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MINISTÉRIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE BIOTECNOLOGIA E RECURSOS GENÉTICOS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP
INSTITUTO DE ECONOMIA
Avaliação das Potencialidades e dos
Obstáculos à Comercialização dos Produtos de
Biotecnologias no Brasil
Coordenação: Prof. José Maria da Silveira - IE – Unicamp
Consultores:
Profª Drª Maria da Graça Derengovsky Fonseca - IE- UFRJ
Maria Ester Dal Poz, Msc. - IG – Unicamp
Auxiliares de Pesquisa:
Graduandos em Economia do IE/Unicamp
Thais de A. Góes Nagata e Thiago de Barros Correa
Brasília
2001
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Sumário
1 OBJETIVO DA PESQUISA................................................................................................................... 5
2 QUESTÕES METODOLÓGICAS........................................................................................................8
2.1 O CAMPO DE DEFINIÇÃO DA BIOTECNOLOGIA.................................................................................. 8
2.1.1 Nível Tecnológico ......................................................................................................................9
2.1.2 Desenvolver e/ou utilizar biotecnologias................................................................................. 9
2.1.3 Outras questões metodológicas: direitos de propriedade, apropriabilidade e
biossegurança...........................................................................................................................................10
2.1.4 Desenvolvimento Científico e Tecnológico em áreas de Saúde e Agricultura: um traço
distintivo do Brasil e o Genoma..............................................................................................................11
2.1.5 Instituições-chave e ambientes seletivos................................................................................12
2.2 LEVANTAMENTO DAS EMPRESAS E DO GENOMA............................................................................14
2.2.1 Estudo de campo e critério de seleção de empresas.............................................................14
2.2.2 A identificação de atividades relacionadas à inovação biotecnológica e o instrumento de
coleta de informações..............................................................................................................................15
2.2.3 Esquema para apresentação sintética dos resultados..........................................................17
2.2.4 Projetos Genoma .....................................................................................................................19
2.2.5 Uma aproximação ao Comércio de Biotecnologia no Brasil: Aspectos Metodológicos....23
3 BIOTECNOLOGIA NO SETOR DE SAÚDE HUMANA: DAS BIO-COMMODITIES ÀS
FÁBRICAS BIOLÓGICAS...........................................................................................................................29
3.1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................29
3.2 AS INSTITUIÇÕES-PÚBLICAS EM BIOTECNOLOGIA COMO INSTITUIÇÕES-CHAVE...........................37
3.2.1 Instituto Butantã......................................................................................................................37
3.2.2 Fundação Oswaldo Cruz.........................................................................................................43
3.2.3 Instituto de Tecnologia da Paraná – Tecpar.........................................................................50
3.2.4 Instituto Ludwig.......................................................................................................................53
3.3 EMPRESAS DO SETOR FARMACÊUTICO DE SAÚDE HUMANA E VETERINÁRIA..................................56
3.3.1 Biobrás.....................................................................................................................................58
3.3.2 Grupo de perfil: Vallée ...........................................................................................................62
3.3.3 Grupo de perfil "Biolab-União Química"..............................................................................65
3.3.4 Empresas Hereditas e Genomax.............................................................................................66
3.3.5 Fundação Bio-Rio: uma análise geral e de suas empresas..................................................67
3.3.6 Empresas relacionadas ao Pólo Bio-Rio...............................................................................69
3.3.7 Simbios Produtos Biotecnológicos.........................................................................................73
3.3.8 Empresa FK (Cientec).............................................................................................................75
3.3.9 Comparação das Posições de Mercado e Estratégias de P&D na área de saúde..............78
3.4 O COMÉRCIO EM ITENS REFERENTES À SAÚDE HUMANA................................................................85
3.4.1 Análise dos resultados das importações................................................................................87
3.4.2 Análise dos resultados das exportações.......................................................................................91
4 BIOTECNOLOGIA VEGETAL E PRODUTOS AFINS: SEMENTES, MUDAS E
INOCULANTES.............................................................................................................................................96
4.1 UM PANORAMA GERAL DAS MUNDANÇAS DAS EMPRESAS ENVOLVIDAS EM BIOTECNOLOGIA
VEGETAL........................................................................................................................................................96
4.2 UMA BREVE DESCRIÇÃO DAS EMPRESAS LÍDERES MUNDIAIS DO SETOR DE SEMENTES..............101
4.2.1 Monsanto................................................................................................................................101
4.2.2 Pioneer/DuPont.....................................................................................................................102
4.2.3 Empresas que sofreram spin offs: Novartis (Singenta), Aventis ........................................103
4.3 INSTITUIÇÕES-CHAVE PARA O DESENVOLVIMENTO DA BIOTECNOLOGIA VEGETAL NO BRASIL .103
4.3.1 Embrapa: insumos e serviços para o mercado de biotecnologias em agro-pecuária......103
4.3.2 Instituto Agronômico de Campinas (IAC)............................................................................111
4.3.3 Copersucar.............................................................................................................................113
4.3.4 Centro de Biotecnologia do Rio Grande do Sul..................................................................114
4.3.5 Instituto de Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul...........................................117
4.3.6 Insumos para o Setor sucro-alcooleiro: Genes de floculação em leveduras....................119
4.4 EMPRESAS PRODUTORAS DE MUDAS E MATRIZES........................................................................121
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3
4.4.1 Vitrogen Biotecnologia .........................................................................................................121
4.4.2 Pro-clone Biotecnologia .......................................................................................................121
4.5 MERCADO DE INOCULANTES E DE CONTROLE BIOLÓGICO...........................................................125
4.5.1 Biosoja....................................................................................................................................125
4.5.2 Empresa Caxiense de Controle Biológico ...........................................................................126
4.6 COMPARAÇÃO DA POSIÇÃO DE MERCADO E ESTRATÉGIAS DE P&D.............................................126
4.7 COMÉRCIO DE PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL: SEMENTES E MATRIZES ..................................131
5 RELEVÂNCIA DAS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS DE APOIO À PESQUISA
GENÔMICA..................................................................................................................................................135
5.1 PANORAMA MUNDIAL.....................................................................................................................135
5.2 PANORAMA BRASILEIRO: PESQUISA, CAPACITAÇÃO E MERCADOS EMERGENTES........................136
5.2.1. Evolução dos Projetos Genoma no Estado de São Paulo e a Rede ONSA : genomas de plantas
de grandes culturas................................................................................................................................136
5.2.1 Projetos de importância para os mercados da área agrícola - Fapesp ...........................138
5.3 PROJETOS DE IMPORTÂNCIA PARA OS MERCADOS DAS ÁREAS DE SAÚDE -FAPESP......................144
5.4 GENOMA BRASILEIRO.....................................................................................................................148
5.5 PROJETOS DAS REDES REGIONAIS..................................................................................................149
5.5.1 Projeto em Rede do Centro-Oeste........................................................................................149
5.5.2 Rede Genoma do Estado de Minas Gerais..........................................................................150
5.5.3 Programa Genoma do Nordeste – ProGeNe.......................................................................150
5.5.4 Programa de Implantação do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP).........151
5.5.5 Programa Genoma do Estado do Paraná............................................................................151
5.5.6 Programa de Implantação da Rede Genoma do Estado do Rio de Janeiro – RioGene...152
5.5.7 Ampliação da Rede de Genômica no Estado da Bahia.......................................................152
6 CONCLUSÕES....................................................................................................................................154
6.1 CONCLUSÕES GERAIS .....................................................................................................................154
6.2 AGROBIOTECNOLOGIAS: O BRASIL TEM UM DIFERENCIAL? .........................................................161
6.3 CONCLUSÕES DERIVADAS DA GENÔMICA: VISÕES DO FUTURO?..................................................167
6.3.1 Novas demandas por competências institucionais e organização de pesquisa e de negócios
169
6.3.2 Rede científica X rede biotecnológica..................................................................................171
6.4 OUTRAS QUESTÕES: A QUESTÃO CRUCIAL DO FINANCIAMENTO À PESQUISA E PROPRIEDADE
INTELECTUAL...............................................................................................................................................172
6.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................174
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................................................177
8. ANEXOS
Anexo I - Questionários e Tipologias do trabalho de campo.................................................................176
Anexo II -Dados de Importação e Exportação por grupos............................................................185
Anexo III - Legendas dos Mapas de Genômica do Capítulo 5.................................................................192
Anexo IV - Mecanismos de Vinculação Formal em Redes Tecno-econômicas.......................................197
9. ÍNDICES
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 3.1 Biobrás - evolução anual das Vendas (US$ 1000)....................................................................60
Figura 3.2 Importação de Produtos “Biotecnológicos”...............................................................................89
Figura 3.3 Importação de Reagentes e Toxinas...........................................................................................89
Figura 3.4 Importações Totais dos Itens de Biotecnologia.........................................................................90
Figura 3.5 Exportação de Produtos da Biotecnologia pelo Brasil..............................................................91
Figura 3.6 Exportações de Hormônios: 4 principais itens ..........................................................................94
Figura 3.7 Relação Exp/Imp da biotecnologia.............................................................................................95
Figura 4.1 Empresas e instituições líderes em melhoramento de variedades............................................99
Figura 4.2 Atividades da Embrapa e a biotecnologia................................................................................104
4
Figura 4.3. Limiar para a introdução de variedades transgênicas na Argentina com e sem esforço de
adaptação genética...................................................................................................................132
Figura 4.4 Quatro maiores itens de importação de sementes, mudas e matrizes (1995-2000) ..............133
Figura 4.5 Importação de sementes, mudas e matrizes: produtos secundários......................................133
Figura 4.6 Importações totais de sementes vegetais (1995-2000)...........................................................134
Figura 4.7 Principais itens de exportação de sementes no Brasil (1995-2000)......................................135
Figura 5.1 Legendas para os mapas de pesquisa genômica.....................................................................137
Figura 5.2 Redes de Pesquisa do Genoma Xyllela : GFX e AEG ...........................................................139
Figura 5.3 Projeto Genoma Fapesp – Agronomical e Enviromental Genomes......................................140
Figura 5.4 Projeto Genoma Funcional Xylella.........................................................................................141
Figura 5.5 Projeto Genoma Fapesp: Xanthomonas axonopodis pv citri.................................................142
Figura 5.6 Projeto Genoma Cana - Fapesp - EST Sugar Cane Project. ................................................143
Figura 5.7 Genoma Humano do Câncer....................................................................................................145
Figura 5.8 Genoma Diversidade Viral.......................................................................................................145
Figura 5.9 Genoma Estrutural ...................................................................................................................148
Figura 5.10 Rede Nacional do Projeto Genoma........................................................................................149
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2.1 Classificação SIC e Biotecnologias.........................................................................................17
Tabela 2.2 Dimensões para a síntese de estratégias ...................................................................................19
Tabela 3.1 Faturamento e Market Share em Imunobiológicos.................................................................36
Tabela 3.2 Butantã - L.B - Biotecnologias e demanda por produtos (2000)............................................38
Tabela 3.3 Butantã - Biotecnologias e potenciais aplicações comerciais.................................................42
Tabela 3.4 Indicadores de Propriedade Intelectual (1995-1999) ..............................................................44
Tabela 3.5 Patentes concedidas no Brasil entre 1996 e 2000....................................................................45
Tabela 3.6 Patentes Concedidas no Exterior entre 1997 e 2000...............................................................46
Tabela 3.7 Produção de vacinas e reativos*................................................................................................47
Tabela 3.8 Bio-Manguinhos: Origem dos Insumos....................................................................................50
Tabela 3.9. Tecpar - Discriminação de Produtos........................................................................................52
Tabela 3.10 ILPC - Principais Frentes de P&D............................................................................................54
Tabela 3.11 Biotecnologias de pesquisa........................................................................................................54
Tabela 3.12 Trajetória tecnológica da insulina e Biobrás............................................................................59
.Tabela 3.13 Vallée - Frentes de atuação em P&D........................................................................................63
Tabela 3.14 Biolab - Frentes de P&D............................................................................................................65
Tabela 3.15 Comparação das posições de mercado e estratégias de P&D do setor público de saúde
humana e animal........................................................................................................................79
Tabela 3.16 Comparação das posições de mercado e estratégias de P&D do setor privado de saúde
humana e animal........................................................................................................................80
Tabela 3.17 Índice de Herfindhal por produtos importados nos grupos.....................................................91
Tabela 3.18 Índice de Herfindhal para as exportações por produtos nos grupos........................................93
Tabela 3.19 Índice de Herfindhal por grupos................................................................................................96
Tabela 3.20 Índice de Herfindhal por produtos no agregado........................................................................96
Tabela 4.1 Empresas líderes no mercado de sementes do Brasil ...............................................................98
Tabela 4.2 Market Share de empresas líderes em sementes no Brasil (100%).........................................98
Tabela 4.3 Aquisições realizadas pelas transnacionais de empresas dedicadas à produção de híbridos nos
anos 90........................................................................................................................................100
Tabela 4.4 Aquisições de empresas nacionais à produção sementes de variedades.................................100
Tabela 4.5 Embrapa - nível de capacitação de recursos humanos.............................................................108
Tabela 4.6 Comparação das posições de mercado e estratégias de P&D das instituições públicas do setor
agrícola........................................................................................................................................129
Tabela 6.1 Três gerações da Biotecnologia ................................................................................................155
Tabela 6.2 Importações por grupo como proxy do mercado de biotecnologia em saúde no Brasil (US$ )
.................................................................................................................................................................157
5
1 Objetivo da Pesquisa
O objetivo da pesquisa é o de avaliar as potencialidades da comercialização dos
produtos da biotecnologia no Brasil, tomando como referência o atual estado-da-arte do
setor. O estudo foi conduzido de forma a abarcar as atividades mais próximas do
mercado, downstream. Este estudo também se propõe a analisar as oportunidades
abertas pela produção de conhecimento gerado a partir do "Projetos Genoma" e das
atividades de P&D empresarial. É uma das hipóteses deste trabalho que a produção
deste tipo de conhecimento possa vir a alterar a estrutura e composição do mercado no
futuro.
Dado o caráter bastante difuso do impacto das biotecnologias, não é possível
encontrar uma classificação de bens e serviços que defina um capítulo, item e menos
ainda uma posição para a biotecnologia. Isso obviamente cria duas dificuldades básicas:
a) a identificação do grau de envolvimento com o desenvolvimento, uso e
difusão de produtos biotecnológicos é extremamente complicada,
principalmente no que se refere a insumos que em alguma medida servem a
firmas tradicionais que manipulam produtos de origem biológica;
b) o uso do conhecimento biotecnológico pode gerar serviços que em alguma
medida venham a substituir produtos de origem biotecnológica, como por
exemplo, a terapia gênica e a utilização de células-tronco em serviços
médicos, no caso da saúde; a limpeza de vírus e serviços de diagnóstico no
caso da produção vegetal.
Ao longo do trabalho foi possível constatar que a produção de bens e também
de serviços biotecnológicos freqüentemente compartilha com o setor de P&D muitas de
suas técnicas. Isso significa que procedimentos como o PCR
1
, rotinas de conservação de
material biológico, testes da presença de determinadas substâncias nos produtos, entre
outros, são adotados tanto em instituições voltadas para a pesquisa básica quanto em
unidades que fabricam e comercializam produtos biotecnológicos.
Para evitar o enfoque excessivamente longo das cadeias produtivas, optou-se por
privilegiar a análise das empresas que desenvolvem e/ou adotam produtos e processos
associados á biotecnologia. A idéia é que é possível estabelecer uma diferenciação das
firmas a partir do seu comprometimento com a adoção de protocolos, métodos e
6
enfoques de biologia molecular e manipulação de tecidos. Neste sentido, é a
biotecnologia, como atividade de pesquisa de fronteira, que é usada como unidade de
análise. A metodologia de investigação e o instrumental de campo desta parte da
pesquisa foram elaborados a partir desse pressuposto.
Nos países desenvolvidos, as empresas vinculadas à indústria de biotecnologia
caracterizam-se pelos elevados investimentos em P&D, pelo alto custo de produção e,
last but not least”, pelo seu alto risco. Como mostra o trabalho de Rondé (1992), a
sustentação das empresas de biotecnologia ao longo da década de oitenta foi baseada em
acordos de cooperação que estavam relacionados à expectativa de esgotamento das
trajetórias tecnológicas associadas à produção de insumos modernos para a produção de
fármacos e para a agricultura. Na década de 90 empresas situadas nos Estados Unidos
passaram a contar com mecanismos de captação de recursos financeiros, venture
capital, diretamente nas bolsas de valores especializadas como a como a NASDAQ.
Todavia, mesmo no caso EUA, o papel dos fundos de natureza governamental foi
fundamental para a sustentação do fluxo de inovações e dos programas de
desenvolvimento científico associados à criação de empresas em biotecnologia. Isso
ocorreu tanto pela forma de suporte aos institutos de pesquisa e universidades, quanto
através da criação de fundos para o seed money de empresas apoiadas por várias formas
de capital de risco (Narin et alii, 1997).
Como mostra um estudo feito no âmbito da Comunidade Européia (1999), a
variedade de mecanismos de sustentação financeira e de coordenação dos programas
científicos e tecnológicos em biotecnologia é muito grande, sendo difícil falar em um
padrão europeu em contraposição ao modelo americano. Há sistemas bastante
centralizados, como o da Alemanha, em que alguns órgãos governamentais exercem
um grande controle sobre a distribuição de recursos. Há, também, sistemas de execução
de pesquisa mais ou menos descentralizados, como o da França, em que os Institutos de
Pesquisa estão ligados ao CNRS na articulação de grandes programas até o
financiamento de balcão. O desenvolvimento do capital de risco é bastante modesto nos
países europeus, tendo crescido com maior velocidade na Alemanha (Pereira, 2000).
As condições brasileiras para a geração e difusão da biotecnologia estão
fortemente apoiadas na pesquisa e desenvolvimento feito por institutos públicos de
1
Polimerase Chain Reaction - Reação de Polimerase em Cadeia, utilizada para duplicação in vitro de
moléculas de ácidos nucleicos, amplamente utilizada em pesquisas e processos da área de biologia
molecular e biotecnologias.
7
pesquisa (como na França) e na pesquisa feita por departamentos de universidades. A
articulação com empresas é variada, mas em geral ainda é frágil, existindo mesmo uma
enorme distância entre o que é desenvolvido e o que é adotado por empresas nacionais.
O processo de difusão de tecnologias em alguns setores está diretamente associado ao
grau de penetração de empresas filiadas a grandes corporações internacionais. Alguns
segmentos importantes da Biotecnologia Vegetal, bem como seus vetores de difusão
tecnológica são hoje controlados por alguma empresas - líderes mundiais, após uma
década de fusões e aquisições em todo o mundo. Esse fenômeno, ao mesmo tempo em
que restringe os espaços de empresas nacionais, aumenta a importância dos institutos
públicos de pesquisa.
O universo pesquisado considera os seguintes segmentos:
a)Biotecnologia em Saúde:
Abrange a análise das instituições públicas e empresas privadas que pesquisam,
produzem e comercializam produtos biotecnológicos. As atividades de importação e
exportação de insumos e produtos que podem ser associados ao uso de metodologias e
procedimento biotecnológicos também estão incluídas;
b) Biotecnologia Agrícola:
Neste item apresenta-se um levantamento detalhado do grupo de empresas
identificadas como consumidoras de produtos biotecnológicos, entre os quais se
incluem papel e celulose, fruticultura, pecuária e indústria de sementes de grandes
culturas;
c) Potenciais de geração de inovação em biotecnologia a partir de "Projetos
Genoma" e das redes de P&D que deles possam surgir:
O Programa de Biotecnologia e Recursos Genéticos pretende produzir
orientações básicas para estudos que no futuro possa fazer uma análise mais
aprofundada sobre os nexos existentes entre pesquisa, inovação e mercado de
biotecnologias no Brasil. Trata-se pois de um estudo amplo no sentido de captar
obstáculos e potencialidades de diferentes tipos de instituições públicas e privadas
envolvidas com algum tipo de atividade tipicamente biotecnológica.
A seleção dessas instituições foi intencional e deixa algumas atividades e regiões
importantes de fora, como aquelas relacionadas à Fundação Biominas e algumas
atividades, como produção de essenciais e enzimas. Acreditamos todavia, que a
8
composição da amostra não deva alterar substancialmente os principais resultados
obtidos.
Como veremos, o estudo apresenta os resultados de uma primeira aproximação
ao que se poderia considerar o comércio exterior de biotecnologia no Brasil. Dada as
limitações impostas pela fonte de dados, o estudo é bastante preliminar, carecendo de
um estudo confirmatório, em nível de campo, com o propósito de refinar os resultados
obtidos.
Resumindo, o trabalho visa:
a) Mapear o mercado de biotecnologias, através da análise do conjunto de
produtos e insumos comercializados;
b) Identificar as potencialidades de geração de inovações - com base no
comportamento recente de importações de biotecnologias, vis-a-vis as atividades de
pesquisa pública e P&D privado no Brasil;
c) Avaliar de modo prospectivo os possíveis impactos resultantes dos Projetos
Genoma e das demandas por insumos biotecnológicos por eles gerados.
A apresentação das questões metodológicas não seguirá exatamente a ordem de
apresentação dos temas, feita nos próximos capítulos. Apresentaremos aspectos
metodológicos dos capítulos 3, 4, e 5 inicialmente e depois uma discussão mais
detalhada sobre a metodologia relativa aos resultados da análise do comércio de
biotecnologia. Também os capítulos 3 e 4 foram organizados segundo os dois grandes
mercados de biotecnologia, ou seja, biotecnologia aplicada à saúde humana
(predominantemente, uma vez que existem efeitos cruzados com a biotecnologia
veterinária) e aplicada à exploração vegetal. A análise do comércio será também
repartida segundo cada um desses itens, nos capítulos 3 e 4. Estamos conscientes de que
alguns resultados de importação se devem a implementação dos projetos genoma, mas
não foi desenvolvida uma metodologia para separar seu efeito sobre o comércio.
A pesquisa genômica será tratada à parte. Um capítulo final apresenta
conclusões e recomendações.
2 Questões Metodológicas
2.1 O Campo de Definição da Biotecnologia
Uma primeira aproximação definicional refere-se a uma clara distinção entre
atividades que envolvem "antigas" e "modernas" biotecnologias. Esta distinção seria
feita a partir do atual estado-da-arte da geração e comercialização de biotecnologia no
9
Brasil. Trata-se de uma distinção já tradicional que parte da experiência acumulada por
vários trabalhos na área, como o de Silveira e Salles-Filho (1988). Apresentaremos um
conjunto de definições que nos auxiliarão no tratamento das instituições públicas e
privadas entrevistadas.
A abordagem teórica aqui assumida, da co-evolução entre mercados e
tecnologias, considera o pool de conhecimentos, rotinas e capacidades incorporadas nas
instituições como aspectos fundamentais da competitividade. Confere às análises um
cunho prospectivo, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de inovação,
busca, adaptação ou simples uso de biotecnologias maduras. Assim, apesar de
qualitativo, o estudo visa obter um quadro de referências cruzadas sobre os
comportamentos institucionais, em termos de seus esforços de P&D, de C&T e de seus
mecanismos organizacionais e aponta muitas variáveis a serem exploradas por futuras
ações políticas.
2.1.1 Nível Tecnológico
No primeiro grupo, o das antigas biotecnologias, estariam incluídas as técnicas
amplamente difundidas principalmente nos países em desenvolvimento como, por
exemplo, sexagem de embriões, produção de sementes, borbulhas e mudas de plantas
por seleção de variedades e manutenção de germoplasma, produção de vacinas de vírus
atenuados, etc.
No outro grupo, cujos produtos e serviços estariam num patamar de conteúdo
científico mais elevado, situam-se as modernas biotecnologias geradas e difundidas à
custa de pesquisa da fronteira de C&T, tais como vacinas de DNA e RNA viral,
transformação de plantas para melhoria de cultivares e clonagem de embriões, apenas
para ter um exemplo de cada segmento investigado neste sub-projeto.
2.1.2 Desenvolver e/ou utilizar biotecnologias
Outra divisão metodológica, “grosso modo” , separa as atividades da indústria de
biotecnologia das indústrias agrícolas e da saúde que utilizam biotecnologias. Note que
isso será feito também adotando uma divisão da biotecnologia em saúde e biotecnologia
vegetal, que reflete cada vez mais um “split” imposto pelas características regulatórias e
até pela visão pública dos impactos da biotecnologia (Joly et alli, 2001).
10
No primeiro conjunto estão incluídas empresas que adotam procedimentos e
métodos avançados de biologia molecular, genética molecular e proteômica. Estas são
as empresas que estão se empenhando em um trabalho intensivo em pesquisa científica
da fronteira do conhecimento, como as que desenvolvem novas moléculas capazes de
produzir alterações metabólicas nas células de modo especializado. Sua principal
atividade é a pesquisa e desenvolvimento de insumos biotecnológicos principalmente
para a indústria agrícola e da saúde. Este grupo possui poucas empresas representantes
no mercado brasileiro até o presente.
Entre os produtos comercializados por estas empresas estão as substâncias de
micro-encapsulação de fármacos, que "entregam" a droga apenas às células com
específico problema metabólico, as substâncias que bloqueiam genes de câncer ou cuja
expressão se mostre exacerbada, e os bioinseticidas de alta especificidade hospedeiro-
parasita, etc. Alguns destes produtos vão se transformar em insumos para as companhias
que fabricam produtos agrícolas, medicamentos e vacinas.
No segundo grupo estão as empresas que usam as biotecnologias como processo
ou como insumos podendo, também, contratar serviços biotecnológicos. Alguns
usuários de biotecnologia, entre os quais produtores de matrizes de flores ou mudas
isentas de virus em citrus como se verifica no caso da relação entre firmas prestadoras
de serviços e os multiplicadores de matriz. Estes últimos, embora usuários, costumam
realizar algumas atividades de pesquisa necessárias para poder adotar os procedimentos
biotecnológicos, mas seu principal negócio não é desenvolver “biotecnologias”.
Isto é que acontece com produtoras de matrizes para cultivo da batata ou mudas
isentas de vírus em Citrus. Um grande número de produtores – firmas ou agentes
individuais- podem ser incluídos neste último grupo. Esse tipo de atividade tem
importância crucial não só por “empregar” pessoal com elevado capital humano, mas
também por viabilizar a difusão da biotecnologia gerada em outras instituições.
Programas como o RHAE são fundamentais para viabilizar a alocação de capital
humano desse tipo em empresas de pequeno porte.
2.1.3 Outras questões metodológicas: direitos de propriedade,
apropriabilidade e biossegurança
As transações que envolvem biotecnologia podem apresentar uma série de
questões que tornam seu estudo mais complexo que um simples estudo setorial. De certa
11
forma as empresas que apenas introduzem algumas técnicas biotecnológicas estão mais
próximas do setor pelo critério de mercado do que pelo critério baseado no uso da
tecnologia (indústria).
Todavia, mesmo quando a introdução da biotecnologia se faz de forma pontual,
novas questões podem surgir, aumentando a complexidade e incerteza tecnológicas e
mesmo de mercado. É o que acontece, por exemplo, no caso da difusão da soja
transgênica em que, ao invés da simples compra via mercado de sementes e herbicidas,
tem-se que desenhar contratos tecnológicos que envolvam a remuneração do detentor da
inovação representada pelo gene da tolerância, assim como os detentores dos direitos de
proteção à obtenção de novos cultivares de soja, deixando dúvidas sobre como seria
vinculada a marca do herbicida ao uso de variedades transgênicas. Concorrentes da
firma inovadora – produtores de um produto não mais protegido por direitos de
propriedade (com base no princípio ativo gliphosato) podem ser apropriar de parte da
expansão do mercado produzida pela difusão da soja transgênica, enfraquecendo o
interesse do inovador.
O trabalho não se remete diretamente a questões de biossegurança, uma vez que
elas não são fundamentais para classificar ou organizar o estudo. Todavia, é claro que a
incerteza derivada da expectativa de crescente rigidez seja nos protocolos para
regulamentação e registro de produtos, seja para a difusão de organismos geneticamente
modificados – principalmente na indústria alimentar – é um dos fatores importantes que
interferem no cálculo da rentabilidade esperada dos segmentos que envolvem
biotecnologia, mesmo que muitas vezes seu impacto seja pontual, localizado.
2.1.4 Desenvolvimento Científico e Tecnológico em áreas de Saúde e
Agricultura: um traço distintivo do Brasil e o Genoma
Ao contrário do que faria supor uma visão derivada de divisão de trabalho
científico e tecnológico dos modelos Norte-Sul, no caso específico do tema que estamos
tratando, o Brasil apresenta um considerável desenvolvimento no campo da pesquisa
genética, seja em saúde, seja na agricultura
2
. Essa característica é apontada inclusive por
visões “pragmáticas” como a de Taxler (2000), que apesar de preconizar a simples
transferência tecnológica como solução para a atualização de setores como o de
sementes melhoradas, reconhece que no caso do Brasil e Índia isso não se aplica, uma
12
vez que podem ser considerados Super Nars, ou seja, Super National Agricultural
Research Country.
Desse ponto de vista, a iniciativa bem sucedida dos Projetos Genoma dá
continuidade a esse conjunto de atividades de pesquisa e desenvolvimento que
constituíram algumas instituições-chave para a biotecnologia no país. No atual estágio
do desenvolvimento da biotecnologia no Brasil, a geração de inovação empreendida
dentro das instituições públicas influencia não só os processos produtivos mas também
o padrão de comercialização dos produtos agropecuários e farmacêuticos no mercado
interno e internacional. Há pois um caráter prospectivo, que nos obriga a efetuar uma
comparação entre a atual composição do mercado e as atividades de pesquisa pública,
especialmente os Projetos Genoma e as atividades de P&D empresarial.
3
2.1.5 Instituições-chave e ambientes seletivos
A definição de instituição-chave (pública ou privada) utilizada no presente
estudo se aproxima substancialmente daquela formulada por Lemos (2000), levemente
adaptada: a habilidade de uma firma ou instituição de assumir uma liderança
organizacional e tecnológica no processo de interação com outros agentes inovadores
(em biotecnologia, principalmente, mas não só) em um ambiente local específico.
Seria pois fundamental para atrair novas empresas, desenvolver sinergias,
escolas de treinamento de recursos humanos, desenvolver marketing específico para
certo grupo de produtos e atrair investimentos. Finalmente, deveria criar competência
para o relacionamento com outras áreas. As áreas de Boston e a Bay Area (São
Francisco) nos EUA são exemplos bem sucedidos da formação de clusters em
biotecnologia. A replicação da experiência desses pólos em outras regiões dos EUA não
foi tão bem sucedida, em parte devido ao diferencial de capital humano oferecido pelas
instituições de pesquisa dessas duas regiões.
Em nosso trabalho, a visão de desenvolvimento local não cumpre um papel tão
importante, sendo pois as instituições-chave de um alcance mais amplo, inclusive
2
Para um modelo de desenvolvimento tecnológico Norte/Sul, ver Canuto et al. (1999).
3
Não deixa de ser emblemático que exista no México um grande grupo no setor de sementes com
investimentos em biotecnologia (Dna Plant Technology) e no Brasil a única empresa de porte médio para
os padrões internacionais (Agroceres) tenha sido facilmente adquirida pelo grupo Monsanto, na onda que
combinou fusões e aquisições (característica do Plano Real ) e a emergência de produtos biotecnológicos
(OGM’s). Esse distanciamento entre potencial de pesquisa e atividades empresarial é característico da
biotecnologia brasileira.
13
nacional. A biotecnologia não deve ser vista como um elemento de uma (necessária)
estratégia de descentralização regional do país. Isso representaria uma forte perda de
foco, dada as limitações evidentes na disponibilidade de massa crítica em ciência e
tecnologia quando se compara com o Brasil com centros geradores de inovações em
biotecnologia no mundo. Todavia, a convergência entre nossa visão e a de Lemos
(2000) é um indicador de que existe um diagnóstico comum sobre potencialidades e
limitações do desenvolvimento biotecnológico no Brasil, que pretendemos robustecer
no presente relatório.
A importância das instituições públicas vem do fato de estarem solidamente
amparadas em fundos públicos, não sofrendo as restrições impostas às empresas
nascentes, de pequeno porte. Por outro lado, seu avanço depende, em um contexto de
crise fiscal e modernização da economia, do estabelecimento de formas contratuais
virtuosas, em que o resultado do desenvolvimento tecnológico seja efetivamente
transferido e permita à outra parte atuar como reclamante do fluxo de rendimentos não
especificados em contrato, ser reclamante residual e ainda adicionar valor pelo
desenvolvimento tecnológico in house”. Esse desafio é fundamental para que o
processo seletivo das novas empresas não seja determinado por restrições creditícias,
por limitações impostas pelo sistema de distribuição e marketing e pelas ausência de
economias externas que favoreçam o crescimento com base em ganhos sub-aditivos.
McKelvey (1997), analisando o caso da biotecnologia, sugere a existência de
quatro “ambientes de seleção”: a) técnico-econômico; b) científico-econômico (estariam
incluídas nesta categoria a maior parte das pequenas empresas especializadas em
biotecnologia próximas às universidades); c) básico-científico (instituições acadêmicas
propriamente ditas) e, d) tecno-governamental (programas de governo).
Todas essas dimensões devem ser contempladas em nossa análise,
principalmente “a e b” para o caso das empresas, “c” para o caso das instituições-chave,
grande parte instituições públicas e “d” para o caso do genoma. Um ganho será obtido
quando se consegue combinar esses critérios. Algumas indicações de como proceder
para isto são dadas a seguir.
14
2.2 Levantamento das Empresas e do Genoma
2.2.1 Estudo de campo e critério de seleção de empresas
Duas principais estratégias de investigação foram utilizadas: visitas e entrevistas
nas instituições públicas e privadas que realizam pesquisa e/ou comercializam
biotecnologias e a análise de dados de importação e exportação de insumos e produtos
biotecnológicos. Deixaremos a discussão metodológica da questão do comércio para
uma seção em separado.
Um roteiro (Anexo I) de visita e entrevista incorpora estas duas perspectivas e
foi formulado de modo a recortar o universo de análise institucional segundo as linhas
de pesquisa que possam originar inovação em biotecnologia (ver Anexo I,tipologia 1) e
o perfil das atividades de pesquisa segundo técnicas utilizadas em antigas e modernas
biotecnologias (Anexo I, tipologia 2). A análise conjunta dos resultados do
levantamento da utilização destas técnicas e do perfil das linhas de pesquisa permite
produzir um cenário das potenciais aplicações tecnológicas realizadas na instituição
visitada.
Sendo este um estudo de cunho qualitativo, o comportamento destas instituições
foi desenhado a partir dos resultados do estudo de campo, que se pautaram
primordialmente em entrevistas e visitas às instituições. A partir de seus resultados será
possível, no futuro, delinear as trajetórias de investigação das quais aportem dados
qualitativos, capazes de fornecer uma maior accountability, imprescindível para o
gerenciamento destes mercados. Trata-se pois de um “mapeamento” que pode no futuro
ser aprimorado pelo uso de técnicas de amostragem e construção de índices adequados
para avaliar diferentes variáveis latentes que mostrem a evolução da biotecnologia.
A seleção de instituições e empresas foi eleita a partir da “representatividade”
destes componentes nos mercados que consolidaram e nos quais são competitivos,
apesar de apresentarem diferentes escalas e/ou regiões de atuação. O conceito de
Instituição-chave e o vínculo de empresas com estas instituições conduziu a seleção de
empresas. A análise não busca o levantamento o desenvolvimento científico no campo
da biotecnologia e sim dos nexos de um processo de seleção científico-econômico,
como aqueles abertos pelos desdobramentos dos projetos genoma.
15
2.2.2 A identificação de atividades relacionadas à inovação biotecnológica e o
instrumento de coleta de informações
Uma classificação aproximada segundo a SIC - Standard Industrial
Classification, apresentados na Tabela 2.1 permitiu orientar a análise das atividades das
empresas, de forma a se poder traçar o perfil da penetração das modernas biotecnologias
no Brasil.
O questionário apresentado às empresas e instituições entrevistadas (que consta
do Anexo I) é guiado pelo exercício apresentado na Tabela 2.1. Assim, as informações
de tecnologias de base biológica que não sejam compatíveis com o caráter dos exemplos
da coluna da direita, são considerados como pertencentes ao grupo de antigas
biotecnologias, que incluem desde processos de pleno domínio público, como
fermentação e seleção de variedades vegetais in vivo até aqueles de conteúdo científico
um pouco mais sofisticado, mas também bastante difundidos - como técnicas de cultura
de tecidos, seleção de cultivares por cruzamentos genéticos e vacinas de antígenos.
Percebe-se que esses itens também poderiam constar dos itens de elevada agregação da
classificação SIC. A coluna “Exemplo” fornece uma indicação de como biotecnologias
modernas podem encontrar correspondência em uma classificação de setores de
comércio muito agregada. Essa Tabela mostra como é possível, de forma ampla,
enquadrar biotecnologias modernas no contexto de setores tradicionais, desde que o
nível de agregação seja elevado.
A tipologia SIC foi no incluída roteiro de entrevista à estas instituições, de
modo a caracterizar sua posição no mercado. A metodologia foi formulada de modo a
apresentar condições de comparabilidade com as atividades em biotecnologia nos níveis
dos mercados nacional e internacional. Estudos complementares sobre a composição e
estrutura de mercado, segundo a participação de empresas por porte, volume de
comercialização, origem do capital e esforços de P&D poderão ser desdobramentos
naturais desta análise. Essa identificação de atividades envolvendo diferentes
modalidades da biotecnologia em muitos casos irá permitir localizar a inserção da
firma no comércio exterior, ainda que na maioria dos casos não seja possível obter
dados precisos de importação e exportação das empresas. “Grosso modo”, será possível
relacionar essas atividades com os resultados obtidos a partir do levantamento de dados
do SISCOMEX. Como veremos, o maior nível de desagregação do SISCOMEX ainda é
insuficiente para caracterizar as biotecnologias modernas da Tabela 2.1.
16
A identificação de potencialidades para a geração de inovações é buscada
através do estudo do conjunto de atividades técnicas em biotecnologia desempenhadas
por instituições públicas e privadas que realizam pesquisa, obtêm inovação e
comercializam insumos e/ou produtos.
A maioria das instituições do setor público - Instituto Butantã, Bio-Manguinhos,
EMBRAPAs, Tecpar, etc..também comercializam produtos biotecnológicos e
representam o duplo papel de indústria e de centros de pesquisa. Estas instituições nem
sempre disputam as mesmas fatias de mercado com empresas privadas, mas sempre têm
papel essencial no fornecimento de vacinas, soros e produtos hospitalares e de
desenvolvimento de novas técnicas e produtos agrícolas e pecuários ao setor público. A
questão é caracterizar - por conteúdo em ciência - quais biotecnologias são
comercializadas.
4
4
Marques (2000) classifica projetos de pesquisa em saúde humana em 8 categorias segundo seus
possíveis impactos sociais. De certa forma esse trabalho ilustra os “mercados potenciais” para produtos e
serviços associados à saúde humana. O interessante é observar que se do universo de pesquisas realizadas
resultarem aplicações comerciais (ou outros mecanismos de distribuição de produtos e serviços, por
exemplo associações entre governo e empresas para determinados fins), esse estudo estaria indicando o
papel fundamental da biotecnologia. Por exemplo, dos 381 projetos indicados em “Doenças Infecciosas
novas, emergentes e re-emergentes”, encontra-se persquisas envolvendo RFPL, PCR, alvos, descobertas
de primers, Homologia de DNA, etc...
17
Tabela 2.1 Classificação SIC e Biotecnologias
Fonte: elaboração própria.
2.2.3 Esquema para apresentação sintética dos resultados
Coerente com a perspectiva de “mapeamento” da biotecnologia no Brasil, o
instrumental metodológico previu que se possa localizar as instituições e firmas do
universo explorado nos cenários mercadológicos, além de construir os perfis
institucionais em termos de suas competências de C&T e P&D. Este procedimento é
especialmente interessante quando se deseja estabelecer ações políticas estratégicas em
áreas altamente dependentes da produção de C&T, como é o caso aqui abordado. Este
vem sendo bastante adotado para estudos de implementação de política industrial da
União Européia (Senker & Marsili, 1999), como as dos programas EBIS – European
Biotechnology Innovation Systems - e nos documentos da OCDE (Modern
Biotechnology, Policy Brief, 2000).
1.1.Vegetais 1.2.Animais
Ex: tomate transgênico Ex: animais transgênicos para pesquisa médica
2.1 Química Orgânica Industrial 2.2 Pesticidas 2.3 Testes químicos
Ex: enzimas derivadas de r-DNA Ex: inseticidas e parasiticidas Ex: kits de testes de contaminação de alimentos
3.1 Preparações farmacêuticas 3.2 Substancias diagnósticas in vitro 3.3 Produtos biológicos
e in vivo (exceto substâncias diagnósticas)
Ex: drogas de r-DNA Ex: anticorpos monoclonais Ex: vacinas derivadas de r-DNA
e provas de DNA
Ex: sequenciadores de DNA e equipamento de PCR
5.1. Sistemas de esgoto 5.2. Sistemas de drenagem de eflúvios
Ex: biorremediação Ex : limpeza de vazamento de óleo
6.1. Serviços médicos 6.2. Laboratórios clínicos
Ex: gene-terapia Ex: testes diagnósticos
7.1. Pesquisa biológica comercial 7.2. Laboratórios de teste
Ex: contratos de serviços de P&D Ex: serviços de biologia forense
7. Engenharia, pesquisa, gestão institucional ou correlatos
3. Produtos farmacêuticos
4. Aparato laboratorial e instrumentos analíticos
5. Serviços Sanitários
6. Serviços de Saúde
1. Agronegócios
2. Químicos
18
As análises consideram cinco dimensões que, de acordo com a literatura sobre
gestão de tecnologias constituem as benchmarks básicas no mercado. Estas dimensões
incluem:
a) Atividades inovativas das empresas e institutos de pesquisa para melhorar,
defender ou reforçar sua posição no mercado,
b) Orientação da pesquisa e os objetivos tecnológicos dominantes; leva em
conta as formas pelas quais a instituição percebe a tecnologia como um
instrumento estratégico de competitividade e a proximidade da tecnologia
com o estado-da-arte,
c) Fontes de obtenção das tecnologias críticas para a empresa ou instituição,
d) Graus de investimentos tecnológicos para adquirir e/ou desenvolver
tecnologias, ou seja, disposições de longo termo para manutenção no
ambiente de mercado, e
e) Mecanismos organizacionais de gestão tecnológica, principalmente aqueles
formais.
A Tabela 2.2 apresenta os conceitos referentes às dimensões utilizadas na
análise das empresas e instituições que compõem o universo pesquisado. A avaliação de
cada instituição baseou-se nos relatos transcritos das entrevistas e nos resultados dos
questionários semi-estruturados que constam no Anexo I deste estudo. As tabelas de
avaliação comparativa reúnem componentes por sub-setores - saúde humana e
agropecuária - e pela natureza das instituições - públicas ou privadas; o instrumento de
análise é especialmente útil, mesmo se tratando de instituições e empresas de porte
muito variado, já que estão em jogo as capacidades de articulação estratégica e não
apenas as vantagens competitivas conferidas, por exemplo, pelo tamanho da empresa ou
de outras formas de concorrência.
A tipologia será utilizada ao final dos capítulos 3 e 4, para que se consiga os
perfis comparativos dos grupos de instituições e empresas estudadas.
19
Tabela 2.2 Dimensões para a Síntese de Estratégias
Fonte: Solleiro e Castagnon (1999)
2.2.4 Projetos Genoma
Restam algumas observações sobre questões metodológicas associadas a análise
do Genoma.
A partir de 1997, quando a Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo tomou a decisão de implementar um projeto de sequenciamento genômico
no Brasil, o Projeto Genoma Xylella, a base de pesquisas científicas paulista passa a
contar com um programa de capacitação de recursos humanos nas áreas de biologia e
genética molecular.
Refere-se à atitude das instituições com respeito à melhoria, fortalecimento ou defesa dos mercados nos quais competem
1.1. Posição
- Liderança
- Seguidor de primeira instância
- Seguidor de segunda instância
- Imitador
- Competidor tardio
Relacionado ao modo como a instituição percebe a tecnologia como instrumento de ganho de competitividade
2.1. Vetor tecnológico 2.2. Tipo de melhoria trazida com a novidade
- Esforços em área específica de pesquisa
- Proximidade com o estado-da-arte nas áreas tecnológicas prevalescentes
Simples ou múltiplo Incremental
Dependente ou independente Radical
3.1. Interna 3.2. Externa
- Pesquisa intramuros - Pesquisa contratada, joint ventures, licenças,
pesquisa colaborativa, etc.
4.1. Intensidade 4.2. Tamanho
- Grau de gastos com P&D - Número e Capacidade do Pessoal de P&D
4.3. Orientação aplicada 4.4. Abordagem
- Pesquisa básica e/ou aplicada - Tecnologias distintivas, periféricas,básicas,maduras
5.1. Gestão Formal 5.2. Capacidade Relacional
- Presença ou ausência de unidades - Atividades de coordenação entre unidades de P&D
formais de gestão tecnológica
5.3. Controle e periodicidade 5.4. Estrutura 5.5. Transferência de Tecnologias
- Tipo (formal ou informal), grau - Organização das unidades de P&D - mecanismos de transferência
dentro e fora da instituição
5. Mecanismos Organizacionais
3. Fontes de Tecnologias
4. Investimentos Tecnológicos em P&D
1. Inovação
2. Gestão de Objetivos
20
Esse Programa tem se revelado uma grande surpresa em termos de sua aceitação
pela sociedade. A explicação pode estar ligada à sua fácil associação a certos problemas
econômicos, no caso, o problema fitossanitário dos laranjais paulistas. O fato de a
bactéria Xylella fastidiosa - cujo DNA foi sequenciado - ser o agente causador de
graves perdas econômicas na cultura de laranja, conferiu a este Programa uma grande
aceitação pela opinião pública. Além disso, a parceria entre as agências de fomento,
especialmente as agências do Estado de São Paulo e os produtores de frutas e de sucos
cítricos garantiu imediata aceitação por parte da comunidade científica.
Hoje, finalizado o Projeto Genoma Xylella, inúmeros projetos de pesquisa
consolidam iniciativa pública do Programa Genoma Fapesp. A importância e o
significado deste tipo de iniciativa, seus nexos com a produção de inovações, os
obstáculos à transformação de conhecimentos científicos em biotecnologias e as
potencialidades abertas dos novos mercados derivados de pesquisa em genética
molecular configuram uma extensa agenda de discussões. Esta agenda inclui questões
sobre o papel da universidade como agente de desenvolvimento econômico, questões
éticas, legais e sociais derivadas das atividades em genômica, entre um sem número de
outras e de seus particulares desdobramentos.
O foco deste terceiro tópico é o de iluminar alguns aspectos da produção de
inovação biotecnológica derivada de pesquisas em genômica, atividade intensiva em
ciência, no que tange à sua possibilidade de afetar os padrões de comercialização de
produtos e processos a partir da produção científico-tecnológica. Para isto, foi
necessário:
a) Eleger um instrumental analítico capaz de dar conta da complexidade de
fenômenos que resultam na geração de inovações, já que as dimensões
política, social, econômica e legal devem ser contempladas.
O conceito de Rede vem justamente da busca por um referencial que dê conta da
complexidade do processo inovativo. Tanto em Economia da Inovação quanto em
Sociologia da Inovação identificamos a busca de soluções para problemas teórico-
metodológicos nos estudos que ultrapassam as classificações por setor ou instituições.
Sua utilização permite a análise de instituições - que pode incluir a firma, a
universidade, o instituto público, outros agentes do sistema de inovação, os
intermediários, os programas e projetos de pesquisa, algumas configurações específicas
(por exemplo, a rede de biotecnologias).
21
A rede é um instrumental metodológico que rompe os limites institucionais,
abrigando o conjunto de organizações públicas ou privadas, ONGs, e tendo como
unidade de análise os processos de interação entre seus componentes. Como afirma
Callon (1992), a rede dedica-se à análise do nível “meso institucional” - justamente o
caso dos programas de instalação de laboratórios em genômica no Brasil.
Este instrumento pode ser utilizado para análises estáticas (no sentido de
momentum) ou para análises dos desdobramentos das interações num período
imediatamente após a ação indutora. As iniciativas que consolidam os "Projetos
Genoma" no Brasil nos parecem ser exatamente um exemplo de ação governamental
indutora, que resultam em conseqüências avaliáveis nos pólo científico, no tecnológico
e no de mercado. O pólo científico não se localiza apenas nos centros acadêmicos
universitários ou dos institutos de pesquisa, mas pode também estar representado em
qualquer atividade de P&D empresarial. O mesmo vale para os outros dois pólos.
O instrumental de rede também contempla a atividade geradora de inovação
através dos intermediários, componentes da rede de circulam livremente entre um pólo
e outro. Podem ser representados por textos, indivíduos que participam de pesquisa de
cunho científico ou desempenham funções empresariais, mecanismos legais de
contratação de pesquisa de base científica ou tecnológica, programas de capacitação de
recursos humanos que elevam o potencial de geração de inovação, etc.
Ainda que a composição das redes de biotecnologia mude, que novos
componentes e intermediários sejam agregados e outros deixem de participar, o que será
priorizado na análise serão os condicionantes de manutenção e crescimento das redes.
Estes condicionantes estão materializados na forma de contratos de pesquisa
interinstitucional, acordos de utilização de laboratórios públicos para pesquisa
cooperativa com o setor industrial, programas colaborativos de capacitação de recursos
humanos entre o setor público e o privado, entre outros. Por isto, as redes apresentadas
neste relatório, apesar de diacronicamente instáveis, representam as associações entre
componentes dos três pólos e os mecanismos condicionantes da eficiência do sistema
em gerar inovações para o mercado.
b) Apresentar um estudo sobre a estrutura de organização da pesquisa e dos
mecanismos de aproximação entre os setores de produção de conhecimentos
- no âmbito privado ou público - e a indústria.
Os "Projetos Genoma" são formas de pesquisa científica de cunho tecnológico.
Suas características principais são:
22
Pesquisa de alto custo, que força esforços de captação de recursos financeiros,
principalmente em ciência básica a partir do setor público (McMillan, Narin &
Deeds, 2000 - para o caso das biotecnologias nos EUA) e como segunda fonte
os recursos financeiros do mercado de capitais;
Necessidade de organização de recursos humanos altamente qualificados em
diversas áreas do conhecimento e das atividades produtivas. Um contingente em
escala e escopo capazes de desempenhar P&D em biotecnologia deve ser
mantido em atividades integradas e colaborativas. Indivíduos ou grupos
isolados não são capazes de deter todo o conhecimento necessário para o
desenvolvimento de biotecnologias. A intensa atividade de sequenciamento de
DNA e anotação de genes necessita de agentes de atividade de data mining, ou
seja, de comparação de informações genéticas duplicadas em organismos
diferentes.
Os mecanismos de educação e capacitação continuada devem garantir um
crescimento para esta massa de pesquisadores, que se dirigem também para atividades
do setor produtivo. Instalações de pesquisa devem ser utilizadas ao máximo, dado seu
alto custo, o que acaba condicionando um padrão colaborativo entre indústria e pesquisa
pública.
Os resultados da pesquisa, uma vez obtidos, devem ter a definição de questões
de propriedade intelectual previamente acordados. Tudo isto acaba por aumentar ainda
mais a demanda por recursos de financiamento da pesquisa. Este ímpar sistema
relações pode ser projetado como uma rede tecno-econômica, que não pode prescindir
de retornos econômicos.
O equacionamento destes fatores parece ser tanto causa como conseqüência da
organização da pesquisa e inovação em rede. O padrão de organização destes trabalhos
resulta em intensa geração de biotecnologias, tanto para utilização na indústria
insumidora quanto fazendo emergir empresas de biotecnologia.
O estado-da-arte dos programas em genômica no Brasil é apresentado, desde o
Projeto Genoma Xylella até os atuais programas em desenvolvimento, também através
de mapas das redes. São explorados os aspectos referentes aos condicionantes e
mecanismos que mantém a rede, e se, no presente momento, são ou não suficientes para
integrar a pesquisa científica com o setor produtivo.
23
2.2.5 Uma aproximação ao Comércio de Biotecnologia no Brasil: Aspectos
Metodológicos
Esse item do trabalho visa apresentar os elementos metodólogicos que envolvem
a análise de importação e exportação de produtos relacionados à biotecnologia,
principalmente à parte mais próxima do mercado. Tem um caráter apenas indicativo
como já apontamos na introdução.
Foram utilizados basicamente os dados do SISCOMEX, organizados de duas
formas: Nomenclatura Brasileira de Mercadoria e como resultado da implantação do
Mercosul, a NMM, a Nomenclatura Mercosul de Mercadorias.
Em relação a esta última, elegemos alguns itens de dois capítulos, diretamente
relacionados a biotecnologia vegetal e produtos de saúde humana, que constam
basicamente dos capítulos 12 e 30 do SISCOMEX. No caso de animais, os itens 5100 e
5111 apenas fornecem dados muito agregado, por exemplo sobre a importação de
sêmen ou de animais, dados que podem ser obtidos diretamente em fontes como a
ASBIA ou FNP, e não sobre embriões, que teria maior interesse (para uma análise desse
mercado específico, ver Silveira e Fonseca, 1999). Novamente, o caráter de prestação de
serviços de muitas empresas e segmentos que utilizam biotecnologia tornam a análise
com base de dados de comércio bastante superficial.
O uso dessa metodologia, que não foi diretamente desenvolvida para segmentos
inovadores, baseia-se na hipótese de que a expansão de atividades biotecnológicas no
Brasil tem impactos sobre o comércio. Quanto maior for o diferencial de produtividade
e de qualidade do novo produto de origem biotecnológica, maior será o estímulo para a
importação do produto final. A pressão por importação de insumos e reagentes e mesmo
de produtos inovadores próximos ao final da cadeia tem impacto sobre os incentivos
para o desenvolvimento da biotecnologia do país, principalmente quando se busca
utilizar os incentivos de mercado para seu desenvolvimento e não somente sinalizar a
existência de oportunidades tecnológicas criadas pela pesquisa científica.
Essa pressão e um efeito negativo sobre os incentivos para a introdução de
inovações já foi detectado como uma das causas das dificuldades de desenvolvimento
da química final no Brasil na segunda metade da década de oitenta e início dos anos
noventa. (Silveira, 1993) e Frenkel e Silveira (1996).
O aumento das importações também pode ser considerado como um indicador
favorável para o direcionamento do esforço de pesquisa guiado pela perspectiva de
24
substituição de importações. No entanto, pode também significar que o acesso a
mercados importantes, como o de sementes melhoradas, fármacos e medicamentos,
enfrentará forte concorrência dos incumbentes, transnacionais no mercado. A diferença
em relação ao ocorrido nos anos oitenta é que, na atualidade, as empresas líderes
mundiais estão antecipando sua entrada no país visando cumprir os requisitos mais
rigorosos de experimentação e biossegurança. Isso tem incentivado as ondas de
aquisições de firmas potencialmente inovadoras toda vez que um segmento de mercado
se mostra promissor.
Do ponto de vista do comércio isso pode significar que, mesmo quando a
natureza dos produtos biotecnológicos vem a ser distinta da dos produtos que substitui,
as empresas líderes se encarregam de padronizá-los. Além disso, elas costumam
apresentar economias de escala na distribuição o que, além das vantagens associadas,
lhes permite bloquear as atividades de firmas regionais e dos nichos de mercado.
Finalmente, como já mencionamos na introdução, um dos segmentos que escapa
a nossa análise é o da prestação de serviços sob encomenda uma vez que, infelizmente,
não pode ser tratado com base nos dados do SISCOMEX. Por outro lado, a produção
local de alguns grupos de produtos está intimamente associada a atuação do que
chamamos “instituições-chave”, geralmente instituições públicas que estão se
organizando para enfrentar as exigências de um mercado crescentemente competitivo.
2.2.5.1 O SISCOMEX: histórico e Características (Metodologia de produção
estatística de comércio exterior adotada pelo Brasil)
5
A partir de 1971 iniciou-se a elaboração de publicações periódicas e públicas de
estatísticas de comércio exterior pela Carteira de Comércio Exterior (CACEX), do
Banco do Brasil S.A., utilizando equipamentos de grande porte (Mainframe).- Com a
reestruturação ministerial de 1990, o Departamento de Comércio Exterior, da Secretaria
de Economia, do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, passou a produzir,
analisar e divulgar as estatísticas de comércio exterior.
No ano de 1991, foi implantado o Sistema ALICE - Análise das Informações de
Comércio Exterior, desenvolvido para o Departamento de Comércio Exterior (DECEX),
da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), pelo Serviço Federal de Processamento de
5
O que se segue nesse item foi transcrito de informações Sistema ALICE do DECEX.
25
Dados (SERPRO), para disseminar os dados de comércio exterior para o público e
governo, através de acesso "on line".
A implantação do SISCOMEX - Exportação, em 1993, ensejou a automação dos
procedimentos operacionais e burocráticos, reduzindo os custos para o governo e setor
privado. Com a substituição dos documentos (guia e declaração de exportação) por
registros eletrônicos, a produção das estatísticas de comércio exterior ganhou
significativo avanço.
A implementação do módulo SISCOMEX - Importação, em 1997, ampliou o
processo de desburocratização do comércio exterior. Ao mesmo tempo, proporcionou
expressiva modernização do sistema de apuração das estatísticas de comércio exterior,
antes baseado em documentos como a Guia de Importação (GI) e a Declaração de
Importação (DI), que foram também substituídas por registros eletrônicos.
Atualmente, encontra-se em desenvolvimento a versão do Sistema ALICE para a
Internet (ALICE-Web) e, em fase de homologação, o Anuário Brasileiro de Comércio
Exterior em CD-ROM, com dados de exportação e de importação a partir de 1989,
desagregados por mercadorias e países”. (ALICE-DECEX).
Até 1992, para efeito de apuração de estatística de balança comercial, eram
consideradas apenas as operações com cobertura cambial e as em moeda nacional. A
partir de 1993, são consideradas todas as entradas e saídas de mercadorias, independente
do tipo de cobertura cambial, exceto as simplesmente em trânsito.
A metodologia atual utilizada na apuração estatística de comércio exterior no
Brasil é baseada na interpretação das recomendações internacionais elaboradas pelos
organismos e respectivos documentos, a seguir indicados. Com a criação do Mercosul,
procurou-se elaborar um “Manual de Compatibilização das Metodologias Utilizadas
para Elaboração das Estatísticas de Comércio Exterior no âmbito do MERCOSUL”.
2.2.5.2 Principais conceitos e variáveis estatísticas
Exportação - corresponde às mercadorias enviados ao exterior, observadas as
definições no item anterior.
Importação - corresponde à entrada de mercadorias originárias do exterior,
observadas as definições no item anterior.
Saldo comercial - é o resultado das exportações menos as importações. Se o
saldo é positivo, chama-se de superávit; se negativo, chama-se de déficit.
26
Corrente de comércio - é o resultado da soma das exportações com as
importações e representa o total de comércio transacionado por um país com o exterior.
Mercadoria - todo produto objeto de uma exportação ou importação, à exceção
das operações listadas na alínea "b" acima, é classificado através de um código. A partir
de 1997, o Brasil passou a utilizar, para efeito de classificação de mercadorias, a
Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), utilizada igualmente pelos demais países
partícipes (Argentina, Paraguai e Uruguai). Este critério de classificação é baseado no
Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH),
metodologia adotada pela quase totalidade dos países.”(ALICE-DECEX)
È de fundamental importância para o entendimento do que foi apresentado no
capitulo 3 do Estudo 6 sobre Bioteconologia conhecer um pouco da Nomenclatura
Comum do Mercosul (NCM). A NCM é composta de oito dígitos, sendo os seis
primeiros formados pelo Sistema Harmonizado (capítulo, posição e subposição), e os
dois últimos (item e subitem), criados de acordo com a definição estabelecida entre os
países do Mercosul. A classificação das mercadorias na NCM rege-se pelas Regras
Gerais para Interpretação do Sistema Harmonizado.
“O código NCM apresenta a seguinte estrutura:
00 00. 00. 00
Exemplifica-se a seguir a constituição de um código de mercadoria na NCM:
Código NCM: 0104.10.11: Animais reprodutores de raça pura, da espécie ovina,
prenhe ou com cria ao pé.
Este código é resultado dos seguintes desdobramentos:
Capítulo 01: Animais vivos
Posição 0104: Animais vivos das espécies ovina e caprina
Subposição 0104.10: Ovinos
Item 0104.10.1: Reprodutores de raça pura
Subitem 0104.10.11: Prenhe ou com cria ao pé
País de destino (exportação) - Para efeito de divulgação estatística de
exportação, é aquele conhecido no momento do despacho como o último país ao qual os
bens serão entregues.
País de origem (importação) - Para efeito de divulgação estatística de
importação, é o país onde foram cultivados os produtos agrícolas, extraídos os minerais
ou fabricados os bens manufaturados, total ou parcialmente, mas neste último caso, o
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país de origem é aquele no qual foi completada a última fase de processamento para que
o produto adote sua forma final.
Bloco econômico - De acordo com os critérios definidos pela SECEX e seguindo
a constituição de regiões econômicas e de continentes, os países são agrupados por
blocos econômicos.
Estado produtor (Unidade da Federação exportadora) - Para efeito de
divulgação estatística de exportação, é a Unidade da Federação onde foram cultivados
os produtos agrícolas, extraídos os minerais ou fabricados os bens manufaturados, total
ou parcialmente. Neste último caso, o estado produtor é aquele no qual foi completada a
última fase do processo de fabricação para que o produto adote sua forma final.
Estado importador (Unidade da Federação importadora)- Define-se como
estado importador a Unidade da Federação do domicílio fiscal do importador.
Via de transporte - Na exportação, modalidade utilizada para o transporte da
mercadoria a partir do último local de embarque para o exterior. Na importação,
configura-se através do meio de acesso da mercadoria ao primeiro local de entrada no
território nacional. De acordo com o estabelecido no âmbito dos países do Mercosul, o
Brasil adota as seguintes modalidades de transporte: marítima, fluvial, lacustre, aérea,
postal, ferroviária, rodoviária, tubo-conduto e meios próprios.
Porto - Na exportação, é o porto ou localidade onde ocorrerá o efetivo embarque
da mercadoria, ou seja, o último local habilitado do território nacional de onde sairá a
mercadoria com destino ao exterior. Na importação, é o local onde ocorrerá o efetivo
desembarque da mercadoria, isto é, o primeiro local credenciado do território nacional
de onde chegará a mercadoria proveniente do exterior”(ALICE-DECEX).
2.2.5.3 As limitações do levantamento realizado
O Presente trabalho considerou apenas alguns capítulos da Nomenclatura
Mercosul de Mercadorias (NMC) a 8 dígitos, pois os dados a 10 dígitos da
Nomenclatura Brasileira de Mercadorias (NBM), a 10 dígitos não estão disponíveis para
1997-1999.
Para uma aproximação a biotecnologia em saúde considerou-se apenas o
capitulo 30 da NMC , mesmo tendo claro que vários itens do capítulo 29 poderiam ser
considerados na análise, como por exemplo 29.37 e 29.38 incluem vários fármacos que
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podem ser produzidos por via biotecnológica, substituindo processos de síntese e
mesmo de extração.
Em linhas gerais, a maior dificuldade na análise está no fato de que produtos
inovadores, que ainda são comercializados em pequenos volumes, são agrupados no
sub-item 99, onde provavelmente estão misturados produtos novos oriundos da
biotecnologia e novos fármacos (no caso do capítulo 29) e com novas formulações
(capítulo 30, que trabalhamos). Fica claro que, no caso de novas formulações a
sobreposição é muito maior. No caso do capítulo 29 é muito difícil identificar (com
raras exceções, como a insulina e outros da posição 29.27) a relação com a
biotecnologia e o tipo de destino dos intermediários. Um dos maiores problemas da
classificação NBM, e também da NMC, é agrupar em mesmo capítulos produtos com
similaridade quanto ao grupamento químico e nenhuma relação quanto ao mercado a
que se destina.
Mesmo restringindo a análise apenas ao capítulo diretamente relacionado a
produtos biotecnológicos, ainda existem várias dificuldades em quantificar o comércio
de biotecnologia. Apontamos alguns itens:
a) há um enorme desafio para mapear produtos que em alguma etapa produtiva
podem utilizar processos biotecnológicos, agregando valor a um intermediário
importado (menos comum) ou até mesmo interferindo na geração de variedades
(inovação típica de processo) e com isso, agregando valor a um produto importado,
como no caso das sementes de hortaliças ou processos de multiplicação de batatas-
semente importadas isentas de vírus. Saber exatamente a dimensão dessa agregação de
valor é tarefa demorada e cuidadosa, que exigiria uma mais detalhada pesquisa de
campo. O excelente trabalho de Silva (1999) sobre a estrutura de preços da indústria
farmacêutica no Brasil mostra como seria complicado analisar o conteúdo
biotecnológico do capítulo 29 e de vários itens do capítulo 30, principalmente no que se
refere às potencialidades da biotecnologia. Como sugestão para estudos futuros,
sugerimos combinar a análise da estrutura de preços da indústria com o perfil das
empresas líderes (cujo acesso é reservado, disponível sob código). Adicionalmente
seriam realizadas entrevistas que confirmassem até que ponto o desenvolvimento
biotecnológico estaria relacionado à matriz de insumos e de produtos anterior.
b) há uma biotecnologia relacionada à prestação de serviços médicos e também a
assistência técnica na agricultura. O surgimento de uma “biotecnologia de serviços
médicos” torna ainda mais complicado avaliar o quanto de produtos estariam sendo
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substituídos com o desenvolvimento local da biotecnologia. Certas terapias, como
apontam os estudos prospectivos da presente pesquisa, substituem remédios
convencionais e criam novas possibilidades de atendimento personalizado. Além disso,
como mostra Nightingale (1999), existe a possibilidade de combinar o conhecimento
dos fatores genéticos determinantes de certas doenças com a produção de fármacos. De
certa forma esses avanços biotecnológicos estimulariam a pesquisa e o desenvolvimento
de serviços locais, substituindo importações não pela perseguição de rotas tradicionais,
mas da introdução de novos procedimentos e novos serviços;
c) Finalmente, seria interessante estabelecer um cruzamento entre o
desenvolvimento da biotecnologia, a genômica em particular, sobre a dinâmica de
importação e de investimento direto no setor de equipamentos para biotecnologia.
Novamente a dificuldade é isolar de uma origem comum, o destino relacionado a esses
setores.
Escolheu-se trabalhar também com o capítulo 12 da NMC, no que se refere a
produtos de origem vegetal. Como mencionamos, itens do capítulo 4, que podem ser
relacionados a atividades em biotecnologia animal, não foram consultados por referir-se
basicamente à importação de sêmen animal e bovino.
3 Biotecnologia no setor de saúde humana: das bio-
commodities às fábricas biológicas
3.1 Introdução
Grande parcela dos produtos direcionados à saúde humana foram desenvolvidos,
nos últimos 50 anos por pesquisas feitas “in house” pelas corporações farmacêuticas.
Apesar do mercado não ser concentrado por classe terapêutica (ver Silva, 1999), a
especialização desses por classe terapêutica e por moléculas deu lugar a uma dinâmica
em que as rotinas de inovação são elemento-chave para a criação de barreiras à entrada
por segmento, permitindo ganhos de monopólio para os inovadores (ver Queiroz e
Silveira, [1994] para uma síntese da relação entre demanda inovadora e lucros de
monopólio na indústria farmacêutica).
A descoberta de uma new entity” tem um papel fundamental na dinâmica
competitiva da indústria e na possibilidade de financiar o fluxo contínuo de pesquisas da
empresa. O longo período que caracteriza o ciclo de inovação (em torno de 12 anos) é
um elemento básico para a inércia dos grupos em torno dos resultados já obtidos e
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estreita os “alvos” da inovação de cada grupo: o custo de uma falha na escolha de
princípios ativos vai se elevando à medida que se aproxima do ponto de lançamento no
mercado.
O elevado custo da pesquisa e os rendimentos decrescentes associados ao gasto
com inovação nessa área foi um dos fortes determinantes das fusões e aquisições
ocorridas no setor, com conseqüente aumento do grau de concentração no mercado
global das indústrias farmacêuticas, ainda que as 10+ detenham em 1995/6 apenas
33,2% do mercado global. (Hopkins, 1998). Desse ano para cá o nível de concentração
aumentou com novas rodadas de fusões e aquisições e alguns spin offs.
O fato é que a pesquisa e desenvolvimento de produtos ocupa lugar central na
conformação da estrutura de mercado das firmas. Complementa o poder de mercado das
empresas, além das etapas finais de desenvolvimento de produtos (referentes a
experimentos clínicos, extremamente caros), o controle da distribuição e do tipo
específico de marketing , desenvolvido junto à classe médica é também extremamente
custoso (Frenkel, 2001).
A idéia de que a biotecnologia e a bio-informática não sejam capazes de
reverter esse quadro de concentração e sim agravá-lo passa por duas constatações:
a) a indústria farmacêutica se antecipou ao desenvolvimento da biotecnologia,
motivada pelo esgotamento progressivo das trajetórias tecnológicas
tradicionais (Rondé, 1992);
b) A biotecnologia e a bio-informática causa pequeno impacto sobre as fases
finais de inovação, sendo fundamental para reduzir os riscos na fase de
screening de moléculas potenciais e no teste até a fase chamada de
validação de potenciais princípios ativos (Hopkins, 1998); o que mantém as
vantagens acumuladas pelas incumbentes líderes de mercado.
Isso posto, não existiria espaço para a biotecnologia fora do âmbito das grandes
corporações e de seus acordos de cooperação? Certamente que sim. Esse espaço em
primeiro lugar é dado pela própria possibilidade de cooperação. No campo da
biotecnologia vegetal, o papel da Embrapa nas negociações com corporações no setor
de sementes no Brasil tem sido um elemento fundamental para que o desenvolvimento
de técnicas de DNA recombinante. É justamente o papel da Embrapa que evita que a
31
“síndrome de terra arrasada”
6
gerada pela difusão da soja transgênica na Argentina.
Certamente o esforço brasileiro pela produção de genéricos e pela redução do preços de
certos fármacos associados a programas públicos ilustra bem a importância do
desenvolvimento tecnológico no país.
Nesse sentido, o uso de técnicas de ampliação do potencial para identificação de
alvos (target) para o desenvolvimento de moléculas
7
– a possibilidade de testar
simultaneamente vários alvos e várias substâncias – o estudo das estruturas
tridimensionais (de proteínas), a simulação de resultados sem a necessidade de
experimentos laboratoriais ou utilizando seres vivos, a identificação de características
genéticas específicas de certos grupos de pacientes; todo esse rol de oportunidades
biotecnológicas está associado intimamente à capacidade de armazenar as informações
obtidas e promover seu intercâmbio.
Tal processo vai muito além da comercialização de seqüências do genoma.
Envolve a integração de bancos de dados e o desenvolvimento de software específicos
para os desenvolvimentos das fases mais adiantadas do processo, que permitam
conciliar experimentos “de campo” com exercícios simulados de processos biológicos,
ampliando o escopo para validação de produtos e reduzindo a probabilidade de seleção
de produtos com baixo desempenho na longa fase de testes clínicos.
Hopkins (1998) dá indicações claras de que algumas das grandes corporações
serão capazes de internalizar todas as fases de experimentação e as atividades de bio-
informática, redefinindo portanto, o sentido da “corporação farmacêutica integrada”.
Esse tipo de corporação em um estágio mais avançado realiza investigações em bio-
informática, podendo inclusive prestar serviços para outras empresas.
Os grupos que se fundam em alianças e na aquisição de software sofrem,
segundo o estudo, de limitações para integrar os produtos a suas atividades de
investigação e experimentação em fármacos; em muitos casos identificar
potencialidades e negociar sistemas de bio-informática podem não ser adequados ao
desenvolvimento futuro das empresas.
6
A impressão crescente de perda de controle da tecnologia de produção de alimentos por parte dos
agricultores na Argentina para a Monsanto se deve em grande parte à falta de um interlocutor à altura, que
possa negociar contratos tecnológicos e mediar o processo de difusão da soja transgênica.
7
Marques (2000) identifica vários tipos de “alvos” como temas de projetos de pesquisa do “Programa de
Indução à Pesquisa Estratégica em Saúde, em áreas associadas à saúde humana, como por exemplo,
eventos iniciais de infecção, processos gerais de infecção, célula molecular cardíaca, proteases, serotipos
toxicogênicos, anticorpos neutralizantes, proteinas CS, Linfócitos T C8etc. Isso mostra que os projetos de
pesquisa no Brasil estão afinados às tendências da pesquisa para o desenvolvimento de novos produtos
para a indústria de fármacos.
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Há pois indicações de que no mínimo uma estrutura que gere informações e
interaja com os departamentos de pesquisa das empresas seja necessária para o
aproveitamento da bio-informática em P&D.
Nesse sentido, pode-se ampliar a perspectiva aberta pelo projeto Genoma no
Brasil no campo da biotecnologia voltada para a saúde humana:
a) Há um pauta de produtos e de alvos que tem enorme importância para o
bem-estar da população e que não necessariamente faz parte dos interesses
das corporações líderes de mercado;
b) A bio-informática, como atividade custosa e exigente em capital humano
especializado deve co-evoluir com a pesquisa para descoberta de novos
produtos;
c) Ela propicia o melhor aproveitamento de informações sobre uso de genes em
diferentes situações e mesmo na identificação de alvos conduzidas por
corporações não inteiramente integradas, existindo pois um espaço para
negociação.
A importância desse cenário - que antecipa um futuro bastante próximo - é que o
Brasil já conta com algumas instituições que podem internalizar uma capacitação para a
realização de pesquisa aplicada que incorpore em suas rotinas a bio-informática, a partir
da aquisição de software e adaptação aos problemas locais.
Ao nosso ver, o que chamamos de instituições-chave são as que cumprem um
papel fundamental nessa etapa, para que se supere as limitações impostas pela
concepção de empresas de biotecnologia como um conjunto de “pequenas empresas
universitárias”, sem competência para integrar redes mais amplas em que a bio-
informática cumpra um papel fundamental de encurtamento das fases iniciais do
processo de desenvolvimento de produtos, permitindo reduzir o custo de sua descoberta.
Sem estimular a co-evolução das instituições-chave com a bio-informática (originada
dos genomas, por exemplo) a informação relevante para o desenvolvimento de produtos
ficará totalmente fora do circuito das empresas biotecnológicas, por maior que seja o
número de doutores que ela disponha para pesquisa.
Um ponto importante nessa argumentação é que a bio-informática e as novas
técnicas de screening associadas à manipulação gênica serão limitadas pelas crescentes
exigências para o registro de produtos, agravadas pela preocupação com os efeitos
desconhecidos advindos do uso de técnicas recombinantes. Isso põe um certo freio no
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ritmo de inovação do setor e dá um tempo para aproveitar os avanços já realizados na
constituição de instituições de pesquisa e de sistemas de bio-informática no Brasil.
O cenário acima visa contextualizar a apresentação dos casos correspondentes às
empresas entrevistadas, mas também a apresentação dos dados de comércio. Em linhas
gerais, o Brasil apresenta um esforço considerável na formação de recursos humanos,
com impactos positivos nem termos de capacitação, inclusive em áreas que utilizam a
bio-informática
8
, como os projeto “genoma”. Mas fica sempre a impressão de que o
distanciamento entre pesquisa e atividade produtiva continua.
Analisamos os nexos entre bio-informática e indústria de fármacos por ele estar
bem delineado no horizonte das ações em biotecnologia no Brasil. A idéia de que
necessariamente vá existir uma co-evolução entre biotecnologia e mercados,
reproduzindo o padrão competitivo da atual indústria farmacêutica mundial pode ser
contestada pela criação de oportunidades tecnológicas.
As pesquisas com célula-tronco ilustram bem uma situação em que a simples
identificação de células-tronco cria um conjunto de problemas novos (identificar alvos,
fazer as células atingirem alvos, evitar resistência ao implante dessas células em terapias
e mesmo cultivar as células) que abre oportunidades para grupos que tenham
capacitação em áreas afinadas a essas demandas. O fato de que a massificação do
produto seja colocada em um horizonte distante é uma limitação, mas abre o espaço
para a ocupação de espaços, na dupla perspectiva de criar mercados locais e garantir o
bem-estar da população.
O trabalho de Lemos (2000) dá também interessantes indicações a relação entre
a estratégia de desenvolvimento local e as restrições impostas ao desenvolvimento da
biotecnologia, principalmente no campo da saúde humana:
a) Restrições creditícias: falta de mecanismos de oferta de seed money
adequado a formas locais de desenvolvimento tecnológico de pequenas e
médias empresas;
b) A fragilidade do “mercado” de biotecnologia, representada pelo grau sofrível
de economias de escala e escopo associadas aos negócios: cria-se um
conjunto de empresas que exploram nichos desarticulados de mercado, o
que, na prática, é um gargalo para a dinamização deste mesmo mercado.
8
O edital do MCT para financiar US$ 6 milhões em bioinformática confirma a visão estratégica do
governo brasileiro no que se refere ao desenvolvimento da biotecnologia. Alguns problemas institucionais
serão discutidos na parte sobre biotecnologia vegetal.
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Os resultados das entrevistas e visitas realizadas a instituições públicas,
privadas e empresas que em algum grau atuam no campo da biotecnologia confirmam
as preocupações de Lemos (2000). Um dos pontos mais interessantes ressaltados pelo
trabalho mencionado e que coincide com os resultados que apresentaremos a seguir se
refere ao problema da sincronia entre os diferentes aspectos do desenvolvimento da
biotecnologia. Quando uma empresa atinge um nível mais elevado de sofisticação no
uso da biotecnologia não necessariamente fortalece, via efeitos de spill over, empresas
próximas, fornecedores e clientes. Seu avanço passa a requerer uma inserção em uma
rede de relações mais complexa cujo núcleo está em outra região ou mesmo em outro
país. Também o avanço em certos mercados pode prescindir de um maior esforço no
desenvolvimento científico e tecnológico, em face a problemas relacionados à escolha
do caminho tecnológico.
Finalmente, não fica claro que exista um nexo virtuoso entre desenvolvimento
de mercados finais e progresso tecnológico e científico. Nas áreas de saúde (humana e
animal) e agroindustrial (envolvendo o aspecto crítico da alimentação humana), ganhos
de bem-estar podem estar relacionados ao atendimento de metas sociais e pela definição
de uma pauta de prioridades tecnológicas que não dependam do desempenho de
empresas em seus mercados finais. Esse ponto nos leva sugere que o papel da
instituição pública em biotecnologia é extremamente importante; não como fornecedora
final de produtos, mas como um elemento central na definição das redes
biotecnológicas.
O desafio é evitar que o caráter público dessas instituições leve à perda do efeito
da concorrência sobre o processo de inovar e que certas vantagens propiciadas pela
posição de instituição pública crie situações que violam os preceitos das políticas pró-
competitivas. Trata-se de uma tensão permanente: a instituição-pública é instituição-
chave no sentido de gerar spill overs para toda uma rede de empresas privadas, sem ao
mesmo tempo abrir mão de direitos de propriedade sobre as inovações e sem
desestimular o investimento privado. O trabalho de Salles-Filho et alii (2000) levanta
preocupações desse tipo e nosso estudo fornece algumas indicações para os problemas
enfretados por essas instituições-chave para o desenvolvimento da biotecnologia no
Brasil.
As instituições cujos estudos apresentaremos a seguir trabalham com produtos
que podem ser considerados “próximos à categoria de bens públicos”. Vacinas e
reagentes constituem o que chamamos de bio-commodities devido basicamente a duas
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características: produção em massa e baixo valor agregado. No caso do Brasil
poderíamos adicionar um terceiro aspecto, o da demanda institucional representada
pelas compras maciças do governo através do Ministério da Saúde (mais de 90% do
mercado ficam sob controle institucional).
Isso faz com que a finalidade de instituições produtoras de vacinas e reagentes
esteja subordinada às necessidades epidemiológicas básicas da população brasileira, tal
como definidas pelo governo federal. Embora aquelas necessidades estejam sendo
basicamente atendidas, o país ainda se situa dentro do tradicional esquema de “divisão
internacional de trabalho” que orienta a produção de produtos farmacêuticos e que se
baseia na importação do princípio ativo e formulação do produto. Apesar disso, as
instituições e organizações públicas de pesquisa no Brasil dominam importante estágios
da pesquisa biomédica, o que garante ao país uma importante vantagem na era do
conhecimento genômico e molecular.
Embora tenha havido avanços, a produção de vacinas e regentes no Brasil ainda
é basicamente realizada com técnicas tradicionais. Além disso, o princípio geral de
produção de vacinas – modernas ou tradicionais- não difere muito, tratando-se de
separar partes de microorganismos inativados ou mortos (bactérias ou vírus) e proceder
à purificação de culturas. Em termos muito simples pode-se definir o material inicial
usado para fabricar vacinas como uma “sopa” de células, que pode ser obtida a partir de
cérebros esmagados de ratos ou de macacos, por exemplo. A diferença crucial está em
se trabalhar sobre um conjunto de células e organismos, alguns dos quais apresentam
grande complexidade, por estarem constantemente se transformando. Isso pode tornar o
processo extremamente arriscado e custoso.
A utilização de técnicas de DNA recombinante torna-se mais importante na
medida proporcionalmente inversa ao da complexidade do organismo estudado. Isso é o
que acontece no caso da vacina da malária, objeto de interesse de vários laboratórios
nacionais e internacionais, há muitos anos. Neste caso, as chances de sucesso na
identificação do protozoário mutante, com auxílio das ferramentas de DNA
recombinante, são muito maiores do que se o procedimento adotado fosse convencional.
Os processos básicos utilizados para a obtenção de células são 3: físico, físico-
químico e bioquímico. O que diferencia os processos modernos e tradicionais são as
“ferramentas” básicas utilizadas para separar as células de uma bactéria para sua
posterior manipulação e purificação. Na realidade é isso que define se trata de
tecnologia de primeira, segunda ou de terceira geração. A adoção da biotecnologia
36
molecular para a produção de vacinas corresponderia à implantação de autênticas
fábricas biológicas acarretando uma série de mudanças na organização da produção e na
estrutura de custos da produção. Nesse caso, usam-se técnicas de engenharia molecular
para identificar as instruções para a formação das proteínas que vão caracterizar o
princípio ativo.
A variedade de procedimentos de segunda e terceira geração incluem não apenas
a biologia molecular mas também a genômica e o design de moléculas. A infra-estrutura
de pesquisa e de produção assim como os custos relacionada aos dois tipos de
processos, o tradicional e o biotecnológico, variam significativamente. A ausência do
biotério, por exemplo, no caso da produção da vacina recombinante, acarreta ganho de
espaço e tempo. Além disso, como fica demonstrado na análise feita sobre o Butantã, o
conjunto ferramentas e procedimentos adotados pode ser considerado intensivo em
ciência. Neste caso, eles podem dar lugar a novos procedimentos e técnicas, como as de
screening de biodiversidade baseadas em sequenciamento genético, essencial para a
identificação de substâncias de uso farmacêutico.O maior fabricante de imunológicos é
a Bio-Manguinhos, unidade produtiva da Fundação Oswaldo Cruz, cujo faturamento em
2000 situou-se em torno de R$ 230 milhões. A Bio-Manguinhos responde por,
aproximadamente, 40% da produção nacional de doses de imunológicos (ver
Tabela 3.1).
No entanto, um pouco mais de 60% do mercado destes produtos ainda é
abastecido por importações. O preço médio pago pelo governo brasileiro por uma dose
de vacina produzida através de métodos convencionais alcançava R$ 15,00 reais no
primeiro trimestre de 2001. Este preço, no entanto, poderia variar, em função dos custos
indiretos, da dimensão dos mercados bem como da estabilidade das políticas nacionais
de vacinação (que garantem a estabilidade dos volumes adquiridos).
Tabela 3.1 Faturamento e Market Share em Imunobiológicos
(1999)
Fonte- CIAM/MS e entrevistas
Total de Doses e Faturamento (R$)
284.670.688 R$ 213.220.513,00 *
Laboratórios Nacionais
9%
42% 26%
28% 65%
Importações
Bio-Manguinhos
37
Observe-se que os três produtores, Bio-Manguinhos, Tecpar e Instituto Butantã,
ainda são basicamente importadores de “bulk”, formulando o produto final, a vacina. No
entanto, mesmo neste estágio de dependência, o processo de produção apresenta
elevados custos fixos o que torna obrigatória a massificação da produção de vacinas.
Além disso, a presença de significativas economias estimula o aumento de
produtividade e a redução de custos perante a expansão do mercado institucional.
Observe-se, também, que os custos de aquisição dos insumos importados , entre os
quais destacam-se os plasmídeos, enzimas e os meios de cultura, são expressos em dólar
mas o preço final do produto é definido pelos fatores acima mencionados.
3.2 As Instituições-Públicas em Biotecnologia como Instituições-chave
3.2.1 Instituto Butantã
O Instituto Butantã produz soros, vacinas, surfactantes, anatoxinas e
hemoderivados para utilização do setor público de sáude humana no Brasil. Além
disso, realiza pesquisa básica e de cunho tecnológico.
Neste processo, o Instituto mantém estreita relação com universidades públicas,
em especial com a USP e com pelo menos dois importantes grupos de empresas do setor
farmacêutico, visando o desenvolvimento de novos produtos biotecnológicos. O
desempenho científico do Butantã pode ser avaliado pela taxa de
publicações/ano/pesquisador no período 1996-97, que foi de 0,55 intramuros e 0,68
publicações/ano/pesquisador em projetos colaborativos com o Instituto de Química e
Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
O financiamento da pesquisa básica é realizado pelo próprio Instituto, com
recursos de comercialização de produtos para um mercado institucional praticamente
cativo, representado pelo Ministério da Saúde. Embora as compras governamentais de
vacinas sejam grandes, o seu preço é baixo o que deixa os fabricantes de bio-
commodities com pequenas margens de lucro (essa situação poderia ser atenuada com a
expansão das encomendas). Mesmo assim, ao longo dos último 15 anos, o Butantã
diversificou a sua produção de vacinas e similares ao mesmo tempo em que efetuava
melhoramentos e desenvolvia novas tecnologias. Não há concorrência para o mercado
de uso popular e gratuito, pelo qual as empresas privadas não se interessam
38
Tabela 3.2 Butantã- L.B: Biotecnologias e Demanda por Produtos (2000)
9
Fonte: pesquisa de campo, elaboração própria
Em termos de gestão institucional o Butantã está claramente dividido, o que se
expressa nas duas visões antagônicas dos coordenadores do Centro de Biotecnologia e o
do CAT. No primeiro caso há uma descrença absoluta no papel que a parceria com
empresas representa em termos de avanços biotecnológicos, uma vez que não se
acredita no interesse do setor privado por pesquisa básica. No caso do CAT, a posição é
a de buscar parcerias de P&D, o que está sendo materializado com o lançamento, em
menos de seis meses, de pelo menos três novos produtos farmacêuticos.
9
A maioria dos produtos se enquadra nos itens 3.2 e 3.3 da Tabela 2.1.
Produtos Quantidade e/ou valor Biotecnologia Parceria ou melhoria de instalações
Soros
antipeçonhentos,
600 mil ampolas
Processo de produção
de soro hiper-imune
Centro de Biotecnologia
Soros
monoclonais
200 mil doses
(anti-CD3 e
CD18) e
antitóxicos
(suficiência nacional)
Anatoxinas
tetânica e
diftérica
100 e 40 milhões de
dose/ano, respectivamente.
Produção de antígeno
conjugado e
fermentação
Centro de Biotecnologia
18 milhões de doses de cada
(suficiência nacional)
Hepatite B, raiva
e outras vacinas
virais.
80 milhões de doses a US$
0,08 por dose
Vacina em células
VERO, em cérebros
de rato, vacinas
recombinantes e
epitopos de vírus da
dengue.
Centro de Biotecnologia
Meningococo B,
hemófilo B,
pneumococo.
25% da demanda nacional Fermentação e por
conjugados
polissacaríseos -
proteínas
Instituto Adolfo Lutz e Bio-Manguinhos
Soro e toxina
botulínica para
uso humano e
veterinário
a ser lançado em 2001 Fermentação e
purificação em
ambiente de alta
segurança
Centro de Biotecnologia e Fapesp
Hemoderivados -
fator VIII
dado não disponível Albumina placentária Centro de Biotecnologia
500 mil doses de
eritropoietina e
batroxobina para demanda
internacional
Bio-fármacos de
impacto social:
eritropoietina,
surfactante
pulmonar,
Purificação a partir de
pulmão bovino
USP e Sadia
Bio-reator de larga
escala
Instituto do Coração – USP
Vacina Pertussis
e BCG
Fermentação Centro de Biotecnologia
39
Assim é que as atividades de P&D e de produção de bio-commodities formam
dois arranjos diferentes, representados respectivamente pelos seus dois maiores
laboratórios: o Laboratório de Biotecnologia e o CAT - Centro de Toxinologia
Aplicada. Seguindo-se esta divisão é que o cenário da produção e comercialização de
biotecnologias deste instituto está exposto.
3.2.1.1 Laboratório de Biotecnologia - LB
No Laboratório de Biotecnologia são produzidos soros, vacinas e produtos
farmacêuticos que constam da Tabela 3.2., para utilização dos setores públicos de saúde.
As atividades lideradas pelo Laboratório de Biotecnologia utilizam biotecnologias
tradicionais mais difundidas no mercado, como produção em larga escala de vacinas por
fermentação, para a qual é necessário o desenvolvimento de tecnologias de processo em
plantas industriais complexas, tanto no sentido de controle bacteriológico quanto de
qualidade dos produtos.
Quase 50% dos pesquisadores do Centro de Biotecnologia são doutores e
mestres, o que justifica os avanços na P&D, em termos de pesquisa de fronteira. A
capacitação de recursos humanos em genômica ocorreu durante o Genoma Xylella
(Fapesp) e hoje um grupo participa do Genoma Câncer (Fapesp), apresentando
competência técnico-científica para detecção de genes de expressão em câncer e em
vírus vetores para produção de vacinas (como a BCG de vírus). Atualmente inicia o
Genoma Leptospyra, bactéria de importância crucial em saúde pública fora da Rede
ONSA, principal rede de genômica do Estado de São Paulo.
A coordenação desta área é feita pelo Prof. Dr. Isaías Raw, e não há atividades
de colaboração com o setor privado. Segundo este pesquisador, que é diretor do LB, o
Butantã não tem capacidade financeira para investir em pesquisa básica e no
desenvolvimento de produtos que possam concorrer com os da indústria farmacêutica
multinacional. Segundo ele, o problema básico é de preços uma vez que, produzindo
apenas para o mercado de vacinas no âmbito da saúde pública, o Butantã não consegue
obter um excedente financeiro suficiente para investir maciçamente em C&T. Assim, os
ganhos líquidos do Instituto são investidos em P&D interna do Centro de Biotecnologia
o que permite, de qualquer forma, que haja avanços em termos do tipo de produto e no
crescimento da produção, de forma a garantir o fornecimento de soros, vacinas e outros
40
produtos para o setor público de saúde. As parcerias estão representadas por pesquisa
junto a outras instituições públicas nacionais ou internacionais.
3.2.1.2 Centro de Toxinologia Aplicada
O Centro está voltado para atividades de pesquisa de compostos de ação
farmacêutica derivados de substâncias tóxicas naturais, principalmente aquelas
presentes em venenos de animais peçonhentos, com potencial aplicação como anti-
hipertensivos, bloqueadores de receptores de membrana plasmática, etc. O CAT é hoje
um Centro de Pesquisa Inovação e Difusão da Fapesp
10
, que visa organizar as interfaces
entre a pesquisa pública e atividades de desenvolvimento de produtos (e pesquisa)
privadas. O seu objetivo é o de estimular a geração de biotecnologias e novos produtos
para o mercado.
O CAT tem buscado busca parcerias com um grupo de três indústrias
farmacêuticas nacionais (ver bloco de análise de empresas, neste relatório), a
Biosintética, Biolab-União Química e Vallée. A parceria está sendo mediada pela
NUPLITEC - Núcleo de Patentes e Licenciamento de Tecnologias da Fapesp
11,
que dá
suporte financeiro para as transações de transferência e licenciamento de biotecnologias.
A parceria para pesquisa de estrutura molecular de proteínas, essencial para o desenho
de bio-fármacos e engenharia de moléculas está sendo iniciada com o Centre de
Enérgie Atomique”, da França. Além disso, há um programa de desenvolvimento de
anti-hipertensivo com a Universidade do Japão. Atualmente o Centro conta com 6
pesquisadores, todos com pós-doutorado nas áreas de biologia e genética molecular.
10
Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão, Programa de Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo.
11
Foi realizada uma entrevista com o Prof. Dr. Zanotto, da Nuplitec-Fapesp, na qual confirmam-se as
disposições da agência de pesquisas em dar apoio aos processos de negociação e instrumentos legais para
comercialização de tecnologias, especialmente às biotecnologias. Mas o Centro não executa nem faz
gestão destes processos, apenas fornece apoio financeiro e dá seguimento controlado a eles.
41
A maior parte das atividade está sendo mantida através de negociações informais
embora estejam sendo discutidos alguns aspectos das questões de propriedade
intelectual, mediados pelo INPI. Além disso, ainda não estão sendo utilizados
instrumentos formais de vinculação interinstitucional para P&D, os Acordos
Cooperativos. Através destes acordos seria possível estabelecer contratos de
longo prazo, nos quais haveria previsão de como os riscos tecnológicos podem ser
compartilhados ou de como as inovações deveriam licenciadas e comercializadas.
Apresenta-se a seguir, no., um resumo das biotecnologias de ponta utilizadas para P&D
no CAT e as áreas potenciais de comercialização são apontadas na
Tabela 3.3.
Um primeiro produto da parceria Coinfar - Consórcio Farmacêutico Nacional -
com o CAT
12
deve estar sendo lançado ainda no mês de Junho de 2000: é o Evasil -
nome genérico do inibidor de vasopeptidase endógena - princípio ativo do protótipo
molecular de um novo hipertensivo de baixa toxidez desenvolvido a partir de peçonha
de jararaca (Bothrops jararaca) cuja patente já foi solicitada no Brasil e está em vias
de ser solicitada nos EUA, CE e Japão
13.
Observe-se que o Evasil tem grande potencial
competitivo com o Captopril.
A equipe do CAT fez a identificação dos BBP's por biologia molecular e
encontrou uma série de substâncias capazes de causar choque cardio-vascular na vítima
de picada por serpente. Na verdade, os BBP's fazem parte do sistema endógeno de
regulação da pressão arterial e podem ser mobilizados pelos potencializadores presentes
na peçonha. Daí a necessidade de conhecer as vias metabólicas e estrutura molecular de
todas as substâncias envolvidas nesta regulação. Além disso são exigidas pesquisas em
estrutura 3D de proteínas, estudos toxinológicos moleculares da relação parasita-
hospedeiro e aplicações farmacológicas destes compostos. No nível de mercado, são
necessários testes clínicos, relações de legalização do produto e de comercialização, que
estão sendo providenciados pelo NUPLITEC-Fapesp e pelo INPI.
14
12
Consórcio do CAT com Biolab-Sanus, União Química e Biosintéica, três empresas farmacêuticas de
capital nacional.
13
A função hipotensora da bradicinina, substância que reduz a pressão arterial é potencializada por
inúmeros peptídeos presentes no veneno, as BBP's ou peptídeos potencializadores de bradicinina.
14
Ver Hopkins (1998) para os vários esquemas de pesquisa da “velha”e da “nova”pesquisa em fármacos.
Como já apontamos, os desafios da chamada fase pós-validação do produto (quando ele se mostra
promissor para ser testado em nível de campo) não são reduzidos pela biotecnologia. Ao contrário, o uso
de biotecnologias torna ainda mais exigente os requerimentos para o registro de produtos.
42
Tabela 3.3 Butantã - Biotecnologias e potenciais aplicações comerciais
15
Fonte: entrevistas; elaboração própria.
As visitas realizadas às empresas Biossintética, Vallée e Biolab-Sanus
confirmaram a disposição destas companhias em manter parceria com o Butantã como
estratégia de manutenção de mercado apesar das condições de regulação e do controle
de preços. O Coinfar está financiando os testes clínicos do fármaco e a Fapesp vem
apoiando as atividades do CAT por um período de 11 anos, com recursos de R$ 3
milhões anuais. A iniciativa do CAT é um especial referencial das relações entre C&T
pública e mercados de fármacos, envolvendo um forte estímulo de vinculação dos
setores público e privado na execução da pesquisa e desenvolvimento de produtos.
Os dois ramos do Butantã o LB e o CAT - são unânimes em priorizar a
realização de pesquisa básica dentro do instituto, ainda que muitas vezes não se obtenha
produtos biotecnológicos tangíveis. Levando-se em conta que o mercado de
biotecnologias da fronteira científica depende de pesquisa nas áreas de biologia
molecular, genômica, design de moléculas, screening de material genético natural e
química combinatória, pode-se dizer que o Instituto Butantã possui todos os requisitos
para avançar muito, em termos do desenvolvimento de novos produtos.
A questão é apenas a da escala na qual os recursos humanos estão presentes,
dado o pequeno número de pesquisadores ativos, fato este que pode e deve ser
melhorado com acordos cooperativos para pesquisa de cunho tecnológico, tanto com
empresas como com outros institutos públicos de pesquisa. No entanto, restam os
problemas referentes aos mecanismos de vinculação interinstitucional, dos mecanismos
de definição ex-ante da propriedade intelectual e da questão de definição dos contratos
de risco bem como processos de obtenção de patentes no nível nacional e internacional.
15
Podem ser enquadrados no grupo 3 da Tabela 2.1.
Produto biotecnológico Patentes ou registros e Comercialização
Endo-oligo-peptidase 16 sequências gênicas depositadas no Gen Bank
Diagnóstico Kits diagnóstico para diarréias infecciosas
Toxina anti-metastática para câncer
Toxina agro-tóxica seletiva para predadores de plantas
Sistemas de entregas de
drogas
Sub-unidade de toxina botulínica para entrega de
quimioterápicos
Toxinas geradas por
proteomas
43
A estrutura organizacional do instituto, bastante hierarquizada, não parece ser
favorável ao desempenho de pesquisa colaborativa formal. Na realidade, há apenas um
contrato de P&D entre o CAT e a Coinfar. Observa-se, também, a ausência de
instrumentos de transferência de tecnologias precário esforço institucional para
estimular novas soluções que permitam apoiar este tipo de transação. Apenas a patente
do Evasil está em vias de ser cedida, sendo a sua titularidade compartilhada entre a
Fapesp e o Coinfar.
3.2.2 Fundação Oswaldo Cruz
A Fundação Oswaldo Cruz, por meio de suas unidades de produção e de
pesquisa, Bio-Manginhos e Far-Manguinhos, tem desempenhado um papel de liderança
nas atividades ligadas à saúde pública no Brasil. Assim como nos outros laboratórios de
vacinas, as suas atividades de produção são basicamente orientadas para o mercado
institucional através do Ministério as Saúde. No entanto, assim como o Butantã, o
Instituto Oswaldo Cruz tem estabelecido uma política de aproximação com outras
instituições de pesquisa congêneres no Brasil e no resto do mundo. No ano 2000
mantinham 56 convênios internacionais, sendo 16 no Continente Americano, 7 na Ásia,
23 na Europa, 1 na Oceania e 7 com instituições internacionais como a OMS, UNESCO
e UNAIDS, entre outras. Três convênios são mantidos com a China e e outros 3 com
Israel. Estes convênios viabilizam relações de caráter técnico e financeiro com o
ambiente externo à Instituição. Segundo Salles Filho et alii (2000) desde 1996 os
convênios passam a ser mais importantes do que a venda de serviços, como instrumento
de captação de recursos. A maior parte das transações passam através de convênios
realizados no Brasil e decorrem de encomendas ao Ministério as Saúde pelo Programa
Nacional de Imunização (cerca de 36% dos convênios).
Na Fundação Oswaldo Cruz foram visitadas duas áreas: a COGEST, que trata da
gestão tecnológica e a área de produção de vacinas, Bio-Manguinhos. A COGEST
acompanha o desenvolvimento de produtos desde a linha de pesquisa e apoia as ações
de estabelecimento de patentes e busca de parcerias nacionais e internacionais. Estas
ações envolvem a difusão de informações sobre propriedade intelectual, basicamente
patentes. Observe-se que a atuação da Fundação carioca na área de direitos de
propriedade tem sido bastante ativa. A evolução dos pedidos e do registro de patentes
pode ser acompanhado na .
44
Tabela 3.4. Indicadores de Propriedade Intelectual (1995-1999)
Fonte: Coordenação de gestão tecnológica da Fiocruz
Os pedidos de registro de processos e produtos distribuem-se da seguinte forma:
7% da Bio Maguinhos, 30% da Far- Manguinhos e 33% do Instituto Oswaldo Cruz.
Quando se trata de pedidos de patentes requeridas no exterior, a participação da Bio-
Manguinhos sobre para 37%, a do Instituto Oswaldo Cruz passa para 43% e a da FAR-
Manguinhos diminui para 12%. A relação de patentes relacionadas ao uso de
biotecnologia tradicionais ou modernas solicitadas no exterior abrange vacinas
recombinantes de febre amarela (11 pedidos em 1998), kits diagnósticos para doenças
de chagas, antígenos para a vacinação contra helmintos especialmente Schistosoma sp. e
Fasciola sp. (2 em 1994), processo para a produção de vírus em cultura de células e
processos para a produção de vacinas contra infecções causadas pelo Flavovirus (9
ocorrências em 1999).
Ainda entre as patentes solicitadas no Brasil encontram-se: composição
bioinseticidas (1995), vacinas recombinantes contra a febre amarela (1997), processo
para produção de vírus em cultura de cálula e produção de vacina contra infecção
causada por Flavovirus (1998), antígenos de Plasmodium gallinaceum no uso de
diagnóstico de malária (1999), composição bioinseticida à base de Bacillus
thuringiensis (2000), kit para análise de Leishmania sp. por PCR-RFLP (2000).
A Tabela 3.4 e a
Tabela 3.5, logo a seguir, mostram as principais patentes concedidas até o
ano de 2000 no Brasil e no exterior.
Depósitos de pedidos no
Brasil
1 1 4 5 5 15 31
Depósitos de pedidos no
Exterior
0 11 0 12 11 5 49
Patentes concedidas no
Brasil
- 1 1 7 0 3 12
Patentes concedidas no
Exterior
- - 3 10 1 3 17
Transferência de
Tecnologia/*
6 4 8 11 26 nd 55
2000 Total1996 1997 1998 1999Patentes 1995
45
Uma rápida análise do esforço relacionado ao exercício do direito de
propriedade e de patentes associadas à metodologias, processos e produtos
desenvolvidos nesta Fundação permite precisar a vocação científica e tecnológica de
todo o complexo de pesquisa instalado na produção de vacinas e reagentes. Além disso,
a sua especialização nas necessidades epidemiológicas do Brasil fica claramente
destacada.
Dessa análise mostra que as oportunidades na área de biotecnologia são
superiores aos setores de fármacos em parte à adequação dos produtos à pauta de
demandas tecnológicas e de produtos adequados aos problemas tropicais. Obviamente
há um potencial de exploração futura de mercados de países nessa mesma condição
climática, mas que depende, como se sabe, da melhoria de sua situação econômica,
principalmente dos países do Continente Africano.
Tabela 3.4 Patentes concedidas no Brasil entre 1996 e 2000
Fonte : COGEST, Fundação Oswaldo Cruz
Inovadores Projeto/Unidade Objeto Data
Cyanamon/ Roque ENSP Tratamento Águas
Residuais
23/03/96
Marzochi/Marzochi ENSP Isolamento e
identificação de
Microorganismos
30/09/97
Pinto/ Monteiro/
Vasconcelos
IOC (Dep.
Biologia)
Composição
Molucicida contra
Transmisão de
Esquitossomose
14/14/98
Aguiar IOC (Dep.
Biologia Celular)
Identificação de
bactérias que
provocam corrosão
23/06/98
Rabinovich/ Silva/
Gaycurus
IOC (Dep.
Bacteriologia)
Bioinceticida p/
Aedes, Anopheles,
Culex e outros
24/11/98
Copasso/ Almeida/
Soares
INSQS (Dep.
Microbiologia)
Meio de Cultura p/
testar Eficácia de
Esterilização
24/11/98
Tendler/ Katz/
Simpson
IOC/Cpq RR Antígeno p/
Vacinação contra
Helmintos,
Esquitosoma e
Fascíola
14/08/00
Goldemberg/Krieger/
Almeida
DBBM/IOC
Biomanguinhos
Antígeno p/
Diagnóstico de
Doença de Chagas
18/04/00
Goldemberg/
Krieger/
Almeida
DBBM/IOC
Biomanguinhos
Kit p/ Diagnóstico de
Doença de Chagas
18/04/00
46
Tabela 3.5 Patentes Concedidas no Exterior entre 1997 e 2000
Fonte : COGEST, Fundação Oswaldo Cruz
3.2.2.1 Bio-Manguinhos
A produção de vacinas é a atividade de maior alcance e visibilidade do
complexo de saúde que caracteriza a Fundação Oswaldo Cruz atendendo a população
através do Programa Nacional de Imunização (Salles Filho et alii, 2000). Esta atividade
representa cerca de 60% da produção nacional e vacinas e 40% do fornecimento ao
Ministério da Saúde, um desempenho bem mais significativo do que os dos seus
congêneres, Tecpar e Butantã.
O maior esforço está dirigido para a produção de vacinas de sarampo,
poliomelite, meningite A e C, e febre amarela. O Instituto de Tecnologia em
Imunobiológicos, Bio Manguinhos, desenvolve e produz vacinas reagentes e insumos
para a saúde pública. Possui também uma importante produção de reativos para
diagnósticos (23 tipos de kits). Esta última está concentrada em testes para
leishmaniose, leptospirose, hanseníase, sarampo, rubéola, AIDS, hepatites virais,
diarréia e raiva. A sua linha de produção inclui imunológicos de última geração. Entre
as vacinas produzidas estão a febre amarela, meningite A e C, sarampo, poliomielite,
Haemophillus influenzae, dupla-viral (sarampo e rubéola)* e tríplice-viral (sarampo,
caxumba e rubéola)
16
.
16
A tecnologia está sendo negociada com o Instituto Binken do Japão.
Tendler/
Katz /
Simpson
IOC/Cpq RR Antígeno p/ Vacinação
contra Helmintos,
Esquitossoma e Fascíola
Itália, Espanha, Reino
Unido, EUA, Nova
Zelândia, França
Várias:
1997;
1998
Goldemberg/
Krieger /
Almeida
DBBM/IOC Bio-
Manguinhos
Kit p/ Diagnóstico de
Doença de Chagas
EUA 07/04/98
Boechat/
Pinto
DBBM/IOC Bio-
Manguinhos
Compostos Fluorados
Usados como Fármacos-
Atividade Anti-
inflamatória
Itália, Espanha, Reino
Unido, EUA, França,
Alemanha, Bélgica,
Suíça
Várias:
1998;
1999;
2000
Galler/Freire IOC Bio-
Manguinhos
Vacina Recombinante
contra Febre Amarela
África do Sul 18/01/00
Países DataInovadores Projeto/Unidade Objeto
47
Uma rápida análise da produção de vacinas e reativos, conforme a
Tabela 3.6, mostra que, entre 1995 e 1999, a produção de vacinas na Bio-Manguinhos
mais do que se quadruplicou apesar de uma queda substancial entre 1995 e 1996.
Segundo Salles-Filho et alii (2000) isso ocorreu devido à mudanças de caráter
operacional e administrativo entre as quais a construção de uma nova planta industrial-
recentemente inaugurada- na qual foram realizados investimentos de mais de US$ 70
milhões.
Tabela 3.6 Produção de Vacinas e Reativos*
*Em Hum (1) Milhão de Doses de Vacinas e 1 Milhão de Doses de Reativos
Fonte: entrevistas no local.
As atividades de produção da Bio-Manguinhos estão associadas a duas linhas
gerais de desenvolvimento de produtos, a saber:
17
a) Substâncias diagnósticas in vitro e in vivo;
b) Produtos biológicos (exceto substâncias diagnósticas).
No caso da pesquisa em diagnóstico, as atividades que usam metodologias mais
próximas à biotecnologia são desenvolvidas de acordo com as seguintes linhas:
a) DNA recombinante;
b) Reativo para leishmaniose usando antígeno recombinante;
c) Reativo para leptospirose usando antígeno recombinante;
d) Teste rápido para HIV-1/2 usando antígeno recombinante;
e) Reativo para Hepatite usando antígeno recombinante;
f) Reativos para diarréias virais (Adeno e Rotavírus) usando recombinantes;
17
Percebe-se que todas essas atividades podem ser enquadradas no grupo 3 da Tabela 2.1. O sucesso
dessas atividades levam a efeitos encadeados sobre atividades do grupo 4 e grupo 6 (já como uma
prestação des serviços, um produto final dos desenvolvimentos feitos).
Reativos 1,9 2,2 1,8 2,1 1,8
Vacina 33 15 56 106 120
321 3631995=100 100 -46 170
1998 1999
1995=100 100 116 95 111 95
Produto/Ano 1995 1996 1997
48
g)Vacina.recombinante expressando leishmaniose em BCG;
h) Vacina DNA contra ETEC e contra dengue.
Além disso, a Bio-Manguinhos continua atuando nas suas linhas tradicionais. As
vacinas contra meningite meningocócica dos tipos A e C são compostas de
polissacarídeos purificados de Neisseria meningitis,usando lactose como suporte para a
sua liofilização. Estas vacinas são restritas à situações tipicamente epidêmicas. A vacina
viral contra poliomelite é formulada em concentrado viral importado sendo usada em
programas de imunização do Ministério da Saúde. A vacina contra o sarampo teve a sua
tecnologia de produção transferida do Instituto Binken, do Japão sendo usada em
programas de imunização do Ministério da Saúde. Esta vacina é composta de vírus
atenuado da Cepa Binken Cam-70. Tanto as vacinas de sarampo como as de meningite
são produzidas integralmente na Bio-Manguinhos. A vacina contra febre amarela a
partir de clones infecciosos é 100% nacionalizada e sua produção atende toda a
demanda do país, sendo o Brasil o seu maior produtor. A vacina é produzida em ovos
embrionados, livres de patógenos específicos, utilizando a cepa do vírus atenuado 17D.
O desenvolvimento das vacinas de sarampo e meningite também foi feito pela Bio
Manguinhos.
Na área de biologia molecular estão sendo desenvolvidas numa primeira etapa
vacinas contra flavovírus. A caracterização deste antígeno faz parte do desenvolvimento
de vacinas complexas. Um dos exemplos é a vacina de dengue, para a qual que existem
4 sorotipos, exigindo procedimentos não tradicionais. Nestes casos, a abordagem de
regeneração é desenvolvida usando-se partículas virais, a partir do material clonado. O
mesmo procedimento vai ser usado na produção de vacinas contra a febre amarela e no
estudo de bases moleculares e avaliação imunogênica de recombinantes entre febre
amarela e dengue. As vantagens econômicas traduzem–se diretamente no aumento da
produtividade e no menor custo de produção. A produção de vacina contra febre
amarela é um projeto pioneiro pela OMS bem como o desenvolvimento de anticorpos
monoclonais para diagnósticos de dengue. Pesquisas sobre vacinas de segunda geração
de meningite C e D estão sendo desenvolvidas junto à Fundação Oswaldo Cruz.
A vacina contra a infecção pelo Schistosoma mansoni (anti-esquistossomose) é
aplicada em programa nacional de controle de endemias. Como desenvolvimento
paralelo está sendo desenvolvida a vacina contra infecção pela Fasciola hepatica, de
grande interesse econômico no controle da fasciolose do gado. Em 1999 iniciam a
produção de vacinas contra H. influenzae tipo B, uma das principais causas de
49
meningite. Em 2000 eram produzidas cerca de 8 milhões de doses dessa vacina, embora
ainda a partir do bulk importado.
Entre os projetos de maior prazo de maturação encontram-se os das vacinas
bacterianas BCG, meningite B e C - em conjunto com os Institutos Adolfo Lutz e
Butantã, a vacina contra Salmonella typhi (desenvolvida junto com laboratórios do
México e do Chile) e outras vacinas virais. As vacinas de pólio, HIB e rubéola, também
são feitas a partir de bulk importado e, no caso da vacina de pólio enfrentam problemas
de escala.
A produção de reativos para diagnósticos pode ser classificada através das
seguintes linhas (ver item 3.2 naTabela 2.1):
a) Leishmaniose canina e humana em cultura de tecido in vitro e in-vivo;
b) Leptospirose;
c) Doença de Chagas por cultura de tecido in vitro e in vivo;
d) Ensaios imunoenzimáticos para Hepatite A e B;
e) Ensaios imunoenzimáticos para diagnósticos de diarréias virais;
f) Desenvolvimento de sonda molecular específica para detenção de Adenovírus;
g) Produção de antígenos de vírus da dengue (tipos 1 e 2)
Os processos utilizados incluem desde metodologias e protocolos tradicionais
até a utilização de enfoques e métodos recombinantes, a saber:
a) produção de proteinas recombinantes;
b) purificação de proteínas;.
c) produção de DNA recombinante;
d) purificação de DNA;
e) transformação de células eucarióticas;
f) transformação de bactérias;
g) detecção de proteína recombinante
Embora não tenha sido possível obter os valores associados à importação de
enzimas, proteínas e anticorpos utilizados pela unidade na produção das vacinas e
reativos, a Tabela 3.7 apresenta as informações referentes aos principais
insumos utilizados pela Bio-Manguinhos. Esses resultados reforçam a análise que
faremos do comércio exterior, ao final desse capítulo, que mostra claramente a
dependência, ainda que em nível de agregação mais elevado, do país com a importação
de reagentes e toxinas para biotecnologia. Confirma também as apreciações de Lemos
(2000) sobre a falta de uma maior interdependência das atividades de biotecnologia no
50
país, dando a impressão que os pólos produtivos geram poucos impactos diretos e
indiretos sobre as cadeias produtivas do país. Devemos lembrar que a biotecnologia
pode não ter como objetivo apenas a dinamização da economia, mas a solução de
problemas característicos das populações em ambientes tropicais.
Tabela 3.7 Bio-Manguinhos: Origem dos Insumos
Fonte: Bio-Manguinhos
3.2.3 Instituto de Tecnologia da Paraná – Tecpar
A Tecpar é uma das três instituições públicas que produzem vacinas animais e
humanas no Brasil, embora a sua especialização básica esteja voltada para a área
animal. Os principais clientes são o Ministério da Saúde (vacinas) e Ministério da
Agricultura (antígenos). A sua linha de produtos inclui vacinas e substâncias
diagnósticas in vitro e in vivo bem como produtos biológicos.
Até 1970, a instituição privilegiava a pesquisa na área animal com grande ênfase
em brucelose. A produção de vacinas para peste suína ainda era realizada apenas para
atender os problemas emergenciais. A tecnologia da vacina anti-rábica (para cães e
gatos) foi trazida do Chile para o Brasil no início dos anos 80 por solicitação do cliente
institucional (Ministério da Saúde). Inicialmente as encomendas do Ministério da Saúde
eram de 1.000 mil doses/ano passando até atingir 28.500 mil doses/ano em 1999.
Atualmente elas constituem cerca de 80% da receita da Tecpar.
A sua grande vantagem, além da especialização na área veterinária, é a
capacidade de produção em larga escala, portanto a um custo baixo. No caso da vacina
anti-rábica, esta última é produzida através da inoculação com vírus da massa cerebral
de camundongo (viabilizado pela utilização do biotério do Tecpar, que conta com 5
milhões de camundongos). Atualmente a vacina de DNA anti-rábica vem sendo
Estados Unidos Europa e Estados Unidos
- Enzimas Modificadoras - Enzimas de Restrição
- Proteínas Recombinantes - Enzimas DNA – Ligase
- Anticorpos Monoclonais - Oligo-nucleotídeos
- Interleucinas - Plasmídeos – sistemas de expressão
- Antibióticos e Meios de Cultura
- Resinas cromatográficas para purificação
- Corantes e reagentes químicos diversos
ORIGEM
51
produzida apenas em Israel. A vantagem deste tipo de vacina está associada ao seu
custo de produção mais baixo uma vez que usa proteína sintetizada, dispensando o
biotério. A dificuldade de introdução da biotecnologia deve-se ao custo de
desenvolvimento do produto (associado à P&D).
A dificuldade de fazer pesquisa e desenvolver produtos, ao nível da
biotecnologia moderna, é um dos grandes entraves da Tecpar. Isso ocorre porque ela
careca de massa crítica em P&D embora tenha excelentes instalações e equipamentos. O
problema está sendo contornado este problema através dos convênios, entre os quais o
que mantêm com a Bio-Manguinhos e de novas parcerias que está negociando, inclusive
com a China. A Tecpar acaba de inaugura Centro de Biotecnologia Molecular, tendo
para isso trazido pesquisadores do IOC no Rio de Janeiro.
Dos Estados Unidos e Alemanha importam meios de cultura e do Canadá e
Estados Unidos importam reagentes. Estas importações estão ligadas a linhas de
pesquisas de desenvolvimento de kits moleculares de detecção de brucelose e leucose
enzoótica bovina. A possibilidade de aplicação está associada a elaboração de
diagnósticos e campo. Novamente o aspecto da criação de um “mercado interno” de
biotecnologia mostra-se relevante. As instituições-chave podem atuar como importantes
elementos de dinamização do mercado de insumos (Grupo 3 da Tabela 2.1), mesmo
quando atuem fornecendo bens públicos. Não há necessidade que desenvolvam seus
próprios mercados em todas as linhas de produto para gerarem um mercado de
biotecnologia. O importante é que não se trata de substituir importações e sim agregar
valor a bens que podem ou não ter como destino o mercado.
Os processos tecnológicos mais utilizados são fermentação/crescimento de
células em bio-reatores, centrifugação, purificação por cromatografia e inativação
química. A equipe de pesquisa e produção de vacinas é composta por 6 farmacêuticos
(4 com especialização, 2 com mestrado), 1 agrônomo com pós-doutorado, 5 biólogos
(com especialização) e 6 médicos veterinários (1 com doutorado, 2 com mestrado e 3
especialização) além de mais 6 técnicos de nível médio. A Tabela 3.8
resume as áreas de atuação do TECPAR e seus principais produtos.
Desde o final da década de 80 a Tecpar, em associação com o Butantã, passou a
produzir vacina de raiva para uso humano, o que exige técnicas mais adequadas de
purificação e, portanto, tem um custo maior. A tecnologia utilizada é de cultivo celular.
Vacinas baseadas no cultivo celular já estão no mercado desde 1980. Esta vacina é
52
obtida a partir de cultivo celular a partir de células de cérebro do embrião de galinha,
células de rim de macaco e células diplóides humanas, alternativamente.
Tabela 3.8. Tecpar - Discriminação de Produtos
Produto Descrição
1. Vacinas Vacina anti-rábica, para uso em cães, produzida em cérebro de
camundongo lactente
2. Diagnóstico Diagnóstico de brucelose por: soro aglutinação rápida em
placa;placa de anel no leite; ring-teste; acidificado tamponado
3. Antígenos Tuberculina PPD bovina e aviaria para diagnostico de
tuberculose bovina.
4.Atividades
biotecnológicas
Produção de vacina anti-rábica canina e humana em cultivo
celular, antígeno para diagnostico de brucelose; tuberculina PPH
humana.
Fonte: entrevista no local, elaboração própria.
Um dos atuais fornecedores da vacina para o Ministério da Saúde é uma filial do
Laboratório Merrier, na Venezuela. A concorrência com vacinas importadas tem
aumentado ao longo dos últimos anos em decorrência de uma mudança na política do
Ministério da Saúde. Em Maio 2000 o Brasil importou 30.000 mil doses de vacina
humana em cultivo celular..
Inicialmente a Tecpar obteve financiamentos junto à FINEP que permitiram o
inicio da produção desta vacina em escala experimental.. No entanto, a escala de
produção ainda é pequena, ficando em torno de 1.500.000 doses/ano o que não permite
operar com economias de escala, dado o preço, em torno de $ 0,35 por dose. O grande
usuário desta vacina é o Estado de São Paulo.
A produção da vacina tríplice é realizada em conjunto com o Butantã, que
encaminha o bulk para a instituição paranaense. Esta divisão de atividades revela como
uma das principais estratégias dos produtores estatais de vacinas no Brasil. Esta
estratégia baseia-se numa distribuição de trabalho em que as capacitações de cada
instituição são levadas em consideração ficando a Tecpar com a produção em massa e o
Butantã com o desenvolvimento. Em razão da produção da vacina tríplice a Tecpar
53
inaugurou recentemente uma planta nova. Atualmente vendem cerca de 3 milhões de
doses/ ano. A aproximação com a Bio Manguinhos inclui contrato de transferência de
tecnologia para produção de vacinas contra influenza (Smith-Kline). As parcerias com o
Butantã são consideradas menos estratégicas no sentido que as duas instituições
concorrem na mesma faixa de produtos. Recentemente, por exemplo, o Butantã realizou
um contrato de transferência de tecnologia com a Aventis que está sendo considerado
prejudicial aos parceiros nacionais de produção de imunológicos.
Na entrevista realizada com a empresa foi possível ainda constatar que ela
apresenta alguns gargalos ao desenvolvimento do seu processo industrial e tecnológico.
Estes são:
a) A necessidade de modernizar a produção de vacinas através de maiores
investimentos em tecnologias de cultivo de celular; mesmo a produção de vacina
humana anti-rábica apresenta-se no limite de sua capacidade no atual nível tecnológico;
b) O requerimento de obter maior financiamento para investimento na unidade
“Paraná Imunobiológicos” onde já foram gastos cerca de R$13 a R$15 milhões na
nacionalização da produção de vacinas, sem que ainda tenham obtido, objetivamente,
um produto que possa oferecer condições de comercialização razoáveis.
Por outro lado identificam um excelente potencial de mercado nas exigências
que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária apresenta aos produtos ligados à saúde
humana. Outro grande potencial de mercado é identificado no caso de antígenos e
diagnósticos de doenças veterinárias (tuberculina e brucelose). O objetivo, neste caso,
seria produzir um kit de diagnóstico molecular com a equipe do novo centro de
biotecnologia. Na área de vacina pretendem expandir-se em direção à produção de
vacinas conjugadas usando Hemophilus influenza, além da vacina toxoíde tetânica.
3.2.4 Instituto Ludwig
O Instituto Ludwig de Pesquisas contra o Câncer - ILPC - é uma instituição
internacional de pesquisa que possui laboratórios nos EUA, Europa e Japão. Em São
Paulo está instalado junto ao Hospital do Câncer - AC Camargo, da Fundação Antonio
Prudente. Representa importante agente de fomento à parceria científica com a
comunidade médico-acadêmica da USP e Unifesp e da própria Fundação.
A base de atividades do ILPC está assentada sobre pesquisas em genética
genômica. Seus principais projetos de pesquisa são: Genoma Humano do Câncer, com 1
54
milhão de bases depositadas no GenBank, laboratório de bioinformática, Genome
Center (testes clínicos de kits diagnósticos de expressão gênica de câncer),
desenvolvimento de biotecnologias de micro-array de DNA, genômica de
PapilomaVírus e pesquisa sobre príons ("vaca-louca"). Seu coordenador, Prof. Dr.
Andrew Simpson foi Coordenador de DNA quando da implementação do Projeto
Genoma Xylella (ver capitulo 5 sobre Projetos Genoma e seus impactos na criação de
mercados em biotecnologia).
As duas entrevistas, realizadas respectivamente com o Prof. Dr Andrew Simpson
e com O Dr. Emmanuel Dias, associadas ao resultado do questionário permitem projetar
um cenário do potencial de produção e comercialização de biotecnologias contra câncer
humano do ILPC.A posição privilegiada do ILPC em termos de criação de mercados de
biotecnologias na área de saúde é dada pela importância das duas frentes de P&D e
proporcionada pelo portfólio de tecnologias apropriadas pelo laboratório (Tabela 3.9),
pelo alto grau de sofisticação das linhas experimentais (Tabela 3.10) de uso corrente e
pela qualidade dos recursos humanos presentes.
Tabela 3.9 ILPC- Principais Frentes de P&D
Produto biotecnológico Patentes ou registros e Comercialização
Diagnóstico
Testes de expressão gênica baseada em mutação
Testes de análise de estrutura de proteínas
Terapêutica
Drogas de tratamento de câncer baseadas em cópias de
plasmídeos de DNA
Fonte: entrevista no local
Tabela 3.10 Biotecnologias de pesquisa
Linhas de desenvolvimento de
produtos
Produção
Genoma Câncer 1 milhão de seqüências de genes de tumores mais
freqüentes no Brasil
Genoma Clínico do Câncer Protocolos de dois mil casos de tratamento de
câncer dos tipos mais freqüentes na população
ORESTES Técnica de seleção de genes com significância
genômica para a espécie estudada
Fonte: entrevista no local
55
O desenvolvimento de testes diagnósticos de câncer por expressão de genes
muda radicalmente as formas de prevenção e tratamento clínico do câncer. As duas
frentes de pesquisa desenvolvidas no ILPC representam um significativo potencial de
mercado para a indústria farmacêutica, no ramo de produtos derivados de pesquisa
genômica.
O alto valor agregado de fármacos e kits diagnósticos deste tipo e o número de
casos de câncer de mama e próstata em países com mais de 100 milhões de habitantes
(100 mil casos/ano), como é o caso do Brasil, permite projetar o tamanho e o
dinamismo destes mercados. Segundo a BIO - Biotechnology Industry Organization,
estes mercados potenciais são da ordem de US$ 40 bilhões para os próximos 10 anos.
(grupos 3 e 6 da Tabela 2.1). A prevenção destas doenças pode ser obtida via
diagnóstico ultraprecoce, antes mesmo que alguma alteração citológica possa ser
identificada. Baseia-se em reconhecer alterações sofridas por genes de multiplicação
celular, que estão sempre com expressão triplicada ou quadruplicada, no caso de câncer.
Os testes de expressão gênica de câncer desenvolvidos no ILPC são muito mais
simples de operar do que os produtos de terapia gênica, por exemplo, e têm um amplo
potencial de utilização a baixo custo, podendo ser adaptados para muitos outros casos de
detecção precoce de doenças humanas, já que as técnicas de seqüenciamento por
ORESTES permitem rápida seleção de seqüências gênicas significativas para saúde
humana.
O ILPC tem uma posição extremamente privilegiada, em termos da capacidade
de gerar inovações biotecnológicas. Além de executor, é também uma agência
pesquisas, uma vez que coordena o Projeto Genoma do Câncer (Fapesp). Nesta rede
estão presentes dois centros de bioformática, hospitais-escola públicos e mais de vinte
grupos de pesquisa em universidades públicas e privadas (ver capítulo 5 sobre Projetos
Genoma, neste relatório). Segundo Andrew Simpson, o mercado emergente de
biotecnologias de saúde não é aquele da comercialização de sequências genéticas de
organismos, mas aquele de desenvolvimento de produtos que representem a aplicação
biotecnológica de conhecimentos científicos, como é o caso dos kits-diagnóstico.
A organização e gestão de negócios de pesquisa do ILPC incluem acordos
cooperativos e conta hoje com uma rede de hospitais da Secretaria de Saúde do Estado
de São Paulo, no próprio Hospital A.C. Camargo e no Hospital São Paulo, da Unifesp
para que sejam realizados testes pré-clínicos de drogas ou de biotecnologias
56
diagnósticas - o que já vem acontecendo com o Genoma Clínico do Câncer (ver item
"Projetos Genoma" deste relatório).
A capacitação de recursos humanos conta com 3 pós-doutorados, 13 doutores e 6
mestres em biologia molecular e genética genômica, que trabalham em um laboratório
no qual novas técnicas de pesquisa vêm sendo desenvolvidas. A principal, o método
ORESTES, permite selecionar apenas trechos de DNA com genes expressos (Open
Reading Frames EST´s, ou regiões codificadoras de proteínas), que são regiões do
genoma humano nas quais as informações significativas estão localizadas.
O potencial mercado de derivados de biologia genômica não pode ser
desconsiderado, já que é o laboratório localizado em território nacional com
possibilidades de desenvolver biotecnologias capazes de competir, no nível
internacional, com produtos das indústrias do oligopólio do setor farmacêutico.
O gerenciamento dos projetos do ILPC na Rede ONSA e com os hospitais da
Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo vem sendo feita meio de acordos formais
estudados pelos dois lados. Não foi possível ter acesso ao conteúdo destes contratos,
que envolvem pelo menos três tipos de instituições internacionais, além da Fapesp e das
universidades públicas e privadas envolvidas.
3.3 Empresas do setor farmacêutico de saúde humana e veterinária
Como vimos, as biotecnologias podem tanto substituir métodos tradicionais de
produção como criar novos mercados nos setores em questão. Empresas de
biotecnologia podem ser apenas empresas prestadoras de serviços para instituições de
pesquisa. Como ocorre nas principais áreas de desenvolvimento biotecnológico do
mundo, podem estar voltadas primordialmente para as primeiras fases de
desenvolvimento de produtos (Hopkins, 1998).
Este item pretende delinear o mercado no qual se inserem as empresas nacionais
e analisar a forma como percebem as oportunidades abertas pelas novas biotecnologias.
Para isto, foram realizadas entrevistas com atores centrais das empresas e também
foram enviados os Questionários sobre Mercado Biotecnologias para outras quinze
empresas do mesmo setor. O retorno foi bastante significativo e os resultados obtidos
foram sintetizados a seguir. Note-se que seguiu-se uma certa hierarquia na apresentação
das empresas, assim como foram organizadas segundo pólos regionais.
57
O questionário que consta no Anexo I foi enviado para empresas. Treze
questionários retornaram preenchidos e dão subsídios para os estudos a seguir.Uma
parte considerável das empresas consultadas são afiliadas da ANPEI – “Associação
Nacional de P&D&E das Empresas Inovadoras” As empresas que analisaremos a seguir
de certa forma divergem do padrão típico da empresa inovadora
18
, ainda que a mais
importante delas, a Valleé tenha ancorado seu crescimento em um produto veterinário
cujo uso foi por muitos anos compulsório e apoiado por programas públicos de combate
à febre aftosa. Nesse ponto, seu caso se assemelha ao de outra inovadora de capital
nacional, a Biobrás, inclusive pela ameaça de que inovações tecnológicas e/ou a
erradicação da doença no país venham a alterar drásticamente as trajetórias tecnológicas
e “destruir” o mercado.
O comportamento de busca por resultados de pesquisa científica e alocação de
recursos em inovação tecnológica que possam gerar desenvolvimento de novos produtos
está representado pelas duas empresas, ainda que de modo bastante diferente em cada
uma delas.
Começaremos pelo caso da Biobrás, uma empresa importantíssima tanto por sua
história quanto por seu efeito na criação da BIOMINAS. O estudo da Biobrás, feito por
Lemos (2000), ilustra que o processo competitivo envolvendo multinacionais instaladas
no país transcende a competição via preços, envolvendo um jogo de alianças que conta
com a participação de instituições bi ou multilaterais e depende crucialmente do
mecanismo regulatório. Mostra também, por outro lado, que não basta criar condições
institucionais para o a apropriação tecnológica de um produto importante no mercado se
o timing para a diversificação de produtos não for adequado.
19
Em seguida passaremos a análise de outras empresas do setor farmacêutico e
veterinário, seguindo uma lógica de apresentação regional. Iniciaremos por tês empresas
de São Paulo (ainda que Vallée tenha também base em Montes Claros, Minas Gerais).
Os gerentes de P&D das três empresas foram entrevistados, seguindo-se uma lógica
dada pelo questionário "Mercado de Biotecnologias", que está em anexo (Anexo I)
18
As empresas inovadoras no Brasil não são propriamente empresas inovadoras frutos de spin offs de
departamentos de universidade. Tem-se que 69,5% são de porte grande ou mega (isto é, 500 ou mais
funcionários), 19,6% de porte médio (entre 100 e 500 funcionários) e apenas 10,9% de micro ou pequeno
porte (menos de 100 funcionários). Com relação à origem do capital, a grande maioria das empresas
associada é nacional privada (67,4%), seguidas pelas multinacionais (26,1%) e pelas públicas (6,5%).
19
Estudo sobre o grupo Agroceres e sua empresa coligada de biotecnologia, Biomatrix, feito por Salles-
Filho et alii (1994) evidencia a dificuldade em diversificar as atividade do setor de sementes para outros
segmentos de mercado de base biológica com faturamento que permitisse ao grupo atingir uma escala
produtiva compatível com a pesquisa biotecnológica “in house”.
58
neste relatório. Com ele pretendeu-se mapear, por área, as atividades de mercado
relativas ao conteúdo em biotecnologia que cada empresa apresenta. A Vallée se destaca
na busca de soluções inovativas. As outras empresas apresentam comportamentos bem
mais retraídos em termos de inovação, mas apontam interesse em ampliar o padrão de
colaboração para pesquisa, em organização institucional e investimentos em P&D, e em
diversificar suas linhas de produtos para padrões de maior conteúdo biotecnológico .
3.3.1 Biobrás
Como mencionamos acima, os pontos apresentados aqui estão fortemente
baseados em Lemos (2000). Todavia, dado o caráter paradigmático do caso Biobrás, seu
caso vende sendo acompanho desde os anos oitenta (ver Silveira, 1993). Daremos
ênfase na situação recente e nas informações sobre a Biobrás que se ajustem à
metodologia do presente estudo.
Trata-se de um grupo que desde o início atuou no preparo de produtos
farmacêuticos de origem biológica, ou seja, que dependem em parte de matéria-prima
animal, como pâncreas de suinos. Lemos (2000) descreve a trajetória tecnológica (TT)
da insulina, enzima utilizada por diabéticos em aplicações regulares percorrida pela
Biobrás, no sentido de incrementar o grau de pureza e reduzir o nível de contaminantes
(pró-insulina) de seus produtos, acompanhando o padrão internacional. Essa trajetória
foi favorecida pela transferência tecnológica resultante de joint venture com um dos
líderes mundiais do setor farmacêutico, Ely Lilly,
20
que é também uma das empresas
líderes na produção e comercialização de insulina, junto com a Novo Industry, empresa
dinamarquesa.
A Tabela 3.11 fornece algumas informações sobre o movimento da
fronteira tecnológica do principal produto da Biobrás, a insulina e mostra como a
empresa logrou manter-se próxima a ela, evitando uma defasagem temporal entre o
produto inovador (vintage) e seu portfólio de produtos.
De fato, a trajetória pode ser traduzida na progressiva redução do nível de
contaminantes no produto, reduzindo possíveis efeitos colaterais nos usuários. Quase
cinquenta anos foram necessários para reduzir de 50.000 para 10.000 ppm de pró
20
Uma corporação especializada em saúde humana e animal (Elanco), fundada em meados do século
XIX, com faturamento superior a US$ 10 bilhões e despesas em P&D em torno de 19% do faturamento,
algo em torno a US$ 2 bilhões/ano. Algumas de suas divisões foram vendidas a outras companhias, como
Dow.
59
insulina. A partir de 1972 o conteúdo foi sendo reduzido, passando por insulina
monocomponente com conteúdo inferior a 1 ppm.
O processo de transferência de tecnologia da Biobrás, então, tem duas
características que permitem qualifica-la como “sui generis” em relação à experiência
das empresas brasileiras do setor de fármacos:
a) A efetiva absorção tecnológica com o ganho correspondente de espaço de
mercado da Ely Lilly, que de parceira, retira-se da associação sem produzir diretamente
no país;
b) A apropriação de incentivos fiscais e de políticas protecionistas típicas dos
anos 80 que configuram um ambiente competitivo que não mais existe no país.
Segundo Lemos (2000) o fim da joint venture com a Ely Lilly em 1983 foi
possível em função dos desenvolvimentos para obter uma formulação altamente
purificada de insulina (de origem porcina) e para a produção de insulina humana bio e
semi-sintética. A garantia de mercado interno – de 1979 a 1984 a situação foi de quase
monopólio no Brasil – e o acesso ao mercado internacional, combinado com o apoio
efetivo do BNDES criaram as condições para a empresa enfrentar a expansão da Novo
Industry no mercado internacional e a internalização de sua planta produtiva no Brasil.
Tabela 3.11 Trajetória Tecnológica da Insulina e Biobrás
Fonte: Apud Lemos (2000), baseado em informações da Biobrás.
Ano
Fronteira Mundial Biobrás
1921 Descoberta da Insulina
1923 Insulina é comercializada
30's Formulação PZI
40's NPH
50's Formulação lenta
1972 Formulação “single peak”
1976
Início das atividades com a produção
da insulina
1979 Cristais de Insulina “single peak”
1980 Insulina com monocomponente (2)
1984
Insulina humana sintética e
biosintética
Produção de insulina altamente
purificada
1988 Início da Prod. de Insulina Humana
1994 Insulina Dna Recombinante
1998 Insulina Humana Dna recomb.
60
Os dados representados na Figura 3.1 mostram uma certa estagnação instável
tanto do mercado interno quanto das exportações. A acusação de dumping feita pela
Biobrás a Novo Industry em um cenário de perda de market share no mercado de
insulina é revelador das dificuldades crescentes que a Biobrás enfrenta para competir
com as duas líderes mundiais em um contexto de economia aberta, mesmo tendo
“seguindo de perto” os avanços da fronteira tecnológica (e garantido o padrão de
qualidade, com a certificação ISO 9001 para insulina).
Figura 3.1 Biobrás Evolução Anual das Vendas (US$ 1000)
1995
1996
1997
1998
Mercado
Interno
Exportações
Total
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
Mercado Interno
Exportações
Total
A situação enfrentada pela Biobrás é um bom exemplo das dificuldades em
“promover” as empresas nacionais em ramos intensivos em tecnologia em um país
como o Brasil em que as empresas líderes mundiais internalizaram a produção ou os
segmentos finais (formulações, distribuição e marketing). A Biobrás conseguiu um
produto com excelente desempenho
21
, mas que não garante um processo articulado de
diversificação e o estreitamento de redes locais.
Outros casos já foram mencionados na literatura (Silveira,1993), envolvendo a
mesma Ely Lilly e uma empresa nacional, inicialmente ligada às cooperativas agrícolas
e posteriormente capitais locais e de uma firma israelense e envolvendo a Monsanto.
21
O mercado mundial de insulina é de US$ 2 bilhões, repartido pela Novo e pela Ely Lilly (77% do
mercado, segundo Lemos (2000).
61
Nos dois casos, as empresas locais lograram crescer e de diversificar, atingindo todavia
um tamanho que, a despeito do nível elevado de gastos em P&D (entre 5 a 10% do
faturamento, como na Biobrás), não conseguem uma massa crítica para um processo de
diversificação baseado na geração interna de inovações.
22
A idéia de que existam tecnologias genéricas a serem apropriadas para criar
mercados capazes de sustentar futuros esforços de pesquisa está definitivamente fora de
foco. Normalmente o acesso a tecnologias de produtos já maduros, mas com bom
desempenho se dá por meio de relações bilaterais, empresa a empresa motivadas por
interesses bastante particulares, sendo pois algo que não se pode propor como política.
O processo de transferência tecnológica da Biobrás pode ser entendido como
uma conjungação de esforços de política direcionadas para a firma, o uso da base
universitária (spin off da UFMG) e a particular situação da fornecedora de tecnologia.
Os outros (poucos) exemplos da indústria de química fina no Brasil também são
exceções que confirmam a dificuldade em se conseguir este tipo de transferência
tecnológica por parte de empresas de pequeno e médio porte.
O futuro da Biobrás está posto na busca de diversificação de seu portfolio de
produtos e no formulação de alianças com universidades que permitam acompanhar o
deslocamento da fronteira tecnológica. Lemos (2000) comenta a existência da BIOMM
inc., uma joint venture entre Biobrás (detentora de patente, registrada nos EUA, na área
de materiais orgânicos que protegem as células β, produtoras de insulina) e a
Universidade de Miami, como um exemplo de “vazamento” dos estímulos de pesquisa,
que ilustra as dificuldades para desenvolver “clusters” em biotecnologia.
A diversificação se dá em áreas novas, como:
a) Área cardiológica -desde 1996;
b) Equipamentos: sensores portáteis para medição de glicólise sangüínea (grupo
4 da Tabela 2.1);
c) Bioquímica clínica, biologia molecular e Tipagem de DNA (grupo 3.3 da
Tabela 2.1);
d) Uroanálise e reagentes imunodiagnóstico (grupo 3.3 da Tabela 2.1, em 1998);
c) Produção de Insulina Recombinante – desde 1998 (grupo 3.3 da Tabela 2.1).
As disputas da Biobrás com as duas líderes mundiais ilustram bem o problema
enfrentado pelo desenvolvimento de produtos que contam com largo mercado
22
Ely Lilly gastou 19% do faturamento em P&D, ou seja, algo próximo a US$ 2 bilhões/ano.
62
internacional. Por um lado, viabilizam o faturamento de empresas de menor porte, que
exploram certas vantagens locais; por outro, as expõe a um verdadeiro arsenal de
medidas de retaliação, no campo da propriedade intelectual associado às regras de
comércio (TRIPS) e fundadas na forma discricionária com que os governos de países
centrais defendem os interesses das “suas”multinacionais.
3.3.2 Grupo de perfil: Vallée
O “Grupo Vallée” pertence a uma empresa holding denominada Carfepe, que
atua em outros setores, que não são intensivos em tecnologia, como imobiliário e de
fazendas. O grupo identificou, em 1961, na produção de vacina contra febre aftosa uma
“janela de oportunidade” para crescimento do grupo, com maior conteúdo tecnológico.
As instalações em Montes Claros, na década de 80, aproveitando incentivos fiscais
dados a empresas na região da Sudene, visavam ocupar o mercado crescente do Centro-
Oeste do país. A empresa logrou montar um laboratório de imunobiológicos bastante
moderno, contando inclusive com técnicas de armazenamento da vacina a frio que
permitiam reduzir substancialmente o custo de produção, desenvolvida a parte de
acordo de cooperação com o Instituto Merrieux. A linha veterinária para bovinos é
ampla, abrangendo imunobiológicos (as principais vacinas, como contra carbúnculo,
contra burcelose, leptospira, raiva), produtos terapêuticos (antibióticos), antiparitários e
suplementos nutricionais. Mantém o nicho de mercado de febre aftosa, em que estão
bem posicionados tanto geograficamente quanto do ponto de vista de mercado.
A Valléé tem um faturamento bruto de R$ 80 milhões, 5% dos quais são
investidos em P&D. Estabelece uma média de parcerias para pesquisa com 6
universidades por ano (ver de sobrevivência para o setor.
Tabela 3.12.) e realiza desenvolvimento interno de produtos.
A empresa passa por uma transição, de seguidora para inovadora, graças aos
esforços recentes em estabelecer e contratar pesquisa colaborativa com universidades e
centros de pesquisa públicos nacionais e internacionais. O perfil delineado pelo quadro
acima permite constatar que a Vallée se destaca quando se considera o conjunto de
empresas nacionais que fazem P&D. Possui uma Diretoria de Gestão Tecnológica
(DGT) compreendendo além de tarefas de prospecção, a supervisão das atividades de
três laboratórios: Laboratório Experimental de Parasitologia, Laboratório Experimental
63
de Fermentação e Laboratório de Tecnologia Farmacêutica. A diversificação para a
áreas de produtos de saúde humana está sendo feito progressivamente. Nos últimos anos
a empresa já lançou 31 novos produtos.
Também nos últimos dez anos cumpre o papel de fomento aos investimentos em
P&D junto a outras empresas do mesmo setor. Seu Diretor-presidente, Sr. José Americo
Craveiro, acredita que a tecnificação e a melhoria dos conteúdos em ciência são o
caminho para dobrar a produção da empresa em cinco anos. Tem claro, por exemplo,
que os pro-bióticos devem vir a ser os substitutos para os antibióticos do setor pecuário,
e, portanto, tem como certo que uma atitude pró-ativa em termos de busca por parcerias
por inovação é o fator crucial de sobrevivência para o setor.
Tabela 3.12 Vallée -Frentes de Atuação em P&D
Linhas de pesquisa e/ou produtos em
desenvolvimento
Parceiros
Vacina contra brucelose Biobrás, UFRJ, Instituto Biológico – SP,
Instituto Pasteur - SP, UFSC,
Controle de Clostridium Embrapa
2 patentes de métodos de análise de
infecção em bovinos e suínos
desenvolvimento interno
Anti-parasitário contra mosca-do-chifre Universidade de Viçosa e Embrapa
Vacina contra mosca-do-chifre (em
desenvolvimento)
Cuba (Heber Biotech) e Austrália
(Pharmacia e Life Technologies)
Somatrofina suína em pré-teste Embrapa
Genômica bovina Unesp - Rio Preto
Sistemas de entrega de drogas e micro-
encapsulação (em fase de negociação)
Natura Cosméticos
Vetores virais para baculo-vírus e
desenvolvimento de vacina contra mastite
bovina
Instituto Biológico - SP
Fonte: entrevistas no local; elaboração própria.
Participa atualmente dos Programas de Empresas da Fapesp, implementa os
mecanismos de investimento em P&D da Lei 8661 do governo federal, já realizou
pesquisa cooperativa nos programas PADCT I e II, e acredita que programas de
64
capacitação de recursos humanos, como o RHAE, não poderiam ser negligenciados,
pois são absolutamente essenciais para a manutenção da posição de mercado de
empresas com alto grau de dependência biotecnológica. Da mesma forma que as duas
outras empresas analisadas neste item, a Vallée vem estabelecendo parcerias para
inovação com o CEPID-CAT do Butantã.
O caso de sucesso da Vallée também está relacionado ao aproveitamento do
incentivo dado às empresas para a produção de vacina anti-aftosa, como estratégia de
erradicação “lenta” da doença. O fato de conhecer que pelo menos para a região Centro-
Sul do Brasil a declaração de “zona livre de vírus da aftosa” resultaria na perda de
mercado criou um incentivo para a busca de diversificação de atividades. O interessante
é que as características dos imunobiológicos (que nem todo ano constituem a principal
fatia do mercado veterinário do país) induz investimentos em tecnologia e em pesquisa.
Por exemplo, os laboratórios estão investindo cada um cerca de US$ 5,0 milhões em
biossegurança.
A existência da linha de imunobiológicos é a base para a diversificação para
produtos biotecnológicos. Ainda assim. os incentivos fiscais e a política de erradicação
da febre aftosa foram elementos centrais para a consolidação da Vallée, tal como
apresentamos no caso da Biobrás. A diferença é que as multinacionais na área (Bayer,
Welcome – hoje GlaxoSmithKlihe-Beechan, Pfizer, Rhone-Merrieux) não foram tão
agressivas na competição com as empresas nacionais.
Ao contrário, parte das tecnologias introduzidas na produção local (que era uma
exigência óbvia, em função do virus, pretensamente, ter sido “erradicado” nos países
centrais) difundiram-se via capital humano, para empresas locais, como Noli (adquirida
pela Bayer) e Vallée. Tal fato reforça uma idéia presente nesse trabalho de que a
ocupação de espaços de mercado sempre foi resultado de algum tipo de combinação
entre a ação pública e a necessidade de internalizar a produção, criando uma barreira
significativa contra a importação de produtos.
23
23
Na década de oitenta tentou-se desenvolver uma vacina Dna recombinante anti-aftosa. O Centro de
Biotecnologia do Rio Grande do Sul foi um dos pioneiros nessa área. Também a Pfizer e Welcome
desenvolviam pesquisas. Os resultados não foram satisfatórios. Caso fossem, poderiam fazer do Brasil
uma “ponta de lança”para a exportação de vacinas, que seriam seguras e “tradeables”.
65
3.3.3 Grupo de perfil "Biolab-União Química"
Tradicional empresa do setor farmacêutico, a Biolab ocupa hoje uma posição
secundária no mercado. A maior parte de seus produtos baseiam-se em bioquímica e
farmácia tradicional, com baixo conteúdo em ciência.
O comportamento de busca por inovação biotecnológica é menos evidente do
que o da Vallée. Os investimentos em P&D são da ordem de 1% do faturamento bruto,
mas, apesar disto, vem contratando pesquisa em institutos públicos de pesquisa.
A empresa apresenta um padrão bastante tímido de busca por inovação,
concentrando suas iniciativas neste campo apenas para desenvolvimento de produtos de
utilização hospitalar e produtos naturais de suplementação alimentar, além da linha
tradicional de drogas de segunda geração.
A Tabela 3.13 mostra as linhas de P&D da Biolab.
Tabela 3.13 Biolab -Frentes de P&D
Linhas de pesquisa e/ou produtos em
desenvolvimento
Parceiros
Hidrogel para tratamento de queimados IPEN
Fármaco para tratamento de hipertensão arterial
humana baseado em sub-unidade de toxina botrópica
Instituto Butantã
Fator de crescimento humano modificado de
Escherichia coli
Instituto Butantã
Fontes: entrevistas no local; elaboração própria.
Não atuam nas áreas de comercialização de citoninas, anticorpos ou vacinas
virais. Muito menos pensam em buscar competência para o desenvolvimento de drogas
de química combinatória ou testes-diagnósticos. As empresas deste grupo demonstraram
dificuldades financeiras cíclicas, devido às mudanças de políticas de controle de preços
de remédios no Brasil, que, segundo 11 delas, impede que significativas parcelas do
faturamento sejam investidas em P&D. A Biolab-Sanus, especificamente, investe em
P&D junto ao CAT do Butantã, e espera poder competir no mercado internacional com
pelo menos dois novos produtos, um deles - o Evasil - já descrito e analisado
anteriormente neste relatório. As questões de propriedade intelectual e contratualização
de P&D vem sendo executadas pelo INPI, mas a gestão de risco e o estabelecimento de
66
acordos cooperativos não são desdobrados em instrumentos específicos. Apenas estão
implícitos nos contratos da Fapesp com o CAT e a Coinfar. Este aspecto pode se tornar
especialmente polêmico, se as expectativas de comercialização do Evasil forem
alcançadas.
3.3.4 Empresas Hereditas e Genomax
Continuaremos tratando empresas que não estão sediadas em Pólos de
Biotecnologia. No caso da Biobrás, ela própria foi uma empresa precursora do Pólo hoje
representado pela Fundação Biominas. As duas empresas são spin offs de centros de
excelência na pesquisa em biotecnologia localizados em Brasília.
A Heréditas é uma empresa do ramo de testes de paternidade que está se
expandindo - como Genomax - para as áreas de testes diagnósticos genômicos e em
biologia molecular para agricultura e pecuária de bovinos e equinos. Seus fundadores
são ex-pesquisadores CENARGEM (Embrapa), na área transferência de genes em
mudas de eucaliptos, biobalística, marcadores morfológicos, sequenciamento de DNA e
marcadores de alto desempenho e polimorfismo.
Este é um caso ímpar de spin off da Embrapa e de seus programas de capacitação
de recursos humanos, uma vez que a Heréditas é coordenada por dois PhDs em biologia
molecular e genômica licenciados daquela empresa após intensa atividade de pesquisa
tecnológica dentro do CENARGEM. A empresa foi fundada com o intuito de realizar
trabalhos de determinação de paternidade por DNA, com apoio de recursos do PADCT
II, em 1996. É hoje a terceira empresa do setor, prestando serviços em 20 Estados
brasileiros. Vem construíndo, com recursos próprios, um centro de pesquisa genômica
que deve abrigar duas empresas, a própria Heréditas e a Genomax.
Os sócios-fundadores, Marcio Elias e Dario Gratapraglia, articulam uma
interessante rede de atores nas áreas de pesquisa básica e aplicação tecnológica de
produtos agropecuários de precisão. São professores responsáveis pelo primeiro curso
de pós-graduação em biologia genômica da Universidade Católica de Brasília, para a
qual acabam de montar um laboratório de genômica que possui dois sequenciadores de
DNA e um database. Orientam alunos nos cursos de biologia molecular da Universidade
de Brasília, e, apesar de licenciados da Embrapa, coordenam duas pesquisas de
desenvolvimento de técnicas de valoração genética. A base de recursos humanos da
Heréditas, levando-se em conta esta capacitade organizacional descentralizada, conta
67
com dois pós-doutorados, oito doutorandos e três mestrandos, trabalhando em diferentes
instituições do sistema de pesquisas genômicas em Brasília.
São capazes de operar técnicas científicas da fronteira do conhecimento em
genética genômica, o que inclui todas aquelas de conservação e manutenção de
germoplasma, co-cultura para transferência de genes em plantas, biobalística,
marcadores morfológicos em plantas, YAC (cromossomos artificiais de fungos),
sequenciamento de DNA, sequências expressas de genes, marcadores de alto
desempenho e polimorfismo para plantas, detecção de organismos geneticamente
modificados e por estimativa de distância genética.
A Heréditas-Genomax apresenta grande potencial de executar P&D para os
setores de saúde e agronegócios, uma vez que, além da expertise técnico-científica vem
organizando negócios com setores de produção de eucalipto e comercialização de
madeiras para produção de papel, de melhoramento genético de bovinos e eqüinos por
identificação individual e exames de vínculo genético.
3.3.5 Fundação Bio-Rio: uma análise geral e de suas empresas
A instalação do Pólo de Biotecnologia do Rio de Janeiro/Pólo Bio-Rio ocorreu
em 1986, ou seja, quando a biotecnologia ainda estava em seu início, com um lag muito
pequeno em relação aos países líderes. Sua função era a de fomentar a pesquisa e o
desenvolvimento da Biotecnologia em instituições científicas e viabilizar sua
transferência para o Setor Produtivo. Como decorrência, em 1988 foi criada a Fundação
Bio-Rio, a qual teve como instituidores o CNPq/Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico, a FINEP/ Financiadora de Estudos e
Projetos, a ABRABI/Associação Brasileira das Empresas de Biotecnologia, a
ACRJ/Associação Comercial do Rio de Janeiro, a FIRJAN/ Federação das Indústrias do
Rio de Janeiro e a FLUPEME/ Associação Fluminense das Pequenas e Médias
Empresas.
A Bio-Rio foi criada com o objetivo de promover o desenvolvimento integrado
da biotecnologia no âmbito das instituições científicas e das empresas associadas ao
Pólo Bio-Rio. Em 1988 a Bio Rio assinou com a UFRJ um convênio estabelecendo o
uso da área pelo prazo de 30 anos renováveis, para a criação de um Parque Tecnológico,
compreendendo Incubadeira de Empresas e Lotes Industriais.
Em 1990 foi assinado com a UFRJ um Convênio de Cooperação Técnico-
Científica para a execução de programas e projetos, assistência técnica, serviços
68
técnicos, promoção de eventos, oferta de estágios, execução de trabalhos contratados
por terceiros e levantamento de recursos junto a fontes públicas e privadas, nacionais e
internacionais. Em 1990, a primeira empresa originária do Instituto de Microbiologia
da UFRJ, a WL Imunoquímica instalou-se na Incubadeira Bio-Rio. Em 1991, a
Fundação recebeu a primeira solicitação para instalação de uma empresa nos Lotes
Industriais.
A urbanização dos Lotes Industriais foi finalizada pela Prefeitura do Rio de
Janeiro em dezembro de 1992 e inaugurada em 1996 com a Ambio Engenharia, empresa
dedicada à área de Tratamento Biológico de Efluentes.
Atualmente, a Fundação Bio-Rio é gerida pelo Conselho Deliberativo e pela
Presidência. O Conselho Deliberativo é composto por 13 membros, indicados por:
UFRJ (03), FIOCRUZ (01), Estado RJ (01), Prefeitura RJ (01), FIRJAN (01), ACRJ
(01), FLUPEME (01), ABRABI (01), SEBRAE/RJ (01) e Empresas do Pólo Bio-Rio
(01). Os contratos com a Incubadora de Empresas produzem um ambiente protegido e
são feitos por, no máximo, 5 anos. Já os Lotes Industriais são módulos de 1.000 m
2
urbanizados, que dispõe de serviços de distribuição de água, luz e força e coleta de lixo
e esgoto para instalação de empresas de base tecnológica e de centros de pesquisa, os
quais têm contrato de cessão de terreno até 2018. As empresas que lá estão instaladas
devem se dedicar à pesquisa em biotecnologia (mantendo linhas de pesquisas integradas
aos Departamentos da UFRJ) sendo vedada atividade exclusivamente comercial.
Até o momento, a Fundação Bio-Rio mantém 17 empresas na Incubadora, sendo
9 residentes, 1 em estágio de instalação, 5 graduadas e 2 que interromperam atividades;
3 empresas em funcionamento, 2 em fase de construção e 2 com projetos em fase de
avaliação para instalação nos Lotes Industriais e 300 pequenas e médias empresas
atendidas pelos serviços de gerenciamento e controle de qualidade. Tem também 13
patentes depositadas, sendo 12 provenientes da UFRJ e 01 da USP, 240 projetos de
pesquisa e desenvolvimento administrados, US$ 14,0 milhões destinados à importação
de equipamentos e insumos, além de 500 bolsas para desenvolvimento tecnológico
industrial. O resumo das atividades das firmas do Pólo e na Incubadora é apresentado
adiante.
Em seguida serão analisadas algumas empresas direta ou indiretamente
relacionadas ao Pólo. O objetivo não é todavia, avaliar a adequação da idéia de Pólo e
Incubadora ao desenvolvimento de empresas em biotecnologia e sim apresentar um
69
panorama daquelas que estão envolvidas no desafio de aplicar e desenvolver produtos
biotecnológicos.
Os resultados do Pólo são bastante tímidos, confirmando o ponto apresentado
por Lemos (2000) de que apenas a proximidade e engajamento de pesquisadores do
mais alto nível científico e tecnológico não são suficientes para que a biotecnologia crie
demanda para a própria biotecnologia, ou seja, que produza uma internalização virtuosa
de serviços e produtos intermediários da e para biotecnologia, que viabilizem “clusters
de inovação.
Os problemas vão desde o tamanho das empresas, acesso a crédito (ou a falta de
mercados de risco via equity)
24
, identificação adequada de alvos de mercado até a
dificuldade de sua inserção em mercados de produtos de química fina, de alto valor
agregado e de fácil importação. Todavia, algumas empresas tanto no Pólo Rio quanto do
Rio Grande do Sul apontam caminhos na adequada conjugação do conhecimento
tecnológico e apropriação de recursos naturais disponíveis.
3.3.6 Empresas relacionadas ao Pólo Bio-Rio
As entrevistas ao Pólo Bio-Rio permitiram apontar um ponto interessante: o uso
pontual de técnicas biotecnológicas (por exemplo, a prestação de serviços de
diagnósticos em saúde humana e veterinária) vai gerando novos patamares de exigência
- por exemplo, em prevenção a doenças, via formas de diagnóstico rápido – que criam
um mercado para insumos biotecnológicos.
Há no pólo empresas como a Dalmatia que oferece linha de produtos
dermatológicos e cosméticos (sabonete líquido, facial e cremes para o corpo e rosto),
não tendo relação com a biotecnologia moderna. A M&N –Indústria Farmacêutica
trabalha com cosméticos. Sua linha mais importante está relacionada à produção de
lipossomos para tratamento de celulite e Capsaicina para tratamento de Herpes zooster.
A matéria prima desta última é obtida no interior paulista. São empresas pequenas com
faturamento inferior a R$ 70,0 mil ao ano.
Também o Silvestre Laboratórios não trabalha com biotecnologia. Oferece
preparações farmacêuticas, medicamentos, produtos de higiene, controle hospitalar,
ensaios diagnósticos e odontologia preventiva. Seus produtos são: Dermazine,
24
Vale lembrar que a vantagem do Bio-Rio ter se formado precocemente foi perdida pelas terríveis
condições enfrentadas por micro e pequenas empresas de 1986 a 1994, período de inflação acelerada e
planos econômicos pouco coerentes. As taxas elevadíssimas de inflação tornaram quaisquer iniciativas no
campo do financiamento via equity inviáveis.
70
Dermacerium, Dentplaque, Silvedine, Silvex, Gelsept, Gelprev, Glutaraldeid, Vaselina,
Creme de uréia e sabonete líquido. Importam alguns insumos, como prata do Chile, CE
dos Estados Unidos. Os processos são de química orgânica. Possuem 6 PhDs, 4
farmacêuticos, 2 médicos e 2 químicos.
Fisicamente, as empresas estão se dirigindo para os lotes industriais do Pólo. A
transferência das empresas Silvestre Labs e Extracta para os Lotes Industriais já foi
aprovada e seus prédios encontram-se em construção. As empresas Baktron e Vectron
já apresentaram suas solicitações de transferência para os Lotes Industriais, as quais se
encontram em fase de avaliação.
As empresas diferem no grau com que se envolvem com a biotecnologia. O uso
de técnicas como RFLP (restricted fragment length polymorfism) e PCR (polymerase
chain reaction) vai se incorporando na rotina de produtores e de programas de
prevenção a doenças, gerando um mercado para pequenas empresas altamente
qualificadas que desenvolvem e/ou adaptam testes às condições locais, o que não é o
mesmo que simplesmente importar e adquirir kits, dando vazão à crescente formação de
mão-de-obra nessa área.
O desafio é saber até que ponto essas empresas seguirão um ciclo inovativo ou
buscarão o crescimento horizontal, com base no mercado já conquistado e nas técnicas
dominadas. A questão de importação/exportação é pois um mero resultado desse
processo e não um fim em si mesmo. Voltaremos a esse ponto mais à frente nesse
capítulo.
3.3.6.1 Extracta
A Extracta é a mais moderna empresa independente ligada ao Pólo de
Biotecnologia da UFRJ. A sua linha é voltada para a pesquisa e desenvolvimento de
moléculas naturais bioativas (novas moléculas através de processos bioquímicos).
Atualmente é uma S/A tendo se desenvolvido a partir de acesso a Fundo de Capital de
Risco por meio da BioMinas e do Banco Pactual (38,5% das ações).
O seu produto é obtido através da extração de substâncias básicas de plantas
nativas para investigar princípios ativos bem como sua eventual utilização no
desenvolvimento de medicamentos e vacinas. Para isso estão montando um Banco de
Biodiversidade contendo 30 mil substâncias retiradas de plantas (Banco Extracta de
Biodiversidade Química).
71
Segundo o seu diretor, João Paes de Carvalho, esperam que este Banco seja
acionado em função das pesquisas definidas pelo conjunto de projetos genoma. Há um
claro vínculo entre a identificação de genes, seu mapeamento e a procura de usos
potenciais (via data mining) que faz com que a linha da empresa antecipe tendências
importantes da biotecnologia brasileira. (ver também o capítulo 5).
As linhas de pesquisa da empresa são desenvolvidas de acordo com interesses
básicos do principal cliente. Seu objetivo fundamental é a obtenção de patentes básicas
e secundárias e medicamentos e vacinas. Em outras palavras, ela se prepara para atender
clientes “motivados” pelas oportunidades tecnológicas sinalizadas por possíveis
resultados de projetos genoma e pela busca da exploração da biodiversidade.
Os seus principais clientes no Brasil são: Glaxo Smith-Kline (contrato no valor
de US$ 3,2 milhões), Darrow Laboratórios, Natura e Profarb (estas últimas sem
montante informado).O seu faturamento em maio de 2001 foi de US$ 2,05 milhões
25
.
Os contratos incluem cláusulas de transferência de tecnologia. A Extracta também
mantém contrato com a Universidade do Pará para a obtenção de amostras de vegetais.
Os principais insumos importados são bioreagentes importados (Estados Unidos,
Inglaterra e União Européia). Os processos utilizados são: caracterização e
fracionamento e triagem de compostos químicos contra alvos biológicos a serem
utilizados para acura de doenças A relação de equipamentos de análise química
existentes tal como fornecida pela empresa inclui: Expectrograma de Massa (HPLC),
LCMS, GG e Hight Throughput Sreeening.
26
A mão de obra empregada na firma inclui 6 pesquisadores internos com Phd (1,
farmacêutico, 3 químicos, 2 médicos além de mais 14 consultores com Phd, 20
estudantes com nível de mestrado e 20 técnicos)
3.3.6.2 Baktron
Diferentemente da empresa anterior, que busca colocar-se em um nó de um
conjunto de relações importantes envolvendo a exploração do potencial da
25
Segundo Fonseca, Silveira e Salles-Filho (2000) uma empresa de biotecnologia com oferta pública
realizada no mercado de capitais (Nasdaq, por exemplo) tem o tamanho médio de US$ 45 milhões. Esse
tamanho é bem menor para empresas de capital fechado ou que ainda estejam sendo financiadas por
“anjos”, fundos de private equity ou investidores corporativos.
26
Como vimos, a capacitação no uso dessas novas técnicas de screening estão ligadas ao uso de
automação de processos e sua devida apropriação passa pela capacitação em bio-nformática, como forma
de combinar os resultados da identificação de alvos com a descoberta de guias para atuar nos processos
desejados. Ver Nightingale (1997).
72
biodiversidade existente no Brasil, a Baktron é uma empresa basicamente prestadora de
serviços.
A Baktron atua na produção de kits diagnóstico, meios de cultura e reagentes
bacteriológicos. Oferecem também kits pata controle microbiológico de água, ar,
alimentos, medicamentos, efluentes domésticos e industriais bem como meios de cultura
para células animais e vegetais. Setorialmente, são voltados para atender às indústrias
farmacêutica, química e alimentícia. Na linha de produtos oferecidos pelas empresas
estão incluídos também hormônios vegetais de enraizamento, meios de cultura
bacteriológicos desidratados, aminoácidos e vitaminas, soro fetal bovino, hemácias de
carneiro, plasma de coelho.
Os principais insumos usados na produção são: meios de cultura importados da
Inglaterra, solventes, vidros de laboratórios (pequenos volumes de compra).
Desenvolvem pesquisa em genômica (ação contra Mtb - Mycobacterium tuberculosis - e
bactérias resistentes em ambientes hospitalares). O objetivo é o desenvolvimento de
novo antibiótico por meio da pesquisa genômica e por meio de processos tais como:
a) Isolamento de microorganismos com atividade de antibiose (grupo dos
actinomicetos);
b) Crescimento em meio de cultura e condições definidas para verificação
cinética de produção e de novas moléculas com ação micro-bacteriana;
c) Identificação de cepas de actinomicetos e de novas moléculas
O mercado da empresa é composto por 10% de farmácias, 10% de empresas de
cosméticos, 15% de centros comerciais, 15% de supermercados, 20% de indústrias de
alimentos, 20% de empresas de água mineral e 10% de grandes indústrias. O
faturamento bruto é de R$ 600 mil por ano e a base tecnológica é formada por estufas,
autoclaves, centrífugas, bombas de vácuo, espectrofotômeto, balanças, cromatógrafos,
computadores. Os recursos humanos para produção e pesquisa contam com dois
engenheiros químicos, um farmacêutico (PhD), um médico (mestre) e três químicos.
3.3.6.3 Ecobac Biotecnologia
Especializada na produção de produtos para biodegradação de matéria orgânica
usados em tratamento de efluentes; o produto comercializado é o BIOTRAT, cuja
função é o controle de poluição ambiental para os mercados de varejo residencial e de
indústrias. Seus dois concorrentes são empresas importadoras situadas no Rio de
Janeiro. Utiliza processos e ensaios de bio-aumentação a partir de cepas NAM
73
importadas da França e de adaptação do microorganismo (inicialmente eram apenas
importadores).
3.3.7 Simbios Produtos Biotecnológicos
A Simbios iniciou suas atividades em 1993 e mudou-se para instalações próprias
em 1999, ao encerrar-se o convênio de utilização da área de incubação junto ao Centro
de Biotecnologia. Atualmente o Simbios é um laboratório de 132 metros quadrados,
conveniado de pesquisa da ULBRA, no campus de Canoas, município próximo a Porto
Alegre. O laboratório tem uma área principal, uma área de preparo de reagentes, sala de
lavagem e uma sala de amplificação molecular (PCR).
A equipe é composta por a) Edmundo Kanan Marques, Doutor em Genética
(UFRGS), Pós-doutorado em Genética (Cornell University, NY, USA). Pró-Reitor
Adjunto de Pesquisa da ULBRA.; b) Nilo Ikuta, Doutor em Genética e Biologia
Molecular (UFRGS), Especialização em Virologia Molecular (University of Georgia,
GA, USA); c) Vagner Ricardo Lunge, Doutor em Genética e Biologia Molecular
(UFRGS), Mestre em Microbiologia (UFRGS), Especialização em Biologia Molecular
(Cornell University, NY, USA); d)- André Salvador Kazantzi Fonseca, Mestre em
Microbiologia (UFRGS), Especialização em Biologia Molecular (Centro de
Biotecnologia, UFRGS). Além desses, participam quatro técnicos em química, sendo
dois acadêmicos do curso de Biologia (ULBRA), mais dois estágiários de nível médio,
estudantes do curso de Técnico em Químic,um assistente administrativo e uma
secretária.
Os principais projetos de pesquisa consistem de estudos de Biologia Molecular
de agentes infecciosos de importância em Medicina Humana e Veterinária. A linha de
pesquisa é em genética moderna, biologia molecular, tecnologia do DNA recombinante
oferecendo serviços de diagnóstico in vitro e in vivo. Atualmente esta empresa atua na
prestação de serviços de diagnóstico molecular e na análise e fornecimento de
estabilizantes de DNA e RNA desenvolvidos para transporte seguro e prático nas das
áreas de medicina humana, veterinária (aves e suínos) e análises microbiológicas
industriais.
Os estudos sobre paternidade criminalística forneceram os procedimentos
básicos que foram estendidos para outras áreas de atuação. Segundo o diretor da
empresa, a capacidade de substituição de serviços antes prestados por laboratórios
norte-americanos e do Instituto Pasteur foi desenvolvida através da implantação de
74
rotinas de pesquisa e realização de diagnósticos usando ferramentas biotecnológicas.
Atuam em outros estados (Acre, Amazonas, Pará, Goiás, Brasília, Rio Grande do Sul
etc). O nicho inicial pretendido era o da medicina mas com o tempo passaram a atuar
junto ao mercado agropecuário (pelas oportunidades de negócios).
Detalhando um pouco mais o campo de atuação da empresa:
a) No campo da medicina humana, os projetos envolvem a identificação
molecular dos vírus causadores de hepatites (vírus das hepatites B e C - HBV e HCV),
da AIDS (HIV) e de câncer ginecológico (HPV), o desenvolvimento de metodologias
diagnósticas e o acompanhamento de novos procedimentos terapêuticos para estas
doenças;
b) Em medicina veterinária, trabalhos estão sendo conduzidos para identificação
e caracterização molecular dos agentes causadores das principais patologias infecciosas
de aves (entre os quais Salmonella, Mycoplasma, vírus da bronquite infecciosa, vírus da
doença de Gumboro, vírus relacionados a neoplasias virais aviárias) e suínos
(Mycoplasma hyopneumoniae, Brachyspira sp., Lawsonia sp., Actinobacillus
pleuropneumoniae, Bordetella sp., Mycobacterium sp.), bem como determinação da
prevalência destes patógenos no nosso estado e país.
A Symbios mantém convênios com as seguintes universidades: Cornell
University (New York, EUA), University of Georgia (Georgia, EUA), Washington State
University (Washington State, EUA), University of Nebraska (Nebraska, EUA)e o
Centro de Biotecnologia da UFRGS (RS, Brasil). Também estabeleceu convênios com
os seguintes centros de pesquisa: NIH - National Institutes of Health (Washington - DC,
EUA); CDC - Centers for Disease Control (Georgia, EUA); PDRC - Poultry Diseases
Research Center (Georgia, EUA) e Instituto Ludwig de Pesquisa contra o Câncer (São
Paulo, SP).
O mercado internacional dos serviços em que a SIMBIOS atua- modalidade de
laboratórios de apoio especializado com alta tecnologia - é estimado em cerca de US$
4,0 bilhões (incluindo o setor de equipamentos). Clientes principais são laboratórios de
análises clínicas e empresas de planos de saúde. No Brasil o mercado de serviços
sofisticados para medicina atingiria R$200 milhões (apenas área de medicina humana),
mas incluindo-se o mercado institucional o valor chegaria a R$500 milhões. O mercado
internacional de kits diagnósticos com base em análise de DNA alcança US$ 2,7
bilhões. No Brasil, o mercado de kits diagnósticos (vários procedimentos) para a área de
medicina humana já atinge a faixa de US$ 17,0 a 18,0 milhões.
75
O grande mercado para este tipo de serviços são os planos de saúde. A demanda
por serviços ligados à saúde é intensamente afetada pelo caráter e natureza da regulação
exercida sobre o setor; considera-se que a demanda está deprimida devido a problemas
na legislação destas atividades. O nicho representado pelos laboratórios de alta
tecnologia é bastante competitivo. Uma das estratégias competitivas mais importantes
deste segmento é a de localização e distribuição dos pontos de serviços ou logística de
venda. Na medida em que os procedimentos de diagnóstico molecular tornem-se
rotineiros e os protocolos fiquem mais simples, o caráter dos produtos biotecnológicos
tende a se aproximar do de commodities (mais escala, menor valor agregado); a
tecnologia se difunde, os insumos ficam mais baratos.
A logística de busca também se estende para lado da aquisição de informações
genéticas básicas. Alguns dos grandes laboratórios de análises clínicas estão
aparelhados para realizar esta busca com maior eficiência do que pequenos laboratórios.
A empresa funciona com 1 biólogo (com mestrado) e dois agrônomos (com doutorado).
Fornecem serviços a empresas (ao todo são nove empresas). Os processos utilizados
são: síntese do ácido nucléico in vitro, que é a tecnologia de amplificação de ácido
nucleico; caracterização do ácido nucléico por digestão e clonagem. Como insumos são
importadas enzimas de síntese de ácidos nucléicos (DNA e RNA) e de digestão destes
ácidos. A SIMBIOS possui 2 patentes depositadas no INPI.
3.3.8 Empresa FK (Cientec)
A FK Biotecnologia foi fundada em 1999 como uma Sociedade Anônima,
embora só tenha se viabilizado financeiramente quando, em setembro de 2000, entrou
em contacto com o fundo de capital de risco da Cia Rio Grandense de Participações
(CPR) e com o programa Inovar da FINEP. O que despertou o interesse do CPR,
segundo reportagem da Revista FORBES, foi o perfil do cientista-empresário Fernando
Kreutz, autor de duas patentes de vacinas contra o câncer obtidas na época em que
trabalhava na Phd Biotechnology, em Alberta, no Canadá. Conta com dois
pesquisadores com P&D, dois doutores, hum (1) mestre, hum (1) estudante de pós-
graduação com especialização, dois técnicos de nível médio e 4 estagiários da ULBRA
(todos da área de farmácia ou bioquímica), além de 1 administrador. Como se pode
perceber, trata-se de uma estrutura bastante enxuta e voltada para a pesquisa.
A sede da empresa está localizada na incubadora da CIENTEC, embora
mantenha um convênio de cooperação técnica com a Universidade Federal do Rio
76
Grande do Sul p/ desenvolvimento de produto de biotecnologia. O produto a ser lançado
é um kit de imunodiagnósticos associado à linha de pesquisa de vacinas celulares anti-
câncer e ao uso in vivo de anticorpos monoclonais (nas áreas de imunologia celular e
imunoquímica). Embora não possa ser considerada como uma área com elevada
intensidade em novidades científicas, a empresa se caracteriza nitidamente como uma
empresa inovadora.
O ferramental baseia-se em imuno histoquímicas em hibridomas (células
modificadas em cultivo)
27
. A sua vinculação com a biotecnologia, no entender da
própria empresa, deve-se ao fato de utilizarem processos de manipulação de seres vivos
(ou parte deles) com o objetivo de produzir e comercializar produtos (ou resolver
procedimentos envolvidos no processo de produção) e não por uso de biologia
molecular.
A área de atuação da empresa foi escolhida não só em função da especialização
do seu fundador, mas em função das oportunidades de negócios percebidas na região em
que vão atuar. Na realidade, até o início do ano de 2001, a FK tinha poucos
concorrentes no seu mercado de atuação, sendo a concorrência formada basicamente por
fornecedores de produtos importados (Abbot e Roche). Observe-se que os fabricantes de
kits no Brasil desenvolvem seus produtos a partir das importações. A exceção é a placa
sólida (que determina os recursos de ensaio e os anticorpos).
A linha de vacinas celulares depende dos protocolos médicos que vão ser
realizados em estágio clínico (através de contratos), porém a preparação da vacina é
feita pela equipe da empresa. Segundo a FK, o diferencial tecnológico da empresa está
localizado na área de terapia e de imuno-diagnósticos, este último um mercado bem
estabelecido (com cerca de 40 produtos). Por se tratar de anticorpos bi-específicos, a
variabilidade científica está bem assegurada, tornando também o procedimento de
ensaio mais rápido e sensível. Isso tornaria a tecnologia uma genuína inovação, na
avaliação dos entrevistados.
As grandes oportunidades no mercado de imuno-diagnósticos no Brasil estão
associadas à utilização de antígeno prostático específico- marcadores tumorais como o
de câncer de prostata - além de doenças como hepatite e AIDS, enfarte de miocário,
enzimas cardíacas, detecção de drogas e bancos de sangue. A avaliação é de que o
27
Hibridoma é cultivo de tecido com células provenientes de dois ou mais tecidos diferentes. Imuno-
histoquímica é teste que determina a compatibilidade bioquímica entre tecidos de doadores e receptores.
Há genes específicos para esta característica. Se for possível eliminar as substâncias que reconhecem a
afinidade histológica, não haverá mais incompatibilidade na recepção de transplantes.
77
mercado nacional pare este tipo de kits já alcance um pouco menos de milhão de
reais/ano no Brasil e 20 bilhões de dólares no mercado internacional.
A empresa FK atuaria num mix de kits que inclui os mencionados testes de
laboratório, cuja produção é relativamente fácil, além de testes em imuno-histoquímica
(avaliado em cerca de US$ 40,0 milhões) e o de citometria de fluxo (avaliado em cerca
de R$12,0 milhões). A FK pretende abarcar cerca de 40% do primeiro e 30% do
segundo mercado. Pretende alcançar, 13 % do mercado, num conjunto dos produtos.
Sua estratégia principal que pode orientar os investimentos nas fases seguintes da
capitalização – fase de oferta pública - é de reforçar esse mix de produtos.
Os entrevistados da FK criticam a atuação de produtores de imunológicos no
Brasil como excessivamente voltada para o atendimento do mercado final, baseando-se
na importação do bulk ou do próprio frasco, contribuindo para reforçar a hipótese de
Lemos (2000) de que a biotecnologia brasileira encontra dificuldade para criar um
mercado para a própria biotecnologia no país em função da fragilidade das ligações
produtivas internas à medida que produtos inovadores vão sendo colocados no mercado.
A FK praticamente importa todos os seus insumos (com exceção da pipeta, ponteira e
do soro bovino fetal. Uma observação,. é que os entrevistados identificam potencial de
mercado na exportação deste soro por ser área livre de febre aftosa
28
.
O principal clientes de empresas como a FK são os laboratórios convencionais
de análises clínicas ligados aos Planos de Saúde ou independentes, e o mercado
institucional. Só no Rio Grande do Sul há mais de 676 laboratórios de análises clinicas,
atualmente. Muitos deles já estão terceirizados ou atuam em rede. Este mercado pode se
desdobrar para outros estados, especialmente Minas, São Pulo e Rio de Janeiro, ou seja,
a empresa não pretende explorar apenas o mercado regional, atuando em São Paulo, io
Grande do Sul, Espírito Santo, Minas Gerais e Nordeste
Neste sentido a escolha da área de atuação desta empresa não foi apenas
determinada pela sua capacitação profissional, mas pela investigação realizada em
termos das características deste mercado. Nos Estados Unidos este mercado já está
saturado. Observe-se também a existência de risco entre a construção do Kit protótipo e
o seu desenvolvimento como produto e a existência de um certo nível economias de
escala associadas aos procedimentos padronizados (curva de referência onde um padrão
vale de referência e controle).
28
Condição que não mais se verifica no Rio Grande do Sul.
78
O potencial de mercado para produtos associados ao diagnósticos de certas
doenças como o câncer é bastante grande. A empresa não teve faturamento em fevereiro
de 2001, pois estava adequando sua unidade de produção. Projetam que ao final do ano
terão RS$ 500.000 mil como parte do adiantamento do Fundo que financia a empresa,
seguido de um faturamento anual de R$ 2,3 milhões em 2002, atingindo a significativa
quantia de RS$ 11,6 milhões ao final de 2003.
A possibilidade de sequenciamento do DNA pode revelar mercado insuspeito
para produtos e serviços. Na realidade, uma das grandes empresas sequenciadoras como
a CELERA (juntamente com um parceito canadense) estaria desenvolvendo vacinas
para câncer gástrico. Estima-se que existam dezenas de milhares de vacinas que podem
ser desenvolvidas a partir de projetos genoma. O problema introduzido pelo
patenteamento tem levado as empresas que estão pesquisando as vacinas a orientar a
pesquisa e o desenvolvimento de produtos para novas rotas tecnológicas.
Em resumo, a genômica, segundo a FK abre as seguintes possibilidades:
a) Identificação de novos antígenos para imunoterapia (o obstáculo é saber o que
é ou não é proteína e desenvolver novas moléculas, com novas funções);
b) Desenvolvimento, nos USA e na Europa, de vacina contra câncer e de kit
imuno diagnóstico de perfil genético;
Para a FK, competir com quem faz ciência primária com muitos recursos pode
nos deixar apenas com a vantagem de ser mão de obra barata (refere-se à rede de
genômica de São Paulo SP; voltaremos ao ponto no capítulo 5).
3.3.9 Comparação das Posições de Mercado e Estratégias de P&D na área de
saúde
A apresentação dos perfis das instituições-chave e de grupos representativos de
empresas dos setores insumidores de biotecnologia no Brasil permite chegar a algumas
conclusões qualitativas sobre sua posição no mercado e sobre suas estratégias
tecnológicas. A partir da análise conjunta dos casos é possível obter um cenário dos
obstáculos e das potencialidades à comercialização de produtos e serviços nas áreas de
saúde humana e animal – neste capítulo, e nas áreas agrícolas (capítulo 4).
O grupo de instituições públicas tradicionais de pesquisa, desenvolvimento e
prestação de serviços e o de empresas privadas apresenta perfis bastante pulverizados,
79
como demonstram a Tabela 3.15 e Tabela 3.15, que foram construídos com base na
metodologia descrita em 2.2.3. deste relatório.
Essas sínteses do resultado das entrevistas das instituições analisadas neste
estudo demonstra que os esforços de organização institucional e de gestão dos processos
de P&D e capacidade de articulação em rede apresentam-se bastante pulverizados. Estes
dois aspectos serão os balizadores das considerações que se seguem. A mesma
abordagem analítica será utilizada para os mercados agrícolas, no capítulo 4.
Os principais mercados de fármacos e de produtos farmacêuticos no Brasil são
tradicionalmente dominados por oligopólios verticalmente integrados de empresas
européias e americanas. Como vimos, o P&D desses produtos apresenta longos ciclos
de pesquisa (12 a 15 anos, com despesas superiores a US$ 500 milhões), necessita de
testes pré-clínicos, precisa ser submetida a pedidos de patentes muito mais complexos
do que a maioria dos produtos derivados de investigação científica, o que aumenta
muito os custos destas atividades.
São necessários mecanismos de retro-alimentação (feed-back loops) entre os
estágios do processo de P&D, através de relações interpessoais ou entre equipes de
pesquisadores. Os fluxos relacionados à transmissão de conhecimentos tácitos e
informações entre esferas que operam segundo quadros cognitivos distintos só podem
ser mantidos à custa de interações inter-disciplinares, daí a relevância de instituições-
chave (“ponte, na visão de Freeman) entre a produção científica e aforma mercado de
produto.
Nas áreas de produção de vacinas, soros, kits diagnósticos para doenças
endêmicas, bioinseticidas, anti-helmínticos, etc, os institutos públicos de pesquisa
brasileiros são os grandes fornecedores, a baixo custo, para o mercado interno, cujos
principais cliente são os governos estaduais e/ou federal. Dentro desta tradição, a
Fiocruz/Bio-Manguinhos, Tecpar e Butantã ajustam-se em fatias de mercado que ora se
sobrepõem, ora são contíguas, como está colocado nos itens de descrição das atividades
destas instituições. de interações inter-disciplinares, daí a relevância de instituições-
chave entre a produção científica e para a forma mercado do produto.
Tabela 3.14 Comparação das posições de mercado e estratégias de P&D do
setor público de saúde humana e animal
80
Dimensão Inovação Gestão de Objetivos
Componentes/ Posição 1. Vetor 2. Novidade
Instituição Tecnológico
Instituto Butantã Seguidor de 1. múltiplo/ 2. incremental e radical/
1ª instância independente próximo ao estado-da-arte
Fiocruz/Bio Seguidor de 1. múltiplo/ 2. incremental e radical/
Manguinhos 1ª instância independente próximo ao estado-da-arte
TECPAR Seguidor de 1. simples 2. incremental
2ª instância
Dimensão Investimentos
Componentes/ 1. Intensidade 2. Tamanho 3.Orientação 4. Abordagem
Instituição
Instituto Butantã 1. alta 2. grande 3. básica e 4.distintivas, periféricas,
aplicada básicas e maduras
Fiocruz/Bio 1. alta 2. grande 3. básica e 4.distintivas, periféricas,
Manguinhos aplicada básicas e maduras
TECPAR 1. baixa 2. pequeno 3. aplicada 4. periféricas e
maduras
Dimensão Mecanismos Organizacionais
Componentes
1. Gestão 2.Capacidade 3.Controle 4.Estrutura 5.Transferência
/ Instituição
Formal Relacional de tecnologia
Instituto
Butantã
1. fraca e 2. crescente
3. informal e
rara 4. emergente 5. deficiente
emergente
Fiocruz/Bio
1. média e 2. alta, mesmo no 3. formal e 4. organizada 5. amplos e
Manguinhos
emergente nível internacional conspícua eficientes
TECPAR
1. fraca 2. pequena mas 3. dados não 4. pequena mas 5. dados não
crescente disponíveis crescente disponíveis
Tabela 3.15 Comparação das posições de mercado e estratégias de P&D do setor
privado de saúde humana e animal
Dimensão Inovação Gestão de Objetivos
Componentes/
Posição 1. Vetor 2. Novidade
81
Instituição
Tecnológico
Instituto Ludwig
Líder 1. múltiplo/ 2. radical e no
Independente estado-da-arte
Heréditas
Seguidor de 1. múltiplo/
2.incremental e
radical/
1ª instância Independente no estado-da-arte
Pólo Biotecnológico
Representantes 1. maioria de
2.maioria
incremental;
Extracta próximo ao
Bio-Rio
em todas as posições Simples estado-da-arte
Setor Farmacêutico
Tadicional
Seguidores de 1ª
instância
(Biobrás e Vallée) e
1. simples/
independente (Biobrás)
2.Novidade
(Biobrás)
(Agrupamentos
Biobrás
Vallée e Biolab)
de 2ª instância
(grupo Biolab)
dependente
(Vallée e Biolab)
Incremental
(Vallée e Biolab)
FK Seguidor de 1. simples
2.incremental;
próximo
Biotecnologia
1ª instância ao estado da arte
Dimensão Fontes de Tecnologia Investimentos
Componentes/
Interna/Externa 1. Intensidade 2. Tamanho 3.Orientação 4. Abordagem
Instituição
Instituto
Ludwig
interna, em rede 1. alta 2. elevado 3. básica e 4. altamente
internacional Aplicada distintivas
Heréditas
interna e externa 1. alta 2. elevado e 3. básica e 4. altamente
Em rede Aplicada distintivas
Pólo
Biotecnnoló
Gico
maioria de
interna
4. maioria de
periféricas
Bio-Rio
e externa 1. média 2.médio 3. Aplicada e maduras
Setor
Farmacêutico
Tradicional
interna e
externa(colabora
ção
1. alta para o
Brasil
(Biobrás).
Média 2. médio a
4.Periféricas(gr
upo Biolab)
Grupamentos
Biobrás
Vallée e
Biolab)
no caso da
Biobrás) externa (grupo Vallée)
pequeno
(Vallée, 3. Aplicada
e básicas
(Biobrás e
Vallée).
(Vallée e Biolab)
e baixa (grupo
Biolab)
Biobráse
Biolab)
Distintivas
(Biobrás)
FK
externa 1. média 2. médio 3. Aplicada 4. Distintivas
Biotecnologia
Dimensão Mecanismos Organizacionais
82
Componentes/
1. Gestão
2.Capacida
de 3.Controle 4.Estrutura 5.Transferência
Instituição
Formal Relacional de tecnologia
Instituto
Ludwig
1.dados 2. Alta e de 3.dados 4. Muito 5. Formal e
não
disponíveis liderança não disponíveis organizada eficiente
Heréditas
1. Fraca 2. Média 3. informal e 4. Em formação 5. informal e
frequente de rede eficiente
Pólo
Biotecnológico
1. Em rede 2. Média 3. dados não
4.
Medianamente 5. informal e
Bio-Rio
fraca disponíveis organizada eficiente
Setor
Farmacêutico
1. Emergente 2. Elevada 3. Formal 4. organizada
5. Elevada
(biobrás)
Tadicional
(ANPEI) (Biobrás) baixa mas
(Grupamentos
Biobrás
média
(Vallée) crescente
Vallée e
Biolab)
e baixa
(Biolab) eficiência(Vallée)
FK
1. Fraca 2. Média 3. Formal 4. Organização 5. informal e
Biotecnológico
Interna eficiente
Percebe-se que essas instituições públicas atendem a um conjunto amplo de
incentivos, originados tanto por outras instituições públicas – com enorme impacto para
o bem-estar social, como tem mostrado a questão da AIDS – quanto para segmentos de
mercados que são lucrativos, ou seja, que tanto para a instituição-chave, quanto para
seus clientes e fornecedores, haja um ganho cooperativo.
Alguns pontos em comum caracterizam o papel e as ações das instituições-
chave:
a) O papel de mapeamento e monitoramento dos avanços internacionais,
estruturando-se em vários níves (1a. e 2a. instâncias) como seguidores das
transformações que ocorrem na fronteira tecnológica do setor de saúde humana;
b) A atuação em múltiplos segmentos científicos e tecnológicos, participando
ativamente na formulação de programas, em suas demandas e na utilização contínua de
formas públicas de financiamento ao treinamento de mão-de-obra. Apenas Tecpar tem
uma atuação mais voltada para determinados tipos de vacinas (veterinárias);
c) Isso se reflete na necessidade de elevados investimentos em P&D, ou seja,
essas instituições não são apenas produtoras de fármacos ou de bio-produtos.
83
Novamente a Tecpar distancia-se das duas outras instituições analisadas, pelo menor
nível de investimento e pela recente busca de cooperação, seja com firmas, seja com as
duas outras instituições-chave.
d) As instituições mostram variados mecanismos organizacionais e diferentes
desempenhos, principalmente no que se refere a controle e mudanças estrutuais.
Percebe-se por exemplo, que dentro de uma mesma instituição co-existem unidades com
distintas orientações em relação ao desenvolvimento biotecnológico e principalmente
em relação à busca de formas de absorção de conhecimento científico e tecnológico e no
reconhecimento dos direitos de propriedade sobre inovações. Isso fica bastante claro no
caso do Butantã;
e)Um ponto crítico, que pode colocar em questão o papel de instituições-chave,
é justamente a dificuldade na criação de mecanismos adequados de transferência
tecnológica, fato verificável para o Instituto Butantã e Tecpar;
f) As recentes incursões que Bio-Manguinhos e Butantã têm feito na organização
interna de suas atividades e/ou na organização de negócios de P&D, como é o caso do
CEPID-Butantã, iniciativa de organização de P&D institucional visando o mercado
farmacêutico competitivo no nível de biotecnologias de ponta e baseado em recursos
genéticos e bioquímicos da flora e fauna nacionais. Esta iniciativa está apenas
começando, mas prevê a possibilidade de coordenação mais ampla baseada em
programas cooperativos de caráter público ou semi-público, gerando um processo de
aprendizado na definição das condições de apropriabilidade relacionadas às inovações
geradas.
Em ambos os casos, mas com especial importância no caso de Bio-Manguinhos,
relacionamentos produtivos envolvendo a geração de produtos de alta tecnologia que
requerem a integração de ativos complementares ao longo do processo de P&D vêm
sendo mais intensivamente explorados, e já apresentam resultados palpáveis em termos
de expansão de mercados internacionais.
No mercado nacional, apesar da produção de vacinas ter caído entre 1998 e
1999, houve uma recuperação de faturamento devido à produção de reativos. Também
estão revelados os esforços de formalização dos mecanismos de apropriação de
resultados de pesquisa, já que a Fiocruz/BioManguinhos foi líder, dentre as instituições
brasileiras de C&T, de pedidos de patentes de produtos para saúde humana entre 1996 e
2000 (ver Tabela 3.4 Patentes concedidas no Brasil entre 1996 e 2000).
84
No caso das empresas, seguindo as indicações da Tabela 3.15 alguns pontos
merecem ser destacados:
a) A variedade de situações e de formas de inserção das empresas na utilização
da biotecnologia moderna. Há casos em que a biotecnologia está “embarcada”em um
produto importado e faz parte de um preparo ou formulação necessário para a
comercialização do produto; outras empresas desenvolvem mercados locais ou regionais
com base na exploração usuário-produtor, adaptando kits diagnóstico, vacinas e outros
serviços às demandas específicas dos clientes;
b) Já há casos de empresas que se formaram a partir da base de conhecimento
avançado em biotecnologia por parte de seus diretores-fundadores, desenvolvendo
produtos que utilizam tecnologias de Dna-recombinante como passo essencial para
obtenção de produtos, como hormônios de crescimento ou insulina recombinante;
29
c) Finalmente, há empresas com enfoques mais ousados, utilizando técnicas
avançadas de screening e/ou alvos moleculares apropriados para o desenvolvimento de
novos fármacos. Nesses casos, significativamente, as estratégias passam por associações
com grupos internacionais.
Nos setores de empresas do Pólo Bio-Rio, de base tecnológica, é imprescindível
haver uma estrutura associada à integração de diferentes estágios do processo de P&D.
Mas a capacidade competitiva deste Pólo não é grande, principalmente porque não estão
articulados sistemas de adaptação para o mercado em função do “ciclo de vida” da
tecnologia, com progressiva centralização dos fluxos internos. Assim, o
desenvolvimento de produtos oferecidos ao mercado segue lógicas individuais para cada
empresa, com raros pontos de transferência de conhecimentos e/ou tecnologias. O
resultado é o que se vê na Tabela 3.15: os esforços de gestão são individuais, a inovação
é simples e direcionada e os produtos, com exceção da Extracta, apresentam baixo
conteúdo em ciência e ocupando mercados marginais.
No Rio Grande do Sul, além de estar mais voltado para as áreas veterinárias e de
agricultura do que de saúde, repete-se o mesma característica observada no Pólo Rio:
algumas iniciativas isoladas que buscam ocupar espaços de mercado substuindo
29
Financiado pelo programa PIPE da FAPESP , voltado para pequenas empresas existem duas pesquisas
relacionadas à produção de Hormônio do Crescimento Recombinante (hGH) relacionadas a Genosys e
Hormogen. Os se relacionam a técnicas para obtenção do produtos e também para seu scale up. Os dois
financiamentos somados não chegam a RS$ 300.000,00. A pesquisa financiada para a Hormogen está
fundada nos resultados de uma equipe de IPEN/CNEN/Sp que vem trabalhando na busca de melhor
expressão bacteriana do hGH recombinante desde 1994. Trata-se, junto com a insulina recombinante, de
um produto pioneiro na indústria de fármacos no Brasil (ver Revista da Fapesp, 2001).
85
métodos de diagnósticos tradicionais (e com menor desempenho) e de certa forma,
“substituindo importações” impulsionados pela proximadade com os clientes.
Tanto Symbios como FK todavia, têm um horizonte de pesquisa que é ir além de
métodos de diagnósticos humanos e vaterinários que utilizam biologia molecular para
introduzir novas vacinas e métodos precoces de detecção de doenças como câncer. Para
tal, se apoiam não somente na pesquisa local, como o Centro de Biotecnologia do Rio
Grande do Sul, mas no Instituto Ludwig e Centros e Universidade de outros países. Um
fato interessante é estarem apoiados por uma universidade particular (luterana), fato que
tem se mostrado cada vez mais freqüente em várias áreas de conhecimento e pesquisa
do país.
No caso dos produtos para saúde animal, a competição pelo mercado é aberta,
mas empresas nacionais conseguem ocupar o mercado interno, já que na Europa, por
exemplo, não são aceitos produtos derivados de gado vacinado. A Valléé é hoje a líder
de investimentos em P&D no mercado nacional. A empresa executa P&D contratada, e
vem sofrendo um processo de transição, passando de seguidora de 1ª instância para
inovadora, comportamento bastante ímpar entre as empresas de biotecnologia no Brasil.
È necessário dar especial atenção ao caso da sucursal brasileira do Instituto
Ludwig (ILPC), agência privada multinacional de pesquisa que lidera não apenas os
trabalhos relativos à sua área tradicional – que é de investigação genômica sobre câncer
– mas também implementa, no Brasil, a rede ONSA. Apesar das outras instituições
também operarem pesquisa na área das modernas biotecnologias e em diferentes níveis
da fronteira científica, o ILPC possui capacidade de articulação em rede internacional,
executando, atualmente, contratos de P&D e de testes pré-clínicos na rede de saúde do
Estado de São Paulo.
3.4 O Comércio em itens referentes à saúde humana.
Segundo a metodologia apresentada anteriormente, agregou-se os produtos
importados segundo 5 itens: frações de sangue, vacinas, reagentes e toxinas, hormônios
e outros medicamentos. Cada um dos itens representa um conjunto de atividades
separadas por suas características tecnológicas e não pelas oportunidades de mercado.
Este último tipo de característica é o que está sendo utilizando para analisar as empresas
e instituições nesse capítulo, o que torna a ligação entre as partes um pouco difícil.
86
As instituições públicas atuam simultaneamente em várias atividades, o que nos
permitiria classificá-las nos itens e sub-itens de cada uma das 5 agregações. Isso fica
evidente na análise da Fiocruz e do Butantã. Já as empresas são muito mais restritas seja
na composição das importações, seja nas exportações. A maioria delas é muito pequena
e ainda está ampliando sua fatia no mercado nacional, por ser um mercado recente ou
por competirem com grandes corporações líderes. A exceção é a Biobrás, que como
vimos, enfrenta o desafio de competir com as líderes mundiais em seus mercados de
origem, principalmente EUA.
A característica da inserção das empresas de biotecnologia no Brasil no setor de
fármacos e mesmo veterinário explica em grande parte nossa modesta inserção no
comércio intrernacional. Vamos aos pontos:
a) Os grandes grupos nacionais passaram por uma profunda recentragem,
principalmente os grupos petroquímicos que na década de oitenta consideraram a
química fina uma área natural de diversificação. Disso resulta não existirem grandes
grupos nacionais na área de biotecnologia. A única empresa que poderia ter se tornado
uma empresa de porte médio em biotecnologia vegetal e afins (melhoramento genético
de animais), a Agroceres, foi desmembrada alguns anos após ter desistido de investir em
biotecnologia vegetal (ver Salles-Filho et alii (1994).
30
;
b) As características de fármacos, ao contrário de produtos de origem vegetal,
facilita a importação. Mesmo quando existem instalações produtivas no país é fácil
importar intermediários “a um passo”do produto final, como mostra Silva (1998). O
mesmo se aplica, como vimos, a kits diagnósticos e reagentes.;
c) As vantagens locais aparecem em mercados institucionais, ou seja, produtos
utilizados para combater doenças tropicais cujo mercado é restrito a países com baixa
renda per capita. Isso aumenta o papel das instituições-chave, que ficam com espaço
para criação de novos produtos, novas terapias, cujo preço final não pode ser elevado.
Tal fato também estimula trajetórias inovativas bastante distintas daquelas que
caracterizam as new entities e as novas terapias derivadas das modernas biotecnologias.
Esses aspectos sugerem a criação de redes que articulem pequenas empresas
inovadoras, as instituições-chave em saúde e em certos casos, empresas com acesso aos
mercados finais, capazes de conduzir as fases finais de experimentação, que como
30
Só para estabelecer um contraste, no México, um grupo sem tradição alguma em biotecnologia, La
Moderna, adquiriu na década de 90 a Asgrow seeds e a DNA Plant Technology, tornando-se uma das
mais importantes empresas no mundo no campo de sementes de produtos hortícolas.
87
mostra Hopkins (1998), não são afetadas significativamente pelas modernas
biotecnologias e pela bioinformática. Em alguns casos, não muito freqüentes, pode-se
esperar que algumas pequenas empresas brasileiras, inovadoras, sejam capazes de seguir
a trajetória das ofertas públicas em um ambiente de capital de risco. Isso todavia, não
parece ser ainda estratégia buscada pelas empresas nacionais, pelo que vimos na Tabela
3.15.
Em geral, espera-se que o ressurgimento e intensificação da atividade
biotecnológica no Brasil contribua, pelo menos nos próximos 5 anos, para reduzir o
“saldo”da Balança Comercial do país e também para o déficit da conta serviço, tema
que merece uma investigação aprofundada.
3.4.1 Análise dos resultados das importações
Inicialmente, apresentaremos os dados de importação referentes aos 5 grupos
mencionados e, em seguida, os de exportação. A consulta a uma matriz de origem-
destino, como parte do banco de dados anexado ao trabalho, mostra claramente que as
importações são feitas predominantemente dos EUA e dos países da Europa. Já as
nossas exportações destinam-se ao Mercosul e países da América do Sul, o que não
difere do padrão geral de destino de produtos exportados de maior conteúdo
tecnológico.
A primeira observação com base na Figura 3.2 é que não se verifica, em cada
item, uma clara tendência no período analisado para aumento ou redução das
importações. Todavia, no ano de 1999, com exceção do item “Outros medicamentos” -
que mesmo depurado de produtos que não tem nenhuma relação com processos
biotecnológicos, engloba os chamados itens .99, de difícil identificação – ocorreu um
significativo aumento das importações em relação aos anos anteriores.
Um destaque: o item “Reagentes e Toxinas”aumentou significativamente,
chegando próximo aos US$ 30 milhões, ainda muito distante das previsões otimistas de
mercado feitas pelas Symbios e FK para esses mercados. Uma consulta ao Anexo II
permite observar que os itens escolhidos foram os que diretamente estavam
relacionados a processos biotecnológicos. Certamente há um mercado de reagentes
intermediários para biotecnologia cuja demanda deve ter crescido significativamente, o
que sugere futuros aprofundamentos. As importações de “reagentes de origem
microbiana para diagnóstico”, segundo a Figura 3.3, cresceram de US$ 388,00 mil para
88
quase US$ 8 milhões entre 1998 e 1999. Isso contrasta com os outros itens (ver tabela
no Anexo II), principalmente “Outras Toxinas obtidas por cultura microbiana”, para
saúde humana e para saúde veterinária, que não tiveram um aumento tão significativo.
O aumento total da importação de reagentes, na mesma Figura 3.3 foi expressivo.
Nota-se que em itens bastante tradicionais da biotecnologia, como “Frações de
Sangue”e “Vacinas Humanas”as importações estão em um nível mais elevado que o de
reagentes. No primeiro caso, aumentaram as importações do “Concentrado do Fator
VIII” que sozinho, atingiu cerca da US$ 70 milhões. No item “Vacinas Humanas”é
difícil analisar uma tendência do mercado, pois sua utilização depende das necessidades
das campanhas de vacinação e em muito menor escala, do novo mercado de vacinas em
clínicas particulares. O “salto”dado pelo sub-item “outras vacinas para medicina
humana em doses”sugere a diversificação da pauta de produtos, o que é um estímulo
para a produção local.
Já as importações modestas em “Vacinas Veterinárias”, refletem a internalização
produtiva ocorrida já na década de setenta no Brasil e que é responsável por grande
parte do faturamento de empresas como Vallée, que entrevistamos. O item mais
importante se refere a “Hormônios”, que se aproxima da US$ 140 milhões em 1999,
sendo que o aumento das importações mais significativo se deu em 1996 e não em 1999,
como o caso do item “Reagentes e Toxinas”.De qualquer forma, segundo a Figura 3.4
mostra uma leve tendência no agregado para o crescimento das importações.
Uma consulta ao Anexo II permite visualizar tanto os produtos mais importantes
de cada item quanto, nas tabelas, os produtos em nível de 8 ou 10 dígitos NCM.O
predomínio no item hormônio da categoria “outros”é indicador de que novos produtos
estão sendo introduzidos, possivelmente produtos relacionados a biotecnologia. Um
item importante, entre os cinco mais importados refere-se ao hormônio de crescimento,
o que justifica a idéia de “substituição de importações”. O mesmo se dá em relação ao
item “Fração do Sangue”e “Vacinas humanas”.
89
Figura 3.2Importação de Produtos “Biotecnológicos”
Fr. Sangue
Vacinas
Reag. tox.
Hormônios
outros med.
vac. Vet.
1995
1996
1997
1998
1999
0
20000000
40000000
60000000
80000000
100000000
120000000
140000000
US$
produtos
ano
Importação Biotecnologia
1995
1996
1997
1998
1999
Figura 3.3Importação de Reagentes e Toxinas
1995
1996
1997
1998
1999
Reagentes
Total
0
5000000
10000000
15000000
20000000
25000000
30000000
US$
Anos
Importações
Reagentes
Total
90
Figura 3.4Importações Totais dos Itens de Biotecnologia
TOTAL
0
100000000
200000000
300000000
400000000
500000000
600000000
1995 1996 1997 1998 1999
Ano
US$
TOTAL
Uma das questões interessantes é observar o que ocorre dentro de cada um dos
grupos. Uma indicação dada pelos dados do SISCOMEX é que existe uma baixa
concentração das importações relacionadas à biotecnologia em apenas um item. Isso é
uma característica desse mercado, ou seja, a dispersão em itens que não necessariamente
geram economias de escopo ao produtor, apesar de sua origem comum. À variedade de
produtos e itens corresponde um esforço permantente de investigação, experimentação e
adaptação das técnicas produtivas.
Todavia, o conhecimento das ferramentas comuns (por exemplo, cultivo celular)
é cumulativo, sugerindo a articulação de produtores em torno de uma base de
conhecimento comum (por exemplo, uma instituição-chave) e um conjunto de empresas
de base local ou regional que explore de forma mais adequada a relação usuário-
produtor.
Os resultados do cálculo do Índice de Herfindhal aparecem na
Tabela 3.16, abaixo. Percebe-se claramente a grande dispersão na maioria dos
grupos. A exceção está relacionada a vacinas veterinárias, em que a poucos itens são
relevantes e o grupo “outros”domina, o que sugere um futura investigação para
identificar quais dos produtos desse grupo são realmente novos e relacionados a vacinas
recombinantes.
31
O aumento das importações de reagentes para diagnóstico diluiu a
importância do grupo outros e tornou o Indice de Herfindhal mais baixo, indicando
menor concentração de mercado. Em geral, há indicação de um elevado grau de
91
dispersão nos mercados, abrindo oportunidades para pequenas empresas. Nesse sentido,
a política de substituição de importações tem que ser articulada para evitar que
produtores que exploram “nichos de mercado”criem um ambiente de competição
predatória, como é comum ocorrem com as pequenas empresas.
Tabela 3.16 Índice de Herfindhal por Produtos Importados nos Grupos
32
Herfindhal das importações por grupo
1995 1996 1997 1998 1999 n
Frações de Sangue 0,23 0,25 0,19 0,24 0,34 15
Vacinas 0,23 0,27 0,19 0,21 0,46 16
Reagentes e Toxinas 0,46 0,45 0,42 0,37 0,27 7
Hormônios 0,27 0,48 0,28 0,27 0,24 26
Outros Medicamentos 0,53 0,38 0,18 0,37 0,31 42
Vacinas Veterinárias 0,83 0,90 0,62 0,63 0,67 6
3.4.2 Análise dos resultados das exportações
Passemos às exportações desses mesmos 5 itens. Novamente, captou-se apenas
os itens do Capítulo 30 da NCM e NBM. Caso existisse um processo de substituição de
importações ou de internalização de atividades em biotecnologia, seria normal esperar
importação em itens de intermediários (possivelmente, do Capítulo 29 do SISCOMEX) e
exportações de bens finais, que é justamente o que consta dos dados que apresentaremos
31
Isso só é possível com uma pesquisa feita no SECEX, uma vez que a desegragação desse item não está
disponível nos banco de dados que estamos trabalhando.
32
O índice de Herfindhal é igual a
2
1
em que ; a importação do i-ésimo item
n
i
iii
tot
M
HssM
M
==
das importações
92
Figura 3.5 Exportação de Produtos da Biotecnologia pelo Brasil
0% 20% 40% 60% 80% 100%
1995
1996
1997
1998
1999
Frações de Sangue
Vacinas
Hormônios
Vacinas Veterinárias
Percebe-se claramente que apenas vacinas veterinárias e hormônios são
relevantes para as exportações biotecnológicas do Brasil. Os dois itens estão associados
ou ao transbordamento da produção interna para países vizinhos (o caso das vacinas
veterinárias) ou como resultado de políticas de incentivo à produção nacional por firmas
locais (ver Biobrás, acima).
A Figura 3.6 permite observar que os anos de câmbio sobrevalorizado foram
desfavoráveis para as exportações de produtos biotecnológicos. O principal item de
exportação, os medicamentos contendo hormônios (esteróides, córtico-supra renais).
Quando se observa os dados da Figura 3.1, percebe que o mesmo ocorreu com sais de
insulina”:de US$ 8 milhões em 1995, as exportações caíram para aproximadamente
US$ 2 milhões em 1999, de forma contínua, refletindo o efeito do câmbio e da política
de preços dos principais concorrentes. A diferença de “sais de insulina” para os outros
produtos é que este item era também exportado para países centrais e não apenas para os
países vizinhos, como a maioria de nosos produtos próximos à biotecnologia.
Uma observação da Tabela 3.17 mostra um cenário muito distinto daquele
cenário diversificado das importações. O Índice de Herfindhal para as exportações
indica uma maior concentração de poucos produtos. O ponto interessante, todavia, é a
93
notória diversificação da exportação de hormônios ocorrida a partir de 1997, que
acompanhou o seu (oscilante) crescimento.Isso é um indicador de que a pauta de
produtos está se diversficando.Percebe-se que a pauta de exportação brasileira, por
grupos é muito mais estreita que a de importações.
Tabela 3.17 Índice de Herfindhal para as Exportações por Produtos nos Grupos
1995 1996 1997 1998 1999 n
Frações de Sangue
0,7 0,62 0,82 0,45 0,67 13
Vacinas
0,96 1 0,55 0,87 0,67 7
Reagentes e Toxinas
0 0 0 0 0 0
Hormônios
0,75 0,38 0,23 0,21 0,21 14
Outros Medicamentos
0 0 0 0 0 0
Vacinas Veterinárias
0,45 0,45 0,5 0,55 0,57 6
Fazendo um resumo regeral sobre o balanço de comércio dos intens estudados,
as exportações de insumos biotecnológicos entre 1995/1998 atingem valor de US$
10892811,00. As importações atingem US$ 1784945,283 no mesmo período.
Hormônios foram os produtos mais exportados líderes representando 78% do total, em
média no período, embora em 1997 tenham representado 85% das exportações do grupo
de produtos biotecnológicos (US$ 22586078,00). As vacinas em geral mostram um
desempenho muito significativo em relação nas relações de trocas biotecnológicas entre
o Brasil e o mundo. Vacinas humanas representam cerca de 21% das importações no
grupo enquanto vacinas veterinárias chegam a representar 16% do total das exportações,
vindo logo depois de hormônios. Os maiores valores importados também foram os de
hormônios, atingindo 1/3 do total de importações em biotecnologias. Em
1997representavam quase 40% daquele total.
Neste período a participação do valor total das exportações sobre o valor total
das exportações não superou os 6,1% para o total agregado no entanto, quando se
olham os itens, separadamente, observa-se que as exportações de vacinas veterinárias
representam quase 30% das importações.embora esta participação já tenha sido de 50%
em 1996.
94
Figura 3.6 Exportações de Hormônios: 4 principais itens
Finalmente, apresentamos a Figura 3.7 que mostra que somente em vacinas
veterinárias há um peso maior das exportações em relação às importações, em função da
internalização produtiva das empresas líderes mundias e de algumas empresas
nacionais para a produção de vacina anti-aftosa (foot and mouth disease). Como
dissemos, por um lado isso abre a perpectiva de “substituição de importações”, de outro,
reflete (ainda que mais timidamente) um efeito positivo das atividades em biotecnologia
sobre as importações, principalmente no item reagentes e toxinas. A dificuldade da
estratégia de substuição de importações está posta pela competição dos líderes
mundiais, fato que está claramente revelado pela intensa rivalidade no mercado de sais
de insulina. Há que lembrar que a biotecnologia também atua “destruindo”mercados
convencionais, fato que fica evidente no campo da biotecnologia vegetal, mas que
também têm relevância no mercado de fármacos (novamente o exemplo da insulina é
ilustrativo).
Hormônios-Exportações
0,00
2.000.000,00
4.000.000,00
6.000.000,00
8.000.000,00
10.000.000,00
12.000.000,00
1995 1996 1997 1998 1999
US$-FOB
MEDIC. CONT OUTS
HORMONIOS/DERIVS ETC EXC EM
DOSES
OUTS MEDIC.
C/HORMONIOS/DERIV/ASTEROIDE
S EM DOSES
MEDIC. C/OUTS
ESTROGENIOS/PROGESTOGENIO
S EM DOSES
MEDIC. C/HORMONIOS
CORTICOSSUPRA-RENAIS EM
DOSES
95
Figura 3.7Relação Exp/Imp da Biotecnologia
Relação X/M em Produtos de Origem Biológica
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
95 96 97 98 99
Ano
Produtos
Frações de Sangue
Vacinas
Hormônios
Vacinas Veterinárias
TOTAL
Finalmente, as Tabela 3.18 e Tabela 3.19 permitem visualizar o que já havíamos
demonstrado acima: a maior concentração, no agregado dos grupos das exportações. Há
um menor número de grupos de produtos contribuíndo para as exportações que o
número que contribui para as importações. Dada a natureza diversificada e
“pervasiva”da biotecnologia, isso indica claramente que na fase atual, o
desenvolvimento da biotecnologia irá criar um sem número de demandas por
importacão de produtos, sem mencionar a óbvia pressão nas importações de
equipamentos derivadas de projetos genoma. Por enquanto, todavia, essas importações
são modestas quando se compara com os principais itens de importação do setor de
fármacos ou de agricultura. Um ponto interessante é que dentro dos grupos está
ocorrendo uma maior diversificação das exportações, que pode indicar que a
biotecnologia está alcançando um estágio em que alguns produtos brasileiros passam a
competir no Mercosur e países do Pacto Andino, mais Chile, que são os principais
consumidores.
96
Tabela 3.18 Índice de Herfindhal Por Grupos
1995 1996 1997 1998 1999 n
Importação 25% 23,30% 24,70% 22,80% 22,90% 6
Exportação 57,90% 56,40% 73,60% 59,70% 65,70% 4
Tabela 3.19 Índice de Herfindhal por Produtos no Agregado
1995 1996 1997 1998 1999 n
Importação
7,1% 8,9% 6,0% 6,3% 7,7% 112
Exportação
42,6% 21,8% 17,3% 13,8% 15,1% 40
4 Biotecnologia Vegetal e Produtos Afins: sementes, mudas e
inoculantes.
4.1 Um panorama geral das mundanças das empresas envolvidas em
biotecnologia vegetal
Uma parte considerável do mercado de biotecnologia vegetal está relacionado à
produção e comercialização de sementes melhoradas. A parte mais importante desse
mercado está ligada a poucos produtos, o que não é signficativamente alterado pela
introdução de novas biotecnologias, como apontou Dr. Willhemo da Syngenta, antiga
Novartis Seeds: milho, algodão, arroz, soja, girassol e em alguns países, sorgo e
beterraba açucareira são os principais focos de inovações, que hoje estão relacionadas a
organismos geneticamente modificados (OGM’s), ou seja, resultantes do uso de técnicas
de Dna Recombinante.
Ainda nesse campo, está o uso de marcadores genéticos e de técnicas de
amplificação molecular que aceleram o processo de melhoramento, de 7,8 anos para 3 a
4 anos. Essas técnicas estimulam a internalização de laboratórios nas filiais localizadas
em países como o Brasil, México e India, que tem uma pesquisa agrícola desenvolvida.
Esses laboratórios são fundamentais para introduzir genes de características
desejáveis em variedades locais, desenvolvidas por empresas que foram adquiridas
pelas líderes ou que estão associadas às instituições-chave, notadamente a Embrapa e
alguns institutos de pesquisa, em acordo com centros de universidades públicas. Mudas
e matrizes também são importantes, mas a multiplicidade de produtos a que são
destinados favorece empresas de pequeno porte, que atuam em mercados regionais.
97
O cenário hoje se assemelha ao de fármacos, com uma diferença básica: a
adequação das variaedades ao clima e às especificidades locais é fundamental e que
existe um desenvolvimento considerável da pesquisa genética, reconhecido
mundialmente seja no campo tradicional, seja no manejo de técnicas associadas à
obtenção de plantas recombinantes, além de contar com bancos de germoplasma e
microorganismos de importância mundial (Taxler, 1999).
Tal condição não elimina as “janelas de oportunidade”em biotecnologia vegetal,
tão logo sejam superadas os problemas institucionais associados à biossegurança e o
tratamento da biodiversidade. A crescente importância do cultivo de frutas e a
descoberta das oportunidades para exportação de flores, torna a “biotecnologia
embarcada”
33
um elemento central na competitividade. Nesse caso, abre-se espaço para
pequenas empresas dinâmicas, que estimuladas por programas de apoio ao uso mais
intenso de capital humano (via programas como RHAE) que em associação com
distribuidores e mesmo produtores de outros países, atendem a mercados que
demandam “novidades tropicais”. Esse segmento de mercado não sofre a competição
dos grandes laboratórios e pode ser apoiado pelas Instituições-chave.
Passaremos a tratar das características do mercado brasileiro de sementes
melhoradas, vis a vis às transformações mundiais e depois teceremos breves
considerações sobre o problema de direitos de propriedade no país, apenas para
clarificar os elementos que condicionam o desenvolvimento da biotecnologia vegetal no
país.
A indústria de sementes só ganhou força quando pesquisadores norte-americanos
concluíram pesquisas sobre o milho híbrido. Com o desenvolvimento de novas
biotecnologias, a partir da década de 70, a indústria de sementes tornou-se alvo de
outros ramos industriais, como as empresas de insumos químicos e farmacêuticos. A
moderna indústria de sementes foi uma das precursoras da grande empresa de
biotecnologia, apoiada no conhecimento científico e no segredo industrial, reforçado
pelas descobertas sobre hibridação. (Silveira, 1985).
O Brasil, com o Instituto Agronômico de Campinas, Agroceres e Cargill
acompanhou a evolução internacional da indústria de sementes com uma pequena
distância temporal. A partir da década de 1960, empresas estrangeiras entram no
33
Uma imagem para lembrar que as alterações produzidas pela biotecnologia são apenas tópicas ou estão
incluídas no processo de obtenção do produto e da produção de mudas. Normalmente estão associadas a
novas técnicas produtivas em alguma fase da cadeia de produção, um “scale up”adequado por exemplo,
da produção de mudas (como mostrou a entrevista da Pro-clone).
98
mercado brasileiro de sementes : a Pioneer em 64, a Cargill em 65, a Limagrain e
Asgrow em 71, a Dekalb em 78 e a Ciba-Geigy em 79. Nas primeiras tentativas de
ingresso, apesar de utilizarem linhagens do próprio IAC, não tiveram o sucesso
esperado, que só alcaçaram na Segunda metade da década de 60 quando a Cargill e
Dekalb lançaram os primeiros híbridos adaptados às condições do extremo sul do país.
Como vimos, as empreas líderes têm investido nos submercados de soja, arroz e
algodão.(ver Wilkinsom & Castelli , 2000)
No mercado brasileiro de sementes, a entrada das empresas estrangeiras
acontece partir da década de 1960, como mostra a Tabela 4.1.
Tabela 4.1 Empresas Líderes no Mercado de Sementes do Brasil
Ano de entrada
Empresas
1964 Pioneer
1965 Cargill
1971 Limagrain e Asgrow
1978 Dekalb
1979 Ciba-Geigy
Como mostra a Tabela 4.2, no fim da década de 80, a Agroceres e a Cargill
somavam 65% do mercado no Brasil e durante a década de 90, continua a concentração
no mercado de sementes híbridas. Pode-se observar os movimentos de aquisições mais
recentes na Tabela 4.3.
Tabela 4.2 Market Share de Empresas Líderes em Sementes no Brasil (100%)
Ano
Agroceres
(Brasil)
Cargill
(EUA)
Pioneer
(EUA)
Braskalb
(Brasil/EUA)
1981
39 19.5 5.4 <1
1987/89
40 25.5 8 10
Fonte: Wilkinsonm & Castelli (2000) e relatórios das empresas
99
Figura 4.1 Empresas e Instituições Líderes em Melhoramento de Variedades
até 1997
2%
5%
1%
10%
12%
70%
Embrapa FT-Pesquisas e Sementes
Coodetec IAC
Dois Marcos Outros
A Figura 4.1 mostra como as instituições e empresas locais predominavam no
mercado brasileiro antes da Lei de Proteção de Cultivares. As alterações são
significativas a partir dessa data, mas há um confundimento com a emergência de novos
produtos em biotecnologia vegetal.
No final da década de 90, a Monsanto (EUA) adquire 29 empresas de sementes,
sendo que quatro são do Brasil; a DuPont (EUA) cinco, sendo que uma é do Brasil; a
Novartis (Suíça) 16; a Aventis (Alemanha/França) nove
34
, sendo quatro do Brasil; a
Dow AgroScience (EUA) 13, sendo cinco do Brasil; a Sakata Seed Crop (Japão) e Savia
S.A. (México) assumiram o controle de 31 empresas, sendo três do Brasil, de onde se
depreende que, pelo menos, 22 firmas brasileiras foram compradas pelas
multinacionais.
35
34
Em 1999, Novartis Seeds sofreu, por decisão dos acionistas, sofreu um spin off e transformou-se, como
mencionamos, em Singenta. A Aventis seeds vendeu sua divisão de sementes e de agroquímicos para a
Bayer, que se tornou então nova entrante no ramo de biotecnologia vegetal. Nesses dois casos, o mercado
relevante não se altera.
35
Insistimos que no caso da compra da Asgrow pela La Moderna, empresa Mexicana, não ocorre uma
significativa concentração no segmento de sementes hortícolas, que em muitos sub-mercados era
controlada pela empressa que foi adquirida.
100
Tabela 4.3 Aquisições realizadas pelas transnacionais de empresas dedicadas à
produção de híbridos nos anos 90
Comprador Empresas Adquiridas Produtos
Agroceres Milho/sorgo
Cargill Internacional (2) Milho
Monsanto (1)
Braskalb/Dekalb (3) Milho/sorgo
DuPont (4) Pioneer (5) Milho/soja
Dina Milho Milho
Sementes Colorado Milho
FT-Pesquisa e Sementes Milho
Milho Milho
Sementes Hatã Milho
Dow (6)
Sedol Sementes
NOTAS: (1) Capitais norte-americanos. (2) Pertencentes a capitais norte-americanos com início de
atividade no país desde meados da década de 1960. (3) Utilizava a genética da Dekalb, de capitais norte-
americanos. (4) Capitais norte-americanos. (5) Como a Cargill, pertence a capitais norte-americanos com
atividade no país desde meados da década de 1960. (6) Capitais norte americanos. (7) Capitais alemães,
depois Aventis e agora Bayer.
Alguns autores relacionam o interesse das líderes ao reconhecimento de direitos
de propriedade para as obtenções vegetais, mais especificamente, pela aprovação da Lei
de Proteção de cultivares (nº 9.456, de 25 de abril de 1997). Isso motivou a entrada em
segmentos que variadedes de plantas autógamas, de variedades, como evidencia a
Tabela 4.4. Está claro que a motivação principal não se refere ao problema de direitos
de propriedade. A legislação brasileira ao reconhecer como direito do melhorista sobre
as variedades essencialmente derivadas e incluir plantas recombinantes como tal, abriu
um espaço para negociação considerável para os melhoristas que atuam no país.
Tabela 4.4 Aquisições de Empresas Nacionais à produção Sementes de Variedades
Comprador Empresas Adquiridas Produtos
FT-Pesquisas e Sementes Soja
Sementes Hatã Soja
Monsanto (1)
Grupo MAEDA, Algodão
formando a DM
Agr-Evo (2) Granja Quatro Irmãos Arroz
Sementes Ribeiral Milho/Soja
Pioneer Milho/ SojaDuPont (3)
Dois Marcos Melhoramentos Soja
NOTAS: (1) Capitais norte-americanos;(2) Capitais alemães;(3) Capitais norte-americanos
101
O processo de concentração da indústria é mundial e resultou em cinco maiores
companhias mundiais no mercado de sementes, que são: a) DuPont (mais de US$1,8
bilhão); Monsanto (US$1,8 bilhão); Novartis (cerca de US$1 bilhão), seguindo-se a
Aventis (hoje Bayer) e Savia (La Moderna). Como se percebe, são empresas pequenas
em comparação com as empresas farmacêuticas. Aquelas que sofreram spin off, como a
Singenta, passar a faturar algo em torno de US$ 7 bilhões, incluindo-se o mercado de
agroquímicos, o que limita fortemente o orçamento para pesquisa.
4.2 Uma breve descrição das empresas líderes mundiais do setor de
sementes
4.2.1 Monsanto
A Monsanto, gigante norte-americana nos campos da agroquímica e
biotecnologia, no ramo das sementes e pesquisas vegetais, incorporou a Calgene (por
US$ 240 milhões), a Delta & Pine (por US$ 1,7 bilhões) e a Dekalb Genetics Corp.
(US$ 2,3 bilhões), que era a segunda maior empresa de sementes dos Estados Unidos,
que tuava no Brasil através da Braskalb. Além disso, a Monsanto adquiriu, por US$ 1,4
bilhões o setor internacional de sementes da Cargill, exceto EUA, Canadá e Reino
Unido (ver Relatório Anual da Monsanto). Estima-se que, apenas no período 1997-
1998, a Monsanto tenha investido, mundialmente, cerca de US$ 6 bilhões, no campo da
biotecnologia, em pesquisas e em aquisições de empresas (GM 20/10/98).
A Monsanto veio para o Brasil durante os anos 50, quando suas matérias-primas
começaram a ser comercializadas no País. Em 1963, instalou seu escritório de vendas
em São Paulo. A inauguração da primeira fábrica deu-se em 1976, em São José dos
Campos. A partir de 1996, ingressou na área de pesquisa e beneficiamento de sementes
de soja, milho, sorgo e girassol. Em 1997, houve uma divisão dos negócios da holding
Monsanto em duas empresas distintas: a Monsanto (agricultura, farmacêutica e
biotecnologia) e Solutia (área química).
Em 1996, incorporou a FT-Sementes, empresa paranaense dedicada a pesquisa e
melhoramento, principalmente de soja, que possuía expressivo e valioso estoque de
material genético e, em 1997, incorporou a divisão vegetal da Agroceres, a maior
empresa brasileira de pesquisa e comercialização de sementes melhoradas. Ainda
contratou parceria com a EMBRAPA, detentora do maior estoque de material genético
do Brasil, para o desenvolvimento de tecnologia.
102
As plantas geneticamente modificadas, apesar de serem cultivadas pela
Monsanto em 40 milhões de hectares em todo o mundo, ainda não estão disponíveis no
Brasil. Um complexo de sementes foi inaugurado, em Uberlândia, em março de 2000 e
conta com uma centro avançado de pesquisas e beneficiamento de sementes de milho,
sorgo e girassol, com capacidade de processamento de 45 mil toneladas anuais.
Através da Monsoy, divisão transnacional da Monsanto no Brasil, já investiu no
mercado de milho US$ 100 milhões. Ao adquirir a FT-Pesquisas e Sementes de Soja, a
Monsanto passou de 12% para 18% em dois anos no mercado de sementes de soja, cujo
domínio ainda é da Embrapa (5%). A Monsanto ainda comprou as empresas Sementes
Hatã (soja) e Grupo MAEDA (algodão), formando a MDM.
Em junho de 2000, após uma sentença proibindo o plantio de sementes
transgênicas sem o prévio estudo do impacto ambiental, a Monsanto reafirmou que vai
continuar trabalhando pelo lançamento de soja transgênica do tipo “Roundup Ready” no
Brasil.
Em setembro de 2000, foi autuada e multada em R$ 20 mil pela geração e
descarte irregular de 12 toneladas de sementes e pluma de algodão transgênico em
experimentos desenvolvidos.
4.2.2 Pioneer/DuPont
A DuPont Co., maior indústria química dos EUA, em operação de US$ 7,7
bilhões, comprou a Pioneer Hi-Bred International Inc., a maior empresa de sementes
dos EUA (responsável por 42% das vendas de sementes de milho e 17% de soja naquele
país). Tal operação amplia a capacidade da gigante DuPont no campo da biotecnologia.
Na transação, foi envolvida a Pioneer Sementes, do Brasil que, por sua vez, adquiriu o
banco genético de sementes da empresa goiana Sementes Dois Marcos (Gazeta
Mercantil, 25/3/99).
Com 3 unidades de beneficiamento no Brasil (Santa Cruz do Sul, Santa Rosa e
Itumbiara) seus negócios estão direcionados para sementes de molho híbrido, pipoca,
soja e sorgo e detém 70% do mercado de alta tecnologia da agricultura.
A Pioneer vem focando sua pesquisa e desenvolvimento de produtor para o
mercado de grãos diferenciados com alto teor de óleo e proteína para uso na
alimentação de animais, assim como híbridos de milho com características especiais
para a produção de silagem de plantas inteiras e silagem de grão úmido.
103
A Pioneer (milho e soja), adquirida pela DuPont, em outubro de 1999, que
também omprou a Dois Marcos Melhoramentos (soja), hoje, detém 10% do mercado de
sementes de soja, 14% de sementes de milho.
4.2.3 Empresas que sofreram spin offs: Novartis (Singenta), Aventis
A suíça Novartis, considerada a maior do Mundo no campo farmacêutico e da
biotecnologia, é o resultado da fusão da Ciba-Geigy AG e da Sandoz AG, em 1996,
numa operação que envolveu nada menos de US$ 36 bilhões.A Novartis iniciou suas
atividades no Brasil em 2 de janeiro de 1997, com a união entre a Sandoz e Ciba, que já
estavam no país há mais de 60 anos. Sua venda de sementes no Brasil, hoje, como
Singenta, está orçada em US$33,4 milhões.
Aventis Behring, antiga Centeon, foi formada em 1996 através de uma
associação entre a companhia Armour do grupo Rhone-Poulenc Rorer Inc. e a
Behringwerke AG do grupo Hoechst AG. Sua venda para Bayer é mais um episódio no
processo de rejeição dos acionistas a segmentos menos rentáveis de alta tecnologia. A
Bayer, por seu turno, procura reforçar sua posição no mercado de agroquímicos e
desenvolver seu potencial em biotecnologia, aproveitando seu porte e a situação não tão
favorável no mercado de fármacos.
4.3 Instituições-Chave para o desenvolvimento da biotecnologia vegetal no
Brasil
4.3.1 Embrapa: insumos e serviços para o mercado de biotecnologias em
agro-pecuária
Criada há 25 anos, a Empresa Brasileira de Pecuária e Agricultura - Embrapa -
desenvolve técnicas agropecuárias, realiza pesquisa técnico-científica, promove os
agronegócios nos níveis local, regional e nacional. Conta hoje com 40 unidades, 33 das
quais mais diretamente ligadas ao P&D. Um outro grupo de unidades operacionais são
responsáveis pela transferência de tecnologias, bases de dados de serviços, organização
de negócios, manutenção de rede informacional e atendimento ao usuário não está
representada.
A Figura 4.2 ilustra o conjunto de atividades de P&D e serviços da Embrapa em
relação à distribuição de pesquisa, tecnologias e serviços (DPST). Cada Unidade está
representada por um teto de até dez conjuntos de atividades, que equivalem ao maior
104
número de serviços tecnológicos e freqüência de P&D encontrados no universo
pesquisado.
Figura 4.2 Atividades da Embrapa e a Biotecnologia
4 5 6 7 8 10 11 12 13 14 15 16 17
18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Unidades
EMBRAPA
DPTS
10
Legenda: 1. Acre; 2. Agrobiologia; 3. Agroindústria de Alimentos; 4. Agroindústria Tropical; 5. Agropecuária Oeste; 6. Algodão; 7. Amapá; 8. Amazônia Oriental; 9. Caprinos
10. Cerrados; 11. Clima Temperado; 12. Florestas; 13. Arroz e Feijão; 14. Gado de Corte; 15. Gado de Leite; 16. Hortaliças; 17. Mandioca e Fruticultura; 18. Meio
Ambiente; 19. Meio Norte; 20. Milho e Sorgo; 21. Pecuária Sul; 22. Pecuária Sudeste; 23. Pantanal; 24. Rondônia; 25. Roraima; 26. Semi-árido; 27. Soja; 28. Solos;
29. Suínos e Aves; 30. Tabulerios Costeiros; 31. Trigo; 32. Uva e Vinho; 33.CENARGEM
33
Legenda: 1. Acre; 2. Agrobiologia; 3. Agroindústria de Alimentos; 4. Agroindústria Tropical; 5. Agropecuária Oeste; 6.
Algodão; 7. Amapá; 8. Amazônia Oriental; 9. Caprinos; 10. Cerrados; 11. Clima Temperado; 12. Florestas; 13. Arroz e
Feijão; 14. Gado de Corte; 15. Gado de Leite; 16. Hortaliças; 17. Mandioca e Fruticultura; 18. Meio Ambiente; 19. Meio
Norte; 20. Milho e Sorgo; 21. Pecuária Sul; 22. Pecuária Sudeste; 23. Pantanal; 24. Rondônia; 25. Roraima; 26. Semi-
árido; 27. Soja; 28. Solos; 29. Suínos e Aves; 30. Tabuleiros Costeiros; 31. Trigo; 32. Uva e Vinho; 33. CENARGEM
Os conjuntos listados abaixo e legendados por elípses coloridas representam
quatro níveis de capacidades técnico-científicas e prestação de serviços que compõem o
DPST da Embrapa.
Técnicas e serviços básicos em agropecuária:
Técnicas de manejo agrícola e pecuário
Irrigação
Diagnóstico de solos
Desenvolvimento de técnicas de produção sustentável e extrativismo
Tecnologias para agricultura familiar
Desenvolvimento de novos tipos de semeaduras
Controle de ecto e endoparasitas e disseminação de doenças em culturas
Beneficiamento e fornecimento de sementes
Técnicas de plantio e espaçamento
Manejo de recursos hídricos e edáficos no nível local e regional
105
Relações agro-ambientais e melhoramento de materiais biológicos:
Manutenção de recursos genéticos naturais
Relações agro-ecológicas
Técnicas agro-pecuárias para aumento de produtividade
Controle biológico de pragas
Desenvolvimento de bio-inseticidas
Desenvolvimento e melhoria de cultivares por cruzamento, hibridação e seleção
Melhoria de cultivares por métodos convencionais
Desenvolvimento de cultivares adaptados a condições locais e regionais
Zoneamento agro-climático
Desenvolvimento de cultivares resistentes a pragas por seleção genética
Avaliação de impacto ambiental e agroecologia
Integração de culturas e lavoura-pecuária
Biodiversidade e recursoso faunísticos
Macro-agrosistemas e sustentabilidade agrícola
Manejo de fatores abióticos
Controle de doenças em animais
Desenvolvimento de técnicas de nutrição animal
Manutenção e melhoramento de coleções de recursos genéticos:
Recuperação de solos/ adubação natural
Bancos ativos de germoplasma
Novas técnicas experimentais de manutenção de recursos genéticos
Métodos de avaliação de germoplasma
Germoplasma reprodutivo de animais
Biotécnicas de eficiência reprodutiva em animais
Coleta e análise de recursos genéticos em ambientes naturais
Avaliação agronômica de germoplasma
Clonagem de cultivares
Técnicas imunológicas de detecção de parasitas
Cultura de embriões
Cadastro de sementes
Certificação de mudas e sementes
Processos de obtenção biológica de nutrientes vegetais
Conservação e armazenamento de alimentos para agro-indústria
106
P&D na fronteira científica:
Estudos de genes de tolerância a estresse hídrico em plantas
Genética genômica aplicada à melhoria de cultivares
Técnicas de pesquisa em biologia molecular para melhoria de cultivares
Banco de dados genéticos
Técnicas de valoração de recursos genéticos
Análise de pureza genética de populações por marcadores moleculares
Fingerprints e identificação de grupos heteróticos
Marcadores para diagnose e caracterização genética
Transferência gênica
Biobalística
Caracterização de genes induzidos
Produção de novos cultivares geneticamente modificados
Microsatélites para caracterização de cultivares
Regulação da expressão gênica
PCR - Polimerase Chain Reaction
Caracterização bio-molecular de variedades
Marcadores morfológicos
Protocolos de testes de campo com OGM
Existe uma relação entre as unidades com potencial de geração de produtos e
processos derivados de modernas biotecnologias e as atividades de pesquisa da fronteira
científica. Nas unidades que trabalham com grãos, de nº 10 (Cerrados), 13 (Arroz e
Feijão), 20 (Milho e Sorgo), 27 (Soja), 31 (Trigo) e 33 (CENARGEN) desenvolvem
projetos de pesquisa e tecnologias que permitem produzir novas variedades e cultivares
geneticamente modificados, por exemplo. Em algumas delas também são executados
projetos que envolvem tecnologias genômicas, de análise de diversidade genética,
fingerprints, pureza de híbridos, utilização de marcadores de alto desempenho e
polimorfismos, etc. A três unidades que apresentam por volta de 30% de seu DPTS
voltado para modernas biotecnologias - Embrapa Trigo, Soja e Milho e Sorgo realizam
pesquisa colaborativa, principalmente com Embrapa Trigo e Embrapa Milho e Sorgo
para o desenvolvimento de novos cultivares de soja.
Hoje, o país colhe anualmente em torno de 31 milhões de toneladas de soja,
sendo a região central do Brasil responsável atualmente por 45% dessa produção. A
introdução da soja no Cerrado é uma conquista do desenvolvimento desta espécie nas
unidades da EMBRAPA. O programa de pesquisa para a criação de novas e superiores
cultivares de soja foi ampliada de forma significativa. Atualmente a pesquisa é dirigida
107
para como aumentar a produtividade, obter estabilidade de produção, resistência às
pragas e doenças e tolerância aos herbicidas (transgênicos). Entre os novos lançamentos
pode-se incluir a Soja Milena, que apresenta médio ciclo e alta produtividade para o
cerrado (3120 Kg/ha) nos testes de campo. Este cultivar é o resultado de cruzamentos
genéticos convencionais e técnicas de genética genômica aplicada ao melhoramento e
de mapas de QTLS ligados aos genes de tolerância a estresse hídrico. As biotecnologias
genômicas são executadas em colaboração com a Embrapa Milho e Sorgo e a
EmbrapaTrigo.
O cultivar Soja Celeste, desenvolvida em conjunto pelas Embrapas Soja e
Cerrado, com parceria da Fundação Cerrados, já estão em fase de lançamento. Os testes
de campo foram conduzidos em parceria com a Monsoy (FT-Sementes), Sementes Dois
Marcos e Ernater-GO. O cultivar Soja Carla apresenta hoje o maior índice de
produtividade no cerrado brasileiro e em testes de campo na região sul. Este cultivar
apresenta como destaque: elevada produtividade, boa estabilidade de produção e
resistência ao cancro-da-haste. Apresenta também resistência ao acamamento, mesmo
em plantios de inverno, quando é comum a ocorrência desse fenômeno. Está sendo
testada em Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso, Tocantins, São Paulo e Paraná,
sugerindo a provável extensão de indicação para outros estados até o final deste ano.A
Embrapa Trigo também se destaca como real e potencial geradora de produtos
biotecnológicos. Realiza pesquisa colaborativa com a Universidade de Passo Fundo e
está inserida na RedBioBrasil, uma rede de cooperação técnica em biotecnologia
gerenciada pela FAO, com suporte de bioinformática. A Embrapa Trigo desenvolve
cultivares adaptados às condições do inverno brasileiro com apoio do PADCT e
PRONEX.
O Núcleo de Biologia Aplicada da Embrapa Milho e Sorgo já tem à disposição
do mercado, um cultivar de milho geneticamente modificado com melhoria da
qualidade nutricional. Foram manipuladas, por biobalística, as regiões PROM - genes
promotores de regiões ORF, que passam a quadruplicar a produção da proteína
nutricional δ-zeína, rica em amino-ácidos essenciais. A equipe envolvida foi financiada
pelo PRONEX e CNPq.
A Embrapa Pecuária Sul também é detentora de capacitação técnica importante
na área de biologia molecular e genética genômica. Apesar de estar voltada para
atividades de pecuária, desenvolve tecnologias de manejo de forrageiras a partir de
técnicas de pesquisa com marcadores para diagnose e caracterização de fitopatógenos,
108
transferência genética de milho e sorgo, marcadores de DNA para diagnose de pureza
genética e fingerprints para identificação de grupos heteróticos. Esta expertise é
compartilhada pelos atores da Embrapa Pecuária Sul com os pesquisadores da Embrapa
Trigo, que desenvolvem pesquisas complementares.
O CENARGEN é mantenedor de bancos de germoplasma animal, vegetal e de
microrganismos de solo, patogênicos e de controle biológico. Como responsável pela
manutenção de recursos genéticos, apresenta avanços significativos na utilização de
biotecnologias para determinação de variedade faunística, análise genômica - como no
caso de retrocruzamentos assistidos por marcadores em Orysa sp - comparação de
genótipos de madeiras nativas por microsatélites, desenvolvimento de batata e feijão
transgênicos, e de mamão transgênico resistente ao vírus da mancha anelar - este último
conjuntamente com a Embrapa Mandioca e Fruticultura.
A Embrapa Hortaliças atua na pesquisa e geração de tecnologias agrícolas
derivadas de transformação de plantas, biobalística e marcadores moleculares para
produção de couve-flor e sementes de batata livres de vírus. Esta Unidade é vinculada a
BBNet, rede brasileira de pesquisa em biotecnologias.A capacitação tecnico-científica
dos pesquisadores de nível superior com mestrado e doutorado, nos centros apontados
como potenciais geradores de biotecnologias é apresentada na Tabela 4.5 abaixo, e
parece ser um ponto de especial importância a ser considerado.
Tabela 4.5 Embrapa - Nível de capacitação de Recursos Humanos
Unidade Nº total de
Pesquisadores Nº Mestres Nº Doutores
Relação
doutores/mestres
Milho e
Sorgo
65 20 45 2,25
Trigo
17
9, dos quais 3 em
biologia molecular.
3, dos quais 2
em genética.
0, 33
Soja
71
dos quais 17
na área de
melhoramento
genético
25
dos quais 12 na área
de melhoramento
genético e dois na
área de genômica de
nematódeos
parasitas
36 1,44
Fonte: Relatório Anual da Embrapa e entrevistas no local.
A Embrapa é a instituição de C&T e P&D brasileira que mais realiza esforços de
formalização e implementação de instrumentos de transferência de tecnologias, de
109
contratualização de acordos cooperativos, de legalização de licenciamento de
tecnologias e de questões de propriedade intelectual.
O Serviço de Transferência de Tecnologias, por exemplo, é protegido por leis de
copyright internacionais. Disponibiliza mecanismos de difusão, distribuição e
transferência de conhecimento como por exemplo, dias de campo, cursos, sistemas
especialistas entre outros. O suporte deste serviço conta com uma Rede de
Comunicações de alta velocidade, que vem sendo instalada por um consórcio da Fapesp,
Embrapa e Banco Mundial. Também está disponibilizado, gratuitamente para o
produtor, um site de softwares agrícolas (Agrosoft), que reúne programas de controle e
administração de propriedades rurais, de controle de pragas, etc. Estes programas estão
protegidos pela lei de softwares internacional.
No caso particular de variedades de plantas transgênicas, é importante
mencionar que a Embrapa lidera um dos melhores programas de melhoramento genético
vegetal para plantas anuais cultivadas na faixa tropical e semi-temperada e que, com a
incorporação segura de construções gênicas voltadas para resistência a pragas e
doenças, adaptação das variedades às condições ambientais adversas, bem como
agregação de valor nutricional e farmacêutico, pode contribuir para consolidar esta
posição de liderança do país na produção de grãos, fibras e oleaginosas em âmbito
mundial. Projetos estratégicos de produção de plantas transgênicas conduzidos pela
Embrapa em parceria com instituições de pesquisa e empresas do Brasil e do exterior,
encontram-se em desenvolvimento, com as culturas da soja, arroz, batata, milho,
mamão, eucalipto e feijão.
Os investimentos feitos pela Embrapa para o desenvolvimento de técnicas
modernas para a manipulação segura da variabilidade genética, tais como o Programa
“Desenvolvimento de Pesquisa Básica em Biotecnologia” (Programa III) e o Programa
para o Desenvolvimento Tecnológico da Agropecuária Brasileira (PROBETAB), estão
respaldados em diretrizes do Governo Federal e apoiados por vários outros programas
que financiam o desenvolvimento científico-tecnológico na área de biotecnologia, tais
como o PADCT, PRONEX, CNPq/RHAE, entre outros. As Fundações Estaduais de
Apoio à Pesquisa também vêm investindo prioritariamente nesta área.
O debate sobre o uso de plantas transgênicas atual está demasiadamente
concentrado em alguns poucos produtos que chegaram ao mercado nos últimos três
anos, frutos da assim chamada “primeira onda” da engenharia genética, caracterizada
pela manutenção das características do produto convencional nos produtos transgênicos
110
e nos seus derivados. Um produto desta onda é a soja Roundup Ready. A “segunda
onda” trará para o mercado produtos que diferem dos obtidos de forma convencional,
como a soja “High-Oleic”, cujo óleo tem maior estabilidade ao calor e contém maior
concentração do ácido oleico, orientado para um mercado crescente em busca de
produtos mais saudáveis. No entanto, a maior revolução nos sistemas de produção
agrícola virá com a “terceira onda”, onde as plantas desempenharão o papel de bio-
fábricas desenvolvidas para a produção de produtos de interesse para a indústria de
medicamentos, de alimentos e de rações.
Em outras palavras, a polêmica atual em torno dos transgênicos não considera
que a engenharia genética aplicada ao melhoramento genético vegetal já provoca
enormes mudanças nos sistemas de produção agrícola, gerando alternativas criativas
para o aumento da produção e produtividade de alimentos com segurança ambiental e
redução dos custos de produção. A competitividade do agro-negócio presente e futuro
estará, portanto, diretamente vinculada à capacidade de se incorporar tecnologias
avançadas no processo de produção.
Desde 1997 a Embrapa implementa uma nova política de propriedade
intelectual; somente em 2000, a Empresa fez 16 novos depósitos de patentes junto ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), número bastante elevado se
comparado à quantidade de depósitos realizados entre 1973 e 1996, período no qual
foram feitos apenas 17 pedidos.
O mesmo se aplica à proteção das novas cultivares desenvolvidas pela Empresa
em seus programas de melhoramento genético. Desde a vigência da Lei de Proteção de
Cultivares, de 1997, o Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), do
Ministério da Agricultura e do Abastecimento, já protegeu 114 cultivares em nome da
Embrapa. Somente no ano passado foram protegidas 15 cultivares de soja, seis de trigo,
duas de arroz, 15 de milho, nove de algodão, duas de batata e duas de feijão. Neste ano,
a Embrapa já fez, junto ao SNPC, três depósitos de soja, três de trigo e três de milho.
Para ser protegida, uma nova cultivar deve apresentar características
morfológicas e agronômicas que a diferenciem de todas as outras variedades já
conhecidas. A essas características dá-se o nome de descritores, que são estabelecidos
pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Quando a Lei de Proteção de
Cultivares entrou em vigência, em 1997, apenas nove culturas já tinham seus descritores
mínimos estabelecidos. Em 2000, foram estabelecidos os descritores mínimos para
maçã, porta enxerto de maçã e café. Para 2001, a Embrapa aguarda a publicação de
111
descritores para gramíneas forrageiras, algumas fruteiras (como videira, ameixeira,
pessegueiro e nectarineiro), hortaliças (como cenoura, alface, tomate, cebola) e alguns
cereais (como aveia, cevada e triticale).
Essa realidade surgiu a partir do momento em que a propriedade intelectual
começou a pautar diversos segmentos da comunidade internacional, visto que a proteção
de produtos e processos é instrumento imprescindível das ações estratégicas de
empresas de base tecnológica, como é o caso da Embrapa. Essa consciência também foi
despertada com a criação, em 1998, da Secretaria de Propriedade Intelectual da
Embrapa, uma unidade central diretamente vinculada à Presidência, que trabalha
exclusivamente com proteção intelectual e licenciamento dos produtos protegidos.
Por ter um grande número de produtos, processos e cultivares protegidos, a
Embrapa vem celebrando diversos contratos de licenciamento de cultivares e produtos
patenteados. Somente em 2000 foram firmados cerca de 20 contratos que tiveram como
objeto a disponibilização de produtos protegidos. Segundo a Embrapa Negócios
Tecnológicos, nos últimos dois anos foram firmados 1.129 contratos de licenciamento
de cultivares. Com isso, a Empresa vem recebendo os royalties devidos.
4.3.2 Instituto Agronômico de Campinas (IAC)
O centro dos projetos de C&T do instituto é o melhoramento genético de mais
de uma dezena de culturas, nos grandes grupamentos de hortaliças, café, algodão e
graníferas. A maior parte dos projetos envolve técnicas de melhoramento
convencionais, mas em alguns deles, como nos Projetos Citros e Cana, as pesquisas em
biologia molecular e genômica começam a mudar o cenário. O Projeto Café começa a
ser introduzido nesta nova lógica. Durante os últimos 30 anos, mais de 550 materiais
foram adotados pelo mercado. Atualmente oferece ao mercado inúmeros cultivares
novos, de potencial difusão, como abacaxi-mel, alho, morango e batata livres de vírus,
sempre produtos de seleção genética tradicional.
O foco desta análise está sobre o Centro de Genética e Biologia Molecular e da
Fitoquímica do IAC, incluindo os grupos de pesquisa de Campinas e de Cordeirópolis
(do Centro de Citricultura Sylvio Moreira), no sentido de projetar o cenário de transição
da base de P&D de tradicional para intensiva em ciência que o IAC possa estar
passando.
112
Dois grupos participaram do Genoma Xylella e um deles também participa do
Genoma Cana (Fapesp). Há capacitação em genética molecular, o que inclui
biobalística, pesquisa sobre proteomas, testes diagnósticos por DNA e ESTs, mas os
projetos de desenvolvimento de produtos com transferência de genes ainda não existem.
As técnicas mais sofisticadas em genética molecular são utilizadas num plano interno
protocolar, como formas de aumentar a capacitação no nível da pesquisa. Seis
pesquisadores diretamente ligados ao IAC estão sendo capacitados em genética
molecular em nível de doutorado, em universidades públicas paulistas; a área de café é
a que apresenta maiores possibilidades de andar sobre esta base de biotecnológica.
Projetos de desenvolvimento de cultivares geneticamente modificados para
mercados específicos, como seleção genômica de madeira de baixa lignificação para
produção de papel, são desenvolvidos em colaboração com o Cenargen-Embrapa e
utilizam conhecimentos sobre microsatélites que permitem seleção acurada de genótipos
interessantes; projetos de bioremediação de solos e rizosfera com Embrapa Meio
Ambiente também estão na carteira do IAC, assim como projetos de reconhecimento
genético da cana com o CBMEG - Centro de Biologia Molecular e Genética da
Unicamp, laboratório que coordena o Genoma SUCEST/ Cana.
Assim, de um modo geral, o IAC cumpre o papel do mais importante gerador e
fornecedor de cultivares de plantas melhoradas por métodos tradicionais. Com o
Procana, o mercado de variedades especiais de cana-de-açúcar vem recebendo novos
produtos, de especiais caracterísitcas. A cooperação com a agroindústria sucro-
alcooleira, representada pela Copersucar permitiu, nos últimos dez anos, que novas
variedades sejam difundidas. O IAC recebe alguns direitos de vendas destas variedades
quando as comercializa com não-cooperados, mas não recebe nada pelo fornecimento a
cooperados.
O processo de capacitação de pesquisadores em pesquisa em biologia genômica
parece estar sendo cristalizado, de modo a formar uma sub-rede de apoio aos trabalhos
dos Programas Genoma Fapesp e complementar a algumas frentes de P&D da Embrapa.
O IAC é um especial representante da ausência de esfoços organizacionais que
garantam retornos financeiros das atividades de P&D à instituição. Não são utilizados
instrumentos de garantia de propriedade intelectual - fora a Lei de Proteção de
Cultivares - ou gestão de P&D cooperativa.
113
4.3.3 Copersucar
A Cooperativa dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo -
Copersucar - é uma instituição chave do setor, representando mais de 97% do mercado.
O Centro de Tecnologia da Copersucar é o foco de análise deste item, e do setor, uma
vez é nele que são desenvolvidas tecnologias de geração de novas variedades de cana, e
técnicas agro-industriais.
Três grupos de projetos fazem parte da carteira de desenvolvimento de produtos
de biotecnologia da cana: transformação genética, descoberta de genes e marcadores
moleculares. Uma variedade transformada está em teste de campo. Estão sendo
difundidas duas novas variedades, obtidas por técnicas tradicionais, que fazem parte do
Projeto Cana do IAC.
Tem interesse no desenvolvimento de produtos com características específicas
para o mercado em questão, e, por isto, contrata pesquisa de cunho tecnológico junto a
universidades, e estabelece parceria junto à Fapesp no Genoma SUCEST - Sugar Cane
EST- o projeto de sequenciamento de genes expressos de importância agrícola da cana
que está analisado no item "Evolução dos Projetos Genoma" deste relatório. Neste
projeto a parceria Fapesp-Copersucar envolve 200 pesquisadores da rede de
universidades paulistas e de Estados como Pernambuco e Alagoas. Foram identificados
mais de 80 mil genes, dos quais muitos dos responsáveis pela resistência da planta a
pragas e calor e pela adaptação ao solo. É o maior projeto de análises de genes
expressos em plantas já realizado, está sendo financiado por recursos da ordem de US$
6 milhões, dos quais US$ 500 mil representam a contrapartida da empresa, que, no
entanto, não realiza sequenciamento de DNA em suas instalações. Segundo o Prof. Dr.
Paulo Arruda, coordenador do Genoma SUCEST, em dois anos devem estar sendo
lançados no mercado produtos derivados do sequenciamento da cana.
O portfólio de parcerias também inclui a Universidade do Texas (mapas de DNA
e estudos moleculares de vírus parasitas de cana), Universidade South Carolina (genes
de resistência à ferrugem e biblioteca de DNA de cana). Estas pesquisas não são
realizadas na instituição, mas técnicos e pesquisadores são enviados e as desenvolvem
nas instituições contratadas.
A carteira de técnicas em biologia molecular da Copersucar está representada na
utilização de YAC e BAC - cromossomos artificiais de fungos e bactérias, biobalística,
cultivo in vitro de germoplasma, marcadores de seleção e transformação genética, PCR,
114
sondas complexas de DNA e cópia de DNA em plasmídeo, o que permite o
desenvolvimento de testes diagnósticos de pragas e de novas variedades adaptadas.
4.3.4 Centro de Biotecnologia do Rio Grande do Sul
O Centro de Biotecnologia do Estado do Rio Grande do Sul - CTbiot - foi criado
em dezembro de 1981, por convênio assinado entre o Governo do Estado do RS, o
Banco de Desenvolvimento do Estado do RS (BADESUL), a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do RS - FAPERGS e a Universidade Federal do RS - UFRGS. Seus
principais objetivos eram a integração de esforços e recursos entre Órgãos Federais e
Estaduais de Pesquisa e Apoio Financeiro, entre a universidade e empresas para
execução de projetos de pesquisa e formação de recursos humanos. No período de
1997/1998, o Centro ampliou suas atividades, gerando conhecimentos e tecnologias.
Atua nas seguintes áreas: genética e biologia molecular de microorganismos,
controle biológico, diagnósticos moleculares de doenças humanas, de animais e de
plantas, saúde animal e reprodução, biotecnologia vegetal, bioquímica e farmacologia
de peptídeos e proteínas tóxicas, produção de enzimas genética toxicológica,
biomonitoramento de poluição ambiental.
CBbiot possui uma incubadora que já gerou duas firmas: a IKRO e a Simbios
36
.
A primeira empresa abandonou o Centro em 1998, após seis anos de funcionamento.
Chegou a produzir uma linha de produtos reagentes para testes de coagulação em escala
comercial, um nicho de mercado ocupado básicamente por concorrentes estrangeiros.
Os produtos ofertados pelo Centro são:
a) produção de kits diagnósticos e insumos nas áreas de saúde humana, animal e
vegetal;
b) produtos aplicados ao processamento de alimentos;
c) produtos aplicados à degradação de dejetos animais para utilização na
agroindústria e na proteção ao meio ambiente (enzimas hidrolíticas);
d) serviços associados a conhecimentos específicos na área de Biotecnologia;
e) treinamento de recursos humanos altamente especializados.
A substituição de produtos importados caracteriza a sua principal área de
mercado. Kits, enzimas e outros insumos são, em geral, ofertados por multinacionais
ou importados por alguns laboratórios de análises clínicas. A produção local terá
impacto nos custos desses produtos eliminando também o tempo e os custos dos
36
A Simbios consta deste relatório.
115
procedimentos de importação. A incubadora objetiva prestar serviços em áreas ainda
deficitárias no Estado.
Identificam grande potencial de mercado em empresas que têm elevado
interesse na produção de componentes enzimáticos, tais como proteases, lipases e
amilases entre os quais: o setor de análises clínicas em razão do interesse no
desenvolvimento de testes diagnósticos baseados em técnicas de biologia molecular. No
setor de produção de carnes e seus derivados, particularmente a indústria avícola, que
necessitam de testes para o controle de contaminação por bactérias patogênicas.
Adicinalmente, identificam potencial de mercado em clientes de empresas do setor
químico, coureiro-calçadista, de celulose, devido ao interesse nos serviços de controle
de atividade mutagênica e ambiental.
Os serviços ofertados pelo CBbiot são:
a) diagnóstico de doenças humanas para laboratórios de análises clínicas,
hospitais, órgãos públicos na área de saúde;
b) diagnóstico de doenças veterinárias para empresas do setor agroindustrial;
c) oferta de serviços no controle de qualidade de produtos e efluentes para o
setor de meio ambiente;
d) consultorias, treinamento de recursos humanos altamente especializados e o
acesso qualificado a informação científica disponível.
Identificam uma grande facilidade de entrada em segmentos mercados onde
atuariam como fornecedores especializados para o mercado de análises clínicas. Isso
ocorre porque estes laboratórios terceirizam testes diagnósticos para outros Estados,
justamente por falta de uma melhor articulação das competências locais na área. Este é
o nicho de mercado ocupado pela Simbios, antiga incubada, hoje uma empresa
especializada. A especialização está associada a forte movimento de tercerização
identificado em torno dos laboratórios de análises clínicas. O movimento mais forte em
termos da terceirização pode ser associado aos laboratórios que fazem P&D ponta,
laboratórios que trabalham com sistema de automação em comodato, laboratórios que
fazem terceirização de exames raros e empresas que têm interesse na produção de
meios de cultura, produtos de limpeza e desinfecção, produção de albumina, produção
de enzimas, reagentes utilizados para provas bioquímicas, kits diagnósticos para
listeriose e leptospirose e kits para ELISA. Além disso, identifica-se a necessidade de
descarte de dejetos químicos e biológicos.
116
O Cbiot possui convênio com a Fundação Osvaldo Cruz – FIOCRUZ (outubro
1998), com o objetivo de aprimorar a formação de recursos humanos, elaboração
comum de projetos de pesquisa. Possuem, também dois convênios com empresas para a
realização de pesquisa sobre a as condições de degradabilidade dos sistemas de
tratamentos de efluentes do Frigorífico Prenda. O Centro mantém um projeto com o
governo do Estado (SC&T) para o desenvolvimento de procedimentos em
biotecnologia associados à produtividade e o controle de qualidade do Setor
Agropecuário do Estado, permitindo igualmente a formação de recursos humanos
especializados nessa área do conhecimento.
As Unidades em operação no Centro de Biotecnologia são:
O Laboratório CENBIOT-ENZIMAS, grupo de produção de insumos para
biologia molecular do CBiot. produz 3 enzimas: DNA polimerase, endonucleases de
restrição e DNA-ligase para laboratórios que trabalham na área de biologia molecular.
No final de 1998 passou a ser coordenado pela Direção do CBiot. Este laboratório
fornece insumos para cerca de 300 laboratórios no Brasil além da Argentina e Uruguai.
O GENOTOX – Laboratório de Genotoxicidade, inicialmente foi estruturado
para realização do Teste de Ames e Micronúcleos com produtos agrotóxicos, mas
ampliou sua área de atuação para novos mercados especialmente na área de avaliações
ambientais, analisando pelo teste de Ames, amostras de efluentes industriais, águas de
rios e focos de monitoramento. Em abril de 1998 foi assinado o Programa de Estudo em
Genotoxicidade na Companhia Petroquímica do Sul – COPESUL, dentro do convênio
celebrado na mesma data entre a UFRGS e a referida empresa, dando prosseguimento
ao trabalho de monitoramento e consultoria ambiental que vinha sendo realizado. O
GENOTOX abriga, também, estudantes de mestrado e doutorado que realizam suas
pesquisas na área de estudos de mutagenicidade ambiental e produtos fitofarmacêuticos.
O GENOTOX é um grupo de prestação de serviços do CBiot que gera
aproximadamente R$ 150 mil por ano, apresentando um grande potencial para
transformar-se em empresa incubada no CBiot. Os principais clientes da GENOTOX
são Sandoz S.A, Defensa - Indústria e Comércio de Defensivos Agrícolas, Ciba-Geigy
Química, Hoechst, Schering, Basf , Bayer, Riocell, Copesul - Companhia Petroquímica
do Sul e Cyanamid do Brasil.
117
4.3.5 Instituto de Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul
O Instituto de Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul tem uma longa
tradição em biotecnologia “tradicional”, tendo sido fundado em 1975. Atende
basicamente as demandas do pólo agroindustrial da região serrana do Rio Grande do
Sul. Sua linha de atuação é ligada á biotecnologia tradicional, basicamente o
desenvolvimento de leveduras de uso enológico que reduzem a acidez de vinhos durante
a vinificação, o recombinante MB7TC, que recebeu a primeira patente concedida à um
ser vivo na América do Sul. Atuam também na área extração e transformação de óleos
essenciais extraídas a partir de plantas aromáticas e medicinais e na produção de plantas
livres de vírus e propagadas livremente.
A tradição de pesquisa do IB está fortemente associada ao desenvolvimento da
agroindústria do vinho na região que atualmente é conhecida como Região dos
Vinhedos. Por esta razão a área de atuação do Instituto é voltada para o mercado
regional, embora também atue junto a comunidades rurais de pequenos agricultores (em
geral com intermediação das prefeituras dos municípios). Estes últimos recebem
assistência para a produção de ervas secas (tomilho, manjericão, sálvia, raiz de
magnólia, alecrim, alfazema -lavanda- etc). Estas são culturas que ocupam pequenas
áreas de terreno (campestres ou pequenos campos e hidroponia) e possuem alto valor
agregado especialmente quando transformadas em extratos, óleos e outros produtos de
higiene, limpeza, cosméticos bem como produtos medicinais. O Pólo Oleoquímico de
Plantas Aromáticas e Medicianais do IB atua na preparação de mudas e na produção de
óleos para aromaterapia. Sua unidade de produção recebe matéria-prima (ervas secas) e
as transforma em óleos essenciais.
O processo de agregação de valor ao preço final de produto é extraordiário
beneficiando tanto os agricultores quanto o próprio IB. O kg de alecrim seco, por
exemplo, é vendido a R$ 5,00 no mercado interno e 1 litro de extrato de raiz de
Angélica processada chega a ser vendido a 100 dólares no mercado internacional.
Incluindo serviços que abrangem desde a área agrícola até a de comercialização. A
extração de óleos é realizada em escala laboratorial, com secagem, hidrodestilação,
destilação por arraste a vapor, extração supercrítica e fracionamento. As oportunidades
de mercado são grandes uma vez que o Brasil importa quase todas as ervas secas que
utiliza ou comercializa.
118
Um dos nichos potenciais do mercado está associado à avaliação de princípios
ativos a partir da análise de plantas e ao estudo de doenças endêmicas em espécies de
valor comercial. O controle de qualidade utiliza procedimentos que incluem
cromatografia gasosa, cromatografia líquida, espectometria de massa e análises físico
químicas.Os processos mais avançados incluem cultura de tecidos, micropropagação de
plantas.
Suas linhas de pesquisa são:
a) Ecogestão Vitivinícola e Agricultura Biológica e Orgânica;
b) Métodos Instrumentais em Análises Ecológicas;
c) Cultura de Tecidos e Biologia Molecular em Plantas;
d) Atividades antimicrobianas de extratos;
e) Epidemiologia e biologia molecular de contaminantes de alimentos;
f) Melhoramentos de fungos produtores de enzimas;
g) Produção de enzimas celulolíticas, pectinolíticas e lignolíticas;
h) Estresse oxidativa e antioxidante;
i) Controle biológico de insetos e doenças de plantas;
j) Melhoramento genético de Cogumelos Comestíveis;
k) Extração e transformação de óleos essenciais.
O IB atua intensivamente junto às comunidades agrícolas de diversos municípios
do Rio Grande do Sul (Canela, Guaporé, Vacaria, Faurropilha, Nova Prata,
Veranópolis) e na Região dos Vinhedos (Bento Gonçalves, Caxias e Garibaldi)
oferecendo serviços especializados. As atividades demandadas incluem serviços de
análise de alimentos e água, controle biológico na atividade agrícola, implantação de
tecnologia para enologia e viticultura de Vitis vinifera (dentro da norma 2092/91 ligada
ao selo verde BIOS da Comunidade Européia), transferência de tecnologia em
transformação de plantas medicinais, aromáticas e cítricas, análise de óleos essenciais e
ervas secas; serviços de propagação e limpeza viral de plantas e caracterização
molecular genotípica; serviços de diagnóstico e tipagem viral de HPV.
O Instituto possui um curso de especialização em biotecnologia (desde 1981) e
um programa de mestrado em biotecnologia (desde 1993).Os programas de mestrado
atuam em duas áreas de concentração: Biotecnologia Agrícola e Biotecnologia das
Fermentações.Os laboratórios de pesquisa de biotecnologia vegetal, cromatografia,
extração e de físico-química atuam junto a outros programas de pesquisa em
119
biotecnologia, como análise de genoma, mapeando linhagens e tipos através da
obtenção de amostras coletadas junto aos ambulatórios de saúde da cidade de Caxias,
para os quais prestam serviços comunitários.
As pesquisas desenvolvidas no CB estão fortemente ligadas aos produtos
agroecuários de expressão comercial na região e mesmo fora dela, a saber: maçã, uva,
arroz, soja, cacau,carrapatos e cupins. Atuam também na identificação de patógenos e
populações de vírus em pomares industriais de maçãs, tendo desenvolvido cepas
resistentes a doenças típicas desta região de produção e em plantações de cacau
(vassoura de bruxa).
Também com grande potencial de mercado é a linha de pesquisas sobre insetos e
carrapatos, em convênio com o centro de Biotecnologia do Rio Grande do Sul. Como
resultado deste convênio já estão sendo testados dois produtos: o "Trichoderma
jaguariúna" para controle da vassoura de bruxa e linhagens de fungos para controle
biológico da lagarta da soja. Aparentemente o CB desenvolveu uma grande capacitação
nesta última área. A utilização do fungo Nomura riley tem reduzido a mortalidade
devido à ação de insetos em alguns cultivos (arroz) em cerca de 80% por cento. A
mesma linha de pesquisa está sendo desenvolvida para o controle alternativo de cupins
usando óleos aromáticos em vez de microorganismos. Isso tem despertado o interesse
de outras áreas, como a de construção e arquitetura, em virtude da substituição dos
microorganismos (existentes na matéria seca) pelos óleos. No caso do carrapato, o
fungo Metirizium sp. está melhorado por métodos tradicionais e de biologia molecular.
Outra linha de produtos aberta em função de potencial de mercado foi a de produção de
sorbitol por fermentação.
4.3.6 Insumos para o Setor sucro-alcooleiro: Genes de floculação em
leveduras
A pesquisa conduzida pelo Instituto de Biologia da Unicamp, sobre floculação
de leveduras visa a melhoria do desempenho de processos de fermentação contínua para
produção de álchool de cana-de-açúcar. O mercado potencial é enorme, dado o volume
de produção de 12 bilhões de litros de álcoo/ ano pela indústria, principalmente no
Estado de São Paulo.
120
Pesquisas com leveduras floculantes vem sendo conduzidas desde a metade dos
anos oitenta, porém sua difusão é bastante lenta. Isto se deve não apenas às limitações
tecnológicas ou da qualidade do produto, mas do fato que a difusão de inovações está
relacionada a modificações no processo produtivo, muitas delas implicando
investimentos produtivos e obsolescência tecnológica. Do ponto de vista desse trabalho,
esse é mais um caso ilustrativo de que o problema não está somente na falta de
comunicação e interesse, mas no descasamento entre oportunidades criadas pelo
conhecimento científico e exploradas pelas pesquisas em biotecnologia financiada com
recursos públicos e a avaliação do ganho privado com a pesquisa.
A pesquisa parte das características do genoma das leveduras, sendo pois, uma
pesquisa biotecnológica avançada. As leveduras fermentadoras possuem pelo menos
dois genes de manutenção da floculação no meio em que vivem. São conhecidos os
genes FLO1 e FLO2, ambos responsáveis pela distribuição homogênea de células de
levedura num meio repleto de nutrientes, como é o extrato de cana-de-açúcar. Esta
característica genética está intimamente ligada à competição intra-específica destes
organismos, uma vez que não faria sentido se aglomerarem em certos pontos do meio
nutriente competindo por nutrientes energéticos.O controle de floculação é permanente
em todas as linhagens de Saccharomyces cerevisae atualmente utilizadas para produção
de álcool etílico.
Leveduras geneticamente modificadas, capazes de “desligar” o gene de
floculação quando os níveis de açúcar presentes no meio estão próximos a zero
produzem bloqueio desta atividade. Esta alteração metabólica foi conseguida por meio
das pesquisas do grupo do Prof. Dr. Gonçalo Pereira, com financiamento da Fapesp
(projeto e duas bolsas de pesquisadores) e de órgãos federais de fomento à pesquisa
(mais duas bolsas de pesquisadores).
Seus resultados são traduzidos na diminuição de cerca de 20% dos custos de
produção, uma vez que, tanto na produção contínua, como por batelada, a fases de
centrifugação e filtragem do fermentado podem ser eliminadas do processo.
Esta inovação de processo elimina um dos gargalos de produção, mas a
internalização desta biotecnologia depende de investimentos financeiros para as fases de
testes de produção, de implantação em escala e para que as plantas das usinas de açúcar
e álcool sejam modificadas.
A empresa americana de biotecnologia Genesearch, da qual o pesquisador
responsável é também consultor científico, está financiando as fases de teste e
121
desenvolvimento de engenharia de escala e será o agente de comercialização da
levedura. Algumas usinas nacionais – como a Usina Ester - foram contatadas e
demonstraram interesse no projeto.
Segundo Gonçalo Pereira, a captação de recursos do capital de risco é
fundamental para a utilização dos resultados de pesquisa, e é justamente o que a
Genesearch está fazendo, já que este tipo de investimento permite às empresas obter
ganhos com a comercialização de biotecnologias.
4.4 Empresas Produtoras de Mudas e Matrizes
4.4.1 Vitrogen Biotecnologia
Dedica-se à produção de mudas através de cultura de tecidos (clonagem in vitro
de vegetais através de micropropagação, em ambiente livre de doenças). Está no
mercado de mudas de banana (prata-anã), morango, framboesa, maçã, laranja, uva,
abacaxi, plantas ornamentais diversas (bromélia, antúrio, cara de cavalo) plantas
lenhosas (eucaliptos e acácia), stevia e fumo.
Importam teste ELISA para CMV e BSV - detecção de vírus dos EUA e potes
autoclaváveis da Colômbia, além de esterilizador Mod SKRI 350 da Suiça. No mercado
nacional adquirem potes de plástico, substrato agrícola e adubos NPK (São Paulo e
Paraná), reagentes químicos, hormônios vegetais e sacarose (RJ), Minas Gerais (mudas,
rizomas de diversos cultivares). Os processos utilizados são: micropopagação vegetal,
análise de planta através de teste ELISA para controle de vírus; preparo de meio de
cultura (desenvolvimento próprio). A mão de obra é composta de 2 biólogos com nível
superior, 1 agrônomo com mestrado e 1 técnico agrônomo (além de 7 manipuladores e 5
auxiliares agrícolas). Os clientes são fundamentalmente empresas agrícolas.
4.4.2 Pro-clone Biotecnologia
A história da Pro-Clone está fortemente identificada com a trajetória de sua
diretora, Monique Ines Sgeren, que em 1989 fazia doutoramento na Unicamp na área de
Biologia. A sede própria da empresa fica na Holambra. Essa localização permite ligar o
ambiente produtivo à possibilidade de fornecer serviços e produtos de melhor nível
tecnológico, reduzindo custos de transação pelo conhecimento preciso do
122
funcionamento dos mercados. Há estreito contato com a cooperativa, por exemplo, com
Augusto Acke, que foi presidente do veiling da Holambra
37
.
Tem sede própria que passou de 130 para 250 m
2
e infra-estrutura montada a
partir de equipamento de outras empresas produtoras de mudas que foram fechadas. Isso
permitiu uma grande redução dos custos de entrada no setor, estimada pela entrevistada
em mais de 50%. O equipamento foi adquirido da Bioplanta (que ficava em Jundiaí)
utilizando recursos próprios (familiares) e financiamento bancário. Tem 200 m
2
de
laboratório. Cerca de 60% da mão-de-obra é qualificada e o restante tem 2
0
grau
completo.
Trata-se de uma microempresa, cujo faturamento a permite “cair no simples”, ou
seja, ter um faturamento anual de R$ 720,00 mil (R$ 60.000,00*12 meses). Isso se deve
ao tamanho e ao preço das mudas, que varia de R$ 0,2 a R$ 0,6 , chegando a R$ 0,9 em
casos especiais. Trata-se de um mercado competitivo, com preços por muda muito
próximos ao custo de produção definido internacionalmente. A Pro-clone tem clientes
na Holambra, principalmente na parte de mudas de flores, com fornecimento
estabelecido por contrato anual, com exclusividade no fornecimento em alguns casos.
A empresa utiliza tecnologia dominada e protocolo também é conhecido pelos
concorrentes. A biotecnologia entra na parte de micromanipulação visando mudas
sadias, isentas de virus. Também facilita a rápida multiplicação de inovações em
produto, que estão voltadas para as novidades no mercado final de flores, que é
altamente valorizado pelo consumidor. Um exemplo é o melhoramento buscando novas
variedades híbridas de gerbera, diferenciando o produto, com novas cores. Há inovações
como a mini-rosa e rosas em tubo de ensaio.(rosas in vitro que florescem, como
subproduto do processo de multiplicação e que podem ser comercializadas).
Busca-se o registro de variedades visando obter os benefícios da LPC. O
mercado é muito ágil e as mudanças de tipos é muito freqüente. Os competidores só
auferem lucros diferenciais quando lançam novidades no mercado. Isso impõe a busca
constante de novidades. A empresa volta-se quase inteiramente para o mercado
brasileiro.O uso de radiação (CENA-Esalq) é outra técnica buscada para induzir
mutações em flores.
Outra atividade da empresa está relacionada à produção de mudas sadias (isentas
de vírus) de batata-semente. O material de origem é o broto da batata importa
(fiscalizada e/ou certificada). A muda é distribuída em pote plástico pela Pró-clone. Em
37
Holambra representa 30% do total de flores produzidas no país, sendo também grande exportador.
123
seguida são conduzidas no campo as etapas de multiplicação. Cerca de 20.000 mudas,
cada uma uma produzindo 10 minitubérculos, em quatro ciclos de reprodução (a
produtividade cai um pouco ao longo dos ciclos) compõe as etapas em que o produtos
ainda é assistido pela empresa, quanto à climatização e controle de trips e aphideos, que
são vetores dos principais virus que atacam a batata.
Segundo Monique, a assessoria do Dr. Caram da Virologia do IAC é essencial.
Segundo ela, sem apoio de um virologista é praticamente produzir mudas isentas de
batata-semente. Tem também contacto com Waginigen, na Holanda, que é um
importante centro de pesquisas agronômicas na Europa. A empresa importa soro (cerca
de 50000 testes por importação, para virus x, y, do enrolamento) e o aplica para o
produtor, nas etapas de multiplicação em campo. Cada teste custa R$1
aproximadamente. Normalmente se faz 80 testes por lote (20 vezes 4 rodadas de
multiplicação) a partir de meristemas. Um dos concorrentes desse segmento é a
Multiplant, em Andradas. Os contratos com os produtores de batata são distintos: a
empresa trabalha sob encomenda e exige 20% de adiantamento, isso em função das
oscilações de mercado e problemas de pagamento por parte dos contratantes.
A Pro-clone é uma empresa intensiva em mão-de-obra e também capital humano
intensiva. A entrevistada destaca a importância do RHAE tanto para a constituição da
empresa em seu início quanto para sua continuidade. Segundo ela, o faturamento da
empresa dificilmente a permitiria dispor de recursos para manter 2 ou 3 profissionais em
nível de mestrado necessários para a execução dos protocolos, novos desenvolvimentos
e para a aplicação de novas técnicas à produção de mudas. Já teve ao todo 12 bolsistas
RHAE. A entrevistada aponta nisso um risco de criar concorrentes, uma vez que na Pró-
Clone os bolsistas dominem de técnicas produtivas com elevado grau de conhecimento
tácito-específico que não é transmitido (e não deve ser) pelas universidades. Isso já
gerou 5 spin offs, na forma de microempresas concorrentes, que atuam no segmento de
“copo de leite”.
A busca de ganhos associados à novidade levou a empresa a uma associação
com pesquisadores holandeses, em um acordo que prevê a exploração tanto do mercado
brasileiro quanto a exportação. A associação com o produtor/pesquisador da Holanda
está relacionado à procura por nova base produtiva da parte do futuro associado. Uma
parte da produção de mudas era feita no Kenya, nas etapas que exigiam mão-de-obra
124
pouco qualificada
38
. A vinda do pesquisador holandês ao Brasil contou com apoio do
CNPq. O contato durou três anos, até a introdução, três anos depois, de uma pequena
máquina para a produção seqüenciada das mudas.
Essa associação motivou um processo de “nacionalização” de um equipamento
de produção de mudas de flores (bromélias, orquídeas, copo de leite) isentas de vírus.
Busca realizar o scale up de um processo de imersão líquida temporária em meio estéril
ágar-ágar. Usa-se esse meio como suporte e faz-se a multiplicação para meio sólido. O
produto final é um pote descartável que é adqurido junto com a muda, reduzindo a
manipulação, resultando também em padronização da muda e melhoria da qualidade.
Esse projeto foi financiado pelo PIPE-FAPESP em sua 1a. fase
39
e também envolve o
Centro Binacional Argentina-Brasil de Biotecnologia.
A Pro-clone também está interessada em instalar-se na incumbadora da
Unicamp, para ficar mais próxima dos recursos humanos qualificados da universidade,
reduzindo o custo de avaliação de candidatos e realizando um melhor monitoramento da
oferta de mão-de-obra existente. A incumbadora da Unicamp está em fase de
preparação.
A importância do exemplo dado pela Pro-clone está em apontar a importância do
capital humano para o sucesso da empreitada. Ele aparece de duas formas básicas:
a) Na forma de contratos tecnológicos com empresários e pesquisadores-
consultores, no sentido de desenvolver e aperfeiçoar técnicas de produção de mudas
com maiores economias de escala;
b) No papel fundamental de biológos para desenvolver continuamente novos
protocolos em micropropagação que estejam diretamente associados ao
acompanhamento das tendências do mercado consumidor.
O papel do programa RHAE foi considerado essencial para o sucesso da
empresa. Também o papel do IAC e CNPQ (financiando a vinda de consultores) foram
fundamentais para a introdução das inovações incrementais da empresa. O exemplo da
Pró-clone é ilustrativo para mostrar como mesmo uma microempresa precisa de suporte
de instituições intensivas em conhecimento e de condições para o treinamento de capital
38
A produção de mudas em países como Kenya, Turquia e Índia visa combinar mão-de-obra barata em
certas etapas de multiplicação com escala produtiva. A firma associada da Pró-clone tem 100
funcionários, com área de 2000 m
2
. O salário é de aproximadamente US$ 1 por dia (algo muito próximo
ao que o Banco Mundial considera a linha de pobreza).
39
Em linhas gerais trata-se de criar uma “linha de montagem”que combina autoclavagem de líquidos
utilizados na produção dos clones com o preenchimento de 1200 potes em duas horas. Para Monique esse
processo dá vantagem competitiva em um mercado já bastante competitivo.
125
humano. Além disso, que essas fontes não tem apenas uma origem e sim várias. Uma
articulação entre essas fontes reduz custos de transação e permite também evitar que
ocorra concorrência predatória entre pequenas empresas, comprometendo a expansão do
mercado futuro de biotecnologia.
4.5 Mercado de Inoculantes e de Controle Biológico
O intuito desse sub-item é apenas ilustrar como alguns segmentos da chamada
“biotecnologia de nível intermediário”, que não engendram necessariamente o uso de
técnicas mais avançadas de biologia molecular, estão configurados em
micro/miniempresas, com mercados bastante limitados (no máximo US$ 4 a 5
milhões/ano) e com pequena capacidade de diversificação. Além disso, como no caso da
produção de mudas, recorrem às instituições públicas para o necessário suporte, seja
quanto ao acesso de banco de microorganismos, seja na introdução de inovações, que
são geradas fora das empresas. Por outro lado, o impacto social de suas atividades é
muito superior ao benefício privado, tendo efeitos significativos sobre a lucratividade de
seus clientes e impactos favoráveis em termos ambientais.
4.5.1 Biosoja
O atual mercado de inoculantes no Brasil apresenta uma quantidade demandada
de cerca 12 milhões de doses/ano, atendida plenamente pela indústria nacional. A
tecnificação das culturas de soja a partir dos anos 80 imprimiu um padrão tecnológico
aos insumos agrícolas e forçou a melhoria de qualidade dos produtos brasileiros, que é o
caso dos inoculantes. A melhoria do padrão de qualidade foi acompanhada, nos anos 90,
com um aumento de preço - no período 1990-95, o preço médio de 500g de inoculante
era de US$ 0,30, e atualmente está estabilizado em aproximadamente US$ 0,90. Apesar
desta alta, o mercado permanece estável, já que é insumo essencial para o aumento de
produtividade da soja.
As três maiores empresas deste mercado, das quais a Biosoja é representativa
fornecem inoculantes para praticamente 98% dos produtores. Além da melhoria de
qualidade do inoculante, à custa de investimentos em P&D, a Biosoja também optou por
estratégia de diferenciação de produto no período entre 1990 e 1996, introduzindo em
sua carteira os fertilizantes foliares. Também desenvolve P&D na área de fixação de
nitrogênio em gramíneas, o que deve ser a opção de crescimento para a empresa, uma
126
vez que não se prevê salto significativo para a fixação de nitrogênio em leguminosas. A
soja, por exemplo, já atingiu seu pico de produtividade, chegando alguns cultivares a 6
mil/kg/ha.
A Biosoja vem desenvolvendo pesquisa e desenvolvimento de produtos afins,
como o Azospirilum, em colaboração com a Embrapa Agrobiologia, de micorrizas com
a Universidade de Michigan, EUA, Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa Soja e IAPAR. A
P&D prospectiva é representada por um projeto de Inovação para Pequenas Empresas
da Fapesp (PIPE), no qual são desenvolvidas novas formas de aplicação de inoculantes
e de um projeto de controle biológico de pragas, junto à Universidade de Santa Catarina.
Os entrevistados foram os gerentes de P&D e marketing, dois doutores em
agronomia, um deles ex-diretor de pesquisa do IAC-São Paulo, o que denota o
investimento em P&D pela empresa, como forma de garantir sua manutenção no
mercado, garantindo o padrão de 1 bilhão de bactérias/g de produto de excelente
qualidade e permitindo conviver com a ameaça potencial de entrantes da Argentina.
4.5.2 Empresa Caxiense de Controle Biológico
A empresa ECCB atua dentro da Incubadora Tecnológica da Universidade
Comunitária de Caxias do Sul. O produto, biofungicida natural à base de Trichoderma
sp é o Control BIO 2001, que acaba de ser lançado para comercialização sendo
fornecido à Diamaju Ltda. na proporção de 100 litros ao mês (com faturamento de R$
3.350,00 em fevereiro de 2001) e diretamente ao mercado em pequenas quantidades. O
processo utilizado é à base de cultivo de células em processos semi-sólidos e por
formulação. Os equipamentos usados são: autoclaves, microscópios, moinhos,
equipamentos de filtragem e engarrafadores (a maior parte dos quais pertence à
Incubadora). Possui 1 engenheiro químico e 3 biólogos.
A empresa relata um interessante caso de dificuldade de comercialização de
produto devido às dificuldades de obtenção registro do produto. Segundo os
empresários, a concessão deste registro costuma a obedecer a exigências burocráticas,
que dificultam a comercialização, já que há
exigência de critérios que se aplicariam a
produtos químicos (com elevados graus de toxidez) embora o produto seja natural.
4.6 Comparação da posição de mercado e estratégias de P&D
Da mesma forma como se procedeu para os casos dos componentes
institucionais e empresariais do setor de saúde humana e animal, também são
127
apresentados quadros de comparação analítica, de acordo com a metodologia descrita
em 2.2.3.
No setor de agronegócios, as commodities comercializadas estão fundadas em
uma tecnológica madura, por vezes em conflito com objetivos mais amplos de aumento
da produtividade e conservação ambiental. Dessa forma, a noção de oportunidades de
negócio tem que ser submetida a um critério mais amplo, que considere os impactos do
desenvolvimento biotecnológico na produtividade e qualidade dos produtos dos
usuários, na criação de novas rotinas produtivas e na capacitação de recursos humanos.
A difusão de inovações biotecnológicas se dá de forma de duas formas básicas,
recuperando a análise anterior:
a) Pela utilização de técnicas de cultivo celular ou de conhecimentos aplicados
de biologia para controle de pragas e doenças, construção de kits diagnóstico, uso de
microorganismos para melhoria das condições de fertilidade do sistema solo-planta
(micorrizas), técnicas cuja difusão depende crucialmente de arranjos institucionais e de
produtores para que se tornem efetivas;
b) Pelo uso de marcadores biológicos e no futuro de bioinformática para acelerar
o processo de melhoramento genético vegetal e de microrganismos;
c) Pela geração de inovações utilizando técnicas de DNA recombinante,
bloqueadores de proteases e técnicas de direcionamento da expressão de certas
características desejáveis.
O primeiro item permite o rápido surgimento de micro e pequenas empresas de
base local ou regional, que necessariamente devem estar apoiadas tanto por instituições
de pesquisa quanto por programas de difusão suportados por instituições públicas ou
privadas (cooperativas, associações de produtores).
O segundo item é internalizado por empresas de grande porte e instituições de
pesquisa públicas, com raras exceções feitas a empresas de médio porte. A
apropriabilidade dos resultados de pesquisa é um tema de grande importância nesse
caso, assim como a relação entre melhoristas convencionais e inovadores
biotecnológicos de ponta. Já o terceiro item é muito próximo ao anterior, com a
diferença de que certos enfoques podem ser utilizados por organizações públicas ou por
arrranjos associativos público-privados para tratar de problemas específicos, como
enriquecimento nutricional de uma variedade ou tolerância a pragas pela intervenção na
128
relação patógeno/hospedeiro ou no padrão reprodutivo do patógeno (por exemplo, a
pesquisa de Marcos Castro, em batata, feita na ESALQ
40
).
Ao mesmo tempo em que incorporem os resultados da crescente sofisticação do
processo inovativo advindo de biotecnologias, as inovações, muito mais incrementais,
apresentam padrões de difusão mais lentos, em média, do que nas áreas de saúde animal
e humana. No setor de agrícola os resultados de inovação apresentam um padrão de
apropriabilidade muito variado, desde o produtor até o consumidor, o que raramente
acontece nos setores de saúde humana
41
.
Os perfis apresentados nos quadros a seguir pode ser obtida pela análise dos
esforços de:
a) Organização interna
42
;
b) Como se relacionam em rede e gerenciam seus programas de P&D, e
c) As formas com que se posicionam em relação ao desenvolvimento tecnológico.
A Tabela 4.6 apresenta 3 instituições-chave – uma com impacto nacional e duas
de importância regional - e apenas uma empresa diretamente produtora de bens e
serviços, que escolhemos como exemplo. Em parte isto se deve ao fato de existir um
enorme gap entre as empresas líderes mundiais instaladas no Brasil e as empresas de
biotecnologia vegetal, que atuam em nichos de mercado, como inoculantes, produção de
mudas e matrizes e serviços de diagnósticos. Mesmo assim, as empresas que atuam nos
“nichos”são duplamente dependentes das instituições-chave e das instituições públicas
de financiamento da pesquisa e formação da mão de obra:
a) No fornecimento de bolsas de pesquisa que as permitam conduzir pesquisas
aplicadas, compatíveis como programas do tipo PIPE-FAPESP;
b) Na transferência de tecnologias mediante contrato, especificamente dos
conhecimentos básicos em biotecnologia e de serviços biotecnológicos, como cepas de
microorganismos e variedades melhoradas.
Além disso, a proximidade com o mercado motiva associações em que a
transferência de conhecimentos tácitos tenha como contrapartida algum tipo de acesso a
40
Trata-se de um enfoque que resulta na redução da população de patógenos sem eliminá-los, o que
permite controlar o ataque da praga abaixo do nível de dano, com efeitos ambientais bastante desejáveis,
por não eliminar os inimigos naturais da praga.
41
Um exemplo muito simples
42
No caso específico dos Institutos Públicos de Pesquisa, é imprescindível incorporar a da história
institucional na análise, uma vez que mudanças dos estatutos jurídicos são reveladoras de processos de
reorganização institucional.
129
mercados pelas partes envolvidas. Logo, esse tipo de empresa apresenta grande
fragilidade financeira e também tecnológica. Todavia, é extremamente importante do
ponto de vista de seus impactos na agricultura local, sendo sua multiplicação articulada
às instituições-chave de base regional ou local uma estratégia extremamente desejável
do ponto de vista de difusão e legitimação das biotecnologias.
O debate sobre biotecnologia vegetal tem se centrado na questão dos
transgênicos. A avaliação de seus impactos na agricultura (há estudos de consultoria de
acesso restrito, realizando simulações sobre o tema, com base na experiência Argentina)
passa tanto pela reorganização do processo produtivo
43
- reduzindo custos de produção
em mais de 10% - quanto pelo impacto favorável no meio ambiente (redução do uso de
herbicidas e uso de produto de menor toxicidade). Todavia, restringe a visão do impacto
da biotecnologia associando-a necessariamente a certas estratégias de manipulação
genética.
O enorme potencial em defesa sanitária da pesquisa com transgênicos e da
aceleração de programas de melhoramento genético ficam subestimados, seus efeitos
podem ser percebidos de forma mais sutil e dispersa, na multiplicação de pequenas
empresas prestadoras de serviços, que com suas redes, induzem uma série de novas
práticas de manejo da produção. O exemplo da obrigação de produção de mudas de
citrus em condições de isolamento (viveiros telados), relacionada à produção de mudas
sadias, isentas de vírus, é o melhor exemplo de que os impactos favoráveis da
biotecnologia não vêm só de produtos que causem impactos descontínuos, mas da
indução de novas práticas de manejo e produção agrícola.
Tabela 4.6 Comparação das posições de mercado e estratégias de P&D das
instituições públicas do setor agrícola.
Dimensão Inovação Gestão de Objetivos
Componentes/ Posição 1. Vetor 2. Novidade
Instituição Tecnológico
Embrapa
Líder e seguidor
de 1
a
instância
1. múltiplo/ independente
incremental e radical;
próximo ao estado-da arte
43
Levando a conclusões um tanto paranóicas de que a Monsanto passaria a controlar o processo
produtivo completo. Essas conclusões tomam o caso argentino como base, esquecendo-se do papel
importante de instituições públicas no caso brasileiro.
130
IAC
seguidos de 1a. e 2a.
instâncias e 1. múltiplo/ 2. incremental e radical/
liderança em algumas áreas
em desenv. Independente próximo ao estado-da-arte
C. Biotec
seguidos de 1a. e 2a.
1. múltiplo/ 2. incremental e radical/
RGS
instâncias e liderança em
algumas área
Independente
proximidadecom o estado-
da-arte
Pró-Clone
seguidor de 2a.
Singular e depend. incremental.
instância. Liderança em
aplicação
Próximo ao estado-da-arte
(segmento
de biotecnologia
intermediária)
Dimensão
Fontes de
Tecnologia Investimentos
Componentes/ Interna/Externa 1. Intensidade 2. Tamanho 3.Orientação 4. Abordagem
Instituição
Embrapa interna e externa
1. acima da
média
2. muito grande3. básica e
aplicada
4. distintivas,
periféricas, básicas e
maduras
intensamente
desempenhadas aplicada básicas e maduras
IAC interna e externa
1. média 2. muito grande
3. básica e 4.distintivas, periféricas,
aplicada básicas e maduras
C. Biotec interna e externa
1. média 2. médio
3. básica e 4.distintivas, periféricas,
RGS aplicada básicas e maduras
Pró-Clone
externas
combinadas a
1. médio (para o
setor)
2. pequeno 3. estritamente
aplicada (scale
up e
diagnóstico)
4. maduras e distintivas
em desenv.. Dif. tópica
em produtos.
desenvolvimento
s internos em
"scale up"
Dimensão Mecanismos Organizacionais
Componentes/
1. Gestão
Formal
2.Capacidade
Relacional 3.Controle 4.Estrutura
5.
Transferência
Instituição de tecnologia
Embrapa
1. emergente 2. amplos, funcionais 3. formal e informal, 4.
descentralizada
5. presentes
e muito
difundidos
e crescentes intensivos
131
IAC
1. fraco 2. pequena e funcional 3.informais; formais 4. funcional 5. presentes
emergentes e informais
C. Biotec
1. dados não 2. média, focalizada
3. dados não
4. funcional 5. presentes
RGS disponíveis no mercado disponíveis
Pró-Clone
1. fraco 2. elevada, funcionais 3. formal e informal. 4. centralizada 5. acordos de
e crescentes
Dependenete de
contratos cooperação
4.7 Comércio de Produtos de Origem Vegetal: sementes e matrizes
Ficou claro ao longo desse capítulo que o comércio de sementes, mudas e
matrizes de origem vegetal, que constam do capítulo 12 da NMC tem pouca importância
do ponto de vista do desenvolvimento da biotecnologia. Não devemos encarar esse fato
como algo natural e sim como resultado da posição de Super Agricultural National
Reserch Center (SuperNars, na visão de Taxler, 1999) alcançada pelo país, ou seja, o
país desenvolveu variedades adaptadas ao clima tropical com excelente desempenho
quando comparadas a variedades internacionais, principalmente para soja, milho e até
arrroz. Progressos significativos foram feitos na adaptação de variedades de trigo aos
solos ácidos (alto teor de alumínio trocável) dos cerrados brasileiros e para a difusão de
sementes de sorgo tolerantes a doenças, como a helminthosporiose.
A Figura 4.3 ilustra bem o “cálculo” de tamanho de mercado necessário para que
o desenvolvimento de variedades adapatdas e para “alvos” (variedades segundo um
objetivo superior à adaptação, atendendo a demandas tecnológicas da agricultura local)
em contraponto à possibilidade de introdução direta de variedades transgênicas pela
importação de sementes. Para Taxler (1999) a importância do impacto da transgenia
justificaria a importação de sementes que poderia ocorrer mesmo quando o mercado
desse tipo de variedade fosse muito pequeno.
No caso do Brasil, além da proteção natural imposta às características das
variedades locais (que, todavia, permitiria a adaptação das variedades transgênicas por
“retrocruzamento”), há claramente o papel central das Instituições Públicas de Pesquisa,
que mantendo-se um “passo à frente” em relação ao processo de melhoramento das
empresas privadas (inclusive, às líderes mundiais, no caso de soja), tornam as
importações indesejáveis e forçam um processo de negociação que inclusive permite o
132
desenvolvimento de variedades transgências segundo alvos e não somente por
adaptação via retrocruzamento.
Figura 4.3. Limiar para a Introdução de Variedades transgênicas na Argentina
com e sem esforço de adaptação genética
tamanho
(ha)
Q
min
Q
min
*
Q
min
**
$/kg
P
GMV
Adapteda GMV
Alvo GMV
Importedo GMV
Curva de custo e Tamanho Mínimo para entrada no
mercado de transgenia
Fonte: Taxler (1999)
Os dados apresentados a seguir, portanto, não apresentam novidade, uma vez
que confirmam dois pontos básicos, já conhecidos:
a) As importações de sementes e mudas são modestas, não ultrapassando US$ 50
milhões/ano (ver Figura 4.4 abaixo);
b) São localizadas a mercados de matrizes de batata-semente, de bulbos de
flores, de produtos hortícolas (fora batata), que são fontes de matéria prima para firmas
de mudas, como a Pró-clone ou de empresas líderes, como as filiais da La Moderna.
(ver Figura 4.4 e
Figura 4.5).
133
Figura 4.4 Quatro Maiores Itens de Importação de Sementes, Mudas e Matrizes
(1995-2000)
Figura 4.5 Importação de Sementes, Mudas e Matrizes: produtos secundários
Além disso, como mostra a Figura 4.6, as importações são declinantes nos
últimos anos, com a contribuição maior da queda das importações de batata-semente e
arroz com casca (paddy).
Importação de Sementes
(4 maiores)
0
5000000
10000000
15000000
20000000
25000000
30000000
35000000
40000000
45000000
50000000
1995 1996 1997 1998 1999 2000
US$ - FOB
Produto
SEMENTES DE PRODUTOS HORTICOLAS,PARA SEMEADURA
ARROZ ("PADDY") COM CASCA,PARA SEMEADURA
SEMENTES DE COMINHO
BATATAS PARA SEMEADURA (BATATA SEMENTE)
Importação de Sementes
-
500.000,00
1.000.000,00
1.500.000,00
2.000.000,00
2.500.000,00
1995 1996 1997 1998 1999 2000
US$ - FOB
SEMENTES DE ANIS (ANIS VERDE)
OUTRAS SEMENTES,FRUTOS E ESPOROS,PARA SEMEADURA
SEMENTES DE PLANTAS HERBACEAS,CULT.P/FLORES,
SORGO EM GRAO PARA SEMEADURA
SEMENTES DE OUTRAS BETERRABAS,PARA SEMEADURA
MILHO PARA SEMEADURA
SEMENTES DE COENTRO
SEMENTES DE FUNCHO E BAGAS DE ZIMBRO
134
Figura 4.6 Importações totais de Sementes Vegetais (1995-2000)
O item exportações é pouco expressivo. Nota-se uma queda abrupta das
exportações nos últimos anos, a despeito da desvalorização cambial ocorrida em 1999.
Pode-se perceber que as exportações de alguns itens, como milho para semeadrura e de
sementes forrageiras cresceram no período de sobrevalorização cambial e caíram com a
desvalorização, indicando claramente que existe uma especificidade de mercado que
explica esse comportamento. No caso do milho para semeadura, como o produto é
exportado para países vizinhos, a explicação pode estar nas dificuldades econômicas por
que passam esses países ou como efeito das aquisições ocorridas no mercado de
sementes no Brasil por líderes multinacionais. Há pouca importância das exportações de
sementes para a biotecnologia no país.
Importações Brasileiras de Sementes
-
10.000.000,00
20.000.000,00
30.000.000,00
40.000.000,00
50.000.000,00
60.000.000,00
70.000.000,00
80.000.000,00
90.000.000,00
1995 1996 1997 1998 1999 2000
US$ - FOB
135
Figura 4.7 Principais Itens de Exportação de Sementes no Brasil (1995-2000)
5 Relevância das políticas governamentais de apoio à pesquisa
genômica
5.1 Panorama mundial
Os efeitos da biotecnologia nos diversos setores da indústria são complexos e
difíceis de mensurar. A capacidade de aplicação dos resultados de pesquisa em
genômica a usos biotecnológicos deve-se aos investimentos da P&D privada, a C&T
pública e à organização em rede de atividades de P&D, dado que:
a) A pesquisa apresenta alto custo, o que depende de esforços de captação de
recursos financeiros, principalmente em ciência básica a partir do setor público
(McMillan, Narin & Deeds, 2000) e do mercado de capitais como segunda fonte os
recursos financeiros;
b) Os recursos humanos altamente são altamente qualificados, em diversas áreas
do conhecimento e as atividades produtivas devem ser organizados em rede. Um
contingente em escala e escopo capazes de desempenhar P&D em biotecnologia deve
ser mantido em atividades integradas e colaborativas.
Exportação de Sementes
(5 maiores)
-
2.000.000,00
4.000.000,00
6.000.000,00
8.000.000,00
10.000.000,00
12.000.000,00
14.000.000,00
16.000.000,00
1995 1996 1997 1998 1999 2000
US$ - FOB
OUTRAS SEMENTES FORRAGEIRAS,PARA SEMEADURA
MILHO PARA SEMEADURA
SEMENTES DE PASTO DOS PRADOS DO KENTUCKY
OUTRAS SEMENTES,FRUTOS E ESPOROS
SEMENTES DE PRODUTOS HORTICOLAS
136
Os aspectos-chave do sucesso de competitividade são: a garantia de capital - já
que biotecnologia é intensiva em pesquisa - e a governabilidade da rede tecno-
econômica, de modo a que o entorno econômico da pesquisa científica e tecnológica
seja atingido. As legendas das figuras que ilustraram os próximos itens constam do
Anexo III.
5.2.Panorama brasileiro: pesquisa, capacitação e mercados emergentes
O conjunto de esforços representados principalmente pelo Programa Genoma
Fapesp permite apontar alguns efeitos potenciais de transbordamento para outras
instituições de outros estados do país e do governo central, já que permitem o
desempenho de atividades geradoras de biotecnologias. O governo federal também está
implementando um Projeto Genoma Brasileiro, nos moldes de organização daquele da
Fapesp.
5.2.1. Evolução dos Projetos Genoma no Estado de São Paulo e a Rede
ONSA
44
: genomas de plantas de grandes culturas
Em 1997 a Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
implementa o primeiro projeto de capacitação de recursos humanos para
sequenciamento genômico no Brasil, o Genoma Xylella (PGX).
Apesar de não apresentar caráter tecnológico, o PGX sequenciou o DNA da
bactéria Xylella fastidiosa, fitopatógeno causador do CVC ou clorose variegada do
citros. A parceria da agência de pesquisa com a Fundecitrus
45
- aumentou a visibilidade
social do PGX e as expectativas econômicas da genômica no Brasil, já que o CVC causa
perda de 23 % da produção de cítricos do Estado de São Paulo.
O PGX utilizou recursos da ordem de US$ 15 milhões, dos quais 3,2% vindos
do setor privado. Foi orientado para a melhoria das condições do pessoal científico em
biologia molecular e genômica, criando uma rede de pesquisa científica. A rede
representada na Figura 5.2 demonstra como os trabalhos de sequenciamento da
44
Organisation for Nucleotide Sequencing and Analysis, rede de pesquisa genômica da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estadso de São Paulo (Fapesp).
45
Instituição de P&D do setor da agroindústria de cítricos representa produtores rurais e indústria de
derivados cítricos.
137
bactéria foram organizados, contando com 32 laboratórios para sequenciar o DNA de
2,7 milhões de bases nitrogenadas. A Fundecitrus não realizou trabalhos de
sequenciamento; a Fundação Ludwig de Pesquisa Contra o Câncer também não
ofereceu contrapartida financeira, mas coordenou a aprendizagem técnica.
Hoje, finalizado o PGX, o Programa Genoma Fapesp desenvolve quatro novos
projetos de genômica: Genoma Xanthomonas - causador do cancro cítrico, Genoma
Funcional da Xylella, Genoma da Cana e o Agronomical and Environmental Genomes -
sobre microrganismos relacionados com atividades agro-ambientais.
Apesar de serem referentes às áreas de saúde, os projetos Genoma Humano do
Câncer e seus sub-projetos de Expressão Gênica, Genoma Clínico e Genoma
Transcriptoma, o Genoma Diversidade Genética de Vírus e o Genoma Estrutural
potencializam a rede de pesquisa e capacitação científica.
A seguir são apresentados mapas de organização da pesquisa genômica dos
quatro projetos de cunho agrícola e ambiental. Para isto, foram utilizadas a legendas que
constam da Figura abaixo.
Figura 5.1 Legendas dos mapas de pesquisa genômica
Agências Governamentais de
Ciência e Tecnologia
Programas Públicos
de Pesquisa em genomics
Universidades Públicas
Institutos Públicos
de Pesquisa
Programas Públicos de
Pesquisa e Capacitação
Redes Públicas de Pesquisa
Rede Mista de Instituições: Programas Mistos de Pesquisa:
Universidade-Empresa-Governo Universidade-Empresa-Governo
Centros e Escritórios de Política
Científica e Tecnológica
Programas de Implementação
de Políticas de C&T
Empresas Privadas de
Biotecnologia
Universidades Privadas
Institutos Privados de Pesquisa
Organizações Internacionais
Instituições Governamentais
Centrais
Associações Comerciais,
Profissionais e de Classe
Redes Privadas de Pesquisa
Grupos de Data-Mining@
138
5.2.2 Projetos de importância para os mercados da área agrícola - Fapesp
Em 1996, a Fapesp percebe a lacuna que existia na área de biologia molecular e
genômica na base de pesquisas paulista. Era urgente que fosse instalado um programa
de capacitação de pesquisadores e, para tal, escolheu-se a bactéria Xylella fastidiosa
para ter seu genoma sequenciado. Produzir conhecimentos em genômica desta bactéria
poderia contribuir com a futura resolução do problema do "amarelinho", ou clorose
variegada do citros (CVC), a mais importante fitopatologia das plantações de cítricos do
Estado de São Paulo e que resulta em enormes perdas de produção. Assim, em 1997, a
Fapesp implementa o Projeto Genoma Xylella.
Os objetivos institucionais declarados pela agência de pesquisa são os de
instaurar uma nova área de pesquisas no Brasil, fazendo com que a produção científica
brasileira possa participar da comunidade internacional de genômica
46
.
Orientado por um conjunto de parâmetros científicos e político-econômicos, o
PGX é implementado com recursos iniciais da ordem de US$ 15 milhões, para a
instalação de laboratórios de pesquisas em genética, biologia molecular e bioinformática
e capacitação de recursos humanos. A Fundecitrus
47
- instituição de P&D do setor da
agroindústria de cítricos - esteve envolvida como parceira da Fapesp no processo de
implementação do PGX, contribuindo com 3,2% dos recursos financeiros totais.
46
O termo vem sendo utilizado como a tradução de genomics, em inglês. Aplica-se aos estudos sobre
genética molecular dos organismos, no que tange o sequenciamento de DNA, a determinação de funções
gênicas e o nexo entre genes e produção proteica.
47
A Fundecitrus representa os produtores rurais e indústria de derivados cítricos.
139
A lógica que orientou a implementação do PGX foi a de dar um salto qualitativo
do pessoal científico em biologia molecular e genômica, criando uma rede de pesquisa
científica, e, na medida em que a agenda de pesquisa é voltada para um agente
patogênico de relevância agrícola, é possível estabelecer interações entre a produção de
conhecimentos e os setores produtivos. A rede representada na
Figura 5.1 demonstra como os trabalhos de sequenciamento da bactéria foram
organizados pela base paulista de laboratórios de pesquisa em ciências biológicas e de
bioinformática.
Figura 5.1 Redes de Pesquisa do Genoma Xyllela : GFX e AEG
USP
IBSP
IAC
UMC
UNESP
IQ 2
FMVZ
ICB
FCFRP
ESALQ
FM
-
1
UNICAMP
IB
-
1
UNIFESP
IBu
CENA
FMRP
URP
IB
-
2 FM2
FCVA
IB
-
3
ILPC
FAPESP
PGX
ONSA
FUNDECITRUS
IQ
-
1
ICU
BIOINFO
CBMEG
GFX
S
-
2
AEG
S
-
1
Como projeto inicial de pesquisa e capacitação de recursos humanos, o PGX
distribui por 32 laboratórios o trabalho de sequenciar o DNA do fitopatógeno. As
instituições envolvidas são na maioria, vinculados às universidades públicas, e a agência
de pesquisa foi a fonte dos recursos de financiamento da pesquisa, de orçamento de
quase US$ 15 milhões.
A contrapartida financeira da Fundecitrus foi de US$ 500 mil, utilizados para o
pagamento de salários maiores do que o do mercado para técnicos de laboratório. A
Fundecitrus não realizou trabalhos de sequenciamento. A Fundação Ludwig de Pesquisa
140
Contra o Câncer também não ofereceu contrapartida financeira, mas oferece a
Coordenação de DNA e apoio para aprendizagem técnica.
A ausência da indústria de biotecnologia ou de parceiros para pesquisa que
ofereçam uma contrapartida significativa é patente. A Fundecitrus representa o setor
agrícola e das indústrias de sucos cítricos. O oligopólio industrial conta com apenas
cinco grandes empresas: quatro empresas transnacionais e uma nacional. A Cargill, uma
das 5 maiores indústrias de sucos, é subsidiária da Monsanto, que realiza P&D
intramuros e está inserida nas redes norte-americanas e internacionais de biotecnologia.
O PGX alcançou seus objetivos principais, que eram os de capacitar
pesquisadores para pesquisa, numa área do conhecimento antes ausente no Brasil. Os
Projetos AEG e GFX são desdobramentos do PGX, e estão focalizados em genômica de
organismos relacionados com as áreas de comercialização de produtos agrícolas. Estes
dois projetos estão representados respectivamente na .
Figura 5.2 e na Figura 5.3.
Figura 5.2 Projeto Genoma Fapesp – Agronomical e Enviromental Genomes
FAPESP
PGXAEGS-1ONSA
USDA XFV LX COPERSUCAR
SASP CCSM- IAC
IB-USP
ESALQ-USP FCAV-UNESP CBMEG-UNICAMP
Programa aberto
a novos genomas
PGF
141
Figura 5.3 Projeto Genoma Funcional Xylella
FAPESP
PGX
FUNDECITRUS
GFX
S-2
IBSPIAC UMC UNESPUNICAMPUNAERP FAT
ESALQ
USP SASP
CENAIQ
ONSA
O conjunto de "Projetos Genoma" na área de importância agrícola que hoje
consolidam o Programa Genoma Fapesp apresenta-se especializado para potenciais
aplicações biotecnológicas dos segmentos dos setores agrícolas. Se forem considerados
os dois projetos que se desdobraram do PGX, que são o Agronomical and
Environmental Genomes (AEG) e o Genoma Funcional da Xylella (apresentado logo a
seguir) além de uma linha de financiamento de pesquisa aberta para propostas de
sequenciamento e anotação de novos genomas de microrganismos de importância
agronômica e ambiental, o Genoma Cana, e o Genoma Xanthomonas citri, pode-se dizer
que triplicou o número de laboratórios e grupos de pesquisa atuantes.
Além dos trabalhos de anotação e determinação proteômica de genes da Xylella
fastidiosa, o PFX, conta hoje com o desenvolvimento de quinze trabalhos de aplicação
agronômica, tais como hoje com de dezessete estudos sobre as bases moleculares da
epidemiologia da clorose variegada do citros, tais como protocolos de transformação
genética de citros resistente ao CVC, desenvolvimento de testes de identificação e
análise da presença de genes de patogenicidade, aspectos fisiológicos da resistência à
doença, entre outros. A natureza destes estudos permite dizer que estão muito próximos
da geração de biotecnologias de controle do amarelinho.
Os grupos de pesquisa que participaram do Genoma Xylella também fazem parte
do Genoma Xanthomonas citri - representado na Figura 5.4.
142
Figura 5.4 Projeto Genoma Fapesp: Xanthomonas axonopodis pv citri
FAPESP
PGF
IQ-USP
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
IC-UNICAMP FCAVJ-UNESP
ONSA
PXC
Nas mesmas universidades em que estes grupos estão instalados, novos grupos
passaram a trabalhar com genômica. Um exemplo disto é a presença de cinco novos
grupos no IQ-USP, todos do mesmo departamento de Bioquímica. A estratégia de
dividir o genoma bacteriano em cosmídeos a serem sequenciados por diversos grupos de
pesquisa é um fator de indução da colaboração e de aprendizagem. Pesquisadores que
trabalham nos mesmos laboratórios nos quais são realizadas pesquisas em genômica
podem ser facilmente agregados ao trabalho, originando, em pouco tempo, recursos
humanos em escala suficiente novos projetos. Além disso, o fato de ter-se optado por
sequenciar genomas bacterianos permite que pesquisadores de todas as áreas de ciências
biológicas, dicas e agronômicas possam se agregar à rede.
O Projeto SUCEST (Figura 5.5) demonstra a modificação de composição da
rede de pesquisa. A COPERSUCAR, organização do setor agro-industrial, possui
laboratórios de P&D; em deles, o de Piracicaba, várias técnicas de biologia molecular
são utilizadas, ainda que muito mais para realização de testes de qualidade dos produtos,
desenvolvimento de novos processos industriais e seleção de variedades de cana - este
último em colaboração com o IAC, o Projeto Procana.
A COPERSUCAR está inserida no SUCEST como laboratório de
sequenciamento, e possui dois grupos de data-mining, o que não aconteceu com a
Fundecitrus no Genoma Xylella. Este aspecto da pesquisa colaborativa e mista é um dos
diferenciais entre os PGX e as redes norte-americanas de biotecnologia. Nestas, centros
143
de pesquisa como o CEPRAP
48
reúnem pesquisadores do setor público e do privado, o
que favorece a compreensão, por parte da empresa, de quais conhecimentos científicos
são necessários para resolver problemas tecnológicos. A presença da COPERSUCAR
significa aproximação do setor produtivo com o de pesquisa básica, primeiro passo para
que se estabeleçam vínculos de interesse e desenvolvimento de pesquisa de cunho
tecnológico.
Figura 5.5 Projeto Genoma Cana - Fapesp - EST Sugar Cane Project.
FAPESP
COPERSUCAR
ONSA
ICU
BIOINFO
CBMEG
SUCEST
CI-UFPE
IAC
UNESPUFAL USP
UMC
IPA
UNAERP UFSCarUNIVAP
UNICAMP
AC AG
@
@
AL
BG
RL
BF JF JL
EP UT EQ SF EZ QG QS RF
SB SG9DM
@
CT 2 DM
@
CT 2 DM
LNLS
@
1DM
UFRJ
@
2DM
@
3DM
UFSC
@
1DM
@
PI 1DM
@
1DM
PUCPR
1DM
@
RU 2DM
MC
1DM
@
UFRN
@
1DM
UFNF
@
1DM
VP 2DM
@
O SUCEST ganha dimensão nacional para o Programa Genoma Fapesp, com a
incorporação de grupos de pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco, Estado
cuja economia agrícola está fortemente vinculada ao mercado de açúcar e álcool, e com
as Universidades Federais de Alagoas, Rio Grande do Norte, Universidade Federal do
Norte Fluminense e Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Como desdobramento do Genoma Cana, as instituições nele envolvidas
assinaram termo de cooperação científica com a empresa belga de biotecnologia Crop
Design. Pesquisadores belgas e brasileiros vão dar início à seleção dos mil genes que
48
Center for Plant Research and Development, nos EUA.
144
participarão da nova fase. Por até 30 meses, serão realizados experimentos-piloto com a
introdução deste material no arroz.
O produto, que é a especialidade da empresa belga, foi escolhido por ser uma
gramínea (assim como a cana) e ter um ciclo de vida curto (quatro meses).Os testes
serão feitos em uma usina de fenótipos da Crop Design e deverão possibilitar a
observação, nas plantas, dos efeitos gênicos que até hoje são conhecidos apenas em
teoria. Espera-se que os benefícios verificados no arroz, como maior produtividade e
resistência a stress (clima) e a ataques patógenos, possam ser aplicados em outros
cereaise na cana. Neste caso, há interesse ainda no metabolismo do açúcar. A questão da
repartição dos ganhos é vital, pois o acordo não envolve captação de recursos
financeiros: a FAPESP, que financiou o Genoma Cana (US$ 4 milhões) terá direitos em
100% no caso das descobertas aplicadas à cana e 50% em cereais, no Brasil. Fora do
Brasil, tera 7,5% dos ganhos com as aplicações em ambos os produtos.
O Laboratório Nacional de Luz Síncroton é de vital importância para a geração
de biotecnologias, uma vez que somente através de cristalografia de proteínas e
obtenção da estrutura-função de substâncias metabólicas ou de controle celular é
possível desenhar moléculas em 3D, que então podem ser comercializadas como
insumos e produtos biotecnológicos para o setor agrícola e de saúde.
Os grupos de data-mining fortalecem ainda mais o caráter tecnológico da rede
SUCEST. O reconhecimento de seqüências gênicas idênticas em seres vivos diferentes é
essencial para a redução da duplicação de esforços de pesquisa. Também é essencial
para que as regiões do DNA relacionadas ao crescimento, tolerância ambiental e
resistência às doenças das plantas sejam identificadas.
5.3 Projetos de importância para os mercados das áreas de saúde -Fapesp
Os mais recentes projetos lançados pela Fapesp investem em P&D em áreas
médicas e de saúde pública. Os mapas a seguir representam estes projetos, o Genoma
Humano do Câncer (GHC), na Figura 5.7 e o Projeto de Diversidade Genética de Vírus
- Víral Genetic Diversity Network (VGDN), na Figura 5.8.
O VDGN foi lançado em dezembro de 2000; apresenta nexos científicos e
tecnológicos com os demais, porque também tem como foco a comparação de
seqüências gênicas entre diferentes tipos de vírus, na busca por genes de infecção, que
podem ser bloqueados. A compreensão da natureza genética da infecção pode originar
145
novas terapias. O mercado de drogas inibidoras de genes como os que fazem parte das
pesquisas do VDGN, que são o HIV I, o Hantavirus, o RSV e o próprio HCV - inclui os
milhões de indivíduos afetados por doenças como AIDS, câncer e viroses transmitidas
ao homem por agentes presentes em grandes culturas agrícolas.
Figura 5.6 Genoma Humano do Câncer
FAPESP
ILPC
ONSA GHC
EM FASE DE
IMPLEMENTAÇÃO
FMUSP
GenBank Unigene
USP -RP IQUSP IQUSP
GCC HTVI GenBankEMBN NCBI TIGR
CEPID UNIFESPH-UNICAMP UNIFESP
ILPC -I ICRF Iwoa U
UNICAMP FMUSP OSCFMUSP
1 2 3
6
4 5
Figura 5.7 Genoma Diversidade Viral
FAPESP
VGDN
ONSA ComitêUSP-IME ICB-USP
FM- USP
Centro de Vigilância Epidemiológica Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo
Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo
Instituto de Ciências Biomédicas USP
Informática Médica USP
146
A análise comparativa da composição e dos nexos institucionais, ao longo do
processo de consolidação do Programa Genoma Fapesp permite dizer que houve
importante modificação de caráter da rede. Dois grupos de fatores devem ser
considerados para que se possa avaliar a natureza destas mudanças.
O primeiro é a iniciativa em implementar os CEPIDs, Centros de Pesquisa,
Inovação, Difusão, nos moldes como este tipo de centro é organizado nos EUA - vide
CEPRAP da rede norte-americana. As relações contratuais que podem ser
experimentadas entre o setor público e a agência privada de pesquisa e a formação de
competências de gestão de projetos interinstitucionais são absolutamente voltadas para o
gerenciamento da pesquisa nos moldes empresariais, portanto sob a lógica do mercado.
O segundo é a presença de parceiros internacionais - ainda que como
participantes dos comitês de organização e coordenação - do porte e importância da
TIGR, Genbank e da EMBM, Unigene e NCBI (ver legendas no Anexo III). A
internacionalização da produção científico-tecnológica em genômica é um fato (Dal
Poz, 2000), uma vez que a aceitação de artigos científicos está condicionada ao depósito
das informações em bancos de genes internacionais. Estes bancos de dados são, na
verdade, interfaces da pesquisa básica com o mercado de biotecnologias.
A organização que representa as indústrias insumidoras e/ou produtoras de
biotecnologias é responsável pelo financiamento e manutenção destes bancos genéticos.
A BIO – Biotechnology Industry Organization, representa os conglomerados
farmacêuticos e de produtos agrícolas, como a Novartis, Monsanto, Du Pont Hi-Breed, e
as mais de quinhentas empresas de biotech. O ICRF é o coordenador, na União
Européia, das políticas de pesquisa e programas de atendimento público a pacientes.
O Brasil possui recursos genéticos em abundância, e a posição das pesquisas
brasileiras no contexto internacional pode ser um fator de legitimação das questões de
propriedade intelectual para as biotecnologias geradas por parceiros também
internacionais. O aprofundamento da orientação à internacionalização das regras de
mercado dado pela OMC e pelo GATT não poderia prescindir do estabelecimento de
vínculos locais, que se materializam em projetos colaborativos como o GHC, e que
apresentem um excelente potencial de geração de biotecnologias.
Este é o caso dos dois projetos complementares que constituem o GHC: o Projeto
Transcriptoma de Genes Expressos do Câncer de Câncer (HTVI) e o Genoma Clínico
do Câncer (GCC). Há um alinhamento destes projetos em termos da importância
147
científica, da capacidade em gerar inovações e da legitimação social e política que deve
acompanhar este tipo de iniciativa.
A análise de genes expressos em câncer é fundamental para o reconhecimento
das bases moleculares de desenvolvimento da doença. Genes de câncer manifestam
hiperfunção e alterações estruturais e qualitativas em células citologicamente anormais.
A parceria Ludwig-Fapesp garante ao projeto uma considerável amostragem de casos a
serem protocolados, já que o Instituto Ludwig ocupa um andar do Hospital A. C.
Camargo, para onde afluem quase 50% dos casos de câncer do Estado de São Paulo,
sem contar que o Hospital das Clínicas da USP, UNIFESP - Hospital São Paulo e USP
de Ribeirão Preto também drenam boa parte dos casos. Os transcriptomas são pesquisas
de interface biotecnológica, porque as análises de genes ou trechos de DNA e sua
relação com as proteínas que codificam resultam em novas terapias gênicas ou
inovações incrementais de processo de produção de fármacos para tratamento das
doenças estudadas.
O Genoma Clínico do Câncer, em implantação, é o outro braço da pesquisa,
voltada para a testagem de drogas a serem brevemente comercializadas. Esta rede não é
apenas de pesquisa genômica, mas está intimamente vinculada ao tratamento de
pacientes, o que lhe confere característica de programa de saúde pública. Uma vez
passada a fase de coleta de dados - como consta no edital do projeto - os casos serão
protocolados segundo as terapias utilizadas, e numa terceira fase, novas drogas estarão
sendo utilizadas em experimentos duplo-cego, na rede de saúde do Estado de São Paulo.
Para que novas moléculas terapêuticas sejam produzidas, era necessário também
utilizar a base de pesquisas em cristalografia de proteínas e determinação de estrutura-
função de compostos biológicos. É o que prevê o Projeto Genoma Estrutural,
encabeçado pelo Laboratório Nacional de Luz Síncroton - apresentado na Figura 5.8 -
único no país que possui capacidade para desenvolver P&D de moléculas com funções
celulares pré-determinadas. O fato de grupos de data-mining do SUCEST já estarem em
atividades no LNLS é o último pré-requisito para que se possa considerar o conjunto de
estratégias que potencializam a geração de biotecnologias dentro do Projeto Genoma
Fapesp.
148
Figura 5.8 Genoma Estrutural
ONSA CBMEG
UNICAMP
LNLS
FAPESP
GE
FASE DE INSCRIÇÃO DE 15 LABORATÓRIOS PÚBLICOS
5.4. Genoma Brasileiro
O Projeto Genoma Brasileiro, implementado pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia e pelo CNPq deverá seqüenciar o microorganismo Chromobacterium
violaceum. Esta bactéria é um procarioto de clone estável, com tamanho entre 2,8 e 3,2
Mpb
49
. Estudos anteriores demonstraram que essa bactéria pode ser eficaz no tratamento
de algumas endemias, como a doença de Chagas e a leishmaniose. Além disso,
apresenta potencial para produção de polímeros plásticos biodegradáveis.
A rede nacional deve contar com 25 laboratórios rede e o Centro de
Bioinformática escolhido foi o Laboratório Nacional de Computação Científica
(LNCC). A coordenação de DNA será feita pelo Dr. Andrew J. G. Simpson, do Instituto
Ludwig de Pesquisas contra o Câncer. Os recursos de financiamento são da ordem de
R$ 11,0 milhões. As estratégias de formulação e organização estão a cargo do MCT,
CNPq e FINEP. Estão sendo importados sequenciadores de DNA, e os grupos de
pesquisa já estão sendo articulados. Seu esquema está representado na
Figura 5.9, logo a seguir.
49
Milhões de pares de bases nitrogenadas.
149
Figura 5.9 Rede Nacional do Projeto Genoma.
SBMC MCT LNCC
PGR
Em implementação
1 2 3 4 5 6 7
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 6.1. 6.2. 6.3. 6.4. 6.5. 6.6.. 6.7.
2.1. 2.2. 2.3. 2.4. 2.5. 2.6. 2.7. 5.1 5.2. 5.3. 5.4. 5.5. 5.6. 5.7. 5.8. 5.9.
3.1. 3.2. 3.3. 3.4. 3.5. 3.6. 3.7. 3.8. 3.9. 3.10. 3.11. 4.1. 4.2. 4.3. 4.4. 4.5. 4.6. 4.7. 4.8. 4.9. 4.10
7.1. 7.2. 7.3.
O Projeto Genoma Regional está também sendo estabelecido, nos mesmos
moldes de organização de todos outros projetos apresentados neste relatório. A rede
regional deve priorizar as condições locais de capacitação de recursos humanos e
aproveitar as estruturas institucionais locais, de modo a executar pesquisa científica, que
prevê as possibilidades de obtenção de biotecnologias.
5.5 Projetos das Redes Regionais
5.5.1 Projeto em Rede do Centro-Oeste
O projeto tem como objetivo mapear o genoma funcional diferencial do
Paracoccidioides brasiliensis, fungo responsável por uma micose endêmica de alta
prevalência na América Latina e potencialmente fatal em crianças. Estima-se em 10
milhões do número de indivíduos infectados, sendo que 80% dos casos relatados
ocorrem no Brasil.
O mapeamento do genoma poderá resultar em novas drogas para o combate à
doença que poderão atuar especificamente sobre a virulência e/ou a patogenicidade do
150
fungo. Este projeto em rede será utilizado como instrumento para a alavancagem da
capacitação na área estratégica de biotecnologia em grupos de Instituições Federais,
Estaduais e Privadas da região Centro-Oeste.
5.5.2 Rede Genoma do Estado de Minas Gerais
Os projetos em andamento já têm produzido novas informações em relação à
estrutura e arranjo de genomas, gerando descobertas inesperadas sobre o conteúdo
gênico dos organismos.
O estudo da biologia molecular do esquistossoma é importante para mapear o
parasita responsável pela infecção que atinge cerca de 200 milhões de indivíduos em
todo o mundo, sendo 120 milhões sintomáticos e 20 milhões sofrendo graves
conseqüências da doença. No Brasil, estima-se que cerca de 12 milhões de pessoas
estejam infectadas (Kloetzel, 1989), principalmente na área rural.
O objetivo geral do projeto é caracterizar o transcriptoma do organismo
Schistosoma mansoni em diversos estágios do desenvolvimento. O projeto espera obter
um retrato da expressão gênica no organismo em diferentes situações e identificar
possíveis genes-alvo capazes de produzir drogas inibidoras para a intervenção
quimioterápica, ou mesmo para a produção de vacinas.
5.5.3 Programa Genoma do Nordeste – ProGeNe
Projeto de Seqüenciamento de Leishmania chagasi, causador da doença
leishmaniose viceral. A OMS estima 500 mil novos casos/ano, com uma mortalidade de
5 a 15%. No Brasil, até meados da década de 80, era considerada uma doença
essencialmente rural. Mas nos últimos 20 anos, vários surtos epidêmicos urbanos têm
sido registrados, inicialmente nas capitais e grandes cidades do Nordeste, e mais
recentemente em Belo Horizonte e cidades do Estado de São Paulo. O potencial de
urbanização do vetor, o flebótomo Lutzomyia longipalpis, é muito elevado e aumenta o
risco de epidemias em regiões periurbanas de grande parte do Brasil. Por isso, o projeto
para estudo dos genes expressos de Leishmania chagasi poderá trazer resultados de
grande impacto no combate à doença. Além de possibilitar a descoberta de vacina, seja
ela de DNA ou de proteína, o trabalho pode levar ao desenvolvimento de novas drogas,
e á compreensão da relação entre o parasita e seu único vetor nas Américas.
151
5.5.4 Programa de Implantação do Instituto de Biologia Molecular do Paraná
(IBMP)
O IBMP foi criado em 1999 pela associação da Fundação Oswaldo Cruz em
parceria com o governo do Estado do Paraná, representado pelas Secretarias estaduais
de Ciência e Tecnologia , da Saúde e do Instituto de Tecnologia do Paraná -
TECPAR.Projeto de Genômica funcional do processo de diferenciação celular do
Trypanosoma cruzi. seleção e caracterização de novos genes e análise de novos alvos
quimioterápicos.
O objetivo principal do projeto é buscar os genes cuja expressão é regulada
durante a diferenciação celular do T. cruzi. Com isso, será possível fazer a
caracterização genômica funcional e o mapeamento dos genes expressos pelo parasita
em diferentes etapas do processo de diferenciação celular (metaciclogênese). O
desenvolvimento deste projeto possibilitará a obtenção de experiência em análise
genômica funcional, que poderá ser transferida para outros genomas.
5.5.5 Programa Genoma do Estado do Paraná
Projeto Genoma estrutural e funcional da bactéria fixadora de nitrogênio
endofítica Herbaspirillum seropedicae. A fixação biológica do nitrogênio constitui a
principal via de incorporação do nitrogênio à biosfera, perfazendo cerca de 60% do total
ou 96% da fixação por processos naturais. Vários estudos já mostraram que a interação
Herbaspirillum-planta pode trazer mútuos benefícios. No caso do arroz, por exemplo,
observou-se que determinadas amostras destes microorganismos fornecem entre 30 e
54% do nitrogênio total acumulado pela planta. Também foi constatado que algumas
regiões produtoras de cana-de-açúcar sobrevivem há mais de cem anos sem adubação
nitrogenada.O resultado desses estudos sugere que a fixação biológica de nitrogênio,
principalmente pelos endófitos Herbaspirillum sp. e Acetobacter diazotrophicus, pode
ter contribuído significativamente para o metabolismo nitrogenado da planta, além de
estimular o desenvolvimento das plantas pela produção de fito-hormônios.
Este projeto tem por objetivo determinar o genoma estrutural e funcional do
Herbaspirillum seropedicae, estirpe Z-78, estudada desde 1984., para a construção de
estirpes mais eficientes para uso na Agricultura.
152
Os autores do projeto paranaense estimam que o uso destes organismos na
agricultura brasileira possibilitaria a economia anual de US$ 840,00 milhões em
fertilizantes nitrogenados.
5.5.6 Programa de Implantação da Rede Genoma do Estado do Rio de Janeiro
– RioGene
Este projeto tem por objetivo sequenciar o genoma de uma bactéria endofítica
fixadora de nitrogênio, a Gluconacetobacter diazotrophicus, encontrada em culturas
como cana de açúcar, café, batata doce e palmeiras. Além da sua importância como
organismo fixador de nitrogênio,produz substâncias promotoras de crescimento vegetal
e metabólicos de interesse industrial (ácido glucônico). Considerando que o potencial de
fixação biológica de nitrogênio associado à cultura da cana de açúcar é de 65% do
nitrogênio total retirado por tonelada colhida, uma redução de apenas de 30% na
quantidade de fertilizantes nitrogenados aplicados nos quase 4 milhões de hectares de
cana de açúcar cultivados no país, permitiria uma economia de cerca de R$ 59 milhões
por ano.
5.5.7 Ampliação da Rede de Genômica no Estado da Bahia
Responsável pela doença conhecida como “vassoura de bruxa” do cacaueiro, o
fungo Crinipellis perniciosa é o maior problema fitopatológico das regiões produtoras
de cacau do Continente Americano. No Brasil, a doença atinge os cacauais dos Estados
do Pará, Rondônia, Amazonas, Mato Grosso, Acre e, especialmente, do Estado da
Bahia, maior região produtora do país.
Detectada no sul da Bahia em 1989, a doença, antes restrita a dois municípios,
atualmente encontra-se espalhada em todos os 600.000 ha do cultivo, provocando uma
queda na produção de aproximadamente 60%.
A queda de produção e os baixos preços do produto no mercado internacional
fizeram com que as divisas geradas com a cultura despencassem de US$ 700
milhões/ano para cerca de US$ 260 milhões, nos últimos 11 anos. Os freqüentes gastos
com importações de matéria-prima e a crise social gerada pela drástica redução no
número de empregos diretos e indiretos afetam cerca de três milhões de pessoas no sul
da Bahia.
O objetivo deste projeto é conhecer os genes de patogenicidade do fungo e os de
resistência do cacaueiro, possibilitando a descoberta de novas tecnologias que, no
153
futuro, poderão ser empregadas em outros problemas agropecuários ou de saúde
pública.
154
6Conclusões
6.1Conclusões Gerais
Uma primeira observação concernente a esse trabalho refere-se ao mercado de
biotecnologia. Redes de biotecnologia podem ser consideradas redes de
desenvolvimento tecnológico de produtos complexos. Segundo Fonseca, Silveira e
Salles Filho (2000), o processo de geração de inovações pode ser visto como uma
combinação de diferentes peças de conhecimentos, cada uma agindo como um “building
block”. Estas peças podem ser combinadas inclusive com outros corpos de
conhecimentos científicos, como no caso da biotecnologia, que hoje compõe, com a
genômica, a biologia molecular e a informática, complexos sistemas de geração de
inovações.
Estão associadas à obtenção de produtos baseados em novas tecnologias, as
quais se encontram em estágios iniciais de seu ciclo de vida, apresentando um potencial
de obtenção de resultados econômicos ainda por ser explorado. Em função da crescente
sofisticação do processo inovativo - seja por conta da complexidade da base de
conhecimentos requerida para viabilizar a introdução de inovações, do caráter
interdisciplinar deste conhecimento, ou ainda dos importantes feed-backs associados às
diversas etapas do processo de P&D - observa-se uma tendência à consolidação de
arranjos interorganizacionais cooperativos, estimulados pela integração de
conhecimentos complexos e pelos expressivos investimentos em P&D necessários à
obtenção de inovações (Dal Poz, 2000).
A biotecnologia não constitui uma indústria, e sim um conjunto de técnicas com
múltiplas aplicações. Seu exemplo é muito ilustrativo no que toca à montagem de
arranjos cooperativos direcionados para a integração de ativos complementares retidos
por diferentes agentes envolvidos no processo de P&D, visando impulsionar o processo
inovativo e a aproximação entre as esferas científica e tecnológico-industrial e explorar
seu potencial econômico.
Callon et alli (1992) caracterizam as redes a partir de seus atores e dos
intermediários que circulam entre eles. Apesar da grande diversidade das configurações
institucionais destes arranjos, é possível caracterizá-los em função de três "pólos"
155
fundamentais, identificados na análise das “redes técnico-econômicas” de Callon: o
pólo científico
50
, o pólo técnico
51
e o pólo de mercado
52
.
Apesar da biotecnologia ter se tornado sinônimo de engenharia genética nos
países industrializados, nos PED, como no caso do Brasil, a rede de C&T e o mercado
são compostos basicamente por atividades da segunda geração de técnicas (Silveira,
Fonseca e Dal Poz, 2001) assim como estão definidas na Tabela 6.1.
Tabela 6.1 Três gerações da Biotecnologia
Trajetória de
Anticorpos
Monoclonais
Trajetória
Farmacêutica
Trajetória
Química
Biotecnologia
Vegetal
Biotecnologia
Animal
Engenharia de
anticoporpos
Anticorpos monoclonais
Design de drogas
Engenharia de proteínas
Clonagem de proteínas
por DNA-recombinante
Engenharia de enzimas
Biotransformadores
Química combinatória
Desenvolvimento de
plantas transgênicas
Uso de bactérias e
vírus agrícolas como
vetores
Animais transgênicos
Engenharia genética
3ª Geração
Biotecnológica
Biologia Molecular e
Código genético de
DNA
Avanços em técnicas de fermentação, hibridação, seleção genética por
cruzamentos
Vacinas Penicilinas e
Antibióticos
Enzimas e
Macrobiologia
Aplicada
Proteínas
Unicelulares e
Biomassa
Revolução microbiológica no final do século XIX e
começo do século XX
2ª Geração
Biotecnológica
Aumento gradual do
interesse em
microbiologia
Cruzamento e
fertilização de plantas e
animais
Fermentação alcóolica Uso de enzimas para
mudança de
características naturais
Fase empírica do Desenvolvimento Biotecnológico 1ª Geração
Biotecnológica
Fonte: Modificado e atualizado a partir de Sharp, 1994.
Não há, todavia, sentido em buscar uma evolução da biotecnologica por etapas,
fechando gaps tecnológicos até atingir o nível dos países desenvolvidos. Essa
concepção, que está intrínsicamente ligada à idéia de que “criar” mercados de
biotecnologia não funciona por uma razão que o estudo da Pro-clone ilustra fartamente:
a menor firma de biotecnologia, a microempresa que declara no “simples” para
50
Caracteriza-se pela produção de um corpo de conhecimentos socialmente reconhecido pela comunidade
acadêmica.
51
Caracteriza-se pela concepção e desenvolvimento de tecnologias particulares, orientadas à realização de
funções pré-determinadas, diretamente associadas à atividade industrial.
52
Corresponde ao universo de potenciais usuários da inovação, os quais possuem um formato
organizacional e um perfil particular de preferências.
156
averiguação de impostos, depende do funcionamento contínuo de um conjunto de
conhecimentos aportados por diferentes fontes e formas distintas e flexíveis de
financiamento.
Estima-se o mercado brasileiro de biotecnologia em US$ 500 milhões - com 120
empresas que seguem o critério mais estrito de biotecnologia - feita com base nos dados
fornecidos pela Biobrás à imprensa especializada. Os dados para os EUA, citados por
Fonseca & Silveira (2001), estimam o faturamento da indústria de biotecnologia nos
EUA em torno de US$ 16 bilhões, gerando 153 mil empregos, seguido à muita distância
pela Inglaterra, com US$ 2,2 bilhões e 40.000 empregos. Toda a Europa faturaria US$
3,7 bilhões com biotecnolgia, gerando 45.000 empregos. Trata-se de uma indústria
altamente intensiva em capital humano (compare a geração de empregos qualificado da
biotecnologia com os pífios resultados dos incentivos fiscais dados às empresas
automobilísticas em termos de geração de empregos diretos e mesmo indiretos).
Todavia, esta estimativa (US$ 500 milhões) ao mesmo tempo superestima e
subestima a importância da biotecnologia. Em um mercado de sementes melhoradas, de
US$ 1,2 bilhão, o 5
0
do mundo, qual será o valor incorporado da biotecnologia no
presente momento? Como avaliar o impacto econômico obtido com o uso de
marcadores genéticos no processo de melhoramento de sementes ou no melhoramento
de tilápias? Certamente isso não foi computado na estimativa. Quanto foi poupado com
o uso de linhagens melhoradas de Rhyzobium sp. quando do deslocamento de parte da
produção de soja para o centro-oeste do país? Estima-se em 5 a 10% a redução de custos
originada do uso da soja transgênica, mas isto não ocorreria sem a Plataforma
Tecnológica de Plantio Direto, vital para o aproveitamento da tecnologia. Por outro
lado, muito dos produtos “biotecnológicos” pré-existiam e incorporaram inovações
biotecnológicas de forma marginal (mas importante para a competitividade). Logo a
mensuração do mercado é extremamente complexa e talvez pouco útil.
53
As estimativas de importação apenas para o setor de saúde humana podem dar
uma indicação do mercado potencial de biotecnologia nessa área no Brasil, ainda que
não tenhamos computado o mercado de bens intermediários que possam estar em outros
produtos. Novamente essa será uma estimativa viesada para mais e para menos, pois
desconsidera o faturamento das empresas que atuam no Brasil que não importam
insumos biotecnológicos. Por outro lado, incorporam produtos que apenas
53
A estimativas do mercado de biotecnologia dos EUA estavam claramente infladas pela bolha Nasdaq.
Tais avaliações devem sofrer uma brutal redução com a crise presente dos setores de alta tecnologia.
157
potencialmente podem vir a ser produzidos por biotecnologia, que aqui, é tomada no
sentido geral, incorporando as todas as fases mencionadas na Tabela 6.1.
A Tabela 0.2 mostra um valor médio (ainda que sujeito a correções em função
dos choques cambiais do período) em torno de US$ 357 milhões, sendo que em 1999,
já com um câmbio mais próximo ao atual, o valor alcançou US$ 494 milhões, muito
próximo à estimativa de US$ 500 milhões. Retirando o item “outros medicamentos”,
cuja relação com biotecnologia é mais distante, chega-se aproximadamente a US$ 290
milhões em importações associadas à biotecnologia. Pouco em relação ao mercado de
fármacos, de sementes e de agroquímicos brasileiros, mas o suficiente para chamar a
atenção como um mercado potencial de respeito.
Tabela 0.2 Importações por Grupo como Proxy do Mercado de Biotecnologia em
Saúde no Brasil (US$ )
Grupo de Produtos 1995 1996 1997 1998 1999 1995/1999 média
Fr. Sangue 41404661 77667055 72750343 93796840 1,33E+08 418788018 83757604
Vacinas 43204005 65868844 74015346 69059563 1,25E+08 377601932 75520386
Reag. tox. 8228891 10798417 5972385 0 16644009 41643702 8328740
Hormônios 78045729 1,08E+08 1,34E+08 1,29E+08 1,38E+08 587521379 1,18E+08
outros med. 34075480 72869919 53260015 83861433 66438686 310505533 62101107
vac. Vet. 3440644 7212710 10814024 13120331 14297010 48884719 9776944
TOTAL 2,08E+08 3,43E+08 3,51E+08 3,89E+08 4,94E+08 1,785E+09 3,57E+08
A organização do presente relatório partiu de um reconhecimento de que há uma
clara diferença entre instituições do setor agropecuário e o setor de saúde humana. No
primeiro, as biotecnologias são predominante incrementais, pois inseridas em um
contexto produtivo que, parafraseando Sir John Hicks, sua discussão sobre dinâmica e
tecnologia, formado por “várias janelas de entrada”. O lento processo de modernização
da produção de açúcar e alcool no Brasil fornece um exemplo para esse fato.
Modernização da indústria foi feita em partes dos processos e não existiu propriamente
uma coordenação entre as Usinas. O processo de convergência tecnológica durou mais
de 15 anos e as inovações biotecnológicas, relacionadas ao processo de fermentação
ainda estão se difundindo, como mostrou a breve nota sobre a pesquisa de leveduras
floculantes.
Esse caráter também determina a lenta difusão das inovações e de seus impactos.
158
O estudo do Instituto Agronômico de Campinas demonstou que muitas
instituições públicas não se preocupam com a questão da propriedade intelectual. O
mesmo se aplica ao Instituto Biológico de São Paulo, que também atua em áreas de
biotecnologia, notadamente controle biológico e kits diagnóstico, mas que ainda não se
mostra fortemente voltado para a busca de construção de instrumentos de
apropriabilidade de seus produtos tecnológicos.
Em parte esse caráter está relacionado ao reconhecimento que muitas inovações
biotecnológicas funcionam como um “gancho” para a introdução mais ampla de novas
técnicas de manejo. Dái a dificuldade em atribuir à inovação todo o impacto, uma vez
que a mudança tecnológica engendra uma ação cooperativa entre instituições e produtos
sistêmica. Um exemplo típico é o dos programas de melhoramento conjugados a
técnicas de inseminação a artificial e a produção de mudas isentas de vírus, técnicas que
exigem a mudança dos sistemas de produção dos clientes.
Isso também explica o interesse extremamente “focado”das corporações líderes
dos mercados de agroquímicos em poucas espécies cultivadas e variedades e também
em estratégias que combinam o uso de sementes ao uso de produtos cuja
apropriabilidade está bem configurada (agroquímicos, sementes híbridas). O mercado
internacionalizado é centrado em mercados em algum etapa globalizados, com elevadas
economias de escopo associadas às esconomias de escala. Isso limita ao interesse da
internalização de tecnologias, fato que entrevistas no setor e o apresentado no capítulo
4 deixaram muito evidentes: são internalizadas apenas as tecnologias capazes de
agregar valor de modo razoável, de fácil difusão por substituição de variedades vegetais,
por exemplo. Assim, só interessam para as grandes corporações os produtos de alto
potencial de mercado, que causem impactos importantes nos setores de comercialização,
como é o caso de controle de pragas e tolerância a herbicidas.
As condições impostas pelas características do processo inovativo na agricultura
e os atributos de incerteza da biotecnologia engendram contratos imperfeitos que
dificilmente conseguem impor salvaguardas viáveis para a continuidade do fluxo da
pesquisa. Nesse sentido, o processo de aquisições que retratamos no capítulo 4 revela
uma busca de antecipação racional às possibilidades futuras de redução de custos de
transação e aperfeiçoamento dos mecanismos de apropriabilidade. Uma pauta de
pesquisas guiada por esse tipo de objetivo provavelmente difere daquela de interesse
público (ver Aghion & Howitt, 1998; David, Hall e O’toole (1999) e Silveira; 2001)
para o detalhamento desse ponto. Nesse sentido, uma das conclusões mais importantes
159
do trabalho na parte da biotecnologia na agricultura é o papel central, mais que na área
de saúde humana, das instituições-chave e de sua organização voltada para a
apropriação via contratos de parte dos ganhos com o esforço de pesquisa.
O caso do setor de saúde é diferente: o custo de P&D público, privado, ou ainda
aquele de P&D colaborativa é alto e os ciclos de pesquisa são mais longos. A
substituição de antigos produtos pode acontecer de modo incremental, da mesma forma
como no setor de agropecuária ou de modo a mudar bruscamente a demanda pelo
produto. Um novo produto encontra uma base muita mais ampla para sua
comercialização.
Ainda que muitos dos avanços preconizados pela biotecnologia estejam
relacionados à prestação de serviços médicos, na forma de fármacos à façon, até o
presente momento produtos biotecnológicos seguem um ciclo muito próximo ao dos
fármacos tradicionais: new entities são geradas, seu preço por grama é elevadíssimo e
são voltadas para situações em que inexistem substitutos próximos e isso dura o longo
período de vencimento da patente, salvo quando surjam produtos novos, com melhor
desempenho.
Essa forma “produto” está associada a uma dinâmica inovativa em que cada
produto inovador deve cubrir os gastos com pesquisa cada vez mais elevados. Como
apontamos no capítulo 3, a incorporação de novas técnicas da bioinformática e da
simulação de resultados que antes só eram obtidos in vitro exige um volume de
recursos enorme e serve apenas às primeiras etapas de investigação, justamente aquelas
em que se preconiza o financiamento via venture capital e private equity. A
internalizarão das bio-informática nas grandes corporações internacionais torna-se uma
ameaça potencial às estratégias fundadas em Pólos, incubadoras e no estímulo ao
surgimento de pequenas fimas em universidades. Esse é um ponto para futuras
investigações.
A política de saúde atual tem apontado para um caminho interessante: utilizar os
critérios sociais como um ponto focal para a política de medicamentos. Nesse sentido, a
viabilização de insumos biotecnológicos passa pelo crivo da restrição orçamentária
imposta a esses programas. Vacinas recombinantes por exemplo, reduzem em muito o
custo aplicação, dando muito mais segurança à rede que cuida de programas
epidemiológicos. Todavia, seu custo pode ser um fato crítica para utilização pela mesma
rede. As instituições-chave que analisamos estão fortemente emprenhadas em
“substituir importações”no campo das vacinas tradicionais, o que ao nosso ver, está
160
perfeitamente de acordo com o espírito de criação de um mercado futuro de
biotecnologia.
Outro ponto, fundamental está relacionado a estratégias de rede integradas para
o aproveitamento da biodiversidade. Tais iniciativas aparecem no Brasil, como
mencionamos, na forma de empresas que usam técnicas modernas de screening e que
lograram estabelecer acordos de cooperação com grandes corporações. Isso sugere
atenção por parte das Instiuições-chave, que devem pensar em formas viáveis de
introduzir e desenvolver a bio-informática para gerar redes de investigação e suporte
para a exploração da biodiversidade por pequenas empresas locais. Ao que foi
investigado, os esforços estão mais centrados nos desafios de aplicar biotecnologia a
insumos biotecnológicos voltados a problemas de saúde pública, o que é meritório, mas
insuficiente. A articulação da conservação da biodiversidade com o técnicas de
engenharia genética visando a formação de bancos de germoplasma é outro ponto
fundamental.
Como visto no capítulo 3, as empresas de biotecnologia bem sucedidas estão
diretamente vinculadas a programas de apoio bastante singulares. Os casos da Vallée e
Biobrás são ilustrativos de processos de catch up não reprodutíveis em condições de
competição interoligopólica acirrada.
As “brechas”abertas por empresas como Ely Lilly e Fundação Wellcome e
Merrieux tendem a não ser reproduzidas, apesar da contínua recriação de espaços de
investimento pela biotecnologia – que significa que mesmo corporações de US$ 20
bilhões/ano de faturamento – podem não ter interesse em cobrir todas as áreas
potenciais de investimento e estabelecer contratos tecnológicos em bases favoráveis
com empresas de base local. As pressões sobre a Biobrás e a própria busca da empresa
em acordos tecnológicos com universidades de outros países revelam que o caminho
dos mercados e dos contratos é bastante acidentado.
Nesse sentido, a experiência no setor de fármacos não difere muito do que
ocorre no setor agroindustrial: as instituições-chave devem desenvolver uma capacidade
de negociação para que atuem na intermediação desses acordos. Para tal, fundos de
incentivo ao estabelecimento de acordos tecnológicos são tão ou mais importantes que
fundos descentralizados (via mercado de risco) de apoio à emergência de pequenas
empresas de base tecnológica, fruto do espírito empreendedor de pesquisadores de
instituições públicas e de jovens PhDs que criando uma base relacional no exterior,
sejam capazes de financiar, com “anjos”, as etapas iniciais da pesquisa.
161
Acredita-se que aprofundar as questões em torno da pesquisa genômica, nos
ajude a perceber os pontos mencionados acima.
6.2Agrobiotecnologias: o Brasil tem um diferencial?
O Brasil é considerado com um dos poucos Super NAR’s do mundo, ou seja um
dos principais centro de pesquisa agrícola dos países em desenvolvimento, junto com a
Índia e México. Tem como vantagem adicionar contar com instituições próprias, cujo
orçamento não está vinculado ao de órgãos internacionais, como a rede dos
International Agricultural Research Centers, apoiados pela FAO e outros órgão multi-
laterais.
A posição de centro de excelência em melhoramento genético vegetal está
relacionada ao papel da EMBRAPA, autarquia pública de pesquisa e também por alguns
centros regionais de grande importância, como os institutos da APTA (organização de
congrega institutos de pesquisa do Agronegócio de São Paulo, IAC, IAPAR, IB, ITAL)
e no papel fundamental de instituições de fomento, como a FAPESP.( Fundação de
Amparo à Pesquisa em São Paulo). Em menor grau, há a participação de centros de
pesquisa financiados por cooperativas, como Copersucar (produtores de açúcar em São
Paulo) e Coodetec (cooperativas de produtores de grãos do Centro-Sul do país,
principalmente no Estado do Paraná).
Uma característica importante dos projetos de pesquisa envolvendo
biotecnologia no Brasil é tanto o número amplo de instituições envolvidas quanto o
número de espécies vegetais escolhidas como objeto de investigação. Esse ponto é
importante em face às estreitas prioridades de pesquisa definidas pelas líderes
internacionais em biotecnologia vegetal que atuam no Brasil.
No setor de agronegócios, as commodities comercializadas estão fundadas em
uma tecnológica madura, por vezes em conflito com objetivos mais amplos de aumento
da produtividade e conservação ambiental.
A difusão de inovações biotecnológicas se dá de forma de duas formas básicas,
recuperando a análise anterior:
a) Pela utilização de técnicas de cultivo celular ou de conhecimentos aplicados
de biologia para controle de pragas e doenças, construção de kits diagnóstico, uso de
microorganismos para melhoria das condições de fertilidade do sistema solo-planta
162
(micorrizas), técnicas cuja difusão depende crucialmente de arranjos institucionais e de
produtores para que se tornem efetivas;
b) Pelo uso de marcadores biológicos e no futuro de bioinformática para acelerar
o processo de melhoramento genético vegetal e de microrganismos;
c) Pela geração de inovações utilizando técnicas de DNA recombinante,
bloqueadores de proteases e técnicas de direcionamento da expressão de certas
características desejáveis.
O primeiro item permite o rápido surgimento de micro e pequenas empresas de
base local ou regional, que necessariamente devem estar apoiadas tanto por instituições
de pesquisa quanto por programas de difusão suportados por instituições públicas ou
privadas (cooperativas, associações de produtores).
O segundo item é internalizado por empresas de grande porte e instituições de
pesquisa públicas, com raras exceções feitas a empresas de médio porte. A
apropriabilidade dos resultados de pesquisa é um tema de grande importância nesse
caso, assim como a relação entre melhoristas convencionais e inovadores
biotecnológicos de ponta. Já o terceiro item é muito próximo ao anterior, com a
diferença de que certos enfoques podem ser utilizados por organizações públicas ou por
arrranjos associativos público-privados para tratar de problemas específicos, como
enriquecimento nutricional de uma variedade ou tolerância a pragas pela intervenção na
relação patógeno/hospedeiro ou no padrão reprodutivo do patógeno (por exemplo, a
pesquisa de Marcos Castro em batata, feita na Esalq).
Ao mesmo tempo em que incorporem os resultados da crescente sofisticação do
processo inovativo advindo de biotecnologias, as inovações, muito mais incrementais,
apresentam padrões de difusão mais lentos, em média, do que nas áreas de saúde animal
e humana. No setor de agrícola os resultados de inovação apresentam um padrão de
apropriabilidade muito variado, desde o produtor até o consumidor, o que raramente
acontece nos setores de saúde humana.
54
Além disso três tipos de questões exigiram um rápido processo de mudança
institucional, que foi ocorrendo de 1995 a 2001 (ver Silveira e Dal Poz, 2001).
Envolveu: a) a legislação voltada a garantir os direitos de propriedade dos inovadores;
54
Um exemplo muito simples
163
b) a questão da biossegurança e, c) a utilização de recursos genéticos e manutenção da
biodiversidade.
O cenário de debate entre países com diferentes posições sobre os distintos
temas regulatórios parece não favorecer uma solução única de consenso e isso se reflete
na posição dos diferentes organismos do governo brasileiro em relação a esses mesmos
temas. Segundo o comentário de Castro & Portugal (2001, na página 184), o Brasil “já
chega com atraso à regulamentação de alimentos transgênicos”, o que inclui a
possibilidade, ainda que tardia, de promover um debate esclarecedor sobre o tema,
visando realmente saber sobre o a conveniência, do ponto de vista da população, de qual
tecnologia adotar, situação que, para eles, coloca o país em posição semelhante ao de
outro SuperNars (SuperAgricultural Research Country - País em desenvolvimento com
um setor de pesquisa agrícola super desenvolvido, na visão de Greg Taxler, 2000
55
), a
Índia, com a diferença de que esse país não é um grande exportador de grãos, como de
fato são Brasil e os EUA (Castro & Portugal,2001).
56
A criação de condições para o desenvolvimento da biotecnologia no país, na
expressão de Oda e Soares (2001)
57
está progressivamente sendo instalada. A
regulamentação da experimentação e da liberação de plantios comerciais de produtos da
biotecnologia tem importância não somente pelos ganhos tecnológicos e econômicos
que propiciam à agricultura do país. Eles são uma fonte privilegiada de conhecimento
local desses produtos em um ambiente regulatório internacional que cada vez mais
garante os direitos de propriedade ao conhecimento e não apenas a produtos inovadores.
Fica evidente que nos marcos da biotecnologia vegetal, o Brasil é um ator relevante e
que constituiu um base de pesquisa de respeito nos últimos 35 anos e um realizou um
conjunto de mudanças institucionais que o preparam para enfrentar os desafios da
competição internacional. Ao nosso ver, a opinião de Taxler (2000), compartilhada por
muitos economistas de países centrais, de que o objetivo primordial é o aumento da
55
Taxler, Greg (2000). “Assessing the benefits of Plant Biotechnology in Latin America”. Conferência
apresentada no BID dia 7 de novembro de 2000. O autor defende uma posição radical quanto à
conveniência de os países latino americanos, inclusive o Brasil, tentarem apenas transpor tecnologias de
DNA Recombinante no campo das sementes, sem tentar um desenvolvimento na América Latina. Seus
pontos de vista certamente não refletem a estratégia do Governo Brasileiro.
56
Castro, L.A.B. de & Portugal, A.D.(2001) Elementos de uma estratégia para o desenvolvimento da
biotecnologia agropecuária e biossegurança no Brasil, Brasília, MCT, Parcerias Estratégicas nº10, pp.186-
199. Os autores são respectivamente Chefe-Geral do Cenargen-Embrapa e Presidente da Embrapa.
57
Oda, Leila Macedo & Bernardo Elias Correa Soares (2001) “Biotecnologia no Brasil. Aceitabilidade
Pública e Desenvolvimento Econômico. D.F. Parcerias Estratégicas, vol 10, pp.162-172. A autora foi
presidente da CTNBIO e Soares é pesquisador de uma das mais prestigiosas instituições públicas de
pesquisa em saúde, fármacos e insumos biológicos do Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz.
164
produtividade agrícola, devendo o país criar mecanismos que facilitem a mais rápida
introdução de inovações geradas por empresas líderes mundiais não se coaduna nem
com a visão de biotecnologia que apresentamos no início do trabalho (ou seja, da
articulação de blocos de conhecimento e da indefinição de estruturas de mercado e de
competição requeridas para seu desenvolvimento), nem com os objetivos de promoção
do bem-estar, como objetivo último do desenvolvimento tecnológico.
A concepção de que é possível importar tecnologia como forma de promover o
desenvolvimento econômico via abertura comercial e estímulo à instalação de
corporações líderes mundiais não deve ser tomada como diretriz no caso das
agrobiotecnologias. Há espaço para a criação de redes que articulem instituições-chave
e empresas em uma multiplicidade de produtos que escapam aos interesses das grandes
corporações, mas tem impacto significativo na competitivadade de agricultura.
Os mercados de kit diagnóstico, os programas de melhoramento animal, a
difusão do controle biológico e de diferentes tipos de inoculantes fornecem exemplos de
tecnologias que não criam grandes mercados biotecnológicos mas tem enorme impacto
na agricultura. É então fundamental reconhecer que a forma mercantil de gerar os
avanços nessa área é inadequada, devendo existir esforços que combinem fundos de
produtores (cooperativados, por exemplo), instituições-chave e pequenas empresas de
base local.
Resumiremos nossos argumentos a seguir:
a) Uma parcela da difusão das inovações está associada ao mercado de
sementes melhoradas. Mais de 80% deste mercado é representado por 3 ou 4
culturas de interesse agrícola, soja, milho, algodão e arroz e alguns poucos
alvos de pesquisa, como a introdução de genes de tolerância a herbicidas,
resistência a patógenos e mais dificilmente, a melhoria das qualidades
nutricionais dos produtos. O interesse no Brasil está no fato de ser o maior
mercado da América Latina, (mais de 50% do total) e o quinto mercado
mundial, com um montante de US$ 1,2 bilhões, segundo Taxler (2000),
mercado caracterizado pela necessária “tropicalização de variedades”,
processo em que mesmo nos segmentos mencionados, as líderes mundiais
165
necessitam de estabelecer acordos de cooperação e contratos com firmas e
instituições brasileiras.
58
b) Há um conjunto variado de formas organizacionais que combinam
instituições públicas e privadas em que se desenvolvem estruturas de
governança distintas da forma mercado e que melhor se adequam a um
ambiente de desenvolvimento da biotecnologia. Referimo-nos ao papel de
instituições privadas como a Copersucar, Fundecitrus ou Coodetec, que
estabelecem acordos de desenvolvimento de biotecnologia vegetal (uso de
marcadores genéticos, de inibidores de protease e mais recentemente, da
exploração das possibilidades abertas pela pesquisa genômica);
c) Há o estabelecimento de formas de apoio científico e tecnológico a pequenas
empresas em biotecnologia, na forma de treinamento da mão-de- obra
(RHAE, do MCT), de apoio a consultorias internacionais (CNPq) e de
transferência tecnológica (universidades e principalmente instituições-chave
de pesquisa, como EMBRAPA e instuições da rede APTA do Estado de São
Paulo), que vêm permitindo o emergência de firmas de base local na
produção de inoculantes, mudas e matrizes isentas de vírus, firmas
prestadoras de serviços de diagnose (kits-diagnósticos), de serviços de
inseminação artificial e vacinas, que não são capazes de desenvolver
pesquisas “in house”.
d) Finalmente, no mercado de sementes foram estabelecidas formas contratuais
para difusão de sementes melhoradas entre empresas de semente e Embrapa
(por exemplo, Unimilho, para difusão de híbridos de milho) que são um
importante instrumento institucional para o estabelecimento de acordos de
difusão de sementes transgênicas ou de inovações originadas de
multinacionais.
Esse cenário complexo admite, portanto, o re-desenho institucional e a
promoção de váriadas formas de desenvolvimento de atividades contratuais envolvendo
pequenas empresas, instituições públicas e mesmo grande corporações, em um ambiente
ao mesmo tempo competitivo e cooperativo.
58
O mercado de sementes de produtos hortícolas (em torno de US$ 50 milhões apenas no Brasil) é um
segmento à parte, em que importações cumprem um papel complementar importante, assim como as
firmas líderes mundiais, como as filiais da firma La Moderna, do México;
166
O principal obstáculo a esse cenário, além das dificuldades impostas à difusão de
plantas transgênicas por ambientalistas e Institutos de defesa dos consumidores (IDEC)
– ponto que não desenvolvemos, mas que está presente em Silveira e Poz (2001) e
Wilkinson e Petrelli (2000). está na dificuldade em controlar o processo internacional de
fusões e aquisições da indústria de sementes, que como vimos, está no vértice da
difusão da moderna biotecnologia em alguns segmentos muito importantes da
agricultura brasileira.
Ao nosso ver, o a percepção do governo brasileiro é fundamental para o
desenvolvimento da biotecnologia. De forma muito distinta das ações voluntariosas
adotadas nos anos oitenta e início de noventa, a retomada da biotecnologia no Brasil se
dá fundamentada na articulação entre atores diferenciados e no apoio a diferentes
formas organizacionais, em parte com instrumentos de mercado, como capital de risco e
private equity.
O governo tem claro que os instrumentos de propriedade intelectual são de
fundamental importância por ser elemento integrante de “arranjos coletivos para o
aprendizado e para a inovação, garantindo a apropriação do esforço aplicado à pesquisa,
ou seja, tem-se claro que o Brasil é um importante pólo gerador de inovações, seja na
forma de produtos patenteáveis, seja na forma de novas obtenções vegetais. Também há
a clara percepção de que em um futuro próximo o país terá interesse direto em
estabelecer direitos de propriedade adequados aos resultados de pesquisa genômica
eseus desdobramentos.
Todavia, as formas de propriedade intelectual preconizadas por acordos como
TRIP’S e a rejeição dos EUA à Convenção de Diversidade Biológica são vistas como
inadequadas. O governo brasileiro move-se tentando conciliar essas pressões
condicionando-as ao interesse nacional, no sentido de potencializar os resultados
obtidos no desenvolvimento da biotecnologia vegetal do país e aproveitar a posição de
global player em certos mercados de commodities agrícolas. O problema da estratégia
centrada na idéia de “país livre de transgênicos”, preconizada por alguns dirigentes
regionais e por algumas instituições públicas e privadas, é que essa desestimula o
desenvolvimento da biotecnologia vegetal no ponto em que ela é mais importante: em
sua articulação com novas técnicas ambientalmente recomendáveis de manejo da
agricultura.
Cabe ressaltar que a visão do governo brasileiro – majoritariamente favorável ao
desenvolvimento da biotecnologia vegetal – leva, todavia, em grande consideração
167
questões de biossegurança e a importância da análise em profundidade, coordenada pela
CTNBIO, das características dos organismos que sofreram alterações genéticas
provenientes da aplicação da biotecnologia.
Há pois evidências de que o governo brasileiro assumiu um compromisso sério e
criou – por meio de investimentos na formação de recursos humanos e físicos em
pesquisa e desenvolvimento- a reputação de que tem forte interesse na biotecnologia
vegetal, que é uma das poucas atividades científicas em que o país tem competitividade
internacional . Essa reputação é demonstrada pela amplo leque e pela qualidade das
pesquisas da Embrapa; do continuado apoio à formação de recursos humanos pelos
órgãos ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia (e também pelo Ministério da
Educação) e pela extensão a vários centros de pesquisa regionais do Programa Genoma,
base séria para futuras pesquisas com plantas recombinantes.
6.3 Conclusões derivadas da Genômica: visões do futuro?
Este item foi desenhado para que se obtivessem dados a respeito da organização
da pesquisa genômica no Brasil e para que se possa indicar políticas que favoreçam as
atividades em biotecnologia no Brasil. O mercado de modernas biotecnologias é dado
como promissor, uma vez que novas trajetórias tecnológicas podem advir das pesquisas
genômicas, que dependem de capacitação de recursos humanos altamente qualificados e
de articulação com o pólo de mercado. A questão é que atualmente poucos países têm a
resposta acerca do quanto realmente às biotecnologias podem ser fator de dinamismo de
mercado. Mas muito esforço tem sido aplicado no sentido de entender como a geração e
o fluxo de conhecimentos científicos e tecnológicos alcançam o entorno econômico,
especialmente para o caso das modernas biotecnologias.
A análise dos mapas apresentados permite que se chegue a algumas conclusões
acerca da evolução que os projetos genoma sofreram nos dois últimos anos e acerca da
necessidade de se empenhar mais pesquisa sobre o tema, num curto prazo. Além de
ganhar complexidade de atores e instituições, os projetos vêm incorporando em suas
redes, parceiros e integrantes de nível internacional.
A configuração dos projetos genoma tem hoje uma estrutura muito semelhante
aquela dos sistemas de inovação em biotecnologia dos EUA e CE (Dal Poz, 2000). Por
conta desses dois aspectos é que um conjunto de políticas se faz necessário, tanto para
manter dentro do país o pool de capacitações em C&T, como para manter os recursos
168
genéticos do país, que, de outra forma, poderiam ser facilmente apropriados por
sistemas outros de inovação biotecnológica, sem que se possa fazer valer a primazia do
Brasil em utilizá-los para dinamizar a economia nacional.
Um conjunto de recomendações pode resumir as ações políticas capazes de
potencializar os resultados de pesquisa genômica, fazendo as redes crescerem, as
aplicações biotecnológicas serem multiplicadas e os mercados de produtos
farmacêuticos e agro-industriais ganharem bio-inovações.
Podem ser agrupadas em quatro conjuntos de encaminhamentos, que apresentam
claras interfaces: a) gerenciamento da pesquisa e organização de negócios de
biotecnologias derivadas de genômica e apoio às demandas por competências
institucionais; b) transformação das atuais redes científicas em redes tecno-econômicas;
c) criação de novas formas de financiamento de P&D e C&T e manutenção das formas
difundidas que se mostrarem funcionais na rede, de modo que o setor público venha a se
tornar beneficiário dos investimentos que realiza e d) implementação de sistemas de
regulação de mercado e do sistema de apropriabilidade das biotecnologias frente ao
padrão internacional acordado na OMC.
Esses pontos são portanto questões e não conclusões. Destes 4 itens, o país
caminhou desde 1996, como vimos, no que se refere aos itens “a” e “c”. O ponto
“c”especificamente está relacionado a questões envolvendo instituições multilaterais e a
posição do Brasil tem sido de avançar no reconhecimento dos Direitos de Propriedade
Intelectual, sem todavia fechar portas no que concerne aos requisitos da apropriação de
benefícios associados à biodiversidade. Estamos apenas iniciando essse debate, que
ficará mais intenso com o fluxo de novos produtos derivados da biodiversidade. O
estudo do caso da Extrata é um exemplo de que as oportunidades tecnológicas já estão
sendo exploradas e são potencialmente uma fonte de contencioso, inclusive com a
posição de ONG’s e outros chamados representantes dos movimentos sociais.
Já no que tange aos itens “b” e “c”, os resultados dependem ainda menos da ação
do governo. No presente texto as instituições-chave são também tomadas como
instituições descentralizadas, que defendem seus interesses acima de tudo, mas que
mantém um importantíssimo caráter público, gerador de “spill overs” fundamentais para
o desempenho das empreasas locais de biotecnologia e para a definição de parâmetros
de noegociação nos acordos firmados com empresas líderes mundiais. Nesse sentido,
não se admite conceber a genômica como algo que “corra por fora”.
169
Os conflitos entre a Novartis e o Departamento de Microbiologia da
Universidade da California - Berkeley é um exemplo da dificuldade em estabelecer
contratos diretos entre grandes corporações e universidades. Órgãos financiadores de
pesquisa devem estar presentes na intermediação das negociações e legislações que
ponham restrições ao uso da biodiversidade e têm um papel importante nesta
arbitragem.
O financiamento da biotecnologia via mercados de capitais não é um ponto
específico da genômica. Sua aplicabilidade está restrita a firmas de menor porte. Em
nenhuma circunstância deve-se deixar que o “empreendendorismo”seja a única força
motriz do desenvolvimento da biotecnologia em países como Brasil. O desafio é manter
o estímulo das instituições-chave, nas redes, para que incentivadas pela apropriação de
parte dos ganhos do avanço biotecnológico, funcionem como organismos provedores de
tecnologias de base, de conhecimentos gerais e instruções para padronização e
regulação dos produtos e serviços de origem biotecnológica. Segue uma análise mais
detalhada de cada um desses pontos.
6.3.1 Novas demandas por competências institucionais e organização de
pesquisa e de negócios
Mostrou-se que as biotecnologias maduras, difundidas ou em processo de
difusão dependem de ambientes institucionais apropriados para chegar ao mercado. O
gerenciamento das competências em se organizar internamente e em se relacionar com
uma rede de atores é um fator essencial para desempenhar P&D e se manter nos
negócios. No caso específico das biotecnologias derivadas de pesquisa genômica, a
estrutura de organização do P&D, dos negócios e da governança do sistema de bio-
inovações dependem de uma gama mais ampla de fatores, a serem contemplados nas
políticas de implementação de sistemas de inovação em biotecnologia.
Dado o caráter prospectivo, de alto risco e do grau de expectativa que a
manipulação dos genes suscita na sociedade em geral, no que dirá nos mercados, as
ações políticas devem contemplar alguns fatores extras: promoção de processos
consultivos, empreendimento de avaliação das atividades científicas e tecnológicas,
condução de pesquisa e formação de recursos humanos, harmonização de antigas e
novas experiências de gestão e promoção de processos de colaboração entre os
diferentes pólos de produção de biotecnologias.
170
As instituições públicas de pesquisa ou de P&D, geradoras de conhecimentos e
agentes de transferência de tecnologias desempenham o papel de principal
59
na
condução destes processos e da redução do risco inerente da P&D em genômica. Elas
são responsáveis pela seleção e execução projetos com maior possibilidade de difundir
novas tecnologias. Além disso, as instituições públicas de pesquisa são responsáveis
pela alocação de recursos já disponíveis, como compartilhamento de capital humano
com empresas, gestão de projetos tecnológicos, desenvolvimento e manutenção das
capacidades de projetos de P&D colaborativos e gerenciamento de fontes de recursos
financeiros para pesquisa e geração de RH.
Como instituições-chave de redes tecno-econômicas, devem estar apoiadas por
mecanismos de garantia de apropriabilidade dos resultados de pesquisa, de ganhos e
retorno dos investimentos públicos em C&T. Neste sentido, a rede de genômica
instalada no Brasil apresenta um foco nodal bastante interessante, uma vez que está
centrada na obtenção de resultados tecnológicos que garantam a redução dos efeitos de
pragas de grandes culturas. Daí a urgência em se implementarem mecanismos formais e
ágeis de transferência de tecnologias e da definição e implementação de instrumentos de
colaboração formal e de apropriação legal dos ganhos de P&D, numa lógica que
contemple os interesse nacionais de manutenção dos recursos genéticos na forma de
biotecnologias internalizadas em instituições públicas.
No segundo caso, se a instituição optar por realizar P&D na fronteira da ciência,
a obtenção de novíssimos produtos pode rapidamente alterar trajetórias tecnológicas e
estruturas de mercado, já que novas formas de tratamento de doenças produzem efeitos
de mudança do padrão de consumo dos fármacos comercializados. Este é o caso, por
exemplo, das novas formas de diagnóstico de expressão gênica de câncer, que excluem
grande parte dos produtos de tratamento da doença, uma vez que passa a ser possível
diagnosticar muito precocemente as alterações oncogênicas. Uma vez apropriado pelo
setor público de saúde, este produto pode poupar muitos recursos de tratamento da
doença.
A conclusão que se chega é que as instituições-chave devem estar preparadas
para o gerenciamento de ambas condições expressas acima. É preciso sempre melhorar
os processos de produção das bio-commodities que estão difundidas no mercado, ou que
sejam de interesse público e ao mesmo tempo, é imprescindível que estas instituições
59
No sentido que delegam funções e ganham o direito de monitorar o esforço dos concessionários.
171
voltem-se para a P&D da fronteira científica, que é a garantia de manutenção da função
de agente-principal das instituições de C&T.
Uma vez aptas a gerenciar processos de pesquisa colaborativa, de manter grande
volume de projetos científicos e de contratos de pesquisa de cunho tecnológico e de
serem capazes de internalizar novas biotecnologias é que estas instituições serão
capazes de enfrentar condições variáveis dadas pelas demandas de mercado. Esta
estratégia possibilita uma rápida alocação de recursos internos, como a aplicação de
resultados de pesquisa na geração de novos produtos quando o mercado aponta novas
formas concorrenciais ou falhas de mercado se tornam especialmente problemáticas.
Este parece ser o caso da Embrapa, que, sendo capaz de operar pesquisa em biologia
molecular, tem condições de executar o papel-chave de agente regulador das atividades
de certificação genética de novas variedades geneticamente modificadas, ou da Bio-
manguinhos, que produz fármacos genéricos contra AIDS.
6.3.2 Rede científica X rede biotecnológica
A visão do conjunto de Projetos Genoma hoje no Brasil permite dizer que o país
conta com pesquisas científicas e capacitação de recursos humanos em escala e escopo
suficientes para que novos produtos venham a ser desenvolvidos. Mas as redes de
genômica ainda são, na maioria, redes científicas, e que, para resultar em inovação
biotecnológica, necessitam apresentar nexos com o mercado. O primeiro projeto, o
Genoma Xylella, ainda não resultou em nenhuma biotecnologia de controle do CVC.
Cabe lembrar que, para que novas biotecnologias sejam internalizadas, e que as
pesquisas possam originar spin offs, é preciso pensar em políticas que promovam
claramente os nexos com os setores produtivos.
É o que vem acontecendo, no Genoma SUCEST, já que a Copersucar tem
laboratórios próprios e recursos humanos capazes de traduzir os resultados de
sequenciamento genético em novos conhecimentos aplicáveis na produção de
variedades de cana mais interessantes para o setor agro-industrial.
O Centro de Biologia Molecular e Genética da Unicamp, coordenador do
SUCEST anunciou, na última semana do mês de abril de 2001, a venda e de
germoplasma resistentes a duas doenças comuns de cana de açúcar, com ganhos
financeiros para este laboratório e para a Rede ONSA. Além disto, esta rede executa
data mining, atividades potencialmente geradoras de biotecnologias, porque com elas é
172
possível comparar anotaçãoes genéticas das diversas regiões do genoma da cana e entre
elas e as de parasitas da planta. O contrato com a Crop Design caso apresente retornos
interessantes na forma de royalties permitirá clarificar o gargalo significativo que
representa a incerteza quanto aos resultados esperados com o Projeto Genoma.
6.4 Outras questões: A Questão Crucial do Financiamento à pesquisa e da
Propriedade Intelectual
A interação entre os diferentes loci de P&D e C&T das redes de genômica
apresentadas requer políticas de fomento à colaboração, tanto entre setores de pesquisa
científica e tecnológica, quanto para que novas formas de financiamento destas
atividades.
No mundo todo o setor público é o grande financiador de pesquisa científica.
Este aspecto tem sido fortemente debatido pela Comunidade Européia e EUA, na forma
de estudos sobre o valor do dispêndio em C&T para as nações.
No Brasil não é diferente: o setor governamental é também o financiador dos
projetos genoma. O Genoma Xylella teve parceria da Fundecitrus, mas com uma
contrapartida de apenas 3,2% do custo do projeto. A contrapartida da Copersucar para o
Genoma SUCEST foi muito semelhante. Apenas o Genoma Câncer, de parceria com o
Instituto Ludwig de Pesquisas contra o Câncer teve contrapartida igual de ambos os
setores: US$ 10 milhões de cada um. Mas as parcerias são mantidas por instrumentos
informais de vinculação interinstitucional: em nenhum caso há mecanismos de definição
ex ante das questões de propriedade intelectual, dos riscos financeiros ou dos direitos
sobre os processos de motivação do comércio de biotecnologias ou de seus insumos.
É urgente a definição e aplicação destes mecanismos, tanto para a definição de
relações interinstitucionais como para a contratação de pesquisa de cunho tecnológico
no nível internacional. Nos EUA, sistemas de patentes e licenciamento de
biotecnologias, mecanismos formais de transferência de biotecnologias da universidade
para a indústria e contratos de pesquisa tecnológica são intensamente utilizados e fazem
parte da lógica que mantém o padrão de relações comerciais globalizadas, representadas
pelo GATT. Estes mecanismos, uma vez difundidos nos países mais desenvolvidos,
serão, sem dúvida, considerados como parâmetros de jurisprudência internacional no
nível da OMC. Instrumentos formais de P&D entre empresas e entre estas e as
instituições públicas de pesquisa são imprescindíveis para o crescimento das
173
competências institucionais requeridas para a gestão de projetos de C&T, o que inclui,
sem dúvida, a avaliação ex ante e ex post do valor da pesquisa e de seu impacto para
outros setores da sociedade.
Na CE e EUA são realizados projetos de médio e longo prazo para que se possa
compreender diacronicamente os processos de impacto da pesquisa e do valor da
produção de conhecimentos científicos. Este dispositivo político também é urgente, e
pode ser implementado nas redes em vigor e nas que porventura passem a existir, como
mecanismos de governança do próprio sistema de C&T.
Claro que a captação de recursos financeiros para P&D e C&T em parceria com
o setor privado é um outro aspecto da maior importância. Nos países como EUA e na
CE, a criação de spin offs é baseada nos mercados de venture capital, para o qual
providências de ordem semelhante aos fundos setoriais do PPA podem ser
imprescidíveis. Mas, mais do que isto, este tipo de recurso só é alavancado por meio de
políticas de nível macro-econômico, para as quais muito esforço deve ser dispendido.
Apesar de ser o mercado com maior número de empresas nascentes e, ao mesmo
tempo, de empresas que não se mantêm no mercado, só se pode pensar em um sistema
de bio-inovações no país se houver condições financeiras para que estas ondas de
"nascimento e morte" resultem, ao final de um certo tempo, em períodos de acumulação
de competência científica e empresarial para a manutenção de um mercado de
biotecnologias de porte razoável, o que permite também a real apropriação dos recursos
genéticos disponíveis nos sistemas naturais brasileiros.
Os aspectos legais criam regras de acesso ao mercado que constituem um fator
crítico para o sucesso de um empreendimento, especialmente, para os pequenos
negócios de base tecnológica (Paes de Carvalho, 1996: p.20). As invenções
biotecnológicas, quando não excluídas do conceito de patenteabilidade, devem observar
os mesmos critérios estabelecidos pelo sistema patenteário para a proteção das demais
invenções, quais sejam: os requisitos de novidade, de atividade inventiva, bem como os
de aplicação industrial. Em adição, a invenção deve ser de tal forma descrita que
permita ser repetida por terceiros.
O patenteamento de produtos e processos biotecnológicos teve início nos EUA
nos anos 80 e vem ganhando força rapidamente nos países desenvolvidos. E a tal ponto
que — além de microorganismos, vegetais e animais já patenteados — tem sido
pleiteado pelos norte-americanos até mesmo o patenteamento de fragmentos de DNA
humano. Ainda assim, há enorme discussão sobre a aplicabilidade do sistema de
174
patentes para o campo das biotecnologias, tendo em vista que ele foi originalmente
criado para atender a produtos inanimados.
A discussão dos TRIP's - Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights -
da Rodada Uruguai do GATT terminou por tentar impor condições muito restritivas aos
países de Terceiro Mundo, favorecendo os interesses dos países desenvolvidos, líderes
da corrida tecnológica. No caso específico das biotecnologias e do setor vegetal, o texto
final preconiza a utilização do sistema patenteário para as invenções biotecnológicas e
de legislação específica (do tipo direito do melhorista) para obtenções de variedades
vegetais e raças animais. A situação no Mercosul aparece de certa forma semelhante à
da comunidade européia. As negociações entre os quatro países envolvidos seguem,
esporadicamente, mas ainda não estão definidas nem no âmbito nacional nem daquele
do mercado regional.
Há extensa evidência sobre as diferenças do padrão dos processos de regulação e
patenteamento de biotecnologias nos EUA e CE. Isto indica que a definição de um
padrão internacional está em cursos. É preciso entender estas diferenças - que residem,
no caso das patentes de genes, basicamente na aceitação ou não de patentes que incidam
sobre genes. Dois projetos colaborativos encaminham estas questões ainda não
resolvidas entre EUA e CE e, para isto, levam em conta a evolução histórica dos
mecanismos de apropriabilidade nos níveis nacional, regional e internacional. Um
quadro com resumo de políticas que podem ser implementadas no caso do Genoma está
no Anexo IV.
6.5 Considerações Finais
Resumimos a seguir os pontos tratados:
a) O mercado de biotecnologia ressurgiu na segunda metade dos anos noventa,
no Brasil, estimulado pela perspectiva de novos produtos recombinantes –
enfim viabilizados do ponto de vista técnico – e por ações deliberadas do
governo brasileiro e de agências de fomento à pesquisa, de estímulo a
intensificação da pesquisa em torno de ferramentas básicas da
biotecnologia;
b) O mercado está localizado em alguns pólos, como de Minas Gerais e Rio
Grande do Sul, ainda que em São Paulo e Rio de Janeiro existam sinais de
175
formas mais complexas de acordos entre empresas nacionais, grandes
corporações e instituições-chave de pesquisa;
c) Ao longo dos último 21 anos ocorreu a conservação do conhecimento
científico nos campos de suporte à biotecnologia. Isso explica o sucesso de
redes descentralizadas, como as que deram origem ao projeto Genoma.
Ainda assim, há distâncias consideráveis entre o potencial científico e o
desenvolvimento empresarial, o que se explica pelas condições
macroeconômicas, pela fragilidade do mercado de capitais e pela presença de
corporações líderes em mercados decisivos para a criação de redes de
comercialização em biotecnologia;
d) Os resultados com o Genoma devem passar por um teste ao longo dos
próximos 10 anos: não só esse conhecimento deve dar base para acordos
interernacionais, como já está ocorrendo, mas sustentar um conjunto de
estratégias inovadoras que afetam principalmente as fases iniciais do
processo de inovação;
e) O desafio está na superação dos gargalos impostos pelas fases de testes
clínicos, testes de campo e de comercialização. Nesse sentido, o suporte
técnico-científico das Instituições-chave é fundamental para permitir o
rápido crescimento de firmas de base biotecnológica que se habilitem para
processos de negociação com empresas internacionais, visando o acesso a
mercados mais amplos. Até o presente momento, os casos de empresas
próximas à biotecnologia que atingiram um porte de média empresa são
limitados, o que indica que toda a questão da comercialização e mercado de
biotecnologia está ainda pendente;
f) A exploração da biodiversidade, ainda que não tenha sido foco desse
trabaho, demanda uma estratégia de articulação com bancos de germoplasma
e de microorganismos, gerando uma demanda crescente para serviços
biotecnológicos que pode ser uma das grandes avenidas de expansão da
biotecnologia no país. Dessa forma, é preciso estar atento para as condições
de negociação de empresas que fazem prospecção de produtos originados da
flora e fauna nativa com empreasas líderes mundiais. As Instituições-chave
são o elo privilegiado para o estabelecimento desses acordos, uma vez que as
Universidades têm demonstrado, em todo o mundo, limitações visíveis na
negociação direta com grandes corporações.
176
177
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Pública e Desenvolvimento Econômico. D.F.
1
Wilkinson, J. (coord) & Castelli, P.G. (2000) “A Transnacionalização da Indústria de
Sementes no Brasil. Biotecnologia, Patentes e Biodiversidade”. Ed. Actionaid /
Brasil. 1aed. pp.138
WIPO (1999) Working Group on Biotechnology - Issues for Proposed WIPO Program
on Biotechnology. Geneva. pp.14. Esse documento contou com a participação
do então membro da Secretaria de Propriedade Intelectual, Luis Antonio B. de
Castro, hoje Diretor do CENARGEM da EMBRAPA.
179
8 Anexos
Anexo I - Roteiro e Questionário do Trabalho de Campo
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - UNICAMP
INSTITUTO DE ECONOMIA - IE
QUESTIONÁRIO
MERCADO de BIOTECNOLOGIA
Para Trabalho de Campo Visando Coleta de Dados Para:
1. Mapeamento, por área, de atividade do mercado de biotecnologia;
1. Identificação de potencialidades, com base no comportamento recente de
importação de biotecnologias;
2. Avaliação prospectiva dos impactos possíveis resultantres dos projetos genoma
e das demandas por insumos biotecnológicos envolvendo estes programas;
3. Avaliação dos obstáculos ao desenvolvimento e comercialização da
biotecnologia
Identificação do questionário
1.Número do questionário: [....................]
2.Número da pesquisa de campo: [..........]
3.Grupo amostral: Mercado Biotecnologia [.........]
4. Associação, Imóvel ou Projeto: .......................Cód: [....................]
5. Município:.........................................................Cód: [....................] 6. UF:
...................................................................Cód: [....................]
Identificação do entrevistado
7. Instituição: ...........................................................................................................
......................................................................... Cód: [....................]
8. Entrevistado:........................................................................................
.............................................................................................................
9. Endereço: ............................................................................................
Cidade/Estado: ....................................................................................
CEP:.....................................................................................................
E-mail: .................................................................................................
Controle do entrevistador
10. Entrevistador: ................................ Cód: [....................]
A) Data da
entrevista
B) Horário de
início
C) Horário de
término
D) Condi
ção
(Chave 1
)
180
11
......./......./......
..
........ : ........ ........ : ........ ..........
12
......./......./......
..
........ : ........ ........ : ........ ..........
13
......./......./......
..
........ : ........ ........ : ........ ..........
Chave 1: Códigos para a condição da entrevista em cada visita:
1-Realizada
2-Incompleta
3-Recusada
4-Produtor não encontrado
5-Propriedade/lote não encontrado
6-Propriedade/lote não existente
Controle do supervisor de campo
14. Supervisor de campo: .................... Cód: [....................]
15. Data da supervisão: [......../......../........]
16. Situação do questionário: [..........]
1-Aprovado
2-Recusado
17. Justificativa do supervisor quando o questionário for aprovado com inconsistências ou
recusado:
Controle do digitador
18. Digitador: ....................................... Cód: [....................]
19. Data da digitação: [......../......../........]
Observações
A- Tipologia 1 -Atividades Científicas
A1- Principais projetos de pesquisa em andamento
A2- Principais projetos de pesquisa finalizados
A3- Linhas de pesquisa atuais
Linhas de Pesquisa em Nº de grupos de Título da pesquisa
Biologia Molecular e Genômica trabalho envolvidos
Terapêutica
Possibilidades de aplicação:
Diagnóstico
Possibilidades de aplicação:
Reagentes
181
Possibilidades de aplicação:
Agricultura
Possibilidades de aplicação:
Produtos imunológicos
Possibilidades de aplicação:
Testagem e tratamento Ambiental
Possibilidades de aplicação:
Equipamento de Biotecnologia
Possibilidades de aplicação:
Sistemas de Entrega de Drogas
(microencapsulação, vetores)
Possibilidades de aplicação:
Vacinas e Soros
Possibilidades de aplicação:
Observações:
A4- Técnicas de pesquisa utilizadas (tipologia 2)
A5- Biotecnologias geradas a partir de alguns ramos da pesquisa executada no último ano
(tipologia 3)
B- Pessoal Científico e Técnico em Biologia Molecular
B1- Número de pesquisadores e nível de capacitação: [....................]
B2- Número de técnicos de nível médio e função: [....................]
Observações:
C- Caso tenha participado ou participe de algum projeto de sequenciamento ds DNA ou
determinação de função gênica:
C1- Qual é o projeto?
C2- Quais linhas de pesquisa foram “abertas” ou potencializadas a partir da participação ?
C3- Quantos artigos em genômica foram publicados no último semestre? [....................]
Quem são os autores?
182
C4- Número de Mestres e Doutores envolvidos: [....................]
C5- Projetos colaborativos com outros laboratórios ou instituições de pesquisa:
D- Pessoal capacitado em genética molecular
D1- Antes da implantação dos projetos “genoma”
.
D2- Depois da implantação dos projetos “genoma”
E- Participação em rede de Comunicações e/ou bancos de dados (ONSA, BBInet,
GenBank, etc)
E1-Nacional
.........................................................................................................................................................
...................................................................................................
E2- Internacional
..............................................................................................................................
D3- Utilização de instrumentos on line, protocolos, bases de dados em biologia molecular,
genômica, transcriptomas e proteômica.
...............................................................................................................................
F- Quais as possíveis aplicações tecnológicas derivadas das principais linhas de pesquisa do
laboratório já são ou poderiam ser internalizada para a comercialização ? (curto ou médio
prazo)
sim não
Citoninas
Anticorpos
Enzimas
Enzimas de restrição
Vetores Virais
Oligonucleotídeos de Inibição
Observações:
183
G- Quais atividades básicas para o desenvolvimento de biotecnologias são
executadas no laboratório?
Sim não
Design de moléculas
Screeening de material genético natural
Química combinatória
Desenvolvimento do teste-diagnóstico
Desenvolvimento e produção de vacinas
Gene-terapia
Observações:
H- O laboratório é proprietário de patentes requeridas ou em fase de obtenção ? [..sim..
/..não..]
Qual (is)?
Há um mediador para estas transações?
I- Qual (is) atividade(s) de relacionamento com empresas faz parte da rotina do
laboratório? (média por ano/parceiro)
sim não
Consultorias
média / ano
Parceiro
Pesquisa colaborativa para inovação
média / ano
Parceiro
Pesquisa contratada de cunho tecnológico
média / ano
Parceiro
Relacionamentos informais
média / ano
Parceiro
Observações:
I- Potencial de aplicação comercial dos resultados de pesquisa em biologia molecualr e
genômica no Brasil.
* Pergunta aberta e gravada
184
Tipologia 3 - Classificação Industrial segundo o SIC - Standard Industrial
Classification
Nome do Grupo Exemplo
1. Agronegócios
1.1. Vegetais 1.1. tomate transgênico
1.2. Animais 1.2. animais transgênicos para pesquisa médica
2. Químicos
2.1. Química Orgânica Industrial 2.1. enzimas derivadas de r-DNA
2.2. Pesticidas 2.2. inseticidas e parasiticidas
2.3. Testes químicos 2.3. kits de testes de contaminação de alimentos
3. Produtos farmacêuticos
3.1. Preparações farmacêuticas 3.1. drogas de r-DNA
3.2. Substancias diagnósticas in vitro e in vivo 3.2. anticorpos monoclonais e provas de DNA
3.3. Produtos biológicos(exceto substâncias
diagnósticas)
3.3. vacinas derivadas de r-DNA
4. Aparato laboratorial e
instrumentos analíticos
4. sequenciadores de DNA e equipamento de PCR
5. Serviços Sanitários
5.1. Sistemas de esgoto 5.1. biorremediação
5.2. Sistemas de drenagem de eflúvios 5.2. limpeza de vazamento de óleo
6. Serviços de Saúde
6.1. Serviços médicos 6.1. gene-terapia
6.2. Laboratórios clínicos 6.2. testes diagnósticos
7. Engenharia, pesquisa, gestão
institucional ou correlatos
7.1. Pesquisa biológica comercial 7.1. contratos de serviços de P&D
7.2. Laboratórios de teste 7.2. serviços de biologia forense
Tipologia 2 - Técnicas de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos e
Processos Biotecnológicos
Biotecnologia Descrição Exemplos / aplicação
1.Transformação em
plantas
Co-cultura para transferência de
genes; ex: Agrobacterium como
vetor
Mamão transgênico (EMBRAPA)
resistente ao vírus da mancha ocelar
2. Regulação de genes Manipulação gênica da mesma
espécie, através de técnicas de
PROM - região promotora de genes
e ORF - região codificadora de
genes (open reading frames)
Seleção e regeneração de transgênicos
(ex: milho que recebe genes de
variedades da mesma espécie)
3. Biobalística Bombardeamento de células com
micropartículas revestidas com
DNA, para transferência de
Isolamento de sequências de
nucleotídeos codificadoras de enzimas
permite inibir partes de cadeias
185
sequências de nucleotídeos metabólicas (ex: inibição de lignina em
forrageiras aumenta a digestibilidade
animal)
4.PCR - polymerase
chain reaction
Amplificação de sequências
gênicas; clonagem por PCR, PCR
por transcriptase reversa
Técnica básica de pesquisa, porque
permite obter DNA em concentração
suficiente para desenvolver ensaios
5.Cultivo in vitro de
tecidos vegetais
Manutenção de células de partes do
vegetal
2.1. Cinética de crescimento
2.2. Reconhecimento genético de
genótipo para calos friáveis
2.3. Indução de crescimento de calos
6.Conservação de
Germoplasma
Manutenção de variedades vegetais
in vitro e in vivo
3.1. Estimativa de variabilidade
genética em germoplasma
3.2. Diagnóstico de amplitude da base
genética do trigo para controle de
erosão genética
7.Marcadores
morfológicos
RAPD (ramdom amplified
polymorphic DNA): DNA de cada
cepa é amplificado para permitir
comparação entre cepas
Mensuração de similaridade genética de
duas cepas de milho
8.Marcadores de
Seleção de
Transformação
Genes de resistência a antibióticos;
ex: gene marcador nptII produz
enzima neomycin-phosphatase II
que inativa antibióticos
Revelação de silenciamento gênico após
transcrição
9. YAC - yeast artificial
cromossomes
Cromossomos artificiais utilizados
como vetores de genes (ex: para
criação de plantas sensíveis às
lesões de DNA)
Análise diagnóstica de produtos
transgênicos utilizada em
monitoramento de mutagênese
ambiental
10.Genoma -
Sequenciamento de
DNA
Determinação da sequência de bases
nitrogenadas do genoma de
organismos
Sequenciamento da Xylella fastidiosa,
fitopatógeno de citros (Fapesp, 1998-
2000
11. Proteomas Determinação de funções gênicas, a
partir de sequências de bases
nitrogenadas (ex: genes da goma
xanthana, responsável pela fixação
da X. fastidiosa no hospedeiro)
Genoma funcional da Xylella fasditiosa
(Fapesp, em curso)
11. Terapia Gênica Introdução de genes por micro-
injeção, biobalística ou injeção de
plasmídeo; técnicas como DNA
fosfato-cálcio, DNA DEAE, DNA
lípide, DNA-proteína, BAC e
vetores virais
Uma vez incorporado às células do
hospedeiro, estes genes permitem que
determinado metabólito antes ausente
seja sintetizado
12.Teste diagnóstico
genético
Revela mutação em células em
cultura, a partir de sequências
gênicas conhecidas
Diagnóstico de presença de genes
BRCA1 e BRCA2 de câncer de mama
13. DNA arrays Arranjos de cDNA em membranas
de nylon ou lâminas de vidro; são
bancos de RNA copiados em clones
- vírus ou plasmídeos - utilizados
em expressão gênica.
Diagnóstico de expressão de genes de
câncer de mama
14.Sondas complexas
de DNA
Busca e localização de genes-alvo;
cinética de hibridação é linear e é
proporcional à expressão do gene
Diagnóstico de expressão de genes de
câncer de próstata
186
15.Polimorfismo
conformacional de
fita simples de DNA -
single strand
conformation
polymorphism
Expressão de funções gênicas em
células em cultura
Estudo de genética de hipertensão
arterial em grupos familiares e
populações; utilização em estudos
complementares de variantes genéticas
de doenças poligênicas
16. ESTs - Expressed
Sequences Tag
"Etiquetas" marcadoras de genes
que se expressam na forma de
proteínas
Utilizadas para demonstrar a presença e
identificar genes em genomas
17.ORESTES - Open
Reading Frames
ESTs
ESTs de genes expressos; utiliza
cDNA somente da sequência
codificante
Aumenta a produtividade das atividades
em genômica, porque permite
sequenciar apenas os trechos de DNA
que codificam proteínas
18.Eletroforese de
proteínas
Separação de conjuntos de
moléculas proteicas
Técnica básica em biologia molecular
19.DNA - cópia em
plasmídeo, isolamento e
purificação
Manipulação de moléculas de DNA Técnicas básicas para produção de
trasngênicos
20. Vacina de antígeno
oculto
Produção de moléculas de antígeno
que sejam reconhecíveis pelo
hospedeiro
Permite a imunização em alguns casos
de parasitose nos quais as proteínas
imunogênicas do parasita não podem
ser reconhecidas pelo hospedeiro.
21. Congelamento de
Sêmem
Preservação de células gaméticas
masculinas maduras para
inseminação artificial
Comercialização de bovinos, ovino,
equinos e caprinos selecionados
22.Congelamento de
Embriões
Preservação de mórulas ou gástrulas
ou embriões selecionados para
futura implantação em útero de
fêmea adulta
Comercialização de bovinos, ovino,
equinos e caprinos selecionados
23.Sexagem de
embriões
Seleção de embriões para fins
comerciais específicos
Comercialização de bovinos, ovino,
equinos e caprinos selecionados
24.Clonagem e
micromanipulação de
embriões
Reprodução de tecidos com
potencial zigótico
Comercialização de bovinos, ovinos,
equinos e caprinos selecionados
25. Micro-encapsulação Cápsulas de liberação controlada de
medicamentos
Dosagem acurada de fármacos
26.Cristalografia e
modelagem de
proteínas ou
macromeléculas de
interesse biológico
Estudo da forma-função das
moléculas proteicas, quando estão
em arranjos especiais
Entendimento das funções de
compostos naturais no metabolismo
celular; ex: inibidores de ??amilase
essenciais a insetos que vivem em grãos
27. Bioinseticidas Compostos naturais inseticidas Controle de pragas; pesquisa de novos
inseticidas
187
ANEXO II
Dados de Importação e Exportação por Grupos
Frações de Sangue, Importações em US$-FOB
Produto 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL
CONCENTRADO DE FATOR VIII 5.667.233,00 31.223.763,00 15.511.756,00 38.143.596,00 68.868.555,00 159.414.903,00
OUTS FRACOES DO SANGUE PROD IMUNOL MODIF EXC
MEDICAMENT
843.112,00 900.642,00 21.048.306,00 17.857.114,00 30.407.673,00 71.056.847,00
SOROALBUMINA PREPARADO COMO MEDICAMENTO 17.232.033,00 19.507.593,00 6.464.944,00 12.061.576,00 13.822.561,00 69.088.707,00
OUTS FRACOES DO SANGUE PROD IMUNOL MODIF
(MEDICAMENTOS)
94.500,00 90.843,00 10.497.761,00 11.992.438,00 11.428.890,00 34.104.432,00
SOROALBUMINA 1.868.633,00 4.748.607,00 11.414.687,00 6.554.064,00 1.247.342,00 25.833.333,00
SORO ANTITETANICO 5.672.549,00 10.669.671,00 6.204,00 9.306,00 - 16.357.730,00
OUTRAS IMUNOGLOBULINAS SERICAS 4.071.941,00 4.833.050,00 3.967.827,00 1.231.159,00 545.622,00 14.649.599,00
IMUNOGLOBULINA G LIOFILIZADA OU EM SOLUCAO 2.653.206,00 1.635.915,00 180.008,00 3.261.286,00 4.118.404,00 11.848.819,00
IMUNOGLOBULINA ANTI-RH 2.970.407,00 2.328.897,00 2.567.980,00 1.842.340,00 1.744.411,00 11.454.035,00
OUTROS ANTI-SOROS ESPECIF DE ANIMAIS/PESSOAS IMUNIZADOS 155.082,00 18.010,00 1.078.370,00 843.299,00 977.203,00 3.071.964,00
UROQUINASE 139.965,00 1.701.505,00 - - - 1.841.470,00
SOROS ANTIOFIDICOS E OUTROS SOROS ANTIVENENOSOS 36.000,00 1.015,00 - 574,00 - 37.589,00
PLASMINA (FIBRINOLISINA) - 7.544,00 9.084,00 - - 16.628,00
ANTI-SOROS POLIVALENTES - - 738,00 - 8.458,00 9.196,00
IMUNOGLOBULINA E CLORIDRATO DE HISTAMINA ASSOCIADOS - - 2.678,00 88,00 - 2.766,00
TOTAL ANUAL 41.404.661,00 77.667.055,00 72.750.343,00 93.796.840,00 133.169.119,00
Fonte: Sicomex
188
Vacinas, Importações em US$-FOB
Produto 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL
OUTRAS VACINAS PARA MEDICINA HUMANA EM DOSES 1.488.077,00 25.000,00 8.881.680,00 12.499.675,00 82.489.983,00 105.384.415,00
VACINA CONTRA RUBEOLA SARAMPO E CAXUMBA EM DOSES 8.387.200,00 16.906.648,00 25.929.494,00 10.693.511,00 11.290.468,00 73.207.321,00
VACINA CONTRA A MENINGITE EM DOSES 16.759.206,00 28.306.915,00 6.248.656,00 5.051.701,00 4.269.637,00 60.636.115,00
VACINA CONTRA A HEPATITE B EM DOSES - - 4.812.927,00 23.970.871,00 1.849.989,00 30.633.787,00
VACINA CONTRA A GRIPE EM DOSES 732.731,00 2.381.547,00 1.943.663,00 9.943.057,00 5.500.923,00 20.501.921,00
VACINA CONTRA A POLIOMIELITE EM DOSES 6.509.052,00 6.202.748,00 5.722.104,00 46.868,00 1.306.420,00 19.787.192,00
OUTRAS VACINAS PARA MEDICINA HUMANA EXC EM DOSES 30.924,00 4.410.623,00 581,00 694,00 14.550.614,00 18.993.436,00
VACINA CONTRA A MENINGITE EXC EM DOSES - - 13.317.700,00 - - 13.317.700,00
VACINA CONTRA O SARAMPO EXC EM DOSES 3.731.000,00 4.143.961,00 135.180,00 - 520.000,00 8.530.141,00
VACINA CONTRA A POLIOMIELITE EXC EM DOSES - - 2.566.840,00 2.577.600,00 1.432.474,00 6.576.914,00
OUTRAS VACINAS TRIPLICES EM DOSES 2.533.985,00 1.330.488,00 878.051,00 659.000,00 325.150,00 5.726.674,00
VACINA CONTRA A HEPATITE B EXC EM DOSES 3.031.830,00 2.160.914,00 300.000,00 35.100,00 - 5.527.844,00
VACINA CONTRA A GRIPE EXC EM DOSES - - - 1.424.166,00 1.556.500,00 2.980.666,00
OUTRAS VACINAS TRIPLICES EXC EM DOSES - - 1.706.876,00 1.135.820,00 - 2.842.696,00
VACINA CONTRA O SARAMPO EM DOSES - - 1.571.594,00 810.000,00 362.016,00 2.743.610,00
VAC CONT RUBEOLA SARAMPO E CAXUMBA EXC EM DOSES - - - 211.500,00 - 211.500,00
TOTAL ANUAL 43.204.005,00 65.868.844,00 74.015.346,00 69.059.563,00 125.454.174,00
Fonte: Siscomex
189
Reagentes e Toxinas, Importações em US$-FOB
Produto 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL
OUTRAS TOXINAS CULTURAS DE MICROORGANISMOS PRODS
SEMELH
501.837,00 1.223.332,00 8.290.946,00 9.196.497,00 8.499.379,00 27.711.991,00
OUTRAS TOXINAS CULTURAS DE MICROORGANISMOS P/SAUDE ANIM 4.919.914,00 7.016.211,00 3.368.482,00 4.753.957,00 4.126.998,00 24.185.562,00
OUTRAS TOXINAS CULTURAS DE MICROORGANISMOS P/SAUDE HUMA - 333,00 2.335.610,00 3.717.293,00 4.474.461,00 10.527.697,00
REAGENTES DE ORIGEM MICROBIANA PARA DIAGNOSTICO - - 227.693,00 387.632,00 7.981.043,00 8.596.368,00
ANTITOXINAS DE ORIGEM MICROBIANA 3.269.701,00 3.781.873,00 24.583,00 21.886,00 9.903,00 7.107.946,00
TUBERCULINAS 39.276,00 - 16.017,00 12.713,00 51.382,00 119.388,00
SAXITOXINA - - - - 222,00 222,00
TOTAL ANUAL 8.730.728,00 12.021.749,00 14.263.331,00 18.089.978,00 25.143.388,00
Fonte: SISCOMEX
Hormônios, Importações em US$-FOB
Produto 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL
OUTS MEDICAMENTOS C/HORMONIOS/DERIV/ASTEROIDES EM DOSES 30.242.006,00 72.782.893,00 66.760.565,00 63.573.023,00 62.559.040,00 295.917.527,00
MEDICAMENTO C/HORMONIO CRESCIM (SOMATOTROFINA) EM DOSES 16.406.543,00 10.923.616,00 14.488.481,00 12.723.240,00 10.123.828,00 64.665.708,00
MEDICAMENTO CONTENDO CALCITONINA EM DOSES 14.528.211,00 13.536.986,00 9.141.288,00 5.453.430,00 3.723.500,00 46.383.415,00
MEDICAMENTO C/HORMONIOS CORTICOSSUPRA-RENAIS EM DOSES 1.507.139,00 6.274.190,00 8.847.830,00 10.892.698,00 13.631.884,00 41.153.741,00
MEDICAMENTO CONT OUTS HORMONIOS/DERIVS ETC EXC EM DOSES 15.191.675,00 4.666.890,00 2.831.338,00 1.118.946,00 4.186.297,00 27.995.146,00
MEDICAM C/OUTROS HORMONIOS POLIPEPTIDICOS ETC EM DOSES - - 3.920.510,00 9.622.712,00 12.475.970,00 26.019.192,00
MEDICAMENTO C/OUTS ESTROGENIOS/PROGESTOGENIOS EM DOSES - - 2.952.671,00 2.407.385,00 13.128.667,00 18.488.723,00
MEDICAMENTO CONT OUTS ESTROGENIOS/PROGESTOGEN EXC
DOSES
- - 8.470.920,00 6.398.645,00 649.601,00 15.519.166,00
MEDICAMENTO CONTENDO LEUPROLIDE EM DOSES - - 5.345.303,00 3.683.766,00 3.592.951,00 12.622.020,00
MEDICAMENTO CONTENDO MENOTROPINAS EM DOSES - - 2.907.066,00 1.857.128,00 2.619.459,00 7.383.653,00
MEDICAMENTO CONTENDO TRIPTORELINA OU SEUS SAIS EM DOSES - - 3.740.033,00 1.095.452,00 2.289.668,00 7.125.153,00
MEDICAMENTO CONTENDO INSULINA,EM DOSES - - - 4.214.269,00 - 4.214.269,00
MEDICAMENTO CONTENDO DESOGESTREL EM DOSES - - - - 4.065.358,00 4.065.358,00
MEDICAMENTOS COM LEVOTIROXINA SODICA EM DOSES - - - 1.317.753,00 2.157.440,00 3.475.193,00
MEDICAMENTO CONT SOMATOSTATINA OU SEUS SAIS EM DOSES - - 1.027.740,00 1.420.536,00 803.292,00 3.251.568,00
190
MEDICAMENTO CONTENDO ACETATO DE MAGESTROL EXC EM DOSES - - 894.632,00 1.244.940,00 715.950,00 2.855.522,00
MEDICAMENTO CONTENDO ACETATO DE MEGESTROL EM DOSES - - 821.374,00 556.333,00 1.062.914,00 2.440.621,00
MEDICAMENTO CONTENDO ACETATO DE BUSERELINA EM DOSES - - 650.714,00 153.328,00 95.815,00 899.857,00
MEDICAMENTO CONT HCG (GONADOTROFINA CORIONICA) EM DOSES - - 534.971,00 67.554,00 79.045,00 681.570,00
MEDICAMENTO C/HORMONIO CRESCIM (SOMATROFINA) EXC DOSES - 31.020,00 503.525,00 123.750,00 - 658.295,00
MEDICAMENTO CONTENDO LH-RH (GONADORELINA) EM DOSES - - 103.196,00 220.607,00 49.723,00 373.526,00
MEDICAMENTO CONTENDO LINESTRENOL EM DOSES - - - 266.153,00 67.793,00 333.946,00
MEDICAMENTO C/OUTS HORMON POLIPEPTIDICOS ETC EXC DOSES 170.155,00 - - 9.513,00 143.911,00 323.579,00
MEDICAMENTO CONT PMSG (GONADOTROFINA SERICA) EXC DOSES - - - 77.949,00 219.563,00 297.512,00
MEDICAMENTO CONT.FEMPROPIONATO DE ESTRADIOL,EM DOSES - - - 238.901,00 - 238.901,00
MEDICAMENTO CONT.ESTRIOL OU SEU SUCCINATO,EXC.EM DOSES - - - 138.218,00 - 138.218,00
TOTAL ANUAL 78.045.729,00 108.215.595,00 133.942.157,00 128.876.229,00 138.441.669,00
Fonte: SISCOMEX
Outros Medicamentos, Importações em US$-FOB
Produto 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL
OUTS MEDICAM CONT PRODS MISTURADOS P/FINS TERAPEUT ETC 23.616.214,00 39.620.459,00 18.103.128,00 49.448.403,00 34.775.289,00 165.563.493,00
MEDICAM C/OUTS COMP HETEROC HETEROAT NITROG EXC DOSES 2.161.750,00 2.481.549,00 8.604.248,00 6.021.787,00 5.607.054,00 24.876.388,00
MEDICAMENTO C/OUTS ENZIMAS N/CONT VITAMS ETC EXC DOSES 7.274.548,00 14.726.449,00 496.423,00 283.116,00 99.814,00 22.880.350,00
MEDICAMENTO C/OUTS COMPOSTOS FUNCAO AMINA ETC EXC DOSES - - 7.284.916,00 6.886.245,00 5.018.744,00 19.189.905,00
MEDICAMENTO C/NIFEDIPINA/NITRENDIPINA ETC EXC EM DOSES - - 4.886.091,00 5.932.110,00 6.727.515,00 17.545.716,00
MEDICAMENTO C/OUTS VITAMINAS PROVITAM DERIVS EXC DOSES - 14.641.895,00 55.233,00 210.397,00 349.828,00 15.257.353,00
MEDICAMENTO C/OUTS COMPOST HETEROCICL ETC EXC EM DOSES - - 4.658.149,00 5.619.483,00 4.901.901,00 15.179.533,00
MEDICAMENTO C/NICARBAZINA/NORFLOXACINA ETC EXC EM DOSES - - 4.259.729,00 3.348.025,00 2.765.391,00 10.373.145,00
MEDICAMENTO C/OUTS TIOCOMPOSTOS ORGAN ETC EXC EM DOSES - - 947.357,00 2.617.362,00 4.706.256,00 8.270.975,00
MEDICAMENTO C/OUTS ACIDOS CARBOXILICOS ETC EXC EM DOSES 550.889,00 1.237.478,00 223.516,00 378,00 321,00 2.012.582,00
MEDICAMENTO C/OUTS COMP FUNC CARBOXIAMIDA ETC EXC DOSES - - 372.376,00 744.269,00 434.421,00 1.551.066,00
MEDICAMENTO CONT D-PANTOTENATO DE CALCIO ETC EXC DOSES - - 1.224.887,00 - - 1.224.887,00
MEDICAMENTO CONT KETAZOLAM/SULPIRIDA ETC EXC EM DOSES - - 975.934,00 - - 975.934,00
MEDICAMENTO CONT ACIDO FUMARICO/SAIS/ETC EXC EM DOSES - - 366.217,00 273.356,00 216.881,00 856.454,00
MEDICAMENTO CONT CARMUSTINA/LOMUSTINA ETC EXC EM DOSES - - 6.900,00 672.605,00 4.600,00 684.105,00
191
MEDICAMENTO CONT HIDROXOCOBALAMINA ETC EXC EM DOSES - - 174.992,00 382.030,00 - 557.022,00
MEDICAM C/AC 2-(2 METIL-3 CLOROANILINA) NICOT EXC DOSES 385.655,00 117.532,00 21.806,00 - - 524.993,00
MEDICAMENTO C/ACIDO SULFANILICO SAIS ETC EXC EM DOSES - - 11.600,00 453.301,00 - 464.901,00
MEDICAMENTO CONTENDO PERMETRINA ETC EXC EM DOSES - - 45.675,00 340.228,00 104,00 386.007,00
MEDICAMENTO CONT AMITRAZ OU CIPERMETRINA EXC EM DOSES - - 28.656,00 153.440,00 116.280,00 298.376,00
MEDICAMENTO CONT MELFALANO OU CLORAMBUCIL EXC EM DOSES - - 95.945,00 74.166,00 122.720,00 292.831,00
MEDICAMENTO C/CLORIDRATO DE FENILEFRINA ETC EXC DOSES - - 133.662,00 101.510,00 - 235.172,00
MEDICAMENTO C/CICLOSPORINA A/FLUSPIRILENO ETC EXC DOSES - - 103.661,00 128.704,00 - 232.365,00
MEDICAMENTO C/FUROSEMIDA/CLORTALIDONA ETC EXC EM DOSES - - 48.222,00 56.259,00 56.259,00 160.740,00
MEDICAMENTO C/TIRATRICOL/LACTOFOSFATO CALCIO EXC DOSES - - - - 150.120,00 150.120,00
MEDICAMENTO C/DINITRATO DE ISOSSORBIDA ETC EXC EM DOSES - - 2.936,00 57.180,00 78.050,00 138.166,00
MEDICAMENTO C/OXIFENDAZOL/ALBENDAZOL ETC EXC EM DOSES 60.087,00 42.561,00 - - 15.269,00 117.917,00
MEDICAMENTO CONT CLORIDRATO DE AMIODARONA EXC EM DOSES - - 53.400,00 - 41.302,00 94.702,00
Produto 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL
MEDICAMENTO CONTENDO PROPOFOL OU BUSULFANO EXC EM
DOSES
- - 32.712,00 25.846,00 31.561,00 90.119,00
MEDICAMENTO CONTENDO DEOXIMBONUCLEASE EXC EM DOSES - - - 2,00 85.914,00 85.916,00
MEDICAMENTO CONT DICLOFENACO DE SODIO ETC EXC EM DOSES - - - - 69.116,00 69.116,00
MEDICAMENTO CONT ATENOLOL/PRILOCAINA/ETC EXC EM DOSES - - - - 60.114,00 60.114,00
MEDICAMENTO C/ACIDO O-ACETILSALICILICO/ETC EXC EM DOSES - - - 26.000,00 192,00 26.192,00
MEDICAMENTO CONTENDO ESTREPTOQUINASE EXC EM DOSES 24.342,00 - - - - 24.342,00
MEDICAMENTO CONT DISOFENOL/CRISAROBINA ETC EXC EM DOSES - - 16.950,00 - - 16.950,00
MEDICAMENTO CONTENDO SILIMARINA EXC EM DOSES - - 6.500,00 - 1.671,00 8.171,00
MEDICAMENTO C/FOLINATO CALCIO (LEUCOVORINA) EXC DOSES - - 7.523,00 - - 7.523,00
MEDICAMENTO CONT TRIAZOLAM/ALPRAZOLAM ETC EXC EM DOSES - - 7.350,00 - - 7.350,00
MEDICAMENTO CONT PARACETAMOL OU BROMOPRIDA EXC EM
DOSES
- - 742,00 3.233,00 - 3.975,00
MEDICAMENTO C/SULFADIAZINA/SEU SAL SODICO ETC EXC DOSES - - 265,00 - - 265,00
MEDICAMENTO CONTENDO EXTRATO DE POLEN EXC EM DOSES - - 217,00 - - 217,00
MEDICAMENTO CONT ACIDO DEIDROCOLICO ETC EXC EM DOSES - - 100,00 - - 100,00
TOTAL ANUAL 34.073.485,00 72.867.923,00 53.258.018,00 83.859.435,00 66.436.687,00
Fonte: SISCOMEX
192
Vacinas Veterinárias, Importações em US$-FOB
OUTRAS VACINAS PARA MEDICINA VETERINARIA 9.677,00 7.380,00 8.429.121,00 10.283.190,00 11.569.428,00 30.298.796,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A COCCIDIOSE 3.120.123,00 6.836.301,00 686.589,00 1.145.872,00 1.256.097,00 13.044.982,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A RAIVA 306.759,00 369.029,00 565.158,00 641.832,00 707.965,00 2.590.743,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A CINOMOSE - - 939.777,00 722.803,00 511.252,00 2.173.832,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A LEPTOSPIROSE - - 193.379,00 326.634,00 252.268,00 772.281,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A FEBRE AFTOSA 4.085,00 - - - - 4.085,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A QUERATO-CONJUNTIVITE - - - - - -
TOTAL ANUAL 3.440.644,00 7.212.710,00 10.814.024,00 13.120.331,00 14.297.010,00
Fonte: SISCOMEX
Frações de Sangue, Exportações em US$-FOB
Produto 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL
OUTS FRACOES DO SANGUE PROD IMUNOL MODIF EXC
MEDICAMENT
128.198,00 32.668,00 576.565,00 612.507,00 651.089,00 2.001.027,00
SORO ANTITETANICO 1.000.405,00 701.281,00 980,00 836,00 1.344,00 1.704.846,00
OUTROS ANTI-SOROS ESPECIF DE ANIMAIS/PESSOAS IMUNIZADOS 24.703,00 48.260,00 53.336,00 72.863,00 127.501,00 326.663,00
SOROS ANTIOFIDICOS E OUTROS SOROS ANTIVENENOSOS 58.420,00 79.721,00 7.801,00 774,00 25.746,00 172.462,00
SOROALBUMINA 137.960,00 137.960,00
OUTS FRACOES DO SANGUE PROD IMUNOL MODIF
(MEDICAMENTOS)
137.204,00 134,00 137.338,00
OUTRAS IMUNOGLOBULINAS SERICAS 23.600,00 23.600,00
SOROALBUMINA PREPARADO COMO MEDICAMENTO 4.892,00 4.053,00 8.945,00
IMUNOGLOBULINA ANTI-RH 90,00 6.250,00 6.340,00
ANTI-SOROS POLIVALENTES 3.215,00 3.215,00
IMUNOGLOBULINA G LIOFILIZADA OU EM SOLUCAO 1.349,00 1.349,00
UROQUINASE 3,00 3,00
TOTAL ANUAL 1.211.819,00 898.021,00 638.682,00 962.144,00 813.082,00
Fonte:Siscomex
193
Vacinas, Exportações em US$-FOB
Produto 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL
OUTRAS VACINAS PARA MEDICINA HUMANA EM DOSES 246.840,00 471.140,00 5,00 8.002,00 58.150,00 784.137,00
OUTRAS VACINAS TRIPLICES EXC EM DOSES 543.388,00 543.388,00
OUTRAS VACINAS PARA MEDICINA HUMANA EXC EM DOSES 215.500,00 215.500,00
VACINA CONTRA A HEPATITE B EM DOSES 160.000,00 160.000,00
VACINA CONTRA A HEPATITE B EXC EM DOSES 84.000,00 84.000,00
OUTRAS VACINAS TRIPLICES EM DOSES 134,00 75,00 33.000,00 33.209,00
VACINA CONTRA A GRIPE EM DOSES 5.492,00 5.492,00
TOTAL ANUAL 252.466,00 471.215,00 244.005,00 584.390,00 273.650,00
Fonte:Siscomex
Hormônios, Exportações em US$-FOB
Produto 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL
MEDICAMENTO CONT OUTS HORMONIOS/DERIVS ETC EXC EM
DOSES
9.680.050,00 4.777.376,00 4.788.276,00 3.289.085,00 5.340.866,00 27.875.653,00
OUTS MEDICAMENTOS C/HORMONIOS/DERIV/ASTEROIDES EM
DOSES
831.651,00 6.835.124,00 3.192.981,00 3.404.470,00 5.173.435,00 19.437.661,00
MEDICAMENTO C/OUTS ESTROGENIOS/PROGESTOGENIOS EM
DOSES
7.577.935,00 4.563.479,00 4.628.983,00 16.770.397,00
MEDICAMENTO C/HORMONIOS CORTICOSSUPRA-RENAIS EM DOSES 611.093,00 2.260.598,00 4.878.649,00 3.749.551,00 2.751.565,00 14.251.456,00
MEDICAMENTO CONTENDO OXITOCINA EM DOSES 1.667.389,00 923.576,00 1.591.403,00 4.182.368,00
MEDICAMENTO CONT HCG (GONADOTROFINA CORIONICA) EM
DOSES
15.118,00 347.630,00 510.049,00 872.797,00
MEDICAMENTO C/HORMONIO CRESCIM (SOMATROFINA) EXC DOSES 443.816,00 443.816,00
MEDICAMENTO C/HORMONIO CRESCIM (SOMATOTROFINA) EM
DOSES
153.163,00 72.564,00 225.727,00
MEDICAM C/OUTROS HORMONIOS POLIPEPTIDICOS ETC EM DOSES 6.404,00 56.077,00 126.445,00 188.926,00
MEDICAMENTO CONTENDO CALCITONINA EM DOSES 15.510,00 110.998,00 126.508,00
MEDICAMENTO C/OUTS HORMON POLIPEPTIDICOS ETC EXC DOSES 108.060,00 2.112,00 110.172,00
MEDICAMENTO CONTENDO ACETATO DE BUSERELINA EM DOSES 102.400,00 102.400,00
MEDICAMENTOS CONT LEVOTIROXINA SODICA EXC EM DOSES 46.157,00 46.157,00
194
MEDICAMENTO CONTENDO SAIS DE INSULINA EM DOSES 2.594,00 2.594,00
TOTAL ANUAL 11.230.854,00 14.026.261,00 22.586.078,00 16.619.830,00 20.173.609,00
Fonte:Siscomex
Vacinas Veterinárias, Exportações em US$-FOB
Produto 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL
OUTRAS VACINAS PARA MEDICINA VETERINARIA 407.408,00 355.346,00 1.857.158,00 2.709.944,00 2.914.831,00 8.244.687,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A FEBRE AFTOSA 534.037,00 1.292.709,00 1.223.505,00 1.222.853,00 1.191.658,00 5.464.762,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A COCCIDIOSE 1.562.440,00 2.393.579,00 4.592,00 3.960.611,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A RAIVA 19.775,00 72.041,00 66.632,00 68.457,00 226.905,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A LEPTOSPIROSE 44.240,00 44.240,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A CINOMOSE 800,00 800,00
VACINA VETERINARIA CONTRA A QUERATO-CONJUNTIVITE -
TOTAL ANUAL 2.523.660,00 4.113.675,00 3.130.295,00 3.999.429,00 4.174.946,00
Fonte:Siscomex
195
Anexo III- Legendas dos Mapas de Genômica do Capítulo 5
Legenda o mapa do Projeto Genoma Xylella e seus desdobramentos
FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
ILPC – Instituto Ludwig de Pesquisas contra o Câncer – Coordenação de DNA
FUNDECITRUS – Fundação para defesa da Citricultura
PGX – Projeto Genoma Xylella
ONSA – Rede Virtual de Genômica - Organization for Sequencing and Analysis
ICU BIOINFO – Instituto de Computação da Unicamp – Coordenação de Bio-informática
IQ –1 – Laboratório Central de Sequenciamento –
Laboratório de Estudo da Relação entre Estrutura e Função de Enzimas do Departamento de
Bioquímica
CBMEG – Laboratório Central de Sequenciamento –
Centro de Biologia Molecular e Genética – UNICAMP
USP – Universidade de São Paulo:
IQ-2 – Instituto de Química – Departamento de Bioquímica: 3 laboratórios de sequenciamento
Laboratório de Expressão Gênica
Laboratório de Estrutura e Função de ATPases
Laboratório de Regulação da Expressão Gênica em Microorganismos
FMVZ – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – USP: 1 laboratório de sequenciamento:
Departamento de Patologia
ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz” – USP - 3 laboratórios
Centro de Energia Nuclear na Agricultura
Departamento de Patologia de Plantas
Laboratório de Biotecnologia do Departamento de Zootecnia
IB-1 – Instituto de Biociências – USP
Departamento de Biologia
Departamento de Botânica
ICB – Instituto de Ciências Biomédicas – USP
FM-1 – Faculdade de Medicina – USP – 3 laboratórios
Departamento de Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria
Laboratório de Biologia Molecular do Instituto do Coração
Departamento de Radiologia
FCFRP – Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto– USP – 1 laboratório
Departamento de Ciências Farmacêuticas
CENA – Centro de Energia Nuclear Aplicada à Agricultura – USP – 1 laboratório
FMRP – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP – 2 laboratórios
Departamento de Clínica Médica
Departamento de Parasitologia, Microbiologia e Imunologia
UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas: 2 laboratórios de sequenciamento
IB-2 – Instituto de Biologia – UNICAMP
Departamento de Fisiologia e Biofísica
FM – 2 – Faculdade de Medicina – UNICAMP Hemocentro da Faculdade de Ciências Médicas
UNESP – Universidade Estadual Paulista: 3 laboratórios de sequenciamento
FCVA – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal
Departamento de Tecnologia da FCVA-Jaboticabal
Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária da FCVA - Jaboticabal
IB – 3 – Departamento de Genética do Instituto de Biociências - Botucatu do
FCA – Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu
Departamento de Defesa Fitossanitária Fazenda Lageado
UNIFESP – Universidade Federal Paulista: 2 laboratórios de sequenciamento
Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia
Departamento de Biofísica
UMC – Universidade de Mogi das Cruzes – 1 laboratório de sequenciamento
Núcleo Integrado de Biotecnologia do Centro de Ciências Biomédicas
URP – UNAERP - Universidade de Ribeirão Preto - 1 laboratório de sequenciamento:
Departamento de Biotecnologia de Plantas Medicinais do Centro de Ciências Exatas, Naturais e
Tecnológicas
196
IBSP – Instituto Biológico de São Paulo - 1 laboratório de sequenciamento:
Seção de Bioquímica Fitopatológica
IBu – Instituto Butantã - 1 laboratório de sequenciamento:
Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan
IAC – Instituto Agronômico de Campinas - 2 laboratórios de sequenciamento:
Centro de Citricultura Sylvio Moreira
Centro de Genética, Biologia Molecular e Fitoquímica
FCFRP - USP de Ribeirão Preto da USP
Projetos que dão continuidade às pesquisas iniciadas pelo Genoma Xylella:
1. AEGAgronomiacal & Environmental Genomes – representado em S-1 - setor 1.
2. GFX - Genoma Funcional da Xylella – representado em S-2 - setor 2.
Legenda - Projeto AEG - Agronomical & Environmental Genomes
FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
PGF – Programa Genoma Fapesp
ONSAOrganization for Sequencing and Analysis
PGX – Projeto Genoma Xylella
AEG Agronomical and Envirnmental Genomes
USDAUnited States Department of Agriculture
XFV – Projeto Xylella fastidiosa das vinhas
LX – Projeto Leisonia xyli subsp. xyli da cana-de-açúcar
COPERSUCAR – Cooperativa dos Produtores de Açúcar e Álcool
SASP – Secretaria de Agricultura de São Paulo
CCSM-IAC – Centro de Citricultura “Sylvio Moreira” do IAC
IB-USP – Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo
ESALQ-USP – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz”
FCAV-UNESP – Faculdade de Ciências Agronômicas e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista
CBMEG-UNICAMP – Centro de Biologia Molecular e Genética da UNICAMP
Laboratórios 1 a 15 localizados em:
1. Instituto Agronômico de Campinas
2. Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP de Botucatu
3. Instituto Biológico de São Paulo
4. Instituto de Ciências Biomédicas
5. Instituto de Química
6. Universidade de Mogi das Cruzes
7. ESALQ
8. ESALQ
9. CENA – Centro de Energia Nuclear Aplicada à Agricultura –USP
10. FCAV-UNESP – Faculdade de Ciências Agronômicas e Veterinárias da UNESP
11. FCAV-UNESP – Faculdade de Ciências Agronômicas e Veterinárias da UNESP
12. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP
13. Instituto de Biologia – UNICAMP
14. Universidade Federal de São Carlos
15. Faculdade de Ciências Agronômicas e Veterinárias – UNESP de Botucatu
Legenda PGF - Projeto Genoma Funcional da Xylella
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
PGX - Projeto Genoma Xylella
GFX – Genoma Funcional Xylella
USP – Universidade de São Paulo
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto
FAT – Fundação André Toselo
IAC – Instituto Agronômico de Campinas
UMC – Universidade de Mogi das Cruzes
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
FUNDECITRUS - Fundação para defesa da Citricultura
UNESP – Universidade Estadual Paulista
IBSP – Instituto Biológico de São Paulo
197
SASP – Secretaria de Agricultura do estado de São Paulo
ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz”
CENA – Centro de Energia Nuclear Aplicado à Agricultura
IQ – Instituto de Química
Legenda - Genoma Xanthomonas axonopodis pv citri
FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
PGF – Programa Genoma Fapesp
PXC – Projeto Xanthomonas axonopodis pv citri
IQ-USP – Departamento de Bioquímica do Instituto de Química -USP
IC-UNICAMP – Laboratório de Bioinformática do Instituto de Computação - Unicamp
FCAVJ- UNESP – Depto. Tecnologia e Depto. Morfologia e Fisiologia Animal
Faculdade de Ciências Agronômicas e Veterinárias de Jaboticabal - UNESP
Laboratórios de sequenciamento e anotação de genoma:
1. Departamento de Bioquímica –IQ - USP
2. Departamento de Patologia /Laboratório de Biologia Molecular de Patógenos Aviários
Faculdade de Medicina veterinária e Zootecnia – USP
3. Depto. Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas – USP
4. Departamento de Tecnologia e Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuaria
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal – UNESP
5. Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas – USP
6. Departamento de Bioquímica – IQ-USP
7. Departamento de Patologia de Plantas – ESALQ-USP
8. Centro de Citricultura Sylvio Moreira – Instituto Agronômico de São Paulo
9. Departamento de Bioquímica - Inst. Química Araraquara –UNESP
10. Depto. de Genética - Faculdade Medicina de Ribeirão Preto – USP
11. Depto. Ciências Biológicas - Fac. Ciências Farmacêuticas Araraquara – UNESP
12. Centro de Energia Nuclear na Agricultura
13. Depto. Tecnologia e Depto. Morfologia e Fisiologia Animal
Faculdade de Ciências Agronômicas e Veterinárias de Jaboticabal
Legenda - Projeto Genoma Cana - Fapesp - EST Sugar Cane Project
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
SUCEST - Sugar Cane EST Project (Genoma Cana)
COPERSUCAR - Cooperativa dos Produtores de Açúcar e Álcool
CTI-UFPE - Centro de Tecnologia da Informação - Universidade Federal de Pernambuco
ONSA- Ornanization for Sequencing and Analysis
CBMEG - Centro de Biologia Molecular e Genética - UNICAMP
ICU-BIOINFO - Instituto de Computação- UNICAMP - Laboratório de Bioinformática
UFAL - Universidade Federal de Alagoas
USP - Universidade de São Paulo
UNAERP - Universidade de Ribeirão Preto
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNESP - Universidade Estadual Paulista
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
IPA - Instituo Tecnológico do Pará
UMC - Universidade de Mogi das Cruzes
UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba
PUCPR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFNF - Universidade Estadual do Norte Fluminense
IAC - Instituo Agronômico de Campinas
UFSCar - Universidade Federal de São Carlos
LNLS - Laboratório Nacional de Luz Síncroton
198
Grupos de Data-mining - DM precedidos de um algarismo, que indica o número de grupos de
pesquisa em uma mesma instituição.
Duas letras que identificam o grupo de pesquisa na base de dados da Fapesp.
Legenda - GHC - Projeto Genoma Humano do Câncer
ILPC - Instituto Ludwig de Pesquisas Contra o Câncer - Seção brasileira
GenBank - Banco internacional de dados em genômica e proteômica
Unigene - Banco internacional de dados em genômica e proteômica
EMBM - European Molecular Biology Net - Banco internacional de dados em genômica e proteômica
NCBI - National Center for Biotechnology Information
TIGR - The Institute for Genomic Research
GCC - Projeto Genoma Clínico do Câncer
UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
FMUSP - Faculdade de Medicina - USP
USP-RP - USP de Ribeirão Preto
UNIFESP - Universidade Federal Paulista
IQ-USP -Instituo de Química - USP
CEPID - Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão
HTVI - Projeto Trancriptoma de Genes Expressos do Câncer de Câncer Human Trancript Validation
Initiative
ILPC-I - Instituto Ludwig de Pesquisas Contra o Câncer Internacional
ICRF - Imperial Cancer Research Fund
Iowa-U - Universidade de Iowa OSC - Outside Sequencing Centers - centros de pesquisa que vão
progressivamente aderindo ao projeto.
Legenda – Projeto Rede Genoma Brasileiro - PGB – Sequenciamento da bactéria
Cromobacterium violaceum
1. Laboratório de Biologia Molecular/INPA-AM
2. Centro de Apoio Multidisciplinar/Universidade do Amazonas
3. Laboratório de Polimorfismo de DNA/Universidade Federal do Pará
4. Laboratório de Genética Molecular/Universidade Federal de Alagoas
5. Laboratório de Biologia Molecular/Universidade Estadual de Santa Cruz - Ilhéus-BA
6. Laboratório de Moléculas Biologicamente Ativas/ Universidade Federal do Ceará
7. Departamento de Biologia/Universidade Federal Rural de Pernambuco
8. Laboratório de Mutagênese/Universidade Federal do Rio Grande do Norte
9. Laboratório de Biotecnologia Genômica/Universidade Católica de Brasília
10. Laboratório de Biologia Molecular/Universidade de Brasília
11. Laboratório de Biologia Molecular/Universidade Federal de Goiás
12. Centro Nacional de Pesquisas de Milho e Sorgo/Embrapa-Sete Lagoas/MG
13. Laboratório de Biodiversidade e Evolução Molecular/Universidade Federal de Minas Gerais
14. Laboratório de Genética e Bioquímica/Universidade Federal de Minas Gerais 15. Núcleo de Análise
de Genoma e Expressão Gênica/Universidade Federal de Minas Gerais
16. Laboratório de Metabolismo Macromolecular/Universidade Federal de Rio de Janeiro
17. Instituto Nacional de Câncer/RJ 18. Fundação André Tosello/Campinas-SP
19. Departamento de Biologia Celular, Molecular e Bioagentes Patogênicos/Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto/USP
20. Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais/PUC-PR
21. Departamento de Bioquímica/Universidade Federal do Paraná
22. Centro Nacional de Pesquisas em Soja/Embrapa-Londrina-PR
23. Departamento de Microbiologia e Parasitologia/Universidade Federal de Santa Catarina
24. Laboratório de Genética e Biologia Molecular/PUC-RS
25. Centro de Biotecnologia/Universidade Federal do Rio Grande do Sul
@
LE
199
Rede Genoma Regional
1. Projeto em Rede do Centro-Oeste: Genoma Funcional e Diferencial de Paracoccidioides brasiliensis
1.1. EMBRAPA Gado de Corte
1.2. EMBRAPA Pantanal
1.3. EMBRAPA Arroz e Feijão
1.4. Universidade de Brasília – UnB
1.5.Universidade Federal de Goiás – UFG
1.6. Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT
1.7. Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT
1.8. Universidade de Cuiabá - UNIC
1.9. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS
1.10. Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul – UEMS
1.11. Universidade Para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP
2. Rede Genoma do Estado de Minas Gerais - Genoma expresso do Schistossoma mansoni
2.1. Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG,
2.2. Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP
2.3. Universidade Federal de Viçosa – UFV
2.4. Universidade Federal de Lavras – UFL
2.5. Universidade Federal de Uberlândia – UFU
2.6. Centro de Pesquisas Renê Rachou – CPQRR/FIOCRUZ
2.7. EMBRAPA Milho e Sorgo
3. Genoma do Nordeste – ProGeNe -Seqüenciamento de Leishmania chagasi
3.1. Universidade Federal de Alagoas – UFAL
3.2. Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC
3.3 Universidade Federal do Ceará – UFC
3.4. Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
3.5. Universidade Federal do Maranhão – UFMA,
3.6. Universidade Federal da Paraíba – UFPB
3.7. Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
3.8. Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
3.9. Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária – IPA
3.10. Universidade Federal do Piauí – UFPI
3.11. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
4. Programa Genoma do Estado do Paraná - Genoma estrutural e funcional da bactéria fixadora de
nitrogênio endofítica Herbaspirillum seropedicae
4.1. Universidade Federal do Paraná
4.2. Universidade Estadual de Londrina
4.3. Universidade Estadual de Maringá
4.4.Universidade Estadual de Ponta Grossa
4.5. Instituto Agronômico do Paraná,
4.6. EMBRAPA Soja
4.7. EMBRAPA Agrobiologia
4.8. Universidade de São Paulo
4.9. Universidade Federal do Rio de Janeiro
4.10.Universidade Federal do Rio Grande do Sul
5. Rede Genoma do Rio de Janeiro – RioGene: Genoma da bactéria Gluconacetobacter diazotrophicus
5.1. Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
5.2. EMBRAPA Agrobiologia
5.3. EMBRAPA Recursos Genéticos e Biotecnologia
5.4. Laboratório Nacional de Computação Científica – LNCC
5.5. Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF
5.6. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ
5.7. Universidade Federal do Paraná – UFPR
5.8. FAPERJ
5.9. FAPESP.
200
6. Ampliação da Rede de Genômica no Estado da Bahia - Genoma do fungo Crinipellis perniciosa
6.1. Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
6.2. Centro de Pesquisas do CACAU – CEPEC, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira –
CEPLAC,
6.3. Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC,
6.3. EMBRAPA Recursos Genéticos e Biotecnologia,
6.4. Universidade Estadual de Feira de Santana – UESC
6.5. Universidade Federal da Bahia – UFBA
6.6. Universidade Católica do Salvador - UCSAL
7. Programa de Implantação do Instituto de Biologia Molecular do Paraná - Genômica funcional do
Trypanosoma cruzi
7.1. Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz
7.2. Universidade de Mogi das Cruzes – UMC
7.3. Instituto de Biologia Molecular do Paraná – IBMP
201
ANEXO IV – Mecanismos de Vinculação Formal em Redes Tecno-
econômicas
Mecanismos
vinculação formal entre
entre componentes das redes
Descrição
Características
1 - Inclui: 2 - Cuidados:
Intercâmbio entre
Faculdades/Conferências/Publi
cações
Troca informal e livre de informações
entre pesquisadores
1
1-Apresentações em conferências técnicas e
profissionais/publicações em revistas científicas
2- Transferência prematura de informações que podem originar
depósito de patentes
Consultoria a um Laboratório Uma parte externa ao laboratório
provê conselho e/ou informação
1 1-Contrato formal específico (por escrito)
2-O consultor certifica-se de que não existe conflito de
propriedade intelectual
Consultoria pelo Pessoal do
Laboratório
Consultoria realizada para um
parceiro do setor privado por pessoal
de laboratório para melhorar a
transferência de tecnologia
1-O Laboratório deve aprovar os nomes dos consultores
1-Deve-se evitar conflitos de interesse
2- Deve-se ter cuidado com questões de propriedade intelectual
Programa de Trocas
Transferência de pessoal científico
tanto do laboratório de uma instituição
como do laboratório da outra parte
para haver troca de expertise e
informação
1- Geralmente por período maior do que um ano
Contrato
Um contrato é um instrumento de
aquisição acordado entre o governo e
o contratante que deseja conseguir
insumos ou serviços do governo
1-Pode ser utilizado para financiar P&D que poderá ser
eventualmente transferido para o setor privado.
1-A alocação de direitos de patente é determinada pelo
tipo de contratante que desempenha o trabalho
1-Organizações sem fins lucrativos ou pequenas empresas podem
obter títulos de invenções
Contrato de Custo
Compartilhado( entre o setor
público e o privado)
O contrato é estabelecido entre o
governo e um contratante, no qual os
custos associados ao trabalho são
divididos segundo o especificado no
contrato
1– Pagamentos em dinheiro e em bens
1 - Deve ser de benefício mútuo para indústria e governo
2 - Dados comercialmente avaliáveis são protegidos por um
período limitado de tempo
Prêmio e Acordo Cooperativo
São aceitos pelo governo apenas se os
recursos financeiros ou direitos de
propriedade forem transferidos ao
receptor de forma a produzir
fomento ou estímulo à pesquisa
1- O governo poderá entrar nestes acordos
1- Pouco envolvimento entre o governo e o receptor, a não ser
aquisição de instrumentos
Acordo de Pesquisa e
Desenvolvimento Cooperativo
Acordos entre um ou mais
laboratórios federais e um ou mais
participantes não-federais que, através
de suas instalações, provê pessoal,
facilidades e outros recursos com ou
sem o ressarcimento (mas não com
fundos para parceiros não-federais).
Os parceiros não-governamentais
providenciam fundos, pessoal,
serviços, facilidades, equipamentos ou
outras fontes de recursos para
conduzir pesquisas específicas ou
desenvolver esforços que são
consistentes com as missões dos
laboratórios.
2-Certificação de que nenhum fundo público deixe o laboratório
2-Direitos de propriedade intelectual são negociados como parte
do acordo
2- Qualquer informação científica produzida pelo laboratório será
protegida por pelo menos cinco anos
Licenciamento por parte do
Governo para o setor privado
Transferência de direitos menores do
que a propriedade para uma terceira
parte, permitindo que esta última
utilize a propriedade intelectual
1-Pode ser exclusiva ou não-exclusiva, para um campo de uso
específico, para uma área geográfica específica, ou para
utilização no Brasil ou em território estrangeiro
1-A maior parte dos
royalties deve retornar ao laboratório
1 - Preferência dada à indústria nacional e pequenas empresas
1-Sujeito à consideração de conflito de interesse
1-Licenças não-exclusivas são preferíveis a licenças exclusivas
1-Requerentes da licença devem apresentar planos de
comercialização da invenção
1-Governo obtém licença mundial, não exclusiva e livre de
royalties
Licenciamento do setor
privado ao governo
Transferência de direitos menores do
que a propriedade para uma terceira
parte, permitindo que esta última
utilize a propriedade intelectual
1-Governo pode utilizar invenções privadas para efeitos de
pagamento de justa compensação
1-Devem ser acompanhados de regras de procuração e instruções
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo