pequenas unidades políticas e a incompetência do Estado para
definir, sem a participação dos interessados, o que é melhor para
eles. Resolver o problema indígena também quer dizer,
necessariamente no plano social, aceitar como legítimas diferenças
de hábitos e costumes, tolerar comportamentos até agora
considerados desviantes e, portanto, contestar a legitimidade da
dominação ideológica que tem sido um baluarte da opressão das
camadas dirigentes sobre a população em geral. Finalmente, há que
lembrar a dimensão supranacional (..) De um lado, despertando
uma solidariedade internac ional que encontra, na ONU, um apoio
institucional importante. De outro, porque a construção de uma
identidade indígena supera os limites territoriais dos Estados
nacionais e começa a assumir uma dimensão continental através da
realização de encontros e congressos que reúnem líderes indígenas
de diferentes países. (DURHAN, Apud, COMISSÃO PRÓ-
ÍNDIO, 1983, p. 18)
Os Terena, entretanto, acostumados a negociarem diferentemente com os poderes
instituídos, foram ainda mais insistentes na via da legalidade. Foram sempre os índios
amigos do poder: “mansos”, “colaboradores”, “ambiciosos”, “obedientes”, “astutos”,
“dóceis”, “pacíficos”, “acessíveis”, enfim o estereótipo do bom selvagem. Essa
representação de índio manso e amigo há muito fora cristalizada e permaneceu presente
nos imaginários Terena e regional enquanto discursos verídicos. Os Terena por sua vez,
baseados em suas pautas culturais de contato indígena, os aceitaram, reproduziram e
introjetaram de acordo com as suas necessidades. Todavia, habituados a um tratamento
diferenciado tentaram arranjar-se de outras formas, antes de aderirem às reivindicações
coletivas. No entanto, o Estado brasileiro não os privilegiar em detrimento das outras
minorias étnicas.
Posteriormente, o movimento indígena assessorado pelas entidades pró-indígenas
percebeu conjuntamente que suas bandeiras, e principalmente a da terra, tinham raízes
estruturais e que estavam diretamente ligadas à luta pela terra que tinha assento nas
estruturas agrárias do país e que não seriam resolvidas por não interessarem ao Estado.
Perceberam, em sua maioria, que somente a luta articulada poderia gerar resultados
concretos e pouco a pouco, foram articulando-se em nível nacional e internacional.
A década de 80 foi perpassada pela organização do movimento indígena que
conquistou espaços constitucionais importantes na Legislação brasileira. Contudo, o que
está previsto em lei nem sempre quer dizer estar em vias de concretização. Porém, gera
expectativas de que organizados os povos indígenas possam fazer valer essas conquistas.
Nesta década, muitos intelectuais orgânicos contribuíram com suas profundas elaborações,