perceber-se que a consciência está determinada pelo erro em sua pretensão de verdade e por esse
motivo abandonar tal pretensão, e neste abandono aparecer uma espécie de vazio ou nada, que é
gerado por uma espécie de ceticismo, este vazio ou este nada não representam a impossibilidade
de que algo de novo seja composto ou projetado. Ou seja, ao superar uma concepção de verdade
o que surge é um nada (que guarda a concepção anterior de forma negativa) pronto para acolher
uma nova concepção de verdade
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. Desta maneira, a negação de um desacerto abre espaço para
uma nova concepção de verdade mostrar sua validade (abre espaço para uma nova experiência
da consciência), ou seja, a negação quer alcançar um conteúdo positivo que passou pela
especulação e pelo exame (§79).
A gama de saberes aparentes apresentados, analisados, superados e guardados pela
consciência representa a sua formação em vista da ciência
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, porém por via negativa, ou seja,
não apontando diretamente e imediatamente para aquilo que é a ciência verdadeira, mas negando
aquilo que de fato não é, isto é, promovendo mediações, relações, enriquecendo o processo
dialético. Desta forma, somente após a consciência ter passado por todas as formas de
conhecimentos equivocados, por todos os caminhos desacertados ou, ainda por todos os
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CHIEREGHIM caracteriza, de forma metafórica, este momento (o momento do nada ou do vazio) como uma
espécie momento da cegueira, que em comparação com a visão, verificamos que ao olhar em nossa volta damos
saltos de objeto em objeto, de fato estes saltos (ou a passagem de um objeto a outro) são os que permitem
distinguirmos os objetos, bem como o que possibilita o surgimento de um novo objeto (1994, p.40).
Não obstante, conforme o texto, podemos acrescentar aqui que apesar deste salto ou desta recusa de um objeto por
outro substituir inteiramente o primeiro pelo segundo, assim como propõe inicialmente o texto, verificamos que o
segundo passo frente um primeiro que fora recusado, somente é possível pela recusa interna do primeiro. Recusa
interna porque somente após verificar a sua insuficiência é possível recusá-lo; e verificação esta que somente será
por uma análise interna. Mas o que queremos destacar aqui que o segundo momento, frente ao todo do processo, é
uma espécie de “resultado que contém o que o saber anterior possui em si de verdadeiro” (§87), ou seja, o saber
aparente recusado, fora recusado em parte, sendo que seu maior problema é a sua pretensão de ser o próprio saber
absoluto, o que, pela sua parcialidade, impede que assim seja sustentado. Aqui se apresenta uma característica do
movimento dialético que é característico da obra hegeliana, a saber, a afirmação e a negação da afirmação por um
elemento que lhe seja contraditório, ou seja, ao verificar a insuficiência de um saber aparente, a consciência
procurará o saber absoluto em seu contrário. O movimento, porém não acaba nesta fase, pois posteriormente vem o
movimento que afirma os dois momentos anteriores como complementares e assim resgata a verdade de cada um
dos momentos.
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Ou nas palavras do autor “a série de figuras que a consciência percorre nesse caminho é, a bem dizer, a história
detalhada da formação para a ciência da própria consciência” (§78).
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