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O Continente
, produzido em 1949, é o primeiro livro dessa obra, formada ainda por
O
Retrato
e
O Arquipélago
, compreendendo no todo, uma narrativa sobre duzentos anos de
lutas, desde a formação do Rio Grande do Sul até a Segunda Guerra Mundial (1745-1945).
O romance de Erico evoca a narrativa e as personagens numa longa duração
5
.
É,
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Sobre a longa duração ver os seguintes autores. BRAUDEL, Fernand. The Mediterranean and the
Mediterranean World en the Age of Philip II, trad. De S. Reynolds. 2. ed., Londres, 1972 - 3, 2. v. apud
BURKE, Peter (org.). A Escrita da História: Novas Perspectivas. São Paulo: UNESP, s/d, p. 12. "Nessa obra
o autor "rejeita a história dos acontecimentos (histoire événementielle). (...) Para ele o que realmente importa
são as mudanças econômicas e sociais de longo prazo (la longue durée) e as mudanças geo-históricas de
muito longo prazo.
LE GOFF, Jacques. A História Nova. São Paulo: Martins, 1995. P. 45/46. "A mais fecunda das perspectivas
definidas pelos pioneiros da história nova foi a longa duração. A história caminha mais ou menos depressa,
porém as forças profundas da história só atuam e se deixam apreender no tempo longo". (...) A história de
curto prazo é incapaz de apreender e explicar as permanências e as mudanças. (...) Portanto, é preciso estudar
o que muda lentamente e o que se chama, desde há alguns decênios, de estruturas". "A teoria fecunda da
longa duração propiciou a aproximação entre a história e (...) a antropologia. (...) Daí a necessidade de
desenvolver os métodos de uma história a partir de textos até então desprezados - textos literários ou de
arquivos, que atestam humildes realidades cotidianas -, os "etnotextos".
BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais. Lisboa: Presença, 1986, p. 14. "A palavra estrutura (...)
domina os problemas da longa duração. [ Os observadores do social entendem por estrutura uma organização,
uma coerência, relações suficientemente fixas entre realidades e massas sociais]. (...) Para nós historiadores,
uma estrutura é, indubitavelmente, um agrupamento, uma arquitetura; mais ainda, uma realidade que o tempo
demora imerso a desgastar e a transportar. Certas estruturas são dotadas de uma vida tão longa que se
convertem em elementos estáveis de uma infinidade de gerações: obstruem a história, entorpecem-na e,
portanto, determinam o seu decorrer. Outras, pelo contrário, desintegram-se mais rapidamente. Mas todas elas
constituem, ao mesmo tempo, apoios e obstáculos, apresentam-se como limites (envolventes, no sentido
matemático) dos quais o homem e as suas experiências não se podem emancipar.
Entre os diferentes tempos da história, a longa duração apresentou-se, pois, como um personagem
embaraçoso, complexo, freqüentemente inédito. (...) Para o historiador, aceitá-la equivale a prestar-se a uma
mudança de estilo, de atitude, a uma inversão de pensamento, a uma nova concepção do social. Equivale a
familiarizar-se com um tempo que se tornou mais lento, por vezes, até quase o limite da mobilidade. (Idem. p.
17)
Para o historiador tudo começa e tudo acaba pelo tempo: um tempo matemático e demiurgo sobre o qual
seria demasiado fácil ironizar; um tempo que parece exterior aos homens, "exógeno", diriam os economistas,
que os impele, que os domina e arranca aos seus tempos particulares de diversas cores: o tempo imperioso do
mundo". (Idem. p. 34)
Se a história está obrigada, por natureza, a prestar uma atenção privilegiada à duração, a todos os movimentos
em que esta se pode decompor, a longa duração parece-nos, neste leque, a linha mais útil para uma
observação e uma reflexão comuns às ciências sociais. (Idem p. 37)