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ANAÍS NAOMI KASUYA SALDANHA
EVOLUÇÃO E DETERMINANTES DA MARGEM BRUTA EM
ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS FAMILIARES NO NORTE
DO PARANÁ, DE 1998 A 2003
Maringá
2005
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1
ANAÍS NAOMI KASUYA SALDANHA
EVOLUÇÃO E DETERMINANTES DA MARGEM BRUTA EM
ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS FAMILIARES NO NORTE
DO PARANÁ, DE 1998 A 2003
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Administração, da Universidade
Estadual de Maringá, em parceria com a
Univesidade Estadual de Londrina, como
requisito à obtenção do título de Mestre.
Orientadora: Profª Dra. Márcia Regina
Gabardo da Camara
Maringá
2005
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ANAÍS NAOMI KASUYA SALDANHA
EVOLUÇÃO E DETERMINANTES DA MARGEM BRUTA EM
ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS FAMILIARES NO NORTE
DO PARANÁ, DE 1998 A 2003
Dissertação apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Administração, da
Universidade Estadual de Maringá, em
parceria com a Universidade Estadual de
Londrina, como requisito à obtenção do título
de Mestre, sob avaliação da seguinte Banca
Avaliadora:
28 de fevereiro de 2005.
__________________________________________
Profª. Drª. Marcia Regina Gabardo Camara (PPA-UEL)
(Presidente)
__________________________________________
Dr. Tiago Pellini (IAPAR)
(membro)
_________________________________________
Prof. Dr. Rodne de Oliveira Lima (PPA-UEL)
(membro)
3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para que eu pudesse
executá-lo, especialmente ao Dr. Dimas Soares Júnior e ao Dr. Mauro Eduardo Del Grossi,
pesquisadores do IAPAR, que me deram a oportunidade de iniciar na carreira acadêmica, a
Professora Drª. Marcia Regina Gabardo da Camara e a todos os demais pesquisadores e
funcionários do Instituto Agronômico do Paraná e da Empresa Paranaense de Assistência
Técnica e Extensão Rural.
4
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Drª. Marcia Regina Gabardo da Camara, meus sinceros agradecimentos
pela dedicação ao me orientar, por todo apoio e compreensão durante todo o período de
realização deste árduo trabalho.
Aos pesquisadores da Área de Sócioeconomia do Instituto Agronômico do Paraná, Dr. Rafael
Fuentes Lanillo, Dr. Mauro Eduardo Del Grossi, Dr. Moacir Doretto, Dr. Antônio Carlos
Laurenti, Dr. Tiago Pelini, Dr. Fávio Oliveira, Cássia Lie Koga, Gilberto Geremias Gonçalves
e, em especial, ao Dr. Dimas Soares Júnior, agradeço toda a colaboração e aprendizado em
mais esta fase da minha formação acadêmica.
A todos da Área de Biometria do Instituto Agronômico do Paraná, Drª. Maria Elizabeth da
Costa Vasconcellos, Drª. Inês Ubukata Yada e Dr. José Carlos Gomes, por todo aprendizado e
colaboração na parte de análise estatística.
A todos da Área de Recursos Humanos do Instituto Agronômico do Paraná, em especial a
Cleonice Medeiros Contini.
A todos da Área de Agrometeorologia do Instituto Agronômico do Paraná, em especial ao Dr.
Edmirson Borozzino e ao Dr. Jonas Galdino, pelas orientações com relação às variações
climáticas.
À Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural, agradeço ao Dr. Adenir de
Carvalho, Dr. Maurílio Soares Gomes, Dr. Manuel Pessoa de Lira, Dr. Rafael Figueiredo e,
em especial, ao Dr. Sérgio Luiz Carneiro, sem os quais a realização deste trabalho não teria
sido possível.
Aos secretários do Mestrado, Bruhmer Cesar Farone Canonice (UEM) e Francisco Carlos
Navarro (UEL), agradeço por todo apoio recebido.
À minha família e aos meus amigos que, de alguma forma, partilharam da minha ausência,
para que eu pudesse realizar este trabalho. E especialmente ao Eduardo, por todo carinho,
incentivo, compreensão, dedicação e companheirismo em mais uma etapa de nossas vidas.
5
RESUMO
SALDANHA, Anaís Naomi Kasuya. Evolução e determinantes da margem bruta em
estabelecimentos agropecuários familiares no Norte do Paraná, de 1998 a 2003. 2005.
203 f. Dissertação (Mestrado em Administração)-Programa de Pós-Graduação em
Administração, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2005.
A pesquisa analisa a evolução da margem bruta por superfície agrícola útil, de
estabelecimentos agropecuários familiares, do Norte do Paraná, nos anos agrícolas de
1998/1999 a 2002/2003. Foram também analisados fatores determinantes desta evolução, tais
como: produtividade, extensão da superfície agrícola útil, custo variável por hectare, preços
recebidos pelos produtos e variações climáticas. Foram selecionados, de forma não-aleatória,
estabelecimentos agropecuários acompanhados pelo Projeto Redes de Referências para a
Agricultura Familiar, para obtenção das informações econômico-financeiras, utilizadas na
análise. A metodologia envolveu uma revisão da literatura sobre agricultura familiar e
análises descritivas e estatísticas dos dados. A pesquisa concluiu que os fatores que mais
influenciaram nos resultados da margem bruta foram a alta do preço da soja e do trigo, o que
permitiu uma evolução positiva na margem bruta dos estabelecimentos estudados, com
exceção do ano de 1999/2000, no qual, devido à ocorrência contínua de geadas no mês de
julho de 2000, foram verificados prejuízos significativos para os mesmos.
Palavras-Chave: Agricultura familiar. Margem bruta. Sistemas de produção agropecuários.
6
ABSTRACT
The research analyzes the evolution of the rude edge for useful agricultural surface, of
familiar farm holdings, in the North of Paraná State, in the agricultural years from 1998/1999
to 2002/2003. Also determinative factors of this evolution have been analyzed, such as:
productivity, useful agricultural surface extension, variable cost, prices received by the
products and climatic variations. Were selected, by not-random form, farm holdings followed
by the Project Familiar Agriculture References Nets, to attainment the economic-financiers
information, used in the analysis. The methodology involved a descriptive and statistical
revision of familiar agriculture literature and data analyses. The research concluded that the
factors that had more influenced in the rude edge results have been, the high price of soy and
wheat, what allowed a positive evolution in the rude edge of the studied holdings, with
exception of the year 1999/2000, in which, the continuous occurrence of frosts in July of the
year 2000, caused significant damages to the farm holdings.
Key -Words: Familiar agriculture. Rude edge. Farming production systems.
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Municípios integrantes da Meso-região Norte do Projeto Redes de Referências
para a Agricultura Familiar ................................................................................ 67
8
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 –Variáveis classificatórias do público prioritário para as ações do Programa Paraná
12 Meses............................................................................................................ 46
Quadro 2 – Quadro de Referência para Definição da Quantidade de Equivalente-homens (em
unidades) .......................................................................................................... 68
Quadro 3 – Relação de todas as Atividades Agropecuárias Desenvolvidas nos
Estabelecimentos da Amostra, em cada Ano Agrícola do Período de 1998/1999
a 2002/2003 ...................................................................................................... 72
Quadro 4 – Índice Geral de Preço IGP-DI, do período de Julho/1999 – Julho/2003 ........... 78
Quadro 5 – Ordem das Atividades Desenvolvidas para Tratamento dos
Dados da Pesquisa .............................................................................................. 79
Quadro 6 – Objetivos Específicos, Metodologias, Autores e Resultados Esperados ........... 80
Quadro 7 – Categoria de Estabelecimentos Agropecuários Familiares Identificados na
Amostra, segundo Critérios Definidos pelo Programa Paraná 12 Meses e
Adotados pelo Projeto Redes.............................................................................. 83
Quadro 8 – Relação de todas as Atividades Agropecuárias Desenvolvidas nos
Estabelecimentos da Amostra Classificados como Sistema Produtivo de Soja,
Milho e Trigo ................................................................................................... 114
Quadro 9 – Coeficientes de Correlação Estatística entre a Margem Bruta e os Elementos que
Possivelmente Tiveram Influência sobre o Comportamento deste Indicador
Econômico........................................................................................................ 146
Quadro 10 – Objetivos Específicos, Resultados Esperados e Resultados Obtidos............. 147
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Brasil, estabelecimentos, área, valor bruto da produção e percentual do
financiamento total ........................................................................................... 35
Tabela 2 – Agricultores Familiares, estabelecimentos, área e VBP, segundo as regiões...... 36
Tabela 3 – Agricultura Familiar: Percentual do VBP em relação ao VBP Total do Produto
(em %) ............................................................................................................... 37
Tabela 4 – Evolução da Quantidade de Equivalente – Homens Disponíveis nos
Estabelecimentos Agropecuários Amostrados, no Período de 1998/1999 a
2002/2003 (em unidade).................................................................................... 69
Tabela 5 – Margem Bruta Total dos estabelecimentos agropecuários amostrados, em
reais(R$) ............................................................................................................ 85
Tabela 6 – Renda Bruta Total dos estabelecimentos agropecuários amostrados,
em reais (R$) ...................................................................................................... 88
Tabela 7 – Custo Variável Total dos estabelecimentos agropecuários amostrados, em reais
(R$).................................................................................................................... 88
Tabela 8 – Margem Bruta Total da Categoria Empresário Familiar (EF), em reais (R$)..... 91
Tabela 9 – Renda Bruta Total da Categoria Empresário Familiar (EF), em reais (R$) ........ 92
Tabela 10 – Custo Variável Total da Categoria Empresário Familiar (EF), em reais (R$) .. 93
Tabela 11 – Margem Bruta Total da Categoria de Produtor Simples de Mercadoria / Nível 3,
em reais (R$) ..................................................................................................... 95
Tabela 12 – Renda Bruta Total da Categoria de Produtor Simples de Mercadoria / Nível 3,
em reais (R$) ..................................................................................................... 96
Tabela 13 – Custo Variável Total da Categoria de Produtor Simples de Mercadoria / Nível 3,
em reais (R$) ..................................................................................................... 96
Tabela 14 – Média Qüinqüenal da Margem Bruta, da Renda Bruta, do Custo Variável e da
Superfície Agrícola Útil da Categoria de Empresário Familiar,
em reais (R$)..................................................................................................... 98
Tabela 15 – Média Qüinqüenal da Margem Bruta, da Renda Bruta, do Custo Variável e da
Superfície Agrícola Útil da Categoria de Produtor Simples de Mercadoria/Nível
3, em reais (R$) ................................................................................................. 98
10
Tabela 16 – Resultados do teste estatístico t para grupos não pareados, entre as categorias de
empresário familiar (EF) e produtor simples de mercadoria/nível 3 (PSM3), para
as variáveis margem bruta, renda bruta, custo variável e
superfície agrícola útil ...................................................................................... 99
Tabela 17 – Média Qüinqüenal da Margem Bruta/SAU, da Renda Bruta/SAU e do Custo
Variável/SAU da Categoria de Empresário Familiar, em reais (R$) .............. 100
Tabela 18 – Média Qüinqüenal da Margem Bruta/SAU, da Renda Bruta/SAU e do Custo
Variável/SAU da Categoria de Produtor Simples de Mercadoria/nível 3,
em reais (R$)................................................................................................... 100
Tabela 19 – Resultados do teste estatístico t para grupos não pareados, entre as categorias de
empresário familiar (EF) e produtor simples de mercadoria/nível 3 (PSM3), para
as variáveis margem bruta/sau, renda bruta/sau e custo variável/sau.............. 100
Tabela 20 – Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e
Avicultura, em reais por hectare (R$/ha) ....................................................... 103
Tabela 21 – Renda Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Avicultura,
em reais por hectare (R$/ha) ........................................................................... 103
Tabela 22 – Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Avicultura,
em reais por hectare (R$/ha )........................................................................... 104
Tabela 23 – Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Bovino
Leiteiro, em reais por hectare (R$/ha) ............................................................ 105
Tabela 24 – Renda Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Bovino
Leiteiro, em reais por hectare (R$/ha) ............................................................ 106
Tabela 25 – Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Bovino
Leiteiro, em reais por hectare (R$/ha) ............................................................ 106
Tabela 26 – Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e
Fruticultura, em reais por hectare (R$/ha) ...................................................... 108
Tabela 27 – Renda Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Fruticultura,
em reais por hectare (R$/ha) ........................................................................... 108
Tabela 28 – Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e
Fruticultura, em reais por hectare (R$/ha) ...................................................... 109
Tabela 29 – Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Café, em
reais por hectare (R$/ha) ................................................................................ 110
Tabela 30 – Renda Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Café, em
reais por hectare (R$/ha) ................................................................................ 111
11
Tabela 31 – Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Café, em
reais por hectare (R$/ha) ................................................................................ 111
Tabela 32 – Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais
por hectare (R$/ha) ......................................................................................... 115
Tabela 33 – Renda Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais por
hectare (R$/ha) ............................................................................................... 116
Tabela 34 – Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais
por hectare (R$/ha) ......................................................................................... 116
Tabela 35 – Margem Bruta/SAU da Soja do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em
reais por hectare (R$/ha) ................................................................................ 118
Tabela 36 – Margem Bruta/SAU do Milho do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo,
em reais por hectare (R$/ha) ........................................................................... 119
Tabela 37 – Margem Bruta/SAU do Trigo do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo,
em reais por hectare (R$/ha) ........................................................................... 120
Tabela 38 – Produtividade da soja dos estabelecimentos agropecuários produtores de Soja,
Milho e Trigo, em (Kg/ha) .............................................................................. 124
Tabela 39 – Produtividade média do milho dos estabelecimentos agropecuários produtores de
Soja, Milho e Trigo, em (Kg/ha) ..................................................................... 125
Tabela 40 – Produtividade do trigo dos estabelecimentos agropecuários produtores de Soja,
Milho e Trigo, em (Kg/ha) .............................................................................. 126
Tabela 41 – Evolução da superfície agrícola útil (S.A.U.) dos estabelecimentos agropecuários
produtores de Soja, Milho e Trigo, em hectares (ha) ..................................... 128
Tabela 42 – Custo Variável/SAU da Soja dos estabelecimentos agropecuários produtores de
Soja, Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha).......................................... 131
Tabela 43 – Custo Variável/SAU do Milho dos estabelecimentos agropecuários produtores de
Soja, Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha).......................................... 131
Tabela 44 – Custo Variável/SAU do Trigo dos estabelecimentos agropecuários produtores de
Soja, Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha).......................................... 132
Tabela 45 – Preços Médios Recebido pela Saca de 60 Kg das Culturas de Soja, Milho e
Trigo, nos anos agrícolas do período de 1998/1999 a 2002/2003, em reais (R$)
......................................................................................................................... 135
Tabela 46 – Renda Bruta/SAU da Soja dos estabelecimentos agropecuários produtores de
Soja, Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha).......................................... 137
12
Tabela 47 – Renda Bruta/SAU de Milho dos estabelecimentos agropecuários produtores de
Soja, Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha).......................................... 138
Tabela 48 – Renda Bruta/SAU do Trigo dos estabelecimentos agropecuários produtores de
Soja, Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha).......................................... 138
Tabela 49 – Ocorrência de Geadas no ano de 1999, temperatura da relva em graus Celsius e
intensidade da geada, segundo classificação agrometeorológica.................... 141
Tabela 50 – Ocorrência de Geadas no ano de 2000, temperatura da relva em graus Celsius e
intensidade da geada, segundo classificação agrometeorológica.................... 142
Tabela 51 – Ocorrência de Geadas no ano de 2001, temperatura da relva em graus Celsius e
intensidade da geada, segundo classificação agrometeorológica.................... 143
Tabela 52 – Ocorrência de Geadas no ano de 2002, temperatura da relva em graus Celsius e
intensidade da geada, segundo classificação agrometeorológica.................... 144
13
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Evolução da Quantidade de Equivalente – Homens Disponíveis nos
Estabelecimentos Agropecuários Amostrados, no Período de 1998/1999 a
2002/2003 (em unidade).................................................................................... 69
Gráfico 2 – Margem Bruta Média de todos os estabelecimentos agropecuários amostrados,
em reais (R$) ..................................................................................................... 87
Gráfico 3 – Renda Bruta Média e Custo Variável Médio dos estabelecimentos agropecuários
amostrados, em reais (R$) ................................................................................. 89
Gráfico 4 – Margem Bruta Total da Categoria Empresário Familiar (EF), em reais (R$)... 92
Gráfico 5 – Renda Bruta Média e Custo Variável Médio da Categoria de Empresário
Familiar, em reais (R$)...................................................................................... 93
Gráfico 6 – Margem Bruta Média da Categoria de Produtores Simples de Mercadorias / Nível
3, em reais (R$) ................................................................................................. 95
Gráfico 7 – Renda Bruta Média e Custo Variável Médio da Categoria de Produtores Simples
de Mercadorias / Nível 3, em reais (R$)............................................................ 97
Gráfico 8 – Margem Bruta/SAU do Produtor de Soja, Milho, Trigo e Avicultura, em reais por
hectare (R$/ha) ................................................................................................ 103
Gráfico 9 – Média da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU do Produtor de Soja,
Milho, Trigo e Avicultura, em reais por hectare (R$/ha)................................ 104
Gráfico 10 – Margem Bruta/SAU do Produtor de Soja, Milho, Trigo e Bovino Leiteiro, em
reais por hectare (R$/ha) ................................................................................. 106
Gráfico 11 – Média da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU do Produtor de Soja,
Milho, Trigo e Bovino Leiteiro, em reais por hectare (R$/ha)........................ 107
Gráfico 12 – Média da Margem Bruta/SAU dos Produtores de Soja, Milho, Trigo e
Fruticultura, em reais por hectare (R$/ha)....................................................... 108
Gráfico 13 – Média da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU dos Produtores de Soja,
Milho, Trigo e Fruticultura, em reais por hectare (R$/ha) .............................. 109
Gráfico 14 – Média da Margem Bruta/SAU dos Produtores de Soja, Milho, Trigo e Café,
em reais por hectare (R$/ha)............................................................................ 111
Gráfico 15 – Média da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU dos Produtores de Soja,
Milho, Trigo e Café, em reais por hectare (R$/ha).......................................... 112
Gráfico 16 – Média da Margem Bruta/SAU dos Produtores de Soja, Milho e Trigo, em reais
por hectare (R$/ha).......................................................................................... 115
14
Gráfico 17 – Média da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU dos Produtores de Soja,
Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha) ................................................... 117
Gráfico 18 – Média da Margem Bruta da Soja, do Milho e do Trigo, dos estabelecimentos
agropecuários produtores de Soja, Milho e Trigo, em reais por
hectare (R$/ha)................................................................................................ 121
Gráfico 19 – Produtividade da soja, do milho e do trigo dos estabelecimentos agropecuários
que tem essas culturas como principal atividade, em (Kg/ha) ........................ 126
Gráfico 20 – Evolução média da superfície agrícola útil (S.A.U.) dos estabelecimentos
agropecuários produtores de Soja, Milho e Trigo, em hectares (ha).............. 129
Gráfico 21 – Média do Custo Variável/SAU da Soja, do Milho e do Trigo, dos
estabelecimentos agropecuários produtores de Soja, Milho e Trigo, em reais por
hectare (R$/ha) ................................................................................................ 133
Gráfico 22 – Média dos Preços da Saca de 60 Kg de Soja, Milho e Trigo no período de 1998
a 2003 .............................................................................................................. 136
Gráfico 23 – Média da Renda Bruta/SAU de Soja, Milho e Trigo dos estabelecimentos
agropecuários produtores de Soja, Milho e Trigo,
em reais por hectare (R$/ha)........................................................................... 139
Gráfico 24 – Ocorrência de Geadas no ano de 1999, temperatura da relva em
graus Celsius................................................................................................... 141
Gráfico 25 – Ocorrência de Geadas no ano de 2000, temperatura da relva em
graus Celsius................................................................................................... 142
Gráfico 26 – Ocorrência de Geadas no ano de 2001, temperatura da relva em
graus Celsius................................................................................................... 143
Gráfico 27 – Ocorrência de Geadas no ano de 2002, temperatura da relva em
graus Celsius................................................................................................... 144
15
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 18
1.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ......................................................................... 20
1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................... 25
1.3 PROBLEMA E DELIMITAÇÃO DO ESTUDO............................................................ 25
1.4 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO ...................................................... 27
1.5 OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................................................ 29
1.5.1 Objetivo Geral ............................................................................................................ 29
1.5.2 Objetivos Específicos .................................................................................................. 29
1.5.3 Questão da Pesquisa .................................................................................................. 30
2 AGRICULTURA FAMILIAR: UMA REVISÃO DA LITERATURA....................... 31
2.1 UMA INTRODUÇÃO À AGRICULTURA FAMILIAR............................................... 31
2.2 AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL .................................................................. 35
2.2.1 Participação da Agricultura Familiar no Valor Bruto da
produção agropecuária .............................................................................................. 36
2.3 POLÍTICAS FEDERAIS DE APOIO À AGRICULTURA FAMILIAR ....................... 38
2.3.1 Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar ............................................ 40
2.4 AGRICULTURA FAMILIAR NO ESTADO DO PARANÁ E POLÍTICAS
ESTADUAIS DE APOIO À AGRICULTURA FAMILIAR.......................................... 42
2.4.1 Programa Paraná 12 Meses....................................................................................... 44
2.4.2 Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar ................................... 50
2.5 GESTÃO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS FAMILIARES.............. 56
3 METODOLOGIA............................................................................................................. 62
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA .............................................................................. 62
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ......................................................................................... 65
16
3.2.1 Caracterização regional dos estabelecimentos agropecuários amostrados .......... 66
3.2.2 Quantidades de equivalente-homens disponíveis nos
estabelecimentos agropecuários amostrados .......................................................... 68
3.2.3 Atividades agrícolas componentes dos sistemas produtivos amostrados .............. 70
3.3 MÉTODOS UTILIZADOS NA ANÁLISE DO DESEMPENHO
DOS EMPREENDIMENTOS AGROPECUÁRIOS AMOSTRADOS .......................... 73
3.3.1 Cálculo da Renda Bruta............................................................................................. 73
3.3.2 Cálculo do Custo Variável ......................................................................................... 74
3.3.3 Cálculo da Margem Bruta ......................................................................................... 74
3.3.4 Cálculo da Média Aritmética .................................................................................... 75
3.3.5 Deflação dos Valores Nominais ................................................................................. 75
3.3.6 Análise estatística de correlação com aplicação do teste t ...................................... 78
4 DESEMPENHO DOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS FAMILIARES
SELECIONADOS: ANÁLISE DOS RESULTADOS................................................. 81
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA DA MARGEM BRUTA DOS ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS AMOSTRADOS............................................................................84
4.1.1 Margem Bruta, Renda Bruta e Custo Variável de todos os estabelecimentos
agropecuários componentes da amostra................................................................. 84
4.1.2 Margem Bruta, Renda Bruta e Custo Variável dos estabelecimentos agropecuários
amostrados, segundo a categoria de empresário familiar e produtor simples de
mercadoria/nível 3...................................................................................................... 90
4.1.2.1 Margem Bruta, Renda Bruta e Custo Variável dos estabelecimentos agropecuários da
categoria de empresário familiar............................................................................... 90
4.1.2.2 Margem Bruta, Renda Bruta e Custo Variável dos estabelecimentos agropecuários da
categoria de produtor simples de Mercadoria/Nível 3 .............................................. 94
4.1.3 Margem Bruta/SAU, Renda Bruta/SAU e Custo Variável/SAU dos
estabelecimentos agropecuários amostrados, segundo o sistema de produção
............................................................................................................................. 101
4.1.3.1 Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Avicultura ....................................... 102
4.1.3.2 Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Bovino Leiteiro............................... 105
4.1.3.3 Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Fruticultura ..................................... 107
17
4.1.3.4 Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Café................................................. 110
4.1.3.5 Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo .......................................................... 112
4.2 ANÁLISE DESCRITIVA DOS ELEMENTOS QUE POSSIVELMENTE
INFLUENCIARAM NO COMPORTAMENTO DA MARGEM BRUTA ........... 122
4.2.1 Produtividade............................................................................................................ 123
4.2.2 Superfície Agrícola Útil............................................................................................ 127
4.2.3 Custo Variável de Produção.................................................................................... 130
4.2.4 Preços Recebidos pelos Produtos ............................................................................ 134
4.2.5 Variações Climáticas................................................................................................ 139
4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA DE CORRELAÇÃO ENTRE OS ELEMENTOS QUE
POSSIVELMENTE INFLUENCIARAM NO COMPORTAMENTO DA MARGEM
BRUTA ...................................................................................................................... 144
5 CONCLUSÕES .............................................................................................................. 149
5.1 QUANTO AOS OBJETIVOS....................................................................................... 149
5.2 QUANTO À METODOLOGIA ................................................................................... 152
5.3 QUANTO ÀS LIMITAÇÕES DA PESQUISA ............................................................ 153
5.4 QUANTO ÀS CONTRIBUIÇÕES E SUGESTÕES PARA
PESQUISAS FUTURAS...................................................................................................... 154
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 155
APÊNDICE ........................................................................................................................ 162
ANEXO ............................................................................................................................... 183
18
1 INTRODUÇÃO
Apesar da oferta de modernas técnicas de criações e cultivos, de dados agrometeorológicos
mais confiáveis, de máquinas e equipamentos de alta precisão e da disponibilidade de
programas de crédito rural, a permanência das baixas rendas e do atraso tecnológico dos
agricultores familiares rurais demonstra a necessidade de aproximar esses agricultores de
todos esses novos instrumentos e informações. Para que isso seja possível, é necessário,
primeiramente, adequar a concepção e implementação de projetos voltados a este público,
buscando diminuir a distância entre propostas escritas e a realidade deste grupo. Esta nova
aproximação não pode estar baseada apenas em aspectos técnicos ou ambientais, mas é
importante que se levem em conta também os processos sociais.
As bases para a modernização da agricultura brasileira foram lançadas na década de 1950,
quando se instalaram no país várias indústrias produtoras de insumos, tratores e máquinas.
Para incentivar o uso dessas tecnologias, o Governo montou um sistema de crédito rural
subsidiado.
1
Em seguida, na década de 70, teve início o período caracterizado como
“Revolução Verde
2
”, que disseminou a utilização dos adubos químicos, das sementes
melhoradas geneticamente e de outras técnicas desenvolvidas na época.
Todas essas tecnologias foram difundidas, sem levar em consideração as diferenças de clima,
solo, topografia, presentes nas várias regiões do país. Além desses fatores, foram
negligenciadas as realidades sociais, econômicas e culturais, necessárias para uma efetiva
1
Ver Del Grossi e Graziano da Silva (2002).
2
A idéia básica da “Revolução Verde” era selecionar as tecnologias modernas disponíveis, mobilizando, em
particular, os conhecimentos acerca do melhoramento genético das espécies cultivadas, dos fertilizantes
químicos e dos agrotóxicos. Os centros de pesquisas selecionavam essas tecnologias. Em seguida,
disponibilizavam-nas para os centros nacionais de extensão que, posteriormente, difundiam-nas para os centros
regionais que, finalmente, repassavam-nas para os agricultores.
19
adoção e a boa utilização dessas tecnologias, contribuindo para o desenvolvimento
econômico. Com o passar dos anos, pode-se constatar que essas mudanças apenas
aumentaram a diferenciação social já existente no campo, além de agravar os problemas
sociais na cidade, causados pelo êxodo rural.
As principais categorias de agricultores que sofreram essas conseqüências foram aquelas
pertencentes à agricultura familiar. Neste setor, o trabalho é realizado pelo conjunto dos
membros da família, cujas decisões, sobre o que e como produzir dependem não só dos
fatores preço e lucro - associados à lógica de mercado - mas também da lógica voltada ao
atendimento de diversas necessidades da família, nem sempre vinculadas à renda monetária
do estabelecimento agropecuário
3
.
Neste contexto, encontra-se o tema da presente pesquisa - estabelecimentos agropecuários
4
familiares. Optou-se pela definição de estabelecimento agropecuário, pois a amostra em
estudo não é formada apenas por agricultores proprietários de terra, mas estes também
arrendam terras em determinados períodos.
A partir de uma breve retrospectiva da trajetória da agricultura familiar no país, esta pesquisa
apresenta sua evolução desde a agricultura de subsistência, onde a agricultura familiar era
considerada sinônimo de atraso e ineficiência, até a atualidade, onde esta é responsável por
uma parcela significativa da produção de alimentos e geração de emprego e renda no meio
rural. Assim, a agricultura familiar tem demonstrado cada vez mais sua importância e tem
sido foco de muitos estudos, pois pode contribuir significativamente para a solução de
problemas sociais, como será visto no capítulo seguinte.
3
As características, conceitos e necessidades do segmento da agricultura familiar serão aprofundados na Seção 2
– Agricultura Familiar: Uma Revisão de Literatura.
4
Estabelecimento Agropecuário, todo terreno de área contínua, independente do tamanho ou situação (urbana ou
rural), formado por uma ou mais parcelas, subordinado a um único produtor, onde se processa uma exploração
agropecuária. Excluem-se da investigação os quintais de residências e hortas domésticas. (IBGE – Censo
Agropecuário).
20
1.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Esta caracterização procura delinear o universo da agricultura familiar - no qual este trabalho
insere-se - e ao longo da dissertação será realizada uma análise da Margem Bruta e de alguns
dos fatores que influenciaram este indicador selecionado de resultados financeiros. Os dados
utilizados nas análises são de estabelecimentos agropecuários familiares, localizados na região
norte do Estado do Paraná, nos anos agrícolas do período de 1998/1999 a 2002/2003. Esses
estabelecimentos agropecuários foram acompanhados por extensionistas e pesquisadores do
Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar desenvolvido em parceria entre o
Instituto Agronômico do Paraná e a Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão
Rural. Uma das principais características do projeto é o trabalho conjunto entre agricultor,
pesquisa e extensão, buscando, dessa forma, desenvolver este segmento da agricultura,
respeitando suas características e dando suporte para o seu desenvolvimento, buscando
alternativas para que estes agricultores incrementem suas rendas e obtenham melhores
condições para continuarem no meio rural.
No Brasil, o debate sobre a agricultura familiar ainda é recente, quando comparado aos países
europeus, e ainda não possui contornos bem definidos. Os estudos de Abramovay (1992)
merecem destaque por terem revelado que a agricultura familiar é uma forma reconhecida e
legitimada na maioria dos países desenvolvidos, nos quais a estrutura agrária é
majoritariamente composta por explorações nas quais o trabalho da família assume uma
importância decisiva. Tal “descoberta” difundiu entre os estudiosos brasileiros a noção de
agricultura familiar e operou um deslocamento teórico e analítico na sociologia dos estudos
rurais e agrários, cujas preocupações, até então, giravam em torno da discussão do caráter
capitalista, tradicional ou moderno, das relações sociais predominantes na agricultura.
21
Para entender como funciona a lógica dos agricultores familiares é importante ter uma noção
básica das características deste segmento, pois o mesmo possui uma certa complexidade na
organização de seu sistema produtivo. Segundo Carmo (1998), a definição precisa do objeto a
ser estudado é fundamental para a compreensão da dinâmica envolvida. Neste sentido, muitas
pesquisas têm procurado avançar nessa questão, abrangendo aspectos conceituais que possam
ser remetidos a diversos contextos internacionais. A análise do funcionamento da exploração
familiar vem no sentido de apreender sua lógica produtiva, enquanto um equilíbrio da família
e de seus aspectos econômicos. Para uma conceituação geral, Lamarche (1993, p.15) explicita
que: "a exploração familiar, tal como a concebemos, corresponde a uma unidade de produção
agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à família.”
O conceito de agricultura familiar utilizado neste trabalho, especificamente, segundo Mussoi
(2002), é definido como:
Uma forma de vida, que tem (seus atores sociais) um saber/conhecimento
construído histórica e coletivamente; que tem uma lógica própria de decisão; tendo
uma relação harmônica com o meio ambiente (ou pelo menos, muito mais
harmônica que a agricultura empresarial-capitalista convencional); usando de forma
articulada e eficiente o trabalho familiar; baseando-se num processo de
diversificação produtiva que garanta a produção para o abastecimento próprio e a
necessária integração com o mercado local/regional, garantindo também níveis
adequados de biodiversidade (produtiva, medicinal, artesanal e de reserva
biológica); sendo capaz de processar muitos dos produtos por ela produzidos e
reciclar dejetos para sua re-utilização. Este tipo de agricultura é, a nível externo,
capaz de se articular no seu conjunto, possibilitando a resolução organizada/coletiva
de seus problemas, uso de potencialidades e instrumentos de produção (MUSSOI,
2002, p. 06).
Estas características lhes proporcionam mecanismos próprios de resistência ao processo de
modernização convencional, o que torna o trabalho da pesquisa e extensão rural voltados para
este segmento um tanto quanto complexo, pois, como dito anteriormente, estes trabalhos
devem respeitar e condizer com a lógica e realidade desses agricultores.
Porém, apesar do processo de modernização da agricultura ocorrido durante as décadas de
1970 e 1980, e em grande parte promovido por diversas políticas governamentais, como:
crédito subsidiado, preços mínimos de garantia, pesquisa e extensão rural, o enfoque de
22
pesquisa que orientou esse processo de modernização da agricultura no Brasil baseava-se no
controle de todos os fatores, exceto um ou alguns que se desejava estudar. Isto significava
pesquisar, em estação experimental ou laboratórios, apenas uma parte do sistema de produção,
considerando fatores de caráter técnico e desprezando-se as questões sócioeconômicas
(VICENTE, 1998).
Dessa forma, quando concluída a pesquisa de uma nova tecnologia, gerada como peça
isolada, esta era oferecida aos agricultores para ser incluída em seus sistemas e, muitas vezes,
não eram aplicáveis à sua realidade. Portanto, é imprescindível levar em conta que, embora
esses agricultores possam, em um primeiro momento, depender do apoio de políticas públicas,
é necessário que caminhem em direção a explorações eficientes, com o emprego de
tecnologias adequadas.
É fundamental analisar e compreender de que maneira são utilizados os recursos naturais, os
meios técnicos e a mão de obra disponível. Isto impõe, necessariamente, o conhecimento das
condições locais de produção ou, como salienta Abramovay (1985), busca-se não somente o
aumento da produção e o rendimento dos produtores, mas, principalmente, o sistema de
produção que melhor se adapta ás condições ecológicas e sócioeconômicas.
Segundo Hayami e Ruttan (1988, p. 05), “para obter sucesso e alcançar o crescimento rápido
na produtividade agrícola, é necessária uma capacidade de gerar tecnologias agrícolas
adaptadas ecológica e economicamente a cada país ou região.” Mas isso não aconteceu em
países como o Brasil, pois segundo Meyer e Braga (1998), o processo de modernização da
agricultura nos países em desenvolvimento sofreu forte influência da disponibilidade do
“pacote” tecnológico desenvolvido no âmbito da “Revolução Verde”, o qual não guardava
relação necessária com a disponibilidade relativa de fatores, nem com as condições
ambientais encontradas nesses países, tais como o Brasil.
23
Por outro lado, o modelo de inovação induzida também pressupunha que o funcionamento das
forças de mercado fosse livre de distorções. No entanto, a política de modernização da
agricultura brasileira, foi marcada pela forte ação do Estado, que interferiu nos mercados de
produtos e fatores, com o objetivo de favorecer a industrialização (MEYER e BRAGA, 1998).
Desta forma, ainda hoje, a grande maioria de produtores necessita de recursos de terceiros
para operar suas unidades produtivas de maneira mais eficaz, rentável e sustentável. Assim, a
ausência destes recursos, talvez devido à insuficiência da oferta de crédito, impõe sérias
restrições ao funcionamento da agricultura familiar mais moderna e, principalmente, à sua
capacidade de manter-se competitiva em um mercado cada vez mais exigente. Esta carência
de recursos também afeta um grande número de produtores que exploram sistemas
potencialmente viáveis, mas que não conseguem alcançar, a partir da renda gerada pela
unidade produtiva, o patamar mínimo de capitalização necessário para viabilizar suas
unidades de produção.
Na tentativa de solucionar os problemas encontrados na adoção dos pacotes tecnológicos da
Revolução Verde, surgiu o conceito de pesquisa e desenvolvimento na investigação
agropecuária, o qual propõe a substituição do esquema linear de geração e transferência de
tecnologia, por uma relação triangular e recíproca entre pesquisadores, extensionistas e
agricultores.
O objetivo principal do conceito de pesquisa e desenvolvimento é aumentar o bem estar das
famílias rurais de baixa renda, através da adoção de tecnologias apropriadas aos seus níveis de
recursos e circunstâncias socioeconômicas. Isso é buscado pela mudança de ênfase das
pesquisas realizadas nas estações experimentais para ensaios conduzidos nas propriedades,
com a participação dos agricultores, pois o desenvolvimento de tecnologias apropriadas é
24
embasado no entendimento do contexto dos sistemas produtivos, das oportunidades, dos
problemas e dos objetivos (SCHMITZ, 2001).
Complementarmente, Guanziroli et al (2001) acreditam que as dificuldades enfrentadas pelos
agricultores familiares devem-se muito mais a fatores externos, notadamente um contexto
institucional historicamente desfavorável, do que às desvantagens estruturais em geral
associadas á extensão do lote de terra. Isto pode ser comprovado, através de pesquisas feitas
recentemente, as quais mostram que a agricultura familiar gera mais ocupações do que a
agricultura patronal e utiliza os recursos escassos - terra, trabalho e capital - de forma mais
eficiente. Os autores acrescentam que os agricultores familiares têm vantagens na gestão da
força de trabalho, particularmente relevantes em processos de produção intensivos em
trabalho e que exigem tratos culturais delicados e cuidadosos.
Considerando as diferenças entre o modelo patronal e o modelo familiar, pode-se superar a
insuficiência e a limitação das interpretações sobre a dinâmica familiar de produção,
introduzindo a noção de racionalidade limitada do agricultor, enquanto modelo econômico.
Carmo (1998) afirma que este não chega à otimização da sua função utilidade, dado que não
tem a informação perfeita, mas tem uma grande capacidade adaptativa entre o ótimo e o
satisfatório possível, estabelecendo, assim, o equilíbrio entre seus projetos e objetivos, os
meios para atingi-los e os resultados que quer obter.
Guanziroli et al (2001) também analisam que, independente da potencialidade dos sistemas
adotados e do fato de disporem de um conjunto relevante de recursos necessários para operar
uma unidade viável, a insuficiência de apenas um insumo-chave, como é o caso do capital
financeiro, empurra a massa de produtores para um círculo vicioso cujo resultado é quase
sempre a reprodução do ciclo da pobreza e uma renda insuficiente, dado o baixo nível de
capitalização, incapacidade de acumulação, o que, conseqüentemente, os leva ao
25
empobrecimento. Dessa forma, segundo os autores, bastaria facilitar o acesso dos agricultores
familiares ao recurso marginal escasso para viabilizar a exploração sustentável de muitos
sistemas de produção em todas as regiões do país e elevar o nível de renda de, pelo menos,
uma parcela de famílias pobres que vivem no meio rural e tem na exploração da terra sua
principal fonte de sobrevivência.
1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho está estruturado em cinco seções. Na Seção 1, além desta introdução, na qual
buscou-se caracterizar a pesquisa, apresentando os principais conceitos necessários para a
compreensão do trabalho, serão definidos, a seguir: o problema a ser analisado, a justificativa
e relevância do estudo e os objetivos a serem atingidos.
Na Seção 2, é feita uma revisão de literatura acerca da agricultura familiar em todos os seus
aspectos e também serão apresentadas algumas peculiaridades da gestão de propriedades
familiares rurais.
Na Seção 3, é apresentada a metodologia utilizada para a realização de todo o trabalho. Na
Seção 4 são apresentadas as análises e as discussões dos resultados, e na Seção 5 apresentam-
se as conclusões e as recomendações para novas pesquisas.
1.3 PROBLEMA E DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Como visto anteriormente, as políticas públicas brasileiras sempre deram prioridade ao
processo de modernização conservadora da agricultura. Estas políticas tiveram como foco as
grandes e médias propriedades capitalistas, o que causou um agravamento na chamada
26
questão agrária. Ou seja, como resultado houve uma crescente marginalização dos
agricultores familiares, reproduzindo um padrão de desenvolvimento rural bastante desigual.
Os problemas sociais do campo aumentaram, pelo aprofundamento das desigualdades sociais
e no aumento da pobreza nas áreas rurais, trazendo problemas também para os centros
urbanos, pelo êxodo rural.
O êxodo rural provocado pelo modelo adotado, também o inchaço das cidades agravaram o
desemprego e a violência urbana, além da elevação dos preços dos alimentos, dada a
prioridade às culturas de exportação. A modernização agrícola acabou aumentando a
concentração da renda e da propriedade da terra.
Uma das formas de melhorar a atual situação dos agricultores familiares é a adoção de
tecnologias apropriadas às suas condições, partindo de inovações elementares, cuja introdução
depende apenas de conhecimentos (e não de recursos), o que proporcionaria rendimentos
agrícolas superiores aos encontrados na atualidade, sendo que um eficiente serviço de extensão é
um dos passos importante na solução desses problemas.
O nível de capitalização e de renda agrícola per capita são os principais elementos que
permitem distinguir os produtores, e se a renda agropecuária for superior à que poderia ser
obtida fora da propriedade, o agricultor persistirá na atividade agropecuária.
É importante salientar que, apesar deste trabalho reconhecer a importância, não explora os
novos contornos da agricultura familiar, através dos conceitos de pluriatividade e das novas
ocupações rurais não agrícolas. Essa análise não foi realizada, pois o objetivo deste trabalho é
estudar os elementos que influenciaram no comportamento da Margem Bruta obtida através
das atividades agropecuárias, dos estabelecimentos familiares amostrados, apesar da
consciência de que a renda dessas famílias rurais não é mais exclusivamente composta por
atividades agropecuárias.
27
Assim, o problema que este estudo se preocupa em analisar é a evolução da margem bruta e a
análise de alguns dos elementos que influenciaram neste comportamento. A margem bruta é
obtida via o cálculo da renda bruta menos o custo variável, de uma amostra de
estabelecimentos agropecuários familiares, acompanhados pelo Projeto das Redes de
Referências para a Agricultura Familiar, no período de 1998 a 2003.
1.4 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO
O debate sobre a agricultura familiar vem crescendo em vários espaços, nos órgãos públicos,
no meio acadêmico e nos movimentos do campo. Porém, é fundamental que a agricultura
familiar seja reconhecida pela sociedade, destacando-se a sua importância na produção de
alimentos, na geração de empregos e na distribuição de renda.
Uma importante característica da agricultura familiar é a fusão que nela existe entre a unidade
de produção e a família. Neste sentido, é fundamental pensar sobre a viabilidade e o
desenvolvimento da agricultura familiar, não só do ponto de vista econômico-produtivo, mas
de forma global, isto é, o conjunto de necessidades que a família e o sistema de produção
apresentam para garantir a qualidade de vida à população rural.
Para viabilizar a agricultura familiar há necessidade de desenvolvê-la e fortalecê-la, com a
adoção de estratégias de diversificação e dotando-a de maior capacidade para a adaptação às
imposições do mercado. Uma agricultura familiar forte e rentável pode contribuir para a
redução da fome, do desemprego rural, do êxodo rural e para o crescimento da produção de
alimentos, em função das oportunidades geradas no próprio campo. Ela pode assumir uma
importância político-estratégica a partir das políticas de apoio implementadas, ampliando sua
capacidade de produzir de maneira eficiente do ponto de vista econômico.
28
A fixação do agricultor no campo depende da criação de oportunidades concretas para aumentar
a quantidade dos excedentes que produzem, melhorar a qualidade de seus produtos, reduzir seus
custos e incrementar os preços de venda, uma vez que estas são condições mínimas para que eles
possam melhorar sua renda e permanecerem no campo.
A análise realizada acima teve por objetivo mostrar a importância de se estudar este extrato de
agricultores, bem como mostrar a viabilidade de se articular um projeto de desenvolvimento
rural com base nos produtores familiares, enfraquecendo o argumento de que o fracasso na
articulação de projetos deste tipo ocorre devido à ineficiência tecnológica da pequena
produção familiar.
A mudança de foco da agricultura patronal para a agricultura familiar, da produção em
economia de escala para a diversificação, da análise das especificidades locais e da
diversidade dos espaços rurais pode permitir a elaboração de instrumentos de intervenção
apropriados para as regiões-alvo das políticas, sem a adoção de tipologias simplificadas na
elaboração de projetos, mas, sim, realizando estudos detalhados das estruturas econômicas,
sociais, culturais e institucionais, regionais e locais.
De modo geral, tem-se procurado levar em consideração todos estes fatores na
operacionalização do Projeto das Redes de Referências para a Agricultura Familiar, o que é
mais um aspecto que justifica a realização desta pesquisa, onde, através da análise da margem
bruta e dos elementos que nela influíram, será possível identificar como estão
economicamente estes produtores. A seguir, são apresentados os objetivos do presente estudo.
29
1.5 OBJETIVOS DO ESTUDO
1.5.1 Objetivo Geral
Analisar a evolução da margem bruta de estabelecimentos agropecuários familiares,
acompanhados pelo Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar, no norte do
Estado do Paraná, no período dos anos agrícolas de 1998/1999 a 2002/2003, e de alguns dos
elementos identificados na revisão de literatura, que provavelmente influenciaram nessa
evolução.
1.5.2 Objetivos Específicos
Como objetivos específicos do trabalho, propõem-se:
a) Apresentar a tendência da margem bruta dos estabelecimentos agropecuários
familiares, através de uma análise descritiva da renda bruta e do custo variável do
período em análise.
b) Analisar alguns elementos que possivelmente influenciaram o comportamento da
margem bruta, tais como produtividade, superfície agrícola útil, custo variável, preço
recebido pelo produto e variações climáticas.
c) Analisar a importância da produção diversificada e da composição dos sistemas
produtivos, nos estabelecimentos agropecuários familiares, e sua relação com o
comportamento da margem bruta.
30
d) Verificar, estatisticamente, se há correlação entre margem bruta, produtividade,
superfície agrícola útil, custo variável, preço recebido pelo produto e variações
climáticas.
1.5.3 Questão de Pesquisa
Pode-se considerar a questão de pesquisa, a qual orientará este trabalho, como sendo:
Como foi a evolução da Margem Bruta, nos estabelecimentos agropecuários familiares da
Região Norte do Estado do Paraná, acompanhados pelo Projeto Redes de Referências para a
Agricultura Familiar? Os fatores produtividade, superfície agrícola útil, custo variável,
preço de venda do produto e/ou variações climáticas influenciaram nessa evolução? Como?
31
2 AGRICULTURA FAMILIAR: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo tem como objetivo discutir a multiplicidade de conceitos que permitem explicar
o comportamento da agricultura familiar no Brasil. Também destaca a importância da
existência de um marco teórico para tratar as especificidades da gestão de propriedades
familiares, assim como de políticas diferenciadas para ampliar a eficiência econômica deste
importante grupo de produtores agrícolas, conforme as estatísticas brasileiras podem
comprovar.
2.1 UMA INTRODUÇÃO À AGRICULTURA FAMILIAR
São muitas as denominações que relacionam-se à agricultura familiar. Pequenos produtores,
pequenos agricultores, colonos e camponeses são alguns dos termos utilizados que procuram
identificar a enorme heterogeneidade existente nesse segmento da agricultura brasileira que
recentemente, e de forma mais ampla, vem sendo chamado de produtores ou agricultores
familiares. Contudo, há dificuldades tanto na diferenciação entre agricultores familiares e
capitalistas quanto ao entendimento da complexidade existente no próprio segmento
considerado familiar (ROCHA e CERQUEIRA, 2003).
Em uma pesquisa publicada em 1994 pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura
e Alimentação (FAO) e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),
cujo objetivo principal era estabelecer as diretrizes para um “modelo de desenvolvimento
sustentável”, sugeriu como forma de classificação dos estabelecimentos agropecuários
brasileiros, separando-os entre dois tipos: “patronal” e “familiar”.
32
Os primeiros teriam como principal característica a completa separação entre gestão e
trabalho, a organização descentralizada, a ênfase na especialização produtiva e em práticas
agrícolas padronizáveis, o uso predominante do trabalho assalariado e a adoção de tecnologias
dirigidas à eliminação das decisões (FAO / INCRA, 1994).
Já o modelo familiar teria como característica a relação íntima entre trabalho e gestão, a
direção do processo produtivo conduzido pelos proprietários, a ênfase na diversificação
produtiva e na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida, a utilização do trabalho
assalariado em caráter complementar e a tomada de decisões imediatas ligadas ao alto grau
de previsibilidade do processo produtivo (FAO / INCRA, 1994).
Para Schneider (2003), o que distingue a forma de atuação das empresas capitalistas na
agricultura daquelas unidades produtivas que se organizam com base em trabalho familiar é a
forma de organização do processo produtivo e as relações de parentesco. Nas unidades
familiares, o trabalho é organizado com base nas relações de parentesco e de gênero, porque é
a própria família que trabalha, e a posse dos meios de produção não está separada de quem
executa o trabalho. Na unidade de produção capitalista, ao contrário, a força de trabalho é
recrutada através do mercado de trabalho, via contrato de trabalho, à semelhança do que
acontecem com as aquisições das demais mercadorias, necessárias ao processo produtivo.
Rocha e Cerqueira (2003) ressaltam a lógica diferenciada desses estabelecimentos dirigidos
pelos próprios produtores, cujo elemento fundamental é a manutenção e a valorização do
patrimônio familiar. Segundo os autores, é o patrimônio familiar o elemento que diferencia a
condição dos produtores familiares, a propriedade distingue-os dos assalariados, mas essa
propriedade é construída pelo trabalho da família, diferentemente dos grandes proprietários.
Ainda segundo os autores citados acima, de um modo geral, são destacados três atributos
básicos para a delimitação da agricultura familiar: trabalho, gestão e propriedade.
33
Considerando esses aspectos, é possível encontrar variadas formas de produção agrícola com
características familiares em um continuum que varia entre a agricultura de subsistência e a
agricultura quase capitalista.
A agricultura familiar desenvolve, em geral, sistemas complexos de produção, combinando
várias culturas, criações de animais e transformações primárias tanto para o consumo da
família como para o mercado. O sistema de produção é entendido como o conjunto coerente
de combinações de culturas e criações dentro de uma unidade de produção, as quais podem
ser mais ou menos complexas, sendo resultado de lenta e laboriosa engenharia social,
econômica, ambiental e cultural (GUANZIROLI et al, 2001).
Todo agricultor tem um conjunto de práticas técnicas, econômicas e sociais coerentes com a
finalidade dada ao seu sistema de exploração. O mesmo precisa compatibilizar os objetivos
familiares com o meio ambiente, interagindo elementos e subsistemas muito além da
constatação da sua estrutura produtiva e das recomendações técnicas. É por isso que os
agricultores familiares têm razões que permitem explicar porque atuam de maneiras diferentes
entre si e em relação aos empresários capitalistas.
Produziu-se nos últimos anos uma vasta bibliografia a partir de diferentes correntes do
pensamento social, as quais propuseram um debate sobre as razões e o sentido da persistência
das formas familiares, estabelecendo, sobretudo, reflexões acerca das condições e dos
obstáculos ao processo de desenvolvimento do capitalismo no campo (SCHNEIDER, 2003).
Para Rocha e Cerqueira (2003), a persistência de determinados segmentos em situações
extremamente precárias pode estar associada às estratégias de sobrevivência da agricultura
familiar, que se constitui em fontes de renda polivalentes (agrícolas e não-agrícolas) e na
realização de diversas formas de trabalho e ocupação, bem como no aproveitamento de fontes
34
externas, como previdência social e remessas de dinheiro de migrantes. No limite, a
sobrevivência fica restrita ao simples autoconsumo:
Considerando a falta de alternativa da cidade, a renda de autoconsumo que essas
famílias obtêm é muito importante; a renda monetária complementar de que
precisam é relativamente pequena. Com um produto ou outro, mesmo sendo pouco
competitivo, eles são capazes de colocar algum excedente no mercado local,
enquanto procuram outras alternativas, dada a sua flexibilidade (ROCHA e
CERQUEIRA, 2003, p. 07).
Desta forma, pode-se concluir que, historicamente, a agricultura capitalista revela a constante
oposição e coexistência entre as formas de produção familiar e patronal, tendo como
explicação para este fato a adaptabilidade da agricultura familiar frente às exigências do
desenvolvimento capitalista.
Segundo Lacki (2004), não existe a mais remota possibilidade de que, nas cidades, o setor
urbano-industrial possa oferecer empregos, casas, alimentos, água limpa, eletricidade, transportes
e serviço de saúde às pessoas, especialmente se considerado que gerar um emprego urbano custa
seis vezes mais caro que fazê-lo no meio rural e que manter uma família na cidade custa ao poder
público 22 vezes mais caro que fazê-lo no campo. O autor conclui, afirmando que:
Nestas condições, se o desemprego urbano (e as gravíssimas conseqüências de
marginalidade econômica e social que provoca) é um dos problemas mais angustiantes
do mundo moderno e se a geração de empregos urbanos depende de investimentos para
os quais não existem recursos em quantidade suficiente, o mais elementar bom senso
sugere que se priorizem estratégias para a fixação dos agricultores no campo (a custo
muitíssimo mais baixo) e não a correção das conseqüências do êxodo, depois que os
migrantes já chegaram às cidades (LACKI, 2004, p. 8).
Entretanto, como visto na introdução (seção 1), esta fixação do agricultor no campo só será
possível se forem oferecidas aos agricultores oportunidades concretas para permanecerem no
meio rural. Por isso, torna-se relevante no presente trabalho delinear a situação da agricultura
35
familiar no Brasil, e também apresentar o principal programa de apoio à agricultura familiar que
está sendo desenvolvido pelo Governo Federal.
2.2 AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL
Os dados apresentados, a seguir, foram extraídos do trabalho de Guanziroli et al (2001), como
já citado anteriormente, publicados em seu livro “Agricultura Familiar e Reforma Agrária no
Século XXI”. Estas análises foram realizadas com base no Censo Agropecuário de 1995-1996
e visam traçar um perfil da agricultura familiar no Brasil. Segundo o Censo, havia 4.859.732
estabelecimentos rurais, ocupando uma área de 353,6 milhões de hectares, dos quais
4.139.369 são estabelecimentos familiares, ocupando uma área de 107,8 milhões de hectares,
sendo responsáveis por 37,9% do valor bruto da produção vegetal, apesar de receberem
apenas 25,3% dos financiamentos agrícolas.
A Tabela 1 apresenta a evolução do número de estabelecimentos, área, produção e
financiamento e revela que os agricultores familiares representam 85,2% do total de
estabelecimentos, ocupam 30,5% da área total e são responsáveis por 37,9% do valor bruto da
produção agropecuária nacional.
TABELA 1 – Número de estabelecimentos rurais, área, valor bruto da produção e percentual do crédito
rural total, no Brasil, em 1995/1996
Categorias Estab.
total
% Estab.
s/ total
Área Total
(há)
% Área s/
total
VBP
(R$ mil)
% VBP
s/ total
% FT
s/ total
Familiar
4.139.369 85,2 107.768.450 30,5 18.117.725 37,9 25,3
Patronal
554.501 11,4 240.042.122 67,9 29.139.850 61,0 73,8
Inst. Religiosa
7.143 0,1 262.817 0,1 72.327 0,2 0,1
Entidade
Pública
158.719 3,3 5.529.574 1,6 465.608 1,0 0,8
Total 4859.732 100 353.602.963 100 47.795.510 100 100
Fonte: Censo Agropecuário 1995/1996 – IBGE, extraído de Guanziroli et al, 2001, p. 55.
36
Os dados seguimentados por regiões do Brasil, apresentados na Tabela 2, permitem avaliar a
importância relativa da agricultura familiar nas diversas regiões. Nas regiões Norte e Sul,
mais de 50% do VBP (Valor Bruto da Produção) é produzido nos estabelecimentos familiares.
Na região Norte, eles representam 85,4% dos estabelecimentos, ocupam 37,5% da área e
produzem 58% do VBP regional. No Sul, a presença de agricultura familiar é mais forte. Os
907.635 agricultores familiares respondem por 90,5% dos estabelecimentos da região,
ocupam 43,8% da área e produzem 57% do VBP da região. O Centro-Oeste registra o menor
percentual de estabelecimentos familiares entre as regiões brasileiras, sendo representado por
66,8% dos estabelecimentos da região, ocupando apenas 12,6% da área regional. O Nordeste
responde por cerca de 50% do número total de estabelecimentos familiares e por 32% da área
total ocupada pela agricultura familiar em todo Brasil (GUANZIROLI et al, 2001).
TABELA 2 – Agricultores Familiares, estabelecimentos, área e VBP, segundo as regiões
Categorias Estab.
total
% Estab.
s/ total
Área Total
(há)
% Área s/
total
VBP
(R$ mil)
% VBP
s/ total
% FT
s/ total
Nordeste
2.055.157 88,3 34.043.218 43,5 3.026.897 43,0 26,8
Centro-Oeste
162.062 66,8 13.691.311 12,6 1.122.696 16,3 12,7
Norte
380.895 85,4 21.860.960 37,5 1.352.656 58,3 38,6
Sudeste
633.620 75,3 18.744.730 29,2 4.039.483 24,4 12,6
Sul
907.635 90,5 19.428.230 43,8 8.575.993 57,1 43,3
Brasil 4.139.369 85,2 107.768.450 30,5 18.117.725 37,9 25,3
Fonte: Censo Agropecuário 1995/1996 – IBGE, extraído de Guanziroli et al, 2001, p. 56.
2.2.1 Participação da agricultura familiar no Valor Bruto da produção agropecuária
Apesar de possuírem recursos produtivos relativamente menores, os agricultores familiares
são responsáveis por um percentual significativo do valor da produção agropecuária
brasileira. Dispondo de apenas 30,5% da área e 25% do crédito concedido ao conjunto de
37
atividades agropecuárias, os estabelecimentos familiares são responsáveis por 37,9% da
produção nacional. A importância dessa contribuição fica ainda mais evidente quando se
considera que uma pequena parte dos estabelecimentos familiares é composta de pequenos
lotes usados como moradia e cultivos de subsistência.
Os agricultores familiares produzem 24% da pecuária de corte, 52% da pecuária de leite,
58% dos suínos e 40% das aves e ovos produzidos. Em relação a algumas culturas
temporárias, a agricultura familiar produz 33% do algodão, 31% do arroz, 72% da cebola,
67% do feijão, 97% do fumo, 84% da mandioca, 49% do milho, 32% da soja e 46% do trigo
nacional. É responsável ainda, no caso de culturas permanentes, por 58% da banana, 27% da
laranja e 47% da uva, 25% do café e 10% da cana-de-açúcar (GUANZIROLI et al, 2001).
A Tabela 3 apresenta a composição da produção da agricultura familiar, segundo as regiões
do país. Ela revela que, entre as cinco regiões, os agricultores familiares da região Sul são os
que mais se destacam pela sua participação no VBP regional, sendo responsáveis por 35% da
pecuária de corte, 80% da pecuária de leite, 69% dos suínos, 61% das aves, 83% da banana,
43% do café, 81% da uva, 59% do algodão, 92% da cebola, 80% do feijão, 98% do fumo,
89% da mandioca, 65% do milho, 51% da soja e 49% do trigo produzido na região.
TABELA 3 – Percentual do VBP Total, gerado pela agricultura familiar, segundo regiões do Brasil, em
1995/1996
Produção Animal, Fruticultura e Cultura Permanente (em %)
Região
Pecuária
Corte
Pecuária
Leite
Suínos Aves/Ovos Banana Café Laranja Uva
Nordeste
42,6 53,3 64,1 26,2 56,0 22,6 64,2 2,9
Centro-Oeste
11,1 50,8 31,1 29,4 55,9 62,8 29,8 62,9
Norte
26,6 67,0 73,8 40,3 77,4 93,8 66,5 51,9
Sudeste
22,5 37,5 21,0 17,8 43,4 22,8 16,6 37,4
Sul
35,0 79,6 68,6 61,0 84,8 42,8 77,8 81,3
Brasil 23,6 52,1 58,5 39,9 57,6 25,5 27,0 47,0
Fonte: Censo Agropecuário 1995/1996 – IBGE, extraído de Guanziroli et al (2001), p. 70.
38
É nesse contexto de revalorização da agricultura familiar e reconhecimento de sua
importância que foi formulada uma política específica direcionada para esse segmento: o
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Como esta pesquisa tem como tema os estabelecimentos agropecuários familiares, torna-se
relevante abordar os programas de apoio público, voltados para esta categoria de agricultores.
Tratando-se das políticas federais de apoio à agricultura familiar, será apresentado o Programa
PRONAF, ao tratar das políticas públicas desenvolvidas no Estado do Paraná, será
apresentado o Programa Paraná 12 Meses, no qual insere-se o Projeto das Redes de
Referências para a Agricultura Familiar, cujo banco de dados foi utilizado para se extraírem
as informações dos estabelecimentos agropecuários componentes da amostra desta pesquisa.
2.3 POLÍTICAS FEDERAIS DE APOIO À AGRICULTURA FAMILIAR
Marques (1998) realiza uma reflexão acerca da pesquisa e da política agrícola do país e entre
suas conclusões o autor destaca que no médio e no longo prazo caberá às empresas arcarem
com os custos de Pesquisa e Desenvolvimento. Contudo, a curto prazo, é essencial que a
União e os estados continuem com essa tarefa. Isto daria tempo ao setor produtivo para
assimilar, progressivamente, a cultura de desenvolvimento através da inovação e da pesquisa
tecnológica e adquirir capacidade para promovê-la na própria empresa ou associar-se a
centros de pesquisa com os quais possa realizá-la em colaboração.
Para Cançado Júnior et al (2000), no Brasil, a importância dos investimentos em pesquisa
para a modernização do setor agrícola demorou a ser reconhecida. Essa demora pode ser
explicada pelo próprio direcionamento da política econômica ao longo dos anos e da
prioridade de industrialização. Apesar disso, a pesquisa agropecuária vem desempenhando um
39
papel essencial na evolução da agricultura brasileira. Prova disso são os ganhos em
produtividade para as diversas culturas e criações.
O acirramento das questões sociais no país, o aumento dos conflitos no campo, as
reivindicações dos movimentos sociais organizados são alguns fatores que colocaram no
centro do debate rural a necessidade de repensar a política agrícola e reconhecer a importância
dos produtores familiares, tanto em termos socioeconômicos quanto ambientais. Já que a
agricultura patronal é, reconhecidamente, um fator de expulsão da mão-de-obra no campo, em
contrapartida, os estabelecimentos familiares são os principais responsáveis pela geração de
postos de trabalho no meio rural brasileiro (ROCHA e CERQUEIRA, 2003).
A chamada “política de modernização” da agricultura, na qual o desenvolvimento científico e
tecnológico teve papel preponderante, começou a ser delineada no Brasil, a partir do
Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), no período de 1968 a 1970 (CANÇADO
JÚNIOR et al, 2000).
No início da década de 70, o governo brasileiro ampliou seus investimentos nas atividades de
geração e difusão tecnológica, realizando profundas mudanças que culminaram na criação da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, em 1973.
Mas só em 1996 percebe-se a emergência da agricultura familiar no cenário social e político
brasileiro, a qual está relacionada à legitimação que o Estado lhe emprestou ao criar o
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o qual será
brevemente apresentado, a seguir.
40
2.3.1 Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar
Criado em 1996, através do Decreto nº 1.946, o PRONAF tem como objetivo promover o
desenvolvimento sustentável dos agricultores familiares, aumentando sua capacidade
produtiva, gerando empregos e melhorando sua renda. É um expressivo avanço, considerando
as formas tradicionais de financiamento da agricultura brasileira. Antes da criação do
PRONAF, o financiamento do pequeno agricultor restringia-se quase exclusivamente aos
recursos administrados pelo Programa de Crédito Especial da Reforma Agrária (PROCERA),
extinto em 1999. O PROCERA era destinado somente aos beneficiários da reforma agrária.
O Programa PRONAF foi formulado como resposta às pressões do movimento sindical de
trabalhadores rurais, realizadas a partir do início da década de 1990, e tinha como finalidade
prover crédito agrícola e apoio institucional às categorias de pequenos produtores rurais, que
vinham sendo alijados das políticas públicas ao longo da década de 1980 e encontravam sérias
dificuldades de se manter na atividade. Schneider (2003) afirma que, a partir do surgimento
do PRONAF, o sindicalismo rural brasileiro passou a reforçar a defesa de propostas que
vislumbrassem o compromisso cada vez mais sólido do Estado com uma categoria social
considerada específica e que necessitava de políticas públicas diferenciadas (juros menores,
apoio institucional, etc.).
O aumento da produtividade, associado ao uso de tecnologia, tem fundamentado a ação e os
discursos modernizadores. É nesse sentido que a proposta de um programa de fortalecimento
da agricultura familiar voltado para as demandas dos trabalhadores – sustentado em um
modelo de gestão social em parceria com os agricultores familiares e suas organizações –
representa um considerável avanço em relação às políticas anteriores (CARNEIRO, 1997).
As diretrizes do PRONAF têm como referência experiências européias, principalmente a da
França, que elegeu a agricultura familiar como a forma de produção sobre a qual se
41
implementou, no pós-guerra, a modernização da produção agrícola e da sociedade rural. As
ações do PRONAF, de modo geral, estão orientadas no seguinte sentido:
investir na viabilização de condições de produção e na melhoria da qualidade de
vida das famílias de agricultores familiares, fortalecendo a infra-estrutura física e
social no meio rural, adequando o retorno dos investimentos à capacidade do
pagamento dos agricultores familiares (CARNEIRO, 1997, p.73).
Para Guanziroli et al (2001), a criação do PRONAF foi uma resposta à tese de que de um
programa de reforma agrária destinado a ampliar o número de produtores familiares seria
ineficiente, constatado que os produtores estavam saindo do campo por falta de apoio público.
Com base nesta constatação, o programa PRONAF prevê linhas de atuação diferenciadas, as
quais abrangem o financiamento da produção da agricultura familiar, da infra-estrutura, de
serviços municipais e formação profissionalizante dos agricultores familiares. Tentativas de
aperfeiçoamento surgem por meio do recém-criado PRONAF Especial, que procura beneficiar
os pequenos agricultores que não dispõem de garantias reais suficientes para obterem crédito
(FERREIRA et al, 1999).
Há três linhas principais de atuação - infra-estrutura e serviços, capacitação e crédito - e o
público-alvo exclusivo são os agricultores familiares. Cada uma dessas modalidades do
PRONAF tem o seu foco de atuação específico e uma lógica própria de operacionalização,
mas o objetivo é único: o fortalecimento desse segmento. Para a linha de crédito, os
beneficiários estão classificados em quatro grupos, tendo como base a sua renda bruta anual.
Contudo, conforme Veiga e Abramovay (1998), esse programa ainda não conseguiu
solucionar parte dos problemas que assolam a agricultura familiar, por exemplo, o risco
associado à variação no nível de renda. Com relação ao crédito, o PRONAF apresenta os
mesmos problemas: dificuldade de acesso, ausência de garantias e disponibilidade de
42
recursos, o que geram altos custos de transações bancárias, demonstrando, dessa forma, a
necessidade de aperfeiçoá-los.
O financiamento da produção da agricultura familiar é de responsabilidade do PRONAF-
crédito. O objetivo é apoiar financeiramente as atividades agropecuárias e não-agropecuárias,
exploradas pelos agricultores e suas associações. O PRONAF-crédito tem uma importância
significativa para a parcela de agricultores tradicionalmente excluídos do financiamento
oficial, cuja política privilegiou alguns produtores e determinadas regiões (ROCHA e
CERQUEIRA, 2003).
Salientando as vantagens do PRONAF, Rocha e Cerqueira (2003) lembram que um programa
específico para a produção familiar representa um avanço, considerando o quadro de políticas
concentradoras da agricultura. O PRONAF significa o reconhecimento de que esse conjunto
de agricultores considerados familiares assume um papel importante no desenvolvimento
socioeconômico brasileiro. Mesmo assim, o alcance dos objetivos desse Programa depende de
um acompanhamento e avaliação que permitam garantir a sua efetiva e correta execução, sem
deixar de analisar também os seus impactos.
2.4 AGRICULTURA FAMILIAR NO PARANÁ E POLÍTICAS ESTADUAIS DE APOIO
À AGRICULTURA FAMILIAR
Guanziroli et al (2001) afirmam que a diversificação da agricultura, a combinação de rendas
agrícolas e não-agrícolas, a busca de uma melhor qualificação profissional e de novas
alternativas fizeram do Sul do Brasil a principal área de concentração da agricultura familiar
43
no país, sendo a Região Sul a que apresenta um maior dinamismo e uma maior diversidade de
sistemas e subsistemas produtivos (GUANZIROLI et al, 2001).
O estudo de Doretto et al (2001) confirma a importância da agricultura familiar para a
economia do Estado do Paraná, classificando 90% dos estabelecimentos agropecuários como
familiares. Tais estabelecimentos detêm 55,7% da área total, empregam 83% do pessoal
ocupado e são responsáveis por 57% do valor bruto da produção vegetal.
Atualmente, segundo a Revista Perfil da Agricultura Paranaense, publicada em 2003 pelo
Departamento de Economia Rural (DERAL), o agronegócio é a principal atividade econômica
do estado, gerando aproximadamente 1/3 do PIB (R$ 27 bilhões de reais). A Região Norte
Paranaense, compreendida pelos núcleos regionais (definidos pela Secretaria da Agricultura e
Abastecimento/SEAB) de Apucarana, Cornélio Procópio, Londrina, Maringá, Jacarezinho e
Ivaiporã responde por 24% da produção de grãos. Nessa região destaca-se a produção de soja,
milho, trigo, café e feijão.
Além da boa fertilidade do solo, essa representatividade na produção de grãos pode ser
explicada através do aumento da produtividade, respondendo aos expressivos e constantes
investimentos em tecnologia, treinamento e manejo, conservação e correção do solo,
ampliação no uso de sementes melhoradas e rotação de culturas, em grande parte incentivados
pelo Governo do Paraná, através de pesquisas realizadas em centros como o Instituto
Agronômico do Paraná, criado em 1972.
Dentro desta preocupação do poder estadual, com a produção agropecuária e com os
estabelecimentos familiares rurais, é que foi criado o Programa Paraná 12 Meses, o qual será
brevemente apresentado, a seguir.
44
2.4.1 Programa Paraná 12 Meses
5
O Programa Paraná 12 Meses implementado pelo Governo do Estado do Paraná, a partir de
1998, visou promover o desenvolvimento econômico e social da população rural e o manejo e
conservação dos recursos naturais, atuando em todo território estadual com apoio financeiro
do BIRD e do Tesouro Estadual. O objetivo geral deste programa é amenizar a situação de
pobreza rural no Estado, numa ação sustentável, apoiada na modernização tecnológica, na
geração de novos empregos, na proteção ao meio ambiente e na melhoria das condições de
habitação e saneamento básico das famílias rurais e pescadores artesanais. Como objetivos
específicos, o Programa Paraná 12 Meses busca:
Reduzir os índices de pobreza do público beneficiário direta e indiretamente através de
ações em habitação, saneamento básico, saúde, educação, geração de renda e emprego,
organização comunitária e cidadania;
Implantar Vilas Rurais visando à melhoria das condições de vida dos trabalhadores rurais
volantes;
Contribuir para viabilizar a recuperação dos solos, via manejo e uso dos recursos naturais de
forma sustentada, com base em alternativas tecnológicas que aumentem a produção, a
produtividade e a renda do produtor rural de acordo com a condição sócio-técnico-ambiental;
Aumentar mecanismos de aumento de ingressos de renda na unidade ou atividade produtiva
e aqueles que propiciem maior capacidade de competição frente à abertura de mercado e à
redução da participação do Estado no processo econômico.
5
Apresentação baseada no Manual Operativo do Programa Paraná 12 Meses. (Manual, 1997)
45
O Programa contempla os componentes desenvolvimento da área social e desenvolvimento da
área produtiva, que correspondem ás ações diretamente vinculadas aos beneficiários, e para
dar apoio às ações do Programa têm-se o fortalecimento institucional e o desenvolvimento
tecnológico. O desenvolvimento da área social compõe-se do subcomponente Combate à
Pobreza no Meio Rural e preconiza atender às necessidades básicas dos agricultores e
pescadores artesanais e de seus familiares, priorizando a melhoria da infra-estrutura social –
familiar (reforma, construção de moradia, abastecimento de água e o saneamento básico), o
desenvolvimento comunitário e a geração de renda.
O desenvolvimento da área produtiva compõe-se do subcomponente Manejo e Conservação
do Recursos Naturais, 1ª e 2ª fases. A 1ª fase visa ao aumento da produtividade através da
redução da degradação do meio ambiente, o manejo adequado dos recursos naturais, através
do controle da erosão e da melhoria da fertilidade dos solos. A 2ª fase objetiva aperfeiçoar a
eficiência técnico-econômica e a capacidade de competição das unidades ou atividades
produtivas familiares através da gestão, da intensificação dos sistemas de produção, da
diversificação e da verticalização da produção. O fortalecimento institucional abrange as
atividades de capacitação, estruturação da Unidade de Gerenciamento do Projeto (UGP) e o
apoio logístico (equipamentos) aos executores. O desenvolvimento tecnológico está voltado
para as atividades de pesquisa, assistência técnica e extensão rural, tendo esta última a
responsabilidade de treinar e capacitar o público beneficiário.
O público que o Programa busca atingir são todos os produtores do Estado. Entretanto, serão
beneficiados, para efeito de apoio financeiro, os agricultores cujo sistema de produção
caracteriza- se como produtor de subsistência (PS) e produtor simples de mercadoria (PSM,
PSM1, PSM2, e PSM3) e os pescadores artesanais (PA, PP1 e PP2). Para identificar os
agricultores, público-alvo deste Programa e seu enquadramento, consideraram-se, como
indicadores, a área, o capital e a mão-de-obra, conforme apresentado no Quadro 1.
46
QUADRO 1 – Variáveis classificatórias do público prioritário para as ações do Programa Paraná 12
Meses
Capital
Categoría social
Área
(ha)
Benfeitorias
produtivas (R$)
Equipamentos
agrícolas (R$)
Uso de mão-de-
obra familiar
(%)
Produtor Simples de Mercadoria – Nível 1 (PSM1) < 15 < 12.150,00 < 9.720,00 > 80
Produtor Simples de Mercadoria – Nível 2 (PSM2) < 30 < 29.160,00 < 29.160,00 > 50
Produtor Simples de Mercadoria – Nível 3 (PSM3) < 50 < 97.200,00 < 87.480,00 > 50
Empresário Familiar (EF) > 50 > 97.200,00 > 87.480,00 > 50
Empresário Rural (ER) > 50 > 97.200,00 > 87.480,00 < 50
Fonte: Manual Operativo do Programa Paraná 12 Meses; p. 13.
São classificados como beneficiários, além dos proprietários, assentados e posseiros, os
arrendatários, os parceiros e meeiros com contratos anteriores à definição de Unidade de
Trabalho, cadastrada e legalmente especificada, desde que o prazo de permanência na área
seja compatível com as práticas e atividades apoiadas. O arrendamento não poderá ocorrer
entre parentes próximos (pai, irmão, filho). Todos os casos excepcionais de enquadramento da
postulante ao benefício serão analisados pelo Conselho Municipal e referendados pela
Comissão Regional.
As variáveis de capital serão medidas em R$ (reais), representando o valor atual (valor novo –
depreciação) das benfeitorias e equipamentos. Para efeito de levantamento da área (ha) a
considerar a área total das propriedades do beneficiário e as áreas por ele arrendadas.
A identificação dos pescadores é realizada de uma outra forma, mas devido à região que está
sendo desenvolvido o presente estudo não possuir pescadores, estas informações não se fazem
necessárias.
As estratégias técnicas do Programa Paraná 12 Meses foram definidas nas estratégias de cada
um de seus subcomponentes. A estratégia técnica do subcomponente Combate à Pobreza no
Meio Rural é constituída de três grandes linhas de atuação: infra-estrutura social familiar,
desenvolvimento comunitário e geração de rendas. Estas três linhas de atuação são
47
desenvolvidas integralmente e de forma participativa, através das entidades organizadas e
suas lideranças.
A infra-estrutura social familiar tem por objetivo melhorar a qualidade de vida dos
beneficiários. Entre as ações a serem desenvolvidas em habitação, saneamento e saúde,
destacam-se reformas e construção de residências nas comunidades rurais, construção de
residências rurais e terraplanagem nas vilas rurais, abastecimento de água e saneamento
básico.
O desenvolvimento comunitário prevê duas ações: a organização dos grupos de beneficiários
nas comunidades para o acesso aos serviços sociais (saúde, educação, creche) e a construção
de galpões comunitários. A geração de renda busca alternativas concretas de aumento de
renda, na unidade produtiva e na comunidade através de empreendimentos comunitários e
auto-sustentáveis. Assim, os empreendimentos comunitários constituem-se em atividades
desenvolvidas coletivamente pelos agricultores e/ou por seus familiares, que possibilitem a
agregação de renda. Podem ocorrer na propriedade ou fora desta e ter caráter agrícola ou não.
Para o subcomponente Manejo e Conservação dos Recursos Naturais (1ª e 2ª fase), é
necessário um conhecimento prévio estrutural e organizacional das condições dos sistemas de
produção regionais e locais. Com este conhecimento, pode-se organizar e orientar o
planejamento e desenvolvimento de ações, através da melhoria das práticas de manejo e
adoção de inovações tecnológicas para resolver os principais problemas.
As grandes linhas de ação da 1ª Fase de trabalho são: redução de degradação do meio
ambiente, controle da erosão e melhoria da fertilidade do solo. A redução da degradação do
meio ambiente baseia-se na introdução do planejamento do uso dos recursos naturais,
compreendendo a adequação da exploração do solo com a aptidão de uso agrícola,
48
recuperação de áreas degradadas, alocação da infra-estrutura, proteção de mananciais,
recuperação de matas ciliares e uso adequado de agrotóxicos.
O controle da erosão compreende ações e práticas de cobertura vegetal que reduzam a
desagregação do solo, facilitem a infiltração e o armazenamento de água e reduzam o
escorrimento superficial. São preconizadas práticas vegetativas e mecânicas componentes do
planejamento da microbacia e da propriedade.
A melhoria da fertilidade do solo visa propiciar condições químicas, físicas e biológicas
adequadas aos solos para obtenção de altas produtividades. Baseia-se na correção da acidez,
no uso correto de fertilizantes, no manejo da massa vegetal, no manejo de dejetos de animais
e outros resíduos.
O avanço na implementação destas linhas em nível de microbacias ou propriedades propiciará
as condições mínimas para implementar as propostas da 2ª Fase, a qual parte de quatro
grandes linhas: gestão agrícola, intensificação dos sistemas de produção, mudança nos
sistemas de produção e verticalização da produção. A gestão agrícola tem por objetivo
propiciar informações, conhecimentos e instrumentos de análise técnico–econômica que
permitam avaliações rápidas e objetivas dos sistemas de produção, dos seus componentes e
processos, possibilitando uma administração mais eficiente da unidade produtiva.
A intensificação dos sistemas de produção visa aproveitar as potencialidades dos sistemas e
minimizar a influência dos elementos restritivos ao aumento da produtividade e renda.
Compõe-se por ações que possibilitam aos produtores uma melhor inserção no mercado, a
redução das perdas nos sistemas de produção e o aumento da produtividade do sistema e das
atividades que o compõem.
49
As mudanças nos sistemas de produção visam melhorar a remuneração e ampliar as fonte de
renda das unidades produtivas, através da introdução de produtos de maior demanda e/ou
maior densidade de renda. A verticalização da produção tem como objetivo possibilitar aos
produtores a agregação de valor ao produto agcola, com a apropriação de etapas do processo
de comercialização e/ou transformação.
As atividades atualmente desenvolvidas pelo Projeto são: apoio financeiro, reforma de
moradias e instalações de água e de esgoto, construção de moradias nas "Vilas Rurais" para os
trabalhadores, desenvolvimento de alternativas econômicas para geração de renda na
propriedade rural, desenvolvimento de alternativas econômicas para geração de renda na
comunidade ou na vila rural, realização de pequenas construções rurais para uso coletivo dos
beneficiários, desenvolvimento de atividades e equipamentos dirigidos ao controle da erosão e
melhoria da fertilidade do solo.
O Programa contribui para a preservação ambiental, ao aprimorar os sistemas de produção
agrícola em uso, promover a reconversão dos sistemas de produção ineficientes para outros de
maior possibilidade de geração de renda e a transformação e comercialização da produção,
estimulando a geração de projetos municipais ou regionais de alternativas econômicas da
produção agropecuária e promover o aperfeiçoamento profissional dos agricultores e
trabalhadores rurais através de treinamentos, além de custear as atividades de pesquisa
agropecuária de interesse dos beneficiários.
Com o objetivo de desenvolver e difundir sistemas de produção
6
melhorados para a
agricultura familiar paranaense, a Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão
Rural (EMATER/PR) e o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) vêm desenvolvendo
6
Pode-se definir um sistema de produção como sendo um conjunto de culturas (milho, feijão, mandioca e
pastagem) e criações (aves, suínos e bovinos) interdependentes e inter-atuantes entre si, realizadas em
50
desde 1998 o Projeto “Redes de Referências para a Agricultura Familiar”, integrante do
Programa “Paraná 12 Meses”, em seu componente Manejo e Conservação dos Recursos
Naturais – Fase 2 (Modernização).
Como dito anteriormente, os dados explorados neste estudo foram extraídos do banco de
dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar. Portanto, também se faz
necessária uma apresentação das diretrizes deste Projeto, as quais podem ser encontradas
abaixo.
2.4.2 Projeto Redes de Referências para a agricultura familiar
7
O Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar (Projeto Redes) envolve uma
metodologia de pesquisa adaptativa e de difusão de tecnologia, apoiada em uma rede de
propriedades (grupo de 20 propriedades representativas dos sistemas de produção encontradas
em uma dada região agrícola), analisadas e acompanhadas com o enfoque sistêmico
8
, e após
sofrerem intervenções para sua melhoria, servem para o fornecimento de referências técnicas
e econômicas, para os demais estabelecimentos agropecuários, com sistemas produtivos
similares.
A metodologia utilizada no Projeto Redes surgiu em um convênio firmado com uma
instituição de pesquisa francesa, a qual utiliza esta metodologia em toda a França, há 25 anos.
O grande diferencial deste Projeto é que os ensaios de pesquisa são realizados nas
propriedades, com participação dos agricultores, e não mais em estações experimentais.
determinada condição ambiental e manipulados pelo agricultor e sua família, de acordo com suas aspirações,
preferências e recursos disponíveis.
7
Apresentação baseada no Manual Operativo do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar e na
Revista Redes de Referências para a Agricultura Familiar (Manual, 1998).
51
Os sistemas de produção são analisados no seu conjunto (produção animal, produção vegetal
e nos recursos naturais, financeiros e humanos), avaliando sua viabilidade a partir dos
resultados econômicos gerados. Assim é possível entender como funcionam e evoluem os
sistemas de produção no curto e médio prazo, fazendo ajustes necessários, buscando
identificar sistemas produtivos inovadores, que possam se tornar fonte de referências técnicas
e econômicas
9
.
O Projeto Redes propõe uma reformulação dos métodos, técnicas e procedimentos de
pesquisa e extensão rural que possam, ao obter referências e parâmetros técnicos e
econômicos, subsidiar a agricultura familiar em tecnologias apropriadas e novos arranjos de
seus sistemas de produção que possibilitem melhorar sua renda e sua qualidade de vida.
Entre tais tecnologias, enquadram-se não somente aquelas voltadas à melhoria dos sistemas
produtivos, mas também novas técnicas que permitam aperfeiçoar a gestão das propriedades
familiares no que diz respeito aos seus recursos econômicos.
Através dos problemas identificados no período da “Revolução Verde”, é possível afirmar que
uma nova tecnologia, selecionada com a participação dos agricultores, adapta-se localmente
melhor do que aquela recomendada pelos técnicos que trabalham por conta própria. E mais
ainda, quando os agricultores estão presentes desde o início do processo de geração da
tecnologia, o resultado é facilmente aceito pelos demais agricultores.
Porém, não se trata somente de buscar o aumento da produção e do rendimento dos produtos
cultivados, mas, principalmente, o sistema de produção que melhor se adapta às condições
ecológicas e socioeconômicas. Nesse caso, é fundamental analisar e entender de que maneira
8
A idéia geral da abordagem sistêmica é mudar a ênfase das estações experimentais para os experimentos em
propriedades com a participação dos agricultores, analisando os estabelecimentos em sua totalidade e não por
atividade agropecuária.
9
Uma referência técnica e/ou econômica é um conjunto de informações sobre uma atividade agrícola que ajuda a
assistência técnica na orientação dos agricultores na tomada de decisão.
52
é feita a utilização dos recursos naturais dos meios técnicos e da mão-de-obra disponível. E
isto impõe, necessariamente, o conhecimento das condições locais de produção e uma
mudança de postura de pesquisadores e extensionistas.
Evidentemente que, para ter uma pesquisa e uma extensão rural que gerem e difundam
tecnologias agrícolas que não sejam inadequadas, requer-se a correspondente reformulação ou
adequação dos métodos, técnicas e procedimentos pedagógicos e de difusão a serem
utilizados. Faz-se fundamental a utilização de instrumentos operacionais realmente adequados
em função das características dos agricultores envolvidos.
Desde o início do Projeto, esses instrumentos têm sido constantemente adaptados, mas os
acompanhamentos, de modo geral, são feitos através de visitas periódicas dos extensionistas
da EMATER/PR aos estabelecimentos agropecuários, com a realização de uma tipificação, a
qual busca construir uma tipologia para agrupamento dos estabelecimentos semelhantes e de
um diagnostico voltado para a identificação das limitações e das vantagens dos
estabelecimentos, sendo ambos os instrumentos atualizados anualmente.
Também nessas visitas são deixados formulários para os agricultores preencherem com as
informações de custos, receitas, área cultivada e produtividade, da próxima safra, e também
são recolhidos os formulários com as informações da safra atual, necessários para o
andamento do Projeto, além de orientações sobre técnicas de cultivo, controles econômico-
financeiros, planejamento para a safra seguinte, entre outras recomendações.
Os dados coletados são armazenados em softwares específicos, que permitem uma
padronização das unidades de medida dos vários agricultores e a realização de análises pelos
pesquisadores e extensionistas, para se chegar aos resultados regionais da safra do período.
Esses resultados são repassados, através de encontros meso-regionais, para as famílias, pois
53
todos os membros da família que trabalham no estabelecimento são convidados a
participarem dessas reuniões.
Nesses encontros, com a orientação de pesquisadores e extensionistas, os agricultores
comparam seus indicadores com os demais e identificam tanto os pontos positivos de seu
sistema de produção, como também os aspectos que podem ser melhorados. Com essas
comparações é que se definem as referências regionais, ou seja, qual a máxima e mínima
produtividade possível para determinada região, assim como custos e receitas. Também
nessas reuniões ocorrem várias trocas de experiências entre os agricultores, sobre questões
técnicas e econômicas, tais como: alternativas de redução de custos, características e épocas
de plantio para diferentes tipos de sementes e mudas, formação de parcerias para compra de
insumos, etc.
A partir deste modelo de acompanhamento, procura-se ajustar os sistemas de produção às
potencialidades e limitações locais (de natureza agroecológicas e/ou econômicas), visando
atingir a maior rentabilidade possível, considerando-se as premissas de sustentabilidade. Isso
torna esses sistemas passíveis de serem adotados por um grande número de agricultores. Essa
forma de trabalhar, além de promover a adaptação de tecnologias para o desenvolvimento da
agricultura, busca resolver o principal problema dos projetos de desenvolvimentos, que é a
interação entre os agentes – pesquisadores, extensionistas e agricultores.
Como objetivo geral, o Projeto Redes busca:
Propor e difundir sistemas de produção equilibrados nas suas atividades e fatores de
produção, para aumentar sua rentabilidade, viabilidade, estabilidade e adaptabilidade pelos
agricultores do mesmo tipo socioeconômico.
54
Os objetivos específicos do Projeto Redes são:
Ofertar novas tecnologias e/ou atividades ampliando as possibilidades de modernização;
Servir como pólo de demonstração de tecnologias e sistemas de produção para potencializar
o processo de difusão;
Disponibilizar informações e propor métodos para orientar os agricultores na gestão da
empresa agrícola;
Servir como base para a capacitação e treinamento de agentes de assistência técnica e
extensão rural e de agricultores; e
Possibilitar a identificação de demanda de novas linhas de pesquisa.
Para atender aos objetivos, o Projeto das Redes está organizado em três níveis:
Uma coordenação estadual, em conjunto com a Unidade de Gerenciamento do Programa
Paraná 12 Meses (UGP), para garantir a execução homogênea do método;
Uma equipe meso-regional para apoiar técnica e metodologicamente as equipes de campo,
além de serem responsáveis pelas pesquisas adaptativas;
Um extensionista por região, encarregado do acompanhamento de um grupo de vinte
propriedades e pela difusão dos resultados.
Nas regiões, o Projeto Redes conta, ainda, com um comitê de coordenação composto pela
unidade de assistência técnica da comissão regional do “Paraná 12 Meses” e outros agentes
55
locais e regionais de desenvolvimento, que tem a função de ajudar nas reflexões e escolhas
dos sistemas a serem estudados.
A instalação de uma Rede de Referências envolve três etapas complementares:
Estudo prévio, onde é realizada a delimitação de zonas homogêneas, com a caracterização
das regiões trabalhadas no tocante aos aspectos de clima, solos, estrutura agrária e infra-
estrutura. Realiza-se também a tipologia dos sistemas de produção buscando identificá-los e
caracterizá-los, com o objetivo de compreender sua lógica e entender as diferenças e
particularidades que existem entre os agricultores.
Escolha dos sistemas prioritários, feita a partir das informações da etapa precedente. É
realizada pelo comitê de coordenação regional que discute as hipóteses sobre evolução de
sistemas de produção e conseqüências, como: peso econômico, peso demográfico, evolução
provável de seu número, influência do contexto socioeconômico sobre os sistemas atuais,
potencialidades de novos sistemas, etc.
Seleção das propriedades, uma vez que o comitê refletiu e escolheu os sistemas a serem
estudados. Esta escolha garante parte da eficácia dos trabalhos, por isso ela deve seguir um
consenso entre os representantes dos agricultores e dos agentes de desenvolvimento. Feita a
escolha da propriedade, é realizado um diagnóstico, com o intuito de conhecer seu conjunto,
seus pontos de estrangulamento, suas potencialidades e os objetivos do agricultor.
A partir dessas informações, extensionista e agricultor elaboram um projeto de médio prazo
para a melhoria da propriedade. Na seqüência o extensionista passa a acompanhar a
implantação do projeto e registrar os resultados técnicos e econômicos que vão surgindo das
mudanças e que servirão para construir as referências modulares e globais do sistema. A
56
evolução dos trabalhos permitirá a obtenção de diversos produtos, que servirão aos agentes de
desenvolvimento ligados à agricultura familiar (extensão, pesquisa, formuladores de políticas
públicas). Entre eles estão:
Propriedades que servirão como pólo de demonstração de novas tecnologias, local para
treinamento e capacitação de técnicos e agricultores.
Orientação para a definição de novas pesquisas.
Estudos setoriais (cadeias produtivas, utilização de mão-de-obra, utilização de máquinas,
entre outros).
Atualmente estão sendo acompanhados cerca de 220 estabelecimentos agropecuários
familiares em todo o Estado. Os grupos de estabelecimentos agropecuários estão localizados
nos núcleos regionais, de acordo com a divisão geográfica realizada pela Secretaria da
Agricultura e Abastecimento/SEAB, que são: Apucarana, Cascavel, Cornélio Procópio,
Francisco Beltrão, Londrina, Maringá, Paranavaí, Pato Branco, Toledo e Umuarama.
Para finalizar este capítulo de revisão da literatura, serão apresentadas, a seguir, algumas das
características presentes na gestão de estabelecimentos agropecuários familiares.
2.5 GESTÃO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS FAMILIARES
As diferenças entre o empresário rural e o empresário urbano devem ser consideradas,
podendo-se citar, entre estas, que a principal é o apego à terra e à família que, muitas vezes,
são maiores que o bem-estar e o desejo de progresso (BRANDT e OLIVEIRA, 1973). De
modo geral, os princípios econômicos que se aplicam à indústria e ao comércio são também
57
válidos para a agricultura. Entretanto, esta tem certas características que devemos ter
presentes ao estudar a economia de uma empresa agrícola (HOFFMANN et al, 1984).
Conforme Lima et al (1995), deve-se sempre atentar para a necessidade de se analisar a
maneira com que o produtor organiza sua propriedade, transmitindo-lhe a importância de se
atualizar, frente às muitas mudanças que estão ocorrendo na economia. Para Gastal (1986), é
imprescindível inovar em matéria de tecnologia, tanto em processos produtivos primários,
como na gestão das empresas e nas fases de beneficiamento e comercialização da produção.
Sob o ponto de vista tradicional, conforme ressaltado por Ribeiro (1995), a agricultura
familiar é comparada vis a vis com a agricultura patronal. Contudo, o tratamento dispensado à
agricultura familiar sempre despertou polêmica, pois a agricultura patronal é considerada um
modelo de eficiência e uso de recursos e a propriedade familiar é vista como atrasada,
conservadora, ineficiente, tradicionalista entre outras denominações, já que é apoiada em
métodos e técnicas tradicionais de trabalho.
Brandt (1973) afirma que a dificuldade do processo de modernização e planejamento da
propriedade familiar ocorre devido a valores socioculturais, de uma cultura agrária
tradicional, trazida pelos colonizadores, e que não se atualizou frente à expansão de uma
economia capitalista, além da dificuldade para investir em maquinários, apresentados como
requisito básico para a modernização. Entretanto, este enfoque tradicional da agricultura
familiar, sob a ótica da gestão agrícola, vem dando lugar a uma outra abordagem que procura
levar em conta as particularidades deste extrato de produtores.
Para Lima et al (1995), na propriedade familiar, as decisões sobre o que e como produzir são
determinadas não apenas por fatores como lucro e preço, mas também pelas necessidades da
família. Os sistemas familiares possuem também um subsistema de tomada de decisão, o qual
gera as decisões em função das finalidades e objetivos estratégicos do sistema, que se
58
preocupa em viabilizar estudos para os filhos, manter a unidade de produção em uma
dinâmica de processos e assegurar a coesão do grupo familiar.
Além disso, na agricultura ocorrem diversas situações imprevistas, advindas do mercado e da
natureza, o que gera riscos para os produtores, em razão dos quais estes podem não optar pela
hipótese de maximização do lucro, objetivando apenas uma renda básica, porém estável
(FERREIRA et al, 1999).
No processo de desenvolvimento agrícola, uma das maiores barreiras ao aumento da
produtividade dos fatores de produção tem sido a falta de adoção, pelos produtores, das
tecnologias recomendadas pelas instituições de pesquisa e extensão. É possível influir,
decisivamente, na melhoria das condições econômicas e sociais da população rural, por meio
da extensão, desde que sejam tomadas medidas de política agrícola que tornem acessíveis os
meios de produção aos agricultores. É fato incontestável que o desenvolvimento agrícola de
uma região somente seja possível mediante a aplicação prática dos conhecimentos das
ciências e da pesquisa aos problemas do agricultor e de sua família (KHAN, 1997).
Já para Souza (1986), duas hipóteses explicam o baixo nível de adoção de tecnologia por
pequenos agricultores: ou a transferência é inadequada, ou a tecnologia proposta não é
apropriada às suas condições, sendo essa a causa mais comum. Para Lacky (2004), o impasse
entre a urgência de satisfazer as crescentes necessidades de um grande número de agricultores e a
não disponibilidade de recursos para fazê-lo pela via convencional é evidente. O autor acredita
que, para corrigir estas dificuldades, os profissionais agrários devem, primeiramente, adiar as
soluções espetaculares e começar a modernização da agricultura através de medidas mais
modestas e de menor custo, para que sejam realmente viáveis de serem adotadas por todo este
estrato de agricultores.
59
Entre essas medidas estaria a conscientização da importância e adoção de um simples controle
contábil, a realização de planejamentos de curto e longo prazo, a cotação de preços na hora de
comprar os insumos e de vender os produtos, entre outras técnicas agrícolas que podem ser
adotadas, sem adquirir maiores custos para os pequenos agricultores.
Após esta fase inicial de modernização, Lacki (2004) acredita que, adquirindo o hábito de utilizar
essas pequenas ações, dará condições dos agricultores continuarem adotando de forma gradual
tecnologias de maior custo e sofisticação, para atingir os altos níveis de eficiência e
produtividade, sem os quais não poderão inserir-se com êxito nos mercados nacionais e
especialmente nos internacionais. Para que possam ter rentabilidade e competitividade, os
agricultores não podem renunciar às tecnologias de ponta e aos insumos modernos, porque eles
são importantes complementos que lhes permitirão atingir altos rendimentos, melhor qualidade e
menores custos unitários de produção.
É importante ressaltar a grande heterogeneidade de organizações familiares e que todas essas
decisões devem também estar de acordo com os objetivos da família, como já citado
anteriormente, tais como viabilizar estudo para os filhos e manter a unidade familiar, entre
tantos outros objetivos, dada a impossibilidade de definir os valores e necessidades de cada
família deste grupo.
Ao analisar o comportamento da renda em estabelecimentos agropecuários familiares,
verifica-se que sua grande variabilidade é reflexo da variação de sua produção e dos preços
por ela recebidos. Resulta daí, portanto, uma considerável instabilidade da renda agrícola.
Para o produtor, essa instabilidade é fator de insegurança quanto às suas condições de vida e,
portanto, de desestímulo à sua própria atividade.
A instabilidade da renda agrícola tem vários componentes, como variabilidade de quantidade,
variabilidade de preços, variabilidade de rendimentos, variabilidade de área cultivada, etc. De
60
acordo com Johnson (1979), é realmente impressionante a capacidade da população rural de
lidar tão bem com a instabilidade e de se beneficiar das novas oportunidades que surgem.
Para Bandeira (1979), a flutuação de renda ocorre em função de alteração na oferta e na
demanda. A ocorrência de uma dessas mudanças, ou simultaneamente, de ambas pode causar
variações de quantidade e/ou de preços, implicando em alterações inesperadas na renda. As
flutuações na oferta são mais graves para alguns produtos do que para outros e a intensidade e
periodicidade das flutuações dependem das condições de oferta de cada produto.
Conforme Barros e Xavier (1979), a alta instabilidade dos preços agrícolas leva à formação de
expectativas pouco confiáveis e força, dessa maneira, o produtor a tomar uma série de
precauções no sentido de reduzir seu risco. Nessas situações, os pequenos agricultores são
particularmente mais prejudicados.
Ao realizar uma análise sobre a instabilidade da renda, Johnson (1979) observa que a
incerteza de rendimentos está muito aquém do controle dos produtores, devido a fatores como
desconhecimento preciso da quantidade e distribuição de chuva, variação de temperatura,
imprevisibilidade de infestações de insetos e manifestação de doenças, além da necessidade
de comprar insumos, antes que existam maiores conhecimentos acerca dos rendimentos. O
autor acrescenta que, apesar da natureza, em parte, ser responsável por essa instabilidade, ela
também é decorrente das escolhas realizadas pelos tomadores de decisões.
Queiroz (2003) afirma que o custo de qualquer objeto deve ter como propósito o
planejamento, controle ou avaliação, sendo que o planejamento visa decidir que ação deverá
ser tomada; o controle visa assegurar, tanto quanto possível, que a organização siga os planos
e as políticas pré-determinadas); e a avaliação visa apurar ou medir em que grau os objetivos
estabelecidos foram atingidos.
61
Uma possível conceituação de desempenho no âmbito das organizações, segundo Queiroz
(2003), é a capacidade da empresa atingir seus objetivos através da implementação de
estratégias adotadas dentro do seu processo de planejamento. A empresa, dessa forma, deve
contar com um sistema de indicadores de desempenho que permita a verificação do efetivo
sucesso de seus objetivos.
Com isso, mais uma vez confirma-se a relevância de se fazer uma análise da Margem Bruta,
considerando-a um indicador de desempenho, tornando-se ainda mais representativo quando
analisado em um período de cinco anos.
Na seção seguinte, serão apresentados os métodos utilizados para o tratamento e análise dos
dados.
62
3 METODOLOGIA
O presente capítulo descreve os procedimentos metodológicos utilizados para analisar o
comportamento da margem e seus determinantes.
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
Para a operacionalização desta pesquisa, utilizou-se o banco de dados do Projeto Redes de
Referências para a Agricultura Familiar, o qual foi criado e mantido, através de coletas
anuais
10
de dados relativos a: superfície agrícola útil, número de equivalente-homem
disponível nos estabelecimentos, produtividade de cada atividade agropecuária, renda bruta,
custo fixo, custo variável, margem bruta (calculando-se os valores totais, por unidade
produzida e pela superfície agrícola útil), valor do capital investido em máquinas,
equipamentos, benfeitorias e culturas permanentes.
Os dados foram armazenados em planilhas do Microsoft Excel, desenvolvidas por um
extensionista da EMATER/PR, especificamente para este Projeto. Estas planilhas foram
denominadas de RPR´s (Redes de Propriedades de Referências) e são compostas por duas
etapas, uma de tipificação dos estabelecimentos, seguida de uma de diagnóstico. Cada
estabelecimento agropecuário possui um relatório de tipificação chamado de TPROP e um
relatório chamado de diagnóstico, chamado de DPROP, para cada ano agrícola.
Complementarmente foi usado o SAP (Sistema de Acompanhamento de Propriedades), que é
10
Estas coletas anuais de dados referem-se a anos agrícolas, ou seja, de julho de um ano até julho do ano
seguinte, incluindo, assim, uma safra de verão e uma safra de inverno.
63
um software desenvolvido pela Organização das Cooperativas do Paraná (OCEPAR), o qual
auxiliou no cálculo dos custos variáveis das várias atividades agropecuárias.
Devido a inconsistências encontradas na base de dados e ainda não esclarecidas, não foi
possível calcular os valores de Capital Total e Depreciação, o que, conseqüentemente,
impossibilitou o cálculo do Custo Fixo desses estabelecimentos agropecuários. Por isso, nas
análises realizadas, foram utilizados apenas os valores de Margem Bruta, calculados com base
na Renda Bruta e no Custo Variável.
Este estudo pode ser caracterizado, segundo Cooper e Schindler (2003), como transversal,
porque representa um determinado período na vida destes agricultores. Neste caso, apenas os
anos agrícolas de 1998/1999 a 2002/2003.
Um aspecto relevante que deve ser mencionado é que a renda total dessas famílias é composta
não apenas da atividade agropecuária, mas também de rendas de aposentadorias, de prestação
de serviços como aluguel de máquinas, e também de salários de membros da família que
trabalham fora do estabelecimento rural, mas que nele residem. Essas outras rendas não
entraram nesta análise, pois o objetivo da pesquisa está focado apenas nas atividades
agropecuárias.
A escolha por este estudo, como também a definição da população e amostra, foram
realizadas de forma não aleatória, mas pelo conhecimento e facilidade de acesso aos dados,
uma vez que a autora foi bolsista de iniciação científica, por três anos consecutivos, na área de
Socioeconomia do Instituto Agronômico do Paraná, onde os dados do Projeto Redes, da
região Norte do Estado, são armazenados, tendo também a autora colaborado em trabalhos
desenvolvidos anteriormente neste Projeto.
64
O que diferencia esta pesquisa das análises de resultados feitas ao final de cada ano agrícola,
pelos pesquisadores, extensionistas e agricultores do Projeto Redes é a ênfase no
comportamento desses estabelecimentos agropecuários em um período maior de tempo, neste
caso, cinco anos.
Fazendo-se algumas considerações, utilizando-se conceitos adotados pelo Projeto Redes, os
quais serão detalhados mais à frente, ainda nesta seção da metodologia, pode-se afirmar que:
MBT = RBT – CVT, sendo MBT a margem bruta total, RBT a renda bruta total e CVT o
custo variável total.
E também que:
RBT = Y x P
Y,
sendo Y a quantidade produzida e P
Y
o preço de venda do produto.
É possível concluir que a evolução da Margem Bruta dos estabelecimentos agropecuários
amostrados pode ter sido afetada, entre outros fatores, pelos seguintes elementos:
Aumento de Y, como conseqüência do aumento da produtividade;
Aumento de Y, como conseqüência da expansão da superfície agrícola útil;
Redução do CVT (custo variável total);
65
Aumento do P
Y
(preço de venda do produto), e/ou;
Variações climáticas (períodos de seca, ocorrência de geadas, etc.).
A partir desses elementos é que será realizada a análise dos fatores que efetivamente
influenciaram no comportamento da margem bruta dos estabelecimentos agropecuários
familiares, os quais compõem a amostra desta pesquisa. Não deixando de considerar a
existência de muitos outros fatores que influenciam na variação deste indicador, porém devido
à disponibilidade de dados, optou-se pelos elementos citados acima.
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
Foram considerados como população de referência deste estudo os estabelecimentos
agropecuários, acompanhados pelo Projeto Redes. Sendo a amostra composta pelos
estabelecimentos agropecuários, que começaram a ser acompanhados em 1998 e
permaneceram até 2003, há, no máximo, 50 hectares de superfície agrícola útil, como também
estão localizados na Meso-região Norte
11
do Estado.
É importante ressaltar que estão sendo acompanhados cerca de 60 estabelecimentos nesta
meso-região, mas, para efeito neste estudo, enquadraram-se apenas 18. Inicialmente, na
análise dos dados foram considerados vinte estabelecimentos agropecuários, os quais
cumpriam com os requisitos necessários à seleção dos estabelecimentos componentes da
amostra, tal como citado acima. Porém, nos últimos anos, dois dos vinte estabelecimentos
selecionados ultrapassaram o limite de 50 ha de superfície agrícola útil, onde, numa
11
Divisão geográfica utilizada na operacionalização do Programa Paraná 12 Meses a qual contempla as regiões
de Apucarana, Cornélio Procópio e Londrina.
66
exploração aprofundada dos dados, foi observado que os resultados econômicos desses dois
estabelecimentos, cuja superfície agrícola útil ficou entre 75 e 100 ha, enviesavam os
resultados totais. Por isso foram retirados da amostra. Essas análises preliminares dos dados,
com uma amostra de vinte estabelecimentos agropecuários, podem ser vistas no Apêndice.
Outro fator que impediu a seleção de mais estabelecimentos para comporem a amostra foi o
fato de terem começado a fazer parte do Projeto Redes e serem acompanhados, somente
depois de 1998, o que impossibilitou a realização da análise qüinqüenal.
Todos os estabelecimentos agropecuários componentes amostra foram selecionados para
participarem do Projeto Redes em 1997, com o início dos acompanhamentos em julho de
1998. É importante salientar que esta seleção foi realizada pela indicação feita pelos
extensionistas da EMATER/PR, com base nos estabelecimentos agropecuários que já vinham
sendo acompanhados. Este critério de escolha justifica-se pelo fato destes agricultores já
conhecerem os extensionistas e, por isso, lhes confiarem seus dados técnicos, econômicos e
financeiros. Caso contrário, seria difícil convencer agricultores sem histórico de
acompanhamento a abrirem tais informações sobre seus estabelecimentos.
3.2.1 Caracterização regional dos estabelecimentos agropecuários amostrados
Como mencionado anteriormente, os estabelecimentos agropecuários, estudados nesta
pesquisa, estão localizados na Meso-região Norte do Estado do Paraná, cujos contornos
podem ser vistos na Figura 1.
67
Total de mu nicí pi os: 55
Total de munipios com propriedades trabalhadas: 17
B.V. do
Paraíso
Cambé
Rondia
Porecatu
Florespolis
Mi ra sel va
Pr a do
Fe rr e ira
Jaguapitã
Guaraci
Centenário
do Sul
Lup ionóp oli s
Cafeara
Al vo ra da
do S ul
Pita ngueira s
Ibipo
Tam arana
Londrina
Pr i me i ro
de Maio
Ser tanópolis
A rapongas
Califórnia
Mari lâ ndia
do Sul
Rio
Bom
Cambira
Jandaia
do Sul
Marumbi
Novo
I tacol omi
Bom
S ucess o
Kaloré
Mauá
da
Serra
Sa bá u d i a
Apucarana
S.Seb.da
Amo re ira
Sapope ma
Cornélio
P rocópio
Aba tiá
Bandeirantes
Rib.do
Pinhal
Congonhinhas
Nov a
tima
N.América
da Colina
Uraí
Jataizinho
Ass
Andirá
Itambaracá
Leó po l is
Sertaneja
Rancho
Alegre
St o Antônio
do P araíso
Sta Amélia
Sta Cecília
do Pao
N. S t a
B ár bara
St a
Mariana
S.Jenimo
da Serra
FIGURA.1 - MESORREGIÃO NORTE
MUNICÍPIOS INTEGRANTES DA DAS REDES DE REFERÊNCIAS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR.
23
23 30'
24
51 30'
51
50 30'
Figura 1 – Municípios integrantes da Meso-região Norte do Projeto Redes de Referências para a
Agricultura Familiar
Fonte: CARVALHO et al, 2001, p. 08.
Esta meso-região abrange uma área total de 18.215 km
2
, que representa cerca de 9% do
território paranaense. Desse total, 86% são estabelecimentos agropecuários dos quais 32 mil
são estabelecimentos agropecuários familiares. Desses estabelecimentos agropecuários, 26
mil, ou seja, 81,5% representam unidades com área inferior a 50 ha, segmento no qual se
concentra o público-alvo do Projeto Redes (DORETTO et al, 2000).
Nesta meso-região, os estabelecimentos agropecuários com menos de 50 ha, em 1995, eram
responsáveis por 64,9% do pessoal ocupado no meio rural. Na região de Apucarana, esse dado
representa 75,5%; em Cornélio Procópio, 67,6% e em Londrina, 55,6% do pessoal ocupado
no meio rural (DORETTO et al, 2000).
68
De modo geral, segundo Carvalho et al (2001), nesta meso-região predominava o cultivo de
café, o qual perdeu espaço para o cultivo de soja e milho no verão, e trigo e aveia no inverno.
3.2.2 Quantidades de equivalente-homens disponíveis nos estabelecimentos
agropecuários amostrados
Com relação à quantidade de mão-de-obra familiar disponível nos estabelecimentos
agropecuários, tomaram-se como referência as definições adotadas pelo Projeto Redes,
explicitando que um equivalente/homem corresponde ao trabalho de um adulto, em tempo
integral, durante 300 dias/ano, considerando-se as diferentes condições de gênero, idade e
possibilidade de dedicação às atividades agropecuárias. O Quadro 2 apresenta os parâmetros
utilizados nesta classificação.
Quadro 2 – Quadro de referência para definição da quantidade de equivalente – homens (em unidades)
Idade Estuda Não Estuda
Masculino Feminino Masculino Feminino
07 a 13
0,25 0,25 0,50 0,50
14 a 17
0,33 0,33 0,66 0,66
18 a 24
0,50 0,50 1,0 1,0
25 a 59
--1,01,0
60 ou mais
- - 0,50 -
Fonte: Manual Operativo do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar (MANUAL..., 1998)
Com base na definição da quantidade de equivalente-homens, a Tabela 4 e o Gráfico 1
apresentam a evolução da disponibilidade de mão-de-obra familiar, em cada estabelecimento
agropecuário, no período de 1998 a 2003.
69
Tabela 4 – Evolução da Quantidade Total de Equivalente – Homens disponíveis nos estabelecimentos
agropecuários amostrados, no período de 1998 a 2003 (em unidade)
12
Nº DE ORDEM CODIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1 151 2,00 2,00 2,00 1,00 1,00
2 152 3,00 2,00 2,00 2,00 2,00
3 153 2,66 3,00 3,00 2,00 2,00
4 156 4,00 4,00 4,00 2,00 2,00
5 157 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00
6 162 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00
7 201 2,40 2,40 2,40 2,00 2,00
8 203 3,50 2,50 2,50 2,50 2,50
9 206 2,30 2,00 2,00 2,00 2,00
10 216 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
11 501 1,65 1,65 1,65 1,65 1,65
12 502 3,00 3,00 3,00 3,00 3,00
13 503 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
14 504 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50
15 507 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
16 510 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
17 511 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50
18 512 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
Soma 40,51 38,55 38,55 34,15 34,15
Média 2,25 2,25 2,14 2,14 1,90
Fonte: Dados da pesquisa.
Varião do Equivalente - Homem
30,00
32,00
34,00
36,00
38,00
40,00
42,00
12345
Ano
Nº de Eq/
h
Equivalente/homem
GRÁFICO 1 – Evolução da Quantidade Total de Equivalente – Homens disponíveis nos estabelecimentos
agropecuários amostrados, no período de 1998 a 2003 (em unidade)
Fonte: Dados da pesquisa.
12
Para facilitar o tratamento e análise das informações, tanto no Quadro 4, como em todas as tabelas que serão
apresentadas neste trabalho, constarão o número de estabelecimentos de 1 a 18 e os códigos de identificação
desses estabelecimentos dentro do banco de dados do Projeto Redes.
70
Observando o Gráfico 1, constata-se uma queda significativa no número de eq/h disponível
nos estabelecimentos, passando de 40,51 eq/h total em 1998/1999 para 34,15eq/h total em
1999/2000. Esta queda no número de eq/h disponível deve-se a fatores, como filhos que saem
do meio rural para trabalhar ou estudar no meio urbano. Com relação à média de eq/h, de
todos os estabelecimentos, em cada ano, a variação ficou entre 1,90 eq/h e 2,25 eq/h por
estabelecimento.
3.2.3 Atividades agrícolas componentes dos sistemas produtivos amostrados
Para efeito de análise, foi necessário classificar os estabelecimentos da amostra segundo a
atividade mais representativa na composição da renda, em todo o período do estudo, ou seja,
no qüinqüênio 1998 a 2003. Essa classificação apresentou algumas dificuldades, pois foi
observada uma constante alteração nos sistemas produtivos ao longo do tempo, com inclusão
de novas atividades agropecuárias em alguns casos e especialização de atividades em outros,
como pode ser visto no Quadro 3.
Fazendo uma análise do Quadro 3, pode-se observar que há um predomínio no cultivo de soja,
milho e trigo nos estabelecimentos agropecuários da amostra, seguidos da cultura de café,
variando entre outras atividades como avicultura, fruticultura, bovino leiteiro, piscicultura e
sericicultura. Observa-se também uma significativa mudança na composição dos produtos de
um ano para o outro, como também da importância de cada atividade na composição da renda.
Como exemplos dessas mudanças podem-se citar, conforme o Quadro3, o estabelecimento 3,
que investiu no cultivo da laranja, a partir do ano agrícola de 2000/2001, o estabelecimento 5
criava o casulo do bicho da seda em 1998/1999 e a partir de 1999/2000 parou com esta
71
criação e passou a cultivar principalmente soja, milho e trigo. O estabelecimento 6 cultivou
café até 2000/2001 e depois também só plantou soja, milho e trigo.
O estabelecimento 8 cultivava soja e café até 2000/2001 e depois se especializou no plantio de
café. Esta opção se mostra um pouco inesperada, uma vez que a partir de 2001/2002 o preço
da soja começou a subir. Outro caso semelhante é o do estabelecimento 9, que plantou soja,
milho, pêssego e uva em 1998/1999 e 1999/2000, e depois continuou somente com o cultivo
de milho, pêssego e café, em um período em que o preço da soja influenciou nas decisões da
grande maioria de agricultores.
73
QUADRO 3 – Relação de todas as atividades agropecuárias desenvolvidas nos estabelecimentos da amostra, em cada ano agrícola do período de 1998/1999 a 2002/2003
Nº DE ORDEM
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213 14 15 1617 18
CODIGO
151 152 153 156 157 162 201 203 206 216 501 502 503 504 507 510 511 512
soja avic. soja soja café soja soja café café soja soja soja soja café milho soja soja Soja
café soja trigo milho seda milho milho soja pessego café café trigo trigo leite soja trigo milho Trigo
trigo milho avic. pera café banana milho soja trigo milho soja trigo trigo Milho
avic. oleric. café café trigo uva aveia milho aveia feijão
piscic. arroz trigo aveia
café
1998/1999
leite
soja avic. soja milho café soja banana café soja café soja soja soja café soja soja soja soja
avic. soja avic. soja milho milho soja soja uva soja milho milho trigo leite trigo milho milho milho
milho piscic. milho pera café arroz café café trigo soja milho trigo aveia trigo
café milho trigo café pessego milho trigo
trigo café café
banana leite
1999/2000
café
soja avic. trigo milho soja soja banana café milho soja soja milho soja leite milho milho soja soja
trigo soja soja soja milho milho soja soja pessego trigo café soja trigo milho soja soja milho milho
avic. trigo avic. pera trigo café milho uva milho trigo café triticale trigo aveia trigo
banana milho milho café feijão arroz aveia aveia
café piscic. café café
café laranja
2000/2001
leite
soja avic. soja soja soja soja banana café milho soja soja soja soja milho soja soja soja milho
trigo soja avic. milho café trigo soja pessego trigo milho trigo trigo leite trigo milho aveia trigo
café trigo trigo pera milho milho arroz café café café milho café milho trigo soja
avic. piscic. café café trigo
banana café laranja feijão
2001/2002
leite
soja avic. soja soja soja soja banana café pessego soja café soja trigo leite trigo soja soja milho
trigo soja trigo milho trigo milho soja milho trigo soja trigo soja soja soja trigo trigo soja
avic. trigo avic. pera café trigo milho café café milho milho café milho aveia trigo
café piscic. laranja café milho arroz aveia milho
banana café café feijão bovino
2002/2003
leite
Fonte: Dados da Pesquisa
73
3.3 MÉTODOS UTILIZADOS NA ANÁLISE DO DESEMPENHO DOS
ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS AMOSTRADOS
O cálculo dos indicadores de performance dos estabelecimentos agropecuários (renda bruta,
custo variável e margem bruta) e a classificação dos sistemas produtivos (soja, milho, trigo e
avicultura; soja, milho, trigo e bovino leiteiro; soja, milho, trigo e fruticultura; soja, milho,
trigo e café e somente soja, milho, trigo) foram realizados com base nas definições do Projeto
Redes (CARVALHO et al, 2001).
De maneira genérica, pode-se afirmar que a partir dos indicadores é possível comparar o grau
de eficiências dos empreendimentos agropecuários da amostra. Sem deixar de considerar a
dificuldade de encontrar um indicador que efetivamente sirva de parâmetro para todos, dada a
diversidade de estratégias adotadas por estes agricultores e as constantes mudanças realizadas
na composição dos sistemas produtivos, especificamente, quando se trata de uma análise
temporal.
3.3.1 Cálculo da Renda Bruta
Corresponde à renda gerada na propriedade pelas atividades de produção vegetal e animal.
Engloba o valor das vendas, autoconsumo, produtos usados como pagamento em espécie e
diferenças no estoque.
=
×=
n
ni
iy
PyRBP
)(
74
Onde: RBP = renda bruta da produção, y = quantidade produzida, P
Y
= preço recebido pelo
produto, i = atividades agropecuárias, com i variando de 1 até n.
3.3.2 Cálculo do Custo Variável
São aqueles que o administrador tem controle em determinado ponto no tempo, podendo
aumentar ou diminuir de acordo com sua decisão gerencial. Podem ser definidos também
como aqueles que variam quando se altera o nível de produção no período de tempo
considerado. Abrangem os seguintes itens principais: valor dos insumos despendidos na
produção vegetal e animal e valor da mão de obra contratada.
=
+=
n
i
ikp
XXCVT
1
)(
Onde: CVT = custo variável total; X
p
e X
k
= custos de cada atividade agropecuária que variam
de acordo com a produção, com p e k variando de 1 até n; i = atividades agropecuárias, com i
variando de 1 até n.
3.3.3 Cálculo da Margem Bruta
Corresponde à diferença entre a Renda Bruta da Produção e o Custo Variável, das diferentes
atividades, podendo ser representada pela fórmula:
CVTRBTMBT
=
Onde MBT = margem bruta total, RBT = renda bruta total e CVT = custo variável total.
75
3.3.4 Cálculo da Média Aritmética
Para cálculo das médias de Margem Bruta, Renda Bruta e Custo Variável, tanto anual, como
de cada estabelecimento, foi utilizada a média aritmética representada pela fórmula:
n
X
n
i
i
x
=
=
1
µ
Onde
µ
= média de X; X = as variáveis; i = quantidade de variáveis, com i variando de 1 até
n.
3.3.5 Deflação dos valores nominais
No caso desta pesquisa, todos os valores monetários foram deflacionados, ou seja,
atualizados, para julho de 2003, pois este foi o último mês do período em análise.
Segundo Fonseca e Gomes (2003), o deflacionamento dos preços é um artifício usualmente
adotado em razão da desvalorização da moeda, resultante de um processo de inflação. Assim,
é possível saber se, por exemplo, o salário recebido por uma pessoa em 1980 é maior ou
menor do que o recebido hoje. De modo geral, os valores reais são obtidos deflacionando os
valores de produção a preços correntes, usando-se um índice geral de preços.
76
O uso de um deflator tenta retirar de uma série qualquer de valores monetários os aumentos
nominais incorporados apenas em decorrência de existência de quadro inflacionário. E uma
vez deflacionada, a série passa a revelar apenas os valores reais.
Fonseca e Gomes (2003) complementam que, no Brasil, geralmente utiliza-se como deflator
(Ip) o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV), publicado mensalmente na Revista Conjuntura Econômica. Este
Índice resulta na média ponderada entre o Índice de Preços por Atacado – IPA (com peso 6),
o Índice de Custo de Vida (ICV) no Rio de Janeiro (peso 3) e o Índice Nacional de Custos da
Construção Civil – ICC (peso 1).
A escolha dos três componentes se deve ao fato de essas três atividades (operações em geral,
preço de varejo e construção civil) representarem o conjunto de operações realizadas no país.
A ponderação expressa a importância relativa de cada tipo de operações na formação da
despesa interna bruta: a produção, transporte e comercialização, a grosso modo, de bens de
consumo e de produção (60%, representados pelo IPA), valor adicionado pelo setor varejista e
pelos serviços de consumo (30%, representado pelo ICV) e valor adicionado pela indústria da
construção civil (10%).
O IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) se refere ao mês "cheio", ou seja,
o período de coleta vai do primeiro ao último dia do mês de referência e a divulgação ocorre
próxima ao dia 20 do mês posterior. Sendo calculado ininterruptamente desde 1947, o IGP-DI
foi criado com o objetivo de balizar o comportamento de preços geral na economia.
Nessas condições, para passar das estimativas monetárias para as estimativas reais, deve-se
reduzir a parcela devida unicamente ao movimento inflacionário. Essa correção é feita através
de deflatores (Ip), que são números índices que expressam a evolução dos preços (ou
desvalorização da moeda) correntes ou nominais, em determinado período, relativamente há
77
um ano-base. O processo de conversão de valores nominais ou correntes (Vc) que embutem a
inflação, em valores reais, deflacionados ou constantes (Vr), já depuradas as variações
havidas no valor da moeda, é feito da seguinte maneira, conforme Mendes (1989):
Ip
Vc
Vr
=
ou 100
PrPr
RePr x
riaçãoIndicedeVa
eeçoCorrentoduto
aloduto
=
Os índices apresentados no período de 1998 a 2003 podem ser vistos no Quadro 4:
78
Quadro 4 – Índice Geral de Preço IGP-DI, do período de julho/1999-julho/2003
Mês IGP-DI
Julho/1999
162,253
Julho/2000
186,353
Julho/2001
206,450
Julho/2002
227,441
Julho/2003
282,349
Fonte: Revista Informações Econômicas
3.3.6 Análise estatística de correlação com aplicação do Teste t
Para verificar estatisticamente a validade das conclusões das análises dos elementos que
influenciaram no comportamento da margem bruta, foram feitas algumas análises de
correlação, a qual será explicada em seguida, com a aplicação do teste t, entre as variáveis
produtividade, custo variável, preço de venda de produtos, margem bruta e superfície
agrícola útil.
O coeficiente de correlação (r) tem como um de seus objetivos estudar a dependência entre
duas variáveis aleatórias X e Y, e pode ser definido, segundo Gomes (1978), pela fórmula:
=
))((
22
yx
xy
r
O valor de r pode ser testado através da aplicação do Teste t, definido pela fórmula:
2
1
2
= N
r
r
t
Também foi aplicado o teste t para grupos não pareados, com o objetivo de comparar
estatisticamente a significância das diferenças entre as duas categorias de estabelecimento
agropecuário familiar identificadas na amostra. Foi necessária a aplicação do teste t para
79
grupos não pareados, devido à diferença do número de elementos em cada grupo, sendo uma
categoria composta por doze estabelecimentos e a outra categoria composta por apenas seis. A
fórmula utilizada para a aplicação deste teste, segundo Zar (1974), foi:
2
log
2
1
log
2
)(
)(
s
s
t
=
Para proceder à análise dos dados, utilizou-se, primeiramente, o software Microsoft Excel para
realizar uma exploração dos dados, através de uma análise estatística descritiva, onde foram
calculadas as médias, os desvios padrões, as variâncias, as amplitudes e os coeficientes de
variações. Em seguida, para se fazer uma análise de correlação, com a aplicação do teste t
utilizou-se o software estatístico SAS (Statistical Analysis System).
Optou-se pela análise estatística de correlação, pois esta é utilizada quando se quer estudar o
comportamento simultâneo de duas ou mais variáveis, isto é, como se dá a variação de uma
resposta à variação de outra, ou outras. Pela análise de correlação, defini-se o coeficiente de
correlação, cuja significância foi testada com a aplicação do teste t, o qual, especificamente
neste estudo, será considerado significativo a 5% de probabilidade.
Para facilitar a interpretação e análise da metodologia utilizada na realização desta pesquisa,
de maneira simplificada, apresenta-se no Quadro 5 a ordem de realização de cada etapa para o
tratamento dos dados da pesquisa.
Quadro 5 – Ordem das atividades desenvolvidas para tratamento dos dados da pesquisa
TRATAMENTO DOS DADOS
Tabulação dos dados brutos em planilhas do
Microsoft Excel
Cálculo da Renda Bruta
Cálculo do Custo Variável
Cálculo da Margem Bruta
Deflacionamento dos valores nominais
Cálculo da média aritmética e somatória dos resultados econômicos
Análises estatísticas descritivas e de correlações, com aplicação do teste t, baseadas nos objetivos propostos
Fonte: Dados da pesquisa.
80
Através da esquematização do Quadro 6, procurou-se facilitar a compreensão da metodologia
adotada para o alcance de cada objetivo.
Quadro 6 – Objetivos Específicos, Metodologias, Autores e Resultados Esperados
OBJETIVO METODOLOGIA AUTORES RESULTADOS
ESPERADOS
1) Descrever a margem bruta
dos estabelecimentos
agropecuários familiares,
componentes da amostra, no
período de 1998 a 2003.
Análise descritiva dos
dados, verificando a
ocorrência ou ausência de
diferenças nos valores da
margem bruta entre as
categorias de empresário
familiar e produtor
simples de
mercadoria/nível 3 e
verificar como foi o
comportamento da
margem bruta para os
diferentes sistemas
produtivos.
Classificações definidas pelo
Manual do Programa Paraná
12 Meses e adotadas pelo
Manual do Projeto Redes de
Referências para a
Agricultura Familiar.
Identificar a
ocorrência ou
ausência de diferenças
nos valores da
margem bruta entre as
categorias de
empresário familiar e
produtor simples de
mercadoria/nível 3,
como também entre os
diversos sistemas
produtivos.
2)Analisar alguns elementos
que determinaram o
comportamento da margem
bruta.
Análise dos elementos:
produtividade,
composição do sistema
produtivo, superfície
agrícola útil, custo
variável, preço recebido
pelo produto e variações
climáticas.
Hayami e Ruttan, 1988;
Khan, 1997;
Johnson, 1979; Barros e
Xavier, 1979;
Queiroz, 2003.
Verificar quais dos
elementos analisados
influenciaram
significativamente nos
resultados da margem
bruta, dos
estabelecimentos
agropecuários
amostrados.
3) Analisar a importância da
produção diversificada e da
composição dos sistemas
produtivos, nos
estabelecimentos
agropecuários familiares, e
sua relação com o
comportamento da margem
bruta.
Análise qualitativa das
mudanças de atividades
agropecuárias
desenvolvidas nos
sistemas produtivos e sua
relação com a margem
bruta.
Hayami e Ruttan, 1988;
Khan, 1997;
Johnson, 1979; Barros e
Xavier, 1979;
Queiroz, 2003.
Verificar se a opção
das várias atividades
agropecuárias
componentes de um
sistema produtivo
altera o
comportamento da
margem bruta.
4) Analisar, estatisticamente,
a significância da correlação
entre margem bruta,
produtividade, superfície
agrícola útil, custo variável,
preço recebido pelo produto
e variações climáticas.
Análises de correlação,
com aplicação do teste t
Gomes, 1978 e Zar, 1974. Verificar se existe
significância
estatística entre os
resultados
apresentados nas
análises descritivas.
Fonte: Dados da pesquisa.
81
4 DESEMPENHO DOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS FAMILIARES
SELECIONADOS: ANÁLISE DOS RESULTADOS
Nesta seção, procura-se descrever e discutir o desempenho econômico dos estabelecimentos
agropecuários amostrados, dado que a análise da literatura comprova a importância da
agricultura familiar para a economia do estado do Paraná.
Castro (1979) confirma a importância de se estudar a agricultura familiar, uma vez que a
escolha dos instrumentos de intervenção depende de se conhecerem melhor os fatores
condicionantes das decisões dos agentes econômicos nas várias circunstâncias,
complementando que diversas contribuições teóricas têm abordado facetas cruciais do
comportamento dos agentes familiares rurais, com a existência de modelos de decisão sob
condição de risco e modelos de atuação do crédito rural. Há outros que sublinham o papel da
educação e da tecnologia e há modelos de adoção, difusão e de informação. Desse modo, as
teorias de produção agrícola buscam encaixar, num contexto analítico, os porquês das
múltiplas realidades observáveis no setor agrícola.
Por outro lado, Guanziroli et al (2001) afirmam que os vários tipos de produtores são
portadores de racionalidades específicas que, ademais, adaptam-se ao meio no qual estão
inseridos - logo se reduz a validade de conclusões derivadas puramente de uma racionalidade
econômica única, universal e atemporal que supostamente caracterizaria o ser humano. Além
disso, não se deve ignorar o fato de que o universo agrário é extremamente complexo, seja em
conseqüência da grande diversidade da paisagem agrária (meio físico, ambiente, variáveis
econômicas, etc.), seja em virtude da existência de diferentes tipos de agricultores, que têm
interesses particulares, estratégias próprias de sobrevivência e de produção e que, portanto,
respondem de maneira diferenciada a desafios e restrições semelhantes.
82
Pelas análises realizadas, as quais serão apresentadas em seguida, a viabilidade e rentabilidade
da agricultura familiar passam em grande medida pela estratégia de reduzir riscos por meio da
diversificação, dado o número de sistemas produtivos identificados na amostra,
potencializando, desta forma, a utilização da mão-de-obra familiar e incorporando insumos
industriais, buscando segmentos de mercado de alto valor agregado, nos quais possam obter
algumas vantagens associadas à própria organização da produção familiar, tal como o cultivo
de frutas e criação de bovino leiteiro, que, mesmo sendo atividades mais exigentes em tratos
culturais, com a dedicação e utilização da mão-de-obra familiar, acabam por se tornarem
viáveis.
Pois, segundo Guanziroli et al (2001), o trabalho do agricultor familiar gera menor custo de
gestão e supervisão da mão-de-obra, redução do custo operacional associado á utilização do
trabalhador familiar, que tem incentivos diretos para evitar o desperdício, produtividade mais
elevada, alcançada pela mão-de-obra familiar em tarefas de manuseio, e atenção delicados
quando comparada ao trabalho assalariado e, finalmente, a maior qualidade do produto obtido
sob os cuidados dos próprios interessados. Ou seja, a própria estratégia de reprodução de parte
dos agricultores familiares os empurra para sistemas mais intensivos em mão-de-obra e
capital. Ambos os fatores acabam restringindo a expansão.
Mesmo assim, também foram identificados na amostra sistemas produtivos menos intensivos
em mão-de-obra, tal como o plantio de soja, milho e trigo, porém a expansão desses sistemas
de produção fica restrita à disponibilidade de área cultivável que, no caso deste grupo, é
bastante limitada, pois a superfície agrícola útil varia somente de 15 a 50 hectares.
Fazendo uma análise dos diferentes sistemas produtivos da amostra, de acordo com as
categorias definidas pelo Programa Paraná 12 Meses (segundo área, o capital imobilizado em
benfeitorias e equipamentos e o percentual de participação da mão-de-obra familiar), as quais
83
são adotadas pelo Projeto Redes, os estabelecimentos agropecuários da amostra se enquadram
nas seguintes categorias: EF (empresário familiar) e PSM3 (produtor simples de mercadoria),
cujas características podem ser vistas no Quadro 7:
QUADRO 7 – Categorias de estabelecimentos agropecuários familiares identificados na amostra, segundo
critérios definidos pelo Programa Paraná 12 Meses e adotados pelo Projeto Redes
Capital
Categoria social
Área
(ha)
Benfeitorias
produtivas (R$)
Equipamentos
agrícolas (R$)
Uso de mão-
de-obra
familiar (%)
Empresário Familiar (EF)
> 50
> 97.200,00 > 87.480,00 > 50
Produtor Simples de Mercadoria – Nível 3 (PSM3) < 50 < 97.200,00 < 87.480,00 > 50
Fonte: Manual Operativo do Programa Paraná 12 Meses (MANUAL..., 1997).
Alguns dos estabelecimentos da amostra, apesar de possuírem uma área de até 50 ha, ao invés
de serem considerados Produtor Simples de Mercadoria – Nível 3 (PSM3), foram
classificados como Empresário Familiar, por disporem de um capital dentro desta categoria,
compensando a menor disponibilidade de área e vice-versa.
Além dessa classificação, o Projeto Redes ainda classifica os estabelecimentos segundo a
atividade agropecuária mais representativa na composição da renda que, nesta meso-região,
predominam-se os seguintes sistemas produtivos: soja, milho, trigo e avicultura; soja, milho,
trigo e bovino leiteiro; soja, milho, trigo e fruticultura; soja, milho, trigo e café e somente
soja, milho e trigo.
No decorrer do estudo, frente à identificação de algumas inconsistências não aprofundadas
devido ao limite de tempo para a elaboração desta dissertação, foi necessário fazer alguns
ajustes, para a conclusão da pesquisa.
84
Inicialmente, esperava-se fazer uma análise da evolução da margem bruta e de alguns
elementos que a influenciaram nesta evolução, com todos os estabelecimentos agropecuários
familiares selecionados na amostra. Após o início das análises foi observada uma grande
heterogeneidade na composição dos sistemas produtivos, tornando inviável a realização de
uma análise aprofundada das várias categorias de sistemas produtivos, pois a maioria é
representada por um, dois e três estabelecimentos agropecuários.
Nestas circunstâncias, apesar de apresentar a tendência da margem bruta dos diferentes
sistemas produtivos, só será feita a análise dos fatores que influenciaram na evolução deste
indicador econômico, para a categoria de estabelecimentos agropecuários que tem como
principais atividades os cultivos de soja, milho e trigo, pois este é o grupo mais representativo
da amostra, sendo composto por onze dos dezoito estabelecimentos agropecuários
amostrados.
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA DA MARGEM BRUTA DOS ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS AMOSTRADOS
4.1.1 Margem Bruta, Renda Bruta e Custo Variável de todos os estabelecimentos
agropecuários componentes da amostra
Na Tabela 5, são apresentados os valores da margem bruta total, dos dezoito estabelecimentos
agropecuários da amostra, ao final de cada ano agrícola, do período analisado, ou seja, sem a
divisão por categoria (empresário familiar ou produtor simples de mercadoria/nível 3), nem
pelas principais atividades agropecuárias desenvolvidas nos estabelecimentos.
85
TABELA 5 – Margem Bruta Total dos estabelecimentos agropecuários amostrados, em reais (R$)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1 151 65.870 25.366 40.376 45.401 89.317
2 152 36.394 25.896 34.339 37.817 27.468
3 153 46.933 34.402 42.888 40.665 66.156
4 156 46.000 29.418 58.124 109.596 88.200
5 157 48.825 16.201 15.843 93.773 103.845
6 162 99.051 30.300 62.262 126.780 88.932
7 201 55.479 23.628 13.867 22.819 112.732
8 203 14.790 6.710 15.223 7.139 13.686
9 206 44.477 6.940 7.834 17.631 34.837
10 216 23.404 5.789 10.901 19.555 29.608
11 501 26.519 6.630 13.852 22.693 26.012
12 502 23.613 11.657 27.709 44.694 42.900
13 503 27.897 8.038 42.053 44.707 24.608
14 504 26.810 42.564 28.214 60.397 64.841
15 507 52.385 11.987 44.443 78.887 90.602
16 510 53.909 35.490 59.036 83.177 126.069
17 511 16.967 13.406 24.517 73.165 45.589
18 512 24.290 16.109 34.955 94.514 112.696
Soma 733.613 350.531 576.438 1.023.407 1.175.781
Média 40.756 19.474 32.024 56.856 65.321
Fonte: Dados da pesquisa.
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Fazendo uma análise dos dados da Tabela 5, é possível constatar uma grande variação na
margem bruta desses estabelecimentos agropecuários, tanto comparando os resultados dos
diferentes estabelecimentos em um mesmo ano agrícola, como também ao comparar os
resultados de um mesmo estabelecimento nos diferentes anos. Com estas diferenças de
valores é possível confirmar as observações feitas por Guanziroli et al (2001), com relação à
heterogeneidade deste grupo, as quais serão melhores exploradas na análise da margem bruta
por sistema de produção, apresentadas no item 4.1.3 desta seção.
Como exemplo das diferenças de valores, é interessante observar, primeiramente, os casos
extremos de cada ano, como no ano agrícola de 1998/1999, o estabelecimento 1 obteve uma
margem de R$ 65.870,00 quando o estabelecimento 17 chegou a apenas R$ 16.697,00. Em
1999/2000, o estabelecimento 14 teve uma margem bruta de R$ 42.564,00 e o
estabelecimento 10 teve uma margem de R$ 5.789,00. Em 2000/2001, de modo geral, os
resultados mostraram-se um pouco mais equilibrados, comparados com os demais anos, tendo
86
o estabelecimento 6 obtido uma margem de R$ 62.262,00, mas, mesmo assim, teve um
estabelecimento com uma margem de R$ 7.834,00, como é o caso do estabelecimento 9.
Em 2001/2002 o estabelecimento 6 obteve a maior margem bruta de todo o período e de todos
os estabelecimentos, chegando a R$ 126.780,00, mas neste mesmo ano o estabelecimento 8
obteve uma margem bruta de R$ 7.139,00, mantendo a característica de grandes variações. E
em 2002/2003 a diferença foi entre o estabelecimento 7, com uma margem de R$ 112.732,00
e novamente o estabelecimento 8, com uma margem de R$ 13.686,00.
Quando comparados os resultados de um mesmo estabelecimento nos diferentes anos, é
possível afirmar que nenhum tem um comportamento relativamente estável em relação à
margem bruta. Por exemplo, o estabelecimento 5 tinha em 1998/1999 uma margem bruta de
R$ 48.825,00, passando para R$ 16.201,00 e R$ 15.843,00 em 1999/2000 e 2000/2001,
respectivamente, subindo para R$ 93.773,00 em 2001/2002, chegando a R$ 103.845,00 em
2002/2003.
Comparando a margem bruta dos cinco anos do estabelecimento 6, este obteve um resultado
de R$ 99.051,00 em 1998/1999, passando para R$ 30.300,00 em 1999/2000, subindo para R$
126.780,00 em 2001/2002, tendo uma pequena queda em 2002/2003, indo para R$ 88.932,00.
O Gráfico 2 apresenta a média aritmética anual da margem bruta de todos os estabelecimentos
amostrados.
87
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
100.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R
$
Margem Bruta
GRÁFICO 2 – Margem Bruta Média de todos os estabelecimentos agropecuários amostrados, em reais
(R$)
Fonte: Dados da pesquisa.
O Gráfico 2 revela que, exceto o ano de 1999/2000 no qual a margem bruta média chegou a
apenas R$ 19.474,00, nos demais anos ela variou entre R$ 34.896,00 e R$ 72.926,00,
mantendo uma tendência crescente de 2000/2001 a 2002/2003.
Como a margem bruta foi calculada subtraindo-se o custo variável da renda bruta, a
apresentação de resultados será padronizada, nesta seção, da seguinte forma: apresentação da
margem bruta, seguida sempre das tabelas com os valores de renda bruta e custo variável.
Assim, apresentam-se na Tabela 6 os valores da renda bruta de cada estabelecimento, e na
Tabela 7 os valores do Custo Variável de cada estabelecimento.
88
TABELA 6 – Renda Bruta Total dos estabelecimentos agropecuários amostrados, em reais (R$)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1 151 119.268 72.097 86.125 107.645 160.279
2 152 98.944 53.824 75.214 69.732 56.171
3 153 92.074 65.544 92.733 92.524 124.230
4 156 89.562 64.294 103.591 170.098 147.541
5 157 67.150 46.479 71.844 172.972 248.329
6 162 162.881 93.228 122.284 212.178 182.390
7 201 119.547 65.056 63.284 83.179 193.261
8 203 29.372 19.702 19.694 17.206 6.860
9 206 76.668 16.562 22.727 29.911 50.670
10 216 47.117 20.339 29.385 43.813 57.824
11 501 40.737 24.542 32.240 43.876 42.236
12 502 38.894 27.635 44.226 59.687 62.955
13 503 72.001 52.363 81.118 93.715 90.195
14 504 51.641 64.268 53.338 87.557 93.805
15 507 92.373 48.947 75.637 117.023 120.307
16 510 101.245 87.228 103.530 136.738 173.049
17 511 44.020 33.281 45.026 102.677 90.246
18 512 77.417 85.881 93.236 162.070 175.427
Soma 1.420.911 941.269 1.215.234 1.802.600 2.075.775
Média 78.940 52.293 67.513 100.144 115.321
Fonte: Dados da pesquisa.
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
TABELA 7 – Custo Variável Total dos estabelecimentos agropecuários amostrados, em reais (R$)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 53.397 46.731 45.749 62.244 70.962
2
152 62.550 27.928 40.875 31.915 28.704
3
153 45.140 31.142 49.845 51.860 58.074
4
156 43.562 34.876 45.467 60.502 59.341
5
157 18.325 30.277 56.001 79.199 144.484
6
162 63.830 62.927 60.022 85.398 93.458
7
201 64.068 41.428 49.416 60.360 80.529
8
203 14.581 12.992 4.471 10.067 5.492
9
206 32.191 9.623 14.893 12.280 15.833
10
216 23.713 14.550 18.485 24.258 28.215
11
501 14.218 17.912 18.388 21.182 16.223
12
502 15.281 15.978 16.516 14.994 20.055
13
503 44.104 44.325 39.066 49.008 65.587
14
504 24.831 21.703 25.124 27.160 28.964
15
507 39.988 36.960 31.194 38.136 29.705
16
510 47.336 51.738 44.494 53.561 46.980
17
511 27.053 19.875 20.510 29.512 44.657
18
512 53.128 69.772 58.282 67.556 62.731
Soma 687.298 590.738 638.796 779.194 899.994
Média 38.183 32.819 35.489 43.289 50.000
Fonte: Dados da pesquisa.
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
89
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
100.000
110.000
120.000
130.000
140.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
EM R$
RBT CVT
GRÁFICO 3 – Renda Bruta Média e Custo Variável Médio de todos os estabelecimentos agropecuários
amostrados, em reais (R$)
Fonte: Dados da pesquisa.
O Gráfico 3 indica que o que mais influenciou na margem bruta foi o comportamento da
renda dos estabelecimentos, pois o custo variável, mesmo aumentando, teve uma variação
discreta, quando comparado à variação da renda bruta, que teve uma forte queda em
1999/2000, e nos anos seguintes subiu constantemente.
Mas mesmo o custo variável dos estabelecimentos tendo um comportamento similar ao da
renda, caindo de 1998/1999 para 1999/2000, seguido de aumentos entre 2000/2001,
2001/2002 e 2002/2003, estes aumentos foram menores que o aumento na renda,
contribuindo, assim, para que a margem bruta desses estabelecimentos aumentasse. Os fatores
que possivelmente contribuíram para estes comportamentos serão explorados à frente, no item
4.2 desta seção.
90
4.1.2 Margem Bruta, Renda Bruta e Custo Variável dos Estabelecimentos
Agropecuários Amostrados, segundo a Categoria de Empresário Familiar e Produtor
Simples de Mercadoria/nível 3
A seguir, serão analisados os indicadores de Margem Bruta, Renda Bruta e Custo Variável,
separando-se os dados dos estabelecimentos agropecuários da categoria de empresários
familiares, da categoria de produtor simples de mercadoria/nível 3. E, em seguida, serão
testadas estatisticamente as diferenças dos resultados das duas categorias.
4.1.2.1 Margem Bruta, Renda Bruta e Custo Variável dos estabelecimentos agropecuários da
categoria de empresário familiar
Na Tabela 8, apresentam-se os resultados da margem bruta obtida pelos estabelecimentos
classificados como empresário familiar, por possuírem uma área maior que 50 ha, terem um
capital investido em máquinas e equipamentos superior a R$ 97.200,00, terem um capital
maior que R$ 87.480,00, investido em benfeitorias agrícolas e por mais de 50% da mão-de-
obra utilizada nos trabalhos do estabelecimento agrícola ser de origem familiar.
Esta categoria de estabelecimentos foi predominante na amostra, sendo representada por doze
dos dezoito estabelecimentos agropecuários amostrados.
Genericamente, as características do comportamento da margem bruta identificadas
anteriormente na amostra total também são aplicáveis neste grupo de estabelecimentos. Os
resultados dos estabelecimentos variam significativamente entre si, como também os
91
resultados de um mesmo estabelecimento variam muito de um ano para o outro. Os dados de
margem bruta desta categoria de estabelecimentos podem ser vistos na Tabela 8.
TABELA 8 – Margem Bruta Total da categoria Empresário Familiar (EF), em reais (R$)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 65.870 25.366 40.376 45.401 89.317
2
152 36.394 25.896 34.339 37.817 27.468
3
153 46.933 34.402 42.888 40.665 66.156
4
156 46.000 29.418 58.124 109.596 88.200
5
157 48.825 16.201 15.843 93.773 103.845
6
162 99.051 30.300 62.262 126.780 88.932
7
201 55.479 23.628 13.867 22.819 112.732
8
203 14.790 6.710 15.223 7.139 1.368
9
206 44.477 6.940 7.834 17.631 34.837
10
507 52.385 11.987 44.443 78.887 90.602
11
510 53.909 35.490 59.036 83.177 126.069
12
511 16.967 13.406 24.517 73.165 45.589
Soma 581.080 259.744 418.755 736.848 875.116
Média 48.423 21.645 34.896 61.404 72.926
Fonte: Dados da pesquisa.
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
O Gráfico 4 comprova a similaridade do comportamento da margem bruta, do grupo de
estabelecimentos agropecuários da categoria de empresário familiar, com o comportamento da
margem bruta de todos os estabelecimentos agropecuários da amostra, como visto
anteriormente. Neste caso, também a margem bruta sofreu uma queda de 1998/1999 para
1999/2000 e nos anos seguintes manteve uma tendência crescente.
92
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
100.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R
$
Margem Bruta
GRÁFICO 4 – Margem Bruta Total da categoria Empresário Familiar (EF), em reais (R$)
Fonte: Dados da pesquisa
Nas Tabelas 9 e 10 são apresentados os valores de renda bruta e custo variável,
respectivamente, da categoria de empresário familiar.
TABELA 9 – Renda Bruta Total da Categoria Empresário Familiar (EF), em reais (R$)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 119.268 72.097 86.125 107.645 160.279
2
152 98.944 53.824 75.214 69.732 56.171
3
153 92.074 65.544 92.733 92.524 124.230
4
156 89.562 64.294 103.591 170.098 147.541
5
157 67.150 46.479 71.844 172.972 248.329
6
162 162.881 93.228 122.284 212.178 182.390
7
201 119.547 65.056 63.284 83.179 193.261
8
203 29.372 19.702 19.694 17.206 6.860
9
206 76.668 16.562 22.727 29.911 50.670
10
507 92.373 48.947 75.637 117.023 120.307
11
510 101.245 87.228 103.530 136.738 173.049
12
511 44.020 33.281 45.026 102.677 90.246
Soma 1.093.104 666.241 881.691 1.311.883 1.553.333
Média 91.092 55.520 73.474 109.324 129.444
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
93
TABELA 10 – Custo Variável Total da Categoria Empresário Familiar (EF), em reais (R$)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 53.397 46.731 45.749 62.244 70.962
2
152 62.550 27.928 40.875 31.915 28.704
3
153 45.140 31.142 49.845 51.860 58.074
4
156 43.562 34.876 45.467 60.502 59.341
5
157 18.325 30.277 56.001 79.199 144.484
6
162 63.830 62.927 60.022 85.398 93.458
7
201 64.068 41.428 49.416 60.360 80.529
8
203 14.581 12.992 4.471 10.067 5.492
9
206 32.191 9.623 14.893 12.280 15.833
10
507 39.988 36.960 31.194 38.136 29.705
11
510 47.336 51.738 44.494 53.561 46.980
12
511 27.053 19.875 20.510 29.512 44.657
Soma 512.023 406.497 462.936 575.036 678.218
Média 42.669 33.875 38.578 47.920 56.518
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
100.000
110.000
120.000
130.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$
RBT CVT
GRAFICO 5 –Renda Bruta Média e Custo Variável Médio da Categoria de Empresário Familiar, em
reais (R$)
Fonte: Dados da pesquisa
Nesta categoria de estabelecimentos agropecuários, segundo o Gráfico 5, a renda bruta média
variou entre R$ 55.520,00 e R$ 129.444,00 e o custo variável ficou entre R$ 33.875,00 e R$
56.518,00. Novamente confirmando a similaridade entre o comportamento da amostra total,
94
com esta categoria de estabelecimento agropecuário onde, apesar dos custos terem subido, a
renda subiu muito além do custo variável, conseqüentemente, aumentando a margem bruta.
4.1.2.2 Margem Bruta, Renda Bruta e Custo Variável dos estabelecimentos agropecuários da
categoria de Produtor Simples de Mercadoria/Nível 3
Na Tabela 11, apresentam-se os resultados da margem bruta obtida pelos estabelecimentos
classificados como produtor simples de mercadoria/nível 3, por possuírem uma área menor
que 50 ha, terem um capital investido emquinas e equipamentos inferior a R$ 97.200,00,
terem um capital menor que R$ 87.480,00 investido em benfeitorias agrícolas e por mais de
50% da mão-de-obra utilizada nos trabalhos do estabelecimento agrícola serem de origem
familiar.
Completando a amostra total de dezoito estabelecimentos agropecuários desta pesquisa, esta
categoria é representada por apenas seis estabelecimentos.
Pelos dados apresentados na Tabela 11, é possível ver claramente que os valores da margem
bruta dessa categoria são inferiores aos da margem bruta da categoria de empresário familiar,
variando a margem bruta média desses estabelecimentos entre R$ 15.131,00 e R$ 50.111,00,
enquanto a média dos empresários familiares ficou entre R$ 21.645,00 e R$ 72.926,00.
Mesmo com valores menores, esta categoria acompanha a tendência da amostra total e da
categoria de empresário familiar, sofrendo uma queda na margem bruta de 1998/1999 para
1999/2000, seguida de um crescimento nos anos seguintes até 2002/2003. A Tabela 11
apresenta os valores anuais da margem bruta dos estabelecimentos desta categoria.
95
TABELA 11 – Margem Bruta Total da Categoria de Produtor Simples de Mercadoria / Nível 3, em reais
(R$)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
216 23.404 5.789 10.901 19.555 29.608
2
501 26.519 6.630 13.852 22.693 26.012
3
502 23.613 11.657 27.709 44.694 42.900
4
503 27.897 8.038 42.053 44.707 24.608
5
504 26.810 42.564 28.214 60.397 64.841
6
512 24.290 16.109 34.955 94.514 112.696
Soma 152.533 90.788 157.683 286.559 300.665
Média 25.422 15.131 26.281 47.760 50.111
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Fazendo uma análise da Tabela 11, constata-se que, neste grupo, no ano agrícola de
1998/1999, apesar da existência de variações nos valores da margem bruta de um
estabelecimento para outro, essas diferenças mostraram-se menores do que na categoria de
empresário familiar neste mesmo ano, onde a margem bruta dos estabelecimentos variou
apenas entre R$ 23.404,00 e 27.897,00, com uma diferença de apenas R$ 4.493,00 entre o
estabelecimento com a maior margem bruta do ano e o estabelecimento com a menor margem
no ano.
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$
Margem Bruta
GRÁFICO 6 – Margem Bruta Média da Categoria de Produtores Simples de Mercadorias / Nível 3, em
reais (R$)
Fonte: Dados da pesquisa
96
O Gráfico 6 apresenta o comportamento da margem bruta da categoria de produtor simples de
mercadoria/nível 3 que, como mencionado anteriormente, é similar ao comportamento da
margem bruta das análises anteriores, porém o crescimento do ano agrícola de 2001/2002 para
2002/2003 foi menor, sendo de apenas R$ 14.106,00, quando a categoria de empresário
familiar teve um aumento na soma das margens brutas de todos os estabelecimentos, da
ordem de R$ 138.250,00.
Nas Tabelas 12 e 13 são apresentados os valores de renda bruta e custo variável,
respectivamente, da categoria de produtor simples de mercadoria/nível 3.
TABELA 12 - Renda Bruta Total da Categoria de Produtores Simples de Mercadorias / Nível 3, em reais
(R$)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
216 47.117 20.339 29.385 43.813 57.824
2
501 40.737 24.542 32.240 43.876 42.236
3
502 38.894 27.635 44.226 59.687 62.955
4
503 72.001 52.363 81.118 93.715 90.195
5
504 51.641 64.268 53.338 87.557 93.805
6
512 77.417 85.881 93.236 162.070 175.427
Soma 327.808 275.028 333.543 490.717 522.442
Média 93.659 78.579 95.298 140.205 149.269
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
TABELA 13 - Custo Variável Total da Categoria de Produtores Simples de Mercadorias / Nível 3, em
reais (R$)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
216 23.713 14.550 18.485 24.258 28.215
2
501 14.218 17.912 18.388 21.182 16.223
3
502 15.281 15.978 16.516 14.994 20.055
4
503 44.104 44.325 39.066 49.008 65.587
5
504 24.831 21.703 25.124 27.160 28.964
6
512 53.128 69.772 58.282 67.556 62.731
Soma 175.275 184.240 175.860 204.158 221.777
Média 50.079 52.640 50.246 58.331 63.365
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
97
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
100.000
110.000
120.000
130.000
140.000
150.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
E
m
R$
RBT CVT
GRÁFICO 7 - Renda Bruta Média e Custo Variável Médio da Categoria de Produtores Simples de
Mercadorias / Nível 3, em reais (R$)
Fonte: Dados da pesquisa
O Gráfico 7 permite observar que o menor crescimento da margem bruta do ano agrícola de
2001/2002 para 2002/2003, desta categoria, foi ocasionado pelo menor aumento da renda
bruta, uma vez que o custo variável não aumentou significativamente, a ponto de impedir o
crescimento da margem bruta, se a renda bruta tivesse acompanhado o crescimento da renda
bruta da categoria de empresário familiar.
A princípio, as diferenças de grandeza dos valores de margem bruta, renda bruta e custo
variável entre as categorias de empresário familiar e produtor simples de mercadoria
poderiam ser explicadas, devido às menores disponibilidades de áreas e ao menor valor de
capital investido em máquinas, equipamentos e benfeitorias. Para verificar a significância da
diferença nos resultados econômicos entre essas duas categorias, aplicou-se o teste estatístico
t para grupos não pareados, uma vez que a categoria de empresário familiar é composta por
12 estabelecimentos e a categoria de produtor simples de mercadoria é representada por
apenas 6 estabelecimentos agropecuários.
98
A aplicação deste teste estatístico foi feita sobre os valores médios de cada indicador no
qüinqüênio, para cada estabelecimento agropecuário, separado por categoria, como podem ser
vistos nas Tabelas 14 e 15 os resultados da categoria de empresário familiar e produtor
simples de mercadoria/nível 3, respectivamente.
TABELA 14 – Média Qüinqüenal da Margem Bruta, da Renda Bruta, do Custo Variável e da Superfície
Agrícola Útil dos Estabelecimentos Agropecuários da Categoria de Empresário Familiar, em reais (R$)
Nº DE
ORDEM CÓDIGO
MARGEM
BRUTA
RENDA
BRUTA
CUSTO
VARIÁVEL S.A.U.
1
151 53.266 109.083 55.817 34
2
152 32.383 70.777 38.394 35
3
153 46.209 93.421 47.212 37
4
156 66.268 115.017 48.750 45
5
157 55.697 121.355 65.657 40
6
162 81.465 154.592 73.127 52
7
201 45.705 104.865 59.160 47
8
203 9.046 18.567 9.521 35
9
206 22.344 39.308 16.964 21
10
507 55.661 90.857 35.196 44
11
510 71.536 120.358 48.822 47
12
511 34.729 63.050 28.321 33
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
TABELA 15 – Média Qüinqüenal da Margem Bruta, da Renda Bruta, do Custo Variável e da Superfície
Agrícola Útil dos Estabelecimentos Agropecuários da Categoria de Produtor Simples de Mercadoria/nível
3, em reais (R$)
Nº DE
ORDEM
CÓDIGO
MARGEM
BRUTA
RENDA
BRUTA
CUSTO
VARIÁVEL S.A.U.
1 216 39.695 21.844 17.851 19
2 501 36.726 17.585 19.141 27
3 502 46.679 16.565 30.115 16
4 503 77.879 48.418 29.460 36
5 504 70.122 25.556 44.565 37
6 512 118.806 62.294 56.512 40
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
A princípio, foram testados os resultados totais destas duas categorias, através da média
aritmética qüinqüenal de cada estabelecimento, para os indicadores de margem bruta, renda
99
bruta, custo variável e superfície agrícola útil, chegando-se aos resultados apresentados na
Tabela 16.
TABELA 16 – Resultados do teste estatístico t para grupos não pareados, entre as categorias de empresário
familiar (EF) e produtor simples de mercadoria/nível 3 (PSM3), para as variáveis margem bruta, renda
bruta, custo variável e superfície agrícola útil
MB EF RB EF CV EF SAU EF
MB PSM3
0,48
13%
RB PSM3
0,68
15%
CV PSM3
0,10
23%
SAU PSM3
0,57*
4%
* Significativo a 5% de probabilidade
Fonte: Dados da pesquisa.
Pelos resultados da Tabela 16, é possível afirmar que, estatisticamente, os resultados
econômicos das diferentes categorias não são significativos a 5% de probabilidade, sendo
somente a diferença entre a extensão de superfície agrícola útil (SAU) significativa entre as
categorias de empresário familiar e produtor simples de mercadoria.
Para confirmar que, apesar de qualitativamente separados em duas categorias, os resultados
econômicos destas categorias não possuem significância estatística, aplicou-se novamente o
teste estatístico t para grupos não pareados, mas agora, buscando anular as diferenças de
valores, segundo a disponibilidade de área, os valores dos indicadores foram divididos pela
superfície agrícola útil, ficando a margem bruta/sau, renda bruta/sau e custo variável/sau.
Mesmo assim, os resultados se mantiveram, não havendo significância estatística nas
diferenças de resultados econômicos entre as duas categorias. As Tabelas 17 e 18 apresentam
os indicadores por superfície agrícola útil, separados por categoria, utilizados na replicação do
teste t.
100
TABELA 17 – Média Qüinqüenal da Margem Bruta/SAU, da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU
dos Estabelecimentos Agropecuários da Categoria de Empresário Familiar, em reais (R$)
Nº DE
ORDEM CÓDIGO
MARGEM
BRUTA
RENDA
BRUTA
CUSTO
VARIÁVEL
1
151 1.572 3.220 1.647
2
152 932 2.029 1.097
3
153 1.235 2.496 1.261
4
156 1.460 2.535 1.074
5
157 1.409 2.965 1.556
6
162 1.582 3.002 1.420
7
201 945 2.218 1.273
8
203 549 1.393 802
9
206 1.114 1.951 837
10
507 1.278 2.086 808
11
510 1.516 2.550 1.035
12
511 1.063 1.929 811
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
TABELA 18 – Média Qüinqüenal da Margem Bruta/SAU, da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU
dos Estabelecimentos Agropecuários da Categoria de Produtor Simples de Mercadoria/nível 3, em reais
(R$)
Nº DE
ORDEM CÓDIGO
MARGEM
BRUTA
RENDA
BRUTA
CUSTO
VARIÁVEL
1
216 967 2.017 1.088
2
501 711 1.363 653
3
502 1.914 2.968 1.053
4
503 812 2.145 1.334
5
504 1.199 1.887 688
6
512 1.398 2.939 1.541
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Abaixo, na Tabela 19, encontram-se os resultados da replicação do t para grupos não
pareados, para os indicadores margem bruta/sau, renda bruta/sau e custo variável/sau.
TABELA 19 – Resultados do teste estatístico t para grupos não pareados, entre as categorias de empresário
familiar (EF) e produtor simples de mercadoria/nível 3 (PSM3), para as variáveis margem bruta/sau,
renda bruta/sau e custo variável/sal
MB/SAU EF RB/SAU EF CV/SAU EF
MB/SAU PSM3
0,31
76%
RB/SAU PSM3
0,59
61%
CV/SAU PSM3
0,61
63%
* Significativo a 5% de probabilidade
Fonte: Dados da pesquisa.
101
Conclui-se, assim, que, apesar dos estabelecimentos agropecuários da amostra estarem
classificados em diferentes categorias, o valor do capital investido em máquinas,
equipamentos e benfeitorias, quando testados estatisticamente, não influenciaram nos
resultados econômicos dos estabelecimentos, apenas a extensão da superfície agrícola útil
teve influência significativa sobre esses resultados. Um dos fatores a explicar o desempenho
observado pode ser o tamanho da amostra - número de estabelecimentos e período analisado
Com a constatação de que a extensão da superfície agrícola útil interfere nos resultados
econômicos dos estabelecimentos agropecuários, serão apresentados, a seguir, a margem
bruta, a renda bruta e o custo variável, divididos pela superfície agrícola útil, disponível em
cada estabelecimento. Também as análises futuras serão realizadas separando-se os
estabelecimentos amostrados, segundo a classificação de sistema produtivo, definida pelo
Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar, adotando-se como critério de
divisão as atividades agropecuárias mais representativas na composição da renda.
4.1.3 Margem Bruta/SAU, Renda Bruta/SAU e Custo Variável/SAU dos
Estabelecimentos Agropecuários Amostrados segundo o Sistema de Produção
A incerteza quanto ao rendimento da produção agrícola total de um estabelecimento
agropecuário, segundo Johnson (1979), é, entre outros fatores, uma função da escolha de
culturas, logo um aumento na diversificação ou no número de produtos cultivados geralmente
resulta em uma redução na variação da produção agrícola total. Dessa forma, a incerteza de
rendimento é devida, em parte, à natureza e, em parte, às escolhas feitas pelos tomadores de
decisões. Deste modo, a diversificação destina-se a minimizar as flutuações da produção, o
102
que também pode resultar na redução da produção total. Contudo, fica a cargo dos
agricultores definir que estratégia será adotada.
Confirmando a abordagem de Johnson (1979), a questão de diversificação das atividades
agropecuárias será levada em consideração neste estudo, pois, como será visto a seguir, a
composição dos produtos nos estabelecimentos agropecuários amostrados, apesar de não
apresentarem significância estatística, de acordo com as análises dos dados, ficam claras as
diferenças no comportamento dos indicadores econômicos, segundo a(s) atividade(s)
agropecuária(s) predominante(s) em cada sistema produtivo.
4.1.3.1 Sistema de produção de soja, milho, trigo e avicultura
Na amostra desta pesquisa, apenas um estabelecimento agropecuário teve destaque na
atividade de avicultura, ou seja, apenas neste estabelecimento a criação de frango mostrou-se
representativa na composição da renda bruta.
Analisando os dados da Tabela 20 e do Gráfico 8, observa-se que, ao contrário da crescente
margem bruta obtida entre os anos agrícolas de 2000/2001 a 2002/2003 vista na análise geral
de todos os estabelecimentos da amostra, este estabelecimento obteve uma queda em sua
margem bruta, neste último ano.
103
TABELA 20 - Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Avicultura, em reais
por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
152 989 757 1.004 1.106 803
Soma 989 757 1.004 1.106 803
Média 989 757 1.004 1.106 803
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
500
600
700
800
900
1.000
1.100
1.200
1.300
1.400
1.500
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/h
a
MB/SAU
GRAFICO 8 – Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Avicultura, em reais
por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 21 - Renda Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Avicultura, em reais por
hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
152 2.690 1.574 2.199 2.039 1.642
Soma 2.690 1.574 2.199 2.039 1.642
Média 2.690 1.574 2.199 2.039 1.642
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
104
TABELA 22 - Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Avicultura, em reais
por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
152 1.701 817 1.195 933 839
Soma 1.701 817 1.195 933 839
Média 1.701 817 1.195 933 839
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
5.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/ha
RBT/SAU CVT/SAU
GRAFICO 9 – Média da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja,
Milho, Trigo e Avicultura, em reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
Analisando o Gráfico 9, observa-se que a curva do custo variável/sau é acompanha da renda
bruta/sau, e pelo comportamento das curvas, no Gráfico 9, é possível afirmar que a queda na
margem bruta no ano agrícola de 2002/2003 foi conseqüência de uma maior queda na renda e
não um aumento no custo variável.
105
4.1.3.2 Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Bovino Leiteiro
Este sistema de produção, com a participação significativa da criação de bovino leiteiro na
composição da renda, também é representada por apenas um estabelecimento da amostra. A
evolução da margem bruta/sau neste estabelecimento foi a que mais se diferenciou dos
comportamentos da margem bruta dos demais estabelecimentos analisados até agora.
Neste caso, a margem bruta aumentou, de 1998/1999 para 1999/2000, sendo que neste ano
praticamente todos os estabelecimentos tiveram uma queda neste indicador, seguida de uma
redução na margem bruta de 1999/2000 para 2000/2001, ano em que os demais
estabelecimentos obtiveram um aumento em sua margem bruta.
TABELA 23 - Margem Bruta Total do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Bovino Leiteiro, em
reais por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
504 721 1.145 759 1.625 1.745
Soma 721 1.145 759 1.625 1.745
Média 721 1.145 759 1.625 1.745
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
106
500
600
700
800
900
1.000
1.100
1.200
1.300
1.400
1.500
1.600
1.700
1.800
1.900
2.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/h
a
MB/SAU
GRAFICO 10 – Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Bovino Leiteiro,
em reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 24 - Renda Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Bovino Leiteiro, em
reais por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
504 1.390 1.729 1.435 2.356 2.524
Soma 1.390 1.729 1.435 2.356 2.524
Média 1.390 1.729 1.435 2.356 2.524
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
TABELA 25 - Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Bovino Leiteiro, em
reais por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
504 668 584 676 731 779
Soma 668 584 676 731 779
Média 668 584 676 731 779
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
107
500
700
900
1.100
1.300
1.500
1.700
1.900
2.100
2.300
2.500
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/ha
RBT/SAU CVT/SAU
GRAFICO 11 – Média da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja,
Milho, Trigo e Bovino Leiteiro, em reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
Fazendo uma análise comparativa entre a renda bruta/sau e o custo variável/sau, através do
Gráfico 11, percebe-se que, de modo geral, o custo variável deste estabelecimento é baixo e
relativamente estável, sendo a renda bruta/sau a maior responsável pelo comportamento da
margem bruta/sau.
4.1.3.3 Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Fruticultura
Na amostra foram dois os estabelecimentos que têm a fruticultura como atividade
representativa na composição da renda. Neste sistema produtivo, a diminuição da margem
bruta/sau, ocorrida em 1999/2000, para a maioria dos estabelecimentos, mas com recuperação
108
em 2000/2001. Neste caso, o baixo resultado permaneceu por mais um ano, recuperando-se
apenas em 2001/2002.
TABELA 26 - Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Fruticultura, em reais
por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
201 873 583 332 547 2.389
2
206 1.667 260 484 1.089 2.070
Soma 2.540 843 816 1.636 4.459
Média 1.270 422 408 818 2.229
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/h
a
MB/SAU
GRAFICO 12 – Média da Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e
Fruticultura, em reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 27 - Renda Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Fruticultura, em reais
por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
201 1.882 1.605 1.516 1.993 4.095
2
206 2.874 621 1.404 1.847 3.011
Soma 4.756 2.226 2.920 3.840 7.106
Média 2.378 1.113 1.460 1.920 3.553
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
109
TABELA 28 - Custo variável/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Fruticultura, em reais
por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
201 1.009 1.022 1.184 1.446 1.706
2
206 1.207 361 920 759 941
Soma 2.215 1.383 2.104 2.205 2.647
Média 1.108 691 1.052 1.102 1.324
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/ha
RBT/SAU CVT/SA U
GRAFICO 13 – Média da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja,
Milho, Trigo e Fruticultura, em reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
Quando analisada a renda bruta/sau e o custo variável/sau conjuntamente através do Gráfico
13, pode-se verificar que a renda bruta/sau aumentou de 1999/2000 para 2000/2001, mas vê-
se também que os custos diminuíram menos que proporcionalmente, por isso a margem bruta,
como visto acima, permaneceu baixa nesse período. Ao contrário nos períodos seguintes, o
crescimento do custo variável/sau a taxas inferiores às taxas de crescimento da renda
contribuiu para a elevação da margem bruta/sau.
110
4.1.3.4 Sistema de produção de soja, milho, trigo e café
Apesar de, em anos anteriores, o café ter sido uma importante atividade agrícola para a
economia do Estado, principalmente para a região norte onde se localizam os
estabelecimentos agropecuários da amostra, atualmente, devido a fatores econômicos e
climáticos, esta cultura está perdendo espaço para outras atividades agropecuárias, tal como a
soja. Vê-se este fato claramente, na representatividade do café na composição da renda de
apenas três dos dezoito estabelecimentos amostrados.
Os sistemas produtivos que têm o café como uma das principais atividades foram os que
apresentaram a maior queda na margem bruta/sau, no ano agrícola de 1999/2000, passando a
margem bruta média/sau de R$ 834,00 em 1998/1999 para R$ 228,00 em 1999/2000.
Possivelmente esta redução na margem bruta possa ser explicada pela geada ocorrida em
julho de 2000, como será visto no tópico 4.2.5 Variações Climáticas, uma vez que a cultura de
café é bastante sensível à ocorrência de baixas temperaturas.
TABELA 29 - Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Café, em reais por
hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
203 296 134 1.263 592 456
2
216 1.222 302 601 1.077 1.631
3
501 984 246 514 842 966
Soma 2.503 683 2.378 2.512 3.053
Média 834 228 793 837 1.018
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Inesperadamente, a recuperação desses estabelecimentos agropecuários também foi mais lenta
que os demais sistemas produtivos, como pode ser observada no Gráfico 14.
111
0
500
1.000
1.500
2.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/h
a
MB/SAU
GRÁFICO 14 – Média da Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Café, em
reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 30 - Renda Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Café, em reais por
hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
203 589 1.029 1.634 1.428 2.287
2
216 2.460 408 1.619 2.414 3.186
3
501 1.512 911 1.197 1.629 1.568
Soma 4.561 2.347 4.450 5.470 7.040
Média 1.520 782 1.483 1.823 2.347
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
TABELA 31 - Custo Variável Total do Sistema de Produção de Soja, Milho, Trigo e Café, em reais por
hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
203 292 678 371 835 1.831
2
216 1.238 292 1.018 1.337 1.555
3
501 528 665 683 786 602
Soma 2.058 1.635 2.072 2.958 3.988
Média 686 545 691 986 1.329
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
112
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/ha
RBT/SAU CVT/SA U
GRAFICO 15 – Média da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja,
Milho, Trigo e Café, em reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
O Gráfico 15 permite verificar que a dificuldade de recuperar a margem bruta/sau, após a
queda de 1999/2000, pode ter sido causada pelo aumento constante do custo variável/sau,
dificultando, assim, o aumento da margem bruta/sau.. O aumento dos insumos comprometeu a
rentabilidade deste grupo de produtores.
4.1.3.5 Sistema de produção de soja, milho e trigo
Os estabelecimentos agropecuários mais representativos da amostra são os sistemas
produtivos que têm somente a soja, o milho e o trigo como principais atividades agrícolas
componentes da renda dos estabelecimentos. Este grupo é representado por onze dos dezoito
113
estabelecimentos agropecuários amostrados, e é sobre os resultados desses onze
estabelecimentos que serão feitas ás análises sobre os elementos que, possivelmente,
influenciaram na evolução da margem bruta, no período de 1998 a 2003, na parte final deste
capítulo.
É importante esclarecer que, apesar desses estabelecimentos serem caracterizados,
principalmente, pelo cultivo de soja, milho e trigo, não há uma constância no cultivo dessas
atividades anualmente, ou seja, estes estabelecimentos não obrigatoriamente cultivam essas
três atividades, todo ano. Um ano eles optam por cultivar soja e milho; em outro, soja e trigo;
no outro, milho e trigo, com alguns poucos que acabaram por cultivar as três atividades
regularmente.
Além disso, quando classificados como sistema produtivo de soja, milho e trigo, não se ignora
o fato de que estes estabelecimentos também desenvolvem outras atividades agropecuárias,
porém estas não são representativas na composição da renda desses sistemas, como podem ser
vistas no Quadro 8, porém têm uma importante participação na composição da renda da
família, em anos de menor rentabilidade das principais atividades agropecuárias, como no
caso do ano agrícola de 1999/2000, reforçando a importância da diversificação em pequenos
estabelecimentos agropecuários, como já foi discutido anteriormente.
114
QUADRO 8 – Relação de todas as atividades agropecuárias desenvolvidas nos estabelecimentos da
amostra classificados como Sistema Produtivo Soja, Milho e Trigo
N
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
C
151 153 156
157
162 502 503 507 510 511 512
soja soja soja café soja soja soja milho soja soja soja
café trigo milho seda milho
trigo trigo
soja trigo milho trigo
trigo avic. pêra café trigo trigo milho
avic. café café aveia feijão
1998/1999
aveia
soja soja milho café
soja soja soja soja soja soja soja
avic. avic. soja
milho milho milho
trigo trigo
milho milho milho
milho milho
pêra café trigo milho trigo aveia trigo
café trigo café trigo
trigo café
banana
1999/2000
café
soja trigo milho
soja soja
milho soja
milho milho soja soja
trigo
soja soja milho milho
soja trigo
soja soja milho milho
avic. avic. pêra trigo café trigo triticale trigo aveia trigo
banana milho café feijão aveia
café café café
2000/2001
laranja
soja soja soja soja soja soja soja soja soja soja
milho
trigo avic. milho café trigo
trigo trigo trigo
milho aveia trigo
café trigo pêra
milho milho milho milho
trigo soja
avic. café café trigo
2001/2002
banana laranja feijão
soja soja soja soja soja soja
trigo trigo
soja soja
milho
trigo trigo milho trigo milho trigo
soja soja
trigo trigo soja
avic. avic. pêra café trigo
milho milho
aveia trigo
café laranja café milho
2002/2003
banana café feijão
Fonte: Dados da pesquisa
O desenvolvimento de diferentes atividades permite aos estabelecimentos minimizar prejuízos
em uma e/ou outra atividade, dando estabilidade para a renda da propriedade familiar e
permitindo a manutenção das famílias.
A seguir, a Tabela 32 apresenta os resultados da margem bruta/sau dos sistemas produtivos de
soja, milho e trigo.
115
TABELA 32 - Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais por hectare
(R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 1.944 749 1.192 1.340 2.636
2
153 1.251 920 1.146 1.087 1.768
3
156 1.014 648 1.281 2.415 1.944
4
157 2.442 1.067 1.649 3.970 5.700
5
162 1.923 588 1.209 2.462 1.727
6
502 1.501 741 1.762 2.841 2.727
7
503 769 221 1.158 1.232 678
8
507 1.203 275 1.020 1.811 2.080
9
510 1.142 752 1.251 1.763 2.672
10
511 519 410 750 2.239 1.395
11
512 601 399 864 2.337 2.787
Soma 14.309 6.771 13.283 23.496 26.113
Média 1.301 616 1.208 2.136 2.374
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Novamente, pelos dados da Tabela 32, observa-se uma grande variação nos valores da
margem bruta/sau de um mesmo estabelecimento nos diferentes anos, como também dos
vários estabelecimentos em um mesmo ano.
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/h
a
Margem Bruta/SAU
GRAFICO 16 – Média da Margem Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais
por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
116
Neste grupo, de acordo com o Gráfico 16, também ocorreu uma queda geral na margem
bruta/sau no ano agrícola de 1999/2000, seguida de uma fase de aumentos significativos na
margem bruta/sau, nos anos seguintes.
TABELA 33 - Renda Bruta/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais por hectare
(R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 3.520 2.128 2.542 3.177 4.731
2
153 2.455 1.752 2.479 2.473 3.321
3
156 1.974 1.417 2.283 3.748 3.251
4
157 2.442 1.067 1.649 3.970 5.700
5
162 3.163 1.810 2.374 4.120 3.542
6
502 2.473 1.757 2.812 3.794 4.002
7
503 1.984 1.443 2.235 2.582 2.485
8
507 2.121 1.124 1.736 2.686 2.762
9
510 2.145 1.848 2.194 2.898 3.667
10
511 1.347 1.018 1.378 3.142 2.762
11
512 1.914 2.127 2.306 4.008 4.338
Soma 25.537 17.491 23.987 36.599 40.559
Média 2.322 1.590 2.181 3.327 3.687
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
TABELA 34 - Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais por hectare
(R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 1.576 1.379 1.350 1.837 2.095
2
153 1.203 832 1.332 1.386 1.552
3
156 960 769 1.002 1.333 1.308
4
157 666 695 1.285 1.818 3.316
5
162 1.239 1.222 1.165 1.658 1.815
6
502 971 1.016 1.050 953 1.275
7
503 1.215 1.221 1.076 1.350 1.807
8
507 918 848 716 875 682
9
510 1.003 1.096 943 1.135 996
10
511 828 608 628 625 1.366
11
512 1.314 1.728 1.441 1.671 1.551
Soma 11.894 11.415 11.989 14.642 17.762
Média 1.081 1.038 1.090 1.331 1.615
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
117
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
5.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/h
a
RBT/SAU CVT/SAU
GRAFICO 17 – Média da Renda Bruta/SAU e do Custo Variável/SAU do Sistema de Produção de Soja,
Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
Obviamente, após as análises feitas sobre os vários sistemas produtivos e pela maior
representatividade do sistema de produção de soja, milho e trigo na amostra, concluiu-se que
estas atividades agrícolas, de certa forma, tiveram forte influência no comportamento geral da
margem bruta, quando analisada toda a amostra.
Com o objetivo de explorar com maior profundidade a influência das culturas de soja, milho e
trigo no comportamento geral da margem bruta desse sistema produtivo, será apresentada,
abaixo, a margem bruta/sau, em reais por hectare, de cada uma dessas atividades agrícolas.
118
TABELA 35 - Margem Bruta/SAU da Soja do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais por
hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 836 918 782 1.452 1.725
2
153 976 890 858 1.316 1.467
3
156 1.048 471 813 1.572 1.706
4
157 410 1.210 1.217
5
162 1.049 709 797 1.483 1.082
6
502 1.093 974 3.281 2.108 2.127
7
503 665 622 777 799 648
8
507 1.087 526 1.011 1.703 1.244
9
510 1.037 903 914 2.144 1.717
10
511 731 671 1.077 1.423 638
11
512 491 489 898 1.059 1.618
Soma 9.013 7.173 11.619 16.270 15.189
Média 901 717 1.056 1.479 1.381
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Pelos dados da Tabela 35, a margem bruta da soja em reais por hectare pode variar de R$
410,00 a R$ 3.281,00. E no período analisado, a média anual de rentabilidade da soja, quando
feita a média aritmética entre todos os estabelecimentos, houve uma variação entre R$
717,00/ha e R$ 1.479,00/ha. O estabelecimento 6 foi o que obteve o melhor rendimento do
período, chegando a conseguir R$ 3.281,00/ha, ficando o estabelecimento 11 com os menores
rendimentos, mesmo assim alcançando o patamar de R$ 1.618,00/ha. É interessante observar
que nos anos agrícolas de 2001/2002 e 2002/2003 houve um aumento significativo na
margem bruta/sau da soja, em todos os estabelecimentos.
O Gráfico 18 demonstra claramente o significativo aumento da rentabilidade da soja por
hectare, saindo de uma faixa de R$ 700,00/ha em 1999/200, evoluindo para R$ 1.050,00/ha e
R$ 1.500,00/ha em 2000/2001 e 2001/2002, respectivamente, tendo uma pequena baixa em
2002/2003, mas, mesmo assim, manteve-se no nível de R$ 1.400,00/ha.
119
A Tabela 36 apresenta o comportamento da margem bruta/sau da cultura do milho que, de
modo geral, obteve um comportamento similar ao da margem bruta/sau da soja, mas com
rentabilidade menor, chegando ao valor máximo de R$ 1.023,00/ha.
TABELA 36 - Margem Bruta/SAU do Milho do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais
por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 312
2
153 639 362
3
156 740 623 522 1.184 624
4
157 238 162 374 372
5
162 493 -65 418 928 738
6
502 1.248 977
7
503 1.330 -543
8
507 1.409 -186 983 408 1.138
9
510 1.033 1.335 685
10
511 432 418 681
11
512 419 371 676 2.251 2.713
Soma 3.493 4.631 6.115 7.159 5.041
Média 699 463 679 1.023 840
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Pelos dados da Tabela 36 e do Gráfico 18, observa-se que na cultura do milho os rendimentos
por hectare são um pouco inferiores aos rendimentos da soja, chegando, em alguns casos, a
serem negativos, como é o caso dos estabelecimentos 5 e 8, que no ano agrícola de 1999/2000
tiveram uma margem bruta/sau na cultura do milho de R$ -65,00/ha e R$ -186,00/ha,
respectivamente.
Finalizando as análises de margem bruta por atividade agrícola, pelos dados da cultura do
trigo, vê-se que esta é a atividade que gera a menor margem bruta por hectare, e com a maior
presença de resultados negativos. Pela Tabela 37, constata-se, principalmente, no ano
agrícola de 1999/2000, que, com exceção do estabelecimento 11, todos os demais
estabelecimentos obtiveram uma margem bruta/sau negativa variando entre R$ - 105,00/ha e
120
R$ -205,00/ha. E mesmo o estabelecimento 11, apesar de positivo, obteve uma margem
bruta/sau de apenas R$ 24,00/ha.
Na cultura do trigo, ao contrário da soja e do milho, também foram observados valores de
margem bruta/sau negativa, nos anos de 2001/2002, com o estabelecimento 2, tendo uma
margem de R$ - 17,00/ha e em 2002/2003 com o estabelecimento 4 tendo uma margem de R$
- 5,00/ha.
TABELA 37 - Margem Bruta/SAU do Trigo do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais por
hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 373 -162 345 104 468
2
153 367 -105 702 -17 408
3
156
4
157 57 249 -5
5
162 1.898 1.542
6
502 540 -205 633 888 802
7
503 176 -327 384 283 580
8
507 52 -199 223 662
9
510 264 -177 472 1.108
10
511 -33 -194 269 645
11
512 316 24 86 1.059 759
Soma 2.056 -1.346 2.678 4.956 6.971
Média 257 -168 383 551 697
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
A margem bruta/sau média, nos cinco anos, variou entre R$ -168,00/ha em 1999/2000,
crescendo anualmente, chegando ao máximo de R$ 697,00/ha em 2002/2003, como pode ser
visto no Gráfico 18.
121
-500
-400
-300
-200
-100
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1.000
1.100
1.200
1.300
1.400
1.500
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/h
a
Margem Bruta da Soja/SAU Margem Bruta de Milho/SAU Margem Bruta de Trigo/SAU
GRÁFICO 18 – Média da Margem Bruta da Soja, do Milho e do Trigo, do Sistema de Produção de Soja,
Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
Comparando-se a margem bruta/sau das culturas de soja, milho e trigo, pelo Gráfico 18, é
possível ver claramente a soja como a atividade que gera mais margem bruta por SAU,
seguida do milho, tendo o trigo a maior instabilidade na variação da margem bruta/sau e
também os menores valores de margem bruta, sendo uma cultura de maior risco. É
importante, nesta análise, considerar que a soja e o milho são culturas de verão e estão sujeitas
a períodos de estiagem (falta chuvas), que podem causar a diminuição da produtividade, ao
contrário do trigo, que é uma cultura de inverno e está sujeito a geadas que podem causar a
perda total da produção.
122
4.2 ANÁLISE DESCRITIVA DOS ELEMENTOS QUE POSSIVELMENTE
INFLUENCIARAM NO COMPORTAMENTO DA MARGEM BRUTA
A seguir, serão analisados os fatores que possivelmente influenciaram no comportamento da
margem bruta, dos sistemas produtivos que têm como principais atividades agrícolas o cultivo
de soja, milho e trigo. Desta forma, busca-se verificar se os elementos produtividade, extensão
da superfície agrícola útil, custo variável de produção, preços recebidos pelos produtos e
variações climáticas interferiram significativamente no comportamento da margem bruta.
Através dessas análises, procurou-se compreender as razões que causaram uma queda geral na
margem bruta dos estabelecimentos agropecuários amostrados no ano agrícola de 1999/2000 e
o que colaborou para que essa baixa tenha se recuperado nos anos seguintes, atingindo uma
margem bruta tão satisfatória nos anos agrícolas de 2001/2002 e 2002/2003.
Novamente, deixa-se claro que muitos outros fatores interferem no comportamento da
margem bruta, tanto de estabelecimentos agropecuários familiares, como de empresas de
qualquer outro setor da economia. Mas devido à impossibilidade de se analisarem todos os
fatores que interferem no comportamento de um indicador econômico, neste trabalho optou-se
por explorar apenas os cinco elementos citados acima, levando-se em conta as considerações
realizadas no Capítulo 3, onde foi apresentada a Metodologia desta pesquisa. Para relembrar
tais constatações, estas estão descritas abaixo.
Se a MBT = RBT – CVT, sendo MBT a margem bruta total, RBT a renda bruta total e CVT o
custo variável total.
123
E também que a RBT = Y x P
Y,
sendo Y a quantidade produzida e P
Y
o preço recebido pelo
produto.
É possível concluir que a evolução da Margem Bruta dos sistemas produtivos amostrados
pode ter sido afetada, entre outros fatores, pelos seguintes elementos:
1. Aumento de Y, como conseqüência do aumento da produtividade;
2. Aumento de Y, como conseqüência da expansão da superfície agrícola útil;
3. Redução do CVT (custo variável total);
4. Aumento do P
Y,
(preço de venda do produto), e/ou;
5. Variações climáticas (períodos de seca, ocorrência de geadas, etc.).
Seguindo a ordem dos elementos acima, inicialmente apresenta-se o comportamento da
produtividade para as diferentes culturas.
4.2.1 Produtividade
Primeiramente, serão apresentadas, separadamente, as tabelas com os dados de produtividade
de soja, de milho e de trigo. Em seguida, no Gráfico 19, serão representadas as médias anuais,
de produtividade de cada cultura, em quilos por hectare.
Pela Tabela 38, observa-se que a produtividade da soja variou entre 1.659 kg/ha e 3.864
kg/ha. Sendo que, de modo geral, entre os diferentes estabelecimentos e os diferentes anos
124
agrícolas, esta atividade manteve uma certa estabilidade em sua produtividade, com
diferenças máximas de 300 kg/ha, valor muito inferior às variações de produtividade das
culturas de milho e trigo.
TABELA 38 – Produtividade da Soja do Sistema Produtivo de Soja, Milho e Trigo, em (Kg/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 3.013 3.165 3.545 3.471 3.754
2
153 3.100 2.691 3.031 3.024 3.273
3
156 3.528 2.579 3.562 3.603 3.399
4
157 2.387 3.454 3.662
5
162 2.998 3.113 3.476 3.480 2.799
6
502 3.048 3.526 3.521 2.920 3.864
7
503 2.628 3.223 3.050 2.673 2.949
8
507 3.174 3.038 3.346 2.720 2.975
9
510 3.141 3.539 3.223 3.874 3.510
10
511 2.146 2.527 2.986 2.246 1.659
11
512 2.849 3.570 3.864 3.369 3.779
Soma 29.623 30.971 35.990 34.833 35.623
Média 2.962 3.097 3.272 3.167 3.238
Fonte: Dados da pesquisa
A produtividade do milho, pela Tabela 39, pode-se afirmar que é bastante variável, tanto entre
os estabelecimentos, como de um mesmo estabelecimento em diferentes anos. O
estabelecimento 8, por exemplo, teve uma produtividade de 583 kg/ha em 1999/200, mas em
2002/2003 a produtividade do milho subiu para 5.577kg/ha. Comparando-se os vários
estabelecimentos em 2000/2001, o estabelecimento 11 teve uma produtividade de 8.901kg/ha
e os demais estabelecimentos, neste mesmo ano, tiveram uma produtividade entre 2 e 5 mil
kg/ha.
125
TABELA 39 – Produtividade do Milho do Sistema Produtivo de Soja, Milho e Trigo, em (Kg/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 5.396
2
153 3.983 3.863
3
156 5.097 4.271 4.957 4.505 5.279
4
157 3.697 3.998 2.340 2.540
5
162 4.421 1.996 4.259 3.426 6.870
6
502 6.248 5.289
7
503 7.840 1.537
8
507 583 4.581 2.149 5.577
9
510 3.905 2.828 4.224
10
511 3.569 4.701
11
512 4.882 6.607 8.901 6.419 8.851
Soma 14.400 40.256 43.377 30.903 30.655
Média 4.800 4.026 4.820 4.415 5.109
Fonte: Dados da pesquisa
De modo geral, a média de produtividade do milho de todos os estabelecimentos seguiu os
seguintes valores: 4.800 kg/ha, 4.026 kg/ha, 4.820 kg/ha, 4.415 kg/ha e 5.109 kg/ha, para os
anos agrícolas de 1998/1999, 1999/2000, 2000/2001, 2001/2002 e 2002/2003,
respectivamente. Esses valores estão representados no Gráfico 19.
Com relação ao trigo, os dados de produtividade, como já se havia constatado nos resultados
de margem bruta desta cultura, confirmam que esta é a atividade agrícola mais instável, do
sistema produtivo Soja, Milho e Trigo. Na Tabela 40, é possível observar uma queda geral na
produtividade do trigo, no ano agrícola de 1999/2000, com exceção do estabelecimento 11,
que obteve uma produtividade de 2.560 kg/ha, mas nos demais estabelecimentos a
produtividade de trigo ficou entre 221 kg/ha e 776 kg/ha.
126
TABELA 40 – Produtividade do Trigo do Sistema Produtivo de Soja, Milho e Trigo, em (Kg/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 2.739 321 2.479 1.512 3.240
2
153 2.083 776 2.926 1.066 2.851
3
156
4
157 2.554 1.609 3.669
5
162 3.284 3.719
6
502 2.666 324 50 1.811 3.382
7
503 2.264 331 2.579 1.488 2.702
8
507 1.983 522 1.050 2.355
9
510 2.231 600 2.479 3.372
10
511 1.785 221 1.175 2.690
11
512 3.188 2.560 1.418 2.081 2.837
Soma 18.941 5.655 14.484 15.076 30.818
Média 2.368 707 2.069 1.675 3.082
Fonte: Dados da pesquisa
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
5.000
5.500
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Kg/ha
Produtividade da Soja Produtividade do Milho Produtividade do Trigo
GRAFICO 19 – Produtividade da soja, do milho e do trigo dos estabelecimentos agropecuários que têm
essas culturas como principais atividades, em (Kg/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
Comparando-se a produtividade das três culturas, pelo Gráfico 19, é possível concluir que a
produtividade, possivelmente, interferiu no resultado da margem bruta dos estabelecimentos
amostrados no ano agrícola de 1999/200, pois, com exceção da soja, o milho e o trigo
127
sofreram uma queda significativa em suas produtividades por hectare, sendo que na média do
referido ano o milho teve uma redução de 776 kg/ha, comparado ao ano anterior, e o trigo
teve uma redução de 1.931kg/ha, também comparado ao ano anterior. Ressaltando-se que,
apesar dos anos de baixa produtividade, a tendência geral, comparando-se os resultados de
1998/1999 e 2002/2003, para as três culturas, foi de aumento da produção por hectare.
Porém, para explicar o aumento constante da margem bruta, nos anos seguintes, a
produtividade já não apontou interferências, pois de 2000/2001 para 2001/2002, a
produtividade de milho e trigo caiu novamente e a produtividade de soja manteve-se
praticamente estável.
E do ano agrícola de 2001/2002 para 2002/2003, a retomada no aumento da produtividade de
milho e trigo foi muito discreta, comparada com o aumento da margem bruta, sendo que,
neste período, também a produtividade da soja se manteve. Assim, o elemento produtividade
só pode ter influenciado no comportamento da margem bruta no ano agrícola de 1999/2000.
Assim mesmo, através da análise dos demais elementos, buscar-se-á compreender o que pode
ter colaborado para o crescimento da margem bruta nos anos seguintes.
4.2.2 Superfície Agrícola Útil
Pelo conceito adotado pelo Projeto Redes, a Superfície Agrícola Útil (S.A.U.) é definida,
subtraindo-se da área total as áreas destinadas a áreas de matas plantadas ou nativas, áreas
inaproveitáveis, áreas com construções/benfeitorias e áreas com estradas/carreadores.
128
Optou-se por analisar a superfície agrícola útil, lembrando-se que a expansão da área
cultivada com soja, milho e trigo pode gerar um aumento na produção, podendo,
conseqüentemente, influenciar no aumento da margem bruta.
A Tabela 41 apresenta a evolução da superfície agrícola útil de cada estabelecimento
agropecuário representativo do sistema de produção de soja, milho e trigo, em cada ano
agrícola, do período em análise.
TABELA 41 – Evolução da superfície agrícola útil (S.A.U.) dos estabelecimentos agropecuários
produtores de Soja, Milho e Trigo, em hectares (ha)
Nº DE ORDEM CODIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 34 34343434
2
153 38 37373737
3
156 45 45454545
4
157 28 44444444
5
162 52 52525252
6
502 16 16161616
7
503 36 36363636
8
507 44 44444444
9
510 47 47474747
10
511 33 33333333
11
512 40 40404040
Soma 412 428 428 428 428
Média 37 39393939
Fonte: Dados da pesquisa
Pelos dados da Tabela 41, houve uma relativa estabilidade da superfície agrícola útil dos
estabelecimentos agropecuários produtores de soja, milho e trigo, no período de 1998 a 2003,
com apenas um pequeno aumento de 16 hectares, no estabelecimento 4, passando de 28 ha em
1998/1999 para 44 ha em 1999/2000, mantendo-se com a mesma área nos anos seguintes.
O Gráfico 20 apresenta claramente este aumento da superfície agrícola útil do primeiro para o
segundo ano de análise e manutenção desta área nos demais anos.
129
35
36
37
38
39
40
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em ha
Superfície Agrícola Útil
GRAFICO 20 – Evolução média da superfície agrícola útil (S.A.U.) dos estabelecimentos agropecuários
produtores de Soja, Milho e Trigo, em hectares (ha)
Fonte: Dados da pesquisa
A superfície agrícola útil cresceu no primeiro período e permaneceu estável no restante do
período analisado. Verificou-se anteriormente que a margem mostrou-se sensível
estatisticamente e significativa quando se analisou o conjunto dos dezoito estabelecimentos
agropecuários e posteriormente, adotando a estratificação, também. Mas deve-se destacar a
importância de outros fatores, como explorado na literatura. No ano em que a superfície
agrícola útil foi elevada, não houve influência direta sobre o comportamento da margem
bruta, mas questões climáticas afetaram o rendimento de várias culturas e, com isso, a
margem bruta diminuiu. Nos períodos seguintes, a margem bruta subiu consideravelmente e a
superfície agrícola útil se manteve estável. Deve-se destacar que deste grupo foram excluídos
dois produtores que estavam inseridos na análise estatística realizada anteriormente, por eles
terem ampliado a superfície agrícola útil, sendo excluídos da amostra da pesquisa.
130
4.2.3 Custo Variável de Produção
Partindo do princípio de que a margem bruta é calculada pela subtração dos valores de custo
variável sobre o valor da renda bruta, através desta análise do custo variável por superfície
agrícola útil, busca-se identificar se houve alterações significativas nos custos de produção
para o cultivo de soja, milho e trigo, de forma a terem colaborado com o aumento ou redução
da margem bruta.
Ressalta-se que a variação do custo variável pode ser influenciada por fatores como técnicas
de cultivo, ocorrência de pragas e doenças, pelo preço dos insumos, o qual, de acordo com
Johnson (1979), não deve ser ignorado, pois, à medida que a agricultura se desenvolve e se
especializa, os insumos deixam de ser produzidos nos estabelecimentos agropecuários e
passam a ser adquiridos no mercado. Porém, apesar dos argumentos do autor, estes fatores
não fazem parte dos objetivos específicos desta pesquisa. Por isso não foram explorados, mas
estão, de certa forma, inseridos no cálculo do custo variável.
Nesta análise do custo variável de produção, também serão apresentadas separadamente as
tabelas com os dados de cada atividade agrícola, seguida da apresentação do Gráfico 21, com
as médias anuais dos custos variáveis das três culturas.
Pelos dados da Tabela 42, o custo variável por hectare, para a produção de soja, mostra-se
estável, com exceção de alguns casos como o estabelecimento 7, com um custo variável de R$
1.001,00/ha em 2002/2003 e o estabelecimento 11, com um custo variável de R$ 1.152,00/ha
em 1999/2000 e R$ 1.022,00/ha em 2002/2003.
131
TABELA 42 – Custo Variável/SAU da Soja do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais por
hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 562 505 592 649 778
2
153 496 333 510 525 715
3
156 550 636 551 554 560
4
157 742 753 858
5
162 441 622 675 728 714
6
502 328 558 349 351 391
7
503 530 746 419 495 1.001
8
507 404 487 270 300 423
9
510 504 631 408 420 495
10
511 389 332 527 420 493
11
512 806 1.152 954 1.022 791
Soma 5.011 6.001 5.996 6.217 7.218
Média 501 600 545 565 656
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Pela média geral, o custo variável por hectare para a produção de soja se manteve entre R$
500,00/ha e R$ 650,00/ha, como poder ser visto no Gráfico 21.
O custo variável por hectare para cultivo do milho possui uma variação maior do que para o
cultivo da soja, indo de R$ 274,00/ha a R$ 1.765,00/ha. Pela Tabela 43, observa-se que não
há uma constância de valores em nenhum dos estabelecimentos. Todos variam muito de um
ano para outro.
TABELA 43 – Custo Variável/SAU do Milho do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais
por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 1.222
2
153 975 519
3
156 570 494 427 774 696
4
157 830 491 413 612
5
162 680 457 407 703 980
6
502 724 998
7
503 909 1.060
8
507 699 274 795 348 628
9
510 1.371 1.106 641
10
511 465 363 1.068
11
512 944 1.765 948 1.303 1.002
Soma 3.358 8.475 6.759 5.090 4.977
Média 672 848 751 727 830
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
132
Pela média dos estabelecimentos em cada ano, o Gráfico 21 revela que o custo variável por
hectare para plantio de milho variou entre R$ 672,00/ha em 1998/1999, chegando ao seu
maior valor em 1999/2000 com uma média de R$ 848,00/ha. Também em 1999/2000 foi o
ano em que estes estabelecimentos obtiveram menor margem bruta/sau, podendo este
aumento de R$ 200,00/ha no cultivo de milho ter influenciado na baixa da margem bruta.
O comportamento do custo variável por hectare do trigo apresentou a maior irregularidade de
valores, comparado ao custo variável/sau de soja e milho, tendo o estabelecimento 1 tido um
custo variável de R$ 227/ha e o estabelecimento 4 um custo variável de R$ 2.514,00/ha. Os
dados dos demais estabelecimentos podem ser vistos na Tabela 44.
TABELA 44 – Custo Variável/SAU do Trigo do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais
por hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 524 227 577 733 882
2
153 436 281 458 679 780
3
156
4
157 874 750 2.514
5
162 711 694
6
502 511 297 432 447 683
7
503 612 402 516 603 636
8
507 592 328 451 386
9
510 578 300 511 443
10
511 628 248 475 592
11
512 700 458 440 577 559
Soma 4.581 2.541 3.807 5.426 8.169
Média 573 318 544 603 817
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Pela média anual de todos os estabelecimentos, o custo variável/sau do trigo acompanhou a
variação da margem bruta/sau, deste sistema de produção, sofrendo uma queda nos custos de
1998/1999 para 1999/200, o que possivelmente pode ter colaborado para um aumento na
margem bruta deste ano, mas, já para os anos seguintes, o custo variável/sau do trigo pode ter
133
influenciado negativamente o valor da margem bruta, uma vez que, pelo Gráfico 21, o custo
variável do trigo subiu constantemente, apresentando uma diferença de R$ 500,00/ha de
1999/2000 para 2002/2003.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agcola
Em R$/ha
Custo Variável de Soja/SAU Custo Variável de Milho/SAU Custo Variável de Trigo/SAU
GRÁFICO 21 – Média do Custo Variável/SAU da Soja, do Milho e do Trigo do Sistema de Produção de
Soja, Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
Comparando-se as médias do custo variável/sau, das atividades agrícolas de soja, milho e
trigo, pode-se afirmar que, de forma moderada, o custo variável também influenciou no
comportamento da margem bruta. Em 1999/2000, apesar do custo variável do trigo ter
diminuído, o custo variável da soja e do milho subiram, o que pode ter colaborado para a
queda da margem bruta neste ano. De 1999/2000 para 2000/2001, o custo variável do trigo
subiu cerca de R$ 250,00/ha, mas em compensação houve uma redução no custo variável da
soja e do milho de aproximadamente R$ 250,00 também, anulando, assim, o aumento do
custo variável, permitindo que a margem bruta de 1999/2000 para 2000/2001 tivesse um
aumento.
134
No entanto, de 2001/2002 para 2002/2003, o custo variável das três atividades agrícolas
subiu, o que ocasionou uma diminuição da margem bruta/sau de soja e de milho e reduziu o
crescimento da margem bruta total deste sistema produtivo.
4.2.4 Preços recebidos pelos produtos
Recordando as observações de Barros e Xavier (1979) acerca dos preços dos produtos
agrícolas, juntamente com a visão de Johnson (1979), os quais concordam que a instabilidade
dos preços é uma das fontes de incerteza no processo decisório, tornando-o complexo, os
fatores que contribuem para gerar a incerteza e instabilidade no comportamento do preço de
determinado produto podem estar restritos ao que os economistas consideram usuais fatores
de mercado (oferta e procura) e podem ser influenciados por políticas específicas de preços
agrícolas. Os fatores relevantes de oferta e procura podem ser locais, regionais, nacionais ou
internacionais, dependendo da natureza do mercado e das políticas.
Partindo deste princípio, é possível compreender porque os rendimentos dos proprietários
individuais são, geralmente, muito mais variáveis que os rendimentos nacionais ou regionais,
pois mesmo quando os futuros preços são conhecidos, há numerosos outros elementos que
causam a instabilidade de renda para o agricultor individual.
Tomando-se como referência que a renda bruta é igual a quantidade produzida multiplicada
pelo preço recebido pelo produto, serão apresentadas, abaixo, as médias anuais dos preços
recebidos pela saca de 60 Kg de soja, milho e trigo, seguida dos valores da renda bruta por
superfície agrícola útil de cada uma dessas culturas, uma vez que, deduzindo o custo variável
do valor da renda bruta, chega-se ao valor da margem bruta.
135
Pela Tabela 45, é possível verificar o preço médio de cada ano agrícola, dos três produtos em
análise, sendo a soja o produto com maior valor de mercado, com o valor da saca de 60 kg,
variando entre R$ 23,18/sc e R$ 37,32/sc, seguida do trigo com o valor da saca variando entre
R$ 17,70/sc e R$ 29,19/sc e, por último, o milho com valores entre R$ 12,29/sc e R$
17,33/sc.
É interessante notar que no ano agrícola de 1999/2000 os preços recebidos pelos três produtos
tiveram um acréscimo no valor da saca de 60 kg, porém a margem bruta geral do sistema
produtivo de Soja, Milho e Trigo sofreu uma redução neste mesmo ano.
TABELA 45 – Preços Médios Recebidos pela Saca de 60 Kg das Culturas de Soja, Milho e Trigo, nos anos
agrícolas do período de 1998/1999 a 2002/2003, em reais (R$)
Cultura 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Soja
23,18 26,09 23,32 29,14 37,32
Milho
13,35 15,49 12,29 13,03 17,33
Trigo
17,70 18,84 19,44 20,99 29,19
Fonte: DERAL/DEB - SEAB/PR
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Pelo Gráfico 22, observa-se que nos anos seguintes, de 2000/2001 até 2002/2003, os preços
dos três produtos subiram gradualmente, com a soja chegando a R$ 37,32/sc e o trigo valendo
R$ 29,19/sc.
136
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Saca de 60 K
g
Evolução do Preço da Soja Evolução do Preço do Milho Evolução do Preço do Trigo
GRÁFICO 22 – Média dos Preços Recebidos pelas sacas de 60 Kg de Soja, Milho e Trigo no período de
1998 a 2003
Fonte: DERAL/DEB - SEAB/PR
Dentre os elementos vistos até aqui, como produtividade, superfície agrícola útil e custo
variável/sau, pode-se dizer que os fatores com maior possibilidade de ter influenciado no
aumento da margem bruta nos últimos três anos da análise foram os aumentos ocorridos nos
preços recebidos pelos produtos. Já que a produtividade se manteve estável, com exceção de
1999/2000, a área cultivada, com exceção de 1998/1999 para 1999/2000, também se manteve
estável, e o custo variável por superfície agrícola útil subiu. Para a margem bruta ter se
mantido crescente, a última explicação que pode justificar este aumento na margem bruta,
com aumento de custo variável, é um aumento ainda maior da renda bruta, que poder ser
compreendida por um aumento no preço recebido pelo produto, pois, como visto
anteriormente, não houve aumentos significativos na produtividade.
Para compreender melhor a influência do aumento dos preços dos produtos sobre a margem
bruta desse sistema produtivo, a seguir serão apresentadas as tabelas com os valores da renda
137
bruta/sau, de cada estabelecimento, em cada ano agrícola, separadas pelas atividades agrícolas
de soja, milho e trigo.
Pela Tabela 46, considerando-se que a área se manteve estável, e não houve aumento
significativo de produtividade na cultura da soja, o preço recebido pela saca de 60 Kg
aumentou consideravelmente a renda bruta/sau, em alguns casos gerando uma renda R$
2.500,00/ha, como é o caso dos estabelecimentos 1 e 6.
TABELA 46 – Renda Bruta/SAU da Soja do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais por
hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 1.398 1.423 1.374 2.101 2.503
2
153 1.472 1.223 1.368 1.841 2.182
3
156 1.598 1.107 1.364 2.127 2.267
4
157 1.152 1.963 2.075
5
162 1.489 1.331 1.472 2.210 1.796
6
502 1.421 1.532 3.629 2.459 2.517
7
503 1.195 1.367 1.196 1.294 1.649
8
507 1.491 1.014 1.281 2.003 1.666
9
510 1.541 1.534 1.322 2.565 2.212
10
511 1.120 1.003 1.604 1.843 1.131
11
512 1.298 1.641 1.853 2.081 2.409
Soma 14.025 13.174 17.615 22.487 22.407
Média 1.402 1.317 1.601 2.044 2.037
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Apesar do período de aumento de 1999/2000 a 2001/2002, no ano seguinte, a renda bruta/sau
da cultura da soja se estabiliza, como mostra o Gráfico 23.
No cultivo de milho, apesar de seus preços serem menores, quando comparados aos preços de
soja e trigo, por sua produtividade/sau ser maior que a das outras atividades, o milho acaba
gerando uma satisfatória renda bruta/sau, ficando com uma média entre R$ 1.311,00/sau e R$
1.750,00/sau, como pode ser visto na Tabela 47.
138
TABELA 47 – Renda Bruta/SAU de Milho do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais por
hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 1.533
2
153 1.613 763
3
156 1.310 1.118 949 1.957 1.320
4
157 1.069 653 787 983
5
162 1.173 391 825 1.630 1.718
6
502 1.972 1.975
7
503 2.238 518
8
507 2.107 88 1.778 756 1.766
9
510 2.404 2.441 1.326
10
511 897 781 1.749
11
512 1.363 2.136 1.623 3.554 3.714
Soma 6.851 13.106 12.756 12.249 10.018
Média 1.370 1.311 1.417 1.750 1.670
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
O Gráfico 23 mostra que o aumento na renda bruta/sau do milho foi bem menor do que o
aumento da renda bruta/sau da soja.
Curiosamente, apesar do preço da saca de trigo ter sido maior que o preço da saca de milho,
levando-se em conta que a produtividade do milho por hectare é superior a do trigo, a média
da renda bruta/sau do trigo foi muito baixa, até 2000/2001, chegando ao mínimo de R$
149,00/ha em 1999/2000, recuperando-se em 2001/2002 e 2002/2003, chegando a R$
1.445,00/ha.
TABELA 48 – Renda Bruta/SAU do Trigo do Sistema de Produção de Soja, Milho e Trigo, em reais por
hectare (R$/ha)
Nº DE ORDEM CÓDIGO 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
1
151 897 65 922 837 1.350
2
153 803 176 1.160 662 1.188
3
156
4
157 931 999 2.509
5
162 1.907 1.549
6
502 1.052 91 1.065 1.335 1.485
7
503 788 75 899 886 1.216
8
507 644 129 673 1.049
9
510 841 123 983 1.551
10
511 595 54 744 1.237
11
512 1.016 482 525 1.637 1.318
Soma 6.637 1.196 6.486 9.680 14.453
Média 830 149 927 1.076 1.445
Fonte: Dados da pesquisa
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
139
Pelo Gráfico 23, o preço recebido pela saca de trigo não pode ter influenciado na queda de
renda e margem de 1999/2000, pois, neste ano, o preço da saca estava próximo de
R$18,84/sc, valor superior ao ano anterior.
Pela análise dos preços recebidos pelos produtos, verifica-se que este fator pode explicar o
aumento da margem bruta, nos últimos três anos da análise, porém não colaborou para a
compreensão da queda da margem bruta em 1999/2000. Talvez o elemento mais relevante na
justificativa desta queda sejam as variações climáticas, as quais seo apresentadas a seguir.
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003
Ano Agrícola
Em R$/h
a
Renda Bruta da Soja/SAU Renda Bruta de Milho/SAU Renda Bruta de Trigo/SAU
GRÁFICO 23 – Média da Renda Bruta/SAU de Soja, Milho e Trigo do Sistema de Produção de Soja,
Milho e Trigo, em reais por hectare (R$/ha)
Fonte: Dados da pesquisa
4.2.5 Variações climáticas
Apesar de saber da importância dos aspectos climáticos para o bom desenvolvimento das
atividades agrícolas, nesta análise de interferências climáticas, buscou-se identificar o fator
que pudesse explicar a queda da margem bruta no ano agrícola de 1999/2000. Uma das
140
justificativas poderia ser a falta de chuva neste ano agrícola, baixando, assim, a produtividade,
mas, segundo pesquisadores da Área de Agrometeorologia do Instituto Agronômico do
Paraná, um período de estiagem não baixaria tanto a produtividade, como mostraram as
análises de produtividade realizadas anteriormente.
Segundo os pesquisadores, o que pode ter ocasionado a baixa produção e, conseqüentemente,
a baixa margem bruta do referido ano agrícola, foi a ocorrência de geada, prejudicando
gravemente as culturas de inverno, no caso deste trabalho, o cultivo de trigo.
Através de um levantamento realizado no banco de dados da Área de Agrometeorologia do
IAPAR, são apresentadas nas Tabelas 49, 50, 51 e 52 as ocorrências de geadas, na região
norte do Paraná, nos anos de 1999 a 2002, já que não houve registros de geadas em 1998.
Nas Tabelas também consta o grau de intensidade das geadas, as quais são classificadas,
como:
1: geada fraca, quando atinge somente as baixadas;
2: geada moderada, quando atinge as baixadas e as áreas intermediarias;
3: geada forte, quando atinge os pontos altos e as baixadas.
A Tabela 49 apresenta as temperaturas negativas registradas nos meses de abril, maio e
agosto de 1999, as quais ocasionaram geadas.
141
TABELA 49 – Ocorrência de Geadas no ano de 1999, temperatura da relva em graus Celsius e
intensidade da geada, segundo classificação agrometeorologica
Mês
ABR MAI AGO
Temperatura da Relva -2 -2 -4
Intensidade da Geada 1 2 2
Fonte: Área de Agrometeorologia do Instituto Agronômico do Paraná
-10
-9
-8
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
ABR MAI AGO
Mes de Ocorrência da Geada
Em Graus Celsius
Temperatura da Relva
GRÁFICO 24 – Ocorrência de Geadas no ano de 1999, temperatura da relva em graus Celsius
Fonte: Área de Agrometeorologia do Instituto Agronômico do Paraná.
Segundo os especialistas, geadas ocasionadas entre largos intervalos de tempo como as de
1999, representadas no Gráfico 24, não causam grandes prejuízos para as lavouras, pois estas
dão intervalos de tempo suficientes para as lavouras se recuperarem dos possíveis danos
causados pelas baixas temperatura.
Já para longos períodos de baixas temperaturas, como no caso do mês de julho de 2000,
apresentado na Tabela 50, estes períodos maiores de baixas temperaturas não permitem que as
lavouras se recuperem dos danos, causando, assim, a perda de safras inteiras.
142
TABELA 50 – Ocorrência de Geadas no ano de 2000, temperatura da relva em graus Celsius e
intensidade da geada, segundo classificação agrometeorologica
Mês
MAI JUN JUL JUL JUL JUL JUL JUL JUL JUL JUL JUL
Temperatura da Relva -2,7 -2,2 -5,7 -5 -9,8 -2,5 -7,2 -7,4 -5 -0,9 -1,6 -2,4
Intensidade da Geada 113231111111
Fonte: Área de Agrometeorologia do Instituto Agronômico do Paraná
Este longo período de baixas temperaturas, com o registro de geadas nos dias 13, 14, 17, 18,
20, 21, 24, 25, 26, 27 de julho de 2000, podem explicar a queda da renda bruta e,
conseqüentemente, da margem bruta total, dos estabelecimentos agropecuários que têm o
cultivo de soja, milho e trigo como principais atividades, sendo que neste ano todos tiveram
perdas no plantio de trigo.
O Gráfico 25 apresenta claramente o longo período de geadas em julho de 2000, chegando-se
à temperatura mínima de -9,8º graus Celsius.
-11
-10
-9
-8
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
MAI JUN JUL JUL JUL JUL JUL JUL JUL JUL JUL JUL
Mes de Ocorrência da Geada
Em Graus Celsius
Temperatura da Relva
GRÁFICO 25 – Ocorrência de Geadas no ano de 2000, temperatura da relva em graus Celsius
Fonte: Área de Agrometeorologia do Instituto Agronômico do Paraná
143
Apenas para efeito de comparação, para melhor compreensão do comportamento das geadas,
mesmo não havendo uma regularidade no comportamento desses fenômenos, abaixo são
apresentados os registros de ocorrência de geadas nos anos de 2001 e 2002, onde se pode
constatar uma menor ocorrência de geadas, com maiores intervalos de tempo entre uma e
outra, desta forma não causando grandes prejuízos às safras de inverno.
TABELA 51 – Ocorrência de Geadas no ano de 2001, temperatura da relva em graus Celsius e
intensidade da geada, segundo classificação agrometeorologica
Mês
JUN JUN JUN JUL JUL
Temperatura da Relva
-4,8 -3,7 -1 -0,5 -2,3
Intensidade da Geada
2 1 111
Fonte: Área de Agrometeorologia do Instituto Agronômico do Paraná
-10
-9
-8
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
JUN JUN JUN JUL JUL
Mes de Ocorrência da Geada
Em Graus Celsius
Temperatura da Relva
GRÁFICO 26 – Ocorrência de Geadas no ano de 2001, temperatura da relva em graus Celsius
Fonte: Área de Agrometeorologia do Instituto Agronômico do Paraná
144
TABELA 52 – Ocorrência de Geadas no ano de 2002, temperatura da relva em graus Celsius e
intensidade da geada, segundo classificação agrometeorologica
Mês
JUL JUL SET SET
Temperatura da Relva -1,6 -2,4 -4 -0,8
Intensidade da Geada 1 1 1 1
Fonte: Área de Agrometeorologia do Instituto Agronômico do Paraná
-10
-9
-8
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
JULJULSETSET
Mes de O corncia da Geada
Em Graus Celsius
Temperatura da Relva
GRÁFICO 27 – Ocorrência de Geadas no ano de 2002, temperatura da relva em graus Celsius
Fonte: Área de Agrometeorologia do Instituto Agronômico do Paraná
4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA DE CORRELAÇÃO ENTRE OS ELEMENTOS QUE
POSSIVELMENTE INFLUENCIARAM O COMPORTAMENTO DA MARGEM BRUTA
Para comprovar, estatisticamente, se os resultados obtidos acima foram significativos, foram
realizadas análises de correlação, com aplicação do teste t, entre as médias qüinqüenais das
variáveis: produtividade média de soja, produtividade média de milho, produtividade média
145
de trigo, superfície agrícola útil média, custo variável médio da soja, custo variável médio do
milho, custo variável médio do trigo, preço médio recebido pela soja, preço médio recebido
pelo milho, preço médio recebido pelo trigo, margem bruta média da soja, margem bruta
média do milho, margem bruta média do trigo e margem bruta média do sistema produtivo de
soja, milho e trigo.
Os coeficientes de correlação entre todas as variáveis estão apresentados no Quadro 9, de
onde foram retirados os seguintes coeficientes de correlação estatística, significativos a 5% de
probabilidade:
O coeficiente de correlação apresentado pela correlação da produtividade média do
trigo com o custo variável médio do trigo foi de 0,93, significativo a 5% de
probabilidade.
O coeficiente de correlação apresentado pela correlação do custo variável médio de
soja com o preço médio recebido pela saca de soja foi de 0,87, significativo a 5% de
probabilidade.
O coeficiente de correlação apresentado pela correlação do custo variável médio do
trigo com a margem bruta média de trigo foi de 0,94, significativo a 5% de
probabilidade.
O coeficiente de correlação apresentado pela correlação do custo variável médio do
trigo com a margem bruta média total foi de 0,91, significativo a 5% de probabilidade.
O coeficiente de correlação apresentado pela correlação da margem bruta média da
soja com a margem bruta média total foi de 0,95, significativo a 5% de probabilidade.
146
O coeficiente de correlação apresentado pela correlação da margem bruta média do
milho com a margem bruta média total foi de 0,90, significativo a 5% de
probabilidade.
O coeficiente de correlação apresentado pela correlação da margem bruta média do
trigo com a margem bruta média total foi de 0,94, significativo a 5% de probabilidade.
QUADRO 9 – Coeficientes de Correlação Estatística entre a Margem Bruta e os Elementos que
Possivelmente Tiveram Influência sobre o Comportamento deste Indicador Econômico
PROD
SOJA
PROD
MILHO
PROD
TRIGO
S.A.U. CV
SOJA
CV
MI-
LHO
CV
TRI-
GO
PV
SOJA
PV
MI-
LHO
PV
TRI-
GO
MB
SOJA
MB
MI-
LHO
MB
TRI-
GO
MB
TO
TAL
PROD
SOJA
1
PROD
MILH
O
0,29
62%
1
PROD
TRIGO
0,22
71%
0,97*
1%
1
S.A.U.
0,83
7%
-0,22
72%
-0,24
68%
1
CV
SOJA
0,54
33%
0,07
90%
0,14
82%
0,69
19%
1
CV
MILH
O
0,45
44%
-0,23
69%
-0,23
70%
0,71
17%
0,87*
4%
1
CV
TRIGO
0,36
54%
0,86*
5%
0,93*
2%
-0,00
99%
0,33
58%
-0,11
85%
1
PV
SOJA
0,43
46%
0,35
55%
0,47
41%
0,44
45%
0,87*
5%
0,53
34%
0,69
19%
1
PV
MILH
O
0,13
82%
0,14
81%
0,25
68%
0,27
64%
0,88*
4%
0,74
14%
0,35
55%
0,83
7%
1
PV
TRIGO
0,51
37%
0,54
33%
0,63
25%
0,39
50%
0,83
7%
0,50
38%
0,78
11%
0,97
6%
0,80
9%
1
MB
SOJA
0,52
36%
0,44
44%
0,53
35%
0,35
55%
0,34
57%
-0,09
88%
0,78
11%
0,65
22%
0,14
81%
0,64
24%
1
MB
MILH
O
0,27
64%
0,38
51%
0,48
40%
0,11
85%
0,06
91%
-0,37
53%
0,71
17%
0,46
42%
-0,05
92%
0,42
47%
0,94*
1%
1
MB
TRIGO
0,50
38%
0,76
13%
0,81
9%
0,14
81%
0,24
69%
-0,20
74%
0,94*
1%
0,60
28%
0,13
83%
0,67
20%
0,91*
2%
0,86
6%
1
MB
TOTAL
0,38
52%
0,60
28%
0,70
18%
0,17
77%
0,39
51%
-0,08
89%
0,91*
3%
0,76
13%
0,32
59%
0,76
13%
0,95*
1%
0,90*
3%
0,94*
1%
1
Fonte: Dados da pesquisa.
*Significativo a 5% de probabilidade
Com base em todos os resultados apresentados acima, o Quadro 10 apresenta um resumo dos
objetivos específicos, dos resultados esperados e dos resultados obtidos.
147
Quadro 10 – Objetivos específicos, resultados esperados e resultados obtidos
OBJETIVO
ESPECÍFICOS
RESULTADOS
ESPERADOS
RESULTADOS
OBTIDOS
1) Apresentar a margem
bruta dos estabelecimentos
agropecuários familiares,
componentes da amostra, no
período de 1998 a 2003.
Identificar a ocorrência ou
ausência de diferenças nos
valores da margem bruta entre as
categorias de empresário familiar
e produtor simples de
mercadoria/nível 3 e verificar
como foi o comportamento da
margem bruta para os diferentes
sistemas produtivos.
Com relação às diferenças de valores da
margem bruta entre as categorias
empresário familiar e produtor simples de
mercadoria/nível 3, estatisticamente essas
diferenças não foram significativas. Com
relação ao comportamento da margem bruta
para os vários sistemas produtivos, pela
análise descritiva elas demonstraram
comportamentos diferentes, porém não foi
possível testar estatisticamente e
significância dessas diferenças, devido ao
pequeno número de estabelecimentos
representativos dos vários sistemas de
produção.
2)Analisar alguns elementos
que possivelmente tenham
influenciado no
comportamento da margem
bruta.
Verificar qual dos elementos
analisados influenciaram
significativamente nos resultados
da margem bruta, dos
estabelecimentos agropecuários
amostrados.
Pode-se dizer que os elementos que mais
influenciaram no comportamento da
margem bruta foram: os aumentos nos
preços recebidos pelos produtos,
especialmente no caso da soja, gerando uma
evolução positiva da margem bruta; a
variação climática, causando a queda da
margem bruta com a forte geada ocorrida
em julho de 2000.
3)Analisar a importância da
produção diversificada e da
composição dos sistemas
produtivos, nos
estabelecimentos
agropecuários familiares, e
sua relação com o
comportamento da margem
bruta.
Análise qualitativa das mudanças
de atividades agropecuárias
desenvolvidas nos sistemas
produtivos e sua relação com a
margem bruta.
A diversificação e a composição dos
produtos em um estabelecimento agrícola
mostraram-se bastante importantes na
redução da instabilidade da margem bruta,
uma vez que, devido à limitada extensão de
área, se estes estabelecimentos se
especializarem e algum fator causar a perda
da produção, estes não terão outra
alternativa para obtenção de renda.
4)Analisar estatisticamente a
significância da correlação
entre margem bruta,
produtividade, superfície
agrícola útil, custo variável,
preço recebido pelo produto
e variações climáticas.
Verificar se existe significância
estatística entre os resultados
apresentados nas análises
qualitativas.
Pela análise de correlação entre as variáveis,
foram significativas a produtividade de
trigo com o custo variável do trigo; o custo
variável de soja com o preço recebido pela
soja; o custo variável de trigo com a
margem bruta de trigo; o custo variável de
trigo com a margem bruta total; a margem
bruta de soja com a margem bruta total; a
margem bruta do milho com a margem
bruta total e margem bruta de trigo com a
margem bruta total.
Fonte: Dados da pesquisa.
Confirmando as considerações de Ferreira et al (1999) e Bandeira (1979), tanto para as
culturas anuais, quanto para as culturas perenes, a instabilidade da oferta pode ser causada
pela ocorrência de pestes, pragas, doenças e variações das condições climáticas. Essas
148
mudanças nas condições da oferta naturalmente causam mudanças nos preços, tudo mais
constante. O que também, de acordo com os autores, a resposta da oferta às mudanças nos
preços depende de muitos fatores e varia de produto para produto, sendo que a elasticidade de
curto prazo da oferta da maioria dos produtos agrícolas é baixa. Já a elasticidade de longo
prazo tende a ser superior a de curto prazo. A diferença entre ambas depende da forma de
organização da produção e de outras características físicas do produto, da infra-estrutura de
comercialização e abastecimento do produto. Lembrando que a instabilidade da oferta
também pode ser o resultado de instabilidade da política econômica do governo.
149
5 CONCLUSÕES
O universo de agricultores familiares, inclusive os amostrados nesta pesquisa, não é
homogêneo; ao contrário, é profundamente diferenciado, do ponto de vista econômico, entre
outros aspectos, como foi visto no capítulo anterior. Talvez por evoluírem seguindo trajetórias
diferentes, essa diversidade de situações nas quais se encontra a agricultura familiar se reflita
nos diferentes sistemas e estratégias de produção e sobrevivência. Porém deve ficar claro que
uma alternativa bem-sucedida em uma região e para um tipo de produtor não é
obrigatoriamente adaptável a outros tipos de produtores em outras realidades.
A seguir, são contempladas as conclusões desta dissertação, tais como os objetivos, a
metodologia adotada, as limitações deste estudo e sugestões para pesquisas futuras.
5.1 QUANTO AOS OBJETIVOS
Com base no objetivo geral do trabalho, que é fazer uma análise da evolução da margem bruta
dos estabelecimentos agropecuários amostrados e de alguns dos elementos que possivelmente
tenham influenciado nesta evolução, apesar das adaptações realizadas na análise dos
resultados, é possível concluir que o objetivo deste trabalho foi alcançado.
Primeiramente, porque foi verificado que, apesar de qualitativamente separadas em duas
categorias (empresário familiar e produtor simples de mercadoria/nível 3), segundo a
disponibilidade de área, capital investido em máquinas equipamentos e benfeitorias e o
percentual de utilização da mão-de-obra familiar, nos trabalhos desenvolvidos dentro do
estabelecimento, as diferenças nos valores dos resultados econômicos, principalmente da
margem bruta, não foram estatisticamente significativas, ainda que a categoria de produtor
150
simples de mercadoria/nível 3, tendo obtido pela análise descritiva dos resultados
econômicos, valores inferiores à categoria de empresário familiar, dada a escolha do
consórcio de culturas selecionadas. É possível que uma amostra maior de produtores e a
extensão do período de análise possa confirmar a validade das categoria teórica, o que não
ocorreu no presente estudo.
Nesta comparação entre as duas categorias, apenas a variável superfície agrícola útil obteve
um coeficiente de correlação de 0,57 significativo a 5% de probabilidade, ou seja, indicando
que a categoria de empresário familiar apresenta uma maior disponibilidade de área do que a
categoria de produtor simples de mercadoria/nível 3. E foi a partir desta constatação que se
optou por realizar as análises seguintes, com base nos resultados econômicos por superfície
agrícola útil, anulando, dessa forma, a influência do tamanho da área cultivada sobre os
resultados econômicos dos estabelecimentos amostrados. Este procedimento metodológico
revelou-se adequado à medida que, para a maioria das propriedades, a produção diversificada
apresentou uma taxa média de crescimento da receita superior à taxa média de crescimento
do custo variável.
Esta pesquisa também confirmou a grande heterogeneidade das formas de composição dos
sistemas produtivos, nos estabelecimentos agropecuários familiares, pois na amostra estudada,
apesar das várias características em comum, tais como a utilização da mão-de-obra familiar, a
localização geográfica, a limitada extensão de terra e a participação expressiva do cultivo de
soja, milho e trigo em todos os estabelecimentos. Ainda assim, demonstraram uma diferença
no nível de renda bruta e de custo variável muito grande, afetando, conseqüentemente, o
comportamento da margem bruta, podendo gerar tanto evoluções negativas quanto positivas.
E a partir desta constatação, confirmou-se também a importância da diversificação em
estabelecimentos agropecuários com superfície agrícola útil limitada, pois esta estratégia
151
permite aos agricultores reduzir, em parte, a instabilidade de renda de seus estabelecimentos,
podendo-se citar, como exemplo de evolução positiva da margem bruta, o estabelecimento 14
composto pelo sistema de produção de soja, milho, trigo e bovino leiteiro, o qual obteve uma
margem bruta ascendente de 1998/1999 para 1999/2000, período em que os estabelecimentos
compostos pelo sistema de produção de soja, milho e trigo obtiveram uma margem bruta
declinante.
Com relação aos fatores que tiveram influência significativa no comportamento da margem
bruta, dos sistemas de produção de soja, milho e trigo, tanto na análise descritiva, como na
análise estatística, foi verificado que os elementos produtividade e superfície agrícola útil não
apresentaram influência no comportamento da margem bruta desses sistemas produtivos. Isso,
mesmo com uma tendência de evolução positiva da produtividade nas três culturas no período
analisado. Já a superfície agrícola útil se manteve praticamente a mesma, nos cinco anos
analisados, com um pequeno aumento de 1998/1999 para 1999/2000.
O elemento custo variável no sistema produtivo soja, milho e trigo apresentou na análise
descritiva uma curva de desempenho similar à da renda bruta, contribuindo para a estabilidade
da margem bruta. A análise estatística revelou que o custo variável da atividade agrícola do
trigo apresentou um coeficiente de correlação de 0,93 com a margem bruta total, sendo este
significativo a 5% de probabilidade. O custo variável da soja e do milho não apresentou
correlação estatística significante com a margem bruta.
Ressalta-se que a variação do custo variável pode ocorrer, devido a vários aspectos, tais como
mudança nos métodos de tratos culturais, uma catação manual de ervas daninhas ao invés de
uma aplicação de herbicida para controle de matos, pesquisa de preço dos insumos junto aos
fornecedores ou melhor negociação na compra dos insumos agrícolas.
152
Foi observada uma possível interferência dos preços recebidos pelos produtos citados acima,
especialmente pela valorização da saca de soja, causando uma evolução positiva da margem
bruta nos três últimos anos do período analisado. Porém, estatisticamente, esta observação não
obteve um coeficiente de correlação significativo a 5% de probabilidade, para nenhuma das
três atividades agrícolas.
O elemento variações climáticas não foi incluído nas análises estatísticas, mas as análises
descritivas revelaram que: a) quando as geadas ocorreram entre largos intervalos de tempo,
elas não influenciaram no comportamento da margem bruta; b) quando as geadas ocorreram
com maior freqüência, como a que houve em julho de 2000, estas causaram grandes prejuízos
aos estabelecimentos. A justificativa para a diferença no impacto respaldou-se no fato de que
o agricultor já havia investido capital na cultura de inverno, neste caso o trigo, logo a
ocorrência de geadas intensas e freqüentes causaram a perda da produção, o que,
conseqüentemente, gerou uma baixa renda, ou até mesmo renda nenhuma, concluindo-se,
desse modo, que o elemento variações climáticas teve uma forte influência no comportamento
da margem bruta.
5.2 QUANTO À METODOLOGIA
Os pequenos estabelecimentos agropecuários normalmente utilizam indicadores técnicos
como produtividade, para a mensuração da eficiência de suas atividades agropecuárias.
Contudo, muitas vezes estes indicadores estão totalmente desvinculados de qualquer lógica
financeira ou econômica. Além disso, de acordo com Turra (1990), os agentes envolvidos,
direta ou indiretamente, com o setor agrícola, utilizam estudos de custos de produção com
finalidades distintas. Para atender seus objetivos, cada qual faz uso de métodos e critérios de
cálculo que melhor se adapte ao seu caso e, neste trabalho, a margem bruta por superfície
153
agrícola útil mostrou-se um indicador econômico satisfatório para o alcance dos objetivos
propostos.
A adoção da análise descritiva, juntamente com a utilização de métodos estatísticos, também
foram adequadas para a compreensão das informações e para o tratamento dos dados, uma vez
que a utilização de ambos os métodos mostrou-se complementar, sendo satisfatórios os
resultados e conclusões obtidas.
5.3 QUANTO ÀS LIMITAÇÕES DA PESQUISA
A pesquisa apresentou algumas limitações, tal como a impossibilidade de fazer o cálculo da
depreciação de máquinas, equipamentos e benfeitorias, devido a problemas encontrados na
base de dados. Este fato impossibilitou o cálculo e análise do custo fixo, o qual poderia
aprofundar a análise do comportamento econômico desses estabelecimentos agropecuários
estudados.
A ocorrência de vários sistemas produtivos distintos também limitou a pesquisa, pois
impossibilitou a análise dos elementos que influenciaram no comportamento da margem
bruta, de um número maior de estabelecimentos agropecuários, reduzindo a
representatividade da amostra nesta análise. Esperava-se analisar a margem bruta de um
número maior de estabelecimentos com o mesmo sistema produtivo.
Outro aspecto que deve ser esclarecido é a consciência de que os indicadores econômicos,
apesar de serem indicadores importantes, não se constituem em parâmetros suficientes para
medir-se o bem-estar social deste segmento da agricultura, ainda que eles tenham um papel
determinante nas condições de vida das pessoas. Dessa forma, a falta de indicadores sociais
limitou o conhecimento dos contornos do nível de bem-estar destas famílias agricultoras,
154
impedindo verificar se os resultados da margem bruta do período analisado foram, realmente,
satisfatórios para elas. Mesmo no que tange a este aspecto, foi realizado um esforço no
sentido de captar as percepções dos agricultores e, embora não tenha sido objetivo específico
deste trabalho, os resultados apresentados no Anexo mostram que o Projeto Redes contribuiu
positivamente para a melhoria do bem-estar do agricultor acompanhado.
5.4 QUANTO ÀS CONTRIBUIÇÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
Acredita-se que o trabalho contribuiu positivamente, no sentido de explorar os dados obtidos
nestes cinco anos de acompanhamentos, apresentando ordenadamente o comportamento da
margem bruta, da renda bruta e do custo variável desses estabelecimentos, como também os
fatores que influenciaram nesses comportamentos.
No entanto, sugere-se que, futuramente, sejam realizadas pesquisas qualitativas com esses
agricultores, de forma a compreender melhor os aspectos subjetivos dessas pessoas, buscando
identificar se o Projeto Redes está conseguindo compreender, realmente, a realidade e as
necessidades desse grupo.
Para mostrar a importância de se explorar tais aspectos, apresenta-se, no Anexo, um artigo
feito no decorrer da realização desta pesquisa, publicado em 2004, no Anais do XLII
Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, no qual é feita uma
análise quantitativa dos indicadores econômicos de um dos estabelecimentos agropecuários
acompanhados pelo Projeto Redes, complementada por uma análise qualitativa, de uma
entrevista realizada com o agricultor, proprietário do estabelecimento analisado.
155
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YIN, Robert K. Estudo de Caso – Planejamento e métodos. 2. ed., Porto Alegre: Bookman,
2001.
162
APÊNDICE
163
1 ANÁLISE DE CORRELAÇÃO COM APLICAÇÃO DO TESTE T
1.1 RENDA BRUTA DA PRODUÇÃO – RBP
A média da renda bruta da produção, do período de 1998 a 2003, da amostra de agricultores
em estudo, mostra que houve uma variação entre R$ 18.000,00 e R$ 246.000,00 na renda
bruta de uma propriedade familiar rural, em cinco anos.
Estes valores se mostram muito superiores à renda da agricultura familiar brasileira, que
obteve uma média de apenas R$ 2.700,00 ao ano. Comparando-se a média da Região Sul,
estes produtores estão com uma renda anual ainda mais privilegiada, pois esta região
apresenta uma renda bruta média de R$ 5.000,00 ao ano, segundo dados do Censo
Agropecuário 1995/1996. Os dados da amostra de agricultores analisados nesta pesquisa
podem ser vistos na Tabela 1 e no Gráfico 1
164
Tabela 1 – Renda Bruta da Produção no período de 1998 a 2003.
Nº DO AGRICULTOR CÓD. DO AGRICULTOR MÉDIA DA RBP* MÉDIA
STANDARTIZADA
1 203 18.566,70 -1,440683702
2 501 36.726,18 -1,096521884
3 206 39.307,75 -1,047595589
4 216 39.695,46 -1,040247579
5 502 46.679,50 -0,907884869
6 511 63.050,13 -0,597625605
7 504 70.121,72 -0,463603637
8 152 70.777,02 -0,451184187
9 503 77.878,55 -0,316594716
10 507 90.857,42 -0,070616798
11 153 93.421,03 -0,022030783
12 201 104.865,40 0,194864912
13 151 109.082,90 0,274795653
14 156 115.017,18 0,387263375
15 512 118.806,24 0,459074171
16 510 120.357,95 0,48848243
17 157 121.354,77 0,507374472
18 207 153.783,74 1,12197411
19 162 154.592,15 1,137295255
20 205 246.727,71 2,883464971
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
Gráfico 1 – Renda Bruta da Produção do período de 1998 a 2003, em valores standartizados.
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
-
1,
4
-
1,
1
-
1,
0
-
1,
0
-
0,
9
-
0,
6
-
0,
5
-
0,
5
-
0,
3
-
0,
1
0,
0
0,
2
0,
3
0,
4
0,
5
0,
5
0,
5
1,
1
1,
1
2,
9
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
1234567891
0
1
1
1
2
1
3
1
4
1
5
1
6
1
7
1
8
1
9
2
0
165
1.2 RENDA BRUTA DA PRODUÇÃO PELA SUPERFÍCIE AGRÍCOLA ÚTIL – RBP/HA
Com relação à renda por unidade de área, os dados da amostra indicam que houve uma
variação entre R$ 1.300,00 e R$ 3.200,00 por hectare.
Comparando-se com a média da renda por unidade de área brasileira, que é de R$ 104,00/há e
a média da renda por unidade de área da Região Sul, que é de R$ 241,00/há (dados do Censo
agropecuário 1995/1996), os agricultores da amostra também apresentam resultados muito
superiores, como podem ser vistos na Tabela nº 12 e no Gráfico nº 3.
Além disso, é interessante ressaltar que o agricultor 205, apesar de ter obtido a maior renda
bruta total da produção, nesta análise por unidade de área os agricultores 151, 162, 502, 157,
512, 510, 156 e 153 obtiveram, respectivamente, uma renda superior por unidade de área.
Tabela 2 – Renda Bruta da Produção, pela Superfície Agrícola Útil, no período de 1998 a 2003.
Nº DO
AGRICULTOR
CÓD. DO
AGRICULTOR
MÉDIA DA
RBP/SAU *
S.A.U.
(ha)
VALOR
STANDARTIZADO
1 501 1.363,26 26,94 -1,80582
2 203 1.393,27 34,76 -1,74869
3 504 1.887,02 37,16 -0,80882
4 511 1.929,32 32,68 -0,7283
5 206 1.951,27 20,51 -0,68651
6 216 2.017,36 18,55 -0,56071
7 152 2.028,92 34,72 -0,53872
8 207 2.054,03 74,05 -0,49092
9 507 2.085,80 43,56 -0,43044
10 503 2.145,41 36,30 -0,31696
11 201 2.218,30 46,94 -0,17822
12 205 2.490,59 95,78 0,3401
13 153 2.495,91 37,43 0,350219
14 156 2.534,53 45,38 0,423745
15 510 2.550,50 47,19 0,45413
16 512 2.938,58 40,43 1,192851
17 157 2.965,41 40,36 1,243924
18 502 2.967,55 15,73 1,247996
19 162 3.001,79 51,50 1,313179
20 151 3.219,68 33,88 1,727949
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
166
Gráfico 2 – Renda Bruta Média da Produção pela Superfície Agrícola Útil, do período de 1998 a 2003,
em valores standartizados.
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
1.3 CUSTO VARIÁVEL TOTAL - CVT
A média dos custos variáveis totais, dos agricultores da amostra, variou entre R$ 9.500,00 e
R$ 124.000,00. Estes valores foram todos, praticamente, proporcionais à renda bruta total da
produção, ficando o agricultor 203 com o menor custo variável total, assim como com a
menor renda bruta da produção, e o agricultor 205, com o maior custo variável total e também
com a maior renda bruta da produção. Apresentam-se na Tabela nº 13 e no Gráfico nº 4, os
custos variáveis totais dos demais agricultores da amostra.
-1,8
-1,7
-0,8
-0,7
-0,7
-0,6
-0,5
-0,5
-0,4
-0,3
-0,2
0,3 0,4
0,4
0,5
1,2
1,2
1,2
1,3
1,7
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
123456789
1
0
1
1
1
2
1
3
1
4
1
5
1
6
1
7
1
8
1
9
2
0
167
Tabela3 – Custo Variável Total Médio do período de 1998 a 2003.
Nº DO AGRICULTOR CÓD. DO
AGRICULTOR
MÉDIA DA CVT* VALOR
STANDARTIZADO
1 203 9.520,68 -1,33248
2 502 16.564,88 -1,07719
3 206 16.964,02 -1,06272
4 501 17.584,88 -1,04022
5 216 21.844,02 -0,88587
6 504 25.556,45 -0,75132
7 511 28.321,26 -0,65112
8 507 35.196,49 -0,40195
9 152 38.394,21 -0,28606
10 153 47.212,13 0,033515
11 503 48.418,18 0,077224
12 156 48.749,60 0,089235
13 510 48.821,89 0,091855
14 151 55.816,80 0,345362
15 201 59.160,38 0,466538
16 512 62.293,75 0,580096
17 157 65.657,39 0,702
18 162 73.127,15 0,972716
19 207 82.166,38 1,300311
20 205 124.376,90 2,830087
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
168
Gráfico 3 – Custo Variável Total Médio do período de 1998 a 2003, em valores standartizados.
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
1.4 CUSTO VARIÁVEL TOTAL PELA SUPERFÍCIE AGRÍCOLA ÚTIL – CVT/HA
A análise dos custos variáveis pela unidade de área variou entre R$ 650,00 e R$ 1.600,00
reais. Apontando ainda diferenças interessantes, pois apesar do agricultor 203 ter apresentado
-1,3
-1,1 -1,1
-1,0
-0,9
-0,8
-0,7
-0,4
-0,3
0,0
0,1 0,1 0,1
0,3
0,5
0,6
0,7
1,0
1,3
2,8
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
12 34567891
0
11 1 11 11 1 12
0
169
o menor custo variável total, na análise por unidade de área, os agricultores 501 e 504
apresentaram custos variáveis ainda menores. E o agricultor 205, que apresentou o maior
custo variável total, nesta análise aparece em vantagem, apresentado custo por unidade de
área inferior aos agricultores 151, 157, 512, 162, 503, 201 e 153, respectivamente.
Tabela 4 – Custo Variável Total da Produção, pela Superfície Agrícola Útil, no período de 1998 a 2003.
Nº DO
AGRICULTOR
CÓD. DO
AGRICULTOR
MÉDIA DO
CVT/SAU*
S.A.U.
(ha)
VALOR
STANDARTIZADO
1 501 652,74 26,94 -1,58138
2 504 687,74 37,16 -1,462
3 203 801,57 34,76 -1,0737
4 507 808,00 43,56 -1,05178
5 511 811,09 32,68 -1,04125
6 206 837,28 20,51 -0,95192
7 510 1.034,58 47,19 -0,2789
8 502 1.053,08 15,73 -0,21581
9 156 1.074,25 45,38 -0,14357
10 216 1.087,87 18,55 -0,09712
11 152 1.096,98 34,72 -0,06605
12 207 1.112,13 74,05 -0,01438
13 205 1.236,35 95,78 0,409359
14 153 1.261,38 37,43 0,494721
15 201 1.273,46 46,94 0,535933
16 503 1.333,83 36,3 0,741884
17 162 1.419,94 51,5 1,035615
18 512 1.541,00 40,43 1,448538
19 157 1.556,10 40,36 1,500042
20 151 1.647,49 33,88 1,811778
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
*Obs: Valores Deflacionados pelo IGP-DI para Julho/2003.
170
Gráfico 4 – Custo Variável Total da Produção pela Superfície Agrícola Útil , do período de 1998 a 2003,
em valores standartizados.
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
1.5 MARGEM BRUTA TOTAL - MBT
Como a margem bruta da produção está fortemente relacionada à renda bruta da produção e
aos custos variáveis totais, ela acompanha as variações de ambos os indicadores, ficando o
agricultor 203 com a menor margem bruta total e o agricultor 205 com a maior margem bruta
total.
-1,6
-1,5
-1,1
-1,1 -1,0
-1,0
-0,3
-0,2
-0,1
-0,1
-0,1
0,0
0,4
0,5
0,5
0,7
1,0
1,4
1,5
1,8
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
1234567891
0
1111111112
0
171
Tabela 5 – Margem Bruta Total da Produção, no período de 1998 a 2003.
Nº DO AGRICULTOR CÓD. DO AGRICULTOR MÉDIA DA MBT VALOR
STANDARTIZADO
1 203 9.046,01 -1,48178
2 216 17.851,44 -1,14936
3 501 19.141,30 -1,10066
4 206 22.343,72 -0,97976
5 503 29.460,37 -0,71109
6 502 30.114,62 -0,68639
7 152 32.382,81 -0,60076
8 511 34.728,87 -0,5122
9 504 44.565,27 -0,14085
10 201 45.705,02 -0,09782
11 153 46.208,91 -0,0788
12 151 53.266,09 0,187629
13 507 55.660,94 0,27804
14 157 55.697,38 0,279416
15 512 56.512,49 0,310188
16 156 66.267,58 0,678466
17 510 71.536,05 0,877363
18 207 71.617,36 0,880433
19 162 81.465,00 1,252204
20 205 122.350,81 2,795741
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
Gráfico 5 – Margem Bruta Total Média, do período de 1998 a 2003 em valores standartizados.
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
-1,5
-1,1
-1,1
-1,0
-0,7 -0,7
-0,6
-0,5
-0,1
-0,1
-0,1
0,2
0,3 0,3
0,3
0,7
0,9 0,9
1,3
2,8
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
123 4567891
0
11 11 1 11 11 2
0
172
1.6 MARGEM BRUTA TOTAL PELA SUPERFÍCIE AGRÍCOLA ÚTIL – MBT/HA
Analisando-se a margem bruta pela superfície agrícola útil, o agricultor 203 obteve a menor
margem, de R$ 548,00/há e o agricultor 502 obteve a maior margem, de R$ 1.900,00/há,
podendo-se, frente a este valor, afirmar que ele mostrou-se bastante eficiente na utilização
dos seus recursos (terra, capital e trabalho), pois sua propriedade é a menor da amostra.
Tabela 6 – Margem Bruta Total da Produção, pela Superfície Agrícola Útil, no período de 1998 a 2003.
Nº DO
AGRICULTOR
CÓD. DO
AGRICULTOR
MÉDIA DA
MBT/SAU
S.A.U.
(ha)
VALOR
STANDARTIZADO
1 203 548,5112 34,76 -1,91293
2 501 710,5161 26,94 -1,43171
3 503 811,5805 36,3 -1,13151
4 152 931,9366 34,72 -0,774
5 207 941,8988 74,05 -0,74441
6 201 944,8405 46,94 -0,73567
7 216 966,7517 18,55 -0,67059
8 511 1062,695 32,68 -0,3856
9 206 1113,995 20,51 -0,23322
10 504 1199,281 37,16 0,020115
11 153 1234,533 37,43 0,124828
12 205 1254,242 95,78 0,18337
13 507 1277,799 43,56 0,253346
14 512 1397,579 40,43 0,609137
15 157 1409,31 40,36 0,643985
16 156 1460,282 45,38 0,79539
17 510 1515,916 47,19 0,960645
18 151 1572,199 33,88 1,127828
19 162 1581,845 51,5 1,15648
20 502 1914,47 15,73 2,144509
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
173
Gráfico 6– Margem Bruta da Produção, pela superfície agrícola útil, do período de 1998 a 2003 em
valores standartizados.
Margem Bruta Total pela Superfície Agrícola Útil
-1,9
-1,4
-1,1
-0,8
-0,7
-0,7
-0,7
-0,4
-0,2
0,0
0,1
0,2
0,3
0,6
0,6
0,8
1,0
1,1
1,2
2,1
-2,5
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
1234567891011111111120
Fonte: Banco de Dados do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar
1.7 ÍNDICE DE DIVERSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO
O índice de diversificação, calculado para as propriedades da amostra, identificou que há uma
variação entre as atividades desenvolvidas nas propriedades, onde apenas uma cultura
contribui com mais de 10% da renda da propriedade, como é o caso do agricultor 203,
chegando-se a, no máximo, três culturas, contribuindo com mais de 10% da renda da
propriedade, como é o caso do agricultor 151.
174
Tabela 7 – Índice de Diversificação, no período de 1998 a 2003.
Nº DE AGRICULTORES CÓD. DO AGRICULTOR ÍNDICE MÉDIO
DE DIVERSIFICAÇÃO
1203 1,5
2501 1,7
3511 1,9
4502 2,0
5503 2,1
6510 2,1
7156 2,1
8507 2,2
9162 2,2
10 201 2,4
11 216 2,4
12 157 2,6
13 205 2,6
14 206 2,7
15 207 2,8
16 512 2,8
17 153 2,8
18 504 3,0
19 152 3,2
20 151 3,5
Fonte: Dados da Pesquisa.
Gráfico 7 – Índice Médio de Diversificação de cada agricultor, do período de 1998 a 2003.
Índice Médio de Diversificação de cada Agricultor
1,5
1,7
1,9
2,0
2,1
2,1
2,1
2,2
2,2
2,4
2,4
2,6
2,6
2,7
2,8
2,8 2,8
3,0
3,2
3,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Agricultores
Índice de Diversificaç
Fonte: Dados da Pesquisa.
175
2.1 ANÁLISES DE CORRELAÇÃO ENTRE O ÍNDICE DE DIVERSIFICAÇÃO E AS
VARIÁVEIS RENDA BRUTA, CUSTO VARIÁVEL E MARGEM BRUTA
2.1.1 Correlação entre Índice de Diversificação e Renda Bruta de Produção
Guanziroli et al (2001) acreditam que, embora em sua origem a diversificação fosse
determinada pelo caráter de subsistência da produção familiar, hoje é uma clara e consciente
estratégia de redução de riscos e incerteza; sem dúvida, um trunfo de muitos sistemas de
produção explorados por produtores familiares.
A diversificação é uma das principais características que aparecem nos estudos realizados
pelos autores. Ela foi observada na maior parte dos estabelecimentos familiares. Com isso,
eles ainda afirmam que a diversificação contradiz frontalmente o senso comum que considera
a especialização e as economias de escala uma tendência e uma necessidade do
desenvolvimento da produção agropecuária.
Mas, apesar disso, e ao contrário do que foi, também, observado no estudo realizado pelo
Convênio FAO/INCRA, no qual se constatou que, quanto maior a diversificação dos sistemas,
menores os riscos corridos pelos produtores e maior a renda auferida, nesta pesquisa o
resultado da correlação entre a renda bruta da produção e o índice de diversificação foi não
significativo, apresentando um coeficiente de correlação de 0,31, não significativo a 5% de
probabilidade.
Talvez esse fato possa ser explicado pelo extraordinário aumento do preço da soja, nos
últimos anos, o que fez com que muitos agricultores centralizassem seus recursos na
176
exploração desta atividade. Essa questão pode ser melhor analisada a partir dos dados da
Tabela 8 e do Gráfico 8.
Tabela 8 – Correlação entre as variáveis Renda Bruta da Produção e o Índice de Diversificação
Nº DE
AGRICULTORES
CÓDIGO DO AGRICULTOR ÍNDICE DE
DIVERSIFICAÇÃO
MÉDIA DA RBP
1 203 1,5 18.566,70
2 501 1,7 36.726,18
3 511 1,9 63.050,13
4 502 2,0 46.679,50
5 503 2,1 77.878,55
6 510 2,1 120.357,95
7 156 2,1 115.017,18
8 507 2,2 90.857,42
9 162 2,2 154.592,15
10 201 2,4 104.865,40
11 216 2,4 39.695,46
12 157 2,6 121.354,77
13 205 2,6 246.727,71
14 206 2,7 39.307,75
15 207 2,8 153.783,74
16 512 2,8 118.806,24
17 153 2,8 93.421,03
18 504 3,0 70.121,72
19 152 3,2 70.777,02
20 151 3,5 109.082,90
Fonte: Dados da Pesquisa.
O gráfico abaixo apresenta o comportamento do preço da saca de 60 Kg de soja entre os anos
de 1994 a 2003.
177
Gráfico 08 – Média do Preço da Soja no período de 1994 a 2003.
Média anual do preço da soja no período de 1994 a 2003
9,63
11,93
15,30 15,26
13,32
17,22
17,05
23,47
37,32
41,27
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
12345678910
FONTE: DERAL/DEB - SEAB/PR
2.1.2 Correlação entre o Índice de Diversificação e o Custo Variável Total
Na correlação realizada entre o índice de diversificação e os custos variáveis totais, o
coeficiente de correlação apresentado foi de 0,34, não significativo a 5% de probabilidade. O
que significa que uma maior ou menor diversificação não influi diretamente em um aumento
dos custos variáveis.
178
Tabela 9 – Correlação entre as variáveis Índice de Diversificação e o Custo Variável Total
Nº DE
AGRICULTORES
CÓDIGO DO
AGRICULTOR
ÍNDICE DE
DIVERSIFICAÇÃO
MÉDIA DO CVT
1 203 1,5 9.520,68
2 501 1,7 17.584,88
3 511 1,9 28.321,26
4 502 2,0 16.564,88
5 503 2,1 48.418,18
6 510 2,1 48.821,89
7 156 2,1 48.749,60
8 507 2,2 35.196,49
9 162 2,2 73.127,15
10 201 2,4 59.160,38
11 216 2,4 21.844,02
12 157 2,6 65.657,39
13 205 2,6 124.376,90
14 206 2,7 16.964,02
15 207 2,8 82.166,38
16 512 2,8 62.293,75
17 153 2,8 47.212,13
18 504 3,0 25.556,45
19 152 3,2 38.394,21
20 151 3,5 55.816,80
Fonte: Dados da Pesquisa.
2.1.3 Correlação entre o Índice de Diversificação e a Margem Bruta Total
Também na correlação entre o índice de diversificação e a margem bruta, o coeficiente de
correlação foi muito baixo, somente 0,25, não significativo a 5% de probabilidade.
179
Tabela 10 – Correlação entre as variáveis Índice de Diversificação e Margem Bruta Total
Nº DE
AGRICULTORES
CÓDIGO DO
AGRICULTOR
ÍNDICE DE
DIVERSIFICAÇÃO
MÉDIA DA MBT
1
203 1,5 9.046,01
2
501 1,7 19.141,30
3
511 1,9 34.728,87
4
502 2,0 30.114,62
5
503 2,1 29.460,37
6
510 2,1 71.536,05
7
156 2,1 66.267,58
8
507 2,2 55.660,94
9
162 2,2 81.465,00
10
201 2,4 45.705,02
11
216 2,4 17.851,44
12
157 2,6 55.697,38
13
205 2,6 122.350,81
14
206 2,7 22.343,72
15
207 2,8 71.617,36
16
512 2,8 56.512,49
17
153 2,8 46.208,91
18
504 3,0 44.565,27
19
152 3,2 32.382,81
20
151 3,5 53.266,09
Fonte: Dados da Pesquisa.
2.2 ANÁLISES DE CORRELAÇÃO ENTRE A SUPERFÍCIE AGRÍCOLA ÚTIL E AS
VARIÁVEIS RENDA BRUTA, CUSTO VARIÁVEL E MARGEM BRUTA
2.2.1 Correlação entre a Superfície Agrícola Útil e a Renda Bruta de Produção
A renda bruta da produção mostrou-se bastante relacionada à superfície agrícola útil, onde o
coeficiente de correlação apresentado foi de 0,90, sendo significativo a 5% de probabilidade,
ou seja, quanto maior o tamanho da área, maior a renda bruta da produção.
180
Tabela 11 – Correlação entre Superfície Agrícola Útil e Renda Bruta da Produção
AGRICULTOR CÓD. DO
AGRICULTOR
MÉDIA GERAL
DA S.A.U.
MÉDIA GERAL
DA RBP
1
502 15,73 46.679,50
2
216 18,55 39.695,46
3
206 20,51 39.307,75
4
501 26,94 36.726,18
5
511 32,68 63.050,13
6
151 33,88 109.082,90
7
152 34,72 70.777,02
8
203 34,76 18.566,70
9
503 36,30 77.878,55
10
504 37,16 70.121,72
11
153 37,43 93.421,03
12
157 40,36 121.354,77
13
512 40,43 118.806,24
14
507 43,56 90.857,42
15
156 45,38 115.017,18
16
201 46,94 104.865,40
17
510 47,19 120.357,95
18
162 51,50 154.592,15
19
207 74,05 153.783,74
20
205 95,78 246.727,71
Fonte: Dados da Pesquisa.
2.2.2 Correlação entre a superfície agrícola útil e o Custo Variável Total
O coeficiente de correlação apresentado por estas variáveis foi de 0,89, significativo a 5% de
probabilidade, o que significa que quanto maior o tamanho da área, maior os custos variáveis
totais.
181
Tabela 12 – Correlação entre as variáveis Superfície Agrícola Útil e Custo Variável Total
AGRICULTOR CÓD. DO
AGRICULTOR
MÉDIA GERAL
DA S.A.U.
MÉDIA DO
CVT
1
502 15,73 16.564,88
2
216 18,55 21.844,02
3
206 20,51 16.964,02
4
501 26,94 17.584,88
5
511 32,68 28.321,26
6
151 33,88 55.816,80
7
152 34,72 38.394,21
8
203 34,76 9.520,68
9
503 36,30 48.418,18
10
504 37,16 25.556,45
11
153 37,43 47.212,13
12
157 40,36 65.657,39
13
512 40,43 62.293,75
14
507 43,56 35.196,49
15
156 45,38 48.749,60
16
201 46,94 59.160,38
17
510 47,19 48.821,89
18
162 51,50 73.127,15
19
207 74,05 82.166,38
20
205 95,78 124.376,90
Fonte: Dados da Pesquisa.
2.2.3 Correlação entre a superfície agrícola útil e a Margem Bruta Total
O coeficiente de correlação apresentado pela correlação da margem bruta com a superfície
agrícola útil foi de 0,87, significativo a 5% de probabilidade.
182
Tabela 13 – Correlação entre as variáveis Superfície Agrícola Útil e Margem Bruta Total
Nº DE AGRICULTOR CÓD. DO
AGRICULTOR
MÉDIA GERAL
DA S.A.U.
MÉDIA DA MBT
1
502 15,73 30.114,62
2
216 18,55 17.851,44
3
206 20,51 22.343,72
4
501 26,94 19.141,30
5
511 32,68 34.728,87
6
151 33,88 53.266,09
7
152 34,72 32.382,81
8
203 34,76 9.046,01
9
503 36,30 29.460,37
10
504 37,16 44.565,27
11
153 37,43 46.208,91
12
157 40,36 55.697,38
13
512 40,43 56.512,49
14
507 43,56 55.660,94
15
156 45,38 66.267,58
16
201 46,94 45.705,02
17
510 47,19 71.536,05
18
162 51,50 81.465,00
19
207 74,05 71.617,36
20
205 95,78 122.350,81
Fonte: Dados da Pesquisa.
Todos os coeficientes de correlações entre as variáveis em estudo estão descritas na tabela
abaixo.
Tabela 14 – Coeficientes de correlação estatística entre as variáveis, renda bruta da produção, custo
variável total, margem bruta da produção, índice de diversificação e superfície agrícola útil.
Variáveis RBP CVT MBT IND. DIV. S.A.U.
RBP
1----
CVT
0,97 *
5%
1---
MBT
0,97*
5%
0,90*
5%
1--
IND. DIV.
0,31
18%
0,34
13%
0,25
27%
1-
S.A.U.
0,90*
5%
0,89*
5%
0,87
5%
0,15
50%
1
* Significativo a 5% de probabilidade
Fonte: Dados da Pesquisa.
183
ANEXO
184
“Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar”: análise dos resultados
apresentados em uma das propriedades acompanhadas no período de 1998 a 2003
13
Anaís Naomi Kasuya Saldanha
Márcia Regina Gabardo da Câmara
Dimas Soares Júnior
Adenir de Carvalho
RESUMO
Registros desapontados com a realização de iniciativas para o desenvolvimento da agricultura
familiar mostram que precisa ser criada uma nova aproximação para a concepção e
implementação de projetos, buscando diminuir a distância entre propostas escritas e a
realidade dos grupos de beneficiários. Esta nova aproximação não pode estar baseada apenas
em aspectos técnicos ou ambientais, mas é importante que se leve em conta os processos
sociais. O presente trabalho faz algumas reflexões acerca da agricultura familiar e das
dificuldades enfrentadas pela pesquisa e extensão voltadas para este estrato de produtores,
seguida da apresentação e análise de alguns resultados do Projeto das Redes de Referências
para a Agricultura Familiar (“Projeto Redes”), o qual está sendo desenvolvido no Estado do
Paraná, desde 1998, numa parceria entre o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e a
Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER/PR), utilizando-se de
uma nova proposta metodológica a qual, entre outras características, utiliza-se de princípios
do enfoque sistêmico, da pesquisa e desenvolvimento e das organizações em rede ao longo do
processo de acompanhamento aos agricultores.
Palavras-chave: Agricultura familiar. Pesquisa agropecuária. Extensão rural.
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é apresentar e analisar os resultados de acompanhamento de
uma das propriedades que estão sendo acompanhadas pelo Projeto Redes de Referências para
a Agricultura Familiar
14
. Este projeto está sendo desenvolvido no Estado do Paraná, desde
1998, numa parceria entre o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e a Empresa Brasileira
de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER/PR).
No Brasil, o debate sobre a agricultura familiar ainda é recente e não possui contornos
definidos. Os estudos de Abramovay (1992) merecem destaque em função do mérito de terem
revelado que a agricultura familiar é uma forma reconhecida e legitimada na maioria dos
países desenvolvidos, nos quais a estrutura agrária é majoritariamente composta por
explorações nas quais o trabalho da família assume uma importância decisiva. A “descoberta”
difundiu entre os estudiosos brasileiros a noção de agricultura familiar e operou um
deslocamento teórico e analítico decisivo na sociologia dos estudos rurais e agrários, cujas
preocupações, até então, giravam em torno da discussão do caráter capitalista, tradicional ou
moderno, das relações sociais predominantes na agricultura.
Para melhor compreender os conceitos a serem utilizados neste trabalho, a agricultura
familiar será definida, segundo Mussoi (2002:06), que a vê como:
13
Trabalho disponível no CD-ROM do XLII Encontro da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural.
Cuiabá, 2004.
14
O Projeto das Redes de Referências para a Agricultura Familiar será detalhadamente apresentado mais
adiante e para maior facilidade na redação e leitura do trabalho, este será designado apenas por Projeto Redes.
185
Uma forma de vida, que tem (seus atores sociais) um saber/conhecimento
construído histórica e coletivamente; que tem uma lógica própria de decisão; tendo
uma relação harmônica com o meio ambiente (ou pelo menos, muito mais
harmônica que a agricultura empresarial-capitalista convencional); usando de forma
articulada e eficiente o trabalho familiar; baseando-se num processo de
diversificação produtiva que garanta a produção para o abastecimento próprio e a
necessária integração com o mercado local/regional, garantindo também níveis
adequados de biodiversidade (produtiva, medicinal, artesanal e de reserva
biológica); sendo capaz de processar muitos dos produtos por ela produzidos e
reciclar dejetos para sua re-utilização. Este tipo de agricultura é, a nível externo,
capaz de se articular no seu conjunto, possibilitando a resolução organizada/coletiva
de seus problemas, uso de potencialidades e instrumentos de produção
.
Estas características lhes proporcionam mecanismos próprios de resistência ao processo
de "modernização" convencional. Isso torna o trabalho da pesquisa e extensão rural voltado
para este segmento da agricultura, um tanto quanto complexo, pois estes trabalhos devem
respeitar e condizer com a lógica e realidade desses agricultores.
Para Lima et al (1995), na propriedade familiar, as decisões sobre o que e como produzir
são determinadas não apenas por fatores como lucro e preço, mas também pelas necessidades
da família. Os sistemas familiares possuem também um subsistema decisional, o qual gera as
decisões em função das finalidades e objetivos do sistema.
As diferenças entre o empresário rural e o empresário urbano devem ser consideradas,
podendo-se citar, entre estas, que a principal diferença é o apego à terra e à família que,
muitas vezes, é maior que o bem-estar e o desejo de progresso (BRANDT e OLIVEIRA,
1973).
De modo geral, os princípios econômicos que se aplicam à indústria e ao comércio são
também válidos para a agricultura. Entretanto, esta tem certas características que devemos ter
presentes ao estudar a economia de uma empresa agrícola (HOFFMANN et al, 1984). Como
ressaltado por Lima et al (1995), deve-se sempre atentar para a necessidade de se analisar a
maneira com que o produtor organiza sua propriedade, transmitindo-lhe a importância de se
atualizar, frente às muitas mudanças que estão ocorrendo na economia.
No Brasil, a agricultura familiar é responsável pela geração de sete vezes mais postos de
trabalho por unidade de área, do que a agricultura patronal (FAO/INCRA, 1995). Também no
Paraná, os principais produtos agrícolas são produzidos por propriedades familiares,
utilizando-se a mão de obra de homens, mulheres, crianças e idosos da família.
Ao se analisarem os dados descritos por Doretto et al (2001), pode-se comprovar a
importância deste estrato de produtores para a economia do estado, segundo os quais, no
Paraná, 90% dos estabelecimentos agropecuários são familiares. Tais estabelecimentos detêm
55,7% da área total, empregam 83% do pessoal ocupado e são responsáveis por 57% do valor
bruto da produção vegetal.
É fundamental analisar e compreender de que maneira são utilizados os recursos
naturais, os meios técnicos e a mão de obra disponível. Isto impõe, necessariamente, o
conhecimento das condições locais de produção ou, como salienta Abramovay (1985), busca-
se não somente o aumento da produção e o rendimento dos produtores, mas, principalmente, o
sistema de produção que melhor se adapta ás condições ecológicas e socioeconômicas.
Possivelmente, isto justifique um dos grandes problemas dos programas de
administração rural, conforme apontado por Lima et al (1995), para quem os agricultores
começam a participar de tais programas esperando alternativas para melhorar sua produção e
logo desistem quando percebem que o programa limita-se ao acompanhamento e controle dos
registros contábeis, aconselhamento técnico – gerencial e a uma formação administrativa.
186
Já para Souza (1986) duas hipóteses explicam o baixo nível de adoção de tecnologia por
pequenos agricultores ou a transferência é inadequada, ou a tecnologia proposta não é
apropriada às suas condições, sendo essa a causa mais comum.
Fazendo uma análise, sob o enfoque da percepção, Byrnes (apud Burke, 1977:19), num
artigo intitulado “Algumas variáveis faltantes na pesquisa de difusão e estratégia de
inovação”, coloca a percepção como a mais fundamental das variáveis:
Fazemos suposições a respeito de pessoas e de mudanças com base em determinadas
experiências, freqüentemente, inconscientemente selecionadas. Percebemos novas
mensagens, nós mesmos e outros, num contexto particular de tempo e lugar. O que
acontece antes e depois, o que cerca ou é visto em associação com alguma coisa,
influencia a maneira pela qual nós a vemos e compreendemos. Finalmente, nossos
pontos de vista (cultural, organizacional, físico e conceitual) influenciam nossa
percepção.
“Percepção”, conforme usada aqui, refere-se ao significado que uma pessoa atribui para
uma pessoa, lugar, evento ou mensagem. A realidade – o significado e a significância – disto
para ela pode ser totalmente independente da “verdade” ou realidade conforme é
experimentada por outras pessoas. Ao se compreender o comportamento humano, devemos
tomar a percepção de um fato dado e estarmos alertas para o fato de que percepções diferem
em função dos perceptores.
Mais adiante, Byrnes (apud BURKE, 1977: 20) tratando do problema da “resistência”
dos agricultores a certas mudanças, pergunta: “Os agricultores resistem à mudança?” Segundo
o autor, a resposta é que inegavelmente alguns o fazem, mas outros não e “ freqüentemente,
eles parecem resistir não à mudança, mas a maneira pela qual a mudança é apresentada, ou
aquilo que eles percebem ser a mudança. Assim, vemos que as pessoas respondem ou reagem
- ou também resistem – em termos da sua definição de uma situação. Se quisermos modificar
sua reação, devemos conhecer o que eles percebem e a base desta percepção”.
Concordando-se com a perspectiva de Byrnes (op.cit.), é que se verificou a relevância de
entrevistar o agricultor, buscando identificar e compreender melhor a percepção dele, sobre o
Projeto Redes, esta questão será abordada mais à frente.
O artigo está estruturado em seis partes, a saber: introdução; pesquisa e extensão rural
no Brasil, explorando-se no referencial teórico os conceitos de enfoque sistêmico, pesquisa e
desenvolvimento e organizações em redes; os procedimentos metodológicos do artigo; a
descrição do Projeto Redes; discussão e demonstração da eficácia da metodologia, utilizando
os resultados da análise do desempenho econômico-financeiro de uma das propriedades
acompanhada pelo Projeto, associada à análise do discurso do agricultor que aderiu ao
programa com sucesso, em entrevista realizada para identificar a percepção do participante e
as considerações finais, item no qual se buscou identificar em que aspectos o
acompanhamento do Projeto foi relevante para o desempenho da propriedade nos últimos
cinco anos.
1 PESQUISA E EXTENSÃO RURAL NO BRASIL
A produção agrícola sofreu uma profunda e intensa transformação neste século
decorrente da modernização tecnológica, principalmente nos países industrializados. A
transferência dessas tecnologias modernas aos demais países foi feita, muitas vezes, sem o
devido cuidado de adaptação às realidades locais. A introdução destas tecnologias no Brasil
aprofundou a diferenciação social já existente no meio rural, além de agravar os problemas
sociais na cidade, a partir, da chegada em massa, dos agricultores que foram expulsos.
187
O processo de modernização partia da premissa de que a simples transferência de
tecnologias melhoradas promoveria o desenvolvimento econômico de uma dada região. No
entanto, essas categorias de agricultores não apresentavam condições de recursos materiais e
financeiros para absorverem os pacotes tecnológicos propostos, uma vez que estes pacotes
não estavam adequados as suas realidades.
O enfoque de pesquisa que orientou o processo de modernização baseia-se no controle
de todos os fatores, exceto um ou alguns que se deseja estudar. Isto significa pesquisar, em
estação experimental e/ou laboratórios, apenas uma parte do sistema de produção,
considerando fatores de caráter técnico e desprezando-se as questões sócio-econômicas.
Concluída a pesquisa de uma nova tecnologia, gerada como peça isolada e depois oferecida
aos agricultores para ser incluída em seus sistemas.
A extensão rural segue esta mesma lógica, desde sua implantação no Brasil ha 50 anos,
caracterizando-se por:
Pontualidade da assistência – os técnicos estão voltados para um determinado
problema dentro da propriedade, como uma doença ou uma praga. Não assistem a lavoura
como um todo, mas apenas aquele problema isolado. Como conseqüência os agricultores
recebem um grande número de técnicos, cada um orientado a um problema, quando muito a
uma cultura. No entanto, a propriedade como um todo, não é considerada. Muitas vezes o
agricultor, com dificuldades financeiras e econômicas, vem a falir, uma vez que não recebe
orientação ao negócio agrícola.
A ausência de uma visão de planejamento: trabalhos de 5, 10 ou 20 anos em uma
propriedade, poucas mudanças trouxeram. Isso dada à falta de uma visão de planejamento, na
qual se parte de um diagnóstico interno (pontos fracos e fortes) e externos (ameaças e
oportunidades), para elaborar projetos de médio e longo prazo, com metas e objetivos bem
definidos e que busquem a evolução da exploração agrícola.
Tecnologias de produção – o técnico sempre esteve preparado para discutir questões
tecnológicas ligadas a produção, eximindo-se de questões gerenciais.
Foco “dentro da porteira” – é rara a assistência técnica que trabalha questões de
mercado, decisão de plantio, gerência econômica e financeira, decisões de investimento, etc.
Nos últimos 20 anos, os métodos de inovação na agricultura vêm sofrendo mudanças
muito rápidas, questionando a separação entre pesquisa e extensão, que caracterizou o período
inicial da extensão rural e da revolução verde. Paralelamente, se intensificou a discussão sobre
a importância da participação dos agricultores e de suas organizações representativas, assim
como de outros envolvidos, partindo da idéia que as inovações na agricultura devem ser
conduzidas pelos próprios agricultores em diálogo com os técnicos.
A dinâmica de desenvolvimento, especialmente num sistema ao serviço de agricultores
requer uma alta flexibilidade para poder reagir rapidamente às mudanças sócio-econômicas,
infra-estruturais e técnicas. A participação dos agricultores nos programas voltados para a
agricultura familiar, se baseia na autoconfiança, compreensão e confiança por parte de todos
os envolvidos (SCHMITZ, 2001).
Simões e Oliveira (2002), dividem a história dos sistemas de pesquisa e extensão, para a
agricultura nos últimos cinqüenta anos, da seguinte maneira: modelo de transferência de
tecnologia, impulso da revolução verde e emergência da pesquisa-desenvolvimento em
sistemas de produção. Os autores também fazem uma breve descrição dessas fases, as quais se
mostram bastantes oportunas para este trabalho.
Antes dos anos 60, o modelo era simplesmente de transferência uniforme do progresso
técnico. Os centros de pesquisa agronômica trabalhavam quase que exclusivamente para
aumentar a produtividade do trabalho na agricultura dita “moderna” cujo paradigma era a
agricultura norte americana, altamente mecanizada. O papel dos agentes de extensão se
limitava em fazer conhecer as tecnologias aos agricultores interessados. Neste mesmo
188
período, foi constatado que vários países do chamado terceiro mundo não conseguiam
desenvolver a sua produção agrícola no mesmo ritmo que seu crescimento populacional.
Concluiu-se que o modelo mecanizado e intensivo em capital não era adaptado e que se fazia
necessário um novo modelo de agricultura, adequado aos trópicos e às condições
agroecológicas e socioeconômicas dos pequenos agricultores, predominantes na maioria
desses países.
Os centros de pesquisas agronômicas internacionais impulsionaram a Revolução Verde,
ao selecionar e disponibilizar tecnologias modernas e promissoras para os centros de extensão
que repassaram aos pequenos agricultores, mobilizando em particular os conhecimentos
acerca do melhoramento genético das espécies cultivadas, dos fertilizantes químicos e dos
agrotóxicos. Nessa época já se considerava que havia vários tipos de agricultores com
interesses diferenciados e isso diferenciava este modelo do precedente. A Revolução Verde
foi um sucesso em algumas áreas específicas. Não obstante o rápido crescimento da produção
houve sérios desequilíbrios sociais, associados ao favorecimento de agricultores médios e
grandes, verificou-se a exclusão dos pequenos agricultores, fator que intensificou
conseqüentemente, o êxodo rural. (SIMÕES e OLIVEIRA, 2002)
No início dos anos 70, as pesquisas enfocaram a difusão das tecnologias e constataram
que as decisões dos agricultores não podiam ser analisadas a partir de cálculos econômicos
clássicos. Não se tratava de simplesmente aceitar ou rejeitar uma tecnologia em função dos
custos adicionais gerados e dos retornos econômicos que as mesmas poderiam propiciar, mas
de considerar os objetivos das famílias, suas diferentes estratégias assim como as inter-
relações entre as diferentes atividades emvel do sistema de produção. A partir daí, então, o
conceito de sistema de produção que já era bem conhecido na tradição agronômica européia,
foi estendido para designar todo o estabelecimento agrícola.
A terceira fase da pesquisa e extensão, inaugurada no fim dos anos 70, criticou os
métodos da Revolução Verde e suas conseqüências, estimulando o desenvolvimento de uma
nova metodologia de geração e transferência de tecnologias adaptadas aos pequenos
agricultores a partir do enfoque sistêmico. A idéia geral da abordagem sistêmica é mudar a
ênfase das estações experimentais para os experimentos em propriedades com a participação
dos agricultores. Na agricultura, o enfoque sistêmico tem se tornado cada vez mais necessário,
devido à crescente complexidade de sistemas organizados e manejados pelo homem e da
emergência do conceito de sustentabilidade. (SIMÕES e OLIVEIRA, 2002). O
aperfeiçoamento da pesquisa agropecuária, por volta de 1974, levou ao desenvolvimento da
metodologia de pesquisa-desenvolvimento, que parte da observação da realidade agrária para
distinguir os diferentes tipos de agricultores em função do meio envolvente, compreender a
lógica interna dos sistemas de produção de cada tipo em função dos objetivos da família, dos
meios de produção e tecnologias disponíveis e dos principais constrangimentos/restrições
encontradas.
O conhecimento aprofundado dos sistemas de produção dos agricultores permite
selecionar tecnologias promissoras que podem ser introduzidas a partir de testes nos
estabelecimentos agrícolas, da experimentação em meio real (nas áreas de produção dos
agricultores) ou depois de validação em estações experimentais deslocadas para áreas rurais.
Poder-se-ia, também, reorientar as prioridades de pesquisa agronômica para atender as
necessidades maiores de todos ou certos tipos de agricultores em função da política geral do
país. Apenas no fim dos anos 80 é que a metodologia de pesquisa-desenvolvimento, baseada
no enfoque sistêmico aplicado à agricultura, chega ao Brasil (SCHMITZ, 2001).
Diante das restrições acima apontadas, a estratégia proposta para a operacionalização do
Projeto Redes conjuga: o enfoque de sistemas, que busca por intermédio do envolvimento
entre a pesquisa, a extensão e o produtor uma maior objetividade na resolução dos problemas
e uma maior adequação das tecnologias para os sistemas de produção, a metodologia de
189
pesquisa e desenvolvimento, através da implantação de unidades de teste e validação de
tecnologias, dentro das propriedades rurais e alguns princípios das organizações em redes,
pois o Projeto Redes busca a formação de uma rede de comunicação, para dar início a um
processo eficiente de troca de informações entre os agricultores. Para uma melhor
compreensão destes conceitos, estes serão brevemente discutidos a seguir.
1.1 ENFOQUE SISTÊMICO NA PESQUISA AGROPECUÁRIA
No enfoque sistêmico, o estabelecimento agrícola é visto como uma unidade complexa,
administrada pela família, abrangendo tanto o sistema de produção (com os subsistemas de
cultivo, de criação, de extrativismo, de beneficiamento, etc.) como o sistema de consumo
(reprodução), que são economicamente bem sintonizados. A família toma suas decisões,
tentando combinar da melhor maneira os recursos disponíveis que dependem entre outros das
condições do meio ambiente (SCHMITZ, 2001).
O enfoque sistêmico tem sido aplicado em diversas ações de pesquisa, desenvolvimento,
ensino e extensão rural, principalmente em resposta às crescentes críticas relacionadas aos
projetos agrícolas reducionistas e disciplinares, direcionados aos pequenos produtores
familiares, os quais não têm se beneficiado dos resultados. Através do desenvolvimento de
vários modelos sistêmicos de pesquisa e extensão em sistemas de produção, a expectativa é de
que os resultados destas experiências se tornem mais adequados e úteis aos pequenos
agricultores familiares (PINHEIRO, 2000).
Entretanto, mais importante do que a própria definição, são os princípios que o conceito
de sistemas enfatiza, dentre os quais destacam-se os seguintes (CAPRA, 1996):
Visão do todo: A abordagem sistêmica visa o estudo do desempenho total de sistemas,
ao invés de se concentrar isoladamente nas partes.
Interação e autonomia: Sistemas são sensíveis ao meio ambiente com o qual eles
interagem, o qual é geralmente variável, dinâmico e imprevisível. A fronteira do sistema
estabelece os limites da autonomia interna, a interação entre os componentes do sistema e a
relação deste com o ambiente.
Organização e objetivos: Em um sistema imperfeitamente organizado, mesmo que
cada parte opere o melhor possível em relação aos seus objetivos específicos, os objetivos do
sistema como um todo, dificilmente serão satisfeitos.
Complexidade: Este enfoque parte do princípio de que, devido a interações entre os
componentes e entre o meio ambiente e o sistema como um todo, este é bem mais complexo e
mais compreensivo do que a soma das partes individuais.
Níveis: Sistemas podem ser entendidos em diversos níveis, como por exemplo, uma
célula, uma folha, um animal, uma propriedade, uma região, o planeta e assim por diante. Um
sistema em determinado nível pode ser entendido como um sub-sistema de outro nível.
1.2 METODOLOGIA DE PESQUISA-DESENVOLVIMENTO
A pesquisa-desenvolvimento surgiu em torno de 1974 e tornou-se mais relevante a partir
dos anos 80, coincidindo com uma nova etapa de abordar o desenvolvimento rural,
especialmente em função de críticas ás conseqüências da Revolução Verde. Os princípios
básicos desta nova abordagem de pesquisa e desenvolvimento eram (SCHMITZ, 2001): a
consideração da diferenciação social na sociedade agrária e conseqüentemente, a necessidade
de identificar grupos homogêneos para desenvolver soluções apropriadas; o enfoque
sistêmico; a hipótese da racionalidade do agricultor e assim da complexidade e capacidade de
evolução da agricultura “tradicional”; a busca de explicação para os fenômenos observados e
190
das estratégias dos agricultores e de outros atores envolvidos, exigindo uma abordagem
interdisciplinar.
O conceito de pesquisa e desenvolvimento propõe a substituição do esquema linear de
geração e transferência de tecnologia, por uma relação triangular e recíproca entre
pesquisadores extensionistas e agricultores. O objetivo principal é aumentar o bem estar das
famílias rurais de baixa renda, através da adoção de tecnologias apropriadas aos seus níveis de
recursos e circunstâncias socioeconômicas. Isso é buscado pela mudança de ênfase das
pesquisas realizadas nas estações experimentais, para ensaios conduzidos nas propriedades,
com a participação dos agricultores, pois o desenvolvimento de tecnologias apropriadas é
embasado no entendimento do contexto de seus sistemas produtivos, oportunidades,
problemas e objetivos.
A pesquisa e o desenvolvimento são muito mais interligados, existindo uma necessidade
de expansão da atividade do pesquisador ao campo e do agricultor e do agente de
desenvolvimento participarem na programação e realização de projetos de pesquisa. Não
precisa de “participação plena” em todas as etapas de um projeto, a participação dos
envolvidos pode alcançar níveis diferentes em cada etapa. Quem participa e em que nível
depende da visão e da decisão dos principais atores (SCHMITZ, 2001).
Uma dificuldade permanente ao se tentar examinar a literatura sobre o desenvolvimento
econômico e a mudança social é determinar o que se deve entender pelo conceito de
“desenvolvimento” que, juntamente com sua noção de “crescimento” evoca toda uma série de
metáforas orgânicas. A maioria dos cientistas sociais distingue entre “crescimento
econômico” - identificado com referência a um índice quantificável, como o aumento da
renda per capta ou no produto nacional bruto - e o desenvolvimento econômico, que implica a
transformação estrutural e organizacional da sociedade, embora existam discordâncias sobre o
que representa exatamente esta última. A tendência mais comum é definir o desenvolvimento
em termos do progresso no sentido de um complexo de metas de bem estar, como a redução
da pobreza e do desemprego e a diminuição da desigualdade. Esta definição envolve a idéia
de mudança estrutural, mas é parcial na abordagem, pois enfatiza as conseqüências positivas
ou benéficas do desenvolvimento socioeconômico (LONG, 1982).
1.3 ORGANIZAÇÕES EM REDE
Migueletto (2001:22), define as organizações em redes como “uma estrutura
organizacional formada por um conjunto de atores que se articulam com a finalidade de aliar
interesses em comum, resolver um problema complexo ou amplificar os resultados de uma
ação, estes atores consideram que não podem alcançar tais objetivos isoladamente”. Na rede,
os atores sociais mantêm a sua autonomia e estabelecem múltiplos vínculos de
interdependência entre si, resultando numa dinâmica arena permeada por relações de
cooperação e conflitos de opinião.
Sendo uma arena de confluência de percepções, a rede manifesta a capacidade dos
atores sociais explicitarem sua riqueza intersubjetiva, organizacional e política, trata-se de um
espaço no qual os atores estão dispostos a trocar informações, dividir tarefas e agregar valor
às iniciativas (JACOBI apud MIGUELETTO, op.cit.).
De forma geral, podemos observar três fatores principais e inter-relacionados, que
favorecem a constituição de redes, tanto no âmbito do setor privado quanto do setor público,
quais sejam, o processo de modernização, o dinamismo do ambiente globalizado e o impacto
das tecnologias de informação.
Kliksberg (apud MIGUELETTO, op.cit.) propõe que o estado ocupe o locus de
articulador das redes, integrando às instituições públicas, as organizações não
governamentais, fundações empresariais, movimentos sindicais, organizações religiosas,
191
universidades, organizações de moradores e as comunidades pobres organizadas,
identificando o papel de cada um e suas contribuições. Com isso, faz-se necessário que cada
organização desenvolva seu saber para integrá-lo ao interesse coletivo, pois as redes políticas
viabilizam a otimização dos recursos e principalmente, a construção de conhecimentos e
práticas sociais que lhes são próprios.
O desafio da coordenação dos empreendimentos em rede está relacionado ao fato de que
as organizações atuam de acordo com lógicas, valores e normas de conduta próprias e
desejam conciliar ações, visando alcançar um objetivo comum. Nesse processo, as
organizações necessitam negociar uma interpretação da realidade para conseguirem trabalhar
em conjunto. As características essenciais das redes são a condição de autonomia e a relação
de interdependência dos atores. Os vínculos fortes na rede são definidos pela interação
freqüente, uma longa história e a confiança mútua entre as partes do relacionamento. Trata-se
de um processo que busca alcançar a coesão entre os participantes (MIGUELETTO, 2001).
O Projeto Redes é importante porque une pesquisa, extensão e agricultor, no
desenvolvimento deste trabalho e segundo Migueletto (op.cit.), na rede, as organizações
precisam umas das outras para alcançar seus objetivos particulares e o poder de uma entidade
se afirma na medida em que a sua participação se torna essencial para as ações do grupo. Nas
redes, a distribuição de poder não obedece a uma hierarquia, mas à importância de cada ator
na viabilidade da rede, fator que possibilita a aproximação entre as atividades de
planejamento e execução, e evita os gargalos na operacionalização das políticas, que se devem
em grande medida às diferenças de percepção e aos conflitos de poder entre os que planejam e
os que executam. A participação ativa dos diversos atores que estão envolvidos em
determinada política pública é um elemento fundamental para a eficácia do processo, pois
assegura maior integridade dos objetivos ao mesmo tempo em que agiliza as adaptações.
Os fatos expostos acima justificam a importância deste trabalho, apesar da ampla
abrangência do Projeto Redes, da utilização do enfoque sistêmico e do envolvimento entre
pesquisa, extensão e agricultor. Para confirmar os impactos do projeto, é necessário analisar
com maior profundidade os resultados obtidos nos anos agrícolas de 1998/1999, 1999/2000,
2000/2001, 2001/2002 e 2002/2003. Procura-se também delinear a percepção do agricultor
sobre a participação no projeto e sobre o processo de evolução da propriedade.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A primeira parte, preponderantemente teórica, discutiu os conceitos utilizados na
operacionalização do Projeto Redes, foram realizadas as revisões teóricas sobre agricultura
familiar, pesquisa agropecuária, extensão rural e sobre os conceitos de enfoque sistêmico,
pesquisa e desenvolvimento e organizações em rede, uma vez que o Projeto Redes propõe
uma reformulação dos métodos, técnicas e procedimentos de pesquisa e extensão rural que
possam, ao obter referências e parâmetros técnicos e econômicos, subsidiar a agricultura
familiar em tecnologias apropriadas e novos arranjos de seus sistemas de produção, que
possibilitem melhorar sua renda e sua qualidade de vida. Entre tais tecnologias enquadram-se
não somente aquelas voltadas à melhoria dos sistemas produtivos, mas também novas técnicas
que permitam aperfeiçoar a gestão das propriedades familiares no que diz respeito aos seus
recursos econômicos.
Para alcançar o objetivo proposto por este trabalho, apresentar e analisar os resultados
alcançados por uma das propriedades acompanhadas pelo Projeto Redes, nestes cinco anos de
acompanhamento, foi realizada uma pesquisa caracterizada como quanti-quali, pois foi feita
em duas etapas principais, primeiramente foi feita uma análise quantitativa das informações
econômico-financeira e dos resultados de produção, coletados pelo Projeto Redes. Nesta
192
análise, buscou-se demonstrar as alterações ocorridas nas propriedades durante os anos
agrícolas de 1998 a 2003.
Em seguida apresenta-se a análise qualitativa, através de uma entrevista realizada com o
agricultor, da propriedade selecionada para a análise dos dados quantitativos. Com todo este
estudo, buscou-se identificar, sob a perspectiva do agricultor, em que aspectos o
acompanhamento do Projeto foi relevante para o desempenho da propriedade nos últimos
cinco anos.
O objeto de estudo do trabalho foi uma das pequenas propriedades acompanhadas pelo
Projeto Redes, da região de Apucarana, norte do Estado do Paraná. A escolha deste agricultor
foi determinada pelo fato de este ser um dos primeiros participantes do projeto.
2.1 ANÁLISE QUANTITATIVA
Para a análise quantitativa foram utilizadas as informações dos registros efetuados pelos
produtores em instrumentos de coleta de dados, formulados pelo Projeto e em seguida foram
repassados aos extensionistas da EMATER, os quais as armazenaram no software
denominado de SAP – Sistema de Acompanhamento de Propriedades, um sistema preparado
para receber informações técnicas e econômicas de cada propriedade, desenvolvido numa
parceria entre a Organização das Cooperativas do Paraná - OCEPAR e o Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural – SENAR/PR e utilizou-se também de relatórios das planilhas RPR’S
(Redes de Propriedades de Referência), desenvolvido especialmente para facilitar e
automatizar o cálculo dos indicadores globais de desempenho.
Para a caracterização e análise quantitativa do desempenho global dos sistemas de
produção trabalhados foi utilizado um conjunto de indicadores, proposto para o Projeto
Redes, por Soares Jr. & Saldanha (2000), o qual está dividido em cinco grupos, a saber:
dimensionamento, custos, receitas, margem bruta e performance global.
Os indicadores utilizados na análise quantitativa são sumariamente descritos a seguir,
segundo os diferentes grupos, bem como apresentadas suas siglas, unidades de medidas e,
quando pertinente, os cálculos necessários para sua obtenção.
Tabela 01 - Indicadores Econômicos – Financeiros
s
de dimensionamento
ície Agrícola Útil – SAU (há)
n
de as terras trabalhadas ou exploradas pelo
produtor não importando se próprias,
arrendadas ou sob qualquer outra condição
legal. É calculada subtraindo-se da área total
as áreas que não se incluem no conceito
conforme segue ao lado.
Área Total
- áreas com matas plantadas e/ou
nativas
- áreas inaproveitáveis
- área com construções e/ou benfeitorias
- áreas com estradas e/ou carreadores
_______________________________
= Superfície Agrícola Útil
a
lente Homem – Eq. H. (unidade)
p
adrão de mão de obra utilizada para avaliar a
disponibilidade e calcular a remuneração do
fator trabalho em uma exploração agrícola.
Corresponde ao trabalho de um adulto em
tempo integral durante um ano, totalizando
300 dias/ano.
a
ndo-se as diferentes condições de gênero,
idade e possibilidade de dedicação da mão de
obra disponível tomou-se como referência
ESTUDA
NÃO ESTUDA
IDADE
Masc
Fem
Masc
Fem
07 a 13
0,25
0,25
193
para uniformização a tabela abaixo, tendo sido
considerada entretanto a ocorrência de
algumas situações mais específicas de
enquadramento.
0,50
0,50
14 a 17
0,33
0,33
0,66
0,66
18 a 24
0,50
0,50
1,00
1,00
25 a 59
-
-
1,00
1,00
60 ou mais
-
-
0,50
-
a
l Total – KT (R$)
a disponibilidade total de capital do produtor
segundo as diferentes classificações deste
fator, apresentadas em parênteses, após a
descrição dos itens ao lado.
a
s instalações, benfeitorias e culturas permanentes (fundiário)
n
imais de trabalho (exploração fixo vivo)
e
produtores e matrizes (exploração fixo vivo)
d
as máquinas e equipamentos (exploração fixo inanimado)
s
umos (exploração circulante)
anho para engorda e/ou venda (exploração circulante)
_
__________________________________________
a
l
Fonte: Soares Júnior e Saldanha, 2000.
Tabela 01 - Indicadores Econômicos – Financeiros (Cont.)
s
Variáveis Totais – CVT (R$)
l
es em que o administrador tem controle em determinado ponto no tempo, podendo aumentar ou
diminuir, de acordo com sua decisão gerencial. Podem ser definidos também como sendo
aqueles que variam quando se altera o nível de produção no período de tempo considerado.
Abrangem os seguintes itens principais: valor dos insumos despendidos na produção vegetal
e animal, valor da mão de obra contratada e contribuição ao INSS
s
Fixos Totais – CFT (R$)
l
es que existem mesmo que os recursos não sejam utilizados, não variando quando muda o nível
de produção, não se encontram no curto prazo sob o controle do administrador. Englobam
principalmente as depreciações e a mão de obra extra-familiar permanente.
a
s
a
Bruta da Produção – RBP (R$)
n
de a renda gerada na propriedade pelas atividades de produção vegetal e animal. Engloba o
valor das vendas, auto-consumo, cessões internas, produtos usados como pagamento em
espécie e diferenças no estoque.
s Rendas – OR (R$)
n
de a outros ingressos monetários na exploração, como por exemplo, aposentadorias, salários e
o valor monetário mão de obra vendida.
a
Bruta Total – RBT (R$) RBT = RBP + OR
194
m
Bruta Total – MBT (R$)
n
de à diferença entre a Renda Bruta e os Custos
Variáveis das diferentes atividades. São
consideradas como contribuição para os
Custos Fixos e Lucro depois dos Custos
variáveis serem pagos.
MBT = RBT-CVT
de Performance Global
5.1.Remuneração da Mão de Obra Familiar –
(R$/Eq.h./mês)
Corresponde ao valor atribuído à mão de obra
familiar, cujo custo não está incluído em nenhum dos
indicadores mencionados até aqui. É obtido após os
pagamentos dos juros, ou custo de oportunidade, dos
capitais fixos e variáveis, sendo calculados por
equivalente-homem por mês.
RLG
- Juros sobre capital fixo
- Juros sobre capital variável
/ Equivalente homem
/ 12
_______________________
= Remuneração da Mão de Obra Familiar
Fonte: Soares Júnior & Saldanha, 2000.
2.2 ANÁLISE QUALITATIVA
Para a análise qualitativa, o conceito de percepção é fundamental. Ele é uma dimensão
chave na compreensão da difusão de idéias. Embora uma nova idéia possa ser considerada
como vantajosa pelos especialistas de algum campo, atores particulares poderão não perceber
a inovação de forma semelhante. Assim é essencial que o modelo para o comportamento de
adoção leve em consideração a percepção do ator em relação à situação. Rogers ( apud Burke,
1977:11) define percepção como: “a maneira pela qual um indivíduo responde a qualquer
sentido ou impressão que ele detecta”. Percepção é uma função do campo situacional dentro
do qual o indivíduo opera. O conhecimento dos campos situacionais, a maneira pela qual o
indivíduo identifica-se a si próprio, seu senso de segurança e as regularidades normativas
poderão permitir a especificação teórica de algumas das condições para o comportamento de
adoção.
Assim, realizou-se uma entrevista com o agricultor, para que se torne possível analisar
qualitativamente, as transformações ocorridas nesta propriedade e identificar a importância e
colaboração do projeto para essas modificações. Como também identificar como o agricultor
se vê dentro deste processo. Para a coleta das informações qualitativas foi feito um
questionário dividido em aspectos gerais, aspectos técnicos, aspectos econômico-financeiro e
algumas questões conclusivas, orientadas para as seguintes questões investigativas:
Tabela 2 – Roteiro de Entrevista com o Agricultor
e
s de aspectos gerais
1.1.Por que começou a participar do Projeto Redes?
e
algum tipo de mudança nas atitudes dos membros da família, após a participação no Projeto
Redes?
e
s de aspectos técnicos
2.1.Houve modificações com relação aos aspectos técnicos da produção? Como?
2.2.Houve modificações com relação à produtividade da propriedade? Como?
2.3.Antes de participar do Projeto, o Sr. Fazia algum tipo de controle, anotação?
2.4.Houve modificação na gestão da propriedade? Como?
2.5.Realiza-se a pesquisa de preço de insumos antes de comprá-los ? Como é feita a pesquisa?
e
itas pesquisas de preço na hora de vender os produtos? Como é feita esta pesquisa?
e
s de aspectos econômico-financeiros
195
e
modificação na renda da propriedade ? Como?
e
modificação nos custos da propriedade ? Como?
4.Questões conclusivas
4.1.O que acha de estar participando do Projeto Redes?
e
pode ser feito para melhorar o Projeto Redes?
3 PROJETO REDES DE REFERÊNCIAS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR
15
A afirmação da agricultura familiar no cenário social e político brasileiro está
relacionada à legitimação que o Estado lhe emprestou ao criar o Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), em 1996. Este programa que em larga
medida foi formulado como resposta as pressões do movimento sindical rural realizado desde
o início da década de 1990, nasceu com a finalidade de prover crédito agrícola e apoio
institucional as categorias de pequenos produtores rurais que vinham sendo alijados das
políticas públicas ao longo da década de 1980 e encontravam sérias dificuldades de se manter
na atividade. A partir do surgimento do PRONAF, o sindicalismo rural brasileiro, sobretudo
aquele localizado nas regiões Sul e Nordeste, passou a reforçar a defesa de propostas que
vislumbram o compromisso cada vez mais sólido do Estado com uma categoria social
considerada específica e que necessitava de políticas públicas diferenciadas (juros menores,
apoio institucional, etc.).
A nível estadual, para apoio a agricultura familiar, o governo estabeleceu o Programa
Paraná 12 meses, e é dentro deste programa que se insere o Projeto das Redes de Referências
para a Agricultura Familiar.
Com o objetivo de desenvolver e difundir sistemas de produção
3
melhorados para a
agricultura familiar paranaense, a Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão
Rural (EMATER/PR) e o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), vêm desenvolvendo
desde 1998 o projeto “Redes de Referências para a Agricultura Familiar”, integrante do
Programa de Estado “Paraná 12 Meses
4
”, em seu componente Manejo e Conservação dos
Recursos Naturais – Fase 2 (Modernização). A metodologia utilizada neste projeto surgiu de
um convênio firmado com uma instituição de pesquisa francesa, que realiza este trabalho em
toda a França, há 25 anos.
Uma nova tecnologia, selecionada com a participação dos agricultores, se adapta
localmente melhor do que aquela recomendada pelos técnicos que trabalham por conta
própria. E mais ainda quando os agricultores estão presentes desde o início do processo de
geração da tecnologia, o resultado é mais facilmente aceito pelos demais agricultores.
Este é o conceito que está sendo adotado no Projeto Redes. Nele rejeita-se a idéia de que
cada componente do sistema funciona isoladamente do meio ambiente e independente dos
outros componentes. É uma abordagem holística, onde os sistemas devem ser tratados no seu
15
Descrição baseada na apresentação do Projeto Redes, publicado na “Revista Redes de Referências para a
Agricultura Familiar – apresentação do enfoque de trabalho através de descrições de propriedades
acompanhadas.” Projeto Paraná 12 Meses, 2000.
3
Pode-se definir um sistema de produção como sendo um conjunto de culturas (milho, feijão, mandioca e
pastagem) e criações (aves, suínos e bovinos) interdependestes e interatuantes entre si, realizadas em
determinada condição ambiental e manipulados pelo agricultor e sua família, de acordo com suas aspirações,
preferências e recursos disponíveis.
4
Projeto Redes está inserido no Projeto Paraná 12 Meses, que é um programa do Governo do Estado do Paraná,
que teve início em 1998 e visa promover o desenvolvimento econômico e social da população rural e o manejo e
conservação dos recursos naturais, atuando em todo território estadual com apoio financeiro do BIRD e do
Tesouro Estadual.
196
conjunto, com ênfase principalmente deste com o meio ambiente e na interação das partes que
o constituem.
Porém, não se trata de buscar somente o aumento da produção e dos produtos
cultivados, mas, principalmente, o sistema de produção que melhor se adapta as condições
ecológicas e sócio-econômicas. Nesse caso, é fundamental procurar analisar e entender de
que maneira é feita a utilização dos recursos naturais, dos meios técnicos e da mão de obra
disponível. E isto impõem, necessariamente, o conhecimento das condições locais de
produção e uma mudança de postura de pesquisadores e extensionistas.
Evidentemente que para ter uma pesquisa e uma extensão rural que gerem e difundam
tecnologias agrícolas que não sejam injustas, requer-se a correspondente reformulação ou
adequação dos métodos, técnicas e procedimentos pedagógicos e de difusão a serem
utilizados. Faz-se fundamental a utilização de instrumentos operacionais realmente adequados
em função das características dos agricultores envolvidos.
O Projeto Redes, constitui-se em uma metodologia inovadora que se propõem a
enfrentar o desafio de construir um novo modelo de pesquisa e extensão rural para transpor os
problemas aqui mencionados. Para isso apóia-se em propriedades analisadas, planejadas e
acompanhadas em seu conjunto (recursos naturais, produção vegetal e animal, recursos
humanos e econômicos) com o enfoque sistêmico, que após apresentarem melhorias, são
utilizadas como fontes de referências técnicas e econômicas
5
.
A partir do acompanhamento das propriedades, procura-se ajustar os sistemas de
produção as potencialidades e limitações locais (de natureza agroecológicas e/ou econômicas)
visando atingir a maior rentabilidade possível, obedecidas às premissas de sustentabilidade.
Isso torna esses sistemas passíveis de serem adotados por um grande número de agricultores.
Essa forma de trabalhar, além de promover a adaptação de tecnologias para o
desenvolvimento da agricultura, busca resolver o principal problema dos projetos de
desenvolvimentos, que é a interação entre os agentes – pesquisadores, extensionistas e
agricultores.
Assim, pode-se definir como objetivos das Redes:
Ofertar novas tecnologias e/ou atividades ampliando as possibilidades de
modernização
Servir como pólo de demonstração de tecnologias e sistemas de produção para
potencializar o processo de difusão
Disponibilizar informações e propor métodos para orientar os agricultores na gestão
da empresa agrícola
Servir como base para a capacitação e treinamento de agentes de assistência técnica e
extensão rural e de agricultores
Possibilitar a identificação de demanda de novas linhas de pesquisa
Para atender a esses objetivos, as Redes estão organizadas em três níveis:
Uma coordenação estadual em conjunto com a Unidade de Gerenciamento do
Programa Paraná 12 Meses (UGP) para garantir a execução homogênea do método
Uma equipe mesoregional para apoiar técnica e metodologicamente as equipes de
campo, além de serem responsáveis pelas pesquisas adaptativas.
Um extensionista por região, encarregado do acompanhamento a uma rede de vinte
propriedades e pela difusão dos resultados.
Nas regiões as Redes contam ainda com um comitê de coordenação composto pela
unidade de assistência técnica da comissão regional do “Programa Paraná 12 Meses” e outros
5
Uma referência técnica e/ou econômica é um conjunto de informações sobre uma atividade agrícola que ajuda a
assistência técnica na orientação dos agricultores na tomada de decisão.
197
agentes locais e regionais de desenvolvimento, que tem a função de ajudar nas reflexões e
escolhas dos sistemas a estudar.
A instalação de uma rede envolve três etapas complementares:
Estudo prévio, onde é realizada a delimitação de zonas homogêneas, com a
caracterização das regiões trabalhadas no tocante aos aspectos de clima, solos, estrutura
agrária e infra-estrutura. Realiza-se também a tipologia dos sistemas de produção buscando
identificá-los e caracterizá-los, com o objetivo de compreender sua lógica e entender as
diferenças e particularidades que existem entre os agricultores.
Escolha dos sistemas prioritários, feitos a partir das informações da etapa precedente.
É realizada pelo comitê de coordenação regional, que discute as hipóteses sobre a evolução
desses sistemas de produção e suas conseqüências, como peso econômico, peso demográfico,
evolução provável de seu número, influência do contexto sócio-econômico sobre os sistemas
atuais, potencialidades de novos sistemas, etc.
Seleção das propriedades, uma vez que o comitê refletiu e escolheu os sistemas a
serem estudados. Esta escolha garante parte da eficácia dos trabalhos, por isso ela deve seguir
o consenso entre os representantes dos agricultores e dos agentes de desenvolvimento. Feita a
escolha da propriedade, o primeiro passo é realizar um diagnóstico, com o intuito de conhecer
seu conjunto, seus pontos de estrangulamento, suas potencialidades e os objetivos do
agricultor.
A partir dessas informações, extensionista e agricultor elaboram um projeto de médio
prazo para a melhoria da propriedade. Na seqüência o extensionista passa a acompanhar a
implantação do projeto e registrar os resultados técnicos e econômicos que vão surgindo das
mudanças e que servirão para construir as referências modulares e globais do sistema.
A evolução dos trabalhos permitirá a obtenção de diversos produtos, que servirão aos
agentes de desenvolvimento ligados a agricultura familiar (extensão, pesquisa, formuladores
de políticas públicas) entre eles estão:
Propriedades que servirão como pólo de demonstração de novas tecnologias, local
para treinamento e capacitação de técnicos e agricultores.
Orientação para a definição de novas pesquisas.
Estudos setoriais (cadeias produtivas, utilização de mão de obra, utilização de
máquinas, entre outros).
As Redes de Referência para a Agricultura Familiar envolvem uma metodologia de
pesquisa adaptativa (validação) e difusão de tecnologia apoiada em uma rede de propriedades
(grupo de 20 propriedades representativas dos sistemas de produção encontradas em uma
dada região agrícola), analisadas e acompanhadas com o enfoque sistêmico, que após
sofrerem intervenções para a melhoria das mesmas, servem para o fornecimento de
referências técnicas e econômicas.
A partir do acompanhamento das propriedades, procura-se elaborar sistemas de
produção bem adaptados à região e possíveis de serem adotados por um número maior de
produtores. Os sistemas de produção são analisados no seu conjunto (produção animal,
vegetal, florestal; e recursos naturais, financeiros e humanos), avaliando-se sua viabilidade a
partir dos resultados econômicos gerados. Nas redes é possível aprender como funcionam e
evoluem os sistemas de produção no curto e médio prazo e também fazer os ajustes e análises
de sistemas inovadores, podendo-se ainda utilizá-las como local de teste e validação de
tecnologias desenvolvidas em estações experimentais.
Entre tais tecnologias enquadram-se não somente aquelas voltadas à melhoria dos
sistemas produtivos, mas também novas técnicas que permitam aperfeiçoar a gestão das
propriedades familiares no que diz respeito aos seus recursos econômicos.
198
4 RESULTADOS: ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA PROPRIEDADE
ACOMPANHADA E A PERCEPÇÃO DO PRODUTOR SOBRE O PROJETO DAS
REDES
A propriedade selecionada para a realização desta análise, encontra-se localizada no
município de Apucarana, região norte do Estado do Paraná. E para uma melhor compreensão
da análise apresentada, será feita a seguir, uma breve descrição da propriedade
6
.
Natural de Boracéia, Estado de São Paulo, o Sr. João da Silva
7
tem sua história
fortemente vinculada à história da cafeicultura do Norte do Paraná. Mas a partir da segunda
metade da década de 70, a cafeicultura paranaense enfrenta um contínuo declínio na produção
e área cultivada. O Norte do Paraná reconhece a expansão da soja e do trigo e então o Sr. João
erradica parte de seu cafezal para dedicar-se ao cultivo de grãos.
Em 1988 passa a arrendar áreas para o plantio de milho, além de prestar serviços
motomecanizados de preparo de solo e colheita. Deparando-se ao longo dos anos seguintes
com a redução da rentabilidade dos cultivos em áreas arrendadas e a necessidade de
deslocamento cada vez maiores, o Sr. João chega a 1995 pensando em novas alternativas. Era
o ano no qual começava a popularizar-se o novo modelo tecnológico para a cafeicultura
paranaense e o Sr. João visualiza aí a possibilidade de voltar a produzir exclusivamente em
sua própria terra. Em 1996 planta 1,5 há de café adensado, área que foi ampliada com o
plantio de 1,3 há no ano seguinte. Paralelamente continua o plantio de grãos no próprio sítio e
na área arrendada, contínua à sua, dedicando também maior atenção à pecuária leiteira,
atividade que sempre explorara para o auto consumo.
Com relação à mão de obra, o Sr. João trabalha em conjunto com a esposa, o filho e a
nora, priorizando a plena ocupação da mão de obra familiar na definição de suas estratégias
para, no futuro para alcançar a qualidade de vida desejada pela família. Entretanto, essa mão
de obra não é suficiente para a realização de todas as tarefas de manejo de cultura, sendo
necessário o pagamento de 180 diárias anuais nos períodos de capina e colheita.
4.1 RESULTADO QUANTITATIVO: DEMONSTRATIVO DOS RESULTADOS
ECONÔMICO-FINANCEIROS
Tabela 3 - Benfeitorias, Máquina e Equipamentos
1998 2003
Benfeitorias (R$) 14.151,62 Benfeitorias (R$) 15.941,93
Maquinas e equipamentos
(R$)
17.698.03 Maquinas e equipamentos
(R$)
20.955,90
Total (R$) 31.849,65 Total (R$) 36.897,83
Tabela 4 - Indicadores Técnicos – Medidas de Dimensionamento
INDICADORES 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03
SAU (há) 37,16 37,16 37,16 37,16 37,16
6
Descrição realizada com base nas informações apresentadas na Revista Redes de Referências para a Agricultura
Familiar / Apresentação do enfoque de trabalho através de descrições de propriedades acompanhadas – Adenir
de Carvalho e Dimas Soares Júnior.
7
O nome do agricultor foi alterado, para manter a identidade do agricultor.
199
Eq. Homem (un.) 3 3 2,5 3 2,5
Capital Total (R$) 38.102,31 43.150,49 43.150,49 52.722,29 52.722,29
Tabela 5 - Indicadores Econômicos – Custos
INDICADORES 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03
Custos variáveis
(R$)
10.170,00 10.066,00 13.609,23 16.575,96 23.099,76
Custos fixos (R$) 3.000,00 3.000,00 3.000,00 3.000,00 3.000,00
Custos totais 13.170,00 13.066,00 16.609,23 19.575,96 26.099,76
Tabela 6 - Indicadores Econômicos - Receitas
INDICADORES 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03
Renda Bruta da
Produção (R$)
29.676,00 42.417,00 39.000,00 70.530,04 93.805,25
Outras Rendas (R$) 00,00 00,00 00,00 00,00 00,00
Renda Bruta Total
(R$)
29.676,00 42.417,00 39.000,00 70.530,04 93.805,25
Margem Bruta Total
(R$)
16.506,00 29.352,00 22.390,77 50.954,08 67.705,49
R$/há 444,19 789,87 602,55 1.371,21 1.822,00
Tabela 7 - Indicadores Econômicos – Medidas de Performance Global
INDICADORES 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03
Remuneração da mão de
obra familiar (R$/Eq
h/mês)
354,79 378,49 428,59 501,04 568,75
4.2 RESULTADO QUALITATIVO: A PERCEPÇÃO DO AGRICULTOR
Conforme descrito, nos procedimentos metodológicos, a percepção do agricultor
entrevistado envolveu aspectos gerais, aspectos técnicos, aspectos econômico-financeiros e
algumas questões conclusivas.
Nas questões de aspectos gerais, procurou-se identificar o que levou o agricultor a
participar do Projeto e também saber o que ele esperava desta participação. Pode-se constatar
que ele não tinha uma idéia muito clara do que ia ser feito, mas agora se mostra satisfeito por
saber quanto gasta e quanto ganha em cada atividade, como se pode perceber em seu discurso:
Sr. João da Silva – “Ah, eu resolvi participa porque a gente sabe a renda que dá a renda que
não dá, antes mesmo, ás vezes uma coisa que você achava que tava dando renda, na verdade
você tava trabalhando no vermelho, né. E agora não, vai levando tudo marcado e então a
gente sabe o que a gente pode continua e o que a gente não pode, né. O soja, nóis cumecemos
plantar o soja, mas num tava sobrando. Pelo que nóis plantava, a saca por alqueire não tava
sobrando, não tava correspondendo, né, então... Nós achemos que ia acontecer só de bom
pra nóis, né. Nós falamos, né, porque nós faz as coisas e leva tudo marcadinho. Ajuda nóis
pra chuchu, então eu acho que pra nóis foi uma boa”
Quando se perguntou ao agricultor que tipo de controle ele realizava na propriedade,
antes de começar a participar do Projeto, ele alega que não fazia nem um tipo de anotação, por
isso não sabia por onde entrava e por onde saia o dinheiro:
Sr. João da Silva – “Não anotava nada. Era tanto de adubo, tanto de calcário, ia lá vendia
tanto e nem sabia o que dava nem o que não dava, ás vezes tirava do café pra ponha no milho
200
ou no soja e achava que tava dando ainda, e não é o que tava dando, o que tava dando era o
café.”
Com relação aos aspectos técnicos, procurou-se identificar se o agricultor tinha consciência das
mudanças ocorridas no processo produtivo, houve também a preocupação em saber se o
acompanhamento do Projeto colaborou para o aumento de sua produção e produtividade:
Sr. João da Silva – “Vo fala a verdade, depois que nóis começo a trabalha junto, né. Através
da EMATER ai, mudo porque nois diversifico, né. Ai entro com café, milho, leite, mudo
totalmente. Nóis era tranqüilo pra chuchu.O que mudo bastante é que de primeiro nóis ficava
envolvido com pranta roça arrendada, lembra. Teve época que nóis prantava 30, 40
alqueires de roça arrendada.”
Sr. João da Silva – “Nossa, aumento. A gente consegue produzi mais, porque sei lá, a
semente de milho mais produtiva né. Que em outros tempos se plantava uma semente de
milho ai e parece que não produzia igual nos ta produzindo agora. Esse 90/90 é um milho
bom. É deu pra vê que aumenta, por causa que nas colheita né, cada ano que passa parece
que... Só que aumento também por causa de orientação certa, porque nóis tirava uma
quantidade de milho por alqueire de 150 (sacas) no pau da viola e agora 300. Só que era pra
da mais, porque nóis aqui bruto, em 2 alqueires nóis tiramo 940 saca de milho.”
Buscando analisar a questão da gestão da propriedade, pode-se observar que o
agricultor está muito vinculado ao extensionista que o acompanha e também ao acesso direto
à EMATER:
Sr. José da Silva – “Ficou mais fácil, porque qualquer dúvida a gente corre com eles lá e
conversa com eles lá. Já tem orientação, já tão por dentro. Não tem nem comparação. Em
outros tempos nóis levava no escuro, a miguelão, agora não, agora é diferente que a gente já
sabe o que que ta dando, o que dá pra continuar e o que tem que largar. Que nem o
barracão de frango, nóis tava afim de colocar, mas daí eles vieram e falaram que tem que
pensa, vamo soma o negócio ai pra vê porque, eu acho que isso ia dá pra cabeça”
Nas questões conclusivas, procurou-se analisar o que o agricultor esta achando de
participar do Projeto e mais uma vez constatou-se o grande vínculo com o extensionista e com
a EMATER :
Sr. João da Silva – “O que nóis podia dizer é que a EMATER ai, o pessoal da EMATER,
ajuda bastante a gente. O que agente precisa vai lá. Faz análise de terra não cobra nada de
nóis.”
Com a preocupação de melhorar o acompanhamento e o trabalho do Projeto Redes,
perguntou-se ao agricultor o que pode ser feito para melhorar, mas devido a sua satisfação, ele
não pode dar maiores contribuições:
Sr. João da Silva – “A eu acho que pra nóis aqui ta bom demais eu to contente, pra nóis aqui
ta beleza.”
5 DISCUSSÃO
201
Para uma maior representatividade dos resultados econômico-financeiros apresentados,
tornou-se interessante comparar a renda/ha anual encontrada nesta propriedade, com a
renda/há anual apresentada recentemente no trabalho, Novo Retrato da Agricultura Familiar:
O Brasil Redescoberto (FAO/INCRA, 2000), que comprova a importância da agricultura
familiar comparado sua capacidade de geração de renda com a agricultura patronal sobre o
indicador de renda total por unidade de área (hectare), na região Sul de R$ 241,00 e R$ 99,00
para a agricultura familiar e patronal, respectivamente.
E com base nos resultados apresentados neste trabalho, pode-se observar que a renda
total por unidade de área (hectare) evolui de R$ 444, 19 na safra de 98/99 para R$ 1.822,00
na safra de 02/03, valores muito superiores a média brasileira. Os dados quantitativos foram
confirmados pela análise qualitativa que revelou que na percepção do agricultor houve muitos
benefícios e que tais benefícios são tangíveis (maior) receita e intangíveis( incremento no
bem-estar familiar, estar contente) .
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos, muitos trabalhos vêm se dedicando aos estudos e análises das formas
de organizações familiares. Segundo Abramovay (1992), pode-se extrair pelo menos dois
ensinamentos: a) a existência de diferentes estratégias sociais e econômicas através das quais
as populações, grupos e indivíduos identificados com a agricultura familiar vêm viabilizando
sua reprodução social e sobrevivência econômica nas sociedades contemporâneas e b) o
Estado tem sido o maior responsável pela manutenção de políticas e formas de apoio à
expansão e à consolidação das unidades que se organizam e estruturam com base no trabalho
familiar nas nações mais desenvolvidas,.
Daí a importância de instituições como o Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR e a
Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER/PR, desenvolverem
trabalhos como o Projeto Redes. E apesar de ainda não estarem mensurados os resultados dos
cinco anos de acompanhamento deste projeto, a proposta mostra-se bastante adequada ao
segmento de agricultores familiares, pois a metodologia utilizada no desenvolvimento do
projeto está voltada para questões técnicas e questões sociais destes agricultores.
Com relação a análise econômico-financeira, verificou-se um aumento bastante
significativo na renda do Sr. João da Silva, comparando-se a renda de R$ 29.676,00 em 1998,
que passou para R$ 93.805,25 em 2003. Analisando-se a entrevista realizada, pode-se
observar que, apesar dos aspectos positivos da metodologia utilizada pelo Projeto, constatou-
se que o agricultor está fortemente ligado ao extensionista, fato que futuramente poderá
causar problemas, um a vez que, caso o projeto interrompa o acompanhamento, o agricultor
pode se estabilizar na situação atual, até se tornar ultrapassado.
Uma outra idéia que pretende-se explorar futuramente, são as características das
propriedades familiares rurais e também as suas estratégias de sobrevivência em um sistema
capitalista, uma vez que, de acordo com Mann (apud Schneider, 2003), a persistência das
formas familiares e não capitalistas de produção na agricultura é explicada não pela sua
dependência a formas mais complexas de exploração, mas, ao contrário, pela incapacidade do
próprio capitalismo em superar, pelo menos até o presente, os limites naturais impostos pela
produção agrícola.
REFERÊNCIAS
202
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203
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