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disso mesmo que agora estou a dizer: denomino, ajuízo objetivando, analiso, sou o que
produzo como significado imediato. Há uma força ingente na própria linguagem que me
leva a não querer incluir-me no que digo e, ao mesmo tempo, outra que pela recordação me
inclui. O não, o limite de mim com que me identifico, a condenação de tudo o que é outro
de mim, tudo isso é a minha produção significativa pelos critérios com que sou, que me
definem no acontecer do dizer algo outro e, por isso, em constante contradição.
O não, a condenação é parte da auto-posição, pintura de si, limitação de si,
instituição da diferença de si. Assim a linguagem, a expressão, o falar, construir sentido é
sempre a contradição na dinâmica de duas forças contrapostas, isto é, a recordação da
ocorrência da revelação e o esquecimento na constituição da separação de algo outro. O
não esquecimento seria a constante consciência do deperecimento de si enquanto natureza
quase ou totalmente impossível de se dizer e querer ser. No Fragmento teológico-político
(GS II-1, 203) encontra-se a tentativa de verbalizar o fato da contradição da linguagem de
outro modo:
Somente o Messias mesmo consuma todo o
acontecer histórico, a saber, no sentido de que ele próprio
primeiramente consuma, resgata, cria sua relação com o
messiânico. Por isso, nada do que é histórico pode querer
relacionar-se a partir de si com o messiânico. Por isso o reino de
Deus não é o telos da dinamis histórica; ele não pode ser posto
como alvo. Na perspectiva histórica ele não é alvo, mas final. Por
isso a ordem do profano não pode ser construída com base no
reino de Deus; por isso a teocracia não tem nenhum sentido
político, mas unicamente um sentido religioso. O maior mérito do
Espírito da utopia de Bloch é ter negado com toda a intensidade a
importância política da teocracia.
A ordem do profano deve ser erigida com base na
idéia da felicidade. A relação dessa ordem com o messiânico é um
dos ensinamentos essenciais da filosofia da história. E,
precisamente, a partir dela se determina uma concepção mística
da história, cujo problema permite ser exposto numa figura.
Quando uma seta designa o alvo no qual a dinamis do profano
age, uma outra indica a direção da intensidade messiânica, sem
dúvida assim a procura por felicidade da humanidade livre aspira
distanciar-se daquela direção messiânica; mas, como uma força
por sua direção é capaz de promover uma outra direcionada em
caminho contraposto, assim também a ordem profana do profano
em relação à vinda do reino messiânico. O profano, portanto,
certamente não é uma categoria do reino, mas uma categoria da
sua silenciosa aproximação, e, sem dúvida, uma das mais exatas.
Pois todo o mundano aspira ao seu declínio na felicidade, mas só
na felicidade lhe é determinado encontrar o declínio.- Enquanto
que, certamente, a intensidade messiânica do coração, do interior
do homem individual, atravessa por infelicidade no sentido do