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Enquanto isso, alguns grupos pregam o “no sex”
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. De acordo com Costa (1998a) isso
acontece porque o sexo perdeu a importância econômica, política e moral que tivera
outrora, permitindo com que as sexualidades antes consideradas desviantes pudessem ser
expostas à opinião pública. Livre da força transgressora e da culpa religiosa, a única
importância do sexo “[. . .] é a de ser mais um índice da individualização à qual aspira o
sujeito narcísico, consumidor de bens, sensações e imagens orquestradas pelo consumo.”
(COSTA, 1998a, p.20). O problema moral, afirma Costa, teria se deslocado para a questão
do amor.
Desvinculando a reflexão sobre o sexo da reflexão sobre o amor, Foucault
subestimou a importância deste na constituição das subjetividades contemporâneas.
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Para
Costa (1998b), a questão da sexualidade é hoje moralmente menos importante do que a
questão amorosa para a realização emocional dos indivíduos. Isso aconteceria porque se as
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De acordo com Kostman (2004), nos Estados Unidos, nos últimos dez anos, o movimento denominado
“True Love Waits”, que defende a abstinência sexual para os adolescentes antes do casamento, teve 2,5
milhões de adeptos. No entanto, uma pesquisa realizada pela Universidade de Columbia mostra que 88%
desses jovens sucumbem à tentação e acabam tendo relações sexuais antes de encontrar o “verdadeiro amor”.
A pesquisa também mostra que os jovens que prometeram abstinência, quando decidem transar, protegem-se
menos do que os que estão fora do movimento. Para Kostman, apesar da pesquisa, o movimento deve ganhar
força, porque este tem o apoio do governo americano. Este, em 2003, teria destinado 135 milhões de dólares
“[. . .] para centros de saúde, escolas e igrejas que realizem reuniões com o objetivo de convencer
adolescentes a evitar relações sexuais antes do casamento. Ao mesmo tempo, reduziu a verba para programas
de educação que incentivam o sexo seguro. Em alguns Estados americanos todos os programas que fornecem
informações sobre o uso de métodos anticoncepcionais e preservativos para adolescentes foram abolidos.”
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De acordo com Costa (1998b) há duas razões para Foucault ter esquecido do amor. A primeira diz respeito
à resistência que ele, assim como todo o Ocidente, tem em admitir a dimensão coercitiva do amor. A segunda
razão é conseqüência de seus achados teóricos. “Foucault não se interessava pelo amor porque não via neste
hábito cultural um instrumento disciplinar, formador de "identidades sociais" [. . .] De fato, o amor, diferente
do sexo, sempre foi um aspecto da relação intersubjetiva passível de "trabalho ético" e não de "codificação
moral" como a sexualidade. A modulação individual das preferências amorosas não visa proibir, permitir ou
regular trocas de amor; visa tipificar o estilo de amar de cada um. Não conhecemos, no Ocidente, a proibição
de amar como conhecemos a proibição de ter relações sexuais ou contrair vínculos matrimoniais dentro de um
certo círculo de parceiros. Portanto, a liberdade estilística no domínio do amor reproduzia, de certa maneira, a
liberdade estilística da erótica grega que Foucault quis revalorizar, retomando a discussão sobre a amizade. O
amor foi para o sujeito moderno o que o "sexo" ou a erótica foram para o homem livre da polis grega. Fazer
da prática sexual algo semelhante à prática histórica do amor no Ocidente era o que Foucault esperava das
relações de amizade.”(COSTA, 1998b, p.32-33).