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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA E O SISTEMA DE GESTÃO
AMBIENTAL: O CASO DAS USINAS LOCALIZADAS NAS
BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS PIRACICABA, CAPIVARI E
JUNDIAÍ
Fabrício José Piacente
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Instituto de Economia da UNICAMP para
obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento Econômico - área de
concentração: Desenvolvimento
Econômico, Espaço e Meio Ambiente, sob
a orientação do Prof. Dr. Pedro Ramos.
Campinas-SP
Novembro de 2005
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Aos meus pais, Sebastião e Meires, em reconhecimento a toda
uma vida de apoio, incentivo e amor.
iii
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AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares, por todo o apoio, dedicação, carinho e confiança,
aos quais serei eternamente grato. Á Miriam, em que encontrei paciência e
tranqüilidade de que tanto precisei para finalizar esse trabalho.
Ao meu orientador e amigo Prof. Pedro Ramos pela ajuda,
compreensão, apoio e imensa sabedoria demonstrada, não apenas pelas
contribuições acadêmicas, mas também pela oferta de muita confiança.
Aos colegas e amigos do IE UNICAMP pelas inúmeras demonstrações
de apoio, incentivo e contribuições que direta ou indiretamente auxiliaram para
que esta dissertação chegasse ao fim.
Aos professores Ademar Romeiro e Dalcio Caron por aceitarem
participar do exame de qualificação e da banca de defesa, e pelas observações
apresentadas, atenção disponibilizada, prestatividade e sugestões valiosas
para o presente trabalho.
Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da UNICAMP, pela
oportunidade de participar do programa, possibilitando maior aprendizado e
conhecimento profissional.
Aos funcionários e demais colaboradores do Instituto de Economia, pela
paciência e atenção no trabalho desenvolvido.
As empresas que se propuseram a participar da pesquisa e,
principalmente aos entrevistados, pelo interesse, seriedade, disponibilidade e
comprometimento em contribuir com suas experiências e conhecimentos.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
CAPES pelo apoio financeiro
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RESUMO
O objetivo é entender e detalhar os investimento das usinas sucroalcooleiras
das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí a fim de
implementar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) em suas unidades. O
primeiro capítulo inicia com uma caracterização detalhada de cada um dos
processos que envolve a atividade agroindustrial canavieira, seus impactos
mais significativos e os problemas relacionados a seus resíduos. O segundo
capítulo caracterizou a região objeto da pesquisa, mostrando seu significante
passivo ambiental e a importância da atividade canavieira nela inserida. Não é
difícil fazer a constatação de que pouco se tem visto de ações concretas do
setor canavieiro dessa região a fim de minimizar seus impactos ou de se
adequar ambientalmente. Muito pelo contrário, esse trabalho concluiu que, as
usinas pesquisadas se apresentam pouco reativas e muitas vezes à margem
do cumprimento das legislações ambientais desse país. No terceiro capítulo foi
discutido o conjunto de normas da série ISO 14000 versão de 1996, as
vantagens de se adotar um SGA em conformidade com a ISO 14001 e as
críticas a esse sistema, principalmente no tocante a incapacidade desse
instrumento voluntário em aliar os interesses empresariais a fim de priorizar a
preservação ambiental. Por fim, o quarto capítulo sintetiza as principais
constatações da pesquisa de campo. Conforme se pôde observar durante as
visitas e entrevistas as usinas da região, apesar das pressões externas, os
principais motivadores para a adoção um SGA são os aspectos ligados ao
marketing e ao comércio exterior, relevando para segundo plano a importância
ambiental. Neste caso, percebe-se o viés desse sistema de gestão, a
preocupação das usinas com o meio ambiente ainda não está tão consolidada
quanto os seus interesse comerciais.
vii
viii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1
Capítulo I- A CARACTERIZAÇÃO DA AGROINDUSTRIAL CANAVIEIRA:
ASPECTOS, IMPACTOS E RISCOS................................................................... 5
1.1Caracterização econômica do setor agroindustrial canavieiro...................................5
1.2Etapas da produção agroindustrial canavieira......................................................... 10
1.3Principais resíduos envolvidos no processo produtivo agroindustrial e seu potencial
de utilização..................................................................................................................17
1.4Impactos ambientais dos processos produtivos sucroalcooleiros............................22
Capítulo II- AS BACIAS HIDROGÁFICAS DOS RIOS PIRACICABA,
CAPIVARI E JUNDIAÍ: A AGROINDUSTRIA CANAVIEIRA LOCAL E A
SITUAÇÃO AMBIENTAL................................................................................... 31
2.1 Caracterização da área de estudo e sua problemática ambiental.......................... 32
2.2Desempenho atual do setor agroindustrial canavieiro nas bacias do Piracicaba,
Capivari e Jundiaí......................................................................................................... 49
2.3Inserção da questão ambiental na indústria: conflitos, contradições e
desenvolvimento sustentável........................................................................................ 56
Capítulo III- O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NA INDUSTRIA ........ 62
3.1A instituição ISO..................................................................................................... 62
3.2A estruturação da ISO 14000...................................................................................67
3.3Sistema de Gestão Ambiental conforme a ISO 14000............................................ 69
3.4Apreciação crítica do SGA: papel econômico e função ambiental......................... 76
Capítulo IV- ESTUDO DE CASOS: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA
PESQUISA DE CAMPO..................................................................................... 91
4.1 Procedimentos metodológicos...............................................................................91
4.2. Instrumento de coleta de dados: Questionário.......................................................93
4.3 Bloco 1: Interesse em implantar um SGA............................................................. 94
4.4. Bloco 2: Investimentos para implantação de um SGA........................................116
4.5 Bloco 3: Aspectos pertinentes à gestão da vinhaça............................................. 139
4.6..Bloco 4: Aspectos pertinentes à gestão da torta de filtro.....................................147
4.7..Bloco 5: Aspectos pertinentes à gestão do bagaço.............................................. 150
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................. 152
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 158
ANEXO A: QUESTIONÁRIO DE PESQUISA............................................... 168
ANEXO B: CARTA DE APRESENTÃO DA PESQUISA..........................175
ix
x
ÍNDICE DE FIGURAS, ILUSTRAÇÔES E GRÁFICOS
ILUSTRAÇÃO 1.1: Áreas de preservação ambiental degradada pela
queima de canavial.......................................................................................... 24
ILUSTRAÇÃO 1.2: Queimada de cana na Região de Piracicaba/SP......... 25
ILUSTRAÇÃO 1.3: Torta de filtro armazenada na Região de Piracicaba/SP
........................................................................................................................... 26
xi
ÍNDICE DE TABELAS E QUADROS
TABELA 1.1: Principais estados produtores de cana de açúcar (valores
em toneladas)..................................................................................................... 6
TABELA 1.2: Produção de açúcar por região (valores em sacas de 50 kg).
7
TABELA 1.3: Evolução das exportações de açúcar do Brasil (valores em
toneladas)........................................................................................................... 8
TABELA 1.4: Produção nacional de álcool (em m3).....................................9
TABELA 1.5: Valores estimados de emissões provenientes da queima de
resíduos de palha de cana (safra 2000/01).................................................... 25
TABELA 1.6: Comparação da geração de CO2 na geração de eletricidade
........................................................................................................................... 25
xii
INTRODUÇÃO
Diariamente decisões que envolvem o meio ambiente são tomadas em
todos os setores da economia, consumidores decidem onde morar, o que
comprar, que meio de transporte utilizar. Empresários decidem o que e como
produzir, a quem vender, quanto e como vender. Trata-se de ações que
envolvem o interesse de diversos atores sociais frente à decisões que
influenciam o meio em que vivem.
Aspectos ligados à questão ambiental vem ganhando cada vez mais
espaço e a exigência de produtos que atendam essas características cresce
entre a sociedade. Os interesses de governos e de consumidores estão se
tornando cada vez mais presentes nas empresas dos setores mais importantes
da economia.
A necessidade de lidar com esse processo decisório, em que a variável
ambiental é cada vez mais latente, fez com que discussões pertinentes a essa
questão entrassem nas agendas e pautas de governos, pesquisadores,
instituições de ensino e agências de investimento, resultando em esforços
como a Conferência de Estocolmo, a Rio 92 e a Agenda 21.
Foi principalmente durante a década de 1990 que o setor industrial
percebeu que a preocupação com os recursos naturais e seu uso racional
poderia proporcionar ganhos em um mercado cada vez mais competitivo e
globalizado. As normas ambientais voluntárias surgem como uma resposta do
setor produtivo frente às discussões e proposições quanto ao desenvolvimento
sustentável, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento no ano de 1992.
Dentro desse pacote de normas ambientais denominadas de ISO 14000,
a que se destaca é a ISO 14001. Refere-se a um conjunto de diretrizes e
requisitos relativos a um sistema de gestão ambiental empresarial, com o
objetivo de proporcionar à organização a formulação de medidas que levem
em conta os requisitos legais e informações referentes aos impactos
ambientais significativos durante o seu processo produtivo, engendrando
1
aspectos ambientais que possam ser controlados pelas organizações e sobre
os quais presume-se que ela tenha influência.
Essa norma de gestão ambiental, é apresentada pelo setor empresarial
como uma apólice de garantia ambiental de seus produtos, e como uma
alternativa que proporcione o desenvolvimento sustentável, construindo elos de
ligação entre os stakeholders, neste caso a indústria, o governo e os
consumidores.
Com o aumento da consciência ecológica, tanto por parte dos
consumidores quanto por parte do poder público, os recursos e as
capacitações necessárias para aumentar a eco-eficiência de nossas empresas
serão também condição necessária para competir, seja no mercado doméstico
quanto no mercado global. Vale lembrar que atualmente, a ausência de
respeito ambiental no processo produtivo é uma barreira de entrada para
alguns produtos em importantes mercados consumidores. Ou seja, a adesão a
esse pacote funciona também como um impulsionador de vendas e de entrada
em mercados mais exigentes.
Durante a década de 1990, houve um gradativo incremento na demanda
por sustentabilidade da agricultura, fomentado pelos movimentos
ambientalistas, desde a busca pela preservação dos recursos naturais, pela
demanda de produtos saudáveis e “ambientalmente corretos”. Neste contexto,
sistemas de qualidade, de responsabilidade social e de gestão ambiental estão
sendo crescentemente implantados nas unidades sucroalcooleiras de todo o
país.
Por se tratar de um setor tradicional e economicamente importante do
país, a agroindústria canavieira tem se modernizado e acompanhado essas
novas tendências gerenciais. Cabe destacar que o papel desse setor no
processo do desenvolvimento (sustentável) e na utilização racional dos
recursos naturais, sempre foi um assunto polêmico.
A fim de alavancar suas exportações de açúcar e álcool consolidando
ainda a posição de maior produtor e exportador desses commodities, a
agroindústria canavieira nacional passa uma imagem de que está contribuindo
para o desenvolvimento sustentável, através de uma produção limpa e
renovável. Porém, processos e etapas produtivas que acarretam impactos
2
ambientais negativos fazem parte da trajetória dessa agroindústria e tem sido
agravados durante os últimos anos.
A preocupação com a mitigação desses impactos, o gerenciamento dos
resíduos, a melhora da imagem institucional do setor, a abertura de novos
mercados consumidores, a conscientização ambiental de alguns empresários,
entre outros motivos, têm colaborado para ações que objetivam a implantação
de sistemas de gestão ambiental em algumas dessas unidades produtivas.
Neste sentido, o objetivo principal dessa dissertação foi de fazer uma
análise da oportunidade e importância das ações de gestão e de políticas de
investimento das agroindústrias canavieiras localizadas nas bacias dos rios
Piracicaba, Capivari e Jundiaí, no tocante a opção de implementação de
Sistemas de Gestão Ambiental SGA e no gerenciamento ambiental de três
de seus resíduos (a vinhaça; o bagaço de cana e a torta de filtro)
A preocupação principal foi entender e acompanhar os investimento
destas empresas, a fim de lidar com a questão da gestão dos seus resíduos.
Além disso, acompanhar as ações que estão e que serão realizadas com o
objetivo de implementar sistema de gestão ambiental em suas unidades
produtoras.
Este objetivo pode ser colocado na forma de uma pergunta ou problema
de pesquisa: Analisando as ações realizadas pela agroindústria canavieira
localizada nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que
investimentos estão sendo e serão realizados em relação à implantação de um
SGA e à gestão de seus resíduos?
Essas ações serão detalhadas em termos de investimentos físicos
(equipamentos, máquinas, construções etc) e de recursos humanos
(consultorias, treinamentos e educação ambiental).
Este tema foi escolhido uma vez que as questões relativas à
conservação ambiental ocupam hoje uma significativa parcela dos
investimentos e esforços administrativos de todos segmentos da atividade
econômica. A agroindústria canavieira começa a perceber que investimentos
de melhoria na qualidade ambiental da produção, a partir de processos de
gestão ambiental podem proporcionar ganhos diferenciados.
Assim, as usinas dessas bacias estão se modernizando e vêem
investindo na implantação de sistemas de gerenciamento. Estes sistemas têm
3
a finalidade de aumentar a eficiência das empresas, melhorar sua
competitividade, produtividade e fazer com que seus processos se adeqüem
às exigências quanto aos padrões de qualidade, ambiental, segurança, entre
outros. Nesse cenário, além das ferramentas de qualidade voltadas para a
certificação ISO 9001 e 9002 e desenvolvidas para o controle da qualidade de
materiais e serviços, surgem investimentos na implantação de SGA visando a
certificação ambiental.
Tendo como foco a discussão do desenvolvimento sustentável dentro de
um contexto regional, o recorte espacial escolhido para este estudo foi às
bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, situadas no Estado
de São Paulo. Essa região, tradicionalmente agrícola canavieira e cafeeira, foi
ao longo das últimas quatro décadas se transformando em um dos principais
pólos industrial do país. Nela, aglomeram-se simultaneamente grandes grupos
empresariais do setor agrícola, petroquímico, metal pesado, eletromecânico,
siderúrgico, de bens de capital e de serviços.
A região inserida nessas bacias apresenta características
socioambientais semelhantes a outras grandes regiões industrializadas do país
como: elevado grau de urbanização, elevada densidade demográfica,
problemas quanto à disposição de lixo urbano e industrial, poluição
atmosférica, contaminação nos recursos hídricos e no solo, entre outras.
A principal constatação desse trabalho, conforme foi detalhadamente
tratado nos capítulos que seguem, foi de que o SGA articulado com a realidade
do complexo sucroalcooleiro da região estudada, deixa muito a desejar quanto
a sua efetiva preocupação ambiental. Foi observado durante a pesquisa de
campo, através das visitas realizadas às usinas das bacias, que para essas
empresas a questão ambiental está muito mais ligada ao mercado e que o
SGA e sua certificação funciona como facilitadores.
4
Capítulo I- A CARACTERIZAÇÃO DA AGROINDUSTRIAL CANAVIEIRA:
ASPECTOS, IMPACTOS E RISCOS
O objetivo desse capitulo é apresentar de maneira caracterizada o setor
agroindustrial canavieiro nacional, destacar a importância econômica dessa
atividade para o país e identificar algumas de suas principais regiões
produtoras. Além disso, essa parte do trabalho destaca os diferentes impactos
ambientais gerados por esse setor, as tecnologias utilizadas, os riscos que
essa agroindústria representa para os recursos naturais, seus principais
resíduos e sua utilização alternativa ao descarte predatório.
Apesar de tratar-se de uma tecnologia conhecida historicamente e
largamente difundida a agroindústria canavieira é uma atividade complexa,
pois envolve um conjunto que se compõe de um setor agrícola e de um setor
estritamente industrial, muitas vezes dividido em duas partes: fábrica de açúcar
e destilaria de álcool. A parte agrícola apresenta aspectos e características
ligado diretamente a essa vertente da economia, ao processo de ocupação
territorial e a utilização excessiva de recursos naturais como água e solo. a
divisão industrial apresenta seus aspectos mais ligados intimamente com os
processos de transformações da matéria prima, que também são responsáveis
pela geração de diversas externalidades.
De forma geral, trata-se de um setor altamente dependente de recursos
naturais, principalmente água e solo, e que está instalado em áreas econômica
e socialmente importantes do país. Essa dependência mostra que o
gerenciamento dos recursos ambientais envolvidos deve ser tratado como de
importância estratégica por essas empresas, uma vez que o esgotamento
ambiental é um fator relevante na limitação da capacidade produtiva.
1.1 Caracterização econômica do setor agroindustrial canavieiro
O Sistema Agroindustrial da Cana-de-açúcar é um dos mais antigos do
país, estando ligado aos principais eventos da formação histórica do Brasil. A
5
relevância de se estudar o funcionamento do setor sucroalcooleiro nacional
está na sua grande importância nacional e internacional. Essa atividade no
Brasil diferencia-se dos demais países do mundo principalmente em relação a
sua escala de produção, a posição de destaque que a cana de açúcar tem em
relação a outras culturas quanto à área de plantio e ao valor da produção, e a
produção em larga escala do álcool, um combustível que pode substituir a
gasolina.
Na safra de 2003/2004 o mercado sucroalcooleiro nacional movimentou,
com faturamentos diretos e indiretos a quantia de US$ 11 bilhões o que
equivale a aproximadamente 2,2% do PIB brasileiro do período. Dentro da
cadeia do agronegócio nacional que movimenta 33,8% do PIB nacional e que
foi responsável por 42% das exportações brasileiras do período, o setor
sucroalcooleiro participou com um volume de US$ 2,1 bilhões, em torno de
3,5% do total das exportações nacionais (UNICA, 2004a).
O parque sucroalcooleiro nacional possui em torno de 324 usinas de
beneficiamento de cana de açúcar em atividade no país, dentre as quais 252
são usinas de açúcar com destilaria anexa, 22 delas produzem somente
açúcar e 50 são apenas destilarias de álcool. A distribuição territorial dessas
unidades indica que aproximadamente 45% delas localizam-se no Estado de
São Paulo, por sinal o estado do país onde esse setor apresenta-se com um
maior grau de dinamismo (UNICA, 2004a).
A TABELA 1.1 indica os principais estados produtores de cana de
açúcar no Brasil considerando as quatro últimas safras agrícolas, nota-se que
em 2004/05 São Paulo lidera a produção nacional com 61%, o Paraná vem em
segundo com 7,5%, depois Alagoas com 6,5%, em Minas Gerais 5,5% do total
produzido, e por fim Pernambuco com 4%.
TABELA 1.1: Principais estados produtores de cana de açúcar (valores em
toneladas)
Estados 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05
São Paulo
176.574.250 192.486.643 207.810.964 230.310.237
Alagoas
23.124.558 22.645.220 29.536.815 25.540.156
Paraná
23.075.623 23.892.645 28.485.775 28.997.547
Minas Gerais
12.204.821 15.599.511 18.915.977 21.649.744
Pernanbuco
14.351.050 14.891.497 17.003.192 15.473.062
Brasil 293.050.543 320.650.076 356.362.664 383.245.199
Fonte: UNICA (2005b, p.4-5; 2004b, p. 4-5).
6
Pode-se perceber que a produção nacional de cana voltada para o
processamento sucroalcooleiro aumentou em média 19,5% ao longo das
últimas três safras agrícolas, em São Paulo, esse aumento também foi próximo
de 19% para o mesmo período.
O Brasil destaca-se como o maior produtor mundial de açúcar de cana e
apresenta o maior potencial de competitividade nesse mercado dentre os
principais produtores mundiais. A TABELA 1.2 indica quantidades produzidas
de açúcar nas quatro últimas safras dividido por regiões, destaca-se, na região
Centro-Sul, a produção de São Paulo que correspondeu a aproximadamente
83% de todo o açúcar produzido durante a safra 2004/05.
A TABELA 1.2 indica que a produção de açúcar na região Norte-
Nordeste, oscilou um pouco, nas últimas quatro safras. a região Centro-Sul,
apresenta valores crescentes na produção de açúcar, a variação em média
para as quatro últimas safras ficou em 11% ao ano, o mesmo valor médio de
crescimento apresentado para a produção nacional de açúcar. Isso indica que
a produção do Centro-Sul foi o principal responsável pelos aumentos
sucessivos na produção brasileira de açúcar.
TABELA 1.2: Produção de açúcar por região (valores em sacas de 50 kg)
Regiões 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05
Norte-Nordeste
64.916.980 75.784.100 90.106.320 88.170.780
Centro-Sul
319.443.240 375.561.100 408.409.540 442.130.940
São Paulo 247.005.060 286.958.160 303.437.080 330.326.920
Brasil 384.360.220 451.345.200 498.515.860 530.301.720
Fonte: UNICA (2005b, p. 5-6).
O Brasil é o principal produtor mundial de açúcar seguido pela Índia,
União Européia, China, Estados Unidos, Tailândia, México, Austrália, entre
outros. Dentre esses, o Brasil se destaca como o maior exportador mundial
seguido pela União Européia, Tailândia, Austrália e Cuba (USDA, 2001).
No ano 2003, as exportações brasileiras de açúcar atingiram uma
receita média de US$ 2,14 bilhões, contra US$ 2,09 bilhões no ano de 2002.
Já comparando os dados de 2003 com o volume exportado no ano de 2000, os
valores praticamente duplicaram. Nos últimos quatro anos, a quantidade de
açúcar exportado pelo Brasil aumentou em aproximadamente 18% ao ano.
7
TABELA 1.3: Evolução das exportações de açúcar do Brasil (valores em
toneladas)
2000 2001 2002 2003
Centro-Sul
5.249.178 9.058.935 10.688.513 10.689.803
Norte-Nordeste
1.215.716 2.063.722 2.024.248 2.224.665
Brasil
6.506.359 11.170.657 13.367.822 12.914.466
Fonte: UNICA (2003c, p. 7-8).
Nota: Diferença entre a soma das exportações das regiões Centro-Sul e Norte-Nordeste com o
total nacional é devido a embarques não declarados de açúcar.
A produção de álcool combustível no Brasil iniciou-se muito
precariamente por volta da década de 1930, onde um decreto criou a
Comissão de Estudos sobre Álcool-Motor que era ligado ao extinto IAA.
Somente em 1975 com o advento do Programa Nacional do Álcool, também
conhecido como Proalcool, esse produto é destinado para fins combustível em
substituição de parte da gasolina.
Num primeiro momento esse programa destacou-se para um
aproveitamento da capacidade ociosa das usinas existente com o aumento da
produção de álcool anidro voltado para a mistura com a gasolina. Já na década
de 1980, intensificou-se o uso do álcool hidratado, também conhecido como
álcool comburente como combustível direto do recém inventado motor de
combustão a álcool. Porém no fim dessa década houve uma desaceleração do
programa, uma diminuição na produção de veículos movidos a álcool e
praticamente o fim da crise do petróleo, que havia motivou a instalação do
programa.
O GRÁFICO 1.1 indica o ritmo de crescimento acelerado da produção
de álcool hidratado (combustível) desde a década de 1970 até meados do ano
2000. Analisando o gráfico percebe-se o vertiginoso crescimento da produção
de álcool no país, o país quintuplica sua produção em apenas seis anos. Esse
incremento foi possível devido a inúmeros incentivos governamentais,
principalmente de crédito, para instalação de novas destilarias e para a
modernização das destilarias anexas existentes em todo o país.
8
Gráfico1: Evolução da produção nacional de álcool hidratado
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002
Peodo
Fonte: Adaptado de WORKSHOP (1998).
Atualmente o Brasil continua sendo o maior produtor mundial de álcool e
o único país que produz em larga escala um combustível considerado
renovável, e que pode substituir a gasolina na combustão veicular.
Considerando a última safra 2004/05, a região Centro-Sul e o Estado de São
Paulo produziram aproximadamente 85% e 60% respectivamente, do total de
álcool do país. Como se pode observar na TABELA 1.4, nas últimas quatro
safras a produção nacional total de álcool sofreu pequenas oscilações devido
principalmente as questões de demanda do mercado interno, por
conseqüência a produção paulista também variou, comparando a safra de
2001/02 com a de 2004/05, percebe-se um incremento de produção na ordem
de 22%.
TABELA 1.4: Produção nacional de álcool (em m
3
)
2001/02 2002/03 2003/04 2004/05
Centro-Sul
9.064.364 10.176.290 11.152.084 13.068.637
1
São Paulo 7.134.529 7.690.689 8.828.353 9.108.931
1
Norte-Nordeste
1.359.744 1.471.141 1.740.068 1.921.456
Brasil 11.536.034 12.623.225 14.808.705 15.514.285
Fonte: UNICA (2005b, p. 5-6).
Notas: Os dados acima são referentes à produção total de álcool (anidro+hidratado) no período.
1
Valores obtidos da safra de 2004/05 fechados em 01/02/2005.
A produção nacional é praticamente toda absorvida no mercado interno,
principalmente na mistura da gasolina e em menor número como combustível
9
direto. A exportação desse produto para outros países ainda é incipiente, uma
vez que a adoção do álcool como combustível dopante (misturado) da gasolina
deve ser feito com critérios técnicos e com motores adequados.
De maneira geral, no Brasil se obtêm da cana de açúcar dois principais
produtos de larga importância comercial. Um deles, o açúcar, altamente
competitivo, apesar dos custos associados a sua estrutura produtiva e as
medidas protecionistas adotadas em praticamente todos os mercados
mundiais. Outro, o etanol, que não se compara em custos ao petróleo como
combustível, mas tem aplicação crescente como aditivo à gasolina
principalmente no mercado nacional.
Apesar de tudo, o Brasil é o país com maior vantagem competitiva
nestes dois produtos. Tanto o açúcar quanto o etanol não enfrentam grandes
problemas com produtos substitutos. A cana-de-açúcar é reconhecidamente
mais produtiva que a beterraba, viável apenas quando altamente subsidiada.
Quanto ao etanol de cana de açúcar, seja utilizado na forma hidratada como
combustível direto, ou anidro, misturado a gasolina, até o momento esse
produto oferece nítidas vantagens ambientais e econômicas se comparado a
outros produtos utilizados para o mesmo fim, principalmente os derivados do
chumbo.
1.2 Etapas da produção agroindustrial canavieira
1.2.1 Composição da matéria prima e operações preliminares ao
processamento
Ao longo da história da agroindústria canavieira a cana de açúcar foi
utilizada como matéria prima para a fabricação de inúmeros produtos, dentre
estes se destacam o açúcar e mais recentemente o álcool, como os principais.
Os diversos produtos e subprodutos gerados no processamento da
cana dependem em grande parte da qualidade em que esse insumo chega até
as unidades processadoras. Essa qualidade deve-se a uma série de fatores
dentre eles: a variedade; condições de clima e solo; sistema de cultivo;
ausência ou emprego da irrigação; o estágio de maturação da cana; o teor de
10
impurezas minerais ou de matéria estranha; sanidade da cana em relação ao
ataque de doenças; o tempo de estocagem da cana queimada, entre outros.
A fim de avaliar todos esse fatores, suas implicações no processo
produtivo e efetuar a remuneração da cana de açúcar entregue por
fornecedores, todo o carregamento de cana de açúcar que chega até a usina
tem uma amostra recolhida e analisada
1
. Nessa análise, os técnicos procuram
avaliar metodologicamente segundo normalização a porcentagem de fibras, de
sólidos solúveis (Brix) e de sacarose (Pol) do caldo contido no carregamento
amostrado
2
.
A fibra é uma fração sólida composta de substâncias orgânicas
insolúveis em água, está presente no colmo da cana de açúcar, caracteriza-se
pela sua heterogeneidade do ponto de vista químico e morfológico. Constitui-
se principalmente de celulose e o seu teor depende da variedade, da idade da
cana e de outros fatores, gira entre 10 e 16% (MITRANI et al. 1999, p. 37-39).
O Brix é a porcentagem de sólidos solúveis contidos no caldo
amostrado, esses sólidos são agrupados em açúcares e não açúcares. Os
açúcares são representados pela glicose, frutose e principalmente sacarose
que é o componente mais importante para a etapa de processamento industrial
da cana. O Pol é a porcentagem do principal açúcar, a sacarose, que é
encontrado no caldo da amostra. A quantidade de sacarose presente no caldo
é de fundamental importância para um bom processamento e rendimento da
matéria prima, a frutose e a glicose também chamadas de açúcares
redutores contribuem positivamente para o processo industrial de cristalização
da sacarose (STUPIELLO, 1987, p. 764-766).
Feito a coleta da amostra para a análise de qualidade da matéria prima,
a cana é descarregada no pátio e em seguida é encaminhada até as
operações preliminares à moagem.
1
Em 1997 reuniões conjuntas entre fornecedores de cana ligados a ORPLANA e técnicos da
UNICA desenvolveram um novo sistema de pagamento pela tonelada de cana entregue pelos
produtores às unidades industriais. O resultado foi a elaboração de uma nova sistemática para
o pagamento de cana - Sistema de Remuneração da Tonelada de Cana pela Qualidade/
CONSECANA. Detalhes técnicos sobre esse novo sistema em BURNQUIST (1999, p. 14-16).
2
Os procedimentos de análise das amostras de cana são padronizados conforme
entendimento do Conselho de Produtores de Cana, Açúcar e Álcool de São Paulo
(CONSECANA-SP). Ver sobre as normas de avaliação de qualidade da cana de açúcar em
CONSECANA (2000).
11
A primeira dessas operações é a lavagem, consiste em eliminar as
impurezas minerais que foi se agregando a cana ao longo da etapa de
produção agrícola. Efetua-se a lavagem da cana com jatos de água
imediatamente antes da entrada desse insumo na esteira de processamento.
As águas residuárias da lavagem da cana apresentam alto potencial poluidor,
isso obriga as unidades agroindustriais a instalarem sistemas de tratamento
desse efluente antes do seu descarte em um manancial ou na lavoura.
Algumas usinas não utilizam o procedimento de lavagem da cana, ou o
utilizam apenas em ocasiões emergenciais de acúmulo elevado de impurezas
mineral (normalmente terra). Isso se deve ao fato de que a lavagem da cana,
principalmente a cana picada que é colhida mecanicamente, retira parte da
sacarose localizada na face de corte dos colmos da cana e esse açúcar não é
recuperado posteriormente.
Depois de lavado a cana entra em uma esteira onde é picada e
desfibrilada, essas operações, denominadas também de preliminares, visam à
destruição da casca e dos nós (parte dura da cana), o rompimento os vasos
celulares onde se localizam o caldo e a uniformização da cana facilitando o
processo de extração do caldo.
A operação de extração do caldo consiste em um sistema contínuo em
que a cana disfibrilada passa por conjuntos de moendas denominados ternos,
nesses conjuntos a cana é espremida entre três rolos ou cilindros e o caldo
escoa através de ranhuras até um outro recipiente. Em cada uma dessas
etapas de extração o bagaço processado sofre um embebidamento com água
a fim facilitar a diluição do caldo remanesceste e possibilitar uma melhor
extração. Essa operação tornou-se extremamente importante para o
processamento da cana de açúcar, a busca de uma melhor eficiência de
extração do caldo sofisticou com o passar dos anos essa operação permitindo
a introdução de moendas cada vez maiores em tamanho e em número.
É importante destacar que o produto final do processo de extração ou
moagem da cana é o caldo, também chamado de caldo misto, trata-se de uma
solução diluída de sacarose que devidamente processada gera o açúcar. o
bagaço ou bagacilho é o subproduto do processo de moagem, esse material é
constituído basicamente de fibras vegetais (celulose) e é muito valorizado na
12
própria usina como fonte geradora de energia para as várias etapas de
produção do açúcar e do álcool.
1.2.2 Fabricação de açúcar
No Brasil são produzidos basicamente dois tipos de açúcar, o açúcar
bruto ou demerara e o cristal branco. O açúcar bruto possui menor grau de
pureza e é vendido como matéria prima para refinarias, o cristal passa por
um processo de clarificação mais minucioso proporcionando-lhe melhor
qualidade
3
.
De maneira geral a produção do açúcar, seja bruto ou cristal, dividi-se
nas operações de: purificação do caldo, concentração, cristalização
complementar e centrifugação.
O caldo extraído da cana é uma solução de sacarose diluída de
impurezas, a operação de purificação tem a finalidade de eliminar essas
impurezas através do peneiramento e da clarificação química do caldo. Essa
separação física retira do caldo impurezas grosseiras como pedras, terra e
bagacilho. Na clarificação, ocorre à precipitação de impurezas menores através
da introdução de anidrido sulfuroso, em seguida o caldo passa por
decantadores e por uma correção na sua concentração hidrogeniônica (pH).
Em seguida o caldo é filtrado e as impurezas que precipitaram, chamadas de
torta de filtro, são recolhidas e destinadas conforme será tratado a seguir
(STUPIELLO, 1987, p. 790-791)
4
.
3
O açúcar bruto também é conhecido como VHP Very High Polarization, e durante mitos
anos foi o mais produzido e exportado pelo Brasil. O açúcar cristal é dividido conforme seu grau
de pureza e qualidade em Standard, Superior e Especial, sendo esse último destinado à
exportação.
4
Essa operação de filtragem é realizada por grandes filtros a vácuo denominados de filtros
rotativos.
13
FIGURA 1.1: Fluxograma resumido de uma usina com destilaria anexa.
Com a eliminação das impurezas do caldo este se torna uma solução
diluída de sacarose e para que ocorra a cristalização dessa sacarose, deve-se
retirar a água que é o elemento soluto. A concentração da sacarose consiste
em elevar a temperatura do caldo evaporando a água contida na mistura, feito
isso, o caldo se transforma em xarope e é cozido de maneira que ocorra a
cristalização espontânea da sacarose. O produto final dessa operação é uma
mistura de cristais e mel
5
.
A cristalização complementar faz com que os cristais ganhem novas
camadas e aumentem de tamanho, isso ocorre através de um cuidadoso
resfriamento e da circulação controlada de água. Por fim, a massa cozida com
cristais e mel é submetida a uma centrífuga, nessa máquina a mistura é
5
O mel de cana é o produto resultante da cristalização final do açúcar e que não pode ser mais
extraída sacarose por métodos convencionais. Ver mais sobre o mel de cana em RAMBLA
(1999, p. 49-55).
Moagem
Destilaria
Caldo
Caldeira
Bagaço
Álcool
Anidro
Turbinagem
Açúcar
Melaço
Branco
Demerara
Superior
Especial
Branco
Torta de filtro
Vinhaça
Álcool
Hidratado
14
introduzida no centro de um cesto perfurado e giratório, à medida que a massa
vai se deslocando para as paredes do cesto o mel atravessa a tela perfurada e
é redeslocado para o processo de cozimento. os cristais, denominados de
açúcar, ficam retidos no cesto e são deslocados para a secagem,
acondicionamento e armazenagem. O mel proveniente da massa de menor
pureza, que foi várias vezes cozido e centrifugado, é denominado de melaço
ou mel final e é enviado para a destilaria para a produção de álcool, ou
comercializado como subproduto in natura (STUPIELLO, 1987, p. 790-791).
1.2.3 Fabricação do álcool
O termo álcool é normalmente empregado para a substância conhecida
como etanol, metilcarbinol, álcool de cana ou de grãos. Trata-se de um líquido
incolor, transparente, volátil, de cheiro estéril e miscível em água, é empregado
na forma hidratada (de 95 a 96%) para atender a demanda da indústria
química e de bebida ou anidro (maior que 99% de volume) como combustível
(ARIAS, 1999, p. 229-230).
No Brasil sua fabricação é exclusivamente por via fermentativa baseado
no aproveitamento do mel final ou melaço das usinas, na utilização direta da
cana de açúcar, ou ainda na produção pela inversão do açúcar. A etapa de
fabricação do álcool de cana, conforme STUPIELLO (1987, Pág. 794-795),
resumidamente se dividi nas operações de extração do caldo, preparo do
mosto, preparo do fermento, fermentação, destilação, retificação e
desidratação.
O mosto, que pode ser de caldo misto ou de melaço, é um líquido que
contém açúcar dissolvido e apto à fermentação, para a preparação faz-se
necessário à correção de acidez e a correta suplementação de nitrogênio e
fósforo. Além disso, o mosto de caldo misto deve sofrer tratamento térmico
para a eliminação dos microrganismos contaminantes. A preparação do
fermento é de fundamental importância para uma satisfatória multiplicação das
leveduras capazes de transformar os açúcares do mosto em álcool e gás
carbono.
15
FIGURA 1.2: Fluxograma resumido de uma destilaria autônoma.
Acrescenta-se a levedura ao mosto dando início a primeira etapa do
processo contínuo de fermentação, em seguida o produto é recalcada para um
decantador onde se elimina parte das bactérias remanescentes. O excesso de
fermento é novamente aproveitado no processo, e o produto da fermentação
chamado de vinho é encaminhado para a destilaria. Na destilaria o vinho é
depurado duas vezes em uma coluna de destilação, na primeira elimina-se os
Cana de açúcar
Moagem
Caldo
Diluição
Melaço
Mosto
Adição de levedura
Fermentação
Vinhoto
Centrifugação
Levedura
Destilação
Vinhaça
Retificação
Óleo fúseo
Aguardente
Álcool residual
hidratado
Álcool direto
hidratado
Álcool neutro
Álcool retificado
Desidratação
Álcool anidro
Fertirrigação
Ração animal
Biodigestão
Álcool fino
Álcool extra fino
Álcool industrial
16
ésteres e aldeídos, e na segunda é fracionado em vinhoto (também chamado
de vinhaça) e no flegma que é o produto principal da destilação. O flegma é
novamente destilado em uma complexa operação de purificação denominada
retificação, resultando no álcool bruto ou de segunda e nos resíduos flegmaça
e óleo de fúsel.
Para a obtenção do produto final, ao álcool bruto acrescenta-se benzol
que é fracionado em uma coluna de destilação (debenzolagem), resultando
com produto final o álcool anidro e como resíduo o álcool bruto que será
reprocessado (STUPIELLO, 1987, p. 798-800).
Nota-se que cada processo de transformação descrito anteriormente
resulta em um produto final, que é encaminhado à fase seguinte e um
subproduto que nem sempre pode ser reaproveitado pelo sistema, gerando um
resíduo que deve ser descartado. Daí a importância de um sistema gerencial
que identifique, qualitativamente e quantitativamente cada um desses resíduos
a fim de que os mesmos tenham um reaproveitamento econômico e ambiental.
1.3 Principais resíduos envolvidos no processo produtivo
agroindustrial e seu potencial de utilização
A atual produção de cana de açúcar no Brasil tem como objetivo
atender as necessidades e metas ligadas diretamente à produção do açúcar,
tanto para o mercado interno e externo, e a produção do álcool combustível. A
busca por melhorias tecnológicas para o processamento da cana objetivando a
obtenção de um açúcar com alto padrão (elevada pureza e com cristais
uniformes) fez com que o nível de descartes (subprodutos) dessa agroindústria
aumentasse significativamente nos últimos anos. Além disso, o incremento do
Proalcool no fim da década de 1970 trouxe a tona, devidos a grande escala de
produção de álcool combustível, a vinhaça que obrigou o setor a encontrar
soluções econômicas e nem sempre ambientalmente corretas para sua
disposição (CORTEZ, 1992, p. 1).
Segundo RAMOS (1999), as usinas instaladas no Brasil sempre
deixaram de se beneficiarem ou pouco aproveitavam as possibilidades de
diversificação de seus processos produtivos. Apenas recentemente, tem-se
presenciado algumas iniciativas no sentido de explorar tais possibilidades.
17
Os principais subprodutos da agroindústria sucroalcooleira são: o
bagaço ou bagacilho, a torta de filtro, a vinhaça, o melaço, o óleo de fúsel,
álcool bruto e a levedura. Dentre esses os três primeiros receberão atenção
especial nesse trabalho, uma vez que apresentam grande valor econômico e
utilidade energética, como é o caso do bagaço ou porque apresentam elevada
potencialidade poluidora ao meio ambiente devido ao grande volume em que
são produzidos, como é o caso da vinhaça e da torta de filtro.
1.3.1 Levedura, melaço, álcool bruto e óleo fúsel
A produção de excedentes elevados de levedura pelas usinas não é o
objetivo dessa agroindústria. Segundo CORTEZ (1992, p. 12) cada litro de
álcool produzido rende de 15 a 40g de levedura e um controle cada vez mais
apurado do processo de fermentação faz com que o excedente seja totalmente
reaproveitado, quando não, é vendido como alimento animal
6
.
O melaço constitui-se o principal subproduto da indústria açucareira,
tem uma proporção entre 40 e 60 kg/tonelada de cana processada. Devido ao
seu elevado teor de açúcares totais e demais componentes, é reutilizado
integralmente na fabricação de álcool.
o álcool bruto, produzido na proporção de 1 a 5 litros para cada 100
litros de álcool, é reprocessado dentro da destilaria a partir de alguns
procedimentos químicos, transformado-se em álcool neutro ou até mesmo em
álcool combustível. O óleo sel, subproduto do processo de retificação do
vinho para a fabricação do álcool, é reempregado como matéria prima na
refinação de onde se extraem álcoois com diversos graus de pureza para a
elaboração de outras substâncias químicas (STUPIELLO, 1987, p. 802-803).
1.3.2 Bagaço
Levando-se em conta seu reaproveitamento energético, o principal
desses subprodutos tem sido o bagaço, uma vez que o mesmo é queimado em
caldeiras na própria usina, convertido em vapor e em energia elétrica pelo
processo denominado de cogeração. Essa operação proporciona as usinas do
6
A levedura é rica em proteína, vitaminas e sais minerais, a respeito do aproveitamento desse
subproduto para alimentação animal consultar MACHADO (1983, p.54).
18
país uma dependência praticamente zero, durante a safra, de outra fonte
externa de energia como, por exemplo, a energia elétrica via distribuidoras. A
cogeração é importante pois alia; a utilização sustentável de um resíduo com a
necessidade, principalmente do Centro-Sul do Brasil, em ampliar sua geração
energética alternativa uma vez que os recursos hidráulicos para esse fim estão
praticamente esgotados.
Conforme CORTEZ (1992, p. 3), a quantidade de 1 tonelada de cana
que é moída gera aproximadamente 250 kg de bagaço, revertido em energia
calórica isso representa o equivalente a 560.000 kcal, essa mesma quantidade
de cana produz 70 litros de álcool que proporciona em torno de 392.000 kcal
de energia, ou seja, existe mais energia embutida no bagaço da cana do que
no álcool isoladamente.
Segundo RODRIGUES (2001, p. 23-25) 240 kg de bagaço é retirado de
uma tonelada de cana, esse volume com o atual modelo tecnológico de
equipamentos para cogeração empregado em algumas usinas brasileiras,
proporcionam o equivalente a 70 kW/h de energia. Destes, 20 kW/h é utilizado
para gerar vapor e movimentar as máquinas que compõem toda a usina, cerca
de 10 kW/h é perdido e o restante simplesmente não é aproveitado
7
.
Comparado com a queima do bagaço com outros combustíveis fósseis,
ela é mais limpa gerando menor impacto ambiental uma vez que praticamente
não libera compostos com bases de enxofre como SO
2
ou SO
3
relativamente
comuns na queima de óleos combustíveis. Além disso, sua queima é lenta com
uma baixa temperatura de chama proporcionando pouca formação de óxido
nitroso.
A crise energética que se instalou no país no ano de 2001, as
freqüentes ameaças de “apagões” e a recessiva política federal de
racionamentos forçados fizeram pesquisadores, estudiosos e especialistas do
setor energético a repensarem a esgotada matriz energética nacional baseada
quase que exclusivamente em hidrelétricas. Uma das saídas propostas estava
embasada na construção de termoelétricas a gás natural da Bolívia,
7
RODRIGUES (2001, p. 23-25) “A tonelada de cana rende 240 kg de bagaço, que geram 70
kW/hora, dos quais 40 são excedentes não necessários na produção de açúcar e álcool, dando
margem à famosa cogeração de energia”. Conforme GASQUES (2003) “Hoje, cada tonelada de
cana resulta em 240 quilos de bagaço, que podem gerar 70 kW/hora de energia, dos quais 20
são usados na produção de açúcar e 40 simplesmente desperdiçados”.
19
combustível importado com preço fixado em dólar no mercado internacional. E
a outra, a utilização da capacidade instalada das usinas de cana para gerar
excedentes energéticos a partir da queima de biomassa.
Dentro desse quadro de risco potencial de déficit no abastecimento de
energia elétrica e de crise econômico-financeira do setor elétrico, algumas
usinas canavieiras começaram a viabilizar investimentos em equipamentos de
cogeração mais modernos e eficientes a fim de produzir margens de
excedentes de energia elétrica comercializáveis.
Um aspecto importante dessa possibilidade de expansão de energia
elétrica originada da cogeração de biomassa de bagaço é a heterogeneidade
das instalações das usinas. Existe uma grande diferença entre as unidades de
processamento de cana do país, diferenças nas eficiências de rendimento
agrícola, na capacidade de moagem e principalmente de postura empresarial.
Essa é o grande cuidado que se deve ter quando analisamos o potencial
gerador desse segmento da economia (NOGUEIRA, s/d, p. 6).
Os estudos realizados a cerca da utilização do bagaço nas próprias
usinas com finalidade energética são muitos e apontam sempre para a
ampliação dos sistemas de cogeração instalados. Isso necessariamente
demanda; a substituição de caldeiras que trabalham em baixa pressão por
equipamentos mais modernos, melhoras na eficiência das turbinas, ampliação
da oferta de geradores de eletricidade a vapor e das linhas de transmissão de
energia elétrica. Esse pacote tecnológico envolve muito investimento e tem
como retribuição do governo federal uma política ainda deficitária no que diz
respeito ao valor do kW/h firmado nos contratos entre concessionárias de
energia e usinas de cana.
1.3.3 Torta de filtro
A torta de filtro é um resíduo composto da mistura de bagaço moído e
lodo da decantação sendo proveniente do processo de clarificação do açúcar,
para cada tonelada de cana moída são produzidos de 30 a 40 kg de torta. É
um composto orgânico (85% da sua composição) rico em cálcio, nitrogênio e
potássio com composições variáveis dependendo da variedade da cana e da
sua maturação. O modo de aplicação do produto é testado de diferentes
20
formas nas unidades de produção, desde a aplicação da área total até nas
entrelinhas ou nos sulcos de plantio (CORTEZ, 1992, p.18-19).
A crescente utilização da torta de filtro como substituto de insumos
tradicionais a base de potássio dá-se principalmente na operação de plantio, a
torta de filtro é colocada no sulco juntamente com a muda de cana de açúcar.
Essa prática propicia bons resultados para a agricultura e as vantagens
nutricionais do produto são conhecidas desde a década de 1970. Porém, a
prática de aplicação da torta de filtro e a sua estocagem devem ser
rigorosamente controladas uma vez que esse material possui elevado
demanda bioquímica de oxigênio, uma fonte potencialmente poluidora que
causa danos ambientais graves como a contaminando dos cursos d’água e do
solo.
1.3.4 Vinhaça
a vinhaça é o principal subproduto da agroindústria canavieira por ser
um efluente altamente poluidor e apresentar-se em grande volume, dificultando
seu transporte e eliminação. É um resíduo resultante da destilação e
fermentação da cana de açúcar no processo de fabricação de álcool, também
pode originar-se como subproduto da produção de açúcar sendo eliminada no
processo de cristalização do caldo da cana. No geral a vinhaça é rica em
matéria orgânica e em nutrientes minerais como o potássio (K), o cálcio (Ca) e
o enxofre (S), e possui uma concentração hidrogeniônica (pH) variando entre
3,7 e 5,0 (LUDOVICE, 1996, p. 5-6).
A produção de vinhaça varia em função dos diferentes processos
empregados na fabricação do álcool, de maneira geral cada litro de álcool
produzido em uma destilaria gera entre 10 e 15 litros de vinhaça
8
. Uma
aparente solução para o descarte racional na vinhaça é o que atualmente
chama-se de fertirrigação, ou seja, a utilização desse produto rico em matéria
orgânica aplicada in natura em áreas de plantio de cana.
8
CORTEZ (1992, p. 13) coloca a proporção de 1 litro de álcool para uma variação de 10 a 15
de vinhaça. SZMRECSÁNYI (1994, p. 73) aponta para 10 ou mais litros de vinhaça para cada 1
litro de álcool. LUDOVICE (1996, p. 10) indica uma proporção de 13 litros de vinhaça para cada
litro de álcool.
21
1.4 Impactos ambientais dos processos produtivos sucroalcooleiros
A agroindústria de açúcar e álcool apresenta inúmeros riscos ampliados,
principalmente em relação ao potencial de impactos ambientais como as
emissões atmosféricas, contaminação nas águas e no solo. Além de
problemas ambientais, a cultura e o processamento da cana geram outros
tipos de impactos negativos, dentre esses se destacam os sociais tais como:
mudanças no modo produtivo dos municípios inseridos na economia
sucroalcooleira; competição com outros cultivos alimentares; concentração da
posse da terra e a incorporação de terras de pequenos e dios produtores
pelas empresas agrícolas.
Em relação aos principais impactos ambientais ocasionados pelos
diferentes processos produtivos, pode-se dividi-los em 2 categorias, os
gerados da fase agrícola e os da fase industrial. Na fase agrícola destaca-se:
Redução da biodiversidade causada pelo desmatamento e pela
implantação da monocultura canavieira;
Contaminação das águas superficiais e do solo através da prática
excessiva de adubos, corretivos minerais e aplicação de herbicidas;
Compactação do solo através do tráfego de maquinaria pesada durante o
plantio, os tratos culturais e a colheita;
Assoreamento de corpos d’água devido a erosão do solo em áreas de
renovação de lavoura;
Eliminação de fuligem e gases de efeito estufa na queima durante o
período de colheita.
Já na fase industrial pode-se relacionar:
A geração de resíduos potencialmente poluidores como a vinhaça e a torta
de filtro;
A utilização intensiva de água para o processamento industrial da cana de
açúcar;
O forte odor gerado na fase de fermentação e destilação do caldo para a
produção de álcool.
Devido à complexidade do setor, neste trabalho serão tratados os
impactos mais relevantes originados a partir da disposição da vinhaça, da torta
de filtro e da queima da palha da cana, além de alguns aspectos relacionados
22
com o uso e ocupação do solo. A respeito do bagaço, como descrito
anteriormente, seu reaproveitamento tem um impacto positivo ao meio
ambiente, uma vez que sua queima substitui a lenha e os combustíveis fósseis
como insumos para caldeiras geradoras de vapor durante o processo de
cogeração.
1.4.1 Queima da cana
A prática da queima da cana, como facilitador do processo de colheita, é
antiga e largamente utilizada em todo o país, trata-se de uma técnica que
permite o aumento da produtividade do trabalhador rural durante a colheita.
Além disso, reduz o custo de carregamento da cana de açúcar do campo até a
usina, aumentando a eficiência e o rendimento das moendas durante o
processo inicial de processamento na indústria
9
.
Segundo SZMRECSÁNYI (1994, p. 73-74), a queima anual dos
canaviais às vésperas da colheita provoca a destruição e a degradação de
ecossistemas, tanto nas lavouras como próximas a elas, além de ocasionar a
liberação de poluição atmosrica altamente prejudicial à saúde afetando todo
entorno da região canavieira.
Os impactos causados tanto no meio físico, biológico e antrópico são
inquestionavelmente negativos. As conseqüências dessa prática ao ser
humano são inúmeras, destacando os riscos de acidentes durante a queimada,
depreciação do panorama visual pela exposição dos efeitos da queimada,
incômodo proporcionado pela liberação de fumaça e os dados à saúde
causados pela fuligem
10
.
Em relação às conseqüências danosas para as características físicas do
solo temos a alteração da concentração de gases, a diminuição da fertilidade e
umidade do solo, a perda de nutrientes voláteis e a exposição do terreno aos
efeitos erosivos. Quanto aos efeitos ligados ao meio biológico destaca-se a
9
Para GONÇALVEZ (2003, p. 62-63) o problema das queimadas originou-se “de uma solução
reducionista, na qual se desconsiderou os problemas que esta prática traria ao meio-ambiente
e ao ser humano, em prol unicamente de se aumentar à produtividade do trabalho na cultura, e
desta forma aumentar o lucro dos produtores e empresários do setor, o que é característico do
capitalismo”.
10
Antrópico trata-se do estudo que é referente ao ser humano, tanto em suas características
biológicas e socioculturais, dando ênfase às diferenças e variações existentes.
23
redução de populações de espécies de vertebrados e insetos pela eliminação
de habitats ou morte pelo fogo (DUARTE, 2003, p. 26).
ILUSTRAÇÃO 1.1: Áreas de preservação ambiental degradada pela queima de
canavial
Fonte: Acervo do autor.
A emissão de gás carbônico no período de queimada causa incômodo a
população vizinha as lavouras, do ponto de vista ecológico esse dano
atmosférico é suprimido com o tempo uma vez que no período de rebrota e
crescimento do canavial, essa cultura demanda absorver gás carbono como
combustível fotossintético. Porém, além de emitir gás carbono, a queima da
cana libera ozônio, um gás altamente poluente que não se dissipa facilmente e
que, em baixa altitude, prejudica o crescimento de plantas e o desenvolvimento
de seres vivos (SZMRECSÁNYI 1994, p. 74).
Szmrecsányi, ainda nesse mesmo trabalho, analisando dados do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e concluiu que o volume de
gás ozônio lançado na atmosfera durante o período de queimada chega a
duplicar, atingindo padrões inadequados de concentração. Estimativas
realizadas por pesquisadores da EMBRAPA (EMBRAPA, 1997, p. 22) mostram
que o aumento da área colhida de cana e da produtividade entre 1990 e 1996
foi responsável por um acréscimo de 17% na produção canavieira, em
contrapartida, os índices de emissões de gases de efeito estufa, nesse mesmo
período, aumentaram em torno de 10%.
Em relação à fuligem, material particulado liberado durante a queima de
compostos carbônicos, trata-se de um material com alta potencialidade danosa
24
à saúde humana. Segundo FERRAZ et al. (2003, p. 98) estudos realizados no
Brasil indicam que esse particulado possui pelo menos 40 tipos de
hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, trata-se de compostos orgânicos com
propriedades mutagênicas e cancerígenas. Dentre esses compostos, os
autores destacam que 16 são considerados contaminantes pela agência norte-
americana de saúde.
TABELA 1.5: Valores estimados de emissões provenientes da queima de
resíduos de palha de cana (safra 2000/01)
Gases liberados Unidade
(milhões de toneladas)
Brasil São Paulo
Carbono total C 48,83 31,93
Nitrogênio total N 1,27 0,83
CO C 6,83 4,46
CH
4
C 0,32 0,21
N
2
O N 0,01 0,01
NO
x
N 0,52 0,32
Fonte: FIESP (2001, p. 36).
Durante o período de safra, as incidências de problemas respiratórios
decorrentes da eliminação de fuligem da queimada da cana aumentam
consideravelmente, é o que mostra o estudo de BOHM (1998, p. 40-41). Esse
autor destaca os principais quadros de problemas respiratórios que vão desde
uma simples inflamação até infecções crônicas, quadros que podem evoluir
consideravelmente ocasionando até mesmo um câncer. Além disso, aponta
populações de cidades localizadas em regiões com forte adensamento
canavieiro como Araraquara, Ribeirão Preto, Piracicaba entre outras, como as
mais atingidas.
TABELA 1.6: Comparação da geração de CO
2
na geração de eletricidade
Tipo de combustível Emissões (kg CO
2
/kWh) Condições
Cana de açúcar 0,057-0,11 Ciclo completo incluindo a energia indireta
dos equipamentos e insumos
Madeira 0,0465 Ciclo completo incluindo a energia indireta
dos equipamentos e insumos
Óleo combustível 0,87 Somente a queima do combustível
Gás natutarl 0,38 Somente a queima do combustível
Fonte: FIESP (2001, p. 34).
ILUSTRAÇÃO 1.2: Queimada de cana na Região de Piracicaba/SP
25
Fonte: Acervo do autor.
Como alternativa a essa prática altamente impactante ao meio ambiente
e devido à mobilização da população pedindo o fim das queimadas, um debate
a cerca desse assunto vem sendo realizado desde o início da década de 1990.
Em junho de 2001, uma proposta de Lei foi enviada a Assembléia Legislativa
pelo governador do Estado de São Paulo, elaborada a partir de estudos da
Secretaria do Meio-Ambiente.
Em setembro de 2002 essa lei foi aprovada (Lei 11.241/02) e passou
a complementar as leis anteriores, flexibilizando prazos e metas para a
eliminação do uso do fogo nos canaviais do Estado. Sob a justificativa dos
“empregos”, os prazos para a eliminação gradual das queimadas foram
estendidos a 2021 para áreas mecanizáveis e 2031 para áreas não
mecanizáveis (GONÇALVEZ, 2003, p. 9-10).
1.4.2 Disposição da torta de filtro
Em relação aos impactos ambientais causados pela utilização da torta
de filtro durante a prática agrícola do plantio da cana de açúcar, destaca-se
seu elevado potencial poluidor.
ILUSTRAÇÃO 1.3: Torta de filtro armazenada na Região de Piracicaba/SP
26
Fonte: Acervo autor.
Estudos realizados por RAMALHO (2001, p. 126) apontam para um
aumento na concentração dos teores de metais pesados em solos que
tradicionalmente recebem tratos culturais a base de torta de filtro e um
potencial risco de contaminação do lençol freático uma vez que esses metais
não são absorvidos pela planta e tender a percolar
11
. Este autor ainda
recomenda a utilização desse resíduo da forma de rodízio, evitando a sua
concentração durante safras seguidas na mesma área, e reforça a
necessidade de monitoramento nessas áreas de aplicação de torta de filtro a
fim de controlar e evitar o crescimento de níveis tóxicos de metais pesados no
solo.
1.4.3 Disposição da vinhaça
A fertirrigação de vinhaça nos canaviais foi intensificada a partir das
proibições de despejo desse subproduto nos cursos d’água
12
. Além disso, essa
prática de aplicar vinhaça in natura ganhou espaço uma vez que requeria
pouco investimento, baixo custo de manutenção, não envolvia uso de
11
Em RAMALHO (2001, p. 125-126) O uso da torta de filtro no solo cambissolo, durante 20
anos, acarretou aumentos significativos dos teores totais de Cd, Pb, Co, Cr, Cu e Ni, estando,
entretanto, esses metais em formas químicas pouco móveis e disponíveis para absorção pelas
plantas. Verifica-se que mais de 65% da concentração total de Zn, Cd, Pb, Cr, Co, Cu e Ni
encontram-se na fração residual, ou seja, fração não biodisponível do solo, o que reduziria a
absorção desses elementos pela cana-de-açúcar e os riscos de contaminação do lençol
freático.
12
Fertirrigação é uma prática agrícola que consiste na satisfação das necessidades hídricas da
cultura instalada simultaneamente com as suas necessidades nutricionais. Nessa técnica
utiliza-se a água como elemento hídrico de transporte dos nutrientes para a planta, desta forma
conforme a planta é irrigada o nutriente é disposto.
27
tecnologia complexa e possibilitava uma rápida eliminação de grandes
quantidades desse material (CORTEZ, 1992, p. 14)
13
. A partir de então, foram
realizados estudos que indicaram a ação benéfica dessa prática em relação à
recomposição de algumas propriedades químicas do solo
14
.
Quanto aplicada ao solo a partir da fertirrigação, a vinhaça favorece o
desenvolvimento de microorganismos que atuam sobre os diversos processos
biológicos, tais como mineralização e imobilização de nitrogênio, e sua
nitrificação, desnitrificação e fixação biológica. E de uma maneira indireta
facilita a ação dos microrganismos na aglutinação das partículas do solo,
aumentando a sua estruturação (DUARTE, 2003, p. 27).
Por se tratar de um método barato e eficiênte na eliminação desses
resíduos, a dosagem de vinhaça aplicada por fertirrigação nem sempre é
rigidamente controlada. Conforme SZMRECSÁNYI (1994, p. 74), a prática da
fertirrigação, apesar de antiga e bem disseminada, não pode ser excessiva ou
indiscriminada uma vez que seu potencial poluidor compromete o meio
ambiente, desde as características físicas e químicas do solo até as águas
subterrâneas a partir da sua percolação.
HASSUDA (1989, p. 84-85), com base nos estudos realizados, concluiu
que a infiltração da vinhaça na água subterrânea indisponibiliza sua
potabilidade uma vez que transfere para o lençol freático altas concentrações
de amônia, magnésio, alumínio, ferro, manganês, cloreto e matéria orgânica.
LUDOVICE (1996, p. 72) concluiu no seu estudo que os solos sob os
canais de escoamento de vinhaça são excessivamente suscetíveis a
contaminação por percolação da ordem de 91,4%, colocando em risco a
potabilidade dos lençóis freáticos.
SINABUCO et al. (1996) analisando a percolação de vinhaça nas
águas subterrâneas durante a safra de 1995 em São João da Boa Vista
através de fluorescência de raio x constatou a presença de metais pesados em
amostras de água do lençol freático.
13
A vinhaça ou vinhoto é proibido por lei ser lançado nos rios, lagoas e baixios no Decreto Lei
nº 303, de 28 de fevereiro de 1967.
14
A respeito de indicações da ação benéfica dessa prática em relação à recomposição de
algumas propriedades químicas do solo verificar em FREIRE (2000, p. 72-81).
28
Nota-se que a prática da disposição de vinhaça nas lavouras de cana de
açúcar, apesar de trazer em muitos casos um viável retorno econômico na
forma de melhorias na produtividade, ocasiona sérios danos ambientais
principalmente em áreas de aplicação irresponsável e não controlada.
Visto isso, é latente a necessidade de um sistema de gestão integrada
que priorize a questão ambiental de forma a atuar minimizando os efeitos
danosos ao meio ambiente causados pela disposição irregular desses
resíduos.
29
30
Capítulo II- AS BACIAS HIDROGÁFICAS DOS RIOS PIRACICABA,
CAPIVARI E JUNDIAÍ: A AGROINDUSTRIA CANAVIEIRA LOCAL E A
SITUAÇÃO AMBIENTAL
O objetivo desse capitulo é caracterizar as bacias hidrográficas dos rios
Piracicaba, Capivari e Jundiaí, descrever a importância economia dessa
região, suas principais cidades, população, sua vocação industrial, os
principais produtos agrícolas de destaque entre outras características. Além
disso, apontar a problemática ambiental que envolve praticamente todas as
cidades dessas bacias principalmente no tocante a três importantes recursos
naturais disponíveis a água, o solo e o ar.
Por se tratar de bacias hidrográficas urbanizadas, a questão da poluição
e contaminação dos rios nessa região dá-se principalmente através da carga
orgânica de esgoto não tratado e pela emissão de resíduos industriais.
Tratando-se especificamente da poluição industrial, a fiscalização sobre esses
agentes poluidores e o tratamento prévio de seus efluentes antes do descarte
nos rios tem atingido índices de controle cada vez mais elevados, porém esse
segmento tradicionalmente destaca-se como um agente poluidor altamente
potencial. Um outro ponto é a contaminação de cursos d’água pela aplicação
inadequado de resíduos e produtos químicos na agricultura.
Em relação ao solo, as principais preocupações na região das bacias do
Piracicaba, Capivari e Jundiaí estão na disposição do lixo doméstico nos
aterros sanitários municipais muitas vezes inadequados, na presença de áreas
industriais com elevada contaminação por metais pesados e outros elementos
nocivos, e na aplicação inadequada de resíduos agroindustriais nas áreas de
lavoura. Além disso, a crescente e desordenada ocupação do solo na área
urbana e agrícola dessa região desde a década de 1970, tem propiciado
impactos ambientais negativos.
Com relação ao recurso ar, os problemas de destaque estão ligados a
emissão de gases tóxicos derivado do elevado número de veículos
automotores. Cabe ainda destacar a emissão de gases como SO
2
nas cidades
mais industrializadas, com destaque aos setores químico e petroquímico que
causam graves problemas à saúde. o crescimento da produção canavieira
31
nessas bacias, tem provocado um aumento da poluição do ar (gases de efeito
estufa e fuligem) pela queima da cana no período de colheita, ocasionando
transtornos para a população urbana.
Por fim, destaca-se o setor sucroalcooleiro nas bacias do Piracicaba,
Capivari e Jundiaí mostrando a importância dessa atividade para a região, a
evolução recente desse setor e seu papel no desempenho econômico dessa
região.
A região de Piracicaba é a área mais antiga do estado de São Paulo em
termos de produção do complexo canavieiro. Historicamente essa região tem
se beneficiado dos avanços e da ampliação da atividade sucroalcooleira, como
exemplo ilustrativo da importância desse setor, na década de 1940 a produção
dessa região foi responsável por 42% de toda a produção paulista de cana,
seguida da região de Ribeirão Preto com 12%. no ano de 1975, essa
participação comparativa cai significativamente, Piracicaba colaborou com
12%, contra 14% de Ribeirão (RAMOS, 1983, p.148)
Além disso, a atividade canavieira nessa região proporcionou ganhos
significativos para a economia local e estadual. O elevado número de
engenhos turbinados instalados próximos a Piracicaba e que se transformaram
em usinas durante a década de 1940, foi responsável pelo surgimento de
pequenas oficinas metalúrgicas. Posteriormente, graças ao aquecimento da
economia paulista, essas oficinas se desenvolvem gerando um importante e
consolidado setor industrial de bens de capital, responsável pela produção de
máquinas e equipamentos para o setor sucroalcooleiro (RAMOS, 1983, p.23-
25).
2.1 Caracterização da área de estudo e sua problemática ambiental
2.1.1 Características físicas das bacias hidrográficas do Piracicaba, Capivari e
Jundiaí
O termo “bacia hidrográfica” é definido como uma determinada área de
drenagem contida pelo divisor de águas definido pela topografia de uma
região. Trata-se de um sistema terrestre e aquático geograficamente definido,
composto por características físicas, econômicas e sociais.
32
O Estado de São Paulo foi dividido em 22 Unidades de Gerenciamento
de Recursos Hídricos UGRHI, com base em fatores e características físicas,
climáticas, sociais e econômicas, para facilitar o gerenciamento
descentralizado dos recursos hídricos, dentre essas 22 destaca-se a UGRHI
Piracicaba/Capivari/Jundiaí
15
.
A Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos das Bacias dos
Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (UGRHI 5) é constituída palas bacias dos
rios Piracicaba com 11.320 km
2
, Capivari com 1.570 Km
2
e Jundiaí com 1.150
Km
2
, cujos cursos d’água são os principais afluentes da margem direita do
Tietê Médio Superior
16
. Conforme o relatório final do Plano de Bacia
Hidrográfica 2000-2003, realizado pelo Comitê das Bacias dos Rios Piracicaba,
Capivari e Jundiaí, a UGRHI-PCJ como é conhecida, tem uma área total de
14.040 km
2
, correspondendo a 92% dessa área (15.320 km
2
) dentro do Estado
de São Paulo. Os demais, aproximadamente 1.280 km
2
, pertencentes ao
Estado de Minas Gerais, onde estão localizadas as cabeceiras dos rios Jaguari
e Camanducaia (CBH-PCJ, 2003, p. 59-60).
A FIGURA 2.1 mostra a localização dos municípios que compõem
UGRH-PCJ (UGRHI 5), destacando os municípios da Região Metropolitana
de Campinas. Localizada na região leste do Estado de São Paulo, essas três
Bacias estende-se desde a divisa com o Estado de Minas Gerais até o
reservatório da Usina de Barra Bonita, no rio Tietê, uma extensão em linha reta
de cerca de 230 km.
No total, as bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí abrangem 57
municípios do Estado de São Paulo e 4 municípios em Minas Gerais (Toledo,
Itapeva, Extrema e Camanducaia) compreendendo um contingente de
aproximadamente 4,4 milhões de habitantes, o que representa em torno de
11,7% da população do estado
17
. A TABELA 2.2 indica cada uma das sub-
15
O Estado de São Paulo, em sua legislação sobre recursos hídricos, agrupou os municípios
em Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHIs) com a finalidade de facilitar a
implementação do sistema de Comitês de Bacia. Cada Comitê é composto por uma comissão
com representantes do governo e sociedade civil (COMITÊ, 2003, p. 50).
16
A UGRHI-PCJ é administrada pelo Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba,
Capivari e Jundiaí foi criado pela Lei estadual 7.663 de 30 de dezembro de 1991. Foi o primeiro
de uma série de 22 comitês instituídos em São Paulo a partir da Política Estadual de Recursos
Hídricos, com o objetivo de descentralizar o gerenciamento da água e integrar a participação da
sociedade civil nas suas decisões (COMITÊ, 2003, p. 61).
17
Dados obtidos a partir de adaptações da Tabela 3.14 de CARMO (2001, p. 129).
33
bacias formadoras da UGRHI-PCJ, os municípios que as compõem e as
respectivas áreas de drenagem.
FIGURA 2.1: Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos das Bacias
Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (UGRHI nº 5)
Fonte: Gerador de mapas do projeto Biota (www.biota.org.br).
O corredor São Paulo Campinas constitui-se no principal eixo de
estruturação e formação da rede urbana da UGRHI-PCJ, nesse eixo situam-se
os principais municípios dessas três bacias. Tratam-se de um conjunto de
núcleos urbanos subdividido por cidades conurbadas, pólos agroindustriais, de
comércio e serviços de âmbito intra-regional e núcleos de pequeno porte,
alguns com caráter de estância.
Desses 53 municípios pertencentes a UGRHI-CPJ e que estão
localizados em São Paulo apenas nove: Jundiaí, Campinas, Sumaré, Limeira,
Piracicaba, Americana, Santa Bárbara D’Oeste, Rio Claro e Bragança Paulista
concentram o equivalente a mais de 62% de toda a população dessas bacias.
Além disso, segundo levantamentos realizados por CARMO (2001, p. 128)
referentes a dados do censo demográfico do IBGE de 2000, o grau de
urbanização médio da Bacia do Piracicaba fica em torno de 94,3%.
TABELA 2.1: Descrição das sub-bacias formadoras da UGRHI-PCJ
34
Bacia Sub-bacia Área (km
2
) Municípios
Rio Atibaia 2.817,88 Atibaia, Joanópolis, Piracaia, Nazaré
Paulista, Jarinu, Bragança Paulista,
Bom Jesus dos Perdões, Itatiba,
Valinhos, Morungaba, Campinas,
Paulínia, Nova Odessa, Vinhedo,
Americana, Jaguariúna
Rio
Camanducaia
857,29 Monte Alegre do Sul, Pinhalzinho,
Pedra Bela, Amparo, Santo Antônio de
Posse, Pedreira
Rio Corumbataí 1.702,59 Analândia, Corumbataí, Rio Claro,
Santa Gertrudes, Ipeúna, Charqueada
Piracicaba
Alto Jaguari 1.181,63 Pedra Bela, Bragança Paulista,
Morungaba, Tuiuti, Pedreira, Piracaia,
Jaguariuna, Joanópolis, Vargem,
Baixo Jaguari 1.094,40 Artur Nogueira, Cosmópolis,
Holambra, Santo Antônio de Posse
Alto Piracicaba 1.878,99 Piracicaba, Santa Bárbara d'Oeste,
Rio das Pedras, Saltinho,
Iracemápolis, Cordeirópolis, Limeira,
Americana, Nova Odessa, Sumaré,
Hortolândia
Baixo Piracicaba 1.780,53 Santa Maria da Serra, São Pedro,
Água de São Pedro, Charqueada,
Piracicaba
Capivari
Rio Capivari 1.611,68 Louveira, Vinhedo, Jundiaí, Campinas,
Valinhos, Monte Mor, Elias Fausto,
Indaiatuba, Capivari, Rafard,
Mombuca, Rio das Pedras,
Jundiaí
Rio Jundiaí 1.1117,65 Atibaia, Campo Limpo Paulista,
Várzea Paulista, Jundiaí, Itupeva,
Salto, Jarinú, Indaiatuba, Cabreúva
Fonte: CBH-PCJ (2000, p. 78).
Na década de 1970, o processo de desconcentração industrial da
grande São Paulo transformou a região em torno da cidade de Campinas em
uma das frentes mais desenvolvidas da economia paulista, merecendo
destaque à elevada diversificação de sua base produtiva e a importante
presença de plantas industriais intensivas em capital e tecnologia. Além
dessas vantagens advindas da localização industrial estratégica, essas bacias
contaram com um forte impulso de políticas públicas de incentivo à
substituição da matriz energética (Pró-Álcool) e às culturas exportadoras, o que
culminou na criação de um dos pólos agro-industriais de maior relevância do
estado (SÃO PAULO, 2004, p. 49).
FIGURA 2.2: Principais sub-bacias que formam a bacia hidrográfica do
Piracicaba
35
Fonte: ESTUDO (2003, p. 23) http://www.cena.usp.br/piracena/html/localp.htm
Desta forma, toda a atividade industrial da UGRHI-PCJ, com exceção
dos municípios de Jundiaí, Piracicaba, Limeira e Rio Claro, concentra-se quase
que exclusivamente em oito cidades da Região Metropolitana de Campinas,
são elas: Americana, Paulínia, Campinas, Sumaré, Santa Bárbara D’Oeste,
Nova Odessa, Valinhos e Vinhedo. Trata-se de uma das regiões mais
industrializada do interior paulista, destacando as indústrias de alimentos,xtil,
metal-mecânica, metalurgia, material de transporte, química e petroquímica,
material elétrico e de comunicação como as principais.
De maneira geral, as bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí
apresentam um elevado grau de modernidade e diversificação no seu parque
industrial, como se pôde notar, toda essa atividade concentra-se praticamente
nos doze municípios anteriormente citados. O PIB da Região Metropolitana de
Campinas foi estimado em US$ 26,2 bilhões no ano de 2001, o que
corresponde a 12,5% do PIB estadual e a aproximadamente 5,6% do PIB
nacional. Estão localizadas na bacia em torno de 4 mil indústrias, o que
equivale dizer que, concentra-se em torno de 10% da produção indústrial
nacional. Dentre os setores industriais que mais crescem, destacam-se
telecomunicações, informática, química e automotiva, juntos representam mais
de 20% dos investimentos anunciados para o período 2003 a 2006 (APEX,
2004).
FIGURA 2.3: Bacias do PCJ, os principais municípios e aglomerados urbanos
36
Fonte: Gerador de mapas do projeto Biota (www.biota.org.br).
Em relação à atividade agrícola em 1996, segundo o IBGE, a região
possuía o equivalente a 720 mil hectares de terra agrícola, aproximadamente
48% da área total das bacias, dividida em lavoura permanente, temporária,
pastagem e matas e florestas. Desse total 60 mil ha, cerca de 8,5% eram
formados por culturas permanentes, 285 mil ha aproximadamente 39% de
lavouras temporárias, 38% ou 270 mil ha dedicado a pastagem e o restante,
aproximadamente 14,0% ou 100 mil ha reservados as matas nativas ou de
reflorestamento
18
(IBGE, 1996).
Em relação ao predomínio das culturas temporárias, destaca-se o
cultivo de cana de açúcar que historicamente é o principal produto agrícola
dessas bacias. a citricultura, com destaque a produção de laranja, como
indica a TABELA 2.2, foi e continua sendo a principal cultura permanente
plantada na região destacada.
TABELA 2.2: Evolução da ocupada com a citricultura (ha)
1999 2000 2001 2002
Brasil
1.135.612 970.883 940.202 947.214
São Paulo
833.523 670.249 642.104 647.665
18
Dados referentes a pesquisa ano base 1996 coletados no SIDRA (IBGE, 1996).
37
Bacia Piracicaba
65.769 54.181 53.836 60.100
Fonte: Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.
Nota: Valores totais de plantio para cultura de laranja, limão de tangerina.
O Relatório Final 2004 do Comitê das Bacias Hidrográficas do PCJ faz
uma análise comparativa de produção de todos os gêneros agrícolas da região
para as diferentes bacias. Nesse estudo se destaca a área ocupada com o
cultivo de cana de açúcar, café, milho e citros durante a 2004, conforme é
apresentado na TABELA 2.3 a seguir.
TABELA 2.3: Área ocupada com principais gêneros agrícolas nas respectivas
bacias hidrográficas em 2004 (valores em ha)
Bacias Cana Café Milho Citrus
1
Piracicaba
197.258 8.125 31.373 45.445
Capivari
46.850 53 6.551 244
Jundiaí
3.694 883 4.020 521
Total
247.806 9.061 41.944 46.089
Fonte: CBH-PCJ (2004, p. 100-103)
Nota:
1
Somatória das culturas de laranja, limão e tangerina.
TABELA 2.4: Participação percentual da área ocupada com gêneros agrícolas
na área total das respectivas sub-bacias hidrográficas em 2004 (porcentagem)
Bacias Sub-bacias Cana Café Milho Citrus
1
Camanducaia 2,31 3,96 4,45 1,69
Atibaia 2,00 0,77 2,57 0,53
Piracicaba
Corumbataí 27,51 0,24 1,71 5,51
Jaguari 9,74 0,78 4,57 9,24
Piracicaba 32,39 0,07 1,97 3,93
Capivari
Capivari 31,02 0,20 5,12 0,12
Jundiaí
Jundiaí 1,42 0,73 2,26 0,44
Fonte: CBH-PCJ (2004, p. 32-39)
Nota:
1
Somatória das culturas de laranja, limão e tangerina.
Quando se analisa dados referentes ao histórico de crescimento da
região de Campinas, e principalmente dos municípios de compõem as bacias
do Piracicaba, Capivari e Jundiaí, nota-se um processo histórico de
desenvolvimento acelerado e desorganizado. Essa agenda de crescimento mal
formulada ocasionou em um processo de industrialização heterogêneo,
gerando grandes desigualdades econômicas e sociais nos municípios dessa
região. O processo de urbanização, industrialização e de modernização
agrícola com que passou essas bacias a partir da década de 1970 não
priorizou os impactos ambientais e sociais decorrentes da utilização dos
recursos naturais disponíveis.
38
Os impactos ambientais da região estão diretamente ligados aos
recursos hídricos, a ocupação desordenada do solo em áreas urbanas e
agrícolas, e aos problemas decorrentes da eliminação de poluentes na
atmosfera. os impactos sociais ocasionam diversos tipos de problemas
habitacionais, de adensamento demográfico em alguns municípios,
transportes, saúde, educação entre outros.
2.1.2 Qualidade dos recursos hídricos nas bacias do Piracicaba, Capivari e
Jundiaí
Os principais rios que compõem a UGRHI-PCJ são: o Piracicaba, o
Capivari e o Jundiaí, e os mais importantes afluentes são o Atibaia, o Jaguari,
o Camanducaia e o Corumbataí. Além desses rios e de outros, existem nessas
três bacias importantes reservatórios de água, três deles situam-se na região
das cabeceiras e que fazem parte do Sistema Cantareira. Outro reservatório é
o de Santo Grande, situado na porção final do rio Atibaia, próximo às cidades
de Americana e Paulínia, e o último é o maior deles, chama-se reservatório de
Santa Maria e situa-se na fração final da bacia
19
.
Atualmente os principais problemas sócio-ambientais no conjunto
dessas três bacias dizem respeito diretamente a questão hídrica. O excessivo
uso de água a fim de suprir as necessidades da expansão das cidades, do
crescimento industrial e agricultura não foi planejado dentro de uma ótica
sustentável e equilibrada. O despejo de efluentes domésticos e industriais sem
tratamento prévio inviabiliza muitas vezes a utilização a jusante da água dos
principais mananciais dessa região.
19
O Sistema Cantareira trata-se de um complexo hídrico composto por 3 barragens de
armazenamento de água. Esse sistema foi construído estrategicamente durante a década de
1970 nas cabeceiras dos rios Jacaré, Jaguari e Atibainha. É responsável pela exportação de
água de excelente qualidade da bacia do Piracicaba para a região Metropolitana de São Paulo,
em que se localiza na bacia do Alto Tiête, aproximadamente 60% da água que abastece a
cidade de São Paulo é proveniente da bacia do Piracicaba.
39
FIGURA 2.4: Principais reservatórios localizados nas bacias do PCJ
Fonte: Gerador de mapas do projeto Biota (www.biota.org.br).
Da retirada total de água dessas três bacias durante o no ano de 2002,
como se pode observar na TABELA 2.5, aproximadamente 31 m
3
/s foram
utilizados para suprir a demanda do abastecimento urbano e industrial da
própria região, nesse caso é importante salientar que, em torno de 80% desse
volume volta aos rios na forma de efluente doméstico e industrial. A demanda
agrícola para a prática da irrigação e outras atividades consumiu em torno de
6,2 m
3
/s, estima-se que 25% do total utilizado para a irrigação retorne aos rios,
os demais são perdidos por evaporação e evapotranspiração das plantas. A
principal e mais expressiva retirada de água dos rios que compõem essas
bacias refere-se a um volume de 31 m
3
/s que é o bombeado pelo sistema
Cantareira para abastecimento urbano da Região Metropolitana de São Paulo
(SÃO PAULO, 2004, p. 25).
Como se pôde notar, a somatória da demanda total de água retirada
das bacias do PCJ é de aproximadamente 69 m
3
/s, 23% é utilizado para uso
urbano, outros 23% para uso industrial, em torno de 9% para irrigação e outras
atividades agrícolas e 45% é exportado para a Bacia Hidrográfica do Alto Tietê
onde se localiza a Região Metropolitana de São Paulo. A TABELA 2.6 indica a
40
participação das principais sub-bacias no montante total da vazão do
Piracicaba.
TABELA 2.5: Demanda de água e balanços nas bacias do PCJ em 2002
Usos Demanda m
3
/s
Doméstico 15,8
Industrial 15,6
Irrigação 5,64
Aqüicultura 0,446
Pecuária 0,0126
Mineração 0,0756
Sub-total 37,57
Exportação 31,20
Total 68,8
Fonte: ESTUDO (2003, p. 25) e SÃO PAULO (2004, p. 59).
TABELA 2.6: Áreas de drenagem e vazões médias e críticas das principais
sub-bacias formadoras das bacias do PCJ para o ano de 2003.
Sub- Bacias Vazão média anual m
3
/s Vazão crítica
1
m
3
/s Área km
2
Camanducaia
10,49 3,4
1.030
Jaguari
21,17 5,8
3.290
Atibaia
26,46 13,7
2.820
Corumbataí
19 6,55
1.690
Total 77,12 29,45 15.320
Fonte: Dados adaptados de CBH-PCJ (2003, p. 150, 167-171).
Notas:
1
Vazão crítica referente ao mês de setembro.
Conforme o Plano de Bacias 2003 a demanda de água para uso
industrial era de aproximadamente 17,3 m
3
/s. Desse total, 93,5% são
provenientes de mananciais superficiais e 3,5%, de mananciais subterrâneos,
em ambos os casos o uso da água é liberado a partir de autorgas emitidas
pelo DAEE. os outros e 3%, eram supridos pela redes públicas de
abastecimento de água. As captações superficiais eram explorados através de
204 autorgas divididas em diferentes faixas de vazões, onde 108 usuários
demandavam uma vazão inferiores a 0,01 m
3
/s, totalizam uma vazão de 0,35
m
3
/s o que corresponde a 2,0% do uso industrial total das bacias. os 10
maiores usuários eram autorgados a utilizarem aproximadamente 12,8 m
3
/s ou
74% do total do uso industrial de água autorgado na UGRHI-PCJ (CBH-PCJ,
2003, p. 55-56).
A TABELA 2.7 apresenta a relação dos 10 maiores usuários, suas
demandas autorgadas e mananciais utilizados. Entre os maiores usuários
indicados, destacam-se três usinas sucroalcooleiras.
TABELA 2.7: Maiores usuários industriais
41
Indústria Demanda (m
3
/s) Manancial
Usina Açucareira Ester 3,81
2
Rio Pirapitingui
Rodhia do Brasil 2,35 Rio Atibaia
Cia Paulista de Força e Luz 2,14 Rio Piracicaba
União São Paulo – Agricultura Ind. Com.
1
1,39 Rio Capivari
Ripasa S/A Celulose e Papel 1,00 Rio Piracicaba
Usina Santa Helena S/A Açúcar e Álcool
3
0,50 Rib. Cordeiro
Petrobrás – Replan 0,50 Rio Jaguari
Butilamil Ind. Reunidas 0,459 Rio Corumbataí
Ajinomoto Interamericana Ind. Com. Ltda 0,347 Rio Jaguari
Cia Antarctica Paulista Ind. Bras. Bebidas 0,33 Rio Jaguari
Fonte: CBH-PCJ (2003, p. 56).
Notas:
1
Atual Cosan S/A Filial Usina Rafard.
3
Atual Cosan S/A Filial Usina Santa Helena.
2
Vazão total autorgada total incluindo captação e barramento para fins energéticos.
Anualmente a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo por
meio da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental-CETESB realiza
um diagnóstico de qualidade da água em todas as 22 UGRHI do estado. O
Relatório de Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo-2003
apontou de uma forma geral que a qualidade da água dos rios que compõem
as bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí apresentou um piora em relação ao
ano anterior. Os principais problemas destacados pelo relatório são
decorrentes da elevada carga orgânica sem tratamento que é despejada
diariamente nos principais rios das bacias.
Dentre os afluentes, a sub-bacia do rio Atibaia é que apresenta uma
situação mais emergencial, principalmente nas áreas com elevada densidade
populacional. O trecho do rio que corta o município de Campinas apresenta
índices de concentração orgânica e de coliformes acima do permitido pelo
CONAMA, além disso, todos os copos d’água que compõem esta sub-bacia
apresentam um elevado grau de eutrofização, o que diminui a potabilidade de
suas águas e encarece o seu tratamento a jusante
20
. O relatório destaca um
aumento gradativo na piora dos níveis de qualidade das águas desse rio no
trecho que compreende o pólo petroquímico de Paulínia (SÃO PAULO , 2004b,
p. 89-92).
as sub-bacias dos rios Jaguari e Camanducaia apresentam, de
maneira geral, uma melhor situação que a do Atibaia. O relatório aponta a
preocupação com os baixos níveis de oxigenação e elevada carga orgânica em
20
A eutrofização promove o crescimento da comunidade fitoplanctônica acarretando riscos de
proliferação de espécies de algas potencialmente tóxicas.
42
alguns pontos isolados desses rios, associando esses problemas ao
lançamento de esgoto doméstico e efluente industriais não tratado (SÃO
PAULO, 2004b, p. 92-94).
A qualidade das águas do rio Piracicaba apresentou uma piora nos
índices que medem a matéria orgânica biodegradável, o fósforo total e a
contaminação fecal, principalmente no trecho após a contribuição do Ribeirão
do Quilombo. Este ribeirão sofre forte influência dos lançamentos dos efluentes
domésticos dos municípios de Campinas, Sumaré e Americana. Além disso, a
elevada concentração de metais pesados e de matéria orgânica no Ribeirão do
Tatu e no Ribeirão dos Toledos, é destacado no Relatório como uma outra
fonte expressiva de poluentes e contaminantes para o Piracicaba (SÃO
PAULO, 2004b, p. 88-89).
O rio Jundiaí foi incluído na categoria hipereutrófico, devido às elevadas
concentrações de fósforo total, além disso apresenta taxas de concentrações
de coliforme acima dos limites pré estabelecidos. Ao longo do rio Jundiaí,
conforme esse passa pelo município de Jundiaí observa-se uma piora na
qualidade de suas águas em termos de matéria orgânica biodegradável,
fósforo total e nitrogênio, a ponto do rio apresentar-se praticamente sem
oxigênio dissolvido durante um pequeno trecho de monitoramento (SÃO
PAULO, 2004b, p. 85-87).
A análise rio Capivari contida no relatório da CETESB apresentou uma
piora na qualidade de suas águas ao longo de dois trechos, esses trechos se
situam a jusante dos municípios de Louveira e Campinas, respectivamente,
recebendo os lançamentos tanto de origem doméstica quanto industrial destes
municípios (SÃO PAULO, 2004b, p. 83-85).
TABELA 2.8: Ranking do tratamento de esgoto doméstico nas 22 UGRHI de
São Paulo
UGHI Ranking Esgoto tratado %
S. J. dos Dourados
1 97
Pontal do Paranapanema
2 78
Baixo Tiete
3 73
Aguapeis
4 71
Sapucaia/Grande
5 61
Baixada Santista
6 59
43
Alto Paranapanema
7 50
Piracicaba, Capivari e Jundiaí 21 19
Mantiqueira
22 6
Fonte:Adaptado de SÃO PAULO (2004b, p. 248).
Como frisado anteriormente, as bacias do PCJ apresentam uma elevada
produção sucroalcooleira, as usinas instaladas na região fazem parte das sub-
bacias do Capivari, Jaguari, Piracicaba e Corumbataí, trata-se de
agroindústrias que apresentam um consumo elevado de água em suas etapas
de transformação produtivas
21
.
TABELA 2.9: Distribuição da demanda industrial de água por atividade no
Estado de São Paulo (1990)
Atividade Captação Total m
3
/s Participação do total %
Usina de açúcar e álcool
47,08 41,7
Química, petroquímica
19,72 17,5
Celulose, papel e papelão
13,65 12,1
Mecânica e materiais elétricos
12,59 11,1
Têxtil
5,0 4,4
Curtume, abatedouro
0,76 0,68
Alimento em geral
6,77 6,0
Bebida em geral
5,11 4,5
Outros
2,07 1,8
Total
112,75 100
Fonte: Adaptado de SÃO PAULO (2002).
Segundo um levantamento de demanda realizado em 1990 pela
Secretaria Estadual de Meio Ambiente, a agroindústria canavieira foi
responsável pelo consumo de aproximadamente 41% de toda a água
destinada ao uso industrial no Estado de São Paulo (TABELA 2.9). Apesar
desse elevado consumo, o total de usinas em 1990 que era de
aproximadamente 96 representava apenas 4% do total do número de
indústrias do Estado cadastrados no levantamento. A presença de usinas de
cana de açúcar é mais marcante nas bacias Baixo Pardo-Mogi, São José dos
Dourados, Aguapeí, Tietê-Jacaré e Baixo Paranapanema onde
aproximadamente 80% de toda vazão de água das bacias, destinadas a
produção industrial foram utilizadas na produção sucroalcooleira. Já nas bacias
21
Pesquisa realizada em usinas na Bacia do Pardo-Mogui indicam que uma usina média que
processa 1 milhão de tonelada de cana por safra, produz diariamente 380 mil litros de álcool, 10
mil sacos de açúcar, 4 mil m
3
de vinhaça, necessita captar o equivalente a 10,8 mil m
3
por dia
de água da bacia. Levando em consideração as 28 usinas instaladas na bacia, na última safra
captaram em torno de 50 milhões de m
3
de água (ROGRIGUES et. al., 2003, p. 10).
44
do Piracicaba, Capivari e Jundiaí, devido a sua elevada concentração industrial
de vários segmentos, o levantamento aponta uma distribuição de água
equivalente entre usinas de açúcar e álcool e indústrias química, petroquímica
e de celulose.
2.1.3 Poluição do ar nas bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí
A preocupação com a qualidade do ar nessas bacias tem sido
ressaltada pela CETESB a cada ano. Acompanhamentos de emissões de
gases tóxicos são feitos em unidades instaladas nos municípios de Campinas
e de Paulínia, além dos monitoramentos constantes nas principais indústrias
geradoras de poluentes atmosféricos. A presença de um importante pólo
químico e petroquímico em Paulínia com ramificações em Sumaré, Americana
e Campinas reforça ainda mais a necessidade da verificação constante do
índice de emissões dos principais gases poluentes desses centros industriais.
Os principais poluentes atmosféricos monitorados são os compostos de
gases sulfurosos, também conhecidos como SO
2
, o monóxido de carbono
(CO), o gás ozônio (O
3
) que é monitorado apenas em Paulínia e o material
particulado, que são fuligens e fumaças.
De maneira geral, na Região Metropolitana de Campinas durante o ano
de 2003 foram lançados na atmosfera a partir de veículos automotores o
equivalente a 310 mil toneladas de monóxido de carbono (CO). Em relação
aos gases sulfurosos (SO
2
), no total foram lançadas no ano passado 29 mil
toneladas, 88% desse total emitidos pelo parque industrial dos principais
municípios e o restante, aproximadamente 12%, por fontes móveis. Dentre as
indústrias que mais contribuíram para a queima de combustíveis e a
conseqüente emissão de SO
2
estão a CPFL-Carioba, a Petrobrás-Replan, a
Rhodia e a Ripasa que juntas respondem por mais de 80 % da emissão total
desse gás (SÃO PAULO, 2004c, p. 14-16).
Em relação à emissão total de óxidos de nitrogênio (NO
x
) nas três
bacias, foram lançados em 2003 o equivalente a 17 mil toneladas desses
gases, somente a Replan foi responsável pela emissão de 77% desse volume.
Apesar dos dados acima inspirarem cuidados, durante todo o ano de 2003 não
45
houve problema com a qualidade do ar decorrente da disposição desse gás
(SÃO PAULO, 2004c, p.59).
Analisando os dados da Cetesb sobre poluição atmosférica a partir de
material particulado (MP), nota-se que os setores sucroalcooleiro e o de
celulose e papel o os que mais emitem esse poluente na atmosfera. No ano
de 2003 foram lançados na região mais de 5 mil toneladas de material
particulado, somente a Ripasa foi responsável por mais de 31% desse
montante, a Usina Açucareira Ester, a única agroindústria que consta da
pesquisa da Cetesb, liberou o equivalente a 424 toneladas de particulado, ou
seja, mais de 7% do total do ano (SÃO PAULO, 2004c, p. 16).
Segundo estudo realizado por MARTINS & GALLO (1995, p. 19-20),
apenas seis grandes usinas de álcool e açúcar localizadas na bacia do
Piracicaba foram responsáveis em 1992 pela emissão de 8,5 mil toneladas de
material particulado o equivalente a 31,6% de toda a emissão remanescente
dessa bacia
22
. Além disso, esses autores destacam, mais especificamente na
sub-bacias do Piracicaba, Jaguari e na bacia do Capivari, que o aumento da
poluição do ar em conseqüência da queima da palha da cana durante o
período de colheita, tem trazido transtornos à população que reside vizinho às
lavouras.
2.1.4 Poluição do solo nas bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí
A questão da gestão dos resíduos sólidos tornou-se, na década de
1990, um assunto de maior relevância na agenda ambiental da maioria dos
países. Particularmente em determinadas regiões, esse problema vem se
agravando em conseqüência do processo de industrialização e do elevado
crescimento demográfico.
Conforme SÃO PAULO (1996), os resíduos sólidos são definidos como
aqueles que se apresentam no estado lido, semi-sólido e os líquidos e que
não são passíveis de tratamento convencional, resultante de atividades
22
Em relação à proporção de material particulado emitido pelas agroindústrias canavieiras,
MARTINS & GALLO (1995, p. 20) destaca um estudo realizado pela Cetesb-Piracicaba. Esse
estudo aponta que cada tonelada de cana queimada libera aproximadamente 4 quilos de
ciscos. Numa região como a da bacia do Piracicaba, que produz 14 mil toneladas de cana por
safra, o volume de ciscos liberados durante a queima chega a valores em torno de 56 mil
toneladas por safra.
46
humanas. São classificados conforme sua origem, podem ser: domésticos,
industriais e rurais
23
. Os resíduos domésticos são provenientes de residências
ou qualquer outra atividade que gere resíduos com características domiciliares,
incluem-se os resíduos de limpeza pública urbana. Os resíduos industriais
são oriundos de atividades de pesquisa e produção de bens, como os
provenientes das atividades de mineração e aqueles gerados em áreas de
utilidades e manutenção dos estabelecimentos industriais. E os resíduos de
atividades rurais são os provenientes da atividade agrosilvopastoril, inclusive
os resíduos dos insumos utilizados nestas atividades.
Em relação à geração e a disposição dos resíduos domiciliares, também
chamados de lixo domiciliar, o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos 2003
aponta que, de maneira geral, a situação de disposição dos resíduos
domésticos tem melhorado em São Paulo. Segundo esse inventário, em 1997
apenas 10,9% dos municípios dispunha adequadamente seu lixo domiciliar, no
ano passado esse mero já subiu para 77%. Quanto à qualidade dos aterros
sanitários, o inventário destaca em 2003 que 41,3% dos municípios dispunham
de aterros considerados adequados, 33% considerados controlados e 27,8%
inadequados para o depósito do lixo, em 1997 esses números eram de apenas
4,2% para os adequados, 18% para instalações consideradas controladas e
77,8% para instalações inadequadas (SÃO PAULO, 2004a, p. 38).
Nas bacias do Piracicaba, Capivari e Jundi estima-se que são
produzidos diariamente em torno de 3.000 ton/dia de resíduos sólidos
domésticos, somente os municípios de Americana, Bragança Paulista,
Campinas, Jundiaí, Limeira, Piracicaba e Rio Claro são responsáveis juntos
por mais de 50% do volume total gerado por dia
24
. É importante destacar que
23
Além da classificação segundo as origens, são também identificadas conforme a natureza da
sua periculosidade, desta forma são divididos em:
a) resíduos classe I perigosos: são aqueles que, em função de suas características
intrínsecas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade,
apresentam riscos à saúde ou ao meio ambiente;
b) resíduos classe II - não inertes: são aqueles que podem apresentar características de
combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, com possibilidade de acarretar riscos
à saúde ou ao meio ambiente, não se enquadrando nas classificações de resíduos classe I
– perigosos ou classe III – inertes;
c) resíduos classe III inertes: são aqueles que, por suas características intrínsecas, não
oferecem riscos à saúde e que não apresentam constituintes solúveis em água em
concentrações superiores aos padrões de potabilidade (1996).CETESB,
24
Essa estimativa é realizada a partir do Índice de Produção "Per Capita" de Resíduos Sólidos
Domiciliares. Esse índice determina, aproximadamente, em função da população urbana de
um determinado município ou região a produção diária por habitante de resíduos sólidos
47
sozinho, o município de Campinas é responsável por aproximadamente 24%,
algo em torno de 687 ton/dia desse tipo de resíduo (SÃO PAULO, 2004a, p.
13-27).
Quanto à acomodação desses resíduos a Cetesb controla os aterros
sanitários de todos os municípios dessas bacias. Esse monitoramento é
importante uma vez que a disposição irregular desse tipo de resíduo traz sérios
problemas de ordem ambiental tais como contaminação do solo e do lençol
freático. O inventário referente ao ano de 2003 (SÃO PAULO, 2004a, p. 19-27)
aponta que, nas principais cidades dessas três bacias apenas Piracicaba,
Santa Bárbara D’Oeste, Nova Odessa e Rio Claro tiveram um conceito
satisfatório em relação à qualidade da disposição de seus resíduos, os demais
apresentam condições plenamente adequadas de acomodação desses
resíduos.os municípios de Pedreira e Rio das Pedras têm seus sistemas de
depósitos de resíduos domiciliares impróprios e desaprovados pelo órgão
ambiental, os demais municípios variam entre adequados e satisfatórios.
De maneira geral, os resíduos sólidos industriais são gerados na região
em um volume de até três vezes superior a produção dos resíduos sólidos
urbanos ou domiciliares
25
. Além disso, aproximadamente 4% de todo esse
volume gerado diariamente é classificado como sendo perigoso, exigindo
cuidados especiais no seu acondicionamento, transporte e disposição final em
aterros qualificados que não dispomos na região. No total são gerados
diariamente nessas bacias aproximadamente 5.250 ton/dia de resíduo
industrial dentre as quais 210 ton/dia são consideradas perigosas.
As agroindústrias canavieiras das bacias do PCJ contribuem e muito
para o montante de resíduos sólidos que potencialmente geram impactos
negativos sobre os solos da região. A cadeia produtiva do álcool e do açúcar
envolve uma série processos agrícolas e industriais, que vão desde o plantio
até a obtenção dos principais produtos finais. Trata-se de uma cadeia
complexa e altamente diversificada, que gera diferentes tipos de resíduos
domiciliares. Assim temos que para uma população de até 100 mil habitantes gera-se o
equivalente a 0,4 kg diários/habitante; entre 100 e 200 mil 0,5 kg diários/habitante; entre 200
e 500 mil 0,6 kg diários/habitante e acima de 500 mil 0,7 kg diários/habitante de resíduo
domiciliar (CETESB, 2004a, p.11).
25
Estimativa apresentada em MARTINS & GALLO (1995, p. 20).
48
potencialmente poluidores e inúmeros impactos conforme descritos neste
trabalho
26
.
2.2 Desempenho atual do setor agroindustrial canavieiro nas bacias do
Piracicaba, Capivari e Jundiaí
No que diz respeito à cultura da cana de açúcar, São Paulo nos últimos
anos participou com aproximadamente 65% da produção nacional de cana
para indústria. Por sua vez a região agrícola que compreende os municípios
formadores das bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí constituem uma das
mais tradicionais regiões produtora de cana de açúcar do país, possui 9 usinas
canavieiras em atividade que são responsáveis por cerca 8% de toda a
produção de cana do Estado de São Paulo.
Uma vez que essa região é o foco do desenvolvimento desse trabalho, e
que apresenta uma importante fração da agroindústria canavieira estadual e
nacional, os dados apresentados nessa seção visam justamente reforçar a
aptidão canavieira na região dessas três bacias. Além disso, objetiva-se com a
apresentação de dados de produção fazer uma breve caracterização dessa
importante região sucroalcooleira frente à agroindústria canavieira paulista e
nacional.
Torna-se importante ressaltar que o recorte regional por bacia
hidrográfica leva em consideração somente aspectos ambientais como o
relevo, a disposição hídrica, o escoamento superficial de precipitações
pluviométrica e dos corpos d’água. Desta forma, os 53 municípios paulistas
que compõem as bacias hidrográficas do Piracicaba, Capivari e Jundiaí estão
divididos entre os Escritórios de Desenvolvimento Rural - EDR de Campinas,
Limeira, Bragança Paulista, Mogi Mirim e Piracicaba, todos pertencentes a RA
Campinas. Deve-se destacar que a recíproca não é verdadeira, ou seja, nem
todos os municípios que compõem esse EDR fazem parte das bacias do PCJ,
26
Entre os principais impactos ambientais causados ao solo pela monocultura canavieira pode-
se destacar: desmatamento, intensificação de processos erosivos e de assoreamento de
corpos d’água; modificação do escoamento águas superficiais e no movimento das águas de
subsuperfície; alteração de processos físicos e químicos no solo; compactação do solo devido
ao uso intensivo de máquinas; poluição do solo e águas por agroquímicos; entre outros
(FIESP/CIESP, 2001, p. 16-18).
49
a TABELA 2.10 indica cada um dos municípios que compõem os EDR e que
fazem parte das bacias hidrográficas do PCJ.
Os municípios que fazem parte dessas bacias e que compõem o EDR
de Bragança Paulista não apresentam produção canavieira para
processamento industrial, desta forma os dados apresentados nessa seção do
trabalho e indicados como das bacias do PCJ refere-se apenas aos municípios
das bacias pertencentes aos EDR de Campinas, Limeira, Piracicaba e Mogi
Mirim. Um outro ponto importante a destacar é que existem usinas que
possuem áreas de produção canavieira que extrapolam os limitem municipais,
estaduais e principalmente das bacias hidrográficas. Nestes casos, o trabalho
considerará a agroindústria canavieira como pertencente as três bacias
caso sua unidade de processamento, ou seja, a sua usina esteja localizada
dentro de um dos municípios que compõem as bacias, independentemente da
localização de suas áreas de produção canavieira.
A RA Campinas é formado por 77 municípios e atualmente possui em
torno de 15 agroindústrias sucroalcooleiras em atividade, dentre essas, apenas
9 encontram-se com sua unidade industrial instalada entre os municípios que
compõem as bacias hidrográficas do Piracicaba, Capivari e Jundi são elas:
Cosan S/A Filial Costa Pinto em Piracicaba; Cosan S/A Filial Santa Helena em
Rio das Pedras; Cosan S/A Filial Rafard em Rafard; Cosan S/A Filial São
Francisco em Elias Fausto; Ester em Cosmópolis; Furlan em Santa Bárbara
D’Oeste; Iracema em Iracemápolis, Bom Retiro em Capivari e São José em
Rio das Pedras. A FIGURA 2.5 mostra a localização dessas unidades em um
mapa representativo das bacias. Os valores de produção canavieira,
açucareira e alcooleira discriminadas como sendo das bacias do PCJ e
apresentadas nessa seção do trabalho, o dados referentes a essas nove
agroindústrias.
50
FIGURA 2.5: Usinas localizadas nas bacias do PCJ
Fonte: Gerador de mapas do projeto Biota (www.biota.org.br).
Apesar da Região Administrativa levar o nome do EDR de Campinas a
produção canavieira, de álcool e de açúcar dessa EDR é pequena se
comparada com o EDR Piracicaba e o EDR Limeira. A TABELA 2.11
desmembra a produção de cana, de álcool e de açúcar dos seis Escritórios de
Desenvolvimento Rural que compõem a RA Campinas e das bacias do PCJ
nas duas últimas safras.
Pode-se notar a partir dos dados apresentados na Tabela 2.11 que a
participação do EDR Piracicaba e do de Limeira na composição da RA
Campinas é de fundamental importância uma vez que esses dois escritórios
juntos representam mais de 80% de toda a cana moída na safra de 2003
nessa RA, e o EDR Campinas participa apenas com 4,5%. Em relação à
produção de açúcar o EDR Piracicaba e o de Limeira na última safra
contribuíram cada um com 43% e 36,5% respectivamente, e o de Campinas
com apenas 6,5% de toda produção dessa Região Administrativa. A produção
canavieira das bacias do PCJ apresentou um crescimento em torno de 4% em
relação às duas safras indicadas, a produção de açúcar cresceu
aproximadamente 7% e a de álcool cerca de 0,6%.
51
TABELA 2.10: Relação dos municípios da RA Campinas que pertencem às
bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí
EDR Municípios da EDR Municípios das bacias do PCJ
Bragança
Paulista
Águas de Lindóia, Amparo, Atibaia,
Bom Jesus dos Perdões, Bragança
Paulista, Joanópolis, Lindóia, Monte
Alegre do Sul, Nazaré Paulista,
Pedra Bela, Pedreira, Pinhalzinho,
Piracaia, Serra Negra, Socorro,
Tuiuti, Vargem.
Amparo, Atibaia, Bom Jesus dos
Perdões, Bragança Paulista, Joanópolis,
Monte Alegre do Sul, Nazaré Paulista,
Pedra Bela, Pedreira, Pinhalzinho,
Piracaia, Tuiuti, Vargem.
Campinas
Campinas, Campo Limpo Paulista,
Elias Fausto, Hortolândia, Indaiatuba,
Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí,
Louveira, Monte Mor, Morungaba,
Paulínia, Sumaré, Valinhos, Várzea
Paulista, Vinhedo.
Campinas, Hortolândia, Itatiba, Itupeva,
Jarinu, Louveira, Monte Mor, Morungaba,
Paulínia, Sumaré, Valinhos, Vinhedo,
Elias Fausto, Jundiaí, Várzea Paulista,
Campo Limpo Paulista, Indaiatuba.
Limeira
Analândia, Araras, Santa Gertrudes,
Corumbataí, Ipeúna, Iracemápolis,
Itirapina, Cordeirópolis, Leme,
Limeira, Pirassununga, Porto
Ferreira, Rio Claro, Santa Cruz da
Conceição.
Analândia, Cordeiróplis, Corumbataí,
Ipeúna, Iracemápolis, Limeira, Rio Claro,
Santa Gertrudes.
Mogi Mirim
Arthur Nogueira, Conchal,
Cosmópolis, Engenheiro Coelho,
Estiva Gerbi, Holambra, Itapira,
Jaguariúna, Mogi Guaçu, Mogi Mirim,
Santo Antônio de Posse.
Arthur Nogueira, Cosmópolis, Holambra,
Jaguariúna, Santo Antônio de Posse.
Piracicaba
Águas de São Pedro, Americana,
Capivari, Cerquilho, Charqueada,
Jumirim, Mombuca, Nova Odessa,
Piracicaba, Rafard, Rio das Pedras,
Saltinho, Santa Bárbara D’Oeste,
Santa Maria da Serra, São Pedro,
Tietê.
Águas de São Pedro, Americana,
Charqueada, Nova Odessa, Piracicaba,
Rafard, Rio das Pedras, Saltinho, Santa
Bárbara D’Oeste, Santa Maria da Serra,
São Pedro, Rafard, Capivari, Mombuca.
Fonte: UNICA (2004b, p. 4-6).
A TABELA 2.12 mostra a produção nacional de cana de açúcar e a
participação de São Paulo, da Região Administrativa de Campinas e das
bacias do PCJ, comparativamente entre as safras de 2001 e de 2004. Nota-se
que a participação da RA Campinas aumentou em torno de 11% durante esses
anos, já a produção estadual variou mais, em torno de 23%. A participação das
bacias do PCJ na produção estadual apresentou-se praticamente constante
em torno de 8%.
TABELA 2.11: Produção dos EDR que compõem a RA Campinas (cana e
açúcar em tonelada e álcool em m3)
2002 2003 2004
Cana
(tonelada)
Açúcar
(tonelada
)
Álcool
(m
3
)
Cana
(tonelada)
Açúcar
(tonelada
)
Álcool
(m
3
)
Cana
(tonelada)
Açúcar
(tonelada
)
Álcool
(m
3
)
Campinas
1.398.581 144.726 0 1.426.404 160.251 0 1.412.132 147.292 0
52
Bragança
Paulista
0 0 0 0 0 0 0 0 0
Mogi
Mirim
1.371.300 104.500 52.860 1.458.534 114.750 57.759 1.562.211 108.580 60.968
Limeira
12.474.26
3
939.196 430.62
6
12.902.54
9
908.127 515.536 12.904.67
2
954.754 460.983
Piracicab
a
11.305.35
8
982.296 351.65
9
12.067.81
3
1.063.030 416.853 12.674.84
5
1.068.194 386.688
S. J. da
Boa Vista
2.512.483 224.554 351.65
9
12.067.81
3
1.063.030 416.853 3.009.297 252.081 74.169
Total 31.751.91
2
2.395.272 892.95
8
30.570.24
0
2.490.126 1.054.97
4
31.563.15
7
2.530.901 982.808
Bacias
PCJ
1
15.792.25
4
1.339.115 550.38
4
16.467.58
9
1.443.335 553.644 16.935.35
0
1.443.891 547.54
7
Fontes: Valores adaptados de UNICA (2005, p.3-6, 2004b, p. 4-6; 2003b, p. 6).
Informações obtidas com algumas usinas pesquisadas localizadas nas bacias do PCJ.
Nota:
1
Valores selecionados para algumas usinas da fonte citada.
TABELA 2.12: Participação comparativa de São Paulo, da RA Campinas e das
bacias na produção nacional de cana (cana em tonelada)
Safra Brasil São Paulo
Participação
de SP no
Brasil
RA
Campinas
2
Participação
da RA em SP
Bacias
PCJ
1
Participação
das Bacias
em SP
2001
293.050.543 176.574.250 60,3% 30.523.928 17,3% 15.195.884 8,6%
2002
320.650.076 192.486.643 60,0% 31.751.912 16,5% 15.792.254 8,2%
2003
356.362.664 207.810.964 58,3% 30.570.240 14,7% 16.467.589 7,9%
2004
383.245.199 230.310.237 60,1% 34.495.548 15,0% 16.935.350 7,4%
Fontes: UNICA (2004b, p. 4-6; 2003b, p. 6; 2002a, p. 4-5; 2001, p. 5-6).
Notas:
1
Valores selecionados para algumas usinas citadas na fonte.
2
Valores adaptados de INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS DA AGRICULTURA. Anuário
IEA, 1999-2002.
na safra de 2004, dentro do Estado de São Paulo as principais
regiões produtoras de cana de açúcar são as Regiões Administrativas (RA) de
Campinas que liderou a produção com 14% do total, seguida pelas RA de
Ribeirão Preto com 13% e de Franca com 12%. A TABELA 2.13 mostra esses
valores para todas as 15 RA do Estado de São Paulo e suas respectivas
participações ao longo das últimas quatro safras.
A agroindústria canavieira faz do Brasil o maior produtor mundial de
açúcar de cana e de álcool combustível. No ano de 2000, com 6,5 milhões de
toneladas o Brasil liderou o mercado mundial de exportação de açúcar,
seguido de perto pela União Européia com 5,8 milhões e pela Austrália com
3,5 milhões. em 2001, as exportações brasileiras desse produto somaram
11,1 milhões de tonelada, praticamente o dobro das exportações da União
Européia e da Austrália juntas. No ano de 2002 o país exportou o equivalente a
13,3 milhões de toneladas de açúcar, apresentando um incremento em torno
de 19% em relação ao ano anterior, todo esse volume exportado representa
53
financeiramente cerca de 3,47 % de toda as exportações do Brasil em 2002.
Em 2003, as exportações de açúcar brasileiras somaram 12,9 milhões de
toneladas, desse total praticamente 3,5 milhões foram exportados para a
Rússia, na safra de 2004/05 esse número atingiu 14,3 milhões de toneladas,
apresentando um crescimento em relação ao período anterior de
aproximadamente 10% (UNICA, 2003a; UNICA, 2003c; UNICA, 2004b; UNICA,
2005a).
TABELA 2.13: Produção de cana estadual por Região Administrativa (cana em
tonelada)
RA 2000 % 2001 % 2002 % 2003
1
%
2004
2
%
Araçatuba
14.678.363 8 14.674.687 7 16.071.675 8 11.176.689 5
19.715.434 8
Baixada
0 0 0 0 0 0 0 0
0 0
Barretos
14.546.640 8 15.126.874 8 16.603.267 8 17.617.621 9
19.573.215 8
Bauru
20.188.660 11 20.510.200 10 21.176.150 10 25.189.632 12
23.193.101 9
Campinas
29.748.224 16 30.523.928 15 31.751.912 15 30.570.240 15
35.033.998 14
Central
13.482.548 7 20.759.780 10 21.330.600 10 11.554.500 6
18.526.000 8
Franca
23.174.260 12 25.007.565 12 26.122.142 12 16.246.096 8
30.430.740 12
Marília
15.209.879 8 15.765.248 8 16.638.150 8 17.586.044 9
19.680.723 8
Pres. Prudente
5.332.349 3 6.008.523 3 6.951.900 3 4.697.031 2
12.146.770 5
Registro
2.100 0 2.100 0 0 0 0 0
1.125 0
Ribeirão Preto
32.456.718 17 28.622.800 14 30.136.950 14 44.465.823 22
31.400.260 13
Rio Preto
12.698.107 7 9.400 0 15.921.601 7 21.902.880 11
22.144.825 9
S. J. Campos
72.600 0 14.799.931 7 75.520 0 0 0
158.920 0
São Paulo
5.800 0 81.854 0 6.020 0 0 0
1.8000 0
Sorocaba
7.441.186 4 9.789.960 5 9.921.480 5 3.016.991 1
563.100 0
Total 189.037.434 100 201.682.850 100 212.707.367 100 204.023.547 100
244.283.976 100
Fontes: INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS DA AGRICULTURA. Anuário IEA, 2000-2002.
UNICA (2005b, p.4-6)
Notas:
1
Dados referentes à safra de 2003 divididos por EDR em UNICA (2004b, p.4-5).
2
Dados obtidos a partir da seleção dos municípios pertencentes a RA Campinas.
Em relação à produção nacional de açúcar, São Paulo lidera o ranking
da safra de 2004 com aproximadamente 16,5 milhões de toneladas, isso
representa aproximadamente 63% de todo o açúcar produzido no país. Dentro
da produção do Estado de São Paulo, a RA de Campinas tem uma
participação importante em torno de 15%, com 2,5 milhões de toneladas em
2004. A produção de açúcar nas bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí
oscilou pouco nos últimos anos em relação à produção estadual, nota-se em
relação a esse produto que as três bacias juntas foram responsáveis, na média
das últimas três safras, por aproximadamente 9% da produção estadual. na
safra de 2004, as bacias juntas contribuíram com mais de 50% de todo o
54
açúcar produzido na RA de Campinas, como pode ser observado na TABELA
2.14.
TABELA 2.14: Evolução comparativa da produção de açúcar brasileira,
estadual, da RA de Campinas e das Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí
(açúcar em toneladas)
Safra Brasil São Paulo
RA Campinas Bacias PCJ
1
Açúcar Açúcar Participação
de SP no
Brasil
Açúcar Participação
da RA em SP
Açúcar Participação
das Bacias
em SP
2001
1
19.218.011 12.350.253 64,3%
1.863.458 15,1% 1.281.560 10,4%
2002
22.567.260 14.347.908 63,6%
2.395.272 16,7% 1.339.115 9,3%
2003
24.925.793 15.171.854 60,9%
2.490.126 16,4% 1.443.335 9,5%
2004
26.515.086 16.516.346 62,3%
2.489.622 15,1% 1.443.981 8,7%
Fontes: UNICA (2005a, p. 4-5; 2004b, p. 4-6; 2003b, p. 6; 2002a, p. 4-5; 2001, p- 4-6).
Notas:
1
Valores das fontes citadas para algumas usinas selecionadas.
A produção nacional de álcool total na safra de 2004 (TABELA 2.15)
superou em 4,5% a safra anterior (2003), em São Paulo e na RA Campinas, a
produção manteve-se praticamente constante, nas usinas das bacias do
PCJ houve uma diminuição da produção em torno de 1%
27
.
Comparando a produção nacional com a estadual, a parcela referente à
produção paulista de álcool sofreu uma queda de 2%, o mesmo não ocorre
com a fração da RA Campinas na produção estadual de álcool que se manteve
constante durante as duas últimas safras. A produção de álcool das bacias
durante a safra de 2004 representou uma parcela em torno de 6,2% de toda a
produção estadual.
A fim de reforçar a importância e destacar o potencial agroindustrial das
bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí a TABELA 2.16 apresenta dados da
produção sucroalcooleira das nove usinas localizadas nessa região durante as
três últimas safras.
TABELA 2.15: Evolução comparativa da produção de álcool nacional, estadual
e da RA Campinas (álcool em m
3
)
Safra Brasil São Paulo RA Campinas
2
Bacia Piracicaba
1
Álcool Álcool Participação
de SP na
Nacional
Álcool Participação
da RA em
SP
Álcool Participação
das Bacias
em SP
27
Entende-se por álcool total o volume de álcool anidro mais o de álcool hidratado produzidos
no período.
55
2001
1
11.536.034 7.134.529 61,8% 779.529 10,9% 508.178 7,1%
2002
2
12.623.225 7.690.689 60,9% 892.958 11,6% 550.384 7,2%
2003
2
14.808.705 8.828.353 59,6% 1.054.974 11,9% 553.644 6,3%
2004
15.514.285 9.108.931 58,7% 1.095.752 12,0% 547.547 6,0%
Fontes: UNICA (2005a, p.4; 2005 b, p.4-5; 2004b, p. 4-6; 2003b, p. 6; 2002a, p. 4-5; 2001, p.4).
Informações de produção obtidas com as usinas pesquisadas nas bacias do PCJ.
Notas:
1
Dados obtidos a partir da seleção dos municípios pertencentes a RA Campinas.
2
Dados referentes à safra de 2004 dividido por EDR em UNICA (2005b, p.4-5).
TABELA 2.16: Produção sucroalcooleira das bacias do Piracicaba, Capivari e
Jundiaí (açúcar em toneladas e álcool em m3)
Usinas 2001 2002 2003 2004
Açúcar Álcool Açúcar Álcool Açúcar Álcool Açúcar Álcool
Costa Pinto
295.995 106.876 309.945 124.312 306.265 153.808 304.325 130.617
S. Helena
157.368 52.231 162.250 68.959 186.468 43.315 183.328 85.437
S. Francisco
151.370 48.100 144.726 52.960 160.251 0 147.292 0
Rafard
200.913 63.834 193.425 62.535 209.207 78.935 208.482 68.967
Ester
70.155 49.488 104.500 51.459 114.750 57.759 119.048 58.618
Furlan
1
100.050 40.000 119.858 38.920 123.630 46.390 131.048 48.709
Iracema
174.591 105.674 163.308 108.935 171.641 128.542 173.293 109.349
Bom Retiro
1
63.703 30.840 69.451 31.452 78.863 32.770 80.200 33.100
São José
1
67.415 11.135 71.652 10.852 92.260 12.125 96.875 12.750
Total 1.281.560 508.178 1.339.115 550.384 1.443.335 553.644 1.443.891 547.547
Fonte: UNICA (2005b, p.4-6; 2004b, p. 4-6; 2003b, p. 6; 2002a, p. 4-6).
Nota:
1
Valores estimados segundo informações de dezembro de 2003.
2.3 Inserção da questão ambiental na indústria: conflitos, contradições
e desenvolvimento sustentável
A conservação ambiental ocupa hoje uma significante parcela dos
investimentos e esforços administrativos em todos os segmentos da atividade
econômica, trata-se de uma questão estratégica que envolve inovação, adoção
de tecnologia de ponta e aumento da produtividade. Porém essa preocupação
com a utilização e manejo sustentável dos recursos naturais, com o
direcionamento correto dos resíduos industriais e agrícolas e com os impactos
das práticas agressivas para as gerações futuras, apesar de se tratarem de
estratégias empresariais prioritárias, foram levadas a tona a partir dos anos
60.
A inclusão da questão ambiental na pauta do debate político dos países
avançados iniciou-se com o agravamento da qualidade do ar em Londres nos
anos 50, esse grave problema ocasionou a morte de milhares de pessoas por
56
problemas respiratórios. Em 1962 a bióloga, que trabalhava para o governo
dos EUA, Rachel Carson publica um livro intitulado Silent Spring”. Esse livro
teve uma grande repercussão levando a tona à prioridade para com a questão
ambiental, principalmente no tocante a utilização indiscriminada de DDT e suas
conseqüências sobre o meio ambiente
28
.
Na década de 1970 o debate sobre a questão ambiental toma
proporções mundiais. Em 1972 o Clube de Roma divulgou um relatório
elaborado por Dennis Meadows e outros estudiosos chamado de “Limits to
Grow” (Limite para o Crescimento), tratava-se basicamente de simulações e
projeções matemáticas de crescimento populacional, acúmulo de poluição e
esgotamento dos recursos naturais do planeta. Apesar de alarmistas e
incorretas, essas projeções serviram de motivação para mudanças no
comportamento dos indivíduos, dos governos e principalmente das empresas
frente à problemática ambiental.
Surgiu também na década de 1970 o conceito de “desenvolvimento
sustentável” que admite a utilização dos recursos naturais com o objetivo de
melhorar a qualidade de vida da população comprometendo-se com a
manutenção sustentável desses recursos para as gerações futuras.
Os anos 80 foram marcados por grandes acidentes ambientais, nos
EUA foi o vazamento de óleo do Exxon Valdez que contaminou extensas áreas
do litoral do Alasca. Na Índia, um acidente em Bhopal acarretado pelo
vazamento de metil isocianato, material utilizado na fabricação de inseticida e
pesticida, resultou na morte de mais de 2000 pessoas. Na União Soviética, um
problema técnico na usina nuclear de Tchernobyl ocasionou um
superaquecimento em um dos reatores, sua explosão e a contaminação por
radioatividade em toda a região da Ucrânia, Belarus e o Norte da Europa,
impossibilitando até hoje condições normais de vida em um raio de 25 km da
usina.
Exatamente nesse período caracterizado por grandes catástrofes
ecológicas, a Comissão Brundtland, liderada pela primeira ministra da
28
DDT (dicloro difenil tricloroetano), pesticida organoclorado, utilizado para o combate de
pragas e formigas na agricultura. É o mais famoso dos pesticidas proibidos. Era amplamente
empregado até se descobrir à extrema persistência no ambiente e toxicidade para quase todas
as espécies animais. Quando liberado no meio ambiente, não se degrada facilmente e penetra
na cadeia alimentar. Em geral, acumula-se nos tecidos gordurosos dos animais, como não é
solúvel em água, também não é metabolizado com facilidade.
57
Noruega, Gro Harlem Brundtland, lançou seu relatório, Nosso Futuro Comum
(1987). Neste relatório a comissão alerta para a necessidade de vínculos mais
estreitos entre a economia e ecologia, de modo que os governos e os povos
possam assumir a responsabilidade não pelos danos ambientais, como
também pelas políticas que causam esses danos. A Comissão Brundtland em
1987 definiu desenvolvimento sustentável com sendo aquele que: “satisfaz as
necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de atenderem suas próprias necessidades”.
A partir de então entra em pauta a necessidade de elaborar um modelo
de desenvolvimento que garanta as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade de as gerações futuras também atenderem às
suas necessidades. Nota-se neste sentido que se intensifica a busca por um
modelo de gestão ambiental que contemple estratégias capazes de possibilitar
a implementação de inovações em direção ao desenvolvimento sustentável.
Este modelo de gestão deve abordar estratégias ambientais de longo
prazo e uma administração do meio ambiente que se traduza em maior
cooperação entre os interessados levando à execução de objetivos comuns e
interligados considerando as inter-relações de pessoas, recursos e
desenvolvimento.
Além dos acidentes, a década de 1980 destacou-se pela criação em
muitos países, de leis e regulamentos referentes ao controle da poluição
ambiental gerada pela atividade industrial e por uma participação mais ampla
da sociedade organizada (principalmente das ONGs) nas decisões de
implantação de empreendimentos potencialmente danosos ao meio ambiente.
Os anos 90 foram os de maior impulso nas questões ambientais, foi
nessa década que a preocupão com a racionalização do uso de energia e
matérias primas, o estimulo à reciclagem e ao reuso, e principalmente a
educação ambiental da população destacaram-se como políticas de alguns
países industrializados.
A ECO 92, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro mostrou uma preocupação
latente dos países em relação aos problemas que envolvem o meio ambiente e
os recursos naturais. O desenvolvimento sustentável, a conservação dos
recursos, o combate à pobreza e a busca por novas tecnologias para os
58
problemas ambientais foram temas discutidos. Além disso, nesta conferência
estabeleceram-se acordos e compromissos entre governos e organismos
institucionais, para implementar estratégias concretas de desenvolvimento
sustentável, incluindo prazos para atingir as metas conveniadas e definindo as
fontes dos recursos financeiros necessários.
No início de 2000 a questão ambiental teve seu foco direcionado
principalmente para o problema das emissões de gases gerados pela queima
de combustíveis sseis e o conseqüente aquecimento global devido ao
fenômeno do efeito estufa.
Diversas correntes de economistas têm procurado conceitos, métodos e
técnicas que objetivem tratar dos aspectos e valores econômicos pertinentes
ao meio ambiente. Destaca-se entre tais correntes: a Economia do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais, que repousa nos fundamentos da Teoria
Neoclássica; a Economia Ecológica apoiada em valorizar os recursos naturais;
e a Economia Institucionalista, que aborda as questões ambientais em termos
de custos de transação.
2.3.3 A questão ambiental na indústria
O setor industrial nacional, tem se preocupado cada vez mais com as
questões que envolvem direta e indiretamente os recursos naturais em seus
processos produtivos, em seus produtos e serviços. Essa tendência,
antigamente priorizada apenas pelo setor exportador, vem respondendo
positivamente frente às pressões impostas pelo mercado interno, seja pelas
exigências de clientes corporativos, seja pelo mercado consumidores
organizado.
Dentro desse quadro é importante destacar que são diversos os fatores
que influenciam as organizações a adotarem posturas ambientalmente
responsáveis, tais como: a melhoria de imagem perante a sociedade; a
redução de custos de processos produtivos pela adoção de programas de
gestão voltado à solução de problemas ambientais; a exigência do mercado
consumidor; a necessidade de se adequar às legislações e normalizações
ambientais vigentes no país, entre outras.
Em relação a esse último fator, PORTER (1999, p. 374-375) coloca que
a legislação ambiental deve ser capaz de desencadear inovações no sistema
59
produtivo, de forma a reduzir custos de produtos e aumentar seu valor. Para
isso, aponta duas possibilidades de enquadramento da inovação dentro de
regulamentação ambiental. A primeira está na minimização dos custos do
controle ou tratamento da poluição, para isso destaca a vantagem de se captar
recursos que estejam incorporados na poluição, através de reciclagem,
reaproveitamento de resíduos, conversão de materiais, em outros.
A segunda possibilidade de inovação é atacar as causas básicas da
poluição a partir da melhoria na utilização dos recursos. Isto é, o agente
poluidor pode, a partir de alterações em seus processos de produção, tipos de
insumos utilizados e produto, aumentar seu rendimento produtivo, diminuir
suas emissões de poluentes, além de reduzir custos totais.
Percebe-se, a partir das observações de Porter, que as inovações
destinadas à regulamentação ambiental quando bem aplicadas são capazes
de reduzir custos, impulsionar a produtividade dos recursos e eliminar agentes
poluidores.
O maior desafio do setor produtivo é manter e aumentar a
competitividade ao mesmo tempo em que atende as exigências dos
stakeholders (público alvo), ficou claramente mais complicado com a inclusão
da variável ambiental. Neste cenário, surgem diariamente novas pressões e
novas categorias de stakeholders, fazendo com que a postura estratégica das
empresas frente a essa nova responsabilidade ambiental se modifique
significativamente.
Essa nova postura de adequação dos procedimentos produtivos das
organizações às exigências de responsabilidades ambientais tanto de
consumidores, quando de órgãos reguladores estimularam a adoção de
medidas de auto-regulação ambiental em empresas dos mais variados
segmentos produtivos nacional. Por se tratar de uma das vertentes mais
tradicionais da atividade econômica nacional, porém não menos importante, a
agroindústria canavieira percebeu que investimentos de melhoria de qualidade
de produção, cuidado com a utilização dos recursos naturais e a implantação
de processos de gestão ambiental objetivando a auto-regulação trata-se de
uma necessidade eminente.
60
61
Capítulo III- O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NA INDUSTRIA
As normas internacionais de gestão ambiental têm como uma de suas
finalidades delinear as organizações alguns elementos para um sistema eficaz
de gestão ambiental. Além disso, possibilitam a integração entre outros
requisitos de gestão também importante de forma a auxiliá-las em objetivos
ambientais e econômicos.
Esse capítulo aborda de uma forma sintética as questões normativas
que envolvem o planejamento, aplicação e verificação de desempenho de um
Sistema de Gestão Ambiental baseado na normalização NBR ISO 14001
versão 1996. Além disso, explora, também, como as normas são criadas, a
estrutura da ISO, os objetivos e abrangência da ISO 14000, como é o processo
de certificação, a correlação existente com outros padrões ISO e a visão de
melhoria contínua, principalmente vinculada aos processos.
Aponta também, segundo a ótica de alguns autores, as vantagens e
desvantagens da implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA)
nas empresas, destacando algumas críticas referentes à eficiência de um SGA
em proporcionar melhorias de qualidade ambiental.
3.1 A instituição ISO
A ISO-International Organization for Standardization, no plano
internacional é a principal organização não governamental especializada em
padronização e normalização. Foi criada em 1946 com o intuito de reunir
órgãos de padronização de diferentes nações e combater a existência de
normaso-harmonizadas para tecnologias similares, contribuindo assim para
a eliminação de barreiras técnicas ao comércio, criando um consenso
internacional normativo (ISO, 2004a).
Para que um determinado país faça parte da ISO, é necessário que este
tenha um único organismo normalizador, e esse órgão é que representa a ISO
nesse país. No caso do Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas
62
ABNT fundada em 1940 é o organismo que representa o país como sócio
fundador no Conselho Superior da ISO
29
.
A finalidade principal da ISO é criar um consenso internacional acerca
das diversas normalizações adotadas nos países industrializados quanto à
fabricação de diferentes produtos, a fim de assegura um padrão internacional.
A sede da ISO fica em Genebra e possui representação de mais de 130 países
membros que participam das decisões da entidade, alguns com direito a voto,
outros somente como observadores das discussões relevantes. Em relação à
estrutura participativa da ISO, ela está montada em torno de 180 Comitês
Técnicos chamados de Technical Committees-TCs (ISO, 2004b).
Esses comitês são responsáveis por toda etapa de complementação
técnica e de informações pertinentes ao processo de elaboração de uma
determinada norma. Os TCs são divididos em grupos de assessoria
denominados TAGs (Technical Advisory Group) cuja finalidade é receber
informações adicionais de organismos públicos, privados e de instituições de
pesquisas do mundo inteiro a fim de planejar e definir a estrutura normativa de
padronização internacional para um determinado processo.
Segundo a ISO, a padronização internacional fornece uma estrutura de
referência, isto é, uma linguagem técnica comum, entre fornecedores de
insumos, indústria de transformação e clientes, facilitando o comércio entre
todos os países do mundo. Partindo desse pressuposto, as normas são
estabelecidas a partir de acordos de consenso entre as delegações das partes
interessada, formadas por produtores, revendedores, consumidores e institutos
de pesquisa
30
.
Em relação às normas estruturadas em detalhes pelos diversos comitês
da ISO, elas o divididas em duas categorias: as normas de diretrizes
(guidelines) e as de especificação (specification). As enquadradas na
denominação de diretrizes tratam-se de recomendações às determinadas
ações sugeridas, as de especificação, tem a finalidade de detalhar o que
deve ser realizado.
29
ABNT trata-se de um organismo de características privada, sem fins lucrativos, que trabalha
na elaboração de normas técnicas nacionais, além disso atua na área de certificação voluntária.
30
Esse “consenso” determina que a norma é aprovada e se transformar em IS (International
Standard), somente se dois terços dos membros participantes dos Comitês Técnicos (TC) e
subcomitês (SC) votarem a favor e no máximo um quarto dos votos forem negativos.
63
O procedimento padrão de determinação de uma norma consta de cinco
etapas: proposta, preparatório, comitê, aprovação e publicação. Assim, depois
de uma versão preliminar, a norma é votada e aprovada por todos os países
membros, é publicada em forma de norma internacional podendo ser adotada
na íntegra ou em partes. A ISO define uma norma como um acordo
documentado contendo especificações técnicas ou outros critérios precisos a
serem utilizados uniformemente como uma regra, diretrizes ou definições de
características, a fim de assegurar que os materiais, produtos, processos e
serviços sejam adequados a sua finalidade (ISO, 2004c).
Atualmente, devido à grande repercussão das normas da série 9000 a
ISO tem sido citada com maior freqüência e destaque no cenário internacional.
Essa série foi inicialmente planejada a partir de 1979, nesse ano a ISO
focalizou as normas técnicas de produtos voltadas para a área gerencial. A
partir de então, instituiu o Comitê Técnico 176 para desenvolver normas
globais para gestão da qualidade e sistemas de garantia da qualidade, esse
trabalho culminou com a publicação das normas de qualidade ISO 9000 no
ano de 1987
31
,.
Como instituição internacional normalizadora, a ISO avalia e elabora as
normas com o auxílio de vários especialistas dos diversos países membros
que compõem os comitês técnicos. Em relação às propostas da criação de
uma normalização de caráter ambiental, o comitê escolhido para tal tarefa foi o
TC-207 que ficou conhecido como de Gestão Ambiental e que conta com a
participação de cerca de 56 países. Este comitê está relacionado diretamente
com o TC-176 que cuida das normas de qualidade de produtos e processos
32
(ALMEIDA et al., 2001, p. 57).
A preocupação da ISO com as questões referentes ao meio ambiente
vêem desde a década de 1970, devido principalmente aos debates de ordem
ambiental iniciados pelo Clube de Roma. Contudo, tal assunto sempre foi
discutido de forma separada em relação a cada um dos recursos naturais
31
Da série ISO 9000 fazem parte normas genéricas de gestão e garantia da qualidade,
atendendo às especificações para a qualidade de produtos e serviços, aplicando-se
especificamente aos seus processos e sistemas. As normas ISO 9000 descrevem os
elementos básicos e a orientação para a implementação de um sistema de qualidade de
produto e de processos.
32
Saber mais a respeito da composição, localização da secretaria e características gerais do
TC-207, ver em MOURA (2002, p. 54-55).
64
como: a qualidade do ar em 1971 pelo TC-147, a qualidade da água em 1977
pelo TC-190 e a qualidade do solo, também pelo TC-190 a partir de 1985. Foi
com a implantação desses comitês independentes e específicos para cada
recurso que, aos poucos, a ISO ampliou sua participação nessa temática. A
Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio
de Janeiro em 1992, foi o marco decisivo para o movimento internacional de
normalização ambiental.
Conforme é colocado por ALMEIDA et al. (2001, p. 57-58), durante essa
conferência foi proposta a ISO a criação de um grupo especial para a
elaboração de um sistema de Normas de Gestão Ambiental. A partir de então,
em 1993, foi instalado o ISO/TC-207 que se tratava de um comitê técnico com
a função exclusiva de elaborar uma série de normas internacionais voltadas à
gestão ambiental. Esse conjunto de normas foi denominado de série ISO
14000
33
.
QUADRO 3.1: Estruturação organizacional do TC 207
Sub-Comitês SC Assunto País Responsável
SC- 01
Sistema de Gestão Ambiental Inglaterra
SC- 02
Auditoria Ambiental Holanda
SC- 03
Rotulagem Ambiental Austrália
SC- 04
Avaliação de Desempenho EUA
SC- 05
Análise do Ciclo de Vida França
SC- 06
Termos e Definições Noruega
WG- 01
Aspectos Ambientais em Normas de Produto Alemanha
WG- 02
Produtos Florestais Nova Zelândia
Fonte: Adaptado de MOURA (2002, p. 54).
Nota: WG é referente a Grupo de Trabalho.
É importante destacar que, mesmo antes da definição da ISO para a
elaboração e análise de um sistema normativo para a gestão ambiental, a
British Standard Institutions (BSI) publicou em 1992 a primeira série normativa
referente a esse assunto. Essa série de normas inglesa foi chamada de BS
7750 e tinha como finalidade desenvolver um amplo sistema de gerenciamento
ambiental capaz de englobar organizações de diferentes setores produtivos. O
sistema de normalização baseada na BS 7750, tornou-se operante em 1995 e
foi adotado em várias empresas da Inglaterra.
33
As normas ISO 14000 não constituem a versão ambiental das normas ISO 9000, a primeira é
considerada um amplo sistema que incorpora novas abordagens de respaldo ambiental para
empresas que buscam sobreviver em uma economia globalizada com uma competição
acirrada, em que a variável meio ambiente é cada vez mais pertinente (VALLE, 1996, p. 101).
65
Paralelamente à BS 7750, surgiam na Europa outros padrões de
normalização ambiental, o principal deles foi o Eco-Managemente and Audit
Schene (EMAS). Conforme LUCENA (2002, p. 36) essa padronização foi
acatada inicialmente pelo setor industrial e de regulação da União Européia.
EMAS foi um programa criado pelos ministros de meio ambiente dos países
europeus com a finalidade de implementar políticas e sistemas de
gerenciamento que priorizasse uma avaliação ambiental periódica nas
empresas. O programa está baseado na avaliação voluntária e na auto-
regulação, visando principalmente à prevenção da poluição, a adoção de
tecnologias mais limpas, o cumprimento da legislação ambiental vigente,
buscando um melhor desempenho ambiental por parte das organizações.
Nota-se que tanto a BS 7750, quanto a EMAS foram pacotes normativos
criados com a prioridade de melhora no desempenho ambiental em alguns
países da Europa. Contudo, em relação à adoção desse sistema percebe-se
que não houve uma proliferação em todo o continente, e suas normas ficaram
restritas principalmente na Inglaterra, França e Alemanha. A pouca aceitação
tanto da norma BS 7750 quanto da EMAS proporcionaram um ambiente
internacional para o desenvolvimento de normas mais genéricas, com
características e aceitação global padronizada, como é o caso das
estabelecidas pela ISO.
O Brasil, como membro fundador da ISO, e representado nesse fórum
pela ABNT criou em 1994 um grupo de estudo específico para lidar com a
temática ambiental e o seu relacionamento com as indústrias de rios
segmentos. O Grupo de Apoio à Normalização Ambiental-GANA, foi o
resultado da reunião de especialistas de empresas, associações e entidades
representativas de vários segmentos econômicos e técnicos do país, que
objetivaram a participação e o acompanhamento dos trabalhos desenvolvidos
pelo TC-207 da ISO
34
.
O interesse das empresas brasileiras no processo de negociação e
determinação das normas ISO, sugerem dois pontos relevantes no tocante aos
34
Para facilitar seus trabalhos o GANA montou uma estrutura organizacional nos moldes da TC-
207. Esse grupo foi formado inicialmente por um número reduzido de representantes de
indústrias do setor produtivo, com destaque as ligadas à mineração e a siderurgia. A
Companhia Vale do Rio Doce-CVRD, a Companhia Siderúrgica Nacional-CSN, FURNAS e a
PETROBRÁS foram as principais articuladoras e financiadora do GANA (GANA/ABNT, 1995).
66
impactos potenciais dessa série de normas sobre a competitividade das
empresas nacionais. O primeiro é que as restrições ambientais podem-se
constituir em uma alternativa para a inovação técnica, para o melhor
aproveitamento dos recursos e conseqüente diminuição de custos. E o
segundo ponto indica que a padronização do comportamento das empresas na
escala internacional facilitaria a consolidação e a abertura de novos mercados
(PIRES do RIO, 1995, p. 13-14).
Um outro ponto a destacar referente à entrada do Brasil no âmbito da
discussão internacional acerca da elaboração dessas normas foi a
preocupação que a série ISO 14000 funcionasse como um tipo de barreira não
tarifária de mercado (VALLE, 1996, p. 45).
3.2 A estruturação da ISO 14000
A série ISO 14000 é um pacote de normas que tem como finalidade à
criação de um sistema de gestão ambiental que auxilie as empresas a
cumprirem seus compromissos assumidos com o meio ambiente. De maneira
simplificada, a ISO 14000 traz no seu Sistema de Gestão Ambiental as
especificações que estabelecem requisitos para as empresas gerenciarem
seus produtos e processos para que eles não agridam o meio ambiente. Além
disso, aponta diretrizes para disposição dos resíduos gerados a fim de que
estes não prejudiquem os recursos naturais e da sociedade.
O QUADRO 3.2 indica quais os temas pertinentes a cada uma das
normas contidas na série da ISO 14000.
QUADRO 3.2: Normas para a série ISO 14000
Número Título
14000 Sistema de Gestão Ambiental (SGA)- Diretrizes gerais
14001 Sistema de Gestão Ambiental (SGA) - Especificações e diretrizes para uso
14004 SGA- Diretrizes gerais de princípios, sistemas e técnica de suporte
14010 Diretrizes para auditoria ambiental- Princípios geais da auditoria ambiental
14011 Diretrizes para auditoria ambiental- Procedimentos de auditoria
14012 Diretrizes para auditoria ambiental- Critério de qualificação de auditores
14014 Diretrizes para auditoria ambiental- Guia para avaliação ambientais inicial
14015 Diretrizes para auditoria ambiental- Guia para avaliação de locais (sítios)
14020 Rotulagem ambiental- Princípios básicos
67
14021 Rotulagem ambiental- definições, termos específicos e auto-declaração
14022 Rotulagem ambiental- Simbologia para os rótulos
14023 Rotulagem ambiental- Metodologia para testes e verificações
14024 Rotulagem ambiental- Procedimentos a critérios para certificação
14031 Avaliação de desempenho ambiental
14032 Avaliação de desempenho ambiental de sistemas operacionais
14040 Análise de ciclo de vida- Princípios gerais
14041 Análise de ciclo de vida- Inventário
14042 Análise de ciclo de vida- Análise dos impactos
14043 Análise de ciclo de vida- Usos e aplicações
14050 Gestão ambiental- Termos e definições (vocabulário)
ISO Guide 64 Guia de inclusão dos aspectos ambientais nas normas para produto
Fonte: Moura (2002, p. 57)
Em linhas gerais pode-se separar esse pacote de normas em quatro
grupos: o primeiro referente às normas que dizem respeito ao Sistema de
Gestão Ambiental-SGA (14001 e 14004); um segundo referentes ao processo
de Auditoria e Desempenho Ambiental-ADA (14010, 14011, 14012, 14014,
14015, 14031 e 14032); um terceiro que diz respeito aos procedimentos de
rotulagem ambiental (14020, 14021,14022, 14023, 14024); e um quarto e
último, referente à análise de ciclo de vida e produtos (14040, 14041, 14042,
14043 e ISO Guide 64)
35
.
Conforme é colocado por PIRES do RIO (1996, p. 15-16) as normas da
série ISO 14000 servem para padronizar a linguagem das normas ambientais
aplicadas regional, nacional e internacionalmente. Acima de tudo esse pacote
normativo indica os meios para que um determinado produto, serviço ou
processo seja ambientalmente sustentável. Além disso, quando uma
organização incorpora uma política de responsabilidade ambiental nos seus
procedimentos produtivos, o parâmetro ambiental passa a ser uma variável
passível de controle, sem alterar as etapas desses processos.
GAGNIN (2000, p. 26) coloca de uma forma simplificada a série ISO
14000 dividida em dois grandes blocos, um deles direcionado para a
organização, e o outro para o processo, conforme a Figura 1.
FIGURA 3.1: Série de normas da ISO 14000
Fonte: GAGNIN (2000, p. 26)
35
Mais detalhes a respeito da diferenciação e discriminação entre as rias normas da série
ISO 14000 consultar em ISO (2002, p. 8-9).
Normas ISO 14000 – Gestão Ambiental
Normas de Avaliação da Organização Normas de Avaliação Produtos / Processos
Sistema de Gestão
Ambiental Normas
14001 e 14004
Rotulagem
Ambiental Normas
14020
68
3.3 Sistema de Gestão Ambiental conforme a ISO 14000
Conforme a norma NBR ISO 14001, um Sistema de Gestão Ambiental
pode ser definido como:
“...a parte do sistema de gestão global que inclui estrutura
organizacional, atividade de planejamento, responsabilidades, práticas,
procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar,
atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental.” (NBR ISO
14001, 1996, p. 4)
Na série ISO 14000 existe especificações e componentes básicos que
possibilitam uma organização implementar um Sistema de Gestão Ambiental,
conforme especificações padronizadas internacionalmente. A norma ISO
14001 é a que trata dessas especificações, ou seja, contém a descrição das
etapas e os procedimentos necessários para o planejamento, implementação e
operação, verificação de ações corretivas e da análise crítica para um
determinado SGA.
Conforme especificação da norma, o objetivo principal de um Sistema
de Gestão Ambiental é de permitir a organização em questão, definir uma
política e objetivos que levam em conta os requisitos legais e as informações
referentes aos impactos ambientais pertinentes ao seu processo produtivo.
Além disso, possibilitar que esses aspectos e impactos diagnosticados,
possam ser efetivamente controlados. É importante salientar que a norma NBR
ISO 14001 não estipula critérios específicos de desempenho ambiental, e
aplica-se a qualquer organização que deseje:
a) Implementar, manter e aprimorar um sistema de gestão ambiental;
b) Assegurar-se de sua conformidade com sua política ambiental definida;
c) Demonstrar tal conformidade a terceiros;
d) Buscar certificações /registros do seu sistema de gestão ambiental por
uma organização externa;
e) Realizar uma auto-avaliação e emitir auto-declaração de conformidade
com esta Norma. (ABNT, 1996, p. 3).
Normas de Avaliação da Organização Normas de Avaliação Produtos / Processos
Auditoria
Ambiental
Normas 14010
Desempenho
Ambiental
Normas 14031
Aspectos
Ambientais
nos Produtos
Normas 14010
Análise do
Ciclo de Vida
Normas 14040
Vocabulário de Termos Técnicos e Definições Norma 14050
69
É importante destacar que, apesar da existência de outros modelos para
implementação de SGA, o mais utilizado mundialmente é o baseado no
modelo normativo da ISO 14001 de 1996. Segundo LUCENA (2002, p. 45), um
dos motivos que explicam a adoção desse sistema normativo é o fato deste
caracterizar-se dentro de três critérios: 1) ser genérico de forma a possibilitar a
adoção do sistema em qualquer tipo de empresa; 2) ser voluntária
possibilitando que a administração decida seus próprios métodos de
implementação; e 3) possibilitar sua certificação dentro de um cenário mundial.
Ainda conforme essa autora, a norma ISO 14001 tem como objetivo
principal fornecer uma estrutura para que as organizações gerenciem seus
aspectos ambientais como a alocação de recursos, a atribuição de
responsabilidades e avaliação contínua das ações adotadas.
Percebe-se que a ISO 14001 configura-se como uma norma de adesão
voluntária que contém os indicativos para a implementação de um SGA em
diferentes organizações e tem como um dos objetivos a melhoria contínua do
desempenho ambiental dessa organização. O sistema de gestão (SGA)
proposto pela norma ISO 14001 estrutura-se basicamente em cinco etapas:
a) Política ambiental: Trata-se da diretriz do SGA e tem a função de
orientar todos os esforços envolvidos em uma única direção, também
representa o comprometimento da alta administração com os assuntos
referentes ao meio ambiente.
b) Planejamento: Determina que todas as atividades, produtos e serviços
referentes à organização devem ser estruturadas e definidas dentro de
políticas que levam em consideração os aspectos relacionados aos
impactos ambientais reais e potenciais
36
. Nessa etapa realiza-se o
levantamento dos aspectos ambientais significativos, que consiste na
identificação e avaliação de todos os aspectos relacionados com o
determinado impacto que causa.
c) Implementação e operação: Cria-se uma base para o SGA com a
finalidade de implementação do que foi planejado. A organização
fornece os recursos e mecanismos necessários para assegurar que os
requisitos do SGA sejam implementados conforme a norma; para isso
36
A ISO 14001 considera impacto ambiental qualquer modificação no meio ambiente, adversa
ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma
organização.” (ABNT, 1996, p. 4).
70
faz-se necessário o treinamento e a comunicação constante dos
envolvidos no SGA e a criação de um banco de documentão do
sistema.
d) Verificação e ações corretivas: A organização coleta dados, monitora as
emissões de resíduos, avalia periodicamente as metodologias definidas
e toma decisões em relação as sua operações e atividades com
potencial riscos de impactos significativos ao meio ambiente. Esses
procedimentos incluem registros de informações a fim de acompanhar o
desempenho referente às metas ambientais da organização.
e) Análise crítica e melhoria: Conforme cronograma pré-estabelecido, a
administração realiza verificações de analise critica no seu SGA, a fim
de assegurar sua conveniência, sua adequação a novas cnicas de
controle e eficácia contínua. Nesse processo de auto-avaliação do
sistema, os dados coletados devem ser documentados de forma a
assegurar informações que permitam a administração proceder a sua
análise crítica e determinar possíveis mudanças pertinentes ao sistema.
Trata-se de um conjunto de ações que devem ser implantadas cada
uma a seu tempo, de uma forma planejada e estruturada formando um sistema
único. Segundo MOURA (2002, p. 63) o gerenciamento de um SGA é de
fundamental importância para o sucesso de todo o programa, destaca que o
ciclo PDCA, também conhecido como Ciclo de Deming é uma ferramenta
gerencial necessária para a implantação do SGA. Esse ciclo é composto por
quatro grandes passos: Plan (planejar); Do (realizar); Check (verificar); e
Action (atuar e corrigir) e recomeça um novo ciclo a partir da política ambiental
da organização
37
.
REYDON & ALARCÓN (2003, p. 4) frisam que a integração entre os
objetivos da gestão ambiental empresarial e a adoção de critérios que
busquem a melhoria contínua, principalmente a baseada no método PDCA,
possibilita que a empresa reduza seus custos de produção, além de realizar
um acompanhamento mais apropriado das suas atividades buscando a
proteção do meio ambiente.
Segundo LUCENA (2002, p. 46) o principal requisito do SGA é a
caracterização da Política Ambiental por parte da alta administração da
37
Saber mais a respeito do ciclo PDCA em ISO (2002, p. 1)
71
organização. Trata-se de uma declaração formal da empresa que reflete suas
intenções e seus princípios, destacando a missão e o comprometimento da
mesma em cumprir a legislação vigente. Deve ser redigida de forma clara e
dentro das especificações da norma que assegura que ela:
a) seja apropriada à natureza, escala e impactos ambientais de suas
atividades, produtos ou serviços;
b) inclua o comprometimento com a melhoria contínua e com a
preservação de poluição;
c) inclua o comprometimento com o atendimento à legislação e normas
ambientais aplicáveis, e demais requisitos subscritos pela organização;
d) forneça a estrutura para o estabelecimento e revisão dos objetivos e
metas ambientais;
e) seja documentada, implementada, mantida e comunicada a todos os
empregados;
f) esteja disponível para o público (ABNT, 1996, p. 4).
FIGURA 3.2: Modelo PDCA conforme norma ISO 14001
Fonte: Elaborado a partir de ISO (2002, p. 1) e MOURA (2002, p. 64).
Política Ambiental
D
P
C
A
Compromisso com a Política Ambiental
Plano de implementação do SGA
Implementação e operacionalização
Definição de recursos, estruturas,
responsabilidades, documentação, etc.
Verificação e ações corretivas
Auditorias do SGA
Avaliação e análise crítica
Atuação corretiva e ajustes no SGA
72
Um ponto importante destacado por ALMEIDA et al. (2001, p. 67) em
relação ao sistema de gestão baseado na ISO 14001, refere-se a necessidade
de definições por parte da organização em relação as metas ambientais a
serem alcançadas. Os objetivos e as metas devem ser estabelecidos de
maneira que a empresa controle seus aspectos, minimizando os impactos
decorrentes de suas atividades sobre o meio ambiente.
3.3.1 Benefícios e vantagens de um SGA
O objetivo do conjunto de procedimento da norma ISO 14001 Sistema
de Gestão Ambiental Especificação e Diretrizes para Uso é de auxiliar a
organização em todas as etapas necessárias para o desenvolvimento de um
SGA. Dentre as finalidades de implantação de um SGA, pode-se destacar a
busca pela melhoria na relação entre o sistema produtivo da empresa e o meio
ambiente. Além disso, esse sistema de gestão garante um certo
reconhecimento de que a organização possui uma preocupação e se adequa
as questões pertinentes ao meio ambiente. Esse reconhecimento que parte de
agentes externos, passa a ser um diferencial de extrema importância nas
relações da empresa com o mercado consumidor em geral.
Em relação às vantagens da adoção de um SGA, vários autores
apontam inúmeros benefícios desse sistema, tanto no âmbito da
potencialização da ampliação comercial, da redução de custos, como da
diminuição efetiva dos riscos. De maneira mais específica, pode-se destacar
os seguintes benefícios:
a) Redução de custos
O SGA permite que a empresa tenha um maior controle a partir de
análises cuidadosas das etapas de produção do seu sistema fabril, com isso o
diagnóstico para problemas aparentemente elementares como a eliminação de
desperdícios, o uso racional de insumos como água, energia e matéria primas
podem ser efetivamente resolvidos. Além disso, pode evitar custo,
possibilitando um melhor aproveitamento da mão de obra empregada, evitando
retrabalhos e diminuindo o volume de poluentes gerados.
Segundo ALMEIDA et al. (2001, p. 17) a introdução de novos padrões
ambientais pode iniciar um processo de inovação que tende a diminuir o custo
73
total de um produto, as inovações permitem que as empresas utilizem mais
apropriadamente uma série de insumos. Esse melhor aproveitamento,
conforme o autor, pode compensar os gastos realizados para a instalação do
SGA.
b) Conquistas de novos mercados
A procura por produtos que apresentam um bom desempenho ambiental
tem aumentado nos últimos anos, a preocupação ambiental tornou-se um fator
de competitividade, de expansão de mercado e a empresa que explorar este
aspecto significativo conquistará novos clientes. Existe uma parcela de
consumidores que se preocupam com a qualidade dos bens adquiridos,
estendendo essa preocupação ao meio ambiente, e estão dispostos a pagar
um preço mas elevado por essa satisfação (MOURA, 2002, p. 49).
Conforme aponta TEODORO (2002, p. 136-137) uma empresa com um
SGA implantado proporciona uma imagem positiva perante a sociedade em
geral, o que possibilita vantagens como a queda de barreiras comerciais e a
conseqüente ampliação dos negócios
38
.
c) Redução de riscos
Uma empresa bem estruturada para lidar com os aspectos ambientais
pertinentes ao seu processo produtivo apresenta como vantagem à redução do
risco de arcar com problemas de ordem externa que afete sua produção, tais
como multas, ações legais, sanções públicas, descumprimento da legislação
vigente, entre outros. Além disso, a probabilidade de acidentes ambientais
sérios, acidentes de trabalho ou até mesmo afastamento de trabalhadores por
doenças referentes à atividade que exercem é baixa. E essa minimização dos
riscos se estende para os administradores e acionistas, os processos de
auditoria estabelecidos na norma possibilita que os gestores identifiquem
riscos que não eram visíveis, evitando possíveis dados ao seu patrimônio
(Moura, 2002, p. 51).
Segundo ALMEIDA et al. (2002, p. 33) a análise apurada do passivo
ambiental dentro dos processos decisórios de venda, privatização, fusão e
incorporação das empresas é uma prática cada vez mais difundida e
38
É importante destacar que a inserção da empresa no cenário comercial internacional está
ligada diretamente com a elevação do nível de exigência dos clientes internacionais seja
referente à performance de qualidade do produto quanto ambiental. Além disso, existem
políticas discriminatórias que boicotam produtos e empresas que agridem o meio ambiente.
74
necessária, principalmente em segmentos industriais considerados
potencialmente poluidores
39
. Em algumas transações, transfere-se aos novos
proprietários, não os direitos da nova empresa, mas todas as
responsabilidades e riscos em função do passivo ambiental herdado. Em geral
os passivos ambientais são identificados mediante auditoria para o
planejamento de um SGA, e podem ser mitigados ao longo do processo de
implantação do sistema.
Um outro ponto que ressalta a minimização do risco em organizações
que possuem um SGA conforme requisitos da ISO 14001 diz respeito à
obtenção de recursos. Além de desfrutar de uma boa imagem, o baixo risco de
problemas de multas, indenizações, passivos ambientais e interdições por
acidente ambientais fazem com que essas empresas tenham uma maior
facilidade na obtenção de financiamentos. MOURA (2002, p. 52) destaca ainda
que existem linhas especiais de financiamento em instituições internacionais
voltadas para organizações que pretendem implementar SGA e melhorias
ambientais no seu processo produtivo
40
.
d) Possibilidade de demonstrar consciência ambiental
A organização que possui um SGA bem estruturado tem total interesse
em demonstrá-lo aos clientes, vizinhos, concorrentes etc. Desta forma, pode
obter vantagens em relação a sua preocupação com o meio ambiente, mostrar
que seus objetivos de melhoria ambiental estão sendo atingidos e suas metas
alcançadas com sucesso. Isso demonstra uma preocupação com o
melhoramento contínuo dos processos produtivos e que a empresa toma
decisões cuidadosas em relação às questões que envolvem os recursos
naturais, evitando impactos e acidentes ambientais graves MOURA (2002, p.
52).
Um dos requisitos mais importantes da norma referente à implantação
de um SGA conforme especificações da ISO 14001 diz respeito ao
39
Conforme ALMEIDA et. al. (2002, p. 33) o Instituto Brasileiro de Contadores-Ibracon “...estuda
um meio de inserir, nas demonstrações contábeis das empresas, os riscos ambientais que
possam causar efeitos negativos ao meio ambiente e aos resultados econômico-financeiros, em
decorrência do pagamento de indenizações ou de paralisações das atividades.”
40
A partir da década de 90, a questão ambiental passou a ser prioritária na agenda das Nações
Unidas, dos Organismos Multilaterais de Crédito (BIRD Banco Mundial, FMI Fundo
Monetário Internacional, BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento e OMC –
Organização Mundial do Comércio) e das discussões entre blocos políticos e comerciais (União
Européia, Mercosul, Nafta).
75
compromisso que a empresa tem em respeitar a legislação ambiental vigente.
Esse aspecto legal do SGA é importante uma vez que ressalta as partes
interessadas: acionistas, funcionários, comunidade vizinha, instituições de
crédito, agências ambientais, governo, entre outros que, no mínimo, a empresa
cumpre suas obrigações legais referentes ao meio ambiente. Trata-se de um
diferencial que normalmente é bem explorado pelas organizações certificadas.
e) Possibilidade de obtenção de certificação
Ainda referente à posição de alguns autores quanto às vantagens da
adoção de um SGA conforme a ISO 14001, VALLE (1996, p. 72) destaca que
a grande vantagem desse sistema está no estabelecimento de práticas e
procedimentos comuns para diferentes segmentos produtivos. Além disso,
coloca que o reconhecimento internacional do sistema e a possibilidade de
verificação das conformidades através de uma empresa certificadora são de
extrema importância para a confiabilidade do SGA.
A possibilidade de certificação do SGA e a conseqüente criação de um
selo para identificação dessas empresas, proporcionam aos consumidores
comprarem produtos com esse diferencial embutido. Essa certificação traz
vantagens para as empresa, principalmente as exportadoras e as que buscam
uma expansão nas vendas.
A implantação de um SGA gera efeitos positivos no comportamento da
empresas que aderem a esse sistema, uma vez que o SGA estimula atitudes
pró-ativas por parte dessas organizações e de seus trabalhadores a favor da
qualidade e do cuidado com a preservação ambiental (VALLE, 1996, p. 109).
3.4 Apreciação crítica do SGA: papel econômico e função ambiental
É sabido que o reconhecimento da variável ambiental por parte da
industria é importante e deve ser incentivado Trata-se de uma mudança
paradigmática que se iniciou na década de 1990 em alguns segmentos
produtivos mais tecnificados e, a partir de então, vem se estendendo aos
demais. O que se observa nessa nova postura é que as mudanças por parte
das empresas então basicamente relacionadas com seu comportamento e o
resultado da sua interação com os atores externos e internos às organizações.
76
Os atores externos (stakeholders), são os movimentos ambientalistas, o
governo e os seus órgãos normativos e de controle (local, regional e nacional),
as instituições de comércio e indústria nacional e internacional, as instituições
de pesquisa ambientais e os consumidores.
os internos, são todos os departamentos da própria organização que,
a partir de problemáticas reais e da consciência ambiental das pessoas que
interagem, provocam e clamam pela responsabilidade ambiental da empresa.
A necessidade de lidar com problemas ambientais que extrapolam os limites
da propriedade privada vem fazendo com que empresários e gestores
busquem a adoção de ferramentas e instrumentos voluntários de controle
ambiental.
Dentre elas pode-se destacar a auto-avaliação ambiental permanente
por parte das empresas, as auditorias ambientais externas e internas, a
formulação e a adoção pública de uma política de gestão ambiental, os selos
verdes, as certificações ambientais, entre outros tipos de sistemas.
De maneira geral, durante as duas últimas décadas, os sistemas de
gerenciamento ambiental voluntário têm se desenvolvidos consideravelmente
nos países mais industrializados. Esse fenômeno está ligado diretamente ao
crescente interesse dos consumidores em relação à responsabilidade
corporativa das empresas. O público exige das organizações um leque cada
vez maior de informações sobre os produtos que compram, sua repercussão
sobre a saúde, o meio ambiente e sobre as diversas condições em que foram
produzidos. Nestes casos, a adoção de um sistema de gerenciamento
ambiental que proporcione uma certificação, tornou-se um potente instrumento
de relações públicas, permitindo à empresa conseguir uma imagem satisfatória
e pôr-se ao abrigo de acusações levantadas pela opinião pública e
movimentos ambientais.
Conforme descrito no capítulo anterior, o sistema ISO 14001 de
gerenciamento voluntário possibilita a empresa identificar, do ponto de vista
ambiental, os aspectos mais críticos de seu processo produtivo. Além disso,
permite ao gerenciador formular uma política que mitigue os impactos e os
danos ambientais causados pela sua atividade.
A crítica que cabe a esse sistema é quanto à sua efetiva possibilidade
de se adequar às especificidades produtivas de plantas industriais dos mais
77
diversificados setores da economia. Para que possa contribuir para a eficiência
ecológica, para a preservação dos recursos naturais e o desenvolvimento
sustentável , principalmente, para recuperar o passivo ambiental acumulado.
O cumprimento desses requisitos exigem mais do que a simples
implantação de um SGA, pois trata-se de um conjunto de ações que
repercutem no comportamento histórico das empresas. Neste sentido
MAIMON (1996, p.20), considera dois principais tipos de comportamentos
ambientais da empresa: o comportamento ambiental reativo e o
comportamento ético ambiental.
O comportamento ambiental reativo é aquele em que a organização se
preocupa com a maximização dos lucros no curto prazo, atendendo ao
mercado, seus insumos, seus produtos e às exigências legais dos órgãos de
controle ambiental, ... polui-se para depois despoluir, a empresa vivencia uma
contradição entre a responsabilidade ambiental e o lucro” (MAIMON, 1996,
p.20-21).
O comportamento ambiental ético, ou pró-ativo como é chamado por
alguns estudiosos, é aquele em que a organização assimila a postura bio-ética
global dentro da empresa, descartando velhas práticas ambientais reativas. A
ética ambiental passa a fazer parte da missão da organização no longo prazo e
está aliada à comunidade e ao movimento ambientalista. Nessa perspectiva, a
abordagem setorial é substituída pela abordagem sistêmica e holística, os
projetos desenvolvidos são feitos por equipes multidisciplinares e explicitam
impactos ambientais. Os custos/benefícios são analisados de forma
multicriterial, a partir de parâmetros sócio-ambientais (MAIMON, 1996, p.21-
22).
As críticas quanto à eficiência e adoção de SGA baseados na ISO
14001,o muitas, abrangendo vários aspectos da norma e são apontadas por
pesquisadores, ambientalistas, empresários, pelos órgãos de regulação, entre
outros. A fim de facilitar o entendimento, as principais objeções a esse sistema
de gerenciamento voluntário que serão aqui tratadas podem ser agrupadas em
seis grandes núcleos.
78
3.4.1 Formação dos grupos de discussão da norma
Essa crítica foi inicialmente levantada antes mesmo da conformação
final da norma em 1996. As primeiras críticas foram levantadas em 1993
quanto foi instituído, no âmbito da International Organization for
Standardization (ISO), um grupo de trabalho denominado de TC 207 (Comitê
Técnico 207). Esse comitê tinha a finalidade de discutir e elaborar a série de
normas sobre gestão ambiental, foi liderado pelo Canadá com participações
deliberativas e normativas da Alemanha, Nova Zelândia, Coréia do Sul, França
e EUA, conforme indica o QUADRO 3.3.
QUADRO 3.3: Lideranças na definição das normas da série 14000
Comitê Grupos de Trabalho Item de trabalho Liderança
TC 207 Canadá
TC 207 WG1 ISO Guia 64 Alemanha
TC 207 WG2 ISO TR 14061 Nova Zelândia
TC 207 WG3 ISO TR 14062 Coréia e França
TC 207 WG4 ISO 14063 Estados Unidos
TC 207 WG5 ISO 14064 Coréia
SC1 Inglaterra
SC1 WG1 ISO 14001 França
SC1 WG2 ISO 14004 Estados Unidos
Analisando esse grupo, percebe-se a composição não balanceada dos
representantes (denominados delegados) dos países membros. As críticas se
agravaram quando esse grupo se associou aos países membros do SC1com a
finalidade de elaborar as normas ISO 14001 e 14004. Segundo estudo
realizado por CAJAZEIRA & BARBIERI (2005, p.8-9), é nítida a influência das
delegações de países considerados ricos nas determinações centrais quando
aos critérios normativos discutidos. Além disso, o peso distributivo entre os
membros dessas delegações também é desproporcional
41
. O trabalho destaca
que a maior participação entre as partes interessadas é de empresas e
consultores. Nas empresas o destaque é para o setor de petróleo, como
exemplo pode-se citar os delegados líderes da Itália e Canadá, que são ambos
executivos da Exxon. as representações de ONGs ambientalistas são raras
41
A delegação brasileira emdia é formada pela indústria 20%, empresas estatais 30%, ONG
10%, associações da indústria 20%, consultores 10% e governo 20%. Pequenas e médias
empresas representam 20% (CAJAZEIRA & BARBIERI, 2005, p.10).
79
e limitadas a alguns países do Norte da Europa, o que enfatiza as críticas
quanto a esse aspecto.
Essa crítica também aparece no trabalho de PINTO & PRADA (2000,
p.23). Segundo esses autores, o desequilíbrio na participação e na
representação dos grupos de interesses durante as discussões e
determinações da norma originou um resultado que contempla unilateralmente
uma das partes. Ainda segundo esses autores, o fórum de discussão da ISO
tradicionalmente foi especializado em debates relacionados a assuntos de
interesses empresariais privados.
QUADRO 3.4: Diferenciação econômica dos diferentes países no TC 207
Países Renda per capita
(em US$)
Reuniões da SC1
(em %)
Países membros
(em %)
Ricos Acima de 9,656.00 56% 32
Médios entre 9,656.00 e 786.00 34% 52
Pobres 785.00 ou menos 10% 16
Fontes: CAJAZEIRA & BARBIERI (2005, p.10)
Ainda em relação ao desequilíbrio na participação do rum da ISO,
KRUT & GLECKMAN destacam que a participação desproporcional das
delegações, em parte, foi causada pelos elevados custos de manter seus
representantes em Genebra
42
.
Além disso, esses autores apontam que, dos 24 países desenvolvidos
que possuem organismos próprios de normalização, 90% são membros
votantes do TC 207. quanto os países em via de desenvolvimento, apenas
58% possuem instituições que são membros da ISO em uma categoria que os
permite uma plena participação nos fóruns de discussão e elaboração das
normas. Apenas 26% desses países em desenvolvimento possuem instituições
que fazem parte do TC 207 e 17% destes estão em condições de votantes
(Krut & Gleckman, 1998, p.45).
42
Em 1995, os participantes da criação do TC 207 eram: África do Sul, Argentina, Alemanha,
Áustria, Bélgica , Brasil, Canadá, Chile, China, Cingapura, Colômbia, Coréia do Sul, Cuba,
Dinamarca, Espanha, EUA, Finlândia, França, Índia, Indonésia, Irlanda, Israel, Itália, Jamaica,
Japão, Malásia, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Reino Unido, Rússia, Suécia, Suíça,
Tailândia, Tanzânia, Tchecoslováquia, Trinidad, Turquia, Uruguai e Venezuela. Os membros
observadores eram: Argélia, Barbados, Egito, Hong Kong, Islândia, Iugoslávia, Lituânia, Líbano,
Polônia, Eslováquia, Sri Lanka, Ucrânia, Vietnã e Zimbábue (TEODORO, 2002, p.118).
80
PINTO & PRADA (2000, p.23), ainda tratando dessa crítica em
específico, destaca que por se tratar de uma variável difusa e incerta, e que
envolve interesses e bens públicos, o processo de definição das normas de
caráter ambiental, deveria ter sido abordado de maneira mais cuidadosa e
ampliada à participação de todos os pares interessados.
Uma particularidade do processo de votação para a definição normativa
da ISO também é alvo de duras críticas. Para efeito de desenvolvimento,
discussão, votação e aprovação de uma norma na ISO os procedimentos
priorizam os representantes dos países que compõem os TCs (Comitês
Técnicos) e os SC (Subcomitês). Além disso, o processo decisório não prioriza
o consenso entre os participantes, as determinações normativas são
aprovadas com dois terços dos votos dos membros participantes e no máximo
com um terço dos votos negativos.
Percebem-se diferenças fundamentais quanto ao processo decisório na
ISO com outros dois organismos certificadores, como é o caso da SAI (Social
Accountability International) e da FSC (Forest Stewardship Council)
43
. FSC
funciona de acordo com a regra do consenso dentro e entre cada um dos três
grupos que compõem a sua Assembléia Geral, as decisões do SAI quanto à
certificação SA8000, também, são tomadas por consenso no Comitê
Consultivo
44
. Além disso, os membros do FSC e SAI são mais representativos
que os da ISO, envolvendo um número equilibrado de representantes e
interlocutores do setor privado, de governos, de sindicatos e de organizações
não governamentais de caráter ambiental e social.
Por outro lado, os membros da ISO são organismos nacionais de
normalização freqüentemente dominados por interesses corporativos. Assim,
43
Forest Stewardship Council é uma organização não-governamental que contempla as
necessidades de certificação florestal para comerciantes de madeira, de organismos de defesa
do meio ambiente, de tribos indígenas entre outros. Para manter o diálogo sobre o uso
sustentável das florestas, a iniciativa estabeleceu princípios, critérios e padrões que envolvem
preocupações econômicas, sociais e ambientais. Os padrões do FSC, hoje amplamente
disseminados, representam o mais forte sistema mundial para o manejo de florestas em
direção à sustentabilidade (ver mais sobre a FSC em: www.fscus.org).
44
Social Accountability International é uma organização não-governamental criada em 1997 nos
EUA, que tem ação voltada à preocupação dos consumidores quanto às condições de trabalho
no mundo. A SA 8000 (Social Accountability 8000), que foi desenvolvido pela SAI é a primeira
norma voltada à melhoria das condições de trabalho, abrangendo os principais direitos
trabalhistas e certificando o cumprimento destes através de auditores independentes (ver mais
sobre a SAI em: www.cepaa.org).
81
pode-se dizer que o processo decisório de definição das normas da família ISO
14000 não se beneficiou suficientemente da contribuição de organizações de
vocação social e ambiental.
3.4.2 As normas não levam à melhoria do desempenho ambiental
A principal crítica levantada em relação aos sistemas de auto-regulação
ambiental, mais especificamente ao SGA baseado na ISO 14001, é o
questionamento quanto à eficiência desse sistema em proporcionar realmente
melhorias na qualidade ambiental.
Segundo LUCENA (2002, p. 120) a norma ISO 14001 apresenta um
escopo “muito flexível e genérico”, uma vez que não trata detalhadamente dos
requisitos e parâmetros que proporcione essas melhorias. Segundo essa
autora, fica a cargo dos administradores das empresas que adotam esse
sistema a decisão de prevenir ou remediar” os danos causados pela sua
atividade. Analisando desse ponto de vista, os aspectos genéricos e
superficiais da norma permitem que empresas com intenções distintas quanto
à questão ambiental, introduzam um SGA com características diferentes. Isso
significa dizer que fica a cargo da organização definir entre uma atuação
gerencial voltada para os aspectos que realmente priorizem uma melhora no
seu desempenho ambiental, ou apenas adicionar alguns elementos de cunho
ambiental em uma estrutura administrativa burocratizada, com procedimentos
e documentações a fim de satisfazer os requisitos da norma.
Neste mesmo sentido, FERNANDES et al. (2001, p.3) destaca que a
melhoria do desempenho ambiental é colocada na norma ISO 14001, de forma
genérica, como um compromisso a ser explicitado na política da empresa sem
maiores referências quanto ao rumo desta melhoria nem do objetivo a ser
atingido. Ou seja, a implementação de sistemas de gestão ambiental baseado
na norma ISO é avaliada, principalmente, por indicadores administrativos ao
invés de índices de desempenho ambiental.
No geral, as ações realizadas no âmbito da SGA estão direcionadas
quase que exclusivamente à melhoria continua da performance ambiental da
unidade produtiva ou de prestação de serviço, deixando a preservação
ambiental em segundo plano (SILVA et al.,2003, p. 3).
82
Essa melhoria contínua busca em primeiro lugar figurar a imagem da
empresa e reforçar o comprometimento da mesma com a questão ambiental a
fim de atender as pressões externas (do mercado e da sociedade). Porém, a
falta de detalhamento da norma, permite que os parâmetros efetivos de
desempenho ambiental sejam discutidos e implementados aos poucos,
conforme a disponibilidade de mudança da administração.
Pode-se dizer ainda que determinados termos utilizados como
referenciais chaves para o entendimento da norma tem sentido amplo,
tornando-se superficiais e ambíguos, o que pode levar a interpretações
divergentes por parte dos interessados. Além disso, FURTADO, (1998, p.2)
aponta que do ponto de vista ambiental, o SGA resultante da ISO 14001,
devido ao seu caráter genérico, tende a se tornar uma ferramenta
administrativa gerencial com características burocráticas em detrimento a um
recurso que efetivamente contribua para inovação tecnológica, iniciativas pró-
ativas e de desenvolvimento sustentável. Isso significa dizer que as normas do
SGA possuem, segundo alguns críticos, um caráter puramente administrativo,
sem grandes responsabilidades quanto às questões ambientais.
Com o estudo dos resultados da implementação dos SGA em algumas
empresas de diferentes setores, pode-se notar que apenas o cumprimento dos
requisitos descritos na norma não é suficiente para uma melhora efetiva da
qualidade ambiental. Conforme foi colocado FARIA et al. (2004, p. 1), faz-se
necessário uma maior cooperação e coordenação entre o sistema privado
baseado na norma ISO 14000 e o sistema público
45
.
A crítica de que a norma ISO 14000 não fornece um atestado de
excelência ambiental, uma vez que prioriza aspectos organizacionais em
detrimento aos ambientais, procede e é um ponto a ser discutido. O que a
norma estabelece como definição de melhoria contínua é a melhoria do
sistema ambiental e não necessariamente do desempenho ambiental da
unidade. Ademais, a norma estabelece como patamar mínimo o atendimento
legal e como as melhorias contínuas podem proporcionar ganhos no
45
Conforme é preposto por FARIA et al. (2004), o sistema público ficaria com a
responsabilidade de gerenciar, definir e difundir o grau de utilização dos recursos, além de
distribuir e fiscalizar as cotas de poluição. para o sistema privado de gestão, caberia o
cumprimento das diretrizes do sistema público, a disseminação da proposta de melhoria
ambiental para seus funcionários e fornecedores e a manutenção de programas de educação
ambiental à comunidade.
83
desempenho. A idéia é engenhosa, mas não é ambientalmente satisfatória
(CAJAZEIRA & BARBIERI, 2005, p. 10).
3.4.3 Deficiência do SGA em países com legislação ambiental não satisfatória
Segundo SILVA et al. (2003, p.4-5) a principal fundamentação crítica
aos sistemas de gestão ambiental privado está no excessivamente
direcionamento desses programas à melhora da gestão econômica das
empresas e pouca preocupação quanto ao meio ambiente e à sociedade.
Destacam que não existe qualquer tentativa do órgão normativo responsável
pelo SGA baseado na NBR ISO 14001 em compatibilidades ações
coordenadas para implementar a Agenda 21 ou qualquer outra convenção
ambiental internacional. Além disso, apontam que a norma, por ser
internacional e abrangente a todos os tipos de organização, não assegura que
os conceitos ambientais sobre os quais foi elaborada, sejam mantidos quando
da certificação ocorre em país de menor rigor ambiental.
Esse posicionamento descrito anteriormente, nos remete às questões
referentes à legislação ambiental vigente. Neste sentido observa-se que a
questão básica do SGA é o compromisso com o cumprimento dos requisitos
legais (municipais, estaduais e federais) e outras regras que a empresa
pretenda assumir. O item 4.3.2 referente aos requisitos legais determina que “a
organização deve estabelecer a manter procedimentos para ter acesso à
legislação” (NBR ISO 14001:1996, p. 5).
Assim, a lógica dessa crítica parte do pressuposto de, que em países
que possuem uma legislação ambiental não satisfatória, a empresa estar em
conformidade com essa legislação não significa um bom desempenho
ambiental vis-à-vis aos problemas ambientais que pedem soluções urgentes.
Neste caso, o enquadramento nas normas e a certificação pela ISO 14001
fazem com que essas empresas contribuam pouco ou até mesmo não
contribuíam para harmonizar problemas ambientais (CAJAZEIRA & BARBIERI,
2005, p.10).
3.4.4 Falta de limites e critérios para o desempenho ambiental
A ISO 14001, por se tratar unicamente de uma norma de gestão, não
especifica limite mínimo de desempenho a ser atingido, isso proporciona a
84
empresa fixar seus próprios objetivos quanto à melhoria significativa dos seus
processos.
Essa é a crítica destacada por PINTO & PRADA (2000, p.23). Segundo
estes autores uma empresa certificada com a ISO 14001 possui um sistema
de gestão eficiente, porém, isso não garante que os processos realizados
estejam adequados ambientalmente. Isso ocorre uma vez que, os objetivos e
metas são definidos pela própria empresa, que a norma não estipula
performance mínima a ser atingida.
A ISO 14001 estabelece, no máximo, linhas e diretrizes para que a
empresa voluntária estruture seu SGA. Talvez, esse aspecto particular dessa
norma possa explicar a elevada popularidade desta certificação junto ao setor
privado. Desta forma, sem especificar critérios mínimos, a ISO 14001 permite
certa flexibilidade e uma abordagem centrada na aprendizagem dado que a
empresa deve buscar constantemente melhorar o seu desempenho ambiental
dentro de padrão próprio pré-estabelecido
46
.
Traçando um pequeno paralelo contrario a ISO 14000, o FSC e a SAI
são sistemas de certificação que especificam critérios mínimos de
desempenho que a empresa deve atingir em termos de gestão da floresta num
caso e condições de trabalho no outro. Este tipo de abordagem pode parecer,
à primeira vista, mais eficaz em termos de impactos no ambiente, além de
representar custos indiretos importantes para a empresa em termos de
modificação dos equipamentos e mudança nas práticas de trabalho.
Como exemplo mais específico, a SA8000 é uma norma de
desempenho, que prescreve certos critérios mínimos que a companhia deve
atingir. Uma empresa que deseja obter a certificação SA8000 deve por
exemplo, empreender diversas mudanças nas condições de trabalho que
oferece aos seus empregados. Além de respeitar das leis aplicáveis do país
onde é instalada, deve renunciar o emprego de menos de 15 anos, renunciar a
qualquer forma de trabalho forçado, instaurar medidas de higiene e de
segurança e evitar que seus empregados que trabalhem mais de quarenta e
oito horas por semana.
46
A crítica em relação a essa flexibilização quanto à adoção de critérios ambientais a serem
adotadas, refere-se ao fato de que a gestão pode se comprometer a fazer determinadas
modificações consideradas tardias em relação aos problemas ambientais enfrentados.
85
3.4.5 A norma privilegia os modelos end-of-pipe
Conforme é colocado por FURTADO (1998, p.1), o existe dúvidas
quando a necessidade de uma empresa que busque o SGA conforme a ISO
14001 em se comprometer na busca contínua do aperfeiçoamento dos seus
processos. Porém, da maneira em que a norma é colocada, as ações de
gestão privilegiam em demasia os sistemas baseados no modelo curativo de
end-of-pipe.
Neste sentido pode-se dizer que a estratégia reativa das empresas que
possuem SGA corre um sério risco de se limitarem a um atendimento mínimo e
relutante da legislação ambiental. Portanto, a maior preocupação está voltada
para a incorporação de equipamentos de controle da poluição na saída dos
efluentes para o meio ambiente (tecnologia de fim de linha) (FERNANDES et
al., 2001, p.3).
As soluções apresentadas para os problemas de poluição ambiental
podem ser do tipo pollution prevention ou end-of-pipe. A segunda alternativa,
que é também chamada de tratamento de fim de linha, consiste em tratar o
poluente antes deste ser lançado ao meio ambiente. o primeiro modelo,
prioriza a prevenção da contaminação ou “ecoeficiência”. Neste caso inclui a
adoção de tecnologias mais limpas, melhoria na eficiência produtiva através de
gestão inovadora, redução da geração de resíduos e reciclagem de resíduos
do processo produtivo.
LUSTOSA (1999, p.6-7) aponta algumas diferenças básicas entre estes
dois modelos, isto é, o tratamento do sistema de “prevenção de poluição”
prevê mudanças nas tecnologias adotadas e nas formas de gestão
empresarial, o enfoque do tratamento de fim-de-linha está baseado em
tecnologias existentes e que por isso, podem ser consideradas medidas
paliativas e não soluções mais definitivas, que reduzam efetivamente a
quantidade de emissões e resíduos. Destaca ainda que o modelo de
tecnologia de “fim-de-linha” permite a recuperação de substâncias para sua
posterior reutilização e que, em alguns casos, uma solução eco-eficiente não
elimina totalmente as emissões, necessitando posteriormente de tratamento no
“fim-da-linha”.
Em relação às diferenças entre os modelos, nota-se que o sistema de
eco-eficiência da “prevenção de poluição” é de longo prazo e necessita de
86
políticas de suporte para fomentar o surgimento ou adoção de inovações
ambientais. Já o “fim-de-linha” é um modelo que objetiva controlar emissões no
curto prazo, além de ser mais acessível por se tratar de um sistema de fácil
adaptação tecnológica, sem necessitar de mudanças radicais nos processos
produtivos e organizacionais da empresa (LUSTOSA, 1999, p.6-7).
FURTADO (1998, p.2) indica que sistemas produtivos baseados em
Produção Limpa (PL) ou Produção mais Limpa (P+L) são superiores
tecnológica e gerencialmente que a série ISO 14000. Coloca ainda que a PL,
trata-se de um modelo de “prevenção de poluição” que implica em prevenir a
geração de resíduos com reflexos no comportamento da empresa, quanto aos
processos produtivos, embalagens, descarte, manejo de lixo, geração de
resíduos, produto, comportamento do consumidor e a política ambiental da
empresa. Trata-se, segundo esse autor, de princípios com maior objetividade e
efetividade ambiental do que o simples “compromisso de aprimoramento da
conduta ambiental” proposto pela ISO 14001
47
.
Neste mesmo sentido, TIBOR & FELDMAN (1996, p.34), concluem que
a gestão ambiental tem sido, com freqüência, reativa, fragmentada e focalizada
em “apagar incêndios”, ao invés de evitá-los. Isso demonstra que os sistemas
de proteção ambientalo podem apenas depender de controles “fim-de-linha”
(postura reativa da empresa), normalmente mais ineficientes, inadequados e
mais dispendiosos. A proteção ambiental deve seguir posturas e atitudes pró-
ativas, que vão além das conformidades às regulamentações legais e
gerenciais.
A capacidade de resposta das empresas frente às necessidades de
proteção ambiental e de desenvolvimento de produtos e processos menos
poluidores tem muito a ver com a estratégia adotada pelas mesmas. Uma vez
que sua postura ambiental depende do resultado da sua interação com os
stakeholders. Assim, MAIMON (1994, p.121) analisa três linhas básicas de
ações das empresas, como resposta as pressões externas:
47
Os princípios da Produção Limpa (PL) surgiram nos anos 80 como proposta da organização
não governamental Greenpeace e ganharam maior visibilidades com o Programa Produção
Mais Limpa do PNUMA- Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Esse programa
defende a prevenvação de resíduos na fonte, a exploração sustentável de fontes de matérias
primas, a economia de água e energia, e o uso de indicadores ambientais para a indústria.
Trata-se de um sistema mais restritivo uma vez que estabelece compromissos para precaução
em caso de dúvida ou suspeita de dano ambiental, e o direito de acesso público a todas as
informações sobre riscos ambientais de processos e produtos (ZOLCZAK, 2002, p.57-58).
87
QUADRO 3.5: Diferenciação econômica dos diferentes países no TC 207
Etapas Comportamento Princípio Postura
1
Adaptação à regulamentação ou
exigência do mercado,
incorporando equipamento de
controle de poluição (end-of-pipe).
Sem propor modificar na estrutura
produtiva ou no produto.
Reativo
2
Adaptação à regulamentação ou
exigência do mercado, modificando
os processos e/ou produtos.
Prevenir a poluição, selecionando
matérias primas, novos processos
e produtos.
Pró-Ativo
3
Antecipações aos problemas
ambientais futuros, ou seja, adoção
de um comportamento pró-ativo e
de excelência ambiental.
Integrar a função ambiental ao
planejamento estratégico da
empresa.
Pró-Ativo
Fonte: Adaptado de MAIMON (1994).
3.4.6 Outras críticas
Uma crítica levantada por LUCENA (2002, p. 122) diz respeito a falta de
aproximação entre a empresa e a comunidade local acerca dos assuntos
pertinentes ao meio ambiente onde estão inseridos esses dois agentes. A
autora destaca que apesar desse aspecto ser tratado especificamente no item
4.4.3 da norma, o seu caráter flexível impossibilita uma maior participação da
comunidade vizinha do processo decisório que envolve os aspectos
ambientais.
Um outro ponto que caracteriza a série ISO 14000 como um conjunto de
normas que não releva consideração aos aspectos sociais das empresas está
na falta de transparência de seu sistema. É fato que o único documento que a
empresa deve manter público é a sua política ambiental que eles mesmos
elaboraram. os resultados das avaliações e auditorias realizadas
periodicamente devem ser tratados como confidenciais e de uso exclusivo da
equipe de gestão.
O SGA tem como objetivo, conforme colocado neste trabalho, de
mostrar aos stakeholders que a empresa possui um compromisso de controlar
e reduzir os impactos ambientais das suas atividades. Esse ponto, conforme é
colocado por PIRES do RIO (1996, p. 22) deve ser analisado dentro de uma
ótica estratégica de marketing empresarial. Desta forma, esse conjunto de
normas que define um instrumento de auto-regulador ambiental não pode ser o
substituto das regulações externas de caráter público, pois não apresenta
parâmetros e requisitos claros para proporcionar a melhoria da qualidade
88
ambiental. Para TEODORO (2002, p.142), à incorporação da variável
ambiental pela empresa a partir de um SGA, trata-se de um processo de
“sensibilização econômica e não ecológica”, uma vez que a qualidade
ambiental empresarial está diretamente relacionada com a globalização da
economia e com o comércio mundial.
Como possibilidade de linearizar os interesses de empresas, governos e
consumidores, a ISO mantém um procedimento de revisão e atualização de
suas normas a cada três anos. Com esse objetivo, em 2000 o Comitê Técnico
207 iniciou esse processo que foi encerrado em 2004 sem mudanças
significativas no corpo da norma, apenas algumas adequações referentes sua
a compatibilidade com a ISO 9001 versão 2000 e a especificação de uma e
outra definição. Nota-se neste caso que o corporativismo e os interesses
privados desse fórum superaram as prioridades ambientais durante o
processo. Destacam que, propostas de alterações importantes para
viabilização da norma com os aspectos de políticas públicas e o sua maior
rigidez em países com legislação ambiental frouxa foram ignorados pelo comitê
revisor.
Nota-se que, segundo vários autores pesquisados, apenas a
implantação de um SGA conforme a norma ISO 14001 não é satisfatória para
uma melhora significativa da qualidade ambiental. Um programa que alie a
problemática da questão ambiental, a qualidade dos produtos e processos
industriais e a preocupação com a qualidade de vida, a saúde e a segurança
do trabalhador é do ponto de vista social, econômico e ambiental mais
sustentável e eficiente.
89
90
Capítulo IV- ESTUDO DE CASOS: APRESENTÃO E ANÁLISE DA
PESQUISA DE CAMPO
4.1 Procedimentos metodológicos
Inicialmente foram examinadas diversas possibilidades para a utilização
dos métodos de pesquisa a fim de responder ao problema proposto nesse
trabalho. Como alternativa metodológica encontrada, optou-se primeiramente
pela realização de uma pesquisa descritiva, seguido de estudo de casos. Essa
alternativa foi escolhida devido à necessidade de identificar as principais ações
realizadas pela agroindústria canavieira em relação a seus mais importantes
resíduos dentro do contexto de implantação de um SGA.
Em relação ao questionário para levantamento de dados do estudo de
casos, foi preparado com a finalidade de responder de forma direta e concisa
uma grande parte dos questionamentos acerca da gestão pertinentes ao
problema proposto inicialmente. Apesar de tratar-se de um questionário misto,
semi-estruturado com alternativas, tabelas e questões em aberto, era de rápida
possibilidade de resposta e foi tratado como um instrumento de coleta de
dados durante as visita as empresas. Os questionários foram respondidos
durante as entrevistas, com a presença obrigatória do pesquisador, vale a
pena lembrar que o entrevistado tinha acesso ao conteúdo do questionário
na hora da entrevista. Esta medida facilitou o preenchimento do instrumento e
minimizou o tempo gasto para as respostas, que foi de aproximadamente 50
minutos.
Inicialmente foi realizado um contato telefônico com todos os gerentes
agrícolas das nove usinas descritas anteriormente, nesse contato foi
introduzida a temática da pesquisa a ser realizada e cogitou-se a possibilidade
destes a participarem de uma entrevista e a responderem um questionário
48
.
48
Cosan S/A Filial Costa Pinto em Piracicaba; Cosan S/A Filial Santa Helena em Rio das
Pedras; Cosan S/A Filial Rafard em Rafard; Cosan S/A Filial São Francisco em Elias Fausto;
Ester em Cosmópolis; Furlan em Santa Bárbara D’Oeste; Iracema em Iracemápolis, Bom Retiro
91
Além disso, foi enviado a todas as usinas carta de apresentação da pesquisa
(ANEXO B), reforçando a importância da questão ambiental a da gestão
sustentável da agroindústria canavieira e informando que esta se tratava de
uma pesquisa confidencial, de cunho acadêmico e que os dados pertinentes
ao questionário serão tratados apenas de maneira agregada, sem a
identificação isolada das empresas participantes.
QUADRO 4.1: Questões e objetivos do estudo de casos
Questões do Estudo de Casos Objetivos do Estudo de Casos
Dentre as ações realizadas pela agroindústria
canavieira das bacias dos rios Piracicabas,
Capivari e Jundiaí, que investimentos estão
sendo feitos e como tem dado a questão
ambiental de seus resíduos no contexto da
implantação de um SGA?
Objetivo geral: a preocupação principal é
entender e acompanhar os investimento físico
e humano, destas agroindústrias, a fim de lidar
com a questão da gestão dos seus resíduos,
no contexto de um SGA.
1.Em relação ao interesse que a agroindústria
canavieira tem em implantar um SGA.
a) Selecionar entre as usinas as que possuem
interesse em implementar um SGA.
b) Classificar as várias opções quanto aos
motivos de implantação de um SGA.
- melhoria da imagem;
- redução de custos e incentivos;
- medidas de caráter duplo-ganhadoras;
- solicitação externa e/ou interna.
2.Quais os principais investimentos que estão
sendo realizados para a implantação do SGA.
a) Investimentos em recursos físicos.
- controle indireto;
- controle direto no setor industrial;
- controle direto no setor agrícola;
- equipamentos de monitoramento.
b) Investimentos em recursos humanos.
- origem dos recursos humanos;
- investimento em treinamentos específicos;
- investimentos em educação ambiental.
3.Aspectos pertinentes ao gerenciamento da
vinhaça.
Discriminar entre as diversas opções de
práticas com esse resíduo as utilizadas na
empresa. Discriminar o volume gerado, a
principal disposição, os ganhos obtidos com a
reutilização e investimentos previstos.
4. Aspectos pertinentes ao gerenciamento da
torta de filtro.
Discriminar entre as diversas opções de
práticas com esse resíduo as utilizadas na
empresa. Discriminar o volume gerado, a
principal disposição, os ganhos obtidos com a
reutilização e investimentos previstos.
5. Aspectos pertinentes ao gerenciamento do
bagaço.
Discriminar o volume gerado, a principal
disposição, os ganhos obtidos com a venda e
a reutilização e previsão de investimentos para
cogeração.
É importante salientar que muitos representantes da alta administração
dessas empresas, principalmente gerentes agrícolas, prontificaram-se
imediatamente em agendar a entrevista e se disponibilizaram pessoalmente
em Capivari e São José em Rio das Pedras.
92
para responderem o questionário. No entanto, duas agroindústrias, apesar dos
inúmeros contatos telefônicos e eletrônicos e da persistência durante pelo
menos 2 meses, não se prontificaram a nos receber e nem mesmo justificaram
essa atitude. Logo, os dados apresentados nesse capítulo, pertinentes a
pesquisa de campo para formatação do estudo de casos contém apenas
dados e informações técnicas de sete usinas, uma vez que os representantes
de duas delas não foram solícitos a esse trabalho.
O questionário foi propositadamente dividido em 7 etapas que
compreende tabelas, perguntas abertas e de múltipla escolha. As questões e
informações pertinentes a pelo menos 5 dessas etapas para esse estudo de
casos apresentam uma relação direta com os objetivos propostos inicialmente
para esse trabalho, isso pode ser entendido através do QUADRO 4.1. Em
relação as entrevistas, foram todas realizadas durante o segundo semestre de
2004 entre os meses de setembro e novembro.
4.2. Instrumento de coleta de dados: Questionário
A elaboração do questionário consistiu basicamente em traduzir os
objetivos específicos apresentados da pesquisa em itens bem redigidos e de
fácil compreensão. A fim de facilitar a abordagem das questões pertinentes ao
trabalho e permitir ao entrevistado respostas rápidas e objetivas. Inicialmente
esses objetivos específicos foram divididos em cinco blocos constituídos de
perguntas de múltipla escolha, fechadas e abertas.
O instrumento de pesquisa, que pode ser encontrado na íntegra no
ANEXO A, possui cinco grandes blocos de perguntas com relação à estratégia
de gestão ambiental da empresa.
Bloco 1: Interesse em implantar um SGA
- empresas interessadas na gestão ambiental;
- motivação quanto a implantação.
Bloco 2: Principais investimentos que estão sendo realizados para a
implantação
- investimentos em recursos físicos;
93
- investimentos em recursos humanos.
Bloco 3: Aspectos pertinentes a gestão da vinhaça
- características da gestão desse resíduo;
- disposição, reutilização e os seus benefícios;
- investimentos específicos no contexto de implantação de um SGA.
Bloco 4: Aspectos pertinentes a gestão da torta de filtro
- características da gestão desse resíduo;
- disposição, reutilização e os seus benefícios;
- investimentos específicos no contexto de implantação de um SGA.
Bloco 5: Aspectos pertinentes a gestão do bagaço
- características da gestão desse subproduto;
- disposição, reutilização e os seus benefícios;
- investimentos específicos no contexto de cogeração energética.
4.3 Bloco 1: Interesse em implantar um SGA
No Bloco 1, a primeira pergunta consistia em saber se a empresa
entrevistada tinha interesse em implantar ou estava em implantação um
SGA, no caso de afirmativo o entrevistador era direcionado a responder o
questionário todo, ou seja, todas as perguntas do Bloco 2, 3, 4 e 5. Em caso de
negativa, o entrevistado era direcionado a responder apenas as perguntas
pertinentes a gestão dos resíduos vinhaça, torta de filtro e bagaço,
respectivamente os Blocos 3, 4 desconsiderando a última pergunta de cada
um deles, e o Bloco 5 completo.
Os Blocos 1 e 2 possuem perguntas a serem respondidas a partir de
uma escala, trata-se de opções apresentadas ao entrevistado que devem ser
ponderadas em: BAIXA, MÉDIA, ALTA ou NÃO SABE.
Dentre as sete usinas pesquisadas, todos os entrevistados responderam
com entusiasmo que a empresa que dirigem possui algum tipo de ação que
objetive a implantação de um sistema de gestão integrado que priorize o meio
ambiente e os recursos naturais. Pelo menos três desses entrevistados
informaram que o objetivo maior desse sistema é a certificação conforme os
requisitos normativos da ISO 14001, uma vez que possuem alguma
94
certificação no seu sistema de gestão de qualidade, baseadas nas normas ISO
9001 e ISO 9002.
Os outros três entrevistados confirmaram o interesse da empresa em
adequar os processos produtivos, os trabalhadores e prestadores de serviço
em um sistema gerencial que valoriza a questão ambiental. Destacaram porém
que, não existe prioridade para a conclusão dessa implementação e que as
ações estão sendo realizadas conforme as necessidades. Também não
souberam responder se a usina que dirigem tem o objetivo de certificar esse
sistema.
Um dos entrevistados destacou desconhecer o interesse dos
proprietários da usina que dirige em adotar sistemas um gerencial ambiental.
Afirma porém que, ações com o intuito de valorizar a questão ambiental em
todos os setores produtivos são tratadas com atenção e relevância.
Como se pode notar, todas as usinas pesquisadas possuem algum tipo
de programa voltado à questão ambiental, na maioria dos casos verificados,
esses programas possuem finalidades específicas, como por exemplo ações
de recomposição de mata ciliar, de precaução contra incêndios na lavoura, de
emergências em reservatórios e depósitos de produtos químicos, entre outras.
No entanto, com a finalidade de integrar e de formalizar essas ações, algumas
usinas bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí estão aderindo formalmente a
implementação de um SGA em suas unidades produtivas.outras, apesar de
não aderirem prontamente aos requisitos estabelecidos na norma para
definição de um SGA, possuem, de uma forma ou de outra, um conjunto de
ações que com o tempo pode desencadear em um SGA. Logo, para esse
trabalho foram consideradas informações de apenas seis das sete empresas
pesquisadas, isto é, apenas as empresas que declararam abertamente que
agem com a finalidade de implementar um SGA.
4.3.1 Motivação quanto à implantação
Conforme discutido no Capítulo 3 desse trabalho, são várias as
razões que influenciam empresas dos mais diferenciados segmentos
95
produtivos optares por ações gerencias voltadas as questões ambientais
pertinentes as suas várias etapas produtivas
49
.
QUADRO 4.2: Motivação das usinas em optarem pela implementação de um
SGA
Subdivisão Opções apresentadas Não Sabe Baixa Média Alta
Melhoria da
imagem
1. melhorar a imagem da empresa junto à sociedade 0% 0% 67% 33%
2. melhorar a imagem da empresa junto aos clientes 0% 17% 17% 67%
3. consciência ecológica da alta direção 0% 17% 17% 67%
4. detectar a potencialidade de passivos ambientais 0% 0% 67% 33%
5. reduzir os impactos ambientais do processo 0% 17% 50% 33%
6. diminuir os acidentes ambientais 0% 83% 17% 0%
Custos e
benefícios
7. redução da utilização de recursos naturais 0% 17% 83% 0%
8. obter redução de custos 0% 0% 17% 67%
9. obter linhas de créditos 100% 0% 0% 0%
10. obter benefícios fiscais 100% 0% 0% 0%
11. melhorar a utilização das fontes energéticas 0% 17% 50% 33%
12. melhorias no desempenho ambiental 0% 0% 0% 100%
Duplo
ganhadoras
13. motivar os funcionários 17% 50% 33% 0%
14. ganhar mercado 17% 17% 17% 50%
15. redução das emissões 0% 17% 50% 33%
16. melhorar destinação dos resíduos 0% 50% 50% 0%
17. desenvolver produtos sustentáveis 0% 0% 50% 50%
18. desenvolver processos sustentáveis 0% 0% 50% 50%
Solicitações
internas e/ou
externas
19. de clientes 0% 33% 0% 67%
20. de grupos ambientais 33% 67% 0% 0%
21. de órgãos de regulação ambiental 0% 100% 0% 0%
22. interna 17% 17% 0% 67%
23. de entidades de classe 0% 100% 0% 0%
24. atender a legislação ambiental 0% 33% 33% 33%
A segunda parte desse primeiro bloco, as questões foram formulada
com a finalidade de identificar as principais motivações que estão levando as
agroindústrias canavieira das bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí a se
prepararem para um SGA. Para tanto, esse primeiro bloco (Tabela 1.1 do
Questionário), foi relacionada com vinte e quatro opções, subdivididas em 4
grupos de seis opções cada um, para que o entrevistador avalie cada uma
delas.
Assim, a segunda parte do Bloco 1 ficou dividido em: 1.1- Melhoria na
imagem da empresa; 1.2- Redução de custos e obtenção de incentivos; 1.3-
Medidas de caráter duplo-ganhadoras; e 1.4- Solicitação externa e/ou interna.
Com o objetivo de facilitar a apresentação das opções e a análise
posterior das respostas apresentadas, essas questões foram subdivididas em
49
Conforme MOURA (2002, p. 49-52) a principal razão para que uma empresa invista na
melhoria de seu desempenho ambiental é atender as necessidades de seus consumidores.
Posteriormente esse autor cita algumas outras razões, entre elas: conquista de mercado,
melhoria da imagem da empresa, redução de riscos, entre outras.
96
quatro grupos. Um panorama geral com as respostas obtidas para essa
primeira tabela de opções é apresentada no QUADRO 4.2.
Melhoria da imagem da empresa
O primeiro grupo trata das razões referentes aos aspectos ligados a
imagem institucional da usina. O peso da variável ambiental no processo de
crescimento e de consolidação das empresas passou a ter uma importância
ainda mais significante nos últimos anos. Tomadas de decisões de caráter
preventivo tem sido adotadas por algumas dessas usinas pesquisadas como
uma estratégia a fim de passar para os clientes, governo e comunidade uma
imagem positiva da organização. A responsabilidade social aliada a um bom
desempenho ambiental e a utilização de procedimentos produtivos baseados
no desenvolvimento sustentável podem colaborar para a formação de uma boa
imagem dessas usinas perante essas entidades.
As respostas apresentadas para esse primeiro grupo indicam que a
grande prioridade em relação à adoção de um SGA a fim de melhorar a
imagem da empresa está justamente nos aspectos ligados as exigências de
clientes e a conscientização da alta administração de que o sistema pode
trazer melhorias ao processo produtivo. em relação a pouca preocupação
com a diminuição dos acidentes ambientais graves, quando questionado dois
dos entrevistados apontaram que esse tipo de acidente não é muito comum
em usinas canavieiras, não apresentando uma grande motivação para
implementação de um sistema gerenciamento.
GRÁFICO 4.1 Melhoria na Imagem da empresa
No GRÁFICO 4.1, dentre as opções apresentadas para a ponderação
dos entrevistados, a primeira delas destaca a preocupão que a empresa tem
em melhorar a sua imagem perante a sociedade. Em relação a essa opção, é
sabido que o setor sucroalcooleiro possui uma imagem negativa,
principalmente em relação aos impactos que seus processos de transformação
proporcionam. Práticas produtivas que geram grande desconforto as
97
populações vizinhas das indústrias e das lavouras, como queimadas para
colheita e o lançamento de vinhaça no campo, são ainda amplamente
disseminadas em todas as usinas pesquisadas nas bacias do Piracicaba,
Capivari e Jundiaí.
As respostas apresentadas para essa primeira opção apontam uma
preocupação elevada das usinas em relação a sua imagem junto à sociedade.
Quando questionado sobre aquanto à instalação de um SGA pode contribuir
positivamente para uma melhora desse quadro, um dos entrevistados deixou a
entender que a melhora virá com o tempo. Esse funcionário apontou que
determinados processos, tanto agrícolas como industrias, não serão alterados
com o SGA, na verdade esse sistema ampliará os canais de comunicação
entre a usina e a sociedade, isso permitirá que a empresa fique mais atenta
aos anseios do público externo em relação às questões ambientais
50
.
Destacou ainda que o processo de comunicação externa sobre seus
aspectos ambientais é um requisito da norma e que a empresa deve traçar
50
Nota-se que até mesmo usinas com SGA amplamente difundidas, em funcionamento e com
sistema de certificação aprovado para a ISO 14001, como é o caso da Usina Santa Cruz em
Américo Brasiliense e da Cia. Energética Santa Elisa em Sertãozinho, as práticas da queimada
e da aplicação de vinhaça, ainda são utilizadas.
0%
25%
50%
75%
100%
1.melhorar
imagem junto à
sociedade
2.melhorar
imagem junto aos
clientes
3.conscientização
da alta direção
4.potencialidade
de passivos
ambientais
5.reduzir os
impactos do
processo
6.diminuir os
acidentes
ambientais
Alta
Média
Baixa
Não sabe
98
estratégia para que essa comunicação se efetive, surtindo efeito tanto dentro
quanto fora da unidade. Aponta que por uma questão histórica e de mercado,
os meios de comunicação não cobrem ações ambientais preventivas adotadas
por muitas empresas, em contrapartida dão uma maior ênfase nos casos de
acidentes.
Mostra que é justamente nesse ponto que se deve atuar, a interação
empresa-comunidade é importante para conciliar os interesses mutuamente. A
aprovação da empresa pela sociedade faz parte desse processo e para isso a
comunidade deve conhecer a empresa, seus processos, etapas de produção,
produtos, as melhorias em implantação, tudo isso é parte de um processo de
aceitação e de melhoria progressiva da imagem. Além disso, indica que hoje
em dia é necessário mostrar para a sociedade que a empresa está preocupada
em reduzir seus impactos ambientais, diagnosticar as potencialidades de seus
passivos e mitigar seus efeitos danosos a comunidade vizinha.
Nas bacias do PCJ não foi registrado nenhum grande acidente
ambiental envolvendo usinas canavieiras nos últimos anos. Segundo
informações obtidas juntamente a Cetesb, órgão ambiental estadual, o que
normalmente ocorre são pequenos acidentes envolvendo derramamento de
efluentes industriais nos cursos d’água. Um desses acidentes foi constatado
em janeiro de 1999 quando por falha de um mecanismo hidráulico, houve um
lançamento de efluente liquido industrial sem tratamento no rio Capivari. O
efluente possuía valor de DBO acima do padrão previsto na legislação
ambiental
51
. Na ocasião a usina recebeu uma penalidade de advertência da
CETSB e foi recomendada a instalação de um dispositivo de segurança no seu
sistema hidráulico para evitar novos acidentes.
Um outro problema desse tipo, foi constatado pelos técnicos da
CETESB durante uma visita de inspeção para liberação de licença de
operação em julho de 2003 em uma usina na bacia do Capivari. Segundo
informações relatadas por um dos técnicos e a descrição do relatório de visita
e inspeção, essa usina descartava in natura no ribeirão que cortava a
propriedade, água do sistema de refrigeração. Conforme o parecer de
inspeção, tratava-se de um procedimento irregular que descumpria uma
51
Processo CETSB n° 05/00083/99 de 25 de janeiro de 1999.
99
exigência técnica, a usina foi multada e não obteve sua renovação de
licenciamento ambiental até resolver o problema em definitivo
52
.
De todas as possibilidades de pequenos acidentes ambientais, a
queimada em áreas florestais é o mais comum e acontece com grande
incidência em todos os municípios das bacias. Neste caso, fica a cargo da
Polícia Militar Ambiental a verificação da ocorrência, o procedimento de
documentação e a expedição da multa pela infração.
ILUSTRAÇÃO 4.1: Fogo em área florestal decorrente da queima de canavial
na Região de Piracicaba/SP
Fonte: Acervo do autor.
Redução de custos e obtenção de benefícios
O segundo grupo de opções referentes aos motivos de implantação de
um SGA trata de opções relacionadas com a redução de custos e a obtenção
de incentivos por parte das usinas. O GRÁFICO 4.2 indica a apreciação dos
entrevistados em relação às opções apresentadas para este aspecto no
questionário.
GRÁFICO 4.2 Redução de custos e obtenção de incentivos
52
Informações consultadas no relatório técnico de inspeção 05/00491/03 de 21 de setembro
de 2003.
100
A primeira observação relevante está nas respostas relacionadas a
opções de se buscar linhas de créditos e benefícios fiscais a partir da
implantação de um SGA. Atualmente as principais linhas de crédito abertas
para o setor sucroalcooleiro têm como origem os recursos no BNDES, dentre
elas pode-se destacar: o Programa de Modernização da Frota de Tratores
Agrícolas e Implementos Associados e Colhedeiras (MODERFROTA), o
Programa Especial de Financiamento Agrícola (FINAME) e o Programa de
Apoio Financiamento em Investimentos em Fontes Alternativas de Energia
Elétrica
53
. É importante salientar que dentre os critérios de cada um desses
programas para obtenção de créditos, o terceiro programa citado é o único que
tem como uma das condições a obrigatoriedade da licença ambiental do
empreendimento ou da instalação existente a ser expandida.
em relação aos benefícios fiscais, MOTTA et al.(1996, p.38) destaca
que no Brasil não existem critérios técnicos específicos para a concessão
desse tipo de benefício a empresas que possuem SGA. O que existe são
incentivos fiscais para empresas que realizam investimentos no controle da
poluição no setor industrial, estes benefícios estão definidos na forma de
53
Aqui, deve-se destacar que o BID, apesar de não ter nenhuma linha de crédito específica
para o setor sucroalcooleiro, é uma das instituições financeiras internacionais que mais prioriza
e exige requisitos de obrigatoriedade ambiental para liberação de recursos.
0%
25%
50%
75%
100%
7.redução na
utilização de
recursos
naturais
8.redução
geral de
custos
9.linhas de
créditos
10.benefícios
fiscais
11.melhorar a
utilização das
fontes
energéticas
12.melhorias
desempenho
ambiental
Alta
Média
Baixa
Não sabe
101
abatimentos no imposto de renda e sobre o valor adicionado para a adoção de
tecnologia limpa.
Ainda segundo esses autores, o que se percebe é que no Brasil e
demais países da América Latina e Caribe, os subsídios para os investimentos
em controle da poluição têm tido poucos impactos, uma vez que a aplicação da
legislação ambiental não tem sido eficaz o bastante para aumentar a demanda
das empresas por estes gastos. Além disso, relata que existem empresas que
utilizam desses incentivos de modo inadequado devido à falta de
procedimentos apropriados, em termos fiscais e ambientais, para monitorar
seus investimentos
54
(MOTTA et al., 1996, p.38).
Percebe-se que, embora existam políticas de incentivos fiscais e
creditícios, a preocupação da agroindústria canavieira das bacias do
Piracicaba, Capivari e Jundiaí em adotar um SGA não é apoiada nessas
possibilidades. Quando questionado sobre essas duas opções, dois dos
entrevistados destacaram que desconhecem totalmente qualquer possibilidade
de obter esse tipo de benefício a partir de um SGA. Um deles apontou que
procurou um consultor da área ambiental com a finalidade de levantar a
existência desses tipos de benefícios, como resposta esse profissional lhe
disse que desconhecia esse canal.
um outro entrevistado destacou que a usina em que gerencia, apesar
de não estar certificação pela ISO 14001, possui um SGA que funciona
plenamente. E que durante o processo de financiamento de equipamentos no
BNDES para ampliação de seu sistema de cogeração, em grande parte graças
ao SGA, as licenças ambientais foram conseguidas em um período de tempo
bem abaixo do esperado.
Em relação à diminuição na utilização de recursos naturais,
praticamente todas as usinas pesquisadas apontaram a água como um dos
recursos que requer atenção constante e especial. Pelo menos três dos
entrevistados destacaram que possuem sistemas produtivos, que apesar do
grande consumo, são altamente eficiência na utilização desse recurso,
54
Apesar da baixa eficiência desse instrumento no Brasil, os subsídios aos insumos que são
recursos naturais, entretanto, têm sido bem-sucedidos em mercados dinâmicos. Os subsídios
ao reflorestamento têm sido um fator importante para a expansão do setor da exploração
florestal no Chile (reflorestamento de 1,7 milhão de ha em 20 anos), enquanto que os subsídios
à energia tiveram sucesso em Barbados e no Equador para incentivar a substituição de fontes
de energia (MOTTA et. al., 1996, p.38).
102
priorizando processos de tratamento para sua posterior reutilização na
indústria. Nesse caso específico, uma das usinas localizada na bacia do
Piracicaba adotava desde 2000 um plano de utilização racional de água no
setor administrativo.
Segundo um dos seus gerentes, a pelo menos dois anos esse plano foi
expandido aos outros setores, no primeiro ano representou uma economia de
quase 10% no consumo destinado ao uso secundário (banheiros, cozinha,
jardinagem, limpeza de escritórios etc). Já para 2005, segundo esse
funcionário, o objetivo é integrar esse plano aos processos produtivos da
industria e a meta do ano é uma redução global em torno de 5%.
A questão da possibilidade de um SGA proporcionar a médio e longo
prazo a redução de custos produtivos também foi um assunto praticamente
unânime para os entrevistados. Porém o que parece que aindao ficou muito
claro aos entrevistados é como isso pode se concretizar, ou melhor ainda, até
quanto se pode avançar em investimentos para a consolidação de um SGA a
fim de se obter futuramente redução nos custos.
Para a maioria dos entrevistados, a questão referente aos custos está
ligada diretamente a finalidade de atender os padrões relacionados aos níveis
de contaminação ambiental, evitando problemas e custos derivados do seu
não cumprimento, ou seja, reduzir a ocorrência dos riscos com multas e
indenizações. Além disso, reduzir os atuais custos com prevenção da poluição
utilizando para isso aproveitamento de rejeitos, eliminação de perdas,
reciclagem, substituição de insumos entre outras.
Por outro lado, quando questionado a dois dos entrevistados a
possibilidade de um SGA introduzir a variável ambiental na usina dentro de um
novo regime tecnológico, ou seja, alterando profundamente os procedimentos
produtivos, e a partir dessa inovação possibilitar a redução de custos, os dois
demonstraram-se poucos receptíveis a possibilidade. Segundo um deles, o
atual procedimento industrial de produção de açúcar e álcool é pouco flexível,
as etapas, os rendimentos e a eficiência da maquinaria em boa parte das
médias e grandes usinas são muito parecidos e apresentam-se relativamente
eficientes do ponto de vista econômico.
Um dos entrevistados apontou que na divisão agrícola as possibilidades
de introdução de novos processos e todos que dêem um destaque maior a
103
questão ambiental e proporcione redução nos custos operacionais e produtivos
são mais evidentes e concretos. Cita como exemplo estudos de idade média
de frota agrícola e destaca que o controle dessa variável é de fundamental
importância para a viabilidade econômica de operações como preparo de solo,
colheita, plantio e transporte de cana. Quanto mais nova a sua frota veicular,
melhor seu rendimento produtivo, menor o consumo de combustível e os
gastos com manutenção. Do ponto de vista ambiental, máquinas novas trazem
inovações que proporcionam a diminuição na compactação do solo, redução
na emissão de gases tóxicos e nos acidentes com fluídos contaminantes no
solo.
Adoção de alternativas e medidas duplo-ganhadoras
Inicialmente deve-se resgatar os conceitos pertinentes as chamadas
medidas duplo-ganhadoras, também conhecidas como win-win. Estas medidas
estão inseridas em um grupo de políticas ambientais que tem a finalidade de
aproveitar o vínculo positivo entre desenvolvimento e ambiente, corrigindo ou
prevenindo falhas, aumentando o acesso a recursos e tecnologias e
promovendo um aumento eqüitativo da renda.
São também chamadas de “políticas duplo-ganhadoras”, políticas
ambientais que propõem, ao mesmo tempo, melhorias ambientais e
econômicas. Geralmente, são políticas que estimulam a eficiência produtiva na
relação insumo-produto, bem como a utilização de tecnologias limpas que
geram menos resíduos e menor consumo de matérias primas, proporcionando
assim ganhos superiores
55
.
O GRÁFICO 4.3 apresenta os resultados obtidos durante a pesquisa de
campo, quando os entrevistados foram questionados a respeito da opção das
empresas que representam adotarem como justificativa para a implantação de
um SGA medidas de cunho duplo-ganhadoras. Deve-se destacar que as seis
55
Trata-se da adoção de estratégias que possibilita lucros econômicos maiores onde, ganha o
meio ambiente e ganha a empresa. No caso do Brasil a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei
6.938/81) prever três categorias de instrumentos de gestão ambiental pública: i) Instrumentos
Regulatórios e Punitivos; ii) Instrumentos de Mercado ou Incentivos Econômicos; e iii)
Instrumentos de Informação. É fato que os instrumentos de incentivo econômico (inclui-se as
políticas win-win), apesar de mais eficientes, são subutilizados pelos órgãos públicos em
detrimento aos instrumentos regulatórios e punitivos.
104
opções apresentadas no questionário para apreciação dos entrevistados foram
devidamente escolhidas e selecionadas com a finalidade de que, quando
ponderadas, surtirem necessariamente um duplo efeito (melhoria ambiental e
econômico) para a empresa.
Dentre as opções, as mais abordadas e discutidas pelos entrevistados
durante as entrevistas foram as relacionadas com produtos e processos
sustentáveis e com o mercado. Em relação aos processos produtivos e sua
adequação a um modelo sustentável, um dos entrevistados destacou que
desde a década de 1980 e mais intensamente nos últimos cinco anos, o grau
de profissionalização na gestão das usinas brasileiras melhorou muito. Essa
evolução permitiu que a dois anos atrás ampliassem as discussões sobre o fim
das queimas, e que traçasse um plano progressivo de eliminação dessa
prática. Planos de recomposição de mata ciliar e de formação de reserva
ecológica em áreas de plantio são práticas que vem ganhando espaço e
viabilidade nas empresas da região. Trata-se de exemplos, segundo esse
funcionário, que seria praticamente inviável durante a década de 1970.
GRÁFICO 4.3 Alternativa ou medidas duplo-ganhadoras
105
Um outro entrevistado ressaltou que a busca por práticas e produtos
cada vez mais sustentáveis do ponto de vista ambiental não pode estar
desvinculada da possibilidade de se buscar maiores ganhos de mercado. Frisa
que, a utilização de práticas agrícolas conservacionistas e a modernização de
processos produtivos industriais para esse fim, somente são realmente viáveis
quando o produto final esperado tenha um diferencial de mercado. Aponta que
cinco anos atrás esse diferencial começou efetivamente a se consolidar, a
procura e a exigência por parte de empresas alimentícias e de bebidas,
principalmente as multinacionais exportadoras, por produtos que exige
responsabilidade ambiental tem feito com que um número crescente de usinas
da região se adeqüem
56
. Nota-se neste caso o claro interesse mercadológico
na adoção de um SGA.
Um outro movimento nesse sentido está na busca por parte de algumas
usinas de adaptar seus processos industriais e práticas agrícolas para a
produção de açúcar orgânico. Especificamente nas bacias do Piracicaba,
Capivari e Jundiaí nenhuma das usinas visitadas possuem produção orgânica
56
Esse mesmo entrevistado apontou que, conforme uma pesquisa de seu conhecimento, o
“público comum”, ou seja, o consumidor doméstico de açúcar ainda não utiliza o diferencial
ambiental como fator relevante para a escolha desse produto. Desta forma destaca que a
preocupação do consumidor interno se limita ao preço e a qualidade do produto.
0%
25%
50%
75%
100%
13. motivar os
funcionários
14. ganhar
mercado
15. redução
das emissões
16. destinação
dos resíduos
17. produtos
sustentáveis
18. processos
sustentáveis
Alta
Média
Baixa
Não sabe
106
mas, conforme um dos entrevistados, o valor desse produto no mercado
interno e externo tem atraído a atenção de algumas empresas, bom motivo
planejar modificações nos atuais sistemas produtivos.
Em um recente estudo RODRIGUES (2004, p. 265-266) mostrou que as
condições ambientais nas propriedades agrícolas e instalações industriais das
usinas de optaram por essa alternativa são sensivelmente melhorada. Além
disso, essa autora afirma que os ganhos dessa atividade orgânica não estão
centrados apenas na comercialização do produto final. Lembra ainda que os
incrementos na qualidade ambiental das propriedades, com a adoção
sistemática de práticas conservacionistas, proporcionam uma redução de
custos com operações durante as etapas de preparo de solo, tratos culturais e
colheita
57
.
Um dos entrevistados mostrou-se entusiasmado com as possibilidades
de ampliação da produção de açúcar e álcool para o mercado externo.
Segundo ele, o setor passa por um período de consolidação produtiva mundial
e como tal deve estar na vanguarda, utilizando-se de processos e práticas que
priorizem a qualidade e o meio ambiente. Para tanto, destaca a importância da
integração dos sistemas de gestão de qualidade e ambiental, proporcionando
ganhos mais elevados e redução nos custos de operação.
Destaca ainda que a hegemonia mundial do Brasil nesse mercado vai
muito além de negociações objetivando quebra de barreiras como subsídios e
taxas. Salienta que uma importante barreira aos produtos agrícolas do país é a
imagem negativa que têm os complexos da cana, da soja, do algodão e de
outros produtos. Essa imagem destaca tanto os aspecto ambiental como a
expansão descontrolada da fronteira agrícola e a poluição de recursos
naturais, quando os aspectos sociais como as precárias condições de trabalho,
a exploração do trabalho escravo e a ineficiente distribuição de renda.
Um dos funcionários entrevistados narrou que a efetivação da
implantação de um SGA na usina em que gerencia sempre esbarrou na
questão dos custos, principalmente decorrentes de alterações necessárias nos
processos de produção industriais e dos treinamentos. Nos últimos dois anos,
57
Essa redução de custos está diretamente ligada com a melhoria de fertilidade do solo e das
condições de permeabilidade contribuindo para a diminuição das áreas sujeitas a erosão e
assoreamentos e a melhoria da retenção da umidade no solo. Além disso, a colheita da cana
crua (70% mecanizada), uma exigência desse sistema proporciona importantes ganhos
ambientais e econômicos RODRIGUES (2004, p. 265).
107
com a possibilidade de ampliação do mercado externo para os derivados da
cana de açúcar, e a busca de um diferencial de agregue a variável ambiental
aos seus produtos, a empresa tem investido e obteve bons retornos,
principalmente em relação à conscientização ambiental dos seus
trabalhadores.
Adequação a partir de solicitações internas e/ou externas
Como quarta e última opção analisada neste primeiro grupo está a
motivação em implementar um SGA a partir de solicitações internas e/ou
externas. Esse conjunto de opções foi colocado propositadamente nesta
pesquisa uma vez que, alguns estudos referentes ao setor minerador e de
celulose e papel colocam as solicitações externas, principalmente ligadas a
exigência de clientes, órgãos ambientais de regulação e instanciais legais,
como principais motivadores à implantação de SGA e posterior adequação
deste aos critérios de certificação pela ISO 14001
58
.
Nota-se a partir do GRÁFICO 4.4 que, diferente das colocações
apontadas pelos autores citados na nota anterior, o setor sucroalcooleiro das
bacias PCJ recebe uma baixa influência de entidades de classe, órgão de
regulação ambiental e de grupos ambientais organizados que pressione a
instalação de um sistema que priorize a variável ambiental nas suas usinas. A
esse respeito um dos entrevistados destacou que os procedimentos adotados
pela empresa estão dentro das regulamentações da CETESB e que durante os
cinco anos em que gerencia a empresa, nunca recebeu qualquer tipo de
notificação desse órgão.
GRÁFICO 4.4 Solicitação interna e/ou externa
58
Estudos realizados por TEODORO (2002, p. 107) e LUCENA (2002, p. 87).
108
Porém, durante as visitas realizadas nas agências regionais da CETESB
em Campinas, Limeira, Americana e Piracicaba, os técnicos entrevistados
destacaram que é comum a ocorrência de infrações por parte do setor
sucroalcooleiro. Desde 1996, com a resolução de 66 da Secretaria Estadual
do Meio Ambiente, todas as informações, recursos e protelações referentes a
autuações sob responsabilidade da CETESB e do DPRN (Departamento
Estadual de Proteção aos Recursos Naturais) tornaram-se de conhecimento
público.
Para ilustrar isto, somente durante o mês de agosto de 2005, o relatório
mensal da agência da CETESB de Limeira informou que foram aplicados dois
autos de infração (multas) e outros dois autos de advertência em usinas da
região de cobertura por poluição do ar, um desrespeito à legislação
ambiental
59
.
No Ministério Público, a Promotoria Estadual do Meio Ambiente é uma
instituição sensível às questões referentes aos recursos naturais, vem
aplicando e fiscalizando o cumprimento da legislação vigente. Durante a coleta
de dados para esse trabalho, algumas informações pertinentes foram obtidas
59
Autos de infração por poluição do ar números 42000225 de 08 de julho e 42000528 de 19 de
julho de 2005 e autos de advertência números 42000526 e 42000527 de 19 de julho de 2005.
0%
25%
50%
75%
100%
19. clientes 20. grupos
ambientais
21. órgãos de
regulação
22. interna 23. entidades
de classe
24. atender a
legislação
Alta
Média
Baixa
Não sabe
109
através de conversas realizadas com oficiais de promotoria e promotores do
meio ambiente dos municípios de Americana, Santa Bárbara, Piracicaba e
Paulínia.
Em 2001 a Promotoria do Meio Ambiente de Americana impetrou uma
ação civil pública que envolvia arrendatários, arrendadores, DEPRN, prefeitura
municipal, e a CPFL Geração de Energia, considerando a área em torno da
represa hidrelétrica do Salto Grande de preservação ambiental permanente. A
ação foi protelada na justiça e em julho de 2002 foi proposto um TAC (Termo
de Ajuste de Conduta) que incumbia os envolvidos em recuperar as margens
atrofiadas pelo uso agrícola canavieira, com o plantio de cem mil mudas. Além
disso, ficou a cargo da usina envolvida a manutenção da área de plantio
evitando a entrada de estranhos e a proliferação de fogo
60
.
Além disso, o desrespeito do setor canavieiro pela legislação ambiental
vigente, principalmente pelo Código Florestal, é clara e evidente.
Basicamente, a Legislação Ambiental brasileira é composta por um
conjunto de Leis Federais, Estaduais e Municipais. Entre essas, as de maior
destaque são: a Lei Federal 4771/65 também conhecida como Código
Florestal, a Lei 6938/81 referente à Política Nacional de Meio Ambiente, a
Lei n º 9.605/98 ou Lei de Crimes Ambientais e a Lei Estadual 7663/91 e a
Lei Federal n° 9433/97 denominada de Política de Recursos Hídricos.
O Código Florestal determina que áreas localizadas ao longo de rios e
cursos d’água; ao redor de lagos, lagoas e nascentes; no topo de morros e
encostas; restingas, bordas de tabuleiros e chapadas, deverão ser protegidas,
cobertas com vegetação nativa uma vez que possuem a função de preservar
os recursos hídricos, a paisagem e a estabilidade ecológica. Além disso, no
artigo 16 desse código obriga os proprietários rurais a destinarem 20% da área
de sua propriedade à Reserva Legal (RL).
Nas bacias dos rios PCJ, as Áreas de Preservação Permanentes (APPs)
têm sido objeto de muitos projetos de iniciativa pública e privada,
restabelecendo a vegetação nativa em áreas antes degradas pela utilização
intensa da agricultura ou outra atividade econômica. Atualmente a atividade
canavieira é responsável por um grande passivo ambiental quanto a
degradação e ocupação de APPs e RL.
60
Conforme o artigo 2° da Lei n° 4771/65 e a Resolução CONAMA n° 4 ficou estabelecido uma
faixa de preservação permanente com de largura mínima de 100 metros.
110
Neste sentido, o Ministério Público tem agido incisivamente a fim
conferir aos culpados o ressarcimento dos danos através da recomposição das
áreas degradadas. Em Piracicaba, a Promotoria do Meio Ambiente instaurou
em março de 2003 uma ação civil pública intimando grandes proprietário rurais
e empreendimentos sucroalcooleiros a recomporem áreas de RL e a pagarem
indenização por explorarem economicamente áreas destinadas à reserva
obrigatória. Além disso, a promotoria exige a suspensão imediata de incentivos
fiscais e de financiamento que os acusados estejam recebendo até o
cumprimento integral da sentença condenatória e estipula uma multa de mil
reais por dia por hectare de área não reflorestada. Nota-se neste caso que os
indiciados haviam sido notificados em 1999 e se comprometeram, através
de um TAC, em recompor mediante o plantio de mudas a área requisitada,
porém nunca cumpriram o acordo firmado
61
.
Conforme informações das promotorias da região existem pelo menos
quatro ações civis públicas tramitando, seis TAC e outros nove inquéritos
instaurados que envolvem diretamente usinas das bacias.
Durante o trabalho de campo para esse trabalho ficou evidente que
existe uma pressão dos órgãos envolvidos com a fiscalização e o cumprimento
da legislação ambiental nas bacias para que o setor canavieiro se adeqüe a
algumas exigências regulamentadas. Porém, conforme afirmou um dos
promotores ouvidos, apesar de todo aparato legal, a probabilidade de detecção
de determinadas infrações ambientais pelos órgãos competentes e de se
aplicar sanções punitivas ainda é relativamente baixa. Além disso, a lei propicia
ao infrator uma maratona de possibilidades de recursos e vistas transformando
o processo de dano ambiental visível em uma longa batalha jurídica.
ILUSTRAÇÃO 4.2: Área intensiva de cana-de-açúcar, ausência de reserva
legal e mata ciliar na Região de Piracicaba/SP
Fonte: Acervo do autor.
61
Trata-se do Processo n° 00491/2003 que se encontra disponível no cartório da Vara Cível
de Piracicaba. O Processo 1588/202, que se encontra no cartório da Vara Cível de
Piracicaba, também se refere a uma ação civil pública movida pela Promotoria do Meio
Ambiente de Piracicaba contra proprietário rurais e usineiros que descumprem o Código
Florestal. Esse processo não pode ser analisado em detalhes para esse trabalho uma vez que
se encontrava com perito para construção de laudos.
111
Esse trabalho pode identificar que, apesar das declarações dos
entrevistados, as empresa do complexo canavieiro das bacias do PCJ não
estão em sintonia com a legislação ambiental, principalmente no que tange à
recuperação e preservação de matas ciliares, reservas florestais e áreas de
proteção permanentes. Das matas nativas da região restam pequenos
fragmentos localizados em áreas pouco agricultáveis e de difícil mecanização.
As ações públicas pedindo o ressarcimento de danos e a recomposição de
matas são evidências irrefutáveis do descaso desse setor pelo bem ambiental
público e de quanto esses empresários estão infringindo as leis. Quanto à
fiscalização do cumprimento da lei, os órgãos oficiais responsáveis, como o
DEPRN, a CETESB e a Polícia Ambiental alegam que a falta de pessoal
impossibilita uma atuação mais intensa e efetiva no setor.
Um entrevistado destacou os pontos positivos de um TAC firmado em
2001 entre a usina, a prefeitura e o Ministério Público. Segundo ele, o acordo
foi importante para o projeto de recomposição de parte da mata ciliar
degradada ao longo do tempo e para projetos de educação ambiental que uma
ONG realiza com crianças de escolas municipais. Destacou ainda a
importância de um projeto de gerenciamento ambiental mais amplo, que
integre as ações da empresa de forma sistematizada e normalizada, o que na
sua opinião é um dos objetivos do SGA que esta sendo implementado desde o
ano passado na usina.
Em relação aos clientes, um dos entrevistados informou que, pelo
menos para os principais produtos canavieiros o açúcar e o álcool, os clientes
internos ainda não exigem sistemas de gestão que envolva como fator principal
a variável ambiental. Ainda segundo esse funcionário, o que ocorreu a partir da
112
segunda metade da década de 1990 foi um aumento gradativo da exigibilidade
por parte dos clientes pela qualidade, com isso muitas usinas reestruturam
seus processos e se adequaram ao sistema de gestão de qualidade (SGQ)
baseado na série de normalização da ISO 9000.
Ainda em relação a esse ponto, um entrevistado informou que a usina
em que trabalha utiliza-se de uma cooperativa para comercializar seus
produtos e que esta ainda não está adequada para receber produtos com esse
tipo de diferencial ambiental. Assim, justifica a baixa motivação do item cliente
para a busca desse sistema.
um outro, apontou a possibilidade da entrada do açúcar brasileiro na
União Européia, a partir das negociações na OMC, como um forte argumento
para a busca de sistemas de gerenciamento que priorizem a qualidade dos
produtos e a questão ambiental. Ainda segundo esse gerente, o mercado
europeu, diferente do americano, considera as certificações baseadas nas
séries ISO como fundamentais para que um determinado produto seja aceito e
se consolide na sua área de abrangência. Destaca ainda que, a agroindústria
canavieira nacional o é muito bem vista na Europa e que os diferenciais
sociais como Responsable Care, e ambientais como a Certificação Ambiental
ISO 14001 e os selos verdes são importantes para melhorar essa imagem e
conquistar mercado.
A opção de se adotar um SGA a partir de uma determinação interna foi
a resposta mais bem ponderada durante esse bloco de perguntas. Um dos
entrevistados destacou que a conscientização ambiental da alta administração
é a principal motivação. A fim de reforçar seu argumento, destacou que não
conhece ainda nenhum contrato comercial para seus produtos em que o
cliente exija um SGA ou certificação ambiental, porém não descarta a
possibilidade de que isso venha a ocorrer.
Ainda em relação a essa opção, vale a pena citar que a primeira
agroindústria sucroalcooleira a certificar seu SGA baseado nas normas ISO
14001 foi a Usina Santa Cruz pertencente ao Grupo Ometto Pavan, localizada
no município de Américo Braziliense. Essa empresa recebeu sua certificação
no final de 2002 e, segundo informações coletadas pessoalmente da
coordenadora do SGA da usina, todo o processo de implementação do
sistema, treinamento de pessoal e adequação de máquinas, equipamentos e
113
procedimentos produtivos levou em torno de três anos e consumiu dois
milhões de reais em investimentos.
Quando questionado qual a motivação que levou o grupo a instalar e
certificar um SGA nessa unidade, essa funcionária respondeu que a decisão
partiu dos controladores da usina, e que os mesmos participaram diretamente
em cada uma das etapas de implementação e certificação. As ponderações
obtidas em relação a essa opção de motivação interna não é única e exclusiva
desse grupo de usinas das bacias do Piracicaba, Jundiaí e Capivari. Além
disso, estudos realizados por TEODORO (2002, p. 109) no setor petroquímico
e de celulose e papel já apontavam que a principal motivação para
implantação e certificação de SGA fora a conscientização da alta direção da
empresa.
Por fim, essa coordenadora desta que nunca houve uma pressão
externa que efetivamente justificasse investimentos na implantação de um
SGA e na sua certificação, muito pelo contrário, afirma que as relações com o
órgão ambiental e a comunidade vizinha sempre foram boas. Porém, após a
homologação da certificação ISO 14001 as visitas da CETESB e a cobrança
da comunidade vizinha em relação as queimadas, a disposição de resíduos, a
emissão de efluentes entre outros impactos aumentaram significativamente.
Segundo essa funcionária, a empresa encara positivamente essa atitude tanto
da comunidade vizinha quanto do órgão regulador, e afirma que as ações
desse tipo reforçam sua política pró-ativa que a empresa tem em relação ao
meio ambiente.
Em um outro caso mais recente de implantação de um SGA foi o da
Usina Itamarati em Nova Olímpia no Mato Grosso, segundo informações de
NASCIMENTO (2005, p. 30) a motivação que levou a empresa a adotar esse
sistema de gerenciamento foi a conscientização ambiental. Essa autora
destaca que o SGA vem contribuindo para a manifestação da conscientização
ambiental de todos os funcionários envolvidos nos processos produtivos, da
diretoria aos fornecedores além de integrar decisivamente a comunidade
vizinha nos programas de educação e disseminação de conhecimentos.
ILUSTRAÇÃO 4.3: Inexistência de mata ciliar na região canavieira de
Piracicaba/SP
114
Fonte: Acervo do autor.
ILUSTRAÇÃO 4.4: Inexistência de mata ciliar em corpos d’água na região
canavieira de Piracicaba/SP
Fonte: Acervo do autor.
Um outro ponto importante desse sistema está na prioridade do SGA da
Usina Itamarati em preservar e recuperar áreas com passivo ambiental.
NASCIMENTO (2005, p. 31) aponta que a usina construiu em 1998 um viveiro
de mudas e a partir de então, plantou e formou mais de 330 mil mudas de
espécies nativas. Essas mudas são destinadas aos programas de educação
ambiental e recuperação de áreas degradadas em que a usina atua em
parceria com diversos municípios da região.
O movimento ambientalista no Brasil cresceu em número e importância
a partir da década de 1990 com a atenção da sociedade civil organizada e a
criação de ONGs especializadas nessa causa. A pressão desses grupos frente
aos problemas ambientais tem ganhado destaque a ponto de fazer parte
atualmente de escalões importantes do Ministério de Meio Ambiente e outras
115
instituições blicas reguladoras e fiscalizadoras. Conforme GONÇALVES
(2005, p.203), a concretização de parcerias entre ONGs e os três veis de
governo tornou a atuação desses grupos mais sensíveis a uma ampla gama de
atores e interesses de diferentes áreas. Possibilitou ainda a ampliação do
debate sobre atuação e responsabilidade social e ambiental nas empresas.
Trata-se de um avanço que ainda não é homogêneo, mas que indireta ou
diretamente já está presente em todos os segmentos produtivos.
Apesar da pouca importância e abertura que o setor sucroalcooleiro deu
a esses movimentos, nota-se algumas ações no sentido de adequar processos
produtivos as normas e recomendações ambientais vigentes. Tal mudança,
apesar de ainda pequena pode ser encarada como uma estratégia de
marketing frente ao mercado globalizado, como a possibilidade de abertura de
novos negócios, como uma resposta a pressão do mercado consumidor, e por
que não em parte como uma conscientização ambiental de alguns
empresários.
Pode-se dizer que o processo de conscientização ambiental da
população foi consolidado e incentivado graças a difusão de conhecimento e
de educação ambiental realizado, em grande parte, por ONGs espalhadas pelo
país. Devido a essa pressão, os sistemas de regulação formal ampliaram-se e
vêem se modernizando, facilitando a tarefa do controle da poluição. Além
disso, o judiciário tem aos poucos melhorando sua sensibilidade e
comprometimento em julgar causas que envolvam bens coletivo e de uso
difuso, em detrimento a tradição do direito individual que prioriza a propriedade
privada.
4.4. Bloco 2: Investimentos para implantação de um SGA
No segundo bloco de questionamento (Tabela 2.1 do Questionário)
direciona o entrevistar a ponderar sobre os principais investimentos que estão
sendo realizados na usina que gerencia objetivando a implantação de um
SGA. E tabela foi dividida em duas partes, a primeira parte contempla as
opções de ações ou investimentos pertinentes aos recursos físicos:
instalações, equipamentos e materiais necessários e adequados para avançar
116
nos propósitos da empresa. A segunda parte, detalha as opções dos recursos
humanos: trata-se da participação de consultores e dos funcionários em
treinamentos que proporcione uma conscientização interna para um melhor
desempenho do SGA
62
.
Em relação a esses aos recursos físicos, ALMEIDA et al. (202, p. 96-97)
aponta que são essenciais para o cumprimento dos procedimentos de
planejamento de um SGA, dos objetivos e das metas de médio e longo prazo
na empresa. Além disso, devem ser disponibilizados em função das
necessidades estabelecidas nos cronogramas de implantação de um SGA.
os recursos humanos, mais especificamente, o item 4.4.2 da NBR
ISO 14001, determina que a organização identifique as necessidades de
treinamento de todo o pessoal que exerça funções que possam gerar impactos
significativos ao meio ambiente. Descreve ainda todos os procedimentos para
que os funcionários e outros trabalhadores que atuarão na planta, estejam
conscientes com os procedimentos normativos do SGA e que busquem a
melhoria ambiental continuada em suas funções.
Com a finalidade de facilitar a apresentação dos resultados obtidos
nesse segundo bloco, os mesmos serão divididos em duas categorias:
investimentos em recursos físicos e em recursos humanos.
4.4.1. Investimentos em recursos físicos
O QUADRO 4.3 apresenta, de forma conjunta, as opções ponderadas
pelos entrevistados em relação aos investimentos em recursos físicos que
estão sendo realizados pelas agroindústrias com o objetivo de implementar um
SGA. Para facilitar a apresentação e a análise das ponderações, subdividimos
essas opções de investimentos em quatro grupos: 2.1.1- Controle indireto;
2.1.2- Controle direto do setor industrial; 2.1.3- Controle direto do setor
agrícola; e 2.1.4- Equipamentos de monitoramento.
Os investimentos realizados por empresas dos mais diversificados
segmentos produtivos para a implantação de sistemas de gerenciamento
62
Muitas vezes os investimentos em recursos físicos dispensados para implantação de um SGA
são direcionados para a aquisição de instrumentos, equipamentos e a adoção de técnicas com
um forte apelo inovativo e que requer o uso intensivo em tecnologia de ponta, muitas vezes
ainda não disponível no mercado. Isso possibilita que a empresa crie novos equipamentos ou
tecnologias para se adequar ao um padrão de auto-regulação.
117
ambiental variam consideravelmente. Empresas do setor de celulose e papel
concentram este tipo de investimento em equipamentos que proporcionem a
redução de efluentes atmosféricos e no aproveitamento de resíduos. no
setor siderúrgico, a prioridade dos investimentos se concentra na diminuição
de resíduos, no reaproveitamento de gases para geração de eletricidade e no
uso racional de água. Na indústria química, os investimentos mais significativos
foram direcionados para a recuperação de áreas degradas, desenvolvimento
de produtos ambientalmente neutros e na substituição de insumos
considerados perigosos (MOURA, 202, p.40-44).
QUADRO 4.3: Investimentos em recursos físicos para a implementação de um
SGA
Subdivisão Opções apresentadas Não Sabe Baixa Média Alta
Controle
indireto
1.barreiras de segurança em tanques de melaço
17% 50% 17% 17%
2.usina de separação e reciclagem de resíduos
0% 17% 33% 50%
3.barreiras de segurança em tanques de produtos químicos
17% 50% 33% 0%
4.barreiras de segurança na área de estocagem de álcool
17% 67% 17% 0%
Controle direto
industrial
5.sistemas de tratamento de efluentes
0% 67% 17% 17%
6.sistemas de tratamento de água
0% 67% 17% 17%
7.filtros para emissões atmosféricas
17% 50% 33% 0%
8.sistemas de tratamento de resíduos
0% 67% 17% 17%
Controle direto
agrícola
9.colhedoras mecânicas de cana crua
0% 33% 50% 17%
10.máquinas com baixo índice de compactação do solo
0% 50% 33% 17%
11.implementos com baixo índice de compactação do solo
0% 33% 50% 17%
12. construção de locais apropriados para estocagem de
resíduos ao ar livre
33% 67% 0% 0%
Equipamentos
de
monitoramento
13.emissões atmosféricas
17% 17% 50% 17%
14.resíduos sólidos/líquido
17% 33% 33% 17%
15.contaminação do solo
33% 50% 17% 0%
16. instalação de laboratório de controle e documentação
de resíduos
0% 33% 17% 50%
É importante frisar que todos os investimentos realizados no contexto de
um SGA seguem cronogramas de curto, médio e longo prazo, dependendo das
prioridades da empresa que estão definidas no Plano de Ação. Trata-se de um
documento em que a equipe de gestão ambiental define os aspectos, relaciona
estes aspectos a um impacto, traçam os objetivos e as metas a serem
alcançados conforme a legislação em vigor, especifica o local ou processo
gerador desse impacto, define um responsável e o prazo para a resolução do
problema e por fim o método e o custo. É nessa última etapa que o
investimento é efetivado, logo, impactos que demandam investimentos mais
118
substanciais normalmente são realizados em longo prazo, conforme
suprimentos orçamentários.
A empresa tem total autonomia para estipular seu Plano de Ação e
definir a distribuição de seus recursos. Como as ações de implementação de
SGA na agroindústria canavieira são relativamente recentes e a literatura que
aborda o assunto para esse setor é incipiente, não existe um padrão formatado
para alocação desses recursos. Logo, o que se pretendeu com essa parte do
trabalho foi, a partir da ponderação de dezesseis opções de investimentos,
definir os que estão sendo tratados como prioritários dentro do plano de
implementação de um SGA.
Investimentos em c ontrole indireto
Trata-se dos investimentos em construções, equipamentos e sistemas
que indiretamente exercem a função de precaver que um determinado aspecto
produtivo, como a produção de vinhaça, de melaço ou outro, ocasione um
impacto ambiental grave. São ponderações sobre ações indiretas de
prevenção e mitigação de impactos negativos com grandes conseqüências
ambientais que extrapolam os limites de controle da usina. O GRÁFICO 4.5
refere-se a ponderação das quatros opções apresentadas aos entrevistados
durante a pesquisa de campo em relação a estes investimentos.
GRÁFICO 4.5 Investimentos em controle indireto
119
Os entrevistados destacaram que medidas de segurança para a
mitigação de acidentas ambientais e de trabalho nas usinas em que gerencial
cumprem devidamente a legislação em vigor e os cuidados recomendados
pelos órgãos de fiscalização e controle. Um dos entrevistados destacou que
medidas preventivas mais gidas, principalmente em tanques de melaço e em
áreas de estocagem de álcool, foram adotadas por usinas da região
espontaneamente a fim de evitar acidentes graves.
Quanto a preocupação com a separação, reciclagem e disposição
adequada de resíduos e lixo, duas usinas pesquisadas adotam amplamente
um plano de coleta seletiva em toda a unidade. Um dos gerentes destacou
como benefício a transformação de um antigo depósito de lixo da usina em
área de lazer para os funcionário. o outro apontou a preocupação dos
funcionários com a correta disposição dos lixos e resíduos como um ponto
positivo e a ampliação do programa de coleta e reciclagem para as colônias da
usina como uma meta a ser atingida.
Um entrevistado afirmou que atualmente a atividade sucroalcooleira
pode ser considerada bastante segura, acidentes ambientais, que comumente
ocorrem em industrias químicas e em instalações de refino e extração de
0%
25%
50%
75%
100%
1.barreiras de
segurança em tanques
de melaço
2.usina de separação e
reciclagem de resíduos
3.barreiras de
segurança em tanques
de produtos químicos
4.barreiras de
segurança na área de
estocagem de álcool
Alta
Média
Baixa
Não sabe
120
petróleo, não são comuns em usinas de beneficiamento cana de açúcar. Além
disso, todas as medidas de segurança a fim de evitar vazamento de produtos e
subprodutos perigosos ao meio ambiente são tomadas. Destaca ainda que as
instalações de estocagem de álcool e os tanques de armazenamento de
melaço possuem licença ambiental e estão dentro dos padrões estipulados nas
normas. em relação aos investimentos nessas instalações programados no
plano de gestão, ressaltou apenas manutenções preventivas e monitoramento
periódico.
Apesar das informações do entrevistado, é fato a existência de grandes
acidentes ambientais envolvendo usinas. Neste caso vale a pena destacar o
mais recente acidente ambiental de grandes proporções ocorrido em setembro
de 2003. Nesta ocasião, um reservatório de melaço com aproximadamente 8
milhões de litros pertencente à Usina da Pedra, em Serrana-SP, rompeu
despejando em torno de 120 mil litros desse produto no Rio Pardo. A alta
concentração de DBO do melaço provocou uma grande mortandade de peixes
em um trecho aproximado de 150 km do rio.
O acidente custou à usina uma multa de R$ 10 milhões imposta pelo
IBAMA, e ainda outra multa de R$ 114.900,00 lavrada pela CETESB. O tanque
que se rompeu era de concreto, segundo o gerente da CETESB de Ribeirão
Preto. As usinas dessa região, com exceção da Usina da Pedra, utilizam
tanques de aço para o armazenamento desse tipo de produto. Além disso, a
empresa também deverá ser multada por operar o tanque de armazenagem de
melaço antes da conclusão do processo de licenciamento ambiental.
Um outro acidente de relativa proporção ocorreu em janeiro de 2004 no
Distrito de Nazaré do Jacuípe município próximo a Salvador. Segundo
informações da gerencia da União Industrial Açucareira (Unial), ocorreu um
vazamento nos dutos que conduz água de lavagem de cana para os tanques
de decantação, o vazamento provocou a contaminação do Rio Jacuípe,
impossibilitando a utilização de sua água para captação pública. O órgão de
fiscalização ambiental da Bahia (CRA) informou que registrou várias denúncias
envolvendo a Unial nos últimos tempos e que recomendou a modernização de
parte do maquinário e das instalações para evitar novos acidentes (JACOBINA,
2004, p.1-2).
121
Investimentos em c ontrole direto no setor industrial
São investimentos que diretamente colaboram para a prevenção e
mitigação de impactos ambientais do setor industrial de uma usina canavieira.
Nota-se que as opções de investimentos relacionadas nessa parte do
questionário são consideradas básicas e de fundamental importância para a
implementação e consolidação de um SGA. Trata-se de ações que estão
diretamente ligadas a aspectos do sistema industrial produtivo de uma usina e
que como tal, geram resíduos potencialmente poluidores e que necessitam de
um tratamento adequado. O GRÁFICO 4.6 apresenta as ponderações feitas
pelos entrevistados em relação a esse tipo de investimento.
GRÁFICO 4.6 Investimentos em controle direto para o setor industrial
De maneira geral, as ponderações apresentadas pelos entrevistados em
relação aos investimentos em equipamentos e instalações para o controle
direto de poluição do setor industrial apresentaram-se entre médio e baixo.
Quando questionado sobre isso a um dos entrevistados, este destacou
que a empresa em que gerencia apresenta-se adequada aos padrões
ambientais legais e que pouco em matéria de investimentos físicos do porte
das opções deve ser realizado.
0%
25%
50%
75%
100%
5.sistemas de
tratamento de efluentes
6.sistemas de
tratamento de água
7.filtros para emissões
atmosféricas
8.sistemas de
tratamento de resíduos
Alta
Média
Baixa
Não sabe
122
Em relação ao tratamento de efluentes industriais, um entrevistado
afirmou que os principais efluentes em volume são a vinhaça e a torta de filtro
e que já possuem disposições adequadas no solo. Quanto ao principal efluente
industrial, a vinhaça, nenhum dos entrevistados destacou uma alternativa de
tratamento ou reutilização diferente da aplicação no solo. Além disso, todos
trataram a disposição por fertirrigação como única, demonstrando
desconhecimento, ou não dando a devida importância, em relação às técnicas
alternativas de eliminação e utilização desse efluente.
Em relação aos outros efluentes, como a água utilizada nos processos
de lavagem e os efluentes secundário originados nas instalações sanitárias e
refeitório, são tratados devidamente em uma estação e posteriormente
adicionados à vinhaça e lançados no campo. Ainda segundo esse funcionário,
os sistemas em operação atendem plenamente a demanda da fábrica, estão
dentro dos padrões da CETESB e os planos de investimentos não contemplam
grandes alterações desse tipo, apenas pequenos ajustes de manutenção e de
ordem técnica, logo não acarreta grandes investimentos.
Um entrevistado acrescentou que o estão programados grandes
investimentos no plano de ação de implementação do SGA da usina. Segundo
esse gerente, o plano de metas do SGA recomenda no médio prazo
investimentos na ampliação do sistema de tratamento de água para utilização
industrial, destaca que o atual sistema é insuficiente para a tender a crescente
demanda da fábrica.
em relação ao desconhecimento por parte de um dos entrevistados a
cerca de investimento em controle direto de emissões atmosféricas, este
ponderou que as principais emissões atmosféricas de uma fábrica de açúcar
ou destilaria de álcool são os particulados resultantes da queima de bagaço e
lenha na caldeira. Segundo este funcionário, esse particulado trata-se de
fuligem da queima incompleta desses combustíveis que saem com o monóxido
de carbono nas chaminés de escape. Como ação mitigatória para esse
impacto aponta a colocação de filtros de lavagem de gases como uma medida
barata, eficiente e que é utilizado na usina em que gerencia a dez anos logo,
trata-se de um investimento já realizado.
Um dos entrevistados apontou que o controle das emissões
atmosféricas na indústria em que gerencia apresenta um custo insignificante e
123
uma eficiência elevada. Destaca que as caldeiras das usinas sucrolcooleiras
são dimensionadas para operar com bagaço, um combustível que quando
queimado gera apenas particulados e monóxido de carbono. Trata-se de
substâncias que são facilmente retidas em filtros considerados simples,
diferente do que ocorre durante a .queima de combustíveis derivados de
petróleo que ocasionam a emissão de dióxido de enxofre e hidrocarbonetos.
Apesar das declarações apresentadas pelos entrevistados, foi fácil
constatar que infrações referentes à poluição atmosférica através da
eliminação de particulado de caldeira é comum e exige um cuidado especial
por parte dos empreendimentos e do órgão fiscalizador. Nos últimos cinco
anos, entre infrações a advertências, somente o escritório da CETESB de
Campinas, responsável por parte dos municípios das bacias, realizou pelo
menos cinco autuações ligadas a eliminação irregular de poluente derivado de
caldeiras
63
. Nestes casos, as autuações variam desde a advertência por emitir
poluentes em grandes quantidades fora do limite legal, até a utilização de
caldeiras com sistema de lavagem de gases insuficiente para controlar as
emissões de poluentes atmosféricas
64
.
Dentre essa cinco infrações citadas, três delas foram cometidas pela
mesma empresa, sendo a primeira penalidade de advertência em 2000 por
emissão de fumaça preta fora dos limites (Processo CETESB05/00756/00).
em 2002 recebeu uma penalidade de multa por não utilizar mero de
lavadores de gases suficientes para reter poluentes (Processo CETESB
05/00599/02)
65
. Em julho de 2003 durante uma vistoria para liberação da
licença de funcionamento foi novamente constatado, entre outros problemas,
que o sistema de emissão das caldeiras continuava fora das especificações
ambientais (Processo CETESB 05/00491/03).
ILUSTRAÇÃO 4.5: Emissões atmosféricas em usinas de Piracicaba/SP
63
A agencia ambiental da CETSB de Campinas é responsável pela fiscalização ambiental nos
municípios de: Rafard, Capivari, Monte Mor, Elias Fausto, Mombuca, Campinas, Valinhos,
Vinhedo, Louveira.
64
Infração de advertência em descumprimento ao inciso I dos artigos 81 e 93 do Decerto
39.554 de 18/11/2004.
65
Infração e multa de 1000 UFPES baseada no descumprimento dos artigos 2° e 3° do inciso V
da Lei n° 997 de 31/05/1976.
124
Fontes: Acervo do autor.
Analisando cada um desses processos, pode-se notar que, apesar da
constatação irrefutável do problema ambiental e do descumprimento legal, as
empresas autuadas utilizam todos os recursos jurídicos cabíveis para protelar
as penalidades em todas as instâncias. Não foi possível analisar todos os
processos que envolvem usinas, um funcionário da área de documentação da
agência Campinas informou que alguns processos estavam indisponíveis uma
vez que se encontravam no departamento jurídico do órgão.
Investimentos em c ontrole direto no setor agrícola
Para este caso foram considerados investimentos com o objetivo de
atenuar impactos ligados diretamente as atividades agrícolas das
agroindústrias. O GRÁFICO 4.7 apresenta os resultados das avaliações dos
entrevistados a cada uma das opções sugeridas.
GRÁFICO 4.7 Investimentos em controle direto para o setor agrícola
125
Em relação a primeira opção, percebeu-se por parte dos entrevistados
que a questão da ampliação da colheita mecânica da cana não se trata de
uma medida ambiental pró-ativa por parte das usina. Pelo menos três
entrevistados afirmaram que a aquisição de novas colhedoras de cana fazem
parte do programa de investimento de médio prazo da usina porém,
reafirmaram que a questão pertinente neste caso é legal, trata-se do plano
progressivo de redução da queimada do governo estadual e financeira, uma
vez que os custos das frentes de colheita manual são cada vez maiores e a
relação custo benefícios das colhedoras cada ano mais atraente.
Um entrevistado ressaltou que a colheita mecanizada na sua usina foi
implementada no início da década de 1990 e ampliada gradativamente, na
época a projeção era de que na safra de 03/04 todas as áreas potencialmente
mecanizáveis fossem ocupadas. Atualmente, a meta foi cumprida,
aproximadamente 50% da colheita é mecanizada e a ampliação depende
agora das inovações técnicas para contornar problemas topográficos. Vale a
pena ressaltar que, para o caso dessa usina, apesar da mecanização de 50%
da colheita, metade dessa área ainda é queimada, trata-se do que o
entrevistado chamou de colheita mecânica da cana queimada. Uma prática
0%
25%
50%
75%
100%
9.colhedoras
mecânicas de cana
crua
10.máquinas com
baixo índice de
compactação do solo
11.implementos com
baixo índice de
compactação do solo
12. locais para
estocagem de
resíduos ao ar livre
Alta
Média
Baixa
Não sabe
126
largamente utilizada e recomendada pelos fabricantes de colhedora, que não
acarreta grandes benefícios ambiental e social.
em relação à aquisição de implementos e máquinas agrícolas que
proporcionem uma baixa compactação do solo, um entrevistado disse que
todos os novos equipamentos possuem esse diferencial, e que um bom plano
de renovação é que fará toda a diferença. Segundo ele, o importante neste
caso específico é saber aproveitar esses novos insumos e tirara deles as
vantagens que você necessita.
O diferencial ambiental é uma das vantagens dessas máquinas, permiti
uma baixa compactação do solo, facilita a infiltração de água evitando a
lixiviação e a erosão. Além disso, frisa as vantagens econômicas ressaltando
os ganhos de rendimentos com a diminuição das operações de
descompactação durante os tratos culturais. O que se observou neste caso é
que os planos de investimentos para esses de insumos não se alteraram
devido a implementação de um SGA. Pelo contrário, continuaram
acompanhando o cronograma normal de depreciação e substituição da usina,
não sendo tratado como uma prioridade para melhoria ambiental.
Investimentos em equipamentos de monitoramento
O objetivo dessa parte do questionário é identificar as ações de
investimento das agroindústrias com a finalidade monitorar seus processos
produtivos dentro de um contexto de um SGA. Segundo TOMMASI (1993,
p.81) monitoramento pode ser definido como sendo uma atividade de controle,
que prima pela coleta e interpretação de dados, avaliando tendências para
atingir objetivos e apontar a necessidade de ajustes e correções.
Trata-se de um sistema retro-alimentador que tem a função de fornecer
informações para os diversos tipos de processos de controle e de
gerenciamento a fim de identificar e definir problemas ambientais e avaliar
eventuais modificações decorrentes de projeto.
Um dos funcionários entrevistados ressaltou que na empresa que
trabalha a implementação do SGA está na etapa de planejamento, mais
especificamente na verificação dos aspectos ambientais. Trata-se de uma
etapa importante em que é realizada uma análise minuciosa de todos os
processos produtivos geradores de impactos ambientais significativos. Para
127
isso investimentos em equipamentos que monitorem as entradas e saídas
desses processos são importantes. Como principal ação destaca a
reestruturação do laboratório industrial e a adequação de alguns instrumentos
de monitoramento já existente para desenvolver fuões específicas.
GRÁFICO 4.8 Investimentos em equipamentos de monitoramento
Em uma outra empresa, o gerente industrial informou que a usina
passou por uma reformulação que priorizou a implantação de um software de
gestão, integrando o setor industrial, agrícola e administrativo. Essa ferramenta
possibilita a verificação on line de aspectos pertinentes aos inputs e outputs de
todos as etapas industriais e agrícolas da usina. Segundo esse funcionário o
programa funciona como um instrumento de monitoramento permanente,
fornecendo informações para tomada de decisão tanto de qualidade,
ambiental, financeira e administrativa.
Um dos entrevistados disse que nos últimos anos as usinas têm se
modernizado e buscado eficácia em cada um dos seus processos produtivos,
para tanto o monitoramento contínuo de cada uma das etapas faz-se
necessário. O monitoramento é importante para medir a eficiência do conjunto,
para justificar investimentos em novas tecnologias e intervenções mais agudas
0%
25%
50%
75%
100%
13.emissões
atmosféricas
14.resíduos
sólidos/líquido
15.contaminação do
solo
16. instalação de
laboratório de controle
e documentação de
resíduos
Alta
Média
Baixa
Não sabe
128
no sistema. Segundo ele, esta estrutura está montada e funcionando, basta
adaptá-la para o SGA, assim como foi feito para o sistema de gestão de
qualidade, não se faz necessário grandes investimentos.
Quando questionado a um dos entrevistados se está no plano de ação
da empresa realizar monitoramentos no solo e em cursos d’água para
verificação de possíveis impactos da atividade agrícola sobre esses recursos a
resposta foi que não. Segundo o entrevistado, é realizado um monitoramento
contínuo dos resíduos e efluentes que saem da indústria em direção a lavoura.
Além disso, destacou que esses subprodutos, no caso da vinhaça, da torta e
das águas residuárias, não apresentam, dentro da concentração e dosagem
que são aplicadas na lavoura, riscos graves de contaminação.
Neste aspecto é importante destacar que a CETESB através da Norma
Técnica P4.231 Vinhaça Critérios e Procedimento para Aplicação no Solo
Agrícola de janeiro de 2005 determina no seu critério 5.4 que deverão ser
instalados nos tanques de vinhaça poços de monitoramento para averiguar
possível contaminação do solo por esse resíduo. Essa normalização entra em
vigor a partir de 2006, e será detalhadamente discutida neste trabalho no item
4.5 que trata da gestão da vinhaça.
Em relação aos agroquímicos, assunto que não foi ponderado
formalmente no questionário porém, foi tratado durante as entrevistas, dois dos
entrevistados ressaltaram que desconhecem qualquer tipo de impacto negativo
grave devido a utilização de produtos desse tipo nas usinas que dirigem.
Reforçam que a cultura de cana, quando comparada com outras culturas como
a laranja, a soja e o algodão, não apresenta uma utilização intensa de
agroquímicos e informam ainda que todos os procedimentos técnicos e legais
66
da utilização desses produtos são seguidos e respeitos como descriminados.
Citam ainda que os principais agroquímicos utilizado são os herbicidas e os
fungicidas, seguido pelos fertilizantes minerais, que possuem menor potencial
poluidor.
Um dos entrevistados reconhece que os agroquímicos são
potencialmente poluidores e que todos os aspectos pertinentes a sua
66
O entrevistado referia-se as Leis Federais 7.802 de 1989 e 9.974 de 2000 e os
Decretos Federais n° 98.816 de 1990 e 3.550 de 2000 que disciplinam todos os
procedimentos quanto a estocagem, manipulação, utilização de equipamentos de proteção
individual, recomendações aos agrônomos e manuseio de disposição final de embalagem dos
agrotóxicos em geral.
129
estocagem, transporte e aplicação são considerados e devidamente
respaldados nos procedimentos técnicos recomendados.
Mesmo com os cuidados detalhados pelos entrevistados, os trabalhos
realizados na bacia do Rio Pardo por pesquisadores da EMBRAPA Meio
Ambiente demonstraram a grande potencialidade de contaminação do solo e
de águas subterrâneas por substâncias que fazem parte do principio ativo de
alguns agroquímicos utilizados em larga escala na produção canavieira.
O estudo realizado por MATALLO et al. (2003, p.83) entre os anos de
2002 e 2003 na microbacia do córrego do Espraiado, região de Ribeirão Preto
confirmou o potencial risco de lixiviação dos herbicidas Tebuthiuron e Diuron
utilizados no cultivo da cana de açúcar. Porém, este estudo não comprovou a
possibilidade desses herbicidas diluídos alcançarem a zona saturada do
Aqüífero Guarani.
4.4.2. Recursos Humanos
A implementação de práticas ambientais dentro de uma empresa é
interessante, necessária e traz vários benefícios como descrito
anteriormente. Dependendo do porte da empresa faz-se necessário a
constituição de um setor específico voltado a essa atividade e que cuide dos
aspectos ambientais pertinentes aos produtos, processos industriais e
serviços.
A implementação e operação de um SGA consistem na aplicação de
conceitos e técnicas de gerenciamento e administração, priorizando os
assuntos ligados ao meio ambiente. Por se tratar de uma ferramenta
administrativa, as responsabilidades com o meio ambiente dentro de uma
empresa devem ser divididas com todos os trabalhadores para tanto, a etapa
de preparação e conscientização desse é tratada por alguns especialistas
como a mais importante.
O quadro de recursos humanos de um SGA inicia-se com a indicação
por parte da alta administração de um coordenador que formará uma equipe
multifuncional de gestão, com a finalidade de implementar e gerenciar a
execução e o cumprimento das normas do sistema, com a ajuda ou não de
uma consultoria externa. Um bom trabalho de conscientização, que ficará a
130
cargo desse grupo, é a primeira etapa para o sucesso de um SGA. Conforme é
colocado por MOURA (2002, p.127) conscientizar é motivar o trabalhador a
realizar seu trabalho da melhor maneira possível.
o treinamento refere-se a preparar as pessoas para que elas
desempenhem bem a sua função, tenha todo o conhecimento necessário para
fazer o seu trabalho da forma correta, sem desperdício e conscientizado em
evitar problemas ambientais.
QUADRO 4.4: Investimentos em recursos humanos para a implementação de
um SGA
Subdivisão Opções apresentadas Não Sabe Baixa Média Alta
Origem
1.contratação de consultoria especializada responsável
pela implementação de todas as etapas do SGA
0% 67% 33% 0%
2.contratação de consultoria especializada apenas para
treinamento da equipe diretamente envolvida no SGA
0% 33% 33% 33%
3.contratação de funcionários de outra empresa do
mesmo setor para a implantação do SGA
67% 33% 0% 0%
4.treinamento externo do funcionário coordenador do
SGA para tornar-se multiplicador do sistema
33% 33% 17% 17%
5.treinamento da equipe de gestão de qualidade para
coordenação do SGA
17% 50% 33% 0%
Treinamentos
específicos
6.treinamento de equipe responsável por emergências
ambientais na industria e no campo
0% 33% 33% 33%
7.treinamento de funcionários para o descarte apropriado
de resíduos
17% 33% 50% 0%
8.treinamento dos funcionários para o reaproveitamento
correto dos resíduos
0% 33% 33% 33%
9.treinamento de funcionários responsáveis pelo
manuseio agroquímicos
0% 33% 50% 17%
10.treinamento dos funcionários para identificação de
aspectos e impactos ambientais dentro de suas funções
17% 0% 33% 50%
Educação
ambiental
11.programa de educação ambiental para funcionários e
familiares
0% 33% 33% 33%
12.treinamento e disseminação do SGA para empresas e
trabalhadores terceirizados
17% 17% 33% 33%
13.instalação de um programa de coleta seletiva
0% 33% 33% 33%
14.campanha interna para uso racional de água, energia
elétrica e outros combustíveis fósseis
0% 33% 50% 17%
15.disseminação do SGA da empresa a partir dos
funcionários
0% 17% 50% 33%
Segundo estudo realizado por TEODORO (2002, p. 79) com empresas
do setor de celulose papel e mineradoras, os investimentos em recursos
humanos, incluindo a criação e o treinamento de grupo gestor, a contratação
de consultoria especializada e a conscientização e treinamento de
trabalhadores envolvidos, foi superior aos investimentos físicos realizado para
o mesmo objetivo.
As necessidades de treinamento de pessoal durante a implementação
de um SGA dependem do tipo, das diversas áreas e dos níveis funcionais da
131
empresa em questão. Porém em todos os casos possui o mesmo objetivo,
priorizar dentro de cada uma das atividades desenvolvidas um processo de
melhoria ambiental contínua e de eficiência produtiva.
A coordenadora do sistema de SGA e da certificação ISO 14001 na
Usina Santa Cruz ressaltou durante a entrevista, que a etapa de investimentos
em treinamento dos funcionários foi a etapa de envolveu custos mais elevados.
Informou que na época a usina possuía em torno de dois mil funcionários e
que todos foram conscientizados quanto as necessidades de preservação e
uso racional dos recursos naturais em relação aos aspectos e impactos da sua
função, segundo essa funcionária foi uma etapa que durou mais de um ano.
O QUADRO 4.4 apresenta, de forma conjunta, as opções ponderadas
pelos entrevistados em relação aos investimentos em recursos humanos que
estão sendo realizados pelas agroindústrias com o objetivo de implementarem
um SGA. Para facilitar a apresentação e a análise das ponderações,
subdividimos essas opções de investimentos em três grupos: 2.2.1- Origem
dos recursos humanos responsáveis pela gestão ambiental; 2.2.2-
Investimento em treinamentos específicos; e 2.2.3- Investimentos em
educação ambiental.
Um SGA baseado na ISO 14001, conforme foi destacado no item 3.4
desse trabalho, não contempla diretrizes ou recomendações de procedimentos
referentes a aspectos sociais ou da relação de trabalho nas unidades.
Percebe-se que o sistema ISO trata a questão ambiental desligada das
relações sociais e trabalhistas, logo impossibilita a busca pela sustentabilidade
de uma determinada atividade, conforme já foi discutido anteriormente.
Para tanto, existem outros tipos de sistema de gestão e de certificação
que ressaltam a importância desses aspectos e que se preocupam
decisivamente com a interação social no ambiente de trabalho e com as
condições dos empregos oferecidos. PAIXÃO (2000, p.115) destaca a
sazonalidade do emprego rural canavieiro que é ocupado por desempregados
itinerantes que se deslocam de regiões distantes do país, rompendo laços
familiares e criando situações de vulnerabilidade populacional. Além disso,
esse autor aponta a mecanização das lavouras e principalmente do corte da
cana, como uma ameaça aos empregos dos trabalhadores do setor.
132
Quando a questão da qualidade do emprego, GONÇALVES (2005,
p.118) ressalta que a sazonalidade do emprego e a precariedade dos direitos
trabalhistas abriu possibilidades para o surgimento de práticas predatórias no
uso da força de trabalho, como o trabalho infantil, fraudes no sistema de
pagamentos, denuncia de trabalho escravo, péssimas condições de
alojamentos, entre outras.
Historicamente, o setor canavieiro é reconhecido por apresentar
indicadores sociais muito abaixo do considerado satisfatório por estudiosos e
que pouco tem colaborado para melhora desses números. Fica evidente que a
opção ou não por um SGA colabora pouco, ou quase nada, para reverter esse
quadro. Na verdade o necessário seria a adoção em conjunto de sistemas que
possibilitem, além de uma melhora ambiental, uma efetiva valorização do
trabalhador e a garantia ou elevação da sua qualidade de vida e das
comunidades rurais circunvizinhas.
Como exemplo, pode-se citar a Certificação Socioambiental, cujo
objetivo é promover e incentivar mudanças qualitativas na agricultura em
direção a um modelo sustentável
67
. Além de proporcionar mudanças de caráter
produtivo priorizando o meio ambiente e as condições de trabalho, esse
instrumento econômico propõe transformações acompanhadas de políticas
públicas que viabilizem a transição do sistema atual de produção para outros
que promovam o desenvolvimento sustentável e a relação equilibrada com a
natureza (PINTO & PRADA, 2000, p.16-17).
Origens dos recursos humanos responsáveis pela gestão ambiental
Esse grupo de opções teve a finalidade de esclarecer, dentro de cinco
possibilidades, qual a formação original do grupo que será responsável pela
gestão do sistema ambiental na empresa. Dentre as várias opções
ponderadas, o GRÁFICO 4.9 mostra os resultados obtidos.
No geral, após a decisão de implementação do sistema o que ocorre é a
contratação de uma consultoria especializada. Segundo informações coletadas
durante as entrevistas, pelo menos duas usinas da região pesquisada possui
67
A certificação socioambiental é definida como um meio para a diferenciação (e valorização)
dos produtos gerados por processos ambientalmente adequados, socialmente eqüitativos e
economicamente viáveis, dentro de padrões mínimos preestabelecidos, e aceitos como tais
pelos vários agentes socioeconômicos envolvidos” (SZMRECSÁNYI, 2000, p.9).
133
contrato fixo com consultorias ambientais especializadas. Um dos
entrevistados ressaltou que a usina em que gerencia possui um consultor
externo que é responsável pela realização de todos os programas de
treinamento para diagnósticos de aspectos que envolvem a questão ambiental.
Uma outra usina informou que atualmente possui um grupo de gestão
ambiental formado por responsáveis pelas três áreas da empresa e que esse
grupo se reúne periodicamente a fim de implementar programas e tomar
decisões em conjunto. A coordenação do grupo fica a cargo de um gerente e
as especificações ambientais de ordem técnicas e produtivas são
acompanhadas por um consultor independente.
GRÁFICO 4.9 Origem dos recursos humanos responsáveis pela gestão
ambiental
Um outro entrevistado destacou que as questões ambientais da usina
que dirige fica a cargo de um grupo de gestão multi-setorial em que o
coordenador do sistema fez um treinamento externo específico para
disseminar o programa e formar novos multiplicadores. Quando questionado,
este entrevistado informou que essa opção foi a mais relevante em função dos
custos apresentados por consultorias externas para realizar essa função.
0%
25%
50%
75%
100%
1.consultoria
responsável
por toda
implementação
2.consultoria
para
treinamento da
equipe de
gestão
3.contratação
de funcionários
para a
implantação
4. treinamento
externo apenas
para
coordenador
5.treinamento
externo para a
equipe
Alta
Média
Baixa
Não sabe
134
Investimento em treinamentos específicos
É sabido que as melhorias de desempenho de qualidade, segurança e
ambiental o conseguidas por meio de estruturados processos de ação e
coordenação gerencial, apoiado por um forte programa de treinamento
específico. Os treinamentos específicos são importantes para o processo de
conscientização dos trabalhadores quanto as suas funções e
responsabilidades em cada uma das etapas produtivas.
Um entrevistado afirmou que programas de treinamento específicos
para trabalhadores de todos os setores ocorrem normalmente durante todas
as safras. A modificação proposta pelo grupo ambiental, dentro do contexto de
um SGA, é reestruturar esses programas a fim de contemplá-los com aspectos
ligados com o meio ambiente, a conservação dos recursos naturais e o papel
de cada um dos trabalhadores dentro do sistema de gestão. Ainda segundo
esse gerente, o plano de investimentos da usina conta com a criação de uma
equipe especializada em acidentes ambiental, será a mesma equipe de
incêndio que receberá treinamento complementar.
Um outro entrevistado apontou que os funcionários responsáveis pelo
manuseio e aplicação de agroquímicos, principalmente os herbicidas e
fungicidas, recebem todo o semestre um treinamento de reciclagem e
adequação aos novos produtos. Conforme descrito, esse treinamento é
realizado pelo fabricante dos produtos e inclui noções de segurança no
trabalho, proteção e cuidados ambientais e conservação dos recursos naturais.
Destaca ainda que os procedimentos quanto à estocagem, manipulação e
destinação das embalagens de agroquímicos dentro da usina seguem a
legislação federal.
GRÁFICO 4.10 Investimentos em treinamento específicos
135
Comentando sobre os treinamentos específicos para seus
trabalhadores, um entrevistado destacou que no geral são caros e que nem
sempre cumprem o objetivo proposto. Apontou como de fundamental
importância para o processo da formação e educação do trabalhador,
treinamentos que condizem com a realidade produtiva da empresa, que
priorizem aspectos pertinentes as funções realizadas pelo trabalhador e esteja
de acordo com os interesses da empresa. Ressaltou que os programas de
treinamento vendidos por muitas consultorias de segurança, de qualidade, de
estratégia, ambiental entre outras, tratam-se de pacotes fechados com pouca
adequação à realidade da unidade e que não acrescenta ganhos específicos.
Para estes casos, ainda segundo esse entrevistado, optou-se pela utilização
dos próprios técnicos como instrutores e multiplicadores dos sistemas de
qualidade, de segurança do trabalho e também o ambiental.
Em relação ao treinamento específico de funcionário para trabalhar com
o reaproveitamento de subprodutos um entrevistado disse que a empresa
possui um plano de treinamento, mas que o mesmo limita-se aos aspectos
técnicos de utilização dos equipamentos para fertirrigação. Destacou que é
interesse da empresa o aprofundamento esse programa com destaque as
questões relativas a preservação dos recursos naturais e cuidados ambientais.
0%
25%
50%
75%
100%
6.para acidentes
e emergências
ambientais
7.para descarte
apropriado de
resíduos
8.para o
reaproveitamento
de resíduos
9.manuseio de
agroquímicos
10.identificação
de aspecto
ambientais
Alta
Média
Baixa
Não Sabe
136
Ainda em relação a esse assunto, um último entrevistado ressaltou que
os investimentos em treinamento ocupam grande parte dos recursos
destinados a qualquer tipo de sistema de gestão. Por se tratar de uma questão
ampla e que extrapola os limites do controle administrativo, investimentos
específicos para adequação ambiental são elevados e importantes para o
sucesso do sistema. Destaca que durante os dois anos inicias de preparação
para a implantação do sistema de gestão ambiental na usina que gerencia, os
investimentos em conscientização e treinamento para identificação de
aspectos e impactos foram significativos, porém, não citou valores.
Investimento em educação ambiental
Para que um SGA tenha sucesso é necessário que ocorram
principalmente mudanças nos padrões de comportamento e na própria cultura
da empresa. Para isso, o compromisso do empregado com a melhoria do
desempenho ambiental é fundamental, logo este deve estar ciente da sua
função e participando dentro do sistema, identificando as principais fontes
geradoras de impactos ambientais do seu posto de trabalho. Com a finalidade
de alcançar tais objetivos, a elaboração de um Programa de Educação
Ambiental é uma ferramenta imprescindível para a conscientização e
qualificação dos empregados, nivelando informações e conhecimentos.
Considerando a importância desse treinamento educacional, as ponderações
apresentadas no GRÁFICO 4.11 dizem respeito às opções apresentadas aos
entrevistados durante o trabalho de campo.
Conforme um dos entrevistados ressaltou, a consciência ambiental
desenvolve no profissional a percepção de que ele também é responsável
pelos impactos ambientais, positivos e negativos. Isso o torna consciente do
valor de sua contribuição dentro do processo, e faz dele, um colaborador que
responde efetivamente para a concretização da política ambiental da empresa,
garantindo o cumprimento de seus objetivos e metas.
GRÁFICO 4.11 Investimento em educação ambiental
137
Um entrevistado disse que dentro do programa de qualidade total,
adotado amplamente na empresa desde a metade da década de 1990, o
programa de educação e conscientização funciona como um disseminador dos
objetivos da alta administração para toda a empresa. O mesmo deve ocorrer
com a questão ambiental, destaca que o objetivo neste caso é conduzir os
funcionário e prestadores de serviços a uma mudança de comportamento e
atitudes em relação ao meio ambiente interno e externo às organizações.
Em uma empresa visitada, o entrevistador disse que todos os anos
ocorre a semana do meio ambiente, esse evento que tem a finalidade de
aproximar os trabalhadores e seus familiares das questões pertinentes ao meio
em que vivem e trabalham. Neste caso destaca ainda que a educação
ambiental nas empresas tem um papel muito importante, porque desperta
cada funcionário para a ação e a busca de soluções concretas para os
problemas ambientais que estão na sua casa e no trabalho.
De maneira geral, durante todas as entrevistas realizadas, de-se
perceber a preocupação dos entrevistados com a questão da formação e
conscientização de seus trabalhadores e a importância que os programas de
educação ambiental têm nesse aspecto. É fato destacar que mudar hábitos,
0%
25%
50%
75%
100%
11.para
funcionários e
familiares
12.para empresas
e trabalhadores
terceirizados
13.programa de
coleta seletiva
14.uso de água,
eletricidade e
combustíveis
fósseis
15.disseminação
do SGA a partir
dos funcionários
Alta
Média
Baixa
Não Sabe
138
atitudes e construir novos valores no interior da organização é uma questão de
médio e longo prazo e requer, principalmente, que a empresa mude sua
cultura em todos os seus níveis funcionais, para que não haja concepções
contraditórias nos seus elementos básicos. Além disso, é importante mostrar
ao trabalhador que os valores da empresa estão mudando, e que a
preocupação com o meio ambiente é prioridade e não apenas uma questão de
marketing ou outra estratégia qualquer de mercado.
Como exemplo, pode-se citar o caso da Usina Itamarati e alguns de
seus projetos ambientais desenvolvidos no âmbito do SGA. Tratam-se de dois;
um de manejo de solo e da água na microbacia hidrográfica do ribeirão
Queima-Pé, e o segundo de diagnóstico ambiental para o município de Denise
no Mato Grosso, que envolve a caracterização do cenário urbano,
abastecimento de água, disposição de lixos, estado de conservação das
estradas e a disposição de efluentes nos cursos d’água. Graças ao apoio da
Usina Itamarati na implantação desse segundo projeto, o município de Denise
foi enquadrado pelo Governo Federal, através do Fundo Nacional do Meio
Ambiente, no contexto da Agenda 21 (NASCIMENTO, 2005, p.30-33).
4.5 Bloco 3: Aspectos pertinentes à gestão da vinhaça
Este bloco foi dividido em treze perguntas, todas relacionadas
diretamente com a gestão da vinhaça. A primeira parte é composta de uma
seqüência de nove perguntas direcionadas,as quatro seguintes, são abertas
e tem a finalidade de detalhar alguns pontos importantes do gerenciamento da
vinhaça.
De maneira geral, os entrevistados destacaram um papel benéfico
desse resíduo, afirmaram que o subproduto vinhaça é utilizado como
fertilizante pela usina e sua aplicação na lavoura, por um lado, substitui
parcialmente a adubação mineral e, por outro, evita a poluição de mananciais.
Quando questionados sobre o potencial poluidor desse resíduo aos recursos
naturais, alguns entrevistados foram categóricos em afirmar que o controle da
lâmina de aplicação de vinhaça no solo permite uma distribuição homogênea e
139
evita a saturação impedindo seu escoamento superficial e sua percolação até
o lençol freático.
GRÁFICO 4.12 Gerenciamento da vinhaça
Uma primeira observação em relação às respostas obtidas está no fato
de nenhuma das usinas visitadas possui áreas de sacrifício para disposição de
vinhaça. Um entrevistado disse que a antiga área destinada a esse propósito
foi desativada na década de 1980 e reflorestada, um outro disse que essa área
foi recuperada e utilizada como lavoura. Uma segunda observação diz respeito
a homogeneização das usinas quanto a técnica de disposição da vinhaça, ou
seja, toda utilizam da fertirrigação como única opção de eliminação desse
resíduo.
Quando apresentado a dois dos entrevistadas duas opções alternativas
de disposição desse resíduo, a incineração e a biodigestão, um deles destacou
não conhecer profundamente essas alternativas. o outro, reconheceu o
processo de biodigestão da vinhaça para produção de gás metano como uma
opção economicamente importante na substituição do diesel na frota veicular.
Destaca porém, que não muita vantagem ambiental nessa alternativa, uma
vez que apenas uma pequena parte de toda a vinhaça produzida seria
0%
71%
86%
14%
14%
43%
71%
0%
71%
100%
29%
14%
86%
86%
57%
29%
100%
29%
0%
100%
1.áreas de
sacrifício
2.canais de
terra para
escoamento
3.tanques de
depósitos de
vinhaça
4.tanques para
decomposição
de vinhaça
5.poços de
monitoramento
(contaminação)
6.frota veicular
para aplicação
7. análise
documentada
da vinhaça
8.biodigestor
alimentado com
vinhaça
9. rodízio de
áreas para
fertirrigação
Sim
Não
140
transformada em gás, o restante ainda seria utilizada na fertirrigação devido às
vantagens econômicas.
Apenas uma das empresas visitadas afirmou não possuir tanques para
o depósito de vinhaça, trata-se da única usina da região pesquisada que não
possui destilaria anexa para produção de álcool. Todas as outras possuem
esse tipo depósito localizado topograficamente em áreas que permite o seu
escoamento gravitacional através de canais até a lavoura.
ILUSTRAÇÃO 4.6: Tanque de depósito e escoamento de vinhaça na Região
de Piracicaba/SP
Fonte: Acervo do autor.
ILUSTRAÇÃO 4.7: Canais de terra para escoamento de vinhaça em usina na
Região de Piracicaba/SP
Fonte: Acervo do autor.
ILUSTRAÇÃO 4.8: Tanques de depósito de vinhaça na Região de
Piracicaba/SP
141
Fonte: Acervo do autor.
as usinas que afirmaram não possuir canais de terra para o
escoamento da vinhaça informaram que todo o produto é aplicado de
tubulações e de caminhões tanques a partir de sistemas de aspersão,
priorizando a uniformidade e evitando gastos com sistematização do terreno
68
.
Porém afirmam que a área de abrangência da aplicação fica limitada
geograficamente.
Em relação às análises laboratoriais da vinhaça e a documentação
desses resultados, um entrevistado afirmou que são procedimentos padrões e
que fazem parte do cotidiano do setor industrial da usina. Afirma que a análise
e monitoramento de todos os resíduos são importantes para diagnosticar
problemas e falhas que possam ocorrer durante alguma das etapas do
processo produtivo.
Conforme informações obtidas pelos entrevistados durante o trabalho de
campo, a produção de vinhaça varia pouco conforme a qualidade da cana
colhida, no geral a proporção para cada litro de álcool produzido fica entre 11 e
13 litros. A produção dia de vinhaça nas usinas pesquisadas é de 5.200
m
3
/dia, variando entre 1.800 e 11.000 m
3
/dia.
O grande volume de vinhaça produzido exige extensas áreas para sua
disposição e uma atenção especial para a lâmina média aplicada. A pesquisa
68
Um ponto importante constatado na pesquisa foi que 57% das usinas das bacias do
Piracicaba, Capivari e Jundiaí não possuem frota própria de caminhões tanques para o
transporte de vinhaça. Esse aspecto foca ainda mais a atenção quanto ao treinamento, a
manutenção dos veículos e as condições de trabalho desses transportadores, em lidar com
situações de emergências ambientais ocasionadas por acidentes.
142
realizada junto às usinas localizadas nas bacias do Piracicaba, Capivari e
Jundiaí constatou que a lâmina média aplica de vinhaça é de 170 m
3
/ha, com
uma variação de mínima de 70 m
3
/ha e máxima de 250 m
3
/ha
69
.
os dados apresentados no Indicador de Desempenho da
Agroindústria Canavieira do IDEA (IDEA, 2002, p. 97) indicam para o Estado
de São Paulo uma aplicação média de 133,1 m
3
/ha de vinhaça, para a
região canavieira de Piracicaba uma dosagem de 34,6 m
3
/ha, ou seja, a menor
do estado segundo os levantamentos desse instituto. As regiões canavieiras
que apresentaram os maiores indicadores de dosagem de vinhaça, segundo o
IDEA foram: Presidente Prudente com 219,7 m
3
/ha e Ribeirão Preto com 213,7
m
3
/ha.
Em relação a abrangem territorial dessa aplicação de vinhaça
fertirrigada, o levantamento realizado junto às usinas da região aponta que, o
raio de aplicação médio de vinhaça fica em torno de 20 km, variando de 10 km
para a menor e 35 km para a maior cobertura
70
. Conforme um dos
entrevistados, a região em que se localiza a usina que gerencia possui uma
topografia relativamente acidentada impossibilitando economicamente a
ampliação da fertirrigação através de canais de escoamento.
Quanto às vantagens apresentadas pelos entrevistados na prática da
fertirrigação pode-se destacar a complementação orgânica e mineral do solo e
a capacidade de manter a umidade na lavoura durante o período do ano de
menor precipitação pluviométrica. Em relação às vantagens econômicas, os
entrevistados destacaram que áreas em que se utiliza essa prática
apresentam, na média das usinas pesquisada, uma redução no custo com
complementação mineral da lavoura de R$ 160/ha durante uma safra. Esse
valor, segundo informações de um dos entrevistados, representa uma
economia na aplicação de insumos minerais que varia de 30% a 35%.
ILUSTRAÇÃO 4.9: Dutos para transporte de vinhaça em Piracicaba/SP
69
Essa lâmina média de 170 m
3
/ha equivale a uma inundação média de 1,7 centímetros de
altura de vinhaça, em uma área de 1 hectare aplicado durante o período de um dia.
70
Raio de aplicação de vinhaça refere-se a distância linear do ponto de origem do subproduto, a
destilaria da usina, até o ponto mais longínquo onde esse produto é aplicado no campo.
143
Fonte: Acervo do autor.
Por fim os entrevistados foram consultados a respeito dos investimentos
específicos por parte da empresa que dirigem para a gestão da vinhaça no
contexto da implantação de um programa de gestão ambiental. As respostas
foram direcionadas nos planos de investimentos para ampliação dos atuais
sistemas de fertirrigação. Um entrevistado destacou investimentos na
ampliação do sistema de bombeamento e de dutos transportadores de vinhaça
para atender áreas com solos menos férteis e aumentar a abrangência da
aplicação. Uma outra usina priorizou em seus investimentos na ampliação da
frota de caminhões tanques a fim reduzir os canais abertos de escoamento de
vinhaça, permitindo uma aplicação mais eficiente e um controle maior na
dosagem.
A ampliação da produção de álcool, em decorrência do Proalcool, nas
bacias do PCJ ampliou significativamente a produção de vinhaça. A proibição
da sua disposição nos cursos d’água desde o fim da década de 1970 e seu
incremento produtivo na década de 1980 transformou o resíduo vinhaça em
um subproduto com importância econômica significativa. A praticidade de sua
eliminação no solo transformou-se em prática agrícola convencional em todas
as usinas do país, proporcionando aos empresários a redução nos custos de
cultivo da cana de açúcar
71
.
Porém, os aspectos ligados ao meio ambiente e à conservação dos
recursos natural não se sobrepõem às possibilidades de ganhos financeiros e
71
O extinto Ministério do Interior, através de suas portarias 323 de 29 de novembro de 1978
e de 158 de 03 de novembro de 1980, proíbem o lançamento direto ou indireto da vinhaça
em qualquer tipo de recurso hídrico.
144
de mercado, a vinhaça continua sendo armazenada e aplicada no solo sem
critérios e sem uma regulamentação legal definida em todo o país. Esse
descaso proporcionou nos últimos anos acidentes ambientais importantes
envolvendo esse resíduo.
Um dos acidentes a destacar foi o ocorrido em outubro de 2002 quando
grande quantidade de vinhaça vazou dos tanques da usina Serra Grande, na
cidade de São José da Laje, a 98 quilômetros de Alagoas. O acidente causou
a morte de grande quantidade de peixes no rio Canhoto, além disso, o Rio
Mundaú, que é afluente do rio Canhoto, também foi atingido prejudicando o
abastecimento de água de cinco cidades da zona da mata de Alagoas
(ACIDENTE, 2002).
Em outro caso semelhante, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente de
Mato Grosso multou a Usina Santa Olinda, de Sidrolândia, em R$ 2 milhões
pelo despejo de dejetos no córrego Canastrão e que teria sido a causa da
morte de peixes. O acidente foi identificado em 18 de novembro de 2003.
Segundo laudos da secretaria, a empresa não possuía um plano de
gerenciamento mais eficiente dos efluentes industriais e o sistema de controle
ambiental da usina teria apresentado falhas, causando vazamento de vinhaça
diretamente no córrego Canastrão (BRANCO, 2003).
Conforme informações do Perfil Nacional da Gestão de Substâncias
Químicas, relatório anual coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, entre
os anos de 1997 e 2002 ocorreram em São Paulo cerca de 200 acidentes
ambientais em indústrias, sendo 21 em 1997; 31 em 1998; 30 em 1999; 37 em
2000; 49 em 2001 e 32 até novembro de 2002. Dentre estes acidentes as
informações encaminhadas pelo Setor de Operações de Emergência da
CETESB indicam que ocorreram quatro acidentes, um em cada ano de 1999 a
2002, evolvendo o resíduo vinhaça. Esse relatório ainda aponta cidades na
capital e no interior de Alagoas com elevada potencialidade de acidentes
ambientais devido ao fluxo de vinhaça por tubulações e canais (MMA, 2003,
p.83,122).
Mais especificamente nas bacias do PCJ os registros da agência de
Campinas da CETESB apresentam apenas duas ocorrências envolvendo
vinhaça nos últimos anos
72
. A primeira de 1996 refere-se a uma infração
72
Processos CETESB n° 05/00478/96 e n° 05/00359/03.
145
causada pela emissão de substancia odorífera desagradável originada em
tanques de depósito de vinhaça que excedeu os limites da usina. Neste caso,
a multa aplicada foi de dez mil UFESP e à usina, foi recomendada a instalação
de novos tanques.
Mais recentemente, em setembro de 2003 uma outra usina localizada
na bacia do Capivari foi autuada por apresentar canais de escoamento de
vinhaça para fertirrigação sem impermeabilização adequada, causando
poluição de corpo d’água a partir da infiltração desse efluente. Além disso,
essa empresa não cumpria uma exigência técnica da CETESB que prevê que
a fertirrigação deve ser realizada de maneira adequada e segura, sem
comprometer o solo ou as águas.
Apesar do seu potencial poluidor e a ocorrência de alguns acidentes nos
últimos anos, a vinhaça tem apresentado cada vez mais importância
econômica. Com a finalidade de evitar novos problemas e disciplinar o
transporte e a aplicação desse resíduo nos solos do Estado de São Paulo, a
Norma Técnica P4.231 da CETESB Vinhaça Critérios e Procedimentos
para Aplicação no Solo Agrícola, foi publicada no Diário Oficial em 11/03/2005.
Apesar de necessitar de algumas regulamentações para entrar em vigor a
partir de 2006, a norma impõem às usinas e destilarias a necessidade de
apresentar a cada safra um Plano Anual de Fertirrigação, com uma série de
exigências baseadas na Legislação Ambiental.
Entre os novos critérios e procedimentos para o armazenamento, da
vinhaça, a norma no item 5.3 especifica que os tanques de armazenamento de
vinhaça deverão ser instalados afastado pelo menos mil metros de áreas de
preservação permanente (APP) ou reserva legal (RF), núcleos populacionais
urbanos e a pelo menos quinze metros de ferrovias e rodovias estadual e
federais. Além disso, o tanque deve estar de acordo com a Norma NBR 7229
que regulamenta projetos, construção e operação de sistemas de tanques
sépticos, estar totalmente impermeabilizado com geomembrana, equipado com
drenos testemunhas ou poços de monitoramento de contaminantes. Além
disso, a usina será responsável por realizar, periodicamente, análise de
amostras químicas para vários compostos.
Quanto aos canais de escoamento de vinhaça, durante o período de
safra estes deverão ser impermeabilizados e no fim de cada safra, os canais e
146
tanques serão limpos e a vinhaça remanescente neutralizada. Em caso de
área de aplicação em que o aqüífero estiver a uma profundidade inferior a 1,5
metros da superfície do solo, a estocagem de vinhaça e a prática da
fertirrigação fica proibida.
A principal exigência da Norma é com relação à dose de potássio
contido na vinhaça a ser aplicada na fertirrigação. Segundo NASCIMENTO
(2005, p.18), esta deve respeitar uma equação que define a dose máxima
em função da concentração de potássio existente no solo. De maneira geral,
estabeleceu-se uma dose nima de 185 kg/ha que com o passar do tempo
tende a ser padronizada. Citando um consultor da área NASCIMENTO (2005,
p.19) destaca as dificuldades de algumas usinas terão em adequar seus
sistemas de fertirrigação a essa dosagem de potássio. Destaca que algumas
usinas terão de ampliar consideravelmente suas áreas de aplicação a fim de
racionalizar o uso agrícola do resíduo e cumprir a legislação.
Ainda segundo NASCIMENTO (2005, p.20), a maioria das usinas e
destilarias do estado possuem em seus solos uma concentração elevada de
potássio, devido às altas concentrações de vinhaça aplicada por hectare. Logo,
deverão enfrentar problemas para se enquadrarem na legislação, para tanto
demandarão de grandes investimentos para ampliar suas áreas de
fertirrigação.
4.6..Bloco 4: Aspectos pertinentes à gestão da torta de filtro
Este bloco foi dividido em dez perguntas relacionadas à gestão da torta
de filtro, as primeiras seis são perguntas diretas, e as quatro últimas são
discursivas e abertas. O objetivo é detalhar os aspectos de geração, utilização
e quantificar as vantagens econômicas de sua aplicação na lavoura
73
. Por fim,
a última pergunta trata dos investimentos.
A torta de filtro é um resíduo resultante da filtração do lodo gerado
durante o processo de clarificação do açúcar, sua produção depende do teor
de impurezas minerais contidas na cana de açúcar moída. De maneira geral, o
73
Trata-se de fertilizantes de base mineral que contém dosagem diferenciadas do composto
NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) conforme a sua utilização durante as varias etapas
agrícolas, desde o preparo do solo, plantio, tratos culturais etc.
147
processo de clarificação do açúcar tem o objetivo de corrigir a acides do caldo
a fim de não perder sacarose, além disso, nessa etapa é que são retirados os
materiais insolúveis e substâncias indesejadas do caldo. Para auxiliar na
clarificação do caldo é utilizados polieletrólitos, óxido de magnésio e fosfato,
que em doses elevadas, produz uma maior quantidade de lodo e
conseqüentemente de torta de filtro (PAYNE, 1989, p.85-87).
GRÁFICO 4.13 Gerenciamento da torta de filtro
Quanto às observações feitas durante a pesquisa, o que mais chamou a
atenção foi à existência de depósitos de trota de filtro sem critério definidos, ou
seja, amontoados de torta ao longo das áreas de plantio. Segundo alguns
entrevistados, a torta trata-se de um subproduto praticamente inerte, sem
potencial poluidor e sem qualquer tipo de restrição legal quanto ao manuseio,
estocagem e utilização. Porém, conforme enunciando no Capítulo 1 desse
trabalho, estudos confirmam o potencial poluidor desse subproduto e
recomendam cuidados na estocagem e aplicação.
Conforme informações das usinas, a produção média de torta de filtro
em relação à tonelada de açúcar produzido é de 32 kg/ton, variando de 25 até
40 kg/ton, dependendo do processo de clarificação e do tipo de filtro adotado.
100%
57%
14%
71%
100%
0%
0%
43%
86%
29%
0%
100%
0%
100%
1. existem áreas
de depósito de
torta
2.utiliza torta
apenas no
plantio
3.vende
excedentes de
torta
4.transporta torta
com frota própria
5.análise da
composição da
torta
6. monitoramento
do solo em que
aplicou torta
Sim
Não
148
A produção média de torta nas usinas visitadas fica em torno de 450 ton/dia
variando entre 180 e 900 ton/dia, dependendo da produção da usina.
ILUSTRAÇÃO 4.10: Torta de filtro depositada na lavoura na Região de
Piracicaba/SP
Fonte: Acervo do autor.
Um dos entrevistados afirmou que, devido ao alto teor de matéria
orgânica e de fosfato, a torta de filtro se tornou um resíduo com grande
interesse para uso como fertilizante. Aponta que na empresa em que dirige, o
emprego da compostagem de torta de filtro e cinza de caldeira, durante o
plantio, representa uma redução de 50% na utilização de fósforo. Outros
entrevistados também destacaram as vantagens econômicas da utilização da
torta como substituto de adubo mineral.
Com exceção de uma usina visitada, todas as demais declararam que
comercializam torta de filtro a terceiros. Um entrevistado disse que está nos
planos da empresa vender durante a safra 2004/05 aproximadamente 1.000
toneladas de torta a um preço estimado de 20 reais a tonelada. Já, na única
usina das bacias do PCJ que não comercializa esse subproduto, o gerente
informou que o volume geradoo é suficiente para cobrir a demanda interna
consumida durante o período de plantio e os tratos da cana planta, logo não
existe excedente comercializável.
em relação aos planos de investimentos, as usinas pesquisadas
demonstraram pouca preocupação desse subproduto dentro de um contexto
amplo de gestão ambiental. As preocupações limitam-se a esfera econômica,
149
mais precisamente na ampliação da utilização durante o plantio, uma vez que
isso representa uma redução de custos.
4.7..Bloco 5: Aspectos pertinentes à gestão do bagaço
O GRÁFICO 4.13 indica os resultados apresentados nas oito primeiras
perguntas referentes a esse resíduo. De maneira geral, o bagaço é um
importante subproduto para as usinas sucroalcooleiras, graças a sua utilização
como combustível em caldeiras de geração de energia. Segundo levantamento
realizado durante a pesquisa de campo com as usinas da região, cada
tonelada de cana processada gera em torno de 250 kg de bagaço seco. Em
média, as usinas visitadas durante esse trabalho são responsáveis pela
geração de aproximadamente 2.500 ton/dia de bagaço, variando de um
mínimo de 1.200 e um máximo de 5.600 ton/dia .
GRÁFICO 4.14 Gerenciamento do bagaço
A utilização de todo o bagaço para a geração de vapor e energia
elétrica, fazem da agroindústria canavieira um setor transformador com auto-
86%
100%
0%
43%
43%
14%
43%
14%
14%
0%
100%
57%
57%
86%
57%
86%
0%
100%
1.todo o bagaço é
utilizado para a
cogeração
2.auto-suficiecia
energética na safra
3.recolhe palha
para utilização
energética
4.bagaço
excedente não
utilizado
5.vende o bagaço
excedente
6.acompanhamento
da utilização do
bagaço vendido
7.compra bagaço
para cogeração
8.vende o
excedente de
energia elétrica
Sim
Não
150
suficiência energética durante os meses de safra. na entre safra, as usinas
são abastecidas pela concessionária local de energia. Uma única empresa
visitada afirmou possuir, como alternativa a energia durante o período de entre
safra geradores hidroelétricos.
Em relação ao excedente de bagaço não utilizado pelas usinas, apesar
de outras opções como a fabricação de compostagem para adubação vegetal,
a alimentação animal e a produção de aglomerados e compostos similares a
madeira, o principal destino dado a esse subproduto é a venda para queima.
Um entrevistado informou que na safra de 2002/03 foram vendidas 600 mil
toneladas de bagaço e a previsão para a próxima safra é aumentar esse
volume em pelo menos 15%. Em relação ao preço de mercado desse
subproduto, ele disse que o bagaço foi vendido por um valordio de 35 reais
a tonelada, os principais compradores foram industrias alimentícia que
utilizaram o bagaço como combustível de caldeiras.
Uma outra usina informou que vendeu durante essa mesma safra o
equivalente a 20.000 toneladas de bagaço para uma indústria de suco de
laranja, o valor da tonelada ficou em torno de 40 reais a o bagaço foi utilizado
como combustível de caldeira. Outras quatro usinas pesquisadas informaram
que não comercializaram excedentes de bagaço nas últimas cinco safras e em
uma usina o entrevistado não tinha informações suficientes para responder
sobre esse assunto.
Em relação a possibilidade de comercialização de energia cogerada
para as concessionária locais, um entrevistado informou que a usina que dirige
negociou o equivalente a 2,5 MW durante a safra de 2003/04. Disse ainda que
os investimentos realizados durante os anos de 2000 e 2001, na substituição
de turbinas e no aumento da pressão de trabalho da brica de vapor, foram
fundamentais para a geração dos excedentes comercializáveis.
Em relação aos investimentos, o bagaço passa a ter uma prioridade
estratégica quando o assunto é energia e cogeração. As informações obtidas
durantes as entrevistas ressalta a importância desse subproduto na geração
energética, muitos entrevistados destacaram projetos de ampliação de
sistemas de produção de vapor, aquisição de equipamentos mais eficientes,
melhor aproveitamento da palha durante a colheita e convênios com
concessionárias para venda de excedente energético.
151
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo desenvolvido nessa dissertação foi iniciado com uma
caracterização detalhada de cada um dos processos que envolvem a atividade
agroindustrial canavieira no país. No primeiro capítulo o objetivo central foi
mostrar que esses processos geram impactos ambientais significativos, além
de apresentarem sérios problemas relacionados a seus resíduos.
Como pode ser constatado, a cadeia produtiva do álcool e do açúcar
envolve uma série processos agrícolas e industriais, que vão desde o plantio
até a obtenção dos produtos finais. Trata-se de uma cadeia complexa e
altamente diversificada, que apesar de sofrer mudanças significativas nos
últimos vinte anos, ainda apresenta uma série de riscos ampliados,
principalmente devido à intensa utilização do fator de produção terra.
Dentre esses impactos, citados e discutidos no Capítulo 1, vale a pena
resgatar: a redução da biodiversidade pela ocupação extensiva das lavouras; a
contaminação das águas e do solo pela aplicação de agroquímicos e resíduos;
a emissão de fuligem e gases tóxicos na queima; e o consumo intensivo de
água.
O segundo capítulo caracterizou a região objeto da pesquisa, mostrando
seu significante passivo ambiental e a importância da atividade canavieira nela
inserida. Para tanto, foi utilizado o recorte regional de bacia hidrográfica devido
a sua capacidade de integração dos municípios e a relevância em relação aos
aspectos ambientais.
É fato que o processo de desenvolvimento industrial e urbano dos
municípios que compõem as bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí não foi
planejado nem tão pouco sustentável. O trabalho aponta a degradação de
recursos naturais devido ao lançamento in natura de efluentes domésticos e
industriais nos rios, a derrubada das matas, a emissão de gases venenosos no
ar, entre outros. São problemas semelhantes àqueles encontrados em outras
regiões do país com elevada concentração demográfica e industrial.
Historicamente a atividade canavieira tem uma participação importante
nessas bacias, estimulando a expansão até mesmo de outros setores
152
complementares, como é o caso do metal mecânico de Piracicaba. Logo, por
se tratar de uma das regiões canavieiras mais tradicionais do país, essa
agroindústria tem colaborado significativamente para a sua degradação
ambiental, acumulando durante anos graves passivos.
Não é difícil fazer essa constatação, poluição de mananciais,
desmatamento e queimadas são exemplos atuais. Além disso, pouco se tem
visto de ações concretas desse setor a fim de minimizar esses impactos ou de
se adequar ambientalmente. Muito pelo contrário, nesse trabalho concluiu que,
o setor canavieiro se apresenta pouco reativo e muitas vezes à margem do
cumprimento das legislações ambientais desse país.
O Capítulo 3 discutiu as vantagens de se adotar um SGA em
conformidade com a ISO 14001. Atualmente, ostentar um SGA certificado ou
não, é visto como um diferencial competitivo, uma vez que a preocupação com
o meio ambiente passou a ser vista como uma vantagem comercial importante.
Além de possibilitar a redução de custos, fomentando a adoção de novas
tecnologias, que permite a redução do consumo de insumos e do desperdício
nos processos de produção.
Trata-se de um instrumento de marketing que atesta ao público alvo e a
outros interessados que o sistema gerencial da empresa possui um adequado
desempenho, pois está respeitando as normas impostas por ele.
Contudo, existem críticas feitas por especialistas quanto às normas ISO
14001 no tocante, as suas reais ou efetivas significâncias para a conservação
e recuperação do meio ambiente. Segundo tais críticas, é um erro considerar
que um sistema genérico possa ser visto como adequado às especificidades
produtivas das plantas industriais dos mais diversificados setores de uma
economia, e, mais ainda, das diferenças existentes nas estruturas econômicas
dos países.
No Capítulo 4 foram sintetizadas as principais constatações da pesquisa
de campo, o fato é que, apesar das críticas, o SGA baseado na ISO 14001 tem
sido respeitado e vem sendo amplamente utilizado por empresas de todos os
segmentos para internalizar aspectos pertinentes ao meio ambiente no seu
processo produtivo.
Conforme se pôde observar durante as visitas e entrevistas, apesar das
pressões externas, os principais motivadores para que as usinas adotem um
153
SGA são os aspectos ligados ao marketing comercial e a declaração de
conscientização por parte da direção das empresas. Daí a relevância de uma
das críticas apontadas durante o Capítulo 3, o SGA está sendo utilizado como
uma ferramenta comercial focado na ampliação de mercados. Neste caso,
percebe-se o viés desse sistema, a preocupação das usinas com o meio
ambiente ainda não é tão consolidada quanto os seus interesse comerciais.
Uma outra constatação importante, e que reforça as críticas quanto a
esse sistema, diz respeito fundamentalmente aos passivos deixados
historicamente por essa usinas. A pesquisa realizada deixou evidente que as
usinas localizadas nas bacias vêem sistematicamente descumprindo suas
obrigações quanto às legislações ambientais, principalmente no tocante a
obrigatoriedade das Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal. É
fato que a expansão canavieira nos períodos de prosperidade do setor foi
responsável pela destruição de florestas e que o processo de recomposição
dessas áreas ainda não é levado a sério pelos usineiros.
Essa constatação ressalta a crítica quando a obrigatoriedade da
empresa que possui um SGA adequar-se totalmente a legislação ambiental.
Apesar do requisito normativo deixar claro a necessidade de cumprimento
integral dessa legislação, os entrevistados demonstraram pouca preocupação
quanto a esse aspecto. A norma permite que a própria empresa estipule no
seu plano de ação as medidas cabíveis, os investimentos previstos e o tempo
necessário para se adequar aos requisitos legais. Trata-se de uma incoerência
ambiental, uma vez que os danos causados pela falta de mata ciliar e outras
coberturas vegetais na qualidade e quantidade dos recursos hídricos podem
ser irrecuperáveis.
Além disso, os projetos de recuperação florestal observados durante a
pesquisa de campo são heterogêneos. Existem nas bacias usinas que
investem na construção de viveiros de mudas e que se preocupam com as
áreas de replantio buscando eficiência no processo reflorestamento. a
maioria, seguindo um viés na interpretação legal, opta pela regeneração
natural da vegetação, simplesmente abandonando as áreas de cultivo.
Essas constatações reafirmam a pouca eficiência de um sistema sem
critérios específicos, em apontar soluções homogêneas que possibilitem uma
eficiente recuperação do passivo ambiental em um setor produtivo que
154
apresenta grandes especificidades. Trata-se de um sistema normativo que,
apesar de apresentar um diferencial que é a obrigatoriedade do cumprimento
legal, possibilita enviesar sua utilização deixando a atuação ambientalmente
correta em segundo plano.
Logo, apesar das peculiaridades e especificidades do setor
sucroalcooleiro das bacias do PCJ, a questão central a discutir não é se essas
empresas são capazes de adotarem um SGA, mas se existe a possibilidade de
se adequarem à legislação ambiental vigente.
O Capítulo 4 caracterizou os investimentos realizados pelas usinas
visitadas, na sua maioria, como altamente reativos baseados principalmente
em sistemas de controle direto. Não foi contatada a utilização significativa de
qualquer técnica ou alternativa ecológica inovativa, que tenha sido originada a
partir do interesse no SGA, seja na produção agrícola ou no processamento
industrial da cana de açúcar. Em relação aos investimentos focados nos
recursos humanos, a contratação de consultores especializados em SGA e
treinamento do pessoal envolvido nos processos, foram as opções mais
destacadas e comentadas pelos entrevistados.
Quanto à gestão dos resíduos, ficou evidente que a sua utilização como
subproduto possibilita vantagens econômicas significativas para as usinas.
Todos os entrevistados apontaram que o emprego da compostagem de torta
de filtro e cinza representa uma redução de até 50% na utilização de fósforo
durante o plantio. o bagaço possibilita às usinas auto suficiência energética
durante a safra além de representar excedente facilmente comercializável.
Quanto à vinhaça, as entrevistas apontaram para os benefícios da sua
aplicação na lavoura, tanto por substituir parcialmente a adubação mineral
quanto por evita à poluição de mananciais. Todos os entrevistados
reconheceram o potencial poluidor da vinhaça fertirrigada, porém, foram
categóricos em afirmar que o controle da lâmina de aplicação de vinhaça no
solo permite uma distribuição homogênea e evita a saturação impedindo seu
escoamento superficial ou sua infiltração até o lençol freático. Quanto às
vantagens econômicas, as áreas fertirrigadas por vinhaça apresentam, em
média, uma redução no custo de complementação mineral da lavoura de R$
160/ha durante uma safra, isso significa uma economia de 30% a 35%.
155
Contudo a preocupação quanto à disposição desse resíduo tem gerado
debates importantes nos últimos anos, a ponto da Câmara Ambiental do Setor
Sucroalcooleiro da CETESB definir no início de 2005 novos critérios
normativos a respeito do transporte, depósito e aplicação da vinhaça no
campo. Essa norma, a P4.231, conforme foi discutido no Capítulo 4, vai
contribuir para minimizar os riscos de acidentes ambientais e de contaminação
de recursos. Para tanto, as usinas deverão fazer investimentos significativos
como ampliação das áreas fertirrigadas, readequação dos tanques de
depósitos de vinhaça, impermeabilização dos canais de escoamento, entre
outros.
Finalmente cabe aqui destacar que, apesar das expectativas que a
introdução de SGA baseados na ISO 14001 despertou nos diversos
segmentos da sociedade, problemas aparentemente incompatíveis com esse
modelo de gestão e com a relação entre a empresa e o meio ambiente ainda
são uma realidade. Nota-se que os interesses corporativos do setor em adotar
SGA estão diretamente ligados às questões de comércio exterior e de
marketing, relevando para segundo plano a importância ambiental.
É notória a incapacidade do instrumento econômico voluntário SGA em
aliar os interesses empresariais e da sociedade a fim de priorizar a
preservação ambiental. Para tanto, faz-se necessário um modelo de gestão
que alie políticas públicas eficientes e instrumentos econômicos concretos que
possibilite mudanças significativas no atual modelo agroindustrial. Isso
possibilitará que o setor canavieiro internalize aspectos relacionados à
conservação e a recuperação dos ecossistemas naturais, além de promover
uma melhora significativa na qualidade de vida dos seus trabalhadores.
156
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164
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YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. ed. Porto Alegre:
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166
167
ANEXO A: QUESTIONÁRIO DE PESQUISA
Questionário sobre SGA
BLOCO 1
Pergunta 1: Existe interesse da empresa em implantar ou está em fase de
implantação um Sistema de Gestão Ambiental?
Caso afirmativo responda a tabela 1.1, 1.2, 1.3, 1.4 e as perguntas 1.1 e 1.2 caso
contrário dirija-se à pergunta 2.
Tabela 1: Em relação aos motivos de implantação de um SGA, classifique-os
conforme as opções a seguir:
Não
Sabe
Baixa Média Alta
1.melhorar imagem junto à sociedade
2.melhorar imagem junto aos clientes
Melhoria da Imagem
3.conscientização da alta direção
4.potencialidade de passivos ambientais
5.reduzir os impactos do processo
6.diminuir os acidentes ambientais
7.redução na utilização de recursos naturais
8.redução geral de custos
Redução de Custos e/ou
9.linhas de créditos
Obtenção de Incentivos
10.benefícios fiscais
11.melhorar a utilização das fontes energéticas
12.melhorias desempenho ambiental
13. motivar os funcionários
14. ganhar mercado
Duplo Ganhadoras
15. redução das emissões
16. destinação dos resíduos
17. produtos sustentáveis
18. processos sustentáveis
19. clientes
20. grupos ambientais
Solicitações
21. órgãos de regulação
Externas/Internas
22. interna
23. entidades de classe
24. atender a legislação
168
BLOCO 2
Pergunta 2: Em relação às ações (investimentos) de implementação de um SGA,
avalie cada uma das opções a seguir conforme o Plano de Gestão da empresa:
Em relação às ações (investimentos) realizadas pelas agroindústrias para a
implementação de um SGA, serão divididas em duas categorias:
- recursos físicos: instalações, equipamentos e materiais necessários e adequados para
avançar nos propósitos da empresa;
- recursos humanos: faz-se imprescindível à participação dos funcionários em
treinamentos que proporcione uma conscientização interna para um melhor
desempenho do SGA
Tabela 2.1: Investimentos em recursos físicos.
Não
Sabe
Baixa Média Alta
1.barreiras de segurança em tanques de melaço
Controle indireto
2.usina de separação e reciclagem de resíduos
3.barreiras de segurança em tanques de produtos químicos
4.barreiras de segurança na área de estocagem de álcool
5.sistemas de tratamento de efluentes
Controle direto
6.sistemas de tratamento de água
industrial
7.filtros para emissões atmosféricas
8.sistemas de tratamento de resíduos
9.colhedoras mecânicas de cana crua
Controle direto
10.máquinas com baixo índice de compactação do solo
agrícola
11.implementos com baixo índice de compactação do solo
12. locais para estocagem de resíduos ao ar livre
13.emissões atmosféricas
Equipamentos
14.resíduos sólidos/líquido
de monitoramento
15.contaminação do solo
16. instalação de laboratório de controle e documentação de
resíduos
169
Tabela 2.2: Investimentos em recursos humanos.
Não
Sabe
Baixa Média Alta
1.consultoria responsável por toda implementação
2.consultoria para treinamento da equipe de gestão
Origem
3.contratação de funcionários para a implantação
4. treinamento externo apenas para coordenador
5.treinamento externo para a equipe
6.para acidentes e emergências ambientais
7.para descarte apropriado de resíduos
Treinamentos
8.para o reaproveitamento de resíduos
Específicos
9.manuseio de agroquímicos
10.identificação de aspecto ambientais
11.para funcionários e familiares
12.para empresas e trabalhadores terceirizados
Educação 13.programa de coleta seletiva
Ambiental
14.uso de água, eletricidade e combustíveis fósseis
15.disseminação do SGA a partir dos funcionários
BLOCO 3
Pergunta 3: Em relação aos aspectos pertinentes ao gerenciamento do resíduo vinhaça,
das opções apresentadas a seguir responda:
Em relação ao gerenciamento ambiental da vinhaça, na empresa existe:
Sim Não
1. áreas de sacrifício
2. canais de terra para escoamento ao ar livre
3. tanques de depósitos de vinhaça
4. tanques de decomposição de matéria orgânica para vinhaça
5. poços de monitoramento da contaminação de vinhaça no lençol freático ou no solo
6. frota veicular para transporte de vinhaça para fertirrigação
7. análise periódica documentada da composição da vinhaça antes da aplicação
8. sistema de biodigestor alimentado com vinhaça
9. rodízio de áreas de aplicação por fertirrigação
10.qual a lamina média aplicada de vinhaça por hectare?
Pergunta 3.1: Qual o volume gerado diariamente de vinhaça durante o período da
safra?
Pergunta 3.2: A aplicação de vinhaça no solo através da fertirrigação representa algum
tipo de vantagem econômica para a empresa? Essa vantagem, caso exista, representa
quando dentro do custo de cultivo da lavoura de cana?
Pergunta 3.3: Existe algum investimento (treinamento de pessoal, compra e instalação
de novos equipamentos, ampliação da tubulação etc.) específico por parte da empresa
para a gestão da vinhaça dentro do contexto da implantação do SGA?
170
BLOCO 4
Pergunta 4: Em relação aos aspectos pertinentes a torta de filtro, das opções
apresentadas a seguir responda:
Em relação ao gerenciamento da torta de filtro da empresa: Sim Não
1. existem áreas de depósito de torta
2. utiliza torta apenas na operação de plantio
3. vende excedentes de torta não utilizada
4. existe frota própria para aplicação de torta
5. faz análise periódica e documentada da composição da torta
6. faz monitoramento da possível contaminação do solo em que foi aplicada a torta
Pergunta 4.1: Qual o volume gerado diariamente de torta de filtro durante o período da
safra?
Pergunta 4.2: A utilização da torta de filtro como fertilizante durante a operação de
plantio gera alguma vantagem econômica para a empresa, qual? Quanto representa essa
vantagem financeiramente?
Pergunta 4.3: Qual o volume de torta de filtro vendida durante a safra e qual o preço de
venda da tonelada desse resíduo? Esse volume vendido representa quando do total
gerado? Qual o principal destino dessa torta vendida?
Pergunta 4.4: Existe algum investimento (treinamento de pessoal, compra de
implementos de aplicação, instalação de novos equipamentos etc.) específico por parte
da empresa para gestão da torta de filtro dentro do contexto da implantação do SGA?
171
BOLOCO 5
Pergunta 5: Em relação aos aspectos pertinentes ao bagaço, das opções apresentadas a
seguir responda:
Em relação ao gerenciamento do bagaço gerado pela empresa: Sim Não
1. todo o bagaço é utilizado para a cogeração
2. a empresa é auto-suficiente na geração de energia durante a safra
3. a empresa recolhe palha do campo para posterior utilização energética
4. existe bagaço excedente não utilizado
5. a empresa vende o excedente de bagaço não utilizado
6. a empresa faz o acompanhamento periódico da utilização do bagaço vendido a terceiros
7. compra bagaço de outra empresa do setor para cogeração
8. vende o excedente de energia elétrica gerada para concessionária local
Pergunta 5.1: Qual o volume gerado diariamente de bagaço durante o período da safra?
Pergunta 5.2: Durante a entre safra, qual a origem da energia utilizada pela industria?
Pergunta 5.3: Qual o volume de bagaço vendido pela empresa durante uma safra e qual
é o preço de venda da tonelada? Esse volume vendido representa quando do total
gerado? Qual o principal destino desse bagaço vendido?
Pergunta 5.4: Existe algum investimento (treinamento de pessoal, compra e instalação
de novos equipamentos, ampliação da capacidade de cogeração etc.) específico por
parte da empresa para o gerenciamento do bagaço dentro do contexto da implantação do
SGA?
PERGUNTAS GERAIS:
BLOCO 6
Pergunta 6: Quanto ao perfil da empresa
1. em que ano foi inaugurada a planta?
2. em que ano foi a última ampliação da planta?
3. a empresa possui processos certificados na norma ISO 9001? Em que planta?
4. a empresa possui processo de certificação na norma ISO 9002? Em que planta?
5. caso afirmativo para as últimas duas, em que ano procedera as certificações?
6. qual o número total de funcionários na empresa?
BLOCO 7
Pergunta 7: Perfil do entrevistado
Nome:
Formação:
Cargo exercido:
Data:
172
Nome da empresa:
Localidade:
173
174
ANEXO B: CARTA DE APRESENTAÇÃO DA PESQUISA
Campinas, agosto de 2004.
Prezado Senhor (a):
Vimos por meio desta apresentar a pesquisa sobre “Gestão Ambiental na
Agroindústria Canavieira da Bacia do Piracicaba”, que está sendo realizada como
base para a dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente
de Fabrício José Piacente, sob a orientação do Prof. Pedro Ramos, professor de pós-
graduação e coordenador do NEA- Núcleo de Economia Agrícola do íntituto de
Economia da UNICAMP.
Trata-se de uma pesquisa nas empresas do setor sucroalcooleiro localizadas na
Bacia Hidrográfica do Rio Piracicaba, tendo como objetivo estudar as ações das
empresas desse setor com relação ao meio ambiente, analisando as práticas
ambientais empregadas com relação a três principais subprodutos (vinhaça, torta de
filtro e bagaço), e os resultados obtidos.
Essa pesquisa consta de um questionário semi-estruturado que deverá ser
respondido por um representante da empresa na presença do mestrando. O tempo
estimado para a entrevista e a resposta do questionário é de 30 minutos.
As informações e dados fornecidos serão tratados como confidenciais, sendo que a
apresentação dos mesmos no trabalho final será feita de maneira agregada, sem a
identificação das empresas participantes. Estamos prontos a esclarecer quaisquer
dúvidas quanto aos objetivos e procedimentos da pesquisa e da entrevista.
Desde agradecemos vossa colaboração e disponibilidade, as quais são de
fundamental importância para a boa consecução do trabalho.
Atenciosamente,
Fabrício José Piacente Prof. Dr. Pedro Ramos
175
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