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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GESTÃO DE NEGÓCIOS
DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA
ESTUDO SOBRE A DIMENSÃO
ONTOLÓGICA DO EMPREENDEDORISMO
Londrina
2006
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DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA
ESTUDO SOBRE A DIMENSÃO
ONTOLÓGICA DO EMPREENDEDORISMO
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em
Administração do Programa de Pós-Graduação em
Administração (PPA-UEL/UEM), área de concentração:
Gestão de Negócios, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Administração.
Linha de pesquisa: Empreendedorismo
Orientador: Prof. Dr. Paulo da Costa Lopes
Londrina
2006
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DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA
ESTUDO SOBRE A DIMENSÃO
ONTOLÓGICA DO EMPREENDEDORISMO
Dissertação aprovada como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Administração no
Programa de Pós-Graduação em Administração
(PPA-UEL/UEM), pela banca examinadora
composta pelos professores:
Aprovada em 27 de abril de 2006.
Paulo da Costa Lopes
(B.Sc., M.Sc., D.Sc.)
Orientador – PPA/UEL
Fernando Antônio Prado Gimenez
(B.Sc., M.Sc., Ph.D.)
Convidado – UNICENP
Elisa Yoshie Ichikawa
(B.Sc., M.Sc., D.Sc.)
Membro – PPA/UEM
4
FICHA CATALOGRÁFICA
Boava, Diego Luiz Teixeira, 1974-
Estudo sobre a dimensão ontológica do empreendedorismo. / Diego
Luiz Teixeira Boava. -- Londrina: UEL, 2006.
203p. il.
Orientador: Prof. Dr. Paulo da Costa Lopes
Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Estadual
de Londrina.
Empreendedorismo. 2. Ontologia. 3. Fenomenologia. I.Universidade
Estadual de Londrina. II.Título.
B636e
CDU- 658
CDD- 658.022
5
Dedicatória
A Fernanda, menina-mulher
que sintetiza a liberdade e o amor.
6
Agradecimentos
Este trabalho não é obra individual. Como ser-no-mundo, devo sua realização aos
indivíduos que coexistiram comigo ao largo de minha vida.
A Fernanda, melhor oponente para debates intelectuais que se pode ter; inestimável.
Aos amigos de elucubrações Paulo e Elisa, que acreditaram haver possibilidades
nas divagações fenomenológicas. Verdadeiros empreendedores acadêmicos.
A turma 2004, irreverente e unida, que deu sentido à existência de cada um de seus
membros, sendo responsável por momentos felizes. O Vandre que o diga.
Ao Francisco, pessoa singular dotada de grandes valores.
Aos amigos de trabalho Perettinho, Evanil, Sturion, Márcio, Menão e outros, que
mesmo não sabendo contribuíram com o estudo.
A Cristiane, pela percepção de mundo e coragem em ser livre.
Ao Romério, Jorge e Jaime, sempre companheiros de luta.
A Dirce, que abriu portas para o futuro.
Aos elucubradores anônimos, não mencionados.
7
Trinta anos é uma idade difícil (...)
A vida acaba, começa a existência.
Bay, A.
Escritor francês
O homem é livre; mas ele encontra
a lei na sua própria liberdade.
Beauvoir, S.
Filósofa francesa
Nunca chegamos aos pensamentos.
São eles que vêm.
Heidegger, M.
Filósofo alemão
O que é ensinado em escolas e
universidades não representa educação,
mas são meios para obtê-la.
Emerson
Filósofo americano
8
SUMÁRIO
Lista de quadros ................................................................................................ 10
Lista de figuras .................................................................................................. 11
Resumo ............................................................................................................... 12
Abstract .............................................................................................................. 13
Introdução........................................................................................................... 14
Capítulo I – Empreendedorismo ...................................................................... 31
1.1 – Abordagens econômicas............................................................................. 41
1.2 – Abordagens comportamentais.....................................................................
45
Capítulo II – Sobre o método.............................................................................. 48
2.1 – A pesquisa nas ciências sociais................................................................... 50
2.2 – Fenomenologia............................................................................................
57
2.3 – O método fenomenológico..........................................................................
68
2.4 – A dinâmica do método fenomenológico...................................................... 76
Capítulo III – Etapas da investigação e apresentação dos resultados........... 77
3.1 – Formulação de uma proposição .................................................................. 78
3.2 – Determinação da “amostra”..........................................................................
79
3.3 – Distribuição e recolhimento..........................................................................
80
3.4 – Análise dos resultados..................................................................................
80
3.5 – Interpretação.................................................................................................
82
3.6 – O fenômeno.................................................................................................. 83
3.7 – As unidades de sentido e significação para o investigador e
respectivas interpretações....................................................................................
86
3.8 – Síntese das unidades de sentido modificadas.............................................
92
9
Capítulo IV – Interpretação dos resultados....................................................... 98
4.1 – Existencialismo............................................................................................. 105
4.2 – Analítica existencial......................................................................................
110
4.3 – Interpretação dos resultados........................................................................ 112
Conclusão............................................................................................................ 118
Referências bibliográficas................................................................................. 123
Bibliografia .......................................................................................................... 138
Apêndices ............................................................................................................146
Apêndice I – Edmund Husserl...........................................................................................147
Apêndice II – Caracterização de incubadoras de empresas ............................................152
Apêndice III – A cidade de Londrina..................................................................................160
Apêndice IV – A Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da
Universidade Estadual de Londrina (INTUEL)...................................................................
163
Apêndice V – Comentários gerais do investigador............................................................173
Anexos.................................................................................................................. 179
Anexo I – Estatuto Social do Consórcio GeNorP/INTUEL................................................ 180
Anexo II – Conselho Deliberativo e Equipe do Consórcio GeNorP/INTUEL....................
196
Anexo III – Influência das idéias fenomenológicas........................................................... 198
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Distinção ôntico X ontológico................................................................ 16
Quadro 2: Possibilidades de análises filosóficas................................................... 19
Quadro 3: A dimensão subjetivo-objetivo nas ciências sociais............................. 51
Quadro 4: Características da dimensão regulação-mudança radical.................... 53
Quadro 5: Definições de empreendedorismo e empreendedor........................... 101
Quadro 6: Principais temas da pesquisa sobre empreendedorismo..................... 102
Quadro 7: Abordagens ao estudo do empreendedorismo..................................... 103
Quadro 8: Tipos de incubadora ............................................................................ 154
Quadro 9: Conceito de incubadora........................................................................ 155
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Exemplos de abordagens do empreendedorismo................................. 37
Figura 2: Evolução paradigmática ........................................................................ 38
Figura 3: Paradigmas sociológicos....................................................................... 54
Figura 4: A consciência em Kant e Husserl........................................................... 59
Figura 5: O círculo hermenêutico.......................................................................... 64
Figura 6: Percurso metodológico.......................................................................... 81
Figura 7: Dimensões de atuação do empreendedor............................................. 108
Figura 8: Modelo tridimensional X abordagem existencial.................................... 109
Figura 9: Esquema das limitações do ser............................................................. 111
12
RESUMO
BOAVA, D.LT. Estudo sobre a dimensão ontológica do empreendedorismo.
Londrina, 2006. 203p. Dissertação (mestrado em administração), UEL –
Universidade Estadual de Londrina.
No mundo contemporâneo, o estudo do empreendedorismo adquire grande
destaque, posto que é um fenômeno capaz de provocar profundas transformações
sociais, políticas, culturais, econômicas e psicológicas. Permeando esse contexto,
existe a necessidade de abordá-lo com uma perspectiva distinta das que
habitualmente são empregadas. Nesta investigação, fazendo-se uso do método
fenomenológico e da fenomenologia, busca-se esclarecer a essência do
empreendedorismo, a partir do estudo sobre sua dimensão ontológica. Tal
elucubração se justifica na medida em que pode gerar resultados capazes de
contribuir para uma nova forma de compreensão do empreendedorismo e do ser que
empreende, por parte da Academia e da sociedade. Além disso, seus resultados
podem ser utilizados como subsídios para estudos vindouros acerca da temática,
considerando seu caráter propedêutico e deflagrador de novas abordagens. Assim,
partindo-se de uma reflexão filosófica, procura-se aproximar filosofia e
administração, na tentativa de aprofundar o conhecimento sobre assunto. A
Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade
Estadual de Londrina foi escolhida como locus privilegiado para as investigações,
sendo que os relatos de cinco empresários incubados serviram de subsídio para as
análises.
Palavras-chave:
Empreendedorismo; empreendedor; fenomenologia; ontologia; liberdade.
13
ABSTRACT
BOAVA, D.LT. Study about the ontological dimension of the entrepreneurship.
Londrina, 2006. 203p. Dissertation (master's degree in administration), UEL - State
University of Londrina.
At the present world, the study of the entrepreneurship acquires a big projection, as
it´s a phenomenon able to provoke deep social, political, cultural, economical, and
psychological transformations. Permeating this context, there is the need to approach
it with a different perspective of the ones that are habitually employed. In this
investigation, making use of the phenomenological method and of the
phenomenology, we try to clarify the essence of the entrepreneurship, from the
study of its ontological dimension. Such a lucubration is justified in the measure that
it can generate results capable to contribute to a new way of understanding of the
entrepreneurship and of the being that entrepreneur, by the Academy and society´s
part. Besides this, its results can be used as subsidies to still to come studies about
the thematic, considering its propaedeutic character and starter of new views. So,
departing from a phylosofical reflection, it is searched to approach physolophy and
administration, attempting to deepen the knowledge aboout the subject. The
International Incubator of Enterprises of Technological Basis of the State University
of Londrina was chosen as a priviledged locus to the investigations, being that the
reports of five incubated entrepreneurs served as subsidy to the analysis.
Key-words:
Entrepreneurship; entrepreneur; phenomenology; ontology; freedom.
14
INTRODUÇÃO
15
O homem, lançado ao mundo, é livre para fazer escolhas. O próprio ato de não
escolher já é uma escolha, que traz consigo as conseqüências de suas atitudes.
Empreender, a partir dessa perspectiva, representa uma ruptura com aquilo que
proporciona ao ser humano segurança e estabilidade.
Neste trabalho procura-se discutir aspectos relacionados a essa temática,
particularmente o empreendedorismo e o ser que empreende, a partir das reflexões
obtidas através do relato de cinco empresários participantes da Incubadora
Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de
Londrina.
Busca-se estreitar os laços da administração com a filosofia, estabelecendo uma
relação dialógica entre ambas, visando um melhor entendimento sobre a natureza
do empreendedorismo. Nesta dissertação, diversos conceitos filosóficos são
empregados no estudo da temática, com a finalidade de se proceder a uma reflexão
crítica, que traga subsídios para estudos vindouros.
Para tal, necessário se faz considerar que atualmente é comum ouvir a palavra
“empreendedorismo”. Publicam-se revistas científicas, realizam-se congressos e
seminários, discute-se o tema em jornais e revistas de grande acesso popular. Os
governos, entidades de classe e toda a sociedade voltam a atenção para o assunto.
Mas qual seu significado? O que é empreender? O que representa ser
empreendedor? Na tentativa de se responder a essas e diversas outras questões,
inúmeros estudos abordam o empreendedorismo de diferentes formas,
principalmente através de investigações econômicas, psicológicas, administrativas,
16
sociológicas etc. (DRUCKER, 1987; FILION 1997a; 1999, DORNELAS, 2001,
VERSTRAETE, 2002; PAIVA JR. e CORDEIRO 2002).
Por que isso ocorre? Primeiramente, deve-se analisar que os estudos efetuados
objetivam características ônticas, ao invés de privilegiarem as ontológicas, que
trariam outra contribuição aos debates. Ao se investigar aspectos que se relacionam
ou pertencem ao ser que empreende e suas características, em detrimento de
elucidar a partir da reflexão sobre o sentido abrangente do empreendedor como
aquilo que torna possível suas múltiplas existências, os pesquisadores observam
partes da realidade.
O quadro I apresenta uma distinção do ôntico X ontológico:
ÔNTICO
ONTOLÓGICO
Relativo ou pertencente ao ser ou às suas
características. Refere-se à estrutura e à
essência própria de um ente, aquilo que ele
é em si mesmo, sua identidade, sua
diferença em face de outros entes, suas
relações com outros entes. Diz respeito aos
entes em sua existência própria, concreta e
múltipla.
Refere-se ao estudo filosófico dos entes, à
investigação dos conceitos que permitam
conhecer e determinar em que consistem as
modalidades ônticas, quais os métodos para
o estudo de cada uma delas e quais as
categorias que se aplicam. Diz respeito aos
entes tomados como objetos de
conhecimento
Quadro 1: Distinção ôntico X ontológico
Fonte: adaptado de Chauí (2002); Heidegger (1999a)
O pesquisador que privilegia características ônticas, após longos estudos, diz: “O
empreendedor é alguém que assume riscos e inova”. Tal afirmação, baseada em
rigorosos métodos quantitativos, é inequívoca. Fundamenta-se na ciência. Já o
investigador ontológico indaga: O que é inovação? O que é sucesso ou o fracasso?
17
Tais termos existem em si e por si mesmos ou são avaliações sobre as ações
humanas? O que é coragem? O que é valor?
Mas, qual a diferença entre ambos? Pode-se dizer que está no modo de ver o
fenômeno. Para os cientistas, há necessidade de se apresentar uma realidade,
conceber dúvidas sobre essa realidade e a partir disso fazer problematização
científica. Eles então recorrem a uma ou mais teorias e fazem uso de um ou mais
métodos para se responder a pergunta que efetuaram sobre o problema. É o cogito,
ergo sum de Descartes. Já a ontologia é diferente. Pesquisa a partir de outro ponto
de partida.
Chauí (2002, p. 242) pergunta:
O que estuda a ontologia? Os entes ou seres antes que sejam
investigados pelas ciências, e depois que se tornaram
enigmáticos para nossa vida cotidiana. Em outras palavras, os
entes ou os seres antes de serem transformados em conceitos
das ciências e depois que nossa experiência cotidiana sofreu o
espanto, a admiração e o estranhamento de que eles sejam
como nos parecem ser, ou não sejam o que nos parecem ser.
A ontologia estuda as essências antes que sejam fatos da ciência
explicativa e depois que se tornaram estranhas para nós.
Assim, a ontologia investiga o dado, ou o sentido do ente, seja ele da natureza que
for. Analisa as diferenças e as relações entre eles, seu modo de existir, sua origem,
sua finalidade. O que é empreender? Eis uma questão ontológica.
Chauí (2002, p. 242) observou que aqui há o resgate da velha questão filosófica: “O
que é isto que é?”, mas acrescida de nova questão: “Para quem é isto que é?”
Objetiva-se a essência das coisas, dos atos, dos valores humanos, da vida e da
morte, do infinito e do finito. A pergunta “O que é isto que é?” refere-se ao modo de
18
ser dos entes naturais, artificiais, ideais e humanos; a pergunta “Para quem é isto
que é?” refere-se ao sentido ou à significação desses entes.
Danjou (2002) corrobora o privilégio ôntico conferido às pesquisas sobre
empreendedorismo, demonstrando que este é investigado a partir de diferentes
perspectivas, através de três abordagens:
a) a do contexto: condições ou efeitos da ação empreendedora, originando-se
dos campos da economia, sociologia e antropologia.
b) a do ator: o empreendedor, originando-se a partir da psicologia.
c) a da ação: o processo empreendedor, originando-se de estudos
organizacionais.
Esclarecido o privilégio que é dado às características ônticas no estudo do
empreendedorismo, é importante discutir outras possibilidades de investigações.
Para haver um avanço qualitativo nas pesquisas sobre o tema é necessário
estruturar a questão sobre o empreendedorismo a partir de uma análise filosófica
considerando suas dimensões ontológicas, axiológicas e epistemológicas, a
exemplo do que tem ocorrido nos debates sobre a questão da tecnologia
(VARGAS, 1985, 1994; GAMA, 1984, 1985, 1987; MIRANDA, 2002). Isso é
importante porque as pesquisas sobre essa questão podem servir de referência no
19
estudo sobre empreendedorismo, considerando suas peculiaridades no tocante a
suas finalidades.
O quadro 2 ilustra os significados desses termos.
DIMENSÕES
ESTUDOS
Ontologia
Investiga o ser a partir de si mesmo, considerado independente de suas
determinações particulares. Trata-se de reflexão a respeito do sentido
abrangente do ser, como aquilo que torna possível suas múltiplas
existências. A ontologia investiga o dado antes que seja fato da ciência e
depois que se transforme em colocações de difícil compreensão.
Axiologia
Teorias do valor. O objeto de estudo da axiologia é a natureza dos
valores e juízos valorativos. Valor é o que é precioso para o ser e que
contribua para o seu crescimento. Exemplos: valores econômicos,
sociais, espirituais, culturais etc. O homem é um ser cultural, que tem
como fundamentação a língua, os costumes, as técnicas e os valores. A
Ética e a Estética são partes constituintes da axiologia.
Epistemologia
Investiga a origem e o valor do conhecimento humano em geral (em
torno de sua natureza, etapas e limites). Indaga as ciências (princípios,
postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber
científico), além dos critérios de verificação e de verdade, do valor dos
sistemas científicos, seus paradigmas estruturais ou suas relações com
a sociedade e a história.
Quadro 2: Possibilidades de análises filosóficas
Fonte: adaptado de Chauí (2002); Heidegger (1999a)
Pretende-se aqui contribuir com a dimensão ontológica sobre a questão do
empreendedorismo, de forma propedêutica.
Neste ponto, recorrer a Merleau-Ponty (1994) é fundamental. Para o autor, o ato de
refletir sobre determinado tema, por si mesmo, é capaz de elucidar dado fenômeno,
20
considerando que tal reflexão parte daquilo que é dado. O “grau” dessa reflexão será
determinante para se saber o quanto se conhece o assunto. É necessário também
unir o ato de refletir ao conhecimento da história do tema e com as explicações
externas, além de se tentar recolocar as causas e o sentido do tema em uma
doutrina de existência.
E em relação aos estudos sobre empreendedorismo, isso ocorre? No limite desta
pesquisa, a resposta a esta indagação é negativa. Mas porque isso não ocorre, já
que se debate sobre o assunto há dezenas de anos?
A resposta a essa indagação é que, aparentemente, não tem havido um avanço e
um desenvolvimento de investigações sobre a doutrina de existência do
empreendedorismo e não se buscou uma análise ontológica sobre o assunto.
Assim, nesse trabalho discutir-se-á essas questões, a partir dos procedimentos a
seguir.
Problema da pesquisa
O empreendedorismo traz em si a capacidade de provocar grandes transformações
psicológicas, sociais, políticas, econômicas e culturais. Assim, estudá-lo de forma a
privilegiar características ônticas, através de abordagens racionalistas, empiristas ou
utilitaristas acarreta limitações na compreensão do fenômeno como um todo.
21
O entendimento que o empreendedorismo se explica apenas a partir de
características psicológicas do empreendedor (em uma espécie de psicologismo),
ou do contexto da ação empreendedora (em uma espécie de sociologismo) ou do
processo empreendedor (em uma espécie de organilogismo) significa ater-se a
fragmentos da realidade.
O empreendedorismo não pode ser confundido com estudo do empreender, implica
um conhecimento filosófico, a partir das dimensões ontológicas, axiológicas e
epistemológicas.
Assim, significa que é possível pensar em uma filosofia do empreendedorismo,
assentada nas três dimensões mencionadas. Neste trabalho discuti-se aspectos
relacionados à ontologia, procurando contribuir para esclarecer qual a gênese do
empreendedorismo, qual seu ser, qual sua essência.
Esta pesquisa assenta-se em uma reflexão crítica sobre o tema, sendo um modo da
Academia proporcionar à sociedade contribuições de natureza filosófico-
administrativas. Assim, o assunto deve ser tratado como umproblema filosófico”.
Deste modo, o problema deste trabalho é: Qual a essência do
empreendedorismo? Pretende-se assim contribuir com o entendimento ontológico
sobre o assunto, conforme as justificativas a seguir.
22
Justificativas
Justificativa teórica: Não há, até o momento, um paradigma que acolha as
diferentes discussões acadêmicas sobre empreendedorismo. Esse tema ainda não
possui uma “teoria”, nem consenso científico. Desta forma, este trabalho se justifica
pela possibilidade de se estudar o empreendedorismo e o homem que empreende a
partir de uma dimensão pouco explorada: a ontologia.
Assim, pode-se contribuir qualitativamente no entendimento desse ser humano que
tem consciência, que atribui significados a sua existência e que é “esquecido” pela
maior parte das investigações já efetuadas, de caráter econômico e comportamental
(considerando que essa denominação comportamental é utilizada no sentido de ser
assentada sobre a psicologia do sujeito e relacionar-se com sua interação social).
Ademais, este estudo poderá ser deflagrador de outros estudos transdisciplinares,
por parte de investigadores que visem aprofundar o entendimento do assunto.
Justificativa prática: Demonstrou-se que os estudos de caráter econômico e
comportamental, que são utilizados ao se refletir sobre a formulação de políticas de
planejamento para a indução da prática empreendedora no país, não produzem
consenso acadêmico ou conceitual. Assim, pretende-se com este trabalho contribuir
no debate sobre a formulação de políticas indutoras da prática empreendedora, por
meio da discussão existencial do ser que empreende. Afinal, é inegável o impacto
prático que as idéias existencialistas tiveram no último meio século, recolocando a
questão do sentido do ser sob um novo prisma.
23
Objetivo Geral:
Analisar o empreendedorismo a partir de sua dimensão ontológica, visando
esclarecer sua essência e considerando sua base filosófica. Assim, contribuir-se-á
para a reflexão crítica sobre o assunto, fornecendo a possibilidade de um novo modo
de estudar o tema.
Objetivos Específicos:
a) Evidenciar os aspectos paradigmáticos do empreendedorismo e suas
implicações no âmbito ontológico;
b) Analisar a natureza do empreendedorismo, explicitando que sua realidade
une o conhecimento científico e o filosófico;
c) Investigar o empreendedorismo a partir de relatos de cinco participantes da
Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade
Estadual de Londrina.
Estruturação da dissertação
Neste trabalho há a introdução e mais quatro capítulos.
24
Na introdução discutem-se aspectos relacionados ao tema da pesquisa, problema,
justificativas, objetivos. Explicita a necessidade de se efetuar uma investigação
ontológica sobre o fenômeno.
Os capítulos estão estruturados em:
Capítulo I – Empreendedorismo – faz uma caracterização de empreendedorismo.
Apresenta as abordagens economistas e comportamentais. Demonstra a
complexidade das discussões e a diversidade dos estudos.
Capítulo II – Sobre o método – discute o método empregado na investigação. Faz
também considerações sobre a pesquisa nas ciências sociais e a fenomenologia.
Capítulo III – Etapas da investigação e apresentação dos resultados – apresenta
procedimentos metodológicos utilizados e os resultados da pesquisa.
Capítulo IV – Interpretação dos resultados – traz o desenvolvimento das análises
teóricas sobre os processos relacionados ao fenômeno, com interpretação dos
resultados.
A seqüência terá a conclusão, as referências bibliográficas, a bibliografia, os
apêndices e os anexos.
O apêndice I discute a vida e obra de Edmund Husserl. No apêndice II há a
caracterização de incubadoras de empresas. O apêndice III traz a caracterização da
25
cidade de Londrina. No apêndice IV discute-se a INTUEL e o apêndice V apresenta
os comentários gerais do investigador.
Já o anexo I apresenta o Estatuto Social do Consórcio GeNnorP/INTUEL. Por sua
vez o anexo II demonstra os componentes do Conselho Deliberativo e Equipe do
Consórcio GeNorP/INTUEL e o anexo III demonstra a importância do pensamento
fenomenológico no século XX.
Portanto, o que será visto neste trabalho é uma análise propedêutica, deflagradora
de novas abordagens no estudo do empreendedorismo. Busca-se contribuir para
estreitar a ligação entre a filosofia e a administração de uma forma inovadora,
procurando evitar perder o rigor metodológico que tal ação pode comportar.
Não obstante, Guerreiro Ramos, há 40 anos, no prefácio de sua obra “Administração
e contexto brasileiro” (publicado originalmente em 1966) diz que seu texto é uma
... tentativa de formular as bases preliminares de uma ciência
administrativa fundada no que tenho chamado de redução
sociológica... numa tentativa de delinear os rudimentos de uma
sociologia especial da administração (RAMOS, 1983, p.XIII).
O que se destaca na fala do autor é que as bases preliminares da ciência
administrativa se assentam na redução sociológica, e essa é uma derivação da
chamada redução fenomenológica. Partindo dessa consideração, é válido e
pertinente estudar empreendedorismo a partir da ontologia.
26
Guerreiro Ramos é influenciado pelo existencialismo de Sartre e pela sociologia de
base fenomenológica de Gurvitch. A redução sociológica assenta suas raízes neste
ponto, em uma tentativa do autor para chegar à fenomenologia alemã via os autores
franceses (SCHWARTZMAN, 1983).
Essa redução sociológica, inspirada em Husserl, Heidegger e seguidores, é
... uma atitude metódica que tem por fim descobrir os
pressupostos referenciais, de natureza histórica, dos objetos e
fatos da realidade social. A redução sociológica, porém, é
ditada não somente pelo imperativo de conhecer, mas também
pela necessidade social de uma comunidade que, na realização
de seu projeto de existência histórico, tem de servir-se da
experiência de outras comunidades (RAMOS, 1965, p. 45).
Ramos (1981) afirma também que a administração, e as ciências sociais que a
originam, são instrumentos para legitimação do status quo.
Isso ocorre porque as pesquisas se ocupam com o imediatismo dos resultados,
adotando uma posição ingênua e irrefletida. Para reverter tal situação é preciso
questionar as práticas e valores vigentes, por meio de uma reflexão crítica (RAMOS,
1981).
Ademais, existe a questão da utilização equivocada que a administração faz de
conceitos de outras ciências sociais. Modificando o sentido original, os
pesquisadores alteram o significado inicial, muitas vezes utilizando os conceitos de
forma inversa ao sentido inicialmente proposto (RAMOS, 1981).
27
Para finalizar, é preciso citar o texto orientador do Painel “Preparando o EnEO
2006”, realizado durante o XXIX EnANPAD, em 2005:
Há cerca de 50 anos, Guerreiro Ramos criticava a produção
acadêmica nacional em um manifesto contra o que chamou de
"servidão intelectual", intitulado "A Redução Sociológica". Nele,
defendia uma atitude parentética que possibilitasse
transcender, nos limites do possível, os condicionamentos
circunstanciais que atuam contra a expressão livre e autônoma.
Defendia, também, a apropriação crítica da produção
estrangeira. Dessa forma, segundo ele, deveríamos produzir
objetos de estudo e idéias adequados às nossas exigências
históricas, considerando as particularidades constitutivas de
nossa formação social, do nosso espaço e tempo... Sem fazer
uma exaltação romântica do local, regional ou nacional,
Guerreiro Ramos propunha aos cientistas brasileiros uma
posição de compromisso consciente, apropriando-se do seu
contexto e apropriada ao seu contexto. Nesse sentido,
contrapunha a ciência como hábito, no sentido usado pelos
escolásticos - como aptidão inata ou adquirida pelo
treinamento, à ciência como ato - como produção
fundamentada na consciência crítica dos fatores que a
influenciam (ANPAD, 2006).
Conforme analisado, a administração é indissociável da filosofia. As contribuições
que estudos filosóficos podem oferecer extrapolam a esfera das possibilidades e
podem se tornar realidade. A questão é que a filosofia pode concretamente modificar
o entendimento da realidade humana.
Bittar e Almeida (2001, p. 24-25) ilustram essa assertiva discutindo alguns tipos de
filosofia:
Filosofias científicas: determinam o percurso intelectual da humanidade.
Exemplificam com a lógica formal e analítica de Aristóteles.
28
Filosofias abstratas: determinam os destinos da própria ciência e da filosofia após
intervenção no meio científico. Exemplificam com a questão da modernidade sem os
pensamentos de Kant.
Filosofias radicais: de cunho político e crítica social, são produtoras dos maiores
reflexos sobre a sociedade e as estruturas de poder. Exemplificam com Marx e
Engels.
Filosofias espirituais: formam um conjunto de prescrições que conduzem a
sociedade. Exemplificam com Gandhi e a não violência.
Logo, se observa o impacto dos estudos filosóficos. O que Guerreiro Ramos fez no
estudo da administração foi transpor a filosofia para a criação de uma sociologia
administrativa.
Não obstante, em relação à utilização da fenomenologia em estudos
organizacionais, pode-se observar que as investigações são realizadas há muitos
anos e diversos estudos abordam tal temática.
Burrel e Morgan (1979) fazem uma análise sobre a epistemologia e metodologia nos
estudos organizacionais. Para os autores, todas as teorias no campo se baseiam em
uma filosofia da ciência e em uma teoria da sociedade. Especificamente sobre a
fenomenologia, apresentam a questão da redução em Husserl, a intencionalidade da
consciência e outros temas. No capítulo II desta dissertação as idéias desses
autores serão aprofundadas.
29
No artigo clássico “Phenomenology: a new way of viewing organizational research”,
Sanders (1982) discorre sobre a dificuldade em encontrar estudos fenomenológicos
na pesquisa em administração. Apresenta e discute aspectos da fenomenologia e
também um modelo de pesquisa específica para a área, além de tecer considerações
sobre a questão paradigmática da ciência e suas relações com o tema.
Moreira (2002b) observa que há um incremento na utilização do método
fenomenológico nas pesquisas em administração, mas os pesquisadores não sabem
definir exatamente o que seja fenomenologia. Discute ainda a dificuldade de
transpor um método filosófico para a pesquisa empírica e as adaptações
necessárias para que isso ocorra, além de apresentar possíveis variantes que
podem ser utilizadas na pesquisa em administração.
Por sua vez, Gil (2003) busca analisar a aplicabilidade do método fenomenológico
na pesquisa em administração. Utiliza Husserl para discutir conceitos
fenomenológicos e observa que muitas pesquisas chamadas fenomenológicas não
podem ser assim definidas, devido a imprecisões metodológicas dos pesquisadores.
Acredita ainda que o método fenomenológico é uma promessa para a pesquisa em
administração, e que o interesse de muitos pesquisadores pelo método advém da
preferência por pesquisas qualitativas, não pelo reconhecimento de seu alcance
metodológico e epistemológico.
Gibson e Hanes (2003) revêem o estado atual da pesquisa fenomenológica em
recursos humanos e propõem uma agenda para pesquisas futuras no campo.
Apresentam a fenomenologia como uma metodologia interpretava para a pesquisa
30
na área, sendo essencial para possibilitar uma compreensão mais completa da
natureza holística e da complexidade de experiências que são relevantes à prática
desse ramo da administração.
Thiry-Cherques (2004), afirma que os métodos de raiz fenomenológica são
convenientes à ciência da gestão. Partindo da fenomenologia de Husserl, o autor
apresenta seus principais conceitos e faz diversas considerações sobre o
movimento fenomenológico, discorrendo sobre um programa para aplicação às
pesquisas em administração do método fenomenológico.
Vergara e Carvalho (2004) analisam que a compreensão das experiências
interativas e das vivências essenciais dos consumidores com os ambientes físicos
de serviços não é possível por procedimentos metodológicos convencionais e
apresentam argumentos, procedimentos e formas pelas quais a fenomenologia pode
ser uma opção metodológica adequada para a pesquisa nesses ambientes.
Ehrich (2005) faz considerações sobre a transposição da filosofia fenomenológica
para a pesquisa empírica fenomenológica. Apresenta e discute as idéias do
fundador da fenomenologia, Husserl e afirma que tal metodologia tem muito a
oferecer à administração.
Como visto, a filosofia pode efetivamente contribuir com a administração,
especialmente através da fenomenologia. Assim, o que se pretende neste trabalho é
contribuir para estreitar a ligação entre ambas, através do estudo ontológico do
empreendedorismo.
31
CAPÍTULO I
EMPREENDEDORISMO
32
Para iniciar este estudo é importante compreender o que significa
empreendedorismo, pois assim há a possibilidade de entendimento de sua essência.
Mas, o que é empreendedorismo? Esta é uma questão intrincada, que até o
momento parece não ter sido esclarecida por completo. Um dos motivos relaciona-
se com a etimologia complexa do termo, que é responsável pela confusão aparente
em relação ao assunto. As definições de empreendedorismo e empreendedor têm
evoluído, ao longo do tempo, de diferentes formas e de modos distintos
(GALLOWAY e WILSON, 2003, p. 04).
Destarte, atendo-se ao princípio fenomenológico de “ir às coisas mesmas”, efetuar-
se-á neste momento um esclarecimento etimológico, semântico e morfológico dos
termos, mesmo assim em caráter provisório.
A origem dos termos empreendedorismo, empreendedor e empreender vêm da
palavra francesa entrepreneur, com origem no latim.
E o que é entrepreneur? Para responder a essa questão, recorrer-se-á aos trabalhos
desenvolvidos pelo Laboratório de Análise e Tratamento Informático da Língua
Francesa, mantido pelo conhecido CNRS – Centro Nacional de Pesquisa Científica e
pela Universidade de Nancy, na França.
Segundo o Laboratório (ATILF, 2006 a), entrepreneur origina-se entre os anos de
1253 e 1289, pelo termo entreprendeeurs, significando “aquele que se encarrega e
que faz alguma construção ou outra coisa”, derivando do particípio presente de
entreprendre. Há basicamente os seguintes sentidos:
33
1.) Aquele que empreende, que organiza;
2.) Pessoa que compromete capitais e utiliza mão-de-obra assalariada para uma
produção determinada;
Acepção utilizada por Say (1767-1832):
Outro aproveita destes conhecimentos para criar
produtos úteis. É o agricultor, o fabricante ou o
comerciante ou, para designá-lo por uma denominação
comum a ambos, é o entrepreneur [ empreendedor ] de
indústria, o que empreende em criar por sua conta e
riscos, o seu lucro, um produto qualquer (SAY, 1803,
2002, p. 60).
3.) Pessoa que fornece a um terceiro, e notadamente a coletividade pública ou o
Estado, um produto determinado, um serviço;
4.) Industrial tomando a responsabilidade da execução de operações relativas à construção.
Entreprendre, por seu turno, é derivado de entre e de prendre. Um primeiro
significado é “atacar” e origina-se em 1140. Outra acepção é “interpelar, acusar”
(originado em 1174-76). Na seqüência cronológica, em 1176-81, aparece o
significado que Say e Cantillon utilizaram em suas elucubrações para consagrar a
palavra: “começar (algo), levar a efeito, em pôr-se a executar”. A origem do termo é
o latim imprehendere (ATILF, 2006 b).
E em português? Segundo o filólogo e lexicógrafo Antonio Houaiss, empreendedor
significa “que, ou aquele que empreende”, surgindo de empreendido + -or com a
retomada da vogal temática –e. Surge em 1563. Empreender, por sua vez, significa:
34
a) pessoa decidir realizar (tarefa difícil e trabalhosa); tentar; b) pôr em execução;
realizar. A origem do termo é o latim imprehendo ou impraehendo e significa 'tentar
executar uma tarefa, com origem em 1619 (HOUAISS, 2001, p. 1128).
Não há registros de empreendedorismo nos dicionários de Houaiss (2001) [que
possui 228.000 verbetes];
Bueno (1992) [que possui 80.000 verbetes]; Ferreira (1999)
[que possui 160.000 verbetes]; Michaelis (1998) [que possui 200.000 verbetes];
Priberam (2006) [que possui 95.000 verbetes]. Isso evidencia o quão recente é o
termo. Devido a essa ausência, proceder-se-á uma demonstração do que seja
empreendedorismo, no sentido de alcançar, por intermédio da evidência, uma
explicação, que não se manifesta à primeira vista.
Empreendedorismo é composto de empreendedor + ismo. Empreendedor é
aquele que empreende. O sufixo ismo, em formas atuais, é utilizado para designar
movimentos sociais, ideológicos, políticos, opinativos, religiosos e personativos.
Trata-se da tomada de um partido, uma posição, um sistema, uma filosofia, uma
circunstância (exemplo: heideggerianismo, nazismo, idealismo, comunismo). Deve-
se observar também o contexto histórico em que surge. No caso do
empreendedorismo, séculos XVIII e XIX na Europa. Cantillon (1680-1734) foi um dos
precursores do empreendedorismo e este acreditava que o empreendedor era uma
pessoa que adquiria matéria-prima, processava de algum modo e revendia com um
preço incerto posteriormente. Caso lucrasse de uma forma não prevista, inovara. Ele
introduzira o conceito de capitalista de risco, associando com a figura do
empreendedor. Para isso, utilizou o termo em francês. Nesta época, a revolução
industrial ocorria. Então, os ingleses e americanos não ficaram indiferentes com o
35
que acontecia na França em relação à utilização dessas palavras com suas
características polissêmicas, principalmente devido aos estudos desenvolvidos na
esfera econômica.
O galicismo entrepreneur foi de tal forma vigoroso que incorporou-se ipsis litteris ao
vocabulário inglês, para designar empreendedor. O primeiro registro conhecido do
termo foi 1475, designando alguém que se responsabiliza por algo, um gerente, um
controlador ou campeão em batalhas. A palavra possui conotações de coragem e
liderança. Em 1828, surge o significado de “alguém que dirige ou administra
entretenimentos musicais”. Modernamente significa, entre outras coisas, alguém que
se responsabiliza por um negócio; uma pessoa que possua e/ou administre um
negócio, assumindo o risco de lucrar ou perder. Por sua vez, em 1934 surge o termo
entrepreneurship, para qualificar a atividade de organizar, de controlar, e de supor
os riscos de uma empresa ou negócio (OED, 2006).
E foi essa palavra (entrepreneurship) a traduzida para o português como sendo
empreendedorismo. Um anglicismo, portanto.
Após esclarecer as origens dos termos, foi possível compreender as formas pelas
quais Cantillon e Say puderam estabelecer as bases do sentido que nos dias atuais
esses termos possuem.
Pois bem, discorrer sobre aspectos semânticos, de forma diacrônica, fez vir à tona que
a construção da palavra empreendedorismo foi tortuosa. Seguindo esse fio condutor,
efetuar-se-á agora uma análise histórica sobre a temática, até os dias atuais.
36
Joseph Schumpeter (1883 - 1950), economista austríaco radicado nos Estados
Unidos, foi o primeiro teórico a observar e destacar a importância do empreendedor
na economia, afirmando ser este o “motor da economia capitalista”. Acredita o autor
que empreendedorismo e inovação atuam em simbiose. O empreendedor promove a
“destruição criativa”, um processo que introduz o novo e gera desenvolvimento e
riqueza para uma nação, sendo um impulso fundamental que aciona e mantém em
marcha o motor da economia capitalista, criando novos produtos, novos modos de
produção, novos mercados (SCHUMPETER, 1982).
Desde Schumpeter o estudo científico sobre a questão apresenta avanços, estruturando-
se basicamente em duas abordagens: as econômicas e as comportamentais.
Antes, porém, de proceder a verificação dessas correntes, mister se faz introduzir a
idéia de inter, multi e transdisciplinaridade que encerra o empreendedorismo.
Mas, o que significa isso? Quando se diz que o empreendedorismo é
interdisciplinar, pretende-se demonstrar que há o estabelecimento de relações
entre a área e outros ramos de conhecimento; sendo sua esfera de atuação comum
a duas ou mais disciplinas. Multidisciplinar, revela que a área contém, envolve e
distribui-se por várias disciplinas e pesquisas. Transdisciplinar, indica que o
empreendedorismo busca fora e além de si mesmo respostas a suas indagações,
fazendo emergir dados que proporcionam uma nova visão de sua natureza e
realidade. Seria uma espécie de metaempreendedorismo, assentado sobre bases
metafísicas (no sentido de estar voltado para uma compreensão ontológica da
realidade) e teleológicas (no sentido de atingir metas, fins ou objetivos últimos,
37
considerando a finalidade como o princípio explicativo fundamental na organização
e transformações decorrentes da ação empreendedora).
Figura 1: Exemplos de abordagens do empreendedorismo
Fonte: sistematizado pelo autor
Devido a essa característica singular da área de estudos “empreendedorismo”, há
dificuldades em proceder uma adequada caracterização do termo. Isso ocorre em
função de quais fatores? Não há consenso acadêmico, não há um paradigma?
Inicialmente, é importante destacar que há tantas definições de empreendedorismo
quanto autores que tratam do tema. Cada estado, cada país tem sua definição.
Destaca-se também a relativa incapacidade de se definir o objeto de estudo foco do
empreendedorismo: é a inovação? É o empreendedor? É o risco? O que será? No
momento em que investigações de cunho epistemológico forem aprofundadas, estas
respostas serão dadas.
Husserl (1990, p. 47), analisando a questão da interdisciplinaridade, faz um alerta:
Na esfera natural da investigação, uma ciência pode, sem
mais, edificar-se sobre outra e uma pode servir à outra de
modelo metódico, se bem que só em certa medida,
determinada e definida pela natureza do respectivo campo de
investigação.
ECONOMIA
PSICOLOGIA
38
Mas, para fins deste trabalho, para ajudar na compreensão do fenômeno e para
discorrer posteriormente sobre aspectos ontológicos, proceder-se-á o
estabelecimento da noção que o empreendedorismo está em uma fase pré-
paradigmática.
A discussão de paradigmas em empreendedorismo é uma tarefa complexa,
considerando ser o fenômeno recente e parte integrante de diversos ramos do
saber, principalmente a economia, a administração e a psicologia, além do fato de
apresentar sua epistemologia em construção. Nesse sentido, é necessário analisar
e compreender alguns conceitos e ponderações.
O chamado paradigma foi estabelecido por Kuhn (2001). Tal autor apresenta
conceitos inovadores relacionados à filosofia da ciência, destacando-se os
aspectos histórico-sociológicos no trato da prática científica, em detrimento dos
aspectos lógico-metodológicos que são encontrados nos trabalhos de Popper
(1993), ou do anarquismo metodológico de Feyerabend (1989).
Para Kuhn (2001), as verdades científicas e a evolução da ciência se processam assim:
Figura 2: Evolução paradigmática
Fonte: adaptado de Kuhn (2001)
39
Nessa visão, entende-se por:
Pré-paradigma
A atividade de busca do conhecimento, para resolver determinado problema antes
da formação de paradigma, caracterizando-se por desorganização, segmentação,
teorias em permanente confronto e inexistência de um conjunto de métodos ou
princípios pré-estabelecidos.
Paradigma
Conjunto de princípios ou matriz teórica disciplinar que, uma vez aceito pela maioria
da comunidade científica, estabelece padrões, orienta e determina a atividade
científica ou do conhecimento humano num determinado período, à medida que é
aceito pela maioria dos pesquisadores. Apresenta como principais características
ser consensual, provisório e temporário, além de depender do contexto histórico e
fornecer respostas para as questões dos cientistas de maneira imediata.
Ciência normal
A atividade científica propriamente dita que se realiza no interior de um paradigma
previamente determinado, seguindo suas regras e seus padrões já estabelecidos. É
governada por um único paradigma, além de ser dogmática (fornece respostas sem
questionar seu ponto de partida, que é o próprio paradigma). Pode-se dizer ainda
40
que seja uniforme, padronizada, típica do método demonstrativo e entra em crise
junto com o paradigma quando este apresenta anomalias.
Ciência em crise
A atividade científica própria do período em que o paradigma previamente instalado
não mais fornece respostas satisfatórias e soluções para os questionamentos e
problemas que lhe são impostos.
Revolução científica
A substituição de um paradigma por outro.
Diante do exposto é possível afirmar que o empreendedorismo encontra-se em uma
fase de busca pelo conhecimento (pré-paradigmática), situação em que os teóricos
buscam captar os sentidos do fenômeno a partir de suas próprias visões, deixando
de elucubrar a partir do próprio fenômeno.
Corroborando esse entendimento e para um esclarecimento mais aprofundado
dessa temática, recorrer aos trabalhos de Busenitz et al. (2003); Déry e Toulouse
(1996) e Lavarde (2004) é fundamental.
Busenitz et al. (2003) demonstram que há possibilidades de novas perspectivas de
investigação no campo de empreendedorismo, pois as pesquisas já efetuadas
obtiveram um progresso limitado em busca de consolidar o empreendedorismo
41
como disciplina de conhecimento. Os autores efetuaram seu estudo a partir de
análises de artigos publicados em periódicos.
Déry e Toulouse (1996) afirmam que o campo de estudos empreendedorismo não
possui ainda um paradigma, não havendo consenso teórico, face a sua estruturação ser
baseada em diversas ciências humanas e gerenciais. Ademais, a variedade de
definições do que seja empreendedorismo, o grande número de conceitos e a pequena
convergência entre os estudos já efetuados demonstram a diversidade do ramo.
Por sua vez, Lavarde (2004) acredita que o empreendedorismo se encontra em uma
etapa de falta de maturidade científica, necessitando reconhecer a importância das
dimensões temporais e sociais nas investigações. Assim, com esta compreensão
cada pesquisador poderá escolher suas áreas de interesse reconhecendo suas
potencialidades.
Com a constatação da fase epistemológica que o empreendedorismo está situado, é
possível, finalmente, estudar os dois grupos de abordagens mais importantes sobre o
assunto. Danjou (2002) esclarece que uma das formas de se compreender esse fenômeno é
conhecer o que se investiga entre as diversas áreas de pesquisa, como será visto a seguir.
1.1 Abordagens econômicas
A origem de todas as afirmações sobre empreendedorismo é advinda da economia,
como já foi verificado anteriormente. Será demonstrado a seguir como o
pensamento econômico em relação ao tema evoluiu até os dias atuais.
42
Cantillon (1755, 2003, p. 30-33), em sua obra “Essai sur la nature du commerce en
général”, utilizou o termo entrepreneur para designar o empresário que corre riscos
em função de sua atividade, seja o produtor, o atravessador ou o comerciante. É o
empreendedor que compra a matéria-prima a um preço determinado e vende o
produto a um preço incerto.
Em Smith (1776, 1985), no tratado “Riqueza das nações”, pode-se inferir que o
empreendedor tem como finalidade produzir dinheiro, sendo um proprietário
capitalista, um fornecedor de capital, concomitantemente um administrador situado
entre o trabalhador e o consumidor.
Say (1803, 2002, p. 60) em seu livro “Traité d’économie politique” acreditava que o
empreendedor é um ser dotado de características ligadas à inovação. Estudioso de
Smith, levou as idéias desse autor para a França.
Ademais, observou a inexistência do termo empreendedor no léxico inglês:
Os ingleses não têm palavra para designar o empreendedor de
indústria; o que os impede, talvez, de distinguir nas operações
industriais o serviço que presta o capital, do serviço que presta,
pela sua capacidade e seu talento, o que emprega o capital... A
língua italiana, muito mais rica a esse respeito, tem quatro
palavras para designar o que entendemos por um
empreendedor de indústria: imprenditore, impresario,
intraprenditore, intraprensore (1803, 2002, p. 60).
Schumpeter (1982) [primeira edição em alemão em 1912 e em inglês em 1934]
assenta as bases de seu raciocínio na inovação. Visa ir além da mera história da
economia e de especulações teóricas abstratas. Para tal, utilizou do chamado fluxo
43
circular de produção. Intenta relacionar desenvolvimento econômico com câmbios
endógenos e intermitentes na produção de bens e serviços.
Esse fluxo circular é uma teoria econômica do equilíbrio geral. Em outros termos,
analisa a questão da produção ser uma atividade contínua, sendo que os agentes
econômicos repetem e fazem previsões acerca de sua produção e vendas. É uma
teoria estática que não contempla cismos e rupturas. A teoria de Schumpeter, ao
contrário, prevê a mudança, através de inovação, principalmente, por meio da
“destruição criativa”, induzida pelo empreendedor, primeiramente pela introdução de
um novo bem ou de uma nova qualidade de bem. Em seguida a introdução de um
novo modelo de produção, ou seja, um método ainda não verificado pela experiência
naquele ramo produtivo em que tal introdução é realizada e que não decorre
necessariamente de qualquer descoberta científica, mas que pode simplesmente
consistir em um novo método de tratar comercialmente uma mercadoria. Na
seqüência, a abertura de um novo mercado. Posteriormente, a conquista de uma
nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semimanufaturados, mais uma
vez independente do fato de que essa fonte já exista ou tenha que ser criada.
Finalmente, a fundação de uma nova empresa de qualquer indústria, como a criação ou
a ruptura de uma posição de monopólio. Destaca-se que o autor demonstrou o quão
importante é o papel do empreendedor e inovação dentro da economia moderna.
Verificou-se que a inovação está ligada ao empreendedorismo. Mas o que é inovar?
O que é inovação?
44
A polissemia desses termos existe, mas é menor que em outros vocábulos
analisados. Destarte, convém recorrer a origem latina da palavra inovação, que
corresponde a innovatìo, significando renovação. Modernamente, os sentidos são:
a) ação ou efeito de inovar; b) aquilo que é novo, coisa nova, novidade. Registrado
pela primeira vez na língua portuguesa no século XIV (HOUAISS, 2001, p. 1622).
Já em francês o primeiro registro foi em 1297, a partir de innovacion, que tinha o
sentido de "transformação de uma antiga obrigação por substituição de um novo
débito ao antigo". Desde aquela época o vocábulo foi sofrendo alterações. Em 1559
surge o termo innovation, significando “fazer inovações no estado da coisa pública”.
A etimologia também é o latim innovatio, com o significado de "mudança, renovação,
inovação". Modernamente os sentidos são a) ação, fazer inovação; b) resultado
dessa ação, introdução de uma coisa nova (ATILF, 2006 c).
Finalmente, em inglês inovação corresponde igualmente ao termo francês: innovation. O
primeiro registro foi em 1597 “fazer mudanças em algo estabelecido”; depois, “introduzir
novidade” e, em 1818, “tornar algo novo” e “renovar”. Origem latim (OED, 2006).
Como visto, inovação já existia desde o século XIII, não sendo uma criação atual. O
que Say (1803, 2002) e Schumpeter (1982) fizeram foi renovar (a tautologia aqui é
necessária) a idéia e aplicá-la na economia, com estudos sobre o empreendedor.
Knight (1921, 2006) afirma que o empreendedor possui capacidade de prever e lidar
com as incertezas e riscos de forma diversa dos outros seres humanos, quando da
implantação de ações no âmbito empresarial. Argumenta que as situações são
previsíveis, não havendo espaço para o lucro, que surge em momentos de incerteza.
45
Casson (1982) acredita que os economistas clássicos retiram o papel do
empreendedor na geração de lucro, sendo este um ser especializado em tomar
decisões a administrar com recursos escassos. O que o autor fez foi tentar unir o
empreendedor com o desenvolvimento econômico.
1.2Abordagens comportamentais
Com a observação que a “naturalização” do fenômeno empreendedorismo não o
explicava por completo, surgem os teóricos da abordagem comportamental
(psicólogos, sociólogos etc.) que se contrapuseram a muitos economistas que
consideravam o homem como uma espécie de engrenagem na dinâmica econômica.
Destaca-se que a denominação comportamental, para fins deste trabalho, é utilizada
no sentido de ser assentada sobre a psicologia do sujeito e relacionar-se com sua
interação social.
Weber (2004) [publicado originalmente em alemão em 1904] identificou o sistema de
valores como componente essencial para a explicação do comportamento
empreendedor. O motivador para quem se estabelecia por conta própria era a
religião e/ou o trabalho ético protestante. O autor acredita que os empreendedores
sejam inovadores e independentes, e que com o cumprimento de seu papel de
liderança nos negócios desempenham uma fonte de autoridade formal.
McClelland (1961) pretende por meios quantitativos isolar fatores psicológicos e
culturais do empreendedor, demonstrando que tais fatores são importantes para o
desenvolvimento econômico. O motivo para tal elucubração foi descobrir como se dá
46
a ascensão e queda dos impérios e civilizações. Em “The achieving society”, o autor
se propugnou a estabelecer um paralelo entre o progresso econômico e a
necessidade de realização.
Collins e Moore (1964) constataram que o ato de empreender é uma ação imitada
dos modelos copiados da infância. A partir de uma perspectiva psicanalítica os
autores verificaram a necessidade de autonomia, independência e autoconfiança por
parte dos empreendedores. O que os motiva são conflitos não resolvidos, além de
terem vivido rupturas. Eventos dramáticos em suas vidas também são significativos.
Drucker (1987) afirma que o empreendedor busca a mudança, cria algo novo, sendo
inovador e transformando valores. Consegue ainda viver com as incertezas e riscos
que um negócio comporta. Ademais, o empreendedor sabe aproveitar as
oportunidades, que não é necessariamente vista por outras pessoas.
Ray (1993) acredita que a personalidade do empreendedor é preponderante na
obtenção de sucesso, pois é ela que ajudará na formação da cultura e valores da
empresa. Observa ainda que não existe uma personalidade que possua
características tais que sejam condição de sucesso. Para o autor, há espaço para o
porvir de uma ciência que lide com esses assuntos.
Já Timmons (1989) diz que o fator primordial para alguém ser empreendedor é sua
capacidade de empreender. Os comportamentos necessários para tal são: a)
responder de forma proativa a desafios e aprender com os erros; b) ter iniciativa; c)
ter perseverança e determinação.
47
Filion (1991) apresenta a chamada teoria visionária, a partir de uma abordagem
sistêmica, na qual esferas de vida do empreendedor se interagem e se influenciam
mutuamente – familiar, espiritual, empreendedora etc. Este conjunto é designado de
sistema ecológico de vida, estabelecendo as referências e a formas de agir.
Dolabela (1999) utiliza aspectos ligados ao sonho para apresentar sua
argumentação. A visão é este sonho em ação. Assim, qualquer pessoa pode
empreender, desde que tenha capacidade de sonhar e tenha motivação para
transformar em realidade seus desejos.
Paiva Júnior (2004) analisa o empreendedorismo na ação de empreender, a partir da
fenomenologia sociológica de Schütz. O fenômeno empreendedor é compreendido sob a
ótica de dirigentes de empresas de base tecnológica. O pensamento e a ação
empreendedora são fundados em seis categorias: a imaginação social, cultura,
identidade, relações de poder, expertise e a interação social.
Os estudos econômicos e comportamentais analisados anteriormente são importantes
para se compreender o empreendedorismo em função de sua complexidade. Além disso,
fornecem subsídios para a investigação ontológica em curso, face à explicitação do
caráter ôntico encontrado nos mesmos.
Ademais, verificado o que se estuda sobre o assunto, é possível agora discutir sobre o
método empregado na investigação, como será visto a seguir.
48
CAPÍTULO II
SOBRE O MÉTODO
49
Nesta investigação utiliza-se como método geral o fenomenológico, baseado em
Husserl, Heidegger e seguidores. Por excelência é a via de acesso ideal para a
compreensão do fenômeno, independente do fenômeno em si (por isso a ênfase em
explicitar seus conceitos, que será conferida posteriormente). Assim, o importante
em uma investigação desse tipo não é a concepção que o investigador tenha sobre
empreendedorismo, mas sim a manifestação desses fenômenos.
Tal método será utilizado na investigação, considerando que
...as realidades, em transformações, cuja natureza e estrutura
peculiar só podem ser captadas desde o marco de referência
interno do sujeito que as vive e experimenta, exigem ser
estudadas através do método fenomenológico. Neste caso, não
se está estudando uma realidade objetiva e externa (como
ordinariamente se qualifica), igual para todos, senão uma
realidade cuja essência depende do modo como é vivida e
percebida pelo sujeito, uma realidade interna e pessoal, única e
própria de cada ser humano (MARTINEZ, 2004, p. 137).
Fazendo uso de uma metodologia que procura “exprimir aquilo que é dado
diretamente na consciência”, no dizer de Husserl (1900-1901), recopilar-se-á
depoimentos vários de cinco empresários incubados, sintetizando informações que
possam revelar percepções, derivando delas essências, e a partir daí extrair sua
natureza; perspectivas, sempre dentro da ótica dos próprios empresários.
Destaca-se que o métódo fenomenológico não é hermético, enclausurado em si
mesmo. Trata-se de um método de investigação aberto a novas possibilidades de
apreensão da realidade, a partir daquilo que é dado. Isso significa que ele encerra a
proposta de ser livre de pressuposições no momento da investigação.
50
Assim, não há “um” único método, ou mesmo “o” método fenomenológico. O que há
são possibilidades. Ao longo do tempo os pesquisadores construíram diversas
variantes metodológicas, todas com o intuito de de captar a realidade. Neste ponto,
o círculo hermenêutico interpretação – compreensão – nova interpretação é de
grande valia.
Masini (1997, p. 62) observou, em relação a essa questão, que o que existe é
... uma atitude de abertura do ser humano para compreender o
que se mostra (abertura no sentido de estar livre para perceber
o que se mostra e não preso a conceitos ou predefinições).
Estamos livres quando sabemos de nossos valores, conceitos
e preconceitos e podemos ver o que se mostra cuidando das
possíveis distorções.
Para principiar a discussão sobre o método fenomenológico deve-se, primeiramente,
contextualizar o debate epistemológico sobre as pesquisas no campo da
administração. Na introdução desta dissertação observou-se que a Academia tem
procurado efetuar investigações utilizando a fenomenologia como forma de
aprofundar os estudos na área. Portanto, a seguir discorrer-se-á sobre essa
temática.
2.1 – A pesquisa nas ciências sociais
Burrell e Morgan (1979) têm um livro clássico sobre epistemologia e metodologia
nos estudos organizacionais e defendem a idéia de que todas as teorias se baseiam
em uma filosofia da ciência e em uma teoria da sociedade.
51
Segundo esses autores, o conceito de ciências sociais deve ser definido segundo
quatro conjuntos dimensionais, cada qual tendo extremos que representam
conceitos filosóficos opostos, segundo o quadro abaixo: Ontologia (nominalismo,
realismo), refere-se à essência do fenômeno do ser; Epistemologia (antipositivismo,
positivismo), concernente às bases do conhecimento; Natureza humana
(voluntarismo, determinismo), refere-se à relação entre o homem e o ambiente;
Metodologia (ideográfica, nomotética), surge das implicações das dimensões
anteriores (BURRELL e MORGAN, 1979).
Ciência Social Subjetiva
Ciência Social Objetiva
Nominalismo
ontologia
Realismo
Antipositivismo
epistemologia
Positivismo
Voluntarismo
natureza humana
Determinismo
Ideográfica
metodologia
Nomotética
Quadro 3: A dimensão subjetivo-objetivo nas ciências sociais
Fonte: Burrell e Morgan (1979, p.3)
O realismo considera que o mundo social existe “ali fora”, à margem da apreciação
individual e é tão concreto como o mundo físico. O nominalismo, ao contrário,
considera que o mundo social externo à cognição individual está composto por
nomes, conceitos e etiquetas que servem como ferramentas para descrever,
interpretar e gerir o mundo externo.
O positivismo intenta explicar e predizer os acontecimentos sociais mediante a
investigação das regularidades e a determinação das relações causais. O
crescimento do conhecimento se dá como um processo essencialmente
acumulativo, em que se inclui nova informação ao conjunto de conhecimentos já
existentes, e em que se eliminam as hipóteses falsas. O antipositivismo, pelo
contrário, considera que o mundo social é essencialmente relativista, compreensível
52
somente através do ponto de vista dos indivíduos diretamente implicados nas
atividades que são investigadas.
O determinismo considera que os seres humanos respondem de uma maneira
mecânica ou inclusive determinista ante as situações com as quais se encontram em
seu mundo externo. O voluntarismo representa os seres humanos com um papel
mais criativo. Assume-se o livre arbítrio, a autonomia, e considera que os seres
humanos são capazes de criar seus próprios ambientes e de controlá-los, em vez de
ser controlados por eles.
Adotam-se metodologias nomotéticas por parte daqueles cientistas sociais que
tratam o mundo social como se fosse uma realidade objetiva e externa. Buscam-se
leis universais que expliquem e governem a realidade social, concreta e objetiva,
cuja existência se supõe. As metodologias ideográficas são adotadas por aqueles
que assumem a importância da experiência subjetiva dos indivíduos no processo de
construir os mundos sociais. Sua preocupação é compreender as formas com as
quais os indivíduos constroem, modificam e interpretam o mundo social no qual se
encontram.
A teoria de sociedade resgata o debate “ordem-conflito”, procurando explicar a
natureza da ordem social e do equilíbrio, de um lado e, por outro, entender os
problemas mais conexos com as questões de mudança, conflito e coerção nas
estruturas sociais. “Ordem” e “conflito” passam a constituir duas teorias de
sociedade, assim constituídas: a) teoria social que enfatiza a ordem e o
integracionismo, através da valorização da estabilidade, da integração, da
53
coordenação funcional, do consenso; b) teoria social que focaliza o conflito e a
coerção, por meio da mudança, da desintegração e da coerção (BURRELL e
MORGAN, 1979). Os autores chamam a atenção para o fato de que a realidade se
posiciona em algum ponto entre os extremos opostos do continuum ordem-conflito.
Regulação Mudança radical
status quo
mudança radical
ordem social conflito estrutural
consenso modos de dominação
integração social e coesão contradição
solidariedade emancipação
satisfação de necessidade privação
realidade potencialidade
Quadro 4: Características da dimensão regulação-mudança radical
Fonte: Burrell e Morgan (1979, p.18)
Burrell e Morgan (1979), como se observa no quadro anterior, utilizaram os termos
sociologia da regulação e sociologia da mudança radical para descrever posições
extremas sobre a natureza da sociedade, ou dimensão ordem-conflito.
A sociologia da regulação, posição dominante no Ocidente, reflete a posição dos
teóricos preocupados em explicar a unidade e coesão subjacentes na sociedade. Já
os teóricos da sociologia da mudança radical enxergam a sociedade moderna como
que caracterizada pelos conflitos, os modos de dominação e a contradição.
Preocupam-se com a emancipação das pessoas em relação às estruturas sociais e
ideológicas existentes.
A partir dessas discussões preliminares, os autores sugerem que as premissas
sobre a natureza da ciência podem ser pensadas em termos de uma dimensão
subjetiva versus objetiva e as premissas sobre a natureza da sociedade em termos
de uma dimensão regulação versus mudança radical e discutem as relações entre
54
as duas dimensões com vistas a desenvolver um esquema coerente para a análise
da teoria social.
A proposta é de que as dimensões tomadas em conjunto permitem definir quatro
paradigmas sociológicos distintos para análise de uma ampla variedade de teorias
sociais, cada qual podendo compartilhar uma série de aspectos com seus vizinhos,
nos eixos horizontal e vertical em uma de duas dimensões, mas diferenciando-se na
outra dimensão. Esses paradigmas são demonstrados através da figura a seguir:
Figura 3: Paradigmas sociológicos
Fonte: adaptado de Burrell e Morgan (1979, p.22)
O paradigma humanista radical baseia-se no suposto que a realidade social é
socialmente criada e sustentada, passível de equívoco e/ou limitação restritivos.
Busca investigar as possibilidades e modos de os homens atingirem com eficácia
radical a mudança no sentido de transcender as limitações sociais alienantes.
Orienta-se pelo entendimento da sociedade segundo uma perspectiva de mudança
radical, ou seja, segundo os modos de dominação, privação e emancipação. A
HUMANISMO
RADICAL
55
abordagem deste paradigma é nominalista, anti-positivista, voluntarista e
ideográfica, sendo que sua origem vem do idealismo alemão, destacando-se Kant e
Hegel, além do jovem Marx, e de Husserl. Os autores Sartre, Stirner, Bookchin,
Lucaks, Gramsci, Horkheimer, Adorno, Benjamin, Fromm, Kirschheimer, Lowenthal,
Marcuse e Habermas são os mais proeminentes.
O paradigma estruturalista radical apóia-se na visão de sociedade como
potencialmente dominada; contudo, supõe que ela tenha uma existência própria,
independente dos significados individuais do cotidiano. Orienta-se pelo
entendimento da natureza da sociedade segundo uma sociologia da mudança
radical, porém, diferentemente do paradigma humanista radical, de um ponto de
vista objetivo. Sua abordagem é realista, positivista, determinista e nomotética, e os
autores principais são Marx, Engels, Plekhanov, Lênin, Bukharin, Althusser,
Poulantzas, Rex, Dahrendorf.
O paradigma funcionalista baseia-se nos supostos de que a sociedade tem uma
existência real e concreta e uma orientação sistêmica para produzir um estado de
relação ordenado e regulado. Os supostos ontológicos garantem a possibilidade da
objetividade na ciência social; o cientista mantém-se distante e neutro do cenário
que analisa através de métodos e técnicas rigorosas. Também se apóia na
possibilidade de generalização dos conhecimentos empíricos. Teorias incluídas
nesse paradigma se interessam pelo estudo de status quo, ordem social, integração
e solidariedade. São exemplos desse grupo a teoria de sistemas sociais, a teoria
integrativa e a teoria da ação social. Ademais, sua abordagem é realista, positivista,
determinista e nomotético. Já os autores principais são Comte, Spencer, Durkheim,
56
Pareto, Malinowski, Brown, Parsons, Simmel, Mead, Blumer, Rex, Eldridge,
Goldthorpe, Silverman, Blau, Merton, Coser, Gouldner, Buckley e Skinner.
O paradigma interpretativo baseia–se na visão de que a realidade social não tem
existência concreta, mas é produto da experiência subjetiva e intersubjetiva. Para
entendê-lo, é preciso captar a percepção dos participantes em ação, em vez do
ponto de vista do observador. Assim como o paradigma funcionalista, preocupa-se
com a ordem e a regulação no mundo social, contudo, de um ponto de vista
subjetivo. Defende a ciência social como uma rede de jogos de linguagem, baseada
em arranjos de subjetividade de determinados conceitos e regras que os
participantes inventam e seguem. A abordagem deste paradigma é nominalista, anti-
positivista, voluntarista e ideográfica e os autores são Dilthey, Husserl, Weber,
Gadamer, Schütz, Scheller, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, Garfinkel, Cicourel,
Schegloff, Sacks, McHugh, Denzin, Zimmerman e Wieder.
O emprego do método fenomenológico em administração, a depender da corrente
com a qual se trabalhe, situa-se dentro da subjetividade, podendo ser interpretativa
ou humanista radical. Isto decorre do fato de se poder trabalhar com o
existencialismo, a hermenêutica, a fenomenologia realista entre outras abordagens,
em função da linha com que o autor principal esteja inserido. Nesta investigação,
adotar-se-á o paradigma interpretativo, a partir das colocações a seguir.
57
2.2 – Fenomenologia
Para discorrer sobre o método fenomenológico, é fundamental discutir a
fenomenologia. Acredita-se que esse termo foi empregado pela primeira vez em
1764, por Joham Heinrich Lambert (1728-1777), na quarta parte da obra “Neues
orgamon”, intitulada “Fenomenologia ou aparência ilusória e suas variedades”. Tal
obra traz todo o fundamento do saber empírico, cabendo à fenomenologia distinguir
entre a aparência e a verdade.
Depois de Lambert, muitos filósofos utilizaram o termo, com variadas acepções,
como Kant, Hegel, Eduard von Hartmann entre outros.
Antes de Lambert, todavia, um homem chamado Jesus Ben Sirac, por volta do ano
180 a.C. escreveu sobre “A palavra revela o homem” (BÍBLIA:Sr 27,4-8):
Quando se sacode a peneira, ficam os resíduos: / do mesmo
modo os defeitos de um homem, quando discute. Como o forno
prova os vasos do oleiro, assim a prova de um homem está no
seu raciocínio. O fruto da árvore revela como foi o seu
cultivo:/assim a discussão, os pensamentos do coração do
homem. Não louves a ninguém antes de ouvi-lo falar, pois é aí
que se provam os homens.
Contudo, foi Husserl quem cunhou o termo com o sentido que atualmente é
conhecido, dando um conteúdo novo a uma palavra já antiga. Em suas
“Investigações lógicas” (1900-1901) e obras sucessivas, Husserl criou uma nova
escola filosófica, que incluiria, entre outros, Scheler, Heidegger, Sartre, Merleau-
Ponty. O apêndice um traz dados sobre o autor.
58
A fenomenologia permite que a filosofia transforme-se em uma “ciência do rigor”,
que analisa o conteúdo da consciência, que se manifesta intencionalmente à
mesma, com a finalidade de se chegar a uma nova forma de filosofar.
Pode ainda a fenomenologia ser vista como uma tentativa elucubrativa para resgatar
o contato original com o objeto, que se perdeu em especulações metafísicas
abstratas ou reduções matemáticas. Sempre há uma volta às origens.
Capalbo (1996, p. 38-39) acredita que
A fenomenologia não possui uma ortodoxia. Ela se questiona
constantemente, ela se diversifica, mas fundamentalmente tenta
conservar a unidade de sua atitude metodológica, que pode ser
aplicada nos diferentes setores do conhecimento, tais como a
psiquiatria, a psicanálise, a lingüística, a antropologia, o serviço
social etc. ... Ela instaura a atitude dialogal e do acolhimento do
outro em suas opiniões, idéias e sentimentos, procurando
colocar-se na perspectiva do outro para compreender e ver
como o outro vê, sente ou pensa. Esta afirmação traduz uma
orientação metodológica nas ciências humanas: a da
compreensão dos fenômenos, que se opõe à orientação formal,
conduzindo à matematização dos fatos sociais.
Phainomenon + logos (φαινµενον + λγος) significa “discurso sobre aquilo que
se mostra como é”. A proposta de Husserl é acabar com a naturalização da
consciência, considerando que fatos psíquicos não se equiparam aos fatos físicos
(SARDI,2001, p. 14). O filósofo poderá, então, “ir às coisas mesmas”, à procura de
“exprimir aquilo que é dado diretamente na consciência”. A fenomenologia descreve
e analisa o significado e a relevância da experiência humana.
59
A consciência, aqui, difere daquela propugnada pelos kantianos e neokantianos.
Para estes, a referida consciência era assimiladora, ao passo que em Husserl a
consciencia intencional é como um farol que projeta sobre as aparências, aspectos
ou aquilo que se apresenta à mesma (MORA, 1963, p. 56).
Kant Husserl
Figura 4: A consciência em Kant e Husserl
Fonte: adaptado de Mora, 1963.
Martins e Bicudo (1983, p.10) afirmaram que a fenomenologia:
... procura abordar o fenômeno, aquilo que se manifesta por si
mesmo, de modo que não o parcializa ou o explica a partir de
conceitos prévios, de crenças ou de afirmações sobre o
mesmo, enfim, um referencial teórico. Mas ela tem a intenção
de abordá-lo diretamente, interrogando-o, tentando descrevê-lo
e procurando captar sua essência.
Giles (1989, p. 59) observou que
O impulso de investigação fenomenológica deve partir não dos
filósofos e, sim, das próprias coisas. Não sou eu, nem as
minhas convicções e, sim, as próprias coisas, como estas se
revelam na sua pureza irrefutável, que têm de se impor para
dar testemunho de verdade.
60
Por sua vez Sardi (2001, p. 219) acredita que
Husserl tentou livrar a filosofia de todos aqueles prejuízos,
esquemas interpretativos, categorias a priori, propondo que ela
focalize a atenção na simplicidade das coisas falando por si
mesmas a partir de um sujeito que percebe. Quando se diz que
a percepção fenomenológica é isenta de qualquer dúvida é
porque se quer dizer que nada pode contestar o que eu
percebo. O conteúdo percebido, posteriormente, pode se
converter em essências ou ideais. É isto que encontramos em
bibliotecas de todo o mundo: percepções convertidas em
essências ou ideais. É outro nome do conhecimento neutro e
‘conhecimento cientificamente objetivado’.
Abbagnano (1993, p.76) afirmou que a obra de Husserl é assentada sobre os
seguintes pontos:
É uma ciência teorética (contemplativa) e rigorosa, isto é, “fundamentada”, no
sentido de ser “dotada de fundamentos absolutos”.
É uma ciência intuitiva, porque tenta apreender essências que se apresentam à
razão de uma forma análoga àquela em que as coisas se apresentam à percepção
sensível. Este aspecto da filosofia reflete o caráter apofântico da razão
(considerando a possibilidade de qualquer enunciado ser considerado verdadeiro ou
falso, em função de descrever corretamente, ou não, o mundo real).
É uma ciência não-objetiva, e por isso completamente diferente das outras
ciências particulares, que são ciências dos fatos ou das realidades (físicas ou
psíquicas), enquanto que ela prescinde de qualquer fato ou realidade e se preocupa
apenas com essências.
61
É uma ciência das origens e dos primeiros princípios, dado que a consciência
contém o sentido de todos os possíveis modos como as coisas podem ser dadas ou
constituídas.
É uma ciência da subjetividade, porque a análise da consciência se dirige para o
eu como sujeito ou pólo unificador de todas as intencionalidades constitutivas.
É uma ciência impessoal, porque “os seus colaboradores não têm necessidade de
prudência mas de dotes teoréticos”.
Como observa o autor, estes aspectos definem a filosofia na forma como ela foi
entendida por Husserl, mas não o conjunto do movimento fenomenólogico, como
será visto adiante.
Para entender a fenomenologia, é necessário compreender que o homem é um
“doador de sentido” ao mundo. Deve-se “avançar para as próprias coisas” (coisas =
aquilo que é dado à consciência). Este dado é o fenômeno, que aparece à
consciência.
O fenômeno, portanto, é o objeto da investigação fenomenológica, sendo a
intuição o instrumento de conhecimento (VERA, 1978, p. 63). A intuição só é
possível devido à intencionalidade da consciência (“toda consciência é consciência
de algo”). A consciência não opera no vazio, daí para haver objeto há que haver um
sujeito e vice-versa. O fundamental para a fenomenologia é a busca dos significados
das experiências que chegam à consciência.
62
Em sua sexta “Investigação lógica” assim se expressou Husserl (1988, p. 176):
... chamaremos de ‘fenômeno’ tudo aquilo que é vivência, na
unidade de vivência de um eu: a fenomenologia é, por
conseguinte, a doutrina das vivências em geral, abrangendo
também a doutrina de todos os dados, não só os genuínos,
mas também os intencionais, que podem ser evidenciados nas
vivências.
Com o desenvolvimento e adaptações sofridas pela fenomenologia desde sua
criação, resulta que atualmente existem basicamente cinco tendências filosóficas
dominantes, segundo Embree et. al. (1996) apud Moreira (2002a):
Fenomenologia descritiva – abordagem reflexiva, evidencial e descritiva tanto dos
encontros como dos objetos como encontrados. Criada por Husserl, em suas
“Investigações lógicas” (1900-1091).
Fenomenologia realista – busca as essências universais de vários tipos de
assuntos, incluindo as ações humanas, os motivos etc.
Fenomenologia constitutiva – utilização da filosofia das ciências naturais na
fenomenologia. Aplicação das chamadas redução fenomenológica e redução
eidética, visando suspender a aceitação do estado pré-dado da vida consciente
como algo que existe no mundo. Surgiu com a obra de Husserl “Idéias relativas a
uma fenomenologia pura e a uma filosofia fenomenológica” , de 1913.
Fenomenologia existencial – aplicação de conceitos como ação, conflito, desejo,
finitude, opressão e morte. Desenvolveu-se com Heidegger (1889-1976), a partir da
63
obra “Ser e Tempo”, tendo ainda expoentes como Merleau-Ponty, Levinas, Sartre
entre outros.
Fenomenologia hermenêutica – também derivada do “Ser e Tempo”, considerando
que a existência humana é interpretativa. A temática desta tendência filosófica inclui
todas as que já estavam nas fases anteriores, diferindo somente na ênfase dada à
hermenêutica, ou método de interpretação.
As fenomenologias realista e constitutiva desenvolveram-se na Alemanha, nos anos
ao redor da I Guerra Mundial, ao passo que a fenomenologia existencial teve lugar
na França, após a II Guerra Mundial. Já a fenomenologia hermenêutica foi influente
nos Estados Unidos, a partir dos anos 1970 e 1980.
Nesta investigação adota-se a fenomenologia hermenêutica, de cunho existencial.
Sobre o assunto, Rey (1997, p. 12) assim se expressou:
A partir de Heidegger se enfatiza a inseparabilidade da
expressão e da ação do sujeito, a qual conduz a compreender
os sentidos que se reconstróem na interpretação hermenêutica;
são aqueles que o sujeito está produzindo durante sua ação. A
interpretação hermenêutica desenvolvida por Heidegger
expressa uma ênfase do existencial na produção de
conhecimento sobre o homem.
Essa abordagem busca a relação entre a essência e o fenômeno pesquisado,
através do círculo hermenêutico interpretação – compreensão – nova
interpretação.
64
Entender é um processo circular, que se dá através do círculo hermenêutico. O
círculo tem um elemento de intuição, sendo necessário um conhecimento prévio
mínimo sobre o tema para entender o que se pesquisa. Sem isso não é possível
entrar no círculo.
Figura 5: O círculo hermenêutico
Fonte: sistematizado a partir de Heidegger (1999a); Gadamer (2002)
Heidegger (1999a, p. 218) já dizia que toda compreensão guarda em si a
possibilidade de interpretação. Em sua obra, o referido autor procurou criar uma
nova terminologia filosófica, a partir de fragmentos pré-socráticos. Observou que é
na linguagem que se dá a apreensão do ser. Sua filosofia pode ser considerada uma
hermenêutica do ser. A compreensão é a base de toda interpretação; sendo co-
original com a existência dos seres. Em outras palavras ela é ontologicamente
fundamental. A compreensão é temporal, intencional e histórica.
INTERPRETAÇÃO
COMPREENSÃO
65
Assim, se alguém diz “o copo é de vidro” há significado hermenêutico a priori, em
função de haver uma pré-concepção do copo como receptáculo de armazenar
líquidos.
Na concepção usual, o copo é apenas um instrumento, um objeto, pois é passível de
aferição (o copo pode ser azul, comprido, fino, leve, pesado etc.). Já na ontologia
busca-se a compreensão do que ele é, no momento anterior a separação entre
sujeito e objeto. Busca-se situá-lo a partir do instante em que ele emerge; daquilo
que ele significa no mundo. A interpretação está assentada na manifestação da
coisa, não na consciência do que se tenha dela. Assim, é a coisa que vem de
encontro ao pesquisador.
Heidegger (1999a) afirma que o círculo hermenêutico é o fundamento de toda a
possibilidade de apreensão humana. Tal círculo possibilita a descrição da
inteligibilidade dos seres humanos, ou seja, as possibilidades de compreensão do
homem, considerando aquilo que ele é.
Espitia (2000) apresentou uma análise dos fundamentos da fenomenologia de
Heidegger, que se baseiam nos seguintes pressupostos filosóficos sobre a pessoa e
o ser humano:
Os seres humanos têm mundo. Estar no mundo é existir, é estar involucrado,
comprometido. Habitar ou viver no mundo é a forma básica de ser-no-mundo do ser
humano. O mundo está constituído e é constitutivo do ser. Os seres humanos têm
um mundo que é diferente do ambiente, da natureza ou do universo onde eles
66
vivem. Este mundo é um conjunto de relações, práticas e compromissos adquiridos
em uma cultura. A linguagem torna possível as formas particulares de relacionar-se
e sentir que possuem valor em uma cultura. Habilidades, significados e práticas têm
sentido graças ao mundo compartilhado dado pela cultura e articulado pela
linguagem. Este conhecimento ou familiaridade é o que Heidegger (1999a) chama
mundo. O mundo não se movimenta, permanece estático e só se nota em situações
de ruptura ou destruição. Os mundos em que vivem as pessoas não são universais
e atemporais, pelo contrário, são diferentes segundo a cultura, o tempo ou época
histórica, e a família em que se nasce.
A pessoa como um ser para quem as coisas têm significado. A maneira
fundamental das pessoas viverem no mundo é através da atividade prática.
Heidegger (1999a) descreve dois modos através dos quais os seres humanos estão
involucrados no mundo. O primeiro é aquele no qual as pessoas estão
completamente involucradas ou submergidas na atividade diária sem notar sua
existência; neste caso, as pessoas estão comprometidas com coisas que têm
significado e valor de acordo com seu mundo. Em contraste, o segundo modo é
aquele no qual as pessoas são conscientes de sua existência. A significância ou
significado das coisas se baseiam nas distinções qualitativas reconhecidas pela
pessoa em sua vida diária. Estas distinções qualitativas podem se moldadas pela
cultura e pela linguagem.
A pessoa é um ser autointerpretativo. Os seres humanos são seres capazes de
interpretar a si mesmos, porém em uma forma não teórica. O são porque as coisas
têm importância para eles. Quando os seres humanos expressam e atuam frente
67
àquilo que estão comprometidos ou lhes interessa, tomam uma posição sobre quem
são. Os interesses ou inquietudes da pessoa ilustram o que é importante e preocupante
em uma situação específica. Conhecer e compreender o que rodeia o ser humano é
uma maneira fundamental de ser-no-mundo. As pessoas entendem e captam
significados do que as rodeia mediante a linguagem. A linguagem serve para
representar-se a si mesmo e ao mundo, e constitui a vida. A linguagem representa,
articula e faz com que as coisas se manifestem e, ao fazê-lo, molda nossas vidas.
A pessoa como corporalidade. Para a fenomenologia, mais que ter um corpo a
pessoa é corporal. Ser humano é ter uma inteligência corporal que torna possível
involucrar-se habilmente nas situações. As práticas comuns se baseiam em
capacidades perceptivas corporais compartilhadas.
A pessoa como um ser temporal. Heidegger (1999a) concebeu a pessoa como
ser-no-tempo. Este tempo não é o tempo linear ou a sucessão infinita de agoras
como geralmente se pensa nas culturas ocidentais. O autor chama ao tempo
temporalidade e o tempo é constitutivo do ser ou existência. O tempo linear dificulta
conceber a continuidade ou a transição; faz crer que os seres e as coisas que
existem são estáticas e atemporais.
As análises que serão feitas dos discursos dos sujeitos desta pesquisa terão como
pressupostos o que foi exposto aqui. Destaca-se que tais pressupostos se aplicam
tanto aos participantes como ao investigador, que é um ser autointerpretativo, que é
e tem um mundo e para quem as coisas têm significado, além de possuir inteligência
corporal e que vive em seu tempo.
68
2.3 – O método fenomenológico
Para lograr êxito em sua pretensão de transformar a filosofia em uma “ciência do
rigor”, Husserl criou o método fenomenológico, que serviria para o desenvolvimento
da ciência das essências.
É este necessariamente seu caráter; a fenomenologia quer ser
ciência e método, a fim de elucidar possibilidades,
possibilidades de conhecimento, possibilidades de valoração, e
as elucidar a partir do seu fundamento essencial; são
possibilidades universalmente em questão e, portanto, as
investigações fenomenológicas são investigações universais de
essências (HUSSERL, 1990, p. 79).
Spiegelberg (1984), considerado o maior historiador sobre o movimento
fenomenológico do mundo, na parte introdutória de sua obra “The phenomenological
movement”, diz que não há uma doutrina filosófica chamada “fenomenologia”, mas
sim um método fenomenológico que é, em primeiro lugar, uma forma de ir contra ao
reducionismo. Neste livro, o autor traz um elenco dos passos dos métodos usados
por vários fenomenólogos, a saber:
1. Investigar os fenômenos particulares
Basicamente, consiste em intuir, analisar e descrever. Intuir representa o esforço de
se concentrar sobre o objeto, evitando que se perca a visão crítica. Analisar é
delimitar os elementos e a estrutura do fenômeno obtido na intuição. Não se trata de
separá-los em partes, mas sim distinguir os constituintes do fenômeno, assim como
a exploração de suas relações e de suas conexões com os fenômenos adjacentes.
Descrever, por sua vez, se baseia em uma classificação dos fenômenos. A
69
descrição por negação é o modo mais simples de indicar a unicidade e a
irredutibilidade do fenômeno.
2. Investigar as essências gerais
Não há intuição da essência adequada sem a intuição antecedente. Para ter a
essência geral deve-se considerar os particulares como referência.
3. Captar as relações essenciais entre as essências
Usa-se a chamada variação imaginativa livre, que consiste em abandonar alguns
componentes e substituí-los por outros.
4. Observar os modos de aparição
Há três sentidos de aparência: a) o lado ou aspecto de um objeto, a partir do todo; b)
a aparência do objeto pode estar deformada, o que se chama de perspectiva; c) os
modos de clareza, seus graus ou nitidez podem ser diferentes. Isto se aplica
principalmente a áreas periféricas do campo fenomenal.
5. Explorar a constituição dos fenômenos
Determinar o caminho seguido para que o fenômeno se estabeleça e tome forma na
consciência. Busca-se determinar a estrutura de uma constituição na consciência
por meio de análise de seus passos.
70
6. Suspender a crença no fenômeno
Consiste em suspender o juízo sobre a existência ou não existência do fenômeno
(corresponde à suspensão momentânea da faculdade de avaliar), para verificação
desse fenômeno sob nova perspectiva. Assume-se uma atitude neutra, visando
refletir e questionar, de forma a possibilitar apreender novo sentido sobre fatos que
não tinham sido vistos e observados anteriormente.
7. Interpretar as significações ocultas
A hermenêutica busca interpretar o sentido de certos fenômenos. Todo estudo das
estruturas intencionais consiste em uma análise interpretativa e na descrição das
significações dos atos conscientes. Heidegger (1999a) demonstra que certas
estruturas do ser humano possuem significação.
Os três primeiros passos são adotados por praticamente todos os fenomenólogos,
enquanto os demais são praticados conforme a orientação filosófica que o
pesquisador adotar. O passo 6 é a redução fenomenológica, e o passo 7 é praticado
pelos adeptos da fenomenologia hermenêutica.
Esta pesquisa desenvolver-se-á a partir dos pressuspostos da fenomenologia,
baseado em Husserl, Heidegger e seus seguidores, particularmente a abordagem de
Giorgi (1985), utlizada em diversos estudos, como nas teses de doutorado de
França (1989) e Sardi (2001).
71
Partir-se-á da idéia fenomenológica que o homem é um “doador de sentido” ao
mundo. A origem de todas as afirmações racionais é a “consciência doadora
originária”, que está centrada no fenômeno, ou seja, aquilo que é visado pela
consciência.
Masini (1997), como visto anteriormente, observou que não existe um único método
fenomenológico, mas sim uma atitude de abertura do ser humano para apreender o
que se mostra à consciência, livre a priori de conceitos ou pré-definições que a
coloquem em uma “camisa-de-força”.
Destarte, o método fenomenológico não pretende ser empírico ou dedutivo, mas
descritivo. Sua finalidade é a descrição do fenômeno, tal como ele se apresenta,
sem reduzi-lo a algo que não aparece. Epistemologicamente, opõe-se à visão de
sujeito e objeto isolados, passando a considerá-los como correlacionados, já que a
consciência é sempre intencional.
O método centra-se no homem, especificamente na análise do significado e
relevância da experiência humana. O ponto inicial da investigação fenomenológica é
a compreensão do viver.
Giorgi (1985), demonstra que o método é utilizado para pesquisas de fenômenos
humanos, tais como vividos e experienciados. Afinal, o homem é um “doador de
sentidos” ao mundo, que é capaz de intuir, que tem intencionalidades, que orienta
significações. Dando significações aos objetos do mundo (que podem ser inclusive
outros sujeitos), o homem une-se a eles.
72
Gomes (1989), observou que o que se espera de uma pesquisa fenomenológica é a
descoberta do novo, do desconhecido e até mesmo de uma possibilidade não pensada.
Por sua vez, Coltro (2000, p. 40) analisando o caráter hermenêutico do método
fenomenológico, acredita que este
... propõe uma reflexão exaustiva, constante e contínua sobre a
importância, validade e finalidade dos questionamentos,
indagações e respostas obtidos. Apresenta-se como de
natureza exploratória, ou seja, como interpretação aberta a
outras interpretações, muitas vezes conflitantes e que marcam
seu caráter polissêmico, sendo este o maior sinal de sua
fertilidade.
O método fenomenológico busca captar as essências do que o homem vivenciou.
Mas esse homem vive em grupo, em uma sociedade. Ele é mutável, efêmero,
perturbado por motivações obscuras. Ele é influenciado pela mídia, por sua família,
sensível aos valores.
A pergunta que o investigador fenomenólogo deve-se fazer, neste momento de
constatação que o sujeito de sua pesquisa é volúvel, é: como proceder para eliminar
toda a interferência na análise?
Esta é uma questão delicada para a fenomenologia, que faz uso da chamada
redução, que será vista mais adiante. Porém, não basta isso. Deve-se entender os
papéis desempenhados pela inter-relação humana, além do grau de defasagem que
o homem possui em sua fala sobre si mesmo.
73
Vera (1978), analisando os papéis na inter-relação humana, concluiu que as
respectivas situações podem ser vividas em diversos níveis de profundidade, que
em tais relações se realizam encontros, que variam dos autênticos (onde há
essência) e os inautênticos (sem essência). Diz o autor:
Merlau Ponty dizia que ‘o comportamento e as palavras do
outro não são o outro’. No encontro aparente, acreditamos
conhecer o homem porque o definimos através de seus atos ou
baseamo-nos no que ele possa dizer-nos de si mesmo. Este
não é um encontro real; há nele uma presença inautêntica que
é, na verdade, ausência. Reciprocamente uma pessoa
fisicamente ausente pode estar presente, se há um encontro
autêntico (VERA, 1978, p. 80).
Aqui cabe ao pesquisador procurar um encontro autêntico com o sujeito de sua
pesquisa, para procurar captar a “essência” de seu discurso, representante da
vivência que se procura conhecer, para então descrever a realidade.
Sobre a questão do discurso do homem, França (1989, p. 33), diz:
Na realidade, aquilo que se fala ou se escreve sobre a própria
existência é sempre um discurso de segundo grau, de segunda
mão, já vem sempre com a nota de obsolescência, de
defasagem. O discurso primeiro, ou a palavra primeira que
‘pronunciamos’ é o próprio fato de existir, por menos que se
esteja atento a isso. Neste sentido, percebe-se o quanto é
verdadeiro dizer-se que a interpretação é laboriosa, pois trata-
se de buscar o oculto no patente, e este não se mostra aquele
em sua plenitude.
Como observou o autor, o pesquisador deve se esmerar na interpretação. Assinala-
se que a fenomenologia permite interpretar sobre aquilo que é dito enquanto
sentido e aquilo que deixa de ser dito.
Corroborando esse pensamento, Coppe (2001, p. 46), analisando a questão da
utilização do método fenomenológico no estudo da subjetividade, diz que o
74
pesquisador busca compreender o mundo para o sujeito, ou seja: captar significados
do mundo deste sujeito a partir da sua descrição do vivido.
A opção pelo método fenomenológico pode parecer questionável, principalmente
seu emprego em pesquisas em uma área de conhecimento pouco explorada, como
é a análise ontológica do empreendedorismo. Tal método, ainda desperta dúvidas
em relação à sua cientificidade posto que não repete o modelo do positivismo e
empirismo típico das ciências físicas e naturais.
Porém, com mais de um século de aplicação, o método, em ciências humanas e
sociais (o ser humano é um processo em permanente mutação, não sendo possível
estudá-lo de forma estática), vem demonstrando consistência e legitimidade em
pesquisas que focalizem, nas palavras de França (1989, p. 26) a experiência vivida
e sua significação, não sendo possível explicá-la por uma relação de causa e efeito,
reduzindo-a a leis, princípios ou conceitos.
Heidegger (1973, p. 499) analisando a questão da contemporaneidade da
fenomenologia, pergunta:
E hoje? Parece que o tempo da filosofia fenomenológica
passou. Já é julgada como algo passado, que é apenas
consignado ainda historiograficamente ao lado de outros
movimentos filosóficos. Entretanto, a fenomenologia não é
nenhum movimento, naquilo que lhe é mais próprio. Ela é a
possibilidade do pensamento – que periodicamente se
transforma e somente assim permanece - de corresponder ao
apelo do que deve ser pensado. Se a fenomenologia for assim
compreendida e guardada, então pode desaparecer como
expressão, para dar lugar à questão do pensamento, cuja
manifestação permanece um mistério.
75
Na época em que Heidegger escrevera esse texto (1963) novos movimentos filosóficos
surgiam, e os fenomenólogos já não gozavam de tanto prestígio. Mesmo o
existencialismo inspirado na fenomenologia começava a sair de cena, nesse dinâmico
processo do saber filosófico. Porém, não imaginava o autor a aplicação do método
fenomenológico em ciências humanas e sociais, e o grande sucesso posterior.
Já Von Zuben (1989, p.148), analisando o impacto das idéias de Husserl no século
XX, afirmou que:
Desde o início deste século, um número expressivo de
pensadores se deixaram influenciar pelas idéias de Husserl.
Muitos as criticaram, outros tantos buscaram nelas impulso e
movimento para suas próprias idéias. E mais, a filosofia
fenomenológica de Husserl teve seus efeitos na própria
metodologia das ciências.
Streubert e Carpenter (1995) apud Moreira (2002a) explicam que o pesquisador, antes de
se definir pela adoção de um método, deve impor-se uma tripla interrogante capaz de
convencê-lo, ou não, da opção e respectiva exeqüibilidade do método fenomenológico:
1) Existe uma necessidade de maior clareza no fenômeno selecionado? Talvez exista
pouca coisa publicada, ou o que exista precise ser descrito em maior profundidade.
2) Será que a experiência vivida compartilhada é a melhor fonte de dados para o
fenômeno de interesse?
3) Em terceiro lugar, o pesquisador deve considerar os recursos disponíveis, o
tempo para o término da pesquisa, a audiência a quem a pesquisa será
apresentada; o próprio estilo pessoal do pesquisador e sua habilidade para se
envolver no método de forma rigorosa.
76
2.4 – A dinâmica do método fenomenológico
Neste trabalho utliza-se o método fenomenológico descrito por Giorgi (1985). O objetivo
é a obtenção de “unidades de sentido”, a partir do relato escrito pelo participante.
A decisão de utilização de relatos escritos deveu-se a necessidade de se analisar os
discursos considerando a intencionalidade da consciência. Assim, caso o relator
fosse convidado a discorrer oralmente, utilizando um gravador para posterior
transcrição, ocorreria um significativo viés. Não se busca aqui efetuar uma análise
de conteúdo ou estudar a fala do empreendedor, mas sim conhecer a dimensão
ontológica do empreendedorismo. Assim, ao permitir que o relator discorresse
livremente, ele não estaria refletindo adequadamente sobre o assunto, mas sim
sendo “espontâneo”.
O relato escrito é diferente. O sujeito necessita se concentrar na pergunta, redige,
suprime termos, acrescenta sentido, age intencionalmente.
Nesse ponto, Ricoeur (1988) demonstra que a passagem do discurso à escrita é a
passagem do dizer ao dito. O texto apresenta uma vida própria, que pode se desviar
daquilo que o locutor queria dizer, sendo uma espécie de objetivação do discurso,
em virtude de ter perdido as características subjetivas do locutor. Assim, há uma
libertação das palavras do indivíduo que escreve, quando da leitura por outrem. O
indivíduo que escreve contribui com as palavras e o leitor com a significação.
77
CAPÍTULO III
ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO
E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
78
O empreendedorismo é um fenômeno complexo, multifacetado e de difícil
apreensão. Requer em seu estudo ontológico a utilização de uma visão holística,
visando a compreensão aprofundada do assunto.
Ademais, é fundamental que se escolha um local que forneça condições adequadas para
as investigações. Neste quesito, as chamadas incubadoras de empresas são o habitat
ideal no qual empreendedores podem desenvolver suas potencialidades de forma plena
e completa, face as características peculiares de tais organizações. Ao invés de se
incubar uma bactéria, um ovo ou uma planta, a incubadora lida com pessoas jurídicas,
que são constituídas por empreendedores, que coabitam em um espaço em que há a
indução da prática empreendedora, especialmente planejado para tal.
Ou seja, nesse ambiente o empreendedorismo existe de fato, sendo portanto essa a
razão da escolha da Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da
Universidade Estadual de Londrina como o sítio privilegiado para as elucubrações.
Trata-se de uma organização gerenciada pelo Consórcio GeNorP/INTUEL (Genesis do
Norte do Paraná) e tem por objetivo a geração de novas empresas nas áreas de tecnologia
da informação e comunicação, biotecnologia entre outras áreas, criado em 2003.
3.1 – Formulação de uma proposição
A primeira etapa da pesquisa consistiu na elaboração de uma proposição aos
relatores, nos seguintes termos:
79
Pesquisa com empresários incubados
1. O que é, para você, empreender?
2. O que signfica, para você, empreendedorismo?
3. Descreva e comente aspectos de sua vivência como empresário incubado
relacionados ao desenvolvimento de sua capacidade empreendedora, que
considere mais significativos e marcantes.
4. Quais as causas que o levaram a tornar-se empresário?
Idade
Sexo
Essas proposições foram amplas e pretendem apreender os aspectos que os
empresários considerem “mais significativos”, compreendido que se trata de uma
análise própria dos sujeitos.
3.2 – Determinação da “amostra”
Determinou-se cinco sujeitos, sendo uma “amostragem” não-probabilística
intencional.
Os relatores foram selecionados a partir de suas experiências como
empreendedores. Buscou-se seguir uma lógica na escolha dos mesmos, em função
das características da pesquisa fenomenológica, que se equilibra na tensão entre
singularidades e universalidades. O objetivo é a descoberta de conhecimentos; não
se trata da verificação de hipóteses.
80
São cinco homens, com as idades variando de 21 a 50 anos de idade, que atuam
em suas organizações na Incubadora Internacional de Empresas de Base
Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina.
Os indivíduos são empreendedores que vivenciam no cotidiano os aspectos
relacionados à prática empreendedora, por isso a escolha intencional dos mesmos.
3.3 – Distribuição e recolhimento
A terceira etapa consistiu em distribuir e recolher os relatos, com prazo de três
semanas para o preenchimento. Foi esclarecido aos empresários que os relatos
seriam utilizados em uma pesquisa de pós-graduação em administração.
Assegurou-se o anonimato e confidencialidade em relação à divulgação dos nomes
dos relatores.
3.4 – Análise dos resultados
Nesta última etapa, empregou-se o método descrito por Giorgi (1985), utilizado nas
teses de doutorado de França (1989) e Sardi (2001). Tal método estrutura-se em
quatro fases:
1. Sentido do todo - Simples leitura do texto e a habilidade de entender a
linguagem do sujeito.
81
2. Discriminação das unidades de sentido - Considerando que é impossível
analisar um texto inteiro ao mesmo tempo, é necessário separá-lo em unidades
manejáveis. As unidades são analisadas de acordo com o interesse da pesquisa
(caráter psicológico, econômico, sociológico, teológico etc.).
3. Transformação das expressões de linguagem do sujeito para linguagem
com ênfase no fenômeno que está sendo investigado - A intenção do método
aqui é de chegar a uma categoria geral partindo das expressões concretas.
Giorgi (1985, p.19), afirma que é fundamental precisar a linguagem, padronizar,
para “iluminá-lo” pela perspectiva fenomenológica.
4. Resultado das unidades de sentido transformadas em colocações - O objetivo
é sintetizar, integrar e descrever as descobertas das unidades mais significativas.
A figura a seguir traz a representação do percurso metodológico empregado.
Figura 6: Percurso metodológico
Fonte: sistematizado a partir de Giorgi (1985), Sartre (1997), Heidegger (1999a)
82
Para concluir, sobre a importância de se “ir às coisas mesmas”, Sardi (2001, p. 27),
assim se expressou:
... a filosofia, através da fenomenologia de Husserl, está
convidada a ver o que realmente é dado na experiência: o
fenômeno. Ela, a fenomenologia, surgiu com tentativa de
restituir um fundamento ao universo e uma orientação à
consciência e à vida. Husserl nos convoca para que nos
desembaracemos de todo prejuízo, de toda linguagem confusa
e cheia de pressupostos a priori, deixando que os fenômenos
‘falem por si’, em seu ato mais simples que é o de se mostrar.
3.5 – Interpretação
A interpretação dos resultados acontece em três momentos distintos:
1. Na fase de observação empírica da realidade da Incubadora Internacional de
Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina,
resultante da vivência do pesquisador como aluno do mestrado em administração
da UEL.
2. Durante a leitura dos relatos.
3. Na elaboração das análises e síntese.
Sobre as interpretações dos relatos, Giorgi (1985, p. 11) diz:
As discriminações de unidade significativa (de interpretação)
são percebidas diretamente da descrição sempre que o
investigador, ao reler o texto, se torna consciente da mudança
de significado da situação para o sujeito, a qual parece ser
psicológicamente sensível.
83
O que torna a interpretação possível é a existência de símbolos de linguagem,
registrados sobre papel. Segundo Ricoeur (1979, p. 15), a interpretação é
entendida como sendo um trabalho do pensamento que consiste em decifrar o
sentido oculto no sentido aparente, em desdobrar os níveis de significação
implicados na significação literal. Já o símbolo é toda estrutura de significação em
que um sentido direto, primário e literal, designa, por acréscimo, outro sentido
indireto, secundário e figurado, que só pode ser apreendido pelo primeiro.
Ademais, deve-se atentar para as palavras de Von Zuben (1989, p. 155-156):
Há que se evitar, no entanto, vieses e reducionismo; entende-
se, muitas vezes, aplicação da fenomenologia ou do método
fenomenológico como uma espécie de prestação de serviços
especializados de um quadro conceitual esotérico. Por alguma
razão nem sempre claramente identificada... o cientista (social
em particular) entra em contato com a ‘moda’, ou a ‘onda’, ou o
‘mito’, da fenomenologia em busca de subsídios para sua
pesquisa.
3.6 – O fenômeno
Ao abordar um objeto, o observador procura apreendê-lo, fazendo com
que esse chegue à sua consciência. Denomina-se fenômeno aquilo que de fato é
apresentado à consciência humana. Afinal, “toda consciência é consciência de algo”.
Sendo assim, o subjetivismo poderia se tornar um empecilho no que diz respeito a
confiabilidade dos estudos baseados no método fenomenológico.
No entanto, para resolver essa questão, o método recomenda o emprego da
redução, que é a busca do fenômeno livre de traços pessoais e culturais, que levará
a obtenção da essência.
84
Na verdade são duas as reduções: a eidética e a transcendental (ou
fenomenológica). Bochenski (1957) apud Vera (1978, p. 65-66) afirma que a
redução eidética deve ser efetuada da seguinte maneira, por parte do pesquisador:
1. Eliminação no grau possível do subjetivo: assumir atitude objetiva frente ao
dado.
2. Exclusão do teórico: eliminação momentânea de toda a hipótese, teoria, ou
outro conhecimento prévio.
3. Suspensão da tradição: exclusão das tradições das ciências e das autoridades
humanas.
4. Ver todo o dado, e não somente alguns aspectos do objeto.
5. Descrever o objeto, analisando suas partes.
O objetivo aqui é atingir a essência, o eidos. Assim, a realidade, em função da livre
consideração de todas as possibilidades que a razão descobre, perde as
características individuais e se revela uma essência constante e invariável.
Noesis é o nome que se dá ao ato de perceber (o cogitatio). Noema, por sua vez,
representa o que é percebido (o cogitatum). Assim, o que se investiga é um
fenômeno de consciência (noema). A redução fenomenológica busca limitar o
conhecimento ao fenômeno da experiência de consciência. Para isso procura
85
desconsiderar o mundo real, em uma espécie de suspensão do juízo. Em outras
palavras, o põe "entre parênteses".
Mas o que significa isso? O homem se encontra no mundo, foi lançado nesse mundo
e nele vive. Chama-se atitude natural os termos e o modo pelo qual esse homem
percebe, interpreta e age no mundo em que vive. Trata-se de um modo ingênuo de
existir que faz com que a humanidade acredite que as coisas são como se mostram.
Não há dúvidas em relação a isso. Assim, há os padrões de comportamento e as
certezas das coisas.
A redução fenomenológica proporciona ao investigador que suspenda a crença no
mundo exterior, seja da forma pela qual ela é vista pelos seres humanos no dia-a-
dia, seja pelo modo como é vista pelos teóricos, filósofos ou cientistas. Assim, ocorre
uma ruptura com a visão de mundo estereotipada, ocorrendo a possibilidade de se
atingir autonomia em relação ao mundo e à consciência que dele se possui.
Este trabalho é realizado a partir da redução eidética e fenomenológica. Para
efetivação da análise fenomenológica o investigador procurou adotar uma postura
objetiva, isenta de hipóteses e pré-concepções, visando perceber e descrever toda
conjuntura do fenômeno tal como naturalmente se mostra.
86
3.7 – As unidades de sentido e significação para o investigador e respectivas
interpretações
Foram quatro as unidades de sentido identificadas, que surgiram a partir da leitura
dos cinco relatos:
1. Desenvolvimento de habilidades
2. Visão de futuro
3. Saber fazer
4. Potencialidade
É importante destacar que as unidades de sentido só existem em função da
perspectiva de quem analisa. Pretende-se descobrir o sentido oculto, desdobrando
os níveis de significação aparente.
Rezende (1978, p. 223) discute a questão da linguagem como sendo a própria vida,
na qual o sentido se formula pela primeira vez como fenômeno original.
A questão da intersubjetividade também é importante. Coexistir é próprio do homem
e a palavra representa não apenas uma expressão, mas também comunicação e
simbologia.
Os relatos não foram alterados, nem corrigidos.
87
A seguir apresenta-se as unidades de sentidos discriminadas:
As unidades de sentido organizadas em categorias e a letra
dos depoimentos nos quais elas foram identificadas
Categorias de unidades
de sentido
Depoimentos
1. Desenvolvimento de habilidades
A – B – C – E
2. Visão de futuro
A – D
3. Saber fazer
A – B – C
4. Potencialidade
C – D – E
Dando continuidade, foram destacados fragmentos dos depoimentos relacionados
com as unidades de sentido com significado para o investigador, seguido de
interpretações – unidade modificada (U.M.).
01. DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES
Relato A “Ser empreendedor me possibilitou desenvolver habilidades até então
desconhecidas. Fez com que me preocupasse não só com questões técnicas..., mas
também com questões comerciais e administrativas. Criei habilidade para negociar,
apesar de ainda buscar me capacitar cada vez mais na área”.
U.M. – O sujeito enxerga a si próprio como um empreendedor, que desenvolveu
habilidades que não conhecia. A Incubadora, como locus privilegiado para a
realização empreendedora, fez com que o indivíduo transcendesse a condição
88
tecnicista que permeia a prática empreendedora, observando a coadunibilidade
existente entre questões técnicas, comerciais e administrativas. Esse fragmento
demonstra características ontológicas, considerando que o relator busca ir além na
busca de sua realização como empreendedor, pois percebe a capacitação como
uma condição essencial.
Relato B “Criar e desenvolver produtos e empresa... Estar sempre pesquisando e
criando”.
U.M. – As habilidades, para o depoente, relacionam-se com a importância da
pesquisa e desenvolvimento de produtos, além da criação e busca de novos meios
de ver a realidade. A realidade empreendedora é vista sob um ângulo reducionista,
permeando a realidade ôntica subjacente. Isso significa que possui extrema
objetividade no trato com as questões da empresa.
Relato C “... usando de características empreendedoras como conhecer o
ambiente de trabalho detalhadamente e encontrar soluções adequadas respeitando
características particulares de cada um pude sair de situações embaraçosas e
limitadas”.
U.M. – Esse fragmento traz à discussão as chamadas “características
empreendedoras”, que seriam, para o autor, as responsáveis pelo fato dele sair de
situações limitantes e embaraçosas. Isso demonstra que o ser empreendedor é,
entre outros aspectos, um “estado” (considerado aqui como a soma de condições
em que se encontra em determinado momento). A possibilidade de desvencilhar-se
89
de algo intrincado, originado a partir do desenvolvimento de determinadas
habilidades, faz com que o sujeito explicite que o empreendedorismo é capaz de
fazer com que as pessoas possam se realizar a partir de si mesmas.
Relato E “Saber dialogar, pois somente com a troca de idéias e a exposição de
suas opiniões é que você vai poder ter acesso as melhores oportunidades”.
U.M. – Para o depoente, a capacidade de dialogar e estabelecer relações sociais
significa o desenvolvimento de suas habilidades e oportunidade de novos negócios e
oportunidades. O homem vive em sociedade, não é isolado e onipotente. Paiva Jr.
(2004) em seu estudo fenomenológico já observara essa questão. O aspecto
ontológico se manifesta nessa assertiva, considerando os pressupostos
apresentados por Espitia (2000) anteriormente, sobre os fundamentos da obra de
Heidegger (1999a).
02. VISÃO DE FUTURO
Relato A “Ter mentalidade voltada para o futuro”.
U.M. – Viver o presente, mas com foco no futuro, faz com que o depoente acredite
que o sucesso do empreendimento esteja ligado com possibilidades vindouras. Não
se trata de viver no futuro, mas vê-lo como um fim, em bases teleológicas. O
metaempreendedorismo explicitado anteriormente, por meio da abordagem
transdisciplinar, corrobora essa afirmação. O depoente vê no venturo as
possibilidades de realização.
90
Relato D “...levar o seu negócio para onde quiser, no ritmo que quiser”.
U.M. – O negócio é, em última instância, algo que se constrói no presente, com
perspectivas futuras. O andamento do empreendimento é ditado não por fatores
externos, mas internos a seu ser. É o depoente que fará as coisas acontecerem, no
ritmo que desejar e da forma que melhor lhe aprouver.
03. SABER FAZER
Relato A “A possibilidade de desenvolver inovação e conseqüentemente ganhar
dinheiro com ela”.
U.M. – A inovação, que para os economistas é fundamental para a economia
capitalista, é vista aqui como meio de auferir lucros e fazer dinheiro. O saber fazer,
através do desenvolvimento da inovação, é um instrumento que possibilita a
realização empreendedora. A técnica é o meio para se atingir os objetivos
propostos.
Relato B “Desenvolvimento de produtos”.
U.M. – O desenvolvimento de produtos é o mais importante no ato de se fazer algo.
Observa-se nesse fragmento a preocupação com o realizar, não com o processo
para realizar.
91
Relato C “... desenvolver, operar, realizar e prosperar de forma sustentada...
procurar saídas para as dificuldades e soluções para as dúvidas sem encarar pedras
como obstáculos, mas sim, como degraus”.
U.M. – A capacidade de fazer está relacionada com aspectos axiológicos. O
depoente apresenta valores bem arraigados, que normatizam sua conduta. Faz e
realiza suas ações pautado em seu modo de ver o mundo. Isso faz com que aja de
acordo com princípios inerentes a seu ser, e tais princípios direcionam seu
empreendimento.
04. POTENCIALIDADE
Relato C “... tornar a realidade à sua volta propicia ao que você deseja... encarar a
realidade de forma a modelar a sua maneira... maneira ativa de participar de
diferentes situações. Necessidade de colocar em prática conhecimentos e
vontades”.
U.M. – Para o relator, aquilo que ele desejar pode acontecer, em função de suas
potencialidades enquanto ser. A vontade, aqui, é vista como um catalisador no
processo de empreender. Já a realidade é construída e moldada, de acordo com seu
interesse. O fragmento vai ao encontro do pensamento existencialista, que
considera o homem um projeto.
92
Relato D “Independer-se, ter a liberdade... me tornar mais completo. Não ser
somente um financeiro, ou um R.H., ou um contador, mas sim pela vivência e
controle sobre uma empresa como um todo”.
U.M. – O projeto de autonomia, para o sujeito, se realiza através de ações
empreendedoras. A limitação enclausurante de uma existência inautêntica, em um
setor específico de uma empresa, é citada como razão para a busca da verdadeira
potencialidade do sujeito. A realização pessoal só é possível se transcender a
condição passiva e assumir uma atitude empreendedora.
Relato E “Construir algo que fosse meu e que me permitisse liberdade de criação
e idéias”.
U.M. – A afirmação do sujeito, como ser, se realiza através do empreendedorismo.
Só há possibilidade de pensar e criar através de ações empreendedoras. Demonstra
ainda que seu projeto de vida contempla uma individualidade inerente a tal prática.
Tal individualidade se relaciona com aspectos próprios do empreendedor, seus
valores e crenças.
3.8 – Síntese das unidades de sentido modificadas
Nos relatos apresentados, os depoentes se expressaram de uma forma bastante
particular. É importante ressaltar que a fenomenologia considera inesgotáveis os
sentidos de um determinado fenômeno na medida em que se altera a perspectiva da
observação.
93
As unidades de sentido somente existem em função de quem as analisa, em
dependência da perspectiva que o pesquisador adote. Por exemplo, pode-se
destacar e tornar significativos, dos depoimentos, aspectos os mais variados, como
gramaticais, aspectos sociológicos, valores, aspectos psicológicos, econômicos,
históricos ou estilísticos.
Neste trabalho se privilegia aspectos ontológicos relacionados com o
empreendedorismo.
Como já observado, o que torna a interpretação possível, neste trabalho, é a
existência de símbolos de linguagem, registrados sobre papel.
Ricoeur (1979, p.15), como verificado anteriormente, observou que a interpretação
é um trabalho do pensamento que consiste em decifrar o sentido oculto no sentido
aparente, em desdobrar os níveis de significação implicados na significação literal.
Já o símbolo é toda estrutura de significação em que um sentido direto, primário e
literal, designa, por acréscimo, outro sentido indireto, secundário e figurado, que só
pode ser apreendido pelo primeiro.
Os empreendedores que colaboraram com esta pesquisa, ao participarem da
incubadora, tinham mais dúvidas que certezas em suas cabeças. Pode-se dizer que
a única certeza que tinham era que iriam desenvolver seus trabalhos e criar uma
empresa.
94
Assim, o que se pode obter a partir da análise dos depoimentos são os significados
de maior importância, que se relacionam com:
A. INOVAÇÃO Os depoentes reconhecem a importância e influência da
inovação como instrumento para realização plena de suas potencialidades
empreendedoras. O enfoque de Schumpeter (1982) é vivido e experimentado
de forma peculiar, com ênfase em seus resultados para a vida pessoal dos
empreendedores.
B. GERENCIAMENTO O ato de gerir sua própria empresa, sendo responsável
pelo sucesso ou insucesso do empreendimento, traz consigo conseqüências
para a existência do empreendedor. Há observação de seu papel como
indivíduo que faz a diferença em uma organização, em contraposição aos
papéis secundários desempenhados como subalternos em outras empresas.
C. DESAFIOS Relacionado com a questão da gerência. O ato de gerir sua
própria organização faz com que o empreendedor assuma desafios para
lograr êxito comercial, financeiro e administrativo. Os depoentes vêm o
desafio como oportunidade, não como obstáculo.
D. CRIAÇÃO A criação, é entendida aqui como ação de conceber, de inventar,
de dar existência ao que não existe, ou de dar nova forma, novo uso a
alguma coisa ou, ainda, de aperfeiçoar coisas já existentes (HOUAISS, p.
868). Os relatores observam a criação como propulsora no desenvolvimento
de seus negócios.
95
E. RELACIONAMENTO O estabelecimento de relacionamentos interpessoais,
através de contatos comerciais e científicos, é considerando importante para
os negócios, pois permite o networking que alavanca os empreendimentos.
F. TEORIA NA PRÁTICA – A questão da aplicação prática dos conhecimentos
teóricos obtidos na formação básica do empreendedor se faz presente.
Assim, a dicotomia existente nesse debate é minorada, de modo a
proporcionar novas possibilidades de negócios.
G. SUJEITO DA AÇÃO – A percepção de ser o sujeito da ação, que com seus
atos pode modificar a realidade circundante, é observada. A ação entre os
pares é fundamental. A analogia com o “animal político” de Aristóteles (1997),
que por natureza dirige e convive em sociedade, se faz presente. O ser
sujeito da ação é motivo de realização pessoal.
H. PESQUISA Em consonância com a inovação e criação, a questão da
pesquisa e desenvolvimento é valorada. Pesquisar não é apenas descobrir e
desenvolver novos conhecimentos e produtos. É uma afirmação pessoal, que
reforça a criatividade. A pesquisa transforma a potencialidade em realidade,
através de uma postura ativa na busca da realização.
96
I. INCUBADORA A incubadora desempenha um papel secundário na ação
empreendedora. É um locus, onde os depoentes podem se realizar. A relativa
importância atribuída pelos sujeitos a esse habitat demonstra que eles se
fazem, não são produto do meio em que vivem. Porém, não significa
necessariamente que não seja importante ou fundamental, mas sim que há
autonomia no desenvolver ações e a utilização do espaço como espécie de
“fomentadora” de idéias e projetos.
J. EMPREENDEDORISMO Os depoentes estão circundados por um ambiente
empreendedor. Recebem treinamentos, participam de cursos e palestras,
além de coabitarem um local com pessoas empreendedoras. Contudo,
compreendem o empreendedorismo de forma peculiar. Não há incorporação
do discurso do universo reificado em seus relatos, tão pouco fazem uma
representação social do mesmo (MOSCOVICI, 1978, 2003), no sentido stricto.
Isso se deve a forma de experienciar a realidade de forma pessoal e única,
sendo produtores de seu conhecimento, fazendo uma apreensão da realidade
de um modo singular.
K. ÔNTICO/ONTOLÓGICO Os relatos abordam as duas dimensões, com
predominância da segunda. O modo de ver a questão, por parte dos
empreendedores, revela o fenômeno. Como construção intencional, os
discursos demonstram que o privilégio ôntico conferido as pesquisas sobre o
tema deve-se a necessidade dos pesquisadores efetuarem, entre outras
coisas: a) quantificação, b) repetição e controle, c) generalização, d) provar
ou refutar pesquisas anteriores, e) medição etc. A predominância ontológica
97
explica-se pelo fato do empreendedorismo ir além da visão utilitarista e
empírica que permeia o tema. Assim, é possível deixar que o fenômeno se
mostre naturalmente, que se desvele.
L. INTER/MULTI/TRANSDISCIPLINARIDADE Da mesma forma que os
empreendedores relativizaram a importância da incubadora para seus
negócios, também não observaram as interfaces do empreendedorismo com
outras disciplinas. Isso não foi notado de forma direta. Indiretamente, porém,
constataram as relações, principalmente com a economia, a administração e
a psicologia, nos relatos sobre dinheiro, gerência e realização pessoal,
respectivamente. A perspectiva adotada, da transdisciplinaridade, revelou-se
acertada, face à observação do metaempreendedorismo como explicador da
realidade circundante.
M. EPISTEMOLOGIA/AXIOLOGIA/ONTOLOGIA – Inexiste considerações
epistemológicas nos discursos, devido ao fato dessa área estudar o tema de
outra forma. Em relação à axiologia, essa se faz presente, da mesma forma
que a ontologia, ambas consideradas no sentido lato.
Essas significações, que emergiram dos depoimentos dos empresários incubados,
são descrições da realidade empreendedora. Porém, mister se faz interpretá-las, a
partir dos pressupostos da fenomenologia hermenêutica, explicitados no capítulo II.
Tal interpretação será efetuada não apenas dos relatos, mas também a partir do
fenômeno em-si, fazendo uso das reduções fenomenológica e eidética, conforme
será visto a seguir.
98
CAPÍTULO IV
INTERPRETAÇÃO
DOS RESULTADOS
99
Considerando que um fenômeno pode ser interpretado a partir daquilo que ele é,
propõe-se neste capítulo discorrer sobre a atitude interpretativa explicitada
anteriormente. O sentido do fenômeno é inesgotável, pois a depender do prisma que
se adote haverá sempre a possibilidade de uma interpretação.
Assim, adotar-se-á nessa análise os pressupostos da fenomenologia existencial.
Não porque esta seja “melhor” que outra abordagem, mas sim em função de
representar a oportunidade de discorrer com mais propriedade sobre elementos da
constituição ontológica do empreendedorismo.
Ademais, verificou-se que para conhecer a realidade de determinado fenômeno é
necessário fazer uso do círculo hermenêutico interpretação-compreensão-nova
interpretação. No capítulo I observou-se as diversas definições que se tem sobre
empreendedorismo e a indefinição conceitual que permeia o tema.
Não obstante, para se avançar no trabalho interpretativo, cumpre discorrer sobre
elementos epistemológicos do empreendedorismo, pois o que foi visto no capítulo I
sobre o tema relaciona-se com uma explicitação propredêutica e histórica.
Tal explicitação, porém, é insuficiente para fornecer as bases de uma interpretação
mais consistente sobre a temática. É necessário um aprofundamento maior, através
da reflexão geral sobre a natureza, etapas e limites do conhecimento sobre o
assunto, particularmente nas relações que se estabelecem entre o pesquisador e a
temática. É a constante retomada do ponto de partida, para se fazer a interpretação
do que já foi descrito.
100
Dito isto, convém esclarecer que essa retomada analisará preponderantemente três
itens não contemplados anteriormente: a) definições de empreendedores; b) temas
de pesquisa; c) abordagens de estudos.
Iniciando as análises, é importante citar Bygrave e Hofer (1991), que acreditam ser o
principal desafio da área o desenvolvimento de uma fundamentação teórica. Os
autores discutem obstáculos para estabelecer uma estrutura formal, tal como o
pouco consenso dos investigadores em ratificar uma definição geral de
empreendedorismo e a difícil caracterização do processo empreendedor. Com essa
indefinição, cada pesquisador pode explicar o que entende por empreendedorismo
sem perder rigor científico.
A revisão da literatura efetuada nesta investigação sobre o assunto não foi
exaustiva, mas ratifica o entendimento que a complexidade inerente a essa
discussão reside no estágio epistemológico que o empreendedorismo se encontra.
Estando em uma fase pré-paradigmática, a área tem espaço para os mais diversos
estudos, que evoluem de acordo com aspectos contingenciais (em relação ao
caráter eventual ou circunstancial das investigações), das condições sócio-políticas-
ambientais e do momento histórico em que os pesquisadores desenvolvem suas
elucubrações.
O quadro a seguir ilustra essa situação, em que há tantos autores quantas
definições possíveis sobre essa temática.
101
Autor
Definição
Cantillon (1755) Empreendedores como auto-empregados que se ajustam ao risco,
quando o retorno é incerto. Especulador.
Say (1821) Indivíduo que combina recursos diversos.
Knight (1921) Indivíduo que toma decisões em condições de incertezas.
Dominguez (2002) Para Marx, o empreendedor não existe; apenas o capitalista. Os
economistas neoclássicos ignoram-no.
Schumpeter (1934) Indivíduo que inova, motor da economia capitalista.
McClelland (1961) Controla meios de produção e produz mais que consome.
Drucker (1969) Alguém que procura maximizar as oportunidades.
Hayeck (1974) Captador e utilizador de informações, que lhe permite encontrar
oportunidades. Chave para o desenvolvimento.
Liles (1974) Nem toda pessoa que cria uma empresa é empreendedora. O
empreendedor inova, identifica e cria oportunidades.
Casson (1982) Lida com recursos escassos e sabe discernir.
Kirzner (1982) Faz arbitragem de informação imperfeita.
Carland et al.
(1984)
Fazem a distinção entre empreendedor e dono de PME, baseando-
se no caráter inovador do empreendedor, que visa o lucro, ao passo
que o dono de PME visa objetivos pessoais.
Stevenson e
Gumpert (1985)
Persegue oportunidade sem se deixar limitar pelos recursos que
controla.
Bracker, Keats e
Pearson (1988)
Similar a abordagem de Carland et al. (1984), com a introdução da
idéia de gestão estratégica por parte do empreendedor.
Bareto (1989) Coordena, arbitra, inova e suporta a incerteza.
Gartner (1989)
A criação de organizações distingue o empreendedorismo de outras
disciplinas, sendo este a criação de organizações. O
empreendedorismo termina quando o estágio de criação de
empresas acaba.
Stewwart (1991)
Baseado em perspectivas antropológicas, econômicas e
estratégicas, o empreendedorismo pode ser definido como produto
da criação, através da inovação.
Davidsson (1991) Empreendedorismo é gradual e pode manifestar-se de diversas
formas: start-up, crescimento, inovação etc.
Bygrave e Hofer
(1991)
Um empreendedor é alguém que se apercebe de uma oportunidade
e cria uma organização para persegui-la.
Krueger, Jr e
Brazeal (1994)
Empreendedorismo é a busca de oportunidades independente dos
recursos disponíveis. Empreendedor é aquele que se vê como
perseguindo essas oportunidades.
Palich e Bagby
(1995)
Economistas tendem a adotar a definição de Schumpeter. Corporate
executives vêm o empreendedor como gestores de PME, incapazes
de dirigirem empresas maiores.
Westhead e Wright
(1999)
Distinguem entre empreendedor ocasional, empreendedor em série e
empreendedor que constrói um portfólio de negócios.
Anderson (2000)
As qualidades do empreendedor são a capacidade de ver novas
combinações, vontade de agir e desenvolver estas combinações, a
visão de que interessa agir de acordo com a visão pessoal do que
com cálculos racionais e a capacidade de convencer os outros.
Henderson (2002) O empreendedorismo é descobrir e desenvolver oportunidades de
criar valor através da inovação.
Quadro 5: Definições de empreendedorismo e empreendedor
Fonte: adaptado de Gaspar (2003, p. 192-193)
102
Sem paradigma orientador, os estudiosos investigam diversos temas. Isso ocorre
devido ao aspecto interdisciplinar do empreendedorismo, que faz com que
pesquisadores de vários ramos do saber incluam o assunto em suas elucubrações.
Porém, pode-se perceber no quadro a seguir que os estudos privilegiam
características ônticas, não as ontológicas.
• Características comportamentais dos empreendedores
• Características econômicas e demográfica das pequenas empresas
• Empreendedorismo e pequenas empresas nos países em desenvolvimento
• Características gerenciais dos empreendedores
• O processo empreendedorial
• Criação do risco
• Desenvolvimento de negócios
• Capital de risco e financiamento para pequenas empresas
• Gestão, recuperação e aquisição de negócios
• Empresas de alta tecnologia
• Estratégia e crescimento da empresa empreendedorial
• Alianças estratégicas
Empreendedorismo ou intraempreendedorismo em companhias (corporações empresariais)
• Negócios familiares
• Auto emprego
• Sistemas de apoio a incubadoras e ao empreendedorismo
• Redes
• Fatores que influenciam a criação e o desenvolvimento de risco
• Políticas de governo e criação de risco
• Mulheres, minorias, grupos étnicos e empreendedorismo
• Educação do empreendedorismo
• Pesquisa do empreendedorismo
• Estudos culturais comparativos
• Empreendedorismo e sociedade
• Franquias
Quadro 6: Principais temas da pesquisa sobre empreendedorismo
Fonte: Filion (1997b, p. 06)
Com a constatação da ausência de paradigmas e a definição dos temas de pesquisa
em empreendedorismo, surge uma importante questão: como os pesquisadores
estudam o assunto? Danjou (2002) demonstrou que pode haver três abordagens; a
do contexto; a do ator; e da ação, conforme verificado na introdução deste
trabalho. No quadro a seguir uma explicação de possíveis outras abordagens.
103
Autor
Abordagem
Casson (1982) Início dos anos 1960 ocorre a dicotomia na pesquisa, com o advento
dos estudos de gestão, ligados às características do empreendedor.
Gartner (1985)
4 perspectivas de
estudos
1. características do empreendedor.
2. a organização que ele cria.
3. o ambiente que circunda essa organização.
4. o processo pelo qual é criada a organização.
Low e McMillan
(1988) 3 ramos
de estudos
1. comportamento (personalidade; ambiente demográfico).
2. caráter das ações.
3. aspecto normativo.
Gartner (1989)
Não interessa quem é o empreendedor, mas sim o que ele faz. Ao
invés de se estudar as características do empreendedor, deve-se
estudar o processo de criação de novas organizações. A abordagem
comportamental olha para o empreendedorismo como algo que
alguém faz e não algo que alguém é, assim olha-se para a
organização e não para a pessoa.
Stevenson e Jarillo
(1990) 3 ramos de
estudos
1. What-economia. Inicia com Cantillon, criador do termo, com foco
econômico, e não na pessoa. Prossegue com Say, que introduz o
conceito de combinar fatores de produção; avança com Schumpeter.
2. Why-psicologia/sociologia. 3. How they act-gestão.
Stewart (1991) 2
temas de estudos
1. acesso à atividade empreendedorismo.
2. o clustering espacial do empreendedorismo.
Stewart (1991)
antropologia
1. etnografia.
2. grounded theory.
Bygrave e Hofer
(1991)
Mudar o foco das características do empreendedor para o processo
empreendedor.
Davidsson (1991) As medidas de empreendedorismo usadas são limitativas. A
investigação deve focar em empreendedorismo continuado e em
graus de empreendedorismo.
Savage e Black
(1995) 2 eixos
1. teleológico (porque sabemos?): características da linguagem,
descoberta de regularidades, compreensão de significado, reflexão.
2. epistemológico (como sabemos?):experiencing, examining, enquiring.
Savage e Black
(1995) quadro de
investigação
a) investigação tradicionalmente é feita com base em métodos da
ciência social, incluindo etnografia (antropologia); observação
participante (sociologia); estudos de caso (psicologia).
b) nos últimos 50 anos enriqueceu-se o debate com as inovações das
ciências sociais, assim como os vindos da educação e lingüística.
c) outras escolas de pensamento: teoria crítica, hermenêutica,
fenomenologia e interação simbólica.
Andersson (2000)
3 categorias
1. como as pessoas agem.
2. porque agem.
3. o que acontece quando agem.
Ucbasaran,
Westhead e Wright
(2001) Estudo de
artigos sobre tipos,
comportamento,
reconhecimento e
formas
organizacionais
- estudos com foco nas características do empreendedor são
criticados e produzem resultados fracos.
- estudos recentes focam o comportamento do empreendedor.
- o processo cognitivo também é estudado e o processo de decisão
ou heurístico do empreendedor é promissor.
- identifica 05 temas de investigação: a) antecedentes; b) tipos; c)
processo e tipos de organizações criadas; d) ambiente externo; e)
resultados.
Quadro 7: Abordagens ao estudo do empreendedorismo
Fonte: adaptado de Gaspar (2003, p. 194-195)
104
Filion (1997b, p. 8), analisando as questões anteriormente discutidas, apresenta o
termo empreendedologia para definir a disciplina que pesquisa a temática e que se
destina à Academia, ao passo que a disciplina empreendedorismo destina-se aos
seus praticantes. Para o autor, o campo está dominado pelos funcionalista-positivistas,
existindo a necessidade de abrir novas perspectivas para compreender o que os
empreendedores são e o que eles fazem. É preciso ainda separar a pesquisa pura da
aplicada, com o intuito de se criar uma teoria do empreendedor. A ciência que daria
suporte a essa teoria seria a empreendedologia (FILION, 1997b, p. 10).
Basicamente, o que Filion (1997b) demonstra é que o empirismo dominante no
empreendedorismo faz com que as características ônticas sejam o objeto de
estudos dos pesquisadores.
É possível observar que a maior parte dos estudos efetuados no campo do
empreendedorismo baseiam-se no empirismo. Davidsson (1991) e Davidsson e
Wiklund (2001) observam que tais estudos recolhem dados empíricos sem estudar
seu significado em termos de abstrações mais elaboradas, ao invés de estabelecer
modelos para depois proceder a verificação.
Porém, a Academia tem voltado sua atenção para novas formas de se analisar o
problema. Cope (2005) observa que recentemente emergiu no campo do
empreendedorismo pesquisas fenomenológicas, dentro do paradigma interpretativo
(CAVE, ECCLES, RUNDLE, 2001; COPE, 2001; COPE, WATTS, 2000; GRANT,
PERRIN, 2002). Em seu texto, o autor analisa aspectos relacionados à
105
epistemologia e à ontologia, ilustrando a passagem da filosofia fenomenológica para
a metodologia.
Berglund (2006), por sua vez, observa que muitas pesquisas da área são positivistas.
Apresenta as filosofias de Husserl e Heidegger, para procurar compreender como os
conceitos teóricos e eventos empíricos podem ser tratados com o uso da abordagem
fenomenológica.
Como observado, a epistemologia do empreendedorismo encontra-se em construção.
A Academia tem acompanhado essa questão, através do desenvolvimento de
diversos tipos de pesquisas, com variadas abordagens. Uma dessas abordagens
consiste em estudos fenomenológicos, que visam enriquecer os debates,
considerando as particularidades da fenomenologia, que visa atingir, invariavelmente,
a essência de seus objetos de estudo. Nesta dissertação, a novidade está em
introduzir o existencialismo como um importante meio para análises e reflexões
sobre o assunto, conforme explicitado a seguir.
4.1 – Existencialismo
O platonismo, baseado em Platão e o cristianismo, derivado de Cristo, foram
filosofias que obtiveram sucesso na separação do corpo e da alma, dicotomizando
corpo e consciência. Além disso, estabeleceram uma hierarquia em que a
consciência poderia dominar as vontades e paixões advindas do corpo. O
racionalismo de Descartes também preconizava tal situação (SARDI, 2001). Com o
106
advento do existencialismo isso mudou, de forma que o homem ganhou lugar nas
discussões. Isso ocorre devido ao conceito de intencionalidade da consciência.
Basicamente o existencialismo tem como característica a inclusão da realidade
concreta do homem (sua mundanidade, angústia, desespero etc.) no centro da
investigação filosófica, em antagonismo com os racionalistas que acabam com a
subjetividade individual em estruturas conceituais abstratas e universais. Em outras
palavras, as especulações voltam-se para aspectos fundamentais da existência, que
privilegiam a dimensão de finitude na humanidade: a liberdade, a morte, o
compromisso, a responsabilidade etc.
O objeto da reflexão é o homem em sua existência concreta, a partir de uma
situação determinada, mas não necessária (o “ser-para-outro”; “ser-no-mundo” etc.).
O homem, condenado a ser livre em função de não ser portador de uma essência
abstrata e universal, surge como o realizador de sua vida, o dono do próprio destino,
submetido a limitações do dia-a-dia. Por sua vez, como método filosófico, apresenta
um pensamento especulativo, com a elaboração de teorias filosóficas a partir de
conceitos abstratos. Utiliza a fenomenologia e busca-se o dado, o realmente
percebido, com descrição daquilo que se manifesta na humanidade.
O momento histórico conturbado de seu surgimento (entre as duas grandes guerras
mundiais) foi determinante para que os filósofos existencialistas dessem uma
conotação muito particular de seus pressupostos, que influenciou sobremaneira o
modo de ver o mundo de inúmeras pessoas.
107
Ex-sistere é o termo em latim equivalente a existência. Significa o vir a constituir-se
e a manter-se (sistere) provindo de um (ex) outro. Basicamente, a existência é o
devir, o devir do homem (SEVERINO, 1986, p. 239).
Abbagnano (1993, p.128) demonstra que Kierkegaard (1813-1855) e Husserl foram os
precursores do existencialismo. Do primeiro, os existencialistas valeram-se da categoria
fundamental de que se serve na análise da existência, a possibilidade, considerada
principalmente no seu caráter ameaçador e paralisante, que é devido ao fato de tornar
problemática a relação do homem com o mundo e de excluir de tal relação a garantia
de um sucesso infalível. Ao passo que do segundo utilizaram a ontologia apofântica,
ou a concepção de um ser (mundo) que se revela melhor ou pior ao homem segundo
estruturas que constituem o modo de ser do próprio homem.
Porém, o primeiro existencialista foi Heidegger (1899-1976), que tinha por objetivo
estabelecer uma ontologia a partir da compreensão primária do ser que possibilita
auscultá-lo e interrogá-lo para obter sucesso em determinar plena e completamente
o sentido do ser (ABBAGNANO, 1993, p.137).
Sartre (1966) afirmou que a existência precede a essência. Em outras palavras,
pode-se dizer que o homem surge no mundo, encontra a si próprio, existe, para
apenas e tão-somente depois se definir. O homem será aquilo que fizer de si mesmo
(o autor chama isso de subjetividade), não há condicionantes extrínsecos. O ser
humano é um projeto que se faz gradualmente. Conseqüentemente, define-se pelo
conjunto dos seus atos. Em resumo, o indivíduo é que se faz.
108
Cabe aqui esclarecer que ser não equivale a existir. Quando alguém diz: “sou
empreendedor”, está se portando de uma forma típica de todos os seres, de forma
passiva e sem grandes possibilidades. Ao passo que quando se diz ”estou
empreendedor”, há demonstração de se estar passando de uma condição de
potencialidade para realidade. Conscientemente, o sujeito percebe estar se
realizando como empreendedor. Ou seja, o indivíduo escolheu ser empreendedor.
Exemplificando esse significado, é possível fazer uma correlação com o estudo de
Ferreira (2003). Em seu trabalho, o autor criou um modelo heurístico tridimensional,
para identificação do perfil do empreendedor. A figura abaixo demonstra que o
empreendedor localiza-se na dimensão individual. A dimensão ambiental e a
grupal/organizacional, somadas a primeira, proporcionará em seus interstícios o
chamado desempenho empreendedor.
Figura 7: Dimensões de atuação do empreendedor
Fonte: Ferreira (2003, p. 45)
109
Observa-se aqui que o empreendedor não está, ele é. Não é um projeto, que se
realiza por vontade própria, sendo livre para escolher. Fatores extrínsecos atuam
sobre ele, impedindo suas potencialidades.
Em uma abordagem existencial, há o predomínio do humano. Isso significa que o
empreendedor pode se realizar. A figura a seguir contrapõe as duas análises.
Figura 8: Modelo tridimensional X abordagem existencial
Fonte: Ferreira (2003, p. 45); do autor
Como observado, o fundamental não são fatores externos. Estes coadunam para o
chamado desempenho empreendedor. O empreendedor não “nasce” empreendedor,
ele torna-se. Os fatores ambientais ou grupais/organizacionais são meios, não fins,
para a realização do projeto empreendedor do ser.
Isso não equivale dizer que a abordagem existencial seja preponderante ou mais
adequada que outras. Apenas indica que ela não está baseada em identificar perfis,
110
congruências ou similitudes. Afinal, modelos e abstrações buscam encontrar algo
que explique o funcionamento e mecanismos de ação de determinado fenômeno.
Isso ocorre em ciências exatas e naturais, não em ciências sociais.
Boaventura de Souza Santos, em sua obra “Introdução a ciência pós-moderna“
(1989) faz uma crítica à ciência moderna, afirmando que suas práticas de
conhecimento enquadram a sociedade e o mundo. O ponto de partida é que a
ciência é uma práxis social, sendo os fenômenos sociais estudados pelas ciências
sociais e não pelas ciências naturais.
O que importa é a construção que o homem faz. Assim, o debate deve ser efetuado
a partir do fenômeno, deixando que ele se manifeste livremente.
Por isso, a utilização da fenomenologia é importante, pois esta investiga o ser, a
partir do que ele é, visando sua essência.
4.2 – Analítica existencial
Heidegger (1999a) utiliza a chamada analítica existencial. Não há interesse pela
existência pessoal, nem pelos problemas dela oriundos. O autor visa discutir o ser,
discorrer sobre o estabelecimento de uma ontologia geral, uma teoria do ser.
111
Essa ontologia utiliza a analítica existencial, que somada a derivados existenciais
adequados possibilitam descrever aspectos essenciais ônticos. Assim, os problemas
ônticos podem ser formulados e resolvidos de diferentes modos de ser do homem
no mundo e não a partir dos pressupostos reducionistas, objetificantes,
deterministas e empiristas da ciência natural (LOPARIC, 1999).
Para iniciar as análises, convém discutir o esquema das limitações do Ser,
apresentado por Heidegger (1999b), conforme figura a seguir.
Figura 9: Esquema das limitações do ser
Fonte: adaptado de Heidegger (1999b, p. 214)
Para Heidegger (1999b), a separação entre Ser e Pensar está desenhada para
baixo, significando que o pensar é o fundamento que sustenta e determina o ser. Já
a separação entre o Ser e o Dever a seta está para cima, indicando que assim como
DEVER
112
o Ser é fundado no pensar, também é coroado pelo dever. A Aparência, indicada no
esquema, é o incorreto, e está fundamentada na distorção do pensar. Já o Vir a ser
ainda não é. Trata-se da mudança de lugar, cuja manifestação decisiva e normativa
está no movimento. Tanto o Vir a ser, como a Aparência, também se determinam
pela perspectiva do pensar.
O Ser, a partir de sua capacidade de pensar, pode viver na aparência ou se realizar
plenamente, considerando o dever como instância “final”.
4.3 – Interpretação dos resultados
Os prolegômenos apresentados, conforme verificado ao longo desta dissertação,
serviram para esclarecer e situar o debate sobre o tema. Porém, pretende-se aqui
conhecer a essência do empreendedorismo. Assim, as análises a seguir visam
discutir o assunto.
Observou-se os modos pelas quais o termo empreendedorismo evoluiu até os dias
atuais, suas características polissêmicas, os estudos científicos efetuados, o
privilégio ôntico conferido à temática etc.
Até o momento demonstrou-se que as investigações efetuadas não obtiveram
sucesso na busca pela essência do empreendedorismo. Isso se deve a dois
motivos: 1) a fase pré-paradigmática em que o ramo se encontra; 2) ênfase em
estudos ônticos.
113
Destarte, face ao exposto e considerando a pesquisa realizada, é possível afirmar
que a essência do empreendedorismo reside na liberdade. Não se trata da
possibilidade que tem o empreendedor de agir conforme sua vontade e idéias, ou
mesmo sua consciência, mas sim a potencialidade que tal indivíduo tem de agir de
forma autônoma buscando seus objetivos. Sem considerar condições ou limites, o
empreendedor se realiza a partir de sua autodeterminação, e constitui a si próprio e
o mundo que vive.
Ou seja, não há determinantes externos, não há casualidade. A inovação, os valores
recebidos na infância, a capacidade de gerir etc. são apenas meios para se atingir a
liberdade, que é atingida no momento em que há realização do projeto
empreendedor do ser.
Sartre (1966) observou que o homem apresenta-se como uma escolha a fazer, que
não há um determinismo natural. Ademais, não é apenas como se concebe, mas
como quer ser, considerando o querer como uma decisão consciente. A decisão de
empreender é, nesse sentido, uma manifestação da vontade.
O estudo da dimensão ontológica do empreendedorismo apresenta em sua tessitura
a questão da intencionalidade da consciência. Sendo o homem alguém que se faz e
que apresenta suas limitações assentadas no pensamento [conforme visto no
esquema das limitações do ser, de Heidegger (1999b)], percebe-se que qualquer
114
investigação nesse campo deve, necessariamente, considerar que todo ato humano
é intencional.
A novidade nesta discussão é que a essência do empreendedorismo está na
liberdade. Mas essa liberdade tem um limite? Sartre (1997) observou que o homem
só não é livre para deixar de ser livre. Assim, ou o homem é totalmente livre ou não
é. Isso é o que explica a obstinação de certos empreendedores encontrada nos
estudos ônticos que são efetuados sobre a temática que traz essa característica
como proeminente.
É no ato de empreender, na ação, que o empreendedor vislumbra o propósito de
mudança que almeja. Assim, não há destino, há a construção de uma realidade.
E o não empreendedor? Como pode a essência do empreendedorismo ser a
liberdade, se há indivíduos que não se tornam empreendedores?
Sartre (1997) afirma que a angústia é o meio que o homem utiliza para tomar
consciência de sua liberdade. Vivendo angustiado, por não ser livre, pode optar ou
não por se realizar.
Assim, o não empreendedor se angustia, pois não se realiza. Conforma-se e vive
sua vida de forma a esquecer sua condição.
115
Desta forma, pode-se explicar como a necessidade faz com que muitas pessoas
empreendam. O fazem não porque possuam características peculiares, ou porque a
necessidade é maior que sua “natureza”, mas sim devido ao desejo de liberdade, no
sentido de desincumbir-se de uma condição problemática em busca da felicidade e
realização.
Então é possível afirmar que qualquer pessoa possa ser empreendedora? Sim. Mas
se haverá sucesso ou insucesso no empreendimento isso não é possível afirmar.
Para esclarecer as condições do sucesso ou insucesso de um negócio há
necessidade de estudos ônticos.
É importante considerar, porém, o sentido etimológico da palavra existência para o
homem. Vattimo (1987, p. 25) diz que se deve considerar o ex-sistere, como estar
fora, ultrapassar a realidade presente na direção da possibilidade.
Como possibilidade, somente há o caminho da liberdade, eis a essência do
empreendedorismo.
Além disso, como observado na pesquisa, o empreendedorismo é um fenômeno
social, que traz consigo implicações de diversas naturezas, sejam psicológicas,
sociais, culturais ou econômicas.
116
Percebe-se ainda que o empreendedorismo é contigencial (no sentido de ocorrer de
maneira eventual e circunstancial), não necessitando de condições apriorísticas para
sua concretização.
No limite desta investigação, a partir da perspectiva analítica existencial utilizada,
considera-se que esta dissertação possa contribuir com o estudo do
empreendedorismo e do ser que empreende, sintetizando os conceitos a seguir:
Empreendedor: indivíduo executor de uma ação capaz de produzir uma ruptura
com aquilo que lhe proporciona segurança e estabilidade (a acomodação, a
alienação, a paixão etc.). Produz-se assim um efeito catártico que gera nesse
indivíduo uma libertação daquilo que lhe é estranho à sua essência e que, por esta
razão, limita sua capacidade empreendedora. Trata-se, portanto, de uma pessoa
que transforma sua potencialidade em realidade, caracterizando-se por ser temporal
e impermanente, abarcando as mais variadas esferas da vida social, tais como:
negócios, política, esportes entre outras.
Empreendedorismo: conjunto de atividades que visam proporcionar ao
empreendedor, no decurso de sua ação, plena liberdade. Tal liberdade se manifesta
devido à ocorrência de uma ruptura com aquilo que lhe proporciona segurança e
estabilidade. O estado de dependência em relação a fatores externos (existente na
segurança e estabilidade) é substituído pela possibilidade de ser sujeito da ação.
Sua base é transdisciplinar e teleológica, sustentando-se na busca pela realização
plena do ser.
117
Como verificado, haverá empreendedor e empreendedorismo onde houver ser
humano. A face econômica-administrativa do campo é uma entre muitas, que ganha
relevância devido ao crescente interesse por parte dos governos e sociedade.
O reducionismo existente, ao se considerar o empreendedorismo e o empreendedor
apenas como “objetos” da economia, psicologia ou administração faz com que não
haja uma compreensão holística do fenômeno.
É necessário, antes de tudo, considerar que a temática é própria do homem. Assim,
em outros ramos de atividades humanas ela acontece, como na política, nos
esportes, na vida cotidiana, na Academia (por exemplo, ao escrever sobre a teoria
da dissociação eletrolítica, Arrhenius foi empreendedor) etc.
Finalmente, cumpre esclarecer que a atitude interpretativa adotada nesta
dissertação é inicial, provisória e que o assunto não se esgota nele mesmo. É
preciso conduzir estudos mais aprofundados, tanto ônticos como ontológicos.
118
CONCLUSÃO
119
O objetivo geral deste trabalho consistiu em analisar o empreendedorismo a partir de
sua dimensão ontológica, visando esclarecer sua essência e considerando sua base
filosófica. Neste sentido, mediante o emprego do método fenomenológico-
hermenêutico o resultado foi alcançado. A liberdade desvelou-se como sendo essa
essência.
Por sua vez, os objetivos específicos também foram atingidos, na medida em que se
evidenciou que os aspectos paradigmáticos do empreendedorismo trazem
implicações no âmbito ontológico, além de se demonstrar que o empreendedorismo
implica um conhecimento científico e filosófico, de forma indissociável.
A pesquisa com os empresários incubados, a seu turno, foi de grande valia para
demonstrar que a essência do empreendedorismo relaciona-se, primeiramente, com
o próprio ato de existir do homem.
Porém, a investigação com os empresários foi insuficiente para caracterizar
plenamente a essência do empreendedorismo, sendo fundamental para isso a
analítica existencial realizada.
Não obstante, observa-se que a liberdade, quando não efetivada, acarreta
alienação, ou seja, a ausência de liberdade na qual o ser-no-mundo é incapaz de
dar sentido a sua própria existência. E a angústia é o meio que o homem utiliza para
tomar consciência de sua liberdade. Sabe que está sozinho, pois precisa escolher o
que vai fazer ao longo de sua vida.
120
Na medida em que o sujeito evolua do ser-em-si em direção ao ser-para-si, haverá o
desenvolvimento da capacidade empreendedora, pois o grau de sua liberdade
estará sendo incrementado.
Esse sujeito, lançado ao mundo, primeiro existe com o tempo, tornando-se aquilo
que desejar. Nesse momento adquire sua essência. Ao longo de sua vida, é
constantemente submetido a fazer escolhas, sendo tais escolhas tomadas a partir
de sua perspectiva e filosofia de vida, sem condicionantes externos.
A essência do empreendedorismo é a liberdade porque é ela que impulsiona o ser,
independente do motivo que foi deflagrador do desejo de empreender (por exemplo:
adquirir riquezas, ter uma ocupação, competir, necessidade etc.). O ser somente
será livre se estiver constantemente empreendendo.
Sendo a liberdade uma potencialidade, o ser pode decidir a existência que quer para
si, sendo essa existência determinada em um tempo e espaço, condicionada pelo
convívio em sociedade, com suas leis e ditames.
Ademais, com a constatação que o empreendedorismo comporta uma filosofia,
baseada na ontologia, na axiologia e na epistemologia, foi possível verificar que
apenas investigações científicas sobre o tema são insuficientes para uma
compreensão abrangente do fenômeno. Mister se faz também investigações
filosóficas.
121
Tais investigações diferem das científicas por procurarem atingir os primeiros
princípios, a gênese. Perguntas como “qual a essência disto?”, “o que é isto que é?”,
“para quem é isto que é?” etc. são efetuadas neste tipo de estudo.
O empreendedorismo, dentro de uma perspectiva filosófica, é universal. Onde haja
homem e sociedade haverá empreendedorismo. O pesquisador ôntico parte de
certezas, de pressupostos que o fazem problematizar. O investigador ontológico
problematiza o ponto de partida.
Por isso, a consideração do empreendedorismo ser transdisciplinar está adequada à
realidade. Do mesmo modo que o entendimento que as respostas à suas
indagações não estar nele mesmo, mas sim no metaempreendedorismo, que tem
suas bases assentadas na teleologia e na metafísica.
Na ciência, por sua vez, Filion (1997b) observou essa questão e afirma que é
preciso separar a pesquisa pura da aplicada, com o intuito de se criar uma teoria do
empreendedor. A ciência que daria suporte a essa teoria seria a empreendedologia.
Como observado, os estudos na área encontram-se em fase de amadurecimento.
Este trabalho contribui com o assunto na medida em que o questiona a partir de um
novo ponto de partida. A essência do empreendedorismo é a liberdade, que não
está contida nela mesma, mas sim em âmbito do ser que empreende.
122
Em termos temporais, este trabalho foi efetuado analisando o empreendedorismo a
partir do século XIX, sendo que o entendimento da atividade sofreu poucas
alterações desde seu advento.
Como colocado na introdução, não se pretendia aqui esgotar o assunto, mas sim
deflagrar novos estudos transdisciplinares. Muitas das observações efetuadas
necessitam de aprofundamento, sendo necessário ainda conduzir investigações
sobre as dimensões não contempladas, quais sejam: a axiologia e a epistemologia.
O homem é um ser-para-empreender. O que determinará a ação empreendedora
não são fatores externos, mas sim sua condição de potencialidade.
Finalizando, contribui-se para o avanço científico-filosófico sobre a temática, ao
descortinar novos horizontes investigativos e recolocando a primazia do ser no trato
com o assunto.
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146
APÊNDICES
147
APÊNDICE I – Edmund Husserl
Nascido em Prossnitz, Morávia, então Império austro-húngaro, hoje Prostejov, atual
República Checa, em 08 de abril de 1859 e falecido em Freiburg, Alemanha, em 26
de abril de 1938, Husserl foi um matemático, que em suas primeiras elucubrações
tratou da questão da fundamentação da matemática, objetivando uma construção
consistente dessa ciência.
Estimulado por sua família judia, estudou também física, astronomia e filosofia nas
universidades de Leipzig, Berlim e Viena. Husserl foi discípulo dos matemáticos
Kronecker e Weirstrass, chegando inclusive a ser ajudante deste último em 1883.
Nesse ano em Viena conheceu Franz Brentano (1838-1917), do qual adotou o
conceito de intencionalidade e que influiria decisivamente em sua formação
filosófica. Brentano influenciou além de Husserl, Sigmund Freud, Carl Stumpf entre
outros.
Em 1882 Husserl defendeu sua tese de doutoramento, intitulada “Contribuição para
a Teoria do Cálculo de Variáveis“. Em 1886 Brentano envia Husserl a Carl Stumpf, o
mais velho de seus estudantes e que era professor de filosofia e psicologia na
universidade de Halle. Nesta universidade Husserl passou no concurso para
professor conferencista em 1887. Nesse ano também se casou com Malvine
Steinschneider, mulher determinada e enérgica, que exerceu grande influência em
sua vida e em seus trabalhos.
148
O tema da tese de habilitação em Halle foi "Sobre o conceito de número: análise
psicológica", o que demonstra sua transição da pesquisa matemática para uma
reflexão sobre as bases psicológicas dos conceitos básicos da matemática.
A tese foi um ensaio desenvolvido depois em seu primeiro livro, “Filosofia da
aritmética”, publicado em 1891, que foi uma tentativa de derivar aritmética e lógica
da psicologia. Dizia que as leis matemáticas têm validade independente da forma
com que o pensamento chegue a formulá-las.
Sua obra estritamente filosófica começou nos anos de 1900 e 1901, com a
publicação de suas “Investigações lógicas”, em que refutou a si próprio. Neste
trabalho Husserl causou grande polêmica, ao atacar o psicologismo na lógica e ao
propor uma reorientação do pensamento puro.
A intenção do agora filósofo fenomenólogo era estabelecer uma base
epistemológica para a filosofia, que a converteria em uma ciência do rigor.
Para isso, criou o chamado “método fenomenológico”. A consciência é a condição
sine qua non de qualquer conhecimento e é “intencional” (“toda consciência é
consciência de algo”). Para Husserl, o trabalho do filósofo é a superação das
atitudes naturalistas e psicologistas, por meio da apreensão das essências das
coisas, que podem ser reconhecidas por meio de regras sistemáticas que definem a
variação dos objetos na imaginação.
149
Depois da publicação de “Investigações lógicas”, Husserl foi convidado a ministrar
aulas em Gottingen, onde permanece de 1901 a 1916, local em que redigiu “A
filosofia como ciência do rigor”, em 1910-1911 e “Idéias relativas a uma
fenomenologia pura e a uma filosofia fenomenológica”, em 1913, cujo livro aplica a
fenomenologia no estudo do conhecimento em geral, considerado por vários autores
e estudiosos fenomenólogos uma obra clássica de sua fenomenologia, uma espécie
de vade mecum.
Em 1916 Husserl foi convidado a se tornar professor catedrático em Freiburg. Isto
representou um novo começo para ele, que escreveu as obras “Fenomenologia da
consciência do tempo interno” (1928); “Lógica formal e transcendental” (1929);
“Meditações cartesianas” (1931); “A crise das ciências européias” (1936).
Com a chegada dos nazistas ao poder, em 1933, Husserl, por ter origem judaica (em
sua juventude adotou o luteranismo, mas os nazistas o consideravam impuro), foi
impedido de ensinar. Mas o reconhecimento por sua obra vem de muitos locais do
mundo. Sua filosofia cria a chamada “escola fenomenológica”, que tem entre seus
primeiros expoentes Max Scheler e Martin Heidegger.
O movimento criado por Husserl cresceu e expandiu-se por todo o mundo. A
amplitude de suas elucubrações é tão vasta que engloba quase todas as ciências e
campos do saber. A fenomenologia, depois de mais de um século de criação, está
forte e ganhando novos adeptos a cada dia.
150
Publicam-se livros, anais, revistas e jornais. Realizam-se congressos, simpósios,
seminários, encontros, jornadas e debates sobre o assunto. São criadas
associações e sociedades científicas para se debater o tema.
Isto ocorre devido ao fato do criador da fenomenologia, Edmund Husserl, ter
desenvolvido um método que consegue, de uma forma mais apurada que os
demais, captar as essências mais sutis do caminho que conduz à verdade, através
de um pensamento metafilosófico rigoroso.
Contribui também para o sucesso da fenomenologia a personalidade de Husserl,
que era um homem extremamente meticuloso, organizado e sistêmico.
Ao morrer, em 1938, deixou 45.000 páginas de manuscritos estenografados, além
de sua biblioteca particular, que atualmente encontram-se na Universidade Católica
de Louvain, na Bélgica.
Deste modo, ainda hoje se publicam livros de Husserl inéditos. Esta obra, já tem
mais de 30 volumes, além de outros 10 volumes de cartas e correspondências,
sendo conhecida como “Arquivos Husserl” ou “Husserliana”.
Outro fator de sucesso da fenomenologia consiste em sua intrínseca dificuldade.
Compreender sua amplitude, manipular os conceitos filosóficos e transpô-los para o
campo de estudo de interesse requer muita disciplina e adestramento mental.
151
Isso, de alguma forma, estimula e encoraja muitos filósofos, sociólogos, psicólogos,
administradores etc. a procurar uma nova via metodológica, capaz captar os
sentidos menos aparentes da experiência vivida. Nesse sentido, Bochenski (1951, p.
149) pondera sobre a possibilidade da fenomenologia se transformar na base da
filosofia do porvir.
Como dito anteriormente, em 26 de abril de 1938 Husserl morreu e suas cinzas
foram enterradas no cemitério em Gunterstal, perto de Freiburg. Seu criador, que
sempre retomava os estudos, refazendo e recriando os conceitos anteriormente
escritos, se achava um principiante em filosofia, que havia dado apenas os primeiros
passos.
152
APÊNDICE II Caracterização de incubadoras de empresas
O que é uma incubadora de empresas? Para responder a essa questão, é
necessário explicar o conceito de incubar. Etimologicamente, o termo vem do latim
incubo e significa “estar deitado em ou sobre, estar estendido em ou sobre”. Sua
origem em português é 1540. O termo tem relação também com o verbo latino
incubare, do século XIV, e que significa “estar deitado sobre”. Já a incubadora
surge em 1873, originado de incubador + -a (HOUAISS, 2001, p. 1600 ).
Apenas a descrição etimológica não é suficiente para esclarecer a questão, mas
fornece subsídios importantes.
Modernamente, o sentido de incubar relaciona-se com o ato de se manter um ente
criado em incubadora por tempo determinado e mediante certas condições
adequadas e controladas, visando seu desenvolvimento e surgimento. Ou seja, dar
assistência à criação e manutenção da vida.
Essa observação é pertinente devido à “casualidade histórica” que acompanhou o
surgimento e efetivação do sentido do termo incubadora de empresas. Em fins dos
anos 1950 a Massey-Ferguson, a maior indústria de Batavia, Nova Iorque, fechou as
portas e deixou vazio um galpão de aproximadamente 80.000 metros quadrados e
gerou um desemprego elevado na região, da ordem de 20 por cento. A família
Mancuso, influente e dotada de recursos, compra o complexo e encarrega Joseph
Mancuso, então um gerente de loja de ferragens, da tarefa de criar opções para
fazer dinheiro com esse investimento (NBIA, 2006).
153
A primeira tentativa foi a de encontrar uma única companhia para alugar a planta.
Mas não obteve sucesso. Então, decidiu-se por dividir o edifício e alugar para várias
empresas, fornecendo e compartilhando serviços de escritório, auxiliando com
levantamento de capital e fornecendo conselhos de negócio. Depois de certo tempo,
Mancuso já tinha recrutado seus primeiros moradores, incluindo um produtor de
vinhos, uma organização de caridade e um aviário. E foi por causa do aviário que as
pessoas começaram a chamar o prédio de incubadora de empresas (NBIA, 2006).
Assim, de forma espontânea e casual, surge e se consolida o termo. Ressaltando
que ao invés de se incubar uma bactéria, um ovo ou uma planta, a incubadora de
empresas está lidando com pessoas jurídicas.
Destaca-se que essas pessoas jurídicas são constituídas por empreendedores, que
coabitam em um espaço em que há a indução da prática empreendedora,
especialmente planejado para tal.
As incubadoras podem ser de diversas modalidades, a depender do tipo de empresa
que se pretenda oferecer apoio e suporte.
O quadro a seguir traz os principais tipos de incubadoras, conforme a finalidade
estatutária e comercial da empresa incubada.
154
Tecnológica
Abriga empresas, cujos produtos, processos e serviços resultam de
pesquisa científica.
Tradicional
Abriga empreendimentos ligados aos setores da economia que detêm
tecnologias difundidas e que querem agregar valor aos seus produtos,
processos e serviços.
Mista
Abriga empresas de base tecnológica e tradicionais.
Setorial
Abriga empreendimentos de apenas um setor da economia.
Cultural
Abriga empreendimentos da área de cultura.
Agroindustrial
Abriga empreendimentos de produtos e serviços agropecuários.
Cooperativa
Apóia cooperativa em processo de formação e/ou consolidação instaladas
dentro ou fora do município.
Social
Abriga empreendimentos oriundos de projetos sociais.
Rural
Apóia empreendimentos localizados em áreas rurais por meio de
prestação de serviços, formação e capacitação, financiamento e
divulgação.
Virtual
Oferece aos empreendedores todos os serviços de assessoria e apoio,
mas normalmente não oferece espaço físico e infra-estrutura
compartilhada.
Quadro 8: Tipos de incubadora
Fonte: adaptado de Nassif e Carmo (2005)
Este intróito foi importante para ressaltar que a questão é recente; plena de
possibilidades. Como fenômeno recente, as incubadoras estão em fase de
definições conceituais, a exemplo do que ocorre com aspectos teóricos do
empreendedorismo.
155
O quadro a seguir apresenta algumas definições.
Morais
(2001)
Mecanismo de estímulo e apoio à criação e ao desenvolvimento de
empreendimentos inovadores sustentáveis.
Spolidoro
(1999)
Ambiente que favorece a criação e o desenvolvimento de empresas e
produtos inovadores.
Lalkaka e Bishop
(1996)
Ambiente de trabalho controlado adequado para auxiliar o crescimento
de novas empresas emergentes.
Medeiros
(1992)
Um núcleo que abriga, usualmente, micro-empresas de base
tecnológicas.
Nadas et al.
(1991)
Uma estrutura compartilhada por empresas com suporte administrativo
centralizado.
Quadro 9: Conceito de incubadora
Fonte: adaptado de Nassif e Carmo (2005)
Porém, tais definições necessitam de aprofundamento. Nesse sentido, Smilor
(1987, p. 146) a definiu como:
... uma instalação planejada para apoiar o desenvolvimento de
novas empresas. Ela provê uma variedade de serviços e apoio
ao start-up das empresas com uma clara preferência por
aquelas de alta tecnologia e industrias manufatureiras leves. A
incubadora procura unir efetivamente talento, tecnologia,
capital e conhecimento, para alavancar o talento
empreendedor, acelerar a comercialização de tecnologia e
encorajar o desenvolvimento de novas empresas.
Já Dornelas (2002, p. 21) acredita que uma incubadora de empresas é:
... um mecanismo – mantido por entidades governamentais,
universidades, grupos comunitários etc. – de aceleração do
desenvolvimento de empreendimentos (incubados ou
associados), mediante um regime de negócios, serviços e
suporte técnico compartilhado, além de orientação prática e
profissional.
156
Por sua vez, Aranha (2000, p. 278) diz que
Uma incubadora de empresas é um ambiente para o
desenvolvimento de novos empreendimentos, cujos resultados
esperados deverão garantir, em prazo e tempo determinados,
autonomia e auto-sustentação da empresa... pode ser
considerada também um laboratório de inovação, um local de
estudos para pesquisadores e para estágios orientados.
Estabelecidas essas três definições orientadoras do que seja incubadora de
empresas, cumpre prosseguir no círculo de compreensão. Como dito anteriormente,
esta investigação desenvolve-se com empresários localizados na Incubadora
Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de
Londrina. Para esclarecer melhor a questão, deve-se discorrer sobre o conceito de
empresa de base tecnológica. Porém, para esclarecer o que seja empresa de
base tecnológica é fundamental compreender o sentido de tecnologia. Conforme
apresentado na introdução deste trabalho, os estudos sobre a tecnologia estão
avançando significativamente, a partir de reflexões filosóficas. Assim, pergunta-se: o
que é tecnologia?
Esta questão encerra em si muitas respostas. Poder-se-ia discorrer longamente
sobre possíveis respostas, porém o foco aqui são as empresas de base tecnológica.
Por isso, deve-se ir direto ao ponto que interessa. O grego é o idioma que utilizou a
palavra pela primeira vez: tekhnología, 'tratado ou dissertação sobre uma arte,
exposição das regras de uma arte', formado a partir do radical. tekhno- (de tékhné
'arte, artesania, indústria, ciência') e do radical -logía (de lógos,ou 'linguagem,
proposição'). Em português, aparece em 1783, significando uma teoria geral e/ou
estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um
ou mais ofícios ou domínios da atividade humana (HOUAISS, 2001, p. 2683 ).
157
A resposta está aqui. A tecnologia então pode ser entendida, para fins
exclusivamente da pergunta efetuada anteriormente e deste trabalho, como uma
aplicação de conhecimentos teóricos em situações práticas, mediante uso de ciência
e inovação.
Esclarecido o conceito de tecnologia, cumpre agora discorrer sobre empresa de
base tecnológica. Trata-se de uma organização que desenvolve sua atividade
através de pesquisas aplicadas, nas quais a tecnologia e a ciência têm papel
preponderante, resultando em produtos, processos e/ou serviços inovadores.
Exemplos de empresas de base tecnológica são as de biotecnologia, polímeros,
cerâmica, informática, microeletrônica, mecânica de precisão etc.
Diversos pesquisadores têm estudado o fenômeno das incubadoras (FURTADO,
1998; LEMOS, 1998; SALOMÃO, 1998; BAÊTA, 1999; DIAS e CARVALHO, 2002;
DORNELAS, 2002; STAINSACK, 2003). A produção científica tem se consolidado e
propiciado o surgimento de novas investigações na área, de modo interdisciplinar.
Todavia, faz-se necessário verificar, em termo mundiais, as experiências
relacionadas ao tema.
Em todo o mundo são encontradas incubadoras de empresas de base tecnológica e
parques tecnológicos. Nos Estados Unidos elas resultam de diversas ações,
principalmente a de se criar um novo ambiente de localização industrial, que permita
a transferência de tecnologia da universidade para a indústria, inaugurando, assim,
uma relação universidade-empresa incomum. As incubadoras americanas originam-
158
se de iniciativas de empreendedores privados ou de grupos de investidores
interessados em transferir a novos empreendedores sua experiência e
conhecimentos (FURTADO, 1998; LEMOS, 1998).
O fato que impulsionou a criação de incubadoras foi o sucesso da região hoje
conhecida como Vale do Silício, na Califórnia, a partir da iniciativa da Universidade
de Stanford, que na década de 1950 criara um Parque Industrial e, posteriormente,
um Parque Tecnológico. O objetivo era promover a transferência da tecnologia
desenvolvida na universidade às empresas e a criação de novas empresas de
tecnologia, especialmente do setor eletrônico. O êxito obtido com essa experiência
estimulou a reprodução de iniciativas semelhantes em outras localidades, dentro e
fora dos Estados Unidos (STAINSACK, 2003).
Por sua vez, na Europa, o movimento de incubadoras iniciou-se na década de 1970,
quando surgiram os primeiros parques tecnológicos europeus, em Edimburgo e
Cambridge, no Reino Unido, e Sophia Antipolis e Grenoble-Meylan, na França.
Esses parques pioneiros voltavam-se para o desenvolvimento regional e
contribuíram para a inovação tecnológica, com o apoio ao surgimento de empresas
que tinham a tecnologia como insumo principal. Na Europa, observa-se que a
população apresenta expectativas diferenciada; a depender do local de instalação
das incubadoras (FURTADO, 1998; LEMOS, 1998).
Há basicamente duas grandes expectativas: a preocupação de fortalecer a presença
das universidades na região e a possibilidade de geração de empregos com a
implantação de novas empresas.
159
Já a China encontra-se em fase de modernização tecnológica. Assim, as
incubadoras estão sendo elemento-chave nesse processo. As incubadoras do país
fornecem parte do capital de risco demandado pelas empresas, caso outras fontes
de financiamento não sejam encontradas. Assim, como acionista, a incubadora está
envolvida no processo decisório da empresa. Neste país, a incubadora é uma
organização não governamental sem fins lucrativos, cuja função é dar apoio e
assistência aos tecnólogos e cientistas que pesquisem e que possuam patentes,
com o intuito de se criar novas empresas independentes, fornecendo-lhes
instalações e meios imediatos (STAINSACK, 2003).
O Japão também possui experiências na área, com presença de prefeituras
fornecendo capital. Grandes grupos empresariais, como Sanyo, Hitachi etc. fazem-
se presentes com seus centros de pesquisas (FURTADO, 1998).
O Brasil, por seu turno, apresenta as primeiras incubadoras sendo criadas na
década de 1980. Desde então tem havido um aumento significativo, com a maior
parte dos empreendimentos localizados no sudeste e sul do país, devido ao perfil
econômico da região. A criação de vários programas de apoio às incubadoras no
Brasil, por parte de agencias como a Financiadora de Estudos e Projetos e o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, demonstra sua
importância (BAÊTA, 1999; DIAS e CARVALHO, 2002).
Em Londrina, existe a Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica
da Universidade Estadual de Londrina (INTUEL), entidade criada em 2003 por um
consórcio interinstitucional.
160
APÊNDICE III – A cidade de Londrina
Londrina é uma cidade recente, criada em 1934. A colonização da região começou,
porém, nos primeiros anos da década de 1900, com migrantes dos estados de São
Paulo e Minas Gerais. Essa primeira experiência colonizadora caracterizou-se por
ser constituída de grandes propriedades nas mãos de poucos fazendeiros. Enquanto
isso, o governo do estado do Paraná seguia com sua política de colonização, não
obtendo sucesso. No início da década de 1920, face ao insucesso relativo de suas
ações, o governo começa a transferir para agricultores privados a tarefa de colonizar
o norte do estado. Assim, nos idos de 1924, a “Companhia de Terras Norte do
Paraná”, subsidiária da empresa inglesa “Paraná Plantations Ltd.” inicia suas
operações. Neste mesmo ano chega a chamada “Missão Montagu”, que adquire
duas glebas de terra para instalar fazendas e máquinas de beneficiamento de
algodão, com o apoio de "Brazil Plantations Syndicate", de Londres (PERFIL, 2004).
Porém, devido a condições desfavoráveis do mercado de algodão e dificuldade de
acesso a sementes a experiência não obtém sucesso. Nessa época, em Londres, a
“Paraná Plantations” decide transformar suas propriedades em um projeto
imobiliário, para ressarcimento dos prejuízos. Iniciou-se então a venda de lotes, na
forma de terrenos pequenos, com o fornecimento dos respectivos títulos de
propriedade da terra, o que fez com que, os conflitos entre colonos antigos e os
recém-chegados fossem praticamente inexistentes, diferentemente do que ocorria
nas áreas dominadas pelos primeiros fazendeiros da região. A forma de pagamento
era facilitada, o que atraiu grande contingente populacional. Além disso, tal projeto
foi pioneiro no sentido de fazer propaganda massiva, transporte gratuito para os
161
colonos, posse das terras em quatro anos, assistência técnica e financeira,
levantamentos topográficos da área e mapeamento do solo em algumas zonas.
Essa política agrária favoreceu a concentração da produção de café e provocou a
expansão de núcleos urbanos e o aparecimento de classes médias rurais (PERFIL,
2004).
Londrina surge em 1929 como primeiro posto avançado deste projeto de
colonização, com seu nome sendo uma homenagem a Londres. Cinco anos depois,
em 1934, ocorre a criação do município, por meio de decreto estadual (PERFIL,
2004).
Desde então, a cidade tem se desenvolvido de forma dinâmica. Até 1975 a
economia da região vinculava-se ao café, sendo dessa época o denominado
“Estádio do Café”. Porém nesse ano ocorre uma forte geada (chegando a nevar em
Curitiba) que dizimou vastas áreas, fazendo com que a importância do referido
produto fosse minorada.
No período de 1976 ao início da década de 1990 Londrina atravessa uma época de
grandes investimentos na construção civil, fazendo com que houvesse uma
verticalização no ambiente urbano. A partir de 1990 o munícipio diversifica sua
economia, que atualmente é baseada no setor de serviços, mas ainda fortemente
relacionada ao setor agrícola.
Em 1998 é criada a Região Metropolitana de Londrina, que engloba os municípios
de Londrina, Tamarana, Cambé, Sertanópolis, Jataizinho, Rolândia, Bela Vista do
162
Paraíso e Ibiporã, com uma população aproximada de 750 mil habitantes, sendo
que apenas a cidade de Londrina possui cerca de 450 mil habitantes.
Nesse mesmo ano surge o “Programa Londrina Tecnópolis”. Tal projeto é composto
de um conjunto de ações estratégicas visando consolidar a região de Londrina,
como um dos três principais pólos de inovação tecnológica do país até 2010. Para
tal, utiliza-se da infra-estrutura que existe na região compreendida entre Apucarana-
Londrina-Cornélio Procópio, tais como institutos de pesquisa, empresas inovadoras
e universidades.
Um dos parceiros do Programa Londrina Tecnópolis é a Associação do
Desenvolvimento Tecnológico de Londrina (ADETEC), criada em 1993 com a
finalidade de ser um agente de integração para o desenvolvimento tecnológico da
região de Londrina, nas áreas de educação, cultura, ecologia e biodiversidade,
pesquisa científica e tecnológica, desenvolvimento institucional e ensino,
treinamento e aperfeiçoamento.
Como observado, a cidade como um todo tem se mobilizado para criar condições de
transformar Londrina em um pólo de ciência, tecnologia e inovação. Nesse sentido,
a criação da INTUEL foi um passo significativo.
163
APÊNDICE IV – A Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica
da Universidade Estadual de Londrina (INTUEL)
A Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade
Estadual de Londrina é uma organização gerenciada pelo Consórcio
GeNorP/INTUEL (Genesis do Norte do Paraná) e tem por objetivo a geração de
novas empresas nas áreas de tecnologia da informação e comunicação - TIC,
biotecnologia entre outras áreas, criado em 2003. Sua constituição é de uma pessoa
jurídica de direito privado, sem fins lucrativos e deliberada por um Conselho. Trata-
se de um ambiente de inovação, propício à criação e desenvolvimento de atividades
voltadas a transformações de idéias em produtos ou processos inovadores, com
potencial mercadológico, que traga benefícios à sociedade como um todo.
Essa incubadora visa consolidar um modelo institucional de inovação e
empreendedorismo, unindo os diversos agentes (instituições do setor publico,
empresas privadas, governo, agencias de fomento, pesquisadores), cujas atividades
se complementam e geram novas tecnologias, sendo a inovação e o
empreendedorismo seus aspectos cruciais.
Segundo a publicação informativa da organização (INTUEL, 2005, p. 05), seus
objetivos são:
I. Fomentar a criação de novos empreendimentos tecnológicos a partir
de alunos e profissionais recém formados, atuando como uma pré-
incubadora, através do Centro SoftEx Genesis GeNorP da UEL;
164
II. Contribuir para o crescimento das empresas nascentes de base
tecnológica, através de fornecimento de ambiente favorável para a
capacitação tecnológica e ambiental, através da INTUEL- Incubadora
Internacional de Empresas de base tecnológica da UEL;
III. Incentivar e apoiar as atividades de inovação e desenvolvimento
científico e tecnológico, de gestão e transferência de tecnologia, de
promoção do capital humano, através da cultura e treinamento, de
natureza técnica e mercadológica;
IV. Desenvolver atividades de consultoria, assessoria e atividades
administrativas a empresas privadas e instituições públicas e privadas,
Institutos de Pesquisa e outros;
V. Promover a integração da Universidade com as empresas do setor
privado, com os órgãos do setor público e com as organizações da
sociedade civil.
A empresa interessada em participar da incubadora passa por três fases: pré-
incubação, incubação e pós-incubação.
A pré-incubação é a fase de desenvolvimento da idéia até o produto final. Neste
período, a equipe de empreendedores passa por um processo formação de
habilidades empresariais e técnicas, sendo ainda o momento em que as parcerias
para o desenvolvimento dos produtos começam a se constituir. Neste período, a
165
empresa ainda não está formalmente constituída, ou seja, ainda não possui CNPJ, é
uma "pré"-empresa residente (INTUEL, 2005, p.06).
Após a fase pré-incubação, a empresa vai para a fase de incubação. Nessa fase a
empresa se constitui legalmente e assume os encargos de uma empresa normal. No
entanto, a empresa incubada tem apoio técnico e empresarial da INTUEL.
A empresa incubada participa de cursos de capacitação, palestras e eventos
empresariais, feiras e rodadas de negócios nacionais e internacionais e recebe
incentivo comercial, assessoria na divulgação e outros tipos de apoio oferecidos pela
incubadora. Ao final do processo de incubação, a empresa gradua-se, se desliga
fisicamente e se torna uma empresa associada à INTUEL, participando das
atividades da incubadora por meio do programa de pós-incubação (INTUEL, 2005,
p.08).
A pós-incubação da INTUEL corresponde ao estágio em que a empresa se instala
fora do ambiente físico da incubadora e mantém parceria como empresa associada
recebendo assessorias e participando de eventos e cursos de captação e suprindo
as necessidades de aprimoramento em gestão de negócios (INTUEL, 2005, p.10).
Além disso, a INTUEL possui o Programa de Empreendedorismo, que
corresponde ao fomento da cultura empreendedora na cidade de Londrina e região,
em especial na Universidade Estadual de Londrina, por meio de atividades como
palestras de sensibilização nas instituições de ensino superior e técnicas da cidade,
palestras com depoimento de empreendedores de sucesso, Feira da Idéia e
166
maratonas de empreendedores, servindo ainda de base para os programas de
incubação e pré-incubação (INTUEL, 2005, p.11).
Há também o Escritório de Proteção do Conhecimento da UEL, que atua desde
1997 desenvolvendo atividades relacionadas à propriedade intelectual, inicialmente
no âmbito do Projeto Gênesis/GeNorP e da INTUEL. Em 2003, com a aprovação do
Edital CNPq/FINEP, o Escritório de Proteção do Conhecimento da UEL amplia seus
trabalhos, atendendo toda a comunidade da UEL. Seus objetivos são (INTUEL,
2005, p.13):
a) Sensibilizar acerca da importância e necessidade da proteção
intelectual;
b) Prestar orientação quanto às formas e procedimentos de proteção
das obras intelectuais;
c) Fornecer informações tecnológicas e incentivar o desenvolvimento
de novas tecnologias;
d) Estimular e promover a aplicação da capacidade existente na UEL
para interação com a sociedade.
As atividades desenvolvidas no escritório são (INTUEL, 2005, p.13):
167
a) Palestras e cursos sobre a importância da propriedade intelectual e
seus conceitos;
b) Orientação na elaboração de documentos de patente, solicitação de
registro de marcas, desenho industrial, indicações geográficas e
programas de computador;
c) Orientação nos pedidos de registro de obras artísticas, científicas e
literárias e;
d) Acompanhamento do trâmite dos pedidos de proteção intelectual.
Já a Unidade de Negócios tem como objetivo fortalecer as atividades econômico-
comerciais das empresas da INTUEL, disponibilizando sua equipe para orientar os
empreendedores na caracterização dos projetos e na maximização das
competências. A Unidade de Negócios provém às comunidades interna e externa da
Incubadora, os seguintes serviços (INTUEL, 2005, p.14):
a) Orientação para elaboração de Planos de Negócios e Resumos
Executivos.
b) Coordenação dos processos seletivos (bancas de seleção) para
inclusão na INTUEL.
168
c) Atendimento personalizado a empreendedores que pleiteiam
participar da INTUEL.
d) Direcionamento econômico-comercial das Empresas Incubadas e
Pré-Incubadas para os projetos em desenvolvimento.
e) Auxílio na busca de novos parceiros tecnológicos, comerciais e
financeiros.
f) Atualização das empresas quanto às tendências econômicas dos
mercados nacional e internacional.
g) Indicações e acompanhamento para as empresas da INTUEL, de
Eventos, Feiras Comerciais e Rodadas de Negócios, fornecendo
treinamento de postura e negociação.
h) Intermediação de negociações entre a INTUEL, Empresas
Incubadas e Pré-Incubadas e Potenciais Parceiros, Clientes e
Fornecedores.
i) Revisão e auxilio na elaboração de materiais de Marketing,
Publicidade, Propaganda e Web.
Finalmente, há o Programa de Empresas Juniores da INTUEL, que visa oferecer a
seus membros condições de aplicação prática dos conhecimentos teóricos relativos
169
à área de formação profissional específica, adquiridos na faculdade, contribuindo
para a formação dos estudantes, estimulando os conceitos do empreendedorismo,
inovação e responsabilidade social. Além disso, o programa tem espaço para os
universitários exercitarem seus conhecimentos sem a pressão usual do mercado de
trabalho, dando a oportunidade aos estudantes de melhorar a qualidade do seu
ensino e ao mesmo tempo contribuir com a sociedade. Algumas ações
desenvolvidas em conjunto com as empresas juniores são (INTUEL, 2005, p.12):
a) Orientação no desenvolvimento dos planos de negócios dos futuros
projetos e empresas incubadas;
b) Seleção, estudo de viabilidade econômico-financeiro, controle
financeiro, consultoria em análise financeira;
c) Desenvolvimento do sistema de gerenciamento de projetos e;
d) Plano estratégico de marketing.
Para participar da incubadora, o empreendedor deve possuir um negócio que seja
inovador, ter um protótipo e contatar a INTUEL para agendar uma reunião com o
Escritório de Negócios, além de elaborar um resumo executivo. Após análise e
aprovação do resumo executivo e protótipo pela INTUEL e se o projeto corresponder
aos critérios de seleção, o empreendedor será encaminhado para receber
assessoria especializada para elaboração de um plano de negócios. Depois, será
marcada uma apresentação do plano de negócios para a banca de seleção, onde o
170
empreendedor e o protótipo serão avaliados. A análise verificará a viabilidade
mercadológica, financeira, técnica e a adequação da proposta às especificações
traçadas no Plano de Negócios. Se aprovado, o empreendedor e sua equipe iniciam
o processo administrativo de ingresso no Programa de Incubação. Caso o
empreendedor não possua um protótipo do produto ou serviço pronto, poderá
participar do processo de desenvolvimento da idéia até o produto final-como
acontece na pré-Incubação da empresa (INTUEL, 2005, p.08-09).
Segundo a INTUEL (2005, p.08-09), o público-alvo da incubadora é composto de:
a) Empresas de base tecnológica nacionais e internacionais e
inovadoras em constituição;
b) Micro e pequenas empresas de base tecnológica nacionais e
internacionais já constituídas que queiram desenvolver um produto,
processos ou serviço inovador;
c) Empreendedores com protótipos (produtos e processos) inovadores;
d) Departamento e ou divisão de empresas nacionais e internacionais
que queiram consolidar parcerias no desenvolvimento de novos
produtos e processos de elevado cunho tecnológico;
e) Escritórios de negócios tecnológicos nacionais e internacionais;
171
f) Spin-off de empresas;
g) Projetos oriundos do GeNorP - Pré-Incubação de Empresas.
Por sua vez, as áreas de empreendimentos aceitos são (INTUEL, 2005, p.08-09):
- Tecnologia da Informação, Software e Hardware;
- Tecnologia de Precisão;
- Instrumentação Biomédica;
- Mecatrônica;
- Design;
- Micro-Eletrônica;
- Tecnologia de Novos Materiais;
- Tecnologia Fármaco Químico;
- Tecnologia de Alimentos;
- Biotecnologia.
172
Outras áreas de tecnologia poderão ser avaliadas e se houver possibilidade de
apoio, também poderão pleitear vaga no Programa de Incubação.
Para a seleção, são considerados a visão de mercado e a visão do empreendedor,
sendo que o interessado deverá fazer uma defesa pública em banca, constituída por
um conselho técnico, composto de representantes do Consórcio e convidados
especiais das diversas áreas tecnológicas (INTUEL, 2005, p.08-09).
173
APÊNDICE V – Comentários gerais do investigador
A seguir comentários gerais do investigador referentes ao processo de construção
da pesquisa, desde o momento da chegada na cidade de Londrina até a redação da
dissertação.
O objetivo é estabelecer um diálogo com o leitor.
A) Heidegger fala da questão temporal. Este é um trabalho
desenvolvido em 2006, dentro de uma realidade específica
(INTUEL-Londrina). Não é possível generalizar suas conclusões.
B) Husserl pode ser colocado no mesmo patamar intelectual de
outras três pessoas que modificaram o mundo com suas idéias:
Einstein, Marx e Freud. Contudo, dos quatro, o filósofo Husserl
foi o menos compreendido, talvez por possuir as idéias “mais
radicais”.
C) Para muitos o mestrado representa um fim. Para poucos
significa um começo, que vai transformar o mundo com idéias.
Onde termina o trabalho de um começa o trabalho de outro, e os
fragmentos de contribuições uma vez reunidos constroem a
ciência.
174
D) Ainda não foi desenvolvido um método de pesquisa com maior
rigor em analisar a experiência vivida que o método
fenomenológico. Apesar de ser instrumentalmente complexo,
sua utilidade está em ser simples e direto.
E) Londrina é um lugar pitoresco. Cidade interiorana, abriga seres
humanos criativos e engajados.
F) O empreendedorismo em breve terá sua “filosofia” e sua
“fenomenologia”.
G) O investigador reconhece suas limitações intelectuais. Ser
filósofo não significa querer filosofar.
H) O intercâmbio dialético com os professores Paulo e Elisa foi
fundamental para o desenvolvimento deste trabalho. Do
primeiro, as críticas construtivas advindas de um positivista
lógico, da segunda a visão antipositivista analítica.
I) Partindo do pressuposto que as idéias e palavras transformam o
mundo, pode-se dizer que este trabalho será útil para mentes
futuras que analisem o empreendedorismo a partir de uma
perspectiva filosófica.
175
J) O investigador não é o mesmo que começou este trabalho.
Houve um processo de aprendizagem, de mudanças, de
amadurecimento.
K) A história apresenta inúmeros exemplos de personagens que,
enfrentando condições restritivas obtiveram sucesso em seu
projeto empreendedor na busca pela liberdade, seja construindo
grandes corporações (Thomas Edison, Bill Gates, Silvio Santos),
seja no campo político (Juscelino Kubitschek, Vladimir Lênin,
Carlos Prestes), seja no campo científico (Albert Einstein,
Stephen Hawking, Santos Dumont) etc. Esses indivíduos tinham
em comum a ânsia em concretizar seus desejos, manifestos
através da vontade de realizá-los através de suas ações.
L) O empreendedorismo não é apenas um ramo da administração,
da economia ou da psicologia, mas sim algo próprio do ser
humano, que lhe permeia a existência. Além disso, convém
destacar que somente empreendedores de sucesso são
lembrados nessas discussões, sendo os fracassados
desconsiderados.
M) Houve um esforço no sentido de escrever o texto em uma
linguagem simples, devido as particularidades do vocabulário
filosófico, que é naturalmente complexo e polissêmico. As idéias
de determinados autores, correntes filosóficas, conceitos etc.
176
foram, na medida do possível, apresentadas para serem
acessíveis, por isso a utilização de quadros e tabelas, por
exemplo.
N) O investigador acredita que a pesquisa, na Academia, deve ser
transformadora da realidade circundante, seja através de ações
concretas ou reflexivas, além de norteadoras para estudos
vindouros.
O) As limitações deste trabalho vinculam-se ao ser-no-mundo
próprio do investigador.
P) O dogmatismo na Academia é um empecilho importante para o
avanço das idéias e da ciência. Não é porque o outro vê o
mundo de uma forma distinta que seu trabalho não tem validade.
Q) A docência no ensino superior iniciada pelo investigador no
decurso deste trabalho revelou-se um importante meio para
verificar na prática muito das teorias estudadas.
R) Heidegger, mais uma vez, estava certo ao afirmar que a
ontologia só é possível como fenomenologia.
177
S) Sartre foi um homem livre, que soube dar sentido a existência
não apenas dele próprio, mas de toda humanidade. Alguém
além de seu mundo.
T) No mestrado o pesquisador atem-se a revisar, sistematizar e
explanar. Há tolhimento da liberdade intelectual, falta de
ousadia. Mas é um importante degrau para o doutorado, serve
como estágio acadêmico e de vida. Para o investigador,
representou grande crescimento intelectual, pessoal e
acadêmico.
U) A existência de um cônjuge que compartilhe com o pesquisador
o amor ao saber faz deste um ser mais exigente consigo mesmo
e com seu trabalho. O simples ato de coabitar uma edificação
com alguém que compreende e contribui para seu labor é
inestimável, haja visto que é um oponente a altura para debates
de elevado nível, sobre questões tão díspares quanto a
imanência em Spinoza, a evolução de Darwin, a relatividade de
Einstein ou a lógica formal em Husserl.
V) Na alfabetização há o despertar para as palavras e símbolos, o
primeiro contato com o amor ao saber. No ensino fundamental o
desenvolvimento da noção de complexidade do mundo
circundante. No ensino médio inicia-se a fragmentação do saber
em áreas desconexas, que gera a perplexidade da
178
insignificância do ser perante o universo. Por sua vez, a
graduação representa o despertar do espírito crítico-reflexivo
que conduz à verdade e iluminação. No mestrado ocorre a
abertura da porta do oráculo de Delfos; o pesquisador observa
que há luz por trás da obscuridade reinante no seio do saber.
W) Einstein certa vez disse que a mente que se abre a uma nova
idéia, jamais volta ao seu tamanho original. Ele estava certo. A
fenomenologia é como o amor: inexplicável, mas vivencial;
contraditória, mas unificadora; difícil, mas simples. O amor é
construído no cotidiano, da mesma forma que a aquisição do
saber fenomenológico. O pesquisador tem esperança de um dia
poder compreender a ambos.
X) A certeza é uma das piores coisas que um pesquisador pode ter.
Com ela, o imponderável é excluído da validade racional.
Y) Residir no Paraná, vindo de Minas Gerais e crescido em São
Paulo, fez com que o pesquisador compreendesse que as
diferenças são o catalisador de qualquer ação humana.
Z) A essência do empreendedorismo é a liberdade. O homem é
livre. Logo, todo homem é empreendedor...
179
ANEXOS
180
ANEXO I - Estatuto Social do Consórcio GeNnorP/INTUEL
CAPÍTULO I - DENOMINAÇÃO, SEDE E OBJETIVOS
Art. 1º - O Consórcio GeNorP/INTUEL (Projeto Genesis Norte do Paraná/Incubadora
Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de
Londrina) é pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, regendo-se pelo
presente Estatuto, pela legislação que lhe for aplicável, com prazo de duração
indeterminado, dotada de autonomia administrativa e financeira com relação aos
seus fundadores e mantenedores.
§ primeiro: Fundadores são as pessoas físicas e jurídicas (parceiros)
signatárias da ata de constituição do Consórcio.
§ segundo: Mantenedores são as pessoas físicas e jurídicas que tenham
contribuído para a formação do patrimônio inicial da sociedade ou que
venham a doar-lhe bens e direitos de relevante expressão econômica, ou
ainda que sejam contribuintes das importâncias necessárias ao custeio de
suas atividades.
Art. 2º - O Consórcio GeNorP/INTUEL é uma entidade que atua, entre outras
atividades, como gestora de programas de pré incubação, incubação de empresas
de base tecnológica, e outros relacionados como o empreendedorismo,
desenvolvimento de inovação tecnológica e transferência de tecnologia, nascido a
partir da congregação dos parceiros abaixo:
181
I. Universidade Estadual de Londrina;
II. Instituto Euvaldo Loddi - IEL;
III. Federação das Indústrias do Estado do Paraná - FIEP/PR;
IV. Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento - CNPq;
V. A. Yoshii Engenharia e Construções Ltda;
VI. Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UEL - FAUEL;
VII. Incubadora Industrial de Londrina - INCIL;
VIII. Empresa Júnior de Computação da UEL - Cop Junior.
Parágrafo Único: Outras instituições poderão se associar posteriormente
mediante manifestação e aprovação da Assembléia.
Art. 3º - O Consórcio GeNorP/INTUEL terá sede no Campus Universitário da UEL,
Rodovia Celso Garcia Cid, s/n.
Art. 4º - O Consórcio GeNorP/INTUEL tem por objetivos principais:
182
I. Fomentar a criação de novos empreendimentos tecnológicos a partir de
alunos e profissionais recém formados, atuando como uma pré-
incubadora, através do Centro SoftEx Genesis GeNorP da UEL;
II. Contribuir para o crescimento das empresas nascentes de base
tecnológica, através de fornecimento de ambiente favorável para a
capacitação tecnológica e ambiental, através da INTUEL- Incubadora
Internacional de Empresas de base tecnológica da UEL;
III. Incentivar e apoiar as atividades de inovação e desenvolvimento científico
e tecnológico, de gestão e transferência de tecnologia, de promoção do
capital humano, através da cultura e treinamento, de natureza técnica e
mercadológica;
IV. Desenvolver atividades de consultoria, assessoria e atividades
administrativas a empresas privadas e instituições públicas e privadas,
Institutos de Pesquisa e outros;
V. Promover a integração da Universidade com as empresas do setor
privado, com os órgãos do setor público e com as organizações da
sociedade civil;
Art. 5º - Para consecução de suas finalidades, o Consórcio GeNorP/INTUEL poderá:
183
I. Firmar convênios ou contratos, acordos de gestão com autoridades
constituídas, para manutenção e garantia do cumprimento de seus
objetivos;
II. Promover gestões junto às organizações públicas ou privadas,
nacionais ou estrangeiras, para obtenção de incentivos financeiros ou
fiscais e captação de recursos;
III. Identificar e atrair fontes de financiamento e de capital de risco para as
empresas participantes da INTUEL;
IV. Conceder apoio financeiro ou participar do capital de empresas que
tenham sido selecionadas, desde que este apoio ou participação de
capital contribua com os objetivos do Consórcio GeNorP/INTUEL;
V. Promover eventos, cursos e seminários que contribuam para o
fortalecimento das empresas e projetos de empresas incubadas;
VI. Conceder bolsas vinculadas ao desenvolvimento de projetos, nos
campos do ensino e pesquisa (bolsa ensino e bolsa pesquisa).
§ Primeiro: A concessão de bolsas obedecerá os seguintes critérios:
I. As bolsas serão concedidas em caráter voluntário, a título de doação,
como estímulo à formação e aperfeiçoamento profissional, no caso de
184
bolsa ensino, e de apoio ao desenvolvimento de projetos de pesquisa ou
estudos;
II. Os pedidos de concessão de bolsa serão analisados pela Diretoria do
Consórcio, obedecendo aos limites do orçamento anual aprovado pelo
Conselho Deliberativo, à vista da solicitação da pessoa interessada,
devidamente instruída com cópia do projeto a ser executado e currículo
que comprove haver afinidade entre sua formação acadêmico-profissional
com as atividades a serem desenvolvidas;
III. A concessão de bolsa não implica na subordinação laboral, técnica ou
científica ao Consórcio por parte do bolsista, razão pela qual não configura
vínculo empregatício;
IV. A bolsa destina-se a suprir meios de subsistência e, eventualmente,
cobertura de despesas quando necessário o deslocamento para fora do
domicílio, ou para viabilização em participação em estágios, pesquisas e
outras atividades de cunho acadêmico, cientifico e tecnológico, durante o
período de realização destes;
V. A manutenção do beneficio fica condicionada à efetiva participação do
bolsista nas atividades que deram origem à bolsa, tal implicando no estrito
cumprimento da programação estabelecida no projeto, devendo ainda, o
interessado, apresentar ao Consórcio, periodicamente, relatórios sobre as
atividades desenvolvidas;
185
§ segundo: Compete à Diretoria do Consórcio analisar os relatórios de atividades
dos bolsistas, e deliberar sobre a manutenção do benefício.
§ terceiro: O valor da bolsa será estabelecido de acordo com a proposta
orçamentária de cada projeto, ficando o mesmo isento de tributos de
conformidade com a legislação vigente.
CAPÍTULO II - PATRIMÔNIO E RECEITA
Art. 6º - O patrimônio do Consórcio GeNorP/INTUEL é constituído por:
I. Dotações iniciais, em bens móveis e imóveis e em dinheiro, que lhe
forem concedidas;
II. Doações, auxílios, subvenções e legados que lhe venham a ser feitos;
III. Bens e direitos que venha a adquirir.
Art. 7º - Constituem receita do Consórcio GeNorP/INTUEL:
I. As provenientes da administração de seu patrimônio;
II. As taxas de manutenção pagas pelas empresas ou projetos de
empresas selecionadas pelo Consórcio GeNorP/INTUEL;
186
III. As contribuições a qualquer título que lhe forem feitas por pessoas
físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras;
IV. Os percentuais definidos em contrato, dos negócios realizados pelas
empresas incubadas;
V. Rendas resultantes de prestação de serviços.
Art. 8º - O patrimônio e as receitas somente poderão ser aplicados na realização de
seus objetivos, definidos no artigo 4º deste Estatuto.
Art. 9º - Em caso de extinção do Consórcio GeNorP/INTUEL, todos os seus bens
serão destinados a Universidade Estadual de Londrina - UEL.
CAPÍTULO III - ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
Art. 10 - O Consórcio GeNorP/INTUEL compõe-se de:
I. Conselho Deliberativo;
II. Diretoria Executiva;
III. Conselho Fiscal.
187
Art. 11 - Os membros dos órgãos de que trata o Artigo 10, no exercício regular de
suas atribuições e competência, não respondem solidária ou subsidiariamente pelas
obrigações ou encargos do Consórcio.
Art. 12 - Os membros do Conselho Deliberativo não perceberão remuneração de
qualquer espécie, sendo-lhes devido, porém o fornecimento dos meios adequados
de transporte e de diárias para custeio da estada, quando do deslocamento, no
interesse do Consórcio, da cidade na qual mantenham residência ou domicílio.
SEÇÃO I - DO CONSELHO DELIBERATIVO
Art. 13 - O Conselho Deliberativo é o órgão colegiado de administração superior e
soberano da sociedade e compõe-se dos seguintes membros:
I. Representantes indicados pelas entidades públicas e privadas,
parceiras do Consórcio;
II. Presidente do Conselho eleito entre os representantes.
Art. 14 - O Conselho Deliberativo terá um Presidente, atuando concomitantemente
como Presidente do Consórcio, eleito por seus membros, competindo-lhe a
presidência das reuniões do Conselho e a definição prévia dos assuntos a serem
incluídos na pauta.
188
§ primeiro: O mandato dos membros eleitos para compor o Conselho
Deliberativo é de 02 (dois) anos, admitida a recondução.
Art. 15 - O Conselho Deliberativo reunir-se-á ordinariamente em Assembléia 2 (duas)
vezes a cada ano, por convocação de seu Presidente, e extraordinariamente por
convocação de seu Presidente ou por solicitação de 2/3 (dois terços) de seus
membros.
§ primeiro: As reuniões ordinárias serão instaladas em primeira convocação,
com a presença mínima de 2/3 (dois terços) dos membros do Conselho
Deliberativo e em segunda convocação, 30 (trinta) minutos após, com
qualquer número de presentes.
§ segundo: As reuniões extraordinárias serão instaladas, em primeira
convocação, com 2/3 (dois terços) dos membros do Conselho Deliberativo, e
em segunda convocação, 30 (trinta) minutos após, com maioria absoluta dos
integrantes do referido órgão.
Art. 16 - Compete ao Conselho Deliberativo:
I. Fazer cumprir o objetivo social do Consórcio, definido no artigo 4º
deste estatuto;
II. Autorizar, prévia e expressamente, a aquisição, alienação ou oneração
de bens imóveis, a contratação de empréstimos e financiamentos e a
189
prestação de garantias reais ou fidejussórias, perante instituição
financeira pública ou privada, vinculadas estritamente as operações de
financiamento em favor das empresas ou projetos de empresas
incubadas;
III. Alterar ou reformar o Estatuto;
IV. Deliberar sobre a extinção do Consórcio e sobre a destinação de seu
patrimônio, observado o disposto no artigo 9º;
V. Determinar a contratação de auditoria contábil-financeira externa, para
fiscalizar o cumprimento das diretrizes, metas e movimentos
econômicos-financeiros da sociedade;
VI. Aprovar os Procedimentos Internos do Consórcio, suas alterações e
reformas, com base em proposta da Diretoria Executiva;
VII. Estabelecer diretrizes e metas para cada exercício, com base em
proposta da Diretoria Executiva;
VIII. Supervisionar o desenvolvimento das atividades do Consórcio;
IX. Aprovar o orçamento e o programa de investimentos do exercício
seguinte e deliberar sobre a prestação de contas do exercício anterior,
com base em proposta da Diretoria Executiva;
190
X. Estabelecer a política de pessoal, remuneração e benefícios do
Consórcio;
XI. Aprovar a contratação de terceiros para execução de atividades
necessárias ao cumprimento dos objetivos do Consórcio;
XII. Deliberar sobre a seleção, designação, contratação e dispensa dos
membros da Diretoria Executiva;
XIII. Eleger o Vice Presidente, o Secretário do Conselho Deliberativo e os
membros do Conselho Fiscal;
XIV. Aprovar o regulamento para contratações, compras, obras, serviços e
alienações da sociedade, com base em proposta da Diretoria
Executiva;
XV. Aprovar e encaminhar, às autoridades competentes, os relatórios
gerenciais e de atividades da sociedade, elaborados pela Diretoria
Executiva.
SEÇÃO II - DO CONSELHO FISCAL
Art. 17 - O Conselho Fiscal será composto de três membros efetivos e igual número
de suplentes, designados pelo Conselho Deliberativo, com mandato de (2) dois
anos, admitida a recondução.
191
Art. 18 - Compete ao Conselho Fiscal:
I. Examinar as contas, demonstrações financeiras e documentos da
sociedade;
II. Emitir parecer sobre as contas do Consórcio, constantes de
demonstrações contábeis-financeiras do Consórcio e sobre o relatório
anual, elaborado pela Diretoria Executiva;
III. Fazer publicar anualmente, no Diário Oficial do Município de Londrina -
PR, os relatórios financeiros e de execução, devidamente auditados e
aprovados pelo Conselho Deliberativo.
SEÇÃO III - DA DIRETORIA EXECUTIVA
Art. 19 - A Diretoria Executiva será constituída por um Diretor Presidente e por até
quatro Diretores Especializados, com mandato de 2 (dois) anos renováveis,
recrutados dentre profissionais de notória qualificação técnica e especialização, em
assuntos pertinentes ao desenvolvimento tecnológico, e em particular em atividades
ligadas ao estímulo à geração de novas empresas.
Art. 20 - Compete à Diretoria Executiva:
I. Administrar o Consórcio;
192
II. Propor ao Conselho Deliberativo as diretrizes e metas do Consórcio
para cada exercício;
III. Propor ao Conselho Deliberativo o orçamento para o exercício seguinte
e a prestação de contas do exercício anterior;
IV. Propor ao Conselho Deliberativo os Procedimentos Internos do
Consórcio e suas posteriores reformas e alterações;
V. Propor ao Conselho Deliberativo a política de pessoal, a remuneração
e benefícios dos empregados do Consórcio;
VI. Planejar e executar as atividades do Consórcio, segundo a política
institucional fixada, observadas as diretrizes, as metas, a orientação e
o Plano de Trabalho aprovados anualmente pelo Conselho
Deliberativo;
VII. Propor ao Conselho Deliberativo o regulamento para contratações,
compras, obras, serviços e alienações do Consórcio;
VIII. Conceder diárias, ajudas de custo, passagens e hospedagens, de
acordo com as atividades programadas pelo Conselho Deliberativo, ou
para atender às necessidades técnicas e administrativas dos projetos
desenvolvidos em parceria com o Consórcio;
193
IX. Assinar, em nome do Consórcio, convênios, acordos, ajustes,
contratos, obrigações e compromissos;
X. Contratar terceiros para execução das atividades necessárias a
execução dos objetivos do Consórcio;
XI. Elaborar o Relatório Anual das atividades do Consórcio e a prestação
de contas desta.
CAPÍTULO V - DO EXERCÍCIO FINANCEIRO E DAS CONTAS
Art. 21 - O exercício financeiro coincidirá com o ano civil, encerrando-se em 31 de
Dezembro de cada ano.
Art. 22- A Diretoria Executiva submeterá ao Conselho Deliberativo a proposta
orçamentária para o exercício seguinte, na qual serão especificadas,
separadamente, as despesas de capital e custeio.
Art. 23 - A prestação de contas de cada exercício será feita ao Conselho
Deliberativo, acompanhadas de parecer do Conselho Fiscal, em sua primeira
reunião ordinária do exercício subseqüente, mediante a apresentação das seguintes
demonstrações contábil-financeiras:
I. Balanço geral;
194
II. Demonstração da conta de resultados;
III. Quadro comparativo da receita orçada com a arrecadação realizada;
IV. Quadro comparativo da despesa autorizada com a realizada.
Parágrafo único: Depois de aprovados pelo Conselho Deliberativo, o relatório das
atividades e as demonstrações contábil-financeiras, bem como o parecer do
Conselho Fiscal, serão encaminhados às autoridades competentes.
CAPÍTULO VI - DA EXTINÇÃO DO CONSÓRCIO
Art. 24 - O Consórcio será extinto:
I. Quando for impossível a sua manutenção;
II. Por inobservância ou desvio dos objetivos pelos quais foi instituído.
CAPÍTULO VII - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 25 - Os casos omissos neste Estatuto serão solucionados pelo Conselho
Deliberativo.
Art. 26- O Diretor Presidente do Consórcio responde pelo mesmo, representando-o
ativa e passivamente, em juízo ou for a dele.
195
Art. 27- Todos os documentos que obriguem o Consórcio serão assinados
conjuntamente por dois Diretores, sendo que uma das assinaturas poderá ser de um
procurador legalmente constituído.
Art. 28- O Consórcio não distribuirá lucros, vantagens ou bonificações aos membros
do Conselho Deliberativo, da Diretoria, ou do Conselho Fiscal sob nenhuma forma
ou pretexto, aplicando todos os resultados na consecução dos seus objetivos
sociais.
Art. 29 - Os empregados admitidos para prestar serviços profissionais ao Consórcio
serão regidos pela CLT ou pelo estabelecido por contrato de prestação de serviços.
Art. 30 - Fica estabelecido o foro de Londrina - PR, para dirimir quaisquer dúvidas
decorrentes deste estatuto.
Londrina, 25 de Julho de 2003.
______________________________________________
Berenice Quinzani Jordão
Presidente do Consórcio
______________________________________________
Cristiane Minowa
Advogada - OAB/PR 23.659-B
196
ANEXO II – Conselho Deliberativo e Equipe do Consórcio GeNorP/INTUEL
A INTUEL é gerenciada pelo Consórcio GeNorP Intuel, que é pessoa jurídica de
direito privado, sem fins lucrativos e deliberada por um Conselho, cujos membros
estão nomeados no Estatuto Social da instituição.
Conselho Deliberativo Consórcio GeNorP INTUEL:
Presidente
Berenice Quinzani Jordão
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós Graduação da Universidade Estadual de Londrina
Vice – Presidente
Atsushi Yoshii - Diretor Presidente da Construtora AYoshii
Secretário
Clóvis Coelho - Coordenador Regional da FIEP Londrina
Conselheiros Fiscais
Dirceu Moreira Guazzi - Chefe do Departamento de Computação da UEL
José Roberto Hoffman - Docente do Departamento de Estruturas da UEL
Rafael Robson Negrão - Docente do Departamento de Computação da UEL
197
Consórcio GeNorP INTUEL:
Diretora Presidente
Cleusa Rocha Asanome
Diretoras Especializadas
Cristiane Rumika Minowa
Vanerli Beloti
Equipe da INTUEL:
Diretoria Presidente: Profa. Dra. Cleusa Rocha Asanome
Diretoria Especializada - Cristiane Minowa
Diretoria Especializada - Profa. Dra. Vanerli Beloti
Gerência Administrativa - Fernanda Yumi Tsujiguchi
Gerência de Projetos - Susi Keila Klassen
Gerência de Rede - Vinicius Oliveira
Gerência do Núcleo de Games - Paulo Mologni
Escritório de Proteção do Conhecimento e Unidade de Negócios - Ciro Ozawa
Assessoria do Escritório de Proteção do Conhecimento - Andréia Nomi e Lisa Hirota
Secretaria Executiva - Maria Carolina Crepaldi Selerge
Recepção - Cássia Fernanda Campos de Oliveira
Zeladoria - Emília Maria de Lima
198
ANEXO III – Influência das idéias fenomenológicas
Em 1999, dez intelectuais convidados pelo jornal Folha de São Paulo elaboraram
uma lista dos cem textos teóricos mais importantes do século XX. Da listagem,
constam autores como Einstein, Freud, Marx e outros (FOLHA, 1999; CARUSO,
2006).
O que chama a atenção, porém, são os autores “fenomenólogos”, particularmente
Husserl, Heidegger e Sartre.
A seguir, apresenta-se os textos de cada autor “fenomenólogo” listados no artigo da
Folha de São Paulo e sua respectiva colocação. O objetivo é introduzir o leitor nas
idéias gerais das obras relacionadas, que tiveram grande impacto no modo de
pensar da humanidade:
Autor: Martin Heidegger (1889-1976) [ 2 textos]
Texto: Ser e Tempo (1927)
O discípulo de Husserl empreende uma "analítica da existência humana". Com a
noção de existência, Heidegger espera superar o dualismo sujeito-objeto e a filosofia
da consciência e faz da adesão pré-reflexiva ao mundo a questão central para o
pensamento filosófico (5º colocado).
199
Texto: Construir, Habitar, Pensar
Em francês, no volume "Essais et Conférences" (Gallimard). Reunião de ensaios
tardios do filósofo, que dão testemunho da radicalização do programa filosófico de
"Ser e Tempo" e de seu envolvimento crescente com a poesia lírica, em especial a
de Hölderlin (62º colocado).
Autor: Jean-Paul Sartre (1905-1980) [ 3 textos]
Texto: Crítica da Razão Dialética (1960)
Em francês: "Critique de la Raison Dialectique" (Ed. Gallimard). Nessa tentativa de
formulação de uma teoria materialista do sujeito, Sartre procurou conciliar conceitos
oriundos do existencialismo, da psicanálise e do marxismo (16º colocado).
Texto: O Ser e o Nada (1943)
Na esteira de Heidegger, o filósofo e escritor francês, criador do existencialismo,
desenvolve uma analítica da existência que visa afirmar a liberdade do "eu" como
essência do humano (18º colocado).
Texto: O Existencialismo é um Humanismo (1946)
Em francês, "L'Existencialisme Est un Humanisme" (Gallimard). Escrito logo após a
guerra, esse manifesto procura defender o existencialismo da crítica de anti-
200
humanismo que lhe dirigiam autores cristãos e marxistas. Tornou-se uma espécie de
cartilha daquela corrente filosófica (85º colocado).
Autor: Edmund Husserl (1859-1938) [ 3 textos]
Texto: A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental (1954)
Em inglês, "Crisis of European Sciences" (Northwestern University Press). Obra
publicada postumamente e que ficou inacabada, representa o testamento intelectual
do criador da fenomenologia (31º colocado).
Texto: Fenomenologia da Consciência Interna do Tempo (1928)
Em inglês, "On the Phenomenology of Consciousness of Internal Time" (Kluwer
Press). Husserl examina de um ponto de vista fenomenológico a constituição da
identidade subjetiva a partir do fluxo de percepções sensíveis e da experiência
interna do tempo (41º colocado).
Texto: Idéias sobre uma Fenomenologia (1913)
Autocrítica em que o autor alemão procura livrar-se do lastro kantiano: a
fenomenologia deve livrar-se da distinção entre fenômeno e coisa-em-si (87º
colocado).
201
Autor: Maurice Merleau-Ponty (1908-1961)
Texto: O Visível e o Invisível (1964)
Nessa obra inacabada e publicada postumamente, o filósofo francês estende suas
investigações da "Fenomenologia da Percepção" em direção ontológica,
investigando os modos pré-reflexivos de "adesão ao mundo" (11º colocado).
Autor: Henri Bergson (1859-1941)
Texto: O Pensamento e o Movente (1934)
Em francês, "La Pensée et le Mouvant" (PUF). Reunião de conferências e ensaios
desse que é um dos principais filósofos europeus do século. Entre eles, "Introdução
à Metafísica", considerado uma importante síntese de seu pensamento (27º
colocado).
Autor: Hans-Georg Gadamer (1900)
Texto: Verdade e Método (1960)
Discípulo de Heidegger, esse filósofo alemão parte da "analítica do ser" de seu
mestre para promover o primado da hermenêutica, da compreensão intersubjetiva
sobre o ideal de um método científico puro. Sua influência vai de Jürgen Habermas
aos estudos literários (42º colocado).
202
Autora: Hannah Arendt (1906-1975) [ 2 textos]
Texto: A Condição Humana (1953)
Um reexame da condição humana em suas três dimensões essenciais -o labor, o
trabalho e a ação- a partir das experiências e temores do mundo moderno,
dominado pelo conhecimento científico e técnico, que aparta o homem do mundo
natural e vincula-o ao mundo dos artefatos humanos (21º colocado).
Texto: As Origens do Totalitarismo (1951)
Escrito sob o impacto do nazismo e do stalinismo, este ensaio examina a gênese e a
particularidade do fenômeno totalitário, nova forma de dominação baseada no terror
e na massificação, cujas possibilidades de surgimento foram dadas pelo anti-
semitismo e pelo imperialismo (29º colocado).
Autora: Simone de Beauvoir (1908-1986)
Texto: O Segundo Sexo (1949)
Manifesto pioneiro do feminismo, no qual a autora propõe novas bases para o
relacionamento entre mulheres e homens, fundadas na "estrutura ontológica
comum" a ambos (54º colocado).
203
Autor: Charles Sanders Peirce (1839-1914)
Texto: Oportunidade, Amor e Lógica (1923)
Em inglês, "Chance, Love and Logic - Philosophical Essays" (University of Nebraska
Press). Antologia de ensaios do filósofo cuja reflexão é uma das mais completas nos
Estados Unidos, abarcando diferentes questões que ocuparam o pensamento norte-
americano neste século, como o pragmatismo, o empirismo lógico e a filosofia da
linguagem (68º colocado).
Autor: Albert Camus (1913-1960)
Texto: O Mito de Sísifo (1942)
Trata-se do ensaio filosófico mais importante do autor. A indiferença do mundo aos
desejos e aspirações humanas faz nascer a experiência do absurdo, diante da qual
a revolta se impõe como único ato genuinamente humano (90º colocado).
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