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Tomaz Aroldo destaca a importância da escola pública como elemento fundamental de
“ascensão social”, válido não só para ele, mas para muitos de seu amigos e contemporâneos,
uma vez que era um Colégio basicamente para a classe mais baixa.
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Para Carlos Afonso, o Colégio abriu um mundo novo, que ele não conhecia:
“... O Colégio Municipal é um marco na minha vida [...]. Eu divido a
minha vida entre antes e depois do Colégio Municipal [...] porque antes, primeiro, o
meu curso, equivalente ao ginasial, foi uma escola no princípio da industrialização.
Então, intelectualmente, não era um lugar muito estimulante, né? Você aprendia,
você ia se tornar técnico... E eu era muito novo também, quer dizer, eu concluí o
meu curso lá no SENAI. Eu tinha quinze anos. Então, a minha família era
extremamente modesta, sem recursos. Eu não tinha uma visão sequer do que era um
curso superior...
... O futuro que se deslumbrava era ter um bom emprego, nas indústrias
que estavam surgindo. Era a formação de mão-de-obra qualificada. Pois bem,
depois de ter feito madureza e entrado no Colégio Municipal, abriu-se, para mim,
um mundo que eu desconhecia, com perspectivas de carreira, com convivência com
colegas de classes sociais diferenciadas, porque isto era uma característica
importante dentro do Colégio Municipal. Você tinha desde as pessoas mais pobres,
das classes sociais mais desprovidas, até gente muito rica. E você convivia
democraticamente dentro do Colégio, sem nenhuma distinção [...] e com professores
da época, que eram pessoas extremamente competentes e muito acessíveis. E a
convivência com esse pessoal foi me abrindo perspectivas que não faziam parte de
minha referência de vida...
Seja do ponto de vista político, seja do ponto de vista intelectual foi, assim,
entrar num mundo novo mesmo.”
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As lembranças da rigidez, da seriedade mescladas ao amor e à amizade são
recorrentes. Como depõe Josemar O. de Alvarenga:
“...Fazia uma questão imensa da vistoria dos uniformes, os sapatos
engraxados, os cadarços bem atados, os botões nas camisas, se estavam limpas, o
uniforme limpo, bem passado, fazia muita questão, os cabelos... Existia sempre um
professor que ficava tomando conta na entrada, as unhas, fazia a vistoria das
orelhas...
...Havia o sinal, nós fazíamos uma fila e tínhamos cantar o hino nacional,
se não me engano todas as sextas-feiras, e se cantava o hino nacional com os
professores todos distribuídos pelo pátio, e tomando conta da postura dos alunos.
Depois caminhávamos em fila, cada qual para a sua sala, as carteiras numeradas,
um sistema disciplinar, não vou dizer assim rígido, porque não era rígido, era
necessário, com muita dedicação dos professores.
...Nós éramos obrigados a freqüentar o dentista do colégio. Ele fazia um
levantamento ‘epistemológico’ dos dentes de todo mundo, certo? Como éramos
obrigados a ter um seguimento antropométrico, crescendo ou não. Todos os alunos
passavam por isso, todo santo ano e duas vezes ao ano...Mas tudo isso, era visando
o que? A cidadania, o cidadão. ...
Existia alunos bem diferenciados, financeiramente, socialmente bem
destacados. A gente notava até pela maneira de se vestir, os chamados da “zona
sul’... E existia pessoas muito humildes, em que a gente notava até pela maneira de
se vestir. Apesar do uniforme básico ser o mesmo, enquanto um, tinha três, quatro, o
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Idem.
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Entrevista concedida por Carlos Afonso Rêgo em Belo Horizonte, 16/01/2001.