Após a queda do gabinete liberal em 1884, e a volta ao poder dos conservadores,
o jornal liberal A Província do Pará, reinicia a campanha crítica aos atos dos governos
conservadores. Atacando a guilhotina colocada em praça pública pela situação
conservadora, o jornal A Província do Pará denunciou, em 1885, as demissões na
secretaria de instrução pública, todos liberais, a exceção de um inspetor de alunos,
preservado dos cortes por ser conservador.
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A derrubada e remonta nas instituições
educacionais da Província, sobretudo as da capital, como o Instituto de Educandos
Artífices, a Escola Normal e o Liceu, arrebataram as atenções dos jornalistas. O jornal
informa que em 19 dias, a vice-presidência demitiu 100 empregados públicos, além das
mais de 500 autoridades policiais, que ocupavam cargos de confiança. Professores e
professoras da instrução primária também foram atingidos.
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Além do favorecimento
político, o jornal denuncia a proteção aos conterrâneos do cônego José Lourenço da
Costa Aguiar, pois vários cargos estariam sendo preenchidos por cearenses, e não poupa
críticas à influência do cônego Manoel José de Siqueira Mendes nos atos do governo.
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Dois meses depois, o jornal combate os interesses eleitorais de Costa Aguiar, retratado
como o “novo pescador... de votos, não de almas” - o “padre cura-candidato”, que em
“excursão eleitoral” pelo rio Arary, estaria mais preocupado em perseguir eleitores do
que em arrebanhar almas para a devoção cristã.
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Afora os ataques diretos, A Província do Pará cedeu espaço para denúncias de
terceiros, como a do ex-secretário da instrução pública, que veio à imprensa acusar o
“cura Aguiar” de substituí-lo por um primo seu e a colocação de irmãos, parentes e
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A Província do Pará, 11/10/1885.
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A Província do Pará, 6/10/1885.
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A Província do Pará, 25 e 29/9/1885.
Nascido na cidade de Sobral, Ceará, em 1847, José Lourenço da Costa Aguiar era presbítero secular,
doutor pela universidade de Santa Apolônia e membro da Academia pontifícia dos nobres. Foi vigário no
Amazonas e no Pará, que o elegeu deputado em suas assembléias e também à Assembléia Geral na última
legislatura da monarquia. Foi um dos colaboradores d’A Boa Nova, jornal da Diocese do Pará e, em 1894,
sagrado Bispo do Amazonas. (BLAKE, Sacramento, vol. V). Agnello Bittencourt (1973, p.112) o define
como um homem erudito, conhecedor do neengatu ou tupi do norte, tendo vertido para este idioma as
principais doutrinas do credo cristão, na obra “Christu Muhençáua” (“Doutrina Crista”, 1898).
Manoel José de Siqueira Mendes nasceu na cidade de Cametá, Pará, em 1825. Era presbítero secular,
nomeado cônego da sé paraense. Foi lente de latim do Liceu de Belém, lente de teologia do seminário
episcopal e fundou um colégio na capital, e outro em Cametá. “Foi deputado provincial por várias vezes,
deputado geral e senador do Império e administrou sua província por três vezes, como vice-presidente. A
principio militou sob as fileiras do partido liberal, sustentando como influência legitima o conselheiro
Bernardo de Souza Franco em sua candidatura á câmara vitalícia; depois, passando para as fileiras
contrárias, foi delas chefe e contraiu inimigos que jamais deixaram de agredi-lo” (BLAKE, Sacramento,
vol. VI).
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A Província do Pará, 10/12/1885.