Este envoltório, designado sob o nome de perispírito,
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faz do Espírito –
ser abstrato - um ser concreto definido, compreendido pelo pensamento,
tornando-o capaz de atuar sobre a matéria tangível, assim como se sabe, os
mais poderosos motores.
O fluido perispirital é, assim, o traço de união entre o Espírito e a matéria.
Durante a sua união com o corpo, é o veículo do seu pensamento, para
transmitir o movimento às diversas partes do organismo, que se acham sob
o impulso da sua vontade, e para repercutir no Espírito as sensações
produzidas pelos agentes exteriores. Os nervos são os fios condutores,
como, no telégrafo, o fluido elétrico tem por condutor o fio metálico.
Quando o Espírito deve encarnar-se num corpo humano em via de
formação, um laço fluídico, que é a expansão do seu perispírito,prende-o
ao germe para o qual ele se acha atraído por uma força irresistível, desde o
momento da concepção. À medida que o germe se desenvolve, o laço
estreita-se, sob a influência do princípio vital material do germe, o
perispírito, que possui certas propriedades da matéria, uni-se, molécula por
molécula, com o corpo que se forma. Donde se conclui que o Espírito, por
intermédio do seu perispírito, adquire uma como raiz nesse germe, qual a
planta na terra; quando o germe está inteiramente desenvolvido, a união é
completa, e então ele nasce para a vida exterior (...).
Mas, ao mesmo tempo em que o Espírito recobra a consciência de si
próprio, esquece a lembrança do seu passado, sem perder as faculdades,
qualidades e aptidões adquiridas anteriormente, aptidões que
momentaneamente ficam em estado latente, e que, readquirida a sua
atividade, vão ajudá-lo a fazer mais e melhor do que precedentemente
fizera; renasce do ponto em que deixou seu progresso anterior; é um novo
ponto de partida, um novo degrau a galgar. Aqui ainda se manifesta a
bondade do Criador, porque a lembrança de um passado muitas vezes
penoso e humilhante, acumulando-se às amaritudes da nova existência,
poderia perturbá-lo e embaraçá-lo; só se lembra do que aprendeu por lhe
ser isso útil. Se uma ou outra vez conserva uma vaga intuição dos
acontecimentos passados, é apenas como lembrança de um sonho fugidio.
É, por conseguinte, um homem novo, por mais antigo que seja o Espírito,
e então se entrega a novos procedimentos, auxiliado com os
conhecimentos já adquiridos. Quando de novo volta à vida espiritual, o seu
passado se descortina diante de seus olhos, e então pode julgar se
empregou mal ou bem o seu tempo.
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Perispírito (peri, em redor; spiritus, espírito). Invólucro semimaterial do Espírito depois da sua separação
do corpo. O Espírito o tira do mundo em que se acha e o troca ao passar de um a outro; ele é mais ou menos
sutil ou grosseiro, segundo a natureza de cada globo. O perispírito pode tomar todas as formas à vontade do
Espírito; ordinariamente ele assume a imagem que este tinha em sua última existência corporal. In: Kardec,
Op. cit., p. 1260.
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KARDEC, A. A Gênese, p. 991-992.