Download PDF
ads:
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em História
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da
Faculdade de Filosofias e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul para a obtenção do título de Doutor em
Arqueologia
por
Maria Cristina Tenório de Oliveira
Vol I
Orientador: Prof.º Dr. Klaus Hilbert
2
a
Edição
Porto Alegre – RS - maio - 2003
O Lugar dos Aventureiros:
identidade, dinâmica de ocupação e sistema de trocas no
litoral do Rio de Janeiro há 3500 anos antes do presente
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
Aos caros colegas, aos bravos do presente, aos
otimistas do futuro e, principalmente, aos
saudosos que já partiram.
ads:
iii
Agradecimentos
Agradeço à Maria Dulce Gaspar pela leitura dos originais, pelo incentivo,
pelo apoio através de projetos sob sua coordenação e pela participação na
pesquisa de campo.
Ao Klaus Hilbert pela confiança depositada, pela tranqüilidade e segurança
transmitida como orientador e pelo apoio nas horas de aflição;
Ao Arno Kern pelas sugestões, indicações de leituras e orientação;
À Angela Buarque, amiga, profissional, o meu agradecimento pelas
inúmeras revisões, leituras e sugestões, além da participação na pesquisa de
campo;
À Márcia Barbosa por todo apoio profissional, emocional e logístico em
todas as fases da pesquisa;
À Paul e à Susan Fish pela oportunidade de freqüentar os cursos e a
biblioteca da Universidade do Estado do Arizona;
À Bárbara Voorhies, a ao Michel Schiffer pelas sugestões;
Ao Museu Nacional, instituição de pesquisa que na qual me iniciei na
arqueologia;
À Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente FEEMA,
especialmente ao Carlos Alberto Correa Athaíde e ao Rogério de Oliveira por todo
seu apoio;
A CAPES pela bolsa de doutorado;
Ao projeto “O Aproveitamento Ambiental das Populações Pré-Históricas do
Estado do Rio de Janeiro” convênio FINEP/Museu Nacional/FUJB, que me
ofereceu a infra-estrutura necessária ao desenvolvimento da pesquisa;
iv
Ao projeto “Soberano da Costa” financiado pela FAPERJ pelo apoio
financeiro na fase final da elaboração da tese;
A FURNAS pela cessão de Teresa Cristina Franco;
Ao Museu Emílio Goeldi pela cessão de Maura Imázio da Silveira para os
trabalhos de em diversas etapas de pesquisa de campo;
Ao Jorge Marcello Filho pelo companheirismo em todas as fases da
pesquisa;
Á
Débora B.da Rocha pela participação nos trabalhos de campo, pelo
apoio e pela identificação da fauna;
Ao Newton de Miranda e ao Eduardo Elston pela participação no campo e
pela triagem do material em laboratório;
Á Teresa Cristina Franco, Maria Cristina Leal, Roberto De Nóia, Maura
Imázio, Elisa Dalcin, Deise Velludo, Teresa Portella, Suzana Bulcão, Giovani
Scaramella, Bárbara Sette, Vera Erthal, Carla Scofield, Márcia Bezerra, Iramar
Venturini pela participação na pesquisa de campo; ao Diogo Cerqueira Pinto, à
Daniela Cerdeira da Silva e à Júlia, pela triagem do material arqueológico; a
Isabelle Pinto pelos desenhos;
À Elizabeth Christina da Silva, Sheila Ferraz, Claudia Carvalho de Oliveira e
a Verônica Wesolosky pela análise preliminar dos esqueletos;
Ao Benedito Humberto Francisco pela análise de sedimento e a Loiva
Antonielle pela análise pedológica, ao Elmo Amador pela assessoria nas questões
geomorfologicas. Ao Levi Figuti, a Martha Locks e ao André Jacobus pela
identificação dos restos faunísticos;
À Rita Scheel-Ybert pelas sugestões na análise dos vestígios botânicos;
v
Aos funcionários técnicos administrativos do Programa de Pós-Graduação
em História da PUCRS, pelo auxílio na parte burocrática; especialmente a
Carla
Helena Carvalho Pereira e a Adriana Arus pela presteza e pela gentileza;
Ao povo do Aventureiro pelo apoio, com agradecimento especial a Lúcia, ao
“vovô”, ao Luís, à ZuleiKa, à Neneca, ao Tataco, ao Mi e ao Roberto;
À Teresinha Franco pelo inesquecível auxílio;
Ao Luís Sérgio Touché pelo fundamental apoio na Ilha Grande;
Ao Salvador da Pousada de Palmas pela ajuda na hospedagem;
Ao Beto Barcellos, a Teresa Cristina Franco, a Maria Dulce Gaspar, a Maura
Imázio da Silveira pelas fotos;
À Bernadete pela inestimável ajuda e incentivo;
E às minhas queridas filhas Olívia e Isadora agradeço a paciência, a
solidariedade e toda a felicidade que me deram nos dias difíceis.
vi
APRESENTAÇÃO
No desenvolvimento de minhas pesquisas em sítios litorâneos, sempre me
interessei por evidências que sugeriam comportamentos que envolviam mais
custo do que benefício, por acreditar que, por trás de comportamentos em que o
dispêndio de energia não é compensado pelo resultado obtido, podem ser
inferidas as relações sociais.
O fato de carregar alimentos para serem consumidos e acumulados em
locais altos e também a distribuição pontual dos amoladores polidores fixos no
litoral brasileiro me pareceram manifestações culturais específicas a
determinados grupos, cujo estudo poria contribuir para o entendimento de
identidade social e de sistema de trocas.
A questão foi desenvolvida a partir de quatro capítulos:
No primeiro, capítulo introdutório, houve a preocupação de conceituar e
mostrar como vem sendo abordado pela Arqueologia o objeto de estudo. De
definir a problemática e de apresentar os pressupostos teóricos metodológicos e
as hipóteses explanativas.
No segundo capítulo, a problemática é contextualizada, são apresentadas
as propostas para explicar a origem e a dispersão dos sambaquis no litoral
brasileiro com o objetivo de entender como e porque esses sítios teriam sido
construídos. São caracterizados os sítios encontrados, sendo enfocados os
vii
elementos marcantes da cultura material que possam ser considerados como
símbolos de identidade social. É delimitado o período e a área enfocada como
também é apresentado um quadro arqueológico da região. São discutidos os
modelos interpretativos propostos para explicar a ocupação do litoral do Rio de
Janeiro e contextualizada a ocupação da Ilha Grande.
No terceiro capítulo, é apresentada a arqueologia da Ilha Grande, área
onde é testado o modelo interpretativo construído no primeiro capítulo. São
mostrados os resultados e uma conclusão parcial.
No quarto capítulo, é apresentada a conclusão final.
viii
RESUMO
No presente trabalho, são abordadas três questões principais: identidade
sociocultural; mobilidade e dinâmica de ocupação e sistemas de trocas.
O enfoque principal está na Ilha Grande, no período de 3500 a 2500 anos
AP. Como contorno, a baía da Ilha Grande e de Sepetiba; como contexto,
apresenta-se o litoral do estado do Rio de Janeiro e como pano de fundo, o litoral
brasileiro do estado do Rio Grande do Sul ao estado do Espírito Santo.
A pesquisa estruturou-se nos conceitos de análise espacial e de ecologia
humana, acrescida do estudo do processo de formação de sítios sendo levada em
consideração a crítica da arqueologia pós-processual. Associada a essas
abordagens foram também testados modelos etnográficos para estabelecer
relações válidas entre fenômenos arqueologicamente observáveis e
comportamentos humanos, impossíveis de serem observados em termos
arqueológicos.
Parte-se do pressuposto de que, no caso do litoral, os problemas na
reconstituição das províncias culturais, baseados no estudo da cultura material,
podem ser minimizados se forem considerados os fatores de etnicidade e a
possibilidade de ter havido intenso contato incentivado pelo transporte aquático e
pelo tipo de atividades desenvolvidas para a subsistência.
ix
Como ferramenta para a inferência de identidade cultural, contato e
sistema de troca, utilizaram-se, como traço cultural, os amoladores polidores fixos
encontrados no litoral brasileiro.
A grande incidência de amoladores polidores fixos encontrados na Ilha
Grande estaria sugerindo a existência de centros de produção e de distribuição de
lâminas de machados polidas e que o Holoceno tardio na costa do Rio de Janeiro
poderia ter sido marcado pelo desenvolvimento de especialização tecnológica e
intensificação dos sistemas de trocas. A reconstituição do processo de formação
do sítio Ilhote do Leste, localizado na Ilha Grande, permitiu inferir a presença de
eventos que envolviam uma concentração de um número maior de pessoas,
corroborando esta hipótese.
PALAVRA CHAVE
ARQUEOLOGIA DO LITORAL – SAMBAQUI - ILHA GRANDE
x
ABSTRACT
Three questions were approached in this work: socialcultural identity,
mobility and dynamic of occupation and systems of changing.
The main focus is in Ilha Grande between 3.500 and 2.500 BP. As outskirts
there is Ilha Grande and Sepetiba bays; as context there is the coast of Rio de
Janeiro state and as backdrop the brazilian coast since Rio Grande do Sul until
Espírito Santo state.
The research was framed on the concepts of spatial analysis and human
ecology besides the study of formation process of the sites, taking into account the
review of the pos-processual archaeology. Associated to these approaches,
ethnographic models were also tested to stablish valid relations among
phenomenons remarkable archaeologically and human behavior, which are
impossible to observe under archaeological way.
We believe that, in case of the coast, the problems to reconstitute the
cultural province, based on the study of material culture, can be minimized if the
factors of ethnicity and the possibility of intense contact by aquatic transportation
and by the kind of developed activities for subsistence were considered.
The fixed grindstones, found on brazilian coast, were used as tools to infer
cultural identity, contact and system of exchange.
xi
The great abundance of fixed grindstones, found in Ilha Grande, will be
suggesting the existence of ash blades production and distribution centers and
the late Holocene on Rio de Janeiro coast could be marked by development of
technologic specialization and intensification of exchange system.
The reconstitution of the formation process of the site Ilhote do Leste,
situated in Ilha Grande, permitted to infer the presence of events which have
involved a concentration with a great number of people, confirming this
hypothesis.
KEYWORDS
COASTAL ARCHAEOLOGY - SHELLMOUNDS – ILHA GRANDE
xii
Agradecimentos
iii
Apresentação vi
Resumo viii
Abstract x
ÍNDICE
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
1. Problemática 1
2. Pressupostos teóricos-metodológicos 42
3. Hipóteses explicativas 66
4. Conceituação do problema – Os sambaquis 69
5. Os amoladores 82
CAPITULO II – CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
1. Povoamento do litoral brasileiro 138
2. Quadro arqueológico do litoral do estado Rio de Janeiro. 177
3. Delimitação e caracterização da área de estudo. 208
4. Dinâmica de ocupação da Ilha Grande 223
xiii
5. Quadro arqueológico da região 261
CAPÍTULO III – Arqueologia da Ilha Grande
1. Metodologia de abordagem 301
2. Os amoladores polidores fixos 320
3. O Sítio Ilhote do Leste 359
4. O Sítio da Ponta do Leste 474
CAPÍTULO IV
1. Considerações finais 482
2. Conclusão 504
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE ANEXOS
xiv
Índice das Figuras
Figura 1. Amolador portátil. Sítio da Ponta da Cabaça, Arraial do Cabo. 84
Figura 2. Amoladores portáteis (Extraído de Prous 1992: 231). 84
Figura 3. Canoa. 93
Figura 4. Friso. 93
Figura 5. Forma côncava convexa (Foto extraída de Amaral 1995:122). 94
Figura 6. Friso longo (Foto extraída de Dias 1959). 94
Figura 7. Amoladores-Polidores fixos da Amazônia (Foto Extraída de Hilbert 1959).
95
Figura 8. Proximidade dos Amoladores-polidores fixos com vários tipos de
sítios. 95
Figura 9. Associação dos amoladores-polidores fixos com vários tipos de
Sítios. 101
Figura 10. Distribuição das formas dos sulcos dos amoladores-polidores
Fixos. 101
Figura 11.Forma inicial identificada no sítio Forte Marechal Luz (Foto extraída de Bryan
1993). 103
Figura 12. . Matéria prima do suporte.
103
Figura 13. Distribuição das formas- Forma 1- prato. 109
Figura 14. Distribuição das Formas – Forma 2 – canoa. 110
Figura 15. Distribuição das formas – forma 3 – oval. 111
Figura 16. Distribuição das formas – forma 4 – Friso. 111
Figura 17. Distribuição das formas – forma 5 – bacia. 112
Figura 18. Distribuição das formas – forma 6 – bacia côncava-convexa. 113
Figura 19. Distribuição das formas – forma 7 – inicial. 113
Figura 20. Frisos com orientação. 115
Figura 21. Elaboração de machados com auxílio de polidor manual (Foto extraída de
Kozak et al 1979). 117
Figura 22. Forma da canoa feita na areia. 125
Figura 23. Canoa com friso deita na areia 125
Figura 24. Frisos feitos na areia 126
Figura 25. Seixo friccionados para correção de irregularidades de bordo 127
Figura 26. Afiando o gume 127
Figura 27. Suporte utilizado na experimentação 128
Figura 28. Ficha de experimentação 129
Figura 29. Datações dos estados de Santa Catarina e Paraná 155
Figura 30. Distribuições das datações dos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro 156
Figura 31. Distribuição das áreas de concentração dos sítios no litoral do
Brasil 161
Figura 32. Distribuição das datações de sítios pra o litoral do Brasil 174
xv
Figura 33. Área 1 e 2. 180
Figura 34. Área 3. 182
Figura 35. Área 4. 184
Figura 36. Área 5. 186
Figura 37. Área 6. 188
Figura 38. Mapa Geológico . 214
Figura 39 Mapa com distribuição de praias. 220
Figura 40. Mapa com pesqueiros. 222
Figura 41. Refugo da família de D. Angelina. 252
Figura 42. Acúmulo de lixo próximo à casa do Purungo. 252
Figura 43. Valvas de moluscos dispensados pelo sr. Eráclio. 253
Figura. 44 Distribuição dos sítios na área de pesquisa 269
Figura 45. Localização dos sítios 270
Figura 47. Distribuição dos sambaquis. 275
Figura 48. Ponta de esporão de raia. (Extraído de Kneip:1987) 288
Figura 49. Pingente em concha do sítio Guaíba (Extraído de Heredia et al 1984)
290
Figura 50. Pingente lítico. (Extraído de Heredia et al 1984). 291
Figura 51. Ficha de Prospecção. 303
Figura 52. Distribuição dos sítios na Ilha Grande 310
Figura 53 Ficha do síti Toca do Índio. 312
Figura 54. Sitio da estrada 314
Figura 55. Sitio do Mero 315
Figura 56 Sítio da Longa 317
Figura 57 Sítio Provetá. 318
Figura 58 Sítio Ponta do Leste. 319
Figura 59. Amoladores-polidores fixos. 322
Figura 60. Localização dos suportes. 323
Figura 61. Canoa. 326
Figura 62. Canoa com friso. 326
Figura 63. Friso . 327
Figura 64. Canoa redonda. 327
Figura 65. Canoa com mais de um friso. 328
Figura 66. Panela. 329
Figura 67. Frisos paralelos. 329
Figura 68. Canoa funda. 330
Figura 69. Friso gigante. 330
Figura 70. Canoa com bordo saliente. 331
Figura 71. Forma de gota. 331
Figura 72. Distribuição dos tipos de sulcos. 332
Figura 73. Distribuição dos tipos de sulcos na Ilha Grande. 333
Figura 74. Proximidade com sítios. 336
Figura 75 . Gráficos de incidências dos tipos 1 e 3. 338
Figura 76. Mapa do Rio de Janeiro com distribuição de amoladores-
polidores fixos. 340
xvi
Figura 77. Relação dos amoladores-polidores fixos com os sítios
identificados na Praia de Massambaba, Arraial do Cabo.
343
Figura 78. Comparação com os sulcos encontrados: (a) Restinga
de Marambaia; (b) Ilha Grande.
345
Figura 79. Sulcos encontrados na Praia de Massambaba (a) e em
Lopes Mendes (b).
347
Figura 80. Sulcos com forma de canaleta encontrados na Ilha
Grande. 349
Figura 81. Sulcos com forma acanalada encontrados em Arraial
do Cabo. 350
Figura 82. Ilhote do Leste, Ilha Grande, RJ. 360
Figura 83. Geologia da Planície Costeira da Praia do Sul, Ilha Grande (extraído de Amador
1987/88). 364
Figura 84. Reserva Biológica da Praia do Sul, segundo FEEMA. 366
Figura 85. Manguezal. 370
Figura 86. Sítio Ilhote do Leste. 375
Figura 87a. Vista do sítio Ilhote do Leste para o manguezal. 376
Figura 87b. Rochas na área central do sítio. 377
Figura 88. Piso partido. 378
Figura 89. Curva de variação de nível do mar de acordo com Martin et al
(1987). 379
Figura 90. Amolador-polidor enterrado no canto da praia do Sul. 380
Figura 91. Ponta grande de osso encontrada fora do sítio. 381
Figura 92. Perfil mostrando a inclinação da camada de concha. 383
Figura 93. Levantamento topográfico com as áreas escavadas. 384
Figura 94. Denominação das áreas escavadas. 386
Figura 95. Acúmulo de refugo deixado como bloco testemunho. 388
Figura 96. Camadas estratigráficas. 389
Figura 97. Distribuição espacial da camada óssea. 392
Figura 98. Dinâmica de formação do setor T.1.1 394
Figura 99 – inclinação da camada óssea. 395
Figura 100. Amontoados de concha no setor F0. 396
Figura 101.Localização das amostras datadas. 402
Figura 102. Ilustração do processo de desmoronamento de parte do piso
de argila do setor P.1.5 403
Figura 103. Relação do material ósseo e malacológico na camada
malacológica. 416
Figura 104. Relação dom material ósseo e malacológico na camada
óssea. 417
xvii
Figura 105. Relação do material ósseo e malacológico nos bolsões
mistos. 417
Figura 106. Relação do material ósseo e malacológico na camada malacológica
com sedimento e sem sedimento. 418
Figura 107. Relação do material ósseo e malacológico na camada
de material esparso.
419
Figura 108. Peixes identificados na camada óssea.
420
Figura 109. Peixes identificados na camada malacológica. 422
Figura 110. Distribuição do material malacológico no setor D4. 424
Figura 111. Tipologia da indústria óssea. 1 - Tipo 1; 2 - Tipo 2; 3 - Tipo 3.
a - vista anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
429
Figura 112. Tipologia da indústria óssea. 4 - Tipo 4; 5 - Tipo 5; 6 - Tipo 6.
a - vista anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
430
Figura 113 . Tipologia da indústria óssea. 7 - Tipo 7; 8 - Tipo 8; 9 - Tipo 9.
a - vista anterior; b - vista posterior; c - vista lateral. Tamanho
natural. 431
Figura 114. Tipologia da indústria óssea. 10 - Tipo 11; 11 - Tipo 11; 12 - Tipo 12. a -
vista anterior; b- vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
432
Figura 115. Tipologia da indústria óssea. 13 - Tipo 13; 14 - Tipo 14. a - vista anterior; b -
vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural. 433
Figura 116. Tipologia da indústria óssea. 15 - Tipo 15; 16 - Tipo 16. a - vista anterior; b -
vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural. 434
Figura 118. Tipologia da indústria óssea. 17 - Tipo 17; 2 - Tipo 18. a – vista anterior; b -
vista posterior; c - vista lateral. Tamanho natural. 435
Figura 119. Tipologia da indústria óssea. 19 - Tipo 19; 20 - Tipo 20; 21 - Tipo 21. a - vista
anterior; b- vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
436
Figura 120. Tipologia da indústria óssea. 22- Tipo 22; 23 - Tipo 23 a - vista anterior; b -
vista posterior; c- vista lateral. 437
Figura 121. Tipologia da indústria óssea. 24A - Sutipo 24A; 24B -Subtipo 24B. a - vista
anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho
natural. 438
Figura 122. Tipologia da indústria óssea. 25 - Tipo 25; - Tipo 26 - Tipo 26.
A - vista anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
439
Figura 123. Tipologia da indústria óssea. 27A - Subtipo 27A; 27B - Subtipo 27B; 27C -
Subtipo 27C. a - vista anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho
natural. 440
Figura 123. Tipologia da indústria óssea. 27A - Subtipo 27A; 27B - Subtipo 27B; 27C -
Subtipo 27C. a - vista anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho
natural. 441
xviii
Figura 125. Tipologia da indústria óssea. 27 G Sub-tipo
27G. a vista anterior; b- vista posterior; c-
vista lateral. Tamanho natural. 442
Figura 126. Distribuição espacial da industria óssea. 444
Figura 127. Distribuição espacial da industria óssea. 445
Figura 128. Distribuição, por camada, dos artefatos ósseos. 446
Figura 129. Distribuição dos dentes trabalhados por famílias. 450
Figura 130. Lâmina de machado achada fora do sítio. 453
Figura 131. Lâminas de machados associadas a sepultamentos. 454
Figura 132. Artefatos líticos possivelmente utilizados para escavar canoas: a e b.
455
Figura 133. Enterramento com artefatos líticos como acompanhamento. O monte de refugo
do setor H4 foi cortado para deposição do
corpo. 462
Figura 134. É uma constante a presença de seixos e
lâminas de machado relacionados aos enterramentos.
463
Figura 135. Enterramento com lâmina de machado. 463
Figura 136. Enterramento com acompanhamento de pingentes ósseos. 464
Figura 137. Concreção e concha com dois buracos de estaca. 472
Figura 138. Sítio da Ponta do Leste. 475
Figura 139. Escavação do sítio da Ponta do Leste. 475
Figura 140. Do sítio da Ponta do Leste avista-se o sítio Ilhote do Leste. 476
Figura 141. Sepultamento do sítio da Ponta do Leste. 479
Figura 142. Sepultamento do sítio da Ponta do Leste. 480
Figura 143. Enterramento com membros superiores cobertos com areia tingida de
vermelho. 480
Índice das Tabelas
Tabela 1 Ocorrência de artefatos líticos em sítios localizados no litoral brasileiro.
23
Tabela 2 Ocorrência de artefatos em sítios localizados no litoral brasileiro.
24
Tabela 3. Ocorrência de artefatos malacológicos em sítios localizados no
litoral brasileiro. 25
xix
Tabela 4. Amoladores polidores fixos de Santa Catarina 98
Tabela 5 Distribuição qualitativa dos artefatos líticos no estado do Rio de
Janeiro. 157
Tabela 6 Distribuição qualitativa dos artefatos ósseos no estado do Rio de Janeiro.
158
Tabela 7. Distribuição qualitativa dos artefatos malacológicos no estado do
Rio de Janeiro. 158
Tabela 8. Concentração de sítios em Paratimirim. 262
Tabela 9. Concentração 1 . 267
Tabela 10. Concentração 2. 268
Tabela 11 Concentração 3 . 271
Tabela 12 Concentração 4 . 273
Tabela 13 Concentração 5. 274
Tabela 14. Material resgatado nos sítios pesquisados. 277
Tabela 15. Espécies malacológicas presentes nos sítios. 280
Tabela 16 Peixes- espécies mais consumidas. 283
Tabela 17. Artefatos líticos encontrados nos sítios. 285
Tabela 18. Artefatos ósseos encontrados nos sítios. 287
Tabela 19. Artefatos malacológicos encontrados nos sítios. 304
Tabela 20. Ficha de campo 305
Tabela 21. Ficha utilizada no campo 306
xx
Tabela 22.Fauna e flora da RBEPS, Ilha Grande de acordo com o Plano
Diretor (1985).
367
Tabela 23. Identificação dos Espécimes coletados na Ilha Grande. 373
Tabela 22. PMARA - Material Malacológico.
407
Tabela 23. Programa Mínimo de Restos Alimentares - PMARA - material
Ósseo. 408
Tabela 24. sistemática e habitat das espécies identificadas no sítio Ilhote do
Leste (Ilha Grande, RJ). 421
Tabela 25. Descrição dos tipos de pontas ósseas. 426
xxi
Índice dos Quadros
Quadro 1- Datações obtidas em sítios próximos à amoladores-polidores
fixos. 354
xxii
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1. Problemática
Um dos maiores interesses do estudo dos sítios litorâneos reside
justamente nas melhores possibilidades de se discriminar a
influência dos fatores ambientais que homogeneízam a cultura
material da margem de” liberdade cultural“, expressa pelas
diferenças de estilo em grupos de mesmo vel tecnológico (Prous
1992 : 199)
No presente trabalho, são abordadas três questões principais: identidade
sociocultural; mobilidade e dinâmica de ocupação; e sistemas de trocas. O enfoque
principal está na Ilha Grande, no período de 3500 a 2500 anos AP. Como contorno, a
baía da Ilha Grande e de Sepetiba; como contexto, apresenta-se o litoral do estado do Rio
de Janeiro e como pano de fundo, o litoral brasileiro do estado do Rio Grande do Sul ao
estado do Espírito Santo.
Tem-se por preocupação a caracterização das unidades mínimas, sua articulação e
seu sistema de trocas. Estas questões são focadas e inseridas num contexto maior, que é o
povoamento do litoral brasileiro, os sistemas socioculturais envolvidos e a articulação entre
eles.
Para a reconstituição da dinâmica de ocupação da baía da Ilha Grande, antes de
tudo, é necessário definir as unidades culturais envolvidas. Sendo este um dos maiores
problemas da arqueologia, cabe no estabelecimento da problemática, aprofundar a questão,
xxiii
fazendo com isso, também, uma reflexão sobre o desenvolvimento teórico metodológico
da arqueologia de litoral no Brasil.
A questão sobre identidade cultural no litoral
A questão sobre identidade cultural dos grupos responsáveis pela formação dos
sambaquis teve início logo após a finalização do debate sobre o caráter artificial desses
sítios. Esse debate durou quase 60 anos e só arrefeceu quando Clerot (1928) estabeleceu as
características que distinguiam os concheiros naturais dos artificiais.
A reformulação do conceito de tipo, nos anos 40, atribuindo-lhe um caráter
quantitativo, no lugar de qualitativo, como era usado pelos colecionadores, permitiu que
passasse a ser utilizado como um importante instrumento de pesquisa cultural (Ford 1954)
e passou a ser uma questão mundial o estabelecimento das origens e movimentos de
dispersão dos grupos pré-históricos.
No Brasil, entre as décadas de 50 e 80, houve inúmeras tentativas de agrupamentos
regionais, apoiadas na sistematização das diferenças e das semelhanças encontradas na
cultura material dos sambaquis. Dentre esses, destacam-se os trabalhos de Loureiro
Fernandes, Paulo Duarte, Adam Orssich, Ondemar Blasi, Wesley Hurt, José Wilson Rauth,
João Alfredo Rohr, Guilherme Tiburtius, Valentin Calderon, Alan Bryan, Clifford e Betty
Meggers, Margarida Andreatta, Maria José Menezes, Niéde Guidon, Luciana Palestrini,
Ondemar Dias, Ana Maria Beck e Antonio Serrano, autores cujo objetivo principal de seus
trabalhos era evidenciar os grupos afins e reconstituir os movimentos migratórios ocorridos
na costa brasileira.
xxiv
ORIGEM DA CULTURA SAMBAQUIANA
Embora houvesse uma preocupação no estabelecimento das unidades culturais e sua
dispersão, não existia, inicialmente para o litoral, um questionamento sobre a origem de
seu povoamento, se se tratava de uma só filiação cultural ou se os sambaquis haviam sido
formados por diferentes levas de grupos vindos de lugares distintos. Apenas Annette
Laming Emperaire (mimeógrafo inédito), que desejava testar a proposta de Paul Rivet
sobre a existência de uma rota alternativa por mar usada por grupos que, muito tempo,
estariam adaptados à vida marinha, sugere, em trabalho ainda inédito, a possibilidade de
uma origem única, vinda de fora.
Devido à morte prematura de Emperaire, seu projeto foi interrompido,
mas outros retomaram a questão da origem dos grupos responsáveis
pela formação dos sambaquis, passando-se a discutir se abrangia
uma ou várias culturas sambaquianas.
Segundo Prous (
op.cit
.:259), Serrano foi o primeiro a
abordar o problema da identidade do “sambaquiano”,
identificando a “fácies meridional“, com zoólitos, mais ao sul, e a
“fácies setentrional”, a partir de São Paulo, sem zoólitos.
Posteriormente, Beck (
apud
Id.Ibid
) criou subdivisões para essas
fácies e, depois, Piazza (
apud Id.Ibid
) definiu fases a partir de
sítios englobados em uma dessas subdivisões, começando por
critérios exclusivamente malacológicos, em função da
predominância dos tipos de moluscos coletados. A classificação,
xxv
a partir dos restos malacológicos, dentre outros aspectos, foi
também utilizada, no Rio de Janeiro, para definir fases, por
Mendonça de Sousa (1981), e unidades culturais, por Heredia et
al (1989).
Segundo Prous, “o que poderíamos chamar de cies meridional corresponde, a
grosso modo, geograficamente, ao que para sambaqui corresponde ao mesmo nome”
(op.cit.:273). Este autor cita, como área de incidência dos sambaquis, o litoral entre “os
domínios dos cerritos e o limite setentrional entre Ubatuba e Parati” (id), não englobando o
resto do estado do Rio de Janeiro, evitando entrar na questão da fase Itaipu.
Embora não seja colocada de forma explícita, Prous
considera a existência de uma cultura sambaquiana. Tem em
conta, também, que haveria diferentes tipos de vestígios, além
dos sambaquis, pertencentes a essa cultura, assim como a
presença de outros grupos culturais no litoral. Ou seja, para
Prous, existiriam sambaquis formados por diversos grupos, além
de haver também outros tipos de sítios formados por
sambaquianos.
Apesar de os sambaquis formarem a grande maioria dos sítios
conhecidos no litoral, eles não são os únicos e algumas outras formas
podem ser relacionadas, seja à cultura sambaquiana, seja a outras
comunidades” grifo nosso (Prous op.cit.267).
xxvi
Para Prous (ibid), estão relacionados à cultura sambaquiana os esconderijos e os
sambaquis fluviais. Os esconderijos, locais onde eram enterradas as esculturas,
provavelmente seriam sítios rituais. São encontrados em Cananéia, no estado de Santa
Catarina, e informações a seu respeito no estado do Rio Grande do Sul. Os sambaquis
fluviais podem ser divididos em sambaquis stricto sensu e acampamentos. Para Prous, os
acampamentos podem estar relacionados tanto a grupos interioranos, como, também, a
grupos responsáveis pelos acampamentos marinhos, uma outra modalidade cultural da
ocupação litorânea.
Prous separa sítios estáveis e acampamentos como unidades funcionais e não
culturais, provavelmente, baseado no modelo de Binford (1996) para mobilidade de
caçador-coletor.
Segundo Binford (id), grupos caçadores-coletores ocupariam, simultaneamente,
sítios residenciais estáveis de maior visibilidade e sítios menores para acampamentos de
curta duração. Dependendo da oferta de alimentos, a exploração se faria de duas maneiras:
caça e coleta generalizada e caça e coleta especializada. Os dois casos resultam em sítios
menores associados a maiores, localizados em áreas centrais. No caso do caçador-coletor
generalizado, sítios de curta duração próximos às áreas de exploração. o caçador-
coletor especializado, relacionado a situações onde a oferta de alimentos é menor, implica
a existência de sítios para processamento de alimentos estocáveis. De acordo com esse
modelo, acampamentos e sambaquis fariam parte de um mesmo sistema de assentamento.
No entanto, o fato de que existiam sítios formados predominantemente por
moluscos e outros formados apenas por lentes de conchas serviu para ser utilizado como
uma diferenciação que até então não havia sido sistematizada na cultura material. Com
xxvii
exceção da presença de zoólitos, o estudo de artefatos, segundo a abordagem do Histórico
Culturalismo, não permitiu a delimitação das unidades culturais.
Numa análise da arqueografia brasileira, pode-se verificar a dificuldade de
delimitação das províncias culturais, a partir do estudo da distribuição da cultura material.
Sua delimitação em fácies foi importante para uma primeira sistematização mas, numa
abordagem mais detalhada, pode-se constatar a ineficácia das classificações. Isto fica
evidenciado pelo fato de que o comumente encontrados tios distantes entre si portando
uma mesma cultura material e, ao mesmo tempo, sítios próximos e contemporâneos
apresentando cultura material com diferenças marcantes.
SAMBAQUIS E ACAMPAMENTOS
Denominam-se acampamentos litorâneos os sítios arqueológicos onde a presença
de moluscos, representada por lentes ou bolsões, está restrita a uma parte mínima do
volume do sítio, enquanto o sedimento arenoso restante contém uma grande quantidade de
peixes.
A oposição cultural entre sambaquis x acampamentos foi inicialmente proposta por
Beltrão e Kneip (1969), embora essa diferenciação já tivesse sido esboçada na utilização de
outras palavras, como “paradeiro” (Serrano in Prous op.cit: 205) e como sítio
paleoetnográfico (Tiburtius e Rohr in Prous idt). Muitas vezes, esta diferenciação refere-se
a distinções ceramistas e o-ceramistas, mas também é usada para distinguir sambaquis
de sítios litorâneos “não-sambaquis”.
xxviii
Dos 12 sítios analisados por Prous para a caracterização dos acampamentos
litorâneos, seis estavam sobre sambaquis, dividindo as jazidas, sem evidências de
abandono. No entanto, Prous não apresenta outras características que possam diferenciar
esses sítios dos sambaquis, seja na cultura material, seja na estratigrafia; a única
diferenciação está no fato de apresentar menor ou maior quantidade de conchas e parece se
dar conta disso quando revela que, em alguns casos, como no exemplo do Pântano do Sul:
Um caso inverso, por enquanto único, é o de Pântano do Sul, onde a lente
de concha se sobrepõe à terra escura, indicando, talvez, a volta de um
alimento, ou a um sistema de procura alimentar, abandonado
momentaneamente por razões ecológicas. Este problema pode levar a se
questionar a validade de se opor culturalmente sambaquis e
acampamentos... (Prous op.cit. :274)
Prous também considera a possibilidade do encontro de maior ou menor quantidade
de molusco se dever a uma distribuição espacial nos sítios, embora informe que “pesquisas
recentes questionam a colocação que os acampamentos seriam posteriores aos sambaquis”
(Prous op.cit:261)
Pouco se sabe sobre os “acampamentos”, principalmente os representados sobre
sítios em duna, a grande maioria. Sua associação com sambaquis pode ser constantemente
verificada. Embora esta associação não seja contemplada nas publicações, com exceção da
relacionada ao sítio do Pântano do Sul
1
(Rohr 1977), ela pode ser percebida a partir de
visitas aos locais, em concentrações de sítios no litoral de Santa Catarina e do Rio de
Janeiro. É bem provável que também ocorram em todo o litoral brasileiro com incidência
de sambaquis.
1
Rohr (1977) constatou que a ocupação do sítio do ntano do Sul se estendia também às dunas adjacentes,
tendo inclusive obtido datações que atestaram sua contemporaneidade.
xxix
Em Santa Catarina, além do caso do sítio Pântano do Sul, são encontrados tanto ao
lado, como sob os sambaquis, como nos casos do sambaqui Jabuticabeira II e Guaropava
do Sul.
No litoral do Estado do Rio de Janeiro, a associação de sítios em duna com
sambaquis pode ser exemplificada pelos sambaquis do Forte (Kneip 1980), próximo à duna
da Boa Vista; de Camboinhas (Kneip 1981), vizinho à Duna Grande e à Duna Pequena;
pelos sítios de Geribá II (Tenório et alii 1990), contíguo aos sítios em duna Casa do Sr.
Abel e Gravatá; Ponta da Cabeça (Tenório 1992), próximo aos sítios sobre dunas Colônia
de Pesca e Massambaba I,II e III e Ilhote do Leste, também a cerca de 150m do sítio "Da
estrada" e 1.500m do sítio Ponta do Leste, ambos localizados sobre dunas.
.
A proposta de Neves (1988) contribuiu para a diferenciação cultural entre os
sambaquis e os acampamentos, a partir de “estudo paleogenético intergrupal em
contraponto às informações oriundas dos estudos arqueológicos efetuados na mesma área”.
Neves (id:136) propõe que outro grupo, biologicamente diferenciado dos construtores dos
sambaquis encontrados no litoral sul e norte do estado de Santa Catarina, teria povoado o
litoral central deste estado. Seriam populações com grande dependência da pesca, vindas
do interior, as que teriam produzido os sítios rasos encontrados no litoral central de Santa
Catarina. No entanto, Neves apresenta este dado apenas para o litoral central de Santa
Catarina, não devendo ser usado para todo o litoral brasileiro.
Também pressupondo uma diferenciação cultural, a partir da oposição entre sítios
com predomínio de moluscos e sítios com maior evidência de pesca, Dias (1967)
identificou a fase Itaipu, em sítios em dunas no estado do Rio de Janeiro. No ano de 1976,
xxx
foi criado o termo tradição Itaipu (Dias Jr 1992:162) e, posteriormente, as subdivisões
Itaipu A, B e a Fase Potiri, no Espírito Santo. Inicialmente, as fases Itaipu A e B, segundo
Dias (id), distinguiam-se da cultura sambaquiana por representarem uma mudança
adaptativa às alterações ambientais ocorridas cerca de 4500 anos AP. Mais tarde, a
afirmativa foi revista e, atualmente, trabalha-se também com a hipótese de origens
diferentes, mais próxima da proposta de Neves para o litoral central de Santa Catarina.
Segundo Dias (1992:162), “algumas populações que possuíam ainda boas
condições adaptativas puderam permanecer nos antigos locais de coleta e,
sistematicamente, foram ampliando seus recursos”. As populações definidas como
pertencentes à fase Itaipu A introduziram novas técnicas, inclusive a da interferência nos
processos reprodutivos de plantas.
Posteriormente, com as escavações do Corondó, foi feita uma reformulação sobre
as origens da tradição. A constatação de que o sítio do Corondó teria sido construído por
populações perfeitamente caracterizadas e portando o conhecimento dos processos de
reprodução de plantas, que provavelmente não ocorreu in sito Dias Jr & Carvalho (1990:
161), serviu para elaborar a hipótese de uma origem diferente dos sambaquis, embora fosse
deixado em aberto quais os caminhos percorridos pela difusão entre um ponto
desconhecido no interior do país e esta região costeira”. ( Dias op.cit:172).
Uma origem diferente pressupõe uma unidade sociocultural distinta da
sambaquiana. Segundo Dias:
“podemos supor que a origem da Tradição o se prenderia,
necessariamente, a sambaquianos adaptados. Ela poderia resultar,
xxxi
então, de caçadores, coletores & pescadores diversificados que
desenvolveram uma sociedade complexa, paralela aos coletores
especializados. ( id:160)
No entanto, “essas populações (Itaipu A) fizeram transformações lentas no sentido inverso
daquele considerado como ”normal” pelos evolucionistas ... cada vez mais se dedicaram à
caça e à pesca” (Dias Jr & Carvalho: op.cit 161); dando origem à fase Itaipu B “, elas
(comunidades pertencentes à fase Itaipu A) puderam, ao redor de 2000 anos passados, mais
uma vez, alterar seus padrões, caracterizando a fase Itaipu “B” (Dias op.cit. 172).
.
Dias (ibid:172) caracteriza a fase Itaipu “B” pelo incremento da pesca e pela
reocupação de “antigos sambaquis à beira-mar” (id). Ainda, segundo este autor, a
persistência de artefatos líticos, que poderiam ter sido utilizados para o preparo de
alimentos vegetais, permite supor que estes continuaram sendo consumidos.
Embora ressalte muito a diferenciação cultural entre sambaquis e a
tradição Itaipu, a ponto de constituírem duas tradições culturais e
também prestes a levantar, em outro momento, a hipótese de terem
origens diferentes, Dias (ibid) afirma que apresentam vínculos
culturais:
“O vínculo entre as antigas comunidades (sambaquianas) e as novas
(economia diversificada Itaipu) manteve-se tanto na tecnologia de
fabrico, quanto na persistência dos padrões tipológicos dos artefatos
líticos. Sem dúvida, esta classe de material ... constitui-se numa
espécie de “espinha dorsal” unindo as Tradições locais.”
(Dias,ibid:172)
A partir do apresentado, observa-se que não está claro para seus autores se a
tradição Itaipu teria surgido como uma readaptação de grupos litorâneos a uma nova
paisagem, ou se seria o resultado da chegada de grupos interioranos ao litoral. No entanto,
xxxii
com os dados fornecidos, torna-se possível uma outra interpretação que oferece alguma
coerência às contradições encontradas, ou seja, a tradição Itaipu pode estar evidenciando
grupos do interior que, chegando ao litoral, mantiveram contato com populações
sambaquianas, sendo posteriormente aculturados, passando a constituir uma nova fase, a
fase Itaipu B que, ao que tudo indica, trata-se de uma reafirmação da cultura sambaquiana,
acrescida de uma intensificação da atividade pesqueira, mas mantendo todas as suas
principais características culturais.
Andrade Lima (1991), embora concordando com a existência de uma mudança
econômica, tema de sua tese de doutoramento, discorda que as fases Itaipu A e B possam
fazer parte de uma mesma Tradição. Segundo esta autora, a incrementação da pesca para
grupos coletores/pescadores, observada na fase Itaipu B, correspondeu “a um mecanismo
de desvio-contração (feedback negativo), enquanto a Itaipu A, no caso de ser uma
população coletora especializada em molusco, significou uma expansão de sistema,
transformando, substancialmente, a sua primitiva configuração”. Ainda, segundo Andrade
Lima, se for considerada a hipótese de uma origem interiorana para a fase Itaipu A, “o
distanciamento das proposições da Tradição ainda é maior. Trata-se de dois processos
culturais totalmente distintos”. (Andrade Lima op.cit. 53). Esta autora também chama a
atenção para a grande persistência temporal dessa fase, o que transcende os limites de uma
fase.
Prous (1992) atentou para a diversidade dos acampamentos litorâneos e optou por
limitar a fase Itaipu aos limites físicos do Rio de Janeiro, área que aentão apresentava
muito poucos dados para que pudesse ser inserida nas subdivisões de Beck.
xxxiii
Em relação à diferenciação entre sambaqui e acampamento, embora a criação da
Tradição Itaipu seja conseqüência da constatação da existência de sítios que apresentavam
menor quantidade de conchas, Dias Jr (id: 166), posteriormente, passa a ver esses sítios
como fazendo parte de um mesmo padrão de assentamento, como fora proposto por
Gaspar (1991) para sambaquis.
Gaspar (ibid) propôs e mais tarde provou com datações radiocarbônicas
(Gaspar,1998:124) que, no litoral, a unidade mínima com significado sociológico é o
conjunto de sítios e não o sítio isolado.
Tânia Andrade Lima (1991: 40) e André Prous (1992: 205) também reconheceram
a existência de sítios próximos contemporâneos formando agrupamentos. Concordando
com Gaspar, propuseram que os sítios maiores teriam um status superior aos outros.
Gaspar fez esta proposta baseada na constatação de que nos conjuntos estudados havia
sempre alguns sítios bem maiores do que outros (Gaspar op.cit: 143). Andrade Lima
(op.cit.: 503 ) baseou-se no fato de que alguns sítios, no caso o sítio do Peri, apresentava
maior quantidade de restos de moluscos o que, segundo a autora, indicaria uma fixação em
território privilegiado, oferecendo a seus habitantes um status superior.
.
Ao afirmar que os sítios menores seriam satélites de sítios maiores centrais e ao
relacionar os conjuntos de dunas e sambaquis à fase Itaipu “B”, Dias (id: 165-166)
concorda com a constante associação de sambaquis e sítios em duna observada por Tenório
& Gaspar (1990). A diferença é que, apoiado na datação de 2030
±
155 BP, obtida por
Kneip et al (1981) para a Duna Pequena, Dias relaciona os sítios em duna a sambaquis
abandonados ou reocupados por grupos pertencentes à fase Itaipu “B”. Ao propor esse
xxxiv
padrão de assentamento como um indício da presença da fase Itaipu “B”, que teria surgido
no estado do Rio de Janeiro por volta de 2000 anos AP, Dias o leva em consideração a
associação verificada em Santa Catarina cerca de 4000 anos antes do presente (Rohr
op.cit).
O que pode ser percebido a partir do exposto é que não há
evidências que permitam associar sítios que apresentem menor
quantidade de restos de moluscos a outras “culturas” não-
sambaquianas. O que parece claro é que os sítios menores fazem
parte do sistema de assentamento sambaquiano: sítios grandes
centrais associados a outros sítios menores, seus satélites, como já
foi observado por Gaspar (1991:401).
Talvez fosse também o caso de procurar explicar a presença dos sítios maiores. A
partir de análise do material ictiológico nos sítio COSIPA-3, Figuti (1989) pôde constatar
que a maior visibilidade do molusco induz a uma superestimação de seu peso na dieta
alimentar, ofuscando a estimativa do consumo de peixes. Associada a esta constatação,
outros trabalhos (Fish et al 1997) têm oferecido evidências que apontam para o fato de que
apresentar mais carapaças de moluscos, muitas vezes, pode estar associado a sua utilização
como material construtivo.
No entanto, mesmo quando, em determinados casos, se possa inferir uma mudança
na economia com aumento de determinada atividade, até que ponto esta observação
permite a constatação da existência de uma outra unidade sociocultural, se forem mantidas
as mesmas características expressas na cultura material?
xxxv
Cultura e adaptação
A discussão sobre origem e unidade cultural se misturou às questões sobre mudança
temporal, ambiental e adaptação e, como conseqüência, houve uma interdição ao uso do
termo sambaqui para definir genericamente ocupação litorânea. Passando a ser o foco dos
debates, o que seria ou não sambaqui, sendo substituída a delimitação dos sistemas sócio-
culturais envolvidos no povoamento do litoral brasileiro, pelo questionamento das
mudanças adaptativas observadas nos sítios. (Terceiro Seminário Goiano de Arqueologia,
março de 1980; 3° Reunião do Sudeste, abril de 1995).
O reconhecimento de que existem sítios litorâneos contendo maior ou menor
quantidade de molusco não está presente apenas na arqueologia brasileira, só não é
consenso a atribuição de uma conotação cultural a essa diferenciação. A explicação que
prevalece, a exemplo do que Erlandson (1994:277) observa na costa da Califórnia, é que os
sítios mais antigos apresentam maior quantidade de moluscos; nos mais recentes, é
possível observar que o molusco deixa o papel de elemento básico da dieta para passar a
ser apenas um artigo suplementar, o que é explicado por crescimento demográfico e pela
exaustão dos bancos de moluscos. Essa explicação é compartilhada por Andrade Lima que
observa a mudança do conteúdo faunístico em sítios localizados no litoral do estado do Rio
de Janeiro, atribuindo o fato a uma exploração predatória dos bancos de moluscos e a um
crescimento demográfico, e não a uma opção cultural.
Considera-se que não há por que criar uma tradição em oposição a sambaqui, já que
a distinção está apoiada apenas numa opção que é acompanhada de uma tendência
econômica mundial, ou seja, que os grupos adaptados ao litoral tendem, em momentos
xxxvi
mais recentes, a diversificar sua dieta baseada em moluscos, intensificando atividades
como a pesca e introduzindo novos itens. Essa tendência pode vir a constituir uma fase,
mas existe um longo percurso a ser percorrido até que seja configurada uma outra tradição
cultural.
Andrade Lima (1991), apoiada nos pressupostos da Ecologia Humana, propôs que o
fato de existirem sítios com maior ou menor quantidade de restos de moluscos pode ser
explicado como uma resposta à escassez desse recurso, devido a uma coleta predatória e a
um aumento demográfico. Segundo ela, a falta de tal alimento, recurso estruturador da
identidade social desses grupos, teria incentivado a exploração de novos ambientes e uma
maior diversificação das espécies consumidas. Conclui que a diferenciação no conteúdo
dos sítios estaria relacionada a uma mudança adaptativa e o a uma característica cultural
2
.
Embora a Nova Arqueologia tenda a confundir cultura com adaptação, pelo que foi
exposto, considera-se incorreta a utilização de mudanças observadas na dieta alimentar
para inferência de diversificação cultural.
No entanto, mesmo não considerando a diferenciação feita a partir da quantidade de
moluscos encontrada nos sítios como um diferenciador cultural, Andrade Lima (1991: 33)
propõe que o litoral teria sido ocupado por diferentes sistemas socioculturais vindos do
interior:
“Produzidos por sistemas socioculturais distintos, regidos por lógica
própria interna, esses montes precisam ser analisados sob a ótica da
diversidade, respeitando-se seus particularismos, na medida em que
2
A mudança na economia de coletores para pescadores também é constatada nos sítios localizados na costa
da América do Norte. Segundo Erlandson (1994: 277), no golfo da Califórnia, nos sítios mais antigos,
predominam os restos de moluscos, enquanto que nos mais recentes há o predomínio de restos de pescado.
xxxvii
perspectivas generalizantes e homogeneizadoras são de todo equivocadas
para explicá-los”
( Andrade Lima 1999-2000: 314).
Partindo dessa premissa, mesmo não sendo clara no estudo da cultura material, haveria
diversidade cultural na costa, em função das diferentes origens dos grupos que a teriam
povoado.
A variabilidade cultural como conseqüência de diferentes
origens
Citando Abreu e Imbeloni, para mostrar que a unidade cultural sambaquiana já vem
sendo questionada há muito, Andrade Lima retoma a discussão sobre origem do sambaqui,
argumentando sobre a utilização do ato de construir montes, como traço cultural, proposta
por Gaspar (1998). Para Lima, tal atividade pode estar relacionada a inúmeras funções,
“uma resposta constante da espécie a determinados estímulos” (Id: 315).
Quanto à persistência de certos itens da cultura material, verificada nas adaptações
aos ambientes litorâneos, Andrade Lima (Id) a atribui a uma conjunção de fatores, como
limitação de matéria prima e difusão de técnicas, acompanhando os movimentos
migratórios ao longo da costa.
Embora questione a validade da utilização das similaridades
encontradas na cultura material, Andrade Lima (1991:513) utiliza
outras, apontadas na cultura material como indício de que os
sítios abordados na baía da Ribeira foram construídos por
grupos pertencentes a um único sistema sociocultural. Tudo
indica que o parâmetro usado pela autora é o da proximidade
geográfica, pois apenas em sítios à pouca distância uns dos
outros considera válida a utilização de tais similaridades.
Andrade Lima considera que concentrações de sítios devam corresponder a grupos de
mesma filiação cultural:
“Concentrações de sítios resultantes do
estabelecimento desses coletores no âmbito de uma
localidade ou mesmo de uma região podem ser
assumidas como contemporâneas e corresponder à
partilha de um território por bandos com uma mesma
filiação cultural”. (Andrade Lima 1991: 40)
Ao concordar com a utilização das similaridades encontradas na cultura material
apenas para sítios próximos, Andrade Lima parece aceitar também que as concentrações
sempre teriam sido formadas por sítios contemporâneos e que a ocupação do litoral possa
ser explicada por conjuntos regionais isolados, contradizendo sua afirmativa de uma
grande mobilidade na costa.
Embora concordando com Barreto (1988 apud Andrade Lima ibid.) sobre a
escassez dos dados disponíveis para discutir em maior profundidade a origem das
populações que alcançaram o litoral durante o holoceno, Andrade Lima propõe,
hipoteticamente, um modelo para o povoamento da costa brasileira, baseado no de Osborn,
no que se refere à pressão demográfica, e no de Perlman, ao tratar de aproveitamento
oportunista. De acordo com o modelo de Andrade Lima:
xxxix
“Grupos provenientes do interior teriam alcançado o litoral empurrados por
stress populacional em algum ponto do planalto e alcançaram a costa; ao
encontrarem ambientes extremamente favoráveis ao seu estabelecimento,
teriam se especializado na explotação dos abundantes recursos disponíveis em
determinados ecossistemas não por opção oportunista, mas ainda pela
dificuldade de transpor a barreira montanhosa da Serra do Mar, já
anteriormente considerada por vários autores.” Andrade Lima (1991:33).
No entanto, não existem evidências desse stress populacional e, quanto à riqueza do litoral,
a questão tem sido muito discutida (Osborn 1977, Binford 1983, Sauer 1962, Bailey 1975,
Cohen 1981), parecendo claro que a oposição não seria tanto litoral versus interior e sim
áreas de concentração de ambientes e áreas sem concentração, que podem ocorrer tanto no
litoral como no interior. (Tenório 1991).
O que é consenso é o alto grau de previsibilidade do molusco que, por sua vez, também é
encontrado em regiões interioranas. Mesmo o molusco tendo o atrativo de ser fixo,
previsível, podendo ser coletado por qualquer membro da sociedade, ele irá constituir a
base da alimentação se a dieta for também complementada por grande percentual de
produtos vegetais (Tenório 1991 passim; Elandson 1994:276) e, embora existam
evidências do consumo de vegetais nos sambaquis brasileiros (Tenório ibid), sua
participação na dieta parece ser pequena para que possa constituir de fato uma
complementação ao molusco.
Também não existem evidências que comprovem a ocorrência de um êxodo do
interior para o litoral, nem que diferentes grupos interioranos seriam os responsáveis pela
diversidade apontada por Andrade Lima. Esta questão será aprofundada no capítulo II.
Porém, em relação ao problema da identidade cultural, a argumentação de uma grande
diversidade no litoral, baseada apenas na possibilidade de ele ter sido ocupado por
diferentes grupos interioranos, carece de respaldo científico.
xl
Ao mesmo tempo, Andrade Lima (op.cit:315), ao alertar que a ocupação do litoral
deve ser abordada à luz do reconhecimento da diversidade, não atenta para a possível
existência de miscigenação. Embora mencione “difusão de técnicas” acompanhando
movimentos migratórios, indiretamente sugere que levas populacionais oriundas do interior
chegariam com seus costumes e, logo, adaptar-se-iam ao litoral, abandonando totalmente
quaisquer elementos de sua cultura, passando, então, a produzir, imediatamente, elementos
similares encontrados em toda a costa – desde artigos funcionais, utilizados na obtenção de
alimentos, até elementos rituais sem que houvesse contato com alguma “cultura” que
possuísse esses costumes, ou que tivesse pleno domínio da tecnologia necessária para a
exploração dos recursos litorâneos.
Embora pouco provável, caso os grupos interioranos tivessem chegado ao litoral e
rapidamente se adaptado, perdendo, inclusive, seus traços mais marcantes, é bem possível
que fossem absorvidos culturalmente por populações já bem adaptadas ao ambiente
aquático. Schmitz et al (1992) também constatam esse fato no litoral de Santa Catarina.
A aculturação de grupos interioranos, que teriam chegado
ao litoral, favoreceria a manutenção e a continuidade de uma
“cultura sambaquina”, constituída de muita miscigenação,
devido à constante introdução de elementos novos. No modelo
de Gaspar (
op.cit
), elementos estruturais manteriam a coesão do
grupo, protegendo sua desestabilização cultural que poderia ficar
ameaçada pela constante introdução de elementos novos.
xli
Cultura material : similaridades e diferenças
Para ilustrar as similaridades e diferenças encontradas na cultura material
proveniente do litoral compreendido entre o Rio de Janeiro e Torres, foram elaboradas três
tabelas (tabelas 1,2 e 3), contemplando a distribuição das indústrias tica, óssea e
malacológica. Foram utilizadas as informações fornecidas por Prous (op.cit.), acrescidas
das informações obtidas através do desenvolvimento do projeto “O aproveitamento
ambiental das populações pré-históricas no estado do Rio de Janeiro”.
A falta de uniformização e a escassez de dados diminuíram a qualidade da
sistematização das informações. No entanto, embora aquém do almejado, ela se faz
necessária, porque é parte da problemática colocar em discussão propostas que estejam
apoiadas nas similaridades e diferenças encontradas na cultura material proveniente do
litoral brasileiro, muito embora a bibliografia existente não permita qualquer
aprofundamento sobre esta questão.
Na elaboração das tabelas, foram usadas subdivisões a partir de estados e não a
partir das concentrações de sítios. Esta opção se fez necessária porque, muitas vezes, o
nome do estado foi a única informação obtida sobre a localização dos sítios de onde foram
resgatados os materiais, postura que não afeta os resultados, porque as concentrações
ocorrem dentro de cada um deles e não mesclam fronteiras estaduais.
xlii
A partir das tabelas 1,2,3, pode-se observar a similaridade da cultura material
proveniente do litoral, embora haja indiscutíveis elementos destoantes, como a ausência de
zoólitos no Rio de Janeiro. Deve-se levar em consideração a escassez desse elemento no
estado de São Paulo e sua abundância no sul, o que parece indicar um elemento
introduzido nesta região e que perde sua popularidade, à medida que uma dispersão de
pessoas ou de idéias para o norte.
xliii
Por outro lado, os elementos semelhantes encontrados na indústria sugerem a mesma
tradição cultural, com acréscimos e perdas regionais que podem ter sido provocados por
aprimoramento tecnológico/adaptativo ou por contato e incorporação de outros grupos.
A distribuição do material lítico indica que, no estado de Santa Catarina, ocorre
uma grande diversidade de tipos que se expande para os litorais norte e sul.
Retirando o Paraná da tabela, observa-se que a difusão dos elementos até o Rio de
Janeiro é bem maior. O estado do Paraná fomenta a ilusão de uma ruptura cultural, o que
pode ser apenas resultante da escassez de pesquisas.
Embora o estado de Santa Catarina não apresente datações muito antigas, sua
indústria lítica sugere que teria se constituído num centro de dispersão. o estado do Rio
Grande do Sul parece ter recebido a influência de elementos externos, responsáveis pela
introdução das pedras com covinhas e os objetos geométricos. No entanto, estes elementos
são numericamente poucos e só chegam até Santa Catarina.
Este último estado pode também ser visto como lugar de ponto de dispersão, como
um divisor de águas em relação ao material lítico. Alguns elementos chegam do norte ou
do sul e o alcançam, mas não o ultrapassam, fato que pode ser interpretado como a
introdução de itens de fora obtidos através de contato ou da entrada de outros grupos por
Santa Catarina ( Neves 1984) ou, alternadamente, pelos dois estados, depois se misturando
a grupos sambaquianos.
xliv
Em relação à indústria óssea, sua distribuição é muito mais homogênea e, o
considerando o estado do Paraná, observa-se uma continuidade, com o estado de São Paulo
no centro de dispersão.
Em relação à indústria malacológica, constata-se que o Rio de Janeiro apresenta a
maior variabilidade de itens, tendo sido, provavelmente, o centro de dispersão desse
implemento tecnológico (Dias 1992:162).
Pelo que foi exposto, a cultura material registrada no litoral brasileiro não apresenta
evidências de que seja resultante de adaptações independentes. A variabilidade observada,
provavelmente, está mais relacionada à absorção de novos elementos culturais do que a
uma grande diversidade cultural.
As repetições observadas nos rituais de enterramentos corroboram a hipótese da existência
de uma cultura sambaquiana, ao mesmo tempo que a diversidade de elementos, que fazem
parte desse ritual dentro de um mesmo contexto arqueológico, sugere a constante
incorporação de outros grupos ainda não adaptados ao litoral.
xlv
Hipóteses para explicar similaridades e diferenças observadas na cultura
material
Três grandes hipóteses, baseadas em filiação cultural, adaptação e
contato, foram levantadas para explicar semelhanças e diferenças
encontradas na cultura material proveniente de sítios litorâneos, a saber:
1. Esses sítios foram construídos por grupos culturais relacionados a grupos
pleistocênicos, adaptados à economia costeira. As diferenças regionais
são conseqüência de fusões com grupos oriundos do interior que, em épocas
mais recentes, chegaram ao litoral visando, como rota, aos grandes cursos
d’água;
Essa hipótese está baseada nas datações recuadas que têm sido obtidas para
adaptações litorâneas, sugerindo que, diferente do que se pensava, grupos paleoíndios
teriam chegado ao litoral em épocas muito recuadas. Hipótese que questiona o modelo
“Gates of the Hell” (Erlandson 1994:276), o qual propõe que o uso intensivo de recursos
marinhos foi desenvolvido relativamente tarde, apenas quando o crescimento populacional
ultrapassou a capacidade de obtenção de alimentos no ambiente terrestre (Cohen
1981:281). Segundo essa hipótese, tais populações, muito adaptadas ao litoral,
mesclaram-se, posteriormente, a grupos oriundos do interior.
2. A exploração dos recursos marinhos pode favorecer a existência de um
arsenal tecnológico muito parecido, daí as semelhanças encontradas, mesmo
xlvi
não havendo contato cultural. As diferenças observadas se devem às
distintas filiações culturais relacionadas a vários grupos que vieram do
interior em diversos momentos, quando as pressões ambientais ou
populacionais tornaram o litoral mais atrativo do que os territórios
interioranos.
Segundo essa hipótese, as similaridades são decorrentes apenas do tipo de
exploração. Apoiada nas propostas de Cohen (1978) e de Binford (op.cit), volta-se para
aquela em que a ocupação litorânea teria se dado num momento mais recente, como uma
segunda opção para a falta de recursos nos territórios interioranos, decorrente de aumento
demográfico.
De acordo com ela, os grupos que teriam chegado ao litoral o tinham contato
entre si, apresentavam traços culturais distintos que, com o tempo, devido às exigências da
exploração marinha, passariam a apresentar semelhanças, embora não houvesse contato.
3. A grande mobilidade permitida pela utilização de vias aquáticas, aliada à
própria característica agregadora da exploração de recursos marinhos, teria
propiciado um intenso contato, o que incentivaria, ao mesmo tempo, a
presença de elementos similares na cultura material, como também uma
grande diversidade estilística utilizada como fator de etnicidade, garantindo
a territorialidade e a manutenção da identidade cultural. O intenso contato
também incentivaria a miscigenação que estaria evidenciada pela presença
da grande diversidade de elementos simbólicos encontrada nos sítios.
xlvii
Um trajeto por água seria a melhor opção para cruzar a exuberante mata fechada
encontrada na costa brasileira; ao mesmo tempo, essa escolha permitiria uma grande
mobilidade que incentivaria um intenso fluxo de pessoas e de informações.
Para que esse contato o interferisse na manutenção dos territórios e da
identidade cultural, é provável que fosse necessária a criação de fatores de
etnicidade (Hodder 1982) que reforçassem a identidade, na medida em que eram
criados como elementos de diferenciação. Segundo Hodder (ibid: 12), quanto
mais próximos os sítios, mais elementos de etnicidade haveria.
A partir do que foi apresentado, pode-se observar, nas três
hipóteses, a presença de “escolas de pensamento” que
condicionaram os tipos de abordagens que não são excludentes.
Constata-se que tanto a filiação cultural, como o arsenal
tecnológico adaptativo e o intenso contato podem ser os
responsáveis pelas semelhanças existentes na cultura material
encontrada no litoral.
.
O maior problema estaria relacionado ao desenvolvimento
da terceira hipótese, pois tanto o estreito contato, como também
a sua ausência podem oferecer diferenças e semelhanças na
cultura material. Assim, é importante definir quais os traços
culturais que devem ser escolhidos para o entendimento da
xlviii
dinâmica social. Traços nos quais se percebam estilos e sejam
descartadas as respostas funcionais ou de disponibilidade de
matéria-prima.
FORMAÇÃO DOS SAMBAQUIS
O processo de construção dos sambaquis tem sido
abordado a partir de três vertentes teóricas: a primeira embasada
na adequação do modelo de Binford (
op.cit
) para explicar
mobilidade de forrageria e de coletor especializado; a segunda
apoiada na proposta do Histórico Culturalismo; a terceira
baseada na interpretação estruturalista. As duas primeiras
abordagens estão relacionadas à Nova Arqueologia e são
caracterizadas por seu aspecto funcional, sendo o sítio aquele
que resulta das atividades nele desenvolvidas. A última
considera o sítio como objeto construído intencionalmente,
observando também o seu caráter simbólico.
Em função da quantidade e da diversidade do material arqueológico encontrado
nesses sítios, muitos autores utilizam o modelo de Binford para a tipologização dos sítios,
de acordo com sua função e duração da ocupação; no caso, o divisor de águas estaria na
distinção entre acampamentos e sítios-base-residência. Nessa linha, temos Beltrão e Kneip
(1968), Rohr (1984); MacManamon (1984), Widmer (1989) In Claassen (1991). Schmitz e
xlix
Bitencourt (1995) também abordaram a questão, utilizando número de indivíduos
enterrados como mais uma evidência para a verificação do tempo de ocupação desses
sítios.
Outra abordagem se baseia na análise da estratigrafia, na composição do sítio e no
estado de queima dos restos alimentares para identificar a sua função. Temos, por exemplo,
Voorhies et al (1991:22) que, também apoiada no modelo de Binford para coletor
especializado, propôs que a formação das camadas arqueológicas no sítio Chantuto, no
litoral do México, teria sido resultado da atividade de processar alimentos.
Apoiada na proposta do Histórico Culturalismo, a análise taxonômica dos recursos
alimentares responsáveis pela formação das camadas também foi utilizada para propor
processos de mudanças socioeconômicas, por vezes influenciada pelo materialismo
histórico (Ver Dias e Carvalho 1990, Mendonça de Souza 1981).
E, finalmente, a partir de uma abordagem estruturalista, o sítio passou a ser
estudado como artefato e seus componentes como peças de uma construção que podem ser
desde uma plataforma seca até um monumento.
A análise malacológica proveniente do Sambaqui Espinheiros (Figuti e Klöber
1996) permitiu que fosse constatada a presença de moluscos fechados que, segundo os
autores, não teriam sido consumidos. Em função dessa observação, foi retomada a proposta
de Wierner (1876) quanto à construção intencional dos sítios.
l
Posteriormente, a constatação de uma estratigrafia repetitiva, associada aos
enterramentos, no sítio Jabuticabeira II, localizado no litoral sul de Santa Catarina,
permitiu a elaboração da hipótese de que alguns desses sítios tinham sido construídos a
partir de uma repetição de rituais funerários (Fish,et al 1997 ).
Andrade Lima (2000) retoma a questão, propondo o surgimento de uma nova
realidade baseada nesses grandes sambaquis encontrados no litoral sul de Santa Catarina e
também na presença de esculturas zoomorfas .
Andrade Lima (id ibid) aponta como fortes indicadores de um fenômeno de
complexidade emergente nos sambaquis do litoral sul/sudeste brasileiro: a abundância de
recursos marinhos estáveis, no caso, os moluscos; no processo de sedentarização; no
aumento demográfico; na alta densidade de sambaquis nos circunscritos ambientes
lagunares; na construção dos grandes montes e na suposta existência de extensas redes de
trocas e difusão ideológica.
Pode parecer coerente destacar os grandes sambaquis do restante encontrado no
litoral brasileiro, distinção que poderia também ser feita por um recorte geográfico ou
temporal, como foi o realizado por Lima (ibid). Os grandes sambaquis de Santa Catarina
seriam os elementos destoantes, e não os acampamento teria havido uma inversão na
interpretação dos dados. No entanto, uma abordagem mais aprofundada pode evidenciar
que, no estado do Rio de Janeiro, onde mais se falou sobre a não-existência de grandes
sambaquis, também são encontrados, num momento anterior, os mesmos elementos
utilizados por Andrade Lima como evidência de complexidade emergente.
li
Os sambaquis do Tambor, de Sernambetiba, Gravatá, da Marinha podem servir
como exemplos de grandes sambaquis identificados no Rio de Janeiro. A dificuldade da
constatação está no fato de que estão praticamente destruídos; o do Tambor, o único mais
preservado, apresenta atualmente mais de 6m de altura; o de Sernambetiba também se sabe
que foi desmontado para a construção de uma auto-estrada; o do Gravatá e o da Marinha
estão completamente destruídos. O material retirado do primeiro serviu para a cobertura de
dois quilômetros de estrada e a base destruída do segundo, atualmente, é um campo de
futebol. Quanto ao processo de sedentarização, o aumento demográfico, a alta densidade
de sambaquis nos circunscritos ambientes lagunares também foi percebida para o Rio de
Janeiro. (Tenório 1991, Tenório 1998).
Por trás da reconstituição do processo de formação dos sítios está um grande
problema que sempre chamou a atenção dos pesquisadores. Quais seriam os motivos que
levariam pessoas a carregar alimentos para serem consumidos distantes de sua fonte de
obtenção e para locais que muitas vezes envolveriam alto dispêndio de energia?
Das explicações que existem para responder por que os moluscos eram carregados
para os sítios, destacam-se:
1. Melhora das condições de habitabilidade, pois tornava o sítio mais
ventilado, livrando-o dos mosquitos (Schmitz 1984);
2. Obtenção de visibilidade, pois do alto seria permitido identificar o sítio à
distância (Schmitz 1984);
lii
3. Construção de marco territorial, na medida em que poderia ser considerado
um demarcador da posse do banco de moluscos explorado primordialmente
(Tenório 1996);
4. Como parte de um ritual, o refugo do alimento consumido era utilizado para
cobrir os enterramentos e marcar as áreas de sepultamento (Tenório 1995);
nesse caso, difere da interpretação sítio-monumento, porque não haveria
esse tipo de intenção;
5. Utilização do refugo ou do próprio alimento para a construção de estruturas
de drenagem ou de plataformas secas (Onat 1985, Figuti & Klöber op.cit) ;
6. Como resultado de superposição de estruturas rituais ( Fish et al 1997).
7. Como um projeto ideologicamente determinado, envolvendo hierarquia,
prestígio e não-igualitarismo ( Andrade Lima 1999-2000; 2000)
8. Como local de destaque na paisagem (Gaspar & De Blasis1992),
envolvendo concentração de pessoas, provavelmente para desenvolvimento
de rituais. (Tenório 2001a ; 2001 b,
Consideradas as dificuldades envolvidas no transporte de alimento para locais com
elevações, que podem chegar a mais de 60m de altura, e na provável carência do
instrumental necessário para carregar moluscos de pequeno porte ou de peixes de grande
porte (como os que são encontrados nos sítios, excluindo a construção de plataformas,
válida apenas para tios à mercê das marés), apenas explicações ideológicas podem
responder, porque alimentos foram carregados para serem consumidos em locais de difícil
aceso.
liii
Condições de habitabilidade e de visibilidade não fariam com que os alimentos
fossem carregados morro acima; poderiam ter sido, predominantemente, consumidos nas
praias. Como estratégia de defesa, sim, os alimentos seriam processados e armazenados
morro acima, no entanto, como inexistem evidências de situações de conflitos, essa
hipótese deve ser deixada de lado.
Andrade Lima (op.cit.:300) também considera que o ato de carregar moluscos para
locais elevados pode estar relacionado a um projeto ideologicamente determinado,
marcador de diferenciações sociais que estariam revestidas de caráter cerimonial. Tal
afirmativa não se distancia muito da formulada por Gaspar (op.cit passin), quando propôs
que a constante associação de restos de alimentos com mortos parece indicar a existência
de um ritual funerário comum a um único sistema sociocultural.
Hurt (Inédito) ordenou os sambaquis em três tipos, de acordo com seu processo de
formação: os que seriam plataformas construídas para fugir de áreas inundáveis; os
resultantes de atividades domésticas e funerais e os monumentos rituais. Embora afirme
que teriam origens diferentes, Hurt engloba no estudo todos os montes encontrados nas
Américas, deixando pairar a dúvida se se trata de uma tradição que tem como principal
característica a construção de monumentos funerários, ou se enterrar os mortos em locais
que se destacam na paisagem seria uma característica do comportamento humano. Hurt
chega a sugerir a mesma associação proposta por Hibbs (1983 apud Luby & Gruber 1999)
e por Tilley (1996 apud id) em relação aos megalíticos europeus. Para o Brasil, Hurt
conclui, ainda na linha de pensamento de Hibbs e Tilley, que os grandes sambaquis, os
monumentos funerários, no caso, teriam sido construídos inicialmente como resultado da
ocupação e do acendimento de fogueiras, sempre em locais altos, sobre montes de refugo,
liv
onde também eram enterrados os mortos. Depois de algum tempo, quando esses montes
ficassem muito elevados, passariam a ser monumentos.
O modelo interpretativo para o litoral do estado do Rio de Janeiro tem permanecido
sob as influências do pensamento científico, sempre atrelado aos paradigmas. Inicialmente,
procurava-se reconstituir os centros e os caminhos de dispersão (Ford op.cit. 1954). As
mudanças observadas eram respondidas por uma passagem natural por estágios evolutivos
(Service 1971), pelo contato com outros grupos, por processos adaptativos a novas
paisagens ou alterações ambientais (Boas1965, White 1959, Harris 1968, Steward 1955 ).
A proposta da multilinearidade evolutiva (Boas 1965) foi utilizada de maneira tão
avassaladora contra o Evolucionismo linear que sufocou interpretações que envolvessem
dispersão, contato, evolução tecnológica etc.
A alteração teórica acarretou mudança de abordagem e o objeto de estudo da
arqueologia, principalmente no caso do litoral, pela capacidade de preservação da cultura
material, passou a ser o sítio isolado (Gaspar op.cit 245). O enfoque também mudou,
tornando-se microscópico para se chegar aos menores detalhes. Graças à intervenção da
interdisciplinaridade, a questão deixou de ser quem são esses grupos e por que mudaram
seus bitos no tempo e no espaço?” e passou a ser “como se deu a interação desse grupo
com o ambiente?”.
Partindo do princípio de que a arqueologia é uma ciência acumulativa (Triegger
1995), procurou-se responder as duas perguntas apresentadas acima, motivo pelo qual foi
dada tanta ênfase à questão da identidade cultural do sambaquieiro na apresentação da
problemática do trabalho.
lv
Discorda-se da idéia de que as “culturas” se multiplicam ad eternun,
acompanhando as alterações ambientais, abrindo mão de sua identidade social. Parte-se do
princípio de que o homem é um ser inexoravelmente social e que enfocá-lo destituído de
cultura é destituí-lo de sua humanidade e que a dificuldade de resgatar os signos sociais
não pode negar sua existência nas interpretações. A interpretação arqueológica não deve
esquecer a influência do ambiente social, nem também destituir de significado seus
vestígios, ou banalizar as ações humanas.
A construção do contorno da identidade sociocultural é imprescindível para o
entendimento de mobilidade e dinâmica de ocupação, questões enfocadas também no
presente trabalho. Para tanto, torna-se necessário distinguir os traços culturais dos
funcionais/adaptativos; se isso não acontece, incorre-se no erro tanto de generalizações,
como também de inferência de uma enorme diversidade cultural.
A oposição sambaquis x acampamentos é um exemplo de interpretação de
multiplicidade cultural, em detrimento de dinâmica de ocupação e de padrão de
assentamento. No entanto, a reconsideração de Dias Jr. (1992), um dos principais
defensores da distinção cultural entre sambaquis e acampamentos, aceitando que poderiam
fazer parte de um mesmo sistema de assentamento, exemplifica o quanto esta questão
ainda não está esclarecida.
Não se discorda totalmente de que pode haver sítios que foram acampamentos, ou
melhor, moradias sazonais, principalmente em locais onde o inverno é muito rigoroso,
como no caso do Pântano do Sul (Schmitz & Bittencourt 1996:122). Essa vinda ao litoral,
lvi
em determinadas épocas do ano, também foi verificada entre grupos ceramistas (Schmitz
1998:207). No entanto, sambaquis e acampamentos não se prestam para identificar
categorias culturais.
Outro problema apresentado é quanto às origens, questão que será retomada no
capítulo II. Ë necessário que se saiba se existia uma diversidade no interior capaz de
provocar a diversidade cultural proposta para o litoral.
Uma análise inicial dos dados disponíveis sobre a cultura material encontrada no
litoral brasileiro sugere a existência de pelo menos três rotas de entrada, semelhante à
proposta para grupos ceramistas. Pelo norte, através do norte do estado do Rio de Janeiro;
outra por São Paulo e, talvez, mais de uma pelo sul, por caminhos onde também são
encontrados os Cerritos, percorridos por populações associadas aos zoólitos, que também
poderiam ter vindo do Uruguai. No sul, parece ter ocorrido um fluxo maior de pessoas
relacionadas a diferentes tradições culturais, o que se percebe na diversidade da indústria
lítica encontrada em Santa Catarina.
Associado a esse fato parece não haver dúvidas quanto à presença da Tradição
Umbu no litoral e quanto à entrada de grupos pescadores-coletores-caçadores proposta por
Neves (1984).
No entanto, a grande similaridade nos elementos mais expressivos em termos
quantitativos, fato também constatado por Gaspar (1991) e parece indicar a existência de
uma cultura sambaquiana agregadora de populações ainda não adaptadas ao litoral.
lvii
Para explicar os elementos distintos, deve-se levar em consideração a presença de
fatores de etnicidade. Sítios identificados no canal de Itajuru podem servir como exemplo.
Embora localizados muito próximos e sendo contemporâneos, apresentam elementos muito
diferentes na cultura material, inclusive relacionados à dieta alimentar (Tenório 1995),
diferenciações que são percebidas como tendo sido criadas em oposição ao outro para
reforço de identidade e manutenção de territórios (Hodder op.cit 1982).
Emoldurada pela problemática apresentada, temos como questão central as causas
de sua formação e o papel do sítio Ilhote do Leste na dinâmica do povoamento do litoral
meridional do Rio de Janeiro, no período de 2500 a 3500 anos antes do presente.
No desenvolvimento dessa questão central, foram abordados os seguintes tópicos:
Quais seriam os motivos para a ocupação da Ilha Grande?
Por que o sítio Ilhote do Leste foi construído?
Quem foram os responsáveis por sua construção?
De onde vieram?
Qual a sua relação com os outros grupos ocupantes da região?
Qual a função desse sítio na dinâmica de ocupação regional?
Que status teria o sítio Ilhote do Leste em relação aos sítios próximos?
Os diversos tipos de sítios encontrados na Ilha Grande estariam relacionados a diferentes
grupos culturais, outras atividades, ou estariam relacionados a variadas respostas
adaptativas, decorrentes de mudanças ambientais e/ou socioculturais?
lviii
A partir do desenvolvimento destas questões, foi elaborada a problemática específica à
tese:
Levando-se em consideração a localização, o arsenal tecnológico e o tipo de construção, o
sítio Ilhote do Leste pode ser caracterizado como um centro de congregação de pessoas,
com intensa troca de bens e de informações, sugerindo que, no período estudado, já
existiria um sistema de trocas organizado, com especialização, apresentando um ambiente
propício para o surgimento de figuras preeminentes, vislumbrando um período de pequenas
lideranças.
lix
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS
Foco da abordagem
São utilizados quatro enfoques, do geral ao específico,: o primeiro, mais amplo,
abrange toda a área de ocorrência de sambaqui no litoral brasileiro; o segundo, o litoral do
estado do Rio de Janeiro; o terceiro, o entorno da Ilha Grande e o quarto, o sítio Ilhote do
leste.
O primeiro enfoque foi desenvolvido a partir da bibliografia existente; no segundo,
o levantamento bibliográfico foi acrescido dos resultados obtidos no projeto “O
aproveitamento ambiental das populações pré-históricas no estado do Rio de Janeiro”
3
; no
terceiro e no quarto também foram desenvolvidos trabalhos de campo.
3
Projeto "O aproveitamento ambiental das populações pré-históricas no Estado do Rio de Janeiro", financiado pelo
convênio FUJB/FINEP/Museu Nacional, coordenado inicialmente pelo Prof. Osvaldo Heredia e, após seu falecimento,
pela Dra. Maria Dulce Gaspar e pela autora, como subcoordenadora.
lx
Abordagem teórica
Considerando a arqueologia como ciência acumulativa, o objetivo do trabalho é
produzir conhecimento a partir de modelos interpretativos já construídos pela própria
arqueologia.
Parte-se do princípio de que a utilização de modelos interpretativos, que têm como
base para o seu desdobramento teorias de média e alta amplitudes, estipuladas por Trigger
(1992:31-32), é mais produtiva do que a testagem direta dessas teorias na interpretação dos
dados empíricos, por dois motivos: essas teorias foram adequadas à problemática
arqueológica e sua utilização aumenta a produtividade de conhecimento, que se parte de
um outro patamar.
A escolha da abordagem se deu por se considerar que a arqueologia, embora ciência
nova, já dispõe de instrumental teórico-metodológico capaz de entender e prever seus
fenômenos, dentro do possível, para as ciências sociais, prescindindo do emprego direto
das teorias de amplo alcance, proposto por Trigger (op.cit), na interpretação arqueológica .
Assim sendo, os trabalhos foram desenvolvidos à luz da intersecção de pontos
concordantes presentes nos modelos para explicar o povoamento do litoral brasileiro,
enfocando, principalmente, os existentes para o estado do Rio de Janeiro.
Aos modelos testados foram acrescidas abordagens teóricas essencialmente
arqueológicas: a arqueologia interpretativa (Hodder 1995) e a comportamental (Schiffer
1976 ).
lxi
A arqueologia interpretativa, proposta por Hodder, foi empregada por se
compartilhar com esse autor da idéia de que a interpretação mais próxima da verdade é a
baseada em resultados coincidentes de diferentes abordagens.
A abordagem, segundo pressupostos da arqueologia comportamental (Schiffer
1976), foi empregada na interpretação do dado empírico, no caso a evidência arqueológica.
Tendo como ponto de partida essa proposta, foram feitas as inferências necessárias para a
reconstituição das atividades desenvolvidas nos sítios arqueológicos estudados.
Considerando-se o embasamento teórico dos modelos utilizados, a pesquisa se
estruturou nos conceitos da análise espacial (Vita Finzi & Higgs 1970, Longrace & Reid
1971, Gaspar 1991), da ecologia humana (Butzer 1982, Heredia e Beltrão 1986, Andrade
Lima 1991), acrescida do estudo do processo de formação de sítios (Shiffer 1997) e da
proposta de Hodder et al (1995) para a crítica do processo de formação do registro
arqueológico.
Associada a essas abordagens, foram também testados modelos etnográficos
(Meghan 1982;Luby & Gruber 1999), elaborados a partir da ótica binforniana (Binford
1980), no sentido proposto por Trigger, com “a utilização de parâmetros fornecidos por
dados etnográficos para estabelecer relações válidas entre fenômenos arqueologicamente
observáveis e comportamentos humanos, impossíveis de serem observados
arqueologicamente”. (Trigger 1992: 33)
lxii
Para a reconstituição ambiental da área de captação de recursos foram utilizados
resultados de análises embasados por outras ciências, tais como: a geomorfologia, a
ecologia, a zoolologia, a paleobotânica, a traceologia, a antracologia e a malacologia. Na
sua maior parte, esses resultados foram obtidos na pesquisa, através do envolvimento de
profissionais ligados a essas áreas; quando isso não foi possível, procurou-se empregar os
dados de pesquisas e teses mais recentes sobre a área estudada.
Tendo o trabalho como premissa o fato de que a arqueologia é uma Ciência Social,
o homem como ser social constituiu o foco principal, percebido em suas opções culturais e
em seu relacionamento social.
O estudo da cultura material objetivou resgatar a idéia que cada sociedade faz de si
e também as diferenciações que são criadas para se opor ao outro. Consideraram-se essas
diferenças como fatores estruturadores de identidade, ou seja, o paradigma seria “eu sou
em relação ao outro”. Acredita-se que seja possível a utilização do conceito de etnicidade
para o estabelecimento de espaços de identidade e, a partir daí, compreender e reconstituir
regras estruturais de relações sociais.
Os fatores de etnicidade podem ser definidos como elementos culturais
criados por populações para servirem como pontos de diferenciação entre grupos
estabelecidos próximos geograficamente, não importando que sejam de uma
mesma etnia ou de um mesmo sistema cultural.
O estudo sobre a incidência de espécies de moluscos em sítios contemporâneos
localizados no Canal de Itajuru, em Cabo Frio, RJ, permitiu que fosse elaborada a hipótese
lxiii
de que existiriam fatores de etnicidade distinguindo grupos de uma mesma cultura,
funcionando como demarcadores de territórios (Tenório 1993). Nesse estudo, foi possível
constatar que os assentamentos possuíam áreas específicas de coleta de molusco, onde
predominavam determinadas espécies que, ao que tudo indica, deveriam ser trocadas pelos
habitantes dos diferentes sítios. A importância diferenciada das espécies, dependendo do
assentamento, está evidenciada nos acompanhamentos funerários.
Considerando a existência de fatores de etnicidade, objetiva-se resgatar, no estudo
da cultura material, valores próprios a cada grupo, criados muitas vezes visando à
diferenciação. Procura-se caracterizar esses grupos, tendo-se em vista a interação pelo
contato, recuperando-se os elementos estruturantes da cultura que extrapolam razões
funcionais.
Parte-se do pressuposto de que, no caso do litoral, os problemas na reconstituição
das províncias culturais, baseados no estudo da cultura material, podem ser minimizados se
forem considerados os fatores de etnicidade e a possibilidade de ter havido intenso contato
incentivado pelo transporte aquático e pelo tipo de atividades desenvolvidas para a
subsistência.
A presença recorrente de elementos da cultura material extremamente
semelhantes em sítios distantes e, ao mesmo tempo, a diversidade do material resgatado
em sítios próximos e contemporâneos permite que seja levantada a hipótese da alta
incidência de miscigenação e de fatores de etnicidade. Estes últimos seriam os
responsáveis pelas diferenças verificadas na cultura material; a miscigenação responderia
pela grande variedade de rituais funerários observados, muitas vezes, até dentro de um
lxiv
mesmo sítio, ou seja, haveria escolhas marcantes relacionadas a estilo, matéria prima,
modus que seriam refletidos na cultura material encontrada num mesmo sistema de
assentamento.
Essa idéia pode ser sintetizada por Childe :
Talvez possamos chamar membros de uma cultura um povo, mas jamais temos
o direito de presumir que este povo como todo falou uma única língua ou agiu
como uma única unidade política, e muito menos que todos os seus membros
pertenceram a uma unidade genética (Childe, 1951:49).
Segundo Hodder (1982:passin), a interação social nem sempre provoca
homogeneidade estilística, já que a relação da sociedade com a cultura material está
associada a estruturas ideológicas e com códigos simbólicos, pois a cultura material
desempenha um papel ativo como símbolo nas relações sociais e econômicas entre grupos
étnicos, grupos de idade, sexo, status e família.
Para Hodder (op.cit), diferentes itens da cultura material são manipulados por
segmentos sociais diversos para reforçar, legitimar ou
rejeitar identidades ou poder.
Distinção na cultura material, mesmo entre membros de comunidades locais, pode estar
relacionada a fatores de etnicidade gerados para reforçar oposições.
No presente trabalho, parte-se do pressuposto de que essas fronteiras poderiam ser
percebidas na diferenciação dos elementos estilísticos, funcionais e de etnicidade,
observados na cultura material. Dada a dificuldade dessa diferenciação, quando não se
pode utilizar o discurso, temos como melhor estratégia a identificação de elementos que
lxv
caracterizam estilos, segundo definição de Binford (1965:199-203) e resíduo cultural,
independente de variações funcionais e tecnológicas, comparando-os.
Presume-se que os “amoladores polidores fixos”, marcas resultantes da confecção de
objetos polidos (Gaspar e Tenório 1990), cuja distribuição no litoral brasileiro é muito
nítida, ocorrendo predominantemente em Ilhas ou em antigas ilhas isoladas por períodos de
transgressão marinha, podem ser usados como traço cultural e como um bom indicador
para evidenciar sistemas de troca.
A grande incidência de amoladores polidores fixos encontrados na Ilha Grande
estaria sugerindo a existência de centros de produção e de distribuição de lâminas de
machados polidas e que o Holoceno tardio na costa do Rio de Janeiro poderia ter sido
marcado pelo desenvolvimento de especialização tecnológica e intensificação dos sistemas
de trocas.
O Contato
A afirmativa de Gaspar (1991:417) de que a ocupação se daria através de conjuntos de
sítios articulados implica a existência de locais de concentração de pessoas que
funcionariam como pontos de atração, onde seriam desenvolvidas atividades, como trocas
de bens e de informações, envolvendo a realização de rituais comuns, cuja existência já foi
aventada por Prous 1992: 263.
Provavelmente os locais, onde se realizavam essas atividades que aglutinavam
pessoas, possuíam um status diferenciado. Eles poderiam ser representados pelos sítios
maiores, melhor localizados e hierarquicamente superiores (Gaspar op.cit, Lima
lxvi
1991,1999-2000). É possível que a existência desses locais tenha incentivado o surgimento
de figuras de destaque, com influência sobre os demais habitantes de outros sítios. Tal
suposição permite que seja testado o modelo proposto por Luby e Gruber (1999) para
entender o significado cultural dos shellmounds da América do Norte. A partir de estudo
desenvolvido em sítios da baía de São Francisco, Luby e Gruber (1999), deixando de ver
os assentamentos como um simples agregado acidental de refugo de conchas e de artefatos,
começaram a examinar seu contexto social, elaborando análises simbólicas e
cosmológicas, tendo como base o modelo de Hayden (1995) para sociedades
“transigualitárias”.
Luby e Gruber (op.cit) sugerem que os indivíduos ”elevados”, denominados por
Hayden de aggrandizes, exploravam rituais mortuários e banquetes nos shellmounds para
aumentar seu prestígio e redistribuir bens. Nesse caso, o alimento não é visto apenas como
comida, mas também como um elemento para garantir a sua continuidade.
Ainda, segundo Luby e Gruber, os shellmounds foram comumente locais de
freqüentes festividades rituais, como muitos outros espalhados no mundo.
A questão da complexidade entre grupos pescadores, coletores,
caçadores
Estipular o grau de complexidade para grupos pescadores,coletores, caçadores tem
sido foco de muitos debates não só no Brasil (Andrade Lima 1999-2000: 316), mas
também nos Estados Unidos (cf. Flinman e Price 1995; Lighfoot 1993, Haydden 1995,
lxvii
entre outros). Cada vez mais se tem aceitado que grupos caçadores-coletores não podem
mais ser genericamente rotulados de bandos igualitários”, de maneira especial, os que
teriam habitado ambientes ricos e complexos.
Outros trabalhos chamam a atenção para o grau de complexidade dos
pescadores e coletores. Shallins (1979), Service (1971) concordam que na costa
noroeste americana são encontrados grupos caçadores-coletores que, mesmo
sem agricultura, transcendem em muito o nível de bando. Murdock (1968)
também informa sobre grupos que subsistem basicamente da pesca e têm uma
cultura tão complexa quanto grupos agricultores vizinhos, citando, como exemplo,
os índios da Costa Norte do Pacífico, os Calusa, na Flórida, e numerosas
sociedades ao longo dos rios Negro e Congo, na África. Este autor também relata
que, no norte da Ásia, os Ainu, os Chukchee marinhos, os Gilyak, os Kamchadal e
os Koryac marinhos provavelmente também estejam na mesma categoria.
O que fica claro na maior parte dos trabalhos que enfatizam a
complexidade de grupos pescadores-caçadores-coletores é que se baseiam em
parâmetros utilizados para caçadores, coletores ou horticultores, nos quais o
aspecto pescador não é realçado, o que pode ser uma aproximação equivocada,
que a atividade da pesca pode implicar um padrão de mobilidade e um contato
social completamente diferentes daqueles encontrados ou estabelecidos para
caçador-coletor.
Uma das propostas metodológicas do presente trabalho é entender os grupos
construtores dos sambaquis, tendo como ponto de partida o seu aspecto pescador-coletor.
lxviii
Para tanto, serão utilizados modelos de mobilidade e de organização social obtidos de
estudos etnográficos entre pescadores o-horticultores, em detrimento daqueles usados
para caçador-coletor.
Parte-se do pressuposto de que os grupos pescadores, coletores, caçadores
construtores de sambaquis estão relacionados ao modelo de grupos “transigualitários” o
que, segundo Lighfoot (1997in Luby & Gruber op.cit.:99), pode ser usado para tipos de
sociedades que extrapolam uma categorização antropológica baseada em estágios.
O modelo elaborado por Hayden (1995 in Luby & Gruber op.cit :99) propõe uma
organização social para caçadores-coletores que foge da definição tradicional e pode
explicar um pouco a complexidade por vezes identificada (Andrade Lima 1999-2000: 312).
Segundo este autor, tais grupos não são nem igualitários nem estratificados; politicamente,
seriam transigualitários”, ou seja, sociedades de diferentes tamanhos e graus de
complexidade, num contínuo de comunidades, nas quais famílias independentes controlam
os mecanismos de obtenção dos recursos alimentares. Nesse tipo de organização social
pode existir tanto o trabalho cooperativo, como também os donos corporativistas de
recursos – modelo em que é possível haver figuras que se destaquem por seu caráter
ambicioso, empreendedor e agressivo, passando a controlar os mecanismos de exploração
dos recursos, figura que Hayden denomina “aggrandizer”.
Luby e Gruber (op.cit: 100), postulando uma posição com influência pós-
processual, colocam a emergência da desigualdade social também na motivação individual
e o apenas na dinâmica do grupo. Nesse caso, o “aggrandizer” emergiria num papel
principal, personagem central das festas, para onde seriam atraídas pessoas. Nas festas, que
lxix
envolvem rituais com alimentação, seriam criadas situações de débito para com o
“aggrandizer”. Segundo estes autores(op.cit. 100), os shelmounds americanos apresentam
evidências que sugerem terem sido os locais onde eram realizadas essas festas. Ao mesmo
tempo, a grande quantidade de enterramentos encontrados nos sítios também indica que
grande parte dessas festas estaria relacionada a rituais funerários.
lxx
A Associação de mortos com alimentos
Para Lévi-Strauss (1962 apud ,Luby & Gruber op.cit:102), membros de sociedades
não-estratificadas o conduzidos pelo impulso de classificar, exaustivamente, os
elementos do ambiente explorado para garantir a sua sobrevivência, o que fornece a cada
elemento um lugar em sua cosmologia. Com isso, muitos grupos de caçadores-coletores
estariam conectados com o reino sagrado em seu ambiente explorado. Nesse contexto, para
Luby & Gruber (ibid), segundo uma abordagem estruturalista, os shellmounds“ deveriam
ter significado simbólico envolvido por ampla cosmologia; o conteúdo simbólico desse
centro doméstico, com certeza, estaria imbuído pelo lado sagrado do alimento.
As pessoas utilizam o ato de comer como o momento para reforçar e simbolizar
relações sociais. Indivíduos, famílias ou grupos trocam comida ou repartem refeições para
criar e cimentar relações sociais. A comida ingerida, as convenções para produzi-la,
cozinhar, servir e consumir são "chaves" para a identidade étnica, status social e poder.
Conforme a circunstância social em que se come e com quem se come, utilizam-se
recipientes distintos. No contexto cotidiano familiar, tendem a ser simples e no contexto de
relações sociais formais, mais vistosos.
Festas públicas reforçam laços sociais dentro e entre comunidades para afirmar e
reforçar posição social e poder daqueles que oferecem e recebem.
Oferecer comida pode estar relacionado a status elevado, mas pode expressar
apenas maior generosidade.
lxxi
No contexto de sociedades estratificadas, a elite pode dispor de mais comida,
redistribuí-la a mais pessoas, de forma, inclusive, mais luxuosa, e veicular, por meio dos
códigos simbólicos dos recipientes, aspectos ideológicos.
Na arqueologia se discute, freqüentemente, dieta e aspectos econômicos relativos à
comida, mas pouco se fala sobre os aspectos sociais e simbólicos relacionados a essa forma
de consumo.
Existem inúmeros trabalhos, desenvolvidos a partir de relatos etnográficos, que
estudam a relação alimento e ritual funerário (Van Gennep 1960; Lévi Staruss 1962;
Margolin 1978; Huntington & Metcalf 1979) e evidenciam que alimento e morte são
categorias carregadas de grande grau de simbolização e ritualismo. São também comuns
situações onde a morte é relacionada a circunstâncias onde o alimento é distribuído para
reafirmar laços pessoais. Huntington (apud Luby & Gruber:102) desenvolveu um estudo
sobre o significado da morte em diversas sociedades. Em um dos grupos enfocados, os
Berawan, seu chefe poderia ser identificado com a categoria do ”aggrandizer”, definido por
Hayden, e usava a oportunidade da morte e do funeral para fazer grandes festins, onde
suprimentos eram distribuídos e relações de obrigação e de débito eram reforçadas.
Luby & Gruber (id ibid) chamam a atenção para a interpretação de Lévi-Strauss
(1962:10 apud id ibidem) que confere à parte não digerível dos alimentos um grau especial
de interpretação simbólica e lembra que esses elementos conchas, ossos, dentes
constituem as camadas formadoras dos shellmounds o que, segundo os autores, deveria
impedir que continuassem a ser vistos apenas como montes de lixo.
lxxii
Essas duas categorias, casa e comida, estão entre os mais poderosos símbolos de
qualquer sistema cultural. A adição de enterramentos dedica aos sambaquis uma terceira
poderosa associação sagrada. Gaspar (1991: 260) já havia atentado para ela nos sambaquis
brasileiros e propôs que a constante associação de moradia, alimento e enterramento
configuraria uma cosmologia própria a uma única cultura sambaquiana.
Hurt (in), como já foi dito na página 36, também propôs que os sambaquis teriam
sido construídos para fins rituais.
Luby & Gruber (ibid:105) sugerem que a interpretação do “shellmound” como
monumento funerário possa servir para outras partes do mundo. Como exemplo, cita que
os megalitos europeus foram precedidos por montes de conchas contendo enterramentos.
Ainda segundo estes autores, Hibbs (1983) e Tilley (1996) ressaltaram a possível conexão
entre montes de conchas e os tardios megalitos neolíticos e propuseram que a tradição
ritual estabelecida durante as ocupações dos montes de conchas pelos caçadores-coletores
deve ter sido incorporada às estruturas dos monumentos neolíticos.
Sistematizando a bibliografia disponível para o tema, pode-se observar que os
sambaquis brasileiros, durante muito tempo, foram tidos como resultado de lento acúmulo
de restos de alimentos e de refugo de material resultante de atividades domésticas. a
partir dos trabalhos de Blasis & Gaspar (1992), Barbosa & Gaspar et al (1994), Gaspar
(1995) , Fish et al (1997) é que passam também a ser vistos como sítios construídos, no
sentido literal da palavra.
lxxiii
Evidências, como formação rápida das camadas (Hurt in), presença de carapaças de
moluscos fechadas (Figuti & Klökler 1996) e sucessão de camadas colocadas como
estruturas rituais de enterramentos (Fish & Fish 1997) têm chamado a atenção para o
aspecto arquitetônico e monumental dos sambaquis.
A análise das seqüências de datações obtidas em sítios localizados no litoral do Rio
de Janeiro permite que seja constatada a rapidez na formação das camadas (Tenório
1998:237). Em Santa Catarina, a formação rápida das camadas também pode ser
exemplificada no sambaqui da Carniça, onde uma seqüência de datações mostra que
camadas, totalizando 5m de espessura, foram formadas em cerca de 100 anos (Hurt in).
4
Figuti & Klökler (ibid: 185) serviram-se da grande quantidade de conchas fechadas
encontradas no sítio Espinheiro para elaborar a hipótese de que estas foram utilizadas não
para consumo, mas para construir uma plataforma que livrasse o sítio do alcance das águas
que até hoje inundam o local.
A repetição de enterramentos, apresentando finas camadas de ossos de peixes
intercaladas por camadas malacológicas, foi observada por Fish et al (1997,2001) que,
levando também em consideração a escassez de artefatos ou de outros elementos
relacionados a atividades domésticas, levantaram a hipótese de que o sítio Jabuticabeira II,
que mede atualmente 9 de altura, teria sido formado a partir de uma sucessão de rituais de
enterramentos.
4
Hurt (in) demonstrou a formação rápida do sambaqui Carniça I através da bateria de datações obtidas. Uma amostra de
conchas, retirada de uma camada a 60cm sobre a base do sítio, apresentou uma antigüidade de 3 310±150 AP, enquanto
que uma outra, coletada no mesmo setor a 3,4m acima, obteve uma datação de 3 370
±
100 AP; uma outra amostra de
carvão, associada ao mesmo local, foi datada em 3 370±100 e uma outra, coletada a 1,5m acima desta, foi datada em 3
210
±
150.
lxxiv
A formação rápida dos sítios tem sido respondida de três maneiras: seriam
plataformas para fugirem das águas, marcos na paisagem com maior visibilidade, ou
monumentos funerários. Pouco se trabalhou na possibilidade de terem se formado
rapidamente em função da aglomeração de pessoas em determinadas situações, embora a
possibilidade de que os habitantes dos conjuntos afins se encontrassem em certas ocasiões
tivesse sido aventada em inúmeros trabalhos (Prous 1992, Gaspar 1991, Andrade Lima
1991, entre outros).
O fato de existirem conjuntos de sítios articulados de tamanhos diferenciados
remete à proposta de Luby e Grube, detalhada na página 8, e ao exemplo de Meghan,
observado na Austrália.
Meghan relata que, no norte da Austrália, um grupo de pescadores, coletores,
caçadores, a comunidade Gidjingali, que engloba quatro subgrupos os Anbarra, Matai,
Marawuraba e Gulala tem o molusco como a base de sua alimentação. Embora tenham a
mesma filiação cultural, apresentam diferenças na cultura material, porque habitam
ambientes distintos (id ibd: 40). Os Gullala percorrem a costa de canoa, chegando ao mar
alto; eles seriam, segundo o informante de Meghan, os soberanos do mar.
Os Matai tinham medo do mar aberto e gastavam mais tempo nas florestas,
manguezais, terra preta e planícies lodosas; seriam o povo da floresta.
Os Anbarra se estabeleciam no estuário do rio, ambiente de muita fartura, vivendo
com maior abundância de recursos; seriam também mais sedentários, dando grande
importância à coleta de moluscos, valorizando o seu sabor e orgulhando-se de ter
lxxv
disponíveis algumas espécies que também utilizavam para presentear seus parentes do
interior.
Além de se visitarem constantemente, em determinadas épocas, são feitas
cerimônias que concentram mais de 100 pessoas acampadas.
No final de um Kunapipi, cerimônia de iniciação, época em que a população cresce
consideravelmente, os homens ficam ocupados nos rituais e cabe às mulheres a tarefa de
obter alimento, aumentando ainda mais a exploração dos bancos de moluscos. Nessa
ocasião, as mulheres fazem excepcional esforço para coletar comida para os filhos
confinados na terra sagrada. Tal fato também ocorre nas cerimônias relacionadas a
atividades mortuárias de circuncisão e na chegada de parentes.
Nesses momentos de concentração de pessoas, o molusco é processado de maneira
diferente. É feita uma grande fogueira de ± 100cm2 de área e sobre ela são colocadas
conchas vazias coletadas na praia. O fogo é acesso e, depois de 30 minutos, os galhos não-
queimados são retirados; o carvão resultante é misturado com as conchas, com a ajuda de
uma vara. Feito isso, os moluscos com carapaças o jogados sobre a mistura e cobertos
por galhos verdes e casca de árvore para impedir que o vapor escape.
A existência de momentos de concentração entre grupos pescadores,
caçadores, coletores também é registrado por Sharp (1970:390) entre
aborígenes sem agricultura, denominados Yir Yoront. Segundo
Sharp, a grande troca ocorria anualmente na estação seca, época da
grande celebração aborígine, centrada em rituais de iniciação ou
outras cerimônias totêmicas. Nessas ocasiões, obtinha-se estoque de
lxxvi
machados e de esporões de raia e deles eram elaborados arpões
para o ano todo.
Ainda, segundo Sharp (op.cit 392), o comércio de lâminas de machado era muito
importante nas relações sociais, visto que no território Yir Yoront não havia matéria prima
para elaborar a lâmina. A rocha usada vinha de uma fonte a 400 milhas e chegava graças a
uma longa linha de tradicionais parceiros. Todo homem velho tinha o seu parceiro
tradicional de troca regular. Havia um circuito de trocas, onde os elementos principais
eram os esporões de raia e as lâminas de machados, instrumentos estritamente masculinos.
Com os esporões de raia, obtidos no litoral, eram apontadas lanças de combate, cuja
ponta se partia em numerosos fragmentos quando entrava na carne humana.
Nessa rota de trocas, havia o parceiro do norte que fornecia as lâminas de
machados, o parceiro do meio que intermediava a troca e o parceiro do sul que produzia as
lanças com o esporão de raia.
Os casos dos Anbarra e dos Yir Yoront servem como ilustração de como poderiam
ser os contatos entre grupos construtores de sambaquis e de como esses contextos
costumavam ser resgatados nos sítios.
Partindo-se da constatação de que o padrão de ocupação do litoral se deu através de
conjuntos de sítios articulados e que isso implicaria a existência de trocas de bens e de
informações e, também, a realização de rituais comuns, pode-se deduzir que o local onde
lxxvii
se realizavam essas atividades deve apresentar certas peculiaridades que permitam
identificá-lo como tal.
lxxviii
Prous (op.cit: 264), procurando fornecer uma imagem mais humana, propôs, com
base nas informações bibliográficas, que os sítios maiores poderiam ter sido locais que
funcionaram como centros de reunião e rituais:
... local de reunião onde são resolvidos os problemas
da comunidade regional; iniciação dos jovens,
projetos matrimoniais, rituais numerosos, que só
podem ser realizados neste local onde ficam
guardados os instrumentos culturais, as imagens dos
entes protetores. O sambaqui-mãe, nunca totalmente
abandonado, toma com o tempo dimensões majestosas.
Planeta maior no rio, cercado por modestos
satélites” Prous (op.cit:264).
O estudo dos sítios que se sobressaem nesses conjuntos é imprescindível para o
entendimento das relações sociais, cuja estruturação, provavelmente, está nos rituais
desenvolvidos nesses locais.
Parte-se do pressuposto de que, a partir da reconstituição do processo de formação
dos sítios, é possível recuperar as atividades responsáveis pela configuração das camadas
dos assentamentos, reconstituindo os diferentes contextos em que os restos alimentares
foram amontoados e, conseqüentemente, explicar o papel do sítio na dinâmica de
ocupação.
Além do enfoque social, ressalta-se a necessidade de uma abordagem em que seja
levada em consideração os aspectos relacionados ao simbólico.
lxxix
O fato de a arqueologia o se sentir no direito de resgatar cenas do imaginário, já
que não tem acesso ao discurso, faz com que sejam retirados de qualquer interpretação
aspectos sociais e simbólicos, ressaltando-se sempre as explicações funcionais, respostas a
fenômenos observáveis, destes sobressaindo-se os ambientais. Tal reducionismo pode ser
tão equivocado quanto a excessiva atribuição de cosmologia na elaboração de modelos
interpretativos.
A tendência da arqueologia em evitar atribuir respostas a fatores
relacionados ao simbólico tem dificultado a compreensão de
evidências cuja interpretação vai contra as leis da teoria da forrageria
ótima, tais como: o gesto de se carregar alimento para ser consumido
muitos metros acima da origem do recurso.
Compartilha-se da proposta de Hodder (1979:450), ao enfatizar a
cultura material em termos de um indicador simbólico para os desejos e
necessidades de indivíduos, que a meta dos sistemas e as razões das
mudanças passam a ser passíveis de estudo.
Ao se trabalhar, considerando a existência de intenso contato e de fatores de
etnicidade, torna-se necessária uma visão mais ampla de cultura em detrimento da definida
por Tylor (1958), delimitada por costumes, ou por Steward (1955), delineada por escolhas
adaptativas. Assim sendo, optou-se por uma visão de cultura menos purista, com fronteiras
menos marcadas, embora seja ressaltada a importância dos elementos unificadores
expressos na cultura material.
Na utilização de uma unidade cultural mais “mestiça”, no lugar da hipótese da
existência de muitas culturas isoladas, considera-se a possibilidade da existência de uma
lxxx
única cultura, com muita afluência de costumes, o que resultaria na presença de elementos
que podem indicar diversidade dentro do próprio sistema sociocultural. Isto se observa na
grande multiplicidade de traços culturais manifestada na cultura material encontrada nos
sítios. Esse modelo foi proposto por Rouse (1968) que cita como exemplo a sociedade
americana, onde várias etnias constituem uma sociedade e que, embora cada um mantenha
suas peculiaridades, todos se consideram pertencendo a um mesmo sistema social.
lxxxi
Metodologia
Diferentes abordagens teóricas foram utilizadas em função de cada fase da
pesquisa.
O trabalho de campo foi norteado pela propostas de Schiffer (1987)
para o processo de formação dos sítios e pelas interpretações criadas
pela Arqueologia Comportamental (Schiffer 1976). No estudo da
cultura material, foram elaboradas tipologias com o objetivo de
estabelecer traços culturais (Ford 1954), embora se tenha optado
pelo conceito de unidades sociais fornecido por Rouse (op.cit ), em
lugar de unidade cultural (Laraia,1989:25), numa abordagem mais
próxima da antropologia social inglesa do que da cultural americana.
Nesse sentido, houve uma aproximação com a arqueologia pós-
processual e um afastamento da processsual, embora houvesse a
utilização teórica do Middle Range em relação ao modelo usado para
entender dinâmica de ocupação e exploração do ambiente por grupos
caçadores-coletores (Binford 1968).
Nas prospecções e no levantamento da área, optou-se por uma abordagem
sistêmica, seguindo a proposta de análise do padrão de assentamento, a partir do estudo
que tem como base a premissa da existência da articulação dos assentamentos (Chank
1968).
Além desses autores, foi desenvolvido um levantamento etnográfico com a
comunidade da Praia do Aventureiro com o objetivo de resgatar padrões comportamentais
que pudessem auxiliar na interpretação dos dados recuperados nas escavações. Foram
lxxxii
também desenvolvidos trabalhos de experimentação no campo que serviram de suporte
para a construção de hipóteses.
Além das prospecções, o trabalho de campo se apoiou nas escavações de 15% da
área total de um sítio (sítio Ilhote do Leste), na abertura de um perfil de 5m e em uma
trincheira de 2m
2
para a retirada de um enterramento, em outro sítio (Ponta do Leste).
Foram priorizadas a identificação da distribuição espacial, a delimitação dos eventos e a
evidenciação dos contextos comportamentais formadores do sítio.
Como ferramenta para a inferência de identidade cultural, contato e sistema de
troca, utilizaram-se, como traço cultural, os amoladores polidores fixos encontrados no
litoral brasileiro.
lxxxiii
3. Hipótese explanativa
A partir de modelos teóricos antropológicos, da Ecologia
Cultural, de modelos arqueológicos e do estudo da bibliografia
arqueológica referente ao litoral brasileiro, foi elaborada hipótese
de que a costa brasileira era habitada por grupos estruturados
por uma cultura marítima, denominada “cultura sambaquiana”,
definida por Gaspar (1991) como um único sistema sociocultural
que tinha por característica principal o hábito de enterrar seus
mortos, em locais que se destacam na paisagem, associados a
restos alimentares. Outra característica dominante desse sistema
sociocultural é a intensa adaptação ao meio aquático,
representada por um profundo conhecimento de tecnologia
específica para obtenção do alimento daí proveniente.
Parte-se do pressuposto de que a essa “cultura
sambaquiana” grupos caçadores-coletores, oriundos do interior,
já dispondo de tecnologia rudimentar de pesca ribeirinha,
aglutinavam-se ou mantinham contato, que poderia ser por
lxxxiv
trocas, casamentos ou disputas, fazendo com que novos
costumes fossem absorvidos.
Embora com a mesma filiação cultural e sempre apresentando iguais características
marcantes, grupos aparentados reforçavam tanto sua identidade como suas diferenças. A
identidade pode ser percebida no tempo atitudes relacionadas a mitos e antepassados
comuns estruturariam a “cultura sambaquiana”. as diferenças estariam relacionadas ao
espaço seriam os fatores de etnicidade, usados como demarcadores territoriais (Hodder
1982).
Com o passar do tempo, novos elementos, que haviam sido
agregados, entram, por inúmeras razões, em desuso,
tais como alterações ambientais, transmissão cultural,
entre outras, ao mesmo tempo em que novas formas e
tecnologias apresentam evolução própria.
Para a manutenção desse sistema seriam necessários, além de uma estrutura
ideológica, vetor da “cultura sambaquiana”, pontos de concentração para troca de itens e
de idéias e, principalmente, para reforço do aspecto ideológico. Para a localização dos
pontos, parte-se do pressuposto de que a distribuição espacial e a velocidade aferida na
construção das estruturas podem servir de indicadores para a verificação dos motivos
predominantes que resultaram na construção dos sítios, podendo, assim, ser detectadas
como, por exemplo: se suas camadas são conseqüência de um lento somatório de
atividades cotidianas desenvolvidas por membros de unidades familiares; se foram
formadas rapidamente com o intuito construtivo arquitetônico como monumentos ou
lxxxv
plataformas, ou se seriam resultantes de formação rápida, como banquetes envolvendo
concentração de pessoas e de alimentos, ou como a mistura de todos estes itens.
Em relação à dinâmica de ocupação e à mobilidade, estas se efetuariam através de
sítios articulados formando conjuntos (Gaspar 1991) que, por sua vez, também se
articulariam, mantendo intenso contato, sem que, no entanto, houvesse aculturação, muito
pelo contrário, embora ocorresse transmissão cultural, relacionada à absorção de novas
técnicas exploratórias. Haveria também o constante desenvolvimento de elementos de
etnicidade demarcadores de identidade e territórios, assim como de traços culturais
relacionados a diferenciações culturais regionais que, mesmo com o intenso contato,
seriam mantidas e estariam presentes nos rituais, não obstante as trocas e até a
miscigenação através de casamentos. Isso ofereceria a imagem de uma sociedade, proposta
por Rouse (1968), única, mas composta de várias etnias.
lxxxvi
4. CONCEITUAÇÃO DO PROBLEMA
Os Sambaquis
Montes formados por camadas de valvas malacológicas, ossos de fauna e
enterramentos são encontrados em muitos pontos do mundo, tais como: Austrália,
Nova Zelândia, África do Sul, Egito, Senegal, Japão, França, Inglaterra,
Escandinávia, Portugal, xico, Chile, Argentina, Peru e na América do Norte,
principalmente na costa da Flórida e da Califórnia.
No Brasil, denominados sambaquis, esses amontoados de conchas são
definidos como sítios arqueológicos relacionados ao litoral, construídos por
grupos que tinham como principais atividades a pesca e a coleta de moluscos,
cujas carapaças eram acumuladas, formando montes de diferentes alturas, onde
eram descartados artefatos, outros restos de alimentos e, também, enterrados os
mortos.
Embora exista uma longa discussão sobre o que seria ou o sambaqui e
se este termo pode ou não ser utilizado para toda a ocupação pré–cerâmica do
litoral brasileiro, decidiu-se pela utilização genérica do termo sambaqui, acatando-
se outros, quando empregados pelos autores citados.
Em levantamento realizado no ano de 1993, foram registradas informações
sobre 958 sambaquis no litoral brasileiro (Gaspar 1999). São encontrados em
pontos de intersecção, caracterizados pela concentração de ecossistemas. Seu
período de ocorrência é de 7500 BP a 1800 BP. Sua dispersão é do litoral sul até
o norte brasileiro, perfazendo um total de 2.800km de costa, sendo que aparecem
concentrados em 1.400km, entre o norte do estado do Rio de Janeiro e o litoral
sul de Santa Catarina e dispersos em mais 1.400km de litoral, pouco estudados
em termos arqueológicos. No estado de Santa Catarina, são encontrados os
maiores, alguns com 50 metros de altura, como o da Cabeçuda (Castro Faria
1952).
A pesquisa em sambaquis pode ser sistematizada a partir de quatro
enfoques, cada um de acordo com sua problemática: a primeira, relacionada à
resolução quanto ao caráter artificial ou natural desses sítios; a segunda, que tem
por questão a identidade cultural e a dispersão dos grupos que os construíram; a
terceira, que parte do estudo interdisciplinar dos sítios ou de conjuntos de sítios,
para fazer inferências sobre o cotidiano dos grupos que os ocuparam; e a quarta,
que aborda esses sítios como resultantes de opções culturais relacionadas à
moradia e à sobrevivência, ou como “construído” intencionalmente, com finalidade
arquitetônica.
lxxxviii
A primeira abordagem: Distinção entre cocheiros naturais e sítios
arqueológicos
.
Essa abordagem teve início logo que foram registrados no Brasil montes
semelhantes aos encontrados na Dinamarca (Hartt 1871) e pode-se dizer que foi
concluída quando foram estabelecidos os parâmetros para distinção entre os
concheiros naturais e os artificiais construídos pelo homem (Clerot 1928;
Leonardos 1938).
Tal resultado foi alcançado após muitas décadas de discussão, graças
às contribuições de Weiner (1876), Capanema (1876), Ladislau Neto (1882),
Krone (1902), Loefgreen (1903), Von Lhering (1904), Backheuser (1918), Leão
(1919) e Fróes Abreu (1928), dentre outros.
Associam-se também a essa primeira abordagem os trabalhos de Bigarella
(1949) e de Teixeira Guerra (1950) que, com uma aproximação geomorfológica,
procuram responder sobre a validade do estudo dos sambaquis na reconstituição
das oscilações marinhas.
5
5
Este enfoque foi retomado posteriormente, com sucesso, por Martim & Suguio (1989) que, entre outras evidências,
serviram–se de datações radiorcabônicas obtidas em sambaquis para estabelecer alterações do nível do mar.
lxxxix
A segunda abordagem: A questão da identidade
A questão da identidade dos grupos responsáveis pelo aparecimento dos
sambaquis começou a ser esboçada nos trabalhos de Koseritz (1884) Von
Lhering (1904), Leão (1919), Roquete Pinto (1925), Serrano (1938), que
exemplificaram a preocupação da Antropologia Biológica em caracterizar o
homem que teria habitado os sambaquis. No entanto, é na década de 50 que
surge a preocupação com a reconstituição de sua cultura, nos trabalhos de
Orssich (1954) e Ondemar Blasi (1963), inicialmente, aparece o interesse em
identificar a variação cultural observada nos sambaquis, que acaba sendo
explicada como fases de uma mesma cultura.
Posteriormente, já nos anos 60, influenciada pelo fortalecimento de
uma arqueologia americana, graças à reformulação do conceito de
tipo, atribuindo-lhe um caráter quantitativo no lugar de qualitativo,
como era usado pelos colecionadores, aumenta, na arqueologia
brasileira, a preocupação com a identificação das unidades culturais e
sua mudança no tempo.
Embora calcada em pressupostos da antropologia, a arqueologia americana se
apropria do conceito de cultura com uma visão muito particular, na medida em que destitui
a humanidade do conceito básico de unidade cultural formulado por Tylor como: todo
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (Tylor
apud Laraia 1989).
xc
Percebendo a cultura como um conjunto de objetos e não de crenças e costumes
expressos no discurso, a arqueologia passa a trabalhar com “culturas arqueológicas”,
evidenciadas, segundo Childe, por: “uma pluralidade de bens definidos, tipos,
diagnósticos, que são repetidamente e exclusivamente associados com outros, e que,
quando plotados nos mapas, exibem um reconhecido padrão de distribuição”. (Childe
1981:112)
Entre essas duas definições apresentadas acima, existe uma grande distância entre o
conceito de cultura e o que pode ser revelado através do estudo da cultura material. Pontos
referentes à ideologia, estruturadores de cultura, passaram a ser evitados, devido à
dificuldade de serem recuperados a partir do estudo da cultura material.
Nesse contexto, baseados nos princípios da Escola do Histórico Culturalismo
americano, elementos da cultura material, encontrados nos sítios litorâneos brasileiros,
foram tipologizados, com o objetivo da identificação das unidades culturais, sua evolução e
dispersão.
Posteriormente, princípios da Ecologia Cultural foram acrescentados
às interpretações para explicar mudanças observadas na cultura
material, que passaram a ser entendidas como evidências de
adaptações funcionais às alterações ambientais.
A multilinearidade evolutiva, proposta por Boas (1965), colocada por Steward
(1955) e White (1943) como resposta a pressões ambientais, passou a ser a principal
responsável pelas mudanças culturais, apresentando à arqueologia a possibilidade de testar
xci
modelos que explicariam alterações culturais. Assim sendo, o Histórico Culturalismo
passou a influenciar decididamente a interpretação arqueológica.
Para a antropologia, a visão da cultura como um instrumento adaptativo foi muito
usada até ser colocada em discussão, quando Sahllins (1979) demonstrou, através de
resultados de estudos etnográficos que, no comportamento humano, a ideologia pode
prevalecer sobre as causas ambientais. A posição de Sahllins vem reforçar a proposta de
Lévi-Strauss (1955) que postulava um homem muito mais influenciável por um
ambiente/natureza de percepção mentalista do que um ser delineado por fatores ambientais,
mostrando que o "ambiente" social pode exercer tanta influência como o "natural" e que o
social deve ser visto como suporte e modelador de ações humanas.
O peso do fator ambiental, para a antropologia, pode ser minimizado, já que conta a
presença do discurso; como para a arqueologia isto não ocorre, ela acaba desenvolvendo
um conceito de cultura próprio, moldado por respostas ambientais.
Com a crítica estruturalista, arqueólogos, que tinham seu trabalho baseado na
Ecologia Cultural Neofuncionalista, passam a ser criticados como reducionistas e
deterministas. Tentam fugir a essa rotulação, procurando outras abordagens, mas acabam,
como a maior parte, utilizando causas ambientais para explicar o que o conseguem
responder a partir somente da tipologização da cultura material. Tal fato se dá
principalmente porque a Ecologia Humana tem uma grande capacidade de fornecer
modelos testáveis pela Arqueologia.
Na nova arqueologia, duas vertentes interpretativas: a evolucionista (Clark (1975),
Childe 1981), preocupada ainda com a história da cultura; e a funcionalista, voltada para os
xcii
mecanismos adaptativos criados pelo homem (Butzer 1984). A evolucionista, dos anos 70,
centra sua atenção nas mudanças econômicas no tempo; a funcionalista não está tão
preocupada com a identificação de mudanças, mas sim com o entendimento da capacidade
de adequação funcional da cultura em relação ao meio.
No Brasil, a interpretação evolucionista se expressa através do
materialismo histórico, combinando a evolução de formas na cultura material com
mudanças na economia. Nessa linha, aparecem trabalhos, como os de Mendonça
de Souza (1981) e Dias (1983/84), que caracterizam a cultura e a mudança a
partir do “modus” econômico de extração.
a funcionalista, mais relacionada à Ecologia Cultural, procura associar
os mecanismos elaborados para adaptação com as escolhas culturais. Essa
abordagem é encontrada nos trabalhos de Heredia (1980,1981/82, 1989),
Carvalho (1984) Dias Jr (1972), Kern (1989,1995), Schimtz (1984), Kneip
(1980,1985,1994). Schimtz e Kneip, embora tenham uma preocupação com as
respostas ambientais, estão mais voltados para detalhar exaustivamente o
“modus vivendi” do grupo estudado, enquanto Kern também se preocupa com a
história da paisagem, observando o homem a partir de sua interação com um
ambiente mutável no tempo. Nesse aspecto, difere de Heredia que não tem como
enfoque a contextualização do objeto de estudo no tempo; os sítios são
analisados como se fossem estáticos, atemporais, o que exemplifica uma
abordagem mais próxima da Antropologia do que da História. Essa tendência de
focalizar o sítio isoladamente origem a um outro tipo de abordagem na
arqueologia do litoral desenvolvida no Brasil, os estudos isolados. Segundo
xciii
Fausto (2000), esse procedimento também irá ocorrer na Antropologia. Com o
predomínio da tradição britânica nos anos 1930-50, um impulso do estrutural-
funcionalismo de Radcliffe-Brown, resultando em um estreitamento do foco
analítico. Poucos foram os antropólogos que não privilegiaram os estudos
sistêmicos e sincrônicos de uma única sociedade, não se tratando mais de
organizar similaridades e diferenças culturais em grande escala, mas de
compreender o padrão cultural de um povo.
Terceira abordagem - estudos isolados
Motivados pelas dificuldades encontradas em delimitar as unidades
culturais envolvidas na ocupação da costa brasileira, muitos pesquisadores
passaram a adotar abordagens interdisciplinares, tendo por objetivo entender o
sítio através da reconstituição de elementos como: dieta alimentar, área de
captação de recursos e padrão de assentamento. Essa postura representa um
certo retorno à abordagem metodológica francesa, na medida em que se
aprofunda o conhecimento em um sítio em detrimento do enfoque regional,
acrescida por uma abordagem tecnológica americana. Trata-se de uma influência
da Arqueologia Processual americana que vem sendo desenvolvida desde a
década de 70 e que é bastante criticada por impregnar a arqueologia de uma
postura demasiado positivista (Hodder 1995:5; Preucel & Hodder 1996: 12) e
normativa (Claissen 1991:249) para uma Ciência Social.
Com isso, a partir da década de 90, pesquisas
interdisciplinares foram intensificadas, abarcando
xciv
princípios da biologia para a reconstituição da dieta
alimentar: Tania Andrade Lima (1991), Levi Figuti
(1992), Dione Bandeira (1992) Débora Barbosa (1999),
Marco N. De Masi (2001), Daniela Kloker (2001), Paula
Nishiba (2001); da botânica: Rita Scheel-Ybert (1998)
e da geomorfologia: Perez 1999, para entender
mobilidade e reconstituir o meio ambiente explorado.
Essa abordagem caracteriza um momento em que a questão do
povoamento do litoral brasileiro é trocada por outras de menor amplitude, mas de
maior profundidade. Chega-se a detalhes da dieta, porém fala-se pouco de
províncias culturais. Provavelmente, isso é decorrente de estar a ciência
influenciada também pelo pensamento pós-moderno que ressalta a importância
em se considerar o fator diversidade e que mostra a fragilidade do conceito de
cultura e a artificialidade na criação de fronteiras culturais. Ao mesmo tempo, essa
postura constitui um impasse no desenvolvimento da pesquisa arqueológica, na
medida em que a arqueologia tem como principal preocupação a identificação, a
caracterização de culturas e o entendimento das mudanças.
Destoando desse contexto, numa reaproximação com as Ciências Sociais, aparecem
os trabalhos de Wust, De Blasis, Gaspar que utilizam pressupostos da geografia, para o
estabelecimento das áreas de captação de recursos e os padrões de assentamento; da
antropologia social, para entender a organização e a identidade social. Dentre eles, apenas
Gaspar (1991) desenvolve esse tipo de pesquisa no litoral .
xcv
Desde o início da década de 90, as idéias de Chang (1968) e da Arqueologia
Locacional passam a fazer parte da pesquisa dos autores citados acima, que se
desviam da abordagem de sítios isolados.
Embora a análise da distribuição espacial dos tios tenha começado a ser
empregada desde o início da década de 60, essa abordagem demorou a se efetivar no
Brasil, devido à escassez de datações e, também, à grande influência da Nova Arqueologia,
baseada na antropologia cultural que, distante da antropologia social inglesa, sempre
priorizou o cultural em detrimento do aspecto social.
Rouse (1968: 27) exemplifica bem o pensamento da arqueologia tradicional,
quando fala que os traços culturais, que por sua vez são relacionados aos povos, ficariam
nos sítios, enquanto a sociedade, expressa nas relações sociais, não sobreviveria. Segundo
Rouse (op.cit:27) “Os sítios contêm evidência direta de povos, não de sociedades” .
Mesmo sem datações radiocarbônicas disponíveis para a afirmativa, Gaspar (1991)
propôs, em sua tese de doutoramento, que os sítios estudados faziam parte de conjuntos
que, por sua vez, constituíam sistemas de assentamentos e que não poderiam ser estudados
isolados, como vinha sendo feito aentão. Posteriormente, com as datações obtidas para
sítios localizados no distrito de Tamoios, no estado do Rio de Janeiro, Gaspar (1998) pôde
comprovar sua proposta, iniciando um novo tipo de abordagem para “sambaquis”.
Com a passagem para a quarta abordagem, pela visão dos sítios articulados
formando conjuntos, questões relacionadas à mobilidade, contatos e sistemas de trocas
começam a surgir e uma das propostas para recuperar esse tipo de informação é a
xcvi
reconstituição dos contextos sociais neles ocorridos. Com essa questão, inicia-se a quarta
etapa da pesquisa em sambaquis.
Quarta abordagem: Reconstituição do processo de construção dos sítios
Essa abordagem, que será a empregada no presente trabalho, tem
constituído uma forte tendência de pesquisa na arqueologia de litoral no
Brasil, passando a ser a reconstituição do processo de construção dos
sítios
uma das questões mais abordadas no momento por autores como:
Gaspar & De Blasis (1992), Afonso & De Blasis (1994), Barbosa (1993; 1999),
Barbosa, Gaspar & Barbosa (1994), Gaspar, Barbosa & Barbosa (1994),
Gaspar (1995), Tenório (1995, 1999, 2001), De Blasis & Afonso (1996), Figuti
& Klökler (1996), Barbosa & Gaspar (2000), Klökler & Figuti (2000) Klökler
(2001) e Barbosa (2001).
Ela parte do princípio de que é possível reconstituir as atividades desenvolvidas nos
sítios, a partir do estabelecimento do processo de formação de suas camadas.
Nela existem duas vertentes: a que considera o sítio como um artefato; e a outra,
que o considera como resultante de atividades especiais que implicam a formação de locais
de destaque na paisagem.
A que considera o sítio um artefato (Gaspar & De Blasis 1992) parte do pressuposto
de que o tio foi construído por opções culturais e o apenas como resultado indireto de
atividades que nele foram desenvolvidas. Em determinados casos, é proposto que o sítio
xcvii
foi realmente construído no sentido arquitetônico. (Gaspar 1998, Fish et al 1999, Klökler
op.cit)
A outra vertente, que é a relacionada ao presente trabalho, tem por objetivo elucidar
os motivos que fizeram com que alimentos fossem carregados e acumulados e considera
que, dependendo da inserção do sítio no sistema de assentamento, ele apresenta contextos
diferenciados e que, a partir de repetições sistematizadas pela Arqueologia
Comportamental, podem-se inferir diferentes contextos atuantes na sua construção
(Schiffer 1996: 3).
A Arqueologia Comportamental (Shiffer 1978), criada no final dos anos 70 ,
resgata, a partir de estudos etnográficos com sociedades atuais, comportamentos gerais
observáveis em quaisquer sociedades e que deixam marcas perceptíveis na cultura
material. A identificação dessas evidências permite inferir os diferentes contextos
comportamentais responsáveis pela formação do sítio, embora Schiffer também considere
a influência dos fatores naturais nas camadas resultantes.
A grande diferença interpretativa da Arqueologia Comportamental em relação à
Nova Arqueologia é a substituição do uso de associações de elementos da cultura material
na identificação dos contextos, pelas leis gerais de comportamento.
Essa vertente tem como premissa que a resolução dos motivos específicos a cada
sítio – que ordenou a disposição do refugo (Tenório 1999), a distribuição espacial das áreas
de atividades (Tenório 95, Barbosa 2002), a construção de plataformas, de pisos (Tenório
2001), de monumentos e de estruturas rituais permitirá a reconstituição da dinâmica de
ocupação pertinente a cada unidade sociocultural.
xcviii
O termo unidade” foi adotado porque é menos abrangente do que filiação cultural
ou grupo étnico e, ao mesmo tempo, permite considerar a existência de miscigenação e de
diversidade. Essas unidades, no caso, seriam criadas pelo próprio grupo, em oposição ao
outro, cujas fronteiras culturais seriam demarcadas por elementos construídos como fatores
de etnicidade
6
.
No presente trabalho, será utilizado um conceito de cultura um pouco distinto do
que vem sendo empregado pela arqueologia, mais relacionado a grupos étnicos (Beattie
1977, Rouse op.cit ). É usado o conceito de cultura mais ideológico, mais próximo da
antropologia (Carlos Fausto 2000), partindo-se do pressuposto de que a cultura material
pode expressar significados traduzidos pelo arqueólogo (Shanks & Hodder 1995:17).
6
A palavra etnicidade normalmente é definida como o conjunto de fatores de identidade social criado por grupos étnicos distintos para
reforçar diferenciações culturais . No caso, utiliza-se a palavra etnicidade para estabelecer diferenças criadas por grupos que podem
pertencer a uma mesma etnia ou filiação cultural .
xcix
5. OS AMOLADORES POLIDORES FIXOS
Segundo Prous (1992: 202), no litoral, a falta de matéria prima frágil e boa para
lascamento, aliada à presença de rochas magmáticas, teria incentivado o desenvolvimento
das técnicas de picoteamento e o polimento, fazendo com que, durante muito tempo, essas
técnicas estivessem associadas a ocupações litorâneas.
No interior, ainda segundo este autor, o polido irá aparecer em períodos mais
tardios, relacionados aos ceramistas, sugerindo inclusive que, a partir desses grupos,
iniciou-se uma alternância de idas e vindas ao litoral. Anteriormente, quando grupos pré-
ceramistas chegavam ao litoral, permaneciam em contato com populações
estabelecidas, não retornando ao interior, como será apresentado no capítulo II.
A cnica de polimento é relativamente simples; segundo Amaral (1995), consiste,
basicamente, em submeter um objeto a um processo de abrasão através de areia e água.
Para a abrasão, é necessário o atrito com outra rocha.
A disponibilidade da matéria prima, a forma desejada e a função prevista
certamente irão influenciar na escolha do material a ser polido. No entanto, a maneira
como será polido, ou o “modus”, segundo conceito de Ford (op.cit.), é determinado por
uma cosmologia própria a cada grupo. As rochas de abrasão
usadas para polir exemplificam bem essa escolha; elas podem ser “pedras de polir”,
amoladores-polidores portáteis ou amoladores-polidores fixos.
c
As “pedras de polir”, embora difíceis de serem identificadas, aparecem muito nos
registros arqueológicos. Kozak et al (1981:74) fornecem informações etnográficas sobre a
sua utilização. Segundo estes autores, os Héta, no estado do Paraná, esmerilhavam a peça,
na qual desejavam dar uma forma com uma pedra de amolar dentro de uma vasilha com
argila branca, areia e água.
os amoladores portáteis não são tão comuns de serem encontrados em contexto;
são seixos grandes e pesados que apresentam grandes sulcos produzidos pelo desgaste do
polimento. Por chamarem a atenção, muitos são alvo de colecionadores. Foram registrados
no sítio Ponta da Cabeça, em Arraial do Cabo (Tenório et al 1992) (Figura1), no sambaqui
de Boguaçu, na Ilha Comprida (Uchoa 1977/78/79/80:17) e por Tiburtius, no sambaqui da
Conquista (Figura 2).
Prous (op. Cit:226) propõe uma relação entre a maior proximidade de suportes
rochosos naturais e a raridade de polidores nos sítios. No entanto, tal fato não foi
observado nas pesquisas, pelo contrário, um dos poucos sítios onde são encontrados
amoladores portáteis também apresenta amoladores-polidores fixos próximos.
Os amoladores-polidores fixos são conjuntos de marcas resultantes da confecção de
objetos polidos (Laming-Emperaire 1967:86, Gaspar e Tenório 1990:
ci
Figura 1. Amolador Portátil. Sítio Ponta da Cabeça, Arraial do Cabo.
Figura 2. Amolador portátil.
(Extraído de Prous:1992:231)
.
cii
181); sua distribuição e associação com sítios próximos permitem que sejam
associados a grupos pré-cerâmicos do litoral (Gaspar e Tenório op.cit. 184). Eles
se diferenciam dos amoladores-polidores portáteis encontrados nos sítios,
principalmente por terem como suporte grandes blocos rochosos fixos, separados
dos locais de habitação.
Grandes blocos, apresentando sulcos semelhantes, também são registrados em
outras partes do mundo, como na Austrália (Smith 1985 passim), na Tanzânia (O’Connell
et al 1991), na Guiana Francesa (Rostain & Wack (1987 passim), sendo, no entanto,
interpretados como resultantes do processamento de vegetais. No Brasil, apenas Rohr
(1950) chegou a propor que poderiam ter sido utilizados para moer farinha, hipótese que
não retomou em publicações posteriores, provavelmente devido à inclinação observada nos
amoladores-polidores fixos encontrados em Santa Catarina, pouco funcional para a
contenção dos vegetais (Amaral op.cit.:11).
Rostain & Wack (1987 passim) registram concentrações de amoladores-polidores
fixos no litoral da Guiana Francesa e em ilhas das Antilhas e os relacionam à elaboração de
lâminas de machado. Apresentam formas semelhantes às encontradas nos amoladores-
polidores fixos registrados no litoral brasileiro.
Gaspar e Tenório (op.cit: 182) fizeram a mesma associação, pelo fato de, entre os
artefatos polidos, estes serem os mais recorrentes no Rio de Janeiro, área onde foram
ciii
encontrados os amoladores-polidores fixos abordados na publicação. Já Amaral (op.cit: 11)
levanta a hipótese de que outros artefatos, como tembetás, zoólitos poderiam ter sido
também elaborados nos amoladores-polidores fixos, propondo, inclusive, a predominância
de determinadas etapas de elaboração em alguns sítios (Amaral op.cit: 81). No entanto, a
hipótese é apenas esboçada, já que os dados levantados pela autora não permitem o
desenvolvimento da questão.
Os registros mais antigos sobre os amoladores-polidores fixos no Brasil foram
feitos por Nóbrega 1549/1988:91, Rocha Pita 1730/1976:36, Thevet 1556/1978:90, Knivet
1906:45, a partir de relatos indígenas que os associavam com pegadas de seres
mitológicos.
Posteriormente, foram identificados como “pedras de polir” (Tiburtius 1953 in
Amaral op.cit), moinhos de bugre” (Rohr 1959 in Amaral op.cit), “amoladores-polidores
fixos” (Gaspar e Tenório op.cit), “estações líticas” (Beck 1992 in Amaral op.cit.),
”oficinas líticas” (Amaral op.cit ) e “amoladores-polidores líticos fixos” (Kneip e Oliveira
in.).
Neste trabalho, optou-se pela utilização do termo “amoladores-polidores fixos” que
é bem difundido. Os termos “estações líticas” e “oficinas líticas” podem ser confundidos
com “sítios líticos”, caracterizados por apresentarem grande quantidade de resíduos de
lascamentos.
Segundo Amaral (op.cit:13), os amoladores-polidores fixos seriam, ao
mesmo tempo, instrumentos para polir e artefatos. Mas ao optar pela adaptação
civ
do conceito de “facilities” (Schiffer 1975:192), traduzida como “meios para a
realização de uma tarefa específica”, para enfocar os amoladores-polidores fixos,
a autora (op.cit), embora leve em consideração que as opções envolvidas, como a
escolha da matéria prima, a morfologia e a maneira de polir que implicam as
opções culturais, aborda esses instrumentos como objetos passivos, resultantes e
não construídos com um objetivo final, idéia também compartilhada por Prous
(1992:198).
A partir da análise dos registros de amoladores-polidores fixos, pode-se constatar
que a posição de Amaral e de Prous é compartilhada pela arqueologia brasileira, ou seja, os
amoladores-polidores fixos não constituem traço cultural capaz de identificar grupos
socioculturais. ...tanto grupos o ceramistas, como grupos ceramistas possam ter
utilizado os mesmos locais para confecção de artefatos poilidos, em diferentes momentos.”
(Oliveira e Ayrosa 1992:759). Seriam instrumentos passivos resultantes, na maior parte das
vezes, da elaboração de lâminas de machado e, assim como estes artefatos, não possuem
atributos específicos, cuja ocorrência geográfica permita que sejam abordados como traços
diagnósticos capazes de distinguir unidades culturais.
A multiplicidade das formas apresentadas pelas lâminas de machado e a dificuldade
de zoneamento de sua ocorrência desestimularam as tentativas para definir províncias
culturais a partir do estudo da distribuição de suas formas. O fato de as várias formas
aparecerem juntas em diversos contextos fez com que Prous propusesse que muitas
diferenças observadas estivessem mais relacionadas a aspectos funcionais do que a
culturais. (Prous op.cit :226) .
cv
Chama a atenção o fato de que as lâminas de machado polidas, capazes de uma
plasticidade cultural tão grande, não auxiliem na delimitação de províncias culturais. Como
a cerâmica, a lâmina de machado polida é confeccionada tendo em vista um grande
número de opções e não é tão susceptível à disponibilidade da matéria prima ou ao aspecto
funcional, como ocorre a outras classes de artefato como, por exemplo, a indústria óssea.
Embora exista uma certa tendência em se considerar que machados mais rudimentares,
caracterizados apenas pela presença de um gume polido em um seixo, estejam relacionados
a sambaquis, diferentemente dos encontrados no interior, muito mais elaborados (Prous
ibid:229), outras formas mais sofisticadas também são achadas nos sambaquis associadas
aos rudimentares.
Sempre chamou a atenção a amplitude de dispersão dos artefatos polidos, o zoólito,
por exemplo (Prous op.cit 222, Andrade Lima 2000), o que parece indicar a existência de
uma grande rede de troca de bens e informações no litoral.
Por outro lado, destaca-se o fato de que, embora muitos dos sítios pré-cerâmicos
registrados no litoral brasileiro apresentem lâminas de machados polidos, os amoladores-
polidores fixos estejam concentrados em apenas duas áreas. Isto permite a elaboração de
três hipóteses: existiria uma forma específica de elaboração de minas de machado
relacionada a uma tradição cultural; determinadas lâminas eram elaboradas em locais
especiais distantes da moradia; existiria um centro de distribuição de lâminas de machado.
O modelo interpretativo, apresentado por Gaspar e Tenório (1989), abarca as três
hipóteses e pode ser utilizado como a questão a ser desenvolvida no presente trabalho.
Segundo estas autoras, a distribuição geográfica dos amoladores-polidores fixos, acrescida
da grande visibilidade desse registro arqueológico, permite que se proponha que:
cvi
.
...tais marcas, além de instrumentos de trabalho, são sinais que
caracterizam a paisagem... é certo que são eventos
numericamente inferiores em relação à quantidade de sítios de
habitação já cadastrados e, por isso mesmo, devem ter tido
especial importância no sistema que os criou. Pode-se dizer que
são locais de produção e se supor mesmo que sejam pontos de
dispersão de artefatos polidos. (Gaspar & Tenório 1989:186)
Os amoladores-polidores fixos são encontrados em ilhas, em antigas ilhas isoladas
por períodos de transgressão marinha e em pontas, localizando-se próximos a cursos
d’água doce que desembocam nas praias, embora haja raríssimos casos de seu registro
(Tenório 2001) dentro de rios, a uma distância máxima de 300m da maré atual.
No litoral brasileiro, os amoladores-polidores fixos foram registrados no estado de
Santa Catarina, na Ilha de Florianópolis e em ilhas adjacentes, por Tiburtius (1953), Rohr
(1950, 1959, 1961, 1969, 1977,1984), Beck (1971), Fossari et al (1987, 1988,1989),
Amaral (1995); na ponta das Laranjeiras, por Rüthschilling et al (1990). No estado de São
Paulo, na Ilha Comprida, por Uchoa (1976/77/78). No estado do Rio de Janeiro, no
promontório de Cabo Frio, por Dias Jr (1959); na Ilha Grande, por Magnanini (1982),
Gaspar e Tenório (1990) e Tenório (1992); na Ilha de Marambaia, por Menezes et al
(1999) Kneip e Oliveira (s/d ) e na ponta de Arraial do Cabo, por Tenório (1999). No
estado da Bahia, foi registrado na Ilha de Cajaíba por Calderon 1969,1974).
Destoando em relação à localização, por não estarem situados em ilhas, foram
registrados no continente, próximo à Ilha Grande (Oliveira 1991), no litoral do Espírito
Santo (Perota 1969), no interior do Paraná (Chmys 1971), no estado de Roraima (Ribeiro
1999) e na Amazônia (Hilbert 1968), como foi mencionado anteriormente.
cvii
Os registrados no continente, nas imediações da Ilha Grande, por sua proximidade e
pela semelhança das formas encontradas, podem ser entendidos como um elemento
residual da concentração da Ilha Grande.
As informações sobre os que foram achados no litoral do Espírito Santo
estão limitadas apenas a raros registros de ocorrência, sem que permitam
qualquer tipo de sistematização. Quanto aos amoladores-polidores fixos,
identificados por Chmys (op. Cit.) no estado do Paraná, estão muito distantes do
litoral, na região oeste do estado, no vale do Rio Piquiri, afluente do rio Paraná.
Segundo o autor, esse sítio faz parte do conjunto associado à cultura Itararé
(Chmys op. Cit.: 20), localizado ao longo de um Peabiru, antigo caminho indígena.
Embora não haja fotos dos amoladores, a descrição das formas de seus sulcos
sobre blocos de diabásio “sulcos agudos, outros largos e depressões
alongadas” – assemelha-se às existentes para o litoral.
cviii
Embora haja pouquíssimas informações, tem-se conhecimento da existência de
amoladores-polidores fixos em rios da Amazônia (Hilbert op. cit.passim, Costa e Caldarelli
1988:39). No entanto, a partir das informações existentes, não se pode afirmar que
constitui uma outra dispersão ou concentração daquela encontrada na Guiana Francesa. Os
poucos dados disponíveis não permitem que se investigue sua relação com os do litoral de
Santa Catarina e com os do Rio de Janeiro. Essa questão vem ao encontro do problema da
filiação cultural dos sambaquis amazônicos e daqueles no litoral eridional e setentrional
brasileiro (Gaspar & Imázio 1999: 251; Andrade Lima 1999-2000: 314). Por constituir um
tema de debate extenso e polêmico, de escasso registro, será contornado no presente
trabalho, embora seja apresentado neste capítulo o pouco existente sobre os amoladores-
polidores fixos encontrados na Amazônia.
As duas maiores concentrações de amoladores-polidores fixos estão na Ilha de
Santa Catarina, Santa Catarina, e na Ilha Grande, Rio de Janeiro. Comparando-se a estas,
as outras ocorrências são bem menores e mais esparsas.
As formas dos sulcos registradas são as canaletas paralelas ou frisos, as
acanaladas com forma de canoa, as duplas com canaletas dentro dos sulcos em
forma de canoa, as circulares com a forma de bacias, as circulares rasas e as
circulares rasas com uma protuberância no centro.
As formas sempre presentes são a canoa (Figura 3) e o friso (Figura 4). As
variações observadas estão relacionadas à presença e à ausência de duas das formas
registradas: a bacia côncavo-convexa (Figura 5) e o friso longo(Figura 6).
cix
A primeira, forma bastante recorrente no estado de Santa Catarina e ausente no
estado do Rio de Janeiro; a segunda, apenas presente em Cabo Frio (Dias 1959).
A bacia côncavo-convexa, além de presente na Ilha de Santa Catarina, é encontrada
em rios da região amazônica (Costa e Caldarelli op.cit), onde também ocorrem sulcos com
forma de canoa (Hilbert op.cit ) (Figura 7).
Do total dos sítios registrados na Ilha de Santa Catarina e ilhas adjacentes (Fossari
et al 1987,1988,1989), 25% apresentavam amoladores-polidores fixos (Amaral 1995:1);
na Ilha Grande, em oposição, é encontrado um número muito maior de amoladores do que
de sítios e estes, em sua maioria, caracterizam-se por acampamentos de baixa visibilidade.
Em relação ao número de sítios arqueológicos registrados no litoral brasileiro, a ocorrência
de amoladores-polidores fixos é baixíssima.
Numa tentativa de comparar os amoladores-polidores fixos encontrados no litoral
do Brasil com os identificados na Ilha Grande, procurou-se fazer uma sistematização dos
registros, embora a escassez de detalhamento tenha dificultado esse tipo de empreitada.
Na maior parte das publicações, os amoladores-polidores fixos o apenas citados;
em poucos casos, suas formas são descritas e, mais raro ainda, suas dimensões são
explicitadas.
cx
Figura 3. Canoa
Figura 4. Friso
cxi
Figura 5. Forma côncavo-convexa
. (Foto extraída de Amaral; 1995).
Figura 6. Friso longo.
(Foto extraída de Dias:1959).
cxii
Figura 7. Amoladores polidores fixos encontrados na Amazônia (Foto Extraída de Hilbert
1959)
Associação sítios e amoladores
polidores fixos
Sambaqui
Acampam
ento
Oficina
Cerâmico
Ins.
Rupestre
Sem ref.
Figura 8 – Proximidade dos amoladores polidores fixos com diferentes tipos de sítios.
Para o sul, o trabalho mais detalhado é o de Maria Madalena Velho do Amaral
(op.cit), em sua dissertação de mestrado. No estado do Rio de Janeiro, informações
relacionadas à forma e às dimensões podem ser obtidas nas publicações de Dias (op.cit),
cxiii
Magnanini (1982). Levantamentos mais minuciosos são encontrados nas publicações de
Gaspar e Tenório (op.cit), de Oliveira e Ayrosa (1991) e de Kneip e Oliveira, ainda inédito.
Embora apresente um bom quadro de referência, o trabalho de Amaral não esgota o
tema na Ilha de Santa Catarina, por apresentar enfoque diferenciado, em determinados
casos muito aprofundado, mas em outros apenas citando registros superficiais.
Sistematização dos dados
Os dados sobre amoladores-polidores fixos registrados em todo o litoral brasileiro
foram sistematizados a partir de levantamento bibliográfico, comunicações pessoais,
relatórios e, em alguns casos, de visitação ao local. Os amoladores-polidores fixos
encontrados no estado do Rio de Janeiro serão abordados separadamente, de maneira mais
detalhada no capítulo III.
Embora as informações referentes à Ilha Grande sejam utilizadas em algumas
comparações, a abordagem em separado foi feita com o objetivo de melhorar a
compreensão, pois existe uma grande diferença na que se refere aos amoladores-polidores
fixos de Santa Catarina e naquela voltada para os encontrados no Rio de Janeiro, levando-
se em conta a profundidade do enfoque. Assim sendo, embora algumas respostas tenham
sido obtidas nas pesquisas no Rio de Janeiro, neste capítulo são comparados apenas os
dados comuns às duas concentrações.
Mesmo contando com informações pouco detalhadas, procurou-se criar um quadro
de referência que permitisse relacionar as concentrações de amoladores-polidores fixos no
cxiv
estado de Santa Catarina com a que ocorre no litoral do Rio de Janeiro, partindo-se da
questão sobre poder ser esse tipo de registro arqueológico abordado como um traço
cultural compartilhado por grupos que ocuparam ilhas nesses dois estados.
Foram enfocados os seguintes aspectos: associação com tipos de sítios; matéria
prima procurada, localização e formas dos sulcos. (Ver Tabela 4)
cxv
Tabela 4 – ver arquivo excel em anexo
cxvi
Tabela 4
Continuação
cxvii
Associação com outros tipos de sítios
O fato de serem apenas citados na literatura arqueológica parece corresponder a
uma idéia de que a localização dos amoladores-polidores fixos está relacionada à presença
de blocos de determinadas matérias primas que se prestariam para a elaboração de artefatos
polidos por vários sistemas socioculturais. Somente Gaspar e Tenório (op.cit: 170)
propõem uma associação desse tipo de vestígio arqueológico com os sambaquis.
Dos 43 registros, nove não fazem referência quanto à proximidade com outros
sítios. Dos sítios associados (Figura 8, ver página 95), 67,6% dos amoladores-polidores
fixos registrados estão a pouca distância de sambaquis; 20,5% juntos a outros conjuntos de
amoladores-polidores fixos; 17,6% estão próximos a sítios cerâmicos (destes, 57%
apresentam cerâmica Itararé na superfície); 14,7% a acampamentos e 11,7% nas cercanias
de sítios com inscrições rupestres; 11,7% estão próximos de sambaquis e de
acampamentos; 11,7% de sambaquis e de outras oficinas líticas e 2,9% a sambaquis e a
sítios cerâmicos (Figura 9).
cxviii
Sambaqui e
acamp
Sambaqui e
of.
Samb. e
cer.
Samb.e
insc.
Figura 9 – Associações de amoladores polidores fixos vários tipos mistos de sítios.
O F Praia Brava
Enseada
OFPonta do Caçador IV
OFP Gravatä I
Of Base aérea
OF Naufragados II
Pantano do sul II
Forte Marechal Luz
Ponta das Canas
OF Morro das aranhas II
Prato
Oval com friso
Bacia
Sítios
Tipos
Distribuição dos tipos - Santa Catarina
Canoa
Bacia
Friso
Bacia c/c
Oval com friso
Prato
Figura 10. Distribuição das formas dos sulcos dos amoladores polidores fixos .
cxix
Estes dados permitem que seja reforçada a proposta de que os amoladores-polidores
fixos estão associados a sambaquis. Outra evidência que reforça essa associação é que,
além dos 67,6%, podem ser acrescidos os 14,7% relacionados associados a acampamentos,
já que esses sítios também costumam ser associados a sambaquis.
Quanto à antiguidade, só três sítios dos que podem estar
relacionados aos amoladores foram datados; são eles: Forte
Marechal Luz, de 4 290
±
±±
±
130 AP a 620
±
±±
±
10 AP (Bryan 1993);
Pântano do Sul, 4515
±
±±
±
100 (Schmitz e Bitencourt 1996);
Laranjeiras, 3 815 ± 145 (Schmitz e Bitencourt 1996). A escassez
desses dados não permite nenhuma interpretação.
Na distribuição das formas pode-se constatar que, apesar de os amoladores-
polidores estarem predominantemente relacionados a sambaquis (Figura 10), as formas
estão distribuídas de maneira uniforme. Não foi verificada, praticamente, qualquer forma
de sulco restrita apenas a algum tipo de sítio. A única exceção refere-se à forma “inicial”,
muito recorrente no Rio de Janeiro, mas que só foi registrada em um único sítio, o Forte
Marechal Luz (Bryan 1993). (Figura 11). Porém, devido à precariedade das informações,
principalmente em relação às ilustrações, não se pode afirmar que também não ocorram em
outros sítios.
cxx
Figura 11.
(Foto extraída de Bryan: 19??:23)
Diábasio
Granito
Diabásio/g
ranito
Diabásio/g
naisse
Granito/ba
salto
Figura 12. Matéria prima dos suportes.
Localização
cxxi
Embora o registro de amoladores-polidores fixos junto a
cursos d’água doce seja uma constante (Tenório 2001, Rostain &
Wack 1987), na bibliografia disponível para Santa Catarina não há
uma preocupação com a sua localização, não sendo possível
sistematizar e interpretar tais informações.
Matéria prima
Em 16 citações de sítios, não foi mencionada a matéria prima dos amoladores-
polidores fixos. Dos sítios com a matéria prima identificada, 68,7% dos suportes são de
diabásio; em 15,6% são de granito; em 9,3% aparecem suportes de diabásio e de granito;
tem-se registro também de 3,1% de conjuntos constituídos de suportes de diabásio e
gnaisse e de granito e basalto. (Figura 12)
cxxii
Não parece haver relação entre o tipo de rocha e a forma
do sulco, o que pode ser exemplificado no sítio Rio da
Lagoa II (Amaral 1995), onde a rocha dos suportes é o
granito e são encontradas todas as formas de sulcos.
Também não é possível a verificação de nenhuma tendência que indique qualquer
relação entre matéria prima e tipo de sítios.
Roustain e Wack (1987:16) destacam a densidade e a homogeineidade,
depois a dureza, como propriedades necessárias para a pedra de amolar,
propriedades, segundo os autores, encontradas nos dioritos, nos gnaisses e nos
granitos. Laming-Emperaire cita também a utilização do arenito e do basalto
(1967:86) para os amoladores portáteis. Ainda, segundo Roustain e Wack (1987
:16), os cristais duros do granito permitem um aplainamento vigoroso do objeto
em formação. Na Ilha Grande, 90% dos suportes são de Charnokito e 10% são de
granito e foi observada uma certa tendência dos granitos apresentarem conjuntos
de frisos paralelos com orientações definidas. (Figura 11).
Prous (op.cit: 226) também confere ao granito uma maior produtividade
para abrasão, embora cite a disponibilidade do diabásio.
cxxiii
Formas dos sulcos e associações
Nos trabalhos consultados, são citadas as formas de pratos, bacias, bacias ovais,,
bacias côncavo-convexas e frisos. Pratos tanto podem se referir a pratos de orquestras
(Rohr 1950), como a superfícies arredondadas pouco gastas e, portanto, sua diferenciação
não é muito clara e seu relacionamento com outros tipos de sítios é pouco precisa. O
mesmo acontece com as bacias ovais pela sua descrição, nos desenhos e fotos
apresentados por Amaral (1995), e também a partir da observação in loco nos sítios
Pântano do Sul, Ingleses e Joaquina em que se pode constatar a existência dos mesmos
sulcos, identificados como “canoas”, na Ilha Grande.
A forma bacia está relacionada aos sulcos redondos e é mais profunda do
que os pratos. A forma bacia côncava, que pode ser confundida nos registros com
a dos pratos, é caracterizada por apresentar um pequeno monte no meio do sulco
circular.
A forma denominada “inicial” é pouco profunda, retangular e plana, por vezes
pouco percebível a olho nu (Figura 12).
Finalmente, o friso é caracterizado por sulcos, formando linhas retas ou irregulares,
como já foi mostrado nas figuras 4 e 6.
Em 20 registros o são mencionadas as formas dos sulcos. Naqueles que
contemplam este dado pode-se concluir que:
cxxiv
As formas mais recorrentes de amoladores-polidores fixos, em Santa Catarina, o
as formas de prato e de canoa; as duas representam 48% das formas encontradas, seguidas
pelo friso (43,4%), pela bacia (30,4%), pelas bacias côncavo-convexas (13%) e pela forma
inicial que só aparece em um sítio.
Em relação à associação dos sulcos dos amoladores-polidores fixos com outros
tipos de sítios, pode-se concluir que:
A forma 1 caracterizada pelo prato, está mais relacionada a sambaquis, seguidos pelas
outras oficinas líticas e dos sítios cerâmicos (Figura 13);
A forma 2 caracterizada pela canoa, ocorre mais relacionada aos sambaquis, seguida dos
acampamentos (Figura 14);
A forma 3 caracterizada pela forma oval com friso, aparece em apenas dois sítios um
deles, sambaqui; o outro, não especificado, não são apresentadas fotos nas descrições.
(Figura 15)
A forma 4 – caracterizada pelo friso, apresenta grande incidência, estando mais relacionada
a sambaquis (Figura 16);
A forma 5 caracterizada pela bacia, também pode ser relacionada a sambaquis. (Figura
17);
cxxv
3A forma 6 caracterizada pela bacia côncava-convexa, também pode ser relacionada a
sambaquis. (Figura 18);
A forma 7 caracterizada pela forma inicial, só aparece no sítio Marechal Luz que pode
ser associado a sambaqui (Figura 19).
cxxvi
Sítio
Sambaqui
associado
Acampamento
assoc
Oficina lítica
assoc
Ceramico
assoc
Inscrições
rupestre
Amoladores
forma 1
OF Prainha da Barra
II
Sim
Não
Sim
Não
Não
prato
OFPonta do Caçador
IV
Não
Não
Sim
Sim
Sim
prato
Of Base aérea Não
Não
Não
Sim
Não
prato
Laranjeiras Sim
Não
Não
Sim
Não
prato
Pantano do sul II Sim
Sim
Não
Não
Não
prato
Lagoinha de Pontas
das Canas
Sim
Não
Não
Não
Não
prato
Laguna Sim
Não
Não
Não
Não
prato
Ibiraquera Sim
Não
Não
Não
Não
prato
Santinho III Não
Não
Sim
Não
Sim
prato
Arvoredo Não
Não
Não
Não
Não
prato
Campeche Não
Não
Não
Não
Não
prato
Sambaqui Acampamento Oficina Cerâmico Ins. Rupestre
Prato
Prato
F
igura 13. Distribuição das formas - Forma 1 – prato.
Sítio
Sambaqui
associado
Acampamento
assoc
Oficina lítica
assoc
Ceramico
assoc
Inscrições
rupestre
Amoladores
forma2
OF Rio da Lagoa II Sim
canoa
Enseada Sim
canoa
OF Joaquina III Sim
Sim
canoa
Of Base aérea
Sim
canoa
Laranjeiras Sim
Sim
canoa
Pantano do sul II Sim
Sim
canoa
Lagoinha de Pontas
das Canas
Sim
canoa
cxxvii
Sítio
Sambaqui
associado
Acampamento
assoc
Oficina lítica
assoc
Ceramico
assoc
Inscrições
rupestre
Amoladores
forma2
Forte Marechal Luz Sim
canoa
OF Ingleses I
Sim
canoa
Santinho III
Sim
Sim
canoa
OF Rio da Lagoas I Sim
canoa
Sambaqui
Acampamento
Oficina
Cerâmico
Ins. Rupestre
Canoa
Canoa
Figura 14. Distribuição das formas - Forma 2 – canoa.
Sítio
Sambaqui
associado
Acampamento
assoc
Oficina lítica
assoc
Ceramico
assoc
Inscrições
rupestre
Amoladores
forma3
Enseada Sim
oval com friso
Praia do
Miller
oval com friso
Figura 15. Distribuição das formas - Forma 3 – oval com friso
Sítio
Sambaqui
associado
Acampamento
assoc
Oficina lítica
assoc
Ceramico
assoc
Inscrições
rupestre
Amoladores
forma4
OF Rio da Lagoa II Sim
Não
Não
Não
Não
friso
OFPonta do Caçador IV Não
Não
Sim
Sim
Sim
friso
Laranjeiras Sim
Não
Não
Sim
Não
friso
OF Matadeiro Não
Não
Não
Não
Não
friso
Pantano do sul II Sim
Sim
Não
Não
Não
friso
Lagoinha de Pontas das
Canas
Sim
Não
Não
Não
Não
friso
OF Ingleses I Não
Sim
Não
Não
Não
friso
Laguna Sim
Não
Não
Não
Não
friso
Santinho III Não
Não
Sim
Não
Sim
friso
Ponta das canas II Sim
Não
Não
Não
Não
friso
Sambaqui Acampamento Oficina Cerâmico Ins. Rupestre
Friso
Friso
Figura 16. Distribuição das formas - Forma 4 – friso.
cxxix
Sítio
Sambaqui
associado
Acampamento
assoc
Oficina lítica
assoc
Ceramico
assoc
Inscrições
rupestre
Amoladores
forma5
O F Praia Brava Não
Não
Não
Não
Não
bacia
OF Rio da Lagoa II
Sim
Não
Não
Não
Não
bacia
Enseada Sim
Não
Não
Não
Não
bacia
OF Prainha da
Barra II
Sim
Não
Sim
Não
Não
bacia
Pantano do sul III Sim
Sim
Sim
Não
Não
bacia
OF Ingleses I Não
Não
Não
Não
Não
bacia
Ponta das canas II Sim
Não
Não
Não
Não
bacia
Sambaqui
Acampamento
Oficina
Cerâmico
Ins. Rupestre
bacia
bacia
Figura 17. Distribuição das formas - Forma 5 – bacia.
Sítio
Sambaqui
associado
Acampamento
assoc
Oficina lítica
assoc
Ceramico
assoc
Inscrições
rupestre
Amoladores forma
6
OF Rio da Lagoa II
Sim
bacia c/c
OF Prainha da
Barra II
Sim
Sim
bacia c/c
Ponta das canas II Sim
bacia c/c
cxxx
Sambaqui Acampamento Oficina Cerâmico Ins. Rupestre
bacia c/c
bacia c/c
Figura 18. Distribuição das formas - Forma 6 – bacia côncava-convexa.
Sítio
Sambaqui
associado
Acampamento
assoc
Oficina lítica
assoc
Ceramico
assoc
Inscrições
rupestre
Amoladores
forma7
Forte Marechal
Luz
Sim
inicial
Figura 19. Distribuição das formas - Forma 7 – inicial.
cxxxi
Comparação das formas de sulcos presentes nos amoladores-polidores fixos
encontrados no estado de Santa Catarina e no estado do Rio de Janeiro
É muito difícil uma comparação morfológica entre os amoladores-polidores
fixos encontrados em Santa Catarina com aqueles do estado do Rio de Janeiro,
levando-se em conta apenas as descrições, fotos e ilustrações existentes. Para
amenizar esse problema, cinco sítios, localizados na Ilha de Santa Catarina,
foram visitados com o objetivo de compará-los à terminologia empregada; assim
sendo, a partir dos dados existentes, pode-se concluir que:
A forma de bacia côncava-convexa não ocorre no Rio de Janeiro. As
formas friso e canoa ocorrem nos dois estados.
Pelas ilustrações existentes, não se pode precisar se os sítios de Santa
Catarina apresentam os dois tipos de “canoa” encontrados no Rio de Janeiro a
oval, como em Santa Catarina, e a canoa com uma linha ao fundo. A distinção
morfológica é muito sutil, estando a diferença relacionada ao tipo de movimento
empregado. A canoa é formada por movimento semicircular e a canoa oval pelo
movimento circular, duas maneiras distintas de se fazer a lâmina de machado.
cxxxii
Como é comum serem encontradas juntas, o tipo de movimento pode se
dever a uma opção individual ou ao tipo de matéria prima do objeto a ser polido. A
ausência de um desses tipos não acarreta grandes distorções nas comparações.
Quanto aos frisos, no Rio de Janeiro, costumam ser sempre retos; para Santa
Catarina, Amaral (op.cit.) descreve alguns como irregulares ou em ondas,
semelhantes aos vistos em inscrições rupestres (Prous: 269). Em 11,7% dos
casos, são localizados próximos aos amoladores-polidores fixos.
No Rio de Janeiro, até o momento, o foram encontrados no litoral, sítios
com inscrições rupestres, mas a disposição dos frisos identificados nos
amoladores-polidores, muitas vezes, sugere ter havido uma intenção de orientá-
los ou de organizá-los segundo uma estética. (Figura 20)
As bacias, embora menos recorrentes, também são achadas no estado do
Rio de Janeiro.
Figura 20. Frisos com orientação.
Aspectos tecnológicos e produção das formas
Existe uma concordância de que as formas deixadas nos polidores são
determinadas pela parte do objeto a ser trabalhada (Emperaire 1967, Roustain &
Wack 1987, Gaspar e Tenório, 1989). Segundo Emperaire (1967:86), o polimento
das faces formaria depressões ovais, enquanto o do gume deixaria sulcos de
secção triangular. Para Roustain & Wack (In Amaral op.cit), as formas longas e
estreitas estariam relacionadas ao preparo dos lados e do talão; as redondas ou
ovais e aquelas em forma de canoas teriam sido produzidas no preparo das faces
e do gume, o que também é confirmado por Gaspar & Tenório (1989).
Kozak et al (1979: 399 - 404) descrevem a elaboração e a utilização de
machados entre os Héta, no estado do Paraná. O trabalho consiste de três
etapas: escolha de um seixo sem fraturas dentro de um pequeno curso d’água;
retirada de seu rtex, através da técnica de picoteamento; esmerilhamento e
polimento da peça, utilizando argila branca, com areia fina e água numa vasilha e
uma pedra de amolar. (Figura 21). No entanto, as fotos apresentadas no trabalho
indicam a produção de um tipo de lâmina de machado menor, mais trabalhada,
totalmente polida e diferente das que predominam nos sambaquis, mais rústicas,
com apenas o gume polido, mantida a forma original do seixo.
Como apenas nove das referências utilizadas mencionam machados
encontrados nos sítios que podem ser associados aos amoladores-polidores
fixos, não foi possível chegar-se à forma das lâminas que poderiam estar
relacionadas aos amoladores. As poucas informações disponíveis e as formas
cxxxiv
dos sulcos sugerem, entretanto, que seriam mais eficazes na elaboração de
machados grandes rudimentares, com apenas o gume polido. As lâminas de
machado menores, mais trabalhadas, provavelmente seriam elaboradas com o
uso de pequenos polidores, como os utilizados pelos Héta.
Figura 21 – Elaboração de machado com auxílio de polidor manual.
(Foto extraída Kozak et
al:1979).
cxxxv
Experimentação
Para a reconstituição da tecnologia empregada, para a compreensão das
formas resultantes dos sulcos e para obter-se um parâmetro sobre a quantidade
de lâminas elaboradas nos amoladores-polidores fixos, foi constatada a
necessidade de um trabalho de experimentação.
Duas marcantes dificuldades se apresentaram ao trabalho de
experimentação: o grande dispêndio de tempo para a formação do sulco e a
disponibilidade da matéria prima.
Desde o início das pesquisas arqueológicas na Ilha Grande, no ano de
1985, inúmeras vezes houve trabalhos de experimentação, mas foram
interrompidos por falta de tempo ou de matéria prima.
Mesmo com as dificuldades encontradas em trabalhar no próprio local onde
estão os amoladores-polidores fixos, tais como o acesso e o alto custo da
manutenção da equipe, foi constatada a maior produtividade no desenvolvimento
desse tipo de experimentação no próprio campo, em função da existência de uma
situação semelhante à anteriormente existente, seja na matéria prima do suporte,
na granulação dos diversos tipos de areia ou dos seixos a serem polidos.
Apenas no ano de 2000, o trabalho pôde ser iniciado de forma sistemática,
sem interrupções que envolvessem mudanças metodológicas. Ele foi
desenvolvido na Praia do Aventureiro. Optou-se por essa localização por distar
cxxxvi
cerca de 4km do sítio Ilhote do Leste, apresentar três concentrações de
amoladores e muitos matacões de charnokito, a matriz mais recorrente dos
suportes dos amoladores-polidores fixos encontrados na Ilha Grande.
A experimentação foi feita em duas etapas de campo. Na primeira, houve
uma aproximação do trabalho para reconhecimento logístico, objetivando-se
verificar a viabilidade do desenvolvimento da experimentação “in loco”.
O desenvolvimento do trabalho de experimentação no próprio local dos
amoladores oferece maior eficácia, mas também exige um bom planejamento.
Nessa primeira etapa, foi feita apenas a reconstituição da tecnologia
empregada, não havendo controle do tempo, do movimento, nem da matéria
prima. O objetivo foi a elaboração de uma lâmina semelhante às encontradas nos
sítios, com pouco esforço e no menor período de tempo. Com isso, chegou-se ao
movimento, ao suporte e à matéria prima mais produtiva para a elaboração das
lâminas.
Com uma lâmina de machado encontrada fora de contexto, testaram-se
movimentos na areia dura da praia, até que fossem estampadas as formas dos
sulcos encontradas nos amoladores-polidores fixos.
Na experimentação na areia, foi possível constatar que a forma em canoa
(Figura 22) resulta de movimentos semicirculares, com o seixo inclinado de forma
que a parte do bordo a ser desbastado esteja em contato com o suporte, o que
cxxxvii
resulta em um semicírculo. Fazendo o mesmo movimento do outro lado, com o
objetivo de polir a outra face da lâmina, é completado mais um semicírculo,
obtendo-se a forma da canoa. Com a continuidade do movimento em ambos os
lados, é formada uma linha reta saliente no meio da canoa, como o verificado nos
sulcos encontrados na Ilha Grande (Figura 23). Essa linha atrapalha a elaboração
do gume já que, ao dar continuidade ao polimento do corpo, o bordo roça na
linha, perdendo o fio. Isso obriga o artesão a subir um pouco com a peça, o que
faz surgir, com o tempo, outra linha, até que o sulco seja abandonado.
Existe uma outra forma registrada, em Santa Catarina e no Rio de Janeiro,
como “canoas sobrepostas” que pode ser resultante da intenção de não se deixar
formar a linha central. Nesse caso, os movimentos semicirculares seriam feitos
em dois lugares, não deixando o sulco aprofundar muito.
Na experimentação na areia, também se pode observar que o friso sozinho
é formado raspando-se o bordo a ser trabalhado contra o suporte para
aplainamento daquele a ser polido, formando um gume. (figura 24)
A única forma de fazer os frisos dentro das canoas é quando se tem esse
objetivo, que nenhuma etapa de fabricação os traz como resultado. Pelo
contrário, como foi colocado, o friso dentro da canoa inutiliza o amolador. É
provável que, quando a linha se forma dentro dela, inutilizando definitivamente o
sulco, ela seja usada para acertar o bordo; por trás dessa ação possivelmente
também haveria a intenção de marcar ou inutilizar definitivamente o sulco.
cxxxviii
A técnica, denominada por Prous (
op.cit
.: 80) como abrasão
por polimento linear, na qual incisões são produzidas a partir da
fricção de uma lasca bem dura sobre a rocha, pode exemplificar
esse movimento.
Definidos os movimentos, procurou-se obter uma forma o mais semelhante
possível a dos machados encontrados na Ilha Grande. Chegou-se às seguintes
conclusões:
1. A base usada para esmerilhar deve ser plana e lisa, sem as rugosidades
da pedra, pois estas dificultam o movimento;
2. A areia, retirada de córrego de água doce, torna mais fácil o movimento do
que a areia salgada, que prende o movimento; Roustain & Wack 1987:123
também observaram que, no início dos trabalhos, a areia dos rios é mais
eficaz do que a marinha. Provavelmente, isso se deva ao fato de a argila
estar agregada à areia;
3. Para preparar o bordo do gume, a peça deve ser esfregada
perpendicularmente à rocha (Figura 25), movimento que produz sulcos
retos;
4. Para polimento e obtenção do gume, deve-se realizar um movimento
semicircular (Figura 26), com o seixo inclinado, pressionando-se o lado que
deve ser desbastado para a formação do gume;
5. Durante o movimento, a base deve ser mantida com areia e água;
cxxxix
6. Com uma matéria prima boa, com um bordo de no máximo 2cm, em cinco
minutos é possível a obtenção de um gume afiado, sem deixar nenhuma
marca percebível, a olho nu, no suporte;
7. O suporte liso é mais funcional do que o áspero. O ideal é o sulco com uma
profundidade entre 1 e 2cm, pois após 1cm já está alisado e permite reter a
areia, como no caso da tigela entre os Héta. Quando se aproxima dos 2cm
de profundidade, é possível que a linha central comece a se formar,
diminuindo a funcionalidade do sulco.
O segundo trabalho de experimentação, mais longo e mais controlado,
consistiu numa etapa de campo de 12 dias de trabalho e envolveu as
seguintes atividades:
1. Procura dos seixos a serem transformados em lâminas de machado.
Durante cinco dias, foram percorridos os córregos existentes nas praias
do Aventureiro e do Demo, para que fossem separados seixos da
mesma matéria prima e com forma semelhante às lâminas de
machados encontradas na Ilha Grande. Foi constatada a grande
escassez da matéria prima, o que pode ser explicado pela exaustão da
fonte ou que fosse trazida de outro local. Rostain e Wack (op.cit:118)
também tiveram a mesma dificuldade em achar os seixos e
consideraram a possibilidade de serem objeto de comércio, como
também as próprias lâminas de machado o que, segundo estes autores,
pode ser atestado na descoberta de um lote 36 de lâminas prontas no
baixo Approuague, na Guiana Francesa.
cxl
Prous (1991: 223) também informa sobre seixos encontrados nos tios os
22 mil seixos do Sítio Pântano do Sul e pondera que muitos blocos que
estavam amontoados, deveriam ser reserva de matéria prima.
Durante as prospecções desenvolvidas por toda a Ilha Grande, nos anos de
1999 e 2000, perfazendo 30 dias de campo, era um dos objetivos a localização
das fontes de matéria prima das lâminas de machado. Embora tivessem sido
levantados praticamente todos os córregos que desembocam nas praias e essa
questão fizesse parte do questionário usado nas entrevistas, foi constatada a
escassez de seixos passíveis de trabalho de polimento na Ilha.
Para contornar o problema, foi utilizada matéria prima trazida da região dos
Lagos, a fim de aumentar o número dos seixos utilizados na experiência.
2. Procura de rocha-suporte.
Na procura da rocha-suporte, prevaleceram os seguintes fatores: que fossem
charnokito ou granito, como todos os suportes encontrados na Ilha; que
estivessem na sombra, próximos à água doce, em área sem mosquitos e que
permitissem uma posição confortável e eficiente para amolar. Foi escolhido um
suporte do lado do sítio Luís Tenório. (Figura 27)
O bloco escolhido tem 310cm de comprimento por 250cm de largura (foto).
Nele deu-se preferência a uma área lisa e plana, a 150cm de altura da areia.
3. Escolha do seixo.
cxli
Foram escolhidos seixos que apresentassem forma semelhante àqueles
transformados em lâminas de machados, encontrados na Ilha Grande.
Basicamente, essas minas de machado apresentavam a forma natural do seixo,
com um gume afiado. Observou-se que o bordo onde foi feito o gume não deveria
apresentar, originalmente, mais de 2cm de espessura.
Atividades
1. Inicialmente, o bordo foi friccionado contra a rocha para correção das
irregularidades. Obs: Para evitar a elaboração da linha central, esse
movimento foi feito fora da área de amolar.
2. Foi colocada areia molhada retirada do córrego existente ao lado do
suporte. Essa areia foi mantida todo o tempo molhada. Conforme o uso,
ia sendo reposta;
3. As pequenas irregularidades ou arestas foram corrigidas, friccionando-
se o corpo da peça na base com areia;
4. Objetivando a formação de um gume, o seixo foi friccionado inclinado
contra o suporte, a partir de movimentos rápidos semicirculares, como
os desenvolvidos na areia, resultando na forma do sulco canoa.
Seguindo essa seqüência, 11 lâminas de machados foram elaboradas,
todas as tarefas cronometradas e registradas numa ficha-padrão (Figura 28).
cxlii
Figura 22. Forma da canoa feita na areia.
Figura 23. Canoa com friso feita na areia.
cxliii
Figura 24. Frisos feitos na areia.
cxliv
Figura 25. Seixo friccionado para correção de irregularidades do bordo.
Figura 26. Afiando o gume.
cxlv
Figura 27. Suporte utilizado na experimentação.
cxlvi
cxlvii
Resultados
Foi constatado que o tempo de elaboração do gume está estreitamente
relacionado com a matéria prima da rocha a ser polida. Dependendo da
resistência da rocha, o gume pode ser feito entre 10 e 40 minutos; no entanto,
uma rocha macia, fácil de amolar, perde o gume pido e deve ser amolada
constantemente.
Tanto na areia como no suporte foi observado que a forma da canoa se
moldou perfeitamente ao corpo da lâmina de machado, sendo muito eficaz para
desgaste das imperfeições do corpo e da área do gume. Para obter-se o fio, uma
área plana foi mais adequada para a formação de um fio uniforme.
Outro dado importante observado na experimentação é a formação do
friso; diferente do que se pensava anteriormente, o ato de afiar não produziu o
friso que se formou no preparo do bordo a ser desgastado para a formação do
gume.
Foi constatado que para o bordo ficar reto deve-se friccioná-lo contra a
rocha-suporte, movimento constante que formou um friso, como o observado na
areia da praia. Em todos os casos, se fez necessário cerca de 1 minuto para
preparo do bordo, o que estaria sugerindo que a grande quantidade de sulcos
paralelos encontrados poderiam não ser apenas o resultado do preparo do bordo,
mas também a intenção de produzi-los com esta finalidade. A proximidade de
amoladores-polidores fixos na Ilha de Santa Catarina, com sítios de inscrições
cxlviii
rupestres contendo frisos, indicaria em princípio uma associação. Poderiam ser
“entalhes” pictográficos.
Ë provável também que a presença de frisos indique o preparo de novas lâminas de
machado, enquanto a ocorrência da “forma inicial” talvez esteja relacionada a sua
reciclagem, que é feita no ato de amolar o gume. Sua presença mais intensa pode estar
indicando locais onde os machados eram mais utilizados.
A ocorrência de placas lisas com polimento em alguns sítios, como no caso do sítio
Ilhote do Leste, parece indicar que as lâminas de machados também eram amoladas nos
locais residenciais, e o fato de serem encontradas associadas a enterramentos sugere que
seriam objetos valorizados.
A alteração provocada na rocha, decorrente de 259 minutos de polimento e
da elaboração de 11 lâminas de machado, foi tão pequena que é percebida
apenas por apresentar uma área mais lisa do que o entorno, com um leve brilho
por polimento. O sulco formado tinha pouca profundidade e, para medi-la, foi
necessário decalcar sua forma com uma massa improvisada de água com farinha
de trigo. A massa retirada da forma apresentou 0,155cm de espessura média; a
mais densa com 0,2cm de profundidade. Utilizando este parâmetro, seriam
necessárias cerca de 177 lâminas de machados para a formação de um sulco de
2,5cm de profundidade, média encontrada nos amoladores-polidores da Ilha
Grande e recorrente nos registrados por Amaral (op.cit.passim).
Validade da experimentação
cxlix
Ressalto que alguns elementos podem ter sido diferentes dos que foram
utilizados na experimentação, tais como: o movimento, a força, a manutenção de
areia e de água. Poderia também haver variação de resultado, dependendo do
artesão ou da matéria prima a ser polida. No entanto, a maior dificuldade está na
obtenção de um sulco com a profundidade média registrada em torno de 2,5cm. A
escassez de matéria prima e o custo de manutenção de uma equipe no campo,
durante um grande espaço de tempo, inviabilizam esse grau de experimentação.
Por outro lado, a utilização de matéria prima trazida de outros locais e a
realização do experimento em laboratório também acarretariam distorções.
Assim sendo, mesmo com os problemas apresentados, a experimentação
desenvolvida foi eficaz, porque permitiu a obtenção de parâmetros fundamentais
para a construção de modelos interpretativos.
Dados etnográficos
Pescadores que estavam acompanhando a experimentação colaboraram
com a informação de que para amolar, no caso instrumento de ferro, a rocha deve
ser plana e que se o amolador apresenta um desgaste, formando um sulco
côncavo, deve ser abandonado.
Segundo os informantes, a “pedra de amolar” é muito valorizada; cada um
costuma guardar a sua com cuidado e algumas chegaram a ficar famosas, como
o caso da pedra do Purunga, que funcionou muitos anos graças a sua eficácia;
cl
segundo Luis Tenório, o pessoal costumava ir até a casa do Purunga para amolar
suas facas.
O relato de que a pedra para amolar deve ser plana explicaria a forma
inicial, bastante encontrada na Ilha Grande. Em Santa Catarina, pode ser
identificada a partir de uma foto de amoladores-polidores fixos associados ao sítio
Marechal Luz (Bryan 1993:23). Esta forma estaria relacionada ao ato de amolar
ou reafiar o instrumento. Ela é plana, pouco profunda e retangular, sua
concentração, provavelmente, se daria em áreas domésticas ou de fabricação de
canoas.
Considerações finais
Utilizando-se como parâmetro os números obtidos na experimentação,
pode-se ter uma dimensão da imensa quantidade de lâminas de machado que
teriam sido elaboradas nas duas concentrações de amoladores-polidores fixos
encontradas no litoral brasileiro.
A constante associação de lâminas de machados a enterramentos, como as que
foram achadas no sítio Ilhote do Leste (Tenório 2001), sugere que este instrumento tinha
uma importância que transcendia sua função utilitária.
O trabalho de Sharp (Ibid.), desenvolvido com os Yir Yoront, aborígenes
australianos, que teve por objetivo explicar a resistência deste grupo em aceitar a
cli
introdução do machado de ferro promovida pelo europeu, bem ilustra como este
instrumento costuma ser importante nas atividades cotidianas e elemento mítico e
estruturador da organização social de determinados grupos.
Embora não seja possível sugerir alguma correlação quanto às atividades ou às
idéias entre grupos o díspares, essa ilustração apresenta um modelo que pode ser testado
no presente trabalho, com o objetivo de obter subsídios para o estabelecimento de
parâmetros para o entendimento da identidade cultural, dinâmica de ocupação e sistema de
trocas no litoral do Rio de Janeiro, no período de 3000 a 2500 AP.
Segundo Sharp (1970), a utilização do machado de pedra era fundamental na
economia de subsistência dos Yir Yoront. Existia, pelo menos, um machado em cada
acampamento ou excursão à mata. Embora pertencente aos homens, este instrumento era
usado principalmente pelas mulheres para obter lenha. O machado também era empregado
para fazer outros instrumentos e armas, para a construção de choupanas, plataformas para
armazenamento de alimentos em local seco, protetores do sol e na pesca, caça e coleta. Em
apenas duas situações sua utilização ficava restrita ao homem adulto: na coleta do mel e na
elaboração de elementos usados em rituais.
O machado era um bem masculino estruturante da sociedade Yir Yoront; com
regras de subordinação muito rígidas, sempre pertencia ao homem, normalmente ao chefe
da família. As mulheres e os jovens dependiam de consegui-lo emprestado para atividades
fundamentais e só poderiam pedi-lo a determinadas pessoas, como ao marido, ao pai ou ao
irmão mais velho, o que alimentava as regras de subordinação. O machado era considerado
símbolo de masculinidade e de poder.
clii
Além da hierarquização por sexo e idade, também havia por clãs. O machado
constituía o totem mais importante para o clã Iguana da nuvem ensolarada”. O nome do
indivíduo deste cera sempre relacionado ao machado ou às atividades que envolviam
este instrumento. Somente os homens exibiam os machados nos rituais.
As lâminas estruturavam um complexo sistema de trocas que ligava populações do
litoral com as do interior, cujos elementos principais eram os esporões de raia e as lâminas
de machados.
Informações sobre um sistema de trocas envolvendo lâminas de machado não estão
restritas apenas a grupos aborígenes australianos; no Brasil, Villaça (1989:177) informa
que Os Oroeu detinham, segundo os Wari, a produção de machado de pedra
extremamente cobiçado pelos outros”.
cliii
Conclusão
Lâminas de machados aparecem espalhadas por todo o mundo; no
entanto, como qualquer elemento da cultura material, a escolha da matéria prima,
o “modus” de sua fabricação e sua forma final podem refletir uma opção cultural.
A pouca freqüência dos amoladores-polidores fixos e, ao mesmo tempo, a
existência de grandes concentrações parecem indicar que devem ter tido especial
importância no sistema que os criou. Dados fornecidos pela experimentação
permitem que seja levantada a hipótese de que essas concentrações seriam
locais de produção e pontos de dispersão de artefatos polidos.
Para responder se os amoladores-polidores fixos podem ser usados como
traços-diagnósticos de unidades socioculturais, deve-se verificar se sua
distribuição está relacionada à presença de determinada matéria prima ou se
corresponde à movimentação de certos grupos com uma mesma filiação cultural.
Embora no levantamento desenvolvido seja possível constatar uma opção pelo
diabásio como rocha suporte, existe uma variação que indica que a presença de
determinado tipo de rocha o seria a causa principal para explicar a concentração dos
amoladores-polidores fixos.
Matacões de diabásio são encontrados em muitos outros pontos do litoral brasileiro,
enquanto os amoladores-polidores fixos estão concentrados em apenas alguns locais. Ao
mesmo tempo, o uso de suportes de granito, de basalto, de gnaisse, mesmo em menor
cliv
quantidade, mostra que estes também foram utilizados para o polimento de artefatos líticos.
No estado do Rio de Janeiro, como será apresentado no capítulo III, o charnokito irá
substituir o diabásio.
Partindo-se do pressuposto de que os amoladores-polidores fixos
encontrados no litoral brasileiro teriam sido produzidos por grupos com uma
mesma filiação cultural, cuja característica marcante seria a de fabricantes de
machado, acredita-se que a utilização dessa evidência arqueológica como traço
cultural permita a delimitação de unidades culturais e a identificação de sistemas
de trocas.
clv
CAPÍTULO II
CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
Povoamento do litoral brasileiro.
A origem dos sambaquis sempre foi foco de atenção (Schimtz 1984, Neves 1984,
Prous 1992, Gaspar 1996, Andrade Lima 1999-2000), principalmente porque a sua unidade
sociocultural está estreitamente atrelada à resolução desta questão.
Na proposta de se tratarem os amoladores-polidores fixos de um traço cultural
compartilhado por populações presentes no litoral dos estados do Rio de Janeiro e de Santa
Catarina, é importante apresentar, como pano de fundo, as hipóteses explicativas para o
povoamento do litoral brasileiro. O estabelecimento das rotas migratórias é fundamental
para o esclarecimento da questão.
Origens
A origem dos sambaquis brasileiros, desde o momento em que a arqueologia
brasileira passa a sofrer uma influência maior da Ecologia Cultural, deixa de ser procurada
a partir da proposta de uma origem única na região andina (Ilhering 1904, Serrano 1937,
Meghin 1962), para ser abordada como múltipla, ou seja, apenas como um tipo de
adaptação adotado por uma grande diversidade de grupos culturais (Dias 1992, Neves
clvi
1984, Hurt 1986, Schmitz 1992:21).
Poucos pesquisadores, entre eles, Maria Dulce Gaspar (1991), aceitam que a
ocupação do litoral brasileiro tenha se dado por um único sistema sociocultural.
Para Schimtz (1998:196), a existência de montes de moluscos muito antigos em
grandes rios, como o Amazonas e o Paraguai, acrescida das evidências de uma economia
coletora de moluscos, encontrada em abrigos rupestres, indica que esse tipo de adaptação
não teria sido inventada por habitantes da costa do Atlântico. Essa constatação de Schimtz
pode ser interpretada de duas maneiras: que a adaptação litorânea é muito mais antiga do
que se acredita e que teria surgido fora do litoral Atlântico, ou que a construção de montes
de moluscos é apenas uma resposta adaptativa, não devendo ser percebida como cultural.
Lima compartilha desta interpretação, propondo que “estes montes precisam ser analisados
sob a ótica da diversidade... na medida em que perspectivas generalizantes e
homogeneizadoras são de todo equivocadas para explicá-los” (Andrade Lima op.cit.: 314).
Para Neves (1984), o litoral teria sido povoado por levas de diferentes grupos
oriundos do interior, que teriam chegado à costa inicialmente no litoral do Paraná, para
depois seguirem em dois eixos, um para o sul e outro para o norte.
Para Andrade Lima (op.cit : 272), as datações radiocarbônicas indicam que o litoral sul e
sudeste foram inicialmente ocupados na mesma época, por grupos que teriam descido os
vales de grandes rios.
No presente trabalho, compartilha-se das duas propostas apresentadas acima,
aceitando-se a posição de Gaspar que pressupõe a existência de um único sistema cultural
clvii
que ocupou parte da costa brasileira, recebendo a influência constante de novos grupos
oriundos do interior que chegariam ao litoral através dos grandes corpos d’água. Os grupos
adaptados ao litoral apresentariam uma estruturada cultura sambaquiana, caracterizada
por Gaspar (1991), que seria responsável pela aculturação dos recém-chegados.
A colocação acima remete, novamente, à questão sobre a origem da cultura
sambaquiana o que, segundo Schmitz (1998: 10), corre o risco de ser impossível de ser
respondida que, provavelmente, os sítios mais antigos teriam sido afogados pela rápida
subida do mar.
A falta de dados o permite que se discuta a existência de uma rota pela costa que
teria permitido a entrada nas Américas de grupos pleistocênicos adaptados ao ambiente
marinho (Erlandson op.cit :267). No entanto, a existência de sítios contendo os mesmos
rituais funerários relacionados à construção de “mounds” nas duas costas dos Estados
Unidos (Bernstein 1993 e Stein 1992 in Luby & Gruber 1995, Erlandson 1994:269,
Voorhies 1998:9), concentrados no Golfo da Califórnia, na Flórida como também os
mounds encontrados na costa mexicana (ibid) e no Panamá tem levantado a hipótese para a
existência de uma migração antiga ao longo da costa. A possibilidade de que os sítios
estejam submersos e a escassez de pesquisas, principalmente na América Central,
inviabilizam esta abordagem, (Voorhies, com.pess. maio de 1998) embora existam muitas
evidências de populações pleistocênicas adaptadas ao ambiente marinho na Costa da
Califórnia
7
. Assim, por causa da inexeqüibilidade da abordagem, embora levada em
7
Pesquisas no Golfo da Califórnia evidenciaram a presença do paleoíndio na costa entre 11500 e
10500 anos AP, sendo que o número de sítios aumenta sensivelmente entre 9000 e 8000 anos
AP. Existem cerca de 85 sítios datados entre 10000 e 7000 anos na costa da Califórnia (Erlandson
1997:5. Para Lynch 1998:94), a adaptação à costa na América do Sul é antiga, acima de 11000
anos AP. As costas do Peru e do Chile apresentam evidências dessa antiga adaptação costeira
(Llagostera apud Erlandson 1994:277).
clviii
consideração nesta parte do trabalho, não será trabalhada a hipótese de um povoamento
inicial do litoral brasileiro por populações que teriam entrado nas Américas já adaptadas ao
ambiente marinho.
Rotas percorridas
Para responder a questão sobre que rotas teriam sido utilizadas para chegar ao
litoral vindo-se de áreas interioranas, parte-se do pressuposto de que os caminhos
utilizados tenderiam a ser os mais curtos, os mais limpos ou os que passariam por áreas
que oferecessem produtos silvestres. Esses caminhos, a menos que fossem ocupados por
grupos inimigos, provavelmente teriam sido os mesmos durante muitos milênios. Assim,
os sítios presentes ao longo dessas rotas podem ser abordados como vestígios dos grupos
que empreenderam incursões a novos ambientes.
Excluindo os grupos já adaptados ao litoral, que tenderiam a ter sempre uma
mobilidade perpendicular à costa, os possíveis caminhos trilhados por outros
grupos oriundos do interior poderiam também ser percebidos no estudo da
distribuição dos sítios litorâneos.
As grandes concentrações de sítios próximas aos vales de grandes rios que cortam
as serras, como as concentrações em Iguape, Cananéia, Baixada Santista, Baía de
Paranaguá, sugerem a existência de rotas migratórias para a costa, acompanhando o curso
de rios. Neves (op.cit:31) cita como locais de passagem o vale da Ribeira e o vale do Rio
Itajaí. Lima (op.cit. :272) também concorda com um eixo por vias fluviais em alguns
trechos do litoral, como no Vale do Ribeira, no Vale do Itajaí e no Vale do Jacuí. No
clix
entanto, para esta autora, em outras áreas, a serra do Mar teria atuado como uma barreira,
favorecendo um movimento perpendicular à costa.
Ocupação do litoral: Paleoambiente, ambiente atual e distribuição dos sambaquis
A área de incidência de sambaquis pré-cerâmicos no litoral brasileiro está
compreendida entre o norte do Rio Grande do Sul (Kern 1991:175) e a desembocadura do
Rio Doce.
Paleoambiente
No final da última Glaciação, por volta de 12000 anos atrás, o clima mundial seco e
frio começa um processo de aquecimento, tornando-se também mais úmido. Essa mudança
teria proporcionado a expansão das florestas e a restrição das áreas abertas. O aquecimento
teria também provocado o derretimento das geleiras e uma gradual subida do nível do mar,
mudanças que estariam marcando o final do período Plistocênico e o início do Holoceno;
essas transformações irão culminar por volta de 7000 anos atrás com o Ótimo Climático.
Durante a mudança, caçadores-coletores, adaptados a um clima seco e frio,
locomoveram-se, procurando a manutenção de seus habitats, até que, gradualmente, foram
obrigados a modificações em seu modo de vida, passando a explorar novos ambientes.
Essa passagem é percebida na cultura material que pode revelar os processos adaptativos
desenvolvidos por essas populações.
clx
No interior, tais mudanças acarretaram também grandes alterações, causando
transformações na flora e na fauna, com espécies sendo trocadas por outras mais adaptadas
aos novos ambientes. No litoral, com a subida do nível do mar, as modificações são ainda
mais intensas. Planícies litorâneas estreitas são inundadas, desaparecendo ou deixando
isoladas, como ilhas, as partes mais altas de seu relevo. Rios são represados e a diminuição
do fluxo de suas águas traz como conseqüência uma sedimentação mais intensa que,
acrescida de material trazido das partes mais profundas do mar, fará com que,
posteriormente, com um novo ciclo regressivo, surjam novos ambientes, como restingas,
lagunas, alagados, pântanos e manguezais .
Ambiente atual
Essa área litorânea caracteriza-se por amplo litoral de praias abertas, enseadas,
costões e ilhas que se intercalam, resultando em uma paisagem particular. A planície é
entrecortada de pântanos e de lagoas. A vegetação é característica de dunas e restingas,
ocorrendo muitas áreas de manguezais bem desenvolvidos (Gaspar 1991).
O interior está caracterizado por um relevo de altitude, representado pelo planalto
Brasileiro. O planalto setentrional brasileiro apresenta as características semelhantes ao
meridional, "com alturas que podem atingir mil metros, nas suas abruptas encostas
próximas à planície litorânea, para descer lentamente para o interior... É cortado por vales
que rasgam suas paredes de pedra...” (Kern 1994:39). A serras do Mar e da Mantiqueira,
presentes na área enfocada, formam uma barreira natural, que separa o interior do litoral.
clxi
Ao norte de Laguna, a área litorânea caracteriza-se, atualmente, por amplo
litoral recortado. Da baía de Paranaguá a Itanhaém ocorre a mais larga planície
litorânea, com um grande sistema de drenagem por onde escoa a água que vem
da Serra do Mar.
Dados arqueológicos: distribuição dos sítios
Na sistematização dos dados arqueológicos, é preciso que seja levado em
consideração o enorme hiato causado pela escassez de pesquisas em determinadas regiões.
No atual estado de conhecimento da arqueologia brasileira, a ausência de sítios em
determinadas áreas pode ser explicada única e exclusivamente por falta de pesquisas
arqueológicas, o que dificulta a identificação precisa de rotas migratórias e a caracterização
dos processos de povoamento. Tal fato, aliado às dificuldades de preservação do
patrimônio arqueológico, pode criar lacunas irreversíveis no conhecimento do povoamento
do território brasileiro.
A partir dos dados obtidos, constatamos que, no interior, relacionados à costa onde
são encontrados sambaquis, existem registros sobre três tipos de ocupação. São elas: as
relacionadas a caçadores do planalto e áreas abertas, aos caçadores-coletores-pescadores e,
por último, aos ceramistas.
Caçadores do planalto e áreas abertas e sua relação com o
litoral
clxii
Os mais antigos caçadores do planalto e áreas abertas, oriundos do sul do país, são
denominados por Kern (1994) como grupos pampeanos e por Mentz Ribeiro (1999) como
Tradição Umbu e são encontrados no seu período mais antigo nos estados do Paraná e de
São Paulo. Seus vestígios estavam no rio Paraná, no vale do Ivaí (Mentz Ribeiro 1999:29),
num terraço climático, na cidade de Rio Claro, onde apresentam datações discutidas que
oscilam de 14000 anos BP a 10000 anos BP (Beltrão 1974) e no Vale do Ribeira, com
datações que vão de 10000 anos BP (Collet & Loebl 1988, Figuti et al 2000 ) a 700 anos
de nossa era (De Blasis 1996).
As pesquisas realizadas através do projeto Investigações Arqueológicas e
Geofísicas dos Sambaquis Fluviais do Vale do Ribeira de Iguape, estado de São
Paulo (Figutti et ali)
forneceram recentemente importantes resultados. As
datações de 8500±70 anos AP, 8795±105,8860±60, obtidas para o início da
ocupação do sítio Capelinha, distante cerca de 100km do mar, irão recuar à
antiguidade da presença da Tradição Umbu na região, como também ao início da
adaptação ou do contato com grupos acostumados ao ambiente marinho. Pois
mesmo que os construtores do sítio Capelinha não tivessem sido os coletores dos
moluscos marinhos cujas carapaças foram encontradas no sítio, nem houvessem
capturado o tubarão cujos dentes também foram achados, esses vestígios
poderiam ter sido trocados com grupos adaptados ao litoral, ou seja, há cerca
de 8700 anos AP, época em que o mar estaria bem mais recuado.
Caso seja comprovada a datação obtida por Andrade Lima para o sítio do
Algodão de 7860
±
80 anos AP, a primeira hipótese será confirmada, assim como
clxiii
a existência de um sistema de trocas em épocas recuadas e também uma rota
migratória através do vale do Ribeira.
Ë compreensível que os sambaquis mais antigos
estejam atualmente localizados em ilhas; apenas o seu
estabelecimento em locais altos, hoje transformados em
ilhas, livraria esses sítios do alcance da subida das
águas, ocorrida no início do Holoceno.
Segundo Figuty coord. (2000 mimeo.: 4), o rio Ribeira contraria a tendência natural
dos rios que nascem no planalto. Ao cruzar as serras, em seu caminho direto para o oceano
Atlântico, o Ribeira atravessa uma variedade de pequenos vales, formando micro-
ambientes diversificados que integram com fluidez o ambiente litorâneo ao planáltico,
facilitando a existência de uma zona de transição, onde são mescladas as variáveis
climáticas mais frias do planalto com o ambiente quente e sub-litorâneo, o que caracteriza
a ampla planície litorânea conhecida como a Baixada do Ribeira.
Além desses sítios, registra-se também no vale do Ribeira a presença dos
“sambaquis fluviais”. No entanto, para Cristiana Barreto (1988), esses “sambaquis” seriam
mais recentes do que os marinhos, representando uma nova adaptação provocada por
pressões de outros grupos. O fato de que a camada malacológica é constituída apenas de
Megalobulinus sp., espécie que até hoje chega à superfície em abundância na época das
chuvas, aliado à presença de uma indústria lítica distinta da encontrada nos sambaquis,
parece indicar que estão mais relacionados às ocupações sazonais de grupos do planalto,
como os ocupantes do sítio Capelinha, ou de vales elevados do que aos sambaquis da
clxiv
costa, embora haja indícios de contato.
Para Figuty et ali (op.cit.: 40), os resultados das pesquisas ainda não permitem que
se discuta esta associação.
Pescadores, coletores e caçadores mais antigos no litoral
brasileiro
Na região da Baía de Paranaguá, encontram-se os sítios litorâneos mais antigos,
Ramal 6540 ± 105 (Garcia 1979) e Porto Maurício 6030 ± 130 anos BP (Garcia 1979).
Além desses, existem mais dois com antiguidade superior a 5000: Gaspar 5230
±
350
(Piazza 1966) e Ilhota 5340 ± 210 (Suguio et alii 1984). No Paraná, predominam as
datações ao redor de 4500 anos BP. Segundo as datações existentes para o estado (Figura
29 e 30), as ocupações teriam ocorrido predominantemente no período de 5000 a 3000
anos BP.
As sete datações acima de 5000 AP que existem para o estado de São Paulo
corroboram as hipóteses da existência de uma rota migratória pelo vale do Ribeira e a
proposta de Kern (1991 : 171) de que teria havido um povoamento do litoral via São Paulo
e o estado do Paraná.
As datações mais antigas do estado de São Paulo, além da questionada Maratuá, de
7803 ± 1300 (Emperaire e Laming 1956), são as obtidas para os sítios S – 48, com 5970 ±
140 anos BP (In 78/79/80:23) e Brocuanha IV, com 5900
±
500 anos BP (Ibid),
pertencentes a sítios localizados em Itanhaém e Cananéia-Iguape, respectivamente.
clxv
No estado do Rio de Janeiro, embora programas intensos de prospecções
tivessem sido desenvolvidos (Dias Jr et al 1980, Mendonça de Sousa1981 e Heredia 1983
mimeo.), nunca foram encontrados sítios pré-cerâmicos na serra fluminense. Esse dado
acarreta três hipóteses: que o litoral teria sido povoado por grupos oriundos do litoral de
São Paulo, que o litoral do Rio de Janeiro teria sido povoado a partir de seu extremo norte,
através de um caminho paralelo ao Rio Paraíba que contornaria a Serra do Mar, chegando
ao litoral pela região próxima à foz desse rio, ou que grupos do planalto, com a intenção de
chegar ao litoral, utilizariam um caminho que cortaria a Serra do Mar.
Relatos de Knivet (1565/1947: 23) informam da existência de caminhos utilizados
pelos Puri, Lopos e Tomiminós e Guainá, para cruzar a Serra do Mar. Perez (2001:passim)
também afirma que a Serra não constituía uma barreira para o litoral, pelo contrário, era
bastante transitada.
No entanto, a datação obtida por Andrade Lima para o sítio do Algodão, de
7860 ± 80 anos AP, reforça a hipótese da existência de um eixo migratório
através do vale do Ribeira (Andrade Lima 2001:5).
As discutidas datações para sítio Maratuá, em São Paulo, e para
Camboinhas, em Niterói, no Rio de Janeiro
8
, apontam também para um eixo
paralelo ao litoral, após uma hipotética entrada por São Paulo. Andrade Lima
(2001:3) chama a atenção para a proximidade temporal dessas datações e atenta
para a necessidade de se retomar a discussão sobre a sua validade.
8
Maratuá 7803
±
1300 e 7327
±
1300 (Emperaire e Laming 1956) e Camboinhas 7958
±
224
(Kneip 1981),
clxvi
Além das datações obtidas para os sambaquis do Algodão e de
Camboinhas, no estado do Rio de Janeiro, existem apenas três datações
mais antigas, acima de 5000 anos BP – o Sambaqui do Forte, 5520 ±
±±
± 120
(Kneip 1980); o sítio do Meio, 5590
±
±±
±
80 (Gaspar et al 1992 e 1994) e o sítio
Geribá II, 5150
±
±±
±
110 (Tenório 1992, 1998) – todas provenientes de sítios
localizados no sudeste do estado;as duas primeiras obtidas em sítios que
distam 300m entre si e o terceiro localizado a 20km de distância.
O restante das datações para o Rio de Janeiro (53 para 23 sítios In Tenório 1998)
são mais recentes do que 4500 anos BP. A expansão da ocupação nesse estado, ocorre por
volta de 4300 anos BP a 3000 anos BP.
Os resultados das recentes pesquisas desenvolvidas no Vale do
Ribeira levantaram uma questão: se as evidências relacionadas ao ambiente
marinho encontradas no sítio Capelinha seriam fruto de incursões rápidas
ao litoral ou de contato com grupos já adaptados a esse tipo de ambiente.
Parece claro que incursões rápidas não permitem atividades que
exigem habilidades específicas, como no caso da pesca aos tubarões, dos
quais foram carregados e perfurados os dentes encontrados no sítio. Ao
mesmo tempo, fica difícil admitir descidas rotineiras ao litoral envolvendo
um processo adaptativo que lá não deixe vestígios e que leve evidências tão
sutis ao interior, já que indícios que podem ser associados ao ambiente
clxvii
litorâneo, encontrados no sítio Capelinha, estão restritos a poucos dentes
de tubarão e a raras conchas marinhas.
O hiato causado pela ausência de evidências do processo adaptativo
de populações interioranas ao litoral tem sido respondido pela justificativa
de que essas populações já estariam ajustadas a algo semelhante à
exploração litorânea (Hurt 1986, Schmitz et ali 1992), pois o molusco
terrestre nessa época fazia parte da dieta alimentar de antigos grupos
caçadores-coletores do interior (Schmitz 1980, Laming Emperaire 1975,
Schmitz 1989). No entanto, para Figuty et ali (2000:12), embora a diferença
entre pescadores-mariscadores dos sambaquis costeiros e os grupos de
caçadores-caramujeiros associados a sambaquis fluviais possa parecer
sutil, sua sobrevivência:
“implica em estratégias de subsistência e artefatos muito
diferentes: (1) a caça nas florestas tropicais requer
um maior investimento na procura das presas
(tempo/distância), com produtividade menor que a pesca
litorânea; (2) a coleta dos caramujos terrestres se
distingue da coleta de moluscos marinhos pelo fato dos
caramujos não formarem agregados (“cachos” de
mariscos, bancos de berbigões)
(Figuty et al op.cit:12)
A ausência de evidências do processo adaptativo pode estar sugerindo contato dos grupos
que habitaram o sítio Capelinha com populações estabelecidas na costa, cujos vestígios,
de acordo com as projeções para as oscilações do nível do mar (Martin et al 1997),
clxviii
estariam atualmente submersos, a menos que se localizassem em locais elevados ou que
fossem ocupações insulares, como no caso do Sítio do Algodão.
Caso seja comprovada a datação obtida por Andrade Lima (op.cit passim) para o
sítio do Algodão, de 7860 ± 80 anos AP, embora cerca de 600 anos mais recente do que a
antiguidade obtida para Capelinha, ela irá contribuir para a hipótese de contato e também
para a proposta de existência de uma rota migratória através do vale do Ribeira.
Ao mesmo tempo, parece claro que a ocupação da costa através de grupos
interioranos deveria apresentar vestígios desse processo adaptativo e que sua ausência pode
indicar que havia grupos já acomodados ao litoral e com os quais se travaria contato.
A hipótese de que esses vestígios estariam atualmente submersos não é
convincente, pois grupos interioranos em processo de adaptação litorânea não teriam
dificuldade de recuar seus assentamentos, acompanhando a subida das águas.
Por outro lado, grupos adaptados somente ao ambiente litorâneo e que se
deslocassem na água tenderiam a desenvolver uma movimentação perpendicular à costa, à
procura de litoral mais alto ou mais baixo, no caso das regressões marinhas que
apresentassem o mesmo ambiente. Tal fato explicaria a presença das datações mais antigas,
exemplificadas por aquelas obtidas nos sambaquis de Maratuá, Camboinhas e Algodão, e
por estarem em linhas e deslocadas da cronologia média dos sambaquis do litoral centro-
meridional.
Dada a grande quantidade de ostras encontradas no sítio do Algodão
(Andrade Lima 1991: 156 ), é provável que nessa época o mar se
clxix
apresentasse semelhante ao atual, fazendo com que o manguezal
ainda estivesse próximo ao sítio. Camboinhas, com antiguidade
semelhante, teria sido ocupado no início de um período de regressão
marinha (Kneip et alli 1994:128), provavelmente cercado por um
ambiente similar ao atual.
Existe uma discordância entre os modelos propostos por Martim e Suguio e o
diagrama de Ireland para pouco antes de 7000 AP. Enquanto os primeiros acusam uma
tendência de elevação, o segundo formula uma tendência negativa, de rebaixamento do
nível do mar (Kneip et ali 1994). A tendência positiva faria com que o manguezal recuasse,
enquanto que a negativa provocaria sua ampliação. Como conseqüência, a área de
proliferação de moluscos também oscilaria, acompanhando a dinâmica do manguezal e
incentivando uma mudança na localização dos sítios, para que estivessem sempre próximos
aos bancos explorados (Tenório 1996).
Evidentemente a proximidade de outros recursos básicos, como o da água potável,
também iria interferir na escolha dos novos locais, mas esses movimentos seriam lentos e
provavelmente os sítios localizados em locais altos ficariam preservados do alcance das
águas. Assim sendo, o fato de não se encontrar sítios antigos na costa, como já foi
mencionado, pode estar indicando que o movimento, ao invés de recuo no sentido costa-
interior, acompanhando a subida do mar, poderia ter sido perpendicular ao litoral, à
procura de costas mais elevadas. Isto responderia pelo alinhamento dos sítios mais antigos,
em lugar de serem encontrados obedecendo a uma graduação cronológica, referenciada por
uma graduação transversal à linha da costa. No caso do Algodão, essa mobilidade pode
também estar sugerindo uma movimentação predominantemente por água, através do uso
de algum tipo de embarcação.
clxx
Clímax da ocupação litorânea
Pescadores-coletores-caçadores
No Rio Grande do Sul, Kern (1991:168) informa que se encontram no litoral tanto
vestígios de sambaquis, como acampamentos ocasionais de grupos caçadores-coletores da
encosta da Serra Geral. Prospecções realizadas em 1970 puderam evidenciar o contraste
entre a riqueza dos elementos culturais dos primeiros e a pobreza dos vestígios
arqueológicos dos segundos (Kern ibid:169). Conforme este autor, é num período de
regressão marinha, com a liberação aos poucos da planície costeira, que chegam “grupos
caçadores-coletores, adaptando-se à pesca e à coleta, provavelmente migrando do norte
(Paraná e São Paulo), onde esta adaptação dura dois milênios” (Kern 199:171). Ainda
segundo ele, os grupos relacionados aos sambaquis apresentam elementos culturais que
parecem indicar uma cultura específica com variações regionais. (Kern 1991: 167).
O litoral marcado pela quase inexistência de praias mansas, lagunas e manguezais,
o que ocorre de Laguna para o sul, não parece ter apresentado grandes atrativos para a sua
ocupação, o que fez com que os relativamente poucos sítios registrados no litoral do estado
do Rio Grande do Sul ficassem concentrados na região de Torres .
No litoral do estado de Santa Catarina, Paraná e de São Paulo as datações mais
antigas, relacionadas às bases dos sítios, ocorrem predominantemente concentradas no
período de 4000 a 5000. No Rio de Janeiro, estão concentradas no período de 4000 a 3000.
Isto parece se conectar a épocas de expansão dos sambaquis (Figura 29 e 30).
clxxi
Santa Catarina
0
1
2
3
4
5
1000
-1200
1800
-
2
000
260
0 - 2800
3
400 - 3600
4200 - 4400
5000
-
5200
5800
-
600
0
6600
- 6800
7800
- 8000
Santa
Catarina
Paraná
0
1
2
3
4
5
6
1000
-1200
1800 -
20
00
2600 -
28
00
3400 -
36
00
4200 -
4400
5000 -
5200
5800 -
6000
6600 - 6800
7800 - 8000
Paraná
Figura 29. Datações dos estados de Santa Catarina e Paraná.
clxxii
São Paulo
0
2
4
6
8
10
12
10
00
-120
0
180
0
- 2000
2
600
- 2800
3400
-
3
600
420
0
- 4400
5000
-
5200
5800 - 6000
66
00
- 6800
7800
-
800
0
São Paulo
Figura 30 – Distribuição das datações dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Não sabemos se é devido ao grande número de datações (67) (cf.Uchôa 78/79/80,
Andrade Lima 1999/2000 e Gaspar 1996), mas o estado de São Paulo apresenta uma
seqüência que permite propor que grandes conjuntos de sítios estariam ativos, ao mesmo
tempo sendo contemporâneos, o que indicaria um alto índice populacional em Cananéia e
outro um pouco menor em Itanhaém e na Baixada Santista.
Rio de Janeiro
0
2
4
6
8
1000
-12
00
1
800 -
20
00
2
600
-
28
00
3
40
0
-
36
00
4
2
00
-
44
0
0
5
0
00
-
52
0
0
5
8
00 -
60
0
0
6600 - 6800
7800 - 8000
Rio de Janeiro
clxxiii
De acordo com as datações obtidas por Uchôa (1977/78/79/80), no estado de o
Paulo teria havido um aumento populacional por volta de 5000 anos BP. Isso pode ter
repercutido no Rio de Janeiro, com o surgimento de novas ocupações por volta de 4500
anos atrás (Tenório 1998: 241) e que teriam se somado as existentes neste estado. Tal
hipótese é reforçada pela presença de alguns elementos peculiares aos estados do Rio de
Janeiro e de São Paulo, tais como a indústria de lascas de quartzo, a indústria malacológica
e a expressiva intensidade da indústria óssea conforme foi mostrado nas tabelas 1, 2 e 3
(páginas 23).
No estado de São Paulo também é observado um intervalo no surgimento de novas
ocupações entre 3000 a 2000 anos BP. Apenas por volta de 2000 anos BP se reiniciam as
ocupações, com bem menor incidência de sítios. (Figura 30)
O fato de que não foram encontrados vestígios de caçadores-coletores na serra
sugere que, no estado do Rio de Janeiro, o povoamento do litoral tenha se efetuado por
uma movimentação perpendicular a ele, pela região de Angra dos Reis ou pelos caminhos
usados pelos ceramistas que contornavam a serra do mar, chegando ao litoral pelo norte do
estado, próximo à foz do rio Paraíba.
Duas datações das poucas existentes para o Espírito Santo, obtidas para os sítios:
Rio Doce, I4400 ± 200 (Suguio et al 1982), e Rio Doce II, 4240 ± 150, sugerem um
povoamento antigo também a partir do litoral ao norte do estado do Rio de Janeiro. No
entanto, como são poucas, devem ser vistas com cautela. Ao mesmo tempo, dos 26 sítios
datados para o Rio de Janeiro, 20 estão no sudoeste. Essa concentração de datações pode
acarretar uma interpretação equivocada em relação ao resto do estado. O número reduzido
clxxiv
de datas para o estado do Espírito Santo também o permite usar o fator antiguidade para
a inferência de uma entrada pelo norte do estado.
Reconstituição das rotas migratórias a partir das concentrações de sítios:
uma escassez de sítios com características de moradia estável no litoral extremo
sul (Kern op.cit :167). As pesquisas ainda são muito escassas, mas indicam que os poucos
existentes estariam concentrados no litoral entre Torres e Itapeva (id. Ibid.).
As concentrações de sítios pré-cerâmicos no litoral de Santa Catarina estão no norte
do estado, região de Laguna, no centro da Ilha de Santa Catarina e no sul do estado, em
Joinville (figura 31).
A concentração de sítios no estado do Paraná está localizada próxima à baia de
Paranaguá, junto também da convergência dos rios que cortam a Serra do Mar, drenando a
água para o litoral, o que poderia se constituir num ponto de descida planalto-litoral.
Subindo para o norte, temos um agrupamento de sítios em Cananéia-Iguape.
A outra concentração no estado de São Paulo está na Baixada Santista, que também
é um ponto de descida do planalto do rio Tietê, que passa entre a Serra do Mar e a da
Mantigueira. Os sítios praticamente desaparecem em Ubatuba, o que pode ser explicado
pela presença nesse litoral de uma faixa estreita, que chega a desaparecer depois de
Ubatuba. Nessa área, com o nível do mar mais alto, ele estaria batendo na encosta da serra.
clxxv
A descrição referente à distribuição dos sítios no estado do Rio de Janeiro será
retomada mais detalhadamente mais adiante. No entanto, dentro de uma contextualização
mais geral, pode-se observar que, após o intervalo na região de Ubatuba, continuando na
direção norte, ao chegar a Parati, no estado do Rio de Janeiro, a 70km da cidade de
Ubatuba, surgem outras concentrações de sítios que estão localizadas predominantemente
em áreas inundáveis de manguezais e em ilhas.
Mais adiante, a 200km, encontramos outra concentração na planície de Guaratiba,
ao fundo da baía de Guanabara, em área de manguezais. Do outro lado da baía, a
concentração da praia de Itaipu, ocupações de encosta baixa, dunas relacionadas a
ambiente de mar, lagoa e estuário.
clxxvi
Figura 31 – Áreas de concentração de sítios no litoral brasileiro
Após Itaipu, a incidência de sítios diminui, provavelmente por causa da presença de
um litoral de mar aberto, com ondas fortes, sem enseadas. Os sítios voltam a aparecer a
100km de distância, próximos à cidade de Saquarema, onde se inicia a região dos lagos.
Nessa área, os sítios estão localizados à beira das lagunas e dos estuários.
Depois de um novo intervalo, observa-se outra concentração no
promontório de Cabo Frio. Essa área apresenta dois tipos de
concentrações: uma em áreas marcadamente “úmidas”,sujeitas a
inundações ou lagunares, a cerca de 3km da costa, e outra mais seca na
beira de praias ou de canais. A primeira situa-se no município da região de
Tamoios e a outra, nos municípios de Cabo Frio, Armação dos Búzios e
Arraial do Cabo.
Rotas percorridas por grupos ceramistas para alcançar o
litoral
Partindo do pressuposto de que tenham sido utilizados para chegar ao litoral, os
mesmos caminhos usados por grupos pré-cerâmicos, apresentaremos os modelos para a
entrada dos primeiros grupos ceramistas no litoral brasileiro.
Sítios de ceramistas do interior, explorando recursos do litoral, foram identificados
nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro (Tradição Una); Paraná e centro-norte de
Santa Catarina (Tradição Itararé), sul de Santa Catarina e centro-norte do Rio Grande do
clxxviii
Sul (Tradição Taquara) Schmitz (1998: 198).
Segundo Schmitz (1998: 214), diferente dos pré-ceramistas que apresentavam
assentamentos de maior permanência, os ceramistas apresentam ocupações mais curtas,
marcadas por sazonalidade, o que parece vir ao encontro da proposta de Prous (1992: 207),
pois após a introdução da cerâmica é que se inicia um movimento de ida e vinda ao
litoral, diverso do relacionado a grupos pré-ceramistas que chegariam ao litoral sem
retornar para o interior.
Informações etnoarqueológicas:
Um caminho indígena de 30km de extensão, apresentando sítios relacionados à
cultura Itararé, foi localizado por Chmyz no vale do rio Piriqui (Chmyz 1971). Esse dado,
associado aos resultados das pesquisas de Schimtz et ali (1990,1991,1993,1996), tem
evidenciado a presença Itarano litoral de Santa Catarina, o que parece indicar um fluxo
constante de pessoas chegando ao litoral.
Segundo Reinhard Maack (In Chmyz 1971), no momento da
descoberta, os indígenas denominavam Peabiru o caminho transcontinental
que partia de São Vicente, em São Paulo e acompanhava o curso do rio
Tietê, até a altura de Itu. Tomava, então, a direção sudoeste, atravessando
os rios Paranapanema e Itararé, até as cabeceiras do Ribeira do Iguape.
Deste ponto, pegava a direção geral leste-oeste, passando pelas cabeceiras
dos rios Ivaí e Cantu e o médio rio Piquiri. Prosseguia paralelo à margem
esquerda deste último e atravessava o rio Paraná, na altura da foz do Piquiri.
clxxix
Na margem direita do Paraná, acompanhava o curso do Iguatemi, dobrando
a seguir para nordeste, em direção às cabeceiras do Paraguai, cortando o
Chaco Paraguaio, chegando ao planalto do Peru e ao oceano Pacífico.
Chmyz (1971) apresenta um minucioso levantamento sobre informações a respeito
dos Peabiru, o que mostra a existência de uma rede de caminhos que eram intensamente
utilizados por diferentes sistemas socioculturais. Os rios mais mencionados coincidem
com os pontos de concentração de sítios no litoral, tais como: (1) o rio Tietê e a
proximidade com a Baixada Santista, com grande concentração de sítios; (2) o rio da
Ribeira, associado à concentração de sítios no vale do mesmo nome e à região de Iguape e
Cananéia.
Segundo Robrahn-Gonzalez (1989:293), a entrada dos primeiros grupos ceramistas
no estado de São Paulo teria se dado através do vale do Ribeira; seriam grupos o-
tupiguarani que, pressionados por estes últimos, teriam vindo do sul em direção ao norte.
Esta autora concorda com Neves e Chmyz de que, por volta dos 1000 d.C, teria ocorrido
um grande deslocamento populacional no sentido planalto-litoral. Do nordeste do Rio
Grande do Sul, onde estão as datações mais antigas, teriam alcançado o planalto
paranaense e o litoral através do vale do Ribeira, no século X de nossa era. Evidência deste
fato é a grande concentração de sítios nos afluentes do médio-alto-Ribeira.
Scatamacchia (1981) propõe um encontro e a fusão, no estado de São
Paulo, entre os Guarani, vindos do sul, e os Tupinambá, vindos do norte.
Para o Rio de Janeiro, temos proposta de uma migração no sentido inverso.
clxxx
Segundo Dias (1976/77:117;1987:159), a ocupação ceramista no Rio de Janeiro teria se
dado inicialmente por grupos identificados com a tradição Una. Esta tradição ocorre
também no sudoeste de Goiás, oeste de Minas Gerais, no interior de São Paulo e no
Espírito Santo. No Rio de Janeiro, Ondemar Dias subdividiu a Tradição Una em fase
Mucuri e Una. A fase Una é litorânea e são encontradas evidências arqueológicas em Cabo
Frio. Está datada em 1060 ± 90 AP (890 d C). A fase Mucuri também está localizada no
norte do estado, no baixo e médio Paraíba e região serrana; é mais antiga e está datada de
1430 ± 65 AP (520 dC).
No Rio de Janeiro, a Serra do Mar não parece ter funcionado como barreira para os
ceramistas; estes não alcançaram o litoral pelo norte, contornando a serra, como
também, num momento posterior,existem informações de que os Puri, Lopos e
Tomiminós e Guainá transitavam bastante por ela. Knivet (1947:35) conta que a teria
cruzado três vezes, no ano de 1596, utilizando um caminho indígena.
A partir do modelo apresentado por Dias, a entrada dos ceramistas no Rio de Janeiro teria
se dado por Minas Gerais, descendo o Paraíba do Sul, alojando-se na Serra do Mar e
depois no litoral norte do Rio de Janeiro caminho semelhante ao utilizado por grupos
pertencentes à fase Itaipu, segundo Mendonça de Souza.
Dias (1976/77) e Dias e Carvalho (1980), apoiados nos cronistas e nas relações com
a fase Piumhi (Minas Gerais), propõem que a tradição Una tenha se originado no interior e
se expandido pelo litoral. A datação mais antiga ocorre em Minas Gerais (1.840 AP. ou
110 dC) (Dias;1976/77:122).
O outro sistema sociocultural, identificado através de pesquisas arqueológicas, tem
clxxxi
os seus testemunhos denominados como tradição Tupiguarani. Dias e Carvalho (1980:53)
propõem que o grupo Tupi tenha vindo do sul. No entanto, Buarque (1999),
compartilhando da proposta de Brochado (1984), aceita que teriam vindo do litoral norte.
Mendonça de Souza (1991) propõe que os Tupi poderiam ter chegado à região
fluminense seguindo a direção de norte para sul, ou diretamente no médio curso do
Paraíba, partindo de Minas Gerais, ou ainda provindo do extremo norte paulista,
acompanhando todo o curso do rio Paraíba do Sul.
Conclusão
Para responder a questão inicial sobre “quais seriam os grupos
responsáveis pelo povoamento do litoral brasileiro e quais seriam as rotas
utilizadas”, uma resposta vem sendo repetida na arqueografia brasileira:
“Grupos do interior teriam descido a costa atraídos pelos novos ambientes
criados no Ótimo Climático; com o tempo, novas levas populacionais se
sucederam, adaptando-se a este novo ambiente, dando origem à presença
de uma grande diversidade de culturas no litoral.
Entretanto, esta assertiva é incoerente com a abordagem classificatória
criada pela arqueologia brasileira, na medida em que há uma contradição entre a
grande diversidade proposta para o litoral e a uniformidade cultural sugerida para
o interior, já que, na área espacial e cronológica relacionada aos sambaquis, só é
constatada a presença de duas tradições culturais pré-cerâmicas a Umbu e a
Humaitá – que permaneceram praticamente inalteradas por muitos milênios, só se
desestruturando após o contato com grupos ceramistas (Noelli 1999-2000:227).
Vestígios associados à Tradição Umbu são encontrados no Uruguai, por toda a
região sul brasileira e no sul de São Paulo (Id.Ibid:230), seguindo a área de dispersão dos
zoólitos. O médio rio Uruguai apresenta as datas mais antigas, sugerindo uma rota de
entrada no território brasileiro.
A Tradição Umbu apresenta uma mobilidade grande e uma diversificação em seus
assentamentos, podendo ser encontrada em sítios a céu aberto, em abrigos sob rocha e, nos
dois últimos milênios, nos cerritos (Lopez In Noeli:235). Também estão relacionados à
Tradição Umbu os túmulos associados a uma economia de amplo aspecto no noroeste
uruguaio, por volta de 5000 anos. Além disso, há cerca de 2500 anos AP, nas áreas
contínuas à planície costeira e à porção sudeste do Rio Grande do Sul, e no litoral
uruguaio, as populações ligadas à Tradição Umbu passaram a construir aterros, conhecidos
pelos arqueólogos como cerritos. Como a Tradição Umbu, a cultura sambaquiana começa a
se desestruturar após contato com os ceramistas
A diferenciação biológica constatada por Neves (1984: 136) entre a baía de
Paranaguá, até o litoral sul de Santa Catarina, e a parte central e norte de Santa Catarina
poderia estar relacionada à entrada das Tradições Humaitá e Umbu, ambas saindo do rio
Uruguai – a primeira pelo sul e a outra, pelo norte, mesclando-se, à medida que se
aproximam da área central. Sendo assim, grupos da Tradição Umbu seriam os responsáveis
pelo início do povoamento do sul de Santa Catarina, norte do Paraná e pela região próxima
ao vale do Ribeira. A posterior descida de novas levas o implicaria diversidade cultural,
clxxxiii
mas sim diferenças regionais causadas por mudanças culturais temporais que pudessem
ocorrer tanto no ambiente interiorano como na costa. Ou seja, grupos pertencentes a uma
mesma filiação cultural chegariam ao litoral em diferentes momentos; os intervalos de
contato proporcionariam sutis evoluções tecnológicas e culturais distintas que, com um
novo contato em outros pontos da costa, teriam a configuração de sítios portando cultura
material com pequenas diferenciações.
No entanto, não ao momento evidências da Tradição Umbu nos sambaquis
localizados nos estados do Parae de Santa Catarina. Embora se saiba que consumissem
moluscos terrestres (Jacobus 1991:72), evidências da descida ao litoral de populações
relacionadas à Tradição Umbu foram encontradas no Vale do Ribeira, no estado de São
Paulo (Figuti et alli 2001).
Assim, como explicar a grande diversidade cultural proposta para o litoral e um
povoamento através do eixo interior-litoral, se no interior, no espaço físico e cronológico
relacionado a esse litoral, não existia diversidade cultural?
Por outro lado, a ausência de sítios apresentando evidências do processo adaptativo
interior-litoral, acrescida da semelhança observada no padrão de assentamento (Gaspar
1991) e na cultura material, argumentam contra a diversidade cultural proposta para os
sambaquis.
Embora os dados sejam escassos, as datações obtidas na costa oeste americana
demonstram a existência de grupos já adaptados à exploração marinha em épocas recuadas.
Ao mesmo tempo, a continuidade de elementos rituais funerários, que aparecem desde a
clxxxiv
costa do Alaska (Yesner 1998), assim como a presença de grandes blocos de rocha e do
tingimento de vermelho dos esqueletos, podem estar indicando a existência de grupos que
teriam chegado às Américas adaptados ao ambiente marinho, os quais teriam tido um
desenvolvimento paralelo ao paleoíndio. Evidências recuadas de adaptações marinhas,
encontradas nas costas do Chile e do Peru, contribuem para essa hipótese (Lynch 1998:93;
Lagosteira apud Erlandson 1994:277)
Os dados parecem indicar a presença de um fluxo intenso de pessoas aparentadas
chegando ao litoral junto com um outro fluxo perpendicular à costa, através do uso de
pequenas embarcações.
Esses grupos, que habitavam a costa, parecem ter constituído um sistema
sociocultural extremamente receptivo e assimilador de outras culturas” que perderiam a
sua identidade diante de um esquema bem adaptado a um novo ambiente, bem mais
generoso do que o encontrado em determinadas áreas interioranas.
Caso sejam confirmadas as datações obtidas para os sambaquis de Algodão e de
Camboinhas, será comprovada a existência de uma rota perpendicular à costa,
provavelmente percorrida em busca de litorais mais altos para fugir da subida das águas
provocada pelos períodos de transgressão marinha.
A localização das concentrações de sítios aponta para a existência de
pelo menos dois eixos interior-litoral, além do paralelo à costa e que
estariam relacionados aos cursos de rios localizados nos estados do Paraná
e de São Paulo. Quanto ao estado do Rio de Janeiro, os pescadores,
clxxxv
coletores, caçadores que povoaram esse litoral teriam vindo do litoral de
São Paulo, rota perpendicular à costa, acrescidos de grupos oriundos do
interior. No entanto, estes últimos provavelmente não estariam relacionados
à Tradição Umbu; seriam grupos com outras filiações culturais, oriundos de
Minas Gerais ou do norte do estado, os quais teriam percorrido os mesmos
caminhos usados posteriormente por grupos ceramistas.
A constatação de que os pontos de maior incidência de sítios coincidem com a
presença de estuários de grandes cursos d’água sugere um fluxo interior-litoral através do
acompanhamento dos cursos dos rios. A chegada dessas levas de pessoas estaria
constantemente acrescentando novos elementos na cultura material a grupos adaptados
ao litoral, miscigenados com levas que teriam vindo em momentos anteriores e também
com outros grupos de mesma filiação espalhados na costa. Esse intenso contato traria como
conseqüência variações regionais, não obstante nenhuma influência fosse tão forte que
inviabilizasse a continuidade de uma cultura sambaquiana, que acabaria com o contato
com grupos ceramistas.
Como foi mencionado, modelos relacionados a caçadores-coletores têm sido
utilizados para o entendimento de mobilidade e territorialidade no estudo das adaptações
litorâneas. No entanto, estudo com grupos estritamente pescadores (Seixas 1997, Castro e
Begossi 1995, 1996) mostram um outro tipo de territorialidade. Em determinadas
situações, quando a pesca é abundante, há um estímulo em compartilhar o território, já que
a informação sobre a movimentação dos cardumes é extremamente importante. Nesse caso,
existiria uma tendência em absorver novos grupos que alcançassem o litoral. Para o recém-
chegado, a acolhida era fundamental para o estabelecimento em um novo tipo de ambiente.
clxxxvi
Esse contato estaria sempre reafirmando os valores sambaquianos, os quais constituiriam a
espinha dorsal da ocupação litorânea.
A existência de traços culturais compartilhados apenas por populações de
concentrações distantes, como no caso dos amoladores-polidores fixos, parece indicar um
momento de intensificação da mobilidade perpendicular à costa e o estreitamento dos
contatos, provavelmente realizado através das vias aquáticas, o que facilitaria o percurso
pela costa.
É possível que depois da introdução da cerâmica e do cultivo da mandioca ou do
milho o litoral tenha sido apenas alvo de visitas, já que as regiões mais interioranas
passaram a ter um atrativo maior. No entanto, esses visitantes tinham ancestrais, que
alguns milênios vinham se mesclando com grupos litorâneos. Em alguns casos, a diferença
em ter ou não ter cerâmica apenas significa que, levas mais recentes dispunham da
tecnologia ceramista, mas isso não quer dizer que se constituíssem necessariamente em
grupos invasores. Se por um lado, as áreas interioranas passam a apresentar mais atrativos
com a introdução da horticultura, o conhecimento de novas técnicas, como a da elaboração
da cerâmica e o processamento de vegetais, passou também a permitir percursos maiores
de viagens, visitas e ocupações sazonais.
Datações e modelo para povoamento do litoral brasileiro:
A sistematização das datações disponíveis, com o objetivo de se descobrir por onde
a ocupação do litoral teria se iniciado, tem sido dificultada pelo reduzido número de
clxxxvii
datações radiocarbônicas.
A diferença na intensidade e na profundidade das pesquisas também vêm
impedindo um estudo quantitativo. Algumas áreas estão intensamente datadas, enquanto
outras apresentam pouquíssimas datações. Em alguns sítios se tem a antiguidade de todas
as camadas, enquanto que a grande maioria tem datada apenas o início de sua ocupação.
Outro problema é também a escassez de trabalhos que apresentem datações calibradas,
embora se considere o quanto as convencionais podem apresentar distorções; o número
reduzido das calibradas inviabiliza a sua utilização.
Mesmo sendo levados em consideração os problemas citados acima, elaborou-se de
maneira tentativa um modelo para o povoamento do litoral brasileiro, tendo por base as
datações disponíveis (Figura 32).
Aceitando-se as datações obtidas, tudo indica que o estado de São Paulo teria sido
ocupado inicialmente cerca de 7800 anos antes do presente e dele teriam saído grupos
em direção ao sul do estado do Rio de Janeiro. Esses grupos teriam chegado apenas à parte
central do estado. Quase 1000 anos depois, 6800 anos, outra leva populacional teria
saído, provavelmente de São Paulo, indo para o sul, mas não teria ido muito longe, parando
no sul do estado do Paraná.
clxxxviii
1000 -1200
1200 - 1400
1400 - 1600
1600 - 1800
1800 - 2000
2000 - 2200
2200 - 2400
2400 - 2600
2600 - 2800
2800 - 3000
3000 - 3200
3200 - 3400
3400 - 3600
3600 - 3800
3800 - 4000
4000 - 4200
4200 - 4400
4400 - 4600
4600 - 4800
4800 - 5000
5000 - 5200
5200 - 5400
5400 - 5600
5600 - 5800
5800 - 6000
6000 - 6200
6200 - 6400
6400 - 6600
6600 - 6800
6800 - 7000
7200 - 7400
7600 - 7800
7800 - 8000
Santa Catarina
Paraná
São Paulo
Rio de Janeiro
Espírito Santo
Distribuição das datações para o litoral
Figura 32. Distribuição das datações de sítios para o litoral.
Outros 1000 anos se passaram e novas levas voltaram a ocupar o litoral do Rio de
Janeiro, desta vez indo até o norte do estado. No entanto, não existem sítios datados que
comprovem o percurso e apenas duas datações informam as ocupações: a de 5520 ± 120
AP para o Forte (Kneip 1980) e a de 5150
±
110 para o sítio Geribá II (Tenório 1989,
Gaspar 1996)
9
. Nesse momento, as datações obtidas para os sítios Gaspar, 5270 ± 300
(Garcia 1979), e SCPREV 01 5 020 cal (De Masi 1999) indicam que uma outra leva de
pessoas estaria chegando novamente a Santa Catarina.
Novamente deve-se lembrar que os hiatos existentes podem se dever à falta de
pesquisas ou ao fato de os sítios estarem destruídos.
9
Datação obtida a partir de carvão.
clxxxix
Por volta de 5000, também é um período de aumento de sítios em São Paulo, mas
parece que isto não se estende aos estados do Rio de Janeiro e do Paraná; neles, a expansão
das ocupações deve ocorrer entre 4600 a 4400 anos AP, quando crescerá o número de
novos sítios em Santa Catarina, intensificado depois no período de 4400 a 4200 anos.
Entre 4000 e 3800 A P parece ter havido outro aumento populacional em São
Paulo, o que teria novamente provocado a ampliação da ocupação tanto para o norte como
para o sul, surgindo novos sítios nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná e
Santa Catarina.
Até 2800 anos A P todo o litoral entre Santa Catarina e Rio de Janeiro
esteve densamente ocupado. No entanto, após esse momento, houve uma
drástica diminuição na implantação de novos sítios. Embora muitos deles ainda
continuassem em atividade, pode ser constatada em todos os gráficos ( ver
figuras 29 e 30) uma diminuição de novas ocupações por volta de 2800 a 2000.
Em Santa Catarina e no Paraná, ocorre um hiato de novas ocupações 2800 a
2000 e de 2800 a 1600, consecutivamente. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, há
um grande declínio populacional.
Tal fato pode estar mais associado a um período de grande recuo do mar, conforme
proposta de Martin et alli (op.cit), o que faria com que os novos tios fossem construídos
mais próximos do mar e que, no presente, com a subida do mar, ficariam submersos.
Os dados levantados permitem que sejam colocadas, de forma resumida, as seguintes
conclusões:
cxc
1) Diferentes populações teriam chegado ao litoral de Santa Catarina, conforme
proposta de Neves (op.cit.: 140).
2) Grupos do interior teriam alcançado o litoral através dos vales de grandes rios.
3) Enquanto para São Paulo os dados apontam a existência de fluxos de pessoas
relacionadas aos grupos do sul, no Rio de Janeiro podem existir rotas de grupos
vindos tanto do norte como também pelo centro, por Minas Gerais, os mesmos
caminhos utilizados posteriormente por ceramistas.
4) Não existem dados sobre uma diversidade cultural no interior que pudesse ser
responsável pela grande diversidade proposta para o litoral.
cxci
2. Quadro arqueológico do litoral do estado Rio de Janeiro
O litoral do estado do Rio de Janeiro apresenta seis áreas
de concentração de sítios arqueológicos. São elas:
Área 1 – Extremo sul do estado, Baía da Ilha Grande (figura 33);
Área 2 – Centro, planície de Guaratiba (figura 33);
Área 3 – Centro, fundo da Baía de Guanabara (figura 34);
Área 4 – Sudeste lagunar: Saquarema e adjacências (figura 35);
Área 5 – Sudeste, Promontório do Cabo Frio (figura 36).
Área 6 - Sudeste, Planície do Rio São João (figura 37)
Área
2
Área 1
ss1e2
Área 3
Área 5
Área 6
Area 4
cxcii
Área 1: Enfoque do presente trabalho: microrregião da Baía da Ilha Grande. Apresenta
litoral muito recortado e escarpado, com numerosas enseadas, baías, pontas e ilhas nos
trechos afogados da Serra do Mar. As praias e cordões arenosos são pouco desenvolvidos,
aparecem ao das escarpas da Serra do Mar ou acompanhando as pequenas planícies dos
cursos d’água que se originam na serra. Nos estuários dos rios, ocorrem manguezais,
principalmente no fundo de enseadas abrigadas. A cobertura original era a de floresta
perenifólia higrófila costeira (Mata Atlântica). O clima é tropical quente, superúmido, com
subseca e sem seca. (Mendonça de Souza 1981).
Em grande parte dessa área, a Serra do Mar desce abruptamente, o permitindo a
formação de praias protegidas ou de ambientes com interseção de vários ecossistemas.
Esses ambientes só irão ocorrer próximos à cidade de Parati, onde estão também as
concentrações de sítios arqueológicos. Perto dessa cidade, foram encontrados 40 sítios,
além de oito em ilhas próximas.
Nos locais de faixa costeira estreita, nas proximidades da cidade de Angra dos Reis,
foram registrados apenas dois sítios, enquanto que nas ilhas próximas a essa área, onde
ocorrem os ambientes de interseção de vários ecossistemas, assinalaram-se 14 sítios.
Área 2: Baía de Sepetiba / Planície de Maré de Guaratiba Área também enfocada pelo
presente trabalho. Representa a transição entre os ambientes marinho e continental,
achando-se cortada por inúmeros canais de ma (Ferreira A.M. In Kneip et al 1985:31).
Foram registrados 33 sambaquis (Kneip et al 1985: 76) que aparecem em concentrações
cxciii
associadas a canais de maré, sob a forma de pequenos relevos isolados, cercados por
coroas arenosas horizontais. Essa área é dividida em duas categorias. A primeira, planície
de maré inferior, engloba vegetação arbórea e arbustiva de manguezal; deveria ser bem
maior em épocas remotas. No sambaqui do Espinho o predomínio de molusco que
tem as raízes da Rizophora mangle como substrato, a Cassostreia rizophorae. A segunda,
planície de maré superior, é desprovida de vegetais superiores, áreas que são conhecidas na
língua Tupi como apicuns, ficam inundadas pelas marés e, ainda hoje, apresentam grande
quantidade de caranguejos. (Araujo In Kneip et alii. 1985:53).
Fig. 33 – áreas 1 e 2 - ver arquivo em anexo.
cxciv
Área 3 Recôncavo e entrada da Baía de Guanabara. Apresenta, atualmente, um clima
subúmido-úmido, com pouco ou nenhum déficit de água, megatérmico de temperaturas
elevadas, com calor no ano todo e chuvas predominantes no verão. As concentrações
ocorrem em duas áreas: Planície de Mae praia de Itaipu. A Planície de Magé apresenta
uma vegetação de manguezal, típica de litoral lodoso, encontrada em estuários de rios com
água pouco movimentada, em ambiente salobro. Trata-se de uma zona baixa, com terraços
marinhos, planície de inundação e desembocadura de rios. Foram registrados nove
sambaquis. Na praia de Itaipu, estão localizados os sítios Camboinhas, Duna Pequena e
Duna Grande. Embora, atualmente, o entorno esteja muito alterado, o material
arqueológico parece indicar que se trata de uma ocupação extensa, localizada em um ponto
central; vários microambientes. Existem vestígios de manguezal, canal e, ainda hoje,
uma grande lagoa separada do mar por uma restinga.
cxcv
Área 4 Recôncavo de Saquarema. Área limitada por relevos cristalinos que representam
os divisores das principais bacias de drenagem que deságuam na Lagoa de Saquarema,
cxcvi
separada do mar pelo cordão litorâneo. A costa é aberta e apresenta mar agitado, com
ondas altas. A concentração de tios está localizada no cordão arenoso interno, na face
voltada para a lagoa.
Fig. 35 ver arquivo em anexo
cxcvii
Área 5 Região do Cabo Frio. Engloba duas pontas: Arraial do Cabo e Armação dos
Búzios. Apresenta clima nitidamente litorâneo, sujeito às influências amenizadoras da
maritimidade. As temperaturas anuais giram em torno de 23°C. Região muito afetada por
ventos, com presença de águas frias, com clima seco. A incidência e a velocidade dos
ventos provoca, na área, o fenômeno da ressurgência que faz ascender águas profundas,
ricas em sais nutrientes, que fertilizam a costa, promovendo intensa atividade de pesca.
Nas três extremidades do Cabo, encontramos espaços de interseção ambiental, com grande
concentração de sítios arqueológicos. Nessa área, foram registrados 62 sítios (Gaspar
1991).
Área 6 - Planície do rio São João. Vegetação original de mata atlântica. Atualmente, ainda
são encontrados vestígios de antigos manguezais. Clima quente e úmido, sem inverno
cxcix
pronunciado. Média anual 22°. Período chuvoso no verão e seco no inverno. A área está,
atualmente e de forma constante, à mercê de inundações, causadas pelo declive suave que
faz com que seja lento o escoamento de seu principal rio, o São João, que sofre, ainda,
grande influência do regime das marés em sua desembocadura. Essa região apresenta
antigos cordões arenosos que evidenciam diferentes níveis do mar e paleolagunas. Sobre
esses cordões arenosos foram registrados 6 sítios (Gaspar 1991).
cc
Figura 37
– Área 6.
LEGENDA:
1 – São José
2 – Gravatá
3 – Tambor
4 – Batelão
5 – Entulho
6 – Jacaré
7 - IBV4
8 – IBV2
9 – IBV1
10- IBV3
11- Campos Novos
12 – Corondó
13 – Malhada
14 – Fazenda Malhada
15 – Rumo
16 – Estrada de Ferro
17 – Morro do Índio
Fonte IBGE
Escala 1:50.000
2.000m
1.000m
0
cci
Figura 37
– Área 6.
Levando-se em consideração a impossibilidade de esgotar o assunto, procurou-se fazer
uma breve sistematização da cultura material registrada na bibliografia arqueológica
relacionada ao litoral do Rio de Janeiro (ver tabelas 5,6,7). No levantamento foram
priorizadas sínteses de resultados de pesquisas e publicações que ofereciam detalhamento e
ilustrações do material encontrado.
No estudo da distribuição da cultura material, procurou-se também estabelecer as
características marcantes de cada região.
Na sistematização do material lítico resgatado nos sítios, constatou-se a recorrência
de determinados elementos tais como: os amoladores portáteis, as lâminas de machado e as
lascas de quartzo. Chamaram a atenção a ausência de pingentes no norte e a presença de
seixos com impregnação de corante apenas nas áreas centrais do estado.
Em relação ao material ósseo, observou-se a recorrência das pontas e bipontas,
destacando-se a pouca incidência de vértebras e de dentes perfurados na área 6 e a maior
incidência de dentes com 4 furos, de espátulas e de pontas de elaboradas a partir de
esporão de raia nas áreas 1 e 4.
Em relação aos artefatos malacológicos, constatou-se que se trata de uma indústria
menos presente e com uma distribuão diferenciada. O elemento que
mais se destaca são os raspadores elaborados a partir de valvas Callista maculata
que ocorrem apenas em determinados sítios localizados nas áreas 1, 5 e 6.
Tabela 5. Distribuição qualitativa dos artefatos líticos no Estado do Rio de Janeiro.
áreas/artefatos Área 1* Área 2* Área 3** Área 4***
Área 5# Área 6##
Seixos batedores
ccii
Alisadores
Amoladores/polidores fixos
Amoladores/polidores
portáteis
Lascas de quartzo
Lâminas de machado e
plaquetas com gume polido
Pingentes
Mão de
Disco
Enxó
Seixo pintado/impregnado
Fonte: * Mendonça de Souza et al 1981; Lima:1991, Heredia et al:1984, Kneip:1987; ** Kneip et al:1981,
Heredia et al:1982 , Beltrão et al:1978; ***Kneip: 1994; #Gaspar:1991; ##Gaspar:1998, Carvalho, 1987
Legenda: Traço marcante
Distribuição
cciii
Tabela 6. Distribuição qualitativa dos artefatos ósseos no Estado do Rio de Janeiro.
áreas/artefatos Área 1*
Área 2 Área 3** Área
4***
Área 5# Área 6##
Dentes de tubarão
perfurados
Dentes perfurados (4
furos)
Espátulas
Instrumentos de ossos de
cetáceos
Dente humano perfurado
Apito
Vértebras perfuradas
Pontas de esporão de raia
Espinhos de peixe
trabalhados
Furadores
Pontas de diáfise de peixes
Pontas de diáfise de
mamíferos e aves
Anzóis
Buril de dente
Osso de cetáceo com
gume
Agulhas
Bipontas
Canutilhos
Pingentes de osso
Fonte: * Mendonça de Souza et al 1981; Lima:1991, Heredia et al:1984, Kneip:1987; ** Kneip et al:1981,
Heredia et al:1982 , Beltrão et al:1978; ***Kneip: 1994; #Gaspar:1991; ##Gaspar:1998, Carvalho, 1987. *
** *** # ## Tenório e Leal 2000.
Tabela 7. Distribuição qualitativa dos artefatos malacológicos no Estado do Rio de Janeiro.
áreas/artefatos Área 1* Área 2 * Área 3** Área
4***
Área 5# Área 6##
Valvas com
bordo cortante
Raspadores
Pingentes
Conchas com
cicatriz de
retirada
Conchas
perfuradas
Anzóis
Fonte: * Mendonça de Souza et al 1981; Lima:1991, Heredia et al:1984, Kneip:1987; ** Kneip et al:1981,
Heredia et al:1982 , Beltrão et al:1978; ***Kneip: 1994; #Gaspar:1991; ##Gaspar:1998, Carvalho, 1987
cciv
Sistematizando as datações disponíveis para o estado do Rio de Janeiro e
comparando-as com o modelo para as oscilações do nível do mar nos últimos 7000 anos,
proposto por Suguio, Martin e Flexor (1989), pode-se, de maneira de tentativa,
contextualizar a ocupação deste estado.
Por volta de 7800 anos BP
Com o nível do mar abaixo do atual, teria se iniciado o povoamento do litoral do
Rio de Janeiro. Para essa afirmativa, existem as datações do sambaqui do Algodão, de
7860 ± 80 anos AP (Andrade Lima 2001 ) e a obtida no sítio Camboinhas, 7958 ± 224
(Kneip 1981). A existência de apenas duas datações tão antigas e a discussão de
geomorfólogos em torno da antiguidade do sítio Camboinhas (Martin 1981, Dietter &
Kneip1994) fazem com que essas datas ainda sejam vistas com cautela.
Vazio de sítios arqueológicos por quase 2000 anos.
cerca de 5500 anos BP, com o nível do mar a 2m, tivemos o surgimento de
novas ocupações: os Sambaquis do Forte e do Meio. Esses dois sítios estão localizados no
mesmo canal, sendo que o Sítio do Meio ficaria mais protegido da subida das águas.
Segundo proposta de Martin et al (op.cit), o mar estaria subindo, atingindo seu
ápice cerca de 5200 anos BP. É bem provável que, nessa época, o Sambaqui do Forte
tivesse sido abandonado, conforme demonstra a camada estéril em sua estratigrafia, além
do fato de estar, provavelmente, ao alcance das águas.
ccv
Entre 5200 e 5000 temos o início da ocupação do tio
Geribá II localizado a 100m do nível do mar atual e
a 20m de altura sobre complexo cristalino quando, o
local tivesse, possivelmente, uma configuração
insular.
A partir de 5200, o nível do mar começa um movimento regressivo que se acentua
de 4200 em diante. Tudo indica que de 5100 até 4500, com o mar a cerca de 3m acima do
atual, configurou-se um período pouco propício a uma expansão de sambaquis, pois não há
registro de nenhuma nova ocupação. Apenas, num momento posterior, após 4500, temos
uma reocupação provável do Sambaqui de Camboinhas, datada em 4475 ± 160 (Kneip
1981).
De 4300 até 4000, quando a descida do nível do mar se intensifica, baixando 2m,
parece ter havido uma época de expansão dos sítios, com oito novas ocupações. São
ocupados os sítios Salinas Peroano (Gaspar et al 1992) (beira do canal de Itajuru, sobre
duna consolidada a 9m de altura), Beirada (Kneip et al 1984) (próximo de lagoa, a 2km da
praia de Saquarema), Corondó (Carvalho, 1984) (beira de lagoa, a 8km do mar), Moa
(Kneip ibid ) (beira de lagoa, distando 2km do mar), Ury (beira do rio Grande, a 2km do
mar), Malhada (beira de lagoa, distando 8km do mar), Ilha da Boa Vista IV e Ilha da Boa
Vista II (beira de antiga lagoa, distando 3km do mar e a 6km do sítio do Corondó ), Sitio
do Condomínio (Tenório 2001) (localizado sobre colina, a 200m de altura) e é reocupado o
Sambaqui do Forte (Kneip 1981), no canal de Itajuru.
.
Entre 4000 e 3900, época em que o mar apresenta o nível atual.
Trata-se de um período de diminuição da incidência de novas
ccvi
ocupações e de abandono de sítios. Deve ter correspondido a
uma época de instabilidade; é o início da ocupação do sítio Boca
da Barra, localizado à beira-mar.
Por volta de 3800 anos BP, o mar começa a subir para depois, há cerca de 3600 anos BP,
descer novamente. Próximo a 3700 anos BP, com o nível do mar por volta dos 2m acima
do nível atual, observa-se uma intensificação de novas ocupações que se estendem até
pouco antes dos 3500 anos BP, quando se inicia um novo período de regressão. São
primeiramente ocupados os sítios Amourins (Heredia et al 1981-82) (paleomangue, a 5km
do mar) e Tambor (Uchôa 1981-82 (a 8km do mar).
cerca de 3400 anos BP, com o nível do mar ainda a 2m acima do atual, é reocupado o
sítio do Algodão (localizado em ilha próxima ao continente). Nessa época, parece ter
havido um decréscimo de novas ocupações. Naquele período, embora o vel do mar
continue alto, é uma fase de regressão. São ocupados os sítios IBV I e IBV II (Gaspar
1998), distantes cerca de 3km do mar. Perto de 3200 anos BP, o sítio Ponta da Cabeça
(Tenório et al 1992), sobre um morrote, a 60m acima da praia atual, é ocupado pela
primeira vez.
Há cerca de 3000 anos BP, segundo Martin et al (op.cit.),
o nível do mar estaria descendo bruscamente, momento
em que temos o início da ocupação do sítio Ilhote do
Leste e da Praia do Leste, localizados em ilha
afastada do continente. Naquela época, também o
Corondó e o Malhada (ambos distando 8km do nível do
mar atual) são abandonados.
ccvii
De 2800 a 2600 anos BP, época em que, segundo Martin et al (ibid) , o nível do
mar é semelhante ao atual, não foi registrada nenhuma nova ocupação. É bem provável
que, então, apenas os sítios Ilhote do Leste e o sítio do Algodão, ambos em ilhas,
estivessem ativos.
cerca de 2600 começa uma outra fase transgressiva, sem outros sítios; apenas
quando se reinicia um período regressivo é que novos sítios voltam a ser ocupados.
2300 a 2000 anos BP
Com o nível do mar a 2m acima do atual, ainda descendo lentamente, inicia-se a
ocupação dos sítios Zé Espinho (Kneip et al 1987) (a 2km do nível do mar atual), Pontinha
(Kneip 1994) (a 1km do nível do mar atual), Sernambetiba Beltrão et al 1978) (a 4km) e
Duna Pequena (a 18m de altura e a 300m da maré média atual). O início da ocupação do
sítio Espinho, em um período regressivo, imediatamente após uma época transgressiva,
pode ser verificado na presença, em sua base, de substratos de características
predominantemente marinhas, associados a uma feição erosiva, o que “leva à hipótese de
que a fase de ocupação pré-histórica se tenha iniciado após uma fase transgressiva. Ou
seja, durante o estabelecimento de um nova fase possivelmente regressiva.”( Ferreira &
Oliveira In Kneip et alii. 1985:39).
De 2000 a 1550
Período ainda regressivo, com o nível do mar a cerca de 1,50m acima do atual. O
sítio Guaíba (Heredia et al 1982) (localizado em Ilha) é inicialmente ocupado.
ccviii
1500
Diminui novamente o número de ocupações. Nível do mar abaixando, chegando próximo
ao atual, ocupação inicial apenas do sítio Geribá I (Tenório et al 1989) (beira-mar)
Menos de 1500 anos BP
O nível do mar continua abaixando. Presença de poucos sítios ativos, apenas um em Ilha
(Santana) (Lima 1991) e dois (Malhada e Espinho) localizados a 8 e 2km do mar,
respectivamente. Talvez este fato o esteja relacionado a fatores ambientais, mas sim à
chegada de grupos horticultores ao estado do Rio de Janeiro.
Esses dados parecem indicar que os sítios arqueológicos,
localizados no litoral do estado do Rio de Janeiro, foram
ocupados predominantemente no início de períodos de
regressão marinha, com o nível do mar bem acima do atual
(cerca de 2 a 3m).
Embora três sítios arqueológicos tivessem se formado em datas mais recuadas,
(Meio, 5 590 ± 80 anos BP; Forte, 5520 ± 120 anos BP; Geribá II, 5150 ± 110 anos BP), os
dados apontam que a ocupação do litoral do estado do Rio de Janeiro tenha se intensificado
ccix
apenas cerca de 4300 anos BP, quando teria ocorrido um momento inicial de regressão
marinha, após um longo período transgressivo.
É consenso que nas épocas de transgressões marinhas uma tendência à formação
de barreiras que represam e formam os sistemas lacustres. Outros períodos transgressivos
posteriores, de igual ou menor intensidade, podem provocar a subida do nível das águas
das lagoas, fazendo com que sedimentos sejam empurrados para as suas bordas, formando
depósitos lagunares que, depois de certo tempo, em fases de regressão marinha, podem
aflorar.
A expansão da ocupação em períodos de início de regressão marinha e a alta
incidência de sítios arqueológicos sobre esses depósitos lagunares conduz à hipótese de
que estes seriam os ambientes privilegiados por pescadores- coletores-caçadores que
habitaram o litoral do Rio de Janeiro. A constatação de que, na fase de intensificação dessa
ocupação, 63% dos sítios estariam relacionadas à exploração de ambientes lagunares e
áreas de inundação corrobora esta hipótese.
A grande incidência de moluscos, que têm como habitat o manguezal e as áreas de
intermarés, encontrados nos sítios arqueológicos, nos leva a supor que este teria sido o
ecossistema mais procurado e é bem provável que os depósitos lagunares estivessem
tomados por manguezais nos períodos de sua ocupação.
Modelos propostos para o povoamento do Rio de Janeiro:
Destacam-se três modelos para explicar o povoamento do estado Rio de Janeiro, no
ccx
período pré-cerâmico:
Migração sentido interior-litoral
Segundo Mendonça de Souza (1981:31), 10000 anos BP, grupos paleoíndios
teriam chegado às partes altas do extremo norte Fluminense. No entanto, este autor não diz
de onde teriam vindo, como também informa desconhecer as rotas migratórias. Ainda, de
acordo com este modelo, pouco antes de 9000 anos BP, com a elevação da temperatura, é
formada a floresta litorânea, o que fez com que esses grupos intensificassem a descida para
o litoral. Há 8000 anos BP, o litoral do Rio de Janeiro, para Mendonça de Souza
(op.cit:36), estaria povoado por grupos que teriam chegado de algum lugar
desconhecido, pertencentes à Tradição Itaipu, dividida em A e B. Itaipu A estaria relacionada
a uma adaptação a lagoas e Itaipu B, ao mar aberto. Na mesma época, segundo Mendonça
de Souza (ibid:36), “... outra tradição de recoletores e pescadores, adaptados a recursos
marinhos, se faz presente no litoral fluminense, provavelmente vinda do sul do Brasil, a
Tradição Sambaquieira”.
De acordo com Ondemar Dias RJ (1992:162), o litoral do Rio de Janeiro foi
ocupado inicialmente pelos construtores dos sambaquis. Mais tarde, por volta de 4500 anos
atrás, com o rebaixamento do nível do mar, o recuo das matas e o aumento das restingas,
houve uma mudança drástica no ambiente, obrigando esses grupos a se adaptarem a uma
nova realidade. Daí teria surgido a Tradição Itaipu, subdividida em A e B (esta relacionada
principalmente à ocupação de sobre dunas). Dias (ibid:161) também aceita a hipótese de
que esta tradição esteja relacionada a grupos adventistas que já teriam chegado ao litoral do
Rio de Janeiro com o conhecimento de novas tecnologias, como a da horticultura
ccxi
incipiente.
Para Dias, a fase Itaipu “reúne os sítios costeiros pré-cerâmicos, cujas
peculiaridades não permitem serem considerados como sambaquis” (ibid:161). Como
principais diferenças entre sambaquis e Tradição Itaipu, Dias (ibid.:162) relaciona como
exemplos as seguintes características dos sambaquis: a inexistência de artefatos
malacológicos, os raros artefatos ósseos e a economia baseada na coleta de moluscos.
Devido à sua antiguidade, o tio que deu nome à fase a Duna Grande de Itaipu segundo
caracterização de Dias, pertenceria à fase Itaipu B, enquanto os sítios do Corondó e da
Malhada, encontrados e pesquisados posteriormente, viriam a configurar a fase Itaipu A .
A fase Itaipu A
A Fase Itaipu A, segundo Dias (Ibid.:166), estende-se de meados do quinto milênio
antes de Cristo até a era Cristã. É caracterizada por ser constituída de sítios que apresentam
economia muito diversificada, baseada numa horticultura incipiente (id.ibid:166),
complementada pela caça a grande número de espécies e pela pesca limitada a espécies
lacustres, com raros espécimes marinhos, embora sejam encontrados numerosos dentes de
tubarão, classificados como adorno, e pontas ósseas feitas a partir de esporão de raia.
A coleta está representada pela intensa presença de moluscos terrestres, os
marinhos aparecendo nos primeiros momentos da ocupação, embora numerosas valvas
de moluscos marinhos tenham sido amplamente utilizadas como matéria prima para
“artefatos utilitários” (id. Ibid.), pendentes e adornos. A indústria malacológia constitui
ccxii
uma característica marcante desta fase, sendo mais intensa nos momentos mais antigos.
Destaca-se o artefato elaborado sobre valva, cuja borda externa foi alisada e o gume
serrilhado por microlascamentos, “este constitui-se o artefato-padrão da fase”
(Id.Ibid.:167).
Os artefatos líticos estão representados por seixos
utilizados, blocos percutores e lascas de quartzo (Id.Ibid.:168). E
os artefatos ósseos “seguem os padrões encontrados nas outras
Tradições arqueológicas do litoral e mesmo do interior” (
Id.ibid
167).
Entre as estruturas, destacam-se as marcas de estacas e postes que, segundo Dias
(Ibid.:169), podem estar relacionados à existência de moquém e de espaços habitacionais.
É observada uma grande variação no padrão de
enterramento, predominando o tipo primário em decúbito
dorsal, com um dos braços distendidos ao longo do
corpo e outro na região pubiana. O ato de cobrir o
morto com grandes pedras tingidas por vezes de ocre,
ou de estaqueá–lo com um ou mais esteios, são
costumes-diagnósticos da fase.
Pela a localização dos principais sítios utilizados para o estabelecimento da
Tradição (Corondó, Malhada, Angelim) e pela caracterização da economia, entende-se que
esta fase se refira à adaptação a um ambiente lacustre.
ccxiii
Fase Itaipu B
Dias caracteriza a fase Itaipu B como formada por sítio sobre duna “constituído de
carapaças de moluscos, fogueiras, muito material lítico, especialmente, lascas de quartzo”
(Id.ibid. :162).
Segundo Dias (Ibid.:170), esta fase é constituída de sítios que se localizam,
habtualmente, em praias de mar aberto, com bases de 1 a 3m de altitude do nível do mar
atual. O sítio está “geralmente próximo a uma curva fechada da praia, em ponto onde a
costa avança pelo Oceano, ou onde uma antiga ilha foi capturada pela restinga e,
normalmente, nas cercanias da foz de uma laguna”. Para ele (ibid), são sítios em dunas
estáveis que quase sempre se estabilizaram sobre antigos sambaquis. Sua economia era
baseada na pesca, complementada pela caça e pela coleta. A presença de artefatos líticos,
que podem ser relacionados ao processamento de vegetal, indica que este alimento
continuou a ser consumido.
Esta fase está exemplificada por Dias com sítios sobre
duna (Duna Grande de Itaipu, Duna Pequena de Itaipu,
Sítio da Praia Grande ou Colônia de Pesca, Massambaba
e sítio da Jandira), citando, ainda, (ibid) as últimas
ocupações do sitio do Forte.
Os artefatos malacológicos, característica marcante da fase anterior, entram em
nítida decadência; em alguns sítios sequer foi registrada (a indústria) e onde o foi ... as
peças são mais grosseiras ...”(Id. Ibid:170).
Os artefatos ósseos são semelhantes aos da fase A
ccxiv
(bipontas), acrescidos de apitos, espátulas e
perfuradores. Os artefatos líticos também o
semelhantes, rareando aqueles sobre blocos.
Quanto às estruturas, Dias (ibid:171) cita as fogueiras com grande concentração de
restos de peixes. Cita, também, ausência de ossos de peixes cartilaginosos, levantando a
hipótese de que seriam usados com objetivos “não-econômicos”, ou seriam descarnados
nas pedras ou na areia lavada pelo oceano.
Quanto ao padrão de enterramento, Dias (ibid.:172) comenta a raridade de
enterramentos nos sítios ligados a esta fase e menciona apenas o encontrado por Salles
Cunha, constituído por uma cova cercada por ossos de baleia.
Dias e Carvalho (1983-84:97), para o desenvolvimento de
seu trabalho, partiram do pressuposto que “comunidades
diferenciadas produziram os sambaquis”. Fundamentaram a
criação da fase Itaipu, depois transformada em tradição, na
conjuntura da existência de uma nova adaptação ao litoral
provocada por alterações climáticas (
Id.Ibid
.:100), fato
evidenciado em dois sítios sobre dunas, como já foi mencionado
anteriormente. Com o desenvolvimento das pesquisas nos sítios
do Corondó e da Malhada que, por apresentarem diferenças na
cultura material em relação às dunas estudadas, passaram a
ccxv
constituir uma nova fase. Por ser mais antiga, foi denominada
Itaipu A .
Se por um lado, nas publicações da década de 80 (Dias e Carvalho 1981-1982,
1983, 1983-84), o conhecimento da técnica do cultivo era a característica mais forte da fase
Itaipu A, na década de 90, as evidências de que os grupos responsáveis pela formação do
sítio do Corondó, desde o início de sua ocupação, apresentavam cultura pronta”,
incentivou a aceitação da hipótese de uma origem diferente para a Tradição. Com isso, a
proposta da mudança cultural, promovida pelo fator adaptativo, dentro dos moldes do
pensamento de Cohen (1978 passen), como uma solução à crise alimentar, foi suavizada
nas publicações mais recentes.
No presente trabalho, aceita-se a hipótese de uma origem diferente para a fase
Itaipu A, ao mesmo tempo que se questiona a da fase Itaipu B, destituída de qualquer
vínculo com a cultura sambaquiana. Parece pouco provável que grupos com o
conhecimento de técnicas de cultivo o abandonassem para exercer um modo de vida
exatamente igual à sambaquiana, tendo como única diferença a ênfase maior na pesca do
que na coleta.
A definição da fase Itaipu B apresenta muitos problemas; o maior é que, em todos
os aspectos, esta fase está muito mais próxima da “cultura sambaquiana“ do que da
Tradição Itaipu, tanto no padrão de assentamento como na cultura material .
A grande associação de sítios-sobre-dunas e sambaquis, como foi explicitado,
coloca em questão sua diferenciação cultural. Ao mesmo tempo, não existem elementos na
ccxvi
cultura que sustentem o fato de em um mesmo sítio poder ser constatada a presença de uma
ocupação sambaquiana e, posteriormente, de outra relacionada à fase Itaipu B, como é a
proposta colocada por Mendonça de Souza (op.cit :76 ) para o sambaqui de Camboinhas e,
por Dias, para o sambaqui do Forte (op.cit 34). Nas publicações existentes (Kneip 1980,
Kneip et alii 1975; Kneip et alii 1981), não evidências de alteração cultural a partir do
material encontrado no sambaqui do Forte; apenas uma diferença é observada por Kneip.
Segundo esta autora:
“O que ocupou o sambaqui inferior, o mais antigo da seqüência vertical, era
essencialmente coletor e coletor de moluscos; o grupo que ocupou o sambaqui superior, o
mais recente da seqüência vertical, era igualmente coletor, mas apresentando,
progressivamente da camada II para a camada I uma atividade de pesca e caça mais
intensa (Id. Ibid:92).
Essa ênfase maior na pesca o significa, necessariamente, que o sambaqui tivesse
passado a ser ocupado por outro grupo, ainda mais que tal mudança é observada na
passagem da camada II para I camadas que Dias associa a Itaipu B, ou seja, ambas as
camadas estariam relacionadas ao mesmo grupo embora, nos momentos mais recentes, a
ênfase na pesca tivesse sido dada.
Existe também um problema quanto à cronologia. Dias propõe que a fase Itaipu B
seria mais recente do que a Itaipu A (Dias e Carvalho 1990:161, Dias :1992:170); no
entanto, existem sítios, como o Geribá II (Tenório et ali 1992:168) onde, desde o início da
ocupação, pode-se constatar a ênfase na pesca, em detrimento da coleta de moluscos.
Datado em 5150 anos ± 110 anos AP (Gaspar 1996), nesse sítio a coleta de moluscos se
ccxvii
intensifica nas camadas mais recentes. Isto também irá ocorrer no sítio Salinas Peroano
(Franco e Gaspar 1992), datado em 4340 ± 70 anos AP (Gaspar 1996).
Em outros sítios mais recentes, mais uma vez, é evidenciada uma grande ênfase na
coleta de moluscos; como exemplos, os sítios Boca da Barra (Tenório 1996, Barbosa
2001), datado em 3760 ± 180 anos AP (Tenório ibid:130), que apresenta uma camada
malacológica super compacta e concrecionada, de 1,20m de espessura, e o sambaqui de
Sernambetiba (Beltrão et al 1981-82, Perez 1999), datado em 1960
±
70 anos AP (Gaspar
1996), que apresenta uma compacta camada malacológica de mais de 3m de espessura.
Assim sendo, os elementos destacados por Dias para caracterizar os sambaquis,
diferenciado-os da Tradição Itaipu, são pouco eficazes. Por outro lado, características
evidenciadas nos tios do Corondó e da Malhada, como o grande consumo de
carboidratos, verificado pela alta incidência de cáries, o consumo de moluscos terrestres, a
presença de uma indústria malacológica diferenciada (Dias 1992: 166-167) podem estar
indicando a presença de grupos de fora, cujo contato com sambaquianos estaria
representado na freqüência de alguns itens marinhos na cultura material, tais como os
dentes trabalhados de tubarão e as pontas de raia. A fase Itaipu A poderia representar o
processo adaptativo de grupos do interior ao litoral.
A presença no litoral de elementos de ligação com a fase Itaipu A talvez
evidenciasse apenas o contato desses grupos com as populações sambaquianas, o
constituindo outra tradição cultural.
Provavelmente, muitos sítios ligados à exploração de ambiente lacustre carregam
uma fusão de elementos culturais sambaquianos e da tradição Itaipu. É notável um
aumento de sítios relacionados às lagunas, num período próximo ao início da ocupação do
sítio do Corondó (Tenório 1998: 244).
No litoral do Rio de Janeiro, é possível observar a existência de sítios localizados
em locais altos e secos e também de sítios formados por pequenos montes, em locais
planos, na beira de lagunas ou em zonas inundáveis. Os sítios secos referem-se mais à
exploração marinha e aos ambientes de mangue, normalmente voltados para o mar, e sua
importância para os seus habitantes pode ser percebida nos rituais de enterramentos, onde
são comumente associados a restos e, por vezes, a esqueletos completos de mamíferos
marinhos. A dieta alimentar dos sítios “secos” está baseada na coleta de moluscos de
grande porte coletados em manguezais e zonas de intermarés e na pesca, onde predominam
os tubarões e as raias. Já os sítios “úmidos” estão voltados para as lagoas e as áreas
inundadas. A pesca é orientada para a captura de peixes estuarinos.
Em muitos sítios, essa distinção o parece muito clara; apresentam características
dos dois tipos, como se fossem mesclados. Utilizando-se apenas os sítios com datações,
para o estado do Rio de Janeiro nove nitidamente “secos” e 12 “úmidos”. Os mais antigos,
na faixa de 5000 anos AP seriam os de Camboinhas, do Forte, Geribá II e aqueles, na faixa
de 4000 anos, seriam os de Salinas Peroano, do Condomínio e o sambaqui de Manitiba I.
Na faixa de 3000 anos AP, há os sítios Boca da Barra, Ponta da Cabeça, Ilhote do Leste.
Quanto aos úmidos, predominam na faixa de 4000 anos, estando representados
pelos sítios Corondó, Beirada, Moa, Ury e Malhada. Na faixa de 3000, os sítios Amourins,
IBV e IBV III figuram como representantes.
ccxix
Existem duas hipóteses para explicar a existência desses dois tipos de sítios:
A primeira: Os “úmidos“ seriam formados pelos mesmos grupos que criaram os sítios do
Corondó e da Malhada, possivelmente grupos da Tradição Itaipu que teriam chegado e se
alojado mais ao interior, embora mantivessem intenso contato com outros com cultura
sambaquiana. Os sambaquianos e aqueles pertencentes à Tradição Itaipu poderiam ter
compartilhado o litoral do Rio de Janeiro por quase dois milênios, provavelmente até a
chegada dos ceramistas.
A segunda: Depois de um longo período de transgressão marinha, ocorrido por volta de
4000 anos AP, teria havido um grande recuo do mar. Dessa dinâmica marinha formar-se-
iam grandes lagunas, oferecendo abundância de alimentos de fácil obtenção. Isso teria
atraído grupos sambaquianos que se voltaram para a exploração lacustre, embora
continuassem, com menor intensidade, sua economia marinha.
As diferenças verificadas na cultura material e no padrão de assentamento apontam
para a primeira hipótese. Ao mesmo tempo, a forte e estruturada ligação com o mar da
cultura sambaquina a tornaria pouco provável.
No período enfocado neste trabalho, entre 3000 e 2700 AP, segundo o modelo de
Martin et al (op.cit), teria havido um outro momento de grande recuo do mar e, se isto for
certo, a opção anterior de ocupar as lagoas não foi novamente a adotada pois, a partir das
datações disponíveis, observa-se que novos sítios não surgiram nessa época. Tal fato
corrobora a autenticidade das datações recuadas que Ângela Buarque vem obtendo para a
chegada de grupos ceramistas no litoral do Rio de Janeiro (comunicação pessoal, dezembro
ccxx
de 2000). Por outro lado, o sítio da Ponta da Cabeça (Tenório et al op.cit), cuja ocupação
teria se iniciado cerca de 3200 anos AP, provavelmente estaria no seu auge ocupacional
no período abordado. Pela dimensão de sua área, cerca de 1700m
2
, somando-se sua
provável extensão aos sítios Colônia de Pesca, dunas de Massambaba I, II,III, presume-se
que fosse densamente populoso, o que poderia estar indicando uma estratégia defensiva.
Assim sendo, o litoral do Rio de Janeiro, no período
enfocado, apresentaria poucos sítios ativos, provavelmente o
sítio do Algodão, aqueles localizados na Ilha Grande (Tenório
op.cit.), o sambaqui de Saquarema (Kneip et ali 2001: 14) e o sítio
Ponta da Cabeça. Estes dois últimos estão localizados em ponta
e é muito provável que estivessem separados do continente
antes da formação das restingas que os unem atualmente.
Amador (1987) pôde observar essa separação em Arraial do
Cabo, na Praia Grande, onde a restinga ainda não tinha se
formado completamente na época do início da ocupação do sítio
Ponta da Cabeça. Outra semelhança entre esses sítios é a
constatação de uma grande ênfase na pesca. Outro dado
importante é que próximo ao sítio Ponta da Cabeça, como nos da
Ilha Grande, são encontrados também amoladores-polidores
fixos.
Caso tivesse ocorrido a busca de refúgio em áreas isoladas, isto incentivaria o uso
ccxxi
de canoas ou assemelhados para que os contatos fossem feitos por mar.
Considerando-se as limitações decorrentes da escassez de datações,
somadas ao fato de que, em sua grande maioria, trata-se de datações
convencionais, o modelo apresentado teve por objetivo montar um leque de
possibilidades que apresentasse uma visão panorâmica da ocupação do litoral do
estado do Rio de Janeiro, no período abordado.
ccxxii
Figura 37
– Área 6.
LEGENDA:
1 – São José
2 – Gravatá
3 – Tambor
4 – Batelão
5 – Entulho
6 – Jacaré
7 - IBV4
8 – IBV2
9 – IBV1
10- IBV3
11- Campos Novos
12 – Corondó
13 – Malhada
14 – Fazenda Malhada
15 – Rumo
16 – Estrada de Ferro
17 – Morro do Índio
Fonte IBGE
Escala 1:50.000
2.000m
1.000m
0
3. Delimitação e caracterização da área de estudo
A área deNossa pesquisa está localizada no extremo sul do Estado do Rio de
Janeiro, englobando duas baías separadas pela Ilha Grande, as baías da Ilha Grande e a de
Sepetiba e duas áreas de concentração de sítios. Este recorte foi delimitado pelo
pressuposto de que corresponde a uma área de ocupação arqueológica. Usando este espaço
como pano de fundo o foco do presente trabalho está na Ilha Grande.
Baía da Ilha Grande
A baía da Ilha Grande ocupa 1.736 km² de área formada por uma reentrância de 30
milhas WSW de costa, originando uma baía (Vieira de Mello 1987). A parte continental
apresenta uma estreita faixa litorânea, restringida pela proximidade da Serra do Mar e
caracteriza-se por apresentar um litoral recortado e escarpado com numerosas enseadas,
baías, pontas e ilhas nos trechos afogados do relevo continental. Os paredões abruptos
encontrados em algumas praias, formados pelo fracionamento do escudo cristalino, dão
origem a abrigos ou tocas.
As praias são pouco desenvolvidas, aparecem ao das escarpas ou
acompanhando as planícies dos cursos d’água, que têm origem na Serra do
Mar. No fundo de enseadas abrigadas, onde constante deposição de
ccxxiv
sedimentos carreados pelos rios, ocorrem manguezais. Segundo Andrade
Lima “considera-se que o município possui uma das maiores concentrações
desse tipo de ecossistema de toda costa sul/sudeste.” (Andrade Lima
1991:102).
No contexto tectônico da Faixa Ribeira Central, a região da Baía da Ilha Grande
está situada, predominantemente, no segmento limítrofe entre os Terrenos Ocidental e
Oriental. Em relação ao primeiro, afloram as unidades litológicas associadas à porção
setentrional do Domínio Tectônico Juiz de Fora. no contexto Oriental, ocorrem as
unidades de origem ígnea inseridas no Domínio Tectônico Costeiro, destacando as rochas
relativas ao arco magmático Rio Negro e o charnoquito – enderbito Ilha Grande (Valeriano
2001:23)
O clima é tropical quente subúmido, com subseca. Clima variável no sentido litoral-
serra, de quente a mesotérmico brando (Fernandes 2001:7). O Índice de pluviosidade é
bastante elevado e bem distribuído o ano todo, variando de 1.500 a 2000 milímetros
anuais.(Id. Ibid).
Baía de Sepetiba
A baía de Sepetiba pode ser vista como uma continuação da baía da Ilha Grande, é
delimitada ao sul por esta Ilha e ao norte pela baixada de Guaratiba. Está cercada pela
restinga de Marambaia que atua como uma Ilha - barreira, junto com a Ilha Grande forma
um canal que lhe oferece uma feição de uma laguna costeira. Ao fundo, formada por
sedimentos depositados pelas oscilações marinhas e pelos rios, está a Planície de Maré de
ccxxv
Guaratiba. Segundo Ferreira e Oliveira (1987:32) está topograficamente entre 0 a 3 metros
acima do nível do mar. Esta unidade representa a transição entre os ambientes marinho e
continental, achando –se cortada por inúmeros canais de maré (Id.ibid:31).
O clima encontrado na baixada é o mesmo presente na baía da Ilha Grande.
Segundo Araújo (1987:49), é lícito supor-se que haveria 4 tipos de florestas na
região da Baixada de Guaratiba – Sepetiba: a Floresta Pluvial Atlântica, nas encostas e nos
morros; a floresta paludosa, nos campos alagados; a floresta do manguezal que sofria a
influência das marés e a dos cordões arenosos que ocorria a beira mar.
A Ilha GrandeCaracterização da área
A Ilha Grande constitui-se de um fragmento do maciço litorâneo de cerca de 190
km² de área. No seu perímetro de 155 km são encontradas 47 praias de tamanhos variados.
Vegetação:
A Ilha Grande é coberta, em grande parte, por mata pluvial Atlântica, ocorrendo
também vegetação de restinga, de litoral rochoso e de manguezal. Segundo Oliveira
(1999:13), utilizando-se a classificação fitogeográfica de Hueck (1972 apud Oliveira ibid),
a Ilha Grande faz parte da mata pluvial costeira, sendo a sua vegetação incluída na mata
pluvial tropical das encostas montanhosas do trecho sul, estrato altitudinal inferior,
caracterizada pela existência de grande umidade do ar trazida pelos ventos marítimos e que
precipita-se na costa sob a forma de chuva ao subir para as camadas mais frias das altitudes
ccxxvi
maiores. Conforme Rizzini (1979 apud Oliveira ibid), a floresta da Ilha Grande pode ser
classificada como floresta pluvial baixo-montana, caracterizada por um estrato arbóreo
com 20-25 m e um estrato arbustivo denso, com ocorrência de lianas, palmeiras e epífitos.
De acordo com Veloso et al. (1991 apud Oliveira ibid.), a Ilha Grande situa-se no domínio
da floresta Ombrófila Densa.
Clima:
O clima da região é quente e úmido, com temperatura média anual de 24
°
C, sem
ocorrência de estação seca definida (Oliveira op.cit:14), com temperatura média de 25° no
verão e de 14° no inverno. (Nesi 1987:9). A presença marcante da Serra do Mar é
responsável pelas variações de temperatura durante o ano. Essa serra intercepta os ventos
úmidos vindos do litoral, favorecendo as chuvas de relevo. A pluviosidade é elevada
atingindo totais que variam 1.500 mm a 2000 mm, sendo que os meses de maior incidência
de chuvas vão de dezembro a março. A umidade relativa do ar é de aproximadamente 80%
o ano todo. (FEEMA 1978).
Relevo:
Seu relevo é bastante acidentado, cortado por inúmeros canais de drenagem.
(Figura 35). É cortada em sentido longitudinal por uma cadeia de montes, entre os quais
destacam-se o Pico da Pedra d’Água, com 1.030 m.s.m. e o Pico do Papagaio com 959
m.s.m. (Oliveira op.cit.11).
ccxxvii
Hidrografia
Embora, atualmente, seja observada uma grande quantidade de leitos de rios secos,
ainda é notável a abundância d’água potável. A Ilha é cortada por pequenos rios destes,
destacam – se o Capivari,
Proximidade do continente
Seu ponto mais próximo do continente (Freguesia de Santana) é cortado por um
canal de dois quilômetros de largura e 80 metros de profundidade. Dista 12 milhas da
cidade de Angra dos Reis e 15 milhas da cidade de Mangaratiba (FEEMA 1985).
Geologia/Geomorfologia
A Ilha Grande, em nível geológico-regional, relaciona-se aos mesmos eventos que
deram origem à Serra do Mar, à Serra da Mantiqueira e aos maciços litorâneos. A
diferença é que o maciço litorâneo, a partir do qual a Ilha se originou,desenvolveu-se em
um outro bloco, falhado, menor e paralelo à Serra do Mar (Lamego, 1945 apud Oliveira
op.cit:15). O fato de ter uma mesma origem geológica aumenta a sua representatividade
em relação à Mata Atlântica, o que acentua a similaridade geomorfológica e ecológica com
a Serra do Mar.
Amador (1987:86) caracterizou a geologia da Ilha, constituída durante o período
pré-Cambriano, como representada por rochas metamórficas de médio a alto grau.
Predominam as rochas da suíte charnockítica (quartzitos) e granitóides porfiroblásticos da
ccxxviii
unidade Ilha Grande, bem como diques de diabásio, basalto, olivina-diabásio e gabro,
como rochas intrusivas básicas. O Quaternário é bem representado pelas deposições
sedimentares nas planícies costeiras das praia do Sul, Lopes Mendes e Parnaioca. Os solos
da região são, na sua maioria, litossolos, cambissolos e latossolos vermelho-amarelados,
(Magnanini & Fernandes, 1986 apud Oliveira op.cit.12). A presença de matacões é
freqüente nas encostas.
Em termos litológicos, o Domínio Tectônico Costeiro aflora na Ilha Grande
constituído pelas unidades Granito Porfirítico Dois Rios, Complexo Rio Negro, no litotipo
horneblenda biotita gnaisser e pela Suíte Charnokitica. Estão presentes também sedimentos
quaternários flúvio-marinhos (Fernandes 2001,:33-45; Valeriano 2001:27-30 ) (Figura 38).
213
Legenda
Litologia
Sedimentos Quaternários (Flúvio-Marinhos + Encosta)
Granito Porfirítico – Dois Rios
Suíte Charnockitica Ilha Grande
Horneblenda – Biotita Gnaisser – Car Rio Negro
Figura 38 - Mapa Geológico da Ilha Grande, Estado do Rio de Janeiro.
214
Caracterização das praias
Em relação às características das praias, a Ilha Grande pode ser dividida em 3
ambientes marinhos distintos (Figura 39):
a) a parte continental, com enseadas próximas ao continente e deste separada pelo
canal de Cairuçu, delimitada pela Freguesia de Santana e pela Ponta do Castelhano;
b) o lado oeste, que se estende da praia do Bananal à Ponta do Acaiá;
c) o lado mais meridional, voltado para o alto mar, delimitado pela Ponta do Aca
e a Ponta de Castelhanos. Esta parte, em função da dificuldade de acesso, pode ser
subdivida em duas áreas: a pertencente à Reserva Biológica Estadual Praia do Sul e
a área que se estende da antiga Colônia Penal a praia de Dois Rios.
A parte continental apresenta praias pequenas e dias, com estreita faixa de areia,
águas muito calmas e muita umidade, formada pela vegetação densa e pelos cursos d’água
sempre presentes. Nela encontra-se um rio de grande porte, o rio da Camiranga.
Nessa parte da Ilha estão as praias de mais fácil acesso para quem vem do
continente. Foram as primeiras visitadas e colonizadas pelos europeus e nelas ergueram-se
as primeiras casas de moradores que trabalhavam no abastecimento de navios, no século
XVI. Algumas dessas praias, as maiores, constam nos mapas, mas a grande maioria é
conhecida apenas pela população, que informa diferentes nomes. São elas:
215
1. Freguesia de Santana
2. Japariz
3. Guaxuma
4. Do Funil
5. Saco do Céu
6. De Fora
7. Camiranga
8. Da Fazenda
9. Iguaçu
10. Da Feiticeira
11. Preta
12. Abraão
13. Do Abraãozinho
14. Da Júlia
15. Do Cais
16. Comprida
17. Do Morcego
18. Das Palmas
19.
Dos Mangues
20. Itaoca
21. Da Aroeira
22. Do Recife
23. Do Castelhano.
216
A parte oeste, que atualmente apresenta vegetação muito alterada pelo homem, era
onde se localizavam as indústrias de sardinha na primeira metade deste século. Fica na
fronteira do “mar ruim” com o mar bom”, termo usado pela população para definir o mar
calmo e o mar agitado. Apresenta praias médias e grandes, protegidas. É por onde os
moradores da praia do Aventureiro, depois de atravessarem a llha por terra, saem para o
continente, e, também, onde ancoram seus barcos nas épocas de “virada de mar”. Esta
parte é constituída por 15 praias.
1. Bananal Pequeno
2. Bananal
3. Matariz
4. Jaconema
5. Passaterra
6. Portinho
7. Maguariquissaba
8. Do Marinheiro
9. Sítio Forte
10. Tapera
11. Ubatuba
12. Longa
13. Vermelha
14. Araçatiba
15. Grande de Araçatiba
217
O lado mais meridional caracteriza-se por constituir-se de praias grandes, com
larga faixa de areia e mar “batido”. O acesso a essa parte da Ilha é muito dificultado pois,
excluído o verão, ao longo de praticamente todo o ano, é muito difícil passar com
embarcações pequenas pela Ponta do Drago, no lado oeste, e pela Ponta do Castelhano, no
lado leste.
A praia do Provetá serve de abrigo e quando o mar está muito forte a população
utiliza a trilha para chegar a esta praia e de seguir para o continente. O acesso à área da
Reserva Biológica Praia do Sul é mais previsível quando feito pelas trilhas da Longa e do
Provetá. Através de pequenas embarcações, como canoas, esse acesso estaria restrito ao
verão ou a épocas de mar muito calmo. Segundo “Vovô”, morador da praia do
Aventureiro, é possível, durante o verão, chegar ao continente de canoa. Ele afirma,
inclusive, ter feito esta viagem e levado cerca de um dia até a parte continental mais
próxima. As trilhas, embora estejam localizadas em antigos caminhos d’água, ainda
cortam um relevo muito íngreme. Nesta parte, estão localizadas as únicas lagunas da baía
da Ilha Grande e aonde estão localizados os sítios pesquisados a partir de escavações
sistemáticas. É constituída das seguintes praias:
1. Provetá
2. Dos Meros
3. Aventureiro
4. Do sul
5. Do Leste
6. Parnaioca
7. Dois Rios
218
8. Santo Antônio
9. Lopes Mendes
219
220
Entorno marítimo
Por toda à volta da Ilha Grande podem ser encontrados pesqueiros acessíveis por
canoas que oferecem pescado necessário para subsistência. (Figura 40) A pesca mais
intensa é desenvolvida através do uso de embarcações maiores a motor, em áreas distantes
da Ilha e depende da época de ocorrência de cada espécie. A pesca da lula, realizada no
verão, é a única exceção, é muito intensa e seu excedente é vendido no mercado de Angra
dos Reis. A área de maior ocorrência é na ponta do Aventureiro e à volta do Ilhote do
Leste, ambos localizados na Reserva Biológica Estadual Praia do Sul - RBEPS. A presente
pesquisa se aprofunda nesta área, que engloba as praias dos Meros, Aventureiro, Demo,
Sul, Leste e Parnaioca.
ii
4. Ilha Grande : Diferentes utilizações do espaço no tempo.
É muito fácil, mesmo depois de muitos anos de visitação à Ilha Grande, se
ter a falsa idéia de freqüentar um paraíso, um lugar onde as populações caiçaras
vivem exatamente como seus ancestrais indígenas viveram, num ambiente de
fartura, onde a riqueza de recursos alimentares permite e sempre permitiu uma
exploração ambiental satisfatória.
No entanto, a história da ilha Grande pode ser dividida em 13 fases distintas
segundo a economia e padrão de assentamento que evidenciam como uma mesma
paisagem pode apresentar realidades distintas, criadas por sistemas sociais e dinâmicas de
ocupação diferentes.
Período inicial: extração
1. Ocupação por pescadores, coletores, caçadores (cerca de
3000 AP.); toda a Ilha.
2. Ocupação por grupos ceramistas (?);
3. Ocupação indígena na época do contato com o europeu
(1554 – 1557); parte continental.
iii
Período Médio - extração
4. Ilha como centro de abastecimento de embarcações (1580);
parte continental. (Provavelmente da ponta de Castelhano à
praia de Ubatuba)
5. Primeiro período de isolamento
6. Ciclo do contrabando: pau–brasil e escravos; parte
continental. (Provavelmente da ponta de Castelhano à praia de
Ubatuba).
7. Período da pirataria; redor marítimo e parte continental.
Período da domesticação
8. Ciclo da lavoura ou das grandes fazendas de escravos, cana-
de-açúcar e de café; parte continental (Freguesia de Santana).
9. Povoamentos oriundos de fazendas decadentes:
surgimento das aldeias caiçaras; toda a Ilha.
10. Pesca e Indústria da sardinha; lado leste.
11. Presídios; influência por toda a Ilha.
12. Isolamento, decadência das aldeias e venda de terras; toda a Ilha.
Período atual
13. Ciclo do turismo; toda a Ilha.
iv
1. Ocupação por caçadores coletores pescadores
Excetuando as informações obtidas durante as pesquisas desenvolvidas para a
presente tese de doutoramento, as informações existentes sobre a ocupação pré-histórica na
Ilha Grande são encontradas no artigo de Magnanini (1984), onde é relatada a presença de
amoladores fixos na Reserva Biológica Praia do Sul; no de Gaspar e Tenório (1990), onde
é apresentada uma reflexão sobre amoladores polidores fixos em geral e, também, sobre os
existentes na mesma Reserva, com uma abordagem superficial; e os trabalhos
apresentados em congressos (Tenório, 1988; Tenório, 1992; Tenório, 1995), que serão
utilizados no decorrer da presente tese de doutoramento.
2. Ocupação por grupos ceramistas
No que se refere ao período ceramista, foram encontrados apenas 17 cacos
cerâmicos. A partir da análise do material pode-se concluir que, à exceção de quatro cacos
pertencentes a um mesmo vasilhame encontrado na superfície do sítio Ilhote do Leste, que
pode ser filiado à tradição tupi-guarani, todo material cerâmico coletado e registrado nas
prospecções realizadas em toda Ilha Grande pode ser classificado como cerâmica cabocla.
3. Ocupação indígena na época do contato com o europeu (1554 –
1557)
10
10
Para o levantamento histórico, utilizamos relatos de moradores da praia do Aventureiro, pesquisas
publicadas realizadas por antigos moradores como Waldir Nesi, Orestes Ribeiro e pelo historiador angrense,
Carl Egbert Hansen Vieira de Mello, além dos trabalhos citados na bibliografia.
v
3.1 Informações sobre os Tupinambá na Ilha Grande
Consta na história da Ilha Grande (Vieira de Mello, 1987; Capaz, 1988; Nesi, 1990)
que, na época da chegada do europeu ao Rio de Janeiro, a Ilha era ocupada por grupos
indígenas. Estes autores se baseiam principalmente nos relatos de Staden (1968), Lery
(1585, 1926), Thevet (1978), Soares de Souza (1971) e Knivet (1875/1947), além de outros
autores modernos como Capistrano de Abreu (1960 apud Capaz,1988:15), Quintiliano
(apud Nesi:53 1990), Niemuendajú (1981) e Lamego (1964).
Walter Nesi (op.cit:23)
11
, levantando a história da Ilha Grande e apoiando-se em
Staden , informa também que ela seria ocupada pelos tupinambá.
Em Staden, a informação de tratar-se da baía da Ilha Grande o local por onde
passou depois que foi presenteado a Cunhabebe só aparece na tradução de Alberto
Löfgren, edição de 1968, não aparecendo na tradução do original alemão. Ao mesmo
tempo, a figura desenhada por Staden (op.cit.), onde consta uma ilha com a inscrição Ipaun
wasu que, segundo Nesi, é o mesmo que Ipaú guassu (Ilha Grande), informa que era
conhecida e não que fosse habitada por indígenas. Além disso, na gravura, o aparecem
indígenas na Ilha, apenas no continente. A esses soma-se o fato de que a cena retratada
teria ocorrido em Ubatuba, muito distante da Ilha, o que mostra não houve nenhuma
intenção cartográfica na elaboração da figura, que é apenas ilustrativa. Provavelmente,
mais tarde, já na Europa, quando Staden elaborou ou encomendou as gravuras em madeira,
11
Waldir Nesi trabalhou como cirurgião-dentista do Serviço Odontológico do Instituto Penal Cândido
Mendes, em Dois Rios, de 1974 a 1980. Em 1990 teria publicado Notícias históricas da Ilha Grande.
vi
teve a informação da existência de uma Ilha Grande na região e, embora não soubesse seu
local preciso, resolveu colocá-la na ilustração da cena.
Capaz (1988:15), utilizando o mesmo relato de Staden, informa o oposto, que os
Tupinamque aprisionaram Staden teriam evitado a Ilha Grande, o que poderia indicar
que a Ilha teria sido ocupada pelos Guaianazes.
Os relatos de cronistas utilizados para informar sobre a ocupação indígena na Ilha
Grande são imprecisos em termos de localização. Falam em baía da Ilha Grande, costa de
Angra dos Reis e, muitas vezes, m suas informações utilizadas para historiar
determinados locais mais específicos, como é o caso de Gabriel Soares de Souza
(1587/1971) A partir do levantamento nos livros de registro de sesmaria, Waldir Nesi
(op.cit.:121) constatou que a denominação Ilha Grande engloba toda área entorno da baía
da Ilha Grande. Constatou também que o antigo nome da cidade de Angra dos Reis era
Vila de Ilha Grande e que, provavelmente, era lá, e o na Ilha Grande, que Martim de
aguardava Knivet enquanto este negociava com o índios. (Knivet, op.cit. :61)
Segundo Nesi (op.cit.), Lery teria afirmado que na Ilha Grande moravam
Tupinam e Temiminó, pois no capitulo XV este cronista teria falado de uma aldeia
Maracajá massacrada na Ilha Grande. Nesi não se deu conta que a Ilha Grande de Lery era,
na verdade, a Ilha do Governador (Milliet in Lery, op.cit.: notas), o que pode ser
confirmado pelo relato do massacre.
12
Apenas o relato do padre José de Anchieta, em carta ao padre Diogo Mirão, no ano
de 1565, parece ser preciso em relação a localização do fato, quando narra a ocorrência de
12
No relato de Lery (1980:201), um grupo Maracaiá foi massacrado na Ilha Grande e, da Ilha Villegagnon
se podia ouvir os gritos, e também que alguns indígenas fugiram a nado até eles. Situação improvável, pois a
Ilha Grande fica a setenta milhas da cidade do Rio de Janeiro.
vii
um ataque a uma aldeia Tupinambá, na Ilha Grande, enquanto esperavam a nau capitânia
para chegarem ao Rio de Janeiro:
”Os mamelucos e índios enfadados de esperar... e forçados pela
fome.. determinaram de o ir buscar numa aldeia de Tamoios que
estava daí a 2 ou 3 léguas e queimaram-a, matando um contrário,
e tomando um menino vivo..com essa vitória se mudaram todos ao
outro porto da mesma Ilha, onde tinha muita abundância de peixe e
carne; a saber bugios, cotias e caça do mato. (Anchieta,
1933:247).
Se, por um lado, este trecho da carta de Anchieta pode indicar a presença do
Tupinamna Ilha Grande em 1565, por outro, parece indicar também que não se trataria
de uma ocupação antiga, bem estabelecida e, sim, decorrente de uma intensa
movimentação e desestruturação social promovida pelo contato com o europeu e por uma
situação de guerra. Neste relato, Anchieta informa que o ataque teria sido realizado por
alguns poucos indivíduos, que teriam forçado os indígenas a correrem para o mato. Assim,
é possível supor que o grupo atacado fosse bem pequeno e não oferecesse perigo, mesmo
estando nas redondezas do acampamento. Esse fato também parece indicar que não havia
outras aldeias Tupinambá na Ilha Grande, que pudessem ser acionadas para virem em
socorro do grupo atacado. Se não fosse assim, não teriam desembarcado em terra. Em
outro trecho desta mesma carta, isto é confirmado quando Anchieta informa que em
território Tamoio correriam o risco de passar fome, pois seria muito perigoso saltarem em
terra - teriam de “pousarem em terra em algumas ilhas“. (Anchieta 1933:246).
viii
Segundo Knivet , o corsário Thomaz Cavendish, ao aportar na Ilha Grande em 5 de
dezembro de 1591 encontrou um núcleo de cinco ou seis casas, habitado por portugueses e
índios que cultivavam mandioca, batata doce e bananas e criavam galinhas. A presença
desses poucos portugueses parece indicar também que não haveria Tupinambá na Ilha.
Mesmo que a Ilha Grande tenha sido, em algum momento, ocupada pelos
Tupinambá, provavelmente, pelo relato de Anchieta, teriam escolhido o lado continental da
Ilha, voltado para o canal de Cairuçu. Segundo Lery, embora os Tupinambá fossem
exímios remadores, não costumavam se distanciar da costa. O desenho de suas canoas,
chatas com calado baixo, não permitia enfrentar um mar mais agitado.
“Se vão por água como fazem muitas vezes, beiram sempre a
costa nas suas igát feitas de uma casca de árvore... que são
grandes comportam cada uma de quarenta a cinquenta pessoas...
Verdade é que não suportam mar alto e agitado e muito menos as
tormentas... (Lery,
op.cit.
:187)
O que é confirmado por Staden:
“Se o mar está agitado , arrastam o barco para a terra.... Não
ousam afastar-se mais de duas milhas no mar, mas navegam
trechos muito grandes ao longo da costa. (Staden,
op.cit.
:160)
Na Ilha Grande, são relativamente poucas 12 em 103 as praias portadoras de
nome indígena: Provetá, Parnaioca, Itaoca, Japariz, Guaxuma, Iguaçu, Araçatiba, Ubatuba,
ix
Tapera, Maguariçaba, Passaterra, Matariz. A maioria está concentrada na parte mais
próxima do continente, perto de Freguesia de Santana, excluíndo Itaoca, que está
localizada na enseada de Palmas, e Provetá e Parnaioca, que se encontram no lado do mar
aberto. Estas praias servem de abrigo do mar bravo para quem tenta chegar ao lado
oceânico da Ilha. Segundo Capaz (op.cit.:35), Parnaioca significa em tupi, abrigo do mar, o
que seria a verdade para quem viesse de canoa da praia de Dois Rios para as praias que
pertencem à Reserva Biológica Estadual Praia do Sul.
Nas propecções, realizou-se um grande número de entrevistas com antigos
moradores que muito tempo costumam trabalhar em roças e nenhuma
informação foi obtida sobre antigas aldeias indígenas ou sobre locais onde
encontraram restos de vasilhames enterrados. Se existissem aldeias indígenas na
Ilha Grande na época do contato, poder-se-ia deduzir, a partir dos relatos, que
elas estariam provavelmente próximas à atual cidade do Abrãao, à praia da
Freguesia de Santana ou à enseada de Palmas. Essas seriam as localidades
mais propícias para desembarque e para o abastecimento de navios. Relatos
posteriores informam que nessas praias teria se iniciado a colonização da Ilha
Grande. Nos dois primeiros casos, as informações podem ter desaparecido: na
cidade do Abrãao, em função do grande número de construções que teriam
destruído os sítios arqueológicos; na Freguesia de Santana a dificuldade na
obtenção de informações reside no fato de não existirem mais comunidades
caiçaras no local, que a área foi vendida, mais de 30 anos, para o Banco
Boavista. Quanto à enseada de Palmas, ela foi intensamente prospectada, a partir
de várias visitações e não se obteve registro de ocupações ceramistas.
x
3.2 Informações sobre os Guayanã na Ilha Grande
No mapa de Curt Nimuendajú consta a informação da Ilha Grande povoada pelos
Guayanã no século XVI. Nimuendajú relaciona os Guayanã aos Kaigang e ao tronco Gê.
Mas não fica claro de onde tirou a informação, já que no índice bibliográfico temos, juntos,
todos os autores que teriam informado sobre o posicionamento dos Guayanã no território
brasileiro dos séculos XVI ao XIX, e não somente na Ilha Grande, no século XVI.
Constam da listagem os seguintes autores e obras: Von Martius (1867), Soares de
Souza, (1587/ 1851); Von Hering, 1904; Knivet (1591/1906); Léry (1555/1893); Staden
(1554/1893); Moraes Torres (1852); Casal (1816/1833; Jaboatam (1761); Leão (1910);
Mapa jesuítico, (1662) e Serrano (1936). Desses autores, apenas quatro pertencem ao
século XVI: Soares de Souza, 1851; Knivet, 1591; Léry, 1555; Staden, 1554, além do
mapa jesuítico,1662. Provavelmente, Nimuendajú baseou-se neles para afirmar que a Ilha
Grande teria sido habitada por grupos Guayanã nesta época.
Consultando esses autores, constata-se que:
Léry (1893:281) se refere aos Ueanã como “selvagens ainda mais bárbaros que
vivem entre florestas e montanhas” que, segundo Plinio Ayrosa apud Léry:299 tudo nos
leva a crer que seja Ueanã, uma das variantes do nome Guaianã ou Guaianá, vulgar na
etnografia brasileira. Staden (1999:134-135) relata que “os Guaianá, uma tribo de
selvagens, habitam as montanhas mas não possuem locais fixos de morada como aqueles
dos selvagens que vivem na frente ou atrás da serra... Os Guaianá são inimigos de todas as
outras tribos... fazem expedições de guerra com freqüência. Os Guaianá da serra vivem nas
xi
proximidades dos Tupinambá, que são perseguidos terrivelmente por uma tribo fixada
entre eles e os Guaianá, a dos Maracaia.
Gabriel Soares de Sousa descreve bem a Ilha Grande de 1587. Chega a detalhar a
ilha do Jorge o Grego, mostrando que chegou também a praia de Dois Rios, o que pode
indicar que os limites de navegação estariam entre a ponta de Dois Rios e a ponta Grossa
de Sítio Forte. No entanto, a área mais protegida está entre a Freguesia de Santana e a
Ponta do Castelhano. Estas devem ser as duas bocas da Ilha Grande delimitadas por dois
penhascos, informada por Soares de Sousa (op.cit.:108). Este autor também informa sobre
a existência de dois portos
13
e sobre o quanto a Ilha estaria próxima do continente. Ele
deveria estar se referindo à Freguesia de Santana, que fica a 20 minutos de canoa do
continente
14
. Na descrição não fala de indígenas na Ilha.
No capítulo XVII, falando sobre os Guayanã, Soares de Sousa (op.cit.:115) em
nenhum momento informa que habitavam a Ilha Grande, muito pelo contrário. O autor
informa que moravam na serra e que de não saiam para lutar com contrários, pois “não
sabem pelejar no mato, fora de onde vivem... nos campos”, e que moram em “casas
cavadas no chão”. Essa última afirmativa parece indicar que se trata de uma adaptação de
planalto. Por outro lado, Soares de Sousa informa, também que, quando Martim Afonso de
Sousa fundou São Vicente, como medida de segurança, teria assentado os Guayanã nesta
Ilha, “que é gentio que a possuía e assenhorava daquela costa até contestarem com os
tamoios” (Soares de Sousa, op.cit.:111). Ainda segundo este autor, os Guayanã dominavam
a costa de Angra dos Reis a Cananéia.
13
Os dados obtidos indicam que um dos portos estaria entre a praia de Tapera e Freguesia de Santana e o
outro na atual vila do Abraão ou na enseada de Palmas.
14
Informação fornecida por moradores.
xii
Antony Knivet teria estado duas vezes na Ilha Grande em 1591 e não informa sobre
a presença de aldeias indígenas. Informa, sim, sobre a presença de pequenos núcleos de
casas com portugueses. Segundo este autor, no ano de 1591 os Guayanã teriam se aliado
aos portugueses e com estes expulsado os Tamoio para o sertão. Nesse momento teria
ocorrido uma inversão, com os Guayanã na costa (alguns assentados em São Vicente) e os
Tamoio no interior, o que é confirmado também por Soares de Sousa (op.cit. :109).
Em nenhum momento, Staden, Léry, Anchieta, Soares de Sousa ou Knivet afirmam
que os Guaya habitavam a Ilha Grande, embora todos concordassem que este grupo
falava uma língua diferente.
Observando o mapa de Nimuendajú, constata-se que teria sido pouco provável que
os Guayanã habitassem a Ilha Grande, que consta nesse mapa uma barreira Tupinambá
entre os Guayanã da Ilha Grande e os da serra. haveria uma explicação para estarem na
serra e na Ilha Grande: se, em algum momento, tivesse havido uma repentina descida
Tupinam do norte do estado para se alojar na costa entre o Rio de Janeiro e Parati,
empurrando o Guayanã para a Ilha e para a serra. Este fato seria mais provável do que a
proposta de Capaz (op.cit.:15), segundo a qual, em determinadas épocas do ano, os
Guayanã desceriam a serra para irem habitar uma ilha. Embora existam informações sobre
povos que viriam ao litoral em determinadas épocas do ano para pegarem farinha de peixe
(Staden, op.cit.:140), seria pouco provável que dispusessem de todo o arsenal tecnológico
necessário para explorarem a Ilha no lugar de tirarem os recursos na costa mas próxima,
mesmo que esta fosse habitada por grupos inimigos.
xiii
Quando Staden e Léry estiveram na baía da Ilha Grande, provavelmente os
Guayanã estivessem na serra. Mais tarde, com a saída dos franceses e o enfraquecimento
dos Tupinambá, os Guayanã, aliados dos portugueses e aculturados, desceram para a
costa.
Pelo que foi colocado acima parece pouco provável que a
Ilha Grande tivesse sido efetivamente ocupada por grupos
ceramistas. Tudo indica que os amoladores polidores fixos
encontrados estão relacionados apenas a grupos pré -cerâmicos.
4 . Ilha como centro de abastecimento de embarcações (1580)
No século XVI, a Ilha Grande (Anchieta, Knivet, Martim de Sá) teria sido um
importante centro de abastecimento de embarcações, utilizada para obtenção de água e
alimento, tanto pelos portugueses, para evitar os tamoios no continente, como por piratas e
corsários (Knivet,1591) e por contrabandistas (Vieira Melo, op.cit.:45.) para evitar a
fiscalização portuguesa. Por causa disso, a Ilha nessa época apresentava pequenos núcleos
populacionais onde habitavam indivíduos que viviam do comércio que teria surgido por
este abastecimento.
“Entre a Europa e esta última (bacia do Prata), os portos mais
convenientes para o reabastecimento de água e lenha eram os
seguros ancoradores da Ilha Grande, Porcos, São Sebastião e
Santa Catarina... os flibusteiros somente na Marambaia ou na Ilha
Grande encontravam o repouso necessário, pois ali não eram
xiv
molestados pelos portugueses.“. (Padre Labat
apud
Vieira de
Mello,
op.cit..
:28).
Tendo por objetivo colonizá-la, Martim Afonso de Souza doou a Ilha Grande ao
doutor Vicente da Fonseca por carta de doação passada em Lisboa a 24 de janeiro de 1559.
Este, porém, nunca veio tomar posse dessas terras. (Vieira de Melo, op.cit.: 67).
5. Primeiro período de isolamento
Para proteger a costa dos piratas e contrabandistas, Felipe II, de Espanha, resolveu
manter uma guarda costeira nomeando seu comandante Martim de Sá, em 20 de abril de
1617. (Vieira de Mello, op.cit.: 27). Pouco depois, ficou proibida qualquer radicação de
pessoas na Ilha Grande, situação que persistiu apouco antes do século XVIII. Segundo
Labarbinais, em 1714, a Ilha era desabitada. Em 1725 continuava desabitada. em 1764
é que são registradas duas casas na Ilha Grande: uma na praia do Morcego e outra na
enseada da Estrela. (Vieira de Mello, op.cit. :15).
6. Ciclo do contrabando: pau – brasil
Mesmo com a proibição da fixação de habitações, o contrabando continuou na Ilha
Grande. No final do século XVI, Portugual mantinha rigoroso controle sobre comércio de
suas colônias e esse monopólio se refletia na escassez da moeda corrente. O contrabando
com o Peru trazia para o Brasil ouro e prata, comerciava-se com os navios clandestinos,
não mais se utilizando do sistema de troca de mercadoria. Esses navios vinham refrescar-
se na Ilha Grande antes de cruzar o estreito de Magalhães. (Vieira de Mello, op.cit.:32).
xv
Entre 1815 e 1822, devido à proibição do tráfico de escravos, a Ilha passa a
despertar um interesse maior, atraindo aventureiros de todos os quadrantes. (Vieira de
Mello, op.cit.:18). Escravos contrabandeados desembarcavam à noite nas praias do
Abrãao, da Freguesia de Santana, Dois Rios, Lopes Mendes, enseada das Palmas, das
Estrelas e Saco do Céu (Waldir Nesi op.cit: 137). . Em 1715 foi capturado na Ilha Grande o
navio “Reine de Nantes” quando descarregava uma partida de escravos. Na praia de Lopes
Mendes, nos idos de 1920, foram encontrados, entre as lajes à beira mar, centenas de
ossadas de escravos. Deveria ser um cemitério de escravos (Waldir nesi op.cit. 138) . A
partir dessa informação, confirmada por moradores desta praia, desenvolvemos
prospecções no local e encontramos fragmentos de ossos humanos presos nas pedras de
uma caverna. (ver prospecção).
7. Período da pirataria.
Segundo Vieira de Mello (op.cit.:76), corsários ingleses, holandeses e franceses
utilizaram a Ilha Grande para abastecerem seus navios quando estavam contrabandeando
escravos ou pau brasil ou saqueando navios portugueses.
Desses foram registrados: Thomas Cavendish, em 1591 (Knivet, op.cit.); Abraam
Coke, em 1600, ao qual credita-se o nome da Vila do Abraão; Juan de Lourenço, pirata
que, segundo lenda e informações de moradores, em 1629 teria construído uma casa na
praia do Morcego, da qual hoje ainda existem as ruínas (Waldir Nesi:97); e o corsário Saint
Malo, que costumava desembarcar contrabando nas praia de Palmas, Abraão e Tapera que,
na época, deveriam ser os principais pontos de desembarque da Ilha. Além desses, Vieira
de Mello (op.cit.:73) narra os ataques de navios corsários argentinos em 1827, na Fazenda
Dois Rios, na ponta dos Castelhanos e na enseada de Palmas.
xvi
8. Ciclo das grandes fazendas de café e cana-de-açúcar
Nos séculos XVIII e XIX, a Ilha Grande é desmatada para o plantio da cana-de-
açúcar. No século XVIII foi registrada a presença de seis usinas de úcar, localizadas nas
praias da Estrela, Matariz, Longa, Santana e Sítio Forte.
Provavelmente, nesse momento é que teria começado o povoamento da Ilha, com
muita gente sendo trazida do continente para trabalhar na lavoura. Como foi visto
anteriormente, em 1764, haviam sido registradas duas construções na Ilha. No entanto,
segundo Vieira de Mello (op.cit.:20), em 1811, Aires Casal estima a população em 3.000
habitantes. No final do século XVIII, monsenhor Pizarro informa a existência de 4.000,
propondo a criação da Paróquia de Santana.
Logo após o início do plantio da cana-de-açúcar, surgem também as fazendas de
café. Entre elas destacou-se a Fazenda Sant’Ana, que chegou a ser grande produtora e
exportadora, onde trabalhavam 5.000 escravos. Em 1842, graças à produção do café, o
porto de Santana chegou a ser mais importante que os do Abraão e do Sítio Forte e, nesse
tempo, a Ilha Grande chegou a ser chamada Sant’Ana da Ilha Grande. (Waldir Nesi,
op.cit.:25).
As fazendas de Sant’Ana, do Holandês, de Dois Rios, Camiranga, Provetá e Sítio
Forte, juntamente com as usinas que, segundo monsenhor Pizarro, no final do século
XVIII, somavam nove engenhos produtores de álcool e açúcar, concentravam a mão-de-
obra existente. Com a proibição do trafico de escravos e a precariedade do escoamento do
café, essas fazendas começam a entrar em decadência. Em 1885, quando o Imperador
Dom Pedro II adquiriu as do Holandês e de Dois Rios para a construção de um lazareto,
xvii
estas estavam desativadas e seus colonos e descendentes de escravos provavelmente
haviam se espalhado pela Ilha vivendo de suas roças e de pesca de subsistência.
9. Povoamentos oriundos de fazendas decadentes: surgimento das
aldeias caiçaras
A Ilha Grande, no final do século XIX, foi palco de inúmeras histórias de auge,
declínio e mudanças econômicas. Grandes fazendas foram redivididas ou mudaram sua
atividade econômica. É comum encontrar-se nas matas ruínas de antigas casas de
fazendas. (ver propecções). Verdadeiras estradas, como a que ligava Dois Rios à
Parnaioca, hoje não passam de trilhas muito estreitas. Antigos colonos descendentes do
cruzamento de escravos com mestiços ou com o branco se espalharam pela Ilha. Muitas
vezes, em constantes mudanças atrás de trabalho em diferentes lavouras que eram
implantadas nas novas fazendas, ou nas fazendas de gado, ou ainda em companhias
pesqueiras, onde passariam a trabalhar na pesca da baleia e posteriormente na indústria da
sardinha.
10. Ciclo da pesca industrial.
Embora continue a existir, a pesca industrial teve seu auge e decadência no século XIX ,
com a pesca da baleia e novamente no início do século XX, com a pesca da sardinha, que
fez com que muita gente fosse atraída para a Ilha Grande e depois, com a decadência,
perdesse seu trabalho e ficasse por lá. Essa população viria futuramente a constituir a
cultura caiçara, segundo Oliveira (s/d), “A cultura caiçara é característica do litoral dos
estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, e é baseada na pesca e em roças de
xviii
subsistência. Em termos culturais, surgiu da miscigenação genética e cultural do
colonizador português com o indígena do litoral, sofrendo mais tarde alguma influência do
negro.” (Adams apud Oliveira op.cit.). A definição desta cultura é devida, entre outros
aspectos, ao tipo de vida mais fechada que se desenvolveu no litoral, relativamente isolado
do mundo de fora em termos de produtos e influência. (Oliveira e Coelho Neto, 1996:13).
Segundo informações dos moradores, antigamente não se habitava as praias, mas os
locais próximo às roças. É mais importante morar no morro, onde ficam as roças, do que
na praia. A roça exige um instrumental mais pesado e uma visitação constante por causa
das saúvas, enquanto que para pesca de subsistência no costão basta uma linha com anzol.
Segundo Oliveira (op.cit.:15), diz-se até hoje que os “antigos eram do sertão”. Em
numerosos pontos da mata de encosta da RBEPS, atualmente encobertos por mata densa, é
possível encontrarem-se vestígios que permitem a identificação dos tipos de clareiras
gerados pela intervenção humana na floresta.
Tudo indica que, inicialmente, as populações caiçaras da Ilha Grande estariam
localizadas na parte voltada para o alto mar, áreas de difícil acesso, menos valiosas em
termos de escoamento da produção da lavoura. É nessa época que, neste período de
decadência econômica, começa o ciclo do isolacionismo.
11. Época dos Presídios (1903 a 1993)
Segundo Waldir Nesi (op.cit.:145), em 1884, Dom Pedro II começou a construção
do lazareto quarentenário (hospital de quarentena), onde seriam inspecionadas as
xix
embarcações destinadas ao Porto do Rio de Janeiro para evitar o cólera. Para construir o
lazareto, D. Pedro II comprou as Fazendas (1884) e a de Dois Rios e do Holandês (1885)
que estavam desativadas. A obra foi concluída em 1886, mas já nesse ano este tipo de
hospital foi considerado ineficaz pelo Congresso Sanitarista.
Com a construção do lazareto houve uma tendência de deslocamento populacional
e uma concentração de pessoas na Vila do Abraão, em função da nova disponibilidade de
trabalho. Em 1911, segundo J. Sardinha, a população já somava de oito a dez mil pessoas.
Em 1903, o lazareto é transformado em presídio político
15
e a Fazenda de Dois Rios
também é transformada na Colônia Correcional Cândido Mendes, que mais tarde passou a
se chamar Colônia Agrícola do Distrito Federal. (Orestes Ribeiro, 1989).
Até 1962, a Ilha Grande contou com dois presídios, quando, inexplicavelmente, o
antigo lazareto foi demolido por ordem do governador Carlos Lacerda, apesar da oposição
e da indignação dos moradores da Ilha Grande (Orestes Ribeiro, op.cit.:5; Waldir Nesi
op.cit.:148).
De 1962 até 1993, a Ilha Grande foi conhecida como um local perigoso
com presos fugitivos escondidos no mato e como uma ilha cercada por tubarões.
As vilas que ficavam na rota de fuga, como a localizada na praia da Parnaioca,
que chegou a ter mais de mil habitantes no final do século passado, foram
abandonadas, a população foi afugentada pelo ataques dos presos, pela
15
Há uma certa confusão quanto a esta data. Vieira de Mello (op.cit.: ) informa que o lazareto funcionou até
1913, mas que foi transformado em presídio em 1932. Waldir Nesi (op.cit.:145) fala em 1902 e Orestes
Ribeiro (op.cit.:5) concorda que só foi transformado em presídio militar em 1932. Ao que tudo indica, em
1903 foi aprovada a criação de colônias penais na Ilha Grande e fundada a de Dois Rios.
xx
epidemia de lepra que ocorreu nos anos 40, e os poucos que restaram saíram
para trabalhar na pesca industrializada.
Tem-se como certo que a população residente cerca de 50 anos na área da
Reserva era muito maior do que a atual, e que era encontrada de forma mais espalhada do
que se hoje. Informações registram em mil o número de moradores da comunidade do
Aventureiro (onde hoje existem cerca de 90 habitantes) e, também, que estes ocupavam
toda a região circunvizinha, sendo muito reduzida a população residente na vila
propriamente dita. (Oliveira op.cit.: 16).
Com esta narrativa se desfaz a idéia de uma Ilha paradisíaca povoada por
pescadores. Através dela, vemos as pessoas chegarem à Ilha trazidas pela escravidão, para
a lavoura ou para a pesca industrial, e constatamos que pertenciam muito mais a uma
cultura branca e negra do que indígena. Nesse contexto, a ocupação pré-histórica destoa
dessa realidade. Seu estudo mostra que não pode ser vista como um segmento na
seqüência da história da cultura indígena, como é a pré-história para o restante da costa do
Estado do Rio de Janeiro.
A pré-história da Ilha Grande começa e termina em si própria, não tem
continuidade dentro da própria Ilha. Os primeiros grupos que chegaram à Ilha Grande
traziam uma cultura própria que, com o decorrer do tempo, apresentou mudanças para
depois desaparecer.
Como o foco principal desta tese está centrado na Reserva Biológica da Praia do
Sul é importante que se conheça também a história do povo do Aventureiro.
xxi
História do Povo do Aventureiro
16
Os quinze anos de trabalho nesta praia, embora com interrupções
causadas por falta de verbas e fugas de presos, permitiram a observação de
diferentes formas de interação ambiental e mudanças de articulações econômicas
ocorridas nesse período.
No segmento anterior foram relatados cerca de 500 anos de história da ocupação
espacial da Ilha Grande. Numa abordagem mais próxima, pode-se constatar a presença de
significativas mudanças na dinâmica de ocupação num período de quinze anos. Esse foco
mais próximo tem por objetivo principal verificar se as soluções adaptativas e a dinâmica
de ocupação adotada na praia do Aventureiro, em algum momento podem ser utilizadas
para explicar as mudanças verificadas na cultura material associada ao momento pré-
histórico. Esta aproximação é baseada na proposta desenvolvida por De Blasis (1999), no
Vale do Ribeira, e nos trabalhos etnográficos desenvolvidos por Schiffer (1987), na cidade
de Tucson.
Para entender-se a dinâmica da ocupação da Ilha Grande, é preciso compreender,
antes de tudo, como as pessoas teriam chegado à praia do Aventureiro, um lugar de
dificílimo acesso a maior parte do ano, excluindo o verão.
16
Levantamento realizado a partir de entrevistas com moradores, relatório (Vilaça,1983), tese
(Oliveira,1999), dissertação (Seixas,1997) e observações no decorrer de 15 anos de trabalho no local.
xxii
“Embora exista um pequeno cais no Aventureiro, o acesso por via
marítima é limitado pelas condições do mar, uma vez que esta é
uma comunidade voltada para o mar aberto. (Seixas, 1997).
As feições do povo do Aventureiro parecem indicar que não possuem origem
indígena, mas sim européia, provavelmente de portugueses e franceses, e negra,
provavelmente de escravos.
Informações dão como em torno de mil os moradores da comunidade do
Aventureiro e que estes ocupavam toda a região circunvizinha, sendo muito reduzida a
população residente na vila propriamente dita. (Oliveira, 1999:6). Por outro lado, Vilaça e
Maia (1985) informam a tendência dos moradores em enfatizar o quanto a população
estaria decadente, criando, assim, um passado grandioso.
O povo do Aventureiro atualmente está restrito a cinco famílias de origem, com 22
famílias nucleares e alguns agregados, que somam cerca de noventa indivíduos. É muito
difícil conhecer sua origem: a história não é uma preocupação local e poucos lembram ou
sabem quem foram seus avós.
Dona Angelina, de oitenta anos, é a moradora mais antiga
17
. Tanto ela quanto seus
pais nasceram no lugar, e ela acredita que chegaram à praia do Aventureiro há mais de 100
anos. Segundo ela e outros entrevistados, as cinco famílias chegaram ao mesmo tempo,
atraídas por trabalho numa roça de mandioca pertencente a um senhor que habitava o local,
onde é hoje a casa da FEEMA. De acordo com Dona Angelina, este senhor tinha um
entreposto de farinha em Angra.
17
Dos moradores entrevistados no decorrer dos anos, destacam-se: Dona Angelina, Zuleika, Verti, Purungo,
Nezinho, Neneca, Lúcia, Vovô, Waldemiro, Tatú, Clementino e Carlinhos da FEEMA.
xxiii
É provável que estas famílias já estivessem há muitos anos na Ilha Grande. Devem
ter chegado à Ilha no final do século XVIII, na época da implantação das grandes fazendas,
tendo chegado ao Aventureiro procedentes de outras praias .
As antigas casas estavam localizadas predominantemente nos morros, perto das
roças familiares. muito mais tarde as casas desceram, aproximando-se das praias. “A
maioria concentra-se nas partes baixas da encosta circundante”. (Vilaça e Maia, 1985:6).
Como foi dito anteriormente, isto deve-se ao fato de terem de estar próximos às roças.
Devido ao isolamento causado pela dificuldade de acesso por mar e aumentado pelo
fato de estar na rota de fuga de presos, depois da decadência da roça, a permanência na
praia do Aventureiro só foi possível graças à articulação dessas famílias, que passaram a
fazer uma exploração conjunta do ambiente através de um forte entrosamento comunitário,
com regras muito específicas. Até hoje, tanto os cultivos das roças são trocados, como o
produto da pesca é distribuído. Até recentemente, não havia nenhum comércio nesta praia.
Só atualmente, no verão e nos grandes feriados, é possível adquirir alguma comida pronta.
Aparecida Vilaça e Angela Maia estudaram a articulação social do povo do
Aventureiro na época da implantação da Reserva, em 1985, época em que as restrições
impostas pela FEEMA quanto à elaboração de novas roças e em relação à pesca alteraram
seu cotidiano.
No ano de 1985, a praia era habitada por 87 pessoas que viviam das roças e da
pesca industrial, segundo Vilaça e Maia (op.cit.:6). A roça era a principal atividade de
xxiv
subsistência e uma atividade feminina. Os homens ficavam embarcados a maior parte do
mês e voltavam a casa nos dias de lua cheia, quando a pesca de traineira é dificultada,
ou no inverno, quando o peixe fora diminuía e a tainha aparecia na costa. Nessa época,
ainda segundo Vilaça e Maia (op.cit.:6-7), o povo se reunia reforçando sua identidade.
18
“A pesca local é intermitente, limitada pelo mar que, em grande
parte do ano, torna-a impraticável... Além disso, o fato de que
atualmente a maioria dos homens estarem fora (embarcados)
durante a maior parte do mês limita essa pescaria... Assim essa
pesca não é usada para subsistência e não há colônia de pesca ou
portos... Essa pescaria local é também muito limitada pelo mar,
que em determinados dias (às vezes durante muitos dias
consecutivos) não permite a saída de barcos ou o lançamento de
redes. (Vilaça e Maia (
op.cit.
:6-7))
Segundo os moradores, esses períodos de mar ruim eram compensados pela pesca
do robalo, da tainha e do parati nas lagoas do Sul e do Leste, que foi proibida na época da
implantação da Reserva.
18
No mês de junho de 2000, apareceu grande quantidade de tainha na praia do Leste, que não pôde ser
pescada, pois o povo do Aventureiro parou de fazer a rede para este pescado, abandonando, com isso, a
atividade que mais o congregava. No entanto, a comunidade continua a ser reunir em atividades
comunitárias, como a festa que ocorreu em outubro após todos moradores, homens e mulheres, terem se
juntado para puxar para a terra uma antiga traineira pertencente a Antônio Osório, a fim de reformá-la. O
jeito de puxar e o ritual foram semelhantes ao da pesca da tainha.
xxv
A partir da observação local pode-se inferir que até a entrada do turismo na praia
do Aventureiro o trabalho na roça
19
sempre foi a principal atividade de subsistência, em
detrimento da pesca local.
“Normalmente o trabalho na roça é uma atividade feminina,
enquanto que a pesca, é masculina. No caso das famílias que
vivem da roça (sem pesca) esse trabalho é feito por todos,
inclusive os homens. Geralmente cada novo casal constrói uma
casa e uma roça localizada no terreno do pai do homem e lá a
mulher começa uma nova roça”. (Vilaça e Maia 1985:10).
Segundo Vilaça e Maia (op.cit.), pode haver uma inversão, quando a família da
mulher possui maior poder aquisitivo, indo o homem morar na casa da família da mulher.
De uns tempos para cá, têm aparecido exceções e homens têm ido morar na casa da
mulher. No entanto, muitas vezes, o noivo passa a ser mal visto e desprezado pelo sogro.
A imposição da Reserva foi aceita, de acordo com moradores, porque na época
havia um homem com uma grande capacidade de liderança, o Sr. Antônio Osório, que
acabou sendo contratado como guarda da FEEMA que aconselhou a comunidade a aceitar
a Reserva, na expectativa de que, com ela, conseguiriam maior proteção contra os presos
fugitivos e melhor acesso a Angra do Reis para comércio e hospitais. Toda compra ou
assistênciadica de urgência era, e é, ainda, feita em Provetá, aldeia que fica a uma hora
e meia de dura caminhada atravessando um morro. A partir de 1993, com o fechamento do
19
Em 1985, existiam 17 roças na praia do Aventureiro. Cultivava-se principalmente mandioca (Manihot
dulcis), seguida do feijão (Phaseolus vulgaris), guando (Cajadnus indicus), milho (Zea maiz), cana
(Sacharum officinarum) e banana (Musa spp). (Vilaça e Maia op.cit.:16).
xxvi
presídio, foi possível a construção de uma ponte para embarque e desembarque, facilitando
o acesso à praia e permitindo o ancoramento de suas traineiras que, antes, com o presídio
em operação, ficavam ancoradas na praia da Longa. Além do medo de uma virada do mar,
havia sempre o medo de que os presos utilizassem as embarcações para fugirem.
Com o fechamento do presídio e a construção da ponte,
teve início, especialmente na praia do Aventureiro, o que
podemos chamar de ciclo do turismo ou período de aculturação
ou de inovação cultural. O fim do isolamento permitiu que se
contornassem as dificuldades por ele impostas e que haviam
sido reforçadas pelas restrições à pesca local e ao roçado, tendo
sido estas atividades trocadas pelo turismo incipiente.
O turismo que apareceu na praia do Aventureiro é feito por
pessoas muito jovens, que acampam nos quintais dos
moradores. A grande maioria vai lá à procura de um ambiente
preservado e de boas ondas para surfar. Embora o povo do
Aventureiro seja muito fechado, há uma interação muito grande
com esses grupos, o que provavelmente pode ser explicado pelo
fato de perceberem que esses surfistas, ou
hippies
, como eles os
chamam, valorizam muito sua identidade caiçara e seu
conhecimento sobre a natureza. Esses turistas, por sua vez,
interagem com a população local, apresentando elementos da
xxvii
cidade grande que são completamente absorvidos. Tal fato pode
ser exemplo de situação apresentada por Begossi:
“Cavalli-Sforza e Feldman (1981) analisam a trasmissão de traços
culturais como análoga a epidemias: ou seja, um traço cultural pode ser
transmitido e aumentar em freqüência na população como um vírus. Pulliam
(1982) e Werren e Pulliam (1981) utilizam ‘coeficientes de similaridade ou
afinidade cultural’ como parâmetros importantes na análise da trasmissão
cultural.“
Begossi (2000 cdrom)
A introdução do turismo, além da maciça aparição de elementos modernos da
cidade, como celulares e camisetas de marcas, permitiu ao povo do Aventureiro” exercer
plenamente um lado obscuro da própria identidade, pouco exercida até então. Como foi
visto, a pesca local, face às condições predominantes do mar, era inviável a maior parte do
ano, obrigando os homens a ficarem embarcados a maior parte do tempo. Atualmente,
com o dinheiro obtido com o turismo, novas traineiras foram compradas e muitas outras
foram reformadas. Essas reformas atualmente têm congregado as pessoas, como acontecia
antes nos momentos da “puxada” do arrastão da tainha. A disponibilidade de novas
embarcações, proporcionando uma pesca mais próxima, promovida pelos próprios
moradores, agora proprietários de seus barcos, permite que os homens fiquem em terra,
saindo para o mar apenas uma parte do dia. Enquanto estão em terra, consertam as redes e
atuam na pesca de subsistência
20
, ao mesmo tempo, por causa da necessidade de verduras
na venda do “prato feito”, as mulheres têm voltado a trabalhar nas roças, que estavam
20
Da época de implantação da Reserva até a chegada do turismo era difícil obter-se peixe para comer. Os
poucos que chegavam eram salgados para prolongar seu tempo de consumo, Atualmente é fácil alimentar-se
de peixe todos os dias na praia do Aventureiro.
xxviii
quase extintas. Atualmente, com o turismo, o povo do Aventureiro é, mais do que nunca,
um dos poucos representantes da verdadeira cultura caiçara.
A utilização espacial da Ilha pelo povo do Aventureiro
O isolamento e a preservação física e cultural do local permitiu que a praia e o povo
do Aventureiro funcionassem como palco e laboratório de experimentação e de estudos
etnográficos, permitindo que dali se extraíssem comportamentos gerais. Podendo ser
registradas diferentes soluções adaptativas que deixaram vestígios na cultura material que
puderam ser traduzidas pela população local. Estes dados serão utilizados no
desenvolvimento da tese, quando serão confrontados com o material arqueológico
resgatado nos sítios e, se possível, inferidas as ocorrências de opções semelhantes para a
interação ambiental.
No Aventureiro observa-se a residência virilocal e uma certa endogamia.
Ocorrendo os casamentos, em grande parte dentro do Aventureiro, a rede de afins torna-se
extremamente ampla e novos parentescos criam-se a cada casamento (Vilaça e Maia,
1985:16 ), consolidando a organização comunitária.
As concentrações de casas estão dispostas em função dos núcleos de famílias afins,
que se espalham através das mulheres que vão morar na casa do sogro, reforçando as
tramas da rede. Normalmente, o filho mais novo herda a casa dos pais, já que comumente
é o último a se casar. A água vem de nascentes próximas, que servem a uma ou duas casas.
Próximo à casa dos pais de Dona Angelina é encontrado um antigo “lixão”,
formado por uma camada de valvas de moluscos consumidas por essa família. (figura 41)
xxix
Além desse acúmulo de conchas encontramos outros, um próximo à casa de Purungo
(figura 42), e outro, mais moderno, na casa de Ercílio, pai de Lúcia, mulher de Vovô, filho
de Angelina. (figura 43).
Figura 41 Refugo da família de Dona Angelina
xxx
Figura 42. Acúmulo de lixo próximo ‘a casa do Purungo.
xxxi
Descrição dos acúmulos de conchas:
Casa da família de Dona Angelina
Tempo de formação: início há 70 anos e final há 17 anos, segundo dona Angelina.
Número de formadores do depósito: 5 nos primeiros 20 anos e apenas um nos 33
anos subseqüentes.
Profundidade da camada: 3 cm do solo atual.
Espessura: 10 cm.
Composição: Astraea sp. e exemplares da família Mytilidae.
Figura 43. Valvas de moluscos dispensadas pelo Sr. Ercílio
xxxii
Estado de preservação: inteiras, os mexilhões ainda apresentam parte de
sua coloração rósea.
Concentração/densidade: Fofa.
Sedimento: escuro.
Material associado: vértebras pequenas de peixe.
Forma do descarte: o material foi jogado barranco abaixo.
Casa da família de Purungo
Tempo de formação: início há mais de 100 anos, segundo Purungo.
Número de formadores do depósito: 5 nos primeiros anos e dois nos últimos vinte
anos.
Profundidade da camada: vem desde a superfície.
Espessura: 80 cm.
Composição: a camada mais antiga é formada por exemplares da família
Mytilidae. Mais recente, temos o Thaumasthus sp. e o corondó, provavelmente procedentes
do canal que fica próximo.
Estado de preservação: na camada mais antiga as valvas estão fragmentadas.
Concentração/densidade: Fofa. Espaçamento médio de 2cm entre as valvas.
Sedimento: escuro
Material associado: louça, pano, plástico (camada superficial), carvão.
Forma do descarte: o material foi jogado barranco abaixo.
Segundo Purungo, o material foi acumulado numa depressão formada por quatro
pedras grandes, para evitar cortar o de alguém. Ele informou, também, que é costume
juntar a casca do marisco em buracos de pedra junto com lixo orgânico, “porque é material
xxxiii
que corta e que não acaba nunca”. Isso foi confirmado por outros moradores. Vovô,
Zuleika e Neneca costumam jogar a casca do marisco num buraco na prainha, “mas o
fica nada porque o mar leva”. Luís Tenório informa também sobre o costume de separar o
lixo que corta, e conta que quando foi ampliar sua casa encontrou um morro de vidro
quebrado atrás da antiga casa. Quando o buraco do lixo fica cheio costumam plantar uma
árvore. Algumas, como o mamoeiro, às vezes nascem sozinhas, das sementes que são
descartadas.
Casa do Ercílio
Embora Ercílio morasse na casa até 1999, ela pertence a Vovô e Lúcia. Nesse caso,
as valvas não estão concentradas em um lugar, mas estão espalhadas à volta da casa,
jogadas ou varridas barranco abaixo. Formam finas camadas de astrea sp e concentrações
de exemplares de valvas da família Mytilidae.
Entre as casas uma rede de caminhos utilizados principalmente pelas mulheres,
que não costumam andar pelas praias. Os homens, sim, estão sempre andando ou
agrupados na beira da praia. No inverno é comum ficarem em volta de fogueiras. Chegam
a sair muito cedo da cama para ficarem juntos, se aquecendo a volta das fogueira, das quais
as mulheres não se aproximam. A concentração de casas é formada pela família mais
antiga, cercada pelas famílias constituídas pelos filhos homens, principalmente.
A grande maioria dos parentes que não está na praia do Aventureiro, mora na praia
de Provetá. São parentes próximos, pais mais velhos ou irmãos. O contato com eles é
xxxiv
sempre mantido atravessando-se a trilha, cujo percorrimento, como foi dito, dura cerca
de uma hora e meia.
Recorrendo ao sistema de rculos concêntricos utilizados por Vita-Finzi (1970)
para mostrar a ocupação do espaço, pode-se dizer o seguinte.
O espaço menor e o mais importante, que corresponderia ao círculo, percorrido
pelas mulheres, é o da casa para a roça e para a casa de parentes que ajudam nos cuidados
das crianças, cuidados partilhados por todas as mulheres parentes. Atualmente este espaço
é ampliado para algumas que têm venda para o comércio de prato feito”, no verão e
grande feriados.
o espaço dos homens é constituído por pontos de encontro que podem estar a
volta das fogueiras que acendem nas duas extremidades da praia, nos ranchos das canoas
21
e das redes e nas vendas, quando estas estão em funcionamento.
O segundo espaço feminino é o costão, onde pescam esporadicamente, e próximo a
ele, no mar, onde vão de canoa para a pesca da lula, principalmente no verão.
O segundo espaço masculino são os pesqueiros, que distam de cinco minutos a uma
hora e meia de percorrimento, a ou de canoa; a praia da Longa, onde consertam os
barcos; e a praia Grande, onde os ancoram quando o mar está ruim.
21
Segundo Vilaça e Maia, no ano de 1985 cada morador ligado à pesca local tinha seu próprio rancho.
xxxv
O terceiro espaço feminino é a aldeia de Provetá, onde visitam os parentes em
festas ou quando estão doentes.
O terceiro espaço masculino atualmente é Angra dos Reis, mas antes da chegada do
turismo era o mar, na pesca embarcada, como já foi dito.
Fora estes espaços, outros o visitados de maneira mais esporádica, porém
constante. São as outras praias da Ilha, onde moram os parentes mais distantes e espaços
visitados quase exclusivamente pelos homens, que circulam muito pelas trilhas existentes.
Conversando com eles conclui-se que todos conhecem a Ilha inteira, todos os seus
pesqueiros e trilhas. Conta-se que os mortos eram enterrados na Freguesia de Santana e
para eram levados em redes, o que despendia quase um dia de caminhada. As trilhas são
constantemente percorridas, mesmo sem motivo aparente
22
, e representam as artérias da
Ilha Grande. Comumente elas seguem o caminho d’água e, por causa disso, o mudam
sua localização. É provável que sejam as mesmas desde épocas pré–históricas, hipótese
corroborada pela presença de uma pedra contendo amoladores num riacho que beira a
trilha que liga a praia de Lopes Mendes à praia do Pouso.
Embora o povo do Aventureiro informe que tem acesso e parentes em
todas as praias da Ilha, esta afirmativa pode não servir a toda população da Ilha.
Na época da prospecção do lado leste, o barqueiro não quis descer em uma
determinada praia, tendo informado posteriormente que famílias residentes de
praias do lado leste não se davam com as do lado norte.
22
Ao questionarmos os motivos que incentivavam o percorrimento das trilhas, constatou-se que tanto podem
estar relacionados à visitação de parentes, como também apenas ao prazer de rodar a Ilha.
xxxvi
Territorialidade
Embora seja aceita a existência de regras para evitar conflitos de territorialidade
entre pescadores (Begossi inédito; Seixas e Begossi, inédito; Seixas,1997) estas não são
impostas na praia do Aventureiro. De acordo Begossi e Seixas op.cit.), a existência de
duas reservas a RBEPS e a Reserva Marinha do Aventureiro provê um território “de
fato” para o povo do Aventureiro e seus parentes no Provetá, que optam pela troca de
informações e pela reciprocidade. Isto se deve a dois fatores: o fato de a disputa ser
pequena, em função do número de habitantes estar limitado pela presença da Reserva; e o
de que as traineiras que vêm pescar em suas águas serem as mesmas que empregam seus
moradores (Seixas,1997: 148).
CONCLUSÃO
O levantamento acima serviu para elucidar duas questões fundamentais: Que
grupos seriam os responsáveis pelos amoladores polidores fixos encontrados na Ilha
Grande e qual seria o grau de dependência da ocupação da Ilha com a do continente?
Não foram encontrados indícios de que grupos ceramistas pré-coloniais tivessem
permanecido na Ilha Grande; ao mesmo tempo, os que foram identificados já na época do
contato com o europeu, não chegaram a constituir aldeias, eram uns poucos indivíduos
deixados pelos portugueses para cuidarem do abastecimento de seus navios ou,
sobreviventes de guerra que lá se escondiam dos tupi ou dos europeus, o que sugere que os
amoladores polidores fixos encontrados nesta Ilha tenham sido feitos por grupos pré-
ceramistas.
xxxvii
Uma das grandes diferenças entre a ocupação pré-ceramista e a do pós contato com
o europeu, é que, enquanto a mais antiga estava voltada para a própria Ilha, a segunda foi
predominantemente voltada para o continente. Apenas quando os grandes
empreendimentos foram sendo desativados e que os desempregados passaram a viver na
Ilha, é que o foco no continente deixou de ser tão forte e esta população passou a ter
hábitos caiçaras
23
, se isolando do continente e ,ao mesmo tempo, reforçando alianças com
moradores de outras praias. Essa sociabilidade foi fundamental, pois as trilhas funcionaram
como artérias permitindo a existência de um sistema de trocas que viabilizava a
permanência na Ilha.
Outro fato importante observado é que até a chegada do turismo, para o caiçara,
embora este se definisse pescador, os produtos cultivados sempre foram mais importantes
do que a pesca, fazendo com que as casas fossem construídas longe das praias, próximo às
roças. O pescado obtido no costão ou com auxílio de canoas sempre foi uma
complementação da dieta.
Pelo que foi mostrado se pode constatar que as mudanças econômicas
ocorridas na Ilha Grande foram provocadas por questões econômicas de fora e
não por questões ambientais.
23
Segundo Oliveira e Neto (1996:13) a definição da cultura caiçara é devida, entre outros aspectos, ao tipo de
vida mais fechadaque se desenvolveu no litoral, relativamente isolado do mundo de fora em termos de
produtos e influências.
xxxix
5. Quadro arqueológico da região
Na área em questão, engloba duas concentrações de sítios arqueológicos, conforme
quadro arqueológico estabelecido para o Rio de Janeiro, apresenta 107 registros de sítios,
não tendo sido contabilizados os encontrados na Ilha Grande (Tenório 2001) que serão
incluídos no capítulo IIII.
As informações sobre os sítios foram obtidas a partir dos trabalhos de Salles Cunha
(1963), Alfredo Mendonça de Souza (1977,1981), Lina Maria Kneip (Kneip et al 1987),
Osvaldo Heredia (Heredia et al 1983), e Tânia Andrade Lima (1991) (Tabela 8). Como são
provenientes de vários níveis de abordagem, procurou-se sistematizá-las apenas no seu
aspecto qualitativo, com o objetivo de entender a dinâmica ocupacional da área.
Foram elaborados dois bancos de dados, um com informações mais detalhadas,
conseguidas a partir de resultados de pesquisas e outro contendo informes gerais, obtidos
de prospecções. Os bancos foram gerados no programa Access e os dados foram
contabilizados e analisados estatisticamente no Excel.
Tabela 8 - Sítios Registrados na Área de Estudo
Sítio Identificação Localização 1 Localização 2
Referencia
Cunhambebe Angra dos Reis Ilha
Mendonça de Souza 1981
Ilha dos Porcos Angra dos Reis Ilha
Mendonça de Souza 1981
Samb. Mambucaba sambaqui Angra dos Reis Continente
Mendonça de Souza 1981
Ilha Pequena Angra dos Reis Ilha
Mendonça de Souza 1981
Ilha São Jorge Angra dos Reis Ilha
Mendonça de Souza 1981
Ilha Fitinha Angra dos Reis Ilha em rio/ manguezal
Mendonça de Souza 1981
Ilha do Bigode l Angra dos Reis Ilha em rio/ manguezal
Mendonça de Souza 1981
Ilha da Caieira Angra dos Reis Ilha
Mendonça de Souza
xl
Sítio do Alexandre Angra dos Reis Ilha
Mendonça de Souza 1981
Sambaqui do Forte sambaqui Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Ilha do Bigode II Angra dos Reis Ilha
Mendonça de Souza 1981
Sítio do Ulá Angra dos Reis Ponta
Mendonça de Sou
Ilha Comprida II abrigo Parati Ilha
Mendonça de Souza 1981
Sambaqui Olho d'água do Praxedes
sambaqui Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Sambaqui de Mamanguá sambaqui Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Ilha Comprida I sambaqui Parati ilha
Mendonça de Souza 1981
Sambaqui do Pequerê -açu sambaqui Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Abrigo da Ponta do Leste abrigo Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Abrigo da Ponta do Leste II abrigo Paratimirim Continente
Mendonça
Toca do Cassununga abrigo Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Ilha Pelada abrigo Parati Ilha
Mendonça de Souza 1981
Ilha da Cotia abrigo Parati Ilha
Mendonça de Souza 1981
Ilha Comprida II abrigo Parati Ilhota do lado de ilha
Mendon
Abrigo de Paratimirim abrigo Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Toca dos Caboclos I abrigo Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Praia de fora acamp. Tupiguarani
Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Toca de Mambucaba abrigo Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Corumbe abrigo Tupi/neobras.t
Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Paratimirim II abrigo Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Trindade IV abrigo neo bras. Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1
Toca do Batistério abrigo neo bras. Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Toca do Casusa abrigo neo bras. Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Ilha Itacá abrigo neo bras. Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Trindade I ?sambaqui neobras?
Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Trindade II ?sambaqui neobras?
Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Trindade III ? Sambaqui neobras
Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Corumbe II sítio neobras.obras.t
Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Jabaquara II sítio neobras.obras.t
Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Guarda - mor abrigo neobras.obras.t
Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Toca dos Caboclos abrigo neobras.obras.t
Parati Continente
Mendonça
Ilha da Bexiga sítio neobras.obras.t
Parati Ilha
Mendonça de Souza 1981
Pequerê-açu abrigo neobras.obras.t
Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Praia Brava sítio neobras Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Cepilho sítio neobras Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Praia de Fora - s.do Antonio sítio neobras Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Ponta do caixa d'aço sítio neobras Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Praia do Baixio sítio neobras Parati Continente
Mendonça de Souza 1981
Ilha de Itacá II sítio neobras Parati ilha
Mendonça de Souza 1981
Cachoeira abrigo neobras Parati continente
Mendonça de Souza 1981
Barra do Rio Grande sítio neobras Parati continente
Mendonça de Souza 1981
Sambaqui do Teles sambaqui Guaratiba continente
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Zé Espinho sambaqui Guaratiba continente
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui da Praia do Malhador sambaqui Guaratiba continente
Salles C
Sambaqui do Porto das Cinzas sambaqui Guaratiba continente
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Porto das Pitangueiras sambaqui Rest. da Marambaia
continente
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de
xli
Sítio do Porto do Teixeira sambaqui Rest. da Marambaia
continente
Mendonça de Souza 1981/ Kneip s/d
Sambaqui da Panela do Pai João sambaqui Guaratiba continente
Mendonça de Souza 1981
Sambaqui do Piaí sambaqui Guaratiba continente
Salles Cu
Sambaqui do Piracão sambaqui Guaratiba continente - paleoilha
Mendonça de Souza 1981
Sambaqui do Piraque sambaqui Guaratiba continente
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui das Piteiras sambaqui Guaratiba continente
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Meio cer ? Guaratiba continente
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Capão do Gentio cer? Sup. Sambaqui Guaratiba ilha no apicum
Salles Cunha1963 e 1965 eMe
Sambaqui do Capão do Pau Ferro sambaqui Guaratiba ilha no apicum
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Capão do Surucaí sambaqui Rest. da Marambaia
ilha no mangue
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Capãozinho sambaqui/Tupi? Rest. da Marambaia
ilha no apicum
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui de Araçatiba sambaqui Rest. da Marambaia
margem de rio
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Capão da Benta sambaqui Guaratiba margem de rio
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Capão da Bananeira sambaqui Rest. da Marambaia
margem de rio
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui da Cabeça do Índio II sambaqui Guaratiba margem de rio
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do atolador sambaqui Guaratiba margem de rio
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Acamp. Tupiguarani do Telegráfo Tupiguarani Guaratiba margem de rio
Salles Cunha1963 e 19
Sambaqui do de Vila Mar sambaqui Guaratiba margem de rio
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Vaso sambaqui Guaratiba margem de rio
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do aterrado da pedra sambaqui Guaratiba Ilhado
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui da cabeça do índio I sambaqui Guaratiba Ilhado
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Curral das Pedras sambaqui Guaratiba pasto
Salles Cunha1963
Sambaqui da Matriz sambaqui Guaratiba
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do posto 5 sambaqui Guaratiba encosta de morro
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Jazida arqueológica Poço das Antas
sambaqui/Tupi Guaratiba
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Dunas Conchíferas da OSA sitio-sobre-duna Guaratiba praia
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio da Estação Radioreceptora acamp.Tupi? Guaratiba
Salles Cunha1
Sítio da Estação Radioreceptora II acamp. Tupi Guaratiba
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio da Estação Radioreceptora III
acamp.Tupi? Guaratiba
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Marco Guaratiba 300 do litoral
Mendonça de Souza 1981
Sítio do Triunfo sítio neobras. Guaratiba
Mendonça de Souza 1981
Ilha da Marambaia sítio neobras. Rest. da Marambaia
Mendonça de Souza 1981
Sítio do Rangel sítio neobras. Guaratiba
Mend
Gruta da Fundição Gruta Guaratiba
Mendonça de Souza 1981
Sambaqui de milagres sambaqui Guaratiba restinga
Mendonça de Souza 1981
Sítio do Ceramio sítio tupiguarani Guaratiba
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do caminho do Cajazeiro
sambaqui Guaratiba margem de rio
Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Pouso sambaqui Paratimirim enseada
Mendonça de Souza 1981
Caixa d'aço I abrigo Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Caixa d'aço II abrigo Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Caixa d'aço III abrigo Paratimirim Continente
Mendonça de Souza 1981
Toca da canoa abrigo neobras? Paratimirim alto do morro
Mendonça de Souza 1981
Praia da Gaêta sambaqui Rest. da Marambaia
ilha
Kneip e Oliveira s/d
Praia do Zumbi sambaqui Rest. da Marambaia
ilha
Kneip e Oliveira s/d
Tabela 8 - Sítios registrados na área de estudo - continuação
43
Na análise dos dados, foi possível levantar informações sobre os seguintes aspectos:
Localização dos sítios:
Os sítios ocorrem em cinco concentrações. São elas: Parati (Tabela 9), Paratimirim (Tabela 10), Angra dos Reis (Tabela 11), Guaratiba
(Tabela 12) e Restinga da Marambaia (Tabela 13). Apenas um, o sítio Guaíba (Heredia et ali 1982), aparece sozinho, localizado à meia-
distância, entre a Ilha Grande e o limite da área em questão, a Baixada de Guaratiba.
Paratimirim e Parati estão no extremo sul da área delimitada para pesquisa. São caracterizados pela presença de praias calmas, com
estuário de rios e manguezais. O mesmo ocorre com Angra dos Reis; a diferença está na presença de planície costeira mais estreita e na
existência de locais onde a Serra do Mar mergulha diretamente no mar, criando muitos pontos com litoral escarpado. Este tipo de litoral, com
algumas interrupções marcadas pela presença de pequenas praias de enseada, irá ocorrer até a entrada da baía de Sepetiba, onde o mar se torna
ainda mais calmo e com coloração turva, por causa do recebimento de grande fluxo de águas fluviais e da pouca renovação de água salgada,
devido ao embarreiramento provocado pela presença da Ilha Grande e da Restinga da Marambaia. Isto também resulta numa intensa deposição de
sedimentos finos que ampliam a planície costeira da Baía de Sepetiba, formada por solo pantanoso, propenso à presença de extensos manguezais.
44
No fundo dessa baía está a Baixada de Guaratiba-Sepetiba, caracterizada, segundo Ferreira e Oliveira 1987:12), por uma dinâmica ambiental
totalmente vinculada às flutuações do nível do mar, do qual ela está atualmente de 0 a 3m acima. (Id.Ibd).
É bem provável que as ilhas, onde são encontrados os sítios arqueológicos, apresentassem, na época de sua ocupação, a configuração de
ilhas de manguezais e não de ilhas marítimas. Todas são muito próximas do continente e grande parte ainda apresenta vestígios de manguezais
que as ligariam ao continente. O fato de que atualmente a Baixada de Guaratiba esteja mais alta do que o nível do mar permite que sirva como
uma ilustração de como seria o ambiente na área em questão com o nível do mar um pouco mais baixo.Tudo indica que estaria constituída por
um extenso manguezal, pontilhado de locais mais altos e secos, os quais – com uma subida das águas – passariam a apresentar uma configuração
insular. Essa hipótese poderá ser corroborada, caso seja comprovada a exploração do mesmo ambiente, o manguezal.
45
Tabela 9 - Concentração 1
Sítio Identificação Localização
Localização 2
Localização3 Altura (m)
Referencia
Sambaqui de Mamanguá sambaqui Paratimirim
Continente praia Mendonça de Souza 1981
Abrigo da Ponta do Leste abrigo Paratimirim
Continente meia encosta 40 Mendonça de Souza 1981
Abrigo da Ponta do Leste II
abrigo Paratimirim
Continente meia encosta 30 Mendonça de Souza 1981
Abrigo de Paratimirim abrigo Paratimirim
Continente meia encosta Mendonça de Souza 1981
Trindade IV abrigo neo bras. Paratimirim
Continente Mendonça de Souza 1981
Toca do Batistério abrigo neo bras. Paratimirim
Continente Mendonça de Souza 1981
Toca do Casusa abrigo neo bras. Paratimirim
Continente Mendonça de Souza 1981
Trindade I ?sambaqui neobras?
Paratimirim
Continente duna Mendonça de Souza 1981
Trindade II ?sambaqui neobras?
Paratimirim
Continente duna Mendonça de Souza 1981
*Trindade III ? Sambaqui neobras
Paratimirim
Continente Mendonça de Souza 1981
Praia Brava sítio neobras Paratimirim
Continente praia Mendonça de Souza 1981
Cepilho sítio neobras Paratimirim
Continente alto do morro 300 Mendonça de Souza 1981
Praia de Fora - s.do Antonio
sítio neobras Paratimirim
Continente praia Mendonça de Souza 1981
Sambaqui do Pouso sambaqui Paratimirim
enseada Mendonça de Souza 1981
Caixa d'aço I abrigo Paratimirim
Continente Mendonça de Souza 1981
Caixa d'aço II abrigo Paratimirim
Continente Mendonça de Souza 1981
Caixa d'aço III abrigo Paratimirim
Continente Mendonça de Souza 1981
Toca da canoa abrigo neobras? Paratimirim
alto do morro
margem de riacho
46
Tabela 10 - Concentração 2
Sítio Identificação Localização Localização 2 Localização3 Altura (m) Referencia
Sambaqui do Forte sambaqui Parati Continente sopé de morro Mendonça de Souza 1981
Ilha Comprida II abrigo Parati Ilha Ilhota ao lado de Ilha Mendonça de Souza 1981
Sambaqui Olho d'água do Praxedes sambaqui Parati Continente Contraforte de morro assoc. a abrigos 35 Mendonça de Souza 1981
Ilha Comprida I sambaqui Parati ilha Mendonça de Souza 1981
Sambaqui do Pequerê -açu sambaqui Parati Continente Mendonça de Souza 1981
Toca do Cassununga abrigo Parati Continente meia encosta Mendonça de Souza 1981
Ilha Pelada abrigo Parati Ilha Mendonça de Souza 1981
Ilha da Cotia abrigo Parati Ilha Mendonça de Souza 1981
Ilha Comprida II abrigo Parati Ilhota do lado de ilha Mendonça de Souza 1981
Toca dos Caboclos I abrigo Parati Continente Mendonça de Souza 1981
Praia de fora acamp. Tupigurani Parati Continente topo de duna Mendonça de Souza 1981
Toca de Mambucaba abrigo Parati Continente Mendonça de Souza 1981
Corumbe abrigo Tupi/neobras.t Parati Continente Mendonça de Souza 1981
Paratimirim II abrigo Parati Continente Mendonça de Souza 1981
Ilha Itacá abrigo neo bras. Parati Continente Mendonça de Souza 1981
Corumbe II sítio neobras.obras.t Parati Continente Mendonça de Souza 1981
Jabaquara II sítio neobras.obras.t Parati Continente praia Mendonça de Souza 1981
Guarda - mor abrigo neobras.obras.t Parati Continente Mendonça de Souza 1981
Toca dos Caboclos abrigo neobras.obras.t Parati Continente Mendonça de Souza 1981
Ilha da Bexiga sítio neobras.obras.t Parati Ilha Mendonça de Souza 1981
Pequerê-açu abrigo neobras.obras.t Parati Continente margem de rio Mendonça de Souza 1981
Ponta do caixa d'aço tio neobras Parati Continente meia encosta Mendonça de Souza 1981
Praia do Baixio sítio neobras Parati Continente praia Mendonça de Souza 1981
Ilha de Itacá II sítio neobras Parati ilha Mendonça de Souza 1981
Cachoeira abrigo neobras Parati continente cachoeira Mendonça de Souza 1981
Barra do Rio Grande sítio neobras Parati continente margem de rio Mendonça de Souza 1981
47
Dos sítios registrados, 26 formam a concentração de Parati; 18 a de Paratimirim; 18
a de Angra dos Reis; 35 a de Guaratiba e 9 a da Restinga da Marambaia. (Figura 44).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1
Restinga da
Marambaia
Guaratiba
Angra dos Reis
Paratimirim
Parati
Figura. 44 Distribuição dos sítios na área de pesquisa
Os tios da concentração de Angra dos Reis, destoando das outras áreas, estão
todos localizados em ilhas próximas ao continente. Já os de Parati são encontrados
predominantemente no continente; dos 26 registrados, apenas seis sítios estão em ilhas. No
continente, estão em praias calmas, localizados nos abrigos sob rocha, nas elevações
próximas aos estuários de rios. Os de Paratimirim concentram-se também no continente,
nas encostas dos morros, nos abrigos sobre rocha. Os de Guaratiba incidem mais nas
margens de canais de marés, denominados impropriamente de rios (Ferreira e Oliveira
ibid: 32). A maior parte desses sítios fica ilhada durante as marés. Finalmente, os da
Restinga da Marambaia são encontrados predominante em ilhas, sobre dunas ou no meio
da planície de maré. (Figura 45).
48
0
5
10
15
20
Parati Guaratiba
Localização dos sítios
Ilhas
Continente
Ponta
Não informado
Figura 45. Localização dos sítios
Todos os sambaquis das concentrações Parati, Paratimirim (Mendonça de Souza
1977:74) e Angra dos Reis (Andrade Lima op.cit passim) encontram-se ao lado de grandes
blocos.
Dos tipos de sítios registrados, os sambaquis são os mais recorrentes; 43 foram
mencionados além destes, mais três foram citados por Mendonça de Souza (op.cit) como
sambaquis neobrasileiros Trindade I, II e III. No entanto, por apresentarem
características de sambaquis (indústrias óssea e lítica) e por estarem completamente
destruídos e provavelmente sem estratigrafia, foram contabilizados também como
sambaquis. O mesmo ocorreu com o sítio-sobre-duna, registrado por Mendonça de Souza
em Guaratiba; por suas características, também foi considerado sambaqui. Com essas
adições, o total de sambaquis foi aumentado para 47 (Figura 46).
49
Tabela 11 - Concentração 3
Sítio Identificação
Localização Localização 2 Localização 3 Altura (m)
Referencia
Cunhambebe Angra dos Reis
Ilha meia enconsta 3 Mendonça de Souza 1981
Ilha dos Porcos Angra dos Reis
Ilha Mendonça de Souza 1981
Samb. Mambucaba sambaqui Angra dos Reis
Continente praia Mendonça de Souza 1981
Ilha Pequena Angra dos Reis
Ilha sobre a encosta 6 Mendonça de Souza 1981
Ilha São Jorge Angra dos Reis
Ilha topo,encosta 15 Mendonça de Souza 1981
Ilha Fitinha Angra dos Reis
Ilha em rio/ manguezal Mendonça de Souza 1981
Ilha do Bigode l Angra dos Reis
Ilha em rio/ manguezal 3 Mendonça de Souza 1981
Ilha da Caieira Angra dos Reis
Ilha 5 Mendonça de Souza 1981
Sítio do Alexandre Angra dos Reis
Ilha 7 Mendonça de Souza 1981
Ilha do Bigode II Angra dos Reis
Ilha 1,5 Mendonça de Souza 1981
Sítio do Ulá Angra dos Reis
Ponta topo morro 8 Mendonça de Souza 1981
Sambaqui da Caieira II
sambaqui Angra dos Reis
Ilha proxima do continente meio a grandes rochas
5 Andrade Lima 1991
Sambaqui do Bigode II
sambaqui Angra dos Reis
Ilhota prx cont.no meio de manguezal
entre blocos de rocha
Andrade Lima 1991
Piraquara sambaqui Angra dos Reis
Continente encosta Oliveira e Ayrosa 1992
Algodão sambaqui Angra dos Reis
Ilha voltado para continente entre blocos de rocha
7 Andrade Lima 1991
Sambaqui do Major sambaqui Angra dos Reis
Ilha proxima do continente entre blocos de rocha
3 Andrade Lima 1991
Sambaqui do Peri sambaqui Angra dos Reis
Ilha proxima do continente entre blocos de rocha
6 Andrade Lima 1991
Sambaqui da Caieira I
sambaqui Angra dos Reis
Ilha proxima do continente entre blocos de rocha
Andrade Lima 1991
50
Em Guaratiba, foram encontrados mais dois sambaquis com cerâmica tupi-guarani na superfície. Como estão próximos a cinco sítios que,
segundo Beltrão 1978, seriam acampamentos tupi-guarani para coleta de moluscos, considerou-se que seriam sítios de contato. Salles Cunha
(1963), ao referir-se ao Sítio do Meio, em Guaratiba, fala que ele apresenta o mesmo material cultural dos outros sambaquis, acrescido de
cerâmica na superfície. Provavelmente, se houve tal contato no litoral sul do estado do Rio de Janeiro, ele deve ter se dado na Baixada de
Guaratiba.
51
Tabela 12 - Concentração 4
Sítio Identificação Localização
Localização 2 Localização3 Altura (m)
Referencia
Sambaqui do Teles sambaqui Guaratiba continente margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Zé Espinho sambaqui Guaratiba continente margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui da Praia do Malhador sambaqui Guaratiba continente margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Porto das Cinzas sambaqui Guaratiba continente margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui da Panela do Pai João sambaqui Guaratiba continente margem de rio 1 Mendonça de Souza 1981
Sambaqui do Piaí sambaqui Guaratiba continente terraço marinho Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Piracão sambaqui Guaratiba continente - paleoilha
mangue, margem de rio
Mendonça de Souza 1981
Sambaqui do Piraque sambaqui Guaratiba continente margem de rio 3 a 4 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui das Piteiras sambaqui Guaratiba continente margem de rio 3 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Meio cer ? Guaratiba continente margem de rio 1,8 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Capão do Gentio cer? Sup. Sambaqui
Guaratiba ilha no apicum meio do apicum 1 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Capão do Pau Ferro sambaqui Guaratiba ilha no apicum meio do apicum 1 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Capão da Benta sambaqui Guaratiba margem de rio margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui da Cabeça do Índio II sambaqui Guaratiba margem de rio margem de rio 2,50 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do atolador sambaqui Guaratiba margem de rio margem de rio 1 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Acampamento Tupiguarani do Telegráfo
Tupiguarani Guaratiba margem de rio margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do de Vila Mar sambaqui Guaratiba margem de rio margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Vaso sambaqui Guaratiba margem de rio margem de rio 1,5 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do aterrado da pedra sambaqui Guaratiba Ilhado margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui da cabeça do índio I sambaqui Guaratiba Ilhado margem de rio 2,30 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Curral das Pedras sambaqui Guaratiba pasto 3,50 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui da Matriz sambaqui Guaratiba Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do posto 5 sambaqui Guaratiba encosta de morro margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Jazida arqueológica Poço das Antas sambaqui/Tupi Guaratiba Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Dunas Conchíferas da OSA sitio-sobre-duna Guaratiba praia Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio da Estação Radioreceptora acamp.Tupi? Guaratiba margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
52
Sítio da Estação Radioreceptora II acamp. Tupi Guaratiba margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio da Estação Radioreceptora III acamp.Tupi? Guaratiba margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Marco Guaratiba 300 do litoral Mendonça de Souza 1981
Sítio do Triunfo sítio neobras. Guaratiba Mendonça de Souza 1981
Sítio do Rangel sítio neobras. Guaratiba Mendonça de Souza 1981
Gruta da Fundição Gruta Guaratiba Mendonça de Souza 1981
Sambaqui de milagres sambaqui Guaratiba restinga Mendonça de Souza 1981
Sítio do Ceramio sítio tupiguarani Guaratiba margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do caminho do Cajazeiro sambaqui Guaratiba margem de rio 1 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
53
Tabela 13 - Concentração 5
Sítio Identificação Localização Localização 2 Localização3 Altura (m) Referencia
Sítio do Porto das Pitangueiras sambaqui Restinga da Marambaia continente dunas prox mangue e mar 2 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Porto do Teixeira sambaqui Restinga da Marambaia continente próximo ao mar Mendonça de Souza 1981/ Kneip s/d
Sambaqui do Capão do Surucaí sambaqui Restinga da Marambaia ilha no mangue meio do apicum 1,5 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sítio do Capãozinho sambaqui/Tupi? Restinga da Marambaia ilha no apicum meio do apicum 1 Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui de Araçatiba sambaqui Restinga da Marambaia margem de rio margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Sambaqui do Capão da Bananeira sambaqui Restinga da Marambaia margem de rio margem de rio Salles Cunha1963 e 1965 eMendonça de Souza 1981
Ilha da Marambaia sítio neobras. Restinga da Marambaia Mendonça de Souza 1981
Praia da Gaêta sambaqui Restinga da Marambaia ilha praia Kneip e Oliveira s/d
Praia do Zumbi sambaqui Restinga da Marambaia ilha praia Kneip e Oliveira s/d
54
55
O gráfico na figura 47, indica um declínio na incidência
dos sambaquis no eixo norte-sul, ou seja, maior
ocorrência em Guaratiba e menor em Parati. No entanto,
12 registros em Angra sem menção a tipo. Como 11
destes estão localizados em ilhas, situação mais
característica a sambaquis, é bem provável que na
concentração de Angra dos Reis ocorra a maior
incidência de sambaquis, cuja presença declinaria
tanto em direção ao sul, como para o norte do estado,
sendo substituídos pelos abrigos em Parati e
Paratimirim e voltando a aparecer intensamente em
Guaratiba.
Sambaquis
Parati
Paratimirim
Angra dos
Reis
Guaratiba
Restinga da
Marambaia
Figura 47. Distribuição dos sambaquis.
Embora tivessem sido feitas inúmeras tentativas de sistematização dos registros dos
bancos de dados, a escassez e as diferenças nas informações não permitiram conclusões
confiáveis sobre a distribuição de elementos da cultura material. Assim sendo, optou-se por
56
uma análise com as informações provenientes de quatro pesquisas desenvolvidas na área
em questão. Dessas, apenas uma esrelacionada claramente a uma unidade cultural, a de
Angra dos Reis, pesquisada por Tânia Andrade Lima. A denominação unidade se deve à
“unidade de pesquisa” .
1. Unidade Parati – pesquisa de Alfredo Mendonça de Souza ;
2. Unidade Angra dos Reis – pesquisa de Tânia Andrade Lima ;
3. Unidade Guaratiba Sítio Espinho pesquisa de Lina Maria Kneip (Kneip et
ali 1987);
4. Unidade intermediária – Sítio Guaíba – pesquisa de Osvaldo Raimundo Heredia .
A unidade Toca do Cassununga não apresenta datações; a do Algodão apresenta
dois momentos: um mais antigo, datado em 7860 ± 80 anos AP, que não será utilizado por
fugir muito ao período enfocado pelo presente trabalho, e outro mais recente, de 3.350 ± 80
anos AP. A de Espinho está cronologicamete situada entre 2260 ± 160 a 1180 ± 170
anos AP. A unidade Guaíba apresenta uma antiguidade de 1520 ± 60 anos AP.
A diferença na cronologia deveria oferecer expressivas diferenças na cultura
material, porém não é o que ocorre, havendo uma grande uniformidade, destoando a
presença ou a ausência de alguns elementos, percebidos como traços diagnósticos. (Tabela
14).
57
Tabela 14 – ver arquivo em anexo
58
Características dos sítios:
Dieta alimentar:
Em todos os casos, a dieta está baseada na pesca e na coleta de moluscos. Na
unidade Parati, a ênfase está, inicialmente, na coleta de molusco e depois na pesca
(Mendonça de Souza op.cit. :73); na de Angra dos Reis, está na pesca e na coleta
diversificada (Andrade Lima op.cit : 648), tendo sido precedida pela ênfase na coleta,
como no caso anterior; nas unidades de Guaratiba (Kneip et ali op.cit:250) e de Guaíba, a
ênfase está na coleta de moluscos (Heredia e al op.cit:22).
Moluscos:
Verifica-se nos registros a coincidência de muitas espécies, sugerindo que era
amplamente difundido o conhecimento sobre os moluscos que seriam comestíveis. (Tabela
15).
A espécie que mais apresenta registros é a Ostrea sp. Tudo indica um nítido
predomínio do consumo de Ostreidae sp e uma variação entre as espécies consumidas
como segunda opção, tais como: a Lucina pectinata, a Pintacta imbricata, a Anadara
notabilis e a Anomalorcardia brasiliana. Esta última prevalecendo na unidade Parati; a
Lucina pectinata, na unidade Guaratiba e a Pintacta imbricata, nas unidades Guaíba e
Angra dos Reis.
59
A unidade Guaíba não apresenta vestígios da Lucina pectinata e a Ostreia sp é
encontrada nos últimos momentos da ocupação. predominou o consumo de Pintacta
imbricata e de Tais sp., também muito consumida nos sítios da unidade Angra dos Reis.
As variações entre as espécies eleitas como segunda opção podem estar
relacionadas tanto à disponibilidade como a fatores culturais. No entanto, como essa
variação ocorre também entre sítios pertencentes a uma mesma unidade cultural, como no
caso de Angra dos Reis, é bem provável que a segunda escolha recaia sobre a espécie mais
acessível e que forneça mais carne. Os dados disponíveis não permitem que se aprofunde a
questão.
60
Tabela 15 (arquivo em anexo)
Peixes:
Observa-se um consumo diferenciado de espécies de peixes, enquanto nas unidades
Parati e Guaratiba constata-se um predomínio de registros de Pogonias chromis,
Micropogonias furnieri e Cynoscium sp. (Tabela 13) Na unidade Angra dos Reis, embora
estas espécies ocorram, predominam os tubarões, as raias e as cocorocas (Haemulíeos). Em
Guaíba, não consta uma análise aprofundada da fauna ictiológica.
Chama a atenção o fato de que nas unidades Guaíba e Zé Espinho não foram
achados restos de raias, inclusive porque neste último local são encontradas pontas feitas a
partir do esporão desse animal. O mesmo ocorre na unidade de Parati onde, embora seja
mencionado o consumo de elamosbrânquios (Mendonça de Souza op.cit: 63, 74), estes
não aparecem nas listagens dos peixes mais consumidos, apesar de os dentes de cação
perfurados e as pontas feitas do esporão de raia fazerem parte da lista dos artefatos mais
freqüentes nos sítios de Parati, ou seja, são observados mais artefatos do que a evidência
do consumo desses peixes como alimento.
A diferença verificada entre as espécies pescadas nas unidades Parati, Guaratiba e
Angra do Reis parece indicar que nesta última unidade, diferente das outras, se possuía
tecnologia e instrumental específicos para a obtenção de peixes de difícil captura.
A grande representatividade nos restos ictiológicos de cações e raias, nos sítios da
unidade Angra dos Reis (Andrade Lima (op.cit : 194), permite que seja levantada a
hipótese de que esta unidade tenha sido um centro distribuidor de pontas elaboradas a
partir de esporão de raia e de dentes de cação perfurados.
ii
Cabe lembrar a importância do dente de cação perfurado, evidenciada pela grande
dispersão deste artefato, encontrado também em sítios do interior (Figuti, et al 2000) e
utilizado como evidência de contato com o litoral.
iii
Tabela 16 ( arquivo em anexo)
iv
Artefatos líticos
As lâminas de machados só não são registradas na unidade Parati. O mesmo
acontece com as bigornas e com os alisadores. (Tabela 17)
As lascas ocorrem em todas unidades, embora em Guaíba tenha sido encontrada
apenas uma única, mesmo tendo sido escavada uma área de 24m
2
. Parece estranho o fato
de que os percutores só tenham sido registrados nas unidades Parati e Guaratiba.
As mãos-de-mó aparecem em Angra e Guaratiba. E os quebra-cocos apenas na
unidade Parati e em Guaíba; provavelmente, ocorram na unidade Angra dos Reis e estejam
englobados na categoria bigorna.
v
Tabela 17 (tabela em anexo)
vi
Artefatos ósseos
Este material, constituído por pontas, bipontas, espinhos trabalhados, esporão de
raia trabalhado e dentes e vértebras perfurados, é muito semelhante nos sítios (Tabela 18) .
As pontas ocorrem em todas as unidades, assim como os dentes perfurados. As vértebras
com orifício só não são encontradas em Guaíba.
Os espinhos trabalhados obedecem à distribuição das pontas elaboradas a partir de
espinho de raia e aparecem em todas as unidades, embora estejam ausentes em alguns
sítios.
Em Guaíba, foi achada uma ponta feita de esporão de raia. Chama a atenção o
fato de que no sítio Zé Espinho, unidade Guaratiba, foi encontrado um enterramento
(sepultamento 1 sambaqui A) com uma ponta feita de esporão de raia entre a 1
a
e a 2
a
costela do indivíduo; fato semelhante ocorre no sítio Pontinha (Kneip e Machado 1993)
(ver figura 48) . Esse dado remete à informação fornecida por Sharp (1970:390) sobre o
uso do esporão de raia nas lanças de combate e de sua importância no sistema de trocas.
vii
Tabela 18 ( tabela em anexo)
viii
Figura 48. Ponta de esporão de raia. (Extraído de Kneip:1987)
Artefatos diagnósticos:
Foram considerados artefatos diagnósticos os assim classificados pelos
pesquisadores dos sítios apresentados: os poucos numerosos e associados a enterramentos
e os de grande visibilidade por requererem aprimorada tecnologia.
Artefatos diagnósticos – distribuição
ix
Como exemplo de artefatos diagnósticos estabelecidos pelos autores se tem apenas
as valvas de Callista maculata perfuradas, utilizadas como raspadores; ocorrem na unidade
de Angra dos Reis e Guaíba.
Dos associados a enterramentos, as lâminas de machado
miniaturas, associadas a enterramento em Guaíba e
também encontradas em Angra dos Reis.
São poucas as informações sobre a posição dos enterramentos; a única mencionada
é a posição fletida, encontrada nas unidades de Angra dos Reis, Guaíba e Guaratiba.
Um objeto que chama a atenção devido ao esmero tecnológico empregado para a
sua elaboração é o adorno feito a partir de valva de molusco perfurada, que pode ser
encontrado nas unidades de Parati, Guaíba e Guaratiba, sendo que nas duas últimas faz
parte de acompanhamento funerário (Figura 49).
Traços particulares
São traços particulares a apenas determinados sítios componentes das unidades. É
provável que a sua ausência nos sítios possa se dever apenas ao tamanho das amostragens;
mesmo assim, foram percebidos os seguintes dados:
Anzol registrado no Algodão; tudo indica que se trate de um caso isolado (Lima
op.cit. 289).
x
Lâmina de machado como acompanhamento funerário Sambaqui Espinho, unidade
Guaratiba.
Também como acompanhamento funerário, foi encontrado no sítio Guaíba um pingente
lítico, artefato que requer grande esmero tecnológico (Figura 50).
Espátulas elaboradas em osso – sítio Guaíba, unidade Guaíba.
Figura 49. Pingente em concha do sítio Guaíba (Extraído de
Heredia et al 1984)
xi
Figura 50. Pingente lítico. (Extraído de Heredia et al 1984).
xii
Modelos interpretativos existentes para a região
Para a área em questão existem dois modelos interpretativos para explicar sua
ocupação pré-cerâmica: o de Mendonça de Souza (1981) e o de Andrade Lima (1991).
Modelo proposto por Alfredo Mendonça de Souza.
Segundo Mendonça de Souza, a área teria sido ocupada por duas tradições
culturais: a Itaipu e a Macaé.
A Itaipu teria vindo pelo norte e se instalado na baía de Sepetiba, (Id.Ibid:74), cuja
representação seriam os sítios encontrados em Guaratiba. A Macaé teria vindo do sul e se
feita presente na região de Parati e Angra dos Reis.
Segundo o autor, essas tradições teriam chegado ao estado do Rio de Janeiro mais
ou menos na mesma época, por volta de 8000 antes do presente. A 4000 AP, todo o litoral
fluminense estaria ocupado pelas duas tradições, com novas feições, constituindo a
subtradição Guapi (Tradição Macaé) e a subfase Itaipu B (Tradição Itaipu). De acordo com
tal modelo, nessa época, a subtradição Guapi já teria se expandido para a baía de Sepetiba,
ocupando baías abrigadas e regiões estuarinas.
Devido ao fato de a Serra do Mar mergulhar diretamente no oceano, no intervalo
entre a baía da Ilha Grande e a Baía de Sepetiba, haveria nessa área uma interrupção na
xiii
expansão já que todos os sítios encontrados são de contato (neobrasileiros) os sambaquis
na sua quase totalidade ocorrem em ilhas (Mendonça de Souza ibid:75).
Enquanto isso, a subfase Itaipu B, que teria sua área nuclear na região de
Arraial do Cabo, continuaria ocupando espaços até a baía de Sepetiba, “sítios de
ambas as partes ocorrem muito próximos uns dos outros, originando um mosaico
de difícil interpretação”. (Mendonça de Souza ibid.:76) .
Segundo Mendonça de Souza (ibid:76), a subtradição Guapi da Tradição
Macaé é constituída por bandos recoletores de moluscos e pescadores e
caracteriza-se por uma exuberante indústria sobre ossos e dentes, mantendo-se
quanto às demais evidências, muito semelhante à subtradição Macaé.
Ainda, segundo este autor, por volta de 3000 anos, a subtradição Guapi começa a
modificar-se gradualmente, até caracterizar uma nova subtradição, a Macaé, da mesma
tradição, a qual ocupa locais idênticos e apresenta, ainda, a exuberante indústria sobre osso
e dente da fase anterior, agora associada a não menos importante indústria sobre lascas de
quartzo, com raspadores, facas, furadores e pontas de arremesso triangulares” (Id.Ibid:
:76). Essa tradição perdura até o contato com o Tupi-guarani e a chegada dos europeus,
quando dá origem a uma fase neobrasileira.
Em relação à Itaipu B, Mendonça a caracteriza apenas pela ocupação
em restingas e em dunas, marcada pela indústria de quartzo lascado e de
pontas triangulares, como as da tradição Macaé; nesse aspecto, ele admite
que a transição da subtradição Guapi para a fase Macaé se deu por
influência da subfase Itaipu B.
xiv
Mendonça de Souza ainda cita a presença de mais uma fase pré-cerâmica na área
em questão, a fase Pequerê, mais recente e caracterizada pela ocupação de abrigos sob
rocha. É encontrada na baía da Ilha Grande e em Arraial do Cabo. No entanto, não fica
claro a que tradição poderia estar relacionada.
O modelo proposto por Mendonça de Souza poderia exemplificar bem a
hipótese da existência de sítios “secos” e “úmidos“, como foi colocado
anteriormente. Os úmidos, remanescentes da Tradição Itaipu, construídos por
grupos que exploravam lagoas e locais inundáveis; os secos, voltados para o alto
mar, relacionados a uma cultura sambaquiana. Entretanto, a proposta de
Mendonça de Souza se depara, como sempre, com o mesmo problema analisado
no estudo dos sambaquis: o alto grau de similaridades encontradas na cultura
material e a dificuldade em se estabelecer as fronteiras culturais.
Mendonça de Souza (ibid:75) usa, como principal característica da
subtradição Guapi da Tradição Macaé, a existência de uma expressiva indústria
óssea em oposição a uma indústria lítica pobre, apresentando lascas de quartzo,
características opostas ao que é encontrado no sul do Brasil, de onde o autor
acredita terem vindo esses grupos. Quando Mendonça de Souza (ibid) menciona
que tais grupos provavelmente seriam ‘oriundos do sul’”, a entender uma
vinculação cultural com o conceito genérico de sambaqui, na medida em que
evidencia a ênfase na coleta de moluscos e utiliza a mesma denominação, no
caso Macaé, criada por Dias para se referir a sambaqui.
xv
Quanto à caracterização da subfase Itaipu B, esta se baseia apenas no tipo
de assentamento sobre dunas o que, conforme foi colocado na página xx, é
pouco consistente para delimitar uma fase.
Modelo Proposto por Tânia Andrade Lima
Apoiada na principal premissa da Ecologia Cultural, na qual o consumo de poucas
espécies pode indicar estabilidade, em oposição ao de muitas espécies, que pode ser usado
como sintoma de instabilidade e falta de alimento, Andrade Lima (1991) propõe que as
populações que ocuparam a costa meridional do Rio de Janeiro eram, inicialmente,
coletores de moluscos e que, depois de uma coleta altamente predatória, tiveram de
complementar a dieta intensificando a pesca e passando a coletar outras espécies de
moluscos menos produtivos, de menor porte e com menos carne. A partir de um minucioso
estudo zooarqueológico, desenvolvido em seis sítios localizados na Baía da Ribeira, esta
autora propõe que, por volta de 3000 anos antes do presente, teria ocorrido uma crise na
oferta de alimentos, causada por uma coleta altamente predatória que fez com que a dieta
alimentar fosse diversificada, tendo havido também uma substituição da ênfase na coleta
de moluscos pela da pesca.
Para contornar o fato de que existem sítios mais recentes, como o de Sernambetiba
(Beltrão et ali op.cit), datado em 1960±70 anos AP (Gaspar 1996), que apresenta espessas
camadas formadas por moluscos de grande porte e também que ocorrem sítios mais
antigos, como o Geribá II (Tenório et al 1992), datado em 5150
±
110 anos AP Gaspar
(ibid), e o Amourins (Heredia op.cit), datado em 3530±80 anos AP (Gaspar ibid),
construídos por grupos essencialmente pescadores, Andrade Lima responde que o declínio
xvi
do molusco não ocorreu de maneira uniforme por todo o litoral e que os sítios que
apresentam espessas camadas malacológicas, relacionadas a momentos mais recentes,
teriam sido construídos por grupos bem-sucedidos que ocuparam locais mais ricos,
atribuindo-lhes uma posição hierárquica superior.(Id.Ibid :503).
Segundo esse modelo, os sítios da baía da Ribeira poderiam ter se estruturado por
unidades familiares integradas (Id.Ibid:500). “Agregadas por forças sociais centrípetas,
essas pequenas unidades economicamente autônomas provavelmente sustentaram entre si
laços de parentesco, cooperação, intercâmbio e visitação (Id.Ibid:501)”.
Segundo Lima (ibid :498), “a ausência de sítios semelhantes no continente permite
afirmar que nessa região os grupos adaptados ao ambiente litorâneo buscaram
preferencialmente ilhas próximas a terra, fartas em mariscos”.
Para sustentar a hipótese de que a área foi partilhada concomitantemente por grupos
com uma mesma identidade cultural, apresenta um “complexo de traços regularmente
associados” (Id.ibid:498), composto por padrão de assentamento, sistema de subsistência,
tecnologia de exploração do ambiente, tecnologia de produção de artefatos.
O artefato, considerado diagnóstico por excelência para o reconhecimento da
identidade cultural entre esses grupos, é a concha com orifício circular na sua porção
central (Id.ibid:504.)
xvii
As informações obtidas em relação aos produtos consumidos corroboram a hipótese
de que a área delimitada na época de sua ocupação era constituída de um extenso
manguezal, ambiente que teria centralizado os assentamentos.
Esse dado, associado às similaridades observadas na sistematização das
informações provenientes dos sítios, indica uma grande proximidade cultural, que pode ser
respondida pela existência de uma única filiação cultural ou pela existência de alta
mobilidade, de intenso contato e fluxo de informação no litoral no período de 3300 a 1500
anos AP.
Uma mesma filiação cultural só poderia ser constatada a partir da presença de
idênticos rituais ou da existência de um padrão análogo de assentamento.
Os dados sobre os rituais são muito escassos e fragmentados para permitir uma
comparação intersítios. Quanto ao padrão de assentamento, existem muitos pontos comuns
e particulares à área em questão, tais como: a presença de abrigos próximos sob rocha e
apresentando o mesmo material dos sambaquis.
24
Os assentamentos em meio a grandes
blocos, como o verificado para todos os sambaquis encontrados nas unidades de Angra dos
Reis e Parati.
Ao mesmo tempo em que as similaridades são evidentes, as mudanças são muito
pouco perceptíveis, revelando uma grande continuidade cultural. A única mudança
afirmada pelos coordenadores das pesquisas enfocadas foi a do aumento da ênfase na pesca
24
No Estado do Rio de Janeiro, essa associação só irá ocorrer em Arraial do Cabo local
que também apresenta amoladores.
xviii
depois de algum tempo de ocupação, o que, segundo Andrade Lima (op.cit passim),
poderia ser resultado de diminuição de oferta de alimentos em função de uma coleta
predadora ou, segundo Heredia et al (1983), ter sido provocada por um maior
conhecimento do ambiente e pelo desenvolvimento tecnológico, incentivado por novas
experimentações.
A ausência de informações, principalmente no que diz respeito à demografia, não
permite que se avance muito nessa questão que se assemelha à discussão sobre as causas
da introdução da agricultura (Tenório 1991), atuando o mesmo esquema estabilidade,
aumento populacional, introdução de novas técnicas de obtenção do alimento e igual
indagação: necessidade ou inovação tecnológica?
Em todos os sítios das unidades Parati e Angra dos Reis, seus pesquisadores
observaram uma substituição gradativa da ênfase na coleta para a ênfase na pesca. Como
se fosse um ciclo repetido em cada sítio: primeiro
coletores, depois pescadores, quando o esperado é que houvesse uma mudança
para locais com maior abundância de moluscos antes de uma mudança na
economia. Este fato parece indicar que a ênfase da pesca pode estar mais
relacionada a um desenvolvimento tecnológico do que à escassez alimentar ou
que esta mudança tivesse ocorrido num momento de grande aumento
populacional, havendo disputa pelos locais próximos aos bancos de moluscos.
Dois tipos de evidências, encontradas na arqueografia do estado do Rio de Janeiro,
corroboram essa hipótese: o grande índice de mortandade de homens jovens no início da
ocupação do sítio Corondó (Machado 1981) e a presença de enterramentos nos sítios Zé
xix
Espinho (Kneip op.cit) e Pontinha (Kneip e machado op.cit) com pontas encontradas entre
as costelas.
A similaridade encontrada no material proveniente da área delimitada para a
pesquisa parece indicar grande dispersão do conhecimento tecnológico e de elementos
rituais, o que aponta para a existência de alto grau de contato e de troca de informações.
Os dados se voltam para a interpretação de que, até a adoção efetiva das técnicas
agrícolas, a vida no litoral foi viabilizada por um grau crescente de mobilidade, contato e
trocas. Os problemas relacionados à falta de previsibilidade e à sazonalidade da pesca, à
escassez e ao esgotamento dos produtos previsíveis, provavelmente teriam sido sanados
pelo intenso contato e pela exploração conjunta do ambiente, tipo de economia e
organização social, características de grupos pescadores, verificada, ainda hoje, entre
grupos caiçaras que habitam a Ilha Grande.
xx
CAPÍTULO III
ARQUEOLOGIA DA ILHA GRANDE
Metodologia da abordagem:
A abordagem no campo foi feita a partir de prospecções em toda a ilha e de
escavações sistemáticas nos sítios Ilhote do Leste e Ponta do Leste.
Os trabalhos foram iniciados no ano de 1983 exclusivamente na Reserva
Biológica Estadual Praia do Sul – quando, atendendo a uma solicitação da Fundação
Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), realizou-se um levantamento
arqueológico da área. Posteriormente, para o desenvolvimento do presente trabalho, a
pesquisa foi ampliada para toda a Ilha Grande.
Prospecções:
Nas prospecções, determinou-se por objetivo verificar se na Ilha Grande haveria outros
amoladores-polidores fixos, além dos encontrados na Reserva Biológica Estadual Praia do
Sul (RBEPS) (Gaspar e Tenório op.cit) e se esses sítios estariam articulados.
As prospecções na ilha Grande foram muito dificultadas pela precariedade de
acesso às praias, o que acarretou um alto custo operacional.
xxi
O período escolhido foi de dezembro a março, época em que os amoladores-
polidores fixos estão à mostra, descobertos pelas ressacas que ocorrem de agosto a
novembro, e que lhes retiram a areia que os esconde; o mar está mais calmo, facilitando o
acesso às praias.
Todas as 47 praias da ilha foram visitadas, o que foi possível graças à utilização de
uma pequena lancha que facilitou o desembarque em cada uma delas e permitiu percorrer o
costão. Quando o acesso não foi possível por mar, foi feito a pé, através de antigas trilhas,
a maioria localizada em leitos secos de córregos. Durante o percurso, foram realizadas
entrevistas com moradores, de acordo com um roteiro de perguntas pré-estabelecido
(Figura 51).
Os sítios encontrados foram registrados em três tipos de fichas: uma, desenvolvida
com o objetivo de sistematizar as informações sobre o ambiente onde o sítio esinserido;
outra, para detalhar o sítio; e uma terceira, para a descrição dos amoladores-polidores.
(Tabelas 19,20,21).
xxii
Código
Nome do morador
Local
Tempo de residência
Informações sobre pedra de raio
Descrição
Foto
Informação sobre terra preta
Informação sobre amoladores
Detalhamento
Pesquisador
Data
Figura 51- Ficha usada nas entrevistas
xxiii
FICHA PARA PROSPECÇÃO – ILHA GRANDE
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
Sítio
Número do registro
Data
Local
Proprietário
GPS Lat. Long.
Tipo de sítio
Tamanho
Metros
Altura rel/ma
Direção
Sedimento na área
Caminhada
Canoa
Distância entre sítios
Metros
Fontes de matéria prima
Vento predominante
Tipo de praia
Vegetação
Plantas comestíveis
Conservação
Croquis
Fotos
Tabela19 - Ficha para prospeção
Pesquisador:
Data:
Número de registro
Sítio
Local
xxiv
Proprietário
GPS lat.:
long.:
Distância entre sítios em metros/ GPS
Tamanho
Altura rel/maré
Inclinação Direção:
Grau:
Sedimento
Estratigrafia
Amostra do perfil
Vegetação
Água mais próxima
Presença de amoladores Sim
Não
Localização do sítio em relação ao mar, sol e
vento
Conservação do sítio
Presença de palmeiras e distância ao sítio
PERFIL
Quantidade de amostras das camadas
Descrição das camadas
Camada óssea
Camada Malacológica
Orientação das conchas
Concreção
Lente de fogueira
Estado de fragmentação das camadas
Tipo de solo (coloração, granulação, etc.) das camadas
Dimensões (trado e perfil)
Tabela 20 – ficha de campo
xxv
FICHA 3
AMOLADORES/POLIDORES
Sítio
conjunto
Núm. de suportes
Suporte
Num. de amoladores
Num. de frisos
Inclinação
Altura da linha de maré
Tipos
Distância da água
Desenho de cada suporte com número de cada amolador e medidas largura,
comprimento e profundidade.
Tabela 21
-
ficha utilizada no campo para registro de amoladores
xxvi
Embora tivesse sido levantada toda a ilha, nas prospecções foram priorizados os seguintes
ambientes:
Proximidade da água, desembocadura de rio;
Proximidade da matéria prima, no caso, matacões de charnokito ou de granito, suportes
mais utilizados para os amoladores-polidores fixos;
Proximidade dos amoladores-polidores fixos, no caso de outros tipos de sítios;
vegetação, locais próximos a palmáceas, frutas silvestres e guapuruvu (Schizolobium
parahyba), árvore usada para fazer canoas.
Topografia: foi levantada e feitas sondagens em locais que apresentavam topografia
semelhante à Ilhota do Leste, localizada na Reserva Biológica Estadual Praia do Sul
(RBEPS).
Amostragem
Todos os amoladores-polidores fixos encontrados foram registrados e localizados
por GPS. No entanto, os acessíveis puderam ser desenhados, fotografados e medidos.
Os que estavam dentro de rios caudalosos, inundados pela maré ou cobertos por areia ou
vegetação ganharam apenas identificação; seus sulcos não foram contabilizados.
Além dos amoladores-polidores fixos, foram encontrados outros sítios, nos quais
foi feita coleta de superfície, sondagem por trado de 20cm de diâmetro e limpeza de perfil
com coleta de sedimento e carvão para datação.
Resultados obtidos:
xxvii
Nas prospecções, encontraram-se 54 sítios arqueológicos. Desses, 47 são oficinas
líticas, constituídas por conjuntos de amoladores-polidores fixos; seis têm as dunas como
substrato e apresentam fina camada de ocupação.
Somando-se três sítios localizados em etapas anteriores (Tenório
1992) – um sobre duna, um a meia-encosta e outro em um abrigo sob
rocha – há um total de 56 sítios arqueológicos identificados na Ilha
Grande.
As oficinas líticas são constituídas por amoladores-polidores fixos, como já
foi mencionado, são rochas que apresentam marcas resultantes da elaboração de
objetos polidos. São encontrados em quase todas as praias que apresentam
cursos d’água e ocorrem predominantemente na parte da ilha voltada para o alto-
mar. Localizam-se sempre próximos a cursos de água doce que desembocam
nas praias. Até o momento, no litoral brasileiro, exclusivamente na Ilha Grande,
ocorrem também dentro de rios a uma distância máxima de 300m da maré atual.
As formas dos sulcos mais recorrentes são os frisos paralelos e aquelas
em forma de canoa, muitas vezes encontradas juntas, uma sobrepondo a outra.
Além dessas formas, ocorrem na Ilha Grande 11 tipos de sulcos.
Os sítios localizados sobre dunas, encontrados na Ilha Grande, receberam esta
denominação apenas por terem as dunas como substrato, por motivos apresentados, não
sendo considerados como representantes de uma unidade 9cultural específica. Sua repetida
xxviii
proximidade a sítios localizados à meia-encosta aponta para a hipótese de que façam parte
de um mesmo sistema de assentamento.
Os sítios sobre dunas apresentam fina camada de ocupação, constituída,
principalmente, por lascas de quatrzo; menos freqüentes são encontradas lentes de
fogueiras com restos faunísticos ou lâminas de machado. Apenas um desses sítios, o Ponta
do Leste, apresentou condições para pesquisa; os outros estavam completamente
destruídos.
O único sítio identificado como um abrigo sob rocha estava totalmente
destruído.
Localização dos sítios
Utilizando–se a divisão proposta para a Ilha Grande, na parte referente à
caracterização ambiental da área de pesquisa, há a seguinte distribuição dos
sítios identificados (Figura 52):
xxix
Figura 52. Distribuição dos sítios na Ilha Grande
Parte continental
Caracterizada pela presença de 29 praias calmas, pequenas e
médias e, em relação às outras, mais próximas ao continente;
apresenta dois sítios em dunas e 11 oficinas líticas. Estas últimas são
compostas de 11 conjuntos de amoladores-polidores fixos, portando
312 sulcos.
Parte oeste
Caracterizada por estar na fronteira entre a parte protegida da ilha e a
parte onde o mar começa a ficar revolto. Apresenta 15 praias médias
e grandes, localizadas em enseadas resguardadas. Foram
Amoladores
Sítios em duna
Sítio em abrigo
Sítio em morote
Parte continental
Parte meridional
Parte oeste
xxx
localizados um sítio sobre duna e sete oficinas líticas, compostas de
sete conjuntos de amoladores-polidores fixos, totalizando 84 sulcos.
Parte meridional
Constituída por praias grandes de difícil acesso
e pela presença de duas lagunas; é onde se encontra a
maior incidência de sítios arqueológicos. Foram
identificados sete sítios sobre dunas, um sambaqui, um
sítio em abrigo sob rocha e 17 oficinas líticas com 63
conjuntos de amoladores-polidores fixos, totalizando
983 sulcos. No centro dessa área está o sambaqui
Ilhote do Leste e o sítio da Ponta do Leste. Ao lado
desses sítios é encontrada a maior concentração de
amoladores da Ilha Grande. Sua localização indica que,
nos dois sítios, os amoladores-polidores fixos foram
feitos no mesmo período.
Caracterização dos sítios encontrados:
Abrigo sob rocha
O único abrigo sob rocha, denominado Toca do Índio, está às margens da
Lagoa do Leste (Figura 53), no caminho da Praia da Longa, trilha muito antiga
que os moradores do Aventureiros usam para voltar desta praia, onde deixam
seus barcos em épocas em que o mar está revolto. É constituído de uma camada
xxxi
formada por valvas de
Lucina pectinata
e por lascas de quartzo. Por estar
completamente destruído, o sítio oferece poucas informações.
xxxii
Sítio
Sítio da Toca do Indio
Tipo de sítio
Abrigo sob pedra - DESTRUÍDO
Localização
Lagoa do Leste
Situação
Beira da Lagoa do Leste
Coordenadas
Sítio mais próximo
Sítio Ilhote do Leste
Distância
2000 metros
Tipo de praia
Associado a água doce
sim
Tipo
Lagoa
Distância da maré média 1
100 metros
Suporte
Espessura da camada de ocupação
50 cm
Área
Material encontrado
lascas de quartzo e carapaças de Lucina pectinata (Gemlin,
1791).
Estado de conservação Destruído
Figura 53. Sítio da Toca do Índio
xxxiii
Sítios sobre duna:
Excluindo o sítio da Ponta do Leste, que será apresentado mais adiante, os outros
encontrados estavam praticamente destruídos.
Com exceção de um localizado na divisória das áreas delimitadas, todos estão na
parte meridional (ver figura 39) e têm como característica principal o fato de estarem em
praias, sobre pequenas elevações formadas pelas dunas e apresentarem lascas de quartzo.
Apenas dois sítios, da Estrada (Figura 54) e do Mero (Figura 55), apresentam, além do
material lítico, restos malacológicos. No primeiro, são encontrados restos de Lucina
pectinata coletados no fundo lodoso dos manguezais que circundam a lagoa que,
provavelmente, estaria próxima ao sítio. No segundo, são encontradas carapaças do
gastrópode Astreae sp que habita as rochas do costão, também próximo a ele.
xxxiv
Sítio
Sítio da Estrada
Tipo de sítio
Sítio sobre duna - DESTRUÍDO
Localização
praia do Leste - antiga estrada para Longa
Situação
Lado esquerdo da praia
Coordenadas
Sítio mais próximo
Sítio Ilhote do Leste
Distância
100 metros
Tipo de praia
grande com ondas
Associado a água doce
sim
Tipo
Barra de canal
Distância da maré média
1
500 metros
Suporte
Duna
Espessura da camada de
ocupação
50 cm
Área
Material encontrado
lascas de quartzo e carapaças de Lucina pectinata (Gemlin, 1791).
Estado de conservação Destruído.
Figura 54. Sítio da Estrada
xxxv
Sítio
Mero
Tipo de sítio
sítio sobre duna
Localização
Praia do Mero
Situação
Meio da praia
Coordenadas
23 567598E/ 7432120 N
Sítio mais próximo
Mero 1
Distância
100 metros
Tipo de praia
protegida pequena
Associado a água doce
sim
Tipo
Entre dois córregos
Distância da maré média
1
100 metros
Material encontrado
3 lâm. de mach., lasc. de quartzo, gastróp. (Astraea sp) e cer. neobras.
Estado de conservação destruído
Figura. 55 Sítio do Mero
xxxvi
Nos sítios do Mero e no da Longa (Figura 56) foram encontradas lâminas de
machado. No da Parnaioca, uma lâmina foi encontrada por um antigo morador.
Apenas nos sítios de Proveta (figura 57) e no da Ponta do Leste (figura 58) foram
encontrados restos de fauna, porém são muito poucos e no primeiro caso este dado é
questionável, porque o sítio eslocalizado numa aldeia de pescadores, onde facilmente
restos de peixes espalhados pelo chão. No segundo caso, os únicos ossos de fauna achados
estavam associados a um enterramento.
Todos os sítios estão localizados próximos a amoladores fixos.
xxxvii
Sítio
Sítio da Longa
Tipo de sítio
sítio sobre duna
Localização
Praia da Longa
Situação
Lado direito da praia
Coordenadas
23 570573E/7441018
Sítio mais próximo
Longa I
Distância
100 metros
Tipo de praia
protegida grande
Associado a água doce
sim
Tipo
50 metros de rio encachoeirado
Distância da maré média 1
100 metros
Material encontrado
1 lâmina de machado, lascas de quartzo
Estado de conservação destruído
Figura 56
Sítio Sítio Provetá - DESTRUÍDO
Tipo de sítio sítio sobre duna
Localização Praia de Provetá
Situação lado direito da praia - debaixo do cemitério atual.
Coordenadas
Sítio mais próximo Provetá I
Distância
Tipo de praia grande protegida
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Material encontrado Restos de fauna e lascas de quartzo
Estado de conservação Totalmente destruído.
Figura 57 - Sítio Provetá
xxxix
Sítio
Sítio da Ponta do Leste
Tipo de sítio
sítio sobre duna
Localização
Praia do Leste
Situação
Lado esquerdo da praia
Coordenadas
23 570573E/7441018
Sítio mais próximo
Ilhote do Leste
Distância
2000 metros
Tipo de praia
grande com ondas
Associado a água doce
sim
Tipo beira de leito seco de rio.
Distância da maré média 1
100 metros
Suporte
Duna de 3 metros de altura, sedimento arenoso cinza
Material encontrado
lascas de quartzo, ossos de fauna, lentes de fogueira e 1 enterramento
Estado de conservação parte erodida pelo mar
Antiguidade Convencional radiocabon: 2880:40BP. Cal BP 3140 - 2880. Beta AMS 148615.
Figura 58
Figura 58 sítio Ponta do leste
xl
Oficinas líticas – Amoladores-polidores fixos da Ilha Grande
Os amoladores-polidores fixos foram encontrados em todas
as praias que apresentavam cursos de água doce.
Os sítios são formados por conjuntos desses amoladores-polidores fixos que, por
sua vez, se constituem por suportes que contêm sulcos.
Foram definidos como sítios os conjuntos de suportes distantes mais de 200m entre
si. Em 20% dos casos foi registrado mais de um sítio por praia.
Foi registrada a orientação de todos os suportes e elaborado um croqui com a
disposição e as formas dos sulcos. Tiraram-se as seguintes medidas: comprimento máximo,
largura máxima e profundidade e anotou-se o ângulo predominante da inclinação dos
sulcos em cada suporte.
A partir do estudo de fotos e de croquis, elaborou-se uma tipologia dos sulcos
encontrados.
Foram criados quatro bancos de dados para a organização das informações.
O primeiro teve por objetivo sistematizar dados sobre a inserção do sítio no espaço;
o segundo, para caracterizar cada conjunto; o terceiro, para os suportes; o quarto, para os
sulcos.
xli
Matéria prima:
Os blocos de charnokito foram os preferidos para suporte dos amoladores-polidores
fixos. Em menor quantidade, também foram usados blocos de granito. A presença dessas
duas matérias primas sugere que a escolha da Ilha Grande não se deu apenas pela oferta de
charnokito, já que o granito é amplamente encontrado no litoral do Rio de Janeiro.
Localização:
Os amoladores-polidores fixos estão sempre relacionados à
localização das barras dos córregos. Eles ocorrem,
predominantemente, nas barras que deságuam nas praias; no
caso de haver várias barras, os conjuntos predominam no canto
esquerdo das praias (ver figura 59). Em oito casos, constata-se
um desvio desse padrão: três sítios foram encontrados dentro de
rios, três ocorrem também no costão e dois estão à volta de um
morrote que divide duas praias.
Embora a posição desses sítios fuja ao padrão, as formas
encontradas não diferem dos amoladores-polidores fixos
achados nas praias.
xlii
0
5
10
15
N. de sítios
Localização dos sítios
dentro do rio
meio da praia
lado esquerdo da praia
lado direito
costão
dentro de rio na praia
a volta de morrote meio
da praia
Figura 59. Localização dos sítios
Dos encontrados dentro dos rios, o tio da Andorinha I situa-se no rio da
Andorinha, a 500m da praia; o do Sr Jurandir fica a 400m, dentro de um córrego do lado da
trilha que liga as praias de Itaoca à Aroeira e à da Longa II, a 300m da praia, dentro do rio
Capivari.
Na análise da relação entre a localização dos suportes e o nível
do mar atual, constata-se o nítido predomínio da distância de 0 a
5m entre os amoladores e a maré média (ver gráfico), distância
que deixa submersos, atualmente, os suportes na maré cheia e
nas ressacas. Provavelmente, o mar se encontrava mais baixo na
época em que estavam ativos, o que sugere que os amoladores-
polidores fixos foram produzidos predominantemente num
período de regressão marinha. A presença de dois sítios
(Ilhote/Leste e Ponta do Leste II) no costão corrobora tal
xliii
hipótese, pois esses amoladores-polidores fixos teriam sido
produzidos numa época em que o mar estava muito recuado, já
que a barra dos rios a eles relacionada deveria estar muito mais à
frente do que está atualmente. As datações obtidas para os sítios
Ilhote do Leste e Ponta do Leste, próximos a esses amoladores-
polidores fixos e relacionadas a períodos de regressão marinha,
segundo proposta de Martim et ali (
op.cit
), também confirmam a
hipótese.
0%
50%
100%
1
Situação dos amoladores em
relação ao nível do mar atual
Costão
500m
300m
100m
30-50m
20m
Nivel do mar
xliv
Orientação
Em 85% dos casos, os suportes seguem a orientação leste/oeste.
Posicionamento dos sulcos nos suportes
Embora sempre pareça existir uma ordenação harmoniosa, não foi possível
perceber nenhuma tendência no posicionamento dos sulcos, apenas o previsível; em 75%
dos casos, os sulcos estão localizados na parte plana dos suportes, o que aponta para uma
procura por suportes portando áreas planas.
Além da inclinação do sulco, ele deveria influenciar na sua profundidade e
morfologia.
Há uma variação muito grande em relação ao número de sulcos nos suportes.
Alguns deles estão repletos e outros com pouquíssimos sulcos. Provavelmente,
aqueles que permitissem um bom posicionamento ao artesão, que estivessem localizados
em áreas sombreadas e que tivessem uma altura que os colocasse fora do alcance das
marés e bem próximos da água doce deveriam ser os mais procurados.
Dimensões
Dimensões dos suportes: variam muito em tamanho, podem ter de 6m a 60cm de
comprimento e de 4m a 40cm de largura.
xlv
Dimensões dos sulcos:
O tamanho dos sulcos está sempre relacionado a sua forma, a canoa e todos seus
derivados apresentam uma profundidade de 2,5cm, comprimento e largura média de 30cm
e 22cm, respectivamente.
O friso e suas variações apresentam em média 1cm de profundidade, por 2,5cm de
largura e 30 de comprimento.
As bacias que são mais profundas e podem chegar a 6cm de profundidade. Elas têm
em média 30cm de diâmetro
Morfologia
Conforme sua morfologia, foram identificados 13 tipos de sulcos:
Tipo 1 – Forma de canoa: resulta da elaboração do gume e do corpo da lâmina do machado
(figura 61).
xlvi
Figura 61. Canoa.
Tipo 2 – Canoa com friso: a forma da canoa com um friso no meio (figura 62).
Figura 62. Canoa com friso.
xlvii
Tipo 3 – Friso: linha estreita (Figura 63).
Figura 63. Friso
Tipo 4 – Canoa redonda: sulco com a forma semelhante ao tipo 1, porém mais arredondada
(Figura 64).
Figura 64. Canoa redonda.
xlviii
Tipo 5 Inicial: sulco superficial e plano com forma retangular. Essa forma tem pouca
visibilidade sendo difícil fotografá-la. (ver figura 12, p.103).
Tipo 6 – Canoa com mais de um friso: semelhante ao tipo 3, com mais de um friso (Figura
65).
Figura 65. Canoa com mais de um friso.
Tipo 7 – Inicial com friso: Forma pouco incidente; aparece em um sítio. Não foi
possível fotografá-la, pois o sulco não estava nítido.
Tipo 8 – Panela: forma redonda e funda pouco recorrente (figura 66).
xlix
Figura 66. Panela
Tipo 9 – Seqüência de frisos paralelos (Figura 67).
Figura 67. Frisos paralelos.
l
Tipo 10 – Canoa funda (Figura 68).
Figura 68. Canoa funda.
Tipo 11 – Friso gigante: são canoas estreitas muito longas (figura 69).
Figura 69. Friso gigante.
li
Tipo 12 – Canoa com bordo saliente (Figura 70).
Figura 70. Canoa com bordo saliente.
Tipo 13 – Sulcos grandes e fundos com a forma de gota (Figura 71).
Figura 71. Forma de gota.
lii
Distribuição dos Tipos
Os amoladores-polidores fixos aparecem em maior número na parte meridional da
ilha, coincidindo com a maior ocorrência de outros tipos de sítios (Figura 72).
Distribuição dos sulcos por área
Parte meridional Parte continental Parte oeste
Figura 72
301
Figura 73. Distribuição dos tipos de sulcos na Ilha Grande
Quanto aos tipos, eles são distribuídos por toda a ilha, ocorrendo algumas concentrações,
como (Figura 73):
1. O tipo 1, embora ocorra em toda a ilha, aparece com maior intensidade nos sítios
Ilhote/Leste, Ponta do Leste, Longa II e Andorinha, todos localizados na parte
meridional. Sua dispersão está sinalizada por um círculo rosa;
2. Essa mesma concentração, acrescida do sítio Saco do Céu, também é observada na
distribuição do tipo 2. Sua dispersão está sinalizada por um círculo rosa;
3. O tipo 3 ocorre em toda a ilha, predominantemente nos sítios Lopes Mendes I e II, no
Andorinha e no Praia Preta. Sua dispersão está sinalizada por um círculo laranja;
4. O tipo 4 apresenta leve predomínio nos sítios Longa I, Itaóca e Mero I. Sua dispersão
está sinalizada por um círculo amarelo;
5. O tipo 5 predomina completamente no sítio Ilhote/Leste. Este sítio engloba os
conjuntos de amoladores-polidores fixos encontrados à volta da ilhota onde eso sítio
do Ilhote do Leste. Sua dispersão está sinalizada por um círculo vermelho;
6. O tipo 6 tem uma distribuição mais homogênea, só predominando no sítio da Praia
Preta. Sua dispersão está sinalizada por um círculo rosa “shocking”;
7. O tipo 7 tem pouquíssima ocorrência, apenas dois sulcos que ocorrem no sítio da Praia
Vermelha;
8. O tipo 8 se com pouca freqüência, achado no sítio da Longa II; como são apenas
quatro sulcos, sua presença é pouco significativa;
9. O tipo 9, embora aconteça em mais 16 sítios, tem sua predominância no sítio Lopes
Mendes, onde é bastante significativa;
ii
10. O tipo 10 ocorre em apenas quatro sítios, com nítido predomínio nos tios Ponta do
Leste e Saco do Céu PF. Localizados em lados opostos da Ilha; sinalizado por um
circulo roxo;
11. O tipo 11 também é formado por poucos sulcos e seu predomínio es no sítio
Ilhote/Leste; círculo verde-escuro;
12. O tipo 12 apresenta apenas x sulcos e só aparece no sítio da Barra do Purungo e no sítio
da Praia Vermelha I; círculo marrom;
13. O tipo 13, também pouco recorrente, esrestrito a dois sítios: Toca do Demo e Longa
I; círculo verde-água.
Pode ser constatado que a grande variedade de tipos ocorre na parte meridional, nas
praias do Leste, da Longa e de Dois Rios. É também essa a área de ocorrência dos sítios
multifuncionais. Na Praia da Longa também foi encontrado um sítio mencionado (ver
figura 56, p.317), o que corrobora a hipótese de que os amoladores estariam concentrados
em locais próximos a sítios residenciais ou que congregassem pessoas.
Relação entre tipos de sulcos:
Os tipos 1, 2, 3 ocorrem associados em 59,57% dos casos. É também grande a
vinculação desses tipos com os menos populares, chegando a 100% no caso do tipo 6.
Constata-se que pelo menos um desses tipos está sempre presente nos conjuntos de
amoladores-polidores fixos, o que sugere que estes seriam fundamentais na elaboração das
lâminas e que os outros seriam variações que poderiam estar associadas ao material
trabalhado, a etapas de fabricação, qualidades do suporte ou mesmo a opções culturais.
iii
Embora se acredite que os amoladores-polidores fixos da Ilha Grande tenham sido feitos
por indivíduos pertencentes a um mesmo sistema sociocultural, essas variações na
morfologia dos sulcos podem estar relacionadas a unidades familiares ou a alguma outra
compartimentação social.
Analisando o predomínio dos tipos em cada sítio, observa-se na figura 74 que ,
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Longa II Mero II Praia da
Fazenda
S.Jurandir Vermelha I Parnaioca
I
Barra
Andorinha
Ilhote/leste
Distribuição dos tipos
T10
T9
T8
T7
T6
T5
T4
T3
T2
T1
Figura 74. Distribuição dos sulcos nos sítios.
iv
T1
0
5
10
15
20
25
30
Ilhote/sul
L
o
p
e
s
Me
n
d
e
s
1
Mero II
S.
J
u
r
a
n
d
i
r
P
rainha
T
o
c
a
d
o
De
mo
Ilhote/leste
Pra
i
a
d
a
F
a
z
e
n
d
a
Praia Preta
Feit
i
ceira
Mor
c
ego
R
e
c
i
f
e
Vermelha II
L
o
n
g
a
II
Ubatuba II
Tapera
T1
T3
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
I
l
h
ote
/
sul
Lo
p
e
s
M
en
d
es
1
Me
r
o
I
I
S.Jurandir
Prainha
P
a
r
n
aioca
I
Toca
do
D
e
m
o
I
lhote/l
e
ste
Pr
a
ia d
a
Fazenda
P
r
a
i
a
P
r
e
ta
Fe
i
ticeir
a
M
o
rcego
Recife
V
er
m
e
l
h
a
I
I
L
o
ng
a
II
Ubat
u
ba
II
Tapera
T3
Figura 75. Gráficos de incidência dos Tipos 1 e 3.
v
O tipo mais comum é o tipo 1 (figura 75), seguido do tipo 3. O tipo 2, terceiro em
incidência, trata-se de uma sobreposição dos tipos 1 e 3.
Como já foi mencionado, os trabalhos de experimentação indicaram que enquanto o
tipo 1 é formado pela ação de polir o corpo da lâmina e de afiar o gume, o tipo 3 resulta do
preparo da borda.
A grande incidência do tipo 3 permite elaborar duas hipóteses:
1. Existiria uma intenção em produzir uma marca na paisagem;
2. Com o uso da lâmina, a borda se quebrava, formando degraus e, para reafiá-la, era
necessário deixá-la novamente reta para depois desgastá-la por polimento.
No entanto, o fato de que a incidência do tipo 5, que pela sua forma reta pode ser
relacionado ao ato de afiar o gume, é muito menor do que a incidência do tipo 1 parece
indicar que o trabalho de elaborar lâminas era mais intenso do que o de reafiá-las.
Frisos (tipo 3) e sulcos contendo frisos (tipos 2, 6 e 9), sendo muitos em relação ao
tipo 5, criam oposição à hipótese de que os frisos seriam produzidos pelo preparo do
bordo.
Outro dado que também vai contra esta hipótese é que, a partir de experimentação,
pode-se constatar que o desgaste provocado pela regularização do bordo é muito pequeno
para responder pela existência de tantos frisos. Tal fato corrobora a hipótese da existência
vi
de um grafismo os frisos teriam sido feitos intencionalmente, não teriam se formado
apenas como conseqüência de determinado trabalho.
A existência dos tipos 2 e 6, frisos dentro de canoas, também chama a atenção,
que estes inutilizam a bacia de polimento. Pode-se pensar nessa intenção, mas não há como
prová-la.
Relação dos amoladores-polidores fixos encontrados na Ilha Grande com as formas
achadas no Rio de Janeiro.
Como já foi mencionado, os amoladores-polidores fixos o encontrados em cinco
locais no estado do Rio de Janeiro: em Angra do Reis; na Ilha Grande (Gaspar e Tenório
op.cit, Tenório 1995, Tenório 1998), onde ocorre sua maior concentração; na Ilha do
Sandri e no Saco de Piraquara (Oliveira e Ayrosa 1992); na Ilha de Marambaia (Kneip e
Oliveira in); em Cabo Frio (Dias 1959) e em Arraial do Cabo (Tenório et ali 1992) (Figura
76).
vii
Figura 76. Mapa do Rio de Janeiro com distribuição de amoladores-polidores fixos
Com exceção dos amoladores-polidores fixos encontrados no Saco de Piraquara, o
maior ponto em comum é a sua localização em ilhas ou pontas que, em períodos de
regressão marinha, teriam uma configuração insular. Segundo Amador (1987), a restinga
que une a ponta do Atalaia ao continente e que forma a Praia Grande, em Arraial do Cabo,
teria se formado cerca de 2000 AP. Assim sendo, é possível que, quando os
amoladores-polidores fixos da Praia Grande foram feitos, o local tivesse uma configuração
insular. O mesmo poderia suceder com o morro da Guia, em Cabo Frio, onde estão
localizados os amoladores-polidores fixos.
Outras evidências comuns aos sítios, contendo amoladores-polidores fixos
identificados no estado do Rio de Janeiro, são as formas dos sulcos encontrados.
Amoladores-polidores fixos
Área com amoladores-polidores fixos
viii
Quanto à distância que separa esses sítios, aqueles com amoladores-polidores fixos
mais próximos aos achados no Saco de Piraquara são os localizados na praia da Longa, na
Ilha Grande, que dista cerca de 25km em linha reta, numa travessia de dia de canoa, onde
predomina o mar calmo. os encontrados na Ilha de Marambaia estariam mais próximos
daqueles da enseada de Palmas, também na Ilha Grande, em torno de 10km, em área de
mar manso.
Os mais distantes da concentração de sítios da Ilha Grande são os localizados em
Arraial do Cabo e em Cabo Frio, separados entre si por volta de 7km de mar agitado, com
muito vento, e a 240km da Ilha Grande, percurso que apresenta dificuldades, como a
presença de longos costões, com mar muito agitado e bastante vento, mas também com
sítios em toda a sua extensão, o que propiciaria uma navegação de cabotagem.
Associações:
Todos os tios de amoladores-polidores fixos identificados no estado do Rio de
Janeiro estão próximos a sambaquis, numa distância que varia de alguns metros a 40km.
As informações referentes aos sítios de Piraguara são muito escassas; apenas é
citada a presença de um sambaqui destruído na área onde foram encontrados os
amoladores-polidores fixos (Oliveira e Ayrosa op.cit. :756).
Quanto aos localizados na Ilha de Marambaia, as autoras os relacionam aos
sambaquis a cerca de 40km, na restinga do mesmo nome (Kneip e Oliveira op.cit.s/d),
sítios que foram descritos na gina 269, e que compartilham muitos traços culturais, o
ix
que pode estar indicando a presença de um único sistema sociocultural ou de um intenso
contato.
Quanto à associação dos amoladores-polidores fixos da Ilha de Marambaia com
sambaquis da Ilha Grande, estes estão a cerca de 25km do sítio Ponta do Leste e a 27km do
sítio Ilhote do Leste. O contato por mar, através de embarcações muito rústicas, é possível
principalmente no verão, quando o mar fica extremamente calmo. De acordo com
informações obtidas com pescadores locais, o percurso despenderia aproximadamente um
dia de canoa.
Fugindo ao padrão de assentamento, os amoladores-
polidores fixos de Cabo Frio estão localizados no topo de um
morro que tem um sambaqui na base.
Normalmente, as oficinas estão em locais baixos, próximos às saídas d’água e os
sítios que envolvem maior concentração de pessoas, em locais mais altos.
Como o sambaqui está completamente destruído, nada se pode falar sobre uma
possível associação.
Os amoladores-polidores fixos da Praia Grande, Arraial do Cabo, estão próximos a
seis sítios arqueológicos (Figura 77). Os mais distantes, a cerca de 800m, são as dunas de
Massambaba I, II, III (Mendonça de Souza 1983/84, Machado et al 1989b); a 650m está o
sítio sobre duna Colônia de Pesca (Mendonça de Souza op.cit.); a 600m está localizado o
x
sítio da Ponta da Cabeça (Tenório et ali 1992) e a 500m está o sítio do Condomínio do
Atalaia (Tenório 2001).
Figura 77. Relação dos amoladores-polidores fixos com os sítios
identificados na Praia de Massambaba, Arraial do Cabo.
O sítio da Ponta da Cabeça apresenta a seguinte datação: 3270±70 anos AP. Está
localizado sobre um morro, a uma altura de 20m. Sua área original chegou a constituir
1.700m² (Id.Ibid:280). Construído por grupos essencialmente pescadores, esse sítio pode
ser caracterizado por apresentar grande quantidade de pontas e de dentes de
elasmobrânquios trabalhados, instrumentos e artefatos malacológicos, indústria lítica em
quartzo e instrumentos polidos. Dos instrumentos que o relacionam aos sítios encontrados
na área delimitada para pesquisa estão as minas de machado a partir de seixos, com o
gume polido; as valvas de Callista maculata (Linaeus 1791), apresentando desgaste por
uso ou trabalhadas, como os raspadores achados nos sítios Guaíba, Algodão, Major,
Caieira II, Peri e Bigode; a placa polida, como as associadas a enterramentos, nos sítios
Guaíba e Espinho. Também foram descobertos, em menor quantidade, espinhos
trabalhados, artefato marcante na área pesquisada. Chama a atenção à presença, no sítio
Sítio
Amolador-polidor fixo
xi
Ponta da Cabeça, de um grande seixo com 29cm de comprimento por 21cm de largura,
contendo um sulco em forma de canoa, portando a mesma proporção predominante na Ilha
Grande, diferente daqueles dos amoladores-polidores fixos da Praia Grande que são mais
estreitos (ver figura 1, p.84).
Matéria prima
Enquanto na Ilha Grande são encontrados amoladores-polidores fixos em blocos de
charnokito e de granito, no saco de Piraquara e em Arraial do Cabo são vistos em
formações granito-gnáissicas e em Cabo Frio em diorito, o que parece indicar que não é a
presença de matéria prima especial a principal responsável pela presença dos amoladores-
polidores fixos. Como foi mencionado acima, a escolha de suporte com matéria prima
facilmente encontrada descarta a hipótese de que as concentrações de amoladores-
polidores fixos estariam relacionadas com a presença de determinadas rochas.
Tipologia:
Na Ilha de Marambaia e na Ilha Grande aparecem os mesmos tipos de sulcos
(figura 78). É bem provável que isto também ocorra em relação ao sítio Piraquara que,
embora fotos de seus amoladores tenham sido apresentados numa comunicação em
congresso (Oliveira e Ayrosa 1991), na publicação constam apenas descrições como:
“Encontramos basicamente as seguintes formas: elipsóide, alongada, canoa, ovóide e
circular... apresentam sulcos ou marcas de fio, sendo que seis com um único sulco, duas
com sulcos duplos e duas com sulcos triplos (Oliveira e Ayrosa op.cit : 757). Tanto a
descrição como as fotos apresentadas no congresso indicam uma grande semelhança entre
xii
os amoladores-polidores fixos da praia de Piraguara, da Ilha de Marambaia e dos
encontrados na Ilha Grande.
Figura 78. Comparação com os sulcos encontrados: (a) Restinga de
Marambaia; (b) Ilha Grande.
Os amoladores da Praia Grande, Arraial do Cabo, diferem dos encontrados na Ilha
Grande por três motivos: não ocorre a forma mais comum, ou seja, a canoa com sulcos
(tipo 2 e tipo 6); boa parte deles está no costão, longe da água doce; os sulcos são mais
estreitos. No entanto, esses fatores devem ser minimizados, porque o local está muito
modificado por obras que envolveram grande movimentação de terra e alteração da
morfologia do costão, com a utilização de explosivos. Essas atividades devem ter destruído
b
a
xiii
muitos sítios e também mexido com as saídas de água doce. Quanto ao fato de serem mais
estreitos, isto também ocorre nos sítios Lopes Mendes I e II, localizados na Ilha Grande
(figura 79), estando associados às formas características da Ilha Grande.
Apenas uma diferença muito sutil pode existir entre os amoladores-polidores fixos
da Ilha Grande e da Praia Grande. Enquanto nesta última não uma preocupação na
ordenação dos sulcos, na Ilha Grande os sulcos estão sempre arrumados harmoniosamente
sobre os blocos, como se obedecessem a uma ordem estética.
Os amoladores-polidores fixos do Morro da Guia (Dias 1959, Mendonça de Souza
1981) apresentam formas que fogem ao padrão, como os frisos muito longos com a forma
de canaletas, que chegam a 120cm de comprimento (ver figura 6, p.94). Além de serem
muitos longos para o processamento de lâminas de machado, Mendonça de Souza (1981)
ressalta também a pouca operacionalidade do sulco em U” para a elaboração dos gumes,
sugerindo que esses sulcos poderiam se tratar de inscrições, como foi mencionado.
Gaspar e Tenório, concordando com Mendonça de Souza em relação ao aspecto funcional,
também descartaram sua classificação como amoladores-polidores fixos – “são apenas
sinais em formas de estreitas linhas acanaladas” (Id. 1989:181).
xiv
Figura 79. Sulcos encontrados na Praia de Massambaba (a) e em Lopes
Mendes (b).
a
b
xv
Mendonça de Souza registrou, em 1981, a presença de sete blocos, relatando que,
segundo Simões da Silva (apud id Ibid anexo 222.02.08), constituíam originalmente um
total de 10 blocos. No ano de 1995, em visita ao local, foi possível constatar a existência de
apenas cinco blocos dois do lado da capela, um na frente e outro atrás contendo cada
um a média de 15 sulcos, havendo entre eles alguns com forma de canoa (tipo 1).
Entretanto, em visita recente, com o objetivo de fotografá-los, verificou-se que os blocos
foram soterrados ou destruídos por obras realizadas para a criação de um parque no local,
restando um bloco contendo frisos longos. A destruição inviabiliza a discussão sobre se
esses amoladores-polidores fixos teriam alguma associação com os outros encontrados no
litoral brasileiro.
Para a discussão sobre a funcionalidade do sulco em canaleta com forma de “U e
se seriam ou não inscrições, obtiveram-se as seguintes informações:
Esses sulcos também são encontrados na Ilha Grande (figura 80) e em Arraial do
Cabo (figura 81), só que menos retos e muito mais curtos do que os do Morro da Guia, em
Cabo Frio.
É provável que sejam bem mais comuns, que à primeira vista podem ser
confundidos com frisos. Por causa disso, na Ilha Grande, optou-se por agrupá-los todos
num tipo único, o tipo 3, pois depois da análise das fotos foi possível perceber a seção e
o polimento diferenciado, o que sugere o polimento de um objeto roliço e liso. Prous
(1992:226) também havia relacionado a presença de frisos longos e acanalados como
resultado do polimento de objetos de formas cilíndricas, por exemplo, tembetás de cristal
de quartzo (Id.Ibid:401). No entanto, embora esses instrumentos ocorram muito em Santa
xvi
Catarina, até o momento não foram encontrados nos sambaquis do litoral do Rio de
Janeiro.
Figura 80. Sulcos com forma de canaleta encontrados na Ilha Grande.
xvii
Figura 81. Sulcos com forma acanalada encontrados em Arraial do Cabo.
Uma hipótese para explicar a formação dos sulcos e canaletas encontrados no litoral
do Rio de Janeiro seria a de que tivessem sido utilizados na elaboração de hastes para
fixação das pontas de projétil, feitas a partir de osso, muito recorrente nos sítios.
Segundo Flenninken (com. pess. julho de 1986
25
), a elaboração da haste envolve
uma série de atividades. Para ter papel eficaz, deve ser completamente reta, sendo usado
para isso um instrumento feito de pedra-sabão que consistia num seixo cortado ao meio,
onde era escavado um canal de cada lado. O galho era posto no meio e, através de um
movimento vertical, ia ficando reto. No sítio da Ponta da Cabeça foi encontrado um seixo
com um friso no meio (Tenório et al op.cit 290) que poderia ter sido utilizado para esse
fim.
25
O trabalho de experimentação foi desenvolvido no curso Flintknapping fieldschool ministrado por
Flenninken, em julho de 1986, oferecido pela Universidade de Boisey, no Parque Nacional do Idaho.
xviii
A hipótese da utilização dos sulcos para a elaboração de hastes parece válida
para os acanalados, de seção em U”, portando polimento muito mais visível e localizado
em suportes planos. Os sulcos com seção em “V” seriam ineficazes para o alisamento das
hastes.
Excluindo os amoladores-polidores fixos de Cabo Frio que, como já foi
mencionado, não podem ser comparados por estarem muito destruídos, os outros
encontrados no estado do Rio de Janeiro, provavelmente, teriam sido feitos por grupos de
mesmo sistema sociocultural.
Usando-se os mesmos quesitos para relacionar os amoladores-polidores fixos
encontrados na Ilha Grande com os de Santa Catarina, pode-se concluir que:
Comparando-se as concentrações da Ilha Grande com os dados disponíveis sobre as de
Santa Catarina infere-se que:
1. Os amoladores-polidores fixos estão localizados em ilhas e concentrados nas áreas
de mar aberto;
2. A grande maioria está associada a sambaquis e acampamentos;
3. Estão presentes as formas canoa (tipo 1), friso (tipo3), bacia (tipo 4) e inicial (tipo
5). As mais recorrentes são as formas canoa e o friso;
4. Foram definidos mais tipos na Ilha Grande (13) do que na
Ilha de Santa Catarina (6).
5. Na concentração da Ilha de Santa Catarina, a forma de
canoa (tipo 1), junto com a pratiforme, que não ocorre na
xix
Ilha Grande, é responsável por 48% das formas
encontradas; seguidas pelo friso (43,4%), pela bacia
(30,4%), pelas bacias côncavo-convexas (13%) e pela forma
inicial que só aparece em um sítio. Já na Ilha Grande, como
foram definidos mais tipos que, na maioria das vezes, são
variações dos tipos principais, o percentual é menor. O tipo
de maior incidência – o friso (tipo 3) – aparece em 25,3%
dos casos. No entanto, somando-se os tipos afins, chega-se
a 53,3%. Já o tipo 1, canoa, aparece em 21,4%. Somando-se
os tipos afins, chega-se a 55,3%. Outro tipo recorrente nas
duas concentrações é a bacia, que aparece em 10% dos
casos na Ilha Grande.
Foram observados os seguintes elementos destoantes:
1. A diferença na matéria prima dos suportes: enquanto na Ilha de Santa Catarina
predominam o diabásio e o granito, na Ilha Grande os suportes são de charnokito e de
granito.
2. A ausência das formas: estão ausentes na Ilha Grande as formas de prato e das bacias
côncavo-convexas. Por outro lado, nove tipos constituídos de variações de canoas e
frisos não aparecem na Ilha de Santa Catarina.
xx
O fato de que os amoladores-polidores fixos podem ter tido diferentes rochas como
suporte descarta a hipótese de que sua concentração se deve à presença de determinada
matéria prima, que matacões de diabásio, como as formações granito-gnáissicas, são
amplamente encontradas na costa brasileira.
A presença de maior diversidade de tipos na Ilha Grande do que na Ilha de Santa
Catarina pode estar indicando que aquele seria o centro de dispersão. No entanto, deve-se
levar em consideração o desnível de aprofundamento das pesquisas. O fato de a Ilha
Grande apresentar mais tipos do que a Ilha de Santa Catarina pode ser resultante de um
maior detalhamento das informações naquela região. Por outro lado, não se deve
responsabilizar a falta de informações da constatada ausência na Ilha Grande de formas
muito recorrentes em Santa Catarina, como o prato e a bacia côncavo-convexa, pois tal fato
talvez evidencie a presença de um contato que não se deu no Rio de Janeiro; ou que o foco
de dispersão estaria em Santa Catarina e que algumas formas relacionadas a outros tipos de
artefatos não teriam chegado ao Rio de Janeiro.
São poucos os sítios que estão associados aos amoladores-polidores fixos portando
datações; as obtidas no sul são mais antigas (quadro 1). No entanto, não se chega a afirmar
em que momento os amoladores-polidores fixos poderiam ter sido feitos, caso estivessem
associados a esses sítios.
xxi
Quadro 1- Datações obtidas em sítios próximos à amoladores-polidores fixos
Sítios Datações UF Fontes
Pântano do Sul
4515 ± 100 AP
4460 ± 110 AP
Schmitz e Bitencourt 1996
Armação do Sul
2 670 ± 90 AP
SC Schmitz et al. 1992
Forte Marechal Luz
3660 ± 130 AP
2060 ± 120 AP
1440 ± 110 AP
1100 ± 100 AP
880 ± 100 AP
850
±
100 AP
640
±
100 AP
620 ± 100 AP
SC Bryan 1993
Laranjeiras I
3815 ± 145 AP
SC Schmitz e Bitencourt 1996
Condomínio do Atalaia
4190
±
130 AP
4120 ± 110 AP
Tenório 1998
Ilhote do Leste
3060 ± 40 AP
2910 ± 90 AP
2830 ± 50 AP
2650 ± 350 AP
Tenório 1998
Tenório 2001
Ponta da Cabeça
3270
±
70 AP
2080
±
40 AP
Tenório 1998
Scheel-Ybert 1998
Ponta do Leste
2880 ± 40 AP
Tenório 2001
no Rio de Janeiro, a presença de amoladores-polidores fixos, situados no costão
próximo aos sítios Ilhote do Leste e Ponta da Cabeça, permite inferir que teriam sido feitos
numa época em que o nível do mar estivesse mais baixo, quando a barra dos canais de
drenagem a eles associados estivesse mais à frente. Essa hipótese é corroborada pelas
datações obtidas que indicam que esses sítios seriam contemporâneos e também que
coincidem com um pequeno período de regressão marinha assinalado na curva elaborada
por Martin e Suguio (1992) e Martin et al (1997). Considerando-se a datação obtida para o
xxii
sítio Ponta da Cabeça, existem fortes evidências de que os amoladores-polidores fixos
foram feitos no Rio de Janeiro, predominantemente em torno de 3000 anos antes do
presente.
Tanto em Santa Catarina como no Rio de Janeiro chama a atenção a discrepância
entre o grande número de sulcos relacionados à elaboração das lâminas e a pouca
incidência dos resultantes de seu rejuvenescimento, sugerindo que o trabalho de elaborar
lâminas era mais intenso do que o de reafiá-las e que muitas das lâminas produzidas não
eram utilizadas nas áreas próximas aos amoladores-polidores fixos.
Observa-se, também, uma oposição entre o número de sulcos encontrados na Ilha
Grande e a pequena quantidade de lâminas de machado, o que reforça a hipótese de que a
Ilha Grande seria um foco de produção de lâminas de machado.
Como foi mencionado na página 118, a partir dos resultados obtidos nas
experimentações desenvolvidas na Ilha Grande, estima-se que para a formação de um
sulco, com a profundidade média encontrada na ilha, cerca de 2,5cm, seria necessária a
elaboração de 177 lâminas de machados. Na Ilha Grande, foram registrados 1.154 sulcos,
não tendo sido contabilizados os localizados em locais de acesso, nem os enterrados;
descontando-se os frisos, seriam 788 sulcos que devem ter sido resultantes da elaboração
de cerca de 278.952 lâminas de machado.
Considerando-se apenas o número dos sulcos localizados próximos aos sítios Ilhote
do Leste e Ponta do Leste, estes seriam resultado da elaboração de 48.144 lâminas e, no
entanto, nessa área, só foram encontradas 11 lâminas de machado.
xxiii
Os dados disponíveis indicam que a Ilha Grande teria sido um centro de dispersão
de lâminas de machado. A questão, então, seria se os grupos que a habitaram foram os
responsáveis por essa produção ou se a ilha foi um local onde diferentes grupos se
estabeleceram, por pequeno período de tempo, para fabricar suas lâminas de machado. A
presença do charnokito poderia ter sido o fator atrativo.
No entanto, esta hipótese é descartada pelo fato de que são encontrados
amoladores-polidores fixos em outros tipos de rochas, localizados em pontos bem mais
acessíveis do que na Ilha Grande, principalmente levando-se em consideração que a área
de maior ocorrência de amoladores-polidores fixos, a parte meridional da Ilha, é a que tem
o acesso mais dificultado. Se a concentração de amoladores-polidores fixos da Ilha Grande
se deve à presença do charnokito, estes estariam concentrados na parte mais próxima ao
continente. A distribuição dos tios sugere que foram deixados por grupos estabelecidos
na ilha e que priorizavam o local voltado para o alto mar.
Essa preferência por locais de mar aberto também ocorre na Ilha de Santa Catarina
(ver Amaral 1995: ) e parece ser uma característica dos grupos responsáveis pelos
amoladores-polidores fixos. Ela e as outras similaridades encontradas indicam que os
amoladores-polidores fixos da Ilha Grande, da Ilha de Florianópolis e, provavelmente,
todos do Rio de Janeiro e de Santa Catarina foram deixados por grupos que
compartilhavam traços marcantes de uma mesma cultura, o que pode ser o resultado de
uma idêntica filiação cultural ou de um intenso contato.
xxiv
Pelo que foi exposto, deve ser descartada a hipótese de que os amoladores-
polidores fixos encontrados no litoral brasileiro tenham sido feitos por grupos pertencentes
a diferentes sistemas socioculturais e que as similaridades detectadas o fruto de
coincidência ou de fatores adaptativos.
A pouca ocorrência de lâminas de machado na Ilha Grande, em oposição à
quantidade encontrada de amoladores-polidores e à sua constante presença em sítios
próximos, como também a de “pedras de amolar” em sítios litorâneos, sugere a existência
de um sistema de trocas no litoral brasileiro há pelo menos 3000 anos antes do presente.
Parte-se do princípio de que para o desenvolvimento do intenso contato proposto
seria necessária a existência de pontos de congregação, locais onde as alianças eram
constantemente reafirmadas. Com o objetivo de verificar se o único sítio com expressivas
camadas de ocupação poderia ser esse ponto de concentração de pessoas, foram
desenvolvidas escavações sistemáticas no sítio Ilhote do Leste.
Tendo por principal objetivo reconstituir as atividades desenvolvidas no sítio,
utilizou-se o estudo da cultura material e sua distribuição no espaço. Parte-se do princípio
de que a reconstituição da distribuição espacial das atividades no assentamento permite a
identificação dos contextos comportamentais responsáveis pela construção do sítio.
xxv
Escavações arqueológicas
Além das prospecções, foi parte do trabalho de campo o desenvolvimento de
escavações sistemáticas nos sítios Ilhote do Leste e Ponta do Leste. No primeiro, foram
escavados 15% de sua área total e no segundo, foi aberta uma trincheira de 2m
2
para a
retirada de um enterramento e a abertura de um perfil de 5m. Foi priorizada a identificação
da distribuição espacial, a delimitação dos eventos e a evidenciação dos contextos
comportamentais formadores do sítio.
O entendimento do espaço foi usado como ferramenta para a inferência de
identidade cultural, contato e reconstituição do sistema de troca.
O sítio Ilhote do Leste – histórico da pesquisa
O sítio Ilhote do Leste está localizado à meia encosta de um morrote do mesmo
nome, situado na parte meridional da Ilha Grande, na área delimitada pela Reserva
Biológica Praia do Sul (Figura 82). Sua pesquisa foi iniciada no ano de 1982 quando, a
pedido da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente FEEMA, foi feito um
levantamento arqueológico para ser incluído no plano diretor da Reserva.
Devido ao difícil acesso, a pesquisa demandou quase 20 anos para ser concluída,
tendo sido interrompida muitas vezes.
xxvi
Figura 82. Ilhote do Leste, Ilha Grande, RJ.
Os maiores problemas foram a distância do tio ao alojamento, cerca de 5km de
praia, interrompida por um costão escorregadio de difícil ultrapassagem; a dificuldade de
acesso e de desembarque na Reserva, só permitido quando o mar está calmo, o que é raro –
muitas vezes, mudanças bruscas da maré, inviabilizando qualquer planejamento e
onerando a pesquisa; e finalmente, o que mais atrapalhou, a proximidade do sítio das
trilhas de fuga de presos do Presídio Cândido Mendes, que funcionou na ilha até 1994.
No ano de 1987, depois de passar por situações muito desagradáveis, como fuga de
presos e acidentes com embarcações, optou-se pela paralisação das pesquisas.
Posteriormente, a desativação do presídio reverteu o quadro de isolamento da ilha. Foi
xxvii
construído um cais na praia do Aventureiro e a Fundação Estadual de Engenharia do Meio
Ambiente FEEMA ergueu uma casa com alojamento para pesquisadores que, mesmo
estando a cerca de 5km do sítio, passou a oferecer o nimo de conforto e de segurança
necessários ao desenvolvimento da pesquisa. Muitos barcos puderam atracar na Reserva,
diminuindo um pouco também o custo da travessia.
A melhora do acesso e da segurança, associada ao excelente estado de conservação
do sítio, e a diversidade do material encontrado fizeram com que as dificuldades fossem
minimizadas e que a pesquisa fosse retomada. Mesmo assim, alguns resultados ficaram
prejudicados pela impossibilidade de se transportar equipamentos pesados e de se executar
atividades que implicavam grande disponibilidade de tempo.
Mesmo com melhor acesso, a pesquisa teve de se adequar à dificuldade de
transporte do material. As oito toneladas de material coletado tiveram que ser carregadas
até a praia do Aventureiro, depois embarcadas, muitas vezes em canoa, auma traineira;
em seguida, desembarcadas em Angra dos Reis e trazidas até o Rio de Janeiro, etapas que
sempre pesaram nas decisões relacionadas ao campo.
xxviii
Caracterização ambiental e reconstituição do
paleoambiente
O sítio em questão está localizado dentro da
Reserva Biológica Estadual Praia do Sul. Situada na
vertente meridional da Ilha Grande, essa reserva
apresenta uma área de aproximadamente 3.600ha,
ocupando um grande anfiteatro, formado por montanhas,
planícies e praias. As planícies contêm duas lagoas
interligadas que escoam por um canal, cuja foz se
localiza ao lado do Ilhote do Leste, dividindo os 4km
da praia em duas: a Praia do Leste, com 1.500m, e a do
Sul, com 2.500m. A reserva é coberta, em sua quase
totalidade, por uma manta vegetal contínua. A maior
parte da área é ocupada pela floresta pluvial
Atlântica, ocorrendo, também, vegetação de restinga,
de litoral rochoso e de manguezal.
Geologia/Geomorfologia
Ainda, segundo Amador (1987/88), nesta parte da Ilha Grande se apresenta uma
extensa anfractuosidade de restingas, formando a Praia do Sul, com cerca de 2.500m. O
processo formador da planície, apenas interrompido pelo canal que liga as lagoas interiores
xxix
ao oceano, apresenta também a chamada Praia do Leste, que liga a planície aos lajedos que
continuam pelo litoral, até a Ponta da Tucumba.
A enseada da Praia do Sul apresenta uma planície
de cerca de 8km² de superfície, onde ocorrem formações
sedimentares continentais marinhas, lagunares e
paludais quaternárias, da época pleistocênica. A
margem oceânica apresenta um arco com 4km de praias
interrompidos pela Ilhota do Leste (atualmente, uma
península rochosa reduzida à metade). Para o
interior, além das praias, encontra-se um cordão
arenoso mais elevado, com cerca de 100m de largura,
descendo depois para a planície litorânea. Segundo
Amador (1987-1988), dois tipos de restingas teriam se
formado na área da reserva, em decorrência dos
movimentos de transgressão e regressão marinha: a
restinga interna, formada entre 6.000 e 5.000 anos AP,
e a restinga externa, formada cerca de 3.000 anos,
devido a um movimento regressivo do mar. O sistema de
restinga externa deve ter se desenvolvido através dos
crescimentos laterais de pontais arenosos
(Lamego,1946; Hoyt e Ficher 1968, apud Amador 1987/88)
(Figura 83).
xxx
Clima
Durante todo o ano, predominam os ventos do quadrante leste, sendo que nos meses
mais frios (julho a setembro) ocorre uma incidência maior dos ventos de sudoeste.
(FEEMA 1977). As matas da RBEPS, notadamente as do grande anfiteatro, atuam como
barreiras diretas aos ventos carregados de umidade, bastante distinto do que ocorre no lado
continental da Ilha Grande (plano diretor da RBEPS 1985 ).
xxxi
Figura 83. Geologia da Planície Costeira da Praia do Sul, Ilha Grande
(extraído de Amador 1987/88).
xxxii
Hidrologia
A área da Reserva apresenta grande quantidade de canais de drenagem que
contribuem para a formação de charcos. Desse sistema hidrográfico sobressai a existência
de duas lagoas formadas, principalmente, pelos rios Capivari e Canoada.
Pedologia
Segundo levantamento feito por técnicos da FEEMA para o plano diretor, nas
matas de encosta da RBEPS, os solos são majoritariamente litossolos e latossolos
vermelho-amarelados. Em declividade superior a 50%, em termos granulométricos, ocorre
a presença de areia, devido à remoção dos sedimentos finos pelo escoamento
subsuperficial. O solo nas matas de restinga apresenta-se de duas formas: solo úmido e
solos mais secos.
Ecossistemas
A Reserva Biológica Estadual Praia do Sul apresenta cinco
ecossistemas: restinga, manguezal, laguna, mata de encosta e o
litoral rochoso. (figura 84; Tabela 22) .
xxxiii
Figura 84. Reserva Biológica da Praia do Sul, segundo FEEMA.
xxxiv
Tabela 22 - Fauna e flora da RBEPS, Ilha Grande de acordo com o Plano Diretor (1985)
Área Espécies Habiat
Restinga
Flora
:Philoxerus portulacoides, Ipomea pes-capre, Sporobolus
virginicus, Panicum racemosum, Mariscus pedunculatus
Espécies comuns sobrevivem bem em locais inóspitos.
Terminalia catappa (amendoeira), Mimusops coricea (abricó de
praia)
Rheedia brailiensis, Tapira guianensis, Ilex integerrima,
Melanopsidium nigrum,Psidium sp, Psychitria carthaginensis,
Neomarica sp
Bilbergia amoena, Quesnelia quesneliana
Plystichu,m adiantiforme, Bromelia antiacantha, Neoregelia
cruenta, Ouratea cuspidata, Tocoyena bullata
Próximo à praia
Byrsonia sericea, Aechmea nudicaulis, Cereus fernambucensis
(cacto)
Extremidade ocidental da Praia do Sul e na oriental da
Praia do Leste, arbustos de cerca de 5m de altura
intercalados com espaços abertos sem cobertura vegetal
ou com ervas e arbustos baixos, resultado de ação
antropogênica
Astrocaryum aculeatissimum,Posoqueria distichatta, Ipomoea
phyllomega, Cissus sp, Melinis minutiflora (capim melado)
Nos trechos bastante úmidos
Fauna – Aves : Catharthes aura (urubu-campeiro) e Leptotila
verreauxi (juriti)
Mamífero: Dasypus novemcinctus (tatu-galinha)
Répteis
: Coralus hortulanus (cobra-de-veado)
Anfíbios Olobygon perpusilla (perereca bromelícola) e
Dendrophryniscus brevipollicatus (sapinho- bromelícola)
Insetos: Philaenthria wermickei (borboleta)
Moluscos: Rhinus sp, Cocholorina aurisleporis (caramujo)
Mangue
Flora
: Rhizophora mangre Próximo às águas salobras dos canais ou das lagoas,
±12m de altura
Avicennia schaleriana
Próximo à desembocadura do canal
R. mangle e Laguncularia racemosa Distante da água, árvores menores com copas menos
densa
Fimbristylis spadicea, Cladium jamaicense, Triglochin sp,
Hibicus pernambucensis, Acrostichum aureum, Dalbergia
acastophylla
Vegetação arbustiva, encontrada na transição do
mangue para a terra firme
Fauna – Aves: Egretta thula (garça-branca-pequena), Butorides
striatus (socozinho), Ajaia ajaia (colheireiro) e Aramides
canjanea (saracura-três-potes)
Insetos: Culicoides sp (maruim)
Crustáceos: Balanus eburneus (craca), Goniopsis cruentata
(aratu-do-mangue), Aratus pisonii (aratu), Uca spp (chama-
maré), Ucides cordatus (caranguejo verdadeiro), Cardisoma
guanhumi (guaiamu)
Molusco: Ostrea sp (ostra)
Lagoa
Peixes Eugerres braslianus (caratinga), Eugerres sp (carapeba),
Mugil sp (tainha), Centropomus sp (robalo), Menidia sp (mama-
reis)
Aves:
Podlymbus podiceps (marrequinha), Ceryle torquata
(martim-pescador-grande), Chloroceryle americana (martim-
pescador-pequeno) e Chloroceryle amazona (martim-pescador-
verde)
Mamífero: Hydrochoerus hidrochoeris (capivara), Luntra
enudris (lontra)
Canal
Peixes: Menidia sp (mama-reis), Poeciera vivipara
(barrigudinho), Hoplias malabaricus (traira) e Symbranchus
marnoratus (munun)
Moluscos: Macrobranchium sp (pitu)
xxxv
Tabela 22 – Fauna e flora da RBEPS, Ilha Grande de acordo com o Plano Diretor (1985)
(cont.)
Área
Espécies
Habiat
Mata
Flora – Vochysia oppugnata , Cedrella sp , Artocarpus
integriplia (jaqueiras), Mangfera indica (mangueiras), Musa spp
(bananeiras)
Espécies encontradas nas áreas de antigas fazendas
Photomorphe umbellata
Porção inferior da encosta próximo de pequenos cursos
d’água e brejos de água doce
Cabralea sp (canjerana), Platymiscum sp (milho), Alchornea sp,
Hypolítrum sp (navalha de mico), Trema micrantha (crindiuva)
Cybistax sp (cinco chagas) Nos pontos elevados, árvores de porte de até 35m de
altura
Fauna
Aves
: Piaya cayana (alma-de-gato), Tyto alba
(suindara), Pulsatrix perspicillata (murucutu), Thalurania
glaucopsis, Amazila fimbriata, Chlorostilbom aureventris,
Phaetornis sp (beija-flor), Eupetonema macroura (besourão),
Trogon viridis (surucuão de barriga amarela), Picumnus
cirrhatus (picapauzinho), Campephilus robustus (pica-pau-de-
cabeça-vermelha), Tinamous solitarius (macuco), Tigrisoma
lineatum (soco boi), Buteo magnirostris (gavião-carijó),
Leucopternis polionota (gavião-pombo), Milvago chimachima
(pinhé, Falco sparverius (quiri-quiri), Polyborus plancus
(carcará), Odontophorus capueira (uru), Columba plumbea
(trocal), Amazona rhodocorytha (chauá), Chamaeza sp (espanta
cutia), Thamnophilus sp (choca), Tityra cayana (anambé-branco-
de-rabo-preto), Procnias nudicolis (araponga), Chiroxiphia
caudata (tangará), Ilicura militaris (tangarazinho), Manacus
manacus (rendeira), Colonia colonia (viuva), Arundinicola
leucocephala (viuvinha), Tyrannus melancholicus (siriri),
Megarinchus pitangua (nei-nei), Myozetetes similis
(bentivizinho), Pitangus sulphuratus (bem-te-vi), Atilla rufus
(tinguaçu), Myarchus ferox (juruvira), Empidonax euleri
(enferrujado), Myiopholus fasciatus (filipe), Todirostrum
poliocephalum (leque leque), Serpophoga suberislata
(alegrinho), Elaenia flavogaster (maria-acorda), Leptopogon
ammaurocephalus (cabeçudo), Platycichla flavipes (sabia uná),
Tardus spp (sabiá), Hylophilus thoracicus (vite-vite),
Cholophanes spiza (saí-tucano), Dacnis cayana (saí-azul),
Geothypis aequinoctialis (canário-do-brejo), Basileuterus
culicivorus (pula-pula), Euphonia spp, Tangara spp, Thraupis
spp (sanhaço), Ramphocelus bresilius (tiê-sangue), Habia rubica
(bico-grosso), Tachyphonus spp (tiê), Saltator similis (joão
batista)
Spizaetus tyrannus (gavião-pega-macaco), Spizaetus ornatus
(gavião-de-penacho), Pipile jacutinga (jacutinga)
Floresta
Mamíferos – Didelphis aurita (gambá), Mamosa incana (rato
Goitica), Carollia perspicillata, Lomchophylla mordax,
Vampyrops lineatus, Sturnira lilium, Molossus molossus,
Molossus ater, Myotis nigricans (morcego), Alouatta fusca
(guariba), Cebus apella (macaco-prego), Callithrix sp, Callithrix
aurita (saguis), Sciuris ingrami (caxinguelê), Oryzomys
olivaceus (rato-de-várzea), Rhipidomys mastacalis (rato
vermelho), Oryzomys eliurus (rato-do-capim), Nectomys
olivanceus (rato-de-várzea), Rhipidomys mastacalis (rato
vermelho), Oxymycterus quaestor (rato porco), Coendou
insidiosus (ouriço-caixeiro), Dasyprocta aguti (cotia), Agouti
paca (paca), Proehimys dimidiatus (rato de espinho), Phyllomys
brsiliensis (rato), Felis yagouaroundi (gato mourisco)
Répteis – Ameiva amiva (lagarto), Tupinambis teguixim
(teiaçu), Philodryas olfersii (cobra verde), Spilotes pullatus
anomalepsis (caninana), Chironius bicarinatus (cobra cipó),
Sybynomorphus turgidus (dorme-dorme), Pseudoboa cloelia
(muçurana), Micrurus coralinus (cobra coral), Botrops jararaca
(jararaca), Coralus hortulanus (cobra-de-veado)
Tabela 22 - Fauna e flora da RBEPS, Ilha Grande de acordo com o Plano Diretor (1985)
(cont.)
Área Espécies Habiat
xxxvi
Mata (cont.)
Anfíbio – Bufo marinus (sapo)
Aracnídeos – Corinna sp, Lasiodora sp, Pamphobeteus spp
(aranhas), Phnentria nigriventer (armadeira) e Grammostola sp
(caranguejeira)
Insetos
– acathothesis concinna (louva-deus), Phasma sp (bicho
pau), Chromacris sp (gafanhoto), Tanusia sp (esperança),
Gryllus sp (grilos), Edesia sp (percevejo), Carineta sp (cigarra),
Thecla sp, Callicore sp, Heliconiius sp, Hamadryas sp, Myscelia
orsis (borboletas), Morpho sp (capitão-d-mato), Pieris sp, Ascia
monuste (borboletas), Caligo eurilochus (borboleta-coruja),
Papilio thoas brasiliensis (borboleta), Simulium sp (borrachudo),
Tabanus sp (mutuca), Dichotomius sp (besouro), Trachyderes sp
(serra pau), Entimus splendidus (besouro), Bombus sp
(mamangabas) Melipona sp (abelha-de-cachorro)
Marinho Mamíferos
– Tursiops sp (toninha), luntra enudris (lontra)
Aves – Spheniscus imagellanicus (pinguim-de-magalhães),
Puffinus puffinus (pardela), Pachyptila belcheri, Sula
leucogasster (atobá), Fregata magnificensis (joão grande), Larus
dominicanus (gaviotão), Sterna eurignatha (trinta-réis-de-bico-
amarelo)
Crustáceos – Lepas anatifera (concha marreca) Fundo
Lygia sp (baratinha), Panopeus rugosus (guaía) Pedra
Orchestoidea brasiliensis (pulga de praia), Lepidopa richmondii
(tatuira), Eimerita brasiliensis (tauí), Ocypoda quadrada
(marinha-farinha), Arenarius cribar (siri- chita)
Palinurus sp (lagosta)
Praia
Moluscos – Donax hanleyanus (sernambi)
Praia
Perna sp (mexilhão) Mar
1) Restinga:
As matas de restinga abrangem a maior parte da baixada da Reserva, cerca de
800ha. A restinga interna apresenta uma densa vegetação arbórea em epífitas e um
substrato onde predominam bromeliáceas. Essa densa vegetação propiciou um
enriquecimento superficial do solo.
Segundo Amador (op.cit), existem três restingas externas na Planície Costeira da
Praia do Sul: a da praia do Aventureiro, a da Praia do Sul e a da Praia do Leste. Nelas são
encontrados vários tipos de vegetação que alternam ambientes úmidos e secos, com árvores
de até 20m na parte mais úmida e extensos tapetes de gravatás na parte seca, próximo à
praia.
2) Manguezal
xxxvii
Os manguezais ocupam uma faixa em torno de 200m ao longo dos canais de ma
que ligam as lagoas do Sul e do Leste com o mar, localizando-se, também, às margens desta
última. Estão presentes exemplares de Rizophora mangle, Avicenia schaleriana e
Laguncularia racemosa. Esse ambiente ainda apresenta uma fauna extremamente rica em
crustáceos (Figura 85).
Figura 85. Manguezal.
3) Laguna
Do sistema lagunar, composto originalmente por cinco lagunas,
restam, atualmente, apenas a Lagoa do Leste e a Lagoa do Sul
,
que
devem ser classificadas como lagunas pelo fato de sua troca de água
com o mar dar-se através de canais meândricos de maré. As lagunas
distam cerca de 1,5m do mar atual, com o qual se comunicam através
de um canal que deságua ao lado do Ilhote do Leste.
4) Mata de encosta
A mata de encosta representa 78% da área total da Reserva (Araújo & Oliveira,
1988). Compreende cerca de 2.340ha, abrangendo formações vegetais distintas, que
revestem terrenos declinosos, situados em formações cristalinas ou coluviais. (Plano
Diretor. op.cit). O alto índice pluviométrico permite o desenvolvimento de uma floresta
exuberante na encosta da serra, dando lugar à característica Mata Atlântica, o que favorece
a existência de uma fauna muito rica.
5) Litoral rochoso
No costão, localizado entre as praias do Demo e do Leste, graças ao embate
constante das ondas, é encontrada uma comunidade de plantas inferiores e animais
característicos de zonas intertidais rochosas. Acima desta zona existe uma extensão de
rocha coberta por algas, líquens e crustáceos, onde ocorre solo trazido pelas águas que
xxxix
escorrem pela rocha; são encontradas espécies vegetais que também aparecem na
restinga próximo à praia, como as Cactaceae e Bromeliaceae.
Entorno marítimo – a pesca
Segundo Seixas (op.cit.:84), o marimbá (Diplodus argenteus) e a enchova
(Pomatomus saltatrix) são as espécies mais citadas pela comunidade do Aventureiro como
sendo as mais capturadas em ambas as estações, através do uso de canoas ou da pesca
costeira, seguidas pela pirajica (Kyphosus sp).
Em relação à pesca de peixes pequenos, no verão, predomina a da sardinha, seguida
do xerelete (Caranx crysos); no inverno, a do marimbá (Diplodus argenteus), seguida pela
enxova (Pomatomus salatrix) e a da tainha (Mugil platanus) (Ibid: 84).
a comunidade de Provetá, praia próxima à do Aventureiro (ver mapa), cita o
carapau (Caranx crysos), a lula (Loligo sanpaulensis) e a mangorra (Holocentrus
ascensionis) como os mais pescados no verão e o marimbá, a pirajica (Kyphosus sp.) e a
garoupa (Seranidae), no inverno (Id.Ibid:88,101) (Tabela 23).
xl
Tabela 23. Identificação dos Espécimes coletados na Ilha Grande.
Nome Popular Família Gênero-Espécie Autor-Ano
Barana Elopidae
Elops saurus
Linnaeus, 1766
Cabrinha Triglidae Prionotus punctatus Bloch, 1797
Cação Verdadeiro Carcharhinidae Rhizoprionodon lalandei Valenciennes, 1841
Canguá Sciaenidae Ctenosciaena gracilicirrhus Metzellar, 1919
Carapicu Gerridae Eucinostomus argenteus Baird & Girard, 1854
Caratinga Gerridae Diapterus olisthostomus Goode & Bean, 1882
Corcoroca-bicuda Haemulidae Haemulon plumieri Lacepède, 1802
Corcoroca-branca Haemulidae Othopristis ruber Cuvier, 1830
Corcoroca-languicha Haemulidae Haemulon aurolineatum Cuvier, 1829
Emborê-castigo Labrisomidae Labrisomus nuchipinnis Quoy & Gaimard, 1824
Galo Carangidae Selene setapnnis Mitchill, 1815
Garabebe Carangidae Trachinotus goodei Jordan & Evermann, 1896
Gigante Belonidae Tylosurus acus Lacepède, 1803
Gudião-prego-de-cobre Labridae Halichoeres radiatus Liannaeus, 1758
Gudião-sabonete Mullidae Pseudupeneus maculatus Bloch, 1793
Guete Sciaenidae Cynoscium jamaicensis Vaillant & Bocourt, 1883
Imbetera Sciaenidae Umbrina coroides Cuvier, 1830
Manequinho/Carapau Carangidae Caranx crysos Mitchill, 1815
Mangorra Holocentridae Holocentrus ascebsionis Osbeck, 1765
Marimbá Sparidae Dplodus argenteus Valenciennes, 1830
Olho-de-boi Carangidae Seriola dumerili Risso, 1810
Olhudo Carangidae Caranx latus Agassiz, 1831
Pampo Carangidae Trachinotus carolinus Linnaeus, 1766
Panaguaiú Exocoetidae Hemiranphus balao Lesuer, 1823
Parajica Kyphosidae Kyphosus incisor Cuvier, 1831
Parati-barbudo Polynemidae Polydactylus oligodon Günther, 1860
Robalo Cedntropomidae Centropomus oarallelus Poey, 1860
Roncador Haemilidae Conodon nobilis Linnaeus, 1758
Salema Heemulidae Anisotremus virginicus Linnaeus, 1758
Sardinha-cascuda Clupeidae Harengula cluopeola Cuvier, 1829
Sargo Haemulidae Anisotremus surinamensis Bloch, 1791
Tiniúna Pomacentridae Abudefduf saxatilis Linnaeus, 1758
Voador Exocoetidae Cypselurus melanurus Valenciennes, 1846
Xixarro Carangidae Selar crumenophthalmus Bloch, 1793
Extraído de Seixas: 1987
Durante as pesquisas de campo, pôde-se observar que o carapau também é muito
pescado no Aventureiro; ele e o xerelete são da mesma espécie, apenas recebem
denominações diferentes. Quanto à pesca da lula, ela também é intensamente desenvolvida,
nos meses de verão, pela comunidade do Aventureiro.
A pesca artesanal em canoas ou no costão se dá com a utilização do
anzol, do zangareio, da rede de espera e do pau de isca; no inverno,
também é usada a rede para tainha (Id.Ibid:84).
xli
A pesca com anzol e linha é feita em cima de uma pedra, à beira-mar ou dentro de
canoas; sua utilização envolve conhecimento apurado quanto às iscas a serem utilizadas, à
espessura da linha e ao tamanho do anzol, segundo a espécie a ser pescada.(Id.ibid. :72).
O uso do zangareio está relacionado à pesca da lula e possui seis a
oito anzóis e não necessita de isca, sendo feita em canoa ou em
barcos (Id. ibid).
A rede de espera pega o peixe que está na superfície perto da costa, diferente da
corvineira, colocada no fundo, em local de mar aberto; segundo Sidnei, pescador do
Aventureiro (apud Id ibid:73), além da corvina, também a corvineira serve para a captura
do cação. A rede para tainha é uma rede que se puxa na praia (arrastão).
Inserção do sítio
O sítio Ilhote do Leste está localizado num morrote do mesmo nome que divide as
praias do Sul e do Leste. Sua ocupação se deu inicialmente sobre dois “platôs”. O mais
baixo está a 13m e o mais alto a 20m de altura em relação ao nível do mar atual. Esses
“platôs” estão situados na parte anterior do morrote (Figura 86).
xlii
Figura 86. Sítio Ilhote do Leste.
xliii
A área total é de 440m
2
. Sua orientação é de sudeste para noroeste, com forte
inclinação para norte, estando a parte mais larga voltada para norte, para um canal costeado
por um manguezal que fica nas costas do morro e a retaguarda é protegida por uma grande
rocha (Figura 87a). Sua área de concentração de material é de 72m
2.
.
Figura 87a. Vista do sítio Ilhote do Leste para o manguezal.
xliv
O sítio tem a forma de um semicírculo. O material arqueológico ocorre
predominantemente na área central, entre grandes blocos de pedra e na borda do morro
(Figura 87b).
Figura 87b. Rochas na área central do sítio.
Originalmente, o sítio se estenderia mais a leste e a
ocupação deveria ter se dado também na parte mais alta, no lado
leste do sítio, onde existem muitas informações sobre o
aparecimento de esqueletos humanos após as enxurradas. Estas
xlv
devem também ter carregado uma porção da parte leste do
morro.
No lado oeste é possível perceber, no perfil P.1.5, que a força das águas teria
comido uma parte da base do morro, levando-o a desmoronar, fazendo com que muita terra
deslizasse e que fosse quebrado um piso de argila que ainda é visível nesse perfil (Figura
88).
Figura 88. Piso partido.
As datações obtidas colocam o início da ocupação em torno de 3000 anos,
provavelmente logo após a formação das lagoas do Sul e do Leste que, de acordo com
Amador (com. pessoal dezembro de 2001), naquela época, estariam mais próximas do sítio
(ver figura 83).
xlvi
Segundo curva elaborada por Martin et ali, em torno de 3000 anos AP, teria
ocorrido um brusco recuo do mar e, logo após, a retomada a um movimento transgressivo.
Tal fato pode ser contatado no litoral paulista; na costa sul do estado do Rio de Janeiro, o
comportamento dessa curva ainda o está claro (Figura 89). Com o mar mais baixo, o
Ilhote do Leste teria sido cercado pelo canal que ainda desemboca do seu lado esquerdo. A
presença de amoladores no seu flanco direito, juntamente com a topografia do terreno,
parece indicar que havia também outro braço menor do canal saindo pelo lado esquerdo da
ilhota (Figura 90).
0
1
2
3
4
5
7000 6.500 6.000 5.400 5.000 4.500 4.300 4.000 3.700 3.000 2.800 2.400 2.000 1000 0
anos B.P.
nível do mar (m)
Figura 89. Curva de variação de nível do mar de acordo com Martin et al (1987).
xlvii
Figura 90. Amolador-polidor enterrado no canto da praia do Sul.
É à volta do Ilhote do Leste que está a maior concentração de amoladores-polidores
fixos encontrada na Ilha Grande. Eles também estão no costão rochoso que o cerca,
indicando que foram feitos numa época em que o mar estava mais baixo, quando a barra
dos canais de drenagem ficava mais à frente.
O desmoronamento constatado no perfil P.1.5 indica que o sítio continuou sendo
ocupado num período de transgressão marinha, época em que o ilhote deve ter ficado
isolado do continente e cercado por um mar agitado que batia em seu costão rochoso e
forçava o recuo das lagoas, do manguezal e do canal que passa por trás dele.
A localização do sítio parece indicar uma maior preocupação dos seus ocupantes
em estar protegidos do que de ter uma boa visibilidade do mar, que ele está de costas
para o mar. Do sítio pode-se ver um indivíduo a 5km, chegando pela Praia do Sul e a 3km
vindo pela Praia do Leste. Os platôs ocupados são cercados por grandes blocos rochosos
que oferecem locais estratégicos para a tocaia. Com o objetivo de testar essa hipótese,
xlviii
foram feitas sondagens no platô mais baixo e se encontrou uma grande ponta feita em osso,
completamente distinta dos tipos achados no sítio (Figura 91)
(Figura 91) Ponta grande de osso econtrada fora do sítio.
O posicionamento do sítio também oferece proteção do vento sul que ocorre com
muita força na área, trazendo sempre as tempestades. No entanto, se o vento sul ou o leste
ficarem muito fortes, torna-se extremamente desconfortável estar no sítio; para melhor
proteção, provavelmente eram utilizados dois abrigos sob rocha, na base do morro. A
ausência de material arqueológico nesses abrigos pode ser explicada por atualmente
estarem ao alcance das marés. Próximo a um deles o localizado no sul do ilhote ainda
são encontradas duas nascentes de água doce.
A subida para o sítio deve ter se dado a partir desses dois abrigos. estão os dois
melhores locais para se subir pelo morro, onde podem ser abertas as trilhas mais acessíveis.
xlix
O resto do morro apresenta paredões formados por costão, escarpas e por grande rochas,
difíceis de transpor.
Enquanto os desmoronamentos foram os responsáveis pelas alterações no sítio na
época em que ainda estava ativo, a roça, que esteve produtiva por cerca de 20 anos, foi a
responsável pela destruição mais recente. Felizmente, pelo tipo de cultivo, a destruição
limitou-se apenas aos primeiros 40cm da superfície. Ao ser revolvida a terra, a camada de
concha foi quebrada e o material trazido para cima. Ao mesmo tempo, o carvão de
queimadas atuais foi misturado ao arqueológico.
As camadas ocupacionais do sítio acompanham o declive do morro; são mais
espessas nos bordos, sugerindo que foram empurradas morro abaixo. Na parte plana, as
camadas malacológicas apresentam montículos, indicando que as valvas de moluscos,
quando não eram empurradas, eram amontoadas. O material arqueológico está concentrado
no meio do sítio; apenas o material lítico lascado predomina na área periférica. (Figura 92)
l
Figura 92. Perfil mostrando a inclinação da camada de concha.
O centro do sítio, onde ocorre maior concentração de material, apresenta fogueiras
cercadas por seixos que devem ter sido mantidas acesas por dezenas de anos.
Área escavada
Além das nove sondagens de 50cm de diâmetro, realizadas para a delimitação do
sítio, foram abertos 5 perfis e 4 trincheiras.
Os perfis têm 2m de largura e foram cortados no limite da encosta. Para isso, foi
feito um andaime natural com a cobertura vegetal retirada da área do sítio arrastada para a
beira do barranco, a 15m de altura.
A partir da estratigrafia observada nos perfis, foram escolhidas três áreas para
serem escavadas. Teve-se por objetivo uma amostragem que contemplasse o centro e a
li
periferia do sítio, mas que também deixasse uma área intacta, além de as trincheiras fora
do centro abarcarem as áreas fronteiriças. (Figura 93)
Figura 93. Levantamento topográfico com as áreas escavadas
Com o levantamento topográfico, o sítio foi dividido em quadrículas de 4m² (Figura
94), tendo sido utilizadas letras no sentido norte-sudeste e números no sentido leste-sul,
procurando-se também alinhar as trincheiras com as linhas dos perfis.
A trincheira aberta na área central tem 2m de largura por 8m de comprimento foi
denominada Trincheira 1 e corta todo o centro do sítio. A quadrícula na extremidade
leste recebeu a sigla D3 e apresenta 2m de largura por 3m de comprimento; a localizada na
outra extremidade foi chamada H4 e tem uma área de 4m x 4m. Posteriormente, para
50.00 100.00 150.00 200.00 250.00
50.00
100.00
150.00
12.00
13.00
14.00
15.00
16.00
17.00
18.00
19.00
20.00
21.00
22.00
23.00
24.00
25.00
lii
seguir uma concreção encontrada no perfil P.1.7, foi aberta mais uma quadrícula de 2m x
2m, denominada F0.
O primeiro perfil (P.1.1) apresentou camadas arqueológicas até uma profundidade
de 1,20m; o segundo (P.1.3), até 1,45m; o terceiro (P1.5), até 2,10m; o quarto (P.1.7), até
2,13m e o quinto (P.1.9), o mais espesso, até 2,45m.
Dadas as dificuldades já mencionadas, vários tipos de
abordagens tiveram de ser adotadas com o objetivo de maximizar
os resultados dos trabalhos.
liii
Planta baixa das setores escavadas
(Ilhote do Leste)
setores
H2
H1
trincheiras
H3
T.1.4
H4
setor
D4 T.1.3
T.1.2
setor
F.0.4
T.1.1 D C
N
-
0 2m 4m
Área escavada
Área do setor não escavado
Figura 94.Denominação das áreas escavadas
liv
A trincheira T.1 foi aberta a partir do perfil P.1.9, utilizando-se a visualização das
camadas. Foi subdividida em três setores de 2m por 2m, denominados T.1.1; T1.2; T1.3. O
sedimento foi retirado por decapagens, a partir da reconstituição das camadas de deposição
natural e pela evidência das estruturas. Todo o material resgatado na trincheira foi
peneirado com malha de 0,3mm e trazido para o laboratório.
Para a localização das evidências dentro das camadas foram também utilizados
níveis artificiais de 10cm. As estruturas foram registradas a partir de coordenadas
tridimensionais. O comportamento das camadas foi todo o tempo referenciado à beira do
barranco, originalmente perfil 1.9. Todo o material retirado foi pesado antes e depois de
peneirado, com o objetivo de verificar a relação entre a quantidade de sedimento e de
material existentes. As estruturas foram mapeadas e serviram de referência para a coleta de
material, que também foi realizada por quadrantes de 20cm relativos às paredes norte dos
setores.
A quadrícula H, localizada a sudoeste da trincheira, de 16m², foi dividida em quatro
setores de 4m
2
: H.4.1; H.4.2; H.4.3; H.4.4, divididos, por sua vez, em quatro subsetores
de 1m², denominados a, b, c, d. Nessa área, as escavações também foram feitas por
decapagens, a partir da evidência de estruturas. Foram também utilizados níveis artificiais
de 10cm, apenas para subdividir verticalmente as camadas. Esta quadrícula recebeu uma
inclinação para SW para ficar mais alinhada com a frente do sítio e com os perfiz P.1.1 e
P.1.3. A camada malacológica foi evidenciada, tendo sido deixada até que a área adjacente
tivesse sido totalmente escavada, a partir de decapagem por camadas naturais (Figura 95).
lv
Figura 95. Acúmulo de refugo deixado como bloco estemunho.
O setor D4, localizado a leste da trincheira, foi o primeiro a ser aberto no ano de
1985, época em que o presídio existente na Ilha Grande estava ativo. Devido às precárias
condições de segurança, não se sabia sobre a disponibilidade de tempo para os trabalhos;
assim sendo, optou-se pela abertura de uma quadrícula de 2m x 3m, que 2m x 2m seria
muito pequena. Abrindo-se uma de 3m x 3m, incorrer-se-ia no risco de paralisação dos
trabalhos, sem chegar-se à base do sítio. Apenas o material retirado das estruturas foi
peneirado com malha de 0,3mm. As estruturas e os artefatos foram registrados a partir de
coordenadas tridimensionais.
Foram retiradas como amostra colunas inteiras de sedimento, seguindo a
estratigrafia dos perfis P.1.9; P.1.1. 7 e da parede sudeste do setor F0.
Estratigrafia do sítio
lvi
Nos perfis, constata-se a presença de seis camadas e de um piso de argila (Figura
97).
Figura 96. Camadas estratigráficas.
1. Camada óssea a mais antiga. Apresenta fragmentos queimados de peixes de
pequeno porte, embora sejam encontrados mais raramente os de grande porte,
associados a ossos articulados de mamíferos marinhos e valvas de Ostrea sp,
Lucina pectinata (Gmelin, 1791) e de Olivancilaria auricularia (Lamarck,
1810) em concentrações. É formada por espessas e compactas fogueiras que se
cruzam ou são separadas por terra preta semi-estéril com coloração, segundo
tabela de Mussel (5y2.5/ black). Algumas dessas fogueiras são feitas em covas,
outras aparecem cercadas por seixos. Em alguns locais, essa camada se inicia na
forma de uma primeira fogueira numa reentrância entre grandes blocos
lvii
rochosos. Está mais concentrada próxima a grandes rochas. Sua espessura
máxima é de 0,90m. Nela também são encontradas muitas pontas ósseas,
buracos de estaca e enterramentos.
2. Camada de material esparso - caracterizada por apresentar bem menos material
arqueológico do que as outras. É constituída de sedimento escuro, contendo
predominantemente ossos de peixes de diferentes portes; apresenta raros
fragmentos pequenos de valvas de moluscos. São também encontrados artefatos
e enterramentos. Pode estar representando tanto períodos com menor
concentração de pessoas, como também espaços adjacentes às fogueiras.
Apresenta espessura máxima de 20cm.
3. Piso de argila pode ser considerado um divisor de águas. Aparece em dois
perfis (P1.7; P1.5) (fotos) a 120cm de profundidade, separando a camada óssea
da malacológica. É formado por argila vermelha compactada. Apresenta três
buracos de estaca, o maior com 10cm de diâmetro. O piso foi colocado sobre
áreas de intercessão da camada óssea com terra preta. Embora tenha sido
considerado um único piso, porque sua localização em relação às camadas
indica que são contemporâneos, a parte que aparece no perfil P.1.7 é mais
vermelho (2,5/2,6/8 light red) do que o do perfil P.1.5 (5yr6/8) catálogo de
cores para identificação de solo Munsell o que indica que, embora
contemporâneos, foram elaborados separadamente. As duas amostragens
revelaram que são constituídos por 1,8% de matéria orgânica e 70,2% de
carbonato de cálcio esse excesso de carbonato de cálcio pode ser explicado pela
lviii
argila ter funcionado como uma barreira à penetração deste elemento para as
camadas mais profundas..
4. Camada malacológica – Nos perfis onde ocorre o piso de argila, a camada
malacológica I aparece imediatamente sobre ele, formando montículos. Ë
composta predominantemente de valvas de Iphigenia brasiliana (Lamarck
1808), Tagelus plebeius (Lightfoot, 1786) e Lucina pectinata e nela também são
encontrados artefatos ósseos e raros artefatos líticos.
A presença de valvas inteiras, sua disposição, concentração e a inclinação da
camada nos bordos do morro permite inferir que os restos malacológicos eram
empurrados morro abaixo, fazendo com que a camada fosse muito mais espessa
no bordo central do sítio. Sua espessura máxima é de 1,10m.
5. 2
a
camada de material esparso Em alguns setores, a camada malacológica é
cortada por outra de material esparso, diferenciando-se da primeira por conter
fragmentos de concha. Apresenta a mesma coloração (5yr 3/1) e mais carbonato
de cálcio (24,4%) do que a primeira (13%). Sua espessura máxima é de 10cm.
6. 3
a
camada de material esparso É constituída principalmente por ossos;
apresenta também fragmentos de concha que podem ter sido trazidos da camada
malacológica, como resultado de alterações produzidas pelo cultivo de café.
Tem uma coloração mais amarelada (10 yr 3/1 very dark gray); é a última
camada de ocupação e apresenta espessura máxima de 40cm. É composta por
26% de matéria orgânica e de 24,8% de carbonato de cálcio.
lix
Além dessas camadas, são encontradas manchas de terra preta e bolsões de ossos,
restos malacológicos e carvão, evidenciando fogueiras cercadas de pedra e em covas.
Distribuição, comportamento e caracterização da variação das camadas nos
setores escavados
A partir do gráfico de distribuição das camadas, observa-se que a
camada óssea está concentrada nos setores T.1.1 e F0, não aparecendo
nos setores T.1.2 e T.1.3. Nos setores periféricos D4 apresenta uma
espessura máxima de 30cm e no H aparece na forma de uma camada
fina, com espessura máxima de 20cm, entremeada de muito sedimento
argiloso (Figura 97).
lx
Camada malacológica
conchas fragmentadas
camada óssea
camada de ma t. esparso
terra preta
concreçã o
concha e osso
fogueira
Figura 97. Distribuição espacial da camada óssea.
No setor T.1.1, a camada óssea é formada por extensas fogueiras sobrepostas.
Foram acesas numa área semiplana e, depois de algum tempo, abafadas com a deposição
de sedimento escuro estéril, o que deveria formar montinhos de terra preta com ossos
queimados e carvão (98
a e b).
Posteriormente, novas fogueiras foram acesas nas concavidades
que deviam ser cavadas para isso, o que formou uma série de restos de
fogueiras intercaladas por terra preta semi-estéril (Figura 98c)
lxi
Já no setor F04, a camada óssea se inicia como uma
grande fogueira acesa na reentrância de uma rocha; várias
fogueiras se sucedem, formando uma camada que segue também a
inclinação do terreno para o lado oeste (Figura 99).
Depois de algum tempo, a terra preta depositada sobre as
fogueiras foi nivelada para a deposição e a concreção de
argila (Figura 98d).
A concreções de argila são formadas de argila vermelha e argila alaranjada
compactadas. A argila vermelha é encontrada na praia do Aventureiro, atrás da casa do Sr.
Antonio Osório; é muito conhecida por ser utilizada como emboço de fogão à lenha.
lxii
Figura 98. Dinâmica de formação do setor T.1.1
a
b
c
d
lxiii
Figura 99 – inclinação da camada óssea.
No perfil P.1.5 ela é maior, apresentando 1m de diâmetro, contando com a parte
quebrada; já no perfil P.1.7 apresenta 60cm por 30cm. O setor F0 foi aberto com o objetivo
de seguir a concreção de argila e foi constatado que constituía uma pequena plataforma
ovalóide contendo buracos de estaca. Não foi possível saber se teria sido um antigo piso ou
se tratava de um suporte de estaca; esta ultima hipótese é corroborada pelo fato de que
foram encontrados oito pequenos buracos próximos a ela.
A camada de material esparso I, a mais antiga, aparece nos setores que apresentam
a camada óssea, separando-a da malacológica. Apresenta também bolsões de ossos,
conchas e carvão, cercados por seixos com marcas de queima.
A camada malacológica está presente em todos os setores; enquanto
nos setores T.1.1, T.1.2 e F0 tem a forma de uma camada compacta e
espessa, nos demais ela é mais fina e falhada, contendo também ossos
lxiv
fragmentados de peixes. Ela é mais densa nas bordas da encosta e vai
afinando à medida que se distancia da beira do morro, onde também
aumenta a quantidade de sedimento escuro que ocorre entre as conchas.
A orientação diversificada das valvas e a inclinação da camada
indicam que as conchas eram empurradas morro abaixo.
No setor F0, antes de serem empurradas para a encosta, as carapaças
de moluscos eram amontoadas (Figura 100).
Figura 100. Amontoados de concha no setor F0.
No setor T.1.1., a 50cm de profundidade, observa-se a presença de uma lente de
10cm de espessura, onde carapaças muito fragmentadas de moluscos, indicando que
durante algum tempo teria constituído um antigo piso.
lxv
No setor H, na periferia do sítio, a camada malacológica apresenta mais sedimento
e muito mais restos ósseos, tendo também bolsões com maior concentração de conchas
amontoadas. O ato de amontoar as conchas era uma atividade recorrente na periferia do
sítio.
Nesse setor, as valvas malacológicas estão mais fragmentadas, indicando que a
camada no local teria se formado com certa lentidão, de maneira mais uniforme, com
alguns eventos de consumo bem intenso de moluscos. No monte malacológico presente no
setor, pode-se constatar que as carapaças e os restos ósseos maiores estão no centro,
sugerindo o ato de juntar o material com instrumentos pouco eficazes.
A camada de material esparso II divide a camada de concha em
todos os perfis, com exceção do P.1.1 No entanto, sua presença não foi
confirmada nos setores contínuos a eles. No setor H, ela o divide a
malacológica, apenas a rodeia, o que sugere que não se trata de uma
camada ininterrupta e sim que representa espaços com menos refugo que
podem estar relacionadas a áreas de atividades que eram varridas
constantemente, ou a fundos de cabanas.
A terceira camada de material esparso, a última de ocupação, é composta por restos
de fauna, artefatos ósseos e lascas de quartzo de ótima qualidade. Ela também apresenta
bolsões compactos de ossos de peixe, nos quais é encontrada grande quantidade de pontas
ósseas. Nela ainda aparecem, sob a forma aparente de bolsões, as partes mais elevadas da
camada malacológica. Apresenta uma espessura média de 10cm.
lxvi
Tem a mesma composição que a anterior, só que menos material malacológico e
está em todos os setores, excluindo a intercessão entre o perfil P.1.9 e o setor T.1, onde a
camada malacológica aflora diretamente na superfície. Nos setores H e D4 apresenta
bolsões com concentração de material.
Tudo indica que as três camadas de material esparso, embora apresentem
singularidades em função de representarem diferentes momentos de ocupação, sejam
espaços adjacentes a áreas de descarte.
O encontro de pequenos adornos, como dentes de cação perfurados, remete à
hipótese de que as cabanas ou os abrigos estariam também nessas áreas de material
esparso. Segundo Schiffer (1987 : 122), é recorrente a perda de objetos pequenos nos pisos
das habitações, que se caracterizariam por serem áreas limpas, contendo fragmentos que
não puderam ser varridos, como os pequenos objetos perdidos.
Comparação centro e periferia
Comparando-se os perfis com os setores, observa-se que as camadas malacológicas
aparecem mais nitidamente na beira da encosta, dissipando-se à medida que se segue para
dentro dos platôs, voltando a se concentrar em bolsões.
Constata-se a existência de uma camada-matriz, caracterizada pela presença de
material esparso, interrompida por camadas finas de osso triturado, por fogueiras de longa
duração, por bolsões de material ósseo e malacológico, ou por concentrações de restos
lxvii
malacológicos. Isto permite supor que se trate de uma ocupação constante de toda a área do
sítio, com uma preocupação em manter, durante muito tempo, áreas limpas e fogueiras
sempre acesas nos mesmos locais.
A velocidade de formação das camadas sugere uma ocupação
diferenciada entre o centro e a periferia do sítio. Na
periferia, formação mais lenta das camadas através da
sucessão de pequenas fogueiras, camadas mais finas, bolsões
menores em intervalos maiores, indicando fogueiras menores
com restos alimentares acumulados mais lentamente, o que
aponta, provavelmente, para áreas de unidades domésticas.
As concentrações de material encontradas na periferia são
constituídas de restos ósseos e malacológicos, que estão em
áreas circulares de acúmulo, de diferentes alturas, cercadas por
áreas adjacentes com menor quantidade de material.
Datações
Foram obtidas cinco datações (figura 101):
lxviii
1. Beta Analytic Inc n° 101671: Datação convencional obtida por C14 = 1640 ± 100
AP. Datação mensurada pelo C13/C12 = mesma datação. Calibrada 2 sigma =
2160 - 2585 AP
26
.
Risco de contaminação: Sim. Cultivos recentes e queimadas alteraram as camadas.
Amostra coletada no limite superior da camada malacológica, setor D4, nível 40–
50, representando o final da ocupação do sítio. Trata-se de uma amostra difícil de ser
coletada, devido às alterações provocadas pelas queimadas feitas para o cultivo do café.
No entanto, enquanto a datação convencional, por ser muito recente, foge da seqüência
das demais, sugerindo contaminação da amostra, a datação calibrada de 2585 anos AP é a
mais coerente.
2. Beta Analytic Inc. n° 147283: Datação convencional obtida por AMS = 2830 ±
±±
± 50
anos AP. Datação mensurada com carbono 12 e13: 2870 ± 50 anos AP; Datação
calibrada 2 sigma: 3070 – 2800 anos AP.
Risco de contaminação: nenhum.
Amostra coletada no meio da camada malacológica, sobre a concreção de argila
vermelha presente no setor F0, nível I 20 100. As datas obtidas se confirmam e estão de
acordo com o modelo proposto. Provavelmente, esse foi um momento de transgressão
marinha que teria ocorrido, segundo Martin et al (1987), logo após um período regressivo,
em torno de 3000 anos.
26
Aparecem em negrito as datações mais aceitas.
lxix
3. Beta Analytic Inc n° 147284: Datação convencional obtida por AMS = 3060 ±
±±
± 40
anos AP. Datação mensurada por carbono 12 e 13: 3090
±
40 anos AP. Datação
calibrada 2 sigma: 3360 – 3160 anos AP.
Amostra coletada em bolsão ósseo aderido embaixo da concreção, setor F0 – nível 130-
140.
Risco de contaminação: nenhum.
4. Beta Analytic Inc n° 14 84808 Datação convencional obtida por C14 com
mensuração por C12/13, estimada em 2650
±
350 anos AP. Datação calibrada 2
sigma 3540 – 2750 anos AP.
Risco de contaminação: nenhum.
Amostra coletada na base do sítio, numa fogueira encostada no sepultamento 1, perfil
P.1.9/ setor T.1.1, nível 190. A escassez de carbono da amostra resultou na ampliação da
margem de erro.
5. Centre de Faibles Radioactives Laboratoire Mixte C.N.R.S C.E.A GIF n° 8991.
Datação convencional 2910
±
90 anos AP, mensurada pelo C13. Datação
calibrada = 3323 – 2852 anos AP.
Risco de contaminação: nenhum.
lxx
Amostra coletada na base do sítio, no início da camada de ossos compactados, setor D4,
nível 110.
50
3060 40
2650 350
2910
90
2830
Figura 101. Localização das amostras datadas
lxxi
As datações obtidas, juntamente com a localização de alguns amoladores-polidores
fixos e o desmoronamento observado (Figura 102), indicam que o sítio começou a ser
construído pouco antes de 3000 anos, quando o mar estava mais baixo, conforme as
datações 4 e 5 em negrito.
Figura 102. Ilustração do processo de desmoronamento de parte do piso de argila do setor
P.1.5
Pela datação n
°
3, calcula-se que a camada óssea teria se formado muito
rapidamente, em cerca de 200 anos. Pela datação obtida sobre a concreção, já no meio da
camada malacológica, estima-se que tenham se passado mais 150 anos. Se a datação n° 1,
de 2585 anos, estiver certa, o sítio teria sido construído há aproximadamente 550 anos.
lxxii
Análise do material
Restos faunísticos
Com o objetivo de estimar a dieta alimentar, a partir de uma
amostragem satisfatória, foram utilizadas três estratégias de coleta e de
análise:
A elaborada pelo Programa nimo de Restos Alimentares PMARA
27
, tendo em
vista a retirada de uma coluna de 10cm de largura, no perfil P.1.7, e outra, no P.1.9 (Tabela
22);
A coleta aleatória, realizada nos setores D4 e H4, de restos alimentares diagnósticos
(Tabela 23);
A coleta de todo o material retirado do setor T.1.1, cerca de 8m
3
de sedimento que,
antes de ser trazido ao laboratório, foi peneirado com malha de 3mm.
Na análise do PMARA, houve por objetivo a obtenção de dados quantitativos,
como estimar o peso da pesca em relação à caça e à variação da intensidade do consumo de
determinadas espécies.
Na análise do material coletado no D4, a preocupação foi apenas identificar as
espécies disponíveis no sítio.
27
Proposta elaborada por vários pesquisadores (André Jacobus, Angela Buarque, Celso Perota, Débora Barbosa.
Levy Figuti, Maria Cristina Tenório, Maria Dulce Gaspar, Maura Imázio da Silveira), reunidos na cidade de São
Paulo, no mês de abril de 1995, com o objetivo de traçar estratégias para amostragem de restos alimentares.
lxxiii
na análise do material coletado no T.1.1, o objetivo foi entender a ocorrência das
espécies nas camadas de ocupação.
Todo o material proveniente do setor T.1 foi trazido para o
laboratório e lavado numa célula de flotação, para que fossem
recuperados também todos os restos vegetais. A célula de
flotação consiste em uma bacia com várias peneiras sobrepostas
onde o material é colocado. Com o auxílio de uma mangueira, a
água jorra sobre o material e fica represada no tonel, vindo o
material mais leve para a superfície e saindo por cima, para cair
sobre uma peneira mais fina (Ybert et al 1997).
Depois do material lavado, os artefatos foram separados e o material faunístico foi
triado segundo sua taxofonomia e, depois, classificado com a colaboração de pessoal
especializado.
Os dados obtidos foram registrados num banco de dados gerado no programa
“Access”, os resultados das consultas foram transportados para planilhas geradas no
programa “Excel” e analisados estatisticamente.
O reduzido número de peças diagnósticas prejudicou a análise quantitativa. A
escassez de ossos de cnio remete à hipótese de que, com exceção dos de pequeno porte,
os peixes capturados tinham suas cabeças retiradas antes de serem carregados para o sítio.
lxxiv
Apenas na análise malacológica da amostra coletada no esquema do PMARA foi
producente trabalhar com a estimativa de número mínimo de indivíduos – NMI. Nas
análises das outras amostragens, optou-se por contabilizar o número bruto de peças, que
nelas não era objetivo estimar no tempo a variação na dieta alimentar e sim, apenas,
reconstituir os ambientes explorados e entender a formação do sítio.
Tabela 22. PMARA - Material Malacológico
Perfil Camada Nível Frag/s
28
Gr Gênero / espécie NTP NMI
29
P 1.7 II - 1 030 - 040 X 400 - - -
Olivancilaria auricularia
(Lamarck, 1810)
2 2
Lucina pectinata
5 4e
28
Fragmentos por peso.
29
(d) direita, (e) esquerda.
lxxv
(Gmelin, 1791)
Iphigenia brasiliana
(Lamarck 1808)
13 9e
Tagelus plebeius
(Lightfoot, 1786)
4
9 6d
P 1.7 II - 2 040 - 050 X 90 - - -
Tagelus plebeius
2 1d
Iphigenia brasiliana
13 11e
P 1.7 II - 3 050 - 060 X 0,1 - - -
Lucina pectinata
1 1d
Iphigenia brasiliana 1 1e
Tagelus plebeius 4 2d
P 1.7 II - 4 060 - 070 X 180 - - -
P 1.7 III - 3 090 - 100
Lucina pectinata
5 3d
Tagelus plebeius 4 3e
P 1.7 III - 4 100 - 110 X 550 - - -
Lucina pectinata 7 5d
Tagelus plebeius 6 3d
Iphigenia brasiliana 6 4e
P 1.7 III - 5 110 - 120 X 1.000 - - -
Lucina pectinata 2 1d
Tagelus plebeius 3 2e
Iphigenia brasiliana 1 1e
Anomalocardia brasiliense
(Gmelin, 1791)
1 1e
Total
2.220 85 /
P 1.9 - 020 - 030 X 250 - - -
Tagelus plebeius
1 1d
Iphigenia brasiliana 14 7d
Lucina pectinata 1 1d
P 1.9 - 030 - 040 X 350 - - -
Tagelus plebeius 6 4e
Iphigenia brasiliana 34 21e
P 1.9 - 040 - 050 X 550 - - -
Lucina pectinata 5 3d
Anomalocardia brasiliense 1 1e
Iphigenia brasiliana
34 19e
Tagelus plebeius
6 3d
P 1.9 cam. preta 050 - 060 X 75 - - -
Iphigenia brasiliana 1 1d
P 1.9 cam de
conchas
070 - 080 X 300 - - -
Tagelus plebeius 1 1e
Iphigenia brasiliana
2 1d
P 1.9 cam. de
conchas
080 - 090 X 300 - - -
Iphigenia brasiliana 6 2d
Olivancilaria auricularia 1 1
P 1.9 - 100 - 110 X 70 - - -
Macoma constricta 1 1e
Iphigenia brasiliensis
5
1 1d
Total 1895 115 /
76
Tabela 23. Programa Mínimo de Restos Alimentares - PMARA - material ósseo
Sítio Ilhote do Leste
Perfil
Camada Nível n. de
peças
Peça Diagnostica Classe
Ordem
Gênero / Espécie
P1.7 I - 1 000 - 010 3 espinho Osteichthyes
P1.7 I - 1 000 - 010 3 placa Mammalia Edentata
P1.7 I - 1 000 - 010 1 rtebra Chondrichthyes
P1.7 I - 1 000 - 010 7 fragmentos
P1.7 I - 2 010 - 020 1 dente Mammalia Rodentia Cavia sp
P1.7 I - 2 010 - 020 1 dentário Osteichthyes
P1.7 I - 2 010 - 020 3 placa Mammalia Edentata Dasypus sp
P1.7 I - 2 010 - 020 1 peça
P1.7 I - 2 010 - 020 6 espinho Osteichthyes
P1.7 I - 2 010 - 020 4 rtebra Osteichthyes
P1.7 I - 2 010 - 020 15 fragmentos
P1.7 II - 1 030 - 040 1 dentário Osteichthyes
P1.7 II - 1 030 - 040 18 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 II - 1 030 - 040 22 espinho Osteichthyes
P1.7 II - 1 030 - 040 2 vértebra Chondrichthyes
P1.7 II - 1 030 - 040 15 vértebra Osteichthyes
P1.7 II - 1 030 - 040 54 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida
Echinometra
lucunter
P1.7 II - 1 030 - 040 27 fragmentos
P1.7 II - 2 040 - 050 1 placa Mammalia Edentata Dasypus sp
P1.7 II - 2 040 - 050 1 osso longo
P1.7 II - 2 040 - 050 2 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida
Echinometra
lucunter
P1.7 II - 2 040 - 050 7 vértebra Osteichthyes
P1.7 II - 2 040 - 050 14 espinho Osteichthyes
P1.7 II - 2 040 - 050 5 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 II - 2 040 - 050 18 fragmentos
77
Tabela 23. Programa Mínimo de Restos Alimentares - PMARA - material ósseo (cont.)
Sítio Ilhote do Leste
Perfil
Camada Nível n. de
peças
Peça Diagnostica Classe
Ordem
Gênero / Espécie
P1.7 II - 3 050 - 060 10 placa de crânio Osteichthyes ?
P1.7 II - 3 050 - 060 1 placa ?
P1.7 II - 3 050 - 060 28 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida Echinometra lucunter
P1.7 II - 3 050 - 060 7 vértebra Osteichthyes
P1.7 II - 3 050 - 060 1 vértebra Chondrichthyes
P1.7 II - 3 050 - 060 1 garra ?
P1.7 II - 3 050 - 060 1 ponta trabalhada
P1.7 II - 3 050 - 060 14 espinho Osteichthyes
P1.7 II - 3 050 - 060 1 mandíbula ?
P1.7 II - 3 050 - 060 2 articulação da mandíbula Osteichthyes
P1.7 II - 3 050 - 060 2 quadrado ? Osteichthyes
P1.7 II - 3 050 - 060 50 fragmentos
P1.7 II - 4 060 - P1.70 6 placa ?
P1.7 II - 4 060 - P1.70 9 rtebra Osteichthyes
P1.7 II - 4 060 - P1.70 2 rtebra Chondrichthyes
P1.7 II - 4 060 - P1.70 21 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida
Echinometra
lucunter
P1.7 II - 4 060 - P1.70 3 placa de crânio Osteichthyes ?
P1.7 II - 4 060 - P1.70 14 espinho Osteichthyes
P1.7 II - 4 060 - P1.70 3 rtebra Osteichthyes
P1.7 II - 4 060 - P1.70 2 placas faringeana Osteichthyes
P1.7 II - 4 060 - P1.70 43 fragmentos
Pág .2
P1.7 II - 5 050 - 060 2 vértebra Osteichthyes
P1.7 II - 5 050 - 060 3 espinho Osteichthyes
P1.7 II - 5 050 - 060 1 placa da mandíbula Osteichthyes (Bagre)
P1.7 II - 5 050 - 060 4 placa ?
78
Tabela 23. Programa Mínimo de Restos Alimentares - PMARA - material ósseo (cont.)
Sítio Ilhote do Leste
Perfil
Camada Nível n. de
peças
Peça Diagnostica Classe
Ordem
Gênero / Espécie
II - 6 060-070 5 placa de crânio Osteichthyes?
II - 6 060-070 4 peça
II - 6 060-070 5 placa de crânio Osteichthyes
II - 6 060-070 7 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida
Echinometra
lucunter
II - 6 060-070 1 placa faringea Osteichthyes
II - 6 060-070 7 espinho Osteichthyes
II - 6 060-070 9 vértebra Osteichthyes
II - 6 060-070 21 fragmentos
P1.7 III - 1 070 - 080 6 vértebra Osteichthyes
P1.7 III - 1 070 - 080 9 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida
Echinometra
lucunter
P1.7 III - 1 070 - 080 2 placa faringea Osteichthyes
P1.7 III - 1 070 - 080 1 placa Reptilia Chelonia
P1.7 III - 1 070 - 080 1 mandíbula Osteichthyes
P1.7 III - 1 070 - 080 5 vértebras Osteichthyes
P1.7 III - 1 070 - 080 2 vértebra Osteichthyes
P1.7 III - 1 070 - 080 1 placa faringea Osteichthyes
P1.7 III - 1 070 - 080 1 dentário Osteichthyes
P1.7 III - 1 070 - 080 1 presa
P1.7 III - 1 070 - 080 20 espinho Osteichthyes
P1.7 III - 1 070 - 080 13 placa de crânio ? Osteichthyes ?
P1.7 III - 1 070 - 080 20 fragmentos
P1.7 III - 2 080 - 090 8 placa de crânio Osteichthyes
(cf)
P1.7 III - 2 080 - 090 10 placa ?
P1.7 III - 2 080 - 090 20 espinho Osteichthyes
P1.7 III - 2 080 - 090 1 placa faringea Osteichthyes
P1.7 III - 2 080 - 090 2 placa Reptilia Chelonia
79
P1.7 III - 2 080 - 090 5 dentário Osteichthyes
P1.7 III - 2 080 - 090 20 vértebra Osteichthyes
P1.7 III - 2 080 - 090 16 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida Echinometra lucunter
P1.7 III - 2 080 - 090 1 amêndoa Osteichthyes
P1.7 III - 2 080 - 090 1 placa faringea (cf) Osteichthyes
Tabela 23. Programa Mínimo de Restos Alimentares - PMARA - material ósseo (cont.)
Sítio Ilhote do Leste
Perfil
Camada Nível n. de
peças
Peça Diagnostica Classe
Ordem
Gênero / Espécie
P1.7 III - 2 080 - 090 1 articulação mandibular (cf) * Osteichthyes
P1.7 III - 2 080 - 090 4 espinho Osteichthyes
P1.7 III - 2 080 - 090 30 fragmentos
P1.7 III - 3 090 - 100 3 espinho Osteichthyes
P1.7 III - 3 090 - 100 1 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 III - 3 090 - 100 1 vértebra Osteichthyes
P1.7 III - 3 090 - 100 1 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida
Echinometra
lucunter
P1.7 III - 3 090 - 100 1 espinho ? Osteichthyes ?
P1.7 III - 3 090 - 100 1 placa ? ?
P1.7 III - 3 090 - 100 12 fragmentos
Total 8
P1.7 III - 4 100 - 110 2 placa Mammalia Edentata Dasypus sp
P1.7 III - 4 100 - 110 1 dente Osteichthyes
P1.7 III - 4 100 - 110 1 dentário Osteichthyes
P1.7 III - 4 100 - 110 1 osso Mammalia Cetacea
P1.7 III - 4 100 - 110 1 placa
P1.7 III - 4 100 - 110 1 quadrado * Osteichthyes
P1.7 III - 4 100 - 110 1 peça com articulação *
P1.7 III - 4 100 - 110 1 vômer (cf) * Osteichthyes
P1.7 III - 4 100 - 110 18 vértebra Osteichthyes
P1.7 III - 4 100 - 110 1 falange Mammalia
P1.7 III - 4 100 - 110 2 placa (cf) * Osteichthyes
P1.7 III - 4 100 - 110 2 garra Crustacea Decapoda
P1.7 III - 4 100 - 110 3 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida
Echinometra
lucunter
80
P1.7 III - 4 100 - 110 23 espinho Osteichthyes
P1.7 III - 4 100 - 110 53 fragmentos
P1.7 III - 5 110 - 120 1 dente faringeano Osteichthyes Sparisoma sp
P1.7 III - 5 110 - 120 11 vértebra Osteichthyes
P1.7 III - 5 110 - 120 10 espinho Osteichthyes
P1.7 III - 5 110 - 120 2 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida
Echinometra
lucunter
P1.7 III - 5 110 - 120 1 dente faringea Osteichthyes
Tabela 23. Programa Mínimo de Restos Alimentares - PMARA - material ósseo (cont.)
Sítio Ilhote do Leste
Perfil
Camada Nível n. de
peças
Peça Diagnostica Classe
Ordem
Gênero / Espécie
P1.7 III - 5 110 - 120 2 osso Osteichthyes?
P1.7 III - 5 110 - 120 28 fragmentos
P1.7 IV - 1 120-130 4 vértebra Osteichthyes
P1.7 IV - 1 120-130 1 espinho Osteichthyes
P1.7 IV - 1 120-130 1 placa Mammalia Edentata
P1.7 IV - 1 120-130 16 fragmentos
P1.7 IV - 2 130 - 140 1 vômer Osteichthyes
P1.7 IV - 2 130 - 140 1 dentário Osteichthyes
P1.7 IV - 2 130 - 140 1 dente Mammalia Rodentia
P1.7 IV - 2 130 - 140 1 vômer Osteichthyes
P1.7 IV - 2 130 - 140 1 espinho de ouriço Echinoidea Echinoida
Echinometra
lucunter
P1.7 IV - 2 130 - 140 34 vértebra Osteichthyes
P1.7 IV - 2 130 - 140 18 espinho Osteichthyes
P1.7 IV - 2 130 - 140 2 placa faringea Osteichthyes
P1.7 IV - 2 130 - 140 1 mandíbula Osteichthyes (Bagre)
P1.7 IV - 2 130 - 140 2 articulação de mandíbula Osteichthyes
P1.7 IV - 2 130 - 140 1 opérculo Osteichthyes
P1.7 IV - 2 130 - 140 6 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 IV - 2 130 - 140 48 bolas de fragmentos
81
P1.7 IV - 3 140 - 150 8 espinho Osteichthyes
P1.7 IV - 3 140 - 150 13 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 IV - 3 140 - 150 8 vértebra Osteichthyes
P1.7 IV - 3 140 - 150 1 vértebra Chondrichthyes
P1.7 IV - 3 140 - 150 28 bolas de fragmentos
P1.7 IV - 4 150 - 160 1 paraesfenoide Osteichthyes
P1.7 IV - 4 150 - 160 2 articulação de mandíbula Osteichthyes
P1.7 IV - 4 150 - 160 2 osso longo
P1.7 IV - 4 150 - 160 12 vértebra Osteichthyes
Tabela 23. Programa Mínimo de Restos Alimentares - PMARA - material ósseo (cont.)
Sítio Ilhote do Leste
Perfil
Camada Nível n. de
peças
Peça Diagnostica Classe
Ordem
Gênero / Espécie
P1.7 IV - 4 150 - 160 5 espinho Osteichthyes
P1.7 IV - 4 150 - 160 2 placa faringea Osteichthyes
P1.7 IV - 4 150 - 160 1 placa de crânio Osteichthyes (Bagre)
P1.7 IV - 4 150 - 160 7 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 IV - 4 150 - 160 2 dente Chondrichthyes
Carcharinus spp
P1.7 IV - 4 150 - 160 1 úmero Aves
P1.7 - 150 - 160 1 úmero Mammalia
P1.7 IV - 4 150 - 160 11 bolas de fragmentos
P1.7 IV - 5 160 - 170 15 espinho Osteichthyes
P1.7 IV - 5 160 - 170 3 espinho Osteichthyes
P1.7 IV - 5 160 - 170 34 vértebra Osteichthyes
P1.7 IV - 5 160 - 170 26 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 IV - 5 160 - 170 1 osso Osteichthyes
P1.7 IV - 5 160 - 170 1 osso Osteichthyes
P1.7 IV - 5 160 - 170 1 placa faringea Osteichthyes
P1.7 IV - 5 160 - 170 1 dentário Osteichthyes
P1.7 IV - 5 160 - 170 1 mandíbula Osteichthyes
P1.7 IV - 5 160 - 170 1 dentário Osteichthyes (Bagre)
P1.7 IV - 5 160 - 170 2 ? ?
P1.7 IV - 5 160 - 170 2 vértebra Osteichthyes
P1.7 IV - 5 160 - 170 1 placa faringea Osteichthyes
82
P1.7 IV - 5 160 - 170 105 fragmentos
P1.7 - 160 - 170 1 placa de tartaruga Reptilia Chelonia Quelonio
P1.7 160 - 170 1 osso longo Aves
P1.7 160 - 170 14 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 160 - 170 1 peça porosa Osteichthyes
P1.7 160 - 170 1 opérculo Osteichthyes
P1.7 160 - 170 1 dentário Mammalia Rodentia
P1.7 160 - 170 1 vômer Osteichthyes
P1.7 160 - 170 07 vértebra Osteichthyes
P1.7 160 - 170 24 espinho Osteichthyes
P1.7 160 - 170 1 dentário Osteichthyes
Tabela 23. Programa Mínimo de Restos Alimentares - PMARA - material ósseo (cont.)
Sítio Ilhote do Leste
Perfil
Camada Nível n. de
peças
Peça Diagnostica Classe
Ordem
Gênero / Espécie
P1.7 160 - 170 1 mandíbula Osteichthyes (Bagre)
P1.7 160 - 170 1 costela ?
P1.7 160 - 170 22 fragmentos
P1.7 - 170 - 180 2 placa faringea Osteichthyes
170 - 180 2 dentário Osteichthyes Anchova
170 - 180 1 mandíbula Osteichthyes
P1.7 - 170 - 180 1 dentário Osteichthyes (Bagre)
P1.7 - 170 - 180 29 vértebra Osteichthyes
P1.7 - 170 - 180 1 vértebra Chondrichthyes
P1.7 - 170 - 180 13 espinho Osteichthyes
P1.7 - 170 - 180 5 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 - 170 - 180 1 osso longo Aves
P1.7 - 170 - 180 18 fragmentos
Total 71
P1.7 - 180 - 190 1 placa faringea Osteichthyes
P1.7 180 - 190 1 dentário Osteichthyes
Anchova
P1.7 180 - 190 1 placa de crânio ? Osteichthyes
P1.7 180 - 190 10 espinho Osteichthyes
P1.7 180 - 190 32 vértebra Osteichthyes
83
P1.7 180 - 190 3 peça Osteichthyes
P1.7 180 - 190 2 dentário Osteichthyes (Bagre)
P1.7 180 - 190 1 placa faringea Osteichthyes (Bagre)
P1.7 180 - 190 2 articulação da mandíbula Osteichthyes
P1.7 180 - 190 1 quadrado Osteichthyes
P1.7 180 - 190 1 opérculo Osteichthyes
P1.7 180 - 190 1 paraesfenoide Osteichthyes
P1.7 180 - 190 21 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 180 - 190 11 fragmentos
P1.7 - 200 - 210 1 placa faringea Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 1 dentário Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 1 vértebra Mammalia
Tabela 23. Programa Mínimo de Restos Alimentares - PMARA - material ósseo (cont.)
Sítio Ilhote do Leste
Perfil
Camada Nível n. de
peças
Peça Diagnostica Classe
Ordem
Gênero / Espécie
P1.7 - 200 - 210 1 diáfise Mammalia Rodentia
P1.7 - 200 - 210 2 vômer Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 1 placa denticulada Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 1 mandíbula Osteichthyes (Bagre)
P1.7 - 200 - 210 1 dentário Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 1 placa faringea Osteichthyes (Bagre)
P1.7 - 200 - 210 3 paraesfenoide Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 33 vértebra Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 17 placa de crânio Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 19 espinho Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 2 peça Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 2 articulação da mandíbula Osteichthyes
P1.7 - 200 - 210 40 fragmentos
Resultados obtidos
Material ósseo
Em todas as amostras, cerca de 99% dos fragmentos ósseos são de peixe e menos
de 1% do material é composto por mamíferos, aves e répteis.
Como a camada malacológica é constituída basicamente por carapaças frágeis e
muito leves, foi possível obter uma estimativa da incidência de ossos nas demais, a partir
da comparação do peso de cada material. Na camada malacológica, os restos ósseos são
pouco significativos (Figura 103).
camada malacológica - relação
concha e osso
0%
50%
100%
0-040 0-0-
50
060-
070
070-
080
080-
090
090-
100
fauna
malac
Figura 103. Relação do material ósseo e malacológico na camada
malacológica.
ii
O oposto ocorre na relação do material ósseo e material malacológico na camada
óssea (Figura 104).
0%
50%
100%
Camada óssea - relação ósseo
/malacológico
Ósseo
Malacológico
Figura 104. Relação dom material ósseo e malacológico na camada óssea.
Na relação do material ósseo com o malacológico nos bolsões mistos, observa-se
um pequeno predomínio do ósseo (Figura 105).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1
Ósseo
Malacológico
Figura 105. Relação do material ósseo e malacológico nos bolsões mistos.
iii
No setor T.1.1, quanto mais próximo à encosta, mais compacta é a camada
malacológica, com pouquíssimo sedimento. Nessa área, o material ósseo é mais escasso. É
visível o seu aumento na camada malacológica fora da encosta (Figura 106).
Camada malacológia com sedimento
e sem sedimento
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Cam.mala
c.com
sedimento
Cam
malac.
sem
sedimento
ósseo
malacogico
Figura 106. Relação do material ósseo e malacológico na
camada malacológica com sedimento e sem sedimento.
Nas camadas onde ocorre material esparso, a incidência de material ósseo varia de
acordo com a camada a que está relacionado. Quando próximo da malacológica, o ósseo
aparece na mesma proporção que as carapaças de molusco; quando relacionado à óssea, a
presença de ossos é mais intensa.
O mesmo ocorre na terra preta de aparência estéril. No laboratório, foi possível
constatar a presença de material arqueológico neste tipo de sedimento que, na verdade, se
trata de uma camada de material esparso com pouquíssimo material, o que corrobora a
hipótese de que seria usada para abafar fogueiras.
iv
Relação do material ósseo-
malacológico nas camadas de mat.
esparso
0%
50%
100%
cam.mal cam. óssea
ósseo
malacológico
Figura 107. Relação do material ósseo e malacológico na camada
de material esparso.
Como já foi mencionado, as camadas de material esparso não constituem camadas
contínuas e sim espaços com menor quantidade de material, sempre relacionados a outras
camadas.
Parte-se do princípio de que teria havido dois momentos importantes no sítio: um
relacionado ao início da ocupação, com o mar mais recuado e outro, após o início de um
período transgressivo, com uma mudança na paisagem que teria resultado na proliferação e
na intensificação da coleta de moluscos. Esses dois momentos são caracterizados pelo
predomínio ou da camada óssea ou da malacológica.
Com o objetivo de comparar o material resgatado nos dois momentos, definiu-se a
camada óssea como representando o primeiro momento e a malacológica, com as camadas
de material esparso a ela relacionada, como o segundo momento de ocupação.
Dentre os peixes identificados, nos dois momentos da
ocupação, há um nítido predomínio de teleósteos. Na camada
v
óssea, observa-se mais:
Haemulon
sp (cocoroca),
Archosargus
probatocephalus (sargo de dente), Pomatomus saltatrix
(enchova) e Centropomus sp (robalo), este último ainda
encontrado em abundância nas lagoas que ocorrem na Reserva
as quais, como foi mencionado, deveriam estar muito próximas
ao Ilhote do Leste no início de sua ocupação (Tabela 24) e (Figura
108).
Peixes identificados na camada óssea
0
10
20
30
40
50
60
70
Cam. óssea
Scarus
Sequios
Raia
Micropogonias
furnieri
Ceceos
Archosargus sp
Oligoplites sp
Cynoscion sp
Mycteroperca sp
Centropomus sp
Lutjanus sp
Haemulon sp
Pomatomus
saltatrix
Lobotes
surinamensis
Chaetodipterus
faber
#REF!
Figura 108. peixes identificados na camada óssea
vi
Tabela 24. sistemática e habitat das espécies identificadas no sítio Ilhote do Leste (Ilha
Grande, RJ).
Família
Gênero(s) e espécie(s) Nome vulgar: Habitat
ODONTASPIDIDAE
Odontaspis taurus
(Rafinesque, 1810) “Mangona” C
L
AMNIDAE
Isurus oxyrinchus Rafinesques, 1810 Anequim” P
LAMNIDAE Isurus paucus
30
(cf.)
(Guitart Manday, 1966) - P
LAMNIDAE Carcharodon carcharias (Linnaeus, 1758) “Tubarão branco” P/C
CARCHARHINIDAE Galeocerdo cuvieri (Péron & Lesueur, 1822) “Tintureira” P/C/E/L
CARCHARHINIDAE Carcharhinus spp. - P
DASYATIDAE Dasyatis centroura (cf.)
(Mitchill, 1815) “Raia-prego” D/C/B/E
G
YMNURIDAE
Gymnura altavela (cf.)
(Linnaeus, 1758) “Raia-manteiga” C
MYLIOBATIDAE Myliobatis sp. (cf.)
- C/B/E/Fl/Fa
RHINOPTERDAE Rhinoptera bonasus (Mitchill, 1815) “Ticonha” C
SERRANIDAE Mycteroperca sp. “Badejo” D/C
CARANGIDAE Oligoplites sp. “Guaivira” P/C
LUTJANIDAE Lutjanus sp. Caranha” D/C
LOBOTIDAE Lobotes surinamensis (Bloch, 1790) “Prejereba” C
HAEMULIDAE Haemulon sp. “Corcoroca” D/C/E
EPHIPPIDIDAE Chaetodipterus faber (Broussonet, 1782) “Paru, Enxada” C/M/E
SCARIDAE Scarus sp. “Budião” C/M/Rc
S
CARIDAE Sparisoma sp. “Budião” C/Rc
S
CIAENIDAE
Micropogonias furnieri (Desmarest, 1823) Corvina” D/E/C/Fa
SCIAENIDAE Cynoscion sp. “Pescada” D/E/C
CENTROPOMIDAE Centropomus sp. “Robalo” P/E/C
POMATOMIDAE Pomatomus saltatrix (Linnaeus, 1766) Enchova” P/C
SPARIDAE Archosargus
probatocephalus
(Walbaum, 1792) “Sargo-de-dente” C/E
S
PARIDAE
Archosargus sp. “Sargo-de-dente” C/E
TETRAODONTIDAE Lagocephalus laevigatus “Baiacu-arara” D/C
ARIIDAE - “Bagre” D/C/E/R
P pelágico; D demersal; C costeiro; E estuário; R rio; B baía; L lagoa; M mangue; Fl fundo
lodoso; Fa fundo arenoso e Rc recife de coral.
Obs: As identificações marcadas com “cf “ ainda são objeto de discussão.
30
Segundo a FAO (1984) essa espécie não ocorre em águas brasileiras.
vii
Destaca-se o fato de que o
Lagocephalus laevigatus
(baiacu) está representado apenas por dois indivíduos,
evidenciados pelas mandíbulas encontradas no sedimento
coletado junto ao enterramento D1.
Na camada malacológica constata-se a presença das
mesmas espécies; as mais consumidas continuaram a ser o
Haemulon
sp (cocoroca), o
Pomatomus saltatrix
(enchova) e o
Archosargus probatocephalus
(sargo de dente) (Figura 109).
0%
50%
100%
Cam. malacológica
Peixes identificados na camada
malacológica
Chaetodipterus
faber
Lobotes
surinamensis
Pomatomus
saltatrix
Haemulon sp
Lutjanus sp
Centropomus sp
Mycteroperca sp
Figura 109. Peixes identificados na camada malacológica.
Elasmobrânquios
viii
Seláquios estão intensamente presentes nas duas camadas; ressalta-se o
fato de terem sido encontrados dentes de Carchorodon carcarias (Linaeus, 1758),
correspondentes a indivíduos de porte superior a 3,5m (Franco T.C. & Barbosa, D. 1991).
Observou-se um pequeno predomínio de ossos de Dasyatis sp (raia).
Pela presença das espécies capturadas nas duas camadas, constata-se que não houve
nenhuma mudança de ambientes explorados durante o tempo em que o sítio permaneceu
ativo.
Material malacológico
Das espécies malacológicas, a Lucina pectinata predominou durante toda a
ocupação do sítio. A análise quantitativa do material malacológico foi dificultada pelo fato
de que as espécies malacológicas mais consumidas, depois da Lucina pectinata a
Iphigenia brasiliana e a Tagelus plebeius possuem as carapaças muito friáveis, tornando
difícil sua identificação e quantificação.
No setor D4, onde as valvas estavam menos fragmentadas, constatou-se o
predomínio de Lucina pectinata, com 44%, seguida pela Iphigenia brasiliana, com 27,9%,
e pelo Tagelus plebeius, com 24,6%. Em menor quantidade, foram coletadas carapaças de
Olivancilaria auricularia (Lamarck, 1810) e valvas de indivíduos da família Ostreidae. As
espécies encontradas indicam que houve, para a coleta dos moluscos, a exploração do
mangue, das lagoas, da praia e do canal vizinho ao sítio (Figura 110).
ix
Distribuição material malacológico
setor D4
0
50
100
150
200
10 20
30-40
50-60
70-80
90
-100
110-120
Astraea Alfelsis
Anomalocardia
brasiliana
Ostreidae
Olivancilaria
auricularia
Tagelus plebeius
Iphigenia
brasiliana
Lucina pectinata
Figura 110. Distribuição do material malacológico no setor D4.
Embora o material malacológico ocorra predominantemente na camada
malacológica, na óssea são encontradas valvas de Lucina pectinata concentradas dentro de
fogueiras. Chama a atenção o fato de que, no setor F07, na camada óssea entre os níveis
210 e 140, foram achadas quatro fogueiras de longa duração, contendo, além de ossos de
fauna, valvas de Lucina pectinata de grande porte e carapaças de Olivancilaria auricularia
e de Astraea alfelsis (Philippi,1846), esta última ocorrendo apenas neste setor e no D4,
também em fogueira e no início da ocupação.
Indivíduos da família
Ostreidae
, que se destacam por seu
grande porte, são encontrados concentrados no setor T.1.1 nos
primeiros momentos da ocupação, o que sugere a exploração de
um manguezal, não muito próximo ao sítio, já que poucos
exemplares foram coletados.
Equinodermos
x
Foi identificada quantidade significativa de espinhos de Echinoidea (ouriços-do-
mar) em todas as camadas do sítio, sempre apresentando marcas de fogo ou completamente
calcinados.
Artefatos
Artefatos ósseos
Foram coletados 2.886 artefatos ósseos; desses, 2703 são pontas, 161 são dentes e
22 são vértebras trabalhadas, somando 27 tipos diferentes (Tabela 25), assim classificados
segundo atributos, como matéria prima, morfologia e tecnologia de fabricação e função
(Figuras 111 e 125; Tabela 26).
xi
Tabela 25. Descrição dos tipos de pontas ósseas
Tipo 1 Artefato elaborado com espinho de peixe modificado por fricção nas faces
interna e externa, para formar superfícies planas.
Tipo 2 Artefato elaborado com espinho de peixe, com trabalho de fricções na
superfície interna e rompimento na parte superior, resultando forma em V.
Tipo 3 Artefato elaborado com espinho de peixe com ausência da parte superior
(epífese), a qual foi eliminada por corte transversal ao corpo da peça.
Tipo 4 Artefato de osso de mamífero e/ou ave, fricção na parte interna com forte
arrebitamento nas duas extremidades, formando ângulo de 120
o
.
Tipo 5 Artefato elaborado a partir da metade longitudinal de osso de mamífero
terrestre. A proximal é reta feita por corte transversal e distal friccionada
até obter a forma de triângulo isósceles.
Tipo 6 Artefato elaborado de osso de ave ou mamífero, secção transversal plano-
quadrangular. Desgaste por fricção na superfície interna obtendo
estreitamento na parte mesial e proximal. Chato
Tipo 7 Artefato elaborado com espinho de peixe com desgaste por fricção em um
dos lados da epífese, de forma oblíqua.
Tipo 8 Artefato elaborado em osso de mamífero aplainado por fricção na parte
interna, aguçado nas extremidades formando um leve arrebitamento.
Tipo 9 Artefato elaborado a partir de osso de mamífero ou ave, com extremidade
proximal reta feita por corte transversal. Com canelura
Tipo 10 Espinho de peixe sem modificações em sua forma original (não sofreu
trabalho), porém ocorre algumas estrias, indicando ter sido utilizado.
Tipo 11 Artefato em osso de peixe de secção plano-quadrangular, cujos lados
apresentam reentrância (corresponde ao canal do osso) que acompanha em
seu comprimento. Na parte distal houve desgaste nas laterais, formando
triângulo equilátero.
Tipo 12 Artefato de osso de peixe, mamífero ou ave, com desgaste por fricção na
parte interna, resultando um arrebitamento na extremidade distal.
Tipo 13 Espinho de peixe com sua morfologia original, apresentando ampliação
no orifício da epífese e pequenos aplainamentos nas faces interna e
externa.
Tipo 14 Artefato elaborado com espinho de peixe, apresentando o mesmo trabalho
do tipo 1, porém a face interna não sofreu aplainamento e a extremidade
distal é menos aguçada.
Tipo 15 Artefato de osso de ave, semelhante ao tipo 6, com canelura acentuada e
corte longitudinal do osso. Aplainamento da superfície interna e desgaste
na extremidade distal, formando triângulo equilátero. Ponta longa e
estreita. Maiores bipontas, mais largas na distal do que T6
Tipo 16 Artefato de osso de ave. Desgaste na parte interna apresentando forma de
triângulo isósceles na extremidade distal.
Tabela 25. Descrição dos tipos de pontas ósseas (cont.)
Tipo 17 Artefato elaborado com espinho de peixe, com desgaste na parte interna
próximo à epífese, formando uma cavidade.
Tipo 18 Artefato de osso de ave, semelhante ao tipo 4, porém não possui corte
longitudinal. Desgaste nas extremidades formando um corte oblíquo. O
canal continua presente na peça, formando um possível condutor para fio?
Tipo 19
Artefato em osso de mamífero, bastante plano. Desgas
te por fricção na
xii
parte interna, formando triângulo equilátero.
Tipo 20 Artefato elaborado com espinho de peixe, com desgaste apenas na parte
interna da extremidade distal, formando uma cavidade.
Tipo 21 Artefato elaborado com espinho de peixe, eliminando a epífese a partir do
desgaste por fricção na parte interna e na parte externa. Na extremidade
proximal este desgaste força uma curvatura. Bi-ponta.
Tipo 22 Artefato elaborado com espinho de peixe, com desgaste em toda a
superfície da peça, principalmente na parte externa, provocando um
aplainamento na extremidade proximal em forma de U.
Tipo 23 Artefato a partir de esporão de arraia, seguindo sua forma original.
Apresenta aplainamento nas laterais e desgaste na extremidade proximal.
Tipo 24 Vértebra perfurada
Tipo 25 Osso com corte
Tipo 26 Osso com corte em ambas as extremidades
Tipo 27 Dente (27a com entalhe e 27b com corte)
Além das pontas englobadas por esses tipos foram encontrados mais 18 exemplares
cuja baixa representatividade não foi suficiente para constituir novos tipos. São eles:
1. Espátula: Artefato elaborado com osso de mamífero bem compacto e plano na parte
interna. Na extremidade distal, apresenta um desgaste curvo como uma espátula. Esse tipo
aparece nos setores: H1B, H1C, H2D, H4D , na camada de material esparso III. – 4
exemplares;
2. Marca de amarração: Artefato elaborado em espinho de peixe, semelhante ao tipo 1,
porém sem desgaste na diáfise e na epífese, mas com marca de desgaste provável de
amarração de cordão. Aparece nos setores: H2A, H4B e T.1.1. na camada malacológica. –
3 exemplares;
3. Anzol: Artefato elaborado em espinho de peixe com desgaste provocando torção lateral
(anzol). Aparecem nos setores H4A , H4B – este elaborado em esporão de bagre com
desgaste em um dos lados formando uma curvatura – e no setor T.1.1. Todos na camada
malacológica. – 3 exemplares;
4. PZ: Artefato elaborado provavelmente de espinho de peixe, bastante plano, reto na
extremidade distal, com desgaste até a parte mesial da ponta. Foi denominado como ponta
PZ, ou seja, ponta zebrada, aparecendo nos setores H3C e no T.1.2 ,na camada de material
esparso III. – 2 exemplares;
5. Artefato em osso de mamífero bem compactado, parecido com o tipo 8. Plano na parte
interna apresenta desgaste na extremidade distal mais curvo, que o diferencia do tipo 8.
Tem a forma de uma espátula. H4 camada de material esparso – 2 exemplares;
6. Espinho com marcas na extremidade proximal sem alterar a
epífise. T1.2 camada material esparso 1 exemplar;
7. Ponta elaborada em osso de mamífero, com abertura do canal exposto, com extremidade
proximal mantendo parte da epífise, com leve arrebitamento da extremidade distal. T1.1
camada malacológica – 1 exemplar;
xiii
8. Osso perfurado. Diáfise com epífise com corte na extremida de distal. T1.1 camada
malacológica - 2 exemplares.
9. Protótipo de ponta com a mesma morfologia do Tipo 1 elaborado em osso de ave. F0
camada óssea, início da ocupação. 1 exemplar.
xiv
Figura 111. Tipologia da indústria óssea. 1 - Tipo 1; 2 - Tipo 2; 3 - Tipo 3.
A - vista anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
a
b
c
1
2
3
xv
Figura 112. Tipologia da indústria óssea. 4 - Tipo 4; 5 - Tipo 5; 6 - Tipo 6.
A - vista anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
a
b
c
4
5
6
xvi
Figura 113 . Tipologia da indústria óssea. 7 - Tipo 7; 8 - Tipo 8; 9 - Tipo 9.
a - vista anterior; b - vista posterior; c - vista lateral. Tamanho natural.
a
b
c
7
8
9
xvii
Figura 114. Tipologia da indústria óssea. 10 - Tipo 11; 11 - Tipo 11; 12 - Tipo 12. a - vista
anterior; b- vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
a
b
c 10
11
12
xv
iii
Figura 115. Tipologia da indústria óssea. 13 - Tipo 13; 14 - Tipo 14. a - vista anterior; b -
vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
a
b c
13
14
xix
Figura 116. Tipologia da indústria óssea. 15 - Tipo 15; 16 - Tipo 16. a - vista anterior; b -
vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
a b
c 15
15
xx
Figura 118. Tipologia da indústria óssea. 17 - Tipo 17; 2 - Tipo 18. a - vista anterior; b -
vista posterior; c - vista lateral. Tamanho natural.
a
b
c
17
18
xxi
Figura 119. Tipologia da indústria óssea. 19 - Tipo 19; 20 - Tipo 20; 21 - Tipo 21. a - vista
anterior; b- vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
19
a
c
20
21
xxii
Figura 120. Tipologia da indústria óssea. 22- Tipo 22; 23 - Tipo 23 a - vista anterior; b -
vista posterior; c- vista lateral.
a
b c
22
23
xxiii
Figura 121. Tipologia da indústria óssea. 24A - Sutipo 24A; 24B -Subtipo 24B. a - vista
anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
24A
a
b
c
T24B
xxiv
Figura 122. Tipologia da indústria óssea. 25 - Tipo 25; - Tipo 26 - Tipo 26.
A - vista anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
25
a
b
c
26
xxv
Figura 123. Tipologia da indústria óssea. 27A - Subtipo 27A; 27B - Subtipo 27B; 27C -
Subtipo 27C. a - vista anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
27A
27B
27C
a
b
c
xxvi
Figura 124. Tipologia da indústria óssea. 27D – Subtipo 27D; 27E – Subtipo 27E; 27F
Subtipo 27F. a - vista anterior; b - vista posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
27D
27E
27F
a
b
c
xxvii
Figura 125. Tipologia da indústria óssea. 27 G – Sub-tipo 27G. a - vista anterior; b- vista
posterior; c- vista lateral. Tamanho natural.
A partir do gráfico da distribuição dos artefatos ósseos, pôde-se observar que,
apesar de terem sido escavadas áreas diferentes no sítio, eles mantiveram a mesma
distribuição espacial, coincidindo sempre com a distribuição e a intensidade das camadas,
não havendo áreas específicas para o seu descarte (Figuras 126 e 127). No aspecto vertical,
a sua distribuição também é homogênea. Observa-se apenas uma diminuição nos bolsões
mistos. Os artefatos ósseos foram utilizados com a mesma intensidade por toda a ocupação
do sítio. (Figura 128).
Os tipos relacionados aos espinhos trabalhados e aos dentes são os mais
expressivos; o restante tem pouca representatividade.
27G
a b
c
xxviii
(a) camada de ossos esparsos
(b) camada malacológica
Figura 126 - Distribuição espacial dos artefatos ósseos: (a) camada de ossos esparsos; (b)
camada malacológica.
(a) camada mista
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
0
10
20
40
50
60
xxix
(b) camada óssea
Figura 127 – Distribuição espacial dos artefatos ósseos: (a) camada mista; (b) camada
óssea.
(b) camada mista
(b) camada óssea
Figura 127 – Distribuição espacial dos artefatos ósseos: (a) camada mista; (b) camada
óssea.
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
0
50
100
150
250
300
450
500
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
0
10
20
40
50
60
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
0
50
100
150
250
300
450
500
xxx
Figura 128. Distribuição, por camada, dos artefatos ósseos.
Pontas
Dentre as pontas, a matéria prima utilizada em maior quantidade
foi o espinho de peixe (99%); o aproveitamento de ossos de aves, esporão
de arraia e animais terrestres foi em quantidade bem inferior. Além dos
tipos classificados, foram registrados 16 pontas com baixa
representatividade.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1100
osso esparso óssea concha mista
tipo 1 tipo 2 tipo 3 tipo 4 tipo 5 tipo 6 tipo 7 tipo 8 tipo 9 tipo 10 tipo 11
tipo 12 tipo 13 tipo 14 tipo 15 tpo 16 tipo 17 tipo 18 tipo 19 tipo 20 tipo 21 tipo 22
tipo 23 tipo 24 tipo 25 tipo 26 tipo 27
xxxi
A ponta tipo 4 destaca-se pela freqüência com a qual está
ligada a enterramento; das 41 encontradas, 11 estavam
associadas a enterramentos, sendo que uma estava aderida ao
úmero do indivíduo, o que permite supor que poderia estar
relacionada a sua
causa mortis
.
Também associadas aos enterramentos foram encontradas
quatro variações de pontas, ausentes nos demais setores
escavados. São elas:
1. Espinho semelhante ao tipo T2, com corte na epífise, porém bem mais grosseiro,
feito a partir de espinho muito grande. Sepultamento 2 (ver anexo 2, ficha 3);
2. Espátula atípica. Sepultamento 7 (ver anexo 2, ficha n.8);
3. Espinho semelhante ao tipo T1, porém com orifício formando pingente.
Sepultamento 10 (ver anexo 2, ficha n.11 );
4. Dois espinhos com desgaste lateral da parte distal, resultando na forma de um
anzol. Sepultamento A4 (ver anexo 2, ficha n. 18).
Além dos tipos descritos, existem variações do espinho
trabalhado e novos tipos de pouca freqüência que estão
relacionados à última ocupação, estes mais
concentrados no setor H. São eles:
Variações do Tipo 1:
xxxii
1. Espinho sem desgastes na diáfise, porém com a epífise totalmente cortada (com
marcas de corte) e desgaste provável de cordão.
2. Espinho semelhante à ponta T1, porém sem desgaste sobre a face externa da
epífise, onde também aparece marca de desgaste por cordão. Face interna com
desgaste (3 exemplares).
3. Espinho com desgaste apenas na parte interna da epífise.
4. Espinho com desgaste rotativo apenas na extremidade distal, podendo ter sido
usado como furador (6 exemplares).
5. Ponta elaborada a partir de osso de ave, com trabalho de desgaste por fricção, que
teve por objetivo a forma do espinho trabalhado.
Tipos novos de pouca freqüência:
1. Esporão de bagre com desgaste em um dos lados formando curvatura.
2. Quatro espátulas apresentando formas diferentes.
3. Biponta feita a partir de esporão de arraia (sem curvatura).
6. Duas bipontas compactas de secção quadrangular, com desgaste na face interna
provocando forte arrebitamento das duas extremidades.
7. Ponta elaborada a partir de ossos de réptil, muito plana, reta, com parte distal
desgastada até a parte mesial da peça.
Distribuição dos tipos
xxxiii
Considerando que a camada de ossos esparsos é mais intensa em momentos mais
recentes, um leve predomínio de pontas elaboradas a partir de espinho nas camadas
posteriores ao piso de argila.
O fato de que foi encontrada uma ponta, como já foi mencionado, elaborada a partir
de osso de ave, mas com a morfologia do espinho trabalhado, pode estar indicando uma
escassez dessa matéria prima em momentos mais recentes; essa ponta foi coletada na
camada malacológica do nível 50-60cm.
Dentes trabalhados:
Foram encontrados 161 dentes trabalhados, englobados no tipo 27 que, por sua vez,
abarca tanto dentes perfurados (105 exemplares), como aqueles com entalhe na raiz (56
exemplares).
Da totalidade dos dentes, 107 são de Alopidae, sendo que 96 perfurados e 11 com
entalhe e ranhuras; 22 são de Delphinidae, sendo 20 perfurados e dois com entalhe e
fricção; 12 são de Felidae; 4 o de Canidae, todos perfurados; nove dentes também
perfurados são de Cebidae e dois são de Tayassuidae, um perfurado e outro polido (Figura
129).
xxxiv
0
20
40
60
80
100
Alopidae Cebidae
Distribuição dos dentes trabalhados
por família
Perfurados
Trabalhados
Figura 129. Distribuição dos dentes trabalhados por famílias
Dos dentes, 48 estão relacionados a enterramentos (ver distribuição Márcia).
Predominam os dentes de Alopidae (16) e de Felidae (12), seguidos pelos de Delphinidae
(10) e de Cebidae (5). Foram também encontrados dois dentes de Tayassuidae , um
perfurado e outro polido.
Dentre os Alopidae, destacam-se animais muito agressivos, como o Isurus
oxyrinchus (Rafinesques, 1810) (arlechim), o Galeocerdo cuvieri (Péron & Lesueur, 1822)
(tintureira), Isurus paucus (Guitart Manday, 1966), Carcharodon carcharias (Linnaeus,
1758), Odontaspis taurus (Rafinesque, 1810). Os de Carcharhinus spp. perfurados são os
que aparecem em maior quantidade.
Dos dentes de felídeos e de canídeos, destacam–se aqueles com quatro furos,
encontrados associados ao enterramento 1 do setor D4 (ver anexo 1, ficha n.1).
xxxv
Artefatos líticos
Quartzo lascado
É muito pouca a ocorrência de material tico lascado; sua maior incidência é na
última camada de ocupação, na periferia oeste do sítio, nos setores H3d/c, coincidindo com
a área do enterramento B4
Diferente do encontrado no restante do sítio, onde é escasso e de qualidade, o
material lítico presente no extremo oeste do sítio é excelente, principalmente aquele que
está relacionado aos momentos mais recentes da ocupação.
Concentrado no sub-setor H.1 e no perfil P.1.1, na área periférica do sítio foi achado
grande número de lascas de quartzo hialino associadas à base de lascamento.
A grande incidência do material lítico está na camada malacológica e na superficial,
aparecendo pouco na óssea, onde só são encontradas lascas com gumes, sem ocorrência de
resíduos de lascamento.
Tudo indica que pouquíssimo material lítico tenha sido lascado no sítio e que,
quando essa atividade era desenvolvida, havia a preocupação de executá-la em local fora
da área de circulação de pessoas.
xxxvi
São encontrados seixos distribuídos em todas as camadas de ocupação. No setor
T.1.1, em sete casos, estavam associados a enterramentos (ver anexo 1, fichas n. 3, 4, 17,
25, 29, 28, 32); em outros três foram descobertos delimitando fogueiras.
Material polido
Com exceção de uma pequena lâmina de machado encontrada fora de contexto
(Figura 130), todo o material polido recuperado está associado aos enterramentos. São
eles:
Dois pingentes polidos vinculados aos enterramentos S2 e S5 (ver anexo 1, fichas
n.4 e 5), um desses perfurado.
xxxvii
Figura 130. Lâmina de machado achada fora do sítio.
Descrição das lâminas de machados
As 12 lâminas de machado encontradas no sítio Ilhote do Leste
consistem em seixos retangulares com o gume afiado (Figura 131). O
maior, medindo 15cm pesa 1100gm e o menor tem apenas 10 cm e
pesa 100g. Os gumes sempre apresentam ranhuras paralelas, em
dois casos também perpendiculares. Em uma das lâminas se observa
a presença de uma cavidade picoteada de 1,5 x 2,4cm informando
que também foi usada como batedor.
A lâmina encontrada junto ao enterramento S 7 não apresentava sinais de uso.
Uma das lâminas de machado que acompanhava o enterramento B1 estava
quebrada transversalmente e a parte referente ao gume foi encontrada entre as costelas do
indivíduo.
Como matéria prima, destaca-se o uso do basalto (7 casos); seguido pelo diabásio
(3 casos) e pelo o argilito (2 casos).
Cabe mencionar que foram encontrados dois grandes instrumentos
líticos polidos (Figura 132), por um morador da praia do Aventureiro,
num terreno sem evidências arqueológicas. Esses instrumentos
seriam muito mais eficazes para escavar o Guapuruvu para a
elaboração de canoas do que as lâminas de machado e sua forma
remete aos amoladores-polidores fixos gigantes (ver figura 69)
encontrados no costão do Ilhote do Leste.
Figura 131. Lâminas de machados associadas a sepultamentos.
xxxix
(a)
(b)
Figura 132. Artefatos líticos possivelmente utilizados para escavar canoas: a e b.
xl
Vegetais:
Grande quantidade de restos de coquinhos calcinados de Bactris setosa e de
Arescastrum romanzoffianum xx, concentra-se próxima às áreas de fogueiras na camada
óssea no setor T.1.1.
Foram também achados sete fragmentos de madeira calcinada no setor D4, dentro
de um quadrante de 50cm, nos níveis de 30 a 70cm de profundidade e mais quatro no setor
T.1.1, entre os níveis 160-180. Foram identificados como pecíolo de palmáceas (Rita
Scheel com pess maio de 1995).
A utilização de folhas de palmáceas como cobertura é fato comum nos relatos
etnográficos e pode ser um indicador de presença de cabana.
Cerâmica
Foram encontrados na camada superficial, concentrados próximo ao setor F0,
quatro cacos de cerâmica pertencentes a um mesmo vasilhame. Apresentavam queima
incompleta, areia fina como antiplástico e não tinham decoração, eram apenas alisados.
Pode-se constatar também que apresentavam lábio apontado e borda com reforço externo.
Junto ao reforço, a borda tem 1,7cm de espessura e no corpo da peça, 0,8cm.
Apesar do conjunto de atributos apresentar características Tupi, o fato de que
pertence a um vasilhame e de ter sido recuperado na camada superficial, em um local
xli
usado como roça durante muito tempo, parece indicar que se trate de uma cerâmica
neobrasileira.
Enterramentos
Foram encontrados 30 sepultamentos com 33 esqueletos. O material esqueletal
proveniente do sítio Ilhote do Leste, encontra-se, no geral, em bom estado de conservação,
embora seu grau de fragmentação seja extremamente variável entre os sepultamentos.
Os esqueletos apresentam, de forma abrangente, compleição robusta, inserções
musculares bem marcadas nos membros superiores e inferiores, sugerindo intensa
atividade física, compatível com natação, remo, escaladas, longas caminhadas, utilização
de redes, etc.
O dimorfismo sexual é bem acentuado, embora as mulheres sejam bastante
robustas.
Em dois indivíduos foi possível estimar a estatura: um masculino, com cerca de
1,60m e um feminino, com cerca de 1,50m.
Não foram observadas lesões por cárie; as perdas dentárias em vida são pouco
expressivas, associadas à idade; o desgaste (abrasão) é acentuado, especialmente entre os
incisivos e os primeiros molares. na adolescência é possível perceber linhas de dentina
exposta nos incisivos; a partir dos 35 anos, o desgaste tende a ser intenso.
xlii
Foram verificados sinais discretos de hiperostose porótica nos crânios e cribra
orbitália nas órbitas de alguns indivíduos.
Sinais de periostite inespecífica ativa e cicatrizada são freqüentes na amostra, em
ambos os sexos. Pelo menos três indivíduos apresentavam sinais de infecção sistêmica,
com comprometimento do periósteo e da medula óssea de ossos longos.
Nos indivíduos masculinos acima de 35 anos, são comuns os sinais de degeneração
articular, especialmente dos corpos vertebrais. Tal fenômeno parece iniciar-se já na
primeira década da vida adulta, como pôde ser observado no indivíduo D2. Todavia, não
foram detectados tais sinais no indivíduo feminino entre 30-45 anos (D1), o que pode
sugerir uma carga de trabalho mais intensa ou atividades de maior impacto na coluna
vertebral entre os homens.
O esqueleto 1 do sepultamento 7 apresenta evidências sugestivas de fratura no
úmero esquerdo e posterior cicatrização (tal dado deve ser confirmado por exame
radiológico). O esqueleto D1 mostra lesão cicatrizada no parietal direito que pode estar
associada a evento traumático ou à infecção local. Ambos os indivíduos apresentam sinais
de periostite generalizada, que pode estar ou não associada às lesões descritas. indícios
de que essa população possuía um contingente de indivíduos mais longevos que o
normalmente esperado para um sambaqui.
Quanto ao padrão de enterramento, foi constatado que (figuras :
xliii
1. Os enterramentos foram depositados em todas as camadas, algumas foram cortadas
para a elaboração de covas; em outros casos, os esqueletos foram apenas cobertos
por refugo de restos faunísticos (ver Tabela 26). Como se pode observar na tabela
XXX, na sistematização dos dados, nenhuma tendência no padrão de enterramento
foi verificada em relação aos níveis ou aos setores onde foram encontrados os
enterramentos. Apenas ficou constatado que não houve enterramentos na camada
de material esparso relacionada à área da trincheira.
2. Dos enterramentos, 72% estão fora da área central do sítio
31
.
3. Estão relacionados também 72% ao momento posterior ao piso de argila ou à
camada malacológica. São mais recentes do que 2830±50 AP.
4. Dos 18 enterramentos em que se podem identificar a orientação e o posicionamento
dos indivíduos, sabe-se que sete estavam fletidos em decúbito lateral direito; cinco
estavam fletidos em decúbito lateral esquerdo; três estavam fletidos, mas não foi
possível a verificação da lateral do decúbito. Aqueles em decúbito lateral esquerdo
estão relacionados a momentos mais recentes; no entanto, é possível observar
também a presença de enterramento em decúbito lateral direito em épocas
próximas. Ou seja, não nenhum dado em relação à orientação e à posição do
corpo que diferencie os enterramentos mais antigos dos mais recentes, não se
observando qualquer uniformidade.
5. Dos indivíduos que puderam ser classificados, 13 são homens e duas são mulheres.
31
No caso, considera-se área central onde ocorre o maior acúmulo de material arqueológico, Trincheira e
F07.
xliv
6. Foram classificados 19 indivíduos por faixa etária: duas crianças, três adolescentes,
quatro indivíduos jovens, 10 adultos maduros (ver anexo 1, fichas de
sepultamento). Destes, cinco têm mais de 30 anos. No entanto, este número pode
ser aumentado, que em quatro casos foi possível a constatação de que teriam
de 25 a 35 e em um, de 25 a 30 anos. Além desses, cinco têm mais de 35 anos,
sendo que três casos podem ter mais de 50 anos.
7. Verificou-se a idade avançada dos indivíduos adultos maduros e o fato de que
destes, nove pertencem ao sexo masculino e apenas um ao sexo feminino.
Destaca-se o fato de que este enterramento feminino (ficha D1) tinha como
acompanhamento uma mina de machado e uma fogueira com concreção vermelha
e que a mulher também havia sofrido uma lesão no osso parietal que fora
cicatrizada em vida.
8. Dos 33 enterramentos, 20 apresentam pontas associadas. Dos indivíduos com sexo
identificado, nove do sexo masculino têm registro de dentes e 11 registros de
pontas. As mulheres não mostram nem dentes, nem pontas como acompanhamento,
os quais, provavelmente, constituíam adornos masculinos.
9. Dos 19 registros da presença de dentes, cinco formam colares. Há 10 exemplares de
dentes de cação; sete de golfinho, quatro de felídeos; quatro de macacos, dois de
canídeos e um de porco do mato; todos são dentes perfurados. Os enterramentos
associados a dentes de felinos estão relacionados à camada malacológica. Os dentes
trabalhados, usados como acompanhamento funerário, predominam nos momentos
mais recentes da ocupação.
10. Dos cinco sepultamentos que apresentavam lâminas de machados como
acompanhamento, quatro eram masculinos e um feminino; quatro deles de idade
avançada, sendo que três são os mais idosos encontrados no sítio (ver anexo 1,
xlv
ficha de sepultamentos). O único indivíduo jovem associado à lâmina de machado
(ver anexo ficha n .8) foi depositado numa área estéril e apresentava o
acompanhamento mais rico de todos os enterramentos encontrados (Figuras 133,
134 e 135) . Seus ossos foram tingidos de amarelo, apresentava argila sobre a
pélvis, artefatos ósseos pouco comuns como canutilhos elaborados em osso e a
lâmina de machado foi depositada sobre a sua cabeça. Os membros superiores
estavam cercados de sedimento limpo.
11. Quatro enterramentos estavam sob fogueiras.
12. Seis enterramentos estavam associados a grandes rochas.
13. Dois enterramentos estavam associados a buracos de estaca.
14. Em oito enterramentos foram colocadas grandes pedras próximas ao crânio; desses,
cinco são adultos masculinos maduros.
15. Oito enterramentos estão associados a ossos de mamíferos marinhos, sendo que em
três casos tudo indica que esses animais foram depositados sobre o morto.
16. Em quatro indivíduos observa-se abrasão acentuada nos dentes e hipercimentose
em um esqueleto.
17. Dois apresentam periostite generalizada; cinco, hiperostose; quatro, criba orbitália e
dois indivíduos apresentam torções, uma na tíbia e outra no úmero; um esqueleto
apresenta artrose generalizada e um outro, artrite.
18. Não foram sistematizados elementos que distingam os enterramentos femininos dos
masculinos, dos jovens e dos adultos maduros.
xlvi
Figura 133. Enterramento com artefatos líticos como
acompanhamento. O monte de refugo do setor H4 foi cortado
para deposição do corpo.
Figura 134. É uma constante a presença de seixos e lâminas de
machado relacionados aos enterramentos.
xlvii
Figura 135. Enterramento com lâmina de machado.
Figura 136. Enterramento com acompanhamento de pingentes ósseos.
xlviii
Especificidades:
1. Um indivíduo relacionado à última camada de ocupação foi enterrado portando um
pingente lítico polido perfurado, pontas e colar de dentes de felídeo (ver anexo 1,
ficha n.2).
2. Um indivíduo, pertencente ao sexo masculino e idoso, apresentou marcas de
queima por dentro do crânio (ver anexo 1, ficha n. 18).
3. No enterramento S8 (ver anexo 1, ficha n. 9), foram encontrados dois espinhos
trabalhados junto às costelas e outro aderido por baixo do úmero direito.
4. Um teve o crânio coberto por valvas de moluscos.
5. Um indivíduo foi colocado sobre uma laje e coberto por pedras grandes, conchas e
ossos. Tinha uma lâmina de machado quebrada cravada nas costelas.
6. Um indivíduo teve o crânio cercado por seixos.
7. Um indivíduo foi depositado ao lado de uma grande pedra com uma fogueira
embaixo.
Mesmo tendo sido elaborado um banco de dados com as características dos
enterramentos, não foi possível sistematizar informações que permitissem verificar se
existiria um padrão de enterramento dependendo do sexo ou da faixa etária, ou se teria
ocorrido alguma variação do padrão no tempo.
No entanto, foi constatada uma grande variabilidade nos enterramentos, com a
repetição de alguns elementos, tais como: o sedimento limpo cercando os membros
superiores, a posição fletida, a presença de restos de alimentos sobre eles, a associação
xlix
com fogueiras, com lâminas de machado, com pedras próximas ao crânio, com as ossadas
de mamíferos marinhos e a presença de adornos, como os colares de dentes perfurados de
cação, felídeo, canídeo e golfinho. Esses elementos o muito recorrentes e m
distribuição no litoral brasileiro.
Formação do sítio
As datações, o material encontrado e a estratigrafia indicam que as áreas escavadas são
contemporâneas. No entanto, o desenvolvimento de distintas atividades resultou em
diferenças na construção do sítio, verificadas na formação dos setores escavados.
Formação do setor H
Este setor apresenta um monte de 2m de diâmetro, com 80cm de espessura,
constituído de conchas e de ossos. Escercado por uma camada escura de ossos esparsos,
contendo fogueiras que estão associadas a enterramento (ver figura 133).
Com exceção do material encontrado nas fogueiras, à medida que se ganha
distância do monte, os ossos diminuem de tamanho, ficando mais fragmentados, sugerindo
que o material era, de alguma maneira, “varrido” para ele.
Dos 33 esqueletos humanos encontrados, 25 estavam neste setor, sendo que apenas
quatro permaneciam sobre o monte (S2.1, S2.2, S10 e S3), indicando que foram enterrados
num momento mais recente. Desses, três estavam sob bolsões de conchas com ossos e um
sob uma fogueira.
l
A princípio (Tenorio 1995), acreditou-se que os mortos eram cobertos com o
material arqueológico, a exemplo do observado por Silveira (op.cit: 63) no sambaqui do
Moa “A idéia que temos acerca desses túmulos é a de um mini-sambaqui (pequenos
sambaquis particulares) construído para o morto”. No entanto, com o desenvolvimento dos
trabalhos de campo e a retirada do monte de conchas, foi constatado que não havia
indivíduos enterrados no centro, a parte mais espessa. Todos os enterramentos se
encontravam na sua beirada. Assim sendo, constatou-se que primeiro foi feito o acúmulo
do refugo e depois os enterramentos foram depositados à sua volta. Para isso, o monte
foi cortado, criando covas rasas, onde eram depositados os mortos. Sobre os enterramentos
eram acesas novas fogueiras e colocadas oferendas, como peixes e mamíferos marinhos.
Na maioria das vezes, esses túmulos eram cobertos ou cercados por pedras.
Não foi possível saber se a escolha do monte como local de enterramento se deu
pela proximidade de refugo ou se o monte foi usado porque, assim como os grandes blocos
de rochas encontrados no centro do sítio, com enterramentos à sua volta, o montículo
também é uma saliência no terreno que poderia ter sido usada, tal qual foram os blocos,
como demarcadores de áreas de enterramento.
Sete indivíduos (S6, S8, S9.1, S9.2, B1, B3 e D2) foram encontrados enterrados na
beira do monte. Em outros sete (A3, A4, A6.1, A6.2, A6.3, A8, E1) não foi possível
perceber se estavam numa continuação ou se sob bolsões separados, muito próximos ao
monte.
Além dos 14 enterramentos associados ao monte, outros seis estavam à sua volta.
Desses, três ficavam sob a camada óssea (A5.1, A5.2, A5.3); um sob um bolsão
li
malacológico e dois indivíduos (B4 e B6) tinham parte do corpo fora do setor. Foram
enterrados em área limpa, sem refugo, provavelmente dentro de cabanas.
No setor H, os enterramentos estão concentrados em quatro áreas, o ocorrem
isolados, o que sugere a existência de áreas de sepultamentos .
A quantidade de sedimento encontrada nas camadas deste setor indica uma
formação lenta, resultante de atividades cotidianas relacionadas a unidades familiares.
Formação das camadas no setor D4
A ocupação inicial do tio na quadrícula D.4 é evidenciada na forma de uma
fogueira acesa na reentrância de uma grande laje. Com o tempo, novas fogueiras foram
acesas, aumentando também seu tamanho e tempo de duração.
Constituídas de carvão, ossos de peixes e artefatos ósseos, essas fogueiras
posteriormente foram tomando espaço e acabaram por formar uma camada óssea compacta
de espessura máxima de 70cm. À volta dessa área de ossos concentrados, observa-se a
existência de espaços com menor incidência de material arqueológico; provavelmente,
trata-se de áreas de atividades onde estariam os abrigos.
Em determinado momento, a coleta de moluscos foi intensificada e as carapaças
dos moluscos consumidos passaram a ser amontoadas, criando montículos interligados que
formaram uma camada de 60cm que, na sua parte mais profunda, aparece junto com a
camada óssea, separada desta por um espaço sem material arqueológico.
lii
Um dos montículos de concha foi cortado, visando à elaboração de uma cova para a
deposição de um enterramento. Essa cova foi preenchida com uma base de terra preta
socada e, depois de depositado o morto, este foi coberto com o mesmo sedimento e depois
por uma camada de conchas.
Sobre a camada malacológica formou-se uma camada superficial de 20cm de
espessura, bastante alterada por cultivos recentes, contendo seis cacos de cerâmica
neobrasileira.
Neste setor, observa-se uma clara distinção na composição entre as fogueiras e os
montes malacológicos, como se a atividade de assar e comer o peixe fosse realizada em
momentos diferentes dos de consumir os moluscos e o material não fosse misturado.
Formação da área relacionada aos setores T.1, T.2, T.3, T4 e F0.
Nestes setores, a camada ocupacional chega a apresentar
uma espessura de 245cm.
A ocupação inicial se deu através do acendimento de várias fogueiras numa área
plana. Algumas estão sobre uma rocha; outras, numa reentrância entre diferentes rochas.
Na parte norte, voltada para o canal, observa-se a presença de lentes de areia branca que se
destacam no piso de argila escura. Provavelmente, trata-se de areia transportada pelos pés
de indivíduos, pois o acesso inicial poderia ter se dado por esse local.
liii
Associados às fogueiras, aparecem seis buracos pequenos de estaca, com média de
4cm, dispostos em um semicírculo.
Próximos aos buracos de estaca foram encontrados quatro
pecíolos de palmácea, o que poderia indicar que a ocupação do
sítio teria se iniciado com o acendimento de fogueiras
relacionadas às cabanas. No entanto, a quantidade de
fragmentos ósseos nas fogueiras é muito grande e está muito
próxima aos buracos de estaca para que seja interpretada como
refugo doméstico associado às cabanas.
A permanência das fogueiras nos mesmos locais sugere
que tivessem sido de longa duração. Em dois casos, constatou-
se que estavam cercadas por pedras. O material encontrado
nessas fogueiras forma uma espessa e compacta camada óssea,
constituída, predominantemente, por restos de teleósteos. Esta
camada apresenta uma espessura máxima de 100cm.
A presença de terra preta cortando as fogueiras parece indicar que, depois de certo
tempo, elas eram abafadas com sedimento retirado do barranco.
32
As fogueiras cobertas
32
Andrade Lima (op.cit.153) observa também a presença de terra preta no sambaqui do Algodão e a
interpreta como material acumulado por transporte. No caso do Ilhote do Leste, como a camada óssea foi
formada muito rapidamente, esse material deve ter sido depositado pela ação humana. Uma deposição
natural, como a ocorrida no sambaqui do Algodão, retardaria a formação da camada.
liv
com esse sedimento formaram ondulações no terreno que foram aproveitadas para o
acendimento de outras novas.
Posteriormente, as ondulações foram aplainadas e colocada
uma concreção de argila sobre esse sedimento escuro,
intercalado por topos de fogueiras.
Não foi possível saber se tais concreções de argila seriam
antigos pisos ou suportes de estaca. No setor F0, que é a
continuação do perfil P7, a concreção não passa de um círculo
de 60cm de diâmetro contendo dois buracos de estaca (Figura
137); já no perfil P.5, a concreção constitui um piso de 1m que foi
quebrado por um desabamento da encosta do morro .
lv
Figura 137. Concreção e concha com dois buracos de
estaca.
A quebra do piso revela um momento de transgressão
marinha, no qual o mar teria cavado a encosta, provocando o
desabamento do piso. Este fato deve ter provocado um recuo
dos construtores do sítio para a parte mais interna do morro.
A subida do mar alterou a dinâmica da costa, a paisagem
assumiu a feição atual, ficando as lagoas mais distantes
entulhadas pela areia trazida pelo mar. O canal que continuou
ligando essas lagoas ao mar tornou-se mais arenoso e sua água
mais salobra, propiciando a proliferação de espécies
malacológicas antes pouco presentes, que passaram a ser mais
lvi
consumidas e suas valvas amontoadas e empurradas morro
abaixo.
O consumo de moluscos foi apenas intensificado. Desde o
início da ocupação, são encontradas nas fogueiras mistas que
interrompem a camada óssea, carapaças de
Ostreidae
,
Lucina
pectinata
e de
Astrea alfensis
de grande porte. As fogueiras
mistas se distinguem das outras por apresentarem ossos
grandes de peixes e restos de moluscos.
As carapaças amontoadas diretamente sobre o piso (concreção de concha) indicam
uma mudança das áreas de atividades para um pouco mais acima do morro, áreas
relacionadas aos setores T.1.2 e T.1.3.
A análise do comportamento das camadas nos setores T.1.2 e T.1.3 indica que
antes da subida do mar as cabanas ou abrigos deveriam estar localizados na linha do setor
T.1.2 e que depois subiram para a linha do T.1.3.
As conchas jogadas sobre o piso à beira do morro poderiam também funcionar
como contenção para o morro e barreira para as águas.
No perfil P 7 e no setor F0, contínuo a este perfil, as carapaças de moluscos eram
primeiro amontoadas, antes de serem empurradas para a parte mais baixa do morro.
lvii
A presença de peças maiores na beira do morro, e cada vez menores e mais
fragmentadas à medida que se afasta do barranco, sugere a utilização de galhos para
empurrar o material, como também confirma a separação das áreas de refugo das áreas de
circulação.
Ë provável que, no resto do tempo em que o sítio foi
ocupado, seus construtores habitassem abrigos cobertos de
folhas, formando um semicírculo voltado para o canal, onde eram
desenvolvidos dois tipos de atividades: as comunitárias,
envolvendo maior número de pessoas, com uma formação mais
rápida de refugo, e as outras nas laterais, onde o refugo era
acumulado aos poucos.
Escavações do sítio da Ponta do Leste
Dos sítios sobre duna identificados na Ilha Grande, o da
Ponta do Leste é o único que não está totalmente destruído.
Localizado sobre uma duna de 3m, ao lado de um leito seco de
rio, no extremo sul da Praia do Leste, a 1,5km do sítio Ilhote do
Leste, ele também está localizado na Reserva Biológica Estadual
Praia do Sul.
lviii
A única parte preservada do sítio é a parcela da duna
cortada pela ação do mar que expôs um perfil, deixando à mostra
um enterramento em ótimo estado de preservação (Figuras 138,
139 e 140) .
O perfil foi ampliado e foi possível constatar que o
pacote arqueológico tem 30cm de espessura e está
caracterizado por uma camada escura contendo finas lentes de
fogueiras e restos ósseos. Aparecem, também, espalhados por
toda a área escura, valvas de moluscos e lascas de quartzo.
Figura 138. Sítio da Ponta do Leste.
lix
Figura 139. Escavação do sítio da Ponta do Leste.
Figura 140. Do sítio da Ponta do Leste avista-se o sítio Ilhote do Leste.
O sepultamento foi feito em uma cova de 35cm de profundidade com 35cm
de largura e 1m de comprimento, tendo sido o indivíduo depositado na posição
fletida, em decúbito lateral direito, com os pés na direção do mar (oeste), a
cabeça para leste e a face voltada para cima. A parte superior do corpo foi
lx
coberta com areia tingida de vermelho. O crânio estava cercado por pequenas
fogueiras; também próximo a ele foi encontrado um lítico sem marcas de uso.
Junto à cabeça do fêmur, apresentando marcas de queima, havia evidências de
uma fogueira, da qual foi coletada amostra de carvão.
Uma fina camada óssea, composta por ossos fragmentados de peixe de
pequeno porte, estava exatamente sobre o enterramento, parecendo ter sido ali
colocada para fechar a cova.
À volta da cova, nenhuma evidência foi encontrada, areia branca
completamente estéril.
Não se achou nenhum artefato associado ao enterramento, mesmo tendo
sido levado para o laboratório todo o material a ele relacionado ossos
fragmentados com marcas de queima de peixes de pequeno porte que não
puderam ser identificados.
Estratigrafia da cova.
Sedimento arenoso escuro como da parte superior da duna, contrastando com a areia
branca;
Sedimento arenoso cinza;
Fragmentos de ossos de peixes de pequeno porte, calcinados;
Sedimento arenoso tingido de vermelho;
Morto com fogueira, com ossos muito calcinados à sua volta;
lxi
Sedimento arenoso com coloração rosa.
Enterramento
O enterramento foi analisado por Claudia Carvalho, professora assistente do
Departamento de Antropologia do Museu Nacional. A análise osteológica do material
sugere ser ele remanescente de um indivíduo do sexo masculino, com cerca de 1,60m de
altura.
Não foi possível estimar sua idade com base nos indicadores usuais, porém o
padrão de desgaste dentário acentuado sugere que o indivíduo possuía mais de 35 anos à
época da morte. O indivíduo apresenta as áreas de inserção musculares bem desenvolvidas.
Foram observados sinais de periostite em ambas as tíbias e fêmures. Fragmentos de
corpos vertebrais (provavelmente lombares) apresentam evidências de labiamento
(osteoartrose), compatível com degeneração dos corpos vertebrais pela idade e/ou por
intensa sobrecarga nessa região. Sinais de osteoartrose foram também identificados nos
ossos do pé, em diferentes graus.
A dentição apresenta desgaste acentuado, com polimento de mais de 70% da coroa
nos primeiros molares, pré-molares, caninos e incisivos presentes, em ambos os lados das
duas arcadas. Os segundos e terceiros molares de ambos os lados e arcadas apresentam,
respectivamente, desgaste moderado e leve. Evidências de doença periodontal,
provavelmente associada ao desgaste intenso, são observadas na região dos molares de
lxii
ambas as arcadas e lados, sendo mais intensas nos primeiros molares. Evidências de
hipercementose são freqüentes, especialmente nos primeiros molares.
Fragmentos de corante e de vegetais queimados foram coletados do sedimento
aderido ao material esqueletal (Figuras 141, 142 e 143). Em ambos os fêmures, na diáfise,
foram encontrados pequenos sulcos paralelos, que sugerem a presença de um objeto entre
as coxas do indivíduo e que teria persistido após o processo de esqueletonização,
movimentado-se e ocasionando tal sulco. Provavelmente, esse objeto foi retirado pelo mar,
que o sepultamento, quando foi encontrado, estava exposto no perfil, devido à ação das
marés.
Numa primeira aproximação, esse indivíduo parece ser menos robusto do que a
população encontrada no sítio Ilhote do Leste. No entanto, não foi possível avançar mais
na questão sobre se faria parte de uma mesma população.
Figura 141. Sepultamento do sítio da Ponta do Leste
lxiii
Figura 142. Sepultamento do sítio da Ponta do Leste
Figura 143. Enterramento com membros superiores cobertos com areia tingida de
vermelho.
Datações obtidas:
lxiv
A amostra de carvão coletada junto ao enterramento foi datada por AMS em 2880 ±:
40 anos AP (convencional) e a calibragem forneceu um intervalo de 3140 2880 anos AP
(2 sigma). Beta AMS 148615, o que indica contemporaneidade com o sítio Ilhote do Leste.
A 50m do sítio Ponta do Leste é encontrada a segunda
maior concentração de amoladores fixos da Ilha Grande. Sua
localização indica que teriam sido feitos em momentos de
regressão e de transgressão marinha.
As datações obtidas, acrescidas do fato de que as duas maiores concentrações de
amoladores ocorrem próximo ao sítio Ponta do Leste e ao redor do Ilhote do Leste,
parecem indicar uma associação entre esses sítios. O posicionamento dos amoladores
localizados no costão da Ponta do Leste indica contemporaneidade em relação aos
encontrados também no costão do Ilhote do Leste. Essa localização informa que os dois
conjuntos teriam sido criados numa época de regressão marinha, quando a foz dos rios
estava mais avançada, próxima a esses dois pontos.
lxv
CAPÍTULO IV
CONCLUSÃO
1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A estrutura de sítio significa tamanho do sítio, presença e arranjo da área de
atividades (Binford 1983:144). Partindo-se dessa definição, a estrutura do sítio está
estreitamente relacionada com as atividades nele desenvolvidas, o número de indivíduos e
a forma e o tempo de sua ocupação, fatores que refletem também a sua inserção sítio na
dinâmica sociopolítica da ocupação de determinadas áreas.
À luz de trabalhos arqueológicos (Voohiers et al 1991, Fish
et al 2001, Barbosa 2001, Tenório 2001), observações
etnográficas (Schiffer 1976, Binford 1980, Brian, H. & Aubrey
1983, Meghan 1982, O’Connell et al 1991; Bartran et al 1991), foi
inferida no sítio Ilhote do Leste a presença de estruturas básicas,
como: cabanas, fogueiras (comunitárias e de grupos
domésticos), quebra-ventos, jiraus e áreas de refugo.
Observações na praia do Aventureiro, realizadas durante o tempo de pesquisa,
foram também utilizadas na interpretação das fogueiras e do refugo.
lxvi
No Ilhote do Leste, a proximidade da encosta para empurrar o refugo parece ter
sido tão decisivo na escolha das áreas de atividades, como a proteção do vento, a presença
de blocos de rocha e a visibilidade para o canal, para as praias e para as lagoas.
A preocupação com a manutenção de áreas limpas foi inferida pela presença de
montes com elementos grandes no centro e pequenos na periferia. Segundo Schiffer
(1987:188), o tamanho dos resíduos pode ser utilizado para deduzir se o refugo é
secundário ou não, na medida em que elementos maiores são mais facilmente empurrados
e que os vestígios pequenos tendem a permanecer nos refugos primários.
Provavelmente, foi também com a intenção de deixar limpa a área central do sítio
que o pouco material lascado foi debitado na periferia, fora da área de circulação de
pessoas.
Foram identificados pecíolos de palmáceas, buracos de
estaca e pisos de argila com buracos de estaca que poderiam ser
interpretados como evidências de cabanas. No entanto, com
exceção de três buracos de estaca, localizadas no setor H, essas
evidências estão concentradas numa área de extensas fogueiras,
o que pode estar apontando mais para presença de uma área de
processamento de alimento do que de habitação. Nesse caso, os
buracos de estaca, provavelmente, estariam associados a jiraus,
embora não seja descartada a hipótese de que poderiam se tratar
também de vestígios de quebra-vento. Segundo Meghan (op.cit
lxvii
1982 :322), integrantes da comunidade Gidjingali utilizavam
folhas de palmáceas fincadas no chão como quebra-vento, para
protegerem suas fogueiras. Quando chovia, as pontas das folhas
eram puxadas para baixo, transformando-se em abrigos.
No entanto, como a diversidade e a constância do material
encontrado indicam ter ocorrido uma ocupação permanente no
sítio Ilhote do Leste, procurou-se por habitações nas áreas
estéreis à primeira vista pois, segundo Schiffer (1987:122), as
áreas de habitação podem ser inferidas pela quase ausência de
material arqueológico, já que são limpas constantemente,
restando apenas minúsculos objetos que teriam sido perdidos
por seus donos. As diminutas vértebras e os dentes perfurados
encontrados nessas áreas permitiram deduzir que as cabanas
estavam um pouco mais acima do terreno, mais recuadas da
encosta.
As fogueiras menores acesas em covas, contendo tanto material ósseo, como
malacológico, foram associadas às cabanas e às unidades familiares. A localização da
maioria das fogueiras menores e mais rasas permitiu o seu relacionamento com
enterramentos. as fogueiras localizadas no centro, maiores, mais compactadas,
apresentando grande quantidade de restos alimentares foram interpretadas como associadas
a eventos que envolviam uma concentração maior de pessoas.
lxviii
Durante os anos de pesquisa, observou-se a presença de dois tipos de fogueiras que
eram acesas próximas à casa de Lúcia e Vovó, local muito freqüentado por outros
moradores, principalmente os homens. No verão, geralmente ao entardecer, seis homens
em média costumam ficar conversando à volta de uma fogueira acesa para assar a lula, que
chega do mar nas canoas. Assim ela é mantida durante quase toda a época da lula,
destacando-se os meses de janeiro e fevereiro. No inverno, no mesmo local, são acesas
fogueiras nos dias mais frios, quando os homens costumam ficar praticamente o dia todo à
sua volta. Nessa época, elas são constantemente reacendidas.
Embora essas fogueiras fossem acesas no mesmo local, algumas semanas após
serem apagadas quase nenhum vestígio foi encontrado, apenas alguns fragmentos de
carvão, como os que estão por toda a praia. Esta observação permite supor que a fogueira
central deva ter sido mantida acesa por muito tempo, sendo processado alimento por um
grande contingente de pessoas. O curto período de tempo verificado nas datações
radiocarbônicas para a formação da camada óssea corrobora esta hipótese.
A análise do comportamento das camadas permitiu que fossem constatadas duas situações
predominantes no processo de construção do sítio:
1. A primeira representada por uma densa camada óssea formada por fogueiras
espessas, contendo muito osso compactado, interrompidas por terra preta e por
áreas com menor concentração de material arqueológico, onde são encontradas
fogueiras menores com material ósseo e malacológico;
lxix
2. A segunda, representada por uma compactada camada malacológica, contendo
pouquíssimos fragmentos ósseos, margeada por uma parte menos espessa, com
mais sedimento e à medida que se afasta do barranco, seguida por espaço
apresentando material esparso, com fogueiras menores contendo pouco material
ósseo e malacológico;
A presença desses dois tipos de formação indica que o tio foi construído a
partir de eventos de formação rápida e de formação lenta. Os de formação rápida
estão representados pelas camadas óssea e malacológica e os de formação
lenta, pelas camadas de material esparso e pelas fogueiras menores contendo
material ósseo e malacológico. Ao mesmo tempo, é constatada a quase ausência
de material malacológico na camada óssea e a escassez de material ósseo na
camada malacológica, principalmente na beira da encosta, onde ela aparece mais
concentrada.
Brian, H. & Aubrey (1983:156) observaram entre os Maias que as áreas centrais, em
locais usados como “praças”, eram limpas freqüentemente. E que, quando aumentava o
número de pessoas, restringindo o espaço, o refugo era ordenado. Esses autores notaram
que, quando havia bastante espaço, o refugo tinha uma distribuição randômica, livre de
mudanças ou variação no tempo. Em contraste, quando a área tornava-se pequena, em
relação ao número de pessoas, o refugo era tratado diferencialmente, dependendo do
tamanho e do tipo, sendo depositado em locais definidos. Para economizar esforço, era
primeiro acumulado e depois jogado fora de uma vez – os inorgânicos eram jogados
constantemente em ravinas, fora dos aglomerados. Essa imagem pode ser usada para
entender a formação do sítio Ilhote do Leste. Nos eventos que envolveram maior número
lxx
de pessoas, predominaram, provavelmente, alimentos cujos restos foram deixados
queimando nas fogueiras, ou que foram amontoados e empurrados morro abaixo, como no
caso dos moluscos. Essa parece ser a explicação para os montículos observados no setor F0
e a inclinação das camadas no perfil P7. Por outro lado, no cotidiano, os restos das
diferentes refeições processadas nas unidades familiares devem ter sido deixados
misturados nas fogueiras menores.
Na interpretação das atividades, a partir da análise do refugo, deve também ser levada
em consideração a ausência de determinados itens que sabidamente deveriam estar
presentes nos sítios. Para Brian, H. & Aubrey (ibid:162) existem elementos que não
passam do contexto sistêmico para o arqueológico, porque seriam dados ou trocados antes
de seu descarte. É provável que este fosse o caso das lâminas de machado; sua ausência no
refugo reforça a hipótese de que nunca eram abandonadas, chegando a serem enterradas
com seu dono. Ao mesmo tempo, chama também a atenção o contraste entre o número de
amoladores-polidores fixos à volta do Ilhote do Leste e dos instrumentos achados no sítio.
A ausência de lâminas de machado abandonadas no refugo do sítio Ilhote do Leste
levanta quatro hipóteses:
1. não eram utilizadas no sítio, eram dispensadas em outro local;
2. quando se partiam, eram rejuvenescidas até ficarem pequenas e serem deixadas nas
matas de onde tiravam a lenha;
3. grande parte das lâminas produzidas era de alguma forma trocada.
lxxi
As duas primeiras hipóteses não parecem muito prováveis. Como já foi ilustrado
pelo trabalho de Sharp (op.cit:390), na página 59, a lâmina de machado era fundamental no
desenvolvimento de atividades cotidianas e sua presença deveria ser imprescindível nos
sítios. No entanto, como foi colocado (ver gina 230) mesmo a Ilha Grande tendo sido
palco de inúmeros cultivos, o o comumente encontradas minas perdidas. Nas
entrevistas realizadas na ilha, todos os entrevistados tinham conhecimento da lenda da
“pedra de raio”, mas nenhum deles soube de alguém que tivesse tais objetos. Nos 15 anos
de pesquisa na Ilha Grande, soube-se apenas de três minas encontradas por moradores:
uma dentro de um rio na praia da Parnaioca e duas no sítio arqueológico do Mero I.
A hipótese de que a Ilha Grande seria um centro de difusão
de lâminas de machado é corroborada pelos indícios de eventos
com concentração de pessoas no sítio Ilhote do Leste, já que são
recorrentes nos relatos etnográficos situações de troca
envolvendo rituais com concentração de pessoas (Luby & Gruber
op.cit
; Sharp
op.cit
; Meghan
op.cit
)
O predomínio de enterramentos masculinos e de idade
avançada permite supor que o sítio Ilhote do Leste
seria um local especial para esse tipo de
sepultamento, o que poderia favorecer a concentração
de um número maior de pessoas em determinadas
ocasiões.
Mesmo tendo sido constatado um padrão de enterramento, a diversidade verificada
em alguns aspectos posição, orientação, deposição do corpo e acompanhamento
lxxii
permite que seja levantada a hipótese de que foram enterrados no sítio Ilhote do Leste
indivíduos “afins” com “costumes” diferentes. Elementos usados como acompanhamento –
colares de dentes de distintos animais poderiam, inclusive, estar associados a
identificações totêmicas.
O fato de que o início da ocupação teria se dado logo com uma grande fogueira,
com vasta quantidade de peixes, mamíferos, aves, crustáceos, equinodermos e carapaças de
moluscos (Ostreia sp, Astraea alfesis, Lucina pectinata ) de grande porte, e a proximidade
das únicas lagoas encontradas num raio de 60km sugere que a ocupação do Ilhote do Leste
teria se iniciado no inverno, tempo de captura de peixes alevinos que estariam entrando nas
lagoas para desova, época em que o caráter corporativista da pesca ficava mais forte e
grupos se reuniam para desenvolver esse tipo de pesca (Staden 1548-1555 (1999).
As valvas de Lucinas pectinata e os ossos de Centropomus sp (robalo), encontrados
em todos os momentos de ocupação do sítio, comprovam a exploração das lagoas desde o
início da construção do sítio. Sua abundância e previsibilidade de oferta de alimentos,
provavelmente, fizeram com que se constituíssem como um dos fatores que mais pesaram
na escolha da localização do sítio Ilhote do Leste.
Inserção dos sítios Ilhote e Ponta do Leste no contexto arqueológico da
região e do litoral brasileiro
O conjunto de sítios mais próximo, em termos espaciais e cronológicos, do
encontrado na Ilha Grande é o estudado por Tânia Andrade Lima na baía da Ribeira. Esta
lxxiii
baía é englobada pela baía da Ilha Grande e dista da ponta mais próxima desta ilha cerca de
15km.
O único sítio datado, o sítio do Algodão, teria sido reocupado em 3350
±
80
anos AP (Andrade Lima
op.cit
:153), data muito próxima do início da ocupação do
sítio Ilhote do Leste.
O artefato considerado diagnóstico por excelência para o reconhecimento da
identidade cultural das “unidades familiares integradas” (Id.Ibid:500), que ocuparam ilhas
da baía da Ribeira, é a concha com orifício circular na sua porção central (Id.ibid:504).
A ausência desse artefato-tipo na Ilha Grande e a de amoladores-polidores fixos na
Ribeira questiona a possibilidade de uma mesma identidade cultural para os dois
conjuntos. Por outro lado, outras evidências, como o predomínio de determinado artefato e
o mesmo padrão de assentamento, sugerem que compartilhavam de uma mesma filiação
cultural ou que mantinham intenso contato e miscigenação.
Nos dois conjuntos, os sítios estão localizados em ilhas, à meia-encosta, variando
entre seis e 10 metros do nível do mar atual e entre grandes blocos de pedra. A ocupação se
deu através de um conjunto de sítios articulados, configurando um mesmo padrão de
assentamento.
Embora sejam encontrados, também, em outros tios localizados no litoral do Rio
de Janeiro (Tenório e Leal 2000), nos dois conjuntos estudados ocorre a maior
lxxiv
concentração de pontas elaboradas a partir de espinho de Haemulon sp (cocoroca)
reduzido. Esses são os artefatos que predominam nos dois conjuntos.
A especificidade da matéria prima, da tecnologia empregada e a morfologia
resultante sugerem que este artefato deva ser percebido como um exemplo de implemento
que teria se difundido mais rapidamente graças à sua eficiência tecnológica, um tipo de
transmissão cultural definida por Begossi (1997) como transmissão desviada”, mudança
cultural brusca em função da aceitação de uma eficaz inovação tecnológica.
A presença de protótipos de tal ponta em outro tipo de matéria prima, como as
encontradas no sítio do Condomínio (Elston et ali 2001) e no sítio do Ilhote do Leste,
indica que havia uma intenção em conseguir sua forma final e o que a sua morfologia
fosse definida pelo tipo da matéria prima.
Com o objetivo de verificar se o intenso consumo de Haemulon sp e de seláquios
verificado nos dois conjuntos de sítios poderia estar relacionado com o uso do espinho
trabalhado, foi feita uma análise dos sítios pesquisados no projeto. O aproveitamento
ambiental das populações pré-históricas do estado do Rio Janeiro, onde há o espinho
trabalhado (Tenório e Leal al op.cit) e em nenhum deles foi constatado um consumo
intenso de Haemulon sp, apenas foi observado um predomínio no consumo de
elasmobrânquios. No entanto, como isso também ocorre em sítios sem esse tipo de ponta,
não se avançou na associação.
lxxv
Na análise da distribuição do espinho trabalhado, apenas foi constatado que este
tipo de ponta aparece em torno de 3500 anos AP em sítios litorâneos, relacionados, a
diferentes ambientes, como manguezais, lagoas e praia aberta.
A sua grande concentração na área da pesquisa pode estar indicando que se trata de
um centro de dispersão, remetendo à hipótese de contato e de transmissão cultural entre o
sul e o sudoeste do estado do Rio de Janeiro, cerca de 500km de litoral.
Se por um lado, o uso do espinho reduzido aproxima os dois conjuntos, uma outra
especialização tecnológica ou “modus” (Ford 1961) distinto, provavelmente relacionado a
aspectos culturais, distancia os construtores do sítio Ilhote do Leste daqueles do Algodão.
Trata-se da maneira de elaborar e rejuvenescer lâminas de machado.
No conjunto da baía da Ribeira, foram encontrados e classificados como mãos de
mó, muitos “seixos de rochas básicas que apresentam uma das extremidades achatada e
bastante desgastada por sucessivos movimentos de vai-e-vem, com acentuado alisamento”
(Andrade Lima ibid:303). Segundo a autora, chamam a atenção por terem sido encontrados
”fora da área de ocupação, mais precisamente em meio aos blocos rochosos, junto ao mar”
(Id.Ibid:304), “o que permitiu levantar a suposição da ocorrência de possíveis áreas de
atividade na zona de contato com a água”. (Id.Ibd.). No entanto, pela descrição, pela
localização e pela presença de lâminas de machados nos sítios, esses seixos podem também
ser classificados como polidores/afiadores manuais. Isto explicaria o fato de estarem
próximos à água. É também provável que junto a essas rochas existissem antigos cursos
d’água doce. Se isso for provado, será mais um dado que distancia culturalmente, ou
apenas tecnologicamente, os construtores da baía da Ribeira e da Ilha Grande. Como foi
lxxvi
mencionado na página 83 tudo indica que, os amoladores manuais fazem parte de uma
outra maneira de elaborar e de afiar lâminas de machados.
No presente trabalho, as diferenças culturais não são
consideradas como decorrentes de filiações distintas,
na medida em que se considera que os sítios
localizados no litoral brasileiro têm uma remota
origem comum. Contatos com grupos oriundos do
interior, com outros grupos litorâneos que, por sua
vez, carregam a influência de diferentes grupos e
invenções tecnológicas independentes e a criação de
fatores de etnicidade para demarcação de territórios
teriam gerado diferentes maneiras de “se ver” em
relação ao outro.
A estruturação social baseada nos afins e nos contrários,
mesmo pertencendo à mesma etnia, foi relatada entre os
Tupi (Viveiros de Castro 1984) e também é constatada
nos estudos etnográficos relacionados a grupos
indígenas atuais. O conceito de “cultura
arqueológica”, baseado na repetição de traços (Clarke
1968, Childe1972,) como instrumento de abordagem, não
leva esse dado em consideração e acarreta a criação de
unidades culturais com origens distintas, com
fronteiras muito marcadas, isoladas e estáticas, cuja
interação é muitas vezes confundida com mudança
temporal.
No presente trabalho, o modus de fazer” (Ford op.cit) é priorizado em detrimento
da repetição dos traços (Childe op.cit). Assim, considera-se como elementos de etnicidade,
criados como fatores diferenciadores, a maneira de elaborar minas de machados em
lxxvii
amoladores-polidores fixos e de raspar ou de cortar usando valvas, preferencialmente, de
Callista maculata com perfuração no centro.
No caso dos amoladores-polidores fixos, pode-se concluir que não é sempre que a
disponibilidade da matéria prima é responsável pelas opções tecnológicas, já que o granito
e o diabásio são amplamente encontrados na costa brasileira e, em apenas alguns locais,
são achados amoladores-polidores fixos, assim também como a ocorrência de Callista
maculata é muito maior do que a sua presença como artefato nos sítios arqueológicos.
No restante do material encontrado nos dois conjuntos não se constatam grandes
diferenças. Em relação à dieta alimentar, os ocupantes dos dois conjuntos de sítios
compartilhavam a predileção pelos elamosbrânquios e pelo
Haemulon sp (cocoroca); a
diferença está no intenso consumo do Bagre, no conjunto da Ribeira, e do Sargo de Dente,
no da Ilha Grande. Esse consumo diferenciado deve ter sido apenas em decorrência de
preferência alimentar, já que não existem restrições ambientais decorrentes das áreas
exploradas.
Também dentre os moluscos, nesses conjuntos, a preferência é a mesma, sendo a
Lucina pectinata uma das espécies mais consumida.
Em relação à indústria lítica, caracterizada pela presença de bigornas, seixos, lascas
de quartzo, a diferença parece estar no local utilizado para lascamento. Na Ilha Grande, são
encontrados em sítios sobre dunas, contendo restos de indústria de lascamento de quartzo
de excelente qualidade, enquanto que no sítio Ilhote do Leste tudo indica que as lascas
encontradas teriam vindo prontas, de fora do sítio. Apenas uma pequena área de
lxxviii
lascamento foi detectada na sua periferia. Quanto às lâminas de machados presentes nos
dois conjuntos, o detalhamento diferenciado dos encontrados na Ribeira impede que sejam
comparados, ressaltando-se apenas a presença de minas de machados pequenas nos dois
conjuntos.
Sepultamentos
Por causa da antiguidade muito recuada, obtida para a primeira ocupação do
sambaqui do Algodão, foram considerados na análise comparativa os elementos
encontrados na segunda ocupação. Assim sendo, a comparação dos enterramentos ficou
comprometida, devido à maneira pela qual os dados foram apresentados. Como isto foi
feito por blocos, não fica claro a que ocupação estariam relacionados.
De uma maneira geral, chama a atenção o predomínio de indivíduos robustos,
masculinos e maduros, como os do Ilhote do Leste. Dos acompanhamentos destacam-se a
presença de dentes perfurados de caninos, por ser pouco recorrente, e a impregnação de
corante em parte dos ossos de dois enterramentos, encontrados tanto no sambaqui do
Algodão (Id.ibid: 306), como no sítio da Ponta do Leste. Outro dado em comum é o
predomínio de enterramentos fortemente fletidos nos dois conjuntos de sítios.
A questão sobre a existência de enterramentos fletidos e estendidos nos sítios
litorâneos foi abordada por Schmitz et al (1992), quando se constatou o predomínio do
padrão estendido nos sítios localizados no litoral de Santa Catarina e Paraná. No entanto,
nenhuma sistematização relacionada a aspectos biológicos ou culturais pôde explicar sua
distribuição, segundo os autores:
lxxix
“Movimentos populacionais, com deslocamento, submissão ou
mestiçagem de populações; casamentos interétnicos, relações
comerciais e contatos esporádicos na rica e estreita faixa litorânea,
ou com populações do interior, tornam a relação entre biologia e
cultura muito complicada” (Schmitz et al Ibid:214).
No levantamento elaborado por Gaspar (1991: 266-89)k, constata-se um forte
predomínio de enterramentos fletidos. Dos que tiveram sua posição identificada, apenas
10% haviam sido depositados estendidos: os encontrados nos sítios do Corondó, Malhada,
Boca da Barra e Ponta da Cabeça.
As semelhanças e as diferenças observadas nos dois conjuntos, parecem indicar que
teria havido uma origem comum, provavelmente, a mesma filiação cultural; depois, divisão
dos grupos com acréscimo independente de novas influências e de idéias que atuaram
como elementos diferenciadores e posterior contato, possivelmente, com miscigenação e
troca de informações.
Esse contato pode ser também percebido em sítios um pouco mais distantes, como o
sítio Guaíba, também localizado em ilha, datado em 1520 ± 60 anos AP (Gaspar 1996),
mais recente e portando traços culturais recorrentes nos dois conjuntos abordados, como
espinhos reduzidos, lâminas pequenas de machado, dentes trabalhados e traços exclusivos
a cada conjunto, como pingente lítico perfurado associado a enterramento, como o
encontrado no sepultamento 2 do Ilhote do Leste e também as valvas com perfuração
central, artefato diagnóstico do conjunto da baía da Ribeira.
Alguns traços parecem ter persistido no tempo e no espaço: o ato de enterrar com
lâminas de machado como acompanhamento, que será encontrado ainda na planície de
lxxx
Guaratiba, no sítio Espinho, datado em 1920 ± 170 anos AP (Kneip
op.cit:1987:254),
próximo a uma área de amoladores-polidores fixos (Kneip e Oliveira op.cit. inéd).
Chama a atenção também o ato de enterrar cobrindo o morto com sedimento
vermelho; tal como os amoladores-polidores fixos, parece constituir um traço cultural
muito forte, cuja distribuição pode ser usada para perceber dispersão, contato e
miscigenação, já que o ritual funerário é menos vulnerável a “razões práticas” ou a
“determinismo ambiental”.
No Rio de Janeiro, além dos ossos impregnados de corante encontrados no
sambaqui do Algodão (Andrade Lima op.cit:304), sepultamentos onde os mortos
eram envolvidos com sedimento vermelho são encontrados no Sambaqui do Moa
(Silveira 2001:72). No primeiro caso, não fica claro se havia sedimento vermelho
ou se a impregnação se deu apenas pela presença de corantes. Existe uma
sutil diferença. Enquanto que, a associação de corantes com os enterramentos é
muito recorrente, a associação com grande quantidade de sedimento vermelho,
como no caso do enterramento encontrado no sítio da Ponta do Leste, apresenta
uma distribuição pontual.
Segundo Neves: “De acordo com Beck (1972), os sambaquis do litoral central de
Santa Catarina apresentam-se diferenciados dos demais, sobretudo por suas pequenas
dimensões. Além disso, a associação dos sepultamentos a estruturas de argila avermelhada
pode, talvez, ser um outro traço distintivo” (1988:138).
lxxxi
Esses enterramentos são mencionados em alguns sítios localizados em Santa
Catarina, como no caso Laranjeiras, e são descritos como covas com queima e areia
vermelha semelhante ao encontrado na Armação do Sul” (Rohr 84:14).
No caso do sítio da Armação do Sul, em Santa Catarina, e no do sambaqui do Moa,
no Rio de Janeiro, enterramentos associados a sedimento vermelho foram bem detalhados:
O sambaqui do Moa está localizado a cerca de 300km da costa da Ilha Grande; sua
ocupação se deu sobre dunas em momentos de regressão marinha e está datado em 3960
±
200 anos AP. Depois de um breve abandono, foi reocupado em 3600 ± 190 anos AP,
segundo Silveira. Provavelmente, foi abandonado definitivamente entre 2800-2500 anos
AP (Silveira Op.cit.:54).
Os enterramentos encontrados no sambaqui do Moa apresentam características
observadas nos sítios Ilhote do Leste e Ponta do Leste. Além das semelhanças nos
enterramentos, chamam também a atenção a existência de piso de argila vermelha com
buracos de estaca (Id.ibid. 56 ) e o predomínio de espinhos trabalhados, dentre os artefatos
ósseos encontrados no sambaqui do Moa.
Dos 26 enterramentos do Sambaqui do Moa, 20 eram primários, pertenciam a
indivíduos robustos com inserções musculares bem marcadas e foram depositados na
posição predominantemente estendida. Segundo a autora, eram feitos da seguinte forma:
“... cavavam apenas uns 5cm da superfície, depositavam solo com corante e
argila vermelha e o morto, depois cobriam este com mais solo misturado com
corante vermelho e conchas... acendiam uma fogueira possivelmente com
oferendas” (Silveira op.cit :63).
lxxxii
Segundo Silveira ( ibid67: ), além de argila vermelha, a maioria dos enterramentos
está associada à presença de ossadas de baleia e a blocos de pedra depositados sobre o
corpo. Nos momentos mais recentes, diminuiu a incidência desses itens. Como
acompanhamento funerário, também foram encontradas lâminas de machado.
Dos artefatos associados aos enterramentos do sambaqui de Moa (Silveira ibid:71),
muitos o semelhantes aos achados no Ilhote do Leste, como lâminas de machados,
seixos, canutilhos, pingentes e pontas de osso e dentes trabalhados de golfinho, tubarão e
macaco.
O sítio Armação do Sul está localizado sobre dunas, numa
baía voltada para o alto mar, perto de um canal ligado a uma
laguna (Schmitz 1998:202). Segundo Amaral (op.cit:36), são
encontrados amoladores-polidores fixos a 60m desse sítio, como
também foi registrado um outro sítio próximo, sobre uma ilhota
(Ponta das Capainhas), na beira do canal que une o mar à lagoa
do Peri .
Segundo Schmitz et al (1992:130), “os enterramentos das
camadas de areia costumam vir envoltos em pigmentos
vermelhos”. Nessas camadas, que correspondem aos momentos
mais antigos da ocupação, os enterramentos são mais ricos
(Schmitz 1998:203).
Na listagem que consta da publicação (Id ibid:130-155),
constata-se que, embora haja alguns que não apresentam nenhum
acompanhamento além do sedimento vermelho, a maioria dos
lxxxiii
sepultamentos encontrados no sítio Armação do Sul está
associada a lâminas de
machados, ossos de baleia e seixos.
Nesse sítio, também foi achada uma ponta elaborada a partir de espinho trabalhado
(Schmitz et al (op. cit.: 102).
Segundo Schmitz et al (op. cit.: 214), Neves (apud Schmitz et
al ibid), propõe-se que a população pré-ceramista do sítio da
Armação do Sul é diferente das demais populações do mesmo
período, estando ligada a grupos mais sulinos.
O sambaqui do Moa e o sítio da Armação do Sul apresentam características não
muito comuns em sítios litorâneos, que somam peculiaridades encontradas nas estruturas
funerárias identificadas no sítio Ilhote do Leste e no Ponta do Leste, tais como: a presença
do sedimento vermelho, fogueira e restos faunísticos. Com as fogueiras, foram achadas
ossadas de baleias e lâminas de machado presentes também nos enterramentos do sítio
Ilhote do Leste.
Inserção da ocupação da Ilha Grande no modelo de Andrade Lima
Transpondo o modelo proposto por Andrade Lima (1991: 641) para a Ilha Grande,
o Ilhote do Leste seria um sítio construído por uma população em “stress”, dada a sua
localização distante do continente, de difícil acesso, de mar revolto e ao fato de serem
essencialmente pescadores. Os moluscos que, segundo Andrade Lima (op.cit: 640), seriam
a base estruturada desse sistema sociocultural apareceriam em maior quantidade mais
tarde e, mesmo assim, sempre com um papel complementar da dieta.
lxxxiv
Estas características teriam colocado, segundo modelo da autora (ibid: 642), os
habitantes do sítio Ilhote do Leste como representantes de um sistema de equilíbrio
instável passando a estável.
No entanto, os problemas relacionados à distancia do continente parecem ter sido
neutralizados pela proximidade de lagoas piscosas o ano todo e pela concentração de
habitats para serem explorados.
Ao mesmo tempo, a produção de lâminas de machado e também, provavelmente,
de canoas, já que na Ilha Grande há até os dias de hoje grande concentração de Guapuvuru,
árvore usada para fazer canoas, pode ter fornecido uma outra inserção social especial aos
grupos que ocuparam a ilha.
Os dados obtidos nas escavações do sítio Ilhote do Leste parecem confirmar a
existência de um “status” diferenciado para seus construtores, na medida em que sugerem
que, mais do que sítio-habitação, o sítio Ilhote do Leste teria sido também um centro de
congregação de pessoas.
A grande dispersão de traços culturais na área em questão corrobora esta hipótese,
indicando que os grupos que a habitaram mantinham intenso contato.
O fato de que os amoladores-polidores fixos pudessem ter como suporte outras
rochas, além do Charnokito encontrado na Ilha Grande como o granito e o diabásio,
formações muito presentes em todo o litoral brasileiro descarta a hipótese de que a
lxxxv
concentração de amoladores-polidores fixos seja conseqüência da ação de grupos de fora
que vinham à Ilha Grande para elaborar suas lâminas de machado atraídos pela matéria
prima dos suportes.
A distribuição dos amoladores-polidores fixos na costa brasileira é pontual e
tangencia o litoral, ocorrendo em ilhas e em pontas, o que indica que esta tecnologia
pertence a grupos que tinham pequenas embarcações e a preferência por ilhas. No entanto,
a ausência de artefatos malacológicos na Ilha Grande, como também de amoladores-
polidores fixos na Ribeira, parece indicar que não faziam parte do mesmo grupo de
unidades familiares interligadas.
lxxxvi
Conclusão
Respondendo as questões formuladas na página 41:
Quais seriam os motivos para a ocupação da Ilha Grande?
Por que o sítio Ilhote do Leste foi construído?
Quem foram os responsáveis por sua construção?
De onde vieram?
Qual a sua relação com os outros grupos da região?
Qual a função desse sítio na dinâmica de ocupação regional?
Que status teria o sítio Ilhote do Leste em relação aos sítios próximos?
Os diversos tipos de sítios encontrados na Ilha Grande estariam relacionados a diferentes
grupos culturais, outras atividades, ou estariam relacionados a variadas respostas
adaptativas, decorrentes de mudanças ambientais e/ou socioculturais?
Pode-se concluir que:
A Ilha Grande não foi ocupada como uma segunda opção. Se assim o fosse, teria
sido escolhida sua parte voltada para o continente, como ocorreu com as populações que se
sucederam.
O sítio Ilhote do Leste foi ocupado em época próxima a 3000 anos B P, por grupos
essencialmente pescadores.
É um dos poucos casos, a exemplo do Pântano do Sul, “onde a lente de concha se
sobrepõe à terra escura, indicando, talvez, a volta a um alimento ou a um sistema de
procura alimentar, abandonado momentaneamente por razões ecológicas”. (Prous
op.cit.432)
O Ilhote do Leste foi escolhido por sua visibilidade e proximidade das lagoas,
embora não seja descartada a hipótese quanto ao aspecto defensivo, corroborada pela
presença de uma ponta atípica nos arredores (ver página 381).
A ocupação do sítio obedeceu a uma ordenação espacial. A reconstituição espacial
dos achados indica a existência de áreas específicas de amontoamento de refugo.
No cotidiano, as carapaças de moluscos eram acumuladas em áreas provavelmente
circulares, não ocorrendo uma região única e comum de descarte, mas sim vários montes,
possivelmente relacionados a unidades familiares.
Em ocasiões especiais, que podem ser associadas a eventos que envolveram um
número maior de pessoas, moluscos o eram consumidos e descartados juntamente com
os peixes, nem estes concomitantemente com os moluscos.
A associação de enterramento a montes de restos alimentares parece indicar, nesse
sítio, uma importância ritual que reforçava o aspecto sociológico do ato de se alimentar.
A alta incidência de Guapuvuru na ilha Grande, as lâminas de machado,
adicionadas à presença de peixes de águas mais profundas, como os elasmobrânquios de
lxxxviii
grande porte, e também as inserções musculares apresentadas nos esqueletos encontrados
reforçam a hipótese da existência de pequenas embarcações e de que esses grupos teriam
uma predileção pela
ocupação de ilhas, fato alicerçado na localização dos amoladores-polidores fixos.
O fato de que a maior quantidade em número e em tipo de amoladores-polidores
fixos estar na parte meridional da Ilha Grande reforça a predileção desses grupos por áreas
de mar aberto.
As datações obtidas e a localização dos amoladores-
polidores fixos nos costões relacionados aos sítios Ilhote do
Leste e Ponta do Leste implicam contemporaneidade. O fato de
que este último seja constituído apenas de um sepultamento e de
restos de indústria de lascamento de quartzo parece indicar que
se trata de mais um sítio localizado sobre duna, como os outros
registrados na Ilha Grande, onde a atividade de lascar quartzo era
intensa.
O fato de ter sido encontrado no sítio Ponta do Leste um enterramento de um
indivíduo mais grácil, embora com inserções musculares bem marcadas, apresentando
características não identificadas no padrão de assentamento do Ilhote do Leste, permite o
desenvolvimento de três hipóteses:
lxxxix
1. Variação biológica dentro de uma mesma população ou resultado de atividades
diferenciadas;
2. Embora compartilhando o mesmo território, o grupo que teria ocupado o sítio
da Ponta do Leste por um curto período de tempo o compartilhava de uma
mesma identidade cultural;
3. O sítio da Ponta do Leste foi construído durante um rápido abandono do sítio
Ilhote do Leste;
4. O sítio Ilhote do Leste foi construído por indivíduos com laços de
consangüinidade, unidos por casamentos a outros indivíduos pertencentes a
várias “etnias”
33
.
A primeira hipótese constitui uma questão que será desenvolvida na tese de
doutoramento de Claudia Carvalho, do setor de Antropologia Biológica do Museu
Nacional. O estudo partirá da constatação de que esse indivíduo apresenta as áreas de
inserção musculares bem desenvolvidas, como no sítio Ilhote do Leste. Através do
detalhamento do seu padrão de solicitação muscular e dos remanescentes do Ilhote do
Leste serão testadas as hipóteses de que as diferenças observadas se tratam de uma
variação biológica ou resultado de atividades diferenciadas.
A segunda hipótese pressupõe que os construtores do sítio Ilhote do Leste tinham a
capacidade de incorporar indivíduos de fora, compartilhando o mesmo território e
conhecimento tecnológico, fato evidenciado pela presença de amoladores-polidores
fixos no costão próximo ao sítio da Ponta do Leste.
33
O termo etnia aparece precedido de aspas por estar sendo utilizado com um sentido mais amplo. No caso,
considera-se etnia, as unidades sócios culturais cujos indivíduos são unidos por elementos de etnicidade
gerados por eles mesmos para reforçar sua identidade, independente de um questionamento sobre sua origem.
xc
Apesar de o registro de falta de territorialidade marcada ser pouco comum nos
registros etnográficos, as evidências de eventos com concentração de pessoas no sítio
Ilhote do Leste e a presença de amoladores-polidores fixos em Piraquara (Oliveira e
Ayrosa op.cit) corroboram esta hipótese. No entanto, caso isso ocorresse, era de se
esperar uma distribuição muito mais intensa e aleatória de amoladores-polidores fixos
na região abordada.
Quanto à segunda hipótese, a falta de evidências de abandono do sítio Ilhote do Leste
não permite que seja levada em consideração, a menos que fosse um período imperceptível
em termos arqueológicos. No entanto, uma análise do padrão de enterramento encontrado
nos dois sítios demonstra a existência de elementos comuns, como o ato de envolver o
morto em outro tipo de sedimento e a constante associação de fogueiras contendo restos
alimentares com os sepultamentos.
No sítio da Ponta do Leste, a deposição de sedimento vermelho está relacionada com
os membros superiores do indivíduo. No sítio Ilhote do Leste, 50% indivíduos tiveram seus
membros superiores cercados de sedimento limpo e três indivíduos foram enterrados fora
da área de refugo, ou mesmo do sítio.
A ocorrência de enterramentos fora da área do sítio remete à terceira hipótese. A
discrepância verificada entre o número de homens e de mulheres ou de jovens e de velhos
enterrados parece indicar que determinados indivíduos eram enterrados fora do sítio.
Mesmo que tal dado seja questionado em função do reduzido número de indivíduos (30%)
que puderam ser classificados por nero e faixa etária identificada, é indiscutível a pouca
xci
incidência de crianças enterradas no sítio, reforçando a hipótese de que alguns indivíduos
tivessem sido sepultados fora dele.
A partir do apresentado, pode-se concluir que na Ilha Grande o sítio sobre duna”
provavelmente o está relacionado a um outro sistema sociocultural. Tudo indica que
esses sítios e o Ilhote do Leste constituem duas modalidades de um mesmo sistema de
assentamento.
Ao se levar em consideração que eram grupos de canoeiros e que precisavam estar
nas praias para fazer a manutenção de suas canoas e do instrumental de pesca, como as
redes, entende-se a presença do sítio sobre duna.
Os locais mais altos e mais protegidos seriam utilizados para passar a noite e para
as épocas de clima menos ameno, ou épocas de disputas, e/ou de rituais. O assentamento
no Ilhote do Leste, embora mais distante da praia, permitia também refeições com menos
areia, proteção do sol e do vento, graças à presença de uma vegetação mais densa.
O posicionamento do sítio da Ponta do Leste pode ser relacionado ao sítio do
Ilhote do Leste. Na Ponta do Leste, está o único lugar bom para desembarque durante a
maior parte do ano. Apenas no verão chega-se com tranqüilidade com a canoa na beira da
praia, do lado do Ilhote do Leste. Além do embate das ondas, a volta do morrote é muito
temida por apresentar valas que chegam a provocar o afogamento de pessoas que o
sejam exímios nadadores.
Outro local bom para o desembarque fica em frente ao sítio da estrada também localizado
sobre duna.
xcii
Quanto a quem teria ocupado o sítio Ilhote do Leste, a robustez verificada nos
indivíduos enterrados no sítio distingue essa população da comumente encontrada no
estado do Rio de Janeiro.
Por outro lado, embora tivesse sido constatada a existência de um padrão de
enterramento, a grande variabilidade encontrada nos acompanhamentos e na deposição do
morto parece apontar para a presença de indivíduos que carregavam consigo resquícios de
diferentes rituais relacionados à sua identidade cultural, o que reforça a hipótese da
existência de diversas “etnias” compartilhando o mesmo espaço.
Apoiado no que foi apresentado, parte-se do principio de que o sítio Ilhote do Leste foi
construído por pescadores, caçadores, coletores, exímios canoeiros que tinham alta
mobilidade na costa, com maior fixação na Ilha Grande; não constituíam um grupo grande,
mas o fato de elaborarem lâminas de machado lhes oferecia um status especial.
Sua história não deve ter sido muito diferente da dos outros que ocupavam a região de
estudo, ou seja, uma origem remota comum de povos ancestrais que muito vinham se
adaptando à exploração dos recursos aquáticos. Posteriormente, mantiveram intercâmbio
com grupos vindos do interior e também receberam novas influências de outros grupos
litorâneos que possuíam contatos diferentes.
O que os tornou diferentes foi a tecnologia que teriam obtido por contato ou por
invenção e que lhes permitiu uma inserção especial na dinâmica de ocupação da região.
A partir do exposto, conclui-se que, no entendimento e nas
classificações das “culturas arqueológicas” que ocuparam o
litoral, devem ser levadas em consideração a mestiçagem dessas
xciii
populações e a existência dos sistemas de troca, o que oferece
uma visão muito mais aberta da “cultura sambaquiana”.
xciv
Referência Bibliográfica
AMADOR, Elmo. Geologia e Geomorfologia da Planície Costeira da Praia do Sul - Ilha Grande -
Uma contribuição à elaboração do plano diretor da Reserva Biológica. Anuário do Instituto de
Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, v.11. 1987/88.
_________ . O Complexo Sedimentar da Planície de Cabo Frio. Anais da ABEQUA, Belo
Horizonte, p.187-198,1992.
AMARAL, Maria Madalena Velho do. As oficinas líticas de polimento da Ilha de Santa Catarina.
Dissertação (Mestrado em História). Área de concentração em Arqueologia. 1995. Curso de
Pós-graduação em História. Pontífica Universidade Católica, Porto Alegre.
ANDRADE LIMA, Tania. Dos Mariscos aos Peixes: um Estudo Zooarqueológico da Mudança de
Subsistência na Pré-História do Rio de Janeiro. 1991. Tese (Doutoramento em Arqueologia) -
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/Universidade de São Paulo. São Paulo.
691p.
________ . The shellmound-builders: emergent complexity along the south/southeast coast of
Brazil. In: anual meeting - society for american archaeology, 62
nd
, Nashville. Abstracts,
Washington D.C., p.135-136, 1997.
_________.Complexidade emergente entre cacadores/coletores: uma nova questão para a pré-
história brasileira In: Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, IX, Rio de Janeiro.
Anais. Rio de Janeiro, Ed. Eletrônica. 2000a.
________ . Em busca dos frutos do mar: os pescadores/coletores do litoral centro-sul brasileiro.
Revista da USP, São Paulo, v. 44, p.270-327. 2000b.
ANDRADE LIMA, Tania & MAZZ, Jose Maria Lopez. Complejidad Emergente entre los
Cazadores/Recolectores de la Costa Atlantica Meridional Sudamericana. Revista de
Arqueologia Americana. Mexico. prelo,
ANDRADE LIMA, Tania; NEVES, Walter & PROUS, Andre. Projeto Babitonga: uma proposta de
releitura dos sambaquis do litoral meridional brasileiro. Revista do CEPA, v. 23, n. 29, p.124-
130, 1998.
ARAUJO, Doroth Sun Sue. A vegetação da Baixada de Guaratiba-Sepetiba. In: KNEIP, Lina
Maria (org.). Coletores e pescadores pré-históricos de Guaratiba. Niterói: EDUFF/Museu
Nacional, p. 47-721, 1985.
BARBOSA, Débora da Rocha. A Interação da População pré-Histórica do sambaqui Boca da
Barra (Cabo Frio, RJ) com o Ambiente. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais) –
xcv
1999. Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Universidade Federal Fluminense,
182 p. il.
BARBOSA, Débora da Rocha & FRANCO, Teresa Cristina. Análise e Interpretação dos Dentes de
Seláquios. In: Reunião Científica da SAB, VI, Rio de Janeiro. Resumos, Rio de Janeiro, p. 25,
1991.
BARBOSA, Márcia. Reconstituição espacial de um assentamento de pescadores coletores e
caçadores litorâneos no Rio de Janeiro In: TENÓRIO, Maria Cristina (org.) Pre-História da
Terra Brasilis. Rio de Janeiro: EDUFRJ, p. 122-131, 1999.
_________ . Sistematização dos sítios de Pescadores, Coletores e
Caçadores Pré-Históricos Ribeirinhos e Costeiros. Relatório
de pesquisa, CNPq, 1997 (inédito).
BARBOSA, Márcia & GASPAR, Maria Dulce. A organização espacial das
estruturas habitacionais no sambaqui Ilha da Boa Vista I, Cabo Frio, RJ. In:
Reunião Científica da SAB, VII, João Pessoa. Resumos, João Pessoa, p. 25,
1993.
BARBOSA, Marcia; GASPAR, Maria Dulce & BARBOSA, Débora.
A organização espacial das estruturas habitacionais e dos
artefatos no sambaqui IBV-I, Rio de Janeiro.
Revista do Museu
de Arqueologia e Etnologia
. São Paulo, USP, v.4, p.31- 38,
1994.
BARRETO, Cristiana . Ocupação do Vale do Ribeira Iguape, São Paulo: os sítios concheiros do
Médio Curso. 1988. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) -Faculdade de Filosofia Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. il. 333p.
BARTRAM, L.E.; KROLL, Elen; BUNN, H.T. Variability in camp
structure and bone food refuse patterning at Kua San hunter-
gatherer camps. In. KROL, Elen & PRICE, T. Douglas (Eds).
The interpretation of archaeological spatial patterning.
p. 177-
148. 1991.
xcvi
BASH, Martin A. Prehistoria. 3
a
ed. Madrid: Espasa-Calpe S.A. 916 p. il.1981.
BEATTIE, John. Introdução à Antropologia Social: objetivos, métodos e realizações da
antropologia social. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 344p, 1977.
BAILEY, G.N. The role of molluscs in coastal economies: the results of midden analysis en
Australia. Journal of Archaeological Science 2(1): 45-62. 1975
BECK, Anamaria. Os sambaquis do Brasil meridional: litoral de Santa Catarina. In: Simpósio de
Arqueologia Leste-Sul da América do Sul. Anais do Museu de Antropologia, Florianópolis, v.
3, n.3, p.57-70. 1970.
________ . Os sambaquis do litoral de Laguna - SC. p.69-76. In: DUARTE, Paulo (Ed.). O Homem
Antigo na América. Instituto de Pré-História, USP, São Paulo, 144p. 1971.
BELTRÃO, Maria Conceição. Datações arqueológicas mais antigas do Brasil. Anais da Academia
Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v.46, p.2, p. 211-251. 1974.
BELTRÃO, Maria Conceição; HEREDIA, Oswaldo; GASPAR, Maria Dulce &, NEME, Salete.
Coletores de moluscos litorâneos e sua adaptação ambiental: o sambaqui de Sernambetiba.
Arquivos do Museu de História Natural, UFMG, Belo Horizonte, vol. 3, p. 97-115, 1978.
BELTRÃO, Maria Conceição & KNEIP, Lina. - Acampamentos e aldeamentos Tupi nos Estados
da Guanabara e Rio de Janeiro. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência, 20, São Paulo. Resumos. Ciência e Cultura,o Paulo v. 20, n. 2, p.461, 1968.
_________ . Escavações estratigráficas no Estado da Guanabara. In: Simpósio de Arqueologia da
Área do Prata, 3. Pesquisas, São Leopoldo, v.20, p.101-112, 1969.
BEGOSSI, Alpina. Ecologia humana: um enfoque das relações homem-ambiente. Interciencia,
vol.18, n° 3, 1993.
_________ . Do fishers have territories? The use of fishing grounds at Aventureiro (Ilha Grande,
Brazil). Inédito.
BINFORD, Lewis. Post Pleistocene Adaptations. In: BINFORD, Sally R. & BINFORD, Lewis
(Eds). News Pespectives in Archaelogy. Chicago: Aldine Ed. p. 313-41. 1968.
_________ . Willow smoke and dog’s talls: hunter – gatherer
settlement and archaeological site formation.
American
antiquity
, v.45, p.4-20. 1980.
xcvii
_________ . Workink at archaeology Studies in Archaeology. New York: Academic Press. 1983.
BINFORD, Lewis.R. & BINFORD, Sally (Eds). News perspectives in archaeology. Chicago:
Aldine.1968.
BIZERRIL, Carlos R. S. F. & COSTA, Paulo, A. S. Peixes Marinhos do Estado do Rio de Janeiro.
Fundação de Estudos do mar SEMADS, 2001.
BOAS, Franz.The mind of primitive man. Revised edition. New York. The Free Press. 1965.
BRIAN, H. & AUDREY, C. Where garbage goes; refuge disposal in the
Maya higlands.
Journal of Anthropological Archaeology
, v. 2, p. 117-163, 1983.
BROCHADO, JoProença. 1984. An Ecological Model of the Spread of Pottery and agriculture
into eastern South America. Tese (Doutoramento em Antropologia). University of Illinois at
Urbana-Champain.
BRYAN, Alan L. The sambaqui at Forte Marechal Luz, State of Santa Catarina, Brazil. Brazilian
Studies, pp 1-114. Center for the First Americans, Oregon, State University, Oregon. 1993.
BUARQUE, Angela. A cultura tupinambá no Estado do Rio de
Janeiro. In: TENÓRIO, Maria Cristina (org.).
Pré-história
da Terra Brasilis. Rio de Janeiro, EDUFRJ, p.307-320, 1999.
BUTZER, Karl W. Archaelogy as human ecology. New York: Cambridge University Press. 364 p.
ilus. 1984.
CALDERON, Vladimir. Nota prévia sobre a arqueologia das regiões Central e Sudoeste do Estado
da Bahia. Publicações Avulsas, Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, v.10,
p.135-46, il. 1969.
________ . Contribuição para o conhecimento da arqueologia do recôncavo e do sul da Bahia.
Publicações Avulusas, Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi
,
Belém, v. 26, p.141-155, il.
1974.
CAPAZ, Camil. Os Indígenas da Baía da Ilha Grande. Conselho Municipal de Cultura. Angra dos
Reis, 41p. 1988.
xcviii
CARVALHO, Eliana T. Estudo Arqueológico do Sítio Corondó. Missão de 1978. Boletim do IAB,
Série Monografias, Rio de Janeiro, v. 2, 243 p., il. 1984.
CASTRO, Fabio de. & BEGOSSI, Alpina Ecology of fishing on the Grande River (Brazil):
technology and territorial rights in FISHERIES RESEARCH. 1995.
__________ . Fishing at Rio Grande (Brazil): Ecological Niche and Competion. Human Ecology,
v.24, n. 3, 1996.
CHANG , K C. Toward a science of prehistoric society. In: Setlement archaeology. National Press,
Book Yale University. 229 p.1968.
CHILDE, Gordon. Arqueologia e História. In: CHILDE, Gordon. Que sucedio en la História.
Buenos Aires: La Pléyade, p. 19-37, 1981.
CHMYZ, Igor e SAUER, I. Nota prévia sobre as pesquisas arqueológicas no Vale do Piquiri.
Dédalo São Paulo 3:7-36 . 1971
CLAASSEN, Cherryl. Normative thinking and shell - bearing sites. In: SCHIFFER, Michael (Ed).
Archaeological Method and Theory. Tucson: The University of Arizona Press, p. 249-287.
1991.
CLARK, Grahame. A Pré-história. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar. 287 p. il. 1975.
CLERÓT, L.P. Os sambaquis da bacia do Macacú (Estado do Rio de Janeiro). In: Congresso
Internacional de Americanistas, 20. Rio de Janeiro. Anais, v. 2, p.461-464, 1928.
COHEN, Mark N. La crisis alimentaria de la préhistória. Madrid: Alianza Universidad Ed., 327 p.
1981.
COLLET, Gui & LOEBL, E. Informações sobre os sambaquis fluviais do Estado de São Paulo.
Anuário de Staden (Estudos Brasileiros), 36. Fundação Martius (Inst. Hans Staden), São Paulo.
1988.
COMPAGNO, L.J.V. Sharks of the world an annotated and illustrated
catalogue of sharks species know.
FAO Species Catalogue,
v. 4, n.1, p. 1- 249,
1984.
CORRÊA, M. Margarida Gomes, ZWINK, Walter & BRUM, Iva Nilce da Silva. Ocorrência de
crustáceos no sambaqui Zé Espinho. In: K
NEIP
, L.M. (coord.), Coletores e Pescadores Pré-
xcix
Históricos de Guaratiba Rio de Janeiro. Sér. Livro V Museu Nacional, Rio de Janeiro:
UFRJ/EdUFF, p.217-227. il. 1987.
COSTA, Fernanda & CALDARELLI, Solange (coords.) Programa de Estudos Arqueológicos na
area do Reservatório de Kararô. Relatório Final. Museu Paraense Emílio Goeldi. Belém 1988.
(inédito).
DE BLASIS, Paulo Antônio. Pesquisa Arqueológica no sambaqui da Vila Paranaense, no Bairro
de Espinheiros - Joinville. Bol. MAHSJ, Joinville, v. 2, n.3, p.14 – 16, 1991.
_________ . Bairro da Serra em três tempos: arqueologia, uso do espaço regional e continuidade
cultural no Médio Vale do Ribeira. 1996. Tese (Doutorado em Arqueologia) - Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
DE BLASIS, Paulo; EGGERS, Sabine; LAHRS, Martha; FIGUTI, Levy; AFONSO,
Marisa & GASPAR, Maria Dulce. Padrões de assentamento e formação de
sambaquis em Santa Catarina.
Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia,
São Paulo, n. 8, p. 319-321, 1998.
DE MASI, Marco Nadal. Pescadores Pré-históricos da Costa Sul do Brasil. Pesquisas, São
Leopoldo, IAP/UNISINOS, 2001.
DIAS JR, Ondemar F. Polidores de Cabo Frio. Boletim de História. Universidade do Brasil. Ano I
– n.4 e Ano II n.5. Rio de Janeiro. 1959.
__________ . Notas prévias sobre pesquisas arqueológicas no Estado da Guanabara e Rio de
Janeiro. Publicações Avulsas, Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, v. 6, p. 89-
105, il. 1967.
________. Considerações sobre o terceiro ano de Pesquisas no Estado do Rio de Janeiro. Programa
Nacional de Pesquisas Arqueológicas. Publicações avulsas do Museu Paranaense Emílio
Goeldi, Belém, v.13, p.143-160. 1969a.
________ . A fase Itaipu, sítios sobre dunas no Estado do Rio de Janeiro. Pesquisas, 20: 5-12, (III
Simpósio de Arqueologia da Área do Prata). 1969b.
________ . Síntese da pré-história do Rio de Janeiro, uma tentativa de
periodização.
Revista de História,
Rio de Janeiro, v.1, n.
2, p.75-83. 1972.
c
_________ . Rio de Janeiro: a tradição Itaipu e os sambaquis. In: SCHMITZ, Pedro et al (eds.).
Anuário de Divulgação Científica do Instituto Goiano de Pré-História. Temas de Arqueologia
Brasileira, 3: 33-42. 1980a.
_________ . Evolução da cultura em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. In: SCHMITZ, Pedro et al
(Eds.). Anuário de Divulgação Científica do Instituto Goiano de Pré-História. Temas de
Arqueologia Brasileira, 3: 112-30. 1980b.
________ . A tradição Itaipu, costa central do Brasil. In: MEGGERS, Betty (ed.). Pré-história de
Sudamerica. Smithsonian Institution: Washington. p.161-176. 1992.
DIAS JÚNIOR, Ondemar & CARVALHO, Eliane. A pré-história da serra fluminense e a utilização
das grutas de estado do Rio de Janeiro. Pesquisa, São Leopoldo 31: 43-86. 6 fig. bibl. (Estudo
de Arqueologia e Pré-História Brasileira em memória de A. T. Rusins.) 1980
DIAS JÚNIOR, Ondemar & CARVALHO, Eliana. Discussões sobre o início da agricultura no
Brasil. Arquivos do Museu de História Natural, Universidade Federal de Minas Gerais, v. 6/7
p. 191-200, 1981/82.
________ . Um possível foco de domesticação de plantas no Estado do Rio de Janeiro/RJ-JC-64
(sítio Corondó). Boletim do Instituto de Arqueologia Brasileira, Série ensaios, v. 1, n.1, p.1-
18. 1982/1983.
_________ . A fase itaipú, RJ novas considerações. Arquivos do Museu de História Natural.
UFMG, Belo Horizonte, v. 8/9, p. 95-105. 1983/84.
_________ . Tradição Itaipu (RJ) - Discussão de tópicos a proposta de um modelo teórico. Revista
do CEPA, v.17, n.20, Santa Cruz do Sul, p.157-166. 1990.
ELSTON, Eduardo; MIRANDA, Newton; MARCELLO FILHO, Jorge; TENÓRIO, Cristina.
Proposta para explicar a grande variedade morfológica de pontas ósseas encontradas no litoral
do Estado do Rio de Janeiro.Painel apresentado no XI Congresso Científico da SAB, Rio de
Janeiro, 2001. (prelo).
EMPERAIRE, Jose & EMPERAIRE, Annete .Les Sambaquis de la côte meridionale du Brésil:
compagnes de fouilles (1954-1956). Journal Societé Americaniste Paris, v.45,, p. 5-163, il.
1956.
ERLANDSON, Jon M. The middle holocene along the California Coast. Archaeology of 1997
th
the
California Coast during the middle holocene. In: ERLANDSON, Jon & GLASSOW, Michael.
Perspectives in California Archaeology, v. 4.Institute of Archaeology, University of
California. 1997.
FEEMA. Diagnóstico Ambiental do Estado do Rio de Janeiro. Cadernos FEEMA. Rio de Janeiro,
1978.
ci
________ . Plano Diretor da Reserva Biológica Estadual Praia do Sul, RJ. Rio de
Janeiro.Departamento de Estudos e Projetos. Divisão de Dinâmica e Ecossistemas. 1985.
FERNANDES, Guilherme de Almeida Geologia do Terreno oriental da faixa Ribeira da
Baía da Ilha Grande, litoral sul fluminense, RJ. Dissertação de mestrado defendida no
Programa de Pós-graduação em Análise de Bacias e Faixas Móveis. Rio de Janeiro. 2001.
FERREIRA, A. M. & Oliveira, M.V. Contribuição ao estudo arqueo-geológico do Quaternário
Superior da Baixada de Guaratiba - Sepetiba. In: KNEIP, Lina Maria (org.). Coletores e
pescadores pré-históricos de Guaratiba. Rio de Janeiro e Niterói EDUFF/Museu Nacional, p.
31-46. 1985.
FIGUEIREDO, J.L. Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do Brasil. I. Cações, raias e quimeras.
Museu de Zoologia Universidade de São Paulo, São Paulo, 104 p., il., 1977.
FIGUEIREDO, J.L.
& MENEZES, Naércio Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do Brasil. II.
Teleostei (1). Museu de Zoologia. Universidade de São Paulo, São Paulo, 110 p., il., 1978.
___________ . Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do Brasil. III. Teleostei (2). Museu de
Zoologia. Universidade de São Paulo, São Paulo, 90 p., il., 1980.
FIGUTI, Levy. Estudos dos vestígios faunísticos do sambaqui Cosipa-3, Cubatão, São Paulo.
Revista de Pré-História, São Paulo, v.7, p.112-126, 1989.
__________ . O homem pré-histórico, o molusco e o sambaqui: considerações sobre a subsistência
dos povos sambaquianos. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, USP, São Paulo, v.3,
p.67-80. 1993.
FIGUTI, Levy ; DE BLASIS, Paulo; EGGERS, Sabine & MENDONÇA, C.A . Investigações
Arqueológicas e Geofísicas dos sambaquis fluviais do vale do Ribeira de Iguape, Estado de
São Paulo. Relatório FAPESP. 2000. (inédito).
FIGUTI, Levy & KLOKLER, Daniela M.C. Resultados preliminares dos vestígios
zooarqueológicos do Sambaqui dos Espinheiros II. Revista do MAE, São Paulo, n.6, p.169-187,
1996.
FISH, Susanne, DE BLASIS, Paulo; GASPAR, Maria Dulce & FISH, Paul. Incremental Events in
the Construction of Sambaquis, Southeastern, Santa Catarina. Comunicação apresentada na XI
Reunião da SAB, Rio de Janeiro, 1997. (inédito).
FORD, James A. The type concept revised. American Antropologist , v. 56, p.42-54,1954.
FOSSARI, Teresa Domitila. Povoamento pré-histórico da Ilha de Santa Catarina. Relatório n. 1,
FINEP.mimeo. 1987.
cii
_________ . Povoamento pré-histórico da Ilha de Santa Catarina. Relatório n. 2, FINEP. mimeo.
1988.
________ .Povoamento pré-histórico da Ilha de Santa Catarina. Relatório n. 3,
FINEP. 1989 mimeo.
FRANCO, Teresa Cristina & GASPAR, Maria Dulce. O Sítio Salinas Peroano. In: Reunião
Científica da Sociedade de Arqueologia Brasileira, VI, Rio de Janeiro. Anais, Rio de Janeiro,
v.1, p.161-171,1992.
FLINMAN & PRICE. Foudations of social inequality. New York: Plenum press. 1995.
GALLOIS, Dominique. Mairi Revisitada: A reintegração da Fortaleza de Macapá na tradição
oral dos Wayãpiti. São Paulo, Núcleo de História Indígena/USP. 1993.
GARCIA, Caio del Rio. Nova datação do Sambaqui Maratuá e considerações sobre as flutuações
eustáticas propostas por Fairbridge. Revista de Pré-História, São Paulo, v.1, n.1, p.15-30,
1979.
GASPAR, Maria Dulce. Aspectos da organização social de um grupo pescador - coletor -
caçador: Região compreendida entre a Ilha Grande e o delta do Paraíba do Sul, Rio de
Janeiro. Tese (Doutorado em Arqueologia) - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, 364 p.1991.
__________ . Morte, Moradia e Descarte de bens: uma estranha associação. In: Congresso Latino
Americano de Antropologia Biológica, 3, Rio de Janeiro. Resumos, Rio de Janeiro, p.16, 1994.
________ . Datações, construção de sambaqui e identidade social dos pescadores, coletores e
caçadores. In: Reunião Científica da SAB, VII, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre, p. 377-398.
1996a.
________ . Análise das datações radiocarbônicas dos Sítios de Pescadores, coletores e
caçadores.Boletim do Museu Emílio Goeldi,série Ciências da Terra v. 8.p. 81-91,1996b.
________ . Os sambaquis de Santa Catarina. In: TENÓRIO, Maria Cristina (org.). Pré-História da
Terra brasilis. Rio de Janeiro: EDUFRJ, p.159 –170, 1999.
________ . Sambaqui - Local de moradia ou monumento? Departamento de Antropologia, Museu
Nacional (inédito).
ciii
GASPAR, Maria Dulce; BARBOSA, Débora & BARBOSA, Márcia. Análise cognitiva do
processo de construção de sambaquis. CLIO. Recife, v.1, n.10, p.103 -124, 1994.
GASPAR, Maria Dulce; BARBOSA, Márcia & BARBOSA, Débora. Padrões Demográficos para
sambaquis In: Congresso da Associação Latino-Americana de Antropologia Biológica, III, Rio
de Janeiro. Resumos, Rio de Janeiro, p.15, 1994.
GASPAR, Maria Dulce & DE BLASIS, Paulo. Construção de Sambaqui. In: Reunião Científica da
Sociedade de Arqueologia Brasileira VI, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro, p. 811-820,
1992.
GASPAR, Maria Dulce & IMAZIO, Maura. Os pescadores, coletores e caçadores do litoral norte
brasileiro. In: TENÓRIO, Maria Cristina (Ed). Pré-História da Terra Brasilis. Editora da
UFRJ. Rio de Janeiro, 247 – 256. 1999.
GASPAR, Maria Dulce & SCARAMELLA, Nídia. O sítio do Meio. Canal de Itajurú - RJ. In:
Reunião Científica da Sociedade de Arqueologia Brasileira, VI, Rio de Janeiro. Anais. Rio de
Janeiro, v.1, p.122-130, 1992.
_________ . O sítio do Meio - canal de Itajuru. Cabo Frio. Rio de Janeiro. Revista do CEPA, v.17,
n.20, p. 175-180, 1990.
GASPAR, Maria Dulce & TENÓRIO, Maria Cristina. Amoladores e polidores fixos do litoral
brasileiro. Revista do CEPA, v.17, n.20, 1990.
GREGORY, W
ILLIAM
K. Fish Skulls: a study of the evolution of natural mechanisms. Florida: Eric
Lundberg, Laurel,
1959.
HARRIS, Marvin. The rise of Antropological Theory: a History of theories of culture. New York:
Thomas Y. Crowell.1968.
HAYDEN, Brian Fabulous feast a Prolegomenon to the importance of festing in Feast
archaeological and etnographic perspectives on food, politics and power. Washington and
London: Smithisonian Institution Press. 2001
HENDLER, Gordon; MILLER, John E.M.; PAWSON, David L., et al. Echinoderms of Florida
and the Caríbbean. sea stars, sea urchrns and allies. Washington and London: Smithsonian.
Inst. Press, 1995. 390, il.
HEREDIA, Oswaldo. Mariscadores e pescadores pré-históricos do litoral centro-sul brasileiro.
Pesquisas, Série Antropologia. São Leopoldo, v 31, p. 101-19, 1980.
civ
HEREDIA, Osvaldo. O aproveitamento ambiental das populações pré-históricas do Estado do Rio
de Janeiro. Relatório de Pesquisa. Museu Nacional/ FINEP/ Fundação José Bonifácio. Rio de
Janeiro. 1983. (inédito).
HEREDIA, Osvaldo; BELTRÃO, Maria da Conceição; OLIVEIRA, Maria Dulce & GATTI,
Marcelo. Pesquisas Arqueológicas no Sambaqui de Amourins, Magé, Rio de Janeiro. Arquivos
do Museu de História Natural. UFMG. Belo Horizonte, v. 3, p. 175-187, 1981/82.
HEREDIA, Oswaldo Raimundo; GATTI, Marcelo; GASPAR, Maria Dulce & BUARQUE, Angela
Maria Gonçalves. Assentamentos pré-históricos nas ilhas do litoral centro-sul brasileiro: o
sítio Guaíba (Mangaratiba-RJ). Revista de Arqueologia, Rio de Janeiro, SAB, v.2, n.1, p.13-
31, 1984.
HEREDIA, Oswaldo; TENÓRIO, Maria Cristina; GASPAR, Maria Dulce & BUARQUE, Angela.
Environment exploration by prehistorical population of Rio de Janeiro. In: NEVES, C. (Ed.)
Coastlines of Brazil. New York: American Society of Civil Engineers, p. 230-39, 1989.
HILBERT, Peter, Paul. Archäologische. Untersuchungen am mittleren Amazonas: Beiträge zur
Vorgeschichte des südamerikanischen Tieflandes. Berlin: Reimer Verlag, 337 p. 1968.
HITCHOCOCK, Robert K. Patterns of Sedentarism among the Busawa of Botswana. In:
LEACOCK, Eleonor & LEE, Richard. Politics and history in bands societies. (Eds). Paris:
Editions de la Maison des Scienses de l'homme, p. 223-267, 1982.
HODDER, Ian. Economic and social stress and material culture patterning. American Antiquity, v.
44, n.3, p. 446-454. 1979.
_________ . Symbols in Action: ethnoarchaeological of material culture. Cambridge: Cambridge
University Press. 1982
HODDER, Ian; SHANKS, Michael; ALEXANDRI, A.; BUCHLI, V.;
CARMAN, ? ;LAST, J. & LUCAS, G.(Eds.)
Interpreting
Archaeology. Finding meaning in the past. London and New
York: Routledge.1995.
HURT, Wesley. The interrelationships between the natural environment and four sambaquis, coast
of Santa Catarina, Brazil. Occasional papers and monographs, Indiana University Museum,
Bloomington. Indiana. n.1, 1974.
________ . The origin, evolution and diffusion of platform mounds. (inédito).
cv
IHERING, Hermann Von. Archaeologia comparativa do Brasil. Revista do Museu Paulista, São
Paulo, v. , p.519-583, 1904
JACOBUS, André. A utilização de animais e vegetais na pré-história do RS. p.63-87. In: KERN,
Arno. (org.) Arqueologia Pré-Histórica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Ed. Mercado
Aberto. 356p. il. 1991.
KERN, Arno Alvarez. Pescadores-coletores pré-históricos do litoral norte do Rio Grande do Sul.
Documentos. São Leopoldo. Instituto Anchietano de Pesquisas, n.3, 1989.
________ . Pescadores-coletores pré-históricos do litoral norte. In KERN Arno (org.) Arqueologia
pré – histórica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991.
_________ . Antecedentes indígenas. Porto Alegre: Editora da Universidade/EDUFRGS (Síntese
Rio Grandense 16/17).140p. il. 1994.
KNEIP, Lina Maria. Sambaqui do Forte, identificação espacial e suas implicações (Cabo Frio, RJ –
Brasil). Coleção Museu Paulista, Série Arqueologia, v. 2, p. 81-142. 1975.
_______ . Pescadores e coletores do litoral de Cabo Frio, RJ. Coleção Museu Paulista, Série
Arqueologia, São Paulo, v. 5, p.7-160, 1977.
________ . A seqüência cultural do sambaqui do Forte - Cabo Frio, Rio de Janeiro. Pesquisas. São
Leopoldo, Instituto Anchietano de Pesquisas, v. 31, p.87-100, 1980.
__________ . (org.) Pesquisas arqueológicas no litoral de Itaipu,
RJ. Rio de Janeiro: Ed. Luna. 1981.
________ .
Coletores e pescadores pré-históricos de Guaratiba.
Rio de Janeiro: EDUFRJ, Niterói: EDUFF, 257 p. il. 1987.
________ . Contribuição ao estudo da Pré-história e do
paleoambiente da região entre Cabo Frio e Guaratiba, RJ.
In: TENÓRIO, M.C. e FRANCO T.C. (org
). Seminário para a
Implantação da Temática Pré-história no Ensino de 1, 2
°
e
3
°
graus.
p.127 - 131. Rio de Janeiro. UFRJ. 1994.
________ . O sambaqui de Manitiba I e outros sambaquis de Saquarema. Documento de Trabalho,
Série Arqueologia, Rio de Janeiro, Museu Nacional, n.5, 60p. 2001
cvi
KNEIP, Lina Maria; FERREIRA, A . M. & MUEHE, Dieter. Contribuição ao estudo da pré-
história e do paleoambiente da região entre Cabo Frio e Guaratiba, RJ. In: TENÓRIO, Maria
Cristina & FRANCO, Teresa Cristina (Eds). Seminário para Implantação da pré-história
brasileira. Universidade Federal Fluminense, Niterói, p. 127-133, 1994.
KNEIP, Lina Maria & OLIVEIRA, Nanci Vieira de. Amoladores polidores líticos fixos da Ilha de
Marambaia In: História Natural da Restinga e Ilha de Marambaia. Rio de Janeiro, UFRRRJ.
(inédito).
KNEIP, Lina; PALLESTRINI, Luciana & CUNHA, Fausto. Pesquisas arqueológicas no litoral de
Itaipú, Niterói, RJ. Rio de Janeiro: Luna. 145p. 1981.
KNIVET, Antony. Várias Fortunas e estranhos fatos. São Paulo: Ed Brasiliense, 1947.
KOZAK, Vladimir; BAXTER, David; WILLIAMSON, Laila & CARNEIRO, Robert L. The Hetá
Indians: Fish in a dry pond. Anthropological Papers of The American Museum of Natural
History. New York, v.55, n.6, 1979.
LAMEGO, Alberto. O Homem e a Restinga. Editora Lidador, Rio de Janeiro. 1946.
LAMING-EMPERAIRE. Annete. Guia para o estudo das indústrias líticas da América do Sul.
Manuais de Arqueologia 2, Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas, Universidade Federal
do Paraná, Curitiba.
___________. Problémes de préhistoire brésilienne. Annales. Economies. Sociétés. Civilisations,
Paris, v.5, p. 1229-1260. 1975.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 115
p. 1989.
LEE, Richard. Introduction. In: LEE, Richard & DEVORE, Irven. (Eds) Man the hunter. Chicago:
Aldine, p. 13-22, 1968.
LEONARDOS, Othon H. Concheiros naturais e sambaquis. Avulsos, Rio de Janeiro,
Departamento Nacional de Produção Mineral, nº 37.1938.
LERY, Jean. Viagem a Terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.
LEVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Lisboa: Martins Fontes. 272 p. 1955.
cvii
LIGHFOOT, Kent 1993 Long term developments in complex hunter gatherer societies:Recent
perspectives from the Pacific Coast of North America. Journal of Archaeological Research. 1
(3) :167 –201.
LONGRACE, William. A. & REID, J. J. Research strategy for locational analysis: an outline.
GUMMERMAN, G.J. (Ed.) The distribution of prehistoric population aggregates.
Anthropological Reports nº1, Prescott College. 1971.
LUBY, Edward & GRUBER, Mark F. The dead must be fed: The symbolic meaning of the
shellmound of the San Francisco Bay area.
Cambridge Archaeological Journal,
Cambridge,
v. 9, p.105-108, 1999.
MACHADO, Lilian Cheuiche. Análise de remanescentes Ósseos humanos do sítio arqueológico
do Corondó, RJ. Aspectos biológicos e culturais. Boletim do Instituto de Arqueologia
Brasileira, Série Monografias, vol. 1, Rio de Janeiro. 1981
MACHADO, Lilian Cheuiche ; PONS, E.; SILVA, L. Adaptação bio-cultural no litoral fluminense:
os restos ósseos humanos de dois sítios arqueológicos de Arraial do Cabo Rio de Janeiro.
Dédalo, v. 1, p.429-446. São Paulo. 1989a.
MACHADO, Lilian; PONS, E.; SILVA, L. Os sítios Massambaba (RJ-JC-56) e Boqueirão (RJ-JC-
57), Arraial do Cabo - Rio de Janeiro. Os padrões de sepultamento. Dédalo, v. 1, p. 447-454.
Pub. Avulsa. São Paulo. 1989b.
MAGNANINI, A. Notícias sobre três sítios arqueológicos de polimento de pedras no litoral da Ilha
Grande. Arquivos do Museu de História Natural, Belo Horizonte, UFMG, v.7, p. 429-430,
1982.
MARTIN, Lui & SUGUIO, Kenitiro. Variation of Coastal dynamics during the last 7 000 years
recorded in beach – ridge plains associated with river mouths: example from the central
Brazilian coast. Palaeogeography,Palaeoclimatoly, Palaeoecology, v. 99, p.119-140. 1992.
MARTIN, Lui; SUGUIO, Kenitiro; DOMINGUEZ, José M. L & FLEXOR, Jean Marie. Geologia
do Quaternário Costeiro do Litoral Norte do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Belo
Horizonte: FAPESP/CPRM. 112 p. 1997.
MEGHAN, Barbara. Shell bed to shell midden. Camberra: Australian National University. 1982.
MEGHIN, O. F. A. Los sambaquis de la costa Atlantica del Brasil Meridional. Ameríndia, v. 1 , p.
53-81, 1962.
cviii
MENDONÇA DE SOUZA, Alfredo. A pré-história de Parati. Neenghatu - Cadernos brasileiros de
Arqueologia e Indigenismo, ISCB, Rio de janeiro, v. 1, n. 2, p. 47-90, 1977.
________ . A Pré-História Fluminense. Rio de Janeiro: Instituto Estadual do Patrimônio Cultural e
Secretaria Estadual de Educação e Cultura Brasileira, 1981.
________ . História da Arqueologia Brasileira. Pesquisas, Série Antropologia, São Leopoldo,
Instituto Anchietano de Pesquisas, v. 46, p. 1–157, 1991.
________ . Povoamento pré-histórico do litoral do Rio de Janeiro: Repensando um modelo. In:
BELTRÃO, Maria (ed.) Arqueologia do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Arquivo
Público do Estado do Rio de Janeiro, p. 43-50, 1995.
MENDONÇADE SOUZA, Alfredo & MENDONÇA DE SOUZA, Sheila. Pescadores e recoletores
do litoral do Rio de Janeiro. Arquivo do Museu de História Natural, UFMG, Belo Horizonte,
v. 6/7, p.109-152, 1981/82.
________ . Tentativa de interpretação paleoecológica do sambaqui do Rio das
Pedrinhas - Magé - RJ. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Cultura
Brasileira, 1983.
MENDONÇA DE SOUZA, Sheila; SANTOS, Roberto; SCHRAMM, Cristina & MIRANDA,
Cristina. Estudos de paleonutrição em sítios sobre dunas da fase Itaipu-RJ. Arquivos do Museu
de História Natural, UFMG, Belo Horizonte, v.8/9, p. 107-120, 1983/84.
MENEZES, N.A. & FIGUEIREDO, J.L. Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do Brasil. IV.
Teleostei (3). Museu de Zoologia Universidade de São Paulo, São Paulo, 96 p., il. 1980.
MENEZES, N.A. & FIGUEIREDO, J.L. Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do Brasil. V.
Teleostei (4), Museu de Zoologia Universidade de São Paulo, São Paulo, 105 p., il. 1985.
MENEZES, L.F. ;ARAUJO, D.S.D & GOES, M.H.B . Marambaia a última restinga carioca
preservada. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, v. 23, n.136, p. 28-37, 1999.
MURDOCK, G. P. The current status of the wourld's hunting and gathering people. In: LEE,
Richard & DEVORE, Irven (Eds.). Man the hunter. Chicago: Aldine. p. 13-22, 1968.
NESI, Waldir. Notícias Históricas da Ilha Grande (RJ). Editora Minas Gerais. 177p. 1990.
cix
NEVES, Walter. Paleogenética dos grupos pré-históricos do litoral sul do Brasil (Paraná e Santa
Catarina). Pesquisas, Série Antropologia, São Leopoldo, n.43, p.1-178, 1988.
Noelli, Francisco Silva. A ocupação humana na região sul do Brasil: arqueologia, debates e
perspectivas 1872-200. Revista da USP, n. 44, p. 218-269, 1999/2000.
NIMUENDAJU, Curt. Mapa etno-histórico de Curt Nimuendaju. Rio de Janeiro, Fundação
Nacional Pró-Memória. 1981.
NÓBREGA, Manoel. (1549) Cartas jesuítas 1. Belo Horizonte ed. Itatiaia,
São Paulo.1988.
O´ CONNEL, J.; HAWES, K.; JONES, N. Distribution of refuse-
producing activities at Hadza residential base camps:
implications for analysis of archaeological site structure. In.
KROL, Elen & PRICE, T. Douglas (Eds).
The interpretation of
archaeological spatial patterning.
p. 61-76. 1991.
OLIVEIRA, Nancy Vieira & Ayrosa. Polidores e amoladores fixos de
Piraquara, Angra dos Reis. In: Reunião Científica da Sociedade de Arqueologia
Brasileira, 6, Rio de Janeiro.
Resumos
, Rio de Janeiro, p.123,1991
___________. Polidores e amoladores fixos de Piraquara, Angra dos Reis. In:
Reunião Científica da Sociedade de Arqueologia Brasileira, 6, Rio de Janeiro.
Anais
, Rio de Janeiro, v.2, p.753-760.1992
ONAT, R. B. The Multifunctional use of shellfish remains: from garbage to
community engineering . Northwest anthropological research notes 19:201-7.
1985.
cx
ORR, Roberto T. Biologia dos Vertebrados. 1
a
Ed, Roca. 508p, il. 1986.
OSBORN, Aanj. Aboriginal Exploitation of marine food resources. PHD
dissertation University of New Mexico University microfilms . Ann Arbor. 1977
PAZ, Rhonedes Rodriguez Perez da. Arqueologia da Baía de Guanabara: Estudos dos Sambaquis
do Município de Guapimirim. Tese (Doutorado em Arqueologia). 1999. FFLCH, Universidade
de São Paulo.
PEROTA, Celso. Resultados preliminares sobre arqueologia da região central do Espírito Santo.
PRONAPA. Publicações avulsas 26, p.127-140. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém.
1969/70.
PIAZZA, Wilson. Estudos de sambaquis - o sambaqui de Pontas das Almas. Anais do Instituto de
Antropologia. Série Arqueologia. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, vol.
2, p.1-72, 1966.
__________ Dados à arqueologia do litoral norte e do planalto de Canoinhas. Programa nacional
de Pesquisas Arqueológicas , 5 Resultados preliminares do quinto ano 1969. Publicações
avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi. 1974
PITA, S.R. (1730). História da América Portuguesa. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia São Paulo. 1976.
PROUS, André. Arqueologia Brasileira. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 1992. il. 620 p.
PROUS, André. História da pesquisa e da bibliografia arqueológica no Brasil. Arquivos do Museu
de História Natural, Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, v. 4/5, 1979/80.
QUINTILANO, Ailton. A Guerra dos Tamoios. Reper Ed. 1965.
RAUTH, Jose Wilson. Nota prévia sobre a escavação do sambaqui do Ramal. Boletim do Museu
Paraense Emílio Goeldi, Publicações Avulsas, Belém, n. 15, p.115-132. 1971.
RIBEIRO, Pedro Mentz. Os mais antigos caçadores do sul do Brasil. In: TENÓRIO, Maria
Cristina (org.). Pré-História da Terra brasilis. Rio de Janeiro: EDUFRJ, 1999.
RITCHIE, William A. The Archaelogy of New York State. New York: Harbor Hills Books, 358 p.
il.1980.
cxi
ROBRAIHN, Erika. M. A Ocupação pré-colonial do Vale do Ribeira de Iguape, SP: os grupos
ceramistas do médio curso. 1989. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) - Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
_________ . Diversidade cultural entre os grupos ceramistas do sul: o caso do vale do Ribeira do
Iguape. In: TENÓRIO, Maria Cristina (org.). Pré-História da Terra Brasilis. Rio de Janeiro:
EDUFRJ, p. 293-306. 1999.
ROHR, João Alfredo. Contribuição para a Etnologia Indígena do Estado de Santa Catarina.
Florianópolis, Ed. Imprensa Oficial do Estado. 120p. 1950.
________ . Pesquisas paleo-etnográficas na Ilha de Santa Catarina, I. A Jazida da base aérea de
Florianópolis. Pesquisas, Série Antropologia, São Leopoldo, v.3, p.199-266. 1959.
________ . Pesquisas paleo-etnográficas na Ilha de Santa Catarina e notícias prévias sobre
sambaquis da Ilha de São Francisco do Sul, III - 1960. Pesquisas, Série Antropologia, São
Leopoldo, v.12, p.1-18, il. 1961.
________ . O sítio arqueológico Pântano do Sul SC-F-10. Florianópolis: Govêrno do Estado de
Santa Catarina. 1977.
_________ . O sítio arqueológico da Praia das Laranjeiras Balneário de Camburiú. Anais do Museu
de Antropologia, UFSC, Florianopólis, n.17, 1984.
ROSTAIN, Stéphen & WACK, Yves Haches et herminettes em Pierre de Guyane Française.
Journal de la Societé des Americaniste, v. 3, p. 107-138, 1987.
ROUSE, Irving. Prehistory typology and the study of society. In: CHANG, K.C. Settlement
archaeology. Palo Alto: Yale University, National Press Books, 229 p. 1968.
RUTHSHILLING, Ana Luisa; SCHMITZ. Pedro Ignácio. O sambaqui da praia das
Laranjeiras, Balneário de Camburiu, Litoral Catarinense. Revista do CEPA.
Faculdades Integradas da Santa Cruz do Sul. Vol.17 n. 20. Santa Cruz do Sul.
1990
SAUER , Carl O Seashore – Primitive home of man ?
Proceeding of the American
Philosophical Society, v.
06, n.1, p.41 –47.1962.
cxii
SALHINS, Marshall. Cultura e Razão Prática. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
________ . O pessimismo e a exposição etnográfica: porque a cultura não é um objeto em vias de
extinção. Mana, Rio de Janeiro, Museu Nacional, v.3, p. 41-74, 1995.
SALLES CUNHA, E. Sambaquis e outra jazidas arqueológicas.
Paleopatologia dentária e outros assuntos. 115 p., Ed. Científica Rio de Janeiro,
1963.
SCATAMACHIA, Maria Cristina Mineiro. Tentativa de Caracterização da Tradição Tupiguarani.
Dissertação (Mestrado em Arqueologia). 1981. FFLCH, Universidade de São Paulo.
_________ . A Tradição Policrômica do Leste da América do Sul evidenciada pela ocupação
Guarani e Tupinambá: fontes arqueológicas e etno-históricas. Tese (Doutorado em
Arqueologia). 1990. FFLCH, Universidade de São Paulo.
SCHEEL-YBERT, Rita. Stabilité de L’Écosystéme sur le littoral sud-est du Brésil à L’Holocene
Supérieur (5500-1400 ans BP). Thése du Doctorat. 1998 Universite Montepelllier II.
Sciences et Tecniques du Languedoc. Montepellieur, France.
SCHIFFER, Michael. Behavior Archaeology. New York: Academic Press, 1976.
__________ . Formation Process of the Archaeological Record.
University of Utah: Press edition. 1987.
SCHMITZ, Pedro Inácio. Caçadores e coletores da pré-história do Brasil. São Leopoldo. Instituto
Anchietano de Pesquisas-UNISINOS. 68 p. il. 1984.
__________ . Áreas arqueológicas do litoral e do planalto do Brasil. Revista do Museu de
Arqueologia e Etnologia,o Paulo, USP, n.1, p.3 - 20, 1991.
_________ . Acampamentos litorâneos em Içara, SC. Um exercício em padrão de assentamento.
CLIO. Recife, v.1, n.11, p.99-118, 1996.
________ . Peopling of the seashore of southern Brazil. Explorations. In: PLEW, Mark (Ed.).
American Archaeology. Essays in honor of. Wesley R. Hurt. University Press of. America,
p.193-220. 1998a.
cxiii
________. Continuidade e Mudança no Litoral de Santa Catarina. Revista do Museu de
Arqueologia e Etnologia, São Paulo, USP, n.8, p.25-31, 1998b.
SCHMITZ, Pedro Inácio & BITTENCOURT, A. O Sambaqui da Praia das Laranjeiras I,
SC. Escavações arqueológicas do Pe. João Alfredo Rohr, S.J.. Pesquisas, Antropologia
53:13-76. 1996a.
SCHMITZ, Pedro Inácio & BITTENCOURT, A. O Sambaqui do Pântano do Sul, SC.
Escavações arqueológicas do Pe. João Alfredo Rohr, S.J.. Pesquisas, Antropologia
53:77-123. 1996b.
SCHMITZ, Pedro Inácio & RUTHSCHILLING, A. L. O Sambaqui da Praia das
Laranjeiras, Balneário de Camboriu, Litoral Catarinense.
Revista do CEPA
,
v.17, n.20, p.191-203, Santa Cruz do Sul, 1990.
SCHMITZ, Pedro Inácio, MASI, Marco; VERARDI, Ivone, LAVINA, R. &
JACOBUS, André. O sítio arqueológico da Armação do Sul. Escavações
arqueológicas do Pe. João Alfredo Rohr, S.J.
Pesquisas,
São Leopoldo,
Sér.
Antropologia, v.
48, p.1-220, il. 1993.
SCHMITZ, Pedro Inácio; VERARDI, Ivone. Antropologia da Morte. Praia das Laranjeiras: um
estudo de caso. Revista de Arqueologia, São Paulo, v.8, n.1, p.91-100, 1994.
_________. Escavações arqueológicas do Padre Rohr S.J. O sítio pré-cerâmico de Laranjeiras I,
Balneário Camburiu SC. Pesquisas, S. Antropologia, São Leopoldo, Instituto Anchietano de
Pesquisas, v. 53, p.125-180, 1996.
SEIXAS, Cristiana e BEGOSSI, Alpina Do fishers have territories? The use of fishing grounds at
Aventureiro (Ilha Grande, Brazil) (inédito).
SEIXAS, Cristiana & Begossi, Alpina. Artesanal brazilian fisheries: Development of territories and
access rules. In: BURGER, Joanna; NORGAARD, Richard; OSTROM, Elionor;
POLICANSKY, David & GOLDSTEIN, Bernard. (Eds). The commons Revisited: an
Americas Perspective, Washington, D.C: Island Press. (prelo).
SENNA, Cristina do F. de Condições Paleoambientais relacionadas à ocupação da Baia de
Guanabara, litoral de Cabo Frio e Planície costeira do Rio São João por Sociedades Pré-
cxiv
históricas: Coletores - pescadores do litoral. Dissertação (Mestrado em Geografia). 1990.
Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
SERRANO, A. - The sambaqui of the Brazilian. Coast. Handbook of South American Indians, v. I,
p. 401-407, Whashington, 1946.
SERVICE, Elman. Os caçadores. Rio de Janeiro: Zahar. 1977.
SHANKS, Michael & TILLEY, Cristian. Re-constructing Archaelogy. New York and London:
Plenum, 1994.
SHANKS, Michael & HODDER, Ian. Processual, postprocessual and interpretative archaeologies.
Interpreting Archaelogy. 1995.
SHARP, Lauriston. Steel axes for stone – age Australians. In: HARDING, Thomas G. &
WALLACE, Ben J. Cultures of the pacificselect readings. New York and London: The Free
Press. p. 385-396, 1970.
SILVEIRA, Maura Imázio.
Voce é o que voce come. Aspectos da Subsistência no
Sambaqui do Moa – Saquarema/RJ
. 2001. Tese (Doutorado em Arqueologia) -
Programa de Pós Graduação em Arqueologia, FFLCH/USP. 165p.
SMITH, B.H. Pattern of molar wear in hunter-gatherer and agriculturalists.
American Journal of Physical Antropology
, n. 50, p. 251-258. 1985
SOUZA, Gabriel Soares de. Notícias do Brasil. São Paulo: Ed. Martins, 1949.
________ . Tratado Descritivo do Brasil.o Paulo: Cia Editora Nacional, 1971. (Coleção
Brasiliana, 117).
STADEN, HANS. Viagens ao Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Progresso, 1955.
________ . (1557) Viagem ao Brasil. Rio de Janeiro, Coleção Brasileira de Ouro, 1968.
________ . A verdadeira história dos selvagens, nus e ferozes devoradores de homens (1548-
1555). Rio de Janeiro: Dantes, 1
a
ed., 190p.1998.
STEWARD, Julian. Theory of culture change. Urbana: University of Illinois, 1955.
cxv
SUGUIO Kenitiro; MARTIM, Lui; BITTENCOURT, A. ; DOMINGUEZ, J.; FLEXOR, Jean;
AZEVEDO, A . Flutuações do nível relativo do mar durante o quaternário superior ao longo
do litoral brasileiro e usas implicações na sedimentação costeira. Revista Brasileira de
Geociências, vol.5, p. 273-286,1985.
SUGUIO, Kenitiro; MARTIN, Lui & FLEXOR, Jean Marie. Paleoshorelines and the sambaqui of
Brazil. In: JOHNSON, L.I (Eds) Paleoshorelines and Prehistory: An Investigation of method.
1989.
SUGUIO, Kenitiro; MARTIN, Lui; TURCQ; B.; FLEXOR; Jean Marie & PIERRE, C. Origem da
planicie costeira entre Guaratiba e Cabo Frio (RJ). Boletim do Instituto de Geociências,
Publicação Especial, São Paulo, USP, v. 12, p.121-122, 1992.
SUZUKI, Carlos R. Guia de Peixes do Litoral Brasileiro. Rio de Janeiro: Marítimas, 394 p., il.
1986.
TENÓRIO, Maria Cristina. Importância da coleta de vegetais no advento da agricultura. 1991.
Dissertação (Mestrado em História Antiga e Medieval) - Instituto de Filosofia e Ciências
Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
_________ . Pesquisa arqueológica na Ilha Grande - Sítio Ilhote do Leste. In: Reunião Científica da
Sociedade de Arqueologia Brasileira, VI, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro, v.1, p. 292-
303, 1992a.
_________ . A importância da coleta de vegetais no advento da agricultura. In: Reunião Científica
da Sociedade de Arqueologia Brasileira, VI, Rio de Janeiro. Anais, vol. I, p. 90-98, 1992b.
________ . Agricultura e coleta de vegetais na pré-história brasileira. In: ALVES FILHO, Ivan
(org.) História Pré-colonial do Brasil, Rio de Janeiro, Editora Europa, 1994.
________ . Estabilidade dos grupos litorâneos: Uma questão
para ser discutida
.
In: BELTRÃO, Maria da Conceição (org.)
Arqueologia do Estado do Rio de Janeiro.
Arquivo Público do
Estado, Rio de Janeiro, 1995a.
________ . A contribuição da Arqueologia na compreensão do
desenvolvimento do mangue. In: ECOLAB, III, Belém.
Resumos
Expandidos
, Belém, 1995b.
cxvi
_________ . A contribuição da Arqueologia na compreensão do
desenvolvimento do mangue.
Boletim do Museu Paraense Emílio
Goeldi
, Ciências da Terra, v. 8, 1996a.
_________ .
Sítio Ilhote do Leste. Reconstituição de
distribuição espacial. Escavações de 1995. Reunião da
Sociedade de Arqueologia Brasileira, VIII, Porto Alegre.
Anais
. Porto Alegre, v.2, p. 151-178, 1996b.
_________ . Utilização da informática na reconstituirão de um sítio arqueológico.
In: Reunião da
Sociedade de Arqueologia Brasileira, VIII, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre, 1996c.
_________ . Abandonment in Brazilian coastal sites: Why leave
the Eden. In: PLEW, Mark G. (org.).
Explorations in
American Archaeology:Essays in honor of Wesley R. Hurt.
University Press of America, 1998.
_________ . Os fabricantes de machado da Ilha Grande. In:
TENÓRIO, Maria Cristina (org.). Pré-história da Terra
Brasilis
. Rio de Janeiro, EDUFRJ, 1999a.
_________ .
Coleta, processamento e início da domesticação de
plantas no Brasil. In: TENÓRIO, Maria Cristina (org.).
Pré-
História da Terra Brasilis. Rio de Janeiro, EDUFRJ. 1999b.
_________ . Até que ponto viviam sobre o lixo? Refugo e moradia em sítios litorâneos
relacionados a grupos pescadores, coletores e caçadores. In: Reunião da Sociedade de
Arqueologia Brasileira, X, Recife. Resumos. Recife, 1999c.
_________ . A validade da utilização do modelo padrão de assentamento na identificação de
unidades culturais em sítios do litoral do Estado do Rio de Janeiro. In: Reunião da Sociedade
de Arqueologia Brasileira, X, Recife. Resumos. Recife, 1999d.
_________ . A utilização do conceito de cultura pela Arqueologia. In: Reunião da Sociedade de
Arqueologia Brasileira, IX, Rio de Janeiro. Resumos. Rio de Janeiro, 2000.
cxvii
_________ . Sítio Condomínio do Atalaia: um estudo de caso
para entender porque os construtores de sambaqui acumulavam
o alimento.
Congresso da Sociedade de Arqueologia
Brasileira, XI, Rio de Janeiro. Resumos, Rio de Janeiro,
2001a.
__________ .
Mobility, exchange and ritual at Ilha Grande, Brazil.
In:
Annual Meeting
Society for American Archaeology, 63st, New Orleans.
Abstract
, 2001b.
__________ . Causas da variação na freqüência de espécies
malacológicas em sítios pré-históricos do litoral do Estado
do Rio de Janeiro. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi.
No prelo.
TENÓRIO, Maria Cristina; GASPAR, Maria Dulce &; ROCHA, Débora. Pesquisas arqueológicas
na praia de Geribá, um estudo sobre territorialidade. In: Reunião da Sociedade de Arqueologia
Brasileira, V, Santa Cruz do Sul. Resumos, Santa Cruz do Sul, p.25. 1989.
TENÓRIO, Maria Cristina; GASPAR, Maria Dulce & BULCÃO, Suzana. Pesquisas arqueológicas
na praia de Geribá. In: Reunão Científica da Sociedade de Arqueologia Brasileira, V, Santa
Cruz do Sul. Revista do CEPA, v.17, n.20,1990.
TENÓRIO, Maria Cristina & LEAL, Maria Cristina. Análise de artefato tipo e aferição tentativa de
função. In: Reunião da Sociedade de Arqueologia Brasileira, IX, Rio de Janeiro. Anais. Rio de
Janeiro, Ed. Eletrônica. 2000.
TENÓRIO, Maria Cristina; GUIMARÃES, Márcia. & PORTELLA, Teresa. O sítio Ponta da
Cabeça, Arraial do Cabo, Rio de Janeiro. In: Reunião Científica da Sociedade de Arqueologia
Brasileira, VI, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro, v.1, p.279-291, 1992.
THEVET, Andre. (1556). Singularidades da França Antártica, a que os outros chamam de
América
.
Ed. Nacional, São Paulo. (Série Brasiliana, 229.) 502p. il. 1978.
TIBURTIUS, Guilherme. Arquivos de Guilherme Tiburtius. Museu Arqueológico de Sambaqui de
Joinville, Joinvile,1996.
TIBURTIUS, Guilherme & BIGARELLA, Iris. Nota sobre os anzóis de osso da jazida
paleoetnográfica de Itacoara, Santa Catarina. Revista do Museu Paulista, Nova Série, São
Paulo, v. 7, p.381-387. 1953.
cxviii
TRIGGER, Bruce. História del pensamento arqueológico. Barcelona: Editorial Critica, 1992.
TUNNER, T. S. History, myth and social consciousness among the Kayapó of Central Brazil.
1988.
TURCQ, B. ; MARTIN, Lois ; FLEXOR, Jean Marie; SUGUIO, Kenitiro; PIERRE, C. &
TASAYCO - ORTEGA, L. Origin of. the quaternary coastal plain between Guaratiba and
Cabo Frio, State of. Rio de Janeiro, Brazil. In: KNOPPERS, B.; BIDONE, E. & LACERDA,
Luis Drude (Eds.). Brazilian Tropical Lagoons. Case study of Rio de Janeiro Lagoons.
Niteroi: EdUFF. No prelo.
UCHÔA, Dorath Pinto. Arcaico do litoral. In: SCHMITZ, Pedro; BARBOSA, Altair Salles &
RIBEIRO, Maíra (Eds.). Temas de Arqueologia Brasileira 3. Goiânia. Instituto Goiano de Pré-
História e Antropologia, p. 15-32.Anuário de Divulgação Científica 6. 1978/79/80.
VARIEN, M.D. & MILLS, B.J. Accumulations Research: Problems and Estimating site
occupation span. Journal of Archaeological Method and Theory . 1997.
VIEIRA DE MELO, Carl Hansen. Apontamentos para servir à história fluminense (Ilha Grande)
Angra dos Reis. Conselho Municipal de Cultura, Angra dos Reis, 115 p. 1987.
VILAÇA, Aparecida. Comendo como gente: formas do canibalismo WARI (Pakaa Nova) Rio de
Janeiro: UFRJ, PPGAS, 1989.
Vilaça e Maia 1985
VITA-FINZI, C. & HIGGS, E.S. Prehistoric economy in the Mount Carmel area of
Palestine: Site catchment analysis.
Proceedings of the prehistoric society
,
v.36, p. 1-37, 1970.
VIVEIRO DE CASTRO, Eduardo Batalha (org.).
Amazônia: Etnologia e História
Indígena
. São Paulo: EDUSP, Núcleo de História Indígena e Indigenismo. 413
p. il. 1993.
VOORHIES, Barbra; MICHAELS, G. H. & RISER, G.M. Ancient Shrimp fishery. National
Geographic Research and Exploration, v.7, n.1, p. 20-35. 1991.
WATSON, Patty Jo. A Parochial Primer: The New Dissonance as Seen from the Midcontinental
United States. In: PREUCEL, Robert W. (Ed). Processual and Postprocessual Archaeologies.
cxix
Multiples Ways of Knowing the Past. Ocasional Paper, Center of Archaeological Investigations.
Southern Illlinois University at Carbondale. n.10. 1991.
TYLOR, Edward Burnett. The origins of culture. New York: Harper & Row, 416p. 1970.
WHITE, Leslie. Energy and the evolution culture. American Anthropologist 45. 1943.
WIENER, Carlos. Estudos sobre os sambaquis do sul do Brasil.
Arquivos do
Museu Nacional
, Rio de Janeiro, v.1, p.1-20. 1876b
WILLEY, Gordon & PHILLIPS, P. Method and Theory in American Archaeology. Chicago:
University of. Chicago Press, 1975.
YBERT, Jean Pierre; SCHEEL, Rita & GASPAR, Maria Dulce. Descrição de alguns instrumentos
simples utilizados para a coleta e concentração de elementos fósseis de pequenas dimensões
de origem arqueológica ou pedológica. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São
Paulo, n.7
,
p. 181-189. 1997.
YESNER, David R. Cazadores-recoletores marítimos: ecologia y prehistoria. In: Cultura y
ecologia en las sociedades primitivas. Barcelona: Ed. Mitre, p. 36-68. 1983
________ . Life in the garden of eden :causes and consequences of the adoption of marine diets by
human societs". In: Food and evolution. New York, 1986.
_________ . (Alaska-Anchorage) Colonization Models, Archaeological Signatures, and Early
Sites in Interior Alaska. In the 63
rd
Annual Meeting – SOCIETY FOR AMERICAN
ARCHAEOLOGY – Seattle. Abstracts, Washington, 1998.
YOFFE, Norman & SHERRATT, A. (Eds) Archaeological theory: who sets the agenda?
Cambridge: Cambridge.University Press, 1993.
YOUNG, J.Z. La Vida de los Vertebrados. Ediciones Omega, Barcelona, 1985. 660p, il.
cxx
Sítio ANDORINHA
Localização Dois Rios
Situação dentro do rio Andorinha
Coordenadas
Sítio mais próximo Barra do Andorinha
Distância
Tipo de praia 350 m
Associado a água doce grande, batida
Tipo sim
Número de conjuntos dentro de rio encachoeirado
Distância da maré média 1 5
Distância da maré média 2 400
Distância da maré média 3 390
Número de suportes 6
Número de sulcos 51
Tipo T1 22
Tipo T2 8
Tipo T3 7
Tipo T4 7
Tipo T5 4
Tipo T6 1
Tipo T7
Tipo T8 2
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxxi
Sítio
Aroeira
Localização Praia da Aroeira
Situação lado esquerdo da Praia da Aroeira
Coordenadas 23 589777E/7439217N.
Sítio mais próximo Itaoca
Distância
Tipo de praia pequena e calma
Associado a água doce sim
Tipo antigo córrego
Número de conjuntos 3
Distância da maré média 1 2
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 4
Número de sulcos 27
Tipo T1 3
Tipo T2 7
Tipo T3 7
Tipo T4 1
Tipo T5 1
Tipo T6 8
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxxii
Sítio
Barra Andorinha
Localização praia de Dois Rios
Situação lado direito praia de Dois Rios - barra do rio
Andorinhas
Coordenadas
Sítio mais próximo Andorinha II
Distância 400 m
Tipo de praia grande e batida
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 2
Distância da maré média 1 50
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 3
Número de sulcos 56
Tipo T1
Tipo T2
Tipo T3
Tipo T4
Tipo T5
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxxiii
Sítio
Cachadaço1 sul
Localização lado esquerdo da praia do Aventureiro
Situação meio da praia
Coordenadas 585262E/7437380N
Sítio mais próximo Andorinha II
Distância 400 m
Tipo de praia pequena e batida
Associado a água doce sim
Tipo barra de córrego
Número de conjuntos 5
Distância da maré média 1 2
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 9
Número de sulcos 26
Tipo T1 14
Tipo T2 2
Tipo T3 2
Tipo T4
Tipo T5 8
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxxiv
Sítio
Praia da Camiranga
Localização Praia da Camiranga
Situação lado esquerdo da praia
Coordenadas 23 581931E/7442935N
Sítio mais próximo Praia da Feiticeira
Distância
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 6
Distância da maré média 1 200
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 9
Número de sulcos 38
Tipo T1 7
Tipo T2 5
Tipo T3 8
Tipo T4 2
Tipo T5 9
Tipo T6 7
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxxv
Sítio
Ilhote/Leste
Localização Praia do Leste
Situação direito da praia ao redor do Ilhote do Leste
Coordenadas aproximadas 573043E/74436689N
Sítio mais próximo Ilhote do Leste
Distância 200 m
Tipo de praia grande e batida
Associado a água doce sim
Tipo barra de canal
Número de conjuntos 16
Distância da maré média 1 costão
Distância da maré média 2 10 metros
Distância da maré média 3 250
Número de suportes 27
Número de sulcos 95
Tipo T1 22
Tipo T2 14
Tipo T3 11
Tipo T4 3
Tipo T5 35
Tipo T6 1
Tipo T7
Tipo T8 2
Tipo T9 1
Tipo T10
Tipo T11 6
cxxvi
Sítio
Ilhote/Sul
Localização Praia do Sul
Situação lado esquerdo da Praia ao redor do Ilhote do Leste
Coordenadas 573041E/7436154N
Sítio mais próximo Ilhote do Leste
Distância 20 m
Tipo de praia grande e batida
Associado a água doce sim
Tipo barra de antigo canal
Número de conjuntos 2
Distância da maré média 1 costão
Distância da maré média 2 10 metros
Distância da maré média 3
Número de suportes 2
Número de sulcos 10
Tipo T1 4
Tipo T2 1
Tipo T3 1
Tipo T4
Tipo T5
Tipo T6 4
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxxvii
Sítio
Sítio Itaoca
Localização Praia de Itaoca
Situação meio da praia
Coordenadas 588461E/7438967N
Sítio mais próximo Aroeira
Distância
Tipo de praia pequena e calma
Associado a água doce sim
Tipo Barra de rio
Número de conjuntos 2
Distância da maré média 1 0
Distância da maré média 2 10
Distância da maré média 3
Número de suportes 2
Número de sulcos 52
Tipo T1 7
Tipo T2 5
Tipo T3 12
Tipo T4 19
Tipo T5
Tipo T6 6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9 1
Tipo T10
Tipo T11
Sítio
Praia da Júlia
Localização Praia da Júlia
Situação canto esquerdo da praia
Coordenadas 585843E/7440495N
Sítio mais próximo Praia do Morcego
Distância
Tipo de praia pequena e calma
Associado a água doce sim
Tipo perto de córrego
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 10
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos 8
Tipo T1 5
Tipo T2
Tipo T3 2
Tipo T4
Tipo T5 1
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxxix
Sítio
Longa II
Localização Praia da Longa
Situação dentro de rio encachoeirado
Coordenadas aproximadas 570658E/7441036
Sítio mais próximo Ubatuba II
Distância
Tipo de praia grande e calma
Associado a água doce sim
Tipo dentro de rio encachoeirado
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 300
Distância da maré média 2 280
Distância da maré média 3
Número de suportes 2
Número de sulcos 62
Tipo T1 23
Tipo T2 9
Tipo T3 4
Tipo T4 13
Tipo T5 4
Tipo T6 7
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10 1
Tipo T11
cxxx
Sítio
Lopes Mendes 1
Localização Praia de Lopes Mendes
Situação morrote no meio da praia
Coordenadas 589986E/7437076N
Sítio mais próximo Lopes Mendes 2
Distância 1000m
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 4
Distância da maré média 1 3 metros
Distância da maré média 2 0
Distância da maré média 3 0
Número de suportes 13
Número de sulcos 80
Tipo T1 11
Tipo T2 9
Tipo T3 46
Tipo T4
Tipo T5 1
Tipo T6 9
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11 4
cxxxi
Sítio
Lopes Mendes II
Localização Praia de Lopes Mendes
Situação lado esquerdo do Ilhote
Coordenadas 590036E/7436965N
Sítio mais próximo Lopes Mendes I
Distância 100 m
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo córrego barra
Número de conjuntos 8
Distância da maré média 1 5 m
Distância da maré média 2 0
Distância da maré média 3 0
Número de suportes 8
Número de sulcos 82
Tipo T1 9
Tipo T2
Tipo T3 33
Tipo T4
Tipo T5
Tipo T6 7
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9 29
Tipo T10
Tipo T11
cxxxii
Sítio
Lopes Mendes 1
Localização Praia de Lopes Mendes
Situação morrote no meio da praia
Coordenadas 589986E/7437076N
Sítio mais próximo Lopes Mendes 2
Distância 1000m
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 4
Distância da maré média 1 3 metros
Distância da maré média 2 0
Distância da maré média 3 0
Número de suportes 13
Número de sulcos 80
Tipo T1 11
Tipo T2 9
Tipo T3 46
Tipo T4
Tipo T5 1
Tipo T6 9
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11 4
Sítio
Lopes Mendes 1
Localização Praia de Lopes Mendes
Situação morrote no meio da praia
Coordenadas 589986E/7437076N
Sítio mais próximo Lopes Mendes 2
Distância 1000m
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 4
Distância da maré média 1 3 metros
Distância da maré média 2 0
Distância da maré média 3 0
Número de suportes 13
Número de sulcos 80
Tipo T1 11
Tipo T2 9
Tipo T3 46
Tipo T4
Tipo T5 1
Tipo T6 9
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11 4
cxxxiv
Sítio
Lopes Mendes 1
Localização Praia de Lopes Mendes
Situação morrote no meio da praia
Coordenadas 589986E/7437076N
Sítio mais próximo Lopes Mendes 2
Distância 1000m
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 4
Distância da maré média 1 3 metros
Distância da maré média 2 0
Distância da maré média 3 0
Número de suportes 13
Número de sulcos 80
Tipo T1 11
Tipo T2 9
Tipo T3 46
Tipo T4
Tipo T5 1
Tipo T6 9
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11 4
cxxxv
Sítio
Barra Luis Tenório
Localização lado esquerdo da praia do Aventureiro
Situação dentro do rio Andorinha
Coordenadas 23 569763 E/ 7435671N
Sítio mais próximo Barra do Purungo
Distância 50 m
Tipo de praia grande calma
Associado a água doce sim
Tipo córrego barra
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 10
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos 6
Tipo T1 2
Tipo T2
Tipo T3
Tipo T4 1
Tipo T5 3
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxxxvi
Sítio Mero I
Localização Praia do Mero
Situação lado esquerdo da praia
Coordenadas 23 567563E 7432065 N
Sítio mais próximo Sítio do Mero
Distância 100 metros
Tipo de praia pequena e calma
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 5
Distância da maré média 1 2
Distância da maré média 2 5
Distância da maré média 3 10
Número de suportes 6
Número de sulcos 46
Tipo T1 1
Tipo T2 6
Tipo T3 5
Tipo T4 16
Tipo T5 2
Tipo T6 12
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9 1
Tipo T10 1
Tipo T11 3
cxxxvii
Sítio Mero II
Localização Praia do Mero
Situação lado direito da praia
Coordenadas 23 567632E/7432249N
Sítio mais próximo Sítio do Mero
Distância 200 metros
Tipo de praia pequena e calma
Associado a água doce sim
Tipo barra de córrego
Número de conjuntos 2
Distância da maré média 1 5
Distância da maré média 2 10
Distância da maré média 3
Número de suportes 4
Número de sulcos 13
Tipo T1
Tipo T2 1
Tipo T3
Tipo T4 4
Tipo T5 5
Tipo T6 1
Tipo T7
Tipo T8 2
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxxxviii
Sítio Parnaioca I
Localização Praia da Parnaioca
Situação lado esquerdo da praia
Coordenadas 23 576631E/7434364N
Sítio mais próximo Parnaioca II
Distância 1000 metros
Tipo de praia grande protegida
Associado a água doce sim
Tipo barra de córrego
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 5
Distância da maré média 2 5
Distância da maré média 3
Número de suportes 2
Número de sulcos 17
Tipo T1 2
Tipo T2
Tipo T3 11
Tipo T4
Tipo T5
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9 4
Tipo T10
Tipo T11
cxxxix
Sítio
Parnaioca II
Localização Parnaioca
Situação costão do lado direito da praia
Coordenadas 23 576431E/ 7435343N
Sítio mais próximo Parnaioca I
Distância 1000 metros
Tipo de praia grande protegida
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 5 m -costão
Distância da maré média 2 5
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos 27
Tipo T1 6
Tipo T2 5
Tipo T3 10
Tipo T4
Tipo T5
Tipo T6 2
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9 4
Tipo T10
Tipo T11
cxl
Sítio Ponta do Leste
Localização Praia do Leste
Situação lado esquerdo da praia
Coordenadas 23 574763E/7436145N
Sítio mais próximo Sítio da Ponta do Leste
Distância de 100 a 300 metros
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio seco
Número de conjuntos 2
Distância da maré média 1 os amoladores entram no costão até 200 metros da
praia
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 8
Número de sulcos 83
Tipo T1 28
Tipo T2 11
Tipo T3 5
Tipo T4 9
Tipo T5 4
Tipo T6 15
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9 3
Tipo T10 8
Tipo T11
cxli
Sítio
Praia da Fazenda
Localização Praia da Fazenda
Situação
lado esquerdo da praia
Coordenadas 23 581491E/7443546N
Sítio mais próximo Praia da Camiranga
Distância
Tipo de praia pequena e calma
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 10
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 2
Número de sulcos 18
Tipo T1 5
Tipo T2 4
Tipo T3 9
Tipo T4
Tipo T5
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxlii
Sítio Praia Preta
Localização Praia Preta
Situação lado esquerdo da praia
Coordenadas 23 585170E/7442289N
Sítio mais próximo Praia da Júlia
Distância 2500 metros
Tipo de praia pequena e calma
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 7
Distância da maré média 1 0
Distância da maré média 2 5
Distância da maré média 3 10
Número de suportes 7
Número de sulcos 76
Tipo T1 16
Tipo T2 7
Tipo T3 27
Tipo T4 1
Tipo T5
Tipo T6 19
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9 6
Tipo T10
Tipo T11
cxliii
Sítio
Prainha
Localização Praia do Aventureiro
Situação canto direito
Coordenadas 23 569839E/ 7435265N
Sítio mais próximo Barra do Purungo
Distância 300
Tipo de praia grande e calma
Associado a água doce sim
Tipo antiga barra de córrego
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 0
Distância da maré média 2 5 metros
Distância da maré média 3 10 metros
Número de suportes 5
Número de sulcos 26
Tipo T1 7
Tipo T2 2
Tipo T3 8
Tipo T4 1
Tipo T5 6
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxliv
Sítio Provetá I
Localização Praia de Provetá
Situação lado esquerdo da praia
Coordenadas 23 567565E/7436124N
Sítio mais próximo Sítio do Mero
Distância
Tipo de praia grande protegida
Associado a água doce sim
Tipo barra de rio
Número de conjuntos 2
Distância da maré média 1 5
Distância da maré média 2 5
Distância da maré média 3 10
Número de suportes 11
Número de sulcos 37
Tipo T1 8
Tipo T2 1
Tipo T3 8
Tipo T4 3
Tipo T5 14
Tipo T6 2
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11 1
cxlv
Sítio Andorinha
Localização Dois Rios
Situação dentro do rio Andorinha
Coordenadas
Sítio mais próximo Barra do Andorinha
Distância
Tipos
Distância maré média 350 m
Tipo de praia grande, batida
Associado a água doce sim
Tipo dentro de rio encachoeirado
Número de conjuntos 5
Distância da maré média 1 400
Distância da maré média 2 390
Distância da maré média 3 380
Número de suportes 7
Número de sulcos 51
Tipo T1 22
Tipo T2 8
Tipo T3 7
Tipo T4 7
Tipo T5 4
Tipo T6 1
Tipo T7
Tipo T8 2
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
Sítio Barra do Purungo
Localização Praia do Aventureiro
Situação meio da praia
Coordenadas 23 569712E/ 7435634N
Sítio mais próximo Barra do Purungo II
Distância 5
Tipo de praia pequena e calma
Associado a água doce sim
Tipo córrego barra
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 6 m
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos 9
Tipo T1
Tipo T2 1
Tipo T3
Tipo T4 1
Tipo T5 7
Tipo T6
cxlvi
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxlvii
Sítio Andorinha
Localização Dois Rios
Situação dentro do rio Andorinha
Coordenadas
Sítio mais próximo Barra do Andorinha
Distância
Tipos
Distância maré média 350 m
Tipo de praia grande, batida
Associado a água doce sim
Tipo dentro de rio encachoeirado
Número de conjuntos 5
Distância da maré média 1 400
Distância da maré média 2 390
Distância da maré média 3 380
Número de suportes 7
Número de sulcos 51
Tipo T1 22
Tipo T2 8
Tipo T3 7
Tipo T4 7
Tipo T5 4
Tipo T6 1
Tipo T7
Tipo T8 2
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
Sítio Barra do Purungo
Localização Praia do Aventureiro
Situação meio da praia
Coordenadas 23 569712E/ 7435634N
Sítio mais próximo Barra do Purungo II
Distância 5
Tipo de praia pequena e calma
Associado a água doce sim
Tipo córrego barra
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 6 m
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos 9
Tipo T1
Tipo T2 1
Tipo T3
Tipo T4 1
Tipo T5 7
Tipo T6
cxlviii
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cxlix
Sítio Barra do Purungo II
Localização Dentro do rio a 100 metros de Barra do Purungo I
ito lado direito da praia do Aventureiro
Coordenadas 23 569712E/ 7435634N
Sítio mais próximo Barra do Purungo I
Distância 100
Tipo de praia grande e calma
Associado a água doce sim
Tipo dentro de rio
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 100
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos
Tipo T1
Tipo T2 5
Tipo T3 10
Tipo T4 1
Tipo T5
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9 5
Tipo T10
Tipo T11
Tipo T12 3
cl
Sítio
Saco do Céu - Praia de Fora
Localização Praia de Fora
Situação meio da praia ?
Coordenadas 581682E/7444228N
Sítio mais próximo Camiranga
Distância
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo Barra de rio
Número de conjuntos 5
Distância da maré média 1 0
Distância da maré média 2 10
Distância da maré média 3 20
Número de suportes 13
Número de sulcos 60
Tipo T1 14
Tipo T2 13
Tipo T3 13
Tipo T4 2
Tipo T5 5
Tipo T6 4
Tipo T7
Tipo T8 1
Tipo T9
Tipo T10 8
Tipo T11
cli
Sítio
Saco do Céu - Praia de Fora
Localização Praia de Fora
Situação meio da praia ?
Coordenadas 581682E/7444228N
Sítio mais próximo Camiranga
Distância
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo Barra de rio
Número de conjuntos 5
Distância da maré média 1 0
Distância da maré média 2 10
Distância da maré média 3 20
Número de suportes 13
Número de sulcos 60
Tipo T1 14
Tipo T2 13
Tipo T3 13
Tipo T4 2
Tipo T5 5
Tipo T6 4
Tipo T7
Tipo T8 1
Tipo T9
Tipo T10 8
Tipo T11
clii
Sítio
Praia da Freguesia do Santana
Localização Praia da Freguesia do Santana
Situação canto esquerdo da praia
Coordenadas 578385E/7446810N
Sítio mais próximo Longa I
Distância
Tipo de praia grande e calma
Associado a água doce sim
Tipo leito seco de rio
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 150
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos 5
Tipo T1 2
Tipo T2 2
Tipo T3 1
Tipo T4
Tipo T5
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cliii
Sítio
Amoladores do Seu Jurandir
Localização Dentro de rio
Situação dentro de rio na trilha que liga Itaoca a Aroeira
Coordenadas 589536E/7438905N
Sítio mais próximo Aroeira
Distância 300
Tipo de praia
Associado a água doce sim
Tipo dentro de rio
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 400 metros da praia
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos 10
Tipo T1 3
Tipo T2 3
Tipo T3 2
Tipo T4 2
Tipo T5
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
cliv
Sítio
Sítio da Longa
Tipo de sítio
sítio sobre duna
Localização Praia da Longa
Situação Lado direito da praia
Coordenadas 23 570573E/7441018
Sítio mais próximo Longa I
Distância 100 metros
Tipo de praia protegida grande
Associado a água doce sim
Tipo 50 metros de rio encachoeirado
Distância da maré média 1 100 metros
Material encontrado 1 lâmina de machado, lascas de quartzo
Estado de conservação
destruído
clv
Sítio
Sítio da Ponta do Leste
Tipo de sítio
sítio sobre duna
Localização Praia do Leste
Situação Lado esquerdo da praia
Coordenadas 23 570573E/7441018
Sítio mais próximo Ilhote do Leste
Distância 2000 metros
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo beira de leito seco de rio.
Distância da maré média
1
100 metros
Suporte Duna de 3 metros de altura, sedimento arenoso cinza
Material encontrado lascas de quartzo, ossos de fauna, lentes de fogueira e 1 enterramento
Estado de conservação
parte erodida pelo mar
Antiguidade
Convencional radiocabon: 2880:40BP. Cal BP 3140 - 2880. Beta AMS 148615.
clvi
Sítio
Mero
Tipo de sítio
sítio sobre duna
Localização Praia do Mero
Situação Meio da praia
Coordenadas 23 567598E/ 7432120 N
Sítio mais próximo Mero 1
Distância 100 metros
Tipo de praia protegida pequena
Associado a água doce sim
Tipo Entre dois córregos
Distância da maré média 1
100 metros
Material encontrado 3 Lâminas de machado, lascas de quartzo, gastrópode (Astraea sp) e cerâmica
neobrasileira
Estado de conservação
destruído
clvii
Sítio
Sítio Ilhote do Leste
Tipo de sítio
Sambaqui
Localização Ilhote do Leste - praia do Leste
Situação Lado esquerdo da praia
Coordenadas 573043E* 7436689N
Sítio mais próximo tio da Ponta do Leste
Distância 2000 metros
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce sim
Tipo Barra de canal
Distância da maré média 1 1200 metros
Suporte Platô em morrote a 10 metros de altura
Espessura da camada de
ocupação
2,5
Área 400 m2
Material encontrado Artefatos ósseos, líticos, malacológicos, restos
faunísticos, restos vegetais e enterramentos.
Estado de conservação
intacto
Datações
1 Início oc. 1640+/100 AP cal 2160-2585AP .
2 C. mal.I 2830:50 anos AP. Cal AP 3070 - 2800. AMS.
3 Base do piso - 130 - 140:AMS 3060+/40 AP cal 2 sigma
3360-3160 anos AP. BETA147284
4 Base do sítio: 2650+/350 BP cal 2 sigma 3540-2750
anos AP. BETA 1484808
5 Nivel 200 -
base do sítio 2910 +/ 90 BP 95% 2 sigmas cal
3323-2852 GIF 8991
clviii
Sítio
Sítio Lopes Mendes
Tipo de sítio
sítio lítico sobre duna
Localização Praia Lopes Mendes
Situação Lado esquerdo da praia
Coordenadas 23 589733E/7437575W
Sítio mais próximo Lopes Mendes III
Distância 1000 metros
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce não
Tipo
Distância da maré média 1 300 metros
Suporte Duna aplainada a 300 da praia
Material encontrado lascas de quartzo
Estado de conservação
destruído
clix
Sítio
Sítio Lopes Mendes
Tipo de sítio
sítio lítico sobre duna
Localização Praia Lopes Mendes
Situação Lado esquerdo da praia
Coordenadas 23 589733E/7437575W
Sítio mais próximo Lopes Mendes III
Distância 1000 metros
Tipo de praia grande com ondas
Associado a água doce não
Tipo
Distância da maré média 1 300 metros
Suporte Duna aplainada a 300 da praia
Material encontrado lascas de quartzo
Estado de conservação
destruído
clx
Sítio
Praia de Ubatuba II
Localização Praia de Ubatuba
Situação meio da praia
Coordenadas 572026E/7441510N
Sítio mais próximo Praia de Ubatuba I
Distância
Tipo de praia porte médio e calma
Associado a água doce sim
Tipo Beira de córrego
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 150
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos 5
Tipo T1 3
Tipo T2
Tipo T3 1
Tipo T4 1
Tipo T5
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9
Tipo T10
Tipo T11
clxi
Sítio
Praia Vermelha I
Localização Praia de Itaoca
Situação meio da praia
Coordenadas 566569E/7438435N
Sítio mais próximo Praia vermelha II
Distância 200 metros
Tipo de praia Grande e protegida
Associado a água doce sim
Tipo beira de córrego
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 100
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos
Tipo T1 1
Tipo T2 2
Tipo T3 3
Tipo T4
Tipo T5 5
Tipo T6 1
Tipo T7
Tipo T8
Tipo T9 1
Tipo T10
Tipo T11
clxii
Sítio
Praia Vermelha II
Localização Praia de Itaoca
Situação canto direito da praia
Coordenadas 566569E/7438435N
Sítio mais próximo Praia vermelha I
Distância 200 metros
Tipo de praia Grande e protegida
Associado a água doce sim
Tipo Barra de córrego
Número de conjuntos 2
Distância da maré média 1 10
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 2
Número de sulcos 38
Tipo T1 6
Tipo T2 4
Tipo T3 1
Tipo T4 6
Tipo T5 8
Tipo T6 6
Tipo T7
Tipo T8 3
Tipo T9 1
Tipo T10 2
Tipo T11
clxiii
Sítio
Praia Vermelha III
Localização Praia de Itaoca
Situação meio da praia
Coordenadas 566552E/7438454N
Sítio mais próximo Praia vermelha I
Distância 10 metros
Tipo de praia Grande e protegida
Associado a água doce sim
Tipo 5 m de beira de córrego
Número de conjuntos 1
Distância da maré média 1 30
Distância da maré média 2
Distância da maré média 3
Número de suportes 1
Número de sulcos 3
Tipo T1
Tipo T2
Tipo T3
Tipo T4
Tipo T5
Tipo T6
Tipo T7
Tipo T8 2
Tipo T9 1
Tipo T10
Tipo T11
clxiv
Ilha Grande
Praias prospectadas
Sítios identificados
Parte continental
Freguesia de Santana
2 oficinas líticas (amoladores polidores fixos)
Praia de Baixo
P.da baleia
Japariz
Praia do Funil
Guaxuma
Iguaçu
Praia do Galo
P. do Conrado
P. da Fazenda 1 oficina lítica
Praia da Camiranga 1 oficina lítica
Praia do Perequê
Praia de Fora 1 oficina lítica
Praia da Feiticeira 1 oficina lítica
Praia Preta
1 oficina lítica (amoladores polidores fixos)
Abraão
Abraãozinho
Júlia 1 of
icina lítica (amoladores polidores fixos) com apenas um
suporte.
Morcego
1 oficina lítica (amoladores polidores fixos) com apenas um
suporte.
Praia do Cais
Praia Comprida
Praia da Alma
Brava
Praia do Mangue 1 oficina lítica (amoladores poli
dores fixos)
Praia do Pouso
Itaoca
1 oficina lítica (amoladores polidores fixos)
Aroeira
1 oficina lítica (amoladores polidores fixos)
Recife
1 oficina lítica (amoladores polidores fixos)
Ponta do Castelhano
Parte oeste
P. do Bananal
Praia do Bananal Pequeno 1 oficina lítica
Matariz
Jaconema
Passaterra
Mazomba
Maguaguissaba
Portinho
Marinheiro
Sítio Forte
Tapera 1 oficina lítica.
ANEXO 3 – PRAIAS PROSPECTADAS
ANEXO 3 – PRAIAS PROSPECTADAS - CONTINUAÇÃO
ANEXO 3 – PRAIAS PROSPECTADAS - CONTINUAÇÃO
clxv
Ubatuba 2 oficinas líticas
Praia da Longa 3 oficinas lítica e 1 sítio sobre duna
Praia Vermelha 3 oficinas lítica
P. Grande de Araçatiba 1 oficina lítica
Parte meridional
Cachadaço
1 oficina lítica (amoladores polidores fixos)
Dois Rios
2 oficinas lítica (amoladores polidores fixos)
Lopes Mendes 2 oficinas lítica e 1 sítio sobre duna
Santo Antonio
Praia do Aventureiro 3 oficinas lítica
Praia do Demo 1 oficina lítica
Praia do Sul 1 oficina lítica e um sítio sobre duna
Praia do Leste
2 oficinas lítica, 1 sambaqui e 1 sítio sobre duna
Pranaioca 2 oficinas lítica e 1 sítio sobre duna.
Praia do Mero 2 oficinas lítica e 1 sítio sobre duna.
Provetá 1 oficina lítica e um sítio sobre duna.
55 praias
41 oficinas líticas , 7 sítios sobre duna e 1 sambaqui
ANEXO 3 – PRAIAS PROSPECTADAS - CONTINUAÇÃO
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo