fim de obter a permissão do superior geral Mucio Viteleschi em Roma para
trabalhar na frente missionária do Paraguai.
Os vencidos têm o direito à memória negado, porque ela pode fortalecer
a consciência da identidade étnica do grupo e, em assim sendo, poderia fomentar
revoltas.
191
Os colonos de Assunção e Xerez temiam as rebeliões porque
conheciam a habilidade guerreira dos Guarani
192
e, como tal, conspiraram para o
fracasso dos empreendimentos dos missionários, já que os estabelecimentos dos
jesuítas implicaria na sonegação da mão-de-obra dos índios, tendo como base
Cédulas Reais obtidas em Madri pelos procuradores
193
da Companhia.
Affonso de E. Taunay (1925) lança algumas luzes sobre as articulações
entre os colonos de Xerez (motivado pelo "ódio antijesuitico") e os bandeirantes,
por ocasião dos ataques dos paulistas à missão de Nuestra Señora de la Fe.
191
Na região de Assunção, a última tentativa de revolta ocorreu entre os anos de 1652-1658 quando
os Guarani levantaram-se mais uma vez contra os trabalhos obrigatórios. O líder da revolta – Rodrigo
Yaguariguay – foi enforcado junto com seus seguidores e os prisioneiros foram escravizados por
serem "rebeldes" e indolentes. À medida que a posição de Assunção ia-se firmando, aumentava a
carga sobre os ombros dos índios Guarani que trabalhavam no cultivo, nas obras públicas e privadas,
cuidando do gado, no corte de madeira, nas plantações de tabaco, nos ervais, nas lavouras de algodão
e, em caso de perigo de índios inimigos, serviam também como soldados. Um elemento que deve ser
ressaltado é o fato de que estas atividades impostas aos índios (mas não unicamente a eles) exigem
pouca qualificação, o que atesta a condição social inferior em que se encontravam os índios
(especialmente os Guarani) e os criollos, que não eram índios de direito, apenas de fato. A violência
com que as rebeliões eram reprimidas mostra a importância a elas atribuída. Este drama do ano 1660
quebrou a última resistência Guarani na região do Paraguai colonial. Este episódio recebe breve
comentário aqui porque nele tomam parte Itatines misioneros expulsos do Itatim. Cf. SUSNIK, B.
Etnografia Paraguaya, p. 124s.
192
O Guarani se autodenominava de avá (pessoa, ser humano), já o guerreiro se chamava de avá-eté
e gozava de status privilegiado dentro da comunidade, praticava a poligamia forçada ou consentida,
tomava posse, por meio da guerra, dos rios, tinha direito sobre a colheitas dos povoados menores
submetidos e "integrava" outras aldeias à sua a fim de prover os braços necessários aos trabalhos
agrícolas, de modo que o expansionismo Guarani encontrava nele – o guerreiro – seu representante
concreto. Cf. SUSNIK, B. Etnografia Paraguaya, p. 104-105.
193
O procurador da Província do Paraguai era o jesuíta Francisco Dias Taño. Esta função era
necessária na opinião dos jesuítas, pois muitas pessoas "en aquel tiempo" deixavam levar-se e tinham
"transtornado la cabeza de aquellas famosas calumnias contra la compañia y sus misioneros". Cf.
BOROA, D. La Província del Itatín, p. 544.