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GIANCARLO BAZARELE MACHADO BRUNO
A CONDUTA E O ESTILO DE ENSINO/TREINO DOS
TREINADORES: A QUADRA COMO UM ESTUDO DE CASOS
Florianópolis, SC
2006.
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A CONDUTA E O ESTILO DE ENSINO/TREINO DOS
TREINADORES: A QUADRA COMO UM ESTUDO DE CASOS
por
Giancarlo Bazarele Machado Bruno
_____________________
Dissertação apresentada ao
Programa de Mestrado em Educação Física
da Universidade Federal de Santa Catarina,
na sub área da Prática Pedgógica, como requisito
parcial à obtenção do Título de Mestre em Educação Física.
Fevereiro, 2006.
ii
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE DESPORTOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
A dissertação: A CONDUTA E O ESTILO DE ENSINO/TREINO DOS
TREINADORES: A QUADRA COMO UM ESTUDO DE
CASOS
Elaborada por: GIANCARLO BAZARELE MACHADO BRUNO
e aprovada, por todos os membros a Banca Examinadora, foi aceita pelo Curso
de Mestrado em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina,
como requisito parcial à obtenção do título de
MESTRE EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Área de concentração: Teoria e Prática Pedagógica em
Educação Física
____________________________________
Prof. Dr. Juarez Vieira do Nascimento
Coordenador do Mestrado em Educação Física
BANCA EXAMINADORA
___________________________________
Prof. Dr. Viktor Shigunov (orientador)
________________________________
Prof. Dr. Flávio Medeiros Pereira
________________________________
Prof. Dr. Juarez Vieira do Nascimento
iii
MENSAGEM
DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!
Mario Quintana - Espelho Mágico
HOMENAGEM
À Maria minha namorada, pela cumplicidade e amor.
À minha família, minha mãe Evani, minhas irmãs
Giordana, Giuliana e ao meu afilhado Bruno.
Obrigado mãe por ter me criado para o “mundo”.
DEDICATÓRIA
In memoriam
À Darci Bruno, meu pai, saudades daquele
que como sonhador me ensinou a sonhar.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradecimento - termo que define ato de agradecer, de reconhecer colaborações
recebidas - ato que dá a dimensão da construção social do conhecimento que
ultrapassa a solidão das elaborações individuais. Nomear todas as pessoas que
colaboraram direta ou indiretamente para a construção dessa pesquisa não é
tarefa nem breve, nem possível. Assim, restringe-se o campo de agradecimentos
às pessoas cuja colaboração foi fundamental neste processo.
A CAPES pelo apoio a realização dessa investigação.
À Fundação Municipal de Esportes de Blumenau e aos treinadores da categoria
masculina de esportes de quadra da cidade de Blumenau, por oportunizarem a
realização dessa investigação.
Ao meu orientador Professor Viktor Shigunov, pelo envolvimento com a realização
dessa investigação e aos membros participantes da banca professores: Flávio
Medeiros Pereira, Juarez Vieira do Nascimento, Saray Giovana Santos e
Adroaldo Cézar Gaya; pelas contribuições e orientações durante todo o
desenvolvimento dessa dissertação.
Aos alunos do Curso de Mestrado em Educação Física da Universidade Federal
de Santa Catarina pelo coleguismo e incentivo.
Ao Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina e aos
Professores do Programa de Mestrado em Educação Física.
Agradeço a minha nova família em Florianópolis, Manoel e Preta, e ao seu filho
Manrique que com seu sorriso colaborava para tornar os dias mais lindos.
À família Donegá, pelo tratamento “filial e irmanal” recebido durante minha coleta
de dados, minha eterna gratidão.
E enfim, a todos que auxiliaram direta e indiretamente nesse trabalho.
v
RESUMO
A CONDUTA E O ESTILO DE ENSINO/TREINO DOS TREINADORES: A
QUADRA COMO UM ESTUDO DE CASOS.
Autor: Giancarlo Bazarele Machado Bruno
Orientador: Viktor Shigunov
Este estudo foi realizado durante a fase pré-competitiva dos 45° Jogos Abertos de
Santa Catarina (JASC). Teve como objetivo investigar a conduta e estilo de
ensino/treino de treinadores dos esportes de quadra da cidade de Blumenau que
disputariam os JASC. O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa
multicasos de caráter descritivo exploratório. Foi realizada uma entrevista semi-
estruturada, com quatro treinadores, e aplicados questionários para detectar o auto-
conceito sobre conduta e estilo de ensino/treino das equipes masculinas de
esportes de quadra (handebol, basquetebol, voleibol e futsal). Além disso, ocorreu
a observação sistemática do ambiente das sessões de treino com gravação de voz
e a filmagem de uma sessão de padrão de treino. Os resultados obtidos com a
investigação foram relacionados à formação acadêmica, à experiência e à
concepção de ensino; dos treinadores participantes, três possuem graduação e um
é provisionado; os motivos da escolha pela carreira de treinador foram através do
envolvimento como atletas da área; todos os treinadores exerceram a profissão
antes de formados; os trabalhos mais relevantes citados foram os títulos
alcançados e os atletas revelados; o planejamento segundo os treinadores depende
do tempo disponível e da qualidade dos atletas; para controlar o treino usam em
sua maioria o “feeling” pessoal; e também apresentam diferentes concepções de
ensino. A conduta dos treinadores nos treinos mostra que reagem reforçando a
realização correta; frente aos erros e fracassos usam mais o feedback de
orientação técnica; para as condutas inadequadas mantiveram o autocontrole. Já,
nos aspectos das dimensões da produtividade e da humanista destacaram-se:
características fortes das duas dimensões e preocupação tanto com o resultado
quanto com a formação de indivíduos com valores éticos e humanos. Na linguagem
não verbal todos usaram gestos de apoio e a forma de uso desta linguagem foi
instintiva. Evidenciaram-se os códigos não verbais específicos de cada esporte.
Pela complexidade do treino algumas atitudes foram emergentes, entre elas a
observação silenciosa, a atitude mais usada, a posição do treinador durante o treino
foi a mesma da competição, e ainda o uso de palavras-chave, para facilitar a
instrução, além da autonomia dos atletas para iniciar o treino. Pode-se dizer que os
treinadores observados, apesar das suas idiossincrasias, seguiram com sucesso os
ditames da teorização do treinamento.
Palavras-chave: treinadores, estilo de ensino/treino, conduta, esportes de quadra.
vi
ABSTRACT
THE CONDUCT AND THE STYLE OF TEACHING/TRAINING OF COACH: THE
COURT AS A STUDY OF CASES.
Author: Giancarlo Bazarele Machado Bruno
Advisor: Viktor Shigunov
This study was accomplished during the pré-competitive phase of the 45° Open
Games of Santa Catarina (OESC). It had as objective investigates the conduct and
style of teaching/training of the court sports in the city of Blumenau that would
dispute OESC. The present study is characterized as a research multicases of
exploratory descriptive character. A semi-structured interview was accomplished,
with four trainers, and applied questionnaires to detect the auto-concept about
conduct and style of teaching/training of the masculine teams of court sports
(handball, basketball, volleyball and futsal). Besides, it happened the systematic
observation of the atmosphere of the training sessions with voice recording and the
filming of a session of training pattern. The results obtained with the investigation
they were related to the academic formation, to the experience and to the teaching
conception; of the participant trainers, three possess graduation and one is not
graduated; the reasons of the choice for trainer's career were through the
involvement as athletes of the area; all the trainers exercised the profession before
having formed; the mentioned most important works were the reached titles and the
revealed athletes; the planning according to the trainers depends on the available
time and of the athletes' quality; to control the training they use in your majority the
"personal feeling"; and they also present different teaching conceptions. The
trainers' conduct in the trainings display that they react reinforcing the correct
accomplishment; front to the mistakes and failures use more the feedback of
technical orientation; for the inadequate conducts they maintained the selfcontrol.
However, in the aspects of the dimensions of the productivity and of the humanist
they stood out: characteristics forts of the two dimensions and concern so much
with the result as with the individual’s formation with ethical and human values. In
the language non verbal all used support gestures and the form of use of this
language was instinctive. They were evidenced in the codes non verbal specific of
each sport. For the complexity of the training some attitudes were emergent, among
them the silent observation, the attitude more used, the trainer's position during the
training went to the same of the competition, and still the key word use, to facilitate
the instruction, besides the athlete’s autonomy to begin training. It can be said that
the observed trainers, in spite of yours idiosyncrasies, they proceeded with success
the precept of the teorization of the training.
Key words: coaches, teaching/training style, conduct, court sports.
vii
ÍNDICE
Página
LISTA DE ANEXOS ix
LISTA DE FIGURAS
x
LISTA DE QUADROS xi
I. O PROBLEMA 1
Introdução
Objetivo geral
Justificativa do estudo
II. REVISÃO DE LITERATURA 5
Os esportes na Teoria dos Jogos Esportivos de Oposição e Cooperação
Caracterizando o ser treinador
Conduta e estilo de ensino/treino: considerações iniciais
III. METODOLOGIA 36
Caracterização do estudo
Amostra
Instrumentos
Procedimentos
IV. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 45
Formação acadêmica, experiência profissional e concepção de ensino
A conduta reativa dos treinadores
Aspectos sobre a dimensão da produtividade
Aspectos sobre a dimensão humanista
A linguagem não verbal: revelando condutas
Atitudes emergentes
V. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 78
Evidências do estudo
Recomendações
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 85
ANEXOS 94
viii
LISTA DE ANEXOS
Anexo Página
Anexo I - Modelo da carta de apresentação encaminhada ao Secretário
de Esportes do Município envolvido e documento de ciência e
parecer da instituição 95
Anexo II - Modelo de termo de consentimento livre e esclarecido
encaminhado aos participantes do estudo e declaração de
cumprimento do termo pelo pesquisadores 98
Anexo III - Modelo do roteiro da entrevista realizada com os treinadores
responsáveis pelas equipes de esportes de quadra 101
Anexo IV - Roteiro de entrevista sobre formação, experiência como
jogador, experiência profissional e concepção de ensino 103
Anexo V - Questionário da avaliação da conduta 106
Anexo VI - Questionário de avaliação do estilo de ensino/treino nas
dimensões da produtividade e humanista 108
Anexo VII - Grelha de observação da conduta e estilo de ensino/treino
durante os treinos 111
Anexo VIII - Parecer do comitê de ética da UFSC 114
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura Página
Figura 1 - Componente da aprendizagem nos JEOC 6
Figura 2 - Modelo de análise da relação pedagógica em esporte 9
Figura 3 - Sistema de pólos do treinamento 31
Figura 4 - Representação da triangulação de dados 37
x
LISTA DE QUADROS
Quadros Página
Quadro I - Classificação dos JEOC em função de diferentes categorias 7
Quadro II - Modelos de treinador 16
Quadro III - Classificação dos treinadores quanto à experiência e tempo
de formação 46
Quadro IV - Pontos fortes e fracos do curso de graduação dos treinadores 48
Quadro V - Área preferencial de atuação e motivo da escolha da profissão 50
Quadro VI - Respostas sobre a experiência enquanto atleta 51
Quadro VII - Pontos fortes e fracos do conhecimento sobre o esporte 53
Quadro VIII - Fonte de conhecimento e o peso relativo de cada fonte 54
Quadro IX - Qualidades e virtudes do treinador 59
Quadro X - Âmbitos de formação e componentes 60
Quadro XI - Condutas do treinador em situação de treino 62
Quadro XII - Ações não verbais durante o treino 73
xi
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1.1 O Problema e sua importância
Nos dias atuais, o processo de treino evoluiu buscando alternativas para
melhorar o desempenho atlético e a performance das equipes esportivas. A
tecnologia aparece buscando seu espaço no ambiente esportivo. Além da
evolução tecnológica, os outros aspectos ligados ao treino também estão
sofrendo mudanças, sejam nas metodologias, nas técnicas, nas táticas, nos
estudos de biomecânica, entre outros. Os treinos são cada vez mais
multidisciplinares, e também interdisciplinares. Grande parte dos treinadores
utiliza-se de uma equipe de apoio composta por diversos profissionais (auxiliares,
preparadores físicos, médicos, fisiologistas, nutricionistas, psicólogos).
Todo treinador consciente sabe que, além de ter uma equipe para dividir e
especializar tarefas, a utilização de uma metodologia adequada e bem
empregada, aliada a uma conduta positiva e um estilo de ensino/treino calcado
em conceitos bem definidos pode ser o diferencial para a obtenção do sucesso no
esporte.
A influência desses fatores nos resultados, a distribuição e organização
pedagógica dessa preparação poderão diferenciar uma equipe comum de uma
equipe realmente de alto nível.
Neste contexto do esporte de alto nível, os Jogos Esportivos de Oposição e
Cooperação (JEOC) ocupam um lugar de destaque entre os esportes em geral,
estando entre os mais praticados pela população em geral.
Para Greco (1995), a estrutura de rendimento dos JEOC está na ênfase em
competição, valorizando as situações reais de jogo que são de uma forma geral
reproduções de parte do jogo em si.
A função de treinador adquire um “status” na sociedade de acordo com a
evolução desta enquanto ocupação/profissão.
1
O treinador se torna na maioria das vezes o modelo de conduta mais
presente na formação dos atletas, exercendo grande influência nas ações desses.
Para melhor explicitar estas relações Barbanti (1996) considerou que os
treinadores, preparadores físicos, instrutores, monitores têm grande influência
sobre as pessoas com quem trabalham através daquilo que dizem e fazem. Por
isso eles são modelos. Devendo ter valores a defender, entusiasmar os outros,
ser otimistas e motivar as pessoas, sem esquecer que cada uma delas deve ser
respeitada na sua individualidade, contribuindo sempre para elas alcançarem o
que desejam, tanto no esporte como na própria vida.
O interesse da comunidade científica pelo treinador, e pelo seu papel e
pela sua função no treino de jovens, é relativamente recente, tomando-se como
referencial a investigação sobre a intervenção do professor na escola. A
intervenção do treinador no esporte de rendimento também tem sido objeto de
alguns estudos mais recentes (Sarmento, 2005; Mesquita, 2004; Afonso, 2001),
merecendo ainda uma exploração ampla e profunda desse objeto de estudo.
Muitos estudos descrevem a figura do treinador encaminhando relações
sobre sua prática (Araújo, 1994 e 1997; Marques, 2001; Rodrigues, 1997;
Vasquez e Gayo, 2000). Em seu texto Marques (2001) reforça a atuação do
treinador enquanto profissional do esporte e revela o seu papel real para além das
questões específicas do treino.
Já Rodrigues (1997), em sua descrição da figura treinador, destaca os
aspectos que orientam um treinador de sucesso. Vásquez e Gayo (2000) ainda
ponderam que o treinador se efetiva como um gestor que deve envolver-se em
atividades extra-treino mantendo o mesmo profissionalismo de dentro da quadra.
O comportamento do treinador estabelece reações em todos que o cercam sejam
eles os atletas ou outros envolvidos no processo de treino.
Autores como, Bento (2004a), Garganta (1998), Mesquita (2004), entre
outros, consideram o esporte como instrumento de formação das gerações mais
jovens.
Entender a conduta do treinador em situação de treino e seu estilo de
ensino/treino dentro das dimensões humanista e da produtividade pode auxiliar no
entendimento da magnitude do “ser” treinador, elemento primordial do processo
esportivo. As suas reações, a sua formação, a sua filosofia implementada através
da valorização do atleta e as ações durante o processo de treino instigam a
2
criação de novos e profundos estudos na área de Educação Física. Assim, o
presente estudo pretende responder o seguinte problema: Qual a conduta e estilo
de ensino/treino de treinadores dos esportes de quadra, da cidade de Blumenau,
participantes dos Jogos Abertos de Santa Catarina?
1.2 Objetivo Geral
Analisar a conduta e estilo de ensino/treino de treinadores da categoria
adulta naipe masculino de esporte de quadra da cidade de Blumenau, Santa
Catarina.
1.2.1 Objetivos Específicos
Para o estudo estabeleceram-se os seguintes objetivos:
Identificar as diferentes condutas dos treinadores de esportes de quadra da
cidade de Blumenau;
Detectar as características relacionadas ao estilo de ensino/treino nas
dimensões humanista e produtividade;
Verificar outros aspectos emergentes relacionados à conduta e ao estilo de
ensino/treino;
Avaliar as diferenças e semelhanças entre os treinadores de esportes de
quadra da cidade de Blumenau;
Interpretar a linguagem não verbal nos procedimentos do treinador.
1.3 Justificativa do Estudo
A importância do tema se configura na necessidade de entender como são
desenvolvidas as atividades do treinador, tendo como intenção detectar sua
conduta reativa e espontânea durante o processo de treino. Há também a
necessidade de diagnosticar o estilo de ensino/treino relacionado a duas
dimensões: da produtividade e da humanista. A relação entre estas duas
dimensões pode denotar a preocupação do treinador enquanto formador, ou
ainda a sua preocupação apenas com o resultado.
3
Considera-se que o treinador é uma pessoa equilibrada que reage de
forma cordial às ações dos atletas, sempre preocupado com a sua segurança e
seus sentimentos, mas isto não é perfeitamente claro quando se observa os mais
diversos treinadores na sua atuação do dia-a-dia. Por vezes, durante o processo
de treino, as atitudes do treinador são diferentes durante uma competição. Assim,
quais as condutas de treinadores em situação de treino? Qual seu estilo de
ensino/treino? O que se pode observar durante os treinos que não fica explícito
em jogos?
Existia a expectativa de encontrar respostas para essas dúvidas mais
emergentes, para tanto a forma como foi conduzido o estudo e sua metodologia
possibilitou novas descobertas, tentando preencher algumas lacunas da figura do
treinador.
É sabido que, além das relações com os atletas, os treinadores têm um
forte auto-conceito, e esse foi um dos pontos explorados nessa pesquisa,
possibilitando ao final das observações e da entrevista com o treinador
demonstrar as relações dessa com as demais categorias de análise.
A figura do treinador dentro da área de Educação Física está posta de
forma explícita e valorizada. Hoje pode visualizar-se a profissão de treinador de
alto nível como uma das mais almejadas pelos profissionais em formação.
Dessa forma, o processo de formação de treinadores deve ser objeto de
investigações futuras, assim como estudos com diferentes metodologias devem
ser confrontadas com a figura do treinador.
Parece que um esporte de dimensões humanas foi um dos objetivos dos
treinadores, principalmente quando falavam sobre a fase de formação. O
treinador pode ser considerado modelo para o atleta, e os atletas, enquanto ídolos
estimulam jovens a praticar diferentes modalidades. Assim agir com ética, propor
valores humanos, solicitar respeito, entre outras características faz-se necessário
em face de esta idolatria.
Acredita-se que esta investigação possa colaborar com a sedimentação da
figura do treinador como sujeito de conduta exemplar e com o ensino baseado em
valores concretos e humanos.
Assim, através do esporte de valores morais, e do treinador como figura
expoente, demonstrar as condutas e estilos de ensino/treino condizentes a melhor
formação dos atletas enquanto seres humanos.
4
CAPÍTULO II
REVISÃO DE LITERATURA
Esta revisão de literatura tem por objetivos: (a) fundamentar o problema, os
objetivos, e as perguntas da pesquisa; (b) evitar a réplica não intencional de
estudos já realizados; (c) familiarizar o pesquisador com o conhecimento atual da
área objeto de estudo e com procedimentos metodológicos adotados em outras
pesquisas; e (d) construir a moldura conceitual para a interpretação dos
resultados da investigação.
Neste capítulo de revisão de literatura, serão abordados temas,
considerados como pontos chaves de ligação no estudo da conduta e estilo de
ensino/treino em Treinadores, que são: Os esportes de quadra na teoria dos
Jogos Esportivos de Oposição e Cooperação; Caracterizando o “Ser Treinador”;
Conduta e Estilo de ensino/treino: considerações.
2.1 Os esportes de quadra na teoria dos Jogos Esportivos de Oposição e
Cooperação
O Esporte tem se manifestado com destaque no cenário esportivo nacional,
desde o final do século XIX com o futebol, e no decorrer do século XX, com outras
modalidades como o Basquetebol, o Voleibol, o Futsal e o Handebol. (Balbino,
2005)
Os Jogos Esportivos de Oposição e Cooperação (JEOC) constituem na
atualidade uma realidade sociocultural que ocupa lugar significativo nas
sociedades contemporâneas, cuja importância educativa está relacionada ao
desenvolvimento e a formação multilateral do ser humano. (Garganta, 2004)
Essa denominação de JEOC foi recentemente usada pelo professor
português Júlio Garganta, tornando-se uma descrição mais ampla e condizente
com a profundidade desses jogos. No entanto, não se descartou as afirmações
5
de autores importantes na evolução dos jogos, adaptando o termo para JEOC,
termo que não será encontrado nos originais mas que vem a facilitar a leitura e a
compreensão do texto.
O mesmo autor descreve que se pode considerar como JEOC de quadra: o
Handebol, o Voleibol, o Futsal e o Basquetebol.
Os JEOC são para Teodorescu (1984) uma manifestação social
organizada, específica na sua realização prática, com caráter lúdico e processual
do exercício físico, no qual os indivíduos estão organizados coletivamente em
duas equipes, numa relação de adversidade típica, não hostil.
Pretende-se, no caso dos JEOC, que o jogador nas etapas de formação
esportiva adquira bases em quatro domínios que se pode observar na figura 1.
Condição Física Formação de
Geral/Específica Atitudes
Jogos Esportivos
Aprendizagem da tática Aprendizagem das
(individual e coletiva) habilidades
técnicas
específicas
Figura 1 - Componentes de aprendizagem nos JEOC (Mesquita, 1997).
Os componentes da aprendizagem da figura 1 demonstram a recente
preocupação com o aspecto da formação das atitudes. Além dos já conhecidos
componentes físico, técnico e tático surge o aspecto formativo do indivíduo, assim
os benefícios apregoados dos JEOC vão além da melhoria no aspecto físico ou
coordenativo. As atitudes frente ao ambiente de jogo (“Fair Play”, respeito para
com os adversários, ética, valores humanos desenvolvidos, entre outros) podem
de certa forma ser extrapolados para o dia-a-dia do indivíduo. Assim, os JEOC
devidamente ensinados deixam um legado para a vida toda.
6
Para melhor entender a dinâmica dos JEOC, Graça e Oliveira (1995)
descrevem as diferentes categorias de referência, como descrito no quadro I.
O quadro I destaca a variedade dos esforços nos JEOC, além das
características mais específicas de invasão (basquete, handebol e futsal) e de
não invasão (voleibol ) .
Quadro I
Classificação dos JEOC em função de diferentes categorias (Graça e Oliveira, 1995).
CATEGORIAS CLASSIFICAÇÃO
Fontes energéticas básicas Aeróbico, anaeróbico, mistos.
Ocupação do espaço De invasão, de não invasão.
Disputa de bola De disputa direta, de disputa indireta.
Trajetórias predominantes e
com variação
De troca de bola, de circulação de bola.
Garganta (1992) ressalta que entre os JEOC encontram-se algumas
semelhanças. Quanto ao aspecto motor o Handebol, o Voleibol e o Basquetebol,
são parecidos porque são jogados com as mãos, enquanto o Futsal é jogado com
os pés. Quanto à dimensão da quadra e implementos, o Handebol e o Futsal
utilizam as mesmas dimensões de quadra e a mesma baliza como implemento
para a sua execução. Quanto à posse de bola no Basquete e Handebol é possível
agarrar-se à bola. Quanto à natureza das relações de cooperação e de oposição,
Basquetebol e Futsal podem ser incluídos no mesmo grupo. Ainda a possibilidade
de contato e a existência de dois alvos agrupariam o Handebol, Basquetebol e
Futsal.
Saad (2002) destaca que em um universo tão vasto como o dos JEOC, as
pontes ou ligações mais viáveis parecem ser aquelas que podem estabelecer-se
entre o Handebol, o Basquetebol, o Futebol e o Futsal.
Os indivíduos se reúnem em grupos para juntos alcançarem objetivos em
comum, e os motivos dessa reunião em grupo podem ser: políticos, econômicos,
sociais e de competitividade. (Rubio e Simões, 1998).
Afonso (2001) diz que diversos investigadores (treinadores, professores,
cientistas, entre outros) têm se debruçado em estudos multidisciplinares,
elevando os JEOC a uma categoria científica de estudo (processo evolutivo).
7
Além dos objetos comuns de estudo como tática e técnica, surgem outros do
plano cultural e social.
Relacionado ao ambiente de treino/competição pode-se agrupar os quatro
esportes de quadra estabelecendo novas pontes de ligação relacionada aos
fatores exógenos. Assim formam esta categorização, o Handebol, Voleibol, Futsal
e Basquetebol. Esportes que foram analisados nesse estudo.
Cabe salientar que as formas de prática dos JEOC coincidem com os do
estudo de Pereira e Bruno (2002) onde as formas populares de prática ocorrem
em espaço nem sempre de medida regulamentar adequada e em local coberto
em virtude do clima.
2.2 Caracterizando o Ser Treinador
O quadro teórico de referência apóia-se no estudo de Rodrigues (1997),
que procurou descrever e caracterizar o comportamento do treinador em
situações de treino no voleibol. Nesse estudo foram observados 10 treinadores do
sexo masculino da 1ª e 2ª divisões da Federação Portuguesa. E estas foram
separadas em categorias para posterior análise.
Para Rodrigues (1997) o paradigma de Presságio-Processo-Produto tem
sido o mais utilizado nas poucas investigações pedagógicas que incidem sobre o
treino. O referido autor adaptou o modelo de análise de Pierón (1986) ao treino
em Esporte, tendo os vários grupos de variáveis como é evidenciada na figura 2.
De presságio;
De processo;
De contexto;
De programa;
De produto.
As variáveis relacionadas às características do treinador, como
evidenciado na figura 2, são as de presságio, e que podem exercer influência
sobre os treinos. Tais como: a formação inicial do treinador, a experiência
8
profissional acumulada no processo de treino; a formação continuada à qual vai
sendo submetido decorrendo das necessidades do próprio treino; as
características pessoais intrínsecas, como a motivação, a inteligência, a
personalidade, valores e outros (Rodrigues, 1997).
As variáveis de processo dizem respeito aos comportamentos e interações
susceptíveis de acontecerem no treino ou mesmo na competição (Rodrigues,
1997). No presente estudo foram avaliados os treinos detectando os principais
comportamentos relacionados à conduta e estilo de ensino/treino do treinador,
relacionado às dimensões humanista e da produtividade. As variáveis de contexto
foram descritas apenas como forma de controle, para assim configurar o ambiente
de treino.
PRESSÁGIO
Formação
Experiência
Conhecimento
PROCESSO
Treinador
Atletas
PRODUTO
Aprendizagens
Performances
Resultados
PROGRAMA CONTEXTO
Nível dos Atletas
Condições Materiais
Envolvimento
Objetivos
Conteúdos
Figura 2 - Modelo de Análise da Relação Pedagógica em Esporte, Rodrigues (1997).
Sobre a profissão de treinador, Becker Jr. (2000) descreve como sendo
uma das mais difíceis, em contrapartida das mais gratificantes. Atrelando esta
gratificação à vitória (sucesso) que proporciona o crescimento individual e
reconhecimento pelos pares, atletas e sociedade, podendo receber uma boa
quantia para executar tal função. Esses são considerados os motivos que levam a
escolha da profissão de treinador. Becker Jr. ainda escreveu que o treinador deve
ter qualidades de um professor, tendo conhecimento sobre o que vai ensinar e
habilidade para executar a tarefa.
No contexto da valorização da profissão de treinador, Shigunov (1998)
relata que para exercer a função com competência, o profissional deve
apresentar inúmeros pré-requisitos e aptidões que são inerentes à referida
9
profissão, como o conhecimento da modalidade, a motivação e a empatia em sua
relação afetiva com os atletas.
Para Bizzochi (2000) o treinamento de uma equipe coletiva, se configura
numa prática pedagógica. Deve-se exigir que o treinador apresente domínio de
várias competências para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem, e
para isso o mesmo deve fundamentar em uma base moral, sempre com
responsabilidade pedagógica e com princípios de justiça. O mesmo autor
considera que a direção de uma equipe não se limita à maneira de conduzi-la
numa partida, já que ela ocupa todos os momentos, desde o início da temporada.
Bizzochi (2000) comenta que também é necessário que o treinador tenha
consciência do quanto seu comportamento interfere nas atitudes de seus
jogadores, mostrando coragem de implantar métodos que promovam não apenas
uma melhor aprendizagem, mas também uma melhor formação moral.
Para Araújo (1997), “ser treinador” subentende um constante interesse pela
inovação científica, pedagógica e cultural, e a recusa permanente de atitudes
seguidas ou subservientes. Também diz que: “ser treinador” exige uma cultura
geral e específica possibilitadora das necessárias intervenções críticas, com
reflexos no desejado desenvolvimento do esporte nacional.
Para Araújo (1997), o esporte profissional exige aos treinadores uma
atitude, expressa não só através de um enorme sentido das responsabilidades
globais que nos pertencem, mas também no assumir-se, sem hesitações, que o
que representa e produz em termo sócio esportivos, tem profundos reflexos sobre
o desenvolvimento esportivo em geral.
Já Marques (2001) ressalta que o treinador esportivo é hoje mais do que
um acompanhante de atletas. Apesar da palavra treinador apenas agora começar
a integrar a nomenclatura das profissões, há uma clara evolução do esporte
”divertimento” para o esporte “profissão”. O treinador de alta competição é
diferente. Trata-se de uma atividade difícil. De um exercício de pressão diária. De
um ofício instável, precário. Sendo no Brasil chamado genericamente de
professor.
Ainda diz Marques (2001), que a preparação dos treinadores deve incluir
sólida formação moral. Quem é chamado à responsabilidade pela sua ação ou
atividade, quem se sente responsável por alguma coisa, deve também saber o
que, e como tem de fazer, e que pode por isso ser responsabilizado. A
10
responsabilidade do treinador não deverá apenas orientar-se para o sucesso, mas
principalmente ser caucionada por valores pedagógicos e morais, mesmo que o
“treinador do ano” seja escolhido não por sua moral, mas pelo seu sucesso.
Barata (1997) destaca o treinador como modelo que deve ser seguido
pelos atletas onde diversos são os componentes deste “modelo”, que passa
desde a gestão do treino passando pela comunicação e linguagem até como
conduzir o final de um treino. São condutas e ações que têm um reflexo direto na
formação do indivíduo atleta, do ser “humano” atleta.
Para Bota e Colibaba-Evulet (2001) um treinador deve ter vocação para
ser bem sucedido na profissão, vocação que pode ser definida como uma
capacidade de incentivo, feitio de caráter, aptidões de educador, de psicólogo, de
dirigente e organizado, além de habilidades intelectuais.
Mesquita (1997) registrou em seu livro sobre a Pedagogia do Treino, que a
prática esportiva exerce um papel fundamental na formação do indivíduo,
enquanto atleta e pessoa, na medida em que:
Faz parte do processo educativo e formativo da criança, contribuindo
para seu desenvolvimento integral (físico, social e emocional);
Promove a vivência de situações que conduzem à aquisição de valores
essenciais do “saber ser” (autodisciplina, autocontrole, perseverança,
humildade...);
Promove a vivência de situações que conduzem à aquisição de valores
essenciais do “saber estar” (civismo, companheirismo, respeito mútuo,
lealdade...);
Permite o desenvolvimento das capacidades e habilidades motoras do
indivíduo, inerentes ao “saber fazer” (aquisição de um vocabulário motor
alargado...);
Contribui para o equilíbrio do indivíduo ao permitir a diminuição do
estresse diário, próprio ritmo de vida das sociedades contemporâneas.
Sobre o processo de formação do atleta, Mesquita (1997) diz que este
pode ser influenciado por diferentes pessoas (dirigentes, árbitros, pais, mídia,
entre outros.), mas é da responsabilidade direta do treinador, visto que a esse
compete a orientação e preparação do processo de treino e da competição.
11
Ainda para Mesquita (1997), o treinador torna-se o principal responsável
pela iniciação, orientação e especialização dos praticantes, contribuindo
decisivamente para a qualidade da sua intervenção, a existência de uma atitude
formativo-educativa correta face à prática esportiva.
Segundo Gomelski (1990), o treinador deve preocupar-se em ter a sua
autoridade. A habilidade para conseguir que os jogadores se submetam a ela, é
um traço muito importante de sua personalidade.
O treinador deve ter uma metodologia correta onde deve respeitar a faixa
etária de seus atletas. E que segundo Lettnin (2001) deve respeitar o processo
educativo de cada ser e estar conivente com a faixa etária envolvida, adequando-
o a individualidade de cada um.
Já Mosston e Ashworth (1996), em um dos mais importantes trabalhos
sobre metodologias de ensino em Educação Física, descrevem formas de
trabalho ou estilos de ensino na qual o aluno é protagonista do processo e a
principal meta é sua autonomia. No treinamento esportivo a busca por esta
autonomia é ainda mais clara adaptando e desenvolvendo metodologias
específicas para o esporte.
Os mesmos autores também afirmam que as áreas de Educação Física,
Esportes e Dança oferecem grandes oportunidades para desenvolver a
capacidade humana de diversidade, descobrimento, invenção e de ir mais além
do conhecido, sendo o professor mediador e facilitador da construção do
conhecimento do aluno. Isso exige que o professor esteja preparado para
proporcionar aos alunos problemas e situações relevantes, aceitar e valorizar as
idéias e as soluções encontradas pelos alunos.
Para Mesquita (2005), devem ser criadas situações que levem o atleta a
descoberta de novas e variadas soluções para um mesmo problema, aumentando
seu repertório de execução.
Segundo Schön (1987) o conhecimento passa por três pontos-chave, que
são: o conhecimento na ação; a reflexão na ação e a reflexão sobre a ação.
Dessa forma o conhecimento demonstrado pelo treinador na execução da ação é
tácito e manifesta-se através da espontaneidade, naturalidade e autenticidade
com que uma ação é bem realizada.
12
Para Alarcão (1996), os bons treinadores usam processos que dependem
também do talento. Assim o “feeling pessoal” torna-se um elemento importante na
formação de um treinador.
Bañuelos (1992), afirma que o processo de ensino deve ser sistemático
passando pelo processo de avaliação, determinação de objetivos, seleção de
métodos de ensino, seleção de meios a empregar e avaliação contínua final.
Refletindo sobre as tarefas do treinador enquanto educador pode entender-se que
esta forma de descrever o processo de ensino seria um modelo que será adotado
na grande maioria das vezes pelo bom treinador.
Ainda de acordo com o mesmo autor, o ensino pode ser massificado ou
individualizado sendo que a diversificação dos níveis de ensino estabelecendo
diferentes parâmetros. Pensando dessa forma o treinador irá adaptar algumas
das necessidades ao nível de seus atletas. Quando o treinador age de forma a
individualizar o processo de ensino, o atleta tem o papel de seguir uma seqüência
predeterminada dos exercícios e a progressão do aprendizado acontece de forma
individual. A solução conjunta dos problemas irá atuar da melhor forma sobre o
ritmo de progressão grupal.
Segundo Gomes (1999), ao expor os princípios para a orientação exata da
atividade do treinador esportivo, comumente menciona-se, em primeiro lugar,
princípios pedagógicos gerais, com os didáticos incluídos. E estes se configuram
na esfera da pedagogia geral, que une os conhecimentos aplicados referentes às
regras do ensino e da educação. Em outras palavras, são conhecidos pela
denominação dos princípios da consciência e da atividade, da intuitividade e da
acessibilidade, do caráter sistemático.
Anfilo (2003) destaca que os treinadores vitoriosos se diferenciam dos
demais por apresentarem outras aptidões e capacidades inerentes ao cargo,
como a intuição, a criação, a direção autoritária, a capacidade de decisão rápida
e o espírito de sacrifício. Além disso, para manter-se competente, o treinador
deve estudar e aprender permanentemente, principalmente neste momento de
virada de milênio, com a evolução tecnológica, onde as informações são mais
rápidas que nossa capacidade de atualização.
Para Anfilo (2003), a avaliação sobre o processo de treinamento deve ter
por objetivo principal, explicar a organização e seleção de conteúdos a serem
ministrados. Assim, além do conteúdo ministrado, o mesmo deve se preocupar
13
com sua conduta com relação a todos os jogadores do grupo, aos pais,
torcedores e adversários.
A formação de treinadores no Brasil pode ser considerada ainda pouco
organizada, sendo que apenas a Confederação Brasileira de Voleibol exige algum
curso de formação para que os treinadores estejam credenciados a disputar
competições oficiais dessa confederação. No Handebol existem os encontros de
treinadores e docentes de handebol estimulados pela CBHb. No futebol foi
veiculado recentemente na mídia televisiva a elaboração de um curso de ensino a
distância feito em convênio com a UNOPAR do Paraná.
Apesar dessas iniciativas, existe a necessidade de políticas públicas
federais para regulamentar estas ações sobre a formação de treinadores,
devendo o Ministério em conjunto com as confederações desenvolver algo no
sentido de hierarquizar este processo de formação.
De acordo com Rushall (1983), a formação de treinadores cresce a cada
ano. Países como Austrália e Canadá, apenas para citar como exemplo, têm se
preocupado em produzir treinadores capacitados. Na capacitação do Canadá, o
treino enfatizou os mais diversos aspectos, desde o técnico até questões
relacionadas à Psicologia, tendo definidos níveis de classificação. Os treinadores
de diferentes esportes recebem linhas gerais de instrução independente de sua
modalidade, e separam-se apenas na parte tecnico-tática, descartando assim as
peculiaridades de cada modalidade. Um dos pontos ressaltados pelo autor é que
um maior número de pesquisas sobre as diferenças e similaridades dos esportes
pode auxiliar na elaboração de trabalhos mais direcionados para a modalidade
específica.
Damásio e Serpa (2000, p.41) dizem que:
Como conseqüência dessa relação de proximidade, o treinador tem sido reconhecido,
tanto pelo senso comum como pela investigação, como pessoa central nas relações dos
atletas. O treinador assume um papel mais preponderante na regulação dos
comportamentos e atitudes do praticante do que qualquer outro indivíduo no domínio do
Esporte.
14
Assim, enfatizam a relação treinador atleta e sua proximidade, bem como a
regulação dos comportamentos e atitudes.
Já Rodrigues (1997) enfatiza que a diversidade de modelos de treino varia
de acordo com a categoria do treinador, sendo que sempre se deve levar em
consideração seu conhecimento, sua experiência vivida e sua relação com os
atletas. Tais fatores influenciam diretamente os resultados do trabalho
pedagógico.
Para Carravetta (2002), o treinador é o especialista mais próximo dos
atletas, exerce influência no comportamento dos mesmos, por vezes é treinador,
educador, conselheiro, estrategista e líder. E que devido às suas características
pessoais, experiências e formação profissional os treinadores apresentam
diferentes manifestações de comportamento. Alguns são pontuais,
disciplinadores, autoritários ou exigentes; outros são organizados, valorizam os
aspectos pedagógicos e metodológicos, respeitam as regras morais e éticas. Por
outro lado existem outros extremamente liberais, são exclusivistas, intuitivos, são
vaidosos, não aceitam opiniões, o vencer está acima dos preceitos éticos.
Para Bota e Colibaba-Evulet (2001), o treinador deve acima de tudo,
preocupar-se constantemente com o seu aperfeiçoamento e sua qualificação
profissional, através do cultivo de uma nova mentalidade de vida, com
competência científica, pedagógica e pessoal.
Ainda para os mesmos autores, os treinadores podem ser classificados por
diversos modelos pedagógicos, dentro de uma filosofia e conduta didática. Esses
modelos são definidos de forma sucinta em cinco categorias de treinadores,
descritas no quadro II.
Ao analisar-se as categorias propostas com maior atenção, pode-se ver
que um treinador pode enquadrar-se em mais de uma categoria ou até não ser
classificado por nenhuma destas, entretanto, o modelo serve como auxiliar na
classificação dos modelos pedagógicos do treinador.
Esses modelos podem de certa forma parecer estereótipos de treinador,
mas o importante é entender que, identificar-se com apenas um dos modelos
demonstra a limitação enquanto treinador. Acrescentou-se o modelo de
treinadores vencedores baseado principalmente em indícios da literatura quanto
aos treinadores de sucesso e o modelo de competência. (Afonso, 2001; Cunha,
2000; Rodrigues, 1997).
15
Quadro II
Modelos de treinador. (Bota e Colibaba-Evulet, 2001).
Modelo de Treinador Definição
Empiristas
São os treinadores adeptos da antiga mentalidade e
da conduta didática assentada no princípio “vendo e
fazendo”
Rotineiros
Baseiam-se apenas nos conhecimentos com que
deixaram os bancos de estudo da escola de
treinadores
Inocentes
Não sabem o que se passa à sua volta, aceitando
tudo.
Adeptos da quantidade
Seguem o princípio fundamental do “corra ou morra”
Esportistas
São praticantes que, chegando ao fim da sua
carreira esportiva, trocam o equipamento de jogador
pelo de treinador, evidenciando a mesma formação.
Vencedores
São os treinadores preocupados, metódicos,
atualizados, exigentes e competentes.
Entretanto, Fernández et al (2003), salientam que para educar e moldar os
esportistas se requer que o treinador tenha desenvolvidas qualidades morais e
que deseje desenvolvê-las em seus alunos. Ele deve ser um modelo a ser
seguido.
Entre os pré-requisitos necessários ao treinador, a ética e a
responsabilidade profissional constituem nos fatores fundamentais para o
profissional alcançar destaque profissional e ser um vencedor. (Meinberg, 2002;
Bizzochi, 2000).
Para Ravé (2002), existem quatro variáveis que afetam a qualquer modelo
de treinador: atitude durante o treino (personalidade); formação do treinador,
processo de planificação; valorização profissional.
Na questão, Atitude durante o treino (personalidade), pode-se destacar: a)
Permissivo: deixam seus jogadores fazer sem conduzir nem guiar o processo de
formação deixando que sejam os jogadores que controlem o treino; b) Autoritário:
aqueles que tratam de impor seu critério, a qualquer preço, sendo
excessivamente diretivo durante o processo de treino e durante o jogo; c)
16
Democrático: sem perder a referência de quem é o condutor do grupo, provoca e
admite opiniões e contribuições que possam oferecer outras equipes, jogadores
auxiliares, entre outros. (Ravé, 2002)
Estas são as mais marcantes, contudo, nem sempre se resume a apenas
um modelo, podendo alternar as atitudes em um mesmo treinador. As categorias
de Ravé assemelham-se as de Cratty (1984) que descreve três grandes
estereótipos de comportamento relativos aos treinadores:
a) No comportamento autoritário, o líder define as etapas da atividade e as
técnicas à seguir isoladamente, define o tempo, sem as esclarecer, indica as
diretrizes do trabalho que é rígido e específico;
b) No comportamento democrático, caracteriza-se pela ampla discussão e
decisão coletiva, e é o líder que propõe as tarefas;
c) No “laissez-faire”, o grupo tem toda a liberdade, e raramente o líder
fornece indicações, adotando uma atitude mais de espectador do que atuante.
(“laissez-faire” tem sentido de deixar-fazer)
Já na questão da Formação do treinador, pode-se evidenciar:
a) Academicista- treinadores que tiveram sua formação em diferentes
federações e escolas de treinadores;
b) Autodidata- treinadores que são formados em si mesmos;
c) Jogador adaptado- ex-jogadores que para continuar neste mundo se
colocam no papel de treinador.
Seguidamente, se conhecem casos de treinadores campeões que fizeram
carreira como atleta das mais diversas modalidades, para citar os casos de Luis
Felipe Scolari – futebol (Ostermann, 2002), José Roberto Guimarães, Bernardo
Rezende (Bernardinho) e Jorge Schimidt - voleibol (Bandeira, 2002).
Na questão do Processo de planificação, pode-se evidenciar os seguintes
tipos:
a) Planificador flexível - toda planificação tem que ser flexível já que
existem muitos fatores que são modificáveis (lesões, resultados, estado de ânimo,
entre outros); b) Planificador rígido- aquele que não modifica nenhum detalhe de
sua planificação, não flexível; c) Improvisador- treinadores que não preparam o
trabalho de desenvolvimento, e uma vez que chegam à quadra pensam no que
fazer.
17
O processo de planificação torna-se um fator importante na identificação de
um estilo de ensino/treino, pois, ser flexível pode ser considerado ouvir a opinião
do atleta tendo assim uma visão mais “humana” do treino; se for rígido pode ser
considerado mais intrinsecamente ligado ao resultado; e o improvisador pode ter
nuances dos dois modelos, ficando esta dependente de sua atuação durante a
sessão de treino.
Na questão da Valorização profissional, pode-se conceber os seguintes
tipos: a) Profissionais- que se encontram perfeitamente identificados com a
atividade de treinar, sem que isto implique no salário recebido e que esse lhes
permita dedicação exclusiva; b) Não profissionais- aqueles que não têm uma alta
identificação por treinar, sem que isto implique no salário que recebem. c) Pseudo
profissionais- treinadores que recebem remuneração com baixa valorização
profissional ou aqueles treinadores amadores com alta valorização profissional.
As questões sobre valorização profissional fazem parte da realidade dos
Esportes de quadra. A importância de ser um profissional identificado com a
atividade torna-se latente, mas devemos ter noção da realidade do esporte no
Brasil como um todo, onde são poucos profissionais que têm a devida valorização
profissional.
Estes modelos de Ravé (2002) servem para corroborar com a idéia central
do estudo que dentro dos instrumentos utilizados para avaliar os treinadores
abordara questões sobre atitude durante o treino, formação do treinador,
processo de planificação e a valorização profissional. A classificação dos
treinadores quanto aos quesitos propostos por Ravé, possibilitará uma melhor
análise do conteúdo das entrevistas e observações.
Para Dantas (1996, p.18) o treinador tem a função de coordenar o trabalho
dos demais componentes da comissão técnica. Por isso a grande importância na
figura do treinador que ele ainda define como: “responsável pelo treino técnico e
tático”.
Segundo Becker Jr. (2000), um bom treinador deve ser uma pessoa com
as qualidades de um professor.
Para Cunha et al. (2000) o bom treinador de futebol teve como
características mais votadas: Ser pessoa responsável, honesta, amiga dos
atletas, muito trabalhadora, habilitada, altruísta e estudioso.
18
Segundo Pereira (1988, p.98) citando Di Stéfano:
“a importância do treinador para o resultado final do trabalho já foi quantificada em 10%.
Mas o treinador de futebol é considerado como responsável direto pela aplicação tática
durante as competições, ou mesmo pelo comportamento de jogadores em campo”.
Em alguns esportes como o Futebol de campo o treinador pode ser trocado
após uma derrota, pois é considerado o principal responsável pelos resultados.
Nos esportes de quadra os treinadores têm um tempo maior de permanência
sendo que a aposta do clube ou organização é na formação anterior do treinador
e em seu projeto.
Samulski (1995), citado por Santos (1997), escreve que um bom treinador
deve ter a capacidade de planejar, organizar e controlar bem o treino,
especialmente estabelecer bem as tarefas técnicas e táticas e as exigências
psicossociais durante o treino e a competição. Essas capacidades são inerentes à
função de treinador e cada uma delas tem certo grau de importância
Para Frester (2002), as qualidades de um bom treinador segundo os
atletas são em ordem de percentual: Capacidade emocional (calma, confiança,
entre outros); competência técnica; comportamento/otimização da situação;
motivação; conhecimento pessoal sobre comportamento/estresse; capacidade de
diálogo.
E segundo os treinadores, as qualidades de um bom treinador são em
ordem de percentual: Competência técnica; pessoa de confiança/modelo;
motivador; disciplina/conseqüência; capacidade de direção; e capacidades
pedagógica e psicológica.
Serpa (2002) em seu texto sobre Greg Louganis, considerado o maior
saltador para a água da história deste esporte, destacou a trajetória deste atleta e
a sua relação com os diversos treinadores, onde estes tiveram um papel
determinante nas várias fases de sua carreira, de acordo com a descrição de
cada um. Apesar de uma experiência frustrante com o primeiro treinador que era
antipático, teve no segundo treinador, que o acompanhou dos 10 aos 14 anos,
seu verdadeiro iniciador, este dava importância ao gosto pela atividade e um
profundo envolvimento com a tarefa. Já seu terceiro treinador foi descrito por
Louganis como exigente e disciplinador, que tinha uma abordagem do processo
19
esportivo buscando, sobretudo o resultado, esta busca gerava elevada ansiedade
e emoções negativas.
As atitudes do treinador durante o processo de formação do atleta é fruto
das escolhas feitas anteriormente e que refletem, em parte, a sua formação. O
treinador sendo como um espelho para seu atleta e devendo errar o mínimo
possível nestas escolhas, pois estas influenciarão de forma contínua a formação
de diversas gerações caso estes atletas escolham no futuro a carreira de
treinador.
2.3 Conduta e Estilo de ensino/treino: considerações iniciais
Esclarecer as atitudes do treinador pode contribuir para uma interpretação
mais eficaz dos comportamentos e decisões junto aos atletas, quer em treino quer
em competição. (Rodrigues, 1997).
O desenvolvimento da investigação sobre treinadores de categorias de
formação feito por Smoll et al (1983) detectou que o trabalho dos treinadores
deveria enfatizar uma abordagem mais positiva (reforçadora) verbal ou não
verbal, de forma clara e objetiva, fortalecendo os comportamentos adequados dos
atletas, apoiando-o frente a seus fracassos e utilizando ou não a correção;
também deveria recompensar seus atletas imediatamente após a apresentação
de um comportamento adequado, encorajar o atleta após um erro, e manter a
ordem através do estabelecimento de metas claras, usando recompensas por
objetivos alcançados. Assim, a ação do treinador passaria por uma valorização do
desenvolvimento das habilidades e das relações entre os atletas, não enfatizando
apenas a vitória.
O trabalho de Malavasi (2003) baseou-se em situações presentes no
trabalho de Smoll et al (1983), que aplicou um vídeo instrucional que foi testado e
validado por especialistas da área de Educação Física e de Psicologia, onde as
cenas selecionadas como válidas por esses foram as que continham as seguintes
situações propostas: segurança (atleta se machuca), conversa dos reservas no
banco durante o jogo, briga durante o jogo, situação de vitória e por fim, situação
de derrota. Nessas cenas existiam opções sobre qual reação a ser tomada pelo
20
treinador, sendo que a resposta dos avaliadores coincidiu com a resposta pré-
selecionada pelos pesquisadores.
Ainda sobre este estudo, pode-se referir que as reações dos treinadores
em situação de jogo/treino podem acontecer dentro de um quadro esperado. A
grelha criada através do questionário de avaliação de conduta do treinador
adaptado de Smoll e Smith (1984) por Becker Jr. (2000) serve para pré-
determinar reações de conduta de treinadores, servindo como instrumento de
observação codificado (para a elaboração deste estudo).
Black e Weiss (1992) citados por Malavasi (2003) examinaram a relação
entre comportamentos percebidos do treinador, motivação e nível de habilidade
percebida de nadadores que participavam de competições. Participaram da
pesquisa 312 nadadores com idades entre 15 e 18 anos. Para avaliar o
comportamento do treinador e o seu próprio, os atletas usaram auto-registro. Os
resultados obtidos sugerem que, de forma geral, treinadores que foram
percebidos como dando mais informações após desempenhos desejáveis e
encorajamento mais freqüentes, combinado com informações após desempenhos
indesejáveis, estavam associados com atletas que se percebiam com níveis mais
altos de sucesso, competência, diversão e preferência por atividades
desafiadoras. Esses resultados indicam, portanto, que a auto-percepção dos
atletas e motivação estão significativamente relacionadas à quantidade e
qualidade de feedback que eles recebiam do treinador para desempenhos com
sucesso ou erros.
Ainda, segundo Malavasi (2003) apesar das pesquisas apontarem os
benefícios de uma interação positiva é comum ouvir atletas ou ex-atletas
queixando-se do comportamento de seus treinadores. São necessárias pesquisas
sobre a avaliação dessas interações para melhor entender os processos que
envolvem esta interação.
Em outro estudo Smith et al (1983) desenvolveram um programa de treino
experimental visando melhorar a relação treinador-atleta. Trinta e um treinadores
participaram desse treinamento e foram divididos em dois grupos. Dezoito foram
designados para o grupo experimental, ou seja, recebia o treinamento e 13 para o
grupo controle. O treinamento foi realizado com palestras e a utilização de uma
apostila, onde eram enfatizados os comportamentos pertinentes, o tipo e a
importância do feedback adequado. Os resultados obtidos apontaram que os
21
treinadores do grupo experimental transmitiram instruções mais claras, positivas e
reforçadoras, e tiveram um melhor relacionamento com os atletas.
Sherman e Hassan (1986), citado por Rodrigues (1997), analisaram 102
treinadores de diversas modalidades (basebol-24; futebol-66; tênis- 12), tendo
como objetivo descrever o comportamento dos treinadores dos diferentes
esportes e, ainda, identificar as diferenças entre treinadores, com base na
experiência e no sucesso. O sistema utilizado foi o “Coaching Behavior
Assessment System” CBAS.(Smith et al, 1977).
Monteiro et al (2004) realizaram um estudo sobre as condutas do treinador
de basquetebol infantil em competição, utilizando o Sistema de Evaluación de las
Conductas del Entrenador de sigla S.O.C.E, sistema que toma como base o
Coaching Behavior Assestemnt System (C.B.A.S.) de Smith et al (1977). Nesse
sistema, foram acrescidas categorias que não havia no outro estudo. Sendo que
as categorias deste sistema em ordem de utilização (maior a menor) são:
instrução técnica geral, não reforço, ignora erro, comunicação geral, ânimo geral,
reforço positivo, ânimo após erro, instrução técnica punitiva, outras condutas
espontâneas e manter o controle. Esse estudo estabelece categorias similares ao
que se desenvolverá no presente estudo.
Maia e Fonseca (2004) observaram o comportamento dos treinadores em
competição utilizando o Coaching Behavior Assestemnt System (C.B.A.S.) de
Smith et al (1977), ligeiramente modificado, comparando treinadores escolares e
de alto nível de Portugal. A quantidade de informações e interação foi maior nos
treinadores escolares, mas não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas entre o modo como os dois grupos de treinadores comunicavam
com seus atletas e equipes durante os jogos observados.
Uma investigação examinando o comportamento dos treinadores criou um
estilo instrucional, para treinadores, tendo impacto nos indivíduos (atletas).
Verificou-se que o comportamento dos treinadores pode elevar a auto-estima de
atletas revelando um tipo de influência positiva. Dar feedback no momento certo
revela uma alta eficácia nesta relação com a auto-estima. (Smoll et al, 1983)
Para Anfilo (2003), o treinador deve utilizar principalmente estímulos
positivos (elogios, intervenções e correções do treinador) junto aos atletas,
evitando os negativos, que devem ser utilizados somente para provocar a inibição
de determinados tipos de comportamentos. É, através dos estímulos positivos que
22
o treinador pode desenvolver uma metodologia específica para suas intervenções
junto a seus atletas, pois os mesmos favorecem e reforçam a motivação dos
jogadores, dando como resultado uma identificação e uma aceleração do
aperfeiçoamento e da eficiência de cada jogador.
Segundo Oliveira et al (2004), deve-se sempre recordar e colocar em
prática alguns pontos que são: os treinadores são professores; os treinadores têm
como tal necessidade de utilizar um estilo positivo de intervenção no treino; este
estilo baseia-se em elogios e encorajamentos no sentido de favorecer o
comportamento desejado e de motivar os jogadores a realizá-lo; elogiar tanto o
esforço para alcançar um objetivo, como o bom resultado em si; ao dar indicações
técnicas para corrigir um erro, deve-se ao começar por realçar algo que tenha
sido bem executado.
Já para Santos e Shigunov (2001), a direção das manifestações é uma
importante maneira de causar impacto, chamar atenção e até mudar o rumo da
atuação dos atletas. A direção das manifestações pode ser ao indivíduo, a um
determinado grupo, ou à equipe toda. Deve-se destacar que cada uma dessas
direções de uma manifestação de afetividade positiva ou negativa possui diversas
conotações para a pessoa atleta. O treinador deve conhecer muito bem seus
atletas para poder apresentar a sua contribuição no processo do treino e na
competição. Além disso, as manifestações podem ocorrer em vários momentos,
tanto no treino como na competição e assim o treinador deve possuir a
sensibilidade em utilizar as manifestações adequadas para momentos
adequados, fazendo sobressair principalmente às qualidades e potencialidades
dos seus atletas, tanto nos treinos como nas competições.
Rosado (1998) afirma que é necessário compreender e encarar o clima na
sala de aula e no treino como determinado por diversas variáveis, entre as quais
sobressai a afetividade e, em particular, a percepção do ambiente afetivo
existente. Esta percepção representa um fator que pode afetar o processo de
ensino-aprendizagem, influenciando variáveis como a motivação, o ambiente
humano e relacional, a estrutura e coesão dos grupos, a gestão de conflitos e
emoções, o empenamento e a participação, o desenvolvimento pessoal e social.
O mesmo autor ainda relata que o ambiente afetivo positivo determina uma
condição subjetiva de implicação qualitativa nas atividades com diversos tipos de
reflexos e de manifestações comportamentais: um aumento de motivação, do
23
interesse, da atenção, da capacidade de trabalho, da qualidade das relações
humanas que se estabelecem, entre outros.
Saad e Rezer (2005) detectaram em seus estudos que o envolvimento ou
conduta dos treinadores e jogadores, a análise efetuada pode ser considerada
bastante rudimentar para abordar as relações interpessoais ou os papéis sociais,
restringindo-se apenas aos comportamentos ou condutas assumidas, tanto pelo
treinador quanto pelos jogadores, nas diferentes atividades. O comportamento
mais freqüente dos treinadores foi de tomar praticamente todas as decisões
(centrado no treinador) e de supervisionar, orientar e estimular (feedback) o
desenvolvimento das atividades.
Ainda para os mesmos autores a conduta de feedback do treinador,
embora seja aquela que apresentou maior distribuição entre as diferentes
condições de realização das tarefas, destacou-se apenas nas tarefas de
fundamento individual e combinação de fundamentos.
Segundo Ravé (2002), a análise de conduta docente no treino tem muitos
objetivos gerais, dos quais vale citar:
Descrever o que realmente ocorre no treino. Essa descrição nos
permite conhecer as características desse treino observado e analisado;
Diagnosticar e valorizar as competências ou capacidades do treinador.
Com esse diagnóstico e avaliação se pode ajudar o treinador em formação ou o
treinador ativo para que possa melhorar ou modificar suas condutas como
treinador e possa ser mais eficaz em seu conteúdo de ensino;
Favorecer uma atitude crítica e reflexiva de melhora profissional;
Auxiliar o treinador a otimizar os resultados de treino visando à
competição. Quanto mais dados tiver sobre as condutas que surgem no treino
maior à informação que se terá para avaliar a eficácia do treino realizado.
Promove-se uma motivação profissional intrínseca;
Convencer da importância do trabalho em equipe e da análise posterior,
favorecer um tipo de trabalho colaborativo. Reflexão em grupo entre treinador e
diferentes membros da equipe técnica.
Para Delgado (2001) citado por Ravé (2002), uma observação de conduta
de um treinador é válida, quando se fixa nestas quatro características que darão
confiabilidade ao método, e que são:
24
1. A especificação das conclusões e o conteúdo das observações. Deve
corresponder a etapa de decisão do que observar;
2. A elaboração de um guia de observação. A determinação de categorias
ou categorizações. Escolhem-se as variáveis a observar, seleciona-se a técnica
de observação, dispõe-se do instrumento, e realiza-se um estudo piloto para
validá-lo;
3. A preparação do treino do observador. Para que a informação recolhida
tenha um mínimo de confiabilidade;
4. O conhecimento dos tipos de interações possíveis entre observador-
observado. Ver as possíveis interferências em um sentido ou em outro observado-
observador.
Simões et al (1989), colocam o treinador como figura chave no treino de
equipes e o seu papel afeta a formação moral e técnica do atleta. Pode-se
considerar assim, a dimensão humanista que se daria pela formação moral do
indivíduo e a dimensão da produtividade que se daria na formação técnica do
atleta.
Simões et al (1989), em seu estudo detiveram-se em analisar as
percepções dos atletas sobre a “performance” de conduta pessoa e profissional
do seu treinador, sendo a dimensão de postura profissional a que obteve
melhores resultados relacionada à conduta do treinador, assim, os quesitos
relação social e execução de tarefas seriam menos impactantes do que a postura,
reforçando a idéia de treinador como modelo.
Vidal (1991) acredita que o jogador nunca deve ser criticado pelo erro, mas
pela postura em quadra. A seguir ele comenta que ainda hoje vê treinadores
arrasarem moralmente no banco jogadores que acabam de ser retirados porque
não estavam se apresentando bem no jogo. A postura frente aos erros e acertos
dos atletas pode alterar a formação do atleta podendo esse se tornar omisso em
situações de decisão por não ter a confiança do treinador.
Cooke (2003) cita a opinião de um treinador de tênis e sua reação frente à
perda de motivação e ameaça de abandono por parte de seus atletas, procurando
cortar o mal pela raiz, usando reforços positivos. A utilização de estratégias de
valorização do atleta é amplamente utilizada quando se detecta a possibilidade de
abandono.
25
Assim, muitos dos problemas que afligem o sistema esportivo direcionam-
se para os treinadores de Futebol e para seu papel decisivo na organização,
condução e orientação do processo esportivo, o que denota um sentido de
responsabilidade extrema por parte deste. (Cunha et al, 2000),
Torna-se importante traçar a aquisição de competências. Interessa ajudar o
praticante a desenvolver níveis positivos de percepção acerca da sua
competência. Passando pela criação de oportunidades de todos terem espaço de
intervenção, onde não apenas a competência motora é equacionada, assumindo
especial relevo a litrácea esportiva e o entusiasmo pela prática esportiva,
enquanto atitudes a desenvolver. (Mesquita, 2004)
Quanto ao feedback, Richkeimer e Rodrigues (2003) nos estudos
referentes aos treinadores de Handebol, observou-se que o objetivo foi em ordem
de utilização: prescritivo, avaliativo positivo, descritivo, avaliativo negativo e
interrogativo. Sendo que destes apenas o primeiro foi realmente significativo
estatisticamente entre os grupos (professores e não professores).
Leça Veiga et al (1999) encontraram como resultado de seu estudo que os
feedback mais importantes para os alunos são de correção, de reforço positivo,
de apoio, de informação. E que estes sejam feitos de maneira verbal. O feedback
considerado menos importante foi o de apresentar a prática de um aluno para
interromper a aula e mostrar a turma.
Siedentop (1998) citado por Fotia (2003), diz que a informação deve ter
funções de correção, reforço e motivação:
a) Informações positivas gerais: Bom passe, boa idéia, muito Bem;
b) Informações positivas não verbais: Aplaudir, sorriso, piscada de olho,
entre outros;
c) Informações positivas específicas: Bom passe, conseguiu superioridade
numérica, ótimo, movimento do braço perfeito;
d) Informações de correção: Deves frear o movimento antes de bater,
solta mais a mão no final do movimento;
e) Informações específicas do que executou: Muito melhor, o bloqueio
ajudou a defesa, bem, observando o sacador obtiveram-se pistas para receber o
saque.
Para Shigunov e Pereira (1994), o feedback deve ser utilizado pelo
professor como instrumento de conscientização e motivação do aluno/atleta no
26
processo de assimilação da informação. Ainda, para esses autores, o elogio por
parte do professor, constitui-se em uma das manifestações positivas que mais
influenciam na modificação de comportamentos dos educandos/atletas,
incentivando a manifestação de comportamentos que o professor/treinador
considere apropriados.
Brown (1999) destaca alguns aspectos importantes sobre a função do
treinador, afirma que ele deve ser firme e que o treinador deve ser positivo. Esses
aspectos demonstram a relação de comunicação e conduta para com os atletas.
Sendo o treinador um modelo para seus atletas, ele deve promover,
sempre, a autonomia de conduta por parte deles. Quanto mais claro for a
definição das regras por parte do funcionamento com atleta/equipe, mais
condições cria-se para que o atleta as respeite e, consequentemente, perceba o
espaço de autonomia comportamental que lhe é conferido. Deve, o treinador,
incentivar os comportamentos apropriados, valorizando claramente as
repercussões positivas que o atleta obtém ao perseguir modelos de conduta
positivos. Os comportamentos inapropriados devem ser mostrados pelo treinador,
assim como, suas repercussões negativas e as repercussões de tais
comportamentos na sua formação. (Mesquita, 1997)
Para estreitar essa relação não só com o grupo de atletas, mas também
com todos seus colaboradores, alguns aspectos são fundamentais para que o
treinador consiga atingir seus objetivos. Becker Jr.(2000) cita o conhecimento, a
comunicação verbal e não verbal, a escuta ativa, aptidão comunicativa ao atleta,
disciplina e seu estilo de liderança como qualidades do treinador.
A liderança é para alguns estudiosos (Chelladurai, 1990; Serpa, 1995;
Winterstein e Venditti Jr., 2005; Weinberg e Gould, 2001; Singer, 1986; Samulski,
1992) uma linha autônoma dentro da pesquisa da Psicologia do esporte. Este
modelo de liderança serve como base para detectar as características que o
treinador possui relacionada às suas condutas, e criando algumas classificações
para essas condutas.
Uma dessas formas de avaliar e medir os comportamentos de liderança,
incluindo as preferências dos atletas por comportamentos específicos, as
percepções dos atletas dos comportamentos dos seus técnicos e as percepções
dos técnicos de seu próprio comportamento, foi criada por Chelledurai e Saleh
27
(1980). Essa escala foi denominada de Leadership Scale for Sports - LLS (Escala
de liderança para os esportes) e tinha as seguintes categorias.
1. Conduta Educativa: Conduta do treinador dirigida a melhorar a execução
dos desportistas por meio da insistência e facilitação do treinamento
exigente e duro, instruindo-lhes nas técnicas e táticas do esporte,
clareando as relações entre os componentes da equipe, estruturando e
combinando as relações dos mesmos.
2. Conduta Democrática: Conduta do treinador que concede grande
participação dos desportistas nas decisões concernentes às metas do
grupo, os métodos práticos, as práticas e as estratégias de jogo.
3. Conduta Autocrática: Conduta do treinador que inclui independência nas
tomadas de decisões e enfatiza a autoridade pessoal.
4. Conduta de Apoio Social: Conduta do treinador caracterizada por uma
preocupação individual pelos desportistas, pelo seu bem estar, por um
ambiente positivo para o grupo e pelas relações afetuosas com os
componentes do mesmo.
5. Conduta de Feedback Positivo: Conduta do treinador que inclui a aplicação
de reforços a um desportista como um reconhecimento e recompensa por
uma boa atuação.
A respeito da capacidade comunicativa do treinador Mesquita (1997) diz
que numa perspectiva mais genérica essa capacidade passa pela facilidade que
ele se revela em se relacionar com os outros. E também, de saber trabalhar em
equipe nas diferentes situações, bem como na capacidade de motivar os outros
(dirigentes árbitros, atleta, mídia, pais, entre outros) para participarem nos
projetos esportivos que preconiza.
Já Lee (1993) escreveu em seu livro que bons treinadores são usualmente
bons comunicadores, e a comunicação é o maior ingrediente para promover e
manter relacionamentos. A forma como os treinadores dirigem o relacionamento
com seus atletas tem importante influência no divertimento esportivo dos
mesmos, sua participação continuada e como percebem a si mesmos.
Para Weinberg e Gould (2001), a comunicação ocorre de duas formas
básicas: interpessoalmente e intrapessoalmente. A maior parte das tentativas de
28
comunicação se dá de forma interpessoal. A pessoa que gera a mensagem
pretende atingir um objetivo determinado com sua comunicação, visando gerar
uma resposta determinada que possa ser verbal ou corporal. A mensagem
recebida pela pessoa pode ser interpretada de maneira correta ou incorreta, além
disso, pode ser recebida por pessoas que não deveriam prestar atenção na
mensagem.
A comunicação não verbal pode ser dividida em dois grupos, (Mesquita
1997)
1. Aquilo que se refere ao corpo e ao movimento e representa unidades
expressivas: a face, o olhar, os gestos, as ações, as posturas e a para-linguagem.
2. Aquilo que é relativo ao produto das ações humanas e formas de
expressão: a moda, os objetos do cotidiano e da arte, a própria organização dos
espaços.
Muitas vezes utiliza-se a linguagem não verbal para se comunicar,
reconhecendo informações às vezes apenas em um olhar. A comunicação
ocorrendo dessa maneira é de suma importância para o esporte, pois muitas
vezes existe a necessidade de passar instruções sem que a outra equipe entenda
a mensagem, estabelecendo assim, códigos de comunicação interpessoal
específicos.
Torna-se necessário que os treinadores esportivos saibam manipular a
comunicação verbal e principalmente a não verbal. Mesquita (1997) ainda
descreve que as habilidades associadas ao conhecimento da comunicação não
verbal fazem parte do desenvolvimento da competência social e profissional do
indivíduo. Um professor/treinador que não goste daquilo que faz geraria um não
desenvolvimento do gosto pela atividade por parte do atleta. Os atletas
perceberão quaisquer mudanças nos gestos, expressão do rosto, tom de voz,
entre outros E essas mudanças podem vir a ser assimiladas por eles de forma a
melhorar ou atrapalhar a performance. A atenção despendida com cada atleta
levará a um controle maior do ambiente de treino, sendo assim, devesse dar
apoio e ter atitudes positivas para com todos os atletas de maneira uniforme,
evitando que se tenha problemas com a diferenciação entre eles.
Messmer (2000) destaca que o discurso do esporte deve ter linguagem
própria do esporte, deve também ser o esporte (demonstração de regras) e por
fim, deve ser o ensinamento do esporte de forma objetiva, com intenções,
29
conteúdo e forma de ensino. A utilização de códigos para estabelecer a
comunicação é um evento que comumente ocorre no esporte, devendo
estabelecer uma linguagem que gere apenas um tipo de interpretação por parte
do atleta e assim, tornar fácil o aprendizado e a interpretação da informação.
Quanto as estratégias para melhorar o ato de treinar, Prata e Resende
(2003) colocam sobre o como deve ocorrer a comunicação entre treinador e
atleta: a) saber falar de forma apropriada e pausada; b) escutar realizando gestos
para que o atleta saiba que o está escutando; c) dar feedback, imediatamente ao
ocorrido, ser positivo (começar com o que está sendo bem feito); d) ser específico
(explicar os modos de melhorar); e) ser realista (estar seguro de que o atleta é
capaz de atingir os objetivos), assegurar-se de que o atleta compreende (fazer
perguntas ou pedir-lhe para fazer uma demonstração rápida).
No trabalho de Liukkonen et al (1993), citado por Rodrigues (1997), foi
realizada a análise do comportamento do treinador segundo duas dimensões, a
humanista e a da produtividade, gerando quatro tipos de treinadores: “ideal”,
“autoritário”, “novato”, “incompetente”. Esse estudo obteve como resultado uma
forte correlação entre variáveis humanismo e produtividade, explicada pelos
seguintes fatores: adequação a idade dos atletas; feedback positivo; entusiasmo;
participação dos atletas.
Segundo Fernández et al (2003), o êxito de um esportista no campo
competitivo está condicionado em grande parte, ao estilo de ensino/treino de
direção que aplica o treinador, sendo este processo influenciado por múltiplos
fatores. Entre os citados está o nível de atualização e a formação do treinador.
Nesse sentido, Weinberg e Gould (2001) relatam que as pesquisas
revelaram que vários fatores pessoais e circunstanciais afetam o comportamento
do líder no esporte e na atividade física. Esses antecedentes incluem
particularidades como idade, maturidade, sexo, nacionalidade e tipo de esporte.
As conseqüências do comportamento podem ser vistas em termos da satisfação,
do desempenho, e da coesão do grupo. Por exemplo, a satisfação dos atletas é
alta quando há uma relação direta entre seu estilo de treino preferido e o estilo do
treino real do treinador.
Em seu estudo sobre a combinação vitoriosa entre sucesso e esforço,
Smoll e Smith (2003) relatam a filosofia do desenvolvimento-orientado para a
vitória, treinadores impulsionam o foco sobre o esforço atlético e divertimento
30
baseado que o sucesso é mensurado por estatística e pontos. Em outras
palavras, os atletas são encorajados para enfatizar “faça o seu melhor”, consiga o
melhor, tenha felicidade, é você contar com você, em oposição à orientação
vencer a qualquer custo. Sendo assim, o mais importante da produção do
treinador não são os recordes de vitórias-derrotas, e sim a qualidade da
experiência proporcionada aos atletas.
Deve-se encontrar um equilíbrio entre as dimensões educativa, recreativa e
competitiva. Criar um ambiente de prática adequado para a progressão na
formação esportiva e humana.
As observações de Lima (2000, p.46) vem corroborar neste sentido ao
afirmar:
Enquanto esta filosofia seletiva de veneração dos campeões, difícil será que o esporte na
Escola seja educativo e formativo, que a formação esportiva da juventude promova o
aparecimento do “homem esportivo”, que tenha consciência de suas responsabilidade social
e cultural sempre que assume a prática do esporte como um meio da própria valorização e
como ato público respeitado pela consciência social.
Debove (2001), em sua proposta para formação de treinadores, tenta
definir quais são as competências do treinador, partindo de uma análise baseada
na teoria do sistema, da função do treinamento de três pólos: tipo de esporte, o
contexto do treinamento e o contexto da prática de alto nível. (figura 3)
Ambiente
Treinador
Ambiente
Treinamento Atleta
Prática de Alto
Nível
Figura 3 - Sistema de pólos do treinamento, Debove (2001).
31
Para Santos e Shigunov (2001) o profissional deve utilizar conhecimentos
construídos de forma racional, sistemática e contínua, assim como os construa,
mediante ao “feeling” adquirido com a prática, com objetivos que devem
transcender a mera aquisição de medalhas e “status”, mas também, respeitar o
ser humano com quem trabalha, para que quando, esse não produzir, enquanto
atleta, possa continuar utilizando o mesmo tipo de modalidade esportiva para
melhorar seu nível de qualidade de vida.
Abordando as competências do treinador no que se refere à confecção do
projeto esportivo Vázquez e Gayo (2000) descrevem quatro aspectos
substanciais:
a) Transmissão de valores e normas de conduta;
b) Determinação da filosofia/atitude de jogo para a equipe;
c) Determinação do perfil de jogador requerido para seu
desenvolvimento;
d) Determinação dos objetivos esportivos.
Sobre a transmissão de valores e normas de conduta Vázquez e Gayo
(2000) afirmam que esta é a primeira das competências do treinador em relação a
sua face de projeto esportivo, e esta deve atender a critérios de responsabilidade
e dignidade profissional.
Os valores suscitam uma formação do caráter e da conduta futura do
atleta, sendo moldados durante toda a carreira e sendo colocada constantemente
à prova.
A forma de desenvolver o trabalho do treinador é um tema que gera certo
debate e polêmica, que Vázquez e Gayo (2000) citam ser assunto do treinador
mais inovador ao mais clássico. Os procedimentos de treino estão mudando
bastante nos últimos tempos. As contribuições são diversas para a otimização dos
processos de treino do jogador e da equipe.
Medalha (2000), em seu ensaio sobre a filosofia do treinador, salienta que
todo o ser humano tem sua própria filosofia de vida e esta é decorrente da
formação, da experiência de vida, do ambiente cultural em que vive e/ou foi
criado, dos valores próprios extraídos de sua personalidade. E ainda, os
treinadores quando no exercício de sua função, ou seja, treinando e dirigindo
equipes compostas de seres humanos, estão sujeitos a manifestar reações e
condutas das mais diversas.
32
Luis (1988) propõe a seguinte descrição de traços positivos da
personalidade dos treinadores os quais se destacam alguns:
a) Aspiram fortemente ao êxito com uma necessidade evidente de estar
no topo;
b) São muito ordenados e organizados; preferem prever interessar-se
pelo que possa vir a acontecer;
c) São pessoas calorosas e gostam dos contatos humanos;
d) Tem um nível de consciência bem desenvolvida e apreciam muito os
valores reconhecidos na nossa sociedade.
Esses traços evidenciam o caráter da produtividade na aspiração ao êxito e
organização. Já quanto ao caráter humanista, gostar de contatos humanos e
apreciar os valores (morais) expressam esta relação.
Hotz (2002) fala que a importância da “disponibilidade” à performance são
mais capaz de influenciar positivamente seu estado. O melhor desenvolvimento
do potencial de performance não se dá ou presta às disposições e sem os ajustes
específicos inerentes à competição do momento. Ou seja, devem ocorrer ajustes
específicos para que se alcance a performance em determinado esporte, e a
competição irá requerer diferentes tipos de reação dependente do momento,
atendendo às necessidades.
Prata (1997) destaca as expectativas sobre a função de treinador, uma
visão tenha um cunho humanista forte, e que apontam para:
a) Papel de educador e mentor;
b) Pessoa que fornece os parâmetros para o comportamento da
equipe/atleta;
c) Responsabilidade no desenvolvimento do atleta como uma pessoa
global.
Prata e Resende (2003) ponderam que ser treinador é, obrigatoriamente,
ser um pensador, um crítico e um filósofo, no sentido mais criativo da filosofia,
quer como indagação racional sobre o mundo (a “nossa” vida e o “nosso” esporte)
e o homem (o “eu” e os “outros”), com propósito de encontrar a sua explicação
última (os nossos porquês – problemas, relações ou ralações, sucessos ou
insucessos, entre outros). A filosofia do treinador passa por esta tentativa de
descoberta, de um estabelecimento de linhas de orientação para a ação do
treinador e o respectivo comportamento.
33
Existem exemplos de perda de credibilidade do treinador, os dois mais
comuns segundo Prata e Resende (2003) são: O treinador desiste ou abandona
o(s) seu(s) atleta(s), ou que reage ostensivamente de forma negativa no
comportamento nas linguagens verbal e corporal, perante um ou piores
resultados, desencorajando os seus atletas, a sua motivação e o seu próprio
trabalho; o outro é o chamado na literatura anglo-saxônica, “treinador do bom
tempo”, ou seja, aquele que desaparece quando os resultados são maus, e dá
atenção e apoio quando estes são bons. O que os atletas percebem é que o
treinador não se interessa por eles, apenas pelo seu bom rendimento ou
resultados.
Prata e Rezende (2003, p.11) ainda fazem a seguinte ponderação:
“O treinador deverá ter, como um pai, a preocupação de educar para a autonomia, sabendo
encaminhar os jovens no sentido de se auto-treinarem, de se auto-disciplinarem na sua vida
pessoal, e de se servirem da plenitude da cidadania”
Meinberg (2002) escreveu que junto aos fatores externos (instituição de
trabalho, pressão externa), você pode também encontrar um fator interno, que
concerne em ver o treinador como pessoa, a maneira dele ver esta personalidade
e esta identidade, suas emoções, conhecimentos, mentalidade, a maneira como
percebe o mundo a sua volta e como ele é.
Montiel (1997) diz que se observa o futebol, o esporte mais “profissional”
dos esportes em Portugal, encontrar-se-á que a generalidade dos treinadores,
jogadores e dirigentes são sensíveis à importância de aspectos humanos que vão
para além do mero cumprimento das atividades físicas e táticas do treino.
E Montiel (1997, p.12) acrescenta:
“As variáveis humanas no esporte gozam de tanta importância que não podem ser
esquecidas. Aliás, nunca foram e estão sempre presentes. Questão diferente é a de
conceder o oportuno tratamento ás suas múltiplas implicações, especialmente no esporte
profissional”
Salgado (1999) orienta que é necessário ter permanentemente presente
que os jovens com quem se trabalha antes de tudo, são pessoas que, por sinal,
se encontram numa fase fundamental do seu desenvolvimento físico, social e
psicológico. Pode-se ainda estender esse pensamento as categorias superiores,
visto que, se torna imprescindível desenvolver indivíduos além de atletas.
34
Já Guimarães (1999) relaciona o treinador esportivo e a qualidade total,
destaca que os investimentos econômicos dirigidos à modernização das
máquinas, o que, em linguagem atual, seria considerado o “hard-ware” da
produção, objetivo alcançado em pouco tempo pelos produtores,
concomitantemente, investiu-se na capacitação técnica do trabalhador o “soft-
ware”. Atualmente, procura-se melhorar o rendimento do indivíduo (“human-
ware”), pois entre os inúmeros fatores a maioria é de fatores humanos.
Para Guimarães (1999) o trabalho do treinador moderno é conseqüência
de uma quebra de paradigma: o de grande condutor a gerente de um processo,
em que, os valores humanos dos seus membros (principalmente, os do treinador)
devem ser cultivados para incidirem sobre o grupo em forma de ações positivas.
O fator humano é a parcela mais importante da “qualidade total”, por este
motivo, o processo de treinamento esportivo realizado através dos conteúdos do
treinador e um preparador físico são coisas do passado, devendo-se basear a
partir das relações interpessoais calcadas em valores humanos, que são de
grande importância para o alcance dos resultados excelsos (Guimarães,1999).
Assim, deve ser dada uma importância prioritária ao “ser humano” atleta,
pois nesta relação de ensino-aprendizagem é que se estará forjando as virtudes
morais do futuro homem.
Cardoso (1987) considera que a vitória maior do treinador não deve estar
no resultado de uma partida, e que infelizmente em alguns treinadores a filosofia
está voltada única e exclusivamente para o fator vitória. Enquanto deveriam
adotar os princípios que norteiam a própria filosofia de vida: honestidade, caráter
e individualidade física, psíquica e social de um ser humano.
Como refere Bento (2004b) a formação do homem, á luz de bitolas
humanistas, é a grande missão da Humanidade; a ela é que se consagra desde
sempre a civilização. Em todos os tempos e lugares e pelos mais diversos meios.
Ver o Homem em cada homem. Realizar o Homem em cada homem. Registrar o
selo da Humanidade em cada indivíduo, para que seja pessoa.
O esporte vive de valores e é com eles que se constrói a sua história, o seu
imaginário e o seu legado de princípios e ideais. E pode certamente ajudar a
difundi-los, recreando as forças de renovação da vida e do triunfo do Homem.
Confirmando afinal que lhe assiste inteira e fundada razão quando afirma ser uma
escola de virtudes.
35
CAPÍTULO III
METODOLOGIA
Fixadas as premissas teóricas ao desenvolvimento do estudo, passa-se a
descrever os procedimentos metodológicos utilizados. Primeiramente, caracteriza-
se o estudo em questão, apresenta-se o contexto da pesquisa, para em seguida,
descrever-se os participantes do estudo. Posteriormente, são abordados os
instrumentos de investigação e os procedimentos.
3.1 Caracterização do estudo
Analisaram-se a conduta e o estilo de ensino/treino de treinadores das
equipes do gênero masculino de esportes de quadra da cidade de Blumenau no
Estado de Santa Catarina, refletindo sobre suas ações e interpretando os dados
observados. Para consolidação dessa análise optou-se por realizar um estudo
multicasos (Yin, 1993), de caráter descritivo exploratório.
Inicialmente foi realizada uma entrevista semi-estruturada com questões
abertas sobre a biografia e formação, além da aplicação de um questionário para
coleta de informação dos treinadores. Na seqüência, foram realizados estudos de
casos de observação com um treinador de cada modalidade dos esportes de
quadra (Voleibol, Handebol, Basquete e Futsal), neste momento foram utilizadas
as técnicas de observação, notas de campo e filmagem para posterior
triangulação, conforme a figura 4.(Bogdan e Binklen 1994; Bastos et al, 2004)
Para Yin (1993), o estudo de caso exploratório talvez seja o estudo de caso
de maior reputação. Neste tipo de estudo de caso, o trabalho de campo e a coleta
de dados são agentes prévios para a definição final no estudo das questões e
hipóteses. Investigar pode seguir um caminho intuitivo, percebido por outros como
sentimental. Contudo, pode-se genuinamente tentar descobrir a teoria e direcionar
36
a observação para o fenômeno social nessa forma “crua”. Além disso, quando são
selecionadas as questões e objetivos finais do estudo, seu estudo conclusivo
pode não necessariamente ser um estudo de caso, mas assumir outras formas.
Entrevista semi-estruturada
Questionários
Observação
Gravação de voz Filmagem
FIGURA 4 - Representação da triangulação de dados
3.2 Amostra
Participaram do estudo, os treinadores de esportes de quadra (handebol,
basquetebol, voleibol e futsal) da cidade de Blumenau, Santa Catarina. A escolha
da cidade foi pelos seguintes motivos:
É a cidade que detém o maior número de títulos dos JASC (Jogos
Abertos de Santa Catarina);
É a maior campeã da história dos jogos em esportes de quadra;
É a cidade que mais cede atletas para as seleções estaduais;
É a cidade do estado de Santa Catarina que tem o maior número de
atletas de renome nacional e internacional.
Verificou-se que a pesquisa relacionada a treinadores não é recente, e que
utiliza alguns modelos consolidados há décadas como o Sistema de Avaliação do
Comportamento do Treinador (Smoll e Smith, 1984). Este instrumento presente
no anexo V, teve diferentes interpretações através da história, sendo que a versão
37
publicada em português no Brasil, avalia a competência emergente (Becker,
1998), o primeiro estudo original de comportamento do treinador desses
pesquisadores data do final da década de 70 (Smith et al, 1977). Após algumas
alterações surge em 1984 o instrumento próximo do definitivo, sendo que outros
pesquisadores já adaptaram o mesmo. O modelo atual foi aplicado em 13000
treinadores de jovens no Canadá (Smith e Smoll, 2003), onde descreve os itens
em uma escala Liekert, e serve como instrumento de controle do Programa de
Formação para a Eficácia dos Treinadores. Mais recentemente o instrumento
traduzido e adaptado foi utilizado em estudos do grupo de pesquisa de Cruz e
Gomes (2001), estabeleceram-se os resultados em um quadro de orientações
gerais sobre a conduta do treinador. Ainda de acordo com o mesmo autor essas
condutas e ações que tem um reflexo direto na formação do indivíduo atleta, do
ser “humano” atleta.
Após a entrevista e aplicação dos questionários, iniciou-se a fase de
observação e filmagem dos mesmos. A amostra é considerada proposital e
pequena, (Thomas e Nelson, 2002). Yin (1993) define que a unidade de análise
nos estudos de caso será mais claramente determinada pela coleta de dados que
possibilita um grande número de perspectivas.
Para proteger a identidade dos treinadores envolvidos no estudo escolheu-
se os primeiros nomes de poetas e escritores importantes da Língua Portuguesa,
Carlos Drumond de Andrade, Érico Veríssimo, Fernando Pessoa e Mário
Quintana.
Além disso, o status da posição de treinador em uma cidade que já foi
diversas vezes finalista nos esportes de quadra pode levar a certa “pressão”
exercida pela necessidade direta de resultados, aonde os objetivos vão além das
fases pré-classificatórias sendo esperado dessas equipes sempre uma
performance próxima do topo do ranking, e assim, a exigência maior com a
qualidade dos resultados vem à tona.
Afonso (2001) destaca que o estudo de vários casos permite uma análise
cruzada procurando temas comuns, nuances e diferenças aplicadas por critérios
de semelhanças e contraste. Sendo no caso deste estudo, representado cada
caso por um representante de cada modalidade.
38
3.3 Instrumentos
Segundo Valles (1997) citado por Romanelli e Biassoli-Alves (1998), as
pesquisas qualitativas devem obedecer aos critérios da credibilidade,
transferibilidade e dependentibilidade. A facilitação no acesso a documentação
deve ser uma preocupação do pesquisador qualitativo, pois a maneira como será
conduzido o estudo é que vai possibilitar possíveis replicações.
Para melhorar a validade e a confiabilidade do estudo, a coleta de dados
foi realizada pelo pesquisador. Inicialmente foram feitas a entrevista semi-
estruturada e a aplicação dos questionários, de questões abertas e fechadas,
com os treinadores para o levantamento de dados. De acordo com as respostas
obtidas pelo instrumento I, foi identificado o auto-conceito dos treinadores-caso
para serem investigados a fim de se obter informações mais precisas. Após foram
utilizadas, observações sistemáticas dos treinos ministrados por estes
profissionais, e filmagem para posterior triangulação dos dados e a fim de
alcançar um maior aprofundamento da situação presente.
Primeiramente ocorreu a entrevista semi-estruturada que foi realizado
visando caracterizar o sujeito e sua formação como o utilizado por Graça (1997) e
adaptado por Afonso (2001), em conjunto com os três questionários adaptados
por Becker Jr.(1998), para avaliar a conduta e o estilo de ensino/treino dos
treinadores.
A observação sistemática das sessões de treino ministradas no
desenvolvimento das práticas esportivas foi auxiliada pela filmadora para
posterior transcriação dos dados em fichas de observação criadas
especificamente para este estudo, usando a grelha de observação para ver as
categorias observáveis de conduta e estilo de ensino/treino. Estas fichas foram
baseadas nas de Saad (2002), que tem a intenção de fazer uma análise
pormenorizada das tarefas realizadas considerando os pressupostos de
presságio-processo-produto de Pierón, adaptados por Rodrigues (1997).
E por fim, foi feita a filmagem de uma sessão típica de treino da equipe
para posterior transcriação e análise da linguagem não verbal.
Algumas considerações são necessárias para a rotina de análise por
técnica de vídeo, segundo Sanders (2004):
39
Permissão (estabelecida neste estudo através do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido).
Campo de visão: Checar o campo de visão do equipamento em um
reconhecimento do local, antes da observação em si.
Ângulo de filmagem: Estabelecer um ângulo de filmagem que seja
possível observar o treino em toda a sua extensão, além de captar as
reações do mesmo.
Checar a energia: Verificar se existe tomada de energia próxima ao
local escolhido para assim evitar o uso da bateria, se utilizada a bateria
ter sempre uma de reserva ou ter bateria suficiente para filmagem de
todo o treino.
Avaliar a velocidade de captação da câmera: para uma análise
quantitativa dos dados a velocidade de captação deve ser de 1/500s no
mínimo.
Iluminação: Deve-se considerar a iluminação local, se o treino for à
noite verificar na checagem do local a iluminação e se esta é suficiente.
Se for luz do dia verificar se esta não causa reflexo na filmagem.
Data e hora da filmagem: Sempre que possível colocar na filmagem
data e hora na tela para verificar que o treino filmado coincide com
algum dos treinos observados.
Identificação das fitas: Imediatamente após testar o material, identificar
a fita com o máximo de informações como local, treinador, entre outros.
3.4 Procedimentos
3.4.1 Antes da coleta de dados
Solicitados e obtidos a declaração de ciência e parecer do município
representadas por seu secretário de esportes e os termos de consentimento livre
esclarecido dos treinadores de esportes de quadra das equipes masculinas,
estando de acordo com as normas do projeto aprovado pelo do Comitê de Ética
40
de Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina
(anexo VIII).
Em momento posterior, depois de efetuadas as correções dos métodos
escolhidos para a investigação, contatou-se a entidade representativa e solicitou-
se a autorização dos respectivos treinadores participantes, aproveitando para
marcar a aplicação do instrumento I (1ª etapa).
3.4.1.1 Estudo Piloto
A realização de um estudo piloto se fez necessária para testar os
instrumentos e assegurar uma previsão de como conduzir o estudo. Este serviu
de treinamento para a pesquisa observacional, testando os instrumentos do
estudo, podendo evitar possíveis imprevistos e assim tendo maior segurança à
pesquisa. O estudo foi realizado com um treinador de esportes de quadra da
cidade de Florianópolis. Em virtude do prazo exíguo, não foi observada uma
semana típica de treino completa, ocorreram a entrevista e aplicação dos
questionários; após, a observação dois treinos com a gravação da voz. Ao chegar
ao local de coleta de dados final, acompanhou-se um treino aleatório para aferir
os instrumentos.
3.4.2 Durante a coleta dos dados
A coleta de dados relativos à pesquisa teve por base a realização da
entrevista semi-estruturada e de resposta aberta, a aplicação dos questionários
de conduta e estilo de ensino (anexo IV, V, VI) para os treinadores das equipes,
onde foram verificadas as intenções existentes com relação à temática do estudo.
Após, houve o acompanhamento de uma semana típica de treino, onde foram
observadas de 3 a 5 sessões de treino de cada um dos quatro treinadores, a
filmagem de uma sessão típica de treino de cada equipe e a gravação de voz das
sessões observadas.
No presente estudo, as entrevistas foram realizadas no período pré-
competitivo, antes da disputa dos Jogos abertos, tentando, deste modo, evitar que
41
estas pudessem exercer qualquer tipo de influência sobre o planejamento dos
treinos.
Após, foram marcadas as observações e filmagem, que foram realizadas
paralelamente a análise das entrevistas, com o objetivo de aumentar o grau de
fidedignidade da pesquisa descritiva (Thomas e Nelson, 2002). A transcrição das
entrevistas foi feita na íntegra, para assegurar a validez das declarações obtidas
pelos treinadores e, posteriormente, foi levada para que eles verificassem e
confirmassem o que foi dito.
Refira-se que as entrevistas ocorreram no período de 10 de setembro a 3
de novembro de 2005.
3.4.3 Após a coleta dos dados
Depois de todos os dados coletados na segunda etapa da pesquisa, as
informações foram organizadas, e proporcionaram uma profunda análise. Para
Yin (1993) cada método favorece uma coleta de dados e a técnica de análise
também reflete a orientação do método inicial e as suposições sobre cada uma
das regras da consulta científica tradicional.
Nessa fase, os dados foram coletados somente pelo pesquisador e
transcritos por ele. A técnica utilizada para transcrever as entrevistas foi a
transcriação, utilizada por Afonso (2003) e Lettnin (2005). A técnica de se
reformular a transcrição literal para tornar a leitura compreensível. Na trascriação
há inúmeras fases repetidas, vícios de linguagem e expressões equivocadas. Há
na transcriação estrangeirismos, gírias e palavras chulas - termos bastante
distintos quando falados ou escritos. Tendo-se, portanto o código oral e escrito
com valores diferentes. Esses desvios são corrigidos pela transcriação. (Gattaz,
1998)
Para assegurar a validez das declarações obtidas e transcriadas, houve
retorno do pesquisador aos entrevistados para que confirmassem o teor das
declarações.
42
3.4.4 Análise dos dados
No primeiro momento foi realizada análise de conteúdo para detectar as
intenções existentes com relação ao auto-conceito sobre a conduta e estilo de
ensino/treino dos treinadores, além de detectar a formação e caracterização dos
sujeitos de acordo com o questionário de dados pessoais dos treinadores (anexo
IV), questionário de conduta do treinador (anexo V) e questionário de estilo de
ensino/treino (anexo VI). Identificou-se as condutas, os estilos de ensino nas suas
referidas dimensões.
No segundo momento, o instrumento do anexo VII, as observações
sistemáticas dos treinos e a filmagem foram categorizadas e analisadas de forma
qualitativa, também a partir do método de análise de conteúdo, de acordo com
procedimentos definidos por Ramiréz e Latorre (2002). Nesse tipo de
procedimento, o pesquisador decompõe o fenômeno investigado em partes, de
forma que suas partes essenciais se organizem e se relacionem criando mapas
conceituais de temas e sub-temas.
A análise de conteúdo realizada nos questionários, bem como a
triangulação dos dados obtidos na observação sistemática e a filmagem dos
treinos permitiu uma avaliação eficiente na investigação sobre a conduta e os
estilos de ensino dos treinadores, apontando suas concepções, auto-conceito,
ações, reações e estilos, bem como, seu próprio comportamento, que,
possivelmente servirá de modelo no desenvolvimento dos atletas enquanto
pessoas.
Segundo Ramirez e Latorre (2002), para análise da documentação escrita
ou verbal (necessidade de conceituar o discurso registrado e estabelecer assim o
sistema de categorias definitivo), podem haver duas possibilidades:
1. Que tenha sido realizado por algum(ns) investigador(es) em estudos
anteriores uma categorização prévia do objeto de estudo e de objetos de
estudo similares e estas categorias se ajustem aos fins de investigação;
Neste caso se pautara pela maneira DEDUTIVA, podendo adaptar
sistemas de outros autores ou apenas classificar da forma como categorizaram.
2. Que se deva elaborar um sistema próprio de categorias por não
existir categorias definidas previamente em investigações anteriores o por não
adequar-se ao nosso objetivo de investigação.
43
Neste segundo caso, deve-se elaborar um sistema de categorias de
maneira INDUTIVA, extraindo dos próprios dados as categorias e depurando o
sistema pouco a pouco, questão que exige regra e critério neste processo.
Após a transcriação, o material foi analisado, sendo que as categorias
foram surgindo nesse processo, após a análise total do material agrupou-se
algumas categorias e eliminou-se outras menos importantes. As categorias
definidas primariamente obedeciam a grelha de observação, mas após a análise
do material coletado existiram alguns itens não enquadrados, assim revelou-se
necessária a criação da categoria de linguagem não verbal. Após repassou-se
todo o processo de análise para reclassificar algumas variáveis. Este processo
apesar de trabalhoso definiu as diferenças e similitudes dos treinadores
evidenciando as condutas e o estilo de ensino/treino destes.
44
CAPÍTULO IV
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nesta parte do trabalho são apresentados os resultados obtidos, como
analisadas as respostas dos treinadores frente as questões que lhe foram
apresentadas; a análise proveniente das observações, gravações de voz e
filmagens. O texto dividiu-se nas seguintes partes: formação acadêmica,
experiência profissional e concepção de ensino; a conduta reativa dos
treinadores; aspectos sobre a dimensão da produtividade; aspectos sobre a
dimensão humanista, a linguagem não verbal: revelando condutas e atitudes
emergentes.
4.1 Formação acadêmica, experiência profissional e concepção de ensino
A formação acadêmica em Educação Física e no Esporte
O esporte foi considerado um dos fenômenos socioculturais mais
importantes do final do século XX (Tubino, 1994) e a cada dia evolui tanto
tecnologicamente quanto tecnicamente. A evolução técnica do esporte levou os
treinadores de modalidades esportivas, especialmente os esportes de quadra, a
buscarem conhecimento em cursos de graduação, cursos de extensão, estágios e
observação de equipes. A evolução tecnológica serve hoje como um suporte,
auxiliando no processo de análise e observação do treinador, seja por filmagens,
scout (anotações estatísticas), apresentação de vídeos ou outro meio utilizado.
Segundo Afonso (2001), existe a preocupação dos órgãos responsáveis
pelo esporte, em nível mundial, em oferecer programas de formação de
treinadores. Esse autor salienta ainda que cada área subsidie as necessidades do
treinador. Os conteúdos dessas áreas são conjuntamente desenvolvidos por
45
professores e por treinadores esportivos experts, que oferecem uma gama de
conhecimentos necessários para a formação e o aperfeiçoamento dos
treinadores. Os treinadores, por sua vez, não necessitam de conhecer fatos
científicos complexos, mas precisam entender as suas implicações nos seus
atletas e no esporte em que estão atuando.
Nesse sentido, a entrevista adaptada de Afonso (2001) encaminha uma
melhor contextualização acerca da formação dos treinadores participantes desse
estudo. Para o mesmo autor, a formação do treinador é um processo contínuo de
ensino e aprendizagem, e, devido a isto, é importante que uma vez mais os
treinadores tenham acesso às bases teóricas do ensino, provenientes das áreas
da didática e da pedagogia, fundamentalmente os treinadores de crianças e
jovens.
Dessa forma, a primeira categoria de análise foi a respeito da formação
revelou que Érico, Carlos e Mário são formados, estes concluíram o curso na
FURB (Universidade da Região de Blumenau), cabe salientar que esta
Universidade fica na mesma cidade onde exercem o cargo de treinador. O
treinador Érico é o treinador que está a mais tempo formado, a 26 anos, Mário
tem 15 anos de formado e Carlos foi o que se formou mais recentemente a 8
anos. Já o treinador Fernando, é provisionado do CREF, podendo exercer a
função de treinador por já trabalhar com o treino antes da legislação atual entrar
em vigor.
No quadro III, pode-se visualizar a síntese dos dados pessoais dos
treinadores relacionados a formação.
Quadro III
Classificação dos treinadores quanto à experiência e tempo de formação
Treinador Idade Experiência Atleta
federado
Experiência
treinador
Formação
Tempo
Érico 48 2 25 26
Carlos 32 10 15 8
Fernando 46 3 15 Não
Mário 39 14 15 15
46
A respeito da formação dos treinadores, os três treinadores graduados em
Educação Física tiveram experiências diferentes durante o curso, em parte pela
mudança de paradigmas da área, em outra pela própria maneira pessoal de
encarar a formação.
Existe a necessidade de relacionar não apenas quando cursou, mas sim
cruzar os dados com a experiência profissional, usando esta estratégia detecta-se
que o treinador Carlos, que se formou há menos tempo, demonstra um
amadurecimento que o coloca ao lado dos demais treinadores, podendo ser
considerados muito experiente e de sólida formação. O treinador Fernando,
apesar de não ter formação acadêmica, tem uma larga experiência prática, por
não ter formação, revela-se um pouco inseguro em algumas questões, onde sua
personalidade calma e tranqüila dificulta o controle do treino e o entendimento de
algumas atividades demandando mais tempo de instrução que os demais.
Quando questionados sobre se haveria necessidade de se graduar em
Educação Física para exercer a função de treinador, os treinadores com
formação, a consideram fundamental, inclusive o treinador provisionado considera
que acrescentaria muito. Mas, mesmo considerando a formação importante,
todos reforçaram a necessidade da prática, seja em acompanhamento de
treinadores experientes. Já Érico e Mário destacaram que exclusivamente a
graduação ajudou pouco.
Para Carlos a formação superior torna-se necessária para auxiliar o
conhecimento prático revelado em sua resposta:
Aparentemente ela parece ser simples, mas ela não é simples, se eu falo que 80% do meu
conhecimento vem da prática eu não posso desconsiderar que na prática há muito
conhecimento, há muitas informações, mas para que estas informações se tornem
conhecimento produtivo e real, com certeza a formação acadêmica é fundamental, porque
só assim você vai testar estas hipóteses, apesar de parecer um pouco contraditório, mas
acredito que seja fundamental.
A graduação foi apontada como algo que pouco colaborou na formação do
treinador (cursos de formação específicos), apesar de todos os treinadores
considerarem fundamental ter graduação na área havendo assim certo contra-
senso ou paradoxo.
47
Na categoria sobre os motivos que os levaram a carreira de profissional de
Educação Física, todos os treinadores atribuíram como principal motivo a “terem
sido atletas”, sendo esta proximidade, e envolvimento precoce com o meio, o
caminho certo para a carreira de treinador. Fernando declarou que sua carreira
iniciou-se por “hobbie” e após seu posterior aprofundamento levou-o a
profissionalização, fazendo com que hoje sobreviva deste “hobbie”.
Relacionado à categoria de quais as áreas de estudo que mais se dedicou
ou se especializou, Érico respondeu que dedicou-se mais a dos esportes, Carlos
com tudo que se relaciona ao treino em geral, Mário com o treino específico da
modalidade em que exerce a função de treinador e também com o treino de
maneira geral. Fernando fez cursos tanto do esporte que treina quanto de áreas
mais gerais como psicologia.
As respostas dos treinadores foram diferentes, sendo assim, a formação do
treinador não ocorre de uma maneira única, as opções de cada treinador
mostraram a busca tanto pelo específico da modalidade quanto pelo
conhecimento mais generalizado sobre treinamento.
No quadro IV foram descritos os pontos fortes e fracos do curso de
graduação cursado pelos treinadores.
Quadro IV
Pontos fortes e fracos do curso de graduação dos treinadores
Treinador Pontos Fortes Pontos Fracos
Érico
Parte teórica com ênfase
nas disciplinas da área
biológica.
Modalidades práticas
Carlos
Área pedagógica e
didática de ensino;
valorização do ser
humano.
Pouca profundidade dos
conhecimentos; a
pesquisa e extensão.
Mário
Área de formação em
Educação Física Escolar.
A parte de Fisiologia e
Cinesiologia voltada para o
Condicionamento Físico de
uma maneira geral.
48
Os treinadores não denotaram uma preocupação com a participação
periódica em cursos (formação continuada) durante a carreira. Todos os
treinadores revelaram a participação em cursos ou atividades de
aperfeiçoamento.
Os treinadores graduados estudaram na mesma Universidade, e por este
motivo, esperava-se que tivessem pensamentos semelhantes quanto aos pontos
fortes e fracos do curso de graduação, algo que não ocorreu. Acredita-se que
tenha colaborado para a diferença nas opiniões: a época diferente em que o curso
de graduação foi realizado, a realidade pessoal vivida pelos treinadores durante a
graduação e terem tido professores diferentes.
Na categoria sobre os trabalhos mais relevantes produzidos pelos
treinadores-caso apenas Carlos citou trabalhos de pesquisa e em relação aos
projetos esportivos. Érico e Carlos citaram as suas participações em
Campeonatos Nacionais, Estaduais, Joguinhos e Jogos Abertos, já Fernando e
Mário atribuíram a sua experiência com os atletas formados que chegaram a
Seleção Nacional além dos projetos que envolveram as categorias de formação
de suas respectivas modalidades. Dos participantes, Érico, Carlos e Mário detêm
um currículo como treinadores que pode ser considerado de alto nível, já tendo
disputado Campeonatos Nacionais. Desses treinadores, um disputou o
campeonato nacional do ano de 2005, e os outros dois estavam com a vaga
garantida para a temporada 2005-2006 da Etapa Nacional.
Torna-se importante destacar que a classificação obtida nos Jogos Abertos
de 2005, consolida a escolha da cidade de Blumenau como local de coleta de
dados. Sendo que, na classificação por cidades, Blumenau sagrou-se campeã, e
nos esportes de quadra da categoria masculina, foram obtidos das quatro equipes
uma primeira colocação e duas segundas colocações, sendo que apenas uma
das quatro equipes não se classificou entre os quatro primeiros da fase final da
competição.
Na categoria sobre o motivo que levou os indivíduos a serem treinadores,
Érico declarou que a experiência com categorias inferiores a nível escolar antes
de formado e o envolvimento com a arbitragem desportiva que motivaram a
desenvolver-se na área. O envolvimento e a proximidade com a área de forma
mais geral, foram os motivos de Carlos e Mário, e por fim Fernando descreveu
que seu envolvimento com a formação acabou sendo o principal motivo além do
49
prazer em exercer a função. O motivo que claramente levou os treinadores a
escolha dessa carreira foi à vida pregressa de atleta. A proximidade com a área, o
gosto pela modalidade, às oportunidades de auxiliar e observar treinadores
experientes também são motivos que encaminham a escolha da carreira. Pode-se
visualizar essas evidências no quadro V.
Quadro V
Área preferencial de atuação e motivo da escolha da profissão
Treinador Área que mais
gosta de atuar
Motivo
Érico
Formação Ver o desenvolvimento e os objetivos alcançados
Carlos
Treinamento Ter sido atleta e contato com os professores
Mestres
Fernando
Formação Gostar e preparar os atletas para o ambiente do
esporte
Mário
Treinamento Se considera mais apto
A categoria relacionada à experiência de atletas, todos os treinadores
foram atletas e de acordo com o quadro VI, Érico e Fernando tiveram prática
federativa por poucos anos sendo atribuída esta resposta também a pouca
quantidade de competições das federações na época em que praticavam. Agora,
Carlos e Mário participaram como atletas por mais tempo.
O envolvimento com a área, seja como atleta, árbitro ou auxiliar colaborou
em grande parte na escolha tanto área quanto da modalidade.
Na categoria sobre a participação de competições em outras Categorias
Érico foi o único que não participou de competições em outras categorias, em
contrapartida Carlos participou em todas as categorias em que jogou. Fernando
participou além da categoria adulta em competições da categoria Juvenil. Já
Mário passou por competições em diversos estados.
A experiência profissional é para o treinador indispensável para que este vá
construindo um conhecimento prático aplicativo. De acordo com Afonso (2001) é
imprescindível que o treinador possua os conhecimentos da teoria e da
metodologia do treino para que possa, organizar, conduzir e controlar toda a
preparação desportiva da sua equipe e alcançar o sucesso. E deve, também,
apropriar-se de conhecimentos provenientes de outras áreas que têm dado o seu
50
contributo para o treino desportivo, entre as quais se destaca a pedagogia do
esporte, que tem contribuído bastante para o esclarecimento das situações de
aprendizagem.
O quadro VI descreve a idade com que iniciaram a prática enquanto
atletas, quantos anos praticou como atleta federado, as categorias e o nível mais
elevado que participou.
Quadro VI
Respostas sobre a experiência enquanto atleta federado
Treinador Idade de
iniciação
atlética
Anos
como
Atleta
Federado
Categorias em
que participou
Nível mais elevado
de competição
Érico
10 2 Mirim, Infantil e
juvenil
Estadual juvenil de
futsal
Carlos
12 10 Pré-mirim, mirim,
Infantil, Juvenil e
Adulto
Campeonato Nacional
Fernando
15 3 Juvenil e Adulto. Jogos Abertos
Mário
13 14 Infantil, Juvenil e
Adulto
Campeonato de
clubes no exterior
Mesquita (1997) define que o produto final do treino esportivo é o resultado
da combinação de vários fatores, sendo que a sua explicação e entendimento se
fundamentam não apenas no domínio do conhecimento do conteúdo de treino,
mas também na perícia e na intuição do treinador. Assim reforçando a
importância da experiência prática na formação do treinador.
Ainda Mesquita (2000), se refere às capacidades que o treinador deve
manifestar em sua atividade, que sintetizada em domínios, onde um deles, o
conceitual diz respeito ao domínio e conhecimento das questões das ciências do
esporte e da modalidade em que trabalha. Haja vista a necessidade desse
domínio para desempenhar com qualidade o papel de treinador. Outro domínio
citado é capacidade técnica que diz respeito à organização e condução do
51
processo de treino, reforça a importância em estudar a conduta e estilo de
ensino/treino de treinadores.
Nesse sentido, Campbell citado por Afonso (2001), caracteriza o
conhecimento para a formação do treinador desportivo em torno de três áreas
principais:
1. Conhecimento específico do desporto: técnicas, táticas e estratégias do
desporto;
2. Conhecimento relacionado com a essência da performance: ciências do
esporte, ética/filosofia, pedagogia e habilidades de gestão/vocação;
3. Experiência prática: considerável ênfase atribuída ao aperfeiçoamento da
experiência prática.
No caso dos treinadores analisados pode-se afirmar que todos têm em seu
conhecimento características dessas três áreas.
Quando questionados sobre a categoria - formação federativa - apenas
Carlos apresentou formação federativa, os demais declararam que a
Confederação que representa a modalidade do qual são treinadores não possui
nenhum tipo de classificação federativa.
Na categoria relacionada ao significado do papel de ser treinador Érico,
Carlos e Fernando atribuíram o significado a formação de indivíduos, cidadãos,
pessoas de caráter, demonstrando a preocupação com o ser - humano atleta e os
aspectos que envolvem a sua humanização. Já Mário, relatou o significado
pessoal, disse que ser treinador é tudo em sua vida, faz parte da identidade, as
pessoas o identificam como o “fulano do esporte”.
A preocupação com a formação de indivíduos foi considerada o verdadeiro
papel do treinador, e exercer esse papel é grande significado pessoal para os
treinadores.
A preocupação com a formação integral do atleta esteve presente na fala
de Fernando transcrita abaixo:
Eu diria que principalmente nas categorias de base a formação do caráter do atleta, e com o
caminho que este atleta pode levar. Você cria horizontes, sonhos, despertam interesses (...)
o treinador ali é um pai, é um psicólogo, é um companheiro, ele é tudo menos o cara que
vai cobrar, que só vai passar a instrução tática. Já na categoria adulta, você tem a
responsabilidade de administrar um orçamento, de mostrar cobranças, traçar objetivos, fazer
52
com que o grupo se assemelhe contigo (...) E sempre o objetivo traçado é maior que o
orçamento planejado, e esse desafio de você conquistar mais que é possível com aquilo eu
acho interessante pra um treinador, então ele tem sempre um trabalho diferente técnico,
tático pra que aquela equipe se supere, um tipo de trabalho físico que estimule os atletas a
se desenvolver mais fisicamente, psicologicamente estar sempre motivado a conquistar
mais, é que é o interessante nas categorias profissionais.
A respeito da categoria dos pontos fracos e fortes do conhecimento
específico de cada modalidade, todos têm suas habilidades específicas como
descritas no quadro abaixo. Os treinadores apresentaram pontos fortes e fracos
distintos, revelando habilidades específicas de cada um.
Quadro VII
Pontos fortes e fracos do conhecimento sobre o esporte
Treinador Pontos Fortes Pontos Fracos
Érico
Defesa Finalização
Carlos
Tático Especificidades de uma
posição
Fernando
Psicológico Tática
Mário
Formação Defensiva
A experiência prática foi atribuída como a fonte maior de conhecimento em
detrimento a formação acadêmica que foi citada como de pouca participação na
formação. (Quadro VIII)
Para obter uma formação específica os treinadores: participam de cursos,
técnicos, assistem a outros treinadores e aprendem com o trabalho em outras
categorias ou áreas.
Todos os treinadores tiveram experiência como atletas diferindo apenas na
duração e idade de início. Cabe explicitar que nenhum treinador iniciou
precocemente a vida de atleta e que as competições estavam presentes nas
diversas categorias pelo qual passaram.
Na categoria relacionada à formação específica do esporte em que
trabalham cada treinador concentrou seus estudos de uma maneira diferente.
Érico assistiu cursos técnicos de seu esporte com treinadores de alto nível e
53
desenvolveu a parte Pedagógica ao trabalhar com a Educação Física Escolar.
Carlos concentrou seus estudos em áreas mais consolidadas como psicologia,
treino e aprendizagem. Fernando optou por enfocar no trabalho de formação e
preparação psicológica. E Mário, que fez especialização em Treinamento, assistiu
curso e clínicas, acompanhou treinos no Brasil e exterior.
Quando argüidos sobre a categoria das fontes de conhecimento, os
treinadores foram unânimes em afirmar que a experiência prática é uma das
fontes de seu conhecimento. Érico e Fernando consideram que os cursos
técnicos são a segunda fonte de seu conhecimento. E Carlos, considerou ainda o
conhecimento teórico (graduação) com pouca participação em sua formação.
Para Mário não existe como atribuir um peso a cada fonte, e seu
conhecimento passa pela observação de treinos, cursos e outras fontes. Mas
considera como principais as seguintes:
Observação e acompanhamento de outros treinadores, treinadores que passaram por mim
como atleta também foram importantes, as clínicas que eu fiz, hoje em dia especificamente
tenho tentado me espelhar no trabalho das pessoas que trabalham na comissão da seleção
brasileira, por que eu tenho tido oportunidade de trabalhar com elas, então eu tenho tido o
Fulano (Treinador da seleção principal) como um espelho, Beltrano e Ciclano (auxiliares da
seleção principal) que eu considero um treinador excelente. Então por observação... lógico
que não copiando, mas procurando adaptar a nossa realidade ao que a gente pode fazer
dentro do que a gente tem material- a minha parte de formação acadêmica da universidade
teve muito pouca influência no meu trabalho como treinador , se eu for botar um peso pra
este vou colocar zero ou um pois o curso era muito voltado para a formação do professor de
Educação Física e não do treinador.
Quadro VIII
Fonte de conhecimento e o peso relativo de cada fonte
Treinador Fonte de conhecimento Peso
Érico
Experiência prática e cursos técnicos Maior na experiência.
Carlos
Experiência prática e conhecimento
teórico
Experiência- 80%
Conhecimento – 20%
Fernando
Experiência prática e cursos técnicos Experiência- 70%
Cursos- 30%
Mário
Experiência prática e acompanhamento
de outros treinadores
Não atribuiu
54
Na categoria da produção científica apenas um treinador, Carlos, já
produziu algum ensaio científico. Mário, que não produziu nenhum artigo, explicou
que se deve ter cuidado na interpretação e reprodutibilidade de estudos
estrangeiros, graças à realidade do esporte praticado no Brasil e suas diferenças
significativas se comparado a países de primeiro mundo.
Ainda sobre os trabalhos mais relevantes detectou-se que há importância
dada aos títulos conseguidos, as competições de nível maior que participaram e
aos atletas que chegaram ao nível de seleção nacional.
Já a categoria dos conhecimentos que deverá possuir um treinador para
ser um especialista na modalidade específica, Érico acredita que o estudo seria o
conhecimento principal, mas também faz uma ressalva ponderando que a
realidade prática sobre a dificuldade de sobreviver apenas com o treinamento
específico de uma modalidade. Para Carlos, o treinador deve conhecer a
modalidade e também outros esportes coletivos, e considera importante o
desenvolvimento humano, a área social e psicológica de forma abrangente.
Segundo Fernando, ser um líder, saber agregar valores na equipe, ser um
disciplinador, exemplo de caráter, saber se comunicar, e ter um conhecimento
técnico e tático profundo do esporte. Já Mário, considera que para ser treinador é
necessário possuir um dom, observar, criar a sua própria filosofia e ter os
conhecimentos específicos da modalidade. Assim, um treinador especialista foi
considerado por contrastes. Por exemplo, ter conhecimento específico do esporte
em geral do desenvolvimento humano.
A questão sobre a categoria dos objetivos de ensino nas diferentes
categorias mostrou que esses foram colocados de forma diferente pelos
treinadores. Érico trabalha inicialmente com a técnica individual, depois introduz
alguns aspectos táticos que são enfatizados na fase posterior, e nas fases mais
avançadas é que relaciona os objetivos com as competições que disputa. Carlos
aposta na avaliação diagnóstica inicialmente e após saber o nível de seus atletas
é que estabelece objetivos que são dependentes da vontade do jogador. A
vontade e o gosto pelo jogar também são objetivos prioritários para Fernando,
deixando a competição em segundo plano. Mário estabelece objetivos de cada
semana e de cada treino, iniciando desde o aquecimento o envolvimento com o
plano diário.
55
Saber as competições alvo, diagnosticar as especificidades do grupo,
envolver o objetivo desde o primeiro momento do treinamento foram colocados
como objetivos de ensino.
Relacionado à categoria do ensino na fase de formação, todos os
treinadores-caso participam concomitantemente do treino de equipes adultas de
atividades com equipes de formação, escolar ou de clube, e para tanto cada um
revelou uma estratégia diferente quando questionado sobre o fundamento do qual
deveriam trabalhar primeiro nessa fase. O treinador Érico colocou que a ênfase
deve ser dada na correção do movimento, pois é na fase inicial que se
desenvolve a técnica. Desenvolver a criatividade na criança e variar o tipo de
experiências com a bola foi às considerações feitas por Fernando. Mário acredita
que não exista um fundamento segregado de outro, ele normalmente aposta em
um trabalho com mais de um fundamento e também certa preocupação com os
aspectos físicos necessários para a devida evolução na modalidade.
Já Carlos descreveu que os fundamentos devem ser revelados aos poucos
durante a fase de formação, como relata a seguir:
Já iniciei trabalhando o fundamento A, já iniciei trabalhando o fundamento B, já iniciei
trabalhando o fundamento C, já iniciei trabalhando o fundamento D, e acredito que não há
uma grande fórmula. Acredito que se deva dar uma visão geral do que é JEOC, e que a
criança perceba o que é JEOC e que ela tenha prazer em jogar JEOC, e hoje de forma geral
que a criança aprenda a jogar JEOC no início dentro da quadra de JEOC jogando pra
depois se houver necessidade você separar por fundamentos e desenvolver uma técnica
mais apurada.
Para o ensino na fase de formação não ficou explícita uma fórmula do que
se deva trabalhar primeiro (fundamentos, técnica, tática, entre outros), e assim,
cada treinador encara a prática na iniciação de maneira distinta.
Os treinadores presentes nesse estudo revelaram um envolvimento e um
interesse pela área de formação, mas torna-se importante salientar que mesmo
trabalhando com categorias menores podem considerar suas equipes como de
ponta, disputando títulos estaduais e nacionais. A habilidade experiência dos
treinadores vem de certa forma sendo recompensada, levando a participação de
comissões técnicas do Estado ou da Seleção Nacional.
56
Para Érico o destaque na elaboração do planejamento é a inter-relação
com a parte física, como relata a seguir:
Eu trabalho, dependendo da parte física, eu planejo a semana e depois o mês, dependendo
do que foi preparado na parte física da semana, por exemplo se foi trabalhado velocidade
antes do treinamento com bola, eu procuro dar mais ênfase as finalizações, a um trabalho
mais moderado quanto a parte de deslocamento, se é dado um treinamento de musculação
eu faço o trabalho de contra-ataque, depende muito do que foi planejado na parte física,
então o trabalho com bola, há a conciliação do trabalho físico com o trabalho com bola.
Na categoria sobre os fatores considerados na elaboração do
Planejamento do treino da categoria, Mário e Fernando concordam com o aspecto
tempo de trabalho, uma preparação antecipada foi o destaque de Fernando em
suas considerações. Carlos considera os problemas individuais do grupo,
pensamento do que Mário também partilha.
Relacionado à categoria sobre concretização do planejamento, Mário
destaca que tem ocorrido o alcance dos objetivos pré-estabelecidos, algo que tem
ocorrido na maioria das vezes. Carlos estabelece a solução de problemas
individuais que tem como grande prova o jogo. Érico estabelece critérios de
eficiência para determinar o quanto do planejado se concretizou, até porque
considera que o que foi errado no treino foi da mesma maneira durante o jogo.
Fernando estabelece objetivos relacionados a resultados, assim conseguindo o
resultado planejado, o plano se concretiza.
Para planejar considerou-se a preocupação com o tempo disponível,
limitações de grupo e vínculo com os objetivos da preparação física.
Para determinar a concretização do planejamento até a competição parece
ser o grande instrumento de avaliação utilizado pelos treinadores.
Sobre a categoria como são projetadas as atividades a serem trabalhadas,
três treinadores: Érico, Fernando e Mário consideram a relação com o que terão
para fazer durante a semana, principalmente se existirem partidas a serem
disputadas, aí as atividades culminam na aplicação em quadra. E Carlos trabalha
enfatizando as especificidades das posições por blocos onde o nível de eficácia é
dependente da resposta dos jogadores.
57
Para projetar atividades deve-se levar em consideração o calendário
competitivo e a resposta dos atletas ao treino, já que não adianta estabelecer
objetivos sem a devida progressão dos atletas durante o treino.
Quando questionados sobre a categoria de que explicitam no plano da
semana e do dia, novamente o destaque de Érico, Fernando e Mário foram para a
relação entre planejamento e competição disputada no momento e se haverá
partida naquela semana. Érico ainda estabelece no plano da semana em que em
alguma partida há uma preparação da equipe especificamente para o confronto,
modificando sua forma de jogar.
No plano do dia e da semana fica aparente a fase do treino em si, sendo
modificada gradativamente com o desenrolar da temporada.
A categoria sobre como é feito o controle do trabalho, Érico aponta que
através de uma planilha de anotações com o número de ações são classificadas
em certas ou erradas, sendo auxiliado pelos próprios atletas para esse controle.
Carlos usa estratégias variadas que vão desde o controle qualitativo até o
controle mais quantitativo, sendo que utiliza mais métodos perceptivo, qualitativo
e de análise. Fernando realiza anotações ao final do treino para ter uma
continuidade no próximo treino.
O treinador Mário utiliza formas diferentes de controlar o treino, como o
relatado abaixo:
É mais um feeling pessoal de analisar se aquilo saiu a contento, ou também o feedback dos
atletas você conversar ver o que ta achando do trabalho, o que acharam da defesa, eu este
ano to trabalhando sozinho mas eu sempre procuro trabalhar com mais pessoas junto por que
isto é importante, você terminar um treinamento e sentar e preparar o treinamento do dia
seguinte em conjunto, sempre são várias opiniões que vão formar a opinião correta.
O Controle do trabalho realizado é feito de formas diferentes pelos
treinadores e alternam entre o controle numérico e o controle subjetivo do
“feeling” pessoal. Este “feeling”é adquirido com a prática como orientam Santos e
Shigunov (2001).
A categoria relativa à forma de como cada treinador ensina a sua
modalidade e as adaptações necessárias para o aprendizado dos fundamentos
foram destacadas distintamente por cada treinador. A ênfase de Carlos é na
58
progressão dos exercícios da forma mais simples até a forma mais complexa.
Érico ensina na prática, não utiliza visualização ou feedback por vídeo. Mário
apresenta a progressão, assim como Carlos, destacando aspectos motores no
início da aprendizagem. Enquanto isso Fernando usa a progressão em forma de
situações de jogo e com visualização na prancheta para facilitar aprendizagem.
Para Fernando não apenas qualidades e virtudes deve ter o treinador, mas
também o aspecto de cobrança dos atletas como descrito a seguir:
(...) nós trabalhamos como técnicos com atletas que trabalham o dia inteiro, você tem que
ter bastante paciência e ser persistente, cobrar dos atletas porque eles realmente gostam de
ser cobrados, eles gostam de que realmente você cobre deles o que tem que fazer,
principalmente freqüência em treinamento, a responsabilidade com os companheiros, eles
tem que respeitar porque se ele vem treinar o colega precisa dele pra treina(...). Tem que
ser o que eu não sou, compreensivo. Com conhecimento de causa.
Quadro IX
Qualidades e virtudes do treinador
Treinador Qualidades e virtudes do treinador
Érico
Persistência, paciência, compreensivo e
conhecimento.
Carlos
Competência técnica, conhecimento, experiência,
integridade, conhecer as relações humanas.
Fernando
Político, personalidade forte, equilíbrio, vigilante.
Mário
Perseverante, organizado, metódico, estudioso,
observador, gostar do que faz.
Becker Jr.(2000) observa que o conhecimento, a comunicação verbal e não
verbal, a escuta ativa, aptidão comunicativa do atleta, disciplina e seu estilo de
liderança como qualidades do treinador.
Os aspectos sobre a formação que foram abordados nesse estudo
estiveram em concordância com parte dos aspectos descritos no quadro X.
Assim, o ambiente pedagógico e psicológico estão de acordo em quase
todos os itens, apenas o comportamento em competição não fez parte de nosso
estudo.
59
As qualidades do treinador vão desde o conhecimento técnico até variáveis
de ética e aspectos psicológicos, mostrando assim, o perfil multifacetado do
treinador.
Quadro X
Âmbitos de formação e componentes (Fuentes-Guerra et al 2001) (adaptado)
ÂMBITOS DE FORMAÇÃO COMPONENTES
AMBIENTE
PEDAGÓGICO
- Programação;
- Montagem das sessões e atividades;
- Organização dos conteúdos;
- Metodologia;
- Avaliação e controle.
AMBIENTE
PSICOLÓGICO
- A motivação dos jogadores;
- Controle e direção de grupos;
- Capacidade de comunicação;
- Trabalho em equipe;
- Habilidade Interpessoal;
- O Psico-evolução de conhecimento dos jogadores;
- Ambiente positivo de trabalho;
- O comportamento do treinador durante os treinamentos;
- O comportamento do treinador durante a competição.
Sobre a concepção de ensino nas diferentes categorias que trabalha
Fernando faz um relato sobre as diferenças entre a fase de formação e a fase
adulta.
Eu acho que em treinamento de categoria de base até os 12 anos eu tenho que juntamente
com o trabalho técnico, despertar no garoto o interesse pelo esporte desenvolvendo o gosto
por aquele esporte que ele quer praticar, e até então a competição fica em segundo plano, e
a partir dos 12 anos já começa a trabalhar mais específico o treino tático, de individualizar
posições, situações de jogos (...) no adulto em cima da cobrança do resultado, são
profissionais pagos e eles tem que ter essa postura(...) aqui o treinador tem que ter essa
concepção que a atitude fora da quadra vai refletir ai dentro, se ele não teve um dia de
descanso se ele foi pra festa, se ele está com problemas em casa, mesmo ele recebendo
um salário e cobrando sobre isso por mais que ele vá se esforçar, ele vai fazer besteira, vai
se irritar e vai ser expulso, não tem um ambiente adequado pra aquela cobrança daquele
resultado.
A concepção de ensino para a fase de formação foi a última categoria da
segunda entrevista, onde Érico aponta que se deve aprender com os atletas, e
que aprendeu muito sobre relacionamento treinador-atleta sendo aberto a
opiniões. Carlos explica que não adota uma metodologia única por respeitar a
60
individualidade de seus atletas, esta estratégia ainda se mostra eficaz no sentido
de aplicar um determinado tipo de metodologia para um determinado problema,
entendendo sempre que por trás do atleta está o ser humano com suas
limitações. Para Mário, deve-se ter amor pela modalidade acima de tudo, ter
ainda pensamento amador em uma estrutura profissional, a emoção não deve ser
abandonada, devendo emocionar-se a cada partida, a cada lance ou a novos
empreendimentos.
Segundo Filin e Volkov (1998) é importante o treinador esportivo ter uma
boa formação para garantir organização e conteúdo no processo de treino, e
ainda estimular no atleta o desenvolvimento motor e intelectual. Ainda o mesmo
autor considera também suas capacidades intelectuais e volitivas, através de
desafios constantes.
Os treinadores apresentam diferentes concepções de ensino, e isto se
deve possivelmente pela maneira como encaram as tarefas do ambiente de
treino, a moda; idade específica, entra algumas evidenciadas no Quadro IX.
Assim, a formação do treinador envolve suas condutas e estilo de
ensino/treino no desenvolvimento do atleta em suas diversas capacidades
inclusive a intelectual e volitiva, ensinado valores em toda a sua ação.
4.2 A conduta reativa dos treinadores
Anfilo (2003) descreve que o treinador deve utilizar principalmente
estímulos positivos (elogios, intervenções e correções do treinador) junto aos
atletas, evitando os negativos, que devem ser utilizados somente para provocar a
inibição de determinados tipos de comportamentos. É, através destes estímulos
positivos que o treinador pode desenvolver uma metodologia específica para suas
intervenções junto a seus atletas, pois os mesmos favorecem e reforçam a
motivação dos jogadores, dando como resultado uma identificação e uma
aceleração do aperfeiçoamento e da eficiência de cada jogador.
O quadro XI mostra as categorias de observação e as respectivas
condutas mais utilizadas pelos treinadores.
61
Quadro XI
Condutas do treinador em situação de treino
Treinador
Conduta
Érico
C
arlos Fernando Mário
Reforço X X X X
Frente ao rendimento
desejado
Ausência Reforço
Apoio
Orientação Técnica X X X X
Reprovação
Orientação Punitiva
Erros e Fracassos
Ausência de reação
Manutenção do controle X X X X
Condutas inadequadas
Ausência de Reação
Orientação técnica geral X X
Apoio X X
Conduta Espontânea
Associada a competição
(no ambiente de treino)
Organização
Conforme o quadro XI, as condutas mais utilizadas pelos treinadores
foram em sua grande maioria às mesmas entre os treinadores, sendo apenas a
conduta associada à competição revelou dois treinadores com um tipo de conduta
e os outros dois com outro.
Analisar as condutas e estilo de ensino/treino durante o treino e não na
competição revelou-se como um importante fato para analisar a relação do
treinador enquanto modelo para o atleta. Durante o treino as ações ficam mais
próximas entre o treinador e atleta, já que a qualquer momento o treino pode ser
paralisado e o treinador pode assim ter uma conversa mais próxima, seja para
instruir, orientar ou até punir, se este for o caso. A riqueza de detalhes durante
uma sessão de treino é imensa, já que ali estão todos despreocupados, sem a
presença de público, pais e jornalistas.
Nesse ambiente, quando um atleta realizava um rendimento desejado, a
execução correta revelava na maioria das vezes um reforço, seja com palavras de
incentivo ou elogio, ou com palmas ou outra manifestação corporal (linguagem
não verbal) positiva. A conduta ficou explicita não apenas com palavras, mas com
gestos e expressões.
62
A reação mais comum aos erros e fracassos demonstrou ser o feedback
de orientação técnica geral, seja com ou sem paralisar o exercício. Quando o
treino é paralisado pode ser aproveitado para todos os atletas, ainda ocorreu
algumas vezes o mesmo feedback de forma individual, onde comumente a
demonstração ocorria. Essa nuance entre orientação verbal e demonstração
revelou que primeiro o treinador tenta corrigir de forma verbal, e se este não surte
efeito realiza a demonstração. O feedback de forma verbal foi o mais usado em
um estudo de Leça Veiga et al (1999).
Um exemplo de como ocorre o feedback é como Fernando passa as
correções após erro a seus atletas.
(...)Ainda dá, vamos, entra, isso garoto, boa. Fulano, se fechar assim o espaço, ele não vai
ter por onde atacar. Vai, chega, recupera a bola vamos.(...)
A manutenção do controle foi a ação de todos os treinadores frente
condutas inadequadas. Os treinadores Mário e Fernando mantiveram o tom de
voz positivo e durante uma breve pausa no treino comentavam a conduta com o
jogador, já Érico e Carlos demandaram um tempo maior de conversa e com um
tom de voz mais elevado.
Durante as sessões de treino, os treinadores utilizavam jogos com parte da
estrutura formal de competição com as regras, pontos, e até com a arbitragem
como no caso do treinador Fernando. Esses jogos mostraram que as condutas
espontâneas dos treinadores analisados variaram, sendo que Carlos e Mário
realizam mais orientações técnicas de forma geral Fernando e Érico realizavam
mais o apoio geral incentivando os atletas em suas decisões. Um aspecto
importante a ser destacado é que em nenhum dos treinadores uma conduta
espontânea foi extremamente predominante, havendo utilização das diversas
formas de conduta.
As condutas de forma geral podem ser consideradas corretas, onde não
ocorrem com freqüência as punições ou a ausência de reação, mostrando assim
que os treinadores não utilizam condutas extremas, estabelecendo um clima de
treino positivo.
63
Assim, os resultados do presente estudo estão de acordo com os estudos
anteriores sobre a conduta do treinador. (Monteiro et al, 2004; Smith,Smoll e
Hunt, 1977; Smoll e Smith, 1984; Cruz e Gomes, 2001)
4.3 Aspectos sobre a dimensão da produtividade
Na dimensão da produtividade todos os treinadores apresentaram fortes
indícios relacionados a esta. A habilidade de organizador foi marcante nos
treinadores Érico, Carlos e Mário, todos utilizavam palavras-chave para explicar
os exercícios e eram sucintos na organização das atividades. Apenas Fernando
estendia-se mais nesse item, supondo-se em parte, por não ter formação
universitária e talvez por desconhecer estratégias de organização do treino.
Mário utilizava as palavras-chave de forma a simplificar o enunciado de um
exercício ou para pedir mais atenção em determinado fundamento.
Faz duas trincas lá, vamos deixar uma bola só, fica na fila de lá, Fulano e o Beltrano, aqui
no meio (...). Agora 7 minutos 3 contra 2 recuperando. Usa o passe e o que a gente fez até
agora. Segura pra correr. (...)
As palavras-chave são frases concisas, freqüentemente constituídas por
apenas uma ou duas palavras, com a finalidade de focar a atenção do atleta
sobre os pontos pertinentes da tarefa ou, ainda, sugerir elementos essenciais do
padrão de movimento da habilidade motoras citado por Afonso (2001).
Quanto à utilização do material, acredita-se que as condições oferecidas
para a realização do treino (local, material, tempo, espaço, interferência externa,
entre outras) tenham direcionado este item. Todos os treinadores foram de certa
forma muito eficientes, utilizaram o material disponível e o espaço destinado a seu
treino, independente de este ser adequado ou não. O treinador Érico tinha espaço
inadequado e pouco material, e para realizar seu treino utilizava todo o espaço
das laterais, além das linhas demarcatórias por não treinar em quadra oficial de
sua modalidade. Fernando também treinava em quadra não oficial, mas usava as
linhas como limite. Os outros dois treinadores, Carlos e Mário, tinham quadras de
treino de dimensões oficiais, mas com situações materiais opostas. Mário tinha
pouco material, mas oferecia uma grande variação de exercícios, tornando o
64
treino mais atrativo. Já a situação de Carlos era a melhor entre os treinadores,
apesar de precisar por vezes trocar de quadra ou ceder um espaço na área de
escape para outras atividades. Esse treinador contava com uma vasta quantidade
de material, e utilizava os mais diversos recursos disponíveis em seus treinos.
Treinos em quadra e com bola foram os que mais ocorreram com todos os
treinadores, e o material auxiliar mais utilizado foram os cones. A forma com que
os treinadores utilizaram o material pode revelar alguns indícios de sua
competência que de acordo com Shigunov, Pereira e Manzotti (1994) alguns
comportamentos relacionam-se com a competência didática, seja o uso do
material, organização, entre outros.
O estilo dos treinadores mostrou-se adequado à idade dos atletas, inclusive
com algumas adaptações por parte de Mário, que esperava os atletas mais
experientes realizarem algumas passagens pelo exercício para que os atletas
menos experientes pudessem visualizar e posteriormente participar do exercício.
O treino de Carlos adequava-se etariamente, mesmo em treinos de alta
complexidade os atletas mais novos pareciam já conhecer a estrutura do
exercício de outras categorias. Os treinadores, Fernando e Érico, não realizavam
adaptações em seus exercícios.
Todos os treinadores mostraram pela experiência, seja como atleta, seja
como treinadores, habilidade específica para o esporte. Três deles, Érico, Carlos
e Mário, com experiência em disputa de Campeonatos Nacionais, e inclusive, com
classificação assegurada nesses Campeonatos para a temporada 2005-2006.
Apenas Fernando estava treinando a equipe adulta pela primeira vez, e este viveu
uma situação contrária a dos demais, participa apenas do campeonato estadual e
sem chances de ficar nos três primeiros postos da modalidade.
Sobre o volume de voz, Érico, Carlos e Mário, apresentaram um alto
volume de voz em algumas situações do treino, normalmente o tom de voz era
adequado (positivo). Fernando apresentava um tom de voz mais baixo e calmo, e
algumas vezes o tom de voz se tornava adequado, talvez porque sua maior
experiência foi com a formação.
A explicação de um exercício não tomava muito tempo e tinha uma forma
simples de ser passada aos atletas como Érico demonstrou durante os treinos.
65
Ei, duas colunas, formem duas colunas uma na direita e uma na esquerda desloca lateral
até o meio ai sai desloca lateral sai e volta e passa lá no Fulano, depois volta e repete.
A verbalização clara e sucinta foi característica marcante de três
treinadores; Érico, Carlos e Mário. Fernando demorava mais tempo nas
explicações que os demais por utilizar uma menor quantidade de palavras-chave.
As demonstrações de todos os treinadores foram corretas e normalmente
eram utilizadas após um feedback verbal de orientação técnica não ter efeito.
Todos os treinadores utilizaram-se desse recurso após um erro, executando uma
pausa para que todos os atletas pudessem visualizar a demonstração para captar
através da observação. As demonstrações foram tanto de forma parcial quanto de
forma global (Xavier, 1986), não havendo uma só estratégia ou forma específica
em algum dos treinadores. O feedback de orientação técnica punitiva foi utilizado
por Carlos e Érico, de forma a servir de exemplo aos demais, sendo realizado
com tom de voz alto e linguagem não verbal explícita, mostrando a indignação
com o ocorrido.
Os exemplos verbais e a linguagem específica da modalidade foram
claramente usados por todos os treinadores, a economia de tempo nas
explicações de atividades, o feedback e as palavras-chave transformaram os
exemplos em algo de fácil visualização e interpretação. A única ressalva seria ao
treinador Fernando que utilizava exemplos ricos, mas muito repetidos, as
explanações foram na sua maioria extensas em demasia, diminuindo o
aproveitamento do tempo do treino. A utilização de prancheta para mostrar a
posição inicial e os deslocamentos foi o recurso utilizado na parte principal dos
treinos por Mário e em todos os treinos por Fernando, onde ele parava um
exercício em andamento e demonstrava na prancheta o deslocamento correto.
Troca o atleta da posição x, volta pra formação inicial, puxa, puxa. Paciência, levanta a
cabeça, pressiona (...). Tem que deslocar rápido, não deixa pensar, não deixa achar. Água.
(...)* Treinador pega a prancheta e mostra os jogadores e seus deslocamentos. (..) Quando
tiver quatro contra três vai até sair o gol. Esse exercício é pra você. Colete pra lá. (...)
O uso considerável de feedback foi um indicador presente em dois
treinadores, Carlos e Fernando, diferindo apenas na forma de como este era
dado. Mário também dava uma boa quantidade de feedback, sendo um pouco
66
mais específico. Já Érico utilizava pouco o feedback, mas quando utilizava fazia o
que se pode chamar de feedback “por atacado”, depois de repetidos erros do
mesmo ponto, este usava um feedback geral de orientação técnica ou
demonstração.
O entusiasmo no treino chamou a atenção em dois treinadores, Carlos e
Mário, que passam dessa forma aos atletas um clima motivacional apropriado
para o desenvolvimento do treino. Fernando se mostrou mais introspectivo,
apesar de realizar brincadeiras e preocupar-se com o clima no ambiente de treino.
Érico foi o mais calado dos treinadores analisados, sendo muito mais observador
e pensativo do que entusiasmado.
A motivação para cumprir as tarefas ocorreu por parte de três treinadores,
Carlos, Mário e Fernando. Érico parecia extremamente centrado nas suas ações,
mas a motivação para cumprir tarefas não era aparente.
Os atletas mantiveram na sua maioria a empolgação durante os treinos, e
em todas as modalidades estudadas.
Quanto aos atletas ficarem pouco tempo passivos, todos os treinadores
utilizaram um controle través do “feeling” para determinar o momento correto de
realizar intervalos e pausas, sejam para mudanças de exercício, para tomar água
ou para conversar sobre o treino. De forma geral, todos os treinadores fizeram
pausas no momento correto seja para descanso ou para dar instruções e
correções ao grupo. Apenas o tempo utilizado nessas pausas é que determinou
um treinador com ação diferente dos demais. Fernando ficava mais tempo nos
intervalos explicando aos jogadores as ações realizadas ou a realizar.
Os treinadores utilizaram palavras diferentes para determinar o tipo de
ação dos jogadores. Todos utilizaram palavras-chave para início, pausa e para
pedir atenção individual ou de todos. A atenção individual era requerida pelo
nome ou apelido e a coletiva através de uma palavra-chave. Além dessa
comunicação verbal, poderia em conjunto usar algum sinal de reunir ou de parar o
treino.
Entretanto, deve-se pensar nas questões relacionadas a produtividade no
treino sem esquecer os aspectos humanos, tendo um equilíbrio em relação aos
aspectos humanos.
67
Assim, deve-se abandonar a ideologia da “vitória a qualquer custo”, e
denunciar o uso dos produtos químicos, dopagem, hormônios, entre outros, como
sugere Araújo (1994).
4.4 Aspectos sobre a Dimensão Humanista
Considerando a grelha de observação a respeito da dimensão humanista
todos os treinadores apresentaram traços fortes relacionados a esta.
O estilo de ensino/treino dos treinadores foi democrático, evidenciado ao
ceder a palavra aos atletas, ao auxiliar ou supervisor. Carlos expunha sua opinião
e seus argumentos, após pedia os argumentos dos jogadores. Fernando e Mário
utilizaram exemplos com atletas do seu grupo, cedendo a palavra para que estes
pudessem expor sua opinião e experiência. No entanto, Érico foi o treinador que
menos falou e também o que menos deu a palavra, apenas respondia
prontamente as dúvidas de seus atletas, mas ainda assim permitia que os atletas
mais experientes auxiliassem na correção do movimento. Estudos de Serpa e
Batista (2000) revelaram que ser democrático é uma das principais características
de liderança.
Em se tratando de treinos de categorias adultas a linguagem utilizada nos
treinos mostrou-se codificada com termos específicos de cada modalidade. A
forma educada de tratar os atletas esteve presente em todos os treinadores. O
respeito as limitações dos atletas foi aparente em todos os casos. Verificou-se
que quando os atletas não conseguiam realizar determinada movimentação os
treinadores não pouparam esforços para que não houvessem dúvidas.
Sobre o tom de voz positivo, três treinadores, Érico, Carlos e Mário,
utilizavam o tom de voz positivo na maior parte do treino, o tom de voz aumentava
com o barulho das bolas no solo ou quando existia interferência externa (carros
passando, pessoas assistindo, entre outras).
A utilização de gestos positivos foi variada e muito utilizada por todos os
treinadores, onde a ação mais comum foi bater palmas. Além das palmas também
foram utilizados os punhos cerrados, o sinal de positivo com a mão e cabeça, o
68
tapinha nas costas e o cumprimento específico da modalidade (apontar o dedo,
bater com a mão aberta e depois com a mão fechada).
Os gestos e a linguagem não verbal são largamente citados na literatura
cabendo referenciar os estudos de Mesquita (1997), Weinberg e Gould (2001) e
Prata e Rezende (2003), que caracterizam a linguagem corporal, do movimento e
os gestos como elementos dessa linguagem.
O feedback verbal de orientação, utilizado repetidas vezes, foi usado mais
vezes por Fernando, sua estreita relação com categorias de formação
provavelmente tenha influenciado nessa característica marcante.
De novo, ainda dá, vai, vai, vamos, quatro contra três (...). Ta no meio faz com três. Hei,
falta, vai lá, vamos. Vem tomar a bola (...), abre bem, isso. Sem espaço vamos embora.
Parou, se a defesa não estiver encostada, ou sai na bola (...), ou ele na bola longa da
dois.Vai, vamos acelera.
Já os outros treinadores forneciam um número menor de feedback, sendo
que Érico forneceu o menor número, mas com muita eficiência em suas
intervenções. A qualidade e necessidade podem ser descritas de acordo com a
sua execução.
A integração entre os atletas era aparente em todas as modalidades, assim
como a formação de pequenos grupos. Todos os treinadores realizavam as
atividades buscando inteirar todo o grupo, distribuindo os atletas à sua vontade.
Em todas as modalidades aconteciam esporadicamente reuniões festivas entre os
atletas e a comissão técnica.
Apenas o treinador Érico se mostrou mais fechado em relação a integrar-se
com os atletas conversando poucas vezes assuntos que não fossem relacionados
ao treino. Os outros três treinadores mantinham um clima de brincadeiras antes e
após o treino e em algumas oportunidades durante também. O treinador Carlos
participava ocasionalmente dos jogos de aquecimento com os atletas.
Todos os treinadores aprovam iniciativas adequadas, seja de integração
entre os atletas, de auxílio em deslocamentos (carona), de material, entre outras.
A atenção esteve sempre focada no treino e nas iniciativas dos atletas, até
mesmo aconselhando em uma atitude errada. Essa atenção e valorização das
69
atitudes tanto dentro de quadra quanto fora dela se dá pela constante observação
dos treinadores.
Todos os treinadores deixavam que os atletas ajudassem um ao outro. O
treinador Érico observava isso acontecer sem interromper. Os demais
requisitavam que durante os exercícios houvesse essa correção mútua.
As sessões de treino foram atraentes em todo o processo e com todos os
treinadores, a diversidade de exercícios, encadeamento e as instruções sobre a
execução.
Ramírez (2002) identificou em seu texto as estratégias mais efetivas que
deveriam ser utilizadas pelo treinador no processo de instrução. Entre as variáveis
se incluem:
a) Proporcionar, frequentemente, "feedback" e incorporar numerosas
sugestões e atividades;
b) Estimular com numerosas perguntas e esclarecimentos;
c) Comprometer-se, antes de tudo, com a instrução;
d) Interferir no ambiente para conseguir uma ordem considerável.
Essas estratégias estiveram presentes, mostrando que as condutas e o
estilo de ensino/treino dos treinadores fossem reforçados pela literatura presente.
Os treinadores mostraram-se preocupados com resultados, com o
cumprimento de objetivos, o uso de exemplos corretos, o tipo e freqüência de
feedback, constante motivação dos atletas e o uso de palavras-chave. Assim,
revelam uma forte ligação com os aspectos da produtividade, algo inerente ao
esporte de alto nível.
No trabalho de Liukkonen et al (1993) citado por Rodrigues (1997) foi
realizada a analise do comportamento do treinador segundo duas dimensões, a
humanista e a da produtividade, gerando quatro tipos de treinadores: “ideal”,
“autoritário”, “novato”, “incompetente”. Esse estudo obteve como resultado uma
forte correlação entre variáveis humanismo e produtividade, explicada pelos
seguintes fatores: adequação à idade dos atletas; feedback positivo; entusiasmo;
participação dos atletas. O equilíbrio dessas duas dimensões leva ao perfil “ideal”,
como foi detectado nesse estudo.
Existe ainda importância de reforçar que o treinador deve, mesmo
necessitando de resultados, ter uma mentalidade humanista. Neste sentido,
Bañuelos (1996) entende que a relação treinador-atleta de uma perspectiva
70
psicopedagógica. Também critica os treinadores desportivos que perdem esta
mentalidade de humanista e que são centrados exclusivamente em aspectos
meramente técnicos ou esportivos que procuram resultados em curto prazo. Para
poder concluir o seu trabalho de um modo responsável, esses treinadores
deveriam ter, em primeiro lugar, uma formação apropriada e, em segundo lugar,
um apropriado assessoramento.
Sanmartín (2003) considera a definição de valores humanos pertencente
ao campo da experiência subjetiva, pois as entidades não objetivas e relativas
reforçam essa afirmativa, indicando que seu conceito se dirige a critérios
mediante os quais as pessoas selecionam e conferem valor a uma conduta. O
autor relata que no esporte a conduta desejável e as atitudes morais têm sido
consideradas habitualmente representativas de bom caráter, a esportividade e o
jogo limpo, o fair play, o que é significativo, pois crianças e adolescentes tendem
a imitar seus ídolos, além de imitar suas habilidades.
Ainda o mesmo autor, em suas observações sobre a questão dos valores
humanos no esporte, analisa que o esporte, a respeito desse ponto de vista,
separa-se por pólos distantes, um em que pessoas crêem que ele educa e não há
nada que ser modificado, e outro, que aponta para os que querem vencer a
qualquer custo. Nessa ótica, reflete que para muitos autores, o esporte não é bom
nem mau, é o contexto que determina seu caráter, que pode desenvolver tanto o
espírito coletivo, quanto o espírito individualista. Aí consiste a necessidade de
determinar as condições pedagógicas, para que se converta o esporte em uma
atividade educativa autêntica. O esporte bem utilizado pode promover valores
como disciplina, respeito aos adversários e companheiros, a persistência e
ensinar o sentimento de jogo limpo, o respeito pelas normas, em esforço
coordenado de subordinação dos interesses pessoais aos do grupo.
Balbino (2005) afirma o que vem a confirmar os resultados deste estudo,
que deve-se estimular nos atletas o estabelecimento de sistema de crenças e de
valores humanos formadores do auto-conceito do atleta, tendo em si um modelo
construtivo de auto-realização e ter como base os valores humanos ao relacionar-
se com os atletas.
No presente estudo, ficou evidenciado a preocupação com as duas
dimensões (produtividade e humanista) por parte de todos os treinadores
demonstrando que a formação, o aprendizado como atleta e com outros
71
treinadores foi de certa forma importante na concepção das suas filosofias de
treino.
4.5 A linguagem não verbal: revelando condutas.
Um aspecto importante analisado durante a observação e filmagem foi à
linguagem não verbal. Conforme o estudo desenvolvido por Smoll, Smith & Curtis
(1983) onde se detectou que no trabalho os treinadores deveriam enfatizar uma
abordagem mais positiva (reforçadora) verbal ou não verbal e de forma clara e
objetiva, fortalecendo os comportamentos adequados dos atletas, apoiando-o
frente a seus fracassos e utilizando ou não a correção; também deveriam
recompensar seus atletas.
Segundo Afonso (2001) a instrução faz-se por meio do uso da linguagem
verbal e não verbal (explicação, exemplos, demonstração, feedback) entre tantas
outras formas de comunicação acerca do conteúdo.
Mesquita (2000) descrevendo os domínios que o técnico deve apresentar,
destaca um, o comunicativo, que se refere à verbalização adequada de idéias, ao
saber escutar e às capacidades de comunicação não verbal. Essas capacidades
foram evidenciando-se no decorrer das análises dos treinos. Para melhor
entender deve-se atentar para uma classificação que segundo Mesquita (1997) a
não verbal pode ser dividida em dois grupos:
1. Aquilo que se refere ao corpo e ao movimento e representa unidades
expressivas: a face, o olhar, os gestos, as ações, as posturas e a
paralinguagem.
2. Aquilo que é relativo ao produto das ações humanas e formas de
expressão: a moda, os objetos do cotidiano e da arte, a própria
organização dos espaços.
Os treinadores participantes desse estudo mostraram-se como utilizadores
do corpo e movimento em conjunto da fala, estabelecendo assim uma melhor
visualização da mensagem. Os aspectos relativos ao produto das ações não
foram observados nesse estudo.
72
Quadro XII
Ações não verbais durante o treino
Treinador
Linguagem não verbal
Érico
Mão no bolso e outro braço gesticulando; as duas mãos nos bolsos;
mãos para trás; aponta o local da quadra mãos a cintura; executa
movimento de demonstração; abre os braços com as palmas das mãos
voltadas para frente; bate palmas.
Carlos
Positivo com a cabeça; palmas; punho cerrado e mão aberta; morder os
lábios; batuca na bola que tem na mão; faz cara de brabo; apontar o lado
que a bola deve ir; usa demonstrações exagerando o movimento; dedo
em riste; pensativo (olhos cerrados); sinal de acelerar o movimento; bate
palmas; coloca as mãos a cintura; usa as mãos na cintura; segura a
bola; cruza os braços.
Fernando
Apontar o local onde o atleta deve ficar; ar pensativo; mãos atrás; gestos
de pouca amplitude; chama os atletas com um gesto; faz sinal de
velocidade; aponta para diagonal; palmas; faz sinal de acelerar com as
duas mãos (como se empurrasse); balança a cabeça negativamente e
gesticula sinalizando um não; bate palmas; abre os braços, bate nas
pernas com as mãos.
Mário
Mãos na cintura; bate palmas; (segura a bola) mão aberta; abre os
braços e gesticula; apontar onde o atleta deveria estar; balança a cabeça
negativamente; sinaliza positivo para uma ação correta; caminha indo e
voltando e falando sobre os erros ocorridos; usa gestos amplos.
A utilização de gestos longos e mais lentos foi a estratégia utilizada pelo
treinador Mário, que assim, possibilitava a fácil leitura de sua linguagem não
verbal.
O treinador Carlos mostrou-se um treinador de muitas expressões e
gestos, sendo até imitado por seus atletas como forma de descontração, algo que
aceitou tranquilamente.
Já Érico, com sua introspecção, de certa forma dificultava a troca de
experiências entre ele e os atletas. Quando surgisse alguma dúvida os atletas
preferiam perguntar aos companheiros, temendo um feedback de orientação
punitiva.
Brandão (2000) afirma que dentro de uma perspectiva ecológica, o
comportamento do treinador, seu grau de relacionamento com os atletas e os
papéis por ele executados terão influências sobre todos os processos dos atletas:
73
cognitivos, emocionais e comportamentais. Isso significa que as críticas dos
treinadores têm, muitas vezes, um efeito deletério sobre o atleta e que este
precisa ter habilidade para separar as instruções relevantes do treinador daquelas
sem sentido.
Assim, deve-se ter cuidado quanto a maneira como executar um feedback
verbal ou orientação negativa, pois esta pode levar o atleta a perder rendimento e
sentir-se sem clima para treinar.
As manifestações mais comuns nos treinos foram os sinais de positivo e
negativo, seja com as mãos ou com a cabeça. Alguns sinais, tornam-se de grande
importância por servirem de comunicação treinador-atleta no ambiente de jogo,
sem a necessidade da fala, da instrução que acabam gerando códigos
específicos da modalidade. Esses códigos também foram detectados no estudo
de Messmer (2000).
A atitude de incentivo não verbal mais utilizada foi bater palmas, o estímulo
sonoro e compassado das palmas foi usado simultaneamente com a repetição
dos elogios e incentivos como: vai, isso, entre outras. Nesse ponto a transcriação
serve para aproveitar as palavras que normalmente seriam cortadas, mas que
tem um fundo importante na valorização da ação e da constante motivação ao
atleta. Os elogios são considerados comportamentos afetivos positivos como o
relatado por Shigunov et al (1993) em seu estudo sobre a percepção de atletas
quanto à influência do comportamento de treinadores nos seus sentimentos.
Os sentimentos têm relação com a afetividade, que segundo Santos e
Shigunov (2001) podem ser dividas em pólo positivo e pólo negativo. As ações do
pólo positivo podem ser o elogiar, o aplaudir, usar o primeiro nome do atleta, o
demonstrar afeto, o incentivar, a polidez entre outras e do pólo negativo, a
censura, xingamento, punição, uso de apelidos, ausência da polidez entre outros.
A forma dessas manifestações podem ser verbal ou não, dependendo da situação
da distância. Porém ambas as manifestações têm sua força no contexto do treino.
Ainda os mesmos autores ressaltam que a direção das manifestações é
uma importante maneira de causar impacto, chamar atenção e até mudar o rumo
da atuação dos atletas. A direção das manifestações pode ser para o indivíduo, a
um determinado grupo ou à equipe toda. Deve-se destacar que cada uma destas
direções de uma manifestação de afetividade positiva ou negativa possui diversas
conotações para a pessoa-atleta. O técnico deve conhecer muito bem seus
74
atletas para poder apresentar a sua contribuição no processo do treino e na
competição. Além disto, as manifestações podem ocorrer em vários momentos
tanto do treino como da competição, e assim o técnico deve possuir a
sensibilidade em utilizar as manifestações adequadas para momentos adequados
para fazer sobressair as qualidades e potencialidades dos seus atletas, tanto nos
treinos como em competições. Sabe-se da necessidade de se treinar e fazer com
que as manifestações sejam uma contribuição e não uma barreira para o melhor
desempenho dos seus atletas.
A linguagem não verbal mais utilizada durante os treinos foi a expressão da
face, que durante as observações se alterava constantemente. Mesmo sem notar,
os treinadores expressam através de gestos ou caretas o que estão sentindo ou
pensando. Algumas dessas ações foram feitas para que os atletas realmente
soubessem o nível de satisfação do treinador, e em algumas vezes vieram
associadas à linguagem verbal.
A forma de utilização da ação não verbal da linguagem foi tanto
instintivamente quanto de forma pensada. A presença dessa forma de expressar
e reforçar a instrução verbal mostrou-se uma eficaz alternativa para possibilitar a
comunicação do treinador ao atleta.
A expressão ou gesto pode de certa forma, reprovar ou aprovar as atitudes
dos atletas, podendo ou não ser detectadas por esses. Faz-se assim necessário
que o treinador não só utilize a linguagem não verbal, mas também estabeleça
um uso correto e adequado dessa.
4.6 Atitudes emergentes
Durante o processo de observação e filmagem, evidenciaram-se outras
atitudes, ações e comportamentos que merecem um destaque nessa parte do
trabalho, pois constam como práticas de muitos treinadores.
Dessa forma, pode-se destacar as que se julgam mais relevantes: a
observação foi a atitude que mais ocorreu por parte dos treinadores durante o
treino. Destaca-se o treinador Érico que observou mais tempo do que os demais,
interrompendo o treino poucas vezes. Os demais treinadores observavam o treino
e passavam informações mais seguidamente. O treinador Fernando se utilizava
75
das pausas para pequenas orientações e instruções, além de dar um feedback
geral de cada exercício.
O posicionamento dos treinadores para ministrar o treino alternou-se entre
a lateral do centro da quadra e o fundo da quadra. Apenas Érico observava os
exercícios na maioria das vezes do fundo da quadra, enquanto os demais apenas
em algumas situações específicas; já da posição lateral próximo ao centro da
quadra Fernando, Mário e Carlos permaneciam a maior parte do tempo enquanto
Érico apenas poucas vezes. Os quatro treinadores só permaneciam na área de
jogo quando estavam explicando um exercício, corrigindo algum movimento ou
dando orientações em trabalhos de espaço reduzido. Cabe salientar que nas
modalidades observadas nesse estudo a regra permite que o treinador
permaneça apenas na lateral da quadra, próximo à região central. Portanto, três
treinadores estariam visualizando o treino da mesma posição onde permanecem
durante a competição.
As instruções fornecidas pelos treinadores foram de uma forma geral
rápidas e precisas, revelando um pré-conhecimento por parte dos atletas
relacionado à estrutura do exercício, além disso, as palavras-chave e termos
específicos da modalidade auxiliam na diminuição da quantidade de informações.
(Afonso, 2001)
De forma geral o reforço, o incentivo e o elogio estão presentes em todas
as modalidades, tendo cada uma a sua linguagem especifica. Reforçar as atitudes
dos atletas seja com feedback ou com outro tipo de ação faz parte do processo de
um bom treino. (Cunha et al, 2000 )
Os atletas já têm um pré-conhecimento da modalidade e autonomia para
realizarem o alongamento e aquecimento sozinhos, atividade que ocorreu com
todos os treinadores. Apenas não ocorria dessa forma se um auxiliar estivesse
presente, e vale o registro que apenas duas modalidade contavam com auxiliar
técnico. A passagem pelas categorias inferiores executando exercícios com
estrutura similar a que vão encontrar na categoria adulta passa a ser uma aliada
na economia de tempo.
Sobre ter um rito de início de treino ou de término, Érico não apresentou
nenhum tipo. Carlos, Fernando e Mário utilizam as conversas em grupo no início,
no meio do treino, para mudar de estrutura de exercício e ao final para conversar
sobre o que foi trabalhado na sessão. Fernando conversa em pé com os
76
jogadores lado a lado em um banco de reservas, enquanto Mário e Carlos utilizam
as conversas em círculo, que representa de certa forma uma família. Cabe ainda
destacar que Fernando estendia as conversa por mais tempo que os demais.
O tema das conversas durante o treino variava de acordo com o momento
em que este ocorria, e com as informações extras a serem passadas que
geralmente envolviam amistosos, treinamentos, viagens, lesões, entre outros.
Carlos por exemplo, usava estes momentos para também chamar à atenção de
algum jogador.
Gostei do treino, da regularidade do que a gente trabalhou, o Fulano teve que andar menos,
apesar de sentir você cansado, eu fiz a primeira parte do treino mais lenta pra reforçar, eu
sei que amanhã nós vamos treinar um pouco mais pesado, eu gostei dos dois treinos, eu sei
disso,amanhã a gente treina as 10 horas, eu não vou dar como opção hoje, não treinou
tudo, hoje é recuperação, hoje um belo de um sono faz uma grande recuperação, é no
descanso que vocês conseguem melhorar, se vo não descansa o treino não serviu pra
nada, só pra piorar e pra lesionar. Então hoje não quero ninguém lá (...) e se tiver, conversa
comigo amanhã, nos estamos a alguns dias dos jogos abertos e não podemos jogar fora por
um dia dois de férias. Pensem nisso. Segunda feira vai ser duplo período, e terça é
recuperação. (...)
As atitudes de observação, instrução, a posição de observação, as
pequenas explanações ao grupo, o reforço ou elogio, o pré-conhecimento da
atividade foram as atitudes emergentes do treino para além das condutas e estilo
de ensino/treino.
Em síntese, o treinador esportivo reflete uma vasta combinação de
conhecimentos, atitudes, condutas e estilo de ensino/treino; necessita demonstrar
sua habilidade em identificar como intervir no ambiente e assim resolver os
problemas que se apresentam concordando com diversos autores (Smoll e Smith,
1984; Mesquita, 2000; Bota e Colibaba-Evulet, 2001; Afonso, 2001; Balbino,
2005).
77
CAPÍTULO V
... se eu fosse treinador...seria um teórico-prático. Preocupado em construir uma prática
culminante e responsabilizada pela teoria, uma prática iluminada e inundada por princípios
e valores teóricos, espiritual, éticos e morais.
Sem deixar de atribuir algumas culpas à teoria pelo seu afastamento em relação à
prática, não deixaria de reconhecer que o afastamento da prática em relação a teoria é
desculpável como expressão da irracionalidade humana , mas é inaceitável, como
expressão da animosidade e do oportunismo imoral que movem muitos treinadores contra
a formação, contra o conhecimento.
Não precisamos de treinadores formados, nem como teóricos ou “generalistas
complexados”, nem como “idiotas especializados” ou “primatas da prática”. Precisamos
sim de treinadores capazes de enraizarem a sua especialidade e profissionalidade em
horizontes amplos, capazes de se entenderem como formadores fiéis ao sentido de
“formar”: aperfeiçoar o homem, melhorá-lo, aumentá-lo em humanidade.
Bento in Araújo (1994)
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O presente estudo revelou os aspectos da conduta e o estilo de
ensino/treino dos treinadores de Esportes de Quadra da cidade de Blumenau/SC.
Para tanto, recorreu a uma abordagem de pesquisa qualitativa, aprofundando o
estudo dos casos através de diversas fontes.
Para a pesquisa alcançar seus objetivos inicialmente descritos fez-se
necessário aprofundar a revisão com diversos autores para conseguir cumprir o
que se propôs e enriquecer a área de estudos em esporte e especificamente, os
assuntos relacionados ao treinador.
Procurou-se estabelecer aqui algumas reflexões advindas do processo de
investigação que se tornaram relevantes após a devida confecção da análise de
dados e discussão dos dados.
78
Os treinadores foram estudados por uma metodologia que visa observar o
mesmo objeto de diversos pontos, tendo na entrevista, questionários, observação,
gravação de voz (discurso) e filmagem os seus delimitadores.
Agora, com o estudo já realizado torna-se possível materializar algumas
premissas relacionadas à conduta e suas variadas formas, o estilo de
ensino/treino em toda sua extensão e complexidade.
Através da revisão acreditava-se que as respostas seriam similares a
alguns estudos que serviram de base teórico-conceitual para o estudo. Com o
decorrer da interpretação dos dados constatou-se que além de nova busca de
informações existe a necessidade de aprofundamento nas discussões sobre cada
ponto e suas relações com os treinadores.
Dessa forma, conseguiu-se estruturar o texto de forma seqüencial e de
leitura facilitada, dividida pelas ações e não pelos casos. Uma abordagem de
forma geral tornou-se necessária para a contextualização dos casos enquanto
treinadores.
Cada uma das categorias revelou a densidade da figura do treinador, cada
ação observada e cada peculiaridade poderiam por si só gerar um novo estudo. O
cuidado para não ocorresse apenas uma descrição das informações e a
constante relação entre o fato e os elementos pré-determinados do estudo foram
as dificuldades maiores. A cada treino transcrito ocorria criação de categorias
menores onde por fim consegui-se estruturar de uma maneira mais estruturada e
um pouco menos repetitiva.
Quanto à justificativa do local do estudo, a escolha da cidade como local de
coleta de dados foi excelente, já que o resultado posterior nos JASC (um
campeão e dois vices entre as quatro modalidades masculinas) demonstrou que a
cidade realmente investe no esporte de alto nível e obtém bons resultados na
maioria dos esportes de quadra. A única ressalva fica para a modalidade que
Fernando treina, e isso provavelmente se deve aos pólos de formação e
investimento em outras cidades do Estado, além de necessitar um alto
investimento para almejar as primeiras posições dentro do estado. Assim, pode-
se considerar Blumenau uma das cidades melhores preparadas para a disputa de
esportes de quadra, e merecendo assim não apenas a vaga para disputar
Campeonatos Nacionais, mas também condições para que isso se concretize e
justificando, por si só um estudo.
79
5.1 Evidencias do estudo
Procurou-se apresentar as considerações finais do estudo de maneira mais
aprofundada e esclarecedora, detectando os fatos relevantes e a possível
contribuição do estudo no que se refere ao treinador e suas condutas e estilo de
ensino/treino.
Dessa maneira, estruturaram-se as informações da seguinte forma:
Formação acadêmica, experiência profissional e concepção de ensino; a conduta
reativa dos treinadores; aspectos sobre a dimensão humanista; aspectos sobre a
dimensão da produtividade; a linguagem não verbal: revelando condutas; e por
fim as atitudes emergentes.
a) Da formação acadêmica, experiência profissional e concepção de ensino: A
respeito da formação os treinadores participantes do estudo foram três graduados
em Educação Física e um provisionado; o curso de graduação foi apontado pelos
treinadores como necessário, mas também como de pouca contribuição na
formação das suas carreiras como treinadores; os motivos que os levaram a
serem treinadores foi terem sido atletas e o envolvimento com a área, ocorrendo a
o envolvimento precoce de todos os treinadores com a carreira; todos os
treinadores exerceram a função antes de estarem formados; quanto a área de
estudos que mais se especializaram não houve um consenso, revelando que
como se acredita, a formação do treinador não ocorre de maneira única e é
encaminhada pelas convicções e filosofia pessoal dos treinadores; os pontos
fortes e fracos do curso de graduação, forma outro ponto não consensual.
Acredita-se que tenha colaborado para a diferença nas opiniões: a época
diferente em que o curso de graduação foi realizado, a realidade pessoal vivida
pelos treinadores durante a graduação e terem tido professores diferentes; ao
citar os trabalhos mais relevantes os treinadores citaram títulos alcançados e
atletas revelados para seleções estadual e nacional; sobre a sua experiência
enquanto atletas apenas um treinador não participou de competições em mais de
uma categoria, evidenciando a experiência enquanto atletas; apenas uma
modalidade oferece formação federativa; relacionada ao papel do treinador foi
considerada por todos a formação de indivíduos como o verdadeiro papel; a
formação específica da modalidade tem sido solidificada em cursos técnicos,
80
observação de outros treinadores e busca de auxílio em outras áreas (psicologia,
aprendizagem, didática); a respeito dos pontos fortes e fracos do conhecimento
específico da modalidade os treinadores apresentaram pontos fortes e fracos
distintos; apenas um treinador já teve algum tipo de publicação científica, este fato
demonstra a distância entre a prática do treinador e a pesquisa; segundo os
participantes do estudo, para exercer a função de treinador especialista, o
candidato deve ter conhecimento específico do esporte e em contraste, um
conhecimento geral das relações humanas; sobre o ensino na fase de formação
não existe uma regra do que deva ser trabalhado primeiro, sendo que cada
treinador usa metodologias específicas; todos os participantes do estudo
evidenciaram o gosto pela fase de formação, principalmente por verem os
objetivos traçados tornando-se realidade; o planejamento segundo os treinadores
depende principalmente do tempo disponível (calendário, horários de quadra,
antecedência às competições) e dos atletas (limitações, vontade, técnica, entre
outras); para esses treinadores a competição é instrumento de avaliação dos
objetivos concretizados; para controle do treino são utilizados o controle numérico
(estatísticas, avaliações técnicas e físicas) e o “feeling” pessoal; foram referidas
como qualidades do treinador diversos aspectos mostrando o perfil multifacetado
dessa profissão.
b) Da conduta reativa dos treinadores: quando o atleta realiza uma ação desejada
(rendimento desejado) ocorre na maioria das vezes o reforço; frente aos erros e
fracassos a reação mais utilizada foi o feedback de orientação técnica, por ser
mais didático; mas também, quando ocorreram condutas inadequadas os
treinadores mantiveram o controle, usando o diálogo para mostrar ao atleta a
incorreção de sua atitude; os treinadores usaram o apoio e a instrução técnica
geral quando realizavam no treino jogos com estrutura formal.
c) Dos aspectos sobre a dimensão da produtividade e os aspectos da dimensão
humanista: os participantes do estudo demonstraram características fortes da
dimensão da produtividade (bom uso do material, treino adequado à idade,
possuem habilidade de organizadores; usam bem o material; verbalização clara,
tom de voz positivo, entre outras características); também apresentaram fortes
características da dimensão humanista (tom de voz e gestos positivos, integração
com os atletas, sessões de treino atraentes); ficou evidente que as dimensões
humanista e da produtividade estão fortemente associadas aos treinadores dessa
81
investigação, mostrando que essas duas dimensões não são concorrentes. Pode-
se ousar e afirmar que são dimensões complementares, pois, mesmo no treino de
alto nível deve-se formar pessoas e não apenas atletas e esta afirmação foi
reforçada pelas atitudes dos treinadores durante os treinos observados.
d) Da linguagem não verbal: todos os treinadores usaram gestos de apoio, reforço
e elogio (palmas, sinal de positivo com mão e cabeça, entre outras); a forma de
utilização dessa linguagem foi instintiva na maioria das vezes; existe uma série de
códigos específicos do esporte e ainda, alguns específicos de cada modalidade e
interpretar esses códigos torna-se necessário para o melhor rendimento esportivo;
faz-se necessário uma maior atenção dos treinadores frente a sua linguagem não
verbal, tendo o cuidado para não reprovar ou tolher o atleta apenas com uma
expressão ou gesto.
e) Das atitudes emergentes: evidenciaram-se algumas ações, pela complexidade
do treino, não pertencentes às categorias de observação e análise pré-
determinadas, revelando a necessidade de descrevê-las aqui; a observação
silenciosa é a ação que o treinador executa na maior parte do tempo; os
treinadores posicionam-se para ministrar o treino próximos ao local
regulamentado de competição partidas, muda de local algumas vezes buscando
uma melhor visão do movimento; as instruções fornecidas são rápidas e precisas,
principalmente pelo pré-conhecimento do atleta em relação ao exercício e pelo
uso de palavras-chave ou termos específicos; alguns treinadores têm “ritos”de
treino, fazem reuniões em início e final, cumprimentam os jogadores em círculo ao
final do treino, entre outros; está fortemente presente o incentivo, o elogio e o
reforço, usado normalmente e repetido várias vezes uma mesma palavra (isso,
vai, entre outras); os atletas têm autonomia para aquecer, alongar e tomar água,
revelando os treinadores como de estilo democrático; os treinadores mostraram-
se bons utilizadores da linguagem verbal e não verbal.
5.2 Conclusões
Deve-se lembrar, que o ponto fulcral do trabalho foi detectar a conduta e
estilo de ensino/treino de treinadores dos esportes de quadra participantes dos
Jogos Abertos de Santa Catarina.
82
O estudo demonstrou que a conduta dos treinadores baseia-se
principalmente: no reforço positivo ao rendimento desejável, no feedback de
orientação técnica frente aos erros e fracassos, na manutenção do controle para
as condutas inadequadas e na conduta espontânea, a orientação técnica geral e
apoio geral. Essas condutas são consideradas ideais para treinadores das
diversas modalidades.
Verificou-se, além disso, que o estilo de ensino/treino é equilibrado, sendo
considerado tanto humanista, quanto da produtividade. As atitudes presentes
contemplam a duas dimensões não ocorrendo uma escolha por uma ou por outra.
Os treinadores preocupavam-se com o resultado, mas também com os princípios
relacionados à formação do ser humano, como valores éticos e respeito.
Sendo assim, independentemente da forma como serão organizadas as
próximas investigações, devem ser evidenciados o aprofundamento da análise das
condutas e estilos de ensino/treino, buscando auxiliar no esclarecimento das
relações do treinador e o esporte em si.
5.3 Recomendações
Aos treinadores
Cabe nesse momento fazer algumas breves sugestões aos treinadores a
respeito do que foi evidenciado nesse estudo:
a) Torna-se imprescindível aos treinadores buscar conhecimento de diversas
fontes para suprir as deficiências formativas e de aperfeiçoamento;
b) Faz-se necessário repensar a prática de treino através do uso de condutas
adequadas por parte do treinador, para que assim esse possa exigir o
mesmo de seus atletas;
c) Deve-se ter em mente que para atingir seus objetivos são necessários
constante aperfeiçoamento e troca de experiências, seja com outros
treinadores ou com profissionais de outras áreas.
Ao governo e as confederações
De acordo com alguns aspectos salientados nesse estudo, surge a
necessidade de recomendar os seguintes itens:
83
a) É primordial que se façam cursos de formação de treinadores, de vários
níveis seguindo o exemplo do Voleibol;
b) Capacitar os treinadores que já atuam e os novos, possibilitando através
de iniciativas conjuntas à disseminação do conhecimento;
c) Deve-se valorizar os treinadores da sua modalidade e que desenvolvem
ótimos trabalhos em nosso país, não apenas trazendo estrangeiros para
ministrar cursos ou dirigir seleções, esses especialistas externos seriam
mais bem aproveitados em cargos de supervisão;
d) Investir na formação de atletas e na popularização do esporte enquanto
elemento de desenvolvimento das relações humanas, éticas e da
cidadania.
Sugere-se, a realização de estudos sobre a conduta e o estilo de ensino/treino
baseada em outras teorias, com novos instrumentos e novas metodologias.
Também, utilizarem-se amostras maiores ou de maior especificidade (técnicos de
seleção), a ampliação desse estudo poderia também passar por um estudo do
planejamento teórico, conhecimento, e também com a inclusão de uma entrevista
com os responsáveis pelo projeto esportivo da cidade analisada. Ainda, realizar
estudos de caso com acompanhamento durante um período maior, podendo
assim relacionar as diferentes condutas e estilos de ensino/treino nas diferentes
fases do treinamento, inclusive acompanhar treino e competição detectando as
diferenças entre treino e jogo.
Nas entrelinhas desse estudo detectou-se a necessidade de maiores estudos
sobre a formação de treinadores, pois de nada adiantará detectar talentos
esportivos, se não houver pessoal capacitado para o seu treino. Torna-se
imperativa a análise de projetos de formação existentes no Brasil e no mundo,
assim como o desenvolvimento de um sistema de formação padronizado. Por
tudo isso, é esse o horizonte de pesquisa que se apresenta.
84
CAPÍTULO VI
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93
ANEXOS
94
ANEXOS I - Modelo da carta de apresentação encaminhada ao Secretário de
Esportes do município envolvido e documento de ciência e parecer da instituição.
95
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE DESPORTOS
Coordenadoria de Pós-Graduação em Educação Física
Campus Universitário - Trindade - Florianópolis/SC - CEP 88040-900
Fone (048) 331-9926 Fax (048) 331-9792 - E-MAIL [email protected]
Florianópolis, 31 de março de 2005.
Prezado(a) Secretário(a)
O professor Giancarlo Bazarele Machado Bruno encontra-se regularmente
matriculado no curso de mestrado em Educação Física da UFSC. Para
implementação da dissertação de mestrado, sob a orientação do Prof. Dr. Viktor
Shigunov, tornou-se necessária à realização da investigação “Conduta e o estilo
de ensino/treino dos treinadores: a quadra como um estudo de casos”, que
objetiva verificar qual a conduta e estilo de ensino/treino de treinadores de
esportes de quadra.
A realização dessa pesquisa justifica-se devido à necessidade de entender
como são desenvolvidas as atividades do treinador, tendo como intenção detectar
sua conduta reativa e espontânea durante o processo de treino. Há também a
necessidade de diagnosticar o estilo de ensino/treino relacionado a duas
dimensões: a da produtividade e a humanista. A relação entre estas duas
dimensões pode denotar a preocupação do treinador enquanto formador, ou
ainda a sua preocupação apenas com o resultado.
A implementação dessa investigação prevê a coleta de dados em dois
momentos. O primeiro, na forma de entrevista semi-estruturada e questionário
com os treinadores de esportes de quadra dos municípios envolvidos, e o
segundo com observação sistemática das sessões de treino e filmagem para
análise posterior.
Para tanto, solicitamos de Vossa Senhoria a colaboração no sentido de
permitir o Prof. Giancarlo Bazarele Machado Bruno realizar a coleta de dados da
referida pesquisa nas equipes representantes de seu município nos Jogos
Abertos de Santa Catarina (JASC), das modalidades de handebol, voleibol,
basquetebol e futsal, todas do naipe masculino.
Aproveitamos a oportunidade para informar que os procedimentos de
investigação não afetarão o desenvolvimento das atividades planejadas. A coleta
de dados será realizada de acordo com os contatos mantidos previamente com
senhor secretário e o treinador da equipe. Além disso, os dados obtidos serão
repassados aos membros envolvidos na pesquisa para ser assegurada a
confidencialidade dos dados.
Certos de contarmos com a colaboração necessária para a concretização
dessa investigação, agradecemos antecipadamente a atenção dispensada e
colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos (e-mail:
Prof. Dr. Adair da Silva Lopes
Coordenador do curso de Pós Graduação
Para
Secretaria de Esportes
Município de ______________________.
96
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DECLARAÇÃO DE CIÊNCIA E PARECER
DA INSTITUIÇÃO ENVOLVIDA NA PESQUISA.
Declaro para os devidos fins e efeitos, que como Secretário(a) de Esportes do
município de Blumenau, estou ciente que os profissionais solicitados dessa
instituição poderão vir a fazer parte da pesquisa: “Conduta e o estilo de
ensino/treino dos treinadores: a quadra como um estudo de casos”. Após análise
do resumo, e tendo a clara compreensão de seus objetivos, sou de parecer
favorável a sua realização.
Florianópolis, 15 de Abril de 2005.
Secretário (a) de Esportes
Carimbo e Assinatura
97
ANEXOS II - Modelo do termo de consentimento livre e esclarecido encaminhado
aos participantes do estudo e declaração de cumprimento do termo pelos
pesquisadores
98
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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Informações Gerais
O professor Giancarlo Bazarele Machado Bruno encontra-se regularmente
matriculado no curso de mestrado em Educação Física da UFSC. Para
implementação da dissertação de mestrado, sob a orientação do Prof. Dr. Viktor
Shigunov, tornou-se necessária à realização da investigação “Conduta e o estilo de
ensino dos treinadores: a quadra como um estudo de caso”, A realização dessa
pesquisa justifica-se devido à necessidade de entender como são desenvolvidas as
atividades do treinador, tendo como intenção detectar sua conduta e estilos de
ensino. Aproveitamos a oportunidade para informar que os procedimentos de
investigação não afetarão o desenvolvimento das atividades planejadas. A coleta de
dados será realizada de acordo com os contatos mantidos previamente com senhor
secretário e o treinador da equipe. Além disso, fica assegurado que os participantes
desse estudo não sofrerão nenhum risco e desconforto. Os dados obtidos serão
mantidos em absoluto sigilo e utilizados somente para fins de pesquisa. Sua
participação NÃO É OBRIGATÓRIA. O Sr.(a) tem total liberdade de, a qualquer
momento, desistir do projeto. Certos de contarmos com a colaboração necessária
para a concretização dessa investigação, agradecemos antecipadamente a atenção
dispensada e colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos.
Giancarlo Bruno
E-mail: [email protected] Telefone: (48) 9133-5066 ou 269-18-12
Viktor Shigunov
E-MAIL:
[email protected] Telefone: (48) 334-45-67 ou 331-99-26
Assinaturas: ________________________ ________________________
Prof. Dr. Viktor Shigunov Prof. Giancarlo B. M. Bruno
Pesquisador responsável Pesquisador principal
_______________________________________________________________
CONSENTIMENTO (escreva o nome completo e legível)
Eu, _______________________________________________________________,
declaro que fui esclarecido sobre o estudo “Conduta e o estilo de ensino dos
treinadores: a quadra como um estudo de caso”, e concordo, de modo voluntário a
fazer parte da pesquisa e que os meus dados sejam utilizados no estudo.
Atesto também, o recebimento de informações, necessárias a minha compreensão
do estudo.
__________________ de ____________ de 2005.
Assinatura:___________________________ RG:__________________
99
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DECLARAÇÃO
Declaro que no desenvolvimento do projeto de pesquisa “Conduta e
o estilo de ensino/treino dos treinadores: a quadra como um estudo de casos”,
cumprirei os termos da Resolução CNS 196/96 e suas complementares.
Comprometo-me a utilizar os materiais e dados coletados exclusivamente para os
fins previstos no protocolo e publicar os resultados sejam eles favoráveis ou não.
Declaro, ainda, que não há conflitos de interesses entre o pesquisador e os
participantes da pesquisa. Aceito as responsabilidades pela condução científica
do projeto em questão.
Florianópolis, 31 de março de 2005.
________________________________
Viktor Shigunov
Pesquisador Responsável/Orientador
____________________________
Giancarlo B. M. Bruno
Pesquisador Principal/ Mestrando
100
ANEXO III - Modelo do roteiro da entrevista que será realizada com os treinadores
responsáveis pelas equipes dos esportes de quadra
101
Roteiro de Entrevista Semi-estruturada
Biografia
Dados pessoais de identificação
Formação acadêmica em Educação Física e Esporte
Experiência como atleta
Experiência profissional e Concepção de ensino
Concepção didático-metodológica e planejamento dos JEOC
Estabelecida pelo instrumento em Anexo
Conduta
Estabelecida pelo instrumento em anexo
Estilo de ensino/treino
Estabelecida pelo instrumento em anexo
Outras questões que são importantes no julgamento dos treinadores
102
ANEXO IV - Roteiro de entrevista sobre formação, experiência como jogador,
experiência profissional e concepção de ensino.
103
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ROTEIRO DE ENTREVISTA SOBRE FORMAÇÃO, EXPERIÊNCIA COMO
JOGADOR, EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL E CONCEPÇÃO DE ENSINO.
(Adaptado de Afonso, 2001)
Nome:
Data de Nascimento:
Local e data:
1
a
ENTREVISTA
Na primeira parte gostaria de saber da sua formação acadêmica em Educação
Física e no Esporte como áreas de estudo.
1- Sobre sua formação profissional.
Você é formado em Educação Física?
Há quanto tempo?
O que o motivou a ser Professor de Educação Física?
Em que áreas de estudos você mais se dedicou ou se especializou?
Quais os pontos fortes do curso?
Quais os pontos fracos do curso?
Quais os trabalhos mais relevantes que você produziu?
Em que área você gosta mais de atuar e por quê?
As questões seguintes referem-se aos aspectos da experiência como jogador de
(MODALIDADE).
2- Sobre sua experiência como jogador.
Você foi jogador de (MODALIDADE)?
Quanto tempo, teve de prática federativa?
Com quantos anos iniciou a sua prática no (MODALIDADE)?
Quais os categorias que você participou como jogador?
Qual o nível mais elevado de competição que você participou?
Participou de competições em outras categorias? Se sim diga quais?
104
2
a
ENTREVISTA
Nesta parte serão abordadas as questões referentes ao (MODALIDADE), da
experiência profissional e a concepção de ensino.
3- Sobre a sua experiência profissional e a concepção de ensino
Qual é o seu nível de formação federativa em (MODALIDADE)?
O que levou você a ser treinador de (MODALIDADE)?
E qual o significado e o papel de ser treinador?
Quantos anos de prática você possui como treinador de (MODALIDADE)?
Em que categorias?
Se tem formação acadêmica em (MODALIDADE), em que área concentrou seus
estudos?
Quais os seus pontos fortes no conhecimento do (MODALIDADE)?
E quais os pontos fracos?
O conhecimento que você possui do (MODALIDADE) provém de que fontes? É
capaz de atribuir pesos relativos as diversas fontes?
Você possui produção científica em (MODALIDADE)? Quais ?
Em seu entender, que conhecimentos deverá possuir o treinador, para ser um
especialista em (MODALIDADE)?
Nesta parte as questões são pertinentes a concepção didático metodológica e do
planejamento do (MODALIDADE).
Na sua concepção do treino do (MODALIDADE), que objetivos você estabelece
para o ensino nas diferentes categorias que você trabalha?
Quais os fundamentos que devem ser trabalhados primeiro, e o que se deve
enfatizar no ensino do (MODALIDADE) na fase de formação?
Que fatores leva em consideração na elaboração do planejamento do treino do
(MODALIDADE) na categoria que você trabalha?
Quando planifica os objetivos em que concretiza o seu plano?
E como projeta as atividades a serem trabalhadas?
O que você explicita no plano da semana e do dia?
E como faz o controle do trabalho?
Como você ensina o (MODALIDADE) e quais as adaptações são necessárias
para que os atletas possam aprender os fundamentos e o jogo?
Quais devem ser as qualidades e as virtudes essenciais do treinador do mesmo
nível em que você trabalha?
Quer fazer algum depoimento que possa esclarecer melhor a sua concepção
sobre o ensino do (MODALIDADE) na categoria em que você trabalha?
105
ANEXO V- Questionário de avaliação da conduta
106
AVALIAÇÃO DA CONDUTA DO TREINADOR
Condutas reativas
Reações ao rendimento desejável
1. Reforço Reação positiva (reforçadora) verbal ou não verbal, a uma boa ação
ou bom rendimento.
2. Ausência de reforço Ausência de reação frente à uma boa ação ou
rendimento.
Reações aos erros e fracassos
1. Apoio após um erro Apoio dado ao atleta após um erro
ou fracasso.
2. Orientação técnica após erro Ensinar ou demonstrar ao atleta
como corrigir o erro.
3. Reprovação Reação negativa, verbal ou não verbal,
após um erro ou fracasso.
4. Orientação técnica punitiva Orientação técnica dada de modo hostil
após erro ou fracasso.
5. Ausência de reação Ausência de reação frente a erro ou
fracasso.
Reações a condutas inadequadas
1. Manutenção do controle Reação para restaurar ou manter o equilíbrio
emocional dos atletas
2. Ausência de reação Não reage frente a condutas inadequadas de
atleta/equipe
Conduta espontânea- Associados à competição (durante o treino)
Orientação técnica geral
Apoio geral
Organização
Treinador: .................................................. Clube: ....................................
Categoria: .................. Local: ................... Data da Obs.: ...../...../..
Horário de início ...............Horário de término: ..............
Nome do Observador:
....................................................................................................................
( Becker Jr. ,2000. Adaptado de Smoll e Smith, 1984)
107
ANEXOS VI - Questionário de avaliação do estilo de ensino/treino nas dimensões
da produtividade e humanista.
108
INVENTÁRIO DO ESTILO DE ENSINO/TREINO DO TREINADOR
Para a observação do estilo de ensino/treino do treinador que estás investigando,
circunde o número que te pareça mais adequado em cada um dos itens, de
acordo com o seguinte critério:
1= Nada 2= Um pouco 3= Bastante 4= Muito
Dimensão humanista
Estilo de ensino/treino democrático. 1 2 3 4
Estilo de ensino/treino adequado à idade do atleta. 1 2 3 4
Usa tom de voz positivo. 1 2 3 4
Utiliza gestos positivos. 1 2 3 4
Dá abundante feedback. 1 2 3 4
Promove abundante integração dos atletas. 1 2 3 4
Procura integrar-se com todos os atletas. 1 2 3 4
Aprova as iniciativas adequadas. 1 2 3 4
Conduta de entusiasmo no treinamento. 1 2 3 4
Põe atenção nas iniciativas dos atletas. 1 2 3 4
Atletas ficam motivados no treino. 1 2 3 4
Favorece que os atletas ajudem um ao outro. 1 2 3 4
As sessões de treinamento são atraentes. 1 2 3 4
TOTAL ...............................
Observações:
...........................................................................................................................
...................................................................................................................................
...............
(Becker Jr. ,2000. Adaptado de Liukkonen, Salminen e Telama, 1989)
109
INVENTÁRIO DO ESTILO DE ENSINO/TREINO DO TREINADOR
Para a observação do estilo de ensino/treino do treinador que estás investigando,
circunde o número que te pareça mais adequado em cada um dos itens, de
acordo com o seguinte critério:
1= Nada 2= Um pouco 3= Bastante 4= Muito
Dimensão de produtividade
Tem habilidade de organizador. 1 2 3 4
Utiliza instalações e materiais com eficiência. 1 2 3 4
Estilo de ensino/treino adequado à idade dos atletas. 1 2 3 4
Possui habilidade específica para o esporte. 1 2 3 4
Usa um alto volume de voz. 1 2 3 4
Apresenta uma clara verbalização. 1 2 3 4
Usa demonstrações corretas. 1 2 3 4
Os exemplos são muito claros. 1 2 3 4
Usa abundante feedback. 1 2 3 4
Conduta de entusiasmo no treinamento. 1 2 3 4
Motivação de cumprir as tarefas. 1 2 3 4
Atletas ficam empolgados para o treino. 1 2 3 4
Atletas ficam pouco tempo passivos. 1 2 3 4
Usa poucos intervalos. 1 2 3 4
Atletas estão sempre atentos. 1 2 3 4
TOTAL ...............................
Observações:
...........................................................................................................................
...................................................................................................................................
...............
(Becker Jr. ,2000. Adaptado de Liukkonen, Salminen e Telama, 1989)
110
ANEXO VII - Grelha de Observação da conduta e estilo de ensino/treino durante
os treinos
111
GRELHA DE OBSERVAÇÃO
DATA DA OBSERVAÇÃO: CÓD.ID.:
LOCAL DO TREINO:
HORÁRIO DE INÍCIO: ...............HORÁRIO DE TÉRMINO: ..............
DIMENSÃO DAS CONDUTAS:
Condutas reativas
Reações ao rendimento desejável
A) reforço B) Ausência de reforço
Reações aos erros e fracassos
C) Apoio após um erro
D) Orientação técnica após erro
E) Reprovação
F) Orientação técnica punitiva
G) Ausência de reação
Reações a condutas inadequadas
H) Manutenção do controle
I) Ausência de reação
DIMENSÃO DOS ESTILOS DE ENSINO
(classificar 1= Nada ; 2= Um pouco; 3= Bastante; 4= Muito)
1) HUMANISTA:
Estilo de ensino/treino democrático. 1 2 3 4
Estilo de ensino/treino adequado à idade do atleta. 1 2 3 4
Usa tom de voz positivo. 1 2 3 4
Utiliza gestos positivos. 1 2 3 4
Dá abundante feedback. 1 2 3 4
Promove abundante integração dos atletas. 1 2 3 4
Procura integrar-se com todos os atletas. 1 2 3 4
Aprova as iniciativas adequadas. 1 2 3 4
Conduta de entusiasmo no treinamento. 1 2 3 4
Põe atenção nas iniciativas dos atletas. 1 2 3 4
Atletas ficam motivados no treino. 1 2 3 4
Favorece que os atletas ajudem um ao outro. 1 2 3 4
As sessões de treinamento são atraentes. 1 2 3 4
112
2) PRODUTIVIDADE:
Tem habilidade de organizador. 1 2 3 4
Utiliza instalações e materiais com eficiência. 1 2 3 4
Estilo de ensino/treino adequado à idade dos atletas. 1 2 3 4
Possui habilidade específica para o esporte. 1 2 3 4
Usa um alto volume de voz. 1 2 3 4
Apresenta uma clara verbalização. 1 2 3 4
Usa demonstrações corretas. 1 2 3 4
Os exemplos são muito claros. 1 2 3 4
Usa abundante feedback. 1 2 3 4
Conduta de entusiasmo no treinamento. 1 2 3 4
Motivação de cumprir as tarefas. 1 2 3 4
Atletas ficam empolgados para o treino. 1 2 3 4
Atletas ficam pouco tempo passivos. 1 2 3 4
Usa poucos intervalos. 1 2 3 4
Atletas estão sempre atentos. 1 2 3 4
Conduta ( Becker Jr. ,2000. Adaptado de Smoll e Smith, 1984)
Estilo de ensino/treino (Becker Jr. ,2000. Adaptado de Liukkonen, Salminen e
Telama, 1989)
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ANEXOS VIII - Parecer do comitê de ética da UFSC
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