Com o fechamento político realizado pelo regime militar, houve um
deslocamento do eixo de atenções dos jovens da política para a cultura.
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Talvez os maiores
representantes da Contracultura brasileira tenham sido os Mutantes, os Novos Baianos e Raul
Seixas. Além do consumo de drogas, os dois primeiros chegaram a viver em comunidades
alternativas (os Mutantes na Serra da Mantiqueira em São Paulo e os Novos Baianos na Boca do
Mato em Jacarepaguá), enquanto que Raul Seixas pregava abertamente a criação de uma
“Sociedade Alternativa” - sendo, inclusive, expulso do país pelo regime militar.
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Apesar de
fazerem sucesso nas rádios e na televisão, eles não conseguiram aumentar o número de
seguidores, pois nem todos os jovens brasileiros estavam envolvidos com a Contracultura - e
jamais se envolveriam.
O Brasil não chegou a ter uma linha de Rock Journalism na sua imprensa,
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sendo que a versão brasileira da Rolling Stone e a revista POP, do grupo Abril, foram as
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- de acordo com Nelson Motta: “O verão de 1972 foi o apogeu do desbunde brasileiro. Massacrados
pela repressão política e pelo autoritarismo violento, os jovens, muitos deles sem apetite para a luta
armada, optaram pelo rompimento total com a sociedade. Viraram hippies pacifistas radicais e caíram na
boca no ácido e na maconha, viviam em comunidades, faziam música e artesanato, comiam macrobiótica
e tentavam abolir o dinheiro, o casamento, a família, o Congresso, as forças armadas, a polícia e os
bandidos, tudo de uma vez só e numa boa. Muitos encontraram a felicidade, ainda que fugaz, vivendo
com amigos numa ‘nova família’, convivendo e se divertindo como irmão.” Motta, Nelson. op. cit., p.
249;
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- extraído de: Motta, Nelson. Idem; Galvão, Luiz. Anos 70 - Novos e Baianos. São Paulo, Editora 34,
1997; Calado, Carlos. A Divina Comédia dos Mutantes. 2ª ed., São Paulo, Ed. 34, 1996;
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- o Rock Journalism foi um dos frutos da Contracultura, podendo ser definido como a união entre o
Rock’n’Roll e a produção alternativa. Surgiram, então, revistas com arte e desenhos psicodélicos,
pregando amor livre, paz e consumo de LSD junto do som de Rock’n’Roll, entre muitas outras
excentricidades, começaram a proliferar nas universidades e, em particular, na cidade de San Francisco. A
primeira publicação de Rock Journalism nos Estados Unidos foi a Crawdaddy, mas foi a revista Rolling
Stone o produto melhor acabado da combinação imprensa, Rock’n’Roll e Contracultura. A “Life da
Geração Woodstock” (palavras de Roberto Muggiati) custou 7.500 dólares, que foram tomados
emprestados por seu fundador, Jann Wenner, e tornou-se o grande canal entre a “revolução” e o
rock’n’roll. Mas nem tudo era “revolucionário” nesta revista. Myra Friedman, na sua biografia sobre a
cantora Janis Joplin, nos relata que: “A Rolling Stone começou em San Francisco, com a finalidade de
mostrar que não havia nada igual ao rock san-franciscano. Era, além do mais, impressionantemente não-
comercial, o que não quer dizer que tivesse desprezo real pelo lado comercial, e sim que parecia não ter -
com seu logotipo ornamentado, o mate acinzentado do seu papel e a falta de ortodoxia do seu layout, que
o tornavam parecido às publicações ‘underground’. Sua linguagem era piedosa e antimaterialista, o que
aumentava o seu aspecto ‘underground’. Enquanto isso, sob a direção de Jann Wenner, seu ultra-
ambicioso editor, foi se transformando na mais bem sucedida - do ponto de vista financeiro - publicação
do seu ramo. (...) Sempre operou baseada na premissa de que o rock foi o inovador de uma nova cultura, o
que em parte lhe permitiu não diminuir o fervor e subsistir.” O relato de Friedman sobre a Rolling Stone
nos mostra uma das maiores contradições que a Contracultura enfrentou: mostrar repulsa ao lucro, mas
procurando lucro. A lógica da sociedade capitalista não fora destruída na confecção destes produtos. E,
logicamente, existiam os “aproveitadores”: outras publicações de grandes empresas procuravam rivalizar
com a produção alternativa, mas tiveram vida curta, como Cheetah do Diners Club, e a Eye, da Hearst
Corporation. Nem todas as produções culturais da Contracultura enfrentaram a contradição “falta de lucro
x lucro”, como foi o caso da revista alternativa inglesa Oz, que pregava abertamente o consumo de LSD,
além de ressaltar a arte psicodélica nas suas capas e reportagens. Outra revista importante foi a
International Times (também conhecida como IT) inglesa, fundada por Barry Miles. Ambas iriam
desaparecer, quer por causa da perseguição oficial (não necessariamente censura) ou quer por sua
produção marginal não encontrar maiores retornos comerciais. Nem todas as revistas do chamado Rock
Journalism morreram, embora a sua lógica inicial (o Rock’n’Roll como elemento participante da vida