1.3 Propósito ........................................... 24
1.3.1 Parábolas Relatadas ........................... 25
1.3.2 Ações Parabólicas ............................. 29
1.4 Características ..................................... 31
1.4.1 Parábolas Relatadas ........................... 32
1.4.2 Ações Parabólicas ............................. 36
II – ASPECTOS FORMAIS DAS AÇÕES PARABÓLICAS ........43
2.1 Análise da Forma .................................... 43
2.2 Historicidade ....................................... 51
2.3 Intencionalidade .................................... 57
2.4 Interpretação ....................................... 61
III – ASPECTOS EXEGÉTICOS DE UMA AÇÃO PARÁBOLICA ...71
* Maldição da Figueira – Um exemplo ..................... 71
3.1 O Texto da Maldição da Figueira ..................... 72
3.2 O Contexto da Maldição da Figueira .................. 77
3.3 A Figueira em Israel ................................ 81
3.4 O Significado da Figueira ........................... 85
3.5 A Interpretação da Maldição da Figueira ............. 89
3.6 A aplicação da Maldição da Figueira ................. 94
CONCLUSÃO .........................................100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................103
6
INTRODUÇÃO
O Senhor Jesus Cristo, bem como os profetas e apóstolos,
utilizaram diversos meios para proclamar os seus ensinos. A
“palavra falada” era, por excelência, a forma de proclamação.
Entretanto, em diversos momentos percebe-se o uso de outros
recursos. Entre eles estão as ações parabólicas, utilizadas
muitas vezes por Jesus Cristo e também pelos profetas do
Antigo Testamento.
Diante desta constatação, pode-se perguntar sobre “o que
exatamente é uma ação parabólica?” “como era utilizada?”, “com
que propósito foram representadas?”, “que características
possuem?” e “como devem ser interpretadas?”. Estas perguntas
serão norteadoras para a presente pesquisa.
Serão utilizados como base alguns estudos a respeito deste
tipo de ações no Antigo Testamento, tendo em vista este estudo
estar um pouco mais aprofundado. certa carência de material
a respeito das ações parabólicas em Jesus Cristo. Foi
encontrado apenas um artigo (de G. Stählin: Die
Gleichnishandlungen Jesu), que procura analisar diretamente
este gênero, embora de forma abreviada, como o próprio autor
admite. Por isso serão feitas também pontes entre as parábolas
relatadas e as ações parabólicas, pois possuem muitas
semelhanças e características comuns.
7
Uma dificuldade que se apresenta é quanto à nomenclatura.
Alguns autores utilizam a expressão “parábolas dramatizadas”,
outros “ações parabólicas”, “ações simbólicas”, e outros ainda
“ações proféticas”. Neste estudo, estes termos são
intercambiáveis, dependendo do autor que estará sendo citado,
dando-se preferência à designação “ação parabólica”.
Inicialmente a pesquisa abordará questões mais gerais, como a
conceituação, uso, propósito e características das ações
simbólicas. Estas definições serão importantes para nortear o
restante da pesquisa.
O passo seguinte será identificar alguns aspectos mais formais
das ações parabólicas de Jesus, como a forma, a historicidade,
a intencionalidade e a interpretação das mesmas. Isto será de
grande importância para fixar critérios para a análise
posterior de ações parabólicas.
Embora não se tenha encontrado nenhum estudo sistemático sobre
as ações parabólicas de Jesus, diversos autores e
comentaristas assim classificam algumas das ações de Jesus, o
que facilitará o estudo em questão.
Finalmente, uma ação parabólica será analisada como modelo e
exemplo do processo descrito anteriormente. Para tal, foi
escolhida a maldição da figueira, relatada por Marcos e
Mateus, e reconhecida por vários autores, como uma ação
parabólica de Jesus.
8
I – ASPECTOS GERAIS DAS AÇÕES PARABÓLICAS
A Bíblia apresenta inúmeras formas literárias. Diversos
autores classificam essas formas em gêneros maiores e gêneros
menores. Dentre os gêneros menores encontram-se o que é
chamado de ações parabólicas. Gustav Stählin afirma que “as
ações de caráter parabólico e as parábolas pertencem à mesma
família”.
1
Krüger e Croatto também analisam as parábolas e as
ações parabólicas dentro do gênero parabólico.
2
Portanto, para
conceituar a ação parabólica, propõe-se inicialmente uma
definição de parábolas “relatadas”, conforme o seu uso mais
comum, e, posteriormente, uma ampliação do conceito e sua
diferenciação para ações parabólicas.
1.1 Conceitos
1.1.1 Parábola Relatada
Por parábolas relatadas compreende-se a narração de certo
evento, que, embora possa ocorrer, não se pressupõe que tenha
ocorrido de fato. Thayer um sentido lato de parábola. Ele
descreve o termo grego 

 como “parábola, comparação de
uma coisa com outra, semelhança, similitude (...). Uma
narrativa, fictícia, mas de acordo com as leis e costumes da
vida humana, na qual ou os deveres dos homens ou as coisas de
Deus, particularmente a natureza e história do Reino de Deus,
1
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 10.
2
KRÜGER, R.; CROATTO, J. S. Métodos exegéticos, p. 130-132.
9
estão retratadas”.
3
Neste sentido é a explicação de algo
desconhecido através de figuras conhecidas.
4
Mediante a
comparação entre o conhecido e o desconhecido, na qual o
próprio ouvinte deve descobrir a semelhança (geralmente não
mencionada, a fim de colocar em ação os processos mentais do
ouvinte, de compreender, comparar e considerar), chega-se ao
ponto essencial da analogia.
5
Segundo Martínez
parábola é uma narração, mais ou menos extensa, de
um acontecimento imaginário do qual, por
comparação, se deduz uma lição moral ou religiosa.
Etimologicamente, o nome parabolê corresponde ao
verbo paraballô, que literalmente significa por ao
lado, comparar. Em efeito, a parábola se
caracteriza porque implica a comparação de objetos,
situações ou atos bem conhecidos - tomados da
natureza ou da experiência - com objetos ou atos
análogos de tipo moral desconhecidos. Daqueles (a
imagem) se deduzem estes (a realidade que se
pretende ensinar). Imagem e realidade se encontram
no tertium comparationis o ponto de comparação,
comum a ambas.
6
Zuck complementa, afirmando que a parábola é um tipo de
linguagem figurada em que se fazem comparações; mas, em vez de
usar uma palavra ou expressão para a comparação ou
analogia, como ocorre num símile ou numa metáfora, a parábola
faz uma ampla analogia em forma de história. Apesar de ter
base plausível, ela pode não ter realmente ocorrido com todos
os detalhes como foi apresentada. Os acontecimentos históricos
podem servir de ilustrações, mas as parábolas relatadas são
3
THAYER, J. H. Greek-English Lexicon of the New Testament, p. 479.
4
HOOVER, R. L. Os Evangelhos, p. 34
5
PEISKER, C. H. Parábolas. In: COENEN, L.; BROWN, C. (edits). Dicionário
internacional de teologia do Novo Testamento, p. 1570.
6
MARTÍNEZ, J. M. Hermeneutica biblica, p. 451.
10
histórias especiais, não necessariamente fatos históricos,
contadas para ensinar certa verdade.
7
Konings afirma que parábolas são “faíscas de um pensamento
vivo e concreto, que iluminam por um momento o conhecimento e
dão uma intuição momentânea, que não precisa de explicação”.
8
Kenneth Bailey vai um pouco além, e afirma que as parábolas
não são apenas ilustrações. Ele se baseia nas declarações de
Manson que declara que “as mentes treinadas segundo o padrão
ocidental de pensamento”, estão acostumadas a argumentos
teológicos expressos em abstrações; e, então, para ajudar a
“popularizar essas conclusões,” elas podem ser ilustradas com
temas da vida comum. Manson continua: “A verdadeira parábola
não é uma ilustração para ajudar a esclarecer uma discussão
teológica; pelo contrário, é uma forma de experiência
religiosa”.
9
Bailey faz um exercício para a compreensão desta
teoria, a partir de um dito parabólico:
Em Lucas 9:57-58 o texto diz: Indo eles caminho
fora, alguém lhe disse: ‘Seguir-te-ei para onde
quer que fores’”. Se Jesus fosse ocidental, pode
ser que responderia mais ou menos assim: «É fácil
fazer declarações ousadas, mas você precisa
considerar seriamente o que lhe custará me seguir.
7
ZUCK, R. B. A Interpretação Bíblica, p. 225. Manson também a seguinte
definição: “A parábola é um quadro em palavras de algum trecho da
experiência humana, concreto ou imaginado. Mas, além disso, o quadro
retrata ou um tipo ético para a nossa admiração ou reprovação, ou algum
princípio da maneira de Deus dirigir o mundo, ou ainda ambas as coisas. A
parábola espelha a compreensão e a experiência religiosa do seu
criador... Na sua operação real, pois, toda verdadeira parábola é um
apelo a uma vida melhor e a uma confiança mais profunda em Deus, cujos
pormenores não são senão o lado divino e o lado humano da verdadeira
religião, o verso e o reverso da mesma medalha”. (Citado por ZABATIERO,
J. P. T. Parábolas
. In: BROWN, C. (edit). NDITNT, p. 452).
8
KONINGS, J. Jesus nos ensinos sinópticos, p. 30.
9
MANSON. Teaching. In: BAILEY, K. As parábolas de Lucas, p. 13.
11
Parece evidente que até agora você não o fez.
Preciso dizer-lhe claramente que não lhe posso
oferecer salário nem segurança alguma. Se as minhas
palavras ainda não estão claras, talvez uma
ilustração ajude: por exemplo, eu nem possuo cama
para dormir». Mas Jesus responde: As raposas têm
seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o filho do
homem não tem onde reclinar a cabeça”. Ao invés da
declaração abstrata seguida de uma ilustração
elucidadora, temos uma confrontação dramática,
expressa com brevidade em termos inesquecíveis uma
afirmação sublime a respeito da pessoa de Jesus
permeia a resposta parabólica. Um impacto é causado
no ouvinte/leitor que demanda uma reação. As
implicações teológicas obrigam a mente a sair deste
centro compacto, em inúmeras direções. Não foi
registrada a resposta do discípulo original. O
leitor precisa responder agora. Tudo isto acontece
a uma vez, em uma confrontação intensa e
dramática. Uma parábola foi proferida! Presumir que
podemos capturar tudo o que acontece em uma
parábola em uma definição abstrata é entender mal a
sua natureza. Entretanto, precisamos tentar. As
parábolas de Jesus são uma forma concreta e
dramática de linguagem teológica que força o
ouvinte a reagir”.
10
Fee concorda com esta idéia, quando usa palavras de Marshall
McLuhan, dizendo que a própria parábola é a mensagem”.
11
Assim, é contada para dirigir-se aos ouvintes e cativá-los, a
fim de fazê-los parar e pensar acerca das suas próprias ações,
ou de levá-los a dar alguma resposta.
12
1.1.2 Ação Parabólica
Existem inúmeras ocasiões nos Evangelhos, onde o ensino de
Jesus foi mediado através de ações parabólicas. Nestas
ocasiões, a ação de Jesus não foi simples ilustração para
auxiliar a expressão verbal, mas o ensino, que era não-verbal,
10
BAILEY, K. As parábolas de Lucas, pp. 13-14.
11
FEE, G.D. & STUART, D. Entendes o que lês?, p. 125.
12
Interessante notar que o vocábulo português “palavra”, provém deste mesmo
termo grego parabolê. Nascentes afirma que, como tal, “palavra” é uma
comparação sob a qual se oculta uma verdade importante. (NASCENTES, A.
Dicionário etimológico da língua portuguesa, p. 374).
12
estava contido na própria ação. A ação de Jesus, nestes casos,
era geralmente cuidadosamente planejada. Algum comentário
verbal ou explicação podia vir a seguir, mas a própria ação
era parabólica e significava o ensino pretendido.
13
Quanto a
estas ações, Fohrer afirma que na área da literatura elas
encontram seu paralelo não na alegoria, mas na parábola.
14
Quando Stählin afirma que as ações de caráter parabólico e as
parábolas pertencem à mesma família, afirma que
“elas têm em comum, que, com uma ilustração, uma
verdade é apresentada, e que escondem uma ou mais
realidades ou verdades e, ao mesmo tempo, as tornam
manifestas. Também, a ação parabólica reforça algo,
que preliminarmente é visto, dando mais ênfase,
mais especificidade, do que se fosse falado/pregado
sem ilustração.”
15
Ballarini considera que as ações parabólicas “exprimem uma
determinada realidade ou verdade com extrema evidência,
bastando poucas palavras, as quais ordinariamente acompanham a
ação, para nos dar o seu significado”.
16
Percebe-se,
entretanto, que as palavras são, em alguns casos,
desnecessárias, pois a própria ação parabólica fala por si.
Fohrer discute a questão, afirmando que os atos parabólicos
não podem ser vistos apenas como media predicandi (meios de
proclamação), mas que eles se colocam ao lado da palavra
13
STEIN, R. The method and message of Jesus’ teachings, p. 25.
14
FOHRER, G. O nero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo, p. 85.
15
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 10.
16
BALLARINI, T. Profetismo bíblico, p. 53.
13
falada e constituem eles mesmos uma predicatio (proclamação).
17
Declara ainda que os atos parabólicos cumprem a sua finalidade
mesmo quando seu sentido permanece desconhecido dos atingidos.
Isto indica que se trata de um processo que não consiste
apenas de proclamação ou de ação interior, mas sim que se
acredita ter ele uma poderosa força de atuação: a vontade e a
palavra de Javé.
18
A ação parabólica tem as mesmas propriedades que a palavra
profética, as mesmas propriedades que o mundo bíblico
reconhecia à Palavra. Este mundo era sensível de modo
particular ao aspecto dinâmico da palavra. Por serem discursos
em ato, palavra em ação, as ações parabólicas eram mais aptas
para significar a eficácia para a qual tendia a palavra do
profeta. Assim, o mistério de Deus não é simples palavra; ele
é também, e principalmente, realidade. A ação parabólica
era alguma coisa desta realidade.
19
Martínez é da opinião de que o profeta deixava de ser
simplesmente proclamador da palavra para converter-se em ator.
Assim, ele não se limitava apenas a falar ou a ter uma visão,
mas devia atuar, e sua atuação principal era assimilar
17
FOHRER, G. O nero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo, p. 64.
18
Ibidim, p. 81. Faibarn afirma que ao adotar este método, a sabedoria
divina escolheu dentre vários meios os que se adaptavam de modo eficiente
para assegurar aos homens o significado da vontade de Deus (FAIBARN, P.
La profecia: sua naturaleza, función e interpretación
, p. 366).
19
MONLOUBOU, L. Os profetas do Antigo Testamento, p. 39.
14
pessoalmente a Palavra de Deus.
20
J. Jeremias atribui este
mesmo conceito para Jesus:
As ações parabólicas de Jesus são pregação. Jesus
não pregou a mensagem das parábolas, mas também
as viveu e as corporificou em sua pessoa. Jesus não
fala a mensagem do reino de Deus, ele a é ao
mesmo tempo.
21
Stählin lembra que, em Jesus, estão presentes os mesmos
poderes motores humanos como nos profetas, as mesmas visões
daquela época, o dramático impulso dos orientais em forças
poéticas, os quais também pertencem, sem dúvida, à
personalidade humana de Jesus. Mas tudo isto são apenas forças
auxiliares de uma compreensão mais profunda e específica: com
as ações parabólicas, os mensageiros de Deus alcançam o ser
humano na sua essência profunda, um ser humano daqueles
tempos, como os de hoje, de visão típica, na sua maioria. E,
antes de tudo, as atitudes parabólicas são, de certa forma,
uma transformação corporal da mensagem, o verbo se tornou
carne, uma forma misericordiosa da condescendência divina.
22
Neste sentido, Baudler chega a afirmar que Jesus revela ao ser
humano o Reino de Deus, sendo ele próprio a parábola singular
de Deus”.
23
Stählin afirma ainda que, assim também se explicam, pelo menos
parcialmente, algumas atitudes passivas de Jesus, onde Jesus
admitiu deixar acontecer algo em si, como o escárnio, a
20
MARTÍNEZ, J. M. Hermenêutica bíblica, p. 185.
21
JEREMIAS, J. As parábolas de Jesus, p. 228.
22
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 16.
23
BAUDLER, G. A figura de Jesus nas parábolas, p. 283.
15
crucificação entre os malfeitores, e o furo pela lança.
Stählin menciona que, na realidade, Jesus foi o autor destes
atos, o "spiritus rector", principalmente no seu batismo e na
entrada de Jerusalém. Em todos os atos e atitudes, Ele é o
ator principal, tornando-se pessoalmente parábola, porque,
contrariamente a todos os outros profetas, Ele está inserido
na sua mensagem. Enquanto os profetas de Deus apresentavam o
destino de seu povo, Jesus apresenta, nas suas atitudes, o
sentido de sua própria missão.
24
Pode-se considerar, portanto, que as parábolas, tanto
relatadas como dramatizadas, foram um recurso largamente
utilizado pelos profetas e, especialmente, pelo Senhor Jesus
Cristo. As semelhanças entre as parábolas relatadas e as ações
parabólicas ficam evidentes, podendo ser estudadas de forma
paralela, relacionando diversos aspectos entre as mesmas.
Assim como a parábola relatada não é simplesmente uma
ilustração de uma verdade, mas é a própria mensagem que era
proferida, também a ação parabólica vem a ser a própria
mensagem do profeta ou de Cristo. Portanto, não é apenas um
meio de proclamação, mas a própria proclamação.
24
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 16.
16
1.2 Uso de Ações Parabólicas
Sem sombra de dúvida, a grande maioria dos ensinos dos
profetas, assim como do Senhor Jesus, e dos apóstolos do Novo
Testamento, aconteceu através da palavra falada. Entretanto,
um número considerável de ações pode ser listado entre aquelas
que foram intencionalmente utilizadas para transmitir algum
ensino específico.
Jesus poderia ter se dado por satisfeito com o falar
figurativamente; por que, então, também fazer uso de ações
parabólicas? Como resposta, deve-se citar preliminarmente que
Jesus agia assim por tradição, usando referências e exemplos
de atos e pronunciamentos dos profetas do Antigo Testamento e
também dos sacerdotes israelitas. Especialmente nos profetas
maiores, pode-se observar atitudes parabólicas muito
curiosas.
25
Georg Fohrer alista alguns gestos da vida cotidiana que foram
utilizados: uso do calçado (Êx 3.5; Dt 25.9.s; Js 5.15; 2Sm
15.30; Sl 60.10; 24.7), do juramento e do voto (Gn 14.23;
24.2; 47.29), do direito (Dt 25.11s), simbolismo do sal (Jz
9.45), do relacionamento mútuo (Gn 30.3; Ez 16.8; Rt 3.9),
colocar o sobre os inimigos (Js 10.24; Is 51.23; Sl 110.1),
25
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 15.
17
sacudir a poeira (4Ed 1.8; Mt 10.14), despejar água (1Sm 7.6);
cf. ainda Ne 5.12s; 1Sm 11.6ss; 13.27s; 20.20ss,35ss.
26
Além destes atos, não necessariamente proféticos, da vida
cotidiana dos israelitas, podem ser alistados inúmeros outros,
conforme relação a seguir.
1.2.1 No Antigo Testamento
Entre os profetas escritores tem-se uma longa lista de ações
parabólicas proféticas. Além disto, os livros históricos
trazem algumas situações que, de acordo com vários autores,
podem ser classificadas como tais.
Em 1Rs 11.30-32, pode-se ver que o profeta Aias de Silo
anunciou a Jeroboão a divisão e a separação dos dois reinos,
através do ato de rasgar o seu manto em pedaços. Sedecias,
filho de Canaana, anunciou a Acab que ele “exterminaria” os
arameus, brandindo “chifres de ferro”, conforme 1Rs 22.11.
um profeta anônimo montou uma cena para mostrar a Acab a falta
que ele havia cometido, ao deixar livre o rei Ben-Hadade após
o Senhor tê-lo entregue em suas mãos (1Rs 20.35-43).
27
26
FOHRER, G. O nero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo, p. 63.
27
MONLOUBOU, L. Os profetas do Antigo Testamento, p. 37. Sobre a última
destas três ações parabólicas, o presente autor desenvolve um estudo em
forma de estrutura quiástica, com o sub-título “A parábola do profeta
ferido” (KUNZ, C. A. Interpretação de parábolas
. In: Vox Scripturae, Vol.
XII, Nº 1, 2004. p. 3-24).
18
Ballarini alista também o chamado de Eliseu (1Rs 19.19-21),
como uma ação simbólica/parabólica
28
, na qual Elias lança o seu
manto sobre Eliseu e, posteriormente, este imola a sua junta
de bois e os coze com o seu arado. Fohrer refere-se à profecia
final de Eliseu, quando o rei Jeoás o visita, e este é
orientado a lançar uma flecha ao oriente e depois contra a
terra, também como uma ação simbólica/parabólica profética.
29
Em Isaías pode-se ver várias parábolas dramatizadas. Martinez
afirma que o profeta, seguindo a palavra de Deus, andou nu e
descalço por três anos, como sinal e presságio sobre Egito e
Etiópia, cujos cativos seriam deportados pelo rei da Assíria
em condições idênticas (Is 20.2).
30
Em Isaías, também, podem
ser considerados como atos parabólicos os relatos em que o
profeta deve levar o seu filho, cujo nome era “Um Resto
Volverá”, para ser apresentado diante do Rei Acaz (Is 7.3).
Mais adiante, Isaías recebe a ordem de escrever, diante de
testemunhas, o nome “Rápido-Despojo-Presa-Segura” sobre uma
ardósia grande. O mesmo texto afirma que Isaías deveria nomear
o seu filho com esta expressão (Is 8.1-4).
31
Em Jeremias podem ser observadas as ações parabólicas do vaso
do oleiro (Jr 18.1-6), a compra e o uso de um cinto de linho
(Jr 13.1-11), a aquisição, exposição diante do povo e quebra
28
BALLARINI, T. O profetismo bíblico, p. 53.
29
FOHRER, G. Die symbolischen Handlungen der Propheten, p. 20-21.
30
MARTINEZ, J. M. Hermenêutica Bíblica, p. 186.
31
FOHRER, G. O nero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo, p. 68.
19
de um vaso de barro (Jr 19.1-10), a construção, auto-imposição
e distribuição dos canzis (Jr 27.1-3), e a colocação de grande
pedras cobertas de barro à porta do palácio de Faraó em Tafnes
(43.8-13).
32
Jeremias também devia permanecer sem fazer algumas
coisas, o que pode ser considerado igualmente como ação
parabólica: deveria permanecer sem se casar (Jr 16.1-4), não
poderia entrar em casa enlutada, nem participar de qualquer
lamentação (Jr 16.5-7), não poderia entrar em nenhuma casa em
festa (Jr 16.8-9).
33
Além destes, a quebra dos canzis de
Jeremias pelo profeta Hananias (Jr 28.10-11), a compra do
campo de Hananeel, primo de Jeremias (Jr 32.1,7-15), e o livro
que Seraías deveria atar numa pedra e lançar no rio Eufrates
(Jr 51.59-64), também são ações parabólicas.
34
Ezequiel deveria preparar a sua bagagem para o exílio e sair à
vista de todo o povo. Deveria abrir um buraco na parede de sua
casa e sair por ali, levando a bagagem aos ombros e com o
rosto coberto, simbolizando que estava indo para o exílio (Ez
12.1-11).
35
Ezequiel também ficou trancado em sua casa, mudo e
atado (Ez 3.24-27), imitou o cerco da cidade (Ez 4.1-3),
deitou-se de um lado e de outro, representando o estado de
prostração ao qual seriam reduzidos os dois reinos (Ez 4.4-
17), com os fios de sua barba e de seus cabelos cortados
sugeriu o destino trágico do povo (Ez 5.1-3), comeu um
32
MARTINEZ, J. M. Hermenêutica Bíblica, p. 186.
33
FOHRER, G. O nero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo, p. 69-70.
34
Idem. Die symbolischen Handlungen der Propheten, p. 31-34.
35
FAIBARN, P. La profecia: sua naturaleza, función e interpretación, p.369.
20
alimento de miséria mostrando assim a sorte reservada aos
exilados (Ez 12.17-20), recusou-se a cumprir os ritos de luto
quando da morte súbita de sua mulher (Ez 24.15-17), e,
finalmente, unindo em suas mãos dois bastões, indicou a união
futura dos dois reinos (Ez 37.15-28). Todas estas
representações são consideradas por Monloubou como atos
simbólicos/parabólicos.
36
Talvez uma das ações simbólicas/parabólicas mais
impressionantes seja a do profeta Oséias, do seu matrimônio
com uma mulher adúltera. Embora haja uma discussão sobre a
historicidade do texto, os autores a consideram como uma ação
simbólica/parabólica.
37
Finalmente, a última dramatização encontrada no Antigo
Testamento, é registrada em Zacarias, na qual o profeta
deveria fazer uma coroa e colocá-la sobre a cabeça de
Zorobabel (Zc 6.9-15).
38
1.2.2 No Novo Testamento
No Novo Testamento, pode-se ver em alguns momentos a tradição
das ações parabólicas; embora não sejam em tão grande número,
são sempre significativas. Monloubou considera que a veste e o
alimento de João Batista, apoiavam o seu apelo profético à
penitência (Mc 1.6).
39
Pohl argumenta:
36
MONLOUBOU, L. Os profetas do Antigo Testamento, p. 38.
37
LETE, G. del O. La vocación del lider en el antiguo Israel, p. 216-227.
38
FOHRER, G. Die symbolischen Handlungen der Propheten, p. 47-48.
39
MONLOUBOU, L. Os profetas do Antigo Testamento, p. 38.
21
É claro que o cinto de couro, a roupa grosseira de
pêlos de camelo e a alimentação com gafanhotos
cozidos ou torrados e o mel tirado de fendas nas
rochas ou árvores ocas, serviam para caracterizar
qualquer morador do deserto (cf. Mt 11.8). Eram
tudo coisas que se conseguia fora do mundo
civilizado. O que chama a atenção é a abstinência
de carne e vinho. Tudo isto é mencionado aqui com
destaque e aponta para a simplicidade proverbial
dos homens de Deus (Is 20.2; Zc 13.4; Mt 7.15; Hb
11.37). Naturalmente nem todas as pessoas simples
são profetas, mas provavelmente os profetas são
pessoas simples, na medida do possível
independentes em sua vida exterior.
40
No livro de Atos dos Apóstolos, lembrando os moldes dos
profetas do Antigo Testamento, encontra-se a maneira sugestiva
do profeta Ágabo prever o que aconteceria com o apóstolo Paulo
em Jerusalém (At 21.11). Werner de Boor afirma:
Assim como também fizeram os antigos profetas (cf.
Is 20.23; Jr 13.1-11; 19.10s), Ágabo demonstra sua
profecia através de uma ação simbólica. Com o
“cinto” dele, i. é, com um pano comprido que é
atado à cintura como um cinto, ele “amarra as suas
próprias mãos e pés” [NVI]. “Isto diz o Espírito
Santo: Assim os judeus em Jerusalém, farão ao dono
deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios”.
41
Entretanto, com toda certeza, no período do Novo Testamento,
foi Jesus quem mais se serviu deste recurso de ações
parabólicas. Estima-se que um terço do seu ensino oral tenha
sido proferido em forma de parábolas relatadas.
42
Joaquim
Jeremias, um dos maiores eruditos na área de parábolas, após o
seu estudo das parábolas de Jesus, acrescenta um comentário
sobre a existência de ações parabólicas no ministério de
Jesus.
40
POHL, A. Evangelho de Marcos, p. 52.
41
BOOR, W. de. Atos dos Apóstolos, p. 305.
42
SCHOLZ, V. Um método de estudar as parábolas. In: Simpósio, vol. 7, ano
XXI, nº 33, p. 81.
22
Entre as ações identificadas por J. Jeremias pode-se citar: a
concessão de comunhão de mesa aos desprezados (Lc 19.5s) e sua
recepção em casa (Lc 15.1-2), e até mesmo no círculo dos seus
discípulos (Mt 2.14; Mt 10.3); a recusa do jejum (Mc 2.19); a
atribuição do apelido de Kephas (= pedra) a Simão (Mt 16.17);
a escolha dos doze apóstolos; a entrada triunfal em Jerusalém
e a escolha do jumento como animal de montaria nesta entrada
(cf. Zc 9.9); a colocação de uma criança diante dos
discípulos, abençoando-a (Mc 9.36); o momento em que Ele lava
os pés de seus discípulos (Jo 13.1ss); o escrever sobre a
areia no caso da mulher adúltera (Jo 7.53ss); e o choro de
Jesus sobre Jerusalém.
43
Stein identifica algumas outras situações, considerando-as
também como ações parabólicas. Entre elas pode-se citar: o
encontro de Jesus com Zaqueu (Lc 19.1-6); a escolha dos doze
apóstolos (Mc 3.14-19), que é reforçada em seu simbolismo na
escolha do substituto Matias (At 1.15-26), para que o número
seja mantido; o batismo de Jesus no Jordão (Mc 1.9); a
multiplicação dos pães (Mc 6.32-44; 8.1-10); a ida de Jesus a
Jerusalém para seu sacrifício final (Mc 10.33-34, c/ Lc
13.33); a maldição da figueira (Mc 11.12-14); a purificação do
templo (Mc 11.15-17); o silêncio de Jesus diante das
autoridades (Mc 14.61 e 15.5); a ordem de sacudir o dos
pés, onde seus discípulos não fossem recebidos (Mc 6.11); a
43
JEREMIAS, J. As parábolas de Jesus, p. 227-228.
23
transformação de água em vinho, nas Bodas de Caná da Galiléia
(Jo 2.1-11); e a ressurreição de Lázaro (Jo 12.25-44).
44
Stählin também faz a sua lista dos atos que “pertencem à
categoria das ações de caráter parabólico”: o ato de pesca de
Pedro, a unção em Betânia, o lava-pés, a santa ceia, o
casamento de Cana, a transfiguração, a entrada e a purificação
do templo, também todos os convites que Jesus fez e recebeu,
todas as curas, principalmente dos cegos e mudos, as curas de
leprosos e endemoniados, bem como ressurreição dos mortos, o
caminhar sobre o mar, a maldição da figueira e muitas outras
histórias. Ele admite que sobre muitos destes relatos
naturalmente haverá divergência se estas eram, de fato, ações
parabólicas.
45
Stählin lembra ainda que uma aglomeração especial de ações
parabólicas nas últimas semanas de Jesus. Isto, em si,
realça a importância da história e mensagem de Jesus.
Enquanto, antes, as ações são transmitidas isoladamente em
geral e somente posteriormente reunidas em unidades, neste
período final os entrelaçados entre si. Temos no início,
a união da entrada em Jerusalém, a purificação do templo e a
maldição da figueira e, um pouco menos entrelaçado, a unção, o
lava-pés e a Santa Ceia. Justamente as duas primeiras ações
citadas tornam-se um par inseparável. Isto significa que o
44
STEIN, R. The method and message of Jesus’ teachings, p.25-27.
45
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 10-
11.
24
tempo do novo mundo está chegando, está aqui, iniciando com a
entrada triunfal do rei para assumir a posse e a renovação do
Templo e de seus cultos divinos. Jesus constituiu ambas
propositalmente para demonstrar que agora se o início do
verdadeiro reinar de Deus, e que agora é o início da
verdadeira veneração divina. Idêntica é a situação do ato de
maldição da figueira. Isto não é um milagre de castigo, como
se atribui, mas uma ação pura do significado - agora o juízo
chegou e está aqui. Assim o juízo chegou aos seres humanos,
onde Deus procura, sem êxito, frutos.
46
Obviamente, estas listas de exemplos dadas pelos autores
necessitam de uma análise criteriosa. No capítulo II serão
estabelecidos alguns critérios que podem ajudar a identificar
uma ação parabólica.
1.3 Propósito
Nesta discussão sobre as ações parabólicas, é importante
definir o porquê das mesmas serem utilizadas ou serem
escolhidas como método para o ensino. Assim, pode-se perguntar
qual era o propósito do profeta ou do Senhor Jesus ao lançar
mão deste recurso. Primeiramente, será analisado o propósito
do uso de parábolas relatadas, a respeito do qual o próprio
Jesus esclarece os motivos, e, posteriormente, será abordado o
propósito do uso de ações parabólicas.
46
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 21.
25
1.3.1 Parábolas Relatadas
Antoniazzi afirma que a parábola é um espelho. Serve para que
os ouvintes enxerguem, através dela, o que sem ela não
poderiam ver: seu próprio rosto, sua própria realidade.
Declara, ainda, que algumas pessoas, insatisfeitas, preferem
às vezes quebrar o espelho, em vez de tentar mudar o seu
rosto. Assim são duas as reações fundamentais às parábolas de
Jesus: uns rejeitam Jesus e querem matá-lo (cf. Mc 3.6;
12.12); outros percebem que podem mudar de vida e seguir
Jesus.
47
A pergunta decorrente é: Que finalidade guiava Jesus no uso
das parábolas? Tinham elas uma intenção positiva ou negativa?
Eram um veículo de revelação ou de ocultação? Aclaravam ou
obscureciam os ensinos que Jesus queria comunicar? A
dificuldade surge dos textos básicos de Mateus 13.10-17,
Marcos 4.10-12 e Lucas 8.8-10.
Logo após Jesus ter relatado algumas parábolas, estando ele
com os doze e mais alguns (Mc 4.10), foi-lhe interrogado a
respeito das mesmas.
48
A vós outros vos é dado o mistério do
Reino de Deus”, é a resposta de Jesus (v.11a). Para Bornkamm,
47
ANTONIAZZI, A. O segredo que poucos alcançam. In: ESTUDOS BÍBLICOS. Ele
caminha a vossa frente, p. 39. Antoniazzi continua, afirmando que a
parábola: 1) desvenda algo do futuro (o Reino!) que ainda não
percebíamos; 2) a partir daí, obriga-nos a rever o passado, a romper com
os velhos esquemas; 3) a parábola, enfim, leva a uma decisão no presente:
acolher Jesus e sua Palavra, ou recusá-lo e persegui-lo” (p. 40).
48
Pohl afirma que não se trata de pessoas presentes aleatoriamente, mas de
um círculo íntimo de seus seguidores. A pergunta dos discípulos não se
refere especificamente à parábola do semeador, mas a toda uma série de
“comparações”, na verdade à maneira em si da pregação de Jesus. (POHL, A.
Evangelho de Marcos
, pp. 153-155).
26
um mistério oculto nas parábolas que não é outra coisa
senão o oculto desabrochar do próprio Reino de Deus, no meio
de um mundo, que aos olhos dos seres humanos, nada disso
revela.
49
Na verdade, o mistério transmitido aos discípulos não
foi o reinado de Deus em si, mas uma parte dele, ou seja, o
ponto de sua concretização, que é a pessoa e ação do próprio
Jesus.
50
Rienecker diz que este mistério (

) é aquilo
que o ser humano não pode conhecer à parte da revelação
divina.
51
Mas Jesus afirma também que aos de fora, tudo se ensina por
meio de parábolas,
52
para que vendo, vejam, e não percebam; e
ouvindo, ouçam, e não entendam, para que não venham a
converter-se, e haja perdão para eles (Mc 4.12). Esta
palavra, que faz alusão a Isaías 6.9-10, é o ápice da resposta
de Jesus e requer toda a atenção. Assim como o insucesso da
pregação de Isaías não fora um acidente, assim também seria
com Jesus. Muitos não iriam crer. Mas Ele também sabia que,
como em Is 6.13, um novo povo de Deus se formaria como centro
da nova raça humana.
49
BORNKAMM, G. Jesus de Nazaré, p. 66.
50
POHL, A. Evangelho de Marcos, p. 157.
51
RIENECKER, F. Chave lingüística, p. 72. Corrobora também o verbo 

,
que esno tempo perfeito e na voz passiva, sendo corretamente traduzido
por vos é dado o mistério. Pohl afirma, ainda, que apesar disto, eles
precisam continuar recebendo (v.25); a entrega total está prevista,
mas ainda não realizada. (POHL, A. Op. cit., p. 157).
52
Pohl descreve “os de fora da seguinte maneira: “São como pessoas que
contemplam os vitrais maravilhosos de uma igreja apenas da rua e, por
isso mesmo, não os acham interessantes, porque não vêem a luz passando
por eles. Assim é a incompreensão da multidão aqui. Ela acolheu os
preconceitos dos seus líderes em vez de passar a seguir a Jesus. Agora
era testemunha ocular e auricular de Jesus, como os discípulos, mas de
fora e, por isso, cega e surda” (POHL, A. Op. cit., p. 157).
27
Esta palavra naturalmente é dura. Mas de forma alguma ensina
que uma parte dos ouvintes da pregação está condenada
aleatoriamente, sem motivo. Isaías estava pregando a um povo
que preferia ser destruído do que voltar a Deus (Is 1.5-6).
Por isso, Deus lhes envia o seu oficial de justiça. Assim,
Deus fez, através de Isaías, que estas pessoas fossem o que
eram, culpadas. Elas precisavam ver que estavam perdidas em si
mesmas. Este processo não podia e não devia ser atalhado por
uma conversão barata. Nesta fase, o próprio Deus bloqueou o
retorno. Quando Isaías perguntou por quanto tempo teria aquela
tarefa, a resposta foi que seria até o pleno êxito, ou seja,
até que a árvore velha caísse, o toco ficasse descoberto,
dando lugar a um broto novo (Is 1.11-13). Assim, a Palavra de
Deus mata para vivificar. Um dia, os surdos haveriam de ouvir
e os cegos de ver (Is 42.20; 43.8).
53
Vista de perto, a pregação de Isaías foi um último chamado ao
arrependimento. Assim aconteceu com Jesus. Ele iluminou a
profundidade do conflito que se abria.
54
Isto não significa que
Jesus, que foi enviado por Deus para proclamar a redenção dos
homens caídos e pecadores, escondeu esta mensagem através de
parábolas incompreensíveis. É necessário entender o contexto
um pouco mais amplo no qual se encontram esses versículos. No
53
POHL, A. Evangelho de Marcos, p. 158.
54
Um paralelo em Ap 22.11 pode esclarecer esta atitude. Encontra-se ali uma
exortação de continuar fazendo injustiça e sendo imundo. Mas o sentido é:
Se alguém es disposto a não se deixar advertir, então continue em
frente! Torne-se totalmente o que é e assuste-se consigo mesmo, para sua
salvação. (Ibidim, p. 158).
28
capítulo anterior, Marcos relata que Jesus encontrara
descrença, blasfêmia e oposição direta. Foi acusado de estar
possuído por Belzebu e de expelir demônios pelo príncipe dos
demônios (Mc 3.22). O contraste que Jesus apresenta é entre os
seguidores e oponentes, entre os que aceitavam e os que
rejeitavam a revelação de Deus. Os que fazem a vontade de Deus
recebem a mensagem das parábolas porque pertencem à família de
Jesus (Mc 3.35). Os que tentam destruir Jesus (Mc 3.6) não
conhecem a salvação, por causa da dureza de seus corações.
55
Zuck afirma que “a resposta a este dilema está no caráter dos
ouvintes”.
56
Como os doutores da lei (3.22) haviam
expressado sua incredulidade e rejeitado a Jesus, eles
revelaram o endurecimento de seus corações. Assim, não tinham
condições de compreender o significado das parábolas de Jesus.
Jesus não estava primordialmente interessado no estímulo
intelectual de seus ouvintes, mas numa resposta destes logo ao
ouvir a parábola. O uso que Jesus fez das parábolas não estava
motivado pelo desejo de levar seus ouvintes à percepção de
alguma verdade profunda e mística, mas a uma resposta decisiva
de arrependimento, fé, esperança e amor.
57
55
Isto está de acordo com João 3.3, que diz: se alguém não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus.
56
ZUCK, R. B. A interpretação bíblica, p. 229.
57
WALLACE, D. H. Interpretación de parabolas. In: TURNBULL, R. G.
Hermeneutica, p. 25.
29
1.3.2 Ações Parabólicas
A pergunta que precisa ser feita agora é: Porque Jesus fez uso
também do método nos seus atos? Stählin é enfático ao dizer
que “uma das respostas a esta pergunta, sem dúvida, será a
seguinte: para Jesus, "tudo" é utilizado para demonstrar seu
envio”.
58
Pode-se ver a íntima convicção do envio de Jesus na sua
mensagem. Tem-se aqui uma segunda resposta à pergunta: em
Jesus TUDO é expressão de sua mensagem. A mensagem de Jesus
descreve fatos sobre um mundo diferente, do além, e, portanto,
por não ser deste mundo, não pode ser falado em línguas deste
mundo perante os ouvidos humanos, mas somente figurativamente,
extraídos do mundo terreno. Daí resulta que toda ação
figurativa de Jesus, sejam as parábolas, como também as suas
ações parabólicas, tem sua origem, seu "Sitz im Leben", nesta
mensagem de caráter "inexplicável", pois fala figurativamente
de realidades do além.
59
Ballarini afirma que a ação parabólica “tem a função de chamar
a atenção para os dizeres do profeta”.
60
Neste sentido, ela
procura evidenciar a palavra do profeta, tornando a sua
mensagem mais bem compreendida.
61
Fohrer concorda, afirmando
58
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 14.
59
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 14.
60
BALLARINI, T.; BRESSAN, G. O profetismo bíblico, p.54.
61
MONLOUBOU, L. Os profetas do Antigo Testamento, p. 38.
30
que o ato parabólico tem na sua execução a finalidade de levar
a cabo a incumbência profética.
62
Fohrer explica ainda que estas ações têm o propósito de
despertar a curiosidade e a atenção, para alcançar aqueles que
não querem ouvir a palavra falada. Muitas vezes se reconheceu
que as ações foram feitas propositalmente para exemplificar,
reforçar e sublinhar a palavra do profeta, vinda de Javé. Elas
servem, assim, para a pregação profética e pertencem a este
anúncio como meio homilético. Nesse sentido, elas são media
praedicationis. Despertam a curiosidade, chamam a atenção para
que o anúncio seja mais expressivo, ativando a imaginação do
ouvinte. A ação parabólica, portanto, ilustra e dramatiza a
palavra, com um fim didático. Funciona também como um meio
psicológico, convidando o destinatário para a reflexão. Assim,
focalizam e pontuam a palavra profética, tornando-a marcante,
para não ser esquecida.
63
Neste sentido, os atos parabólicos impregnam mais facilmente a
memória humana, e este era o objetivo, não somente dos
profetas, mas também dos rabinos, e, em forma um pouco
diferente, também o de Jesus.
64
62
FOHRER, G. O nero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo, p. 62.
63
FOHRER, G. Die symbolischen Handlungen der Propheten, p. 66-68.
64
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 16.
31
Fohrer lembra, entretanto, que os atos parabólicos se colocam
de forma independente ao lado da palavra falada e constituem
eles mesmos uma predicatio (proclamação).
65
Stein concorda, afirmando que as ações de Jesus não foram
simples ilustrações para auxiliar a expressão verbal, mas o
ensino, que era não-verbal, estava contido na própria ação.
Alguma explicação podia ser acrescida, mas a própria ação
parabólica significava o ensino pretendido.
66
Stählin complementa ainda que Jesus tinha praticamente sempre
o mesmo propósito nas suas mensagens: que agora é o tempo da
salvação. Agora é o tempo do cumprimento das profecias e de
todas as esperanças relacionadas com este assunto. A mesma
direção vale para a maior parte das ações de Jesus. Elas
afirmam, no seu conjunto, que agora é tempo de redenção.
67
1.4 Características
Antes de destacar as características das ações parabólicas,
serão abordadas algumas das características das parábolas
relatadas, especialmente aquelas que podem ser relacionadas
com o objeto de estudo em questão.
65
FOHRER, G. O nero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo, p. 64.
66
STEIN, R. The method and message of Jesus’ teachings, p. 25.
67
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 21.
32
1.4.1 Parábolas Relatadas
As parábolas relatadas contêm algumas características
próprias. Entre elas, pode-se relacionar:
a) Cotidiano. Jesus aproveitava a natureza (semente de
mostarda, semeador, etc.), costumes familiares da vida diária
(fermento, ovelha perdida, etc.), acontecimentos bem
conhecidos de história recente (Lc 19.14), acontecimentos
ocasionais ou contingências não improváveis (filho pródigo,
trabalhadores na vinha, etc.).
68
b) Suspense. As parábolas de Jesus continham sempre um pouco
de suspense. O ouvinte/leitor fica imaginando: O que
acontecerá aos arrendatários que mataram os servos e o filho
do fazendeiro? Que fará o rei ao convidado não devidamente
trajado para as bodas? Se o sacerdote e o levita se negaram a
ajudar o ferido, caído à beira da estrada, que fará o terceiro
transeunte?
69
c) Contraste. uma abundância de contrastes nas parábolas do
Senhor, os quais despertam o interesse dos ouvintes e dos
leitores. Assim, há: uma casa edificada sobre a rocha e outra
na areia, peixes bons e peixes ruins, cinco virgens néscias e
68
TASKER, R. V. G. In: DOUGLAS, J. D. (edit). O novo dicionário da Bíblia,
p. 1201. A parábola nem sempre lança mão de histórias verídicas, mas
admite a probabilidade, ensinando mediante ocorrências imaginárias, mas
que jamais fogem à realidade das coisas. (CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de
Bíblia, teologia e filosofia, Vol. 5, p. 57).
69
ZUCK, R. A. A interpretação bíblica, p. 231.
33
cinco prudentes, um servo fiel e um servo mau, o vinho novo e
os odres velhos, etc.
70
d) Conflito. Existe uma infinidade de conflitos nessas
parábolas, como, por exemplo: os homens que trabalham uma hora
e os que trabalham o dia inteiro (Mt 20.1-16), a viúva
persistente e o juiz (Lc 18.5-8), as virgens prudentes que se
negaram a fornecer azeite às néscias (Mt 25.1-13), etc.
71
e) Tríades. Outro detalhe interessante das parábolas, é que
muitas delas são compostas por três personagens ou elementos
principais. Por exemplo: a parábola do filho pródigo (o pai, o
filho mais moço e o filho mais velho), a parábola das dez
virgens (o noivo, as cinco virgens prudentes e as cinco
virgens néscias), a parábola do credor incompassivo (o rei, o
devedor maior e o devedor menor), a parábola dos dois filhos
(o pai, o filho obediente e o filho desobediente), etc.
72
Entretanto, Scholz afirma que se notou que, nas parábolas,
aplica-se a lei dos dois atores no palco, pois numa cena
geralmente aparecem apenas dois atores.
73
f) Inversão. Verifica-se, freqüentemente, que a parábola
começa por conceder vantagem ao ponto de vista que será
70
Ibidim, p. 231-232.
71
Ibidim, p. 233.
72
KISTEMAKER, S. J. As parábolas de Jesus, p. 18. Funk faz uma extensa
descrição dos tipos de relação que pode haver entre os elementos da
tríade, num capítulo intitulado Participant and plot in the narrative
parables of Jesus (FUNK, R. W. Parables and presence
: forms of the New
Testament tradition, p. 35-54).
73
SCHOLZ, V. Um método de estudar as parábolas de Jesus. In: SIMPÓSIO, vol.
7, ano XXI, n° 33, p. 83.
34
finalmente desfavorecido. Assim, Jesus vai ao encontro do seu
interlocutor; entra em sua maneira de ver. Sentindo-se
compreendido, o interlocutor se deixa levar sem dificuldade.
Então, o aspecto das coisas se modifica; uma nova maneira de
ver se apresenta, melhor do que a primeira. O interlocutor,
que assim deve convir, acha-se, desse modo, apanhado numa nova
perspectiva.
74
g) Ênfase final. Nas parábolas de Jesus, não é o começo que
diz o que é importante, porém o seu final. A importância recai
sobre a última pessoa mencionada, o último feito ou a última
declaração. O “efeito final” da parábola é deliberadamente
elaborado em sua composição. Foi o samaritano que aliviou a
dor do homem ferido, não o sacerdote ou o levita.
75
Na parábola
do semeador, o solo fértil também é mencionado por último.
h) Perguntas retóricas. Estas estimulam os ouvintes/leitores a
responderem mentalmente aos desafios propostos por Jesus. Por
exemplo, o Senhor perguntou: A que, pois, compararei os
homens da presente geração, e a que são eles semelhantes?” (Lc
7.31); “... Contudo quando vier o Filho do homem, achará
porventura na terra?” (Lc 18.8); três, das cinco frases da
parábola que Jesus contou sobre a recompensa do servo, são
perguntas retóricas (Lc 17.7-10).
76
74
DUPONT, J. Por que parábolas? p. 39.
75
KISTEMAKER, S. J. As parábolas de Jesus, p. 18.
76
ZUCK, R. A. A interpretação bíblica, p. 235.
35
i) Evocação de resposta. As parábolas funcionam como um meio
para evocar respostas por parte do ouvinte. São contadas para
dirigir-se aos ouvintes e cativá-los, a fim de fazê-los parar
e pensar acerca das suas próprias ações, ou de levá-los a dar
alguma resposta a Jesus e ao Seu ministério.
77
j) Extraordinário. Muitas parábolas parecem histórias simples
e claras, mas sempre acontece algo fora-do-comum, que leva a
certas perguntas. Este extraordinário ajuda a achar a verdade
central da parábola. Quem deixaria 99 ovelhas para procurar
uma perdida? Quem ficaria semeando, enquanto três quartos das
sementes se perdem? Qual pai aguardaria, com tanta paciência,
um filho que pôs toda a herança a perder? Realmente, Deus age
de maneira diferente.
78
l) Exagero. Apesar de serem estórias que retratam o cotidiano,
algumas parábolas podem conter um exagero deliberado, a fim de
ressaltar algum aspecto da parábola (e.g., dez mil talentos,
segundo qualquer cálculo, é uma soma astronômica de dinheiro,
cf. Mt 18.24).
79
m) Detalhes irrelevantes. Por vezes, pergunta-se por que são
deixados de lado vários detalhes que deveriam fazer parte da
história de uma parábola. Por exemplo, na parábola das dez
virgens é apresentado o noivo, mas se ignora totalmente a
77
FEE, G.; STUART, D. Entendes o que lês? p. 127.
78
GILHUIS, P. Como interpretar a Bíblia, pp. 260-261.
79
KISTEMAKER, S. J. Parábolas de Jesus. In: ELWELL, W. A. (edit).
Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã, Vol. 3, p. 96.
36
noiva. Pormenores como este não são relevantes na composição
geral das parábolas.
80
Surge daí o princípio de que nunca se
deve questionar aquilo que a parábola não responde, para não
se incorrer em erros.
Todos estes aspectos das parábolas demonstram o impacto
incomum que as histórias de Jesus provocavam naqueles que as
ouviam e que ainda provocam naqueles que as lêem.
1.4.2 Ações Parabólicas
A partir das características alistadas acima, relativas às
parábolas relatadas, pode-se relacionar algumas
características que servem igualmente às ações parabólicas. O
ator de uma parábola dramatizada usava da mesma forma as
coisas do cotidiano para proclamar a sua mensagem. Assim,
Jesus usou uma bacia com água e um costume muito conhecido de
lavar os pés para transmitir seu ensino aos discípulos. Também
através da ceia, refeição comum, Jesus intentou algo para ser
transmitido.
Da mesma forma os contrastes (pagamento do tributo), o
suspense (o silêncio de Jesus diante das autoridades), o
conflito (entrada triunfal com um jumento), a inversão (pesca
maravilhosa) e ênfase final (bênção das crianças), o
extraordinário (o lava-pés, pelo Senhor) e o exagero
(purificação do templo, à base de chicote), e, principalmente,
80
KISTEMAKER, S. J. As parábolas de Jesus, p. 17.
37
a evocação de resposta (que era a intenção em todas as ações)
podem ser encontrados nas ações parabólicas.
As ações parabólicas levavam os profetas muitas vezes a
realizar atos estranhos ou pouco naturais, o que, na verdade,
ajudava a contrastar e destacar a ação dos mesmos.
81
Ballarini
e Bressan afirmam que
muitas vezes trata-se de gestos estranhos, diríamos
quase brincadeiras, segundo a nossa mentalidade
ocidental. Tal julgamento, porém, falsearia o
gênero, levando-o para fora do seu ambiente
próprio, onde era perfeitamente compreendido e
eficiente.
82
Fohrer argumenta que as ações simbólicas/parabólicas
apresentam internamente três características:
1. O objeto do ato: por um lado, qualquer coisa pode tornar-se
objeto do ato simbólico/parabólico e servir de representação
para a imagem primária a que se refere (uma pessoa, suas
vestes, seu cabelo, seu nome, posses ou utensílios em geral).
Por outro lado, em sua qualidade de representação figurada,
estes objetos do ato simbólico/parabólico têm uma relação bem
determinada com outra realidade separada deles. Eles
geralmente representam outro objeto diferente deles mesmos
(como o povo de Israel, um povo estrangeiro, um aspecto do
Reino, etc.). que se considerar ainda que a relação dos
objetos do ato com a imagem original diferente deles é aquela
apresentada. Nisto não é necessário que a realidade seja
81
MARTINEZ, J. M. Hermenêutica Bíblica, p. 185.
82
BALLARINI, T.; BRESSAN, G. O profetismo bíblico, p. 53.
38
representada objetivamente de uma forma clara e compreensível
para cada um. A representação figurada pode se achar em
proximidade maior ou menor à imagem original apresentada.
Assim, o objeto toma a forma da imagem original (Ex: coroa, em
Zc 6), é apenas uma representação da imagem original (Ex:
partes da capa, em 1Rs 11), ou ainda, não é nem a imagem
original e nem a representada, mas apenas um sinal dela (Ex:
chifres, em 1Rs 22).
83
2. A maneira e a forma do ato. Às vezes, qualquer tipo de ação
pode ser utilizado para caracterizar o evento representado
(movimentar, destruir, abster-se de alguma coisa, atividades
cotidianas ou familiares, etc). Às vezes a ação consiste em
imitação (o tipo de ação que se deverá realizar no futuro é
imitado pela ação presente). E, ainda, a ação pode ser
realizada segundo o princípio da analogia (ela se realiza para
que em outro lugar suceda a mesma coisa na realidade).
84
3. O simbolismo simples. Fohrer argumenta ainda que os atos
simbólicos sempre apresentam um simbolismo simples e não
duplo, como por exemplo, do presente ou passado e futuro.
Assim como a mesma palavra não pode abarcar todos os tempos,
tampouco o pode o ato.
85
83
FOHRER, G. O nero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo
, p. 83-84.
84
FOHRER, G. O nero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo, p. 84.
85
Ibidim, p. 84-85.
39
No entanto, Stählin discorda desta opinião e afirma que uma
diferença significativa entre as ações de Jesus e as
parábolas relatadas, que não se restringe somente ao maior
poder visual e enfático. Segundo o próprio Jesus, a parábola
em si, se restringe ao propósito de fornecer uma mensagem
significativa, mas nas ações a situação é diferente. Muitas
vezes elas têm uma dupla ou tripla função. Justamente para a
maior parte destas ações esta dupla função pertence a sua
essência. Todas as ações, fora algumas exceções, possuem, não
somente um significado indicativo, mas também um significado
atual bem concreto. Assim, toda cura de Jesus, no seu
princípio, é um ato de ajuda, mas ao mesmo tempo uma indicação
de que agora é o tempo da salvação, e que agora o Salvador
está aqui. Toda expulsão de um demônio é preliminarmente um
ato de libertação, mas ao mesmo tempo significa
parabolicamente que agora o poder do diabo está quebrado e
está estabelecida a autoridade de Deus. Cada vez que é
aberta a visão de um cego é, no princípio, um simples, mas
valioso, presente, que pode ser feito a uma pessoa, mas também
mostra que a luz divina está entrando na escuridão e vence a
mesma. Cada cura de surdos e mudos, coloca os curados
novamente no convívio humano, mas significa também que Jesus
tem o poder de abrir ouvidos diferentes, que podem ouvir e ser
tornados em testemunhas e mensageiros. A cura dos leprosos
salva estes pobres de uma morte dolorosa e da exclusão
completa do convívio social e assim parabolicamente demonstra
40
a purificação do homem do pecado e seu retorno à comunhão com
Deus e o seu povo. Tudo isto é obra de Jesus e assim se
poderia continuar com as multiplicações dos pães, as ceias,
com o batismo, a santa ceia e outros atos mais.
86
Especialmente importante é a dupla função numa das mais
profundas atitudes de Jesus, que também desempenhou a mais
forte conseqüência na história da igreja cristã - a santa
ceia. Neste ato, segundo Stählin, tem-se no mínimo um duplo
sentido parabólico. Como muitas outras refeições com Jesus, a
Santa Ceia aponta de antemão à grande ceia no Reino de Deus,
isto é, à magnitude da comunhão integral com Deus no seu mundo
perpétuo. Como nas outras refeições, esta comunhão se realiza
aqui, mas comparando com as outras solenidades, um
sentido exclusivo. Em muitos casos Jesus é o anfitrião, que
oferece aos seus hóspedes a comunhão pessoal, mas na Santa
Ceia Jesus é também pessoalmente o alimento oferecido aos
convidados à casa e à mesa. De acordo com o sentido parabólico
da Santa Ceia, Ele mesmo é a dádiva milagrosa da eternidade, a
santa comunhão com Deus. Ele, em função do sacrifício, está
disposto para este ato e no qual jaz a nova conquista da
comunhão de Deus com os homens. Assim, o sentido parabólico
escatológico da Santa Ceia tem uma relação específica com o
sentido simbólico do sacrifício. Este é o outro sentido
parabólico da Santa Ceia: com o partir do pão e com o vinho
86
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 18.
41
tinto Jesus retrata a sua morte em sacrifício. Jesus, ao dar
aos seus discípulos a comer pão e beber vinho, os capacita ao
sacerdócio e membros do culto, aqueles que, pela participação
na oferta, é dada a força da bênção do sacrifício. É de
importância para a Santa Ceia que os discípulos sejam
envolvidos pessoalmente nesta ação parabólica. Assim, eles não
somente são participantes do acontecimento, em especial no seu
preparo, mas, também, decididamente são participantes do
próprio sacrifício de Jesus e assim, conseqüentemente,
participantes na Ceia redentora escatológica. Como as palavras
que Jesus fala têm poderes de ação, assim esta ação
parabólica, tem força ativa. A mensagem proclamada torna-se
realidade. Os discípulos adquirem de fato a íntima e pessoal
comunhão com o seu mestre, o qual oferta-se por eles em
sacrifício. Assim, os discípulos são enxertados de fato na
realidade redentora do Reino vindouro.
87
Ainda em relação às características, Fohrer afirma que
externamente (na transmissão literária) a ação parabólica pode
ter as seguintes características: a) ordem; b) relato; c)
interpretação. No caso das ações parabólicas dos profetas do
Antigo Testamento, estes três aspectos podem ser encontrados
juntamente (Os 3; Jr 32; Ez 12), ou apenas dois deles (ordem-
interpretação: Jr 16; Ez 4; Zc 6; relato-interpretação: 1Rs
11; Jr 28), ou, ainda, um aspecto destes sozinho (ordem: Is 7;
87
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p. 19.
42
relato: 1Rs 19; interpretação: Is 20).
88
No caso das parábolas
dramatizadas de Jesus, precisa-se estar ciente de que ele não
precisava receber a ordem divina para realizar a ação, por ser
ele próprio Deus que ordena e realiza o ato.
Para terminar, Ballarini e Bressan discutem ainda a questão do
efeito das ações parabólicas:
Pensou-se que nos profetas e nos seus ouvintes
persistia uma concepção primitiva do efeito mágico
da ação simbólica. De fato não se pode duvidar que
os antigos semitas se inclinavam a atribuir às
palavras e aos gestos certa eficácia; nem se
poderia excluir que, na mais remota antiguidade, as
ações simbólicas eram consideradas como meio para
determinar o curso dos acontecimentos, da mesma
maneira como se consideravam operantes as fórmulas
de bênção e maldição; mas que tal valor os profetas
o atribuíssem às suas ações simbólicas é suposição
arbitrária. A eficácia, no caso, encontra-se toda
nas palavras que acompanham a ação, pronunciadas
normalmente em nome de Deus, do qual exprimem,
portanto, a decisão, isto é, a palavra, que se
realizará infalivelmente, porque nada pode
resistir-lhe (cf. Is 55.10ss).
89
88
FOHRER, G. O nero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo, p. 77.
89
BALLARINI, T.; BRESSAN, G. O profetismo bíblico, p. 54.
43
II – ASPECTOS FORMAIS DAS AÇÕES PARABÓLICAS
Após uma conceituação geral, uso, propósito e características
das ações parabólicas, torna-se necessário um estudo de alguns
aspectos formais das mesmas. O que foi comentado e
exemplificado até aqui está baseado nas afirmações dos
diversos autores citados. No presente capítulo serão abordadas
a análise das formas, a historicidade, a intencionalidade e a
interpretação das ações parabólicas, procurando estabelecer
critérios que possam ajudar em cada uma destas áreas.
2.1 Análise da Forma
Por muito tempo se tomou o complexo de textos das Escrituras
como se fosse um conjunto uniforme, pertencendo a apenas um
único gênero. Mas, dois ou três séculos, percebeu-se que a
Bíblia não é uma unidade fechada, mas sim algo vivo e
diferenciado, e que a coleção de livros bíblicos contém
materiais muito diversos, como por exemplo: poesia, prosa,
narração histórica e épica, discursos proféticos, ditos de
sabedoria popular ou especulativa, hinos, cartas, visões
apocalípticas, parábolas, metáforas, ditos de Jesus,
interpretações, histórias exemplares, biografias, etc.
90
Falando-se em termos do Novo Testamento, diversos autores
concordam que se podem classificar os textos em gêneros
maiores e gêneros menores. Entre os gêneros maiores podem-se
90
KRÜGER, R; CROATTO, J. S. todos exegéticos, p. 115.
44
citar os evangelhos, atos dos apóstolos, cartas e apocalipse.
Zimmermann, que confirma esta classificação, afirma que cartas
e apocalipses existiam, mas que Evangelhos e Atos dos
Apóstolos são criações cristãs.
91
a) Evangelhos. A característica deste gênero pode ser deduzida
comparando-o com outros gêneros literários helenísticos. Do
ponto de vista histórico, os evangelhos não podem ser
catalogados entre as obras da antiguidade que se dedicam a
escrever história. Também não podem ser classificados
simplesmente como biografias. As descrições das circunstâncias
são geralmente muito gerais. A característica principal dos
evangelhos é que pretendem dar testemunho da fé. Seu propósito
é despertar a fé em Jesus Cristo.
92
b) Atos dos Apóstolos: o livro de Atos dos Apóstolos não é nem
Práxis e nem Biografia. Lucas apresenta uma série de materiais
sobre diversos personagens e eventos para ilustrar o
desenvolvimento compreensível da igreja primitiva e mostrar a
expansão da missão de Jerusalém até o centro do império
romano. Não se detém no interesse biográfico, nem em todos os
atos de Pedro ou Paulo. O autor tem um interesse teológico.
93
c) Cartas: dos vinte e sete livros do Novo Testamento, vinte e
um pertencem ao gênero literário denominado cartas. O
91
ZIMMERMANN, H. Los métodos histórico-críticos en el Nuevo Testamento, p.
140.
92
Ibidim, p. 141.
93
KRÜGER, R; CROATTO, J. S. todos exegéticos, p. 120.
45
formulário de carta segue um esquema padrão: nome do
remetente, nome do destinatário, saudação; antes de entrar no
conteúdo propriamente dito, geralmente se acrescenta uma ação
de graças a Deus, fazendo-se acompanhar de muitas saudações e
especialmente de bendições escritas de próprio punho.
94
d) Apocalipses: “à semelhança dos apocalipses judaicos, também
o Apocalipse de João está permeado por uma série de visões e
revelações sobre o transcorrer e o sentido da história
universal, afirmando a certeza de que Deus será o vencedor
sobre todos os poderes antagônicos a Ele”.
95
Dentro do
Apocalipse há um subgrupo com algumas cartas que obedecem um
esquema básico: endereço, auto-apresentação de Jesus, juízo de
Cristo sobre a situação da Igreja, exortação ou conselho e
motivação, promessa ao vencedor, e exortação de caráter
geral.
96
Entre os gêneros menores, uma listagem muito ampla, das
quais Klaus Berger faz uma relação suficientemente numerosa e
muito bem elaborada, em sua obra “As Formas Literárias no Novo
Testamento”. O espaço não permite relacionar aqui todos os
itens por ele alistados.
Aqui surge a pergunta: o que caracteriza uma forma literária?
Egger afirma que
94
ZIMMERMANN, H. Los métodos histórico-críticos en el Nuevo Testamento, p.
146-147.
95
WEGNER, U. Exegese do Novo Testamento, p. 183.
96
SILVA, C. M. D. Metodologia de Exegese Bíblica, p. 213.
46
Os textos que pertencem a determinado tipo de
texto/gênero literário devem apresentar semelhança
devida a características comuns no plano
lingüístico-sintático, semântico-material e
pragmático. Os textos de um mesmo tipo de
texto/gênero literário inscrevem-se num ambiente
vital similar.
97
Assim, um texto pertence ao mesmo gênero literário quando
apresenta similaridade nos seguintes aspectos:
- Estrutura lingüístico-sintática semelhante;
- Estrutura semântica e narrativa semelhante;
- Finalidade análoga.
Para uma classificação coerente dos tipos de texto, devem-se
estabelecer critérios. Muitas vezes as subdivisões em gêneros
literários propostas pela história das formas e das tradições
não se baseiam em critérios unívocos. Além disso, para a
distinção dos gêneros literários não é suficiente um
critério, e nem sequer é suficiente somar os critérios.
Segundo Egger, é necessário levar em consideração a relação
entre os critérios.
98
Hempfer afirma que “os procedimentos tradicionais para
determinar os tipos de texto/gênero literário consistem em
individuar num certo grupo de escritos os elementos comuns a
todos os textos que dele fazem parte”.
99
97
EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento, p. 145.
98
Ibidim, p. 147.
99
Apud EGGER, W. Op. Cit., p. 148.
47
Berger alista, então, alguns elementos/critérios para a
determinação de um gênero literário:
1) Qual pessoa gramatical é o sujeito? O sujeito dirige-se
constantemente a outra pessoa gramatical? Como exemplo pode-se
citar que “eu” costuma indicar uma apologia, autobiografia ou
prestação de contas. “Nós” pode indicar uma exortação (plural
comunicativo), mas também é característico do relato de
viagens.
2) O modo e o tempo do verbo. O imperativo é indício do gênero
exortação, enquanto o futuro indica predição.
3) A estrutura sintática e a relação das partes entre si.
4) O tipo da frase. Uma pergunta retórica (quem de vós...?),
por exemplo, sugere o gênero argumentação ou ainda as
parábolas.
5) A estrutura interna de um texto. A relação entre introdução
e conclusão é muitas vezes decisiva, bem como as conjunções
usadas. Um “portanto” geralmente pressupõe uma argumentação,
assim como uma sucessão de acontecimentos interligados pela
conjunção “e” sugere uma narrativa.
6) A semântica. O papel da semântica tem sido subestimado no
estudo das formas. Um certo conjunto de termos comuns pode
indicar um determinado gênero, como por exemplo os relatos de
visões a partir de verbos típicos como “ver, aparecer, etc”.
48
7) O tamanho. A relativa brevidade ou então certa extensão
verbal pode ser indício de determinado gênero.
8) A relação de um texto com um contexto literário. Cada texto
encaixado literariamente num conjunto maior participa das
características do gênero.
9) Metaníveis no texto tem um significado especial, pois o
nível geral do texto é abandonado. Geralmente, o autor faz um
comentário e se dirige diretamente ao leitor.
10) O envolvimento dos leitores, pois o gênero resulta não
apenas do texto, mas da situação dos leitores.
11) Com base nas citações do Antigo Testamento, uma série de
gêneros tipicamente veterotestamentários ingressou no Novo
Testamento.
100
A partir destes aspectos gerais que podem ser analisados nas
diversas formas literárias, pode-se fazer uma análise dos
aspectos característicos das ações parabólicas. Desta forma,
pode-se alistar:
a) Estilo: a ação parabólica apresenta, via de regra, uma
mescla de narrativa e diálogo. sempre um relato inicial,
apresentando a situação e, em seguida, uma interação entre os
personagens apresentados. Isto pode ser visto, por exemplo na
purificação do templo (narrativa Mc 11.15,16,18; diálogo
100
BERGER, K. As formas literárias do Novo Testamento, p. 22-25.
49
Mc 11.17)
101
, na maldição da figueira (narrativa Mc 11.12-
14,19-20; diálogo Mc 11.21-26)
102
e no lava-pés (narrativa
Jo 13.1-6a,12a; diálogo – Jo 13.6b-11,12b).
b) Pessoa gramatical: a partir da divisão (apresentada acima)
em narrativa e diálogo, percebe-se que na ação parabólica a
terceira pessoa é predominante na narrativa, e a interação
entre primeira e segunda pessoa é apresentada no diálogo.
Embora isto seja um tanto óbvio, é um aspecto característico
da ação parabólica. Como exemplo, pode-se citar o relato do
lava-pés: na parte narrativa, em apenas 12 versículos, aparece
13 vezes o pronome pessoal de terceira pessoa , e 27 vezes
os verbos estão em terceira pessoa. no diálogo, os pronomes
de primeira e segunda pessoa aparecem 11 vezes e 10 vezes os
verbos estão em primeira e segunda pessoa.
c) Tempo verbal: Na parte narrativa da ação parabólica, como
se devia esperar, aparecem tempos no passado; mas chama a
atenção a quantidade de verbos no tempo aoristo (só em João
13.1-12, são 16 ocorrências deste tempo verbal; 19 vezes no
relato da maldição da figueira de Marcos 11.12-14,19-26). Na
parte dos diálogos o tempo presente é predominante, embora não
com tanto destaque.
101
O mesmo pode ser visto nos relatos dos outros evangelhos: Mateus
(narrativa Mt 21.12,14,15,17; diálogo Mt 21.13,16) e Lucas (narrativa
– Lc 19.45; diálogo – Lc. 19.46).
102
No relato de Mateus percebe-se a mesma estrutura: narrativa Mt 21.18-
20a; diálogo – Mt 21.20b-22.
50
d) Tipos de frase: parece ser característico das ações
parabólicas, ou uma pergunta retórica (Compreendeis o que vos
fiz? Jo 13.12; Não está escrito: a minha casa se chamada
casa de oração para todos os povos? Mc 11.17), ou uma
sentença declarativa (Nunca jamais coma alguém fruto de ti!
Mc 11.14; Tende em Deus, porque em verdade afirmo que, se
alguém disser... – Mc 11.22-23), ou ainda ambas.
e) Semântica: obviamente que a semântica é relativa a cada
relato de ão parabólica, mas pode-se perceber a presença de
verbos que denotam movimento, especialmente na parte
narrativa, como por exemplo  ou derivados (Jo 13.1,6; Mt
21.12,14,19; Mc 11.12,12,15; Lc 19.45). A conjunção  também
é muito freqüente na parte narrativa das ações parabólicas (12
vezes no relato do lava-pés; 8 vezes no relato da maldição da
figueira em Mateus; 12 vezes na purificação do templo em
Marcos); esta conjunção ajuda na estrutura interna da
narrativa da ação, e sua idéia de movimento.
f) Metaníveis: segundo Stählin, as ações parabólicas têm uma
dupla ou tripla função. Para ele, esta dupla ou tripla função
pertence à essência da ação parabólica.
103
É justamente este o
ponto central da questão em estudo, ou seja, a descoberta do
significado especial do texto. Perguntas como “Compreendeis o
que vos fiz?” (Jo 13.12), são indicadoras da existência de
metaníveis.
103
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p.
18.
51
2.2 Historicidade
A análise sobre a historicidade é suficientemente complexa e
não se poderia pretender aqui expor detalhadamente todos os
pormenores da questão. Pretende-se apenas introduzir o assunto
e sugerir alguns critérios que possam auxiliar na discussão do
assunto.
A pergunta inicial é, justamente, “o que é história?”.
Zuurmond lembra que o conceito moderno de história, de acordo
com a formulação de von Ranke, na célebre frase: Wie es
eigentlich gewesen” (“como as coisas propriamente
aconteceram”), não tem mais de dois séculos de idade. Para ele
um acontecimento é histórico “na medida em que pode ser
apurado com os meios da pesquisa moderna e sob as condições
formuladas por essa pesquisa”. Mas ele repete: “isso é uma
concepção moderna”.
104
Entretanto, os antigos pensavam de outra maneira. Leon Dufour
afirma que “a historicidade que podemos esperar dos documentos
evangélicos não é de qualidade inferior à das obras modernas:
é (apenas) de outro gênero...”.
105
De acordo com a mentalidade antiga, os historiadores não se
esforçavam, de acordo com as normas modernas, em reproduzir
acuradamente o passado. Geralmente escreviam com objetivos
estéticos e didáticos em primeiro lugar. Muitas vezes não se
104
ZUURMOND, R. Procurais o Jesus histórico?, p. 43.
105
LEON-DUFOUR, X. Os Evangelhos e a História de Jesus, p. 29.
52
fazia uma clara distinção entre o que se chama de “sentido
literal” e sentido simbólico” de um texto. Outro detalhe que
não pode ser ignorado é que o conceito moderno de história
difere do da Antiguidade em termos da importância da
cronologia. Muitos historiadores antigos, com grande
facilidade, adaptavam certa narração a partir de temas, e não
necessariamente pela ordem dos fatos.
106
G. Vermés levanta ainda outra questão: “o cristão crente está
persuadido de que o Jesus da história e o Cristo da são uma
mesma e única pessoa”.
107
Não se quer aqui julgar a questão,
mas simplesmente lembrar que a origem dos escritos passou por
uma fase oral ou, mais propriamente, se deu através da
pregação.
Inicialmente a pregação visava uma exposição da Vida de Jesus.
Tinha assim uma finalidade fundamentalmente “histórico-
biográfica”, não porque pretendia compor uma biografia no
sentido moderno do termo, mas porque tendia a conservar os
fatos relativos à vida de Jesus (fatos sobre sua existência,
sua atividade e sua doutrina). A finalidade específica de uma
pregação é diferente do gênero histórico, ou seja, é o anúncio
e a explicação dos fatos relatados para fins de ensinamento
religioso, que deve ser recebido com para ser o caminho de
salvação para os homens. Desta forma, é claro que os fatos não
106
ZUURMOND, R. Procurais o Jesus histórico?, p. 44-45.
107
VERMÉS, G. Jesus, o judeu, p. 16.
53
eram transmitidos mecanicamente, mas de maneira viva,
correspondente ao caráter de cada pregador.
Outra característica da pregação é que ela se mantinha ao
nível popular, não somente porque seus autores (os apóstolos)
provêm do povo simples, não muito culto, mas ainda porque
encontravam seus ouvintes em ambientes muito humildes, dos
quais poucos sabiam escrever e os livros eram muito raros.
Nestas circunstâncias, era necessário reduzir a doutrina a um
número restrito de pontos, ou seja, às coisas essenciais.
108
Pode-se perguntar, então, qual foi o processo de transposição
do fato para a linguagem e da linguagem para a escrita, e que
interpretações lhe foram dadas. Egger afirma que “a simples
transmissão de um fato ou de uma palavra não permite deduzir
que o evento tenha efetivamente acontecido ou que a palavra
tenha sido de fato pronunciada por aquele a quem é
atribuída”.
109
Como dito anteriormente, a pergunta “que aconteceu
efetivamente?” é uma pergunta moderna. Os escritos neo-
testamentários são testemunhas de e não protocolos
judiciais, e, portanto, a sua validade primária não é de
caráter histórico. Em outras palavras, estes textos não
oferecem todas as informações que um historiador deseja.
110
108
BEA, A. A historicidade dos evangelhos, p. 34-38.
109
EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento, p. 191.
110
Ibidim, p. 192.
54
Lambiasi é da opinião de que um texto apresenta vários níveis
de verdade ou autenticidade histórica: certeza, probabilidade
e verossimilhança. De acordo com este autor, pode-se falar de
certeza “quando possuímos argumentos seguros para afirmar a
realidade de um fato”; tem-se probabilidade “quando os
argumentos de que dispomos são bastante convincentes (ainda
que não inteiramente seguros para excluir a posição
contrária)”; tem-se verossimilhança quando os argumentos levam
à conclusão da plausibilidade do fato, isto é, além de levarem
à sua possibilidade, levam à conclusão da sua
probabilidade”.
111
Lambiasi continua:
Na base de três níveis, podemos distinguir,
respectivamente, critérios (certeza), indícios
(probabilidade), motivos (verossimilhança). Por
critérios entendemos os argumentos que nos oferecem
a certeza histórica de que um dado determinado do
evangelho é autêntico e pertence a Jesus; por
indícios, os argumentos que levam à probabilidade
fundada da autenticidade de um dado evangélico; por
motivos entendemos os argumentos indicadores que um
elemento determinado é verossímil.
112
Resulta, então, a pergunta: quais são os critérios que podem
auxiliar na busca da certeza histórica a respeito de dados
relatados nos evangelhos? Alguns autores propõem alguns
critérios, que podem ser relacionados como segue:
a) Antiguidade da Fonte: deve-se partir das fontes mais
antigas e seguras possíveis. Egger afirma que as fontes mais
antigas apontadas pela crítica literária e pela história das
111
LAMBIASI, F. Autenticidade histórica dos Evangelhos, p. 141.
112
Ibidim, p. 141.
55
formas e dos gêneros literários, são mais confiáveis
historicamente do que textos tardios.
113
b) Atestação ltipla: significa que os atos e palavras de
Jesus são reais se atestados por mais de uma fonte, isto é, se
aparecem em diversas fontes independentes entre si. Egger
argumenta:
O critério se fundamenta sobre o princípio de que
fatos e palavras atestados por diversas fontes
independentes entre si ou fixados em diversos
gêneros literários dificilmente possam ser, sem
mais, inventados.
114
Lambiasi, entretanto, alerta que o critério não pode ser
utilizado de forma negativa. Quando um dado não goza de
atestação múltipla não pode por isso mesmo ser considerado
inautêntico. Isso porque do silêncio das outras fontes nada é
possível deduzir; o silêncio das fontes não pode ter valor de
negação (qui tacet, nihil dicit).
115
c) A Descontinuidade: Latourelle faz a seguinte definição:
Podemos considerar autêntico um dado evangélico
(sobretudo em se tratando de palavras e de atitudes
de Jesus) irreduzível, quer às concepções do
judaísmo, quer às concepções da Igreja primitiva.
116
Para Egger, que chama o critério de “ausência de analogias” ou
“não-invenção”, o mesmo se alimenta do “princípio pelo qual é
fácil que a comunidade atribua a Jesus expressões que penetram
no âmbito do próprio interesse”. O problema do critério é que
113
EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento, p. 194.
114
EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento, p. 194.
115
LAMBIASI, F. Autenticidade histórica dos Evangelhos, p. 154-155.
116
Apud LAMBIASI, F. Op. Cit., p. 156.
56
ele se aplica a poucos dados, segundo Egger.
117
Para Lambiasi,
a descontinuidade é um critério fundamental, mas não pode ser
empregado em sentido exclusivo e radical; segundo o autor, é
”indispensável para chegarmos a Jesus, todavia é insuficiente
sozinho, para nos levar à reconstrução do núcleo
característico da história de Jesus”.
118
d) A continuidade: podem ser consideradas autênticas palavras
e obras de Jesus que se mostram estreitamente interligadas com
o que foi “autenticado” mediante os critérios
precedentes.
119
Para Lambiasi, o critério de continuidade pode
ser dividido em duas áreas de atuação: a continuidade interna,
que é justamente o que foi comprovado autêntico pelo critério
da descontinuidade; e, a continuidade externa, que se
relaciona com a situação ambiental de Jesus (situação
histórico-política, quadro geográfico, ambiente cultural e
contexto religioso).
120
e) A Explicação Necessária: Latourelle, que considera este
critério o mais importante entre os fundamentais, o formula da
seguinte maneira:
Se diante de um conjunto considerável de fatos ou
de dados que exigem explicação coerente e
suficiente, for apresentada uma explicação que
ilumina e agrupa harmonicamente todos estes
elementos (que de outra forma, continuariam
enigmas), podemos concluir que nos encontramos
117
EGGER, W. Op. Cit., p. 195.
118
LAMBIASI, F. Autenticidade histórica dos Evangelhos, p. 165-166.
119
EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento, p. 195.
120
LAMBIASI, F. Op. Cit., p. 166-169.
57
diante de um dado autêntico (fato, gesto, atitude,
palavra de Jesus).
121
Egger que chama o critério de “o motivo suficiente” resume da
seguinte forma: “um fato ou um comportamento é considerado
histórico se uma série de outros eventos não podem ser
explicados a não ser admitindo a efetividade do
precendente”.
122
f) O Estilo de Jesus: O estilo de Jesus é dividido entre
estilo lingüístico e estilo de vida de Jesus. Ao estilo
lingüístico relacionam-se os aramaísmos e semitismos, e os
diversos tipos de paralelismos, as parábolas, os ditos
enigmáticos, a expressão ‘Reino de Deus’, os termos ‘amém’ e
‘abba’. O estilo de vida de Jesus é caracterizado por um “amor
constante pelos pecadores, dureza desapiedada para com toda
forma de autojustificação, santa indignação de qualquer
hipocrisia, compaixão por todos os que sofrem, e sobretudo
orientação radical e decisiva para Deus, Senhor e Pai”.
123
2.3 Intencionalidade
Uma outra pergunta que precisa ser feita é quanto à finalidade
de um determinado texto: Que intenção tem o discurso? Sua
pretensão é relatar alguma coisa, ou pretende narrar uma
121
Apud LAMBIASI, F. Op. Cit., p. 192.
122
EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento, p. 195-196.
123
WEGNER, U. Exegese do Novo Testamento, p. 237.
58
história? Pretende instruir ou comunicar uma mensagem? Acusar
ou exortar? Dar uma ordem ou confessar?”
124
A cada forma fixa de linguagem corresponde uma intenção. Basta
observar um jornal dos dias atuais, e pode-se perceber
facilmente a diferença entre as diversas formas: notícias,
editorial, propagandas, pequenos anúncios, coluna social, etc.
Na medida em que as formas forem diferentes, também serão
diferentes as intenções.
125
Neste sentido, Lohfink afirma que não basta conhecer as leis
que regem a estrutura exterior de um determinado gênero
literário, mas que é estritamente necessário procurar ver qual
é a sua intenção. Conhecer qual é a finalidade de um texto é
absolutamente necessário para a exegese e sua interpretação.
Isto porque o que um romance pretende é diferente daquilo que
se propõe um texto histórico, e aquilo que um trabalho
histórico pretende é, por sua vez, diferente daquilo que uma
autobiografia deseja.
126
Lohfink complementa afirmando que na história da igreja muitas
confusões surgiram (e ainda surgem) porque não se levou em
conta a intenção fundamental de determinados gêneros
literários e de determinadas formas. Textos escriturísticos
que queriam transmitir uma mensagem foram tomados como
124
LOHFINK, G. Agora entendo a Bíblia, p. 36.
125
PALAVRA de Deus, palavra da gente: as formas literárias na Bíblia, p.
18-19.
126
LOHFINK, G. Agora entendo a Bíblia, p. 36.
59
relatos, outros que queriam exortar foram tomados como leis,
outros que queriam expressar uma profissão de foram tomados
como informação.
127
Temos que admitir, no entanto, que não é tarefa
simples saber qual a intenção de um texto bíblico.
Seus autores morreram muito tempo. A bem da
verdade, da maioria dos livros da Bíblia, nem
sequer sabemos quem os escreveu. Além disso,
estamos muito distantes da língua, da cultura, da
mentalidade do povo bíblico.
128
Wilhelm Egger pretende auxiliar neste assunto quando trata das
funções e finalidades de um texto dentro do capítulo chamado
“Análise Pragmática”, em seu livro Metodologia do Novo
Testamento. Ele afirma que
A teoria pragmática do texto considera a extensão
de um texto como um “agir mediante o escrever”,
porquanto o texto pretende ou é capaz de incidir de
modo eficaz sobre a relação entre autor e leitor e
sobre o contexto situacional.
129
Sugere, então, que as finalidades de um texto podem ser
distinguidas segundo o fator que um texto mais evidencia:
- Função expressiva (emotiva), quando diz respeito
principalmente à expressão dos sentimentos do
emissor;
- Função diretiva (conativa), quando diz respeito
ao apelo ao destinatário;
- Função referencial (informação), quando diz
respeito à exposição de um tema;
- Função contextual, quando diz respeito à
consideração do contexto da situação;
- Função poética, quando a forma lingüística
reveste particular importância;
127
LOHFINK, G. Agora entendo a Bíblia, p. 37-38.
128
PALAVRA de Deus, palavra da gente: as formas literárias na Bíblia, p.
21.
129
EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento, p. 132.
60
- Função de contato (pela fala), quando o objetivo
é o contato entre emissor e destinatário;
- Função metalingüística, quando o texto mesmo se
torna “tema”.
130
Algumas destas finalidades podem aparecer simultaneamente, mas
provavelmente uma ou outra estará predominando em determinado
texto.
Jürgen Habermas propõe uma lista de “atos lingüísticos” que
podem servir também para descrever os textos bíblicos e suas
finalidades:
a) Descrever, referir, comunicar, narrar, fazer
observações, contradizer;
b) Afirmar, assegurar, aprovar, negar, contestar;
c) Revelar/desvelar, manifestar, admitir, simular,
negar;
d) Ordenar, convidar, pedir, exigir, exortar,
permitir, aconselhar, advertir, consolar;
e) Saudar, felicitar, agradecer, etc.
131
Pode-se também fazer uma distinção entre a intencionalidade
explícita e implícita dos textos. Wegner, baseado em Egger,
comenta que em textos exortativos (1 Tm 2.1) ou com
imperativos (Rm 12.9ss), a intenção fica evidente. Em outros,
especialmente em relatos dos Evangelhos que não contêm apelos
diretos, torna-se mais difícil a descoberta da
intencionalidade implícita.
132
130
EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento, p. 133.
131
Apud EGGER, W. Op. Cit., p. 137-138.
132
WEGNER, U. Exegese do Novo Testamento, p. 175.
61
Finalmente, Egger propõe algumas perguntas que podem ajudar na
descoberta da intencionalidade específica de cada texto. Entre
elas:
- Quais são os dados explícitos do texto acerca da
finalidade do falar/escrever?
- Que instruções diretas e indiretas para o
pensamento e a ação dos leitores aparecem no texto?
- Em que medida emergem problemas nas relações
entre o autor e o leitor?
- Que valores propõe o texto ao leitor?
E, especificamente, sobre textos narrativos, ele acrescenta:
- Com que pessoas do texto simpatiza o texto mesmo?
- Em que medida o texto explicita a que leitor se
dirige?
- Que possibilidades de solução propõe o texto
acerca de determinados problemas da comunidade (ou
do leitor)?
- Com que pessoas simpatiza (ou se identifica) o
leitor?
133
2.4 Interpretação
Após a discussão do conceito, uso, propósito e características
das ações parabólicas, bem como da análise da forma,
historicidade e intencionalidade, é necessário ainda, e
principalmente, discutir a respeito da interpretação das
mesmas. Aqui serão alistados alguns critérios gerais para a
interpretação de qualquer texto, que devem também ser
observados para a interpretação das ações parabólicas.
133
EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento, p. 138. Uwe Wegner faz um
exercício sobre esta questão, em sua obra Exegese do Novo Testamento (p.
222-224).
62
Estas regras gerais, aliadas ao bom senso do leitor e
intérprete, ao tato, à experiência individual e reverência
pela Palavra de Deus, muito auxiliarão, para uma boa e
coerente interpretação dos elementos parabólicos no ensino de
Jesus.
134
Algumas destas regras podem ser:
a) Respeito (busca) à verdade. Neal começa suas regras de
interpretação afirmando que o intérprete deve ter um profundo
respeito pela verdade. O ato de ser um cristão sincero não é
suficiente, pois não tira o perigo de ser levado por falsos
caminhos. É necessário evitar que preconceitos o levem a
interpretações errôneas.
135
Desta forma, é de suma importância
a orientação divina na interpretação de textos bíblicos.
b) Contexto. O estudo do contexto é uma das principais regras
de interpretação de qualquer texto. Stadelmann afirma, por
exemplo, que o “contexto da parábola para o intérprete, via
de regra, a chave para a compreensão do significado
intencionado; pois nele se representa a situação, à qual se
responde com uma parábola”.
136
Gilhuis afirma que a atitude das pessoas para com o autor é
outra chave para entender as parábolas.
137
Assim é de suma
importância identificar o auditório, porque o significado do
134
CAMARGO, S. A. Ensinos de Jesus através de suas parábolas, p. 19.
135
NEAL, C. L. Parabolas del Evangelio, p. 10.
136
STADELMANN, H. Schriftgemäß predigen, pp. 127-128.
137
GILHUIS, P. Como interpretar a Bíblia, p. 252.
63
texto tem a ver com como foi originalmente ouvido.
138
Todas as
parábolas, por exemplo, funcionam como parte essencial de uma
unidade literária maior. Em cada caso, é a unidade literária
que precisa ser examinada para se determinar acerca do que,
afinal de contas, a parábola fala. Dupont faz referência a
três contextos que merecem ser observados:
1. O contexto literário: no qual uma parábola nos
foi transmitida como simples parte de uma unidade
literária que a ultrapassa. (...) é o sentido que
lhe atribui o evangelista que no-la relata. 2. O
contexto original: a situação de vida em que a
parábola surgiu e em função da qual foi imaginada.
Assim, parece possível encontrar a significação
primeira da parábola: em função do elo que a unia à
situação de vida na qual foi antes pronunciada. 3.
O contexto atual: o do cristão que hoje relê uma
parábola. Não as idéias de seu tempo e de seu
meio influenciam essa leitura, como é graças a elas
que a parábola permanece significante para ele
hoje, oferecendo-lhe uma mensagem que vai ao
encontro, nas situações concretas de sua vida.
139
Drane, porém, expressa sua preocupação de que nem sempre se
sabe a exata “situação na vida” (Sitz im Leben) de um texto.
As parábolas nem sempre foram registradas como parte de uma
biografia, dispostas cronologicamente, mas como uma mensagem
explicativa e devido a sua permanente relevância para as
necessidades do mundo e da igreja.
140
.
Ainda a respeito do contexto, Bailey complementa, falando
sobre “a peça dentro da peça”:
A peça está tendo lugar entre Jesus e seu
auditório. Muitas vezes o seu auditório é composto
138
FEE, G. & STUART, D. Entendes o que lês? p. 127.
139
DUPONT, J. Por que parábolas? pp. 8-9.
140
DRANE, J. Jesus, p. 125.
64
de seus inimigos teológicos, e desta forma um
conflito intenso é a tônica da representação. A
parábola freqüentemente ocorre como ‘a peça dentro
da peça’.
141
Um exemplo muito prático é a parábola dos dois devedores,
contada por Jesus quando estava na casa de Simão (Lc 7.36-50):
uma peça dentro de uma peça. Neste sentido, o intérprete
sempre deve fazer um estudo da conjuntura histórica do texto,
incluindo uma análise pormenorizada das circunstâncias
religiosas, sociais, políticas e geográficas reveladas na
parábola.
142
c) Fundo Cultural. Para captar objetivamente o significado de
um texto, o intérprete deve situar-se no plano cultural
daqueles que ouviram/leram inicialmente.
143
Bailey alerta sobre
o fato de que dois mil anos se passaram, e que
culturalmente se pensa como ocidentais, e não como orientais.
Em suma, as parábolas (por exemplo) são estórias a respeito de
pessoas que viveram em um determinado tempo e lugar.
144
O mesmo
autor fala de perguntas que devem ser feitas em relação ao
texto:
Estas são as perguntas de reação, julgamento de
valores, relacionamento, expectativa e atitude.
Como se espera que um pai reaja quando o seu filho
mais novo pede a sua herança quando o pai ainda
está vivo? Qual é o relacionamento entre um senhor
e um escravo? Que julgamento de valores faz o
auditório quando algum convidado deixa de ir a um
banquete? Qual a atitude dos habitantes do Oriente
Médio para com os governantes imperialistas? Que
141
BAILEY, K. As parábolas de Lucas, p. 16.
142
KISTEMAKER, S. J. As parábolas de Jesus, p. 24.
143
MARTÍNEZ, J. M. Hermeneutica biblica, p. 458.
144
BAILEY, K. Op. Cit., pp. 17,19.
65
espécie de herói o auditório espera na parábola do
Bom Samaritano? Por vezes, fazemos estas perguntas
a respeito das próprias personagens da estória. Em
outras ocasiões as fazemos para ou a respeito do
auditório. Ambas as séries de perguntas são
importantíssimas.
145
d) Exegese. Não se pode ignorar o texto original. Na verdade,
é do texto original que devem surgir as afirmações a respeito
do texto. Jeremias lembra, entretanto, que Jesus falou o
aramaico da Galiléia, e no processo de tradução para o grego
(ou de elaboração dos textos em grego), era inevitável que não
o vocabulário e as declarações de Jesus, mas também o fundo
palestino encarnado neles, deveria ser traduzido em condições
do ambiente helenístico.
146
O exegeta deve ter tal conceito em
mente ao fazer a sua exegese.
e) Significados de Símbolos. Quanto ao significado dos
símbolos, Almeida é da opinião de que um símbolo bíblico,
usado em outros lugares, tem determinada a sua
significação. Cita então um exemplo quanto ao significado do
fermento, o qual havia sido aplicado para o mundanismo
político de Herodes, o formalismo religioso dos fariseus, o
racionalismo incrédulo dos saduceus ou a jactância pecaminosa
dos coríntios; portanto, para Almeida, o fermento sempre será
símbolo do mal em atividade. O mesmo autor afirma, ainda, que
145
BAILEY, K. As parábolas de Lucas, p. 20.
146
JEREMIAS, J. Rediscovering the parables: a landmark work in New
Testament interpretation, p. 17-18.
66
os termos explicados em um texto não podem ter sentido oposto
em outro.
147
Konings, porém, pensa diferentemente, quando diz que o mesmo
elemento não tem sempre o mesmo sentido na comparação. Depende
do contexto, e muitas vezes não tem sentido comparativo algum,
mas serve apenas para que a história se possa contar de forma
pitoresca. Cita o exemplo da semente, que tem sentido
diferente nas parábolas de Mc 4.1ss, 4.26ss, e 4.30ss. Na
primeira, boa parte da semente fica infecunda, na segunda
fala-se da semente apenas porque ela cresce por si, e na
terceira considera-se apenas a desproporção entre o tamanho da
semente e da árvore que dela cresce.
148
Concorda-se com
Konings, tendo em vista que em toda a Bíblia são usados
símbolos de acordo com o contexto em que o autor os inseriu.
Neste sentido, poder-se-ia questionar ao primeiro autor: Qual
o significado de leão na Bíblia? É o leão da tribo de Judá (Ap
5.5) ou o leão que ruge em derredor (1 Pe 5.8)? Qual o
significado de serpente nas Escrituras? É a serpente do Éden
(Gn 3) ou a serpente que Moisés levantou no deserto (tipo de
Cristo - Nm 21; Jo 3.14)?
Bailey afirma que “os símbolos que devem ser procurados são
aqueles que o narrador original da história coloca nesta com o
objetivo de comunicar-se com o auditório original”.
149
147
ALMEIDA, A. Hermenêutica Bíblica, p. 76.
148
KONINGS, J. Jesus nos Evangelhos Sinópticos, p. 30.
149
BAILEY, K. As parábolas de Lucas, p. 26.
67
f) Teologia Bíblica. Qualquer texto deve ser interpretado de
acordo com a analogia da fé. É princípio geral de
interpretação que a nenhum texto se pode dar um sentido
contrário ao ensinamento geral e claro das Escrituras sobre o
mesmo assunto.
150
g) Atualização. Karl Gutbrod afirma que as parábolas de Jesus
“tornam possível a mudança do destinatário”.
151
Para isso, o
intérprete da parábola deve traduzir seu significado em termos
apropriados às necessidades de hoje. Sua tarefa é aplicar o
ensinamento central da parábola à situação de vida da pessoa
que está ouvindo sua interpretação.
152
Fee também demonstra
esta preocupação. Ele lembra que as parábolas estão num
contexto escrito e, através de um processo exegético, deve-se
descobrir seu significado, sua lição, com alto grau de
exatidão. O que precisa ser feito, então, é traduzir essa
mesma lição para o contexto atual, de tal forma que os
ouvintes de hoje possam sentir a ira, ou a alegria, que os
ouvintes originais experimentaram.
153
Assim como as parábolas
relatadas devem ser atualizadas, também as ações parabólicas
devem sofrer este processo. Stählin afirma que as ações
parabólicas, além de um sentido indicativo, possuem também um
significado atual bem concreto.
154
150
ALMEIDA, A. Hermenêutica bíblica, p. 76.
151
GUTBROD, K. Ein weg su den Gleichnissen Jesus, p. 29.
152
KISTEMAKER, S. J. As parábolas de Jesus, p. 25.
153
FEE, G. D.; STUART, D. Entendes o que lês?, p. 133.
154
STÄHLIN, G. Die Gleichnishandlungen Jesu. In: Kosmos und Ekklesia, p.
18.
68
Cada um destes princípios gerais, bem como todas as regras de
hermenêutica, deve ser observado na interpretação das ações
parabólicas.
Assim, a busca pela verdade e a sinceridade ao estar fazendo
esta busca, devem ser constantes na vida do intérprete. O
contexto é essencial para a interpretação de qualquer texto
bíblico, e não deixará de sê-lo para a hermenêutica das ações
parabólicas. Encontrar a pessoa ou o grupo a quem a ação
parabólica foi direcionada e o que estava acontecendo neste
momento, é fundamental para evitar erros na interpretação.
O fundo cultural ajuda a determinar diversos aspectos das
ações parabólicas que, para o intérprete que está distante,
tanto em tempo como em espaço, são geralmente difíceis de
serem compreendidos. Nos dias atuais, lavar os pés de alguém
tem com certeza significado totalmente diferente do que na
época de Jesus. Entrar com um jumento em uma cidade é
diferente do que entrar a cavalo, assim como faziam os
generais ao conquistar uma cidade. Estes aspectos são de
extrema relevância para a compreensão do ensino intencionado
por Jesus.
A exegese deve ser utilizada como ferramenta para buscar
informações que as traduções nem sempre conseguem expressar
devidamente. Uma comparação de diversas traduções pode ser
igualmente útil para a interpretação proposta. Alguns símbolos
69
são utilizados largamente nos textos bíblicos. Buscar
determinar o significado dos símbolos dentro do seu devido
contexto, é igualmente importante. Qual o significado da
figueira? Qual o significado da comensalidade? O que significa
o número doze? Estas questões devem ficar esclarecidas para
uma boa hermenêutica das ações parabólicas.
A teologia bíblica deve ser levada em conta também. Comparar
as verdades descobertas em determinado texto com a teologia do
restante da Bíblia é fundamental. Finalmente é importante que
o intérprete saiba atualizar o texto em questão, traduzindo o
princípio que está por trás da ação parabólica para os dias
atuais. Isto deve responder a questão: o que isto significa
para nós hoje?”
Martinez resume vários destes aspectos, quando afirma:
Outros fatores que devem ser considerados ao
interpretar um mbolo são a situação de vida do
escritor, sua perspectiva histórica, o essencial de
sua mensagem e o significado claro do mesmo símbolo
utilizado em outras passagens do livro, e, é claro,
a analogia entre o símbolo e o simbolizado deve ser
simples. Não deve buscar-se múltiplos pontos de
semelhança ou correspondência entre ambos.
155
Fohrer informa que todas as ações parabólicas dos profetas do
Antigo Testamento, com exceção de 1Rs 19 e Is 7, são
interpretadas no próprio texto. Esta interpretação se na
maioria das vezes em forma de palavra de Javé.
156
No caso da
ação parabólica do profeta Ágabo, em Atos 21, ele próprio
155
MARTÍNEZ, J. M. Hermeneutica biblica, p. 182.
156
FOHRER, G. O gênero dos relatos sobre atos simbólicos dos profetas. In:
Profetismo, p. 80-81.
70
profere as palavras do Espírito Santo para informar a Paulo o
que significava o seu ato.
No caso das ações parabólicas de Jesus, nem todas possuem uma
interpretação dada, podendo, assim, ser mais diretamente
relacionadas com as parábolas relatadas. Estas sempre deixavam
o interlocutor pensativo, evocando uma resposta sua.
III ASPECTOS EXEGÉTICOS DE UMA AÇÃO
PARÁBOLICA
* Maldição da Figueira – Um exemplo
A maldição da figueira, relatada pelos evangelistas Marcos
(11.12-14,19-26) e Mateus (21.18-22), pode ser incluída dentro
do método de ensino de Jesus através de ações parabólicas.
Fica um tanto incompreensível o ato do Senhor Jesus, se não
for interpretado como uma ação parabólica. Assim, a Maldição
da Figueira servirá como modelo e exemplo do estudo em
questão.
O presente capítulo abordará primeiramente o texto que relata
a maldição da figueira, nos dois relatos dos sinóticos,
apresentando as ligeiras diferenças entre os mesmos. Num
segundo momento, será abordado o contexto do episódio dentro
da trajetória da vida de Jesus, bem como de sua localização
geográfica.
Em seguida, tratará da questão da figueira e das suas
características, especialmente no que diz respeito ao cultivo
e da colheita dos frutos. Na seqüência será abordado o
significado que a figueira tem no contexto bíblico e das
pessoas que assistiram ao episódio em questão.
A quinta parte tratará da interpretação da ação parabólica,
mostrando como diversos autores compreenderam este fato.
72
Finalmente, far-se-á uma aplicação da lição dada por Jesus aos
seus discípulos, aplicando-a também à igreja atual e aos
cristãos.
3.1 O Texto da Maldição da Figueira
O episódio da Maldição da Figueira é narrado por dois dos
evangelistas: Mateus e Marcos. Os textos apresentam ligeiras
diferenças que serão tratadas posteriormente. Por enquanto,
será apresentado o texto como se encontra nos Evangelhos, de
acordo com a tradução da Nova Versão Internacional.
Mateus 21.18-22
A Figueira Seca
Marcos 11.12-14,19-26
A Figueira Seca
18
De manhã
cedo, quando voltava
para a cidade, Jesus
teve fome.
19
Vendo
uma figueira à beira
do caminho,
aproximou-se dela,
mas nada encontrou,
a não ser folhas.
Então lhe disse:
“Nunca mais
frutos!”
Imediatamente a
árvore secou.
20
Ao
verem isso, os
discípulos ficaram
12
No dia seguinte, quando
estavam saindo de Betânia, Jesus
teve fome.
13
Vendo à distância uma
figueira com folhas, foi ver se
encontraria nela algum fruto.
Aproximando-se dela, nada
encontrou, a não ser folhas, porque
não era tempo de figos.
14
Então lhe
disse: “Ninguém mais coma de seu
fruto”. E os seus discípulos
ouviram-no dizer isso.
19
Ao cair da tarde, eles
saíram da cidade.
20
De manhã, ao
passarem, viram a figueira seca
desde as raízes.
21
Pedro,
lembrando-se, disse a Jesus:
73
espantados e
perguntaram: Como a
figueira secou o
depressa?”
21
Jesus
respondeu: “Eu lhes
asseguro que, se
vocês tiverem e
não duvidarem,
poderão fazer não
somente o que foi
feito à figueira,
mas também dizer a
este monte:
‘Levante-se e atire-
se no mar’, e assim
será feito.
22
E tudo
o que pedirem em
oração, se crerem,
vocês receberão”.
“Mestre! Vê! A figueira que
amaldiçoaste secou!”
22
Respondeu
Jesus: “Tenham em Deus.
23
Eu
lhes asseguro que se alguém disser
a este monte: ‘Levante-se e atire-
se no mar’, e não duvidar em seu
coração, mas crer que acontecerá o
que diz, assim lhe será feito.
24
Portanto, eu lhes digo: Tudo o que
vocês pedirem em oração, creiam que
o receberam, e assim lhes
sucederá.
25
E quando estiverem
orando, se tiverem alguma coisa
contra alguém, perdoem-no, para que
também o Pai celestial lhes perdoe
os seus pecados.
26
Mas se vocês não
perdoarem, também o seu Pai que
está nos céus o perdoará os seus
pecados”.
A figueira, assim como a oliveira e a videira, era uma árvore
comum em Israel. As figueiras crescem isoladas ou em pequenos
grupos e suas folhas proporcionam uma agradável sombra. Uma
árvore destas serviu para o ensino de Jesus através de uma
ação parabólica.
Esta ação de Jesus é singular.
157
Todas as outras ações, e
alguns consideram esta como milagre, são realizadas com o
157
Além de não haver outro fato semelhante nos Evangelhos, também o
existe nenhum relato rabínico paralelo para este acontecimento (LACHS, S.
T. A rabbinic commentary on the New Testament: the gospels of Mathew,
Mark and Luke, p. 349).
74
propósito de ajudar ou favorecer a alguém. Beare a chama de “o
único milagre amaldiçoante dos evangelhos”.
158
Como esta ação
não tem a finalidade principal de ajudar um próximo
necessitado, Ramos prefere considerá-lo como um milagre que
contém exclusivamente um significado parabólico.
159
Nestes
termos, Mounce afirma que o fato deve ser tomado mais como
“predição” do que maldição.
160
Mateus e Marcos apresentam diferenças no seu relato da
maldição da figueira. “Mateus, ao sublinhar o imediato
secamento da árvore, destaca o poder de Jesus, mas no conjunto
Marcos se mostra mais vivo e pormenorizado”.
161
Edersheim
esclarece:
Com Mateus, que, por amor à continuidade, relata
este incidente depois do sucesso daquele dia
(segunda) e imediatamente antes do dia seguinte (Mt
21.18,22), esperamos com antecipação o que viram os
discípulos no dia seguinte (Mc 11.20). Como disse
Mateus: ‘No mesmo instante se secou a figueira’.
Porém, segundo o relato mais detalhado de Marcos,
foi somente no dia seguinte, quando voltaram a
passar, que notaram que a figueira havia secado
desde as raízes. O espetáculo atraiu sua atenção, e
de modo vívido recordaram as palavras de Cristo...
E foi o súbito e completo juízo que havia sido
pronunciado o que agora chamou a atenção de Pedro,
mais do que o seu significado simbólico. Foi mais o
milagre que sua importância espiritual e moral que
impressionou aos discípulos.
162
Marcos monta o episódio segundo o esquema “sanduíche”: com o
relato da figueira no início (Mc 11.12-14) e no final (11.20-
158
Apud MOUNCE, R. H. Mateus, p. 209.
159
RAMOS, F. F. El primer Evangelio: Marcos, heraldo da buena noticia, p.
185.
160
MOUNCE, R. H. Mateus, p. 209.
161
BATTAGLIA, O. et. al. Comentário ao evangelho de São Marcos, p. 106.
162
EDERSHEIM, A. La vida y los tiempos de Jesus el Messias, vol. 2, p. 324-
325.
75
21), contendo o episódio do Templo como recheio (11.15-19).
163
Descontada esta interpolação de Marcos, a narrativa contém
três partes: a) A ação de Jesus (Mt 21.18-19; Mc 11.12-14); b)
A questão dos discípulos (Mt 21.20; Mc 11.19-21); c) A
resposta de Jesus (Mt 21.21-22; Mc 11.22-26).
164
Sobre estas diferenças cronológicas, Troadec afirma que não se
deve dar evidentemente mais importância ao pormenor
cronológico do que lhe dão os evangelistas. “Que a figueira
tenha secado imediatamente ou no dia seguinte isso não muda
nada no ensino que se desprende deste incidente, que é o que
importa”.
165
Robinson, ao comentar sobre a realidade do fato, apresenta
duas linhas distintas de pensamento: por um lado, aqueles que
consideram o episódio como uma ‘ação parabólica’, acontecida
de fato, da qual se depreende uma lição espiritual; por outro
lado, aqueles que consideram o fato como uma transformação da
parábola de Lucas 13.6-9 em milagre, por parte da tradição.
166
Hunter apóia esta segunda possibilidade, afirmando que se pode
supor que o núcleo do relato de Marcos não seja um milagre, e
sim uma parábola de juízo. Afirma ainda que no caminho de
Jericó a Jerusalém pode ter havido alguma figueira seca, a
163
BORTOLINI, J. O evangelho de Marcos, p. 213.
164
Cf. DAVIES, W. D. A critical and exegetical commentary on the Gospel
according to saint Matthew, p. 147.
165
TROADEC, H. Evangelho segundo S. Mateus, p. 176.
166
ROBINSON, T. H. The gospel of Matthew, p. 174.
76
qual se chegou a relacionar um relato que atribuía sua
maldição a Jesus.
167
Rienecker, entretanto, afirma que este fato se constitui num
acontecimento real
168
, como ato profético de Jesus, e que fora
do comum es apenas o fato de ser o único milagre que não
teve uma utilidade para alguém.
169
É improvável que este relato
esteja baseado na parábola de Lucas 13.6-9, sobretudo porque
na parábola se fala de arrancar a árvore e não de que se
seque.
170
Além do mais, “os dois relatos nada têm em comum
entre si, exceto o fato de as figueiras não produzirem
frutos”.
171
Civit complementa:
Oséias (9.10) e Miquéias (7.1) haviam comparado
Israel com a figueira e seu fruto. Não haveria
inconveniente em supor que a Catequese Primitiva
encenou em forma de gesto pessoal uma narração
parabólica do Senhor. Porém esta hipótese não é
necessária. É certo que este episódio de Jesus nos
resulta estranho; mas, precisamente por sua
singular estranheza, é pouco verossímil que o
forçasse a Comunidade Apostólica quando
contemplava a Cristo sob a luz do ministério
pascal.
172
Trata-se no caso de “parábolas reais”, gestos parabólicos que
não ilustram uma idéia, mas predizem, introduzem e anunciam
praticamente um evento. Muitas vezes são profecias de
desgraças e de juízos, não simples oráculos sobre o futuro,
167
HUNTER, A. M. El evangelio según san Marcos, p. 137.
168
RIENECKER, F. Das Evangelium des Markus, p. 201.
169
Idem. Evangelho de Mateus, p. 353.
170
SCHMID, J. Das Evangelium nach Markus, p. 223.
171
MOUNCE, R. H. Mateus, p. 209.
172
CIVIT, I. G. El evangelio según san Mateo, vol. 2, p. 342.
77
mas criações prefigurativas do que de vir.
173
Schmid
acrescenta:
Este ato de Jesus se interpreta, em geral,
simbolicamente como uma parábola em ação.
Compreendida assim, tem muitos paralelos em ações
simbólicas dos profetas do AT e convém
perfeitamente com a situação em que se desenvolve.
Israel (ou Jerusalém) é a figueira plantada por
Deus, que oculta sob a enganosa folhagem de seus
atos de piedade externa, sua verdadeira
esterilidade religiosa.
174
É necessário lembrar ainda que muitos profetas do Antigo
Testamento recorreram ao gesto de maldição de árvores e frutos
como símbolos do juízo pronunciado contra Israel (Jeremias
8.13; Oséias 9.10,16-17; Ezequiel 17.24; etc.).
175
3.2 O Contexto da Maldição da Figueira
Jesus estava em sua última semana de ministério e também de
vida. Havia estado em toda a região da Judéia até a Galiléia,
durante mais de três anos, pregando, ensinando e operando
sinais. Estava chegando o momento de suas últimas ações e dos
seus últimos ensinamentos para o povo e para os seus
discípulos.
De acordo com os evangelistas, Jesus visita três vezes o
templo. A primeira vez, quando ele apenas contempla o templo.
Marcos relata que “Jesus entrou em Jerusalém e dirigiu-se ao
templo. Observou tudo à sua volta e, como era tarde, foi
173
SCHNACKENBURG, R. O evangelho segundo Marcos, vol. 2, p. 130.
174
SCHMID, J. Das Evangelium nach Markus, p. 221.
175
RAMOS, F. F. El primer Evangelio: Marcos, heraldo da buena noticia, p.
185.
78
para Betânia com os Doze”. Alexander afirma que este “olhar
indagador” de Jesus para o que circunda o templo e para os que
o circundam é próprio do Evangelho segundo Marcos (cf. 3.5,34;
5.32; 8.33; 10.23,27; 11.11).
176
Na segunda visita ao templo, Jesus o purifica pela segunda vez
(cf. e cp. Mt 21.12 e Jo 2.13-17). Nesta ocasião, as multidões
ficam maravilhadas com a doutrina de Jesus, enquanto as
autoridades de enchem de furor, embora não façam nada por
temerem o povo (Mc 11.18). Na terceira visita, Jesus entra no
templo e dele se aproximam os Seus inimigos para dar-lhe o
último golpe, mas são reduzidos ao silêncio e vencidos pela
palavra do Mestre.
177
Nos respectivos intervalos, Jesus vai a Betânia: E, deixando-
os, saiu da cidade para Betânia, onde passou a noite (Mt
21.17). Sabe-se que em Betânia habitava uma família que Jesus
estimava muito. Os capítulos 11 e 12 de João complementam este
quadro: Jesus amava Marta, a irmã dela e Lázaro (Jo 11.5).
Em contraste com a hostilidade encontrada em Jerusalém, Jesus
se acha na intimidade daqueles que ama e que sabem
corresponder ao Seu amor.
178
176
ALEXANDER, H. E. O evangelho segundo Marcos, p. 101.
177
Ibidim. Alexander é da opinião de que, nestas três visitas a Jerusalém,
Jesus cumpre três atos de julgamento: 1) O julgamento simbólico da nação
judaica representada pela figueira estéril; 2) O julgamento da religião
do templo, expulsando os aproveitadores; 3) O julgamento dos chefes
religiosos do povo cuja hipocrisia é desvendada (p. 101).
178
ALEXANDER, H. E. O evangelho segundo Mateus, p. 120.
79
Betânia, no hebraico “casa das tâmaras”, assim chamada por
causa das tamareiras que ali cresciam, é uma aldeia que fica a
cerca de três quilômetros a sudeste de Jerusalém (Jo 11.18). A
localidade existe até hoje, em um wadi raso, na base oriental
do Monte das Oliveiras. Foi ali que Jesus realizou um de seus
maiores milagres a ressurreição de Lázaro. Betânia também
era a terra de Simão, o leproso, em cuja casa Jesus foi ungido
com ungüento guardado em um vaso de alabastro.
179
Jeremias lembra que no percurso entre Jerusalém e Betânia,
achava-se Betfagé. Segundo as indicações, deve-se traduzir
este nome por “casa dos figos verdes”.
180
No Talmude, Betfagé é
às vezes mencionada como separada de Jerusalém e outras vezes
como parte integrante da mesma.
181
Não se pode afirmar com
certeza, mas, possivelmente, o episódio da maldição da
figueira tenha acontecido neste local, entre Betânia e
Jerusalém. Os autores não ousam afirmar com certeza esta
possibilidade.
Bortolini, ao mencionar a saída de Jesus de Betânia em direção
a Jerusalém, afirma que se deve notar a precariedade da
alimentação que havia nesta casa, pois logo ao sair, Jesus
sentiu fome e procurou uma figueira (sem se perguntar pelo seu
proprietário), buscando algo para saciar sua fome.
182
179
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, vol. 1, p.
515.
180
JEREMIAS, J. Jerusalém no tempo de Jesus, p. 65.
181
CHAMPLIN, R. N. Op. cit., vol. 1, p. 523.
182
BORTOLINI, J. Evangelho de Marcos, p. 213.
80
Pohl, entretanto, argumenta que os judeus costumavam tomar
duas refeições por dia: uma no meio da manhã, geralmente pelas
10 horas, e a outra no fim da tarde. Para este autor, Jesus
deve ter saído de Betânia bem antes da primeira refeição.
183
Edersheim acrescenta a isto o fato de que não é demais supor
que na primeira noite da semana da Paixão, Jesus tenha passado
uma noite em oração solitária, como com tanta freqüência fazia
(cf. Mc 1.35; 6.46; Lc 4.2; 5.16; 6.12; 9.28; Mt 14.23). Com
isto em mente, pode-se com facilidade compreender a fome que o
fez buscar frutas na figueira, a caminho da cidade de
Jerusalém.
184
Assim, ainda de madrugada, na segunda-feira, após a entrada
triunfal em Jerusalém que ocorrera no primeiro dia da semana,
Jesus partiu em direção a Jerusalém, para o encontro com o
“templo”. Sobre o que faria no templo, não havia comentado
nada com os seus discípulos. Jesus, provavelmente, refletia
sobre o que pensava em fazer e como as pessoas iriam reagir:
qual seria o risco? Qual seria a reação dos sacerdotes, dos
comerciantes e dos escribas? E como os discípulos iriam
assimilar aquele acontecimento? Chegara o momento de fazer uma
ação parabólica do tipo profético. Não seria um simples
183
POHL, A. Evangelho de Marcos, p. 326. Gundry confirma que não era
costume alimentar-se muito cedo e que a primeira refeição era tomada no
meio da man (GUNDRY, R. Mark: a commentary on his apology for the
cross, p. 637).
184
EDERSHEIM, A. La vida y los tiempos de Jesus el Messias, vol. 2, p. 323.
81
capricho, mas uma simbologia do que iria fazer mais adiante,
também ao estilo dos profetas.
185
Não se quer retomar a discussão acima a respeito da diferença
cronológica de Mateus e Marcos. Apenas mencionar a preferência
pelo relato mais pormenorizado de Marcos, em detrimento ao
relato mais abreviado e objetivo de Mateus. Entretanto, como
afirmou Troadec, não é necessário dar mais importância ao
pormenor cronológico do que lhe dão os evangelistas. O que
importa é o ensino que se depreende deste acontecimento.
186
3.3 A Figueira em Israel
A figueira é mencionada mais de cinqüenta vezes na Bíblia.
187
Para isso são utilizadas seis palavras relacionadas com o
termo figueira ou figo. Em hebraico utiliza-se

(te´enâ),
que designa a Fícus carica, nome científico da figueira,
encontrada no oeste da Ásia e é muito comum na região da
Palestina.
188
Este termo é utilizado 38 vezes no Antigo
Testamento (como por exemplo: Gn 3.7; Dt 8.8; Nm 13.23; Jz
9.10-11; 2 Rs 20.7; Sl 105.33; Is 34.4; etc.).
189
Outro termo
utilizado para figueira é

(shiqmâ) que designa a figueira
grande, que produz figos comestíveis, às vezes significando
185
GALLARDO, C. B. Galiléia Ano 30: para ler o evangelho de Marcos, p. 129.
186
TROADEC, H. Evangelho segundo S. Mateus, p. 176.
187
DANIEL-ROPS, H. A vida diária nos tempos de Jesus, p. 22.
188
YOUNGBLOOD, R. F.

In: Dicionário internacional de teologia do
Antigo Testamento, p. 1627.
189
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, vol. 2, p.
726.
82
sicômoro.
190
Para figo usa-se a palavra

(paggâ) que designa
o figo verde, temporão, que aparece em Cantares 2.13.
191
No grego são utilizadas as seguintes palavras:  (sukê),
significando “figueira” e utilizada por 16 vezes no Novo
Testamento (Mt 21.19-21; Mc 11.13,21; Lc 13.6,7; etc.).
192
Este
é o termo utilizado para traduzir o vocábulo hebraico

(te´enâ), na LXX, para designar a figueira, seu fruto e suas
folhas.
193
Derivada desta primeira palavra, aparece o termo
(sûkon), que designa o “figo” e aparece quatro vezes no
Novo Testamento. E, por último,  (olunthos), para figo
verde”, e que aparece somente em Apocalipse 6.13.
194
A figueira é uma árvore com folhas largas, verde escuro em
cima, e pardacentas e lustrosas em baixo, com um tronco
coberto de uma casca lisa e cinza e uma ramagem extensa.
195
Champlin acrescenta:
figos cultivados e figos naturais. Se for bem
cultivada, uma figueira pode atingir nove metros de
altura, e o seu crescimento é muito rápido. Se for
deixada sem cultivo, em um lugar seco e rochoso, a
árvore permanece anã, espalhando-se por cima das
rochas, sempre muito baixa. O figo tem um formato
190
AUSTEL, H. J.

In: Dicionário internacional de teologia do Antigo
Testamento, p. 1614. Coleman informa que o sicômoro é da mesma família da
figueira, mas é considerada uma árvore inferior, e seu figo não é tão bom
quanto o da figueira (COLEMAN, W. Manual dos tempos e costumes bíblicos,
p. 198).
191
HAMILTON, V.

In: Dicionário internacional de teologia do Antigo
Testamento, p. 1198.
192
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, vol. 2, p.
726.
193
MOTYER, J. A. Fruto. In: Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento, p. 890.
194
CHAMPLIN, R. N. Op. cit., vol. 2, p. 726.
195
WHITEHOUSE, O. Costumes orientais, p. 94.
83
um tanto similar à pêra. Suas dimensões dependem da
espécie plantada. Na extremidade do pedúnculo,
uma pequena abertura por meio da qual certo inseto
polinizador, chamado vespa do figo, pode entrar.
Quando o figo maduro é ingerido, sementes
granulosas são esmagadas pelos dentes. E essas
sementes são o verdadeiro fruto da figueira. A
parte comestível é apenas o receptáculo protetor,
que contém os frutos, as sementes. [...] Uma
figueira, se não for atacada por insetos ou por
certas enfermidades, pode sobreviver por
quatrocentos anos.
196
A figueira era freqüentemente plantada junto com a vinha (cf.
Lc 13.6), pelo que seus ramos e a folhagem da videira tornaram
conhecida a expressão “sentar-se cada qual debaixo de sua
videira e debaixo de sua figueira” como símbolo de
prosperidade e de bem estar (ver 1Rs 4.25; Mq 4.4; Zc 3.10; Is
36.16).
197
O figo era consumido de diversas formas: ao natural, em passa
ou então sob a forma de vinho. Abigail deu a Davi, entre
outras coisas, duzentas pastas de figo (1Sm 25.18),
provavelmente a fruta em passa. A sombra da figueira também
era muito apreciada. Além disto, devido à abundância de
figueiras, elas eram utilizadas em muitas lições objetivas
(por ex: Meus irmãos, pode uma figueira produzir azeitonas ou
uma videira, figos? [Tg 3.13]).
198
Douglas acrescenta que até hoje as folhas de figueira são
costuradas juntas no Oriente e usadas como embrulhos para
frutas frescas enviadas aos mercados, onde são um valioso
196
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, vol. 2, p.
726.
197
DOUGLAS, J. D. Figo, Figueira. In: O novo dicionário da Bíblia, p. 618.
198
COLEMAN, W. Manual dos tempos e costumes bíblicos, p. 47.
84
produto de comércio. Bolos de figos secos (dehbelâ no
hebraico, ‘pressionados juntos’) eram um excelente alimento.
Isaías também fala de uma massa ou pasta de figos para ser
usada como emplastro para ser posta sobre a úlcera de Ezequias
(2Rs 20.7; Is 38.21).
199
Era possível colher frutos da figueira durante cerca de dez
meses no ano.
200
Esta árvore tem duas florações e três safras
anuais.
201
Estas três safras de figos podem ser compreendidas
da seguinte forma:
a) Os figos temporões (bikkurâh), que apareciam no fim de
junho. Em diversas profecias (Is 28.4; Jr 24.2; Os 9.10),
pode-se ver o quanto estes figos eram apreciados, por causa de
seu sabor.
202
Douglas afirma que estes figos amadurecem no
verão e são considerados os primeiros figos maduros, muito
procurados por causa de sua frescura e de seu sabor
delicioso.
203
b) Os figos do verão ou figos tardios, que amadureciam de
agosto a outubro. Esta era a colheita principal, que se
formava nos brotos novos que surgiam no início do verão. Esta
folhagem nova, que surge quando o tempo quente está se
199
DOUGLAS, J. D. Figo, Figueira. In: O novo dicionário da Bíblia, p. 618.
200
GOWER, R. Usos e costumes dos tempos bíblicos, p. 119.
201
POHL, A. Evangelho de Marcos, p. 326.
202
WHITEHOUSE, O. C. Costumes orientais, p. 95.
203
DOUGLAS, J. D. Op. Cit., p. 618.
85
aproximando, é conhecida da parábola de Jesus sobre o fim dos
tempos (cf. Mc 13.2).
204
c) Os figos verdes surgem no fim do inverno e início da
primavera. São figuinhos verdolengos chamados taqsh,
comestíveis porém não muito apreciados.
205
F. F. Bruce
esclarece a respeito destes figos:
“Ainda não era chegado o tempo de figos”, diz
Marcos, pois se tratava de pouco antes da Páscoa,
cerca de seis semanas antes que aparecesse nas
árvores o fruto desenvolvido. O fato de aduzir
Marcos estas palavras demonstra que sabia o que
estava falando. Quando por volta do fim de março
desponta a folhagem, acompanha-a farta quantidade
de nódulos a que os árabes chamam de TAQSH, espécie
de precursores dos figos verdadeiros. Os camponeses
e outras pessoas quando com fome costumam comer
esses taqsh. Caem antes de formar-se o genuíno
figo. Entretanto, se surgem as folhas
desacompanhadas de taqsh é sinal de que não haverá
frutificação nesse ano.
206
Isto deixa claro que quando o Senhor Jesus deixa a estrada
para ir à figueira e procurar nela algum taqsh, para saciar um
pouco de sua fome, e não os encontra, que isto implica em que
não haveria figos quando chegasse o tempo da safra principal.
Mesmo com a exuberância da folhagem, a figueira era
infrutífera e não prometia nada para aquela frutificação.
3.4 O Significado da Figueira
Uma figueira podia trazer uma vasta gama de significados, de
acordo com os comentários de diversos autores. Entre estes
204
POHL, A. Evangelho de Marcos, p. 326.
205
MOUNCE, R. H. Mateus, p. 209.
206
BRUCE, F. F. Merece confiança o Novo Testamento?, p. 95-96.
86
significados está a fertilidade; como os frutos da figueira
eram abundantes na região do Mar Mediterâneo e constituíam um
meio alimentício importante, eram considerados um mbolo da
fertilidade.
207
Uma figueira também ilustrava bem o conceito de paz e
felicidade, através do fato de um homem estar sentado debaixo
de uma figueira. A família que tivesse uma dessas plantas em
sua casa era considerada muito feliz, pois a mesma frutifica
durante séculos, e exige poucos cuidados. No encontro de Jesus
com Natanael faz-se referência a esta circunstância: Eu o vi
quando você ainda estava debaixo da figueira...” (Jo 1.48).
208
As figueiras também se tornaram um símbolo de segurança e
prosperidade. Em 1 Rs 4.25 encontra-se a declaração de que
“durante a vida de Salomão, Judá e Israel viveram em
segurança, cada homem debaixo da sua videira e da sua
figueira...”. Miquéias afirma também que “todo homem poderá
sentar-se debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira, e
ninguém o incomodará, pois assim falou o Senhor dos Exércitos”
(Mq 4.4; ver tb. Zc 3.10).
209
Entre muitos outros, Champlin também menciona os seguintes
significados figurados da figueira: a) Independência
financeira, quando cada indivíduo tivesse a sua própria
figueira; b) Miséria e aflição quando a figueira não
207
LURKER, M. Dicionário de figuras e símbolos bíblicos, p. 101.
208
COLEMAN, W. Manual dos tempos e costumes bíblicos, p. 197-198.
209
GOWER, R. Usos e costumes dos tempos bíblicos, p. 118.
87
produzisse (cf. Sl 105.33); c) Esterilidade espiritual
representada pela figueira estéril (Lc 13.6-9); d) Ostentação
representada pela figueira que tem muitas folhas mas que não
tem nenhum fruto (Mt 21.19); e) Julgamento divino no caso do
fracasso completo de uma safra de figos (cf. Is 34.4; Jr 5.17;
Jl 1.7; Os 2.12).
210
Na opinião de Mateos e Camacho, “a figueira é figura do
templo”. Sua aparência é frondosa (uma figueira com folhas).
Mas esta aparência é enganosa e oculta a esterilidade. É um
esplendor sem fruto.
211
Entretanto, a maioria dos autores relaciona a figueira com
Israel. Alexander é da opinião de que que na Escritura, a
figueira, bem como a oliveira e a parreira, são símbolos da
nação judaica”.
212
Bortolini afirma que, “no Antigo Testamento,
às vezes a figueira é símbolo de Israel, e o mesmo acontece
aqui” (referindo-se ao texto de Mc 11).
213
Edersheim complementa que Israel é a figueira estéril e as
suas folhas somente cobriam a nudez, como haviam feito no caso
dos primeiros pais no Éden, depois da queda no pecado (Gn
210
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, vol. 2, p.
726.
211
MATEOS, J.; CAMACHO, F. Marcos: texto e comentário, p. 263.
212
ALEXANDER, H. E. O evangelho de Mateus, p. 120. Boyer afirma também que
“a figueira viçosa, mas sem figos, é notável emblema de Israel...”
(BOYER, O. Marcos, o evangelho do Servo do Senhor, p. 157).
213
BORTOLINI, J. O evangelhos de Marcos, p. 213. Petersen concorda que
neste texto de Marcos, o qual mostra uma figueira em lugar privilegiado,
tão abundante de promessas, mas infrutífera, “Jesus viu uma
personificação de Israel” (PETERSEN, H. R. Estudo sobre Marcos, p.111).
88
3.7).
214
No Antigo Testamento, a figueira simboliza tanto o
frutificar de Israel (Dt 8.8), quanto um quadro de julgamento
no caso de sua destruição (Os 2.12; Is 34.4; Jr 5.17; 8.13;
Jl 1.2-12).
215
Telford, citado por Myers, esclarece sobre o assunto, a partir
do exame que faz de cinco textos principais (Jr 8.13; Is
28.3s; Os 9.10,16; Mq 7.1; Jl 1.7-12), e vários outros textos
suplementares:
O florescimento da figueira e a sua produção de
frutos constitui elemento descritivo em passagens
que descrevem a visita de Javé a seu povo com
bênção, ao passo que o murchamento da figueira, a
destruição ou ausência do seu fruto, figura em
imagens que descrevem o julgamento de Javé sobre o
seu povo ou seus inimigos. O tema do julgamento é,
como nenhum outro, o mais proclamado nos livros
proféticos. Muitas vezes a razão apresentada é a
aberração cúltica, um culto do templo e um sistema
sacrificial corruptos. Em alguns casos, o figo ou a
figueira podem ser expressamente usados como
símbolo da própria nação. [...] Quem poderia
duvidar, então, do extraordinário impacto que a
maldição da figueira feita por Jesus provocaria
sobre os que estavam preparados para reconhecer o
simbolismo onde quer que ocorresse.
216
Motyer também concorda que os textos de Oséias 9.10 e Jeremias
24 simbolizam a nação que, doutra forma, geralmente era
retratada como videira. Afirma ainda que o texto de Miquéias
7.1-6 retrata o estado corrupto da nação, que está cheio de
amargura, hostilidade mútua e derramamento de sangue, em
termos da ausência do figo quando ele é procurado. O primeiro
verso diz: “Que desgraça a minha! Sou como quem colhe frutos
214
EDERSHEIM, A. La vida y los tiempos de Jesus el Messias, vol. 2, p. 324.
215
MULHOLLAND, D. M. Marcos: introdução e comentário, p. 174.
216
Apud MYERS, C. O evangelho de São Marcos, p. 357-358.
89
de verão na respiga da vinha; não nenhum cacho de uvas para
provar, nenhum figo novo que eu tanto desejo”.
217
Pode-se considerar, portanto, que a figueira em muitas
ocasiões pode representar a nação de Israel e a sua situação
perante Deus. Isto não significa que todos os textos se
prestam a esta comparação. Cada texto deve ser analisado à luz
do seu contexto, para que seja determinada a devida
correspondência.
3.5 A Interpretação da Maldição da Figueira
Um grande número de autores e comentaristas considera este
acontecimento como algo realizado propositalmente, para
transmitir um ensino específico. Bruce afirma que a “história
como tal é uma parábola dramatizada”.
218
Schnackenburg é da
opinião de que trata-se no caso de parábolas reais’, gestos
simbólicos que não só ilustram uma idéia, mas predizem,
introduzem e anunciam praticamente um evento”.
219
Patte, em seu comentário ao Evangelho de Mateus, afirma que “a
maldição da figueira aparece como um ato parabólico que
prefigura o que será expresso mais adiante em parábolas”
220
,
através das parábolas de julgamento que constam no final dos
evangelhos sinóticos. Civit, na mesma direção, complementa que
217
MOTYER, J. A. Fruto. In: Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento, p. 890.
218
BRUCE, F. F. Merece confiança o Novo Testamento?, p. 96.
219
SCHNACKENBURG, R. O evangelho segundo Marcos, vol. 2, p. 131.
220
PATTE, D. The Gospel according to Matthew, p. 292.
90
“a parábola encenada da figueira é um prelúdio da parábola
explicada da vinha, que se resume também no tema da palavra
fruto”.
221
Davies, em seu comentário crítico e exegético do evangelho de
Mateus, faz a seguinte afirmação:
Mas (Mateus) 21.18-19 também pode ser classificado
como um ato profético de poder, algo como um
semeion no senso Joanino. A ação contra a figueira
é uma ilustração visual, uma parábola ordenada que
também inaugura o julgamento contra o qual
representa.
222
Fritz Rienecker é da opinião de que o “secar uma figueira é um
ato profético de Jesus e pertence, por isso, integralmente ao
contexto da purificação do templo”.
223
Anderson, comparando a
ação de Jesus com as ações parabólicas dos profetas (2Cr
18.10; Jr 13.1ss; 19.1ss; 27.2; 28.10ss), afirma que a ação
parabólica de Jesus simboliza o julgamento de Deus sobre a
esterilidade de Jerusalém.
224
Diversos autores poderiam ser acrescidos a esta lista que
consideram o acontecimento da maldição da figueira como uma
“ação parabólica”. Embora alguns usem nomenclatura diferente,
o sentido é o mesmo. A pergunta que decorre desta
221
CIVIT, I. G. El Evangelio segun san Mateo, p. 347. Cranfield também
trata o acontecimento como uma “parábola encenada” (Apud MOTYER, J. A.
Fruto. In: Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p.
891).
222
DAVIES, W. D. A critical and exegetical commentary on the Gospel
according to saint Matthew, p. 148.
223
RIENECKER, F. Evangelho de Mateus, p. 353. Troadec é da mesma opinião:
“Jesus ao maldizer a figueira realiza um gesto profético” (TROADEC, H.
Evangelho segundo S. Mateus
, p. 176).
224
ANDERSON, H. The new century bible commentary: the Gospel of Mark, p.
263.
91
identificação é “o que exatamente Jesus quis ensinar através
desta ação parabólica?”
Schnackenburg propõe que
Ao servir-se da maldição da figueira (v. 14) e do
fenecimento (v. 20s) da figueira para emoldurar a
expulsão dos vendilhões do Templo, Marcos evidencia
ainda com mais clareza as suas intenções; o
evangelista aproveita repetidamente esse recurso
literário (cf. 5.21-43; 6.12s com 6.30; 14.54 com
14.66-72). Para ele, a esterilidade e o
ressequimento da figueira estão em proporção direta
com a ação de Jesus no Templo. [...] trata-se do
juízo sobre o Judaísmo descrente e “estéril”.
225
A figueira, portanto, é uma parte integrante das ações
parabólicas de Jesus em Jerusalém, na qual ele retrata o
julgamento de Deus na vida religiosa e estéril de Israel. Deus
age em julgamento porque ele toma o pecado seriamente,
inclusive o pecado cometido em nome da devoção.
226
A. T. Robertson, em sua obra “Imágenes verbales en el Nuevo
Testamento”, considera a maldição da figueira como um ato de
intenção parabólica, sendo a árvore na mente de Cristo um
símbolo da nação judaica, com uma grande exibição de religião,
mas nenhum fruto de verdadeira piedade.
227
Smith lembra que a expressão ‘não havia frutos’ é uma frase
melancólica em toda Escritura, particularmente em Mateus (cf.
3.8-10; 7.16-20; 12.33; 13.8,23; 21.34,43; Jr 8.13; Lc 13.6-
225
SCHNACKENBURG, R. O evangelho segundo Marcos, vol. 2, p. 132.
226
MULHOLLAND, D. M. Marcos: introdução e comentário, p. 173-174.
227
ROBERTSON, A. T. Imágenes verbales en el Nuevo Testamento, vol. 1, p.
179.
92
9).
228
Petersen, ao comentar sobre a sentença de Jesus sobre a
figueira ‘Ninguém mais coma de seu fruto’, afirma que “o povo
escolhido de Deus fora pesado na balança, e achado em
falta”.
229
Motyer confirma:
O amaldiçoamento da figueira não é, portanto, um
evento isolado e incidental; pelo contrário, é uma
parte integrante dos atos simbólicos da visita
final de Jesus a Jerusalém, a começar com a entrada
triunfante em Jerusalém, montado sobre o jumento no
primeiro Domingo de Ramos. Simboliza o julgamento
pronunciado sobre a nação por causa de seu estado
estéril, e se condiz com a purificação do templo
que ocorreu na mesma ocasião.
230
Segundo o evangelho de Marcos, o julgamento do templo com os
seus responsáveis está no centro das atenções, desde o início
do capítulo 11. Havia por um lado a “folhagem”, representando
a grandiosidade arquitetônica do templo (Mc 13.1,2) e sua
organização econômica (11.15-16). Mas, infelizmente quem
olhava de perto não encontrava “frutos”, antes endurecimento
(11.33), planos secretos de assassinato (12.12), fingimento e
falsidade (12.13-15), cegueira instruída (12.24-27) e infâmia
sob o manto da dignidade (12.38-40).
231
Bruce, que considera o acontecimento como uma parábola
dramatizada, afirma que, “para Jesus, a figueira, vistosa mas
228
SMITH, R. H. Matthew, p. 249.
229
PETERSEN, H. Estudo sobre Marcos, p. 111.
230
MOTYER, J. A. Fruto. In: Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento, p. 891. Zahn é da opinião de que a figueira é mbolo, o de
Israel, mas de Jerusalém (ZAHN, T. Einleitung in das Neue Testament, p.
616).
231
POHL, A. Evangelho de Marcos, p. 327.
93
improdutiva, representava fielmente a cidade de Jerusalém,
onde achara tanta observância religiosa mas nenhuma
responsividade à mensagem que da parte de Deus lhe
transmitira”. O destino da figueira, quando se secou
totalmente, era presságio do que haveria de vir sobre a cidade
em pouco tempo, conforme previsão e predição do próprio
Cristo.
232
Jesus estava se dirigindo a Jerusalém, naquela segunda-feira
da última semana antes de sua morte. Viera para a sua nação e
fora rejeitado. Agora devia rejeitar a nação. O milagre de
amaldiçoar a figueira demonstra o fato de Lhe estar entregue
todo o julgamento e que não era poderoso apenas para salvar,
mas também, para destruir.
233
O gesto parabólico de Jesus foi uma encenação, em clima de
iminência escatológica, de um tema que domina toda esta
trajetória final de Jesus: a nação de Israel, representada
concretamente por Jerusalém, era uma planta que não havia dado
fruto, e, por isso, estava sendo reprovada.
234
Para Mateos e Camacho, a figueira é figura do templo. Quando
Jesus a sentença “Ninguém mais coma de seu fruto”, confirma
para sempre, na opinião destes autores, a esterilidade da
instituição. Acabou o seu papel histórico.
235
232
BRUCE, F. F. Merece confiança o Novo Testamento?, p. 96.
233
BOYER, O. O evangelho do Servo do Senhor, p. 157.
234
CIVIT, I. G. El evangelio según san Mateo, p. 346.
235
MATEOS, J.; CAMACHO, F. Marcos: texto e comentário, p. 263.
94
Os diversos autores divergem entre si se a figueira representa
especificamente o Templo, a cidade de Jerusalém, a nação
Judaica, o Judaísmo, os líderes, ou o Israel como povo
escolhido de Deus. O que fica claro, entretanto, é que o
sistema como um todo está corrompido e estéril. A missão não
está sendo cumprida e por isso precisa ser rejeitado.
3.6 A aplicação da Maldição da Figueira
No dia seguinte, ao passarem novamente pela figueira, os
discípulos percebem o que acontecera e indagam Jesus sobre o
ocorrido. Mestre! Vê! A figueira que amaldiçoaste secou!(Mc
11.21).
236
A resposta de Jesus é em termos de e oração:
Tenham em Deus. Eu lhes asseguro que se alguém disser a
este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’, e não duvidar em
seu coração, mas crer que acontecerá o que diz, assim lhe será
feito. Portanto, eu lhes digo: Tudo o que vocês pedirem em
oração, creiam que o receberam, e assim lhes sucederá (Mc
11.22b-24). Jesus lhes propõe que a oração seria a principal
arma para o seu serviço. O que Jesus acabara de fazer foi um
ato de autoridade, e esta autoridade eles deviam recebê-la
através da oração.
237
236
Em Mateus, que relata o episódio como acontecendo num dia, vê-se a
indagação: “Como a figueira secou tão depressa?” Tasker, ao comentar esta
indagação, afirma que Jesus lhes explica que no mundo sobrenatural os
processos comuns do tempo muitas vezes são irrelevantes. O próprio
discípulo dotado do poder sobrenatural da pode conseguir resultados
que, sem a e a oração, estariam completamente fora do seu alcance
(TASKER, R. V. G. Mateus
, p. 160).
237
ALEXANDER, H. E. O evangelho segundo Marcos, p.103.
95
Jesus fala aos discípulos da necessidade de terem fé, uma
simples, cuja ausência foi a causa da esterilidade frondosa de
Israel. Se tivesse estado presente e tivesse sido ativa,
Israel não estaria assim.
238
Battaglia lembra que as exortações sobre a e a oração não
se ligam bem com o episódio da figueira. As duas partes
parecem estar ligadas entre si mediante o artifício da
“palavra-lembrete” (cf. Mc 9.33-50) e que em parte tem uma
colocação diversa nos outros sinópticos. O autor afirma ainda
que “o secamento da figueira não se deve nem à nem à oração
de Jesus, mas às suas palavras de maldição”. Talvez, como em
Mc 9.28, se insinue que “o comportamento autoritário do Mestre
deve ser considerado uma exceção e o recurso à oração
confiante, ao invés, regra para os seus seguidores”.
239
A ação parabólica de Jesus é primeiramente um gesto que
significa a rejeição dos judeus descrentes, mas é ao mesmo
tempo uma ameaça do juízo punitivo concreto. “O pior de tudo é
o fenecer ‘interior’, o amortecer da verdadeira, que, não
obstante toda a piedade exterior, todo o culto esplendoroso,
esteriliza e é reprovável aos olhos de Deus”.
240
A palavra de
Jesus, portanto, intima todo ser humano a fugir da
238
EDERSHEIM, A. La vida y los tiempos de Jesus el Messias¸ vol. 2, p. 325.
239
BATTAGLIA, O. et. al. Comentário ao evangelho de São Marcos, p. 108.
240
SCHNACKENBURG, R. O evangelho segundo Marcos, vol. 2, p. 133.
96
esterilidade e, sob quaisquer circunstâncias, ser
permanentemente fecundo.
241
A instrução personalizada aos discípulos, parece afastar-se do
tema. Contudo, a fé, a oração e o perdão, essas três coisas
interligadas, tornam fecunda a “nova figueira”, representada
pela comunidade dos que seguem Jesus. A figueira vistosa,
porém estéril, secou. Mas, ainda não era o fim de tudo. Uma
nova figueira surgiria (compare com Mc 12.9), que teria como
característica ou centro de sua vida não um Templo, mas a
adesão incondicional a Jesus (fé), uma que vem do mais
profundo da pessoa.
242
Boyer afirma que “estas coisas foram escritas, não somente
para os judeus, mas ‘para nosso ensino’” (cf. Rm 15.4). Ele
continua:
Não corre perigo todo ramo, sem fruto, da Igreja de
Cristo? Quantas igrejas têm apenas folhas?
Enfeitadas de templos suntuosos, de sermões
eloqüentes, de formalismo organizado, mas sem o
poder do Espírito Santo, ficam infrutíferas e
sentenciadas a secar até as raízes. [...] A secura
é o julgamento da esterilidade. A cura, disse
Jesus, é ter em Deus, viva e prática em Deus
que é o mesmo ontem, hoje e para todo o sempre.
243
Ryle concorda, afirmando que cada ramo infrutífero da igreja
visível de Jesus Cristo está em perigo de se tornar uma
figueira seca. Altos privilégios e posições eclesiásticas,
desacompanhadas de santidade entre o povo; confiança exagerada
241
CHOURAQUI, A. Marcos: o Evangelho segundo Marcos, p. 174.
242
BORTOLINI, J. O evangelho de Marcos, p. 214-215.
243
BOYER, O. O evangelho do Servo do Senhor, p. 158.
97
em concílios, bispos, liturgias e cerimônias, enquanto o
arrependimento e a são negligenciados. Tais coisas têm
aniquilado muitas igrejas no passado, e podem ainda destruir
muitas outras mais.
244
Ryle, finalmente, aplica o episódio à
vida individual de cada cristão:
Por fim, não está uma pessoa que se diz cristã, mas
não produz fruto algum em um perigo terrível,
podendo tornar-se uma figueira seca? Não que
duvidar disso. Enquanto se contenta com a mera
folhagem da religião, a alma da pessoa está em
grande perigo. Enquanto se satisfazer em ir à
igreja e participar da Ceia do Senhor, e ser
chamado ‘cristão’; enquanto seu coração não tiver
sido transformado e não houver abandonado os seus
pecados, neste tempo está diariamente provocando a
Deus a cortar a árvore irremediavelmente. Fruto,
fruto o fruto do Espírito é a única prova segura
de que estamos unidos a Jesus Cristo, salvos, e a
caminho do céu. Que este pensamento lance raízes
profundas em nossos corações e jamais seja
esquecido.
245
Os evangelistas Mateus e Marcos relatam o episódio da maldição
da figueira. Apesar de haver diferenças nos relatos, inclusive
cronológicas, trata-se do mesmo acontecimento, e o mesmo não
deve ser confundido com a parábola relatada por Lucas (13.6-
9).
O fato se na última semana do ministério de Jesus, no
ínterim das suas visitas ao templo em Jerusalém. A figueira é
amaldiçoada no caminho entre Betânia, a três quilômetros da
capital, onde passava a noite na casa de seus amigos, e
244
RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Mateus, p. 178.
245
Ibidim, p. 179.
98
Jerusalém, onde concentrou as atividades finais do seu
ministério e onde também foi crucificado.
A maldição da figueira é considerada por diversos autores,
apesar de às vezes utilizarem nomenclatura diferente, como uma
ação parabólica, através da qual Jesus transmitiu um ensino
específico. Este acontecimento encontra-se um pouco fora da
normalidade das atitudes de Jesus, e, por isso, pode ser
compreendido quando se verifica o ensino parabólico por trás
do mesmo.
A figueira muitas vezes, no Antigo Testamento, é utilizada
como símbolo para Israel, e a mente treinada dos discípulos
facilmente poderia fazer esta associação. Além disto, tanto o
frutificar de uma planta quanto a esterilidade da mesma tinham
seus significados bem estabelecidos.
O povo escolhido por Deus estava sendo visitado. Nele
procurava-se algum fruto. Mas nada foi encontrado. Alguma
coisa precisava ser feita. Quando Jesus procura na figueira,
símbolo de seu povo, algum fruto para comer e nada encontra
além de folhas, e a amaldiçoa para que nunca mais frutifique,
a semelhança com a circunstância em que a nação, o templo e o
judaísmo se encontram é muito óbvia para que não se faça esta
associação.
Quando a figueira começa a brotar, a folhagem vem acompanhada
de pequenos figos verdes que são comestíveis, embora não muito
99
apreciados, e têm a função principal de acusar que a figueira
terá uma produção em abundância. Israel, com sua capital
Jerusalém e o seu Templo, apresentavam uma exuberância através
da sua folhagem, mas não apresentavam nenhum fruto e nem
promessa de que iriam frutificar.
A maldição de Jesus, fazendo com que aquela figueira nunca
mais produzisse fruto, significa que Israel como povo
escolhido estava sendo rejeitado. Uma “nova figueira” iria
surgir, não ao redor de um templo e de um sistema sacrificial,
mas, sim, através da adesão espontânea e incondicional a
Jesus, através da fé.
CONCLUSÃO
As parábolas, tanto relatadas como dramatizadas, foram um
recurso largamente utilizado pelos profetas e, especialmente,
pelo Senhor Jesus Cristo. A semelhança entre as parábolas
relatadas e as ações parabólicas fica evidente, podendo ser
estudadas de forma paralela, relacionando diversos aspectos
entre as mesmas.
Assim como a parábola relatada não é simplesmente uma
ilustração de uma verdade, mas é a própria mensagem proferida,
também a ação parabólica vem a ser a própria mensagem do
profeta ou de Cristo. Portanto, não é apenas um meio de
proclamação, mas a própria proclamação.
No Antigo Testamento, percebe-se que os profetas utilizaram
freqüentemente este recurso, podendo ser alistados mais de
trinta situações que podem ser identificadas como ações
parabólicas. No Novo Testamento, João Batista e o profeta
Ágabo podem ser relacionados, mas principalmente Jesus, que
por diversas vezes fez uso deste meio.
O propósito das ações parabólicas está intimamente ligado ao
das parábolas relatadas. Jesus afirma que para alguns é dado
conhecer o mistério do Reino de Deus (Mc 4.11). Assim, as
parábolas servem para esclarecer e revelar. Não obstante,
quando o coração das pessoas está endurecido e incrédulo, as
mesmas parábolas servem para ocultar e obscurecer a mensagem.
101
Além disto, as ações parabólicas servem como meio didático,
para reforçar e sublinhar a palavra do profeta.
Diversas características podem ser identificadas nas ações
parabólicas. Atividades ou costumes do cotidiano eram
utilizados, um pouco de suspense e questões de conflito ou
contraste, mas, principalmente, estava presente a evocação de
uma resposta por parte das pessoas que viam e ouviam a ação
parabólica.
Analisando a forma do relato das ações parabólicas, pode-se
perceber que uma mescla de narrativa e diálogo estão presentes
no estilo do gênero. Na parte narrativa predominam a terceira
pessoa gramatical e verbos no passado, especialmente no tempo
aoristo. Na parte de diálogo, predomina a interação entre a
primeira e segunda pessoa gramatical e verbos no tempo
presente e futuro.
Percebe-se também que uma pergunta retórica ou uma sentença
declarativa fazem parte do relato da ação e ajudam na
interpretação da mesma. Quanto à semântica, a ação parabólica
é relativa, mas vem acompanhada de verbos que expressam
movimento. Finalmente, é peculiar a presença de metaníveis no
texto, tendo um duplo ou até triplo significado.
Para se verificar a historicidade de uma ação parabólica,
deve-se utilizar os critérios gerais de análise histórica,
como a antiguidade das fontes, a atestação múltipla, a
102
descontinuidade, a continuidade, a explicação necessária e o
estilo de Jesus.
Para interpretar uma parábola é essencial a busca sincera pela
verdade, a consideração do contexto onde a parábola está
inserida, um estudo do fundo cultural e dos costumes
utilizados, uma exegese a partir dos textos originais, a
determinação do significado dos símbolos presentes na mesma,
uma relação com a teologia bíblica como um todo, e a
capacidade do intérprete de atualizar o significado dos
princípios que estão por trás da parábola.
No caso das ações parabólicas do Antigo Testamento, muitas são
interpretadas no próprio texto. No caso das ações parabólicas
de Jesus, sempre está presente o elemento da necessidade de
reflexão e resposta por parte do ouvinte/assistente. Assim, a
interpretação não está necessariamente presente no texto.
103
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