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para o livro didático, corre o grande risco de cair na “escolarização” e acaba sendo
utilizado em “atividades que contradizem, alteram ou desviam os propósitos que orienta a
leitura destes textos fora da escola”. E terminam seu pensamento com o seguinte
posicionamento: “acreditamos que o importante é não só a diversidade e a seleção
adequada dos textos, mas principalmente como os usamos”.
Soares (2001), em um texto abordando diversos aspectos sobre a escolarização da
literatura infantil e juvenil, tece uma série de comentários e críticas que considero bastante
pertinentes ao meu propósito no presente trabalho. A autora discorre sobre o termo
escolarização, mostrando o quão pejorativo se torna em algumas situações, e, de modo
contrário, adquire uma conotação positiva quando se trata da escolarização da criança.
Mas, sempre que esse termo é usado aliado a saberes e conhecimentos, adquire um aspecto
negativo. E continua suas afirmações:
Não há como ter escola sem ter escolarização de conhecimentos, saberes,
artes: o surgimento da escola está indissociavelmente ligado à
constituição de “saberes escolares”, que corporificam e formalizam em
currículos, matérias e disciplinas, programas, metodologias, tudo isso
exigido pela invenção, responsável pela criação da escola, de um
espaço
de ensino e de um
tempo
de aprendizagem. [...] Assim, a escola é uma
instituição em que o fluxo das tarefas e das ações é ordenado através de
procedimentos formalizados de ensino e de organização dos alunos em
categorias (idade, grau, série, tipo de problema, etc.), categorias que
determinam um tratamento escolar específico (horários, natureza e
volume de trabalho, lugares de trabalho, saberes a aprender,
competências a adquirir, modos de ensinar e de aprender, processos de
avaliação e de seleção, etc.). É a esse
inevitável
processo - ordenação de
tarefas e ações, procedimentos formalizados de ensino, tratamento
peculiar dos saberes pela seleção, e conseqüente exclusão, de conteúdos,
pela ordenação e seqüenciação desses conteúdos, pelo modo de ensinar e
de fazer aprender esses conteúdos – é a esse processo que se chama
escolarização
, processo
inevitável
, por que é da essência mesma da
escola, é o processo que a institui e que a constitui (SOARES, 2001, p.
20-21).
Mais adiante, como conseqüência dessas reflexões, abre espaço para nos alertar e
criticar essa relação “estrutura escolar e literatura” ao afirmar:
O que se pode criticar, o que se deve negar
não
é a escolarização da
literatura, mas, a inadequada, a errônea, a imprópria escolarização da
literatura, que se traduz em sua deturpação, falsificação, distorção, como
resultado de uma pedagogização ou uma didatização mal compreendidas
que, ao transformar o literário em escolar, desfigura-o, desvirtua-o,
falseia-o. (É preciso lembrar que essa escolarização inadequada pode
ocorrer não só com a literatura, mas também com outros conhecimentos,
quando transformados em saberes escolares.) (SOARES, 2001, p. 22).