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Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE
DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
_____________________________________________________________________________________________
COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DE
PAPEL
Nota Técnica Setorial
do Complexo Papel e Celulose
O conteúdo deste documento é de
exclusiva responsabilidade da equipe
técnica do Consórcio. Não representa a
opinião do Governo Federal.
Campinas, 1993
Documento elaborado pelos consultores Maurício Mendonça Jorge (Pesquisador do CECON/IE/UNICAMP e professo da UFSCar),
Sebastião José Martins Soares (Desenvolvimento Consultoria e Planejamento Ltda.) e Nilton de Almeida Naretto (IESP/FUNDAP).
A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos
(FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para as Notas Técnicas Finais de síntese do Estudo.
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CONSÓRCIO
Comissão de Coordenação
INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP
INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ
FUNDAÇÃO DOM CABRAL
FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR
Instituições Associadas
SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY
INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI
NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA
DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP
INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
Instituições Subcontratadas
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COOPERS & LYBRANDS BIEDERMANN, BORDASCH
Instituição Gestora
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE)
João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI)
Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)
Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE)
Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI)
Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE)
Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)
João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE)
Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)
David Kupfer (UFRJ-IEI)
Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI)
Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)
Contratado por:
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
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COMISSÃO DE SUPERVISÃO
O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:
João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES)
Lourival Carmo Monaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)
Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES)
Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)
Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT)
Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)
Eduardo Gondin de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES)
Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE)
Guilherme Emrich (BIOBRAS) Renato Kasinsky (COFAP)
José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP)
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SUMÁRIO
RESUMO EXECUTIVO............................................................................................................1
APRESENTAÇÃO..................................................................................................................21
1. ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS..........................................................24
1.1. Características Estruturais da Produção e dos Mercados................................................24
1.2. Padrões de Concorrência e Estratégias Empresariais......................................................31
2. DIAGNÓSTICO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA.....................40
2.1. Breve Histórico da Evolução da Indústria......................................................................40
2.2. Caracterização Geral da Indústria ..................................................................................44
2.3. Avaliação da Competitividade Atual da Indústria: Oportunidades e Obstáculos..............57
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS...........................................................................................69
3.1. Políticas de Reestruturação Setorial...............................................................................69
3.2. Políticas de Modernização Empresarial..........................................................................73
3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos................................................................76
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE.........................................................................81
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................82
RELAÇÃO DE TABELAS E GRÁFICOS................................................................................83
ANEXO: PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR................84
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RESUMO EXECUTIVO
1. ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
1.1. Características Estruturais da Produção e dos Mercados
O setor de papéis, pela multiplicidade de usos e mercados, divide-se em diversos
segmentos: papel de imprensa (newsprint), papéis de imprimir e escrever, embalagens de papel e
papelão, papéis para fins sanitários (tissue), cartões e cartolinas e papéis especiais. A produção
mundial de papéis, em 1990, atingiu um total de 238 milhões de toneladas. Os EUA são os líderes
em diversos segmentos. O Japão é o segundo produtor em diversos deles, dividindo a liderança
com os EUA em papéis especiais. Os EUA e o Japão respondem individualmente por cerca de
30% e 12% da produção.
A exceção é o segmento de papel de imprensa, no qual o Canadá é líder mundial,
respondendo por cerca de 28% do total produzido. Cabe destacar ainda a produção de Finlândia,
Suécia e China. Mas vários países, mesmo não possuindo recursos florestais abundantes,
notabilizam-se também como produtores. Pode-se citar Alemanha, França, Itália, Coréia e
Taiwan.
O consumo mundial de papéis também se concentra nos países desenvolvidos. Os cinco
maiores consumidores representam 61% e a penas os EUA são responsáveis por 33% do consumo
mundial. O conjunto dos doze países maiores consumidores, que respondem por cerca de 77% do
consumo, integra o bloco dos quatorze maiores produtores; apenas a Finlândia e a Suécia não são
grandes consumidores.
Os principais fluxos de comércio internacional de papel refletem os desequilíbrios entre
produção e consumo nas diversas regiões. Observa-se que: (i) os maiores fluxos em quantidade e
em proporção ao total produzido correspondem aos papéis de imprensa, de imprimir e escrever, e
de embalagens; (ii) o comércio de papéis sanitários (tissue) é restrito; (iii) o comércio entre países
europeus envolve papéis de imprimir e escrever, embalagens e cartões, sendo que as exportações
se concentram nos países escandinavos, Alemanha e Áustria e os maiores importadores são
Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Holanda e Bélgica; (iv) a participação dos EUA e Canadá no
mercado externo de embalagens é significativa, representando cerca de 36% do total exportado;
(v) a forte integração comercial entre EUA e Canadá resulta em grande importação de papel de
imprensa (newsprint) canadense pelos EUA, sendo que muitas compras têm caráter de negócios
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intra-firmas; (vi) a presença asiática no comércio exterior é pequena, em virtude do uso intenso de
reciclagem.
TABELA 1
PRODUÇÃO, CONSUMO E COMÉRCIO EXTERIOR DE PAPEL
POR PAÍS E SEGMENTO*
(1990)
(em 1000 t)
País Imprensa Imprimir & Embalagens Sanitários Cartões e Especiais e Total
Escrever Papelão (a) Diversas (b) Cartolinas Indefinidos
Produção Mundial 32809 67598 61664 23867 13318 24659 14521 238436
EUA 6001 20093 24466 7503 5264 2742 5450 71519
Japão 3479 9251 8275 1185 1366 3382 1148 28086
Canadá 9069 3599 2045 497 472 761 23 16466
China 400 2139 2000 4880 730 1700 1870 13719
Alemanha 1118 5009 2082 1309 828 1286 241 11873
Brasil 246 1289 1680 505 404 470 122 4716
Consumo Mundial 33275 66144 60808 23445 13167 23476 16515 236830
EUA 13044 22411 21972 6833 5352 2508 5612 77732
Japão 3787 8974 8407 1180 1366 3371 1133 28218
Alemanha 1922 5477 2935 1594 801 1591 240 14560
China 411 2132 2400 5012 730 1850 1894 14429
Inglaterra 1859 2978 2037 404 549 1156 290 9273
Brasil 424 875 1313 491 398 413 112 4026
Exportações 14685 18208 9666 4569 1243 5870 1929 56170
Canadá 7943 2526 732 324 64 166 10 11765
Finlândia 1202 4251 558 360 78 1035 214 7698
Suécia 1772 1303 1334 827 162 1315 62 6775
EUA 486 488 2699 974 31 260 268 5206
Alemanha 413 2207 455 529 110 337 41 4092
Brasil 10 484 367 24 10 62 5 962
Importações 15254 17437 8436 4189 1095 5120 3184 54714
EUA 7529 2806 206 304 119 26 430 11419
Alemanha 1217 2675 1308 814 83 642 40 6779
Inglaterra 1308 2153 908 369 128 680 150 5696
França 498 1622 707 216 133 665 59 3900
Itália 385 863 693 351 79 288 101 2760
Brasil 188 70 8 2 6 5 15 294
* Dados de cartões e cartolinas e especiais e indefinidos ajustados segundo reclassificação dos autores.
(a) Kraftliner e papelão ondulado.
(b) Embalagens leves e de papel Kraft.
Fonte: PPI/ANFPC.
Além disso, a maioria das empresas produtoras é especializada em um ou dois tipos de
papel, sobretudo no caso de tissue, de modo que a concentração é ainda maior em cada segmento
do que na média do setor. Não obstante, existem empresas diversificadas, que atuam em diferentes
segmentos e nos setores de engenharia, bens de capital, química, produtos florestais e construção
civil.
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1.2. Estratégias Empresariais de Sucesso
A indústria de papéis tem se caracterizado pela concentração produtiva, pela importância
do investimento e respectivas condições de financiamento; pela perspectiva de mercados
globalizados - com padronização de produtos, difusão de tecnologias e declínio do custo de
transporte; pela evolução relativamente lenta do consumo, que corresponde ao crescimento
vegetativo da população das maiores regiões consumidoras; e pela crescente exigência em termos
de qualidade dos produtos e dos processos produtivos, vinculados à crescente preocupação
ecológica e a alterações na legislação, com novos requisitos de proteção ao meio ambiente.
As empresas operantes no mercado internacional, confrontadas com estas condições,
buscam ampliar seu poder de competição, através de estratégias produtivas de melhoria nas fibras
utilizadas e nos produtos e equipamentos, e de estratégias de mercado, com integração de
produtores na cadeia produtiva e concentração patrimonial.
As estratégias produtivas relativas a material fibroso estão relacionadas à busca de
matéria-prima de melhor qualidade, menor custo e maior possibilidade de acesso à oferta.
Verifica-se avanço no uso de fibras de base florestal replantada, de fibras recicladas e de mistura
de fibras. As estratégias produtivas relacionadas a produtos e processos visam ampliar as
economias de escala, via introdução de máquinas modernas e maiores, que incorporem novas
tecnologias de processo. Assim, a apropriação do progresso técnico depende do fortalecimento da
interação com o setor de bens de capital, com a engenharia de projeto e a automação industrial.
Neste quadro, a capacitação tecnológica interna do produtor de papel ganha importância ainda
maior na medida em que aumenta o rigor no controle de processo, com vistas a garantir qualidade
e controle ambiental. As empresas líderes apresentam expressivos gastos em pesquisa e
desenvolvimento. A introdução de inovações tecnológicas gera ganhos no rendimento em fibras
(com a redução da perda de fibras ocorrida no processo de secagem) e em energia (com a busca
de alternativas tais com a biomassa e o gás natural) e alcança também os produtos, definindo
maior teor de carga e menor gramatura.
As estratégias de verticalização da indústria visam a integração para a frente na cadeia
produtiva por parte dos produtores de celulose e se sobrepõem ao barateamento de custos,
permitindo ao mesmo tempo agregar mais valor ao produto e aproximar-se do consumidor final.
As estratégias de concentração do mercado de papel, em virtude da forte competição e do
contínuo aumento de escalas produtivas conduzem a estratégias de incorporação, associação
(joint-ventures) e fusões entre produtores, com concentração produtiva e patrimonial.
As unidades industriais menos competitivas são as que apresentam produção não integrada
à celulose, ou que não atendem ao uso de reciclagem, e equipamentos que não permitem
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automação ou ganhos de escala. O processo de desativação de unidades produtivas obsoletas é
lento, não apenas porque são investimentos em geral já amortizados, mas também porque
mecanismos de política cambial e tarifária eventualmente podem lhes garantir uma sobrevida.
1.3. Principais Fatores de Competitividade
Os principais fatores de competitividade do setor de Papel podem ser classificados em: a)
empresariais: potencial financeiro, atualização de equipamentos, capacitação gerencial,
capacitação tecnológica e produtiva e adoção de métodos gerenciais modernos; b) estruturais, dos
quais os mais importantes são: a verticalização, que no entanto deve ser relativizada no caso do
uso intenso de reciclados; escalas adequadas de produção e padrões rigorosos de qualidade e
controle ambiental; e c) fatores sistêmicos, destacando-se: a infra-estrutura física, em especial de
energia; e os fatores macroeconômicos, entre eles o câmbio, a oferta de crédito de longo prazo, a
incidência tributária e os serviços tecnológicos.
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2. DIAGNÓSTICO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
2.1. Diagnóstico da Competitividade da Indústria Brasileira
A indústria brasileira de papel e celulose faturou US$ 5,1 bilhões em 1992, com produção
de papel de 4.921 mil toneladas. O Brasil atua em todos os segmentos de papéis, com a seguinte
distribuição da produção em 1992: imprensa 4,8%; imprimir 22,6%; escrever 5,8%; embalagens
45,2%; cartões e cartolinas 9%; sanitários 10,2% e especiais 2,4%. A produção deve crescer cerca
de 13% devido à conclusão de projetos e implantação de novas máquinas. Os papéis exportados
são basicamente do tipo commodities, (offset e kraftliner). Em 1992, quase 40% da produção e
mais de 70% das exportações se fixaram nestes produtos. As vendas ao exterior cresceram
bastante e atingiram 1.235 mil t, traduzindo uma estratégia agressiva das empresas brasileiras,
defrontadas com a queda da venda interna de papéis e com o aumento da capacidade produtiva
ocorrido.
O setor papeleiro apresenta concentração produtiva e heterogeneidade estrutural. No
momento verifica-se uma redefinição estrutural nos diversos segmentos e mercados que deve
elevar o grau de concentração, dada a entrada em operação dos grandes projetos gestados na
década de oitenta, as aquisições de empresas e ao fato de que muitos produtores praticamente não
investiram, sobretudo os de alcance regional e não-integrados à celulose. A produção de papel
está concentrada nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina (85% do total em 1992). Os
produtores baseados no Paraná e Santa Catarina são especializados nos segmentos de embalagens
kraft e papel de imprensa e de imprimir de celulose fibra longa; os instalados em São Paulo são
líderes nos segmentos de imprimir e escrever, cartões e cartolina e especiais, e fortes também em
papel kraft - miolo; a maioria dos produtores de papéis sanitários, de porte menor e que atendem
basicamente ao mercado interno, localiza-se em São Paulo, mas a concentração é menor. As
maiores empresas são verticalizadas até a base florestal. As estrangeiras, altamente especializadas,
operam em apenas um segmento; as nacionais têm atuação diversificada, com pelo menos duas
linhas de produtos de papel e penetrando agora também na área da celulose de mercado.
Na busca da competitividade no setor, pode-se identificar cinco estratégias:
(a) redefinição dos produtos e mercados da empresa: buscou-se aumentar a participação
no mercado externo através de: (i) modernização e aumento de escala no parque produtivo; (ii)
integração para a frente (inclusive em celulose e papel); (iii) reestruturação patrimonial com fusões
e aquisições de empresas. A estratégia as conduziu a formas mais agressivas de atuação comercial
no exterior e à identificação de produtos de características padronizadas;
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(b) capacitação tecnológica, otimização e melhoria da qualidade do processo e dos produtos:
visou elevar a produtividade e a conformidade às especificações de qualidade da clientela;
(c) desenvolvimento gerencial e de recursos humanos: as empresas caminharam no sentido
da profissionalização dos quadros dirigentes e estruturas administrativas, da mudança de conceitos
de gestão e sistemas decisórios, com vistas a obter um modelo de administração mais
participativo. No período recente, ganharam força também mudanças no relacionamento com
fornecedores e clientes;
(d) adequação do suprimento e redução de custos de insumos: procurou-se adequar a
estrutura de custos, através da redução dos custos dos insumos florestais, energéticos e químicos,
mão-de-obra e transportes;
(e) redefinição de engenharia financeira: dado o longo prazo de maturação e o elevado
montante do investimento na indústria de papel, as empresas buscaram aprimorar sua capacitação
para obter recursos em condições adequadas de custo e prazos. Embora o funding das empresas
instaladas no Brasil tenha sido basicamente de recursos próprios e de crédito público (BNDES), a
crescente participação dos setor privado interno (debêntures e mercado de ações) ou externo
(eurobônus, commercial papers e empréstimos do IFC) tem exigido uma redefinição de suas
estratégias de engenharia financeira.
2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade
Entre as principais oportunidades e obstáculos à competitividade no setor de Papel é
fundamental destacar:
(a) a presença no mercado externo deve permanecer crescente, pois as empresas elevaram
sua capacitação gerencial e comercial, e a formação do Mercosul é também fator de estímulo.
Ainda é possível avançar muito na comercialização externa, em termos de inserção nos principais
mercados, produto, logística de distribuição, financiamento e seguro. Embora a distância dos
mercados e a infra-estrutura portuária no Brasil, que encarece o transporte, sejam importantes
obstáculos. Outra estratégia é a de diversificação das linhas de produto, com a busca de produtos
de maior rentabilidade e valor agregado. Uma oportunidade interessante envolveria o avanço na
verticalização até a área de serviços e tratamento gráfico do papel;
(b) a qualidade do papel brasileiro em média é compatível com o padrão exigido pelos
clientes internos e externos. Mesmo assim, a pesquisa de campo, realizada no Estudo, indica que
apenas 23% dos produtos são de "última geração".
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(c) no relacionamento entre produtores de papel, gráficas e convertedores, e indústrias de
bens de consumo pode-se ampliar a parceria no sentido de atender às crescentes exigências de
qualidade. Ao longo da cadeia, pode crescer a interação entre usuários e produtores e a assistência
em tecnologia e comercialização. Há, contudo, diversos médios e pequenos produtores, cuja falta de
qualidade dos produtos para atender aos requisitos derivados do uso de máquinas mais modernas nos
setores gráfico, editorial e de papelão ondulado pode significar sua exclusão do mercado.
(d) de acordo com a tendência mundial de reforço ao poder competitivo derivado das
características do processo, seja nos equipamentos, na gestão da qualidade ou na organização da
produção, intensifica-se a importância de processos que não agridam o meio ambiente e que
busquem o aproveitamento de recicláveis. O estreitamento da relação comercial com os
clientes/usuários supõe também evoluir nas etapas pós-produção (relacionamento comercial,
logística de distribuição e assistência técnica). O dispêndio com assistência técnica das empresas
brasileiras é ainda irrisório e o controle e a garantia de qualidade podem ser aperfeiçoados.
(e) a capacitação tecnológica da empresa brasileira no processo industrial parece ser
menor do que a dos principais produtores mundiais de papel. As líderes estão relativamente
adequadas aos parâmetros de controle ambiental, mas muitas empresas de porte médio e pequeno,
instaladas em grandes centros urbanos, necessitam de investimentos para se enquadrar às
diretrizes de tratamento de efluentes e proteção ao ambiente.
(f) a grande heterogeneidade do setor se traduz principalmente nas diferenças de
atualização tecnológica dos equipamentos. Existe enorme variedade de máquinas de papel, com
uma boa quantidade de máquinas de gerações antigas. O parque produtivo em funcionamento no
país mostra uma desatualização frente ao padrão médio de idade e largura dos produtores
escandinavos ou canadenses. O setor é, no Brasil, um dos mais desenvolvidos na automação
industrial, dentre os de processo produtivo contínuo. Mesmo assim, a difusão do controle
microeletrônico de processo é reduzida. A situação apresentada mostra a necessidade de
atualização dos equipamentos. A presença no país das empresas líderes mundiais em bens de
capital para papel, que fornecem máquinas de qualidade e tecnologia satisfatórias, embora a
preços ainda superiores aos do mercado internacional, é um ponto importante que deve ser
trabalhado nos próximos anos. Entre as máquinas de menor escala e produtividade, concentradas
em médios e pequenos produtores, muitas estão em condições precárias e sem viabilidade para
sofrerem reforma, e fatalmente serão sucateadas. Sua substituição é aspecto estrutural crucial para
a evolução do setor.
(g) o desafio competitivo para o conjunto das empresas líderes, portanto, está em manter
sua atualização tecnológica e melhorar em aspectos do processo produtivo, o que poderá conduzir
à certificação pela ISO-9000 e talvez ao enquadramento no ecolabelling. No momento, diversas
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empresas se encontram em processo de certificação pela ISO-9000 e também estão sendo
debatidos os parâmetros do certificado ambiental brasileiro. Cabe acelerar a definição deste
certificado, sem o qual ficará vulnerabilizada a posição brasileira no mercado europeu. Para as
menores empresas, cabe buscar a capacitação produtiva via atualização das máquinas de papel e
equipamentos, que permita ganhos de escala e produtos de maior qualidade. Necessitam de
investimentos em equipamentos de controle ambiental e na qualidade do insumo fibroso, mas a
lucratividade atual parece não permitir. O quadro acima sinaliza um risco potencial para o setor,
mormente quando se considera que os padrões de exigência dos clientes estão mais rigorosos. A
indústria deve assim reforçar sua trajetória de melhoria de processo e produtos nos próximos
anos. O caminho da melhoria da qualidade envolve desenvolvimento tecnológico dos insumos e da
atividade florestal, dos equipamentos e das estruturas de atendimento ao cliente.
(h) a inserção externa e a modernização industrial exigem maior qualificação de recursos
humanos, incluindo gerência e técnicos. A educação básica e o treinamento de mão-de-obra são
hoje fatores determinantes de competividade. A qualificação nas atividades de comércio exterior e
no conhecimento de automação industrial são cruciais. Na planta industrial parte dos
trabalhadores está se tornando inadequada para atender às novas demandas. Na pesquisa de
campo do projeto, no entanto, constatou-se que o treinamento ainda tem sido pouco priorizado. É
preciso reforçar a atuação no aspecto do treinamento e requalificação profissional. A perspectiva é
de que estes dispêndios cresçam no período 1993-1998. O setor de papel é intensivo em capital e
está reduzindo o nível de emprego. O número de trabalhadores empregados hoje equivale ao de
1982 e a maior parte se concentra nas atividades florestais. O custo do trabalho tem certo peso,
apesar do valor recebido pelo assalariado ser baixo, em virtude do ônus dos encargos sociais. A
redução do emprego não tende a reduzir o custo da mão-de-obra pois deverá crescer o gasto com
programas de treinamento de empregados;
(i) quantos aos insumos produtivos pode-se afirmar que:
- os produtores verticalizados no suprimento de insumos florestais arcam com a
imobilização de capital em terras, a implantação e manutenção de florestas e a pesquisa neste
campo, em particular no manejo florestal adequado às condições de solo e clima de cada área. Os
produtores não-integrados, por sua vez, compram celulose no mercado, sendo o fornecimento
interno realizado, atualmente, de forma normal e regular. A intensificação do uso de reciclados
exigirá incentivo à coleta, que é limitada pelo grande volume de exportações de papel, mas
favorecida pela concentração urbana e industrial. O fornecimento atual de aparas é
problematizado pela flutuação de preços e irregularidade de oferta causados pelo tipo de coleta,
tratamento e distribuição do insumo. Tais flutuações geram movimentos de importação, inclusive
em regime de drawback;
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- nos insumos químicos e minerais, constatou-se dificuldades no suprimento de alguns
deles, embora os problemas, atualmente, sejam bem menores em virtude do excesso de oferta
mundial e da abertura do mercado, que aumentaram o poder competitivo dos importados e
conduziram à redução dos preços e melhoria de qualidade do produto nacional;
- nos insumos energéticos, como a produção de papel é intensiva em energia (madeira,
eletricidade, vapor, carvão óleo combustível e gás natural), a questão central é a redução no seu
consumo. Para os produtores integrados existe a possibilidade de uso de vapor e madeira para
alimentar as caldeiras e, no caso da presença de recursos hídricos, para autogeração de
eletricidade. A qualidade do fornecimento de energia elétrica foi criticada pela ocorrência de
variações de tensão que prejudicaram o processo produtivo. O baixo investimento realizado no
setor elétrico traz a perspectiva de gargalos futuros de oferta. E o preço deve aumentar em função
da necessidade de remuneração do capital das companhias geradoras e distribuidoras. Ademais, as
mudanças bruscas dos preços relativos da energia elétrica, óleo combustível e gás natural
prejudicam o planejamento da matriz de uso de energia;
(j) infra-estrutura de transportes (portos, ferrovias e rodovias): a logística de localização
da planta industrial requer otimizar seu abastecimento e escoamento, através da proximidade da
base florestal, das regiões urbanas (consumidores, mão-de-obra, fornecedores) e do acesso ao
mercado exterior (sobretudo portos). Em qualquer caso, há deslocamento considerável de
insumos e de produtos, seja madeira, pastas, aparas, papel ou artefatos.
(l) o custo e a disponibilidade de capital de longo prazo é o grande limite às estratégias de
modernização das empresas do setor. A inserção no mercado de crédito internacional e o apoio
financeiro do BNDES são componentes cruciais para a realização de qualquer projeto. Hoje, do
ponto de vista dos empresários, os recursos do Banco são limitados em volume e mais caros do
que o do concorrente externo. O acesso às fontes de financiamento no mercado internacional,
entretanto, é crescente. A captação de recursos tem sido realizada por bancos e por empresas de
porte e bom perfil financeiro e capacidade de exportação e tem se dirigido para o lançamento de
eurobônus e também para o lançamemto de ADRs no mercado americano de capitais.
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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
3.1. Políticas de Reestruturação Setorial
A reestruturação da indústria de papel envolve redefinir produtos e mercados, melhorar
qualidade e produtividade, e adequar o suprimento de insumos, o que exige de início o reforço
financeiro das empresas.
(a) fortalecimento financeiro das empresas: na medida em que os recursos de crédito são
limitados, as empresas líderes da indústria devem atrair o apoio financeiro de novos acionistas,
inclusive investidores institucionais, grupos estrangeiros do setor e grupos nacionais de outros
setores. Cabe considerar com particular atenção a integração ou ao menos parceria com
produtores de celulose para mercado, em moldes similares ao da Bahia Sul. É preciso, de outro
lado, alavancar o potencial financeiro das médias empresas para que efetivem seus processos de
atualização tecnológica. Inicialmente, cabe apoiar iniciativas de reestruturação, fusão e demais
formas de associação entre empresas que consolidem capacidades financeiras mais elevadas.
(b) redefinição de produtos e mercados: para as grandes empresas, especializadas em
commodities de exportação, o desafio competitivo é alcançar escalas mundiais de produção,
substituir máquinas antigas de papel por máquinas de última geração ou manter atualizadas as de
penúltima geração. Pode-se pensar na integração para a frente, alcançando as etapas de conversão
e distribuição. Tendo em vista que o mercado mundial não deverá apresentar grande dinamismo,
cabe consolidar presença externa ainda mais agressiva na comercialização e no marketing, com
vistas a ampliar oportunidades de negócios. Uma presença mais forte no Mercosul, em particular
na Argentina, deve ser analisada.
Na distribuição externa, o setor estabeleceu recentemente com a CODESP um contrato de
prestação de serviços no porto de Santos que deverá reduzir os custos de exportação. Devem ser
estimulada outras iniciativas de ação conjunta, articuladas por interesses comuns e
complementariedade de linhas de produtos. Entre elas a articulação entre os exportadores de
kraftliner que se utilizam dos portos do sul do país no sentido do planejamento do embarque de
cargas para facilitar a frequência de navios.
A estratégia de concentração em commodities é de certa forma reativa, pois busca a
vantagem efetiva na escala de produção. Uma alternativa complementar, e que reduz o risco da
concentração em commodities, é direcionar as máquinas menores e/ou as plantas não-integradas
para linhas cuja escala ainda seja reduzida, mas que apresentem maior valor agregado e conteúdo
tecnológico. A ausência de escala e a menor largura das máquinas podem ser compensadas pela
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flexibilidade para atender pequenos lotes de produção e pela possibilidade de upgrading das
máquinas.
Apesar do menor investimento em relação às grandes plantas, é provável que a
participação nos mercados de especialidades se fixe em empresas que disponham de requisitos de
tecnologia e qualidade, o que, em geral, limita os pretendentes às empresas de médio e grande
porte, estrangeiras ou nacionais aptas a realizar acordos externos ou inovação tecnológica interna.
Para algumas empresas, seria uma forma de explorar a excessiva heterogeneidade dos
equipamentos instalados.
Para as empresas de porte médio e pequeno apresenta-se o desafio competitivo urgente da
modernização e a especialização em nichos de produtos mais promissores, pois observa-se
equipamentos desatualizados e redução na demanda de suas linhas de produtos. A produção
limitada quase que exclusivamente ao mercado interno e em produtos de menor valor agregado é
marcante. Apesar da consciência a respeito, a reduzida geração própria de recursos tem impedido
as iniciativas. Para superar a eventual não integração com a base florestal, pode-se enfatizar ainda
o uso da reciclagem.
Em importantes produtos de vocação regional mas de demanda estável podem ser
consolidadas parcerias tecnológicas e acordos de fornecimento com clientes. Seria interessante a
fusão de médios produtores, evitando-se o alijamento daqueles impactados por sua obsolescência
tecnológica. Muitos produtos de papel ingressaram numa curva descendente de ciclo de vida, dada
sua substituição por outros tipos de papéis ou materiais. Para as empresas atingidas, a inércia
fatalmente conduzirá à saída do mercado;
(c) adequação do suprimento de matérias-primas:
(1) fibra reciclada: o maior uso de reciclados é tendência mundial que deverá se repetir no
país, não só pela eventual exigência do importador estrangeiro, mas por propiciar redução de
desperdício e do lixo sólido, e garantir também menor necessidade de fibra virgem e assim de
imobilização de capital. Apesar do país exportar proporção relevante de sua produção, muito
ainda se pode fazer para aumentar a oferta de reciclados, sobretudo pela oportunidade oferecida
pela concentração urbana do país.
O volume gerado pelas famílias é estimado em 500 mil t/ano e é precariamente coletado. A
cultura da reciclagem deve fazer parte de programas escolares e campanhas institucionais para
evitar o desperdício e estimular a reciclagem. A curto prazo, a oferta poderia ser estimulada com
esquemas de reembolso financeiro. Em materiais tais como o metal, observam-se inúmeros
exemplos de coleta via postos de troca em supermercados ou hospitais. Na coleta de papel,
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Curitiba é um exemplo: o papel usado é trocado por vale-transporte e cadernos, envolvendo a
prefeitura, escolas e empresas de transporte.
A irregularidade no fornecimento de papel usado torna necessário reordenar a relação
entre usuários e fornecedores, inclusive por meio de contratos de fornecimento de médio prazo e
articulação de associações cooperativas de compra, estocagem, venda e processamento.
(2) economia florestal: é preciso preservar as áreas com cobertura florestal nativa
remanescentes e desvincular definitivamente estas áreas da atividade de exploração florestal. Cabe
realizar o planejamento da ocupação e de zoneamento econômico-ecológico do espaço, que
defina, de forma coordenada com as diretrizes de reforma agrária, áreas propícias à agricultura,
pecuária e silvicultura, onde poderiam ser definidos distritos florestais, que poderiam incluir
regiões impraticáveis para agricultura, degradadas pela exploração econômica improdutiva ou já
direcionadas para a exploração florestal. Para as áreas aptas à formação de florestas de produtores
integrados e independentes haveria mecanismos de fomento florestal (crédito e seguro) e apoio
dos setores industriais aos quais fornecessem, o que reduziria a imobilização do capital da
indústria em terras.
(3) suprimento energético: é de enorme importância aumentar a autogeração, com
aproveitamento da própria energia vapor gerada no processo e de recursos hídroelétricos e
florestais próximos à fábrica. Cabe mapear todas essas alternativas, pois a dependência de energia
comprada no mercado pode reduzir a competitividade do setor. O investimento privado em
energia elétrica pode ser estimulado pelos mecanismos de troca de energia excedente auto-gerada
por consumo equivalente em qualquer outro ponto do sistema, o que levaria ao aproveitamento
máximo de pequenas quedas d'água.
3.2. Políticas de Modernização Empresarial
A competitividade da indústria supõe consolidar parâmetros competitivos similares aos
dos líderes nacionais e mundiais. A cada empresa cabe definir, a partir de sua posição atual, um
plano de otimização e redefinição produtiva. A heterogeneidade do setor não impede afirmar que
todas as empresas podem avançar em atualização de equipamentos e processos, inserção em
novos mercados, introdução de produtos, ganhos de escala, capacitação tecnológica e gerencial, e
proteção ao meio ambiente.
(a) otimização e a atualização do processo produtivo:
(1) máquinas de papel e de conversão de papel: a otimização pode ser obtida por
intermédio de três linhas de ações: substituição de máquinas por outras de maior escala;
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instrumentação das máquinas, em particular pela introdução de controles digitais de processo
industrial; e melhoria do processo, pela redução do consumo de energia na depuração da polpa e
da perda de fibras na formação e secagem da folha de papel; pela adequação da linha de produtos
às características das máquinas;
(2) equipamentos para produção de celulose: aumento da escala de produção, proteção
ambiental e fechamento do ciclo produtivo com sistema de recuperação de reagentes e rejeitos,
utilização da energia-vapor gerada e tratamento de efluentes do processo;
(3) equipamentos e instalações para tratamento ambiental: sistema de condensação do licor
negro e estações de tratamento de efluentes líquidos e sólidos;
(4) processamento de fibra reciclável: centrais de processamento mecânico (seleção e
limpeza) e químico (destintamento e branqueamento) do papel usado. Neste último caso, o
processo é poluidor e exige investimento razoável mas bem menor do que em uma planta de
celulose, e por isso é acessível aos produtores não-integrados;
(5) racionalização das etapas de produção: a integração floresta/celulose é marcante, mas
ainda pode-se aproximar à produção de celulose as máquinas de papel e de conversão, o que
eliminaria o custo de secagem, transporte e nova dissolução da celulose.
(b) capacitação tecnológica em processo e produto: a difusão de tecnologia depende da
relação com fornecedores de equipamentos e do aprendizado decorrente da operação de máquinas
modernas. No caso das empresas líderes deve-se adicionar ao ganho de escala a vantagem
competitiva na inovação em processos e produto. Cabe endogeneizar a capacidade de inovar, o
que inclui aprofundar a interação com empresas de bens de capital e engenharia de projeto, mas
também o aprendizado interno no projeto de equipamentos e na análise dos atuais, e a pesquisa de
produtos, sobretudo os derivados de novas tecnologias. Isto só é alcançável com trabalho
sistemático em pesquisa e desenvolvimento.
No desenvolvimento da capacidade técnica das empresas de médio e pequeno porte, urge
atualizar equipamentos e substituir máquinas fora de padrões de produtividade. Cabe ativar a
interação com produtores de máquinas de papel ou de equipamentos de controle de processo. No
controle ambiental muito ainda pode ser realizado.
A capacitação tecnológica poderia ser dinamizada através de: programas de parcerias e
associações entre produtores brasileiros; convênios de cooperação do setor com institutos e
empresas internacionais; programas de intercâmbio técnico com outros países, inclusive visitas de
professores e técnicos aposentados estrangeiros; maior interação com institutos de pesquisa
nacionais, públicos e privados, e incentivo a carreiras de pesquisa na área; ação das universidades
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e do governo com vistas a divulgar técnicas de manejo silvicultural e prestar serviços de
assistência técnica aos médios e pequenos produtores; centros de formação profissional de nível
médio;
(c) desenvolvimento de recursos humanos: é necessário formar os recursos humanos que
irão realizar e absorver as atividades de desenvolvimento tecnológico e seus resultados práticos.
Em certos casos, cabe também avançar na profissionalização da gerência, com a adoção de
métodos e sistemas de gestão mais eficazes para o desenvolvimento da empresa.
(d) melhoria da qualidade: o lançamento do PBQP estabeceleu o conceito e reforçou a
conscientização dos empresários sobre a questão da qualidade e produtividade. O impacto está
sendo sentido em diversos pontos da cadeia produtiva. A continuidade desta linha de ação exige
disseminar o conceito "qualidade" (com campanhas institucionais mostrando exemplos bem
sucedidos e trabalhos nas universidades) principalmente para os trabalhadores (integrados aos
cursos do SENAI). Exige, ademais, o incentivo a programas de qualidade total, com vistas a
melhor atender a clientes em qualidade, confiabilidade e prazos;
3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
A competitividade sistêmica da economia brasileira depende de um contexto
macroeconômico mais favorável e da recuperação e articulação do papel do Estado. A falta de
confiança das empresas para retomar o investimento expressa a necessidade de transpor os
obstáculos gerados pela instabilidade e estagnação econômica, para que se efetivem estratégias de
modernização:
(a) estabilidade: cabe definir rumos estratégicos de longo prazo para o país, estabelecer
posicionamento estável de política econômica, fortalecer as instituições políticas e normalizar as
relações com a comunidade internacional. A estabilização de preços é crucial, mas o controle de
preços não é recomendado por levar a subterfúgios e distorções. Pode-se impedir abusos de
monopólios via abertura às importações e mecanismos de defesa do direito econômico. De todo
modo, a convivência com índices elevados de inflação aumenta a relevância de uma gestão estável
do câmbio e dos preços relativos da matriz energética (gás natural, óleo combustível e
eletricidade);
(b) crescimento: a retomada do crescimento do mercado interno pode gerar ganhos de
produtividade, alavancar a competitividade das exportações e assim a rentabilidade das empresas.
O ganho de produtividade obtido com a reestruturação produtiva realizada até aqui não pode ser
mensurado pois existe grande capacidade ociosa. O potencial do mercado interno é enorme e sua
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ampliação permitiria colher os frutos da reestruturação e prepararia nova fase no processo.
Dificilmente poder-se-á prosseguir na modernização unicamente com base no mercado externo. A
retomada interna associada a uma política de rendas teria impacto sistêmico, em termos de
aumento de demanda, distribuição de renda e qualificação de mão-de-obra. O resultado seria o
desenvolvimento do consumo de manufaturados, do nível de escolaridade e hábitos higiênicos da
população, com impacto, respectivamente, sobre a demanda de embalagens e cartões, papéis de
imprensa e de imprimir e escrever, e papéis sanitários.
A revisão total do papel estratégico do Estado na busca do desenvolvimento é um desafio
a ser enfrentado pela sociedade e envolve o gasto público em infra-estrutura econômica e social, o
apoio ao financiamento, a desoneração tributária e a regulação estatal:
(c) ação pública na área de infra-estrutura: as deficiências de infra-estrutura produtiva e
social permitem concluir que o gasto público global deve ser realocado, mas não reduzido. O
Estado poderia desenvolver um plano de qualidade total e busca de maior eficiência no gasto, tal
como o setor privado. Reivindica-se o uso do imposto no sentido da criação da infra-estrutura e
qualificação de recursos humanos necessários à expansão da indústria. Sugere-se um esforço de
parceria do Estado com o setor privado, que permita a este realizar sua expansão e assim gerar
mais impostos a médio prazo.
Na medida em que a indústria de papel e celulose interioriza o crescimento, pela
necessidade de estar próxima à base florestal, ela torna o desenvolvimento espacialmente mais
equilibrado. Parte do investimento das diversas esferas de governo deveria assim ser alocada na
infra-estrutura portuária, rodoviária e ferroviária destinada à movimentação de seus insumos e
produtos; e no fornecimento de energia, com a expansão da oferta de gás natural, eletricidade,
pela conclusão dos projetos em São Paulo e Norte-Nordeste e energia térmica em Santa Catarina.
O gasto destinado à educação básica, habitação, saúde e saneamento básico deve ser priorizado,
sobretudo nas comunidades distantes em que se encontram os trabalhadores destas empresas.
Este esforço poderia estar conjugado aos planos de expansão da indústria e dimensionado
com base na própria perspectiva de arrecadação de tributos e encargos sociais. A articulação
poderia ser desenvolvida, a nível dos municípios, por convênios entre empresas e prefeituras para
gestão administrativa de obras do município; a nível federal, através dos conselhos que deliberam
sobre a aplicação dos recursos do FAT e FGTS, em particular pelos representantes dos
trabalhadores.
O governo também poderia priorizar o apoio à inserção das empresas brasileiras nos
mercados externos e à defesa de seus interesses junto aos organismos externos de comércio,
ampliando a ação diplomática voltada para assuntos econômicos e de comércio exterior.
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Atualmente se faz necessário aferir a adequação das leis de outros países relativas a parâmetros
para produtos importados e respectivos processos produtivos;
(d) apoio financeiro: a participação do Estado no apoio ao investimento é indispensável. A
escassez de capital do setor torna prioritária a busca de condições de financiamento do sistema
oficial. Este apoio, sempre constante no setor, pode ser alavancado com algumas medidas de
reforço no sentido de: (i) caracterizar o Banco do Brasil como instituição de fomento às
atividades agrárias, apto a realizar financiamento de capital de giro para a constituição e
renovação de florestas, em particular para pequenos proprietários rurais; (ii) expandir a linha de
crédito da FINEP para estudos e projetos de qualidade de processos e equipamentos; (iii) reativar
mecanismos de financiamento à comercialização no exterior tais como o PROEX: cabe ampliar
recursos e prazos, e estender o apoio até o crédito para instalação comercial no exterior; (iv)
ampliar o financiamento à compra de equipamentos pela linha FINAME: cabe aumentar recursos e
a proporção de participação no valor investido, principalmente quando estiver associado à
proteção ambiental, reciclagem ou autogeração de energia; (v) ampliar o financiamento a projetos
de expansão produtiva pelo BNDES: alterar prazos de carência de modo a coaduná-los não com a
entrada em operação do projeto mas com o término de sua curva de aprendizagem, ou pelo menos
definir menores parcelas iniciais de amortização; aumentar a participação no valor do investimento
e reduzir o custo dos empréstimos; flexibilizar a exigência de disponibilidade conjunta de floresta,
celulose e papel caso a empresa comprove parceria com produtores dos insumos ou suprimento de
fibra reciclável; sensibilizar fundos de pensão para participação em projetos co-financiados; ampliar o
funding do BNDES com aumento da captação externa: específico para empresas exportadoras (com
hedge cambial), permitiria conceder empréstimos nas condições praticadas no exterior;
(e) desoneração tributária: uma mudança na estrutura de arrecadação deve buscar três
pontos: estabilidade das regras: as mudanças seguidas observadas no imposto de renda geram
ônus na contratação de consultorias ou montagem de assessorias de planejamento tributário, sem
contar o tempo gasto pela gerência para deliberar sobre estas questões; simplificação: envolve
desburocratizar sistemas tributário, trabalhista e previdenciário e eliminar a quantidade excessiva
de impostos. É preciso reduzir também a complexidade do cumprimento da obrigação fiscal nos
tributos remanescentes. A simplificação da legislação pertinente facilitaria ao Estado fiscalizar o
pagamento, enxugar a máquina de arrecadação e evitar ações judiciais contra si; fiscalização e
punição à sonegação e ao contrabando: além de uma questão ética, é um aspecto competitivo,
pois a competição é comparativa. A falta de fiscalização favorece os infratores e define
concorrência predatória. É preciso ampliar a fiscalização, agilizar o processo judicial de cobrança
de impostos atrasados e sonegados e aprovar lei que reforme legislação penal para punição de
crimes fiscais.
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Na medida em que a fiscalização propicie maior arrecadação, tornar-se-ia possível manter
o valor arrecadado e mesmo assim eliminar impostos e reduzir alíquotas sobre: (i) investimentos:
as compras de equipamentos devem ser isentas de tributos. Tal distorção já foi parcialmente
eliminada com a prorrogação da Lei 8.191, que suspendeu o IPI para bens de capital até o final de
1994. Cabe tornar permanentes estas medidas e ainda ampliá-las com a suspensão dos demais
impostos (ICMS, PIS e COFINS); (ii) faturamento: o PIS/PASEP e o COFINS são tributos
perniciosos pelo efeito cumulativo em cadeias produtivas longas. Sua eliminação, e simultâneo
vínculo de outras receitas às respectivas aplicações, permitiria ajustar o sistema tributário à nova
situação de abertura externa; (iii) linhas editoriais: a imunidade tributária nos papéis de imprensa,
que já se aplica em relação ao produto importado, pode ser considerada para o produto nacional,
pelos mesmos motivos que garantem esta última, o que elevaria seu poder competitivo frente à
concorrência externa e seria mais abrangente do que a elevação de tarifas de importação;
(f) regulação estatal: poderia ser aperfeiçoada no sentido de: alterar a legislação anti-
dumping, pela abertura da denúncia a qualquer pessoa física ou jurídica; simplificar procedimentos
para autorização pelo Banco Central de investimento no exterior; definir a legislação sobre meio
ambiente, no sentido de precisar de forma inequívoca os padrões de controle ambiental e os
prazos necessários à sua adoção, e as competências das diversas esferas de governo no controle e
fiscalização dessas normas; criar e regulamentar o selo ecológico nacional e promover ação
diplomática no sentido de torná-lo aceito internacionalmente; atualizar o Código Florestal, em
particular no sentido de distinguir norma aplicáveis às florestas naturais e às plantadas; simplificar
aprovação e controle de projetos florestais e de fiscalização da extração e transporte da madeira;
simplificar as exigências para a geração de energia fora do sistema Eletrobrás; regulamentar a Lei
de Patentes.
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3.4. Proposições de Políticas para Papel - Quadro Sinótico
AGENTE/ATOR
OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA
EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD
1. Reestruturação Industrial
Objetivo: Fortalecimento financeiro das empresas
Ações: - atrair investimentos de instituições
e empresas X X X
- estimular a integração de empresas X X X
- alavancar o potencial financeiro de
empresas de porte médio X X X
- apoiar iniciativas de reestruturação,
fusão e associação de empresas X X X
Objetivo: Redefinir produtos e mercados
Ações: - ampliar a escala de produção de
commodities X
- especializar em produtos de maior
valor agregado X
- aumentar a agressividade na comer-
cialização e no marketing X
Objetivo: Adequar o suprimento de matérias-primas
Ações: - estimular o uso de fibras recicladas X X
- estimular a coleta seletiva de papel X X X
- reordenar a relação usuários/fornece-
dores de aparas X X
- planejar a ocupação das áreas de
silvicultura X X X X
- definir zoneamentos para a ocupação
com florestas-"distritos florestais" X X X X X
- definir mecanismos de fomento
florestal X X
- estimular a autogeração de energia X X
- regulamentar a troca de energia
excedente X X X
2. Modernização Produtiva
Objetivo: Otimização e atualização do processo
produtivo
Ações: - estimular a instalação de máquinas e
equipamentos modernos X
- difundir técnicas de racionalização
do processo X X X X X
Objetivo: Capacitação tecnológica em processo
e produto
Ações: - estimular programas de parceria e
associações com produtores X X X X
- promover maior interação empresa-
universidade e institutos de pesquisa X X X
- expandir o intercâmbio técnico com
outros países X X X X
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AGENTE/ATOR
OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA
EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD
Objetivo: Desenvolvimento de recursos humanos
Ações: - avançar na profissionalização das
gerências X X X
- estimular o treinamento em todos
os níveis X X X
Objetivo: Melhoria da qualidade
Ações: - difudir o PBQP X X X X X
- disseminar o conceito de "qualidade" X X X X
- incentivar programas de qualidade
total X X X X
3. Fatores Sistêmicos
Objetivo: Estabilizar a economia
Ação: - adotar uma política de estabilização
efetiva X X X
Objetivo: Retomada do crescimento
Ação: - adotar medidas que estimulem o cres-
cimento da economia X X X X
Objetivo: Melhoria da infra-estrutura
Ações: - desregulamentar e modernizar os
portos X X
- estimular a auto-geração de energia X X
- investir em infra-estrutura de
transportes X X
- investir em infra-estrutura urbana X X
Objetivo: Apoio financeiro ao setor
Ações: - financiar a atividade florestal X X
- expandir o crédito público
(FINEP e BNDES) X X
Objetivo: Desoneração tributária
Ações: - rever os impostos incidentes sobre
o faturamento X X
- manutenção das regras e simplificação X X
Objetivo: Regulação estatal
Ações: - alterar a legislação anti-dumping X X
- definir a legislação de meio ambiente X X
- simplificar a legislação nos casos
de autogeração de energia, projetos
florestais, investimentos no exterior X X
Legendas: EXEC - Executivo
LEG - Legislativo
EMP - Empresas e Entidades Empresariais
TRAB - Trabalhadores e Sindicatos
ASSOC - Associações Civis
ACAD - Academia
Nota: Em caso de coluna em branco, leia-se "sem recomendação".
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4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Esta seção procura apontar os principais indicadores de competitividade necessários para o
monitoramento do setor de papel de mercado no Brasil. As sugestões estão condensadas no
quadro abaixo:
Indicadores de Competitividade
A) Desempenho
Evolução do Faturamento Líquido
Evolução do Faturamento por Tonelada de Produto
Market-share no mercado interno e mundial
Evolução da Margem de Lucro
Capacidade de Endividamento da Empresa
Evolução das Exportações e Importações
B) Eficiência Produtiva
Produtividade Florestal (m
3
/ ha/ ano)/ Rendimento da Polpa (%)
Eficiência Energética/ Consumo de Madeira (m
3
/ tonelada de
celulose)
Automação da Planta Industrial/Velocidade por Gramatura da
Máquina de Papel
Consumo de Reagentes Químicos por Tonelada de Celulose e Papel
Utilização de Cloro no Branqueamento
Custo de produção/Escala de Produção
Nível de Perdas/Recuperação de Reagentes Químicos
Vazão de Efluentes
Idade Tecnológica da Planta
Utilização de Papéis Reciclados: taxa de utilização e taxa de
recuperação
C) Capacitação
Atividades Internas de P&D
Tamanho da Equipe
Composição da Equipe
Despesas de Investimento
Tipos de Atividades Desenvolvidas
Número de Contratos e Parcerias
Gastos com Treinamento de Pessoal
Número de Horas de Treinamento por Níveis Hierárquicos
Formas de Gestão Administrativa
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APRESENTAÇÃO
Esta Nota Técnica Setorial trata do setor de Papel, que integra o Complexo Celulose,
Papel e Gráfica. Para a elaboração deste estudo foi entrevistado um grande número de pessoas,
foram visitadas as principais empresas e parte de suas respectivas plantas industriais. Foram
analisados relatórios reservados de empresas do setor e de firmas de consultoria especializadas,
relatórios de atividades de empresas e a literaturatura especializada no setor. A Associação
Nacional dos Fabricantes de Papel e Celulose (ANFPC), especialmente, propiciou total e irrestrito
apoio à realização do estudo, fornecendo estatísticas e publicações setoriais, promovendo
reuniões para discussão de aspectos específicos, mobilizando empresários e contribuindo com
comentários nos seminários realizados ao longo do desenvolvimento dos trabalhos.
O primeiro capítulo desta Nota trata do cenário internacional, com ênfase na abordagem
das características estruturais da produção e dos mercados, das estratégias exitosas adotadas pelos
produtores e das tendências de desenvolvimento e de consolidação da competitividade desse
segmento no exterior. Segue-se o diagnóstico da competitividade da indústria brasileira, que inclui
breve histórico de sua evolução, a caracterização geral de setor e a avaliação detalhada da
competitividade atual e das tendências observadas, identificando-se os obstáculos e as
oportunidades que se apresentam para o desenvolvimento do segmento no Brasil. No terceiro
capítulo são apresentadas proposições de políticas, abrangendo as referentes à reestruturação
setorial, à modernização empresarial e às externalidades ao segmento aqui designadas como
fatores sistêmicos. Indicadores de competitividade são expostos no último capítulo, apresentando-
se um elenco de aspectos/características/índices cujo monitoramento permanente permitirá
acompanhar e avaliar a evolução da competitividade do setor.
Segue-se abaixo uma relação dos entrevistados/consultados:
Instituições:
BNDES: Fábio Erber - Diretor
Zilda Maria Borsoi Coelho - Gerente
Terezinha Moreira - Depto. de Estratégias Setoriais e Empresariais
Angela Regina Pires Macedo - Gerente da Area de Operações Industriais
FINEP: Vitória Cerbino - Gerente de Projetos
IPEF: Walter Suiter
ANFPC: Mário Higino Neves Mello Leonel
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Francisco Braz Saliba
José Carlos B. Rossi
Jerônimo J. G. Ruiz
Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Papel do Estado de São Paulo
Empresas:
Grupo Ripasa: Osmar Elias Zogbi - Diretor Superintendente
Mauro Gonçalves Marques - Diretor
Irton Cezarino - Assessoria Técnica
Marco Antônio de Freitas Stella - Superintendência de Produção
Luiz Carlos Morales - Gerência de Produção de Celulose e Utilidades
Grupo Votorantim: Raul Calfat - Diretor Superintendente
Gerson Abdelmassik Justo - Diretor Industrial
Adalberto Pecchio - Gerente do Departamento Técnico
Champion: Manuchehr Nikobin - Diretor Industrial
José Roberto Rocha Delbim - Gerente de Engenharia de Processo e
Novos Projetos
Grupo Igaras: Ronald Seckelmann - Diretor Administrativo-Financeiro
Cia Suzano: Aureliano Ieno Costa - Diretor Administrativo
Luiz José Rosa - Gerente Geral de Planejamento e Controle Econômico
João Baptista do Nascimento - Gerente de Custo e Orçamento
Armando Luiz de Souza Mesquita - Gerente Geral do Centro de Pesquisa
Inpacel: José Carlos Gomes Carvalho - Diretor Presidente
Marco Antônio Dorigon - Superintendente
Grupo Klabin: Alfredo Cláudio Lobl - Diretor Geral
Jahir de Castro - Diretor de Comercialização
Eraldo Sul Brasil Merlin - Diretor de Operações
Marcello Pillar - Diretor
Mário Parmigiani Jenschke - Diretor Superintendente da Divisão de
Embalagem
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Osni Marcos Bruzamolin - Eng. Florestal
Adamas: George Henry Grego - Diretor Superintendente
Papirus: Dante Ramezoni
Santa Terezinha: Rui Haidar
Pirahy: Luiz José de Sabóia e Silva - Diretor Presidente
São Roberto: Roberto Nicolau Jeha
Manikraft: Olímpyo da Silva Caseiro
Rigesa: p/ Raja Mulhim Bitar
IBEMA: Rui Gerson Brant
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1. ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
1.1. Características Estruturais da Produção e dos Mercados
A produção do papel se dá pela transformação de uma mistura de material fibroso e cargas
minerais, que definem características de coesão às fibras. O material fibroso pode ser celulósico ou
não; no caso da celulose, usa-se fibra virgem (cuja produção pode estar integrada ou não) ou
papel usado reciclável. Esta mistura é depurada e utilizada no preparo da massa lançada nas
máquinas, em telas para a formação de folha de papel, segundo especificações precisas de
gramatura, resistência, maciez e permeabilidade que se deseja do produto. O processo de
formação ocorre em meio aquoso, necessário à consolidação da trama entre fibras, eventualmente
com a introdução de materiais adesivos. Em seguida, as máquinas realizam o processo de secagem
e ao final se obtém o papel na forma de bobinas. A escala de produção e a produtividade
alcançada dependem das características de largura e velocidade operacional da máquina, que varia
segundo o produto fabricado e a instrumentação de controle de processo disponível.
O papel pode ser comercializado na forma de bobinas ou então passar por máquinas
apropriadas para aplicação de revestimento com materiais plásticos, adesivos etc. ou para corte
em formatos específicos (folhas ou cutsize). Pode passar ainda por unidades convertedoras dos
produtos em artefatos de papel e papelão.
Pela multiplicidade de usos e diversidade dos mercados é necessário analisar o setor de
papéis e derivados em seus diversos segmentos. O mercado pode ser dividido em seis segmentos:
papel de imprensa (newsprint), papéis de imprimir e escrever, embalagens de papel e papelão,
papéis para fins sanitárioss (tissue), cartões e cartolinas e papéis especiais. A seguir apresenta-se
uma sumária caracterização destes segmentos:
Papel de Imprensa: caracteriza-se por elevadas escalas de produção, em geral integradas
com a produção de celulose de fibra longa e com a utilização crescente de material reciclado. É
comum a utilização de processos mecânicos na produção da pasta celulósica, sobretudo a partir
do desenvolvimento dos processos de alto rendimento;
Papéis de Imprimir e Escrever: a produção de papéis brancos se divide entre os revestidos
e os não-revestidos. No primeiro caso, o seu uso está diretamente vinculado com as áreas de
publicidade (mídia impressa) e editoração (revistas e livros), enquanto no segundo caso os
principais produtos são os papéis para xerografia, formulários contínuos, livros e cadernos. Os
papéis revestidos são mais sofisticados e caros que os não-revestidos, que em geral são
padronizados. Neste segmento, embora predominem os processos químicos de produção de
25
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celulose, é crescente a concorrência dos processos mecânicos (em particular, para produção de
LWC - Light Weight Coated);
Embalagens: inclui as embalagens de papel kraft (kraftliner) e diversos tipos de
embalagens leves (envelopes, sacolas, sacos multifolhados e papéis para embalagens flexíveis). O
papel kraft, de grande resistência ao tracionamento, é o principal insumo no processo de
fabricação de sacos, usados sobretudo para cimento e fertilizantes, e de embalagens de papelão
ondulado, caixas de papelão compostas por capa e miolo ondulado. A produção de kraftliner é
caracterizada pela escala elevada, integração com a fabricação de celulose não-branqueada,
predomínio do uso de processos químicos e de madeira de fibra longa. Cabe notar ainda a
integração para frente, atuando as empresas também no processo de conversão em caixas de
papelão, sacos, envelopes e outros artefatos de papel. A utilização de reciclados é crescente e a
facilidade de coleta e manuseio de caixas de papelão usadas também estimula esta tendência;
Papéis para Fins Sanitários: possui basicamente três produtos: os papéis higiênicos, as
toalhas e os lenços de papel. No segmento de tissue, a baixa relação entre valor agregado e peso é
o principal fator de definição locacional/estrutural, e frequentemente orienta para a proximidade
entre a fábrica e o mercado consumidor. Isso determina uma estrutura de oferta baseada em um
maior número de plantas industriais, de menor escala, distribuídas geograficamente. A resultante é
uma configuração na qual as fábricas apresentam escalas médias de produção (entre 30 mil e 60
mil t/ano). A maioria não é integrada à produção de celulose, de modo que o segmento é um dos
maiores consumidores de celulose de mercado. Ademais, viabilizam-se empresas menores, que
podem atender a mercados regionais. Por outro lado, as grandes empresas relativamente
especializadas nestes produtos são muito internacionalizadas, dispondo de plantas em diversos
países;
Cartões e Cartolinas: inclui basicamente os cartões revestidos (coated) para embalagens de
bens de consumo, além de cartolinas e cartões para impressos. Existem três tipos de cartão para
embalagem: cartão tipo cartucho duplex (duas camadas, com uma base suporte e camada
revestida com aplicação de látex); cartão triplex (contém três camadas e recebe aplicação em duas
delas); e cartão branco. A utilização da reciclagem é elevada, sendo que em algumas empresas a
participação alcança até 100%. Em geral, a base ou miolo é feita de aparas. Os principais clientes
na ponta final da cadeia produtiva são as grandes empresas de alimentos, produtos de higiene e
limpeza e farmacêuticos. Este segmento, portanto, concorre com outros materiais para
embalagem, como o plástico, vidro, isopor, aço e alumínio. Está também fortemente vinculado ao
parque gráfico, que executa a impressão sobre o cartão revestido. A globalização é mais difícil
neste segmento, em virtude da necessidade de parceria com a indústria gráfica e das especificações
muito particulares dos clientes finais. Em função destes aspectos, as escalas de produção são
relativamente menores;
26
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Papéis Especiais: inclui-se aqui uma diversidade de tipos de papéis de imprimir e escrever
diferenciados e de papéis e papelões destinados a diversos usos industriais específicos e ao uso
doméstico (filtros)1. Os principais produtos em papéis de imprimir e escrever especiais são os
papéis de segurança (cheques, títulos, papel-moeda), os papéis decorativos e os papéis térmicos e
copiativos (papel de fax, papel foto), que inclusive apresentam alta taxa de crescimento no seu
consumo. Em papéis e papelões para fins industriais, os principais clientes são as indústrias de
automóveis, calçados, fumo, materiais plásticos e elétricos. A principal característica comum às
empresas aqui incluídas é a diferenciação e elevado valor agregado dos produtos, em geral
baseados no domínio de tecnologias específicas. Os mercados de cada produto são relativamente
reduzidos, o que define menores escalas de produção ou uma grande concentração da oferta em
poucos produtores mundiais.
A produção mundial de papéis, que em 1990 atingiu um total de 238 milhões de toneladas,
está muito concentrada num pequeno número de países produtores. Apenas os quinze maiores são
responsáveis por um total de quase 80% da produção. Os EUA e o Japão respondem
individualmente por cerca de 30% e 12% do mercado (Tabela 1).
Quando se examina a produção por segmentos verifica-se que a concentração é um pouco
maior do que a média em imprimir e escrever e menor em cartões e cartolinas. Os EUA são os
líderes em diversos segmentos. O Japão é o segundo produtor em diversos deles, dividindo a
liderança com os EUA em papéis especiais.
A exceção é o segmento de papel de imprensa, no qual o Canadá é líder mundial,
respondendo por cerca de 28% do total produzido. Cabe destacar ainda a produção de papel da
Finlândia, Suécia e China, respectivamente concentradas em papéis de imprimir e escrever,
imprensa e embalagens. Estes países apresentam forte base florestal. Vários países cujo mercado
interno é grande absorvedor de papéis notabilizam-se também como fortes produtores, mesmo
não possuindo recursos florestais abundantes. Pode-se citar Alemanha, França, Itália, Coréia e
Taiwan.
O consumo mundial de papéis de todos os tipos também apresenta uma elevada
concentração nos países desenvolvidos. Se considerarmos os cinco maiores consumidores, a
participação chega a 61%. Apenas os EUA são responsáveis por 33% do consumo mundial. É
interessante registrar que os doze países maiores consumidores, que respondem por cerca de 77%
do total consumido, constituem um conjunto que integra o bloco dos quatorze maiores
produtores; apenas a Finlândia e a Suécia, presentes neste bloco, não são grandes consumidores.
1 Aqui não se pode, a rigor, caracterizar um mercado ou indústria. A classificação, na verdade, é do tipo "outros".
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TABELA 1
PRODUÇÃO MUNDIAL DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO*
(1990)
(em 1000 t)
País Imprensa Imprimir & Embalagens Sanitários Cartões e Especiais e Total
Escrever Papelão (a) Diversas (b) Cartolinas Indefinidos
Eua 6001 20093 24466 7503 5264 2742 5450 71519
Japão 3479 9251 8275 1185 1366 3382 1148 28086
Canadá 9069 3599 2045 497 472 761 23 16466
China 400 2139 2000 4880 730 1700 1870 13719
Alemanha 1118 5009 2082 1309 828 1286 241 11873
Finlândia 1429 4682 708 528 167 1172 272 8958
Suécia 2273 1655 1777 861 283 1443 134 8426
França 422 2773 2192 445 284 639 294 7049
Itália 233 2247 1314 373 248 1011 175 5601
Inglaterra 696 1387 1303 101 440 687 210 4824
Brasil 246 1289 1680 505 404 470 122 4716
Coréia 522 966 1384 247 196 888 321 4524
Espanha 173 833 1305 150 244 403 337 3445
Taiwan 83 498 1672 81 141 472 390 3337
Áustria 333 1377 507 201 98 385 31 2932
Leste Europeu (c) 2072 2454 2874 1843 258 3364 2470 15335
Demais da
Europa Ocidental 1658 2555 1773 351 459 1329 556 8681
Demais da
América Latina 735 1185 1669 812 815 553 157 5926
Demais da
Ásia/Oceania 1451 2982 1715 1706 457 1632 317 10260
África 416 624 923 289 164 340 3 2759
TOTAL 32809 67598 61664 23867 13318 24659 14521 238436
* Dados de embalagens, cartões e cartolinas e especiais e indefinidos ajustados segundo reclassificação dos autores.
(a) Kraftliner e papelão ondulado.
(b) Embalagens leves e de papel Kraft.
(c) Leste Europeu inclui Alemanha Oriental e URSS.
Fonte: PPI/ANFPC.
Por outro lado, verifica-se que a participação do consumo de cada tipo de papel no
consumo total do país converge para uma mesma composição. Em geral, o consumo de papéis
para imprimir e escrever e de imprensa tende a se situar em algo próximo a 40% do total; os
papéis de embalagem, inclusive cartões, representam cerca de 45%, e os sanitários e especiais
menos de 10% cada. É evidente que existem diferenças. A mais notável parece ser o maior
consumo de papéis de imprimir e escrever em relação às embalagens em países como Alemanha,
Inglaterra e Japão (Tabela 2).
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TABELA 2
CONSUMO MUNDIAL DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO*
(1990)
(Em 1000 t)
País Imprensa Imprimir & Embalagens Sanitários Cartões e Especiais e Total
Escrever Papelão (a) Diversas (b) Cartolinas Indefinidos
Eua 13044 22411 21972 6833 5352 2508 5612 77732
Japão 3787 8974 8407 1180 1366 3371 1133 28218
Alemanha 1922 5477 2935 1594 801 1591 240 14560
China 411 2132 2400 5012 730 1850 1894 14429
Inglaterra 1859 2978 2037 404 549 1156 290 9273
França 788 3297 2464 481 372 1078 274 8754
Itália 608 2544 1976 533 141 964 188 6954
Canadá 1146 1574 1393 298 442 838 33 5724
Espanha 410 1305 1487 120 267 337 415 4341
Coréia 548 925 1437 247 194 521 438 4310
Brasil 424 875 1313 491 398 413 112 4026
Taiwan 304 497 1506 120 163 389 341 3320
Holanda 483 1017 552 219 180 582 17 3050
México 425 582 929 332 327 296 91 2982
Austrália 654 818 750 202 177 150 50 2801
Leste Europeu (c) 1835 2473 2302 1628 198 3511 2736 14683
Demais da
Europa Ocidental 2047 3505 2778 770 659 1272 699 11730
Demais da
América Latina 479 976 1075 687 376 296 341 4260
Demais da
Ásia/Oceania 1739 2880 2050 1813 297 1896 1442 12117
África 362 904 1045 481 178 457 139 3566
TOTAL 33275 66144 60808 23445 13167 23476 16515 236830
* Dados de embalagens, cartões e cartolinas e especiais e indefinidos ajustados segundo reclassificação dos autores.
(a) Kraftliner e papelão ondulado.
(b) Embalagens leves e de papel Kraft.
(c) Leste Europeu inclui Alemanha Oriental e URSS.
Fonte: PPI/ANFPC.
Os fluxos de comércio internacional de papel refletem naturalmente os desequilíbrios entre
produção e consumo nos diversos países e regiões. As Tabelas 3 e 4 apresentam os dados de 1990
relativos às importações e exportações dos principais países atuantes nestes mercados e os fluxos
mais importantes de produtos. Algumas observações podem ser feitas:
(i) os maiores fluxos em quantidade e em proporção ao total produzido correspondem aos
papéis de imprensa e de imprimir e escrever, existindo também intercâmbio significativo de embalagens;
(ii) o restrito comércio de papéis sanitários, exceto em alguns países europeus pela
proximidade entre produtores e consumidores: a produção de sanitários representou 6% do total
do setor, mas as vendas externas apenas 2%;
(iii) o fluxo de comércio entre países integrantes da CEE envolve sobretudo papéis de
imprimir e escrever, embalagens e cartões. As exportações estão concentradas nos países
escandinavos, Alemanha e Áustria. Os maiores importadores são Alemanha, Inglaterra, França,
Itália, Holanda e Bélgica. Em imprimir e escrever ocorre na Europa fenômeno interessante: as
importações e exportações agregadas são altas pois existe tendência de crescente especialização
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de alguns países na produção e exportação de papéis revestidos, de maior valor agregado (por
exemplo, Alemanha e Áustria), e de outros na fabricação de não-revestidos;
(iv) a participação significativa dos EUA e Canadá no mercado externo de embalagens,
representando cerca de 36% do total exportado, principalmente para a Europa;
(v) a forte integração comercial entre EUA e Canadá resulta em grande importação pelos
EUA de produtos canadenses, sobretudo newsprint (representa 66% das importações americanas
de papel). Estas compras têm forte caráter de negócios intra-firmas, uma vez que empresas
americanas e canadenses operam nos dois países;
(vi) a presença asiática no comércio exterior é pequena ( 6% do total exportado frente a
uma parcela de 25% produção). Seria de se esperar maior importação do Japão, Coréia e Taiwan
em virtude da falta de base florestal e de suas altas taxas de crescimento. Contudo, estas
economias têm sido capazes de manter o ritmo de crescimento da produção de papel com
utilização máxima da reciclagem, atuando no mercado internacional apenas como demandante de
celulose e aparas.
TABELA 3
IMPORTAÇÃO MUNDIAL DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO*
(1990)
(em 1000 t)
País Imprensa Imprimir & Embalagens Sanitários Cartões e Especiais e Total
Escrever Papelão (a) Diversas (b) Cartolinas Indefinidos
Eua 7529 2806 206 304 119 26 430 11419
Alemanha 1217 2675 1308 814 83 642 40 6779
Inglaterra 1308 2153 908 369 128 680 150 5696
França 498 1622 707 216 133 665 59 3900
Itália 385 863 693 351 79 288 101 2760
Holanda 394 967 345 208 27 391 16 2348
Bélgica 185 769 353 256 57 145 55 1820
Espanha 262 643 256 32 35 30 164 1422
Japão 434 231 200 30 nd 120 17 1032
Canadá 20 501 80 125 34 243 20 1023
China 16 90 440 222 nd 150 44 962
Austrália 288 439 80 141 10 nd nd 958
Dinamarca 217 247 200 nd 47 184 7 902
Hong Kong 200 150 150 nd nd 100 220 820
Suiça 88 372 89 46 84 80 nd 759
Brasil 188 70 8 2 6 5 15 294
Leste Europeu (c) 155 249 292 21 11 267 352 1347
Demais da
Europa Oc. 204 781 416 165 125 279 293 2263
Demais da
América Latina 348 402 464 271 12 153 226 1876
Demais da
Ásia/Oceania 1158 1037 1026 416 64 494 790 4985
África 160 370 215 200 41 178 185 1349
TOTAL 15254 17437 8436 4189 1095 5120 3184 54714
* Dados de embalagens, cartões e cartolinas e especiais e indefinidos ajustados segundo reclassificação dos autores.
(a) Kraftliner e papelão ondulado.
(b) Embalagens leves e de papel Kraft.
(c) Leste Europeu inclui Alemanha Oriental e URSS.
Fonte:PPI/ANFPC.
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A concentração da oferta por empresas produtoras supera a concentração por países, na
medida em que os grandes produtores de papel operam em vários países. A quantidade física
produzida pelas principais empresas do setor em relação ao total indica grau de concentração de
CR4 = 10,3%, CR8 = 16,2% e CR12 = 21%2. Considerando-se as empresas cuja produção esteve
acima de 1 milhão de toneladas em 1990 obtém-se um conjunto de 46 empresas que ao todo
representa 47% da produção mundial.
Embora não tenha sido possível obter a produção das empresas por segmento, pode-se
apontar que a maioria é especializada em um ou dois tipos de papel, principalmente no caso de
tissue. Isto reduz o número de concorrentes de modo que a concentração é ainda maior em cada
segmento do que na média do setor. Não obstante, existem empresas diversificadas, que atuam em
diferentes segmentos e em alguns casos até em outros setores (engenharia de projeto, bens de
capital, química, produtos florestais e construção civil).
Estes dados demonstram que a produção de papel já apresenta significativo grau de
concentração. E a presença de importantes economias de escala e a globalização do mercado
impõem a continuidade desta tendência para os próximos anos.
TABELA 4
EXPORTAÇÃO MUNDIAL DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO*
(1990)
(em 1000 t)
País Imprensa Imprimir & Embalagens Sanitários Cartões e Especiais e Total
Escrever Papelão (a) Diversas (b) Cartolinas Indefinidos
Canadá 7943 2526 732 324 64 166 10 11765
Finlândia 1202 4251 558 360 78 1035 214 7698
Suécia 1772 1303 1334 827 162 1315 62 6775
EUA 486 488 2699 974 31 260 268 5206
Alemanha 413 2207 455 529 110 337 41 4092
França 132 1098 435 180 45 226 78 2194
Austria 227 1178 286 145 45 279 25 2185
Holanda 209 754 372 46 13 645 1 2040
Noruega 822 293 148 151 19 34 11 1478
Itália 10 566 31 191 186 335 88 1407
Inglaterra 145 562 174 66 19 211 70 1247
Brasil 10 484 367 24 10 62 5 962
Bélgica 45 621 36 33 95 94 4 928
Japão 126 508 68 35 - 131 32 900
Suíça 72 115 163 57 86 113 - 606
Leste Europeu (c) 392 229 764 236 71 70 237 1999
Demais da
Europa Oc. 25 307 315 69 22 135 124 997
Demais da
América Latina 179 130 30 65 123 14 19 560
Demais da
Ásia/Oceania 261 499 506 249 37 398 638 2588
África 214 89 193 8 27 10 2 543
TOTAL 14685 18208 9666 4569 1243 5870 1929 56170
* Dados de embalagens, cartões e cartolinas e especiais e indefinidos ajustados segundo reclassificação dos autores.
(a) Kraftliner e papelão ondulado.
(b) Embalagens leves e de papel Kraft.
(c) Leste Europeu inclui Alemanha Oriental e URSS.
Fonte: PPI/ANFPC.
2 Market-share dos maiores produtores (quatro maiores, oito maiores, doze maiores).
31
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1.2. Padrões de Concorrência e Estratégias Empresariais
A indústria internacional de papéis e derivados caracteriza-se pela concentração produtiva
apontada, pela importância do investimento e respectivas condições de financiamento e por uma
perspectiva de mercados globalizados - com padronização de produtos, difusão de tecnologias de
produção e declínio do custo de transporte3. A competição mundial crescentemente acirrada
reforça a busca de competitividade em preço e qualidade na produção de papel.
A indústria de papel, ademais, por ser tradicional, madura, basicamente produtora de
commodities industriais, tende a apresentar menores taxas de crescimento e rentabilidade. Nos
últimos anos, o aumento do consumo internacional tem sido relativamente pequeno, com uma
evolução que corresponde meramente ao crescimento vegetativo da população das maiores
regiões consumidoras (Europa e América do Norte).
Na indústria papeleira, tal como na de celulose de mercado, à conjuntura de recessão
agrega-se a entrada em funcionamento de novas plantas produtivas. A conseqüência é o
desequilíbrio estrutural do mercado em alguns tipos de papel (excesso de oferta e capacidade
instalada em relação à demanda), com queda de preços de até 40% em 1991 e 1992. O momento
atual é recessivo e a expectativa é de que a situação adversa para o setor perdure em 1993,
iniciando-se lenta melhora a partir de 1994. Prevê-se para os demais anos da década um aumento
do consumo da ordem de 2,5% a 3% a.a..
Como resultado da queda global de preços e de lucratividade, caiu também o diferencial de
preços entre celulose de mercado e papel. Em virtude da queda nesta relação de preços,
desenhada ao longo dos últimos anos, a perda de lucratividade afetou com mais força o poder
competitivo e a capacidade de investimento das indústrias de papel não-integradas.
Ajustes ocorridos nas economias de diversos países produtores incluíram a adoção de
ajustes de política cambial que geraram também o acirramento da competição mundial. A adoção
de políticas de desvalorização da moeda de determinados países, em relação ao dólar, preserva o
poder competitivo das empresas ali instaladas, bem como corta a penetração de outros produtores
nos mercados em que atuam. É neste contexto que se pode perceber a queda recente das moedas
canadense e dos países escandinavos. A competitividade dos produtores locais é mantida através
da redução "espúria" dos preços em dólar dos seus produtos4. Tais movimentos revelam que a
globalização dos mercados não prescinde da regulação nacional dos fluxos comerciais e financeiros.
O acirramento da concorrência também se faz sentir no aspecto da qualidade. A exigência
de qualidade transcende ao produto em si e atinge o processo produtivo e as etapas anteriores à
3 Características típicas de oligopólios concentrados.
4 De acordo com Fajnzylber (1988), competitividade "espúria" seria aquela alcançada não por aumento autêntico de
produtividade mas por expedientes tais como ajuste cambial ou redução de salários.
32
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produção (projeto e engenharia) e posteriores à produção (assistência técnica pós-venda). Os
contratos internacionais de fornecimento passam a conter a exigência do Certificado de Garantia
de Qualidade segundo normas da International Standard Organization (série ISO-9000)5. Este
tipo de certificação brevemente deverá ser imprescindível para produtos negociados nos países da
Comunidade Econômica Européia (CEE). Além disto, é muito provável que se torne, em breve, o
padrão de regulação sobre qualidade em todo o mercado mundial.
A crescente preocupação ecológica, sobretudo nos países mais desenvolvidos, conduz
também a uma crescente legislação, nacional e também globalizada, com novos requisitos em
termos de produtos e processos produtivos que respeitem critérios de proteção ao meio ambiente.
Existe já um movimento nos EUA no sentido de vincular suas políticas ambientais às políticas
comerciais. Exemplo: tramita no legislativo americano projeto que cria imposto sobre o consumo
interno de energia, o qual prevê uma sobretaxação para produtos importados que também
consumam muita energia, a qual compensaria o imposto interno e evitaria perda de
competitividade.
Os países da CEE, de outro lado, oficializaram o "selo verde" em maio de 1992. Esse
certificado garante aos consumidores europeus que o produto foi fabricado de acordo com os
melhores padrões ecológicos e de proteção ambiental6. Esta certificação será um instrumento
efetivo de marketing para os produtores que tenham este perfil, e é assim que as autoridades
européias analisam seu significado. Tecnicamente, não pode ser considerada uma barreira
comercial não-tarifária a ser imposta por países importadores pois apresenta caráter voluntário.
Na prática, contudo, consiste exatamente nisto.
No decorrer de 1993 o "selo verde" estará sendo implantado para um grupo inicial de mais
de três dezenas de produtos. No caso dos produtos de papel (de imprimir e escrever e sanitários),
definirá critérios unilaterais, ainda incertos, relativos ao consumo de base florestal e energia e à
produção de efluentes e resíduos não degradáveis, mas que certamente estarão baseados na
estruturação produtiva dos países da CEE. Teme-se que os critérios de proteção ao meio
ambiente não levem em conta as caraterísticas específicas dos recursos naturais e da produção dos
demais países e tendam a favorecer os produtores locais. No caso, a regulação deverá atingir
5 A série ISO-9000, já adotada em 120 países, apresenta três níveis de certificação de qualidade: ISO-9001, ISO-
9002 e ISO-9003. O padrão ISO-9003 limita-se ao processo produtivo e às atividades de inspeção e ensaio; o ISO-
9002 acrescenta as atividades de embalagem, armazenamento, distribuição e instalação; o ISO-9001, é o mais
abrangente e inclui a engenharia de projeto e desenvolvimento de produto e os serviços pós-venda como assistência
técnica, marketing e pesquisa de mercado.
6 O processo de certificação pelo ecolabel prevê várias etapas: um primeiro estudo e sugestão de parâmetros
oferecido por diversos países da CEE (Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Holanda e Dinamarca - responsável por
papéis de imprimir e escrever e sanitários); a discussão e aceitação pelos demais países da CEE; a publicação no
Journal of the European Communities - o diário da CEE; e, finalmente, a partir daí, a solicitação voluntária de
enquadramento nas regras estabelecidas, por empresas de qualquer país em qualquer representação do "selo verde"
instalada na Europa (com aprovação em cerca de três meses), que terá um custo fixo pago no ato do pedido, além
de uma parcela de 0,15% das vendas anuais durante a validade provável de três anos. Estas informações estão
contidas em Barbosa (1993).
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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produtores, como os brasileiros, cujo processo produtivo esteja assentado na fibra virgem e não
no papel usado e seja grande consumidor de energia. Frente a esta situação, grandes produtores de
papel como Canadá, Suécia e Noruega optaram por estabelecer critérios ecológicos nacionais a
serem posteriormente negociados com a CEE (o Brasil segue também este caminho).
Para além do fato de que tais exigências consolidam-se como pressuposto para a
participação nos mercados internacionais, há que se notar que são também instrumentos que dão
início a esforços de reorganização da produção. A mudança de processos produtivos para ajuste a
padrões mais rigorosos de qualidade, ainda que motivada por pressões comerciais e/ou ecológicas,
acaba por gerar ganhos de produtividade.
As empresas operantes no mercado internacional, confrontadas com estas condições,
buscam ampliar seu poder de competição. As estratégias competitivas bem sucedidas detectadas
para o setor podem ser organizadas em termos dos seguintes parâmetros: de um lado, estratégias
produtivas de melhoria nas fibras utilizadas e desenvolvimento dos produtos e equipamentos, com
ganhos de escala; de outro, estratégias de mercado, com integração dos produtores de papel na
cadeia produtiva e concentração patrimonial. Aceleram-se dois processos que em outras
circunstâncias certamente se mostrariam mais lentos: a desativação de plantas industriais pouco
competitivas e a concentração de mercados. É preciso examinar cada uma destas estratégias:
(a) estratégias produtivas relativas a material fibroso: busca-se a matéria-prima de melhor
qualidade, menor custo e maior possibilidade de acesso e controle sobre a oferta. Neste sentido,
verifica-se avanço crescente na utilização de fibras de base florestal replantada, de fibras recicladas
e de mistura de fibras:
(a.1) reflorestamentos: os limites de custo e quantidade ofertada e as pressões de grupos
ecológicos têm dificultado a exploração de florestas nativas, sobretudo públicas. A necessidade de
reflorestar áreas para suprimento de material fibroso coloca a opção entre espécies nativas ou
exóticas. Entre estas últimas destacam-se o eucalipto (fibra curta) e o pinus (fibra longa), de
rápido crescimento e que permitem obter ganhos de produtividade via melhoramento e seleção de
espécies. Tal escolha leva ao aumento contínuo do plantio de florestas: na Europa, Portugal e
Espanha em fibras curtas; em países do hemisfério Sul, em fibras longas no Chile e Brasil, e em
curtas no Brasil, África do Sul e, previsivelmente, em novos países produtores, como Indonésia,
Malásia e Tailândia. A celulose de fibra curta de eucalipto está sendo cada vez mais utilizada pelos
produtores de papel da Europa;
(a.2) fibras recicladas: o aproveitamento máximo do papel reciclável reduz a dependência
do fornecimento de fibra virgem, a celulose de mercado. Mas mais importante do que esta
motivação concorrencial é a forte pressão ecológica existente nos países desenvolvidos,
decorrente da grande preocupação das autoridades e conscientização dos consumidores e da
sociedade para com a proteção ambiental, em termos de espaço e condições ecológicas para
depositar lixo sólido. Esta pressão faz surgir toda uma legislação que obriga ao uso de
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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percentagens mínimas de reciclados e resulta em novos padrões de consumo, inclusive aceitando-
se papéis de menor alvura.
A taxa de utilização de papel reciclável (ver Gráfico 1) apresenta grande variação entre
países em virtude de diversos condicionantes7. O reaproveitamento depende dos limites à base
florestal, das dimensões do país e de sua estrutura fundiária. A presença e proximidade de
aglomerados urbanos facilita a coleta do papel usado (caso do México), enquanto que o
predomínio da exportação implica menor quantidade de papel usado em relação ao produzido
(caso de Suécia, Canadá e Nova Zelândia).
Os EUA possuem taxa de reciclagem inferior à brasileira (do mesmo modo que os
exportadores acima mencionados), mas nesse país ganham força as legislações ambientais que
obrigam ao uso de parcela cada vez maior de material usado. Ali a taxa de recuperação de papel
passou de 26% em 1974 para 32% em 1989 e 36% em 1991. A utilização de papel usado cresceu
11% em 1992, em ritmo forte em papel de imprensa e sanitário8. Estão sendo implantadas novas
unidades produtoras a partir de papel reciclado, e esta evolução pode ser acelerada se houver avanço
tecnológico no destintamento e nos métodos de retirada de sujeira do material fibroso usado.
GRÁFICO 1
UTILIZAÇÃO DE RECICLADOS
(em %)
Coréia Inglaterra Japão Alemanha Argentina Brasil EUA Suécia
0
20
40
60
80
Coréia Inglaterra Japão Alemanha Argentina Brasil EUA Suécia
Fonte: FAO/ONU
7 No caso da reciclagem, em geral, são considerados dois indicadores: a taxa de utilização de reciclados (consumo
como matéria-prima em relação à produção total de papel e cartão); e a taxa de recuperação ou coleta (papel usado
coletado em relação ao total consumido de papel).
8 Em papel de imprensa o incremento foi brutal e atingiu também a produção canadense. Em tissue a reciclagem
passou de 35% em 1988 para 52% em 1992.
35
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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(a.3) mistura de fibras (composers): é expressiva a difusão de produtos baseados na
mistura de fibras celulósicas curtas e longas e de outros tipos de fibras, de molde a obter
qualidades diferenciadas e específicas, com uma combinação de propriedades de resistência e
maciez e um grau intermediário de alvura nos produtos;
(b) estratégias produtivas relacionadas a produtos e processos: a dinâmica do mercado
leva ao aumento das capacidades de produção via introdução de máquinas maiores e mais
modernas, geradoras de enormes economias de escala, e conduz a descontinuidades técnicas e a
uma elevada relação capital/produto. Uma máquina de última geração para papel de imprimir e
escrever, por exemplo, supera os 8 m de largura e produz até 250 mil t/ano. Grande parte da
tecnologia de processo está incorporada ao equipamento. Assim, a apropriação do progresso
técnico depende da estreita interação com o setores de bens de capital, serviços de engenharia de
projeto e automação industrial. Os produtores líderes nestas atividades são sobretudo suecos e
finlandeses, no caso de bens de capital e engenharia de projeto, e os japoneses, na automação
industrial.
A capacitação tecnológica interna do produtor de papel, não obstante, ganha importância
na medida em que aumenta o rigor no controle de processo, com vistas a garantir qualidade e
controle ambiental das operações. As empresas líderes do setor apresentam expressivos gastos em
pesquisa e desenvolvimento9. O avanço tecnológico obtido com a introdução de inovações
incrementais gera ganhos de produtividade no rendimento em fibras (com a redução da perda de
fibras ocorrida no processo de secagem) e em energia (com a busca de alternativas tais como a
biomassa e o gás natural) e alcança também os produtos, definindo artigos de papel com maior
teor de carga e menor gramatura;
(c) estratégias de verticalização da indústria: a integração para a frente na cadeia produtiva
se sobrepõe ao barateamento de custos e permite ao produtor ao mesmo tempo agregar mais
valor ao produto e aproximar-se do consumidor final. De um lado, observa-se o movimento de
fusão de produtores de celulose de mercado e de papel, numa estratégia em geral conduzida pelos
fabricantes de celulose mas que impacta a indústria de papel. O movimento mais visível envolve
empresas escandinavas, portuguesas e a sul-africana Sappi, através de aquisição de plantas
industriais (e de novas máquinas de papel). A Sappi comprou a alemã Hannover Papier e cinco
plantas de papel não-integradas na Inglaterra. De outro lado, a indústria de papel americana e
escandinava expande-se no sentido da incorporação das etapas de conversão, acabamento e
distribuição. A Riverwood, por exemplo, adquiriu em 1990 as convertedoras de cartões DRG,
inglesa, e Visypack, australiana;
9 A título de exemplo, cabe mencionar o gasto em 1992 em pesquisa e desenvolvimento de algumas empresas
americanas: Kimberly-Clark (US$ 156 milhões - 2,2% das vendas); Scott Paper (US$ 61 milhões - 1,2% das
vendas); Union Camp (US$ 45 milhões - 1,5% das vendas); e James River (US$ 44 milhões - 0,9% das vendas).
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
(d) estratégias de concentração do mercado de papel: a forte competição e o contínuo
aumento de escalas produtivas conduzem a estratégias de incorporação, associação (joint-
ventures) e fusões entre produtores de papel. Nos anos recentes foi constante a concentração
produtiva e a reestruturação patrimonial. Boa parte destas reestruturações envolveu a penetração
de empresas americanas e canadenses na Europa e a formação de grandes empresas de capital
americano e europeu: (a) a expansão na Europa da International Paper, que adquiriu plantas na
Alemanha, França e Inglaterra, além de 80% do controle da Kwidzyn, a maior produtora polonesa
de papel e celulose; (b) a JA/Mont, originada da associação das operações em tissue da James
River (EUA), Nokia (Noruega) e Ferruzzi (Itália); (c) a Arjo Wiggins Appleton, resultado da
fusão de Arjomari Prioux (francesa), Wiggins Teape (inglesa) e Appleton (americana), criando o
oitavo maior grupo de papel do mundo em termos de faturamento; (d) a compra da Feldmuhle, da
Alemanha, pela Stora; (e) a formação da Repola Corp, maior grupo industrial privado finlandês,
pela incorporação em fins de 1990 da United Paper Mills (Yhtyneet Paperitehtaat), a qual passou
a concentrar as atividades do grupo no setor; (f) a aquisição pela americana Riverwood da sueca
Fiskeby Board, em 1990, de máquinas de papel da Federal Paper Company, em 1991, e da Macon
(na Georgia-EUA) recentemente. Na indústria de papel do Japão observa-se também grande
reestruturação. Anunciam-se as fusões da Oji Paper com a Kanzaki Paper Manufacturing, e de
duas empresas que tiveram pesados prejuízos no exercício financeiro de 1992, a Jujo Paper e a
Sanyo-Kokusaku Pulp (as quatro listadas entre os dez maiores produtores do país).
Frente a essas estratégias de sucesso, as unidades industriais menos competitivas parecem
ser aquelas que apresentam no conjunto o maior número de desvantagens de custo ou necessidade
de investimento adicional: produção não integrada à celulose, ou que não atenda ao uso de
reciclagem determinado pela legislação de proteção ao meio ambiente; e equipamentos antigos,
que não permitam automação ou ganhos de escala. As fábricas de papel não-integradas que
possivelmente poderão permanecer com esta configuração devem ser aquelas que fabricam
produtos de maior valor agregado ou de uso intensivo de reciclados.
O processo de desativação de unidades produtivas ou máquinas obsoletas menos
competitivas é lento, não apenas porque são investimentos em geral já amortizados mas também
porque os mecanismos de política econômica (cambiais e tarifários) apontados acima
eventualmente podem lhes garantir uma sobrevida. Mesmo assim, sabe-se que foram fechadas
diversas plantas dos EUA e Canadá (fábricas pequenas, antigas e pressionadas pelas leis
americanas de uso de reciclagem em papel de imprensa), além de quatro fábricas britânicas em
1992. No curto prazo, o fechamento poderá se refletir no aumento do índice de utilização de
capacidade instalada.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Estas estratégias competitivas gerais da indústria, contudo, são complementadas, em cada
segmento de mercado, por condicionantes e políticas específicos. A seguir, faz-se uma breve
apanhado destes aspectos:
Papel de imprensa (newsprint): a competição está associada a elevadas escalas de
produção e ao uso intenso e crescente de fibras recicladas, sobretudo em virtude das legislações
que obrigam as empresas nos países desenvolvidos a caminhar nesta direção. Ademais, cresce a
pressão para proteção ao meio ambiente, tanto nas fábricas quanto nas florestas, o que tem
motivado investimentos nesta indústria. O mercado americano, por sua dimensão, ainda concentra
a atenção das empresas líderes. Os maiores exportadores mundiais são os produtores canadenses,
que possuem vantagens nítidas, mas cadentes em razão do crescente custo dos recursos florestais.
Não é gratuito que justamente neste segmento seja mais difundida a tecnologia de processos
mecânicos, cujo principal resultado é o maior aproveitamento da madeira;
Papéis de imprimir e escrever: há uma forte concorrência entre processos celulósicos
mecânicos e químicos. No caso de papéis não-revestidos, por suas características de commodities,
os fatores competitivos principais são a escala de produção elevada, os ganhos de produtividade
no processo, a qualidade dos produtos e sistemas de comercialização e distribuição abrangentes.
Nos anos oitenta, ao contrário das expectativas iniciais, o mercado para estes papéis cresceu
acima da média mundial, em função da difusão dos equipamentos de escritório informatizados
(impressoras, micros, máquinas reprográficas). Os papéis revestidos, de maior valor agregado,
exigem maior interação com o setor gráfico e editorial, inclusive com grandes empresas de
comunicação. Neste caso, a qualidade dos produtos (printabilidade, opacidade e resistência) passa
a ser determinante fundamental de competitividade. Para estes produtos, houve grande avanço no
desenvolvimento da tecnologia de fabricação com uso de pastas mecânicas baseadas na celulose
de fibra longa (LWC - Light Weight Coated) em detrimento do processo químico. Houve ainda o
surgimento de novas regiões produtoras, como o Brasil. O mercado vem dando sinais de
crescimento mais lento nos anos noventa, embora algumas regiões, como o Extremo Oriente,
tenham se comportado de forma mais dinâmica;
Embalagens: nos anos oitenta o mercado apresentou baixo dinamismo e reduzidos
investimentos, enfrentando a concorrência de outros materiais, tais como plásticos, aço, isopor e
madeira. Em kraftliner, escalas de produção elevadas, redução de custo e estruturas de
comercialização e distribuição são determinantes no processo concorrencial. A qualidade do
produto e o maior valor agregado estão associados à resistência à tração e ao peso, sobretudo no
caso das caixas de papelão e sacos multifolhados, e a printabilidade, como a permitida pelo
revestimento com caulim (coated unbleached kraft). Nos demais produtos - envelopes e outros
produtos convertidos - há também espaço para diferenciação. No entanto, o principal vetor
competitivo na produção de embalagens tem sido a preocupação ambiental. Observa-se, de um
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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lado, movimento com vistas a diminuir o tamanho e o peso de embalagens como forma de reduzir
o lixo sólido; de outro, a ênfase no uso de material reciclável, dada a relação peso/volume
favorável. Em papelão ondulado, a possibilidade de elevada recuperação do material provoca a
estruturação de processos produtivos voltados para o uso da reciclagem, não só no miolo como
também na capa. No segmento, é exemplar o caso do Japão: em virtude da pouca disponibilidade
de fibra virgem e de local para depósito do lixo sólido, o nível de utilização de reciclados como
matéria-prima já supera 50%;
Papéis para fins sanitários (tissue): a concorrência está condicionada à relação
valor/volume relativamente baixa do produto, que leva à necessidade de localizar as plantas
industriais próximas ao mercado consumidor. Entretanto, isto não impediu um processo de
concentração de mercado. De fato, nos anos setenta e oitenta ocorreram fusões e aquisições que
permitiram o controle de mercados estratégicos. As empresas líderes, ademais, adotaram
estratégias de desenvolvimento e difusão de produtos de maior qualidade e valor agregado, de
modo a elevar sua rentabilidade por unidade de produto. Busca-se agregar aos produtos, em
especial aos lenços, guardanapos e toalhas, características de maciez e suavidade (que se somam
ao fator resistência), o que exige o domínio de tecnologias de mistura de fibras (curtas e longas) e
a redução de gramaturas;
Cartões e cartolinas: aqui, a globalização é mais difícil, as escalas de produção são
menores e máquinas antigas e de penúltima geração ainda são utilizadas na produção. As
empresas, em geral, procuram dedicar a esta atividade máquinas de menor capacidade de
produção, reservando as maiores para produtos classificáveis como commodities. A diferenciação
de produtos, embora haja alguma padronização, e a assistência técnica à indústria gráfica e aos
consumidores finais têm sido fatores de extrema relevância no sucesso competitivo das empresas
do segmento. É preciso adequar-se às especificações de espessura, resistência, cobertura,
printabilidade e ausência de pó. Em termos do comércio internacional, a região da América do
Norte encontra-se em relativo equilíbrio. A Europa concentra 40% da demanda de importação
mundial e é de interesse para o Brasil, apesar da forte concorrência. São os mercados das regiões
da África e da América Latina, contudo, que estão oferecendo oportunidades concretas ao
produtor brasileiro;
Papéis especiais: os fatores de sucesso competitivo determinantes neste caso são o
domínio e controle sobre a respectiva tecnologia e a qualidade e confiabilidade no cumprimento
rigoroso das especificações dos produtos. Nas especialidades de materiais filtrantes o
desenvolvimento tecnológico pode evoluir no sentido de produtos baseados num mix de fibras,
com eventual substituição de fibras celulósicas por resinas e materiais fibrosos plásticos. A
concentração da produção em poucos produtores que atendem ao consumo mundial nasce da
necessidade de desenvolver produtos e processos produtivos com tecnologias bem específicas e
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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de alto custo e não da busca de vantagens de escala. O Japão apresenta grande desenvolvimento
na tecnologia relativa a estas especialidades. O fluxo internacional de produtos é restrito mas
diversificado, pois é pequena a possibilidade de auto-suficiência em toda a gama de produtos.
A experiência internacional até aqui apresentada permite indicar, em princípio, as
condições necessárias à competitividade de qualquer empresa do setor e, portanto, também da
empresa brasileira: equipamentos atualizados, economias de escala, acesso a capitais de longo
prazo e produtos e processos compatíveis com rigorosos padrões de qualidade e de proteção ao
meio ambiente. Pode-se ainda detectar distintas estratégias empresariais decorrentes
principalmente da possibilidade de acesso ou não à base florestal farta e barata: a América do
Norte e os novos produtores da América do Sul e África centrados justamente nas vantagens da
base florestal; e os escandinavos e japoneses, de outro lado, direcionados para o avanço
tecnológico de equipamentos (interação com bens de capital e automação industrial), em
complemento, respectivamente, à base florestal (farta mas cara) e à reciclagem.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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2. DIAGNÓSTICO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
2.1. Breve Histórico da Evolução da Indústria10
A indústria de papel se desenvolve no Brasil no contexto de etapas sucessivas de
substituição de importações e integração produtiva. Surge ao final do século passado, associada às
necessidades de empresas gráficas, de tipografia e de artefatos de papel e papelão para embalagens
leves. Nas primeiras décadas do século XX diversas fábricas de papel são implantadas, com
produção baseada na importação de celulose e uso de trapos e aparas11. A partir de meados dos
anos vinte, e com a proteção tarifária ao produtor nacional, inicia-se a expansão das empresas no
setor. Entre 1933 e 1939, triplica a produção de papel e aumenta o consumo de celulose. Neste
período inicia-se a internalização da fabricação de celulose pelo processo sulfito, integrada à
produção do papel12.
A produção nacional de todos os tipos de papel continua a crescer nos anos quarenta. No
início desse período, é executado o primeiro projeto de fabricação de papel jornal integrada à
produção de celulose (fibra longa) e a uma base florestal própria (no Paraná). Este projeto,
realizado pela Klabin, é também a primeira iniciativa privada fortemente apoiada pelo Estado: o
governo Vargas oferece proteção contra importações e financiamento e cobertura cambial para a
compra das máquinas13. Na primeira metade dos anos cinqüenta, a Klabin inicia produção de
papelão ondulado em São Paulo e Rio de Janeiro. Persiste ainda a importação de celulose, em
particular a celulose sulfato alvejada (processo kraft) que passava a predominar.
A expansão do setor papeleiro no sentido de integrar a produção de celulose à sua
atividade é reforçada no período 1956-1962, quando se estabelece o Plano de Metas do governo
Kubitschek e, neste, a meta de auto-suficiência na produção de celulose. O governo passa então a
exercer ação estruturante e coordenadora do crescimento, com vistas a estimular o processo
nacional de substituição de importações. Nesse sentido, amplia a proteção tarifária à produção
local, cria mecanismos de financiamento ao investimento (BNDE) e amplia a oferta de infra-
estrutura em energia e transportes.
10 Este item resume análise realizada em BNDES (1990) e Mendonça Jorge (1992).
11 Neste período são instaladas 22 máquinas de papel e surgem, entre outras empresas, a Klabin e a
Melhoramentos.
12 Entre 1929 e 1940 são instaladas mais 33 máquinas. Observa-se o crescimento das empresas citadas acima e a
entrada da Cia Santista (então Cia Cubatão), Pirahy e Portella, nos anos vinte, e da Papel Simão e Matarazzo, na
década de trinta.
13 Entre 1941 e 1950 entram em operação 40 máquinas de papel. Nessa época, a Cia Leon Feffer (hoje Cia
Suzano), até então distribuidora de papéis, instala três máquinas de papel em São Paulo.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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O aumento na oferta interna de celulose fica basicamente a cargo do próprio setor
produtor de papel. Cresce a capacidade de produção de celulose sulfato, em paralelo ao aumento
na produção de papel, ampliando-se a compra de máquinas. A meta de substituição de
importações e auto-suficiência no consumo de celulose é exitosa14. O período marca a entrada de
importantes empresas de capital estrangeiro no setor de papel, celulose e florestas, a partir da
aquisição de empresas que já atuavam no setor15. Inicia-se o desenvolvimento tecnológico, a
viabilização econômica e a produção de celulose fibra curta tendo como insumo o eucalipto16.
Este processo de integração da celulose (fibra longa e curta) e de incorporações de empresas
configura um primeiro momento de concentração do mercado17.
O período do "milagre econômico" marca nova etapa de integração produtiva, em virtude
da questão do suprimento de madeira para as plantas industriais instaladas. Entre 1965 e 1967, o
governo atualiza o Código Florestal, cria o IBDF e regulamenta incentivos fiscais ao
reflorestamento para subsidiar a implantação e manutenção de florestas e assim estimular a
formação de maciços florestais. É neste período que nasce o IPEF - Instituto de Pesquisas
Florestais, iniciativa conjunta da ESALQ/USP e de produtores integrados de papel e de artefatos
de madeira18, financiado com recursos originados dos incentivos fiscais e voltado ao
desenvolvimento de pessoal qualificado e de núcleos de pesquisa silvicultural.
As escalas de produção de celulose ainda são reduzidas nos anos sessenta e não permitem
as economias originadas da adoção do processo contínuo e da recuperação de reagentes e
tratamento dos efluentes. A defasagem tecnológica das máquinas também configurava
impedimento a ganhos de produtividade. Diante desse quadro, o BNDE estabelece a posição de
condicionar o apoio financeiro a novos projetos à definição de escala mínima de produção
integrada de papel e celulose (com fechamento do ciclo produtivo e redução de efluentes) e ainda
ao suprimento próprio de madeira de no mínimo 50% da necessidade calculada (com ênfase para a
14 Entre as empresas do setor de papel que ampliam a produção de celulose nestes anos encontram-se Klabin, Cia
Suzano, Papel Simão e Facelpa (com apoio financeiro do BNDE, exceto no caso da Klabin). Cabe mencionar
também o projeto de produção de celulose da Panamericana Têxtil, financiado pelo BNDE, que proporcionou
sozinho cerca de um quarto do aumento obtido.
15 Ingressam no país nestes anos a Rigesa (controlada pela Westvaco), a Manville (hoje Igaras, controlada pela
Riverwood) e a Champion (que passa a controlar a Panamericana Têxtil). Ocorre também a entrada da Ripasa.
16 A Cia Suzano, a Papel Simão e a Champion são pioneiras no aproveitamento do eucalipto para produção de
celulose de fibra curta usada na fabricação de papéis de imprimir e escrever.
17 Em 1966-1967 existiam 155 produtores de papel no país, 13 dos quais responsáveis por 42,7% da capacidade
instalada (63 fabricantes representando outros 41,9% e 79 apenas os 15,4% restantes).
18 As empresas Cia Suzano, Champion, Rigesa, Duratex e Madeirit.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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expansão em papel de imprensa, do qual o país era importador)19. Em paralelo, instalam-se no
país fornecedores de equipamentos e serviços para operação industrial20.
Acelera-se o crescimento da base florestal própria das empresas, para garantir suprimento
em quantidade suficiente e preço favorável (e para cumprir o requisito do BNDE) e a capacidade
produtiva de papel e celulose (principalmente fibra curta), com projetos de maior escala
financiados pelo BNDE21. A concentração de mercado e a consolidação da posição das maiores
empresas atuantes no setor de papel é reforçada pelas diretrizes institucionais. A maior
possibilidade de uso dos mecanismos de apoio estatal, financiamento do BNDE à compra de
novas máquinas e vantagens fiscais no reflorestamento, é conferida às empresas líderes.
No período 1974-1979, o setor inicia um novo ciclo de expansão. As determinações
estratégicas do II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) e do I PNPC (Plano Nacional de
Papel e Celulose) definem a meta de alcançar produção correspondente ao auto-abastecimento do
país, com prioridade para o financiamento público e incentivo fiscal ao desenvolvimento
tecnológico, à expansão de capacidade e à formação de maciços florestais. No âmbito do
incentivo ao suprimento de madeira, cria-se a figura do distrito florestal22. Surge no IPT, em
1976, centro de pesquisa voltado para os problemas do setor e a EMBRAPA implanta o
Programa Nacional de Pesquisa Florestal, em 1978, com recursos de incentivos fiscais.
A política industrial e, em especial, a atuação do BNDE no financiamento de projetos
constituíram forte estímulo à execução de projetos de expansão e de melhoria da eficiência nas
unidades produtivas já em operação. O BNDE apoiou todos os grandes projetos de papel e
celulose realizados a partir deste período, tendo proporcionado a necessária capitalização às
empresas, que assim puderam concretizar seus planos de crescimento23. Este esforço dobra a
19 Escala mínima de 50 t/dia em papel (posteriormente ampliada para 200 t/dia para papel kraft e 300 t/dia para
papel de imprensa) e em celulose de 100 t/dia (ampliada depois para 1000 t/dia, com a possibilidade de ser
desdobrada em duas etapas).
20 No primeiro caso, a Voith e, no segundo, a finlandesa Jaakko Poyry e as nacionais A. Araújo e Montcalm.
21 O BNDE concede financiamentos para ampliação da capacidade de produção da Klabin (subsidiária
Catarinense), Cia Suzano (celulose branqueada e máquina para cartão), Papel Simão (nova máquina de papel),
Ripasa (celulose), Facelpa/Trombini, Melhoramentos, Santa Terezinha, Papirus, Toga, Gretisa e Copapa, entre
outras empresas.
22 Seriam áreas contínuas de tamanho superior a um mínimo pré estabelecido, impróprias à agricultura,
direcionáveis ao desenvolvimento florestal e próximas aos complexos industriais aos quais se destinariam. Na sua
efetivação, a área definida para cada distrito foi muito ampla, o que impediu um maior ordenamento da localização
espacial da base florestal. Realizam empreendimentos de reflorestamento empresas do setor de papel e celulose e de
madeira e outras tais como Votorantim, CVRD, Copene e Bamerindus.
23 Alguns exemplos de projetos financiados na segunda metade dos anos setenta: Klabin (maior unidade integrada
de celulose e papel da América Latina), Cia Suzano (imprimir e escrever de baixa gramatura e papéis couchê e
joint-venture com a Kimberly-Clark, da qual retirou-se em 1982), Ripasa (papel e celulose integrados), Simão (a
subsidiária Salto), Santa Terezinha e Celpag.
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produção interna e consolida definitivamente a liderança das maiores empresas privadas nacionais
e o uso da celulose de fibra curta na produção de papel.
Na primeira metade dos anos oitenta o país ingressa em período de crise econômica e a
retração do mercado interno restringe a expansão de capacidade produtiva no setor24. A crise da
dívida externa redobra o esforço de exportação e inicia-se a formação de tradings e escritórios de
venda e representação no exterior25. Com vistas a diminuir o consumo de energia importada, o
governo estimula a otimização da matriz energética, baseada em projetos de redução do consumo
de óleo combustível pelo aproveitamento dos recursos florestais e do vapor gerado no próprio
processo produtivo e da auto-geração de energia elétrica26.
A crise fiscal que se instala conduz à redução de incentivos fiscais, inclusive florestais.
Reduz-se também a atividade do IPT que passa a se ater ao trabalho laboratorial e de
monitoramento das inovações a nível internacional. Muitas empresas internalizam o esforço de
pesquisa e se transferem para as mesmas diversos técnicos do IPT e de outros institutos.
Nos anos oitenta se processa a desmobilização da participação e controle acionário do
BNDESPAR no setor. O leilão de privatização da Riocell em 1982, com a venda da participação
do BNDESPAR (de 70% do capital votante) à holding KIV - Klabin, Iochpe e Votorantim -
marca o ingresso da Klabin no setor de celulose de mercado e também a entrada no setor da
Iochpe e da Votorantim27. Em 1988, a Votorantim se insere no setor de papel com a compra da
Celpag (que passa a chamar-se Celpav) ao BNDESPAR28.
O II PNPC (Plano Nacional de Papel e Celulose) lança, em 1986, um novo ciclo de
investimentos, numa conjuntura de mercado internacional favorável e de maior capitalização das
empresas do setor29. Este ciclo é, de novo, fortemente apoiado por financiamento e aporte de
capital do BNDES, dada sua disponibilidade de recursos naquele momento (pela retração na
24 Neste momento, operavam 173 empresas no país (73 integradas e 100 não integradas). São realizados alguns
projetos importantes: a criação da Pisa, voltada para papel de imprensa (ainda importado em grandes quantidades)
e a expansão da Papel Piracicaba (que passa a ser controlada pela Papel Simão); e ao final do período, o aumento
da produção de papel de imprensa da Klabin e uma nova máquina para papel de imprimir na Suzano.
25 Atribui-se o aumento das exportações brasileiras à estratégia das empresas de vender quantidades pequenas de
forma pulverizada, inclusive em mercados de países menos desenvolvidos. Ver Mendonça Jorge e Soto (1991).
26 No âmbito do programa Conserve foram realizados financiamentos à Klabin, Cia Suzano, Ripasa, Papel Simão,
Santa Terezinha e Cia De Zorzi, além de recursos para melhoria do controle ambiental na Papel Simão.
27 Em 1984, a Riocell compra a participação do BNDES na Cia Papeleira do Sul (64,84% do capital). No mesmo
ano, a Papel Simão adquire 41% das ações preferenciais da Indústria de Papel Piracicaba. Ambas as empresas são
posteriormente incorporadas às respectivas controladoras.
28 Em 1989 ainda, os controladores da Papelok adquirem as ações da empresa em poder do BNDESPAR (31% de
capital votante e 25% do total) e este reduz ainda sua participação na Pisa. Sem contar a desmobilização na
Aracruz e a compra da Cia Celulose da Bahia pela Klabin.
29 Neste momento, existiam no país 434 máquinas produtoras de papel.
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demanda de recursos dos demais setores industriais). Centra-se no aumento de capacidade
produtiva com atualização de equipamentos e tratamento ambiental, já no contexto de uma
inserção internacional mais forte. Para atender padrões de qualidade e uniformidade nos produtos,
introduzem-se sistemas de controle de processo, em particular nas novas máquinas. A
preocupação ambiental conduz à redução da poluição na planta industrial e, em virtude da
tendência do mercado internacional, do teor de cloro nos produtos.
2.2. Caracterização Geral da Indústria
A indústria brasileira de papel e celulose atingiu faturamento de US$ 5,1 bilhões em 1992
(1,2% do PIB), com produção de papel de 4.921 mil toneladas e de celulose de 4.871 mil t. O
Brasil é o décimo primeiro maior produtor mundial de papel e atua em todos os segmentos de
papéis. A distribuição da produção por segmentos em 1992 foi a seguinte: papel de imprensa,
4,8%; papel de imprimir, 22,6%; papel de escrever, 5,8%; embalagens, 45,2%; cartões e
cartolinas, 9%; papéis para fins sanitários, 10,2%; e papéis especiais, 2,4%;. A produção deve
crescer 13% em papel e 7% em celulose em 1993, devido à conclusão de projetos e entrada em
funcionamento de novas máquinas.
Os produtos exportados são basicamente do tipo commodities, quais sejam, os papéis de
imprimir e escrever não-revestidos (offset, papéis cortados e formulários contínuos) e as
embalagens kraft (kraftliner). A especialização nestes produtos é alta: note-se que em 1991 quase
40% da produção se concentrou nos mesmos (18,3% em offset e 20,4% em kraftliner - capa de
primeira e segunda). Nos demais segmentos, as vendas internas predominam inteiramente.
As exportações atingiram 1.235 mil toneladas de papel em 1992 e proporcionaram uma
receita de quase US$ 1,5 bilhão. Entre 1990 e 1992, as exportações cresceram a uma taxa média
de cerca de 15% a.a. As vendas externas de commodities cresceram substancialmente, traduzindo
uma estratégia agressiva das empresas brasileiras, defrontadas com a queda interna do nível de
atividades e da venda de papéis no país, e o aumento da capacidade produtiva ocorrido no setor.
As exportações aumentaram 61% em papéis para imprimir e 26% em embalagens, ritmo bem
superior ao da expansão do mercado externo e que compensou as reduções nas vendas internas de
29% e 7,5%, respectivamente30.
30 A pesquisa de campo realizada pelo Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira constatou queda do
faturamento de 4% na comparação entre 1992 e os anos de 1987 a 1989, enquanto que as exportações cresceram
21% no mesmo intervalo de tempo. As empresas confirmam que suas estratégias de mercado contemplam tanto o
mercado interno quanto o externo. Os dados sinalizam ainda que o impacto da retração dos mercados foi muito
diferenciado: o grau de utilização da capacidade em geral ficou estável entre 1987-1989 e 1992 nas empresas em
que era médio ou alto, e caiu ainda mais nas empresas em que era menor.
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O setor papeleiro se caracteriza pela concentração produtiva e pela heterogeneidade
estrutural. No momento atual verifica-se uma redefinição estrutural do setor, em seus diversos
segmentos e mercado, que deve elevar o grau de concentração, dada a entrada em operação dos
grandes projetos gestados na segunda metade da década de oitenta. São as novas máquinas da
Bahia-Sul, Votorantim/Celpav, Klabin/Catarinense, Inpacel e Ripasa. São também aspectos desta
reestruturação, as aquisições da Papel Simão e da Conpel pela Votorantim; da Copa, em setembro
de 1990, e da Alcantara pela Klabin; e da Papelok pela Igaras. Acrescente-se ainda os
investimentos realizados pela Votorantim/Simão e Klabin/IKPC. Em 1992, o nível de utilização de
capacidade instalada caiu de 80,6% para 76,9%, em virtude do aumento de capacidade. O grau de
concentração da produção que era de 37,8% (CR4), 55,4% (CR8) e 62,7% (CR12) em 1990,
atingiu 38,6% (CR4), 59,4% (CR8)e 66,5% (CR12) em 199231.
O processo de concentração via escalas de produção ampliadas na indústria, que envolve
em especial os papéis de imprimir e escrever, ocorre em paralelo à estagnação de diversos
produtores em todos os segmentos. Nos anos oitenta, muitos praticamente não investiram,
sobretudo as empresas de menor rentabilidade, alcance regional e não-integradas com a produção
de celulose.
TABELA 5
HETEROGENEIDADE DOS PRODUTORES DE PAPEL
(1992)
Categoria Unidades Capacidade Capacidade Produtiva da Unidades com Capacidade
Produtivas Produtiva Média Maior Unidade (t/dia) Acima da Média
Imprensa 4 234 450 2
Imprimir e Escrever 30 169 960 8
Embalagem 97 86 1256 29
Sanitários 44 37 250 14
Cartões e Cartolinas 45 44 429 12
Especiais 21 28 97 9
Nota: A soma não corresponde ao número total de fábricas pois existem inúmeros casos em que se produz dois ou
mais tipos de produtos na mesma fábrica.
Fonte: ANFPC.
Em vista desta evolução, persistiu a grande heterogeneidade do setor, indicada pelos
dados da Tabela 5, seja pela dimensão média das unidades produtivas, nas seis categorias, seja
pela enorme disparidade existente - dentro da mesma categoria - entre a dimensão média e o
tamanho da maior unidade. Além disso, à exceção dos papéis de imprensa e especiais, todas as
demais categorias têm apenas cerca de 30% das unidades com capacidade acima da média.
31 Market-share dos maiores grupos produtores (quatro maiores, oito maiores, doze maiores). Neste cálculo e nos
demais que se seguem inclui-se sempre todas as empresas controladas pelos grupos: Klabin (KFPC, Catarinense,
Riocell, Ponsa e Alcântara), Cia Suzano (Cia Suzano, Agaprint e Bacraft), Votorantim (Celpav, Simão, Salto,
Pedras Brancas e Conpel), Ripasa (Ripasa, Limeira e Santista) e Igaras (Igaras e Papelok).
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A produção de papel está muito concentrada nos estados de São Paulo, Paraná e Santa
Catarina (85% do total em 1992). Pode-se destacar três grupos de produtores e respectivas regiões:
(a) os baseados no Paraná e Santa Catarina: especializados nos segmentos de embalagens
kraft e papel de imprensa e de imprimir de celulose fibra longa; em embalagens em geral exportam
kraftliner - capa - e dispõem de unidades convertedoras em outros estados. Entre os maiores
produtores estão Klabin, Igaras, Rigesa, Trombini (ex-Facelpa), Pisa e Inpacel e entre os médios -
produção superior a 36 mil t/ano ou 100 t/dia - Cocelpa, Cia Itajaí, Primo Tedesco, Madeireira
Miguel Forte e Ibema (exceções importantes em embalagens: Santo Amaro e Portela,
estabelecidos no Nordeste);
(b) os instalados em São Paulo: líderes nos segmentos de imprimir e escrever, cartões e
cartolina e especiais baseados no uso de celulose de fibra curta, e fortes também em papel kraft -
miolo; exportadores de offset e papel de escrever. Neste grupo incluem-se entre as maiores Cia
Suzano, Ripasa, Votorantim e Champion, e entre as médias Papirus, Ramenzoni, MD Nicolaus,
Matarazzo e Sguario (exceções: a Bahia Sul, em imprimir na Bahia, Santa Maria, em imprimir e
escrever no Paraná, Pirahí, em especiais no Rio de Janeiro, e Itapagé, em cartão no Maranhão);
(c) os produtores de papéis sanitários: de porte menor e que atendem basicamente ao
mercado interno, a maioria localizada em São Paulo (Klabin, Santa Terezinha, Manikraft,
Kimberly-Clark e Melhoramentos), mas menos concentrados geograficamente (a Klabin também
produz no Rio de Janeiro e Santa Catarina, e a Santa Terezinha em Minas Gerais).
As maiores empresas são todas verticalizadas até a base florestal. As estrangeiras,
altamente especializadas, operam em apenas um segmento; as nacionais têm atuação diversificada,
com pelo menos duas linhas de produtos de papel e penetrando agora também na área da celulose
de mercado32.
Para compreender a atual estruturação do setor de papel no Brasil é necessário uma
análise desagregada, que permita avaliar a situação por segmentos, regiões e empresas.
32 A holding IKPC (Indústrias Klabin de Papel e Celulose) faturou US$ 803 milhões em 1992, com exportações de
US$ 166 milhões, e controla dez empresas, entre elas Klabin Fabricadora de Papel e Celulose (KFPC), Papel e
Celulose Catarinense (71% do controle, com o restante dividido igualmente entre Northwest Bank e Bank of
Scottland), PONSA - Papelão Ondulado do Nordeste (78%, com 18% em poder do BNDESPAR), KIV (52% de
controle, sendo que a KIV controla 69% da Riocell), Empresa de Caolim, KFP Export e Klabin Forest Products
Antwerp. A COPA - Companhia de Papéis e a Klabin do Paraná Agro-Florestal foram incorporadas à Klabin
Fabricadora em 1992. A holding operacional Cia Suzano controla a Bahia Sul (35% do capital e CVRD/Florestas
Rio Doce participa com 29%, BNDESPAR com 26% e IFC com 3%) e a Transurbes (reflorestadora). Possui
participações importantes na indústria gráfica (Agaprint), na petroquímica - Polipropileno (33%), Politeno (20%),
Petroflex (20%), Alclor (14,5%) -, e em diversos outros setores - Hércules (18%), Arno (10%), Premesa (10%),
Buettner (5%) e Mangels (4%).
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No caso dos papéis de imprensa duas fábricas respondem quase que totalmente pela oferta
interna: a Klabin e a Pisa. Em 1992, a Klabin produziu 103 mil t e a Pisa 117 mil t. Ambas
localizam-se no Paraná e utilizam-se de celulose de fibra longa e processos mecânicos na
produção da pasta celulósica. A Pisa é um projeto associado de grandes empresas jornalísticas
com empresas ligadas a outras atividades, às quais se somou, em 1988, a neozelandesa Fletcher
Challenge, uma das maiores do segmento.
Quase a metade do consumo interno, contudo, ainda é atendida por produtores
externos33. As importações de papel de imprensa correspondem hoje a mais da metade da
importação de papel do país. Neste contexto, ambas as empresas examinam a possibilidade de
ampliar sua oferta interna. A Pisa tem projeto, anunciado há vários anos, de instalar nova máquina
com capacidade produtiva de até 250 mil t/ano de papel jornal.
A dificuldade central para o segmento é gerada pela alíquota zero para importação do
produto, estabelecida em função da garantia constitucional que assegura a eliminação de qualquer
obstáculo ao direito de liberdade de imprensa. Os preços internacionais funcionam como teto para
o preço das empresas nacionais, uma vez que a única proteção é o custo de transporte. No
contexto internacional atual de excesso de oferta e preços deprimidos, as empresas brasileiras
ficam a mercê da pressão e das práticas de dumping de produtores mundiais.
O segmento de papéis de imprimir e escrever é composto por dois grupos distintos de
empresas: as grandes produtoras, em geral integradas e especializadas em papéis commodities, e
as de médio e pequeno porte, integradas e não-integradas. O primeiro grupo registra uma posição
marcante no mercado internacional e lidera o mercado interno.
No grupo das grandes empresas integradas produtoras de papel destacam-se, por seus
volumes de produção e exportação, Champion, Cia Suzano, Votorantim e Ripasa34. A
participação conjunta das quatro no segmento foi de 80% no produto e 87% na exportação em 1992.
A Cia Suzano possui na produção de papéis de imprimir e escrever, duas máquinas com
largura em torno de 4 m, voltadas para a produção de offset, cortado em cutsize, e papel couchê,
revestido em outra máquina. No caso do cutsize, cerca de 60% das vendas direcionam-se ao
mercado externo, sobretudo Europa, América Latina e EUA. Algumas máquinas de papel foram
33 O país importou 172 mil t de papel em 1992. A PPI registra que são procedentes principalmente de Canadá e
Finlândia.
34 Neste tipo de papel a fixação da marca junto ao público é estratégia importante, sobretudo no mercado de cutsize
(no qual a Ripasa ingressou em 1993). As marcas de Champion, Cia Suzano, Votorantim e Ripasa são,
respectivamente, "Chamex", "Report", "Copimax" e "Ripax". A Xerox representa exceção pois embora não produza
papéis comercializa cerca de 700 mil t/ano de cutsize em todo o mundo.
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desativadas nos últimos anos e as máquinas menores que permanecem operando produzem vários
tipos de papéis de maior valor agregado35.
A americana Champion possui linha de produtos considerada da mais alta qualidade.
Produziu 326 mil t de papéis em 1992, sobretudo offset, e suas exportações representaram cerca
de um terço do faturamento. A empresa estuda projeto de nova fábrica, a ser instalada no Mato
Grosso do Sul, na segunda metade da década de noventa.
Neste segmento, a estrutura de mercado está sofrendo grandes alterações, a saber: (a) a
forte expansão da Votorantim, com investimentos na Celpav e a tomada de controle da Papel
Simão, em 1992; (b) o início de operações da Bahia Sul; (c) o início de operações da Inpacel; (d)
a ampliação da capacidade produtiva da Ripasa. De fato, pode-se afirmar que é neste segmento
que se centrou a expansão do setor de papel.
A capacidade produtiva da fábrica da Votorantim/Celpav, após o início de funcionamento
de sua segunda máquina de papel em 1992, é de 260 mil t/ano de celulose e de 280 mil t/ano de
papel. A produção se concentra em offset nas duas máquinas de cerca de 4,5 m de largura, sendo
uma especializada na produção de cutsize e a outra em bobinas e formulários contínuos36. Crucial
foi a compra da Papel Simão e de suas várias unidades industriais instaladas no Estado de São
Paulo37. A empresa ocupava a quinta posição entre os produtores brasileiros de papel, além de
estar incluída entre as maiores do setor a nível mundial. Os produtos de maior destaque da Simão
são os papéis de imprimir de alto valor agregado, entre os quais os revestidos e para fax. Pela
complementariedade nos segmentos de imprimir e escrever e especiais para imprimir e escrever, a
compra da Papel Simão definiu importante sinergia nos negócios que a corporação possui no setor
e pode potencializar sua ação global.
A empresa não dispunha, contudo, de planta produtiva de celulose atualizada e rentável, o
que gerou um programa de investimentos destinado a ampliar a produção do insumo38. O
programa deve reduzir substancialmente os custos e pode colocá-la numa faixa mais competitiva.
Quanto às máquinas de papel, a Votorantim/Simão adotou estratégia de progressiva desativação
das mais antigas ou de aproveitamento na produção de especialidades. A empresa conta apenas
com duas máquinas com largura acima de 4 m, ambas do início dos anos setenta.
35 A produção de celulose é feita em duas linhas, uma contínua e outra descontínua no cozinhamento, sendo 440
mil t/ano integradas com a produção de papel e 350 mil t/ano não-integradas.
36 Embora sejam máquinas de penúltima geração, os equipamentos informatizados permitem que a velocidade de
produção chegue a 1.200 m/min, um desempenho semelhante ao de máquinas da última geração.
37 São elas: Jacareí (190 mil t de celulose e 90 mil t de papel), Moji das Cruzes (18 mil t de papel), Piracicaba (96
mil t de papel), segundo a PPI e a ANFPC. Inclui-se também a controlada Salto.
38 Numa primeira fase, prevista para ser concluída em 1993, para 220 mil t/ano e numa segunda fase, para 350 mil
t/ano.
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O start up da Bahia Sul representa também uma grande mudança estrutural no setor. Esta
empresa concretiza o primeiro projeto associado de uma empresa integrada de papel (Cia Suzano)
com uma produtora de celulose de mercado (CVRD, controladora da Cenibra), construído
também com substancial financiamento e aporte de capital do BNDES. O investimento do projeto
alcançou ao seu final quase US$ 1,5 bilhão e prevê a produção de celulose em escala ótima (500
mil t/ano), com produção semi-integrada de 250 mil t/ano de papéis de imprimir e escrever, o que
permitirá à empresa atuar nos mercados de papel e de celulose. A máquina de papel possui largura
de 8 m e conta com dispositivos de controle digital (SDCD). O projeto, para além do desafio
imposto pelo seu próprio porte, encontra nestes seus primeiros momentos obstáculos no
aproveitamento de florestas plantadas originalmente para fins energéticos e na adversidade do
mercado internacional que não permite o retorno necessário para amortizar o investimento.
O desenvolvimento e entrada em operação do projeto Inpacel, controlado pelo
Bamerindus, é a terceira mudança importante observada, não apenas pelo porte do investimento
mas também pela linha de produto e de processo escolhida. Trata-se da primeira grande máquina a
produzir o papel LWC no país e se diferencia por utilizar processo produtivo mecânico e base
florestal de pinus. A produção foi iniciada em 1991 e atingiu 43 mil toneladas em 1992. A fábrica
possui capacidade nominal de 130 mil t de pasta de alto rendimento integrada com produção de
160 mil t de papel.
A Ripasa terminou a instalação de nova máquina de imprimir e escrever em 1991. Esta
máquina conta com capacidade de produção de até 140 mil t/ano e deverá ampliar a capacidade de
oferta anual da empresa para 258 mil t/ano de papéis de escrever (tipo bond), offset e outros tipos,
inclusive cartões. A primeira máquina, em operação desde 1978, apresenta 4,2 m de largura e
capacidade de 90 mil t/ano. Sua estratégia agressiva de exportações resultou numa grande
quantidade de clientes, espalhados por vários países. Em função disso, em 1993, cerca de 30% da
produção deve ser exportada. A Ripasa controla ainda as empresas Santista e Limeira, que
também produzem, em máquinas de menor porte, cartões e papéis de imprimir e escrever,
sobretudo monolúcido e tipo bond branco e a cores.
As consequências da forte expansão havida nos anos recentes e concluída agora não
podem, ainda, ser totalmente percebidas pois alguns projetos estão na fase da curva de
aprendizagem. É certo que a plena utilização desta capacidade pressupõe redobrado esforço
exportador e retomada do crescimento interno, a menos que haja redirecionamento das atuais
linhas de produtos das empresas ou exclusão de pequenos produtores.
No grupo dos produtores de papéis de imprimir e escrever de médio e pequeno porte a
situação é heterogênea. De um lado, atuam empresas líderes em outros segmentos, entre as quais
Klabin (Riocell e KFPC), Trombini, Pirahy e Pisa; de outro, produtores integrados como
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Matarazzo e Cia De Zorzi e não integrados como Santa Maria (maior produtor entre os médios),
Gordinho Braune, Gretisa, Tannuri e Filliperson.
No segmento de papéis para embalagem apresentam-se três tipos de produtos: papelão
ondulado (que representa 73,5% do total produzido em 1992), embalagens kraft (21% do total) e
embalagens leves (5,5%). Na década de oitenta define-se processo contínuo de direcionamento no
sentido de embalagens do tipo commodities, comercializáveis no mercado externo. As empresas
exportam kraftliner (capa em formato bobina). Entre 1981 e 1992, a produção de papelão
ondulado passa de 58,3% para 73,5% do total do segmento e a produção de capa de primeira vai
de 22,5% para 42,4% do total.
Os maiores fabricantes de embalagens são as nacionais Klabin e Trombini e as americanas
Igaras e Rigesa, verticalizados desde a floresta até a conversão em caixas de papelão ondulado39.
Em 1992, representaram 54% da produção de 2.224 mil t e 87% das exportações de 527 mil t do
segmento; em papelão ondulado, a concentração da produção é mais expressivo: 68% do total e
81% das capas. Estas empresas têm um mix de produção de linerboard para exportação e de
papel kraft para embalagem de papelão ondulado fabricada em unidades convertedoras próprias e
destinada ao mercado interno.
Klabin, Igaras e Rigesa apresentam sólidas bases florestais, localizadas respectivamente em
Telêmaco Borba (PR), Otacílio Costa (SC) e Três Barras (SC). Nestas áreas realizam pesquisa &
desenvolvimento de genética e manejo florestal, principalmente de espécies de pinus40. Mas parte
de seu suprimento provém da compra de madeira ou arrendamento de terra de terceiros.
As empresas líderes têm produção integrada de celulose e papel, próxima às respectivas
bases florestais41. Dispõem de máquinas relativamente modernas operando em linerboard. A
Klabin possui três máquinas, uma delas de última geração (largura de 6,1 m), além de outras duas
mais antigas (larguras de 4,5 m e 2,8 m). A Igaras também têm três máquinas instaladas, sendo a
maior responsável pela produção da capa exportada (largura de 4,45 m, com controle de
processo) e as outras mais estreitas (2,4 m e 2,45 m, uma delas com controle de processo). A
Rigesa tem uma máquina de penúltima geração (4,4 m de largura).
O kraftliner possui qualidade e custo que permite participar do mercado mundial de
exportação. A Europa é o maior mercado (Alemanha, Holanda, Bélgica, Inglaterra, Itália, França)
39 A Igaras é controlada pela Riverwood International, que entrou no País em 1958, com a compra da Papéis Itajaí.
A Westvaco instalou-se em 1953, quando comprou a Rigesa (fundada em 1942). É especializada na produção de
papéis finos, embalagens de papelão ondulado, embalagens flexíveis e insumos químicos.
40 A Klabin desenvolve o eucalipto em sua fazenda e a Igaras iniciou seu contato com a fibra curta a partir da
compra da Papelok, localizada no Estado de São Paulo.
41 A capacidade para produzir celulose da Klabin é de cerca de 600 mil t/ano e da Igaras de 245 mil t/ano, ambas
com recuperação de efluentes (circuito químico fechado).
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e o produtor brasileiro concorre com americanos, canadenses e escandinavos. Mercados
crescentemente importantes são a América Latina (Argentina) e a Ásia (Paquistão)42.
A Klabin dispõe da Klabin Forest Products para cuidar de suas vendas e distribuição, com
escritório e depósito localizados em Antuérpia, Bélgica. A Igaras e a Rigesa exportam por
encomenda de agentes do grupo controlador e por representantes. A Igaras, uma das maiores
unidades de papel pertencente à sua controladora, tem relativa autonomia quanto à
comercialização.
No mercado interno, a produção atende à indústria de papelão ondulado e à indústria
gráfica, que fornecem as embalagens para outros setores. A demanda em quantidade e qualidade
dos produtos para mercado interno aumenta em função da necessidade e grau de exigência da
indústria que os consome. Nos anos oitenta, por exemplo, as embalagens de papelão substituiram
com enorme ganho de qualidade as caixas de madeira no transporte de alimentos. Ocorre assim
também a exportação indireta das embalagens, via exportação de produtos nelas acondicionados,
em particular pelos setores de fumo, laranja, pescados, frango e bebidas.
Na produção de papelão ondulado, máquinas onduladeiras transformam capa e miolo kraft
em caixas, acessórios e chapas de papelão. A produção de miolo de Klabin, Igaras e Rigesa está
localizada no Estado de São Paulo e da Trombini no Paraná, Rio Grande do Sul e Minas
Gerais43. No caso do miolo, os principais insumos são a celulose e o papel reciclável. São
recorrentes os problemas de fornecimento de aparas de papel, tais como flutuação de preços e
irregularidade de oferta.
Mais da metade da tonelagem expedida de papelão ondulado em 1992 foi produzida por
Klabin, Trombini Embalagens, Igaras e Rigesa. A Klabin concluiu a implantação de moderna e
automatizada unidade em Jundiaí e possui agora seis plantas convertedoras de papelão ondulado
(São Paulo - duas, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pernambuco) com capa (do
Paraná) e miolo (produzido internamente ou comprado no mercado). A nova unidade tem
capacidade de produzir 100 mil t/ano e correspondeu a um investimento de US$ 40 milhões (50%
financiado pelo BNDES). A Igaras opera três unidades de conversão: Jundiaí, Itajaí e São Miguel
Paulista (da Papelok), que recebem capa de Otacílio Costa e miolo de Angatuba ou do mercado.
A Rigesa faz a conversão em Valinhos, onde produz miolo, Blumenau e Manaus.
Em papelão ondulado também se apresentam inúmeros médios produtores que atendem a
mercados regionais ou fornecem miolo às empresas líderes. Respondem por 32% do total
42 A Igaras tem planos de direcionar sua unidade Papelok também para a produção de capa, com vistas a ampliar
as exportações para o Mercosul.
43 A Klabin também em Pernambuco, na Ponsa. A Igaras numa máquina de 2,4 m largura localizada em
Angatuba, na Papelok. A Rigesa em uma máquina de 2,4 m da fábrica de Valinhos.
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produzido de papelão (cerca de 340 mil t/ano de miolo e 190 mil de capa em 1992). Entre os
produtores e convertedores de papelão incluem-se Primo Tedesco, São Roberto, Rio Pardo (ex-
Matarazzo), Cibrapel, Minerva, Paraibuna, Ramenzoni, Iguaçu, São Carlos, Sefran, Fernandez,
Mairiporã, IPESSA, Santana e Pirassununga. Entre os demais, Alcici, Sguario, Portela, Águas
Negras, Imporpel, N.S. Aparecida e Miguel Forte (que também produz cartão).
Em papel kraft a produção manteve-se estagnada no correr da década de oitenta, em linha
com a economia brasileira, na medida em que é voltada ao mercado interno de embalagens de
cimento, fertilizantes e alimentos (farinha e açúcar) e envelopes pardos. Os maiores produtoras
são: no Sul, a líder Klabin/Catarinense, Trombini, Igaras, Iguaçu, Cocelpa, Irani e Senges; no
Nordeste, Santo Amaro, Portela e Votorantim/Conpel; em São Paulo, KFPC, Santa Therezinha e
IPAR.
Nos demais tipos de embalagens leves, vários fabricantes de pequeno porte produzem
artigos de papel cuja demanda está caindo rapidamente na medida em que seu uso vai sendo
substituído (por exemplo, manilha, manilhinha, tecido e fósforo). Cabe destacar apenas a
produção de impermeáveis da MD Nicolaus, de papel strong da Votorantim/Pedras Brancas e de
estiva da Ramenzoni e Belvisi.
Os papéis para fins sanitários são produtos para uso pessoal. Sua principal característica,
como foi visto, é a baixa relação valor agregado por volume de produção, o que implica menor
rentabilidade por unidade. A estrutura produtiva é mais pulverizada do que em outros segmentos,
existindo cerca de 40 fabricantes. No entanto, apenas cinco empresas respondem por mais da
metade da produção: Klabin Copa-Fabricadora (21% da produção de 1992), Santa Therezinha
(11%), Manikraft (8%), Melhoramentos (7%) e a americana Kimberly-Clark (6% e top em
qualidade).
Estas empresas lideram sobretudo em papéis de maior valor agregado e, portanto, maior
margem de contribuição unitária: higiênicos de alta qualidade (folha simples/dupla), lenços e
guardanapos (quase 90% de participação). Observa-se movimento de concentração da
participação no mercado, dado que as empresas com projetos de expansão concluídos ou em
andamento são justamente as líderes de mercado Klabin e Santa Therezinha.
A Klabin inaugurou uma máquina de tissue em abril de 1993 na unidade Catarinense,
localizada em Correia Pinto (SC). O investimento alcançou US$ 220 milhões, aplicados US$ 50
milhões na produção de celulose e US$ 170 milhões na nova máquina44. A produção anual de
sanitários deverá atingir 60 mil t, com acréscimo de 30 mil t/ano na capacidade de conversão. A
44 Outros US$ 60 milhões serão aplicados na reforma da caldeira e no novo equipamento de secagem de celulose
para elevar a produção de desta de 160 mil para 210 mil t/ano até 1995 (o tipo fluff, utilizado na fabricação de
fraldas e absorventes descartáveis passará de 20 mil para 50 mil t/ano).
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produção que ultrapassar a capacidade de conversão será exportada na forma de jumb roll ou
remetida para unidades de conversão da empresa. O mercado externo mais propício deverá ser o
Mercosul por sua proximidade. Mas por serem produtos considerados de alta qualidade podem
ser direcionados para o mercado europeu, um dos mais exigentes em descartáveis.
A Santa Therezinha, segunda maior em tissue, pode produzir 70 mil t/ano nas fábricas de
Bragança Paulista (48 mil t/ano em máquinas de largura de cerca de 3 m providas recentemente de
tecnologia de controle de processo) e Governador Valadares (comprada e reformada em 1984,
produz 22 mil t/ano em três máquinas). A empresa já encomendou nova máquina à Beloit, para
produzir 36 mil t/ano em Bragança, num investimento estimado em US$ 30 milhões45.
Às empresas de porte médio e pequeno resta atender mercados regionais, onde o custo do
frete é um diferencial, com produtos menos nobres (basicamente higiênicos boa qualidade). Entre
estas empresas estão: J. Curi, Mili, Canoinhas, Popasa, Astória, CVG e Três Portos instaladas no
Sul; Copapa, Cotia & Kochi, Martenkil, Safeca e Serrana no Sudeste; Cia Suzano/Bacraft,
Facepa, Ipelsa e Anapel no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
No segmento de cartão e cartolina existem três tipos de produtos: cartão para uso em
embalagens (72% do total produzido em 1992), cartolinas e cartões brancos e coloridos para
impressos e copos (14%) e papelão e polpa moldada (14%).
A produção de cartão para embalagem (duplex, triplex e cartão branco), a principal, é
realizada por 10 fabricantes nacionais. A expansão depende fundamentalmente do crescimento do
mercado interno e, em menor medida, do alargamento do uso do produto46. No atendimento ao
mercado interno existe grande interação com a indústria gráfica (cerca de mil empresas) e diversos
setores da indústria de bens de consumo (alimentícia, higiene e limpeza, calçados, fumo,
farmacêutica). A venda é realizada diretamente para grandes clientes e por distribuição secundária
para os pequenos.
A exportação é mais difícil, tanto pelo custo do frete quanto pela necessidade de interação
com o setor gráfico. As melhores possibilidades para penetração no mercado externo parecem
estar na Europa, que apresenta alta exigência de qualidade, em particular nos produtos de maior
valor agregado (cartão branco), e nos países do Mercosul, onde a qualidade brasileira supera os
padrões locais.
45 Este investimento deverá contar com financiamento da IFC (30%) e do BNDES (50% - com carta de intenção
aprovada e projeto em estudo para ser aprovado no segundo semestre de 1993), e o restante com recursos próprios
(20%).
46 Uma forte evidência disto é o comportamento da produção nos anos 1985 e 1987, quando o mercado interno
esteve aquecido. Sobretudo, no caso dos cartões triplex, cuja produção em 1986 é mais do que o dobro da produção
de 1991.
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Cia Suzano e Ripasa lideram em produção e vendas de cartão para embalagem, com
participação de 56% em 1992. Estas empresas dominam a fabricação de cartão triplex e branco,
enquanto as demais atuam no duplex. A Cia Suzano, com qualidade de padrão internacional, é
líder em cartão para embalagem e produz algum volume de cartão para outros usos. Sua máquina
é integrada com celulose, embora disponha também de uma central de aparas47. Atende
basicamente ao mercado interno, em especial as grandes indústrias de bens de consumo, que
representam volume de compra maior e mais estável. Pensa ampliar o mercado em produtos de
maior valor agregado e margem de contribuição (triplex e branco)48.
A Ripasa produz todos os tipos de cartão para embalagem, inclusive os mais nobres,
enquanto que as controladas Limeira e Santista centram-se, respectivamente, na produção de
cartão duplex e de cartão branco e cores para outros fins. Cabe destacar ainda a Papirus, que
produz cerca de 11% do cartão fabricado no País, inclusive uma pequena quantidade de triplex.
Não é uma fábrica integrada e seu consumo de material fibroso é fortemente baseado no uso de
recicláveis (respondem por 70% das necessidades). No campo da reciclagem a empresa apresenta
alto padrão de desenvolvimento tecnológico. A Papirus originou-se de uma cisão da Ramenzoni,
outra empresa que atua no subsegmento. Ambas produzem também cartões branco e a cores.
Em cartão para embalagem operam ainda as empresas Ibema, Miguel Forte e Bonet no sul
do país, além da Itapagé no Maranhão e da Cia De Zorzi em São Paulo. Sua atuação em geral se
baseia na interação com gráficas e indústrias de bens de consumo de menor porte, em produtos de
menor exigência de qualidade. Nos cartões para impressos e copos, além da produção já
destacada, inclui-se a produção de Votorantim (Simão e Salto) e MD Nicolaus.
No segmento de papéis especiais os principais entraves são a reduzida escala de produção
nos diversos mercados e a dificuldade no acesso à tecnologia. A pequena escala reduz a
rentabilidade e inviabiliza economicamente a diversificação para novos produtos, inclusive
indicados pelo cliente nacional. O problema de escala leva a se fabricar vários produtos numa
mesma máquina, e dificulta a automação da produção49. Ademais, inviabiliza a produção interna
de insumos químicos e fibras celulósicas especiais e não-celulósicas, gerando necessidade de
importação. Esta, por sua vez, não ocorre a preços vantajosos pelo próprio volume de compra50.
A produção de papéis e papelões especiais exige intenso esforço de pesquisa &
desenvolvimento tecnológico e, apesar do trabalho realizado no país, a inovação interna ainda é
47 Com capacidade para produzir 100 t/dia de fibras recicladas.
48 Um exemplo é a produção de caixas de cigarro tipo flip top de cartão, que substitui crescentemente a embalagem
softpack.
49 Em alguns ítens a produção é cerca de 7 a 8 vezes proporcionalmente menor do que dos concorrentes.
50 Os custos das celuloses variam entre US$ 350 e US$ 1500 por t, dependendo de sua qualidade.
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pequena. Nos casos em que o controle da empresa não pertence a empresa estrangeira, a
estratégia usual é consolidar parcerias com os detentores externos da tecnologia para viabilizar o
acesso da firma à mesma. Neste caso, a empresa investe menos em geração de tecnologia e mais
em treinamento de recursos humanos para assimilá-la51.
Os contratos de licenciamento em papéis especiais, além do pagamento de royalties
calculados sobre o faturamento líquido, incluem restrições do tipo autorização prévia do detentor
da tecnologia para venda em determinados mercados. Configura-se, portanto, um outro tipo de
limite para a comercialização, de modo que se apresenta, em geral, a necessidade de raciocinar em
termos dos mercados regionais da América Latina, África e Oriente Médio. Nestas regiões o país
está bem consolidado.
O segmento pode ser subdividido em papéis especiais de imprimir e escrever e para fins
industriais específicos. No primeiro caso, incluem-se os papéis térmicos (papel fax), de segurança
(papel moeda, cheque, passaporte, passagem aérea, bilhete de loteria e metrô) e decorativos
(vergê, colorido, heliográfico). No segundo caso, os maiores clientes são as indústrias de fumo
(papel para cigarro e ponteiras), automóveis (revestimentos internos de portas, filtros de ar, juntas
e separador de bateria), calçados (betumados), material elétrico (juntas) e laminados (base para
fórmica). Votorantim, Pirahy, Klabin, Adamas e MD Nicolaus respondem por quase 70% da
produção e 80% da exportação destes produtos.
Em especiais de imprimir e escrever a principal produtora é a Votorantim. Na unidade
Salto (SP), produz papéis de imprimir e escrever de segurança, decorativos (vergê, color plus) e
ainda base para laminados. A empresa conta com tecnologia da Arjomari Wiggins Appleton, que
participa com 30% da composição acionária.
A Votorantim/Simão, na unidade Piracicaba (SP), produz papel fax e autocopiativo em
máquina de penúltima geração (largura 4,2 m) otimizada para chegar a resultados de última
geração. Em Mogi das Cruzes (SP) produz papéis heliográfico, base para carbono e cópias sem
carbono, em duas máquinas pequenas. Ainda na época dos antigos controladores, a Simão fez
opção pela parceria tecnológica com a japonesa Kanzaki Paper52. A transferência de tecnologia
em produtos e processos, formalizada em 1989 e com produção iniciada em 1991, permite acesso
à inovação tecnológica futura. O contrato tem cláusula de restrição de mercado, que impede a
51 A Adamas, por exemplo, desenvolve programa interno de qualidade, dispõe de equipe de desenvolvimento de
equipamentos e adotou uma estratégia criativa de colaboração de profissionais aposentados de companhias do
exterior.
52 A pesquisa & desenvolvimento de tecnologia neste produto, para que se tenha uma idéia, exige da Kanzaki um
nível de investimentos anuais de US$ 50 milhões e desde o início da produção brasileira já houve 4 mudanças de
tecnologia.
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exportação sem autorização para onde exista fábrica do fornecedor de tecnologia - Japão, Alemanha e
EUA - embora esta seja possível desde que haja comprovação de rentabilidade superior.
A Pirahy atende totalmente à demanda interna de papel para cigarro de primeira linha,
componente básico do principal produto da controladora Souza Cruz53. A produção total é de
cerca de 50 mil t/ano (60% em papel para cigarro e 40% em imprimir e escrever especiais ou não)
e se distribui por várias máquinas, a mais nova com 4,4 m de largura. A Pirahy, não integrada,
adquire celulose da Aracruz54 e desenvolve tecnologia própria55.
A MD Nicolaus produz especiais de imprimir & escrever e para a indústria de automóveis
(filtrantes), além dos crepados, impermeáveis e cartões citados acima. Em 1993, inaugura nova
máquina de papel. A Klabin fornece linha de produtos especiais similar, sendo a principal
produtora de base para laminados.
A Adamas atua de forma exclusiva e diversificada em papéis e papelões especiais. É não-
integrada à produção de celulose e única fornecedora interna para indústria de calçados e material
elétrico, além de atender ao setor automobilístico (montadoras e revendedores de autopeças). A
empresa apresenta escala em insumos para a indústria de calçados e compete no mercado de
filtros como exportadora.
O número total de empregos propiciados em 1992 pelo setor fabricante de pastas, papel e
artefatos foi de 74.612, cerca de 4,4% inferior ao verificado no ano anterior. O volume de salários
pagos naquele ano representou 11,4% do faturamento (FOB fábrica sem IPI) no mesmo período.
Os encargos sociais corresponderam a 8,7% da mesma referência.
As relações entre os trabalhadores e as empresas podem ser caracterizadas como normais, não
se registrando um quadro permanente de conflitos acirrados. O Acordo Coletivo 92/93 firmado pelo
Sindicato Patronal da Indústria no Estado de São Paulo e os Sindicatos de "Papeleiros"de São Paulo,
Limeira, Itapeva, Penápolis, Serrana e Ribeirão Preto e de Lençóis Paulista e Bauru (filiados à Força
Sindical) consagra cláusulas que exprimem uma mediana capacidade de negociação dos trabalhadores.
Algumas dessas conquistas são destacadas na seqüência:
a) foi obtido aumento real de salários, a título de produtividade, de 3,21%;
b) o piso salarial acordado, de Cr$ 1.636.901,20 (out/92) correspondia a cerca de 3,1
salários mínimos vigente na mesma época;
53 Este tipo de verticalização não é comum na Europa e EUA, e pode ser encontrado apenas na Índia, além do
Brasil.
54 Que conta também com participação acionária de sua controladora (Souza Cruz/British American Tobacco).
55 Seu Centro de Pesquisa congrega 200 técnicos e fornece tecnologia para as demais fábricas de cigarro da
controladora.
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c) foi concedido um abono especial, em dinheiro, igual a 110 horas do salário nominal e
limitado ao valor de dois pisos salariais;
d) jornada de trabalho estabelecida em 40 horas semanais;
e) consagra o direito à indenização por aposentadoria, em valores proporcionais ao tempo
de serviço prestado à empresa, podendo chegar ao máximo de oito salários nominais para
empregados com mais de 25 anos e um dia de serviços contínuos prestados à empresa;
f) são concedidas facilidades à empregada gestante, com redução da jornada de trabalho de
30 minutos por dia a partir do sexto mês de gravidez, com licença maternidade de 120 dias e com
estabilidade no emprego, provisória, assegurada desde a confirmação da gravidez até cinco meses
após o parto;
g) as empresas concedem às empregadas reembolso de despesas com creche, até o limite
de 25% do valor do piso dalarial da categoria vigente no mês anterior, para os filhos de até 24
meses de idade.
2.3. Avaliação da Competitividade Atual da Indústria: Oportunidades e Obstáculos
A busca da modernização e da competitividade está presente na ação e preocupação do
setor. Esta estratégia tem sido impulsionada basicamente pela evolução dos mercados. Na
pesquisa de campo, os principais aspectos apontados como motivadores das estratégias foram as
exigências dos consumidores, a retração do mercado interno, a abertura externa, a globalização
dos mercados e a formação do Mercosul. A ação estatal em termos de diretrizes de política
industrial e de regulamentação pública é considerada de menor influência (excetuando-se, é óbvio,
a que promove a abertura externa).
A abertura ao exterior, apesar de sua profundidade, não determinou a penetração de
produtos importados56. O setor, já bastante competitivo, obteve ganhos de produtividade no
período recente através de programas de modernização. Ademais, reduziu suas margens de
rentabilidade e aproximou os preços internos aos praticados no exterior, mesmo na circunstância
de preços internos liberados. Em outras palavras, preservou-se a participação no mercado interno
a custa da menor lucratividade das empresas do setor57. Ademais, o mercado interno e externo
56 A abertura externa estabeleceu redução de tarifas de 55% para cerca de 9% entre 1986 e outubro de 1992.
Estudo da ANPFC indica que este nível tarifário apenas equaliza o diferencial entre impostos embutidos nos
produtos internos e provenientes do exterior. Isto sem contar a tarifa zero para papéis de imprensa. A conclusão que
se retira deste cálculo é que o produtor nacional não dispõe atualmente de qualquer proteção.
57 Na pesquisa de campo constatou-se que a média ponderada da margem bruta de lucro das empresas da amostra
reduziu-se de 41% no período 1987-1989 para 28% em 1992. A queda nas margens de lucro atingiu 80% das
empresas.
58
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recessivo e a redução de preços são também obstáculos à formação do capital necessário ao
investimento modernizador58.
As estratégias de modernização estão hoje limitadas pela falta de recursos e de
rentabilidade do setor, problema agravado pelo fato de que o investimento em novos
equipamentos envolve alta relação capital/produto, em decorrência das escalas de produção,
descontinuidades técnicas e longo prazo de maturação dos projetos. No contexto de tais
limitações, opera-se a busca, de caráter defensivo, de um maior poder de competição.
Para efeito de análise, pode-se agrupar as estratégias atuais em cinco grupos de ações:
redefinição dos mercados e produtos, otimização de processo com melhoria de qualidade e
capacitação tecnológica, desenvolvimento gerencial, adequação do suprimento e custo de insumos
e redefinição de engenharias financeiras. Trata-se a seguir de cada uma delas.
(a) redefinição dos produtos e mercados da empresa: frente a um estreitamento de
demanda totalmente fora de seu controle, as empresas aprofundaram estratégias de
reespecialização de mercados. Busca-se aumentar a participação no mercado externo e em
produtos de maior valor agregado, em particular com um relacionamento comercial sólido e
estável com os clientes59.
Este movimento, em princípio, supõe as estratégias mundiais observadas: (i) modernização
e aumento de escala no parque produtivo; (ii) integração para a frente (inclusive em celulose e
papel, com respectiva redução no ritmo de crescimento da oferta de celulose de mercado); (iii)
reestruturação patrimonial com fusões e aquisições de empresas.
As estratégias de redefinição de mercados, ademais, tomam por base a capacitação
produtiva da empresa, derivada basicamente das características, desenvolvimento tecnológico e
localização das máquinas instaladas e da base florestal, além do aprendizado e inserção no
comércio exterior. Ao mesmo tempo, orientam as decisões de ampliar e modernizar este parque
produtivo.
A característica do setor de operar com elevadas escalas de produção levou as empresas
líderes a buscarem os mercados externos nos anos oitenta, na medida em que o mercado interno
se retraía e não propiciava a absorção da produção gerada nas atuais escalas de produção. Esta
estratégia conduziu essas empresas a formas mais agressivas de atuação comercial no exterior e
para a identificação de produtos de formato e características padronizados.
58 Em algumas empresas a situação é agravada por uma estrutura de endividamento que supera a capacidade de
geração de caixa.
59 Aspecto apontado com unanimidade nas entrevistas.
59
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A presença nos mercados externos deve permanecer crescente. Na última década, as
empresas líderes alcançaram expressiva capacitação gerencial e de comercialização, inclusive
formando tradings e estrutura própria de vendas ou então acordos comerciais com clientes ou
representantes exclusivos. A formação do Mercosul também estimula a exportação, não só porque
a indústria de papel nacional é a mais competitiva da região mas também pelo fato de que está
baseada em Estados próximos, o que reduz o custo do transporte.
Ainda é possível avançar muito na comercialização externa, em termos de inserção nos
principais mercados (através de marketing institucional e prospecção de mercados), produto
(qualidade e confiabilidade), logística de distribuição (regularidade e rapidez de prazos no
suprimento e redução de custo) e financiamento.
A distância dos mercados e a infra-estrutura portuária no Brasil encarecem o custo do
transporte e ampliam o tempo entre pedido e entrega, em virtude da reduzida frequência dos
navios, da demora no seu atracamento e no embarque de cargas, e do descuido no manuseio
dessas cargas. Os custo portuário é alto não só pelas taxas pagas diretamente como também por
aquelas pagas pelos armadores e embutidas no preço do frete60. Este é efetivamente um gargalo
para a expansão do comércio exterior (exportações e importações de insumos).
Uma inserção de mercado distinta porém não excludente em relação à anterior é a de
diversificação das linhas de produto. A estratégia de enobrecimento de produtos busca gerar
maior rentabilidade por produto e conduz a itens não padronizados e de maior valor agregado.
Entre outros aspectos, envolve melhoria dos produtos atuais e verticalização com maior avanço
até a área de serviços e tratamento gráfico de embalagens. Em papéis especiais, as escalas de
produção e o necessário conhecimento do produto e de suas características faz com que existam
no mercado mundial poucos produtores especializados em cada produto.
(b) capacitação tecnológica, otimização e melhoria de qualidade do processo e dos
produtos: visa elevar a eficiência e produtividade (e portanto reduzir o custo) e aumentar a
qualidade. Esta é a base da preservação dos mercados e da rentabilidade da empresa, na medida
em que a pesquisa de campo apontou que, no mercado externo e no interno, os parâmetros
principais de concorrência são o preço e a conformidade às especificações técnicas e da clientela.
É possível afirmar que a qualidade do papel brasileiro em média é compatível com o
padrão exigido pelos clientes internos e externos. Mesmo assim, os dados obtidos na pesquisa de
campo indicam que apenas 23% dos produtos são considerados de "última geração", sendo que
7,7% dos produtos têm entre 6 e 10 anos de idade e 92,3% têm idade superior a 10 anos.
60 No caso específico do porto de Santos, o mais caro do país, o custo do embarque supera em muito o de portos de
outros países (o custo por tonelada de papel em 1992 era de US$ 32 contra US$ 15 no porto de Antuérpia, Bélgica).
60
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A dinâmica atual da cadeia produtiva que une os setores de madeira, celulose, papel,
artefatos de papel e papelão ondulado, gráficas e editoras, e chega ao cliente final, prioriza a busca
da qualidade e da produtividade. Ao longo da cadeia, cresce a interação entre usuários e
produtores e a parceria e assistência tecnológica e das equipes de comercialização.
O processo produtivo tem evoluído enormemente nos últimos anos no parque gráfico.
Nesse setor, um esforço de modernização que gera grande avanço produtivo pode se concretizar
com investimento de alguns milhões de dólares, custo atual de máquinas gráficas das mais
sofisticadas, que realizam impressão simultânea em 7 ou 8 cores, mais verniz, numa velocidade de
12 a 15 mil folhas/hora61. A melhoria do processo produtivo, na rotografia e flexografia, no
desenvolvimento da printabilidade e rigidez dos produtos, torna indispensável dispor de produtos
de papel com rigorosas especificações técnicas. No setor produtor de caixas de papelão e
artefatos de papelão ondulado, a introdução de máquinas onduladeiras mais modernas provoca o
mesmo efeito.
As indústrias de alimentos e de produtos para higiene e limpeza apresentam uma demanda
individual que supera por vezes a produção de cartão de muitas empresas papeleiras. Estas
indústrias voltam a investir no lançamento de produtos e na renovação das linhas atuais, após
período de relativa estabilidade, dado o aumento da concorrência dos importados e do nível de
exigência do consumidor interno. Ademais, o padrão passa a corresponder também ao rigoroso
nível de qualidade externo, na medida em que estas se dirigem ao mercado externo. Nestes
segmentos a difusão de produtos é facilitada pelo fato de que muitas das indústrias são
estrangeiras e podem incorporar rapidamente padrões e inovações lançadas pela matrizes.
Esta movimentação ocorre nos diversos mercados de embalagens. Pode vulnerabilizar ou
gerar oportunidades para os fabricantes de papel e cartão para embalagens. Os produtores de
papel buscam acompanhar a evolução dos processos, equipamentos e padrões de consumo. Estes
ampliam o relacionamento de parceria e assistência técnica no sentido de atender às crescentes
exigências de qualidade de produto. De outro lado, sua lógica passa a ser atender ao cliente do
cliente, a indústria de consumo, e assim buscar o alargamento do mercado por novos usos para o
produto.
Mais da metade das empresas que atenderam à pesquisa de campo informam, quanto ao
principal produto comercializado, redução de custos de produção e preços e melhora no seu
conteúdo tecnológico. Estas ainda haverão de melhorar em qualidade e custos para se manterem
competitivas em relação aos concorrentes internos e externos de embalagens de papel e de outros
materiais. A diversos médios e pequenos produtores falta qualidade para atender aos requisitos
61 Para que se tenha uma idéia deste avanço tecnológico, máquinas consideradas modernas há apenas cinco anos
atrás dispunham de impressão a 4 cores em velocidade de 5 mil folhas por hora.
61
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derivados do uso de máquinas mais modernas nos setores gráfico, editorial e de artigos de papelão
ondulado.
O desenvolvimento de produtos evolui e pode ainda evoluir por diversos caminhos. No
tocante ao enobrecimento de produtos, conduz à laminação de fibras com materiais tais como
polietileno e alumínio; ao aumento do uso de cargas minerais, aditivos e produtos químicos62; ao
revestimento do papel, inclusive em embalagens kraft e cartões; e à maior printabilidade dos
papéis compostos de fibra curta.
A busca da redução de custos envolve o uso de materiais fibrosos menos nobres, como o
papel usado e a pasta de alto rendimento (para LWC), cujo consumo tende a crescer mais rápido
do que o de fibra virgem obtida por processo químico (que é mais intensa em capital tanto na
atividade florestal quanto na industrial); e a mistura de fibras celulósicas - mecânicas-químicas e
curtas-longas - na composição do papel, o que atenuaria as restrições ao florestamento
homogêneo.
A melhoria de qualidade não envolve apenas o produto. A tendência mundial é de reforço
ao poder competitivo derivado das características do processo. Todas as empresas pesquisadas
afirmaram estar adotando estratégias de modernização dos atuais processos, seja nos
equipamentos e instalações, na gestão da qualidade ou na organização da produção.
A capacitação tecnológica da empresa brasileira no processo produtivo industrial parece
ser menor do que a observada nos principais produtores mundiais de papel. De um lado, parece
intensificar-se a importância de processos mais eficientes, que não agridam o meio ambiente e que
busquem o aproveitamento de recicláveis. De outro lado, cresce a relevância das etapas pós-
produção (relacionamento comercial, logística de distribuição e assistência técnica).
As empresas líderes brasileiras parecem estar relativamente adequadas aos parâmetros de
controle ambiental. No entanto, existe um grande desnível entre as empresas em relação a este
aspecto, e muitas empresas de porte médio e pequeno, sobretudo as instaladas em grandes
concentrações urbanas, necessitam de equipamentos para se enquadrar às diretrizes de tratamento
de efluentes e proteção ao ambiente emanadas das autoridades e do mercado.
O estreitamento da relação comercial com os clientes/usuários supõe uma necessária
evolução nas etapas pós-produção, mesmo no caso das maiores empresas. Naquelas pesquisadas
pelo Estudo da Competitividade, houve grande redução no prazo médio de entrega (de 23 para 14
dias entre 1987-1989 e 1992). Mas o dispêndio com assistência técnica é irrisório, equivalente a
62 O caulim, um carga mineral, pode chegar a 30% do peso de certos papéis (por exemplo, papel para revistas).
62
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somente 0,1% das vendas de 1992, e o controle e a garantia de qualidade podem ser
aperfeiçoados.
A competitividade dos equipamentos principais, sobretudo da máquina de papel, pode ser
avaliada por sua largura e velocidade (a idade da máquina é um fator relativo na medida em que
esta pode ser reformada). A automação aumenta a velocidade do processo, melhora a qualidade
do produto (com a leitura digital controlam-se as especificações de umidade, gramatura e
espessura e reduzem-se perdas) e gera maior produção e enormes ganhos de eficiência63.
A grande heterogeneidade do setor se traduz, mais do que em qualquer outro aspecto, nas
diferenças de atualização tecnológica dos equipamentos. Existe enorme variedade de máquinas de
papel no país. Até 1991, estavam em operação quase todas as máquinas instaladas desde o
começo do século e ainda hoje uma grande quantidade de máquinas de gerações mais antigas. Os
questionários da pesquisa empírica indicam que cerca 8% dos equipamentos principais instalados
nas empresas têm idade inferior a 5 anos, 23% têm idade entre 6 e 10 anos e 69% idade acima de
20 anos.
O parque produtivo em funcionamento no país mostra uma atualização relativa frente ao
padrão médio de idade e largura dos produtores escandinavos ou canadenses. De acordo com a
avaliação das próprias empresas obtida na pesquisa de campo, 11,5% dos equipamentos principais
(de maior produção e/ou mais modernos) de cada empresa podem ser considerados de última
geração, 57,7% de penúltima e 30,8% de gerações anteriores. O setor de papel é um dos mais
desenvolvidos na automação industrial, dentre os de processo produtivo contínuo. Mesmo assim,
a difusão do controle microeletrônico de processo é reduzida: atinge, em média, apenas 4,6% das
operações realizadas na linha de produção das empresas pesquisadas.
A situação apresentada acima mostra a necessidade de atualização dos equipamentos.
Estão presentes no país empresas líderes mundiais em bens de capital para papel, que fornecem
máquinas de qualidade e tecnologia satisfatórias. Os preços são ainda superiores aos externos e
aos das suas vendas para o exterior, apesar da queda gerada pela recessão prolongada64.
No bojo dos planos de otimização e redefinição produtiva do período recente, as grandes
empresas desativaram máquinas antigas e instalaram novas máquinas, com escala de produção
63 Por exemplo, a Santa Therezinha tem projeto de introduzir melhorias em máquina de papel de São Paulo pelo
qual espera aumentar sua eficiência e capacidade de produção em 15% a 20%.
64 As empresas de bens de capital justificam a diferença pelo excessivo grau de verticalização existente no Brasil, o
que seria atenuado nas encomendas de exportação pela possibilidade de importação de componentes através do
regime de drawback. Na pesquisa de campo do Estudo da Competitividade, o principal aspecto apontado como
desvantagem competiviva do equipamento é o seu preço. Contudo, também surgem nas respostas referências a
problemas de conteúdo tecnológico e assistência técnica dos equipamentos.
63
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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competitiva65. Mas ao lado de máquinas de última e penúltima geração, encontram-se outras de
menor escala e produtividade (largura em geral inferior a 2,5 m), concentradas em médios e
pequenos produtores. Muitas estão em condições precárias e sem viabilidade econômica para
sofrerem reforma e fatalmente serão sucateadas em virtude da concorrência externa e interna. A
substituição destas máquinas, antes que seu sucateamento corresponda à própria eliminação da
empresa, é aspecto estrutural crucial para a evolução do setor66.
O desafio competitivo para o conjunto das empresas líderes, portanto, está na manutenção
de sua atualização tecnológica e na melhora em aspectos específicos do processo produtivo, que
conduzirá inexoravelmente à certificação pela ISO-9000 e ao enquadramento aos parâmetros de
algum tipo de ecolabelling.
Diversas empresas instaladas no país se encontram em processo de certificação pela ISO-
9000 e quase todas têm, em princípio, a meta de se cadastrar a médio prazo67. No momento estão
sendo debatidos os parâmetros para o lançamento do certificado ambiental brasileiro, pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas68. Cabe acelerar a definição deste certificado, sem o
qual a posição brasileira no mercado europeu ficará muito vulnerável. Para tanto é urgente que os
setores de papel, celulose e madeira, governo, entidades de proteção ao meio ambiente e institutos
de pesquisa vinculados àqueles setores ampliem as ações conjuntas destinadas a chegar a esta
definição.
Para as menores empresas, o desafio inclui a capacitação produtiva via atualização de
equipamentos que permita ganhos de escala e produção de produtos de melhor qualidade e maior
valor agregado. Necessitam de investimentos em máquinas de papel, em equipamentos de controle
ambiental e na qualidade do insumo fibroso, o que a lucratividade atual parece não permitir.
O quadro acima sinaliza um risco potencial existente para o setor, mormente quando se
considera que os padrões de exigência dos clientes estão mais rigorosos. A indústria de papel deve
65 As máquinas instaladas no país com largura superior a 5 m se encontram na Bahia Sul, Klabin (M6 e M7),
Ripasa, Inpacel.
66 Características de máquinas de papel desativadas nos últimos três anos por grandes empresas (Klabin e Cia
Suzano): largura estreita, inferior a 2,3 m, e inviabilidade estrutural para reforma e melhoria na capacidade de
secagem, pela idade e por características de falta de porão e acionamento único.
67 Na pesquisa de campo, 64% das empresas informaram estar estudando ou no início do processo de implantação,
enquanto que 20% já estão em fase adiantada ou completaram a implantação. Neste último grupo estão, a
Champion (recebeu o certificado de operação em conformidade com as normas da ISO-9002, dado pelo Bureau
Veritas Qualit International (BVQI), de Londres, e pelo Raad Voor Corporation, da Holanda), Igaras (em Otacílio
Costa e Jundiaí), Rigesa e Klabin. A Champion já havia recebido o certificado Eco-Check, conferido às empresas
que demonstrem interesse pela preservação do meio ambiente.
68 O primeiro workshop do projeto, organizado pela ABNT, ocorreu em 24/06/93 e contou com a participação de
organizações oficiais e não governamentais de defesa do consumidor e do meio ambiente.
64
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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assim reforçar sua trajetória de melhoria de processo e produtos nos próximos anos, com vistas a
melhor atender às novas especificações definidas por clientes e fornecedores.
O caminho da melhoria da qualidade de produtos e processos envolve esforço de
desenvolvimento tecnológico dos insumos e da atividade de pesquisa florestal, dos equipamentos
e das estruturas de atendimento ao cliente. O esforço de pesquisa e desenvolvimento no setor é
reduzido. A pesquisa de campo mostra uma posição pouco confortável no tocante ao dispêndio
nesta área, que atingiu apenas 0,5% do faturamento em 1992. As respostas, ademais, indicaram
uma situação relativamente inalterada se comparada à performance do período 1987-198969.
O avanço tecnológico do setor é um tanto centrado nas atividades florestais. Tal evolução
permitiu consolidar o uso do eucalipto como fibra para celulose e garantiu a aceitação da
qualidade e das especificações técnicas da fibra curta no mercado mundial. Contudo, a vantagem
competitiva alcançada nesse item ao longo de décadas pode reduzir-se dada a difusão de
tecnologia observada, de modo que é preciso criar mecanismos que garantam o avanço da
tecnologia e da produtividade na base florestal e no consumo de fibras e de energia.
(c) desenvolvimento gerencial e de recursos humanos: as empresas têm caminhado no
sentido da profissionalização dos quadros dirigentes e estruturas adminstrativas, da mudança de
diversos conceitos de gestão e sistemas decisórios e da cultura do pessoal, com vistas a obter um
modelo de administração mais participativo70. No período recente, ganharam força também
mudanças no relacionamento com fornecedores e clientes. Uma alteração importante é a que
substitui a cultura da receita (faturamento) pela cultura da rentabilidade (custos e lucros).
A inserção externa e a modernização industrial de produtos e processos exigem maior
qualificação de recursos humanos, incluindo gerência e técnicos. A pesquisa realizada aponta para
o fato de que a educação básica universal e o treinamento de mão-de-obra são hoje fatores
determinantes de competividade. A qualificação nas atividades de comércio exterior, na
capacidade de comunicação em língua estrangeira e no conhecimento de automação industrial são
cruciais. Na planta industrial parte dos trabalhadores está se tornando inadequada para atender às
novas demandas. Atualmente, as empresas mais dinâmicas já exigem o primeiro grau completo
como nível mínimo de escolaridade.
Na pesquisa de campo do projeto, no entanto, constatou-se que as atividades de
treinamento ainda têm sido pouco priorizadas pelo setor. Em 1992, os dispêndios médios com
69 Dentre as empresas que responderam a pesquisa de campo, 50% apresentam gasto zero em P&D e 39% gasto
zero em assistência técnica. Entre as exceções está a Cia Suzano, que conta com 30 engenheiros pesquisadores,
vários deles vindos do IPT e de outros centros de pesquisa.
70 Houve redução dos níveis hierárquicos em 25% das empresas que responderam ao questionário da pesquisa
empírica.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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treinamento das empresas da amostra alcançaram apenas 0,45% do respectivo faturamento71. É
preciso que o setor reforce sua atenção ao aspecto treinamento, de modo a valorizar e requalificar
sua mão-de-obra. A perspectiva expressa nas respostas da amostra é de que estes dispêndios
cresçam no período 1993-1998.
(d) adequação do suprimento e redução de custos de insumos: a estrutura de custos
diretos de produção e de transporte indica a relevância dos insumos florestais, energéticos e
químicos, mão-de-obra e transportes. Apresenta-se no Gráfico 2 um exemplo de estrutura de
custo estimada para uma empresa do setor:
GRÁFICO 2
CUSTO DE PRODUÇÃO DE PAPEL - BRASIL
fibras
21,5 %
químicos
8,0 %
energia
17,5 %
salários
23,0 %
equipamentos
13,5 %
outros
16,5 %
Fonte: Empresa do Setor de Papel.
(d.1) insumos fibrosos: o baixo custo da madeira tem sido fator de competitividade das
empresas brasileiras, dada a vantagem relativa em termos de rendimento das florestas pela duração
do ciclo de crescimento72.
Os produtores de papel verticalizados no suprimento de insumos florestais (celulose e
madeira) arcam com a imobilização de capital em terras, em atividades de implantação e
manutenção de áreas florestais e em pesquisa e desenvolvimento neste campo, em particular no
manejo florestal e eficiência nutricional adequados às condições específicas de solo e clima de
cada área florestal. O avanço tecnológico é contínuo e consistente em termos de base florestal, e
inclui o melhoramento genético da qualidade das sementes, a clonagem e a multiplicação
vegetativa.
71 A parcela de empresas da amostra que gasta menos do que a baixa média indicada acima foi de 65%, sendo que
15% do total das empresas não apresenta gastos com treinamento. O dispêndio apontado para o triênio 1987-1989
foi menor ainda: somente 0,27% do faturamento.
72 Ver Martins Soares et alii (1990), Suchek (1990) e BNDES (1986).
66
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Os produtores não-integrados, por sua vez, compram celulose no mercado. O
fornecimento interno de celulose é realizado de forma normal e regular, e atingiu cerca de 500 mil
t/ano em 1992. Mesmo na importação de celuloses especiais não há dificuldade de
fornecimento73.
A utilização de reciclados exige incentivo tanto na coleta e uso de papéis recicláveis
quanto na demanda de produtos compatíveis com o insumo (por exemplo, menos alvos). É
limitada pelo grande volume de exportações de papel mas favorecida pela concentração urbana e
industrial do país. Abarca hoje a maior parte dos produtores nacionais (115 de um total de 180).
No entanto, sua presença é mais intensa nos ramos de atuação de pequenas e médias empresas,
concentrando-se em embalagens kraft (miolo), artefatos de cartão (camada de suporte) e
sanitários. As taxas de utilização de aparas na produção por segmentos de papel atestam este fato:
dada a taxa global de 27%, atingem 40% no segmento de embalagens, 50% em sanitários, 27%
em cartões e cartolinas e apenas 2% em papéis de imprensa, imprimir e escrever e 6% em papéis
especiais74.
Estima-se que o consumo de aparas alcance hoje entre 1,5 e 1,8 milhão de toneladas/ano
no Brasil (750 mil t/ano em São Paulo). Esta demanda é atendida por aparistas que recolhem o
material proveniente de rejeitos de fábricas de papel e gráficas, de grandes empresas de outros
setores e também de catadores avulsos. O fornecimento do insumo é problematizado pela
flutuação de preços e irregularidade de oferta causados pelo processo de coleta, tratamento e
distribuição do material75. Tais flutuações geram movimentos de importação, inclusive em regime
de drawback, que representam quase 10% do total consumido de papel usado76;
(d.2) insumos químicos e minerais: o setor demanda mais de 40 produtos químicos e
minerais (entre eles, soda caústica, cal, antiespumantes, dispersantes, bactericidas, oxigênio, óxido
de cálcio, peróxido de hidrogênio, hidróxido de sódio, sulfato de sódio, sulfato de alumínio,
caulim, amido, cola e corantes) e constatou-se dificuldade no suprimento de alguns itens.
Atualmente, os problemas são bem menores em virtude do excesso de oferta mundial e da
abertura do mercado, que aumentaram o poder competitivo do produto importado (até de
matrizes de indústrias aqui instaladas) e conduziram à redução dos preços e melhoria de qualidade
do produto nacional;
73 A Arauco chilena inclusive montou escritório de representação no país. O custo, porém, é maior, pois as
empresas são obrigadas a fazer carta de crédito irrevogável pelo risco de inadimplência conferido ao país.
74 Informações recentes fornecidas por um estudo da ANPFC.
75 Em aparas brancas, o preço oscila entre US$ 100 e US$ 400; no período recente está em torno de US$ 350; em
aparas de cartolina está em cerca de US$ 185 e em aparas de papelão, alcança US$ 50.
76 O preço externo é de cerca de US$ 400 para aparas brancas e de US$ 150 para aparas de papelão.
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(d.3) insumos energéticos: a atividade de produção de papel é muito intensiva no consumo
de energia em suas diversas formas (madeira, eletricidade, vapor, carvão óleo combustível e gás
natural). No caso dos produtores integrados existe a possibilidade de utilização de vapor, madeira
(lenha ou restos da picagem) e carvão vegetal para alimentar as caldeiras e muitas vezes a
presença de recursos hídricos para autogeração de eletricidade. O que falta é comprado no
mercado77.
A qualidade do fornecimento de energia elétrica foi criticada pela ocorrência de variações
de tensão que levam à parada de máquinas, prejudicando o processo produtivo. O reduzido
volume de investimento realizado hoje pelo setor elétrico traz a perspectiva de gargalos futuros de
oferta. E o preço, antes subsidiado, deve aumentar em função da necessidade de investimento e
remuneração do capital das companhias geradoras e distribuidoras. Ademais, a instabilidade e as
mudanças bruscas dos preços relativos da energia elétrica, óleo combustível e gás natural, sob
controle do governo, prejudicam o planejamento da matriz de uso de energia no longo prazo78.
Este conjunto de aspectos leva a considerar a questão energética como uma ameaça potencial à
competitividade do setor;
(d.4) mão-de-obra: o setor de papel é intensivo em capital e está reduzindo o nível de
emprego. A maior parte do emprego se concentra nas atividades florestais. A pesquisa de campo
apontou retração de 13% no emprego direto na produção industrial entre 1987-1989 e 1992 e a
expectativa é de que a redução continue. O número de trabalhadores empregados atualmente no
setor equivale ao de 1982. Mesmo assim, o custo do trabalho tem certo peso, apesar do valor
recebido pelo assalariado ser baixo, em virtude do ônus dos encargos sociais. A perspectiva de
redução do emprego não tende a reduzir o custo da mão-de-obra pois deverá crescer o gasto com
programas de treinamento e requalificação de empregados;
(d.5) infra-estrutura de transportes (portos, ferrovias e rodovias): é muito importante, pois
a logística de localização da planta industrial requer a conjugação otimizada do seu abastecimento
e do escoamento de seus produtos, ou seja, a proximidade da base florestal, das regiões urbanas
(consumidores, mão-de-obra, fornecedores de aparas e gráficas) e do acesso ao mercado exterior
(sobretudo portos). Em qualquer caso, há deslocamento considerável de insumos e de produtos,
seja madeira, pastas, aparas, papel ou artefatos.
77 A Klabin, no Paraná, tem 40% de seu consumo provido com energia térmica, 30% com hidroeletricidade
autogerada e 30% com eletricidade comprada. A Igaras realiza investimento na caldeira termo geradora de
recuperação, para produzir energia (12 Mwh) que, somada à geração hidrelétrica própria (3 Mwh), permitirá
atender 75% de suas necessidades. O projeto é financiado pelo FINAME, numa operação antes inacessível à
empresa por ser de capital estrangeiro. A Santa Therezinha estuda investimento na cogeração de energia com gás.
78 Por exemplo, o preço de energia elétrica foi subsidiado no início dos anos oitenta pela EGTD, o que definiu a
compra de equipamentos compatíveis, mas depois o subsídio foi retirado, apesar de garantias contratuais de
fornecimento, o que alterou o investimento do ponto de vista econômico.
68
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(e) redefinição de engenharia financeira: as características atuais do investimento na
estrutura produtiva industrial de papel exigem complexa e diversificada engenharia financeira para
obter recursos, em condições adequadas de custo e prazos de carência e amortização.
O funding das empresas instaladas no Brasil, de acordo com a pesquisa de campo,
depende em cerca de 80% dos casos de aporte de capital próprio, gerado na própria operação ou
em outras atividades do grupo empresarial (sobretudo no caso das empresas estrangeiras). Inclui
também o crédito em mais de 40% das situações, o qual pode ser público (BNDES e fundos do
BNDESPAR), privado interno (debêntures) ou externo (eurobônus, commercial papers e
empréstimos do IFC). As alternativas da busca do mercado de ações e de formação de
associações (tipo joint-ventures) foram citadas um número bem menor de vezes.
O custo e a disponibilidade de capital de longo prazo é o grande limite às estratégias de
modernização e expansão das empresas brasileiras, e uma de suas principais desvantagens frente
aos concorrentes externos79. A inserção no mercado de crédito internacional e o apoio financeiro
do BNDES são componentes cruciais para a realização de qualquer projeto.
O financiamento de longo prazo do BNDES, principal fundo de fomento existente no país,
foi um dos sustentáculos da expansão do setor no passado recente. Hoje, do ponto de vista dos
empresários, é limitado na quantidade de recursos e mais caro do que o do concorrente externo.
De fato, cristalizou-se uma involução nas condições de financiamento nos anos oitenta80.
A busca de acesso às fontes de financiamento de longo prazo existentes no mercado
internacional é crescente. A captação de recursos externos via eurobônus tem sido realizada por
bancos e por empresas de porte (muitas estatais), bom perfil financeiro e capacidade de
exportação81. Este mercado é de custo instável e sofre a disputa de outros países latino-
americanos82. No caso do Brasil, as emissões têm sido de valor entre US$ 50 e US$ 60 milhões e
baseadas em alta rentabilidade para o aplicador83 e menor prazo ou pelo menos em cláusulas de
repactuação84. No setor, a captação de recursos tem se dirigido para o lançamento de eurobônus,
79 A Bahia Sul é exemplo que reforça a idéia de que as condições de financiamento tornam muito difíceis os
projetos de expansão das empresas.
80 Um financiamento a custo de TR mais 12% a.a. representou em 1992, por exemplo, variação cambial mais 19%
a.a., quando no exterior obtém-se 7% a.a..
81 Em 1992 foram lançados no exterior US$ 3,8 bilhões de bônus.
82 Só o México lançou US$ 2,751 bilhões no último trimestre de 1992.
83 Juros de 9% a 11% e de até 15% a.a., contra 7% a 9% a.a. para empresas de outros países, inclusive latino-
americanas.
84 Dois anos e meio ou cinco anos repactuado na metade, contra cinco anos.
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como no caso da Klabin, Cia. Vale do Rio Doce, Riocell e Ripasa, e também para o lançamemto
de ADRs no mercado americano de capitais, caso de Votorantim/Simão e Aracruz85.
85 A Klabin, por exemplo, realizou emissão de US$ 60 milhões de eurobônus com prazo de 5 anos, juros de 11%
a.a. e rentabilidade de 11,2% a.a..
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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
3.1. Políticas de Reestruturação Setorial
As políticas de reestruturação setorial para a indústria de papel envolvem intensificar a
redefinição de produtos e mercados, o apoio à comercialização e distribuição externa e adequação
do suprimento de insumos, o que exige acima de tudo o reforço financeiro das empresas.
(a) fortalecimento financeiro das empresas: na medida em que os recursos de crédito são
limitados, as empresas da indústria de papel devem atrair o aporte financeiro de novos acionistas,
inclusive investidores institucionais (também via securitização de exportações, ainda não utilizada
no setor), grupos nacionais de outros setores (inclusive financeiro) e até grupos estrangeiros do
setor (em eventuais associações e parcerias). Cabe considerar ainda, com particular atenção, a
integração ou a parceria com produtores locais de celulose para mercado.
É preciso, de outro lado, fortalecer a estrutura financeira das médias empresas, fator
essencial na alavancagem do investimento e de processos de atualização tecnológica. Inicialmente,
cabe apoiar iniciativas de reestruturação, fusão e demais formas de associação entre empresas que
consolidem capacidades financeiras mais elevadas.
(b) redefinição de produtos e mercados: ampliar escalas em produtos do tipo commodities
e/ou especializar em produtos de maior valor agregado, em estratégias vinculadas ao
desenvolvimento tecnológico e à otimizaçåo do processo nas empresas;
Pode-se pensar na integração para a frente, alcançando as etapas de conversão e
distribuição, inclusive implantando plantas industriais no exterior e associando-se com produtores
locais. Tendo em vista que o mercado internacional não deverá apresentar grande dinamismo,
cabe consolidar presença externa ainda mais agressiva pela estrutura de comercialização86 e de
marketing no mercado internacional, com vistas a criar novas oportunidades de negócios e
ampliar as existentes. Uma presença mais forte no Mercosul, em particular na Argentina, deve ser
também analisada, pois parece existir a ameaça de penetração de produtores chilenos neste
mercado.
Na distribuição externa, o setor papeleiro estabeleceu recentemente com a CODESP um
contrato de prestação de serviços no porto de Santos que deverá reduzir seus custos de
exportação, principalmente de offset. Devem ser estimuladas outras iniciativas de ação conjunta,
86 Além da constituição de tradings, filiais no exterior, com escritórios de venda e representação no local e
depósitos para estoque de produtos acabados.
71
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articuladas por interesses comuns e complementariedade das respectivas linhas de produtos. Entre
elas a articulação entre os exportadores de kraftliner que se utilizam dos portos do sul do país
(Paranaguá, São Francisco do Sul e Itajaí) no sentido do planejamento do embarque de cargas
nesses portos para facilitar a frequência de navios.
Para as grandes empresas, especializadas em produtos do tipo commodities de exportação
(offset e kraftliner), o desafio competitivo frequentemente corresponde a ampliar escalas de
produção (integradas à celulose), substituir máquinas de papel antigas e reespecializar-se em
produtos de maior valor agregado. A continuidade na linha de produtos padronizados exige
alcançar escalas mundiais de produção e para tanto será preciso incorporar máquinas de última
geração (6m a 8m) ou manter atualizadas as de penúltima geração (no mínimo 4m).
A estratégia de concentração em commodities é de certa forma reativa, pois incorpora
progresso técnico mas busca a vantagem efetiva na escala de produção. Uma alternativa
complementar, e que relativiza o risco da concentração em commodities, é direcionar a produção
das máquinas menores (abaixo de 4 m) e/ou de plantas não-integradas para linhas cuja escala do
mercado interno ainda seja reduzida, mas que apresentem maior valor agregado e conteúdo
tecnológico. A ausência de escala e a menor largura das máquinas podem ser compensadas, na
produção de especialidades, pela flexibilidade para atender pedidos em pequenos lotes de
produção (definidos por variações de fibras, fillers, cores e tratamento superficial no papel) e pela
possibilidade de upgrading das máquinas87.
Apesar do menor investimento em relação às grandes plantas, é provável que a produção
de especialidades se fixe em empresas que disponham de requisitos seletivos de tecnologia e
qualidade. Tais requisitos, em geral, limitam os pretendentes a participar desses mercados às
empresas de médio e grande porte, estrangeiras ou nacionais aptas a realizar acordos externos ou
inovação tecnológica interna. Na verdade, para algumas empresas, esta seria uma forma de
explorar a excessiva heterogeneidade dos equipamentos instalados.
Para as empresas de porte médio e pequeno apresenta-se o desafio competitivo da
atualização de equipamentos e da mudança na demanda de suas linhas de produtos. A produção
limitada quase que exclusivamente para o mercado interno, em geral com alcance regional e em
produtos de menor valor agregado, é marcante.
A modernização e a especialização em nichos de produtos mais promissores são urgentes,
e postergá-las pode colocar em risco a própria sobrevivência das empresas. Apesar da consciência
87 Entre os nichos de especialidades mencionem-se os papéis especiais de imprimir e escrever (revestidos e
coloridos, tipo vergê, canson, para fax, para impressoras lasers e coloridas) e para diversos usos (cigarro, base para
carbono, papel foto, etc.); papéis de imprimir de qualidade superior para revistas (couchê), tissue descartáveis de
alta qualidade e cartões para embalagem triplex e branco.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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a respeito, a reduzida geração própria de recursos tem impedido as iniciativas. Para superar a
eventual não integração com a base florestal, pode-se enfatizar ainda o uso da reciclagem, que
permite menor imobilização de capital.
Em importantes produtos de vocação regional mas de demanda estável podem ser
consolidadas parcerias tecnológicas e acordos de fornecimento com clientes, com vistas a obter
produtos de melhor qualidade88. Seria interessante a concentração e fusão de médios produtores,
evitando-se o alijamento daqueles impactados pela obsolescência tecnológica dos equipamentos.
Muitos produtos de papel ingressaram numa curva descendente de ciclo de vida, dada sua
substituição por artigos baseados em outros tipos de papéis ou material. Para as empresas afetadas
por este movimento, a inércia fatalmente será o caminho para a saída do mercado89.
(c) adequação do suprimento de matérias-primas e insumos:
(c.1) fibra reciclada: o aumento do uso de reciclados é uma tendência que se observa
atualmente no exterior e que provavelmente se repetirá no país, não só pela eventual exigência do
importador estrangeiro, mas por propiciar redução de desperdício (num país empobrecido pela
crise) e do lixo sólido, e garantir também menor necessidade de fibra virgem e também de
imobilização de capital (comparado à produção de celulose e florestas).
Apesar do país exportar proporção relevante de sua produção e de que diversos produtos
de papel são inaproveitáveis devido à sua mistura com outros materiais, muito ainda se pode fazer
no país em termos de aumento da oferta de reciclados, sobretudo pela oportunidade oferecida pela
concentração urbana do país. Neste sentido, seria importante estimular o aumento da oferta de
reciclados pela participação popular na sua coleta. O volume gerado pelas famílias é estimado em
500 mil t/ano e é precariamente coletado por catadores autônomos.
A criação de uma cultura de reciclagem deve fazer parte dos programas escolares básicos
e de campanhas institucionais em mídia tendo como temas o desperdício e reciclagem. A curto
prazo, no entanto, a oferta poderia ser estimulada com esquemas de reembolso financeiro ou
campanhas de retorno comunitário (por exemplo, ter a renda revertida a hospitais) ao cidadão
disposto a coletar seu lixo de forma seletiva. Em outros materiais, tais como o metal, observam-se
inúmeros exemplos de coleta via instalação de postos de troca em supermercados ou hospitais. Na
coleta de papel, Curitiba é exemplo: o papel usado é trocado por vale-transporte e cadernos. Tais
88 Pode-se citar as embalagens kraft (sacos e miolo), papéis de imprimir e escrever (bouffant e apergaminhado),
higiênicos de boa qualidade e cartolinas. Em embalagens de papelão ondulado, com os convertedores; em cartão e
cartolina e papéis de imprimir, com os produtores de artefatos, o setor gráfico e o produtor final.
89 Pode-se citar os papéis para embalagem tipo manilha, manilhinha, tecido e fósforo, os papéis de imprimir e
escrever acetinados, monolúcidos, flor post e para telex, os higiênicos tipo popular e os cartães para impressos e
copos.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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iniciativas poderiam ser desenvolvidas em áreas de concentração urbana por prefeituras, escolas e
empresas de transporte urbano e metropolitano90;
A falta de regularidade no fornecimento de papel usado (aparas) torna necessário
normalizar e reordenar a relação e os interesses de usuários e fornecedores, inclusive por meio da
negociação de contratos de fornecimento de médio prazo com preço estável e articulação de
associações para criação de estoques reguladores e cooperativas de compra, venda e
processamento.
(c.2) fibra virgem/economia florestal: é preciso preservar as áreas com cobertura florestal
nativa remanescentes e desvincular cada vez mais a atividade de exploração florestal destas áreas.
Cabe realizar um trabalho de planejamento da ocupação do espaço econômico e de zoneamento
econômico-ecológico, que defina, de forma coordenada com as diretrizes de reforma agrária,
áreas propícias à agricultura, pecuária e silvicultura.
No contexto deste zoneamento poderiam ser definidos distritos florestais, que poderiam
incluir regiões acidentadas ou de elevada declividade, impraticáveis para agricultura, regiões
degradadas pela exploração econômica improdutiva e regiões já direcionadas para a exploração
florestal. Ademais, seriam critérios para a definição destas áreas a viabilidade de localizar na área
planta industrial integrada compatível com a proteção ao meio ambiente, a estratégia de
desconcentração regional da produção e do emprego e as condições de proximidade de oferta de
energia.
A economia florestal abarca a produção de madeira para fins energéticos (biomassa e
carvão vegetal) e para as indústrias de papel, celulose, móveis, chapas e compensados de madeira
e siderurgia (carvão siderúrgico). Nas áreas aptas à formação de base de florestas, de produtores
integrados (com terras próprias ou arrendadas) e independentes, esta atividade seria estimulada
por mecanismos de fomento florestal (crédito e seguro) e pelo apoio dos setores industriais aos
quais fornecessem (com contratos de compra da madeira, oferta de mudas e insumos e assistência
técnica de longo prazo), o que permitiria reduzir a imobilização do capital das empresas em terras.
Um eventual retorno de estímulos fiscais ao reflorestamento seria aceitável se restrito a estas áreas
preferenciais.
(c.3) suprimento energético: é de enorme importância aumentar a autogeração, com
utilização da própria energia (vapor) gerada no processo e com o aproveitamento de recursos
hídricos (eletricidade) e florestais (biomassa e carvão vegetal) existentes próximos à fábrica. Cabe
mapear a viabilidade de cada uma dessas alternativas. A dependência de energia comprada pode
90 Para facilitar a separação e classificação do lixo, favoreceria colocar código para pré-classificação e separação do
material (como nos produtos plásticos).
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reduzir a competitividade do setor, dados os aspectos pouco auspiciosos levantados
anteriormente.
O investimento privado em energia elétrica pode ser estimulado pela ênfase nos
mecanismos existentes de troca de energia excedente gerada com custo abaixo da média (ligada a
rede) por consumo equivalente em qualquer outro ponto do sistema, o que levaria ao
aproveitamento máximo de pequenas quedas d'água para auto-geração (em particular, em São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais).
3.2. Políticas de Modernização Empresarial
A competitividade da indústria de papel, sua capacidade de formular e implementar
estratégias concorrenciais, supõe consolidar parâmetros competitivos similares aos dos produtores
líderes nacionais e mundiais. A cada empresa cabe definir, a partir de sua posição atual, um plano
de otimização de qualidade e produtividade (quantidade e custo) e redefinição produtiva. A
heterogeneidade do setor, isto é, o fato de que as empresas líderes se encontram mais
modernizadas do que a média, não impede de se afirmar que todas as empresas podem avançar
com maior ou menor intensidade em atualização de equipamentos e processos, inserção em novos
mercados, introdução de produtos, ganhos de escala, capacitação tecnológica e gerencial e
proteção ao meio ambiente. O desafio competitivo é, antes de tudo, individual.
(a) otimização e atualização do processo produtivo: envolve todas as etapas produtivas:
(a.1) máquinas de papel e de conversão de papel: a otimização pode ser obtida por
intermédio de três linhas de ações:
- substituição de máquinas por outras de maior escala (em largura e velocidade);
- instrumentação das máquinas, em particular pela introdução de controles digitais de
processo industrial para monitoramento dos níveis de temperatura, vazão, pressão, gramatura e
demais variáveis críticas. Mesmo máquinas de largura média podem ser atualizadas, ainda que
exista um limite estrutural (que é preciso estabelecer) a partir do qual a melhor decisão econômica
é a troca por uma nova;
- melhoria do processo: na interação físico-química que ocorre entre fibras, pigmentos,
agentes de colagem (amido), anti-espumantes e bactericidas na formação e secagem da folha de
papel, de modo a realizar o processo com menor teor de umidade e, assim, menor perda de fibras
pelos efluentes líquidos; no consumo de energia exigido pela depuração e refinação da polpa; na
adequação da linha de produtos às características das máquinas; e na aplicação de revestimento;
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(a.2) equipamentos para produção de celulose e pastas: aumentos de escala de produção,
possibilidade de proteção ambiental e fechamento do ciclo produtivo com sistema de recuperação
de reagentes químicos e de rejeitos em pasta mecânica, utilização da energia-vapor gerada e
tratamento de efluentes do processo.
(a.3) controle sobre poluentes do meio ambiente: é grande o desnível do setor neste
aspecto e muitas empresas médias e pequenas necessitam de equipamentos e instalações de
controle e tratamento de efluentes, o que inclui: (i) sistema de condensação do licor negro:
instalação de caldeira de recuperação e filtros, lavadores, precipitadores eletrostáticos,
incineradores, depurador de gases, evaporadores, caustificadores, forno de cal e torres de
destilação; (ii) estações de tratamento de efluentes líquidos e sólidos: neutralização, gradeamento,
clarificação, decantação primária e secundária, lagoas de aeração para eliminação de líquidos e
sólidos em suspensão (fibras);
(a.4) processamento de fibra reciclável: as centrais de aparas acopláveis à unidade de papel
fazem o processamento mecânico (seleção, limpeza e tratamento) da fibra secundária e mesmo o
processamento químico (destintamento e branqueamento). Neste último caso, o processo é
poluidor e exige investimento razoável mas bem menor do que em uma planta de celulose, e por
isso ainda acessível aos produtores não-integrados91;
(a.5) racionalização e integração das etapas de produção e da movimentação de materiais:
a integração floresta/celulose é marcante no setor, mas ainda é possível avançar no sentido de
aproximar as máquinas de papel e de conversão à unidade produtora de celulose, o que eliminaria
ou reduziria os custos de secagem, transporte, e nova dissolução da celulose;
(b) capacitação em tecnologia de processo e de produto: a difusão de tecnologia depende
hoje da relação com os fornecedores de equipamentos, que realizam pouco desenvolvimento de
processos ou projetos de engenharia no país, apesar do alto grau de nacionalização das máquinas.
O aprendizado e treinamento de pessoal decorrente da operação com máquinas mais modernas
gera importante capacitação mas é insuficiente.
No caso das empresas líderes, deve se somar ao ganho de escala na expansão produtiva a
vantagem competitiva da inovação em processos e produto. Esta só é alcançável com trabalho
sistemático de longo prazo em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Cabe endogeinizar a
capacidade de inovar, o que inclui a continuidade e o aprofundamento na interação com empresas
de bens de capital e engenharia de projeto para o setor, mas também o aprendizado interno no
projeto de equipamentos desejados e na análise dos atuais, e a pesquisa de novos produtos,
91 De acordo com produtores de papel, uma unidade com controle de processo e capacidade produtiva de 36 mil
t/ano (110 t/dia) custa cerca de US$ 10 milhões.
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sobretudo os derivados de novas tecnologias, tais como os papéis térmicos para fax e para
impressão a laser.
No desenvolvimento da capacidade técnica das empresas de médio e pequeno porte, urge
a atualização de equipamentos e substituição de máquinas antigas fora de padrões de
produtividade. Cabe buscar a interação mais ativa com produtores de máquinas de papel ou de
equipamentos de controle de processo. No controle ambiental muito ainda pode ser realizado.
A capacitação tecnológica poderia ser dinamizada através de ações com vistas a:
- promover programas de parcerias e associações entre produtores brasileiros;
- incentivar convênios de cooperação do setor com institutos e empresas internacionais;
- promover programas de intercâmbio técnico com outros países, inclusive através da
visita de professores e executivos e técnicos estrangeiros aposentados;
- alcançar maior interação com institutos de pesquisa nacionais, públicos e privados, e
incentivar carreiras de pesquisa na área (mestrado e doutorado);
- divulgar técnicas de manejo silvicultural e prestar serviços de assistência técnica aos médios e
pequenos produtores através da ação dos institutos de pesquisa das universidades e do governo;
- criar centros de formação profissional de nível médio;
(c) desenvolvimento de recursos humanos: é necessário formar os recursos humanos que
irão realizar e absorver as atividades de desenvolvimento tecnológico e seus resultados práticos.
Em certos casos, cabe também avançar na profissionalização da gerência, com a adoção de
métodos e sistemas de gestão mais eficazes para o desenvolvimento da empresa. A qualificação da
mão-de-obra inclui o treinamento para operação das máquinas, inclusive nas atividades de
manutenção eletrônica e de instrumentação.
(d) melhoria da qualidade: o lançamento do PBQP realizou a tarefa de estabeceler o
conceito de qualidade e produtividade e de reforçar a conscientização dos empresários sobre estas
questões. O impacto está sendo sentido em diversos pontos da cadeia produtiva. A continuidade
desta linha de ação exige a disseminação do conceito "qualidade" para a população (com
campanhas institucionais mostrando exemplos bem sucedidos de ganho de qualidade e trabalhos
nas universidades) e, em particular, para trabalhadores (integrados aos cursos do SENAI). Exige,
ademais, o incentivo a programas de qualidade total, com vistas a melhor atender a clientes em
qualidade, confiabilidade e prazos. Estes programas culminariam com a implantação de normas e
certificação pela ISO-9000.
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3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
A competitividade sistêmica da economia brasileira depende, de um lado, de um contexto
macroeconômico mais favorável e, de outro, da recuperação e melhor articulaçåo do papel do
Estado. A falta de confiança das empresas brasileiras para retomar o investimento expressa a
necessidade de transpor de forma adequada os atuais obstáculos gerados pela instabilidade e
estagnação econômica, para que se efetivem estratégias de modernização:
(a) estabilidade: cabe definir rumos e linhas estratégicas de longo prazo para o país,
estabelecer posicionamento estável de política econômica, fortalecer as instituições políticas e
normalizar as relações com a comunidade financeira internacional92. A estabilização de preços e o
enfrentamento do processo inflacionário são cruciais, mas o controle de preços industriais não é
recomendado por levar a subterfúgios e distorções. Pode-se impedir abusos de cartéis e
monopólios via abertura às importações e mecanismos de defesa do direito econômico. De todo
modo, a convivência com índices elevados de inflação leva à dolarização dos preços e aumenta a
relevância de uma administração estável do câmbio e dos preços relativos da matriz energética
(gás natural, óleo combustível e eletricidade);
(b) crescimento: a retomada do crescimento do mercado interno é indispensável pois pode
gerar ganhos substanciais de escala e produtividade, diluir o custo fixo, alavancar a
competitividade das exportações e assim a rentabilidade das empresas. O ganho de produtividade
obtido com a reestruturação produtiva e a redução de pessoal realizada até aqui ainda não pode
ser mensurado pois existe grande capacidade ociosa. O potencial do mercado interno é enorme e
sua ampliação permitiria colher os frutos da reestruturação passada e prepararia nova fase neste
processo estratégico. Dificilmente poder-se-á prosseguir na modernização unicamente com base
no mercado externo. A retomada interna associada a uma política de rendas teria impacto
sistêmico, em termos de ampliação de demanda, distribuição de renda e qualificação de mão-de-
obra. O resultado seria o desenvolvimento do mercado de consumo de manufaturados, do nível de
escolaridade e hábitos higiênicos da população, com impacto, respectivamente, sobre a demanda
de embalagens e cartões, papéis de imprensa e de imprimir e escrever, e papéis sanitários.
A reforma e a revisão total da função estratégica do Estado na busca do desenvolvimento
é um desafio a ser enfrentado pela sociedade e envolve o gasto público em infra-estrutura
econômica e social, o financiamento ao setor, a desoneração tributária e a regulação estatal:
(c) ação pública nas áreas de infra-estrutura econômica e social: as deficiências apontadas
em termos de infra-estrutura produtiva (rodovias, portos e energia) e social (educação básica,
92 Nas palavras dos empresários, o que se pede é uma política econômica sem mudanças constantes da "regra do
jogo", sem "criatividade", sem "invenção".
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saúde, saneamento, previdência e habitação) permitem concluir que a arrecadação e o gasto global
do setor público devem ser realocados, mas não reduzidos. O setor público poderia desenvolver
um plano de qualidade total e busca de maior eficiência no gasto, tal como o setor privado.
Reivindica-se o uso do imposto no sentido da criação da infra-estrutura e qualificação de recursos
humanos necessários à expansão da indústria. Sem benesses ao setor privado, mas sim num
esforço de parceria deste com o Estado, que permita às empresas realizar sua expansão e assim
gerar mais impostos a médio prazo. Na medida em que a indústria de papel e celulose interioriza o
crescimento, pela necessidade de estar próxima à base florestal, ela torna espacialmente mais
equilibrado o desenvolvimento econômico.
Parte do investimento em infra-estrutura das diversas esferas de governo deveria assim ser
alocada na infra-estrutura portuária, rodoviária e ferroviária destinada à movimentação de seus
insumos e produtos; e no fornecimento de energia, com a expansão da oferta de eletricidade pela
conclusão dos projetos em andamento em São Paulo e Norte-Nordeste, de energia térmica em
Santa Catarina e de gás natural. O gasto público destinado à educação básica, habitação e
saneamento básico deve ser priorizado, sobretudo nas comunidades distantes em que se
encontram os trabalhadores destas empresas.
Este esforço poderia estar conjugado aos planos de expansão da indústria e dimensionado
com base na própria perspectiva de arrecadação de tributos e encargos sociais. A articulação
poderia ser desenvolvida, a nível dos municípios, por convênios entre empresas e prefeituras para
gestão administrativa de obras incluídas no orçamento do município; a nível federal, através dos
conselhos que deliberam sobre a aplicação dos recursos do FAT/BNDES e do FGTS, em
particular pelos representantes dos trabalhadores.
O governo também poderia priorizar o apoio à inserção das empresas brasileiras nos
mercados externos e à defesa de seus interesses junto aos organismos nacionais e internacionais de
comércio, ampliando recursos e efetivos na ação diplomática voltada para assuntos econômicos e
de comércio exterior. Atualmente se faz necessária uma ação diplomática com vistas a aferir a
adequação e a validade da legislação de outros países relativas a parâmetros aceitáveis para
produtos importados e respectivos processos produtivos;
(d) apoio financeiro: a participação do setor público no apoio ao investimento na expansão
da capacidade produtiva, na otimização do processo produtivo, na atualização e compra de
equipamentos, na venda de produtos ao exterior e no suprimento de insumos florestais é
indispensável. A escassez de capital do setor prioriza a busca das formas possíveis de apoio
financeiro e institucional do sistema oficial de crédito, com vistas a sustentar as condições de
financiamento das iniciativas citadas acima. Este apoio, sempre constante no setor, pode ser
alavancado com algumas medidas de reforço no sentido de:
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(i) caracterizar o Banco do Brasil como instituição de fomento às atividades agrárias -
agricultura, pecuária e exploração florestal - e assim apto a realizar financiamento do capital necessário
para a constituição e renovação de florestas, em particular para pequenos proprietários rurais;
(ii) expandir a linha de crédito da FINEP para estudos e projetos de qualidade de
processos e equipamentos;
(iii) reativar mecanismos de financiamento à comercialização no exterior tais como o
PROEX: cabe ampliar recursos e prazos, e estender também o apoio até o crédito para instalação
de estruturas comerciais no exterior. O apoio às exportações é importante sobretudo para
empresas que recém concluíram programas de expansão de capacidade produtiva e podem ampliar
rapidamente sua oferta e para aquelas que se lançam agora nestes mercados;
(iv) ampliar o financiamento à compra de equipamentos pela linha FINAME: cabe
aumentar os recursos e proporção de participação no valor investido, principalmente quando
estiver associado à proteção ambiental, reciclagem ou autogeração de energia. A medida de
liberação da linha de crédito para empresas com participação acionária estrangeira já produziu
resultado no setor (o projeto de energia da Igaras);
(v) ampliar o financiamento a projetos de expansão produtiva pelo BNDES:
- ampliar prazos de carência de modo a compatibilizá-los com o término da curva de
aprendizagem do projeto, ou pelo menos definir parcelas iniciais reduzidas de amortização;
- aumentar parcela de participação no financiamento do investimento e reduzir o custo dos
empréstimos;
- flexibilizar a exigência institucional de disponibilidade conjunta de floresta, celulose e papel
caso a empresa comprove parceria com produtores destes insumos ou suprimento de fibra reciclável;
- sensibilizar fundos de pensão para participação em projetos co-financiados;
- ampliar o funding do BNDES com aumento da captação externa93: específico para
empresas exportadoras (com hedge cambial) tais como de papel e celulose, permitiria conceder
empréstimos nas condições praticadas no exterior94;
93 Esta necessidade de funding pode ser mais necessária caso seja aprovada a diretriz de destinar os recursos do
FAT - 70% do funding atual para a indústria - a setores considerados de maior capacidade de geração de empregos,
o que não é o caso do setor de papel.
94 Correção por dólar e juros, custos e prazos do mercado financeiro externo, inclusive com taxa fixa e hedge
(como faz o IFC).
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(e) desoneração tributária: os tributos têm forte impacto sobre a competitividade das
empresas e uma mudança na estrutura de arrecadação deve buscar três pontos: estabilidade,
simplificação e fiscalização:
- estabilidade das regras: as mudanças seguidas observadas no IR representam ônus pois
geram custo com contratação de escritórios de consultoria e advocacia ou montagem de
assessorias de planejamento tributário e de comitês fiscais, sem contar o tempo dispendido pela
gerência administrativa para deliberar sobre estas questões95;
- simplificação: envolve desburocratizar sistemas tributário, trabalhista e previdenciário e
eliminar a quantidade excessiva de impostos e encargos com tratamentos muito diferenciados96. É
preciso reduzir também a complexidade do cumprimento da obrigação fiscal nos tributos
remanescentes, pois a estrutura administrativa necessária é custo improdutivo. A simplificação de
cálculos e da legislação pertinente facilitaria ao Estado fiscalizar o pagamento e enxugar a
máquina de arrecadação, e evitar ações judiciais contra si.
- fiscalização e punição à sonegação e ao contrabando: além de uma questão ética, é um
aspecto competitivo, pois a competição é comparativa. A falta de fiscalização favorece a empresa
infratora, prejudica as corretas e define concorrência predatória. É preciso ampliar a fiscalização,
agilizar o processo judicial de cobrança de impostos atrasados e sonegados, aumentar as
respectivas multas e aprovar projeto de lei que reforme a legislação penal para punição de crimes
fiscais (sem anistia fiscal mas com escalonamento para suportar a saída do período recessivo).
Na medida em que a fiscalização propicie maior arrecadação, torna-se possível reduzir
impostos e manter o valor arrecadado. Este processo incluiria eliminar impostos e alíquotas sobre:
(e.1) investimentos: as compras de máquinas e equipamentos devem ser isentas de
tributos. É consensual a percepção de que tributá-las é insensatez, pois é o aumento de produção
e emprego gerado a partir das mesmas que permite recolher mais impostos num segundo
momento. Tal distorção já foi parcialmente eliminada com a prorrogação da Lei 8.191, que
suspendeu o IPI para bens de capital até o final de 1994 e estabeleceu depreciação acelerada do
custo da compra ou construção de equipamentos adquiridos em 1993 e 1994, reduzindo assim o
IR. Cabe tornar permanentes estas medidas e ainda ampliá-las com a suspensão dos demais
impostos (ICMS, PIS e COFINS);
(e.2) faturamento: o PIS/PASEP e o COFINS são os piores tributos pelo efeito
cumulativo pernicioso em cadeias produtivas longas como a do complexo madeira, pasta, papel,
95 Alguns entrevistados chegaram ao ponto de afirmar que hoje no Brasil se obtém mais lucro nestas atividades do
que nas relativas ao desenvolvimento da produção e tecnologia da empresa.
96 Pois 90% da arrecadação está concentrada em alguns: IR, ICMS, IPI, IOF e IPTU.
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gráfica, indústria de bens de consumo, consumidor. Sua eliminação, e simultâneo vínculo de
outras receitas às respectivas aplicações, permitiria tornar o sistema tributário mais ajustado à
nova situação de abertura externa;
(e.3) linhas editoriais: a imunidade tributária nos papéis de imprensa, que já se aplica em
relação ao produto importado, pode ser considerada para o produto nacional, pelos mesmos
motivos que garantem esta última, o que elevaria seu poder competitivo frente à concorrência
externa e seria mais abrangente do que a elevação de tarifas de importação;
(f) regulação estatal: poderia ser aperfeiçoada e modificada no sentido de:
- alterar a legislação anti-dumping, com abertura da possibilidade de denúncia a qualquer
pessoa física ou jurídica;
- simplificar procedimentos para autorização pelo Banco Central de investimento no exterior.
- definir a legislação sobre meio ambiente, no sentido de precisar, de forma inequívoca e
objetiva, os padrões de controle ambiental, as exigências de equipamentos e os prazos necessários
à sua adoção e as competências das diversas esferas e níveis administrativos de governo no
controle e fiscalização dessas normas;
- criar e regulamentar o selo ecológico nacional, e promover ação diplomática no sentido
de torná-lo aceito internacionalmente;
- atualizar o Código Florestal, em particular no sentido de distinguir normas aplicáveis às
florestas naturais e às plantadas;
- simplificar os processos de aprovação e controle de projetos florestais e de fiscalização
da extração e transporte da madeira;
- simplificar as exigências para a geração de energia fora do sistema Eletrobrás;
- regulamentar a Lei de Patentes97;
97 Segundo a ANFPC as retaliações por parte dos EUA custaram US$ 100 milhões em vendas em 1992.
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4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Esta seção procura apontar os principais indicadores de competitividade necessários para o
monitoramento do setor de celulose de mercado no Brasil. As sugestões estão condensadas no
quadro abaixo:
Indicadores de Competitividade
A) Desempenho
Evolução do Faturamento Líquido
Evolução do Faturamento por Tonelada de Produto
Market-share no mercado interno e mundial
Evolução da Margem de Lucro
Capacidade de Endividamento da Empresa
Evolução das Exportações e Importações
B) Eficiência Produtiva
Produtividade Florestal (m
3
/ ha/ ano)/ Rendimento da Polpa (%)
Eficiência Energética/ Consumo de Madeira (m
3
/ tonelada de
celulose)
Automação da Planta Industrial/Velocidade por Gramatura da
Máquina de Papel
Consumo de Reagentes Químicos por Tonelada de Celulose e Papel
Utilização de Cloro no Branqueamento
Custo de produção/Escala de Produção
Nível de Perdas/Recuperação de Reagentes Químicos
Vazão de Efluentes
Idade Tecnológica da Planta
Utilização de Papéis Reciclados: taxa de utilização e taxa de
recuperação
C) Capacitação
Atividades Internas de P&D
Tamanho da Equipe
Composição da Equipe
Despesas de Investimento
Tipos de Atividades Desenvolvidas
Número de Contratos e Parcerias
Gastos com Treinamento de Pessoal
Número de Horas de Treinamento por Níveis Hierárquicos
Formas de Gestão Administrativa
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BIBLIOGRAFIA
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1992. São Paulo.
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Perspectivas: Papel e Celulose. Departamento de Estudos. Texto para Discussão Número
3. Rio de Janeiro.
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Sistema BNDES na Evolução do Setor de Celulose e Papel no Brasil. Departamento de
Relações Institucionais. Rio de Janeiro.
FAJNZYLBER, F. (1988). Competitividade "Espúria". mimeo.
MARTINS SOARES, S.J. (coord.); RODRIGUES, W.A.M. e OLIVEIRA, J.C. (1990). Desen-
volvimento Tecnológico da Indústria e a Constituição de um Sistema Nacional de
Inovação no Brasil: o Setor Celulose-Papel. Campinas. FECAMP/IPT, Relatório de
Pesquisa.
MENDONÇA JORGE, M.O. (1992). Emergência e Consolidação do "Padrão Eucalipto" na
Indústria Brasileira de Celulose de Mercado. Campinas, Dissertação de Mestrado.
MENDONÇA JORGE, M.O. e SOTO, F. (1991). Relatório de Entrevista: José Carlos Leone -
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São Paulo, mimeo.
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RELAÇÃO DE TABELAS E GRÁFICOS
TABELA 1
PRODUÇÃO MUNDIAL DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO (1990) ....................27
TABELA 2
CONSUMO MUNDIAL DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO (1990)......................28
TABELA 3
IMPORTAÇÃO MUNDIAL DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO (1990)................29
TABELA 4
EXPORTAÇÃO MUNDIAL DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO (1990)................30
TABELA 5
HETEROGENEIDADE DOS PRODUTORES DE PAPEL (1992)...............................45
GRÁFICO 1
UTILIZAÇÃO DE RECICLADOS ...............................................................................34
GRÁFICO 2
CUSTO DE PRODUÇÃO DE PAPEL - BRASIL.........................................................65
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ANEXO:
PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR
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PESQUISA DE CAMPO
ESTATÍSTICAS BÁSICAS
Setor de Papel
Amostra original: 77
Questionários recebidos: 26
1. Caracterização
1.1 Variáveis Básicas: valores totais em 1992
(US$ mil)
Faturamento 3.137.024
Investimento 1.024.572
Exportações 717.284
Emprego direto na produção (nº empregados) 29.954
2. Desempenho
2.1 Desempenho Econômico: evolução dos valores médios
(US$ mil)
1987-89 1992 Variação (%)
(1) (2) (2)/(1)
Faturamento 142.390 125.481 -11,88
Margem de lucro (%) 41,25 27,89 -32,39
Endividamento (%) 26,70 24,88 -6,82
Investimento n.d 46.571 n.d
Exportações 22.748 27.587 21,27
Exportações/Faturamento (%) 18,06 22,87 26,63
Importações insumos-componentes 1.722 1.258 -26,95
Importações insumos/Faturamento (%) 1,10 0,88 -20,00
Importações de bens de capital 1.801 1.443 -19,88
Importações de bens de capital/Faturamento 1,16 1,01 -12,93
Utilização da capacidade (%) 94,24 89,20 -5,35
Emprego direto na produção (nº de empregados) 1.423 1.248 -12,30
2.2 Principal Motivação do Investimento em Capital Fixo
(% de empresas)
1990-92 1993-95
Modernização 62,5 52,4
Ampliação 20,8 19,0
Ambos 16,7 28,6
Número de respondentes 24 21
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2.3 Desempenho Produtivo: evolução dos valores médios
Variável Unidade 1987-89 1992
Níveis hierárquicos 5,73 4,97
Prazo médio de produção dias 2,71 2,79
Prazo médio de entrega dias 22,97 13,79
Taxa de retrabalho % 3,52 2,06
Taxa de defeitos % 5,8 4,85
Taxa de rejeito de insumos % 1,47 1,40
Taxa de devolução de produtos % 0,37 0,56
Taxa de rotação de estoques dias 32,16 39,24
Paradas imprevistas dias 10,60 17,42
2.4 Atributos do Produto em 1992 em Relação a 1987-89
(% de empresas)
menor igual maior não respondeu
Nível de preços 62,5 16,7 20,8 0
Nível de custos de produção 58,3 20,8 20,8 0
Nível médio dos salários 37,5 33,3 29,2 0
Grau de aceitação da marca 8,3 58,3 33,3 0
Prazos de entrega 45,8 45,8 8,3 0
Tempo de desenvolvimento de novos
"modelos"/ especificações
13,0 30,4 21,7 34,8
Eficiência na assistência técnica 4,3 39,1 47,8 8,7
Conteúdo/ sofisticação tecnológica 0 39,1 56,5 4,3
Conformidade às especificações técnicas 4,3 47,8 43,5 4,3
Durabilidade 0 30,4 4,3 65,2
Atendimento a especificações de clientes 8,7 39,1 47,8 4,3
3. Capacitação
3.1 Grau de Formalização do Planejamento da Empresa
(% de empresas)
Não existe nenhuma estratégia formal ou informal 0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada informalmente 11
Existe estratégia desenvolvida, disseminada periodicamente 4
Existe estratégia desenvolvida, disseminada periodicamente com o
envolvimento dos diversos setores da empresa
9
Número de respondentes 24
88
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IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3.2 Fontes de Informação Utilizadas na Definição de Estratégias
(% de empresas)
Mídia em geral 32,0
Participação em atividades promovidas por associações de classe 72,0
Revistas especializadas 64,0
Feiras e congressos no país 56,0
Feiras e congressos no exterior 44,0
Visitas a outras empresas no país 60,0
Visitas a outras empresas no exterior 52,0
Universidades/ centros de pesquisa 12,0
Consultoria especializada 60,0
Banco de dados 28,0
Pesquisas proprias 64,0
Número de respondentes 25
3.3 Tecnologias/ Serviços Tecnológicos Adquiridos em 1991/1992
(nº de empresas)
Total no Brasil no exterior
Tecnologia de terceiros 2 2 1
Projeto básico 6 6 2
Projeto detalhado 4 4 1
Estudos de viabilidade 9 9 3
Testes e ensaios 9 9 3
Metrologia e normalização 5 5 0
Certificação de conformidade 4 4 0
Consultoria em Marketing 3 3 1
Consultoria gerencial 11 11 1
Consultoria em qualidade 11 11 0
Número de respondentes 18 18 7
3.4 Esforço Competitivo: Dispêndio nas variáveis/Faturamento
(%)
1987-89 1992
P & D 0,41 0,50
Engineering 0,41 0,80
Vendas 3,53 3,20
Assistência técnica 0,07 0,10
Treinamento de pessoal 0,27 0,45
3.5 Treinamento Sistemático
(nº de empresas)
Empresas que não realizam qualquer treinamento 0
Empresas que treinam 100% dos empregados na atividade:
Gerência 0
Profissionais técnicos 0
Trabalhadores qualificados 0
Operadores/ empregados 0
Número de respondentes 20
89
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3.6 Estrutura do Pessoal Ocupado em 1992
Distribuição
por atividade
Pessoal de nível
superior/total na
atividade
(%) (%)
P & D 0,97 39,25
Engenharia 1,59 40,09
Produção 56,23 3,71
Vendas 5,07 15,77
Assistência técnica 0,97 16,75
Manutenção 15,50 6,98
Administração 19,67 21,29
3.7 Idade de Produtos e Equipamentos
(nº de empresas)
até 5 anos 6 a 10 anos mais de 10
anos
total de
respondentes
Produto principal 0 2 24 26
Equipamento mais importante 2 6 18 26
3.8 Geração de Produtos e Equipamentos
(nº de empresas)
última penúltima anteriores não sabe total de
respondentes
Produto principal 6 10 7 0 23
Equipamento mais importante 3 15 8 0 26
3.9 Intensidade de Uso de Novas Tecnologias e Técnicas Organizacionais
(nº de empresas)
1987-89 1992
baixa média alta baixa média alta
Dispositivos microeletrônicos 15 7 2 13 7 4
Círculo de controle da qualidade 18 0 3 15 5 0
Controle estatístico de processo 19 3 0 14 5 2
Métodos de tempos e movimentos 20 2 0 15 6 0
Células de produção 21 0 1 17 3 1
Just in time interno 19 2 1 15 4 2
Just in time externo 19 1 2 13 6 2
Paticipação em just in time de clientes 20 1 1 17 3 1
Obs.: Para o uso de dispositivos microeletrônicos são consideradas empresas de baixa intensidade de uso
aquelas que os utilizam em até 10% das operações, média intensidade entre 11 e 50% e alta intensidade
acima de 50%. Para o uso de técnicas organizacionais são consideradas empresas de baixa intensidade
aquelas que envolvem até 10% do empregados ou das atividades, média intensidade entre 11 e 50% e alta
intensidade acima de 50%.
90
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3.10 Situação em Relação à ISO-9000
(nº de empresas)
Não conhece 0
Conhece e não pretende implantar 2
Realiza estudos visando a implantação 11
Recém iniciou a implantação 6
Está em fase adiantada de implantação 4
Já completou a implantação mas ainda não obteve certificado 1
Já obteve certificado 0
3.11 Controle de Qualidade na Produção
(nº de empresas)
1987-89 1992
Não realiza 3 3
Somente em produtos acabados 6 3
Em algumas etapas 1 1
Em etapas essenciais 7 11
Em todas as etapas 5 4
Número de respondentes 22 22
4. Estratégias
4.1Direção da Estratégia de Produto
(nº de empresas)
Direcionar exclusivamente para o mercado interno 3
Direcionar exclusivamente para o mercado externo 0
Direcionar para o mercado interno e externo 23
Número de respondentes 26
4.2 Estratégia de Produto
(nº de empresas)
mercado interno mercado externo
Baixo preço 5 0
Forte identificação com a marca 5 0
Pequeno prazo de entrega 5 0
Curto tempo de desenvolvimento de produtos 1 0
Elevada eficiência da assistência técnica 1 0
Elevado conteúdo/ sofisticação tecnológica 2 0
Elevada conformidade a especificações técnicas 14 0
Elevada durabilidade 0 0
Atendimento a especificações dos clientes 9 0
Não há estratégia definida 2 0
Número de respondentes 26 0
91
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4.3 Estratégia de Mercado Externo - Destino
(nº de empresas)
Mercosul 0
Outros países da América Latina 0
EUA e Canadá 0
CEE 0
Países do leste europeu 0
Japão 0
Não há estratégia definida 0
4.4 Motivação da Estratégia Atual
nº de empresas % de empresas
Retração do mercado interno 18 69,2
Avanço da abertura comercial no setor de produção da empresa 9 34,6
Avanço da abertura comercial nos setores compradores da empresa 2 7,7
Crescente dificuldade de acesso a mercados internacionais 5 19,2
Globalização dos mercados 11 42,3
Formação do Mercosul 10 38,5
Novas regulamentações públicas 1 3,8
Surgimento de novos produtos no mercado interno 3 11,5
Surgimento de novos produtores no mercado interno 7 26,9
Exigência dos consumidores 18 69,2
Elevação das tarifas de insumos básicos 4 15,4
Diretrizes dos programas governamentais 2 7,7
Número de respondentes 26 100,0
4.5 Estratégia de Compra de Insumos
(nº de empresas)
Menores preços 19
Menores prazos de entrega 3
Maior eficiência da assistência técnica 0
Maior conteúdo tecnológico 2
Maior conformidade às especificações técnicas 16
Maior durabilidade 0
Maior atendimento de especificações
particulares
1
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 20
4.6 Relações com Fornecedores
(nº de empresas)
Desenvolver programas conjuntos de P & D 9
Estabelecer cooperação para desenvolvimento de produtos e processos 14
Promover troca sistemática de informações sobre qualidade e desempenho dos produtos 21
Manter relacionamento comercial de LP com fornecedores fixos 16
Realizar compras de fornecedores certificados pela empresa 6
Realizar compras de fornecedores cadastrados pela empresa 9
Realizar compras de fornecedores que oferecem condições mais vantajosas a cada momento 10
Número de respondentes 26
92
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4.7 Estratégia de Financiamento dos Investimentos em Capital Fixo
(nº de empresas)
Recursos próprios gerados pela linha de produto 19
Recursos próprios gerados pelas outras áreas do grupo empresarial 7
Recorrer a crédito público 12
Recorrer a crédito privado interno 11
Recorrer a crédito externo 12
Recorrer a formas de associação 6
Captar recursos nos mercados internos de valores 8
Captar recursos nos mercados externos de valores 7
Não há estratégia definida 1
Número de respondentes 26
4.8 Estratégia de Gestão de Recursos Humanos
(nº de empresas)
Oferecer garantias de estabilidade 2
Adotar política de estabilidade sem garantias formais 16
Não adotar políticas de estabilização 4
Promover a rotatividade 0
Não há estratégia definida 3
Número de respondentes 25
4.9 Definição de Postos de Trabalho
(nº de empresas)
Definir postos de trabalho de forma estreita e rígida 1
Definir postos de trabalho de forma estreita mas incentivar os trabalhadores a
executarem tarefas fora da definição dada
9
Definir postos de trabalho de modo amplo visando alcançar polivalência 14
Não definir rigidamente os postos de trabalho de modo que a gama de tarefas varie
consideravelmente
2
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 26
4.10 Estratégia de Produção
(nº de empresas)
Reduzir custo de estoques 9
Reduzir consumo/ aumentar rendimento das matérias-primas 16
Reduzir consumo/ aumentar rendimento energético 2
Reduzir necessidades de mão-de-obra 6
Promover desgargalamentos produtivos 9
Reduzir emissão de poluentes 1
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 25
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