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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Com mais de 3.000 km de ferrovias em 1844, o então deputado Gladstone propôs e conseguiu aprovar,
contra a forte oposição das companhias ferroviárias, a primeira legislação global, o "Regulation of the Railways
Act", considerada antecessora de legislações parecidas em vários outros países e, principalmente, do Interstate
Commerce Act of 1887, dos EUA.
A principal idéia da lei (considerada "diabólica" pelas companhias ferroviárias) foi a opção dada ao
Parlamento de comprar (e nacionalizar ou revender) qualquer ferrovia após 21 anos de operações por 25 vezes o
retorno anual (até 10%); ao contrário, caso o retorno excedesse os 10%, o Parlamento poderia reduzir as tarifas da
ferrovia.
Assim, a ferrovia com retornos altos (acima de 10%) teria as suas tarifas cortadas, enquanto a ferrovia
com retorno artificialmente baixo poderia ser, a qualquer momento, comprada por preço baixo pelo governo.
Outra previsão da lei estabeleceu a sistemática contábil e o plano de contas padrão, a ser utilizado por
todas as ferrovias do país, garantindo transparência administrativa e relatórios financeiros, pelo menos para os
últimos três anos de cada período de controle.
A favor das ferrovias, a lei determinava que eventuais retornos abaixo dos 10% anuais seriam
compensados pelo Tesouro Inglês. A história mostrou, mais tarde, os verdadeiros retornos médios muito aquém
dessa marca: aproximadamente 4% após 1865 e somente 3% antes da primeira guerra mundial;
surpreendentemente, para a Inglaterra, "a lei não pegou" e a compensação nunca foi paga.
Apesar da sua sofisticação legislativa, a lei das ferrovias de 1844 foi considerada, mais tarde, um fracasso,
principalmente pelos seguintes motivos:
- A lei não abrangia ferrovias construídas antes de 1844 (princípio da retroatividade);
- Os 10% de retorno anual foi um número arbitrário, político, sem fundamentação econômica e, por isso,
não atingido na prática;
- O efetivo controle pela taxa de retorno foi facilmente frustrado pelas práticas contábeis, mudanças de
fontes de investimentos e pagamento de dividendos de fato por outros meios;
- Como sempre, o controle pela taxa de retorno retirou incentivos à economia operacional e levou a
aumentos de gastos administrativos e investimentos não necessários;
- Acordos operacionais entre ferrovias, não sujeitos ao controle da lei, aumentavam o poder dos
monopólios mediante estabelecimento do poderoso "clearing house", fundado em 1842, e da "Railway Companies
Association" de 1861. A discriminação tarifária continuou, pois não existia exigência de se publicarem as tarifas.