Mas, segundo as mesmas fontes, tempos depois houve a necessidade de se fazer um
acordo com os posseiros que ali se instalaram. Essas informações, obtidas por meio dos
remanescentes da CMD, não são datadas. Na memória, nem todas as experiências vividas
pelos sujeitos são lembradas: “na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer,
reconstruir, repensar, com imagem e idéia de hoje, as experiências do passado” (BOSI, 1994,
p. 54). Nesse sentido, para os remanescentes da CMD, esta é uma forma de se fazerem novas
leituras das experiências vividas por eles, em relação à formação e estruturação da Colônia.
De todo modo, o jornal O Progresso de 1º de julho de 1952 traz uma matéria cujo
titulo é: Doados, à Prefeitura Municipal, pelo Dr. Germano Sinval de Farias, 398 hectares
para serem aforados aos ocupantes de suas terras. Os dados do texto são os seguintes:
No dia 26 de maio último, em Campo Grande, na residência do Governador
Fernando Corrêa da Costa, estando presentes destacados elementos da
política desta cidade, foi finalmente solucionada a questão dos ocupantes das
terras do Dr. Germano Sinval de Farias, junto à Colonia Municipal, com a
doação feita à Prefeitura de 398 hectares de terras para serem aforados a
esses colonos que ali residem e possuem benfeitorias.
Entretanto, a questão não parece ter sido resolvida, ou pelo menos não totalmente,
pois, em agosto de 1955, os vereadores do jovem município de Itaporã encaminharam ao
governador do então estado de Mato Grosso um documento com a seguinte solicitação:
Os vereadores que esta subscrevem, ouvida a Casa, indicam ao Governo do
Estado a necessidade de ser providenciada, com urgência, a desapropriação
das terras do senhor Germano Sinval, conhecida por “zona da Malária”,
neste Município. [...] As terras em referência, lindam com a antiga Colônia
Agrícola Municipal de Dourados e, hoje quase em sua totalidade habitada
por colonos, todos possuindo benfeitorias como: Casa de moradia, cafezais e
plantio de cereais em geral, sendo ainda pessoas que não dispõem de capital
algum. Assim, Sr. Presidente, estamos anexando a este, um abaixo assinado
daqueles moradores, o qual pedimos seja encaminhado também ao Sr.
Governador, com um veemente apelo, para a imediata execução da
desapropriação. Sala das Sessões, 25 de agosto de 1955 (Indicação nº 1/55,
existente no arquivo da Câmara Municipal de Itaporã).
Para tentar esclarecer melhor esta questão, a autora deste trabalho providenciou, no
Cartório do 1° Oficio de Dourados, a cadeia dominial referente à área, a fim de verificar a
quem ela realmente pertencia, já que o Decreto nº 616, de 1923, descreve, como a área da
futura CMD, aquela localizada entre os rios Brilhante e Panambi, sem fazer nenhuma ressalva,
apenas constavam como reserva da União e do município três áreas de 200 hectares cada uma,