Quarup À Luz dos Impasses Políticos e Estéticos dos Anos de 1960
Quando foi para Londres, Callado tinha a intenção de ficar seis meses fora da
“pressão” e da “humilhação” a que estava submetida a imprensa brasileira, mas acabou
ficando seis anos, casou-se com a inglesa Jean Blackmore Watson, com quem teve três
filhos. Em 1947, voltou ao Brasil: foi um tempo precioso para mim, até porque foi me
dando uma saudade muito grande de um Brasil que eu conhecia mal, como em geral é o
caso dos brasileiros. Eu conhecia o quê? Rio de Janeiro, São Paulo, Recife...
15
Ao retornar ao Brasil, Callado quis “conhecer” o país, e sua atividade de jornalista
propiciou isto, e como ele próprio afirmou “viagem literatura caminham juntas”. A partir da
década de 1950, teve uma vasta produção ficcional entre peças teatrais e romances, além
das obras de reportagens.
16
Callado sempre foi um homem de esquerda, engajado politicamente, sem pertencer
a Partidos
17
- mesmo que, às vezes, concordando com suas idéias: eu, que nunca pertenci
ao PCB, continuo tendo as idéias do partido.
18
Isto demonstra a firmeza e a fidelidade de
suas convicções. Permitindo falar do “estilo Callado”, que lhe rendeu vários apelidos como:
15
Ibidem, p. 72.
16
Antônio Carlos Callado, ao longo de sua vida, foi autor de várias obras, as quais desenvolveu paralelamente
às suas atividades de jornalista. Sua produção literária perpassa pelo engajamento político denotando sempre
uma sintonia com o contexto histórico, dentre estas obras, podemos ressaltar algumas, Teatro: O Fígado de
Prometeu (1951), A Cidade Assassinada (1954), Frankel (1955), Pedro Mico (1956), O Colar de Coral
(1957), O Tesouro de Chica da Silva (1959), Uma Rede para Iemanjá (1961), Forró no Engenho Cananéia
(1964), A Revolta da Cachaça (1983), Romance: Assunção de Salviano (1954), Madona de Cedro (1957),
Quarup (1967), Bar Don Juan (1971), Reflexos do Baile (1976), Sempreviva (1981), A Expedição Montaigne
(1982), Concerto Carioca (1985), Memórias de Aldenham House (1989). Conto: Prisão Azul (1943-1944), O
Homem Cordial (1967), Violeta entre os Felinos (S/D), Dona Castorina de Paissandu (S/D), O Último
Indivíduo do Tribo Rondon-Vilas Boas (S/D). Reportagem: as mais conhecidas são: Esqueleto na Lagoa
Verde (1953), Os Industriais da Seca e os Galileus de Pernambuco (1959), Tempo de Arraes (1964), Vietnã
do Norte (1977), Passaporte sem Carimbo (1978). Ensaio: Entre Deus e a Vasilha (1985). Biografia:
Cândido Portinari.
17
O único “clube” a que Callado filiou-se foi a Academia Brasileira de Letras – ABL -, em 1994, ocupou a
cadeira que pertenceu a Austregésilo de Athayde. Referia-se à Academia Brasileira de Letras - ABL: sempre
vi a ABL como um clube de pessoas interessadas em literatura. De uns três meses para cá passei a
perguntar: porque não entrar? Sempre tive respeito pela academia, que foi fundada por Machado de Assis,
um homem distante da vaidade fácil das coisas passageiras. Depois dele, quase todos os grandes escritores
brasileiros – à exceção de Drumond – pertenceram à ABL. (...) Agora, minha única objeção é quanto ao
fardão, uma coisa horrível. Aquilo é coisa que pertenceu a uma determinada época. Hoje é totalmente
desnecessário. Confessou que, durante o período que viveu Londres (1941-1947), esteve tentado a entrar para
o Partido Comunista, mesmo porque tinha muitos amigos no Partido, mas resistiu, pois alguma coisa lhe dizia
que não ia dar certo por causa do lado dogmático aplicado a política. CALLADO, A. Um prédio de doidos.
Isto é. São Paulo: n.º 1276, mar. 1994. Entrevista concedida a Daniel Stycer.
18
CALLADO, A. Antônio Callado. Op. Cit. p. 63. Neste trecho da entrevista, Antônio Callado reafirma sua
opção socialista, que manteve ao longo de sua vida.