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Ainda com respeito à construção do significado e sua recuperação,
Benjamin (2001:207) nos dá um suporte ao comparar a tradução a um vaso
quebrado, fragmentado em cacos, mas que pode ser recomposto por meio da (re)
criação do ato tradutório:
“Assim como os cacos de um vaso, para poderem ser recompostos, devem
seguir-se uns aos outros nos menores detalhes, mas sem se igualar, a
tradução deve, ao invés de procurar assemelhar-se ao sentido do original, ir
reconfigurando, em sua própria língua, amorosamente, chegando até os
mínimos detalhes, o modo de designar do original, fazendo assim com que
ambos sejam reconhecidos como fragmentos de uma língua maior, como
cacos são fragmentos de um vaso”. (BENJAMIN 2001:207)
Este conceito liga a estética tradutória dos irmãos Campos a Derrida
(1930 - 2004), filósofo francês, que reconheceu no poeta brasileiro Haroldo de
Campos, uma espécie de precursor da desconstrução:
"...no horizonte da literatura e, antes de mais nada, na intimidade da língua
das línguas, a cada vez, tantas línguas em toda língua, sei que Haroldo terá
tido acesso a ela como eu antes de mim, melhor que eu...ele me esperava,
no entanto, já, do outro lado, chegando antes de mim, o primeiro, na outra
margem." (DERRIDA apud LAGES 2002:90)
As palavras de Derrida permitem à estética tradutória dos irmãos Campos
ter em sua base, a idéia da transculturação por reconhecer nesta uma espécie de
passagem de uma cultura à outra, sem excluir os elementos inerentes a cada uma
delas.
Assim, Haroldo de Campos na "nota prévia" em "A Operação do Texto”
(1976), com respeito à tradução, nos faz concluir que só haverá a transcriação no
processo tradutório, enquanto existir a comunicação de tempos e espaços literários
diversos com o poema traduzido:
“Tradução como transcriação e transculturação, já que não é só o texto,
mas a série cultural se transtextualiza no imbricar-se subitâneo de tempos e
espaços literários diversos."
Sendo assim, ele evoca o conceito de "poesia sincrônica", cuja função
tem um caráter eminentemente crítico e retificador sobre as coisas julgadas da
poética histórica.