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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA
CINTIA MAGALI DA SILVA
AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES BUCAIS DE PACIENTES COM
FISSURA LABIOPALATAL PARTICIPANTES DE UM PROGRAMA DE
MANUTENÇÃO DE SA
ÚDE BUCAL
FLORIANÓPOLIS
2006
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CINTIA MAGALI DA SILVA
AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES BUCAIS DE
PACIENTES COM
FISSURA LABIOPALATAL PARTICIPANTES DE UM PROGRAMA DE
MANUTENÇÃO DE SAÚDE BUCAL
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Odontologia da
Universidade Federal de Santa Catarina,
como requisito para a obtenção do título
de Mestre em Odontologia - Área de
concentração: Odontologia em Saúde
Coletiva.
ORIENTADOR: ARNO LOCKS, DR.
FLORIANÓPOLIS
2006
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AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES BUCAI
S DE PACIENTES COM FISSURA
LABIOPALATAL PARTICIPANTES DE UM PROGRAMA DE MANUTENÇÃO DE
SAÚDE BUCAL
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE
EM ODONTOLOGIA – OPÇÃO ODONTOLOGIA EM SAÚDE COLETIVA e aprovada
na forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, 09 de fevereiro de 2006.
_______________________________________
Prof. Dr. Arno Locks
Presidente
____________________
___________________
Profa. Dra. Daniela Lemos Carcereri
Membro
_______________________________________
Prof. Dr. Gerson Luiz Ulema Ribeiro
Membro
O Senhor dos que combatem
É conosco, está com a gente,
Ele é nosso refúgio, nossa fortaleza
É o DEUS que no
s defende.
Salmo 46
Dedicatória
A DEUS
,
que me deu uma f amília, amigos, graças e dons, estando entre eles o mais
especial, a vida...
Aos pacientes com fissura labiopalatal e seus
familiares
,
que at ravés de sua luta constante pela reabilitação, represent am papel
f undamental no meu aprimorament o prof issional e cient íf ico, e me ensinam a
valorizar e agradecer o dom da vida!
Agradecimentos Especiais
À minha mãe Wilma, uma eterna educadora, com quem aprendi acima de
tudo a amar a Deus e ao pr
óximo,
Ao meu pai José Victor, pelo esf orço cont ínuo para meu aprendizado e
preparo profissional,
Ao meu irmão Emiliano, por seu amor e estímulo na realização de meus
sonhos,
Ao Giuliano, amado e amigo, por me ajudar a sorrir nos momentos difíceis,
MUITO OBRIGADA!
Agradecimentos
Aos pacientes do Centro de Atendimento a Pacientes com Deformidade
Facial da Universidade Federal de Santa Catarina e seus pais, por terem dado
contribuição especial em minha formação acadêmica.
Ao diretor do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa
Catarina, Prof. Cleo Nunes de Souza, pelo apoio e incentivo.
Ao Chefe do Departamento de Estomatologia do Curso de Graduação de
Odontologia e responsável pela pós-graduação na área de Odontologia em Saúd
e
Coletiva Prof. Gilsée Ivan Regis Filho, pela oportunidade.
Ao meu orientador Prof. Arno Locks, pela confiança durante o curso e o
desenvolvimento da pesquisa e pelo carinho com que sempre me recebeu.
À Profa. Daniela Lemos Carcereri, responsável pelo Núcleo de
Odontopediatria do Centro de Atendimento a Pacientes com Deformidade Facial,
pelas sugestões.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Odontologia que
contribuíram para minha formação acadêmica.
Ao Prof. Roberto Rocha, pelas imagens cedid
as.
Ao Nei, pelo carinho e dedicação.
Aos estagiários do cleo de Odontopediatria do Centro de Atendimento a
Pacientes com Deformidade Facial, por serem motivação constante durante o
desenvolvimento da pesquisa.
À Schelle pelo estímulo.
À querida am
iga Giseli, pelas orações e pela verdadeira amizade.
Aos amigos de curso, pela companhia e apoio.
Ao amigo Calvino Reibnitz Jr., pela paciência e atenção durante o curso, em
especial durante o estágio de docência.
À amiga Juliana Patiño, pelas caronas e
apoio na análise dos resultados.
À Ana Maria Vieira Frandolozo, secretária do Programa de Pós
-
graduação em
Odontologia pela dedicação.
Aos acadêmicos do Curso de Graduação em Odontologia com os quais pude
realizar o estágio de docência, por propiciarem os momentos de aprendizado
durante a formação de mestre.
À Profa. Liliane Janete Grando, minha amiga Lili, pelo estímulo constante e
pelo exemplo especial de garra e de amor à docência.
À Profa. Inês Beatriz da Silva Rath, amiga e muitas vezes mãe, pelo
carinho
especial, pela influência positiva na minha vida e bons exemplos.
À Profa. Sônia Maria Lückmann Fabro, amiga e também muitas vezes mãe,
pelo carinho e lições de amor a todos, em especial aos menos favorecidos.
Às amigas Débora e Mariana por terem dividido tantos momentos divertidos e
desabafos durante o curso.
A todos aqueles que contribuíram de alguma forma durante o
desenvolvimento do curso de pós
-
graduação
MUITO OBRIGADA!
LISTA DE ABREVIATURAS
CAPADF
Centro de Atendimento a Pacientes co
m Deformidade Facial
UFSC
Universidade Federal de Santa Catarina
CCS
Centro de Ciências da Saúde
NOP
Núcleo de Odontopediatria
IPV
Índice de Placa Visível
ISG
Índice de Sangramento Gengival
ceos
Índice de superfícies decíduas cariadas, extraída
s e obturadas por cárie
CPOS
Índice de superfícies permanentes cariadas, perdidas e obturadas por cárie
OMS
Organização Mundial da Saúde
MBA
Mancha branca ativa
MBI
Mancha branca inativa
HPRLLP
Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio
-
Palatais
USP
Universidade de São Paulo
HRAC
Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais
IEC
Índice experimental de cárie
CPO
-
D
Índice de dentes permanentes cariados, perdidos e obturados por cárie
ceo
-
d
Índice de dentes decíduos cariados,
extraídos e obturados por cárie
ATF
Aplicação tópica de flúor
SUS
Sistema Único de Saúde
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
F
IGURA 1
FISSURA PRÉ
-
FORAME INCISIVO UNIL
ATERAL ESQUERDA
.
................................
.......
24
F
IGURA 2
FISSURA PÓS
-
FORAME INCISIVO
................................
................................
..............
25
F
IGURA 3
F
ISSURA TRANSFORAME I
NCISIVO UNILATERAL D
IREITA
.........................................
25
F
IGURA 4
F
ISSURA TRANSFORAME I
NCISIVO BILATERAL
................................
.........................
25
LISTA DE TABELAS
T
ABELA
5.1
-
C
ARACTERÍSTICAS DA AM
OSTRA QUANTO À IDADE
................................
.............
71
T
ABELA
5.2
-
D
ESCRIÇÃO DOS ÍNDICES
IPV
E
ISG
DA AMOSTRA
................................
..............
78
T
ABELA
5.3
-
C
OMPARAÇÃO DOS VALORE
S INICIAIS E FINAIS
DOS ÍNDICES
IPV
E
ISG
..............
78
T
ABELA
5.4
-
D
ESCRIÇÃO DE VARIAÇÃO
DO
IPV
E
ISG
DA AMOSTRA
.
................................
....
81
T
ABELA
5.5
-
A
NÁLISE DE
V
ARIÂNCIA COM BASE NO
DESFECH
O ALTERAÇÃO DO
IPV
E
ISG
....
81
T
ABELA
5.6
-
D
ESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO
INICIAL E FINAL DAS
MBA
S DE ACORDO COM O TI
PO DE
FISSURA
.
................................................................
................................
............................
87
LISTA DE GRAFICOS
G
RÁFICO 5.1
-
D
ISTRIBUIÇÃO DOS PACI
ENTES DE ACORDO COM
A IDADE
.
................................
70
G
RÁFICO 5.2
-
M
ÉDIA E DESVIO PADRÃO
DA IDADE EM CADA TI
PO DE FISSURA
.........................
71
G
RÁFICO 5.3
-
D
ISTRIBUIÇÃO DOS PACI
ENTES DE ACORDO COM
O TIPO DE FISSURA
.
.................
72
G
RÁFICO 5.4
-
D
ISTRIBUIÇÃO DOS PACI
ENTES DE ACORDO CO
M A REGIÃO CATARINEN
SE DE
ORIGEM
.
................................
................................
................................
.............................
72
G
RÁFICO 5.5
-
D
ISTRIBUIÇÃO DOS PACI
ENTES DE ACORDO COM
O GRAU DE ESCOLARIDA
DE DA
MÃE
.
................................................................
................................
................................
..
73
GR
ÁFICO 5.6
-
D
ISTRIBUIÇÃO DOS PACI
ENTES DE ACORDO COM
A LOCALIZAÇÃO E PROP
RIEDADE
RESIDENCIAL
.
................................
.....................................................................................
73
G
RÁFICO 5.7
-
D
ISTRIBUIÇÃO DA AMOST
RA DE ACORDO COM A R
ENDA FAMILIAR EM SAL
ÁRIOS
MÍNIMOS
.
................................
...........................................................................................
74
G
RÁFICO 5.8
-
D
ISTRIBUIÇÃO DA AMOST
RA DE ACORDO COM OS
RECURSOS UTILIZADOS
PARA
COMPARECER AO ATENDI
MENTO
.
................................
................................
.......................
74
G
RÁFICO 5.9
-
D
ISTRI
BUIÇÃO DA AMOSTRA DE
ACORDO COM O ACESSO
À ÁGUA FLUORETADA
.
................................
................................................................
................................
..........
75
G
RÁFICO
5.10
-
D
ISTRIBUIÇÃO DA AMOST
RA DE ACORDO COM A U
TILIZAÇÃO DE FLUORET
OS
..
75
G
RÁFICO
5.11
-
D
ISTRIBUIÇÃO DA AMOST
RA DE ACORDO COM O A
CESSO AO SERVIÇO
ODONTOLÓGICO FORA DO
CAPADF.
................................
................................
.................
76
G
RÁFICO
5.12
-
D
ISTRIBUIÇÃO DA AMOST
RA DE ACORDO COM A P
ROCURA POR SE
RVIÇOS
ODONTOLÓGICOS
.
................................
................................
................................
..............
76
G
RÁFICO
5.13
-
C
OMPARAÇÃO ENTRE OS V
ALORES INICIAIS E FI
NAIS DE
IPV
E
ISG................
77
G
RÁFICO
5.14
-
I
LUSTRAÇÃ
O DOS VALORES INICIA
IS E FINAIS DE
IPV
E
ISG
EM CADA TIPO DE
FISSURA
.
................................................................
................................
............................
79
G
RÁFICO
5.15
-
MÉDIA E
I
NTERVALO DE
CONFIANÇA DA ALTERAÇÃ
O NO
IPV
E
ISG
NOS TIPOS
DE FISSURA
.
................................
................................
................................
.......................
80
G
RÁFICO
5.16
-
Í
NDICE CEOS INICIAL
.
................................
................................
.......................
82
G
RÁFICO
5.17
-
Í
NDICE CEOS FINAL
.
................................
................................
..........................
83
G
RÁFICO 5.
18
-
Í
NDICE MÉDIO DO
CPOS
INICIAL
.
................................
................................
.....
84
G
RÁFICO
5.19
-
Í
NDICE MÉDIO DO
CPOS
FINAL
.
................................
................................
.......
84
G
RÁFICO
5.20
-
E
XPERIÊNCIA DE CÁRIE
ACUMULAD
A
................................
...............................
85
G
RÁFICO
5.21
-
C
OMPARAÇÃO ENTRE OS V
ALORES INICIAIS E FI
NAIS DE CEOS
, CPOS
E CÁRIE
ACUMULADA
.
................................
.....................................................................................
86
G
RÁFICO
5.22
-
C
OMPARAÇÃO
ENTRE OS VALORES INI
CIAIS E FINAIS DE
MBA.........................
86
G
RÁFICO
5.23
-
S
ITUAÇÃO FINAL DAS MA
NCHAS BRANCAS INICIA
LMENTE ATIVAS
(P
<0,05). ...
87
G
RÁFICO
5.24
-
I
LUSTRAÇÃO DA SITUAÇÃ
O INICIAL E FINAL DE
MANCHAS BRANCAS DE
ACORDO
COM O TIPO DE FISSUR
A.
................................
................................
................................
.....
88
SILVA, Cintia Magali da.
Avaliação das condições bucais de pacientes com
fissura labiopalatal participantes de um programa de manutenção de saúde
bucal.
2006. 128f. Dissertação (Mestrado em Odontologia) - Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
Resumo
A fissura labiopalatal é uma má-formação congênita comum que apresenta
como conseqüências uma série de alterações funcionais e estéticas. O processo
reabilitador das fissuras é extenso e relacionado diretamente com a adequada
condição bucal. Sendo assim, o presente estudo teve como proposição avaliar as
condições bucais de pacientes com fissura labiopalatal, participantes de um
programa de controle da saúde bucal. Para tanto, foram acompanhados 43
pacientes com fissura labiopalatal na faixa etária de 4 a 25 anos. Foi realizada uma
entrevista visando investigar fatores socioeconômicos passiveis de influência na
saúde bucal. Os exames clínicos realizados obtiveram os índices IPV, ISG, ceos,
CPOS além da avaliação de lesões cariosas em forma de mancha branca em um
período inicial, sendo os mesmos repetidos após um intervalo de 6 meses. Os
pacientes apresentaram características sócio-econômicas que podem ter influência
na saúde bucal. Os índices IPV e ISG não apresentaram diferenças estatisticamente
significativas entre os períodos inicial e final. O índice ceos apresentou redução de
0,37 (
±
1,07) devido a exfoliação de dentes decíduos e à realização de extrações
indicadas pela ortodontia e/ou cirurgia. O índice CPOS apresentou incremento de
0,37 (±0,817), considerada diferença significativa entre os valores iniciais e finais.
Quanto à experiência de cárie acumulada (ceos + CPOS) não houve variação no
período devido à redução do ceos ser semelhante ao incremento do CPOS. Com
relação às lesões incipientes em forma de mancha branca, uma pequena parte
delas apresentou-se inativa ao final da avaliação. A maior parte das novas manchas
brancas surgiu nos pacientes com fissura transforame incisivo unilateral e metade
das manchas brancas que continuaram ativas foi nos pacientes com fissura s-
forame incisivo. Uma pequena proporção de manchas brancas que se aprese
ntava
ativa no exame inicial encontrava-se inativa na avaliação final. Diante destes
resultados, conclui-se que programas de controle de saúde bucal são fundamentais
para os pacientes fissurados entretanto, os mesmos devem ser adaptados às
necessidades des
ta população.
PALAVRAS
-
CHAVE: FISS
URA LABIOPALATAL; SA
ÚDE BUCAL;
ODONTOLOGIA
SILVA, Cintia Magali da.
Evaluation of the oral condition in patients with cleft lip
and/or palate that participate of a oral program health maintenance. 2006. 128f.
Dissertaçã
o (Mestrado em Odontologia) - Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2006.
ABSTRACT
The cleft lip and/or palate is a common congenitaly malformation which results are a
group of functional and esthetics alterations. The rehabilitation process of clefts is
long and directly connected with adequate oral condition. In this manner, this
research had the proposition to evaluate the oral condition of patients with cleft lip
and/or palate, who participated of the program of oral health maintenance. So, 43
patients with cleft lip between 4 and 25 years old were accompanied. An interview
was done looking for investigation of economic society factors, passible of influence
in the oral health. Clinic exams resulted the PI, GBI, dmfs, DMFS index, besides an
evaluation of caries lesions
looking like white spots in the beginning and in the end of
the research, 6 months later. The patient presented economic society
characterization that can do influence on the buccal wealth. The PI and GBI index
didn’t p
resent significant statistical deviation between the periods of starting and final.
The dmfs index presented reduction of 0,37 (± 1,07) because the teeth deciduos
exfoliation and the extractions indicated by orthodontics and/or surgery. The DMFS
index presented increases at 0,37 (± 0,817), that is considerate significative between
the beginning and final values. About the experiment of accumulated caries (dmfs +
DMFS) there was no variation because the decreases of dmfs were similar to
increases of DMFS. Concerning the incipient lesion looking like white spots, a small
portion has remained inactive at the end of the evaluations. Most of the new white
spot had appeared in patients with unilateral complete cleft lip and palate and half of
white spots that remained active were in patients with cleft palate. A small portion of
white spots that presented active at the beginning exam was inactive at the final
evaluations. The conclusion was that control programs of oral health are fundamental
to the cleft lip and/or palate patients, however, this program have to be adapted to
the populations necessities.
Key
-
words: cleft lip and/or palate; oral health; dentistry
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO
................................
...............................................................................
20
2.
REVISTA DE LITERATUR
A
................................
................................
......................
24
2.1.
C
LASSIFICAÇÃO DAS
F
ISSURAS
L
ABIOPALATAIS
........................................................
24
2.2.
F
ATORES DE
R
ISCO DE
D
OENÇAS
B
UCAIS EM
P
ACIENTES COM
F
ISSURA
....................
26
2.3.
D
OENÇA CÁRIE EM PACIE
NTES COM FISSURA
................................
.............................
31
2.4.
D
OENÇA
P
ERIODONTAL EM
P
ACIENTES COM
F
ISSURA
...............................................
50
2.5.
A
TENÇÃO ODONTOLÓGICA
E O TRATAMENTO DAS F
ISSURAS
......................................
56
3.
PROPOSIÇÃO
................................................................
................................
................
61
3.1.
O
BJETIVO
G
ERAL
................................................................
................................
.......
61
3.2.
O
BJETIVOS
E
SPECÍFICOS
................................
................................
............................
61
3.2.1.
Fatores socioeconômicos
..................................................................................
61
3.2.2.
Doenças bucais
................................................................
................................
.
61
4.
CASUÍSTICA, MATERIAL
E MÉTODO
...................................................................
63
4.1.
C
ASUÍSTICA
................................
...............................................................................
63
4.2.
M
ATERIAL
................................
................................
................................
.................
64
4.3.
M
ÉTODO
................................
................................
................................
....................
65
4.3.1.
Avaliação das condições bucais
................................
................................
.......
65
4.3.2.
Aplicação do questionário
................................
................................
................
69
4.3.3.
Análise dos resultados
................................
................................
......................
69
5.
RESULTADOS
................................
...............................................................................
70
5.1.
D
ADOS DE IDENTIFICAÇÃ
O E INFORMAÇÕES SOCI
OECONÔMICAS
:..............................
70
5.2.
C
ONDIÇÕES BUCAIS
................................
...................................................................
77
6.
DISCUSSÃO
................................
................................
................................
....................
89
7.
CONCLUSÃO
................................
................................
................................
...............113
8.
REFERÊNCIAS
................................
................................
................................
............115
ANEXOS
................................................................
................................
................................121
APÊNDICES
................................
................................................................
.........................127
1.
INTRODUÇÃO
A fissura labiopalatal
é uma má
-
formação congênita que ocorre entre a quarta
e a décima segunda semana de vida intra-uterina, período que compreende o
desenvolvimento da face (BAROUDI, 1996). Tal deformidade acarreta em uma série
de comprometimentos funcionais e estéticos, além
de implicações psico
-
sociais para
o paciente e sua família. A etiologia da má-formação é diversa, podendo ser
causada por fatores ambientais tais como estresse materno, infecções, deficiências
nutricionais, uso de medicamentos, irradiações entre outros (MO
DOLIN;
KAMAKURA; CERQUEIRA, 1996). Além dos fatores ambientais, a literatura
descreve a importante influência do fator hereditariedade na fissura labiopalatal
(ROCHA; TELLES, 1990). A etiopatogenia das fissuras é ligada à herança
multifatorial onde os fatores genéticos e ambientais agem isoladamente ou de forma
associada.
A prevalência das fissuras labiopalatais no Brasil pode ser considerada alta,
acometendo um para cada 650 nascidos vivos, de acordo com estudo realizado na
cidade de Bauru, SP (NAGEM FILHO; MORAES; ROCHA, 1968). No estado de
Santa
Catarina, um estudo realizado na cidade de Joinville determinou o número de
crianças nascidas com fissura, no período de 1994 a 2000, onde a incidência média
foi de 1,24 por 1000 nascidos vivos (FRANÇA; LOCKS, 2003). O processo
reabilitador é complexo, extenso e dependente de uma equipe profissional
multidisciplinar. Quanto maior for o nível de comprometimento e severidade
causados pela má-formação, mais complexo será seu tratamento (ROCHA;
TELLES, 1990). O processo de reabilitação tem início em fase precoce, que a
cirurgia reparadora de lábio, denominada queiloplastia, pode ser realizada a partir
do terceiro mês de vida, desde que o bebê apresente o peso mínimo de 5
kilogramas. A palatoplastia, cirurgia reparadora de palato, é realizada a partir de 1
ano de idade, sendo necessário que a criança apresente 9 kilogramas, no mínimo, e
boas condições de saúde geral (SILVA; SOUZA FREITAS; OKADA, 2000).
A Odontologia apresenta um papel fundamental durante todo o proc
esso
reabilitador. Isto se deve ao fato de que a saúde bucal é imprescindível para a
realização das cirurgias reparadoras, que a presença de focos de contaminação
pode comprometer o sucesso das mesmas. A saúde bucal também é fundamental
para o sucesso d
o tratamento ortodôntico e para a reabilitação da função fonética.
Existe portanto, a necessidade de se conhecer as condições bucais destes
pacientes, principalmente no que se refere à manifestação da cárie dentária e da
doença periodontal, doenças que se
manifestam de forma severa devido à presença
de muitos fatores de risco nesta população. Neste tipo de má-formação são comuns
as alterações dentárias de forma, número, estrutura e posição, que contribuem para
o acúmulo de placa, favorecendo a instalação de doenças bucais (DAMANTE;
SOUZA
-FREITAS; MORAES, 1973; RUIZ et al., 1999). Além das alterações
dentárias, a presença da fibrose cicatricial dificulta a movimentação labial e
conseqüentemente, a realização da higiene bucal adequada (SILVA, 2003). Em
muitos
casos, soma-se às alterações locais a permissividade dos pais em relação
aos hábitos alimentares (DALBEN et al., 2003) e a não realização da higiene bucal
(MURATA, 2003), agravando ainda mais a situação bucal nestes pacientes.
É importante também que se avalie os fatores socioeconômicos passíveis de
interferência na atividade destas doenças. Deste modo, auxilia-se no planejamento
de estratégias para a realização de programas de promoção de saúde adequados
às necessidades desta população, visando à reabilitação do paciente, seu bem-
estar e de sua família e sua total integração na sociedade.
Visando prestar atendimento aos pacientes com fissura labiopalatal, o Centro
de Atendimento a Pacientes com Deformidade Facial (CAPADF) foi criado em 13 de
agosto de 1996, pela disciplina de Ortodontia do Curso de Graduação em
Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tal Centro é um
projeto de extensão do Departamento de Estomatologia do Centro de Ciências da
Saúde (CCS). Em julho de 1998 foi agregado a este centro o Núcleo de
Odontopediatria (NOP CAPADF), para prestar atendimento aos pacientes,
fazendo com que estes pudessem ser submetidos aos procedimentos cirúrgicos e
ao tratamento ortodôntico e fonoaudiológico em condições bucais adequadas.
A inclusão do NOP ao CAPADF buscou proporcionar aos indivíduos com
fissura atendidos na instituição a promoção da saúde. A busca destes pacientes
pelo viver em condição saudável inicia-se de forma abrupta com o diagnóstico da
presença da má-formação, e o NOP tem como filosofia oferecer aos pacientes e
seus familiares apoio até a reabilitação total (OLIVEIRA et al., 2001). Com a
ampliação do CAPADF devido ao grande aumento do número de pacientes
atendidos na instituição, em determinados momentos, ocorrem alguma
s dificuldades
relacionadas à oferta de consultas. Apesar das dificuldades, o núcleo oferece aos
pacientes o programa de controle de saúde bucal. Os pacientes inseridos dentro
deste serviço são aqueles que, após receberem alta do tratamento odontológico,
retornam para avaliação periódica, conforme a necessidade individual, os recursos
da família e as condições de atendimento do centro. Neste retorno, são realizados
exames bucais, bem como, faz-se uma avaliação do protocolo de reabilitação.
Também nesta consulta, as orientações educativas e preventivas são reforçadas
para os pacientes e seus pais e/ou responsáveis, visando a promoção de saúde.
Além da abordagem educativa-preventiva, quando necessário o paciente é
encaminhado para tratamento em outras áreas.
O objetivo deste trabalho foi avaliar as condições bucais referentes à cárie e à
doença periodontal de pacientes com fissura labiopalatal participantes do programa
de manutenção de saúde bucal do Núcleo de Odontopediatria do CAPADF UFSC,
visando proporcionar uma melhor condição de saúde, além de se conhecer os
benefícios conseguidos, com auxílio de índices epidemiológicos. Assim, torna-
se
possível que a equipe profissional tenha a oportunidade de conhecer as falhas e os
acertos existentes e as dificuldades apresentadas pelos pacientes participantes,
oriundas de suas características socioeconômicas. Conseqüentemente, possibilita-
se realizar as mudanças importantes para sua correção e também fazer adaptações
necessárias de modo que torne as atividades adequadas para os pacientes que
delas fazem uso.
2.
REVISTA DE LITERATUR
A
2.1.
Classificação das Fissuras Labiopalatais
No CAPADF UFSC é adotada a classificação proposta por Spina et al.
(1972), que leva em consideração como ponto anatômico de referência o fora
me
incisivo, local onde ocorre a junção de toda a região labiopalatal. Segundo esta
classificação, as fissuras labiopalatais podem ser divididas em: fissura pré-
forame
incisivo, fissura pós-forame incisivo, fissura transforame incisivo e fissuras raras da
face.
Fissuras pré-forame incisivo: podem ser unilaterais, bilaterais ou medianas,
completas ou incompletas, dependendo se atingirem ou não o forame
incisivo.
Figura 1
Fissura pré
-
forame incisivo unilateral esquerda.
Fissuras pós-forame incisivo: serão completas ou incompletas, dependendo
do envolvimento total do palato ou somente do palato mole.
Figura 2
Fissura pós
-
forame incisivo
Fissuras transforame incisivo: Atingem todo o lábio e todo o palato. Podem
ser unilaterais ou bilaterais, dividindo a maxila em dois segmentos quando
unilateral e, em três segmentos, quando bilateral. Silva Filho et al., (1992)
apresentaram uma sugestão de modificação para o grupo de fissuras
transforame incisivo, acrescentando ao mesmo as fissuras transforame
incisi
vo medianas.
Figura 3
Fissura transforame incisivo
unilateral direita
Figura 4
Fissura transforame incisivo
bilateral
Fissuras raras da face: as fissuras raras da face podem ser transversais ou
oblíquas e envolverem outras estruturas faciais como lábio inferior, nariz,
etc.
26
2.2.
Fatores de Risco de Doenças Bucais em Pacientes com Fissura
Os pacientes com fissura labiopalatal apresentam uma série de
características que os tornam mais susceptíveis ao desenvolvimento de doenças
bucais. Entre tais características destacam-se as anomalias dentárias, a fibrose
cicatricial e o padrão alimentar em fase precoce. Baseados em fundamentos
embriológicos e levando em consideração a posição do incisivo lateral em relação à
fenda, Damante, Souza Freitas e Moraes (1973), estudaram radiograficamente, em
ambas as dentições de pacientes com formação congênita lábio-palatal, a
freqüência de supranumerários e agenesias. Observaram que na dentição
secundária a incidência de agenesias foi maior que a de supranumerários, n
a
dentição primária os dentes supranumerários foram mais freqüentes que as
agenesias. Outra observação importante foi que a incidência de supranumerários
diminuiu à medida que aumentava a complexidade da fenda, desde fendas
incompletas de lábio até as combinadas de lábio, alvéolo e palato, enquanto a
incidência de agenesias aumentou nesta mesma ordem.
Também em relação às alterações dentárias, Ranta (1986) realizou revisão
de literatura sobre a formação dental em crianças com fissuras. Diante do
observado
em tal revisão, o autor relatou a associação entre o tipo de fissura e as
anomalias dentais de número, tamanho, forma, tempo de formação, erupção e
causa das anomalias. Destacou também que as crianças fissuradas apresentaram
maior número de alterações dentárias do que a população em geral. O incisivo
lateral superior é o dente mais susceptível à injúria na área da fissura, tanto na
dentadura decídua quanto na permanente. Outras anomalias como defeitos de
27
esmalte e alterações de forma e tamanho de dentes decíduos e permanentes são
mais comuns em crianças fissuradas. Estas anomalias dentais de número, tamanho,
forma, tempo de formação, irrupção e a própria fissura, têm causas em comum. O
envolvimento de fatores pós-natais como nutrição, infecções e tratamento
cirúrgico
pode ter envolvimento com defeitos de esmalte.
Gomide (1996) avaliou a prevalência de incisivo lateral superior
supranumerário na dentadura decídua de portadores de fissura de lábio. A autora
avaliou 81 modelos em gesso do arco dentário superior de portadores de fissuras
pré
-forame incisivo onde somente o lábio estava afetado, com o osso alveolar
clinicamente íntegro, matriculados no Hospital de Pesquisa e Reabilitação de
Lesões Lábio-Palatais (HPRLLP) da Universidade de São Paulo (USP), Bauru-
SP
,
sendo 41 do sexo masculino e 40 do feminino, que apresentavam dentadura
decídua completa e nenhum dente extraído, dado que foi confirmado através do
prontuário do paciente. Considerou-se como supranumerário o dente presente na
área alveolar relacionado à fissura, além dos incisivos central e lateral. Os modelos
foram avaliados por um único cirurgião-dentista e os dados confirmados através do
prontuário de cada paciente e arquivo fotográfico do hospital. Para a autora, a
presença do supranumerário pode causar mal posicionamento dentário na região da
fissura, levando a dificuldades na higienização desta área, aumentando
conseqüentemente o risco de cárie e/ou doença periodontal. Além disso, a
alteração morfológica dentária em T ou X quando presente, proporciona às regiões
deste dente um maior risco de cárie, devendo ser realizadas medidas preventivas
adequadas.
Com o objetivo de avaliar as alterações de desenvolvimento dentário em
fissurados, Oliveira, Capelloza, Carvalho (1996) analisaram 2511 radiografias
28
panorâmicas de pacientes com diferentes tipos de fissura, atendidos no HPRLLP-
USP, Bauru-SP. As anomalias discutidas pelos autores envolveram agenesias,
microdontia, dentes retidos, dilacerações radiculares e dentes supranumerários. A
freqüência do incisivo lateral microdente foi maior no lado da fissura, o mesmo
ocorrendo com o pré-canino. O incisivo lateral superior foi o dente com maior
freqüência de agenesia em todos os tipos de fissura, exceto nas fissuras pós-
forame. Finalmente, o pré
-
canino foi mais
freqüente na fissura transforame unilateral
esquerda.
Com relação à microbiota cariogênica, Bokhout et al., (1996) realizaram
estudo a fim de analisar a prevalência de streptococccus mutans e
lactobacillus
em
62 crianças com 18 meses de idade que apresentavam fissura de lábio e/ou palato.
Os pesquisadores coletaram placa e saliva, realizaram exame dentário bem como,
entrevista com os pais visando levantar dados sobre saúde geral da criança, hábitos
de dieta, exposição ao flúor e classe sócio-
econômica.
S. mutans foram detectados
na saliva de 45% das crianças e
lactobacillus
foram detectados em 16%. Na placa,
S. mutans
estavam presentes em 48% das crianças e
lactobacillus
em 8%. De todas
as variáveis examinadas pelos autores, o consumo de mais de três lanches ou
bebidas entre as refeições principais foi significativamente associada com a
presença de S. mutans na saliva. Tais resultados indicaram que crianças com
fissuras têm alta prevalência de colonização por S. mutans e
lactobacillus
aos 18
meses de idade. Esta colonização precoce implica em maior risco de
desenvolvimento de cárie dentária na dentadura decídua. Os autores enfatizaram
ainda que nestas crianças, as medidas preventivas com o objetivo de preservar a
dentadura decídua são fundamentais.
29
Ruiz et al. (1999) procuraram conhecer as alterações dentárias de forma,
número e posição na dentadura decídua de pacientes com fissura completa de lábio
e palato unilateral. Para tanto, um único odontopediatra examinou 99 pacientes
operados e matriculados no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais -
USP, com idade entre 3 e 6 anos, dentadura decídua completa, sendo 66 do gênero
masculino e 33 do gênero feminino, atendidos na clínica odontológica da instituição.
Para assegurar a fidelidade do exame, co
nsultou
-se a história clínica do paciente e
o arquivo fotográfico do hospital. As observações permitiram concluir que pacientes
com fissura completa de lábio e palato apresentam uma alta prevalência de
anomalias dentárias de forma (31%), número (agenesia 28% e supranumerário
19%) e posição (45%) na dentadura decídua. Os autores salientaram que tal
situação pode impedir que o cirurgião-dentista preste atendimento para pacientes
fissurados por ignorar estas particularidades. Por isso, é fundamental que os
asp
ectos dos fissurados sejam divulgados, o que amplia a possibilidade de estes
pacientes receberem tratamento reabilitador adequado.
Com o intuito de confirmar a alta prevalência de anomalias dentárias de
número, em pacientes portadores de fissura de lábio e palato, Vanzin e Yamazaki
(2002) realizaram um estudo sobre a prevalência de ausência congênitas e
presença de dentes extranumerários em pacientes portadores de fissura de lábio e
palato do Serviço de Defeitos de Face, na Faculdade de Odontologia da Pont
ifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Os dados foram coletados através de
exame clínico, análise de modelos, arquivo fotográfico e radiográfico de 60
indivíduos de 7 a 12 anos, sendo 37 do gênero masculino e 23 feminino. Os
resultados confirmaram que o dente mais freqüentemente ausente é o incisivo
lateral superior (48,3%), seguido pelo 2
o
pré-molar superior (13,3%) e incisivo
30
central superior (6,7%). Dentes extranumerários foram encontrados apenas na
região da fissura, apresentando uma freqüência de 30% dos casos examinados. Os
autores observaram que a prevalência de ausências dentárias e dentes
extranumerários em pacientes portadores de fissura de lábio e palato é alta,
ressaltando a importância do diagnóstico destas anomalias dentárias para um plano
de tratamento multidisciplinar adequado, onde atenção especial deve ser dada à
área da fissura.
Outro fator de risco de cárie dentária em bebês fissurados refere-se aos
hábitos de aleitamento e de ingestão de açúcar. Buscando conhecimento sobre ta
l
situação, Dalben et al. (2003) entrevistaram responsáveis por 200 bebês com fissura
de lábio e/ou palato com idade entre 7 e 18 meses, que apresentavam dentes em
erupção, atendidos no HRAC-USP. O questionário incluía perguntas sobre
aleitamento materno, primeiro contato com açúcar, alimentos envolvidos neste
primeiro contato, tipos de alimentos oferecidos na mamadeira, bem como freqüência
de uso da mesma. Baixa prevalência de aleitamento materno foi observada. Na
maioria dos casos, o primeiro contato com açúcar ocorreu com uso de mamadeira
no primeiro mês de vida. Como suplemento nutricional, os bebês ingeriam bebidas
e sucos de frutas com açúcar na mamadeira, com alta freqüência. Sendo assim, os
autores concluíram que o padrão nutricional de bebês com fissura é inadequado
para o bom desenvolvimento da cavidade oral, devido à ausência de aleitamento
materno e alta ingestão de açúcar. Recomendaram portanto, especiais
considerações quanto a programas de saúde bucal para estes pacientes,
respeitando suas necessidades e características. Estes programas devem salientar
a educação dos pais e o controle de placa bacteriana.
31
Gomes (2004) avaliou a prevalência e localização de alterações de esmalte
nos incisivos centrais superiores decíduos em bebês portadores de fissura unilateral
envolvendo arco alveolar e comparou a prevalência e localização desses defeitos de
esmalte entre o incisivo central adjacente à fissura e seu contralateral. Foram
avaliados 101 bebês leucodermas de ambos os sexos, na faixa etária de 12 a
36
meses, com fissura unilateral envolvendo arco alveolar e que possuíam pelo menos
dois terços das coroas dos incisivos superiores irrompidas. O exame clínico
intrabucal foi realizado após limpeza e secagem dos dentes, por um único
examinador utilizando espelho bucal, sonda exploradora, iluminação artificial
(refletor) e com a criança posicionada em macri. Os defeitos foram anotados em
ficha padronizada, seguindo os critérios do Índice de Desenvolvimento de Esmalte
Modificado (DDE
Modified
). A hipoplasia foi o defeito mais comum tanto no lado
fissurado como no não fissurado, seguido pela opacidade demarcada e opacidade
difusa. A maioria dos defeitos estava localizada na face vestibular e tem extensão
menor que um terço da coroa envolvida. A prevalência de defeitos de esmalte nos
incisivos centrais superiores decíduos de pacientes portadores de fissura foi de
43,8% sendo mais afetado o lado fissurado. A alta prevalência de alterações de
esmalte nos incisivos adjacentes à fissura, além de constituir fator de risco à cárie
dentária, compromete também a estética. Dessa forma, os profissionais devem
reconhecer a importância do diagnóstico precoce, para realizar, adequadamente, o
acompanhamento preventivo ou tratamento necessário dessas alterações.
2.3.
Doença cárie e
m pacientes com fissura
32
Algumas pesquisas publicadas na literatura relatam a atividade da doença
cárie em pacientes com fissura labiopalatal. Um dos primeiros estudos sobre o
assunto foi o desenvolvido por Lauterstein e Mendelsohn (1964). Estes autores
realizaram uma pesquisa investigando a influência de alguns fatores na
manifestação da cárie dentária em crianças com fissura, bem como, observar a
ocorrência em diferentes tipos de fissura e sua distribuição nos arcos. Os autores
examinaram 285 crianças n
orte
-americanas com idade média de 8,5 anos que
tinham diferentes tipos de fissura labiopalatal. O índice de cárie utilizado foi o
“CPOD”, sendo que o mesmo foi comparado a um grupo de 300 crianças sem
fissura. Os valores dos índices obtidos para os dois grupos foram de 8,01 e 7,45,
considerado pelos autores bastante semelhante. Também não foram encontradas
diferenças significantes relacionadas à distribuição da doença entre os arcos
dentários, o tipo de fissura ou a bilateralidade da mesma. Para estes pesq
uisadores,
apesar dos muitos fatores de risco presentes nos pacientes fissurados, estes não
foram responsáveis por uma maior manifestação da cárie. Os autores
acrescentaram ainda, que o tipo de fissura e o uso de fluoretos na água de
abastecimento não tive
ram influência nos resultados encontrados.
Na Escócia, o nível de cárie na década de 70 atingia proporções severas na
população do país (STEPHEN; MACFADYEN, 1977). Este quadro atingia também
os pacientes com fissura labiopalatal, apesar de os mesmos necessitarem de
adequada saúde bucal para a realização das cirurgias e do tratamento ortodôntico.
Devido a esta importância, foi elaborado um programa de prevenção em saúde
bucal, o qual foi baseado em orientações dietéticas, de higiene bucal, na terapia
com fluoretos e uso de selantes oclusais para 57 pacientes com fissura na faixa
etária de 3 a 5 anos. Os autores coletaram dados retrospectivos de um grupo de 34
33
crianças na mesma faixa etária atendidas antes do início do programa de prevenção
e utilizaram estas informações como grupo controle. Após 3 anos de realização do
programa de prevenção observaram redução de 98,7% no índice “ceo-
s”
(superfícies cariadas, extraídas e obturadas) das crianças fissuradas atendidas. No
grupo destas crianças, o índice “ceo” foi de 0,87 enquanto no grupo controle foi
6,15. Com relação ao ceo-s os índices foram de 1,44 e de 13,5 para os respectivos
grupos. Observou-se também que 74% das crianças participantes do programa de
prevenção estavam livres de cárie e, no grupo controle, todas as crianças foram
afetadas pela doença. Durante os 3 anos de aplicação do programa de controle
ocorreu uma drástica redução da incidência de cárie dentária, sendo esta de 0,12.
Devido aos benefícios para os pacientes e profissionais e a economia que f
oi
propiciada pelo programa, os autores sugeriram que o mesmo deveria ser aplicado
a todas as crianças nascidas com fissura labiopalatal.
Johnsen e Dixon (1984) avaliaram a presença de cárie dentária em incisivos
decíduos de crianças norte-americanas com fissura de lábio e/ou palato ou outras
anomalias craniofaciais. Foram examinadas 64 crianças na faixa etária de 18 meses
a 4 anos, onde a maior parte das lesões cariosas foram encontradas nas crianças
com fissura de lábio e/ou palato quando comparado às outras crianças sem a
fissura, porém com outras malformações. Relacionando-se a cárie aos tipos de
fissuras, a fissura de lábio e palato bilateral seguida da fissura unilateral com ou sem
envolvimento do palato e da fissura de palato apresentaram respectivamente a
maior distribuição das lesões. As crianças com fissura unilateral apresentavam
cáries no lado da fenda, em concordância também com a presença de defeitos de
esmalte. Tanto nas fissuras unilaterais como nas bilaterais observou-se tendência
de as lesõ
es de cárie estarem associadas com defeitos de esmalte. As crianças com
34
fissura de palato apresentaram a doença de forma semelhante à cárie de
mamadeira. Sendo assim, os pesquisadores relacionaram o significativo risco à
cárie nas crianças com fissura devido aos hábitos alimentares inadequados e à
presença de alterações de esmalte.
Pimentel (1986) desenvolveu pesquisa com o intuito de analisar a prevalência
de cárie através dos índices CPO-D e ceo-d e o desempenho do controle mecânico
da placa relacionando os índices ao sexo, idade e ao nível sócio-econômico de
pacientes portadores de fissuras lábio-palatais atendidos no HPRLLP em Bauru
SP. A amostra constou de 251 pacientes fissurados de ambos os sexos, com idade
entre 1 e 12 anos, pertencentes ao setor de odontopediatria do hospital. A
prevalência de cárie em dentes decíduos foi menor no sexo feminino (ceo: 4,34) do
que no masculino (ceo: 5,49). Em relação ao índice CPO-D não houve diferença
significante, sendo o valor médio igual a 3,44. Quanto à higiene bucal, esta foi
regular na maioria dos pacientes e insatisfatória em menor número. A melhora da
higienização foi proporcional à ascenção na classe econômica, sendo o grupo etário
com melhor higiene o da faixa etária entre 0 e 4 anos, num percentual de 78
,3% dos
pacientes. Para melhorar as condições de saúde bucal dos pacientes a autora
sugeriu a realização de programas preventivos baseados no controle de placa e
orientação dietética.
Em concordância com este estudo estão os resultados encontrados por
Dah
llöf et al. (1989). Estes autores também avaliaram a saúde bucal de crianças
suecas que nasceram com fissura de lábio e/ou palato entre os anos 1980 e 1981.
Os autores incluíram na pesquisa 49 crianças fissuradas com idade entre 5 e 6
anos, sendo que algumas apresentavam síndromes associadas e, como grupo
controle, 49 crianças sem malformações porém, com idade semelhante ao grupo
35
teste. Os pacientes com fissura foram divididos em dois grupos, sendo com
envolvimento do alvéolo e outro somente com envolvimento do palato. O número de
superfícies dentárias cariadas no grupo com fissura foi de 7,0, enquanto que no
grupo controle foi 3,9, evidenciando diferença significativa entre os grupos. Ao se
analisar somente as crianças que apresentavam malformações, não foi observada
diferença significante na manifestação da doença entre os tipos de fissura. Para os
autores, as crianças fissuradas são consideradas grupo de alto risco à cárie devido
à presença de fatores como fibrose cicatricial e alterações dentárias. Sendo assim,
sugerem que os pacientes com fissura devem participar de programas preventivos,
visando preservar a dentadura decídua e facilitando a terapia cirúrgica e ortodôntica.
Sacramento et al. (1996) desenvolveu trabalho no HPRLLP com o objetivo de
obser
var a prevalência de cárie na dentadura decídua de 194 pacientes fissurados
na faixa etária de 2 a 6 anos bem como, relacionar a mesma com o padrão
alimentar, a higiene oral e o uso de flúor. O exame bucal foi realizado por 5
odontopediatras calibradas que utilizaram espelho bucal e sonda exploradora em
consultório odontológico, sob iluminação de refletor. A prevalência da doença
aumentou com a idade e não houve diferença estatisticamente significante entre os
sexos. O índice “ceos” encontrado foi alto, var
iando de 3,0 a 12,47 sendo compatível
com os índices encontrados para crianças sem fissura de países subdesenvolvidos.
As entrevistas sobre a alimentação das crianças demonstraram padrão alimentar de
alto risco à cárie. Para os autores, a formação deste padrão alimentar pode ocorrer
devido a maior permissividade dos pais para tentar compensar a formação na
criança. A higiene oral foi irregular em todas as faixas etárias e o uso de flúor restrito
ao creme dental, que não foram obtidas respostas referentes a fluoretação da
água de abastecimento. Com este estudo, concluiu-se que o fator fissura em si não
36
predispõe ao alto índice de cárie porém, os fatores sócio-
econômicos
-
culturais
podem influenciar na prevalência da doença.
Um outro estudo realizado no
HPRLLP
- USP por Tomita et al. (1996)
procurou observar a prevalência de cárie na dentadura mista em 74 crianças
fissuradas matriculadas na instituição. Os pacientes encontravam-se na faixa etária
de 6 a 9 anos, sendo de ambos os sexos e procedentes de todas as regiões do
Brasil. Na dentadura permanente o índice “CPOS” foi de 2,0, 3,22, 3,52 e 3,77 para
as idades de 6, 7, 8 e 9 anos respectivamente. Na dentadura decídua o índice
“ceos” encontrado foi 12,6, 13,65, 8,85 e 8,31 para as mesmas idades citadas
re
spectivamente para o índice CPOS. Observou-se que a fissura transforame
incisivo estava associada ao maior índice de cárie, no entanto, o tipo de fissura e a
prevalência da doença não apresentaram diferença estatisticamente significante. Os
autores compararam os dados encontrados a outros relatados na literatura e
verificaram uma menor prevalência de cárie nos pacientes de seu estudo.
Neste mesmo ano Bokhout et al. (1996) determinaram a prevalência de cárie
em 151 bebês holandeses com até 2,5 anos, sendo
a amostra dividida em 76 bebês
com fissura labiopalatal e 75 sem malformação congênita (grupo controle). Os pais
das crianças responderam questionário que visava avaliar a influência da dieta, da
higiene oral, da exposição a fluoretos e da classificação
cio
-econômica na
manifestação da cárie. O diagnóstico da cárie foi feito por exames clínicos e a
prevalência foi maior nas crianças com fissura, acometendo 26,3% dos pacientes
contra 5,3% do grupo controle. Quanto à presença de manchas brancas, esta foi
ma
ior também nas crianças fissuradas (17,1%) do que no grupo controle (4%),
sendo que 52% destas lesões estavam localizadas nos incisivos superiores. O
índice “ceo-d” obtido foi 0,59 (+-1,35) nas crianças fissuradas e 0,11 (+- 0,54) no
37
grupo controle, e houve associação significante com a higiene oral e o tratamento
pré
-
operatório com placas obturadoras.
Os mesmos autores (Bokhout et al., 1997) avaliaram a incidência de cárie em
81 crianças fissuradas e 77 sem a má
-
formação. No grupo de crianças com fissura
a
incidência de cárie foi de 0,037, sendo significativamente mais alta do que no grupo
sem fissura, que obteve incremento de 0,004. As cáries ocorreram em 25 crianças
com fissura (30,9%) e em 5 crianças do grupo controle (6,5%). Todos os grupos de
dentes f
oram atingidos pela doença no grupo de pacientes fissurados, enquanto que
no grupo controle apenas os incisivos superiores e os segundos molares foram
cariados. Nas crianças com fissura, a presença da má-formação aumenta o risco de
cárie dentária em até 3,5 vezes. Nestes pacientes, a higiene oral foi mais deficiente
o que ocorreu devido à anatomia da área da fenda, a imobilidade do lábio e o receio
dos pais em realizar a higiene na área. Os autores salientaram também que a
maioria dos pacientes com fissura era proveniente de faixas sócio-econômicas mais
baixas, que geralmente consomem maior quantidade de sacarose, prejudicial no
que diz respeito ao desenvolvimento da doença. Como conclusão, o estudo mostrou
que crianças com fissura têm alto risco de desenvolvimento de cárie e que para a
diminuição deste risco, é necessário que as mesmas e seus pais participem de
programas preventivos para preservação da dentadura decídua. Além disso, a
higiene bucal próxima à área da fissura deve ser encorajada.
Para verificar a presença de cárie dentária em bebês portadores de fissuras
de bio e/ou palato em Bauru - SP, através de um índice experimental de cárie,
Pernambuco (1997) trabalhou com 34 bebês de 7 a 28 meses. O programa de
prevenção avaliado era constituído de entrevista inicial com os pais para verificar
seu nível de conhecimento em relação à saúde bucal, higiene, dieta, uso de flúor e
38
aspectos relacionados à transmissibilidade da cárie. A presença de cárie foi avaliada
através de um exame clínico e aplicando-
se
um índice experimental de cárie (IEC).
Foi realizada profilaxia e aplicação de verniz fluoretado e os pais receberam
informações práticas quanto à correta higienização bucal dos bebês. Após 6 meses
79,4% dos bebês retornaram sem lesões cariosas ou com processo de
desmineralização ativa paralisado. No entanto, o IEC médio no primeiro exame foi
0,027 e de 0,078 ao segundo exame. Cerca de 20,6% da amostra foi responsável
pela elevação do IEC, o que para a autora, demonstrou a influência de fatores sócio
-
econôm
ico
-culturais. Os resultados apresentados sugerem que programas
preventivos promovendo a saúde bucal para bebês devem ser realizados com
regularidade, visando a melhor reabilitação para os portadores de fissura de lábio
e/ou palato.
Com o intuito de conhecer maiores informações sobre a saúde bucal de
pacientes fissurados no Reino Unido, Paul e Brandt (1998) examinaram 114
crianças de ambos os sexos, com fissura labiopalatal. Os pacientes tinham idade
variando entre 3 e 18 anos, e foram divididos em grupos etários de 3 a 5 anos, 6 a
12 anos e 13 a 18 anos. Em relação ao tipo de fissura, os pacientes foram divididos
em fissura de lábio e/ou alvéolo, fissura de lábio e palato e fissura de palato
somente. Os exames seguiram os critérios da OMS, e revelou que 61 crianças não
apresentaram história passada da doença cárie, enquanto que 23 apresentavam
cavidades em seus dentes. Na dentadura decídua, o “ceos” médio foi 1,9 e 2,8 para
as crianças com 3 a 5 e com 6 a 12 anos, respectivamente. O “CPOS” demonstrou
valore
s de 0,4 e 1,9 para as idades de 6 a 12 e de 13 a 18 anos. Os autores não
observaram diferença significativa para os índices de cárie entre os tipos de fissura,
acreditando que o motivo para este quadro seja os efeitos suscitados pelo reparo
39
cirúrgico. Enfatizaram também a importância de melhorar a higiene bucal nos
pacientes buscando a redução da atividade de cárie através de orientações
adequadas e da comunicação entre profissionais, pacientes e seus responsáveis.
Também em 1998, na Rússia, Turner et al. avaliaram as condições bucais de
89 crianças com fissura unilateral de lábio e palato, cuja idade variou de 5 a 9 anos.
O exame clínico foi realizado sob iluminação de refletor, por odontopediatra e
ortodontista que utilizaram espelho e abaixadores de língua. As crianças foram
divididas em dois grupos, de acordo com a presença (26) ou ausência (63) de fístula
no palato, que indicava a necessidade de realização de nova intervenção cirúrgica
reparadora. Os examinadores analisaram o estágio de desenvolvimento da
dentição, a higiene bucal e a manifestação da cárie. A higiene bucal foi melhor nos
pacientes sem fístula palatal. Os autores acreditaram que o cuidado com a higiene
bucal não seja prioridade para os pais, mas sim a realização das cirurgias
reparadoras
. Quanto à manifestação da cárie, os autores estabeleceram quesitos
próprios onde os pacientes livres de cárie foram aqueles que não apresentaram
nenhuma lesão. O índice foi considerado baixo pelos autores quando a criança
possuía de um a três dentes cariados, moderado quando havia a presença de
quatro a sete dentes com cárie, e alto na presença de oito ou mais dentes atacados
pela cárie. Observou-se alto índice de cárie em 45% dos pacientes, porém não
houve diferença estatisticamente significativa entre o grupo com e sem a fístula
palatal. Os autores concluiram que a manifestação da cárie pode ser relacionada
com a dieta e a ausência de fluoretos na água de abastecimento, mostrando a
condição precária de saúde na antiga Rússia, sugerindo investigações futur
as sobre
a condição bucal dos pacientes.
40
No Brasil, Lages (1999) procurou observar a prevalência de cárie em
indivíduos fissurados que eram atendidos na disciplina de Prótese e Ortopedia
Maxilo
-Facial da Universidade Federal de Minas Gerais. Para o diagnóstico da cárie
dentária, a pesquisadora realizou exame visual utilizando os índices “CPOD” e
“CPOS”. Os resultados encontrados mostraram um “ceo” médio de 2,91 para a faixa
de 1 a 5 anos, e para o grupo de 6 a 12 anos de 2,77. O “CPOD” médio para as
faixa
s etárias de 6 a 12, 13 a 18 e 19 a 32 foram 1,87, 6,46 e 13,62,
respectivamente. Considerando a dentadura decídua, nas crianças com idade de 1
a 5 anos, 36% estavam livres de cárie, enquanto que de 6 a 12 anos apenas 16%
não apresentavam a doença. A característica observada foi que o componente
cariado foi o mais significativo até a idade de 5 anos e representava 78% do valor do
“ceo”. Entre 6 e 12 anos o componente restaurado foi observado com maior
freqüência, representando também 78% do valor do “ceo”. Quanto ao “CPOD”, na
mesma faixa etária o componente restaurado foi responsável por 74% do índice.
Para a pesquisadora, de modo geral, a condição de comprometimento dental não
diferiu dos padrões comuns da população.
Gregg et al. (1999) buscaram conhecer a eficácia da odontopediatria na
reabilitação da fissura labiopalatal em um centro de atendimento na Irlanda do
Norte. Para tanto, examinaram 133 crianças fissuradas com 2,5 anos, 5, 7 e 10
anos, que receberam orientações de prevenção no primeiro ano de vida. Os autores
compararam dados da experiência de cárie e de tratamentos recebidos por estas
crianças a estudos epidemiológicos daquele país, relacionando à suplementação de
flúor. Nas crianças com 5 anos, 50% estavam livres de cárie e 42 tinham lesões não
tratadas. Aos 12 anos, 40% estavam sem cárie. A experiência de cárie foi
inversamente proporcional à suplementação de flúor. Devido à dificuldade de
41
prevenir a cárie na dentadura decídua, os autores salientaram a importância do
odontopediatra para a melhora da saúde bucal destes pacientes, reforçando
constantemente as orientações preventivas.
Para avaliar a atenção odontológica e a atividade de cárie em pacientes
fissurados atendidos no Reino Unido, Rivkin et al. (1999) examinaram 85 pacientes
com difere
ntes tipos de fissura e idade variando de 5 a 20 anos. Apesar de 92% dos
pacientes receberem atendimento odontológico regularmente, 43% das crianças
com 5 anos apresentava atividade da doença e a porcentagem de dentes cariados
foi de 30%. Os autores afirma
ram que as informações sobre a manifestação da cárie
e acesso à atenção odontológica são importantes para a inclusão dos pacientes
fissurados em um programa de atenção continuada.
Concordaram com a atenção continuada para pacientes fissurados
Zchieschack
e Grabowski (1999) devido às observações feitas em estudo
longitudinal realizado na Alemanha entre os anos de 1986 e 1995. Os
pesquisadores observaram a prevalência da cárie dentária e o tratamento realizado
em 417 crianças com fissura labiopalatal que tin
ham entre 3 e 8 anos e compararam
estas informações a um grupo de 258 crianças com fissura na mesma etária, mas
que participavam de programa de prevenção. Este programa incluía uso de
fluoretos, orientações de dieta e de higiene e cuidados bucais regulares. A
prevalência de cárie foi medida pelo índice ceos/ceod, o qual foi considerado
moderado a alto para a faixa etária. O grau de necessidade de tratamento foi de
50% para as crianças de 5 anos, aumentando para 69% aos 8 anos. As crianças
que não tinham acesso ao atendimento preventivo apresentaram maior aumento na
prevalência entre 3 e 5 anos. Em compensação, no grupo que recebia atendimento
preventivo, houve redução de 50% na prevalência de cárie. Com relação ao tipo de
42
fissura e sua influência na manifestação da cárie, não houve relação
estatisticamente significativa. Somente na idade de 5 anos houve interferência da
fissura completa de lábio e palato, porém sem comprovação estatística. Quanto a
este fato, os autores acreditaram que seja devido à atenção o
dontológica
inadequada e enfatizam a importância da preservação dentária para a eficácia do
tratamento ortodôntico. A experiência mostrou que seguir um programa de
prevenção minimiza os riscos para o desenvolvimento da dentição. O programa
deve englobar o uso de fluoretos, instruções de higiene bucal, aconselhamento
dietético, controles periódicos e tratamento das lesões cariosas.
Lin e Tsai (1999) realizaram estudo prospectivo na cidade de Taiwan com o
propósito de investigar a prevalência de cárie em 123 crianças chinesas com até 2
anos de idade, que apresentavam fissura de lábio, palato ou ambos. Os pais e/ou
responsáveis pelos bebês responderam a um questionário com o objetivo de avaliar
os conhecimentos dos mesmos a respeito da saúde bucal, conhecimen
tos e crenças
sobre a cárie de mamadeira, hábitos alimentares da criança, cuidados
odontológicos, bem como, atitudes dos pais em relação à criança com fissura. Os
exames bucais para obtenção do índice “ceos” foram realizados com auxílio de
espelho bucal e explorador, sob iluminação de refletor. As crianças foram divididas
em dois grupos, de acordo com o uso de mamadeira ou não. O uso de mamadeira
foi relatado por 38% dos pacientes (n:48) com prevalência de cárie de 15,4%, logo,
o aleitamento artificial foi relacionado à cárie. O índice “ceos” foi mais alto do que
quando a criança não utilizava mamadeira. Os autores recomendaram que
programas de promoção de saúde para as crianças com fissura e seus pais devem
ser realizados em época precoce, visando prevenir a cárie de mamadeira. Além
disso, pesquisas adicionais devem ser realizadas para o conhecimento de outros
43
fatores da doença como influência bacteriana, tipos de fissura e fatores de risco
sociais e comportamentais.
Neste sentido, Lucas et al. (2000) procuraram observar a diferença existente
entre a prevalência de cárie e sua relação com a microbiota oral em crianças com
fissura e sem a fissura. Para tanto, avaliaram 60 pacientes com idade variando entre
3 a 15 anos que tinham fissura labiopalatal e eram atendidos em um centro de
atendimento multidisciplinar em Londres. Outro grupo de 60 crianças não fissuradas
com idade, etnia e classe social semelhantes, serviu como grupo controle. Para o
exame clínico, os autores seguiram os critérios da OMS, registrando a manifestação
da doença cárie através dos índices ceo/ceos e CPO/CPOS. Não foram observadas
diferenças estatisticamente significantes nos índices ceo/ceos e CPO/CPOS entre
as crianças com e sem fissura que, os índices obtidos foram respectivamente de
6,05 e 2,35 e, 6,97 e 2,93 para os dois grupos. Apesar de não haver diferença entre
os índices “ceos” e “CPOS”, as crianças com fissura apresentaram grande número
de lesões cariosas cavitadas e não restauradas, comparado ao grupo controle. Para
os autores, este quadro demonstrou a necessidade de serviço odontológico mais
efetivo dedicado a estes pacientes.
Bian et al. (2001) investigaram a diferença no nível de cárie em crianças
chinesas com fissura de lábio e fissura envolvendo o palato com idade de 3 a 6
anos, além de avaliar as atitudes dos pais em relação aos hábitos de aleitamento e
cuidados bucais. Foram examinadas 104 crianças com fissura, sendo 66 meninos e
38 meninas, com fissura de lábio, palato ou ambos. Os pais responderam a um
questionário sobre hábitos de aleitamento, freqüência de consumo de determinadas
bebidas e freqüência de escovação dental. Em 77% das crianças havia a presença
de lesões cariosas e em 26% a doença se manifestou de forma rampante. As
44
crianças com fissura envolvendo o palato tiveram maior prevalência de cárie
rampante (30%) comparado ao grupo de crianças com fissura de lábio (12%). A
análise mostrou também que o nível educacional das mães e as práticas de
aleitamento estavam relacionados de modo significativo com a cárie ramp
ante,
sendo estes os fatores mais importantes para a cárie dentária.
No Reino Unido, Chapple e Nunn (2001) analisaram a relação entre
manifestação de cárie e presença de hipoplasia de esmalte em crianças com fissura
labiopalatal que residiam em regiões parcialmente fluoretadas. Foram examinadas
91 crianças com idade de 4, 8 e 12 anos em consultório odontológico, com
iluminação de refletor, secagem dos dentes e auxílio de sonda e espelho bucal.
Para a avaliação de cárie utilizou
-
se os índices “ceod” e “CPO
D”, enquanto que para
o registro de defeitos de esmalte o índice de defeitos de esmalte. Também foi
aplicado questionário aos pais para busca de informações sobre acesso ao
atendimento odontológico e a exposição do paciente a fluoretos pela água de
abastec
imento ou uso de suplementos. Os autores observaram que a prevalência
de cárie aumenta com a idade pois, 63% dos pacientes de 4 anos estavam sem a
doença, enquanto que nos pacientes com 12 anos, somente 34% estavam livres de
cárie.O ceod” médio foi 1,3 nas crianças de 4 anos e o “CPOD” nas crianças com
12 anos foi de 1,8. As hipoplasias de esmalte não afetaram a dentadura decídua,
porém ocorreram nos dentes permanentes de 38% das crianças com 8 anos e 23%
nas de 12 anos. Com relação à manifestação da cárie
e o tipo de fissura, não houve
associação na dentadura permanente, no entanto, na dentadura decídua houve
maior comprometimento pela cárie em fissuras de lábio e palato (ceod 1,73) quando
comparada às fissuras de lábio somente (ceod 0,86). Devido ao compr
ometimento
da saúde bucal nas crianças com fissura, os autores sugeriram a participação
45
constante de odontopediatra em programas preventivos com aconselhamento de
dieta, de higiene bucal, uso de fluoretos e, quando necessário, cuidados
secundários de saúde
.
No mesmo ano, porém no Brasil, outro estudo realizado por Montandon,
Duarte, Furtado (2001) foi desenvolvido no Núcleo de Reabilitação de Fissurados do
Hospital Universitário UFPB, visando investigar a prevalência de doenças bucais
em crianças portadoras de fissuras labiopalatinas. Foram examinadas 45 pacientes
com idade entre 2 e 12 anos, sendo 28 do sexo masculino e 17 do feminino, onde
havia lesões de cárie em 34 crianças (75%). Nas crianças de dois a 11 anos, o ceo
médio foi igual a 6 e o ceos médio foi equivalente a 14,9. nas crianças de 6 a 12
anos o “CPOD” médio foi igual a 3 e o “CPOS” médio de 5,5. Os autores enfatizam a
necessidade de acompanhamento periódico e constante preventivo, educativo e
intervencionista por odontólogos especialistas para os pacientes com fissura
labiopalatina. Sugerem a presença de, no mínimo um odontopediatra e um
ortodontista em um programa de atendimento a fissurados para que seja recuperada
e mantida a saúde bucal dos mesmos.
Hewson Galway et al. (2001) investigaram a experiência de cárie e o acesso
inicial aos serviços odontológicos em um grupo de crianças com fissura de lábio
e/ou palato no oeste da Irlanda. Uma amostra de 90 crianças fissuradas, nascidas
entre os anos de 1980 e 1996 foi comparada ao grupo controle de 100 crianças não
fissuradas. O índice “CPO-D” foi determinado por examinador previamente treinado.
O mesmo observou que 22% das crianças com fissura estavam livres da cárie
dentária enquanto que, no grupo controle, 41% das crianças não tinha cárie. A
combinação dos índices ceo/CPO para o grupo com fissura foi de 2,09 comparado a
1,50 para o grupo controle. A análise separada do “ceo” e “CPO” entre os dois
46
grupos de pacientes indicou maior perda de dentes decíduos no grupo com fissura.
Como conclusão, afirmam que as crianças fissuradas daquela região não receberam
os cuidados odontológicos adequados e regulares na época oportuna. Devido ao
maior risco de desenvolvimento de doenças bucais em fissurados, em especial na
dentadura decídua, todas as crianças com fissura devem ser referenciadas aos
serviços odontológicos preventivos e contínuos desde o primeiro ano de vida,
visando preservar a saúde bucal das mesmas.
Em concordância com estes autores, estão os resultados
encontrados por
Neves (2002), em um estudo realizado no HRAC USP - Bauru que teve como
objetivo analisar o comportamento da doença cárie na população com fissura, por
meio da prevalência, severidade e a distribuição na dentadura decídua e entre os
componentes do índice “ceo”. Para conhecer os fatores relativos à higiene bucal, foi
aplicado um questionário com perguntas relativas à execução de tal procedimento e
as dificuldades encontradas. Para isso, a autora avaliou transversalmente 300
crianças com fissura de lábio, com ou sem envolvimento do palato, na faixa etária
de 7 a 66 meses, dividindo-as igualmente entre os sexos e em grupos etários da
seguinte forma: G1
7 a 12 meses; G2
13 a 18 meses; G3
19 a 24 meses; G4
25 a 30 meses; G5 31 a 36 meses; G6 – 37 a 42 meses; G7 – 43 a 48 meses; G8
49 a 54 meses; G9 55 a 60 meses e G10 61 a 66 meses. O número de
indivíduos acometidos pela doença e o ceo médio aumentaram proporcionalmente
de acordo com a idade, não sendo encontradas diferenças estatisticamente
significantes entre os sexos. No grupo total, com idade média de 36 meses, a
prevalência da doença foi de 59,3% e o “ceo” médio 3,4. Na avaliação do
questionário, 46% dos pais que afirmaram realizar a higiene bucal em seus filhos
relataram dificuldades ou receio em realizar os procedimentos. Os resultados
47
observados indicaram a necessidade de utilização de protocolo de atendimento
preventivo urgente e precoce, principalmente reforçando a desmistificação da
higiene bucal.
Corrobora com estes resultados Castilho (2003) com pesquisa
transversal
desenvolvida no HRAC USP desenvolvida para verificar os conhecimentos em
saúde bucal de mães de crianças com fissura de lábio e/ou palato, analisando a
aplicação prática dessas informações através da prevalência da doença cárie nas
mesmas e em seus filhos. Utilizou-se uma entrevista com perguntas referentes a
hábitos alimentares e conhecimentos e hábitos de higiene bucal. Participaram da
pesquisa 300 pares de mães e crianças com fissura na faixa etária entre 3 anos e 5
anos e 6 meses. A condição bucal das crianças e suas mães foram avaliadas por
meio de exame clínico intra-bucal, realizado por um único examinador treinado. Os
resultados demonstraram que 47,3% das mães tinham condição bucal insatisfatória
(Grupo A) e 52,7% satisfatória (Grupo B). O grupo de crianças do grupo A
apresentou “ceo-d” médio de 6,0 e para as crianças do grupo B o “ceo-d” médio foi
de 5,6, não havendo diferença estatisticamente significativa. As mães demonstraram
ter conhecimento razoável em relação à prevenção da cárie dentária e à higiene
bucal. Apesar do conhecimento em relação às causas e prevenção da cárie
dentária, outros fatores devem ser considerados como relevantes no processo de
desenvolvimento da doença. Pelo índice de cárie nas crianças e pela avaliação da
con
dição bucal das mães, provavelmente existe deficiência na prática dos mesmos.
Reforça
-se a necessidade de orientações constantes e aplicação de métodos
preventivos para evitar a cárie, pois para indivíduos que apresentam fissura, a
condição bucal satisfatória é fundamental para o processo reabilitador.
48
outros estudos que mostram o comprometimento bucal pela cárie em
pacientes com fissura em idades precoces. Murata (2003) realizou estudo
transversal no HRAC USP, visando investigar a conduta dos pais frente a
higienização bucal de crianças com fissura e os obstáculos encontrados na
realização de tais procedimentos. A autora verificou também se estes fatores
poderiam estar relacionados à ocorrência de cárie em faixas etárias precoces. Para
tanto, foram selecionados 150 pacientes com idade entre 0 a 36 meses, sendo que
os pais ou responsáveis responderam questionário sobre os hábitos de higiene
bucal. Após a entrevista o bebê foi examinado por um único odontopediatra para
avaliação da condição dental. Na faixa etária entre 0 a 12 meses, houve maior
freqüência no relato da temerosidade em limpar a área da fissura, diminuindo esta
ocorrência com a progressão da idade e a realização das cirurgias. Crianças na
faixa etária entre 25 e 36 meses foram mais acometidas pela cárie, através de
lesões cavitadas e/ou mancha branca, sendo também o grupo onde houve maior
ocorrência de dificuldades relatadas pelos pais. A autora sugeriu que no momento
da transmissão das informações, o cirurgião-dentista deve atuar na desmis
tificação
dos possíveis obstáculos, tais como o medo ou o receio em realizar a higiene bucal,
já que estes podem interferir na manutenção da saúde bucal de crianças com
fissura.
Na primeira infância, outro estudo transversal foi desenvolvido por
Silva
(20
03) no HRAC USP, com o objetivo de pesquisar os hábitos de aleitamento e a
doença cárie, incluindo lesões incipientes. Foram avaliados 179 pacientes na faixa
etária de 6 a 36 meses, com fissuras labiopalatais em que houvesse
comprometimento de arco alveolar. Os pacientes foram divididos em 3 grupos de
acordo com o tipo de fissura: fissura completa de lábio e palato unilateral (n: 100),
49
fissura completa de lábio e palato bilateral (n: 37) e fissura de lábio e alvéolo (n: 42).
No grupo de pacientes com fissura de lábio e envolvimento do rebordo alveolar
47,61% tinha como hábito adormecer mamando ou mamar durante a noite. O índice
“ceo
-d” encontrado foi 0,38 e 0,78 quando incluídas as lesões de mancha branca.
Ao analisar-se os pacientes com fissura de lábio e palato unilateral, 61% ingeria o
leite para adormecer ou durante o sono. Neste grupo o “ceo
-
d” foi 1,18 e 1,77 com e
sem mancha branca, respectivamente. Dos bebês que apresentavam fissura de
lábio e palato bilateral, 54,05% adormeciam mamando ou mamavam durante a
noite. O “ceo-d” neste grupo foi 1,0, aumentando para 1,62 quando computadas as
lesões iniciais. Ao se analisar o grupo total de pacientes observou-se que 39,1%
mamavam durante a noite. O índice “ceo-d” encontrado para o grupo total foi 0,95.
Incl
uindo
-se as lesões de “mancha branca” o índice elevou-se para 1,5. Concluiu-
se
que bebês fissurados apresentam hábitos de amamentação inadequados que,
somados aos fatores de risco inerentes à malformação tornam esta população
susceptível ao desenvolvimento
da cárie dentária na primeira infância.
Besseling e Dubois (2004) descreveram a prevalência de cárie em crianças
com fissura em hospitais de cinco diferentes cidades no Vietnã. Participaram da
pesquisa 154 crianças com fissuras de lábio, palato ou ambos, distribuídas em
grupos de idades de 4 a 6 anos, 11 a 13 anos e 14 a 16 anos. Em todos os grupos
etários as crianças foram divididas em 4 grupos de fissuras sendo os mesmos as
fissuras de lábio ou lábio e alvéolo, fissura de lábio e palato unilateral, fissura de
lábio e palato bilateral e fissura de palato. Os exames foram realizados de acordo
com os critérios preconizados pela OMS com o uso dos Índices “ceo-d” e “CPO-
D”,
sem a realização de radiografias. A média de dentes afetados pela cárie foi 9,95
para
as crianças de 4 a 6 anos, 2,97 para o grupo de 11 a 13 anos e 4,93 para 14 a
50
16 anos. No grupo de 4 a 6 anos, as crianças com fissura de lábio e palato uni ou
bilaterais tiveram índice “ceo-d” significantemente mais alto do que as crianças de
mesma idade
com fissura de lábio ou palato. Concluiu
-
se que as crianças fissuradas
vietnamitas apresentaram alto número de dentes afetados pela cárie e portanto, elas
necessitam de especial atenção para a sua saúde bucal.
2.4.
Doença Periodontal em Pacientes com Fissura
As alterações periodontais em pacientes fissurados também têm sido
observadas na literatura.
Bragger et al.
(1985) avaliaram os hábitos de higiene bucal
e a condição periodontal de um grupo de adolescentes com fissura labiopalatal.
Participaram da pesqu
isa 120 pacientes com diferentes tipos de fissura que estavam
em fase final do tratamento multidisciplinar. A porcentagem de superfícies cobertas
com placa foi alta, variando de 65% nas fissuras isoladas de lábio a 77% nas
fissuras isoladas de palato. Resultados similares foram encontrados com relação ao
sangramento gengival, variando de 65% em pacientes com fissura de lábio, a 79%
nos pacientes com fissura de palato. Os autores não encontraram diferenças
estatisticamente significantes na condição periodontal entre os diferentes tipos de
fissura. A condição periodontal precária foi atribuída ao longo tempo de duração do
tratamento ortodôntico. Devido à higiene bucal deficiente grande parte dos pacientes
apresentou início de periodontite, com perda de inserção e envolvimento de furca.
Os pesquisadores salientaram que devido à necessidade da realização do
51
tratamento ortodôntico por longos períodos, os pacientes devem ser submetidos a
programas que visem a prevenção para saúde bucal em época precoce.
Com o objetivo de avaliar a saúde bucal de crianças atendidas em um centro
de atendimento para fissurados na Suécia, Dahllöff et al. (1989) realizaram estudo
com 49 pacientes, cuja idade variava entre 5 e 6 anos. As crianças avaliadas tinham
fissura labiopalatal e três delas apresentavam outras más-formações associadas.
Para fins de comparação, os autores dividiram o grupo em pacientes com fissura
que envolvia alvéolo (25) ou fissura isolada de lábio ou de palato (24). Todos os
pacientes foram examinados pelos pesquisadores e os pais foram questionados
sobre a freqüência de higiene bucal. Os resultados obtidos foram comparados a um
grupo controle sem a presença da malformação e com média de idade similar. A
inflamação gengival foi estimada pelo índice de sangramento gengival, onde cada
superfície foi avaliada pelo sangramento à sondagem do sulco gengival. As crianças
do grupo com fissura apresentaram maior número de unidades com gengivite, com
média de 11 superfícies sangrantes à sondagem, contra 5 superfícies no grupo
controle. A diferença entre os dois grupos foi mais forte quando apenas a região
ântero
-superior era examinada. Para os autores, este comprometimento gengival
em pacientes fissurados ocorre devido à fibrose cirúrgica e às alterações
anatômicas causando di
ficuldades de higiene na região anterior.
Bragger et al. (1992) avaliaram a taxa de progressão da doença periodontal
no período de 8 anos com grupo de 52 pacientes adultos com fissura labiopalatal,
fato considerado de risco para a doença periodontal. Para os pesquisadores, um
especial interesse deve ser dado à progressão da doença periodontal na área da
fissura, quando comparada às mudanças ocorridas em outras áreas. Nos exames
realizados em 1979 e 1987 foram observados altos e generalizados índices de
52
acú
mulo de placa e de sangramento gengival, sugerindo que outras pesquisas
deveriam ser realizadas para demonstrar as mudanças nas condições periodontais
dos pacientes com fissura.
No mesmo ano, Teja et al. (1992) realizaram estudo para comparar a
condição periodontal de dentes adjacentes à fissura a dentes contralaterais em
indivíduos com fissura unilateral que não haviam sido submetidos à cirurgia de
enxerto. Os resultados observados demonstraram que os dentes adjacentes à fenda
estavam afetados por inflamação gengival. Ainda, o defeito anatômico, padrão de
erupção, movimentações ortodônticas e a presença de restaurações contribuíram
para reduzir o nível ósseo do incisivo central superior adjacente à fissura e a
presença de gengivite.
Paul e Brandt (1998) avaliaram a saúde bucal de 114 crianças atendidas em
duas clínicas de atenção para fissurados no Reino Unido. Os pacientes tinham
idade entre 3 e 18 anos e foram divididos em grupos de acordo com o tipo de
fissura, sendo: fissura de lábio e/ou alvéolo, fissura de lábio e palato e fissura de
palato. No grupo total, a média do índice de sangramento gengival (ISG) foi 0,4. A
média do ISG foi combinada para os grupos de fissura de lábio e fissura de lábio e
palato, onde o ISG médio foi de 1,0. Comparado ao grupo de pacientes com fissura
de palato isolada (ISG: 0,7), houve diferença estatisticamente significante. Ainda, os
pacientes com fissura de palato apresentavam melhor nível de saúde oral (93,2%)
do que os pacientes com fissura envolvendo lábio (84,7%). Os autores observaram
que no segmento anterior o comprometimento gengival foi maior do que no
segmento posterior, enquanto que, comparando o segmento posterior do lado
fissurado com o não fissurado não houve diferença estatisticamente significante.
Com relação aos arcos superiores e inferiores, houve comprometimento significante
53
maior no arco superior. No entanto, comparando-se as fissuras unilaterais e
bilaterais, não houve diferença significativa. Para os pesquisadores, a pobre saúde
gengival, em especial no segmento anterior, decorre das dificuldades de higiene
ocasionadas pelas características da fissura. Sendo assim, os autores recomendam
integração entre pacientes, responsáveis e profissionais da área odontológica.
Outro estudo realizado por Schultes et al. (1999) avaliou lesões periodontais
em 30 pacientes com fissura unilateral de lábio, palato e alvéolo, classificando a
doença de acordo com o ICNTP. Os autores observaram também o estado de
higiene bucal pelo Índice de Placa. A maioria dos pacientes apresentava pobre
higiene bucal. O índice ICNTP 1 e 2 foi observado em 7%, índice 3 em 43% e 4 em
50% dos pacientes com fissura de lábio e palato. O nível de doença periodontal em
pacientes com fissura de palato foi similar ao observado na população em geral.
Porém, os pacientes com fissura de lábio, palato e alvéolo tinham predisposição à
destruição periodontal dos dentes adjacentes à fenda, o que revela a crítica situação
de saúde periodontal em pacientes fissurados.
Ainda em 1999, Gaggl et al. (1999) relataram sobre a doença periodontal em
30 pacientes que apresentaram fissura de palato, 20 com fissura de lábio e palato
bilateral e 30 com fissura de lábio, palato e alvéolo unilateral. O sangramento
gengival estava presente em 63% dos dentes e na área adjacen
te à fissura 93% dos
pacientes apresentaram sangramento. Os pacientes com fissura de palato
apresentaram menor índice de sangramento gengival, considerado pelos
pesquisadores semelhante ao da população em geral. Pacientes com os demais
tipos de fissura apresentaram uma crítica situação periodontal, em especial na área
da fenda. Por fim, os autores enfatizaram que medidas intensas de higiene oral
54
adotadas pelos pacientes com fissura previnem ou diminuem a extensão da doença
periodontal.
No Brasil, Lages (1999) avaliou a condição periodontal de 78 indivíduos
fissurados na faixa etária de 1 a 32 anos. Na pesquisa utilizou-se parâmetros
clínicos periodontais clássicos apresentados na literatura, como aumento de volume,
sangramento à sondagem, profundidade de s
ondagem, perda de inserção, recessão
gengival e cálculo dental. Considerando as duas dentições, apenas 5,3% dos
indivíduos apresentaram saúde periodontal, 86,6% apresentaram gengivite e 8%
periodontite. Levando-se em conta somente a gengivite, na faixa etária de 1 a 5
anos, o percentual de indivíduos com a doença foi de 60%. Entre 6 e 12 anos,
96,7% apresentavam a doença e nas faixas etárias de 13 a 18 anos e 19 a 32 anos,
os percentuais atingidos foram 86,3% e 84,6%. Com relação a periodontite, entre 6
e 12 anos, 3,33% apresentaram a doença. O percentual de pacientes com a doença
nas faixas etárias de 13 a 18 anos e 19 a 32 anos elevou-se para 13,6% e 15,4%,
respectivamente. Para a autora, a condição periodontal dos pacientes fissurados
não difere dos padrõ
es comuns da população.
Lucas et al.
(2000) procuraram observar a saúde bucal de crianças fissuradas
atendidas no centro de reabilitação de Londres. Participaram do estudo 60 pacientes
com idade entre 3 e 15 anos que apresentavam fissura unilateral de lábio e palato.
Como grupo controle foram selecionadas 60 crianças não fissuradas porém, com
idade, etnia e classe social similar ao grupo teste. Para avaliação dos depósitos de
placa bacteriana os autores examinaram quatro faces dentais (mesial, distal,
vest
ibular e lingual) utilizando modificação do índice de OLeary que proporciona o
escore de placa. A presença de gengivite foi determinada por exame visual de cada
quadrante de dentes, sendo classificada como presente ou ausente. O índice de
55
sangramento gengival também foi observado. Os pesquisadores não observaram
diferença estatisticamente significante nos escores de placa bacteriana nas
dentaduras decídua e mista entre as crianças fissuradas e não fissuradas. O mesmo
aconteceu em relação aos escores de gengivite, não tendo diferença
estatisticamente significante entre o grupo de crianças fissuradas e o grupo controle.
Para os autores, esta similaridade na condição bucal entre os dois grupos ocorreu
devido à participação precoce das crianças fissuradas em programas preventivos.
Montandon, Duarte e Furtado (2001), examinaram 45 crianças com idade
compreendida entre 2 e 12 anos que apresentavam fissura labiopalatal e eram
atendidas no Núcleo de Reabilitação de Fissurados do Hospital Universitário –
UFPB. Por meio de exame clínico, os autores observaram alteração periodontal em
42% dos pacientes. A presença de doença periodontal foi relacionada diretamente à
presença de placa bacteriana e higienização deficiente. Secundariamente, os
autores relacionaram a doença à posição dental e dificuldade para introduzir a
escova, pela presença da fissura, dentes cariados, cicatriz labial e bridas cicatriciais.
Mesmo apresentando respiração bucal, somente os pacientes com higiene bucal
deficiente apresentaram inflamação gengival, sendo o ressecamento da mucosa o
fator indireto na etiopatogenia da doença. Como conclusão, os autores sugeriram a
necessidade de acompanhamento periódico e constante, realizando atividades
educativas e preventivas em um programa de atendimento para
fissurados.
Costa
et al. (2003), procuraram observar a condição periodontal, por meio de
exames clínicos e testes biológicos, em crianças com fissura unilateral de lábio e
palato e compararam os dados com crianças não fissuradas. O estudo foi realizado
no HRAC USP, Bauru e contou com a participação de 57 crianças, sendo 30 com
fissura e 27 sem a má formação, as quais apresentavam adequado estado de saúde
56
geral e tinham idade entre 5 e 6 anos. A média do índice de placa (IP) foi mais alta
(1,82 +- 0,3) do que no grupo controle (1,63 +- 0,38) sem haver, no entanto,
diferença estatisticamente significante entre os dois grupos. A média do índice
gengival (IG) nas crianças com fissura foi de 1,82 (+- 0,38), considerado
significantemente mais alto do que no grupo controle, onde o índice encontrado foi
de 0,79 (+- 0,33). Os autores compararam também os índices de placa e gengival
da área da fissura com áreas posteriores nos mesmos pacientes e puderam
observar diferença estatisticamente significante somente no IP. O estudo
demonstrou ainda que 81,48% das crianças com fissura e 73,33% das crianças sem
fissura apresentaram índice de placa considerado moderado, além de alta
prevalência de gengivite em 53,33% e 70,37%, respectivamente. A análise feita dos
microorganis
mos mostrou que 16,67% do grupo experimental e 11,11% do grupo
controle possuíam Prevotella nigrescens, no entanto, Porphyromonas gingivalis, e
Treponema denticola não foram detectados. Apesar de as crianças com fissura
apresentarem quantidade de placa similar a de crianças sem fissura, elas tiveram
uma maior prevalência de gengivite. Para os autores, este quadro demonstra a
necessidade de atenção regular e precoce à saúde periodontal de pacientes
fissurados, com a análise clínica e de fatores microbiológic
os.
2.5.
Atenção odontológica e o tratamento das fissuras
Shah e Wong (1980) discutiram sobre o manejo da criança com fissura
labiopalatal. Os autores afirmaram que muitos centros de atendimento à saúde têm
57
problemas no atendimento destas crianças, preferindo encaminhá-las para centros
de referência, em busca de reabilitação excelente. O processo reabilitador inicia em
fase precoce, devendo ser feita uma avaliação por equipe multidisciplinar que deve
acompanhar o paciente até a fase adulta. Cada membro desta equipe deve realizar
seu trabalho, porém as informações devem ser discutidas e analisadas em equipe.
Ou seja, os cuidados completos com a criança fissurada requerem o envolvimento
da equipe multidisciplinar e também a integração com a família. Sendo assim, o
paciente tem uma excelente reabilitação e isso permite também sua total integração
na sociedade.
Romero
-Maroto et al. (1999) enfatizam as alterações estéticas, fonéticas,
mastigatórias, além das alterações dentárias de número, forma, tamanho, posição
,
estrutura, tempo de formação e erupção, presentes nos pacientes com fissura
labiopalatal. Estas crianças requerem cuidados odontológicos para manter sua
saúde bucal, fundamental para o desenvolvimento do tratamento e para evitar os
colapsos alveolares decorrentes das perdas dentárias. No entanto, os autores
salientaram que o tratamento deve ser multidisciplinar, atendendo às necessidades
dos pacientes. Este tratamento integral requer adequada coordenação entre
odontopediatras, ortodontistas, cirurgiões, pediatras, fonoaudiólogos, psicólogos
entre outros profissionais. O êxito de tal tratamento requer o seguimento do mesmo
desde a infância até a idade adulta.
Visando conhecer as experiências e as atitudes dos pais de crianças
fissuradas no Reino Unido, Donagh et al. (2000) realizaram pesquisa sobre os
cuidados com a saúde bucal de 109 crianças na faixa etária de 4 a 8 anos, com
fissura labiopalatal. Do grupo avaliado apenas 2 crianças tiveram dificuldade de
acesso ao atendimento odontológico. Entre as crianças que tinham acesso ao
58
atendimento odontológico, 29% receberam tratamento restaurador, 9% foram
submetidas a exodontias, 69% dos pais receberam orientações de dieta e apenas
58% receberam instruções de higiene bucal. Segundo os autores, a inclusão do
odontopediatra na equipe de atendimento a fissurados facilitaria a identificação dos
pacientes considerados “de risco” e conseqüentemente, a provisão dos cuidados
necessários através do hospital. Porém, o especialista em odontopediatria o é
freqüentement
e incluído na equipe multidisciplinar. Outra observação foi que os pais
das crianças fissuradas gostariam de receber orientações preventivas dentro dos
centros de atendimento de fissurados, ou seja, a inclusão do odontopediatra na
equipe de atendimento dev
eria ser feita nos centros de reabilitação.
Corrobora com tais fatos, Rivkin et al. (2000) relatando sobre as
características necessárias para o atendimento odontológico da criança com fissura,
bem como o papel do odontopediatra no tratamento. Os autores enfatizaram a
importância da orientação dos pais a respeito das características bucais e dos
cuidados com a saúde bucal. Nestes encontros entre pais e profissional deve haver
um preparo para as cirurgias de lábio e de palato, o que torna-se oportuno para
discussão sobre a saúde bucal. Os autores salientaram que dor, contaminação e
exodontias decorrentes de lesões cariosas são ruins para as crianças, em especial
as fissuradas, que a perda precoce de dentes decíduos leva à perda de espaço
tornando o tratamento ortodôntico mais complexo. O cirurgião dentista deve ter
paciência para estabelecer boa comunicação com os pais nos primeiros anos, bem
como, conhecer a situação familiar. O atendimento deveria envolver além do exame
dental, orientações sobre higiene bucal, enfatizando a importância da mesma e da
necessidade de tração do lábio superior devido à fibrose cicatricial, para adequada
limpeza da região. Também são necessárias orientações sobre dieta e uso de
59
fluoretos e, em presenças de lesões cariosas o tratamento restaurador.
Fundamental também é a integração do cirurgião dentista com toda a equipe
profissional.
Os mesmos autores (Rivkin et al., 2000) discutem a respeito dos cuidados
com os pacientes fissurados em fase de dentadura mista até a fase adulta. O
cirurgião dentista novamente tem papel chave na prevenção em saúde bucal. A boa
condição bucal continua sendo primordial na fase de dentadura mista e o
envolvimento da família é fundamental. O trabalho de prevenção deve continuar
envolvendo orientações de dieta e de higiene bucal adaptando a mesma às
características bucais dos pacientes fissurados, dando especial atenção ao
tracionamento do lábio superior na região da fibrose. Selantes de fissuras e
aplicação de fluoretos devem ser feitos visando a prevenção. No caso de lesões
cariosas, o paciente deve ser submetido ao tratamento restaurador, sempre
havendo comunicação e integração da odontologia com as demais áreas da equipe
multiprofissional. Todos estes cuidados preventivos ou reabilitadores executado
s em
fase de dentadura mista devem ser seguidos até a fase adulta, possibilitando a
progressão adequada do tratamento ortodôntico e cirúrgico.
Augusto et al. (2003) através de uma revisão de literatura abordaram
aspectos clínicos, repercussões e considerações relacionadas ao tratamento da
fissura labiopalatal. A motivação para educação em saúde bucal deve ser iniciada
em fases precoces da vida, no caso do paciente portador de fissura este é um dado
ainda mais importante, pois os pais, preocupados com a reabilitação estética,
relegam ao segundo plano os cuidados odontológicos de suas crianças. Há,
portanto, grande necessidade da participação de médicos pediatras no auxilio ao
odontopediatra, na conscientização para educação em saúde bucal. Também
60
enfatizaram
ser indispensável o acompanhamento periódico e constante
preventivo/educativo com o acompanhamento de, no mínimo, dois profissionais em
um programa de atendimento aos fissurados: um odontopediatra e um ortodontista,
para que seja mantida a saúde bucal dos fissurados e para que sejam minimizadas
as alterações decorrentes do crescimento maxilar.
Corroboram Silva, Passold e Carcereri (2004) relatando a importância de
promover a saúde bucal do paciente fissurado durante todas as fases do tratamento
reabilitador. Para estes autores, o programa de saúde bucal deve envolver
adequação do meio bucal, tratamento restaurador convencional e consultas de
retorno para acompanhamento. No entanto, salientaram a necessidade de se
analisar o paciente em seus contextos biológicos e psicossociais, buscando um
programa de saúde exeqüível de acordo com sua história de vida.
Com objetivo de avaliar a saúde bucal e a qualidade de vida de pacientes
fissurados, Cardoso, Caldas Jr. e Jovino-Silveira (2005), realizaram um estudo
tran
sversal envolvendo 105 pacientes, no Instituto Materno Infantil de Pernambuco.
Para avaliar o impacto da saúde bucal e da fissura na qualidade de vida foi utilizado
o índice de Impactos Odontológicos no Desempenho Diário (IODD). Os autores
coletaram os dados por meio de entrevista estruturada, pela qual investigaram
também dados socioeconômicos e demográficos. A fissura causou alto impacto e o
IODD obteve pontuação de 80,0 a 100,0 em 74,3% dos pacientes avaliados. Os
pacientes indicaram que a qualidade de vida estava relacionada à saúde, entre
outros. Sendo assim, os autores concluíram que a saúde bucal comprometida pela
fissura labiopalatina provocou impactos significativos na qualidade de vida dos
entrevistados.
61
3.
PROPOSIÇÃO
3.1.
Objetivo Geral
Avaliar as condições bucais, referentes à cárie e a doença periodontal, de
pacientes com fissura labiopalatal participantes do programa de manutenção de
saúde bucal oferecido no Núcleo de Odontopediatria do Centro de Atendimento a
Pacientes Portadores de Deformidade Facial da Universidade Federal de Santa
Catarina (NOP CAPADF UFSC), no período de setembro de 2004 a maio de
2005.
3.2.
Objetivos Específicos
3.2.1.
Fatores socioeconômicos
Estudar o perfil dos sujeitos envolvidos no estudo e dados socioeconômicos
que possam ter influência no desenvolvimento da cárie dentária e da doença
periodontal
.
3.2.2.
Doenças bucais
62
3.2.2.1.
Avaliar o índice de placa visível (IPV) apresentado pelos pacientes
participantes do programa de manutenção de saúde bucal do NOP
CAPADF.
3.2.2.2.
Pesquisar o índice
de sangramento gengival (ISG) de pacientes
participantes do programa de manutenção de saúde bucal do NOP
CAPADF.
3.2.2.3.
Avaliar a cárie dentária através do índice ceo
-
s/CPO
-
S, incluindo lesões
incipientes em forma de mancha branca com os pacientes participantes
do
programa de manutenção de saúde bucal do NOP
CAPADF.
63
4.
CASUÍSTICA, MATERIAL
E MÉTODO
Conforme a Resolução n. 196 de 10 de outubro de 1996, do Conselho
Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), esta pesquisa foi submetida previamente à
realização, à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC, sendo
aprovada sob a avaliação do projeto 221/2004 (Anexo 1). O presente estudo
tratou-
se de uma pesquisa epidemiológica longitudinal.
4.1.
Casuística
Foram convidados a participar da pesquisa os pacientes com fissura
labiopalatal, sem distinção de raça ou sexo, atendidos no NOP - CAPADF - UFSC,
participantes do programa de manutenção de saúde bucal oferecido na instituição,
que compareceram entre os meses de setembro a novembro de 2004 para a
consulta de controle odontológico periódico. Esta consulta de controle constitui parte
integrante do programa de manutenção de saúde bucal oferecido em tal instituição.
Os pacientes foram incluídos na pesquisa a partir da concordância dos pais e/ou
responsáveis ou da
autorização do próprio paciente quando este era de maior idade.
Ao concordarem em participar, solicitou-se a assinatura do “Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido” (Apêndice A).
Foram avaliados 43 pacientes que receberam alta após o término do
tratame
nto odontológico e que tinham comparecido para pelo menos 1 consulta de
64
controle, sendo que o período de controle poderia variar de no mínimo 1 a no
máximo 6 meses, de acordo com o risco individual de desenvolvimento de novas
lesões cariosas e de alteraçõe
s peridontais.
Os pacientes que apresentassem comprometimento sistêmico, como por
exemplo determinadas cardiopatias que contra
-
indicasse a sondagem dental, seriam
excluídos da pesquisa.
4.2.
Material
Para avaliação das condições bucais foram utilizados kits de exame clínico,
previamente esterilizados, contendo espelho bucal plano, pinça clínica, sonda
periodontal com ponta esférica de 0,5 mm preconizada pela Organização Mundial
da Saúde (1997) para levantamentos epidemiológicos. Como materiais auxiliares
para a realização dos exames clínicos, foram utilizados roletes de algodão e
sugadores descartáveis. Os dados referentes ao exame clínico intra-bucal foram
anotados em fichas próprias utilizadas para as consultas de retorno, utilizadas no
NOP
CAPADF
UFS
C (Anexo 2).
Os dados referentes à identificação do paciente, bem como às suas
características sócio
-econômicas foram anotados em fichas individuais, previamente
elaboradas, por meio de um questionário (Apêndice B). Este questionário foi
aplicado aos pais e/ou responsáveis em forma de entrevista realizada sempre pela
própria pesquisadora.
65
4.3.
Método
4.3.1.
Avaliação das condições bucais
Para o desenvolvimento da pesquisa não foi realizada nenhuma modificação
no método de atendimento do paciente participante do programa de manutenção de
saúde bucal oferecido no NOP CAPADF - UFSC, isto é, o paciente recebeu o
mesmo atendimento educativo, preventivo e clínico que receberia caso não
estivesse participando da pesquisa.
Todos os atendimentos, bem como, os exames foram realizados pela mesma
cirurgiã
-dentista, com auxílio de estagiários do curso de graduação em Odontologia,
nas dependências da clínica odontológica do CAPADF - UFSC. Quando indicado, o
paciente recebia aplicação tópica de flúor gel ou ainda, outras formas de fluoretos
como a aplicação de verniz ou prescrição de bochechos diários de fluoreto de sódio
a 0,05%. Em caso de necessidade de outros atendimentos, o paciente recebia
encaminhamento para os mesmos.
4.3.1.1 Índice de placa visível
O paciente era acomodado na cadeira odontológica sendo que esta ficou
posicionada de modo ergonômico para que facilitasse a realização dos exames.
Após o posicionamento do paciente foi avaliado o Índice de Placa Visível (IPV),
descrito por Opperman e Rösing (1999) para observação da placa bacteriana
66
presente no momento. Este exame foi realizado sob iluminação de refletor
odontológico, com auxílio de espelho bucal plano e seguiu o sentido horário,
iniciando a partir do último molar superior direito. Todas as faces de todos os
elementos dentários foram examinadas. Quando a placa bacteriana apresentava-
se
visível, a face correspondente recebia o valor “1”. Ao contrário, quando a placa não
era visível, a face dentária recebia o valor “0”.
4.3.1.2 Índice de sangramento gengival
Após a avaliação do índice de placa visível, foi avaliado o Índice de
Sangramento Gengival (ISG), conforme descrito por Opperman e Rösing (1999),
com auxílio de espelho bucal plano para visualização e sonda periodontal IPC, sob
iluminação de refletor. Novamente, seguiu-se o sentido horário, tendo o exame se
iniciado a partir do ultimo molar superior direito. Todas as faces dos dentes foram
avaliadas, com exceção da face oclusal. A sonda foi inserida levemente e percorria
delicadamente o sulco gengival por toda sua extensão. Quando o sangramento
gengival não estava presente, a região recebia o valor “0”. Em caso de ocorrência
de sangramento gengival, a face correspondente recebia o valor “1”.
4.3.1.3 Índice ceo
-
s/CPO
-S
Previamente ao exame para avaliação das condições dentárias, o paciente
realizava escovação supervisionada. Não foi realizada a revelação de placa com
corantes próprios para este fim devido à possibilidade de dificultar a visualização e o
diagnóstico de lesões cariosas incipientes em forma de mancha branca. A
67
escovação dentária e o uso de fio dental foram supervisionados pela pesquisadora e
por um acadêmico do curso de graduação em Odontologia participante de estágio
como auxiliar de atendimento do NOP CAPADF UFSC. Após a higienizaç
ão
bucal no escovário da clínica, foi realizado o exame clínico para avaliação de cárie
dentária.
O paciente era novamente acomodado na cadeira odontológica, sob
iluminação de refletor. Nestes exames foi utilizado espelho bucal plano e sonda
milimetrada
IPC. Optou-se pelo uso deste instrumental devido aos possíveis danos
causados pela sonda exploradora convencional pois, além de propiciar a
transferência de microorganismos patogênicos, pode haver lesão e ruptura de
esmalte fragilizado devido a processos de desmineralização do mesmo. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza a sonda IPC para levantamentos
epidemiológicos que esta pode ser utilizada para a remoção de detritos sem
causar rompimento de esmalte dentário.
Os exames foram realizados pela mesma cirurgiã-dentista, previamente
calibrada para a avaliação da cárie dentária. A concordância intra-examinador foi
avaliada pelo teste Kappa, realizado no estudo piloto, onde obteve-se a
concordância de 0,98 (98% de acerto). A OMS recomenda que a conc
ordância intra
-
examinador seja de 0,85 a 0,95 (85% a 95% de acerto) em levantamentos
epidemiológicos da doença cárie. Não foi realizada calibração para os índices IPV e
ISG, pois os mesmos não avaliam diferentes critérios relacionados à quantidade de
placa
e de sangramento, mas somente sua presença.
Os dentes foram secos por jatos de ar comprimido e foram usados roletes de
algodão e sugadores descartáveis para o isolamento relativo, o que proporcionou
uma melhor observação no momento do exame. O exame seguiu o sentido horário,
68
iniciando a partir do último molar superior direito. O dente foi considerado irrompido
quando qualquer parte do mesmo estivesse visível, ou seja, extragengival. Caso
houvesse ainda a presença de placa bacteriana que dificultasse o exa
me clínico, era
realizada novamente a remoção da placa pela profissional, com uso de algodão ou
auxílio da sonda IPC.
Para o levantamento da cárie dentária, optou-se por seguir os critérios da
OMS (1997), pois os mesmos são universalmente conhecidos e fr
eqüentemente
utilizados na literatura da área (Anexo 3). Entretanto, incluiu-se o diagnóstico de
lesões incipientes em forma de manchas brancas, por tratar-se de uma pesquisa
para acompanhamento dos pacientes submetidos ao controle odontológico.
Também por
este mesmo motivo, o diagnóstico da doença cárie dentária foi feito por
superfície dentária, e não apenas por elemento dental, tornando assim a avaliação
mais criteriosa. As lesões cariosas incipientes em forma de “manchas brancas”
foram registradas de ac
ordo com o critério clínico:
(mba) mancha branca ativa: Presença de uma ou mais áreas de
desmineralização do esmalte com perda de translucidez e coloração branca-
opaca,
superfície rugosa e sem cavitação (THYLSTRUP; FEJERSKOV, 1988).
(mbi) mancha branca i
nativa:
Presença de áreas desmineralizadas em
período anterior, com brilho/translucidez normal e coloração branca ou com
pigmentação, superfície lisa e sem cavitação (THYLSTRUP; FEJERSKOV, 1988)
Devido ao pequeno número de pacientes, optou-se por não apresentar os
valores médios dos índices ceos e CPOS por tipo de fissura. Os índices IPV, ISG,
ceos e CPOS foram investigados ao início e ao final da pesquisa para comparação,
bem como a avaliação das manchas brancas ativas. O exame odontológico foi
repetido
pela mesma profissional, sob as mesmas condições, após 6 meses, para
69
que se verificasse a atividade da doença periodontal, da cárie dentária e o
surgimento de novas lesões cariosas, o que mostrou a incidência da doença.
4.3.2.
Aplicação do questionário
Após o atendimento inicial do paciente, foi aplicado um questionário aos
pais/responsáveis ou com o próprio paciente quando este era de maior idade. Este
questionário foi realizado como uma entrevista pela mesma cirurgiã-dentista e visou
investigar dados socioec
onômicos relacionados aos pacientes (Apêndice B).
4.3.3.
Análise dos resultados
Os dados obtidos foram distribuídos em planilhas e submetidos à análise
estatística para discussão.
70
5.
RESULTADOS
Visando melhor entendimento, os dados coletados foram agrupados e
m
tópicos conforme o perfil da amostra e informações socioeconômicas, além das
condições bucais dos pacientes.
5.1.
Dados de identificação e informações socioeconômicas:
Para análise dos dados coletados optou-se pela descrição de variáveis,
através de médi
a, desvio padrão, tabelas e gráficos.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
4 7 9
10 11 12 13 14 15 17 23 24 25
Idades
Freqüência (%)
Gráfico 5.1
-
Distribuição dos pacientes de acordo com a idade.
71
Tabela 5.1
-
Características da amostra quanto à idade
Idade
Média
11,6
Desvio Padrão
4,5
Mínimo
4
Máximo
25
Pré forame
Pós forame
Trans bilateral
Trans unilateral
Tipo de Fissura
20
15
10
5
0
Média Idade (anos)
Error bars: +/- 1,00 SD
Gráfi
co 5.2
-
Média e desvio padrão da idade em cada tipo de fissura.
72
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Trans unilateral
Trans bilateral
s forame Pré forame
Tipo de Fissura
Freqüência (%)
Gráfico 5.3
-
Distribuição dos pacientes de acordo com o tipo de fissura.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
Grande Fpolis
Norte
Sul
Oeste Vale do Itajaí Planalto
Serrano
Região de Moradia
Freqüência (%)
Gráfico 5.4 - Distribuição dos pacientes de acordo com a região catarinense de
origem.
73
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
Primário
incompleto
Primário
completo
Ginásio
incompleto
Ginásio
completo
2 grau
incompleto
2 grau
completo
Superior
incompleto
Escolaridade da M
ãe
Freqüência (%)
Gfico 5.5 - Distribuição dos pacientes de acordo com o grau de escolaridade da
mãe.
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Própria
Alugada
Urbana
Rural
Residência Localizão
Freqüência (%)
Gráfico 5.6 - Distribuição dos pacientes de acordo com a localização e propriedad
e
residencial.
74
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
Até 2
2 a 4 4 a 6
Renda Familiar (salários mínimos)
Freqüência (%)
Gráfico 5.7 - Distribuição da amostra de acordo com a renda familiar em salários
mínimos.
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
Próprio
SUS
Recursos para atendimento
Freqüência (%)
Gráfico 5.8 - Distribuição da amostra de acordo com os recursos utilizados para
comparecer
ao atendimento.
75
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
Sim
Não
Água Fluoretada
Freqüência (%)
Gráfico 5.9
-
Distribuição da amostra de acordo com o acesso à água fluoretada.
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
120,0
Bochecho
ATF
Outras fontes de flúor
Frequencia (%)
Gráfico 5.10
-
Distribuição da amostra de acordo com a utilização de fluoretos.
76
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
Sim
Não
Atendimento fora CAPADF
Freqüência (%)
Gráfico 5.11 - Distribuição da amostra de acordo com o acesso ao serviço
odontológico fora do CAPADF.
0
10
20
30
40
50
60
70
Sim
Não
Sim
Não
Procura por vaga fora CAPADF Conseguiu vaga fora
Freqüência (%)
Gráfico 5.12 - Distribuição da amostra de acordo com a procura por serviços
odontológicos.
77
5.2.
Condições bucais
Para a análise das condições bucais dos pacientes foi realizada uma
comparação entre os valores iniciais e após seis meses do IPV, ISG, da experiência
de cárie acumulada (englobando ceos e CPOS) e a quantidade de manchas
brancas ativas em toda a amostra.
Os gráficos e tabelas na se
qüência ilustram os dados apresentados.
0
1
2
3
4
5
6
Inicial
Final
Inicial
Final
IPV
ISG
Variável
Média (%)
Gráfico 5.13
-
Comparação entre os valores iniciais e finais de IPV e ISG.
As tabelas na seqüência demonstram os resultados apresentados no gráfico
5.13.
78
Tabela 5.2
-
Descrição dos índices IPV e ISG da amo
stra
Variável
Período
N
Média
Desvio Padrão
Erro Padrão
Inicial
43
4,799
4,639
0,707
IPV
Final
43
4,327
3,877
0,591
Inicial
43
1,704
3,198
0,488
ISG
Final
43
1,771
2,637
0,402
Tabela 5.3
-
Comparação dos valores iniciais e finais dos índices IPV
e ISG
Diferenças pareadas
Intervalo de
Confiança 95%
Final
-
Inicial
Média
Desvio
Padrão
Erro
Padrão
Inferior
Superior
t
gl
p
IPV
-
0,47
4,08
0,62
-
1,73
0,79
-
0,76
42
0,45
ISG
0,07
2,93
0,45
-
0,83
0,97
0,15
42
0,88
79
Pré forame
Pós forame
Trans bilateral
Trans unilateral
Tipo de Fissura
10,00
5,00
0,00
Média
ISG final
ISG inicial
IPV final
IPV inicial
Error bars: 95,00% CI
Gráfico 5.14 - Ilustração dos valores iniciais e finais de IPV e ISG em cada tipo de
fissura.
As diferenças entre os valores iniciais e finais do IPV e ISG são pequenas,
não havendo também diferenças significativas entre os diversos tipos de fissura,
representado no gráfico acima no qual as barras verticais indicam o intervalo de
confiança de 95%.
80
Pré forame
Pós forame
Trans bilateral
Trans unilateral
Tipo de Fissura
6,00
4,00
2,00
0,00
-2,00
-4,00
-6,00
Média
Alteração ISG
Alteração IPV
Error bars: 95,00% CI
Gráfico 5.15
-
Média e Intervalo de Confiança da alteração no IPV e ISG nos tipos de
fissura.
Os grupos de diferentes tipos de fissura foram comparados através de análise
de
variância. A análise indicou não haver diferenças entre os tipos de fissura quanto
à alteração no IPV e ISG.
81
Tabela 5.4
-
Descrição de variação do IPV e ISG da amostra.
Intervalo de
Confianç
a 95%
Variável
Tipo de Fissura
N
Média
Desvio
Padrão
Erro
Padrão
Inferior
Superior
Trans unilateral
19
-
0,926
4,599
1,055
-
3,143
1,290
Trans bilateral
7
0,667
3,365
1,272
-
2,445
3,779
Pós forame
6
2,563
2,479
1,012
-
0,038
5,165
Pré forame
11
-
2,065
3,536
1,066
-
4,441
0,310
IPV
Total
43
-
0,471
4,084
0,623
-
1,728
0,785
Trans unilateral
19
-
0,109
4,025
0,923
-
2,050
1,831
Trans bilateral
7
0,411
1,089
0,411
-
0,595
1,418
Pós forame
6
1,458
1,945
0,794
-
0,582
3,499
Pré forame
11
-
0,605
1,580
0,476
-
1,667
0,456
ISG
Total
43
0,067
2,930
0,447
-
0,83
5
0,969
Tabela 5.5
-
Análise de Variância com base no desfecho alteração do IPV e ISG
Variável
Fonte de Variação
SQ
gl
QM
Valor F
p
Entre os grupos
96,215
3
32,072
2,070
0,120
Dentro dos grupos
604,322
39
15,495
Alteração IPV
Total
700,537
42
Entre os grupos
18,011
3
6,004
0,683
0,568
Dentro dos grupos
342,651
39
8,786
Alteração ISG
Total
360,662
42
82
Para apresentação dos índices ceos e CPOS iniciais e finais são
apresentados os gráficos em forma de histograma de freqüência, mostrando a
distribuição dos pacientes e os índices de cárie dentária.
30
25
20
15
10
5
0
CEOS inicial
15
12
9
6
3
0
Freqüência
Mean = 6,3
Std. Dev. = 7,883
N = 30
Gráfico 5.16
-
Índice ceos inicial.
Pode
-se observar que o índice ceos inicial médio foi 6,3, tendo sido incluídos
30 pacientes, os quais possuíam dentes decíduos.
83
30
25
20
15
10
5
0
CEOS final
14
12
10
8
6
4
2
0
Freqüência
Mean = 5,97
Std. Dev. = 7,509
N = 29
Gráfico 5.17
-
Índice ceos final.
O índice médio ceos final foi 5,97 onde foram incluídos nesta segunda
avaliação apenas 29 pacientes, os quais possuíam dentes decíduos. Sendo assim,
a experiência de cárie da amostra na dentadura decídua diminuiu 0,37 (± 1,07). Tal
fato deveu-se à exfoliação de dentes decíduos bem como a realização de extrações
indicadas pelos núcleos de Ortodontia e/ou Cirurgia Bucomaxilofacial do CAPADF.
O índice CPOS médio inicial foi de 5,7 sendo incluídos 40 pacientes. Ao final
do período, o índice médio foi alterado para 6,1.
84
50
40
30
20
10
0
CPOS inicial
30
25
20
15
10
5
0
F r e qü ê nc ia
Mean = 5,7
Std. Dev. = 8,525
N = 40
Gráfico 5.18
-
Índice médio do CPOS inicial.
50
40
30
20
10
0
CPOS final
25
20
15
10
5
0
Fr e qüê nc ia
Mean = 6,1
Std. Dev. = 8,59
N = 40
Gráfico 5.19
-
Índice médio do CPOS final.
85
De acordo com os índices CPOS observados no início e ao final da pesquisa,
o incremento de cárie dentária nos dentes permanentes em tal período foi de 0,37 (
±
0,817).
Com relação à experiência de cárie acumulada, englobando ceos + CPOS,
não houve variação no período, que o incremento do CPOS e a exfoliação de
dentes decíduos afetados por cárie, além das exodontias indicadas por outros
núcleos do CAPADF, foi semelhante no intervalo de tempo de realização da
pesquisa.
Variação de Cárie Acumulada
Cárie Acumulada Final
Cárie Acumulada Inicial
10
5
0
Média
Error bars: 95,00% CI
Gráfico 5.20
-
Experiência de cárie acumulada
86
0
2
4
6
8
10
12
Inicial Final Inicial Final Inicial Final
CEOS CPOS
Cárie Acumulada
Variável
Média
Gráfico 5.21 - Comparação entre os valores iniciais e finais de ceos, CPOS e cárie
acumulada.
Para avaliar de modo mais detalhado o que aconteceu com as lesões
cariosas em forma de manchas brancas inicialmente ativas, foi utilizado o teste de
proporções (qui-
quadrado
). A comparação entre os valores iniciais e finais destas
lesões pode ser observada nos gráficos 5.22 e 5.23.
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
Inicial
Final
MBA
Média
Gráfico 5.22
-
Comparação entre os valores iniciais e finais de MBA.
87
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Permaneceu Inativou Cavitou
MBA inicial
Proporção (%)
Gráfico 5.23
-
Situação final das manchas brancas inicialmente ativas (p
<0,05).
Sendo assim, pode-se observar que uma pequena proporção de manchas
brancas que estavam ativas no período inicial apresentava-se inativa ao segundo
exame. A tabela 5.6 descreve a situação geral das manchas brancas nos períodos
inicial e final, dis
tribuídas de acordo com o tipo de fissura.
Tabela 5.6 - Descrição da situação inicial e final das MBAs de acordo com o tipo de
fissura.
Tipo de
Fissura
MBA inicial
MBA Final
Permaneceu ativa
Inativou
Cavitou
Nova
MBA
Transunilateral
4
13
1 1 2
12
Trans
bilateral
7 3 3 0 4 0
Pós forame
9 6 6 2 1 0
Pré forame
8 3 2 0 6 1
Total
28
25
12
3
13
13
88
Esta análise descritiva mostra que metade das manchas brancas que
permaneceram ativas ocorreu no grupo com fissura pós-forame incisivo, e a grande
maioria das novas manchas brancas ativas ocorreram no grupo com fissura
transforame incisivo unilateral. Não foi realizado teste estatístico devido ao pequeno
número de ocorrências dividido pelo numero de grupos. O gráfico a seguir ilustra os
dados da tabela 5.6.
Pré forame
Pós forame
Trans bilateral
Trans unilateral
Tipo de Fissura
14
12
10
8
6
4
2
0
Total de Lesões
Nova MBA
MB que cavitou
MB que inativou
PermMBA
MBA final
MBA inicial
Gráfico 5.24 - Ilustração da situação inicial e final de manchas brancas de acordo
com o tipo de fissura.
89
6.
DISCUSSÃO
No Brasil, há alguns trabalhos que abordam as condições de saúde bucal de
pacientes com fissura labiopalatal, seja na dentadura decídua (NEVES, 2002;
CASTILHO, 2003; MURATA, 2003; SILVA, 2003), mista ou permanente (LAGES,
1999; MONTANDON; DUARTE; FURTADO, 2001). A nível mundial, há também
relatos sobre o comprometimento da saúde bucal de indivíduos fissurados, seja
devido à ocorrência de cárie dentária (JOHNSEN; DIXON, 1984; LIN; TSAI, 1999),
ao comprometimento do periodonto (BRAGGER et al., 1985; TEJA et al., 1992;
GAGGL et al., 1999) ou ambos (DAHLLÖF et al., 1989; PAUL; BRANDT, 1998;
LUCAS et al., 2000). Entretanto, a maioria das pesquis
as preocupa
-
se somente com
a prevalência das doenças bucais em fissurados, sem considerar a progressão das
alterações e o acompanhamento das mesmas. Poucos são os estudos de incidência
e acompanhamento de saúde bucal de pacientes com fissura, sendo citados entre
eles Bragger et al. (1992), Bokhout et al. (1997), Pernambuco (1997) e Gregg et al.
(1999).
O principal motivo de realização do presente estudo foi conhecer as
características bucais de pacientes fissurados em controle, referentes à
manifestação da cárie e da doença periodontal para, assim, adaptar o programa de
manutenção de saúde bucal do NOP CAPADF UFSC às reais necessidades da
população que dele faz uso. Neves (2002) afirmou que avaliar o comportamento da
doença cárie em pacientes com fissura labiopalatal é importante para que se possa
delinear os pontos vulneráveis relacionados à adequada saúde bucal, que para
tais pacientes, esta é o início da possibilidade da reabilitação da má-formação e
90
também de suas conseqüências. Acrescenta-se também a doença periodontal,
muito prevalente na população tendo, de modo especial, diversos fatores de risco
presentes nos pacientes fissurados.
Além da importância da saúde bucal para o progresso e sucesso da
reabilitação total, soma-se a influência que esta tem na qualidade de vida do
paciente fissurado, fato comprovado por meio de estudo que utilizou o Índice de
Impactos Odontológicos no Desempenho Diário (IODD), realizado em Pernambuco
por Cardoso, Caldas Jr. e Jovino
-
Silveira (2005).
É importante enfatizar que os pacientes com fissura labiopalatal além dos
fatores de risco de desenvolvimento das doenças bucais cárie e doença periodontal
comuns à população em geral, estão sujeitos à soma das alterações e fatores de
risco inerentes à má
-
formação.
A alteração anatômica causada pela má-formação facilita o acúmulo de
resíduos alimentares que constituem em um meio de cultura para a proliferação de
microorganismos causadores de infecções (NEVES, 2002). Por sua vez, a fibrose
cicatricial labial decorrente da
reabilitação cirúrgica (queiloplastia) pode acarretar em
dificuldades de movimentação do lábio, prejudicando a higiene bucal na região
(DAHLLÖF et al., 1999; BOKHOUT et al., 1997; MURATA, 2003; SILVA, 2003).
Cabe portanto, ao cirurgião-dentista alertar sobre a necessidade de tracionamento
do lábio superior no momento da escovação para que a higiene bucal seja realizada
de forma adequada.
ainda nestes pacientes uma diversidade de alterações na formação
dentária conforme descrito por Ranta (1986). Estas alterações dentárias podem ser
de forma, número, estrutura e posição (DAMANTE; SOUZA-FREITAS; MORAES,
1973; GOMIDE, 1996; OLIVEIRA; CAPELLOZA; CARVALHO, 1996; RUIZ et al.,
91
1999; VANZIN; YAMAZAKI, 2002; GOMES, 2004), também favorecendo o acúmulo
de placa bacteriana na região ântero-superior e, conseqüentemente, o surgimento
de doenças como a cárie dentária e o comprometimento periodontal.
Muitos pais, devido à presença de tantas alterações, acabam por apresentar
medo ou mesmo receio de realizar a higiene bucal em seu filho, fator tão importante
para a prevenção. Estudos realizados por Neves (2002) e Murata (2003)
demonstram este fato. Existe portanto, a necessidade de desmistificação do estigma
representado pela presença da má
-
formação. Cabe ao cirurgião
-
den
tista esta tarefa,
contribuindo para a saúde bucal e o bem-estar do paciente com fissura, seus
familiares e pessoas de seu convívio.
Soma
-se aos fatores descritos as alterações oclusais, também decorrentes
da má-formação, que exigem o uso de aparelhos ortodônticos. Estes também
favorecem o acúmulo de placa devido à dificuldade de higienização. Todos estes
fatores de implicância clínica podem formar uma condição propícia às doenças
bucais em fissurados, desde a primeira infância e até mesmo na idade adu
lta.
Outra questão que merece ser destacada refere-se aos hábitos alimentares
dos bebês fissurados. Para a realização da queiloplastia, realizada a partir do
terceiro mês de vida, o bebê deve possuir peso de 5 kilogramas e boa condição de
saúde geral. Para a cirurgia reparadora do palato (palatoplastia), realizada a partir
do primeiro ano de vida, o mesmo deve ter peso de 9 kilogramas (DALBEN et al.,
2003). A criança ainda necessita de boa condição de saúde geral, sem apresentar
anemia. Sendo assim, em algumas situações, os próprios médicos pediatras
recomendam a ingestão de sucos de frutas cítricas, visando combater a anemia.
Estas bebidas, em muitos casos acrescentadas de açúcar ou de mel, contribuem
92
para a queda do pH bucal, favorecendo o processo de desmineralização (DALBEN
et al., 2003).
Um achado comum na alimentação dos bebês fissurados é o uso de
mamadeira iniciado em fase muito precoce que, além do leite, muitas vezes são
acrescidas de farináceos, achocolatado e açúcar. Conforme estudo realizado po
r
Silva (2003), muitos bebês utilizam a mamadeira várias vezes ao dia e também a
utilizam no período noturno, adormecendo mamando ou mamando durante a noite,
favorecendo a desmineralização dentária.
Tal atitude, também observada por Lin e Tsai (1999), é c
onsiderada
extremamente prejudicial no que diz respeito à dentadura decídua, devido ao
surgimento de quadro agudo de cárie, conhecido como cárie precoce da infância.
Após a instalação destes hábitos inadequados de alimentação torna-se difícil de
eles seres
removidos.
Além das implicações clínicas da fissura como a alteração anatômica devido
à fenda, a fibrose cicatricial labial, as alterações dentárias e de oclusão, e dos
hábitos de aleitamento/amamentação inadequados, existem circunstâncias
relacionadas
aos aspectos psicológicos da família do paciente fissurado (DAHLLÖF
et al., 1989). Tais circunstâncias, de um modo mais amplo, podem ter influência na
vida da criança devido ao impacto causado na família com o nascimento do bebê
com má-formação. Os pais podem ter atitudes permissivas com relação aos hábitos
alimentares como um modo de compensar as dificuldades pelas quais a criança
passa durante o curso do processo reabilitador (SACRAMENTO et al., 1996). As
atitudes permissivas também são possíveis de acontecer com relação aos hábitos
de higiene bucal (MURATA, 2003).
93
O comprometimento da saúde bucal, seja pela cárie dentária ou pela doença
periodontal, causa vários prejuízos para o paciente fissurado. A primeira implicação
ocorre com a realização das cirurgias, que devem ser realizadas com a adequada
condição bucal, evitando-se assim a contaminação da área cirúrgica, prejudicial
para o período de recuperação pós-cirúrgica, bem como para combater eventuais e
desagradáveis episódios de sintomatologia de origem odontogênica. Sendo assim,
deve haver colaboração do cirurgião-dentista na equipe multidisciplinar, em especial
do odontopediatra, para que o protocolo cirúrgico composto por várias cirurgias,
dependendo da severidade da má-formação, possa ser realizado sem atraso
(STEPHEN; MACFADYEN, 1977). Tal condição demonstra necessidade de
contratação de um odontopediatra para atuar no NOP CAPADF, realizando ações
de caráter coletivo e assim, abordando não apenas o paciente mas também os
membros familiares, busca
ndo a promoção de saúde aos mesmos.
Outra implicação da condição bucal relaciona-se com prejuízos ao
tratamento ortodôntico, necessário na maior parte das fissuras para correção
esquelética e dentária, oriundas do crescimento alterado do terço médio da face
(DAHLLÖF et al., 1989; BOKHOUT et al., 1997; ZSCHIESCHACK; GRABOUSKI,
1999; ROMERO-MAROTO et al., 1999; BIAN et al., 2001; CHAPPLE; NUNN, 2001).
Muito comum em pacientes fissurados é a alteração da função fonética,
especialmente nos casos em que envolvimento do palato. Novamente, pode-
se
dizer que a terapia fonética é dependente de elementos dentários conservados.
A importância da saúde bucal para pacientes com fissura pode ser
visualizada no esquema a seguir:
94
Para participação da pesquisa, iniciada no segundo semestre de 2004, foram
convidados todos os pacientes com idade acima de 3 anos, participantes do
programa de controle do NOP CAPADF - UFSC. Os pacientes com menos de 3
anos de idade, ou seja, pacientes na primeira infância, foram excluídos devido à
necessidade de rapidez no atendimento clínico em tal faixa etária. Os pacientes
apresentavam-se na faixa etária de 4 a 25 anos (Gráficos 5.1 e 5.2, páginas 69 e
70), com média de idade de 11,6 anos (Tabela 5.1, página 70). Dentro do universo
de pacientes do NOP, composto atualmente por mais de duzentos pacientes
inscritos, a pesquisa foi iniciada com 53 pacientes, devido ao critério de participação
na pesquisa, ou seja, a participação do paciente no programa de controle da saúde
bucal, os quais foram submetidos aos exames e procedimentos de rotina das
consultas de retorno. Com o início da segunda etapa da coleta de dados, 43
pacientes retornaram para avaliação.
Por várias vezes tentou-se contatar estes pacientes de modo que tod
os
retornassem, no entanto, sem haver sucesso. Uma possível causa deste fato é o
longo período que o NOP - CAPADF fica sem funcionamento, ou seja, os meses de
dezembro, janeiro e fevereiro, correspondente ao período de férias dos acadêmicos
SAÚDE BUCAL
1.1.
PROTOCOLO
TERAPIA ORTODÔNTICA
FONOAUDIOLOGIA
95
que realizam estágio na instituição, prestando o atendimento odontológico que
envolve além do tratamento curativo, a abordagem educativa e os procedimentos
preventivos. Tal período pode ser prejudicial no que diz respeito à falta de contato
entre pacientes e CAPADF. Estes intervalos sem o atendimento causam
dificuldades para o acompanhamento da saúde bucal, tão importante para estes
pacientes. Possivelmente, a criação de uma central de agendamento de consultas
favoreceria a comunicação e a busca de informações quando as f
amílias
necessitassem. Além de facilitar a comunicação, facilitaria também o trabalho dos
profissionais envolvidos no atendimento do paciente com fissura.
Outro fato ocorrido foi a greve de funcionários da UFSC, a qual teve seu início
no segundo semestre de 2004, impossibilitando o atendimento no centro por um
pequeno período de tempo, devido à falta de esterilização de materiais para os
acadêmicos e de atendimento no ambulatório de radiologia do curso de graduação
em Odontologia da UFSC.
Destes 43 pacientes, 19 apresentavam fissuras transforme incisivo unilateral,
7 transforame incisivo bilateral, 11 pré-forame incisivo e 6 pós-forame incisivo, de
acordo com a classificação idealizada por Spina et al. em 1972 (Gráfico 5.3, página
71). Não foi observado nenhum caso de fissura do tipo transforame incisivo
mediana, conforme sugerido por Silva Filho et al. (1992) por se tratar de um tipo raro
de fissura observada por esta equipe de pesquisadores.
A maior parte dos pacientes era residente da Grande Florianópolis (38%)
seguida pela região Sul do Estado (33%). Havia também pacientes do Planalto
Serrano (14%), Oeste Catarinense (9%), Vale do Itajaí (4%) e Norte de Santa
Catarina (2%) (Gráfico 5.4, página 71). A menor parte de pacientes do Norte e do
96
Vale do Itajaí deve refletir a proximidade que estas regiões têm com outro centro de
atendimento a fissurados (PROFIS), localizado na cidade de Joinville
-
SC.
Por outro lado, o grande número de pacientes provenientes do Sul do Estado,
do Planalto Serrano e do Oeste de Santa Catarina retrata a falta de atendimento
para os indivíduos fissurados. Possivelmente por falta de conhecimento sobre as
fissuras, muitos profissionais da área odontológica recusam-se a atender esta
população. Este é possivelmente mais um fator prejudicial no que se refere à
manutenção da saúde bucal de pacientes com fissura. Devido a falta de
atendimento odontológico na sua região de origem, muitas famílias deslocam-
se
para Florianópolis para poder receber atendimento, mesmo sendo procedimentos de
baixa complexidade como aplicação de selantes e uso de fluoretos, também
recomendado por Rivkin et al. (2000 a e b).
Na maior parte das vezes, os pacientes estavam acompanhados das mães,
que participaram respondendo a entrevista sobre o perfil socioeconômico da família
do paciente. Questionou-se a respeito do nível de instrução das mães, que estas
mais comumente são as responsáveis pelos cuidados com os filhos. Observou-
se
então que as mães apresentavam um baixo nível de escolaridade (Gráfico 5.5,
pági
na 72). Nenhuma das mães possuía nível superior completo. Ao contrário,
somente 24% delas havia concluído o ensino fundamental e 21% o ensino médio. A
maioria delas apresentava escolaridade inferior. Esta observação está de acordo
com os achados de Neves (2002), de Castilho (2003) e Silva (2003) em estudos
também realizados no Brasil.
Um aspecto positivo encontrado com relação à amostra foi que quase todos
os pacientes residiam em casas próprias, conforme demonstra o gráfico 5.6 (página
72). Ainda com relação à localização residencial, o mesmo gráfico demonstra que
97
28% dos pacientes residem em regiões rurais, fato que pode sugerir a influência do
uso de agrotóxicos relacionados à profissão, no período de gestação, especialmente
entre a quarta e a décima segunda semana de vida intra-uterina, período
correspondente ao desenvolvimento da face.
O entrevistado também foi questionado a respeito da renda familiar que, para
facilitar a resposta, foi dividida em salários nimos (Gráfico 5.7, página 73). A
constat
ação feita foi que 44% das famílias têm renda de até 2 salários mínimos. Em
segundo lugar, 40% aproximadamente têm rendimento mensal de 2 a 4 salários
mínimos, seguida de uma menor parte que apresenta renda entre 4 a 6 salários
mínimos. Nenhuma família entrevistada possuía renda superior a 6 salários
mínimos. Esta constatação, referente a um baixo nível socioeconômico, está de
acordo com resultados observados nos estudos de Bokhout et al. (1996b e 1997),
onde maior parte dos pacientes fissurados também pertencia a um baixo nível
socioeconômico. Diverge porém, da pesquisa realizada por Tomita et al. (1996),
onde os estudiosos observaram em seus resultados uma predominância da classe
média. Sendo o CAPADF uma instituição pública de prestação de serviços de saú
de
também com a finalidade de aprendizado por parte de alunos de graduação e pós-
graduação em Odontologia, é comum que grande parte da parcela de pacientes que
procura o serviço seja oriunda de uma camada menos favorecida da população. Isto
demonstra por um lado a realidade brasileira, pois muitas pessoas nunca
consultaram um cirugião-dentista. Outra parte da população também procura o
atendimento odontológico no serviço público ou em instituições de ensino.
Esta elevada parcela de pacientes fissurados pe
rtencente a uma baixa classe
social pode demonstrar predisposição às fissuras labiopalatais, que as mesmas
são relacionadas não somente com fatores genéticos, mas também com fatores
98
ligados ao ambiente. As gestantes podem ter menos acesso ao acompanhamento
pré
-natal e mais sujeitas a infecções e deficiências nutricionais o que, fatalmente,
pode acarretar em má formação do bebê.
Sobre os recursos utilizados para comparecer ao CAPADF (Gráfico 5.8,
página 73), os pacientes relatam em sua maioria (68%) serem dependentes do
Sistema Único de Saúde (SUS), sendo providenciado o transporte através das
secretarias de saúde das suas cidades de origem. Este fato pode também dificultar
a participação no programa de prevenção em saúde bucal, pois quando os
pacientes não conseguem vagas nos veículos disponíveis ou, quando a secretaria
municipal de saúde não fornece as passagens, os mesmos o têm condições de
comparecer para o atendimento odontológico marcado. Outros 32% dos pacientes
contam com recursos próprios para comparecerem ao CAPADF. Entretanto, esta
situação não exclui a dificuldade para a vinda ao atendimento pois, para uma família
com baixa renda fica evidente a deficiência financeira para o transporte do paciente
e seu acompanhante. A contratação de profissionais da área de Serviço Social
propiciaria um melhor acolhimento e atendimento às necessidades do paciente e
sua família. Também a interação do CAPADF com estagiários do curso de
graduação em Serviço Social da UFSC seria benéfica para o centro.
Um aspecto que, sem dúvida, é prejudicial para o desenvolvimento de lesões
cariosas refere-se à falta de fluoretação das águas. Apesar de 60% dos pacientes
terem acesso à água fluoretada, 40% ainda não dispõem deste benefício (Gráfico
5.9, página 74). Novamente ficam evidentes as dificuldades a que tais famílias são
submetidas, devido a sua desfavorável situação econômica. Para Sacramento et al.
(1996) a condição desfavorável das famílias de crianças fissuradas pode ter
associação direta com a doença cárie.
99
A avaliação clínica feita nas consultas de controle no NOP CAPADF busca
oferecer aos seus usuários a utilização de fluoretos em outras formas. Dependendo
do acesso ao flúor na água, da necessidade do paciente, do controle de deglutição
por parte da criança e outras características, os pacientes recebem prescrição de
bochechos diários de fluoreto de sódio na concentração de 0,05% (Gráfico 5.10,
página 74). Por outro lado, os pacientes em controle recebem periodicamente
aplicações tópicas de flúor, seja na forma de gel ou de vernizes fluoretados, de
acordo com a necessidade de cada um, também sugerido na literatura por autores
como Stephen e Macfadyen (1977) e Rivkin et al. (2000 a e b).
Outro aspecto importante avaliado foi sobre o acesso ao atendimento odontoló
gico
que os pacientes têm (Gráfico 5.11, página 75). Cabe ressaltar a importância social
do CAPADF pois, aproximadamente 74% da amostra recebe atenção odontológica
exclusivamente no núcleo de Odontopediatria do centro, apesar de alguns pacientes
estarem na idade adulta e outra grande parte serem considerados como
adolescentes, o que implicaria em procura por outras áreas da Odontologia que não
fossem a Odontopediatria.
Ao serem questionados sobre a procura de atendimento odontológico fora do
CAPADF, 61% dos responsáveis pelos pacientes responderam positivamente
(Gráfico 5.12, página 75). Destes pacientes, grande parte conseguiu o atendimento.
Todavia, em torno de 15% não obteve o atendimento necessário na sua cidade de
origem. Uma possível contribuição seria a realização de cursos para capacitação de
profissionais das diversas áreas envolvidas com a reabilitação das fissuras. Tais
cursos proporcionariam aos profissionais treinamento para as especificidades da
fissura labiopalatal. Esta discussão a respeito do atendimento da criança com
fissura foi também abordada por Shah e Wong (1980), pois os autores afirmam que
100
muitos centros de atendimento de saúde têm problemas com o atendimento destes
pacientes, preferindo encaminhá-las para centros de referência que se dedicam aos
mesmos. Assim, novamente fica implícita a importância do CAPADF como um órgão
promotor de saúde para o paciente fissurado. Para os pacientes com fissura
labiopalatal, a odontologia é fundamental durante todo o extenso e complexo
processo de reabilitação (RIVKIN et al., 1999; ROMERO-MAROTO et al., 1999;
DONAGH et al., 2000), além da influência positiva na sua qualidade de vida.
O objetivo deste estudo foi avaliar
as condições de saúde bucal dos pacientes
com fissura labiopalatal e por isso a coleta de dados foi realizada em dois
momentos, sendo executado um exame inicial, o qual foi repetido com a mesma
metodologia após seis meses. Devido ao propósito de conhecer as condições
bucais dos pacientes em controle, optou-se por utilizar a mesma ficha clínica
utilizada no NOP
CAPADF para as consultas de retorno.
O primeiro índice avaliado na amostra foi referente ao IPV, sendo os critérios
e metodologia utilizados os mesmos adotados no centro. Tendo em vista a
participação da placa bacteriana no desenvolvimento das doenças bucais, em
especial a cárie e a doença periodontal, é fundamental que os pacientes fissurados
apresentem controle de placa por meio de adequada higiene bucal. Visando a
abordagem educativa e preventiva dos pacientes que dele fazem uso, o NOP
CAPADF, em cada consulta de retorno, propicia informações para o paciente e seus
pais e/ou responsáveis sobre a importância da saúde bucal para a reabilitação da
fissura. Esta necessidade tem sido
enfatizada por estudiosos dos fatores de r
isco de
doenças bucais em fissurados como Gomide (1996) e Gomes (2004) e por autores
que relatam a importância do estabelecimento de programas preventivos para estes
pacientes, os quais devem ser iniciados em fase precoce da vida da criança -
101
(PERNAMBUCO, 1997; GREGG; JOHNSEN; PATTINSON, 1999; AUGUSTO;
BORDON; DUARTE, 2002; CASTILHO, 2003).
A porcentagem média de superfícies cobertas por placa no início da pesquisa
foi próxima de 5% (Gráfico 5.13, página 76), considerado um valor baixo quando
comparado ao
estudo de Dahllöff et al. (1989). O gráfico 5.14 (página 78) demonstra
o IPV em relação aos tipos de fissura. Os pacientes com fissura transforame incisivo
bilateral e pós-forame incisivo foram os que tiveram o maior IPV, quando
comparados aos pacientes co
m fissuras do tipo transforame incisivo unilateral e pré
-
forame incisivo. Por outro lado, com exceção das fissuras transforame incisivo
unilateral, todos os tipos de fissura apresentaram uma pequena redução do IPV ao
segundo exame (Tabela 5.2, página 77). A variação do IPV médio final foi de
0,47
(Tabela 5.3, página 77). Apesar das diferenças apresentadas, elas não foram
consideradas estatisticamente significativas após a avaliação por análise de
variância (Gráfico 5.15 e Tabela 5.5, páginas 79 e 80). É im
portante salientar que tal
índice retrata apenas a placa visível no momento do exame, não demonstrando a
higiene bucal no cotidiano do paciente. Paul e Brandt (1998) avaliando a higiene
bucal de crianças com fissura encontraram uma média de 0,9 superfície com placa
e, como no presente estudo, não observaram diferenças significativas entre os tipos
de fissura. Porém, salientam que o índice de placa foi significativamente maior na
região anterior do que nos segmentos posteriores, característica relacionada co
m os
fatores de risco presentes nos indivíduos fissurados.
Esta redução no IPV é uma
questão positiva do programa de controle avaliado, podendo ser considerada uma
conquista do mesmo devido ao acompanhamento odontológico realizado com este
grupo de pacien
tes.
Turner et al.
(1998) demonstram que a maior parte das crianças
com fissura apresenta uma pobre higiene bucal, sendo que em sua pesquisa,
102
apenas 6% tinham higiene excelente e 28% foi considerada boa. Schultes et al.
(1999) também relatam pobre higiene bucal em pacientes fissurados, enfatizando
que o envolvimento do alvéolo causa uma predisposição à destruição periodontal.
Por outro lado, Lucas et al. (2000) não consideram haver diferença entre pacientes
com e sem fissura labiopalatal quanto ao acúmulo de placa decorrente de má
higiene bucal, conforme suas avaliações.
Após a obtenção do IPV, por meio de exame clínico, o paciente realizava a
higiene bucal, a qual era supervisionada por um acadêmico e pela pesquisadora,
não sendo realizada revelação de placa bacteriana para evitar mascarar as lesões
cariosas incipientes em forma de mancha branca. Este momento pode ser
considerado uma nova oportunidade para promoção de saúde, o que inclui a
educação em saúde bucal dos mesmos e também dos responsáveis, confo
rme
preconizada por Augusto, Bordon e Duarte (2002).
Logo após a realização da higiene bucal, os pacientes retornavam à cadeira
odontológica para verificação do ISG (Gráfico 5.13, página 76). O valor reduzido de
superfícies sangrantes, cerca de 2% das superfícies, foi outra característica positiva
observada no programa de controle do NOP - CAPADF. No entanto, quando
comparados os valores iniciais e finais do índice, foi constatado um aumento do
mesmo (Tabelas 5.2 e 5.3, página 77). Os pacientes com fissuras do tipo
transforame incisivo unilateral e bilateral foram os que apresentaram aumento
(Gráfico 5.14 e Tabela 5.4, páginas 78 e 80). Mesmo com este aumento, a análise
de variância não demonstrou haver diferença significativa entre os diferentes tipos
de f
issura (Gráfico 5.15 e Tabela 5.5, páginas 79 e 80), também concluído no estudo
realizado por Bragger et al. (1985). O aumento do ISG também não foi considerado
estatisticamente significativo. Este achado demonstra estar de acordo com Lages
103
(1999) em estudo realizado no Brasil, que considera que a doença periodontal não
se manifesta de modo mais severo em pacientes fissurados do que em pacientes
sem fissura. Schultes et al. (1999) e Lucas et al. (2000) também não consideram a
existência de maior severidade de doença periodontal e/ou aumento de inflamação
gengival em pacientes fissurados em comparação com pacientes sem a má-
formação.
Ao contrário, Dahllöf et al. (1989) constatou que 11% das superfícies
dentárias de crianças fissuradas ou com outras más-
form
ações associadas tinham
sangramento à sondagem, porcentagem mais alta do que no grupo controle sem
-formação, principalmente na região ântero-
superior.
Costa et al. (2003) alertam
sobre a necessidade de atenção regular e precoce à saúde periodontal de pa
cientes
fissurados, enfatizando não a análise clinica mas também os fatores biológicos
responsáveis pela alteração do periodonto, que comparando pacientes com e
sem fissura observou-se quantidades de placa similares porém, com índice de
gengivite mai
or nas crianças com a má
-
formação.
Também Paul e Brandt (1998) demonstram uma média de ISG de 0,4 em
crianças fissuradas, sendo o índice maior em pacientes com fissura de lábio e palato
do que nas fissuras isoladas de palato, o que reforça a importância dos fatores de
risco, mais comuns nas fissuras com envolvimento de alvéolo. Este fato também foi
demonstrado por Bragger et al. (1992) pois, avaliando a progressão da doença
periodontal por um período de 8 anos, encontraram altos e generalizados índices de
placa e de sangramento gengival. Sugere-se então, que os pacientes sejam
acompanhados por um maior intervalo de tempo, visando conhecer as mudanças
ocorridas com os pacientes atendidos no NOP
-
CAPADF.
104
Teja et al. (1992) alertam que o defeito anatômico, padrão de erupção,
movimentação ortodôntica e presenças de restaurações contribuem para a redução
do nível ósseo do incisivo adjacente à fissura. Sendo assim, o NOP CAPADF
encontra
-se em concordância com Gaggl et al. (1999), que recomenda adoção de
medida
s intensas de higiene bucal para prevenir ou, pelo menos, diminuir a
extensão da doença periodontal.
Chama a atenção o fato de que, apesar da redução no índice IPV, o índice
ISG apresentou aumento, embora considerado não significativo estatisticamente.
Este fato pode ser devido a uma melhora da higiene no dia de realização da
consulta de controle, devido à insistência dos estagiários integrantes do NOP
CAPADF com os pacientes e seus responsáveis sobre a importância da higiene
bucal para o sucesso da reabilitação, envolvendo tanto os procedimentos cirúrgicos
quanto o tratamento ortodôntico, cujo encaminhamento é muito desejado e
esperado por parte dos pacientes e seus responsáveis. Possivelmente, a criação de
um manual de orientações aos familiares conte
ndo figuras ilustrativas sobre a saúde
bucal dos pacientes fissurados seria um objeto de conscientização que a higiene
bucal merece atenção especial diariamente e não apenas próxima ao dia da
consulta de controle. Além do manual de orientações, a contratação de um
psicólogo favoreceria a busca da colaboração e o interesse das famílias durante
todo o processo reabilitador.
O índice ceos médio apresentado na primeira avaliação de um grupo de 30
pacientes, que possuíam dentes decíduos, foi de 6,3 (Gráfico 5.16, página 81) com
desvio padrão de 7,883. Este valor pode ser considerado baixo quando comparado
ao estudo de Tomita et al. (1996), entretanto similar ao encontrado por Lucas et al.
(2000). Em comparação com Paul e Brandt (1998) o índice ceos dos pacientes do
105
NOP pode ser considerado alto, porém é necessário enfatizar que estes autores
demonstraram que a redução da atividade de cárie também pode ser conseguida
com orientações adequadas através da comunicação entre profissionais, pacientes
e responsáveis. alguns estudos sobre a prevalência da cárie dentária em
pacientes fissurados já na primeira infância. Neves (2002) observou em bebês
fissurados um dente cariado a cada 4 dentes irrompidos no primeiro ano de vida do
paciente. Murata (2003) também observou alto índice de cárie em bebês fissurados,
desta vez aliados à inadequada higiene bucal. Diante destes estudos fica mais
evidente a importância de estabelecimento de programas preventivos e também a
avaliação destes programas. Os programas de prevenção e c
ontrole de saúde bucal
devem ter início no primeiro ano de vida do bebê fissurado, sendo assim sugerido
por Hewson Galway et al. (2001), já que estes mesmos autores também observaram
alto comprometimento da dentadura decídua devido à cárie. Pimentel (1986)
,
Pernambuco (1977) e Lin e Tsai (1999) também alertam para que os programas
preventivos tenham preocupação com o controle de placa e orientações de dieta,
preferencialmente iniciando no primeiro ano de vida.
A posição do NOP CAPADF é trabalhar a questão preventiva também com
a educação dos pais. Apesar de muitos pais apresentarem conhecimento sobre a
saúde bucal de seus filhos, nem sempre estes conhecimentos são colocados em
prática como demonstrado na literatura pois, mesmo com o conhecimento
apresent
ado por pais de crianças fissuradas, em muitos casos os pacientes tinham
má conservação da dentadura decídua (CASTILHO, 2003). Assim como muitas
crianças atendidas no NOP CAPADF apresentam cárie nos dentes decíduos,
observa
-
se em várias outras pesquisas
uma alta prevalência da doença cárie.
106
Estudos como o de Johnsen e Dixon (1984) demonstram que, principalmente,
os incisivos superiores decíduos são atacados pela cárie. Tal fato ocorre pela
facilidade que os dentes com defeitos de esmalte são atingidos pela doença. A
superfície de esmalte pode apresentar-se rugosa ou com hipoplasias, tornando o
esmalte hipomineralizado. As bactérias potencialmente cariogênicas podem então
colonizar mais facilmente este tecido do que se o mesmo estivesse intacto. Esta
pos
sibilidade leva à associação com a pesquisa de Bokhout et al. (1996a) que
obteve como resultados uma alta prevalência de colonização de S.
mutans
tanto na
placa quanto na saliva de bebês com fissura de lábio e palato, sendo que estes
autores também alertam sobre a necessidade de medidas preventivas. A alta
atividade de cárie na dentadura decídua também foi observada por Bian et al.
(2001), sendo feita a associação entre o baixo nível sócio-cultural das mães, assim
como observado com o grau de instrução das es dos pacientes atendidos no
CAPADF.
Com o objetivo de preservar a saúde bucal, o NOP CAPADF oferece o
programa de controle. Existem entretanto, além das dificuldades apresentadas pelas
famílias dos pacientes, as dificuldades do próprio centro, diante dos extensos
períodos sem funcionamento, seja por motivo de férias ou por eventuais greves.
Nestes intervalos os pacientes ficam sem atenção, interrompendo o programa de
manutenção de saúde bucal. De acordo com estudo realizado por Rivkin et al.
(1999), o acesso à atenção odontológica e às informações sobre as doenças bucais
deve ser em programas de atenção continuada.
Esta importância é demonstrada em estudos como o de Stephen e
MacFadyen (1977) que demonstraram o êxito de um programa preventivo par
a
crianças com fissura, realizado por três anos, onde a redução do índice ceos foi de
107
98,7%. O programa baseado em orientações dietéticas, de higiene bucal, uso de
fluoretos e de selantes oclusais conseguiu manter 74% das crianças participantes
livres de cárie. Além dos benefícios para as crianças, pode-se afirmar que existem
também benefícios para a saúde pública, devido à redução de gastos.
Ao
segundo exame, o ceos médio apresentado por um grupo de 29 pacientes
foi de 5,97 (Gráfico 5.17, página 82) com desvio padrão de 7,509. Pode-
se perceber
que houve uma redução na experiência de cárie na dentadura decídua de 0,37 (±
1,07). É fundamental enfatizar que esta redução no índice ceos ocorreu devido à
exfoliação natural de dentes decíduos. Além do processo de rizólise, uma situação
de ocorrência comum no NOP CAPADF é a realização de exodontias indicadas
pelos núcleos de Ortodontia e de Cirurgia Bucomaxilofacial. Logo, também assim é
reduzido o número de dentes decíduos e, conseqüentemente, acarreta em reduç
ão
do número de superfícies dentárias cariadas, restauradas ou perdidas por cárie.
Similarmente, Tomita et al. (1996) encontrou valores de ceos que foram reduzidos
com o aumento da idade dos pacientes, assim como no CAPADF.
O CPOS médio observado em 40 pacientes ao primeiro exame foi de 5,7
(Gráfico 5.18, página 83) sendo o desvio padrão de 8,525. Estes valores são
considerados altos se comparados com os valores de CPOS de 0,4 e 1,9 para as
idades de 6 a 12 e 13 a 18 anos obtidos na pesquisa de Paul e Br
andt (1998). Outra
pesquisa (TOMITA et al., 1996) também apresentou índices CPOS mais baixos
quando comparados aos pacientes atendidos no NOP. Como no presente estudo
foram incluídos alguns adultos, possivelmente muitos pacientes tenham ingressado
no NOP mutilados pela cárie dentária, justificando por um lado estes elevados
índices da doença cárie.
108
Ao final da pesquisa, avaliando-se 40 pacientes, o CPOS médio foi 6,1
(Gráfico 5.19, página 83), com desvio padrão de 8,59. Uma possível explicação para
os índices de cárie elevados em fissurados, segundo Turner et al. (1998), seria que
os pais focam a atenção na realização das cirurgias e procedimentos médicos,
relegando ao segundo plano a atenção odontológica. Os mesmos autores alertam
que para os pacientes com fístula no palato a drenagem de secreção nasal para a
cavidade bucal pode contribuir na aderência da placa aos dentes, favorecendo a
atividade de cárie.
Também as dificuldades financeiras pelas quais passam as famílias podem
ser uma barreira até mesmo para a aquisição de produtos de higiene bucal. De
modo similar, Pimentel (1986) percebeu que a melhora do índice de higiene bucal foi
proporcional à ascenção da classe econômica do paciente. Mesmo com a boa
higiene bucal no dia da avaliação, pode existir a possibilidade dos pacientes
descuidarem entre os intervalos das consultas de retorno, contribuindo assim para o
incremento da cárie dentária.
Lauterstein e Mendelsohn (1964) não observaram em pacientes com fissura
labiopalatal maior prevalência de cárie dentária quando comparados com pacientes
sem -formação. Também Lages (1999) avaliando pacientes brasileiros com
fissura, considera que de um modo geral o comprometimento dentário não difere
dos padrões populacionais. Mas, diante dos fatores de risco presentes nestes
pacientes observou-se atividade de cárie. Para Besseling e Dubois (2004) que
também observaram alta prevalência de cárie em fissurados, é clara a necessidade
de tratamento destas lesões. No entanto, os autores enfatizam que isto requer um
importante suporte financeiro e força de trabalho dedicada ao tratamento e à
atenção para com os pacientes com fissura labiopalatal.
109
De acordo com os índices CPOS observados no início e ao final da pesquisa,
houve um incremento de cárie dentária nos dentes permanentes de 0,37 (± 0,817).
Observa
-se que na variável CPOS foi encontrada diferença entre os valores iniciais
e finais e, apesar da pequena diferença numérica, deve ser considerado um
aumento importante. Bokhout et al. (1997) obtiveram como resultado da sua
pesquisa realizada na Suécia uma incidência de cárie em fissurados 3,5 vezes
maior do que na população infantil sem má
-
formação.
Com relação à experiência de cárie acumulada, englobando ceos + CPOS,
não considera
-
se a existência de variação no per
íodo, pois o incremento do CPOS e
a exfoliação de dentes decíduos afetados por cárie, além das exodontias indicadas
por outros núcleos do CAPADF, foi semelhante no intervalo de tempo de realização
da pesquisa (Gráficos 5.20 e 5.21, páginas 84 e 85). Primeiramente, é preciso ter
consciência que este fato ocorreu pela diminuição do número de dentes decíduos.
Logo, o incremento de cárie na dentadura permanente deve ser considerado de
grande relevância pois, o intervalo de tempo da pesquisa foi somente de seis
meses. Torna-se assim, fundamental o acompanhamento da amostra participante
do estudo por um maior intervalo de tempo para que se possa conhecer com mais
detalhes a evolução da doença cárie dentária nos mesmos.
Um aspecto de extrema importância também avaliado no presente estudo foi
referente a lesões cariosas em forma de mancha branca. Devido à quase
obrigatoriedade de realização de terapia ortodôntica, as manchas brancas merecem
um destaque especial na avaliação bucal de pacientes com fissura labiopalatal. O
levantamento destas lesões torna-se uma questão ética pois, encaminhar um
paciente com alta atividade de cárie para o tratamento ortodôntico pode causar ao
mesmo uma série de transtornos e problemas prejudiciais para a reabilitação.
110
Comprovando tal idéia, Silva (2003) observou um ceo-d médio de 0,95 em bebês
fissurados. No entanto, ao levar em consideração também as lesões de mancha
branca, o ceo-d aumentou para 1,5. Bokhout et al. (1996 b) avaliando a saúde bucal
de bebês fissurados encontrou número mais elevado de manchas brancas nos
mesmos em relação a um grupo controle sem má formação.
Com relação às manchas brancas (Gráficos 5.22 e 5.23, página 86),
constatou
-se que uma pequena proporção (11%) das manchas inicialmente ativas
apresentou
-se inativa ao fim do período de avaliação. Uma grande parte delas
continuou ativa (43%) e 46% das mesmas lesões sofreram cavitação. Perante a
avaliação por tipo de fissura, pode-se notar que a maior parte das novas lesões
incipientes ocorreu nos pacientes com fissura transforame incisivo unilateral e
metade das lesões que continuaram ativas foram nos pacientes com fissura do tipo
pós
-
forame incisivo (Gráfico 5.24 e Tabela 5.6, páginas 87 e 88).
Devido à alta atividade de cárie em pacientes com fissura Gregg et al. (1999)
demonstram a importância das visitas dos mesmos aos centros especializados em
seu tratamento. Porém, enfatizam a necessidade de um odontopediatra na equipe
profissional, para que o mesmo possa dar o suporte necessário à saúde bucal dos
pacientes. Resultados obtidos por aquela equipe de pesquisadores demonstram a
dificuldade de prevenção da dentadura decídua mas uma gratificante redução de
cárie na dentadura permanente dos mesmos.
Lucas et al. (2000), apesar de não perceberem diferença entre os índices de
cárie de pacientes com e sem fissura labiopalatal, perceberam que nas crianças
com fissura um maior número de cavidades. Isso pode significar que os
pacientes têm dificuldades de acesso ao atendimento, sendo a mesma situação
observada e discu
tida anteriormente neste estudo. Esse maior número de cavidades
111
cariosas poderia ser amenizada com o acesso ao serviço odontológico
especializado, também de acordo com Chapple e Nunn (2001) que reconhecem a
importância e o diferencial que um odontopediatra na equipe multidisciplinar pode
fazer. No Brasil, Montandon, Duarte e Furtado (2001) demonstram ser necessária a
presença de no mínimo um odontopediatra e um ortodontista para um programa de
atendimento a pacientes com fissura labiopalatal.
Logo, com o crescimento do CAPADF, observa-se a necessidade da
contratação de profissionais para prestar o atendimento indicado a esta população.
Além disso, a criação de um prontuário único para o paciente, contendo a evolução
de todas as áreas envolvidas permitiria aos profissionais conhecer a situação clínica
do paciente e favoreceria a interação entre as mesmas. O serviço oferecido aos
pacientes deverá ter características que envolvam não o tratamento curativo mas
também a prevenção realizada que, conforme Silva, Passold e Carcereri (2004),
com a observação de caso clínico realizado no próprio CAPADF, o atendimento
oferecido deve respeitar a individualidade e a história de vida de cada paciente.
Diante dos resultados e comparações realizadas, é possível afirmar que o
atendimento preventivo prestado no NOP CAPADF conseguiu atingir redução no
IPV, apesar do aumento do ISG, além de ter uma importância social muito relevante
para os pacientes e seus familiares. O incremento de cárie observado no índice
CPOS final, juntamente com a presença de novas lesões ativas de mancha branca
deve despertar interesse nos envolvidos com o atendimento oferecido no centro,
para que possam ser feitas as melhoras e adaptações indicadas e
conseqüentemente os pacientes possam receber a atenção voltada para sua
reabilitação integral, bem como sua inserção na sociedade. Sendo assim, haverá
112
também uma maior contribuição para a qualidade de vida dos indivíduos fissurados,
sua família e pessoas de seu convívio.
113
7.
CONCLUSÃO
Diante do observado com o desenvolvimento da pesquisa, pode-se concluir
que:
Os pacientes apresentaram um perfil socioeconômico que pode ter influência nas
condições bucais e na sua participação em programas de controle de saúde bucal;
Os pacientes participantes do programa de manutenção de saúde bucal
apresentaram bons índices de higiene bucal, não apresentando diferenças
estatisticamente significativas no IPV inicial e final, não havendo diferenças nos
índices obtidos de acordo com o tipo de fissura;
Os pacientes não apresentaram diferenças significativas no ISG inicial e final,
também não havendo diferenças nestes resultados de acordo com o tipo de fissura,
sendo os índices considerados baixos;
O índice “ceos” apresentou redução de 0,37 (±1,07) quando comparados os v
alores
inicial e final;
O incremento de cárie de acordo com o CPOS foi de 0,37 (±0,817) quando
comparados os valores inicial e final;
Houve progresso de lesões incipientes, pois a maior parte tornou-se lesões
cavitadas, além de haver surgimento de novas manchas brancas;
A experiência de cárie acumulada (ceos + CPOS) não apresentou variação no
período devido à exfoliação de dentes decíduos e a realização de extrações
indicadas por outras áreas do CAPADF;
Devido à redução do índice ceos ser semelhante ao incremento do CPOS, o quadro
de saúde bucal dos pacientes manteve-se estável no intervalo de 6 meses. No
114
entanto, é importante enfatizar que tal estabilidade foi devida à exfoliação de dentes
decíduos e/ou a realização de extrações indicadas.
115
8.
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-
224, Nov./De
c. 1999.
121
ANEXOS
122
123
124
125
ANEXO 3
Critérios para diagnóstico de cárie (OMS, 1997)
0 (A) Coroa hígida:
Uma face dentária foi considerada hígida caso ela não
apresentasse evidências de cáries clínicas tratadas ou não.
1 (B) Coroa cariada:
A cárie foi considerada presente quando uma lesão em
fóssula, fissura ou superfície lisa, tivesse uma cavidade inconfundível, esmalte
socavado, assoalho ou parede detectavelmente amolecido. Faces dentárias com
restauração provisória ou com selantes, mas também cariados foram
incluídas nesta
categoria.
2 (C) Coroa restaurada, com cárie: A face foi classificada como restaurada, com
cárie, quando apresentasse uma ou mais restaurações permanentes e uma ou mais
áreas que estivessem com cáries. Não foi feita distinção entre cárie primária e
secundária.
3 (D) Coroa restaurada, sem cárie: A face foi considerada restaurada, sem cárie,
quando uma ou mais restaurações permanentes estavam presentes e não existia
cárie em ponto algum da coroa. Se o dente tivesse recebido uma coroa protétic
a
devido à cárie prévia, seria classificado nesta categoria.
4 (E) Dente ausente devido à cárie: Utilizou-se este código para os dentes
extraídos devido à ocorrência de cárie dentária. A confirmação do motivo da
extração dentária era realizada por meio de informação do responsável pelo
paciente, presente no momento do exame ou através de consulta ao prontuário.
5 (-
)
Dente ausente por outros motivos:
Este código foi aplicado para os dentes
considerados ausentes congenitamente, avulsionados por trauma ou extraídos por
qualquer motivo que não seja a cárie dentária.
126
6 (F) Selante de fissura: Aplicou-se este código para as faces que apresentavam
selante de fissuras ou para as faces nas quais a fissura oclusal tenha sido
aumentada por broca com aplicação de resina composta ou cimento de ionômero de
vidro.
7 (G) Dente suporte de prótese, coroa protética ou faceta: Utilizado para a
condição coronária para indicar que um dente é suporte de prótese. Também
utilizado para coroas protéticas colocadas por outras razões que não a cárie e para
recobrimentos facetados e laminados na face vestibular de um dente no qual não
existem evidências de cáries ou restaurações.
8 (-
)
Coroa não erupcionada:
Esta classificação ficou restrita aos dentes
permanentes e utilizada para um espaço dentário com um dente permanente não
erupcionado mas sem um dente decíduo. (Os dentes classificados como não
erupcionados são excluídos de todos os cálculos relativos à cárie dentária.)
T (T)
Traumatismo (fratura)
:
Uma coroa foi classificada como fraturada quando
parte de sua superfície estivesse ausente como resultado de um traumatismo, porém
sem evidências de cáries.
9 (-
)
Não registrado: Este código será utilizado para dentes que não possam ser
examinados por qualquer razão como, por exemplo, a presença de bandas
ortodônticas.
127
APÊNDICES
APÊNDICE A
Termo de Consentimento
“Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”
Meu nome é Cintia Magali da Silva e estou desenvolvendo a pesquisa
“Avaliação de protocolo de manutenção de saúde bucal para pacientes com fissura
labiopalatal” com os objetivos de avaliar a efetividade de prevenção da cárie dentária
e da doença periodontal do programa de promoção de saúde bucal do Centro de
Atendimento a Pacientes com Deformidade Facial; avaliar a atividade de cárie em
p
acientes com fissura labiopalatal e levantar dados sócio
-
econômicos sobre a família
do paciente que possam ter influência no desenvolvimento da cárie e da doença
periodontal. Este estudo é necessário para que se verifique a efetividade do
programa de promoção de saúde oferecido no CAPADF, e será realizado um exame
clínico na criança e uma entrevista com os pais e/ou responsáveis pela mesma.
Talvez seja preciso fazer algumas fotos. Isto não traz riscos e desconfortos.
Esperamos que se possa avaliar o programa de prevenção do CAPADF para
melhora
-lo e como conseqüência, melhorar a qualidade de vida do paciente. Se
você tiver alguma dúvida em relação ao estudo ou não quiser mais que seu (sua)
filho (a) faça parte do mesmo, pode entrar em contato pelo telefone (48) 233-
5162.
Se você estiver de acordo em participar, posso garantir que as informações obtidas
serão confidenciais e só serão utilizados neste trabalho.
Pesquisadora principal: Cintia Magali da Silva (CRO
SC 6114)
Pesquisador responsável: Prof. Arno Lo
cks, Dr.
Eu, ______________________________________, responsável pelo (a)
menor _____________________________________ fui esclarecido sobre a
pesquisa “Avaliação de protocolo de manutenção de saúde bucal para pacientes
com fissura labiopalatal” e concordo com a participação do (a) menor pelo qual sou
responsável.
Florianópolis, ___/___/___.
Assinatura: _________________________________ RG: __________________
128
APÊNDICE B
-
Ficha para entrevista
Entrevista
Nome do paciente:
Fone:
Cidade / região de origem:
Grau de parentesco do informante: ( ) pai ( ) mãe ( ) outros:.............
Nível de escolaridade da mãe:
Profissão da mãe:
Profissão do pai:
Paciente freqüenta escola: ( ) sim ( ) não
Residência:
( ) própria ( ) alugada
Localização: ( ) rural ( ) urbana
Renda aproximada da família:
Número de pessoas que residem na casa:
Recursos para o atendimento: ( ) próprio ( ) SUS ( ) outros
Água fluoretada: ( ) sim ( ) não ( ) não sabe
Outras fontes de flúor: ( ) dentifrício ( ) bochechos ( ) ATF profissional
Atendimento odontológico além do CAPADF: ( ) sim ( ) não
Te
mpo de atendimento no NOP
-
CAPADF:
Idade que compareceu ao NOP
-
CAPADF pela 1ª vez:
Procurou atendimento odontológico em outros serviços antes do CAPADF
( ) sim ( ) não
Conseguiu o atendimento ( ) sim ( ) não
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