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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL
HILSON PASCOTTO
DESENVOLVIMENTO DE PEQUENAS EMPRESAS NO ESTÁGIO
INICIAL DO CICLO DE VIDA:
Um Estudo Multicaso no Setor de Serviços no Noroeste do Paraná
MARINGÁ
2005
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HILSON PASCOTTO
DESENVOLVIMENTO DE PEQUENAS EMPRESAS NO ESTÁGIO
INICIAL DO CICLO DE VIDA:
Um Estudo Multicaso no Setor de Serviços no Noroeste do Paraná
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Gradução em Administração – Mestrado em
Gestão de Negócios – da Universidade
Estadual de Maringá em consórcio com a
Universidade Estadual de Londrina, como
requisito final para a obtenção do título de
Mestre em Administração.
Orientadora: Profª. Dra. Hilka Pelizza Vier
Machado.
MARINGÁ
2005
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HILSON PASCOTTO
DESENVOLVIMENTO DE PEQUENAS EMPRESAS NO ESTÁGIO
INICIAL DO CICLO DE VIDA:
Um Estudo Multicaso no Setor de Serviços no Noroeste do Paraná
Dissertação aprovada como requisito para
obtenção do grau de Mestre no Programa de
Pós-Graduação em Administração,
Universidade Estadual de Maringá e
Universidade Estadual de Londrina, pela
seguinte banca examinadora:
Aprovado em 02 de junho de 2005.
______________________________________
Profª. Drª. Hilka Pelizza Vier Machado
Presidente (UEM)
______________________________________
Prof. Dr. Juvêncio Braga de Lima
Convidado (UFLA)
______________________________________
Profª. Drª. Elisa Yoshie Ichikawa
Membro (UEM)
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus, que me proporcionou a vida e a oportunidade de alcançar mais
este objetivo, conduzindo-me e amparando-me nos momentos mais difíceis.
À minha esposa, que tanto me ajudou e me incentivou a alcançar este objetivo.
À professora Hilka Pelizza Vier Machado, pelo conhecimento compartilhado através da sua
orientação; pela compreensão, competência e amizade demonstradas em todos os momentos.
Aos professores da Universidade Estadual de Maringá e da Universidade Estadual de
Londrina, pelos ensinamentos, incentivos, críticas e contribuições para que a conclusão do
mestrado fosse possível.
E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para que este objetivo fosse alcançado.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13
1.1 TEMA E PROBLEMA DA PESQUISA ............................................................... 13
1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA .................................................................... 16
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA ................................................................................ 19
1.3.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 19
1.3.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 19
1.4 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ............................................................... 19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................... 21
2.1 PEQUENAS EMPRESAS ..................................................................................... 21
2.1.1 Critérios para definição de pequenas empresas ............................................... 22
2.1.1.1 Heterogeneidade das pequenas empresas .............................................................. 25
2.1.2 Mortalidade de pequenas empresas ................................................................... 26
2.2 TEORIAS DE PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL 28
2.2.1 Tipologia das teorias de processo de desenvolvimento ..................................... 31
2.2.1.1 Unidade de mudança .............................................................................................. 33
2.2.1.2 Modo de mudança .................................................................................................. 33
2.3 MODELOS DE CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL .................................. 35
2.3.1 Modelo de Lippitt e Schmidt (1967) ................................................................... 38
2.3.2 Modelo de Greiner (1972) ................................................................................... 43
2.3.3 Modelo de Adizes (1979) ..................................................................................... 55
2.3.4 Modelo de Churchill e Lewis (1983) ................................................................... 64
2.3.5 Modelo de Scott e Bruce (1987) .......................................................................... 71
2.4 ESTÁGIO INICIAL DO CICLO DE VIDA ......................................................... 83
2.4.1 Forças ambientais ................................................................................................ 84
2.4.2 Recursos internos ................................................................................................. 87
2.4.3 Ação administrativa do dirigente ....................................................................... 90
2.4.4 Estágio inicial: caracterização ............................................................................ 91
3 METODOLOGIA ................................................................................................ 96
3.1 DELINEAMENTO E PERSPECTIVA DA PESQUISA ...................................... 96
3.2 UNIDADE DE ANÁLISE ..................................................................................... 97
3.3 DEFINIÇÃO DO NÚMERO DE CASOS ............................................................. 98
3.4 SELEÇÃO DAS EMPRESAS ESTUDADAS ...................................................... 99
3.5 COLETA DE DADOS ........................................................................................... 101
3.5.1 Dados primários ................................................................................................... 101
3.5.1.1 Entrevistas ............................................................................................................. 102
3.5.1.2 Pesquisa documental .............................................................................................. 103
3.5.2 Dados secundários ............................................................................................... 104
3.5.2.1 Pesquisa bibliográfica ............................................................................................ 104
3.6 ANÁLISE DE DADOS ......................................................................................... 104
3.7 PROTOCOLO PARA A REALIZAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO ............... 109
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS CASOS ................................................ 114
4.1 APRESENTAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS ... 114
4.2 APRESENTAÇÃO DOS CASOS ......................................................................... 115
4.2.1 Processo de criação .............................................................................................. 116
4.3 ANÁLISE DOS CASOS ....................................................................................... 124
4.3.1 Processo de desenvolvimento .............................................................................. 126
4.3.1.1 Escolha de fornecedores ........................................................................................ 127
4.3.1.2 Política de relacionamento com clientes ............................................................... 131
4.3.1.3 Políticas de administração da carteira ................................................................... 133
4.3.1.4 Operacionalização da concorrência ....................................................................... 134
4.3.1.5 Mercado financeiro ................................................................................................ 138
4.3.1.6 Influências do poder público ................................................................................. 138
4.3.1.7 Processo de gestão ................................................................................................. 139
4.3.1.8 Dificuldades encontradas ....................................................................................... 145
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 156
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 158
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista individual ............................................ 163
RESUMO
Diversos modelos de ciclo de vida organizacional foram desenvolvidos para explicar o
processo de crescimento das organizações. Em geral, eles tomam como parâmetro a trajetória
de grandes empresas e pouco se conhece sobre os problemas que afetam o desenvolvimento
de pequenas empresas. Estudos têm demonstrado que as taxas de mortalidade de pequenas
empresas brasileiras são elevadas, sendo necessário um melhor entendimento das dificuldades
que elas enfrentam no início de suas atividades, para que se possa promover o seu
crescimento. Portanto, o objetivo geral desta pesquisa consistiu em identificar os problemas
enfrentados pela pequena empresa do setor de serviços securitários no primeiro estágio do
ciclo de vida, contribuindo para a compreensão do seu processo de desenvolvimento. Para
atingir os objetivos foram realizados cinco estudos de caso com empresas do setor de
serviços, ramo de seguros, constituídas no ano de 2001, na região noroeste do estado do
Paraná e que se encontram ativas no mercado. A pesquisa documental e a entrevista semi-
estruturada foram os métodos utilizados para a coleta de dados, sendo que os dados foram
analisados mediante a utilização da técnica de análise de conteúdo. Os resultados da análise
qualitativa mostraram problemas específicos ainda não mencionados na literatura que abrange
a teoria do ciclo de vida organizacional, como por exemplo, a concorrência com grandes
organizações que atuam no mesmo segmento de mercado e a natureza do serviço prestado,
requerendo alerta constante dos empreendedores.
Palavras-chave: Ciclo de vida organizacional; Pequenas empresas; Setor de serviços;
Desenvolvimento de empresas.
ABSTRACT
Several models taken from the organizational life cycle have been developed to
explain the growth process of organizations. As a rule they adopt the trajectory of big
enterprises with scanty knowledge on the problems which concern the development of smaller
ones. Since the mortality rate of small Brazilian enterprises is high, a better understanding of
the difficulties they face at the start of their activities is needed so that their growth may be
warranted. The identification of problems within the small insurance enterprise at the first
stages of development is the aim of current research. It will be a contribution towards the
understanding of the development process. Five case studies with insurance firms, still on the
market, established in the north-western region of the state of Paraná, Brazil, in 2001, have
been undertaken. The semi-structured interview and documental research have been the
methods for data collection, whereas data were analyzed according to contents analysis
techniques. Results of qualitative analysis showed specific problems still not mentioned in the
literature on the theory of organizational life cycle. Competition with big organizations
sharing the same market section and the type of the service given need the entrepreneurs’
constant attention and solicitude.
Key words: organization’s life cycle; small enterprises; service section; enterprises’
development.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Principais critérios quantitativos de classificação de pequenas empresas no
Brasil.................................................................................................................. 23
Quadro 2 Teorias Básicas de Mudança Organizacional ................................................... 30
Quadro 3 Estágios de desenvolvimento organizacional e suas preocupações críticas ..... 39
Quadro 4 Estágios de desenvolvimento e suas características segundo Lippitt e
Schmidt (1967) .................................................................................................. 40
Quadro 5 Estágio de desenvolvimento e seus problemas segundo Lippitt Schmidt
(1967) ................................................................................................................ 42
Quadro 6 Estágios de desenvolvimento e suas características segundo Greiner (1972).. 52
Quadro 7 Estágios de desenvolvimento e seus problemas segundo Greiner (1972) ........ 54
Quadro 8 Estágios de desenvolvimento e suas características segundo Adizes (1990) ... 61
Quadro 9 Estágios de desenvolvimento e seus problemas segundo Adizes (1990).......... 63
Quadro 10 Estágios de desenvolvimento e suas características segundo Churchill e
Lewis (1983)...................................................................................................... 68
Quadro 11 Estágios de desenvolvimento e seus problemas segundo Churchill e Lewis
(1983) ................................................................................................................ 70
Quadro 12 Estágios de desenvolvimento e suas características segundo Scott e Bruce
(1987) ................................................................................................................ 75
Quadro 13 Estágios de desenvolvimento e seus problemas segundo Scott e Bruce
(1987) ................................................................................................................ 78
Quadro 14 Comparação dos estágios dos modelos de CVO segundo tipologia genérica
proposta por HANKS et al. (1993).................................................................... 79
Quadro 15 Estágio inicial do CVO e suas características segundo tipologia genérica
proposta por HANKS at al. (1993) .................................................................. 80
Quadro 16 Estágio inicial do CVO e seus problemas segundo tipologia genérica
proposta por HANKS at al. (1993) ................................................................... 81
Quadro 17 Principais características do estágio inicial do CVO......................................... 92
Quadro 18 Problemas característicos do estágio inicial do CVO ....................................... 94
Quadro 19 Unidades de análise da pesquisa........................................................................ 101
Quadro 20 Protocolo para a realização dos estudos de caso ............................................... 109
Quadro 21 Sinopse da estratégia metodológica................................................................... 110
Quadro 22 Algumas características das empresas pesquisadas no início de suas
atividades: 2001................................................................................................. 123
Quadro 23 Algumas características das empresas pesquisadas: 2005................................. 150
Quadro 24 Síntese dos problemas encontrados no primeiro estágio do CVO .................... 153
LISTA DE GRÁFICOS E FIGURAS
Gráfico 1 Taxa de mortalidade de empresas brasileiras constituídas no período de
2000 a 2002 segundo o número de pessoas ocupadas ...................................... 27
Figura 1 Processos Teóricos de Mudança e Desenvolvimento Organizacional .............. 32
Figura 2 Cinco fases de crescimento organizacional ...................................................... 44
Figura 3 Estágios do ciclo de vida organizacional .......................................................... 56
Figura 4 Sistema nacional de seguros privados .............................................................. 114
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Taxa de mortalidade de empresas brasileiras constituídas no período de
2000 a 2002 ...................................................................................................... 17
Tabela 2 Empresas extintas no período de 2000 a 2004 por setor de atividade e
número de pessoas ocupadas ............................................................................ 28
13
1 INTRODUÇÃO
1.1 TEMA E PROBLEMA DA PESQUISA
A evolução recente da economia mundial é marcada por um conjunto de profundas
transformações econômicas, tecnológicas e sociais, cujos limites ainda não estão
perfeitamente definidos, mas algumas de suas características se evidenciam fortemente no
intenso ritmo de mudanças tecnológicas, no acirramento da concorrência, nas crescentes
flutuações dos mercados, na diluição das fronteiras e no aumento das condições de incerteza e
de risco em que são tomadas as decisões dos agentes econômicos (SOUZA, 1995).
A velocidade em que se operam as transformações é exponencial e instável por
natureza, no entanto, ela normalmente pode ser gerida. Há que se ter consciência de que os
negócios não são eternos: nascem, crescem, desenvolvem-se e podem, eventualmente, morrer.
Contudo, as organizações têm o poder e a oportunidade de prever e antecipar muitas das
alterações que ocorrem no nicho de mercado em que atuam, gerindo o seu desenvolvimento.
Por isso, é imprescindível que as empresas façam um acompanhamento contínuo desse
mercado e do seu relacionamento com o mercado global, ponderando e buscando soluções de
continuidade e de inovação organizacional.
Nesse contexto, a importância sócio-econômica das pequenas empresas é inestimável,
uma vez que geram empregos, tecem redes de relações com médias e grandes empresas e
estão presentes com grande capilaridade em todo o território nacional, contribuindo para o seu
dinamismo. Elas constituem elos fundamentais de inúmeras cadeias produtivas, tanto no setor
primário quanto nos setores industrial, comercial e de serviço, evidenciando a sua importância
para a melhoria do perfil de distribuição de renda e das riquezas, numa economia marcada por
desigualdades.
14
No entanto, ainda são consideráveis os desafios colocados à sobrevivência e ao
desenvolvimento dessas empresas na fase inicial do ciclo de vida. Segundo o Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE (2004), 60% das empresas que
nascem, não sobrevivem aos primeiros quatro anos de existência. Esse fechamento precoce
dos empreendimentos constitui-se uma preocupação por parte dos agentes econômicos, pois é
significativo o volume de recursos desperdiçados e de patrimônio familiar dilapidado, além da
queda na circulação de riquezas na economia, prejudicando a dinâmica econômico-social do
país. Daí a importância de se reconhecer e tratar desses desafios, os quais incluem desde o
fato de as pequenas empresas serem numerosas, heterogêneas e dispersas demais, até a falta
de conceitos e indicadores que captem a realidade desse segmento empresarial.
Assim, explicar como e por quê as organizações se desenvolvem tem sido uma busca
constante e central de pesquisadores em administração. Entretanto, a seqüência de eventos
que se desdobram ao longo desse processo de crescimento tem se mostrado complexa e de
difícil explicação. Nesse sentido, os pesquisadores têm emprestado muitos conceitos,
metáforas e teorias de outras disciplinas. Dentre elas incluem-se, por exemplo: a instabilidade;
os estágios de crescimento e os processos de declínio e morte; a ecologia populacional e os
modelos funcionais de mudança e desenvolvimento; e a teoria do caos. Como resultado, essa
interação entre diferentes perspectivas tem criado um pluralismo teórico, revelando novas
maneiras de explicar alguns processos de desenvolvimento organizacional, e propiciando um
maior entendimento acerca da vivência das empresas.
A partir do final da década de 60, autores como Lippitt e Schmidt (1967), Downs
(1967), Scott (1971), Greiner (1972), Torbert (1974), Lyden (1975), Katz e Kahn (1978),
Kimberly (1979), Churchill e Lewis (1983), Scott e Bruce (1987), e Adizes (1990), têm
sugerido que o desenho, o desenvolvimento e o comportamento das organizações podem ser
previstos por meio de modelos de ciclo de vida. Esses autores também sugerem, com base
15
nesses modelos, que as mudanças que ocorrem nas organizações seguem um padrão
previsível, que pode ser caracterizado por estágios, fases ou períodos de desenvolvimento.
Para Levie e Hay (1998 apud BEVERLAND, 2000), o melhor dos modelos de ciclo de
vida pode obter algum sucesso em explicar o crescimento de um determinado setor, mas a
existência de uma teoria geral é improvável. Nesse sentido, Scott e Bruce (1987) argumentam
que apesar das diferenças de cada empresa, as pesquisas mostram que há similaridades
suficientes nos problemas que elas enfrentam, para construir um modelo de crescimento geral
para a administração de pequenas empresas. Porém, os autores esclarecem que o modelo de
ciclo de vida não se apresenta como uma panacéia para a formulação estratégica das
organizações. Ele é até certo ponto, uma ferramenta de diagnóstico que ajuda na análise da
situação presente de uma empresa, podendo ser utilizado como um indicador de estratégias
que parecem mais apropriadas em um determinado estágio de seu ciclo de vida.
Diante disso, com o crescimento contínuo do mercado segurador brasileiro, que
somente no quadriênio 2000/2004 experimentou uma expansão de 82,6% na sua arrecadação
anual (3,38% do PIB brasileiro), também se observou o crescimento do número de pequenas
empresas prestadoras de serviço, que atuam no mercado promovendo contratos de seguro
entre as sociedades seguradoras e as pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, ou seja,
são intermediários autorizados pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) para
operacionalizar a comercialização dos produtos disponibilizados pelas sociedades seguradoras
nos três segmentos do mercado segurador: ramos elementares, previdência privada
complementar e capitalização. Atualmente, de acordo com a FENACOR (2005), existem
72.052 corretores cadastrados ativos, sendo 46.520 pessoas físicas e 25.532 pessoas jurídicas.
Nesse contexto, considerando a importância desse segmento de pequenas empresas, o
problema desta pesquisa está relacionado à seguinte questão:
16
Quais são os problemas enfrentados por pequenas empresas no setor de serviços
securitários no primeiro estágio do ciclo de vida?
1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA
As pequenas empresas são extremamente importantes no contexto sócio-econômico
brasileiro por representarem poderoso fator de promoção social, base da estabilidade política e
força propulsora do desenvolvimento, dada a sua capacidade de, simultaneamente, gerar
empregos e incorporar tecnologias (TERENCE, 2002).
De acordo com Souza (1995), existem muitas outras justificativas para o estudo das
pequenas empresas, entre as quais estão: o estímulo a livre iniciativa e a capacidade
empreendedora; a relação capital/trabalho mais harmoniosa; o efeito amortecedor dos
impactos do desemprego e dos efeitos das flutuações na atividade econômica; a manutenção
de certo nível de atividade econômica em determinadas regiões; a contribuição para a
descentralização da atividade econômica, de modo especial no papel de complemento para as
grandes empresas; e o potencial de assimilação, adaptação, introdução e, algumas vezes,
geração de novas tecnologias de produto e de processo.
Para Adizes (1990), apesar das restrições econômicas e financeiras a que essas
empresas estão sujeitas no período inicial de seu desenvolvimento, elas são capazes de
proagir, isto é, de agir ativamente em relação às transformações conjunturais do ambiente e às
novas exigências do mercado; e que essa resposta normalmente é rápida, graças a uma
proximidade maior com os clientes, em função de sua flexibilidade e simplicidade
operacionais.
No Brasil, conforme pesquisa realizada pelo SEBRAE (2004), são constituídas 470
mil novas empresas por ano. No entanto, aproximadamente 60% dessas empresas são
17
fechadas até o final do quarto ano de sua data de abertura, conforme pode ser observado no
Quadro 1, para as empresas constituídas no ano de 2000.
Tabela 1 – Taxa de mortalidade de empresas brasileiras constituídas no período de 2000 a 2002
Taxa de Mortalidade Brasileira / Ano Base 2004
Ano de
Constituição
Sudeste Sul Nordeste Norte Centro Oeste Brasil
2002 48,9 52,9 46,7 47,5 49,4 49,4
2001 56,7 60,1 53,4 51,6 54,6 56,4
2000 61,1 58,9 62,7 53,4 53,9 59,9
Fonte: SEBRAE (2004, p. 11).
Assim, mesmo sendo flexíveis e enxutas, as pequenas empresas encontram
dificuldades de sobrevivência no mercado atual, devido a uma série de problemas
característicos na primeira fase de desenvolvimento de seu ciclo de vida. Esses problemas
podem se tornar anormais ou patológicos (ADIZES, 1990), levando as empresa a uma morte
precoce, como demonstrado no Tabela 1.
O SEBRAE (2005a, 2005b, 2005c), com base nas últimas estatísticas gerais realizadas
pelo IBGE em 2002, mostra que os pequenos negócios
1
somavam 99,2% das empresas
formais do país, empregando 57,2% dos 27,6 milhões de pessoas com carteira assinada e
respondendo por 26% dos salários pagos pelas empresas brasileiras naquele ano, ou seja, R$
215,88 bilhões. Ressalta-se também que no setor de serviços desse segmento empresarial,
mais especificamente aquelas empresas que atuam na corretagem e administração de seguros,
os pequenos empreendimentos prestam um serviço importantíssimo junto ao mercado
segurador quando ajudam na comercialização e administração dos produtos desenvolvidos e
disponibilizados pelas companhias seguradoras presentes no mercado brasileiro, que
conseguiu atingir no ano de 2004, um volume total de arrecadação de 59,8 bilhões de reais,
onde os segmentos de seguros/ramos elementares, capitalização e previdência privada
1
Pessoas jurídicas, inscritas no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ, com até 99 pessoas ocupadas
(IBGE, 2004).
18
complementar, responderam por R$ 45,1, R$ 6,6 e R$ 8,1 bilhões, respectivamente
(FENASEG, 2005b).
Considerando a importância das pequenas empresas e as altas taxas de mortalidade
observada nos primeiros anos de atividade para esse segmento empresarial, um entendimento
acerca do desenvolvimento de novas organizações, principalmente no estágio inicial, é
importante, pois pode contribuir para a sobrevivência dessas empresas. Além do que, a
maioria dos estudos sobre CVO enfoca as grandes organizações e pouco se conhece sobre os
pequenos negócios. Nesse sentido, Quinn e Cameron (1983) comentam sobre uma tendência
na literatura organizacional, que gera estudos com foco nas empresas maduras mais do que
nas novas, e que são executados com uma perspectiva de corte transversal mais do que
longitudinal, resultando segundo eles, em um menor aprendizado sobre o desenho e o
desenvolvimento de novas organizações.
Vale ressaltar ainda, que os poucos estudos sobre o desenvolvimento de pequenas
empresas brasileiras, como aqueles desenvolvidos pelo SEBRAE (2004), englobam, em uma
mesma amostra, uma diversidade de situações, envolvendo diferentes setores de atuação,
diferentes ramos intra-setoriais, diferentes níveis de experiência dos empreendedores, bem
como, diferentes momentos de criação dessas empresas. Com isso, as conclusões obtidas por
esses estudos, podem conter vieses que ocultam os reais problemas enfrentados por essas
empresas, durante o seu crescimento.
Diante desse contexto, pode-se compreender a importância de avaliar problemas
enfrentados pelas pequenas empresas do setor de serviços, no primeiro estágio do ciclo de
vida.
19
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA
1.3.1 Objetivo geral
Identificar os problemas enfrentados pela pequena empresa do setor de serviços
securitários no primeiro estágio do ciclo de vida, contribuindo para a compreensão do seu
processo de desenvolvimento.
1.3.2 Objetivos específicos
Descrever o processo de criação das empresas pesquisadas;
Descrever a trajetória de crescimento das empresas pesquisadas; e
Apontar os problemas enfrentados pelas empresas pesquisadas ao longo do estágio
inicial do ciclo de vida.
1.4 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
Para atingir os seus objetivos, essa dissertação está estruturada em seis partes, a saber:
1. Introdução; 2. Fundamentação Teórica; 3. Metodologia; 4. Apresentação e análise dos
casos; e 5. Conclusão.
Na primeira parte é apresentada a pesquisa, contextualizando o seu objeto de estudo
no tempo e no espaço e oferecendo ao leitor uma visão geral do “o que”, “por quê” e “para
quê” está sendo feita. Com isso, são apresentadas a problematização da pesquisa, as
justificativas de sua execução e seus objetivos.
Na seqüência, apresentam-se as teorias e os conceitos que dão embasamento às
questões discutidas no trabalho. Esse quadro teórico de referência contempla a teoria do ciclo
de vida e seus modelos de desenvolvimento.
Já os procedimentos metodológicos necessários à condução da pesquisa, são
discutidos e descritos na terceira parte.
20
A quarta parte apresenta as empresas, onde foram realizados os estudos de caso deste
trabalho, e a análise e discussão dos resultados.
Por fim, as conclusões sobre o trabalho, registradas na parte cinco, possibilitaram
verificar se os objetivos inicialmente propostos foram ou não alcançados, e apresenta
sugestões para estudos futuros.
21
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 PEQUENAS EMPRESAS
Os empreendimentos de pequeno porte constituem-se em contingente numeroso,
representando quase a totalidade das empresas em atividade no Brasil. Segundo dados do
SEBRAE (2005a, 2005b, 2005c), com base nas últimas estatísticas gerais realizadas pelo
IBGE em 2002, as pequenas empresas
2
somavam 99,2% dos 4,9 milhões de empresas formais
do país.
Bortoli Neto (1987) observa que os estudos realizados e a experiência histórica
demonstram que as empresas de pequeno porte possuem características próprias e exclusivas,
que as tornam essenciais e indispensáveis nas economias desenvolvidas e em
desenvolvimento, e exercem uma função ímpar no processo, tendo em vista:
a significativa contribuição na geração do produto nacional;
a excelência na absorção de grande contingente de mão-de-obra a baixo custo e com
menores exigências de qualificação;
a sua alta flexibilidade locacional, com importante papel no processo de
interiorização do desenvolvimento e, conseqüentemente, melhor distribuição
espacial da renda;
a sua capacidade de atuar complementarmente junto a grandes empreendimentos;
a sua condição de geradora de tecnologia, contribuindo para o aumento de estoque
de conhecimento nacional;
a possibilidade de atuação no comércio exterior; e
2
Pessoas jurídicas, inscritas no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ, com até 99 pessoas ocupadas
(IBGE, 2004).
22
a sua capacidade de gerar uma classe empresarial genuinamente nacional, devido a
transformação de unidades pequenas em médias e de médias em grandes, bem como
a contribuição para maior participação da empresa privada na economia nacional.
2.1.1 Critérios para definição de pequenas empresas
Leone (1991) explica que é possível compreender as pequenas empresas mediante o
estudo do seu tamanho, pois é pelo porte que elas se destacam das outras categorias
empresariais. A autora argumenta que, dependendo do tamanho, as empresas revelam
comportamento econômico e social diferentes e, conseqüentemente, apresentam problemas
diferentes e também recursos distintos para solucioná-los.
No entanto, estabelecer um padrão de tamanho para caracterizar pequenas empresas é
algo obviamente complexo e arbitrário, pois instituições, associações e pesquisadores adotam
critérios diferentes para propósitos diferentes. Ademais, é de se considerar que alguns
critérios podem ser aplicáveis a todas as áreas, ao passo que outros são relevantes apenas para
alguns tipos de negócios (TERENCE, 2002).
Assim, Leone (1991) entende que os estudos sobre empresas de pequeno porte
enfrentam o problema referente a definição de seu tamanho, e na tentativa de resolvê-lo
seguiu por três caminhos diferentes: o critério quantitativo, o qualitativo e uma combinação
de ambos.
Os critérios quantitativos são de caráter econômico. A autora afirma que existe estreita
correspondência entre os fenômenos econômicos e os sociais. Dessa maneira, quando os
critérios de caráter econômico são utilizados para conceituar as pequenas empresas, eles
ajudam a explicar o seu comportamento social. De modo semelhante, os critérios qualitativos,
de natureza mais social, quase sempre explicam o comportamento econômico das empresas.
Os critérios econômicos são diversificados, fáceis de coletar, e atingem diferentes
componentes da atividade empresarial, tais como: o valor do capital social, o valor dos ativos,
23
o valor do faturamento bruto anual e o número de empregados (LEONE, 1991). Eles
representam óticas diferentes e revelam informações específicas das empresas. No Quadro 1 é
apresentada uma síntese dos principais critérios quantitativos adotados para enquadramento
de pequenas empresas no Brasil.
CRITÉRIOS DE ENQUADRAMENTO
RECEITA BRUTA
ANUAL
NÚMERO DE
PESSOAS
OCUPADAS
3
Sistema integrado de pagamento de impostos e
contribuições – SIMPLES implementado pela lei nº 9.317
de 05/12/1996.
4
Até R$ 1.200.000,00
Estatuto da microempresa e da empresa de pequeno porte
aprovado pela lei nº 9.841 de 05/10/1999. Critério
atualizado pelo Decreto nº 5.028 de 31/03/2004.
Até R$ 2.133.222,00
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social
Até R$ 3.500.000,00
SEBRAE – Serviço Nacional de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas: Comércio e Serviços
Até 49 pessoas
SEBRAE – Serviço Nacional de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas: Indústria
Até 99 pessoas
RAIS – Relação Anual de Informações Sociais / MTE –
Ministério do Trabalho e Emprego
Até 99 pessoas
Quadro 1 – Principais critérios quantitativos de classificação de pequenas empresas no Brasil
Fontes: Adaptado de SEBRAE (2004) e IBGE (2001).
Para Rattner et al. (1985), apesar dos dados quantitativos serem necessários para
dimensionar e comparar certos aspectos, funções e problemas das pequenas empresas, é
preciso obter informações qualitativas complementares, a fim de apreender a dinâmica e as
tendências do processo de desenvolvimento, bem como as funções diferenciadas que
pequenas, médias e grandes empresas nele desempenham.
Como observa Leone (1991), os critérios qualitativos apresentam uma imagem mais
fiel da empresa, uma vez que tocam, essencialmente, na sua estrutura interna, na sua
organização e nos estilos de gestão. Estão mais sincronizados com os estilos de direção, com
3
Pessoas efetivamente ocupadas em 31 de dezembro do ano de referência do Cadastro Central de Empresas –
CEMPRE, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, com vínculo empregatício, bem como os
proprietários e sócios com atividade na unidade (IBGE, 2004).
4
O regime simplificado de tributação SIMPLES também adota o critério do Estatuto para enquadrar pequena
empresa, mas ainda não corrigiu o valor antigo, R$ 1.200.000,00.
24
o perfil e com as atitudes dos dirigentes e suas percepções do ambiente externo e assim
podem oferecer mais subsídios para o estudo do comportamento de uma empresa.
De acordo com Pinheiro (1996), a pequena empresa se define por uma série de
características ou circunstâncias relacionadas às suas peculiaridades e, freqüentemente, a
determinada finalidade em relação à sua participação na economia. O autor diz que as
características da pequena empresa estão, geralmente, delimitadas pelos seguintes fatores ou
condições:
a empresa é de propriedade de um só indivíduo ou de um pequeno grupo de pessoas;
ela é administrada pelos proprietários de forma independente e, mesmo quando
profissionalizada, eles se conservam como o principal centro de decisões;
o seu capital é financiado basicamente pelos proprietários;
ela opera numa área limitada, geralmente restrita à sua localização ou quando muito
à região onde está situada;
a sua atividade produtiva não ocupa posição de destaque ou de predominância em
relação ao mercado.
Leone (1991) diz que outros critérios qualitativos podem ser indicados. Assim, uma
pequena empresa tem normalmente:
estreita relação pessoal do proprietário com os empregados, os clientes e os
fornecedores;
dificuldade em obter créditos, mesmo a curto prazo;
falta de poder de barganha nas negociações de compra e venda; e
uma integração na comunidade local a qual pertencem seus proprietários.
No entanto, deve-se considerar a dificuldade inerente a classificação qualitativa de
empresas. Segundo Leone (1991), a obtenção dos dados depende de um estudo do processo
25
organizacional de cada empresa, ou seja, é um processo pouco usado em pesquisas onde se
necessita definir o porte das empresas, antes de propriamente chegar a entrar nelas.
Segundo Longenecker, Moore e Petty (1997), devem ser adotados critérios diferentes
para objetivos diferentes, pois, o uso de determinados critérios sempre depende das
finalidades que o pesquisador, o analista, a agência de crédito e financiamento ou a instituição
governamental almejam (LEONE, 1991).
2.1.1.1 Heterogeneidade das pequenas empresas
Mesmo que se defina um critério útil para a classificação da pequena empresa, deve-se
considerar a heterogeneidade existente no setor, independentemente de como ele tenha sido
delimitado. As características específicas expostas neste trabalho devem ser consideradas
como aspectos comumente encontrados nas pequenas empresas e na literatura, mas não
devem ser encarados como regras gerais para caracterizá-las.
Assim, apesar de algumas características serem consideradas comuns às pequenas
empresas, é importante reconhecer a heterogeneidade entre elas. Souza (1995) afirma que a
diversidade de pequenas empresas conduz a necessidade de outras classificações adicionais.
Complementarmente, Rattner et al. (1985) entendem que um setor de negócio não é
um simples conjunto de empresas individuais, funcionalmente idênticas. Pelo contrário, as
análises intra-setoriais revelam uma estrutura complexa caracterizada por relações dinâmicas
entre unidades, com posições e funções diferentes.
A atuação das pequenas empresas se dá em diferentes setores de atividades e com
variadas formas de relações e grau de subordinação às demais empresas; os efeitos desses
fatores limitantes não se apresentam da mesma forma para todas as empresas (COELHO e
SOUZA, 1999).
Vieira e Ferro (1985) afirmam também, que apesar de existirem variáveis específicas
operando em cada setor e essas pesarem bastante na interpretação da dinâmica de
26
sobrevivência, existem ainda certos aspectos gerais (semelhanças) no universo das pequenas
empresas que permitem não só compreender-lhes as origens mais peculiares e certas
limitações operacionais, senão também contribuir de maneira relevante para o entendimento
de sua participação no sistema produtivo e condições de existência e continuidade. Os autores
tratam a pequena empresa como categoria complexa de análise.
Para Pinheiro (1996), as pequenas empresas distinguem-se uma das outras pela
diversidade de tamanho, pelo nicho de mercado/produto e pelo estágio de desenvolvimento,
fatores que levam à diferenciação do estrato dessas empresas. Para ele, a categorização ou
classificação das empresas é uma dificuldade comumente enfrentada pelo pesquisador, uma
vez que a diversidade de tamanho e de condições econômico-produtivas dificulta a
homogeneização para efeito de estudos.
Contudo, essa homogeneização fica mais fácil quando se trabalha com pequenas
empresas que atuam em um ramo intra-setorial específico, ou seja, pequenas empresas que
trabalham no ramo de seguros, no setor de serviços.
2.1.2 Mortalidade de pequenas empresas
O fechamento prematuro de empresas no País tem sido uma das preocupações da
sociedade, particularmente para os agentes econômicos. Por isso, é de fundamental
importância obter informações que propiciem identificar as causas das elevadas taxas de
mortalidade das empresas, visando à atuação coordenada e efetiva dos órgãos públicos e
privados em prol da permanência dos pequenos empreendimentos em atividade, evitando o
seu encerramento precoce.
Conforme pesquisa nacional realizada pelo SEBRAE (2004), as taxas de mortalidade
consolidadas para o país, referente às empresas abertas nos anos de 2002, 2001 e 2000
respectivamente, foram as seguintes:
27
49,4% para as empresas com até 2 anos de existência;
56,4% para as empresas com até 3 anos de existência; e
59,9% para as empresas com até 4 anos de existência.
Esta pesquisa revela ainda, que 96% dos pequenos negócios que fecharam as portas
nesse período, possuíam de 1 a 9 pessoas ocupadas (Gráfico 1) e eram responsáveis por 3,2
postos de trabalho em média.
75%
21%
3%
1%
0
20
40
60
80
Com 1 pessoa
ocupada
Com 2 até 9 pessoas
ocupadas
Com 10 até 19
pessoas ocupadas
Com 20 pessoas
ocupadas acima
Gráfico 1 Taxa de mortalidade de empresas brasileiras constituídas no período de 2000 a 2002
segundo o número de pessoas ocupadas
Fonte: SEBRAE (2004).
As empresas extintas estão concentradas nas atividades de comércio e serviços,
apresentando pequenas variações de acordo com o número de pessoas ocupadas (SEBRAE,
2004). Notadamente, as empresas com 02 até 09 pessoas ocupadas apresentam maior
incidência no setor de comércio, enquanto que aquelas com apenas 01 pessoa são na maioria
prestadoras de serviços, conforme demonstrado na Tabela 2, mostrando a necessidade de se
conhecer melhor o processo de criação e desenvolvimento das empresas do setor de serviços,
durante o estágio inicial do ciclo de vida.
28
Tabela 2 – Empresas extintas no período de 2000 a 2004 por setor de atividade e número de pessoas
ocupadas
Setor de Atividade
Número de Pessoas
Ocupadas
Indústria Comércio Prestação de Serviço
Uma 2% 46% 52%
De 1 a 9 3% 53% 44%
De 10 a 19 - 50% 50%
Fonte: Adaptado SEBRAE (2004, p. 21).
De acordo com Leone (1999), é necessário encarar de modo diferenciado a gestão das
pequenas empresas, uma vez que elas apresentam algumas características próprias que as
distinguem das empresas de maior porte. A autora argumenta que existem algumas
características comuns a essas empresas, que garantem um tipo de gestão específica, como por
exemplo, a importância do papel do empreendedor e, portanto, de suas aspirações, de suas
motivações e de seus objetivos pessoais; e o papel do ambiente que impõe a essas empresas a
necessidade de adaptação.
2.2 TEORIAS DE PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL
Com base em uma revisão de literatura, Van de Ven e Poole (1995) introduziram
quatro tipos básicos de processos teóricos que explicam como e por que as mudanças se
desenvolvem nas entidades biológicas ou organizacionais: teorias do ciclo de vida,
teleológica, dialética e evolucionária. O Quadro 2 apresenta essas quatro teorias de acordo
com seus elementos, pesquisadores pioneiros, progressão de eventos, mecanismos geradores,
e condições sob as quais elas são provavelmente operadas. Essas teorias representam
fundamentalmente diferentes seqüências de eventos e mecanismos geradores para explicar
“como” e “por que” as mudanças se desenvolvem nas entidades organizacionais.
Os mesmos autores afirmam que todas as teorias específicas de mudança e
desenvolvimento organizacional podem ser construídas com base em um ou mais desses
quatro tipos teóricos básicos.
29
Ao lado da teleologia a teoria do ciclo de vida é talvez a explicação mais comum de
desenvolvimento na literatura administrativa (VAN DE VEN e POOLE, 1995). Com isso,
pesquisadores em Administração têm adotado a metáfora de crescimento orgânico como um
dispositivo heurístico para explicar o desenvolvimento organizacional desde sua concepção
até seu declínio ou morte. Verifica-se, por exemplo, o uso freqüente de referências para o
ciclo de vida de produtos e empreendimentos organizacionais, tal como: nascimento,
crescimento, adolescência, maturidade, declínio ou morte.
De acordo com a teoria do ciclo de vida, a mudança é imanente, isto é, o
desenvolvimento de uma organização carrega dentro de si uma forma subjacente, um
programa, uma lógica, ou código que regula o processo de mudança e conduz a organização
de um dado ponto de partida em direção a um subseqüente fim, que está prefigurado no estado
presente. Assim, a forma que se apresenta inicialmente em seu estado primitivo ou
embrionário torna-se progressivamente mais realizada, madura e diferenciada. Os eventos e
processos do ambiente externo podem influenciar o como a entidade organizacional se
expressa, mas eles são sempre mediados pela lógica imanente, regras ou programas que
governam o desenvolvimento da organização (VAN DE VEN e POOLE, 1995).
30
TELEOLOGIA
Estabelecimento de metas,
planejamento.
Funcionalismo.
Construção social.
Interação simbólica.
Mead (1863-1931)
Weber (1864-1920)
Simon (1916-)
Cooperação intencional.
Estado fim visualizado.
Construção social.
Eqüifinalidade.
Seqüência descontínua, recorrente
de estabelecimento de metas,
implementação, e adaptação de
meios para alcançar o estado fim
desejado.
Estabelecimento consensual de
metas como meio de
cooperação/simbiose.
DIALÉTICA
Teoria do conflito.
Materialismo dialético.
Pluralismo.
Ação coletiva.
Hegel (1770-1831)
Marx (1818-1883)
Freud (1856-1939)
Oposição, conflito.
Forças contraditórias.
Tese, antítese, síntese.
Seqüência de confrontação
recorrente, descontínua,
conflito e síntese entre valores
ou eventos contraditórios.
Conflito e confrontação entre
forças, interesses ou classes
opostas.
EVOLUÇÃO
Evolução Darwiniana.
Genética Mendeliana.
Saltationismo.
Instabilidade.
Lamarck (1744-1829)
Darwin (1809-1882)
Mendel (1822-1884)
Gould e Eldridge (1977)
Sobrevivência competitiva.
Seleção natural entre os
competidores de uma população.
Seqüência recorrente, cumulativa e
probabilística de variação, seleção e
eventos de retenção.
Escassez de população.
Competição.
Comensalismo.
TEORIAS BÁSICAS DE MUDANÇA ORGANIZACIONAL
CICLO DE VIDA
Desenvolvimentalismo.
Ontogênese.
Metamorfose.
Modelos cíclicos e estágios.
Comte (1798-1857)
Spencer (1820-1903)
Piaget (1896-1980)
Crescimento orgânico.
Mudança imanente.
Seqüência prefigurada.
Adaptação submissa.
Seqüência linear e irreversível de
estágios prescritos no
desdobramento de potenciais
imanentes presentes na origem.
Desenvolvimento prefigurado
regulado pela natureza, lógica, ou
instituições.
Elementos
Pioneiros
Metáfora Chave
Lógica
Progressão de
Eventos
Força Geradora
Quadro 2 – Teorias Básicas de Mudança Organizacional
Fonte: Van de Ven e Poole (1995, p. 514).
31
A progressão típica de eventos de mudança em um modelo de ciclo de vida é uma
seqüência unitária (ela permite uma seqüência única de estágios ou fases), a qual é cumulativa
(características adquiridas em estágios anteriores são mantidas nos estágios seguintes) e
conjuntiva (os estágios são relacionados de modo que eles derivam de um processo básico
comum). Há dessa maneira, uma progressão porque a trajetória para o estado final está
prefigurada e requer uma seqüência histórica específica de eventos. Cada um destes eventos
contribui um pouco para o resultado final, e eles devem ocorrer em uma ordem prescrita, uma
vez que cada um deles aproxima mais, o estágio atual do próximo. Assim, cada estágio de
desenvolvimento é visto como o precursor necessário de estágios sucessivos.
A teoria do ciclo de vida organizacional freqüentemente explica o desenvolvimento
em termos de regras institucionais, ou programas que requeiram atividades desenvolvimentais
para progredir em uma seqüência prescrita. De outra forma, ela depende da seqüência natural
ou lógica inerente ao desenvolvimento dessas entidades.
Assim, Van de Ven e Pool (1995) deixam claro que é importante evitar a suposição
comum de que todo desenvolvimento ou processo de mudança representa progresso de um
estado mais simples e inferior, para um estado mais complexo e superior. Essa é uma
trajetória possível que o desenvolvimento pode seguir, mas ela não é a única. O
desenvolvimento organizacional pode seguir também uma trajetória regressiva, como no caso
do declínio organizacional (KIMBERLY e MILES, 1980; ADIZES, 1990).
2.2.1 Tipologia das teorias de processo de desenvolvimento
As teorias do ciclo de vida, teleologia, dialética e evolucionária provêm quatro formas
consistentes de processos de mudança nas organizações. Em cada teoria (1) o processo é visto
como um ciclo diferente de eventos de mudança, (2) as quais são governadas por diferentes
mecanismos geradores que (3) operam em uma unidade diferente de análise e (4) representam
um modo de mudança diferente. Com base nessas quatro características Van de Ven e Poole
32
(1995) estabeleceram parâmetros para identificar onde e quando essas teorias devem ser
utilizadas para explicar o desenvolvimento organizacional. A Figura 1 apresenta um esquema
metateórico para ilustrar e diferenciar as referidas teorias em termos dessas quatro
características.
►○
►○
►○
►○
►○
►○
►○
►○
Várias
Entidades
Uma
Entidade
Unidade
de
Mudança
Modo de Mudança
Prescritivo Construtivo
TELEOLOGIA
Ação intencional
Construção social
Consenso
Estabelecer/
Desenhar metas
Insatisfação
Implementação
de metas
Interação
Busca/
DIALÉTICA
Síntese
Conflito
Antítese
Tese
Pluralismo
(diversidade)
Confrontação
CICLO DE VIDA
Programa imanente
Regulação
Adaptação submissa
Estágio 2
(Crescimento)
Estágio 4 (Morte)
Estágio 3
(Maturidade)
Estágio 1
(Nascimento)
EVOLUÇÃO
Escassez de população
Seleção do meio ambiente
Competição
Retenção
Seleção
Variação
Figura 1 – Processos Teóricos de Mudança e Desenvolvimento Organizacional
Fonte: Van de Ven e Poole (1995, p. 520).
De acordo com a classificação feita pelos autores, um modelo de ciclo de vida
descreve o processo de mudança em uma organização como progredindo por uma seqüência
necessária de quatro estágios: nascimento, crescimento, maturidade e morte. Um programa
institucional, natural ou lógico prescreve os conteúdos específicos desses estágios. A Figura 1
mostra também, que os autores utilizaram ainda, duas dimensões analíticas para realizar a
33
classificação tipológica da progressão do desenvolvimento organizacional: a unidade de
mudança e o modo de mudança.
2.2.1.1 Unidade de mudança
O processo de mudança e desenvolvimento acontece em muitos níveis
organizacionais, incluindo o individual, o grupo, a organização, a população e até mesmo
comunidades maiores de organizações. A classificação feita por Van de Ven e Pool (1995)
ressalta dois diferentes ângulos para se estudar a mudança em um dado nível organizacional:
(1) o desenvolvimento interno de uma única organização pelo exame de seu processo
histórico de mudança, adaptação e replicação, e (2) os relacionamentos entre diversas
organizações para entender processos ecológicos de competição, cooperação, conflito e outras
formas de interação. Dentro dessa proposição, a teoria do ciclo de vida e a teoria teleológica
consideram uma única organização para explicar o desenvolvimento. A teoria do ciclo de vida
explica o desenvolvimento como uma função de imanentes potenciais dentro da entidade.
Embora o meio ambiente e outras organizações possam determinar como essa imanência é
manifestada, eles são estritamente secundários. A força para o desenvolvimento vem de
dentro da unidade, desenvolvendo a organização como um todo.
2.2.1.2 Modo de mudança
Nessa dimensão analítica, as quatro teorias podem ser diferenciadas em termos da
seqüência de eventos de mudança, ou seja, se ela é prescrita a princípio por leis probabilísticas
ou determinísticas, ou se ela é construída e emerge com o desdobramento do processo de
mudança. Um modo prescritivo de mudança canaliza o desenvolvimento das organizações em
uma direção predeterminada, tipicamente conservadora e incremental, adaptando suas formas
de uma maneira previsível e estável. De outra forma, um modo construtivo de mudanças gera
sem precedentes, novas formas que, em retrospecto, freqüentemente são descontínuas e
imprevisíveis em relação ao passado. Um modo prescritivo evoca uma seqüência de eventos
34
de mudança de acordo com um programa preestabelecido ou ação rotina. Um modo
construtivo, em contraste, produz novas ações rotinas que podem ou não criar uma
formulação ou reformulação da organização original. As teorias do ciclo de vida e
evolucionária operam em uma modalidade prescritiva, enquanto as teorias teleológica e
dialética operam em uma modalidade construtiva.
Conforme citado por Van de Ven e Poole (1995) os processos que produzem as
mudanças dentro do modelo prescritivo são previsíveis porque eles são moldados com base
em um estágio anterior. Ao longo do ciclo de vida o acúmulo de pequenas mudanças pode
produzir uma mudança maior da organização em grau ou qualidade. Entretanto, raramente
surgem mutações ou mudanças que rompem as estruturas nos modelos de ciclo de vida. A
incerteza enfrentada pelas pessoas que estão passando por tais mudanças é relativamente
baixa, porque normalmente elas percebem suficiente continuidade para antecipar e discernir a
direção da mudança.
As duas dimensões - unidade e modo de mudança - classificam as teorias de
desenvolvimento organizacional em termos de sua ação e processo. Elas diferem de outras
dimensões freqüentemente usadas para classificar as teorias de mudança organizacional, tal
como mudança incremental versos radical, mudança contínua versos descontínua e mudança
de primeira ordem versos mudança segunda ordem. Essas dimensões classificam as mudanças
organizacionais pelas suas conseqüências ou resultados, mais do que pela sua origem ou
condições de processo. Uma vantagem da tipologia apresentada por Van de Ven e Poole
(1995), é que é possível identificar através do(s) mecanismo(s) gerador(es) de um processo de
mudança, a teoria (ou teorias) mais adequada para conduzi-lo de forma a minimizar o impacto
para a organização. A teoria do ciclo de vida, por exemplo, é operada mediante o
estabelecimento das seguintes condições:
35
Existência de uma organização distinta e singular que passa por mudança e ainda
mantém sua identidade através do processo.
Uma organização passa por estágios distintos na forma ou função.
Existência de um programa ou lógica que determina os estágios de desenvolvimento
e governa a progressão através desses estágios.
Destaca-se que as condições para operação de uma teoria de processo de mudança,
dado a complexidade desse fenômeno, normalmente exige uma interface entre uma ou mais
dessas teorias. Como exemplo, Van de Ven e Poole (1995) citam o trabalho de Greiner (1972)
– Estágio de Crescimento e Crise nas Organizações, que faz uma interface entre a teoria do
ciclo de vida e a teoria dialética.
2.3 MODELOS DE CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL
O conceito de ciclo de vida organizacional (CVO) baseia-se no pressuposto que, assim
como os seres vivos, as organizações percorrem um ciclo vital padrão e relativamente
previsível, que vai do nascimento à morte, passando por etapas evolutivas com características
bem definidas (ADIZES, 1990).
Diferente dos seres vivos, as organizações não estão presas a características herdadas
como, por exemplo, a duração da sua existência. Pois, quando as empresas são dotadas de
todo conhecimento e sabedoria que são capazes de mobilizar, elas podem mudar a si próprias,
estrutural e comportamentalmente, de forma tão rápida quanto as mudanças ambientais
exigirem, e podem continuar mudando indefinidamente. Assim, o elemento cronológico não é
preponderante para situar as organizações em algum dos estágios predefinidos, embora muitos
modelos considerem essa dimensão. Dessa forma, não ocorre necessariamente, um paralelo
organizacional com o ciclo de desenvolvimento biológico, no qual estruturas simples se
transformam em estruturas complexas apenas pela ação do tempo (KIMBERLY, 1979).
36
Vários pesquisadores (GREINER, 1972; LYDEN, 1975; KIMBERLY, 1979 e
ADIZES, 1990) têm sugerido que a estrutura, o desenvolvimento e o comportamento das
organizações podem ser previstos através de modelos de ciclo de vida. Para Quinn e Cameron
(1983), esses modelos poderão ajudar a entender a complexidade do fenômeno do
crescimento e os efeitos que ele provoca nas organizações, uma vez que todas as empresas,
durante o seu desenvolvimento, passam por estágios distintos e cada um com características
próprias (GREINER, 1972; KIMBERLY, 1979). Esses estágios, por sua vez, seguem uma
série ampla de estratégias, estruturas e atividades organizacionais (QUINN e CAMERON,
1983).
Diante disso, Hanks et al. (1993) afirmam que um melhor entendimento do fenômeno
do CVO e os imperativos gerenciais associados poderiam ajudar os fundadores de empresas a
atravessarem o indefinido curso de crescimento organizacional. De acordo com Scott e Bruce
(1987), crises podem ser desfeitas e problemas de mudança podem ser minimizados, se os
gerentes forem mais preventivos do que reativos, ou seja, o conhecimento prévio do que gera
crises e o que esperar em cada estágio suavizará o processo de mudança.
Os modelos de CVO se tornaram populares, mas algumas dúvidas surgem sobre a sua
validade. Para Quinn e Cameron (1983), os estudos recentes de desenvolvimento empresarial
usaram a perspectiva de corte transversal que freqüentemente resultam em uma visão estática
da empresa, mostrando pouco sobre como ela é desenhada ou se desenvolve ao longo do
tempo. Na seqüência, Miller e Friesen (1984) concluíram que esses estudos eram muito
limitados e abrangiam somente um intervalo específico da evolução organizacional. Miller e
Friesen (1984) afirmam ainda, que para entender melhor a maneira como a estratégia, a
estrutura e o meio ambiente se inter-relacionam, dever-se-ia estudar a evolução histórica pelo
emprego de métodos de análise longitudinal. Pois, como sugerem Kimberly e Miles (1980),
37
não se conhece muito sobre o processo de evolução da estrutura ou padrão de tomada de
decisão que tais organizações tentam desenvolver em seus ciclos de vida.
Levie e Hay (1998 apud BEVERLAND, 2000) argumentam que o melhor dos
modelos de ciclo de vida pode obter algum sucesso em explicar o crescimento de um
determinado setor, mas a existência de uma teoria geral é improvável. Nesse sentido, Scott e
Bruce (1987) dizem que apesar das diferenças de cada empresa, as pesquisas mostram que há
similaridades suficientes nos problemas que elas enfrentam para construir um modelo de
crescimento geral para a administração de pequenos empreendimentos. MacMahon (1988
apud BEVERLAND, 2000) destaca que os modelos de ciclo de vida têm recebido críticas dos
estudiosos de pequenos empreendimentos, uma vez que eles não têm levado em conta as
razões de muitos desses empreendedores, que podem ser motivados por outros fatores que não
sejam econômicos ou baseados no crescimento, tal como presumido pelas teorias do ciclo de
vida. Porque nem todas as empresas que sobrevivem, conforme Scott e Bruce (1987), crescem
para ser grandes organizações, dado a natureza de seu setor de atuação ou simplesmente os
desejos pessoais ou ambições de seus proprietários.
Do ponto de vista gerencial, o conceito de CVO permite, entre outros aspectos,
estruturar um meta-padrão típico de gerência e de ocorrência de problemas em cada fase da
existência organizacional (GREINER, 1972). Isso é possível porque, de maneira geral, as
fases descritas nos diversos modelos de CVO encontrados na literatura apresentam, cada um a
seu modo e com ênfases diferentes, uma configuração única entre elementos dos subsistemas
contextual e estrutural das organizações. Apresenta-se a seguir, uma revisão dos principais
modelos de CVO em ordem cronológica, sumarizando os fatores e suas respectivas
características, conforme especificada por seus autores, além dos problemas característicos
encontrados em cada estágio de desenvolvimento.
38
2.3.1 Modelo de Lippitt e Schmidt (1967)
Considerando que a legislação trata as empresas como se fossem pessoas e que
cientistas comportamentais, profissionais de relações públicas, e pesquisadores em
administração têm pensado também em termos de “personalidade” de uma organização, os
autores aplicaram teorias de desenvolvimento de personalidade para a criação, crescimento,
maturação e declínio de uma organização.
Por conta disso, Lippitt e Schmidt (1967) desenvolveram um modelo de CVO com
atenção para as crises não financeiras, dado a subjetividade inerente dos elementos que as
compõem. Este é um dos mais antigos modelos de CVO desenvolvido no setor privado. Ele
está baseado, principalmente, nas preocupações críticas enfrentadas pela administração em
cada uma das fases desenvolvimentais de uma empresa: nascimento, juventude e maturidade.
Para os autores, o estágio de nascimento não está limitado pelo nível de uma “indústria
de fundo de quintal”, assim como, o estágio de maturidade não está confinado ao nível de
gigantes industriais, ou seja, uma pequena empresa pode buscar maturidade desenvolvimental,
e uma grande corporação pode permanecer juvenil. Assim, Lippitt e Schmidt (1967)
defendem a tese de que os critérios verdadeiros para se determinar o estágio de
desenvolvimento de uma organização, provavelmente são encontrados mais na maneira de
enfrentar as crises organizacionais previsíveis, do que no número de empregados, nicho de
mercado, ou sofisticação gerencial.
No primeiro estágio do modelo desenvolvido pelos autores, verifica-se a dedicação do
empreendedor no sentido de criar um novo negócio e de torná-lo viável, fazendo com que ele
possa sobreviver ao longo desse período. No estágio intermediário - juventude, o foco de
preocupação da administração está voltado para a busca de estabilidade e obtenção de
reputação para o empreendimento. Por fim, com o estágio da maturidade, a preocupação
crítica da alta administração é a de alcançar unidade e adaptabilidade junto com a expansão de
39
domínio da empresa. No entendimento dos autores, as organizações normalmente entram em
declínio dado a uma inexplicável falta de administração, ou por causa de mudanças drásticas
na demanda de mercado ou no ambiente econômico.
Os interesses críticos de cada estágio, as questões chaves e os problemas ocasionados
por um provável tratamento inadequado oferecido a essas confrontações críticas, podem ser
observados no Quatro 3.
Estágio
desenvolvi-
mental
Preocupação
crítica
Questões
chaves
Conseqüências pelo não tratamento ou
tratamento inadequado das crises
1. Criar uma nova
organização.
O que
arriscar?
Frustração e inação.
Nascimento
2. Sobreviver como
um sistema
viável.
O que
sacrificar?
Morte da organização
Sobrevida adicional por injeção de capital.
3. Ganhar
estabilidade.
Como
organizar?
Organização reativa, dominada por crises.
Organização baseada em oportunismos mais do
que em políticas e atitudes autodiretivas.
Juventude
4. Ganhar reputação
e maior orgulho.
Como
rever e
avaliar?
Dificuldade em atrair clientes e profissionais
bons.
Organização inapropriada, demasiadamente
agressiva, e construção de imagem distorcida.
5. Alcançar unidade
e adaptabilidade.
Se e como
mudar?
Atitudes desnecessariamente competitivas ou
defensivas, difusão de energia.
Perda de boa parte dos funcionários criativos.
Maturidade
6. Contribuir para a
sociedade.
Se e como
partilhar?
Possível falta de apreciação e respeito público.
Falência ou lucros menores.
Quadro 3 – Estágios de desenvolvimento organizacional e suas preocupações críticas
Fonte: Lippitt e Schmidt (1967, p. 103).
As questões fundamentais atribuídas a essas preocupações, segundo Lippitt e Schmidt
(1967), podem apresentar-se aos gerentes em qualquer momento. Os sinais são fornecidos
parcialmente todos os dias direta ou indiretamente, por precedentes colocados pelas ações e
palavras de gerentes e trabalhadores durante a condução de suas atividades organizacionais.
Contudo, em certos momentos é inevitável que uma dessas questões adquira importância
excepcional. Quando isso acontece, a organização deve reconhecer, enfrentar e arcar com essa
preocupação crítica soberana, ou poderá sofrer as conseqüências desse ato: paralisia danosa
ou morte da empresa.
40
Na seqüência, o Quadro 4 sintetiza as principais características apontadas pelos
autores, em cada uma das três fases do referido modelo de CVO.
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
VARIÁVEIS CARACTERÍSTICAS
Nascimento
Interesses críticos
da administração
Processo de criação do
empreendimento
Tornar o sistema viável: sobreviver
Decisões chave
Obter aceitação mercadológica do
produto ou serviço.
Procedimentos fiscais e fundos.
Procedimentos técnicos.
Política ou necessidades legais.
Liderança organizacional.
Foco de operação.
Procedimentos de registro e
contabilidade.
Modos de competição.
Procedimentos de recrutação e
treinamento.
Ações requeridas
Avaliar risco alternativo.
Tomar decisões firmes.
Mover com rapidez e flexibilidade.
Empregar táticas e estratégias
flexíveis, usando opiniões internas e
externas.
Prover em tempo oportuno a entrada
do produto ou serviço no mercado.
Competição adequada.
Contratar um quadro de pessoal de alta
qualidade.
Obter suporte financeiro nos momentos
apropriados.
Introduzir delegação.
Implementar políticas básicas com um
olho no futuro.
Conhecimento
Objetivos de curto prazo concebidos
de forma clara na mente do
fundador.
Objetivos de curto prazo que precisam
ser comunicados.
Habilidades
Habilidade para transmitir
conhecimento na própria ação e nas
ordens para os outros.
Transmissão de Know How e
habilidades para ajustar-se às condições
de mudança.
Atitudes
Acreditar na própria habilidade,
produto e mercado.
Fé no futuro.
Juventude
Interesses críticos
da administração
Estabilidade Obter boa reputação
Decisões chave
Planejamento de longo prazo.
Respostas próprias para novos
concorrentes.
Questões tecnológicas.
Sistemas internos de recompensa
para o pessoal.
Política básica de relações públicas.
Melhorar a qualidade de produtos e/ou
serviços.
Treinar liderança de alto padrão.
Fortalecimento de políticas de relações
públicas na área de serviços
comunitários.
Ações requeridas
Imprimir uma ação mais agressiva
no mercado de atuação.
Uso sistemático de planos e
estabelecimento de objetivos.
Tentar bater a competição.
Iniciar P & D quando apropriado.
Treinar pessoal para necessidades
futuras.
Começar a construir a imagem
interna e externa da organização.
Adequar pedidos de fornecedores e
clientes especiais.
Atualizar políticas e filosofia
organizacionais.
Concentrar na postura e imagem –
interna e externa.
Assegurar uma base financeira forte.
Contribuir para as necessidades da
comunidade.
41
Conhecimento
Como a administração de cúpula
pode predizer fatores relevantes e
fazer planos de longo prazo.
Experiência de planejamento e
conhecimento das metas por parte da
equipe executiva.
Habilidades
Habilidade para transmitir o
conhecimento do plano nos
objetivos comunicados.
Facilidade para permitir a outros uma
voz na tomada de decisão, envolvendo
outros na tomada de decisão e obtendo
compromissos deles, e comunicando
objetivos a clientes.
Atitudes
Confiança nos outros membros da
organização.
Interesse nos clientes.
Maturidade
Interesses críticos
da administração
Unidade e adaptabilidade da empresa Contribuir para a sociedade
Decisões chave
Auditoria interna de recursos e
limitações.
Política para desenvolver equilíbrio
nas operações.
Pesquisa e desenvolvimento de longo
prazo.
Determinação de programa de auto-
atualização para o pessoal da
corporação.
Serviço de âmbito comunitário e
nacional.
Ações requeridas
Selecionar e promover um produto
ou serviço especial, ou o alcance de
produtos ou serviços.
Aumentar descentralização.
Prover uma comunicação mais
eficaz incluindo o fluxo ascendente
de idéias.
Aumentar a propaganda e construir a
imagem corporativa.
Considerar tamanho ótimo.
Fazer um compromisso mais pesado na
comunidade (ex.: bolsas de estudo).
Executivos comprometidos com tarefas
e programas nacionais.
Utilizar idéias de toda a força de
trabalho.
Aumentar os recursos para P & D,
quando apropriado.
Concentrar na direção de longo prazo.
Diminuir a formalização interna
permitindo mais liberdade para a
responsabilidade individual.
Avaliar a direção interna no
relacionamento com todo o ambiente.
Conhecimento
Consciência por parte da equipe
política da empresa, do como cada
um estabelece os seus próprios
objetivos, e de como gerenciar
subunidades da organização.
Entendimento por parte da
administração geral, dos maiores
objetivos da organização e da
sociedade.
Habilidades
Habilidade para ensinar outros a
planejar; proficiência em planos
integrados de subunidades de acordo
com os recursos e objetivos da
organização.
Habilidade para aplicar organização e
recursos próprios para os maiores
problemas da comunidade.
Atitudes
Autoconfidência. Senso de responsabilidade para com a
sociedade e para com as pessoas.
Quadro 4 – Estágios de desenvolvimento e suas características segundo Lippitt e Schmidt (1967)
Por fim, são apresentados no Quadro 5 os problemas relativos a cada um desses
períodos desenvolvimentais.
42
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
PROBLEMAS CARACTERÍSTICOS
Nascimento
Falta de objetivos de curto prazo.
Dificuldades de penetração do produto ou serviço no mercado de atuação.
Falta de controle.
Processo de produção ineficiente.
Falta de recursos financeiros.
Enfraquecimento do compromisso entre fundador e empresa. Descrença na própria habilidade,
produto, mercado e falta de fé no futuro.
Estilo de liderança inadequado.
Tributação excessiva.
Legislação inerente ao setor de atuação da empresa.
Falta de Know How.
Procedimentos para recrutar e treinar, inadequados.
Juventude
Falta de planejamento de longo prazo.
Despreparo para enfrentar concorrência.
Desatenção com o desenvolvimento tecnológico do setor.
Falta de um sistema de recompensas interno.
Ausência de uma política de relações públicas básica.
Produtos ou serviços com baixa qualidade.
Falta de treinamento de pessoal para atender as necessidades futuras.
Desatenção com a imagem interna e externa da organização.
Estilo de liderança inadequado.
Falta de envolvimento do grupo, em função de decisões unilaterais.
Desconfiança entre os membros da organização.
Desinteresse com os clientes.
Maturidade
Falta de pesquisa e desenvolvimento.
Pouca diversificação.
Resistência interna a mudança.
Descentralização insuficiente.
Comunicação ineficaz.
Falta de unidade organizacional
Falta de responsabilidade social.
Quadro 5 – Estágio de desenvolvimento e seus problemas segundo Lippitt Schmidt (1967)
2.3.2 Modelo de Greiner (1972)
O modelo de Greiner pode ser considerado um divisor de águas no que se refere aos
trabalhos de crescimento e evolução de empresas, uma vez que praticamente todo o
desenvolvimento posterior toma por base, direta ou indiretamente, o seu trabalho.
43
Esse modelo está voltado para o setor privado e foi construído com base em cinco
dimensões-chave: idade e tamanho da organização, estágios de evolução, estágios de
revolução e taxa de crescimento do setor em que a empresa atua.
A base teórica dos argumentos do autor provém do legado de psicólogos europeus
que, através de suas teses, afirmam que o comportamento individual é determinado
primeiramente por experiências e eventos prévios e não pelo que está por vir. Estendendo essa
analogia de desenvolvimento individual para os problemas de desenvolvimento
organizacional, o autor discute uma série de fases desenvolvimentais através das quais o
crescimento das empresas tende a passar.
Com isso, Greiner (1972) sugere que a evolução das organizações se dá através de
cinco estágios distintos de desenvolvimento. Cada um desses estágios contém um período
relativamente calmo de crescimento, terminando com uma crise denominada revolução
5
, que
deve ser superada para que a empresa possa ingressar na fase seguinte de sua evolução. Para o
autor, quando uma companhia progride através das fases desenvolvimentais, cada período
evolucionário cria sua própria revolução (ex.: práticas centralizadas eventualmente levam à
demandas por descentralização). Além do mais, a natureza da solução dada pela
administração para superar cada período revolucionário, determinará se a empresa avançará
ou não, para o seu próximo estágio de crescimento.
O autor argumenta ainda, baseado no fato de que cada fase é fortemente influenciada
pela fase anterior, que a gerência, conhecendo a história de sua própria organização, pode se
antecipar e se preparar para a sua próxima crise de desenvolvimento. Assim, ele defende a
posição de que o futuro de uma organização pode ser menos determinado por forças externas
do que pela sua própria história, ou seja, que a estrutura da organização afeta o crescimento
futuro e não o inverso.
5
Período de substancial agitação na vida da empresa, provocado por um problema organizacional maior
(GREINER, 1972, p. 40).
44
Cada período evolucionário é caracterizado pelo estilo de administração dominante
usado para alcançar o crescimento, enquanto cada período revolucionário é caracterizado pelo
problema de administração dominante que deve ser resolvido antes do crescimento poder
continuar. Os padrões apresentados na Figura 2 são típicos para empresas que atuam em
setores com crescimento moderado durante um longo período de tempo (GREINER, 1972).
MaduraJove
m
Idade da or
g
aniza
ç
ão
Pe
q
ueno
Grande
Tamanho da organização
FASE 5
FASE 4
FASE 3
FASE 2
FASE 1
Estágios de evolução
Está
g
ios de revolução
5. Crescimento através
de COLABORAÇÃO
4. Crescimento através
da COORDENAÇÃO
3. Crescimento através
de DELEGAÇÃO
2. Crescimento através
de DIREÇÃO
1. Crescimento através
da CRIATIVIDADE
5. Crise de ???
4. Crise do
TAPETE
VERMELHO
3. Crise de
CONTROLE
2. Crise de
AUTONOMIA
1. Crise de
LIDERANÇA
Figura 2 – Cinco fases de crescimento organizacional
Fonte: Greiner (1972, p. 41).
Ressalta-se, contudo, que em cada fase de crescimento organizacional se verifica
ambos, um efeito da fase anterior e uma causa para a fase seguinte. Por exemplo, o estilo de
administração evolucionário na fase 3 é delegação. Outrossim, em função da expansão dos
negócios, a delegação torna-se a solução para a demanda por maior autonomia na revolução
45
da fase anterior: direção. Subseqüentemente, o estilo de delegação usado na fase 3, finalmente
provocará uma importante crise revolucionária que é caracterizada pela tentativa de retomar o
controle diante das diversidades criadas pelo aumento da delegação.
A principal implicação de cada fase é que as ações da administração estão
estreitamente prescritas quando o crescimento é buscado (GREINER, 1972). Por exemplo,
uma empresa que experimenta uma crise de autonomia na fase 2 não pode retornar para a
administração diretiva na busca de uma solução. Ela deve adotar um novo estilo de
administração (delegação) a fim de continuar avançando pelas fases de crescimento.
Destaca-se, contudo, que a evolução não é automática; é uma disputa por
sobrevivência. Dentro desse entendimento, o autor relata que para continuar avançando, as
empresas devem de forma consciente, introduzir estruturas planejadas que não são somente
soluções para a crise existente, mas também são adequadas para a próxima fase de
crescimento. Isto requer considerável autoconsciência por parte da alta administração, assim
como grandes habilidades interpessoais em persuadir outros gerentes que a mudança é
necessária.
Fase 1 - Crescimento pela criatividade
Na fase inicial de desenvolvimento de uma organização, a ênfase está em criar um
produto e um mercado. Segundo o autor, as características desse período são:
Os fundadores da companhia são, normalmente, orientados tecnicamente ou
empreendedoramente. Eles desdenham das atividades administrativas. Sua energia
física e mental é completamente absorvida nas atividades de fazer e vender um novo
produto.
A comunicação entre os funcionários é freqüente e informal.
Longas horas de trabalho são recompensadas por salários modestos e a promessa de
benefícios da posse.
46
O controle de atividades vem do imediato feedback do mercado. A gerência age
quando os clientes reagem.
Crise 1: crise de liderança
As organizações avançam em direção ao estágio seguinte (estágio de direção) pela
superação da crise de liderança surgida da necessidade de racionalizar as atividades
organizacionais.
Além da estrutura, as atividades criativas e individuais são necessárias para a empresa
decolar, mas é aí que reside o problema. Para Greiner (1972), a alavancagem da produção em
função do crescimento experimentado pela organização nesse período, requer conhecimento
sobre a eficiência da manufatura; um quadro maior de empregados não pode ser gerenciado
exclusivamente através de comunicação informal; os novos empregados não estão motivados
para uma intensa dedicação à empresa; capital adicional é requerido para assegurar o processo
de crescimento da empresa; e novos procedimentos contábeis são necessários para controle
financeiro. Conseqüentemente, o fundador (ou fundadores) se sobrecarrega com
responsabilidades gerenciais indesejadas e passa a ansiar pelos bons e velhos dias, tentando
agir como se estivesse no passado.
Nesse momento ocorre uma crise de liderança, a qual é o começo da primeira
revolução. Quem deve tirar a companhia dessa confusão e resolver os problemas gerenciais
enfrentados por ela? Muito obviamente, um gerente forte e que tenha o conhecimento e as
habilidades necessárias para introduzir novas técnicas de administração. Mas, isso é mais fácil
dizer do que ser feito. O fundador normalmente odeia ser posto de lado, mesmo que ele,
provavelmente, não possua as competências gerenciais necessárias para fazer frente às novas
demandas exigidas pelo empreendimento (GREINER, 1972).
Desse modo, instala-se a primeira escolha desenvolvimental crítica: localizar e
empossar um gerente de negócios competente, que seja aceito pelo fundador, e que possa
47
continuar conduzindo a organização para o crescimento, se esse for o desejo de seu
proprietário.
Fase 2: crescimento pela direção
A empresa que sobrevive a primeira fase de desenvolvimento normalmente embarca
em um período de crescimento sustentado sob liderança diretiva e capaz. Greiner (1972)
aponta as seguintes características para esse período evolucionário:
Uma estrutura organizacional funcional é introduzida. Surgem os setores de
produção e vendas. As atividades se tornam mais especializadas.
Sistemas de contabilidade são introduzidos.
Incentivos, orçamentos e padrões de trabalho são adotados.
A comunicação torna-se mais formal e impessoal quando uma hierarquia de títulos e
posições se edifica.
A nova gerência e seus supervisores chaves arcam com a grande parte da
responsabilidade pela direção instituída, enquanto os supervisores de níveis
inferiores são tratados mais como especialistas funcionais, do que como gerentes
tomando decisões autônomas.
Crise 2: crise de autonomia
A progressão através do estágio de direção é motivada pela superação de uma crise de
autonomia. Esta crise surge da necessidade de descentralizar a tomada de decisão.
Embora as novas técnicas diretivas canalizam a energia dos empregados mais
eficientemente no crescimento, elas eventualmente tornam-se inapropriadas para controlar
uma organização maior, mais diversa e complexa (GREINER, 1972). Os empregados de
níveis inferiores encontram-se restringidos por uma hierarquia centralizada e
contraproducente. Eles tendem a possuir mais conhecimento direto sobre as necessidades de
mercado e processos operacionais da empresa, do que possuem os seus altos diretores.
48
Conseqüentemente, eles se sentem divididos entre seguir procedimentos ou tomar suas
próprias iniciativas.
A segunda revolução segundo o autor, se torna iminente quando surge uma crise da
demanda por maior autonomia por parte dos gerentes de níveis mais baixos. A solução
adotada pela maioria das empresas é mover-se em direção a uma maior descentralização.
Porém, renunciar a responsabilidade é difícil para a alta gerência que foi previamente bem
sucedida em ser diretiva. Além do mais, os gerentes de níveis mais baixos não estão
acostumados a tomar decisões por eles mesmos. Como resultado, muitas companhias
atrapalham-se durante este período revolucionário, aderindo a métodos centralizados
enquanto os empregados de níveis inferiores tornam-se mais desencantados e deixam a
organização.
Fase 3: crescimento pela delegação
A próxima fase de crescimento desenvolve-se da aplicação bem sucedida de uma
estrutura organizacional descentralizada. Esta fase exibe as seguintes características
(GREINER, 1972):
Maior autonomia para os gerentes de fábrica e gerentes territoriais (regionais).
Centros de lucro e gratificações são usados para estimular a motivação.
Os altos executivos na sede refream-se para gerenciar pela exceção, baseado nos
relatórios periódicos das unidades de campo.
A administração normalmente concentra-se em fazer novas aquisições as quais
podem estar alinhadas às outras unidades descentralizadas.
A comunicação da administração superior é infreqüente, normalmente por
correspondência, telefone, ou breves visitas nos mercados locais.
O estágio de delegação mostra-se útil para ganhos de expansão por elevada motivação
em níveis mais baixos. Gerentes descentralizados com maior autoridade e incentivo estão
49
aptos a penetrar mercados maiores, respondem mais rápido aos clientes, e desenvolvem novos
produtos.
Crise 3: crise de controle
O crescimento através do estágio de delegação encontra uma crise de controle quando
começam a surgir metas não integradas em subunidades autônomas. Ao superar esta crise a
organização avançará para o estágio seguinte.
A crise de controle se apresenta quando a administração executiva sente que está
perdendo o controle sobre uma operação de campo altamente diversificada. “Gerentes de
campo autônomos preferem dirigir seu próprio show, sem coordenação com o resto da
organização. A liberdade cria uma atitude paroquial” (GREINER, 1972, p. 43).
A revolução da fase 3 está em andamento quando a alta administração procura retomar
o controle sobre toda a companhia. Alguns gerentes executivos tentam um retorno para a
administração centralizada, a qual normalmente falha por causa do vasto escopo das
operações. Diferentemente, aquelas empresas que não retrocedem normalmente encontram
uma solução para a crise e avançam para o próximo estágio.
Fase 4: crescimento pela coordenação
Para o autor, esse período evolucionário é caracterizado pelo aperfeiçoamento e uso de
sistemas formais realizando uma maior coordenação do sistema operacional, e pelos altos
executivos assumindo a responsabilidade pela implementação e administração desses novos
sistemas:
Unidades descentralizadas são unidas em grupos de produtos.
Procedimentos de planejamento formal são estabelecidos e intensivamente revistos.
Numeroso pessoal de staff é contratado e alocado na sede para iniciar um amplo
programa de controle organizacional.
Gastos de capital são cuidadosamente ponderados e apropriados pela organização.
50
Cada grupo de produto é tratado como um centro de investimento onde o retorno
sobre o capital investido é um critério importante usado na alocação de fundos.
Certas funções técnicas, tal como processamento de dados, são centralizadas na
sede, enquanto decisões operacionais diárias permanecem descentralizadas.
Oferta de ações para funcionários e divisão dos lucros do conglomerado são usados
para encorajar maior identidade entre colaboradores e empresa.
Tais procedimentos permitem uma melhor alocação de capital na empresa e também
fazem com que os gerentes e administradores de nível mais baixo, além de permanecerem
com a responsabilidade das decisões, passem a preocupar-se com as justificativas para elas
(GREINER, 1972).
Crise 4: crise do tapete vermelho
Essa crise reflete uma falta de confidência gradualmente construída entre linha e staff,
e entre a sede e as unidades de campo. A proliferação de sistemas e programas começa a
exceder sua utilidade e a empresa se ressente da perda de funcionalidade e flexibilidade. Está
criado o ambiente ideal para a crise do tapete vermelho, ou seja, a crise da burocracia.
Gerentes de linha, por exemplo, reclamam cada vez mais do pesado quadro de staff da
empresa no sentido de que ele já não está familiarizado com as condições locais de trabalho.
O pessoal de staff, por sua vez, queixa-se sobre gerentes de linha desinformados e não
cooperativos. Os dois grupos criticam o engessamento do processo operacional da empresa
provocado pela ênfase na forma em detrimento da função. Como resultado, os procedimentos
adquirem precedência sobre a resolução do problema, e a inovação está arrefecida. Em
resumo, a organização tornou-se muito grande e complexa para ser gerenciada através de
programas formais e sistemas rígidos. A revolução da fase 4 está em andamento.
Fase 5: crescimento pela colaboração
51
Essa última fase do modelo de desenvolvimento organizacional apresentado por
Greiner (1972), enfatiza a colaboração interpessoal numa tentativa de superar a crise do tapete
vermelho. A fase anterior (crescimento pela coordenação) foi gerenciada mais por processos e
sistemas formais. Esta fase, no entanto, foca uma maior espontaneidade na ação
administrativa através de times e hábil confrontação de diferenças interpessoais (GREINER,
1972). O controle social e a autodisciplina sucedem o controle formal. Esta transição é
especialmente difícil para aqueles especialistas que criaram os velhos sistemas, assim como
para aqueles gerentes de linha que confiam em métodos formais para respostas.
A evolução da fase 5 edifica-se em torno de um enfoque mais flexível e
comportamental para a administração, e as suas principais características, de acordo com
Greiner (1972), são:
O foco está sobre a resolução rápida de problemas por intermédio de ação grupal.
Os times são combinados através de funções por atividades de grupo de tarefas.
Os especialistas que assessoram a sede são reduzidos em número, renomeados, e
combinados em times interdisciplinares para deliberarem com as unidades de
campo.
A estrutura tipo matriz é freqüentemente usada para reunir os times certos para os
problemas apropriados.
Os sistemas formais anteriores são simplificados e combinados dentro de um sistema
único com múltiplos propósitos.
Reuniões dos gerentes chaves são freqüentemente mantidas para não se perder o
foco sobre as questões dos problemas principais.
Programas educacionais são utilizados para treinar gerentes em habilidades
comportamentais, buscando prepará-los para a realização de trabalhos em grupo e
resolução de conflitos.
52
Os sistemas de informação em tempo real estão integrados na tomada de decisão
diária.
As recompensas econômicas são ajustadas mais para performance do time do que
para a realização individual.
Experimentos em novas práticas são encorajados por toda a empresa.
Crise 5: crise de?
O autor imagina que a revolução nessa fase se posicionará em torno da saturação
psicológica dos funcionários desencadeada pela intensidade do trabalho em grupo e a forte
pressão por soluções inovadoras.
O pressentimento de Greiner (1972) é que a revolução da fase 5 será resolvida através
de novas estruturas e programas que permitirão aos empregados descansar, refletir e
revitalizarem-se periodicamente. O autor enxerga a possibilidade de haver empresas com
estruturas organizacionais duplas: uma estrutura tradicional para conseguir a realização do
trabalho diário, e uma estrutura reflexiva para estimular a perspectiva e o enriquecimento
pessoal. Os empregados poderiam então se mover de uma estrutura para outra quando as suas
energias estiverem dissipadas ou recarregadas.
De forma breve, o modelo de ciclo de vida proposto por Greiner (1972) está
fundamentado no fato de que os problemas levam a evolução e a revolução, e se move de um
estágio inicial que enfatiza a criatividade e o empreendedorismo, para estágios baseados na
formalização e, então, na adaptabilidade e flexibilidade. O Quadro 6 sumariza as
características do modelo em cada uma das fases de evolução, como especificado pelo autor.
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
VARIÁVEIS CARACTERÍSTICAS
Criatividade
Foco da
administração
Produção e vendas.
53
Estrutura
organizacional
Informal.
Estilo de
administração
superior
Individualista e empreendedora.
Sistema de
controle
Feedback do mercado de atuação.
Recompensas
enfatizadas pela
administração
Co-propriedade.
Direção
Foco da
administração
Eficiência operacional.
Estrutura
organizacional
Centralizada e funcional.
Estilo de
administração
superior
Diretiva.
Sistema de
controle
Padronização e centros de custo.
Recompensas
enfatizadas pela
administração
Salário e aumento de vantagens.
Delegação
Foco da
administração
Expansão de mercado.
Estrutura
organizacional
Descentralizada e geográfica.
Estilo de
administração
superior
Delegativa.
Sistema de
controle
Relatórios e centros de lucro.
Recompensas
enfatizadas pela
administração
Bônus pela performance individual.
Coordenação
Foco da
administração
Consolidação organizacional.
Estrutura
organizacional
Linha-Staff e grupo de produtos.
Estilo de
administração
superior
Controladora.
Sistema de
controle
Planos e centros de investimento.
54
Recompensas
enfatizadas pela
administração
Oferta de ações e divisão dos lucros.
Colaboração
Foco da
administração
Resolução de problemas e inovação.
Estrutura
organizacional
Matriz de times.
Estilo de
administração
superior
Participativa.
Sistema de
controle
Estabelecimento conjunto de metas.
Recompensas
enfatizadas pela
administração
Bônus pela performance do time.
Quadro 6 – Estágios de desenvolvimento e suas características segundo Greiner (1972)
Os problemas inerentes a cada um dos estágios de desenvolvimento, do modelo de
ciclo de vida apresentado por Greiner (1972), encontram-se resumidos no Quadro 7.
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
PROBLEMAS CARACTERÍSTICOS
Criatividade
Crise de liderança no final da fase.
Sistema de gestão rudimentar com pouca documentação.
Meios de processo de produção com baixa eficiência.
Falta de dinheiro.
Enfraquecimento do compromisso entre fundador e empresa.
Direção
Dúvida entre crescer ou manter-se pequeno e rentável.
Crise de autonomia levando à descentralização sem meios de controle.
Sistemas de controle inadequados.
Briga interna pelo poder entre o pessoal antigo e os novos entrantes.
Inabilidade gerencial para comandar o processo de descentralização.
Delegação
Distanciamento entre os que pensam e os que fazem a empresa.
Atitude paroquial dos gerentes de unidades de campo (show individual).
Falta de recursos para o crescimento.
Dispersão do foco com a participação em outros negócios.
Brigas pelo controle podem levar a fase anterior.
Coordenação
Crise de provisão de recursos para o crescimento.
Falta de integração entre linha-staff.
55
Excesso de sistemas formais e sem interligação reduzindo a flexibilidade e funcionalidade da
empresa.
Baixa inovação.
Colaboração
Falta de espírito de corpo (os colaboradores não vestem a camisa da empresa).
Brigas internas.
Falta de pessoal treinado.
Quadro 7 – Estágios de desenvolvimento e seus problemas segundo Greiner (1972)
2.3.3 Modelo de Adizes (1979)
O modelo de desenvolvimento organizacional apresentado pelo autor sugere que as
empresas se desenvolvem através de estágios por causa de mudança de ênfase que ocorre em
quatro atividades: a produção de resultados (P), a ação empreendedora (E), a administração
formal de regras e procedimentos (A), e a integração de indivíduos na organização (I). De
maneira simples, o modelo sugere que as organizações crescem e envelhecem através de
estágios distintos, dependendo da ênfase colocada sobre as quatro diferentes atividades. A
progressão de um estágio para outro ocorre principalmente pela superação dos maiores
problemas de cada estágio. As organizações, de acordo com esse modelo, começam
enfatizando a atividade empresarial (E) que mais tarde é acompanhada por uma ênfase na
produção de resultados (P). Ênfases na formalização, atividades administrativas e integração
tomam precedência quando a maturidade está próxima. O declínio organizacional ocorre
principalmente por causa de um foco muito grande na estabilidade e na administração formal
de regras e procedimentos.
O presente modelo de ciclo de vida encontra-se dividido em cinco fases de
crescimento e cinco de envelhecimento, conforme demonstrado na Figura 3. Na seqüência,
são comentadas as cinco fases de crescimento desse modelo, ou seja: namoro, infância, toca-
toca, adolescência e plenitude.
56
Figura 3 - Estágios do ciclo de vida organizacional
Fonte: Adizes (1990, p. 87).
Namoro
Nesta fase a organização ainda não nasceu, ela existe apenas como idéia. Embora a
empresa ainda não exista fisicamente, a idéia de sua concepção é motivo de empolgação e
entusiasmo por parte de seu fundador, que promove, com terceiros, muitos debates e análises
a respeito de sua pretensão de, num futuro próximo, satisfazer uma necessidade de mercado
com sua idéia de empreendimento. Portanto, o papel de empreender (E) é o mais importante
nessa fase, é ele que permite que se tenha um comportamento proativo, que identifica no
presente as necessidades futuras, e que gera a disponibilidade de se assumir riscos para que
essa necessidade seja satisfeita.
Durante esse período o fundador encontra-se firmando um compromisso com a sua
idéia, está se apaixonando por ela. É esse sentimento que preservará a sua motivação durante
os momentos difíceis da fase seguinte - Infância. Para que uma organização comece a
desempenhar a função para a qual foi projetada, ela tem que enfrentar riscos, e para obter
sucesso nessa tarefa deve ser firmado um compromisso equivalente durante o estágio de
Namoro. Outrossim, durante o processo de firmar compromisso, o fundador poderá fazer
57
promessas das quais ele talvez se arrependa mais tarde. Um fundador pode prometer e ceder
ações da sua futura empresa para membros da família, amigos ou advogados, em troca de uma
promessa de apoio vaga e indefinida por parte desses beneficiários. “Isso é possível, pois
nesse estágio de ciclo de vida a empresa não possui um valor tangível” (ADIZES, 1990, p.
13).
Um fundador saudável é aquele que firmou um forte compromisso e que, ao mesmo
tempo, mantém os olhos abertos para a realidade. Em um namoro normal a razão pode ser
aplicada ao sonho sem destruí-lo. O compromisso tem que ser testado para que reflita a
realidade futura, sem com isso esmorecer. As dúvidas e perguntas normais que o fundador
deve responder são: o que, como, quando, quem e por que fazer? (ADIZES, 1990). Isso é
submeter à realidade, à prova. Um namoro que não testa a realidade é um mero caso; ao surgir
o primeiro obstáculo, o compromisso deixa de existir.
Uma organização nasce quando o compromisso é posto à prova e sai vitorioso, isto, é,
quando o risco é assumido. Esse risco apresenta-se de diversas formas: o abandono de um
emprego antigo, o compromisso de entrega de um produto em uma data determinada...
“Quando o risco assumido for substancial, a organização passa para o estágio seguinte de
desenvolvimento” (ADIZES, 1990, p. 21).
Infância
Assumido o risco, ficam de lado as idéias e as possibilidades, o enfoque agora recai
sobre a produção de resultados (P), pois é preciso vender e atender as necessidades do
mercado onde a empresa se encontra inserida.
A organização é altamente centralizada no fundador, possui pouca hierarquia, o
ambiente organizacional é quase familiar e as pessoas executam várias tarefas ao mesmo
tempo. Durante esta fase, o empreendedor passa a apagar incêndio a toda hora, o
gerenciamento se dá de crise em crise. O que se percebe é que essa fase não pode durar muito
58
tempo, a empresa precisa crescer
6
. Porém, para que isso ocorra, a sua gerência também
precisa se aperfeiçoar e crescer. Se isso não se verificar, o estilo de liderança poderá se tornar
inadequado e deteriorar-se em um problema patológico. Os principais problemas que
ameaçam a sobrevivência das organizações criança estão relacionados com a necessidade de
capital de giro para financiar suas atividades operacionais, e o compromisso do fundador para
com os negócios da empresa.
A organização avançará para o próximo estágio do seu ciclo de vida quando conseguir
uma melhor estabilidade do seu fluxo caixa e de suas atividades. Neste momento, os clientes
já são conhecidos e confiam no(s) produto(s) ou serviço(s), os fornecedores já foram testados
e selecionados e os problemas de produção passam a ocorrer com menos freqüência.
Toca-Toca
No Namoro, havia muita atividade empreendedora (E) que diminuiu durante a Infância
porque a visão estava sendo posta à prova. Toda energia estava sendo canalizada no sentido
de se obter os primeiros frutos dessa visão. Portanto, a produção (P) tinha que ser intensa.
Findo o teste, essa energia é liberada e volta a impelir a organização com força total,
intensificando novamente o espírito empreendedor (E) (ADIZES, 1990).
Com isso, no afã de aproveitar as oportunidades existentes no mercado, a empresa
Toca-Toca se envolve em outros negócios sendo eles correlatos ou não, provocando uma
dispersão excessiva. Para o autor, este tipo de comportamento pode custar caro para a
organização, pois ela poderá cometer o erro de se envolver em algum negócio do qual nada
conhece e perder muito dinheiro.
Quando na Infância, a organização estava focada no seu produto e na satisfação de
uma necessidade do mercado, percebida ainda na fase do namoro. Agora ela volta-se para as
vendas, uma vez que vender se tornou sinônimo de sucesso. Neste sentido, Adizes (1990)
6
Crescer não significa haver mais da mesma coisa. Significa mudar. O crescimento é algo qualitativo, e não
meramente quantitativo (ADIZES, 1990, p. 33).
59
chama a atenção para o fato de que a expansão descontrolada das vendas pode trazer
conseqüências anormais para a organização, pois, nem sempre vender mais significa lucrar
mais. Principalmente, quando a contabilidade de custos se torna ineficaz diante de tal
expansão.
Nesta fase, a empresa está organizada em torno das pessoas e não das tarefas. Ela
cresce de maneira não planejada, ela reage ao invés de agir e, como conseqüência, as tarefas
são distribuídas conforme a disponibilidade das pessoas e não necessariamente, pela
competência que elas possuem (ADIZES, 1990).
Com a expansão dos negócios, a organização começa a fugir ao controle do seu
fundador. Surge então, a necessidade de se elaborar um conjunto de regras e diretrizes que
norteiem as suas atividades. Esse sistema de controle criará as condições necessárias para que
se inicie o processo de descentralização na empresa.
De acordo com Adizes (1990), a elaboração de regras e diretrizes indica um maior
ênfase na atividade administrativa (A) provocando a passagem do estágio Toca-Toca para a
Adolescência.
Adolescência
Neste estágio do ciclo de vida organizacional a empresa renasce. Segundo o autor, esse
renascimento é mais doloroso e mais prolongado do que o nascimento da Infância. Durante
esse período é característico o conflito e a inconsistência. O conflito se manifesta entre: a
jovem guarda e a velha guarda, o fundador e o gerente profissional, o fundador e a empresa, e
as metas da empresa e as metas individuais. As inconsistências, entretanto, são encontradas
nas metas organizacionais e nos sistemas de remuneração e incentivos.
60
A transição do estágio Toca-Toca para a Adolescência é difícil por três motivos
principais: delegação de autoridade
7
, mudança de liderança e transposição das metas. Em
princípio, o fundador não tem idéia de como delegar autoridade sem, com isso, perder o
controle da empresa. Adizes (1990, p. 50) comenta que “é raro o rei que se sujeita a uma
constituição, renunciando seus poderes absolutos de livre e espontânea vontade”. Entretanto,
se o fundador não estiver preparado e bastante consciente de que a gerência intuitiva/
empreendedora presente no estágio anterior deve mudar para uma gerência profissional para
que se possa assegurar uma transição saudável para a Adolescência, a empresa cairá na cilada
do fundador
8
ou ocorrerá o que o autor convencionou chamar de divórcio entre o
fundador/empreendedor e a sua criação. Este novo estilo de liderança deve criar sistemas,
desenvolver normas de remuneração, redefinir funções e responsabilidades, e institucionalizar
um conjunto de regras e diretrizes para promover a descentralização. Em relação à
transposição de metas, a empresa deve deixar de “trabalhar mais” e passar a “trabalhar
melhor”, ou seja, a ênfase agora, está nos lucros e não nas vendas.
Se as mudanças obtiverem sucesso e as lideranças se institucionalizarem, a
organização passa para o próximo estágio do ciclo de vida: a Plenitude.
Plenitude
Nesta fase a flexibilidade empreendedora (E) e a controlabilidade administrativa (A)
atingem o equilíbrio, ou seja, a organização apresenta funcionalidade na sua estrutura e nos
sistemas que a compõem, bem como olha para o futuro e demonstra todo seu potencial
criativo. As organizações plenas sabem o que estão fazendo, para onde estão indo e como
7
Processo de distribuir tarefas pela hierarquia da organização e de criar um senso de responsabilidade pela sua
execução. Se a tarefa for implementar uma decisão já tomada, e a autoridade conferida possuir apenas uma
natureza tática, isso é delegação. Se a tarefa for tomar decisões sobre o que deve ser implementado, isso é
descentralização (ADIZES, 1990, p. 42).
8
Nos três primeiros estágios do ciclo de vida (Namoro, Infância, Toca-Toca), o fundador é basicamente a
empresa e a empresa é o fundador. Assim, se o fundador morrer a empresa talvez morra também (ADIZES,
1990, p. 41).
61
chegar lá. O grande desafio para uma organização que atinge a plenitude é permanecer nesta
fase (ADIZES, 1990).
Quando a organização alcança sua plenitude e permite uma presença mais forte da
burocracia, ela perde em flexibilidade e ganha em controle, levando a uma menor chance de
conflitos, porém, gera uma maior chance de não crescimento e possível envelhecimento. Com
isso, nas fases de envelhecimento, o problema repetitivo que precisa ser resolvido é a
burocratização, isto é, a capacidade cada vez menor de uma organização satisfazer as
necessidades de seus clientes.
A morte se aproxima quando o espírito empreendedor (E) desaparece. Ele é o que dá
vida a organização. Uma organização nasce quando o compromisso é posto à prova. Ela
morre quando ninguém mais está comprometido com a sua existência.
No Quadro 8 podem ser observadas as características presentes em cada um dos
estágios de crescimento do modelo de desenvolvimento organizacional apresentado por
Adizes.
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
VARIÁVEIS CARACTERÍSTICAS
Namoro
Processo decisório
Centralizado nas mãos do empreendedor.
Formalização
Inexistente.
Planejamento
Informal.
Hierarquia
Inexistente.
Foco de atenção
Satisfação de uma necessidade de Mercado (produto ou serviço).
Desempenho
financeiro
Inexistente.
Forma de gestão
Inexistente.
Controle
Inexistente.
Infância
Processo decisório
Centralizado nas mãos do fundador.
Formalização
Informal.
Planejamento
Informal.
Hierarquia
Estrutura linear e informal.
62
Foco de atenção
Busca de oportunidades (vendas).
Desempenho
financeiro
Caixa negativo.
Forma de gestão
Por crises e focada na eficácia (vendas).
Controle
Inexistente.
Toca-Toca
Processo decisório
Alterna períodos de centralização e descentralização.
Formalização
Pouca e informal com percepção de sua necessidade.
Planejamento
Informal.
Hierarquia
Estrutura linear com poucos cargos.
Foco de atenção
Busca de diversificação, novos produtos e mercados.
Desempenho
financeiro
Caixa positivo (vendas em expansão).
Forma de gestão
Crises são gerenciadas focadas na eficácia (vendas).
Controle
Poucos e informais.
Adolescência
Processo decisório
Processo de descentralização, com divisão do poder, entre o fundador e o
administrador contratado.
Formalização
Em processo, mas há resistência e às vezes não são seguidas.
Planejamento
Pouco estruturado e focado na transposição de metas (vendas x lucro).
Hierarquia
Contrata-se um administrador para organizar a empresa.
Foco de atenção
Do volume de vendas para o lucro.
Desempenho
financeiro
As vendas são boas, mas os lucros caem (preocupação com custos).
Forma de gestão
Busca da eficiência, preocupação com custos. Crises internas e conflito entre
administrador e empreendedor.
Controle
Controle de custos e melhoria da qualidade.
Plenitude
Processo decisório
Descentralizado, mas unido pelo planejamento.
Formalização
Diretrizes, sistemas e procedimentos estabelecidos e formalizados.
Planejamento
Formal. Sendo estabelecido o planejamento e perseguição dos planos.
Hierarquia
Estruturada por funções.
Foco de atenção
Geração de novas empresas (produtos mercados).
Desempenho
financeiro
Manutenção das vendas e da lucratividade (controle de custos).
Forma de gestão
Por planejamento. Valoriza vendas, produção e finanças.
Controle
Autocontrole com o uso de orçamento rígido.
Quadro 8 – Estágios de desenvolvimento e suas características segundo Adizes (1990)
Na seqüência, o Quadro 9 resume os problemas enfrentados pelas empresas em cada
um dos estágios de crescimento do modelo de CVO apresentado por Adizes (1990).
63
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
PROBLEMAS CARACTERÍSTICOS
Namoro
Normais Anormais
Empolgação, teste da realidade. Compromisso não é testado face à realidade.
Compromisso realista do fundador. Fanatismo irreal do fundador
Fundador voltado para o produto, comprometido
com seu valor adicionado.
Fundador voltado exclusivamente aos lucros e
ao retorno sobre o investimento.
Compromisso é proporcional aos riscos. Compromisso não é proporcional aos riscos.
Fundador mantém controle. Controle do fundador é vulnerável.
Infância
Normais Anormais
Riscos não acabam com compromisso. Riscos acabam com compromisso.
Fluxo de caixa negativo. Fluxo de caixa negativo crônico.
Muito trabalho fomenta compromisso. Esvaecimento do compromisso.
Falta de profundidade gerencial. Delegação prematura.
Nenhum sistema Regras, sistemas e procedimentos prematuros.
Nenhuma delegação Fundador perde controle.
“Show individual” do fundador – mas
disponibilidade para ouvir.
Fundador não dá ouvidos a ninguém –
arrogância.
Erros são cometidos. Nenhum espaço para erro.
Vida familiar propícia (apoio em casa). Vida familiar desfavorável (falta de apoio em
casa).
Intervenções externas favoráveis. Fundador alienado pelas intervenções externas.
Toca-Toca
Normais Anormais
Todas as oportunidades são prioridades. Ingressar em um negócio sobre o qual não
entende.
Orientação para as vendas Desconhecimento dos custos das mercadorias
vendidas.
Crescimento rápido Falta de um sistema administrativo (cilada do
fundador ou cilada familiar).
Delegação. Liderança centralizada e arrogante.
Adolescência
Normais Anormais
Excesso de reuniões. Conflito entre sócios ou
tomadores de decisão, entre administradores e
empreendedores. Perda temporária de visão.
Excesso de brigas internas. Volta ao estágio
Toca-Toca e à cilada do fundador.
Fundador aceita soberania organizacional. Os empreendedores partem, os administradores
assumem. O fundador é expulso.
Sistemas de incentivos recompensam atitudes
erradas.
As pessoas recebem gratificações por seu
desempenho individual enquanto a empresa
perde dinheiro.
Delegação de autoridade do tipo ioiô. Paralisia enquanto o poder fica passando de mão
em mão.
Diretrizes são formuladas, mas não são seguidas. Rápida diminuição da confiança e do respeito
mútuos.
Conselho de diretores impõe novos controles à
gerência.
O conselho demite as pessoas empreendedoras.
64
Plenitude
Normais Anormais
Treinamento gerencial insuficiente. Complacência.
Quadro 9 – Estágios de desenvolvimento e seus problemas segundo Adizes (1990)
O modelo de ciclo de vida apresentado pelo autor busca identificar os problemas
normais e anormais de cada estágio de desenvolvimento organizacional, permitindo que a
administração trabalhe no sentido de evitar que eles se tornem problemas patológicos,
podendo provocar a mortalidade precoce das empresas.
2.3.4 Modelo de Churchill e Lewis (1983)
Baseados em Greiner, Churchill e Lewis (1983) elaboraram um modelo de diversas
fases, iniciando com uma organização simples e pequena até chegar a uma mais complexa e
grande. No entanto, eles relaxam a suposição de que a empresa ou passa para o estágio
seguinte ou fracassa (morre). Para isso, eles adicionam diversos outros cenários possíveis
prevendo, além do fracasso, a venda ou o retorno da empresa a estágios anteriores.
O modelo apresentado por Churchill e Lewis (1983) está voltado para o
desenvolvimento de pequenos negócios e negócios em crescimento. Na concepção dos
autores o modelo é delineado em cinco estágios de desenvolvimento: existência,
sobrevivência, sucesso, decolagem e maturidade de recursos. Cada estágio é caracterizado por
um índice de tamanho, diversidade geográfica e complexidade, sendo descrito por cinco
fatores gerenciais: estilo gerencial; estrutura organizacional; extensão dos sistemas formais;
objetivos estratégicos mais importantes; e envolvimento do proprietário com o negócio. Este
modelo enfatiza a capacidade empreendedora como sendo a principal fonte de valor para a
sociedade.
Estágio 1: Existência
Neste estágio, os principais problemas da empresa estão concentrados na obtenção de
clientes e na entrega de produtos ou serviços contratados. Conforme Churchill e Lewis
65
(1983), a organização é simples, o proprietário executa todas as atividades importantes e
supervisiona diretamente os subordinados. Os sistemas de planejamento formal são mínimos
ou inexistentes, e a sobrevivência é a principal estratégia da organização. O proprietário é o
negócio, ou seja, ele é o maior fornecedor de energia, de direcionamento e, juntamente com
parentes e amigos, de capital. Quando a empresa obtiver a aceitação de seus produtos ou
serviços pelos clientes; suficiente viabilidade operacional; e comprometimento do
proprietário, ela passa para o estágio 2.
Estágio 2: Sobrevivência
O problema principal nesta fase se desloca para a relação entre as receitas e as
despesas. A organização ainda é simples e o desenvolvimento de sistemas é mínimo. O
planejamento formal é, na melhor das hipóteses, uma previsão de caixa. O maior objetivo
ainda é a sobrevivência, e o proprietário ainda é sinônimo do empreendimento (CHURCHILL
e LEWIS, 1983).
A empresa deve crescer em tamanho e lucratividade ao longo desse estágio e, na
seqüência, avançar para o estágio 3. Entretanto, nada impede que a empresa continue mais
algum tempo nesse estágio, como muitas outras o fazem, auferindo retorno marginais sobre o
tempo e o capital investidos.
Estágio 3: Sucesso
Para Churchill e Lewis (1983, p. 5), “a decisão enfrentada pelos proprietários neste
estágio está entre (1º) explorar as realizações da empresa, de forma a promover sua expansão,
ou (2º) mantê-la estável e lucrativa, fornecendo uma base para atividades alternativas do
proprietário”. Dentre essas atividades, conforme citado pelos autores, encontram-se: o desejo
de desenvolver novos empreendimentos, participar de atividades políticas, ou simplesmente
dedicar-se a hobbies e outros interesses externos, enquanto se tenta manter o status quo do
empreendimento.
66
Subestágio Sucesso-Desligamento: nesse subestágio a empresa alcança a sua
viabilidade econômica e obtém lucros na média do setor ou acima dela. A empresa pode
permanecer nesse estágio indefinidamente, desde que as mudanças no mercado de atuação da
empresa não destruam o seu nicho de mercado e/ou suas habilidades competitivas não se
reduzam em função de um gerenciamento ineficaz. Em termos organizacionais a empresa se
tornou grande o suficiente para, em muitos casos, necessitar de gerentes funcionais que
assumam algumas das tarefas exercidas pelo proprietário. Os gerentes devem ser competentes,
mas não necessariamente do mais alto calibre, uma vez que seu potencial ascendente é
limitado pelos objetivos corporativos. Há caixa em quantidade mais do que suficiente e a
maior preocupação é evitar uma fuga de capitais em períodos prósperos, em detrimento da
habilidade da empresa de resistir às inevitáveis épocas difíceis (CHURCHILL e LEWIS,
1983).
De acordo com os autores, muitas empresas permanecem por longos períodos nesse
subestágio. Algumas delas, porque o nicho de mercado em que atuam não lhes permite
crescimento. Esse é o caso de muitas empresas que oferecem serviços em comunidades
pequenas ou médias e com crescimento lento, e de franqueados com territórios limitados.
Independente do motivo pelo qual o proprietário escolheu esse caminho, a empresa
conseguindo se adaptar às mudanças do meio poderá continuar como está ou ser estimulada
ao crescimento. Se a empresa não puder se adaptar às novas circunstâncias ela ou fechará as
portas, ou voltará a ser uma empresa com sobrevivência marginal no estágio 2 do ciclo de
vida (CHURCHILL e LEWIS, 1983).
Subestágio Sucesso-Crescimento: das tarefas importantes para essa fase, duas se
sobressaem: assegurar a rentabilidade do negócio e preparar um corpo gerencial que atenda as
necessidades futuras de uma empresa em crescimento. O planejamento operacional é feito na
67
forma de orçamento, e o planejamento estratégico é extenso e envolve profundamente o
proprietário.
Para Churchill e Lewis (1983), se a empresa obtiver sucesso nessa primeira tentativa
de crescimento, ela evoluirá para o próximo estágio de desenvolvimento. Porém, se a empresa
não obtém sucesso, as causas podem ser detectadas a tempo de a empresa mudar para o
estágio Sucesso-Desligamento. Caso contrário, uma volta ao estágio Sobrevivência pode ser
possível antes da sua falência ou venda.
Estágio 4: Decolagem
Esse é um período crítico no ciclo de vida da organização. Nas palavras de Churchill e
Lewis (1983, p. 7):
se o proprietário acorda para os desafios de uma empresa em crescimento em
termos financeiros e gerenciais, ela pode se tornar um grande negócio. Caso
contrário, ela pode ser vendida – com lucro – desde que o proprietário
reconheça suas limitações cedo o suficiente. Com muita freqüência, aqueles
que levam a empresa ao estágio de Sucesso, não obtém êxito no estágio 4,
ou porque eles tentaram crescer rápido demais e acabaram sem caixa (o
proprietário torna-se uma vítima da síndrome de onipotência), ou ainda,
porque eles foram incapazes de delegar de maneira eficaz o suficiente para
fazer a empresa funcionar (síndrome da onisciência).
Caso o proprietário se mostre inapetente para liderar a empresa nessa fase de grande
crescimento, ele poderá ser substituído voluntária ou involuntariamente, pelos investidores ou
credores da empresa.
Se a empresa não obtiver êxito na consolidação de seu crescimento na primeira
tentativa, pode ser possível retroceder um pouco, corrigir os erros e continuar avançando para
o próximo estágio. Não sendo possível, ela pode voltar ao estágio 3, ou ainda, se os problemas
forem muito extensos, ela pode voltar até o estágio de Sobrevivência ou, em última análise,
pode fracassar (CHURCHILL e LEWIS, 1983).
Maturidade de Recursos
68
Uma empresa neste estágio tem os recursos de pessoal e financeiro para dedicar-se ao
detalhamento das operações e ao planejamento estratégico. A gerência é descentralizada e
conta com pessoal adequado e experiente. Os sistemas são extensivos e bem desenvolvidos. O
proprietário e o negócio estão separados, tanto financeira como operacionalmente. Porém,
mesmo tendo alcançado esse ponto de evolução no ciclo de vida organizacional, se a empresa
não conseguir preservar o ritmo de atuação, presente nas fases iniciais de seu
desenvolvimento, ela poderá avançar para um sexto estágio denominado Ossificação
(CHURCHILL e LEWIS, 1983).
A Ossificação, segundo os autores, é caracterizada pela falta de tomada de decisões
inovadoras e pelo repúdio aos riscos. As empresas nesse estágio são mantidas viáveis por sua
considerável fatia de mercado, seu poder de compra e suas reservas financeiras, até que haja
uma mudança significativa no meio. Infelizmente para esses empreendimentos, são
normalmente seus competidores em crescimento rápido que percebem primeiro essas
mudanças.
O Quadro 10 sintetiza as características observadas nos estágios do modelo de ciclo de
vida desenvolvido por Churchill e Lewis (1983).
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
VARIÁVEIS CARACTERÍSTICAS
Existência
Estilo gerencial
Supervisão direta.
Poder decisório centralizado nas mãos do proprietário.
Estrutura
organizacional
Linear e informal.
Extensão dos
sistemas e plane-
jamento formais
Mínimo a não existência.
Estratégia
principal
Existência. Permanecer viva (fluxo de caixa negativo).
Relação entre o
empreendimento e
o proprietário
O proprietário é o negócio. Fornece energia, direcionamento e capital.
69
Sobrevivência
Estilo gerencial
Supervisão supervisionada, ou seja, a supervisão é feita por um gerente de
vendas ou um chefe geral.
As decisões ainda estão centralizadas no proprietário.
Estrutura
organizacional
Linear, com poucos cargos.
Extensão dos
sistemas e plane-
jamento formais
O desenvolvimento de sistemas é mínimo. O planejamento formal é, na
melhor das hipóteses, uma previsão de caixa.
Estratégia
principal
Sobrevivência. Busca crescer em tamanho e lucratividade (fluxo de caixa
positivo).
Relação entre o
empreendimento e
o proprietário
O proprietário ainda é sinônimo do negócio.
Sucesso-Desligamento
Estilo gerencial
Gerenciamento funcional (finanças, marketing e produção).
As principais decisões são tomadas pelo proprietário.
Estrutura
organizacional
Funcional. Contratação dos primeiros membros profissionais da equipe.
Extensão dos
sistemas e plane-
jamento formais
Sistemas básicos de finanças, marketing e produção estão prontos.
Planejamento realizado na forma de orçamento gerencial dá suporte à
delegação funcional.
Estratégia
principal
Manter um status quo lucrativo.
Relação entre o
empreendimento e
o proprietário
À medida que o empreendimento amadurece, ele e o proprietário se tornam
cada vez mais distantes, devido às atividades externas do proprietário e à
presença de outros gerentes.
Sucesso-Crescimento
Estilo gerencial
Gerenciamento funcional (finanças, marketing e produção).
As principais decisões são tomadas pelo proprietário.
Estrutura
organizacional
Contratação dos primeiros membros profissionais da equipe.
Extensão dos
sistemas e plane-
jamento formais
Sistemas básicos de finanças, marketing e produção estão prontos. O
planejamento operacional é feito na forma de orçamento, mas o planejamento
estratégico é extenso e envolve profundamente o proprietário.
Estratégia
principal
Consolidar a empresa e gerenciar recursos para o crescimento.
Relação entre o
empreendimento e
o proprietário
Forte presença do proprietário em todas as fases dos negócios da empresa.
Decolagem
Estilo gerencial
Gerenciamento divisional em parte - vendas e produção.
A organização é descentralizada.
70
Estrutura
organizacional
Divisional.
Extensão dos
sistemas e plane-
jamento formais
Sistemas operacionais e planejamento formal estão maduros. Eles, agora,
envolvem gerentes específicos.
Estratégia
principal
Crescimento.
Relação entre o
empreendimento e
o proprietário
O proprietário e os negócios ficam razoavelmente separados, ainda que a
empresa esteja dominada por sua presença.
Maturidade de Recursos
Estilo gerencial
Gerenciamento de linha e Staff.
Estrutura
organizacional
Divisional e complexa.
Extensão dos
sistemas e plane-
jamento formais
Sistemas operacionais e planejamento formal são extensivos e bem
desenvolvidos.
Estratégia
principal
Retorno do investimento.
Relação entre o
empreendimento e
o proprietário
Presença pequena do proprietário em relação ao empreendimento.
Quadro 10 – Estágios de desenvolvimento e suas características segundo Churchill e Lewis (1983)
Os problemas enfrentados em cada um dos estágios do modelo de ciclo de vida
desenvolvido por Churchill e Lewis (1983) encontram-se resumidos no Quadro 11.
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
PROBLEMAS CARACTERÍSTICOS
Existência
Obter suficiente aceitação dos clientes – produto(s) ou serviço(s) ou suficiente capacidade produtiva
para se tornarem viáveis.
Conseguir entregar o(s) produto(s) ou serviço(s) contratado(s).
Capital inicial insuficiente.
O(s) proprietário(s) não suporta(m) as exigências (tempo, dinheiro e energia) do empreendimento e
desistem.
Sobrevivência
Enfraquecimento do compromisso do proprietário.
Orientação para as vendas.
Desconhecimento dos custos das mercadorias vendidas.
Sucesso Desligamento/Crescimento
Compromisso insuficiente do proprietário com a opção de crescimento.
71
Inabilidade do proprietário em delegar.
Evitar fuga de capitais nos períodos prósperos.
Pouca habilidade da empresa de resistir às inevitáveis épocas difíceis.
Mudanças significativas no meio de atuação da empresa.
Inapetência gerencial.
Decolagem
Proprietário/Gerente despreparado para os desafios financeiros e gerenciais de uma empresa em
crescimento.
Inabilidade de Delegar x Descentralizar do proprietário.
Planejamento estratégico, sistemas operacionais e controles inadequados.
Falta de recursos para financiar o crescimento.
Escolha errada dos gerentes-chave.
Altas taxas de juros.
Condições econômicas instáveis.
Maturidade de Recursos
Perda flexibilidade ou capacidade empreendedora.
Escassez de pessoal bem treinado.
Quadro 11 – Estágios de desenvolvimento e seus problemas segundo Churchill e Lewis (1983)
2.3.5 Modelo de Scott e Bruce (1987)
O modelo de ciclo de vida organizacional apresentado pelos autores está baseado no
modelo de crescimento desenvolvido por Greiner em 1972. A partir de uma perspectiva
própria voltada para as pequenas empresas, os autores afirmam que os pequenos negócios se
desenvolvem por meio de cinco etapas de crescimento, cada uma com características distintas.
Os autores esclarecem, contudo, que a empresa pode ficar em um mesmo estágio de
desenvolvimento por um período considerável de tempo. Por causa das diferentes
características de cada estágio a transição de uma fase para outra requer mudanças que
normalmente vêm acompanhadas por uma crise, a qual pode ser externa ou interna à empresa.
As crises tendem a causar rupturas e os problemas da mudança podem ser minimizados se os
gerentes agirem proativamente, em vez de reativamente. Assim, o pequeno empreendedor tem
duas preocupações principais: a primeira é administrar a própria crise, e a segunda, vencida a
crise de transição, é gerenciar a “nova empresa”, ou seja, uma empresa com novos problemas
(ADIZES, 1990).
72
No entendimento de Scott e Bruce (1987), nem todos os negócios que sobrevivem
crescem para ser grandes negócios. Seja pela natureza do setor em que a organização atua ou,
simplesmente, pelos desejos pessoais ou ambições de seu fundador. O presente modelo teve
como objetivo isolar os principais fatores, os quais serão importantes em cada estágio de
crescimento, e o tipo de crise a ser enfrentada no movimento de um estágio para outro, de
forma que os gerentes possam planejar com maior sucesso o futuro de seus negócios,
ajudando na formulação de estratégias viáveis, por exemplo.
Estágio 1 – Início
Os principais valores que norteiam o negócio ao longo dessa fase são os do fundador.
As habilidades básicas do fundador também determinam a ênfase funcional (ex.: engenheiro
enfatiza mais a produção) e a administração se dá pela supervisão direta. Os principais
esforços girarão em torno do desenvolvimento de um produto comercialmente aceitável, e da
definição de um nicho de mercado para ele (SCOTT e BRUCE, 1987).
Com uma ênfase maior na busca por lucratividade e o conseqüente aumento na
atividade comercial ao final do primeiro estágio, torna-se necessário alguma formalização de
sistemas e manutenção de registros, e verifica-se também, um aumento substancial da
demanda sobre o empreendedor. Como resultado, de acordo com os autores, o aumento na
carga administrativa exigirá uma mudança no estilo de administração, ou seja, o proprietário
se sentirá forçado a delegar algumas de suas muitas atividades a um supervisor, provocando
atrasos, problemas e confusão. O resultado é uma crise de estilo de administração e vai
requerer uma mudança na estrutura organizacional para que a empresa possa sobreviver e
avançar para o próximo estágio de seu ciclo de vida.
Estágio 2 – Sobrevivência
Para Scott e Bruce (1987), a expansão dos negócios exigirá uma atenção especial
sobre as necessidades de capital de giro, imprescindível para financiar o aumento de estoques
73
e recebíveis da empresa que se encontra em processo de crescimento. O proprietário e suas
fontes pessoais de financiamento continuam a suportar a maior parte da demanda, embora
pode ser feito mais uso de financiamento de crédito se a empresa já tiver estabelecido alguma
credibilidade com seus fornecedores.
No final dessa fase, uma das grandes preocupações do empreendedor é com o
crescimento de sua empresa, uma vez que o descontrole nesse crescimento certamente levaria
o negócio à falência. Para Scott e Bruce (1987), o empreendedor terá que se decidir entre frear
o crescimento, significando que a empresa permanecerá no estágio de sobrevivência –
obtendo retorno marginais, ou continuar a crescer de forma controlada, conduzindo a empresa
para o estágio 3 requerendo mais sistemas de controle.
Estágio 3 – crescimento
Neste ponto do desenvolvimento, a empresa é rentável e o proprietário reinveste esses
recursos para ajudar a financiar o aumento da demanda por capital de giro. Mais tempo terá
que ser gasto na coordenação dos esforços dos gerentes funcionais. Isto significará uma
estrutura organizacional mais formal baseada em linhas funcionais. Dependendo do produto a
empresa terá necessidade de investir em pesquisa e desenvolvimento para expandir o seu
alcance no mercado. Entretanto, esse processo deve ocorrer em pequena escala uma vez que
os recursos disponíveis pela empresa são bastante limitados. Se a administração conseguir
adaptar a empresa às mudanças do meio em que atua, ela poderá continuar neste estágio por
um bom tempo. Em alguns casos, o proprietário pode pretender a venda do negócio antes do
estágio 4 realizando um ganho de capital substancial. Mas, se a empresa detectar
oportunidades para desenvolver e colocar novos produtos e/ou operar em diferentes mercados,
ela entrará no próximo estágio: Expansão (SCOTT e BRUCE, 1987).
As principais questões a serem enfrentadas pela administração serão a de financiar o
crescimento e manter o controle das operações. Para arcar com isso, a estrutura organizacional
74
necessitará mudar novamente e, pela primeira vez, um enfoque profissional mais do que um
enfoque empreendedor deve ser necessário. Pesado ênfase recairá sobre questões
administrativas para controlar e coordenar a operação expandida e mais diversificada. Este
tipo de mudança aumentará a demanda sobre o estilo de administração e, como tal, representa
um grande desafio para o proprietário. Ele terá, muito provavelmente, que abdicar de uma
parte de sua base de poder se quiser que a empresa continue a crescer. Para Scott e Bruce
(1987) e Adizes (1990), isso é mais fácil ser dito do que realizado.
Estágio 4 – expansão
Como relatado pelos autores, o controle orçamentário, a autoridade descentralizada e
relatórios gerenciais regulares acompanhados por sistemas contáveis formalizados são as
características básicas desse estágio. A necessidade de sistematizar a maioria das funções
administrativas será fundamental para a sobrevivência da empresa durante este período.
Entre as prováveis crises que deverão ser superadas para se alcançar o estágio da
maturidade, uma pode surgir do distanciamento da alta administração em relação a ação. Pois,
o processo de descentralização vai se consolidando, os gerentes profissionais passam a ter
grande poder e influência na tomada de decisão, diluindo a base de poder tradicional do
proprietário que passa a ter como principais atividades: o controle e o planejamento
estratégico.
Com a consolidação e o amadurecimento da indústria a competição por vendas
crescentes e a diferenciação de produto, embora possível, torna-se mais difícil. Entretanto,
para manter a vantagem competitiva através da diferenciação do produto, se faz necessário
um foco maior nas necessidades do cliente, objetivando adaptá-lo para continuar atendendo as
necessidades desse nicho mercadológico da melhor forma possível. A competição intensa
freqüentemente causa um ambiente operacional turbulento, no qual aumenta a necessidade de
75
ser proativo e antecipatório, reforçando a importância de um maior ênfase externo e uma
adaptação no estilo de administração.
Novamente, se há o desejo e oportunidade para crescer, a empresa pode passar para o
próximo estágio.
Estágio 5 – maturidade
As questões principais enfrentadas pela administração da empresa nesta fase são: o
controle de despesas, produtividade e busca por oportunidades de crescimento. As linhas de
autoridade podem continuar sendo linhas funcionais ou serem reorganizadas por linhas de
produto. Por causa da pressão existente sobre os preços em função da forte competitividade, é
de fundamental importância para o sucesso da empresa, que um maior impulso inovativo seja
estimulado no sentido de se buscar respostas dentro desse contexto. Por fim, a empresa pode
permanecer nesse estágio, reduzir suas operações ou seguir em frente. Normalmente, depois
de uma aquisição ou abertura de capital através de uma primeira oferta de ações, torna-se uma
grande corporação.
Uma síntese das principais características observadas em cada uma das fases de
desenvolvimento do ciclo de vida apresentado por Scott e Bruce pode ser observada no
Quadro 12.
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
VARIÁVEIS CARACTERÍSTICAS
Inicial
Estágio da
indústria (setor de
atuação)
Em formação, fragmentado.
Questões chave
Obter clientes, produção econômica.
Papel da alta
administração
Supervisão direta.
Estilo gerencial
Empreendedor, individualista.
Estrutura
organizacional
Não estruturado.
76
Pesquisa de
produto e
mercado
Nenhum.
Sistemas e
controles
Quase inexistente.
Maiores fontes de
recursos
financeiros
Proprietários, amigos e parentes, fornecedores.
Geração de caixa
Negativa.
Maiores
investimentos
Estrutura física e operacional.
Produto-mercado
Único produto com mercado e canais de distribuição limitados.
Sobrevivência
Estágio da
indústria (setor de
atuação)
Em formação, fragmentado.
Questões chave
Receitas e despesas.
Papel da alta
administração
Supervisão supervisionada.
Estilo gerencial
Empreendedor, administrativo.
Estrutura
organizacional
Simples.
Pesquisa de
produto e
mercado
Quase inexistente.
Sistemas e
controles
Contabilidades simples, controle pessoal.
Maiores fontes de
recursos
financeiros
Proprietários, fornecedores, bancos.
Geração de caixa
Negativa / Equilibrada.
Maiores
investimentos
Capital de giro.
Produto-mercado
Produto e mercado únicos, mas com crescimento da produção e dos canais de
distribuição.
Crescimento
Estágio da
indústria (setor de
atuação)
Em crescimento, alguns competidores maiores, novos entrantes.
Questões chave
Gerenciar crescimento, assegurar recursos.
Papel da alta
administração
Delegação, coordenação.
Estilo gerencial
Empreendedor, coordenador.
77
Estrutura
organizacional
Funcional, centralizado.
Pesquisa de
produto e
mercado
Desenvolvimento de algum novo produto.
Sistemas e
controles
Sistemas contábeis, relatórios de controle simples.
Maiores fontes de
recursos
financeiros
Bancos, novos sócios, retenção de ganhos.
Geração de caixa
Positiva, mas reinvestida.
Maiores
investimentos
Capital de giro, expansão da estrutura física e operacional.
Produto-mercado
Linha única expandida, mercado limitado e múltiplos canais de distribuição.
Expansão
Estágio da
indústria (setor de
atuação)
Em crescimento, reorganizando-se.
Questões chave
Controlar o endividamento, manter o controle.
Papel da alta
administração
Descentralização.
Estilo gerencial
Empreendedor, administrativo.
Estrutura
organizacional
Funcional, descentralizado.
Pesquisa de
produto e
mercado
Criação de um novo produto, pesquisa de mercado.
Sistemas e
controles
Sistemas orçamentários, relatório de produção e venda mensais, controle
delegado.
Maiores fontes de
recursos
financeiros
Retenção de ganhos, novos sócios, financiamento de longo prazo.
Geração de caixa
Positiva com pequena distribuição de lucros.
Maiores
investimentos
Novas unidades de operação.
Produto-mercado
Produto com alcance ampliado, crescimento do mercado e dos canais de
distribuição.
Maturidade
Estágio da
indústria (setor de
atuação)
Em crescimento/ reorganizando-se ou em processo de saturação/ declinando.
78
Questões chave
Controle de despesas, produtividade, nicho de mercado se o setor estiver em
declínio.
Papel da alta
administração
Descentralização.
Estilo gerencial
Acompanhamento através dos sistemas de controle.
Estrutura
organizacional
Descentralização funcional ou por produto.
Pesquisa de
produto e
mercado
Produção inovadora.
Sistemas e
controles
Sistemas de controle formais, administração por objetivos.
Maiores fontes de
recursos
financeiros
Retenção de ganhos, endividamento de longo prazo.
Geração de caixa
Positiva com maior distribuição de lucros.
Maiores
investimentos
Manutenção da estrutura existente e posição de mercado.
Produto-mercado
Linhas de produtos estáveis, múltiplos mercados e canais de distribuição.
Quadro 12 – Estágios de desenvolvimento e suas características segundo Scott e Bruce (1987)
Fonte: Scott e Bruce (1987, p. 48).
Outrossim, a relação dos problemas de cada uma dessas fases e das crises de transição
entre elas compõe o Quadro 13.
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
PROBLEMAS CARACTERÍSTICOS
Inicial
O compromisso do fundador não é equivalente às demandas do negócio.
Falta de capital de giro.
Não consciência ou inapetência do fundador para com as demandas administrativas existentes no
final desse estágio.
Crise de estilo de administração (excesso de atribuições do fundador x habilidade para delegar
tarefas à supervisoria).
Sobrevivência
Necessidade capital de giro para financiar o crescimento do negócio.
Mudança nas bases de competição devido a entrada de novos concorrentes no mercado de atuação
da empresa.
Crescimento descontrolado.
Inadequação do estilo gerencial: problemas na delegação e coordenação à distância.
Sistemas de informação inadequados.
79
Crescimento
Entrada de grandes competidores no mercado em que a empresa atua (economia de escala/volume x
base de diferenciação/margem).
Resistência do proprietário em descentralizar e consolidar um perfil de administração mais
profissional do que empreendedor.
Crescimento descontrolado (falta de liquidez).
Falta de recursos para financiar o crescimento.
Expansão
Falta de comprometimento dos gerentes profissionais com o negócio, podendo causar uma crise de
cultura.
Planejamento estratégico, sistemas operacionais e controles inadequados.
Escolha errada dos gerentes-chave.
Determinação de políticas organizacionais inadequadas.
Instabilidade no ambiente de atuação da companhia.
Inapetência ou incompetência gerencial.
Maturidade
Falta de impulso inovativo.
Escassez de pessoal bem treinado.
Quadro 13 – Estágios de desenvolvimento e seus problemas segundo Scott e Bruce (1987)
O número de estágios de desenvolvimento nos modelos pesquisados é diferente, bem
como sua nomenclatura. No entanto, conforme ilustrado no Quadro 14, foi possível compará-
los sob uma tipologia genérica proposta por HANKS at al. (1993).
ESTÁGIOS DO CICLO DE VIDA
MODELO
Inicial Expansão Maturidade Diversificação Declínio
Lippitt e
Schmidt
Nascimento. Juventude. Maturidade.
Greiner
Criatividade. Direção. Delegação Coordenação e
Colaboração.
Adizes
Namoro e Infância. Toco-Toca e
Adolescência.
Plenitude e
Estabilidade.
Aristocracia,
Burocracia
incipiente, Buro-
cracia e Morte.
Churchill e
Lewis
Existência,
Sobrevivência e
Sucesso
descompromissado.
Sucesso com
crescimento e
Desenvolvimento
auto-sustentado.
Maturidade.
Scott e
Bruce
Início e
Sobrevivência.
Crescimento e
Expansão.
Maturidade.
Quadro 14 – Comparação dos estágios dos modelos de CVO segundo tipologia genérica proposta por
HANKS et al. (1993)
Fonte: Adaptado de HANKS et al. (1993, p. 10).
80
Com isso, os elementos dimensionais (variáveis e características) dos modelos
descritos puderam ser relacionados, permitindo uma síntese da configuração típica desses
estágios de acordo com a tipologia genérica proposta por HANKS et al. (1993), ou seja:
inicial, expansão, maturidade, diversificação e declínio. Porém, para este trabalho, conforme
apresentado no Quadro 15, limitou-se ao estágio inicial de desenvolvimento.
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
VARIÁVEIS CARACTERÍSTICAS
Inicial
Taxa de
Crescimento
Inconsistente.
Preocupações da
administração
Processo de criação do empreendimento.
Tornar o sistema viável: produção x vendas.
Principais metas
Buscar e manter um status quo lucrativo.
Reagir a necessidades.
Dinheiro em caixa.
Resoluções
importantes
Produto ou serviço que satisfaça uma necessidade de mercado.
Fundos e procedimentos fiscais.
Procedimentos técnicos.
Política ou necessidades legais.
Liderança organizacional.
Foco de operação.
Procedimentos de registro e contabilidade.
Modos de competição.
Procedimentos para recrutar, selecionar e treinar.
Ações requeridas
Prover em tempo oportuno a entrada do produto ou serviço no mercado.
Avaliar risco alternativo.
Obter suporte financeiro nos momentos apropriados.
Implementar políticas básicas com um olho no futuro.
Tomar decisões firmes.
Ser rápido e flexível.
Introduzir delegação.
Empregar táticas e estratégias flexíveis, usando opiniões internas e externas.
Competição adequada.
Contratar um quadro de pessoal com capacidade para crescer.
Conhecimento
Objetivos de curto prazo: concebidos de forma clara na mente do fundador e
comunicados aos demais colaboradores.
Habilidades
Transmitir conhecimento na própria ação e nas ordens dadas a outros.
Transmitir Know How.
Ajustar-se às condições de mudança.
Atitudes
Acreditar nas próprias habilidades, produto(s) ou serviço(s) e no mercado.
Fé no futuro.
Estilo de
Administração
Individualista e empreendedor.
Supervisão direta.
Processo decisório
Centralizado nas mãos do fundador.
81
Estrutura
organizacional
Centralizada.
Linear com poucos cargos.
Informal.
P & D de produto
ou de mercado
Nenhuma ou quase inexistente.
Sistemas de
controle
Quase inexistente.
Através do Feedback do mercado de atuação (reativo).
Contabilidade simples, controle pessoal.
Extensão dos
sistemas e
planejamento
Mínimo a não existência. O planejamento formal é, na melhor das hipóteses,
uma previsão de caixa.
Formalização
Inexistente (Informal).
Desempenho
financeiro
Fluxo de caixa negativo a equilibrado.
Fontes de recursos
financeiros
Proprietários, fornecedores, parentes, amigos e bancos.
Sistema de
recompensas
Salário, co-propriedade.
Relação do
fundador com o
negócio
O proprietário é o negócio. Fornece energia, direcionamento e capital.
À medida que o empreendimento amadurece, o proprietário e negócio se
tornam cada vez mais distantes, devido às atividades externas do proprietário
e à presença de outros gerentes.
Maiores
investimentos
Capital de giro.
Estrutura física e operacional.
Produto e
Mercado
Produto único com mercado e canais de distribuição limitados.
Quatro 15 – Estágio inicial do CVO e suas características segundo tipologia genérica proposta por
HANKS et al. (1993)
Fonte: Adaptado de HANKS et al. (1993, p. 12).
A revisão dos cinco modelos de CVO apresentada anteriormente, também permitiu
relacionar os problemas característicos do estágio inicial de acordo com o modelo de
desenvolvimento genérico proposto por HANKS et al. (1993), sendo o resultado exposto no
Quadro 16.
ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA
PROBLEMAS CARACTERÍSTICOS
Inicial
Fanatismo irreal do fundador.
Compromisso não é testado face à realidade, ou seja, falta de um plano de negócios.
Fundador voltado exclusivamente aos lucros e ao retorno sobre o investimento.
Compromisso não é proporcional aos riscos.
Capital inicial insuficiente.
Tributação excessiva.
Forte legislação inerente ao setor de atuação da empresa.
82
Falta de Know How.
Falta de objetivos de curto prazo.
Procedimentos de recrutamento, seleção e treinamento, inadequados.
Dificuldades de penetração do produto e/ou serviço no mercado de atuação.
Fluxo de caixa negativo crônico.
Meios de processo de produção com baixa eficiência.
Orientação para as vendas.
Desconhecimento dos custos das mercadorias vendidas.
Não consegue entregar o produto e/ou serviço vendido dentro dos prazos.
Falta de capital de giro.
Controle do fundador é vulnerável.
Riscos diminuem ou acabam com compromisso entre o fundador e a empresa.
Delegação prematura.
Inabilidade do proprietário em delegar.
Regras, sistemas e procedimentos prematuros.
Fundador perde controle.
Fundador não dá ouvidos a ninguém – arrogância.
Vida familiar desfavorável (falta de apoio em casa).
Fundador alienado pelas intervenções externas.
Pouca habilidade da empresa de resistir às inevitáveis épocas difíceis.
Mudanças significativas no meio de atuação da empresa.
Mudança nas bases de competição devido à entrada de novos concorrentes no mercado.
Crescimento descontrolado.
Não consciência ou inapetência do fundador para com as demandas administrativas existentes no
final desse estágio.
Crise de estilo de administração (excesso de atribuições do fundador x inabilidade para delegar
tarefas).
O proprietário não suporta as exigências (tempo, dinheiro e energia) do empreendimento e desiste.
Quadro 16 – Estágio inicial do CVO e seus problemas segundo tipologia genérica proposta por
HANKS et al. (1993)
Churchill e Lewis (1983) argumentam que vários fatores são relevantes na
determinação do sucesso ou fracasso de um empreendimento, e que eles estão relacionados à
empresa, ao ambiente organizacional e ao proprietário. Os quatro fatores relacionados à
empresa e ao ambiente são:
1) Recursos financeiros, incluindo o caixa e a capacidade de obtenção de
empréstimos.
2) Recursos pessoais, relacionados à quantidade e à qualidade das pessoas,
particularmente nos níveis de direção e assessoria.
3) Recursos de sistemas, em termos do grau de sofisticação das informações
e dos sistemas de planejamento e controle.
4) Recursos de negócios, incluindo relação com clientes, fatia de mercado,
relação com fornecedores, processos produtivos e distributivos, tecnologia e
reputação. Estes fatores dão à empresa uma posição no setor de atuação e no
mercado (CHURCHILL e LEWIS, 1983).
E quanto aos proprietários, os quatro fatores identificados foram:
1) Os objetivos do proprietário em relação a si próprio e ao negócio.
83
2) As habilidades operacionais do proprietário ao fazer importantes trabalhos
como de marketing, invenção, produção e gerenciamento da distribuição.
3) Habilidade de gerência do proprietário e desejo de delegar responsabili-
dades e gerenciar as atividades de outros.
4) Habilidades estratégicas do proprietário de enxergar além do presente e
combinar as forças e as fraquezas da empresa com seus próprios objetivos
(CHURCHILL e LEWIS, 1983).
Como observado por esses autores, à medida que a empresa se move de um estágio
para outro, a importância desses fatores muda. Eles afirmam, que os fatores críticos para o
empreendimento na fase inicial de desenvolvimento são: (1) em relação ao papel do
empreendedor: habilidades operacionais do dirigente e harmonia entre os objetivos pessoais
do empreendedor e do negócio, (2) em relação aos recursos do negócio: recursos financeiros,
incluindo o caixa e a capacidade de obtenção de empréstimo; e os recursos pessoais,
relacionados à quantidade e à qualidade das pessoas, e (3) quanto ao ambiente de atuação: a
relação com os clientes, os fornecedores, a tecnologia e a reputação da empresa no mercado.
Considerando que o estágio inicial é o mais crítico para a sobrevivência e
desenvolvimento de novos empreendimentos, procurou-se discutir mais detalhadamente esse
momento na vida da empresa segundo três aspectos principais: forças ambientais, recursos
internos e ação administrativa do dirigente, que correspondem aos fatores críticos
mencionados por Churchill e Lewis (1983), ou seja: papel do empreendedor, recursos do
negócio e ambiente.
2.4 ESTÁGIO INICIAL DO CICLO DE VIDA
O estágio inicial do ciclo de vida compreende a dedicação do empreendedor no
sentido de criar um novo empreendimento e de torná-lo viável, fazendo com que ele possa
sobreviver ao longo desse período. Ao final desse estágio o empreendimento já terá
conseguido suficiente penetração de mercado para tornar-se viável econômica e
financeiramente. Por decisão da administração, a empresa pode permanecer nesse estágio
indefinidamente, desde que mudanças no meio não destruam o seu nicho de mercado e desde
84
que um gerenciamento ineficaz não reduza suas habilidades competitivas. De outra forma,
muitos empresas não avançam para o estágio seguinte – Expansão, porque o nicho de
mercado de algumas delas não permite crescimento. Esse é o caso de muitas empresas que
oferecem serviços em comunidades pequenas ou médias e com crescimento lento, e de
franquias com territórios limitados (CHURCHILL e LEWIS, 1983).
2.4.1 Forças ambientais
As forças ambientais, isto é, as que advêm do contexto em que as empresas se
inserem, impõem para os empreendimentos de pequeno porte uma série de limitações e
imposições do sistema vigente. Assim, pode-se dizer que a problemática de pequenas
empresas deve transcender os estreitos limites da organização para revelar a trama intrincada
e complexa de fatores sócio-políticos, técnico-econômicos e culturais que implicam
profundamente suas perspectivas de sobrevivência (RATTNER et al., 1985).
Portanto, não é possível estudar a gestão de pequenas empresas sem considerar o
ambiente em que elas se inserem. Tais empresas não têm poder de influência perante grande
parte das imposições de caráter legal, econômico, político, concorrencial, que se apresentam
em seu ambiente. Por outro lado, seu desempenho pode ser altamente influenciado por essas
forças, que podem também impor necessidades de mudança em sua gestão para que ela
sobreviva nesse contexto. Vieira e Ferro (1985) acreditam na existência de uma forte pressão
que as pequenas empresas enfrentam na luta pela sobrevivência, e afirmam que essa pressão é
mais intensa e de natureza diferente das dificuldades enfrentadas pelas unidades de grande
porte dentro do sistema econômico brasileiro.
Sato (1977) observou que a problemática de pequenas empresas não é exclusiva do
subdesenvolvimento e não pertence à determinada etapa do desenvolvimento capitalista,
senão que é inerente ao próprio capitalismo. Assim, a dinâmica e o problema da sobrevivência
85
dessas empresas devem ser vistos e relacionados com os processos de acumulação,
centralização e dispersão de capital existentes em âmbito mundial (RATTNER et al., 1985).
Rattner et al. (1985) afirmam que na metade dos anos 80, as linhas mestras das
políticas econômica e industrial estavam claramente privilegiando os grandes investimentos e
corporações. Esses autores explicam ainda, que a expressão “big is efficient” procurava
legitimar decisões, planos e projetos que aceleravam a concentração de poder e riqueza nas
mãos de poucos, ao mesmo tempo que transferiam o ônus dos erros e fracassos para as
camadas menos favorecidas da população.
Considerando a liderança de grandes empresas no dinamismo da atividade econômica,
Souza (1995) expõe as diferentes atuações de pequenas empresas como integrantes da
estrutura produtiva. Segundo a autora, elas podem ser dependentes ou independentes. As
empresas dependentes exercem uma função complementar direta ou indireta em relação a
grandes empresas, sendo fornecedoras ou distribuidoras delas. A sobrevivência de empresas
dependentes está vinculada às decisões de grandes empresas.
De outra forma, empresas “independentes” são as que não mantém ligação direta com
grandes organizações. Souza (1995, p. 66) “ressalta que os setores em que essas empresas
atuam encontram baixas barreiras de entrada, fazendo com que elas tenham uma posição
frágil na estrutura produtiva.”
Outra análise que pode ser feita é quanto ao grau de concorrência. Segundo Porter
(1986), a concorrência de um setor depende de cinco forças competitivas: poder de
negociação de fornecedores, ameaça de novos entrantes, poder de negociação dos
compradores, ameaça de produtos e serviços substitutos e a rivalidade entre as empresas
existentes. O autor observa que clientes, fornecedores, produtos substitutos e os entrantes
potenciais são todos “concorrentes” para as empresas do setor, podendo ter, conforme o caso,
maior ou menor importância. Pode-se ter idéia, a princípio, que esses determinantes
86
estruturais da intensidade da concorrência sejam bastante desfavoráveis para grande parte dos
pequenos empreendimentos.
O determinante da ameaça de entrada depende, especialmente, das barreiras de entrada
existentes que têm seis fontes principais: economias de escala, diferenciação do produto,
necessidades de capital, custos de mudança, acesso aos canais de distribuição e desvantagens
de custo independentes de escala (PORTER, 1986). Outrossim, nos setores em que grande
parte das pequenas empresas atua, as barreiras de entrada tendem a ser menores, aumentando
a possibilidade de novos entrantes e, conseqüentemente, a competição entre eles. O aumento
da ameaça de produtos e serviços substitutos pode ser conseqüência das baixas barreiras de
entrada, representando possivelmente a intensificação da concorrência no setor em que a
pequena empresa participa.
Conforme estudo divulgado pelo IBGE (2002), no segmento de pequenos
empreendimentos se verifica uma taxa de natalidade superior entre aqueles que ocupam até
cinco pessoas. Esse comportamento se justifica na existência de poucas barreiras à entrada de
novos concorrentes, tanto no tocante ao capital humano, quanto ao capital financeiro
necessários ao funcionamento da empresa. Se, por um lado, essas condições justificam a
maior natalidade dessas firmas; por outro, somadas a maior dificuldade de acesso a crédito e
menor grau de competitividade, parecem decisivas para seu desaparecimento.
A intensidade da rivalidade entre os concorrentes existentes pode ser observada pela
utilização de táticas como concorrência de preços, batalhas de publicidade, introdução de
produtos e aumento de serviços ou de garantias ao cliente (PORTER, 1986). Considerando
que a rivalidade é conseqüência da interação de vários fatores estruturais, é possível entender
as desvantagens das pequenas em relação às grandes organizações, dado que elas possuem
características organizacionais determinantes na questão da concorrência.
87
A respeito do poder de negociação dos compradores, Porter (1986) observa que estes
forçam os preços para baixo, barganham por melhor qualidade ou mais serviços e jogam os
concorrentes uns contra os outros. Por outro lado, existe o poder de negociação dos
fornecedores que se traduz em ameaça de elevação de preços e redução da qualidade dos bens
e serviços fornecidos. Sabe-se que, na maioria dos setores em que a pequena empresa se
insere, os clientes e os fornecedores possuem grande poder de barganha, o que, sem dúvida,
afeta o desenvolvimento da empresa de pequeno porte e influencia a sua competitividade.
Dentre as principais forças restritivas à sobrevivência e desenvolvimento de pequenas
empresas no mercado brasileiro, conforme apontado no relatório do Global Entrepreneurship
Monitor - GEM (2003), podem ser citadas as altas taxas de juros e a dificuldade de acesso a
linhas de crédito adequadas às necessidades desse segmento empresarial; políticas
governamentais que impõem alta carga tributária e elevados encargos trabalhistas, além de um
excesso burocrático-regulatório que eleva sobremaneira os custos para regulamentar as
empresas, fazendo com que muitas delas permaneçam na informalidade; e a ausência ou
dispersão de informações confiáveis e de programas de apoio ao pequeno empreendedor.
Assim, para estudar a gestão de pequenas empresas, é preciso considerar que os
aspectos contextuais podem influenciar seu desempenho (muitas vezes determinando-lhe a
sobrevivência ou o desaparecimento) e, dessa forma, dar apoio a essas empresas deveria ser
entendido como uma contribuição, para que consigam dotar-se das condições necessárias, no
sentido de integrá-las ao sistema de mercado, a fim de sobreviverem e se desenvolverem.
2.4.2 Recursos internos
Além das forças ambientais é preciso compreender a realidade de recursos de um
empreendimento de pequeno porte. De acordo com Souza (1995), as pequenas empresas têm
desvantagens estruturais relacionadas ao seu pequeno porte, que podem dificultar, por
exemplo, o acesso ao financiamento e aos benefícios de novas tecnologias. Segundo a autora,
88
a maior ou menor facilidade de crédito está ligada à proporção de capital próprio em relação
ao passivo. Considerando que geralmente essas empresas dispõem de pouco capital próprio,
algumas vezes associado a um alto grau de endividamento, suas possibilidades para obter
financiamentos com prazos maiores são extremamente reduzidas.
A quantidade limitada de recursos financeiros se apresenta como um fator crítico em
grande parte do estágio inicial do CVO, uma vez que ela precisa de um intervalo de tempo
para obter uma boa aceitação de seus produtos ou serviços junto aos clientes, e atingir
suficiente viabilidade operacional, ou seja, gerar caixa positivo. A insuficiência crônica desse
fator, nesse estágio do desenvolvimento organizacional, levará o negócio à falência
(CHURCHILL e LEWIS, 1983).
Adizes (1990) também argumenta que um dos problemas que afetam a maioria das
pequenas empresas no estágio inicial do ciclo de vida, é a insuficiência de recursos para
financiar as demandas de crescimento do negócio. Dentre essas demandas, encontram-se o
aumento de estoques e/ou de contas a receber. Esse problema de subcapitalização se agrava
quando por falta de estrutura e tradição, a empresa não tem acesso às linhas de crédito
adequadas para financiar suas necessidades de capital e, por conseqüência, enfrentam
dificuldades de sobrevivência diante das elevadas taxas de juros praticadas pelo mercado
financeiro nas operações de curto prazo (ADIZES, 1990).
De acordo com Pinheiro (1996), a pouca capacidade financeira dessas empresas e a
diferença tecnológica que as distanciam das grandes unidades produtivas são em princípio, os
grandes desafios operacionais a que estão sujeitas. Segundo o autor, essas injunções de
natureza econômica não só oprimem como levam ao desaparecimento prematuro de uma
grande parte das empresas de menor porte.
De outra forma, dentre os fatores que assumem um menor ênfase por parte da gerência
do empreendimento, dado as características inerentes à fase inicial do desenvolvimento
89
organizacional, podem ser citados: a habilidade de delegar do proprietário, sistemas de
informação e controle, planejamento estratégico, e recursos humanos (CHURCHILL e
LEWIS, 1983). Contudo, esses autores explicam que esses fatores crescem gradualmente em
grau de importância à medida que a empresa avança progressivamente ao longo de seu ciclo
de vida, estando disponíveis no momento em que se tornarem críticos no próximo estágio
(expansão).
A respeito da estrutura organizacional, Leone (1999) diz que empresas de pequeno
porte têm uma estrutura simples, pois, em razão de suas características, não apresentam
condições que lhes permitam conservar uma estrutura administrativa sofisticada.
Da mesma forma, Drucker (1981) adianta que o maior problema dessas empresas é
que geralmente são pequenas demais para manter a administração que precisam e, ainda, os
dirigentes não têm, como nas empresas maiores, o apoio de uma série de técnicos e indivíduos
funcionais altamente treinados.
Pinheiro (1996) afirma que, em geral, o nível administrativo de empresas de pequeno
porte é bastante rudimentar, demonstrando uma alta fragilidade estrutural. De acordo com o
autor, essas empresas comumente não possuem uma estrutura organizacional, por mais
simples que seja, que delimite claramente os papéis de seus ocupantes e os níveis de
responsabilidade de cada um deles.
Na síntese de Donaldson (1998), o empreendimento no estágio inicial possui poucos
empregados e está organizado sob a forma de uma estrutura simples e informal. A autoridade
para a tomada de decisão está concentrada no proprietário, que exerce o poder diretamente
sobre os subordinados por meio de supervisão direta. Assim, há pouca delegação de
autoridade e há também pouca especialização entre os colaboradores. Este é o período no qual
o proprietário fundador está voltado para a sobrevivência do negócio, trabalhando de forma
contínua e incansável para alcançar a viabilidade econômica do mesmo, dentro dos limites
90
impostos pelos recursos financeiros existentes (CHURCHILL e LEWIS, 1983; SCOTT e
BRUCE, 1987).
Assim, os recursos internos geralmente se apresentam como forte restrição à gestão de
pequenos empreendimentos, uma vez que a falta de recursos financeiro, material e humano,
pode inibir o desenvolvimento e afetar a sobrevivência dessas empresas.
2.4.3 Ação administrativa do dirigente
O papel do empreendedor é um dos fatores críticos na fase inicial de desenvolvimento
de uma empresa. Ele desempenha quase todas as atividades funcionais que existem nas
grandes organizações, pois, muitas vezes, não conta sequer com um funcionário para cada
setor.
Churchill e Lewis (1983) argumentam que o empreendedor dá vida aos negócios nesse
estágio, uma vez que eles são construídos com base nos talentos de seus empreendedores, ou
seja, nas habilidades estratégicas, operacionais e de gerência. Não menos importante, segundo
esses mesmos autores, é a habilidade de o empreendedor saber combinar os seus objetivos
pessoais com os da empresa, de forma que ele possa reconhecer e se conformar com as fortes
demandas de capital, de tempo e de energia do novo empreendimento nesse estágio.
Os pequenos empresários são, na maior parte, generalistas e não dispõem de pessoal
experiente em pesquisa de mercado, análise financeira, propaganda, gerenciamento de
recursos humanos e outras áreas. Portanto, o empreendedor precisa tomar decisões nessas
áreas respectivas, sem o conselho e orientação de que dispõe a grande empresa. Por
conseguinte, é difícil para ele lidar com os problemas de gerenciamento, pois dispõe do
auxílio apenas de uma pequena equipe (LONGENECKER et al., 1997). Assim, ele é
responsável por grande parte das funções da empresa, e lhe sobra pouco tempo para atividades
estratégicas (GOLDE, 1986).
91
Verifica-se também, que o desenvolvimento de sistemas, em termos do grau de
sofisticação das informações, e dos sistemas de planejamento e controle formais é mínimo, e
que a principal estratégia da empresa é sobreviver (SCOTT e BRUCE, 1987).
Para Scott e Bruce (1987), o estilo de tomada de decisão que prevalece nos
empreendimentos de pequeno porte é mais intuitivo do que analítico, ou seja, o gerente toma
quase todas as decisões-chave, baseado na maioria das vezes, em suas intuições sobre a
situação. Não há um projeto de análise detalhado e nem consideração metódica das
alternativas que se lhe apresentam.
Contudo, o crescimento que a empresa experimenta ao longo de todo o estágio inicial
do ciclo de vida pode provocar um incremento da complexidade interna da organização,
fazendo com que o uso da intuição, por parte do empreendedor, se torne insuficiente para se
efetuar as melhores escolhas (PLEITNER 1989 apud HOFFMANN, 2002).
2.4.4 Estágio inicial: caracterização
De acordo com Churchill e Lewis (1983), um dos maiores desafios de uma empresa no
primeiro estágio de ciclo de vida é o fato de que os problemas enfrentados e as habilidades
necessárias para se lidar com eles mudam à medida que a empresa se desenvolve. Assim
sendo, os proprietários devem se antecipar e gerenciar os fatores à medida que eles se tornem
importantes para a empresa.
O estágio de desenvolvimento de uma empresa aponta os fatores críticos com os quais
a gerência deve lidar naquele período, permitindo que o dirigente faça escolhas mais
conscientes e prepare a si mesmo e à empresa para desafios futuros.
Nesse contexto, as variáveis e respectivas características do primeiro estágio do ciclo
de vida apontadas no Quadro 15 no item 2.3 deste trabalho, podem ser agrupadas e
sumarizadas de acordo com as forças ambientais, recursos internos e ação administrativa do
92
dirigente (Quadro 17). Este quadro serviu de base para elaborar o roteiro de entrevista e aferir
o estágio de desenvolvimento das empresas pesquisadas.
ESTÁGIO INICIAL DO CICLO DE VIDA
VARIÁVEIS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Forças Ambientais
Fornecedores
Normalmente possui grande poder de barganha, dificultando a negociação no
processo de compra (baixo poder de compra, prazo de pagamento, taxa de
juro, taxa de desconto, pontualidade de pagamento), ameaçando a elevação de
preços e a redução da qualidade dos bens e serviços fornecidos.
Clientes
Normalmente possui grande poder de negociação, forçando os preços para
baixo, exigindo maior qualidade ou mais serviços e jogando os concorrentes
uns contra os outros.
Novos entrantes
Nos setores em que grande parte das pequenas empresas atua, as barreiras de
entrada tendem a ser menores, aumentando a possibilidade de entrada de
novas empresas e, conseqüentemente, a competição entre elas.
Produtos ou
serviços
substitutos
O aumento da ameaça de produtos e serviços substitutos pode ser
conseqüência das baixas barreiras de entrada, representando possivelmente a
intensificação da concorrência no setor em que a pequena empresa participa.
Intensidade da
rivalidade
Comumente se verifica forte concorrência nesse período. Essa é
operacionalizada com a utilização de táticas como a concorrência de preços,
batalhas de publicidade, introdução de produtos e aumento de serviços ou de
garantias ao cliente.
Mercado
financeiro
Falta de linhas de crédito adequadas às necessidades dos pequenos
empreendimentos (formalização burocrática, altas taxas de juro, análise de
crédito e prazo das operações incompatíveis com esse segmento empresarial,
e exigência de garantias e reciprocidades que o empreendedor não tem).
Políticas públicas
e Legislação
Alta carga tributária, elevados encargos trabalhistas e excesso burocrático-
regulatório. Esses elementos aumentam sobremaneira os custos para se
formalizar/regulamentar os pequenos negócios, fazendo com que muitos
deles permaneçam na informalidade.
Ausência ou dispersão de informações confiáveis dificultando a elaboração
de plano de negócios e planejamento estratégico.
Insuficiência de programas de apoio (técnico e financeiro) ao pequeno
empreendedor.
Recursos Internos
Estrutura
organizacional
Simples e informal, com poucos cargos.
Quadro de recursos humanos bastante limitado.
Pouca especialização entre os colaboradores.
Pouca delegação de autoridade. Decisões centralizadas no proprietário.
Supervisão direta do proprietário.
Recursos financeiros limitado.
Extensão dos
sistemas e
planejamento
formais
Controle pessoal
Sistemas de controle formais são mínimos ou inexistentes.
Contabilidade simples.
Sistemas de informação mínimo ou inexistente.
O planejamento formal é, na melhor das hipóteses, uma previsão de caixa.
93
Principais metas
Sobreviver, ou seja, alcançar o ponto de equilíbrio operacional.
Conseguir viabilidade econômica: tornar-se lucrativo.
Manter status quo lucrativo.
Desempenho
financeiro
Fluxo de caixa negativo a equilibrado.
Fontes de recursos
financeiros
Proprietários, fornecedores, parentes, amigos e bancos.
Sistema de
recompensas
Pró-labore, co-propriedade e salário.
Maiores
investimentos
Capital de giro.
Estrutura física e operacional.
Produto e
Mercado
O produto ou serviço oferecido é único ou muito próximo disso.
O mercado de atuação e os canais de distribuição são limitados.
P & D de produto
ou de mercado
Nenhuma ou quase inexistente.
Ação Administrativa do Dirigente
Relação do
fundador com o
negócio
O proprietário é o negócio nesse estágio de desenvolvimento. Ele fornece a
energia, o direcionamento e o capital necessários à empresa nesse período.
Habilidades
administrativas
Elaborar plano de negócios para conduzir o processo de criação da empresa.
Gerenciar o negócio no sentido de alcançar, o mais rapidamente possível, as
suas principais metas para o primeiro estágio de desenvolvimento, ou seja:
alcançar o ponto de equilíbrio operacional e tornar-se economicamente
rentável.
Conceber de forma clara os objetivos de curto prazo e comunicá-los aos
demais colaboradores. Normalmente esses objetivos não são transcritos para
o papel e a sua comunicação é feita de forma verbal aos colaboradores.
Habilidades
operacionais
Dado a pouca especialização e o pequeno número de colaboradores, o
dirigente normalmente é generalista, ou seja, possui habilidades comerciais
(compra e venda), e habilidades técnica, contábil e financeira para dar
sustentação à produção de bens e/ou serviços e a gestão empresarial.
Estilo de
Administração
Individualista e empreendedor.
Processo decisório
Mais intuitivo do que analítico.
Atitudes
Acreditar nas próprias habilidades, produto ou serviço e no mercado.
Buscar e criar um ambiente interno adequado para repassar Know How
aprendido.
Ajustar-se às condições de mudança.
Ser rápido e flexível.
Tomar decisões firmes.
Ter fé no futuro.
Resoluções
importantes
Produto ou serviço que satisfaça uma necessidade de mercado.
Fundos e procedimentos fiscais necessários.
Procedimentos técnicos.
Política ou necessidades legais.
Liderança organizacional.
Foco de operação.
Procedimentos de registro e contabilidade.
94
Táticas de competição.
Procedimentos para recrutar, selecionar e treinar pessoal.
Ações requeridas
Prover em tempo oportuno a entrada do produto ou serviço no mercado.
Avaliar risco alternativo.
Obter suporte financeiro nos momentos apropriados.
Implementar políticas básicas com um olho no futuro.
Introduzir delegação.
Empregar táticas e estratégias flexíveis, usando opiniões internas e externas.
Estabelecer nível de competição adequada.
Contratar um quadro de pessoal com capacidade para crescer.
Quadro 17 Principais características do estágio inicial do CVO
Da mesma forma, os problemas característicos do estágio inicial do CVO que foram
apontados no Quadro 16, no item 2.3 deste trabalho, também foram agrupados e sumarizados
quanto às forças ambientais, recursos internos e ação administrativa do dirigente (Quadro 18).
ESTÁGIO INICIAL DO CICLO DE VIDA
PROBLEMAS CARACTERÍSTICOS
Forças Ambientais
Fornecedor(es) com forte poder de negociação.
Forte concorrência no setor de atuação.
Cliente(s) com forte poder de negociação.
Falta de crédito bancário adequado às necessidades da empresa nessa fase de desenvolvimento.
Excessiva carga de tributos e impostos: competitividade x sonegação x fiscalização.
Elevados encargos trabalhistas: passivo x fiscalização x ação trabalhista.
Excesso burocrático-regulatório no setor de atuação.
Mudança significativa no mercado de atuação da empresa (redução na demanda/mercado
recessivo, excesso de oferta/poucas barreiras de entrada, mudança nas bases de competição/entrada
de um grande concorrente, alteração burocrático-regulatória etc.).
Ausência ou dispersão de informações confiáveis.
Políticas públicas de apoio (técnico e financeiro) insuficientes.
Recursos Internos
Dificuldade da empresa para resistir às inevitáveis épocas difíceis, devido à fragilidade de sua
estrutura organizacional (recursos financeiros, humanos e materiais bastante limitados).
Dificuldade para acessar fontes de financiamento adequadas (prazo, taxa, forma de pagamento etc.)
e benefícios de novas tecnologias. Essas dificuldades ocorrem porque geralmente as pequenas
empresas dispõem de um volume limitado de recursos próprios, algumas vezes associado a um alto
grau de endividamento.
Falta de capital de giro para atender as demandas de crescimento do negócio. Se o proprietário não
dispuser de recursos próprios, de parentes ou de amigos para suprir essa necessidade, a empresa se
obrigará a realizar operações de curto prazo no mercado financeiro, às custas de altas taxas de
juros, sacrificando parte dos lucros operacionais.
Quadro de colaboradores insuficiente e sem qualificação.
95
Sistemas de controle ineficientes (controle de compras, custo, produção, vendas, pessoal,
financeiro etc.).
Inexistência de sistemas de informação.
Estrutura física (tamanho, infra-estrutura existente, localização), estrutura operacional (máquinas,
equipamentos, instalações) e matérias-prima e/ou materiais inadequados para atender a demanda e
as exigências do nicho de mercado da empresa.
Fornecimento de produtos ou serviços de má qualidade.
Dificuldades de penetração do produto ou serviço no mercado de atuação, gerando um fluxo de
caixa negativo crônico.
Não consegue entregar o produto ou serviço vendido dentro dos prazos contratados.
Ação Administrativa do Dirigente
Fanatismo irreal do fundador na concepção do negócio.
Compromisso não é testado face à realidade, ou seja, falta de um plano de negócios.
Inexistência de planejamento estratégico.
Processo decisório baseado apenas na intuição.
Fundador voltado exclusivamente aos lucros e ao retorno sobre o investimento.
Falta de Know How.
Falta de objetivos de curto prazo.
Orientação para as vendas.
Desconhecimento dos custos das mercadorias vendidas.
Controle do fundador é vulnerável devido a ausência ou ineficiência dos controles existentes.
Inabilidade e/ou resistência do dirigente para iniciar o processo de delegação de autoridade na
empresa.
Delegação de autoridade prematura.
Vida familiar desfavorável (falta de apoio em casa).
Crescimento descontrolado.
Não consciência ou inapetência do fundador para com as demandas administrativas existentes no
final desse estágio.
Crise de estilo de administração (excesso de atribuições do fundador x dificuldade para delegar
tarefas).
O proprietário não suporta as exigências de tempo, dinheiro e energia, demandados pelo
empreendimento nesse estágio, e desiste do negócio.
Quadro 18 Problemas característicos do estágio inicial do CVO
Com os problemas característicos do estágio inicial do CVO, apresentados no Quadro
18, foi possível elaborar o roteiro de entrevista e fazer uma análise comparativa entre os
problemas encontrados nas empresas pesquisadas e os problemas já apontados pela literatura.
96
3 METODOLOGIA
3.1 DELINEAMENTO E PERSPECTIVA DA PESQUISA
Do ponto de vista de sua natureza, esta pesquisa pode ser considerada como aplicada
(SILVA E MENEZES, 2001, p. 20), pois “objetiva gerar conhecimentos para aplicação
prática dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais”.
Segundo as mesmas autoras, quanto a forma de abordagem do problema o presente estudo
caracteriza-se como essencialmente qualitativo, pois constata-se existir
[...] uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo
indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não
pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a
atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa.
Para Godoy (1995a) as características básicas da pesquisa qualitativa são (1) o ambiente
natural é a fonte direta para a coleta de dados e o pesquisador é um instrumento chave; (2) ela
é descritiva; (3) o significado que as pessoas dão às coisas e às suas vidas é a preocupação
essencial do investigador; e (4) os pesquisadores qualitativos utilizam o método indutivo na
análise de seus dados. Por isso, a generalização deriva de observações particulares de casos da
realidade concreta. De acordo com Cassell e Symon (1995), a pesquisa qualitativa apresenta
ainda as seguintes características: foco na interpretação, ao invés de na quantificação; ênfase
na subjetividade, ao invés de na objetividade; flexibilidade no processo de condução da
pesquisa; e preocupação com o contexto. Essas características, entre outras, diferenciam a
pesquisa qualitativa da quantitativa e permitem verificar a importância do método qualitativo
para a condução deste trabalho.
Enquanto estudo empírico conforme Cervo e Bervian (1996), esta pesquisa
caracteriza-se como descritiva interpretativa, pois busca observar, registrar, analisar e
correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los. Isto é, o pesquisador procura conhecer e
interpretar a realidade sem nela interferir para modificá-la (RUDIO, 1985). Ele busca
97
conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política, econômica e
demais aspectos do comportamento humano, tanto do indivíduo tomado isoladamente como
de grupos e comunidades mais complexas (CERVO E BERVIAN, 1996).
Quanto à dimensão de tempo, a presente pesquisa é transversal, ou seja, é um estudo
único e representa um instantâneo de um determinado momento. Como salientam Cooper e
Schindler (2003), os estudos transversais diferenciam-se dos longitudinais, pois não são
realizados em períodos maiores e não são contínuos ou repetidos através do tempo. Embora a
pesquisa longitudinal seja importante, as restrições de orçamento e tempo impõem a
necessidade de análise transversal. Contudo, pode-se assegurar alguns benefícios de um
estudo longitudinal com um questionamento acerca das atitudes passadas, histórico e
expectativas futuras (COOPER e SCHINDLER, 2003).
De acordo com os procedimentos técnicos, esta pesquisa é considerada um estudo de
caso descritivo, visto que se pretende estudar profunda e exaustivamente poucos objetos de
maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento. Cooper e Schindler (2003, p.
130) salientam que “os estudos de caso colocam mais ênfase em uma análise contextual
completa de poucos fatos ou condições e suas inter-relações”. De acordo Yin (2001, p. 32),
“um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo
dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o
contexto não estão claramente definidos”. Esse autor esclarece ainda, que a pesquisa de
estudo de caso pode incluir tanto estudos de caso único quanto de casos múltiplos.
3.2 UNIDADE DE ANÁLISE
No estudo de caso clássico (isto é, único) um “caso” pode ser um indivíduo, um
evento ou uma entidade. Assim, de acordo com Yin (2001), o indivíduo (evento ou entidade)
é a unidade primária de análise e, conseqüentemente, vários exemplos desses indivíduos
(eventos ou entidades) poderiam ser incluídos em um estudo de casos múltiplos.
98
Como orientação geral, de acordo com Yin (2001, p. 44), “a definição da unidade de
análise (e, portanto, do caso) está relacionada à maneira como as questões iniciais da pesquisa
foram definidas”. Dessa forma, segundo o mesmo autor, “especificar corretamente as
questões primárias da pesquisa traria como conseqüência a seleção da unidade apropriada de
análise.”
A literatura existente também pode se tornar uma referência-guia para se definir a
unidade de análise. Pois, a comparação entre as descobertas da pesquisa e as descobertas já
existentes na literatura, somente será possível se cada estudo de caso ou unidade de análise for
semelhante àqueles previamente estudados por outras pessoas ou, então, divergirem de forma
clara e operacionalmente definida (YIN, 2001).
Diante disso, com base nas perguntas de pesquisa apresentadas na forma de objetivos
geral e específico, a unidade de análise deste trabalho é a empresa de prestação de serviços no
ramo se seguros e na fase inicial do ciclo de vida.
3.3 DEFINIÇÃO DO NÚMERO DE CASOS
As decisões relativas ao número de casos sempre oscilam entre os objetivos de cobrir
a maior dimensão possível de um campo e os de realizar análises com a máxima
profundidade. Esta última estratégia “busca penetrar mais no campo e em sua estrutura,
concentrando-se em exemplos únicos ou em determinados setores do campo” (FLICK, 2004,
p. 84).
As principais razões para se conduzir um estudo de caso único se justificam sob certas
condições, ou seja, quando o caso representa um teste crucial da teoria existente; é um evento
raro ou exclusivo; ou serve a um propósito revelador (YIN, 2001). Na ausência desses três
fundamentos, é provável que o projeto de pesquisa seja conduzido através de um estudo de
caso múltiplo.
99
Para Herriott e Firestone (1983 apud YIN, 2001), “as provas resultantes de casos
múltiplos são consideradas mais convincentes, e o estudo global é visto, por conseguinte,
como sendo mais robusto”. De acordo com Yin (2001, p. 75), qualquer utilização de projetos
de casos múltiplos deve seguir uma lógica de replicação, e não de amostragem. A lógica de
replicação se aplica a experimentos ou a estudos de caso, e a lógica da amostragem é
comumente utilizada em levantamento de dados. De acordo com a lógica de replicação, cada
caso deve ser cuidadosamente selecionado pelo pesquisador de forma a prever resultados
semelhantes (replicação literal), ou resultados contrastantes (replicação teórica).
Flick (2004) ressalta ainda, que os recursos limitados de mão-de-obra, dinheiro e
tempo, também devem ser considerados no processo de análise para se definir o número de
casos a serem estudados.
As replicações também contribuem para o que Yin (2001) chama de “generalização
analítica”, ou seja, método de generalização no qual se baseia o estudo de caso. Nesse método
(YIN, 2001, p. 58), “o pesquisador está tentando generalizar um conjunto particular de
resultados a alguma teoria mais abrangente”. Para que a generalização analítica ocorra, é
necessário “testar uma teoria através da replicação das descobertas em um segundo ou mesmo
em um terceiro local, nos quais a teoria supõe que deveriam ocorrer os mesmos resultados”.
Dessa forma, considerou-se que a realização de cinco estudos de caso (replicações)
tenha sido suficiente para o atingimento dos objetivos inicialmente estabelecidos por este
trabalho.
3.4 SELEÇÃO DAS EMPRESAS ESTUDADAS
Alguns critérios foram observados para que a seleção das empresas estudadas fosse
possível, ou seja, procurou-se selecionar empresas quanto ao setor e ramo de atuação,
conhecimento prévio do empreendedor nesse ramo, localização geográfica, data de abertura,
porte, e disponibilidade da empresa em contribuir para a pesquisa, fornecendo os dados
100
necessários à sua conclusão. Como resultado, buscou-se selecionar pequenos
empreendimentos do setor de serviços, que atuam no ramo de seguros, constituídos no ano de
2001 na região noroeste do Estado do Paraná, por ex-funcionários da Banestado Corretora de
Seguros (BCS).
Através de pesquisa realizada em novembro de 2004, junto ao Sindicato dos
Empregados em Estabelecimentos Bancários de Maringá, Cianorte, Campo Mourão,
Paranavaí e Umuarama, foi possível identificar os funcionários (vinculados a esses sindicatos)
que se desligaram do Banco do Estado do Paraná S. A. em virtude do processo de venda para
o Banco Itaú. Na seqüência, através de contatos por telefone, foi possível levantar, dentre
esses funcionários, aqueles que optaram por iniciar um empreendimento próprio, e que
atendessem os critérios de seleção desta pesquisa. De acordo com Cooper e Schindler (2003,
p. 169), as empresas que contribuíram para a realização desta pesquisa foram selecionadas por
meio de uma amostra intencional por julgamento, na qual “o pesquisador seleciona membros
da amostra para atender a alguns critérios”.
Assim, de acordo com o item 3.3 (Definição do número de casos) desta pesquisa, no
dia 26 de fevereiro deste ano, contatamos os sócios-proprietários das corretoras de seguro
relacionadas no Quadro 19, onde expusemos os objetivos deste trabalho e a necessidade de se
fazer entrevistas e coleta de documentos para a obtenção de dados, necessários à conclusão do
mesmo. Subseqüentemente, explicamos que as suas empresas se enquadravam nos critérios de
seleção deste trabalho, e questionamos a possibilidade de suas participações neste sentido,
quando obtivemos, por livre adesão, o consentimento para a realização das entrevistas e para a
coleta de documentos das respectivas empresas (contrato social, alterações contratuais,
balanço patrimonial e demonstração de resultado de exercício). Para a definição do porte das
empresas selecionadas foram utilizados critérios quanti-qualitativos, de acordo com o item
2.1.1 deste de trabalho.
101
O Quadro 19 apresenta o município de atuação das empresas selecionadas, data e hora
de realização das entrevistas, e um código que será utilizado, posteriormente, para facilitar as
citações.
UNIDADES DE ANÁLISE ENTREVISTAS
CÓDIGO DE
IDENTIFICAÇÃO
MUNICÍPIO DE
ATUAÇÃO
DATA HORA
CS-01 Maringá PR
03/03/2005
08/03/2005
Das 08:50 às 11:05h
Das 09:05 às 11:45h
CS-02 Paissandu PR 15/03/2005 Das 18:00 às 20:45h
CS-03 Campo Mourão PR 19/03/2005 Das 08:45 às 11:50h
CS-04 Paranavaí PR 23/03/2005 Das 17:30 às 20:10h
CS-05 Cianorte PR 29/03/2005 Das 08:30 às 11:30h
Quadro 19 Unidades de análise da pesquisa
3.5 COLETA DE DADOS
A utilização de diferentes procedimentos para a realização da coleta de dados em um
estudo de caso, além de possibilitar uma compreensão do problema de pesquisa em maior
profundidade, oferece diferentes visões e perspectivas do fenômeno em estudo. As
informações necessárias ao atingimento dos objetivos desta pesquisa foram obtidas a partir de
dados primários e secundários.
3.5.1 Dados primários
Os dados primários são aqueles coletados pelo pesquisador. Para essa tarefa o
pesquisador pôde utilizar a entrevista e a pesquisa documental. Para Yin (2001, p. 120), em
estudos de caso “a necessidade de utilizar várias fontes de evidências ultrapassa em muito a
necessidade que se tem em outras estratégias de pesquisa, como em experimentos,
levantamentos ou pesquisas históricas.” Nesse sentido, Godoy (1995b, p. 27) afirma que em
estudos de caso “os dados devem ser coletados no local onde eventos e fenômenos que estão
sendo estudados naturalmente acontecem, incluindo entrevistas, observações, análise de
documentos e, se necessário, medidas estatísticas.”
102
A utilização de diversas fontes de dados primários permite, segundo Yin (2001, p.
121), “o desenvolvimento de linhas convergentes de investigação, um processo de
triangulação”. Dessa forma, uma descoberta ou conclusão em um estudo de caso é muito mais
convincente e acurada se derivada de várias fontes distintas de dados, obedecendo a um estilo
corroborativo de pesquisa.
Para a realização desta pesquisa, os dados primários foram coletados por meio de
entrevista semi-estruturada e pesquisa documental. A escolha desses procedimentos se deu em
função de que eles estão ligados ao objetivo geral deste trabalho, ou seja, levantar os
problemas enfrentados por pequenas empresas no setor de serviços securitários no primeiro
estágio do ciclo de vida.
3.5.1.1 Entrevistas
Sobre a especificidade das entrevistas, Minayo (1996, p. 121) afirma que “quando se
trata de apreender sistemas de valores, de normas, de representação de determinado grupo
social, ou quando se trata de compreender relações, o questionário se revela insuficiente.”
Para King (1994), a entrevista é uma técnica flexível, pode ser aplicada em quase todos os
lugares e é capaz de produzir dados de grande profundidade. Ainda segundo o mesmo autor,
trata-se de um procedimento qualitativo amplamente usado em pesquisas organizacionais.
Ao falar do trabalho de campo na pesquisa qualitativa Minayo (1996, p. 107) salienta
que “[...] a entrevista – tomada no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito
de coleta de informações sobre determinado tema científico – é a técnica mais usada no
processo de trabalho de campo.”
As entrevistas podem ser individuais ou grupais (KING, 1994; MINAYO, 1996).
Enquanto as entrevistas individuais estão focadas no entrevistador e no entrevistado (visto
como um ator individual), as grupais são realizadas buscando-se uma visão coletiva dos
vários atores sociais.
103
Quanto ao tipo, as entrevistas podem ser (SILVA e MENEZES, 2001; LAKATOS e
MARCONI, 1991): estruturada (ou padronizada) e não-estruturada (ou despadronizada). Na
entrevista estruturada
[...] o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido; as perguntas
feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza de acordo com um
formulário elaborado e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas
de acordo com um plano (LAKATOS e MARCONI, 1991, p. 197).
De outra forma, segundo as mesmas autoras, na entrevista não-estruturada “o entrevistador
tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada. É
uma forma de poder explorar mais amplamente uma questão. Em geral, as perguntas são
abertas e podem ser respondidas dentro de uma conversação informal.” Entretanto, entrevistas
semi-estruturadas têm atraído interesse, sendo amplamente utilizadas. Para Flick (2004, p.
89), esse “interesse está vinculado à expectativa de que é mais provável que os pontos de vista
dos sujeitos entrevistados sejam expressos em uma situação de entrevista com um
planejamento relativamente aberto do que em uma entrevista padronizada.”
Diante disso, a coleta de dados primários desta pesquisa realizou-se mediante a
aplicação de entrevistas individuais semi-estruturadas, ou seja, com a utilização de um roteiro
de entrevista. Outrossim, para garantir a fidedignidade do discurso, acordou-se previamente
com os entrevistados que as falas fossem gravadas para posterior transcrição. Na seqüência,
estas transcrições foram submetidas aos respectivos entrevistados com o objetivo de se tentar
eliminar possíveis imperfeições nos seus discursos. Acordou-se também, que os nomes dos
entrevistados fossem preservados e que a utilização dos dados e das informações coletadas se
restringissem única e exclusivamente à realização deste trabalho.
3.5.1.2 Pesquisa documental
A pesquisa documental se limitou a análise do contrato social e dos demonstrativos
financeiros (balanço patrimonial e demonstração de resultado de exercício), permitindo uma
104
melhor descrição das empresas pesquisadas e dos seus fatos mais importantes, assim como da
sua história.
3.5.2 Dados secundários
Os dados secundários são aqueles já disponíveis na literatura, como livros, teses,
dissertações e artigos, entre outros. Eles foram obtidos através de pesquisa bibliográfica (ou
fontes secundárias).
3.5.2.1 Pesquisa bibliográfica
Esse tipo de pesquisa abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema
de estudo. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi
escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto.
Neste trabalho, os dados secundários foram obtidos por meio de livros, artigos em
revistas especializadas, teses, dissertações, monografias, anais de congressos e publicações
virtuais em endereços eletrônicos. A consulta a essas fontes permitiu adquirir conhecimento
teórico sobre o assunto pesquisado e, paralelamente, analisar as generalizações já alcançadas
por outros autores.
Por isso, este trabalho não representou uma repetição do que já foi escrito sobre o
assunto, mas propiciou uma análise do tema, desenvolvimento organizacional, sob um novo
enfoque.
3.6 ANÁLISE DE DADOS
Para uma análise de dados de alta qualidade (YIN, 2001, p. 154), independentemente
da estratégia analítica escolhida, quatro princípios fundamentais devem ser considerados: (1)
deixar claro que a análise se baseou em todas as evidências relevantes; (2) a análise deve
abranger todas as principais interpretações concorrentes; (3) a análise deve se dedicar aos
aspectos mais significativos do estudo de caso; e (4) o pesquisador deve utilizar seu
105
conhecimento prévio de especialista para analisar o estudo de caso, ou seja, conhecer
publicações anteriores e estar consciente das discussões e do debate atual sobre o tema da
pesquisa.
Como na coleta de dados, nem todo método de interpretação é apropriado em cada
caso. A decisão entre as alternativas metodológicas existentes deve ser embasada no próprio
estudo, na sua questão e nos seus objetivos de pesquisa, bem como nos dados coletados
(FLICK, 2004). Dessa forma, a técnica utilizada para a análise dos dados desta pesquisa foi a
análise de conteúdo.
Para Bardin (1977, p. 42), o termo “análise de conteúdo” pode ser definido como
[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens.
Ressalta-se também que pertencem “ao domínio da análise de conteúdo, todas as
iniciativas que, a partir de um conjunto de técnicas parciais, mas complementares, consistam
na explicitação e sistematização do conteúdo das mensagens e da expressão deste conteúdo”,
seja ele passível ou não de quantificação (BARDIN, 1977, p. 42). Cooper e Schindler (2003,
p. 347) argumentam também que a análise de conteúdo “protege contra a percepção seletiva
do conteúdo, garante a aplicação rigorosa de critérios de confiabilidade e validade e é
receptiva à informatização.”
De acordo com Insch; More e Murphy (1997), a análise de conteúdo apresenta
algumas vantagens, geralmente associadas aos métodos qualitativos, como riqueza de
detalhes, preservação de conteúdos importantes da informação e potencial para fundamentar o
desenvolvimento de uma teoria. Nesta pesquisa, desenvolveu-se uma análise de conteúdo
qualitativa com o objetivo de preservar os detalhes presentes nos discursos dos entrevistados.
106
De acordo com Bardin (1977), a análise de conteúdo está organizada em três fases
fundamentais: (1) a pré-análise; (2) a exploração do material; e (3) o tratamento dos
resultados, a inferência e a interpretação. A pré-análise é a fase de organização do material.
Ela “corresponde a um período de intuições, mas, tem por objetivo tornar operacionais e
sistematizar as idéias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do
desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise” (BARDIN, 1977, p. 95).
Nessa fase, normalmente, são realizadas três missões importantes, ou seja: a escolha dos
documentos que serão submetidos à análise; a formulação das hipóteses e dos objetivos, e a
elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final.
Na seqüência, Bardin (1977, p. 101) diz que a exploração do material “consiste
essencialmente de operações de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras
previamente formuladas.” Finalmente, com o tratamento dos resultados brutos obtidos,
consegue-se resultados significativos e válidos, que permitem proposição de inferências e
realização de interpretações acerca dos objetivos previstos (BARDIN, 1977).
Várias técnicas podem ser utilizadas para a análise de conteúdo. Bardin (1977) cita as
seguintes: análise categorial, análise de avaliação, análise da enunciação, análise da
expressão, análise das relações e análise do discurso. Dentre essas, para a condução da análise
de conteúdo desta pesquisa, utilizou-se a técnica de análise categorial.
Bardin (1977) explica que na segunda fase da análise de conteúdo (exploração do
material), a organização da codificação compreende três escolhas no caso de uma análise
categorial:
a.) O recorte: escolha das unidades;
b.) A enumeração: escolha das regras de contagem;
c.) A classificação e a agregação: escolha das categorias.
107
Escolha das unidades. A unidade de registro é a unidade de significação a codificar e
corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como unidade de base, visando a
categorização (BARDIN, 1977). Ela pode ser de natureza e de dimensões muito variáveis. A
título ilustrativo segundo essa autora, podem ser citados dentre as unidades de registro mais
utilizadas: a palavra, o tema, o objeto ou referente, o personagem, o acontecimento, e o
documento. Conforme Bardin (1977, p. 106) “as respostas a questões abertas, as entrevistas
(não diretivas ou mais estruturadas) individuais ou de grupo [...] podem ser, e são
freqüentemente, analisadas tendo o tema por base.” Assim, neste trabalho, a principal unidade
de registro utilizada na análise categorial de conteúdo será o tema, isto é, a “unidade de
significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios
relativos à teoria que serve de guia à leitura” (BARDIN, 1977, p. 105).
Fazer uma análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem
a comunicação e cuja presença, ou freqüência de aparição podem significar alguma coisa para
o objetivo analítico escolhido. Para Bardin (1977, p. 105),
o tema, enquanto unidade de registro, corresponde a uma regra de recorte
(do sentido e não da forma) que não é fornecida uma vez por todas, visto que
o recorte depende do nível de análise e não de manifestações formais
reguladas. Não é possível existir uma definição de análise temática, da
mesma maneira que existe uma definição de unidades lingüísticas.
A unidade de contexto, nas palavras de Bardin (1977, p. 107), “serve de unidade de
compreensão para codificar a unidade de registro e corresponde ao segmento da mensagem,
cujas dimensões (superiores às da unidade de registro) são ótimas para que se possa
compreender a significação exata da unidade de registro. A unidade de contexto, por exemplo,
pode ser o parágrafo para o tema.” As dimensões das unidades de contexto são determinadas
pelos critérios de custo, pertinência, tipo de material analisado, e quadro teórico de
sustentação (BARDIN, 1977). Portanto, considerando a unidade de registro escolhida (tema),
o material analisado (transcrição de cinco entrevistas semi-estruturada, ou seja, 130 páginas
108
com espaço 1,5), e o quadro teórico de sustentação deste trabalho, a unidade de contexto
escolhida para a análise de conteúdo das entrevistas desta pesquisa é o parágrafo.
Regra de enumeração. A regra de enumeração nada mais é do que o modo de
contagem da unidade de registro. Para Bardin (1977), é possível utilizar-se diversos tipos de
enumerações: a presença (ou ausência), a freqüência, a freqüência ponderada, a intensidade, a
direção, a ordem, e a co-ocorrência. De acordo com os critérios de pertinência, tipo de
material analisado e quadro teórico, já mencionados anteriormente, a análise de conteúdo
deste trabalho se orientará, basicamente, pela presença ou ausência da unidade de registro – o
tema.
Categorização. A análise categorial de conteúdo é uma operação de classificação de
unidades (de registro e de contexto) constitutivos do texto, por diferenciação e, seguidamente,
por reagrupamento analógico em categorias, com os critérios previamente definidos
(BARDIN, 1977). As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de
elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico.
Agrupamento esse, efetuado em razão dos caracteres comuns desses elementos.
A categorização, conforme Bardin (1977), pode empregar dois processos inversos: (1)
fornece um sistema de categorias e, com base nele, reparte da melhor maneira possível os
elementos, à medida que vão sendo encontrados; e (2) o sistema de categorias não é fornecido
inicialmente. Ele vai se estruturando de acordo com a classificação analógica e progressiva
dos elementos. O sistema de categorias, produzido pela análise qualitativa de conteúdo das
entrevistas desta pesquisa, foi estruturado de acordo com esse último processo, com base no
roteiro de entrevista utilizado.
Portanto, inicialmente foi feita uma pré-análise e a exploração do material, sendo que
a codagem dos dados foi realizada com auxílio do software NUDIST Vivo (NVivo), versão
1.1, e a sua análise se deu mediante a utilização da técnica de categorização de conteúdo de
109
acordo com Bardin (1977), e posteriormente foi feita a interpretação dos dados, à luz do
referencial teórico.
3.7 PROTOCOLO PARA A REALIZAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO
De acordo com Yin (2001, p. 89), é desejável possuir um protocolo para o estudo de
caso em qualquer circunstância, mas ele se torna essencial na condução de um projeto de
casos múltiplos. Este autor diz ainda, que “o protocolo é uma das táticas para se aumentar a
confiabilidade da pesquisa de estudo de caso e destina-se a orientar o pesquisador ao conduzir
o estudo de caso”.
Diante disso, elaborou-se um protocolo com a descrição das etapas da pesquisa, os
objetivos relacionados com cada etapa e as suas respectivas atividades (Quadro 20).
ETAPA OBJETIVOS ATIVIDADES
Planejamento Elaborar o protocolo. Definição das etapas da pesquisa, incluindo
coleta de dados (primários e secundários) e
análise de dados.
Caracterizar as empresas
objeto de estudo.
Pesquisa bibliográfica sobre os
empreendimentos de pequena dimensão,
realizada junto a livros, artigos de revistas
especializadas, teses, dissertações, anais de
congressos e publicações virtuais em
endereços eletrônicos, e pesquisa documental
junto às empresas (análise do contrato social
e dos demonstrativos financeiros).
Sumarizar o estágio inicial do
ciclo de vida das organizações,
apontando as suas
características e problemas
principais.
Pesquisa bibliográfica acerca da teoria do
ciclo de vida e os seus principais modelos,
realizada junto a livros, artigos de revistas
especializadas, teses e dissertações, anais de
congressos e publicações virtuais em
endereços eletrônicos.
Levantar os problemas
enfrentados pelas empresas
pesquisadas ao longo da fase
inicial do ciclo de vida.
Realizar entrevistas semi-estruturadas junto
aos proprietários das pequenas selecionadas
para a pesquisa.
Coleta de dados
Organizar as informações
coletadas em um banco de
dados com o objetivo de
facilitar o seu tratamento e
análise.
Transcrever os dados coletados através das
entrevistas e da pesquisa documental.
110
Análise dos
dados
Fazer análise interpretativa dos
dados coletados através das
entrevistas, com base na
fundamentação teórica.
Fazer análise de conteúdo qualitativa,
utilizando a técnica de análise categorial.
Contrastar os dados coletados por intermédio
da pesquisa bibliográfica, entrevistas e
análise documental.
Conclusão Apontar os problemas
enfrentados pelas empresas
pesquisadas ao longo do
estágio inicial do ciclo de vida.
Fornecer subsídios para um melhor
enfrentamento dos problemas encontrados no
estágio inicial do ciclo de vida dos pequenos
empreendimentos.
Quadro 20 – Protocolo para a realização dos estudos de caso
Na seqüência, o Quadro 21 mostra o problema de pesquisa, o objetivo geral e as
conexões existentes entre os objetivos específicos, as perguntas de pesquisa e o roteiro de
entrevista individual deste trabalho.
PROBLEMA DE PESQUISA
Quais são os problemas enfrentados por pequenas empresas no setor de serviços securitários no
primeiro estágio do ciclo de vida?
OBJETIVO GERAL
Identificar os problemas enfrentados pela pequena empresa do setor de serviços securitários no
primeiro estágio do ciclo de vida, contribuindo para a compreensão do seu processo de
desenvolvimento.
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
PERGUNTAS DE PESQUISA
ROTEIRO DE
ENTREVISTA
(ANEXO A)
Descrever o processo de
criação das empresas
pesquisadas.
Como surgiu a idéia de empreender o negócio próprio
e de que maneira essa idéia foi sendo concretizada?
1
Recursos Internos
Descrever a trajetória de
crescimento das
empresas pesquisadas.
Fale sobre a estrutura física (tamanho, infra-estrutura
existente e localização) e operacional (máquinas,
equipamentos e instalações) da empresa ao longo de
suas atividades.
3
Comente sobre como tem sido composto o quatro de
recursos humanos da empresa até o momento,
mencionando o cargo e a qualificação de cada uma
delas?
4
Como tem sido o processo de contratação dessas
pessoas?
5
Discorra sobre o sistema de recompensas que tem
sido adotado pela empresa, em relação aos seus
colaboradores e ao seu proprietário dirigente.
6
111
Quais têm sido as principais fontes de financiamento
(passivo) e as principais aplicações (ativo) da empresa
até agora?
8
As linhas de crédito oferecidas pela rede bancária
nacional têm atendido (ou atenderia) plenamente às
necessidades de financiamento da empresa quando
necessário? Elas são de fácil acesso? Explique.
9
Como tem sido o desempenho econômico e financeiro
da empresa desde o início de suas atividades?
10
Comente sobre a estrutura organizacional e o nível de
formalização existentes na empresa, ou seja, fale
sobre a filosofia, as diretrizes, as normas e
regulamentos, as rotinas e procedimentos, as formas
de planejamento, de controle, de informação e de
comunicação existentes.
12
Ação Administrativa do Dirigente
Como tem sido o relacionamento empresa x
empreendedor, e qual tem sido a influência da família
nesse relacionamento?
14
Qual ou quais têm sido as principais metas da
administração desde a criação da empresa até agora?
Comente sobre cada uma.
15
Fale sobre as demandas da empresa em relação as
suas funções essenciais (administrativa, técnica,
comercial, financeira, contábil e de segurança) no
sentido de se alcançar essas metas, e como você tem
respondido a essas demandas ao longo do
desenvolvimento da empresa.
16
Fale um pouco sobre as suas atitudes e o seu estilo de
administração à frente da empresa.
17
Como tem sido o processo decisório na empresa? 18
Até hoje, quais foram as decisões mais importantes
que você tomou e de que forma elas foram ou estão
sendo implementadas?
19
Forças Ambientais
Fale sobre o setor/ramo e a área geográfica de atuação
da empresa, seu mercado potencial e sua fatia de
participação nesse mercado ao longo do tempo.
21
Quais são os produtos e/ou serviços oferecidos pela
empresa, e de que maneira a venda desses produtos
e/ou serviços tem sido operacionalizada junto à sua
clientela?
23
Fale sobre os fornecedores da empresa e explique
como tem sido o relacionamento comercial com eles.
24
112
Fale sobre as características e o crescimento da
carteira de clientes da empresa até o momento, e
comente como tem sido o relacionamento comercial
com eles.
26
Fale sobre os concorrentes da empresa, e de que
maneira essa concorrência tem sido operacionalizada
até agora.
28
Como você vê a influência das políticas públicas de
apoio técnico e financeiro e das leis trabalhista,
previdenciária, tributária e fiscal/regulatória ao longo
do desenvolvimento da empresa?
30
Quais foram as dificuldades enfrentadas durante o
processo de criação e implementação da empresa, e de
que forma elas foram ou estão sendo administradas?
2
Recursos Internos
Apontar os problemas
enfrentados pelas
empresas pesquisadas
ao longo do estágio
inicial do ciclo de vida.
Ao longo de suas atividades, a empresa enfrentou ou
está enfrentando dificuldades quanto ao seu quadro de
pessoal (quantidade/qualificação) e/ou quanto a sua
estrutura física e operacional? Se positivo, relatar
essas dificuldades e explicar de que maneira elas
foram ou estão sendo resolvidas.
7
Durante esse período de atuação, quais foram ou são
as dificuldades econômico-financeiras enfrentadas e
de que maneira elas foram ou têm sido geridas?
11
Em relação a estrutura organizacional e o nível de
formalização da empresa, quais foram as dificuldades
enfrentadas até agora, e de que forma elas foram ou
estão sendo administradas?
13
Ação Administrativa do Dirigente
Quanto ao seu papel de empreendedor na empresa,
quais foram ou têm sido as principais dificuldades
enfrentadas até agora, e de que maneira elas foram ou
têm sido gerenciadas?
20
Forças Ambientais
Na sua opinião, quais foram ou têm sido as principais
dificuldades enfrentadas pela empresa quanto ao seu
mercado potencial, área geográfica e ramo de
atuação? De que forma elas foram ou têm sido
geridas?
22
Comente sobre as principais dificuldades que a
empresa enfrentou ou tem enfrentado nessa relação
(produto x venda), e de que forma elas foram ou têm
sido conduzidas.
23
Ao seu ver, quais foram os problemas mais
importantes que a corretora enfrentou ou está
enfrentando nesse relacionamento (empresa x
fornecedores), e de que forma eles foram ou estão
sendo administrados.
25
113
Em relação aos clientes, você poderia comentar sobre
as dificuldades que a corretora enfrentou ou tem
enfrentado até agora, e explicar como elas foram ou
têm sido geridas.
27
No seu ponto de vista, quais foram os problemas mais
importantes que a empresa enfrentou ou está
enfrentando em relação aos seus concorrentes, e de
que forma eles foram ou estão sendo administrados.
29
Como você vê a influência das políticas públicas de
apoio técnico e financeiro e das leis trabalhista,
previdenciária, tributária e fiscal/regulatória ao longo
do desenvolvimento da empresa? Aponte as
dificuldades enfrentas pela empresa até o momento.
30
Quadro 21 – Sinopse da estratégia metodológica
É importante observar que o roteiro de entrevista, apresentado no quadro anterior, não
limita o discurso dos sujeitos às perguntas pertinentes, pois se trata apenas de um roteiro
preliminar e considerando o método desta pesquisa, a análise dos dados será feita
independente da associação estabelecida com as questões e o objetivo.
114
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS CASOS
4.1 APRESENTAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS
O sistema nacional de seguros privados, no qual as unidades de análise desta pesquisa
estão inseridas, está organizado da seguinte forma:
Corretores de Seguros
Empresas de Seguros, Previdência
Complementar Aberta e Capitalização
IRB - Brasil Re SUSEP
CNSP
Ministério da Fazenda
Figura 4 – Sistema nacional de seguros privados
Fonte: FENASEG (2004).
Compete ao Governo Federal formular a política de seguros privados, estabelecer suas
normas e fiscalizar as operações no mercado nacional. O Decreto-lei nº 73, de 21 de
novembro de 1966, alterado pelas Leis nº 9.656/98 e nº 10.190/2001, que rege as operações
de seguro, instituiu o Sistema Nacional de Seguros Privados composto pelo Conselho
Nacional de Seguros Privados (CNSP), Superintendência de Seguros Privados (SUSEP),
Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re), Sociedades autorizadas a operar em
Seguros Privados e Capitalização, Entidades Abertas de Previdência Complementar e
Corretores de Seguros habilitados.
O CNSP fixa as diretrizes e normas da política de seguros privados no Brasil; a
SUSEP atua na regulação, supervisão, fiscalização e incentivo das atividades de seguros,
115
previdência complementar aberta e capitalização, protegendo o direito dos consumidores e os
interesses da sociedade em geral; o IRB regula o co-seguro
9
, resseguro
10
e retrocessão
11
, além
de promover o desenvolvimento das operações de seguro no país; e as sociedades
seguradoras, sociedades de capitalização e entidades abertas de previdência complementar
12
são sociedades anônimas, com ações nominativas, autorizadas
13
a operarem, respectivamente,
os segmentos de seguro, capitalização e previdência complementar aberta, do mercado
segurador brasileiro. Por fim, os corretores de seguros, pessoa física ou jurídica, são os
intermediários autorizados a angariar e promover contratos de seguro entre as sociedades
seguradoras e as pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, estando habilitados a
intermediar seguros dos ramos elementares e de vida, e planos de capitalização e de
previdência complementar aberta. O exercício da profissão de corretor de seguro depende de
prévia habilitação e registro. Essa habilitação é obtida através de exame para corretores de
seguros, administrado pela Fundação Escola Nacional de Seguros (FUNENSEG) conforme
resolução CNSP nº 45/2000 e circulares SUSEP números 127, 140 e 146 do ano de 2000.
4.2 APRESENTAÇÃO DOS CASOS
Esta seção apresenta como as empresas analisadas foram concebidas e implementadas
pelos seus respectivos empreendedores.
9
Divisão de um risco segurado entre vários seguradores, ficando cada um deles responsável direto por uma
quota-parte determinada do valor total do seguro (FENASEG, 2005a).
10
Operação pela qual o segurador, com o fito de diminuir sua responsabilidade na aceitação de um risco
considerado excessivo ou perigoso, cede a outro segurador uma parte da responsabilidade e do prêmio recebido
(FENASEG, 2005a).
11
Operação realizada pelo ressegurador que consiste na cessão de parte das responsabilidades por ele aceitas a
outro, ou outros resseguradores (FENASEG, 2005a).
12
É toda entidade constituída com a finalidade única de instituir planos de pecúlios e/ou rendas, mediante
contribuição regular de seus participantes, organizando-se sob forma de entidade de fins lucrativos ou entidade
sem fins lucrativos, respectivamente, segundo se formem sob a caracterização mercantil de sociedade anônima
ou como sociedade civil, na qual os resultados alcançados são levantados ao patrimônio da entidade (FENASEG,
2005a).
13
Empresas autorizadas pelo Ministro de Estado da Fazenda, após análise pela SUSEP, ou pela Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), no caso das sociedades seguradoras especializadas em saúde
(FENASEG, 2005a).
116
4.2.1 Processo de criação
Durante o processo de privatização do Banco do Estado Paraná S.A. (BEP) para o
Banco Itaú S.A., todos os funcionários já sabiam que a possibilidade de serem demitidos era
muito grande. Naquela época, os empreendedores entrevistados, que trabalhavam na
Banestado Corretora de Seguros S.A. (BCS)
14
comercializando o produto “seguro” junto às
agências bancárias do noroeste do Paraná, já percebiam a oportunidade de continuar atuando
no ramo de seguros com a mesma carteira de clientes que eles atendiam pela corretora do
banco, pois eram eles que tinham o conhecimento e a confiança do segurado. Além do mais,
sabedores de que o Banco Itaú S.A. não teria interesse em manter uma estrutura interna
especificamente para comercializar o produto “seguro”, os entrevistados ficaram aguardando
o momento mais adequado para empreenderem os seus próprios negócios:
A grande oportunidade vislumbrada por nós é que, desde 1992 o Banco Itaú
e outros grandes bancos nacionais, haviam iniciado um processo de
terceirização de vendas dos produtos disponibilizados na área de seguros.
Processo esse, que ainda não havia sido iniciado pelo Banco do Estado do
Paraná S A, que detinha até a sua privatização para o Banco Itaú S A, toda
uma estrutura interna para operacionalizar a venda e administração de sua
carteira de seguros, pagando inclusive, comissões para qualquer funcionário
que fizesse a venda desses produtos, dentro da instituição. Diante da
aquisição do Banestado, o interesse do Banco Itaú era o de reduzir custos,
desmantelando toda essa estrutura e demitindo todos os funcionários que
atuavam nessa área, os securitários (CS-01).
Considerando a experiência e o conhecimento adquiridos pelos entrevistados que em
média possuíam 9,8 anos de serviços prestados na Banestado Corretora de Seguros; a carteira
“pré-existente” de clientes; e o incentivo que a empresa (BEP/Itaú) lhes ofereceu para que
iniciassem seus próprios negócios no ramo de seguros após a formalização de suas demissões,
ficava claro que havia chegado o momento de se lançarem como empreendedores:
A idéia surgiu no começo da privatização, da compra do banco pelo grupo
Itaú. Nós trabalhávamos na Banestado Corretora de Seguros e os preços (dos
produtos) dela já não estavam tão competitivos no mercado. A extinta
Gralha Azul Seguros, ela dava preço, era flexível. Ultimamente ela não
14
Empresa do conglomerado BANESTADO autorizada a angariar e promover contratos de seguro entre a Gralha
Azul S.A. (companhia seguradora do conglomerado BANESTADO) e as pessoas físicas ou jurídicas de direito
privado.
117
estava nem aí, o preço estava lá, tipo numa prateleira de mercado, comprasse
quem quisesse. Então, ela não tinha mais aquele compromisso conosco, de
cobrar meta, se estávamos ou não estávamos cumprindo meta. Então, o
preço era aquele, e nós vimos que os nossos amigos, concorrentes no
mercado, estavam crescendo. Nós não tínhamos outra saída a não ser pensar
em ir pro o mercado externo (fora do banco), ou seja, tornar-se corretor ou
associar-se com algum corretor, ou vir a trabalhar com algum corretor. Esse
foi o momento que o banco nos chamou pro acerto, e nos deu a opção de nos
tornarmos corretor com o apoio deles, da Gralha Azul Seguros e da Itaú
Seguros. Quando nós aceitamos prontamente e começamos (CS-05).
O incentivo oferecido pelo BEP/Itaú atendeu às necessidades de ambos: banco e
funcionários. O Itaú que não tinha interesse em manter a estrutura herdada do BEP/BCS, mas,
por outro lado, não queria abrir mão da carteira de clientes administrada por essa estrutura; e
os funcionários que queriam aproveitar tudo o que aprenderam no ramo de seguros para
montar um negócio próprio. Assim sendo, o BEP/Itaú estimulou 15 funcionários da BCS a
abrirem suas próprias corretoras de seguro, oferecendo um incentivo financeiro no valor de
R$ 6.000,00 para a compra de móveis e equipamentos necessários à instalação da mesma,
além do pagamento de seis meses de aluguel. O não ressarcimento desse incentivo para o
banco estava vinculado ao cumprimento de 100% de uma meta de produção mensal
estabelecida por ele, durante os primeiros seis meses de atividade da empresa. As cinco
corretoras estudadas tiveram o incentivo do BEP/Itaú e todas conseguiram cumprir 100% da
meta de produção apresentada pelo banco, como salienta o depoente da corretora CS-04:
Quando nós saímos do banco, nós recebemos um incentivo... de todos os
funcionários que saíram apenas 15 receberam o incentivo. Eu não sei que
critério eles usaram pra escolher, e... nós recebemos o incentivo pra abrir a
corretora. E, nesse processo, daí, a gente comprou os móveis, e... era tudo
com apresentação de nota fiscal (os valores eram ressarcidos pela seguradora
mediante a apresentação das notas fiscais dos bens adquiridos). E, teve uma
parceria, também, quanto à produção. A gente teria que produzir uma certa
quantidade (meta de produção de seguros), pra eles, durante seis meses, pro
Itaú. Então, o nosso compromisso era durante seis meses. Nós tínhamos que
atingir uma produção média. Quem mantivesse essa média de produção
durante seis meses não precisaria devolver o incentivo. O incentivo eu acho
que, na época, foi de R$ 6.000,00... é, foi R$ 6.000,00. O aluguel, eles
pagaram o aluguel pra nós durante seis meses, também. Então, o nosso
incentivo foi esse, o aluguel durante seis meses, e essa verba de R$ 6.000,00
que não precisaria retornar pra eles, desde que tivesse uma produção (meta
estabelecida pelo BEP/Itaú)... atingisse 100% dessa produção, no período de
seis meses, também. Se a meta não fosse cumprida, teria que devolver
proporcional ao tanto que não produziu da meta, para o BEP/Itaú. Por
118
exemplo, se você produzisse metade do que era a meta, você teria que
devolver R$ 3.000,00. Mas, aí, Graças a Deus, a gente conseguiu cumprir,
dentro dos seis meses, e utilizamos isso aí (o incentivo de R$ 6.000,00), pra
comprar computador, móveis... todos os equipamentos que eu uso na
produção. Na verdade, para nós, prestadores de serviços, o computador já
resolveria o problema.
Porém, seja pela experiência e conhecimento dos empreendedores acerca do ramo de
seguros ou pela falta de tempo provocada pela necessidade de se buscar os clientes da carteira
“pré-existente”, nenhum deles elaborou um plano de negócios para conduzir o processo de
criação de suas empresas:
Quanto ao plano de negócios, não houve necessidade, haja vista, nós já
conhecíamos muito bem o mercado potencial, a carteira de clientes, os
fornecedores, e os concorrentes presentes no mercado de atuação da empresa
(CS-01).
Não, eu não fiz nenhum plano de negócios para abrir a empresa. A estrutura
foi meio de improviso mesmo (CS-02).
A princípio, não teve nenhum plano de negócios que a gente fez, ou
elaborou, na época. A gente trabalhou mais no sentido de manter aqueles
clientes que a gente já tinha, quando trabalhávamos na companhia de
seguros do Banestado, buscando um crescimento a cada ano, em cima
daquela carteira (CS-03).
A gente imaginava montar a corretora, mas nós não tínhamos feito nenhum
estudo, assim, aprofundado (o conhecimento) sobre custos, o que seria
necessário pra montar a corretora (CS-04).
Não, não foi feito nenhum plano de negócios formal, foi a nível informal.
Porque o nosso tempo era curto. Como a seguradora estava dando esse apoio
pra gente, e nós estávamos perdendo mercado, já que nós não tínhamos
preço (em relação às companhias de seguro concorrentes), nós apenas
corríamos atrás dos clientes, nós já não renovávamos mais seguro nenhum
mesmo, e nem conseguíamos angariar novos clientes. Nossa meta a
princípio, era correr e tentar segurar essa carteira de clientes, que eu como
funcionário há 10 anos, julgava ser minha, e não do banco, porque muitos
clientes ali, nem cliente do banco eram, e eu não queria me distanciar desses
clientes. Então, minha única preocupação, no momento, foi constituir minha
empresa, e começar a correr atrás dessa carteira e segurar esses clientes,
porque o trabalho de conquista de novos clientes não é fácil (CS-05).
Outrossim, destaca-se que alguns se preparam melhor para aproveitar essa
oportunidade que já era percebida antes mesmo do processo de privatização do banco. Como
exemplo, cita-se o fato de que o sócio-proprietário da corretora CS-04 já havia obtido o
certificado de corretor pleno junto a FUNENSEG desde o ano de 1987, estando apto para
119
submeter seu pedido de registro junto a SUSEP quando fosse abrir a sua corretora. Pois, para
se operar a corretagem de seguros faz-se necessário uma autorização da SUSEP ou um
vínculo (como preposto) com algum corretor ou corretora autorizada para descarregar a
produção da carteira. Este vínculo é remunerado mediante um pagamento que varia hoje entre
30 e 50% da comissão paga pelas companhias de seguros, dependendo principalmente do
volume de produção da carteira administrada pelo preposto. De outra forma, como aconteceu
com as corretoras CS-01, CS-02, CS-03 e CS-05, pode-se abrir uma empresa em sociedade
com um corretor autorizado que responde pela administração técnica da mesma.
A corretora CS-01 iniciou suas atividades em 28/06/2001 com cinco sócios. Desses,
quatro eram ex-funcionários da BCS e cada um tinha a sua carteira de clientes “pré-existente”,
e um era corretor pleno autorizado pela SUSEP, amigo dos demais sócios, e respondia única e
exclusivamente pela administração técnica da empresa. A corretora foi organizada de forma
que os custos (fixos e variáveis), despesas e alguns investimentos que se fizessem necessários
fossem rateados proporcionalmente ao tamanho das respectivas carteiras de clientes de cada
sócio-gerente, com exceção do sócio-corretor que só respondia pela administração técnica e
não tinha carteira de clientes. Quanto ao sistema de recompensa, os sócios-gerentes eram
remunerados de acordo com a produção de cada um, e o sócio-corretor recebia um percentual
sobre o valor líquido da comissão paga pelas companhias de seguros, deduzidos os impostos
incidentes. A estrutura física onde a empresa foi instalada estava localizada em uma região
central de Maringá e tinha 35 m
2
de área útil; e a sua estrutura operacional constituía-se de
quatro automóveis, quatro microcomputadores, quatro aparelhos celulares, uma impressora
jato de tinta, duas linhas de telefone (uma para a Internet discada e a outra para telefone fixo),
um aparelho de fax, quatro escrivaninhas, seis cadeiras, dois arquivos e dois armários. Os
automóveis, os microcomputadores e os celulares eram de propriedade particular de cada um
120
dos sócios-gerentes, e as despesas de manutenção com esses itens também eram de
responsabilidade dos mesmos.
Quanto à corretora CS-02, ela foi constituída em 09/07/2001 na cidade de Paiçandu.
Seu contrato social foi formalizado com dois sócios, sendo que um era o sócio-corretor e
respondia apenas pela administração técnica; e o outro era o sócio-gerente e respondia pelas
demais atividades funcionais da empresa e arcava com todos os custos, despesas e
investimentos necessários. Eles são amigos e ex-colegas de trabalho da BCS. O sócio-corretor
recebe um percentual sobre o total líquido de comissões repassadas pelas sociedades
seguradoras à empresa, deduzidos de todos os impostos; e o sócio-gerente faz retiradas pró-
labore de acordo com o lucro líquido apurado. A empresa também tinha um auxiliar
administrativo, ex-funcionário da BSC/Gralha Azul de Londrina, que ajudava o sócio-gerente
nas atividades operacionais da empresa e permitia a ele que pudesse viajar pelos municípios
da região para angariar e contratar seguros. O funcionário era registrado e recebia um salário -
piso dos funcionários do ramo de seguros. A sala onde a empresa foi instalada localizava-se
na região central de Paiçandu, possuía 16 m
2
de área útil e não tinha divisórias e nem porta de
vidro. A estrutura operacional da empresa era um carro, dois microcomputadores, uma
impressora jato de tinta, uma linha de telefone fixo que também era utilizada pela Internet
discada, um celular, um aparelho de fax, duas escrivaninhas, quatro cadeiras, um arquivo e
um armário. O automóvel e o aparelho celular eram de propriedade particular do sócio-
gerente que também arcava com os custos de manutenção dos mesmos.
A corretora CS-03 atua na cidade de Campo Mourão e foi constituída em 06/03/2001.
Seu quadro societário inicial foi composto por dois sócios, ou seja, o sócio-gerente que
respondia pela administração da corretora e o sócio-corretor que assumia as responsabilidades
técnicas de produção da empresa; ambos eram ex-funcionários da BCS. O sócio gerente a
exemplo da corretora CS-02 também contratou um auxiliar administrativo para ajudá-lo nas
121
atividades operacionais da empresa, era um ex-office-boy do Banestado que se encontrava
desempregado. Esse funcionário trouxe a disponibilidade necessária para que o sócio-gerente
pudesse cumprir o seu papel principal, vender seguros na cidade de Campo Mourão e nos
municípios que já eram atendidos por ele quando trabalhava no BEP/BCS. O sistema de
remuneração dos sócios e do auxiliar administrativo é o mesmo daquele adotado pela
corretora CS-02. A sala onde a corretora foi instalada tinha 50 m
2
de área útil e a estrutura
operacional constituía-se de um carro, dois microcomputadores, uma impressora jato de tinta,
uma máquina de escrever, duas mesas, um arquivo, dois armários, duas linhas de telefone
(uma para a Internet discada e a outra para telefone fixo), um aparelho de fax, cinco cadeiras e
um celular. O veículo e o aparelho celular eram de propriedade particular do sócio-gerente
que também arcava com os custos de manutenção dos mesmos.
Diferente das demais, na corretora CS-04 o sócio-gerente também é o corretor pleno
autorizado pela SUSEP, de forma que o quadro societário da empresa constava de apenas um
sócio quotista que respondia por todas as funções organizacionais. A empresa é de Paranavaí,
foi constituída em 14/05/2001 e empregava um auxiliar administrativo para ajudar o sócio-
gerente nas atividades operacionais do dia-a-dia, permitindo-lhe sair para fazer visitas aos
seus clientes de Paranavaí e região. A sala onde a empresa foi instalada encontrava-se na
região central de Paranavaí e tinha 36 m
2
de área útil. A estrutura operacional da empresa
apresentava um carro, dois microcomputadores, uma impressora jato de tinta, duas linhas de
telefone (uma era utilizada para Internet discada e a outra era linha comum), um celular, um
aparelho de fax, duas mesas, dois armários, uma estante, um arquivo e cinco cadeiras. O
veículo e o aparelho celular eram de propriedade particular do sócio-gerente que também
arcava com os custos de manutenção dos mesmos. Em relação à remuneração, a funcionária
recebia um salário (piso de securitário) e o sócio gerente fazia retiradas pró-labore de acordo
com a geração de lucro líquido da empresa.
122
Seguindo na mesma linha das corretoras CS-02 e CS-03, a corretora CS-05 também
tem dois sócios, ex-colegas de trabalho da Banestado Corretora de Seguros, um atuando
somente na administração técnica e o outro respondendo pelas demais atividades funcionais
da empresa. Constituída em 12/03/2001, a corretora CS-05 é de Cianorte, foi estabelecida em
uma sala na região central da cidade, com 35 m
2
de área útil. A estrutura operacional no início
de suas atividades era composta de um carro, dois microcomputadores, duas impressoras jato
de tinta, duas linhas de telefone (uma era utilizada para Internet discada e a outra era linha
comum), um aparelho de celular, um aparelho de fax, duas escrivaninhas, seis cadeiras, duas
estantes, dois arquivos e um armário. O quadro de colaboradores da empresa estava composto
por um auxiliar administrativo, ex-office-boy do banco; e pela esposa do sócio-gerente que
ajudava no início das atividades da corretora. O sistema de remuneração utilizado pela
empresa era o mesmo daqueles adotados pelas corretoras CS-02 e CS-03.
Destaca-se ainda que o sistema operacional (software) utilizado por essas corretoras na
produção de seguros era fornecido pela companhia seguradora com a qual elas trabalhavam na
época, ou seja, a Itaú Seguros; e que a área de atuação de cada uma das empresas era a
mesma, daquela atendida quando os sócios-gerentes eram funcionários do BEP/BCS. A
corretora CS-04, por exemplo, apesar de ter sido instalada em Paranavaí, a grande maioria de
seus clientes pertencia aos municípios circunvizinhos, pois o sócio-gerente, quando
funcionário do BEP/BCS atuava nesses municípios, enquanto que a cidade de Paranavaí era
atendida por outro funcionário do banco. Quanto aos poucos controles existentes na época,
eles eram simples, se restringiam à produção e receita mensal, e eram elaborados pelos
próprios sócios-gerentes das respectivas empresas.
Portanto, as cinco corretoras de seguros, unidades de análise desta pesquisa, foram
constituídas no ano de 2001, em diferentes municípios da região noroeste do estado do
Paraná, conforme disposto no Quadro 22. Essa condição favoreceu também uma
123
homogeneidade na experiência anterior dos integrantes deste estudo, importante para analisar
as dificuldades encontradas por pequenas empresas no início dos negócios.
EMPRESAS PESQUISADAS
VARIÁVEIS CS-01 CS-02 CS-03 CS-04 CS-05
Data de Abertura
28/06/2001 09/07/2001 06/03/2001 14/05/2001 12/03/2001
Município de Atuação
Maringá Paiçandu
Campo
Mourão
Paranavaí Cianorte
Recursos Internos
Sistema de recompensas
Pró-labore
15
e salário.
Extensão dos sistemas e
planejamento formais
Controle pessoal.
Sistema operacional de produção: via Internet.
Sistemas de controle formais inexistentes.
Contabilidade realizada por um escritório contábil.
Sistemas de informação inexistente.
Planejamento (tático, operacional e estratégico) formal inexistente.
Principais metas
Sobreviver, ou seja, alcançar o ponto de equilíbrio operacional.
Desempenho financeiro
Fluxo de caixa negativo a equilibrado.
Receita bruta (R$) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Fontes de recursos
financeiros
Proprietários e fornecedores.
Maiores investimentos
Estrutura física e operacional.
Produto e Mercado
O serviço oferecido é único: corretagem de seguros.
O mercado de atuação é limitado.
P & D de produto ou de
mercado
Realizado pelos fornecedores.
Estrutura Física (área
útil em m
2
)
35 16 50 36 35
Estrutura Operacional
Carro 04 01 01 01 01
Microcomputador 04 02 02 02 02
Impressora Jato de Tinta 01 01 01 01 02
Impressora laser 00 00 00 00 00
Scanner
00 00 00 00 00
Linha de Telefone 02 01 02 02 02
Celular 04 01 01 01 01
Aparelho de Fax 01 01 01 01 01
15
Do sócio-corretor: percentual acertado entre o sócio-gerente e o sócio-corretor sobre o valor total de comissão
paga pelas companhias de seguros à empresa, descontados os impostos devidos.
Do sócio proprietário: retiradas de acordo com a disponibilidade de lucros líquidos gerados pela empresa.
124
Internet Discada
Escrivaninha/Mesa 04 02 02 02 02
Armário/Estante 02 01 02 03 03
Arquivo 02 01 01 01 02
Cadeira 06 04 05 05 06
Estrutura
organizacional
Simples e informal, com poucos cargos.
Pouca ou nenhuma especialização entre os colaboradores com vínculo
empregatício.
Pouca ou nenhuma delegação de autoridade. Decisões centralizadas no
proprietário.
Supervisão direta do proprietário.
Recursos financeiros limitado.
Quadro de recursos humanos bastante limitado.
Número de Pessoas
Ocupadas
05 03 03 02 03
Sócio-Gerente 04 01 01 01
Sócio-Corretor 01 01 01
01
01
Preposto 00 00 00 00 00
Auxiliar Administrativo /
Secretária
00 01 01 01 01
Quadro 22 Algumas características das empresas pesquisadas no início de suas atividades: 2001
4.3 ANÁLISE DOS CASOS
Quanto ao número de pessoas ocupadas e receita bruta anual, principais critérios
quantitativos de classificação de empresas no Brasil apresentados no item 2.1.1 deste trabalho,
as cinco empresas estudadas são de pequeno porte, pois apresentaram o número máximo de
cinco pessoas ocupadas, e a maior receita bruta registrada no exercício de 2004 foi de R$
147.450,00, conforme pode ser observado no Quadro 23.
Essas empresas, como já mencionado, atuam no mercado promovendo contratos de
seguros entre as sociedades seguradoras e as pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
Portanto, de acordo com Bortoli Neto (1987), são empresas que trabalham
complementarmente junto a grandes empreendimentos, ou seja, sociedades seguradoras,
sociedades de capitalização e entidades abertas de previdência complementar. Além do que,
com base nas entrevistas e documentos coletados
16
, observou-se que dentre os critérios
16
Contrato social e respectivas alterações contratuais, balanço patrimonial e demonstração de resultados do
exercício de 2004.
125
qualitativos de classificação de pequenos empreendimentos apresentados por Pinheiro (1996)
e Leone (1991), as empresas selecionadas apresentam as seguintes características:
São propriedade de poucas pessoas;
São administradas pelos proprietários de forma independente, sendo que eles se conservam
como o principal centro de decisões:
As decisões que estão relacionadas à operacionalização da empresa, no dia-
a-dia, que influenciam as atividades dos meus funcionários, por exemplo, a
troca ou aquisição de um microcomputador para a empresa, a substituição da
Internet discada, pela Internet ADSL, a compra (custo x qualidade) dos
materiais de expediente utilizados... Toda vez que eu tenho que tomar uma
decisão desse tipo, eu acabo, às vezes, conversando realmente com o
funcionário. Mas, quando tem que tomar um rumo, aí, a gente... eu mesmo
tomo a decisão. Eu acabo só passando pra eles (a decisão tomada), e a gente
vai ajustando alguma coisa, conforme vai surgindo (CS-04).
As decisões básicas, um exemplo, independente de... Quando a coisa é
simples uma parcela (recebimento do segurado) e tal, elas (funcionárias) já
nem repassam pra mim. Agora, se o negócio for pagamento, principalmente
quando eu preciso comprar um determinado material; às vezes, minha esposa
faz o contato inicial, faz as cotações, expõe o produto e eu tomo a decisão
final. Mas, sempre a decisão final, principalmente quando é compras ou
aspectos de mudanças, relacionadas ao escritório, sou eu quem toma (CS-
02);
Operam numa área limitada, geralmente restrita à sua localização ou quando muito à região
onde está situada:
Hoje, a corretora de seguros está atendendo Campo Mourão e região
(Luiziana, Iretama, Roncador, Peabiru e Araruna) (CS-03).
Quanto a nossa área geográfica de atuação, apesar da empresa ser de
Paranavaí, a maioria dos nossos clientes, no início, era fora de Paranavaí, ou
seja: Nova Esperança, Paraíso do Norte, Tamboara, São Carlos, Floraí,
Atalaia, Flórida, Cruzeiro do Sul... a gente tem uma certa carteira, que nesses
quatro anos, tem se mantido. Isso ocorreu porque, quando eu era funcionário
do Banestado, a gente atendia fora de Paranavaí, e, aqui dentro (em
Paranavaí), era um outro funcionário do banco que atendia (CS-04);
Não ocupam, na intermediação de contratos de seguro, posição de destaque ou de
predominância em relação ao mercado segurador brasileiro;
Apresentam estreita relação pessoal do proprietário com os empregados e com os clientes:
Porque a gente conhece, mesmo, quando a gente entra na casa do cliente.
Então, eles nos recebem assim, como se fossemos um amigo mesmo, que
está vindo ali não só pra vender um seguro, mas pra vender, como é que eu
126
vou dizer, um produto que vai beneficiar ele posteriormente caso ele precise.
Então, eles vêem a gente como amigos mesmo (CS-01).
O corretor acaba sendo, como eu posso dizer... como se fosse um médico da
família, né. Você acaba conhecendo toda a vida do cliente, e você acaba
sendo quase um membro da família, de um cliente que está fidelizado (CS-
04);
São integradas na comunidade local na qual pertencem seus proprietários:
A nossa área de atuação, até por eu ter trabalhado dez anos dentro do Banco
do Estado do Paraná, já tinha trabalhado em corretora autônoma antes e,
também, na Unibanco Seguradora, sempre em Cianorte, eu achei que o
mercado aqui, mesmo eu sendo mais um, eu teria o meu espaço aqui, até
pelo conhecimento e pela bagagem que eu já trouxe do banco. Motivo, pelo
qual, seria a minha área de atuação. Temos também, o nosso colaborador, o
Laurentino, que trabalhava na região de Japurá... a família dele é de Japurá.
Então, nós temos clientes nesse eixo: Cianorte, Japurá, São Tomé e pende
um pouco pra Tuneiras do Oeste (CS-05).
Para Vieira e Ferro (1985), apesar de existirem variáveis específicas operando em cada
setor e essas pesarem bastante na interpretação da dinâmica de sobrevivência, existem certas
semelhanças no universo das pequenas empresas que contribuem para o entendimento de sua
participação no sistema produtivo, e condições de existência e continuidade, como essas
analisadas anteriormente. Considera-se ainda, conforme Pinheiro (1996), que além dos
critérios de tamanho, nicho de mercado, produto ou serviço produzido, as pequenas empresas
também se distinguem pelo seu estágio de desenvolvimento.
4.3.1 Processo de desenvolvimento
Analisando os dados com base nas principais características e problemas do estágio
inicial do CVO relacionados nos Quadros 17 e 18, respectivamente, observou-se que no grupo
das forças ambientais, após terem cumprido o compromisso inicialmente assumido com a Itaú
Seguradora, os sócios-gerentes das empresas pesquisadas buscaram uma diversificação de
seus fornecedores para atender melhor as demandas de seus clientes.
127
4.3.1.1 Escolha de fornecedores
A partir do momento que os empreendedores conseguiram constituir uma boa carteira
de clientes, eles passaram a sofrer o assédio de outras companhias de seguro do mercado.
Num primeiro momento, com o objetivo de conhecer as características dos produtos
oferecidos e o modus operandi de cada instituição, eles fizeram o cadastramento de várias
seguradoras. Entretanto, ao longo do tempo, com base nesses mesmos critérios, nas
características dos clientes de cada carteira e dos clientes potenciais do mercado de atuação,
os empreendedores foram fazendo uma seleção dessas companhias:
Quanto à seleção, as próprias companhias através de seus representantes,
vêm nos visitar. Eles fazem um trabalho de apresentação de suas companhias
pra nós, quanto ao segmento que ela atua, o produto que ela comercializa, a
facilidade de operacionalização desse produto, o foco de mercado da
companhia. Então, o seguro de automóveis dessa companhia pode ter um
custo menor para um determinado nicho de clientes e mais caro para outro,
em função do perfil de clientes que essa empresa tenha interesse. Assim,
esse diferencial também faz com que a gente selecione a companhia ou não.
Portanto, a companhia vem nos visitar, a gente vai colher quais são os
benefícios dessa companhia, e como nós conhecemos o produto, nós
sabemos se aquele produto é o que realmente passaram para nós. Isso,
também, é de primordial importância, você tem que conhecer o produto,
você tem que conhecer a companhia, o atendimento dela, por que o
atendimento dela tem que ser bom também na indenização de sinistro. Isso
para nós é primordial, tem que ser rápido para pagar. Por que, o cliente não
pode esperar (CS-01).
No começo, quando a gente implantou a corretora, a gente foi alvo de várias
companhias de seguros, que vieram se cadastrar para que a gente pudesse
produzir para elas. Então, quanto a isso, desde o começo, não tivemos
dificuldade. Foi só cadastrar. Foram 13 companhias seguradoras. De lá para
cá, a gente foi selecionando as companhias de acordo com a demanda do
mercado, e a gente está mantendo uma parceria com menos seguradoras,
hoje. A gente trabalha mais com a Itaú, mas trabalhamos, também, com a
Bradesco, a Sul América, a Vera Cruz... trabalhamos bastante, no caso, da
parceria com a concessionária Chevrolet aqui de Paranavaí, com a Indiana
Seguros. Então, as principais seriam a Itaú e a Indiana, e trabalhamos com a
maioria das companhias de seguros do mercado (CS-04).
Como foi observado no discurso do proprietário da corretora CS-04, há também
critérios mais específicos para a escolha de uma empresa fornecedora, pois a parceria entre
essa corretora e a concessionária de veículos Chevrolet de Paranavaí, fez com que a mesma
128
começasse a trabalhar com a Indiana Seguros S.A., parceira do Banco GM e da Associação
Brasileira de Concessionárias Chevrolet (ABRAC).
Outro ponto bastante destacado pelos entrevistados, nesse processo de seleção, foi a
questão da solidez das companhias com as quais eles trabalham:
Então, a Itaú, Bradesco, Vera Cruz, HDI são as nossas principais
fornecedoras, hoje. Nós analisamos a companhia, a solidez dela, pra que a
gente possa vender um produto para o segurado, de uma companhia sólida
(CS-01).
No começo era automóvel, automóvel, automóvel... Algumas coisas vieram,
como previdência, que pra mim, por exemplo, era novidade. Hoje, já domino
bem, já tenho alguma coisa (produção). Vou vender previdência: “Quem é
que manda em previdência no mercado? É a Bradesco.” A Itaú manda
também, mas não é igual a Bradesco... Mas, para quem eu vou vender, tem
um monte de seguradora, hoje. Eu vou vender pra uma companhia hoje, mas
amanhã ou depois ela some daqui do país, para quem eu... Aí, o cliente vai
vir em cima de mim, eu que vendi. Então, pra quem é que eu vou vender? O
grupo Bradesco é muito sólido. Eu vou vender Bradesco (produtos da
companhia) para o cliente, hoje. Se quebrar a Bradesco pode parar com todo
mundo; se quebrar a Bradesco e a Itaú, acabou o resto.
Notou-se também, que a parceria entre a Seguradora Itaú e as corretoras pesquisadas,
continua forte, mostrando uma preferência por parte dos entrevistados, graças ao processo de
fidelização iniciado pela companhia quando da abertura das empresas. No rol das principais
sociedades seguradoras com as quais elas trabalham, que normalmente se limita a quatro ou
cinco, no máximo, a primeira empresa lembrada é sempre a Itaú Seguros. Aliás, destaca-se
que ela continua fazendo um trabalho de fidelização dessas empresas, como relata o
entrevistado da corretora de Cianorte:
O meu principal fornecedor, hoje, dispensa comentários, é a Itaú Seguros,
que me incentivou a abrir a empresa. Agora, inclusive, nós vamos por uma
placa... Nós, não! A Itaú vai por uma placa para nós, aí, com a logomarca
dela e a logomarca nossa. Partindo daí, nós fomos procurados por outras
empresas, de olho na nossa carteira, na carteira que nós trouxemos do banco,
quando saímos. Uma outra parceria sólida que nós formamos, depois da Itaú
Seguros, foi com a Marítima Seguros. Ela tem nos apoiado muito, e muito
bem. Não temos nada a reclamar. Em seguida, temos a HDI seguros, Vera
Cruz Seguros, Bradesco Seguros, Liberty Paulista Seguros, Porto Seguros e
Sul América Seguros. Mas, seu tivesse que colocar em uma escala de
importância, hoje, ficaria assim: Itaú, Marítima, Vera Cruz, Liberty, e
Bradesco Seguros (CS-05).
129
Apesar disso, dado as suas características, as empresas analisadas continuam sofrendo
as conseqüências de atuar num ramo onde os fornecedores possuem um forte poder de
influência sobre a sua produção – prestação de serviços, pois são eles que: pesquisam,
desenvolvem e disponibilizam os produtos que serão comercializados; determinam quando,
como e onde serão feitas as campanhas de marketing para o lançamento e a manutenção
desses produtos no mercado; definem as características do suporte que é oferecido às
corretoras que atuam no mercado; e definem a estrutura operacional de produção e os
parâmetros que devem ser utilizados na contratação das apólices (perfil), de acordo com os
seus interesses e necessidades.
Assim, quando ocorre um aumento do número de sinistros
17
nas suas carteiras, as
companhias seguradoras com base em suas planilhas de custo, aumentam os preços para
protegerem as suas margens de lucro, dificultando o processo de comercialização do produto
– corretor x cliente, exigindo em alguns casos a redução do percentual de comissão do
negócio, conforme mencionado pelos entrevistados:
No ano passado um seguro que ficava R$ 600,00, hoje, no mesmo perfil, do
mesmo jeito que o seguro foi feito no ano passado, está ficando R$ 700,00.
Então, o que acontece hoje... um seguro, que era pra ser uma renovação
tranqüila, a gente acaba tendo que vender, de novo, o seguro para o cliente
(CS-04).
[...] todo mês as companhias de seguro fazem a atualização dos seus preços.
Gol, Pálio qualquer carro, se deu na nossa região muito sinistro, tipo, roubou
bastante, bateu, aumentou o valor das peças, saiu fora de linha, então ela faz
uma estatística, de quanto é naquela região de Maringá, noroeste do Paraná...
se ela está tendo prejuízo. Então, um exemplo, o seguro que aqui custa R$
1.000,00, em Curitiba ele custa R$ 1.800,00, em São Paulo custa R$
3.200,00. Em cada região depende do risco, é um determinado custo. Hoje,
eu diria que a comissão média é de 15% sobre o valor do prêmio líquido,
diminui bastante em relação aos anos anteriores (CS-02).
Por outro lado, as companhias seguradoras também protegem suas margens de lucro
atuando na redução de custos. Nesse sentido, elas podem alterar ou implementar novos
processos e procedimentos operacionais, fazendo com que os seus prestadores de serviços, em
17
Termo utilizado para definir em qualquer ramo ou carteira de seguro, o acontecimento do evento previsto e
coberto no contrato (FENASEG, 2005a).
130
alguns casos, tenham que se adaptar. Essa adaptação aliada ao crescimento da carteira e à
necessidade de se prestar serviços de qualidade, pode exigir desde investimentos na estrutura
operacional até a administração de custos adicionais, como pode ser verificado nas
declarações dos entrevistados das corretoras CS-04 e CS-02, respectivamente:
Nós começamos com um micro, e já estamos com um, dois, três... com
quatro microcomputadores, duas impressoras jato de tinta... Isso daí não tem
jeito de parar, porque cada vez mais, as companhias estão passando mais
responsabilidades pra gente. Antigamente a gente colocava... antigamente eu
digo, mas a gente só tem quatro anos. Mas, quando nós começamos era
disquete, depois do disquete, eles começaram a mandar os programas
operacionais por CD. Agora não, agora já é tudo por download feito direto
no site da companhia de seguros. Então, como a Internet era linha discada, a
gente teve que passar pra ADSL, para poder fazer download dos programas,
tudo... porque é tudo via Internet. Então, esse tipo de investimento aí, não vai
parar, vai continuar, conforme as necessidades da empresa.
Hoje, as seguradoras jogam, eu diria pra você, que quase noventa por cento
da responsabilidade no corretor. Você tem a obrigação de puxar parcela em
atraso dos clientes, por aqui, porque elas não ficam mandando relatório pra
você, com exceção de algumas seguradoras. Então, hoje, elas te pagam x%
de comissão pra você atender, e atender bem. Porque a partir da hora que
você começa a atender mal o cliente, ou começa a fazer alguma coisa errada,
você é descredenciado pela companhia.
No entanto, os empreendedores têm se mostrado satisfeitos com os seus fornecedores,
uma vez que essas companhias têm propiciado a eles, as condições necessárias para que
possam atender as demandas de seus clientes:
O nosso relacionamento tem sido muito bom com essas companhias (Itaú,
Bradesco, Vera Cruz e HDI Seguros), pois elas têm proporcionado as
condições necessárias para que a gente possa estar prestando um serviço de
excelente qualidade aos nossos clientes (CS-01).
O relacionamento com eles, com esses fornecedores (Itaú Seguros, Bradesco
Seguros, Mapfre Vera Cruz Seguradora, HDI Seguros, Liberty Paulista
Seguros, Marítima Seguros, Indiana Seguros e Unibanco AIG Seguros.), tem
sido ótimo (CS-03).
Os principais critérios que as empresas estudadas utilizaram para escolher as
companhias seguradoras com as quais elas trabalham, foram as características dos produtos
disponibilizados por elas, o modus operandi e a solidez dessas companhias no mercado. Por
outro lado, a forte influência apresentada por esses fornecedores no sistema de produção das
corretoras, foi destacada com sendo um problema pelos entrevistados.
131
4.3.1.2 Política de relacionamento com clientes
Em relação ao poder de negociação dos clientes, constatou-se que as empresas
analisadas têm minimizado a influência dessa força ambiental, trabalhando a fidelização dos
clientes de suas carteiras, como pode ser observado nos discursos de alguns entrevistados:
Nas renovações da corretora, a princípio, lá no início, a gente não tinha
aquele trabalho de fidelização. Então, nós tínhamos um pouco mais de
dificuldade, mas a partir do momento que a gente começou a fazer esse
trabalho de fidelização do cliente, a gente passou a não ter dificuldade junto
a ele. O cliente não tem muito poder de negociação, ali, de forma que a gente
faz a renovação com mais facilidade (CS-03).
A gente tem buscado clientes novos no mercado. Mas o cliente... a gente
procura fidelizar o cliente. Então, o corretor acaba sendo, como eu posso
dizer... como se fosse um médico da família. Você acaba conhecendo toda a
vida do cliente, e você acaba sendo quase um membro da família, de um
cliente que está fidelizado. Então, no poder de negociação, ele vai sempre
confiar na gente (CS-04).
Ressalta-se, contudo, que esse trabalho de fidelização se restringe à carteira de clientes
existentes, pois no trabalho de conquista de novos clientes e na renovação de algumas das
apólices dessa carteira, ainda se verifica, normalmente, o poder de negociação dos clientes.
Nos seguros novos, por se tratar da primeira vez que o cliente está vindo, a
gente sente um pouco mais de dificuldade de trazer esse cliente pra corretora.
Mas, quando esse cliente novo nos chega por indicação de agências
bancárias, ou de clientes nossos, já facilita bastante o trabalho de captação
(CS-03).
Quanto à concorrência, ela existe principalmente nos seguros novos. Talvez,
um ou outro cliente vai buscar preço, benefícios, lá fora, e pode nos
atrapalhar nas negociações para renovar a apólice. Mas como nós temos uma
carteira já constituída, esses clientes, eles se tornam, assim, posso te dizer,
um cliente fiel. Têm alguns, que lógico, vão sempre buscar alguma
informação lá fora, sobre custo, tal, tal. Mas por diferença de custo, falando
em dinheiro, pequena, ele não vai deixar de fazer seguro com a gente (CS-
02).
Então, a comissão é em cima do prêmio que o cliente paga. Se ele pagar R$
3.000,00 é 20% sobre os R$ 3.000,00, se ele pagar R$ 1.000,00 é 20% sobre
R$ 1.000,00, ou 15, ou 10%, depende do que o cliente conseguir negociar
(CS-02).
Parece, então, que um dos maiores desafios dessas pequenas empresas é a formação de
uma carteira de clientes, que demanda por parte delas um esforço contínuo e intenso. Essa
peculiaridade pode ser percebida nos discursos dos entrevistados e verifica-se que
132
normalmente esse desafio é inerente ao setor de serviços em geral, mas no caso do setor de
seguros a fidelização é um aspecto fundamental para garantir a sobrevivência dessas pequenas
empresas. Porém, de acordo com os entrevistados, inúmeros obstáculos são enfrentados nessa
busca por uma carteira de clientes fiéis, como é o caso da área geográfica de atuação, da falta
de conhecimento do produto por parte dos clientes, da concorrência desleal de alguns
corretores e corretoras, e também da natureza do produto ou do serviço que eles
comercializam, ou seja:
O cliente de seguro é muito cheio de dúvidas ainda. Para nós estarmos com o
cliente lá a gente tem que fazer um trabalho e é um trabalho árduo. Ele não é
um trabalho fácil não. O cliente de seguro não pode pegar, ver, sentir aquilo
que comprou, pois ele comprou papel. Por exemplo, eu vou lá na loja e vou
buscar um televisor, vou buscar uma geladeira, e vou comprar o produto e
vou levar para casa. O cliente de seguro só vai conhecer o seguro a partir do
momento que ele precisar daquilo que ele comprou. Ele vai precisar como?
Na hora que tiver acontecendo um sinistro com ele, por exemplo, um
acidente. Então isso daí é que nos deixa em desvantagem em vender papel,
em relação a um produto que a pessoa pega e leve para casa (CS-01).
Outra dificuldade que a gente tem, também, é a questão de perfil, que cada
companhia tem um perfil. Nós podemos ter a concorrência de um seguro em
uma mesma companhia, por exemplo, a gente pode passar o perfil certo,
correto, que é o do segurado, da realidade dele, e o outro corretor pode
passar o perfil diferente da realidade dele (do cliente) que vai ser onde
influencia no preço. Então, enquanto eu relaciono, o correto, que o cliente
tem um filho que é solteiro, e o prêmio do seguro fica R$ 1.000,00; o
concorrente, trabalhando com a mesma seguradora, relaciona que o filho é
casado, e o prêmio fica R$ 800,00. Então, qualquer mudança que tiver no
perfil, influencia no preço. Isso aí, realmente, é um concorrência que... se eu
fizer o perfil certinho, que é a realidade dele (cliente), e ele for em outro
concorrente, e o concorrente mudar a questão do perfil, o cliente, meio leigo
no assunto, não sabe, e acaba fechando lá, achando que o nosso prêmio está
mais caro (CS-04).
Nós temos um mercado muito bom, hoje a população de Maringá em torno
de 300 mil habitantes, facilita para que agente faça um trabalho mais perto
do cliente, mais próximo do cliente pra que a gente tenha benefício (a
relação de custo x benefício é melhor), e fazendo as visitas a gente pode
mostrar a nossa empresa, a corretora, o nosso trabalho e também o que há de
mais importante na área de seguro, a sua imagem, a sua honestidade, que
você tem que fazer perante o seu cliente. Por isso, é muito importante você
vender uma imagem boa para o cliente, você explicar tudo, correto pra ele,
pra que você consiga a fidelidade dele. Por que você faz o carro dele
(seguro), mas não tem a casa dele (seguro). Então, se eu faço o carro, depois
eu tenho como buscar uma apólice de previdência privada, se eu faço uma
previdência, eu tenho como buscar um seguro de vida, que talvez está num
concorrente, no banco. Eu vou procurar trazer esse seguro de vida para a
corretora (CS-01).
133
Assim, o problema manifestado no discurso dos sóicos-gerentes foi a dificuldade de se
formar e fidelizar uma carteira de clientes.
4.3.1.3 Políticas de administração da carteira
Se no primeiro momento o objetivo das empresas analisadas era conquistar o maior
número possível de clientes para alcançar viabilidade econômica, posteriormente foi
observada a implementação paulatina de medidas para tornar a produção e a administração da
carteira mais eficientes e rentáveis, ou seja: descartando clientes de risco potencial para
minimizar a ocorrência de sinistros e facilitar a administração da carteira; organizando
roteiros de visitas bem planejados para melhorar a relação entre custo e benefício do serviço;
e renovando apólices, quando possível, por telefone.
Você tem que conseguir o cliente, mas um cliente mais fiel. A carteira de
seguros contratada deve ser uma carteira boa que não dá tantos problemas
para a corretora (CS-01).
Então, a princípio, a gente não media esforços, pegava tudo o que era cliente,
não pensava muito nisso (risco da carteira). Hoje não, hoje a gente procura...
não é se dá ao luxo, mas manter, como eu diria, selecionar os clientes pra
poder conseguir um crescimento saudável e poder atender todo mundo, do
melhor jeito possível. Quanto ao crescimento saudável, a gente trabalha com
a seguinte filosofia, vamos dizer assim: tem aquele cliente que especula
preço, por exemplo, ele vai em vários lugares, então, eu acho que a gente
tem que manter... eu tenho os custos da empresa, e tem que ter uma certa
rentabilidade nisso. Então, eu não posso trabalhar somente pro cliente.
Então, tem cliente que passa aqui, passa ali, é um caso de selecionar. Tem
cliente que a gente sabe que vive tentando, às vezes, fazer uma fraude aqui,
outra ali, na própria contratação... com respostas inverídicas. Tem aquele
cliente que agente sabe que gosta muito de festar... bebe... então é um cliente
que pode ter um... eu não digo que ele vai bater, mas é uma pessoa menos
cuidadosa, naquele histórico que a gente conhece. Nesse caso, a gente já
procura selecionar (CS-04).
No começo, a gente não media esforços, se tivesse que ir numa cidade que
era longe, a gente ia lá visitar o cliente. Hoje, não. Hoje a gente procura fazer
um roteiro rentável porque, senão, a própria produção ficaria inviável
economicamente (CS-04).
Em relação a área geográfica nós temos o município de Roncador que fica a
100 km de Campo Mourão. O atendimento aos clientes que ficam em
cidades mais distantes da empresa, tem trazido dificuldades no que se refere
à questão de custo. Neste sentido, nós temos procurado agendar vários
clientes em uma mesma data, para poder reduzir custos de viagem, de
deslocamento até lá (CS-03).
134
Além de reduzir custo eu ganho tempo, por exemplo, eu saio daqui de
Paiçandu, eu vou renovar um seguro em Terra Boa. Eu vou e volto, gasto
meio dia pra ir, entrar em contato com o cliente e voltar. Sendo que, às
vezes, no dia eu faço 3, 4, 5, 6 renovações. Se eu for de porta em porta eu
não dou conta dos meus clientes. Então, por telefone é três minutinhos e a
gente faz um negócio (CS-02).
Com isso, foi possível verificar que os esforços dos empreendedores para manter e
conquistar novos clientes utilizando a estratégia de preço, em função de um trabalho lento e
contínuo de fidelização já mencionado anteriormente, foi cedendo espaço para a tática da
qualidade dos serviços prestados:
Pra fidelizar o cliente, é claro que, se eu fiz o seguro do teu carro, se você
precisar de um atendimento, eu vou fazer o melhor possível pra poder de dar
toda a tranqüilidade, independente se é só uma assistência, ou se for um
acidente, e você precise de um auxílio. Esse daí é o trabalho que a gente faz
pra poder fidelizar o cliente. Complementando, aí, pra fidelizar o cliente, a
gente como é profissional na área de seguro, tem conhecimento, a gente
procura apresentar pra ele, como tem “n” companhias no mercado, aquela
que pode atendê-lo melhor, quanto ao perfil, ao atendimento, cobertura... que
algumas companhias dão e outras não. Então, o nosso trabalho é apresentar,
pra ele, de forma bem clara, que, às vezes, o preço maior em uma companhia
pode trazer melhores benefícios (CS-04).
A partir de quatro anos, você sabe quem é e quem não é cliente. Com menos
de quatro anos, você não tem a fidelização de clientes. A partir daí sim. Aí
nós procuramos fazer um trabalho diferente em cima do cliente, já visando
melhorar a rentabilidade da corretora. (CS-05).
Além da política de administração da carteira de clientes, que resultou numa melhor
performance econômica dessas empresas, também emergiu nos discursos, o papel da
concorrência.
4.3.1.4 Operacionalização da concorrência
No ramo de atuação das empresas pesquisadas também se constatou que as barreiras
de entrada são menores, permitindo o surgimento de novos entrantes e provocando um
aumento da competição entre eles:
O mercado está aberto a todos. Qualquer um que quiser pode tentar
constituir uma empresa hoje, e entrar no mercado. Mas, se entre nós, que
temos experiência e anos de know-how, já está difícil concorrer, eu imagino
pra quem esteja começando hoje, com tantos picaretas que tem na praça.
Agora, é um mercado que, com quatro, cinco anos de atuação, você já tem a
135
sua carteira formada, e tem cliente que não te troca por preço, nem por
amizade. Então, hoje, o mercado já está dividido. Pode entrar mais alguém?
Pode entrar mais alguém, mas é muito difícil. Você vai ter que entrar
vendendo preço, e se você vender preço você não se sustenta um mês no
mercado, não (CS-05).
Portanto, a forte concorrência acabou se tornando a grande barreira de entrada nesse
segmento de mercado, pois conforme mencionado pelo entrevistado da corretora CS-05, ele já
está todo tomado pelas corretoras, corretores, prepostos
18
e grandes organizações já
existentes. Diante disso, o que normalmente tem acontecido, é que um corretor, pessoa física,
que já possui uma carteira de clientes, resolve abrir uma corretora; ou, de outra forma, um
preposto que também possui uma carteira de clientes, obtém a autorização da SUSEP e passa
a responder pela sua própria produção de seguros, seja como pessoa física ou jurídica.
Apesar do grande número de concorrentes, há mais intensidade de rivalidade,
principalmente, no âmbito da qualidade dos serviços prestados:
A concorrência, na nossa região, existe bastante - “Atrapalha?” Atrapalha.
Você perde negócio? Com certeza. Mas o sol nasce pra todos. Não adianta,
de repente, você pisar na garganta de um colega seu de trabalho
(concorrente), ou falar mal de um banco. Esse tipo de comportamento não
funciona mais no mercado. Porque aquele que não é profissional, não fica
muito tempo no mercado (CS-02).
A concorrência, hoje, seria... Na realidade, a gente tem mais afinidade com
algumas corretoras e a gente consegue manter uma certa ética, aí, pra não...
pra ninguém perder. Agora, tem casos que não tem jeito, a gente acaba
perdendo, é a concorrência desleal. Não é que a gente seja santo, o mercado
está aí, e a gente procura atuar dentro de uma certa ética profissional, é claro
que os frutos serão colhidos mais à frente. Por isso, que a gente acaba, às
vezes, perdendo hoje, pra não ser prejudicado no futuro, e poder continuar
atuando tranqüilo no mercado (CS-04).
Nós temos aí, muitos concorrentes que entre aspas eu diria “picaretas”, tem
muitos que não sabem o que estão vendendo e não sabem o que estão
perdendo, porque quem nos paga é o cliente, não é a seguradora. Então, eu
acho que não convém, na concorrência com o mercado, hoje, eu procurar dar
um preço mais barato que o corretor “x”, “y” ou “z”, pois, [...] no final,
quem vai acabar perdendo, mesmo, somos nós, os corretores, que nos
matamos, aí, e acaba não ganhando nem esse, nem aquele (CS-05).
18
Pessoas que negociam contratos de seguro, mas descarregam essa produção através de um corretor ou
corretora autorizada pela SUSEP.
136
De acordo com a delegacia regional do Sindicato dos Corretores e Empresas
Corretoras de Seguros, Resseguros, Vida, Capitalização, Previdência Privada e Saúde no
Estado do Paraná, em Maringá, existem 379 corretores e empresas corretoras de seguros nas
cidades de Maringá, Umuarama, Cianorte, Paranavaí e Campo Mourão. Entretanto, ao se
considerar também o entorno desses municípios, região noroeste do Estado, existem 633
corretores e empresas corretoras de seguros. Diante disso, o problema mais evidente relatado
pelos entrevistados tem sido a forte concorrência existente no ramo em que eles atuam:
A quantidade de corretores no mercado de Maringá, eu acredito que é em
torno de 100 corretores operando nessa área. Eles não deixam de ser
concorrentes, porque eles também estão em busca de construir uma carteira
(CS-01).
Assim, quando a gente se defronta com uma concorrência [...] com custo
desleal, a gente tenta aproximar, o que é possível, desse custo oferecido. Aí,
a gente argumenta com o cliente que, menos que isso, ele não vai estar
comprando o que ele quer, garantia para o caso de um sinistro (CS-05).
Então você sempre tem que estar na frente, buscando cliente, visitando,
porque tem sempre um concorrente que vai (CS-01).
Ainda maior, é a dificuldade que eles encontram com organizações de grande porte
que trabalham na mesma área, como é o caso dos Bancos. No início, todos os entrevistados
queixaram-se da postura do Banco onde eles trabalhavam, pois concorria com eles e a
desigualdade de porte entre as empresas tornava difícil a atuação deles no mercado, como
pode ser verificado nas seguintes falas:
Uma dificuldade da empresa na fase inicial foi o fato da Seguradora Itaú ter
formatado e implementado um plano de televendas, concorrendo com a
corretora no sentido de se conquistar a renovação dos seguros da carteira que
era administrada pelo Banestado através da Seguradora Gralha Azul,
dificultando sobremaneira, a constituição inicial da carteira de clientes da
corretora e, por conseqüência, a conquista do incentivo financeiro oferecido
pela Itaú Seguradora quando da abertura da empresa (CS-01).
A dificuldade que houve, quando a gente saiu do banco, foi que o banco
tinha uma central de atendimento 0800 e fazia renovação dos seguros que
estavam vencendo, por telefone. Então, quando eu ia abordar um cliente 15
dias antes do vencimento do seguro ele falava assim: “Não, mas o Itaú já me
ligou e já renovou.” Eles (funcionários da Itaú seguros) renovavam pelo
0800. O Banco tinha todas as informações, porque era uma renovação do
banco, não era minha. Então, no primeiro ano, nesse processo de trazer essas
137
renovações para a corretora, alguns casos se perderam, quando você ligava já
estava renovado (CS-02).
Para superar esse problema, os sócios-gerentes das corretoras assumiram uma posição
agressiva no mercado e desenvolveram um trabalho intenso junto a esses clientes. De outra
forma, eles sabiam que se perdesse essa oportunidade de penetração no mercado, eles teriam
muita dificuldade para constituir uma carteira de clientes que lhes permitissem alcançar a
viabilidade econômica do empreendimento:
Logo que a gente começou com a corretora, a seguradora Itaú também
montou uma estrutura, provavelmente em São Paulo, e ligava direto para os
clientes da carteira que a gente tinha lá no banco, para fazer as renovações de
seguros. Aí começamos a montar uma estratégia, de ligar 30 dias antes para
os clientes para negociar a renovação e daí o 0800 chegava depois (CS-03).
A gente fazia os contatos pessoalmente e eles faziam tudo através do 0800
(telemarketing). Então, quer dizer, a gente explicava para ele, cliente, a
possibilidade depois de um atendimento pós-venda se ele renovasse com a
Seguradora Itaú através do 0800. Então, a gente teve essa dificuldade com
essa concorrência no começo. Apesar de ter feito uma parceria, eles ligavam
através do 0800 para os clientes. Houve casos deles ligarem até para os
corretores para renovar o seguro do veículo. O banco ligava para renovar o
seguro do automóvel utilizado pelo corretor, para trabalhar. Então, essa foi
uma dificuldade que a gente teve no começo, durante todo o primeiro ano.
Enquanto a gente não trouxesse o cliente para a carteira da corretora, eles
ligavam. A partir do momento que a gente efetuava a proposta de renovação
o cliente passava a ser nosso (CS-04).
Nossa dificuldade maior foi que o... que alguém, algum diretor de dentro da
Itaú Seguros, achou por bem que ele deveria fazer um serviço de
telemarketing em cima das renovações dos seguros da carteira de clientes, da
qual, no começo, eu achava ser minha, porque eu durante 10 anos no
mercado, trabalhando com essa clientela... mas, eu percebi que, na realidade,
era minha, mas sob o mando do banco (CS-05).
Os depoimentos anteriores refletem o consenso de que essa foi uma dificuldade inicial
intensa e inesperada, pois como tinham recebido proposta e incentivo para empreenderem no
mercado, eles não esperavam essa postura da instituição. Essa situação tornou-se mais crítica
quando outros bancos também representavam uma ameaça à sobrevivência das empresas,
como também pode ser observado:
Na nossa região, além disso, os bancos têm um foco muito grande no
telemarketing. Então o cliente vai direto lá, às vezes, acaba nem pegando o
seu preço, ou seja, fazendo cotação com você (CS-02).
138
Nossa região é muito agrícola, quando o gerente vai soltar uma cédula rural
ele diz: oh! eu quero o seguro da colheitadeira, o seguro da sua casa... Às
vezes, o cara é cliente seu aqui. Eu tenho casos aqui, um exemplo, o cliente
saiu daqui e pagou 50, 100 reais mais caro no Banco do Brasil, por que?
Porque o gerente chegou para ele e falou: se você não fizer um produto
comigo eu não te solto a cédula rural. Então o cara não vende, o cara
empurra (CS-02).
Assim, o porte e a quantidade dos concorrentes que atuam no mesmo segmento de
mercado, e a existência de poucas barreiras de entrada são os principais problemas
enfrentados quanto à concorrência.
4.3.1.5 Mercado financeiro
Quanto às linhas de crédito disponibilizadas pelas instituições financeiras, nenhuma
das empresas se utilizou desse tipo de crédito como pode ser verificado nos seguintes
discursos:
Tem linha de crédito, de repente, de 500 reais até 30.000 reais hoje, se você
quiser fazer um investimento. Só que a taxa de juros que o banco cobra hoje,
ainda é alta. Diminuiu bastante, mas ainda é alta, hoje. Na minha opinião,
um juro bom, seria em torno de 1,5 a 2% ao mês, no máximo. Mais que isso
aí, não tem quem paga. Se você pagar 4, 5% de juro ao mês... se tiver meio
enforcadão, se tiver usando um limite muito grande, você não faz pra pagar
juro (CS-02).
Quanto a financiamento, Graças a Deus, a gente nunca precisou, até agora,
na empresa. Mas, se fosse necessário fazer um financiamento, nós não
teríamos dificuldade, nós temos crédito junto às instituições financeiras.
Entretanto, como a gente não utilizou nenhuma vez, a gente prefere não
utilizar, porque a gente sabe que as taxas de juros de banco, nem sempre são
atraentes (CS-04).
Porém, todos os entrevistados disseram que se um dia precisassem, isso poderia ser
um problema para os seus empreendimentos, haja vista, as altas taxas de juros cobradas pelos
bancos.
4.3.1.6 Influências do poder público
No tocante às políticas públicas e legislação, verificou-se outra unanimidade entre os
entrevistados. Todos reclamaram da alta carga tributária, elevados encargos trabalhistas e
previdenciários, e excesso burocrático-regulatório, exemplificado nas narrativas abaixo:
139
Nós somos esmagados por tantos tributos. Quanto às leis trabalhistas o que
eu posso dizer é que a tributação é muito grande, hoje. Nós teríamos
condições hoje, mesmo sendo mencionado no princípio, que não haveria
necessidade de ampliação do quadro funcional, mas seria interessante, hoje,
se a gente tivesse um office-boy. Se nós tivéssemos uma diminuição de carga
tributária, nós poderíamos estar treinando um office-boy, para amanhã ou
depois, ele ser um atendente, ou até mesmo um profissional graduado na
área de seguros (CS-05).
[...] as legislações trabalhista e previdenciária são uma carga muito grande
para as pequenas empresas. A carga tributária da corretora, ela gira, hoje, em
torno de 16%, e acreditamos que isso seja muito alto, porque diminui, daí, o
poder da corretora estar investindo na sua infra-estrutura (compra de um
novo computador, contratação de funcionários etc.) com o objetivo de
crescer, ou seja, de ampliar a sua carteira de clientes. Então, tudo isso
(impostos, taxas, tributos) vai complicando a vida da pequena corretora de
seguros. Pois, somando os custos tributários e os custos da corretora, o custo
total gira em torno de 50% do faturamento bruto da empresa (CS-03).
A dificuldade que a gente sentiu mais, no início, pra abrir a corretora, foi no
sentido da questão burocrática, de documentação, pra fazer a abertura da
empresa. Tem que ter muita persistência, porque logo no início, se a pessoa
não tiver persistência, ela vai desistir do negócio (CS-03).
Conforme exemplificado no discurso do entrevistado da corretora de Campo Mourão
(CS-03), a carga tributária representa aproximadamente 16% dos custos da prestação de
serviços das empresas analisadas, e os custos totais dessas empresas giram em torno de 50%
do faturamento bruto, devendo ser destacado que grande parte desses custos são variáveis. Por
causa disso, muitos corretores permanecem atuando no mercado como pessoa física, apesar
das menores comissões pagas pelas companhias seguradoras em função desse fato.
4.3.1.7 Processo de gestão
Dentre as características elencadas para o grupo de recursos internos no Quadro 17, a
grande maioria foi detectada nas empresas estudadas, fazendo-se necessário, portanto,
observações pontuais em relação a algumas variáveis e/ou características. Dessa forma, na
estrutura organizacional, destaca-se que a pouca especialização do quadro de pessoal
verificada entre as empresas pesquisadas, tem se restringido aos funcionários com vínculo
empregatício, ou seja, auxiliares administrativos e secretárias, pois os sócios-proprietários e
os prepostos são especializados.
140
Na variável extensão dos sistemas e planejamento formais, chama atenção o fato de
que o sistema operacional de produção é todo informatizado, por meio de programas e
atualizações fornecidos pelas respectivas companhias seguradoras (via Internet), com as quais
cada corretora trabalha; já os sistemas de controle, com exceção da corretora CS-01, que
possui alguns controles elaborados pelo seu auxiliar administrativo em planilha Excel, as
demais corretoras já possuem um software de controle denominado Virtual Safety que vem
atendendo a demanda das empresas:
No que se refere aos controles, nós mesmos elaboramos as nossas planilhas
pra ver a nossa produtividade e o nosso resultado financeiro [...], mas já está
chegando o momento (porque a carteira está aumentando, já está num
patamar... crescendo a uma média de 10 a 15% ao mês), que nós vamos ter
que fazer um investimento num sistema e controle integrado, onde esse
sistema possa nos dar informações mais rápidas, mais consistentes, pra que a
gente possa crescer junto com a carteira, também (CS-01).
A versão mais atualizada desse programa (Virtual Safety) é a 6.0, como eu já
disse, e ele faz todo o controle das operações da corretora. Desde o
cadastramento de proposta, previsão de comissão referente determinado
período, estatística de produção mensal, perfil de cada cliente, enfim, é um
programa que facilita muito a administração da empresa. Esse programa,
também, tem gráficos, ele te dá toda a estatística de cada cliente, a produção
mensal e anual da corretora, é muito bom (CS-03).
Quanto ao desempenho financeiro, diferente do que normalmente se verifica para as
empresas nesse estágio do CVO, as empresas analisadas já apresentaram um fluxo de caixa
positivo nos primeiros meses de atuação no mercado:
Como se tratava de uma carteira já formada, nos primeiros meses a gente já
alcançou o ponto de equilíbrio para pagar os custos e as despesas da
corretora (CS-03).
Aquela carteira que tinha no Banestado/Itaú, isso ajudou bastante, colaborou
bastante pra gente, no início. Porque, se fosse começar uma corretora, do
zero, sem cliente nenhum, você precisaria de uns três a quatro anos pra
alcançar o ponto de equilíbrio. Então, é mais complicado (CS-03).
Com isso, a principal meta da administração, reforçando o que já foi citado no item
4.3.1.3, tem sido manter o status quo lucrativo, o que foi observado nas empresas analisadas e
pode ser traduzido no discurso do sócio-gerente da corretora de Paiçandu:
Eu tenho uma planilha, assim, detalhada, do que eu gasto na minha
corretora. Eu diria pra você hoje, numa estatística a grosso modo, do que eu
141
arrecado hoje, em torno de 50% é despesa (custo e despesa), se não for mais.
Tipo, eu arrecadei (faturei) R$ 5.000,00, R$ 2.500,00 a R$ 2.800,00 são
despesas (custos e despesas). Então, eu coloco tudo, cartucho de impressora,
papel, funcionários, água, luz, tudo, estrutura geral, eu sei tudo o que eu
gasto. Então, eu tenho, na ponta do lápis, tudo o que eu gasto. Aí, eu procuro
o que, eu procuro aonde é que eu posso diminuir... Muita coisa eu já fiz, eu
já consegui de 3, 4 anos pra cá, tipo, eh... Telefone é o... Eu acho que é o
caos de todo mundo quase, na nossa área. É o que custa mais caro. Se eu não
tivesse o telefone hoje, me sobraria bem mais. É um gasto muito alto que eu
tenho com telefone. Na maioria das vezes, por exemplo, no telefone o que é
que eu posso diminuir... Ah! Eu posso fazer um pacote de 1000 pulsos por
minuto. A tarifa era 47 centavos, eu posso fazer (contratar um plano) pra
diminuir pra 30 centavos. Usar mais e-mails. Porque, às vezes, qualquer
coisinha você passava a mão no telefone pra ligar lá na companhia... Não!
Posso esperar? Eu passo e-mail pra eles ou, eu tenho o sistema que é o
MSN... No MSN eu converso com eles on line... Então, isso aí já me
diminuiu muita coisa, eu tenho uma ligação direta, às vezes, com a
seguradora ou com o escritório que me atende, a um custo menor. Além
disso, tem funcionários, tem que ter uma estrutura pra ter qualidade. Não dá
pra diminuir. Só aperfeiçoar, ou, no caso, se precisar mais, contratar. Água,
luz: não tem um controle em cima disso. Somente, na época de verão, no
caso aqui, eu não tenho janelas nem saídas, é só ar condicionado. Então, de
cedo até à noite eu estou com o condicionador de ar ligado. Às vezes eu, às
vezes ela (esposa do Sr. Marcos), às vezes a secretária, não tem como ficar
aqui, é muito abafado. Então, aí também não dá! Mas, telefone, às vezes,
correio - seguro duas, três (correspondência) e mando tudo junto. Assim,
alguns casos a gente vai diminuindo. Onde eu posso? Eu posso focar aqui, eu
posso diminuir aqui, aqui e aqui. Então, a gente vai enxugando, mas o custo
ainda é grande em relação ao faturamento bruto e, depois, no meu caso, que
estou sozinho, chega a mais de 50% de despesas do que eu arrecado (CS-02).
Ao longo desses primeiros anos de existência, com o crescimento da carteira, as novas
demandas dos sistemas operacionais de produção e as demandas por uma prestação de serviço
cada vez melhor, ou seja, rápida, eficiente e enxuta, verificou-se que os maiores investimentos
feitos têm se concentrado na estrutura física e operacional das empresas, sendo que os
recursos financeiros necessários à sua viabilização (salvo aqueles obtidos através do incentivo
do banco no início das atividades), têm vindo dos lucros gerados pelas próprias empresas.
Dentre os investimentos implementados pelas empresas, todas contrataram o serviço de
Internet banda larga (ADSL) e interconectaram os seus computadores em rede. Outrossim,
com exceção das corretoras CS-01 e CS-04, todas substituíram as impressoras jato de tinta por
impressoras a laser.
142
Analisando o desenvolvimento dessas empresas nessa fase inicial, algumas mudanças
específicas foram encontradas nos casos estudados. Desta maneira, a corretora CS-01
contratou um auxiliar administrativo (filho de um dos sócios-gerentes) e começou a trabalhar
com um preposto lotado na empresa, além do que o seu quadro societário ficou restrito a dois
sócios-gerentes e um sócio-corretor, haja vista, a saída de dois dos sócios-gerentes no final do
primeiro ano de atividade da mesma. Isso fez com que os custos e despesas da corretora que
eram divididos em quatro, de repente, passassem a ser divididos em apenas dois, como
mencionado por um dos entrevistados:
A saída do Senhor Fulano e do Senhor Beltrano da empresa, isso foi um
pouco difícil, porque nós começamos em quatro sócios, de repente, dois
resolvem sair. Os custos da empresa lógico que não pararam, você tem que
pagar essas despesas (custos e despesas), você tem que desembolsar
dinheiro, e você vai desembolsar de onde. Você tem que produzir, trabalhar
para superar todas essas necessidades da empresa, e, além disso, procurar
administrar de uma maneira correta, não esbanjar, fazer a contabilidade
realmente séria pra não correr riscos. Ficar sempre sólido (CS-01).
Em relação à estrutura operacional, a empresa adquiriu mais uma linha de telefone e os três
computadores da empresa, hoje, como já mencionado, estão conectados em rede.
Quanto à corretora CS-02 ela mudou-se para um novo ponto no centro da cidade, com
40 m
2
de área útil, adquiriu mais uma linha de telefone, instalou uma central telefônica com
vários ramais, comprou mais uma escrivaninha, um armário, duas cadeiras, mais um
computador e fez um up grade em um dos computadores já existentes. Assim, pode-se
observar que o sub dimensionamento da estrutura físico-operacional da empresa, que pode ser
devido a não existência de um plano de negócios, trouxe algumas dificuldades no início das
atividades, como demonstrado no discurso do empresário:
Em relação à estrutura física e operacional, do jeito que está hoje, do jeito
que nós planejamos, eu planejei depois... Porque às vezes, você está
começando o primeiro ano numa empresa... Você planeja? Não. Então, no
ponto em que eu comecei a trabalhar, eu estava negociando um custo
diferenciado com um cliente que tinha 4 ou 5 seguros comigo, o cara (outro
cliente) estava do lado, escutando toda a conversa. Aí, com o tempo, eu
percebi que tinha que fazer alguma coisa. O que foi que eu fiz? Eu mudei pra
cá, essas paredes não tinha, eu levantei. Aí, eu fiz, mais ou menos, um
projetinho do que eu queria. Lá (na estrutura inicial) eu só tinha uma linha
143
telefônica, e não dava mais, porque o cliente ligava pra mim e ficava louco
da vida, porque eu uso muito o telefone, então, ficava ocupado direto. Desse
jeito não dava pra ficar. Eu tinha que resolver. Eu precisava de duas linhas,
colocar uma central telefônica com vários ramais (CS-02).
Comparando esse caso com os demais, pode-se perceber que o dimensionamento da
estrutura física e operacional da empresa foi diferente. Para exemplificar, enquanto as demais
iniciaram com duas linhas de telefone, esta tinha apenas uma, que não era suficiente para
atender a sua demanda.
Durante o segundo ano de atividade, ocorreram algumas alterações no quadro de
pessoal da corretora:
Quando eu abri em 2001, era eu e mais um outro funcionário, um auxiliar
administrativo. Inclusive, ele era funcionário da Gralha Azul também,
trabalhava interno em Londrina. Eu o trouxe, como ele já tinha algum
conhecimento, pra cá. Ele trabalhou comigo, mais ou menos, um ano. Aí,
depois de um ano, a minha esposa, hoje, que na época era namorada, também
começou a trabalhar, ficamos em três. Na seqüência, o auxiliar
administrativo recebeu uma proposta boa de uma empresa, na época, pra ser
supervisor de vendas em Londrina, ele saiu e foi... Aí, ficamos eu e minha
esposa e, já em seguida (da saída do auxiliar administrativo), eu tive que
contratar uma outra menina que ficou uns seis a oito meses. Ela teve que sair
também, e aí entrou essa outra menina (secretária) e, hoje, estamos
trabalhando em três pessoas. Mas de quando a agente começou, mudou...
Passaram pela corretora, duas pessoas até agora (CS-02).
Na corretora de Campo Mourão, a CS-03, ocorreu uma alteração societária, ou seja, a
irmã do sócio-gerente conseguiu habilitar-se corretora plena em Curitiba e assumiu as funções
do sócio-corretor anterior. Com a chegada da nova sócia-corretora que além de responder pela
administração técnica da empresa, começou a atuar na produção local (Campo Mourão) e
auxiliar nas demais atividades funcionais da empresa, de forma que o auxiliar administrativo
foi dispensado. A empresa adquiriu mais uma mesa, um parelho de scanner e substituiu um
microcomputador que já estava obsoleto.
Já a corretora CS-04 fez uma parceria importante com a concessionária Chevrolet de
Paranavaí no final de 2003, o que lhe permitiu uma maior penetração no mercado local. Com
isso, a empresa abriu mais um ponto de venda junto à concessionária, contratou mais um
auxiliar administrativo, adquiriu mais dois microcomputadores, outra impressora jato de tinta,
144
uma mesa, duas cadeiras, um arquivo, um armário e trocou o veículo utilizado nas visitas a
clientes, por um outro novo. Além do mais, buscando alavancar operacionalmente a corretora,
o sócio-gerente convidou dois ex-colegas de banco, com experiência no ramo, para trabalhar
como prepostos da empresa nas suas cidades de origem, ou seja: Nova Esperança e Paraíso do
Norte.
Então, nós temos as duas funcionárias contratadas pela corretora, e os dois
prepostos, um de Nova Esperança e outro de Paraíso do Norte, municípios
próximos de Paranavaí (CS-04).
Movimentação de pessoal mais expressiva foi observada na corretora CS-05. A esposa
do sócio-gerente que ajudava no início das atividades, dado a intensidade dos trabalhos para
alavancar a carteira de clientes, na seqüência parou de trabalhar. O office-boy que tinha sido
contratado não atendeu as expectativas da empresa e foi dispensado, acontecendo o mesmo
com o funcionário que foi contratado na seqüência. Na terceira tentativa, o sócio-gerente
encontrou um auxiliar administrativo com alguma experiência no ramo, que permanece na
empresa até hoje. Quanto aos prepostos, logo após ter iniciado as atividades, o sócio-gerente
convidou um ex-funcionário da agência de Moreira Sales que já atuava no ramo, para
trabalhar com ele. No final de 2003 ele deixou a empresa para atuar no mesmo ramo, na
região de Moreira Sales e Tuneiras do Oeste, municípios próximos de Cianorte. Atualmente, a
empresa trabalha com dois prepostos lotados em Cianorte, um é ex-funcionário do Banestado
que se destacava na venda de seguros, e o outro é funcionário aposentado do Banco do Brasil,
ambos com um forte conhecimento no ramo de seguros. Ao longo desse período, também
ocorreu uma alteração do quadro de sócios da empresa, ou seja, o mesmo sócio-corretor da
empresa de Campo Mourão passou a responder pela administração técnica da corretora CS-
05. Quanto aos investimentos na estrutura operacional, a empresa adquiriu mais um
microcomputador, mais um aparelho de fax, um scanner, e fez um up grade nos dois
microcomputadores existentes.
145
4.3.1.8 Dificuldades encontradas
Uma das primeiras dificuldades encontradas pelos empreendedores foi a passagem da
condição de empregado para empregador, relacionada à necessidade de definir a nova
identidade, tal como apontada nos depoimentos:
A gente sempre foi funcionário do banco, de repente, a gente se viu
montando uma empresa. Então, essa foi uma decisão importante de fundar a
empresa (CS-04).
O que é que nós vamos fazer? Nós trabalhamos com seguro. Conhecemos
tecnicamente o seguro? Conhecemos tecnicamente o seguro. Conhecemos a
área comercial? Conhecemos a área comercial porque nós viemos dela.
Conhecemos a parte organizacional, o planejamento e a administração? Aí é
que eu senti maior dificuldade. Por que eu nunca tive uma corretora, uma
empresa. Eu deixei de ser um empregado, pra ser um empreendedor (CS-01).
A diferença de quando você era empregado e hoje, como empresário, é
muito grande. [...] Aqui na empresa, como empresário, se precisar ficar até
dez horas da noite ou se precisar atender um cliente uma hora da manhã, eu
tenho que ir lá atender. Então, esse tipo de coisa é muito diferente. A
responsabilidade que você tem como empresário hoje, eu diria pra você que
é muito maior, do que você sendo empregado do banco (CS-02).
No que se refere às dificuldades de ordem econômico-financeira, estas parecem não
ter sido representativas, na medida em que todos mencionaram que não foi necessário recorrer
a empréstimos bancários e que obtiveram viabilidade econômica já nos primeiros meses de
funcionamento. Pode-se constatar ainda, uma tendência relacionada com o problema de
crescimento das empresas, derivado da dificuldade econômica e também da falta de tempo
para contratar um profissional com experiência no ramo ou preparar um novo profissional,
devido a grande demanda do setor de produção, isto é: renovação das apólices de clientes da
carteira, prospecção de novos clientes e acompanhamento das apólices ao longo de seus
períodos de vigência (alteração de perfil do segurado, substituição do veículo segurado,
ocorrência de sinistros etc.):
A produção em si, hoje, eu não suporto mais. A minha carteira chegou num
limite assim, que pra eu crescer eu tenho que contratar alguém. Mas, [...] não
adianta eu pegar uma pessoa nova hoje, e colocar na linha de frente pra
vender seguro pra mim. Eu não vou conseguir ensinar ela, eu não vou ficar
24 horas... Eu não tenho como fazer isso. [...] Além do mais, isso se torna
inviável pra mim, no momento. [...] Eu vou ter que pegar quem? Alguém
146
com experiência. Só que esse alguém com a experiência vai me custar muito
caro. Aí, se torna inviável. Porque, aí você vai ter que fazer o que, buscar no
seu concorrente. Você tem um Fulano lá nessa corretora, você tem que
cobrir o salário dele, trazer ele pra cá pra trabalhar comigo. Mas pra eu fazer
isso, eu tenho que verificar se o que vai entrar do que está tendo (incremento
de produção) é suficiente. Porque às vezes, eu trago o cara e eu não consegui
(incremento necessário de produção), estou trocando seis por meia dúzia.
Então, é melhor, às vezes, você ter um “x” de produção e trabalhar, como a
gente trabalha, meio enxuto; do que você tentar expandir e depois daqui um
ano, ter que dispensar o cara (CS-02).
Destaca-se ainda, que o perfil geral das empresas para o quadro de pessoal é o
envolvimento familiar, pois como eles mencionaram o faturamento obtido não é suficiente
para custear despesas com pessoal e seus encargos respectivos.
Por fim, no que tange a ação administrativa dos empreendedores, a análise de
conteúdo das entrevistas também confirmou várias das características relacionadas no Quadro
17 como por exemplo, o relacionamento dos sócios-gerentes com suas empresas, fornecendo
energia, direcionamento e atendendo as fortes demandas dos negócios nesse estágio de
desenvolvimento. Fato esse que pode ser constatado perfeitamente no discurso do sócio-
gerente da corretora CS-03:
No início, era muito importante, era fundamental, que eu estivesse todo o
tempo ligado à empresa. Estar sempre ali, tomando as decisões, visitando
clientes, eu tinha que estar ali 100% do meu tempo, a serviço da corretora
(CS-03).
[...] como eu só tinha um auxiliar administrativo, eu tinha que fazer
praticamente tudo, desde pagamento, ir até o banco, decidir o que comprar
de móveis, e tudo o que se relacionava à corretora era eu que decidia e corria
atrás. A produção, a questão das vendas, a parte financeira da empresa, a
parte operacional, também. Na parte operacional, eu fazia bastante coisa
porque tinha que saber mexer com os sistemas. Era tudo eu que fazia,
cálculos, propostas, fazia transmissão e enviava para a seguradora. Quanto às
exigências técnicas, eu já tinha experiência da empresa que eu havia
trabalhado anteriormente (BEP/BCS). Então, a parte técnica, eu atendia
plenamente, daí, o que a corretora precisava. Em relação à parte comercial,
mesmo tendo toda a experiência anterior da outra empresa, eu fiz outros
cursos para estar mais preparado para o mercado, e pudesse atender as
demandas da empresa ao longo de seu crescimento. Já, a parte financeira, a
gente tem o programa Virtual Safety, que nos auxilia a cumprir essa
demanda por parte da empresa, mas a parte contábil é feita por um escritório
de contabilidade. Outro ponto importante na questão da segurança, é que o
back-up dos programas da corretora é feito automaticamente pelo sistema
operacional que nós temos, e a parte dos programas das seguradoras, essa
parte nós temos feito o back-up para evitar problemas. Em relação às
147
demandas de segurança ainda, nós temos o seguro empresarial que dá
cobertura de incêndio, vendaval, roubo de equipamentos e móveis, e danos
elétricos. E também temos um sistema de alarme que já ajuda na segurança
da empresa (CS-03).
Uma dificuldade apontada pelos entrevistados em relação às demandas da empresa
nesse estágio de desenvolvimento, foi a de o empreendedor ter que atuar nas várias áreas
funcionais da empresa, além de dar conta da área comercial, com pode ser visto nos seguintes
exemplos:
No meu caso, aqui na empresa, eu tenho que cobrar o escanteio e ir lá na área
pra cabecear. Você entendeu? Então, esse é o “x” da coisa (CS-02).
[...] eu tinha que fazer tudo sozinho, ou seja, vender, operacionalizar as
vendas, administrar a carteira (sinistros, endossos etc.), fazer a parte
financeira e a parte administrativa, também. Às vezes, o tempo parecia não
ser suficiente pra fazer tudo isso (CS-03).
Então, essa foi a dificuldade maior, de controlar os nossos gastos... porque,
se eu não souber quanto eu estou ganhando, eu também não sei quanto é que
eu vou poder gastar. Então, quanto a esse controle, realmente, a gente teve
bastante dificuldade no começo. Hoje, eu ainda tenho que estar em cima,
porque eu não tenho um gerente financeiro, eu mesmo faço a parte
financeira.
Essa concentração de atividades no empreendedor, verificada no estágio inicial do
CVO é também mencionada por Machado (2005). Entretanto, ressalta-se que nesse estudo, o
crescimento foi observado sob a ótica dos empregados.
A natureza do serviço tem sido uma outra dificuldade específica dessas empresas, pois
exige dos dirigentes um alerta constante e muitas vezes inesperado:
Não consegui contato com o segurado no horário comercial, porque ele tem
uma propriedade agrícola, trabalha com agricultura. Então ele está em casa à
noite, principalmente na colheita de soja, ele vai estar em casa a partir das
20:00 horas, das 21 ou 22:00 horas. Então o contado tem que ser feito nessa
hora. Então não para, porque saio daqui... você trabalha de 8 a 10 horas, mas
dentro de casa você não vai saber o momento, a hora que uma pessoa vai te
ligar para utilizar os seus serviços, é uma assistência 24 horas, é que nem
médico. Então eu costumo dizer que a gente que trabalha com seguro,
respira seguro, não tem jeito, impregna na pessoa (CS-01).
Pode ser de sábado, domingo, de madrugada, já aconteceu no primeiro dia de
férias na praia, o cliente ligou uma hora da manhã. Então, isso daí, faz parte
do nosso negócio (CS-04).
148
Porque é uma coisa que você está em casa, de repente o celular toca, é uma
pessoa que está com um sinistro, aconteceu um acidente, você tem que estar
com ele (CS-01).
Apesar de não ser este um problema somente no início dos negócios, os entrevistados
mencionaram que a transição da situação de empregados no Banco, com horário fixo, para a
de empreendedores, com essa exigência de dedicação e alerta constante, requereu deles uma
adaptação.
Além dessas barreiras, eles mencionaram a dificuldade relativa à exaustiva jornada de
trabalho que precisam cumprir, com uma média diária de atividade de 11 horas de trabalho e
um processo constante de controle dos custos operacionais, sobretudo telefone e combustível,
que absorve grande parte do tempo e do trabalho como gestores, impedindo-os de visualizar
ou até mesmo de adotar estratégias de longo prazo, como por exemplo, uma maior divulgação
do seguro de vida. Todos mencionaram que do total de produtos vendidos 70 a 80% são
seguros de veículos, e que visualizam o potencial de mercado do seguro de vida, mas lhes
falta tempo disponível para visitas ou para um projeto de prazo mais longo envolvendo essa
estratégia de mercado. Para ilustrar essa afirmação, mencionada por todos, foi escolhida a
seguinte citação:
É a falha do dia a dia nosso, a correria do dia a dia, porque talvez nós
deixamos de apresentar um outro produto.... o vida, por exemplo, para ele.
Também temos essa falha. Porque o vida dá menos dor de cabeça para você,
você contrata uma apólice e acabou, o automóvel não. Nos ramos
elementares todo dia você tem problemas. Então, você procura trabalhar para
atender o cliente lá e deixa de fazer um trabalho, uma coisa genérica (CS-
01).
Quanto ao processo decisório, diferente do que foi apresentado como característico no
estágio inicial do CVO, ele é mais analítico do que intuitivo, ou seja, a maioria dos
entrevistados analisa o custo e o benefício de suas decisões antes de tomá-las. Isso pode ser
exemplificado na narrativa de um dos entrevistados quando ele diz que:
A gente sempre conversa. Na realidade, quando necessário, nós sentamos à
mesa e conversamos. Olha! Nós precisamos disso daqui. Aí a gente verifica
o custo, o benefício disso aí, pra gente adquirir ou comprar alguma coisa, ou
fazer um investimento na área, aí se decide. Oh! É bom pra corretora? É
149
bom. Quanto custa isso daí? Tá. O que é que vai trazer de benefício pra nós?
[...] Então, nós procuramos, a princípio, verificar, realmente, se aquilo que
nós estamos adquirindo se ele vai nos ajudar por 2, por 3, por 4 anos ou a
gente vai ter que fazer um outro investimento em seguida, pra atender as
necessidades da empresa (CS-01).
No entanto, após o primeiro ano de atividade, quando os sócios-gerentes das
corretoras conseguiram constituir uma carteira ativa de clientes, com o crescimento
apresentado por essas carteiras, pode-se aferir que dentre as ações requeridas, características
do primeiro estágio do CVO, a necessidade de descentralizar algumas funções em favor da
atividade comercial foi se manifestando cada vez mais forte entre os empreendedores:
Eu procuro delegar muitas atividades para os funcionários, para que eu possa
sair mais para a área de produção. Porque, a empresa, como eu disse... nós
somos a empresa. Então, quem não é visto não é lembrado. Por isso, a gente
procura passar, mais isso aí, pra eles (CS-04).
Em todas as funções eu centralizava bastante porque eu não tinha, no meu
caso, uma pessoa em quem eu confiava completamente. Então, a partir da
hora que eu trouxe a minha esposa e eu vi que ela gostava do ramo, e ia
ficar, eu comecei a repassar, a ensinar, a jogar nas mãos dela, algumas
responsabilidades. Porque antes, na parte financeira eu não tinha... Eu tinha
amizade com a pessoa, mas eu não tinha aquela confiança pra dizer “Faz
tudo pra mim e verifica quanto é que eu ganhei, quanto é que eu tenho na
conta, que cheque eu dei, pra quem que eu paguei.” Então, esse tipo de
informação eu não tinha, principalmente da parte financeira, eu não tinha
confiança na pessoa que estava comigo, pra delegar essa função. O resto
você abre, mas a parte financeira eu tinha um receio de passar pra ela. Então,
o que é que eu fazia? Eu centralizava e às vezes, eu ficava fora de horário
pra tentar fazer, porque durante o dia aqui, pra mim, é complicado, o
telefone não para. Então, eu não tinha tempo de parar... Puxa vida! Quanto é
que sobrou? Quanto é que eu gastei? Quem que eu paguei? Entendeu? Esse
tipo de controle eu não tinha três anos atrás, e depois, no decorrer, a gente
foi delegando essas funções em virtude de ter uma pessoa, do meu lado, que
me passava essa confiança (esposa do entrevistado). De repente, podia ser
um outro funcionário, mas eu não tinha confiança de passar a parte
financeira pra alguém fazer. Então isso me atrapalhava na parte de produção.
Hoje, eu só faço a parte de contratação e de atendimento a sinistros (CS-02).
Os sócios-gerentes relataram que esse processo de delegação tem sido lento e
tranqüilo até agora, mas que sempre existe uma certa preocupação conforme mencionado pelo
entrevistado da corretora de Paranavaí:
Essa descentralização não foi problemática. Mas, é claro, que... pra repassar,
delegar essa autoridade, no começo, a gente ficava preocupado porque, você
estava passando grande parte da rotina operacional da empresa para um
funcionário, de forma que o que estava ocorrendo na corretora, você não
estaria tendo conhecimento naquele momento. Por exemplo, [...] uma atitude
150
que um funcionário tivesse que tomar, que não fosse a mesma que eu
tomaria. Mas, hoje não. Hoje nós estamos bem sintonizados, mas... é claro
que eu tenho que confiar no funcionário, porque a partir do momento que eu
estou delegando, eu tenho que dar toda a autoridade pra ele, eu tenho que
confiar nele. Senão, eu não consigo me liberar pra atender os clientes (CS-
04).
Apesar de terem sido criadas no mesmo ano, algumas empresas expandiram mais do
que outras e, aparentemente, o que justifica esse desenvolvimento levemente diferenciado
entre elas, parece ser: o potencial do mercado local; a alavancagem operacional através de
prepostos, implementada logo após o início das atividades, como é o caso das corretoras CS-
04 e CS-05; e a percepção e aproveitamento de oportunidades como é o caso da corretora de
Paranavaí que ampliou a sua participação no mercado local através de uma parceria com a
concessionária de veículos Chevrolet. Acredita-se que o fato de todos os empreendedores
terem tido, antes da abertura da empresa, experiência e atuação no ramo muito parecidas,
favoreceu a utilização de estratégias semelhantes, até mesmo no dimensionamento da
estrutura física e operacional das empresas, diferente do que foi observado por Andrade et al.
(2003), quando analisou empresas de setores de atuação e ramos de atividade diferentes. Por
isso, acredita-se que tal fato ocorreu devido à homogeneidade dos casos desta pesquisa,
quanto ao setor e ramo de atividade, além da data de abertura dos empreendimentos como
pode ser observado no Quadro 23, e da experiência dos empreendedores, já mencionada.
No Quadro 23 é possível verificar a evolução de algumas características das empresas
pesquisadas durante esse período de desenvolvimento, em relação àquelas observadas quando
de seu processo de criação no ano de 2001.
EMPRESAS PESQUISADAS
VARIÁVEIS CS-01 CS-02 CS-03 CS-04 CS-05
Data de Abertura
28/06/2001 09/07/2001 06/03/2001 14/05/2001 12/03/2001
Município de Atuação
Maringá Paiçandu
Campo
Mourão
Paranavaí Cianorte
Recursos Internos
151
Sistema de recompensas
Pró-labore
19
e salário.
Extensão dos sistemas e
planejamento formais
Sistema gerencial de controle e informações: Virtual Safety.*
Contabilidade realizada por um escritório contábil.
Sistema operacional de produção: via Internet.
Planejamento (tático, operacional e estratégio) formal inexistente.
Principais metas
Conseguir viabilidade econômica: tornar-se lucrativo.*
Manter o status quo lucrativo.*
Desempenho financeiro
Fluxo de caixa positivo.*
Receita bruta (R$)
20
99.367,00* 74.516,00* 96.599,00* 147.450,00* 143.511,00*
Fontes de recursos
financeiros
Proprietários.*
Maiores investimentos
Estrutura física e operacional.
Produto e Mercado
O serviço oferecido é único: corretagem de seguros.
O mercado de atuação é limitado.
P & D de produto ou de
mercado
Realizado pelos fornecedores.
Estrutura Física (área
útil em m
2
)
35 40* 50 36 35
Estrutura Operacional
Carro 02* 01 02* 01 01
Microcomputador 03* 03* 02 04* 03*
Impressora Jato de Tinta 01 00* 00* 02* 00*
Impressora laser 00 01* 01* 00 01*
Scanner
00 00 01* 00 01*
Linha de Telefone 03* 02* 02 02 02
Celular 02* 01 02* 01 01
Aparelho de Fax 01 01 01 01 02*
Internet Banda larga*
Escrivaninha/Mesa 04 03* 03* 03* 02
Armário/Estante 02 02* 02 04* 03
Arquivo 02 02* 01 02* 02
Cadeira 06 06* 05 07* 06
Estrutura
organizacional
Simples e informal, com poucos cargos.
Pouca ou nenhuma especialização entre os colaboradores com vínculo
empregatício.
Pouca delegação de autoridade. Decisões centralizadas no proprietário.*
Supervisão direta do proprietário.
Recursos financeiros limitado.
Quadro de recursos humanos bastante limitado.
Número de Pessoas
Ocupadas
05 04* 02* 05* 05*
19
Do sócio-corretor: percentual acertado entre o sócio-gerente e o sócio-corretor sobre o valor total de comissão
paga pelas companhias de seguros à empresa, descontados os impostos devidos.
Do sócio proprietário: retiradas de acordo com a disponibilidade de lucros líquidos gerados pela empresa.
20
Conforme demonstração de resultados do exercício de 2004.
152
Sócio-Gerente 02* 01 01 01
Sócio-Corretor 01 01 01
01
01
Preposto 01* 00 00 02* 02*
Auxiliar Administrativo /
Secretária
01* 02* 00* 02* 01
*Alterações associadas ao processo de desenvolvimento.
Quadro 23 Algumas características das empresas pesquisadas: 2005
De acordo com o Quadro 23, todas as empresas analisadas passaram a trabalhar com a
Internet banda larga, devido a maior demanda por parte do sistema operacional de produção
disponibilizado pelas companhias seguradoras. Com exceção da corretora de Maringá (CS-
01), as demais passaram a trabalhar com o sistema gerencial de controle e informações Virtual
Safety
. Quanto as principais metas das empresas, todas alcançaram viabilidade econômica nos
primeiros meses de atuação e passaram a buscar, a partir de então, a manutenção do status
quo lucrativo. Em relação ao faturamento bruto apresentado, merece destaque o fato de que as
corretoras CS-01, CS-04 e CS-05 obtiveram melhores resultados econômicos mediante a
parceria com prepostos. No que se refere às estruturas operacional e organizacional, elas
foram sendo ajustadas pelos sócios-gerentes em função do crescimento das suas respectivas
carteiras de clientes, aperfeiçoamento dos serviços prestados e adaptações que se fizeram
necessárias diante de mudanças implementadas pelas sociedades seguradoras com as quais
cada corretora trabalha. Ressalta-se ainda, que todos esses investimentos foram realizados
mediante a reversão de lucros gerados pelas próprias corretoras.
Para Churchill e Lewis (1983) a empresa deve crescer em tamanho e lucratividade ao
longo do estágio inicial e, na seqüência, avançar para o estágio seguinte. Entretanto, nada
impede que a empresa continue mais algum tempo nesse estágio, como muitas outras o fazem,
auferindo retornos marginais sobre o tempo e o capital investidos. Esse posicionamento é
reforçado por Scott e Bruce (1987) ao afirmarem que no final do estágio inicial do CVO uma
das grandes preocupações do empreendedor é com o crescimento de sua empresa, uma vez
que o descontrole nesse crescimento certamente levaria o negócio à falência. Portanto, o
153
empreendedor terá que se decidir entre frear o crescimento, significando que a empresa
permanecerá no estágio de sobrevivência – obtendo retorno marginais, ou continuar a crescer
de forma controlada, conduzindo a empresa para o estágio seguinte requerendo mais sistemas
de controle.
Diante dessas argumentações e considerando a análise do que foi observado no
discurso dos sócios-proprietários das empresas estudadas, foi possível verificar que as
corretoras, na maior parte de suas características, encontram-se no estágio inicial do CVO, e
que algumas delas indicam que essas empresas estão no final desse estágio; além do que, foi
possível identificar os principais problemas enfrentados por essas empresas durante os
primeiros quatro anos de atuação no mercado. Com isso, os problemas característicos
apontados no estágio inicial do CVO das unidades de análise desta pesquisa, puderam ser
sumarizados no Quadro 24.
ESTÁGIO INICIAL DO CVO
PROBLEMAS CARACTERÍSTICOS ENCONTRADOS
Forças Ambientais
Fornecedores com forte influência no sistema de produção das empresas;
Concorrência com grandes organizações que atuam no mesmo segmento de mercado;
Forte concorrência no ramo de atuação: saturação de mercado;
Concorrência desleal por parte de alguns corretores e corretoras quanto à definição do perfil;
Postura de Bancos no que se refere a reciprocidades exigidas de clientes, vinculando a venda de
seguro à concessão de crédito;
Pouco ou nenhum conhecimento do produto por parte dos clientes e do mercado potencial;
Margens muito reduzidas de lucro nas contratações e renovações, in loco, para os clientes
localizados nos municípios mais distantes da área de atuação da empresa;
Natureza intangível do produto comercializado;
Dificuldade em formar e fidelizar carteira de clientes;
Excesso burocrático-regulatório no ramo de atuação.
Recursos Internos
Composição dos custos operacionais, em sua maioria constituídos de custos variáveis;
Quadro de colaboradores limitado ou insuficiente;
Quadro de colaboradores com pouca ou nenhuma especialização
21
.
21
Somente para os colaboradores com vínculo empregatício; que não é o caso dos prepostos.
154
Ação Administrativa do Dirigente
Definir a nova identidade: transição da condição de empregado para empregador;
Falta de um plano de negócios;
Exigência de elevada jornada de trabalho;
Inexistência de planejamento estratégico formal;
Pouco conhecimento das outras áreas funcionais (administrativa, financeira, recursos humanos
etc.).
Quadro 24 - Síntese dos problemas encontrados no primeiro estágio do CVO
Estes dados, quando confrontados com os apresentados na literatura que aborda
problemas de desenvolvimento de empresas utilizando o referencial do modelo de CVO,
demonstram que a maioria dos problemas enfrentados por essas empresas é ligada a fatores
externos, mais do que fatores internos, tais como os apresentados no quadro 18. Assim, por
exemplo, situações como mudança significativa no mercado de atuação, não
operacionalização dos serviços dentro dos prazos contratados, fanatismo irreal do fundador,
falta de know how, processo decisório baseado apenas na intuição, falta de objetivos de curto
prazo, controle vulnerável do fundador devido à ausência ou ineficiência dos controles
existentes, delegação prematura, e crescimento descontrolado, não se aplicam às empresas de
serviço estudadas.
Por outro lado, problemas como a forte influência de fornecedores no sistema de
produção das empresas pesquisadas, excesso burocrático-regulatório e intensa concorrência
no mercado de atuação, quadro de colaboradores insuficiente e sem qualificação, falta de um
plano de negócios, inexistência de planejamento estratégico, e orientação para as vendas,
mencionados nos modelos de CVO apresentados, foram constatados neste trabalho.
Do mesmo modo, observando as análises feitas por cada um dos modelos de CVO
apresentados, verificou-se que há especificidades do setor/ramo estudado, que não estão
previstas ou abordadas detalhadamente nesses modelos, ou seja:
concorrência com grandes organizações que atuam no mesmo segmento de mercado;
155
concorrência acirrada por parte de alguns corretores e corretoras quanto à definição do
perfil;
postura de Bancos no que se refere a reciprocidades exigidas de clientes, vinculando a
venda de seguro à concessão de crédito;
pouco ou nenhum conhecimento do produto por parte dos clientes e do mercado potencial;
margens muito reduzidas de lucro nas contratações e renovações, in loco, para os clientes
localizados nos municípios mais distantes da área de atuação da empresa;
natureza intangível do produto comercializado;
dificuldade em formar e fidelizar carteira de clientes;
composição dos custos operacionais, em sua maioria constituídos de custos variáveis;
definir a nova identidade: transição da condição de empregado para empregador; e
Pouco conhecimento das outras áreas funcionais, indicando que a teoria dos modelos de
ciclo de vida pode servir apenas como um referencial inicial para as pequenas empresas, na
medida em que ela não contempla especificidades, que são importantes para a compreensão
das dificuldades e conseqüentemente da mortalidade ou do desenvolvimento desse segmento
empresarial.
156
5. CONCLUSÃO
Tendo cumprido o objetivo geral ao qual se propôs, ou seja, o de identificar problemas
enfrentados por pequenas empresas no setor de serviços securitários no primeiro estágio do
ciclo de vida organizacional, este estudo mostrou uma pequena parcela dos dilemas
vivenciados por essas no contexto brasileiro. Vale ressaltar, entretanto, que os integrantes do
estudo mostraram-se satisfeitos com a atuação deles no mercado, e com os resultados que têm
alcançado ao longo desses quatro anos de atividade empreendedora.
Dentre os objetivos específicos, no processo de abertura das empresas pesquisadas,
pode-se observar que elas foram constituídas na mesma época, estimuladas por uma carteira
de clientes “pré-existente”, incentivos financeiros da empresa de origem, além de
conhecimento e experiência no ramo por parte dos empreendedores. Verificou-se também,
que o processo de abertura dessas empresas não foi conduzido por um plano de negócios, haja
vista, a necessidade premente por parte dos empreendedores, de desenvolver um trabalho
junto aos clientes que eles atendiam na instituição de origem para alavancar uma carteira
inicial que lhes permitissem viabilidade econômica, pois, eles sabiam da dificuldade de se
constituir essa carteira inicial de clientes num segmento de mercado com forte concorrência.
Diante disso, pode-se concluir que alguns dos problemas enfrentados pelas empresas no início
de suas atividades foram provocados por fatores, tais como: o subdimensionamento da
estrutura físico-operacional, e o desconhecimento de aspectos inerentes ao ramo de atuação
que influenciaram na composição dos custos das empresas, como a forma de tributação.
Quanto ao objetivo específico: descrever o processo de desenvolvimento das empresas
pesquisas, foi possível concluir que, de acordo com a maioria das características relatadas
pelos entrevistados, as empresas se encontram na fase inicial do CVO, e que algumas dessas
características definem que elas estão no final desse estágio, pois todas estão direcionadas
157
para a manutenção do status quo lucrativo. Além do que, o estudo propiciou a identificação
das dificuldades enfrentadas por essas empresas ao longo desse processo.
O método de estudo de caso múltiplo mostrou-se adequado para o propósito deste
trabalho, em razão de que permitiu um estudo profundo e exaustivo das cinco empresas
selecionadas. Do mesmo modo, o instrumento de coleta e análise de dados comprovou sua
eficiência para o presente estudo. Importante também foi o critério para a escolha dos casos,
privilegiando cinco municípios distintos com portes diversos.
Há que se mencionar ainda, que o fato de se ter tomado como base de estudos um
grupo de empresas com elevada homogeneidade, tanto do ponto de vista do capital inicial,
quanto do setor e ramo de atuação; idade e porte das empresas; como também da experiência
anterior dos empresários, foi uma estratégia importante para o estudo, pois qualquer
dificuldade que estivesse relacionada com esses aspectos foi praticamente invalidada a partir
da seleção desses casos.
Todavia, resultados mais abrangentes podem ser obtidos por meio de estudos de caso
comparativos entre empresas ativas no mercado, como as que integraram este estudo, e outras
que não conseguiram sucesso e fecharam. Registra-se também, como perspectiva para
pesquisas futuras, a necessidade de se realizar estudos longitudinais para se conhecer melhor
o processo de desenvolvimento de pequenas empresas.
Finalmente, não há como supor se essas empresas atingirão um outro estágio de
crescimento, como preconizam os modelos de CVO, ou se permanecerão por muito tempo
nessa fase, mantendo-se apenas como sobreviventes no ambiente que atuam. Nessa
perspectiva, estudos longitudinais podem ainda explicar melhor o desenvolvimento de
pequenas empresas após o estágio inicial do ciclo de vida organizacional.
158
REFERÊNCIAS
ADIZES, I. Os ciclos de vida das organizações: como e por que as empresas crescem e
morrem e o que fazer a respeito. São Paulo: Ed. Pioneira, 1990.
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163
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista individual
1) Como surgiu a idéia de empreender o negócio próprio e de que maneira essa idéia foi sendo
concretizada?
2) Quais foram as dificuldades enfrentadas durante o processo de criação e implementação da
empresa, e de que forma elas foram ou estão sendo administradas?
3) Fale sobre a estrutura física (tamanho, infra-estrutura existente e localização) e operacional
(máquinas, equipamentos e instalações) da empresa ao longo de suas atividades.
4) Comente sobre como tem sido composto o quatro de recursos humanos da empresa até o
momento, mencionando o cargo e a qualificação de cada um.
5) Como tem sido o processo de contratação dessas pessoas?
6) Discorra sobre o sistema de recompensas que tem sido adotado pela empresa, em relação
aos seus colaboradores e ao seu proprietário dirigente.
7) Ao longo de suas atividades, a empresa enfrentou ou está enfrentando dificuldades quanto à
inadequação do seu quadro de pessoal (quantidade/qualificação) e/ou da sua estrutura física e
operacional? Se positivo, relatar essas dificuldades e explicar de que maneira elas foram ou
estão sendo resolvidas.
8) Quais têm sido as principais fontes de financiamento (passivo) e as principais aplicações
(ativo) da empresa até agora?
9) As linhas de crédito oferecidas pela rede bancária nacional têm atendido (ou atenderia)
plenamente às necessidades de financiamento da empresa quando necessário? Elas são de
fácil acesso? Explique.
10) Como tem sido o desempenho econômico e financeiro da empresa desde o início de suas
atividades?
11) Durante esse período de atuação, quais foram ou são as dificuldades econômico-
financeiras enfrentadas e de que maneira elas foram ou estão sendo geridas?
12) Comente sobre a estrutura organizacional e o nível de formalização existentes na empresa,
ou seja, fale sobre a filosofia, as diretrizes, as normas e regulamentos, as rotinas e
procedimentos, as formas de planejamento, de controle, de informação e de comunicação
existentes.
13) Em relação à estrutura organizacional e o nível de formalização da empresa, quais foram
as dificuldades enfrentadas até agora, e de que forma elas foram ou estão sendo
administradas?
14) Como tem sido o relacionamento empresa x empreendedor, e qual tem sido a influência
da família nesse relacionamento?
164
15) Qual ou quais têm sido as principais metas da administração desde a criação da empresa
até agora? Comente sobre cada uma.
16) Fale sobre as demandas da empresa em relação as suas funções essenciais (administrativa,
técnica, comercial, financeira, contábil e de segurança) no sentido de se alcançar essas metas,
e como você tem respondido a essas demandas ao longo do desenvolvimento da empresa.
17) Fale um pouco sobre as suas atitudes e o seu estilo de administração à frente da empresa.
18) Como tem sido o processo decisório na empresa?
19) Até hoje, quais foram as decisões mais importantes que você tomou e de que forma elas
foram ou estão sendo implementadas?
20) Quanto ao seu papel de empreendedor na empresa, quais foram ou têm sido as principais
dificuldades enfrentadas até agora, e de que maneira elas foram ou têm sido gerenciadas?
21) Fale sobre o setor/ramo e a área geográfica de atuação da empresa, seu mercado potencial
e a sua fatia de participação nesse mercado.
22) Na sua opinião, quais foram ou têm sido as principais dificuldades enfrentadas pela
empresa quanto ao seu mercado potencial, área geográfica e ramo de atuação? De que forma
elas foram ou têm sido geridas?
23) Quais são os produtos e/ou serviços oferecidos pela empresa, e de que maneira a venda
desses produtos e/ou serviços tem sido operacionalizada junto à sua clientela? Comente sobre
as principais dificuldades que a empresa enfrentou ou tem enfrentado nessa relação (produto x
venda), e de que forma elas foram ou têm sido conduzidas.
24) Fale sobre os fornecedores da empresa e explique como tem sido o relacionamento
comercial com eles.
25) Ao seu ver, quais foram os problemas mais importantes que a corretora enfrentou ou está
enfrentando nesse relacionamento (empresa x fornecedores), e de que forma eles foram ou
estão sendo administrados.
26) Fale sobre as características e o crescimento da carteira de clientes da empresa até o
momento, e comente como tem sido o relacionamento comercial com eles.
27) Em relação aos clientes, você poderia comentar sobre as dificuldades que a corretora
enfrentou ou tem enfrentado até agora, e explicar como elas foram ou têm sido geridas.
28) Fale sobre os concorrentes da empresa, e de que maneira essa concorrência tem sido
operacionalizada até agora.
29) No seu ponto de vista, quais foram os problemas mais importantes que a empresa
enfrentou ou está enfrentando em relação aos seus concorrentes, e de que forma eles foram ou
estão sendo administrados.
165
30) Como você vê a influência das políticas públicas de apoio técnico e financeiro e das leis
trabalhista, previdenciária, tributária e fiscal/regulatória ao longo do desenvolvimento da
empresa? Aponte as dificuldades enfrentas pela empresa até o momento.
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