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destacados para a Quinta da Boa Vistas, encontram-se nada menos do que 7
especializados. São dois carpinteiros, três pedreiros, um oleiro e um curtidor.
Então temos que em Santa Cruz, um elevado percentual de sua
escravaria detinha algum conhecimento profissional e esses cativos, tanto
quanto os não qualificados eram destacados para suprir as demandas por
mão-de-obra. É possível que o plano de Couto Reys tenha sido posto em
prática. Dizia ele:
Com estas considerações, tantas vezes conferidas e analysadas na minha
memória, me pareceu que, entre tantos artigos de que recordava, dois
mereciam uma particular attenção para serem adoptados, e seriam bem
aceitos na justiça dos gênios cordados imperiais. O primeiro, a educação
de um certo número de rapazes escravos, mais geitosos, e de provada
habilidade, applicando-os a ofícios mecanicos, debaixo da doutrina, e
insinuaçõa de bons mestres, formando com este expediente um
congregado de hábeis carpinteiros da ribeira e obra branca, de calafates e
tanoeiros de ferreiros e serralheiros, de pedreiros, caboqueiros, &c., para
se occuparem indefectivelmente nas obras reaes, como nos arsenaes,
trem, e casa de armas: cujos jornaes avultadissimos, em que a fazenda
real faz annualmente consideráveis despezas, ficando nos cofres do Erário,
eram consequente e indubitável rendimento da fazenda de Santa Cruz, que
entraria na conta de seus lucros.
71
Também corrobora a efetivação desse expediente, o relatório de
distribuição da escravaria da fazenda em 1849,
72
que apresenta um índice de
31% da população masculina ativa em atividade ou em preparação para o
exercício de um ofício. Ainda que esse índice seja menor do que o de 1815, é
três vezes maior do que o percentual encontrado por Florentino e Góes para o
agro-fluminense como um todo.
73
É provável que o incentivo a formação profissional transparecesse para
a Coroa e para a administração como parte integrante e importante da
71
Id. pp. 157-158.
72
Mapa da totalidade da Escravatura da Imperial Fazenda de Santa Cruz. Datado de
30/06/1849 e assinado pelo escrivão Pedro Nolasco da Silva. Arquivo do Museu Imperial.
Petrópolis.
73
FLORENTINO, Manolo e GÓES, J. Roberto. A paz das senzalas. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira. 1997. p. 109.