Download PDF
ads:
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE
DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
_____________________________________________________________________________________________
ESTRATÉGIAS DOS OLIGOPÓLIOS
MUNDIAIS NOS ANOS 90 E
OPORTUNIDADES DO
BRASIL
Nota Técnica Temática do Bloco
"Condicionantes Internacionais da Competitividade"
O conteúdo deste documento é de
exclusiva responsabilidade da equipe
técnica do Consórcio. Não representa a
opinião do Governo Federal.
Campinas, 1993
A presente Nota Técnica tomou por base documento elaborado pelo consultor Reinaldo Gonçalves (UFRJ), a quem a equipe técnica do
Consórcio agradece, isentando-o de qualquer responsabilidade pelo seu conteúdo.
A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos
(FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para as Notas Técnicas Finais de síntese do Estudo.
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
CONSÓRCIO
Comissão de Coordenação
INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP
INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ
FUNDAÇÃO DOM CABRAL
FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR
Instituições Associadas
SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY
INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI
NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA
DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP
INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
Instituições Subcontratadas
INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA - IBOPE
ERNST & YOUNG, SOTEC
COOPERS & LYBRAND BIEDERMANN, BORDASCH
Instituição Gestora
FUNDAÇÃO ECONOMIA DE CAMPINAS - FECAMP
ads:
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE)
João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI)
Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)
Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE)
Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI)
Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE)
Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)
João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE)
Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)
David Kupfer (UFRJ-IEI)
Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI)
Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)
Contratado por:
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
COMISSÃO DE SUPERVISÃO
O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:
João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES)
Lourival Carmo Mônaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)
Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES)
Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)
Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT)
Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)
Eduardo Gondim de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES)
Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE)
Guilherme Emrich (BIOBRÁS) Renato Kasinsky (COFAP)
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP)
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
SUM`RIO
RESUMO EXECUTIVO ............................................ 1
INTRODUÇÃO .................................................. 17
1. INTERNACIONALIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO E COMPETITIVIDADE: AS-
PECTOS CONCEITUAIS ...................................... 20
2. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS ................................ 23
2.1. Transformações Globais: Inovações Tecnológicas e Or-
ganizacionais ....................................... 23
2.2. Reação Estratégica das Empresas Transnacionais ...... 26
3. TRANSFORMAÇÕES GLOBAIS, FATORES LOCACIONAIS E REAÇÃO
ESTRATÉGICA DAS EMPRESAS TRANSNACIONAIS NO BRASIL ........ 33
3.1. Estratégia de Investimento .......................... 34
3.2. Estratégia Financeira ............................... 41
3.3. Estratégia Comercial ................................ 43
3.4. Estratégia Industrial e Tecnológica ................. 44
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................... 46
4.1. Oportunidades e Restrições .......................... 46
4.2. Sumário e Implicações de Política Econômica ......... 51
5. INDICADORES .............................................. 63
NOTAS ........................................................ 64
NTR
1
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
RESUMO EXECUTIVO
1. TEND˚NCIAS INTERNACIONAIS
As tendências internacionais que são pertinentes para o tema
dos investimentos diretos estrangeiros mereceram um tratamento
próprio em profundidade e detalhe em outra Nota Técnica deste
Bloco Temático, denominada "Oportunidades Abertas para o Brasil
Face aos Fluxos Globais de Investimento de Risco e de Capitais
Financeiros nos Anos 90". Por esta razão, este sumário começa no
"Diagnóstico da Situação Brasileira".
Por sua vez, a Nota Técnica "Implicações da Estrutura
Regulatória das Atividades Econômicas sobre a Competitividade:
Defesa da Concorrência e do Consumidor" trata das práticas dos
oligopólios em geral, independentemente da sua origem. Da mesma
forma, muitas das práticas dos oligopólios identificadas ao longo
desta nota técnica aplicam-se indistintamente aos oligopólios
formados por empresas de origem interna e externa. Muitos dos
comentários aplicam-se, assim, aos oligopólios internos.
2
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
2. DIAGNSTICO DA SITUA˙ˆO BRASILEIRA
As empresas transnacionais têm uma contribuição específica
para o processo de desenvolvimento econômico, principalmente,
como agentes de difusão do progresso técnico e como atores
importantes do comércio internacional. É evidente também que o
comportamento, desempenho e estratégia das empresas
transnacionais obedecem à lógica do capital (lucro, acumulação),
e isto pode envolver diferentes dinâmicas de competitividade
internacional, mais ou menos favoráveis ao país onde atuam estas
empresas. Cabe aos governos definir o sistema de regulação
necessário no sentido de estimular ou induzir mudanças de
estratégia e de balizar ou enquadrar a trajetória das empresas,
em particular daquelas com significativo poder econômico-político
e centro de decisões no exterior, mas é necessário reconhecer que
esta capacidade é restrita.
Desde o início dos anos 80, as empresas transnacionais no
Brasil tiveram reações estratégicas em áreas distintas -
investimento, finanças, comercial, industrial e tecnológica - que
lhes permitiram conciliar o paradoxo aparente entre lucros
elevados e o recuo dos investimentos no país. Por outro lado,
apesar das significativas transformações globais as empresas
transnacionais atuando no país parecem estar, de um modo geral,
realizando um esforço importante de reestruturação, na medida em
que adotam estratégias defensivas ou, simplesmente, reativas.
Estas afirmações devem, entretanto, ser vistas com cautela, pois
há diferenças significativas entre setores, empresas e, mesmo, em
termos de linhas de produção dentro de cada empresa.
As mudanças nas estratégias comercial, industrial,
financeira e de investimento das empresas transnacionais foram
centradas, de um modo geral, na expansão das exportações,
racionalização de custos, redução do pessoal ocupado, exercício
do poder de mercado, incremento dos lucros financeiros e dos
fluxos de saída de investimento externo direto.
3
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
A estratégia de comércio exterior das empresas
transnacionais no Brasil mudou significativamente ao longo das
últimas duas décadas. Durante os últimos vinte anos, as empresas
transnacionais foram induzidas a ter um desempenho comercial mais
favorável para o país, exportanto mais e importando menos. Esta
política ficou mais evidente após o primeiro choque do petróleo.
Os governos militares foram pródigos na concessão de estímulos à
exportação, principalmente subsídios e incentivos fiscais, ao
mesmo tempo em que aumentavam as barreiras de acesso ao mercado
brasileiro, em particular com utilização de medidas não-
tarifárias. Durante a última década, contudo, a crise econômica
interna forçou as empresas transnacionais a procurarem o mercado
internacional como canal alternativo para colocação dos seus
produtos. Neste sentido, a recessão tornou-se um importante fator
indutor de estratégias comerciais envolvendo maiores volumes de
exportação. Mais recentemente, as ações destas empresas
envolveram maiores importações, neste caso como resultado da
liberalização comercial iniciada com a reforma tarifária de 1988.
A estratégia financeira das empresas transnacionais também
se modificou ao longo das últimas duas décadas. As empresas
transnacionais reduziram drasticamente seus níveis de
endividamento no Brasil, tanto o externo como o interno. Ademais,
ocorreu uma reestruturação de ativos no sentido de maior
diversificação de investimentos em empresas associadas,
principalmente a partir de 1984. As empresas transnacionais
entraram na "ciranda financeira" e, como conseqüência, se
beneficiaram de elevadíssimas taxas de juros para obter lucros
financeiros que compensaram a queda do lucro operacional. Assim,
a despeito da crise econômica generalizada e em função de
processos de ajustamento que tiveram efeitos perversos (altas
taxas de juros, decorrentes dos processos de ajuste estarem
centrados em políticas monetárias recessivas), as empresas
transnacionais - da mesma forma que os grandes grupos privados
nacionais - mantiveram sua capacidade de acumulação de capital,
principalmente com origem nos lucros financeiros.
4
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
No que diz respeito à estratégia industrial das empresas
transnacionais, não há como negar a ampliação do atraso
tecnológico e organizacional das subsidiárias operando no Brasil.
De fato, a incipiente reestruturação produtiva só parece ser mais
perceptível no período mais recente, principalmente como uma
estratégia reativa ao aprofundamento da crise, iniciado em 1990.
A evidência disponível mostra o baixo nível de difusão de
procedimentos técnicos modernos (e.g., automação industrial) e de
inovações organizacionais (como as relações mais avançadas com os
fornecedores, tipo just-in-time). Entretanto, a aceleração da
crise nos últimos três anos forçou as empresas transnacionais a
realizar um processo de reestruturação industrial. Este processo
passou, inicialmente, pela racionalização de custos, redução da
verticalização, fechamento ou redução do tamanho de plantas e
demissões. Por outro lado, algumas empresas transnacionais estão
abandonando determinadas linhas de produção, substituindo-as por
produtos importados, enquanto outras empresas estão aproveitando
para realizar fusões e aquisições que lhes permitam maior
predominância no mercado interno.
No que se refere aos fluxos líquidos de investimento externo
direto, os dados mostram claramente que as subsidiárias de
empresas transnacionais no Brasil conseguiram, no contexto de
crise econômica, gerar lucros volumosos, remetidos aos países de
origem e que passam a integrar os fluxos financeiros e de
investimento direto estrangeiro "globalizados". Apesar da
capacidade de defender a rentabilidade e de exportar em face da
estagnação do mercado interno, nos últimos três anos o
agravamento da crise parece ter induzido um recuo gradual das
subsidiárias no mercado brasileiro.
No caso particular do Brasil, há dois fatores que são
fundamentais para explicar a reação estratégica das empresas
transnacionais no país, assim como a competitividade
internacional da economia brasileira. Estes determinantes
estruturais são o grau de permissividade do mercado interno e a
5
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
política de estabilização macroeconômica adotada. A
permissividade do mercado interno pode ser entendido na dupla
ausência de mecanismos de seletividade em relação aos
investimentos estrangeiros e de compromissos de desempenho,
incluídos aí os de uma política de concorrência.
Não resta dúvida, de que existem outros determinantes
estruturais importantes, seja do processo de internacionalização
da produção, suas formas (inclusive, a presença de empresas
transnacionais), extensão e profundidade, seja do grau de
competitividade internacional do país. Entretanto, um mercado
interno particularmente permissivo propicia um comportamento
inercial, que se torna particularmente importante quando inclui
grandes empresas que teriam a possibilidade de atuar como agentes
de modernização.
No caso brasileiro, a capacidade de realização de lucros
extraordinários, associada à manipulação de mark-up, práticas
comerciais restritivas e diversas formas de exercício do poder
econômico, que permanecem proliferando, tendem a induzir a
diversas estratégias que, embora inadequadas na perspectiva da
economia brasileira, podem ser perfeitamente racionais para a
empresa. Neste sentido, a não-introdução de inovações
tecnológicas e organizacionais ou a incipiente reestruturação de
empresas transnacionais são, na realidade, um comportamento ou
uma conduta (micro) "ótima". A inexistência de forças
motivacionais importantes, em particular pressões concorrenciais,
faz com que inovações, em geral, não sejam introduzidas mesmo
quando seja ótimo (macro) fazê-lo.
Na realidade, apelando para um conhecido conceito econômico,
a economia brasileira parece contaminada por ineficiências-X.
Isto é decorrência de um certo relaxamento do comportamento
eficiente, por parte tanto de grandes empresas nacionais privadas
como de subsidiárias de empresas transnacionais, implicando o
surgimento de um padrão de comportamento inercial no que diz
respeito a produtividade e competitividade. Assim, a reduzida
6
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
contestabilidade do mercado brasileiro e a inexistência de um
regime regulador eficaz geram uma organização industrial
altamente permissiva e um comportamento inercial, envolvendo
ineficiências e comprometendo a competitividade internacional da
indústria brasileira.
As diferentes políticas de estabilização, que priorizam
taxas de juros elevadas, também são determinantes fundamentais de
uma estratégia de ajuste ou de acomodação por parte das grandes
empresas - nacionais e transnacionais. A política de elevadas
taxas de juros reais, principalmente no contexto da "ciranda
financeira", tem funcionado como uma "válvula de escape" para a
realização do capital e geração de lucros.
De um modo geral, as empresas transnacionais, como as
grandes empresas nacionais, parecem ter optado por estratégias
defensivas, nos planos financeiro, produtivo, comercial,
tecnológico e organizacional. As estratégias defensivas ou
reativas seguiram a linha de menor resistência, e têm envolvido,
numa perspectiva de longo prazo, a redução da competitividade
internacional.
O caminho na direção de um sistema economicamente eficiente,
com maior competitividade internacional, envolve tanto um
ambiente favorável para os investimentos (no caso do Brasil,
basicamente a estabilidade macroeconômica e o crescimento do
mercado interno), como um conjunto de políticas de regulação
(restringindo práticas de negócios restritivas) e de desempenho
(emprego, qualidade, preços, tecnologia, etc.). Este argumento é
particularmente importante no caso de empresas transnacionais
atuando no país. Se, por um lado, é verdadeiro que estas empresas
têm acesso privilegiado s inovaıes , em decorrência dos vínculos
com as matrizes e da sua posição de liderança internacional, por
outro é ainda mais verdadeiro que as empresas transnacionais
predominam em estruturas de mercado concentradas e com baixa
contestabilidade.
7
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Deve-se notar, ainda, que a análise desenvolvida neste
estudo, e que acompanha a literatura sobre o tema, enfocou como
agente principal a grande empresa transnacional. Ocorre que há no
Brasil pelo menos 3000 pequenas e médias empresas com capital
estrangeiro que podem desempenhar um papel (mesmo que
coadjuvante) nos padrões de competitividade internacional do
país. Ainda que os efeitos sobre o balanço de pagamentos de
pequenas e médias empresas transnacionais não sejam muito
expressivos, a evidência disponível indica que estas empresas têm
um desempenho tecnológico e uma inserção na economia brasileira
que tendem a ser favoráveis do ponto de vista da transferência e
irradiação efetiva de efeitos positivos (spill-overs).
Daí cabe a definição de políticas governamentais
especificamente orientadas para pequenas e médias empresas
transnacionais, que sofrem o impacto de transformações globais e
funcionam também como agentes de transmissão de oportunidades (e
restrições) no que se refere à competitividade internacional do
país. Dentre estas políticas cabe mencionar a montagem de um
programa de assistência técnica e financeira, com o objetivo
explícito de fortalecer a capacidade do país de atrair os fluxos
de investimento externo e de tecnologia tendo origem nas pequenas
e médias empresas transnacionais.
Este programa de assistência técnica e financeira pode
incluir atividades em três áreas: serviço consultivo e
informativo, programas de treinamento e linhas de financiamento.
O serviço consultivo e informativo beneficiaria tanto as empresas
transnacionais que são investidores potenciais, como os
empresários brasileiros. Organizações empresariais e o sistema
SEBRAE também obteriam informações e serviços. Os programas de
treinamento seriam orientados para empresários, gerentes e
funcionários de governos estaduais e municipais. O objetivo seria
uma melhor capacitaªo no que diz respeito à legislação nacional,
características das empresas transnacionais, e capacidade de
negociação. As linhas de financiamento seriam orientadas para o
pequeno e médio empresário nacional interessado em diferentes
8
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
formas de associação com pequenas e médias empresas
transnacionais. Estas linhas de crédito poderiam incorporar um
sistema de condicionalidades diretamente relacionado à questão da
produtividade e competitividade.
No que se refere às empresas tipicamente transnacionais
(empresas de grande porte), a Nota Técnica mostra que recentes
transformações globais criam tanto restrições como oportunidades,
que podem ter implicações de política econômica. As
transformações globais destacadas são: aceleração do progresso
técnico, novas tecnologias genéricas, revolução na tecnologia da
informação, maior flexibilidade produtiva e organizacional,
difusão de relações contratuais cooperativas e de longo prazo,
integração vertical da produção à escala mundial, alianças
estratégicas, processo de concentração e centralização do capital
em nível mundial, internacionalização das atividades de P&D,
minimização do conteúdo energético ou de materiais e surgimento
de novos materiais.
A questão central não é criar mecanismos que induzam a
internalização (ou aceleração da internalização destas
transformações) no país, mas identificar que políticas devem ser
implementadas no sentido de maximizar os benefícios do "mapa de
oportunidades" e como minimizar os custos relativos às
restrições.
Pode-se argumentar que a tendência recente - observada, de
fato, desde o final dos anos 70 - de liberalização da
regulamentação de empresas transnacionais em países em
desenvolvimento reduz o grau de manobra do governo brasileiro
frente às empresas transnacionais atuando no país. Contudo, a
evidência disponível indica que este tipo de "competição
regulatória", incluindo incentivos fiscais, tem um efeito modesto
ou, mesmo, desprezível como determinante dos fluxos de
investimento externo direto (em conformidade com a Nota Técnica
"Oportunidades Abertas para o Brasil Face aos Fluxos Globais de
Investimento de Risco e de Capitais Financeiros nos Anos 90", do
9
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Estudo da Competitividade da Indœstria Brasileira). Neste
sentido, os determinantes fundamentais, em termos de fatores
locacionais, têm sido a estabilidade política, clima favorável e
crescimento e tamanho do mercado interno.
Neste ponto, cabe mencionar que um fato recente - a
revitalização do mecanismo de integração regional, através da
criação do Mercosul - pode se constituir numa via complementar de
reestruturação para as empresas transnacionais atuando no país.
Neste sentido, os ganhos de escala proporcionados por um mercado
mais amplo, assim como a maior concorrência associada à
progressiva liberalização do comércio intra-regional, são fatores
que podem ser importantes para operações de empresas individuais,
tanto transnacionais como nacionais, e conseqüentemente ter um
efeito positivo sobre a competitividade internacional.
Por outro lado, há também um certo ceticismo com relação à
implementação de políticas de regulação e de concorrência no
Brasil no curto prazo. No caso específico do Brasil, a
efetividade da implementação de medidas antitruste e de controle
de exercício do poder econômico depende de condições políticas e
operacionais objetivas que talvez ainda não estejam presentes.
Outrossim, há uma dificuldade maior na definição de
políticas específicas na medida em que "oportunidades"
correspondem restrições que não são passíveis de serem
corrigidas. Para ilustrar, a integração vertical da produção à
escala mundial, com a fragmentação do processo de produção,
envolve oportunidades em termos de aumento de produtividade e
competitividade - via especialização. Por outro lado, a
integração vertical internacional - estimulada pela criação de
zonas de processamento de exportações - gera problemas, como, por
exemplo, a vulnerabilidade com relação à demanda externa e o
aprofundamento da "lógica fordista". Neste e em outros casos
semelhantes, é bem provável que se possa "capturar a
oportunidade", mas tenha que se conviver com a "restrição".
10
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
É bem possível também que a "captura de oportunidades"
envolva não somente um conjunto específico de políticas
econômicas, mas também uma mudança estrutural-sistêmica de ordem
não-econômica. Tomemos o exemplo da transformação global
associada ao modelo "toyotista" de difusão de relações
contratuais estáveis e de longo prazo entre agentes. Neste caso,
como estimular a internalização deste modelo ou fenômeno na
economia brasileira? A resposta está longe de ser trivial quanto
consideramos o ambiente inflacionário que dificulta relações
contratuais de longo prazo, a resistência empresarial à
participação de organizações representativas de trabalhadores no
processo de introdução de inovações e a frágil institucionalidade
reguladora do cumprimento de contratos.
Dificilmente pode-se escapar do argumento de que políticas
industriais, tecnológicas, creditícias, etc., orientadas para
estimular a competitividade internacional do país só surtirão
efeito se acompanhadas de políticas de concorrência que envolvam
redução significativa da permissividade do mercado interno (maior
rivalidade na concorrência e maior exigência de qualidade).
Do ponto de vista de operacionalização de políticas
setoriais, seletivas e temporalmente determinadas, o instrumento
mais adequado parece ser o de Câmaras Setoriais. Embora a
experiência brasileira recente não tenha sido particularmente
positiva (o combate à inflação tornou-se o elemento predominante
de negociação), este nos parece ser um instrumento adequado para
tratar, numa perspectiva de longo prazo, o problema da
competitividade internacional do país, inclusive via introdução
de inovações tecnológicas e organizacionais.
É fundamental também uma mudança radical nas políticas
macroeconômicas tradicionalmente baseadas em juros elevados. Os
juros elevados, mesmo que recomendados por diversas teorias de
combate à inflação, têm sido mantidos em patamares exagerados e
por longos períodos, o que em parte se deve à dificuldade de um
ajuste fiscal mais amplo e duradouro, desviando aplicações para o
11
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
mercado financeiro, gerando o estreitamento do mercado interno e
desarticulando os projetos de investimento (inclusive os de
natureza tecnológica e organizacional). Outrossim, os baixos
salários pagos na indústria brasileira e a situação recessiva
predominante há mais de uma década têm desestimulado a introdução
de inovações tecnológicas e organizacionais no país.
12
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3. PROPOSI˙ES
Os fluxos recentes de investimento direto estrangeiro
estiveram crescentemente concentrados nos principais países da
OCDE e em alguns outros países cuja industrialização avançou ao
ponto de incluir parcelas importantes dos setores de atividade
econômica emergentes ou renovados pelas novas tecnologias. Estes
fluxos dependeram muito mais de condições concretas dessas
economias - dinamismo, infraestrutura adequada, capacidade de
resposta dos sistemas científicos, tecnológicos e de recursos
humanos - do que do oferecimento de vantagens fiscais,
regulatórias, ou estímulos específicos. Este oferecimento, em que
concorrem aliás muitos países, não supera nem compensa as
desvantagens associadas a um ambiente econômico pouco
desenvolvido e portanto incapaz de dar respostas às exigências
crescentes das empresas em muitos dos novos setores de atividade
econômica.
O investimento direto estrangeiro, como mostrou a Nota
Técnica "Oportunidades Abertas para o Brasil Face aos Fluxos
Globais de Investimento de Risco e de Capitais Financeiros nos
Anos 90", do Estudo da Competitividade da Indœstria Brasileira,
nunca foi um instrumento decisivo para o financiamento da
economia brasileira, mas pode ter uma contribuição específica
para o seu desenvolvimento e modernização. Muitas das empresas de
capital estrangeiro que atuam no Brasil são grandes empresas e
frequentemente ocupam posições destacadas nos principais
oligopólios internacionais. Por isso, têm condições de promover o
desenvolvimento e a modernização dos setores de atividade
econômica em que atuam, assim como de elevar, através de
exigências diretas e outros efeitos de irradiação, o nível das
atividades adjacentes e da economia em geral.
A comparação entre os anos 70 e 80 mostra que as grandes
empresas, nacionais ou estrangeiras, são capazes de adequar-se às
características predominantes do ambiente geral em que estão
13
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
inseridas e dele beneficiar-se. Uma circunstância muito
importante que afeta este desempenho das grandes empresas, sejam
elas nacionais ou estrangeiras, é o ambiente macroeconômico. Em
períodos de crescimento rápido e sustentado, elas são capazes de
liderar esse processo. Uma diferença importante entre as grandes
empresas estrangeiras e nacionais é a sua capacidade tecnológica
e financeira. Exatamente por serem maiores e terem uma posição de
liderança destacada em outros mercados, são capazes de responder
a diretrizes específicas da política econômica, como por exemplo
a de buscarem elevar as suas exportações e se tornarem
superavitárias em termos de comércio exterior, fato que, aliás, é
perfeitamente compatível com as suas estratégias empresariais, de
complementariedade dos mercados.
Da mesma forma que as empresas de capital estrangeiro podem
atuar como agentes de modernização do setores de atividade
econômica em que atuam e irradiar esses efeitos sobre outras
atividades, especialmente em períodos de crescimento, em períodos
de instabilidade e recessão prolongada a sua atuação pode dar-se
em outra direção. Concretamente, sendo grandes empresas, líderes
em seus setores de atividade econômica e com grande capacidade
financeira (própria das filiais ou advinda dos seus vínculos com
as matrizes e seus respectivos sistemas financeiros), elas têm
poder de mercado para adotar estratégias empresariais defensivas,
perfeitamente consistentes com os seus objetivos, mas que podem
ter efeitos indesejáveis para o conjunto da economia. No período
recente, em que a economia brasileira vem atravessando uma fase
de grande instabilidade macroeconômica e ausência de dinamismo,
as grandes empresas adotaram estratégias - de investimento,
industrial e tecnológica, comercial e financeira - que lhes
permitiram conviver com a crise.
Embora estas estratégias tenham variado de setor a setor,
incluíram com muita frequência um redirecionamento dos seus
investimentos da órbita produtiva para a financeira, com
desestímulos para os esforços de modernização. Adicionalmente, as
empresas de capital estrangeiro reduziram a entrada de recursos
14
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
novos (investimentos) e aumentaram as remessas ao exterior. Em
alguns casos, mais extremados mas pouco freqüentes, empresas
estrangeiras abandonaram - total ou parcialmente - suas posições
no Brasil.
O reconhecimento de que as empresas de capital estrangeiro
que atuam no país (assim como muitas outras que estão hoje em
processo de internacionalização e globalização) levam em conta o
ambiente quando definem a sua estratégia de inserção
(especialmente em termos de dinamismo) torna a recuperação da
estabilidade macroeconômica e do dinamismo interno elementos
decisivos para a retomada dos investimentos estrangeiros e do
papel modernizador que em geral podem desempenhar. Como foi
assinalado em outra Nota Técnica deste projeto, o investimento
estrangeiro depende menos do oferecimento de vantagens
específicas (regulatórias, fiscais), das quais aliás existe
internacionalmente abundante oferta, do que de um ambiente
econômico efetivamente favorável, o que pode ser traduzido,
sinteticamente, por um mercado amplo e dinâmico, mas ao mesmo
tempo dotado de elevada e crescente exigência.
As empresas de capital estrangeiro têm efetivas
possibilidades de tornar-se veículo de modernização da economia
brasileira e de promoção de sua competitividade internacional. No
entanto, esta capacidade das empresas estrangeiras de promoverem
a modernização da economia brasileira terá muito mais
possibilidades de verificar-se na presença de outras
circunstâncias.
Internacionalmente, as grandes empresas que estão em
processo de expansão e globalização têm procurado redefinir a sua
inserção em cada um dos mercados nacionais e regionais. Além do
dinamismo interno de cada economia, a inserção específica em cada
economia depende também de sua capacidade de oferecer condições
adequadas aos esforços das empresas (externalidades). De fato, um
trabalho recente da instituição que mais se notabilizou no estudo
15
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
das tendências internacionais de investimento direto argumenta
que:
"a natureza crescentemente livre ["footloose"] da
produção internacional e das atividades de inovação
provavelmente reforçará os padrões de cumulatividade
["cumulative causation"] dentro dos países. Aqueles
países que estão crescendo mais rapidamente,
aprimorando ["upgrading"] as suas estruturas
industriais e dedicando mais recursos para o
desenvolvimento ["encouragement"] da capacidade
tecnológica interna ["indigenous"] (por exemplo, por
meio de uma estratégia industrial bem formulada e uma
política educacional projetada para esta estratégia)
terão mais possibilidades de atrair investimento de
multinacionais em atividades intensivas e de se
benificiarem da disseminação de efeitos para fora das
filiais." (Dunning & Cantwell, citado em OCDE,
1992:252)
Embora a atração de investimento direto estrangeiro seja uma
questão muito importante, mais importante ainda é a atração de
investimentos estrangeiros que sejam capazes de efetivamente
promover a modernização da economia brasileira e da sua estrutura
industrial. Esta atração depende, além da estabilidade
macroeconômica já assinalada, das condições da estrutura
produtiva, tais como o grau de desenvolvimento por ela alcançado,
a capacidade científica e tecnológica existente, a existência de
mão-de-obra qualificada, mercados amplos, dinâmicos e capazes de
exigir qualidade crescente dos produtos.
Para isso, é necessário que a política econômica e
industrial incorpore as seguintes diretrizes:
- opção decidida pela industrialização, pela constituição e
desenvolvimento de uma base produtiva interna, que não se
confunde com as políticas de mera substituição de importações com
elevada proteção;
16
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
- aumentar o grau de contestabilidade do mercado doméstico,
de modo a reforçar a rivalidade concorrencial dentro dos
oligopólios;
- reforçar, através da política de defesa da concorrência, o
controle do poder econômico das grandes empresas, especialmente
nas atividades muito concentradas (em que em diversos casos
predominam grandes empresas estrangeiras);
- aumentar a exigência de qualidade e de conformidade com
normas técnicas no mercado local.
QUADRO-RESUMO
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
AÇÕES/DIRETRIZES DE POLÍTICA AGENTE/ATOR
EXEC. LEG. JUD. EMP. TRAB. ONGs
ACAD.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
1. Defesa da concorrência: Reforçar o controle
do poder econômico nas atividades muito
concentradas onde predominam grandes empre-
sas estrangeiras X X
2. Política industrial e tecnológica:
- estabelecer "requisitos de desempenho"
(investimento, exportações, produtivi-
dade, atualização tecnológico, P&D,
preços, etc.) para as filiais estran-
geiras nas negociações das câmaras se-
toriais X X X
- aumentar as exigéncias de qualidade
e de conformidade com normas técni-
cas X X X
3. Promover a articulação de empresas na-
cionais com empresas estrangeiras de
menor porte X
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
Legenda: EXEC. - Executivo
LEG. - Legislativo
JUD. - Judiciário
EMP. - Empresas e Entidades Empresariais
TRAB. - Trabalhadores e Sindicatos
ONGs - Organizações Não-Governamentais
ACAD. - Academia
Nota: Em caso de coluna em branco, leia-se "sem recomendação".
17
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
18
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
4. INDICADORES
Indicadores referentes ao desempenho comparado das empresas
multinacionais nos diversos países (matriz, filiais brasileiras e
outras filiais):
- faturamento por empregado
- margem de lucro
- exportações e importações em relação ao faturamento
Indicadores referentes à pesquisa e desenvolvimento na
matriz, nas filiais brasileiras e em outras filiais:
- gastos de P&D
- pessoal alocado nas atividades
- produtos e processos desenvolvidos
Indicadores referentes ao desempenho comercial e financeiro
externo das filiais brasileiras:
- exportações, importações
- remessas de lucro
- captações de recursos externos
Indicadores de integração de atividades das filiais
brasileiras:
- participação em projetos conjuntos
- principais formas de comunicação entre as unidades do
grupo no Brasil e no exterior
- número de pessoas originárias da matriz na filial e da
filial na matriz
- composição da diretoria
19
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
INTRODU˙ˆO
O objetivo central deste estudo é fazer uma avaliação do
impacto das transformações globais recentes sobre a estratégia de
subsidiárias de empresas transnacionais (empresas transnacionais)
atuando no Brasil e, conseqüentemente, os efeitos dessas mudanças
estratégicas sobre a competitividade da indústria brasileira.
Mais especificamente, procura-se analisar de que forma e em que
medida a reestruturação global das empresas transnacionais é um
condicionante internacional (criando oportunidades e restrições)
da competitividade da indústria brasileira.
O estudo está dividido em quatro seções. A primeira seção,
que se segue a esta introdução, procura explicitar os conceitos-
chave que são usados ao longo de todo o texto, a saber,
competitividade, internacionalizaªo e globalizaªo . Isto é
importante porque, apesar de serem conceitos amplamente
utilizados, não existe consenso na literatura, o que resulta
inter alia em certa ausência de rigor na discussão das questões.
A segunda seção refere-se a tendências internacionais e está
dividida em dois ítens. O primeiro trata das principais
transformações globais nos planos tecnológico e organizacional
1
.
Aqui é feita uma síntese analítica dos principais elementos da
reestruturação global, com ênfase no novo paradigma tecnológico,
aceleração do progresso técnico, revolução na microeletrônica e
predomínio da tecnologia da informação. A mesma concepção de
trabalho é usada na análise das novas formas de organização
interna e externa da produção, com ênfase na flexibilidade,
qualidade e cooperação, e relações contratuais. O segundo item
examina a seguinte questão: De que forma as empresas
transnacionais têm reagido a estas transformações? A ênfase é
colocada no duplo papel exercido pelas empresas transnacionais,
tanto o de principal agente privado de gerador destas
transformações, como a reação estratégica destas empresas frente
à reestruturação global, principalmente em termos das estratégias
20
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
de concorrência (via, e.g., aquisições, fusões, novos padrões de
especialização internacional dentro da empresa transnacional via
redes globais), formas de organização da produção (e.g.,
recentragem, relações com fornecedores, e redes) e processos de
desenvolvimento e acesso a tecnologia (internacionalização de
P&D, alianças, acordos, novas relações contratuais, participação
em mega-projetos multinacionais ou regionais). Cabe enfatizar
que, no item 1 da seção 2, a síntese analítica é orientada no
sentido de identificar restrições e oportunidades criadas para os
países em desenvolvimento como o Brasil - com ênfase na
produtividade e competitividade - pela reestruturação global e
pela reação estratégica das empresas transnacionais.
A seção 3 discute as estratégias das subsidiárias de
empresas transnacionais atuando no Brasil. No caso particular da
economia brasileira, existem fatores locacionais específicos que
têm influência determinante no que diz respeito ao comportamento
de empresas transnacionais no país. Neste sentido, é fundamental
fazer a análise confrontando a influência dos fatores locacionais
específicos com as transformações globais. Como fatores
locacionais específicos de grande importância no caso brasileiro
pode-se mencionar: instabilidade macroeconômica, políticas de
estabilização e permissividade e tamanho do mercado interno.
Estes fatores criam tanto restrições como oportunidades nos
processos de ajuste das empresas e de aumento de produtividade e
competitividade. No caso específico da economia brasileira estes
fatores têm peso relativo significativo quando comparados com os
fatores externos (sejam específicos à propriedade, sejam fatores
locacionais "externos"). Outrossim, é importante fazer a análise
tomando-se interações ou clivagens relevantes, tais como:
interesses das empresas e da economia brasileira; diferenças
entre áreas ou campo estratégicos de atuação (produção,
investimento, comércio, tecnologia, finanças); e o corte
tradicional entre o geral e o setorial.
A·seção 4 apresenta, na primeira parte, um quadro de
restrições e oportunidades criadas pelas transformações globais e
21
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
pelas reações estratégicas das empresas transnacionais, levando
em conta a clivagem entre interesses das subsidiárias atuando no
país e os interesses do conjunto da economia brasileira. Na
segunda parte, discute-se as implicações de política econômica,
tendo como referência a questão do aumento da produtividade e
competitividade. O elemento central da análise é a vinculação
entre políticas de investimento, comerciais, tecnológicas e de
regulação. O objetivo aqui não é apresentar propostas concretas e
específicas, mas unicamente apresentar os elementos balizadores
de uma política com relação às empresas transnacionais no Brasil,
tendo em vista as transformações globais e a competitividade da
economia brasileira.
22
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
1. INTERNACIONALIZA˙ªO, GLOBALIZA˙ªO E COMPETITIVIDADE: ASPECTOS
CONCEITUAIS
O processo de internacionalizaªo da produção ocorre através
de mecanismos distintos, às vezes substitutos, às vezes
complementares - comércio de bens e serviços, investimento
externo direto, comércio de tecnologia e relações contratuais
diversas -, que ampliam as oportunidades de lucro e acumulação de
capital. No passado recente houve aceleração deste processo, cuja
origem foi a grave crise econômica que atingiu o conjunto de
economias capitalistas avançadas durante os anos 70. Na·última
década, o avanço do processo de internacionalização da produção é
explicado inter alia pelas transformações globais nos planos
tecnológico, organizacional e financeiro
2
.
O avanço deste processo torna-se o determinante fundamental
de um outro fenômeno importante: a intensificação da concorrência
à escala mundial, fenômeno conhecido como globalizaªo
3
. Assim, a
maior contestabilidade do mercado mundial tem levado as grandes
firmas transnacionais a desenvolverem estratégias competitivas
globais através de diferentes mecanismos, como, por exemplo,
fusões e aquisições internacionais, expansão dos esquemas de
cooperação entre firmas e desenvolvimento de redes e estruturas
integradas à escala mundial.
Não há como desconhecer a dificuldade de se definir o
próprio conceito de competitividade, que pode incorporar sentidos
mais restritos ou mais amplos
4
. Neste trabalho, "competitividade
internacional da economia brasileira" refere-se à capacidade de
competição da indústria brasileira, tanto no mercado
internacional como no mercado interno
5
. Competitividade
internacional envolve, assim, disputa em dois campos - no front
externo e no front interno. Competitividade é, simultaneamente, a
capacidade (das firmas atuando na indústria brasileira) de
superar os rivais (firmas de outros países) na disputa pelo
23
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
mercado mundial e pelo mercado interno. Neste sentido, o locus da
rivalidade da disputa é o comércio mundial.
De forma simplificada, competitividade no front externo pode
ser entendida (e medida) como a participação do país no mercado
internacional. No que diz respeito ao front interno, a
competitividade pode ser mensurada em termos (do inverso) da
participação das importações no consumo aparente. Naturalmente,
estes indicadores precisam ser "normalizados", levando-se em
consideração um conjunto expressivo de variáveis (e.g., tamanho
do país, disponibilidade de fatores de produção, políticas
econômicas, nível e estratégia de desenvolvimento econômico,
etc.). Na realidade, a mensuração de competitividade envolve
problemas insanáveis, que existem, inclusive, no caso de
conceitos econômicos menos controversos, como, por exemplo,
produtividade
6
.
Outrossim, quando a análise da competitividade refere-se a
subsidiárias de empresas transnacionais surge um problema
adicional, na medida em que estas empresas são de propriedade e,
principalmente, controladas por não-residentes
7
. Quando se está
analisando a competitividade, por exemplo, da indústria
automobilística, farmacêutica, de fumo e de pneumáticos no Brasil
está se discutindo, de fato, a competitividade de unidades
industriais de empresas americanas e européias localizadas no
país. Na realidade, a competitividade destas empresas é
resultante da interação de variáveis específicas à propriedade
(de responsabilidade da subsidiária e, principalmente, da matriz)
e de variáveis locacionais específicas (aquelas próprias ao
espao onde estão instaladas)
8
. Este complicador é
particularmente evidente no caso de economias com elevado grau de
internacionalização da sua produção industrial
9
. Neste sentido, o
Brasil é um caso conspícuo. Entretanto, considera-se, na prática,
que tanto as empresas nacionais como as subsidiárias de empresas
transnacionais são os "agentes" da competitividade da indústria
brasileira.
24
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
A relevância do tema da competitividade, no caso de uma
economia altamente internacionalizada, e no contexto de rápidas
transformações globais, deriva de três fatos importantes, entre
outros. O primeiro é a profundidade das transformações globais
recentes, principalmente no que diz respeito a mudanças
tecnológicas e organizacionais. Estas mudanças têm sido tão
profundas que analistas têm argumentado em termos de uma
"Terceira Revolução Industrial" e de "ruptura de paradigma"
10
. O
segundo fato é o papel fundamental desempenhado pelas empresas
transnacionais nestas transformações globais, seja pelo fato de
serem elas o principal ator privado de realização das mudanças,
seja pela reação estratégica que têm face à reestruturação
global. O terceiro fato é a presença marcante e o papel
estratégico de empresas transnacionais na indústria brasileira
11
:
um terço da produção, um quarto do emprego e do capital, dois
quintos da exportação de manufaturados e presença predominante
nos segmentos tecnologicamente mais densos. De fato, a indústria
brasileira apresenta um dos graus mais elevados de
internacionalização da produção. Assim, pode-se afirmar que o
Brasil apresenta, sob a ótica produtiva-real, uma das indústrias
mais abertas do mundo
12
.
Para concluir esta seção, cabe uma breve consideração sobre
um conceito específico, que tem importância fundamental na
discussão do tema da competitividade, ao longo deste texto. Este
conceito é o de permissividade do mercado. A permissividade do
mercado é tão maior quanto mais reduzida for a contestabilidade
dos diversos mercados, mais frágil ou inapropriada a
institucionalidade que rege as relações econômicas, maior a
difusão e intensidade de práticas comerciais restritivas, maior o
escopo para o exercício do poder econômico, e mais elevadas as
possibilidades de realização de lucros anormais.
25
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
2. TEND˚NCIAS INTERNACIONAIS
2.1. Transformaıes Globais: Inovaıes Tecnolgicas e
Organizacionais
Nas duas·últimas décadas, ocorreram importantes mudanças
tecnológicas e organizacionais nos pólos de expansão do
capitalismo, que se refletiram nas relações econômicas
internacionais, e que envolveram significativas transformações na
estratégia de atuação das empresas transnacionais. Quais são
estas principais mudanças tecnológicas e organizacionais que
ocorreram nos últimos anos?
O fato marcante das últimas duas décadas tem sido a
aceleração do progresso tecnológico, com o desenvolvimento e
difusão de novas tecnologias, particularmente aquelas associadas
ao complexo eletrônico e à tecnologia da informação
13
. Este
progresso tem se refletido em maior eficiência, introdução de
novos produtos e serviços, novos processos e criação de novas
oportunidades de mercado. Na realidade, o progresso foi de tal
significância que se fala habitualmente em novo paradigma
técnico-econômico, que incorpora novos processos de produção,
novos produtos e novos "conceitos-guia" em termos de organização
da produção
14
.
O avanço do progresso técnico tem sido tão extraordinário
que parece envolver uma ruptura de paradigma técnico-econômico.
Neste sentido, pode-se argumentar em termos de "destruição
criadora", com a substituição de antigas por novas "combinações",
seja em termos de produtos e processos, seja em termos de métodos
de organização da produção. Como resultado, o sistema produtivo é
afetado com mudanças drásticas, que inter alia têm levado à
reestruturação produtiva em nível mundial e alterações dos
padrões de concorrência e dos níveis de competitividade.
26
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
O surgimento de novas tecnologias genéricas tem levado a
mudanças que afetam praticamente toda a estrutura industrial.
Umas das principais conseqüências é o aprofundamento dos linkages
interindustriais, de tal forma que se torna cada vez mais difícil
segmentar o setor industrial, definindo fronteiras entre
diferentes ramos ou indústrias.
A aplicação da tecnologia da informação, através da
utilização dos circuitos integrados, veio permitir a difusão de
tecnologias, como a concepção auxiliada por computador (computer-
aided design - CAD), máquinas-ferramenta de controle numérico por
computador, robôs industriais, sistemas de transferência
automatizados e informatização do monitoramento da produção e do
controle de qualidade. A principal característica do novo
paradigma é, assim, o aumento extraordinário do "conteúdo de
informação" dos produtos, que decorre, principalmente, da redução
espetacular de preços dos componentes eletrônicos e do não menos
extraordinário aumento da velocidade e capacidade de
processamento e transmissão de informações. Neste sentido, há um
evidente contraste com os paradigmas anteriores, que se basearam
seja no conteúdo energético (petróleo), seja no conteúdo de
materiais (aço, principalmente).
As novas tecnologias têm permitido maior nível de automação
sistêmica, integrando as atividades de concepção, produção,
gerenciamento e comercialização. O sistema flexível de fabricação
é a combinação de máquinas-ferramenta de controle numérico
operadas por computador, com rôbos e com sistemas automáticos de
manuseio e transporte. A maior produtividade associada às novas
tecnologias decorre também da maior integração e flexibilidade
que, por seu turno, derivam das relações entre fornenecedores,
produtores e consumidores. Esta integração significa estreita
articulação entre as atividades de concepção, produção, compras,
transporte e vendas.
O progresso técnico tem se manifestado em novos "conceitos-
guia", tais como: minimizar o tamanho de produtos e o uso dos
27
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
insumos de energia e de materiais e maximizar o conteúdo de
informação e a versatilidade de produtos
15
.
As mudanças tecnológicas vêm acompanhadas de inovações
organizacionais importantes. Argumenta-se que o "investimento em
tecnologia, seja na forma de P&D ou de ativos fixos, tais como
computadores ou equipamentos controlados por computadores, só é
bem-sucedido se for acompanhado pelas mudanças organizacionais
apropriadas. Isto torna-se ainda mais importante com a onda
contemporânea de novas tecnologias, em particular, aquelas
relacionadas à tecnologia da informação"
16
.
Desde os anos 70, o esquema tradicional de organização
"fordista" da produção tem sido substituído gradualmente por uma
forma mais flexível, que tem as empresas japonesas como
pioneiras. O "modelo fordista" vincula-se à produção de grandes
volumes a partir de uma concepção básica do produto, grandes
estoques e uma estrita divisão do trabalho dentro da fábrica. Por
outro lado, o chamado "modelo japonês" ou "modelo toyotista" (uma
referência à empresa transnacional japonesa Toyota, precursora de
importantes inovações organizacionais) implica em menores volumes
de produção, rápidas mudanças nas linhas de produção, que
permitem alterações nas características dos produtos, assim como
baixo nível de estoques e elevado controle de qualidade.
Conseqüentemente, os novos métodos de organização da produção
envolvem flexibilidade e integração, com ciclos de produção mais
curtos e maior capacidade de reação às mudanças de mercado.
Estas mudanças organizacionais têm afetado diversas áreas,
como o gerenciamento de materiais, pessoal e as relações com os
fornecedores. O sistema de controle de estoque (just-in-time)
reduz custos e permite maior controle de qualidade. O
gerenciamento da força de trabalho procura maior descentralização
da tomada de decisão e ampliação da autoridade do trabalhador no
posto de trabalho. A relação com os fornecedores implica na
realização de contratos de mais longo prazo, que permitem um
vínculo mais estreito entre comprador e fornecedor. A empresa
28
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
surge, assim, como um sistema integrado de atividades
(administracão, produção, P&D, comercialização, etc.). Este
sistema torna-se uma rede flexível de produção e distribuição
envolvendo fornecedores e consumidores.
O avanço da tecnologia da informação parece estar também
permitindo o desenvolvimento de estruturas de tomada de decisão
mais ágeis e flexíveis, que combinam maior autonomia local com
coordenação central mais eficaz. Como resultado, têm sido criadas
redes globais de informação intrafirma ou intragrupo econômico.
Outrossim, estas redes globais intra-organização têm permitido o
desenvolvimento de diferentes tipos de relações entre firmas ou
grupos. Em particular, houve expansão das alianças tecnológicas
entre firmas durante a última década, principalmente no segmento
de tecnologia da informação
17
.
Estas transformações globais, sejam de natureza tecnológica
ou organizacional, têm causado uma reestruturação do setor
industrial, com mudanças importantes nos padrões de
competitividade em nível mundial. A globalização - entendida como
o acirramento das rivalidades ou maior contestabilidade do
mercado mundial - é, assim, o resultado desta reestruturação da
estrutura produtiva.
Estes fenômenos não poderiam deixar de ter impacto sobre o
processo de internacionalização da produção, suas distintas
formas e, conseqüentemente, os padrões de localização dos novos
investimentos em escala mundial. Neste sentido, a empresa
transnacional desempenha papel fundamental, não somente por ser o
principal agente responsável pelos fluxos de investimento externo
direto, como também por seu papel de agente fundamental de
realização dos processos de "destruição criadora",
internacionalização da produção e globalização.
2.2. Reaªo EstratØgica das Empresas Transnacionais
29
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
No processo de mudanças tecnológicas e organizacionais, as
empresas transnacionais têm desempenhado um papel central. No que
se refere às mudanças tecnológicas, as empresas transnacionais
controlam o "núcleo duro" do progresso tecnólogico mais recente,
isto é, as indústrias de semicondutores, telecomunicações e
computadores. Dados para meados dos anos 80 mostram que, em
semicondutores, 24 empresas transnacionais responderam por 75% da
produção mundial; nas telecomunicações, 10 empresas
transnacionais eram responsáveis por 70% das vendas; e na
indústria de computadores uma única empresa (IBM) respondia por
50% da produção do setor
18
.
Dentre os fatores que explicam a predominância das empresas
transnacionais neste "núcleo duro" do progresso tecnológico,
pode-se destacar: a elevada complexidade técnica das inovações;
os altos custos do processo de inovação tecnológica; o
encurtamento do ciclo de vida dos produtos; a necessidade de
grande volume de recursos para financiar as atividades de
pesquisa e desenvolvimento tecnológico; e a necessidade de redes
mercadológicas sofisticadas em nível mundial.
A crise econômica dos anos 70 fez com que as empresas
transnacionais passassem a dar maior importância às estratégias
de redução tanto de risco como do horizonte de retorno dos
investimentos
19
. Neste sentido, as empresas transnacionais vêm
ampliando as chamadas "novas formas" de internacionalização da
produção, como alternativa ao fluxo de investimento externo
direto
20
. A mais importante destas formas é a formação de joint-
ventures, onde ocorre a participação (minoritária) do investidor
externo no capital de uma empresa local. Há outras relações
contratuais importantes, que têm dado nova dimensão ao processo
de internacionalização da produção, como os acordos de
licenciamento, franchising, gerenciamento, turn-key e contratos
de risco e de divisão da produção
21
.
Cabe destacar a forma de internacionalização bastante
difundida, principalmente nas indústrias eletrônica e
30
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
automobilística, da subcontratação internacional. A empresa
transnacional arma uma rede internacional (geralmente, no plano
sub-regional) de fornecedores de peças e componentes e empresas
montadoras do produto final. Os países desenvolvidos têm,
inclusive, regulamentação específica para facilitar esta forma de
internacionalização, que é encontrada, por exemplo, no esquema
tarifário dos Estados Unidos. As relações comerciais do gênero
"maquiladoras" (com destaque para o caso da fronteira EUA-
México) e as zonas de processamento de exportações nos países em
desenvolvimento são mecanismos usados para facilitar a
subcontratação internacional.
Na medida em que se introduzem novos bens e serviços e se
ampliam as oportunidades de mercado (antigos e novos), as
empresas voltam-se para uma estratégia de redução de custos, a
partir do aumento da relação capital/trabalho. Este tipo de
conduta reflete, na realidade, os movimentos cíclicos acentuados
(principalmente os ciclos recessivos) da história recente do
capitalismo - tanto na década de 70, como na década de 80 - e
início dos anos 90.
Outrossim, o progresso tecnológico e as mudanças
organizacionais das duas·últimas décadas levaram à aceleração do
processo de centralização e concentração de capital e ao aumento
da concorrência em escala mundial - "globalização"
22
. O aumento
da concorrência em nível mundial tem tido como conseqüência uma
maior orientação estratégica das empresas transnacionais no
sentido de fortalecer suas posições nos mercados de origem. Este
fato vem ocorrendo de forma intensa, tanto na Europa Ocidental
como nos Estados Unidos. A expansão dos investimentos intra-CEE e
o volume extraordinário de recursos obtidos por empresas
transnacionais norte-americanas nos paraísos fiscais,
principalmente nas Antilhas, são o resultado desta estratégia. Na
realidade, observa-se nos últimos anos a revitalização do chamado
fenômeno do "investimento defensivo" na Europa e nos EUA,
principalmente, como resposta à penetração de empresas
transnacionais japonesas. Contudo, a estratégia agora não é
31
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
somente a empresa transnacional (norte-americanaca) investir no
exterior (Europa) para se proteger da concorrência de empresas
transnacionais de outro país ou região (Japão), mas também
investir no próprio país para se defender da concorrência no seu
próprio mercado doméstico de empresas transnacionais com origem
em outros países.
Por outro lado, parece haver uma tendência no sentido da
predominância de estratégias globais (reconhecidas, originalmente
na literatura, como estratégias geocêntricas, em contraposição a
estratégias policêntricas)
23
. Este fenômeno ocorre em detrimento
da estratégia tipicamente multinacional (ou policêntrica -
orientada para um número limitado de mercados-chave ou pólos de
expansão), ou da estratégia tipicamente doméstica (o mercado
nacional predominando na definição da estratégia empresarial,
i.e., o "resto do mundo" como resíduo ou destino de investimentos
marginais). Na realidade, a orientação geocêntrica ou estratégia
global sempre foi observada em grandes grupos econômicos
reconhecidos como tipicamente transnacionais (principalmente,
aqueles cujo "conteúdo externo" das suas operações sempre foi
relativamente alto). Não obstante, a orientação policêntrica
parece cada vez mais dar lugar à orientação geocêntrica das
empresas transnacionais.
As estratégias globais parecem, todavia, estar associadas a
um processo de especialização de plantas e, eventualmente, a uma
segmentação internacional do processo produtivo realizado pelas
empresas transnacionais
24
. Assim, o acirramento da concorrência
em nível mundial - que se agrava nas fases de estagnação - tem
levado à reestruturação de grandes grupos transnacionais. Esta
reestruturação objetiva, antes de tudo, a redução de custos e tem
envolvido um processo de especialização das plantas produtivas
(integração vertical transnacional), assim como a concentração
geográfica da produção em determinados pólos industriais
25
. Há,
assim, um movimento simultâneo de especialização e integração de
plantas (nível regional ou mesmo mundial) e de concentração
geográfica, cujo objetivo é a redução de custos e,
32
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
conseqüentemente, a obtenção de melhores condições de
competitividade.
Ainda no contexto da globalização parece haver um movimento
por parte das empresas transnacionais no sentido de
internacionalização das atividades de P&D
26
. A evidência
apresentada neste sentido não parece muito convincente
27
.
Independentemente de estar havendo ou não uma tendência de
internacionalização de P&D, o fato importante a destacar é a
permanência de características básicas do sistema internacional
de P&D: elevado grau de concentracão dos gastos de P&D nos países
avançados; centralização do controle dessas atividades nesses
países; e manutenção das atividades centrais de P&D nos
laboratórios dos países de origem das empresas transnacionais
28
.
Também cabe destacar, como resultado da reação estratégica
das empresas transnacionais ao fenômeno da globalização e,
conseqüentemente, da necessidade de reestruturação e
racionalização, a onda de importantes fusões, incorporações e
compras que tem ocorrido na ·última década
29
. Naturalmente, a
aceleração do programa de unificação européia e o movimento de
desregulamentação financeira nos EUA (e, conseqüentemente, a
especulação financeira que se seguiu) foram determinantes
importantes desta onda de fusões.
Todavia, pode-se também argumentar que a crescente
concorrência, num contexto de rápido progresso tecnológico, foi
um importante determinante do movimento recente de fusões e
aquisições. Este movimento surge, na realidade, como um mecanismo
apropriado, seja para a reestruturação e racionalização produtiva
dos grandes grupos econômicos frente ao rápido progresso
tecnológico e organizacional, seja para a maior concorrência das
empresas americanas e européias frente à globalização. Neste
sentido, o mecanismo de fusões e aquisições tem como motivação
principal uma reorientação da estratégia concorrencial por parte
das empresas transnacionais. Entretanto, esta estratégia
concorrencial procura não somente a redução de custos via
33
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
reestruturação e racionalização das estruturas de produção e
comercialização, mas também envolve um processo de expansão
transnacional, diversificação, busca de complementaridade e
consolidação das posições de mercado
30
.
A expansão dos acordos de cooperação ou das alianças
estratégicas, principalmente, na área tecnológica, também tem
sido uma característica marcante do período recente
31
. Estes
acordos têm ocorrido tanto nas indústrias intensivas em
tecnologia (e.g., eletrônica, telecomunicações, aeroespacial),
como nas indústrias mais tradicionais
32
.
Desde o final da década de 70 têm se difundido quatro tipos
básicos de acordos de cooperação entre as empresas
transnacionais
33
. O primeiro refere-se ao fornecimento de
serviços, produto final ou produtos intermediários. Aqui, não se
trata de uma simples relação produtor final-fornecedor, mas de um
sistema complexo de fornecimento através de relações contratuais
de longo prazo. O exemplo mais evidente é o sistema de
subcontratação utilizado pelas network firms (empresas redes),
principalmente as japonesas, com base nos princípios de just-in-
time e "qualidade total". A descentralização da oferta de
componentes, através de uma rede de fornecedores, tem como
fundamento um sistema de relações contratuais de natureza
cooperativa e de longo prazo.
O segundo tipo de acordos de cooperação envolve os contratos
de distribuição de bens e serviços. Neste caso, uma empresa
fabrica determinado produto que é distribuído por outra. As
relações contratuais de longo prazo significam a utilização da
rede de distribuição de uma empresa já estabelecida no mercado
por parte de uma empresa nova neste mercado específico.
O terceiro tipo refere-se aos contratos de produção comum,
envolvendo uma nova empresa (joint-venture), a participação de
capital numa das empresas ou a participação cruzada de capital (A
investe em B e B investe em A). Este tipo de acordo significa um
34
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
envolvimento mais profundo entre empresas e a mobilização
conjunta de capital, tecnologia, recursos humanos e capacitação
gerencial, organizacional e mercadológica.
O quarto e·último tipo refere-se aos acordos de cooperação
na área de pesquisa e desenvolvimento tecnológico (P&D). A
pesquisa comum, envolvendo consórcios de empresas, pode ou não
significar a criação de uma nova empresa. Estes acordos também
podem materializar-se como projetos de um programa regional ou
sub-regional de desenvolvimento tecnológico, como é o caso, por
exemplo, dos programas europeus EUREKA e ESPRIT, que contam com
apoio governamental. Na medida em que a empresa transnacional é
o principal agente do progresso tecnológico, estas empresas
tornam-se as principais "partes contratantes" deste processo de
cooperação na área de P&D. Cabe mencionar que, geralmente, os
acordos de cooperação são multifuncionais e envolvem participação
de capital. Assim, acordos de fornecimento são acompanhados de
acordos de distribuição e significam, freqüentemente, a
participação de capital das empresas contratantes. Acordos de
produção e pesquisa comum implicam a criação de uma empresa
comum.
Os fatores determinantes das estratégias de empresas
transnacionais são tanto de natureza econômica como não-
econômica. Cabe destacar aqueles fatores econômicos que são
próprios à empresa - fatores específicos à propriedade - como
trajetórias de expansão, experiências de internacionalização da
produção, tamanho e posse de ativos específicos, sejam
tecnológicos, organizacionais ou mercadológicos. Dentre os outros
determinantes, destacam-se fatores locacionais específicos (e.g.,
tamanho do mercado de origem, potencial tecnológico do país de
origem), fatores técnicos (escala mínima ótima, ganhos de
escala), fatores geográficos (distância e custo de tranporte), a
contestabilidade do mercado mundial (estrutura do mercado e
conduta das empresas rivais) e as políticas econômicas (políticas
comerciais, cambiais, tecnológicas, industriais, etc.). A ênfase
exagerada na variável "tecnologia", encontrada na literatura
35
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
recente sobre internacionalização e competitividade, tende a
negligenciar a interação de um conjunto particularmente complexo
de variáveis. O "imperativo político" também tem, historicamente,
desempenhado um papel fundamental na determinação das estratégias
empresariais e, conseqüentemente, do nível de competitividade
internacional dos países
34
.
36
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3. TRANSFORMA˙ES GLOBAIS, FATORES LOCACIONAIS E REA˙ˆO
ESTRATGICA DAS EMPRESAS TRANSNACIONAIS NO BRASIL
As mudanças tecnológicas e organizacionais, assim como as
reações das empresas transnacionais frente a essas mudanças,
criaram novas restrições e oportunidades, principalmente para
países como o Brasil, que apresentam um grau relativamente
elevado de internacionalização da produção industrial. As
empresas transnacionais controlam cerca de 11% do capital
investido no país. Os dados registrados no Banco Central do
Brasil mostram um estoque acumulado da ordem de US$ 40 bilhões.
Cabe destacar, todavia, que no setor de maior dinamismo - a
indústria de transformação - os dados disponíveis mostram que as
empresas transnacionais controlam 32% da produção, 23% do emprego
e 25% do capital
35
. Em alguns segmentos existe predominância
absoluta de empresas transnacionais, como em borracha, fumo,
farmacêutica e automobilística. Outrossim, os segmentos
industriais com maior dinamismo caracterizam-se por forte
presença de empresas transnacionais, com papel de liderança de
mercado, como em mecânica, material elétrico, plásticos e
química. Esta seção trata das reações estratégicas das empresas
transnacionais operando na indústria brasileira nos ·últimos
anos.
A hipótese central é que, numa economia de porte
continental, que passou por um processo de industrialização
substitutivo de importações, com mercado interno altamente
permissivo e com grande potencial de expansão, a influência de
fatores locacionais específicos é determinante seja das
estratégias, seja do desempenho (inclusive, a competitividade
internacional) das empresas transnacionais atuando no país.
Outrossim, a desestabilização macroeoconômica, assim como as
políticas de ajuste implementadas, têm sido fatores locacionais
ou determinantes específicos fundamentais.
37
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Uma das idéias centrais deste estudo é que, apesar das
significativas transformações globais, a "permissividade" do
mercado brasileiro exerce um papel predominante como um dos
principais fatores determinantes da estratégia empresarial e do
nível de competitividade industrial do país, inclusive dos grupos
transnacionais que aqui operam. Outrossim, a experiência de
instabilidade macroeconômica acentuada da ·última década -
principalemte, as políticas de ajuste centradas em taxas de juros
elevadas - surgiu como uma influência sistêmica igualmente
fundamental, seja para as estratégias empresariais, seja para o
desempenho de competitividade. Nesta seção, a ênfase é colocada
nas estratégias recentes das empresas transnacionais no Brasil,
organizadas em quatro partes: investimentos, finanças, comércio e
indústria e tecnologia.
3.1. EstratØgia de Investimento
36
As empresas transnacionais reduziram significativamente seus
investimentos no Brasil nos dez anos que correspondem ao período
1982-91, isto é, após a eclosão da crise da dívida externa. Os
fatos ficam particularmente evidentes quando a "década perdida" é
confrontada com a década anterior (1971-81). Na realidade, o
fluxo de entrada média anual de investimento externo direto
durante o período 1982-91 correspondeu a 1/3 do fluxo médio
observado no período 1971-81 e, por outro lado, os fluxos de
repatriamento duplicaram (ver Tabela 1, que apresenta dados em
valores constantes de 1990). O fluxo líquido (entradas menos
saídas) na década 1982-91 representou 1/6 do fluxo líquido na
década anterior, isto é, a queda foi de um total de US$ 21.4
bilhões em 1971-81 para US$ 3.3 bilhões em 1982-91. Esta
tendência foi comprovada também pela NT "Oportunidades Abertas
...", em termos globais e em todos os setores.
Houve também aumento significativo das remessas de lucros e
dividendos para o exterior, que duplicam entre as duas décadas em
questão, passando de um total de US$ 8 bilhões para US$ 13.5
bilhões durante a "década perdida". Assim, se do fluxo líquido de
38
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
investimento externo direto (entradas menos saídas) subtrair-se
as remessas, verifica-se que o fluxo médio anual torna-se
negativo, passando de US$ 1.2 bilhões para US$ 1.0 bilhão, isto
é, no período 1971-81 o fluxo total de investimento externo
direto (entrada-repatriamento-remessas) foi positivo de US$ 13.4
bilhões, enquanto na década seguinte este fluxo foi negativo de
US$ 10.2 bilhões. Também esta tendência foi documentada pela NT
"Oportunidades Abertas ...".
TABELA 1
EMPRESAS TRANSNACIONAIS NO BRASIL: MÉDIA ANUAL DOS
FLUXOS DE CAPITAL
(US$ milhões de 1990)
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
FLUXO 1971-1981 1982-1991 1971-1991
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
1. Entrada 2130 702 1450
2. Repatriamento 187 375 277
3. Investimento (1-2) 1943 327 1173
4. Remessas 723 1345 1019
5. Investimento-remessas (3-4) 1219 -1018 154
6. Conversão 63 651 343
7. Investimento-remessas-conversão (5+6) 1281 -367 496
8. Reinvestimento 1017 724 878
9. Investimento líquido (7+8) 2299 357 1374
Memorando:
Coeficiente de remessas [4/(4+8)] 41.6% 65.0% 53.7%
Custo da inserção internacional [4/(4+9)] 23.9% 79.0% 42.6%
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
Fonte: Cálculos de Reinaldo Gonçalves, com base em dados do Banco Central do Brasil, deflacionados
pelos índice de preços implícito do PNB dos EUA.
Pode-se também levar em consideração a entrada de recursos
através da conversão da dívida externa, que aumentou
principalmente a partir de 1988, mas que se reduziu logo em
seguida. O valor da conversão de dívida em investimento teve
aumento médio anual de mais de dez vezes, passando de US$ 63
milhões para US$ 651 milhões na última década. Ocorre que mesmo
considerando a conversão (entrada - repatriamento - remessas +
conversão) o quadro não se altera: houve redução de um fluxo
39
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
médio anual positivo de US$ 1.3 bilhões para um fluxo negativo de
US$ 367 milhões no período 1982-91.
Naturalmente, as empresas transnacionais não remeteram todo
o lucro obtido no país, visto que uma fonte importante de
financiamento das suas atividades no Brasil é o reinvestimento de
lucros obtidos no país. A crise econômica significou, como é de
se esperar, queda dos reinvestimentos, na medida em que as
oportunidades de lucro diminuiram. Houve queda de 30% do fluxo
médio anual de reinvestimentos por parte das empresas
transnacionais quando as duas décadas são comparadas (os
reinvestimentos caem de um pouco mais de US$ 1 bilhão para algo
como US$ 724 milhões anuais).
A soma dos lucros remetidos e dos reinvestimentos dá uma
idéia da massa total de lucro líquido das empresas
transnacionais. Cabe destacar dois aspectos importantes. O
primeiro é que houve aumento muito significativo do coeficiente
de remessas (remessas / remessas + reinvestimentos), isto é, a
parcela do lucro líquido que foi mandado para as matrizes. Este
coeficiente aumenta de 42% no período 1971-81 para 65% no período
1982-91. O coeficiente de remessa aumentou, portanto, em mais de
50% durante a "década perdida". O segundo aspecto a destacar é
que a massa de lucro das empresas transnacionais no Brasil
aumentou entre as duas décadas, passando de US$ 19.1 bilhões para
US$ 20.7 bilhões. Isto ocorre como resultado da acumulação de
capital realizada durante a "década perdida", a despeito da queda
das taxas médias de lucro nos anos de recessão. Na realidade, a
taxa média de lucro das empresas transnacionais (remessas +
reinvestimentos / estoque de investimentos) caiu de 11.2% no
período 1971-81 para 6.9% no período 1982-91.
Considerando-se os fluxos de entrada e saída de recursos de
investimento (inclusive, conversão e reinvestimentos), verifica-
se que houve queda abrupta entre as duas décadas em questão. Isto
é, o fluxo médio de investimento externo direto na "década
perdida" representou 1/6 do fluxo médio na década anterior - de
40
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
US$ 2.3 bilhões anuais para cerca de US$ 350 milhões. Ademais, os
dados mostram a existência de tendências de recuo das empresas
transnacionais, principalmente via redução dos fluxos de entrada
e aumento do repatriamento de capital e das remessas de lucros.
Vale mencionar, ainda, alguns dados recentemente publicados
pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, que reforçam os
argumentos mencionados acima e incluem informações para 1992
37
.
Segundo esta fonte, a participação do Brasil nos gastos
totais de investimento das subsidiárias majoritárias de empresas
transnacionais norte-americanas caiu de 3.9% nos sub-períodos
1976-78 e 1981-83 para 2.9% em 1990-92
38
. Considerando-se somente
o setor industrial, a queda correspondente foi de 7.6% para 5.0%,
isto é, 1/3 a menos do que no passado.
Em síntese, as informações disponíveis mostram que as
empresas transnacionais teriam tido uma massa de lucro líquido da
ordem de US$ 40 bilhões ao longo das ·últimas duas décadas. Este
valor coincide de forma aproximada com o estoque total de capital
estrangeiro oficialmente registrado atualmente no Banco Central
1
.
Fica claro também que existe uma mudança na composição e direção
dos fluxos analisados, de tal forma que parece existir uma
tendência de recuo das empresas transnacionais com relação à
economia brasileira.
A pergunta fundamental que se coloca é a seguinte: na medida
em que a crise econômica tem sido tão longa e profunda, por que
as empresas transnacionais, no lugar de uma estratégia de recuo
gradual, não optaram por uma estratégia mais agressiva de
repatriamento de capital e de desinvestimento?
A explicação poderia estar na vantagem específica do Brasil,
tendo em vista o extraordinário volume de recursos já investidos
por empresas transnacionais no país e um mercado interno com
1
Este valor é da ordem de US$ 80 bilhões se efetuadas diversas correções monetárias nos valores
nominais do estoque de investimento estrangeiro no Brasil, conforme procedimentos adotados na
NT "Oportunidades Abertas ...".
41
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
potencial não desprezível. Assim, sair do Brasil é difícil.
Simplificando, como tirar US$ 40 bilhões do país? Isto é, o custo
de saída é elevado devido à importância absoluta e relativa dos
recursos envolvidos. Ademais, existe certo "otimismo qualificado"
face às potencialidades do mercado interno e à dotação de
recursos.
O argumento a respeito do "efeito de atração" resultante do
potencial da economia brasileira é inequivocamente correto e
evidente. Isto por duas razões principais: o próprio processo de
industrialização substituidor de importações, que teve na empresa
transnacional o ator principal; e o fato de Brasil ser uma
economia de porte continental e com dotação privilegiada de
fatores de produção.
Por outro lado, o argumento com base nos "custos de saída" é
equivocado na medida em que parece associar ou confunde
desinteresse gradual e perda de importância relativa com um
movimento abrupto e atípico de desinvestimento. Este fenômeno de
desinvestimento tem, geralmente, um horizonte de curto prazo e
somente neste sentido envolve custos de saída elevados. Isto é,
só faz sentido considerar os "custos de saída" quando se opera
com um horizonte de curto ou curtíssimo prazo - o que na prática
significa o fenômeno de desinvestimento. Historicamente, este
último ocorreu como resultado de configurações econômicas e
políticas envolvendo processos de nacionalização ou de regulação
do capital estrangeiro e, conseqüentemente, o desinvestimento é o
último recurso de estratégias de retaliação. Claramente, esta
configuração nunca se fez presente na história do Brasil nas
últimas três décadas.
Na realidade, as empresas transnacionais optaram por uma
estratégia de recuo gradual, que se manifesta nos indicadores
discutidos anteriormente, e é também comprovada na vasta
documentação apresentada na NT "Oportunidades Abertas ...", de
onde foi extraída a Tabela 2. Num contexto de profunda e longa
crise econômica, houve desaceleração do crescimento do estoque de
42
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
capital estrangeiro ao longo da "década perdida". A massa anual
de lucro cresce em função do aumento do estoque de capital - e
apesar da queda das taxas de lucro e da crise. Afinal de contas,
durante a última década foram mais de US$ 2 bilhões de lucro
líquido a cada ano, que em grande parte está sendo enviado para
as matrizes. O mesmo documento - NT "Oportunidades Abertas ..." -
apresenta ainda comprovação deste recuo (vide Gráfico 1) em
termos de investimento.
43
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
TABELA 2
EVOLUÇÃO DE VENDAS DAS 500 MAIORES EMPRESAS
PRIVADAS NÃO-FINANCEIRAS
--------------------------------+---------------+------------+-------------+--------------+-----------
------
-1- | -2- | -3- | | |
| Vendas das | | | |
Vendas das | 145 maiores | | 1/3 | 2/3 | PRIVADAS
500 maiores | empresas | PIB | TOTAL/PIB | MULTIS/PIB | NACIONAIS
privadas | multinac.* | US$ 1991 | % | % | %
ano US$ 1991 | US$ 1991 | | | |
--------------------------------+---------------+------------+-------------+--------------+-----------
------
| | | | |
1984 133439 | 54710 | 265095.16 | 50.34 | 20.64 | 29.70
1985 145469 | 57606 | 296653.82 | 49.04 | 19.42 | 29.62
1986 143435 | 57661 | 327943.09 | 43.74 | 17.58 | 26.16
1987 151888 | 64249 | 350808.24 | 43.30 | 18.31 | 24.98
1988 157742 | 66725 | 364295.04 | 43.30 | 18.32 | 24.98
1989 157901 | 64424 | 393078.97 | 40.17 | 16.39 | 23.78
1990 131742 | 54726 | 391750.63 | 33.63 | 13.97 | 19.66
1991 127388 | 53656 | 410277.77 | 31.05 | 13.08 | 17.97
1992(est) 110000**| 45356 | 415034.93 | 26.50 | 10.93 | 15.57
--------------------------------+---------------+------------+-------------+--------------+-----------
------
* Empresas que se atuam entre as 500 maiores empresas privadas; 1984(147); 1985(142); 1986(142);
1987(146);
1988(145); 1989(147); 1990(147); 1991(143)
** a estimativa considera uma queda de 13,6% nas vendas em 1992 e a participação media das
multinacionais em
anos anteriores (41,23%).
Fonte: a partir de dados de "Melhores e Maiores, Exame 1992".
Elaboração: Octavio de Barros. Extraída da Nota Técnica "Oportunidades Abertas ...", p. 156.
GRÁFICO 1
44
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
INVESTIMENTO DAS TRANSNACIONAIS
EM RELACAO AO PIB
1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991
1.5
1.4
1.3
1.2
1.1
1.0
0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
1.42
0.94
1.17
1.20
0.52
0.36
0.34
0.27
0.33
0.32
0.21
0.22
0.25
0.36
Fonte: SEST. Extraído da Nota Técnica "Oportunidades Abertas ...", p. 172.
45
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
O equívoco fundamental daqueles que centram a análise na
importância dos fatores locacionais específicos do Brasil
(tamanho do mercado e estoque de capital estrangeiro) reside no
enfoque utilizado. Isto é, estes analistas negligenciam a ótica
própria da empresa transnacional, mais especificamente, da
matriz. Neste sentido, o conceito-chave é o de preo da
internacionalizaªo da produªo via subsidiárias de empresas
transnacionais, que equivale, na perspectiva do país receptor do
investimento, ao custo da inserªo internacional do aparelho
produtivo. Como este preço ou custo pode ser medido ?
Na prática, verifica-se que, durante um período de tempo, o
retorno sobre o investimento é visto tanto em relação ao estoque
(taxa de retorno sobre o patrimônio) quanto em termos do retorno
sobre um fluxo necessário para a continuação dos negócios. Assim,
durante o período 1971-81, as empresas transnacionais investiram
no Brasil US$ 33.2 bilhões, considerando entradas, repatriamento,
conversão e reinvestimentos. Neste mesmo período, as empresas
transnacionais remeteram US$ 8 bilhões. A relação entre fluxos de
remessas e investimentos é o preo da internacionalizaªo da
produªo "cobrado" pelas empresas transnacionais e "pago" pelo
Brasil. Esta taxa foi de 24% no período 1971-81, isto é, para
cada bilhão de dólares trazidos para o Brasil para fazer
funcionar as subsidiárias, cobrava-se US$ 240 milhões anualmente.
O que ocorre durante a "década perdida"? O risco e a
incerteza da economia brasileira geram um aumento espetacular do
preço de internacionalização da produção, ou do custo de inserção
internacional da economia brasileira via empresas transnacionais.
De fato, no período 1982-91 as empresas transnacionais investem
no Brasil US$ 17 bilhões, mas retiram cerca de US$ 13.5 bilhões
na forma de remessas. A "taxa" da inserção internacional cobrada
pelas empresas transnacionais passa a ser de 80%. Este é o prêmio
do "risco Brasil". Resultado: o Brasil continua sendo um "grande
negócio" para as empresas transnacionais, a despeito da crise
profunda.
46
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
A pergunta seguinte é: por que as empresas transnacionais
engajam-se, no seu conjunto, numa estratégia de recuo, sendo o
país um grande negócio ? A resposta é simples: os riscos e as
incertezas aumentaram ao longo dos anos, principalmente, após a
eclosão da crise da dívida externa em 1982, e ficaram ainda
maiores a partir do Governo Collor em março de 1990. Destarte, as
empresas transnacionais tornaram-se mais cautelosas e reticentes
em investir no Brasil.
A questão final: como as subsidiárias de empresas
transnacionais no Brasil conseguiram, no contexto de crise
econômica, gerar lucros? Ao longo da "década perdida", as
empresas transnacionais no Brasil tiveram reações estratégicas em
áreas distintas que lhes permitiram conciliar o paradoxo aparente
entre lucros elevados e o recuo dos investimentos no país. Em
suma, houve mudanças nas estratégias comercial, industrial e
financeira das empresas transnacionais. Correndo o risco da
simplificação e reconhecendo eventuais diferenças setoriais e em
termos de empresas individuais, pode-se argumentar que estas
estratégias estiveram centradas na expansão das exportações,
racionalização de custos e demissão de trabalhadores, exercício
do poder econômico e lucros financeiros elevados, sem que
houvesse oportunidades de investimento produtivo que os
absorvessem.
3.2. EstratØgia Financeira
O fluxo de investimento externo direto no Brasil foi
baseado, segundo a discussão da seção anterior, numa estratégia
de recuo gradual. No que se refere à estratégia financeira, pode-
se argumentar que as grandes empresas utilizaram-se, de um modo
geral, de uma estratégia defensiva
39
. No caso das empresas
estrangeiras esta estratégia defensiva pode ter estado associada
ao recuo de suas posições no Brasil e a um aumento de sua
inserção em economias com maior dinamismo. Cabe destacar,
contudo, que a crise torna-se tão profunda a partir de 1990 que
47
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
as empresas passam, de fato, a ser obrigadas a usar estratégias
de sobrevivência
40
.
A redução dos investimentos está associado, entre outros
fatores, à redução do grau de endividamento das empresas
transnacionais, como resultado da vigência de elevadas taxas de
juros reais ao longo da ·última década. Na realidade, a tendência
de redução do grau de endividamento é observada, principalmente,
na primeira metade da década de 80, sendo que no período
posterior permanece a estratégia defensiva (ou, melhor dizendo,
estratégia de sobrevivência financeira) caracterizada pelo baixo
grau de endividamento (ver Tabela 3 para os dados do período
1985-1991). Ademais, há uma crescente diversificação dos
investimentos em outras empresas (controladas ou coligadas às
empresas transnacionais). Isto é, a estratégia financeira é
defensiva no sentido da redução de riscos.
TABELA 3
EMPRESAS TRANSNACIONAIS LÍDERES NO BRASIL:
INDICADORES DE DESEMPENHO
1985-1991
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
DISCRIMINAÇÃO 1985 1986 1987 1988 1989 1990
1991
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
SITUAÇÃO PATRIMONIAL (US$ milhões de 1991)
Ativo total 213.6 239.0 221.7 191.4 179.1 141.7
195.4
Patrimônio líquido 113.5 135.2 120.9 103.1 98.1 60.8
113.1
Investimento financeiro 34.6 43.1 40.4 36.5 37.3 27.0
43.5
Imobilizado líquido 73.1 81.6 76.8 64.4 61.4 48.5
89.5
INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS
Inv. financ/Imob. líq. 47.3 52.8 52.6 56.7 60.7 55.7
48.6
Grau de endividamento 0.88 0.77 0.83 0.86 0.83 1.33
0.73
Participação dos financiamentos 0.52 0.47 0.47 0.44 0.36 0.43
0.42
Liquidez corrente 1.41 1.39 1.27 1.28 1.14 0.92
0.91
Margem bruta 29.35 24.55 31.24 38.66 42.22 36.04
33.72
Rentabilidade do ativo 9.09 10.05 6.77 18.61 31.06 -6.88 -
7.42
Rentabilidade do patrimônio líq. 17.11 17.76 12.42 34.54 56.71 -16.05 -
12.82
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
48
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Fonte: Cálculos de Reinaldo Gonçalves e da FGV com base em Conjuntura Econômica, 46(12):104 e 123,
dez.
1992.
Cabe também mencionar a estratégia de aumento das margens
brutas de lucro (mark-up) como um mecanismo de reacão à queda do
nível de atividade. A permissividade do mercado interno
brasileiro é o fator explicativo básico da manipulação de mark-up
pelas grandes empresas. Esta permissividade é, por seu turno,
determinada pelo baixo grau de contestabilidade dos mercados, que
está associado a estruturas monopólicas e oligopólicas. O
protecionismo é tradicionalmente outro fator importante que
permite este tipo de conduta de mercado. Ademais, a inexistência
de uma institucionalidade reguladora de práticas comerciais
restritivas aparece como um aspecto que propicia o exercício do
poder econômico.
Finalmente, houve aumento dos investimentos financeiros com
relação aos investimentos fixos, fenômeno associado ao aumento
dos lucros financeiros. As políticas monetárias restritivas,
predominantes no passado recente, foram responsáveis também por
uma queda significativa da margem operacional das empresas
transnacionais.
3.3. EstratØgia Comercial
41
A presença de empresas transnacionais no comércio exterior
brasileiro também é muito expressiva. As empresas transnacionais
responderam por 44% das exportações totais de manufaturados em
1990, segundo dados das Nações Unidas
42
. Neste sentido, é
inegável que o Brasil apresenta uma das economias mais
internacionalizadas do mundo, com uma legislação sobre capital
estrangeiro considerada relativamente liberal por especialistas
nacionais e internacionais
43
.
Nas últimas duas décadas, as empresas transnacionais mudaram
de forma extraordinária o seu desempenho na área de comércio
exterior: de um importante déficit comercial em meados dos anos
49
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
70 para um significativo superávit atualmente. Esta mudança no
desempenho comercial das empresas transnacionais foi determinada,
em grande medida, pelas políticas de ajustamento do balanço de
pagamentos. Deve ser ressaltado que o desempenho exportador das
empresas transnacionais foi influenciado por enormes subsídios e
incentivos fiscais enquanto a redução das importações foi o
resultado de barreiras não-tarifárias bastante efetivas.
Ademais, durante os anos 80, a estagnação do mercado interno
levou as empresas transnacionais a procurar mercados externos
como alternativa para realização da produção. O drive exportador
tornou-se, gradativamente, um elemento mais importante da
estratégia das empresas transnacionais ao longo da última década.
Cabe destacar que as empresas transnacionais têm desempenhado
papel fundamental não somente na geração do superavit comercial,
como também no processo de upgrading dos padrões de vantagem
comparativa do país.
Nos últimos anos, o processo de liberalização comercial e o
aprofundamento da crise econômica foram fatores determinantes de
um processo de "reversão" da substituição de importações. Este
processo envolve a desverticalização da produção e a redução da
compra de insumos junto a fornecedores locais e,
conseqüentemente, a intensificacão da compra de insumos
importados.
3.4. EstratØgia Industrial e Tecnolgica
A despeito das transformações tecnológicas e organizacionais
que têm ocorrido no passado recente, as empresas transnacionais
parecem não ter realizado um esforço significativo de
reestruturação. Este argumento deve, naturalmente, ser
qualificado, na medida em que existem importantes diferenças
setoriais e também em termos de experiências de empresas
individuais. Entretanto, existem muitas evidências de que, face à
aceleração do progresso técnico a nível mundial, vem ocorrendo
aumento do gap tecnológico e organizacional no Brasil, tanto no
50
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
que se refere a empresas nacionais privadas como em relação às
subsidiárias de empresas transnacionais.
Outrossim, parece existir certa similaridade nos padrões de
reação das empresas transnacionais e das grandes empresas
privadas nacionais, no que diz respeito à sua percepção a
respeito da necessidade urgente de incorporação de inovações
tecnológicas e organizacionais e de aumento de competitividade
44
.
A evidência mostra um baixo grau de difusão de inovações
tecnológicas e organizacionais. Um trabalho que realizou pesquisa
de campo apontou que "é baixa a intensidade no uso do conjunto
das inovações tecnológica mais avançadas em termos de garantir
eficiência e qualidade de processos industriais e,
conseqüentemente, do produto vendido no mercado"
45
. Ademais, a
própria percepção generalizada da necessidade urgente de
introdução de inovações é um indicador tanto do aumento do gap
entre o Brasil e o resto do mundo como da perda de
competitividade das empresas, sejam nacionais privadas ou
transnacionais atuando no país. Neste sentido, dois fatos são
importantes
46
. O primeiro é que somente um número reduzido de
empresas implementaram programas importantes de modernização e
reestruturação. Este fato é evidenciado nas pesquisas recentes
com base em questionários
47
, assim como nos estudos setoriais ou
de casos de empresas individuais
48
.
O segundo fato é que a reestruturação industrial e
tecnológica tem sido baseada numa estratégia defensiva. As
inovações refletem-se em mudanças feitas de forma localizada ou
pontual, objetivando a racionalização dos processos e a melhoria
da qualidade dos produtos. De fato, "prevalece um padrão de
difusão de novas tecnologias direcionado à racionalização da
produção"
49
. Esta reação estratégica está predominantemente
centrada na diminuição (sizing-down) do tamanho das unidades
produtivas e no fechamento de plantas e, conseqüentemente, na
demissão de trabalhadores
50
.
51
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
A predominância do padrão de estratégia reativa não exclui,
contudo, outras estratégias como, por exemplo, a formação de
joint-ventures, fusões, aquisições, alianças estratégicas, take-
overs, mudanças no product mix, e até mesmo a introdução de
inovações tecnológicas e organizacionais
51
. Neste sentido, cabe
enfatizar que a discussão da reação estratégica (em termos
financeiros, comerciais e de investimento) de empresas
transnacionais no Brasil ao longo dos ·últimos anos indica que a
permissividade do mercado brasileiro, no contexto de políticas de
estabilização macroeconômica restritivas, foram determinantes
básicos de comportamentos estratégicos inerciais ou reativos.
Não se pode omitir, contudo, o fato de que a rapidez com que se
aprofunda a crise econômica brasileira na década de 90 é o
determinante fundamental de um padrªo reativo ou defensivo de
reestruturação.
52
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
4. CONCLUSES E RECOMENDA˙ES
De que forma as transformações globais e as reações
estratégicas de empresas transnacionais criam oportunidades e
restrições para a economia brasileira? Quais são as principais
implicações de política econômica relacionadas à questão da
competitividade?
4.1. Oportunidades e Restriıes
Neste item, discute-se as principais transformações globais
que têm influência tanto sobre as subsidiárias de empresas
transnacionais atuando no Brasil, como sobre a economia
brasileira, criando oportunidades e restrições relacionadas à
copetitividade internacional. Neste sentido, a discussão é feita
de forma esquemática, apresentando, seqüencialmente:
Oportunidades [empresa
transnacional; país]
Transformação global
Fatores locacionais
Restrições [empresa
transnacional; país]
Esta distinção entre a geração direta de oportunidades e
restrições para as subsidiárias de empresas transnacionais
atuando no país e a geração direta ou indireta de oportunidades e
restrições para o conjunto da economia brasileira é importante
pela clivagem natural que existe entre interesses privados ou
individuais e interesses públicos ou coletivos. Outrossim, esta
distinção permite uma visão mais clara a respeito de políticas
econômicas e seu impacto.
TRANSFORMAÇãO GLOBAL: aceleração do progresso técnico
Subsidiárias de empresas transnacionais:
Oportunidades: vantagem competitiva, principalmente no
mercado interno
53
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Restrições: desafios ao comportamento inercial
Economia brasileira:
Oportunidades: acesso a novos produtos, novos processos e
novas oportunidades de mercado e de investimento.
Restrições: risco de aumento do gap tecnológico;
fragilização relativa dos grupos privados nacionais;
predominância crescente de empresas transnacionais nos segmentos
tecnologicamente mais dinâmicas; custo crescente das atividades
de P&D; necessidade de investimentos crescentes na capacitação
tecnológica nacional; crescente heterogeneidade tecnológica.
Fatores locacionais: vantagem de capacitação tecnológica
nacional relativamente avançada; vantagem de existência de grupos
privados nacionais relativamente fortes; desvantagem do
comportamento inercial associado à permissividade do mercado
interno.
TRANSFORMAÇÃO GLOBAL: novas tecnologias genéricas
Subsidiárias de empresas transnacionais:
Oportunidades: facilita a difusão intersetorial de
tecnologias, permitindo a diversificação das linhas de produção.
Restrições: não identificadas
Economia brasileira:
Oportunidades: facilita a difusão para diversos setores
produtivos.
Restrições: impacto sobre setores tradicionais, afetando os
padrões de vantagem comparativa e, conseqüentemente, forçando um
ajuste estrutural abrangente.
TRANSFORMAÇÃO GLOBAL: revolução na tecnologia da informação
Subsidiárias de empresas transnacionais:
Oportunidades: maior produtividade via computadorização,
automação, velocidade, reducão dos custos de produção; redução
dos custo de transação; maior flexibilidade.
Restrições: não identificadas
Economia brasileira:
Oportunidades: maior produtividade através de inovações
tecnológicas e organizacionais; desenvolvimento de redes de
54
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
comunicação e descentralização administrativa; dispersão
geográfica de serviços.
Restrições: ampliação da heterogeneidade tecnológica; re-
configuração da qualificação da mão-de-obra.
Fatores locacionais: vantagem da infra-estrutura de
telecomunicações; capacitação tecnológica nacional, em particular
a disponibilidade de mão-de-obra qualificada; desvantagem do
comportamento inercial associado à permissividade do mercado
interno.
TRANSFORMAÇÃO GLOBAL: maior flexibilidade produtiva e
organizacional.
Subsidiárias de empresas transnacionais:
Oportunidades: adaptação às condições locais; produção
flexível com plantas multiprodutos; escalas menores.
Restrições: não identificada.
Economia brasileira:
Oportunidades: plantas de produção mais racionais; produtos
mais apropriados; maior possibilidade de se evitar o modelo
tradicional de reprodução dos padrões de consumo dos países
avançados.
Restrições: país perde vantagem comparativa derivada de
economias de escala e do baixo custo da mão-de-obra; desemprego
estrutural.
Fatores locacionais: vantagem da sofisticação dos padrões de
consumo.
TRANSFORMAÇÃO GLOBAL: difusão de relações contratuais
cooperativas e de longo prazo entre agentes.
Subsidiárias de empresas transnacionais:
Oportunidades: maior produtividade; menor custo de transação
devido a problemas de agenciamento; maior previsibilidade; melhor
controle de qualidade; menor custo de manutenção de estoques.
Restrições: não identificadas.
Economia brasileira:
Oportunidades: maior produtividade; melhor qualidade.
Restrições: não identificadas.
55
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Fatores locacionais: desvantagem associada ao ambiente
inflacionário que dificulta relações contratuais de longo prazo;
desvantagem da frágil institucionalidade reguladora do
cumprimento dos contratos.
TRANSFORMAÇÃO GLOBAL: integração vertical da produção à
escala mundial (globalização da produção internacional) com a
fragmentação do processo de produção.
Subsidiárias de empresas transnacionais:
Oportunidades: especialização e ganhos de escala;
investimentos novos e de ajuste.
Restrições: menor autonomia face à forte coordenação e
controle associados à estratégia de globalização da produção;
forte centralização das informações (tecnológicas,
mercadológicas, etc.) e da gestão nas matrizes ou subsidiárias
mais estratégicas; fechamento de unidades produtivas.
Economia brasileira:
Oportunidades: maior produtividade e competitividade;
melhoria de qualidade; introdução de inovações tecnológicas
(automação) e organizacionais; investimentos em ativos fixos,
redes de telecomunicações e em sistemas de transportes.
Restrições: fechamento de plantas ou unidades produtivas;
"furos" na malha industrial; vulnerabilidade com relação à
demanda externa; menor valor agregado; redução do emprego;
aprofundamento da lógica "fordista" de produção; maior
possibilidade para o mecanismo de preços de transferência.
Fatores locacionais: vantagem da política de liberalização
comercial; vantagem da proximidade com mercados sub-regionais;
vantagem (ou desvantagem ?) da infra-estrutura de transporte e de
comunicações; vantagem do potencial do mercado interno;
desvantagem da grande distância dos mercados mais desenvolvidos;
vantagem da significativa presença de empresas transnacionais no
país; vantagem da disponibilidade de insumos importantes (e.g.,
energia); vantagem de extraordinário dotação de recursos
naturais.
TRANSFORMAÇÃO GLOBAL: alianças estratégicas.
56
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Subsidiárias de empresas transnacionais:
Oportunidades: acesso a tecnologias de ponta; acesso a
mercados.
Restrições: não identificadas.
Economia brasileira:
Oportunidades: novos investimentos; maior produtividade;
formação de joint-ventures; acesso a tecnologias; acesso a
mercados externos; desenvolvimento da capacitação tecnológica
nacional; sinergias.
Restrições: mecanismo para eliminar rivais no mercado
interno; padrões de especialização produtia e tecnológica
inapropropriados.
Fatores locacionais: desvantagem dos elevados custos de
transação; frágil institucionalidade para relações contratuais;
desvantagem do comportamento inercial associado à permissividade
do mercado interno.
TRANSFORMAÇãO GLOBAL: processo de concentração e
centralização do capital em escala mundial.
Subsidiárias de empresas transnacionais:
Oportunidades: maior poder de mercado; racionalização.
Restrições: reestruturação com fechamento de unidades
Economia brasileira:
Oportunidades: não identificadas.
Restrições: menor contestabilidade no mercado interno; maior
poder de mercado das empresas transnacionais; menor grau de
liberade para políticas industriais e tecnológicas; predominância
crescente do padrão reativo de políticas; marginalização
crescente do país face à cartelização internacional.
Fatores locacionais: vantagem (ou desvantagem) da ausência
de políticas de concorrência ou de controle de práticas
comerciais restritivas; vantagem do elevado grau de penetração de
empresas transnacionais na indústria brasileira.
TRANSFORMAÇãO GLOBAL: internacionalização das atividades de
P&D; laboratórios integrados internacionalmente.
Subsidiárias de empresas transnacionais:
57
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Oportunidades: localização de atividades de P&D no país
receptor permitindo o inovações.
Restrições: centralização do controle das atividades de P&D;
grau reduzido de independência nas atividades de inovação.
Economia brasileira:
Oportunidades: fortalece capacitacão tecnológica nacional;
geração de efeitos spill-overs.
Restrições: menores possibilidades de spill-overs frente à
fragmentação da atividade de P&D a nível mundial; atividades
auxiliares ou secundárias de P&D; custo de oportunidade elevado
dos recursos científicos e tecnológicos.
Fatores locacionais: capacitação tecnológica nacional
relativamente desenvolvida; vantagem do elevado grau de
penetração de empresas transnacionais na indústria brasileira.
TRANSFORMAÇãO GLOBAL: minimização do conteúdo energético ou
de materiais; surgimento de novos materiais.
Subsidiárias de empresas transnacionais:
Oportunidades: realocação de investimentos internacionais
beneficiando a subsidiária brasileira na direção de produtos
especiais (upgrading das linhas de produção).
Restrições: potencial reduzido de expansão dos investimentos
orientados para a exploração de recursos naturais ou de produtos
manufaturados intensivos com alto conteúdo energético ou de
matérias-primas.
Economia brasileira:
Oportunidades: não identificadas.
Restrições: baixo valor agregado; exploração de recursos
não-renováveis; re-primarização do padrão da estrutura de
exportações.
Fatores locacionais: vantagem do baixo custo de energia;
vantagem da disponibilidade de recursos naturais; desvantagem da
distância dos principais mercados.
4.2. SumÆrio e Implicaıes de Poltica Econmica
58
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Desde o início dos anos 80, as empresas transnacionais no
Brasil tiveram reações estratégicas que lhes permitiram conciliar
o paradoxo aparente entre lucros elevados e o recuo dos
investimentos no país. Por outro lado, apesar das significativas
transformações globais, as empresas transnacionais atuando no
país têm realizado um esforço incipiente de reestruturação, na
medida em que adotam estratégias defensivas ou, simplesmente,
reativas.
As mudanças nas estratégias comercial, industrial,
financeira e de investimento das empresas transnacionais foram
centradas, de um modo geral, na expansão das exportações,
racionalização de custos, demissões de trabalhadores, uso do
poder econômico (e.g., através de aumento de margem bruta em
períodos recessivos), lucros financeiros extraordinários e
aumento dos fluxos de saída de investimento externo direto.
Estes aspectos das estratégias das filiais das empresas
transnacionais devem ser compreendidos à luz de dois conjuntos de
circunstâncias. Internacionalmente, a intensificação da
concorrência entre as grandes empresas em processo de
reestruturação e a necessidade de vultosos investimentos levou
muitas transnacionais a priorizarem os espaços centrais em
detrimento das demais regiões. Esta tendência é nítida e foi
destacada de forma enfática na Nota Técnica "Oportunidades
Abertas para o Brasil Face aos Fluxos Globais de Investimento de
Risco e de Capitais Financeiros nos Anos 90".
Internamente, a conjuntura da economia brasileira nos anos
80, marcada pela recessão e por políticas macroeconômicas
restritivas e que marginalizaram os esforços de desenvolvimento
da estrutura industrial, deprimiu os investimentos e tornou
disponíveis recursos que as empresas transnacionais remeteram e
investiram em outras áreas de atuação.
A estratØgia de comØrcio exterior das empresas
transnacionais no Brasil mudou significativamente ao longo das
59
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
últimas duas décadas. Durante o regime militar, as empresas
transnacionais foram induzidas a ter desempenho comercial mais
favorável para o país, exportando mais e importando menos. Esta
política inicia-se vinte anos atrás e fica mais evidente após o
primeiro choque do petróleo. Os governos militares foram pródigos
na concessão de estímulos à exportação, principalmente subsídios
e incentivos fiscais, ao mesmo tempo em que aumentavam as
barreiras de acesso ao mercado brasileiro, em particular com
utilização de medidas não-tarifárias. Durante a ·última década,
contudo, a crise econômica interna forçou as empresas
transnacionais a procurarem o mercado internacional como canal
alternativo para colocação dos seus produtos. Neste sentido, a
recessão tornou-se um importante fator indutor de estratégias
comerciais envolvendo maiores volumes de exportação e, mais
recentemente, maiores importações como resultado da liberalização
comercial iniciada com a reforma tarifária de 1988.
A estratØgia financeira das empresas transnacionais também
se modificou ao longo das ·últimas duas décadas. É fato que as
empresas transnacionais reduziram drasticamente seus níveis de
endividamento no Brasil, tanto o externo como o interno. Ademais,
ocorreu uma reestruturação de ativos no sentido de maior
diversificação de investimentos em empresas associadas,
principalmente a partir de 1984. As empresas transnacionais
também entraram na "ciranda financeira" e, como conseqüência,
beneficiaram-se de elevadíssimas taxas de juros para obter lucros
financeiros que compensaram a queda do lucro operacional. Assim,
a despeito da crise econômica generalizada e em função de
processos de ajustamento perversos (centrados em políticas
monetárias recessivas), as empresas transnacionais - da mesma
forma que os grandes grupos privados nacionais - mantiveram sua
capacidade de acumulação de capital, principalmente com origem
nos lucros financeiros. A dimensão financeira da atuação das
empresas transnacionais é provavelmente a que mais forte e
diretamente depende da política (macro)econômica interna.
60
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
No que diz respeito à estratØgia industrial das empresas
transnacionais não há como negar a ampliação do atraso
tecnológico e organizacional das subsidiárias operando no Brasil.
De fato, a incipiente reestruturação produtiva ocorre
posteriormente ao ajuste financeiro e só parece ser mais
perceptível no período mais recente, principalmente como
estratégia reativa ao aprofundamento da crise desde 1990. A
evidência disponível é conclusiva, principalmente, no que diz
respeito ao baixo nível de difusão de procedimentos técnicos
modernos, tais como automação industrial, de inovações
organizacionais, como as relações mais avançadas com os
fornecedores (tipo just-in-time). Por outro lado, a aceleração da
crise nos ·últimos três anos forçou as empresas transnacionais a
realizar um processo de reestruturação industrial. Este processo
passou, inicialmente, pela racionalização de custos, redução da
verticalização, fechamento ou redução do tamanho de plantas e
demissões. Por outro lado, algumas empresas transnacionais estão
abandonando determinadas linhas de produção, substituindo-as por
produtos importados, enquanto outras empresas estão aproveitando
para realizar fusões e aquisições que lhes permitam maior
predominância no mercado interno. Para que este ajuste possa
adquirir características mais positivas e ser dinamizado em
direção ao horizontes das transformações tecnológicas e
produtivas que estão ocorrendo internacionalmente, é necessário,
como já assinalado, que o ambiente macroeconômico seja favorável,
e também que a opção pela continuidade da industrialização e pelo
aprimoramento da estrutura industrial sejam claramente percebidas
pelos agentes - nacionais e internacionais - envolvidos.
No que se refere aos fluxos líquidos de investimento externo
direto, os dados mostram claramente que as subsidiárias de
empresas transnacionais no Brasil, como aliás as grandes empresas
em geral, conseguiram, no contexto de crise econômica, gerar
lucros, cujo envio ao exterior deve ser compreendido em razão da
escassez de oportunidades de investimento internamente.
61
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
No caso particular do Brasil, há dois fatores que são
fundamentais para explicar a reação estratégica das empresas
transnacionais no país, assim como a competitividade
internacional da economia brasileira. Estes determinantes
estruturais são o grau de permissividade do mercado interno e a
inadequação da política de estabilização macroeconômica.
Não resta dúvida de que existem outros determinantes
estruturais importantes, seja do processo de internacionalização
da produção, suas formas (inclusive, a presença de empresas
transnacionais), extensão e profundidade, seja do grau de
competitividade internacional do país. Entretanto, um mercado
interno particularmente permissivo leva a um comportamento
inercial, de tal forma que, "a menos que o ambiente se modifique
substancialmente, as pessoas continuarão a comportar-se como no
passado"
52
.
No caso brasileiro, a capacidade de realização de lucros
extraordinários, associada à manipulação de mark-up, práticas
comerciais restritivas e diversas formas de exercício do poder
econômico, que permanecem proliferando na impunidade, induzem a
estratégias diversas que, embora sub-ótimas na perspectiva da
economia brasileira, são perfeitamente racionais para a empresa.
Neste sentido, a não-introdução de inovações tecnológicas e
organizacionais ou a incipiente reestruturação de empresas
transnacionais é, na realidade, um comportamento ou uma conduta
"ótima". A inexistência de forças motivacionais importantes, em
particular pressões concorrenciais, fazem com que "innovations
are generally not introduced when it is optimal to do so"
53
.
Na realidade, apelando para um conhecido conceito econômico,
a economia brasileira parece contaminada por ineficiências-X.
Isto ocorre como decorrência de um relaxamento absoluto do
comportamento eficiente, por parte tanto de grandes empresas
nacionais privadas como de subsidiárias de empresas
transnacionais, gerando o surgimento de um padrão de
comportamento inercial. Assim, o mercado brasileiro,
62
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
caracterizado por reduzida contestabilidade, assim como a
inexistência de um regime regulador eficaz, geram uma organização
industrial altamente permissiva na economia brasileira, que
implica num comportamento inercial, envolve ineficiências e
compromete a competitividade internacional da indústria
brasileira
54
.
As diferentes políticas de estabilização, que priorizam
taxas de juros elevadas, foram também determinantes fundamentais
de uma estratégia de ajuste ou de acomodação por parte das
empresas transnacionais. A política de elevadas taxas de juros
reais, principalmente no contexto da conhecida "ciranda
financeira", funcionou como uma "válvula de escape" para a
realização do capital e geração de lucros.
De fato, estas empresas optaram por estratégias defensivas,
nos planos financeiro, produtivo, comercial, tecnológico e
organizacional. As estratégias defensivas ou reativas seguiram a
"linha de menor resistência", embora tenham envolvido, numa
perspectiva de longo prazo, a redução da competitividade
internacional.
Naturalmente, as empresas transnacionais têm uma
contribuição específica para o processo de desenvolvimento
econômico, principalmente, como agentes de difusão do progresso
técnico. É evidente também que o comportamento, desempenho e
estratégia das empresas transnacionais obedecem à lógica do
capital (lucro, acumulação). Cabe aos governos definir o sistema
de regulação necessário no sentido de balizar ou enquadrar a
trajetória das empresas, em particular daquelas com enorme poder
econômico-político e centro de decisões no exterior.
O caminho na direção de um sistema economicamente eficiente,
com maior competitividade internacional, envolve tanto um
ambiente favorável para os investimentos (no caso do Brasil,
basicamente a estabilidade macroeconômica e o crescimento do
mercado interno) e de promoção do desenvolvimento da estrutura
63
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
industrial e da sua capacitação em termos amplos (industriais,
tecnológicos, empresariais e organizacionais), como um conjunto
de políticas de regulação (restringindo práticas de negócios
restritivas) e de desempenho (emprego, qualidade, preços,
tecnologia, etc.). Este argumento é particularmente importante no
caso de empresas transnacionais atuando no país. Se, por um lado,
é verdadeiro que estas empresas têm acesso privilegiado às
inovações, em decorrência dos vínculos com as matrizes; por
outro, é ainda mais verdadeiro que as empresas transnacionais
predominam em estruturas de mercado concentradas e com baixa
contestabilidade.
Dentre as tendências recentes de comportamento das grandes
empresas e oligopólios internacionais está a crescente
rivalidade, que se traduz na tentativa de penetração, por cada
uma das empresas líderes, dos espaços nacionais e regionais de
atuação das demais. Este processo de crescente rivalidade leva a
que cada empresa defina as suas estratégias levando em
consideração a estratégia das demais empresas. Este processo
cumpre diversas finalidades, mas uma delas consiste em acompanhar
de perto o que fazem e como o fazem as empresas rivais, impedindo
assim que cada uma delas possa obter e consolidar vantagens que,
pelo atraso na sua adoção, possam representar fragilidades.
Esta rivalidade recíproca, traduzida em monitoramento, é
particularmente importante no caso dos sistemas científicos e
tecnológicos dos diferentes países, e explica a descentralização
das atividades de P&D, assim como a inclusão da cooperação e da
parceria entre as estratégias competitivas das empresas,
inclusive rivais. Cada uma delas prefere dividir eventuais
benefícios de programas conjuntos a correr o risco de que os
rivais tenham acesso a vantagens decisivas.
Em relação à estratégia global dos oligopólios
internacionais, a inclusão de uma região ou um país numa
estratégia de qualificação industrial e tecnológica crescente ou
decrescente depende decisivamente da capacitação já alcançada por
64
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
essa região ou país, assim como das suas perspectivas futuras
especificamente em relação aos aspectos que podem condicionar o
ambiente e as oportunidades para a atuação das empresas. Isto é
particularmente importante em relação a dois aspectos de que
dependem fortemente as empresas para a definição das suas
estratégias: a opção, mais ou menos enfática e consistente, em
relação aos rumos futuros da economia em geral e da indústria em
particular; e o grau de desenvolvimento atual e esperado do
sistema científico e tecnológico nacional ou regional.
Nesta perspectiva, há interações recíprocas entre as
estratégias das empresas e dos governos e instituições dos
espaços (regionais e nacionais) em que elas atuam e podem
pretender atuar. Pelos seus efeitos sobre o sistema econômico em
geral e a sua constelação de fornecedores e clientes em
particular, as grandes empresas transnacionais condicionam
fortemente as possibilidades dos países em que atuam. Mas há
também efeitos no outro sentido: as estratégias concretas das
grandes empresas transnacionais para cada espaço regional ou
nacional estão fortemente condicionadas pelo que pensam poder ser
o desenvolvimento futuro dessas áreas e, conseqüentemente, a
possível inserção de seus rivais. Evidentemente, estas
possibilidades futuras dependem fortemente das opções nacionais
para o desenvolvimento econômico e industrial, que envolvem
também as suas articulações com o sistema científico e
tecnológico.
Não obstante, pode-se argumentar que a tendência recente,
observada, de fato, desde o final dos anos 70, de liberalização
da regulamentação de empresas transnacionais em países em
desenvolvimento, reduz o grau de manobra do governo brasileiro
frente às empresas transnacionais atuando no país. Contudo, a
evidência disponível, tal como foi salientado na Nota Técnica
sobre fluxos de investimento externo, indica que este tipo de
"competição regulatória", incluindo incentivos fiscais, tem um
efeito modesto ou mesmo desprezível como determinante dos fluxos
de investimento externo direto
55
. Neste sentido, os determinantes
65
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
fundamentais, em termos de fatores locacionais, têm sido a
estabilidade política, clima favorável e crescimento e tamanho do
mercado interno.
Neste ponto, cabe mencionar que um fato recente - a
revitalização do mecanismo de integração regional, através da
criação do Mercosul - pode se constituir numa via complementar de
reestruturação para as empresas transnacionais atuando no país
56
.
Neste sentido, os ganhos de escala proporcionados por um mercado
mais amplo, assim como a maior concorrência associada à
progressiva liberalização do comércio intra-regional, são fatores
que podem ser importantes para operações de empresas individuais,
tanto transnacionais como nacionais, e, conseqüentemente, ter um
efeito positivo sobre a competitividade internacional. Há já
diversas evidências de que as empresas transnacionais atuando nos
espaços nacionais do MERCOSUL estão na dianteira do processo de
reestruturação das suas atividades no âmbito regional, por meio
de especialização e complementaridade das suas linhas produtivas,
ou de articulação em torno de um pólo. Em ambos os casos, o
desenvolvimento superior da estrutura industrial brasileira
representa uma vantagem poderosa relativamente às demais
economias regionais, mas o seu aproveitamento depende fortemente
das opções brasileira e regional relativamente à consolidação e
reestruturação da base produtiva e industrial.
Deve-se notar, ainda, que a análise desenvolvida neste
estudo, e que acompanha a literatura sobre o tema, enfocou como
agente principal a grande empresa transnacional. Ocorre que há no
Brasil pelo menos 3 000 pequenas e médias empresas com capital
estrangeiro que podem desempenhar um papel, mesmo que
coadjuvante, nos padrões de competitividade internacional do
país
57
. Ainda que os efeitos sobre o balanço de pagamentos de
pequenas e médias empresas transnacionais não sejam muito
expressivos, a evidência disponível indica que estas empresas têm
um desempenho tecnológico e uma inserção na economia brasileira
que são favoráveis. Daí, cabe a definição de políticas
governamentais especificamente orientadas para pequenas e médias
66
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
empresas transnacionais, que sofrem o impacto de transformações
globais e funcionam também como agentes de transmissão de
oportunidades e restrições no que se refere à competitividade
internacional do país
58
.
Dentre estas políticas, cabe mencionar a montagem de um
programa de assistência técnica e financeira, com o objetivo
explícito de fortalecer a capacidade do país de atrair os fluxos
de investimento externo e de tecnologia tendo origem nas
pequenas e médias empresas transnacionais. Este programa de
assistência técnica e financeira pode incluir atividades em três
áreas: serviço consultivo e informativo, programas de treinamento
e linhas de financiamento. O serviço consultivo e informativo
beneficiaria tanto as empresas transnacionais, que são
investidores potenciais, como os empresários brasileiros.
Organizações empresariais e o sistema SEBRAE também obteriam
informações e serviços. Os programas de treinamento seriam
orientados para empresários, gerentes e funcionários de governos
estaduais e municipais. O objetivo seria uma melhor capacitação
no que diz respeito à legislação nacional, características das
empresas transnacionais, e capacidade de negociação. As linhas de
financiamento seriam orientadas para o pequeno e médio empresário
nacional interessado em diferentes formas de associação com
pequenas e médias empresas transnacionais. Estas linhas de
crédito poderiam incorporar um sistema de condicionalidades
diretamente relacionado à questão da produtividade e
competitividade.
No que se refere às empresas tipicamente transnacionais
(empresas de grande porte), o estudo mostra que recentes
transformações globais criam tanto restrições como oportunidades,
que podem ter implicações de política econômica. As
transformações globais destacadas no estudo são: aceleração do
progresso técnico, novas tecnologias genéricas, revolução na
tecnologia da informação, maior flexibilidade produtiva e
organizacional, difusão de relações contratuais cooperativas e de
longo prazo, integração vertical da produção à escala mundial,
67
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
alianças estratégicas, processo de concentração e centralização
do capital em nível mundial, internacionalização das atividades
de P&D, minimização do conteúdo energético ou de materiais e
surgimento de novos materiais. A questão central não é criar
mecanismos que induzam a internalização (ou aceleração da
internalização destas transformações) no país, mas saber que
políticas devem ser implementadas no sentido de maximizar os
benefícios do "mapa de oportunidades" e minimizar os custos
relativos às restrições.
Em cada espaço econômico nacional, a estrutura empresarial-
organizacional predominante é menos o resultado de alguma
determinação técnico-econômica (mesmo em tempos de globalização)
e mais conseqüência de uma configuração política-institucional
específica
59
. Então, as mudanças no papel e desempenho de grandes
grupos privados nacionais e internacionais, assim como de
pequenas e médias empresas nacionais ou estrangeiras, incorporam
uma dimensão histórico-político-institucional de longo prazo.
Neste sentido, há um certo ceticismo com relação à
implementação de políticas de regulação e de concorrência no
Brasil no curto prazo
60
. No caso particular do Brasil, a
efetividade da implementação de medidas antitrustes e de controle
de abuso do poder econômico depende, por um lado, da ruptura da
estrutura concentrada de riqueza e poder econômico (e político)
e, por outro, da própria consolidação da institucionalidade
democrática.
Outrossim, há uma dificuldade maior na definição de
políticas específicas, na medida em que "oportunidades"
correspondem restrições que não são possíveis de serem
corrigidas. Para ilustrar, a integração vertical da produção em
escala mundial, com a fragmentação do processo de produção,
envolve oportunidades em termos de aumento de produtividade e
competitividade - via especialização. Por outro lado, a
integração vertical internacional - estimulada pela criação de
zonas de processamento de exportações - gera problemas, como, por
68
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
exemplo, a vulnerabilidade com relação à demanda externa e o
aprofundamento da "lógica fordista". Neste caso, é bem provável
que se possa "capturar a oportunidade", mas tenha que se conviver
com a "restrição".
É bem possível também que a "captura de oportunidades"
envolva, não um conjunto específico de políticas econômicas, mas
sim uma mudança estrutural-sistêmica de ordem não-econômica.
Tome-se o exemplo da transformação global associada ao modelo
"toyotista" de difusão de relações contratuais estáveis e de
longo prazo entre agentes. Neste caso, como estimular a
internalização deste modelo ou fenômeno na economia brasileira? A
resposta está longe de ser trivial quando se considera o ambiente
inflacionário que dificulta relações contratuais de longo prazo,
a resistência empresarial à participação de organizações
representativas de trabalhadores no processo de introdução de
inovacões e a frágil institucionalidade reguladora do cumprimento
de contratos.
Para concluir, dificilmente pode-se escapar do argumento de
que políticas industriais, tecnológicas, creditícias, etc.,
orientadas para estimular a competitividade internacional do país
só surtirão efeitos se acompanhadas de políticas de concorrência,
que envolvam redução significativa da permissividade do mercado
interno, assim como uma mudança radical nas políticas
macroeconômicas tradicionalmente baseadas em juros elevados.
Do ponto de vista de operacionalização de políticas
setoriais, seletivas e temporalmente determinadas, o instrumento
mais adequado parece ser o de Câmaras Setoriais. Embora a
experiência brasileira recente não tenha sido particularmente
positiva (o combate à inflação tornou-se o elemento predominante
de negociação), este nos parece ser o instrumento mais adequado
para tratar, numa perspectiva de longo prazo, o problema da
competitividade internacional do país, inclusive, via introdução
de inovações tecnológicas e organizacionais.
69
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
É fundamental também uma mudança radical nas políticas
macroeconômicas tradicionalmente baseadas em juros elevados. Os
juros elevados desviam aplicações para o mercado financeiro,
geram o estreitamento do mercado interno e desarticulam os
projetos de investimento (inclusive, os de natureza tecnológica e
organizacional). Outrossim, os baixos salários pagos na indústria
brasileira e a situação recessiva predominante há uma década têm
desestimulado a introdução de inovações tecnológicas e
organizacionais no país.
70
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
5. INDICADORES
Indicadores referentes ao desempenho comparado das empresas
multinacionais nos diversos países (matriz, filiais brasileiras e
outras filiais):
- faturamento por empregado
- margem de lucro
- exportações e importações em relação ao faturamento
Indicadores referentes à pesquisa e desenvolvimento na
matriz, nas filiais brasileiras e em outras filiais:
- gastos de P&D
- pessoal alocado nas atividades
- produtos e processos desenvolvidos
Indicadores referentes ao desempenho comercial e financeiro
externo das filiais brasileiras:
- exportações, importações
- remessas de lucro
- captações de recursos externos
Indicadores de integração de atividades das filiais
brasileiras:
- participação em projetos conjuntos
- principais formas de comunicação entre as unidades do
grupo no Brasil e no exterior
- número de pessoas originárias da matriz na filial e da
filial na matriz
- composição da diretoria
71
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
NOTAS
1 Este estudo não trata, portanto, das mudanças que ocorreram no plano das finanças
internacionais e que, embora tenham impacto menos direto sobre a competitividade da indústria
brasileira, são igualmente importantes para esta questão. Ver, por exemplo, Philip Turner,
Capital Flows in the 1980s: A Survey of Major Trends, Basle, Bank for International Settlements,
Monetary and Economic Department, BIS Economic Papers No. 30, 1991; e UNCTAD, International
Monetary and Financial Issues for the 1990s, 2 volumes, New York, United Nations Conference on
Trade and Development, 1992.
2 Não se pode negligenciar a influência de variáveis de política econômica. Para ilustrar, parte
significativa da internacionalização da produção do Japão durante a década de 80 pode ser
explicada pelas políticas comerciais (protecionismo na primeira metade da década) e políticas
cambiais (segunda metade da década).
3 Não existe consenso a respeito do conceito de globalização, que neste trabalho está associado à
questão do grau, extensão, natureza e padrão da concorrência à escala mundial. Por exemplo,
François Chesnais, "National systems of innovation, foreign direct investment and the
operations of multinational enterprises", em B. A. Lundvall (ed.) Elements of National Systems of
Innovation, London, Pinter Publishers, 1992, parece entender a globalização como "o estágio
superior" da internacionalização, ao mesmo tempo em que usa o termo de forma frouxa para
tratar fenômenos diversos envolvendo investimento externo direto, tecnologia, estruturas de
mercado, organização da produção, etc. Segundo estudo recente da OECD, Technology and Economy.
Background Report concluding the Technology/Economy Programme, Paris, Organisation for Economic Co-
operation and Development, 1991 (há uma versão revisada publicada em 1992), "Globalisation
refers to a set of emerging conditions in which value and wealth are produced and distributed
within world-wide networks"; capítulo 4, p. 349. Esta definição omnibus não é, definitivamente,
muito til para fins analíticos.
4 Por exemplo, o US Presidential Commission on Industrial Competitiveness de 1985 apresenta uma
definição mais ampla: "Competitiveness is the degree to which a nation can, under free and fair
market conditions, produce goods and services that meet the test of international markets
while simultaneously maintaining and expanding the real incomes of its citizens". Ver, Office
of Technology Assessment, Competing Economies. America, Europe, and the Pacific Rim, Washington D.C.,
Congress of the United States, 1991, p. 1.
5 "Competition is a rivalry between individuals (or groups or nations), and it arises whenever
two or more parties strive for something that all cannot obtain.", em George J. Stigler,
"Competition", The New Palgrave Dictionary of Economics, The Macmillan Press Limited, 1987, vol. I,
p. 531-536. Citação da página 531.
6 Produtividade refere-se à relação entre produto e insumos. Ver, Zvi Griliches, "Productivity:
measurement problems", The New Palgrave Dictionary of Economics, op. cit., vol. 3, p. 1010-1013.
7 Este problema também ocorre, por exemplo, na definição do "potencial científico e tecnológico
nacional". Assim, "Le potentiel scientifique et technique est national non pas par la
nationalité de ses membres, mais par son insertion dans une logique de régulation particuliþre:
ce qui exclut de ce fait les agents qui tirent leur dynamique d'un autre État national. En
d'autres termes, sont exclus les multinationales étrangþres et les scientifiques du pays qui
travaillent à l'extérieur". Ver, Dimitri Uzunidis, "Quelques réflexions sur l'efficacité de la
science et de la technologie dans les pays en développement", L'Homme et la Société, No. 105-106,
juillet-décembre 1992, p. 125-140; citação da p. 126.
72
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
8 Estes conceitos são a base da teoria moderna da internacionalização da produção. Ver, John H.
Dunning, Explaining International Production, London, Unwin Hyman, 1988; J. Jacquemot, La Firme
Multinationale: Une Introduction Economique, Paris, Ed. Economica, 1990; Robert Grosse and Jack N.
Behrman, "Theory in International Business", Transnational Corporations, vol. 1, no. 1, February
1992, p. 93-126; UNCTC, The Determinants of Foreign Direct Investment. A Survey of the Evidence, New
York, United Nations Centre on Transnational Corporations, 1992; e Reinaldo Gonçalves,
Empresas Transnacionais e Internacionalização da Produção, Rio de Janeiro, Ed. Vozes, 1992.
9 Não é por outra razão que nos Estados Unidos há um importante debate sobre a distinção entre
competitividade deste país, como uma economia nacional, e a competitividade das empresas
transnacionais de origem americana. Irving Kravis e Robert E. Lipsey fizeram vários trabalhos
sobre o tema, ver, por exemplo, "Sources of competitiveness of the United States and of its
multinational firms", The Review of Economic and Statistics, vol. LXXIV, No. 2, May 1992, p. 193-
201.
10 Ver os diversos artigos encontrados em Carlos Ominami (org.), La Tercera Revolución Industrial.
Impactos Internacionales del Actual Viraje Tecnológico, Buenos Aires, RIAL/Grupo Editor
Latinoamericano, 1986.
11 Reinaldo Gonçalves, "La presencia de las empresas transnacionales en Brasil", em Dos Estudios
sobre Empresas Transnacionales en Brasil, Estudios e Informes de la CEPAL, No. 31, Santiago,
Naciones Unidas, 1983, p. 49-141.
12 Reinaldo Gonçalves, "Investimento externo direto e empresas transnacionais no Brasil: uma visão
estratégica e prospectiva", em Ciências Sociais Hoje, 1991, São Paulo, Ed. Vértice e ANPOCS,
1991, p. 231-244.
13 Ver o número especial de World Development, Vol. 20, No. 12, December 1992, e, em particular,
os artigos de Carl Dahlman, "Performance and potential of information technology: An
international perspective", p. 1703-1719, e Alan Cane, "Information technology and
competitive advantage: Lessons from developed countries", p. 1721-1736.
14 Ver, por exemplo, Carlota Pérez, "Las nuevas tecnologías:: una visión de conjunto", em Carlos
Ominami (org.) La Tercera Revolución Industrial. Impactos Internacionales del Actual Viraje Tecnológico,
Buenos Aires, RIAL/Grupo Editor Latinoamericano, 1986, p. 43-89. Este artigo é interessante
pelo escopo da análise, embora a apresentação do novo paradigma técnico-econômico seja um tanto
estabilizada. O relatório recente da OECD também apresenta uma discussão abrangente do tema,
com destaque para as mudanças nas formas de organização da produção (Capítulo 4); ver OECD,
Technology and Economy, op. cit.. Ver, também, CEPAL, Reestructuración Industrial y Cambio
Tecnológico: Consecuencias para America Latina, Naciones Unidas, Comision Economica para America
Latina y el Caribe, Santiago de Chile, 1989, principalmente, a primeira parte.
15 Perez, op. cit., p. 59-60.
16 OECD, op. cit., p. 9.
17 OECD, op. cit., p. 370.
18 UNCTC, Transnational Corporations in World Development. Trends and Prospects, New York, United Nations
Centre on Transnational Corporations, 1988, capítulo III, p. 41-51. Ver, também, OECD, Tecnology
and Economy, op. cit., capítulo 10, tabelas 10.4, 10.5 e 10.6.
19 UNCTC, Transnational Corporations in World Development. Trends and Prospects. op. cit., capítulo 4.
20 Charles Oman, New Forms of International Investment in developing Countries, Paris, Organisation for
Economic Co-operation and Development, 1984.
73
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
21 O acordo de licenciamento envolve o fornecimento de tecnologia em retorno por um pagamento. O
acordo de "franchising" fornece um pacote (tecnologia, marca, e assistência técnica e para
gerenciamento) em troca do pagamento de "royalties" ou de uma taxa. Nos contratos de
gerenciamento a firma estrangeira é responsável pela administração de um projeto ou de uma
empresa, e pode incluir também o treinamento de pessoal local. O contrato de "chave na mão"
("turnkey") envolve a construção de uma unidade completa de produção, que é entregue ao
proprietário pronta para funcionar. O contrato de "produto na mão" inclui o projeto "turnkey",
assim como o treinamento de pessoal local capaz de operar a nova planta. O contrato de divisão
da produção, geralmente utilizado na indústria extrativa mineral, implica na exploração e
produção mineral juntamente com uma empresa local, sendo que o retorno da empresa transnacional
é uma certa proporção da produção durante um período de tempo registrado no contrato. O
contrato de risco é similar ao contrato anterior, só que o retorno da empresa transnacional não
é uma proporção da produção física, mas um pagamento em moeda.
22 François Chesnais, op. cit., p. 24 (draft version).
23 Julien Savary, "Des stratégies multinationales aux stratégies globales", em Jean-Pierre Gilly
(ed.), L'Europe Industrielle Horizon 93 Tome 1, Paris, La Documentation Française, 1991, p. 79-
108.
24 A. Hanut, "Systþme productif national et segmentation internationale des processus productifs",
em Traité d'Economie Industrielle, Paris, Economica, 1988, p. 338-350.
25 Savary op. cit., trata especificamente de casos de reestruturação na Europa.
26 UNCTC, The Determinants of Foreign Direct Investment. A Survey of the Evidence, New York, United
Nations Centre on Transnational Corporations, 1992, p. 56.
27 François Chesnais, op. cit., p. 26, apresenta dados sobre crescimento da participação de
atividades de P&D realizadas por empresas transnacionais fora do seu país de origem que não são
convincentes em termos de tendência ou crescimento regular.
28 Ibid., p. 10.
29 Dados para a CEE são analisados em Claude Pottier, "Les groupes européens à la recherche d'une
taille mondiale", em Jean- Pierre Gilly, L'Europe Industrielle. Horizon 93, vol. 1, Paris, La
Documentation Française, 1991, p. 61-77. Dados sobre operações de reestruturação indústrial
envolvendo fusões e aquisições entre as 1000 maiores empresas da CEE são examinados em "La
contribution des pays de la CEE aux flux d'investissements directs à l'étranger et aux
opérations industrielles transfrontalipres", Problèmes Economiques, No. 2232, juillet 1991, p.
30. Dados sobre aquisições de empresas norte americanas por estrangeiras são apresentados em
Edward M. Graham e Paul R. Krugman, Foreign Direct Investment in the United States, Washignton
D.C., Institute for International Economics, 1989, p. 19. Ver, também, Philip Turner, op.
cit., p. 50.
30 A. D. Cosh e A. Hughes, "Anatomie du contrôle des firmes", em Jean-Pierre Gilly, op. cit., p.
53-59.
31 Ver os diversos trabalhos publicados em Lynn K. Mytelka (ed.), Strategic Partnerships. State,
Firms and International Competition, London, Pinter Publishers, 1991.
32 Para dados mais recentes, ver, John Hagedoorn, "Catching up or falling behind: Patterns in
international inter-firm technology partnering", Paper for the United Nations Conference,
"Global Trends in Foreign Direct Investment and Strategies of Transnational Corporations in
Brazil", São Paulo, novembro 1992.
74
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
33 Ver, por exemplo, Frederique Sachwald, "Les accords dans l'industrie automobile. Une analyse en
termes de co¹ts de transaction", Économie Prospective Internationale, No. 41, 1er trimestre, 1990,
p. 45-68.
34 A influência fundamental da variável "política do Estado-Nação" é claramente observada na
experiência européia recente. Assim, "A vontade política dos países receptores de impor às
firmas multinacionais uma produção local completa é um fator essencial na determinação das
estratégias internacionais destas firmas"; Savary, op. cit., p. 91. Neste estudo são discutidos
dois casos em que os "imperativos políticos" desempenharam um papel fundamental nas estratégias
de empresas transnacionais norte-americanas operando na Europa, a saber, Ford e IBM.
35 Reinaldo Gonçalves, 1983, op. cit., p. 66-67.
36 Esta seção baseia-se em Reinaldo Gonçalves, "Empresas transnacionais e a crise brasileira:
Lucros altos e recuo estratégico", Cadernos do Terceiro Mundo, Ano XV, No. 159, março 1993.
37 Os dados sobre ETs no Brasil são precários, o que leva especialistas a trabalhar com fontes
internacionais. Não existe no Brasil até hoje um censo geral sobre investimento estrangeiro,
como os que existem em vários países desenvolvidos, inclusive nos Estados Unidos.
38 Survey of Current Business, diversos números.
39 A estratégia financeira defensiva é generalizada, sendo também adotada pelos grandes grupos
privados nacionais. Survie oblige ! Ver dados em Julio Sergio. G. de Almeida e Luis Fernando
Novais, "A empresa líder na economia brasileira: Ajuste patrimonial e tendência de 'mark-up',
1984-89", IESP/FUNDAP, Texto para Discussão, Ano 6, No. 2, Junho 1991; Miguel Juan Bacic,
"Fragilidade financeira e alavancagem: Uma aplicação no segmento das maiores empresas do
Brasil (1980-1987)", Tese de Mestrado, Instituto de Economia, Universidade de Campinas, 1990; e
"Performance Empresarial 1991. Panorama Agregado de 1000 Empresas", em Conjuntura Econômica, Vol.
46, No. 12, dezembro 1992, p. 101-166. É importante mencionar que a aplicação da Lei nº 8200/91
afetou os resultados de balanço das empresas, o que prejudica consideravelmente a análise de
tendência em 1990 e 1991. Ver, também, Reinaldo Gonçalves, "Os grandes grupos na economia do
país", Cadernos do Terceiro Mundo, Ano XV, No. 156, dezembro 1992, p. 26-31.
40 Este fato se manifesta de forma evidente na deterioração significativa dos indicadores
econômico-financeiros de empresas brasileiras e transnacionais em 1990 e 1991. Isto significa,
inclusive, a interrupção de tendências observadas em alguns indicadores. Ver, Conjuntura
Econômica, op. cit..
41 O restante desta seção baseia-se, em grande medida, em Reinaldo Gonçalves, "Macroeconomic
instability and the strategies of transnational corporations in Brazil: Standstill,
retrenchment or divestment ?", Instituto de Economia Industrial/UFRJ, Texto para
Discussão No. 291, 1993. Este texto apresenta informações a respeito de empresas individuais,
que foram mencionadas na imprensa.
42 Ricardo Bielchowsky, "Transnational corporations and the manufacturing sector in Brazil",
Santiago, Chile, DSC/6, 1992.
43 Segundo relatório do funcionário do Banco Mundial, Keith S. Rosen, "Regulation of Foreign
Investment in Brazil. Report to the World Bank", Washington, 1988, draft, "The multinational
corporations have found the Brazilian regulatory scheme fairly tolerable, largely because of
an historic tendency of Brazilian officials to be reasonably flexible and pragmatic in the
administrative process and because inability to remit hard currency legally is the principal
sanction for noncompliance", p. 6.
75
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
44 Ricardo Bielschowsky e João Carlos Ferraz, "Perspectivas do comportamento tecnológico de
empresas nacionais e transnacionais na indústria brasileira", Rio de Janeiro, Instituto de
economia Industrial, UFRJ, mimeo, 1990. Este fenômeno tinha sido constatado em outro estudo
tratando especificamente de "spill- overs" tecnológicos; Reinaldo Gonçalves, "Technological
spill-overs and manpower training:: A comparative analysis of multinational and national
enterprises in Brazilian manufacturing", Journal of Economic Development, Vol. 11, No. 1, July
1986, p. 119-132.
45 João Carlos Ferraz et al., "Trajetórias de crescimento e a modernização da indústria
brasileira: Um cenário para a década de 90", Instituto de Economia Industrial, UFRJ, Texto para
Discussão, No. 229, mimeo, 1990. Citação da página 57.
46 João Carlos Ferraz et al., "Modernização Industrial à Brasileira", Instituto de Economia
Industrial, UFRJ, mimeo, 1992.
47 João Carlos Ferraz et al, op. cit., 1990 e João Carlos Ferraz et al, op. cit., 1992.
48 Ver os Quadros tratando especificamente de empresas transnacionais na indústria química e na
automotiva.
49 Ibid., p. 8 e p. 31.
50 Alguns exemplos deste padrão de reação estratégica por parte de empresas transnacionais são
mencionados em Reinaldo Gonçalves, Macroeconomic instability ..., op. cit..
51 Ibid.
52 Harvey Leibenstein, Inside the Firm. The Inefficiencies of Hierarchy, Cambridge, Massachusetts,
Harvard University Press, 1987, p. 41. Ver, em particular, o capítulo 4, "Economics of
Inertia".
53 Harvey Leibenstein, General X-Efficiency Theory & Economic Development, Oxford University Press,
1978, p. 8.
54 "Market power will not only drive a wedge between price and marginal cost, but will also raise
the firm's costs above the technologically minimum levels. The precise nature of this
inefficiency was unclear to Leibenstein; hence he named it X"; Roger Frantz, "X-Efficiency and
allocative efficiency: What have we learned ?", American Economic Review, Vol. 82, No. 2, May
1992, p. 434-438; citação da p. 434.
55 Ver, Reinaldo Gonçalves, "Empresa transnacional: tecnologia e comércio exterior dos países em
desenvolvimento", Revista Brasileira de Comércio Exterior, Ano III, No. 16, março/abril 1988, p. 4-
10. Ver, também, UNCTC, The Determinants of Foreign Direct Investment. A Survey of the Evidence, op.
cit., 1992, p. 48-49 e 60.
56 Para uma avaliação de aspectos mais gerais associados à integração regional e à criacão do
Mercosul, ver, Marcos Arruda, Reinaldo Goncalves e Luis Carlos Prado, Mercosul ou a Integração dos
Povos do Cone Sul ?, Rio de janeiro, FASE/PACS/UFRJ, 1992.
57 Reinaldo Gonçalves, "Small and medium-size transnational corporations in Brazil". Report to the
UNCTC, Instituto de Economia Industrial/UFRJ, Rio de Janeiro, 1992, Texto para Discussão, No.
289.
58 Ibid., p. 18-29 para um tratamento específico sobre o tema, incluindo recomendações de
políticas e programas.
76
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
                                                                                                     
 
                                                                    
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
59 G. Hamilton e N. Biggart, "Market, culture, and authority: a comparative analysis of management
and organization in the Far East", American Journal of Sociology, Vol. 94, Supplement, 1988, p.
852-894.
60 Reinaldo Gonçalves, "Grupos privados nacionais e o futuro do capitalismo no Brasil: Uma visão
alternativa", em M. D. David (org.), Economia e Política da Crise Brasileira. A Perspectiva
Social-Democrata, Rio de Janeiro, Ed. Rio Fundo, 1991, p. 109-118.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo