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Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE
DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
_____________________________________________________________________________________________
COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA SIDERÚRGICA
Nota Técnica Setorial
do Complexo Metal-Mecânico
O conteúdo deste documento é de
exclusiva responsabilidade da equipe
técnica do Consórcio. Não representa a
opinião do Governo Federal.
Campinas, 1993
Documento elaborado pelo consultor Germano Mendes de Paula (Universidade Federal de Uberlândia).
A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos
(FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para as Notas Técnicas Finais de síntese do Estudo.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE)
João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI)
Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)
Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE)
Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI)
Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE)
Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)
João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE)
Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)
David Kupfer (UFRJ-IEI)
Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI)
Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)
Contratado por:
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
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Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
COMISSÃO DE SUPERVISÃO
O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:
João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES)
Lourival Carmo Monaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)
Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES)
Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)
Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT)
Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)
Eduardo Gondin de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES)
Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE)
Guilherme Emrich (BIOBRAS) Renato Kasinsky (COFAP)
José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP)
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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SUMÁRIO
RESUMO EXECUTIVO............................................................................................................1
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................17
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE.........................................18
1.1. Evolução Recente do Mercado Mundial.........................................................................18
1.2. Estratégias Empresariais ................................................................................................23
1.3. Formas de Concorrência................................................................................................24
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA SIDERÚRGICA BRASILEIRA............................27
2.1. Diagnóstico da Competitividade - Custos da Siderurgia Brasileira..................................27
2.1.1. Custos totais de produção....................................................................................27
2.1.2. Salários e produtividade.......................................................................................30
2.1.3. Custos de materiais..............................................................................................39
2.1.4. Custos financeiros................................................................................................42
2.1.5. Custos de produção por instalação.......................................................................48
2.1.6. Custos portuários.................................................................................................49
2.1.7. Aços longos e especiais........................................................................................50
2.2. Diagnóstico da Competitividade - Desempenho Exportador...........................................52
2.3. Diagnóstico da Competitividade - Tecnologia, Gestão Empresarial e Relações
Trabalhistas ...................................................................................................................54
2.3.1. Capacitação Tecnológica .....................................................................................54
2.3.2. Gestão de Qualidade............................................................................................60
2.3.3. Relações Trabalhistas...........................................................................................65
2.4. Diagnóstico da Competitividade - Fatores Sistêmicos.....................................................69
2.4.1. Privatização.........................................................................................................70
2.4.2. Liberalização........................................................................................................77
2.4.3. Tributação ...........................................................................................................81
2.5. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade da Siderurgia Brasileira.........................82
2.5.1. Tendências tecnológicas e de mercado .................................................................82
2.5.2. A crise da siderurgia a carvão vegetal...................................................................85
2.5.3. Desenvolvimento tecnológico...............................................................................89
2.5.4. Mercosul..............................................................................................................92
2.5.5. Barreiras tarifárias e não-tarifárias........................................................................94
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS...........................................................................................98
3.1. Política de Reestruturação Setorial.................................................................................98
3.2. Políticas de Modernização Produtiva .............................................................................99
3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos..............................................................102
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE.......................................................................104
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................105
RELAÇÃO DE TABELAS E QUADROS..............................................................................110
ANEXO 1: EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DOS PRODUTOS SIDERÚRGICOS
PREÇO SPOT ANTUÉRPIA.............................................................................................113
ANEXO 2: RESENHA ESQUEMÁTICA SOBRE A COMPETITIVIDADE DA
INDÚSTRIA SIDERÚRGICA BRASILEIRA....................................................................114
ANEXO 3: PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR...........117
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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RESUMO EXECUTIVO
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE
1.1. Características Estruturais e Formas de Concorrência
A indústria siderúrgica mundial vem mantendo níveis estáveis de produção de aço bruto
desde meados da década de 70. Em nítido contraste com estagnação do nível de atividade,
verificou-se um intenso ritmo de progresso tecnológico, evidenciado, principalmente, pelas
inúmeras inovações voltadas para a melhoria do mix de produtos introduzidas no período. A fase
atual da indústria pode ser caracterizada como sendo de maturidade dual: estabilidade da demanda
combinada com um intenso esforço de renovação tecnológica.
Outro fato marcante ocorrido ao longo das décadas de 70 e 80 foi a crescente participação
dos países em desenvolvimento, inicialmente na produção e, posteriormente, na exportação de
aço. Em contrapartida, presenciou-se o fechamento de algumas usinas em países desenvolvidos,
em especial, nos Estados Unidos.
Desde 1989 presencia-se uma queda nominal (e, portanto, também real) dos preços do aço
no mercado mundial, muito em função da oferta adicional de produtos siderúrgicos proveniente
do Leste Europeu. Atualmente, o mercado mundial dos produtos siderúrgicos pode ser
caracterizado por:
. excesso de capacidade instalada e de produtos ofertados, que deve perdurar devido aos
elevados custos de saída;
. margens de lucro reduzidas nas exportações compensadas por preços mais elevados nas
vendas domésticas, face ao mercado protegido;
. proliferação de mecanismos para-tarifários de proteção à indústria nacional (como
acordos de restrição voluntária às exportações).
Os investimentos, a nível mundial, na década de 90 deverão concentrar-se no binômio
joint-venture & instalações de acabamento. Não se prevê o início de construção de grandes usinas
integradas a coque. Após o término da quarta etapa da usina de Kwangyang (Pohang Iron & Steel
Co. - Coréia do Sul), em 1992, a capacidade de produção de aço bruto (e não necessariamente de
laminados) deverá crescer a taxas marginais. Estimativa da World Steel Dynamics (novembro de
1991) para o período 1991/2000 aponta, no cenário mais otimista, um aumento da capacidade de
produção de aço bruto mundial de 9,7%, isto é, um crescimento anual de 1,03%. Neste cenário é
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mantida a tendência de deslocamento da produção de aço bruto dos países desenvolvidos para os
países em desenvolvimento. Entretanto, mesmo o incremento de produção previsto para estes
últimos países deverá ocorrer através da expansão das unidades já existentes, e não através da
instalação de novas usinas.
As economias de escala desempenham uma papel preponderante na siderurgia, em
especial, na produção de aços planos, fabricados, via de regra, em usinas integradas a coque. Os
desenvolvimentos tecnológicos recentes contemplam duas trajetórias interdependentes:
compactação (diminuição do número de etapas e de equipamentos necessários para a elaboração
do produto final) e automação (redução da influência da mão-de-obra no processo produtivo, com
a finalidade de diminuir custos do trabalho e obter maior flexibilidade do processo).
O mercado mundial de produtos siderúrgicos pode ser segmentado, grosso modo, em dois
pólos de concorrência.
1. Competição por preços: as vantagens competitivas são decorrentes dos baixos custos de
mão-de-obra e de materiais (especialmente, o minério de ferro) e do uso de equipamentos
relativamente atualizados para a produção de aços commodities -- é a forma de inserção da
siderurgia brasileira;
2. Competição por qualidade: as vantagens competitivas são baseadas na intensidade de
pesquisa e desenvolvimento, na alta capacidade de inovação tecnológica e na fabricação de aços
nobres -- é a forma de inserção das indústrias japonesa e alemã.
A siderurgia japonesa, conjuntamente com a alemã, exerce a liderança internacional da
indústria. O sucesso competitivo da indústria japonesa reside na excelência de sua pesquisa
industrial. Desprovida, internamente, dos principais insumos para a fabricação do aço (minério de
ferro e carvão mineral), a indústria japonesa é líder de mercado pela recorrente incorporação de
novas tecnologias. A siderurgia japonesa constitui, atualmente, a best-pratice da siderurgia
mundial. As estratégias de enobrecimento e diversificação são intensamente utilizadas pelas usinas
nipônicas (MONTEIRO, 1988: 2). A primeira é compatível com os seus esforços de pesquisa, a
segunda revela um esgotamento do potencial de crescimento da própria siderurgia frente ao
poderio financeiro das empresas.
Outra grande vantagem da indústria siderúrgica japonesa é o seu elevado grau de
concentração industrial. A produção das cinco grandes usinas japonesas é equivalente a das quinze
maiores usinas européias. Em termos de escala de equipamentos, embora menos acentuada, a
diferença ainda persiste: a capacidade média dos laminadores de tiras a quente no Japão é o dobro
da dos laminadores encontrados na siderurgia européia.
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1.2. Estratégias Empresariais
Face ao trinômio preços reduzidos-protecionismo elevado-tendência estagnacionista da
demanda, as principais estratégias adotadas pelas usinas siderúrgicas, em nível mundial, são:
. promoção de ajustes estruturais, com o fechamento de usinas obsoletas (em maior
intensidade nos EUA);
. adoção de política de enobrecimento de produtos, privilegiando a fabricação de aços
revestidos e especiais;
. diversificação de negócios, com a entrada em setores de novos materiais e engenharia;
. pressão para que os respectivos governos adotem práticas protecionistas.
Em função desse quadro geral da indústria, as estratégias de investimentos na década de
90 privilegiam a realização de joint-ventures, visando vencer as barreiras protecionistas; a
otimização da capacidade instalada em detrimento de novas usinas (greenfields); e a melhoria do
mix de produtos como, por exemplo, ampliação da produção de laminados, mesmo com a
manutenção da capacidade de fabricação de aço bruto.
1.3. Principais Fatores de Competitividade
Fatores Internos à Empresa
. custos reduzidos de mão-de-obra e materiais;
. capacidade de promover inovações de produtos;
. corpo técnico capacitado para promover melhorias tecnológicas otimizadoras e inovadoras;
. capacitação gerencial (adoção de programas de qualidade, baixa rotatividade da
administração superior, pouca permeabilidade à ingerência externa).
Fatores Estruturais
. possibilidade de diversificação e verticalização;
. alta escala de produção.
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Fatores sistêmicos
. baixos custos de transporte e portuários;
. acesso à infra-estrutura de transporte;
. acesso a fontes de financiamento de longo prazo;
. carga tributária adequada.
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2. COMPETITIVIDADE DA SIDERURGIA BRASILEIRA
2.1. Diagnóstico da Competitividade
Os três principais indicadores de competitividade da indústria siderúrgica mundial,
atualmente, são: i) custos da fabricação de bobinas laminadas a frio; ii) participação no mercado
internacional de produtos siderúrgicos; e iii) difusão de processos industriais e novos métodos de
gestão.
O custo de produção de bobinas laminadas a frio para dez países selecionados,
responsáveis por cerca de 50% da produção mundial em 1991, pode ser observado na tabela 1.
TABELA 1
CUSTO DE PRODUÇÃO DE BOBINAS LAMINADAS
A FRIO - PAÍSES SELECIONADOS
(1991)*
(US$/tonelada)
A B C# D E F
Reino Unido 123 156 185 464 26 490
Taiwan 77 150 186 414 79 493
Coréia do Sul 67 153 156 376 125 501
Estados Unidos 152 142 174 468 41 509
Austrália 135 134 193 462 56 518
Canadá 152 142 174 468 53 521
França 154 150 171 475 51 526
Brasil 82 150 186 418 130 548
Japão 145 141 189 475 90 565
Alemanha 179 162 190 531 55 586
Obs: * adotou-se a taxa de ocupação teórica de 90%
# inclui impostos municipais e estaduais
Legenda: A-custo salarial B-custo de matérias-primas C-custo de outros materiais D-custo operacional (A+B+C)
E-custo financeiro F-custo total (D+E)
Fonte: World Steel Dynamics (1992)
A siderurgia brasileira possui um dos menores custos operacionais da produção de aços
planos do mundo, em conseqüência dos reduzidos custos de mão-de-obra e de minério de ferro
(que, aliás, é de excelente qualidade).
O diferencial de custos salariais poderia ser maior, se a produtividade da mão-de-obra
brasileira não fosse uma das menores (senão, a menor) entre os grandes produtores mundiais de
aço. As razões para tal fato são correntemente atribuídas a três fatores: baixa incorporação de
automação industrial, menor terceirização em comparação com indústrias congêneres e "inchaço"
das empresas (tanto de pessoal administrativo, quanto produtivo).
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Dentre os fatores acima mencionados, é muito provável que a baixa incorporação de
automação industrial seja a principal responsável pela baixa produtividade da siderurgia brasileira.
Levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) em 1989 indica dados
alarmantes sobre a situação da difusão e intensidade do uso de automação no setor: a defasagem
da indústria brasileira em relação ao estado-da-arte mundial (Japão), no tocante à automação
industrial, era de 79%; a empresa brasileira melhor posicionada apresentava defasagem de 56%. O
reduzido volume de investimentos que tem marcado a siderurgia brasileira nos últimos anos, induz
a conclusão de que a defasagem na difusão de automação industrial deve ter aumentado desde
então.
Visando enfrentar a grande retração do consumo doméstico de aço dos últimos anos, a
maioria das empresas siderúrgicas brasileiras empreendeu um processo de racionalização de
custos. Esses esforços assumiram feição nitidamente defensiva: buscou-se diminuir desperdícios e,
fundamentalmente, reduzir o quadro de funcionários, sem a realização concomitante de
investimentos significativos em modernização e/ou ampliação.
O ajustamento de pessoal desencadeado pela siderurgia brasileira a partir de 1990 foi
significativo. O efetivo de pessoal em atividades siderúrgicas regrediu de 174 mil funcionários em
1989 para 110 mil em 1992. Apesar da drástica redução de pessoal, a produção de aço bruto
reduziu-se em apenas 4,8%.
O ajustamento do pessoal foi mais intenso nas usinas semi-integradas (à base de aciarias
elétricas), que diminuíram seu efetivo próprio em 39,7%, no período 1989/91. Com relação aos
quadros de pessoal, o ajuste recaiu, principalmente, sobre a mão-de-obra de terceiros -- em 1989,
ela representava 23,0% do efetivo total, enquanto em 1992, esta participação foi reduzida para
14,6% --, e sobre o pessoal da produção - redução de 24,6% no período 1989/91, contra 16,7%
do pessoal de administração.
No que se refere aos materiais, o Brasil apresenta grandes vantagens no custo do minério
de ferro e desvantagens no da sucata e, fundamentalmente, no de carvão mineral. Constata-se,
porém, uma trajetória declinante no diferencial do custo de utilização de carvão mineral no Brasil
em relação aos outros produtores mundiais.
Com relação ao rendimento integrado, que representa um indicador do grau de
aproveitamento de materiais ao longo do processo produtivo, a siderurgia brasileira apresenta
valor similar aos padrões europeus e norte-americanos, embora significativamente inferiores aos
japoneses e coreanos.
Os custos financeiros da siderurgia brasileira são, provavelmente, os mais altos da indústria
mundial. Isto decorre de dois fatores: recorrentes atrasos nas etapas de construção das usinas
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siderúrgicas e sobre-preço dos equipamentos (em função da elevada barreira não-tarifária à
importação dos mesmos e dos objetivos de nacionalização dos equipamentos, no caso específico
das empresas estatais). Os dados disponíveis, bem como as entrevistas realizadas, atestam a
preponderância do primeiro fator.
Por fim, cabe mencionar os impactos negativos trazidos pelos elevados custos portuários
brasileiros, que se encontram completamente fora dos padrões internacionais. Segundo dados de
1990 - antes dos impactos da nova legislação - esses custos eram cerca de 3 a 5 vezes superiores
aos praticados em portos europeus e norte-americanos.
No balanço final do comparativo de custos internacionais de produção verifica-se que a
posição brasileira é extremamente positiva nas etapas iniciais da produção (em especial, alto-
forno) e vai se tornando menos confortável a medida que se avança no processo de elaboração,
fato que ratifica a participação excepcional em produtos pouco nobres. Além disso, o problema
crucial no que diz respeito aos custos não é operacional: os juros fazem com que a siderurgia
brasileira tenha um dos maiores custos totais da amostra de países analisada.
A participação no mercado internacional é o segundo indicador de competitividade
analisado. A siderurgia brasileira foi originalmente planejada para atender ao mercado interno,
com a exceção da Cia. Siderúrgica de Tubarão, que foi concebida para atingir o mercado mundial
de placas. Entretanto, como a conclusão da implantação da Açominas e da expansão de outras
usinas coincidiram com a drástica retração do consumo doméstico, o setor siderúrgico passou a
direcionar parcelas crescentes da produção para o mercado internacional.
A entrada no mercado mundial foi bem-sucedida em termos de volume exportado:
atualmente, as exportações brasileiras equivalem a 9% do mercado mundial. Verifica-se, contudo,
que a inserção neste mercado acabou contigenciada à venda de produtos de baixo valor agregado:
enquanto a participação brasileira no mercado mundial de semi-acabados foi de cerca de 35%, em
média, no período 1988-1990, para aços galvanizados esse número foi pouco superior a 1%.
Apesar de ser a mais factível, a inserção brasileira no mercado internacional é
desconfortável em função de três fatores:
. a exportação foi uma saída emergencial para a crise doméstica e não um objetivo de
longo prazo;
. o crescimento das exportações brasileiras ocorreu num contexto internacional recessivo e
neste sentido é que deve ser entendido o acúmulo de ações anti-dumping e de direitos
compensatórios movidas contra a siderurgia brasileira;
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. a política anterior (de grande crescimento da produção) privilegiou metas quantitativas
em detrimento de metas qualitativas (em termos de melhorias acentuadas no mix de produção).
Atualmente, a grande contração do consumo doméstico inibe de modo vigoroso os
investimentos de modernização e de melhoria do mix de produtos; por seu turno, os preços do
mercado internacional não são suficientemente atraentes para estimular inversões (onerosas) nas
etapas de refino e, principalmente, laminação.
O terceiro indicador de competitividade na indústria siderúrgica é o grau de difusão de
processos industriais. Em termos sintéticos, a situação da siderurgia brasileira pode ser assim
resumida:
. a atualização tecnológica dos altos-fornos a coque e a carvão vegetal, assim como de
quase todos os equipamentos da etapa de redução, é bastante satisfatória;
. a siderurgia brasileira acompanhou a trajetória mundial no tocante a difusão de aciarias
modernas (conversor a oxigênio e forno elétrico a arco);
. a baixa difusão de lingotamento contínuo é a deficiência tecnológica mais notória da
siderurgia brasileira, sendo este processo muito importante para redução de custos através do
melhor aproveitamento do aço bruto;
. em termos de metalurgia de panela, constata-se um hiato tecnológico elevado em relação
ao Japão, especialmente no que se refere às unidades de desgaseificação a vácuo;
. a etapa de laminação brasileira não apresenta o mesmo grau de enobrecimento que outros
grandes produtores mundiais.
2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade
A situação da siderurgia brasileira é satisfatória em termos de custos operacionais. No
entanto, as trajetórias tecnológicas -- compactação e automação -- tendem a minorar as vantagens
competitivas da indústria brasileira, através da diminuição da importância dos custos dos insumos
básicos e da mão-de-obra. A dinâmica do setor privilegia cada vez mais, o produto em detrimento
do processo, a laminação em relação à etapa de redução, produtos diferenciados em comparação
com produtos básicos. De todo modo, as mudanças dificilmente serão abruptas, gerando um certo
tempo para adaptação dos produtores nacionais.
As tecnologias mais importantes em termos de compactação são as instalações de fusão-
redução e o lingotamento contínuo de seções mais finas. A primeira constitui-se num obstáculo,
pois contraria as vantagens competitivas da siderurgia brasileira (baixos salários e a excelência dos
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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equipamentos de redução), mas tende a apresentar uma difusão lenta até o final da década. O
lingotamento contínuo de seções mais finas constitui-se numa oportunidade, uma vez que permite
a reversão de duas das principais fragilidades da indústria siderúrgica brasileira: as deficiências
tecnológicas da laminação e a baixa difusão do lingotamento contínuo. Por outro lado, o
lingotamento contínuo de segunda geração reduz novamente a importância do custo do trabalho e
possibilita a fabricação de aços planos por mini-mills (mudando, desta maneira, a forma de
concorrência deste mercado). As grandes siderúrgicas integradas a coque, base da siderurgia
brasileira e mundial, podem perder sua competitividade. A desvantagem da siderurgia brasileira é
que cada vez mais se privilegia a proximidade do mercado, em detrimento da escala de produção.
A automação pode se transformar num instrumento de modernização da siderurgia
brasileira, permitindo reduzir o diferencial negativo de produtividade da indústria doméstica.
Um obstáculo peculiar ao Brasil é a crise do carvão vegetal: a partir de 1998, todos os
consumidores (industriais) deverão utilizar madeira reflorestada (de florestas próprias ou de
terceiros).
A Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira já trocou o carvão vegetal por coque nos seus dois
maiores alto-fornos, e a Acesita explicitamente analisa a possibilidade da conversão. Assim, a
particularidade brasileira de siderurgia a carvão vegetal está ameaçada.
A crise do carvão vegetal é mais sentida pelos produtores independentes de ferro-gusa:
uma atividade instável, e que muito provavelmente será reestruturada (mediante fechamento de
mais alto-fornos) face à implantação da legislação florestal. Até mesmo o emergente pólo guseiro
de Carajás mostra sinais de arrefecimento.
Com relação aos condicionantes estruturais e sistêmicos da competitividade, cabe ter
presente o papel ativo historicamente desempenhado pelo Estado na conformação do siderurgia
nacional. Pode-se resumir a política industrial atual para o setor em três medidas: a privatização, a
liberalização comercial e o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP).
Quanto à privatização, pode-se dividir o processo em duas fases: a reprivatização (retorno
à esfera da iniciativa privada de usinas anteriormente estatizadas) e a privatização (venda do
controle acionário das grandes siderúrgicas estatais).
O efeito mais importante da reprivatização foi aumentar o poder de mercado dos Grupos
Gerdau e Villares. Adicionalmente, o Gerdau conseguiu otimizar a produção de ferro-gusa para a
Cosigua (maior siderúrgica do Grupo), e o Villares teria promovido uma readequação de linhas de
produtos entre as suas quatro usinas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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O processo de privatização propriamente dito, que começou com a venda da Usiminas
(outubro de 1991), teve como características principais:
. a controvérsia sobre o valor e a forma de pagamento das empresas foi prioritária sobre a
discussão de como se promover uma reestruturação do setor via privatização;
. optou-se pela linha de menor resistência pública ao processo, em detrimento da
maximização da receita de venda das ações pelo Estado;
. a venda da Usiminas, na verdade uma exceção, foi utilizada como paradigma do
processo.
Não obstante, o processo de privatização trouxe várias conseqüências para o setor:
. aumento da produtividade através da drástica redução do efetivo (ajustes pré e pós-
privatização);
. redução das despesas financeiras, em função do saneamento financeiro pré-privatização e
acesso a fontes de financiamento novas e mais baratas;
. mudança do regime de preços, com a extinção do controle formal de preços, que
deprimiram por longo tempo os preços domésticos do aço;
. maior agilidade administrativa e o fim das restrições à diversificação de atividades;
. maior participação acionária dos trabalhadores e, a conseqüente adoção de uma postura
mais profit seeking;
. maior envolvimento da Cia. Vale do Rio Doce no setor: aumentando o escopo de
parcerias, mas dificultando as vendas das demais mineradoras.
A liberalização comercial foi benéfica à indústria, pois permitiu reduzir os custos de alguns
insumos, sem aumentar o nível das importações efetivas (atualmente, ao redor de 2% do consumo
doméstico). O setor também se beneficiou de outras medidas liberalizantes como a alteração da
legislação portuária, a extinção do CIF uniforme e a liberalização da importação de tecnologia.
O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP) teve pouca relevância para
as empresas siderúrgicas, que já vinham levando a cabo programas deste tipo. Em linhas gerais,
apesar da prioridade concedida aos programas de Qualidade e Produtividade, e da disseminação
em quase todas as empresas, a certificação pela IS0 9000 ainda é restrita a um número pequeno,
embora relevante, de empresas. De todo modo, o setor siderúrgico está numa situação mais
avançada do que as demais atividades industriais brasileiras.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
3.1. Política de Reestruturação Setorial
A siderurgia brasileira, em linhas gerais, conta com uma estrutura industrial compatível
com a dos demais produtores mundiais. A escala de produção é adequada. Poder-se-ia pensar
numa reestruturação industrial a partir da privatização, mas como já indicado, isto acabou não se
efetivando.
Em termos de estrutura industrial, três questões parecem relevantes: a indústria de gusa, a
situação da CST e da Açominas e o poder de mercado de grupos nacionais.
A indústria de gusa caracteriza-se por ser muito fragmentado, e apresenta resultados muito
insatisfatórios em termos do aproveitamento de energia. Este segmento poderá passar por um
processo de concentração inclusive, com a desativação de vários alto-fornos, em decorrência de
dois fatores:
. a incapacidade de atendimento à nova Legislação Florestal; e
. os investimentos (onerosos) necessários para aumentar o aproveitamento de energia,
através de injeção de finos de carvão, utilização de fornos mecanizados, verticalização, etc.
Os guseiros possivelmente terão uma sobrevida se os grandes produtores de aço a carvão
vegetal converterem seus alto-fornos para coque. Mas, para promover esta centralização de
capitais, o segmento deveria planejar sua reestruturação contando, inclusive, com acesso a
financiamentos do sistema BNDES.
CST e Açominas são exemplos atípicos na siderurgia mundial de produtores que fabricam
somente produtos semi-acabados. As ações dirigidas a estas empresas deveriam privilegiar o
enobrecimento da oferta, em detrimento do aumento da capacidade destas usinas.
Por outro lado, deve ser negado, de modo veemente, as recorrentes tentativas de
construção de novas usinas. A premissa central da política industrial deve ser a modernização, a
melhoria do mix de produtos do porque instalado , e não eventuais ampliações da produção de
aço bruto.
Uma última questão é o aumento do poder de mercado de grupos nacionais, decorrente do
processo de reprivatização, e que é, inclusive, o ponto nevrálgico da venda da Açominas. Postula-
se que a concentração é uma tendência mundial, e ao invés de tentar evitá-la, deve-se aplicar
legislação anti-truste e barreiras tarifárias reduzidas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3.2. Políticas de Modernização Produtiva
A estratégia básica que deve nortear o setor é a intensificação da automação dos
processos, para aumentar a produtividade.
Dois grandes obstáculos, aparentemente, já foram superados: a reserva de mercado para
informática, que elevava os preços dos equipamentos demasiadamente, e a restrição de empresas
estatais em obterem financiamento no sistema BNDES, uma vez que elas estão sendo privatizadas.
Para estimular estes investimentos, três ações parecem ser fundamentais:
. atividades de conscientização e reciclagem de trabalhadores e engenheiros, a cargo dos
Ministérios da Indústria e Comércio, Ciência e Tecnologia e de órgãos setoriais como o IBS;
. políticas de normalização: a expansão do Sistema de Qualificação de Fornecedores do IBS;
. incentivos financeiros e fiscais (depreciação acelerada dos equipamentos de automação
industrial).
Além da maior automação, os incentivos à modernização devem priorizar a reversão da
fragilidade tecnológica dos processos de lingotamento e laminação, haja vista a grande defasagem
apresentada por essas etapas.
3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
A melhoria do desempenho produtivo da siderurgia brasileira e a modernização
empresarial e tecnológica depende do crescimento do mercado doméstico. Nos anos de 1986-7, o
consumo doméstico de aço foi de 12,7 milhões de toneladas anuais; em 1992, ele tinha involuído
para 8,4 milhões de toneladas (queda de 33,5%). A racionalidade econômica rejeita investimentos,
no contexto de um mercado doméstico declinante (onde efetivamente há margem de contribuição)
e um mercado internacional estável (onde se praticam preços marginais). Neste contexto perverso,
outras medidas de política industrial pouco têm a contribuir.
Todavia, elas podem ser enumeradas. A primeira é facilitar os esforços de enobrecimento
de produtos. Uma das poucas medidas factíveis é desagregar Tarifa Aduaneira Brasileira, que
concede proteção igual a produtos muito diferenciados em termos de valor agregado. Postula-se a
adoção mais enfática do princípio de escalonamento tarifário.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Para evitar que a tendência da concentração se transforme num foco de ineficiência, é
necessário aumentar a contestabilidade dos mercados, através de políticas de defesa da
concorrência e da fixação de tarifas aduaneiras muito reduzidas para mercados concentrados e de
baixo valor agregado.
Para garantir uma rentabilidade mínima ao setor, requer-se também que o setor não sofra,
como no passado, controles de preços sob o argumento da importância do aço na formação de
preços da economia.
Finalmente é necessário aumentar a eficiência da infraestrutura de transportes,
especialmente a portuária, através da implementação da legislação recentemente aprovada.
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3.4. Proposição de Políticas para Siderurgia - Quadro Sinótico
AGENTE/ATOR
OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA
EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD
1. Reestruturação Setorial
Objetivo: Consolidação de grandes grupos
siderúrgicos competitivos
Ações: - não dificultar a concentração
industrial X X X X
- dar continuidade ao programa de
privatização X
- implementar a legislação de defesa
da concorrência X X
- baixar tarifas para mercados concen-
trados e de baixo valor agregado X
Objetivo: Promoção da concentração do setor
guseiro
Ações: - operacionalizar Legislação Florestal X X X
- definir programas de desativação de
plantas guseiras X X X X
- incentivar "produtividade florestal X X X
2. Modernização Produtiva
Objetivo: Consolidação e Otimização da capacidade
produtiva existente
Ações: - definir programas de investimento X X X X
- aumentar a intensidade de utilização
de automação industrial X X X
- induzir o investimento tecnológico
no lingotamento e na laminação X X X
- definir e implementar programas de
normalização e certificação X X X X X X
- definir e implementar programas de
conscientização e reciclagem profis-
sional X X X X
- enobrecer "mix" de produtos X X
- intensificação da pesquisa de pro-
dutos nas empresas, universidades e
centros de pesquisa X X X X
- elevação de gastos com treinamento
de pessoal X X X X
- ampliar escopo dos programas de
qualidade (além da produção) X X X X
- fortalecer o PQS/IBS X X X
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AGENTE/ATOR
OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA
EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD
3. Fatores Sistêmicos
Objetivo: Promoção da competitividade industrial
Ações: - revisar e desagregar a Tarifa
Aduaneira Brasileira X
- fortalecer a capacidade das agências
públicas implementarem a legislação
regulatória da concorrência X
- não controlar administrativamente os
preços como parte de uma política
anti-inflacionária X X
Objetivo: Aumento da eficiência da infraestrutura
de transportes
Ação: - implementar a nova legislação
portuária X X X
Legendas: EXEC - Executivo
LEG - Legislativo
EMP - Empresas e Entidades Empresariais
TRAB - Trabalhadores e Sindicatos
ASSOC - Associações Civis
ACAD - Academia
Nota: Em caso de coluna em branco, leia-se "sem recomendação".
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Finalmente, com relação a indicadores de produtividade, no caso siderúrgico deve-se
privilegiar variáveis técnicas, na medida em que indicadores de desempenho "comercial" são muito
enganosos, uma vez que o comércio internacional é muito administrado (alta incidência de
barreiras não-tarifárias). O mix
de produtos é, inclusive, do conhecimento do Instituto Brasileiro de Siderurgia, mas não é
divulgado por empresa separadamente. Alguns indicadores de eficiência técnica são bastante
conhecidos, como Coke Rate (kg coque/tonelada gusa) e índice de geração interna de sucata.
Outros, porém, embora possam ser determinados, não são de conhecimento público. Neste
sentido, cabe acompanhar e divulgar tais indicadores por empresas, tais como:
1. rendimento coque alto-forno/coque bruto (%)
2. rendimento sínter alto-forno/sínter produto (%)
3. Fuel Rate (kg óleo combustível + coque/tonelada gusa)
4. rendimento metálico (%)
5. Tap to Tap (tempo de corrida em minutos)
6. consumo específico de energia de fornos elétricos a arco (kwh/t)
7. difusão de lingotamento contínuo
8. seqüenciamento do lingotamento contínuo (número de corridas/parada da máquina)
9. difusão de metalurgia de panela
10. rendimentos da laminação: chapas grossas/placas e bobinas laminadas a quente/placas
11. rendimentos de revestimento: aprovação de zincagem e estanhagem
12. índices de utilização dos equipamentos e de paradas não programadas
13. consumo específico de energia em todas as etapas do processo siderúrgico
14. reaproveitamento de gases próprios: de coqueria, de alto-forno, de forno elétrico de
redução
15. reciclagem de resíduos: escórias, pós e lamas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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APRESENTAÇÃO
O presente documento técnico apresenta a Nota Técnica Setorial de um dos estudos que
compõem o projeto "Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira", referente ao contrato
entre a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Secretaria de Ciência e Tecnologia da
Presidência da República (SCT-PR) e a Fundação Economia de Campinas (FECAMP),
coordenado pelo Prof. Dr. Luciano G. Coutinho, do Instituto de Economia da UNICAMP, e pelo
Prof. Dr. João Carlos Ferraz, do Instituto de Economia Industrial da UFRJ.
Para a elaboração do trabalho, além das referências bibliográficas citadas ao final do
documento, foram relizadas entrevistas junto aos seguintes especialistas e empresas/instituições, a
quem o autor agradece a valiosa contribuição: Carlos Luiz de Miranda Mourão e Antônio
Maurício Ribeiro da Usiminas; Edézio Quintal de Oliveira da CSN; Horacídio Leal Barbosa Filho
e Olev Valetin Saukas da Cosipa; José Armando Campos, Benjamin Baptista Filho e Robson de
Almeida Melo e Silva da CST; Luiz Eugênio Mata Machado Soares Coelho, Omar de Oliveira
Fantoni e Dennis de Oliveira Ayres da Açominas; Antônio José Polanczyk da Cia Belgo-Mineira;
Wander Paulo Jeveaux e Sérgio Araújo Teixeira da Acesita; Marco António Castello Branco da
Mannesmann; Luiz Morsoletto da Siderúrgica Pains; Francisco Caprino Neto da Siderúrgica
Aliperti; Domingos Matias Urroz Lopes da Cosigua (Gerdau); Ivan Falleiros da Aços Villares;
Antônio Cláudio Rodrigues da Dedini; Vicente Mazzarella (Instituto de Pesquisas Tecnológicas);
Tereza Cristina Aquino (BNDES); Alceu de Castro Parreiras, Márcio Moreira e José Fortunato
Mendes (INDI); Luiz Eduardo Furiati Lopes (Sindifer); e Luiz Alberto Carvalho e José Eustáquio
Souza Ribeiro (BDMG). Foram consultados, ainda, os dados existentes no Centro de Informações
Siderúrgicas do Instituto Brasileiro de Siderurgia; no Centro de Informações Metalúrgicas da
Associação Brasileira de Metais e Metalurgia e do Centro de Informações Técnicas da Usiminas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE
1.1. Evolução Recente do Mercado Mundial
Desde meados da década de 70, a indústria siderúrgica mundial vem mantendo um nível de
produção de aço bruto estável em torno de 700 milhões de toneladas (Tabela 1). Apesar da certa
estabilidade do nível de produção, constata-se algumas importantes alterações no perfil dos
produtores, com a crescente participação dos países em desenvolvimento, capitaneados por
Coréia do Sul e Brasil. Por outro lado, alguns países desenvolvidos, especialmente os Estados
Unidos e, em menor grau, o Reino Unido, apresentaram uma redução acentuada do volume
produzido.
TABELA 1
PRODUÇÃO MUNDIAL DE AÇO BRUTO
(1973/91)
(milhões de toneladas)
1973 1978 1983 1988 1991
Países Industrializados 455 421 344 391 380
Japão 119 102 97 106 110
Estados Unidos 136 124 77 91 79
Alemanha Ocidental 49 41 36 41 42
França 25 23 18 19 18
Itália 21 24 22 24 25
Reino Unido 27 20 15 19 16
Países em Desenvolvimento 30 46 61 95 105
Coréia do Sul 4 5 12 19 26
Brasil 7 12 15 25 23
Taiwan 0 3 5 8 11
Países de Economia Planificada 207 248 256 290 243
URSS 131 151 152 163 133
China 25 32 40 59 70
Total 692 715 661 776 728
Fonte: International Iron and Steel Institute (IISI)
Outro fato marcante ao longo das décadas de 70 e 80 foi a crescente participação dos
países em desenvolvimento também na exportação de aço. Em 1970, por exemplo, os países em
desenvolvimento exportaram apenas 2,5 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos (3% do
mercado mundial), sendo que em 1990, este valor já havia evoluído para 27,3 milhões de
toneladas (16% do mercado mundial). Todavia, os países em desenvolvimento, no seu conjunto,
continuam sendo importadores líquidos de produtos siderúrgicos.
Ao se desagregar as exportações dos países em desenvolvimento, constata-se que elas são
muito concentradas nas vendas brasileiras e sul-coreanas. Em 1990, por exemplo, estes dois países
responderam a 59% das exportações totais dos países em desenvolvimento.
19
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Na verdade, a siderurgia vem apresentando diminuição da produção de aço bruto, no
passado recente. O ano de 1989 representou o encerramento de um período de recuperação desta
indústria, quando se atingiu a produção de 786 milhões de toneladas de aço bruto. No período
1990/92 houve uma queda de 10,1% da produção mundial, sendo a retração mais pronunciada em
1991 (diminuição de 4,6%). Em 1992, Japão e Alemanha apresentaram resultados bastante
insatisfatórios, que culminaram na redução da produção de aço bruto, respectivamente, em 11,7%
e 6,0% nesses países.
Grande parte da queda recente da produção mundial deve ser atribuída à desestruturação
das economias do Leste Europeu. Nestes países, verificou-se uma redução muito acentuada da
produção e, principalmente, do consumo aparente de aço. Um indicador sintético desta redução é
a evolução da importância relativa destes países na produção mundial: em 1987, sua participação
era de 31%, ao passo que em 1991 já havia involuído para 23%1. Os dados sobre a evolução do
consumo aparente apresenta três casos críticos: na antiga Alemanha Oriental, na Bulgária e na
Polônia, o consumo aparente em 1991 era equivalente a apenas 40% do nível atingido em 1987.
Alguns fatores, segundo ECE/ONU (1992: 11-30), teriam alto valor explicativo para a
retração da atividade econômica em tais países (e o conseqüente impacto sobre a produção e o
consumo aparente de aço):
a) as políticas fiscais e monetárias rígidas, decorrentes dos programas de estabilização da
economia, que teriam sido mais importantes para Tchecosvoláquia, Hungria e Polônia, exatamente
os países que mais aceleraram o processo de transição de uma economia controlada pelo Estado
para uma economia de mercado;
b) a falta de insumos básicos de produção (inclusive eletricidade), em função do colapso
do planejamento estatal ter sido mais rápido do que a criação e o funcionamento de estruturas de
mercado (Romênia e Bulgária), e dos problemas de greves e desequilíbrios na oferta de produtos
inter-setorial e intra-repúblicas (URSS/CEI)2
,
3;
1 No ano de 1992, face a manutenção da trajetória de queda da produção, esta participação declinou ainda mais
para 20%. A diminuição da produção da ex-URSS em 19%, que tinha sido relativamente pouco afetada, foi o maior
fator explicativo para isto.
2 Segundo ECE/ONU (1992: 34), no ano de 1991, a URSS/CEI teve uma queda de suprimento de carvão mineral
de 15 milhões de toneladas (em função de greves) e de 8 milhões de toneladas de sucata, o que implicou numa
redução da produção de aço em 15 milhões de toneladas. Neste mesmo ano, na Rússia, foram paralizados 26 dos 63
altos-fornos existentes por falta de carvão. Em março de 1991, seis altos-fornos do sul da Ucrânia também foram
paralizados em conseqüência da escassez de coque, provocada pela greve de mineiros (GAZETA MERCANTIL,
14/03/91: 14).
3 Um exemplo das dificuldades geradas pela separação das repúblicas da antiga URSS para o siderurgia decorre do
fato de que as siderúrgicas estão predominantemente instaladas na Rússia e na Ucrânia, enquanto a produção de
ferro-ligas concentra-se no Kasaquistão.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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c) a incerteza derivada do período de transição envolvendo grandes tranformações
econômicas e a eclosão de movimentos separatistas (luta por autonomia das repúblicas), que
implicou na cisão da Tchescolováquia e na criação da Comunidade de Estados Independentes;
d) a conversão da indústria bélica (uma atividade notavelmente intensiva em aço) para a
produção de bens civis, que afetaram mais intensamente a Tchecoslováquia e a URSS/CEI;
e) a ruptura do comércio intra-Bloco Comunista (o chamado COMECON), baseado no
rublo conversível, a preços via de regra subsidiados, que afetou principalmente a Bulgária (o país
do Leste Europeu mais dependente em termos de comércio exterior da URSS/CEI)4.
A desestruturação das economias do Leste Europeu, a partir de 1989, implicou um
aumento adicional de oferta de aço no mercado internacional. Muito em função disso, os preços
internacionais estão acentuadamente deprimidos. Comparando os preços spot praticados na Bolsa
de Bruxelas em maio de 1993 com os de abril de 19895 verificam-se quedas de 25,9% para
vergalhões, de 53,4% para bobinas laminadas a quente, de 46,7% para bobinas laminadas a frio e
de 61,1% para chapas galvanizadas (ver Anexo 1). A redução de preços afetou mais
vigorosamente os produtos de maior valor agregado. Embora os preços possam se recuperar no
futuro, espera-se pela manutenção do excesso de oferta no mercado mundial de aço ao longo de
toda a década de 90.
A tendência mais provável é que esta trajetória de estagnação do volume da produção se
mantenha ao longo da década de 90. A Tabela 2 apresenta dois cenários, elaborados pela revista
norte-americana World Steel Dynamics, de novembro de 1991, acerca da capacidade instalada de
produção de aço bruto. Estes cenários foram intitulados Low Forecast (estimativa pessimista) e
Medium Forecast (previsão otimista). As três datas cruciais são 1990, 1995 e, finalmente, 2000.
4 Na verdade, isto correspondeu a um choque externo para os importadores de insumos básicos (inclusive
energéticos) da URSS/CEI, na medida que findaram-se os subsídios, ao mesmo tempo que representou uma
melhoria nos termos de intercâmbio para este último.
5 Os meses de abril e maio de 1989 marcam a reversão de um período de elevação de preços, que se presenciava
desde 1985. Esta trajetória de queda de preços nominais do aço perdurou até dezembro de 1992, tendo se
recuperado lentamente desde então.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 2
ESTIMATIVA DA CAPACIDADE MUNDIAL DE PRODUÇÃO DE AÇO
(1990/1995/2000)
(milhões de toneladas de aço bruto)
Low Medium
1990 1995 2000 1995 2000
Japão 140 132 132 132 132
Estados Unidos 111 102 101 106 106
Alemanha 46 49 48 51 49
CEE 174 171 167 176 171
Mundo Desenvolvido 484 469 466 483 478
America Latina 57 58 60 70 71
Africa 17 19 22 23 24
Oriente Médio 9 15 18 19 23
Sudoeste Asiático 40 51 59 57 72
CEI 188 186 186 192 192
China 68 76 80 88 92
TOTAL MUNDIAL 975 974 993 1045 1069
Fonte: World Steel Dymanics (1991)
A análise da Tabela 2 reitera alguns dos pontos recorrentemente ressaltados na literatura
sobre o assunto, destacando-se:
a) a estagnação da capacidade de produção nos países desenvolvidos: pelo cenário mais
otimista, no ano 2000 haveria ligeira diminuição desta capacidade (6 milhões de toneladas/ano,
isto é, 1,25% do parque)6;
b) em ambos cenários, o aumento da capacidade instalada deverá recair sobre os países do
sudeste asiático e China: na trajetória mais pessimista, no sudeste asiático e na China,
respectivamente, a capacidade instalada aumentaria em 47,5% e 17,65% nestes dez anos7;
c) dentro os países do sudeste asiático, as maiores taxas de crescimento deverão ser da
Indonésia, Filipinas e Tailândia;
d) na América Latina, as previsões são muito díspares, entre os dois cenários: crescimento
praticamente nulo pelo mais pessimista (adição de 3 milhões de toneladas anuais), ou muito
significativo pelo mais otimista (acréscimo de 14 milhões de toneladas anuais);
e) apesar da relocalização da produção de aço bruto dos países desenvolvidos para os em
desenvolvimento, a capacidade mundial de aço deve permanecer estável: aumento de 1,85%,
comparando-se o ano 2000 com 1990 (low forecast) ou 9,64% (medium forecast).
6 METALDATA (1992: 17) assevera que a redução da capacidade de produção de aço deverá afetar
principalmente Japão e Alemanha.
7 Estes países representam, atualmente, os mercados siderúrgicos mais dinâmicos do mundo, o que acaba por
exigir importações, apesar dos investimentos efetuados para o aumento da produção. Em contrapartida, os EUA,
outro importante mercado importador, apresenta uma trajetória de declínio de suas importações.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Portanto, é muito provável que a produção mundial de aço bruto permaneça estagnada,
embora apresentando alterações na ordem de importância dos produtores, face aos investimentos
verificados nos países em desenvolvimento. Entretanto, mesmo este incremento da produção
nestes últimos países deverá ocorrer através da expansão das usinas existentes, e não através da
instalação de novas usinas. HOLSCHUH (1990: 25) ratifica aquela noção, ao indicar que o
consumo mundial aparente de aço, em 1995, deve aumentar apenas 0,39%, em comparação à
demanda estimada para 1990. Numa situação anormal de pico de demanda, este percentual
poderia atingir somente 6,29%.
Em nítido contraste com a estagnação do nível de atividade, verificou-se um intenso ritmo
do progresso tecnológico. A evolução técnica consubstanciou-se, principalmente, na introdução
de inúmeras inovações, que visavam melhorar o mix de produtos, aumentar a flexibilidade dos
processos produtivos e melhorar o aproveitamento dos materiais. No que se refere ao último
objetivo, a evolução do rendimento operacional de tiras a quente (produtos laminados a
quente/aço bruto) é um bom indicador desta evolução (Tabela 3). Por exemplo, no Japão, para
produzir uma tonelada de produto final em 1990 necessitava-se de 17,6% a menos de aço bruto
em comparação com 19708.
Há uma extensa literatura acerca da concorrência do aço com outros metais. De um modo
geral, as análise mais recentes acentuam a vertente de que o "o aço é o maior concorrente do
aço". Em que pese a substituição do aço pelo alumínio (especialmente nos setores automobilístico
e embalagem) e plásticos (embalagens, produção de utensílios domésticos, móveis de escritórios e
maquinárias) ou mesmo materiais compósitos, a noção predominante é de que o enobrecimento
do mix dos produtos siderúrgicos e a mudança dos fatores chaves do novo paradigma técnico-
econômico9 são mais significativos que aquela substituição.
RICO VICENTE (1992: 12) exemplifica o enobrecimento do mix dos produtos
siderúrgicos na indústria automobilística norte-americana. Em 1976, o peso médio do automóvel
americano era de 1.708 kg, sendo 1.035 kg de aço (61%). Em 1990, o peso médio reduziu para
1.427 kg, sendo 780 kg de aço (55%). Ou seja, embora tenha se reduzido o consumo específico
do aço, ele não foi tão mais forte do que o verificado com os demais insumos. Na verdade, estes
números exageram a queda da importância relativa dos produtos siderúrgicos. Ao se considerar
que a natureza do aço empregado é de melhor qualidade (com menor peso expecífico), o
diagnóstico não seria desvantajoso. Em 1976, 91% do aço empregado no automóvel era comum;
8 A URSS, por sua vez, contrariou a tendência dos outros grandes produtores em elevar significativamente os seu
rendimento operacional do laminador de tiras a quente. Isto é indicador da defasagem que caracteriza toda a
indústria siderúrgica do Leste Europeu.
9 Este segundo fator é mensurado através da redução da intensidade do consumo de aço em
relação ao PIB. Diga-se de passagem, atualmente a demanda de aço é muito mais correlacionada
com o volume de investimentos do que com o PIB.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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em 1990, este percentual involuiu para 82%. Em compensação, a participação dos aços de alta
resitência saltou de 5% para 14%, e a dos inoxidáveis de 1% para 2%.
Em suma, pode-se caracterizar o momento atual da indústria como sendo um estágio de
maturidade dual: estabilidade da demanda combinada com um grande esforço de renovação
tecnológica.
TABELA 3
RENDIMENTO OPERACIONAL DO LAMINADOR
DE TIRAS A QUENTE - PAÍSES SELECIONADOS
(1970/90)
(produtos laminados a quente/aço bruto)
1970 1975 1982 1984 1987 1990
URSS 70,9 71,0 70,8 69,6 71,7 72,4
Japão 81,6 84,3 92,5 93,8 95,4 96,0
Estados Unidos 69,1 68,5 84,5 80,6 - -
Alemanha 80,0 81,6 87,0 88,2 92,3 -
Brasil10 - - - - 90,1 91,1
França 78,8 81,6 94,6 91,2 95,4 -
Reino Unido 78,3 77,1 85,2 83,6 - -
Fonte: ECE/ONU apud METALDATA (1992) e estimativa do autor para o Brasil com dados
desagregados da Cia.Siderúrgica Nacional, Usiminas e Cosipa, divulgados em WORLD
BANK (1992: 85).
1.2. Estratégias Empresariais
Face ao trinômio preços reduzidos-protecionismo elevado-tendência estagnacionista da
demanda, as principais estratégias adotadas pelas usinas siderúrgicas, em nível mundial, são:
a) promoção de adaptações produtivas estruturais, mediante o fechamento de usinas
obsoletas, bem como fusões e incorporações;
b) adoção de uma política de enobrecimento de produtos, como o aumento da fabricação
de aços revestidos e especiais, buscando incrementar o faturamento por quantidade de aço
vendida;
c) diversificação dos negócios, com a entrada nos setores de novos materiais e engenharia;
d) pressão sobre os respectivos governos para a adoção de práticas protecionistas,
principalmente, através de barreiras não-tarifárias, como os acordos de restrição voluntária às
exportações.
10 Os valores individuais para as usinas siderúrgicas brasileiras no ano de 1990 foram de: Cia. Siderúrgica
Nacional (93,3%), Usiminas (92,1%) e Cosipa (87,9%).
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Os acordos de restrição voluntária às exportações são um sistema de imposição de cotas,
geralmente atrelado ao consumo doméstico do país importador. Para transpor estas restrições ao
comércio, os grandes produtores mundiais (japoneses, e em menor grau, europeus e sul-coreanos)
constituíram joint-ventures, particularmente, dentro do mercado norte-americano11. Estas
instalações são muito diferentes das associações que ocorreram no passado. Grosso modo,
atualmente, as joint-ventures privilegiam as unidades de acabamento (finishing facilities)12 e
visam o fornecimento local a um mercado protegido por barreiras não-tarifárias; no passado,
buscava-se a instalação de usinas integradas, até porque o objetivo era a venda de equipamentos e
de tecnologia (OCHI, 1991: 62)13.
Os investimentos, a nível mundial, na década de 90 deverão concentrar-se no binômio
joint-venture & instalações de acabamento. Não se prevê o início de construção de grandes usinas
integradas a coque. Após o término da quarta etapa da usina de Kwangyang (Pohang Iron & Steel
Co. - Coréia do Sul), em 1992, a capacidade de produção de aço bruto (e não necessariamente de
laminados) deverá crescer a taxas marginais. Assim, os investimentos tendem a privilegiar a
modernização e a otimização das usinas já instaladas em detrimento da expansão da capacidade
produtiva (greenfields) e a melhoria do mix de produtos como, por exemplo, ampliação da
produção de laminados, mesmo com a manutenção da capacidade de fabricação de aço bruto.
1.3. Formas de Concorrência
As economias de escala desempenham uma papel preponderante na siderurgia, em
especial, na produção de aços planos, fabricados, via de regra, em usinas integradas a coque. Os
desenvolvimentos tecnológicos recentes contemplam duas trajetórias interdependentes:
compactação (diminuição do número de etapas e de equipamentos necessários para a elaboração
do produto final) e automação (redução da influência da mão-de-obra no processo produtivo, com
a finalidade de diminuir custos do trabalho e obter maior flexibilidade do processo).
11 Como bem observa SILVA (1992: 489), a tendéncia atual é no sentido da formação de estruturas multinacionais
privadas; em detrimento da organização tradicional (usinas de capital nacional).
12 As unidades de acabamento contemplam, fundamentalmente, a etapa de laminação e revestimento. As tarefas
metalúrgaicas desempenhadas são, por exemplo, a transformação de placas em bobinas laminadas a quente ou a de
bobinas laminadas a frio em chapas galvanizadas ou folha-de-flandes. A implantação destas unidades de
acabamento não requer, em princípio, aumento da capacidade instalada de aço bruto, e podem ser ou não
construídas em usinas já em operação. No caso brasileiro, a linha de eletrogalvanizados da Usiminas, em vias de
inauguração, se encaixa neste conceito.
13 A Usiminas e a Cia. Siderúrgica de Tubarão (CST) podem ser enquadradas nesta segunda forma de associação.
Como o objetivo é agora transpor barreiras protecionistas e não mais vender equipamentos, era de se esperar que a
Nippon Usiminas (no caso da Usiminas) e Kawasaki Steel e Ilva/Finsider (no caso da CST) não aumentassem suas
participações acionárias, no processo de privatização destas empresas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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O mercado mundial de produtos siderúrgicos pode ser segmentado, grosso modo, em dois
pólos de concorrência.
1. Competição por preços: as vantagens competitivas são decorrentes dos baixos custos de
mão-de-obra e de materiais (especialmente, o minério de ferro) e do uso de equipamentos
relativamente atualizados para a produção de aços commodities -- é a forma de inserção da
siderurgia brasileira;
2. Competição por qualidade: as vantagens competitivas são baseadas na intensidade de
pesquisa e desenvolvimento, na alta capacidade de inovação tecnológica e na fabricação de aços
nobres -- é a forma de inserção das indústrias japonesa e alemã.
A siderurgia japonesa, conjuntamente com a alemã, exerce a liderança internacional da
indústria. O sucesso competitivo da indústria japonesa reside na excelência de sua pesquisa
industrial. Desprovida, internamente, dos principais insumos para a fabricação do aço (minério de
ferro e carvão mineral), a indústria japonesa é líder de mercado pela recorrente incorporação de
novas tecnologias. A siderurgia japonesa constitui, atualmente, a best-pratice da siderurgia
mundial. As estratégias de enobrecimento e diversificação são intensamente utilizadas pelas usinas
nipônicas (MONTEIRO, 1988: 2). A primeira é compatível com os seus esforços de pesquisa, a
segunda revela um esgotamento do potencial de crescimento da própria siderurgia frente ao
poderio financeiro das empresas.
Outra grande vantagem da indústria siderúrgica japonesa é o seu elevado grau de
concentração industrial. A produção das cinco grandes usinas japonesas é equivalente a das quinze
maiores usinas européias. Em termos de escala de equipamentos, embora menos acentuada, a
diferença ainda persiste: a capacidade média dos laminadores de tiras a quente no Japão é o dobro
da dos laminadores encontrados na siderurgia européia.
O sucesso competitivo da indústria brasileira decorre da venda de produtos de baixo valor
agregado. Os dados da Pesquisa de Campo do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira
ratificam esta situação: dentre treze empresas do setor siderúrgico, oito apontaram que o padrão
tecnológico dos produtos comercializados é de penúltima geração, e apenas duas consideraram
que sua oferta seria de última geração.
Os fatores que garantem a competitividade dos produtos brasileiros no exterior são: baixos
salários, excelente minério de ferro disponível no país e instalações relativamente recentes.
Adicionalmente, como a inserção da indústria no mercado internacional ocorre em produtos
básicos (commodities) e nestes os impactos da modernização tecnológica são menos intensos, a
lentidão na incorporação de tecnologias é menos dramática.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Em suma, o mercado siderúrgico internacional pode ser segmentado em dois: o de
produtos básicos e o dos diferenciados14. Quanto maior a capacitação tecnológica dos
produtores, maior a possibilidade de atuar no segundo segmento. Esta divisão possui até
correspondência com as etapas do processo produtivo: quanto mais se atua no mercado de
produtos básicos, maior deve ser o peso conferido aos insumos, aos custos energéticos, aos custos
salariais e à etapa de redução (transformação de minério de ferro em ferro-gusa ou ferro-esponja);
quanto mais se atua no mercado de produtos diferenciados, maior deve ser a ênfase sobre o
controle automatizado da produção, a incorporação de novas tecnologias e a etapa de laminação.
Não se deve esquecer, porém, que o ritmo de crescimento destes dois segmentos são
diferenciados: em consonância com a trajetória de enobrecimento do produto, cada vez mais a
participação dos produtos diferenciados dentro do mercado siderúrgico tende a ser crescente.
14 A segmentação de produtos básicos e diferenciados deve contemplar dois tipos de diferenciação: i) pertinente à
variedade de produtos: uma chapa galvanizada é mais nobre que uma chapa grossa; ii) relativo ao mesmo produto:
uma bobina laminada a quente pode ou não ter alguma proteção especial à corrosão. A noção é indicar que a
indústria japonesa além de vender mais, proporcionalmente, chapas galvanizadas, quando vende bobinas laminadas
a quente, tende a ofertar produtos que requerem maior controle de processo.
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2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA SIDERÚRGICA BRASILEIRA
O diagnóstico da indústria brasileira realizado nessa seção toma por base os três principais
indicadores de competividade da indústria siderúrgica mundial atualmente adotados, a saber: i)
custos de fabricação de bobinas laminadas a frio; ii) participação no mercado internacional de
produtos siderúrgicos; iii) difusão de processos industriais e de métodos de gestão da produção.
2.1. Diagnóstico da Competitividade - Custos da Siderurgia Brasileira
2.1.1. Custos totais de produção
Analisa-se a seguir os custos de fabricação de bobinas laminadas a frio da siderurgia
brasileira, comparando-os com os de nove outros grandes produtores mundiais15. Cabe observar
que no início da década de 80 era usual que os comparativos de custos de produção fossem
referentes ao aço bruto, ou seja, sem receber o tratamento da laminação. Já em meados daquela
década, as comparações passaram a tomar por base os custos de produção de bobinas laminadas a
quente e, finalmente, no período recente, passou-se a privilegiar o custo da produção de bobinas
laminadas a frio16. Esta trajetória do indicador de competitividade é compatível com a tendência
ao enobrecimento do produto, que parece ser irreversível no mercado de produtos siderúrgicos.
A Tabela 4 apresenta a evolução do custo de produção de bobinas laminadas a frio, para
uma série de países, durante o período 1984/90, às taxas de ocupação efetiva. Esta mesma tabela
discrimina os custos operacionais e financeiros. Pode-se notar que a siderurgia brasileira,
conjuntamente com a coreana, destaca-se por reduzidos custos operacionais e elevados custos
financeiros17. De todo modo, os seus custos totais de produção são relativamente pequenos,
frente aos verificados em outras economias. Em 1990, apenas as usinas do Reino Unido e de
Taiwan apresentaram custos totais menores do que as brasileiras e coreanas.
15 A questão cambial que pode, muitas das vezes, se transformar em fator positivo ou negativo da competitividade
de uma determinada indústria ou país não será analisada em função de suas flutações conjunturais. Assim, prende-
se apenas a fatores ditos "estruturais".
16 BATISTA (1988: 59-66) é um bom exemplo disso ao apresentar comparações do custo de produção de aço
líquido (de 1983) e de laminados a quente (de 1985).
17 BATISTA (1988: 62) aponta que o custo de capital é sem dúvida o item do custo mais desfavorável ao Brasil.
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TABELA 4
CUSTO DE PRODUÇÃO DE BOBINAS LAMINADAS A FRIO
USINAS INTEGRADAS - PAÍSES SELECIONADOS
(1984/90)*
US$/tonelada
1984 1986 1988 1989 1990
Brasil
Custo Operacional 315 305 295 305 322
Custo Financeiro 120 120 130 130 128
Custo Total 435 425 425 435 450
Coréia do Sul
Custo Operacional 320 305 330 350 350
Custo Financeiro 95 95 100 105 100
Custo Total 405 400 430 455 450
Estados Unidos
Custo Operacional 455 447 440 445 440
Custo Financeiro 45 42 40 41 45
Custo Total 500 489 480 486 485
Alemanha Ocidental
Custo Operacional 355 426 415 405 405
Custo Financeiro 40 -6 60 20 75
Custo Total 395 420 475 425 480
Japão
Custo Operacional 330 390 435 410 409
Custo Financeiro 90 125 100 95 81
Custo Total 420 515 535 505 490
França
Custo Operacional 355 395 385 390 415
Custo Financeiro 85 65 60 60 55
Custo Total 440 460 445 450 470
Reino Unido
Custo Operacional 340 360 375 380 413
Custo Financeiro 25 25 25 25 22
Custo Total 365 385 400 405 435
Canadá
Custo Operacional 400 400 410 420 430
Custo Financeiro 35 35 45 55 55
Custo Total 435 435 455 475 485
Taiwan
Custo Operacional 325 325 340 360 355
Custo Financeiro 100 100 85 110 80
Custo Total 425 425 425 470 435
Fonte: Donald Barnett apud USITC (1990)
Obs: * valor calculado para meados de cada ano, a taxas de ocupação efetiva; os custos
financeiros equivalem a depreciação e juros.
A Tabela 5, por sua vez, apresenta o custo total de produção de bobinas laminadas a frio,
para dezembro de 1991, para diversas siderurgias. Deve-se destacar que esta estimativa supõe que
as usinas de referência18 estejam todas operando a 90% da capacidade instalada. Neste sentido, é
um indicador melhor do que o anterior, pois evita a influência da variação da capacidade ociosa.
Além disso, permite a discriminação dos custos operacionais, em custo salarial, de matérias-
18 Observe-se que este dado não equivale, necessariamente, à situação média de cada país. Apesar disso, os valores
apontados podem ser considerados representativos da indústria siderúrgica de cada país. No caso brasileiro, a usina
de referência é a Cia. Siderúrgica Nacional.
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primas e de outros materiais. Esta comparação, todavia, restringe-se aos produtos planos (cerca
de 70% da produção mundial).
TABELA 5
CUSTO DE PRODUÇÃO DE BOBINAS LAMINADAS
A FRIO - PAÍSES SELECIONADOS
(1991)*
(US$/tonelada)
A B C# D E F
Reino Unido 123 156 185 464 26 490
Taiwan 77 150 186 414 79 493
Coréia do Sul 67 153 156 376 125 501
Estados Unidos 152 142 174 468 41 509
Austrália 135 134 193 462 56 518
Canadá 152 142 174 468 53 521
França 154 150 171 475 51 526
Brasil 82 150 186 418 130 548
Japão 145 141 189 475 90 565
Alemanha 179 162 190 531 55 586
Fonte: World Steel Dynamics (1992)
Obs: * adotou-se a taxa de ocupação teórica de 90%
# inclui impostos municipais e estaduais
Legenda: A = custo salarial
B = custo de matérias-primas
C = custo de outros materiais
D = custo operacional (A+B+C)
E = custo financeiro
F = custo total (D+E)
A amostra de países registrados na tabela é muito representativa: em 1991, os dez países
responsabilizaram-se por 59,9% da produção do mundo ocidental. Os grandes excluídos são
Comunidade dos Estados Independentes (CEI), China, Itália e India. Os países foram dispostos
em ordem crescente de custos.
Também segundo esses dados o Brasil possui um dos menores custos operacionais (coluna
D) entre estas siderurgias. Os países em desenvolvimento da amostra (Coréia do Sul, Taiwan e
Brasil) são os países que possuem os menores custos operacionais: isto decorre fundamentalmente
do menor custo salarial incorrido nestas indústrias. Por outro lado, a siderurgia brasileira possui o
custo financeiro mais alto, implicando um custo total apenas razoável.
É importante destacar que dentre os elementos do custo operacional, o custo salarial é o
que apresenta maior desigualdade. Os custos de matérias-primas e de outros materiais são, ao
contrário, muito homogêneos. Estatisticamente, isto fica registrado pelo desvio-padrão da coluna
A (custo salarial: 38,31); da coluna B (custo das matérias-primas: 8,26); da coluna C (custo de
outros materiais: 11,42).
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2.1.2. Salários e produtividade
Os baixos salários são uma vantagem não desprezível para a siderurgia brasileira, em
particular, e para os países em desenvolvimento, de um modo geral. Esta idéia é confirmada pelo
dados apresentados no Tabela 6, que aponta salários e produtividade para a mesma amostra
selecionada de dez grandes produtores mundiais, na fabricação de bobinas laminadas a frio em
dezembro de 1991.
TABELA 6
CUSTO SALARIAL NA PRODUÇÃO DE BOBINAS
LAMINADAS A FRIO - PAÍSES SELECIONADOS
(1991)
Salário/hora Hora.homem/ Custo Salarial
(US$) tonelada (US$/tonelada)
Coréia do Sul 10,0 6,7 67
Taiwan 11,0 6,9 77
Brasil 7,5 10,9 82
Reino Unido 22,5 5,5 123
Austrália 22,0 6,2 135
Japão 27,5 5,3 145
Canadá 28,0 5,4 152
Estados Unidos 28,5 5,3 152
França 28,8 5,3 154
Alemanha 33,0 5,4 179
Fonte: World Steel Dynamics (1992)
Os salários praticados na siderurgia brasileira são os mais baixos da amostra, em geral,
40% abaixo dos outros países em desenvolvimento (Coréia do Sul e Taiwan) e 72% inferior à
média dos demais países da amostra. Esta vantagem, contudo, é amenizada pela baixa
produtividade da siderurgia brasileira: em 1991, demorava-se quase onze horas para a produção
de uma tonelada no Brasil, enquanto na Coréia do Sul este valor era de 6,7 e no Japão de apenas
5,319. Em suma, a vantagem competitiva decorrente do baixo salário vigente na economia
brasileira é sensivelmente reduzida, tranformando-se numa desvantagem competitiva frente às
siderurgia da Coréia do Sul e de Taiwan20.
19 Esta medida de produtividade é melhor do que o parâmetro toneladas homem/ano, porque esta última é viezada
por variações da jornada de trabalho, entre os diversos países. A utilização deste indicador tenderia a reduzir a
diferença da produtividade brasileira em relação aos países desenvolvidos, cuja jornada de trabalhor é menor.
20 Mesmo a Usiminas, considerada a usina siderúrgica brasileira mais automatizada de aços planos, apresenta
indicadores de produtividade baixos em comparação com a dos demais países: em setembro de 1990, ela
necessitava de 9,7 horas-homem para a produção de uma tonelada de aço, enquanto este valor era em torno de 5,4
horas-homem/tonelada nos Estados Unidos, Japão, Alemanha Ocidental, Reino Unido e França (USIMINAS,
1991a: 5). A CSN, por sua vez, usina referência do Brasil pela World Steel Dynamics exigia 11,2 horas-
homem/tonelada.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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A produtividade da mão-de-obra não é, porém, isenta de problemas de mensuração.
Diferenças no grau de verticalização das usinas, no grau de concentração econômica (e seu
impacto sobre o peso do pessoal administrativo), na linha de produção, na utilização de serviços
de terceiros e na própria legislação trabalhista de cada país dificultam as comparações entre
países. No caso específico do setor siderúrgico, os problemas mais importantes decorrem do
percentual de aço proveniente de usinas integradas ou de semi-integradas, e do grau de
enobrecimento do produto21. O dado da World Steel Dymanics, todavia, considera apenas
produtoras de produtos planos que, via de regra, são usinas integradas a coque.
Ademais, outras fontes ratificam a menor produtividade da indústria siderúrgica brasileira,
em comparação com outras siderurgias relevantes no contexto internacional. GUERRA (1991:
312) revela que o exame comparativo da produtividade, após todos os ajustes necessários, nas
unidades de metalurgia, a diferença entre as usinas siderúrgicas integradas a coque brasileiras e as
melhores usinas do mundo é de 12 a 35%. Na área de laminação, tal diferença atingiria algo entre
45 e 65%22.
Um estudo recente da CST (1992) apresenta dados de produtividade discriminados por
etapa produtiva da Usiminas (empresa considerada líder do mercado de planos e tida como
referência nacional), da média de duas siderúrgicas japonesas de grande porte (Nippon Steel e
Kawasaki Steel) e de uma média de 176 usinas de todo o mundo (numa estimativa da World Steel
Dynamics). Os dados, levantados em novembro de 1990, ratificam a noção apontada
anteriormente que as diferenças são crescentes, quando mais se aproxima do final do processo
produtivo, com a exceção da coqueria (Tabela 7). Esta relação é mais acentuada principalmente
em comparação ao Japão, considerado o estado-da-arte tecnológico setorial.
21 Quanto mais nobre o produto, maior é o tratamento de laminação necessário e, portanto, exige-se maior
contigente de mão-de-obra.
22 Ver também SOARES (1989) e BULHER (1991), acerca da menor produtividade da indústria siderúrgica
brasileira.
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TABELA 7
PRODUTIVIDADE POR ETAPA PRODUTIVA
USIMINAS - JAPÃO E MÉDIA MUNDIAL
(1990)
(homem-hora/tonelada)
Usiminas Japão Mundo A/B A/C
(A) (B) (C)
Coqueria 1,08 0,67 0,94 161 115
Alto-Forno 1,22 1,06 1,03 115 118
Aciaria 1,74 1,50 1,46 116 119
Lingotamento 2,28 1,89 2,12 121 108
Staff 4,98 3,34 3,71 149 134
Laminador Quente 6,66 4,29 5,07 155 131
Laminador Frio 9,78 5,57 7,05 176 139
Fonte: World Steel Dynamics apud CST (1992)
É evidente que os dados de produtividade são heterogêneos a nível setorial. CASTELLO
BRANCO & GRANDIN (1991) exploram preliminarmente esta questão para o Brasil.
Comparando a produtividade dos operários diretos, excluídos os de manutenção e os de controle
de qualidade da siderurgia brasileira com os da América Latina (incluindo o México e o próprio
Brasil) por etapa produtiva, concluem que a siderurgia brasileira apresenta maior produtividade na
redução (76,6%), aciaria (17,2%), laminação de aços planos (31,5%) e laminação de tubos sem
costura (18,9%). Apenas na laminação de aços longos, a produtividade brasileira seria inferior à
media latino-americana: 9,9% menor (no ano de 1989).
As hipóteses mais comumente aventadas para a explicação da baixa produtividade da
indústria siderúrgica brasileira são: a) o "inchaço" do setor, face ao corporativismo que
predominaria em empresas estatais; b) a baixa difusão de automação industrial de base
microeletrônica23.
A hipótese do inchaço administrativo embora possa ser realista para determinadas usinas,
parece não ser a mais importante para a indústria brasileira como um todo. A Tabela 8, que
apresenta uma comparação do efetivo e da produtividade entre as siderurgias brasileira e coreana,
não permite confirmar esta premissa. Isto decorre da proporção do pessoal administrativo no
efetivo total ser superior na Coréia do Sul: 26,3% neste país e 19,6% na siderurgia brasileira.
Mesmo se considerando que a importância das siderúrgicas à base de aciaria elétrica (que
tenderiam a ter mais pessoal administrativo em comparação com o efetivo total) na produção de
23 Outra hipótese aventada, mas sobre as quais há pouco evidências, refere-se à menor terceirização da siderurgia
brasileira em relação a outras siderurgias. Constata-se, num passado recente, uma tendência a reversão desta
diferença. Seis usinas siderúrgicas, de um total de oito, apontam que estão terceirizando suas atividades atualmente,
embora não haja um movimento similar de desverticalização - apenas uma menção em oito respostas (Pesquisa de
Campo do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira).
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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aço é de 31,1% na Coréia do Sul e de 26% no Brasil, isto parece ser insuficiente para possibilitar
uma conclusão a favor dessa hipótese.
TABELA 8
EFETIVO DE PESSOAL E
PRODUTIVIDADE - BRASIL E CORÉIA DO SUL
(1991)
Brasil Coréia do Sul
Efetivo Total (mil homens) 101.881 70.443
Produção (mil homens) 81.865 51.904
Administração (mil homens) 20.016 18.539
Produção total (milhão toneladas) 22,6 26,0
Produtividade (aço bruto/homem.ano) 222 369
Fonte: Instituto Brasileiro de Siderurgia, Korea Iron and Steel Association
Além disso, esta Tabela apresenta a produtividade em termos de produção de aço bruto
por homem/ano. A produtividade coreana seria, por este indicador, cerca de 66,2% superior à
brasileira. Este resultado aproxima-se, em muito, do valor encontrado pela World Steel Dynamics,
pela qual a diferença de produtividade seria de 62,6% (Tabela 6).
Embora a situação atual (dados de 1991) possa até mostrar uma siderurgia brasileira
"enxuta" em termos administrativos, a situação pretérita poderia até ser distinta. A verdade é que
a siderurgia brasileira está passando por um ajuste de redução do efetivo de pessoal, sem
precedentes na sua história. Esta situação foi desencadeada a partir de 1990, como conseqüência
de uma série de fatores, dos quais os mais importantes foram: a) a brutal queda da produção no
ano de 1990 (cerca de 22% em termos de aço bruto), como decorrência da retração do consumo
doméstico pós Plano Collor24; b) a reestruturação industrial no subsetor de aços longos, face à
crescente participação dos Grupos Gerdau e Villares25; e c) os ajustes realizados em empresas
privatizadas ou em vias de privatização.
A natureza do ajustamento setorial é estritamente defensiva, na medida em que contempla
redução acentuada de efetivo, desvinculado de investimentos produtivos que alterem o status
tecnológico do setor26. Neste sentido, a busca pela elevação do rendimento das matérias-primas e
24 É bem verdade que uma grande parte da redução do volume produzido deve ser atribuído à diminuição da
atividade da CST, muito em função de uma paralização de seu único alto-forno. A queda da produção de CST foi
responsável por 28,6% da retração da produção brasileira de aço em 1991. A redução na produção brasileira de
laminados em 1991, que aliás não são fabricados pela CST, foi de 10,5%.
25 O Grupo Gerdau adquiriu, nos últimos anos, as seguintes empresas: Hime (janeiro de 1985), Usina Barão de
Cocais da Cimetal (novembro de 1988), Usiba (outubro de 1989), Cosinor (novembro de 1991), Piratini (fevereiro
de 1992). Já o Villares comprou a Nossa Senhora Aparecida (julho de 1988), que foi rebatizada de Ipanema, e Aços
Anhanguera (dezembro de 1988). Outra aquisição relevante no segmento foi a da Fi-el pela Mannesmann (em
1987).
26 Para um exercício de como a produtividade da mão-de-obra na siderurgia brasileira não foi acompanhada num
passado recente por incentivos na "produtividade do capital", ver SANTOS & BEDÊ (1993).
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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pela redução dos custos de estoques foram preponderantes na delimitação das estratégias de
produção do setor siderúrgico27,28. Em síntese, buscou-se reduzir as despesas, mantendo-se os
equipamentos disponíveis.
A Tabela 9 mostra a evolução do efetivo de pessoal na siderurgia brasileira, por empresa,
no período 1988/1991. Primeiramente, deve-se apontar que a amostra das 28 usinas siderúrgicas
apresentada é muito representativa: em média, empregam 98% de todo o efetivo próprio do setor
siderúrgico e produzem 99% do aço bruto. Os dados abarcam todos as usinas integradas, sejam a
coque, a carvão vegetal ou a redução direta. Assim, somente não foram computados algumas
pequenas usinas semi-integradas (com destaque para a Itaunense e a Cosinor).
27 De um total de nove empresas, a melhoria dos rendimentos das matérias-primas e a diminuição dos custos de
estoques foram consideradas muito importantes, respectivamente, por sete e cinco usinas siderúrgicas (Pesquisa de
Campo do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira).
28 A rotação média de estoques na siderurgia brasileira, conforme amostra da Pesquisa de Campo do Estudo da
Competividade da Indústria Brasileira, teria se reduzido de 31 dias (1987/89) para 16 dias (1992). Por suas vez, o
prazo médio de produção diminuiu de 32 para 29 dias, e de entrega de 55 para 46 dias, no mesmo período.
Naturalmente, a motivação deste ajustamento decorre das elevadas taxas de juros praticadas na economia brasileira.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 9
EVOLUÇÃO DO EFETIVO DE PESSOAL
SIDERURGIA BRASILEIRA, POR EMPRESA
(1988/91)
(número de empregados)
1988 1989 1990 1991
1. Integradas a Coque 62.739 66.564 61.059 55.550
Açominas 5.983 6.716 5.849 5.274
CSN 22.714 23.455 20.303 17.008
Cosipa 14.445 15.819 15.285 13.473
CST 6.299 6.736 6.209 6.003
Usiminas 13.298 13.838 13.413 13.792
2. Integradas Carvão Vegetal 38.975 40.956 33.456 31.560
Acesita 8.065 8.619 8.693 8.428
Aliperti 2.295 1.717 398 398
Barra Mansa 4.061 4.024 3.539 3.276
Belgo-Mineira 7.609 8.089 6.924 5.967
Cosigua 5.432 7.679 5.151 5.159
Mannesmann 9.882 9.175 7.457 7.057
Pains 1.631 1.653 1.294 1.275
3. Integradas Redução Direta 3.918 3.888 3.174 3.049
Piratini 2.542 2.822 2.531 2.306
Usiba 1.376 1.066 743 743
4. Semi-integradas 24.056 22.983 17.425 16.456
Açonorte 1.538 1.434 1.134 955
Anhanguera 1.987 1.987 1.152 1.099
CBA 314 314 314 350
Cearense 337 325 183 183
Cofavi 1.936 1.451 932 932
Comesa 252 249 214 214
Dedini 2.521 1.782 1.337 1.130
Eletrometal 1.561 1.512 1.600 1.400
Guaíra 551 467 381 381
Ipanema 2.141 2.141 1.536 1.536
Mendes Jr. 3.685 3.888 2.722 2.727
Riograndense 1.996 2.136 1.514 1.488
Vibasa 2.408 2.437 2.157 2.069
Villares 2.829 2.860 2.249 1.992
TOTAL GERAL 129.688 134.391 115.214 106.615
Fonte: Balanço Anual/Gazeta Mercantil (1989, 1990, 1991, 1992), Maiores e Melhores/Exame
(1989, 1990, 1991, 1992), Balanços Patrimoniais de Empresas, Empresas
A Tabela 9 mostra que o ajuste ocorrido nos anos de 1990 e 1991 atingiu todos os tipos
de usinas. O efetivo próprio desta amostra declinou de 129,7 mil funcionários para 106,6 mil
funcionários: uma retração de 26,1%, em apenas dois anos. O ajuste que está sendo efetuado é,
todavia, subestimado por este indicador, principalmente ao se considerar que a Constituição de
1988 reduziu a jornada de trabalho de turnos ininterruptos de oito para seis horas. Por sua vez, a
redução do volume de emprego foi desigual conforme o tipo de usina, a saber:
36
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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a) Integradas a Coque: redução de 19,8%, com o peso da diminuição do efetivo muito
concentrado na CSN (queda de 37,9%), em função dos ajustes para a privatização e, em menor
parte, devido à desverticalização da empresa. Todas as demais usinas, à exceção da Usiminas,
sofreram sensíveis redução do efetivo com vistas a atender os objetivos da privatização.
b) Integradas a Carvão Vegetal: queda de 29,8% no efetivo próprio. Embora os maiores
resultados tenham ficado com Aliperti29 e Cosigua30, todas as empresas diminuiram o quadro
funcional (apenas a Acesita o fez marginalmente).
c) Integradas a Redução Direta: retração de 28,5%, um valor relativamente baixo,
especialmente para a Piratini que paralisou a instalação de redução direta em 1990. O maior
impacto de redução do quadro de funcionários no segmento deve ter ocorrido no ano de 1992,
face à privatização da Piratini31.
d) Semi-integradas: redução de 39,7% do efetivo total, até porque são mais flexíveis no
tocante à paralização temporária de equipamentos32. Neste segmento também se verificou o
impacto da reestruturação do Grupo Villares, que reduziu o efetivo em 32,5% (considerando as
quatros usinas).
Cabe destacar ainda que o setor de aços especiais teve uma redução de pessoal de 21,9%,
de 1989 a 1991. Esse resultado é algo inesperado pois este segmento, tradicionalmente, apresenta
flutuações de atividade mais pronuncidas do que o restante do setor siderúrgico.
29 A Aliperti é uma usina antiga (fundada em 1924, cuja aciaria Siemens Martin começou a operar em 1938), que
entrou em concordata em 1989, em função de um arrojado programa de investimentos de modernização da aciaria
(US$ 50 milhões), levado a cabo durante o período de 1987/1988, combinado com um quadro de descapitalização.
A partir de 1990, face à retração do consumo pós Plano Collor, a empresa desativou a etapa de redução, a aciaria, e
passou a operar apenas a laminação com base em semi-acabados adquiridos de terceiros. Mesmo assim, a Aliperti
funciona com uma capacidade ociosa de 80% de sua laminação. Deve-se destacar que embora seja o caso crítico da
indústria, é atípico.
30 No caso da Cosigua (maior usina do Grupo Gerdau), na verdade o número de funcionários de 1989 é irrealista,
uma vez que se processava a absorção da Usina Barão de Cocais, adquirida da Cimetal em novembro de 1988.
Mesmo assim, a Cosigua possui algumas instalações paralisadas atualmente, devido à retração do consumo
doméstico: um alto-forno a carvão vegetal na Usina de Santa Cruz e a unidade de Nova Iguaçu (capacidade de 325
mil toneladas de tarugos), que pertencia à Siderúrgica Hime, incorporada à Cosigua em 1985.
31 A Piratini foi adquirida pelo Grupo Gerdau em fevereiro de 1992. Em julho, o novo proprietário já tinha
demitido 570 dos 2281 funcionários da empresa, até porque a administração central do Grupo também funciona em
Porto Alegre. Além disso, em novembro de 1992, foi anunciada a compra de um lingotamento contínuo para
empresa, no valor de US$ 11,5 milhões, que deverá ser poupador de mão-de-obra no futuro. SOARES (1989)
aponta que a utilização de lingotamento contínuo em substituição ao lingotamento convencional possibilita uma
redução de pelo menos 50% do pessoal. CRESPO (1992: 41) aponta que a introdução do lingotamento contínuo na
Açominas deve reduzir o efetivo na àrea de 300 para 100 funcionários.
32 A Dedini pode ser considerada um bom exemplo da flexibilidade das usinas semi-integradas: depois de já ter
tido 2500 funcionários, o seu quadro está reduzido a 800. Para tal, desativou dois fornos elétricos, e está operando
apenas o forno de 50 toneladas (o de maior porte), e utilizando apenas uma das duas máquinas de lingotamento
contínuo. A área de laminação, gargalo tecnológico da usina, está operando normalmente. O volume de produção
foi reduzido em menor proporção: 40,5% de aço bruto e 36,4% de laminados (comparando 1991, com o ano base de
1989).
37
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Com relação à privatização, o ajuste do número de funcionários tem sido feito tanto antes
quanto depois da concretização do negócio. A Usiminas, maior empresa privatizada até então e
tomada como paradigma dos bons resultados do programa, na verdade é a exceção, na medida em
que não alterou significativamente o nível de emprego gerado. Três outras empresas privatizadas
em 1992
__
Piratini, CST e Acesita
__
estão passando por fortes ajustes, e isto poderá ser ainda
mais verdadeiro para CSN, Cosipa e Açominas (a princípio, as últimas duas também deverão ser
vendidas em 1993). Tudo indica que o fator privatização passe cada vez mais ser uma explicação
para a redução do efetivo no setor.
Dentre as empresas privatizadas em 1992 o maior impacto, certamente, ocorreu na CST.
Esta usina foi privatizada em julho de 1992. Em finais de agosto de 1992, a nova direção anunciou
um programa de desligamento voluntário para os empregados, visando reduzir 1800 funcionários.
Em dezembro de 1992, o quadro havia sido reduzido de 5970 para 4232 pessoas, seguindo as
novas diretrizes da empresa. O impacto maior foi em cargos administrativos (de 694 para 402) e,
fundamentalmente, em cargos de chefia (191 para 93)33. Com estas reduções, estima-se que a
folha anual de pagamentos reduza de US$ 112 milhões para US$ 80 milhões, e a produtividade
eleve-se de 466 para 657 toneladas homem/ano (EXAME, 1992, 24 (26): 38). Além disso, cerca
de 100 contratos com fornecedores ou bancos (visando redução das taxas de juros) estão sendo
renegociados.
A nova direção da Acesita também já promoveu cortes de funcionários. Inicialmente,
foram demitidos 25% do quadro total de 7600 funcionários. No futuro, uma eventual troca de
carvão vegetal por carvão mineral poderá ser uma fonte adicional de retração do emprego na
Acesita Energética que opera com reflorestamentos.
Em termos prospectivos, a tendência é de redução ainda maior do efetivo próprio (e de
terceiros). Em 1992, o efetivo próprio foi reduzido em mais 8,8%34. Segundo a Pesquisa de
Campo do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira, de 10 empresas siderúrgicas
entrevistadas, 6 apontaram que o emprego direto da produção industrial deve cair no período
1993/95, em relação ao ano de 1992. Duas outras indicaram uma tendência de elevação deste
volume de emprego, enquanto duas não responderam35.
Apesar da amplitude dos dados da Tabela 9, eles não permitem captar o movimento do
efetivo de terceiros. Este teve uma característica marcante: uma variação mais acentuada do que a
33 Estudo de Campo do ECIB mostram que no período 1987-89, a média de níveis hierárquicos na siderurgia
brasileira era de 6.43, tendo regredido para 5.88 (1992).
34 Dados preliminares do primeiro trimestre de 1993, mostram que o efetivo próprio declinou de 94.292 (dezembro
de 1992) para 91.400 (março de 1993), isto é, uma queda adicional de 3,2%.
35 A mencionada pesquisa de campo foi realizada no 1º semestre de 1993 e consistiu de aplicação de questionário
estruturado.
38
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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do efetivo próprio (tanto no movimento ascendente, quanto descendente). Isto ratifica a noção de
que a contratação de terceiros funciona como um colchão amortecedor: em 1985, o efetivo de
terceiros equivalia a 4,8% do efetivo total do setor; em 1988, a 23%; em 1991, a 15,7%; em
março de 1993, a 14,2%36.
Os dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) permitem também averiguar o
movimento de ajuste entre empregados administrativos e da produção. O efetivo total foi reduzido
no período 1989/1991, em cerca de 52,2 mil postos (42,9% de decréscimo), o pessoal
administrativo em 20% e o pessoal da produção em 32,7%.
No que se refere ao peso da folha de pagamentos no faturamento do setor, constata-se um
declínio acentuado após 1990. Neste ano, ele representava 22,3% do faturamento, tendo
involuído para 19,4% (em 1991) e para 16,5% (em 1992).
A segunda hipótese explicativa da baixa produtividade da siderurgia brasileira, a baixa
difusão de automação industrial de base microeletrônica, é mais plausível. Alguns trabalhos, como
BNDES (1987: 18), vêem reiteirando este argumento. Existem várias evidências que sinalizam no
sentido desta fragilidade estrutural da indústria brasileira37.
A principal demonstração da baixa difusão de automação industrial na siderurgia brasileira
é o estudo do Instituto Brasileiro de Siderurgia intitulado "Diagnóstico de Informática e
Automação", elaborado em 1989. Buscou-se avaliar a distância das empresas siderúrgicas
brasileiras, em relação ao estado-da-arte tecnológico mundial. Os dados foram alarmantes: por
esta pesquisa, a defasagem média do setor seria de 79% em relação a este parâmetro. Além disso,
a empresa menos defasada estaria a 56% da best-practice e a mais atrasada chegaria a 99%38.
Deve-se, contudo, fazer algumas considerações. Em geral, as usinas integradas a coque
apresentaram resultados mais satisfatórios do que o restante do setor. A explicação para isto
decorre de dois fatores: a) a produção de aços planos exige maiores requisitos tecnológicos do
que a fabricação de aços longos (comuns); b) a necessidade de se apropriar de flexibilidade (e de
tentar reduzir os riscos das oscilações de mercado) é mais intensa, na medida em que os custos
fixos são mais elevados. Embora a flexibilidade seja um instrumento fundamental para a
36 Ver Anuário Estatístico da Indústria Siderúrgica Brasileira, 1992.
37 SOARES (1991) aponta que enquanto os gastos com automação industrial no Japão é de US$ 12,3 por tonelada
de aço bruto, no Brasil este valor é de somente US$ 3,2. Para uma análise mais pormenorizada deste tema, ver
PAULA (1992: 228-257).
38 No ano de 1988, uma pesquisa similar do Instituto Brasileiro de Siderurgia apresentou as seguintes defasagens:
65% (defasagem média do setor), 44% (empresa menos defasada) e 90% (empresa mais defasada). Em suma,
mesmo as empresas mais dinâmicas não estariam conseguindo acompanhar o processo de automação com
velocidade igual a dos países avançados.
39
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competitividade em todo o setor, é no segmento de planos, em função de seus maiores custos de
instalação, que a pressão se faz sentir mais vigorosamente.
O segmento de aços especiais apresentaram índices piores do que a média nacional.
Considerando-se os requerimentos adicionais de confiabilidade de processo na fabricação de aços
especiais, a baixa difusão no uso de automação industrial neste segmento é, ainda, muito mais
dramática.
As empresas Belgo-Mineira e Mannesmann, ligadas a capitais estrangeiros, não
apresentaram resultados mais satisfatórios do que a média nacional. Evidencia-se que a questão é
realmente de cunho estrutural, e perpassa empresas dos mais distintos tipos de controle de capital
e gestão empresarial.
No que se refere à difusão de instrumentação digital, autodiagnóstico e robótica, esses se
encontram numa situação muito mais desfavorável do que a difusão de automação industrial
propriamente dita.
O principal obstáculo à maior difusão de automação industrial de base microeletrônica pela
siderurgia brasileira, no passado, foi a reserva de mercado para a informática. Vencido esta
restrição constitucional, o setor não foi capaz ainda de promover grandes inversões, muito em
função do desestímulo da queda do consumo aparente de aço (ver seção 2.3.1.). De fato, dados
da Pesquisa de Campo do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira mostram uma
evolução tênue da difusão de automação industrial num passado recente (Tabela 10).
TABELA 10
GRAU DE DIFUSÃO DE AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL
DE BASE MICROELETRONICA - SIDERURGIA BRASILEIRA
(percentual de operações controladas)
1987/89 1992
Baixa Intensidade ( 0-10%) 5 4
Média Intensidade (11-50%) 4 5
Alta Intensidade (mais de 51%) 2 2
Fonte: Pesquisa de Campo do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira
2.1.3. Custos de materiais
Outro custo fundamental na siderurgia refere-se ao custo das matérias-primas utilizadas. A
Tabela 11 discrimina os três principais insumos da atividade siderúrgica: carvão mineral, minério
de ferro e sucata. O Brasil não apresenta uma situação muito confortável em termos de custos dos
40
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materiais, embora tenha o menor custo de minério de ferro39 de toda a amostra. Em
compensação, apresenta o maior custo de carvão mineral40.
TABELA 11
CUSTO DE MATERIAIS NA PRODUÇÃO DE BOBINAS
LAMINADAS A FRIO - PAÍSES SELECIONADOS
(1991)
(US$/tonelada)
Carvão Minério Sucata Outros TOTAL
Mineral Ferro Materiais
Coréia do Sul 44 67 42 156 309
Canadá 37 66 39 174 316
Estados Unidos 38 66 38 174 316
França 42 71 37 171 321
Austrália 26 67 41 193 327
Japão 40 66 35 189 330
Brasil 60 43 47 186 336
Taiwan 48 72 44 173 337
Reino Unido 43 75 38 185 341
Alemanha 45 80 37 190 352
Fonte: World Steel Dynamics (1992)
A vantagem da siderurgia brasileira em consumir minério de ferro doméstico, de excelente
qualidade, já foi maior no passado, por duas razões: primeiramente, a etapa de redução era mais
proeminente no processamento, e à medida em que a de laminação foi aumentando em
importância, aquela vantagem foi diminuindo; em segundo lugar, até 1990 o preço doméstico de
minério de ferro era controlado pelo governo, sendo sensivelmente inferior ao preço internacional.
Mesmo com a liberação de preços, o minério de ferro deverá custar mais barato para as
siderúrgicas brasileiras, por não precisarem incorrer em despesas de frete marítimo (e em alguns
casos, o frete ferroviário é muito reduzido, como para as usinas de Minas Gerais).
Vários autores (vide Anexo 2) enfatizam o baixo custo da eletricidade com uma vantagem
competitiva da siderurgia brasileira. Embora isto beneficie o parque como um todo, o seu efeito é
mais positivo para os produtores à base de aciaria elétrica (onde a eletricidade corresponde a 75%
das necessidades de energia). Deve-se, contudo, destacar que, em função do elevado porte de suas
instalações, as usinas integradas a coque demandam cerca de 50% de toda a energia elétrica
consumida na siderurgia brasileira.
39 A vantagem de uma ótima razão custo/qualidade do minério de ferro é uma unanimidade na literatura, vide:
BNDES (1987), BATISTA (1988), SOARES (1990), MARCUS (1990), FURTADO et alli (1992). Para uma
resenha esquemática acerca das vantagens e desvantagens competitivas da siderurgia brasileira apontadas nestes e
outros trabalhos, vide Anexo 2.
40 Esta desvantagem estrutural é, porém, decrescente: em 1990, o custo do carvão mineral foi da ordem de 77
US$/tonelada, isto é, em um ano regridiu 28%. A tendência é de aproximação aos custos observados em outros
países.
41
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Ao longo da década de 80 constatou-se uma elevação do preço relativo da energia elétrica
em comparação com outros energéticos demandados no setor. Isto pode ser verificado mediante
análise dos Balanços Energéticos Globais das usinas integradas a coque (PAULA, 1992: 304-5).
Recorreu-se à razão "relevância em termos de custo/relevância em termos de calorias". O caso da
CSN é o melhor exemplo, dado que dentre as siderúrgicas integradas a coque, é a que mais
consome (absoluta e relativamente) eletricidade, especialmente por causa das operações de
revestimento. Em 1982, aquela razão era de 0,62 passando em 1991 para 1,0541; Ou seja,
enquanto no início da década de 80, a eletricidade custava bem menos que a energia gerada em
comparação com outros insumos energéticos, no começo da de 90, esta situação se reverteu.
O patamar atingido não se transformou, contudo, numa desvantagem competitiva do setor
em termos comparativos internacionais. Eventualmente, no futuro, isto pode ocorrer, seja pela
elevação de tarifas, seja pela indisponibilidade de suprimento. Com relação ao primeiro aspecto,
TORRES (1990: 114) aponta que o preço da eletricidade deverá aumentar acentuadamente em
função de: restrições da política ambiental, os elevados custos de capital e a distância entre as
novas hidroelétricas e os centros consumidores. Existem receios de que uma recuperação
econômica implique na possibilidade de racionamento, ou mesmo blackouts.
Além disso, um enobrecimento do parque produtivo, com investimentos concentrados em
laminação, tende a aumentar a relevância da eletricidade na matriz energética setorial. Assim, a
tendência de aumento de tarifas e da incapacidade de suprimento adicional de eletricidade, de um
lado, e uma trajetória de maior consumo, de outro, devem implicar num estímulo à construção de
Centrais Termoelétricas/CTEs (mormente nas usinas integradas a coque)42. Embora sejam muito
dispendiosas43, elas possibilitam o melhor aproveitamente de gases combustíveis gerados na
própria planta. A CSN, por exemplo, deve construir uma nova CTE de 106 MW, aumentando a
participação da energia elétrica gerada internamente de 4% para 30%. Um impacto positivo deste
investimento é a redução do custo do produto em cerca de 9 US$/tonelada (CSN, 1991: 130). Em
suma, a tendência é de uma necessidade de investimento adicional, embora com repercussão em
termos de redução de custo e do consumo específico de energia.
Com relação às usinas semi-integradas, observa-se que embora predominem na siderurgia
brasileira fornos elétricos de pequeno porte (e consequentemente com maior consumo específico
de energia), a produção é muito concentrada na Cosigua e na Mendes Jr. Estas duas usinas, por
sua vez, apresentam índices de consumo energéticos bastante satisfatórios, mesmo a nível
41 Observou-se uma trajetória similar na Cosipa.
42 Aliás, TORRES (1990: 113) assegura que o preço relativamente baixo de energia elétrica adquirida junto às
concessionárias era um fator limitante a maiores investimentos em CTEs.
43 Por exemplo, a CTE da CST (132 MW) custou US$ 90 milhões.
42
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internacional44. Assim, uma elevação do preço da energia elétrica deve induzir a um
remodelamento no sentido de aumentar o porte do equipamento ou, pelo menos, promover a
substituição dos transformadores por outros mais potentes.
Uma desvantagem da siderurgia brasileira refere-se ao índice de rendimento integrado.
Este é a razão, em termos percentuais, entre o produto final (incluindo semi-acabados) e a
produção de aço bruto, e visa quantificar os refugos e rejeitos acumulados ao longo do processo
de fabricação. Neste sentido, pode ser considerado um indicador da eficiência do processo como
um todo e do próprio grau de aproveitamento dos materiais.
A Tabela 12 mostra este parâmetro para as siderurgias brasileira, norte-americana,
japonesa, coreana e da europa ocidental, ao longo da década de 80. A siderurgia brasileira
apresenta índices bastante razoáveis, igualando-se à média européia e ao resultado americano,
embora distante dos valores praticados pelas indústrias japonesa e coreana. É bem verdade que o
fato do Brasil produzir grande proporção de aço semi-acabado eleva artificialmente este
parâmetro. No entanto, a redução acentuada da produção, nos últimos dois anos, parece ter
influenciado negativamente este resultado. Como estes dois fatores são opostos, reforça-se a
avaliação inicial de que o rendimento integrado obtido no Brasil é razoável em termos
internacionais.
TABELA 12
RENDIMENTO INTEGRADO - BRASIL, EUA, JAPÃO,
CORÉIA DO SUL E EUROPA OCIDENTAL
(1981/90)
(percentagem)
Brasil EUA Japão Europa Coréia
1981 79 72 88 81 83
1982 83 80 90 82 90
1983 86 75 92 83 91
1984 85 75 92 82 90
1985 85 77 93 83 94
1986 84 81 94 84 90
1987 83 81 94 84 90
1988 87 79 91 84 91
1989 81 82 90 81 90
1990 81 82 91 81 90
Fonte: The Wefa Group apud Soares (1991)
2.1.4. Custos financeiros
O custo financeiro é outro elemento fundamental na estrutura de custos. A Tabela 13
apresenta o custo financeiro para a produção de bobinas laminadas a frio, em dezembro de 1991,
44 Na mesma situação estaria a Dedini.
43
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discriminados nas rubricas depreciação e juros. Percebe-se claramente que o Brasil possui o maior
custo financeiro entre os grandes produtores de aço, sendo a maior parte referente aos juros45.
TABELA 13
CUSTO FINANCEIRO NA PRODUÇÃO DE BOBINAS
LAMINADAS A FRIO - PAÍSES SELECIONADOS
(1991)
(US$/tonelada)
Depreciação Juros TOTAL
Reino Unido 25 1 26
Estados Unidos 26 15 41
França 37 14 51
Canadá 35 18 53
Alemanha 44 11 55
Austrália 26 30 56
Taiwan 68 11 79
Japão 70 20 90
Coréia do Sul 110 15 125
Brasil 80 50 130
Fonte: World Steel Dymanics (1992)
O alto custo financeiro que onera a siderurgia brasileira foi conseqüência da estratégia de
investimento das estatais, baseada em capitais de terceiros (especialmente recursos externos), e
que foram penalizadas com preços domésticos controlados. A comparação com a Coréia do Sul é
mais uma vez bastante ilustrativa. Neste país, apesar do também altíssimo custo financeiro, as
despesas com juros são três vezes menores do que no Brasil. Alta despesa de depreciação é
sinônimo de investimentos (seja para ampliação ou modernização), e valores altos (como no
Japão) podem ser considerados benéficos.
A explicação para o elevado custo financeiro da siderurgia brasileira deve-se ao alto custo
de investimento do setor em expansão/modernização (BNDES, 1987: 19). De fato, a siderurgia
brasileira apresenta um alto custo de capital por capacidade instalada. A Tabela 14 mostra a razão
total de ativos/produção para algumas siderúrgicas importantes e alguns países selecionados. A
CSN, que representaria a siderurgia brasileira, possui o maior custo da amostra.
45 Novamente, embora a situação da Usiminas seja mais favorável, ela guarda grande correspondência com o dado
da CSN (usina referência). No tocante a juros, eles seriam de US$ 50/tonelada (CSN) e US$ 44/tonelada
(Usiminas); no que se refere a depreciação, ela seria de US$ 80/tonelada (CSN) e US$ 74/tonelada (Usiminas), em
setembro de 1990 - ver USIMINAS (1991a: 16). O custo total da CSN era, nesta data, de US$ 538/tonelada e da
Usiminas de US$ 508/tonelada.
44
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TABELA 14
RAZÃO TOTAL DE ATIVOS/PRODUÇÃO -
PAÍSES E USINAS SELECIONADOS
(1978/88)
(dólares)
1978 1980 1982 1984 1986 1988
Estados Unidos 253 351 457 383 367 337
Alemanha 342 407 381 313 387 496
POSCO (Coréia) 961 647 485 391 533 581
British Steel (UK) 533 652 432 330 539 623
Usinor-Sacilor (Fr) 616 586 562 446 587 684
Italsider (Itália) 628 681 686 516 687 s.d
Japão 620 617 646 617 987 1028
CSN (Brasil) 1142 1481 2134 2409 1052 1200
Fonte: World Steel Dynamics (1990)
Pode-se alegar que o custo de implantação de tonelagem adicional brasileiro foi muito
superior a de outros países, por dois fatores: a) transferência de lucros para os produtores de bens
de capital brasileiros, em função da elevada proteção à indústria doméstica e das exigências de
aumento dos índices de nacionalização dos equipamentos; b) atrasos nos cronogramas de
construção das usinas. Embora estes dois fatores sejam importantes, é muito provável que a
última variável tenha maior valor explicativo.
A conclusão de que os atrasos foram mais importantes do que o sobre-preço dos bens de
capital (que necessariamente deveriam ser absorvidos) foi ratificada em entrevistas com dirigentes
das empresas estatais. Também deve-se apontar que a conjugação licenciador externo/fabricante
doméstico de bens de capital não foi uma política adotada unicamente no Brasil: na Coréia do Sul
recorreu-se a este mesmo tipo de associação, e nem por isso os custos de investimento foram tão
altos46.
A grande diferença nos custos de expansão/implantação deve ser (mais) atribuída aos
recorrentes atrasos na conclusão das obras, verificado na siderurgia brasileira vis-à-vis, o
"sucesso" coreano na concretização das obras dentro dos prazos estipulados. Na maioria dos
casos, o término das obras na Coréia ocorreu antes do prazo determinado. É evidente que os
atrasos verificados na siderurgia brasileira foram decorrentes da falta de recursos financeiros, que
propiciou aumentos exagerados das despesas financeiras. Deve-se apontar que os atrasos
registrados na conclusão dos estágios de siderúrgicas brasileiras incluem também os próprios
atrasos no início das obras (Tabela 15).
46 BATISTA (1988: 63) indica, ao contrário, que a Coréia do Sul tem se notabilizado por reduzidos custos de
investimento.
45
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TABELA 15
CUSTO DE IMPLANTAÇÃO DE TONELAGEM ADICIONAL
E CUMPRIMENTO DE PRAZOS - BRASIL E CORÉIA DO SUL
Capacidade Atraso "Adiantamento" Custo
(mil ton.) (anos) (meses) (US$/ta)
BRASIL
CSN - I Estágio 300 4 320
CSN - II Estágio 800 2 1050
CSN - III Estágio 2100 2 1143
Usiminas - I Estágio 800 - 368
Usiminas - II Estágio 1000 1 648
Usiminas - III Estágio 1100 4 1355
Cosipa - I Estágio 550 3 455
Cosipa - II Estágio 1200 3 882
Cosipa - III Estágio 1100 10 2900
CST 3300 2 885
Açominas 2000 5 3160
COREIA DO SUL
Pohang - 1a. Fase 1030 1 287
Pohang - 2a. Fase 1570 1 352
Pohang - 3a. Fase 2900 5 469
Pohang - 4a. Fase 3000 4 460
Kwangyang - 1a. Fase 2700 6 723
Kwangyang - 2a. Fase 2700 s.d 473
Fonte: Chung (1987), Batista (1988), Guimarães (1987), Posco (1989), Paula (1992)
O projeto Açominas é o caso mais drástico de atraso combinado com elevação substancial
dos encargos financeiros. Esta usina foi planejada com uma capacidade inicial de 2 milhões de
toneladas/ano. As operações de terraplanagem e construção civil começaram em 1976 e 1977
respectivamente, com prazo previsto de 5 anos e 8 meses para o start up da primeira etapa. No
entanto, o cronograma sofreu várias reprogramações. Em abril de 1979, previa-se o início das
operações do laminador de blocos e tarugos para março de 1981 e a entrada da unidade
metalúrgica (coqueria, sinterização, alto-forno e aciaria) para agosto de 1981. Em 1981 e 1982,
houve uma redução acentuada no ritmo das obras civis e, no primeiro semestre de 1984, as obras
foram praticamente paralisadas (BATISTA, 1988: 23). No segundo semestre, as obras foram
retomadas e a usina foi inaugurada em fevereiro de 1985. Em julho de 1985, com cinco anos de
atraso, a usina passou a ser integrada.
O atraso ocasionou o crescimento exponencial do orçamento através do aumento de
despesas financeiras. A previsão inicial de 1978 era de que a obra custaria US$ 3,453 bilhões,
sendo US$ 218 milhões de encargos sociais (Tabela 16). Em 1980, o orçamento do projeto
Açominas chegou a US$ 3,9 bilhões e, em 1985, os custos atingiram US$ 6,151 bilhões (dos
quais US$ 2,275 bilhões apenas de despesas financeiras). A diferença entre o gasto planejado e o
efetivo foi de US$ 2,698 bilhões (78% de aumento), sendo que US$ 2,057 bilhões decorreram do
acréscimo das despesas financeras. Finalmente, GUERRA et alli (1989) apresentam uma
46
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estimativa mais recente, pela qual as inversões da etapa I da Açominas já atingiam US$ 6,3 bilhões
(US$ 2,47 bilhões de juros).
TABELA 16
PROJETO AÇOMINAS -
ESTIMATIVA INICIAL (1978) E GASTO EFETIVO (1985)
(US$ milhões)
Inicial Efetivo Diferença
Usina (Equipamentos) 2289 2878 589
Infra-estrutura Industrial
e Urbana 316 316 -
Adminstração e Engenharia 269 269 -
Juros 218 2275 2057
Despesas Pré-operacionais 35 35 -
Capital de Giro 326 326 -
TOTAL 3453 6161 2698
Fonte: Souza (1985)
Obs: a diferença de US$ 32 milhões é atribuída a outras rubricas que não usinas (equipamentos) e
juros
Grande parte do ônus financeiros deveu-se à pressa em tornar a usina um fato consumado,
o que inviabilizou a busca de financiamento junto ao Banco Mundial e determinou a utilização
intensiva de supplier's credits e capitais de curto prazo (SCHNEIDER, 1987: 385). Muito
provavelmente, a obtenção de recursos junto ao Banco Mundial, além de atrasar o início do
projeto, diminuiria o índice de nacionalização dos equipamentos (face à obrigatoriedade de
concorrências internacionais).
A utilização intensiva de recursos de curto prazo e supplier's credits mostrou-se uma
estratégia desastrosa. Os juros subiram acentuamente após 1979, sendo que a paralisação das
obras da usina foi condicionada à necessidade de pagamentos de encargos financeiros. SOUZA
(1985: 116) apresenta os dados anuais da participação do serviço da dívida em relação ao
orçamento do projeto: 1979 (10,4%), 1980 (22,6%), 1981 (40,2%), 1982 (58,5%), 1983 (87,2%)
e 1984 (86,0%).
Uma parte muito significativa dos custos de implantação da Açominas deve ser atribuída
aos laminadores de perfis médios47, perfis pesados e trilhos, que já custaram cerca de US$ 857
milhões (US$ 670 milhões referentes aos equipamentos propriamente ditos e US$ 187 milhões
relativos aos gastos de instalação). Segundo estimativas recentes, faltariam aproximadamente US$
274 milhões para a conclusão das instalações dos equipamentos, que se encontram estocados na
usina desde 1983 (SIDERURGIA LATINOAMERICANA, 1990 (362): 14). As obras foram
47 Se não bastasse a enorme defasagem temporal entre a aquisição deste equipamento e sua eventual utilização, o
que já implica em desatualização tecnológica, o laminador de perfis médios é super-dimensionado para a demanda
brasileira (a demanda atual é de 100 mil toneladas/ano e a sua capacidade é de 710 mil toneladas/ano).
47
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paralizadas novamente em 1991, sendo que, na avaliação da empresa, 75% do investimento para a
entrada em operação dos perfis pesados e trilhos já foram efetuados.
É evidente, porém, que atrasos nos cronogramas não foram uma peculiaridade da
Açominas, mas ao contrário, uma característica geral do segmento de aços planos
(GUIMARAES, 1987: 54-55). O recorde, aliás, cabe ao Estágio III da Cosipa, cuja previsão de
operação inicial era 1979, mas somente se concretizou em maio de 1989 (com a inauguração da
terceira máquina de lingotamento contínuo), significando uma defasagem de 10 anos.
A Tabela 17 mostra o peso das despesas financeiras no faturamento das usinas, por
segmento, até o ano de 1986. É notável o crescimento desta participação para o setor,
principalmente, a partir de 1979. Naturalmente, este fato decorre do alto endividamento (externo)
das usinas. O segmento de aços planos, que era monopolizado por empresas estatais, sentiu mais
fortemente este choque de juros. É bem verdade que as estatais como um todo foram estimuladas
a contraírem empréstimos externos além de suas necessidade, para financiar os crescentes déficits
na conta corrente do país. Como assegura GUIMARAES (1987: 52), a partir de 1978/80, as
operações de suppplier's credits na siderurgia chegaram a ser desvirtuadas, dado que os
empréstimos captados com base em projetos siderúrgicos foram utilizados para outros fins. Com
seus débitos externos ampliados, o rápido crescimento dos juros internacionais a partir de 1979,
conjuntamente com duas maxidesvalorizações cambiais (1979 e 1983), implicou o crescente peso
das despesas financeiras. Esta abrupta elevação das despesas financeiras teve como decorrência a
dilatação dos cronogramas da ampliação das usinas, piorando a saúde financeira das empresas:
tratava-se de um círculo vicioso envolvendo a fragilidade financeira das empresas e atrasos.
TABELA 17
DESPESAS FINANCEIRAS EM RELAÇÃO AO FATURAMENTO LÍQUIDO -
SIDERURGIA BRASILEIRA, POR SEGMENTOS
(1977/86)
(percentagem)
Planos Especiais Longos Total
Comuns Comuns
1977 9,7 10,7 2,5 8,0
1978 6,1 12,3 8,3 8,0
1979 8,0 21,5 6,1 10,4
1980 10,3 25,0 5,6 12,4
1981 17,2 32,3 8,0 18,1
1982 26,5 41,8 10,9 25,2
1983 28,2 42,0 12,7 26,6
1984 21,2 21,1 8,6 17,7
1985 18,7 2,6 5,1 12,2
1986 19,8 7,5 4,7 16,8
Fonte: IBS Consider
48
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Certamente, o segmento mais afetado foi o de aços especiais, muito em função de sua
queda acentuada de faturamento. No biênio 1982/1983, a participação dos juros no faturamento
deste segmento ultrapassou 40%. Já o segmento de aços longos comuns, por ser menos capital
intensivo e não ter sido utilizado para captação de recursos externos, foi o menos atingido. Para a
indústria siderúrgica como um todo, somente após 1983 é que se verificou uma queda da razão
juros/faturamento, embora continue a ser um custo preponderante para o setor.
2.1.5. Custos de produção por instalação
A Tabela 18 apresenta a discriminação dos custos por etapa produtiva a partir de dados da
World Steel Dynamics. O Brasil apresenta o menor custo de fabricação de ferro-gusa (coluna A)
de toda a amostra, evidentemente em função da vantagem da utilização de minério de ferro
nacional. O país também apresenta o menor custo de produção de aço bruto (coluna C), embora a
sua vantagem competitiva seja menor, dado que o custo na etapa de refino é o maior da amostra
(coluna B).
TABELA 18
CUSTO DE PRODUÇÃO OPERACIONAL DE BOBINAS
LAMINADAS A FRIO POR ETAPAS - PAÍSES SELECIONADOS
(1991)
(US$/tonelada)
A B C D E F G H
Coréia Sul 141 52 193 29 49 271 105 376
Taiwan 146 53 199 29 62 290 124 414
Brasil 128 64 192 32 61 285 133 418
Austrália 131 63 194 37 82 313 149 462
Reino Unido 152 57 209 39 74 322 142 464
Canadá 140 55 195 47 76 318 150 468
EUA 145 58 203 43 73 319 149 468
França 155 55 210 37 75 322 153 475
Japão 145 57 202 33 75 310 165 475
Alemanha 173 56 229 42 89 360 171 531
Fonte: World Steel Dynamics (1992)
Legenda: A = Alto-forno
B = Aciaria
C = Custo do aço líquido (A+B)
D = Laminação de Placas
E = Laminação de Tiras a Quente
F = Custo da Bobina Laminada a Quente (C+D+E)
G = Laminação de Tiras a Frio*
H = Custo da Bobina Laminda a Frio (F+G)
Obs: inclui taxas estaduais/municipais e gastos administrativos
Em termos de produção de laminados, a trajetória de perda da competitividade se acentua.
O Brasil tem o segundo menor custo na produção de bobinas laminadas a quente e o terceiro
menor custo na produção de bobinas laminadas a frio. Estes dados são extremamente nítidos em
49
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demonstrar as fragilidades competitivas da siderurgia brasileira
__
nas etapas iniciais do processo
(em especial, alto-forno) o Brasil apresenta uma posição privilegiada enquanto nas etapas finais
(particularmente, a laminação de tiras a frio), a situação brasileira é bastante desconfortável,
evidenciando o viés da siderurgia brasileira para produtos pouco nobres
__
e indicar o caminho
dos investimentos: privilegiar a laminação (de trás para frente). Além disso, o problema crucial
não é operacional: os juros fazem com que a siderurgia brasileira tenha um dos piores custos
totais, de toda esta amostra.
Duas questões precisam ainda ser enfatizadas. A primeira diz respeito ao fato de que, face
à excelência do minério de ferro utilizado e o nível de salários praticados, os custos operacionais
brasileiros deveriam ser mais reduzidos, ou seja, estas duas vantagens competitivas são
"gradativamente perdidas" ao longo do processo produtivo.
Em segundo lugar, Japão e Alemanha, países líderes mundiais, apresentam os custos
operacionais mais altos desta amostra. A aparente contradição é desfeita ao se considerar dois
fatores: qualidade e câmbio. Apesar de possuirem custos relativamente altos, estas siderurgias
permanecem no mercado face à melhor qualidade dos seus produtos. Além disso, a forte
valorização do iene frente ao dólar norte-americano, pós-1986, aumentou significativamente os
custos das siderúrgicas japonesas, quando mensurados nesta moeda48.
2.1.6. Custos portuários
A nocão geral é de que os custos portuários são uma grande desvantagem competitiva da
indústria brasileira, em geral, e da siderurgia, em particular49. As evidências comprovam que, em
média, os custos portuários no Brasil são de três a cinco vezes maiores do que nos portos
americanos e europeus, para escoamento tanto de produtos planos quanto de longos (Tabela 19).
48 O alto custo do aço alemão deve-se, em grande medida, à compulsoriedade da utilização de carvão mineral
nacional, que é mais caro que similares internacionais.
49 Como aponta BNDES (1987: 22), os custos portuários das exportações de produtos siderúrgicos brasileiros estão
completamente fora dos padrões internacionais.
50
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TABELA 19
CUSTOS PORTUÁRIOS NO EMBARQUE DE
PRODUTOS SIDERÚRGICOS - PORTOS SELECIONADOS
(1989/90)
(dólares/tonelada)
Produtos Produtos
Planos Longos
(1989) (1990)
Brasil
Praia Mole (ES) 15,42 -
Cosipa (SP) 32,59 -
Rio de Janeiro (RJ) 37,48 21/24
São Sebastião (SP) - 15
Vitória - 15/20
Santos - 46/55
Europa e Estados Unidos
Rotterdam (Holanda) 6,82 7,5
Hamburgo (Alemanha) 8,60 6,5
Filadélfia (EUA) 9,25 -
New Orleans (EUA) 9,45 10
Antuérpia (Bélgica) - 4
Fonte: Soares (1990), Johannpeter (1990)
Os problemas portuários estão longe de serem exclusivos da siderurgia. Excessivo
dimensionamento do número de homens, legislação ultrapassada, custos altos e crescentes,
dificuldade para operações em terminais privados e exclusividade da mão-de-obra avulsa são
problemas que atingem toda a economia nacional. A nova Legislação Portuária poderá arrefecer
vários destes problemas.
2.1.7. Aços longos e especiais
A literatura especializada, bem como este paper, privilegiam a análise do segmento de
aços planos, até porque representa cerca de 70% da produção mundial. Apesar disso, os pontos
fortes e fracos levantados para a siderurgia brasileira de planos são, grosso modo, pertinentes
tanto para aços longos e mesmo para o segmento específico de aços especiais.
Há, naturalmente, diferenças na situação atual dos diversos segmentos. Por exemplo,
embora a difusão de automação industrial de base microeletrônica seja uma deficiência de toda a
siderurgia brasileira, ela é mais gritante no segmento de aços especiais. Apesar das elevadas
despesas financeiras serem outro problema da indústria doméstica, ele é menos intenso no
segmento de aços longos, até porque esses empreendimentos não foram utilizados como
instrumento de captação de recursos externos. A produtividade relativamente baixa da siderurgia
brasileira é mais sentida na laminação de longos, em comparação com produtores latino-
americanos. A grande estabilidade dos empregados no setor siderúrgico brasileiro, contudo, é
51
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verificado com menor intensidade no segmento de aços longos. De todo modo, apesar desse série
de particularidades ser extensa, quase sempre verificam-se diferenças na intensidade, e muito
raramente no status das vantagens e desvantagens competitivas.
Constata-se, adicionalmente, que estimativas de custo de produção para o segmento de
aços longos são mais esporádicas e para o de aços especiais muito mais difíceis, face à enorme
variedade da linhas de produtos. No primeiro caso, ASP (1991: 13), por exemplo, elabora uma
comparação do custo de produção e exportação de tarugos entre Brasil, Estados Unidos e Canadá
(para setembro de 1990). Apesar do número de países tomados para a comparação ser restrito,
constata-se que:
a) o custo da mão-de-obra é mais baixo no Brasil, embora a produtividade seja menor
(especialmente em comparação com a norte-americana);
b) o custo da eletricidade é ligeiramente inferior ao americano, embora bem superior ao
canadense;
c) o consumo específico de energia é inferior no Brasil, em comparação com os outros
dois países;
d) o custo de produção de tarugos é similar nos três países;
e) os custos financeiros e tributários são significativamente superiores na indústria brasileira.
Estas informações ratificam a análise anterior. Em compensação, a vantagem em termos de
matéria-prima (sucata, fundamentalmente) é bem menos pronunciada e, neste caso, até se
transforma numa desvantagem. Deve-se, todavia, apontar que os dois países (EUA e Canadá) não
são os mais indicados para uma comparação desta natureza, face à super-oferta deste insumo
verificado nestas economias. Assim, uma vez que a diferença em termos de custo de matéria-
prima para a siderurgia brasileira supera em apenas 6,7% o daqueles países, conclui-se que ela não
chega a se constituir uma desvantagem competitiva. Aliás, a sucata também não apresenta graves
problemas de suprimento interno, uma vez que a importação foi mínima ao longo de toda a
década de 8050. Em termos prospectivos, até 1995 o mercado de metálicos deve mostrar
estabilidade, podendo acontecer pressões de custo (sucata e ferro-gusa), no fim do período, em
função de aumentos de demanda (D'AVILLA Fo., 1992: 200).
50 Em 1991, a importação foi equivalente a apenas 1,6% do consumo aparente de sucata na indústria siderúrgica.
No ano de maior importação (1986), este coeficiente chegou a apenas 6,8%. O problema maior de suprimento de
sucata é de material inoxidável.
52
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2.2. Diagnóstico da Competitividade - Desempenho Exportador
Um outro indicador de competitividade é a participação nacional nas exportações mundiais
de aço. Como mostra a Tabela 20, a indústria brasileira detém cerca de 7,5% do comércio
internacional de aço (dado de 1990). Verifica-se no entanto, que a participação brasileira é grande
em produtos de baixo valor agregado, como placas (30,89%) e pequena em produtos mais nobres,
com chapas galvanizadas (1,38%). Os produtos foram dispostos na tabela numa ordem crescente
de valor adicionado.
TABELA 20
PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS
DE AÇO POR PRODUTO
(1983/90)
(percentual)
1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
Semi-acabados 7,41 18,84 28,98 23,98 29,48 34,60 39,20 30,89
Trilhos/Acessórios 0,02 0,01 0,06 0,01 - - - -
Barras/Vergalhões 2,60 3,20 2,70 2,26 7,36 13,10 12,29 14,02
Perfis 0,31 0,61 0,29 0,31 0,43 0,74 0,56 0,36
Fio-máquina 4,47 4,01 7,63 6,08 6,09 11,70 7,99 9,90
Chapas Grossas 10,83 7,75 7,90 6,66 4,83 12,59 9,17 9,65
Bobinas a Quente 8,86 7,69 6,37 5,41 4,44 8,21 6,48 8,29
Bobinas a Frio 4,75 2,84 1,81 1,96 2,01 4,24 2,65 1,69
Folhas-Flandes* 1,86 2,00 2,56 2,94 3,00 6,00 4,38 4,13
Galvanizadas 0,86 0,73 1,62 1,60 0,85 1,08 1,29 1,38
Tubos 1,02 2,56 1,61 1,65 1,14 2,15 2,36 2,37
Arames 3,00 3,88 2,79 2,62 2,19 3,91 3,41 3,33
TOTAL 5,24 5,58 6,05 5,31 5,59 9,03 8,81 7,59
Fonte: IISI, IBS.Consider
Obs: * inclui chapas cromadas e alto-carbono
No ano de 1990, percebe-se uma queda acentuada do market-share da siderurgia
brasileira, em comparação com os dois anos precedentes. Não se deve, no entanto, tomar esse
fato como indicador de perda repentina de competitividade das exportações brasileiras51. Ele
deveu-se principalmente à queda da produção da CST, da ordem de 1,3 milhão de toneladas,
causada por problemas em seu único alto-forno. Se o acidente não tivesse ocorrido, e a CST
mantivesse sua tendência de exportação (de 95% da produção), a participação brasileira no
mercado mundial de aço teria sido de 8,6%. Isto é ressaltado quando se observa que, ao nível de
produtos, a retração somente é significativa em semi-acabados (as placas são o único produto da
CST) e bobinas laminadas a frio, embora neste último o Brasil ocupe apenas uma posição marginal
no mercado internacional.
51 Neste mesmo sentido, as exportações de 1991, foram inclusive superiores às de 1989: 10,9 milhões de toneladas
(US$ 3,5 bilhões).
53
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A comparação com o Japão, novamente, é elucidativa. Em 1990, o Brasil exportou 3,5
milhões de toneldas de semi-acabados, 1,7 milhão de toneladas de bobinas laminadas a quente,
268 mil toneladas de bobinas laminadas a frio e 101 mil toneladas de chapas galvanizadas. Os
dados respectivos para o Japão foram de: 40 mil toneladas, 1,7 milhão de toneladas, 3,1 milhões
de toneladas e 2,2 milhões de toneladas. A inserção de cada país no comércio internacional de
produtos siderúrgicos fica bastante evidente.
Mais importante do que a participação no mercado internacional é a forma desta
participação. A siderurgia, a nível mundial, tende a apresentar preços diferenciados: os preços
praticados nas exportações, via de regra, são significativamente menores do que os obtidos no
mercado doméstico52. Assim, de certa forma, as exportações são penalizadas. A siderurgia
brasileira foi planejada para exportar 10% de sua produção, com o objetivo de equilibrar a balança
comercial setorial, face à necessidade de importação de carvão mineral. Contudo, o coeficiente
exportação/produção já ultrapassa a 50% em função da acentuada recessão interna, combinada
com o término das grandes etapas de expansão das usinas. Como a indústria é de processo
contínuo, é impensável trabalhar com capacidade ociosa, e por isso , exporta-se a qualquer preço
para manter o nível de atividade da usina. Assim, cria-se um círculo vicioso, pois a venda de
produtos básicos implica baixa lucratividade, que por sua vez, inviabiliza os recursos para a
modernização das instalações necessária à fabricação de produtos de maior valor agregado.
O direcionamento repentino da produção brasileira para o mercado internacional foi uma
desvantagem muito importante. Como relata SCHLAFER (1988: 2), a necessidade premente de
exportar não permitiu o desenvolvimento prévio de experiência própria no comércio internacional
(equipes, promoção e desenvolvimento de clientes). Esta adpatação foi realizada num curto
espaço de tempo, e com altos custos53. A maioria das exportações, num primeiro momento,
remunerava apenas os custos variáveis.
Dois agravantes desta situação foram o contexto recessivo mundial e a estratégia do mix
de produtos adotada no período de expansão acelerada da capacidade brasileira durante a década
de 70. Quando o Brasil passou a ter excedentes exportáveis (início da década de 80), os grandes
importadores, simultaneamente, reavivavam condutas protecionistas, dificultando estas mesmas
exportações, especialmente de produtos mais nobres54.
52 Até porque, nos países desenvolvidos, face às barreiras protecionistas (especialmente, de cunho quantitativo),
vigora uma tendência de elevação de preços internos, em relação a um preço spot (do mercado internacional).
53 JOHANNPETER (1990: 4) define bem esta mudança estratégica, ao indicar que "o grande crescimento das
exportações siderúrgicas na década de 80, não foi uma questão de vocação mas sim de sobrevivência".
54 A saída foi vender produtos de baixo valor agregado, nos quais os aspectos volume e velocidade de entrega
representaram influência preponderante no fechamento dos negócios (SCHLAFER, 1988: 7).
54
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Além disso, a busca de enobrecimento por parte da maioria das empresas somente ocorreu
em função da crise econômica. Como demonstra SOARES (1990: 7-9), na fase de crescimento
(até final da década de 70), as empresas brasileiras priorizavam investimentos voltados para a
expansão da capacidade instalada; com a crise do início dos anos 80, as empresas redefiniram sua
estratégia de crescimento, entrando em novos mercados e procurando ofertar produtos mais
nobres.
Em síntese, a inserção brasileira no mercado mundial de produtos siderúrgicos é
desconfortável, em função de três fatores: a) a exportação como uma saída (desesperada) para a
crise nacional, e não como um objetivo de longo prazo; b) o contexto internacional recessivo, que
impôs limites a expansão destas vendas no mercado internacional; c) uma política pregressa que
privilegiou o crescimento quantitativo e não qualitativo (em termos de melhorias acentuadas do
mix de produtos).
2.3. Diagnóstico da Competitividade - Tecnologia, Gestão Empresarial e Relações
Trabalhistas
2.3.1. Capacitação Tecnológica
O desenvolvimento tecnológico é um importante vetor para a competitividade da indústria.
Em geral, o progresso técnico na siderurgia busca a redução de custos e o aumento da
flexibilidade do processo de produção. Para se analisar a tecnologia incorporada numa indústria
siderúrgica nacional, vários parâmetros são relevantes, tais como: importação de tecnologia,
pesquisa e desenvolvimento, relacionamento com fornecedores de tecnologia, nível tecnológico de
processos e de produtos, difusão de automação industrial e de técnicas organizacionais, consumo
de energia e medidas de proteção ambiental. O quesito nível tecnológico dos processos é
usualmente tomado como representativo da avaliação tecnológica do setor55.
O processo siderúrgico é dividido em três partes: redução, refino e laminação. A primeira
etapa consiste na transformação do minério de ferro em metal líquido. Existem três rotas
tecnológicas alternativas:
. carvão mineral: requer altos-fornos, sinterização e coqueria, produzindo ferro-gusa;
55 Cabe ressalvar que a análise não detalha situações especiais. Por exemplo, não se discute a tecnologia redução
direta (tais equipamentos estão instalados, na siderurgia brasileira, apenas na Usiba e Piratini), que gera ferro-
esponja, um produto substituto do ferro-gusa e sucata. Outro caso é um laminador especial, tipo Steckel, utilizado
apenas na Acesita. Para esse detalhamento, ver PAULA (1992).
55
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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. carvão vegetal: requer altos-fornos, sendo que algumas empresas também utilizam
sinterização, produzindo ferro-gusa;
. redução direta: unidade especial, a base de carvão não-coqueificável ou gás natural,
produzindo ferro-esponja.
Tanto no Brasil como na siderurgia mundial, o equipamento mais importante desta fase é o
alto-forno. Os dados disponíveis referem-se aos altos-fornos a carvão mineral, uma vez que os
altos-fornos a carvão vegetal são uma peculiaridade da siderurgia brasileira. O Tabela 21
apresenta o indicador Coke-Rate para as siderurgias brasileira e japonesa. Ele aufere o consumo
de coque (kg) necessário para a produção de uma tonelada de ferro-gusa. Como o coque é
insumo para a fabricação de gusa, quanto menor a razão, maior é a produtividade do alto-forno56.
Percebe-se que os valores alcançados pela siderurgia brasileira se aproximam do obtido pela
japonesa, sendo que no biênio 1987/88 eles são, inclusive, melhores. Em linhas gerais, os índices
de desempenho operacional dos altos-fornos brasileiros são bastante satisfatórios, assim como
para quase todo os equipamentos da etapa de redução57.
TABELA 21
EVOLUÇÃO DO COKE-RATE - BRASIL E JAPÃO
(1980/89)
(kg. de coque/tonelada de ferro-gusa)
1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89
Brasil 481 490 503 493 491 489 488 476 475 480
Japão 450 475 480 493 469 480 484 481 477 464
Fonte: IBS.Consider, Polanczyk (1992)
A etapa de refino tem três equipamentos principais: a aciaria (que é a produção do aço
propriamente dita), a metalurgia de panela ou refino secundário (processo que visa melhorar as
características estruturais do aço e reduzir o tempo de corrida da aciaria) e o lingotamento
(solidificação do aço).
Na aciaria, existem duas rotas tecnológicas predominantes no mundo: conversor a
oxigênio (também denominado LD) e forno elétrico a arco. O primeiro é utilizado em usinas
integradas a carvão mineral ou vegetal, aquelas que processam desde o minério até o produto final
56 Outra forma de avaliar o alto-forno é através do consumo específico de energia primária dispendida
(Mcal/tonelada de gusa), e a chamada "produtividade" (tonelada diária de produção/volume do forno em metros
cúbicos). Uma referência para o alto-forno também é a seu porte, mensurado pelo volume interno (metros cúbicos)
e o número de ventaneiras.
57 A exceção são as instalações de redução direta, muito antigas, com alto consumo energético, além do país estar
defasado por não possuir nenhum processo contínuo, com forno de cuba a gás natural (como as tecnologias Midrex,
a mais difundida no mundo atualmente, e HyL III). A unidade da Piratini (de 55 mil toneladas ano) foi desativada
inclusive antes de sua privatização.
56
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(o laminado). O segundo é mais usado em usinas semi-integradas, cujo processo começa na
aciaria, ou em integradas a redução direta. O indicador de modernização tecnológica é a não
utilização dos antigo forno Siemens Martin58. A Tabela 22 apresenta a distribuição da produção
de aço bruto, por tipo de aciaria, para a siderurgia mundial (ano de 1991). Constata-se que o
Brasil, por este parâmetro, não se encontra defasado. Em 1988, desativou-se o último forno
Siemens Martin da siderurgia brasileira (o da Siderúrgica Barra Mansa, Grupo Votorantim).
TABELA 22
DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO DE AÇO BRUTO
POR TIPO DE ACIARIA - SIDERURGIA MUNDIAL
(1991)
(percentual)
Conversor Forno Elétrico Siemens
Oxigênio a Arco Martin
Países Desenvolvidos 66,2 33,0 0,8
Japão 68,6 31,4 -
CEE 67,9 31,6 0,5
EUA 60,0 38,4 1,6
Coréia do Sul 70,9 29,1 -
Taiwan 53,1 45,0 -
Brasil 79,3 18,4 -
México 39,6 57,0 3,3
Venezuela - 100,0 -
Argentina 46,7 53,3 -
Europa Oriental 39,2 14,7 46,1
Média Mundial 58,2 28,4 13,2
Fonte: IISI
As operações de lingotamento constituem-se no ponto mais frágil da siderurgia brasileira,
no que diz respeito à etapa de refino. Existem dois tipos básicos de solidificação: convencional e
contínuo, sendo o último muito superior, em termos de custo e consistência do produto. O
lingotamento contínuo apresenta maior rendimento placa/aço líquido, sendo mais compacto
(economizando energia) e conferindo melhor qualidade ao produto final59. No caso brasileiro, em
1989, apenas 54% da produção foi realizado por lingotamento contínuo, enquanto a média dos
países industrializados chega a 82,9% e o Japão a 93,5% (Tabela 23). O Brasil apresenta uma
situação desfavorável até em relação aos países latino-americanos da amostra.
58 As principais desvantagens do forno Siemens Martin são: prolongado tempo de corrida do aço (6 a 8 horas, em
comparação com 45 minutos do conversor LD) e alto custo do equipamento. A vantagem é a versatilidade na
proporção de insumos utilizados (sucata e ferro-gusa).
59 Segundo FURTADO et alii (1992: 449), a Cosipa, cujo utilização de lingotamento contínuo é de cerca de 30%,
estima que a redução dos custos operacionais decorrentes da utilização do lingotamento contínuo é de 18%.
57
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TABELA 23
DIFUSÃO DE LINGOTAMENTO CONTÍNUO - SIDERURGIA MUNDIAL
(1985/91)
(percentual)
1985 1989 1991
Países Desenvolvidos 68,7 82,9 s.d
Japão 91,1 93,5 94,4
CEE 69,5 87,9 s.d
EUA 44,4 64,6 75,7
Coréia do Sul 63,3 94,1 96,4
Taiwan 87,2 92,9 94,6
Brasil 43,7 54,0 56,0
México 54,3 55,8 s.d
Venezuela 73,5 78,7 s.d
Argentina 62,4 74,3 s.d
Europa Oriental 15,1 18,4 s.d
Média Mundial 49,9 61,8 s.d
Fonte: IISI
É bem verdade que a utilização de lingotamento convencional é muito concentrada em
algumas usinas: CST, Açominas60, Cosipa e as quatro usinas do Grupo Villares. De fato,
constata-se que o lingotamento contínuo é muito pouco difundido no segmento de aços especiais.
Em 1990, 65,6% do aço especial foram lingotados convencionalmente. Poder-se-ia pensar numa
incompatibilidade de fornos elétricos a arco e lingotamento contínuo. Mas a siderurgia japonesa
parece desmentir tal premissa: em 1991, os aços fabricados em aciaria elétrica representaram
31,4% da produção de aço bruto e a taxa de utilização do lingotamento contínuo desta indústria
chegou a 94,4%. Não por acaso, a Piratini e a CST, logo após sua privatização anunciaram
investimentos para a instalação de lingotamento contínuo. Quando estes investimentos se
concretizarem a média brasileira de utilização de lingotamento contínuo deverá subir para cerca de
65%. Mesmo assim, não se conseguirá superar esta grave deficiência da siderurgia brasileira.
A utilização da metalurgia de panela é um dos melhores indicadores do enobrecimento do
mix de produtos. Trata-se da interligação da aciaria com as máquinas de lingotamento,
possibilitando um ajuste fino de temperatura e composição química, que são parâmetros de
processo essenciais à obtenção de produtos nobres. Em geral, quanto maior a proporção de aços
tratados em equipamentos de refino secundário, melhor é o grau de enobrecimento da produção.
Uma dificuldade inicial para a avaliação do grau de utilização de metalurgia de panela é a
variedade de equipamentos que podem ser enquadrados nesta categoria, como: a) processos de
desgaseificão a vácuo DH, RH e RH-OB; b) fornos-panela; c) instalações VD/VOD e AOD; d)
processos de injeção de fio de alumínio. Além disso, cada um tem uma eficácia diferenciada sobre
60 A justicativa para a adoção do lingotamento convencional na Açominas foi o receio de que o contínuo não fosse
conveniente para a produção de trilhos.
58
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as tarefas metalúrgicas desempenhadas: descarburação, dessulfuração, desgaseificação, adições de
ligas, ajustes de composição e de temperatura.
Os processos de desgaseificação a vácuo foram os pioneiros da metalurgia secundária,
ainda na década de 50. Uma de suas características marcantes é a capacidade de tratar grandes
volumes de aço, sendo empregado principalmente em usinas siderúrgicas integradas a coque. A
capacidade instalada no Brasil destes processos é de 3,062 milhões de toneladas (PIMENTA,
1990: 45), enquanto na Coréia do Sul, que produz cerca de 10% a mais de aço que o Brasil, é 9,4
milhões.
Outro equipamento importante é o forno-panela. A siderurgia brasileira foi muito ágil na
adoção desta tecnologia, pois a primeira instalação no mundo, em escala industrial, data de 1965,
e o equipamento da Aços Villares foi o primeiro forno-panela comercializado fora da Suécia
(1969), embora a difusão posterior não tenha ocorrido na mesma intensidade. A grande vantagem
da combinação do forno elétrico a arco com forno-panela é que se consegue aumentar em 30% a
produtividade daqueles (PIMENTA, 1984: 543), uma vez que o refino acaba ficando com o
forno-panela.
A baixa difusão de fornos-panela, no Brasil, apesar de existir, é bem menos gritante do que
a da desgaseificação a vácuo. Em 1987, 21% dos aços produzidos no Brasil em aciarias elétricas
receberam tratamento em forno-panela. SOARES (1991: 25) aponta que este percentual para o
Japão, em 1989, foi de 56%.
Um dado sintetiza a defasagem da metalurgia de panela no Brasil: no Japão, em 1989,
68% do aço fabricado recebeu este tratamento; no Brasil, em 1987, este valor aproximou-se de
10% (PIMENTA, 1990: 49).
Finalmente, resta analisar a etapa de laminação. Esta etapa é, certamente, a de avaliação
mais difícil dado as diferenças de linhas de produção entre as empresas. Um modo indireto, porém
eficaz, de averiguar a qualidade de sua laminação é observar o mix de produtos. Isto decorre do
fato de que fabricar produtos mais nobres requer uma melhor laminação. A Tabela 24 mostra uma
comparação do enobrecimento, para Brasil, Alemanha, Japão, França e Coréia do Sul para ano de
1989.
59
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 24
MIX DE PRODUÇÃO - BRASIL, ALEMANHA, JAPÃO, FRANÇA E CORÉIA DO SUL
(1989)
(percentual)
Brasil Alemanha Japão França Coréia
Semi-acabados 29,49 6,87 - 5,02 -
Barras e Perfis 17,21 12,91 33,27 15,62 30,54
Chapas Grossas 11,88 11,32 9,55 7,63 12,48
Bobinas Quente 13,14 22,65 9,26 21,99 16,11
Bobinas Frio 11,58 14,20 13,18 15,25 13,06
Siliciosas 0,43 1,39 1,72 1,66 1,25
Galvanizadas 1,65 8,80 11,05 5,70 5,53
Folha-Flandes 2,41 3,30 1,82 1,66 1,25
Fonte: IISI
Obs: Os dados do Japão são de 1988
Os produtos foram dispostos em ordem crescente de valor agregado. Inicialmente, se
percebe que a matriz brasileira não se encaixa em nenhum dos dois modelos: "asiático" (cuja
participação de produtos longos, no caso, barras e perfis, é muito significativo) e "europeu"
(destaque para a produção de bobinas a chapas laminadas a quente). De fato, a peculiaridade
brasileira é a altíssima produção de semi-acabados.
Na produção de produtos planos básicos, chapas grossas, bobinas laminadas a quente e
bobinas laminadas a frio, a posição brasileira é satisfatória. Mas, no que tange, aos produtos de
maior valor agregado, constata-se que o país apresenta a menor fabricação relativa de chapas
siliciosas e galvanizadas (diga-se de passagem, em diferenças nada desprezíveis). A produção de
folhas-de-flandes constitui uma exceção do modelo brasileiro de fabricação intensiva de semi-
acabados e produtos básicos.
Não se pode desconsiderar também que a situação adversa do mercado doméstico não
incentivou o up-grading de produtos por parte das usinas nacionais. Certamente, o baixíssimo
consumo per capita de aço é uma restrição severa aos investimentos em modernização e
atualização tecnológica do setor. A Tabela 25 aponta o consumo de aço per capita para países
selecionados: não só o consumo brasileiro é baixo, mas também decrescente. Em 1992, o
consumo de aço per capita involui, ainda mais, para 65 kg/habitante61.
61 Dados preliminares, para o primeiro trimestre de 1993, apontam uma recuperação do consumo aparante.
Comparado com o mesmo período do ano anterior, o consumo aparente elevou-se 14,9%, com uma recuperação
mais pronunciada em aços planos (17,7%) do que em longos (10,8%). Mesmo assim, este aumento do consumo
aparente é ainda insuficiente para estimular maiores investimentos.
60
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TABELA 25
CONSUMO DE AÇO BRUTO PER CAPITA
(kilogramas por habitante)
1980 1985 1990
Alemanha 565,2 505,1 576,1
França 374,2 268,5 312,8
Estados Unidos 502,4 441,3 412,2
Japão 676,4 619,6 753,8
Países Industrializados 436,9 392,6 419,9
América Latina 103,1 72,9 71,3
Brasil 117,9 88,5 84,5
Coréia do Sul 160,0 275,5 418,6
Países em Desenvolvimento 44,4 35,0 47,0
Média Mundial 162,1 149,4 151,1
Fonte: IISI
Em suma, em termos de nível tecnológico dos processos, a siderurgia brasileira apresenta
resultados satisfatórios, da fase de redução até a aciaria, sendo que as defasagens concentram-se
nas etapas finais do processo (metalurgia de panela, lingotamento e laminação).
2.3.2. Gestão de Qualidade
Em linhas gerais, a grande maioria das siderúrgicas brasileiras estão levando a cabo
projetos de melhoria da qualidade e da produtividade62. É difícil avaliar contudo estes esforços,
uma vez que as estratégias de cada empresa são muito diferenciadas, embora, em geral,
englobadas dentro do conceito genérico de Total Quality Control (TQC).
Correndo o risco da simplicação excessiva, estes programas guardam algumas
similaridades, dentre as quais:
a) passaram a ser prioridade de fato das empresas no período recente (a partir de
1989/90)63;
b) quase sempre sofreram reformulações em comparação com o projeto implantado
inicialmente: de programas de garantia de qualidade evoluíram para o TQC;
62 Para seis usinas siderúrgicas, de um total de dez, a "maior confirmadade às especificações técnicas" é muito
importante na definição das estratégias de produto. Foi, na verdade, o fator mais destacado, sendo que "pequeno
prazo de entrega" recebeu cinco menções e "estrito atendimento às especificações particulares" quatro respostas
positivas (Pesquisa de Campo do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira).
63 Os resultados iniciais também já podem ser percebidos. Segundo Pesquisa de Campo do Estudo da
Competitividade da Indústria Brasileira, de um total de dez usinas siderúrgicas, os efeitos teriam sido mais
positivos no tocante a aumento do grau de conformidade às normas técnicas (6 alusões) e redução das taxas de
defeitos e de paradas imprevistas (4 indicações), ao comparar o desempenho em 1992, com o período 1987/89.
Outros quesitos, como redução das taxas de retrabalho, de devolução de pedidos e de rejeição de insumos parecem
ter sido pouco afetados.
61
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c) foram pouco afetados pelo PBQP;
d) o impacto positivo do PBQP refere-se, quase que exclusivamente, ao efeito "didático"
sobre os fornecedores;
e) a Fundação Christiano Ottoni (FC0), ligada ao Departamento de Engenharia
Metalúrgica da Universidade Federal de Minas Gerais, presta assessoria para várias usinas;
f) a certificação de qualidade pela norma ISO 9000 é um dos objetivos principais dos
programas;
g) algumas empresas mencionaram dois objetivos importantes, embora a médio e longo
prazo: obtenção do Prêmio Nacional da Qualidade e do Prêmio Deming (Japão).
Num recente trabalho (IBQN, 1993), características adicionais destes programas na
siderurgia brasileira são apontadas. Alguns dos pontos fortes seriam:
a) o órgão específico para execer as atividades que influenciam a qualidade está claramente
estabelecido dentro da estrutura organizacional;
b) divulgação constante da medição dos níveis de qualidade alcançados;
c) existe controle sobre a rastreabilidade dos lotes/corridas ao longo do processo de produção;
d) a documentação da qualidade está disponível e organizada;
e) a comparação de indicadores de desempenho com os das outras empresas
(benchmarking) já está difundida no setor.
Como pontos fracos, constata-se:
a) baixo índice de programas de Círculos de Controle da Qualidade (CCQ) praticado nas
empresas;
b) aplicação dos sistemas de gerenciamento da qualidade quase que restrita à area de
produção, não caracterizando um programa de qualidade total;
c) os controles exercidos sobre os equipamentos de medição e ensaio não são extensivos
aos fornecedores;
d) métodos insuficientes de comprovação da capacidade dos fornecedores;
e) nível educacional baixo dos empregados dificulta a obtenção de novas tecnologias e a
melhoria da qualidade e produtividade do setor64;
64 Isto é agravado pelo baixo investimento das empresas na formação de chefes e equipes, tendo em vista a
Qualidade Total (IBS, 1991b: 22).
62
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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f) empregados desmotivados e intranqüilos, devido às ameaças de desemprego e queda do
poder aquisitivo, comprometendo o esforço de melhoria da qualidade e produtividade do setor;
g) poucas empresas têm o seu sistema de qualidade cerfificado pelas normas ISO Série 9000.
De fato, um dos principais obstáculos ao desenvolvimento dos programas de qualidade e
produtividade refere-se à baixa qualificação dos trabalhadores, de um lado, e os reduzidos
recursos destinados a treinamento, de outro65. Segundo Pesquisa de Campo do Estudo da
Competitividade da Indústria Brasileira, de dez usinas siderúrgicas entrevistadas, quatro
diminuíram os seus gastos de treinamento em 1992, em comparação a 1987/89, uma manteve o
mesmo nível, e apenas duas aumentaram os seus dispêndios nesse ítem. Em compensação, todas
as sete empresas que responderam a este quesito apontaram que os gastos com treinamento no
período 1993/95 deverão ser maiores do que em 1992.
Três questões merecem também ser enfatizadas: a ruptura face ao processo de
privatização, a deficiência na comprovação da capacidade dos fornecedores e o reduzido número
de empresas (embora relevantes) que já obtiveram certificação ISO 9000.
No que tange à privatização, uma característica marcante do processo brasileiro (com
exceção da Usiminas) tem sido a redução do quadro funcional pós-privatização (ordem de 25%).
A incerteza quanto ao futuro da empresa após a transferência ao setor privado, num primeiro
momento, e o processo de demissão em massa quebram as bases dos programas de gestão da
qualidade que são motivação e envolvimento dos trabalhadores. Assim, o processo de
enxugamento decorrente da privatização tem constituído um fator de desarticulação e atraso dos
programas de qualidade e produtividade. Mas, por outro lado, a elevada rotatividade na alta
administração das empresas estatais era um obstáculo muito considerável à introdução e,
principalmente, desenvolvimento destes programas (IBS, 1991b: 22).
Uma deficiência dos programas de qualidade do setor siderúrgico brasileiro é a pouca
pressão que teria sido exerecida sobre os seus fornecedores. Em geral, as siderúrgicas
conseguiram reagir mais rapidamente às pressões dos seus clientes do que promovê-la sobre seus
fornecedores. Um diagnóstico do Subcomitê Siderúrgico de Qualidade e Produtividade do PBQP,
por exemplo, aponta as (elevadas) variações da qualidade das matérias-primas, o que dificulta a
estabilização dos processos produtivos siderúrgicos (IBS, 1991b: 22). Para amenizar este ponto
fraco, o Instituto Brasileiro de Siderurgia lançou em abril de 1993, o Programa de Qualificação de
Fornecedores do Setor Siderúrgico (PQF/IBS). A idéia baseia-se na avaliação dos fornecedores
pela normas IS0 9000 por grupos de auditores. Inicialmente, a qualificação abrangerá os 40
fornecedores mais significativos, eleitos pelas empresas que apoiam o Programa. Aos
65 Segundo IBQN (1993), a maioria das empresas siderúrgicas brasileiras apresenta índices de treinamento (hora
de treinamento/hora trabalhada) entre 0,65% e 2,0%.
63
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fornecedores aprovados serão conferidos certificados de fornecedor qualificado do setor
siderúrgico reconhecidos por todas as empresas compradoras.
O PQF/IBS é uma das raras tentativas de cooperação inter-setorial registradas na
siderurgia brasileira. Apresenta inúmeras vantagens em relação ao esquema atual de cada empresa
promover isoladamente a aferição da capacidade do fornecedor: reduz o número de auditorias de
qualidade executadas, facilita a difusão de auditorias para um número maior de fornecedores e
exerce um maior poder de compra (conjunto) sobre os forncedores.
A Tabela 26 sintetiza algumas informações dos programas de qualidade de algumas usinas
siderúrgicas brasileiras. Destaca-se a data de início do programa, as reformulações, a utilização de
consultorias ou assessoria extena, alguns resultados obtidos (índice de reclamações em termos
percentuais) e data de certificação pela ISO 9000.
TABELA 26
ESTÁGIO ATUAL DOS PROGRAMAS DE QUALIDADE
NA SIDERURGIA BRASILEIRA
Empresa Início Reform. Assessoria Reclamação Certif. ISO
Acesita 1988 06/1992 FCO - 11/1993*
Açominas 1990 - FCO - 12/1993*
Belgo-Mineira - 1989 FCO - 06/1993*
Cosipa 1983 12/1986 FCO - 06/1992
CSN - 01/1990 FCO - 03/1993
CST 1984 - FCO 0,15 06/1993*
Eletrometal 1978 1988 FCO - 03/1992
Mannesmann - 04/1989 FCO - -
Mendes Jr. - 1991 Usiminas 0,04 -
Usiminas 1977 - - 0,04 04/1992
Gr. Villares 1980 10/1990 - - 10-12/1991
Fonte: COEMA/ABM (1992), Coutinho et alli (1992), Ponce de León (1992)
Obs: * planejado
É necessário apontar que a certificação evoluiu: num primeiro momento, certificou-se
produtos ou sistemas de garantia de qualidade; num segundo, passou-se a avaliar este mesmo
sistema de garantia da qualidade conforme as normas ISO 9000. Embora várias empresas tenham
conseguido os primeiros tipos de certificações, pela norma ISO 9000, apenas Usiminas,
Eletrometal, Cosipa, CSN e as quatro usinas siderúrgicas do Grupo Villares a obtiveram até o
momento.
Na Usiminas, a certificação foi conferida, em 30 de abril de 1992, pela Det Norske
Veritas, da Noruega, pela ISO 9001. Na Cosipa, em junho de 1992, a Det Norske Veritas
reavaliou e aprovou o Sistema de Qualidade também conforme a norma ISO 9001, embora
restrito ao produto chapa grossa. Na Eletrometal, a certificação foi dada pela Bureau Veritas, em
25 de março de 1992, conforme a ISO 9002. No caso das usinas Villares, todas as certificações
64
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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foram conferidas pela American Bureau of Shipping, pela ISO 9002: Aços Villares (02.10.91),
Ipanema (01.11.91), Vibasa (14.11.91) e Anhangüera (19.12.91)66. Em 12 de março de 1993, a
CSN obteve certificação IS0 9002, também conferida pela American Bureau of Shipping. As
demais siderúrgicas deverão tentar a certificação pela ISO 9002, considerada mais apropriada ao
setor. Deve-se destacar que a ISO 9001 é mais ampla (envolvendo projeto/desenvolvimento e
assistência técnica), mas é considerada uma sofisticação desnecessária pelas demais
siderúrgicas67.
Não é fácil avaliar a qualidade e produtividade na siderurgia, face às peculiaridades de
cada empresa. Atualmente, a avaliação é sumária centrando-se na obtenção ou não da certificação
ISO 9000. Outros indicadores, tais como economia gerada e índices de reclamação, apesar de
geralmente citados, são problemáticos. No caso da economia gerada, um alto valor pode derivar
de baixa eficiência no passado, isto é, aufere a mudança organizacional, mas não o status atual
propriamente dito. Os índices de reclamação têm, pelo menos, um problema: depende da
propensão dos consumidores em reclamar (subjetivo).
É muito provável que as demais usinas siderúrgicas consigam a certificação da ISO 9000
até 1994. O setor está seguramente numa posição privilegiada em relação aos demais setores
industriais, pelo fato de ser exportador maciço e de já ter implantado no passado programas de
qualidade, que foram adaptados num passado recente às novas especificações.
De fato, recentemente (em maio de 1993), o Comitê Brasileiro da Qualidade (CB-25) da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) divulgou a lista das empreas brasileiras que
obtiveram certificações conforme a norma ISO 9000 (GAZETA MERCANTIL, 20/05/93: 2). Do
total de 103 certificações, 40 a obtiveram junto ao Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), seis junto à Fundação Carlos Alberto Vanzolini e
57 junto a entidades certificadoras internacionais. Deste último total, 9 certificações referem-se ao
setor siderúrgico (16% do total). Ao se considerar que a siderurgia representa cerca de 2,5-3% do
Produto Interno Bruto e de 7%-8% do Produto Industrial, este indicador, embora precário,
ratifica uma melhor situação da siderurgia em comparação com o resto do parque industrial
brasileiro. Destarte, o ponto fraco apontado anteriormente do número reduzido de certificações
conforme a ISO 9000, revela-se muito mais uma fragilidade da indústria brasileira, do que do
setor siderúrgico em específico.
Embora as empresas tenham apontado que o PBQP tenha sido pouco relevante para a
condução de seus programas, não se deve esquecer o impacto positivo sobre os fornecedores.
66 Recentemente, em 16 de dezembro de 1992, a Trefil Division da Vibasa (Diadema SP), também obteve
certificação ISO 9002, pela American Bureau of Shipping.
67 A Siderúrgica Mendes Jr. é uma das pouco empresas que pretende a certificação conforme a ISO 9001, muito
em função de ter contratado uma assessoria da Usiminas, em 1992.
65
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Nos insumos em que predominam empresas de médio ou pequeno porte, este impacto positivo
teria sido mais acentuado.
2.3.3. Relações Trabalhistas
. Grau de Conflito Trabalhista
As contradições capital-trabalho na siderurgia brasileira, em particular, e na mundial, de
um modo geral, são nada desprezíveis. Isto se deve, em alguma medida, ao ambiente agressivo de
trabalho68.
No caso brasileiro69, os sindicatos sempre tiveram um papel proeminente, em função das
siderúrgicas (em especial, as integradas a coque e a carvão vegetal) no contexto regional. Como
as cidades geralmente são muito dependentes destas empregas, e como não outras empresas do
mesmo porte na região, geralmente os sindicatos possuem uma base homogênea (somente
funcionários de uma ou poucas empresas), o que facilita um maior grau de mobilização.
É difícil uma comparação inter-setorial da importância das greves como instrumento
reivindicatório na indústria brasileira. Mas, na siderurgia brasileira, elas forma mais importantes ao
longo da década de 80, até como fruto da redemocratização do país. SOARES (1989: 1139)
constata uma evolução da revelância das greves que implicaram redução da produção setorial:
enquanto até 1986, as perdas de produção não ultrapassavam a 0,6% da fabricação de aço bruto,
em 1987 este percentual teria sido de 1,0%, e em 1988-89 superior a 2,5% (tabela 27). Somente
em 1988, ter-se-ia perdido com greves um faturamento de cerca de US$ 150 milhões.
68 O setor inclusive reconhece que precisa melhorar as condiçöes físicas e ambientais do empregado (IBS, 1991b:
28).
69 Paraa uma análise histórica da evoluçäo da relaçäo capital-trabalho, nos primórdios da indústria, com ênfase no
caso da Belgo-Mineira, ver FERREIRA (1989).
66
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 27
PERDA DA PRODUÇÃO POR GREVES - SIDERURGIA BRASILEIRA
(1982/89)
Ano Jornadas Perdidas Perda Produção Produção
(homens/dia) (tonelada aço) (%)
1982 156.300 30.065 0,2
1983 39.400 21.150 0,1
1984 170.700 97.200 0,5
1985 64.800 22.350 0,1
1986 326.900 125.940 0,6
1987 457.800 229.000 1,0
1988 1.062.000 605.600 2,5
1989* 438.000 333.000 2,7
Fonte: Tendência do Trabalho/Boletim do DIEESE apud SOARES (1989)
Obs: * até junho
É bem verdade que o movimento grevista foi muito concentrado em duas siderúrgicas:
CSN e Cosipa. A primeira teve, no período 1984-90, 12 greves, quase duas por ano. Na Cosipa,
existiram greves em 1984, 1987 e mais recentemente em 1992 e 1993. É difícil apontar a trajetória
de greves no futuro, embora pelo menso na CSN, a atual administração (pós-privatização)
aparentemente conta com o apoio total dos sindicatos.
. Adaptação a Novos Equipamentos
Outra questão de relações industriais importante é a forma como os trabalhadores e os
sindicatos reagem à modificações no processo produtivo. Neste sentido, ganha relevo a
introdução (ou a maior difusão) de automação industrial de base microeletrônica, que,
supostamente, cada vez mais será incorporada na siderurgia brasileira. FERREIRA (1991: 63-73)
dedica-se a este tema, enfocando o caso da Usiminas, mas que, grosso modo, pode ser entendido
como representativo da siderurgia brasileira.
No caso dos trabalhadores individualmente, o autor aponta que:
a) a apreensão original foi o temor da perda de emprego;
b) os principais impactos para o trabalhador teria sido a redução de tarefas que exigiam
grande esforço físico e, por outro lado, a diminuição da importância do saber informal construído
pelo operador;
c) a supressão de postos foi significativa no departamento de inspeção e controle de
produção, embora tenha havido vários remanejamentos;
d) após a instalação dos equipamentos, a ansiedade também passou a girar em torno da
(in)capacidade de se requalificarem para trabalhar com a microeletrônica.
67
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Já no que se refere ao sindicato, a questão da modernização tecnológica não tinha se
traduzido em movimentos reinvidicatórios de maior vulto, tendo sido incluído na pauta de
reinvidicações apenas em 1987; assim, tanto as reinvidações sindicais (atendidas e não-atendidas)
concentraram-se na questão salarial. IBQN (1993) ratifica o baixo envolvimento dos empregados
na obtenção de soluções dos problemas e melhoria dos produtos e dos processos de fabricação.
. Estabilidade e Círculos de Controle de Qualidade
Em que pese o grande ajustamento (em termos de redução do efetivo de pessoal) que a
siderurgia brasileira vem promovendo desde 1989, cabe ressaltar que num recente estudo (IBQN,
1993), contatou-se que a estabilidade média dos empregados nas grandes empresas do setor é
alta: cerca de 11 anos. Isto pode ser correlacionado com a gestão estatal, predominante no setor
até bem pouco tempo.
Por outro lado, nas usinas semi-integradas e relaminadoras, o turn-over é mais elevado, na
medida em que a estabilidade média é de 5,5 anos. A maior flexibilidade do processo produtivo
deste tipo de empresa parece ser insuficiente para justificar esta grande diferença, portanto, o
método de gestão de algumas empresas deve ter alto valor explicativo.
Os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs) relacionam-se significativamente com a
estabilidade. É impensável um trabalhador sugerir mudanças, que podem até implicar na supressão
de postos de trabalhos, sem a garantia formal de estabilidade. De fato, a Pesquisa de Campo do
Estudo da Competitividade Brasileira comprova estes dois fatores na siderurgia brasileira: baixa
difusão de CCQs70 e a política de recursos humanos das empresas não oferecem garantia formal
de emprego. Entre 13 empresas siderúrgicas da amostra, 7 apontaram que em 1992, os CCQs não
atingiam 10% dos funcionários, 1 que atingia um estágio entre 10-50% do efetivo, e apenas 2 que
envolveriam mais de 50% do quadro funcional, ao passo que 3 não responderam. Quanto à
política de recursos humanos: apenas 1 disse fornecer garantia (formal) de estabilidade, ao passo
que 9 indicaram que procuram adotar política de estabilidade de pessoal sem garantias formais, e 3
não responderam.
. Questão Educacional e Treinamento
As empresas do setor siderúrgico procuram suprir a deficiência escolar de seus
empregados através de programas de alfabetização, capacitação e aperfeiçoamento dos
funcionários (IBS, 1991b: 28). É preciso porém segmentar o quadro funcional em dois grupos: a)
de nível superior; b) técnicos e semi-qualificados.
70 Para esta mesma conclusäo, ver IBQN (1993).
68
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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No primeiro grupo, a siderurgia brasileira apresenta vários pontos muito positivos. Em
primeiro lugar, existem cursos universitários com grande tradição, com destaque para a Escola de
Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, fundada em 1876. Segundo, a Associação
Brasileira de Metalurgia e Materiais completará 50 anos em 1994, editando a revista "Metalurgia
& Materiais" desde a sua fundação. Ou seja, em comparação com outros setores industriasi, o
setor conta com condições ímpares de formação e atualização de seu corpo mais qualificado
formalmente. Além disso, a siderurgia no Brasil conseguiu atrair bons profissionais, enquanto nos
países desenvolvidos ela é considerada um second best (por ser uma indústria "suja").
Também não se constata um subdimensionamento do peso de profissionais com curso
superior na siderurgia brasileira, a nível internacional. Por exemplo, em 1989, 11% de todo o
efetivo da indústria doméstica tinha curso superior (BUHLER, 1991: 49), ao passo que em 1991,
este valor para a siderurgia sul-coreana era de 14.6%. Trata-se, portanto, de uma diferença muito
reduzida.
Para o segundo grupo, o nível educacional baixo é considerado um obstáculo à introdução
de novas tecnologias (IBQN, 1991b: 28). Mas, as empresas por sua vez gastam relativamente
pouco com treinamento71. IBQN (1993) aponta que os índices de treinamento (horas
treinadas/horas trabalhadas) típicos do setor é no intervalo de 0,65-2,0%. Em algumas empresas,
contudo, estes valores atingem a 3,0%, 5,0% ou mesmo 10%. Segundo amostra da Pesquisa de
Campo do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira, a média de gasto com treinamento
em 1992 na siderurgia foi de 0,16% do faturamento72, o que corresponderia a cerca de US$
140/funcionário/ano. Independentemente do valor absoluto constatado, é.preocupante o fato de
que o gasto relativo com treinamento mostra uma tendência de queda, pois no período 1987/89,
ele teria sido de 0,20% do faturamento, segundo a mesma pesquisa.
. Contrato Coletivo de Trabalho
Há uma relativa dispersão geográfica de produçãop siderúrgica no Brasil, embora
concentrada em 4 Unidades da Federação: Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito
Santo. Além disso, a dinâmica das usinas integradas a coque, a carvão vegetal e semi-integradas
são relativamente distintas, o que acentua as dificuldades de acordos a nível setorial. Isto sem
considerar as próprias diferenças inerentes às localidades, algumas são grandes centros urbanos
71 O setor reconhece inclusive que a possibilidade de obtençäo de recursos externos destinados à capacitaçäo de
pessoal é relativamente fácil (IBS, 1991b: 30).
72 A Usiminas, por exemplo, dispende cerca de 0,4% do seu faturamento com formaçäo e treinamento do pessoal.
Dispöe de um Centro de Desenvolvimento de Pessoal (com 19 mil m
2
), tendo sido inaugurado com 1991, e conta
com 130 pessoas.
69
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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(Belo Horizonte e Vitória) ou "cidades em torno de usinas" (Ouro Branco e Timóteo). Assim, o
contrato coletivo deveria ser negociado fundamentalmente ao nível da usina.
As questões mais pertinentes seriam:
a) compensação (salários, benefícios, etc.)
b) introdução de novas tecnologias (automação, especialmente);
c) controle da poluição;
d) redução do número de acidentes;
e) reciclagem de operários eventualmente demitidos, etc.
. Proposições para Gestão Participativa
A siderurgia brasileira encontra-se num período de transição, face à diminuição acentuada
do volume de emprego e da própria privatização. Nada mais natural que o envolvimento dos
funcionários se retraia (ao menos, momentaneamente). Ou seja, requer um tempo para que possa
obter a tranquilidade necessária para o melhor entrosamento da relação capital-trabalho.
Em compensação, a flexibilização da remuneração e mesmo das condições de trabalho
(principalmente, jornada de trabalho) constitui um dos fatores explicativos do sucesso empresarial
das mini-mills norte-americanas. Numa usina da Nucor Steel, a jornada é de 12 horas diárias, com
folga de 4 dias a cada 4 dias de trabalho (CASTELLO BRANCO & GRANDIN, 1990: 4).
Mesmo as grandes siderúrgicas integradas norte-americanas têm conseguido flexibilizar algumas
das cláusulas de trabalho. Desta forma, a combinação da flexibilidade73 e ganhos extra-salários
(como participação nos lucros) é um esquema que deveria ser gradativamente implementado na
indústria nacional.
2.4. Diagnóstico da Competitividade - Fatores Sistêmicos
O setor siderúrgico foi nas décadas de 60 e 70 uma prioridade da política industrial do
país. De fato, como aponta RICO VICENTE (1992: 4), o desenvolvimento da indústria
siderúrgica foi, durante longo período, sinônimo de industrialização, progresso e desenvolvimento
73 A flexibilidade deve considerar a própria definiçäo dos postos de trabalho. Neste sentido, segundo a Pesquisa de
Campo do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira, 6 entre 11 siderúrgicas já procuram definir os postos
de trabalho de modo amplo, buscando a polivalência. Outras três empresas, embora definam os postos de forma
rígica, vêm incentivando os funcionários a atuarem em vários postos. E somente duas que definem os postos de
modo rígido.
70
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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econômico. Este papel proeminente conferido à siderurgia ficou mais evidente durante o II Plano
de Desenvolvimento Econômico (PND), quando, capitaneado por empresas estatais, promoveu-se
um crescimento substancial da produção de aço.
A partir do inicío da década de 80, em consonância com o término da estratégia de
industrialização por substituição de importações, a siderurgia perdeu a sua proeminência. É bem
verdade que a indústria siderúrgica vai assumindo outra função importante de política econômica:
a geração de superávits comerciais expressivos (em 1991, a receita das exportações foi de US$
3,465 bilhões e a das importações de apenas US$ 196 milhões).
Já no final dos anos 80 e início dos anos 90, começa a se configurar uma nova política
industrial, cuja diretriz central para a siderurgia tem sido o binômio privatização e liberalização,
analisadas adiante.
2.4.1. Privatização
Inegavelmente, a privatização de usinas siderúrgicas contitui-se no principal elemento de
mudança da estrutura industrial do setor. Esta "onda de privatização", contudo, pode ser
segmentada em duas etapas bem delineadas: a) a reprivatização, que corresponderia ao retorno ao
setor privado de empresas que haviam sido anteriormente estatizadas; b) a privatização
propriamente dita: a transferência de empresas que se consolidaram como estatais e foram
vendidas à iniciativa privada.
A Tabela 28 apresenta os principais dados das chamadas reprivatizações do setor
siderúrgico brasileiro. Elas envolvem as operações da Cia. Siderúrgica Mogi das Cruzes (Cosim),
Cimetal, Cia. Ferro e Aço de Vitória (Cofavi), Usiba, Nossa Senhora Aparecida e Cia. Siderúrgica
do Nordeste (Cosinor). Destas apenas a Usiba foi originalmente uma empresa estatal, mas foi
incluída nesta relação por apresentar características similares às das outras empresas, quais sejam,
produzir aços longos e ter implicado transação de pequeno valor (a receita total das vendas
atingiu apenas US$ 193 milhões).
71
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 28
REPRIVATIZAÇÕES DA SIDERURGIA BRASILEIRA
(milhões de US$)
Empresa Controle Comprador Empre- Valor Agio Data
gados Venda (%) Venda
Aparecida BNDES, Villares 2.800 14,6 s.d 07.88
Thomaz
Cosim Siderbrás Duferco 772 43,4 s.d 09.88
Cimetal BNDES, Gerdau e 4.682 58,8 52 11.88
BNB, BDMG outros
Cofavi Siderbrás Duferco 2.550 8,2 0 07.89
Usiba Siderbrás Gerdau 1.473 54,4 138 10.89
Cosinor Siderbrás Gerdau 720 13,6 14 11.91
Fonte: BNDES, Pinheiro & Oliveira Fo. (1991), Werneck (1989), Gazeta Mercantil
É bem verdade que as empresas apresentavam situações diferenciadas: desde o processo
produtivo (a maior era semi-integrada com aciaria elétrica, mas a Cimetal era integrada a carvão
vegetal e a Usiba integrada a redução direta), o processo de venda (Cosim e Cimetal,
excepcionalmente, exigiram a divisão de ativos), até em termos de condições financeiras e
mercadológicas, o que se refletiu no preço de venda e no diferencial acentuado do ágio frente ao
preço mínimo de venda. Apesar disso, na maioria delas, o processo de privatização foi moroso,
sendo que recursos judiciais contrários às alienações foram abundantes.
O grupo Gerdau, cujo crescimento exponencial ancorou-se em políticas agressivas de
aquisição de usinas sidererúrgicas e de comercialização de aço (rede de distribuição), adquiriu
nesta fase a Usina de Barão de Cocais da Cimetal (por US$ 37,5 milhões), incorporando-a como
unidade da Cosigua; comprou integralmente a Usiba (US$ 54,2 milhões) e também a Cosinor
(US$ 13,65 milhões). Com isso, o Gerdau conseguiu otimizar a produção de ferro-gusa,
aproveitando-se da proximidade da Usina Barão de Cocais em relação aos supridores de minério
de ferro e de carvão vegetal, e, obter o monopólio da produção de produtos longos no Nordeste.
Esta estratégia fica evidenciada pela aquisição e posterior desativação das atividades siderúrgicas
da Cosinor. Imediatamente após a aquisição, o Grupo Gerdau anunciou investimentos de
modernização, mas ao invés disso desativou a empresa, razão pela qual o Departamento de
Proteção e Defesa Econômica instaurou processo contra o Grupo (FOLHA DE SÃO PAULO,
24/11/92: 2-4).
Com relação ao Grupo Villares, esta adquiriu a Cia. Nossa Senhora Aparecida, em julho
de 1988, renomeando-a para Aços Ipanema. Formalmente não se tratou de uma privatização,
dado que 51% do capital votante, na época de licitação, estavam em poder da família Thomaz.
72
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Mas, como conseqüência da concretização do negócio, o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) transformou seus créditos junto a empresa (cerca de US$ 70
milhões) em ações, aumentando sua participação no capital total de 35% para 65%, embora
apenas 15% de capital votante. Assim, a família Thomaz teve sua participação acionária reduzida
a 3,3% das ações com direito a voto. A Villares gastou US$ 12,9 milhões para adquirir 67% do
capital votante e 23% do capital total desta empresa.
Em dezembro de 1988, a Villares adquiriu junto ao Grupo CAEMI/Antunes a Siderúrgica
Anhanguera. Assim, o Grupo passou a controlar 4 usinas, todas no segmento de aços especiais.
Em 1992, o grupo teria promovido uma reestruturação das linhas de produtos entre as
siderúrgicas, isto é, promovendo uma maior especialização das usinas. Neste sentido, a venda da
Aparecida teria sido funcional à reestruturação do segmento de aços especiais74.
Os impactos desta etapa de reprivatização sobre a estrutura industrial e a competitividade
parecem circunscritos à elevação do poder de mercado dos dois maiores grupos privados
siderúrgicos do país (Gerdau e Villares), além de reestruturação produtiva em direção a maior
especialização das usinas por parte desses grupos.
O fortalecimento do poder oligopólico dos grupos líderes tem sido apontado como um
efeito negativo desse processo. Não se pode esquecer, porém, que o aumento da concentração
industrial não é atípico no setor, a nível mundial.
Com relação à fase de privatização propriamente dita, já houve cinco vendas ao setor
privado: Usiminas, Piratini, CST, Acesita e CSN. Novamente, a morosidade do processo e a
proliferação de contenciosos judiciais foram marcantes. A Tabela 29 sintetiza as informações mais
relevantes para cada operação.
TABELA 29
PRIVATIZAÇÕES DA SIDERURGIA BRASILEIRA
(milhões de US$)
Usiminas Piratini CST Acesita CSN
Controle Siderbrás Siderbrás Siderbrás B.Brasil Siderbrás
Adquirente Diversos Gerdau Diversos Diversos Diversos
Empregados 12.480 2.281 5960 7376 17000
Red. Efetivo 3% 25% 30% 25% s.d
Preço Venda 1.112 106 332 450 1.057
Agio 14% 151% 0% 29% 0%
Data Venda 10.91 02.92 07.92 10.92 04.93
Invest. *Overseas *Lingot. *Lingot. - s.d
*Usimpex Contínuo Contínuo
*Somisa
Fonte: BNDES, Gazeta Mercantil
74 Recentemente (novembro de 1992), a Ipanema foi totalmente incorporada à Aços Villares.
73
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Uma característica marcante da privatização pode se observada a partir do trade-off entre
maximização da receita da privatização e menor resitência pública ao processo. Melhor
explicando, se a meta principal fosse a obtenção da maior receita no cômputo de todas as
operações, Cosipa e CSN deveriam ser vendidas antes da Usiminas. Mas, a sequência foi ao
contrário: a Usiminas foi vendida primeiro e rapidamente aumentou seu market-share no mercado
doméstico de aço75. Assim, também em função disso, piorou-se a frágil situação financeira da
Cosipa, por exemplo, e consequentemente o valor obtido pelo Estado pela sua provável venda.
A privatização da Usiminas apresentava vantagens em termos da menor resistência pública
que criaria ao programa: o ajuste de pessoal necessário já havio sido feito (de 13.413 para 12.480)
antes da privatização, permitindo que durante o ano de 1992 inteiro os desligamentos fossem
marginais nesta empresa; como a empresa tinha sido menos permeável às pressões políticas no
passado e, desta forma, contava com uma administração mais fortalecida, os resultados positivos
(crescimento do lucros) seriam mais facilmente atingidos76. Mas de fato, o que marca a
experiência da privatização da Usiminas é a manutenção do volume de emprego logo após a sua
venda: da data de sua alienação até dezembro de 1992, a Usiminas diminuiu o efetivo em apenas
2,77% (embora tenha eliminado cerca de 90 cargos de chefia), e isto a transformou num caso
paradigmático, quando na verdade se constitui como uma exceção77. Certamente, caso CST ou
Acesita tivessem sido leiloadas antes da Usiminas, a repercussão negativa do violento corte de
pessoal, reduziria a possibilidade política de manutenção do programa.
Outra opção para a ordem cronológica estabelecida no programa de desestatização seria,
inicialmente a venda da Usiminas, CSN e Cosipa, para depois efetuar a venda da CST. Esta última
é especializada em placas (um produto semi-acabado), que deve forçosamente receber
processamento em outras siderúrgicas. Assim, a venda poderia ser realizada para as três usinas
(central de fornecimento) ou mesmo para uma empresa, o que provavelmente ocorreria num
contexto de maior disputa78. Independente de outras formas alternativas, o que é importante
resgatar é que a "ordem" da privatização foi sintomática: começar pelas empresas que
75 SOARES (1992: 21) aponta que a participação da Usiminas no mercado doméstico de laminados planos não-
revestidos evoluiu em um ano após a privatização de 45% para 49%. No caso específico da Autolatina esta situação
teria sido mais marcante: de 40% para 60%.
76 PASSANEZI 70 (1993:7) aponta a relação das privatizações de siderúrgicas com o processo de saneamento
financeiro realizado durante a Nova República. Este artigo, aliás, apresenta grande similaridade de argumentos
com o exposto nesta nota técnica, especialmente no tocante à falta de preocupação com uma reestruturação
industrial.
77 A Usiminas pode ter passado por um enxugamento de quadros mais acentuado, sem contudo aparecer nas
estatísticas: o ajuste pode ter sido feito junto a prestadores de serviços. A Usiminas pretende em 1993 reduzir seu
efetivo em 1000 funcionários, o que elevaria o enxugamento pós-privatização para 12%, ainda baixo em
comparação com outras experiências (FOLHA DE SÃO PAULO, 4/03/93: 2-5).
78 Deve-se lembrar que a CST foi arrematada pelo preço mínimo. Para ser mais exato, o ágio foi de 0,2%.
74
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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necessitavam de menores ajustes, sem considerar os eventuais ganhos provenientes de uma
reestruturação setorial79.
Em suma, a privatização foi encarada mais em função da crise do Estado do que como um
instrumento de política industrial, na medida em que foi considerada como um fim em si mesma, e
não subordinada à lógica de uma política mais ampla de reestruturação do setor siderúrgico.
Os resultados financeiros dos leilões de privatização também foram, em geral, pouco
positivos para os cofres públicos. Deve-se considerar que o ágio entre o preço de venda e o preço
mínimo foi muito baixo. E ao se considerar o fato de que as moedas utilizadas nos leilões tiveram
um deságio ao redor de 50%, os adquirentes pagaram muito menos do que o Estado se dispunha a
receber por elas, com a exceção da Piratini. O México, por exemplo, privatizou em novembro de
1991 três usinas siderúrgicas, aceitando uma série de moedas, mas elas foram deflacionadas pelo
deságio praticado no mercado, o que evitou pelo menos a "maquilagem" de um sucesso financeiro
das vendas, que efetivamente não ocorreu.
Apesar das críticas que diversos observadores endereçaram à forma, à ordem e à falta de
estratégia de política industrial presentes no processo de privatização, vários fatores foram
positivos para a competividade das empresas privatizadas.
O impacto mais preponderante da privatização foi a redução drástica de pessoal. A Piratini
cortou 25%, a CST 30% e a Acesita 25% do efetivo, no período imediato à privatização80. A
Usiminas, como já ressaltado, foi o caso atípico pela manutenção do número de funcionários.
Apesar de socialmente doloroso, isto ajuda fundamentalmente na reversão de uma fragilidade da
indústria siderúrgica brasileira, que é a sua baixa produtividade.
Um segundo e importante impacto para o setor foi a diminuição da despesa financeira por
parte das empresas privatizadas, reconhecidamente outra deficiência estrutural da siderurgia
brasileira. Isto decorreu de dois aspectos: saneamento financeiro pré-privatização e mudança do
comportamento pós-privatização. No primeiro caso, os exemplos são a Piratini e a CSN. Na
siderúrgica gaúcha de aços especiais, a dívida total era de US$ 90 milhões, mas em conseqüência
de um saneamento financeiro (que incluiu um acerto de contas entre órgãos públicos federais e
79 Um relatório do Banco Mundial é sintomático a este respeito: "There seeems to be an apparent absence of timely
industry-wide strategic thinking prior to privatization. More time shoud be spent substancially ahead of the sale
studying strategic aspects of the industry, how an industry might ideally be organized, what legal, policy and
regulatory changes are needed for the industry to reach international competitveness, attract buyers and maintain
competite pressure, and how the mode of privatization might be modified to accomplish this strategic" (WORLD
BANK, 1992: vi).
80 Na Cia. Siderúrgica Tubarão, o número dos cargos de chefia foram reduzidos de 191 para 93 e média de horas
pagas foi diminuída em 50%. A CSN pretende reudzir 1.200 dos 16.550 empregados no período de um ano
(FOLHA DE SÃO PAULO, 23.05.93: 1-6).
75
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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estaduais), o passivo foi reduzido para US$ 24 milhões. Na CSN, a empresa tinha uma dívida total
de US$ 1,521 bilhão. Isto reduziria sensivelmente o interesse pela empresa. Visando contornar a
situação, em dezembro de 1992 a Siderbrás capitalizou US$ 741 milhões (sendo US$ 320 milhões
relativos a dívidas externas vencidas da CSN), reduzindo a dívida para US$ 780 milhões.
No caso da CST e Acesita, o maior impacto ficou por conta de alterações das condições
de financiamento. Na CST, houve a recontratação de empréstimos financeiros junto aos credores,
com redução dos juros reais (na medida que o risco estatal tinha acabado)81. A Acesita mudou
radicalmente o seu perfil financeiro, através da quitação de uma dívida de US$ 180 milhões
mantida junto ao seu antigo controlador (Banco do Brasil). Os recursos foram provenientes da
colocação de US$ 100 milhões em debêntures conversíveis am ações e US$ 80 milhões referentes
à antecipação de receitas de exportação. Além da vantagem da redução dos encargos financeiros,
a Acesita conseguiu alongar parcela importante (46%) de seu passivo.
Outra alteração relevante foi a mudança do regime de preços praticados no setor. No
processo de venda da Usiminas, o Governo Federal assumiu publicamente que os preços do aço
seriam liberados, após uma recuperação da defasagem estimada em 40% (GAZETA
MERCANTIL, 8/05/91: 19)82.
Em geral as empresas ganharam maior agilidade administrativa. No caso da Usiminas,
diminuiu-se o prazo de contratação de empresas de 60 para 30 dias e o período de aceitação de
pedidos de 30 para 10 dias. A CST, através da simplificação dos procedimentos de licitações,
conseguiu enxugar em 50% o efetivo de compras. Além disso, facilitou-se a diversificação de
atividades: em função da Piratini já pertencer a um grupo diversificado, e as privatizações da CST,
Acesita e CSN serem muito recentes, este efeito está circunscrito atualmente à Usiminas83. Esta
empresa, após a privatização, montou uma filial em Georgetown (Ilhas Cayman) denominada
Usiminas Overseas, constituiu a Usimpex (uma trading para apropriar dos incentivos fiscais e
financeiros concedidos pelo Estado do Espírito Santo às empresas que exportam e importam
mercadorias a partir deste Estado)84 e adquiriu uma participação minoritária na Somisa. Este
último caso parece ser o mais relevante, uma vez que o mercado argentino foi um importante
escoadouro das exportações brasileiras no ano de 1992 (muito em função da valorização
acentuada do peso argentino). Neste negócio, a Usiminas dispendeu US$ 15 milhões, em troca de
81 Na CST, também, foram renogiciados contratos de prestação de serviços, com redução média de 30%, até pela
garantia de pagamento em dia.
82 Isto abriu espaço para uma concorrência via preços no segmento de aços planos. Talvez em função disso, SILVA
(1992: 494) aponta que o processo de privatização deverá acirrar a concorrência interna, mesmo admitindo-se uma
provável tendência de especialização por parte das empresas.
83 Na verdade, a diversificação da Usiminas iniciou-se antes mesmo da sua privatização, uma vez que lhe foi
incorporada a Usiminas Mecânica, produtora de bens de capital e estruturas metálicas.
84 Vale lembrar que a Usiminas opera em consórcio com a CST e a Açominas o Porto de Praia Mole (Vitória ES).
76
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5% das ações desta empresa. E, simultaneamente, firmou contratos de assistência técnica para
modernização da Somisa (cuja razão social foi alterada para Aceros Paraná) e de maior venda de
placas.
Logo após a privatização, a Piratini anunciou a substituição do lingotamento convencional
por um lingotamento contínuo (orçado em US$ 12 milhões). A CST redirecionou sua estratégia: a
prioridade era a reforma do único alto-forno (já havia sido inclusive contratado por US$ 182
milhões), mas a nova direção decidiu pela instalação primeiramente do lingotamento contínuo (de
1,8 milhão de toneladas ano), estimado em US$ 150 milhões. No caso da Usiminas, os novos
investimentos produtivos foram menos radicais, uma vez que a instalação de uma unidade de aços
revestidos (eletrogalvanizados) já havia sido iniciada antes do processo de privatização. Mas, este
investimento contou com uma ajuda nada desprezível: logo após a sua transferência ao setor
privado, a Usiminas obteve um financiamento do BNDES/Finame de US$ 64 milhões para esta
nova linha85.
Em termos de relações industriais, a alteração mais relevante foi a participação acionária,
cerca de 10% nos quatro primeiros casos e 11% na CSN. Com isso, os funcionários tenderam a
adotar uma postura mais profit seeking, uma vez que são co-proprietários. No caso da Piratini, em
julho de 1992, o novo controlador (Grupo Gerdau) concretizou um acordo trabalhista com o
sindicato: uma demanda judicial referente ao dissídio de 1991, estimada inicialmente em US$ 7,5
milhões foi acertada por US$ 1,9 milhão. Sinal sintomático que negociações com os proprietários
privados deverão ser mais "duras".
Em termos de relações comerciais (ligações com clientes e fornecedores), destaca-se a
participação da Cia. Vale do Rio Doce (CVRD) na Usiminas e CST86. Na primeira, ela adquiriu
14,98% das ações ordinárias, e certamente várias parcerias poderão ser desenvolvidas entre elas: a
CVRD além de principal fornecedor de minério de ferro da Usiminas (70%), transporta o aço a
ser exportado e o carvão mineral importado pela Estrada de Ferro Vitória a Minas. No caso da
CST, ela adquiriu 14,94% das açoes ordinárias. A sinergia CST-CVRD é evidente: fornecimento
de minério de ferro, proximidade geográfica dos Portos de Praia Mole e Tubarão, proximidade
geográfica da CST e usinas de pelotização da CVRD, os sócios estrangeiros da CST (Kawasaki
Steel e Iva/Finsider) possuem joint-ventures com a CVRD em usinas de pelotização na Ponta de
85 Este é o principal investimento recente da siderurgia brasileira no tocante à modernização do mix de produtos.
Trata-se de uma linha de eletrogalvanizados de 360 mil toneladas/ano, visando especialmente o mercado
automobilístico (CAMARA, 1992: 13). O contrato de compra foi assinado em novembro de 1989, devendo entrar
em operação no segundo semestre de 1993. Esta instalação requereu investimentos de US$ 210 milhões, sendo US$
171 de recursos próprios, US$ 64 milhões BNDES/Finame e US$ 29 milhões Creditanstalt (Austría). Deve gerar
cerca de 100 empregos diretos (45 diretamente na produção), e aumentar o consumo de energia elétrica da
Usiminas em 6%.
86 A Docenave, subsidiária da CVRD, também adquiriu 9,4% do capital social da CSN.
77
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Tuburão e a CVRD e a Kawasaki Steel são proprietários de uma usina siderúrgica nos EUA
(California Steel).
Apesar daquelas ressalvas, a privatização parece um caminho sem volta e, portanto, deve
continuar. É desleal manter empresas com liberdade de gestão, ao mesmo tempo que outras
enfrentam grandes restrições à sua administração; manter empresas com restrições à obtenção de
financiamento do longo prazo (BNDES), ao passo que a outras é facultado estes recursos. Por
outro lado, é igualmente desleal admitir a possibilidade de uma estatal praticar preços baixos, com
algum tipo de subsídio governamental, em competição com empresas privadas.
Com relação ao programa de privatização na siderurgia, cabe observar que as duas últimas
usinas, Cosipa e Açominas, apresentam problemas estruturais relevantes. No caso da Cosipa, os
problemas referem-se à baixa difusão do lingotamento contínuo e à necessidade de modernização
do laminador de tiras a frio. No caso da Açominas, além de utilizar apenas lingotamento
convencional, fabrica produtos de reduzido valor agregado (blocos e tarugos e, em menor escala,
placas) além dos laminadores já adquiridos serem superdimensionados para a economia brasileira.
Modificar a forma de cálculo do pagamento, exigir contrapartida de investimentos seriam medidas
relevantes para orientar a venda dessas empresas.
Uma última questão se faz necessária: uma eventual aquisição da Açominas pelo Grupo
Gerdau amedrontava os demais produtores de aços longos. O poder de mercado desse Grupo
seria aumentado em muito, dificultando significativamente as operações da Siderúrgica Mendes
Jr., cuja capacidade de laminação é maior do que a de aciaria e se abastece de tarugos junto a
Açominas. Com relação às dúvidas propaladas na imprensa sobre a privatização, convém observar
que a concentração industrial e a apropriação de economias de escala é uma tendência universal, e
sobre ela rebatem a maioria das políticas industriais dos países desenvolvidos. Cabe ao Estado,
concomitantemente, adotar medidas estruturais
__
facilitar a concorrência externa e a aplicar a
legislação anti-truste
__
mais do que cercear a participação de determinados grupos nos leilões de
privatização.
Existem ainda receios por parte de alguns agentes econômicos de que a privatização do
setor siderúrgico implique a substituição de um monopólio público por um privado, que
supostamente seria mais perverso em termos de práticas monopolistas87. Isto parece ser o caso de
algumas linhas muito nobres da CSN (folhas-de-flandes) e da Acesita (aços planos inoxidáveis e
87 O que deve mudar, num contexto de usina privada, é a postura frente ao mercado nacional: ele será privilegiado
quando os preços forem remunerativos, e não mais como uma prioridade macroeconômica, de se evitar importações
(perda de divisas).
78
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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aços siliciosos). O fato é de que a elevada escala mínima necessária nesses segmentos
praticamente determina a presença de monopólios naturais88.
A situação é difícil de se contornar, na medida que por um lado não faz sentido uma
redução de tarifas, pois se estaria desprotegendo produtos de alto valor agregado e, por outro, a
lei anti-truste seria de pequena aplicabilidade, uma vez que não há a caracterização de conluio ou
cartel. Cabe, no entanto, ressaltar duas questões: primeiro, essa situação se refere a produtos
representam linhas muito específicas, envolvendo menos de 5% da produção brasileira de
laminados; segundo, não há perpspectivas de manutenção desta situação monopolista no futuro
(como por exemplo, a unidade de eletrogalvanização da Usiminas que irá romper o monopólio da
CSN na produção de aços planos galvanizados).
2.4.2. Liberalização
Nos últimos anos, uma série de medidas governamentais implicaram desregulamentação e
maior liberdade nos fluxos de comércio de bens e de tecnologia. De um modo geral, as medidas de
liberalização foram implantadas a nível macroeconômico, afetando praticamente todos os setores,
ainda que de modo diferenciado. No caso da siderurgia, as medidas de maior impacto foram a
liberalização do comércio internacional de bens; a liberalização da importação de tecnologia; a
eliminação do controle de preços; a alteração da legislação portuária; e a extinção do regime CIF
uniforme.
A siderurgia, assim como toda a economia nacional, passou nos últimos anos por uma
alteração radical do formas de proteção à indústria local: substituiu várias barreiras não-tarifárias
(em especial o Anexo C da Cacex e a anuência-prévia do Consider) pela proteção tarifária. Além
disso, dentro do cronograma de redução tarifária, em julho de 1993, quase todos os produtos
siderúrgicos deverão contar com uma alíquota de 10%. A Tabela 30 apresenta a evolução das
tarifas de produtos siderúrgicos, e de alguns insumos relevantes de 1988 a 1993.
88 O caso mais relevante é o da produção de silício grão-orientado, que tem apenas 5 produtores a nível mundial.
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TABELA 30
IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO DE PRODUTOS SIDERÚRGICOS
(1988/93)
dez set out jan jan out jul
1988 1989 1990 1991 1992 1992 1993
Ferro-manganês 25 10 10 10 10 5 0
Sucata 5 0 0 0 0 0 0
Semi-acabados 25 15 15 10 10 10 10
Laminados a Quente 35 20 20 15 10 10 10
Laminados a Frio 35 20 20 15 10 10 10
Galvanizados 45 25 25 s.d s.d 15 10
Fio-máquina 35 25 25 20 15 10 10
Perfis 35 25 25 20 15 10 10
Inoxidáveis Planos 45 35 20 20 20 20 20
Inoxidáveis Longos 45 35 20 20 20 20 20
Magnéticos 45 35 20 25 25 20 20
Trilhos 35 25 25 20 15 15 10
Tubo s/costura comum 35 25 20 20 15 15 10
Tubo s/costura inox 45 20 20 20 20 20 20
Arame Farpado 45 25 25 s.d s.d 15 10
Fonte: Decex
As alíquotas do imposto de importação para a siderurgia seguiram as mudanças nacionais
das reformas tarifárias de 1988, 1989 e 1991. Há apenas uma exceção, ocorrida em outubro de
1990, quando foram reduzidas as tarifas alfandegárias de produtos inoxidáveis planos e
magnéticos/siliciosos (fornecidos pela Acesita) e tubos sem costura (um virtual monopólio da
Mannesmann) através da Portaria 580 do Ministério da Economia. A alegação foi a prática de
preços abusivos pelas empresas, que estariam exercendo o seu poder de monopólio.
Na reforma tarifária de 1991, estabeleceu-se que a alíquota modal da siderurgia seria de
10% em janeiro de 1994, depois antecipado para julho de 1993. As exceções são produtos
inoxidáveis e siliciosos que teriam uma tarifa de 20%. Este último valor é também a média dos
produtos manufaturados. Uma crítica a esta estrutura tarifária é a homogeneização excessiva: para
incentivar o up-grading de produtos, seria conveniente diferenciar as tarifas. Parece pouco
racional, à luz de uma política industrial, que produtos semi-acabados (nos quais o país é líder
mundial) tenham a mesma taxa de produtos mais nobres, como os galvanizados.
A liberalização comercial não tem trazido impactos em termos do nível de importações
efetivas. A Tabela 31 apresenta o valor das importações brasileiras de produtos siderúrgicos, no
período 1986 a 1992. Como se pode constatar, as importações declinaram, muito em função da
retração do consumo doméstico: as importações no período 1988/92, mantiveram-se entre 1% e
2,5% do consumo doméstico89. O ponto central é que a liberalização somente deve trazer
impactos em termos de maior competição com fornecedores internacionais para a indústria, num
89 Dados do primeiro trimestre de 1993 indicam que a manutenção das importações ao redor de 2% do consumo
aparente de aço da economia brasileira.
80
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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contexto de retomada do crescimento e de redução das taxas de juros (que não iniba a formação
de estoques, que seria mais usual num caso de importação do que de aquisição doméstica). É de
se esperar que, face a retomada do consumo doméstico, o aumento da importações seja inclusive
mais vigoroso (corresponderia a uma alta elasticidade-importação da renda).
TABELA 31
IMPORTAÇÕES E CONSUMO BRASILEIROS DE PRODUTOS SIDERÚRGICOS
(1986/92)
Importações# US$ milhões Consumo@ A/C
(A) (B) (C) (%)
1986 565.623 223.061 12.655 4,47
1987 520.253 209.768 12.678 2,44
1988 112.750 116.511 10.658 1,06
1989 304.798 283.400 11.748 2,59
1990 195.896 238.573 8.990 2,18
1991 158.173 195.825 9.120 1,73
1992 175.163 203.801 8.429 2,08
Fonte: IBS
Obs: # em toneladas
@ em mil toneladas
Em termos de insumos adquiridos, as empresas siderúrgicas apontaram que houve redução
acentuada de alguns preços, como cilindros de laminação, face à abertura da economia. Assim,
embora não tenha contribuído com o aumento da pressão concorrencial para o setor, a
liberalização comercial deve ter auxiliado na redução de custos90.
A liberalização dos procedimentos do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)
para importação de tecnologia também trouxe poucos impactos efetivos para o setor. É bem
verdade que o desmoronamento do aparato proibitivo veio facilitar eventuais aquisições externas
de tecnologia não disponíveis no Brasil, mas os investimentos de aumento da capacidade
produtiva e, em menor grau, de reformas tem sido raros na siderurgia brasileira. Isto se deve a
conjugação de dois fatores: a conjuntura nacional e internacional recessiva e o compasso de
espera de empresas na lista da privatização. Deste modo, à exemplo da liberalização comercial, os
efeitos somente serão sentidos em toda sua intensidade num contexto de retomada do crescimento
econômico.
A extinção do controle de preços trouxe resultados imediatos para o setor, mediante
recuperação da defasagem acumulada. O setor siderúrgico, em especial, o segmento de aços
planos (era monopólio estatal) teve a partir de 1978 um represamento de preços, com duas
90 Na opinião de 4 empresas siderúrgicas, de um total de 8, as importações direta de insumos devem permanecer
inalteradas no período 1993/95, em comparação com 1992. Outras três apontaram que esperam um aumento
relativo e a última uma diminuição. Padrão similar de respostas foi encontrado para a importação direta de bens de
capital (Pesquisa de Campo do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira).
81
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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finalidades notórias: subsídio às exportações de produtos manufaturados intensivos em aço e
contenção da aceleração inflacionária. Não se pode esquecer também que o fim do controle de
preços estava vinculado ao processo de privatização. De fato, quando foi deflagrado o processo
da privatização da Usiminas, em maio de 1991, a defasagem de preços dos aços planos era
estimada em 40%. Previa-se que até março de 1992, esta defasagem seria "zerada", sendo que a
partir desta data, o setor institucionalmente deixaria de ter um controle formal de preços. De maio
de 1991 a novembro de 1992, os preços dos produtos siderúrgicos (coluna 32 da Conjuntura
Econômica) subiram 30% acima do Índice de Preços ao Atacado da Fundação Getúlio Vargas.
Desta forma, o setor teria recuperado grande parte do diferencial existente. No contexto das
liberalizações esta foi a política que provavelmente gerou o maior efeito prático para o setor.
No que tange à alteração da legislação portuária, os impactos futuros devem ser
significativos: espera-se redução dos custos de estiva e capatazia e, eventualmente, obtenção de
maior produtividade dos serviços portuários pela desmontagem do monopólio dos sindicatos de
mão-de-obra avulsa e por investimentos de modernização. Em linhas gerais, a nova Lei contempla
várias das sugestões dos empresários, o que reforça a noção de redução de custos, e por sua vez,
implica em reversão de uma grave desvantagem competitiva da siderurgia e da indústria brasileira
como um todo. É prematuro uma avaliação das repercussões, que deve envolver valores de
diminuição de custos portuários, mas de imediato já reduziu o Adicional de Tarifa Portuária de
50% para 40%.
A extinção do regime de CIF uniforme foi a única medida de política econômica específica
para o setor siderúrgico. Esse mecanismo havia sido implantado em 1976 e vigorou até novembro
de 1990. Visava incrementar a utilização fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Minas Gerais.
Dentro desta região, a composição do frete era: preço FOB (Ipatinga) + 3,56% + Frete Ipatinga-
Localidade do comprador, independente de qual das usinas (Usiminas, Cosipa e CSN) fornecer.
Em compensação, o preço fora deste eixo era apenas: preço FOB (Ipatinga) + 3,56% + Frete
Ipatinga-Belo Horizonte, ou seja um valor inferior. Para se aproveitar de tal mecanismo, foram
criadas várias distribuidoras de aço na fronteira do Paraná com São Paulo. Assim, o produto ia até
esta fronteira e voltava com um custo mais baixo para ser vendido em São Paulo. Naturalmente, o
desmantelamento desta situação certamente representa um ônus a menos para as empresas
siderúrgicas, embora tenha sido muito criticado pelos demais Estados, especialmente o Rio
Grande do Sul.
2.4.3. Tributação
O recorrente aumento da incidência tributária sobre o setor formal da economia brasileira
pode ser considerado um sério obstáculo à competitividade da indústria brasileira, no geral, e das
atividades siderúrgicas, em particular.
82
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Embora seja uma tema cada vez mais corrente, a própria complexidade do sistema
tributário nacional e as frequentes mudanças da legislação pertinente tornam a questão muito
árida. Por exemplo, ASP (1991b), apesar de examinar detalhadamente a carga tributária incidente
sobre o setor, não aborda a questão da comparação internacional. Este estudo mostra, por
exemplo, que a carga tributária para vendas domésticas de aço longo (comum), em 1990 era de
34,86% e para a exportação de 27,44%.
Um ponto comum aos trabalhos nesta àrea é a constatção de que o sistema tributário
brasileiro não consegue, efetivamente, desonerar as exportação dos tributos. Embora a resolução
deste problema envolva a tão decantada reforma tributária, uma medida essencial seria a isenção
do ICMS sobre exportações de semi-elaborados (inclusive aço)91, como sugere FUNCEX (1993:
16).
No tocante a questão tributária e a competitividade, dois vetores são prioritários: a) o
efeito sobre o preço das exportações dos tributos indiretos não compensáveis e dos tributos
diretos transferidos aos preços; b) a tributação direta e indireta que onera os produtores nacionais,
mas não os importados. B. Appy, em estudo ainda inédito, dedica-se a esta tarefa para o caso dos
aços planos comuns. Algumas das principais conclusões destes dois tipos de diferenças
encontrados por este autor são:
a) o valor dos tributos embutidos nos insumos (não compensáveis) varia de 2,0% a 2,7%
do preço de venda, devendo-se principalmente à incidência do COFINS e do PIS/PASEP;
b) o custo financeiro decorrente do prazo de recolhimento e do prazo de geração do
crédito do ICMS na importação de matérias-primas (basicamente o carvão mineral) equivale a
0,5% do preço de venda do produto;
c) o setor é tributado com alíquota de 3,5% de ICMS nas exportações, equivalendo a
3,6% do preço sem impostos;
d) a tributação sobre a folha salarial varia de 6,4% a 7,6% do preço de venda,
naturalmente em função dos encargos sociais.
2.5. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade da Siderurgia Brasileira
2.5.1. Tendências tecnológicas e de mercado
As perspectivas de competitividade da indústria siderúrgica brasileira não podem ser
consideradas muito satisfatórias. Em linhas gerais, as mudanças tecnológicas em curso não
91 Deve-se ter em mente que a maioria das usinas siderúrgicas vêm questionando judicialmente a tributaçäo das
exportaçöes e depositando em juízo os valores devidos.
83
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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deverão reforçar as vantagens competitivas atuais, senão ao contrário, tenderão a diminuir o peso
relativo dos salários e dos custos de matérias-primas. A dinâmica do setor privelegia cada vez
mais, o produto em detrimento do processo, a laminação em relação à etapa de redução, produtos
diferenciados em comparação com produtos básicos. De todo modo, as mudanças dificilmente
serão abruptas, gerando um certo tempo para adaptação dos produtores brasileiros.
Este é o primeiro ponto a destacar: embora a situação brasileira seja satisfatória em termos
de custos operacionais, as trajetórias tecnológicas atuais tendem a diminuir a importância
exatamente das vantagens competitivas da indústria brasileira92. Aliás, mesmo sem grandes
transformações tecnológicas, o setor deve melhorar o seu grau de enobrecimento de produtos.
O desenvolvimento da indústria siderúrgica mundial foi, ao longo deste século, baseado na
apropriação de economias de escala93. Embora estas continuem a ser relevantes, cada vez mais
duas trajetórias tecnológicas vêm se impondo no setor: compactação e automação94.
No que tange à compactação, duas tecnologias são exemplares: a) instalações de fusão-
redutora; e b) lingotamento contínuo de seções mais finas (nas suas três variantes: placas finas,
tiras e tiras finas). A primeira corresponde a uma combinação das operações de redução direta
(cujo produto final é o ferro-esponja) com a fusão. Caso esta rota tecnológica seja bem sucedida,
as principais conseqüências seriam: a) aumentaria a variabilidade de carvão que poderia ser
empregado, possibilitando inclusive, o consumo de carvão mineral não-coqueificável; b) suprimiria
as instalações de coqueria, sinterização e alto-forno; e c) reduziria significativamente o custo do
trabalho, pelo fato do processo ser mais compacto.
Atualmente, somente se tem conhecimento de uma unidade de fusão redutora instalada no
mundo (tecnologia Corex)95, na usina de Iscor (África do Sul), oficialmente inaugurada em
dezembro de 198996. O sucesso dessa nova tecnologia não trará resultados muito animadores
92 Como ressaltam FURTADO et alli (1992: 504), os baixos custos de insumos (minério, eletricidade, mão-de-
obra) tendem a subir na siderurgia brasileira, e de outro lado, sua participação nos custos de produção tendem a
cair.
93 A escala da siderurgia brasileira pode ser considerada satisfatória: em 1991, das cinqüenta maiores empresas
siderúrgicas do mundo, quatro eram brasileiras.
94 Conforme FURTADO et alii (1992: 450), existe uma clara tendência de integração das fases de operação,
realizadas de forma cada vez mais contínua e supervisionada por sistemas computadorizados, reduzindo as
vantagens dos custos (baixos) da mão-de-obra. De fato, as duas trajetórias compactação e automatização podem ser
até concebidas como variantes de uma mais ampla: a integração. Para SILVA (1992: 490), o desenvolvimento de
processos de produção mais contínuos e uso intensivo da informática e automação industrial foram as ferramentas
principais da reestruturação industrial da siderurgia dos países desenvolvidos.
95 Para uma abordagem dos resultados operacionais da tecnologia na usina de Iscor, ver entre outros, STEFFEN
(1990) e FLICKENSCHILD & HAUK (1990).
96 A grande usina coreana Posco (Pohang Works) encomendou recentemente uma usina Corex com capacidade de
produção de 600-700 mil toneladas ano de metal líquido ano, ou seja, o dobro da instalação em funcionamento na
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para a siderurgia brasileira na medida em que diminuirá a importância de dois fatores cruciais para
a sua competitividade atual: os baixos salários e a excelência das unidades que desempenham a
tarefa de redução. A possibilidade de utilizar carvão mineral não-coqueificável, abundante no sul
do país, parece não compensar (totalmente) os efeitos negativos sobre os dois fatores acima
apontados.
As vantagens da tecnologia Corex podem ser segmentadas em três aspectos: a) redução da
escala ótima de produção de metal líquido, reduzindo a competitividade das usinas integradas a
coque e a própria importância das economias de escala no setor; b) diminuição substancial de
emissões no meio-ambiente; e c) custo de produção de metal líquido cerca de 20% inferior ao do
método convencional.
É improvável que o eventual sucesso desta tecnologia venha sucatear de modo imediato e
irrecuperável as bases sobre as quais estão assentadas as siderurgias brasileira e mundial. Poderá,
muito provavelmente, ocorrer um deslocamento de mercado, com o gradativo enfraquecimento
das condições de competitividade por parte das grandes usinas integradas a coque. A WORLD
STEEL DYNAMICS (1992: 58) estima que no ano 2002, o processo Corex irá representar
apenas 1% do ferro primário produzido nos países ocientais. Ao se considerar todos os processos,
que podem ser enquadrados nas tecnologias de fusão-redução, este valor chegaria a 2,5%.
Esta estimativa pode ser considerada pessimista, pelo esforço atualmente realizado na
concretização destas novas técnicas. SAMPAIO (1992: 3) cita vários projetos de desenvolvimento
de produção de ferro primário líquido, dentre os quais o Direct Iron Ore Smelting, em
desenvolvimento pelo governo japonês e pelas 8 maiores siderúrgicas japonesas e o AISI-Direct
Smelting, que é um consórcio entre empresas siderúrgicas e o governo norte-americano.
A outra tecnologia que visa a compactação do processo siderúrgico é o lingotamento
contínuo de seções mais finas. A inovação mais radical desta rota é o lingotamento contínuo de
tiras finas (cuja aplicação comercial deverá ocorrer somente ao final desta década). Através dela, o
aço líquido trafega diretamente da aciaria para o laminador de tiras a frio, eliminando o laminador
de tiras a quente. Esta tecnologia gera grande redução no consumo de energia, além de propiciar
redução do custo de aperfeiçoamento das laminações. Contudo, existem atualmente apenas duas
usinas, com destaque para a Nucor Steel97, que utilizam as tecnologias de lingotamento contínuo
de seções mais finas, na variante de placas finas (thin slab casting) - que requer ainda tratamento
Iscor (METALLURGICAL PLANT AND TECHNOLOGY INTERNATIONAL, 1993, 16 (1): 11). Trata-se da
segunda instalação deste processo no mundo, devendo entrar em operação em finais de 1995.
97 A planta da Nucor Steel, em Crawforsville (Indiana), de 700 mil toneladas/ano, entrou em operação em julho de
1989, sendo contruída pela empresa alemã SMS Schloemann-Siemag AG. Exigiu investimentos de US$ 375
milhões. A literatura sobre esta instalação é extensa. Ver, por exemplo, USIMINAS (1991b), IVERSON & BUSSE
(1991) e LOVATT (1992).
85
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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no laminador de tiras a quente. Estima-se que 9,5% das chapas laminadas a quente produzidas no
mundo ocidental em 2002 utilize tecnologias similares a adotadas pela Nucor98.
O principal impacto dos lingotamentos contínuos de segunda geração refere-se à produção
de aços planos por mini-usinas. Com isso, o modus operanti do setor seria modificado: ao invés
de grandes plantas visando atender aos mercados nacional e internacional99, a tônica seria o
atendimento de mercado regionais. Essa trajetória tecnológica também reforça a tendência ao
aumento de importância da etapa de laminação em detrimento da etapa de redução, onde a
siderugia brasileira apresenta bons resultados. Cabe observar, entretanto, que esta mudança
tecnológica abre uma oportunidade interessante para a reversão de duas fragilidades da indústria
siderúrgica brasileira: as deficiências tecnológicas da laminação e a baixa difusão de lingotamento
contínuo.
A segunda tendência tecnológica da siderurgia é a automação industrial que, por sua vez,
reforça a trajetória de compactação. A automação propicia inúmeras vantagens à indústria
siderúrgica: i) diminui o emprego direto de mão-de-obra; ii) aumenta a confiabilidade dos
produtos; e iii) permite maior flexibilidade em relação aos tipos de produtos fabricados.
A automação é um instrumento extremamente útil para diminuir uma desvantagem
competitiva da indústria siderúrgica brasileira: a baixa produtividade do trabalho. Além disso, ao
proporcionar maior flexibilidade, facilita o atendimento a demandas particularizadas.
A automação possui uma vantagem temporal. Está "disponível" atualmente no mercado
nacional e internacional, podendo ser utilizada intensamente com resultados imediatos, ao passo
que a compactação configurará no futuro (ainda que próximo). A automação já é uma realidade
internacional, embora pouco difundida no parque nacional. A compactação, ao contrário, ainda
não chegou a resultados definitivos.
Embora o grau de sucesso e de difusão destas novas tecnologias seja de difícil avaliação,
elas desenham um quadro bastante nítido quanto às estratégias competitivas da atividade
98 De fato, há indícios de uma difusão relativamente rápida desta tecnologia: a Ilva (Terni Works), empresa estatal
italiana, encomendou uma instalação de 500-600 mil toneladas ano e a Hylsa (Monterrey Works), mexicana, outra
de 750 mil toneladas ano, esta última para entrar em operação em 1995 (METALLURGICAL PLANT AND
TECHNOLOGY INTERNATIONAL, 1993, 16 (1): 10-14. Nos Estados Unidos, a Armco tenciona construir uma
instalação de 1 milhão de toneladas ano em Ohio, o mesmo devendo ser feito pela US Steel (GAZETA
MERCANTIL, 15.04.93: 8).
99 A CST é um exemplo típico de usina voltada para o atendimento do mercado mundial, sendo que 90% de sua
produção é exportada. Esta empresa é a siderúrgica brasileira mais sensível, por este motivo, às flutuações
cambiais. Possui, porém, duas vantagens estruturais para a exportação: i) situa-se no litoral, adjacente ao Porto de
Praia Mole, não requerendo transporte ferroviário para a exportação; ii) o custo de embarque em Praia Mole é cerca
da metade do custo portuário praticado nos Portos do Rio de Janeiro e de Santos, embora seja ainda o dobro dos
preços vigentes em outros portos internacionais.
86
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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siderúrgica, na década de 90: a ênfase recairá sobre o aumento da produtividade (decorrente de
maior compactação e automação) e enobrecimento do produto (SOARES, 1990: 13).
2.5.2. A crise da siderurgia a carvão vegetal
A grande ameaça à siderurgia brasileira no curto prazo é endógena. Refere-se à crise da
siderurgia a carvão vegetal, face à incapacidade de fornecimento desta matéria-prima dado o baixo
índice de reflorestamento.
A importância do carvão vegetal na siderurgia brasileira não pode ser descartada. Não se
deve esquecer que o uso do carvão vegetal foi o grande responsável pelo surgimento da indústria
no Brasil, com a constituição da Cia. Siderúrgica Belgo Mineira/CSBM (em 1925). A siderurgia a
carvão vegetal é uma peculiaridade brasileira, sendo que 32% do gusa e 17% do aço produzido no
país provém deste insumo (dado de 1991).
Na verdade, existem dois tipos muito diferenciados de demandantes de carvão vegetal:
produtores independentes (ou guseiros), que são usinas não-integradas, produtoras apenas de
ferro-gusa, e usina integradas, que produzem desde o gusa até aço e laminados. A principal
diferença entre os dois segmentos refere-se à política de reflorestamento. Os guseiros vêm
mantendo uma estratégia de utilização de reservas nativas e as grandes usinas integradas vêm
buscando aumentar os seus índices de auto-suprimentos100. Em 1989, o auto-suprimento era de
55% na Acesita, 50% na Belgo Mineira e 32% na Mannesmann (SIDERURGIA
LATINOAMERICANA, 1989 (356): 21). Todas, porém, deverão ser auto-suficientes em 1998,
para atenderem à legislação ambiental.
Se não bastasse a dilatação do prazo para auto-suprimento, de 1985 para 1988, há sinais
de que algumas usinas integradas ao invés de competirem com os guseiros pelo suprimento nativo
de carvão vegetal, podem até ser tornar fornecedoras deste insumo. A Belgo Mineira converteu os
altos-fornos 3 e 5, os de maior escala, para carvão mineral. Especula-se que a Acesita poderá
tomar medida similar. De qualquer modo, as conversões denotam a falta de perspectiva de longo
prazo para o setor.
As usinas integradas a carvão vegetal, em especial, Mannesmann, Acesita, Belgo Mineira e
Pains vêm promovendo outras ações, que as diferenciam dos guseiros: a) injeção de finos de
carvão nas ventaneiras dos altos-fornos (Acesita, Mannesmann e Pains); b) preparação da carga
dos altos-fornos com uso de sínter e pelotas (CSBM e Mannesmann); c) pesquisa florestal
100 O problema desta estratégia dos guseiros é acentuada pela crescente importância como demandantes de carvão
vegetal dentro do setor: em 1980, consumiam 51% de todo carvão demandado no setor; em 1989, esta participação
já era de 61%.
87
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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objetivando o aumento da produtividade florestal (CSBM, Mannesmann e Acesita)101; d)
aproveitamento dos subprodutos da carbonização (CSBM, Mannesmann e Acesita) - ver
POLANCZYK (1992: 180-182).
Os problemas de reflorestamento parecem circunscritos aos guseiros. A este respeito,
TORRES (1990: 111-2) comenta que cerca de metade da capacidade instalada de produção de
gusa a carvão vegetal está ameaçada de desaparecer, convertendo-se no mais importante desafio
energético da siderurgia brasileira no curto prazo. Em junho de 1990, 52 altos-fornos de guseiros
no país já estavam desativados, correspondendo a uma ociosidade de 30% do parque nacional.
Em 1991, segundo Associação Brasileira de Carvão Vegetal (Abracave), a ociosidade havia
evoluído para 45%, o que significa que 70 altos-fornos foram paralizados (METALURGIA, 1992,
48 (405): 240). Dados preliminares da produção de 1992 indicam uma queda adicional da
produção de 7,7% destes produtores, o que elevaria ainda mais a ociosidade102.
Visando demonstrar o caráter agudo do problema, MAGALHAES NETTO (1991: 179),
estima que, a partir de 1991, seria necessário gastar anualmente pelo menos US$ 1 bilhão no setor
de carvão vegetal para atender a legislação ambiental. Este valor dificilmente será dispendido
nesta rubrica, muito em função do fato de que o faturamento desta indústria foi de apenas US$
543 milhões (em 1991).
O reflorestamento é ainda pequeno frente às necessidades do setor. Cálculos da Abracave
apontam a necessidade de plantar, anualmente, 200 mil hectares de florestas, enquanto são
plantados apenas 50 mil hectares. Ratifica-se a dificuldade do setor siderúrgico (particularmente, o
segmento guseiro) em atingir a auto-suficiência de carvão vegetal mesmo com a nova data de
1998. Aliás, já em 1993, a legislação exige que pelo menos 40% do consumo de carvão vetegal,
utilizada na produção de gusa em Minas Gerais, seja proveniente do reflorestamento de eucalipto
ou de manejo sustentado. Segundo estimativas da Abracave, dos 68 produtores independentes de
gusa do Estado, 21 não devem atingir o percentual exigido (GAZETA MERCANTIL, 22/01/93:
11).
Os dados disponíveis sobre o reflorestamento no Brasil estão agregados para a economia
brasileira, não discriminando o consumo da siderurgia individualmente. Mas, tendo-se em vista a
importância do setor como demandante desta matéria-prima (73% do consumo total), a nível
nacional, acredita-se que estes dados sirvam como um bom referencial da situação particular da
siderurgia. O índice de reflorestamento foi de 40% em 1991, mais em função da queda do
101 Esta questão, inclusive, dever-se-ia constituir numa das principais prioridades para a manutenção da siderurgia
a carvão vegetal.
102 A crise do setor é tão vigorosa que a queda da produção, no período 1989/1991, foi de 34,4%. Neste mesmo
período, a redução da produção de ferro-gusa pelas usinas integradas a carvão vegetal foi de 25,9%.
88
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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consumo total do que do aumento da oferta reflorestada. De fato, desde 1989, a oferta absoluta
de madeira reflorestada tem se mantido constante103, sendo que neste ano o índice de
reflorestamento foi de 28,8%.
O reflorestamento deve presenciar um crescimento vigoroso no início desta década de 90,
em função da legislação ambiental e das pressões promovidas pela sociedade civil. Outro
problema ecológico provocado pelo próprio reflorestamento é o fato de que o eucalipto tem sido
a principal espécie plantada. Assim, a proliferação da monocultura pode ocasionar outros
desequilíbrios no meio ambiente, correspondendo a um efeito indireto da atividade reflorestada.
Em contrapartida, a utilização do carvão vegetal em lugar do coque, apresenta duas vantagens em
termos de impactos ambientais: a) é praticamente isento de enxofre; b) gera menos escória por
tonelada de metal.
Esta atividade de reflorestamento vem sendo mais praticada na região Sudeste. Na região
Norte, próximo a Carajás, esperava-se um grande crescimento da produção de gusa, por parte dos
produtores independentes. No início de 1990, já existiam 4 altos-fornos em operação, com uma
produção total de 220 mil toneladas/ano. Estimava-se que, em meados daquele mesmo ano, a
produção alcançaria 1,5 milhões de toneladas/ano (TORRES 1990: 111). Nesta nova região
guseira, os esforços de reflorestamento são ainda mais reduzidos e, neste sentido, a atividade
guseira é um incentivo adicional à depredação da mata nativa (FONSECA, 1990: 34). Mas de
fato, a crise afetou até mesmo este novo pólo guseiro: a capacidade atual é de 400 mil
toneladas/ano (Tabela 32), e a ociosidade em 1991 foi de 45%. A produção guseira de Carajás
representa atualmente apenas 5,33% da produção nacional.
TABELA 32
ALTOS-FORNOS INDEPENDENTES EM OPERAÇÃO - CARAJÁS
Empresa Local Altos-Fornos (mil toneladas ano)
Cosipar Marabá PA 170 e 50
Simara Marabá PA 70
Viena Açailândia MA 54 e 72
Vale do Pindaré Açailândia MA 55
Fonte: Fonseca (1990)
A crise que abate este novo pólo é tão acentuada que uma série de projetos de altos-fornos
independentes já aprovados pelo Programa Grande Carajás, nem foram implantados. No total, 22
projetos foram aprovados, com uma capacidade nominal de 2 milhões de toneladas ano. Há que
considerar também que os projetos contam com isenção de Imposto de Renda e Adicionais por
dez anos, o que tenderia a acelerá-los, mas nem isso parece satisfatório frente a um mercado
mundial estreito (10 milhões de toneladas ano) e instável.
103 No período 1989 a 1991, a oferta de madeira de origem de reflorestamento aumentou apenas em 0,8%.
89
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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O pólo guseiro tradicional é o de Minas Gerais (com concentração em Sete Lagoas e
Divinópolis). Neste Estado, estão instalados 90% do parque guseiro nacional, com uma
capacidade total de 6 milhões de toneladas/ano104. A maioria dos produtores são de pequeno
porte, utilizando-se muita das vezes, de alto-fornos com capacidade inferior a 80 tonelada/dia.
Metade da produção destina-se à exportação. As dificuldades deste pólo relecionam à obtenção de
carvão, cuja maior evidência é o aumento verificado no preço do carvão de mata nativa. Segundo
MAGALHAES NETTO (1991: 178), o preço deste insumo já alcançava 22-28 US$/m
3
, em
comparação com 25-35 US$/m
3
, para o carvão de eucalipto (reflorestado). E, num período mais
recente, o setor ainda passa a sofrer a concorrência da indústria de celulose para a obtenção deste
insumo (IBS, 1991a: 15).
Este aumento do preço do carvão vegetal traz grandes dificuldades ao setor guseiro, pois
estima-se que este insumo corresponda a 73% do custo total de fabricação de gusa (CEMIG
1988: 62). O minério de ferro, segundo insumo em importância, equivaleria a cerca de 12%.
Além do problema de suprimento de carvão, os produtores independentes apresentam
baixa eficácia na utilização dos insumos energéticos, isto é, do carvão vegetal. O consumo
específico de carvão vegetal (m
3
/tonelada de gusa) na siderurgia não-integrada evoluiu a 5
m
3
/tonelada (1940) para 4,1 m
3
/tonelada (1971/72) e, finalmente, para 3-3,5 m
3
/tonelada (1985),
segundo CEMIG (1988: 18). Todavia, esta mesma fonte aponta que poder-se-ia atingir facilmente
2,8 m
3
/tonelada, denotando um grande desperdício energético. A título de comparação, o
consumo específico do alto-forno 2 da Acesita era de 2,56 m
3
/tonelada devendo evoluir para 2,35
(METALURGIA, 1988 (362): 77-78).
A principal perda de energia provém do aproveitamento parcial do gás de alto-forno.
Estima-se que, no pólo guseiro, o aproveitamento gira em torno de 60% (CEMIG, 1988). Não se
deve esquecer que este resultado é, em grande parte, condicionado pelo próprio processo
produtivo. Em usinas integradas, o gás do alto-forno é reaproveitado nas coquerias, enquanto
para os produtores independentes isto não é possível. Para poder aumentar o grau de
aproveitamento seria necessário efetuar o pré-aquecimento do ar, combinado com a verticalização
da usina, como por exemplo, a instalação de uma fundição. Constata-se, assim, que a ineficácia
decorre principalmente do fato da produção ser não-integrada.
Os problemas que afligem o setor guseiro
__
a incapacidade em atender a legislação
ambiental quanto à auto-suficiência de madeira reflorestada (em 1998), o alto consumo específico
de carvão vegetal e a necessidade de verticalização para diminuir o desperdício de gás de alto-
104 A ociosidade atual dos altos-fornos independentes, em Minas Gerais, é de 31,7%, e no Espírito Santo de
74,3%.
90
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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forno
__
não são apenas conjunturais. Na verdade, a aparente inviabilidade econômica do setor,
constitui-se, atualmente, em importante ameaça e desafio à siderurgia brasileira.
2.5.3. Desenvolvimento tecnológico
A siderurgia brasileira, à exemplo de quase todas a nível mundial (com exceção da
japonesa e da alemã) montou o seu parque com tecnologias adquiridas externamente. Mesmo
sendo um dos maiores produtores mundiais, o país não conseguiu desenvolver um background
técnico capaz de desenvolver tecnologias de novos processos. O volume de recursos necessários a
tais atividades, o longo prazo de maturação destes investimentos (de alto risco) são fatores
limitantes a tais inversões.
Deve-se, contudo, destacar que o país conseguiu absorver a tecnologia de operação e
manutenção, a adaptação e otimização de processos produtivos já ou em instalção e o
desenvolvimento de produtos. Com relação a este último tipo de pesquisa, ela foi se tornando
cada vez mais importante, exatamente pela inacessibilidade da compra de tais desenvolvimentos, a
nível mundial. Face ao estágio tecnológica já atingido pela siderurgia brasileira dever-se-ia
privilegiar os gastos com pesquisas de produtos e otimização de processos desenvolvidis por
terceiros. A busca de inovações de processos devem ser pontuais, haja visto os enormes recursos
requeridos.
O esforço de pesquisa na siderurgia brasileira é extremamente heterogêneo. Apesar dos
esforços promovidos por Usiminas, CSN, Pains e Eletrometal, o setor continua sendo muito
pouco intensivo em pesquisa. É bem verdade que a Pesquisa de Campo do Estudo da
Competitividade da Indústria Brasileira mostra uma tendência de elevação dos gastos relativos de
Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) na siderurgia brasileira: 0,21% do faturamento (no período
1987/89) e 0,27% (em 1992)105. Continua sendo pouco em comparação com a média européia,
que é de cerca de 0,6%. Assim como toda a indústria nacional, a siderurgia brasileira tende a ter
um esforço tecnológico mais tímido do que os seus concorrentes internacionais.
PAULA (1992: 112-127) analisa os esforços e os principais resultados da Pesquisa &
Desenvolvimento da siderurgia brasileira, destacando os seguintes pontos:
a) os esforços de pesquisa podem ser divididos em dois tipos de estrutura: centro de
pesquisa formal e núcleos de desenvolvimento (com especialista, em geral, dispersos no interior
das usinas, sem laboratórios próprios);
105 Em termos de pessoal, o efetivo alocado em pesquisa corresponde a 0,90% do total.
91
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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b) os maiores gastos relativos em pesquisa da siderurgia brasileira ficam por conta da
Usiminas (0,6% do faturamento), Eletrometal (até 7% do faturamento), CSN (0,25%-0,30% do
faturamento) e Pains (em proporção não revelada);
c) o segmento de aços especiais no Brasil é pouco intensivo em pesquisas em relação aos
produtores de aço plano comum;
d) o modelo de P&D da siderurgia brasileira é muito intensivo em recursos humanos, o
que pode ser comprovado pelo fato de que cerca de 85-90% dos gastos com P&D são relativos a
fatores com folhas de pagamento e encargos sociais (assim, destina-se poucas verbas para a
aquisição de equipamentos e materiais em termos de comparação internacional);
e) os pesquisadores não apresentam grande qualificação formal, em termos de comparação
internacional, embora haja uma tendência de melhoria acentuada verificada desde meados dos
anos 80;
f) inexiste um padrão comum aos centros/núcleos de pesquisa em termos de estrutura
organizacional;
g) o relacionamento das empresas com as instituições de fomento circunscrevem-se ao
âmbito de Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP);
h) constata-se uma crescente importância dos gastos com pesquisas de produto no setor.
Outra característica marcante da siderurgia brasileira foi a incapacidade de promover
pesquisas cooperativas. Mesmo quando parcela preponderante da produção era de empresas
controladas da Siderbrás, isto não se verificou. Na verdade, uma das poucas tentativas de
promover esta articulação fia anunciada em janeiro de 1987, envolvendo CSN e Cosipa, mas
acabou não se concretizando.
Em sintonia com esta tendência, constata-se pouca interação de universidades e institutos
de pesquisa, de um lado, e usinas siderúrgicas, de outro. A conjugação Cosipa/Instituto de
Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) é, todavia, a exceção a esta falta de entrosamento,
com destaque para o projeto tocha de plasma (que também contou com recursos da Acesita).
Apesar da realização de projetos cooperativos ser um dos objetivos explícitos do
Programa Siderúrgico (PROSID) do IPT, ele não foi concretizado. A própria inexperiência
nacional na articulação de projetos cooperativos e a existência de gargalos tecnológicos
diferenciados nas usinas explica em grande parte o fracasso em atingir este objetivo.
Com relação às universidades, apesar da existência de bons cursos de graduação e pós-
graduação em engenharia metalúrgica e em áreas afins, o relacionamento resume-se, via de regra,
92
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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à concretização de mestrado e, mais raramente, de doutorado por parte dos profissionais das
empresas106.
O Quadro 1 mostra algumas áreas de excelência dos principais centros universitários
relacionados ao setor siderúrgico, com exceção da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
QUADRO 1
ÁREAS DE EXCELÊNCIA DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
UFMG Metalurgia Extrativa
Metalurgia Física
Conformação Mecânica
UFRS Redução Direta
Conformação Mecânica
PUC/RJ Redução Sólida/Líquida
Reciclagem de Rejeitos
Modelação Matemática de Processos
Politécnica/USP Aços Estruturais de Alta Resistência
Novos Processos de Redução e Refino
COPPE/UFRJ Metalurgia Extrativa
Metalurgia Física e Propriedades Mecânica
Preparação e Conformação de Ligas/Corrosão
UFSCar Refratários
Corrosão
Fonte: Mazzarella (1990), Silva & Rodrigues (1988), Adamian & Monteiro (1988)
Retomando a questão da pesquisa cooperativa, ela seria mais factível de acontecer nas
àreas iniciais do processo, especialmente na redução e em fatores de rebaixamento de custo em
geral (como energéticos). Quanto mais de aproxima do produto final, mais a questão
concorrencial ganha importância, o que dificulta (e muito provavelmente) inviabiliza este tipo de
pesquisa107. No caso brasileiro, dado o problema do parque guseiro, um destaque especial dever-
se-ia ser concedido a tais tipos de pesquisa. Isto é mais verdadeiro, ao se considerar que a
siderurgia a carvão vegetal é uma peculiaridade nacional e dificilmente se encontrará soluções
tecnológicas em outros países.
Dentro desta perspectiva, a tentativa do IPT de aglutinar esforços para a substituição do
carvão vegetal por outros energéticos, como o capim, deveria receber algum tratamento
preferencial108. Este projeto é dividido em três fases: a) plantio intensio; b) extração de proteína;
c) processos alternativos de carvoejamento. Com duração total de 3 anos, deve exigir
106 A Cosipa é a usina que mais contrata serviços tecnológicos junto às universidades.
107 Recentemente, NKK e Kobe Steel, duas das maiores usinas siderúrgicas promoveram uma troca de tecnologias
na àrea de redução. Trata-se, aliás, de um fato raro e que embora pudesse continuar certamente deve "limitar-se à
produção dos materias e não envolveria processos para produtos acabados" (GAZETA MERCANTIL, 21/07/93: 9).
108 Ver MAZZARELLA (1992).
93
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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investimentos de até US$ 500 mil, sendo que as siderúrgicas devem entrar (Belgo-Mineira,
Acesita, Pains) com 10% a 20% do custo total, através da cessão de áreas para plantação de
capins, onde seriam construídas as estações experimentais.
No contexto da siderurgia como um todo, porém, a ênfase não deve ser para processos
inovadores, mas sim para otimização e desenvolvimento de produtos. Para modernizar o seu
parque, o setor deverá recorrer à tecnologia desenvolvida externamente. Aqueles dois vetores se
processam ao nível das empresas individualmente. O apoio a tais desenvolvimentos in house
deveria ser uma prioridade da política setorial.
2.5.4. Mercosul
O Mercado Comum do Cone Sul (MERCOSUL) passou recentemente a ter importância
preponderante em termos da pauta de exportações da siderurgia brasileira. Como se comprova na
Tabela 33, a tonelagem exportada elevou-se de 1,86% (1990) para 7,86% (1992) do total das
exportações brasileiras. Isto poderia induzir à conclusão de que o MERCOSUL é uma grande
oportunidade à siderurgia brasileira.
TABELA 33
EXPORTAÇÕES SIDERÚRGICAS BRASILEIRAS PARA O MERCOSUL
(1990/92)
(toneladas)
1990 1991 1992
Argentina 108.574 317.309 815.172
Uruguai 37.623 42.401 68.250
Paraguai 20.804 30.813 42.915
MERCOSUL 176.001 390.523 926.337
% Tonelagem 1,86 3,58 7,86
% Faturamento 2,77 4,60 9,53
Fonte: IBS
Algumas questões, porém, parecem desautorizar esta interpretação. Em primeiro lugar,
quando se aborda a questão do Mercosul, está se discutindo, fundamentalmente, o comércio com
a Argentina, face ao tamanho reduzido do mercado uruguaio e paraguaio. No caso das
importações siderúrgicas, comprova-se que aproximadamente 80% foram provenientes da
Argentina. Secundariamente, o boom de exportações para este mercado é muito provavelmente de
94
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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pequena duração109, em função de que o crescimento da importações foi devido à sobre-
valorização do peso110 e à queda de produção da Somisa (única produtora de aços planos).
Com relação ao primeiro fator, a indústria argentina vem pressionando no sentido de
reverter esta situação, através de pedidos de investigação anti-dumping (contra o Brasil, em
bobinas laminadas a quente e a frio) e mediante o aumento da chamada taxa de estatística.
No que tange aos problemas da Somisa, aparentemente eles estão sendo contornados, o
que implicará em menores importações de produtos planos. De fato, o grande crescimento das
exportações brasileiras foi concentrado em planos: em 1992, as exportações de planos
corresponderam a 82% do comércio entre os dois países. Adicionalmente, foi inversamente
correlacionada com a queda da produção de laminados planos pela Somisa. Com efeito, o
aumento das exportações brasileiras de planos em 1992 foi de 403,8 mil toneladas enquanto a
redução da produção da Somisa destes produtos foi de 329,9 mil toneladas; portanto, o
incremento líquido (proveniente da recuperação econômico) foi muito mais modesto (apenas 73,9
mil toneladas). Dados do primeiro trimestre de 1993, indicam que a Somisa aumentou em 47,5%
sua produção de planos em comparação com o mesmo período do ano anterior. Caso a Somisa
mantenha o ritmo da produção de março dee 1993, ela retomaria o nível de produção de 1991,
diminuindo significativamente o mercado de laminados planos para as exportações brasileiras.
Assim, as exportações brasileiras para este mercado deverão ser muito mais tímidas no
futuro111, embora possa haver alguma complementação inter-indústria, o que diga-se de
passagem é muito raro a nível mundial. Em agosto de 1988, veiculou-se um acordo entre a Cia.
Siderúrgica de Tubarão e a Siderurgica Propulsora (Argentina), estabelecendo o aumento da
capacidade produtiva e instalação de um laminador de tiras a quente na primeira, que venderia
cerca de 500 mil toneladas/ano de bobinas a quente para a segunda. A CST, por sua vez,
encarregaria de vender 100 mil toneladas/ano de bobinas a frio da Propulsora no Brasil. Este
acordo não se concretizou. Mas, recentemente, com a privatização da Somisa (rebatizada de
Aceros Paraná), a Usiminas assumiu o parte do controle acionário (5%) desta empresa, o que
permitirá algum mercado cativo na venda de placas.
109 Quando se compara as exportações brasileiras com o consumo aparente de produtos siderúrgicos argentinos
verifica-se um incremento acentuado: 3,7% (1990), 17,4% (1991) e 32,2% (1992).
110 Certamente, o grande crescimento das exportações brasileiras para a Argentina não é um fenômeno setorial,
pois a siderurgia vem mantendo seu peso relativo na pauta exportadora brasileira para este país: 7,8% (1990), 8,4%
(1991) e 8,5% (1992).
111 Talvez em função disso, apenas 4 em 11 usinas siderúrgicas consideraram o Mercosul como um elemento
importante na definição da estratégia competitiva da empresa (Pesquisa de Campo do Estudo da Competitividade
da Indústria Brasileira). Fatores como retração do mercado interno e maior exigência dos consumidores, por
exemplo, foi apontado como importante por nove empresas.
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Desta forma, é bem mais provável que o comércio indireto de aço (especialmente através
do acordo do setor automobilístico) tenha mais importância no futuro do que as exportações
diretas de produtos siderúrgicos.
Resta analixar duas questões remanescentes. Os países do Mercosul, assim como os
demais países latino-americanos, tem sido um local privilegiado do up-grading das exportações
siderúrgicas brasileiras. Ratifica o argumento o fato de que a relevância das exportações em
termos de faturamento supera significativamente a em termos de tonelagem. E face à pouca
representatividade da indústria de aços especiais argentina, o segmento brasileiro pode ser muito
beneficiada num contexto de união alfandegária ou mesmo de zonas de tarifas preferenciais.
Secundariamente, não há riscos aparentes de concorrência da produção argentina com a
brasileira, num cenário de tarifas nulas. Talvez, a única exceção seja na linha de tubos sem costura,
onde a escala de produção argentina (Siderca) é superior a brasileira (Mannesmann)
2.5.5. Barreiras tarifárias e não-tarifárias
As principais barreiras às exportações enfrentadas pela siderurgia brasileiras são de cunho
não-tarifário. De fato, a siderurgia é um setor onde as tarifas têm pouca importância como fator
impeditivo ao comércio. Dentre as principais barreiras enfrentadas pela siderurgia mundial estão
os acordos de restrição voluntária às exportações112 e a recorrência dos processos de anti-
dumping e direitos compensatórios.
Os acordos de restrição voluntárias às exportações atingiram as vendas brasileiras para o
mercado norte-americano e europeu. Na verdade, no caso norte-americano, o Brasil assinou dois
acordos. O primeiro vigorou de outubro de 1984 a setembro de 1989, sendo que o Brasil tinha
direito de exportar até 1,46% (já considerado a cota de semi-acabados) do consumo aparente
norte-americano. O segundo vigorou de outubro de 1989 a março de 1992, tendo sido dividido
em dois períodos de quinze meses. As cotas brasileira nos dois períodos foram de 1,8% e 2,1%
respectivamente. Já com relação a Comunidade Européia, os acordos têm sido negociados
anualmente.
Após o término do acordo de restrição voluntária para os Estados Unidos, as empresas
brasileiras diminuiram num primeiro momento suas exportações para aquele mercado visando
evitar os pedidos de anti-dumping e direitos compensatórios. Mas esta estratégia não se mostrou
112 Para uma análise recente do impacto desta barreira para a siderurgia brasileira, ver MESQUITA & NAIDIN
(1992).
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suficiente113, sendo que desde então já foram abertos processos contra cinco tipos de produtos
da siderurgia brasileira:
a) tubos standard pipe;
b) barras de aço de corte fácil, ao chumbo ou bismuto (Acesita, Mannesmann e Villares);
c) barras laminadas a quente, tarugos de aço ligado ou de aço ao carbono de qualidade
especial (Villares, Acesita, Mannesmann, Piratini, Eletrometal e Açominas);
d) produtos planos de aço ao carbono não-revestidos e revestidos (CSN, Cosipa e Usiminas);
e) fio-máquina.
O processo mais relevante é o de aços planos. Os processos de anti-dumping e direitos
compensatórios envolvem quatro decisões: preliminares e definitivas do Departamento de
Comércio e da International Trade Commission (USITC). A decisão final do Departamento de
Comércio, de junho de 1993, afetou 19 países no processo de anti-dumping e 10 países no de
direitos compensatórios, sendo as siderúrgicas brasileiras incluídas nas duas listas. O Tabela 34
mostra as alíquotas de anti-dumping e de direitos compensatórios aplicadas a estas três usinas.
TABELA 34
TAXAS ANTI-DUMPING E DIREITOS COMPENSATÓRIOS
DEPARTAMENTO DE COMÉRCIO NORTE-AMERICANO
PARA SIDERURGICAS BRASILEIRAS
Cosipa CSN Usiminas
AD DC AD DC AD DC
Bobinas a Quente 87,00 44,36 87,00 30,36 40,44 5,52
Bobinas a Frio 88,00 44,36 88,00 30,36 35,78 5,52
Chapas Grossas 109,00 44,36 - - 42,08 5,88
Aço Revestido - - 43,00 30,36 - -
Obs: AD = Anti-dumping
DC = Direitos Compensatórios
As exportações brasileiras destes quatro produtos para os Estados Unidos, em 1991,
foram de 300 mil toneladas (US$ 115 milhões). No caso de específico da Usiminas isto
representou 120 mil toneladas (US$ 46 milhões), ou seja, 3% do faturamento, o que pode ser
considerado pouco significativo.
A siderurgia brasileira, apesar de ter sido contemplada com as maiores taxas, certamente
foi uma das menos afetadas pela imposição destes gravames ao segmento de aços planos, muito
em função da concentração da exportação em produtos semi-acabados, que não foram incluídos
113 A Cosipa, por exemplo, deixou de exportar para os EUA desde maio de 1992, ou seja, um mês após o término
do acordo de restriçäo voluntária às exportaçöes.
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em tais medidas. Isto fica mais claro ao se considerar que, em 1991, os quatro tipos de aços
planos representaram 44,5% de todas as importações americanas, em comparação com 23,7% das
exportações brasileiras para os EUA (em tonelagem).
Em 27 de julho, a decisão final da International Trade Comission foi anunciada. A
siderurgia brasileira foi beneficiada por tal decisão, uma vez que o único produto para o qual foi
ratificada a sobre-taxa foram as chapas grossas. No caso da Cosipa, a taxa é de 153,36% (44,36%
de subsídios e 109% de dumping) e da Usiminas de 47,96% (5,88% de subsídios e 42,08% de
dumping).
A grande vantagem está no fato de que as sobre-taxas não atingiram as bobinas a frio,
cujas exportações para os EUA vinham sendo da ordem de 120 mil toneladas (US$ 49 milhões),
equivalendo a 10,4% de toda a exportação brasileira siderúrgica para os EUA, em termos de
faturamento, e que teriam maior dificuldade para escoamento em outros mercados. Além disso,
como tais processos tendem a ser disseminar por outros países, como já foi o caso do Canadá, em
abril de 1993, a decisão negativa da ITC diminui a perspectiva de uma "avalanche de processos" a
nível mundial. Em termos práticos, o Brasil deve continuar no mercado americano, mas impondo-
se uma auto-restrição de exportações (ao nível de suas exportações históricas) como forma de
evitar novos processos de anti-dumping e direitos compensatórios.
Por outro lado, a aplicação de processos de anti-dumping pela indústria brasileira é
incipiente. Na verdade, como aponta FUNCEX (1993: 110-5), o grau de protecionismo implícito
destes processos não depende do Código propriamente, mas da tradição institucional dos órgãos
encarregados de gerenciá-lo, da capacidade de pressão dos grupos que demandam proteção, da
orientação geral da política comercial dos governos e da existência de contenciosos bilaterais nas
relações comerciais. Tão ou mais importante do que a adoção de processos anti-dumping é a
necessidade da criação do Código Brasileira de Salvaguardas, que permite atacar de frente o
problema do aumento exponencial das importações, além de não exigir a comprovação do
dumping de produtores internacionais. Porém, para se obter resultados em ambos os casos o
Departamento Técnico de Tarifas do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo necessita ser
fortalecido.
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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
A análise da competitividade da siderurgia brasileira apontou que a automação e o
enobrecimento de produtos devem ser as duas palavaras de ordem da política setorial para a
siderurgia brasileira.
Deve-se destacar, inicialmente, a dificuldade de se promover uma política industrial no
contexto atual de recessão econômica e da perspectiva de manutenção da capacidade instalada. O
principal indicador de que a siderurgia brasileira, em particular, não deverá incrementar aquela
capacidade é o fato de que mais de 50% do aço produzido está sendo exportado, como reflexo da
contração de demanda doméstica. Em outras palavras, necessita-se de uma política que induza a
modernização do parque, supondo uma trajetória de manutenção do volume de produção.
3.1. Política de Reestruturação Setorial
A siderurgia brasileira, em linhas gerais, conta com uma estrutura industrial compatível
com a dos demais produtores mundiais. A escala de produção é adequada. Poder-se-ia pensar
numa reestruturação industrial a partir da privatização, mas como já indicado, isto acabou não se
efetivando.
Deve-se destacar a questão do financiamento e a restruturação produtiva do setor. O
desenvolvimento da indústria siderúrgica foi baseada em elevadas barreiras à entrada, em especial,
no que se refere às usinas integradas a coque. O espaço para fusões, incorporações e mesmo
fechamento de algumas unidades parece ser muito reduzido114. Neste sentido, cabe apontar que a
reestruturação não deverá ser muito radical, mas ao contrário, tentando otimizar a estrutura já em
operação.
Em termos de estrutura industrial, três questões parecem relevantes: a indústria de gusa, a
situação da CST e da Açominas e o poder de mercado de grupos nacionais.
A indústria de gusa caracteriza-se por ser muito fragmentado, e apresenta resultados muito
insatisfatórios em termos do aproveitamento de energia. Este segmento poderá passar por um
processo de concentração inclusive, com a desativação de vários alto-fornos, em decorrência de
dois fatores:
114 Embora o risco de desativação de algumas etapas produtivas da Cosipa após sua privatização não possa ser
descartado.
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. a incapacidade de atendimento à nova Legislação Florestal; e
. os investimentos (onerosos) necessários para aumentar o aproveitamento de energia,
através de injeção de finos de carvão, utilização de fornos mecanizados, verticalização, etc.
Os guseiros possivelmente terão uma sobrevida se os grandes produtores de aço a carvão
vegetal converterem seus alto-fornos para coque. Mas, para promover esta centralização de
capitais, o segmento deveria planejar sua reestruturação contando, inclusive, com acesso a
financiamentos do sistema BNDES.
CST e Açominas são exemplos atípicos na siderurgia mundial de produtores que fabricam
somente produtos semi-acabados. As ações dirigidas a estas empresas deveriam privilegiar o
enobrecimento da oferta, em detrimento do aumento da capacidade destas usinas.
Por outro lado, deve ser negado, de modo veemente, as recorrentes tentativas de
construção de novas usinas. A premissa central da política industrial deve ser a modernização, a
melhoria do mix de produtos do porque instalado, e não eventuais ampliações da produção de aço
bruto. As duplicações da CST e Açominas deverão ser reanalisadas, até porque a decorrente
diminuição do volume fabricado de semi-acabados já foi argumento para a constituição de uma
nova usina: a Coaço (Sete Lagoas), que enobreceria o pólo guseiro de Minas Gerais, mas visava
fornecer produtos de baixo valor agregado.
Uma última questão é o aumento do poder de mercado de grupos nacionais, decorrente do
processo de reprivatização, e que é, inclusive, o ponto nevrálgico da venda da Açominas. Postula-
se que a concentração é uma tendência mundial, e ao invés de tentar evitá-la, deve-se aplicar
legislação anti-truste e barreiras tarifárias reduzidas.
3.2. Políticas de Modernização Produtiva
A estratégia básica que deve nortear a modernização do setor é a automação, por dois
motivos: i) propicia aumento da produtividade; ii) permitiria uma modernização da etapa de
laminação, que é uma grande deficiência da indústria.
A política necessária para levar a cabo esta estratégia passa pelo equacionamento dos
obstáculos à aquisição externa de equipamentos e à obtenção de recursos para financiamentos.
Aparentemente, estes dois obstáculos serão resolvidos no curto prazo. Na medida em que a
reserva de mercado para informática acabou, a proteção tende a se tornar apenas tarifária.
Alíquotas alfandegárias de no máximo 40% parecem ser uma restrição contornável para quem já
chegou a pagar uma diferença de 200% na compra do produto nacional, em relação ao similar
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internacional. Com relação às fontes de financiamentos, a grande restrição era o endividamento
das estatais, que gradativamente estão passando para o controle do setor privado. Tanto é verdade
que logo após sua privatização, a Usiminas obteve junto ao BNDES/Finame recursos, no valor de
US$ 64 milhões, para a concretização de sua linha de eletrogalvanizados. O processo de
privatização tem, adicionalmente, "limpado" os passivos das empresas115, o que favorece a
obtenção de novas linhas de financiamento.
Três medidas parecem ser de fundamental importância para se levar a cabo uma maior
difusão de automação industrial no setor.
Primeiro, atividades de conscientização. É mister debater na indústria a necessidade de
aumentar a utilização desta ferramenta. É necessário acentuar que este é o principal meio que
possibilita o incremento da produtividade na indústria, num contexto de estagnação da produção.
A maior utilização da automação industrial é, muitas vezes, obstruída por dois agentes
importantes: o corpo técnico (engenheiros) e os sindicatos. Para os primeiros, cabe promover
programas de treinamento (reciclagem) para que estes técnicos possam se adequar aos novos
requerimentos técnicos. Não é ocioso lembrar, que uma parcela preponderante destes profissionais
concluíram suas atividades formais de ensino numa época em que a automação tinha menor
aplicabilidade na indústria. Com relação aos sindicatos, dever-se-ia assumir um posicionamento
aberto: negociar o repasse para os salários do aumento de produtividade decorrente da maior
difusão de automação industrial enquanto com relação a redução do emprego direto gerado pelo
setor,
__
que apesar de socialmente dolorosa, é uma conseqüência provável da automação
__
deve se buscar a negociação de mecanismos compensatórios com a representação sindical.
Segundo, políticas de normalização. É fundamental que haja comunicabilidade entre os
equipamentos de automação industrial utilizados pelas usinas siderúrgicas. A experiência nacional
vem mostrando como é difícil interligar os equipamentos que se baseiam em diferentes filosofias e
padrões técnicos. A padronização não deve ser desempenhada pelo Governo isolodamente (de
cima para baixo), mas deve ser elaborada em termos de cooperação governo, usuário e
fornecedores (mesmo que sejam estrangeiros). Este, talvez, seja um dos papéis que a câmara
setorial da siderurgia poderia desempenhar, objetivando resultados a médio prazo. Neste sentido,
reverter-se-ia a falta de articulação intra-setorial, que foi tão cara ao período de expansão da
capacidade produtiva.
Terceiro, incentivos. É difícil pensar em incentivos (via de regra, fiscais) quando a União
vive uma situação de penúria financeira. Portanto, é necessário restringir e definir rigidamente os
casos prioritários e os objetivos a se atingir. Duas medidas, à primeira vista, conseguem privilegiar
115 Isto aconteceu mais vigorosamente no caso da Piratini, CSN e Cosipa.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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apenas investimentos em automação industrial: i) criação de leasing para equipamentos de
automação industrial a taxas de juros subsidiadas; ii) depreciação acelerada para investimentos em
automação industrial.
Como mencionado na seção anterior, outra diretriz da política setorial deve ser evitar a
implementação de novas usinas, em especial, as integradas, privilegiando os investimentos em
otimização e enobrecimento da capacidade atual das empresas e não em capacidade adicional116.
Eventualmente, numa segunda fase, em função de um crescimento acentuado do consumo
doméstico, faria sentido o aumento das usinas já instaladas ou a construção de novas usinas. As
eventuais expansões deverão contemplar, basicamente, a melhoria do mix de produtos. Em suma,
os investimentos dever-se-iam concentrar na laminação e também na maior difusão de
lingotamento contínuo.
Com relação ao enobrecimento de produtos, o principal mecanismo governamental a ser
utilizado deve ser a política tarifária, uma vez que as decisões são muito particulares à estratégia
comercial e tecnológica de cada empresa. As medidas devem buscar diferenciar mais
acentuadamente as barreiras tarifárias, no sentido de facilitar a importação de produtos de menor
valor agregado e restringir a aquisição externa de aços mais nobres.
Deve-se levar em consideração de que a melhoria do mix de produtos exigirá maiores
investimentos em pesquisa tecnológica, especialmente de produto. Isto, contudo, é um objetivo de
médio prazo, haja visto que os resultados de pesquisa não são imediatos.
Desta forma, a proposta de modernização empresarial deve contemplar timing
diferenciado. Inicialmente, requer-se uma maior difusão de automação industrial de base
microeletrônica. Os impactos imediatos seriam a redução de custos, o aumento da flexibilidade e
confiabilidade do processo produtivo e, indiretamete, o aumento da capacidade instalada. Num
primeiro momento, a automação reforça os pontos positivos da siderurgia brasileira (custos baixos
na produção de aços commodities), revertendo uma fragilidade (a baixa produtividade). Mas, os
gastos com automação dificilmente serão interessantes se combinados com a atual estrutura da
oferta, que é fortemente concentrada em produtos de baixo valor agregado (e, supostamente, com
margem de remuneração reduzida). A trajetória certamente envolverá a melhoria simultânea do
mix de produtos, mediante aquisição ou reformas dos equipamentos existentes no setor. Assim, no
curto prazo, automação e enobrecimento devem se constituir no núcleo central da política
industrial setorial.
116 Uma vantagem da estratégia de otimização é a redução do alto custo de investimento (FURTADO et alii, 1992:
518).
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Deve-se esclarecer qual é o sentido do enobrecimento proposto. A idéia é ir processando
melhorias na oferta em saltos: mudar o perfil exportador de placas para de bobinas a quente, e
depois para bobinas a frio, por exemplo. Tentar mudar abruptamente a inserção da siderurgia
brasileira, competitindo com Japão e Alemanha, é uma estratégia com pouca margem para o
sucesso. Falta ao país, recursos financeiros para investimentos de longo prazo e de longa
maturação, ambiente propício a estes investimentos (estabilidade da economia), background
técnico, e um mercado interno que também demande produtos mais nobres.
Mas a maior difusão de automação industrial e a eventual (porém, necessária) melhoria do
mix de produtos não se sustenta no médio prazo, senão combinada com maior envolvimento de
pesquisa de produtos. Não se pensa em desenvolvimento de produtos inovadores, a nível mundial,
mas sim a introdução de produtos inéditos no país, mas que já estão sendo oferecidos por outros
fabricantes.
Assim, a automação abre espaço para redução de custos (reforçando a posição
competitiva da siderurgia brasileira), além de induzir a investimentos de melhoria do mix, a
investimentos em pesquisa de produtos, que são palavras-chaves para a mudança da inserção do
setor, no futuro. Ela deveria ser, então, o norteador dos investimentos futuros do setor. O ritmo
da maior difusão de automação está, porém, condicionado à retomada da demanda interna (que
proporcionaria maior margem de contribuição).
3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
A melhoria do desempenho produtivo da siderurgia brasileira e a modernização
empresarial e tecnológica depende do crescimento do mercado doméstico. Nos anos de 1986-7, o
consumo doméstico de aço foi de 12,7 milhões de toneladas anuais; em 1992, ele tinha involuído
para 8,4 milhões de toneladas (queda de 33,5%). A racionalidade econômica rejeita investimentos,
no contexto de um mercado doméstico declinante (onde efetivamente há margem de contribuição)
e um mercado internacional estável (onde se praticam preços marginais).
Uma primeira questão refere-se a uma eventual aproximação com consumidores. Apesar
do Brasil apresentar uma baixíssimo consumo de aço per capita, isto não se deve a uma má
articulação dentro do setor industrial. Este resultado deriva-se do contexto macroeconômico de
recessão e desigualdade na distribuição da renda. Existe, contudo, um espaço para incrementar o
consumo de aço no país, via substituição do cimento, na construção civil. Segundo estimativas da
Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM), as estruturas metálicas correspondem a
apenas 3% do total das obras do país. No Japão, 35% dos prédios comerciais e residenciais são
feitos em estrutura metálica. Para reverter este quadro, algumas medidas deveriam ser adotadas: i)
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introdução da disciplina "Estrutura Metálica" na maioria das universidades; ii) evitar que editais de
obras públicas e códigos de obras municipais discriminem o aço frente ao cimento; iii) campanhas
publicitárias a cerca da utilização do aço na construção civil: rapidez, menor peso específico e
redução de custo de 8-10% para prédio acima de 12 andares.
Para evitar que a tendência à concentração industrial do setor se transforme num foco de
ineficiência, é necessário aumentar a contestabilidade dos mercados, através de políticas de defesa
da concorrência e da fixação de tarifas aduaneiras muito reduzidas para mercados concentrados e
de baixo valor agregado.
Para garantir uma rentabilidade mínima ao setor, requer-se também que o setor não sofra,
como no passado, controles de preços sob o argumento da importância do aço na formação de
preços da economia. Ao longo de toda a década de 80, a siderurgia brasileira sofreu recorrentes
controles de preços. Isto serviu como mecanismo para arrefecimento do aumento da inflação e
subsídio indireto à exportação de manufaturados. Por outro lado, reduziu-se significativamente as
condições de auto-financiamento do setor e as próprias possibilidades de reinversão (e
modernização) da indústria. A manutenção de preços não controlados já é, em si, um estímulo à
competividade do setor. Mesmo que esta melhoria de lucratividade não se reverta em
investimentos de modernização, certamente, contribui para reduzir o endividamento das empresas
e, consequentemente, o alto custo financeiro que onera o setor.
Finalmente é necessário aumentar a eficiência da infraestrutura de transportes,
especialmente a portuária, através da implementação da legislação recentemente aprovada.
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4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Finalmente, com relação a indicadores de produtividade, no caso siderúrgico deve-se
privilegiar variáveis técnicas, na medida em que indicadores de desempenho "comercial" são muito
enganosos, uma vez que o comércio internacional é muito administrado (alta incidência de
barreiras não-tarifárias). O mix de produtos é, inclusive, do conhecimento do Instituto Brasileiro
de Siderurgia, mas não é divulgado por empresa separadamente. Alguns indicadores de eficiência
técnica são bastante conhecidos, como Coke Rate (kg coque/tonelada gusa) e índice de geração
interna de sucata. Outros, porém, embora possam ser determinados, não são de conhecimento
público. Neste sentido, cabe acompanhar e divulgar tais indicadores por empresas117, tais como:
1. rendimento coque alto-forno/coque bruto (%)
2. rendimento sínter alto-forno/sínter produto (%)
3. Fuel Rate (kg óleo combustível + coque/tonelada gusa)
4. rendimento metálico (%)
5. Tap to Tap (tempo de corrida em minutos)
6. consumo específico de energia de fornos elétricos a arco (kwh/t)
7. difusão de lingotamento contínuo
8. sequenciamento do lingotamento contínuo (número de corridas/parada da máquina
9. difusão de metalurgia de panela
10. rendimentos da laminação: chapas grossas/placas e bobinas laminadas a quente/placas
11. rendimentos de revestimento: aprovação de zincagem e estanhagem
12. índices de utilzação dos equipamentos e de paradas não programadas
13. consumo específico de energia em todas as etapas do processo siderúrgico
14. reaproveitamento de gases próprios: de coqueria, de alto-forno, de forno elétrico de
redução
15. reciclagem de resíduos: escórias, pós e lamas.
117 Ver OLIVEIRA et alii (1989: 1191), acerca de outros indicadores operacionais relevantes para a siderurgia.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
RELAÇÃO DE TABELAS E QUADROS
TABELA 1
PRODUÇÃO MUNDIAL DE AÇO BRUTO (1973/91) ................................................18
TABELA 2
ESTIMATIVA DA CAPACIDADE MUNDIAL DE PRODUÇÃO
DE AÇO (1990/1995/2000)...........................................................................................21
TABELA 3
RENDIMENTO OPERACIONAL DO LAMINADOR DE TIRAS A QUENTE -
PAÍSES SELECIONADOS (1970/90)...........................................................................23
TABELA 4
CUSTO DE PRODUÇÃO DE BOBINAS LAMINADAS A FRIO USINAS
INTEGRADAS - PAÍSES SELECIONADOS (1984/90)...............................................28
TABELA 5
CUSTO DE PRODUÇÃO DE BOBINAS LAMINADAS A FRIO - PAÍSES
SELECIONADOS (1991) .............................................................................................29
TABELA 6
CUSTO SALARIAL NA PRODUÇÃO DE BOBINAS LAMINADAS A FRIO -
PAÍSES SELECIONADOS (1991)................................................................................30
TABELA 7
PRODUTIVIDADE POR ETAPA PRODUTIVA USIMINAS - JAPÃO E
MÉDIA MUNDIAL (1990)...........................................................................................32
TABELA 8
EFETIVO DE PESSOAL E PRODUTIVIDADE - BRASIL E
CORÉIA DO SUL (1991) .............................................................................................33
TABELA 9
EVOLUÇÃO DO EFETIVO DE PESSOAL SIDERURGIA BRASILEIRA,
POR EMPRESA (1988/91) ...........................................................................................35
TABELA 10
GRAU DE DIFUSÃO DE AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL DE BASE
MICROELETRONICA - SIDERURGIA BRASILEIRA...............................................39
TABELA 11
CUSTO DE MATERIAIS NA PRODUÇÃO DE BOBINAS
LAMINADAS A FRIO - PAÍSES SELECIONADOS (1991)........................................40
TABELA 12
RENDIMENTO INTEGRADO - BRASIL, EUA, JAPÃO, CORÉIA DO SUL E
EUROPA OCIDENTAL (1981/90)...............................................................................42
TABELA 13
CUSTO FINANCEIRO NA PRODUÇÃO DE BOBINAS
LAMINADAS A FRIO - PAÍSES SELECIONADOS (1991)........................................43
TABELA 14
RAZÃO TOTAL DE ATIVOS/PRODUÇÃO - PAÍSES E USINAS
SELECIONADOS (1978/88) ........................................................................................44
TABELA 15
CUSTO DE IMPLANTAÇÃO DE TONELAGEM ADICIONAL E
CUMPRIMENTO DE PRAZOS - BRASIL E CORÉIA DO SUL .................................45
111
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 16
PROJETO AÇOMINAS - ESTIMATIVA INICIAL (1978)
E GASTO EFETIVO (1985).........................................................................................46
TABELA 17
DESPESAS FINANCEIRAS EM RELAÇÃO AO FATURAMENTO LÍQUIDO -
SIDERURGIA BRASILEIRA, POR SEGMENTOS (1977/86).....................................47
TABELA 18
CUSTO DE PRODUÇÃO OPERACIONAL DE BOBINAS LAMINADAS A
FRIO POR ETAPAS - PAÍSES SELECIONADOS (1991)............................................48
TABELA 19
CUSTOS PORTUÁRIOS NO EMBARQUE DE PRODUTOS
SIDERÚRGICOS - PORTOS SELECIONADOS (1989/90) .........................................50
TABELA 20
PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE AÇO
POR PRODUTO (1983/90)...........................................................................................52
TABELA 21
EVOLUÇÃO DO COKE-RATE - BRASIL E JAPÃO (1980/89)..................................55
TABELA 22
DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO DE AÇO BRUTO POR TIPO
DE ACIARIA - SIDERURGIA MUNDIAL (1991).......................................................56
TABELA 23
DIFUSÃO DE LINGOTAMENTO CONTÍNUO - SIDERURGIA
MUNDIAL (1985/91) ...................................................................................................57
TABELA 24
MIX DE PRODUÇÃO - BRASIL, ALEMANHA, JAPÃO, FRANÇA E
CORÉIA DO SUL (1989) .............................................................................................59
TABELA 25
CONSUMO DE AÇO BRUTO PER CAPITA...............................................................60
TABELA 26
ESTÁGIO ATUAL DOS PROGRAMAS DE QUALIDADE NA SIDERURGIA
BRASILEIRA...............................................................................................................63
TABELA 27
PERDA DA PRODUÇÃO POR GREVES - SIDERURGIA
BRASILEIRA (1982/89)...............................................................................................65
TABELA 28
REPRIVATIZAÇÕES DA SIDERURGIA BRASILEIRA.............................................70
TABELA 29
PRIVATIZAÇÕES DA SIDERURGIA BRASILEIRA..................................................72
TABELA 30
IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO DE PRODUTOS SIDERÚRGICOS (1988/93)............78
TABELA 31
IMPORTAÇÕES E CONSUMO BRASILEIROS DE PRODUTOS
SIDERÚRGICOS (1986/92) .........................................................................................79
TABELA 32
ALTOS-FORNOS INDEPENDENTES EM OPERAÇÃO - CARAJÁS........................87
TABELA 33
EXPORTAÇÕES SIDERÚRGICAS BRASILEIRAS
PARA O MERCOSUL (1990/92)..................................................................................92
112
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 34
TAXAS ANTI-DUMPING E DIREITOS COMPENSATÓRIOS
DEPARTAMENTO DE COMÉRCIO NORTE-AMERICANO PARA
SIDERURGICAS BRASILEIRAS................................................................................95
QUADRO 1
ÁREAS DE EXCELÊNCIA DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS........................91
113
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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ANEXO 1:
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DOS PRODUTOS SIDERÚRGICOS
PREÇO SPOT ANTUÉRPIA
PREÇOS DOS PRODUTOS SIDERÚRGICOS
Preço Spot Antuerpia
0
200
400
600
800
Jan-89 Jan-90 Jan-91 Jan-92 Jan-93
Vergalhão Bobinas a Quente Bobinas a Frio Galvanizado
Fonte: Metal Bulletin.
114
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ANEXO 2:
RESENHA ESQUEMÁTICA SOBRE A COMPETITIVIDADE
DA INDÚSTRIA SIDERÚRGICA BRASILEIRA
115
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Fontes Vantagens Desvantagens
BNDES * modernidade e eficiência * alto custo do
(1987) do parque investimento
* baixo custo unitário * baixa produtividade
da mão-de-obra
* excelente relação custo/ * custo e dependência
qualidade do minério ferro externa carvão
mineral metalúrgico
* custo e disponibilidade * alto custo portuário
de eletricidade
* bom nível gerencial e da * baixa difusão de
mão-de-obra em geral lingotamento contínuo
* alta despesas
financeiras
* distância dos mercados
importadores
BATISTA * escala dos equipamentos * mix de exportação
(1988) concentrada em produtos
de menor valor agregado
* mão-de-obra barata * baixa produtividade
* matérias-primas baratas * carvão mineral de baixa
(especialmente, minério qualidade e com
de ferro) reservas pequenas
* baixo custo da * alto custo do
eletricidade investimento
* custos de transporte
(internos e portuários)
elevados
SOARES * modernidade e eficiência * alto custo de
(1990) do parque produtos investimento
* baixo custo da mão-de- * baixa produtividade da
obra mão-de-obra
* custos industriais * situação geográfica em
inferiores aos da maior relação aos principais
parte dos concorrentes mercados
* relação favorável custo/ * alto custo financeiro
qualidade do minério de
ferro * estrutura portuária
deficiente
* custo portuários e de
estiva exorbitantes
(continua)
116
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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(continuação)
MARCUS * custos salariais * carência de carvão
(1990) mineral metalúrgico
* alguns equipamentos * necessidade de
altamente modernos atualizar muitos
equipamentos
* mercado doméstico * suprimento de sucata
relativamente grande para
um país em desenvolvimento
* boa perspectiva futura de * baixo preços das
demanda, a longo prazo exportações
* custo do minério de ferro * custos financeiros
* portos de grande calado * ambiente hiper-
inflacionário
* grandes companhais com * fontes de financiamento
custos operacionais baixos para atualizar e
modernizar plantas
* gerenciamento dinâmico
pelas empresas privadas
SCHLAFER * altos custos portuários
(1988) * alto custo de
JOHANNPETER financiamento do
(1990) capital fixo
ASP * elevada carga
(1991a) tributária sobre
exportações
* falta/eliminação de
incentivos e subsídios
* dificuldade de acesso
às tecnologias modernas
* ausência de taxa
cambial permanentemente
realista
FURTADO * custo/qualidade do * elevado custo de
et alli minério de ferro investimento
(1992) * baixo custo da mão-de- * baixa produtividade da
obra mão-de-obra
* baixo custo da * custos dos serviços
eletricidade portuários
* mix ruim de produção e,
fundamentalmente, de
exportação
117
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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ANEXO 3:
PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR
118
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PESQUISA DE CAMPO
ESTATÍSTICAS BÁSICAS
Setor Siderurgia
Amostra original: 20
Questionários recebidos: 13
1. Caracterização
1.1 Variáveis Básicas: valores totais em 1992
(US$ mil)
Faturamento 5.758.042
Investimento 840.294
Exportações 2.215.856
Emprego direto na produção (nº empregados) 29.392
2. Desempenho
2.1 Desempenho Econômico: evolução dos valores médios
(US$ mil)
1987-89 1992 Variação (%)
(1) (2) (2)/(1)
Faturamento 570.059 523.458 -8,17
Margem de lucro (%) 28,33 29,85 5,37
Endividamento (%) 48,38 44,91 -7,17
Investimento n.d 840.294 n.d.
Exportações 154.794 201.441 30,13
Exportações/Faturamento (%) 27,15 38,48 59,34
Importações insumos-componentes 48.278 50.738 5,10
Importações insumos/Faturamento (%) 6,16 7,05 14,45
Importações de bens de capital 3.336 8.662 159,65
Importações de bens de capital/Faturamento 0,37 1,20 224,32
Utilização da capacidade (%) 96,92 95,00 -1,98
Emprego direto na produção (nº de empregados) 3.966 3.266 -17,65
2.2 Principal Motivação do Investimento em Capital Fixo
(% de empresas)
1990-92 1993-95
Modernização 100,0 77,8
Ampliação 0 11,1
Ambos 0 11,1
Número de respondentes 10 9
119
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2.3 Desempenho Produtivo: evolução dos valores médios
Variável Unidade 1987-89 1992
Níveis hierárquicos 6,43 5,88
Prazo médio de produção dias 31,94 29,31
Prazo médio de entrega dias 54,86 46,03
Taxa de retrabalho % 1,02 0,24
Taxa de defeitos % 2,65 1,68
Taxa de rejeito de insumos % 2,28 1,80
Taxa de devolução de produtos % 0,38 0,40
Taxa de rotação de estoques dias 31,29 15,94
Paradas imprevistas dias 65,04 70,81
2.4 Atributos do Produto em 1992 em Relação a 1987-89
(% de empresas)
menor igual maior não respondeu
Nível de preços 45,5 9,1 45,5 0
Nível de custos de produção 81,8 0 18,2 0
Nível médio dos salários 45,5 27,3 27,3 0
Grau de aceitação da marca 0 63,6 36,4 0
Prazos de entrega 72,7 18,2 ,,1 0
Tempo de desenvolvimento de novos
"modelos"/ especificações
70,0 10,0 20,0 0
Eficiência na assistência técnica 9,1 27,3 63,6 0
Conteúdo/ sofisticação tecnológica 9,1 45,5 45,5 0
Conformidade às especificações técnicas 0 36,4 63,6 0
Durabilidade 0 54,5 9,1 36,4
Atendimento a especificações de clientes 9,1 9,1 81,8 0
3. Capacitação
3.1 Grau de Formalização do Planejamento da Empresa
(% de empresas)
Não existe nenhuma estratégia formal ou informal 0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada informalmente 30,0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada periodicamente 40,0
Existe estratégia desenvolvida, disseminada periodicamente com o
envolvimento dos diversos setores da empresa
30,0
Número de respondentes 10
120
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3,2 Fontes de Informação Utilizadas na Definição de Estratégias
(% de empresas)
Mídia em geral 63,6
Participação em atividades promovidas por associações de classe 90,9
Revistas especializadas 72,7
Feiras e congressos no país 54,5
Feiras e congressos no exterior 36,4
Visitas a outras empresas no país 54,5
Visitas a outras empresas no exterior 81,8
Universidades/ centros de pesquisa 45,5
Consultoria especializada 54,5
Banco de dados 45,5
Pesquisas proprias 45,5
Número de respondentes 11
3.3 Tecnologias/ Serviços Tecnológicos Adquiridos em 1991/1992
(nº de empresas)
Total no Brasil no exterior
Tecnologia de terceiros 4 1 4
Projeto básico
5
3 4
Projeto detalhado 6 5 2
Estudos de viabilidade 6 5 2
Testes e ensaios 7 6 2
Metrologia e normalização 4 4 1
Certificação de conformidade 3 2 2
Consultoria em Marketing 4 4 1
Consultoria gerencial 6 6 2
Consultoria em qualidade 7 7 4
Número de respondentes 8 8 8
3.4 Esforço Competitivo: Dispêndio nas variáveis/Faturamento
(%)
1987-89 1992
P & D 0,21 0,27
Engineering 1,44 0,84
Vendas 2,66 3,19
Assistência técnica 0,08 0,13
Treinamento de pessoal 0,20 0,16
3.5 Treinamento Sistemático
(nº de empresas)
Empresas que não realizam qualquer treinamento 1
Empresas que treinam 100% dos empregados na atividade:
Gerência 0
Profissionais técnicos 0
Trabalhadores qualificados 0
Operadores/ empregados 0
Número de respondentes 12
121
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3.6 Estrutura do Pessoal Ocupado em 1992
Distribuição
por atividade
Pessoal de nível
superior/total na
atividade
(%) (%)
P & D 0,90 37,08
Engenharia 3,76 33,26
Produção 53,70 2,71
Vendas 2,81 39,78
Assistência técnica 0,26 72,29
Manutenção 20,47 3,56
Administração 18,10 26,37
3.7 Idade de Produtos e Equipamentos
(nº de empresas)
até 5 anos 6 a 10 anos mais de 10
anos
total de
respondentes
Produto principal 0 3 8 11
Equipamento mais importante 2 2 7 11
3.8 Geração de Produtos e Equipamentos
(nº de empresas)
última penúltima anteriores não sabe total de
respondentes
Produto principal 2 8 0 0 10
Equipamento mais importante 2 4 5 0 11
3.9 Intensidade de Uso de Novas Tecnologias e Técnicas Organizacionais
(nº de empresas)
1987-89 1992
baixa média alta baixa média alta
Dispositivos microeletrônicos 5 4 2 4 5 2
Círculo de controle da qualidade 8 2 0 7 1 2
Controle estatístico de processo 8 3 0 6 5 0
Métodos de tempos e movimentos 5 6 0 3 6 2
Células de produção 11 0 0 10 1 0
Just in time interno 9 1 1 9 1 1
Just in time externo 10 0 1 9 0 2
Paticipação em just in time de clientes 10 0 1 9 1 1
Obs.: Para o uso de dispositivos microeletrônicos são consideradas empresas de baixa intensidade de uso
aquelas que os utilizam em até 10% das operações, média intensidade entre 11 e 50% e alta intensidade
acima de 50%. Para o uso de técnicas organizacionais são consideradas empresas de baixa intensidade
aquelas que envolvem até 10% do empregados ou das atividades, média intensidade entre 11 e 50% e alta
intensidade acima de 50%.
122
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3.10 Situação em Relação à ISO-9000
(nº de empresas)
Não conhece 0
Conhece e não pretende implantar 0
Realiza estudos visando a implantação 4
Recém iniciou a implantação 2
Está em fase adiantada de implantação 3
Já completou a implantação mas ainda não obteve certificado 0
Já obteve certificado 2
3.11 Controle de Qualidade na Produção
(nº de empresas)
1987-89 1992
Não realiza 1 2
Somente em produtos acabados 0 0
Em algumas etapas 2 1
Em etapas essenciais 5 3
Em todas as etapas 3 5
Número de respondentes 11 11
4. Estratégias
4.1Direção da Estratégia de Produto
(nº de empresas)
Direcionar exclusivamente para o mercado interno 1
Direcionar exclusivamente para o mercado externo 0
Direcionar para o mercado interno e externo 10
Número de respondentes 11
4.2 Estratégia de Produto
(nº de empresas)
mercado interno mercado externo
Baixo preço 1 0
Forte identificação com a marca 1 0
Pequeno prazo de entrega 5 0
Curto tempo de desenvolvimento de produtos 0 0
Elevada eficiência da assistência técnica 2 0
Elevado conteúdo/ sofisticação tecnológica 1 0
Elevada conformidade a especificações técnicas 7 0
Elevada durabilidade 0 0
Atendimento a especificações dos clientes 5 0
Não há estratégia definida 0 0
Número de respondentes 11 0
123
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
4.3 Estratégia de Mercado Externo - Destino
(nº de empresas)
Mercosul 0
Outros países da América Latina 0
EUA e Canadá 0
CEE 0
Países do leste europeu 0
Japão 0
Não há estratégia definida 0
4.4 Motivação da Estratégia Atual
nº de empresas % de empresas
Retração do mercado interno 9 81,8
Avanço da abertura comercial no setor de produção da empresa 4 36,4
Avanço da abertura comercial nos setores compradores da empresa 1 9,1
Crescente dificuldade de acesso a mercados internacionais 5 45,5
Globalização dos mercados 5 45,5
Formação do Mercosul 4 36,4
Novas regulamentações públicas 1 9,1
Surgimento de novos produtos no mercado interno 1 9,1
Surgimento de novos produtores no mercado interno 1 9,1
Exigência dos consumidores 9 81,8
Elevação das tarifas de insumos básicos 2 18,2
Diretrizes dos programas governamentais 3 27,3
Número de respondentes 11 100
4.5 Estratégia de Compra de Insumos
(nº de empresas)
Menores preços 7
Menores prazos de entrega 2
Maior eficiência da assistência técnica 0
Maior conteúdo tecnológico 0
Maior conformidade às especificações técnicas 8
Maior durabilidade 0
Maior atendimento de especificações
particulares
1
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes
4.6 Relações com Fornecedores
(nº de empresas)
Desenvolver programas conjuntos de P & D 2
Estabelecer cooperação para desenvolvimento de produtos e processos 6
Promover troca sistemática de informações sobre qualidade e desempenho dos produtos 7
Manter relacionamento comercial de LP com fornecedores fixos 7
Realizar compras de fornecedores certificados pela empresa 5
Realizar compras de fornecedores cadastrados pela empresa 6
Realizar compras de fornecedores que oferecem condições mais vantajosas a cada momento 5
Número de respondentes 9
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
4.7 Estratégia de Financiamento dos Investimentos em Capital Fixo
(nº de empresas)
Recursos próprios gerados pela linha de produto 7
Recursos próprios gerados pelas outras áreas do grupo empresarial 3
Recorrer a crédito público 7
Recorrer a crédito privado interno 4
Recorrer a crédito externo 7
Recorrer a formas de associação 0
Captar recursos nos mercados internos de valores 3
Captar recursos nos mercados externos de valores 1
Não há estratégia definida 1
Número de respondentes 11
4.8 Estratégia de Gestão de Recursos Humanos
(nº de empresas)
Oferecer garantias de estabilidade 1
Adotar política de estabilidade sem garantias formais 9
Não adotar políticas de estabilização 0
Promover a rotatividade 0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 10
4.9 Definição de Postos de Trabalho
(nº de empresas)
Definir postos de trabalho de forma estreita e rígida 2
Definir postos de trabalho de forma estreita mas incentivar os trabalhadores a
executarem tarefas fora da definição dada
3
Definir postos de trabalho de modo amplo visando alcançar polivalência 6
Não definir rigidamente os postos de trabalho de modo que a gama de tarefas varie
consideravelmente
0
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 11
4.10 Estratégia de Produção
(nº de empresas)
Reduzir custo de estoques 5
Reduzir consumo/ aumentar rendimento das matérias-primas 7
Reduzir consumo/ aumentar rendimento energético 2
Reduzir necessidades de mão-de-obra 3
Promover desgargalamentos produtivos 2
Reduzir emissão de poluentes 2
Não há estratégia definida 0
Número de respondentes 10
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