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Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE
DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
_____________________________________________________________________________________________
COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DE EXTRAÇÃO E
BENEFICIAMENTO DE MINÉRIO DE FERRO
Nota Técnica Setorial
do Complexo Metal-Mecânico
O conteúdo deste documento é de
exclusiva responsabilidade da equipe
técnica do Consórcio. Não representa a
opinião do Governo Federal.
Campinas, 1993
Documento elaborado pelo consultor Germano Mendes de Paula (Universidade Federal de Uberlândia).
A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos
(FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para as Notas Técnicas Finais de síntese do Estudo.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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CONSÓRCIO
Comissão de Coordenação
INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP
INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ
FUNDAÇÃO DOM CABRAL
FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR
Instituições Associadas
SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY
INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI
NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA
DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP
INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
Instituições Subcontratadas
INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA - IBOPE
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COOPERS & LYBRANDS BIEDERMANN, BORDASCH
Instituição Gestora
FUNDAÇÃO ECONOMIA DE CAMPINAS - FECAMP
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE)
João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI)
Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)
Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE)
Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI)
Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE)
Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)
João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE)
Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)
David Kupfer (UFRJ-IEI)
Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI)
Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)
Contratado por:
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
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COMISSÃO DE SUPERVISÃO
O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:
João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES)
Lourival Carmo Monaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)
Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES)
Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)
Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT)
Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)
Eduardo Gondin de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES)
Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE)
Guilherme Emrich (BIOBRAS) Renato Kasinsky (COFAP)
José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP)
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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SUMÁRIO
RESUMO EXECUTIVO............................................................................................................1
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................17
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA DE EXTRAÇÃO DE
MINÉRIO DE FERRO.........................................................................................................18
1.1. Características Estruturais..............................................................................................18
1.2. Evolução Recente..........................................................................................................21
1.3. Expansão e Exaustão de Projetos Minerais.....................................................................27
1.4. Formas de Concorrência e Estratégias Empresariais.......................................................44
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA ......................................................55
2.1. Diagnóstico da Competitividade.....................................................................................55
2.1.1. A Importância dos "Corredores de Exportação"...................................................55
2.1.2. Pelotização ..........................................................................................................72
2.1.3. Programas de Garantia de Qualidade....................................................................81
2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade Brasileira ..............................................85
2.2.1. Tendências tecnológicas e de mercado .................................................................85
2.2.2. O Mercosul..........................................................................................................89
2.2.3. A questão ambiental.............................................................................................91
2.2.4. Aumento da carga tributária.................................................................................98
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS.........................................................................................103
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE.......................................................................108
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................110
RELAÇÃO DE TABELAS.....................................................................................................114
ANEXO: PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR..............116
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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RESUMO EXECUTIVO
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE
1.1. Características Estruturais da Indústria
Em conseqüência da estagnação da produção de aço, do aumento do rendimento integrado
das usinas siderúrgicas e do incremento de importância das aciarias elétricas a demanda mundial
de minério de ferro tem se mantido estável ao longo dos últimos anos.
Com relação à organização da produção, o setor apresenta progresso técnico pouco
dinâmico e reduzida gama de produtos ofertados, quando comparado a outras indústrias. As
principais barreiras à entrada neste setor referem-se ao elevado volume de capital, em particular,
para levar a cabo a infra-estrutura necessária ao escoamento da produção. O formato mina-
ferrovia-porto é o sistema de operação convencional do setor.
O mercado do minério de ferro é um mercado estável, em comparação com o mercado de
produtos siderúrgicos, por exemplo, face à conjugação de:
a) longo período de maturação dos projetos;
b) contratos plurianuais de comercialização de minério, com preços repactuados anualmente;
c) a própria lentidão do progresso tecnológico do setor, que implica a permanência das
condições de competitividade entre os produtores.
Brasil e Austrália, os dois maiores exportadores mundiais do minério, consolidaram
posições ao longo da década de 80. Enquanto em 1981 ambos países dominavam cerca de 48%
do mercado transoceânico do produto, em 1991, as exportações brasileiras (114,7 milhões/t) e
australianas (111,5 milhões/t) corresponderam a mais de 64% do mercado. As estimativas são de
que essa alta concentração da oferta se mantenha (ou até aumente) durante toda a década de 90.
As importações de minério de ferro são muito concentradas nos países da Europa
Ocidental e no Japão. Estes, conjuntamente, responderam por 68,9% das importações mundiais
do produto, em 1991. Na Europa Ocidental destaca-se o mercado alemão, responsável por 11,1%
da importação mundial. De modo geral, constata-se estabilidade das importações dos diversos
países ao longo da década de 80, menos aquelas da China e Coréia do Sul, que apresentaram
grande crescimento - médias anuais de 17,5% e 10,1%, respectivamente, e dos EUA, que
reduziram suas compras à metade, em decorrência da reestruturação de sua siderurgia.
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As perspectivas de evolução da siderurgia na década de 90 levam a crer que o mercado
asiático será o único a apresentar algum dinamismo nas importações de minério. Excetuando o
Japão, o mercado importador asiático é concentrado na Coréia do Sul, China e Taiwan. A Coréia
do Sul é o mais importante destes três mercados, mas apresenta uma tendência de estagnação para
a década de 90, enquanto a China deverá manter taxas vigorosas de crescimento. Segundo a
Drewry Shipping Consultants Ltd., o comércio transoceânico de minério deverá atingir 376
milhões de toneladas em 1995 (crescimento anual de 1,44% em relação a 1990), sendo que a
participação brasileira deverá subir para 35,4% neste ano.
Em resumo, mercado mundial estagnado e com preços pouco convidativos, de um lado, e
as necessidades de recursos financeiros vultosos, de outro, dificultam muito a concretização de
novos empreendimentos (greenfields) na década de 90.
Com relação ao mix de produtos demandados pelo mercado internacional, há estimativas
de que a situação para a década de 90, em um cenário pessimista, seria a seguinte (TABELA 1):
a) crescimento acentuado da demanda de pelotas para a redução direta; b) estabilidade do
consumo de minério fino e pelotas para altos-fornos; c) redução das importações mundiais de
minério granulado.
TABELA 1
ESTIMATIVA DO MERCADO TRANSOCEANICO DE
MINERIO DE FERRO, POR PRODUTOS
(1991/1995/2000)
milhões de toneladas
1991 1995 2000
Minério fino 234 221 238
Minério granulado 63 58 58
Pelotas/Alto-forno 45 43 44
Pelotas/Redução Direta 10 12 15
TOTAL 352 334 355
Fonte: Entrevistas
Embora o segmento de pelotas para a redução direta seja o único que provavelmente
apresentará um crescimento satisfatório na década de 90, a demanda não deverá ultrapassar a 5%
do mercado transoceânico de minério. Deve-se apontar, contudo, que a importância relativa dos
dos países produtores neste segmento é bem diferente da verificada no mercado total, em função
da pouca representatividade da produção e exportação australiana.
Ainda com relação aos produtos, constata-se uma tendência internacional de aumento da
pressão dos consumidores (no caso, empresas siderúrgicas) para que as mineradoras aperfeiçoem
o controle sobre o processo produtivo e o produto final, visando atingir padrões crescentes de
qualidade e atender especificões particulares de minério.
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O mercado de minério de ferro pode ser considerado um mercado livre, na medida em que
as tarifas costumam ser nulas, além de ser não ser administrado através de medidas não-tarifárias
(cotas, acordos de restrição voluntárias às exportações, ações de salvaguardas, de anti-dumping e
de direitos compensatórios). No caso brasileiro, frente as vantagens comparativas incontestes, não
há tarifas, nem outros mecanismos impeditivos à importação de minério de outros países, que
teoricamente seriam justificáveis apenas para blendagem.
1.2. Estratégias Empresariais
As empresas dos países líderes mundiais na produção de minério de ferro, Brasil e
Austrália, vêm adotando estratégias similares:
. constituição de joint-ventures com grandes clientes, como forma de assegurar mercados
cativos;
. direcionamento de uma grande parcela da produção para o mercado internacional;
. desenvolvimento de infra-estruturas próprias, particulares para escoamento da produção
(ferrovias/minerodutos e porto);
. apropriação de economias de escala, na extração e escoamento da produção;
. utilização de portos de grande profundidade.
1.3. Principais Fatores de Competitividade
Fatores Internos à Empresa
. disponibilidade de mina com alto teor de ferro (preferencialmente) e com regularidade de
propriedades físico-químicas;
. alta conformidade técnica dos produtos oferecidos;
. elevado grau de atendimento às especificações particulares dos compradores,
principalmente para empresas mineradoras de porte mais reduzido;
. logística de transporte para assegurar rapidez e confiabilidade do prazo de entrega;
. capacitação gerencial (estrutura de vendas, adoção de programas de qualidade,
negociação dos contratos e financiamento de longo prazo).
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Fatores Estruturais
. alta escala de produção e de escoamento, para redução dos custos unitários.
Fatores Sistêmicos
. rapidez, confiabilidade e baixos custos da infra-estrutura de transportes;
. realismo cambial e,
. carga tributária adequada.
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2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE EXTRAÇÃO DE MINÉRIO
DE FERRO
2.1. Diagnóstico da Competitividade
O setor de extração e beneficiamento de minério de ferro brasileiro é um dos líderes
mundiais da atividade. A indústria apresenta uma situação de excelência em termos de produtos
ofertados (mix de produção) e, simultaneamente, não apresenta gargalos produtivos relevantes.
Além disso, em parte devido ao fato de que o progresso tecnológico nessa indústria é pouco
dinâmico, não há defasagens relevantes com relação à adoção de novas tecnologias. Por fim, não
há, a princípio, grandes investimentos em outros países que possam colocar em xeque a posição
brasileira.
Com relação aos principais fatores determinantes da competitividade internacional da
indústria, cabe ressaltar as seguintes características da indústria brasileira:
a) a escala atual dos principais produtores é elevada e adequada à atuação no mercado
internacional, já que esta sempre foi a sua vocação;
b) existência de uma infra-estrutura de transportes própria eficiente, que lhe permite o
escoamento da produção, sem as dificuldades típicas encontradas pelas outras indústrias nacionais.
Há, no entanto, restrições às exportações de minério por parte dos pequenos mineradores devido
ao alto custo do transporte ferroviário no corredor Estrada de Ferro Vitória-Minas/Porto de
Tubarão e ao elevado custo portuário no corredor Ferrovia do Aço/Porto do Rio de Janeiro.
c) os programas de melhoria da qualidade e produtividade são bem disseminados no setor.
As empresas brasileiras com maior atuação internacional (Companhia Vale do Rio Doce,
Minerações Brasileiras Reunidas, Ferteco, Samarco e Samitri) estão, em geral, com programas de
gestão da qualidade já consolidados, sendo que todas esperam obter certificação ISO 9000 até o
final de 1994. Deve ser observado que as demais mineradoras brasileiras, de menor porte e que
destinam a maior parte de sua produção ao mercado doméstico, estão apenas iniciando este
processo.
Em comparação direta com a Austrália, seu principal concorrente no mercado
internacional, a indústria brasileira apresenta os seguintes pontos positivos:
a) maior teor de ferro contido no minério;
b) joint-ventures brasileiras constituídas com empresas européias e japonesas, enquanto na
Austrália, as associações são restritas ao Japão e à China;
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c) as vendas internacionais são menos concentradas em determinados mercados e,
portanto, apresentam menor vulnerabilidade;
d) maior proximidade do mercado europeu;
e) maior produção de pelotas (o produto de maior valor agregado da indústria);
f) menor número de interrupção da produção em função de greves;
g) maior capacidade nominal de embarque (ship-loaders) dos portos;
h) no caso específico da Companhia Vale do Rio Doce, o "corredor de exportação"
estende-se até o transporte marítimo (através de sua controlada Docenave).
Em contrapartida, a Austrália apresenta os seguintes pontos positivos frente ao Brasil:
a) maior proximidade do Japão, Coréia do Sul e China (esta última, o grande pólo de
crescimento da produção siderúrgica da década de 90 e, em função disso, de importação de
minério de ferro);
b) maior disponibilidade de minério granulado;
c) menor custo de beneficiamento, por tratar pouco o minério e vendê-lo primordialmente
a seco;
d) menor custo de transporte interno, dado a menor distância das minas aos portos e,
consequentemente, menor nível de investimento necessário em material rodante;
e) menores gastos com proteção ambiental, pelo fato das minas situarem-se em lugares
pouco habitados;
f) maior produtividade, face ao reduzido peso das atividades de beneficiamento e de
pelotização, e de uma maior terceirização;
Com relação a esse último ponto, cabe observar que a desvantagem da menor
produtividade da mineração brasileira em comparação com a australiana é amenizada pela
característica capital-intensiva da indústria.
2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade da Indústria Brasileira
Crescimento do Mercado de Pelotas
A tendência de crescimento do mercado de pelotas beneficia a indústria brasileira, tendo
em vista que o país é o maior produtor mundial. Os seus principais concorrentes neste segmento,
Canadá e Suécia, não demonstram condições de superar as vantagens competitivas da indústria
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brasileira. Também é muito improvável a entrada em operação de novos empreendimentos
(greenfields) neste segmento, de modo que a expansão do demanda deverá ser absorvida pelos
produtores atuais.
A grande vantagem dos produtores brasileiros de pelotas advém do fato de conseguirem
operar nos dois mercados relevantes (europeu e japonês). Suécia e Canadá praticamente só
exportam para a Europa, enquanto Austrália, Chile e Peru apenas para o Japão. A desvantagem
está no fato de que o crescimento do mercado de pelotas deve ficar restrito ao produto para
redução direta. A maior parte desta demanda adicional concentra-se em países em
desenvolvimento (mercado doméstico restrito e/ou abundância de gás natural, como Líbia, Qatar,
Irã, México e Venezuela). A empresa Kudremukh-GIIC (India) encontra-se em situação
locacional favorável para conquistar a fatia de mercado adicional originada dos países do Oriente
Médio e Norte da África.
Uma outra vantagem da pelotização no Brasil é o alto teor de ferro contido no minério
local. Por outro lado, o tipo de minério (hematita) requer um consumo de energia térmica cerca de
cinco vezes superior ao da magnetita.
Pressão por Conformidade dos Produtos
A certificação ISO 9000 dos principais produtores brasileiros deverá se completar até
finais de 1994. Isso não configura atraso em comparação aos concorrentes internacionais, uma vez
que apenas uma empresa já obteve tal certificado: trata-se da Iron Ore of Canada, cuja
certificação ISO 9002, referente às atividades de mina, usina de pelotização e porto, foi concedida
em dezembro de 1991 por uma instituição canadense denominada Quality Managment Institute.
Essa instituição não se enquadra entre as mais conhecidas do ramo de certificação em nível
mundial.
Exaustão de Projetos Minerais em Outros Países
No período 1991/93, prevê-se uma redução da capacidade instalada mundial de 17 milhões
de toneladas/ano, concentrada na Libéria (LAMCO e Bong Mining) e na Austrália (Yampi Sound
e Savage River). Isto, naturalmente, favorece a mineração brasileira pois evita pressões negativas
decorrentes de excesso de oferta.
Dinamismo da Siderurgia Asiática
Trata-se do maior desafio para a competitividade da indústria brasileira uma vez que o
Brasil é distante do Sudeste Asiático, onde estão, exatamente, os países que apresentam as mais
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altas taxas de crescimento da produção siderúrgica. Austrália e, em menor grau, Índia, Chile, Peru
e Venezuela poderão se aproveitar deste diferencial.
No tocante ao mercado chinês, uma desvantagem adicional é trazida pela ausência de
ligações patrimoniais: a Hamersley (Austrália) mantém uma joint-venture com o Ministério das
Indústrias Metalúrgicas chinês (Projeto Channar, que deverá aumentar sua produção de atual de
5,0 milhões de toneladas/ano para 10,0 milhões de toneladas/ano até o final da década); a
Mineroperu foi privatizada ao final de 1992, e adquirida pela siderúrgica chinesa Chowgang (e
também pretende elevar a capacidade instalada de 4,5 para 10,0 milhões de toneladas ano).
As desvantagens locacionais brasileiras com relação ao do mercado importador asiático
devem ser atenuadas pela política de diversificação de suprimentos recorrentemente adotadas
pelos compradores. Esta medida é tomada com o objetivo de diminuir o poder de barganha do
minerador e, em alguns casos, de otimizar o processo produtivo através da mistura de minérios
(blendagem).
Processos de Fusão Redutora
Os processos de fusão redutora, como o Corex, visam a substituição do processo
convencional de ferro-gusa (coqueria, sinterização e alto-forno); o ferro-gusa seria produzido em
uma única instalação, compactando significativamente o processo siderúrgico.
As maiores repercussões do eventual sucesso das tecnologias de fusão redutora são sobre
o mix de minérios demandados pela siderurgia: algumas tecnologias requerem maior quantidade
de pelotas (benéfico à indústria brasileira), outras maior quantidade de granulados (efeitos
negativos para a atividade brasileira). De todo modo, os impactos sobre o consumo específico de
minério deverão ser reduzidos, até em função da difusão relativamente lenta destas novas
tecnologias. segundo estimativa da World Steel Dynamics (de 1992), apenas 2,5% do ferro
primário produzido por países ocidentais em 2002 deverá utilizar estas tecnologias.
Mercosul
O Mercosul não deverá trazer grandes alterações para a competitividade da indústria de
minério de ferro brasileira. O Mercosul não representa um obstáculo à indústria brasileira na
medida em que não há produção concorrente na Argentina, Paraguai e Uruguai. O único
fornecedor relevante (Hispasam na Argentina) foi fechada em junho de 1991, face aos seus altos
custos. Nos outros dois países, não se produz minério de ferro.
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O Mercosul também não corresponde a uma oportunidade, por dois motivos: o mercado
consumidor é pequeno; e o Brasil já detém a maior parcela do principal mercado individual (a
Argentina). A Argentina atualmente importa todo o minério que necessita, sendo seus principais
supridores: Brasil (94%), Peru (3,5%) e Chile (2,5%). Mesmo com a proeminência do mercado
argentino, a nível regional, ele é pouco representativo no contexto das exportações brasileiras (em
1992 as importações argentinas corresponderam a apenas 2,24% das exportações brasileiras).
Além disso, na privatização da principal usina argentina, a Somisa, a CVRD adquiriu 5% do
capital desta empresa, o que praticamente lhe garante um mercado cativo.
Não há riscos aparentes de mudança desta situação privilegiada da mineração brasileira.
Eventualmente, as exportações da Bolívia poderiam modificar esta situação. Mas, isto requeriria
uma melhoria substancial da infra-estrutura existente. Um eventual crescimento deste mercado,
poderia ser mais facilmente atingido pelo pólo emergente de minério de ferro de Mato Grosso do
Sul (onde estão cerca de 5% das reservas brasileiras), também utilizando transporte hidroviário.
A Questão Ambiental
Na atualidade, os investimentos em preservação ambiental constituem uma necessidade
vital da mineração de ferro. Como a atividade causa grande impacto ambiental, as grandes
mineradoras brasileiras têm desenvolvido extensos projetos de conservação ambiental. Dados do
Sinferbase mostram que a mineração de ferro vem investindo cerca de 1,7% do seu faturamento
em controle e preservação ambiental, o que equivale a cerca de US$ 40 milhões anuais. Apesar da
indisponibilidade de dados desagregados, sabe-se que tais dispêndios privilegiaram barragens de
rejeitos e de contenção, reflorestamentos, estabilização de taludes e coleta de lamas. As médias
empresas possuem orçamentos mais modestos, embora relativamente elevados em termos do
faturamento. As pequenas mineradoras são as que gastam pouco ou praticamente nada, e causam
grande impacto ecológico, em especial no rios da Velha e do Paraopeba (ambos em Minas Gerais).
O aumento da pressão pela preservação ambiental tende a se configurar numa
oportunidade para o incremento da produção de pelotas como substituto do processo de
sinterização. As instalações de sinterização são altamente poluentes, e na medida em que
acabarem sua vida útil, dificilmente serão repostas. A tendência à ampliação dos requisitos de
controle ambiental (como, por exemplo, para a maior difusão de precipitadores eletróstaticos em
usinas de pelotização), não deverá constituir grande problema para as grandes empresas pois estas
possuem retarguarda financeira para levar a cabo os investimentos adicionais. Há contudo dois
desafios: a pequena empresa e a maior difusão de gás natural. No primeiro caso, caso se configure
uma situação de maior inserção internacional de pequenos mineradores (especialmente do Vale do
Paraopeba), certamente essas empresas necessitarão de financiamentos para que possam cumprir a
legislação em vigor e suportar os custos relativamente altos dos projetos ambientais. No segundo,
a maior utilização do gás natural está articulada a mudanças na matriz energética da economia
brasileira como um todo.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Aumento da Carga Tributária
Inexiste uma política industrial específica para a atividade de extração e beneficiamento de
minério de ferro. É provável até que o setor realmente não requeira mecanismos ativos de política
industrial, face à excelência de suas atividades (em nível internacional) e à situação satisfatória em
comparação com outras indústrias nacionais (especialmente, aquelas que precisam ser
reestruturadas, mediante concentração das atividades ou mesmo incorporação radical de novas
técnicas organizacionais e automação industrial).
Entretanto, algumas medidas adotadas pelo Governo vêm colocando obstáculos ao
desempenho do setor, especialmente no tocante à elevação da carga tributária e à redução de
incentivos fiscais. O aumento da carga tributária global sobre o faturamento do setor elevou-se de
9,8% em 1986 para 16% em 1991 devido a:
. eliminação da cota de exaustão incentivada em 1988;
. incorporação do Imposto Único sobre Minerais ao Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS);
. instituição de royalties (denominado Compensação Financeira pela Exploração de
Recursos Mineral) sobre o preço líquido de venda do minério de ferro;
. criação de outros novos impostos: contribuição adicional sobre o lucro, adicional
estadual de imposto de renda;
. elevação do imposto de renda, face à redução de benefícios fiscais para as atividades de
exportação.
O grande problema para o setor é, na verdade, a tributação do ICMS na exportação.
Atualmente, cobra-se 6% sobre o valor da exportação (sem direito a crédito), o que muito
provavelmente não encontra similar nos principais concorrentes. De fato, um estudo comparativo
internacional sobre tributação das atividades de minério de ferro demonstra que o Brasil é o único
a cobrar imposto indireto sobre exportações de minério. Segundo estas estimativas, o setor
exportaria 6,38% do preço FOB da exportação a título de imposto (ICMS e royalties).
Outra questão tributária relevante é o contencioso fiscal existente sobre o
ICMS/Exportação: a maioria das empresas estão depositando em juízo ou tão somente fazendo
provisões, ao invés de recolher o tributo. Não seria descabido apontar que a incerteza sobre o
resultado desse contencioso constitui-se no principal obstáculo à situação financeira das empresas
mineradoras e, por conseguinte, à competitividade do setor.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
Diante da situação competitiva favorável apresentada pela indústria brasileira de extração
de minério de ferro, não se vislumbra a necessidade de reestruturação patrimonial e/ou industrial,
na medida que:
a) a escala produtiva é adequada;
b) o grau de verticalização é adequado, envolvendo inclusive infra-estrutura própria;
c) o setor é muito bem articulado com compradores internacionais, sendo praticamente o
único país a vender tanto no mercado europeu, quanto asiático.
Também no que diz respeito à modernização produtiva, o setor tem se mostrado
capacitado a acompanhar as best-practices, como se expressa na excelência dos produtos
ofertados e na inexistência de gargalos produtivos relevantes.
Tendo em vista a inexistência de desafios tecnológicos (diretos e imediatos) para o setor e
da situação de excelência de suas atividades, não faz sentido propor recomendações para o apoio
governamental à capacitação tecnológica. Dados do Sinferbase mostram que o setor gasta menos
de 0,01% do seu faturamento com pesquisa tecnológica, configurando-se uma tendência de
diminuição de importância. Em contrapartida, o dispêndio com pesquisa geológica/mineral supera
1,8% (TABELA 3). Neste sentido, uma medida positiva seria equiparar a pesquisa
geológica/mineral à pesquisa tecnológica, para fins de incentivos fiscais (abatimento do Imposto
de Renda). É bem verdade que as reservas de minério de ferro já medidas são suficientes para 64
anos, a uma taxa de lavra de 150 milhões de toneladas/anos. Assim, poderia se estimular o melhor
conhecimento das reservas já medidas, ou até mesmo inferidas, mas dificilmente teria repercussão
para aumentar as reservas totais.
Por outro lado, a cooperação da Fundação Chistiano Ottoni (UFMG) com as empresas
mineradoras tem sido muito profícuo, no que tange à difusão de novas técnicas organizacionais
(TQC). E, neste sentido, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(PADCT) - Subprograma Tecnologia Industrial Básica (TIB) - através do Projeto de
Especialização em Gestão da Qualidade, que inclui a Fundação Christiano Ottoni como um dos
beneficiários, em especial no treinamento de multiplicadores no exterior deveria ser mantido,
senão ampliado.
As medidas relacionadas aos fatores sistêmicos constituem o campo a ser privilegiado
pelas recomendações de política registradas a seguir.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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O primeiro ponto a ser enfatizado é a importância do realismo cambial para a manutenção
da rentabilidade da indústria. O setor é muito dependente das exportações, e não consegue
compensar atrasos cambiais através das vendas domésticas, na medida em que elas foram objeto
de controle de preços (até o ano de 1990) e os produtos vendidos no mercado interno são de
menor valor agregado (em especial, para os produtores de ferro-gusa à base de carvão vegetal).
Assim, qualquer atraso cambial repercute diretamente no resultado financeiro da atividade.
TABELA 3
GASTOS COM PESQUISA TECNOLÓGICA E MINERAL
MINÉRIO DE FERRO - BRASIL
(1986/91)
(US$ milhões)
Tecnológica Mineral
US$ % Fat. US$ % Fat.
1986 * s.d 29,7 1,69
1987 0,2 0,0098 30,9 1,52
1988 0,2 0,0102 38,7 1,98
1989 0,1 0,0042 55,4 2,35
1990 0,1 0,0049 44,2 1,71
1991 * s.d 46,0 1,68
Obs: * valor inferior a US$ 100 mil
Fonte: Sinferbase
Quanto aos aspectos político-institucionais, o grande problema enfrentado pelo setor é a
elevação da carga tributária e o contencioso acerca do ICMS/Exportação de Semi-elaborados.
Dever-se-ia utilizar preferencialmente impostos diretos em detrimento dos indiretos (como ICMS)
sobre a atividade, uma vez que este regime de tributação não encontra paralelo nos competidores.
Em consonância com essa alteração do regime de tributação, é fundamental evitar que novas
revisões tributárias venham elevar ainda mais a carga fiscal incidente sobre o setor.
Outras sugestões referente à política fiscal para o setor, embora de difícil implantação, são
a resolução do contencioso fiscal e a equalização do ICMS incidente sobre eletricidade nos
Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Postula-se a manutenção da cobrança de royalties
como compensação aos municípios da degradação ambiental inerente à mineração.
Com relação à infra-estrutura de transportes, a conclusão das obras da Ferrovia do Aço
(pátios de cruzamento, sistema de telecomunicações e sinalização) é necessária para aumentar a
confiabilidade das exportações pelo Porto de Sepetiba (exportações da Minerações Brasileiras
Reunidas, e futuramente, da Ferteco e das mineradoras do Vale do Paraopeba). Além disso,
propiciaria o aumento da capacidade instalada, a custos relativamente reduzidos.
Ainda com o objetivo de incrementar a presença interancional da mineração brasileira, é
importante apoiar financeiramente as exportações dos pequenos mineradores. Para isso, é
13
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necessário otimizar a atual infra-estrutura de transportes, visando, sobretudo, contornar os altos
custos de fretes ferroviários no corredor Estrada de Ferro Vitória-Minas/Porto de Tubarão e de
serviços portuários no corredor Ferrovia do Aço/Porto do Rio de Janeiro.
A efetivação de um terminal privativo, capitaneado pela Ferteco, em Sepetiba ou mesmo a
(remota) concretização do terceiro trilho entre o Vale do Paraopeba e Belo Horizonte, parecem
abrir meios para a exportação destes pequenos produtores. Mas, pelo menos no primeiro caso,
exigir-se-á investimentos em material rodante. O financiamento a esta aquisição deveria ser
fornecido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e repassado pelo Banco
de Desenvolvimento de Minas Gerais, uma vez que empresas de pequeno porte têm muitas
dificuldades em obter financiamento externo. Para atingir as escalas mínimas requeridas para
exportar poderá ser necessário uma centralização de capitais. Os recursos para esta mini-
reestruturação setorial, se necessários, deverão ser de pequena monta.
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3.1. Proposição de Políticas para Minério de Ferro - Quadro Sinótico
AGENTE/ATOR
OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA
EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD
1. Fatores Sistêmicos
Objetivo: Manutenção da rentabilidade do setor
Ações: - manter realismo cambial X
- alterar o regime de tributação dando
preferência aos impostos diretos X
- não elevar a carga tributária X X
Objetivo: Otimização da infra-estrutura de
exportações
Ações: - financiar pequenos mineradores X
- melhorar as operações da Ferrovia
do Aço X X X
- concretizar terminal privativo de
Sepetiba X
Objetivo: Induzir pesquisa geológica
Ação: - equiparação de pesquisa geológica
com tecnológica X X
Legendas: EXEC - Executivo
LEG - Legislativo
EMP - Empresas e Entidades Empresariais
TRAB - Trabalhadores e Sindicatos
ASSOC - Associações Civis
ACAD - Academia
Nota: Em caso de coluna em branco, leia-se "sem recomendação".
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4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Indicadores de competitividade na indústria de mineração de ferro são extremamente
complexos pelo fato do desempenho da atividade estar muito correlacionado às participações
acionárias, além da baixa complexidade tecnológica característica da indústria. Além disso, as
diversidades das condições naturais de cada mina impõem uma restrição adicional à utilização de
indicadores.
Por outro lado, indicadores de custos, como de extração, de beneficiamento, de transporte
ferroviário (ou através de minerodutos) e portuário, são relevantes, mas são encarados como
sigilosos pelas empresas.
Apesar destas particularidades, alguns quesitos parecem ser significativos para o setor:
a) participação no mercado internacional:
exportações brasileiras
_________________________
exportações totais de minério
b) nível de enobrecimento do produto:
market-share em US$
_________________________
market-share em toneladas
c) relevância da exportação de pelotas:
exportações de pelotas em toneladas
_______________________________
exportações totais de minério
d) produtividade técnica:
produção mina em toneladas
_________________________
homem.ano
e) produtividade econômica:
receita gerada em US$
_____________________
homem.ano
f) perdas de exploração:
quantidade de minério bruto produzido
_________________________________
redução correspondente nas reservas
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g) eficácia dos projetos:
data prevista para entrada em operação
__________________________________
data efetiva do início do projeto
h) consumo específico de eletricidade em pelotização:
consumo de eletricidade (Kwh)
___________________________
produção de pelotas
i) consumo específico de energia térmica em pelotização:
consumo de energia térmica (Mcal)
______________________________
produção de pelotas
j) índice de disponibilidade:
beneficiamento
________________
pelotização
l) índice de custo do controle ambiental:
dispêndio em controle ambiental
_____________________________
faturamento
m) produtividade do transporte ferroviário
tráfego ferroviário (em TKU)
_________________________
empregado/ano
n) eficiência energética no transporte ferroviário
tráfego ferroviário (em TKU)
_________________________
tonelada de combustível
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APRESENTAÇÃO
O presente documento técnico apresenta a Nota Técnica Setorial de um dos estudos que
compõem o projeto "Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira", referente ao contrato
entre a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Secretaria de Ciência e Tecnologia da
Presidência da República (SCT-PR) e a Fundação Economia de Campinas (FECAMP),
coordenado pelo Prof. Dr. Luciano G. Coutinho, do Instituto de Economia da UNICAMP, e pelo
Prof. Dr. João Carlos Ferraz, do Instituto de Economia Industrial da UFRJ.
Para a elaboração do trabalho, além das referências bibliográficas citadas ao final do
documento, foram relizadas entrevistas junto aos seguintes especialistas e empresas/instituições, a
quem o autor agradece a valiosa contribuição: Hélio Blak, Gilberto Schneider Souza, José
Goifman, Fernando A. Lana, José Murilo Mourão, José Salomão Fadlalah, Francisco Horácio G.
Abreu dos Santos, Evanio Gariglio, Geraldo Gonçalves Freitas, André Luis Piccolo e José
Wedson F. Amorim da Cia. Vale do Rio Doce; Wanderlei Viçoso Fagundes, Rodrigo Werneck,
Henrique Pilar, Gildásio de Andrade Starling da Minerações Brasileiras Reunidas; Carlos Walace
de Miranda, Eder Campos de Resende, Rodolfo Altoé Filho e Jorge Alberto Lacerda da Samarco
Mineração; Rachid Saliba e Magnus Ribas Apostólico da Samitri; Antônio F. da Silva Tavares da
Ferteco; Fernando Porto da Itaminas; Paulo Eugênio Almeida Bethonico da Socoimex; Luiz
Henrique de Vasconcelos Carneiro da Cia. Docas do Rio de Janeiro; Antônio Henrique Senise do
Sinferbase; Tereza Cristina Aquino do BNDES; Alceu de Castro Parreiras, Marco Moreira, José
Fortunado Mendes e Dieter Kux do INDI; e Luis Alberto P. de Carvalho e José Eustáquio Souza
Ribeiro do BDMG. Forma utilizados, ainda, dados inéditos referentes ao setor de minério de
ferro, elaborados pela Consultec, e gentilmente cedidos pelo Sinferbase através do Secretário
Executivo, Sr. Antônio Henrique Senise.
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1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA DE EXTRAÇÃO DE MINÉRIO
DE FERRO
1.1. Características Estruturais
A indústria de extração e beneficiamento de minério de ferro é uma atividade totalmente
dependente da produção e do consumo de aço. A siderurgia é, seguramente, a maior compradora
deste insumo. Estima-se que 98% das vendas de minério de ferro são direcionadas à indústria
siderúrgica1. Neste sentido, as perspectivas de desempenho do setor siderúrgico constituem-se,
tradicionalmente, no principal elemento norteador do nível de atividade da extração de minério.
A produção mundial da indústria siderúrgica manteve-se estagnada nos últimos vinte anos.
Na década de 90, a produção deverá crescer a taxas marginais, face à forte concorrência que o
aço vem sofrendo de outros materiais, em especial, plástico e alumínio. Junte-se a isso duas outras
tendências da siderurgia, que levaram à diminuição da demanda por minério de ferro: i) o aumento
do rendimento integrado, reduzindo os rejeitos ao longo do processo de fabricação do aço; ii) o
incremento da importância das aciarias elétricas, que utilizam a sucata como matéria-prima, não
consumindo diretamente o minério de ferro2. A conjugação destes três fatores implicam a
estabilidade da demanda de minério de ferro, a nível mundial. A estimativa da Companhia Vale do
Rio Doce (CVRD) é de que o comércio transoceânico de minério de ferro passe do patamar de
350 milhões de toneladas (em 1990) para 400 milhões de toneladas (no ano 2000),
correspondendo a um crescimento anual de 1,01% (BRUMER, 1991: 362). Poucas empresas
estão levando a cabo, atualmente, a implantação de novos projetos que redundem no aumento da
capacidade instalada, privilegiando-se a implantação ou a ampliação de projetos que venham
substituir a produção das minas em exaustão.
A atividade mineradora de ferro possui, ainda duas peculiaridades relevantes: progresso
tecnológico pouco dinâmico e reduzida gama de produtos ofertados, em comparação com outras
indústrias (seja do paradigma metal-mecânico ou do eletro-eletrônico). A tecnologia utilizada na
atividade mineradora é facilmente apropriável, dado que os eventuais progressos tecnológicos são,
na maioria das vezes, gerados pelos fornecedores de equipamentos. Além disso, estes mesmos
equipamentos, tais como caminhões, escavadeiras, correias de transporte, unidades de
beneficiamento, são de menor complexidade do ponto de vista tecnológico, em comparação com
os requisitos técnicos verificados em outras indústrias. Como, adicionalmente, a extração é feita a
1 O minério de ferro é consumido dentro do complexo siderúrgico nas atividades de fabricação de aço propriamente
dito, de ferro-gusa e de ferro-ligas, e fora deste complexo na indústria cimenteira.
2 Parece impossível, porém, um padrão no qual toda a produção de aço se processe em aciarias elétricas. Isto
somente seria factível num contexto de queda substancial e persistente do consumo de aço, a nível mundial.
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céu aberto, e muito raramente em minas subterrâneas (como no caso da Suécia), a operação desta
atividade é ainda mais facilitada.
Praticamente, a extração de minério de ferro somente apresentou duas alterações no seu
modus operandi, ao longo deste século. A primeira mudança deveu-se à substituição das aciarias
Siemens-Martin por conversores a oxigênio (LD), nas décadas de 50 e 60, implicando a
diminuição da demanda por minério granulado (lump) e no aumento da de finos. A demanda por
pellets, por sua vez, somente se ampliou ao final da década de 60 (AQUINO et alli, 1989: 17-8).
Esta transformação veio combinada com o uso crescente do sínter, e da necessidade do
fornecimento de minério com maior teor de ferro e com maior regularidade (tornando-se as
especificações do produto mais rígidas).
A segunda grande alteração tecnológica foi a concentração de minério de ferro de baixo
teor (itabiritos), introduzida no Brasil no final dos anos 603. Isto permitiu às mineradoras
utilizarem um minério que anteriormente era considerado rejeito, aumentando-se as reservas
estimadas de cada empresa e, consequentemente, dilatando o período de exaustão das minas. A
CVRD é tida como a primeira empresa do mundo a utilizar a tecnologia "concentração magnética
por via úmida", em escala industrial4. Posteriormente surgiram outras técnicas alternativas
destacando-se a tecnologia de flotação.
Com relação aos produtos, geralmente estes são segmentados em dois tipos5: não-
aglomerados e aglomerados6. Na primeira classificação, incluem-se os principais produtos
vendidos pela indústria extrativa de minério de ferro, que são:
a) Lumps: produtos com granulometria entre 6 e 30 mm e, geralmente, com menos de
20% de finos, e que requer uma carga menor de beneficiamento.
b) Finos: pequenas partículas de minério, usualmente inferiores a 6 mm, e que merecem
aglomeração (sinter feed).
c) Pellet feed: finos para pelotização, geralmente muito finos, com granulometria abaixo
de 0,1 mm.
3 Esta inovação foi particularmente relevante para a indústria brasileira, na medida em que já era utilizada em
outros países que já exploravam minas com baixo teor de ferro, como Estados Unidos e Canadá.
4 PAIXÃO & PINHEIRO (1989: 28) destacam que o novo método de concentração, entitulado Wet High Intensity
Magnetic Separation (WHIMS), decorreu do fato de que o processo convencional era inadequado ao minério
relativamente fino que era minerado, no tocante a baixo custo e alta qualidade.
5 Costuma-se também diferenciar dois tipos de minérios: hematita (teor médio de ferro de 64-68%) e itabirito (teor
médio de ferro inferior a 60%). O itabirito é uma combinação de sílica com hematita.
6 Ver Anexo 1.
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Os produtos aglomerados podem ser de dois tipos: pellets e sínter. O primeiro, cuja
granulometria varia entre 8 e 18 mm, é produzido em unidades de pelotização, em geral, de
propriedade das empresas mineradoras. O sínter é gerado pelas próprias usinas siderúrgicas7. As
pelotas, desta forma, são os produtos de maior valor agregado da indústria extrativa de minério de
ferro8.
As principais barreiras à entrada neste setor não são tecnológicas, mas de duas outras
ordens: i) relativas ao volume de capital, face ao montante necessário para a implentação dos
projetos e para o escoamento da produção; ii) de caráter institucional (direitos de lavra). A
empresa Minas Serra Geral é uma joint-venture da CVRD (51%) com a Kawasaki Steel Company
(31,3%) e um consórcio de empresas japonesas (17,7%), que confirma a importância dos gastos
iniciais de implantação. O investimento inicial foi da ordem de US$ 102 milhões, sendo que a
produção começou em agosto de 19829. A capacidade nominal da mina é de 10,5-11,5 milhões de
toneladas anuais, embora em 1990 tenha conseguido produzir 13,9 milhões de toneladas. Já em
1991, a mina produziu 10,7 milhões de toneladas (faturamento de US$ 54,7 milhões),
empregando apenas 650 funcionários. A previsão de investimento para 1992 era de apenas US$ 3
milhões, isto é, 6% do faturamento (BRASIL MINERAL, 1992, 10 (97): 12-4).
A indústria caracteriza-se por ser intensiva em capital, sendo que os investimentos
geralmente contemplam três elementos: mina e usina de beneficiamento, transporte (ferrovia ou
mineroduto) e instalações portuárias. O formato mina-ferrovia-porto é o sistema de operação
convencional do setor. Para a concretização do Projeto Ferro Carajás, que custou US$ 3,5
bilhões, foi necessário além das instalações da mina e usina de beneficiamento (capacidade de 35
milhões de toneladas anuais), a construção de uma ferrovia ligando a Serra de Carajás até o Porto
de Ponta da Madeira (890 km) - que correspondeu a 48% do custo total do Projeto - e a
construção deste próprio porto.
Combinada à alta intensidade de capital, o setor prima pelo longo período de maturação
dos projetos. Antes da entrada em operação das minas, requer-se uma série de atividades, com a
7 A Philippine Sinter é uma exceção no setor: trata-se de uma usina de sinterização nas Filipinas, de propriedade
da Kawasaki Steel, que utiliza seu produto na sua usina de Chiba (Japão). A capacidade instalada é de 3,5 milhões
de toneladas ano.
8 Em 1991, as pelotas representaram 20,9% e 31,1% em tonelagem e em receita, respectivamente, das exportações
brasileiras de minério de ferro, o que ratifica o seu maior valor agregado.
9 Deve-se considerar que os gastos iniciais deveriam ser até maiores, na medida em que esta empresa não possui
todas as unidades de beneficiamento: o minério extraído em Capanema é transportado por correias (num percurso
de 11 km), a uma velocidade de 2,8 mil toneladas/hora até Timbopeba, onde é concentrado numa unidade da
CVRD. O custo histórico do sistema de transporte por correiras foi de US$ 22 milhões (BRASIL MINERAL, 1992,
10 (102): 14).
21
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prospecção e a pesquisa geológica10 e a própria construção da infra-estrutura. Isto, por sua vez,
implica que o início efetivo da comercialização de produtos dilata-se muito no tempo. E na
medida em que os contratos de comercialização são, em regra, plurianuais (de 5 a 7 anos), tendo
seus preços repactuados anualmente11, tem-se outra característica desta atividade: a grande
previsibilidade.
O mercado de minério de ferro pode ser considerado um mercado livre, na medida em que
as tarifas costumam ser nulas, além de ser não ser administrado através de medidas não-tarifárias
(cotas, acordos de restrição voluntárias às exportações, ações de salvaguardas, de anti-dumping e
de direitos compensatórios). No caso brasileiro, frente as vantagens comparativas incontestes, não
há tarifas, nem outros mecanismos impeditivos à importação de minério de outros países, que
teoricamente seriam justificáveis apenas para blendagem.
1.2. Evolução Recente
Brasil e Austrália são atualmente os maiores exportadores mundiais de minério de ferro. A
posição hegemônica dos dois países vem aumentando nos últimos anos: em 1981, eles dominavam
conjuntamente 48,4% do mercado transoceânico; em 1991, esta participação já tinha evoluído
para 64,3% (Tabela 1). A diferença entre o mercado transoceânico e o mundial, decorre do
primeiro considerar apenas as exportações que utilizem navios com destino ao mercado mundial.
Desta forma, estão excluídas deste mercado as exportações através dos Grandes Lagos do Canadá
para os EUA (e vice-versa), as exportações por vias internas na Europa Ocidental (principalmente
da França) e as exportações da Comunidade de Estados Independentes (CEI) para os países do
Leste Europeu (SCHNEIDER, 1991: 6).
10 A prospecção consiste na investigação de alvos em áreas previamente selecionadas pelo mapeamento básico; a
pesquisa geológica consiste na avaliação do potencial econômico dos alvos selecionados pela prospecção, através da
determinação das características geológicas, forma, tamanho, teor, valor e viabilidade da extração. Estas atividades
apresentam altos riscos.
11 Embora haja uma tendência da dimuinuição da importância dos contratos de longo prazo, eles continuam muito
relevantes para a implantação de novas minas ou para a ampliação da capacidade produtiva. Mas, após a
consolidação inicial, os compradores evitam se comprometer por muitos anos. OLIVEIRA (1988: 129) estimava
que, no comércio mundial de minério de ferro, provavelmente 60% era realizado através de contratos de longo e
médio prazos.
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TABELA 1
PRINCIPAIS EXPORTADORES DE MINÉRIO DE FERRO
(1981/91)
(milhões de toneladas)
1981 1985 1989 1990 1991
Brasil 81,0 91,8 111,6 114,3 114,7
Austrália 71,1 86,9 104,5 96,2 111,5
Canadá 41,4 32,1 30,2 27,0 29,7
India 22,4 28,8 33,5 31,6 29,0
CEI 44,1 43,8 39,8 36,4 27,4
Suécia 17,7 18,3 17,5 16,4 15,5
Africa do Sul 11,4* 10,2 14,6 17,0 15,5
Venezuela 12,4 9,0 14,4 13,6 13,3
Mauritânia 8,9 9,3 11,1 11,4 10,0
Chile 5,3 4,8 7,4 6,5 7,4
Libéria 20,7 16,1 12,7 3,9 s.d
TRANSOCEÂNICO 314,4 320,6 361,9 350,0 352,0
TOTAL MUNDIAL 370,2 376,6 420,3 394,5 395,6
Fonte: UNCTAD (1991), UNCTAD (1992), CVRD (1992)
Obs: * dado de 1982
Em 1991, o Brasil foi o maior exportador mundial de minério de ferro, superando
ligeiramente as vendas externas australianas (2,9%), o que proporcionou uma receita cambial de
US$ 2,6 bilhões12. Já em 1992, a situação se inverteu: a Austrália exportou 106,8 milhões de
toneladas (retração de 4,4%), enquanto as vendas externas brasileiras atingiram 106,0 milhões de
toneladas (involução de 8,2%)13. Estimativas preliminares apontam que o volume negociado no
mercado transoceânico tenha retraído em cerca de 6% em 1992.
Nos últimos três anos, as grandes alterações neste mercado decorreram, principalmente, da
queda das exportações da Comunidade de Estados Independentes (12,4 milhões de
toneladas/ano)14 e da Libéria (aproximadamente 12 milhões de toneladas/ano). Ambas estão
atreladas a rupturas do regime político: na CEI, em função da própria separação das repúblicas da
ex-URSS, e na Libéria, por uma guerra civil que vem impedindo, desde junho de 1990, as
operações da Bong Mine Co. (7,5 milhões de toneladas/ano, sendo 3,0 milhões de toneladas
anuais de pelotas)15. A outra grande produtora da Libéria, a LAMCO (6,0 milhões de toneladas
12 Neste ano, o comércio mundial de minério de ferro alcançou US$ 8,55 bilhões. Assim, a participação brasileira,
em termos de faturamento foi de 30,4%, enquanto em tonelagem foi de 29%.
13 Em 1992, a receita da exportação brasileira de minério de ferro foi de US$ 2,3 bilhões (13% de retração). A
queda média de preços foi de 4,5%. A CVRD e suas coligadas obtiveram em 1992 uma receita, com exportação de
minério de ferro, da ordem de US$ 1,47 bilhão (63,8% do total conseguido pelo país).
14 A oferta do minério pela CEI não é computada como do mercado transoceânico, mas afetam este mercado
indiretamente: diminuição do suprimento da CEI aos países do Leste Europeu tende a aumentar a demanda de
minério transoceânico.
15 Esta empresa é uma joint-venture entre o governo liberiano (50%), Exploration und Bergbau (33,75%) e
Ilva/Finsider (16,25%). A empresa alemã Exploration und Bergbau é a controladora da mineradora Ferteco.
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anuais) interrompeu sua produção em 1989, face à virtual exaustão de suas reservas. Na verdade,
a empresa LAMCO foi desestruturada e substituída pela LIMINCO, que a princípio deveria
produzir 3 milhões de toneladas ano, até a concretização do Projeto Mifergui (Guinéa)16.
SCHNEIDER (1991: 56-7) atesta, com propriedade, que o mercado transoceânico de
minério de ferro viveu dois momentos muito distintos, em termos de concentração da oferta. No
período 1937-70, verificou-se uma grande desconcentração, sendo que a importância dos dois
maiores exportadores declinou de 61% para 28%; a partir de 1970, a indústria começou a se
concentrar rapidamente, sendo que esta partipação elevou-se para 50% (em 1975) e, finalmente,
para 60% (em 1989). Em termos prospectivos, espera-se que ao longo da década de 90, esta alta
concentração da oferta de minérios se mantenha (ou mesmo até aumente).
Por outro lado, as importações de minério de ferro são muito concentradas nos países da
Europa Ocidental e no Japão. Estes, conjuntamente, equivaleram a 68,9% das importações
mundiais do produto, em 1991. Dentro da Europa Ocidental, destaca-se o mercado alemão,
responsável por 11,1% da importação mundial (Tabela 2).
TABELA 2
PRINCIPAIS IMPORTADORES DE MINÉRIO DE FERRO
(1981/91)
(milhões de toneladas)
1981 1985 1989 1990 1991
Japão 123,4 124,5 127,7 125,3 127,2
Alemanha* 44,3 49,4 51,7 47,2 43,9
Coréia do Sul 10,7 11,2 22,8 22,5 28,0
Bélgica/Luxemburgo 21,1 19,0 19,8 20,3 19,3
Reino Unido 14,6 15,4 19,2 17,6 18,5
França 16,5 16,2 20,0 18,8 18,2
Itália 15,2 18,3 18,2 17,2 17,9
China 3,3 10,1 12,6 14,3 16,5
Estados Unidos 28,8 16,0 19,6 18,1 13,3
Checoslováquia 15,7 11,3 9,8 8,7 12,6
TOTAL MUNDIAL 370,8 374,5 413,2 394,3 394,2
Fonte: UNCTAD (1991), UNCTAD (1992)
Obs: * Dados conjuntos das Alemanhas Ocidental e Oriental
Em linhas gerais, ao longo dos últimos dez anos, percebe-se uma certa estabilidade do
volume importado por cada país individualmente, com três exceções marcantes: Coréia do Sul,
China e Estados Unidos. De fato, o crescimento das importações coreana e chinesa foram,
respectivamente, de 10,1% e 17,5% a.a. Este é um dos melhores indicadores do dinamismo da
siderurgia asiática. Em termos propectivos, a demanda coreana deverá estagnar ao longo desta
década, enquanto a chinesa deverá continuar apresentando um crescimento considerável (ainda
16 Ver seção 1.3.
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que a taxas mais modestas). Com relação aos Estados Unidos, o decréscimo da importação de
minério de ferro está estreitamente correlacionado à crise de sua siderurgia: a produção de aço
norte-americana foi, em 1980, de 101,5 milhões de toneladas e, em 1991, de 79,4 milhões de
toneladas (uma redução de 27,8% na fabricação do metal).
Como já referido anteriormente, a produção e o consumo do aço são os principais
balizadores do desempenho da indústria de mineração de ferro. As inúmeras estimativas quanto ao
comportamento futuro do mercado siderúrgico possuem, via de regra, uma similaridade: a
trajetória de estagnação, ou na melhor das hipóteses, de crescimento vegetativo da produção e
consumo de aço.
A Tabela 3 apresenta dois cenários, elaborados pela World Steel Dynamics (de novembro
de 1991) acerca da capacidade instalada de produção de aço bruto. Estes cenários foram
intitulados Low Forecast (representando uma estimativa pessimista) e Medium Forecast
(correspondente a uma previsão otimista). As três datas cruciais são 1990, 1995 e, finalmente,
2000.
TABELA 3
ESTIMATIVA DA CAPACIDADE MUNDIAL DE PRODUÇÃO DE AÇO
(1990/1995/2000)
(milhões de toneladas de aço bruto)
| Low | Medium
1990 | 1995 2000 | 1995 2000
Japão 140 | 132 132 | 132 132
Estados Unidos 111 | 102 101 | 106 106
Alemanha 46 | 49 48 | 51 49
CEE 174 | 171 167 | 176 171
Mundo Desenvolvido 484 | 469 466 | 483 478
América Latina 57 | 58 60 | 70 71
Africa 17 | 19 22 | 23 24
Oriente Médio 9 | 15 18 | 19 23
Sudoeste Asiático 40 | 51 59 | 57 72
CEI 188 | 186 186 | 192 192
China 68 | 76 80 | 88 92
TOTAL MUNDIAL 975 | 974 993 | 1045 1069
Fonte: World Steel Dymanics (1991)
A análise da Tabela 3 reitera alguns dos pontos recorrentemente ressaltados na literatura
sobre o assunto, destacando-se:
a) a estagnação da capacidade de produção nos países desenvolvidos: pelo cenário mais
otimista, no ano 2000, haveria ligeira diminuição desta capacidade (6 milhões de toneladas/ano,
isto é, 1,25% do parque);
25
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b) em ambos cenários, o aumento da capacidade instalada deverá recair sobre os países do
sudeste asiático e China; na trajetória pessimista, a capacidade instalada aumentaria em 47,5% e
17,65%, respectivamente, nestes dez anos;
c) dentro os países do sudeste asiático, as maiores taxas de crescimento deverão ser as da
Indonésia, Filipinas e Tailândia;
d) na América Latina, as previsões são muito díspares: crescimento praticamente nulo pelo
cenário mais pessimista (adição de 3 milhões de toneladas anuais), ou muito significativo pelo
mais otimista (acréscimo de 14 milhões de toneladas anuais);
e) apesar da relocalização da produção de aço bruto dos países desenvolvidos pelos em
desenvolvimento, a capacidade mundial de aço deve permanecer estável: aumento entre 1,85% ou
9,64%, comparando-se o ano 2000 com 1990.
Em suma, é muito provável que a produção mundial de aço bruto permaneça estagnada,
embora apresentando alterações na ordem de importância dos produtores, face aos investimentos
verificados nos países em desenvolvimento. HOLSCHUH (1990: 25) ratifica esta noção, ao
indicar que o consumo mundial aparente de aço, em 1995, deve aumentar apenas 0,39%, em
comparação à demanda estimada para 1990. Numa situação anormal de pico de demanda, este
percentual poderia atingir somente 6,29%.
Naturalmente, o comércio transoceânico de minério de ferro deve acompanhar esta
estagnação da demanda na década de 90. Segundo a Drewry Shipping Consultants Ltd., em 1995,
o comércio transoceânico de minério deverá atingir 376 milhões de toneladas (crescimento anual
de 1,44%, em relação a 1990), sendo o Brasil responsável por 133 milhões de toneladas e a
Austrália por 108 milhões. Desta forma, a participação brasileira neste mercado aumentaria de
32,7% (em 1990) para 35,4% (em 1995) - ver MINERIOS, EXTRAÇÃO &
PROCESSAMENTO (1990/1991, 14 (165): 22).
Do lado das importações, esta consultoria estimou que as importações coreanas elevar-se-
iam, neste período, em 8% a.a., enquanto as de Taiwan permaneceriam estáveis em torno de 11
milhões de toneladas, e as chinesas subiriam de 14,3 para 26 milhões de toneladas.
Não se pode esquecer, porém, que a evolução global do mercado transoceânico de minério
de ferro não deverá apresentar um crescimento linear entre os seus produtos. Segundo estimativa
de um diretor de uma grande mineradora brasileira, a situação mais provável para a década de 90
num cenário pessimista seria a seguinte (ver Tabela 4):
26
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a) um crescimento acentuado da demanda de pelotas para a redução direta17;
b) estabilidade do consumo de minério fino e pelotas para altos-fornos;
c) redução da importação de minério granulado.
TABELA 4
ESTIMATIVA DO MERCADO TRANSOCEÂNICO DE
MINÉRIO DE FERRO, POR PRODUTOS
(1991/1995/2000)
(milhões de toneladas)
1991 1995 2000
Minério fino 234 221 238
Minério granulado 63 58 58
Pelotas/Alto-forno 45 43 44
Pelotas/Redução Direta 10 12 15
TOTAL 352 334 355
Fonte: Entrevistas
Embora o segmento de pelotas para a redução direta seja o único que provavelmente
apresentará um bom resultado nesta década18, a participação das pelotas como um todo deverá
continuar pequena (16,6% no ano 2000) dentro do mercado transoceânico de minério. Deve-se
apontar, contudo, que a importância dos países neste segmento é bem diferente da verificada no
mercado total, em função da pouca representatividade da produção e exportação australiana. A
Tabela 5 apresenta a exportação de pelotas, por países, durante o período 1986-1991. O Brasil é o
maior exportador (35,2% do mercado), sendo seguido, à distância, por Canadá, CEI e Suécia19.
Novamente, os fatos mais marcantes deste mercado, nos últimos, foram a redução da produção
ocorrida na Austrália e Perú, e a saída da Libéria do mercado.
17 Segundo MOURAO & SOUZA (1986: 390-2), as vantagens das pelotas em relação ao minério granulado, em
unidades de redução direta são: alto teor de ferro, elevada basicidade (que aumenta a resistência ao amolecimento e
fusão da fase escória) e maior resistência à desintegração sobre redução.
18 Isto apenas acentuaria a tendência, vigente desde os anos 70, do aumento da participação das pelotas para
redução direta no contexto da indústria como um todo.
19 As principais empresas que atuam no mercado de pelotas são: CVRD e associadas, Samarco e Ferteco (Brasil),
LKAB (Suécia), Quebec Cartier Mining (Canadá, com participação do grupo brasileiro CAEMI/Antunes), Iron Ore
of Canadá (Canadá), Kudremukh (India), Argarrobo (Chile) e Mineroperu (Perú) - ver Tabela 22.
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TABELA 5
EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE PELOTAS
(1986/91)
(milhões de toneladas)
1986 1987 1988 1989 1990 1991
Brasil 22,3 20,0 23,8 23,3 20,0 24,0
Canadá 17,5 13,1 17,6 17,3 14,6 14,4
CEI 10,9 10,8 10,9 11,5 12,3 10,0
Suécia 6,3 6,1 6,5 6,5 6,5 6,4
Estados Unidos 4,6 5,0 5,2 2,9 3,0 4,0
Chile 3,0 3,3 3,5 3,6 4,3 3,8
India 0,2 0,8 1,6 1,9 1,7 1,7
Noruega - - 1,1 1,0 1,2 1,3
Venezuela - 0,4 0,8 1,2 1,2 0,9
Perú 1,5 1,7 1,5 1,5 1,2 0,8
Austrália 1,7 2,1 2,0 1,6 1,7 0,7
Libéria 3,2 3,2 3,2 1,3 1,5 -
TOTAL MUNDIAL 71,1 66,7 75,7 74,9 72,5 68,1
Fonte: UNCTAD (1991), UNCTAD (1992)
1.3. Expansão e Exaustão de Projetos Minerais
A análise do ajustamento da capacidade mundial de extração de minério de ferro visa
sublinhar os principais projetos de expansão e as minas que devem reduzir suas atividades,
geralmente em função da exaustão do minério.
A redução do ritmo de operações (Tabela 6) deverá ocorrer fundamentalmente na Libéria
(11 milhões de toneladas anuais) e, em menor escala, na Austrália (Yampi Sound, 4 milhões de
toneladas anuais). No período 1991/93, a diminuição de produção dos seis projetos listados
aproxima-se de 18 milhões de toneladas/ano (apenas 2% da produção mundial do minério).
TABELA 6
REDUÇÃO DA OPERAÇÃO DE MINAS DE FERRO
(1991/93)
(milhões de toneladas/ano)
Mina Redução Data Razão
LAMCO (Libéria) 5,0 1992 Exaustão
Bong (Libéria) 6,0 1991 Guerra civil
Algona (Canadá) 1,1 1992 s.d
Wabush (Canadá) 1,5 1992 Ajuste a mercado
(temporário)
SSAB (Suécia) 0,6 1992 Exaustão
Yampi Sound (Austrália) 4,0 1993 Exaustão
Savage River (Austrália) 0,8 1991 Exaustão futura
Fonte: UNCTAD (1992)
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Na Austrália, há dois casos de redução de atividades. O primeiro decorre da exaustão do
minério da Mina de Yampi Sound (100% da BHP), que deve ocorrer em maio de 1993. Apesar de
ser um empreendimento de pequenas proporções (4 milhões de toneladas/ano), deve-se considerar
que: a) representa um projeto integrado mina/porto; b) o porto (denominado Koolan Island), com
capacidade para navios de até 142 mil toneladas de porte bruto e ship-loader de 3 mil
toneladas/hora, será também desativado; c) a mina era praticamente litorânea, minimizando os
gastos de transporte terrestre; d) é o porto australiano mais próximo do Japão (3,2 mil milhas
naúticas).
No caso da Savage River, a partir de 1990/91, a produção de pelotas reduziu-se de 2,25
milhões de toneladas/ano para 1,4 milhões de toneladas/ano de pelotas, uma vez que as reservas
devem se exaurir até 1995, no máximo.
As perpectivas de crescimento da mineração de ferro por países, destacando inicialmente o
caso brasileiro é analisada a seguir.
Na década de 80, o projeto mais importante de mineração de ferro do mundo foi o Ferro
Carajás, da CVRD. As jazidas de minério de ferro de Carajás são da ordem de 18 bilhões de
toneladas de minério hematítico de alto teor (superior a 66% de ferro contido), dispensando
concentração do minério. O Projeto começou a operar em fevereiro de 1985, atingindo a
capacidade nominal de 35 milhões de toneladas/ano em 1987, sendo praticamente todo voltado às
exportações20. Ele foi parcialmente financiado pelo capital japonês (US$ 477 milhões), o que
corresponderia a 13,6% do projeto como um todo.
O custo do investimento total de Ferro Carajás foi de US$ 3,5 bilhões (Tabela 7). Na
verdade, o início deste empreendimento não representou um acréscimo líquido de 35 milhões de
toneladas/ano no mercado mundial, uma vez que 9,3 milhões de toneladas/ano foram de contratos
"substituídos" do Sistema Sul (MARQUES, 1990: 55). De toda forma, o projeto permitiu à
CVRD consolidar-se como líder mundial da exportação de minério de ferro. A grande vantagem
do empreendimento é o reduzido custo de beneficiamento: não se requer concentração, mas
apenas a simples redução do minério run of mine à granulometria especificada. Em compensação,
a distância porto/mina é elevada: 890 km.
20 A reserva de minério de ferro de Carajás foi descoberta em 1967. Mas somente em 1978, um ano após a retirada
da US Steel do projeto, é que houve o início de sua viabilização, com a construção de um trecho ferroviário de 82
km de São Luiz em direção à mina (MARQUES, 1992a: 21). Para uma descrição detalhada da descoberta de
Carajás, ver SANTOS (1986), especialmente páginas 294-302.
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TABELA 7
INVESTIMENTOS DO PROJETO FERRO CARAJÁS
(milhões de dólares)
Minas 622,8
Ferrovia 1.702,0
Porto 230,7
Cidades 178,9
Gerência/Adminstração 435,0
Programa Indígena 13,6
Provisão Financeira 321,4
TOTAL 3.504,4
Fonte: CVRD apud MARQUES (1990)
A CVRD, aparentemente, deve realizar investimentos marginais na área de minério de
ferro, na década de 90. Uma das razões é a tendência contracionista do mercado, acrescido do
fato de que o investimento em Ferro Carajás ainda não foi totalmente amortizado. MARQUES
(1992/93: 14) aponta, inclusive, que os investimenos de otimização feitos nos Sistemas Norte e
Sul tendem a se acelerar. Um retomada do mercado seria facilmente atendida pela empresa, face à
ociosidade da infra-estrutura ferroviária e portuária no Sistema Sul e o baixo custo de ampliação
de Ferro Carajás: estima-se um investimento adicional de apenas US$ 10 por tonelada/ano (até 50
milhões de toneladas/ano).
Na década de 90, o crescimento brasileiro da produção e exportação de minério de ferro
deverá concentrar-se na expansão das atividades da MBR. Esta está dividida em duas etapas: a)
ampliação de 24 para 27 milhões de toneladas/ano; b) aumento da capacidade instalada para 35
milhões de toneladas anuais.
Apenas a primeira etapa da expansão da MBR já está com financiamento contratado. Este
estágio inicial, previsto para 1994, está orçado em US$ 285 milhões (incluindo US$ 20 milhões de
despesas financeiras), sendo US$ 45,5 milhões já investidos em 1992, e contempla os seguintes
investimentos:
. ampliação da mina do Pico de 3,5 para 7,0 milhões de toneladas/ano;
. construção de um sistema de correia transportadora de 6 km entre a mina do Pico e o
pátio de Andaime;
. aumento da capacidade de escoamento ferroviário e portuário correspondente;
. 57 km do trecho norte da Ferrovia do Aço (US$ 110 milhões), reduzindo a distância
Pico-Terminal de Sepebita de 565 para 525 km;
. expansão do pátio do escoamento do porto de 3,0 para 5,0 milhões de toneladas.
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O financiamento deste investimento foi assim acertado:
. BNDES US$ 52 milhões
. IFC US$ 60 milhões
. Tradings japonesas US$ 100 milhões
. Recursos próprios US$ 73 milhões
Conjuntamente com o financiamento japonês, articulou-se um contrato de venda de
minério para este mercado de 3 milhões de toneladas/ano. Além destas inversões, a MBR vai
investir cerca de US$ 110 milhões na aquisição de 2000 vagões e 15 locomotivas até 1996. A
empresa possui, atualmente, apenas 120 vagões.
Já o segundo estágio de expansão da MBR está condicionado ao desenvolvimento futuro
do mercado de minério, a nível mundial. O investimento orçado em US$ 692 milhões
compreenderia:
. desenvolvimento de novas minas para a substituição das minas em exaustão: Aguas
Claras (12,5 milhões de toneladas anuais) será substituída por Tamanduá e Capitão do Mato (18
milhões de toneladas anuais); Mutuca (6,5 milhões de toneladas anuais) por Capão Xavier (6
milhões de toneladas ano)21;
. ampliação adicional da capacidade da mina do Pico para 11,3 milhões de toneladas/ano;
. expansão da capacidade portuária para 35 milhões de toneladas anuais.
Deve-se destacar que, recentemente (período 1986-88), a MBR investiu US$ 76 milhões
numa nova unidade de beneficiamento em Mutuca, elevando a capacidade nominal de 4,5 para 6,5
milhões de toneladas ano. Esta instalação substituiu a planta antiga, construída em 1961. Neste
pacote, incluiu-se a introdução de uma sistema teleférico de 4 km para escoamento dos produtos
até o Pátio de Olhos D'Agua, substituindo o transporte anteriormente feito por caminhões.
A Samitri deve manter sua capacidade instalada ao redor de 13 milhões de toneladas ano.
No biênio 1989/90, foram investidos US$ 25 milhões em projetos de aproveitamento de itabiritos:
a) em Morro Agudo, o Projeto "Agua Limpa" demandou investimentos de US$ 12 milhões,
permitindo uma produção de 2,8 milhões de toneladas de sinter feed, b) em Alegria, investiu-se
US$ 13 milhões, permitindo a produção de 3,0 milhões de toneladas ano, sendo 1,4 milhões de
toneladas de concentrados22. A expansão futura parece condicionada apenas à expansão da Mina
21 A data prevista para exaustão da mina de Aguas Claras é 1998 e a de Mutuca é 2000.
22 A Samitri começou a produção de minério de ferro em Morro Agudo (em 1963) e Alegria (em 1969).
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Córrego do Meio, de 0,2 para 1,0 milhão de toneladas ano de sinter feed, destinada ao mercado
interno.
A Samarco também deve priorizar investimentos de aumento marginal da capacidade
instalada. De fato, no final da década de 80 e início da de 90, foram investidos US$ 70 milhões no
chamado Projeto Alegria. Ele se constitui na substituição da Mina do Germano (que estará
totalmente exaurida em 1994) pela Mina de Alegria. A distância entre as duas minas é de apenas
4,5 km, permitindo a utilização da infra-estrutura disponível.
O Projeto Alegria contemplou o desenvolvimento da nova mina, que já era explorada pela
Samitri, a implantação de correia transportadora de 6 km (US$ 24 milhões), a instalação de uma
nova unidade de peneiramento e britagem, assim como modificações na usina de processamento
para compensar as diferenças na qualidade do minério. A Mina de Alegria passou a operar em
março de 1992, e suprirá as necessidades da Samarco por pelo menos 30 anos (MINÉRIOS,
EXTRAÇÃO E PROCESSAMENTO, 1992, 16 (174): 29-33). Durante os anos de 1992 e 1993,
75% do minério processado pela Samarco deve vir de Alegria e o restante de Germano.
Os investimentos prospectivos contemplam basicamente a expansão (marginal) da
instalação da Ponta de Ubu. A capacidade de concentrados deve aumentar em 1,4 milhões de
toneladas/ano, elevando a capacidade nominal para 3,2 milhões de toneladas ano. Este projeto
está orçado em US$ 9,4 milhões, e envolve a construção de um pequeno mineroduto de 5 km.
Visa reciclar e comercializar a produção adicional da concentrados da Mina de Alegria da Samitri,
sendo previsto para entrar em operação em abril de 1993. Além disso, pretende-se elevar a
capacidade de produção de pelotas de 5,5 para 6,0 milhões de toneladas, a custo total de US$ 8,1
milhões.
A Ferteco também deverá elevar marginalmente sua capacidade instalada. Foram
investidos, recentemente, cerca de US$ 30 milhões numa nova unidade de beneficiamento (na
Mina da Fábrica), que permite o aproveitamento de minérios itabiritos, através da concentração de
minério, elevando o teor de ferro de 42% para 66%. Espera-se o aumento da capacidade da Mina
do Córrego do Feijão de 2.5 para 3.0 milhões de toneladas/ano23.
Os principais projetos de expansão da capacidade de produção na Austrália são: a
ampliação da Robe River, e as implantações dos projetos Yandi, Channar e Marandoo (Tabela 8).
23 Esta expansão decorre do investimento no Terminal Privativo de Sepetiba - ver seção 2.1.1.
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TABELA 8
PRINCIPAIS PROJETOS DE EXPANSÃO DA
INDÚSTRIA DE MINÉRIO DE FERRO - AUSTRÁLIA
Mina Ampliação* Data Investimento#
Robe River 20 para 32 1993 260
Channar 3 para 10 1999 120
Marandoo 10 1995 640
Yandi/BHP 5 1992 100
Fonte: Iron Ore Manual (1991/92), UNCTAD (1992), Von Os (1991a), Von Os (1991b), Sá (1992/93)
Obs: * em milhões de toneladas/ano
# em milhões de dólares norte-americanos
A Robe River deve experimentar a mais importante expansão entre os três maiores
exportadores de minério de ferro australianos, nos anos 90, depois de ter passado por uma crise
acentuada em meados da década de 80 (quando foi alterado o controle acionário e promovido um
drástico corte de pessoal). A sua grande vantagem decorre de menor custo ferroviário (apenas
188 km entre a mina e o porto), mas o seu minério é de baixa qualidade (57% de ferro, 3% de
alumina e 6% de sílica). Vende apenas minério fino, sendo a empresa australiana com a maior
participação de capital japonês (47%).
A Robe River passou a operar em 1972 (8,5 milhões de toneladas anuais), mas sofreu
alterações no seu projeto original, que contemplava a produção também de pelotas. Chegou, em
1976, a produzir 4,2 milhões de pellets, sendo que esta produção foi descontinuada a partir de
1981. Esta empresa vem operando acima de sua capacidade nominal (de 20 milhões de
toneladas/ano) em cerca de 25%24. Na década de 80, passou por várias transformações
estruturais: conversão da unidade de força de Cape Lambert para gás natural, racionalização de
operações portuárias, aumento do pátio de minério no porto, aquisição de novas reservas minerais
junto a BHP, aumento da capacidade ferroviária (a um custo estimado de US$ 130 milhões),
instalação de uma segunda recuperadora de minério (IRON ORE MANUAL, 1991/92: 221).
Na verdade, foram investidos cerca de US$ 230 milhões para elevar a capacidade para
cerca de 27,5 milhões de toneladas ano (no período 1987/90), sendo necessários mais US$ 30
milhões para atingir os 32 milhões de toneladas/ano (VON OS, 1991a: 51). Este objetivo será
concretizado no biênio 1992/93, mediante o desenvolvimento do depósito denominado J (que
deverá ser operado por 25 anos, a uma taxa de 30 milhões de toneladas/ano). Utilizar-se-á a infra-
estrutura existente, sendo necessário a construção de um ramal ferroviário de apenas 12 km. Os
depósitos atualmente em operação (K, L, M e N) serão explorados até 1994, quando serão
totalmente substituídos pelo depósito J (e os equipamentos relocalizados).
24 A Robe River atingiu a capacidade instalada de 20 milhões de toneladas/ano em 1979. A Mt. Newman, por sua
vez, a capacidade de 34,5 milhões de toneladas/ano em 1976.
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O projeto Channar é uma joint-venture constituída em 1987 entre a Hamersley e o
governo chinês. As obras começaram em janeiro de 1988 e terminaram no final de 1989. Mas a
produção efetiva somente aconteceu a partir de 1990, com a capacidade instalada de 3 milhões de
toneladas/ano. O custo de implantação foi estimado em US$ 350 milhões (VON OS, 1991a: 53).
Deve apresentar um crescimento acelerado ao longo desta década, sendo que o cronograma
original previa: 5 milhões de toneladas anuais (1992/93), 7 milhões de toneladas anuais (1994/95),
8 milhões de toneladas anuais (1986) e 10 milhões de toneladas anuais (1999). Até agora, o
cronograma não sofreu atrasos: em 1990, a produção foi de 3,1 milhões de toneladas, sendo que
em 1991 já chegou a 5,6 milhões de toneladas. Este é o projeto de expansão da Hamersley:
acrecentar 7 milhões de toneladas anuais em capacidade, até o ano 2000, a um custo de US$ 120
milhões (SA, 1992/93: 36).
No que se refere ao projeto Marandoo, esta mina foi comprada pela Hamersley em
outubro de 199025. Na verdade, a Hamersley adquiriu 50% do capital desta mina da
Hancok/Wright, uma vez que já era detendora de 50%. (SCHNEIDER, 1991: 73). Este projeto,
apesar da grande envergadura (10 milhões de toneladas/ano e US$ 640 milhões), não deve
aumentar a capacidade de produção da Hamersley. Ao contrário, visa estender a vida útil das
minas Mt. Tom Price e Paraburdoo, embora mantendo a produção ao redor de 46 milhões de
toneladas/ano (IRON ORE MANUAL, 1991/92: 186). A mina deve entrar em operação em
abril/junho de 1994, atigindo a escala plena já em 1995, requerendo um efetivo de 350 pessoas. A
mina de Marandoo aproveitará a infra-estrutura já existente (ferrovia/porto), sendo necessário
apenas a construção de um ramal ferroviário de 54 km, ficando a 440 km de Port Dampier. Por
outro lado, as operações de beneficiamento (até a moagem terciária) devem ser feitas em
Marandoo.
Deve-se destacar que a Hamersley colocou em operação, em 1992, uma pequena mina
(Brookman 2), com capacidade de 2 milhões de toneladas/ano. Este depósito fica ao norte de Mt.
Tom Price, mas deve se exaurir até 1997 (VON OS, 1991b: 55).
O projeto Yandi, da BHP Metals, visa aproveitar a infra-estrutura Mt. Whaleback-Nelson
Point. Para tanto, o minério será beneficiado (até a britagem terciária) junto à mina, sendo levado
para exportação até Nelson Point, mas não sobrecarregando estas instalações. Em termos de
capacidade instalada, o impacto será pequeno (um milhão de toneladas anuais), face à exaustão da
mina de Yampi Sound, sendo que a BHP não possui planos imediatos de aumentar ainda mais a
capacidade. A qualidade do minério é, porém, ligeiramente diferente: Yandi (58,5% Ferro, 4,9%
sílica, 1,3% alumina); Yampi Sound (58% Ferro, 5,5% sílica, 1,5% alumina). De qualquer forma,
25 O projeto Marandoo teve problemas ambientais para a sua aprovação pelo Governo de West Austrália, face as
pressões da comunidade aborígena Karijini. O projeto, contudo, foi aprovado e exigiu a segregação de 3% do
Hamersley Range National Park (VON OS, 1991b: 53).
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são minérios tipo pisolítico, como o da Robe River. Era previsto a entrada da mina em operação
em abril de 1992. Para usufruir da infra-estrutura da Mt. Newman foi necessário a construção de
um ramal ferroviário de 32 km e modificações no Porto Headland, de tal forma a separar um pátio
para o minério de Yandi (450 mil toneladas). Para a viabilização deste projeto, os japoneses
assinaram um contrato de longo prazo (1992/98), garantindo a compra anual de 3,1 milhões de
toneladas. O restante da produção será destinado às usinas siderúrgicas da BHP e a usina de
Baoshan (China).
Deve-se também destacar que a Goldworthy também tenciona aumentar sua capacidade
instalada em 2 milhões de toneladas/ano, nos próximos cinco anos. Esse projeto requereria a
reformulação de operações ferroviárias e de beneficiamento em Finucane Island. Espera-se, de
todo modo, a entrada em operação do projeto Yarrie em dezembro de 1993 (5 milhões de
toneladas/ano) para substituir parcialmente as minas de Sunrise Hill e Shap Gray (6 milhões de
toneladas/ano), cujas reservas de alto teor estão se exaurindo (VON OS, 1993:38).
Em suma, na melhor das hipóteses (mercado aquecido), os projetos de expansão da
Austrália implicariam na elevação da capacidade atual de 114,2 milhões de toneladas ano para 133
milhões de toneladas ano, ao final da década de 90 (crescimento de 16,5%).
Com relação aos outros produtores da América Latina, o maior potencial de crescimento
parece ser o da Venezuela. A Tabela 9 sintetiza aspectos relevantes dos exportadores de minério
de ferro do Perú, Chile e Venezuela. Os fatores apontados referem-se à escala de produção, mix
de produtos, distância mina/porto e características do porto.
TABELA 9
CARACTERÍSTICAS DAS PRINCIPAIS MINERADORAS - AMÉRICA DO SUL
Mineroperu Minera Pacífico Orinoco
País Perú Chile Venezuela
Mina Marcona Romeral Algarrobo San Isidro<
Capacidade* 4,5 4,0 4,0 20,0
Sinter feed 2,5 1,4 - 17,0
Lump - 1,4 - 3,0
Pellet feed - 1,2 - -
Pelotas 2,0 - 4,0 -
Mina/Porto# 15 38 86 163
Porto San Nicolas Guayacan Huasco Ordaz
Capac. porto@ 160 190 270 228
Ship-loader+ 3,5 3,5 6 6
Fonte: Iron Ore Manual (1991/92), Siderurgia Latinoamericana (1992, n. 390)
Obs: * em milhões de toneladas ano
# distância em km
@ em mil toneladas de porte bruto
+ em mil toneladas/hora
< refere-se ao complexo de Piar como um todo
35
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A Mineroperu explora a mina de Marcona. Esta unidade era originalmente da Marcona
Mining Co. (empresa americana), sendo nacionalizada em 1975. No final de 1992, ela foi
privatizada, por US$ 120 milhões. A empresa adquirente foi a Chowgang (siderúrgica chinesa)26,
que pretende elevar a capacidade de produção atual de 4,5 para 10 milhões de toneladas ano
(AMERICAN METAL MARKET, 19.11.92). Mesmo que este crescimento se concretize, trata-se
agora de uma mina cativa, com pouca repercussão no mercado mundial. A tendência é de acentuar
a dependência da mineração peruana ao mercado asiático: em 1989, 57% das suas exportações
foram para a Coréia do Sul e 22% para o Japão.
Prioritariamente à elevação da capacidade, será necessário retomar a capacidade nominal
da empresa. Segundo ZUNIGA (1991: 2), por falta de recursos para reinvestimento, cerca de
45% do equipamentos estavam fora de operação. Apesar de estar operando a um nível de 4-4,5
milhões de toneladas ano, a capacidade nominal é de 6,8 milhões de toneladas (2,5 milhões de
sinter feed, 3,0 milhões de pelotas e 1,3 milhão de pellet feed). Das duas usinas de pelotas, a
planta Marcona 1 (inaugurada em 1963) com capacidade de 1,0 milhão de toneladas e tecnologia
Lurgi-Dravo está desativada desde 1976. De fato, atualmente, a capacidade de produção de
pelotas é de apenas 2 milhões de toneladas ano. Certamente, será também necessário um corte
rigoroso de pessoal: em 1989, para uma produção de 4,3 milhões de toneladas ano, o efetivo era
de 3.250 pessoas27. Em termos positivos, a mina fica a apenas 15 km do Porto San Nicolas,
sendo o transporte feito por correias, que ligam a mina (800 metros de altitude) ao porto.
A Compania Minera del Pacífico é o único produtor de ferro do Chile, empregando cerca
de 2.500 pessoas. Atualmente explora três depósitos: Romeral, Algarrobo-planta de pelotas em
Huasco e uma pequena mina em Laco. A estrutura de produção é dual: toda a produção de
Algarrobo (teor médio de 52% de ferro) destina-se exclusivamente à alimentação da planta de
pelotas (tipo Grate Kiln), sendo exportada pelo Porto Huasco; a produção de El Romeral é
escoada através do Porto Guayacán. A grande vantagem estrutural é a proximidade mina/porto,
inferior a 100 km, em ambos os casos. Além disso, o Porto Huasco comporta navios de grande
porte. Em compensação possui duas fragilidades: excessiva concentração de venda ao mercado
japonês (62% da exportação de 1989) e localização no Pacífico Sul, que possui pequena
disponibilidade de navios (ILAFA, 1989: 24).
A Cia. Minera de Pacífico foi privatizada em 1985 e conta com participação minoritária da
empresa japonesa Mitsubishi (6,2%). Recentemente, inaugurou uma planta de pellet feed, em
Romeral, com capacidade de 1,2 milhão de toneladas/ano, a um custo de US$ 23 milhões
(SIDERURGIA LATINOAMERICANA, 1991 (369/370): 256). A capacidade atual da empresa
26 A segunda melhor oferta pela empresa, feita por um consórcio chileno e japonês, foi de apenas US$ 24 milhões.
27 A produtividade da Samarco é, por exemplo, 260% superior à da Mineroperu.
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gira ao redor de 8 milhões de toneladas ano, devendo-se elevar para 9 milhões de toneladas ano (5
milhões de toneladas de pelotas) com a entrada em operação de uma nova mina: Colorados, que
fica a 78 km de Porto Huasco (IRON ORE MANUAL, 1991/92: 266) e melhorias operacionais na
própria unidade de pelotização.
A grande expansão entre os países latino-americanos deve ser a da Venezuela. Como em
outros países, a produção e a exportação de minério de ferro é concentrada em uma empresa: a
Ferromineria Orinoco, empresa nacionalizada em 1975 e que emprega cerca de 3.500
trabalhadores. A empresa possui duas unidades de beneficiamento: El Pao, em operação desde
1950, capacidade nominal de 2,0 milhões de toneladas ano e que deve ser desativada até 1994,
face à exaustão das reservas; Piar, capacidade de 20 milhões de toneladas, que é abastecida pelo
minério de San Isidro, Cerro Bolivar e Barrancos. Assim, a capacidade de produção atual da
empresa é de 22 milhões de toneladas ano.
Cerro Bolivar, situado a 146 km de Porto Ordaz, conta com capacidade de produção de 6
milhões de toneladas ano, mas o seu alto conteúdo de fósforo limita a demanda (SIDERURGIA
LATINOAMERICANA, 1992 (390): 41)28. San Isidro, a principal mina da Orinoco, a 163 km de
Porto Ordaz começou a operar em 1985, sendo utilizado na blendagem com o minério de Cerro
Bolivar. Barrancos, a mina mais nova da Orinoco, data de 1990.
Os planos da Orinoco são muito ambiciosos, embora o impacto a nível internacional deva
ser pequeno: grande parte da expansão visa atender o mercado doméstico. A empresa pretende
elevar sua produção total até o ano 2.000 para 40 milhões de toneladas ano, a um custo de US$
1,133 bilhão (SIDERURGIA LATINOAMERICANA, 1992 (390): 33). Da expansão total de 18
milhões de toneladas ano, apenas 3,3-4,5 milhões de toneladas seriam destinado ao mercado
exterior, o que reduziria a importância deste: atualmente 65% da produção destina-se à
exportação.
Dentro dos planos de expansão da Orinoco constam a construção de uma usina de
pelotização em cooperação com a Kobe Steel29, para 3,3 milhões de toneladas de pelotas, orçada
em US$ 220 milhões e que entraria em operação em 1994 (METAL BULLETIN MONTLHY,
1990, (8): 34-35) e, também, uma unidade de concentração de minério de baixo teor, com
capacidade de 8 milhões de toneladas, prevista para 1997, em associação com capitais japoneses
(Kobe, Marubeni e Mitsubishi), para exploração da mina de Altamira. Esta aproximação com o
japoneses é muito benéfica para esta empresa: atualmente, 60% de suas exportações são para o
28 Em 1990, a produção de minério em Cerro Bolivar foi de apenas 4,3 milhões de toneladas.
29 Só existe uma usina de pelotização na Venezuela: é uma unidade cativa da siderúrgica SIDOR, com capacidade
de 6,6 milhões de toneladas de pelotas, inaugurada em 1978. Em 1990, ela produziu 5,2 milhões de pelotas. A
Ferromineria Orinoco vende cerca de 1 milhão de toneladas ano de pelotas naturais da mina de El Pao.
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mercado europeu e 25% para os EUA. No ano 2.000, o complexo de Piar deverá ter uma
capacidade de 32 milhões de toneladas ano e Barrancos uma unidade de beneficiamento própria de
7 milhões de toneladas ano.
A Bolívia possui grandes reservas de minério de ferro30. Os obstáculos à produção são
fundamentalmente de infra-estrutura de escoamento: o minério é transportado por 56 km por
caminhões, numa estrada precária até os Portos Suárez e Ladário. A produção de El Mutúm é
explorada pela empresa estatal Corporación Minera de Bolivia (Comibol). A produção foi
descontinuada na década de 80, sendo retomada em 1988, visando atingir o mercado paraguaio e
argentino. Neste sentido, concorre diretamente com a empresa brasileira Corumbaense (Mato
Grosso do Sul). A capacidade instalada é de 650 mil toneladas ano, mas apenas uma unidade de
concentração de 150 mil toneladas ano está em operação. Apesar dos planos de expansão
anunciados, os altos gastos de investimento de infra-estrutura necessários (estimados em US$ 300
milhões para exportações de 1 milhão de toneladas ano) e a fragilidade do mercados-alvo parecem
ser mais fortes do que a vontade de expansão da capacidade produtiva. É muito provável a
manutenção da situação de irrelevância da Bolívia no mercado internacional de minério.
A Tabela 10 apresenta as principais características dos principais exportadores de minério
de ferro do Canadá e da Suécia. Novamente, a produção é muito concentrada em poucos
produtores: Iron Ore of Canada e Quebec Cartier Mining (Canada) e LKAB (Suécia). Além de
disputarem o mercado europeu, estes produtores têm outro aspecto similar: a produção de pelotas
é alta em relação ao mix de produtos.
A Iron Ore of Canada explora a
mina de Carol Lake (desde 1963), distante 423 km do
Porto Seven Island (Quebec). Este porto possibilita a atracagem de navios de grande porte, além
de contar com um capacidade de embarque alta (dois ship-loaders de 7 mil toneladas hora). Sua
capacidade da produção é de 10 milhões de toneladas de pelotas e 10 milhões de toneladas de
minério fino (concentrado). Das seis usinas de pelotização existente junto a mina de Carol
Lake31, apenas 5 estão em operação atualmente. A IOC faturou US$ 476 milhões em 1990,
empregando 1.873 pessoas. Em 1990, 9% da produção foi destinado ao mercado canadense, 36%
ao norte-americano, 35% ao europeu e 17% ao japonês, isto é, metade da produção destina-se à
América do Norte e metade aos outros mercados.
30 Para fins comparativos, as reservas bolivianas são da ordem de 40 bilhões de toneladas, e a da Venezuela de 12
bilhões. Segundo PAINTER (1990: 32), El Mutúm é um dos cinco maiores depósitos de ferro no mundo, e o
segundo maior da América Latina. Mas conforme destaca LITZINGER (1989: 34), União Soviética, Canadá, EUA,
Brasil, Bolívia, China, India, Austrália e Suécia são os países que detêm as maiores reservas conhecidas de minério
de ferro. Destes, apenas a Bolívia não é produtor expressivo.
31 A IOC possui unidades de pelotizações junto ao Porto Seven Island, que entraram em operação em 1973, mas
que estão desativadas desde maio de 1981 (IRON ORE MANUAL, 1991/92: 304).
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A IOC passou por duas alterações no seu controle acionário nos últimos 7 anos (Tabela
11). Em maio de 1986, a Bethlehem Steel adquiriu 12,58% da IOC que pertenciam a LTV
(HARGREAVES, 1986: 65). Em julho de 1991, a Mitsubishi Corporation adquiriu 20% das
ações pertecentes a M.A. Hanna. Esta transação (US$ 66 milhões) envolveu o direito da
Mitsubishi agenciar 50% das exportações da IOC. A IOC ficou praticamente toda a década de 80
sem realizar investimentos, que foram retomados em 1989/91: embora tenham sido da ordem de
US$ 130 milhões, apenas US$ 13,5 milhões foram para aumento de capacidade. As dificuldades
de mercado enfrentadas por outras mineradoras canadenses (Tabela 6)32 e a ociosidade de uma
usina de pelotização parecem justificar uma expectativa da manutenção da atual capacidade
instalada.
TABELA 10
CARACTERÍSTICAS DAS PRINCIPAIS MINERADORAS - CANADÁ E SUÉCIA
IOC Quebec Cartier LKAB
País Canadá Canadá Suécia
Mina Carol Lake Mt. Wright Kiruna> Malm.<
Capacidade* 20,0 19,0 14,0 6,0
Sinter feed 10,0 11,0 5,8 2,8
Lump - - 2,0 -
Pellet feed - - - -
Pelotas 10,0 8,0 6,2 3,2
Mina/Porto# 423 431 170 215
Porto Seven Island Cartier Narvik Lulea
Capac. porto@ 250 160 350 65
Ship-loader+ 14 6 7 6
Fonte: Iron Ore Manual (1991/92), Sandberg et alli (1989), LKAB, Rowbotham (1985)
Obs: > Inclui operações em Svappavaara
< Malmberget
* em milhões de toneladas ano
# distância em km
@ em mil toneladas de porte bruto
+ em mil toneladas/hora
A outra grande mineradora canadense é a Quebec Cartier Mining, que explora a mina de
Mt. Wright e escoa a produção pelo Porto Cartier. A usina de concentração fica junto a mina,
sendo que o minério fino (concentrado) é transportado por ferrovias (400 Km) até o Porto
Cartier, onde uma parcela da produção é transformada em pelotas. A empresa pertencia a US
Stell, tendo sido adquirida em 1989, por um consórcio (Dofasco, Mitsui e CAEMI). A Dofasco se
comprometeu a comprar anualmente dois milhões de toneladas de pelotas da QCM, que
anteriormente lhe eram supridas pelas minas Sherman e Adams (desativadas), que tinham
capacidade de 1,1 milhões de toneladas de pelotas ano cada. Desconhece-se planos de expansão
32 Duas pequenas minas do Estado de Ontário, Sherman e Adams, foram definitivamente fechadas em março de
1990, além das reduções de produção da Wabush e da Algona.
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por parte desta empresa. A QMC é mais voltada para o mercado mundial do que a IOC: apenas
25% da produção é direcionada ao mercado da América do Norte.
TABELA 11
CONTROLE ACIONÁRIO DA IOC
1985 1986 1991
M.A. Hanna (EUA) 26,77 28,10 8,10
Bethlehem Steel (EUA) 20,26 34,55 34,55
National Steel (EUA) 18,99 19,96 19,96
LTV (EUA) 12,58 - -
Whelling-Pittsburgh (EUA) 4,86 - -
Dofasco (Canadá) - 6,38 6,38
Labrador Mining (Canadá) - 11,00 11,00
Mitsubishi (Japão) - - 20,00
Fonte: Hargreaves (1986), Iron Ore Manual (1991/92)
Uma outra mineradora canadense, de menor importância, é a Wabush Mines. Esta empresa
possui como proprietários a empresa americana Clevand Cliffs (5,2%), as siderúrgicas canadense
Dofasco (16,4%) e Stelco (25,6%), siderúrgicas americanas - LTV (15,6%), Inland (10,2%),
Acme (10,2%) e a holding estatal italiana Ilva (6,6%). Apesar de possui uma capacidade de
produção de 6 milhões de pelotas ano, sua exportação tem se situado em torno de 1,5 milhão de
toneladas. Neste sentido, esperava-se para 1992, a diminuição do capacidade instalada de 6 para
4,5 milhões de toneladas. Ela escoa seu minério pela ferrovia da IOC, sendo que a mina fica a 442
km do Porto Pointe Noire (navios de até 100 mil toneladas de porte bruto e ship-loader de 8,1 mil
toneladas hora).
A empresa estatal suéca LKAB é, provavelmente, a mais antiga exportadora de minério de
ferro do mundo: o escoamento no Porto Lulea remonta a 1888. A produção de pelotas também é
antiga: a primeira planta foi inaugurada em 1955. Esta empresa, atualmente, é a única produtora
sueca de minério de ferro, em função da exaustão das reservas da Dannemora (SSAB) de 600 mil
toneladas ano, em junho de 1992, depois de 500 anos de atividade. Em 1990, a LKAB empregou
3.470 funcionários e faturou US$ 640 milhões33.
A LKAB explora, atualmente, as minas de Kiruna e Mamlberget. Há três complexos de
concentração e pelotização: Kiruna, Malmberget e Svappavaara (mina a céu aberto exaurida em
1982, que recebe minério de Kiruna, a uma distância de 45 km). Cada complexo possui uma usina
de concentração de 3,5 milhões de toneladas, mas a capacidade das pelotizações é diferente:
Kiruna (3,5 milhões de toneladas), Svappavaara (2,7 milhões de toneladas) e Malmberget (3,2
milhões de toneladas) - ver SANDBERG et alli (1989: 236). A capacidade atual da LKAB é de
20 milhões de toneladas ano, incluindo minérios granulados.
33 As pelotas representam 50% da produção e 60% do faturamento da LKAB (RONNBACK, 1991: 7).
40
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Os produtos da LKAB são exportados por dois portos: Lulea e Narvik, sendo que
ferrovias interligam os três complexos e os dois portos34. A capacidade de escoamento
ferroviário e portuário é superdimensionada: 25 milhões de toneladas ano, o que facilitaria
eventuais expansões da capacidade produtiva. As distância internas são relativamente pequenas:
cerca de 200 a 300 km. O ciclo de um trem entre Kiruna e Narvik é de apenas 14 horas. Além
disso, a LKAB é o mais próximo fornecedor da Europa do Norte. Neste sentido, 25% das vendas
da LKAB, em 1990, foram destinadas à Suécia e Finlândia e 56% a países da Comunidade
Comum Européia. Em compensação, apresenta duas grandes desvantagens competitivas: a) os
custos de produção são altos, na medida que as minas em operação são subterrâneas; b) a
produção de Kiruna (70% da produção) apresenta alto teor de fósforo.
A LKAB vem manifestando intenções de aumentar a produção. Um primeiro investimento
marginal, concretizado em 1991/92, foi elevar a capacidade total de Malmberget para 7 milhões
de toneladas/ano (sendo 3,7 milhões de pelotas), com vida útil de 15 anos, no mínimo. Mas
planeja-se a construção de uma nova usina de pelotização, em Kiruna, de 4 milhões de toneladas
ano, para 1994/95, o que requereria a ampliação da capacidade total de Kiruna em mais 2 milhões
de toneladas/ano, e um investimento da ordem de US$ 250 milhões. Este empreendimento tem
vários obstáculos à sua concretização: o mercado de pelotas está estagnado, e o países que
apresentam um crescimento de compras de pelotas de redução direta (México, Venezuela, Índia,
Líbia) ficam fora da área do mercado da LKAB.
Na Escandinávia, merece menção ainda a mineradora norueguesa (estatal) Sydvaranger.
Em 1991, as exportações de pelotas chegaram a 1,3 milhão de toneladas. A sua grande vantagem
estrutural é que a mina fica a apenas 8 km do Porto Kirkeness.
A Tabela 12 sistematiza as principais informações das principais mineradoras da Índia e
Africa. No que se refere a India, todo a exportação de minério é controlada pela empresa estatal
Minerals & Metals Trading Corporation of India (MMTC), à exceção dos pequenos produtores
privados da região de Goa. A mina mais importante é de Bailadila, que fica a 471 km do Porto
Vizaghapatnam. Este porto permite a atração de navios de até 132 mil toneladas de porte bruto, o
que constitui uma fragilidade desta empresa.
34 A distância para o Porto Narvik é de: Kiruna (170 km), Svappavaara (220 km) e Malmberget (275 km). Para o
Porto Lulea é de: Kiruna (310 km), Svappavaara (345 km) e Malmberget (215 km).
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TABELA 12
CARACTERISTICAS DAS PRINCIPAIS MINERADORAS - ÍNDIA E ÁFRICA
MMTC Iscor SNIM
País India Africa Sul Mauritânia
Mina Bailadila Kudremukh Sishen Tazadit
Capacidade* 7,0 7,5 21,0 12,0
Sinter feed 3,4 4,5 8,0 9,5
Lump 4,6 - 13,0 2,5
Pellet feed - - - -
Pelotas - 3,0 - -
Mina/Porto# 471 67< 861 650
Porto Vizagapatnam Mangalore Saldanha Nouadhibou
Capac. porto@ 132 60 250 180
Ship-loader+ 8 6 8 8
Fonte: Iron Ore Manual (1991/92), Alberts et alii (1991)
Obs: * em milhões de toneladas ano
# distância em km
@ em mil toneladas de porte bruto
+ em mil toneladas/hora
< mineroduto
O crescimento da produção e exportação indiana deve se concentrar na Kudremukh Iron.
A exportação também é controlada pela MMTC. Trata-se de um projeto de aproveitamento de
minério de baixo teor de ferro (39%). A unidade de concentração fica instalada junto a mina. O
minério é transportado por um mineroduto (67 km) até a usina de pelotização (capacidade atual
de 3 milhões de toneladas ano), adjacente ao Porto Mangalore. O custo histórico do projeto foi de
US$ 230 milhões, sendo que inicialmente o Irã iria importar 7,5 milhões de toneladas ano de
concentrados, por vinte anos (MOORTTHY, 1990: 43). Com a Revolução Islâmica, o contrato
foi cancelado, e buscou-se novos mercados (especialmente, o japonês). A grande desvantagem
deste projeto é o porto que só permite navios de até 60 mil toneladas de porte bruto, sendo que
inicialmente a restrição era maior: permitia-se a atracagem de navios de até 35 mil toneladas de
porte bruto. De fato, o porte deste porto era condizente com os portos iranianos, que comportam
navios de até 20 mil toneladas de porte bruto.
Os planos da Kudremukh-GIIC envolvem a elevação da capacidade instalada de 7,5 para
10 milhões de concentrados e duplicação da de pelotas (para 6 milhões de toneladas ano). O custo
deste investimento é estimado em US$ 250 milhões. Adicionalmente, estuda-se a construção de
uma unidade de redução direta (produção de ferro-esponja) em Mangalore de 750 mil toneladas
ano. É provável que esta expansão exiga maiores investimentos no porto, que só permite a
atracação de navios de menor porte do que Visakhapatnam. Outro grande problema enfrentado
por esta empresa, assim como as demais desse país, é a lavra durante o período das monções
(entre os meses de junho e setembro).
42
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Há uma série de pequenos produtores de minério de ferro na região de Goa, que, aliás,
constitui uma exceção na indústria mundial. Em 1990, cerca de 15 produtores exportaram cerca
de 12 milhões de toneladas de minério, sendo que o maior exportador atingiu 2,8 milhões de
toneladas. Essas exportações são realizadas pelo Porto Mormugao, sendo que a distância mina-
porto média é de 50 km (ROWBOTHAM, 1985: 22). O Porto Mormugao permite o
carregamento de navios de 160 mil toneladas de porte bruto.
A principal mineradora de ferro da África do Sul é a Iscor, que foi privatizada em 1989.
Ela explora duas minas: Sishen, destinada à exportação, e Thabazimbi, direcionada ao consumo
das usinas siderúrgicas desta empresa35. A produção de Sishen atualmente é de 21 milhões de
toneladas ano, sendo que o início da operação foi em 1953 - com uma capacidade de 1,6 milhão
de toneladas ano (ALBERTS et alli, 1991: 2). As exportações de Sishen, entretanto, só
começaram em 1976.
O minério de Sishen é transportado por via ferroviária por 861 km até Porto Saldanha
(para navios de até 250 mil toneladas de porte bruto). Outro ponto negativo em termos de custo,
além da grande distância mina/porto, é que o minério recebe britagem quartenária (ALBERTS et
alli, 1991: 13). Uma desvantagem peculiar desta empresa é o boicote internacional à política sul-
africana do apartheid.
Dificilmente a Iscor ultrapassará a atual capacidade instalada de 21 milhões de
toneladas/ano, em Sishen. Deve-se recordar que em 1984, em função da crise do mercado de
minério, a empresa desativou uma usina de beneficiamento de 9 milhões de toneladas/ano
(ALBERTS et alli, 1991: 19). Assim, a capacidade nominal de 27 milhões retrocedeu para 18
milhões de toneladas ano. A partir de 1988, com a recuperação do mercado mundial, elevou-se a
capacidade para os níveis atuais.
Na África do Sul, existe uma outra pequena mineradora (Assoman), que exporta cerca de
2,6 milhões, de uma produção total de 3 milhões de toneladas ano. Ela escoa o minério pelo Porto
Saldanha, sendo que a distância mina/porto é ainda maior que da Iscor: 930 km.
A Societe Nationale Industrielle et Miniere (SNIM), empresa estatal da Mauritânia
(70,89% das ações são controladas pelo Governo), opera atualmente com duas minas (Tazadit e
Guelbs), e exportou, em 1990, 11,3 milhões de toneladas de minério de ferro. O seu maior
mercado é europeu, para onde escoa normalmente 90% da sua exportação, com destaque para
Itália, Bélgica/Luxemburgo e França.
35 A Iscor, no setor siderúrgico, foi a pioneira na adoção da tecnologia Corex, de produção de gusa sem coqueria,
sinterização e alto-forno.
43
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Na década de 80, a SNIM levou a cabo o projeto Guelbs, cujo custo total (inclusive
despesas financeiras) foi de US$ 542,6 milhões (AHMEDOU, 1991: 3). A primeira fase do
projeto Guelbs previa capacidade de 6 milhões de toneladas/ano, mas em função dos problemas
financeiros e técnicos do projeto, a capacidade atual é de 3 milhões de toneladas ano. Esta mina
fica a 670 km do porto de Nouadhibou (para navios de até 180 mil toneladas de porte bruto). A
mina de Guelbs entrou em operação em 1984.
Na década de 90, a SNIM pretende desenvolver, prioritariamente, a mina de N'haoudat.
Visa substituir a mina de Kedia D'Iajil Tazadiz (capacidade nominal de 12 milhões de toneladas
ano) em operação desde 1960, e cujas reversas devem se exaurir em 1996. Além disso, busca
atingir o mercado aberto pela saída da Libéria. Aquela mina (capacidade de 6 milhões de toneladas
ano, sendo 2 milhões em pelotas), deverá entrar em operação em 1994, a um custo de US$ 160
milhões, sendo US$ 135 milhões de capital de terceiros36. Ela fica a 25 km da mina de Guelbs.
Possui custos competitivos, por não requerer beneficiamento do minério como em Guelbs. Desta
forma, este projeto será prioritário em relação à segunda fase de Guelbs, pela qual se pretendia
elevar a produção desta mina para 12 milhões de toneladas ano, a um custo estimado de US$ 500
milhões.
Certamente, o projeto mais ambicioso fora dos países líderes da exportação mundial de
minério de ferro (Brasil e Austrália) e, por conseqüência, o mais difícil de se concretizar, é o
denominado NIMCO (ou Mifergui). Visa explorar o minério da mina de Nimba (Guinéa) e
exportá-lo através de ferrovia e porto liberianos. Este empreendimento requer investimentos de
US$ 240 milhões, para uma capacidade de 9 milhões de toneladas ano. O start up está previsto
para 1995. A princípio, a joint-venture teria a seguinte composição acionária: 20% do governo da
Guiné; 20% governo liberiano (ferrovia LIMINCO e Porto Buchanan); 60% de capital francês,
japonês e inglês. De qualquer modo, substituiria a redução da produção liberiana, ocasionada pela
exaustão da mina da LAMCO/LIMINCO, que começou a operar em 1963, e as dificuldades de
produção pela Bong (guerra civil). Incapacidade na obtenção de recursos e preços decrescentes
do minério parecem inviabilizar tal projeto. A ociosidade das instalações e a consequente falta de
manutenção elevam as barreiras à concretização deste empreendimento37.
36 A SNIM já obteve financiamento do Banco Europeu de Investimento, do Fundo Árabe de Desenvolvimento
Econômico e Social e do Banco Africano de Desenvolvimento para concretizar este projeto (GARDNER, 1993:39).
37 Em 1991, a LIMINCO, projeto ponte até a concretização da NINCO, produziu apenas 1,2 milhões de toneladas
de minério, depois de ficar paralizada por dez meses. O plano de produção para 1992 era de 2 milhões de toneladas
(UNCTAD, 1992: 16). A situação da Bong, que começou a operar em 1965, é até pior: os equipamentos de
mineração e de pelotização foram duramente estragados, e seu fechamento pode ser definitivo.
44
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1.4. Formas de Concorrência e Estratégias Empresariais
Tendo em vista a proeminência das indústrias brasileira e australiana no contexto mundial,
cabe definir as estratégias empresariais e os principais fatores determinantes da competitividade
internacional tomando por base esses dois países.
. Relações comerciais e associações empresariais
Os contratos plurianuais e as joint-ventures parecem ser mais relevantes do que o fator
preço na dinâmica concorrencial da indústria. A qualidade do minério (em especial, o teor de ferro
contido e a regularidade das características físico-químicas), bem como a confiabilidade do prazo
de entrega, são outros fatores de grande importância, e que condicionam a assinatura destes
contratos e a concretização das associações. A estabilidade das relações comerciais deste mercado
contrasta com o fato do minério de ferro ser um produto básico (commodities)38.
A comparação das experiências brasileira e australiana parece ratificar a relevância das
joint-ventures entre empresas mineradoras locais e consumidores internacionais. No caso
brasileiro, a CVRD possui quatro associações com empresas consumidoras, na área de minério de
ferro, sendo três unidades de pelotização (Nibrasco39, Itabrasco e Hispanobrás40) e uma extração
de ferro propriamente dita (Minas Serra Geral), nas quais a mineradora brasileira possui 51% das
ações, ficando o restante com um grupo de consumidores41. A Minerações Brasileiras Reunidas
(MBR), segunda maior mineradora de ferro brasileira, com um faturamento de US$ 399 milhões
(em 1991)42, é controlada pelo grupo CAEMI/Antunes (70,1%), sendo que 14,7% pertencem à
Mitsui (Japão), 10,2% a outros acionistas japoneses e 5% à Bethlehem Steel (EUA). A Ferteco
Mineração, faturamento de US$ 171 milhões (1991), é totalmente controlada por duas grandes
siderúrgicas alemãs: Thyssen (57,7%) e Hoesch-Krupp (42,3%) através da empresa Exploration
38 Embora as listas de preços sejam diferentes conformes os tipos de minério e as empresas ofertantes, e atualmente
possa-se pensar num fornecimento taylor made, o setor dificilmente poderia ser considerado um oligopólio
diferenciado, uma vez que as inovações de produtos são raras.
39 A Nibrasco é uma joint-venture da CVRD com empresas japonesas, com destaque para a Nippon Steel (25,4%).
A sua capacidade anual é de 7 milhões de toneladas de pelotas. Em 1991, faturou US$ 216,7 milhões.
40 A associação da CVRD na Itabrasco é com a Finsider/Ilva (que possui participação na CST) e na Hispanobrás é
com a Ensidesa. A capacidade anual de produção da Hispanobrás e a da Itabrasco é de 3 milhões de toneladas/ano
cada. O faturamento, em 1991, foi respectivamente de US$ 108 milhões e US$ 104 milhões.
41 Por acordo de acionistas, toda a produção da Minas Serra Geral é adquirida pela CVRD a um custo de 24,5% do
preço médio de exportação da própria CVRD (IRON ORE MANUAL, 1991/92: 248). Cerca de dois milhões de
toneladas/ano destina-se ao consumo pela Cia. Siderúrgica de Tubarão.
42 Em 1992, a MBR faturou US$ 389 milhões, um aumento de receita de 1,3%, embora inferior ao incremento do
volume de minério exportado (cerca de 4,4%).
45
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und Bergbau43. A Samitri44 e a Samarco45
,
46 são controladas pela Companhia Siderúrgica
Belgo-Mineira, que possui participação do grupo luxemburguês ARBED47 e do belga Sidmar.
No caso da Austrália, as associações são restritas ao Japão e à China48. Na Robe River, a
participação japonesa é de 47%, sendo distribuída por Mitsui (33%), Nippon Steel (10,5%) e
Sumitomo (3,5%). O controle acionário da Mt. Newman é da BHP Steel (australiana) e conta
com participação da C. Itoh (8%) e Mitsui (7%). A BHP possui ainda dois outros
empreendimentos minerais em conjunto com estas duas empresas japonesas, na mesma proporção
acionária: Goldsworthy e Yandi. A Hamersley possui 6,2% de capital japonês (Mitsubishi). Além
disso, ela possui uma joint-venture com o governo chinês: Channar. Esta é controlada pela
Hamersley (60%), sendo que o restante das ações do Ministério das Indústrias Metalúrgicas da
China (40%) - ver VON OS (1991a: 53).
Em suma, as mineradoras de ambos os países levaram a cabo associações com a finalidade
de garantia de vendas para alguns mercados cruciais. As associações tiveram a finalidade de
assegurar mercados cativos, e não visavam aporte de capital e/ou transferência de tecnologia,
como é usual em associações envolvendo países desenvolvidos e em desenvolvimento. A
43 A Ferteco praticamente só exporta minério de ferro para a Alemanha: em 1991, 84% das suas exportações foram
para este país. A Ferteco direciona cerca de 70% da sua produção ao mercado internacional.
44 Em abril de 1992, houve uma alteração no controle acionário da Samitri: o grupo belga Sidmar deixou de
participar acionariamente neste empresa, em troca de elevar sua participação na controladora Belgo-Mineira. Em
conseqüência, a Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira aumentou sua participação de 21% para 44% no capital total da
Samitri. Esta empresa também explora uma mina de manganês no Estado de Minas Gerais. A Samitri foi fundada
em 1939, sendo controlada da Belgo-Mineira desde 1952. O faturamento da Samitri, em 1991, foi de US$ 89
milhões.
45 A Samarco é uma joint-venture da Samitri (51%) com a Mineração Marex (49%), que representa os interesses
da companhia australiana BHP no Brasil. Deve-se indicar que a BHP não participava inicialmente do projeto da
Samarco, que entrou em operação em 1977. Na verdade, a joint-venture inicial era com a Marcona International,
uma empresa norte-americana que atuava no Perú na lavra, concentraçao e pelotização de minério de ferro. Em
setembro de 1977, a Marcona passou a ser controlada pela Utah International, que em 1978 foi vendida à General
Eletric. Em 1984, a BHP passou a controlar a Utah. A Samarco que faturou, em 1991, US$ 252 milhões, pode ser
considerada uma complementação à BHP (e sua à controlada Mt. Newman), pelo fato desta não vender pelotas.
46 A Samarco é a exceção no setor: foi a única joint-venture cujo objetivo original foi a obtenção de tecnologia
(beneficiamento de minério de baixo teor) e, em menor grau, o aporte de recursos; e não com vistas a assegurar
mercados cativos. A Samarco é tida como o projeto mais arrojado e de maior conteúdo tecnológico do setor
(BDMG, 1989a: 73).
47 Este grupo ainda produz minério de ferro na França: a mina Terres Rouges, com uma produção de 3 milhões de
toneladas/ano, sendo subterrânea e com teor de ferro de 32%. A unidade de concentração enriqueçe o minério para
42%.
48 O fato da Austrália ter associação com a China é uma vantagem nada desprezível, face ao dinamismo do
mercado importador de minério chinês. No caso brasileiro, a Itaminas tem uma joint-venture com a chinesa
MinMetals (a Siderúrgica Ita-Min), localizada em Sete Lagoas, e com capacidade de produção de 240 mil toneladas
ano de ferro-gusa.
46
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estratégia dos produtores australianos privilegia, obviamente, o mercado japonês pela
proximidade49.
. Custos de frete
A distância entre os principais portos australianos (localizados na região de Pilbara, West
Austrália), em relação ao Porto Yokohama (Japão) é de 3.800 milhas náuticas50. Em
compensação, a distância entre aqueles portos e Roterdã é de 11.200 milhas náuticas. Por outro
lado, a distância do Porto de Tubarão/Yokohama é de 11.600 milhas náuticas e do Porto de
Tubarão/Roterdã é de 5.000 milhas náuticas (HUSGEN, 1991: 7)51. Naturalmente, estas
diferenças repercutem no preço do frete (Tabela 13).
TABELA 13
PREÇO DO FRETE PARA MINÉRIO DE FERRO -
MÉDIA DO MERCADO "CHARTER" - VIAGEM SIMPLES
(1983/91)
(dólares/tonelada de porte bruto)
1983 1985 1989 1990 1991*
Brasil/Japão 8,2 8,0 13,7 12,6 12,9
Brasil/Europa# 5,1 5,7 7,5 6,7 7,5
West Austrália/Europa 7,6 7,3 9,6 9,4 10,3
Libéria/Europa 4,2 4,2 6,9 6,5 6,9
Canadá/Europa 3,3 3,6 7,1 5,6 6,1
Fonte: Drewry Shipping Consultants Ltd. apud UNCTAD (1992a)
Obs: * estimativa
# Europa corresponde aos Portos de Roterdã, Amsterdã e Antuérpia
No que se refere ao mercado europeu, o Brasil apresenta um custo de frete competitivo.
Embora o preço praticado seja 8,7% superior ao liberiano e 23% superior ao canadense, ele é
37,3% inferior ao australiano (dados de 1991). Analogamente, o frete é uma desvantagem
competitiva brasileira, em comparação com a Austrália, no mercado japonês. O preço médio de 8
carregamentos de minério, na rota West Austália-Japão, registrados no ano de 1990, pelo Iron
Ore Manual (1991/92), foi de US$ 5,52 tonelada. Assim, a diferença favorável a Austrália neste
mercado, em termos de frete, seria de 128%.
49 A Robe River é a mais dependente do mercado japonês, pois escoa 68% da sua exportação para este país. Estes
valores para Hamersley e Mt. Newman são, respectivamente, de 44% e 48%.
50 O Porto Latta, localizado na Tasmânia, que atende exclusivamente a Savage River, é o mais distante dos portos
japoneses: 4800 milhas náuticas.
51 É bem verdade que a exportação de minério de ferro de Carajás (Porto Ponta da Madeira) é mais favorecida pela
menor distância frente à Europa e ao Japão: distância Carajás-Roterdã (4.100 milhas naúticas) e Carajás-Oita
(8.070 milhas naúticas), segundo o World Wide Marine Distance Tables. Ver no Anexo 2, a distância em milhas
náuticas entre os principais portos escoadouros e recebedores de minério de ferro do mundo.
47
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No que se refere a fretes, considerando os mercados japonês e europeu conjuntamente, a
situação brasileira em comparação à australiana é desvantajosa. Isto deve ser atribuído,
parcialmente, ao fato do Brasil estar fora das grandes rotas e se situar no Atlântico Sul (no qual,
os todos os países buscam obter superávits comerciais com o Norte, fazendo com os fluxos de
retorno ao Sul sejam bastante inferiores aos da ida) - ver BNDES (1988: 6).
O fator frete é decisivo na repartição dos mercados. A Austrália domina, atualmente, 43%
do mercado japonês de minério de ferro, enquanto a participação brasilera corresponde a 24%.
Das exportações australianas, 56% direcionam-se ao Japão e 20% para a Comunidade Econômica
Européia. No caso brasileiro, estes percentuais são, respectivamente, de 26% e 42%. A grande
diferença é o mercado alemão: em 1990, as exportações brasileiras para este país foram de 19,7
milhões de toneladas (45% do total das importações) e as australianas de apenas 5,3 milhões de
toneladas (12%). Neste particular, a indústria brasileira leva vantagem por causa de sua menor
dependência de um mercado específico, como é o caso da australiana frente ao mercado japonês.
Já o mercado norte-americano é pouco relevante para ambos os países, muito em função
da crise estrutural por que passa a siderurgia americana desde meados dos anos 7052. Dados de
1990 indicam que a importação americana de minério foi de apenas 18,1 milhões de toneladas
(4,6% do comércio mundial do produto). As exportações canadenses para os EUA foram
equivalentes a 9,4 milhões de toneladas (51,8% do total), as brasileiras a 4,3 milhões de toneladas
(23,6%), as venezuelanas a 3,5 milhões de toneladas (19,4%) e, finalmente, as australianas a 14
mil toneladas (0,1%).
. Vocação exportadora
Uma comparação, ainda que preliminar, das indústrias brasileira e australiana mostra um
grande número de aspectos em comum, embora a intensidade das relações não seja,
evidentemente, a mesma. O primeiro fator similar é o direcionamento, a vocação das indústrias:
ambas foram concebidas para atender ao mercado internacional53. Da produção brasileira, cerca
de 75% é exportada, sendo que algumas empresas como a MBR chegam a exportar 90% da sua
produção. Em termos financeiros, as exportações representam 95% do faturamento da MBR. Já a
Samarco exporta toda a sua produção. Na Austrália, esta relação é ainda mais vigorosa, na
medida em que o coeficiente exportação/produção equivale a 85%. É evidente que o maior porte
52 A crise da siderurgia nore-americana afetou a indústria de minério de ferro doméstica: em 1981, a capacidade
instalada era de 125 milhões de toneladas/ano e com 22 plantas de pelotização; em 1992, a capacidade tinha
involuído para 86 milhões de toneladas/ano, com um total de 12 pelotizações (COVATT 1992:65). O efetivo na
indústria declinou de 21.800 (em 1988) para 8.500 (ao final de 1990).
53 A atividade brasileira de extração de minério de ferro apesar de responder apenas por 0,65% do produto interno
bruto, em 1991, gerou 7% da receita das exportações brasileiras.
48
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da siderurgia brasileira em comparação com a australiana é determinante nesta diferença: em
1991, a indústria brasileira produziu 22,6 milhões de toneladas de aço bruto e exportou 2,5
milhões de toneladas de ferro-gusa, enquanto a australiana fabricou apenas 6,2 milhões de
toneladas de aço bruto.
. Grau de concentração e estrutura patrimonial
Em termos de estrutura industrial, ambas as indústrias apresentam alta concentração. No
Brasil, a produção e a exportação está concentrada na CVRD, MBR, Samarco, Samitri e Ferteco,
que dominam 90% da exportação do produto, embora lavrem apenas 18 das quase 125 minas em
operação no país. Na Austrália, as três grandes empresas do setor, Hamersley, Mt. Newman e
Robe River, também dominam 90% da exportação do produto. A Tabela 14 apresenta a
exportação destas grandes empresas em 1990. Percebe-se que a escala média das empresas
australiana é maior, mas o volume de exportações da CVRD é 90% superior ao da segunda maior
empresa do setor, a nível mundial: a Hamersley.
TABELA 14
EXPORTAÇÕES DE MINÉRIO DE FERRO, POR EMPRESAS - BRASIL E AUSTRÁLIA
(1990)
(milhões de toneladas)
Brasil Austrália
CVRD 77,1 (67,5%) Hamersley 40,9 (38,0%)
MBR 17,2 (15,0%) Mt. Newman 28,1 (27,3%)
Samarco 8,6 ( 7,5%) Robe River 24,5 (23,8%)
Ferteco 7,2 ( 6,3%)
Samitri 3,9 ( 3,4%)
TOTAL 114,3 TOTAL 107,6
Fonte: Sindifer, Von Os (1991a)
Deve-se acentuar que no caso da Austrália, a indústria passou ao longo da década de 80
por uma profunda reestruturação patrimonial (principalmente via aquisições), que redundou nesta
alta concentração industrial. E mais: houve uma mudança de parceiros comerciais - a Inglaterra e
os EUA foram desbancados pelo Japão.
Até 1985, a BHP possuía apenas 30% das ações da Mt. Newman. Neste ano, contudo,
adquiriu a participação da americana Amax Corp. (25%) e da australiana CSR (30%). Desta
forma, passou a deter 85% da Mt. Newman. Em fevereiro de 1990, a BHP adquiriu 70% das
ações da Goldsworthy de propriedade da inglesa Hanson, por US$ 140 milhões, passando a
proprietária integral da mineradora. Mas, logo em outubro de 1990, ela vendeu 15% das ações na
Goldsworthy para empresas japonesas (8% C.Itoh e 7% Mitsui). Nesmo mesmo mês, foi iniciado
o projeto Yandi, na mesma proporção acionária da Mt. Newman e Goldsworthy. Além de
49
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aumentar a sua importância no contexto australiano e mundial no comércio de minério de ferro, a
BHP passou a ter três empreendimentos com a mesma composição acionária e, portanto, podendo
aproveitar esta sinergia.
Em janeiro de 1986, a empresa americana Clevand Cliffs vendeu sua participação de 30%
na Robe River para a Peko Wallsend (parte do grupo North Broken Hill-Peko). Com isso, o nome
da mineradora passou de Cliffs Robe River para Robe River. Em fevereiro de 1987, a Robe River
adquiriu os 50% que a BHP Minerals possuia na infra-estrutura do projeto (ferrovia e porto) e
todos os depósitos da BHP Minerals possuia na área da Robe River. Em suma, este biênio marca
uma grande alteração patrimonial na Robe River, além da consolidação como um projeto
independente em termos de infra-estrutura.
Por outro lado, em outubro de 1990, a Savage River, a joint-venture que envolvia capitais
japoneses, australianos e americanos foi desfeita. A partir desta data, a participação da Clevand
Cliffs na Savage River elevou-se de 36% para 100%54.
No Brasil, as participações acionárias têm se mantido mais estáveis, com as exceções da
MBR e do Projeto Ferro Carajás. Na MBR, o capital nacional (grupo CAEMI/Antunes) foi
gradativamente aumentando sua participação acionária naquela empresa: ele correspondia a
26,1% na estrutura inicial, passando para 50,5% em agosto de 1983 e, finalmente, para 70,1% em
março de 1987 (BRASIL MINERAL, 1987 (48): 22). A alteração da proporção acionária,
ocorrida em 1987, envolveu a compra da participação de 34,27% que a Hanna Mining possuía na
MBR, a um custo de US$ 75,2 milhões. Este valor foi pago totalmente à vista, parte com recursos
próprios, parte financiada por terceiros, a longo prazo. Esta transação também incluiu a alienação
de 14% do capital da MBR para a Mitsui Co. (trading japonesa).
Como atesta SCHNEIDER (1991: 74), o grupo CAEMI passou por uma trajetória de
concentração de interesses no setor de minério de ferro, seja no Brasil, seja no exterior, mesmo às
custas de desmobilização de várias áreas de negócio do grupo (como a Siderúrgica Anhangüera,
vendida ao grupo Villares). É neste sentido que deve ser entendida a aquisição pelo grupo
CAEMI de 25% da Quebec Cartier Mining Co. (QCM), em 1989. Esta empresa é a segunda
maior mineradora canadense, que pertencia a US Steel, e foi adquirida por um consórcio de
empresas: 50% Dofasco (siderúrgica canadense), 25% Caemi (mineradora brasileira) e 25%
Mitsui. A QCM possui a vantagem de complementar a linha de produtos da MBR, pelo fato de
vender pelotas.
54 A Clevand Cliffs é a maior produtora de pelotas dos EUA: possui uma capacidade instalada de 41,2 milhões de
toneladas ano, o que representa 50% da capacidade norte-americana (BURGER, 1989: 19).
50
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Já o projeto Ferro Carajás, inicialmente (em 1970) seria desenvolvido pela Amazônia
Mineração S.A. (AMZA), sendo que 51% dela era de propriedade da CVRD e 49% da US Steel.
Após divergências em relação ao prosseguimento do projeto e a melhor alternativa para o
escoamento da produção55, a CVRD adquiriu, em 1977, todas as ações da US Steel na AMZA. A
operação foi da ordem de US$ 55 milhões, o que correspondia ao valor das despesas efetuadas
pelo grupo estrangeiro no projeto. Finalmente, em 1981, a AMZA foi incorporada à própria
CVRD.
. Volume de reservas, qualidade e custos do minério
Outro quesito importante refere-se ao volume de reservas de minério. As reservas
brasileiras de minério de ferro (incluindo hematita e itabirito) são de aproximadamente 42,8
bilhões de toneladas56, enquanto as australianas são de 35 bilhões. A relação reservas/produção
atual nas duas indústrias supera 250 anos.
Há, naturalmente, algumas diferenças entre as duas indústrias, que podem ser agrupados
em dois aspectos: qualidade do minério e mix de produção, de um lado e, custos, de outro.
Com relação à qualidade do minério e mix de produção, a situação da indústria brasileira é
mais favorável. Em primeiro lugar, o teor de ferro no minério brasileiro é maior: nos triênio 1988-
1990, o teor médio de ferro das exportações brasileiras foi da ordem de 64,4%, e o das
australianas, neste mesmo período, de 63,2%. Secundariamente, o grau de enobrecimento do
produto brasileiro é melhor, por dois quesitos: a) o minério brasileiro, usualmente, é lavado,
enquanto as exportações australianas são feitas como minério a seco (portanto, com maior grau de
impurezas)57; b) o Brasil é um grande produtor de pelotas (produto de maior valor agregado da
indústria), enquanto a Austrália praticamente não fabrica este produto58, 59. Em compensação, a
55 MARQUES (1992a: 20) aponta a divergência entre a CVRD e a US Steel sobre o transporte mais adequado para
o escoamento. A US Steel prefiria o hidroviário, com um porto no Pará, o que facilitaria as exportações para o
mercado norte-americano. A CVRD, por sua vez, tinha preferência para transporte ferroviário, porto no Maranhão,
para atingir mais facilmente o mercado japonês.
56 As reservas brasileiras de minério de ferro são da ordem de: 9,5 bilhões de toneladas (medidas), 6,4 bilhões de
toneladas (estimadas) e 26,9 bilhões de toneladas (inferidas). Ao rítmo atual de produção de 150 milhões de
toneladas/ano, as reservas já medidas se extinguiriam em 64 anos.
57 A afirmação de que o minério australiano é de pior qualidade, em relação ao caso brasileiro, é particularmente
verdadeira para o produto da Robe River, que possui alto teor de ganga ácida (sílica e alumina) e baixo teor de ferro
(57%). O seu minério é vendido, para o mercado japonês, com um preço 15% menor do que os outros minérios
finos australianos, por unidade de ferro contida.
58 A única produtora de pelotas, destinada à exportação, australiana é a Savage River, cuja produção atual gira em
torno de 1,8 milhão de toneladas/ano, para uma capacidade instalada de 2,5 milhões de toneladas/ano, mas suas
reservas estão perto da exaustão completa. Existe outra unidade, com capacidade de 1,3 milhão de toneladas/ano,
que fica na usina siderúrgica integrada de Whyalla, de propriedade da BHP Steel, em substituição à sinterização.
51
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Austrália produz maior quantidade de lump proporcionalmente ao Brasil, que é mais caro do que
o minério fino. A Tabela 15 mostra o mix de produção para as duas indústrias em 1990.
TABELA 15
MIX DE PRODUÇÃO DAS INDUSTRIAS BRASILEIRA
E AUSTRALIANA DE MINÉRIO DE FERRO
(1990)
(mil toneladas)
Brasil Austrália
Minério granulado 29.702 42.000
Minério fino 89.553 67.000
Pellets-feed 35.119 3.000
Pelotas 24.684 -*
Fonte: UNCTAD (1991)
Obs: * Na verdade, a produção australiana de pelotas em 1990 foi de 3,0 milhões de toneladas.
No que se refere ao fator preço, a indústria australiana apresenta algumas vantagens, na
medida em que o seu custo é menor, em função de:
a) menor custo de beneficiamento: por tratar pouco o minério e vendê-lo primordialmente
a seco60;
b) o menor custo de transporte ferroviário: uma vez que as distâncias das minas aos portos
são menores na Austrália do que no Brasil, além de atravessar locais bem menos acidentados
(especialmente, em comparação com as exportações brasileiras, a partir de Minas Gerais)61;
c) as minas australianas situam-se em lugares pouco habitados, requerendo menores gastos
com proteção ambiental62.
. Produtividade e relações trabalhistas
Poder-se-ia apontar que a indústria australiana apresenta maior produtividade em relação à
brasileira. Os poucos dados ratificam esta noção. A Robe River, por exemplo, considerado o
59 A Robe River chegou a produzir pelotas, no período 1972 a 1981. Em 1986, a maior parte dos componentes
desta usina foram desmontados e vendidos à China.
60 Por exemplo, o minério de mina de Yampi Sound não é tratado pela sua proprietária (BHP), segundo VON OS
(1991b: 54).
61 Vide Capítulo 2.
62 Segundo o Sindicato Nacional da Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (Sinferbase), em 1991, a
indústria brasileira dispendeu US$ 42 milhões com gastos em controle e preservação ambiental, isto é, cerca de
1,5% do faturamento.
52
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projeto mais intensivo em capital da mineração de ferro australiana (VON OS, 1991a: 51)63,
produziu em 1990 aproximadamente 24,5 milhões de toneladas, empregando cerca de 1000
empregados. Neste mesmo ano, a Hamersley produziu 43,9 milhões de toneladas, para um efetivo
total de 3122 pessoas. As minas australianas do Grupo BHP (Mt. Newman, Goldsworthy e
Channar), produziram em 1991, 43,8 milhões de toneladas, empregando 4350 funcionários. A
produtividade ponderada das três maiores empresas australianas seria da ordem de 13,2 mil
toneladas/homem/ano. A MBR, por seu turno, produziu em 1990, 19,2 milhões de toneladas,
utilizando 2710 funcionários, ou seja, uma produtividade de 7,1 mil toneladas/homem/ano64. A
produtividade seria, desta forma, 80% maior na Austrália. É bem verdade que as grandes
empresas australianas passaram por ajustes vigorosos de pessoal no período 1986/88. A primeira
empresa a fazer este ajustamento foi a Robe River (redução de 1631 para 1252 postos em 1987),
seguida pela Hamersley (diminuição de 1200 postos) e, finalmente, pela Mt. Newman (VON OS,
1990: 39). No ano de 1992, a Hamerseley reduziu novamente seu efetivo em torno de 500
pessoas, atingindo um quadro de 2.500 funcionários (VON OS, 1993:38).
A análise comparativa da diferença de produtividade deve considerar, todavia, que na
Austrália, as unidades de pelotização são muito reduzidas em volume, e as atividades de
beneficiamento do minério são menores, até pela maior proporção de minério granulado vendido.
Estes fatores amenizariam esta eventual diferença. Além disso, a avaliação geral dos dirigentes
brasileiros do setor é de que as minas australianas são mais terceirizadas do que as brasileiras.
Por outro lado, a indústria australiana possui uma desvantagem em relação à brasileira, em
termos de relações trabalhistas: a extrema fragilização dos sindicatos, que podem propiciar a
deflagação de greves pontuais, embora os resultados geralmente sejam sentidos por toda a
empresa65. Num passado recente, contudo, os produtores australianos vem conseguindo reverter
esta situação, através de alterações substanciais nas práticas trabalhistas, como a introdução do
trabalhador multi-tarefa (VON OS, 1990: 39).
A menor produtividade brasileira não se circunscreve apenas às minas da Região Sudeste.
O Projeto Ferro Carajás, apesar das condições favoráveis do terreno, do elevado porte do
empreendimento e do pequeno trabalho de beneficiamento requerido, apresenta indicadores de
63 O investimento acumulado na Robe River, a preços de 1990, corresponde a US$ 1,8 milhões (VON OS, 1991a:
51). Os dados originais eram em dólares australianos e foram convertidos em dólares norte-americanos, pela
paridade cambial média deste ano.
64 A escolha da MBR para fins comparativos deveu-se ao fato de não possuir usina de pelotização em similariade
às empresas australianas.
65 A Austrália tem uma "fama" de fornecedor irregular muito em função de greves que aconteceram no passado, e
atrasaram o escoamento das exportações. Um exemplo recente aconteceu com a Robe River que, em 1986, por
causa de greves, diminuiu a sua produção em 16% e a sua exportação em 27% (PRATT 1988: 137). No ano de
1992, a Hamersley perdeu importante parcela de vendas para seus competidores em função de uma greve que durou
aproximadamente um mês (VON OS, 1993:38).
53
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produtividade inferiores aos da Robe River. Em 1990, para produzir cerca de 31,1 milhões de
toneladas de minério, empregou cerca de 1800 pessoas: uma defasagem de 40% em relação a
aquela empresa66.
A noção predominante, em contrapartida, é de que os salários australianos sejam mais
elevados do que os brasileiros. Uma explicação para isto, além das diferenças dos padrões de vida
dos países, decorre da área de instalação das minas: uma vez que as áreas eram inóspitas, durante
as décadas de 60 e 70, quando foram montados os grandes projetos minerais, as empresas
australianas se viram obrigadas a fazer várias concessões (salariais) para atrair pessoas para estas
áreas (VON OS, 1990: 39).
De todo modo, a desvantagem da menor produtividade brasileira é amenizada pelo fato
dos custos salariais serem, em comparação com o faturamento do setor, pouco significativos. A
título de exemplo, em 1991, na indústria brasileira, o peso dos salários foi de 11,9% no
faturamento setorial67.
A indústria de minério de ferro brasileira apresenta uma situação mais favorável, em
termos de relações trabalhistas, em comparação com a Austrália. Isto se deve fundamentalmente à
inexistência de greves, que foram mais intensas no passado, mas continuam presentes na
mineração australiana.
Os dados sobre treinamento de pessoal da indústria de minério de ferro brasileira
(TABELA 16) indicam que o setor gasta cerca de 0,22% do faturamento com esta rubrica. Isto
corresponde a um dispêndio de treinamento de aproximadamente US$ 205/funcionário/ano, o que
é um valor alto em relação à média da indústria brasileira mas relativamente baixo ao se considerar
o grande porte das empresas e o reduzido número de empregos diretos gerados.
66 Este dado é inclusive subestimado por desconsiderar alguma apropriação de pessoas da área administrativa,
lotadas na sede da CVRD, no Rio de Janeiro. Mas, por outro lado, é muito menor do que o projeto original que
previa a geração de 5.368 empregos diretos.
67 Ao se considerar o somatório de salários, encargos sociais e benefícios (complementação à aponsentadoria, vale-
transporte, vale-refeição, seguro-saúde, etc), este valor sobe para 19,9%. Também a título de exemplo, a proproção
destas despesas, na LKAB (sueca), em 1990, foi da ordem de 24,2%.
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TABELA 16
GASTOS COM TREINAMENTO DE PESSOAL
MINÉRIO DE FERRO - BRASIL
(1986/91)
(US$ milhões)
Gastos % Faturamento
1986 3,8 0,22
1987 3,2 0,16
1988 4,3 0,22
1989 5,3 0,22
1990 5,8 0,22
1991 5,4 0,20
Fonte: Sinferbase
Por outro lado, o setor (e muito especialmente a CVRD) tem tido uma política mais
agressiva no tocante à complementação à aposentadoria. Por exemplo, no biênio 1990/91, o setor
contribuiu em média com US$ 60 milhões (2,3% do faturamento) a tais programas.
Deve-se ainda ter claro que tanto em Carajás quanto na região de Pilbara (West Austrália),
por ser tratarem de lugares inóspitos, as mineradoras foram obrigadas, geralmente, a oferecer
atrativos para o deslocamento de pessoal. No caso de Carajás, houve a construção do Núcleo
Urbano de Carajás (a 40 km de distância da mina), tendo capacidade inicial para 6 mil habitantes,
contando com: 1.253 residências, escolas, sistema de saúde, clube sócio-recreativo, sistema de
tratamento de água. Isto representou um investimetno de US$ 178,9 milhões (5,1% do Projeto
Ferro Carajás como um todo).
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2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
2.1. Diagnóstico da Competitividade
O setor de extração e beneficiamento de minério de ferro brasileiro é um dos líderes
mundiais da atividade. A indústria apresenta uma situação de excelência em termos de produtos
ofertados (mix de produção) e, simultaneamente, não apresenta gargalos produtivos relevantes.
Além disso, em parte devido ao fato de que o progresso tecnológico nessa indústria é pouco
dinâmico, não há defasagens relevantes com relação à adoção de novas tecnologias. Por fim, não
há, a princípio, grandes investimentos em outros países que possam colocar em xeque a posição
brasileira.
Com relação aos principais fatores determinantes da competitividade internacional da
indústria, cabe ressaltar, além da escala adeqüada dos principais produtores nacionais, as seguintes
características da indústria brasileira:
a) existência de uma infra-estrutura de transportes própria eficiente, que lhe permite o
escoamento da produção, sem as dificuldades típicas encontradas pelas outras indústrias nacionais.
Há, no entanto, restrições às exportações de minério por parte dos pequenos mineradores devido
ao alto custo do transporte ferroviário no corredor Estrada de Ferro Vitória-Minas/Porto de
Tubarão e ao elevado custo portuário no corredor Ferrovia do Aço/Porto do Rio de Janeiro.
b) existência de unidades de pelotização que representam o produto de maior valor
agregado à indústria e possibilita o enriquecimento de minério de ferro de baixo teor; e
c) os programas de melhoria da qualidade e produtividade são bem disseminados no setor.
As empresas brasileiras com maior atuação internacional (Companhia Vale do Rio Doce,
Minerações Brasileiras Reunidas, Ferteco, Samarco e Samitri) estão, em geral, com programas de
gestão da qualidade já consolidados, sendo que todas esperam obter certificação ISO 9000 até o
final de 1994.
Nesta seção essas caraterísticas são analisadas em detalhe.
2.1.1. A Importância dos "Corredores de Exportação"
Os custos de transporte (incluindo ferrovias e desembarque portuário) representam,
geralmente, de 40 a 60% do preço de venda do minério de ferro. Ao mesmo tempo, a relevância
do minério de ferro enquanto demandante de transporte de carga no país é inconteste. Ele
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correspondeu, nos últimos anos, a cerca de 68% das toneladas/quilometros úteis (TKU)68
geradas no sistema ferroviário brasileiro. Em se considerando que o transporte ferroviário
equivale a cerca de 22,5% do transporte de carga brasileiro, conclui-se que o minério de ferro
representa aproximadamente 15% do transporte de carga do país.
Existem quatro "corredores de exportação" no setor:
a) Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM)-Porto de Tubarão, que atende a CVRD,
Samitri e Ferteco;
b) Estrada de Ferro Carajás (EFC)-Porto de Ponta da Madeira, que atende exclusivamente
a CVRD, em relação ao Projeto Ferro Carajás;
c) Rede Ferroviária Federal (Linha do Centro e Ferrovia do Aço)-Porto de Sepetiba (RJ),
utilizado pela MBR e
d) Mineroduto Mariana-Porto da Ponta do Ubu (Anchieta ES), de uso privativo da
Samarco (Tabela 17). Tão ou mais importante do que as reservas minerais são os canais de
escoamento. A Bolívia é um triste exemplo de como grandes reservas minerais ("El Mutúm") não
se transformam em grandes exportações, em função da dificuldade de escoamento.
TABELA 17
CORREDORES DE EXPORTAÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO BRASILEIROS
Empresa Mina Capacidade* Porto Distância#
CVRD Cauê 20,5 Tubarão 542
Conceição 14,0 Tubarão 542
Timbopeba 6,0 Tubarão 613
Serra Geral Capanema 11,5 Tubarão 613
Samitri Alegria 8,5 Tubarão 630
Morro Agudo 3,2 Tubarão 550
Ferteco Fábrica 9,0 Tubarão 712
Córrego Feijão 3,0 Rio Janeiro 574
CVRD Carajás (N4-E) 35,0 P. Madeira 892
MBR Aguas Claras 12,0 Sepetiba 583
Mutuca 6,5 Sepetiba 587
Pico 3,5 Sepetiba 565
Samarco Germano/Alegria 12,0 P. Ubu 396
Fonte: Brasil Mineral (1992, 10 (99)), Empresas
Obs: * em milhões de toneladas/ano
# em kilometros (mina/porto)
A EFVM possui 918 km de extensão, ligando o Porto de Tubarão (em Vitória ES) às
jazidas da CVRD em Minas Gerais, incluindo a recém-incorporada variante Costa Lacerda-
68 Este valor é obtido pela multiplicação das toneladas úteis (líquidas) pela quilometragem média da viagem.
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Capitão Eduardo, em bitolas métricas69. A sua capacidade de transporte é de 83 milhões de
toneladas anuais de minério (IRON ORE MANUAL, 1991/92: 239), sendo que em 1991,
transportou 72,9 milhões de toneladas de minério de ferro e pelotas. O material rodante da EFVM
é composto de 200 locomotivas diesel e 13.333 vagões (sendo 7.686 destinado exclusivamente
para o transporte de minério). Em 1991, esta ferrovia gerou 47,9 bilhões de TKU, sendo que
80,3% deste valor foi em minério de ferro. O efetivo de pessoal é de 5113 funcionários. O
indicador de produtividade (número de empregado/milhão de TKU) é atualmente de 0,13 - ver
MARQUES (1992b: 24)70. A avaliação de especialistas setoriais é de que o seu estado de
conservação é muito bom, além da ferrovia possuir um ótimo traçado71. BNDES (1987: 20).
Outro ponto positivo desta ferrovia é a existência de poucos pontos de embarque e desembarque.
A EFC foi inaugurada em março de 1985, ligando a Serra de Carajás (Pará) ao porto
maranhense de Ponta da Madeira. Sua linha principal, de via singela, tem extensão de 892 km
(enquanto as linhas secundárias somam mais 268 km), em bitolas largas de 1,6 metro. Possui 76
locomotivas de tração diesel e 3.640 vagões (2.910 especialmente para minério de ferro). Em
1991, gerou 30,6 bilhões de TKU, sendo 95,6% em forma de minério. A capacidade de transporte
desta ferrovia, desde 1987, é de 35 milhões de toneladas/ano. O efetivo de pessoal é de 1840
funcionários. O desempenho operacional, em 1990, foi de 8.193 TKU/total de vagões (em
milhares); 16.208 TKU/pessoal empregado (em milhares); e 625 TKU/toneladas de combustível
(em milhares).
A Ferrovia do Aço liga atualmente Barra Mansa (RJ) a Jeceaba (MG). Inicialmente, esta
ferrovia deveria possuir 834 km de extensão, interligando Belo Horizonte-São Paulo-Rio de
Janeiro. As obras começaram em 1975, mas somente foi inaugurada em 1989, após duas
prolongadas paralizações das obras: em 1976-1978 e em 1984-1986. A extensão atual é de 303
km, em bitola larga de 1,6 metro. Face às dificuldades financeiras da Rede Ferroviária Federal
(RFFSA) para o término das obras, a MBR pagou US$ 70 milhões, e a Ferteco US$ 1 milhão,
como adiantamento de frete72. A Ferrovia do Aço atende desta forma mais às exportações da
MBR, porém, limitando atualmente o seu escoamento a 20 milhões de toneladas/ano.
69 Pode-se segmentar a EFVM em três vias principais: a rota principal liga Itabira a Tubarão (550 Km); a extensão
até a Mina de Fábrica da Ferteco (são 180 kilometros, com entrocamento no Km 506); e a variante Costa Lacerda-
Capitão Eduardo (107 km).
70 Ver BARAT (1993:80) para indicadores de eficiência do transporte ferroviário. A EFVM, em 1990, apresentaria
os seguintes resultados: TKU/total de vagões (em milhares): 3.698; TKU/pessoal empregado (em milhares): 7.206;
TKU/toneladas de combustível (em milhares): 306.
71 Segundo BDMG (1989b: 135), a EFVM constitui, sem dúvida, um dos mais eficientes sistemas ferroviários
existentes no País, contando com linha dupla, moderno sistema de sinalização e controle centralizado de tráfego.
72 O término deste projeto custou US$ 136 milhões, sendo que o restante dos recursos provinieram do BNDES
(US$ 30 milhões), Tesouro Nacional (US$ 20 milhões), créditos externos (US$ 7,8 milhões) e recursos próprios da
RFFSA (8,2 milhões).
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A grande maioria do minério de ferro produzido pela MBR em Minas Gerais e exportado
pelo Terminal de Sepetiba, no Estado do Rio de Janeiro, é transportado pela RFFSA, utilizando o
trecho da Ferrovia do Aço, num percurso de 583 Km73, retornando a Minas Gerais, as
composições vazias, através da Linha do Centro, numa extensão de 639 km. A utilização de dois
ramais ferroviários decorre da falta de pátios de cruzamentos e dos sistemas de sinalização e
telecomunicação, que embora modernos, não estão totalmente instalados. Tão ou mais
importante, é fato de o trajeto mina/porto nos 303 km da Ferrovia do Aço é percorrido em 14
horas, e no sentido inverso, pela Linha do Centro, em 24 horas (REVISTA FERROVIARIA,
1992, 53 (9): 25)74. Em 1991, o minério de ferro gerou 15,3 bilhões de TKU da RFFSA, cerca de
42,4% do total transportado.
Em novembro de 1991, a MBR negociou com a RFFSA um novo acordo visando ao
aumento da malha da Ferrovia do Aço, denominado de Trecho Norte. Esta etapa corresponde aos
100 Km que separam Jeceaba de Belo Horizonte, sendo que em 1983, quando as obras foram
paralisadas, 35% dos serviços já haviam sido executados. Houve, todavia, uma simplificação
frente ao projeto inicial: redução de túneis, pontes e viadutos, aumento de trajeto em 2,1 km e
transformação da linha dupla para singela.
A MBR construirá, a fundo perdido (sem emissão de certificados de frete futuro pela
RFFSA), 57,5 Km de ferrovia entre Jeceaba e Itabirito, que permitirá o escoamento da produção
da Mina do Pico, que atualmente demanda transporte rodoviário em cerca de 40 Km e o
desenvolvimento da Mina do Tamanduá (que substituirá Aguas Claras). Este é praticamente o
último grande gargalo do transporte de carga do minério de ferro brasileiro75. A MBR deve
investir neste projeto cerca de US$ 110 milhões até 1994 (data prevista para o término da obra).
Além destes recursos, a MBR está investindo cerca de US$ 100 milhões na aquisição de
todos os vagões que utiliza (cerca de 2000) e 15% das locomotivas (15 unidades). Isto deverá se
concretizar até 199676. Em compensação, a MBR terá direito a um desconto de 15% no frete
pago, pela utilização de vagões e locomotivas próprios (TRANSPORTE MODERNO, 1992 (5):
73 Esta distância refere-se ao terminal de Olhos D'Agua, situado em Aguas Claras. O minério produzido em
Mutuca chega a este terminal através de um teleférico de 4 km.
74 Segundo TRANSPORTE MODERNO (1992 (5): 21), com a instalação de todos os pátios de manobras (foram
construídos apenas 12 dos 22 originalmente previstos) e de um sistema de sinalização eficiente, o ciclo de um trem
poderia se reduzir de 3,2 para 2,8 dias. De fato, há uma premência de pátios de cruzamento especialmente entre
Saudade e Brizamar, e o sistema de telecomunicações é deficiente.
75 A Ferteco utiliza transporte rodoviário na exportação de minério proveniente da Mina do Córrego do Feijão, que
é escoado pelo Porto do Rio de Janeiro, vai Linha do Centro, mas em apenas 8 Km.
76 A situação financeira da RFFSA, e a consequente dificuldade de manutenção do material rodante, deve ter sido
primordial para esta decisão. Mas, segundo BNDES (1987: 22), o demandante do tranporte ser proprietário de
vagões é uma tendência mundial (introduzida tardiamente no país). Neste modelo, a empresa ferroviária apenas
desloca os vagões, enquanto o proprietário deles realiza as operações de carregamento e descarregamento.
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21). Este maior envolvimento da MBR com a RFFSA levou, inclusive, a uma alteração na
cobrança de frete: ele passou a ser vinculado ao preço FOB da exportação do minério de ferro.
Para um escoamento de 1,1 milhão de toneladas/mês, a tarifa é de 32,15% do preço FOB,
elevando-se até 40,43% do preço FOB para volumes superiores a 2,25 milhões de toneladas/mês.
O preço do transporte, porém, não pode ser inferior a US$ 6,45 por tonelada (REVISTA
FERROVIARIA, 53 (1): 12). O esquema de frete vinculado vigora desde abril de 1991. O aditivo
que envolve a manutenção do preço da tarifa tem a duração mínima de 4 anos, sendo que a cada
US$ 50 milhões investidos na Ferrovia do Aço pela MBR, o contrato será prorrogado por mais
um ano, até o máximo de 5 anos.
Estes acordos devem acentuar o relacionamento da MBR com a RFFSA, ratificando a
posição da primeira como o maior cliente da segunda: em 1991, a MBR gerou, respectivamente,
30,7% de toda a TKU e 17,1% do faturamento da RFFSA (REVISTA FERROVIARIA, 1992, 53
(8): 13). Consequentemente, a carga da MBR correspondeu a 72,6% do todo minério de ferro
transportado pela RFFSA, em 1991.
Estes investimentos em infra-estrutura são cruciais para a competitividade do setor. Em
compensação, eles são muito dispendiosos. O mineroduto da Samarco (396 km de extensão e
46/51 cm de diâmetro, considerado o maior do genêro a nível mundial para o transporte de
minério de ferro) custou cerca de US$ 100 milhões, isto é, 15% do custo total do projeto77, que
incluiu a construção do Porto Ponta do Ubu, uma unidade de pelotização (em Ponta do Ubu) e
uma de beneficiamento (em Mariana). Este mineroduto possui uma capacidade de escoamento de
12 milhões de toneladas/ano, sendo que o minério é tranportado a uma densidade de 66% sólidos.
Na verdade, o mineroduto é a grande vantagem estrutural da Samarco, uma que vez que propricia
uma economia de até 80% em relação ao custo ferroviário (MINERIOS, EXTRAÇÃO &
PROCESSAMENTO, 1992, 16 (174): 76)78. Outro exemplo relevante é o Projeto Ferro Carajás:
na ferrovia e no porto, gastou-se US$ 1,9 bilhão, ou seja, 55% do custo total do empreendimento
(ver Tabela 7).
De um modo geral, pode-se assegurar que o escoamento do minério de ferro através
destes quatro "corredores de exportação" não apresentam gargalos. A EFVM, por exemplo,
possui uma capacidade total de 120 milhões de toneladas/ano (incluindo outras cargas), e em 1991
transportou 94,2 milhões de toneladas. O mineroduto da Samarco está com uma capacidade
ociosa de 32%. É bem verdade que a EFC opera próxima à capacidade nominal, mas não teria
77 O valor histórico do projeto inicial da Samarco foi de US$ 640 milhões, sendo que seu valor atualizado é de
aproximadamente de US$ 1,5 bilhão.
78 Em compensação, o mineroduto restringe o tipo de produto transportado: opera apenas com minério fino (sinter
feed fines), e não com o minério granulado.
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maiores problemas para sua ampliação. As dificuldades de expansão parecem se concentrar na
esquema de exportação da MBR, que passa pela ampliação das linhas da RFFSA.
O investimento mais recentemente realizado nas chamadas vias de minério brasileiras foi a
modernização de 47 Km, entre Barão de Cocais e Belo Horizonte, da Variante Capitão Eduardo-
Costa Lacerda (trecho total de 107 km). Trata-se de uma via adquirida pela CVRD junto a
RFFSA, em setembro de 1990, por US$ 100 milhões. A CVRD investiu mais US$ 130 milhões,
objetivando a exportação de cereais produzidos no cerrado brasileiro, ao ampliar a capacidade de
escoamento da variante de 6 para 12 milhões de toneladas ano. Mas isto beneficiou, em especial,
duas minas: Gongo Soco (Socoimex) e Córrego do Meio (Samitri). Esta última mina, com a
reformulação da variante ficou a apenas 4 km da EFVM. Tem uma capacidade anual de 200 mil
toneladas, e supria apenas as necessidades da Belgo-Mineira (usina de Sabará). Com o novo canal
de escoamento, pretende-se elevar a capacidade para 1 milhão de toneladas a partir de 1993, ainda
que o interesse seja o mercado doméstico79.
A indústria extrativa de minério de ferro australiana também adotou a estratégia de
construção de infra-estrutura de transporte própria. Neste país, praticamente toda a exportação
ocorre via cinco "corredores de exportação", sendo quatro ferrovias (exportações da Hamersley,
Mt. Newman, Robe River e Goldsworty) e um mineroduto (Savage River, com capacidade para
transportar 2,5 milhões de toneladas/ano). A Tabela 18 sintetiza os principais dados deste corredores.
TABELA 18
CORREDORES DE EXPORTAÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO AUSTRALIANOS
Empresa Minas Capacidade* Porto Distância#
Hamersley Mt. Tom Price 28,0 Dampier 293
Paraburdoo 15,0 Dampier 394
Channar 3,0 Dampier 414
Mt. Newman Mt. Whaleback 34,5 Headland 426
Yandi 5,0 Headland 313
Robe River East Deepdale+ 20,0 Walcott+ 185
Goldsworthy Shay Gray@ 6,2 Headland 182
Savage River Savage River 2,5 Latta 85
Fonte:Pratt (1988), Iron Ore Manual (1991/1992)
Obs: * em milhões de toneladas anuais
# em kilometros (porto/mina)
+ a mina da Robe River também é conhecida como Pannawonica, e seu porto por Cabo Lambert
@ inclui as operações de Sunrise Hill
79 A Samitri opera outra mina, a de Andrade, com capacidade de 1,2 milhão de toneladas ano, em Itabira MG, mas
toda sua produção é consumidsa pela Belgo-Mineira (unidade de Monlevade). Na verdade, a mina é da própria
Belgo-Mineira, que remunera a Samitri pelo serviço de extração e beneficiamento.
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Deve-se esclarecer que as instalações ferroviárias de Mt. Whaleback (Mt. Newman/BHP),
em via singela, escoa também minério de minas denominadas satélites, de pequena envergadura.
Estas, em função de sua escala reduzida, não seriam economicamente viáveis, se não utilizassem a
infra-estrutura disponível80. Aliás, o custo de reposição do corredor Mt. Whaleback/
ferrovia/Porto Headland é estimado em US$ 3,5 bilhões (IRON MANUAL 1991/92: 213). Estas
minas satélites são: Orebody 29 (capacidade de 4 milhões de toneladas/ano, 3 Km de Mt.
Whaleback); Orebody 25 (produção atual de 0,8-1,2 milhão de tonaladas/ano, 12 Km de Mt.
Whaleback); Mc Camey Monster (2,2 milhões de toneladas, 33 km de Mt. Whaleback)81.
Outro detalhe da operação da Mt. Newman é a separação das atividades de
beneficiamento: as operações de britagem primária e secundária são feitas na mina; as de britagem
terciária e peneiramento são executadas no Porto Headland (também denominado Ponta Nelson).
A Goldsworthy procede de modo similar: britagem primária e secundária em Shap Gray e Sunrise
Hill, e britagem terciária e peneiramento em Porto Headland (Finucane Island). A Robe River
também faz esta divisão de operações: em Cabo Lambert, o minério é moído e peneirado, antes de
sua exportação.
Alternativamente, a Hamersley não executa operações de beneficiamento ou britagem
terciária junto ao seu Porto. De fato, as operações de britagem terciária são executadas junto as
minas de Mt. Tom Price (que entrou em operação em 1966) e Paraburdoo (1973). Nesta última
inclusive, parte do material de Channar recebe tratamento (1990). A ferrovia da Hamersley possui
394 km na sua rota principal, predominantemente de linha singela. Tem a disposição 47
locomotivas e 2450 vagões. O ciclo de um trem (viagem de ida e volta) é de 26 horas (Mt. Tom
Price) e de 38 horas (Paraburdoo).
Como já referido, a indústria australiana beneficia-se da menor distância entre suas minas e
portos. Considerando as três maiores empresas, as distâncias variam de 185 a 426 km. No caso
brasileiro, estes valores ficam entre 583 e 892 km, ratificando esta noção. Isto traz um economia
substancial em termos de investimento em material rodante: enquanto um vagão, na EFVM,
carrega em média 9,5 mil toneladas de minério/ano, na Hamersley, esta razão chega a 17,9 mil
toneladas de minério/ano (uma diferença de 88%). Tão ou mais importante do que a distância
propriamente dita, são as condições do terreno, que são muito menos acidentados na Austrália82.
No Brasil, aonde o terreno é favorável (Carajás), a distância é maior.
80 Algo similar acontece no sistema Sul da CVRD, com as minas de São Luiz, Periquito e Tamanduá.
81 Na verdade, esta mina é de propriedada da Hancock Mining, mas a produção é toda vendida para a Mt.
Newman.
82 No caso da Mt. Newman, embora a distância a ser percorrida seja relativamente alta para os parâmetros
australianos (426 km), a ferrovia corre essenciamente para baixo, a ponto de consumir mais combustível no retorno
dos vagões vazios do que no trajeto mina/porto com vagões carregados (IRON ORE MANUAL 1991/92: 213).
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Esta melhor posição australiana deve perdurar no futuro, mas não necessariamente com a
mesma intensidade. Em geral, as novas minas em desenvolvimento são mais distantes, como
demonstram a Goldsworthy e a Hamersley. No primeiro caso, a mina homônima começou a ser
explorada em 196583, e foi totalmente exaurida em dezembro de 1982. Esta mina distava apenas
115 km do Porto Headland. Para substituir esta mina, duas outras (Shay Gray e Sunrise Hill)
foram implantadas, sendo que a distância em relação ao porto elevou-se para aproximadamente
180 km, porém com o ciclo de um trem de apenas 18 horas84. No caso da Robe River, uma área
muito promissora é a West Angela, que fica a 394 km do Porto Walcott, sendo necessário a
construção de uma ferrovia de 340 km para o seu escoamento. Naturalmente, este
empreendimento somente seria realizado com vistas a diversificação de produtos (no caso, de
maior teor de ferro e fornecimento de lump) pela Robe River, e num contexto de preços mais
atrativos. A mina de Yandi, contudo, nega esta trajetória por ser mais próxima do Porto Headland
do que a mina de Mt. Whaleback.
Naturalmente, os "corredores de exportação" requerem portos. Os volumes embarcados
nestes são, obviamente, correlacionados ao transporte da carga ferroviária. Assim, no caso
brasileiro, os portos de Tubarão (ES) e Ponta da Madeira (MA), de propriedade da CVRD, são os
mais importantes no escoamento das exportações. Dois outros terminais privativos, Sepetiba (da
MBR) e Ponta de Ubu (da Samarco)85, inaugurados, respectivamente em 1973 e 1977, são
responsáveis pelo restante da exportações. Uma quantidade residual é exportada pelo Porto do
Rio de Janeiro, utilizado pela Ferteco (em 5,3% de suas exportações em 1991 e tão somente 1,3%
em 1992) e por pequenas mineradoras (Esperança e Itaminas) - ver Tabela 19.
TABELA 19
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE MINERIO DE FERRO, POR PORTOS
(1988/92)
(mil toneladas)
1988 1989 1990 1991 1992
Tubarão (ES) 51.305 59.096 57.163 54.323 46.545
Ponta Madeira (MA) 29.751 29.553 31.153 32.431 31.853
Sepetiba (RJ) 14.017 16.034 16.657 18.532 19.876
Ponta Ubu (ES) 8.097 8.375 8.578 8.738 7.513
Rio de Janeiro (RJ) 475 687 746 657 248
TOTAL 103.645 113.745 114.297 114.681 106.035
Fonte: Litzinger (1989), Melo (1991), CVRD, Sinferbase
83 Trata-se da primeira mina que foi explorada na região de Pilbara, West Austrália. As exportações desta mina
começaram em 1966. A capacidade inicial do empreendimento foi de 2,5 milhões de toneladas ano.
84 A parte do Porto Headland utilizado pela Goldsworthy é também chamada de Funicane Island. De fato, o Porto
Headland possui atracadores distintos, uma vez que as participações da BHP nos empreendimentos Mt. Newman e
Goldsworthy eram diferentes até 1990.
85 O Porto Ponta de Ubu custou US$ 100 milhões, a valores históricos.
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Com relação aos portos, deve-se destacar que a escala das operações foi crescente ao
longo do tempo. Os portos utilizados pela CVRD são exemplares para esta constatação. O Porto
de Atalaia (ES), inaugurado em 1945, possuia uma capacidade de carregamento de 1,8 mil
toneladas/hora, e permitia a atracação de navios de até 25 mil toneladas86. Em 1959, foi
inaugurado o Porto de Paul (ES), que possuia a capacidade de receber navios de até 22 mil
toneladas87. Em 1963, a capacidade de embarque do Porto de Atalaia elevou-se para 2,7 mil
toneladas/hora (MINERAÇÃO METALURGIA, 1991 (519): 21). Em 1966, entra em operação o
Porto de Tubarão (ES), permitindo a atracação de navios de até 100 mil toneladas, a uma
velocidade de embarque de 6 mil toneladas/ hora. Atualmente, este porto comporta navios de até
300 mil toneladas (Tabela 20). Já o Porto de Ponta da Madeira (MA), inaugurado em 1985, tem
capacidade de operação de 16 mil toneladas/hora e pode receber navios de até 280 mil toneladas.
TABELA 20
PRINCIPAIS PORTOS BRASILEIROS - MINÉRIO DE FERRO
Tubarão Ponta Sepetiba Ponta Rio
Madeira Ubu Janeiro
Operadora CVRD CVRD MBR Samarco CDRJ
1
Capacidade anual
2
80 35 24 20 3,6
Capacidade nominal
de carregamento
3
30 16 7 9 4
Profundidade
4
24 23,5 22,5 18 12
Porte dos navios
5
300 280 300 180 60
Maior navio
embarcado
6
296 355 295 172 55
Viradores vagões
7
24 17 7 n.t n.t
Pátio estocagem
8
4,0 3,8 3,0 1,5 0,08
Capacidade de
recuperação
9
38 16 7 7 0,3
Empregados 750 331 300 94 60
Fonte: Mineração Metalurgia (1991), Brasil Mineral (1987), Drumonnd & Montes (1992),
Empresas, CDRJ
Obs: 1 Cia. Docas do Rio de Janeiro
2 em milhões de toneladas/ano
3 em mil toneladas/hora (ship-loader)
4 em metros
5 em toneladas de porte bruto
6 recorde em toneladas porte bruto
7 em mil toneladas/hora (car-dumper)
8 em milhões de toneladas
9 em mil toneladas/hora
86 Atualmente, a CVRD não opera mais este porto, que é utilizado pela Cia. Docas do Estado do Espírito Santo
(Codesa).
87 Este porto continua sendo operado pela CVRD, mas fundamentalmente no escoamento de ferro-gusa. A
capacidade de operação é de 900 toneladas/hora e anual de 2,3 milhões, comportando navios de até 40 mil
toneladas.
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O sistema portuário destinado à exportação de minério de ferro possui poucos gargalos.
Inicialmente, cabe destacar que a maioria deles opera com algum grau de ocisidade: Tubarão
(26%), Sepetiba (23%) e Ponta do Ubu (56%). O problema reside numa elevação das exportações
da CVRD a partir da Ponta da Madeira (ociosidade de 7%). A CVRD88, contudo, anunciou em
setembro de 1991, investimentos de US$ 16 milhões, totalmente financiados pela Nissan Iwai
(Japão), para equipar o Porto de Itaqui (São Luiz/MA). O novo sistema terá a capacidade de
exportar 15 milhões de toneladas/ano, devendo ser concluído no início de 1994. Os principais
equipamentos são: um carregador de navios (ship-loader) com capacidade de 8 mil toneladas/hora
e um transportador de correias, de igual capacidade, de 1,2 Km de extensão (com percurso parcial
sobre o mar), interligando os Portos de Ponta da Madeira e Itaqui (METALURGIA &
MATERIAIS, 1992, 48 (409): 525). Desta forma, resolver-se-ia o problema da aproximação de
plena capacidade pela infra-estrutura portuária da região.
Outro problema, embora de pequena envergadura, refere-se ao dimensionamento de áreas
e equipamentos no interior de certos portos. No Porto de Tubarão, constata-se o
subdimensionamento do pátio de estocagem - apenas 5% da capacidade anual de escoamento -, ao
passo que a média dos outros portos brasileiros é de aproximadamente 11%89. No caso de Ponta
de Ubu, a capacidade de recuperação de minérios também é subdimensionada tanto em relação ao
recebimento quanto ao carregamento de minérios. No entando, a Samarco já está instalando uma
recuperadora/empilhadeira recondicionada de 2.000 toneladas/hora, o que supriria esta defasagem.
Na verdade, o grande gargalo portuário para a indústria extrativa de minério de ferro é o
Porto do Rio de Janeiro, por quatro motivos: a) as taxas alfandegárias são bem superiores às
praticadas em outros portos e terminais privativos90; b) não é especializado, não contando com
todos os equipamentos necessários para uma maior agilidade, como por exemplo, um virador
automático de vagões e a recuperação do minério é feita por pá mecânica91 (a uma taxa de 300
toneladas/hora); c) a RFFSA frente a escassez de material rodante coloca a disposição do
88 A título de exemplo, a produtividade em serviços portuários da CVRD foi, em 1991, de 66.750 toneladas/
homem/ano (METALURGIA E MATERIAIS, 1992, 48 (409): 525). Para MBR e Samarco, os valores seriam
respectivamente de 61.800 e 93.000.
89 No Porto Dampier (Hamersley), esta relação é de 9%, e em Porto Headland (Mt. Newman e Goldsworthy) é de
18%.
90 Estima-se que o custo de embarque, para minério de ferro, no Porto do Rio de Janeiro seja pelo menos 100%
superior ao praticado pelas empresas em seus próprios terminais. Na verdade, a tarifa de embarque (incluindo
capatazia e armazenamento) é baixa: 0,75 US$ por tonelada, sendo que não há custo de estiva. Mas, sobre este
valore incide 40% de Adicional da Tarifa Portuária (recolhido pela Cia. Docas e repassado ao Governo Federal) e
5% de Imposto Sobre Serviços (ISS). Cobra-se adicionalmente a Taxa de Utilização do Porto (TUP): US$ 0,90 por
tonelada.
91 Este serviço não está incluído na tarifa da CDRJ, sendo feito por uma outra empresa (empreiteira) que cobra em
torno de US$ 0,75 por tonelada. Sobre esta atividade incide mais 5% de ISS. Cerca de 75% do minério escoado
pelo Porto do Rio de Janeiro necessita desta operação de recuperação. Quando o ship-loader é carregado
diretamente pelo vagão, a taxa de descarga é de 750 toneladas/hora.
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transporte de minério de ferro no máximo 5.000 toneladas/dia, ao passo que a capacidade do
Porto é de 10.000 toneladas/dia, limitando a capacidade de embarque do Porto a 1,8 milhão de
toneladas ano; d) só permite a atracação de navios de pequeno porte (de até 60 mil toneladas)92,
que, via de regra, praticam alto preço por tonelagem93.
O embarque de minério de ferro no Rio de Janeiro está seguramente limitando as
exportações brasileiras de minério: em 1991, 51% das exportações embarcadas neste Porto
destinaram-se ao continente americano e, em 1992, este valor chegou a 87%. Naturalmente, é
difícil atinigir mercados mais distantes, na medida em que o diferencial (negativo) do frete é muito
mais significativo. Além disso, houve uma queda expressiva no minério escoado por este porto
entre 1991 e 1992, refletindo em algum grau estas fragilidades.
Pode-se dizer que há um certo desinteresse quanto ao uso do Porto do Rio de Janeiro para
o escoamento do minério de ferro. De fato, neste Porto funcionou, no período 1959 a 1985, o
Pátio de Minério e Carvão (Porto do Cajú), cuja capacidade era de 4,5 milhões de toneladas ano
de minério e 3,0 milhões de toneladas ano de carvão. Com a sua desativação, as operações de
carvão foram transferidas para Sepetiba (76 Km do Rio de Janeiro) e as de minério para o
chamado prolongamento do Cajú (PORTOS & NAVIOS, 1987, 30 (7): 26). Em 1988, a
capacidade de escoamento de minério regrediu de 6.000 toneladas/hora para 4.000
toneladas/hora. Em 1990, face à necessidade de ampliar o Terminal de Containers, o pátio de
estocagem de minério de ferro foi reduzido à metade.
Visando contornar a fragilidade do Porto do Rio de Janeiro, a Ferteco decidiu-se
recentemente pela construção de um terminal privativo junto ao Porto de Sepetiba (RJ), para 6
milhões de toneladas/ano, a um custo de US$ 100 milhões, sem considerar gastos com material
ferroviário rodante (GAZETA MERCANTIL, 8-10/05/93: 38). Metade da capacidade seria
utilizada para o escoamento das exportações da Mina do Córrego do Feijão (da Ferteco), e o
restante seria destinado a pequenas mineradoras do Vale do Paraopeba, como Itaminas e
Esperança (REVISTA FERROVIARIA, 1992, 53 (9): 26). Este projeto, quando concretizado,
não deverá alterar a estrutura extremamente concentrada do setor, até porque se destina a navios
de porte médio (de até 160 mil toneladas). Desta forma, as exportações ficariam restritas, em
grande parte, aos continentes americano e europeu.
92 O cumprimento máximo do navio é de 230 metros.
93 ROWBOTHAM (1985: 17) mostra um exemplo numérico das economias de escala segundo o porte dos navios.
Na rota Tubarão-Roterdã, os navios de 120 mil toneladas de porte bruto teriam um custo de US$ 8 por tonelada
carregada; os de 170 mil toneladas de porte bruto de US$ 7,5; e os de 330 mil toneladas de porte bruto de US$ 5,2.
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Quanto aos custos portuários, o setor vem sofrendo com pouca intensidade este
problema94. Isto decorre do fato de utilizarem fundamentalmente terminais privativos. Por
exportarem quase exclusivamente seus próprios produtos, e com equipamentos automatizados,
acabam não sendo onerados com custos de estiva, e segundo uma empresa, as taxas de utilização
de seu porto são baixas - paga apenas a tabela de utilização portuária, que corresponderia a 5% do
custo total de embarque do produto.
A grande vantagem da nova legislação portuária é a maior flexibilidade para o escoamento
de cargas de terceiros95. Isto permite, num primeiro momento, diminuir a ociosidade dos portos e
o barateamento dos custos de embarque do próprio minério. Num segundo momento, possibilita
inclusive a ampliação da escala de operações (mediante novos berços), que também deve ter um
efeito no sentido da redução dos custos. Por outro lado, os custos de estiva (mão-de-obra
utilizada no embarque e desembarque) e capatazia (mão-de-obra usada na movimentação de carga
no porto) tendem a permanecer o mesmo no Porto do Rio de Janeiro, até porque o primeiro nem
é cobrado. A oportunidade de redução de custos neste Porto parecem condicionadas a
investimentos nas etapas de descarga de vagões e recuperação de minério96.
Em geral, a existência de portos de águas profundas é apontada com uma das vantagens
estruturais da indústria de minério de ferro brasileira. Apesar de correta, é mister qualificar esta
observação. Quando se compara as principais características de porte dos terminais brasileiros e
australianos, fica bem nítido que: a) esta vantagem já não seria tão acentuada, uma vez que os
maiores navios embarcados nos dois países são similares, embora com alguma vantagem para o
Brasil; b) a grande diferença é a maior capacidade nominal de embarque (ship-loaders) dos portos
brasileiros em relação aos australianos (Tabela 21).
94 Pelo menos as empresas que utilizam o seu próprio terminal. Quanto ao valor destes custos portuários, a noção
predominante no setor é de que são relativamente heterogêneos, em função da diversidade de escala e do grau de
ociosidade dos terminais.
95 Das empresas mineradoras brasileiras, a CVRD foi a que mais tentou diversificar a carga escoada nos seus
portos. Os resultados são, todavia, ainda muito modestos: em 1991, 98% da carga embarcada em Tubarão foram
relativos a minério (finos e granulados) e pelotas.
96 Ver análise do quadro atual da política setorial adiante.
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TABELA 21
PORTOS BRASILEIROS E AUSTRALIANOS - MINÉRIO DE FERRO
Porte Comprim. Boca Recorde Velo-
Bruto Máximo Máxima Navio cidade
(tpb) (m) (m) (tpb) (t/h)
Tubarão (Pier 1) 125 360 55 163 14
Tubarão (Pier 2) 300 390 61 296 16
Ponta Madeira 280 346 73 355 97 16
Sepetiba 300 350 56 298 7
Ponta Ubu 180 308 54 172 9
Dampier (East) 250 325 52 275 7,5
Dampier (Parker) 140 295 45 146 6
Headland
(Mt. Newman) 220 335 55 235 12
Headland
(Goldsworthy) 170 325 47 162 4,5
Walcott* 270 s.d s.d 274 7
Latta 90 250 37 s.d 5,5
Fonte: Iron Ore Manual (1991/92), BHP
É muito difícil uma estimativa nacional dos custos portuários de cada empresa, quanto
mais a nível internacional. Mas assume-se, com frequência, que os portos australianos
apresentariam maior produtividade, uma vez que utilizariam trabalhadores multi-
tarefas/polivalentes (denominados mantenedores), enquanto no Brasil ainda persiste uma
fragmentação maior de funções. Em compensação, os salários australianos seriam mais altos do
que os brasileiros, o que amenizaria aquela desvantagem.
No caso específico da CVRD deve-se considerar que o "corredor de exportação" inclui
também o tranporte marítimo do minério, através de sua controlada Docenave98. Para se ter uma
dimensão da importância dos transportes para a CVRD, basta citar que de um total de ativos de
US$ 12 bilhões, o setor de transportes (ferrovias, portos e navegação) representa US$ 5,2 bilhões
(REVISTA FERROVIARIA, 1992, 53 (6): 14).
A Docenave visa exatamente reduzir os fretes, mediante a utilização de navios de grande
porte. A vantagem proporcionada não é nada desprezível, por dois motivos: a) estratégico: a
CVRD
__
além da Orinoco (CVG) e da Cia Minero del Pacífico (CMP) e as empresas australianas
97 O maior navio embarcado é muito superior à capacidade nominal do porto: o "Berge Stahl", cuja capacidade é
de 360 mil toneladas de porte bruto. Trata-se do maior cargueiro do mundo para granéis sólidos. Ele foi fretado
pela companhia alemã Rohstoffhandel (esta empresa centraliza as compras de minério de ferro e carvão das
siderúrgicas alemãs Thyssen, Hoesch-Krupp e Mannesmann, enquanto a Erzcontrol opera no mesmo sentido para a
Peine-Salzgiter, Klockner, Dillinger Huettenwerke e Arbed-Saarstahl) por dez anos. Faz basicamente a rota Ponta
da Madeira-Roterdã, carregando cerca de 3,5-3,9 milhões de toneladas ano. A viagem completa (ida e volta) dura
cerca de 35 dias, ao passo que entre Narvik e Roterdã é de apenas 14 dias (HUSGEN, 1991: 14-16).
98 A CVRD possui 96,84% das açoës da Docenave, que começou a operar em 1963. Segundo BNDES (1988: 21), a
Docenave a Petrobrás (através da Frota Nacional de Petroleiros - Fronave) são os maiores e mais modernamente
estruturados armadores brasileiros.
68
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na Europa e da LKAB no Japão
__
, são as únicas empresas a operar com preços CIF, enquanto as
demais (inclusive de todos os outros países) exportam em preços FOB 99; b) financeiro: o lucro
da Docenave, no exercício financeiro de 1991, foi de US$ 74,8 milhões, para um faturamento de
US$ 311,9 milhões.
Em 1991, a Docenave transportou 31,4 milhões de toneladas de granéis sólidos e líquidos
(acréscimo de 6,5% em relação a 1990). O principais produtos transportados foram minério de
ferro (49%)100 e carvão (33%), como retorno. O restante da carga foi de cereais e óleo. O Japão
é o maior cliente desta armadora. A empresa possui uma frota própria de 23 navios (2.830 mil
toneladas de porte bruto), e afretou neste ano 74 navios (3.300 mil toneladas de porte bruto). A
Docenave passou por um incremento substancial da frota própria num período recente: em 1985,
ela era de apenas 1.029 mil toneladas de porte bruto.
Deve-se esclarecer que a Docenave possui certa "independência" de operações em relação
à sua controladora, atuando também nas maiores rotas de navegação, sem necessariamente voltar
ao Brasil (mercado conhecido como cross trade)101. Neste sentido, 45% da receita daquela
empresa são referentes ao transporte de minérios de ferro e manganês da CVRD, e 55% é
proveniente de operações captadas no exterior. Por outro lado, a Docenave não escoa nem 20%
das exportações de minério de ferro da CVRD102.
As mineradoras de pequeno de porte enfrentam muitas dificuldades para a exportação de
minério de ferro. Gera-se um círculo vicioso: por serem de pequena envergadura, não possuem
recursos para investirem em infra-estrutura, e a não-obtenção de meios satisfatórios de
99 No caso do Projeto Ferro Carajás, foi acordado inclusive um contrato de longo prazo (10 anos) de transporte de
minério envolvendo dois grandes navios: Docefjord e Tijuca, ambos de 310 mil toneladas de porte bruto (IRON
ORE MANUAL, 1991/93: 246-247). Estes navios são da Wilsea Shipping (uma empresa liberiana), cujo controle
acionário é de 50% da Wilhelmsen (armadora norueguesa) e 50% da Seamar (subsidiária integral da Docenave). O
frete médio da rota Ponta da Madeira/Japão foi acordado em US$ 9,95/tonelada.
100 No comércio tranoceânico do minério de ferro, assim como no tranporte de mercadorias de baixa densidade de
valor, utiliza-se mais os serviços dos navios errantes (tramps). Estes zarpam sob contrato, com a rota e data de
saída definidas pelo mesmo. O segmento de tramps é altamente competitivo (BNDES, 1988: 12).
101 Para as empresas internacionais de navegação, em especial as que prestam serviços em regime de cross trade é
lucrativo a utilização de bandeiras de conveniência por dois motivos: a) constituirem-se em "paraísos fiscais"; b)
não possuem legislações trabalhistas que onerem o custo da tripulação (BNDES, 1988: 15).
102 Além do motivo estratégico, a CVRD deve ter se interessado pela constituição de uma empresa de navegação
em função dos incentivos fiscais concedidos a esta atividade. Os principais parecem ser: a) fração do Adicional de
Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM): da sobretaxa de 25% sobre o frete de importação, 14%
retornam ao armador; b) depreciação acelerada para embarcações construídas no Brasil ou com autorização da
Superintendência Nacional da Marinha Mercante (SUNAMAN): taxa de depreciação especial de 20%, ao invés da
normal (5%), desde que estes recursos sejam reinvestidos em embarcações de construção nacional. Segundo
SANSON & GARLOW (1987: 25), outro subsídio ao investimento dos armadores em navios é a garantia de preços
internacionais e juros subsidiados para as compras de navios de estaleiros nacionais, que também é bancado pelo
adicional sobre os fretes das importações. BNDES (1988: 18) também aponta que o financiamento à Marinha
Mercante brasileira pode incluir uma parcela, a fundo perdido, de até 25% do preço do navio (grifos no original).
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escoamento acaba limitando o seu crescimento. Para as empresas ao sul de Belo Horizonte, o
problema é o alto custo portuário e o elevado frete decorrente do pequeno porte dos navios
embarcados no Porto do Rio de Janeiro. Para as minas ao norte de Belo Horizonte, o problema é
o acesso (em termos de preço de frete) ao "corredor de exportação" da EFVM-Tubarão: a
CVRD, ,obviamente, não tem interesse em fomentar exportações de minério concorrente com o
seu próprio suprimento. De qualquer forma, esta parece ser a tônica do mercado mundial: a alta
concentração de vendedores. Como aponta SCHNEIDER (1991: 130), a indústria transoceânica é
constituída por apenas 35 (grandes) exportadores. A exceção são os pequenos produtores
privados de Goa (India), que exportaram em 1990 cerca de 12 milhões de toneladas103.
A Tabela 22 apresenta informações sobre mineradoras de ferro brasileiras, de porte médio
e pequeno.
TABELA 22
MINERADORAS DE FERRO BRASILEIRAS
DE PORTE MÉDIO E PEQUENO
(1991)
Empresa Mina Capacid.* Produção* Export.#
CSN Casa da Pedra 6,0 5,88 -
Itaminas Sarzedo 3,0
Fernandinho 1,5 4,50 4,2
Itacolomy 1,5
Socoimex Gongo Soco 3,0 2,22 0
Brucutu 3,0
Rio Verde Mutuca 2,5 1,53 -
Mannesmann Pau Branco 1,5 1,33 -
Corumbaense Diversas s.d 0,53 s.d
Esperança Sem informação s.d 0,52 3,3
Fonte: Brasil Mineral (1992, n. 99), Empresas, Sinferbase
Obs: * em milhões de toneladas ano
# em milhões de dólares
A Companhia Siderúrgica Nacional explora a Mina Casa da Pedra (Congonhas MG), mas
consome praticamente toda a sua produção. Em 1991, a sua produção foi de 5,88 milhões de
toneladas, sendo que as vendas para outras empresas foram de apenas 257 mil toneladas (4,4% da
minério beneficiado). Trata-se, portanto, de uma mina cativa. A Mina começou a operar na
década de 40, embora a unidade de beneficiamento só tenha sido comissionada em 1957. Durante
o período 1974/79, houve a quadruplicação da capacidade da mina, a um custo de US$ 150
milhões (METALURGIA, 1991, 47 (394): 103). Desde 1980, a capacidade nominal é de 6,0
milhões de toneladas ano: 4,8 milhões de toneladas de sinter feed e 1,2 milhão de minério
granulado.
103 Este volume corresponde ao somatório de 13 produtores, sendo o Sesa Goa Ltd. (exportações de 2,775 milhões
de toneladas), o mais importante - ver IRON ORE MANUAL (1991/92: 294).
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A Itaminas, empresa familiar, opera atualmente com três minas: Sarzedo (Ibirité),
Fernandinho (Itabirito) e Itacolomy (Congonhas). A capacidade instalada é de 6,0 milhões de
toneladas, sendo que em 1992, a produção foi de 4,75 milhões104. As exportações são residuais:
em 1991, exportou apenas 148 toneladas (US$ 4,213 milhões)105 de minério granulado, escoado
pelo Porto do Rio de Janeiro, para os Estados Unidos e Canadá. O grande problema para
exportação em termos de infra-estrutura é a necessidade de escoar pelo Rio de Janeiro (alto custo
portuário e de fretes). Assim como outras mineradoras do Vale do Paraobepa, uma obra de custo
baixo (US$ 4 milhões) seria provivencial para reduzir o custo ferroviário: o terceiro trilho entre
Paraopeba e Belo Horizonte, de 18 km de bitola métrica, articularia tais produtores ao "corredor
de exportação" EFVM-Tubarão, encurtando a distância em 130 km. Além disso, evitaria a
operação de transbordo dos vagões106.
Diante desta dificuldade de escoamento internacional, a Itaminas necessita
complusoriamente atender ao mercado doméstico, destinando cerca de 30% de suas vendas para
os produtores independentes de gusa. Em termos prospectivos, até 1996, deverá ser
implementado a Mina de Maquiné (região da Gandarela), com capacidade de 6 milhões de
toneladas/ano e custo de implantação estimado em US$ 20 milhões.
A Socoimex107, outra empresa familiar108, explora duas minas: Brucutu (Santa Bárbara)
e Gongo Soco (Barão de Cocais), ambas com capacidade nominal de 3 milhões de toneladas ano.
Em 1984, a Mina de Brucutu foi arrendada junto a MBR por 10 anos e entrou em operação em
1987. A CVRD comprou toda a produção no período 1987/90, quando adquiriu a mina.
Atualmente, não mais há compromisso de venda com a CVRD. Em 1986, a empresa comprou da
São Carlos Minérios a jazida de Gongo Soco. Esta mina, inclusive, é literalmente cortada pela
variante Capitão Eduardo-Costa Lacerda, que faz parte da EFVM. Ela produz um minério
granulado (natural pellet ore) de excelente qualidade, embora seja apenas 15% do minério
104 O grupo Itaminas foi fundado em 1959. Além da atividade mineradora (origem do grupo), suas atividades se
extendem para produção de ferro-gusa e corpos moedores, além de empresas de transporte e reflorestamento. O
faturamento atual é de US$ 130 milhões, sendo US$ 40 milhões com mineração de ferro. A Itaminas possui ainda
50% da Mina da Serra das Farofas (Igarapé), com capacidade de 1,2 milhões de toneladas ano, mas a mina está
arrendada.
105 Os contratos de exportação são assinados anualmente.
106 O baixo custo da obra decorre da infra-estrutura já estar totalmente pronta: o terceiro trilho ficaria no meio da
linha dupla de bitolas largas já existente.
107 Esta empresa foi fundada em 1952, como empreiteira (carregamento de minério) da CVRD, na mina de Cauê.
Em 1954, arrendou uma mina de ferro (lump) e vendia, inicialmente, toda a produção para CVRD. Depois, passou
a exportar tal minério, até 1964, quando a CVRD comprou esta mina. Em 1971, retomam a atividade de mineração
arredando a Mina de Pico São Luiz: a CVRD comprava toda a produção da mina. Em 1976, a CVRD comprou a
mina, mas manteve o contrato de arrendamento até 1988, quando a mina se exauriu.
108 A Socoimex também faz parte de um grupo diversificado (construção pesada, plásticos). O faturamento com
minério de ferro foi, em 1992, de US$ 22 milhões, dentro de um total de US$ 35 milhões. Diferentemente da
Itaminas, aquela empresa é muito conservadora em termos de financiamento.
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extraído. A Socoimex não exportou minério no ano de 1991, quando produziu 2,2 milhões de
toneladas de minério. Em 1992, as exportações foram residuais: 45 mil toneladas para a Nigéria
(US$ 676 mil), frente uma produção de 2,835 milhões de toneladas. A dificuldade para sua
exportação decorre do pouco interesse da CVRD em escoar um produto concorrente com o seu.
Já a Mannesmann Mineração explora a Mina de Pau Branco (Brumadinho MG), e destina
grande parte à sua controladora (a usina siderúrgica Mannesmann)109. Em 1991, a produção total
foi de 1,229 milhão de toneladas, sendo 215 mil toneladas (17,5%) destinaram-se à
Mannesmann/Usina do Barreiro (refere-se a minério granulado)110. Uma parcela considerável de
minério fino é transformado em pelotas pela Ferteco, e utilizado também pela Usina do Barreiro,
de tal forma que a Mannesmann Mineração acaba direcionando cerca de 50% de sua produção
para a sua controladora, caracterizando-a como uma mina cativa111. O restante é vendido ao
mercado interno ou exportado indiretamente via Ferteco ou MBR.
A Esperança é uma pequena exportadora, que extrai minério no Vale do Paraopeba. Em
1991, exportou 159 mil toneladas (US$ 3,373 milhões), para a Argentina, EUA, Portugal e
Trinidad e Tobago. Neste mesmo ano, a produção total foi de 515 mil toneladas.
Em geral, as pequenas mineradoras exportam minério granulado, uma vez que este
apresenta um preço mais elevado do que o minério fino. Em 1992, do total exportado por
Itaminas, Esperança e Socoimex, 71% eram de lump (em 1991, esta valor foi de 78,5%). Por
enfrentarem custos mais elevados de escoamento, certamente o preço de venda do minério fino
não é lucrativo para estas empresas.
Deve-se apontar que a situação das pequenas mineradoras tende a piorar: incapazes de
exportarem em larga escala, acabam disputando acirradamente o mercado doméstico. Este,
contudo, deve cada vez mais tornar-se menos convidativo, por quatro razões: a) a crise vivida
pelos produtores independentes de ferro-gusa (retração da produção de cerca de 15% no período
1989-92), e que se abastecem em geral junto a pequenas mineradoras; b) a ampliação da mina de
Gongo Soco (Socoimex) e Córrego do Meio (Samitri), aumentando a oferta de minério disponível
para o mercado doméstico; c) a queda dos volumes exportados pelas grandes mineradoras
(especialmente pela CVRD), que face aos seus custos fixos elevados devem privilegiar mais o
fornecimento à siderurgia nacional; d) o processo de privatização de empresas siderúrgicas, pelos
quais a CVRD assegurou participações relevantes na Usiminas, na Cia. Siderúrgica de Tubarão e
na CSN (indiretamente através da Docenave), o que muito provavelmente lhe permitirá aumentar
109 A Mina de Mutuca exauriu-se no final dos anos 70. Atualmente, é um depósito de sinter feed que é lavado e
beneficiado em Pau Branco.
110 O trajeto entre a mina e a siderúrgica, de 40 km, é feito por caminhões.
111 A mineradora proporciona um ganho à siderúrgica: adquire minério a 65% do preço praticado no mercado.
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o seu market share junto a estas empresas. O único fator positivo para estes mineradores será a
concretização do terminal de escoamento de minério de Sepetiba, que se constituirá como um
canal de exportação112.
Finalizando, o setor de mineração de ferro é, provavelmente, a indústria mais dependente
dos fatores sistêmicos em termos de competividade, em especial, de duas naturezas; a) infra-
estrutura econômica, em grande parte financiada pelo próprio setor; b) realismo cambial, na
medida em que os contratos são fechados em dólares e o setor é extremamente direcionado ao
mercado mundial. Duas relações são relevantes para o setor: a paridade cruzeiro/dólar norte-
americano e a paridade dólar/outras divisas (marco, yen). Uma situação de atraso cambial do
cruzeiro frente ao dólar combinada com uma depreciação desta moeda frente ao marco e ao yen é
o pior dos mundos para o setor, uma vez que levaria a uma diminuição do faturamento e um
acréscimo real do serviço das dívidas contraídas.
2.1.2. Pelotização
A pelotização constitui uma vantagem competitiva da indústria extrativa de minério de
ferro brasileira, em função de três fatores: a) permite o aproveitamento de minério fino gerado em
abundância, em relação ao minério granulado (como é o caso da CVRD/Itabira); b) possibilita o
enriquecimento de minério de ferro de baixo teor113; c) representa o produto de maior valor
agregado da indústria. Como já apontado no Capítulo 1, o Brasil exporta 35,2% do mercado
internacional de pelotas, sendo que Canadá, CEI, Suécia, Estados Unidos, Chile e Índia são os
demais exportadores representativos neste mercado. A Tabela 23 enumera características de
algumas das principais unidades de pelotização em todo o mundo.
112 Em função deste novo corredor de exportação, poderá haver inclusive uma centralização de pequenos
mineradores, face aos investimentos necessários em material rodante para o escoamento da produção.
113 Por exemplo, no caso da Samarco, durante o processo de concentração eleva-se o teor de minério de 52% para
68% (DRUMMOND & MONTES CANO, 1992: 202). Na Quebec Cartier Mining, a hematita run of mine é de
34%, sendo elevada para 66% (MORIN & WARGO, 1989: 244). Esta também é a justificativa das pelotizações nos
EUA, Libéria e Suécia (BORGARDS, 1989: 152).
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TABELA 23
USINAS DE PELOTIZAÇÃO - DIVERSOS PAISES
País Empresa Usina Capac.* Inaug. Tecn.#
Brasil CVRD CVRD 1 2,0 1969 LD
CVRD CVRD 2 3,0 1973 LD
CVRD Itabrasco 3,0 1977 LD
CVRD Hispanobrás 3,0 1978 LD
CVRD Nibrasco 1 3,5 1978 LD
CVRD NIbrasco 2 3,5 1978 LD
Ferteco Fábrica 3,5 1977 LD
Samarco Samarco 5,5 1977 LD
Canadá IOC Carol Lake 10,5 1963 s.d
QMC Port Cartier 7,6 1977 LD
Suécia LKAB Kiruna 3,5 1981 GK
Svappavaara 2,7 1969 GK
Malmberget 3,2 1973 LD
Chile CMP Algarrobo 4,0 1978 GK
Peru Mineroperu Marcona 2 2,0 1967 LD
India Kudremukh Mangalore 3,0 1986 LD
Austrália Savage River Latta 2,5 1968 GK
Fonte: Iron Ore Manual (1991/92), Branning (1991), Sandberg et alli (1989), Morin & Wargo
(1989), Metal Bulletin Monthly (1987, (4))
Obs: * em milhões de toneladas/ano
# tecnologia: LD = Lurgi Dravo
GK = Grade Kiln
Da mesma forma que no mercado mundial de minérios finos e granulados, a concentração
industrial no mercado de pelotas é alta. É também verdade, que a escala de operação é menor, em
comparação com os produtos não-aglomerados. Em geral, o porte das unidades de pelotização
situa-se ao redor de 3 milhões de toneladas/ano.
Um primeiro ponto a se destacar refere-se à tecnologia utilizada. Praticamente, só existem
duas tecnologias de produção de pelotas difundidas: Lurgi-Dravo (forno reto) e Grate Kiln (forno
rotativo). No caso brasileiro, somente se difundiu o forno Lurgi-Dravo que, aliás, é o mais
disseminado a nível mundial. Na Suécia, a LKAB opera com duas instalações Grate Kiln e uma
Lurgi-Dravo. Em geral, não há problemas de obtenção destas tecnologia, ratificando que a
tecnologia não se constitui uma barreira à entrada relevante no setor de minério de ferro.
Não é raro também as usinas de pelotização apresentarem uma produção efetiva acima da
capacidade nominal. A unidade da Ferteco, por exemplo, foi projetada para produzir 2,5 milhões
de toneladas ano, mas face aos esforços de otimização, sua capacidade atual gira em torno de 3,5
milhões de toneladas. Em 1989, a CVRD conseguiu produzir 18 milhões de toneladas de pelotas,
para uma capacidade instalada, na época, de 17 milhões de toneladas anuais. Neste ano, todas as
seis usinas instaladas na Ponta de Tubarão conseguiram produzir acima de sua capacidade
nominal. A usina de pelotização da QMC, no Canadá, possui uma capacidade nominal de 6
milhões de toneladas ano, mas através de modificações do processo (incluindo a adição de
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carbono sólido), consiguiu elevar a produtividade de tal forma a produzir 7,6 milhões de toneladas
de pelotas em 1987 (MORIN & WARGO, 1989: 245). No Chile, a unidade da Algarrobo (da
Compania Minera del Pacífico), projetada para 3,0 milhões de toneladas de pellets, atualmente é
capaz de produzir até 4,25 milhões de toneladas, apenas com melhorias operacionais (ILAFA,
1989: 20).
Deve-se observar que a grande maioria das usinas de pelotização se instalaram durante a
década de 70. Entre as unidades mencionadas na tabela 23, apenas cinco haviam entrado em
operação nos anos 60 (CVRD 1, Svappavaara, Iron Ore of Canada, Marcona 2 e Savage River) e
tão somente uma (Kudremukh-GIIC) na década de 80. Na verdade, os anos 70 marcam o auge e o
declínio da atividade de pelotas em todo o mundo. Num primeiro momento, passou-se por uma
fase de euforia, o que desencadeou uma série de novos projetos (como o caso da Samarco)114.
Na segunda metade da década de 70, o comissionamento de grandes volumes de produção
coincidiu com o segundo choque do petróleo, deprimindo muito esta atividade, que é
consumidora intensiva de energéticos (térmico e eletricidade). A LKAB115, por exemplo, na qual
mais da metade da produção consiste em pelotas, sofreu forte reorganização empresarial no
período 1978/79, mediante a redução do efetivo de 8300 para 4000 funcionários (MINERIOS,
EXTRAÇÃO & PROCESSAMENTO, 1990, 13 (156): 25).
No caso brasileiro, é importante destacar que os investimentos em novas unidades de
pelotização concentraram-se na década de 70, sendo que a partir de 1978 apenas um disco de
pelotização foi instalado na indústria: trata-se do nono disco de pelotização da Samarco (Ponta do
Ubu, ES). Instalado em 1991, este disco é muito similar aos anteriores (até mesmo em termos de
escala), sendo que as alterações relevantes são: maior automatização (com instrumentação toda
digital) e a colocação da mesa de separação do material colada ao disco, de forma a diminuir o
tempo do ciclo de recuperação de pelotas mal dimensionadas e não sobrecarregar a mesa
principal. Isto evidencia o rítmo lento da mudança tecnológica, mesmo na pelotização, que
constitui uma das atividades que requerem maior complexidade tecnológica do setor.
De fato, outros investimentos denotam que a estratégia brasileira atual é de otimizar e
modernizar a estrutura já consolidada. A Nibrasco, por exemplo, começou a operar em maio de
1978, como uma capacidade inicial de 6 milhões de toneladas/ano. Os investimentos nas duas
114 Esta unidade possui a capacidade de produção de 2,7 milhões de concentrados ano (DRUMMOND &
MONTES CANO, 1992: 201).
115 Esta empresa começou a fabricar pelotas em 1955. Atualmente, opera com duas minas (Kiruna e Malmberget),
sendo que a mina de Svappavaara (mina a céu aberto) exauriu-se em 1982. As operações de concentração e
pelotização ficam em Kiruna, Malmberget e Svappavaara. Esta última é suprida por minério de Kiruna (distância
de 45 km). Kiruna é mais dedicada à exportação, enquanto 2/3 da produção de Malmberget é direcionada ao
consumo doméstico na Swedish Steel Co. e para siderúrgicas finandesas. O minério é escoado por ferrovias até os
portos de Narvik e Lulea (SANDBERG et alli, 1989: 227-37).
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usinas da empresas já totalizaram US$ 167 milhões (IRON ORE MANUAL, 1991/92: 248).
Recentemente, as inversões priorizaram a ampliação da capacidade instalada para 7 milhões de
toneladas/ano, o que requereu um novo sistema de moagem (RIBEIRO, 1989: 48). Esta reforma
foi concretizada em 1991, e custou US$ 16 milhões. A usina 1 da CVRD, foi temporariamente
desativada em 1992, por dois motivos: queda do mercado e necessidade de automatizar a
instalação, em operação há 21 anos. Este obra foi orçada em US$ 12 milhões e já está em fase de
testes.
A Samarco, por sua vez, está levando a cabo um projeto de ampliação da capacidade
produtiva de 5,5 para 6,0 milhões de toneladas ano de pelotas (DRUMMOND & MONTES
CANO, 1992: 207). Este projeto, que deve entrar em operação em 1993, prevê a automação do
forno de pelotização (US$ 2,1 milhões), implantação da terceira linha de peneiramento (US$ 1,5
milhão) e uma nova planta de moagem e secagem de carvão (US$ 4,5 milhões). No Brasil, assim
como no resto dos outros países exportadores de pelotas, os investimentos atuais privilegiam a
otimização da capacidade instalada116.
Investimentos em proteção ambiental deverão ser crescentes ao longo desta década de 90.
Na Ponta de Tubarão, por exemplo, a CVRD já instalou precipitadores eletrostáticos nas duas
usinas da Nibrasco e na Hispanobrás, a um custo unitário de US$ 5 milhões. Já a Samarco
priorizou gastos para tratamento de efluentes (US$ 1,4 milhões). Diga-se de passagem, a pressão
ambiental é um aspecto positivo para a pelotização, na medida que desincentiva a construção de
novas sinterizações, principalmente nos países centrais117.
Em janeiro de 1993, o Tex Report anunciou, contudo, um novo projeto de pelotas, em
West Austrália, denominado Fortescue Project. As características básicas seriam:
. capacidade de 5 milhões toneladas ano de pelotas e concentrados, a um custo estimado
de US$ 640 milhões;
. fica a 80 km ao sudoeste de Port Dampier (Hamersley), embora não se tenha decidido a
forma de transporte (mineroduto ou ferrovia);
. pode aproveitar do berço público em Porto Dampier (fica entre os cais Parker Point e
East Intercourse Island da Hamersley), para navios de até 70-80 mil toneladas de porte bruto;
116 Especula-se sobre uma eventual nova unidade de pelotização da LKAB, com capacidade de 4 milhões de
toneladas/ano, situada junto mina de Kiruna, que custaria 1,5 bilhão de coroas suecas (aproximadamente US$ 250
milhões). A posição das empresas brasileiras com relação a este virtual investimento oscila entre o
desconhecimento e o ceticismo.
117 Aliás, os problemas ambientais de uma pelotização circunscrevem-se às poluições atmosférica
(fundamentalmente, material particulado) e fluvial (efluentes líquidos). A pelotização não gera escória.
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. teor médio de minério de ferro: 32%, mas o minério é do tipo magnetita (reduz o custo
energético);
. a usina utilizaria intensivamente gás natural.
A indefinição de vários pontos do projeto (forma de escoamento, porto e mesmo a falta de
definição da entrada em operação) faz com que o Fortescue Project não deva ser considerado
uma alteração importante para os próximos anos no mercado de pelotas. Os custos de
implantação são muito elevados para um mercado estável, e com preços pouco atraentes.
Por outro lado, as pelotas rompem parcialmente a tradição da indústria de pouca variação
de produtos. Nas suas usinas de Tubarão, a CVRD é capaz de produzir 13 tipos diferentes de
pelotas (sendo 10 para alto-forno e 3 para redução direta), embora atualmente esteja produzindo 7
tipos (5 para alto-forno e 2 para redução direta). A Samarco por sua vez já chegou a produzir 4
tipos de pelotas, mas hoje produz três (um para alto-forno e 2 para redução direta).
Na verdade, a variedade dos produtos ofertados está atrelada às condições de mercado:
quando está deprimido, tende a aumentar a gama de produtos ofertados. O mercado de pelotas é
exemplar para caracterizar o mercado mundial de minério de ferro: trata-se de um oligopólio
homogêneo, no qual as economias de escala são muito revelantes; o produto, porém, é
personalizado (visando atender a particularidades de especificações, que partem dos consumidores
e, em muito menor grau, dos produtores).
No segmento de pelotas, como se requer mais flexibilidade para atender as demandas
personalizadas e o produto é de maior valor agregado, é mais sustentável a manutenção de
pequenos e médios produtores no mercado.
De um modo geral, as usinas de pelotização localizam-se junto aos portos exportadores.
No Brasil, as unidades da CVRD situam-se junto ao Porto de Tubarão, a usina da Samarco é
adjacente ao Porto Ponta do Ubu, e apenas a Ferteco possui uma unidade junto às jazidas, em
Minas Gerais (BDMG, 1989: 23). Nos outros países, as minas localizadas junto às jazidas são a
instalação Carol Lake (da Iron Ore of Canada)118 e as três unidades da LKAB.
118 A IOC tem uma usina de concentração e pelotização junto ao Porto Seven Island, com capacidade de produção
de 6 milhões de pelotas/ano. Ela entrou em operação em 1973, mas foi paralizada em maio de 1981.
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TABELA 24
LOCALIZAÇÃO DAS USINAS DE PELOTIZAÇÃO
País Empresa Usina Local Dist.* Transp+
Brasil CVRD Tubarão Porto 550 Ferrov.
Ferteco Fábrica Mina 713 Ferrov.
Samarco Samarco Porto 396 Duto
Canadá IOC Carol Lake Mina 423 Ferrov.
QMC Port Cartier Porto 431 Ferrov.
Suécia LKAB Kiruna Mina 170 Ferrov.
Svappavaara Mina 220 Ferrov.
Malmberget Mina 275 Ferrov.
Chile CMP Algarrobo Porto 86 Ferrov.
Peru Mineroperu Marcona 2 Porto 15 Correia
India Kudremukh Mangalore Porto 67 Duto
Austrália Savage River Latta Porto 85 Duto
Fonte: Iron Ore Manual (1991/92), Sandberg et alli (1989), Rowbotham (1985), Zuniga (1991)
Obs: * distância mina/porto em kilometros
+ forma de transporte: ferroviário, mineroduto ou correia transportadora
A Ferteco possui uma desvantagem em relação aos seus concorrentes instalados no
Espírito Santo: o desgaste da pelota no transporte ferroviário. Mas em compensação possui uma
vantagem fiscal nada desprezível: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
incidente sobre a eletricidade é de 18% no Estado de Minas Gerais e 25% no Estado do Espírito
Santo119. Levando em consideração que a eletricidade representa, no Brasil, cerca de 15-20% do
custo de produção (incluindo custo de capital) da pelota, a vantagem fiscal é de aproximadamente
de 2% em relação ao custo de produção, ou alternativamente, o peso do ICMS/Energia Elétrica
seria 50% maior nos seus concorrentes.
Como se pode perceber na Tabela 24, o Brasil tem a desvantagem de possuir as minas
mais distantes dos portos, em comparação aos seus concorrentes. No caso do Perú, Chile, India e
Austrália, as distâncias entre a mina e o porto inclusive são inferiores a 100 km. Deve-se observar
que a maioria do transporte terrestre é efetuado via ferrovias, como acontece com outros
produtos, mas três empreendimentos utilizam minerodutos: Samarco, Kudremukh-GIIC e Savage
River120. Nestes casos, naturalmente, a etapa de concentração é feita junto as minas, para o
transporte de minério pelo mineroduto em solução aquosa. Nos portos, faz-se o espessamento e a
produção de pelotas propriamente dita.
119 Deve-se destacar o que ICMS incidente sobre a eletricidade somente é recuperável para a produção destinada
ao mercado doméstico, que é muito pouco representativo. O cálculo do imposto é "por dentro", o que implica que a
taxação em Minas Gerais seja, na verdade, de 22% e no Espírito Santo de 33%.
120 A empresa argentina Hispasam utilizava um mineroduto de 32 km entre a concentração de Serra Grande e a
pelotização de Punta Colada, adjacente ao porto homônimo. O mineroduto era de 20 cm de diâmetro e vazão de 2
toneladas por ano. A unidade de pelotização entrou em operação em 1979, com uma capacidade de 1 milhão de
toneladas ano, sendo que a produção corrente era de cerca de 600 mil toneladas até o seu fechamento em junho de
1991. O projeto apresenta duas desvantagens: o porto é de pequeno porte (navios de até 60 mil toneladas de porte
bruto e ship-loader de 300 toneladas/hora) e a mina é subterrânea. (METAL BULLETIN MONTHLY, 1986 (8):
69). A Argentina é, contudo, importador líquido de minério de ferro e pelotas.
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Em termos de preços, a sueca LKAB vem conseguindo vender seus produtos ligeiramente
acima dos praticados pelas empresas canadenses e brasileiras no mercado europeu (Tabela 25), até
pelo menor custo de frete marítimo envolvido121. Assim, não necessariamente as pelotas suecas
estão sendo mais onerosas às siderúrgicas européias. Além disso, isto também não garante maior
lucratividade à LKAB, cujos custos de produção são mais elevados, por lavrar minas subterâneas.
Por outro lado, no mercado japonês, os preços obtidos pelas empresas brasileiras são os maiores.
TABELA 25
PREÇOS DE PELOTAS - MERCADO EUROPEU E JAPONÊS
(1991)
centavos de dólar por unidade de ferro FOB
Europa Japão
LKAB 57,50 -
QMC 53,00 -
CVRD 52,15 -
Samarco 50,45 -
Nibrasco - 49,81
Savage River - 47,13
Kudremukh-GIIC - 46,38
Algarrobo - 45,79
Mineroperu - 36,32
Fonte: Metal Bulletin's Prices and Data (1992), Iron Ore Manual (1991/92)
A grande vantagem da atividade de pelotas brasileira é conseguir operar nos dois
mercados relevantes: europeu e japonês, embora destacando que o primeiro seja mais relevante.
Suécia e Canadá praticamente só exportam para a Europa, enquanto Austrália, Chile e Perú
apenas para o Japão.
Outro ponto positivo do segmento produtor de pelotas brasileiro é a composição acionária
das empresas. A CVRD além de suas duas unidades, possui três empresas (quatro usinas) sob
forma de joint-venture. Nibrasco, Hispanobrás e Itabrasco são associações com empresas
japonesas, espanhola e italiana. A Ferteco é de propriedade de siderúrgicas alemãs, e a Samarco
possui capital belga e luxemburguês. Assim, as associações atingem os mercados europeu e
japonês. Este relacionamento, via participação acionária, garante o escoamento de grande parte da
produção.
O exemplo da CVRD é sintomático: face à crise do mercado mundial de pelotas, no ano
de 1992, praticamente só operaram as unidades coligadas (quatro usinas)122. As unidades da
121 O preço da pelota da LKAB, para o mercado europeu em 1993, foi acertado em 45,70 centavos de dólares
americanos por 1% de ferro, em termos de toneladas métricas secas FOB (THE TEX REPORT, 1993 (5818)). Em
relação a 1991, representa uma queda do preço nominal de 26%. Para este mesmo período, o preço do minério fino
da CVRD (Itabira) caiu 18%, indicando que o ajuste está sendo muito mais vigoroso nos produtores de pelotas.
122 Mesmo em 1991, a situação já era similar: enquanto as usinas de pelotização produziram 12,9 milhões de
toneladas de pelotas (capacidade nominal de 13 milhões), as usinas da CVRD fabricaram apenas 2,2 milhões
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própria CVRD ficaram grande parte do ano desativadas, tanto que não se descarta novas joint-
ventures para as unidades de propriedade da empresa. Na verdade, a CVRD vende a matéria-
prima (pellet feed), opera as unidades123 e tem a responsabilidade de vender parcela da produção.
Os capitais estrangeiros além de se comprometer na aquisição/colocação da parte da produção,
obtêm descontos, em relação ao preço da pelota da CVRD no mercado europeu: no caso da
Nibrasco, este valor é de 3 a 6%; no caso da Itabrasco e da Hispanobrás, o desconto é de 3%
(IRON ORE MANUAL, 1991/92: 248-51).
Duas empresas produtoras de pelotas, a LKAB e a Kudremukh-GIIC, são inteiramente
estatais, e não possuem associações. Nos outros países, apesar da existência de joint-ventures,
atinge-se somente um mercado: no caso chileno, a Mitsubishi possuiu 6,21% da Compania de
Acero del Pacifico (privatizada em 1985), empresa proprietária da Compania Minera del Pacifico
(Algarrobo Pellets). Há ainda participações que não se revertem em mercados cativos: a Savage
River, de capital americano, visa o mercado japonês; a QCM, um investimento tri-partite
canadense, japonês e brasileiro, destina grande parte de sua produção aos mercados norte-
americano e europeu.
Em suma, a grande vantagem estrutural da produção de pelotas brasileira foi ter levado a
cabo associações com capitais europeus e japoneses, como nenhum outro país produtor
conseguiu, e assim poder atingir estes dois mercados.
Pode-se, adicionalmente, fazer uma comparação do desempenho operacional das usinas de
pelotização. Esta é, dentro do segmento de minério de ferro, a operação mais factível de
comparações, por dois fatores: a) utiliza a mesma matéria-prima (pellet feed), o que ameniza as
diferenças decorrentes das peculiaridades das minas; b) a nível mundial, apenas as duas
tecnologias, Lurgi-Dravo e Grate Kiln, se difundiram.
Os principais parâmetros comparativos são as economias de escala, o consumo energético
e a disponibilidade do equipamento. Com relação à escala, dois parâmetros são relevantes:
capacidade (producão anual por linha) e produtividade (toneladas diárias/área)124. No que tange
ao consumo energético, que representa no Brasil cerca de 25 a 30% do custo de produção
(incluindo custo de capital) das pelotas, cabe destacar a demanda por eletricidade125 e por
(capacidade nominal de 5 milhões). Atualmente, a Superintendência de Pelotização, encarregada da adminstração
das seis usinas, emprega 1276 pessoas, sendo 907 pessoas na manutenção e na operação propriamente dita.
123 A receita da CVRD junto às coligadas, em 1991, pela utilização de instalações e suprimentos de serviços
comuns ao parque industrial de Tubarão, foi de US$ 51,5 milhões (12% do faturamento total destas três empresas).
124 Outros indicadores de escala são velocidade (tonelada/ hora) e número de caixas de vento. Na Hispanobrás, o
número de caixas é de 44, na Ferteco de 37 e na Samarco de 88.
125 O consumo de eletricidade é menor na produção de pelotas para redução direta do que na de pelotas para alto-
frono.
80
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energia térmica (óleo, carvão e gás natural126). O grau de disponibilidade representa o tempo que
a máquina fica em condições de operação127. A Tabela 26 mostra estes indicadores para duas
usinas brasileiras (Nibrasco e Samarco), uma sueca (Malmberget da LKAB) e dois padrões
estimados por ASTIER & BOUCRAUT (1989). Antes, cabe destacar que o consumo de energia
térmica é muito maior em instalações brasileiras que consomem hematita (Fe
2
O
3
), em relação às
suecas que utilizam magnetita (Fe
3
O
4
). ASTIER & BOUCRAUT (1989: 266) estimam um
consumo padrão de energia térmica de 200 MJ/tonelada (magnetita) e de 1000 MJ/tonelada
(hematita)128.
TABELA 26
DESEMPENHO OPERACIONAL - UNIDADES DE PELOTIZAÇÃO -
BRASIL E SUÉCIA
Nibrasco Samarco Malmberget Astier
Minério Hematita Hematita Magnetita Hemat. Magne.
Processo Lurgi Lurgi Lurgi - -
Capacidade* 3,5 5,5 3,2 - -
Area (m2) 528 704 315 - -
Produtiv.# 20,1 22,7 29,4 - -
Eletricidade+ 40,2 35,0 27,0 35 35
Ener. Térmica@ 1003 1003 180 1000 200
Disponibilidade 92 94 91 - -
Fonte: Astier & Boucraut (1989), Drummond & Montes Cano (1992), CVRD,
Sandberg at alii (1989)
Obs: * em milhões de toneladas/ano
# em toneladas diárias/m
2
+ em kWh/tonelada (exclui-se o consumo para moagem do minério)
@ em MJ/tonelada
Como pode-se observar na Tabela 26, os desempenhos operacionais das duas usinas
brasileiras são muito similares (consumo de energia elétrica entre 35 e 40 kWh/tonelada e gasto de
energia térmica de 1000 MJ/tonelada)129, embora apresentem um consumo de eletricidade acima
do apontado por ASTIER & BOUCRAUT (1989). Os valores da LKAB, por sua vez, são
melhores do que o padrão apontado. De qualquer forma, a grande desvantagem do segmento de
pelotas brasileiro é o minério utilizado: a hematita consome cerca de 5 vezes mais energia térmica
126 O gás natural é utilizado, desde 1984, nas usinas de pelotização CVRD 1, CVRD 2, Hispanobrás e Itabrasco. O
consumo diário, das quatro usinas, é de 200 mil m
3
(RIBEIRO, 1989: 52).
127 É dado em termos percentuais em relação ao total de horas calendário. É mais realista que o índice de
funcionamento, uma vez que este é fortemente influenciado pelo volume da demanda. Não faz sentido um índice de
rendimento (insumo/produto), pois a perda é mínima: em pelotas para alto-forno gira ao redor de 1%, em pelotas
para redução direta, há na verdade um ganho de 1%.
128 Isto equivale a um Fuel Rate de 25 kg/tonelada.
129 O tempo da grelha também é similar: 35/43 minutos, que é dependente do tipo de pelota produzida
(queimada).
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do que a magnetita130. Mesmo com melhorias incrementais, isto parece ser insuficiente para
reverter a desvantagem.
Mas, por outro lado, o alto teor de ferro contido induz a um menor consumo específico de
eletricidade e de energia de uma forma geral, em relação a outros produtores que também utilizam
mineral hematítico: segundo WORLD STEEL DYNAMICS (1990: 4-23), enquanto no Brasil
consome-se 40 Kwh por tonelada de pelotas; no Canadá e nos EUA, o consumo chega a 110
Kwh. Assim, apesar de não ser ideal, a situação brasileira seria pelo menos intermediária.
2.1.3. Programas de Garantia de Qualidade
O setor de extração de minério de ferro passa atualmente por uma trajetória de valorização
dos programas de qualidade. Isto decorre da própria estruturação do seu mercado: o destino é a
exportação, e os compradores são siderúrgicas (empresas de grande porte, que já sofreram
anteriormente a pressão por certificação dos programas de qualidade). Além disso, a trajetória
tecnológica do setor correponde a uma permanente ênfase na maior conformidade às
especificações técnicas dos produtos.
As dificuldades para se analisar e avaliar as atividades de gestão da qualidade são várias.
Isto decorre fundamentalmente da adoção de estratégias diferenciadas, por parte das empresas,
mesmo entre aquelas pertencentes ao mesmo grupo econômico. O objetivo, porém, parece ser o
mesmo: a obtenção da certificação do sistema de qualidade conforme as normas da International
Standart Organization (ISO), série 9000. É bem verdade que, muita das vezes, este objetivo
subsume-se dentro dos programas mais abrangentes do Total Quality Control (TQC). Mas, como
aponta PENIDO (1992: 8), a certificação ISO 9000 é um programa destinado a prover evidências
objetivas aos clientes e à administração, da implantação e manuntenção do sistema de gestão pela
qualidade, que asseguraria produtos e serviços excelentes. Assim, por se tornar a face mais visível
e objetiva dos programas de qualidade, a certificação ISO acaba recebendo a maior parte das
atenções.
PINHEIRO & GOES (1991: 476-7) esclarecem que a série 9000 é constituída por cinco
normas:
. ISO 9000: esclarece as diferenças e inter-relações entre os principais conceitos de
qualidade e fornece diretrizes para a seleção e uso de demais normas;
130 Como observam PAIXÃO & PINHEIRO (1989: 31), a hematita é muito menos reativa que a magnetita.
82
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. ISO 9001: é aplicável nas relações entre fornecedor e cliente para produtos cujos
requisitos específicos devam ser garantidos desde a fase de projeto, desenvolvimento, produção,
instalação e assistência técnica;
. ISO 9002: é aplicável nas relações entre fornecedor e cliente para produtos cujos
requesitos específicos devam ser garantidos desde a fase de produção até a instalação;
. ISO 9003: é aplicável nas relações entre fornecedor e cliente para produtos cujos
requesitos específicos devam ser garantidos pelo fornecedor através de inspeção e ensaios
finais131;
. ISO 9004: estabelece diretrizes básicas e elementos para o desenvolvimento e a
implentação de um sistema de qualidade.
Na verdade, a certificação da qualidade pelas empresas resume-se às normas 9001, 9002 e
9003. A mineração de ferro enquadra-se claramente no âmbito da ISO9002, por não requer
projetos nem assistência técnica, nem tampouco seus padrões resumem-se a inspeções e ensaios
finais.
A nível doméstico, constata-se uma heterogeneidade entre as empresas no estágio e no
ritmo de evolução dos procedimentos necessários à obtenção da certificação. A Tabela 27
sintetiza o estágio atual e a previsão (ou meta) de certificação das mineradores conforme a ISO
9002, sendo que a CVRD deve ser a primeira a obter esta qualificação.
TABELA 27
PREVISÃO DE CERTIFICAÇÃO - ISO 9002 -
MINERIO DE FERRO - BRASIL
Empresa Situação Data
CVRD Consolidado Agosto 1993
Ferteco Consolidado 1993
Samarco Consolidado Julho 1994
MBR Consolidado Agosto 1994
Samitri Em consolidação Dezembro 1994
Itaminas Iniciando o processo sem previsão
Socoimex Iniciando o processo sem previsão
Mannesmann Ainda não começou sem previsão
Fonte: Empresas
As empresas com maior atuação internacional (CVRD, Ferteco, Samarco, MBR e Samitri)
estão, em geral com programas de gestão da qualidade já consolidados, sendo que todas esperam
obter certificação ISO 9002 até o final de 1994. Já as outras empresas, que destinam a maior parte
131 Há uma tendência desta norma desaparecer, ficando apenas duas normas relativas a garantia da qualidade
externa: 9001 e 9002.
83
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de produção ao mercado doméstico e, coincidentemente, são de menor porte, estão ainda
iniciando o processo.
No caso da CVRD, o programa visando a certificação ISO 9002, começou em abril de
1991, na Diretoria de Minério de Ferro (que engloba as minas de Itabira e Carajás132, os portos
de Tubarão e Ponta da Madeira e as usinas de pelotização)133. O programa está segmentado em
duas linhas: a) sistema de qualidade (documentação), visando elaborar manuais de qualidade e
normalização134; b) treinamento (educação para a qualidade), buscando treinar todos os
funcionários. O programa de qualidade da CVRD conta com assessoria da Fundação Christiano
Ottoni, enquanto a Área de Minério de Ferro utiliza os serviços da empresa Griffo no programa
visando a certificação ISO 9000.
Assim como todas as demais empresas, o programa de qualidade da CVRD foi pouco
influenciado pelo Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP). A única
contribuição circunscreve-se à maior difusão dos conceitos junto a fornecedores. A adoção do
programa de qualidade da empresa foi uma decorrência da pressão de consumidores europeus
(inicialmente, a British Steel) a partir de 1989. A empresa espera, inclusive, o aumento desta
pressão.
Na MBR, o programa de TQC começou em julho de 1991, pela empresa como um todo.
Os objetivos finais, além da satisfação de clientes e empregados, são a melhoria da produtividade e
da competitividade. Um sub-programa do TQC da empresa é a obtenção de certificação ISO
9002, cujo alvo é agosto de 1994135, e que se iniciou em julho de 1992. A MBR utiliza os
serviços da FCO
__
Fundação Christiano Ottoni (missões empresariais ao Japão, participação em
cursos e seminários, além de uma consultoria formal) e de consultores independentes.
Esporadicamente, a MCG Consultoria presta serviços nesta área também. A pressão para adotar
procedimentos de melhoria da qualidade foram provenientes de clientes europeus, de um lado, e
dos sócios japoneses e americanos, de outro, embora estes de modo indireto (através de seus
interesses no aumento da produtividade da mineradora). O PBQP não trouxe resultados para o
programa levado a cabo por esta empresa.
As experiências da Samarco e Samitri ratificam a noção exposta anteriormente de que nem
mesmo empresas pertecentes ao mesmo grupo econômico necessariamente adotam a mesma
132 Um dos objetivos do Programa de Qualidade Total da CVRD é reduzir o teor de umidade do minério de
Carajás de 7% para 5% (MARQUES, 1992a: 22).
133 O lançamento do Programa de Gerenciamento da Qualidade Total (GQT) da CVRD, ou seja, da empresa como
um todo foi em agosto de 1991 (METALURGIA, 1991 (399): 420).
134 Segundo PICCOLO (1992: 180), a estratégia adotada na elaboraçãos dos manuais de qualidade foi de diminuir
os níveis de incerteza.
135 No final de 1983, a empresa já espera fazer uma pré-auditagem do seu sistema de qualidade.
84
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política de gestão da qualidade. Na Samarco, privilegiou-se a definição das estratégias mais
genéricas; na Samitri, o opção foi iniciar o programa pelo nível mais operacional, como a
normalização e o controle rígido das rotinas diárias.
Na Samarco, segundo PENIDO (1992: 4), a partir de 1990 aceleraram-se os preparativos
organizacionais para que fosse deflagrado o processo permanente de desenvolvimento da
qualidade. Durante o ano de 1992, a tônica foi o processo de normalização (processos,
especificação e procedimentos operacionais) e o programa de limpeza e organização. Em 1993, a
grande meta é o treinamento intensivo do pessoal. A pressão externa mais decisiva para a adoção
de tais programas foram provenientes de usinas siderúrgicas européias (British Steel,
Rohstoffhandel e Hoogovens). O programa conta com o apoio da FCO, embora não seja uma
consultoria formal. A exemplo da CVRD e MBR, o PBQP teria exercido pequena influência sobre
o programa desenvolvido pela empresa.
A Samitri comprometeu-se com clientes europeus a receber uma auditoria de certificação
conforme a ISO 9002 a partir de dezembro de 1994. A estratégia atual é acelerar os programas de
padronização de produtos e de normas136. Utiliza-se a FCO para treinamento de pessoal, mas
não para consultoria formal. Em 1993, os esforços concentrar-se-ão em padronização e
treinamento do pessoal operacional.
Já a situação das pequenas empresas é diferente: o programas são muito incipientes. Na
Itaminas, não existe um programa bem delimitado de gestão da qualidade, embora a prioridade
atual seja a normalização. Como conseqüência, inexiste um prazo definido para uma eventual
certificação. Na Socoimex, o programa começou em outubro de 1992, com a consultoria da FCO.
Os primeiros resultados são esperados em 18 meses, sendo difícil estimar uma eventual
certificação pelas normas da ISO 9000137. Na Mannesmann Mineração, deve-se num curto
espaço de tempo adotar um programa formal, embora isto já esteja em funcionamento na sua
controladora (a siderúrgica Mannesmann).
Deve-se destacar que os programas de gestão da qualidade não são muito onerosos em si,
mas envolvem, via de regra, grande alterações na gestão empresarial. A CVRD, por exemplo,
pretendia gastar apenas US$ 800 mil por ano com seu programa de gerenciamento da qualidade
no período 1992-96 (GAZETA MERCANTIL, 10.04.92: 22).
136 Compreende-se de normas para: amostração de produtos intermediários e finais, embarque e transporte, e
aferição de instrumentos, entre outros.
137 A empresa reconheceu que as pressões por parte de seus clientes, mais precisamente, as usinas siderúrgicas
integradas a coque, são crescentes. Porém, no grupo (especialmente, numa controlada do setor plástico) tais
atividades remontam a 1988.
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É difícil fazer uma comparação a nível internacional da adoção de programas de gestão da
qualidade. Mas, apenas uma empresa de minério de ferro, a nível mundial, já obteve a certificação
ISO 9002: trata-se da Iron Ore of Canada, cuja certificação foi concedida por uma instituição
canandense denominada Quality Managment Institute (QMI)138, referente às atividades da mina,
usina de pelotização e porto, em dezembro de 1991. Supondo que as cinco maiores exportadoras
brasileiras obtenham sua certificação até o final de 1994, a indústria local dificilmente ficaria em
desvantagem, a nível internacional, em relação a esse aspecto.
KELLY (1993) sistematiza a experiência da IOC na obtenção da certificação ISO 9002.
Entre os principais fatores, destacam-se:
a) o sistema formal da qualidade, conforme as diretrizes da ISO 9000 começou em 1988;
b) o esforço inicial decorreu de pressões dos consumidores, primeiramente pela British
Steel (à semelhança da CVRD);
c) envolveu duas etapas: sendo que a primeira terminou com a certificação ISO 9003, em
dezembro de 1990, restrita ao Porto Seven Island;
d) a segunda etapa envolveu o Porto e as unidades de beneficiamento e pelotização e foi
concluída em dezembro de 1991, com a obtenção da certificação ISO 9002.
2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade Brasileira
2.2.1. Tendências tecnológicas e de mercado
A indústria de mineração de ferro deverá apresentar, ao longo da década de 90, um
crescimento modesto da produção, compatível com o desempenho da siderurgia mundial.
No Brasil, a MBR é a única empresa que dá mostras de que pretende elevar
substancialmente sua capacidade de produção ao longo desta década. Pretende passar da
capacidade atual de 24 milhões de toneladas anuais para 35 milhões de toneladas anuais, ao final
desta década. O custo desta expansão está orçado em US$ 1 bilhão. Na Austrália, destaca-se o
crescimento da produção de Channar, que deve aumentar sua produção de 3 milhões de toneladas
anuais para 10 milhões de toneladas anuais, ao longo da década de 90 e da Robe River. Nos
outros países, o crescimento da produção mais relevante é da Venezuela, embora em grande parte
138 Esta empresa não se enquadra entre as mais conhecidas do ramo de certificação a nível mundial, como é o caso
da American Bureau of Shipping, Bureau Veritas, Lloyds Register, Det Norske Veritas, Nippon Kaiji Kyodai e
Germanisher Lloyd. É, contudo, uma das duas únicas entidades canadenses de certificação.
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destinado ao mercado doméstico. A se confirmar este padrão de crescimento, ressaltar-se-ia a
proeminência das exportações brasileiras e australianas no mercado mundial139.
Na verdade, as oportunidades e os obstáculos parecem ser de pequena magnitude, de tal
forma que a hegemonia brasileira e australiana na exportação de minério de ferro deve ser mantida
(senão, ampliada) ao longo da década de 90.
A indústria de minério de ferro apresenta atualmente altíssimas barreiras à entrada. Um dos
principais fatores que condicionam esta situação são os reduzidos preços, que inviabilizam o
desenvolvimento de um novo empreendimento (greenfield). Como esclarece SCHNEIDER (1991:
53-4), no período 1945/70, constatou-se fracas barreiras à entrada, em função de:
. aumento da produção aço (mercado em crescimento);
. incremento no preço do minério nas décadas de 50/60;
. estratégia de integração vertical (para trás) das siderúrgicas americanas, européias e
japonesas;
. disponibilidade de recursos financeiros;
. pequena escala das minas em operação.
Este quadro reverteu-se completamente a partir da década de 70, quando a barreiras à
entrada aumentaram sensivelmente face a:
. a demanda declinante do minério de ferro;
. a diminuição dos preços reais do minério;
. os altos investimentos para atingir a escala predominante na indústria atualmente;
. o excesso de capacidade crônico na indústria.
Em suma, o volume de investimento para ingressar na indústria é elevado, ainda mais ao
considerar a situação de mercado estagnado (ou mesmo, em declínio). Assim, a maior garantia de
manutenção do status quo é propiciada pela baixa atratividade atual da indústria.
A queda de preços nas últimas duas negociações de preços, para 1992 e 1993, ratificam
esta hipótese (Tabela 28). A década de 80, como um todo, foi um período de preços baixos para o
minério. Em termos de preços nominais, após atingir o auge em 1982, os preços declinaram até
1988. O período 1989/91 é um período de recuperação, mas em 1992 houve uma queda de preços
139 SÁ (1992/1993: 35-36) também assevera que a tendência é o aumento da concentração da oferta de minério de
ferro no Brasil e Austrália. Ressalta que os únicos novos projetos atualmente planejados, localizados em outros
países, são o de M'haoudat (Mauritânia) e o projeto Nimba (Guiné).
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da ordem de 5,15% e, em 1993, uma retração adicional de 12,37%140. Ou seja, as perspectivas
de preços atuais são pouco convidativos ao desenvolvimento de novos projetos.
TABELA 28
PREÇOS DE MINERIO FINO DA CVRD - MERCADO EUROPEU
(1980/93)
(US$ por 1% de Ferro/toneladas métricas secas FOB)
1980 0,2810 1987 0,2450
1981 0,2810 1988 0,2350
1982 0,3250 1989 0,2656
1983 0,2900 1990 0,3080
1984 0,2615 1991 0,3325
1985 0,2656 1992 0,3162
1986 0,2626 1993 0,2814
Fonte: Iron Ore Manual (1991/92), The Tex Report (1993, n. 5818), Schneider (1991)
Ao se considerar os preços reais, a situação da baixa atratividade atual da indústria se
torna mais nítida. SCHNEIDER (1991: 91) deflaciona a média dos preços do minério fino
exportado pela CVRD no mercado transoceânico pelo índice de preços ao consumidor norte-
americano, concluindo que os preços praticados em 1982 (auge da década de 80) e 1990 seriam,
respectivamente, 6,8% e 61,5% inferiores aos de 1960.
Contudo, dois obstáculos (embora não muito significativos) merecem registro. O primeiro
refere-se ao dinamismo da siderurgia asiática. Os poucos mercados em crescimento são
exatamente o da siderurgia coreana (importação anual de 22 milhões de toneladas anuais), chinesa
(14 milhões de toneladas anuais) e de Taiwan (8 milhões de toneladas anuais cada). Destes
mercados, o da Coréia do Sul é o mais importante atualmente. Em 1990, a participação
australiana na importação coreana era de 42,5% e a brasileira de 31,7%141. A proximidade é,
novamente, o grande diferencial pró-Austrália nesta relação comercial.
No caso da China, a estimativa é que a Austrália domine 70% do mercado importador, e o
Brasil apenas 28%142. As importações chinesas deverão ser crescentes ao longo da década de 90,
e a Austrália está melhor aparelhada para atender este mercado por quatro motivos: i) sua
participação atual no mercado já é maior e tende a perpetuar por causa dos contratos de longo
prazo; ii) a proximidade da Austrália implica em menores despesas de fretes; iii) já existe uma
joint-venture (Channar) com o Ministério das Indústrias Metalúrgicas chinês, que deverá
140 Este percentual refere-se ao minério fino exportado pela CVRD para o mercado europeu, das minas de Itabira
(Tabela 27).
141 As importações por empresa foram: Hamersley (5.604 mil toneladas), Mt. Newman (3.535 mil toneladas),
Robe River (517 mil toneladas), Goldsworthy (247 mil toneladas), CVRD (5.670 mil toneladas) e MBR (1.317 mil
toneladas).
142 A participação australiana no mercado importador de Taiwan foi, em 1990, de 54%, e a brasileira de 19%.
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aumentar sua produção acentuadamente ao longo da década de 90; iv) a deficiência de infra-
estrutura portuária na China dificulta a utilização de navios de grande calado e,
conseqüentemente, a exportação brasileira para este distante mercado143.
Os benefícios para a Austrália do crescimento da siderurgia chinesa deverão ser atenuados
em função da política de diversificação de suprimentos. As usinas siderúrgicas, recorrentemente,
incentivam projetos de mineração com a finalidade de diminuir a concentração de fornecimento e,
consequentemente, o poder de barganha do minerador. Além disso, em alguns casos, é necessário
misturar minérios (blendagem) para conseguir produzir alguns tipos de produtos. Esta é a razão
da importação de minério brasileiro pela Austrália (em 1991, 473 mil toneladas, o equivalente a
US$ 10 milhões)144. É neste sentido que deve ser examinada a evolução recente de exportações
brasileiras de minério de ferro para a China: em 1990, da ordem de 4 milhões de toneladas e, em
1991, de 5,7 milhões de toneladas (acréscimo de 43%).
O crescimento do mercado de pelotas deve ficar restrito às pelotas para redução direta. A
maior parte desta demanda adicional deve se concentrar em países em desenvolvimento, que estão
instalando usinas siderúrgicas de pequena dimensão e simultaneamente aproveitando a grande
disponibilidade de gás natural. Entre os principais países, destacam-se Egito, Líbia, Quatar, Irã,
México e Venezuela. Naturalmente, a empresa mais habilitada para conquistar esta fatia adicional
de mercado é a indiana Kudremukh-GIIC, obviamente em função da proximidade para os países
do Oriente Médio e Norte da Africa. Venezuela e México não são mercados relevantes para
quaisquer exportadores. Neste sentido, cabe lembrar dos planos daquela empresa em dobrar a sua
capacidade de produção de pelotas de 3 para 6 milhões de toneladas ano.
Um segundo obstáculo decorre de uma provável inovação radical nas tecnologias de
redução de minério de ferro. Neste contexto, sobressaem-se as experiências de fusão redutora,
que substituiriam o alto-forno145. Em termos gerais, o sucesso destas novas tecnologias
implicariam a eliminação da coqueria, da sinterização e do próprio alto-forno. O ferro-gusa seria
produzido em apenas uma instalação, compactando significativamente o processo siderúrgico.
143 Em 1993, poderá entrar em operação outro produtor australiano visando atender exclusivamente o mercado
chinês: trata-se da Portman Mining, que está redesenvolvendo o depósito de Koolyanobbing, abandonado há cerca
de 10 anos pela BHP. A previsão é de entrar em operação em novembro, com 1,5 milhão de toneladas/ano (VON
OS, 1993:38).
144 No caso da BHP (proprietária da Mt. Newman), em 1992, as importações devem ser de 300 mil toneladas,
junto a CVRD, com o objetivo de produção de aços especiais. Em compensação, aquela empresa vem vendendo 700
mil toneladas/ano de carvão metalúrgico, gerando um receita de US$ 28 milhões (GAZETA MERCANTIL,
12.março.1992: 24).
145 Notificou-se que a Samitri estava adquirindo 10% da Nocor Iron Carbide, que está testando um dos processos
de fusão redutora (FOLHA DE SÃO PAULO, 7/07/93:2-2).
89
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Embora isto possa vir a revolucionar a siderurgia no início do próximo século146, os impactos
sobre o volume de minério consumido deverão ser reduzidos. A Tabela 29 mostra uma estimativa
do consumo de minério de ferro e seus derivados (como o sínter), pela tecnologia alto-forno e
pelas rotas de fusão redutora.
TABELA 29
CONSUMO DE MINÉRIO DE FERRO POR PROCESSO DE REDUÇÃO
(kg de minério/tonelada de ferro-gusa)
Sínter Pelotas Concentrado TOTAL
Alto-forno 1325 220 - 1545
Elred - - 1500 1500
Inred - - 1550 1550
Plamamelt - - 1460 1460
Corex - 1500 - 1500
Coin - - 1520 1520
Sumitomo - 1325 - 1325
Fonte: Vivian & Dias Jr. (1992)
Percebe-se que o consumo específico de minério de ferro para a fabricação de ferro-gusa
reduziria, na alternativa menos favorável à atividade mineradora, de 1545 kg/tonelada para 1325
kg/tonelada (diminuição de 16,6%). Porém, o processo mais avançado desta nova rota tecnológca
é o Corex, pelo qual a redução do consumo específico seria de apenas 3%. Caso se confirme esta
nova rota tecnológica, não se reduziria significativamente o consumo de minério de ferro pela
siderurgia mundial. Além disso, caso as tecnologias Corex e Sumitomo sejam bem sucedidas, os
impactos sobre a indústria de minério de ferro podem até ser benéficos, por consumirem pellets
(produto de maior valor agregado)147.
No caso específico da mineração brasileira, um eventual consumo adicional de pelotas
seria extremamente benéfico, em função do país possuir uma liderança neste segmento mais
confortável, dado a fragilidade da mineração australiana. Em compensação, a capacidade ociosa
das usinas de pelotização brasileiras foi, em 1990, de apenas 5%, o que coloca limites a um
crescimento da produção a curto prazo148.
146 Os impactos destas tecnologias deverão ser mais importantes somente na próxima década. Segundo a World
Steel Dynamics (1992: 58), no ano 2002, apenas 2,5% do ferro primário produzido nos países ocidentais deverão
ser a base de tecnologias de fusão-redução.
147 As tecnologias de fusão-redutora são flexíveis em termos de insumos: embora o rendimento possa ser maior
com pelotas, se o mercado estiver retraído, certamente este produto será substituído por uma carga menos nobre.
148 As instalações brasileiras de pelotizações demandaram, em geral, três anos para serem concluídas.
90
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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2.2.2. O Mercosul
O Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul) não deverá trazer grandes alterações para a
competitividade da indústria de minério de ferro brasileira. Em outras palavras, não deverá
constituir nem obstáculo nem oportunidade à essa atividade.
O Mercosul não representa um obstáculo à indústria brasileira na medida em que não há
produção concorrente na Argentina, Paraguai e Uruguai. O único fornecedor relevante era a
Hispasam (Argentina)149, produtora de 600 mil toneladas de pelotas/ano, mas que foi fechada em
junho de 1991, face aos seus altos custos. Nos outros dois países, não se produz minério de ferro.
Assim, não há concorrência com o produto brasileiro.
O Mercosul também não corresponde a uma oportunidade, por dois motivos: o mercado
consumidor é pequeno; e o Brasil já detém a maior parcela do principal mercado individual (a
Argentina). De fato, o mercado resume-se à Argentina, uma vez que no Uruguai existem apenas
siderúrgicas à base de aciaria elétrica (que utiliza sucata como insumo), e no Paraguai, há somente
uma siderúrgica (a Acepar, integrada a carvão vegetal, com capacidade de 150 mil toneladas de
aço bruto/ano). A Argentina atualmente importa todo o minério que necessita, sendo seus
principais supridores: Brasil (94%), Peru (3,5%) e Chile (2,5%).
Mas mesmo com a proeminência do mercado argentino, a nível regional, ele é pouco
representativo no contexto das exportações brasileiras. Em 1992 a Argentina importou 2,372
milhões de toneladas de minério, isto é, apenas 2,24% das exportações brasileiras150. Isto gerou
uma receita cambial de US$ 74 mil (3,22% em faturamento das exportações), uma vez que o
comércio se concentra em pelotas, o produto de maior valor agregado da indústria de minério de
ferro. Na privatização da principal usina argentina, a Somisa, a CVRD adquiriu 5% do capital
desta empresa, o que praticamente lhe garante um mercado cativo.
Não há riscos aparentes de mudança desta situação privilegiada da mineração brasileira.
Eventualmente, as exportações da Bolívia poderiam modificar esta situação. Mas, isto requeriria
uma melhoria substancial da infra-estrutura existente, sendo que atualmente esta exportação tem
um outra desvantagem estratégia: carece da utilização do Porto de Ladário (brasileiro). Um
149 A Hispasam (Hierro Patagonico de Sierra Grande S.A.M.) tinha uma usina de concentração dem Sierra Grande
(província de Rio Negro), utilizando um mineroduto de 32 Km para a pelotização em Punta Colada. O minério com
55% de ferro contido era enriquecido para 69% de ferro contido.
150 Em 1990, estas importações tinham atingido 2,98 milhões de toneladas (US$ 96 mil).
91
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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eventual crescimento deste mercado, poderia ser mais facilmente atingido pelo pólo emergente de
minério de ferro de Mato Grosso do Sul, também utilizando transporte hidroviário151.
As reservas totais da área de Urucum são da ordem de 2,15 bilhões de toneladas, sendo:
medidas (100 milhões de toneladas), inferidas (88 milhões de toneladas) e inferidas (1.963 milhões
de toneladas) - ver PAIXÃO & PINHEIRO (1989: 27). Isto representa cerca de 5% de todas as
reservas brasileiras. Este material vem sendo explorado pela Mineração Corumbaense Reunida,
que possui participação minoritária (49%) da RTZ Mineração, empresa de capital inglês152. A
produção de minério de ferro em 1991 desta empresa foi de 460 mil toneladas, utilizando três
instalações de beneficiamento. Já a Urucum Mineração S.A. (com participação de 46% da
CVRD), embora trabalhe na área, está somente explorando a mina de manganês (350 mil
toneladas/ano).
2.2.3. A questão ambiental
Pode-se dizer que os investimentos em preservação ambiental constituem uma necessidade
vital da mineração de ferro. Como a atividade causa grande impacto ambiental, as grandes
mineradoras (até para amenizar críticas da população à manutenção de suas atividades) acabaram
por desenvolver extensos projetos de conservação ambiental. Deve-se considerar adicionalmente
que a grande proximidade de localidades populosas, em alguns casos, e o próprio processo de
endurecimento da legislação implicaram pressões adicionais para tais inversões.
Dados do Sinferbase mostram que a mineração de ferro vem investindo cerca de 1,7% do
seu faturamento em controle e preservação ambiental, o que equivale a cerca de US$ 40 milhões
anuais (Tabela 30). Apesar da indisponibilidade de dados desagregados, sabe-se que tais
dispêndios privilegiaram barragens de rejeitos e de contenção, reflorestamentos, estabilização de
taludes e coleta de lamas.
151 Na verdade, deve-se evoluir para um pólo metalúrgico, com a produção de ferro-esponja, ferro-ligas e mesmo
ferro-gusa, até em função da utilização de gás natural proveniente da Bolívia.
152 No final da década de 80, chegou a ser cogitada a construção de uma usina siderúrgica em Uruguaiana/RS, a
base de ferro-esponja, utilizando minério de ferro da Corumbaense e gás natural argentino. Ela teria uma
capacidade instalada de 800 mil toneladas de chapas finas e lingotamento contínuo. Seria um investimento
tripartitite: argentino, brasileiro e uruguaio. A Petrobrás praticamente acabou com este projeto, ao concluir que a
importação de gás argentino era economicamente inviável.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 30
GASTOS COM CONTROLE E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL -
MINERIO DE FERRO - BRASIL
(1988/91)
(US$ milhões)
Gasto Total % Faturamento
1988 50,5 2,6
1989 31,7 1,3
1990 38,7 1,5
1991 42,0* 1,5
Fonte:Sinferbase
Obs: * estimado
FONSECA (1990) sistematiza os principais impactos ambientais derivados das atividades
mineradoras, enfatizando o segmento de minério de ferro. Destaca inicialmente que o impacto
ambiental desta atividade é muito denso (concentrado geograficamente), embora pouco
extenso153, ao contrário do que se verifica com a agricultura.
Um primeiro impacto é a poluição propriamente dita. A atividade mineradora de ferro tem
na poluição hídrica o seu maior problema154. Neste particular, destaca-se a poluição por lama
(provocando o assoreamento dos córregos à jusante das minas), em detrimento da proporcionada
por compostos químicos solúveis155. As ações necessárias por parte das empresas são o controle
por barragens de contenção (de alto custo) e a sedimentação de lamas156. Outra forma de
poluição é atmosférica, principalmente através de poeira, na medida em que a emissão de gases é
pouco significativa. As empresas vêm tomando as seguintes medidas para amenizar este problema:
umedecimento (aspersão) constante das estradas e áreas de emissão de poeira por caminhões-pipa
e, em menor escala, a plantação de cinturões verdes, entre as minas e as áreas povoadas.
Constata-se que a poeira gerada não tem provocado problemas de saúde ocupacional, em grande
medida pelo fato das minas serem a céu aberto. Um terceiro tipo de poluição é a sonora derivada
das detonações para desmontes e, em menor grau, do ruído das instalações de beneficiamento e
oficinas de manutenção.
Um segundo impacto refere-e a recuperação das áreas mineradas que, no caso do minério
de ferro, ficam irremediavelmente alteradas. Como se trata, em geral, de minas em terrenos altos,
153 Isto naturalmente facilita a visualização dos impactos ambientais, e a consequente maior pressão para medidas
de proteção.
154 No caso da indústria siderúrgica, diferentemente, o maior impacto é mediante poluição atmosférica.
155 A mineração de ferro não oferece maiores riscos de toxidez por ser este elemento um material inerte
(FORNARI, 1989: 27).
156 A construção de duas barragens de contenção pela Minas Serra Geral, em Timbopeba, por exemplo, demandou
recursos da ordem de US$ 44 milhões (FONSECA, 1990: 299). A MBR, por sua vez, dispendeu US$ 8-10 milhões
com a construção de uma barragem em Mutuca, o equivalente a 12% do projeto de modernização desta mina
(período 1986/88).
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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é praticamente impossível reconstituir a topografia original. As principais medidas adotadas para
sanar tais problemas são: compactação das pilhas de estéril, constituição de talude estável e
revegetação por hidrossemeadura e plantação de árvores. No caso da MBR, após a exaustão da
Mina de Aguas Claras, o local será reocupado com um lago e urbanização.
Finalmente, no tocante a devastação florestal, o impacto direto da mineração (mesmo em
Carajás) tem sido insignificante157. Ao contrário, a CVRD vem preservando uma área de 700 mil
hectares em Carajás e a MBR a Mata do Jambeiro nas proximidades de Belo Horizonte-MG.
Pode-se, então, segmentar os Programas de Meio-Ambiente das mineradoras em três
quesitos: medidas anti-poluentes (poluição hídrica, atmosférica e sonora), recuperação de áreas já
mineradas e preservação florestal. A semelhança dos programas de qualidade e produtividade,
constata-se uma grande diferença na amplitude e no estágio dos programas desenvolvidos:
enquanto as pequenas empresas estão dando os primeiros passos para a sistematização de seus
esforços, as grandes mineradoras já desenvolveram programas amplos e de longa duração.
A seguir, destacam-se as principais ações ambientais desenvolvidas por algumas das mais
relevantes mineradoras brasileiras de ferro158. Este exercício não é isento de problemas. Em
primeiro lugar, as informações disponíveis privilegiam o esforço (quanto se investe anualmente,
por exemplo), em detrimento do resultado destas medidas. Secundariamente, é muito difícil fazer
uma avaliação, mesmo dispondo de resultados quantitativos por empresa, ao se considerar a
peculiaridade de cada mina e mesmo a falta de padrões nacionais e internacionais de comparação.
De qualquer forma, estas informações servem como noção ainda que precária das prioridades e de
sua importância nos orçamentos das empresas.
O programa de proteção ambiental da CVRD, no que tange ao minério de ferro, pode ser
segmentado em três áreas: Itabira, Carajás e Pelotização/Ponta de Tubarão. No programa como
um todo, foram dispendidos cerca de US$ 220 milhões até 1989 (Tabela 31)159. Constata que a
região de Itabira recebeu a maior parte destes recursos, sendo que uma parcela preponderante dos
gastos totais (92,7%) foram destinados a investimentos. No ano específico de 1989, o Programa
envolveu recursos da ordem de US$ 9,71 milhões, isto é, 0,66% do faturamento da CVRD com
157 Por outro lado, não se pode esquecer que a atividade guseira (produção independente de ferro-gusa) tem tido
um perfil predatório de matas nativas, tanto em Minas Gerais, e muito mais na área de influência do Projeto Ferro
Carajás.
158 Para uma descrição detalhada dos impactos ambientais e formas de controle na mineração como um todo, ver
IBRAM (1992), especialmente os capítulos 4 e 5.
159 Para o período 1989/93, o Plano Diretor de Meio Ambiente da CVRD prevê uma aplicação adicional de US$
102 milhões, embora não exclusivamente para minério de ferro. A alocação dos recursos privilegia: controle
ambiental (47,6%), manutenção de patrimônios naturais (23,0%), estudos e pesquisas (17,34%) e recuperação de
áreas degradadas (5,2%) - ver BRASIL MINERAL (1989, 8 (83): 8-10).
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minério de ferro, distribuídos do seguinte modo: US$ 4,85 milhões (Itabira), US$ 2,28 milhões
(Pelotizações) e 2,58 milhões (Projeto Ferro Carajás) - ver FREITAS (1990: 26).
TABELA 31
PROGRAMA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA CVRD -
GASTOS ACUMULADOS ATÉ 1989
(US$ mil)
Custeio Investimento Total
Itabira 13.000 124.800 137.800
Pelotização/Tubarão 3.270 14.981 18.211
Mina de Carajás - 32.800 32.800
Estrada Ferro Carajás - 28.417 28.417
Porto Ponta da Madeira - 4.700 4.700
TOTAL 16.230 205.698 221.928
Fonte: FREITAS (1990)
Na área de Itabira, somente os gastos anuais de custeio do Programa demandam cerca de
US$ 2,3 milhões. Este amplo projeto compreende as seguintes ações:
a) construção de 13 barragens de contenção de rejeitos, (sendo 5 de grande porte), com
uma capacidade conjunta de cerca de 180 milhões de m
3
;
b) implantação de um cinturão verde (4,5 milhão de árvores) na fronteira da mina com a
malha urbana de Itabira, a um custo de US$ 2 milhões;
c) controle da água e do ar;
d) recomposição das áreas de rejeitos;
e) semeadura de áreas mineradas;
f) hidrossemeadura de taludes;
g) recuperação de 350 hectares (cerca de 250 mil mudas);
h) instalação do Parque Ecológico de Itabiruçu (700 hectares);
i) programas de educação ambiental.
No Projeto Ferro Carajás, concebido durante a década de 70, os investimentos em
proteção ambiental já constavam do planejamento original. PORTO (s/d: 106) aponta que foram
gastos inicialmente, nesta área, cerca de US$ 52 milhões (aproximadamente 2% do todo do
Projeto). Além disso, as despesas anuais de manutenção do programa ambiental seriam da ordem
de US$ 6,12 milhões, assim distibuídos: US$ 3,5 milhões (controle ambiental), US$ 1,5 milhão
(proteção de áreas), US$ 900 mil (recursos naturais e eduacação ambiental) e US$ 220 mil (apoio
a comunidades indígenas).
Dentro do programa ambiental de Carajás, detacam-se as seguintes medidas:
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a) construção de duas grandes barragens de contenção de rejeitos;
b) aspersão das principais vias de acesso;
c) controle da qualidade do ar;
d) revegetação de taludes;
e) plantação de 150 mil mudas de árvores ao longo da EFC (dentro do Programa Faixa Verde);
f) proteção de áreas florestais no sul do Pará, em mais de 1,1 milhão de hectares (IBRAM,
1992: 85);
g) suporte às comunidades indígenas;
h) programas de educação ambiental;
i) convênios com o Museu Emílio Goeldi (de Belém-PA) para estudo da arqueologia,
botânica e geologia ambiental da região.
Na Ponta de Tubarão, foram investidos no período 1978/89, cerca de US$ 20 milhões,
para monitorar, conter ou eliminar problemas de poluição existentes. As medidas anti-poluentes
foram, mais uma vez, as mais importantes, embora destaque-se uma maior relevância da poluição
atmosférica. A concentração de seis usinas de pelotização, próximas inclusive da Cia. Siderúrgica
de Tubarão e da cidade de Vitória, implicaram cuidado adicional com esta questão. Neste sentido,
num passado recente (virada da década), foram instalados três precipitadores eletrostáticos (a um
custo unitário de US$ 5 milhões), nas chaminés das usinas de pelotização Nibrasco 1, Nibrasco 2
e Hispanobrás. Estes equipamentos substituiram os antigos lavadores a úmido, elevando a
eficiência na contenção de poeira (despoeiramento) de 95% para 99,9% (RIBEIRO, 1989: 52).
Estes investimentos são, muito provavelmente, os mais importantes para controle da poluição
atmosférica já feitos pela indústria de minério de ferro brasileira.
Na Ponta de Tubarão, destacam-se ainda outras medidas do programa ambiental, tais como:
a) sistema de recuperação de águas industriais e de minério nas bacias de sedimentação;
b) asfaltamento de todas as vias de trânsito em Tubarão, para diminuir a poeira;
c) aspersão nas pilhas de minérios, correias transportadoras e virador de vagões;
d) monitoramento de água e da poeira (em 32 pontos da cidade de Vitória-ES);
e) plantação de 3,8 milhões de árvores de 220 espécies diferentes, ocupando 40% da área
do complexo portuário.
No caso da Minas Serra Geral (joint-venture da CVRD com capitais japoneses), e que
opera a Mina de Timbopeba, o gasto previsto para proteção ambiental em 1992 era de US$ 1,7
milhão (cerca 3,4% do faturamento). As principais medidas já implementadas foram (ALVES,
1992: 16):
96
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a) barragens de contenção de rejeitos;
b) monitoramento do índice de pureza das águas;
c) aspersão para evitar poeira;
d) compactação do estéril;
e) hidrossemeadura nas áreas já mineradas e ao longo de todo o tranportador (correia) de
longa distância.
A MBR possui um extenso Programa de Preservação Ambiental desde a criação da
Divisão de Engenharia do Meio Ambiente em 1976. No período 1975/89, a MBR investiu US$ 40
milhões em obras ambientais, sendo que as principais ações adotadas pela empresa foram
(FORNARI, 1989)160:
a) barragens de sedimentação de sólidos: a maior situa-se no Córrego de Aguas Claras,
com capacidade de 14 milhões de m
3
, sendo que neste caso, a água reaproveitada abastece parte
da cidade de Nova Lima/MG;
b) aspersão das vias de maior movimentação através de caminhões-tanques (de 40 mil litros);
c) pulverização de uma suspensão de água e cal, para impedir o arrasto eólico das pilhas
de minério;
d) monitoramento das detonações;
e) aquisição de equipamentos para evitar poluição por derrame de óleo no mar e conjunto
incinerador que elimina todo o lixo doméstico do Terminal de Sepetiba;
f) controle de deposição do estéril;
g) drenagem de taludes e barragens;
h) reflorestamento nas encostas das minas e cobertura vegetal por hidrossemeadura;
i) reconstituição da vegetação retirada durante a implantação do Terminal Portuário;
j) preservação da Mata do Jambeiro e do Parque do Tumbá;
l) convênios com Universidades, que realizam pesquisas nas reservas naturais da empresa.
A Samarco tem como destaque do seu programa de meio-ambiente o tratamento de
efluentes hídricos em Ponta de Ubu, através da utilização de barragem de tratamento. Os gastos
com o programa como um todo vem demandando recursos da ordem de US$ 4 milhões anuais
160 A MBR gasta cerca de 4% de seu custo de operações com ações ambientais (PEREIRA 1991: 15). A MBR
conta com uma pressão adicional pelo fato de que a Mina de Aguas Claras situa-se junto a Serra do Curral, na
divisa de Nova Lima e Belo Horizonte. Além de constituir o "fundo" da paisagem da capital mineira, a mina
localiza-se muito próximo ao Parque das Mangabeiras.
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(1,6% do faturamento). No ano de 1991, foram investidos US$ 1,4 milhão na melhoria do
tratamento de efluentes industriais. A empresa ainda conta com um cinturão verde de mais de 250
mil árvores ao longo de toda a área operacional de Ponta de Ubu, que além de preservar a área
verde, impede que o minério das pilhas de estocagem seja espalhado pelo vento (MINERIOS,
EXTRAÇÃO E PROCESSAMENTO, 1992, 16 (174): 36-37).
No que se refere à mina propriamente dita, a Samarco iniciou uma barragens de rejeitos,
com aproximadamente 100 metros de altura, e que já consumiu recursos de US$ 18,5 milhões
(IBAM, 1992: 107). Além disso, plantou 137 mil mudas de eucaliptos e promoveu o recobrimento
vegetal por hidrossemeadura em todos os locais onde o ambiente foi alterado pelo mineroduto.
Samitri e Ferteco investem também recursos maciços nestas atividades, com gastos anuais
de aproximadamente US$ 3,5 e US$ 5 milhões. Dentro do programa da Samitri, destaca-se a
"deposição controlada ascendente de estéril", e a subseqüente cobertura vegetal (IBRAM, 1992:
111).
Já as médias empresas, possuem orçamentos mais modestos, embora relativamente
elevados em termos do faturamento: na Itaminas, o gasto anual é da ordem de US$ 1 milhão
(2,5% do faturamento), com proeminência de gastos com barragens de rejeitos, e na Socoimex, o
dispêndio anual é de US$ 500 mil (1,4% do faturamento). As pequenas mineradoras são as que
gastam pouco ou praticamente nada, e causam grande impacto ecológico, em especial no rios da
Velha e do Paraopeba (ambos em Minas Gerais).
A pressão pela preservação ambiental tende a aumentar cada vez mais. Isto se configura
numa oportunidade para o incremento da produção de pelotas, como substituto do processo de
sinterização. As instalações de sinterização são altamente poluentes, e na medida em que
acabarem sua vida útil, dificilmente serão repostas.
Outro aspecto a ser analisado corresponde à utilização de gás natural em substituição ao
óleo combustível. No Brasil, a partir de 1984, o gás natural passou a ser consumido em quatro
usinas de pelotização (CVRD 1, CVRD 2, Hispanobrás e Itabrasco), todas instaladas na Ponta de
Tubarão. Dados do Balanço Energético Global, agregados para a mineração (como um todo) e
pelotização, mostram que em 1983, o óleo combustível representava 25,1% de toda a energia
consumida nestas atividades, sendo que em 1990, a participação do óleo combustível tinha
involuído para 17,8%, enquanto a do gás natural passou para 3,45%. Aparentemente, há espaço
para intensificar a importância deste insumo na matriz energética setorial (e nacional). A título de
exemplo, na Austrália, a Robe River converteu a unidade de força de Cape Lambert para gás
natural (IRON ORE MANUAL, 1991/92: 221) e a BHP anunciou, recentemente, a construção de
uma estação de força em Port Headland de 140 MW a gás natural. Esta obra deve entrar em
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operação em finais de 1995, e visa reduzir os custos de blendagem e carregamento de minérios de
Nelson Point (VON OS, 1993: 38).
Em suma, a indústria de minério de ferro brasileira, especialmente as grandes empresas,
mostra uma situação satisfatória na adoção de programas ambientais. Isto não significa que as
pressões por maiores investimentos (como para a maior difusão de precipitadores eletróstaticos
em usinas de pelotização) deixarão de aumentar no futuro. É muito provável exatamente o
contrário: as pressões devem se avolumar, mas as grandes empresas possuem retarguarda
financeira para levar a cabo eventuais investimentos adicionais. Há contudo dois desafios: a
pequena empresa e a maior difusão de gás natural. No primeiro caso, se se configurar uma
situação de maior inserção internacional de pequenos mineradores (especialmente do Vale do
Paraopeba), essas empresas certamente necessitarão de financiamentos para que possam cumprir a
legislação em vigor e suportar os custos relativamente altos dos projetos ambientais. No segundo,
a maior utilização do gás natural parece articulada a mudanças na matriz energética da economia
brasileira como um todo.
2.2.4. Aumento da carga tributária
A atividade de extração de minério de ferro não vem contando com uma política industrial
explícita, à exceção do Projeto Ferro Carajás, que se atrelava aos interesses do fechamento do
Balanço de Pagamentos brasileiro. Talvez isto decorra da atividade apresentar um progresso
tecnológico pouco dinâmico, um pequeno linkage com as demais indústrias nacionais e um
reduzido contingente de empregos diretos gerados pelo setor161.
As principais medidas adotadas pelo Governo vêm, ao contrário, colocando obstáculos ao
desempenho do setor. Em 1988, extiguiu-se a cota de exaustão incentivada. Criado em 1970, ela
se converteu no maior incentivo aos projetos de mineração (BDMG, 1989a: 26). Este incentivo
fiscal, permitia à mineradora reter 20% do seu lucro pelo prazo de 10 anos, com a finalidade de
constituir uma reserva a ser investida em outro empreendimento mineral, assim que a vida útil da
mina em exploração se encerrasse.
A Constituição de 1988 trouxe três grandes implicações para o setor. Em primeiro lugar, o
Imposto Único sobre Minerais (IUM) foi incorporado ao Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS), o que aumentou a carga tributária sobre o setor (Tabela 32).
Secundariamente, reduziu-se a jornada de trabalho de 8 para 6 horas para turnos ininterruptos de
trabalho, diminuindo a produção homem/ano e aumentando o efetivo de operários, teoricamente,
161 Segundo o Sinferbase, em 1991, as oito principais empresas brasileiras da indústria extrativa de minério de
ferro geraram cerca de 25,1 mil empregos diretos. Em 1990, elas tinham empregado 29,6 mil pessoas (retração de
18%). Há indícios que, em 1992, a CVRD e a MBR tenham levado a cabo uma redução adicional do efetivo.
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em 25%162. Finalmente, instituiu-se royalties (legalmente denominado Compensação Financeira
pela Exploração de Recursos Minerais) sobre o preço líquido de venda do minério de ferro163.
Exclui-se deste preço de venda, os tributos sobre comercialização, além dos gastos com fretes e
seguros164. Este aumento da carga tributária sobre o setor verificou-se em janeiro de 1991, com
a regulamentação do dispositivo constitucional.
TABELA 32
CARGA TRIBUTÁRIA GLOBAL - SETOR MINÉRIO DE FERRO
(1986/91)
(milhões de dólares)
1986 1987 1988 1989 1990 1991*
Impostos Federais 87,6 123,4 103,9 114,2 77,8 107,9
IUM 67,8 69,6 66,3 4,7 - -
IPI 2,7 3,4 5,1 6,4 4,3 5,4
Imposto de Renda -0,9 25,0 12,5 41,7 43,4 50,0
PIS/Pasep 13,3 16,3 13,6 6,8 7,9 9,4
Finsocial 2,8 3,0 3,0 5,8 6,6 8,2
Contribuição
Social Lucro - - 2,1 48,0 13,3 18,8
Outros 1,8 1,2 1,2 0,8 2,3 16,0
Impostos Estaduais# 11,8 17,5 19,4 155,0 193,4 230,4
ICMS 9,1 14,3 15,5 149,0 183,8 190,3
Adicional IR Estad. - - - 1,2 1,7 13,0
Compensação Financ. - - - - - 8,3
Taxas Municipais 2,4 2,9 3,2 4,0 6,4 8,7
Outros 6,2 0,3 0,6 0,7 1,4 10,1
Encargos Sociais 71,8 91,6 115,5 168,4 140,0 97,8
TOTAL 171,1 232,6 234,8 427,7 411,3 439,1
Carga Tributária/
Vendas (%) 9,8 11,4 12,0 18,9 15,9 16,0
Fonte:Sinferbase
Obs: * Somatório de 6 empresas
# Inclui impostos e taxas municipais
A Tabela 32 mostra, com detalhes, as alterações na carga tributária do setor extrativo de
minério de ferro. Preliminarmente, pode-se destacar:
a) o aumento da carga tributária global sobre o faturamento do setor: em 1986, era de
apenas 9,8%, enquanto em 1991, já atingia a 16%;
162 Na verdade, este aumento é inferior: em Carajás, o incremento foi de 12,4% (IRON ORE MANUAL, 1991/92:
244).
163 No caso do minério de ferro, a alíquota é de 2%.
164 Mas não são deduzidas as despesas de transporte dentro da mina (VALE et alli, 1992:22).
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b) as grandes alterações foram decorrências da Constituição de 1988: aumento dos
encargos sociais e substituição do IUM pelo ICMS;
c) a criação recorrente de novos tributos: Contribuição Social Sobre o Lucro, Adicional
Estadual de Imposto de Renda e Compensação Financeira (royalties);
d) aumento do imposto de renda, face à redução de benefícios fiscais para as atividades de
exportação: a partir do exercício financeiro de 1989, o lucro decorrente das exportações passaram
a ser tributados com a alíquota de 3%, que foi elevada para 6% (em 1990). No exercício
financeiro de 1991, esta alíquota foi de 30%, acrescido dos adicionais de 5% ou 10%165.
O grande problema para o setor é, na verdade, a tributação do ICMS na exportação.
Atualmente, cobra-se 6% sobre o valor da exportação, o que muito provavelmente não encontra
similar nos principais concorrentes. De fato, um estudo comparativo internacional sobre tributação
das atividades de minério de ferro, elaborado pela consultoria BDO Binder entitulado
"International Tax Burden Comparison of Australia, Brazil, Canada, India, South Africa, Sweden,
Venezuela", e encomendado pelos produtores brasileiros, demonstra que o Brasil é o único a
cobrar imposto indireto sobre exportações de minério. Segundo estas estimativas, o setor
exportaria 6,38% do preço FOB da exportação de imposto (ICMS e royalties). Este estudo tem
como base a legislação em vigor em janeiro de 1990166.
O aumento da carga tributária guarda estreita relação com a substituição do IUM pelo
ICMS. Observe-se que, no período 1986/1988, o IUM representava 3,5% do faturamento do
setor167. O então denominado ICM, apenas 0,7%. Portanto, a carga destes dois impostos era de
4,2%. Após a unificação tributária, o peso do ICMS, no período 1989/1991, evoluiu para
5,7%168. Este foi a principal medida governamental que afetou o setor: elevação da carga
tributária.
A Tabela 32 mostra adicionalmente uma mudança na participação relativa dos impostos:
decréscimo dos tributos federais e ampliação dos estaduais. Deve-se destacar que embora o IUM
fosse arrecadado pela União, ela ficava apenas com 10% desta receita. Os noventa por cento
165 Incentivos concedidos anteriormente continuam em vigor. O Projeto Ferro Carajás conta, por exemplo, com
isenção de Imposto de Renda, no período 1986/95.
166 Este estudo da BDO Binder mostra, adicionalmente, que, com margem de 30%, o ganho líquido após impostos
no Brasil é de 11,30% e na Austrália de 18,30%. Quando a margem é de 10%, o ganho líquido no Brasil é de
apenas 1,44% e na Austrália de 6,1%, o que ratifica a noção da tributação mais indireta mo Brasil.
167 OLIVEIRA (1988: 128) estimou que, em 1987, o IUM correspondia a cerca de US$ 1,00 por tonelada
exportada.
168 Esta é uma demonstração de que o valor de pauta utilizado para cálculo do imposto está sendo muito próximo
do valor efetivo do faturamento. Desta forma, a atual prática nega a anterior (do IUM), que frequentemente
assinalava uma defasagem entre o valor da pauta e o preço efetivo de venda. Isto fica evidenciado ao se recordar
que a alíquota do IUM para exportação de minério de ferro era de 7,5%
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restante eram distribuídos na seguinte proporção: 70% para Estados e 20% para Municípios. Com
o ICMS, a União ficou sem participação neste tributo, que passou a ser repartido entre Estados
(75%) e Municípios (25%).
Outra questão tributária relevante é o contecioso fiscal deste ICMS/Exportação. Os
valores da Tabela 32 sobre este imposto são, na verdade, provisões, uma vez que a maioria das
empresas do setor não estão recolhendo o tributo. A justificativa das empresas reside em dois
argumentos: a) interpretação do artigo 1o. da Lei Complementar 65 (15.04.91); b) cobrança do
imposto antes da promulgação da Lei Complementar correspondente.
Com relação à interpretação da Lei Complementar, que define a tributação de ICMS sobre
produtos semi-elaborados, as empresas entendem que os três incisos do artigo 1o. são
cumulativos, ao passo que os Estados defendem a premissa de que são alternativos169. Como
durante o processo de concentração e pelotização, o minério modifica sua natureza química -
inciso II; e como o custo da matéria-prima (minério) pode não corresponder a mais de 60% do
custo do total do produto (haja visto a importância dos gastos de transporte) - inciso III -
certamente o minério de ferro não recolheria este imposto.
Se não bastasse esta discussão, os Estados começaram a cobrar o imposto já em 1989,
embora a Lei Complementar somente fora promulgada em 1991. Além disso, através do Convênio
Confaz ICMS 15/91 (16.04.91), simplesmente se dispôs que continuaria em vigor a lista de
produtos sujeitos a esta tributação constantes do Convênio Confaz ICMS 07/89 (03.89). As
alíquotas para minério de ferro e pelotas foram definidas em 5,5% até dezembro de 1989
(Convênio Confaz ICM 68/89) e 6% a partir de 1990 (Convênio Confaz ICMS 75/90).
Diante desta controvérsia, as empresas estão geralmente adotando o procedimento de
fazer depósitos em juízo, ou apenas provisionar o tributo calculado. De qualquer forma, a situação
é insatisfatória: para os Estados, que não arrecadam os recursos; para as empresas, que sentirão
de maneira vigorosa o desencaixe de recuros, caso ele efetivamente se concretize. Não seria
descabido apontar que o contecioso e a incerteza sobre o resultado do mesmo constitui-se no
principal obstáculo à situação financeira das empresas mineradoras e, por conseguinte, à
competitividade do setor.
Em 1992, criou-se o Fundo de Mineração, a ser administrado pela Comissão de Valores
Mobiliários (CVM). Embora desconheça-se eventuais resultados desta decisão, é um indício de
uma virtual reversão de medidas que vinham diminuindo a competividade da indústria mineradora
de ferro brasileira. Neste mesmo sentido, a redução gradativa redução do Adicional de Tarifa
169 Grande parte desta controvérsia deveu-se à retirada de um "e" ao final do segundo inciso, que constava do ante-
projeto, mas foi suprimido quando da redação final da Lei Complementar.
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Portuária em portos públicos (como Rio de Janeiro e, futuramente, Sepetiba) de 50% para 20%
também é algo benéfico para o setor.
Um último ponto refere-se ao tributo ambiental. Como destaca SEROA DA MOTTA
(1993: 15), o uso de recursos minerais já é objeto de taxação, desde a criação, em 1991, dos
royalties sobre a produção mineral. Além de ser um das poucas indústrias que pagam este tipo de
encargo, constata-se que uma parcela muito pequena desta arrecadação é revertida para a
proteção ambiental (SERROA DA MOTTA, 1993: 49). De fato, a distribuição dos recursos da
Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais é de: 23% (Estados e Distrito
Federal), 65% (Municípios Produtores), 12% para o Departamento Nacional da Produção Mineral
(DNPM), que destina 2% à proteção ambiental nas áreas mineradas, por meio do IBAMA (VALE
et alli, 1992: 24).
É preferível o controle direto do impacto ambiental mediante um sistema de
regulamentação e fiscalização do que a cobrança de uma compensação financeira (VALE et alli,
1992: 24). Embora seja um second best170, este tipo de tributo será cada vez mais importante, à
proporção de um (eventual) crescimento da participação de pequenas mineradoras no produto
setorial, uma vez que a fiscalização direta por órgãos ambientais tornar-se-ia mais difícil. Neste
sentido, cabem duas recomendações para aprimorar este tributo:
a) que a distribuição dos recursos seja alterada, no sentido de aumentar a participação do
DNPM e, essencialmente, a cota-parte destinada ao IBAMA (ações de proteção ambiental);
b) sejam instituídas sanções para as inadimplências com a finalidade de aumentar a
arrecadação.
170 Para uma crítica sistematizada às distorções deste tributo, como por exemplo, a falta de penalidades aplicávies
no caso de inadimplência e a indefinição da responsabilidade por sua fiscalização, ver VALE et alli (1992: 23-6).
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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
Como apontado no capítulo anterior, a mineração de ferro não foi contemplada, no
passado, com uma política industrial explícita. Em termos gerais, esta atividade sempre acabou
afetada, indiretamente, pelas repercussões da política adotada para a siderurgia. Como o objetivo
governamental foi sempre de aumentar o valor agregado da produção (e, em função disso, da
exportação), tentou-se recorrentemente induzir o desenvolvimento da siderurgia através de
mecanismos que inibissem a exportação de minério de ferro.
Em outras palavras, buscava-se transformar o padrão primário-exportador, o que implicou
na tentativa de evitar que o minério fosse exportado sob forma bruta: objetivava-se que este
minério fosse transformado em aço.
Outra questão relevante é o papel de liderança que a indústria brasileira de minério de
ferro possui, atualmente, no contexto internacional. Conjuntamente com a Austrália, os dois
países representam cerca de 60% das exportações mundiais deste produto. Em se considerando a
provável estagnação da demanda de minério de ferro e os investimentos previstos para o setor a
nível mundial, esta situação deve se perpetuar ao longo da década de 90.
Grosso modo, percebe-se que a despeito de merecer um tratamento pouco privilegiado no
passado, a indústria do minério de ferro brasileira alcançou um papel proeminente no mercado
internacional. Para manter a competitividade, postula-se a manutenção do status quo, não se
promovendo aumentos na carga tributária e mantendo-se o realismo cambial.
O setor de extração e beneficiamento de minério de ferro pode ser considerado um caso
atípico dentro da indústria nacional, na medida que:
. é um dos líderes da atividade, a nível mundial;
. a escala dos produtores é alta, e compatível com um setor cujo dinamismo é dado por
economias de escala;
. conseguiu endogeneizar uma infra-estrutura própria, que permite o escoamento da
produção, sem as dificuldades típicas apresentadas pelas outras indústrias nacionais;
. o mercado internacional não foi buscado como uma conseqüência da recessão da
economia doméstica: a vocação da indústria sempre foi atendê-lo;
. os programas de melhoria da qualidade e produtividade são bem disseminados no setor, e
a certificação ISO 9000 pelos principais produtores deverá ocorrer até finais de 1994;
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. a princípio, não há grandes investimentos em outros países que possam colocar a xeque a
posição brasileira.
Diante da situação competitiva favorável apresentada pela indústria brasileira de extração
de minério de ferro, não se vislumbra a necessidade de reestruturação patrimonial e/ou industrial,
na medida que:
a) a escala produtiva é adequada;
b) o grau de verticalização é adequado, envolvendo inclusive infra-estrutura própria;
c) o setor é muito bem articulado com compradores internacionais, sendo praticamente o
único país a vender tanto no mercado europeu quanto no asiático.
Também no que diz respeito à modernização produtiva, o setor tem se mostrado
capacitado a acompanhar as best-practices, como se expressa na excelência dos produtos
ofertados e na inexistência de gargalos produtivos relevantes.
Tendo em vista a inexistência de desafios tecnológicos (diretos e imediatos) para o setor e
da situação de excelência de suas atividades, não faz sentido propor recomendações para o apoio
governamental à capacitação tecnológica. Dados do Sinferbase mostram que o setor gasta menos
de 0,01% do seu faturamento com pesquisa tecnológica, configurando-se uma tendência de
diminuição de importância. Em contrapartida, o dispêndio com pesquisa geológica/mineral supera
1,8% (Tabela 33). Neste sentido, uma medida positiva seria equiparar a pesquisa
geológica/mineral à pesquisa tecnológica, para fins de incentivos fiscais (abatimento do Imposto
de Renda). É bem verdade que as reservas de minério de ferro já medidas são suficientes para 64
anos, a uma taxa de lavra de 150 milhões de toneladas/anos. Assim, poderia se estimular o melhor
conhecimento das reservas já medidas, ou até mesmo inferidas, mas dificilmente teria repercussão
para aumentar as reservas totais171.
171 Deve-se ter conta que para outras atividades minerais, este efeito estímulo a ampliação das reservas totais pode
ser mais efetivo.
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TABELA 33
GASTOS COM PESQUISA TECNOLÓGICA E MINERAL -
MINÉRIO DE FERRO - BRASIL
(1986/91)
(US$ milhões)
Tecnológica Mineral
US$ % Fat. US$ % Fat.
1986 * s.d 29,7 1,69
1987 0,2 0,0098 30,9 1,52
1988 0,2 0,0102 38,7 1,98
1989 0,1 0,0042 55,4 2,35
1990 0,1 0,0049 44,2 1,71
1991 * s.d 46,0 1,68
Fonte: Sinferbase
Obs: * valor inferior a US$ 100 mil
Por outro lado, a cooperação da Fundação Chistiano Ottoni (UFMG) com as empresas
mineradoras tem sido muito profícuo, no que tange à difusão de novas técnicas organizacionais
(TQC). E, neste sentido, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(PADCT) - Subprograma Tecnologia Industrial Básica (TIB) - através do Projeto de
Especialização em Gestão da Qualidade, que inclui a Fundação Christiano Ottoni como um dos
beneficiários, em especial no treinamento de multiplicadores no exterior deveria ser mantido,
senão ampliado172.
As medidas relacionadas aos fatores sistêmicos constituem o campo a ser privilegiado
pelas recomendações de política registradas a seguir.
O primeiro ponto a ser enfatizado é a importância do realismo cambial para a manutenção
da rentabilidade da indústria. O setor é muito dependente das exportações, e não consegue
compensar atrasos cambiais através das vendas domésticas, na medida em que elas foram objeto
de controle de preços (até o ano de 1990) e os produtos vendidos no mercado interno são de
menor valor agregado (em especial, para os produtores independentes de ferro-gusa à base de
carvão vegetal). Assim, qualquer atraso cambial repercute diretamente no resultado financeiro da
atividade.
Quanto aos aspectos político-institucionais, o grande problema enfrentado pelo setor é a
elevação da carga tributária e o contencioso acerca do ICMS/Exportação de Semi-elaborados.
Dever-se-ia utilizar preferencialmente impostos diretos em detrimento dos indiretos (como ICMS)
sobre a atividade, uma vez que este regime de tributação não encontra paralelo nos competidores.
172 No período 1987/92, 8,6% dos multiplicadores treinados no país e 57,0% dos treinados no exterior pela
Fundação Chistiano Ottoni tiveram apoio do Programa de Especialização da Gestão da Qualidade.
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Em consonância com essa alteração do regime de tributação, é fundamental evitar que novas
revisões tributárias venham elevar ainda mais a carga fiscal incidente sobre o setor.
Outras sugestões referente à política fiscal para o setor, embora de difícil implantação, são
a resolução do contencioso fiscal, a equalização do ICMS incidente sobre eletricidade nos Estados
de Minas Gerais e Espírito Santo. Em compensação, postula-se manutenção da cobrança de
royalties como compensação aos municípios da degradação ambiental inerente à mineração.
No que se refere à regulamentação da atividade extrativa, a restrição ao capital estrangeiro
que conta da Constituição foi inócua. Desta forma, uma eventual alteração desta norma
certamente não trará impactos benéficos ao setor. De todo modo, o setor deve ter liberdade para
criar joint-ventures, até porque é uma forma notória e eficaz de assegurar mercados cativos, a
nível internacional.
Em termos de infra-estrutura, duas questões são relevantes: melhorias na malha ferroviária
e a nova legislação portuária. No que tange à malha ferroviária, duas pequenas obras podem
propiciar alguns ganhos (ainda que não excepcionais) para o setor: a conclusão das obras da
Ferrovia do Aço (pátios de cruzamento, sistema de telecomunicações e sinalização) e o terceiro
trilho entre o Vale do Paraopeba e Belo Horizonte, ambas à cargo da RFFSA. No último caso,
embora possa-se facilitar a exportação de pequenos produtores, dificilmente mudará a
configuração de alta concentração do setor: afinal de contas, minério de ferro é uma atividade na
qual a competitividade é dada, em grande parte, pelas economias de escala. Embora necessários,
estes investimentos são de difícil concretização face às dificuldades financeiras da RFFSA, que
vêm, inclusive, afetando os serviços de manutenção das linhas.
Não se pode esquecer que a construção de 55 Km do Trecho Norte da Ferrovia do Aço,
que será bancado pela MBR, parece romper o último gargalo relevante existente de malha
ferroviária brasileira, para a exportação de minérios pelo setor. Isto somente ratifica a situação
impar do setor, a nível nacional.
A nova legislação portuária trouxe alguns benefícios adicionais, em termos de flexibilidade
de operações, uma vez que o setor trabalha fundamentalmente com terminais privados. Assim,
poderá trabalhar com cargas de terceiros, sem as restrições da antiga legislação. Quanto ao Porto
do Rio de Janeiro, principal gargalo do setor, inicialmente houve uma redução do Adicional da
Tarifa Portuária (de 50% para 40%), mas que não modificou a situação de custos elevados. A
solução, permitida pela nova Lei, é o arrendamento do terminal pelo setor privado que resolva
investir no porto, com a instalação de virador de vagões, por exemplo. Mesmo assim, o Porto
continuaria sendo estruturalmente problemático, em função do reduzido porte dos navios que
podem ser embarcados. A provável substituição deste porto pelo de Sepetiba certamente permitirá
a superação deste outro gargalo da exportação de minério de ferro brasileira.
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Ainda com o objetivo de incrementar a presença internacional da mineração brasileira, é
importante apoiar financeiramente as exportações dos pequenos mineradores. Para isso, é
necessário otimizar a atual infra-estrutura de transportes, visando, sobretudo, contornar os altos
custos de fretes ferroviários no corredor Estrada de Ferro Vitória-Minas/Porto de Tubarão e de
serviços portuários no corredor Ferrovia do Aço/Porto do Rio de Janeiro.
A efetivação de um terminal privativo, capitaneado pela Ferteco, em Sepetiba ou mesmo a
(remota) concretização do terceiro trilho entre o Vale do Paraopeba e Belo Horizonte, parecem
abrir meios para a exportação destes pequenos produtores. Mas, pelo menos no primeiro caso,
exigir-se-á investimentos em material rodante. O financiamento a esta aquisição deveria ser
fornecido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e repassado pelo Banco
de Desenvolvimento de Minas Gerais, uma vez que empresas de pequeno porte têm muitas
dificuldades em obter financiamento externo. Para atingir as escalas mínimas requeridas para
exportar poderá ser necessário uma centralização de capitais. Os recursos para esta mini-
reestruturação setorial, se necessários, deverão ser de pequena monta.
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4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Indicadores de competitividade na indústria de mineração de ferro são extremamente
complexos pelo fato do desempenho da atividade estar muito correlacionado às participações
acionárias, além da baixa complexidade tecnológica característica da indústria. Exemplo desta
última relação é o fato da CVRD, líder mundial na produção e exportação de minério de ferro,
estimar um gasto no período 1988/92 (II Plano Quinquenal de Tecnologia) apenas US$ 15
milhões com pesquisas tecnológicas com minério de ferro, isto é, 0,2% do faturamento com este
produto. Além disso, as diversidade das condições naturais de cada mina impõe uma restrição
adicional à utilização de indicadores.
Apesar destas particularidades, alguns quesitos parecem ser significativos para o setor:
a) participação no mercado internacional:
exportações brasileiras
_________________________
exportações totais de minério
b) nível de enobrecimento do produto:
market-share em US$
_________________________
market-share em toneladas
c) relevância da exportação de pelotas:
exportações de pelotas em toneladas
_______________________________
exportações totais de minério
d) produtividade técnica:
produção mina em toneladas
_________________________
homem.ano
e) produtividade econômica:
receita gerada em US$
_____________________
homem.ano
f) perdas de exploração:
quantidade de minério bruto produzido
_________________________________
redução correspondente nas reservas
109
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g) eficácia dos projetos:
data prevista para entrada em operação
__________________________________
data efetiva do início do projeto
h) consumo específico de eletricidade em pelotização:
consumo de eletricidade (Kwh)
___________________________
produção de pelotas
i) consumo específico de energia térmica em pelotização:
consumo de energia térmica (Mcal)
______________________________
produção de pelotas
j) índice de disponibilidade:
beneficiamento
________________
pelotização
l) índice de custo do controle ambiental:
dispêndio em controle ambiental
_____________________________
faturamento
m) produtividade do transporte ferroviário
tráfego ferroviário (em TKU)
_________________________
empregado/ano
n) eficiência energética no transporte ferroviário
tráfego ferroviário (em TKU)
_________________________
tonelada de combustível
Outros quesitos, embora significativos, são praticamente inviávies, pois se referem a
custos. Tendo em vista à alta concentração mundial do setor, e a forma anual de negociações de
preços, estes são de muito difícil acesso. Seriam relevantes: o custo de extração, o de
beneficiamento, o de transporte ferroviário e o portuário. Mesmo que se conheça estes valores
(ainda que aproximados) de cada empresa, a alta sensibilidade do mercado a eles, induz ao
procedimento de não mencioná-los, como foi o caso deste relatório.
110
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Material, Committee on Technology, 243-252;
112
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
MOURÃO, J.M. & SOUZA, R.P. (1986). Pelotas CVRD para Redução Direta. Conferência
Internacional de Tecnologia Siderúrgica nos Países em Desenvolvimento. Associação
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OLIVEIRA, L.F.Q. & GUIMARAES, M.A. (1986). A Indústria do Minério de Ferro em Minas
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PAIXÃO, J.M.J. & PINHEIRO, P. (1989). Technological Progress in Mining High Grade Iron
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PEREIRA, C. (1991). MBR: Minerar sem Degradar é o Grande Objetivo. Brasil Mineral, 9 (95):
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PICCOLO, A.L. (1992). Implantação do Sistema de Garantia da Qualidade/ISO 9000 na
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Qualidade/ISO 9000 na Indústria Siderúrgica de Aços Planos e Não-Planos. Associação
Brasileira de Metais, Juiz de Fora, 15-17/09/1992;
PINHEIRO, L.M.B. & M.A.B. GOES (1991). NBR 19000, um Caminho para a Competitividade.
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113
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
SANTOS, B.A. (1986). Recursos Minerais. ALMEIDA Jr., J.M.G. (org). Carajás: Desafio
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Geociências/Unicamp (Dissertação de Mestrado);
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New York, Paine Webber;
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ZUNIGA, E. (1991). Future Prospects for Hierro Peru & Its Privatization. 7th. Metal Bulletin's
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114
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RELAÇÃO DE TABELAS
TABELA 1
PRINCIPAIS EXPORTADORES DE MINÉRIO DE FERRO (1981/91)......................22
TABELA 2
PRINCIPAIS IMPORTADORES DE MINÉRIO DE FERRO (1981/91).......................23
TABELA 3
ESTIMATIVA DA CAPACIDADE MUNDIAL DE PRODUÇÃO
DE AÇO (1990/1995/2000)...........................................................................................24
TABELA 4
ESTIMATIVA DO MERCADO TRANSOCEÂNICO DE MINÉRIO DE
FERRO, POR PRODUTOS (1991/1995/2000)..............................................................26
TABELA 5
EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE PELOTAS (1986/91)..............................................27
TABELA 6
REDUÇÃO DA OPERAÇÃO DE MINAS DE FERRO (1991/93)................................27
TABELA 7
INVESTIMENTOS DO PROJETO FERRO CARAJÁS................................................29
TABELA 8
PRINCIPAIS PROJETOS DE EXPANSÃO DA INDÚSTRIA DE MINÉRIO DE
FERRO - AUSTRÁLIA.................................................................................................32
TABELA 9
CARACTERÍSTICAS DAS PRINCIPAIS MINERADORAS -
AMÉRICA DO SUL .....................................................................................................34
TABELA 10
CARACTERÍSTICAS DAS PRINCIPAIS MINERADORAS -
CANADÁ E SUÉCIA ...................................................................................................38
TABELA 11
CONTROLE ACIONÁRIO DA IOC.............................................................................39
TABELA 12
CARACTERISTICAS DAS PRINCIPAIS MINERADORAS - ÍNDIA E ÁFRICA.......41
TABELA 13
PREÇO DO FRETE PARA MINÉRIO DE FERRO - MÉDIA DO MERCADO
"CHARTER" - VIAGEM SIMPLES (1983/91).............................................................46
TABELA 14
EXPORTAÇÕES DE MINÉRIO DE FERRO, POR EMPRESAS -
BRASIL E AUSTRÁLIA (1990)...................................................................................48
TABELA 15
MIX DE PRODUÇÃO DAS INDUSTRIAS BRASILEIRA E AUSTRALIANA
DE MINÉRIO DE FERRO (1990) ................................................................................51
TABELA 16
GASTOS COM TREINAMENTO DE PESSOAL MINÉRIO DE FERRO -
BRASIL (1986/91)........................................................................................................54
TABELA 17
CORREDORES DE EXPORTAÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO
BRASILEIROS.............................................................................................................56
115
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TABELA 18
CORREDORES DE EXPORTAÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO
AUSTRALIANOS ........................................................................................................60
TABELA 19
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE MINERIO DE FERRO,
POR PORTOS (1988/92)..............................................................................................62
TABELA 20
PRINCIPAIS PORTOS BRASILEIROS - MINÉRIO DE FERRO................................63
TABELA 21
PORTOS BRASILEIROS E AUSTRALIANOS - MINÉRIO DE FERRO ....................67
TABELA 22
MINERADORAS DE FERRO BRASILEIRAS DE PORTE
MÉDIO E PEQUENO (1991) .......................................................................................69
TABELA 23
USINAS DE PELOTIZAÇÃO - DIVERSOS PAISES ..................................................73
TABELA 24
LOCALIZAÇÃO DAS USINAS DE PELOTIZAÇÃO..................................................77
TABELA 25
PREÇOS DE PELOTAS - MERCADO EUROPEU E JAPONÊS (1991)......................78
TABELA 26
DESEMPENHO OPERACIONAL - UNIDADES DE PELOTIZAÇÃO -
BRASIL E SUÉCIA......................................................................................................80
TABELA 27
PREVISÃO DE CERTIFICAÇÃO - ISO 9002 - MINERIO DE FERRO -
BRASIL........................................................................................................................82
TABELA 28
PREÇOS DE MINERIO FINO DA CVRD - MERCADO EUROPEU (1980/93)..........87
TABELA 29
CONSUMO DE MINÉRIO DE FERRO POR PROCESSO DE REDUÇÃO.................89
TABELA 30
GASTOS COM CONTROLE E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL - MINERIO
DE FERRO - BRASIL (1988/91)..................................................................................91
TABELA 31
PROGRAMA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA CVRD - GASTOS
ACUMULADOS ATÉ 1989..........................................................................................94
TABELA 32
CARGA TRIBUTÁRIA GLOBAL - SETOR MINÉRIO DE FERRO (1986/91)...........99
TABELA 33
GASTOS COM PESQUISA TECNOLÓGICA E MINERAL -
MINÉRIO DE FERRO - BRASIL (1986/91)...............................................................105
116
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ANEXO:
PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR
117
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PESQUISA DE CAMPO
ESTATÍSTICAS BÁSICAS
Setor Minério de Ferro
Amostra original: 6
Questionários recebidos: 4
1. Caracterização
1.1 Variáveis Básicas: valores totais em 1992
(US$ mil)
Faturamento 745.546
Investimento 309.465
Exportações 661.419
Emprego direto na produção (nº empregados) 5.768
2. Desempenho
2.1 Desempenho Econômico: evolução dos valores médios
(US$ mil)
1987-89 1992 Variação (%)
(1) (2) (2)/(1)
Faturamento 132.644 186.387 40,52
Margem de lucro (%) 28,82 25,24 -12,42
Endividamento (%) 20,98 24,51 16,83
Investimento n.d 77.366 n.d.
Exportações 115.553 165.355 43,10
Exportações/Faturamento (%) 87,12 88,72 1,84
Importações insumos-componentes 2.077 2.937 41,41
Importações insumos/Faturamento (%) 1,57 1,58 0,64
Importações de bens de capital 268 4.538 1593,28
Importações de bens de capital/Faturamento 0,20 2,43 1115,00
Utilização da capacidade (%) 95,13 93,84 -1,36
Emprego direto na produção (nº de empregados) 1.327 1.442 8,67
2.2 Principal Motivação do Investimento em Capital Fixo
(% de empresas)
1990-92 1993-95
Modernização 75,0 33,3
Ampliação 25,0 66,7
Ambos 0 0
Número de respondentes 4 3
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2.3 Desempenho Produtivo: evolução dos valores médios
Variável Unidade 1987-89 1992
Níveis hierárquicos 5,93 5,40
Prazo médio de produção dias 3,00 3,00
Prazo médio de entrega dias 20,00 20,00
Taxa de retrabalho % 1,00 1,00
Taxa de defeitos % 1,00 1,00
Taxa de rejeito de insumos % 1,58 0,77
Taxa de devolução de produtos % 0 0
Taxa de rotação de estoques dias 77,75 146,75
Paradas imprevistas dias 7,50 42,34
2.4 Atributos do Produto em 1992 em Relação a 1987-89
(% de empresas)
menor igual maior não respondeu
Nível de preços 25,0 0 75,0 0
Nível de custos de produção 0 25,0 75,0 0
Nível médio dos salários 0 25,0 75,0 0
Grau de aceitação da marca 0 50,0 25,0 25,0
Prazos de entrega 0 75,0 0 25,5
Tempo de desenvolvimento de novos
"modelos"/ especificações
25,0 25,0 0 50,0
Eficiência na assistência técnica 0 25,0 25,0 50,0
Conteúdo/ sofisticação tecnológica 0 0 75,5 25,5
Conformidade às especificações técnicas 0 75,0 25,5 0
Durabilidade 0 50,0 0 50,0
Atendimento a especificações de clientes 0 50,0 50,0 0
3. Capacitação
3.1 Grau de Formalização do Planejamento da Empresa
(% de empresas)
Não existe nenhuma estratégia formal ou informal 0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada informalmente 25,0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada periodicamente 50,0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada periodicamente com o
envolvimento dos diversos setores da empresa
25,0
Número de respondentes 4
119
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3.2 Fontes de Informação Utilizadas na Definição de Estratégias
(% de empresas)
Mídia em geral 25,0
Participação em atividades promovidas por associações de classe 0
Revistas especializadas 0
Feiras e congressos no país 25,0
Feiras e congressos no exterior 25,0
Visitas a outras empresas no país 75,0
Visitas a outras empresas no exterior 100,0
Universidades/ centros de pesquisa 0
Consultoria especializada 75,0
Banco de dados 25,0
Pesquisas proprias 100,0
Número de respondentes 4
3.3 Tecnologias/ Serviços Tecnológicos Adquiridos em 1991/1992
(nº de empresas)
Total no Brasil no exterior
Tecnologia de terceiros 1 1 0
Projeto básico 2 2 0
Projeto detalhado 2 2 0
Estudos de viabilidade 1 1 0
Testes e ensaios 1 1 0
Metrologia e normalização 1 1 0
Certificação de conformidade 0 0 0
Consultoria em Marketing 0 0 0
Consultoria gerencial 3 3 0
Consultoria em qualidade 3 3 0
Número de respondentes 3 3 0
3.4 Esforço Competitivo: Dispêndio nas variáveis/Faturamento
(%)
1987-89 1992
P & D 1,77 1,92
Engineering 2,22 3,24
Vendas 4,84 3,69
Assistência técnica 3,34 0,03
Treinamento de pessoal 0,05 0,14
3.5 Treinamento Sistemático
(nº de empresas)
Empresas que não realizam qualquer treinamento 0
Empresas que treinam 100% dos empregados na atividade:
Gerência 0
Profissionais técnicos 0
Trabalhadores qualificados 0
Operadores/ empregados 0
Número de respondentes 3
120
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3.6 Estrutura do Pessoal Ocupado em 1992
Distribuição
por atividade
Pessoal de nível
superior/total na
atividade
(%) (%)
P & D 0,75 17,65
Engenharia 1,04 32,22
Produção 57,39 6,99
Vendas 0,18 70,35
Assistência técnica 0 0
Manutenção 27,71 3,66
Administração 12,93 29,28
3.7 Idade de Produtos e Equipamentos
(nº de empresas)
até 5 anos 6 a 10 anos mais de 10
anos
total de
respondentes
Produto principal 0 1 3 4
Equipamento mais importante 1 2 1 4
3.8 Geração de Produtos e Equipamentos
(nº de empresas)
última penúltima anteriores não sabe total de
respondentes
Produto principal 1 1 0 1 3
Equipamento mais importante 1 3 0 0 4
3.9 Intensidade de Uso de Novas Tecnologias e Técnicas Organizacionais
(nº de empresas)
1987-89 1992
baixa média alta baixa média alta
Dispositivos microeletrônicos 2 2 0 1 3 0
Círculo de controle da qualidade 3 0 0 3 0 0
Controle estatístico de processo 3 0 0 2 1 0
Métodos de tempos e movimentos 3 0 0 3 0 0
Células de produção 3 0 0 3 0 0
Just in time interno 3 0 0 3 0 0
Just in time externo 3 0 0 3 0 0
Paticipação em just in time de clientes 3 0 0 3 0 0
Obs.: Para o uso de dispositivos microeletrônicos são consideradas empresas de baixa intensidade de uso
aquelas que os utilizam em até 10% das operações, média intensidade entre 11 e 50% e alta intensidade
acima de 50%. Para o uso de técnicas organizacionais são consideradas empresas de baixa intensidade
aquelas que envolvem até 10% do empregados ou das atividades, média intensidade entre 11 e 50% e alta
intensidade acima de 50%.
121
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3.10 Situação em Relação à ISO-9000
(nº de empresas)
Não conhece 0
Conhece e não pretende implantar 0
Realiza estudos visando a implantação 1
Recém iniciou a implantação 2
Está em fase adiantada de implantação 0
Já completou a implantação mas ainda não obteve certificado 0
Já obteve certificado 0
3.11 Controle de Qualidade na Produção
(nº de empresas)
1987-89 1992
Não realiza 0 0
Somente em produtos acabados 0 0
Em algumas etapas 0 0
Em etapas essenciais 3 3
Em todas as etapas 1 1
Número de respondentes 4 4
4. Estratégias
4.1Direção da Estratégia de Produto
(nº de empresas)
Direcionar exclusivamente para o mercado interno 0
Direcionar exclusivamente para o mercado externo 1
Direcionar para o mercado interno e externo 3
Número de respondentes 4
4.2 Estratégia de Produto
(nº de empresas)
mercado interno mercado externo
Baixo preço 1 0
Forte identificação com a marca 1 1
Pequeno prazo de entrega 1 1
Curto tempo de desenvolvimento de produtos 0 0
Elevada eficiência da assistência técnica 0 0
Elevado conteúdo/ sofisticação tecnológica 0 0
Elevada conformidade a especificações técnicas 2 1
Elevada durabilidade 0 0
Atendimento a especificações dos clientes 1 1
Não há estratégia definida 0 0
Número de respondentes 3 1
122
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4.3 Estratégia de Mercado Externo - Destino
(nº de empresas)
Mercosul 0
Outros países da América Latina 0
EUA e Canadá 0
CEE 1
Países do leste europeu 0
Japão 1
Não há estratégia definida 0
4.4 Motivação da Estratégia Atual
nº de empresas % de empresas
Retração do mercado interno 0 0
Avanço da abertura comercial no setor de produção da empresa 0 0
Avanço da abertura comercial nos setores compradores da empresa 0 0
Crescente dificuldade de acesso a mercados internacionais 1 25,0
Globalização dos mercados 1 25,0
Formação do Mercosul 0 0
Novas regulamentações públicas 1 25,0
Surgimento de novos produtos no mercado interno 0 0
Surgimento de novos produtores no mercado interno 0 0
Exigência dos consumidores 2 50,0
Elevação das tarifas de insumos básicos 0 0
Diretrizes dos programas governamentais 0 0
Número de respondentes 4 100,0
4.5 Estratégia de Compra de Insumos
(nº de empresas)
Menores preços 4
Menores prazos de entrega 0
Maior eficiência da assistência técnica 0
Maior conteúdo tecnológico 0
Maior conformidade às especificações técnicas 2
Maior durabilidade 1
Maior atendimento de especificações
particulares
1
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 4
4.6 Relações com Fornecedores
(nº de empresas)
Desenvolver programas conjuntos de P & D 1
Estabelecer cooperação para desenvolvimento de produtos e processos 3
Promover troca sistemática de informações sobre qualidade e desempenho dos produtos 3
Manter relacionamento comercial de LP com fornecedores fixos 3
Realizar compras de fornecedores certificados pela empresa 2
Realizar compras de fornecedores cadastrados pela empresa 3
Realizar compras de fornecedores que oferecem condições mais vantajosas a cada momento 4
Número de respondentes 4
123
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4.7 Estratégia de Financiamento dos Investimentos em Capital Fixo
(nº de empresas)
Recursos próprios gerados pela linha de produto 3
Recursos próprios gerados pelas outras áreas do grupo empresarial 2
Recorrer a crédito público 1
Recorrer a crédito privado interno 0
Recorrer a crédito externo 3
Recorrer a formas de associação 0
Captar recursos nos mercados internos de valores 0
Captar recursos nos mercados externos de valores 0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 4
4.8 Estratégia de Gestão de Recursos Humanos
(nº de empresas)
Oferecer garantias de estabilidade 0
Adotar política de estabilidade sem garantias formais 2
Não adotar políticas de estabilização 2
Promover a rotatividade 0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 4
4.9 Definição de Postos de Trabalho
(nº de empresas)
Definir postos de trabalho de forma estreita e rígida 0
Definir postos de trabalho de forma estreita mas incentivar os trabalhadores a
executarem tarefas fora da definição dada
0
Definir postos de trabalho de modo amplo visando alcançar polivalência 4
Não definir rigidamente os postos de trabalho de modo que a gama de tarefas varie
consideravelmente
0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 4
4.10 Estratégia de Produção
(nº de empresas)
Reduzir custo de estoques 2
Reduzir consumo/ aumentar rendimento das matérias-primas 2
Reduzir consumo/ aumentar rendimento energético 0
Reduzir necessidades de mão-de-obra 2
Promover desgargalamentos produtivos 1
Reduzir emissão de poluentes 0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 4
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