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Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE
DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
_____________________________________________________________________________________________
COMPETITIVIDADE DO COMPLEXO DE
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Nota Técnica do Complexo
O conteúdo deste documento é de
exclusiva responsabilidade da equipe
técnica do Consórcio. Não representa a
opinião do Governo Federal.
Campinas, 1993
A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos
(FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá para a elaboração do Relatório Final do Estudo.
A Coordenação do ECIB agradece aos consultores Roberto de Souza e Maria Angélica Covelo Silva (do Centro de Tecnologia de
Edificações S/C Ltda.) pela elaboração deste documento e pelos trabalhos de coordenação da Nota Técnica Setorial do Complexo de Materiais de
Construção.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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CONSÓRCIO
Comissão de Coordenação
INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP
INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ
FUNDAÇÃO DOM CABRAL
FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR
Instituições Associadas
SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY
INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI
NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA
DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP
INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
Instituições Subcontratadas
INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA - IBOPE
ERNST & YOUNG, SOTEC
COOPERS & LYBRANDS BIEDERMANN, BORDASCH
Instituição Gestora
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE)
João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI)
Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)
Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE)
Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI)
Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE)
Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)
João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE)
Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)
David Kupfer (UFRJ-IEI)
Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI)
Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)
Contratado por:
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
COMISSÃO DE SUPERVISÃO
O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:
João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES)
Lourival Carmo Monaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)
Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES)
Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)
Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT)
Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)
Eduardo Gondin de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES)
Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE)
Guilherme Emrich (BIOBRAS) Renato Kasinsky (COFAP)
José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP)
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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SUMÁRIO
RESUMO EXECUTIVO............................................................................................................1
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................24
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS....................................................................................27
1.1. Tendências Gerais do Complexo....................................................................................27
1.2. Países e Empresas Líderes..............................................................................................31
1.3. Fatores Determinantes da Competitividade.....................................................................35
1.3.1. Fatores internos à empresa...................................................................................35
1.3.2. Fatores estruturais................................................................................................35
1.3.3. Fatores sistêmicos................................................................................................36
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA ......................................................40
2.1. Desempenho Recente.....................................................................................................42
2.2. Capacitação Produtiva, Tecnológica e Gerencial............................................................54
2.3. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade..............................................................64
2.3.1. Fatores internos à empresa...................................................................................64
2.3.2. Fatores estruturais................................................................................................65
2.3.3. Fatores sistêmicos................................................................................................67
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS...........................................................................................69
3.1. Diretrizes Gerais............................................................................................................69
3.2. Políticas de Reestruturação Setorial...............................................................................71
3.3. Políticas de Modernização Produtiva .............................................................................75
3.4. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos................................................................77
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE.........................................................................80
4.1. Indicadores do Impacto da Produção no Sistema Econômico.........................................80
4.2. Indicadores de Capacitação dos Setores.........................................................................82
4.3. Indicadores de Desempenho...........................................................................................85
4.3.1. Desempenho econômico ......................................................................................85
4.3.2. Desempenho produtivo........................................................................................87
5. CONCLUSÕES....................................................................................................................90
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................92
RELAÇÃO DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS ...........................................................94
RELAÇÃO DE SIGLAS...........................................................................................................96
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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RESUMO EXECUTIVO
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
1.1. Tendências Gerais do Complexo
Para efeito do presente trabalho, o complexo de materiais de construção inclui as seguintes
cadeias industriais: extração e beneficiamento de minerais não-metálicos; insumos metálicos;
madeira; cerâmica e cal; cimento; e insumos químicos. Embora menos exaustiva do que a
classificação adotada pelo IBGE, as cadeias industriais acima mencionadas incluem os setores que
respondem pela maioria da produção do complexo e pelos materiais mais utilizados pela
Construção Civil.
O Quadro 1 descreve sucintamente as cadeias produtivas seleciondas, identificando os
setores componentes, seus principais produtos e as suas características estruturais. O quadro
demonstra a existência de uma grande variedade de estruturas industriais e padrões tecnológicas
no complexo, até mesmo entre indústrias de uma mesma cadeia produtiva.
O Quadro 2 apresenta os países e empresas líderes nos principais setores das cadeias
produtivas incluidas no estudo.
Os países desenvolvidos em geral possuem centros de P&D com elevado grau de
capacitação na área de materiais de construção sendo que os principais centros encontram-se nos
seguintes países: E.U.A., Canadá, Reino Unido, França, Portugal, Espanha, Japão, Holanda,
Itália, Alemanha, Suécia, Bélgica, Dinamarca, Suíça, Israel.
1.2. Fatores Determinantes da Competitividade
As estratégias competitivas das empresas líderes do complexo no mercado internacional
têm se direcionado fortemente para o objetivo de aperfeiçoar a qualidade dos produtos.
Apresenta-se, a seguir, de forma hierarquizada segundo a ordem de importância, os fatores
internos, estruturais e sistêmicos que mais impactam a competitividade do complexo:
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Fatores internos à empresa
. ampliação do investimento em pesquisa e desenvolvimento, seja através de estreita
cooperação com universidades e institutos de pesquisa públicos, seja através de centros de
pesquisa próprios ou setoriais;
. busca de redução do consumo energético na produção e uso de fontes alternativas de energia;
. pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos voltados ao controle ambiental;
. implantação de sistemas de garantia da qualidade nas empresas;
. integração com projetistas, construtores e fabricantes complementares para o
desenvolvimento de produtos que proporcionem a coordenação dimensional e funcional e a
racionalização dos processos construtivos;
. crescente estruturação de sistemas de orientação ao uso e assistência técnica ao usuário
final, com amplo investimento na difusão de informações tecnológicas;
. automação completa dos processos de produção.
. Fatores estruturais
. desenvolvimento e aperfeiçoamento das normas técnicas de produtos e de procedimentos
de uso (projeto e execução de obras), bem como a estrita observância às normas;
. prática disseminada da certificação da qualidade de produtos de modo a reduzir o
investimento do consumidor (indústrias intermediárias e construtores) em controle da qualidade
de produtos;
. crescente padronização de materiais e componentes;
. intensa pesquisa no campo da durabilidade de materiais e componentes de forma a
minimizar os custos ao longo da vida útil dos bens finais (operação e manutenção de edifícios,
pontes, rodovias, barragens, etc);
. crescente processo de substituição de materiais tradicionais por materiais inovadores,
especialmente produtos de base orgânica.
. Fatores sistêmicos
. racionalização dos sistemas de transporte de produtos;
. ampla e contínua capacitação laboratorial abrangendo todos os produtos;
. acesso às fontes energéticas mais adequadas;
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. rigorosa exigência de adequação às normas técnicas por parte dos consumidores e de
adequação às normas de controle ambiental;
. globalização do mercado com unificação das normas técnicas e acesso aos mercados
internacionais de insumos e matérias-primas, com organização dos mercados em grandes blocos.
Essas estratégias vem sendo estabelecidas paulatinamente no mercado internacional desde
a década de 70. As iniciativas pioneiras com relação aos aspectos tecnológicos e organizacionais
foram geradas por uma estreita cooperação entre o setor empresarial e as instituições de pesquisa
nos vários países, além de um movimento generalizado de criação de centros tecnológicos
empresariais e setoriais ligados ao setor privado.
Exemplos de ações de política industrial de natureza setorial ou sistêmica para o complexo
bem sucedidas no sentido da competitividade são encontradas na Itália e Espanha - indústria de
cerâmica para revestimentos; na Suíça - indústria do cimento; nos Estados Unidos - para o
complexo de um modo geral e indústria de tubos e conexões de PVC; Japão para o complexo de
um modo geral.
E
STUDO DA
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QUADRO 1
SETORES CONSTITUINTES DO COMPLEXO MATERIAS DE CONSTRUÇÃO
CADEIA PRODUTIVA SETORES DA CADEIA PRINCIPAIS PRODUTOS
1. Extração e beneficiamento
de minerais não-metálicos
. Areia;
. Pedra britada;
. Amianto;
. Calcário;
. Argila;
. Gesso;
. Pedras para revestimentos;
. Outros minerais.
Com exceção das pedras para
revestimentos os demais
setores geram insumos básicos
que fazem parte de materiais
e componentes como: concreto
e argamassas; cimento
amianto; cimento e cal;
componentes de cerâmica
vermelha e cerâmica branca;
placas para forros e
revestimentos; painéis de
vedação.
2. Insumos metálicos . Ferro; alumínio; cobre;
zinco: extração e
beneficiamento
. Aço estrutural em perfis e
barras
. Esquadrias: ferro fundido;
alumínio.
. Metais sanitários: aço e
cobre
. Tubos: aço e cobre
. Fios e cabos elétricos:
alumínio e cobre
. Pregos; parafusos - aço;
ferragens para esquadrias
. Barras e telas de aço para
estruturas de concreto;
. Perfis de aço para
estruturas;
. Perfis de alumínio para
esquadrias;
. Perfis de ferro fundido
para esquadrias;
. Esquadrias de ferro e de
alumínio: portas e janelas;
. Estruturas metálicas
. Tubos de aço galvanizado e
de cobre;
. Metais para aparelhos
sanitários;
. Tampos e acabamentos para
aparelhos sanitários;
. Ferragens: fechaduras;
dobradiças etc.;
. Pregos, parafusos e outros;
. Arames
E
STUDO DA
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QUADRO 1
SETORES CONSTITUINTES DO COMPLEXO MATERIAS DE CONSTRUÇÃO
(continuação)
CADEIA PRODUTIVA SETORES DA CADEIA PRINCIPAIS PRODUTOS
3. Madeira . Extração vegetal
. Beneficiamento de madeira
. Produção de chapas
. Produção de componentes de
madeira para a construção
civil
. Chapas para fôrmas de
estruturas;
. Sistemas industrializados
de fôrmas;
. Revestimentos de pisos e
paredes: assoalhos,
laminados
. Forros;
. Divisórias;
. Batentes e guarnições;
. Esquadrias;
. Estruturas de telhado
4. Cerâmica e cal . Cerâmica vermelha;
. Cerâmica para
revestimentos;
. Louças sanitárias;
. Cal;
. Vidro.
. Blocos e tijolos;
. Tubos;
. Componentes cerâmicos para
revestimento de pisos e
paredes;
. Aparelhos sanitários;
. Cal: aplicada na preparação
de argamassas;
. Vidro: como chapas para
vedação de janelas e
portas; coberturas; como
tijolos/blocos para vedação
com controle de
luminosidade; como elemento
decorativo e de acabamento.
E
STUDO DA
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QUADRO 1
SETORES CONSTITUINTES DO COMPLEXO MATERIAS DE CONSTRUÇÃO
(continuação)
CADEIA PRODUTIVA SETORES DA CADEIA PRINCIPAIS PRODUTOS
5. Cimento . Cimento;
. Cimento amianto;
. Produtores de concreto pré-
misturado;
. Produtores de argamassas
industrializadas;
. Produtores de elementos e
componentes pré-fabricados;
. Produtores de artefatos de
cimento.
. Cimento
. Concreto pré-misturado
. argamassas industrializada;
. Vigas, pilares, lajes,
painéis, telhas em concreto
armado e argamassa armada;
. Blocos de vedação, postes,
artefatos de cimento
amianto - telhas, caixas
d'água, placas.
6. Insumos químicos . Materiais plásticos - PVC;
polietileno; CPVC;
polipropileno;
policarbonato;
. Tintas e vernizes
. Aditivos e adesivos;
. Materiais betuminosos;
. Materiais isolantes -
poliuretano; poliéster; lã
de rocha; lã de vidro.
. Tubos, conexões e
acessórios para instalações
elétricas, hidráulicas e
sanitárias;
. Revestimentos de pisos e
paredes;
. Componentes de vedação como
telhas e "domos";
. Tintas imobiliárias e
vernizes para diversos
tipos de superfícies;
. Aditivos químicos para
concreto;
. Adesivos - colas em geral e
materiais para reparos;
. Placas e mantas de
isolamento acústico;
. Asfalto e mantas
asfálticas.
E
STUDO DA
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QUADRO 2
PAÍSES E EMPRESAS LÍDERES PARA ALGUNS SETORES DO COMPLEXO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
SETORES PAÍSES LÍDERES
. Amianto
. Mármores; granitos
. Calcário; argila
(extração)
. Canadá; Rússia; Brasil: em produção.
Tecnologia Canadense de extração
difundida mundialmente;
. Itália: liderança na tecnologia de
manufaturados (corte e polimentos);
. Liderança dos países produtores de
cimento; cal e cerâmica.
Grupo Saint-Gobain
Insumos Metálicos
(extração; beneficiamento; manufaturados)
. Rússia;
. Japão;
. E.U.A.
. Chile.
Madeira
(extração; beneficiamento; componentes)
. Indonésia;
. E.U.A.
. Canadá.
. Cerâmica para revestimentos
. Louças Sanitárias
. Cerâmica vermelha
. Cal
. Vidro
. Itália; Espanha; Brasil; Japão
. Itália; França; Inglaterra
. Rússia; E.U.A.; Japão; Alemanha
. França; Inglaterra
. Marazzi Ceramiche Spa
. Porcelanosa
. Inax Co.
. Grupo Saint Gobain
. Grupo Pilkington
Cimento . Japão; Suíça; França; Itália (em
tecnologia)
. China; Rússia; (em quantidade
produzida)
. Onoda Cement. Co.
. Grupo Holderbank
. Grupo Italcementi
. Grupo CIMFRAN
. Grupo Lafarge
. Tubos e conexões de PVC
. Tintas e Vernizes
. Finlândia; Reino Unido; Suíça; E.U.A.
. E.U.A.; Alemanha; Brasil; França;
Itália
. ÜPONOR
. WAVIN
. Grupo AMINDUS
. BASF
. AKZO
. DuPont
. Hoechst
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
2.1. Desempenho Recente
A crise econômica a partir da segunda metade da década de 80 teve grande impacto sobre
a Construção Civil, reduzindo drasticamente os recursos para financiamento e fazendo cair o nível
de atividade. A ociosidade em alguns setores industriais da produção de materiais e componentes
chegou a 50% da capacidade instalada. Em alguns casos o potencial de exportações se tornou a
única saída para assegurar a sobrevivência. Porém, a colocação dos produtos no mercado
internacional passou a exigir a adoção de estratégias apresentadas.
O comportamento competitivo dos vários setores do complexo de materiais de construção
é bastante variável devido à diversidade de estruturas industriais já caracterizada no capítulo
anterior. Uma medida da competitividade à grosso modo pode ser proporcionada pela apreciação
dos movimentos que vem ocorrendo em cada setor, especialmente nos últimos dois anos. Nesse
sentido, é possível destacar dois grupos de comportamentos distintos: o primeiro constituído por
setores tradicionalmente mais organizados cujos movimentos de atualização e busca de
posicionamento no mercado vem evoluindo gradualmente há vários anos e um segundo grupo
constituído por setores que, face às mudanças nos cenários político, econômico e social dos
últimos anos, iniciaram seus movimentos recentemente.
A diferença básica entre os dois grupos é de que no primeiro grupo a estrutura empresarial
e institucional existente é consolidada há mais tempo, com empresas de grande porte que
viabilizaram o início de programas de investimento em tecnologia e gestão de forma antecipada.
De forma sintética os diversos segmentos apresentam as seguintes características de
desempenho:
. Cadeia produtiva de extração e beneficiamento de minerais não-metálicos
Nesta cadeia destacam-se as indústrias de extração e beneficiamento de amianto e de
mármores e granitos que incrementaram as exportações nos últimos anos. No caso da indústria de
mármores e granitos houve significativo avanço tecnológico a partir da aquisição de máquinas e
equipamentos de última geração e possibilidade de incremento da exportação de bens
manufaturados e, portanto, de maior valor agregado em relação aos produtos em bruto.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Cadeia produtiva da cerâmica e cal
A indústria de cerâmica para revestimentos apresentou uma elevação significativa das
exportações (de aproximadamente 8% da produção em 1990 para aproximadamente 15% em
1992) e passa por um processo de modernização da capacitação em vários sentidos (adequação às
normas internacionais; certificação de produtos; implantação de sistemas de qualidade; criação de
centro setorial de desenvolvimento tecnológico.
. Cadeia produtiva do cimento
Ao contrário das demais cadeias registra-se na indústria do cimento uma deterioração das
relações entre produtores e consumidores, motivadas por discordâncias quanto aos preços e a
qualidade do produto. Tal fato tem estimulado um movimento organizado de consumidores
visando viabilizar importações, à despeito da capacidade instalada do Brasil ser suficiente para o
consumo e estar operando com ociosidade de até 30% nos últimos anos.
. Cadeia produtiva de insumos químicos
O destaque nesta cadeia é para o setor de tubos e conexões de PVC que apresenta
condições competitivas no Mercosul, América Latina e Caribe e vem investindo para ocupar esses
mercados.
A indústria de tintas e vernizes apresenta condições competitivas em termos de
capacitação geral (3º produtor mundial) mas, em função de um mercado recessivo nos últimos
anos, adiou seus investimentos e não apresentou condição de destaque.
2.2. Capacitação Produtiva, Tecnológica e Gerencial
A indústria brasileira de materiais de construção é muito diversificada quando comparada à
indústria congênere em vários outros países. Essa diversificação se dá em duas formas: no número
e tipos de produtos entre os vários setores e nos modelos/tipologias de produtos no interior de um
mesmo setor.
No primeiro caso, a abundância de matérias-primas no País o coloca em vantagem no
panorama internacional, tornando-o pouco dependente de importações e possibilitando um
potencial de ingresso em muitos mercados que não dispõem de produtos que o País pode
oferecer.
10
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Um balanço geral da capacitação apresentada pelas principais cadeias do complexo de
materiais de construção permite identificar três grupos de setores:
. setores cujas empresas líderes apresentam capacitação produtiva, tecnológica e
organizacional comparável aos padrões internacionais: indústria de pedras para revestimento; de
extração e beneficiamento de amianto; de madeira, para alguns tipos de produtos; de cerâmica
para revestimentos; de tubos e conexões de PVC; tubos metálicos; metais sanitários; louças
sanitárias.
. setores que apesar de apresentarem níveis satisfatório de capacitação não alcançam
competitividade internacional devido a deficiências de características do produto, qualidade ou
preços: indústria de tintas e vernizes, vidro, cimento, demais insumos químicos. A indústria do
cimento constitui caso particular em função de problemas no relacionamento com consumidores
no mercado interno, que tem levado a realização de importações, desnecessárias em condições
normais de funcionamento do mercado.
. setores em que o desenvolvimento tecnológico e organizacional é insuficiente, impedindo
o adequado atendimento do mercado nacional em termos das características de qualidade do
produto, relações na cadeia produtiva e de consumo, preços, etc: indústria de extração de minerais
não-metálicos (com exceção de pedras de revestimento e amianto); parcela da indústria de
insumos metálicos - esquadrias, ferragens; parcela da indústria da madeira - extração e
beneficiamento em parte; esquadrias e componentes de madeira; cal.
Papel decisivo na capacitação produtiva e tecnológica do complexo de materiais de
construção é desempenhado pela infra-estrutura de P&D e de tecnologia industrial básica. À
despeito do processo de esvaziamento ocorrido nos últimos anos, um número significativo de
instituições públicas, contando com pessoal de elevada capacitação pela formação a nível de pós-
graduação no País e no exterior, vem colaborando no desenvolvimento de pesquisa de longo
prazo e na parceria com os centros setoriais. Na área privada, os setores de cerâmica para
revestimentos, mármores e granitos e tubos e conexões de PVC estão estruturando seus centros
setoriais de desenvolvimento tecnológico, em parceria de secretarias estaduais de ciência e
tecnologia e instituições públicas de pesquisa. A indústria do cimento está apoiada na Associação
Brasileira de Cimento Portland. Uma entidade técnica abrangendo toda a cadeia produtiva foi
criada em 1992 (ITQC - Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construção Civil), com
a proposta de implantar o seguro-qualidade nos moldes existentes em países como a França,
Reino Unido e Estados Unidos.
11
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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2.3. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade da Indústria Brasileira
2.3.1. Fatores internos à empresa
Como resultado dos esforços de modernização das empresas líderes, tem ocorrido
significativa atualização tecnológica em relação aos países/empresas líderes internacionais do
complexo. Essa atualização vem ocorrendo de forma lenta e gradual, através principalmente de
projetos de implantação e não por substituição de equipamentos existentes. A introdução de
automação da produção têm ocorrido por etapas, com foco principal nas operações unitárias mais
críticas do processo de produção. Em vários casos, tem havido substituição de matérias-primas e
de tecnologias de processo tradicionais a fim de minimizar o impacto sobre o meio-ambiente.
Também tem se verificado um aumento dos investimentos em P&D nos últimos anos,
especialmente aqueles voltados para o desenvolvimento de produtos. As empresas líderes estão
buscando atender às necessidades dos consumidores - indústria da Construção Civil e usuários
finais - em termos de racionalização do processo de produção desses consumidores e da qualidade
do produto. Outro aspecto positivo da evolução recente é a crescente difusão de sistemas de
garantia da qualidade, visando à obtenção de marcas de conformidade, certificado de origem,
ensaios de laboratórios credenciados, homologação ou outras formas. O estabelecimento de novos
padrões de relacionamento entre produtores e demandantes, a partir do estabelecimento de
sistemas de qualificação de fornecedores por parte das construtoras, com base em critérios de
qualidade, prazos de entrega, condições de pagamento, atendimento/assistência técnica é outro
movimento positivo em curso nas indústrias do complexo.
Em termos da gestão, as empresas têm aumentado seus gastos em treinamento e
qualificação da mão-de-obra, implantado programas de segurança e melhorado as condições de
trabalho, estabelecendo programas de incentivos e participação nos lucros. Há em curso um
processo de profissionalização de estruturas organizacionais familiares, com redução de níveis
hierárquicos e terceirização de serviços que não são diretamente relacionados à produção.
Embora essas tendências gerais possam ser constatadas na maioria das empresas líderes,
não há uniformidade inter e intrasetorial. Convivem nos vários setores, empresas que adotam tais
estratégias de forma irreversível e empresas que ainda não estão sensibilizadas para esses
aspectos, e que apresentam sérios problemas nas relações internas e externas à cadeia produtiva.
Essa constatação expressa o elevado grau de heterogeneidade em termos de competitividade no
interior do complexo.
12
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Os obstáculos à competitividade que se colocam no âmbito das empresas relacionam-se ao
fato de que, apesar das estratégias das empresas líderes, ainda existe baixo grau de
conscientização das empresas quanto à necessidade de:
. produzir em conformidade às normas técnicas;
. atender às necessidades do consumidor de um modo geral, aumentando qualidade,
reduzindo preços, reduzindo desperdícios, aumentando a integração/coordenação com outros
produtos, cumprindo as condições de entrega, etc.;
. reduzir o recurso a cópia de produtos estrangeiros em favor de desenvolvimento de
design próprio;
. treinar e elevar a qualificação da mão-de-obra como instrumento de elevação da
produtividade;
. modernizar a gestão empresarial e a gestão da qualidade através do emprego de técnicas
organizacionais avançadas (maior descentralização, maior participação dos empregados, etc..)
. utilizar indicadores gerenciais e de competitividade;
2.3.2. Fatores Estruturais
A implantação de alguns centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico setoriais com
ênfase no controle da qualidade por meio laboratorial foi um fator positivo para o incremento da
competitividade em algumas cadeias do complexo. Também deve ser mencionado o esforço de
elaboração/atualização da normalização técnica brasileira, de modo a estabelecer padronização
dimensional e possibilitar a redução e controle de desperdícios, e o desenvolvimento e ampliação
do emprego de novos materiais e componentes para a produção de edificações.
Aperfeiçoamentos alcançados na organização institucional, como a criação de várias
entidades representativas de produtores e usuários, têm possibilitado o fortalecimento das relações
intersetoriais e uma maior articulação do esforço exportador, através de participação mais ativa
nas negociações do Mercosul, da viabilização das relações comerciais com outros países; maior
capacidade de atendimento às normas técnicas internacionais, etc.
De modo geral, essas ações adquiriram grande impulso a partir da vigência do Código de
Defesa do Consumidor, que mudou o status das normas técnicas brasileiras pela obrigatoriedade
de observância das mesmas para produtos e serviços colocados no mercado.
No entanto, também pode ser identificado um comportamento heterogêneo entre os
setores e obstáculos da seguinte natureza:
13
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. dificuldades de estabelecimento de condições de equilíbrio entre produtores/
consumidores nos processos de elaboração de normas técnicas, com predominância dos primeiros
e, conseqüente, surgimento de conflitos de interesses e necessidades.
. baixo grau de integração e, por vezes, relação de conflito entre os setores e as
instituições públicas de ensino e pesquisa. Embora identifique-se casos de integração esta ainda
não é suficientemente disseminada e não é aceita por alguns setores, que consideram que tais
instituições não fornecem respostas adequadas às necessidades da indústria. Nas instituições, por
sua vez, existem divergências com os produtores quanto ao direcionamento do desenvolvimento
de produtos em função das necessidades do País e quanto ao efetivo nível de comprometimento
dos setores com a qualidade. No que diz respeito ao ensino existem reivindicações dos setores
para a atualização e adequação da formação às necessidades da indústria - especialmente quanto
ao direcionamento das universidades para as indústrias de alta tecnologia ou tecnologia de ponta
em detrimento das tecnologias tradicionais.
Outro problema relevante decorre do fato de que o desenvolvimento de novos materiais e
componentes não é totalmente aderente às necessidades da demanda, especialmente nos aspectos
de adequação em termos de racionalização dos processos de execução de obras; redução de
custos para obras de interesse social (não somente habitações, mas obras de toda natureza);
durabilidade ao longo da vida útil com geração de elevados custos futuros para os usuários finais
ou para o Poder Público.
A integração na cadeia produtiva e de consumo é extremamente difícil em setores de
estrutura oligopolizada, atingindo casos extremos de conflito, como as divergências em relação ao
preço e a qualidade do cimento existente entre produtores e usuários do produto. Em outros
casos, como o fornecimento de resina de PVC ou de pedra britada e areia, o conflito refere-se
principalmente aos preços praticados. Também as relações capital-trabalho são conflituosas em
alguns setores pelo não atendimento de condições básicas de salários, segurança e condições de
trabalho.
O complexo é marcado, ainda, por uma extensa ocorrência de produção em não-
conformidade às normas técnicas - enfaticamente em tubos e conexões de PVC; cerâmica
vermelha; cerâmica para revestimentos; esquadrias metálicas e de madeira; cal. Em vários desses
setores têm proliferado empresas que produzem a custos baixos por meio do descumprimento da
legislação fiscal e trabalhista, e movem competição desleal em preços.
14
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
2.3.3. Fatores sistêmicos
Dentre os fatores sistêmicos, destacam-se como obstáculos à competitividade:
. baixa efetividade na aplicação da legislação de defesa da concorrência e elevado poder de
influência sobre os instrumentos de política industrial por parte dos setores oligopolizados, em
detrimento das relações de equilíbrio de interesses e necessidades entre produtores e
consumidores;
. sistema tributário que leva à impossibilidade de obter ganhos significativos no preço final
de alguns produtos, à despeito dos esforços para a redução de custos de produção, além da baixa
efetividade da fiscalização tributária e trabalhista;
. sistema de transporte para o exterior ineficiente, que inviabiliza a aceitação de condições
contratuais similares às oferecidas pelos competidores diretos.
. desarticulação institucional por parte do Estado na formulação de políticas de habitação e
saneamento e a falta de integração entre medidas adotadas pelo próprio Governo Federal e deste
com os governos estaduais e municipais.
. perda de capacitação por parte das instituições públicas (federais e estaduais) de pesquisa
e desenvolvimento tecnológico e também a ausência de mecanismos específicos de incentivo às
atividades de tecnologia industrial básica;
. falta de mecanismos contínuos de financiamento de longo prazo para a capacitação
produtiva e de critérios objetivos para concessão e gerenciamento desses recursos.
. falta de legislação abrangente e integrada entre os estados da federação quanto ao
controle ambiental e de mecanismos de incentivo à conservação de energia e do meio-ambiente
através de critérios de competitividade.
. dificuldades alfandegárias para o acesso a máquinas, equipamentos e seus componentes
que constituem a tecnologia de ponta nos respectivos setores.
. desatualização da rede pública de ensino (superior principalmente) em relação às reais
necessidades dos setores, segundo os novos paradigmas de competitividade (qualidade;
produtividade; P&D; etc.).
15
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
3.1. Diretrizes Gerais
A Construção Civil ainda não está totalmente integrada à Política Industrial, tendo sido
apontadas nas câmaras setoriais e nos diagnósticos do PBQP as repercussões que a desarticulação
institucional a nível governamental vêm provocando no setor. A indefinição de responsabilidades a
nível federal sobre a regulamentação das atividades da Construção Civil, marcadamente quanto às
políticas públicas de habitação e saneamento, tem levado a enormes dificuldades no
estabelecimento de programas e estratégias industriais de médio e longo prazo.
A busca de mercado externo, se representa estratégia de neutralização dos efeitos da
ociosidade e geração de demanda para o desenvolvimento da indústria, representa também a
necessidade de investimentos para assegurar a competitividade, os quais devem ser respaldados
por perspectivas internas de mercado.
O diagnóstico realizado nesse trabalho sugere que a definição de diretrizes para o
incremento da competitividade do coomplexo de materiais de construção brasileiro deve levar em
conta a existência de três grupos de setores de acordo com o desempenho e o estágio de
capacitação competitivas já alcançados:
Num primeiro grupo podem ser situados os setores que, em virtude de uma capacitação
produtiva, tecnológica e organizacional mais próxima dos países líderes, requerem apenas o
equacionamento de alguns obstáculos específicos para potencializar sua competitividade. Entende-
se, nesse caso, que esses setores têm condições de caráter mais imediato de se colocarem em
posições competitivas no mercado externo e de se afirmarem no mercado interno em relação aos
setores concorrentes e numa situação de maior uniformidade entre as empresas nas relações de
concorrência. Este é caso da indústria de pedras para revestimento; de extração e beneficiamento
de amianto; de madeira, para alguns tipos de produtos; de cerâmica para revestimentos; de tubos e
conexões de PVC; tubos metálicos; metais sanitários; louças sanitárias.
Num segundo grupo estão os setores que, apesar de não apresentarem capacitação
produtiva muito diferenciada em relação aos países líderes, não conseguiram ainda vencer
barreiras relativas à qualidade e características do produto, ou preços, ou ainda barreiras de
caráter sistêmico de modo a se colocarem em posição de competir no mercado externo de forma
significativa, especialmente na América Latina. Esse é o caso da indústria de tintas e vernizes,
vidro, cimento e demais insumos químicos. A indústria do cimento, no entanto, assume
características próprias no interior desse grupo em virtude do desequilíbrio nas relações com os
16
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
consumidores no mercado interno, que leva às importações que seriam desnecessárias em
condições normais de funcionamento do mercado.
No terceiro grupo colocam-se os setores em que há a necessidade de desenvolvimento
tecnológico e organizacional para atender de forma mais adequada o mercado nacional em termos
das características de qualidade do produto, relações na cadeia produtiva e de consumo, preços,
etc. Podem ser reunidos nesse grupo: a indústria de extração de minerais não-metálicos (com
exceção de pedras de revestimento e amianto); parcela da indústria de insumos metálicos -
esquadrias, ferragens; parcela da indústria da madeira - extração e beneficiamento em parte;
esquadrias e componentes de madeira; cal.
Essa diretriz geral deve ser traduzida nas seguintes orientações de política para
competitividade:
PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS PARA O COMPLEXO MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
OBJETIVOS:
- Geração de condições sistêmicas de fortalecimento e desenvolvimento da
indústria no mercado interno e externo;
- Criação de mecanismos de retirada de obstáculos à ação das empresas e setores
para a elevação da competitividade;
- Criação de mecanismos de incentivo diretos e indiretos à elevação do patamar de
competitividade;
- Promoção do equilíbrio no mercado interno através da mediação de interesses
entre produtores e consumidores, no sentido de assegurar que os primeiros
possam operar em condições suficientemente adequadas ao atendimento das
necessidades dos consumidores.
PREMISSAS BÁSICAS:
Estabilização econômica; elevação do nível de atividade da Construção Civil
PAPEL DO ESTADO:
- Geração de condições sistêmicas de fortalecimento e desenvolvimento da
indústria inclusive para o estabelecimento de uma política de exportação.
- Promoção do equilíbrio no mercado interno pela mediação entre produtores e
consumidores.
REFERÊNCIA/APOIO:
Sistema de indicadores de competitividade.
E
STUDO DA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3.2. Políticas de Reestruturação Setorial
Agentes/Atores
EXECUTIVO LEGISLATIVO EMPRESAS
TRABALHADORES
1. Objetivo: Reestruturar e integrar os setores
a. Desverticalização gradual dos setores
b. Estabelecimento de termos de compromisso
entre os integrantes das cadeias produtivas
para viabilizar o desenvolvimento tecnoló-
gico e organizacional
c. Reestruturação da indústria fornecedora de
equipamentos
d. Planejamento da expansão da capacidade
instalada
MICT/MF/MME
Sindicatos dos
trabalhadores
2. Objetivo: Promover a pesquisa e o desen-
volvimento tecnológico e organizacional
a. Estabelecimento de programas de investi-
mento em P&D de forma associativa e
integrada
b. Intercâmbio efetivo com instituições e
centros de P&D líderes no exterior
c. Organização setorial para a difusão
tecnológica
d. Estabelecimento de programas de desenvol-
vimento entre produtores e fornecedores de
matérias-primas
e. Estabelecimento de programas de P&D para
a proteção do meio-ambiente conservação e
adequação energética
f. Estabelecimento de programas de difusão
tecnológica envolvendo publicações e redes
de informações
FINEP/CNPq Centros de P&D
das empresas
E
STUDO DA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Agentes/Atores
EXECUTIVO LEGISLATIVO EMPRESAS
TRABALHADORES
3. Objetivo: Adequar o produto brasileiro às
tendências internacionais e atender as neces-
sidades dos consumidores em termos de
qualidade
a. Promoção da valorização da atividade de
normalização nas instituições de pesquisa e
o equilíbrio produtores/consumidores na
elaboração das normas
b. Organização setorial para difusão de
conceitos e metodologias de qualidade e
produtividade
c. Organização setorial para a certificação da
qualidade (terceira parte)
d. Mobilização do macrocomplexo para a
rejeição de produtos em não conformidade
PBQP/PACTI/
CAPES/CNPq;
INMETRO
Centros de P&D
das empresas
4. Objetivo: Promover a capacitação dos recur-
sos humanos do complexo e o aperfeiçoa-
mento das relações capital-trabalho
a. Organização setorial para a formação da
mão-de-obra operária e de nível técnico
b. Organização setorial para desenvolvimento
de programas de segurança e medicina do
trabalho
c. Estabelecimento de contrato coletivo de
trabalho nos setores
MTrabalho/
FUNDACENTRO
Sindicatos dos
trabalhadores
5. Objetivo: Promover os produtos brasileiros
no mercado internacional
a. Estruturação de um programa de
"marketing" para fixar a imagem dos
produtos nos principais mercados
b. Internacionalização das feiras de produtos
MICT
PBQP/PACTI
BNDES
Áreas de
"marketing"
E
STUDO DA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3.3. Políticas de Modernização Produtiva
Agentes/Atores
EXECUTIVO LEGISLATIVO EMPRESAS
TRABALHADORES
1. Objetivo: Promover a atualização da gestão
empresarial do complexo segundo as tendên-
cias internacionais
a. Estabelecimento de programas de moder-
nização gerencial e de gestão da produção
b. Estabelecimento de programas formais de
qualificação de fornecedores e de atendi-
mento aos consumidores
c. Modernização das estruturas organizacionais
das empresas
d. Estabelecimento de programas de gestão
participativa
PBQP/PACTI Alta administr.;
Consultoria
Trabalhadores
nas empresas
2. Objetivo: Promover o desenvolvimento
tecnológico das empresas e elevar seus
padrões de qualidade
a. Estabelecimento de programas de qualidade
total
b. Redução do grau de cópia de produtos
c. Estabelecimento de programas de
certificação de produto
d. Estabelecimento de programas de
atualização tecnológica
PBQP/PACTI Alta administr.;
Consultoria
Trabalhadores
nas empresas
3. Objetivo: Elevação da qualificação da mão-
de-obra das empresas em todos os níveis
a. Implantação de programas de treinamento de
mão-de-obra operária
b. Modernização das políticas e recursos
humanos
c. Estabelecimento de programas de formação
de executivos
PBQP/PACTI
Alta administr.;
Consultoria
Trabalhadores
nas empresas
E
STUDO DA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3.4. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
Agentes/Atores
EXECUTIVO LEGISLATIVO EMPRESAS
TRABALHADORES
1. Objetivo: Promover a avaliação do impacto
da carga tributária sobre a política de preços;
evitar o descumprimento à legislação e asse-
gurar a possibilidade de importação de pro-
dutos pelos consumidores
a. Análise conjunta por produtores e consumi-
dores quanto ao impacto da carga tributária
sobre a política de preços das empresas
b. Exposição à concorrência externa de setores
em conflito com os consumidores
c. Aperfeiçoamento da administração fiscal
MF; MICT;
Câmaras Setoriais
2. Objetivo: Promover a adequação do comple-
xo às necessidades de controle ambiental e
energia
a. Estabelecimento de normas adequadas à
substituição de insumos energéticos
b. Uniformização da legislação de controle
ambiental
c. Ampliação da participação do gás natural na
matriz energética
d. Incentivo aos programas de conservação de
energia nas empresas e setores
MME; MICT
Câmara e
Senado
3. Objetivo: Promover o desenvolvimento
industrial do complexo
a. Estabelecimento de programas de incentivo
ao desenvolvimento tecnológico do comple-
xo pelo poder de compra do Estado
b. Aperfeiçoamento da organização institu-
cional para aplicação da legislação "anti-
dumping" através de metodologias
específicas
Administr. pública
federal, estadual e
municipal/BNDES
MF/MJ/MICT
Câmara e
Senado
E
STUDO DA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Agentes/Atores
EXECUTIVO LEGISLATIVO EMPRESAS
TRABALHADORES
c. Aperfeiçoamento da organização
institucional para aplicação da Lei de Defesa
da Concorrência
d. Aperfeiçoamento das linhas de financia-
mento industrial
e. Estabelecimento de critérios de avaliação do
desempenho do complexo para gerenciamen-
to de programas públicos de financiamento
f. Modernização dos serviços do sistema
financeiro
g. Estabelecimento de programa amplo de
incentivo ao "design"
h. Estabelecimento de fórum permanente para
participação dos empresários na gestão da
política industrial
Administr.. pública
federal, estadual e
municipal/BNDES
MF/MJ/MICT
Câmara e
Senado
4. Objetivo: Assegurar a infra-estrutura de trans-
portes necessária ao desenvolvimento do com-
plexo inclusive viabilizando a exportação
a. Modernização portuária integrada aos
sistemas de transporte de acesso aos portos
b. Recuperação da malha rodoviária e incre-
mento da participação das ferrovias na infra-
estrutura de transportes
MT
Câmara e
Senado
5. Objetivo: Gerar condições para o estabe-
lecimento de de benefícios e incentivos
diretos à mão-de-obra
a. Adequação da legislação trabalhista de modo
a desonerar as empresas e incrementar os
benefícios diretos aos empregados
b. Redirecionamento do ensino superior e técnico
c. Redirecionamento das políticas de pesquisa
e pós-graduação
d. Reestruturação de critérios de avaliação de
desempenho nas universidades
MTrabalho;
MEducação
Câmara e
Senado
Entidades dos
trabalhadores
22
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
O estudo detectou a baixa utilização de indicadores como forma de avaliação do
desempenho competitivo do complexo de materiais de construção e para os setores e empresas
que o constituem, de um modo geral. O estudo propõe a elaboração de uma série de indicadores
que visam à constituição de um sistema que sirva de referência e apoio à aplicação de
instrumentos de uma política industrial para o complexo e que permita avaliar a evolução da
indústria e das empresas.
1. Indicadores do impacto da produção no sistema econômico
1.1. Valor adicionado
1.2. Participação dos setores nas exportações/importações brasileiras
1.3. Participação dos setores no emprego total
1.4. Evolução da produção comparativamente à evolução do consumo
1.5. Participação da produção brasileira na produção mundial
2. Indicadores de capacitação
2.1. Evolução da capacidade instalada e de seu grau de ocupação
2.2. Grau de concentração industrial dos setores
2.3. Grau de atualização tecnológica do parque produtor
2.3.1. Grau de atualização em relação aos competidores externos
2.3.2. Grau de atualização tecnológica interna aos setores: número de fábricas (plantas) que
produzem no processo de última geração e respectiva parcela da produção total da fábrica
2.3.3. Grau de aderência às técnicas organizacionais e modelos de gestão avançados
2.4. Capacitação dos recursos humanos
2.4.1. Composição da mão-de-obra dos setores (por empresa)
2.4.2. Programas de treinamento
2.4.3. Grau de aderência das normas técnicas brasileiras às normas dos países líderes
2.5. Grau de atualização das normas técnicas brasileiras
2.6. Tipos de produtos brasileiros em relação aos tipos de produtos dos países líderes
3. Indicadores de desempenho
3.1. Taxa de participação nos principais mercados compradores em relação aos seus competidores
(em volume quantitativo e valores)
3.2. Preços unitários (por ex. US$/t) pagos pelos países compradores em relação aos seus
competidores
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3.3. Balança comercial dos setores com os principais países compradores e balança comercial total
dos setores em base semestral
3.4. Evolução dos preços no mercado interno e seu impacto nos custos das obras e preços
praticados pelos principais países produtores em seu mercado
3.5. Evolução dos componentes da estrutura de custos das empresas (consumo por unidade
produzida e participação no custo final do produto por categorias de produtos)
3.6. Evolução do valor dos investimentos em relação às receitas, de forma discriminada e por
origem dos recursos (dividir em recursos próprios, financiamentos de origem pública e privada)
3.7. Produtividade da mão-de-obra
3.8. Produtividade energética
3.9. Produtividade global
3.10. Índices de emissão de poluentes e de ruído
3.11. Evolução da participação das empresas no mercado interno
3.12. Evolução das vendas por tipo de consumidor
3.13. Evolução das vendas por tipo de transporte
3.14. Evolução do prazo de rotação de estoque
3.15. Evolução do ciclo de produção
3.16. Evolução da taxa de retrabalho
3.17. Evolução da taxa de rejeito de insumos
3.18. Evolução da taxa de devolução de produtos
3.19. Incidência de manifestações patológicas em obras acabadas relativas a problemas de
qualidade ou inadequação de uso dos materiais
3.20. Paradas na produção - Previstas e imprevistas (em número de horas em relação às horas
totais trabalhadas no mês)
3.21. Evolução das ocorrências de acidentes de trabalho
3.22. Conformidade de produtos
3.23. Grau de aderência às tendências internacionais
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
APRESENTAÇÃO
O presente documento técnico apresenta a Nota Técnica de um dos estudos que compõem
o projeto "Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira", referente ao contrato entre a
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Secretaria de Ciência e Tecnologia da Presidência
da República (SCT - PR) e a Fundação Economia de Campinas (FECAMP), coordenado pelo
Prof. Dr. Luciano G. Coutinho, do Instituto de Economia da UNICAMP e pelo Prof. Dr. João
Carlos Ferraz do Instituto de Economia Industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O macrocomplexo da Construção Civil é composto pela indústria da Construção
propriamente dita e pelas indústrias que fornecem insumos às atividades de construção1. O
presente trabalho constitui-se numa análise da competitividade desse segundo grupo de indústrias,
aqui designadas como complexo de materiais de construção.
Para a análise de competitividade desse complexo recorreu-se a estudos aprofundados da
indústria do cimento, realizado no âmbito desse projeto, e das indústrias de cerâmica para
revestimentos e de tubos e conexões de PVC2
,
3.
O estudo teve por objetivo identificar os fatores que determinam a competitividade do
complexo de materiais de construção sob um enfoque metodológico que analisa os fatores que se
colocam no âmbito de decisão da empresa (fatores internos à empresa), da organização e dinâmica
dos setores que o compõem e das relações nas cadeias produtivas (fatores estruturais) e do
sistema econômico, político e social do País (fatores sistêmicos).
Os estudos setoriais utilizaram-se de fontes bibliográficas diversas; de dados e informações
obtidos junto a entidades de classe dos produtores nacionais e estrangeiros, empresas nacionais e
estrangeiras, entidades de classe dos consumidores e dos trabalhadores, empresas e profissionais
1 Embora seja comum a referência à indústria de materiais de construção a mesma se constitui de empresas que
produzem materiais (areia, cimento, pedra, etc); componentes (blocos, pisos e azulejos, esquadrias) e sistemas
construtivos.
2 Esses dois estudos foram realizados no âmbito do projeto "Desenvolvimento Tecnológico e Competitividade da
Indústria Brasileira", contratado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado
de São Paulo, junto à UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas e FECAMP - Fundação Economia de
Campinas. Os resultados obtidos no projeto, consolidados em duas notas técnicas, foram cedidos pela SCTDE para
utilização no presente projeto, devendo-se registrar o agradecimento àquela Secretaria, uma vez que os estudos
foram extremamente relevantes para a composição do perfil do complexo de materiais de construção quanto à
competitividade.
3 Além dos coordenadores, participaram dos estudos os seguintes consultores: Prof. Dr. Vahan Agopyan (Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo); Engº Orestes M. Gonçalves e Engº Fernando Del Nero Landi (Tesis -
Tecnologia de Sistemas em Engenharia S/C Ltda). Todos os estudos contaram com a colaboração da Arq. Marcia
Araujo de Menezes (CTE - Centro de Tecnologia de Edificações S/C Ltda) no tratamento e apresentação dos dados,
bem como na edição das notas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
consumidores ou especificadores dos produtos, pesquisadores de instituições públicas e privadas.
O estudo da indústria do cimento, contou ainda com os dados obtidos na pesquisa de campo do
Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira (ECIB, 1993).
O conjunto de dados obtido não foi totalmente aderente às necessidades do projeto,
podendo-se destacar as seguintes razões:
. o impacto dos setores no Produto Interno Bruto não pode ser estimado em virtude da
extrema imprecisão dos dados obtidos para os diversos setores. Isso se deve ao fato de que vários
setores não possuem esses dados desagregados de forma adequada;
. na indústria do cimento esperava-se maior número de respostas aos questionários
aplicados pelo ECIB (1993), tendo sido recebido apenas 7 (sete) questionários; embora as
informações gerais tenham sido obtidas através de entrevistas com empresas, entidades de classe,
etc., não foi possível obter dados quanto aos custos industriais e quanto aos preços praticados no
mercado nacional. Neste último caso, a falta de séries com mesma base de cálculo, que permitam a
comparação, inclusive com dados obtidos para o mercado internacional, fez com que o estudo
tenha se limitado a identificar os diferenciais obtidos pelos consumidores na importação de
cimento que vem sendo praticada recentemente. Outros dados relevantes, como o investimento
em P&D, em treinamento e qualificação, implantação de sistemas de garantia da qualidade e
outros, também não se apresentaram disponíveis, não só para o cimento como para todos os
demais setores;
. embora a caracterização dos países líderes na produção de cimento tenha sido feita a
partir de um importante conjunto de dados obtido diretamente de entidades e empresas
estrangeiras, não foi possível caracterizar a indústria da China, país líder em produção e
exportação, dadas as dificuldades de acesso;
. para a indústria de tubos e conexões de PVC, os dados quantitativos foram
extremamente escassos. Além da inexistência de dados nas entidades de classe para o setor como
um todo, as empresas não se dispuseram a fornecer os dados quantitativos solicitados, sob a
interpretação de que trata-se de dados e informações estratégicos e, portanto, não divulgáveis. As
informações e dados do setor e das empresas líderes nacionais ou estrangeiras também são
predominantemente qualitativas, porém apresentam alto grau de confiabilidade, uma vez que
foram realizadas várias entrevistas com profissionais com elevado grau de conhecimento quanto às
características do setor relevantes para o estudo;
. na indústria de cerâmica para revestimentos não foram registradas dificuldades de acesso
aos dados. Ao contrário, tanto as empresas quanto as entidades de classe atenderam prontamente
as solicitações da equipe, constituindo-se no setor que apresentou maior quantidade e qualidade
nos dados disponíveis.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
A presente nota técnica está dividida em quatro capítulos, os quais apresentam
respectivamente as tendências internacionais, a competitividade da indústria brasileira, a
proposição de políticas e indicadores de competitividade.
O primeiro capítulo busca apresentar uma análise geral do quadro internacional do
complexo de materiais de construção, mas sempre que inevitável explicita tendências específicas a
um ou mais setores. São identificados os países líderes da produção para os principais setores do
complexo, assim como as principais instituições de pesquisa e desenvolvimento tecnológico que
detém condições de excelência no que diz respeito aos temas envolvidos pelo complexo de
materiais de construção. São identificados, ainda, os fatores determinantes da competitividade a
nível internacional segundo uma classificação que abrange os fatores internos às empresas; fatores
estruturais e fatores sistêmicos.
O capítulo 2 analisa a competitividade da indústria brasileira através da avaliação do
desempenho recente do complexo, relacionando os setores mais destacados do ponto de vista da
competitividade; da capacitação produtiva, tecnológica e gerencial e dos fatores determinantes da
competitividade do complexo.
O capítulo 3, que apresenta propostas de políticas para o aumento da competitividade do
complexo, define os objetivos básicos da política industrial, os quais resultam de uma combinação
e integração de objetivos, por vezes bastante diferenciados entre os setores que compõem o
complexo. São apresentados, em seguida, proposições que referem-se à ação das empresas de
forma individual, do setor enquanto conjunto organizado de empresas e do Poder Público
enquanto gerador das condições sistêmicas, bem como ações que exigem o fortalecimento de
relações entre todos esses agentes.
A atuação dos setores e do complexo no sentido da elevação de seus níveis de
desempenho competitivo poderá utilizar-se da medição/avaliação propiciada pela implementação
de indicadores de competitividade, cujas propostas são apresentadas no capítulo 4. Esses
indicadores visam fornecer subsídios ao gerenciamento das políticas propostas, no sentido de
possibilitar a avaliação dos setores e do complexo segundo sua contribuição para o
desenvolvimento do País e do sistema econômico como um todo, a evolução de sua capacitação
produtiva e de seu desempenho.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
1.1. Tendências Gerais do Complexo
São encontradas na literatura diferentes formas de agregar tais atividades para a
configuração das grandes cadeias do chamado macrocomplexo da Construção Civil. Pela
classificação do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que baseia-se na
caracterização do produto principal, as atividades que constituem as cadeias produtivas da
Construção Civil são: a) extração vegetal; b) indústria extrativa mineral; c) produtos de minerais
não-metálicos; d) metalurgia; e) material elétrico e de comunicações; f) papel e papelão; g)
borracha, h) química; i) produtos de matérias plásticas; e j) têxtil. PROCHNICK4 define as
grandes cadeias do complexo a partir da ordenação das matérias-primas segundo os fluxos de
produção da Construção Civil, que convergem para a atividade de construção propriamente dita.
Esse critério, menos exaustivo do que o utilizado na classificação do IBGE, é adotado no
trabalho como forma de atribuir limites ao complexo de materiais de construção, identificando
nessas indústrias os setores que respondem pela maioria da produção do complexo e pelos
materiais mais utilizados pela Construção Civil. Dessa forma, são incluídos no complexo de
materiais de construçãoas seguintes cadeias industriais:
1) extração e beneficiamento de minerais não-metálicos;
2) insumos metálicos;
3) madeira;
4) cerâmica e cal;
5) cimento;
6) insumos químicos.
O Quadro 1 descreve sucintamente as cadeias produtivas, identificando os setores, os
principais produtos e características genéricas das cadeias.
A caracterização geral das cadeias produtivas que integram o complexo de materiais de
construção demonstra a existência de uma grande variedade de estruturas industriais e
tecnológicas até mesmo entre indústrias de uma mesma cadeia produtiva.
4 PROCHNIK (1987).
E
STUDO DA
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QUADRO 1
SETORES CONSTITUINTES DO COMPLEXO MATERIAS DE CONSTRUÇÃO
CADEIA PRODUTIVA SETORES DA CADEIA PRINCIPAIS PRODUTOS
1. Extração e beneficiamento
de minerais não-metálicos
. Areia;
. Pedra britada;
. Amianto;
. Calcário;
. Argila;
. Gesso;
. Pedras para revestimentos;
. Outros minerais.
Com exceção das pedras para
revestimentos os demais
setores geram insumos básicos
que fazem parte de materiais
e componentes como: concreto
e argamassas; cimento
amianto; cimento e cal;
componentes de cerâmica
vermelha e cerâmica branca;
placas para forros e
revestimentos; painéis de
vedação.
2. Insumos metálicos . Ferro; alumínio; cobre;
zinco: extração e
beneficiamento
. Aço estrutural em perfis e
barras
. Esquadrias: ferro fundido;
alumínio.
. Metais sanitários: aço e
cobre
. Tubos: aço e cobre
. Fios e cabos elétricos:
alumínio e cobre
. Pregos; parafusos - aço;
ferragens para esquadrias
. Barras e telas de aço para
estruturas de concreto;
. Perfis de aço para
estruturas;
. Perfis de alumínio para
esquadrias;
. Perfis de ferro fundido
para esquadrias;
. Esquadrias de ferro e de
alumínio: portas e janelas;
. Estruturas metálicas
. Tubos de aço galvanizado e
de cobre;
. Metais para aparelhos
sanitários;
. Tampos e acabamentos para
aparelhos sanitários;
. Ferragens: fechaduras;
dobradiças etc.;
. Pregos, parafusos e outros;
. Arames
E
STUDO DA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
QUADRO 1
SETORES CONSTITUINTES DO COMPLEXO MATERIAS DE CONSTRUÇÃO
(continuação)
CADEIA PRODUTIVA SETORES DA CADEIA PRINCIPAIS PRODUTOS
3. Madeira . Extração vegetal
. Beneficiamento de madeira
. Produção de chapas
. Produção de componentes de
madeira para a construção
civil
. Chapas para fôrmas de
estruturas;
. Sistemas industrializados
de fôrmas;
. Revestimentos de pisos e
paredes: assoalhos,
laminados
. Forros;
. Divisórias;
. Batentes e guarnições;
. Esquadrias;
. Estruturas de telhado
4. Cerâmica e cal . Cerâmica vermelha;
. Cerâmica para
revestimentos;
. Louças sanitárias;
. Cal;
. Vidro.
. Blocos e tijolos;
. Tubos;
. Componentes cerâmicos para
revestimento de pisos e
paredes;
. Aparelhos sanitários;
. Cal: aplicada na preparação
de argamassas;
. Vidro: como chapas para
vedação de janelas e
portas; coberturas; como
tijolos/blocos para vedação
com controle de
luminosidade; como elemento
decorativo e de acabamento.
E
STUDO DA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
QUADRO 1
SETORES CONSTITUINTES DO COMPLEXO MATERIAS DE CONSTRUÇÃO
(continuação)
CADEIA PRODUTIVA SETORES DA CADEIA PRINCIPAIS PRODUTOS
5. Cimento . Cimento;
. Cimento amianto;
. Produtores de concreto pré-
misturado;
. Produtores de argamassas
industrializadas;
. Produtores de elementos e
componentes pré-fabricados;
. Produtores de artefatos de
cimento.
. Cimento
. Concreto pré-misturado
. argamassas industrializada;
. Vigas, pilares, lajes,
painéis, telhas em concreto
armado e argamassa armada;
. Blocos de vedação, postes,
artefatos de cimento
amianto - telhas, caixas
d'água, placas.
6. Insumos químicos . Materiais plásticos - PVC;
polietileno; CPVC;
polipropileno;
policarbonato;
. Tintas e vernizes
. Aditivos e adesivos;
. Materiais betuminosos;
. Materiais isolantes -
poliuretano; poliéster; lã
de rocha; lã de vidro.
. Tubos, conexões e
acessórios para instalações
elétricas, hidráulicas e
sanitárias;
. Revestimentos de pisos e
paredes;
. Componentes de vedação como
telhas e "domos";
. Tintas imobiliárias e
vernizes para diversos
tipos de superfícies;
. Aditivos químicos para
concreto;
. Adesivos - colas em geral e
materiais para reparos;
. Placas e mantas de
isolamento acústico;
. Asfalto e mantas
asfálticas.
31
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Devido à própria natureza dos produtos e às amplas implicações para o meio-ambiente, a
cadeia de extração e beneficiamento de minerais não-metálicos, a extração vegetal da cadeia da
madeira e a extração e beneficiamento de minérios da cadeia de insumos metálicos são atividades
que envolvem aspectos tecnológicos, organizacionais e regulatórios muito particulares em relação
às demais partes das cadeias produtivas. Embora as estratégias desses setores sigam as tendências
das respectivas cadeias, a lógica de desenvolvimento e, portanto, de competitividade é muito
particular e exige estudos mais aprofundados. A extração de minério de ferro e alumínio, são
estudadas detalhadamente no estudo do complexo metal-mecânico, no âmbito deste projeto.
1.2. Países e Empresas Líderes
Embora não seja possível no âmbito deste trabalho identificar a liderança específica para
cada tipo de produto gerado nas cadeias produtivas, o Quadro 2 apresenta os países e empresas
líderes nos principais setores de cada cadeia produtiva.
É possível, no entanto, identificar com maior precisão os principais centros de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico na área de materiais de construção a nível mundial e alguns centros
setoriais específicos:
. Estados Unidos
University of Berkeley - California
Northwestern University - Illinois
National Institute of Standards and Technology - Washington.
Massachussets Institute of Technology - MIT
. Canadá
National Building Research Institute - Ottawa
. Reino Unido
Building Research Establishment - Watford
University of London King's College - London
Herriot-Watt University - Edinburgh
BCA - British Cement Association - cimento.
British Ceramic Research - cerâmica
E
STUDO DA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
QUADRO 2
PAÍSES E EMPRESAS LÍDERES PARA ALGUNS SETORES DO COMPLEXO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
SETORES PAÍSES LÍDERES
. Amianto
. Mármores; granitos
. Calcário; argila
(extração)
. Canadá; Rússia; Brasil: em produção.
Tecnologia Canadense de extração
difundida mundialmente;
. Itália: liderança na tecnologia de
manufaturados (corte e polimentos);
. Liderança dos países produtores de
cimento; cal e cerâmica.
Grupo Saint-Gobain
Insumos Metálicos
(extração; beneficiamento; manufaturados)
. Rússia;
. Japão;
. E.U.A.
. Chile.
Madeira
(extração; beneficiamento; componentes)
. Indonésia;
. E.U.A.
. Canadá.
. Cerâmica para revestimentos
. Louças Sanitárias
. Cerâmica vermelha
. Cal
. Vidro
. Itália; Espanha; Brasil; Japão
. Itália; França; Inglaterra
. Rússia; E.U.A.; Japão; Alemanha
. França; Inglaterra
. Marazzi Ceramiche Spa
. Porcelanosa
. Inax Co.
. Grupo Saint Gobain
. Grupo Pilkington
Cimento . Japão; Suíça; França; Itália (em
tecnologia)
. China; Rússia; (em quantidade
produzida)
. Onoda Cement. Co.
. Grupo Holderbank
. Grupo Italcementi
. Grupo CIMFRAN
. Grupo Lafarge
. Tubos e conexões de PVC
. Tintas e Vernizes
. Finlândia; Reino Unido; Suíça; E.U.A.
. E.U.A.; Alemanha; Brasil; França;
Itália
. ÜPONOR
. WAVIN
. Grupo AMINDUS
. BASF
. AKZO
. DuPont
. Hoechst
33
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. França
CSTB - Centre Scientifique et Technique du Bâtiment - Paris
École Nationale des Ponts et Chaussées - Paris
Grupo Lafarge - cimento
CIMFRAN - cimento
CERIB - Centre d'Etudes et de Recherches de l'Industrie du Bêton Manufacturé - cimento
Societé Française de Ceramique
. Portugal
Laboratório Nacional de Engenharia Civil - Lisboa
Centro Tecnológico da Ceramica e do Vidro
. Espanha
Instituto de Ciencias de la Construcción y del cemento Eduardo Torroja - Madrid.
Centro Cerâmico de Valencia - Valencia
Associación de Investigación de la Industria Ceramica
. Japão
The Building Research Institute - BRI - Tsukuba
Musashi Institute of Technology - Tokyo
Onoda Cement Co.
. Holanda
Delft University of Technology
TPD - TNO - Building and Construction Research; Institute of Applied Phisics
. Itália
Instituto Politecnico di Torino - Torino
Centro Ceramico di Bologna - Bologna
Italcementi - Itália
34
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Alemanha
Untersuchungs und Beratunginstitut fur Wand und Bodenbelage Saurefliesener
Vereinigung - Cerâmica
Escola Técnica de Hohr-Frenzhausen - Cerâmica
. Suécia
The National Swedish Institute for Building Research.
. Bélgica
Centre des Recherches de l'Industrie Belge de la Ceramique - cerâmica
Centre Scientifique et Technique de la Construction
. Dinamarca
Cowi Consult - cimento
. Suíça
Laboratoire Fédéral d'Essai des Matériaux et Institut des Recherches - LFEM.
Grupo Holderbank - cimento.
. Israel
National Building Research Institute - Technion City - Haifa
Outras entidades de grande importância para a pesquisa e desenvolvimento tecnológico na
área de materiais de construção são o CIB - International Council for Building Research, Studies
and Documentation e a RILEM - Reunión Internationale des Laboratoires d'Essais et des
Recherches sur les Matèriaux et les Constructions.
35
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
1.3. Fatores Determinantes da Competitividade
As estratégias empresariais do complexo no mercado internacional têm se voltado
basicamente ao aperfeiçoamento da qualidade dos produtos, envolvendo fatores de ordem interna
à empresa, fatores relacionados aos setores produtivos e seu mercado e fatores relacionados ao
sistema econômico, político e social de forma abrangente. Para representar tais estratégias de
forma genérica para o complexo de materiais de construção, pode-se concentrá-las nos seguintes
itens, de forma hierarquizada segundo fatores internos, estruturais e sistêmicos e no interior dessas
classificações segundo a ordem de importância quanto ao impacto sobre a competitividade do
complexo:
1.3.1. Fatores internos à empresa
. ampliação do investimento em pesquisa e desenvolvimento, seja através de estreita
cooperação com universidades e institutos de pesquisa públicos, seja através de centros de
pesquisa próprios ou setoriais;
. busca de redução do consumo energético na produção e uso de fontes alternativas;
. pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos voltados ao controle ambiental;
. implantação de sistemas de garantia da qualidade nas empresas;
. integração com projetistas, construtores e fabricantes complementares para o
desenvolvimento de produtos que proporcionem a coordenação dimensional e funcional e a
racionalização dos processos construtivos;
. crescente estruturação de sistemas de orientação ao uso e assistência técnica ao usuário
final, com amplo investimento na difusão de informações tecnológicas;
. automação completa dos processos de produção;
1.3.2. Fatores estruturais
. desenvolvimento e aperfeiçoamento das normas técnicas de produtos e de procedimentos
relativos à aplicação dos mesmos (projeto e execução de obras), bem como a estrita observância
às normas;
. prática disseminada da certificação da qualidade de produtos de modo a reduzir o
investimento do consumidor (indústrias intermediárias e construtores) em controle da qualidade
de produtos;
. crescente padronização de materiais e componentes;
36
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. intensa pesquisa no campo da durabilidade de materiais e componentes de forma a
minimizar os custos ao longo da vida útil dos bens finais (operação e manutenção de edifícios,
pontes, rodovias, barragens, etc);
. crescente processo de substituição de materiais tradicionais por materiais inovadores,
especialmente produtos de base orgânica.
1.3.3. Fatores sistêmicos
. racionalização dos sistemas de transporte de produtos;
. ampla e contínua capacitação laboratorial abrangendo todos os produtos;
. acesso às fontes energéticas mais adequadas;
. rigorosa exigência de adequação às normas técnicas por parte dos consumidores e de
adequação às normas de controle ambiental;
. globalização do mercado com unificação das normas técnicas e acesso aos mercados
internacionais de insumos e matérias-primas, com organização dos mercados em grandes blocos.
Essas estratégias vem sendo estabelecidas paulatinamente no mercado internacional desde
a década de 70. As iniciativas pioneiras com relação aos aspectos tecnológicos e organizacionais
foram geradas por uma estreita cooperação entre o setor empresarial e as instituições de pesquisa
nos vários países, além de um movimento generalizado de criação de centros tecnológicos
empresariais e setoriais ligados ao setor privado5.
Os institutos públicos de pesquisa na área têm assumido, na maioria dos países, estruturas
sólidas com um contínuo processo de modernização e acompanhamento das tendências
empresariais, exercendo importante papel no desenvolvimento de pesquisas de longo prazo ou de
risco elevado e de desenvolvimento para o atendimento de necessidades específicas, como a
redução de custos para a produção de moradias destinadas à população de baixa renda.
A harmonização/unificação das normas técnicas faz com que o atendimento às
especificações estabelecidas pelas mesmas seja fator fundamental de sobrevivência e conquista de
mercado. Nesse panorama verifica-se uma tendência à organização dos mercados em grandes
blocos: América do Norte (Estados Unidos e Canadá), CEE ( Europa e Leste Europeu) e Ásia
(Japão e Tigres Asiáticos). Essa organização tem sido respaldada por condições sistêmicas
competitivas como a agilização de processos administrativos de exportação/importação; elevada
5 INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (1988); FLANAGAN et
al.(1986); PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE (1992); TUCKER et al.(1991);
SWEDISH COUNCIL FOR BUILDING RESEARCH (1983); THE INSTITUTION OF CIVIL ENGINEERS
(1986); QUARTERLY REVIEW OF THE BELGIAN FOREIGN (1992); GANN & SENKER (1993).
37
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
agilidade e racionalização dos sistemas de transporte que permitem a circulação rápida e eficiente
dos produtos entre os diversos países.
Verifica-se que nos mercados internos dos vários países líderes na produção de materiais
de construção, o desenvolvimento de produtos é fator de competitividade importante,
constatando-se a realização de exposições anuais ou bianuais com elevado número de expositores
e de lançamentos de novos produtos. As principais exposições ocorrem na França, Itália e
Alemanha com caráter internacional abrangente. Feiras específicas de lançamento de produtos
como as feiras da indústria cerâmica em Bolonha (Itália) e Valencia (Espanha) também são
importantes meios de comercialização.
A competitividade essencialmente baseada na qualidade do produto é a característica dos
países industrializados, cujos produtos chegam a ser preteridos em favor de produtos estrangeiros,
caso os mesmos sejam considerados superiores em qualidade.
Nesse sentido, o atendimento ao consumidor final por parte do produtor é fator
preponderante de competitividade nos países onde as responsabilidades sobre o desempenho são
claras nas relações contratuais. O poder de compra do Estado e sua capacidade de regulamentar
as relações produtor-consumidor são instrumentos efetivos de garantia de equilíbrio dessas
relações nos países desenvolvidos6.
Outro aspecto a ser ressaltado nesse sentido é a difusão de informações tecnológicas sobre
as características dos produtos, através de publicações que orientam a especificação e uso dos
mesmos e de pessoal treinado tanto nas unidades produtoras quanto na rede de distribuidores.
Alguns países apresentam exemplos de políticas setoriais ou de caráter sistêmico com
significativos efeitos sobre a competitividade da indústria7:
. Itália
O caso da indústria cerâmica italiana tem se apresentado como exemplo em vários
trabalhos em função do grande crescimento por que essa indústria passou a partir do início dos
anos 60. As principais ações de política industrial que podem ser apresentadas são: a forte parceria
entre a indústria produtora de equipamentos e a indústria cerâmica que viabilizou a reversão de
uma situação desvantajosa em termos de possibilidade de aproveitamento de matérias-primas
regionais e o desenvolvimento de tecnologia de ponta na área; os mecanismos de incentivos e de
6 HILLEBRANDT (1984).
7 Para essa caracterização foram utilizados os estudos desenvolvidos no projeto "Desenvolvimento Tecnológico e
Competitividade na Indústria Brasileira - SCTDE/SP (1993) e ainda: TUCKER (1991); SULLIVAN, 1980;
PORTER (1993).
38
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
desenvolvimento cooperativo para as pequenas e médias empresas que formam a base da indústria
italiana de cerâmica para revestimentos; a viabilização do acesso ao gás natural, que é a fonte
energética mais adequada; o treinamento de mão-de-obra de alto grau de especialização; a
parceria com fornecedores de matérias-primas para o tratamento centralizado das mesmas e
retirada das atividades de controle de matéria-prima das fábricas; o investimento cooperativo em
marketing institucional no exterior (a imagem do produto italiano fortalecida no mercado externo)
e a participação do governo no incentivo às exportações; a capacitação da rede de revendedores
com alto grau de especialização em cerâmica para revestimentos; o elevado investimento e
incentivos à atividade de design e o elevado nível de exigência de consumidores públicos e
privados quanto à qualidade dos produtos.
. Espanha
A indústria cerâmica espanhola passou a atingir condições de competir com a indústria
italiana a partir do momento em que a política energética daquele país direcionou-se também ao
gás natural, viabilizando condições de igualdade quanto à eficiência térmica dos processos. Outro
aspecto de especial esforço da indústria espanhola foi quanto ao design, assumido pela política
industrial daquele país como um fator de competitividade. Essa posição levou a um programa
específico de incentivo ao design espanhol para a indústria em geral, atingindo especialmente a
indústria cerâmica. O Plano de Promoção do Desenho Industrial (PPDI 1992-1995) é
especialmente voltado às pequenas e médias empresas e está sendo gerenciado pela Sociedade
Estatal para o Desenvolvimento do Desenho Industrial e conta com uma dotação orçamentária
própria, visando ao financiamento de diagnósticos e auditorias, ao desenvolvimento de design
com apoio profissional nas empresas, a contratação estável de equipes de design externas às
empresas e à constituição de centros de informação sobre design.
. Suíça
O exemplo da indústria suíça de cimento apresenta características bastante particulares em
relação aos demais países. Essa indústria constitui-se em cartel formado a partir de 1911 numa
condição propiciada pela legislação suíça que permite a formação de cartéis horizontais.
Constituído sob a forma jurídica de um sindicato - EG Portland - os produtores suíços atribuem à
interdependência das características do cartel o equilíbrio e organização do mercado. Embora o
cartel fixe anualmente os preços a serem praticados e distribua o mercado segundo cotas de cada
produtor a legislação é rigorosa na atuação do mesmo através da vigilância da Comissão de
Cartéis e Controle de Preços do governo e a competição com os fabricantes dos países europeus é
uma forma sempre presente de regulação do mercado, uma vez que os preços devem ser
competitivos em relação aos produtos dos países vizinhos. Sem proteção alfandegária o cimento
39
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
suíço está exposto à concorrência de países como a Itália (maior produtor europeu), Turquia,
França, Espanha, Grécia e outros.
Outro aspecto identificado é que o cartel não se constitui em impedimento à inovação e
desenvolvimento tecnológico, uma vez que os grupos suíços destacam-se nesse aspecto no
mercado mundial. O consumidor é parte integrante dos sistemas que asseguram a qualidade do
cimento suíço, através da Societé Suisse des Ingéneurs et des Architects e da Societé Suisse des
Entrepreneurs que, em conjunto com o Laboratoire Fédéral d'Essai des Materiaux et Institut des
Recherches - LFEM, conferem a marca de conformidade do cimento.
. Estados Unidos
A indústria norte-americana de materiais de construção (essa análise é também aplicável à
indústria canadense) é marcada pela elevada exigência de atendimento às normas técnicas, tanto
no setor público quanto no setor privado, e também pela elevada padronização de materiais -
pequena diversidade de tipos de produtos que desempenham a mesma função. Essa característica
tem fortes implicações com as tecnologias construtivas utilizadas naquele país de elevado teor de
industrialização, com o emprego de materiais e componentes pré-fabricados intercambiáveis, ou
seja, com elevado grau de coordenação funcional e dimensional. O desenvolvimento da indústria
de materiais é, portanto, essencialmente voltado à racionalização dos processos construtivos.
Outro aspecto importante é o relacionamento entre a indústria de todo o macrocomplexo da
Construção Civil com as instituições de pesquisa, com desenvolvimento de trabalhos de interesse
da indústria no meio acadêmico.
Em alguns casos o poder de compra do Estado viabiliza o desenvolvimento de novos
produtos como, por exemplo, o desenvolvimento de tubos e conexões de PVC de elevados
diâmetros (900 a 1200 mm) para emprego em redes públicas de água e saneamento, os quais
constituem quase 90% das redes norte-americanas.
. Japão
A indústria japonesa de materiais de construção caracteriza-se pelo investimento
acentuado em P&D, visando : o desenvolvimento de materiais de mais baixo custo inicial e que
possibilitem a redução de custos ao longo da vida útil como os custos de manutenção e de
operação - conservação de energia, principalmente. Há uma forte cooperação entre governo e
empresas em P&D através de programas de cooperação no âmbito do Ministério da Indústria,
num total estimado de US$ 22 milhões de investimentos anuais. O maior programa - US$ 5
milhões - foi desenvolvido entre 1988 e 1992 com a cooperação entre governo, laboratórios
privados e universidades no projeto de desenvolvimento de concreto de alto desempenho.
40
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
O macrocomplexo da Construção Civil é reconhecido em muitos países e inclusive no
Brasil como um grande gerador de produto e emprego, tendo em vista sua elevada participação
no Produto Interno Bruto - PIB e na População Economicamente Ativa - PEA. No entanto, ao
contrário dos demais complexos, as posturas governamentais para os setores industriais da
Construção Civil têm sido pouco voltadas ao desenvolvimento industrial propriamente dito, uma
vez que a maioria dos setores está voltada ao mercado interno e utiliza mão-de-obra de forma
intensiva. Na alocação de recursos, de um modo geral, a Construção Civil tem competido mais
pela sua capacidade de gerar empregos do que pelas suas características competitivas enquanto
indústria.
Esse vínculo entre a Construção Civil e seu papel regulador dos níveis de emprego
originou-se, no entanto, numa relação que teve início ainda na década de 50, em que o Estado
coloca-se como o grande demandante do setor. Com a implementação do Programa de Metas
naquela época, os segmentos de construção pesada e montagem industrial tinham encomendas
predominantemente originadas pelo Estado e na década de 60 a criação do Sistema Financeiro da
Habitação e do Banco Nacional da Habitação - BNH estenderam essa condição ao setor de
produção de edificações8.
A indústria de materiais de construção começou a se desenvolver ainda na década de 40,
com a instalação de unidades industriais importantes que, no entanto, restringiam-se à produção
dos materiais considerados básicos. A partir da maior demanda por parte do Estado por obras de
todos os tipos, mas especialmente a partir do estabelecimento de programas habitacionais de
longo prazo, a indústria estabeleceu-se de forma mais diversificada, atraída pelas escalas de
demanda por seus produtos asseguradas pelos programas governamentais. Pode-se até mesmo
encontrar explicitamente entre os objetivos de criação do BNH o desenvolvimento e
fortalecimento da indústria de materiais de construção. Algumas grandes obras desenvolvidas a
partir da iniciativa estatal tiveram papel importante no desenvolvimento tecnológico da indústria,
como é o caso da usina hidrelétrica de Itaipu que teve significativas repercussões para a tecnologia
de sistemas de formas, tecnologia do concreto e componentes elétricos.
No entanto, o papel do Estado como demandante principal começou a dar sinais de
esgotamento em primeiro lugar com a diminuição do ritmo de execução e número de grandes
projetos de infra-estrutura e, posteriormente, com a crise do Sistema Financeiro da Habitação -
SFH. A drástica redução de recursos para a promoção estatal de obras, a partir de 1983, começou
8 FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (1984).
41
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
a provocar mudanças significativas no setor9. A busca de alternativas ou diversificação e
flexibilização da produção, a busca da redução de custos e elevação da produtividade, a busca de
novos mercados por parte da indústria de materiais de construção começaram nesse período a ser
necessárias à sobrevivência, em função da diminuição sensível do mercado assegurado pelas obras
públicas.
Por outro lado, esse movimento foi acompanhado por um movimento de priorização por
parte do Estado ao desenvolvimento da indústria de alta tecnologia, face às transformações do
mercado internacional. Essa priorização teve repercussões para a Construção Civil na medida em
que a indústria de materiais de construção não se viu enquadrada nas estratégias governamentais
de desenvolvimento tecnológico. Exemplo disso é o processo de sucateamento da rede estatal de
pesquisa e desenvolvimento para a área de Construção Civil. Importantes centros foram
desativados em suas linhas voltadas à Construção Civil ou passaram por um processo de
esvaziamento natural pela não destinação de financiamento à atualização laboratorial,
desenvolvimento de projetos ou capacitação de recursos humanos. As linhas voltadas à
Construção Civil e seus insumos passaram a ser preteridas em estudos e pesquisas dos centros
acadêmicos.
Essa mudança de panorama está levando à uma inversão de importância entre público e
privado na demanda e organização da Construção Civil. O setor privado passou a buscar
alternativas de financiamento à produção, de forma a diminuir sua dependência dos recursos
públicos e no caso da indústria de materiais voltou-se ao mercado externo com mais ênfase,
buscando atender às características de produto exigidas pelo mercado internacional. Nesse
sentido, vários setores estão atentos e atuantes nos trabalhos de estruturação e regulamentação do
Mercosul.
Também a participação do setor privado no financiamento à pesquisa e desenvolvimento
tecnológico, seja por parte de construtores, seja por parte da indústria de materiais, foi
aumentada. Programas de cooperação tecnológica entre instituições de pesquisa e entidades de
classe e empresas começaram a ocorrer em várias localidades e setores.
O elevado volume de obras que caracterizou as décadas de 60 e 70 fez com que essa
indústria permanecesse voltada essencialmente ao mercado interno que, naquele período, carecia
de demanda por qualidade, produtividade e redução de custos em função dos recursos liberados
em grande quantidade para a Construção Civil com ênfase à quantidade a ser produzida. Uma
série de mudanças nas relações entre demandantes e produtores, a escassez de recursos para
construção e o movimento internacional pela qualidade e produtividade vem atingindo a indústria
de materiais de construção num momento em que o mercado internacional se coloca fortemente
9 FARAH (1992).
42
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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como alternativa à ociosidade ou como forma de crescimento, diante do já pleno atendimento da
demanda interna em alguns casos.
2.1. Desempenho Recente
A indústria brasileira de materiais de construção é muito diversificada quando comparada à
indústria congênere em vários outros países. Essa diversificação se dá de dois modos: no número
e tipos de produtos entre os vários setores e nos modelos/tipologias de produtos no interior de um
mesmo setor.
A abundância de matérias-primas no País o coloca em vantagem no panorama
internacional, tornando-o pouco dependente de importações e possibilitando um potencial de
ingresso em muitos mercados que não dispõem desses recursos naturais.
Embora coloque-se em condições de suprir o mercado nacional sem recorrer a grandes
volumes de importação, o complexo de materiais de construção não apresenta condições
competitivas gerais, apresentando ainda dificuldades de atingir padrões de qualidade compatíveis
com os produtos dos países líderes e, conseqüentemente dificuldades de ocupar mercados mesmo
que em alguns casos as vantagens de preços sejam significativas. Isto refere-se também ao
mercado interno, onde os aspectos que definem a competitividade também não são atingidos pelo
complexo uniformemente. No entanto, alguns setores são dotados de capacitação produtiva,
tecnológica e organizacional num estágio em que os investimentos e esforços requeridos para que
se tornem competitivos não são tão elevados quanto outros setores ainda pouco desenvolvidos.
Com efeito, a despeito de poder ser considerado autosuficiente na produção de materiais
de construção, o Brasil vem experimentando a importação de alguns produtos do complexo em
virtude de preços elevados do produto nacional e/ou busca de condições especiais de qualidade
não alcançadas pela indústria nacional. Neste caso, pode-se incluir principalmente os produtos de
acabamentos de alto luxo, como cerâmica para revestimentos, louças e metais sanitários, ou ainda
esquadrias metálicas para grandes edifícios. A importação de cimento, embora tenha no preço sua
motivação principal, envolve características de busca de qualidade superior ao produto nacional
em alguns casos. Por outro lado, para alguns produtores, a importação de matérias-primas tem
sido utilizada para a elevação da qualidade dos seus produtos finais (tintas e vernizes; cerâmica
para revestimentos).
O desempenho competitivo dos vários setores do complexo de materiais de construção é,
portanto, bastante variável devido a diversidade de estruturas industriais já caracterizada no
capítulo 1. Uma medida da competitividade à grosso modo pode ser proporcionada pela
43
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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apreciação dos movimentos que vem ocorrendo em cada setor, especialmente nos últimos dois
anos. Nesse sentido, é possível destacar dois grupos de comportamentos distintos:
O primeiro grupo é constituído por setores tradicionalmente mais organizados cujos
movimentos de atualização e busca de posicionamento no mercado vem evoluindo gradualmente
há vários anos. Este grupo de indústrias se diferencia pelo fato de que a estrutura empresarial e
institucional existente é consolidada há mais tempo, com empresas de grande porte que
viabilizaram o início de programas de investimento em tecnologia e gestão de forma antecipada.
Este é o caso da indústria do cimento e da indústria de tintas e vernizes, bem como de
outros insumos químicos. Essas indústrias enfrentam problemas de competitividade que não são
decorrentes de uma falta de estrutura ou capacitação para empreender as ações necessárias à
superação desses problemas, apresentando, portanto, um potencial competitivo a ser
aperfeiçoado.
A indústria de insumos metálicos apresenta condições de elevação da competitividade a
médio prazo no início da cadeia produtiva. As empresas produtoras de barras e perfís vem
investindo em vários aspectos que definem seu potencial competitivo; no entanto as empresas de
menor porte, como, por exemplo, as que atuam na produção de esquadrias, são extremamente
pulverizadas com problemas básicos de competitividade como a produção em não-conformidade
às normas técnicas.
No que se refere à cadeia produtiva da madeira observa-se também grande
heterogeneidade de comportamento, podendo-se verificar que parte da cadeia, especialmente na
produção de chapas de madeira compensada, o potencial competitivo é maior. Isto não impede
que existam empresas competitivas em outros setores da cadeia, como na produção de sistemas
industrializados de formas para concreto.
O segundo grupo é constituído por setores que, face às mudanças nos cenários político,
econômico e social dos últimos anos, iniciaram seus movimentos mais recentemente. As empresas
do segundo grupo são caracterizadas pelo investimento em programas de modernização e
desenvolvimento tecnológico relativamente recente, através de uma maior organização em torno
de entidades de classe. Observa-se, por exemplo, em vários estados brasileiros a implantação de
programas de desenvolvimento e modernização da indústria de cerâmica vermelha (RS, SC, PR,
SP, PE), sempre com a participação do Estado através das secretarias de ciência e tecnologia, das
universidades e institutos de pesquisa.
No caso da cerâmica para revestimentos o desenvolvimento nos últimos anos tem sido
significativo, com um aumento da competitividade do produto no mercado internacional, com a
44
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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busca do atendimento às normas internacionais e a criação de um centro tecnológico de caráter
nacional.
Para setores como os produtos plásticos e de extração e beneficiamento de pedras para
revestimento, a liberação de importações representou a possibilidade de acesso a insumos e
tecnologias imprescindíveis à elevação da competitividade dos produtos, que já apresenta sinais
concretos através da elevação das quantidades exportadas em 1992 em relação aos anos
anteriores.
Apresenta-se a seguir dados sobre o desempenho recente das seguintes cadeias/setores10:
. Extração e beneficiamento de minerais não-metálicos
. Cerâmica e cal
. Cimento
. Insumos químicos
. Extração e beneficiamento de minerais não-metálicos
Amianto:
. Produção anual:1990 = 205 mil toneladas
1991 = 237 mil toneladas
1992 = 250 mil toneladas
. Número de empresas: apenas uma empresa faz a extração e beneficiamento de amianto
(S.A. Mineração de Amianto - SAMA, pertencente ao grupo Saint-Gobain).
. Posição na produção mundial: 3º produtor após o Canadá e a Rússia;
. Exportações: 1990 = 21% da produção (em quantidade); 1991 = 28% da produção e
1992 = 28% da produção, correspondente à receita de US$ 30 milhões. Principais países
compradores: Nigéria; Angola; Tailândia; Índia; Argentina; México e Uruguai.
Mármores e granitos:
. Produção de manufaturados: 1992 - 6 milhões de m² de granitos; 2,4 milhões de m² de
mármores.
. Exportações em bruto: US$ 63 milhões em 1991;
10 Os dados foram obtidos através das respectivas entidades de classe.
45
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. Exportações de produtos manufaturados: US$ 7 milhões em 1991; US$ 20 milhões em 1992.
. Número de empresas: cerca de 6000 empresas em todo o País, das quais apenas 80
(oitenta) são consideradas de grande porte no setor.
. Cerâmica e cal
Cerâmica para revestimentos:
GRÁFICO 1
DIVISÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL DE CERÂMICA PARA REVESTIMENTOS
(1991)
ALEMANHA 4,05%
JAPÃO 3,91%
TAIWAN 3,91%
EUA 2,83%
PORTUGAL 2,58%
CORÉIA DO SUL 2,37%
TURQUIA 2,16%
OUTROS 30,75%
ITÁLIA 22,26%
ESPANHA 12,82%
BRASIL 12,36%
Fonte: ANFACER.
TABELA 1
CAPACIDADE TOTAL DA PRODUÇÃO CERÂMICA PARA REVESTIMENTOS E
PARTICIPAÇÃO DOS 4 MAIORES GRUPOS NA CAPACIDADE DE PRODUÇÃO E
FATURAMENTO DA INDÚSTRIA - BRASIL
(1992)
GRUPO Nº DE CAPACIDADE % DA CAPACI- % DO FATURAMENTO
FÁBRICAS INSTALADA (m
2
/mês) DADE TOTAL
GAIDZINSKY
(Eliane) 08 3.000.000 11,6% 16,5%
CECRISA 09 5.275.000 20,5% 11,9%
PORTOBELLO 01 1.080.000 4,2% 8,7%
INCEPA 03 1.000.000 3,9% 18,3%
TOTAL DA
INDÚSTRIA 25.800.000 40,2% US$ 819 milhões
Fonte: ANFACER e as próprias empresas.
46
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
GRÁFICO 2
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO E CONSUMO APARENTE NO BRASIL
AZULEJOS, PISOS E TOTAL
(1974-91)
milhões de metros quadrados
0
50
100
150
200
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
PRODUÇÃO DE AZULEJOS
PRODUÇÃO DE PISOS
PRODUÇÃO TOTAL
CONS. APARENTE TOTAL
Fonte: ANFACER.
GRÁFICO 3
EVOLUÇÃO DO FATURAMENTO DA INDÚSTRIA
DE CERÂMICA PARA REVESTIMENTOS - BRASIL
(1987-92)
milhões de dólares
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1987 1988 1989 1990 1991 1992
752
810
900
700
819
1295
Fonte: ANFACER.
47
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
GRÁFICO 4
EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
AZULEJOS, PISOS E TOTAL
(1974-91)
% da produção exportada
0
5
10
15
20
25
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
AZULEJOS
PISOS
PRODUÇÃO TOTAL
Fonte: ANFACER.
Cal:
. Posição na produção mundial: 7º produtor
. Produção anual: aproximadamente 6 milhões de toneladas.
. Consumo da Construção Civil: entre 25 e 30% da produção.
. Número de empresas: aproximadamente 400 empresas em todo o País; cerca de 24
empresas de grande porte no setor.
. Exportações: inexpressivas
48
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Cimento
GRÁFICO 5
PRODUÇÃO E CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND - BRASIL
(1982-91)
milhões de toneladas
15
20
25
1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991
PRODUÇÃO CONSUMO APARENTE
Fonte: SNIC.
GRÁFICO 6
CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND
SEGUNDO OS SEGMENTOS - BRASIL
(1990-91)
0 20 40 60 80 100
Revendedores
Usinas de concreto
Cimento amianto
Pré-fabricados
Artefatos
Construt./Empreiteiras
Órgãos Púlicos
Outros
Prefeituras
75.91 %
9.29 %
3.84 %
2.23 %
2.17 %
5.29 %
0.59 %
14.80 %
0.68 %
77.57 %
8.74 %
4.00 %
1.96 %
2.30 %
4.29 %
0.59 %
13.69 %
0.55 %
1990
1991
Fonte: SNIC.
49
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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GRÁFICO 7
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS INDUSTRIAIS NA PRODUÇÃO TOTAL - BRASIL
(1989-91)
% da produção total
0
10
20
30
40
50
VOTORANTIM
JOÃO
SANTOS
LAFARGE
HOLDERBANK
PARAÍSO
BRENNAND
QUIMBRASIL
KORANYI
CAUÊ
CAMARGO
CORRÊA
SOEICOM
ITAMBÉ
CIPLAN
CIBREX
MATSULFUR
CISAFRA
MARINGÁ
12.10
42,76
5,32
5,32
4.30
5,22
4.10
3,36
3,74
2,42
3.60
1,86
0,97
0.20
3,41
0,74
0,58
44,25
11.40
5.30
5,28
4,57
5,41
4,12
3,42
3,81
2,54
2,03
1,92
0,17
3,55
0,76
0,56
0,91
0.86
42,92
11.20
5.40
5,33
4,66
5,11
4,18
3,39
3,87
2,59
1,85
0,17
3,56
0,75
0,67
3,49
1989
1990
1991
Fonte dos dados brutos: SNIC.
TABELA 2
EXPORTAÇÃO DE CIMENTO SEGUNDO O TIPO
E ORIGEM (FÁBRICA) E O DESTINO (PAÍS)
(1989-91)
FÁBRICA DE UF TIPO DE PAÍS DE QUANTIDADE EXPORTADA (t)
ORIGEM CIMENTO DESTINO 1899 1990 1991
ARATU BA COMUM BOLÍVIA 100 0 0
CIBREX RJ BRANCO BOLÍVIA 0 0 174
PARAGUAI 1715 1525 1494
ITAMBÉ PR COMUM PARAGUAI 47722 30101 21735
RIO BRANCO PR COMUM PARAGUAI 2839 5631 7093
POZOLÂNICO PARAGUAI 202 0 0
MATO GROSSO MT COMUM BOLÍVIA 0 0 500
ITAÚ-CORUMBÁ MS COMUM BOLÍVIA 8705 11592 9850
PARAGUAI 3426 4940 7995
TOTAL 64709 53789 48841
% DA PRODUÇÃO 0,25 0,21 0,18
Fonte: SNIC, 1991.
50
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
TABELA 3
IMPORTAÇÃO DE CIMENTO SEGUNDO O TIPO E ORIGEM - BRASIL
(1989-92)
SUBTOTAL
CIMENTO PAÍSES DE ORIGEM 1989 1990 1991 1992
Argentina
E.U.A.
Cimento Paraguai
Portland Uruguai 61257,16 63915,15 4130,00 *54453,00
Comum Venezuela
Rússia
Romênia
Turquia
Cimento de
Escória de Venezuela 0,00 610,13 772,50
Alto-forno
Argentina
Cimentos Canadá
Especiais E.U.A. 293,14 22,26 30,09
Uruguai
Alemanha
Bélgica
China
Espanha
Cimentos E.U.A 1395,34 1300,77 3057,09
Aluminosos França
Holanda
Itália
México
Cimento Argentina 1208,62 1493,14 221,71
Branco E.U.A
Áustria
Outros Canadá 177,47 3,85 25,39
Cimentos E.U.A.
Uruguai
TOTAL 64331,73 67345,30 8236,78 *54453,00
% DO CONSUMO TOTAL 0,25 0,26 0,03
* Estimativas segundo informações dos SINDUSCONs. Não estão computadas importações realizadas por
consumidores de grande porte que importaram individualmente.
Fonte: SNIC.
51
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. Insumos químicos
Tubos e conexões de PVC:
GRÁFICO 8
NÚMERO DE EMPRESAS E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
DA PRODUÇÃO DE TUBOS E CONEXÕES DE PVC
REGIÕES
SUL E SUDESTE
54 empresas
REGIÃO
CENTRO OESTE
11 empresas
REGIÃO
NORDESTE
15 empresas
Fonte: ASFAMAS.
GRÁFICO 9
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS/EMPRESAS NA PRODUÇÃO
DE TUBOS E CONEXÕES DE PVC
(1992)
12 GRUPOS/EMPRESAS 15 GRUPOS/EMPRESAS 53 GRUPOS/EMPRESAS
70
20
10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12 GRUPOS/EMPRESAS 15 GRUPOS/EMPRESAS 53 GRUPOS/EMPRESAS
Fonte: ASFAMAS.
52
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Tintas e vernizes:
. Posição na produção mundial: 3º produtor após E.U.A e Alemanha; divide esta posição
com França e Itália.
. Produção anual: 1991 - 740 milhões de litros.
. Consumo da indústria da Construção Civil (tintas imobiliárias) - 69% da produção.
. Número de empresas - aproximadamente 300 empresas.
A indústria do cimento é um caso específico de condições adversas de competitividade. À
despeito da existência de níveis satisfatórios de capacitação competitiva, especialmente em relação
à indústria congênere na América Latina, os preços elevados praticados pela indústria acentuaram
nos últimos anos os conflitos com consumidores, em particular a parcela representada pela
indústria organizada da Construção Civil, gerando iniciativas de importação e um grande número
de denúncias de cartelização e venda casada (a prática da venda condicionada à incorporação do
preço do frete no preço final). Em abril de 1993 registrava-se 38 denúncias no CADE - Conselho
Administrativo de Defesa Econômica, tendo havido a aplicação de penalidades a pelo menos uma
empresa.
A indústria de tubos e conexões de PVC, caracterizada pela existência de concorrência
predatória a partir da prática de não-conformidade como forma de competição, também registrou
conflitos recentes. No entanto, antes de originarem-se de consumidores, as denúncias partiram do
próprio setor através da entidade de classe que reúne as empresas líderes.
Para outros setores, como o de tintas e vernizes, por exemplo, a redução de demanda e a
queda do poder aquisitivo do mercado interno têm implicado a impossibilidade de investir no
desenvolvimento de produtos de maior valor agregado, embora detenham condições tecnológicas
para isso.
Nos últimos anos, tem sido nítido o crescimento da representatividade das pequenas obras
na produção total da Construção Civil, em decorrência das dificuldades de financiamento a obras
de maior porte. Tal fato têm trazido efeitos negativos para a competitividade do complexo uma
vez que o pequeno construtor necessita obter os mais baixos preços de aquisição possíveis,
exercendo baixa exigência de qualidade. Isso garante mercados para produtos em não-
conformidade, estimulando essas práticas de produção.
As questões relativas ao desperdício ou perdas de materiais e componentes pela indústria
da Construção Civil têm sido a tônica das discussões nos últimos anos. No entanto, não existem
estudos em quantidade e com critérios suficientemente rigorosos para diagnosticar a situação real
53
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
de todo o macrocomplexo. Por observações já realizadas, pode-se afirmar que o desperdício é
elevado, embora suas causas estejam distribuídas em todo o processo de produção, inclusive na
fabricação de materiais e componentes11. Entre essas causas pode-se citar: a incompatibilidade
dimensional e desvios de dimensões dos materiais e componentes pelo não-atendimento às normas
técnicas; embalagens e meios de transporte inadequados; manuseio e armazenamento inadequados
desde a fábrica até o canteiro (passando pela revenda), incluindo os equipamentos e ferramentas
inadequados; dosagem e preparo de materiais inadequadas; erros de projeto; erros de execução;
não atendimento às especificações das normas técnicas de projeto e execução; falta de
informações adequadas para a correta utilização dos materiais e componentes; deficiências de
qualificação da mão-de-obra e outras causas diversas12.
A identificação das causas de perdas de materiais e componentes, antes de ser uma
motivação para empreender ações no sentido do controle e redução dessas ocorrências, tem sido
motivo para acirrar ainda mais o conflito no interior do macrocomplexo da indústria da
Construção Civil. Mais recentemente têm se estabelecido um diálogo nesse sentido e tem se
registrado iniciativas para a redução do desperdício, as quais ainda carecem de integração em todo
o macrocomplexo da Construção Civil. No entanto, setores que produzem em não-conformidade
às normas técnicas mantém-se à margem dessa tendência ou, no caso da indústria do cimento, isso
se torna instrumento de acusação à indústria da Construção Civil, eximindo-se de sua própria
responsabilidade sobre as ocorrências13.
O desperdício tem facetas que escapam totalmente às operações realizadas em canteiro
como, por exemplo, a utilização de cimento com resistência para emprego em serviços com
função estrutural em serviços sem essa função (revestimentos, reparos diversos etc.). Isso se deve
ao fato de que o setor cimenteiro nacional oferta unicamente produtos com resistências para fins
estruturais, os quais são empregados indistintamente em todos os serviços.
Embora a maior necessidade do País em termos de construção seja de produção de
habitações para a população de mais baixa renda e que mesmo para a população de média renda o
acesso à habitação venha se tornando inviável, em virtude da elevação dos preços dos imóveis,
poucos têm sido os esforços do complexo no sentido de desenvolver produtos que, com padrões
de qualidade compatíveis com a durabilidade esperada, possam ser de mais baixo custo. Ao
contrário, os mecanismos de redução de custos que a Construção Civil e os programas
11 PINTO (1989); FRANCHI et al.(1993).
12 SKOYLES (1987).
13 Em recente seminário promovido pelo Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade um grupo temático
elaborou um documento de propostas para a redução do desperdício na indústria da Construção Civil. O referido
documento identifica ações que envolvem o Estado através de seu poder de compra e de indução na modernização
das empresas; as empresas construtoras; os projetistas; os fabricantes de materiais de construção; os revendedores
de materiais de construção.
54
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
governamentais de habitação têm utilizado para a produção de edificações têm imploicao
deterioração precoce das edificações com elevados custos de manutenção para os usuários ou a
produção de edificações que não atendem requisitos mínimos de adequação. Estes mecanismos
são, por exemplo, a utilização de projetos padronizados de norte a sul do País sem considerar a
adequação às condições climáticas, de solo etc, a redução drástica de áreas (que tecnicamente não
representa a redução de custo na mesma proporção) e simples eliminação de materiais e
componentes de acabamento (revestimentos, partes de esquadrias, acessórios, etc). Por outro
lado, a apuração dos custos da Construção Civil realizada por força de lei desde 1965, resultando
num índice de custo do setor, demonstra a existência de um conjunto de materiais que têm seus
preços reajustados invariavelmente acima ou muito acima dos índices gerais de inflação14.
Embora a redução de custos de habitações não seja obtida simplesmente pela redução dos
preços dos materiais de construção, estes atualmente representam grande parcela dos custos finais
das unidades habitacionais, atribuindo ao complexo de materiais de construção importante papel
na busca de alternativas à operacionalização das políticas habitacionais. No entanto, isso requer
critérios de qualidade que evitem a repetição de casos extremos já vividos no País de necessidade
de abandono de unidades ou até mesmo demolição por deterioração irrecuperável.
2.2. Capacitação Produtiva, Tecnológica e Gerencial
Através da análise das cadeias produtivas de uma forma mais detalhada pode-se resumir a
capacitação do complexo da seguinte forma:
. Extração e beneficiamento de minerais não-metálicos
Esse setor é constituído por um grande número de empresas, predominantemente de
pequeno e médio porte, e registra intensa atividade clandestina de extração - especialmente no
caso da areia e pedra britada. Nessas condições existem sérias dificuldades de capacitação, as
quais tem grandes implicações para o meio-ambiente, na medida em que o emprego de tecnologia
rudimentar em termos de máquinas, equipamentos e métodos reflete-se em aspectos como o
assoreamento de rios e córregos; o desmatamento indiscriminado e danos ao solo e subsolo, além
de problemas relacionados ao transporte até as unidades consumidoras. A atividade clandestina e
14 Através da norma técnica NBR 12721 (ABNT,1992) estabelece-se a metodologia de elaboração do CUB - Custo
Unitário Básico segundo as exigências da Lei Federal 4591. Os Sindicatos da Indústria da Construção Civil nos
vários estados elaboram o índice e acompanham a evolução dos preços dos materiais envolvidos na cesta de
materiais definida pelos projetos-padrão avaliados. Alguns itens colocam-se sistematicamente acima dos patamares
de inflação como, por exemplo: pedra britada ; areia; ferragens para esquadrias; acessórios elétricos; tábuas para
formas de concreto armado; tintas; tubos e conexões de PVC; vidros; concreto pré-misturado; esquadrias metálicas.
55
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
as pequenas e médias empresas nessas condições atuam de forma predatória às reservas
existentes, comprometendo a oferta futura, na maioria das vezes em decorrência de baixo
conhecimento pela não utilização de pessoal capacitado.
Por outro lado, mesmo nas empresas de maior porte para minerais como a argila, caulim,
feldspato etc. é baixo o investimento em prospecção e no tratamento das matérias-primas. Por
exemplo, para a indústria cerâmica, de um modo geral, há um grande esforço feito nas fábricas
quanto ao controle da qualidade dessas matérias-primas, enquanto nos países líderes esse papel é
exercido pelas empresas de extração e beneficiamento.
O caso do amianto é um tanto atípico, pois uma única empresa atua na extração e detém
tecnologia totalmente atualizada. No entanto, em vários países do mundo o amianto sofre severas
restrições de uso em função dos cuidados requeridos pelo manuseio para evitar doenças de origem
respiratória. A tecnologia utilizada no Brasil atende todas as medidas exigidas pelas normas
oficiais, mas a substituição das fibras de amianto na fabricação de componentes ainda é
reivindicação dos trabalhadores, especialmente considerando-se que existem operações de corte
dos componentes (gerando a poeira de amianto) até mesmo em canteiros e que nem todos os
fabricantes de componentes de cimento amianto atendem às medidas necessárias para evitar
problemas de saúde ocupacional. Esses aspectos estão em negociação no âmbito da Câmara
Setorial da Indústria da Construção Civil, devendo-se constituir grupo de trabalho específico para
o estudo dessas condições15.
. Insumos metálicos
A produção de aço, alumínio e cobre no que se refere à extração e beneficiamento dos
minérios envolve, em geral, empresas de grande porte cuja capacitação é analisada no estudo da
indústria metal-mecânica deste projeto.
A produção de artefatos e componentes a partir dos metais mencionados ocorre através de
um grande número de empresas de pequeno porte como é o caso das serralherias e pequenas
metalúrgicas que produzem esquadrias e estruturas metálicas diversas. As empresas produtoras de
tubos (cobre e aço galvanizado; ferro fundido) são empresas de maior porte que fazem parte de
grupos industriais e pela sua maior capacitação têm condições de atuar em outros mercados,
especialmente nos países do Mercosul. No caso das empresas produtoras de esquadrias os
15 O grupo de trabalho 3 da Câmara Setorial da Indústria da Construção elaborou documento onde propõe-se o
compromisso de todos os integrantes do macrocomplexo da Construção Civil para a "criação de grupo técnico
dedicado a estudar o impacto, sobre a saúde do trabalhador e do usuário, de materiais e processos produtivos
potencialmente perigosos; no âmbito do mesmo grupo deverão ser discutidos prazos e condições de substituição de
materiais e processos considerados danosos à saúde." (FEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NAS
INDÚSTRIAS DA CONSTRUÇÃO E DA MADEIRA, 1993).
56
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
problemas decorrentes de tecnologias rudimentares refletem-se especialmente na qualidade do
produto pela não-conformidade às normas técnicas, registrando-se um seleto grupo de empresas
que produzem com elevados padrões de qualidade.
Nesta cadeia é forte a concorrência de produtos sucedâneos, pois até mesmo para as
instalações de água quente, em que os tubos de cobre são dominantes, e nas esquadrias já há a
concorrência dos produtos plásticos.
Essa predominância de empresas que não atingem padrões satisfatórios de qualidade
determina a concentração do consumo sobre os poucos fabricantes de grande porte que exercem
assim grande influência na determinação de preços no mercado, condições de entrega e reajustes
acima da inflação (especialmente para ferragens de esquadrias e nas próprias esquadrias). Nas
revendas de pequeno porte que atendem às atividades de autoconstrução, no entanto, predominam
os produtos fabricados em não-conformidade às normas técnicas.
. Madeira
Na extração e beneficiamento de madeira também é grande o número de pequenas e
médias empresas, e existe elevada incidência de atividade clandestina com sérias implicações
ambientais.
Entre as empresas de maior porte situam-se as produtoras de chapas compensadas e
aglomeradas, de laminados e prensados e os produtores de sistemas industrializados de formas
para concreto. Estas empresas tem se desenvolvido em níveis de capacitação que possibilita a
ampliação de suas possibilidades de exportação, como forma de compensar a retração da demanda
interna. A Construção Civil é responsável pelo consumo de aproximadamente 50% da produção
de madeira e seus derivados. A tecnologia de precisão no corte, tratamento e adequação dos
produtos aos vários tipos de uso, considerando inclusive as questões climáticas, e a automação da
produção constituem os principais pontos para a capacitação do setor e elevação da
competitividade. As empresas líderes investem em centros ou áreas próprias de desenvolvimento
de produto e processo e mantém relações de cooperação e transferência tecnológica com centros
estrangeiros, como o MIT - Massachussets Institute of Technology.
No entanto, nas pequenas empresas produtoras de artefatos - esquadrias, batentes,
rodapés, peças para estruturas de coberturas, etc.- o acesso à tecnologia e métodos
organizacionais é difícil (por desconhecimento e descapitalização) e a produção em não-
conformidade às normas técnicas, problemas de qualidade da matéria-prima, desperdícios no corte
ainda são elevados.
57
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. Cerâmica e cal
A indústria cerâmica pode ser dividida em grupos de produtos de cerâmica branca (louças
sanitárias e revestimentos), cerâmica vermelha (tijolos, blocos, telhas, tubos, lajotas), refratários
isolantes térmicos, cerâmicas especiais.
A indústria de cerâmica vermelha é extremamente pulverizada por um grande número de
pequenas e médias empresas que empregam desde a tecnologia rudimentar de fornos quase
caseiros e moldes de pequena precisão até tecnologia sofisticada para a secagem e queima das
peças com elevada eficiência térmica e qualidade final dos produtos. A extrema variabilidade
quanto às características de desempenho dos produtos e nas dimensões existente entre as
empresas têm sérias conseqüências para as construtoras e foi motivação para as várias iniciativas
de modernização induzidas pelos consumidores. O Estado de São Paulo foi pioneiro no
desenvolvimento de projetos de capacitação da indústria de cerâmica vermelha através de
convênio entre as empresas da região de Itu (região com tradição na produção de cerâmica
vermelha) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, o qual resultou num
estudo detalhado de todo o processo de produção e estabelecimento de metodologias de controle
da qualidade desde a seleção de matérias-primas, desenvolvimento de produtos, otimização de
processos, capacitação de técnicos das empresas, montagem e estruturação de um laboratório da
entidade de classe na região16. Em outros estados como Paraná, Santa Catarina e Pernambuco
foram desenvolvidos recentemente programas de capacitação para a certificação de produtos de
cerâmica vermelha, com o envolvimento de instituições de pesquisa. Pelo menos duas experiências
bem sucedidas podem ser registradas no desenvolvimento conjunto de produtos entre empresa
privada e universidade nos últimos anos17.
A cerâmica vermelha poderia ter sua demanda aumentada se a tecnologia de produção de
estruturas em edifícios empregasse mais intensamente a tecnologia de alvenaria estrutural, o que,
no entanto, exige elevado nível de qualidade dos produtos e de treinamento da mão-de-obra. Esta
é, no entanto, uma tecnologia poupadora de energia (reduz acentuadamente o consumo de
cimento cuja produção envolve maior consumo energético que a produção de cerâmica
vermelha)18.
16 ABIKO (1988); PROCHNICK (1989)
17 Convênio entre a EPUSP - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e a empresa Tebas Cerâmica Ltda
resultou no desenvolvimento não só dos componentes cerâmicos, mas de todo o sistema construtivo em alvenaria
estrutural com elevado grau de racionalização para o processo construtivo; Convênio entre a EPUSP e a empresa
ENCOL Ind. e Com. que resultou no desenvolvimento de um determinado produto, cuja produção em escala
industrial viabilizou-se com a transferência e parceria com empresa produtora de blocos cerâmicos.
18 Em algumas regiões do País o uso dessa tecnologia é mais acentuado como cultura local. Este é o caso do Rio
Grande do Sul onde a cerâmica vermelha é utilizada como estrutura em pequenas construções por tradição o que é
possibilitada pelas características dos produtos regionais. Algumas instituições de pesquisa possuem capacitação
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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A indústria de cerâmica branca - incluindo cerâmica para revestimentos e louças sanitárias
- é composta por um conjunto de 156 empresas, distribuídas em todas as regiões do País, porém
com elevada concentração nas regiões Sul e Sudeste. Embora a indústria seja constituída por um
grande número de pequenas e médias empresas, as empresas líderes podem ser consideradas
empresas de grande porte, uma vez que 8 (oito) empresas brasileiras figuram entre as 50 maiores
empresas do mundo em capacidade de produção.
Embora o investimento para a instalação de fábricas de cerâmica para revestimentos possa
ser considerado baixo quando comparado com outros setores industriais, os investimentos
necessários à produção em conformidade às normas técnicas, à pesquisa e desenvolvimento de
produtos, inclusive pelo aspecto do design, a capacitação de recursos humanos e toda a estrutura
de comercialização e marketing são exigências de um padrão competitivo desenvolvido e que são
negligenciadas por muitos novos concorrentes. Existe então uma parcela de empresas que, através
de um investimento apenas mínimo para instalação, concorrem a partir de condições desiguais em
relação às empresas de elevada capacitação, obtendo preços mais baixos através da produção em
não-conformidade às normas técnicas e descumprimento à legislação fiscal e trabalhista.
A indústria brasileira utiliza-se de tecnologia de origem italiana e mais recentemente
espanhola, possuindo grande parte da produção total (aproximadamente 71%) em processo de
monoqueima que se constitui em tecnologia de última geração para o setor. No entanto, ainda
existem empresas que, embora sejam líderes de mercado, convivem com equipamentos de
gerações passadas em quase 50% de sua capacidade instalada. As decisões de investimento em
modernização vem sendo postergadas, diante do mercado interno recessivo. A automação,
predominante nos países líderes onde atinge todas as etapas do processo ainda é parcial no Brasil,
embora existam empresas com plantas quase integralmente automatizadas. Em conseqüência, a
produtividade das empresas brasileiras ainda é, em geral, a metade da produtividade das empresas
italianas.
Os maiores problemas que o setor enfrenta, no entanto, referem-se à qualidade da matéria-
prima, à baixa disponibilidade de gás natural (com grande variedade de fontes energéticas
utilizadas pelas empresas) e ao desenvolvimento de produto com baixa capacitação em design e
baixa capacidade de inovação, o que determina os baixos valores dos produtos brasileiros no
mercado internacional. A qualidade do produto quanto ao atendimento às normas internacionais já
não é problema tão acentuado, uma vez que o setor vem se adequando às normas ISO -
International Organization for Standartization.
nessa área e há uma corrente de pesquisadores a nível internacional que defende o emprego intensivo da tecnologia
de alvenaria estrutural para países em desenvolvimento. Está prevista para 21-24 de agosto de 1994, a realização do
5º Seminário Internacional em Alvenaria Estrutural para Países em Desenvolvimento, em Florianópolis-SC,
organizado conjuntamente pela Universidade Federal de Santa Catarina e University of Edinburgh (Reino Unido).
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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É baixo o investimento das empresas em P&D de forma individualizada e baixa a
intensidade de investimento em capacitação de recursos humanos e sistemas de qualidade, embora
existam empresas que se destaquem nestes aspectos. A integração do setor para o
desenvolvimento tecnológico e elevação da qualidade dos produtos é recente com a criação em
março de 1993 do CCB - Centro Cerâmico do Brasil que se propõe a promover a pesquisa
cooperativa e a certificação de produtos (envolvendo instituições de pesquisa como a
Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de São Carlos, IPT - Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo; Universidade Estadual de Campinas e Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo).
A indústria da cal apresenta grande heterogeneidade de capacitação produtiva, registrando
a convivência entre empresas que utilizam tecnologia de última geração (definida essencialmente
pelos fornos) e empresas que produzem de forma rudimentar. Como resultado dessa situação é
expressiva a parcela da produção em não-conformidade às normas técnicas através de mistura de
vários tipos de materiais inertes que lesam o consumidor. As empresas líderes organizadas em uma
entidade de classe começaram recentemente a empreender ações no sentido de estruturar uma
política da qualidade e combate à não-conformidade.
. Cimento
A indústria do cimento no Brasil é composta por 62 unidades industriais que se distribuem
em todo o território, porém com grande concentração nas regiões Sul e Sudeste. A indústria
emprega em sua maioria o processo por via seca (95% da produção), que corresponde à
tecnologia de última geração no setor, porém ainda possui pequena parcela das plantas
automatizadas e um processo lento nessa direção. Existe heterogeneidade quanto aos índices de
eficiência energética encontrando-se empresas de padrão internacional e empresas ainda distantes
desses padrões pela defasagem de equipamentos e processos.
As empresas nacionais, ao contrário das empresas dos países líderes, investem pouco em
P&D, de forma individual, embora contribuam para a manutenção da ABCP - Associação
Brasileira de Cimento Portland que tem a função de difundir o uso do produto e dar apoio
laboratorial para controle da qualidade. O desenvolvimento e aperfeiçoamento de processos
visando à redução do impacto da produção sobre o meio-ambiente e sobre as condições de
trabalho ainda é lento em comparação aos países líderes, onde se colocam como fatores
primordiais de investimento do setor.
A liderança tecnológica e organizacional não coincide com a liderança por tamanho, uma
vez que os grupos que têm maior participação no mercado não apresentam políticas de
atualização e modernização tão claras e estabelecidas quanto alguns dos grupos menores. A
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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implantação de sistemas da qualidade e a modernização da gestão vem ocorrendo nestes grupos
ainda de forma incipiente, mas já existe empresa com certificação segundo a série de normas ISO
9000 e outras empresas que têm esse objetivo à médio prazo.
O setor ainda apresenta dificuldades nas relações capital-trabalho com baixo nível de
negociação coletiva, ou seja, a ação das entidades dos trabalhadores ocorre antes pela atuação
individual junto às empresas do que junto ao setor como um todo. As principais reivindicações
dos trabalhadores são: piso salarial unificado a nível nacional; melhores condições de saúde e
segurança do trabalho; participação nos lucros e na gestão das empresas; participação nas
discussões de mudanças do processo produtivo; implantação de contrato coletivo de trabalho a
nível nacional. Do ponto de vista dos trabalhadores as principais medidas de política industrial
devem visar a contínua modernização de processos; o investimento em treinamento e qualificação
da mão-de-obra; os investimentos na proteção ambiental; a discussão aberta com trabalhadores e
consumidores sobre a estrutura tributária do setor; o reaquecimento das atividades de Construção
Civil e o impedimento à cartelização do setor19.
O cimento brasileiro, de um modo geral, não apresenta problemas de qualidade em relação
aos produtos dos demais países, embora exista há vários anos um conflito com os consumidores
quanto aos efeitos do teor de adições no cimento, inclusive na elaboração das normas técnicas que
acabaram por consagrar a posição dos produtores, favorável à permissão de altos teores. Os
consumidores também constatam que o cimento disponível no mercado em maior quantidade é
justamente o tipo que, por especificação de norma, apresenta o maior teor de adições, sendo difícil
encontrar os tipos com maior teor de clínquer Portland.
O setor apresenta problemas relativos ao fornecimento de embalagens em alguns casos e o
transporte é extremamente dificultado pela deterioração das rodovias e das frotas dos
transportadores, além da baixa possibilidade de utilização de ferrovias.
. Insumos químicos
A indústria de tubos e conexões de PVC apresenta grande discrepância de capacitação
entre as empresas líderes e um grande número de pequenas empresas que atuam no setor. Embora
essas empresas líderes produzam de forma a atender as necessidades nacionais e poderem buscar
os mercados da América Latina e Caribe, o mercado interno apresenta sérios problemas
decorrentes dessa discrepância. Por um lado, a maior capacitação das empresas líderes estabelece
um elevado grau de concentração industrial e problemas de preços elevados com grande impacto
19 Essas posições foram apresentadas pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Cimento, Cal e Gesso de
São Paulo e representa também a atuação da Associação Nacional dos Trabalhadores da Indústria do Cimento que
congrega todos os sindicatos com base na indústria de cimento.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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nos custos de construção, mas por outro lado, justamente por esses preços elevados há uma
parcela dos consumidores que busca produtos de outras empresas em função dos preços, os quais,
no entanto, são produzidos em não-conformidade às normas técnicas, podendo ter sérias
conseqüências na qualidade das obras quando colocadas em uso20.
Nas questões relacionadas à atualização tecnológica e organizacional as ações
empreendidas no setor limitam-se às empresas líderes, que se colocam nessa condição pelo
domínio de mercado (duas empresas) e pelo atendimento às normas técnicas com programas
qualidade incipientes (aproximadamente dez empresas).
A entidade de classe setorial, em conjunto com as entidades de classe dos produtores de
matéria-prima e dos revendedores, vem empreendendo ações no sentido do combate à não-
conformidade, através de uma política de qualidade que exige dos associados a produção em
conformidade e de um programa amplo de auditoria.
A integração na cadeia produtiva vem sendo buscada pelo setor, embora seja ainda difícil o
relacionamento com os fornecedores de matéria-prima (resina de PVC) em termos de preços. Esse
desacordo levou a um aumento recente de importações de resina do México e E.U.A., ao que
correspondeu reação dos produtores nacionais com solicitação de medidas anti-dumping, afinal
concedidas pelo governo.
Na indústria de tintas e vernizes a liderança em termos de ocupação do mercado coincide
com a liderança tecnológica, na medida em que as empresas líderes são empresas de grande porte
pertencentes a grupos estrangeiros com tradição no setor. Os investimentos dessas empresas em
P&D têm se dado de forma individual, através de centros próprios, e concentram-se na obtenção
de produtos de maior durabilidade e com reduzido teor de toxicidade. No entanto, entre as cerca
de 300 empresas do setor, apenas 12 são empresas de grande porte, aproximadamente 60
empresas são de médio porte e o restante são pequenas empresas. Para essas últimas, o
desenvolvimento tecnológico de forma individual é inviável, havendo a necessidade de se
estabelecer formas cooperativas de investimento integradas com instituições públicas.
A capacitação tecnológica para a produção em nível de qualidade e para o
desenvolvimento de produtos compatíveis com os países líderes resume-se às grandes empresas e
algumas entre as médias empresas. A atualização das demais empresas é dificultada pela
instabilidade da demanda com a conseqüente dificuldade de estabelecer programas de longo
prazo. O setor ressente-se, no entanto, do baixo poder aquisitivo do mercado brasileiro que
dificulta o desenvolvimento no Brasil de produtos que acompanhem as tendências dos países
20 As instalações hidráulicas podem representar cerca de 10% do custo total das obras de edificações e as
instalações elétricas cerca de 4%, sendo que atualmente os materiais representam em torno de 60% desses custos
(independentemente do padrão construtivo).
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líderes. Esses produtos exigiriam a importação de matérias-primas em função da qualidade das
mesmas, sendo esta uma área de necessidade de aperfeiçoamento da indústria nacional. Em
algumas das matérias-primas do setor existe apenas um fornecedor.
O setor está em processo de elaboração e atualização das normas técnicas em relação às
normas dos países líderes, cuja insuficiência têm dificultado a garantia de níveis uniformes de
qualidade entre os fabricantes. Nesse sentido, a falta de exigência por parte dos consumidores
consagra a existência de produtos de baixo nível de qualidade.
De uma forma geral, o setor ainda está em processo incipiente de conscientização para os
sistemas formais de qualidade e métodos avançados de gestão.
Um balanço geral da capacitação apresentada pelas principais cadeias do complexo de
materiais de construção permite identificar três grupos de setores:
. setores cujas empresas líderes apresentam capacitação produtiva, tecnológica e
organizacional comparável aos padrões internacionais: indústria de pedras para revestimento; de
extração e beneficiamento de amianto; de madeira, para alguns tipos de produtos; de cerâmica
para revestimentos; de tubos e conexões de PVC; tubos metálicos; metais sanitários; louças
sanitárias.
. setores que apesar de apresentarem níveis satisfatório de capacitação não alcançam
competitividade internacional devido a deficiências de características do produto, qualidade ou
preços: indústria de tintas e vernizes, vidro, cimento, demais insumos químicos. A indústria do
cimento constitui caso particular em função de problemas no relacionamento com consumidores
no mercado interno, que tem levado a realização de importações, desnecessárias em condições
normais de funcionamento do mercado.
. setores em que o desenvolvimento tecnológico e organizacional é insuficiente, impedindo
o adequado atendimento do mercado nacional em termos das características de qualidade do
produto, relações na cadeia produtiva e de consumo, preços, etc: indústria de extração de minerais
não-metálicos (com exceção de pedras de revestimento e amianto); parcela da indústria de
insumos metálicos - esquadrias, ferragens; parcela da indústria da madeira - extração e
beneficiamento em parte; esquadrias e componentes de madeira; cal.
Papel decisivo na capacitação produtiva e tecnológica do complexo de materiais de
construção é desempenhado pela infra-estrutura de pesquisa e desenvolvimento e de tecnologia
industrial básica. Identifica-se a seguir as instituições públicas que mantém grupos de
pesquisadores atuantes na área de materiais de construção, à despeito do processo de
esvaziamento por que passaram nos últimos anos:
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. Universidade Federal de Santa Maria - RS
. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
. Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS - RS
. Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - CIENTEC - RS
. Universidade Federal de Santa Catarina
. Centro de Tecnologia do Paraná - TECPAR
. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - EPUSP
. Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT
. Instituto Nacional de Tecnologia - INT/RJ
. Fundação Centro de Tecnologia de Minas Gerais - CETEC
. Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
. Fundação Centro de Tecnologia de Minas Gerais - CETEC
. Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia - CEPED
. Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará - NUTEC
. Fundação Instituto de Tecnologia do Estado de Pernambuco - ITEP
Essas instituições desempenham importante papel no desenvolvimento de pesquisa de
longo prazo e na parceria com os centros setoriais, uma vez que, em geral, possuem pessoal de
elevada capacitação pela formação a nível de pós-graduação no País e no exterior.
Os setores de cerâmica para revestimentos, mármores e granitos e tubos e conexões de
PVC estão estruturando seus centros setoriais de desenvolvimento tecnológico, já constituídos
com a parceria de secretarias estaduais de ciência e tecnologia e instituições públicas de pesquisa.
A indústria do cimento está apoiada na Associação Brasileira de Cimento Portland.
Uma entidade técnica abrangendo toda a cadeia produtiva foi criada em 1992 (ITQC -
Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construção Civil) reunindo entre seus
fundadores e associados: empresas construtoras; empresas fabricantes de materiais e
componentes; empresas de consultoria e prestação de serviços tecnológicos; instituições públicas
de pesquisa e ensino; entidades de classe de fabricantes e de construtores. Propondo-se à
implantar o seguro-qualidade nos moldes como o mesmo é instituído em países como a França,
Reino Unido e Estados Unidos a entidade espera promover a elevação dos padrões de qualidade
da Construção Civil com repercussões em todo o macrocomplexo.
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2.3. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade
2.3.1. Fatores internos à empresa
Como resultado dos esforços de modernização das empresas líderes, tem ocorrido
significativa atualização tecnológica em relação aos países/empresas líderes internacionais do
complexo. Essa atualização vem ocorrendo de forma lenta e gradual, através principalmente de
projetos de implantação e não por substituição de equipamentos existentes. A introdução de
automação da produção têm ocorrido por etapas, com foco principal nas operações unitárias mais
críticas do processo de produção. Em vários casos, tem havido substituição de matérias-primas e
de tecnologias de processo tradicionais a fim de minimizar o impacto sobre o meio-ambiente.
Também tem se verificado um aumento dos investimentos em P&D nos últimos anos,
especialmente aqueles voltados para o desenvolvimento de produtos. As empresas líderes estão
buscando atender às necessidades dos consumidores - indústria da Construção Civil e usuários
finais - em termos de racionalização do processo de produção desses consumidores e da qualidade
do produto. Outro aspecto positivo da evolução recente é a crescente difusão de sistemas de
garantia da qualidade, visando à obtenção de marcas de conformidade, certificado de origem,
ensaios de laboratórios credenciados, homologação ou outras formas. O estabelecimento de novos
padrões de relacionamento entre produtores e demandantes, a partir do estabelecimento de
sistemas de qualificação de fornecedores por parte das construtoras, com base em critérios de
qualidade, prazos de entrega, condições de pagamento, atendimento/assistência técnica é outro
movimento positivo em curso nas indústrias do complexo.
Em termos da gestão, as empresas têm aumentado seus gastos em treinamento e
qualificação da mão-de-obra, implantado programas de segurança e melhorado as condições de
trabalho, estabelecendo programas de incentivos e participação nos lucros. Há em curso um
processo de profissionalização de estruturas organizacionais familiares, com redução de níveis
hierárquicos e terceirização de serviços que não são diretamente relacionados à produção.
Embora essas tendências gerais possam ser constatadas na maioria das empresas líderes,
não há uniformidade inter e intrasetorial. Convivem nos vários setores, empresas que adotam tais
estratégias de forma irreversível e empresas que ainda não estão sensibilizadas para esses
aspectos, e que apresentam sérios problemas nas relações internas e externas à cadeia produtiva.
Essa constatação expressa o elevado grau de heterogeneidade em termos de competitividade no
interior do complexo.
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Os obstáculos à competitividade que se colocam no âmbito das empresas relacionam-se ao
fato de que, apesar das estratégias das empresas líderes, ainda existe baixo grau de
conscientização das empresas quanto à necessidade de:
. produzir em conformidade às normas técnicas;
. atender às necessidades do consumidor de um modo geral, aumentando qualidade,
reduzindo preços, reduzindo desperdícios, aumentando a integração/coordenação com outros
produtos, cumprindo as condições de entrega, etc.;
. reduzir o recurso a cópia de produtos estrangeiros em favor de desenvolvimento de
design próprio;
. treinar e elevar a qualificação da mão-de-obra como instrumento de elevação da
produtividade;
. modernizar a gestão empresarial e a gestão da qualidade através do emprego de técnicas
organizacionais avançadas (maior descentralização, maior participação dos empregados, etc..)
. utilizar indicadores gerenciais e de competitividade;
2.3.2. Fatores estruturais
A implantação de alguns centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico setoriais com
ênfase no controle da qualidade por meio laboratorial foi um fator positivo para o incremento da
competitividade em algumas cadeias do complexo. Também deve ser mencionado o esforço de
elaboração/atualização da normalização técnica brasileira, de modo a estabelecer padronização
dimensional e possibilitar a redução e controle de desperdícios, e o desenvolvimento e ampliação
do emprego de novos materiais e componentes para a produção de edificações. Entre esses
últimos, destacam-se: a adição de microssílica ao concreto para a obtenção de elevadas
resistências e conseqüente diminuição de secções das peças estruturais; tubulações de CPVC -
Poli (Cloreto de Vinila) Clorado, para instalações de água quente; materiais leves para vedações
verticais internas; desenvolvimento e emprego de esquadrias de PVC; produtos especificamente
voltados à racionalização do consumo energético e de água.
Aperfeiçoamentos alcançados na organização institucional, como a criação de várias
entidades representativas de produtores e usuários, têm possibilitado o fortalecimento das relações
intersetoriais e uma maior articulação do esforço exportador.
Com relação ao primeiro aspecto, registra-se avanços no estabelecimento de padrões mais
solidários no relacionamento dos setores com instituições de ensino e pesquisa, com os
consumidores de modo geral, nas questões relativas à tecnologia de produto e processo, qualidade
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do produto e dos serviços oferecidos, condições de entrega, e com os trabalhadores pela
integração com as respectivas entidades de classe.
No segundo aspecto, os avanços têm se revelado através da participação mais ativa nas
negociações do Mercosul, da viabilização das relações comerciais com outros países e da maior
capacidade de atendimento às normas técnicas internacionais, entre outros.
De modo geral, essas ações adquiriram grande impulso a partir da vigência do Código de
Defesa do Consumidor, que mudou o status das normas técnicas brasileiras pela obrigatoriedade
de observância das mesmas para produtos e serviços colocados no mercado. A crise econômica a
partir da segunda metade da década de 80 teve grande impacto sobre a Construção Civil,
reduzindo drasticamente os recursos para financiamento e fazendo cair o nível de atividade. A
ociosidade em alguns setores industriais da produção de materiais e componentes chegou a 50%
da capacidade instalada. Em alguns casos o potencial de exportações se tornou a única saída para
assegurar a sobrevivência.
No entanto, também pode ser identificado um comportamento heterogêneo entre os
setores e obstáculos da seguinte natureza:
. a instabilidade da demanda não favorece a realização de programas de longo prazo
visando melhoria da capacitação em produtos ou processos. Praticamente todos os setores do
complexo ressentem-se da perda de poder aquisitivo do mercado brasileiro, que torna pouco
atrativo o lançamento de produtos que acompanhem mais de perto as tendências internacionais, ao
mesmo tempo que estimula a produção em não-conformidade por parte das empresas não-líderes.
Esses fatores introjetam no mercado brasileiro um padrão de concorrência pouco propício ao
desenvolvimento de bases mais sólidas de competitividade.
. dificuldades de estabelecimento de condições de equilíbrio entre
produtores/consumidores nos processos de elaboração de normas técnicas, com predominância
dos primeiros e, conseqüente, surgimento de conflitos de interesses e necessidades.
. baixo grau de integração e, por vezes, relação de conflito entre os setores e as
instituições públicas de ensino e pesquisa. Embora identifique-se casos de integração esta ainda
não é suficientemente disseminada e não é aceita por alguns setores, que consideram que tais
instituições não fornecem respostas adequadas às necessidades da indústria. Nas instituições, por
sua vez, existem divergências com os produtores quanto ao direcionamento do desenvolvimento
de produtos em função das necessidades do País e quanto ao efetivo nível de comprometimento
dos setores com a qualidade. No que diz respeito ao ensino existem reivindicações dos setores
para a atualização e adequação da formação às necessidades da indústria - especialmente quanto
ao direcionamento das universidades para as indústrias de alta tecnologia ou tecnologia de ponta
em detrimento das tecnologias tradicionais.
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Outro problema relevante decorre do fato de que o desenvolvimento de novos materiais e
componentes não é totalmente aderente às necessidades da demanda, especialmente nos aspectos
de adequação em termos de racionalização dos processos de execução de obras; redução de
custos para obras de interesse social (não somente habitações, mas obras de toda natureza);
durabilidade ao longo da vida útil com geração de elevados custos futuros para os usuários finais
ou para o Poder Público.
A integração na cadeia produtiva e de consumo é extremamente difícil em setores de
estrutura oligopolizada, atingindo casos extremos de conflito, como as divergências em relação ao
preço e a qualidade do cimento existente entre produtores e usuários do produto. Em outros
casos, como o fornecimento de resina de PVC ou de pedra britada e areia, o conflito refere-se
principalmente aos preços praticados. Também as relações capital-trabalho são conflituosas em
alguns setores pelo não atendimento de condições básicas de salários, segurança e condições de
trabalho.
O complexo é marcado, ainda, por uma extensa ocorrência de produção em não-
conformidade às normas técnicas - enfaticamente em tubos e conexões de PVC; cerâmica
vermelha; cerâmica para revestimentos; esquadrias metálicas e de madeira; cal. Em vários desses
setores têm proliferado empresas que produzem a custos baixos por meio do descumprimento da
legislação fiscal e trabalhista, e movem competição desleal em preços.
2.3.3. Fatores sistêmicos
Dentre os fatores sistêmicos, destacam-se como obstáculos à competitividade:
. faixa efetividade na aplicação da legislação de defesa da concorrência e elevado poder de
influência sobre os instrumentos de política industrial por parte dos setores oligopolizados, em
detrimento das relações de equilíbrio de interesses e necessidades entre produtores e
consumidores.
. sistema tributário que leva à impossibilidade de obter ganhos significativos no preço final
de alguns produtos, à despeito dos esforços para a redução de custos de produção, além da baixa
efetividade da fiscalização tributária e trabalhista.
. sistema de transporte para o exterior ineficiente, que inviabiliza a aceitação de condições
contratuais similares às oferecidas pelos competidores diretos.
. desarticulação institucional por parte do Estado na formulação de políticas de habitação e
saneamento e a falta de integração entre medidas adotadas pelo próprio Governo Federal e deste
com os governos estaduais e municipais. As políticas habitacionais e de saneamento, por exemplo,
são altamente vulneráveis a mudanças nos cargos de primeiro e segundo escalão dos governos
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(Ministérios; Secretarias) e não são acompanhadas de política tecnológica que viabilize o real
avanço da produção em direção aos aspectos definidores da competitividade21.
. perda de capacitação por parte das instituições públicas (federais e estaduais) de pesquisa
e desenvolvimento tecnológico e também a ausência de mecanismos específicos de incentivo às
atividades de tecnologia industrial básica.
. falta de mecanismos específicos de incentivo por parte do Estado às atividades de
elaboração de normas técnicas, através da viabilização da participação dos profissionais de
universidades, institutos de pesquisa, órgãos reguladores e contratantes de obras, como forma de
assegurar que o conhecimento acumulado nessas instituições seja incorporado às normas,
contribuindo para o equilíbrio de interesses entre produtores e consumidores.
. falta de mecanismos contínuos de financiamento de longo prazo para a capacitação
produtiva e de critérios objetivos para concessão e gerenciamento desses recursos.
. falta de legislação abrangente e integrada entre os estados da federação quanto ao
controle ambiental e de mecanismos de incentivo à conservação de energia e do meio-ambiente
através de critérios de competitividade.
. dificuldades alfandegárias para o acesso a máquinas, equipamentos e seus componentes
que constituem a tecnologia de ponta nos respectivos setores.
. desatualização da rede pública de ensino (superior principalmente) em relação às reais
necessidades dos setores, segundo os novos paradigmas de competitividade (qualidade;
produtividade; P&D; etc.).
21 Na década de 70, quando a política habitacional do BNH incentivava a obtenção de redução de prazos e custos, o
desenvolvimento e emprego de novos produtos na Construção Civil sem a devida capacidade de avaliação prévia de
seu desempenho por parte do Poder Público que contratava as obras, levou a situações extremas de deterioração
precoce das unidades produzidas. Uma tentativa de acoplar às políticas habitacionais uma política de
desenvolvimento tecnológico para o setor, foi feita no ano de 1991, através do lançamento do Programa Nacional
de Tecnologia da Habitação - PRONATH, no âmbito do então Ministério da Ação Social. No entanto, a
descontinuidade de gestão da política habitacional (desde então cinco diferentes secretários nacionais de habitação
foram responsáveis pela gestão do programa) e a necessidade de produção em curto prazo, dadas as implicações
políticas da produção habitacional, descaracterizaram o Programa, que se propunha a ser um programa mobilizador
do Estado. Recentemente (Julho/Ago. 1993), num reflexo da falta de integração governamental sobre o tema, um
novo programa foi lançado sob a responsabilidade direta da Presidência da República, segundo uma versão que
apresenta sérios equívocos técnicos de constituição em relação ao programa original.
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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
A Política Industrial e de Comércio Exterior, definida a partir de 1990, inseriu o
macrocomplexo da Construção Civil e, por conseguinte, o complexo de materiais de construção
em seus mecanismos como o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade e as câmaras
setoriais. A primeira Câmara instalada, voltada aos setores produtores de materiais de construção,
obteve resultados de curto prazo introduzindo alterações na política tributária para o setor, na
política energética e na política tecnológica.
A Câmara Setorial que reúne os construtores atuou em várias frentes, incluindo o
estabelecimento de programas conjuntos com a indústria de materiais e indústrias de outros
complexos industriais, como máquinas e equipamentos por exemplo, no sentido de enfrentar
questões que afetam todo o macrocomplexo da Construção Civil, como as alternativas de
financiamento à produção, a legislação de licitações, a carga tributária, tecnologia e comércio
exterior.
Essas câmaras setoriais, no entanto, mantiveram-se inativas por longo período e foram
reativadas em 1993 após um conjunto de reivindicações das entidades de classe - especialmente
entidades dos construtores. A reativação das câmaras foi acompanhada de uma integração
reunindo-as em apenas uma câmara e ocorreu a partir da ação de grupos de trabalho que
estudaram as questões referentes ao financiamento à produção (política habitacional e de
saneamento; recuperação da malha viária e concessão de serviços públicos); carga tributária na
construção civil e seu impacto sobre os custos; tecnologia e qualidade; relações capital-trabalho e
reformas estruturais (reforma política; inserção na economia mundial; reforma do Estado;
reformas econômicas; reforma social; reforma setorial e reforma do Judiciário). Os grupos de
trabalho que contaram com ampla participação de toda a cadeia produtiva - produtores de
materiais e componentes; projetistas; construtores; trabalhadores - elaboraram documentos de
propostas que foram aprovados em seminário coordenado pelo Ministério da Indústria, Comércio
e Turismo em 22 de junho de 1993. O consenso sobre as propostas somente não foi atingido no
grupo de relações capital-trabalho, o que levou à nova rodada de reuniões antes que se estabeleça
um acordo em novo seminário ainda não realizado.
3.1. Diretrizes Gerais
A Construção Civil como um todo ainda não está totalmente integrada à Política
Industrial, tendo sido apontadas nas câmaras setoriais e nos diagnósticos do PBQP as
repercussões que a desarticulação institucional a nível governamental vem provocando no setor. A
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indefinição de responsabilidades a nível federal sobre a regulamentação das atividades da
Construção Civil, marcadamente quanto às políticas públicas de habitação e saneamento, tem
levado a enormes dificuldades no estabelecimento de programas e estratégias industriais de médio
e longo prazo.
A busca de mercado externo, se representa estratégia de neutralização dos efeitos da
ociosidade e geração de demanda para o desenvolvimento da indústria, representa também a
necessidade de investimentos para assegurar a competitividade, os quais devem ser respaldados
também por perspectivas internas de mercado.
O diagnóstico realizado nesse trabalho sugere que a definição de diretrizes para o
incremento da competitividade do coomplexo de materiais de construção brasileiro deve levar em
conta a existência de três grupos de setores de acordo com o desempenho e o estágio de
capacitação competitivas já alcançados:
Num primeiro grupo podem ser situados os setores que, em virtude de uma capacitação
produtiva, tecnológica e organizacional mais próxima dos países líderes, requerem mecanismos de
retirada de obstáculos e algumas condições específicas para potencializar sua competitividade.
Entende-se, nesse caso, que esses setores têm condições de caráter mais imediato de se colocarem
em posições competitivas no mercado externo e de se afirmarem no mercado interno em relação
aos setores concorrentes e numa situação de maior uniformidade entre as empresas nas relações
de concorrência. Este é caso da indústria de pedras para revestimento; de extração e
beneficiamento de amianto; de madeira, para alguns tipos de produtos; de cerâmica para
revestimentos; de tubos e conexões de PVC; tubos metálicos; metais sanitários; louças sanitárias.
Num segundo grupo podem ser reunidos os setores que apesar de não terem condições de
capacitação muito diferenciadas em relação aos países líderes não conseguiram ainda vencer
barreiras relativas à qualidade e características do produto, ou preços, ou barreiras de caráter
sistêmico, de modo a se colocarem em posição de competir no mercado externo de forma
significativa, especialmente na América Latina. Esse é o caso da indústria de tintas e vernizes,
vidro, cimento, demais insumos químicos. A indústria do cimento, no entanto, assume
características próprias no interior desse grupo em virtude do desequilíbrio nas relações com os
consumidores no mercado interno, que leva às importações que seriam desnecessárias em
condições normais de funcionamento do mercado.
No terceiro grupo colocam-se os setores em que há a necessidade de desenvolvimento
tecnológico e organizacional para atender de forma mais adequada o mercado nacional em termos
das características de qualidade do produto, relações na cadeia produtiva e de consumo, preços,
etc. Podem ser reunidos nesse grupo: a indústria de extração de minerais não-metálicos (com
exceção de pedras de revestimento e amianto); parcela da indústria de insumos metálicos -
71
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
esquadrias, ferragens; parcela da indústria da madeira - extração e beneficiamento em parte;
esquadrias e componentes de madeira; cal.
Para atingir esses objetivos propõe-se a estruturação de políticas da seguinte natureza:
3.2. Políticas de Reestruturação Setorial
. Políticas de integração na cadeia produtiva
. Desverticalização gradual dos setores através da modificação da estrutura das atividades
de extração e beneficiamento de matérias-primas, de modo a viabilizar o desenvolvimento
tecnológico e adequação ambiental dessas atividades pela participação de grupos industriais
especificamente voltados às mesmas. Essa ação depende da legislação específica para esse fim.
Programas setoriais de desenvolvimento devem criar mecanismos de atratividade para o
investimento estrangeiro e/ou de grupos industriais com tradição e disponibilidade de recursos
para a modernização dessas atividades. Mecanismos de estabelecimento de critérios para
fornecimento das matérias-primas com preparação em centrais, por exemplo devem ser estudados
por cada setor individualmente.
. Estabelecimento de termos de compromisso entre os setores produtores de materiais de
construção, o setor de transporte rodoviário, os trabalhadores na indústria e sua cadeia produtiva
e a indústria consumidora, a partir de diretrizes e agenda de desenvolvimento tecnológico e
organizacional comuns, de modo a viabilizar: a diversificação de produtos oferecidos; a
adequação dos produtos em termos das condições de produção e atendimento das necessidades
dos consumidores; a adequação de embalagens e formas de fornecimento, manuseio e utilização
para a redução de desperdícios em obras; a racionalização do transporte com adequação e
renovação da frota; o avanço tecnológico quanto às possibilidades de emprego dos produtos.
Esses termos de compromisso devem ser firmados em fóruns adequados, em que seja possível tal
integração entre toda a cadeia produtiva, tais como a Comissão da Indústria da Construção da
FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e a própria Câmara Setorial da
Construção Civil. Para tanto é necessário promover a reunião de todos esses agentes e sua
organização em torno de grupos de trabalho, que envolvam também o conhecimento acumulado
nas instituições públicas de pesquisa e desenvolvimento.
. Reestruturação da indústria fornecedora de equipamentos para o aperfeiçoamento da
prestação de serviços de assistência técnica e desenvolvimento conjunto de processos. Para alguns
casos deve-se enfatizar a vocação da indústria nacional para complementar a atuação de empresas
estrangeiras detentoras de tecnologia de ponta em máquinas e equipamentos específicos.
72
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Planejamento da expansão de capacidade instalada pelos setores de forma racional em
relação aos mercados consumidores, disponibilidade de fontes energéticas e matérias-primas,
proximidade das vias de escoamento, etc.
. Estabelecimento de programas amplos inter e intrasetoriais para a capacitação da rede de
revendas de materiais de construção, no sentido do conhecimento dos materiais, prestação de
informações adequadas ao consumidor, modernização gerencial de um modo geral.
. Implantação de sistemas de indicadores setoriais a fim de monitorar a evolução
competitiva dos setores e subsidiar a articulação entre os mesmos.
. Política de pesquisa, desenvolvimento e difusão tecnológica
. Estabelecimento de programas de investimento em pesquisa e desenvolvimento
tecnológico mediante a integração entre instituições públicas (universidades e institutos de
pesquisa), áreas de P&D das empresas privadas e centros setoriais, no sentido de viabilizar o
investimento em capacitação laboratorial atualizada em relação aos países líderes, o investimento
em programas de pesquisa de longo prazo e pesquisas de caráter básico com otimização de
recursos e a formação de recursos humanos de alto nível de conhecimento. Os programas de
fomento à pesquisa existentes atualmente viabilizam a composição de projetos com a participação
de instituições públicas e privadas. O estabelecimento de programas cooperativos e intercâmbio
entre empresas e tais instituições é, pois, viável através dos mecanismos de fomento já existentes,
no entanto, por parte das agências de fomento cabe uma maior abertura à pesquisa nessas áreas
consideradas tradicionais, com o estabelecimento de linhas específicas para as mesmas.
. Estabelecimento de programas de pesquisa cooperativa entre produtores e fornecedores
de matérias-primas (naturais e não naturais), no sentido da redução de custos e elevação dos
padrões de qualidade.
. Estabelecimento de programas abrangentes de pesquisa e desenvolvimento visando à
proteção do meio-ambiente face às atividades dos vários setores envolvidos e de programas de
conservação e adequação energética em relação aos processos produtivos específicos dos setores.
Programas dessa natureza devem envolver a capacitação existente no País nessas áreas de forma
regionalizada - universidades e institutos de pesquisa; empresas e entidades técnicas.
. Estabelecimento, no âmbito dos programas de P&D, de intercâmbio efetivo com
instituições e centros de pesquisa líderes, mediante a permanência de profissionais estrangeiros no
Brasil e vice-versa; e de participação em programas integrados entre instituições brasileiras e
estrangeiras. Os mecanismos existentes para financiamento viabilizam essas condições devendo,
no entanto, haver disposição nos setores para tais iniciativas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Organização setorial para a difusão tecnológica, de modo a orientar o uso adequado dos
produtos, inclusive a partir do ensino de nível técnico e superior e treinamento dos revendedores.
No que se refere ao ensino, cabe abrir algum diálogo entre os setores e as universidades e escolas
técnicas no sentido de diagnosticar e propor medidas para a atualização dos métodos e
instrumentos de ensino das disciplinas afins com a especificação e emprego de materiais de
construção.
. Estabelecimento de programas de difusão tecnológica abrangendo publicações
especializadas de conteúdo técnico voltado aos produtores da cadeia e a elaboração de
instrumentos adequados de difusão para profissionais especificadores, revendedores,
consumidores intermediários e finais.
. Constituição de rede de informações tecnológicas mediante convênios com todas as
entidades, instituições e empresas que detém informações de interesse das empresas do complexo.
. Política de normalização, certificação e qualidade
. Promoção da valorização da atividade de normalização nas instituições de pesquisa e nas
entidades dos consumidores, visando à maior participação de pesquisadores na elaboração de
normas técnicas e equilíbrio de necessidades nas especificações brasileiras. No caso da
participação dos pesquisadores é necessário: criar condições de financiamento a projetos, cujo
produto final seja um texto-base de norma técnica; reconhecer a atividade de elaboração de
normas como a atividade de pesquisa para efeito das avaliações dos pesquisadores e produção
científica das instituições; criar mecanismos específicos para a participação de pesquisadores e
docentes nas comissões de estudos da ABNT. Por parte dos consumidores cabe viabilizar da
mesma forma a participação de técnicos de órgãos públicos e instituições envolvidas com a
promoção e contratação de obras e criar mecanismos de estímulo à participação de técnicos das
empresas. Tal estímulo pode envolver uma ampla campanha pelo emprego das normas técnicas e
exigência por parte do consumidor final.
. Mobilização de todo o complexo para a rejeição de produtos em não-conformidade às
normas técnicas e promoção da capacitação das empresas responsáveis por essa produção.
. Organização setorial para a difusão de conceitos e metodologias de qualidade e
produtividade mediante desenvolvimento de projetos cooperativos no âmbito do Programa
Brasileiro da Qualidade e Produtividade. Nesse caso, os setores podem utilizar seus recursos nas
entidades de classe para programas específicos e contar com o apoio de instituições/empresas de
consultoria especializadas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Organização setorial para a certificação da qualidade de terceira parte dos produtos da
indústria. Em caso de setores que não apresentam disposição para isso atualmente sua
organização em torno dessa questão dependerá da exigência dos consumidores, inclusive por
parte do Estado.
. Política de recursos humanos e relações de trabalho
. Organização setorial para a formação de mão-de-obra operária e de nível técnico
promovendo uma elevação significativa da qualificação e adequação às tecnologias de última
geração, de modo a propiciar a elevação dos níveis de produtividade. Para esses aspectos os
setores requerem integração através de convênios ou outros instrumentos com o SENAI e escolas
técnicas, além de disposição para investir através da conscientização voluntária ou induzida pelos
próprios trabalhadores e governo.
. Organização setorial para o desenvolvimento de programas de segurança e medicina do
trabalho na indústria.
Os programas podem utilizar-se dos recursos atualmente existentes nessa área, (da
FUNDACENTRO, por exemplo), mas requerem maior grau de exigência/indução por parte do
Estado. Neste caso, é preciso conhecer mais detalhadamente a situação de cada setor através de
diagnósticos especializados.
. Estabelecimento de contrato coletivo de trabalho.
O contrato coletivo de trabalho faz parte da pauta de negociações de entidades de vários
setores, em geral por iniciativa dos trabalhadores. As dificuldades decorrentes das relações atuais
de alguns setores com as entidades dos trabalhadores, em que não existe negociação coletiva
através da entidade patronal, mas negociações caso a caso nas empresas podem ser superadas com
a mediação do governo em fórum adequado, como a Câmara Setorial por exemplo, onde o tema é
objeto de estudo por parte do Grupo de Trabalho - GT3 - Emprego, Salários e Relações de
Trabalho.
. Política de "marketing institucional"
. Estruturação de um programa agressivo de marketing dos produtos do complexo que
fazem parte da pauta de exportações do País. Esse programa pode ser articulado de forma
cooperativa entre os vários setores visando fixar a imagem dos produtos brasileiros nos principais
mercados consumidores.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Desenvolvimento e elevação do grau de internacionalização das feiras de produtos da
construção civil.
Agentes intervenientes: entidades de classe e centros setoriais de desenvolvimento; ABNT -
Associação Brasileira de Normas Técnicas; Universidades e institutos de pesquisa públicos; centros
de P&D das empresas; Ministério da Fazenda; Ministério da Indústria, Comércio e Turismo;
Ministério das Minas e Energia; FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de
Segurança e Medicina do Trabalho; SENAI; Ministério do Trabalho; Câmara Setorial da Indústria da
Construção Civil; entidades de classe dos trabalhadores.
3.3. Políticas de Modernização Produtiva
Nas proposições de políticas de modernização produtiva as ações deverão ser
automotivadas em sua essência. No entanto, os entendimentos entre os setores e o restante de
suas cadeias produtivas podem ser indutores da adoção dessas medidas por parte das empresas. A
maior exigência por parte do Estado e sua atuação no sentido da aplicação da lei de defesa da
concorrência, assim como a exposição à concorrência externa também são fatores
impulsionadores das políticas de modernização produtiva.
. Política de gestão empresarial
. Estabelecimento de programas de modernização gerencial e de gestão da produção de
modo a adequar o modus operandi aos novos paradigmas do desenvolvimento industrial
(qualidade, produtividade, flexibilidade, atendimento ao consumidor, etc), com o emprego de
técnicas gerenciais avançadas, ênfase no planejamento e controle, bancos de dados gerenciais,
informática aplicada, etc.
. Estabelecimento de programas formais de qualificação de fornecedores e de atendimento
a todos os tipos de consumidores (revendas, construtoras, produtores intermediários, etc) com
completa assistência à especificação e utilização dos produtos.
. Modernização das estruturas organizacionais das empresas com base na redução de
níveis hierárquicos e do grau de centralização das decisões.
. Estabelecimento de programas de participação dos trabalhadores na gestão da produção
com mecanismos de incentivos.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Política de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e qualidade
. Elevação do grau de investimento em desenvolvimento de processos e produtos, de
forma a alavancar a capacidade de se adiantar aos competidores, com a redução do grau de cópia
de produtos;
. Estabelecimento de programas de qualidade total envolvendo todo o processo de
produção e as empresas como um todo.
. Estabelecimento de programas visando à certificação de produtos.
. Estabelecimento de programas de atualização tecnológica com metas de equiparação das
fábricas quanto ao desempenho do processo em relação aos países líderes (substituição de
insumos energéticos; adequação ambiental - ruído, emissão de poluentes do ar, proteção ambiental
nas atividades de extração; automação).
. Estabelecimento de programas intensivos de controle ambiental dos processos e da
substituição de matérias-primas tóxicas.
. Aperfeiçoamento das linhas de financiamento governamentais e privadas à modernização
tecnológica com prazos, taxas de juros e exigências segundo critérios de avaliação do desempenho
competitivo das empresas e compatíveis com o cenário econômico em que atuam.
. Estabelecimento de critérios seletivos em termos de competitividade para os
financiamentos à gestão da qualidade e desenvolvimento tecnológico de acordo com as
características de porte e organização das empresas.
. Estabelecimento de programa amplo de incentivo ao desenvolvimento nacional em design
voltado aos produtos industriais, compreendendo incentivos à formação de designers no Exterior;
ao aperfeiçoamento do ensino nesse aspecto (cursos superiores de Arquitetura e Urbanismo;
Engenharia de Produção - linhas de Engenharia do Produto; Desenho Industrial); à contratação
cooperativada de designers de capacitação internacional para ensino em pólos industriais
demandantes; à formação e contratação de equipes próprias e serviços de terceiros pelas
empresas.
. Política de recursos humanos e relações de trabalho
. Implantação de programas de treinamento visando à elevação da qualificação da mão-de-
obra operária, envolvendo a conscientização e motivação para a qualidade, produtividade e
segurança no trabalho.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Modernização das políticas de recursos humanos nas empresas através de melhoria das
condições de trabalho, programas de treinamento e motivação, mobilidade funcional a partir de
critérios de desempenho, políticas de seleção e recrutamento.
. Estabelecimento de programas de formação de executivos da alta administração.
Agentes intervenientes: Empresas produtoras, empresas fornecedoras de matérias-primas, empresas
de consultoria em projeto e instalação de plantas industriais, SENAI, FUNDACENTRO -Fundação
Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, Ministério do Trabalho, Ministério
da Indústria, Comércio e Turismo; entidades de classe dos trabalhadores.
3.4. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
. Política tributária
. Análise conjunta entre produtores e consumidores, no âmbito da Câmara Setorial, do
impacto da carga tributária incidente sobre as empresas e sobre os produtos na política de preços
dos setores vis à vis o impacto nos custos da indústria da construção civil. A partir dessa análise
devem ser estudadas as necessidades de cada setor, de modo a capacitá-los a adequar seus
padrões de preços às necessidades dos consumidores, especialmente nos casos de conflito intenso
sob este aspecto.
. Reforma tributária com ênfase ao aperfeiçoamento da administração para a diminuição
das desigualdades competitivas com base no não cumprimento da legislação; eliminação do efeito
cascata na tributação sobre a produção; simplificação da arrecadação; adoção do princípio do
destino na tributação sobre a circulação de mercadorias.
. Política de energia e meio ambiente
. Estabelecimento de normas adequadas à substituição de insumos energéticos pela queima
de resíduos industriais e programas de incentivos ao desenvolvimento de projetos de substituição
que visem ao aproveitamento de rejeitos disponíveis regionalmente.
. Ampliação do gás natural na matriz energética (atualmente apenas 2%), com a respectiva
extensão da rede de gasodutos às regiões pólos de indústrias e equiparação das tarifas aos demais
energéticos. A política energética deve estimular através dos mecanismos de planejamento
regional a localização de novas fábricas nos eixos da rede de gasodutos.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Implantação de mecanismos de incentivos de caráter financeiro (tarifas diferenciadas,
incentivos fiscais, bônus para as despesas com energia ou outra forma) para as empresas que
implantarem programas efetivos de conservação de energia (de todas as fontes utilizadas),
mediante o acompanhamento dos resultados atingidos.
. Uniformização da legislação de controle ambiental de modo a estabelecer requisitos
objetivos e compatíveis entre as várias regiões.
. Política de desenvolvimento setorial e de defesa da concorrência
. Estabelecimento de programas de incentivo ao desenvolvimento tecnológico a partir do
poder de compra do Estado, com exigência de adequação dos produtos a fins específicos
(especialmente na utilização para obras de caráter social como os programas habitacionais para
baixa renda) e exigência incondicional de conformidade às normas técnicas, por parte de todos os
órgãos contratantes de obras e serviços.
. Redução das alíquotas ou manutenção das alíquotas já reduzidas para importação de
matérias-primas, máquinas, equipamentos e peças componentes, cujos preços sejam superiores ou
a qualidade inferior aos vigenets na indústria internacional. Manutenção da alíquota 0% para
importação de produtos com elevado grau de conflito no mercado interno, visando a exposição
dos setores à concorrência externa.
. Aperfeiçoamento da organização institucional para a aplicação da legislação anti-
dumping através de metodologia suficientemente detalhada e, contemplando as partes interessadas
- produtores e consumidores, para estabelecimento das condições para requerimento de ações
anti-dumping. Tal metodologia deve voltar-se ao aperfeiçoamento dos aspectos que definem o
grau de confiabilidade dos dados comprovadores de danos à indústria nacional e à agilização dos
prazos processuais.
. Aperfeiçoamento da organização institucional para aplicação da Lei 8158/91 (Defesa da
concorrência) que atribui à Secretaria Nacional de Direito Econômico a competência para apurar
e propor medidas de correção de anomalias de comportamento de setores e empresas, de modo à
promover a efetiva aplicação da referida lei caso os setores não sejam capazes de estabelecer
mecanismos de equilíbrio para superar conflitos de interesses entre produtores e consumidores.
Esse aperfeiçoamento requer a agilização dos processos decorrentes de denúncias realizadas e o
monitoramento do comportamento das empresas.
. Modernização do sistema financeiro no sentido do aperfeiçoamento dos serviços e
instrumentos financeiros oferecidos às empresas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. Estabelecimento de critérios de avaliação do desempenho dos setores para o
gerenciamento dos programas públicos de financiamento relacionados às características próprias
de sua competitividade: elevação dos padrões de qualificação da mão-de-obra, substituição de
insumos energéticos por rejeitos industriais, consumo energético, atendimento ao consumidor, etc.
. Estabelecimento de fórum permanente de participação empresarial no gerenciamento da
política industrial.
. Política de transportes
. Modernização portuária integrada aos sistemas de transportes de acesso aos portos e
viabilização da construção de terminais apropriados ao estabelecimento de políticas de exportação
para o complexo.
. Recuperação da malha rodoviária e incremento da participação das ferrovias na infra-
estrutura de transportes, de modo a retirar das rodovias o transporte de produtos que representam
grandes volumes e pesos.
. Política de recursos humanos e relações de trabalho
. Adequação da legislação trabalhista de modo a desonerar as empresas de encargos de
baixo retorno como benefício para os trabalhadores e incentivo às políticas de benefícios e
incentivos diretos das empresas.
. Redirecionamento do ensino de nível técnico e superior no sentido da formação de
caráter tecnológico efetivamente aderente às tecnologias tradicionais.
. Redirecionamento das políticas de pesquisa e pós-graduação nas instituições públicas e
privadas no sentido não discriminatório em relação às tecnologias tradicionais, com extensão dos
incentivos de fomento à pesquisa para as chamadas tecnologias de ponta à pesquisa dirigida às
tecnologias tradicionais.
. Reestruturação dos critérios de avaliação de desempenho nas universidades e instituições
públicas de pesquisa visando ao reconhecimento e incentivo às atividades desenvolvidas junto ao
setor industrial e atividades de normalização (elaboração de textos normativos e participação em
comissões de estudos junto à ABNT).
Agentes intervenientes: entidades de classe e centros setoriais de desenvolvimento dos produtores;
entidades de classe dos consumidores (Câmara Brasileira da Indústria da Construção - CBIC;
SINDUSCONs); Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo; Ministério da Educação;
Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da Fazenda; Ministério da Justiça; Ministério dos
Transportes; Ministério do Bem-Estar Social; Ministério das Minas e Energia; órgãos responsáveis
pelo controle e proteção ambiental.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
O estudo detectou a baixa utilização de indicadores como forma de avaliação do
desempenho competitivo dos vários setores do complexo e das empresas que o constituem.
Comparativamente aos dados existentes nas indústrias dos países líderes a indústria nacional não
tem como prática a elaboração de indicadores, divulgando dados brutos, sem elaboração. Também
as empresas utilizam-se muito pouco de indicadores de desempenho como instrumento gerencial,
restringindo-se em sua maioria aos dados financeiros de balanço e dados sobre os volumes de
vendas. Este capítulo propõe uma série de indicadores que visa à constituição de um sistema que
sirva de referência e apoio à aplicação de instrumentos de uma política industrial para o complexo
e que permita avaliar a evolução da indústria e das empresas.
Para a indústria como um todo, interessa avaliar seu desempenho em termos dos aspectos
que possam refletir a obtenção de vantagens numa situação de competição por recursos e
incentivos no sistema econômico, sua evolução em termos da capacidade de promover
atendimento ao consumidor e de contribuir para o desenvolvimento econômico e social do País.
Para as empresas de forma individualizada os indicadores têm o papel de orientar o
planejamento estratégico, indicando a capacidade da empresa em se destacar no mercado em
relação aos seus competidores diretos quanto aos aspectos que definem seu papel de atender às
necessidades dos consumidores. Tais indicadores também refletem a contribuição de cada empresa
individualmente à competitividade da indústria.
A análise das características da indústria e dos dados disponíveis ou passíveis de obtenção
para a mesma levou à elaboração de um conjunto de indicadores que considera os aspectos
detectados ao longo do estudo como determinantes do desenvolvimento de relações equilibradas
com os consumidores, de forma a medir o quanto a indústria ou as empresas individualmente se
aproximam de uma condição de liderança. Entre os vários indicadores relacionados, os de maior
relevância podem ser hierarquizados conforme a finalidade a que se destinem.
4.1. Indicadores do Impacto da Produção no Sistema Econômico
Utiliza-se para a construção desses indicadores os dados de caráter macroeconômico
utilizados nas estatísticas oficiais, visando analisar a contribuição dos setores para o
desenvolvimento da indústria como um todo.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. Valor adicionado
É o valor da produção bruta (em valor de produtor) - consumo intermediário (em valor de
comprador).
Mede a contribuição dos setores para o PIB - Produto Interno Bruto em valor de
produtor.
O acompanhamento da evolução em séries históricas pode ser feito a partir dos dados
coletados para a elaboração das Contas Nacionais, ou seja, os dados dos censos e pesquisas
industriais realizados pela FIBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. No
entanto, a intenção de acompanhar especificamente a contribuição ao PIB de cada setor exigiria o
acesso aos dados brutos, uma vez que cada setor está inserido na classificação do IBGE como
"Transformação de produtos minerais não-metálicos"; "Extração vegetal", etc. Interessa conhecer
também como o valor adicionado pelo setor evolui em relação aos demais ramos industriais de sua
cadeia.
. Participação do setor nas exportações/importações brasileiras
Acompanhamento por séries de base em curto prazo (trimestral/semestral) da contribuição
do setor em valor de exportação para o conjunto das exportações e das importações brasileiras.
Esse acompanhamento pode ser feito de forma conveniada entre a entidade de classe e o
Departamento de Comércio Exterior, utilizando-se os dados do setor e os dados da indústria
como um todo gerados naquele órgão.
. Participação do setor no emprego total
Para o acompanhamento do impacto do setor na geração de emprego total é necessário
levantar em séries históricas anuais o emprego direto dos dados que são levantados pelo
Ministério do Trabalho a partir da RAIS - Relação Anual de Informações Sociais. Também para
este caso os dados são disponíveis segundo a classificação tradicional da indústria.
. Evolução da produção comparativamente à evolução do consumo
Através de séries históricas de base anual trata-se de computar a produção total e o
consumo aparente do mercado interno e externo, obtendo-se ainda o diferencial resultante como
estoques. Avalia-se dessa maneira o crescimento da produção e da demanda e o crescimento das
exportações. Tais indicadores podem ser elaborados a partir das entidades de classe utilizando-se
os dados de todo o setor.
*** Esse indicador pode ser elaborado também para as empresas individualmente.
82
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. Evolução da produção brasileira como parcela da produção mundial
Os dados sobre a produção mundial são acessados pelas entidades de classe junto às
entidades congêneres e figuram no anuário mundial dos setores. Esse indicador permite avaliar o
crescimento do mercado para o produto brasileiro em relação à produção mundial em termos de
sua produção total (para o mercado interno e externo).
4.2. Indicadores de Capacitação dos Setores
. Evolução da capacidade instalada e de seu grau de ocupação
A capacidade instalada dos setores é dado processado pelas entidades de classe que podem
ser obtidos em base anual, devendo-se ampliar a coleta para a abrangência de todo o setor e
especificando-se por tipo de produto. O grau de ocupação da indústria é obtido em base mensal
pelas federações de indústrias e pela FIBGE. Tais dados poderiam também ser obtidos pelas
entidades de classe ou através do detalhamento dos dados atualmente coletados, especificando-se
cada setor.
*** Esse indicador pode ser elaborado também para as empresas individualmente.
. Grau de concentração industrial dos setores
Participação de cada grupo industrial na produção anual dos setores em termos de volume
e receita.
. Grau de atualização tecnológica do parque produtor
Os dados referentes à atualização tecnológica estão disponíveis, em parte, no anuário
mundial dos setores e os indicadores podem ser elaborados e acompanhados pelas entidades de
classe e entidades técnicas setoriais.
Grau de atualização em relação aos competidores externos: parcela da produção total
da indústria produzida através de processo de última geração e comparação com a mesma parcela
dos principais competidores.
Grau de atualização tecnológica interna ao setor: número de fábricas (plantas) que
produzem no processo de última geração e respectiva parcela da produção total da fábrica.
83
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
i x CPi)
Grau de atualização tecnológica (G.A.T.) = ------------
CP
Onde:
- ß
i
é a proporção da produção em processo de última geração de cada fábrica
- CP
i
é a capacidade de produção de cada fábrica e
- CP é a capacidade total da indústria
A obtenção dos dados exige pesquisa por parte da ABCP.
. Grau de aderência às técnicas organizacionais e modelos de gestão avançados
TÉCNICAS ORGANIZACIONAIS/ Nº DE EMPRESAS NÃO SE
MODELOS DE GESTÃO QUE APLICAM APLICA AO
SETOR
1. Células de produção
2. Polivalência de funções
3. Controle Estatístico de Processo
4. "Just-in-time" interno
5. "Just-in-time externo
6. MRP (Materials Requirements Planning)
7. "Kanban"
8. CAD - Computer Aided Design
9. CAM - Computer Aided Manufacturing
10. CIM - Computer Integrated Manufacturing
11. Identificação de problemas - "brainstorming",
Pareto, etc
12. Círculos de Controle da Qualidade
13. Caixas de sugestões
14. Padrões internos de procedimentos
15. Sistema formal de qualificação de fornecedores
16. Grupos de melhoria
17. Programas de qualidade total
18. Administração participativa
19. Sistemas de participação nos lucros
20. Outras
TOTAL DE EMPRESAS
A obtenção dos dados exige pesquisa por parte da ABCP.
. Capacitação dos recursos humanos
Composição da mão-de-obra do setor (por empresa):
CATEGORIAS NÚMERO
SUPERIOR TÉCNICO QUAL. SEMI-QUAL. ÑQUAL
1. Alta adm.
2. Gerências
3. Chefias
4. Áreas adm.
5. Áreas de prod.
SUBTOTAL
% DO TOTAL
QUAL. - Funcionários sem formação escolar formal, porém com alguma habilitação específica obtida através de
treinamento.
SEMI-QUAL - Funcionários que passaram por algum tipo de treinamento, porém não detém ainda habilitação específica.
ÑQUAL. - Funcionários para serviços gerais sem habilitação específica.
84
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Programas de treinamento:
- Número de funcionários que passaram por programas formais de treinamento (cursos
2om duração igual ou superior a 8 horas-aula) em comparação ao número total de funcionários
das categorias de funcionários (base anual)
- Número de funcionários treinados on the job em relação ao número total de funcionários
(base anual).
*** Considera-se estágios em departamentos/áreas; aprendizado junto a monitor, etc.
*** Os indicadores de recursos humanos devem ser elaborados a partir de dados da entidade de
classe junto à todas as empresas. Internamente podem ser utilizados pelas empresas como
medição da capacitação de seus recursos humanos.
. Grau de aderência das normas técnicas brasileiras às normas dos países líderes
Consiste em verificar quais os itens referentes ao produto e sua aplicação normalizados
nos países líderes e a existência de item correspondente nas normas brasileiras.
Este indicador pode ser obtido por trabalho conjunto entre as entidades setoriais e os
comitês técnicos da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
. Grau de atualização das normas técnicas brasileiras
Consiste em verificar entre os itens das normas brasileiras os itens que passaram por
revisão em período inferior a cinco anos (Verificação anual).
Este indicador pode ser obtido por trabalho conjunto entre as entidades setoriais e os
comitês técnicos da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
. Tipos de produtos brasileiros em relação aos tipos de produtos dos países líderes
Consiste em verificar os tipos de produtos existentes nos países líderes e suas respectivas
especificações de normas técnicas e os tipos de produtos existentes no Brasil e suas respectivas
normas, avaliando o grau de correspondência com os produtos estrangeiros em relação às
especificações de normas para usos específicos.
85
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
4.3. Indicadores de Desempenho
4.3.1. Desempenho econômico
. Taxa de participação nos principais mercados compradores em relação aos seus
competidores (em volume quantitativo e valores)
Em base anual, esses dados são obtidos através das estatísticas de comércio exterior dos
respectivos países. Por exemplo, nos Estados Unidos essas estatísticas são divulgadas pela U.S.
International Trade Commission a partir dos dados oficiais do U.S. Department of Commerce.
. Preços unitários (US$/t; US$/m²; etc.) pagos pelos países compradores em relação aos seus
competidores
Em base anual, esses dados são obtidos através das estatísticas de comércio exterior dos
respectivos países. Por exemplo, nos Estados Unidos essas estatísticas são divulgadas pela U.S.
International Trade Commission a partir dos dados oficiais do U.S. Department of Commerce.
. Balança comercial do setor com os principais países compradores e balança comercial total
dos setores em base semestral
Em base anual, esses dados são obtidos através das estatísticas de comércio exterior dos
respectivos países. Por exemplo, nos Estados Unidos essas estatísticas são divulgadas pela U.S.
International Trade Commission a partir dos dados oficiais do U.S. Department of Commerce.
. Evolução dos preços no mercado interno e seu impacto nos custos das obras e preços
praticados pelos principais países produtores em seu mercado
Evolução dos preços no mercado interno comparativamente à evolução da inflação e dos
índices de custos da construção civil e do impacto do preço do cimento nos custos dos diversos
tipos de obras (Custo Unitário Básico - CUB conforme a NBR 1272122).
Dados obrigatoriamente apurados pelos sindicatos da indústria da construção civil para
elaboração do CUB mensalmente. O impacto do preço do cimento no custo da construção civil
também pode ser avaliado através de estudos específicos das instituições que elaboram índices de
22 ABNT (1992)
86
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
custos da construção como a FIPE - Fundação de Pesquisas Econômicas da Universidade de São
Paulo, a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e a Fundação Getúlio Vargas.
Os dados dos preços dos países líderes são obtidos pelas associações internacionais de
produtores.
. Evolução dos componentes da estrutura de custos das empresas em termos de consumo
por unidade produzida e participação no custo final do produto (por categorias de
produtos): energia; mão-de-obra; matérias-primas; controle ambiental; marketing;
assistência técnica
Dados que devem ser obtidos através das planilhas de custos das empresas e podem ser
indicadores internos às mesmas e processados pela entidade de classe para o setor como um todo.
. Evolução do valor dos investimentos em relação às receitas, de forma discriminada e por
origem dos recursos (dividir em recursos próprios, financiamentos de origem pública e
privada)
- ampliação da capacidade produtiva: obras civis; equipamentos; recursos humanos
(contratação);
- treinamento de pessoal em todos os níveis;
- capacitação organizacional e gerencial: compra de softwares; compra de equipamentos
para administração; consultoria gerencial externa; melhoria das condições do trabalho (segurança;
higiene; medicina do trabalho);
- capacitação tecnológica: substituição de equipamentos em termos de geração
tecnológica; pesquisa e desenvolvimento tecnológico; compra de tecnologia; desenvolvimento e
implantação de programas de qualidade total; certificação da qualidade; controle ambiental.
Dados obtidos pelas entidades de classe junto às empresas e junto aos agentes
financiadores (FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos; BNDES - Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social).
. Evolução da participação das empresas no mercado interno
Evolução das receitas da empresa/ receitas do setor em base semestral.
Evolução da produção da empresa/produção total do setor.
Dados fornecidos pelas empresas com acompanhamento da evolução pelo setor.
87
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. Evolução das vendas por tipo de consumidor
Verificação da participação de cada tipo de consumidor (revendedores, indústria, obras
habitacionais, obras de infra-estrutura etc).
Dados obtidos pelas empresas e pelas entidades de classe com a participação das revendas.
. Evolução das vendas por tipo de transporte
Acompanhamento das parcelas das vendas transportadas por rodovia, ferrovia, hidrovia, etc.
Dados computados pelas entidades de classe.
4.3.2. Desempenho produtivo
. Produtividade da mão-de-obra
Em base trimestral, acompanhamento do número de horas trabalhadas em relação à
quantidade produzida (hh/ton.; hh/m², etc).
Dados internos às empresas a serem computados para o setor como um todo.
. Produtividade energética
Em base trimestral, acompanhamento da quantidade/valor da energia consumida
(discriminada por fonte energética) em relação à quantidade/valor da produção (por exemplo,
kcal/ ton. de cimento).
Dados internos às empresas a serem computados para o setor como um todo.
. Produtividade global
Medida no âmbito da empresa: Receitas/Ativo total (patrimônio líquido pelo
endividamento geral) - Investimentos em outras companhias.
88
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. Índices de emissão de poluentes e de ruído
Emissão de NOx, de CO
2
, SO
2
, etc. comparativamente aos padrões internacionais.
Índices de emissão de ruídos pela operação das fábricas. Esses dados são obtidos pelos órgãos de
controle ambiental.
. Evolução do prazo de rotação de estoque
Dados das empresas.
. Evolução do ciclo de produção
Dados das empresas.
. Evolução da taxa de retrabalho
Produção retrabalhada/produção total em %.
. Evolução da taxa de rejeito de insumos
Insumos rejeitados/compras totais de insumos
. Evolução da taxa de devolução de produtos
Valor dos produtos devolvidos por problemas relativos à qualidade/vendas totais, em %.
. Incidência de manifestações patológicas em obras acabadas relativas a problemas de
qualidade ou inadequação de uso dos materiais
Constituição de bancos de dados com a identificação da origem dos problemas nas cadeias
produtivas como um todo. Esses dados podem ser obtidos, analisados e mantidos de forma
conjunta entre as entidades técnicas setoriais e as instituições públicas de pesquisa e
desenvolvimento.
. Paradas na produção - Previstas e imprevistas (em número de horas em relação às horas
totais trabalhadas no mês)
Dados das empresas.
89
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
. Evolução das ocorrências de acidentes de trabalho
Dados do Ministério do Trabalho e FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat
Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, a serem especificados para o setor, em base
semestral/anual.
. Conformidade de produtos
Número de empresas que possuem linhas de produtos certificadas quanto à conformidade
às normas técnicas em relação ao número total de empresas.
Estes dados podem ser acompanhados pelas entidades setoriais em conjunto com o
INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial.
. Grau de aderência às tendências internacionais
Analisa a evolução dos setores de forma qualitativa, de modo a verificar seu
direcionamento para a adoção de estratégias semelhantes às estratégias adotadas pelos países
líderes.
TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS A B C D E F G
a.
b.
c.
d.
e.
f.
g.
A - Grau de conscientização do setor quanto à necessidade
B - Necessidade de recursos para a implementação
C - Grau de mobilização do setor para a implementação
D - Grau de mobilização na cadeia produtiva para a implementação
E - Disposição para colocar em desenvolvimento
F - Grau de dependência do poder público para a implementação
G - Tendência que não se aplica à estrutura da indústria brasileira
Níveis 1, 2 ou 3
1 - Fraco
2 - Moderado
3 - Elevado
90
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
5. CONCLUSÕES
Esta nota técnica abordou o complexo industrial de materiais de construção , quanto à
produção de materiais, segundo suas condições de atuação, caracterizando-se os diversos setores
envolvidos através das linhas gerais de seus processos e estruturas industriais. A diversidade de
itens de produtos envolvida na produção da Construção Civil, especialmente quando se trata de
edificações, torna inviável uma abordagem exaustiva de toda a indústria de materiais de
construção.
Dadas as características peculiares de determinados setores quanto à estrutura industrial e
forma de atuação recomenda-se a realização de estudos específicos sobre a competitividade da
indústria de extração e beneficiamento de minerais não-metálicos; extração vegetal na cadeia
produtiva da madeira e extração e beneficiamento de minérios na cadeia produtiva dos insumos
metálicos. Estudos detalhados também são recomendáveis para o universo de pequenas empresas
como serralherias e pequenas metalúrgicas, produtores de artefatos de cimento e de artefatos de
madeira, produtores de cal.
Os movimentos de atualização tecnológica identificados nos vários setores, mesmo os mais
tradicionais como a indústria de cerâmica vermelha, demonstram o início do rompimento da
inércia em que o complexo se colocava até bem pouco tempo. Essa inércia originou-se da virtual
desaparição do vasto mercado assegurado pelas obras promovidas pelo Estado, que passa a
desempenhar um outro papel na estrutura de sustentação da Construção Civil; na baixa demanda
por qualidade dos usuários finais que, no caso da atividade privada, não encontravam respaldo
para exigir qualidade em bens de valor tão elevado em relação à sua renda e até mesmo no baixo
grau de conscientização do operariado, sempre recrutado com base na baixa exigência de
qualificação e baixa escolaridade.
É possível verificar que o parque industrial brasileiro de materiais de construção tem
condições potenciais vantajosas no panorama internacional, colocando-se em muitos casos entre
os líderes mundiais. No entanto, desafios referentes essencialmente à qualidade dos produtos e
níveis de preços finais precisam ser enfrentados. No primeiro caso, a defasagem brasileira em
relação aos demais países na elaboração de normas técnicas pertinentes e à produção em
conformidade com as mesmas somente com o Código de Defesa do Consumidor começa a ser
superada de forma efetiva, havendo, no entanto, muito a ser feito. Igualmente a defasagem com
relação à certificação da qualidade de produtos é entrave que deve ser definitivamente superado.
A recuperação da capacitação em termos de pesquisa e desenvolvimento na área envolve o
setor público e privado e necessita de ação rápida, pois aspectos do desenvolvimento tecnológico
91
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
já incorporados há pelo menos duas décadas ainda permanecem obscuros no Brasil, como é o caso
da avaliação da durabilidade dos materiais e sua incorporação ao desenvolvimento de produtos.
Mesmo com a tendência crescente de criação de centros setoriais estes não detém pessoal com o
nível de formação que as instituições públicas possuem e para o pleno atendimento das
necessidades da indústria em termos de P&D tais instituições são essencialmente importantes.
Deve-se ainda considerar que as mesmas desempenham também o papel de desenvolver pesquisas
de longo prazo, nem sempre possíveis nas empresas e entidades setoriais e às vezes de interesse
direto do consumidor/usuário em contraposição a interesses da indústria.
Em alguns setores, como o de cerâmica vermelha, exemplos importantes vem sendo
obtidos no sentido de demonstrar que é possível estruturar programas de elevação da
competitividade, mesmo em indústrias onde há uma grande pulverização da produção entre
pequenas empresas.
Há, pois, um trabalho de reconhecimento e ordenação das ações que podem ser
empreendidas, mas é nítido o potencial que o complexo industrial de materiais de construção
apresenta, até mesmo numa perspectiva de mercado externo. Para efeito do mercado interno, a
busca de condições de elevação da competitividade significa a possibilidade de atender aos
consumidores - indústria e usuários finais - em todos os sentidos, e responder à parcela de
responsabilidade que cabe aos setores do complexo para a elevação dos patamares de qualidade
de vida resultantes dos mais diversos tipos de bens produzidos pela Construção Civil.
92
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
BIBLIOGRAFIA
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Edificações. IPT/PINI/LIX DA CUNHA, São Paulo, 1988, p.107-110.
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unitários e preparo de orçamento de construção para incorporação de edifício em
condomínio. CB 2/ABNT, Rio de Janeiro, Ago. 1992.
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA. Pesquisa de Campo.
Consórcio IE-UNICAMP/ IEI-UFRJ/ FDC/ FUNCEX. Campinas. 1993.
FARAH, M. F. S.. Tecnologia, processo de trabalho e construção habitacional. São Paulo,
USP/FFLCH, 1992. (Tese de doutoramento em Sociologia).
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CONSTRUÇÃO E DA MADEIRA. Documento de propostas para o GT 3 - Emprego,
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FLANAGAN, R. et. al. A fresh look at the U.K. & U.S. Building Industries. United Kingdom,
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Seminário Qualidade na Construção Civil - Gestão e Tecnologia. SINDUSCON-
RS/UFRGS, Porto Alegre, 8-9 de junho de 1993, p.133-198.
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MINISTÉRIO DA AÇÃO SOCIAL. Programa Nacional de Tecnologia da Habitação -
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PORTER, M. E. A vantagem competitiva das nações. Campus, Rio de Janeiro, 1993.
PROCHNICK, Victor. Programas regionais para modernização e difusão de tecnologia em
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93
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
PROCHNIK, Victor. O macrocomplexo da construção civil. Rio de Janeiro, Universidade Federal
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94
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
RELAÇÃO DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS
TABELAS
TABELA 1
CAPACIDADE TOTAL DA PRODUÇÃO CERÂMICA PARA REVESTI-
MENTOS E PARTICIPAÇÃO DOS 4 MAIORES GRUPOS NA CAPACIDADE
DE PRODUÇÃO E FATURAMENTO DA INDÚSTRIA - BRASIL (1992).................49
TABELA 2
EXPORTAÇÃO DE CIMENTO SEGUNDO O TIPO E ORIGEM (FÁBRICA) E
O DESTINO (PAÍS) (1989-91).....................................................................................53
TABELA 3
IMPORTAÇÃO DE CIMENTO SEGUNDO O TIPO E
ORIGEM - BRASIL (1989-92).....................................................................................54
QUADROS
QUADRO 1
SETORES CONSTITUINTES DO COMPLEXO MATERIAS DE
CONSTRUÇÃO............................................................................................................32
QUADRO 2
PAÍSES E EMPRESAS LÍDERES PARA ALGUNS SETORES DO
COMPLEXO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO....................................................36
GRÁFICOS
GRÁFICO 1
DIVISÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL DE CERÂMICA PARA
REVESTIMENTOS (1991)...........................................................................................49
GRÁFICO 2
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO E CONSUMO APARENTE NO BRASIL
AZULEJOS, PISOS E TOTAL (1974-91).....................................................................50
GRÁFICO 3
EVOLUÇÃO DO FATURAMENTO DA INDÚSTRIA DE CERÂMICA PARA
REVESTIMENTOS - BRASIL (1987-92).....................................................................50
GRÁFICO 4
EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
AZULEJOS, PISOS E TOTAL (1974-91).....................................................................51
GRÁFICO 5
PRODUÇÃO E CONSUMO APARENTE DE CIMENTO
PORTLAND - BRASIL (1982-91)................................................................................52
GRÁFICO 6
CONSUMO APARENTE DE CIMENTO PORTLAND SEGUNDO OS
SEGMENTOS - BRASIL (1990-91).............................................................................52
95
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
GRÁFICO 7
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS INDUSTRIAIS NA PRODUÇÃO
TOTAL - BRASIL (1989-91)........................................................................................53
GRÁFICO 8
NÚMERO DE EMPRESAS E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA
PRODUÇÃO DE TUBOS E CONEXÕES DE PVC .....................................................55
GRÁFICO 9
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS/EMPRESAS NA PRODUÇÃO DE TUBOS E
CONEXÕES DE PVC (1992).......................................................................................55
96
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RELAÇÃO DE SIGLAS
ABCP - Associação Brasileira de Cimento Portland
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
ANFACER - Associação Nacional dos Fabricantes de Revestimentos Cerâmicos
ASFAMAS - Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais e Equipamentos para Saneamento
BCA - British Cement Association
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BNH - Banco Nacional da Habitação
BRI - Building Research Institute
CAD - Computer Aided Design
CAM - Computer Aided Manufacturing
CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção
CCB - Centro Cerâmico do Brasil
CEE - Comunidade Econômica Européia
CIB - International Council for Building Research, Studies and Documentation
CIM - Computer Integrated Manufacturing
CPVC - Policloreto de Vinila Clorado
CTE - Centro de Tecnologia de Edificações S/C Ltda
CUB - Custo Unitário Básico
EPUSP - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FIPE - Fundação de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo
FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho
G.A.T. - Grau de Atualização Tecnológica
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
ISO - International Organization for Standartization
ITQC - Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construção
LFEM - Laboratoire Fédéral d'Essai des Matériaux et Institut des Recherches
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
97
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IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
MIT - Massachussets Institute of Technology
MRP - Materials Requirements Planning
NBR - Norma Brasileira Registrada
PBQP - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade
P&D - Pesquisa e Desenvolvimento
PE - Pernambuco
PEA - População Economicamente Ativa
PIB - Produto Interno Bruto
PPDI - Plano de Promoção do Desenho Industrial
PR - Paraná
PVC - Policloreto de Vinila
RILEM - Reunión Internationale des Laboratoires d'Essais et des Recherches sur les Matériaux et
les Constructions
RS - Rio Grande do Sul
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SC - Santa Catarina
SCTDE - Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo
SFH - Sistema Financeiro da Habitação
SNIC - Sindicato Nacional da Indústria do Cimento
SP - São Paulo
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