Download PDF
ads:
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE
DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
_____________________________________________________________________________________________
COMPETITIVIDADE DO COMPLEXO
METAL-MECÂNICO
Nota Técnica do Complexo
O conteúdo deste documento é de
exclusiva responsabilidade da equipe
técnica do Consórcio. Não representa a
opinião do Governo Federal.
Campinas, 1993
A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos
(FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para a elaboração do Relatório Final do Estudo.
A Coordenação do ECIB agradece ao consultor Roberto Vermulm (FEA/USP) pela elaboração deste documento e pelos trabalhos de
coordenação das Notas Técnicas Setoriais do Complexo Metal-Mecânico.
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
CONSÓRCIO
Comissão de Coordenação
INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP
INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ
FUNDAÇÃO DOM CABRAL
FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR
Instituições Associadas
SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY
INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI
NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA
DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP
INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
Instituições Subcontratadas
INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA - IBOPE
ERNST & YOUNG, SOTEC
COOPERS & LYBRANDS BIEDERMANN, BORDASCH
Instituição Gestora
FUNDAÇÃO ECONOMIA DE CAMPINAS - FECAMP
ads:
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE)
João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI)
Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)
Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE)
Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI)
Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE)
Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)
João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE)
Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)
David Kupfer (UFRJ-IEI)
Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI)
Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)
Contratado por:
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
COMISSÃO DE SUPERVISÃO
O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:
João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES)
Lourival Carmo Monaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)
Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES)
Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)
Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT)
Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)
Eduardo Gondin de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES)
Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE)
Guilherme Emrich (BIOBRAS) Renato Kasinsky (COFAP)
José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP)
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
SUMÁRIO
RESUMO EXECUTIVO............................................................................................................1
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................19
PARTE I - SEGMENTO DE INSUMOS..................................................................................22
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS....................................................................................23
1.1. Características Estruturais..............................................................................................23
1.2. Fatores Determinantes da Competitividade.....................................................................25
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA ......................................................27
2.1. Desempenho..................................................................................................................27
2.2. Capacitação...................................................................................................................29
2.3. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade..............................................................32
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS...........................................................................................37
3.1. Diretrizes Gerais............................................................................................................37
3.2. Políticas de Reestruturação Setorial...............................................................................37
3.3. Políticas de Modernização Produtiva .............................................................................39
3.4. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos................................................................40
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE.........................................................................43
PARTE II - SEGMENTO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS...........................................44
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS....................................................................................46
1.1. Características Estruturais..............................................................................................46
1.2. Fatores Determinantes da Competitividade.....................................................................48
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA ......................................................50
2.1. Desempenho..................................................................................................................50
2.2. Capacitação...................................................................................................................53
2.3. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade..............................................................60
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS...........................................................................................68
3.1. Diretrizes Gerais............................................................................................................68
3.2. Políticas de Reestruturação Setorial...............................................................................69
3.3. Políticas de Modernização Produtiva .............................................................................71
3.4. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos................................................................73
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE.........................................................................75
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
PARTE III - SEGMENTO AUTOMOTIVO.............................................................................76
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS....................................................................................78
1.1. Características Estruturais..............................................................................................78
1.2. Fatores Determinantes da Competitividade.....................................................................81
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA ......................................................83
2.1. Desempenho..................................................................................................................83
2.2. Capacitação...................................................................................................................86
2.3. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade..............................................................90
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS...........................................................................................94
3.1. Diretrizes Gerais............................................................................................................94
3.2. Políticas de Reestruturação Setorial...............................................................................95
3.3. Políticas de Modernização Produtiva .............................................................................96
3.4. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos................................................................98
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE.......................................................................100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................101
RELAÇÃO DE TABELAS.....................................................................................................102
1
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
RESUMO EXECUTIVO
Este documento de síntese enfoca a competitividade do complexo metal-mecânico
brasileiro através da análise das tendências estruturais, tecnológicas, comerciais e de estratégias
empresariais presentes nos mercados internacionais; do diagnóstico da competitividade do
complexo no Brasil, com base no avaliação do desempenho recente e da capacitação produtiva
tecnológica e gerencial, e da identificação de seus fatores determinantes no país. As proposições
de política para o incremento da competitividade estão organizadas segundo políticas de
reestruturação setorial, políticas de modernização produtiva e políticas relacionadas aos fatores
sistêmicos. Ao final, são sugeridos indicadores de competitividade mais adequados para o
monitoramento das indústrias do complexo.
Cabe enfatizar o caráter qualitativo da síntese aqui realizada. Informações quantitativas
mais detalhadas podem ser encontradas nos estudos setoriais realizados. Apesar deste documento
de síntese estar informado pelos estudos setoriais, a análise aqui apresentada é de responsabilidade
do autor.
A relação de estudos setoriais sobre os quais se sustenta esta síntese, bem como os
respectivos autores, é a seguinte:
Segmento de Insumos
Competitividade da Indústria de Minério de Ferro - Germano Mendes de Paula
(FEA/UFUb)
Competitividade da Indústria Siderúrgica - Germano Mendes de Paula (FEA/UFUb)
Competitividade da Indústria de Alumínio - Jorge Nogueira de Paiva Britto (FEA/UFF)
Segmento de Máquinas e Equipamentos
Competitividade da Indústria de Máquinas Agrícolas - Sonia Dahab (NACIT/UFBa)
Competitividade da Indústria de Máquinas-Ferramenta - Hélio Nogueira da Cruz
(FEA/USP)
Competitividade da Indústria de Equipamentos para Energia Elétrica - Eduardo Strachman
(IE/UNICAMP)
2
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Segmento Automotivo
Competitividade da Indústria Automobilística - José Roberto Ferro (FGV/SP)
Competitividade da Indústria de Autopeças - Anne Posthuma (consultora)
3
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE
1.1. Características Estruturais
O desempenho recente da produção do complexo metal-mecânico aponta a relativa
estagnação dos seus mercados. No segmento de insumos do complexo (mineração e metalurgia),
que atualmente apresenta excesso de oferta e preços baixos, não se visualizam grandes
investimentos em ampliação da capacidade produtiva. No segmento de máquinas e equipamentos
a demanda também se encontra restringida pelas baixas taxas de crescimento dos países mais
desenvolvidos. No segmento automotivo a produção também se encontra estagnada em função da
retração do mercado, fazendo surgir uma capacidade ociosa nas principais empresas mundiais.
Nestas circunstâncias, a concorrência no mercado mundial têm se acirrado, implicando as
seguintes tendências para a competitividade internacional do complexo:
. forte pressão para se produzir com eficiência e qualidade crescentes;
. maior proteção dos mercados nacionais ao mesmo tempo em que as empresas
desenvolvem estratégias de globalização, inclusive objetivando a redução de custos de produção;
. intensificação da necessidade de incorporação de progresso técnico visando redução
contínua dos custos de produção e intensificação do ritmo de lançamento de novos produtos; e
. estreitamento da cooperação vertical entre os agentes das cadeias produtivas e horizontal
entre empresas concorrentes, no sentido de somar esforços para enfrentar a concorrência de
alianças rivais.
O desenvolvimento tecnológico do complexo metal-mecânico tem apresentado as
seguintes tendências:
. maior utilização de tecnologias de automação de base microeletrônica em busca de maior
produtividade, qualidade e flexibilidade dos processos produtivos em todos os setores do
complexo. Nos segmentos de bens de capital e automotivo também é maior a utilização de
componentes microeletrônicos nos produtos;
. intensificação da difusão das novas técnicas de gestão da produção, independentemente
das escalas das plantas ou da natureza contínua ou descontínua dos processos;
. maior adoção de sistemas de qualidade total, que cada vez mais vêm se constituindo em
pré-requisito para a entrada no mercado internacional;
4
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
. investimentos crescentes no desenvolvimento de novos produtos: no segmento de
insumos, caminha-se em direção ao enobrecimento dos produtos, visando a incorporação de maior
valor agregado, através do atendimento de especificações particulares definidas pelos
compradores. No segmento de máquinas e equipamentos, desenvolve-se produtos mais
sofisticados com maior produtividade e desempenho, e sobretudo, que constituam um pacote de
soluções dimensionadas para as necessidades dos usuários. No segmento automotivo também se
desenvolve produtos mais sofisticados, sendo a tecnologia de produto um elemento definidor
básico da relação entre empresas montadoras de veículos e fornecedoras de autopeças.
Embora as tendências tecnológicas acima mencionadas possam ser generalizadas para o
conjunto do complexo metal-mecânico, as características estruturais são distintas entre os
segmentos e mesmo entre os setores que compõem o complexo.
No segmento de insumos prevalecem as empresas verticalizadas que produzem, ou
controlam indiretamente a produção, desde a matéria-prima básica até a fabricação de produtos
transformados. A produção de insumos semi-acabados tem se deslocado para países menos
desenvolvidos, que apresentem dotação favorável de recursos naturais, através de investimentos
diretos das principais empresas líderes do mercado mundial ou da constituição de joint-ventures
entre essas e empresas locais.
No segmento de máquinas e equipamentos a tendência é oposta, ou seja, o predomínio é
de empresas pouco verticalizadas, que contam com eficientes redes de fornecedores, constituindo-
se, cada vez mais, em empresas montadoras. A especialização da pauta de produção é,
atualmente, elemento decisivo na definição da competitividade de uma empresa. Apesar do
segmento de máquinas e equipamentos ser muito heterogêneo em função da diversidade de
produtos e de empresas, em vários mercados específicos de máquinas predominam empresas
independentes, não vinculadas a grandes grupos econômicos, que são muito competitivas nos seus
respectivos mercados. Nestes mercados, as escalas produitivas não costumam constituir fontes
relevantes de barreiras à entrada.
No segmento automotivo, vigoram níveis distintos de verticalização entre as montadoras.
Geralmente, as empresas japonesas assim como as suas fornecedoras de autopeças são menos
verticalizadas. No setor de montagem de veículos, a escala produtiva é uma barreira à entrada, o
mesmo não acontecendo com a indústria de autopeças. Consequentemente, o grau de
concentração do mercado é muito maior entre as montadoras do que entre as fornecedoras de
autopeças.
5
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
1.2. Fatores Determinantes da Competitividade
Apesar das distinções estruturais acima listadas, alguns pontos gerais podem ser
mencionados como muito importantes para a competitividade no complexo metal-mecânico. Um
deles é a obtenção de economias de escala e de escopo. As economias de escala tornam-se mais
importantes ainda nos casos de setores produtores de commodities, ou de produtos maduros que
se assemelham às commodities, sobretudo num momento de globalização dos mercados. Nesses
casos, a elevada escala de produção é necessária para viabilizar baixos custos unitários. Em
produtos mais sofisticados, ou especializados, a tecnologia de produto é elemento fundamental da
competitividade, sendo as economias de escala e escopo fundamentais para a viabilização dos
pesados esforços de P&D envolvidos.
Outro ponto importante para a competitividade é a relação que se estabelece entre os elos
da cadeia produtiva. No segmento de insumos é cada vez mais intensa a proximidade entre as
empresas produtoras de insumos e seus clientes, chegando-se a produzir sob especificações
encomendadas pelos clientes. No segmento automotivo a relação mais importante se estabelece
entre os fornecedores e as empresas montadoras de veículos. No segmento de máquinas e
equipamentos, a relação de cooperação envolve todos os elos da cadeia, isto é, fornecedores,
produtores e usuários de bens de capital. De uma forma geral, estas articulações objetivam,
simultaneamente, a redução de custos e o desenvolvimento de produtos. Além da cooperação
entre as empresas, é crescente o envolvimento dos trabalhadores em programas que objetivam a
qualidade e a produtividade.
Os governos nacionais interferem pesadamente na obtenção da competitividade do
complexo metal-mecânico, seja indiretamente através da criação de fatores sistêmicos favoráveis,
seja diretamente, através de práticas protecionistas e de garantia de mercado como, por exemplo,
o uso discrecionário do poder de compra e a definição de índices mínimos de nacionalização. As
indústrias siderúrgica, automobilística e de bens de capital são exemplos onde a intervenção direta
dos governos ocorre de forma mais intensa.
6
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
2. COMPETITIVIDADE DO COMPLEXO METAL-MECÂNICO DO BRASIL
A competitividade do complexo metal-mecânico brasileiro é distinta entre os seus
segmentos e mesmo entre os setores de um mesmo segmento. De uma forma geral, a
competitividade é tanto maior quanto mais próximo está a indústria considerada da matéria-prima
básica. Desse modo, entre os três segmentos do complexo, o de insumos é o que apresenta maior
competitividade; entre os setores deste segmento, o de extração de minério de ferro é o mais
competitivo. À medida em que se distancia do recurso natural, tornam-se cada vez mais
importantes outros condicionantes, tais como a capacitação na geração de produtos mais
sofisticados, o grau de atualização dos processos produtivos, a constituição de relações virtuosas
nas cadeias produtivas e o firme engajamento em atividades de pesquisa e desenvolvimento.
Por outro lado, a maior competitividade do setor de extração de minério de ferro,
beneficia os outros setores do complexo metal-mecânico que utilizam este insumo básico. Assim,
as vantagens competitivas do setor de extração de minério de ferro nacional é parcialmente
transferida para a indústria siderúrgica, para a indústria de bens de capital e para o segmento
automotivo. Em outras palavras, a competitividade destes setores depende, em grande medida, da
disponibilidade da matéria-prima básica em quantidade, qualidade e preço adequados.
No segmento de máquinas e equipamentos a competitividade é maior na produção de bens
convencionais, que podem ser considerados maduros sob o ponto de vista tecnológico. O mesmo
ocorre na indústria de autopeças. Mas na indústria montadora de veículos, a competitividade é
muito baixa em função de determinantes estruturais, que, no geral, levaram a uma pauta de
produção defasada, sem qualidade de padrão internacional, e com preços considerados elevados
diante da oferta internacional de veículos.
2.1. Diagnóstico da Competitividade da Indústria Brasileira
2.1.1. Desempenho
O desempenho recente do complexo metal-mecânico no Brasil não tem sido muito
favorável. À exceção de alguns setores do segmento de insumos, mais precisamente minério de
ferro e alumínio, os demais segmentos do complexo foram estruturados para o atendimento do
mercado interno. Na medida em que a tônica da economia brasileira desde o início da década de
80 tem sido a instabilidade macroeconômica aliada a tendência recessiva, o mercado interno para
o complexo metal-mecânico tem se restringido, inclusive para o segmento de insumos. Os
indicadores de consumo per capita de insumos, ou de número de automóveis por habitante,
7
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
demonstram a retração do mercado interno, o que também ocorre no segmento de máquinas e
equipamentos.
Desta forma, nota-se que o grande esforço exportador dos segmentos do complexo metal-
mecânico relaciona-se a ajustes promovidos pelas empresas na busca da superação de conjunturas
adversas do mercados internos. Todos os setores do segmento de insumos estão exportando mais
de 50% da sua produção. Nos segmentos de máquinas e equipamentos e automotivo, os
respectivos coeficientes de exportação estão próximos de 15%.
Nem sempre os indicadores de desempenho exportador revelam com precisão a
competitividade da indústria. No caso do segmento de insumos, o Brasil é grande exportador de
commodities, mercado onde é forte a concorrência em preço e onde a margem de contribuição é
muito pequena, levando a que muitas vezes se realize exportações a preços não compensadores.
Por outro lado, a presença brasileira no mercado internacional de produtos metalúrgicos especiais,
no qual é maior a margem de contribuição, é menos relevante. Situação análoga ocorre com o
segmento de máquinas e equipamentos, cujas exportações concentram-se em produtos
tradicionais, cujo principal fator de concorrência é o preço. E, finalmente, a participação do Brasil
no mercado internacional do segmento automotivo é muito baixa e tende a apresentar melhores
perspectivas para as autopeças do que para os veículos montados.
Quanto as importações, elas são importantes no segmento de máquinas e equipamentos e
no segmento automotivo. No primeiro, as importações têm assumido um comportamento anti-
cíclico, não só complementando a linha de produtos nacionais como concorrendo com estes, numa
conjuntura de retração do mercado interno. No segundo, as importações ainda não são muito
significativas (cerca de 3% do mercado interno), mas são importantes sob o ponto de vista de
demonstrar para o consumidor os diferençiais de preço e qualidade entre veículos importados e
nacionais.
Dada a situação de crise da economia brasileira e de retração do mercado interno, o nível
atual de emprego no complexo metal-mecânico é inferior ao que prevalecia no passado recente.
Cabe observar que isto não é apenas conseqüência da estagnação do nível de produção em alguns
setores, mas decorre, também, de ajustes internos promovidos pela maioria das empresas visando
aumentos de produtividade da força de trabalho. Todos os setores do complexo metal-mecânico
que foram analisados neste estudo apresentam melhorias, muitas vezes substanciais, dos
indicadores de produtividade nos últimos anos.
8
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
2.1.2. Capacitação
A capacitação técnica, produtiva e gerencial é muito heterogênea entre os segmentos e os
setores do complexo metal-mecânico e mesmo entre as empresas de um mesmo setor industrial. A
seguir encontra-se um esforço de síntese dos principais pontos relativos à capacitação, segundo os
segmentos do complexo metal-mecânico. As observações têm como parâmetro as tendências
internacionais.
Escalas de produção: são adequadas no segmento de insumos e insuficientes nos demais
segmentos.
Grau de verticalização: é adequado no segmento de insumos, com exceção do setor de
alumínio, que requer maior nível de integração vertical, em direção a fabricação de produtos
transformados. Nos demais segmentos a verticalização é elevada, contrariando a tendência
internacional. Já existe um movimento no sentido da terceirização (em alguns casos, de
desnacionalização de produtos), mas esse movimento é, ainda, muito lento.
Grau de especialização da linha de produção: em todos os segmentos a indústria
brasileira contraria as tendências internacionais mais recentes. No segmento de insumos, enquanto
os países líderes caminham em direção ao enobrecimento dos produtos, a pauta de produção
encontra-se muito concentrada em produtos pouco nobres. Nos demais segmentos, a tendência
internacional é de especialização das plantas produtivas, enquanto que no Brasil prevalece a
diversificação da pauta de produção. Um fator explicativo dessa característica é o tamanho
relativamente limitado do mercado interno e a falta de competitividade internacional dessas
indústrias.
Principal fonte da tecnologia: em todos os segmentos do complexo, sejam de processos
contínuos ou descontínuos, a principal fonte de conhecimento tecnológico é o exterior. As
atividades tecnológicas realizadas internamente se referem a inovações incrementais. No caso do
segmento de insumos, estas se circunscrevem à otimização dos processos produtivos. Nos demais
segmentos, as inovações são de adaptação de produtos.
Nível tecnológico dos produtos: de uma forma geral, os produtos são defasados em
relação ao padrão internacional. A produção brasileira concentra-se em produtos maduros, pouco
densos de conhecimento tecnológico e em commodities.
Nível tecnológico dos processos de produção: à exceção do segmento de insumos, que
participou da última grande onda de investimentos da economia brasileira, os demais encontram-se
com processos de produção desatualizados. Desta forma, os índices de rendimento do segmento
9
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
de insumos estão próximos da média mundial, enquanto que a produtividade da indústria brasileira
nos demais segmentos é inferior à média mundial.
Grau de automação da produção: todos os segmentos do complexo apresentam índices
baixos de automação microeletrônica da produção.
Inovações gerenciais: o grau de difusão das novas técnicas organizacionais é muito
distinto entre os segmentos e os setores do complexo. Em relação aos programas de qualidade
total, o segmento de insumos é o que se encontra mais adiantado. No segmentos de bens de
capital e automotivo, a adoção desses programas ainda é muito limitada entre as empresas. Os
principais problemas dizem respeito à qualidade dos suprimentos e à necessidade de treinamento
da mão-de-obra.
Relações trabalhistas: o único segmento que tem demonstrado maior mudança na relação
entre capital e trabalho é o automotivo. Mesmo assim, esta nova relação ainda não se encontra
consolidada e tem dependido, fundamentalmente, das negociações realizadas no âmbito da
Câmara Setorial da Indústria Automobilística. Nos demais segmentos, a instabilidade do emprego
e da produção, têm dificultado o estabelecimento de relações trabalhistas mais avançadas.
2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade
A disponibilidade, a qualidade e os baixos custos dos insumos básicos são um fator
importante da competitividade do complexo metal-mecânico brasileiro. Conforme já mencionado,
a competitividade do segmento de insumos é transferida, parcialmente, para os demais segmentos
do complexo.
Outro ponto que contribui para a competitividade do complexo metal-mecânico é a boa
capacitação produtiva detida pelas empresas líderes dos diversos setores. Tanto nas indústrias de
processo contínuo como nas de processo descontínuo é boa a capacitação para a produção. A
disponibilidade de recursos humanos qualificados e versáteis também é uma força competitiva do
complexo.
Entretanto, existem algumas defasagens de equipamentos, em particular, em termos dos
índices de automação de processos, e encontram-se pouco difundidas as novas técnicas de
organização da produção, fatores que tendem a diminuir a produtividade da mão-de-obra local.
Todavia, os baixos salários vigentes no Brasil, quando comparados a outras economias
desenvolvidas e de industrialização recente, compensam parcialmente os diferenciais de
produtividade.
10
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
A baixa prioridade concedida para a estratégia tecnológica como um dos elementos da
estratégia empresarial é um dos principais fatores que restringe a competitividade do complexo.
As empresas no Brasil investem poucos recursos em atividades tecnológicas e têm pouco
relacionamento com a infra-estrutura científica e tecnológica. Este ponto é muito importante na
medida em que a economia mundial acelera a incorporação de progresso técnico e a globalização
pode dificultar o acesso a tecnologias desenvolvidas no exterior. Ainda no nível das empresas,
principalmente no segmento de bens de capital e na indústria de autopeças, a prevalência da
gestão familiar dificulta a modernização gerencial e a institucionalização das atividades
tecnológicas.
A falta de cooperação entre os elos das cadeias produtivas é uma grave deficiência
estrutural do complexo metal-mecânico brasileiro. No caso do segmento de insumos é pouco
intenso o relacionamento com os clientes, sobretudo, visando o desenvolvimento de produtos
especiais. No segmento de máquinas e equipamentos, as relações de cooperação, que envolvem
tanto fornecedores quanto clientes, ressentem-se da falta de densidade do tecido industrial, da
instabilidade do ritmo de produção e de toda uma gama de problemas que dificultam a obtenção
das sinergias que caracterizam o segmento. E, no caso do segmento automotivo, é fundamental se
estreitar a relação entre os fornecedores e as empresas montadoras de veículos. Estas diferenças
entre os segmentos do complexo são decorrentes da posição de cada segmento na estrutura
produtiva.
Quanto aos fatores de ordem sistêmica, alguns afetam todos os segmentos do complexo,
embora possam apresentar especificidades. A disponibilidade e as condições de operação da infra-
estrutura física é um fator que afeta negativamente a todos os segmentos, principalmente no que
diz respeito ao sistema portuário.
A estrutura tributária atual também afeta todos os segmentos, apesar das especificidades.
No caso do segmento de insumos, o principal problema é a tributação das exportações; no caso
do segmento de máquinas e equipamentos, é o problema do crédito fiscal, para os produtores, e
da não possibilidade do usuário de bem de capital se creditar do imposto pago na compra do
equipamento; no caso do segmento automotivo é a elevada tributação incidente sobre os veículos.
Em relação ao Mercosul, existem algumas preocupações que podem afetar a
competitividade da indústria brasileira: a negociação de uma estrutura comum de alíquotas de
importação e os certificados de origem são os pontos mais importantes.
Na política de comércio exterior, há necessidade de se realizar alguns ajustes tais como a
revisão de algumas tarifas de componentes para bens de capital e maior diferenciação tarifária
segundo o conteúdo tecnológico dos insumos. Todavia, numa economia que abre o seu mercado
interno, é muito importante a estruturação de mecanismos de salvaguardas comerciais.
11
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Como fatores sistêmicos que geram impactos mais específicos nos segmentos do
complexo, devem ser mencionados os seguintes: No caso do segmento de insumos, que possui
elevado coeficiente de exportação, a estabilidade cambial é extremamente importante. A oferta de
energia elétrica também vem se constituindo em fonte crescente de preocupação para os
produtores de insumos, especialmente, na indústria de alumínio. Para os demais segmentos, o
financiamento à comercialização é um fator estratégico.
12
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
3.1. Diretrizes Gerais
Dada a diversidade de diagnósticos e tendências competitivas existente no complexo
metal-mecânico, as prioridades de política devem ser distintas para os seus vários segmentos.
Para o segmento de insumos a prioridade é o conjunto de políticas de modernização
produtiva. A estratégia básica de incremento de competitividade a ser perseguida neste segmento
é o enobrecimento de produtos. Deve-se procurar manter o elevado coeficiente de exportação que
têm caracterizado o segmento, mas com um mix de produção e de exportação mais nobre do que
o atual. A estrutura do segmento é relativamente adequada, com exceção do setor de alumínio que
necessita aumentar o grau de verticalização, principalmente em direção à fabricação de produtos
transformados, mas também para a completação da base local de suprimento de alumina.
Para o segmento de máquinas e equipamentos a prioridade deve ser direcionada para as
ações voltadas para a reestruturação setorial. A rearticulação do tecido produtivo envolvido na
fabricação de máquinas-ferramenta, de forma a obter ganhos de produtividade e competitividade
através da especialização da produção local, é essencial para enfrentar os desafios impostos pela
liberalização comercial, pela recessão e pelas novas tecnologias. O segmento necessita constituir
empresas com maior escala de produção, maior volume de faturamento, menos verticalizadas e
mais especializadas. O objetivo é a constituição de um setor que tenha condições de realizar
lançamentos de novas máquinas e equipamentos, mais adequadas ao mercado local e com maior
conteúdo tecnológico. Não se propõe que o Brasil seja autosuficiente em todos os tipos de
equipamentos, mas que as empresas instaladas no país atendam a parcela mais dinâmica do
mercado interno. As melhores oportunidades para os produtores locais parecem encontrar-se no
segmento de máquinas convencionais, tornos e centros de usinagem a CNC e máquinas especiais.
Outras empresas poderiam atuar como fornecedores de suprimentos, de acessórios e/ou como
"integradoras" de sistemas de automação a partir de máquinas padronizadas ou de máquinas
especiais. A reestruturação deve, também, implicar vínculos mais estreitos entre "montadoras",
fornecedores de suprimentos e/ou acessórios e usuários. A produção nacional deve ser capaz de
concorrer com importações de máquinas e equipamentos, estabelecendo uma relação de
complementariedade entre importação e produção nacional. Nessa estratégia, elevar o coeficiente
de exportação do segmento de bens de capital é um passo vital para que se alcance as escalas
mínimas requeridas e seja possível acompanhar o desenvolvimento tecnológico internacional.
A principal diretriz da política de competitividade para o segmento automotivo deve
envolver o redesenho das relações entre fornecedores e montadoras, baseadas em políticas de
13
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
reestruturação cujos resultados tendem a aparecer num horizonte de tempo mais longo. A
reestruturação do segmento automotivo implica o estabelecimento de uma nova relação entre o
setor de autopeças e as montadoras de veículos, na reestruturação do setor de autopeças visando
capacitá-lo a participar de sistemas de global sourcing e na reestruturação das montadoras, no
sentido de reduzir sua verticalização e a diversificação da linha de produtos. Além destes
objetivos, espera-se que o segmento automotivo tenha condições de produzir veículos modernos
com preços competitivos, sem que haja a necessidade de se especializar na produção de "carros
populares", com baixo grau de evolução tecnológica. De forma análoga, deseja-se que o setor de
autopeças consiga participar de esquemas de suprimento em escala mundial, o que requer escala
de produção, eficiência produtiva, qualidade e tecnologia de produto.
Resume-se a seguir as proposições de política para o incremento da competitividade do
complexo metal-mecânico brasileiro.
3.2. Políticas de Reestruturação Setorial
Conforme já alertado acima, as políticas de reestruturação setorial têm importância e
natureza distintas para os segmentos do complexo.
No segmento de insumos, a maior reestruturação necessária se refere ao setor de alumínio,
no sentido de aumentar a verticalização das empresas em direção ao segmento de produtos
transformados. As próprias empresas devem buscar este objetivo, procurando associações entre as
produtoras de alumínio e as empresas produtoras de transformados de alumínio. No setor de
siderurgia, as empresas CST e Açominas devem completar os seus investimentos para não se
limitarem à produção de semi-acabados.
No segmento de máquinas e equipamentos, a reestruturação deve ser mais profunda. As
empresas precisam aumentar as suas escalas, diante de um mercado que não comporta um número
excessivo de empresas ofertantes. Nos setores de bens de capital sob encomenda, que têm no
Estado o seu principal demandante, este pode utilizar o seu poder de compra para reduzir a
pulverização da produção. Nos demais setores existem possibilidades de formação de joint-
ventures com capitais estrangeiros ainda não instalados no Brasil e fusões e incorporações entre
empresas brasileiras. O governo brasileiro pode apoiar essas iniciativas através da concessão de
financiamentos.
Além disso, o segmento de máquinas e equipamentos necessita maior especialização
produtiva e menor verticalização. Para este último objetivo, é necessária a capacitação de
14
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
fornecedores, a concessão de financiamento especial para eles e o apoio em termos de gestão
empresarial.
Desta forma, poderá ser montada uma nova estrutura entre fornecedores e produtores de
bens de capital. Mas estes também devem procurar maior aproximação com seus clientes,
procurando o desenvolvimento de equipamentos de acordo com as necessidades do usuário.
Para o segmento automotivo, a reestruturação setorial necessita do aumento da demanda,
que pode ser estimulada através de financiamento, em condições mais favoráveis do que as atuais,
e da redução de incidência tributária, que já está sendo utilizada. Na medida em que há aumento
persistente da demanda, podem ser efetuados novos investimentos na indústria montadora de
veículos, reestruturando-a segundo as novas tendências mundiais. Em primeiro lugar, é necessário
que as novas plantas adotem os processos mais modernos de produção, tanto em termos de
automação eletrônica como de gestão da produção. Em segundo lugar, os novos investimentos
devem reduzir a diversificação de modelos por planta, para aumentar a escala de produção. Em
terceiro lugar, há que se reduzir o elevado grau de verticalização, desenvolvendo relações mais
cooperativas com a indústria de autopeças.
A relação entre os setores de autopeças e de montadoras é um dos principais elementos da
competitividade da indústria internacional no segmento automotivo. Os japoneses desenvolveram
o esquema de hierarquização de fornecedores, que está sendo adapatado pelos norte-americanos e
europeus. A montagem deste esquema depende, em grande medida, de iniciativas das montadoras,
mas a indústria brasileira de autopeças pode começar desde já a se preparar para esta nova forma
de relacionamento industrial. Além disso, a indústria de autopeças necessita se reestruturar para
enfrentar o global sourcing, o que significa ter custos competitivos e qualidade de produto,
portanto escala e tecnologia de produto.
No segmento automotivo, a abertura do mercado interno deve continuar, pois se julga que
a maior exposição da indústria à concorrência externa pode gerar impulsos para a reestruturação
do segmento no Brasil. Contudo, o Brasil deve se aparelhar de instrumentos de salvaguardas
comerciais para defender os seus interesses. A implementação destes mecanismos de defesa e dos
incentivos fiscais ao crescimento da demanda devem exigir como contrapartida das empresas o
cumprimento de determinadas metas de desempenho, principalmente, em direção à modernização
dos produtos.
15
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
3.3. Políticas de Modernização Produtiva
Dentro do complexo metal-mecânico, o segmento que se encontra mais atualizado é o de
insumos porque participou da última grande onda de investimentos da economia brasileira. Além
disso, este segmento se encontra mais próximo das matérias-primas básicas, onde o Brasil dispõe
de recursos em quantidade e qualidade adequados, portanto a custos relativamente baixos, razão
pela qual é o segmento mais competitivo do complexo.
Mas, na última década, a taxa de investimento do complexo metal-mecânico foi muito
prejudicada pela crise econômica, que não estimulou investimentos em modernização produtiva.
Neste sentido, todos os segmentos do complexo necessitam realizar investimentos em
modernização de equipamentos para a produção. Tanto nos setores de processo contínuo como
nos de processo descontínuo, a modernização produtiva implica aumentar o grau de automação
dos processos de produção, viabilizando não só o aumento de produtividade da mão-de-obra, mas
também a melhoria dos índices de eficiência e qualidade de produtos e processos. Para tanto, é
necessário que o governo estimule os investimentos em equipamentos, através da concessão de
financiamento, em condições adequadas, e da manutenção de incentivos fiscais, tais como a
depreciação acelerada dos equipamentos para efeito de apuração do imposto de renda.
Ganhos de produtividade no complexo metal-mecânico também podem, e devem, ser
obtidos através da maior difusão das novas técnicas de gestão da produção (técnicas de gestão da
qualidade, just-in-time, células de manufatura etc.). Estas técnicas devem ser difundidas pelos
órgãos de classe empresariais. Muitas destas técnicas têm a vantagem de serem de fácil acesso e
reprodução e exigirem investimentos relativamente baixos, como é o caso das células de
manufatura. Sob o ponto de vista dos resultados, geram efeitos significativos tanto sobre a
produtividade quanto sobre a qualidade dos produtos.
De uma forma geral, os produtos também devem ser modernizados. Na produção de
commodities, onde o Brasil já demonstrou competitividade, esta posição deve ser mantida e
consolidada. Mas, além disso, deve se procurar o enobrecimento de produtos, num sentido amplo.
No caso do segmento de insumos, isto significa desenvolver produtos especiais, procurando se
aproximar das necessidades específicas dos clientes. Nos demais segmentos, o enobrecimento de
produtos significa o lançamento de produtos com maior densidade tecnológica.
Isto requer que as empresas passem a investir maior volume de recursos em P&D, com
prioridade no desenvolvimento de produtos. Em alguns casos, requer um sistema eficiente de
informação tecnológica e o recurso ao licenciamento de tecnologias no exterior, acompanhado do
desenvolvimento de atividades tecnológicas pelas empresas brasileiras.
16
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
A modernização de produtos pode ser estimulada através da utilização de vários
instrumentos. A política tarifária pode ser mais detalhada e adequada para conceder maior
proteção para os produtos mais nobres. As atividades tecnológicas devem receber financiamento e
incentivos fiscais por parte do governo. Deve ser destacado que os instrumentos fiscais e
financeiros são adequados para também estimular a realização de atividades tecnológicas
cooperativas entre empresas. O governo também pode estimular a modernização dos produtos,
apoiando iniciativas privadas de consultoria técnica
__
nacional e estrangeira
__
e de difusão e
desenvolvimento tecnológico.
Finalmente, cabe ressaltar a necessidade de treinamento de mão-de-obra. Os diagnósticos
setoriais destacaram a importância da qualificação dos recursos humanos para a competitividade
do complexo metal-mecânico. Destacaram também a versatilidade da mão-de-obra brasileira e a
necessidade de treinamento para adequação ao novo paradigma técnico-social de produção. Em
outras palavras, deve ser intensificado o treinamento para implantação das novas técnicas
organizacionais, visando a produtividade e a qualidade, e para a operação de equipamentos com
automação eletrônica.
Esforços dessa natureza são particularmente importantes para a modernização dos
fornecedores de componentes para os segmentos de bens de capital e fabricantes de autopeças, em
boa parte constituidos por empresas de pequeno e médio porte, que requerem suporte da infra-
estrutura tecnológica e de formação profissional. Com esse objetivo, é necessário fortalecer as
instituições já existentes e facilitar o acesso dos usuários potenciais, revendo o conteúdo dos
programas de treinamento visando a inclusão das novas tecnologias. A criação de entidades
tecnológicas de cunho não-operacional, voltadas para a difusão de informações sobre as
capacitações já existentes em Centros de P&D, Institutos de Pesquisa e outros elos da infra-
estrutura tecnológica prestadores de serviços para esses setores seria de grande valia para acelerar
esse processo de modernização.
3.4. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
Além da utilização de instrumentos de ordem sistêmica que visam a reestruturação setorial
e a modernização produtiva, são também necessárias algumas medidas que objetivam alterar os
condicionantes sistêmicos da competitividade propriamente ditos. A seguir são apresentadas
algumas dessas políticas, quase todas afetando ao conjunto do complexo metal-mecânico, apesar
das especificidades setoriais. Um maior detalhamento destas políticas encontra-se nos respectivos
estudos temáticos, que integram este projeto.
17
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Estrutura tributária: para o segmento de insumos, se propõe a extinção da tributação
sobre as exportações de semi-manufaturados; para o segmento de máquinas e equipamentos, os
bens de capital devem possuir impostos indiretos com alíquotas zero, o que também permitirá às
empresas produtoras de máquinas e equipamentos se creditarem dos impostos pagos nas suas
compras; os créditos fiscais devem ser corrigidos monetariamente ou devolvidos imediatamente;
para o segmento automotivo, devem ser reduzidas a alíquota média incidente sobre veículos,
assim como o desvio padrão das alíquotas incidentes sobre modelos diferentes;
Financiamento à comercialização: o financiamento é estratégico tanto para o segmento
de máquinas e equipamentos quanto para o segmento automotivo. Para o primeiro, se propõe
aumentar o percentual de cobertura da FINAME; para o segundo, se propõe a criação de
mecanismos de financiamento de longo prazo para a aquisição de veículos;
Comércio exterior: estruturar política de abertura de mercados externos, através de
estabilidade e realismo cambial, concessão de financiamento às exportações, criação de seguro de
crédito às exportações e apoio comercial por parte do Ministério de Relações Exteriores. Em
relação à abertura do mercado interno, devem ser criados mecanismos de salvaguardas comerciais
e as empresas de alguns setores específicos, como de bens de capital, devem procurar se associar
para a importação de partes, peças e componentes para a sua produção. Em relação ao Mercosul,
as propostas destacam que na negociação da estrutura tarifária comum, sejam protegidos os
interesses nacionais, através da concessão de maior proteção aos bens que tenham maior valor
agregado. Além disso, o Brasil deve negociar regras rígidas de certificados de origem para evitar a
triangulação de produtos entre países;
Infra-estrutura: a principal deficiência encontra-se no sistema portuário, cujos serviços
são precários e custosos. Em segundo lugar está o transporte rodoviário, também deteriorado, o
que eleva o custo de transporte. Em relação à energia, necessita-se da cooperação entre as
empresas concessionárias de energia elétrica e os setores de insumos que empregam tecnologias
intensivas no uso de energia (alumínio, em particular), para evitar que a atual tendência de
elevação do custo de energia reduza a competitividade industrial, principalmente naqueles casos
onde já se dispõe de bons índices técnicos de rendimento;
Meio ambiente: o Estado deve estabelecer aparato regulatório preventivo e as empresas
devem intensificar seus esforços no sentido de reduzir os impactos negativos sobre o meio
ambiente tanto dos seus processos de produção como dos produtos fabricados. Para o setor
autobilístico, a regulação ambiental é importante fator de modernização tecnológica dos veículos;
Educação: o sistema educacional deve receber maior prioridade por parte do governo
para que seja ampliado e adequado às novas condições econômicas e sociais de produção.
18
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Nem sempre o estudo pode contar com uma boa base de dados. O sistema oficial de
estatísticas encontra-se defasado em termos temporais e da própria concepção das informações
sistematizadas. Para os setores mais concentrados e de produtos mais homogêneos, a
disponibilidade de informações é maior; no outro extremo, para setores mais atomizados e de
fabricação de produtos muito diferenciados, a base de informações é mais precária.
Dadas as especificidades de cada segmento, os indicadores de competitividade não podem
ser genéricos. Por esta razão encontram-se resumidos os principais indicadores de competitividade
segundo os segmentos do complexo metal-mecânico:
Para o Segmento de Insumos: indicadores de eficiência técnica por etapa do processo
produtivo; indicador de rendimento integrado, segundo os principais produtos do segmento;
indicador do mix de produção; coeficiente de exportação; participação das exportações brasileiras
no comércio mundial; mix de produtos exportados e grau de enobrecimento da pauta de
exportação.
Para o Segmento de Máquinas e Equipamentos: número de horas necessárias para a
produção de um determinado tipo de equipamento; grau de sofisticação técnica dos equipamentos
produzidos; número de defeitos e necessidade de retrabalho no processo de produção, tempo de
operação das máquinas produzidas, sem interrupções não previstas; grau de automação dos
processos produtivos; tempo necessário para o desenvolvimento de um projeto específico;
produtividade da mão-de-obra; investimentos em atividades tecnológicas; coeficiente de
exportação e pauta de exportação; coeficiente e pauta de importação.
Para o Segmento Automotivo: número de horas trabalhadas por produto; número de
defeitos e percentagem de retrabalho; idade dos projetos dos produtos; número de novos
lançamentos de produtos a cada período; percentagem das atividades automatizadas; número de
equipamentos com automação eletrônica; número de sugestões por trabalhador; percentagem de
trabalho em grupo; horas de treinamento médio por trabalhador.
19
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
APRESENTAÇÃO
Esta Nota Técnica objetiva analisar a competitividade do complexo metal-mecânico
brasileiro. Como decorrência da amplitude deste complexo, foi necessário subdividí-lo em três
segmentos: insumos, máquinas e equipamentos e automotivo.
O segmento de insumos é o que se encontra mais atualizado em termos de estrutura e de
processos produtivos. Por isto ele é o que apresenta o maior grau de competitividade dentro do
complexo. Todavia, dado o baixo nível de investimento que prevaleceu na economia brasileira nos
últimos dez anos e dadas as tendências internacionais, a modernização produtiva e o
enobrecimento de produtos constituem os elementos básicos da estratégia de competitividade.
O segmento de máquinas e equipamentos apresenta boa capacidade de manufatura mas
necessita se modernizar em termos de produtos, processos e gestão. Contudo, a sua prioridade de
política está na reestruturação setorial, na medida em que apresenta fortes distorções de caráter
estrutural: excesso de capacidade instalada, alta diversificação de produtos, elevada verticalização,
etc.
O segmento automotivo também tem na reestruturação setorial a sua prioridade de
política. No plano internacional, o segmento demonstra grande dinamismo tecnológico e também
tem passado por reestruturação, fazendo prevalecer as técnicas e a organização da produção
desenvolvidas pelas empresas japoneses. A reestruturação do segmento objetiva reduzir a
defasagem atual do Brasil em relação aos principais países produtores de veículos.
Nem sempre o estudo pode contar com uma boa base de dados. O sistema oficial de
estatísticas encontra-se defasado em termos temporais e da própria concepção das informações
sistematizadas. Por esta razão, e em função das especificidades da metodologia do Estudo da
Competitividade da Indústria Brasileira, utilizou-se as seguintes fontes de informações: estatísticas
fornecidas pelas respectivas associações setorias da classe empresarial, entrevistas realizadas pelos
consultores responsáveis pela elaboração das notas técnicas setoriais e informações recolhidas
pela pesquisa de campo com questionário (ECIB, 1993) realizada pelo Estudo junto a cerca de
200 empresas dos setores integrantes do complexo. Para os setores mais concentrados e de
produtos mais homogêneos, a disponibilidade de informações é maior; no outro extremo, para
setores mais atomizados e de fabricação de produtos muito diferenciados, a base de informações é
mais precária.
Os estudos setoriais, sobre os quais se sustenta esta nota técnica, bem como a relação dos
respectivos autores, é a seguinte:
20
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Segmento de Insumos
Competitividade da Indústria de Minério de Ferro - Germano Mendes de Paula
(FEA/UFUb)
Competitividade da Indústria Siderúrgica - Germano Mendes de Paula (FEA/UFUb)
Competitividade da Indústria de Alumínio - Jorge Nogueira de Paiva Britto (FEA/UFF)
Segmento de Máquinas e Equipamentos
Competitividade da Indústria de Máquinas Agrícolas - Sonia Dahab (NACIT/UFBa)
Competitividade da Indústria de Máquinas-Ferramenta - Hélio Nogueira da Cruz
(FEA/USP)
Competitividade da Indústria de Equipamentos para Energia Elétrica - Eduardo Strachman
(IE/UNICAMP)
Segmento Automotivo
Competitividade da Indústria Automobilística - José Roberto Ferro (FGV/SP)
Competitividade da Indústria de Autopeças - Anne Posthuma (consultora)
Esta nota técnica está constituída por três partes, seguindo a segmentação adotada para o
complexo metal-mecânico, cada parte subdividida em quatro capítulos. O primeiro capítulo
objetiva analisar as tendências internacionais, destacando-se aspectos tecnológicos, comerciais, de
estratégias empresariais e da estrutura do segmento. O segundo capítulo destina-se à análise da
competitividade da indústria brasileira, sendo composto por duas seções: o diagnóstico da
competitividade com base na análise do desempenho e da capacitação da indústria brasileira e a
avaliação das oportunidades e obstáculos à competitividade de cada segmento, na qual procurou-
se identificar os principais fatores internos à empresa, estruturais e sistêmicos que afetam a
competitividade dos segmentos do complexo no país. O terceiro capítulo traz as proposições de
política para o incremento da competitividade organizadas segundo três conjuntos: políticas de
reestruturação setorial, políticas de modernização produtiva e políticas relacionadas aos fatores
sistêmicos. Em relação às políticas relacionadas aos fatores sistêmicos, deve ser lembrado que
existem estudos temáticos que tratam destas questões específicas, onde pode ser encontrado
maior grau de detalhamento. O último capítulo apresenta sugestões de indicadores de
competitividade.
21
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Apesar da nota técnica estar informada pelos estudos setoriais, a análise por ela
apresentada é de responsabilidade do autor.
22
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
PARTE I - SEGMENTO DE INSUMOS
O setores pertencentes ao segmento de insumos estudados neste trabalho foram o de
extração de minério de ferro, o de siderurgia e o de alumínio. Assim como para a totalidade do
complexo metal-mecânico, observa-se no segmento de insumos que os indicadores de
desempenho competitivo são mais favoráveis quanto mais próximo está o produto enfocado da
base de recursos naturais. Isto é, os indicadores de desempenho da extração de minério de ferro
são mais favoráveis do que da siderurgia e do alumínio e mesmo dentro destes setores, a produção
de semi-elaborados se mostra mais competitiva do que a produção de bens mais sofisticados, com
maior valor agregado.
O segmento de insumos é constituído por setores considerados capital intensivos e que
participaram da última grande onda de investimentos da economia brasileira. Estas características
permitem algumas considerações. Sobretudo em setores capital intensivos, quando se toma a
decisão de investimento, geralmente a opção tecnológica recai sobre uma alternativa tecnológica
considerada relativamente atualizada; o elevado volume de investimento requerido induz a esta
opção. Em segundo lugar, como grande parte dos investimentos realizados no Brasil no segmento
de insumos são investimentos relativamente recentes, as plantas produtivas se encontram
relativamente atualizadas, em termos de índices técnicos de produção. Bom desempenho
produtivo, boa dotação de recursos naturais, disponibilidade de mão-de-obra e empresas que têm
investido em qualidade de produtos, conformam um segmento que tem apresentado bons
indicadores de competitividade.
O segmento de insumos é constituído por setores que se baseiam em tecnologia de
processo, normalmente adquiridas no exterior. As empresas instaladas no Brasil dominam a
operação desses processos e realizam atividades de otimização, com resultados satisfatórios.
Porém o mix de produção é considerado pouco nobre, prevalecendo a produção de commodities,
de baixo valor agregado. Continuar investindo em otimização de processo, modernização de
processo e enobrecimento de produtos formam a estratégia básica do segmento de insumos para
aumentar a sua competitividade
23
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
1.1. Características Estruturais
No plano internacional, a produção de insumos básicos do complexo metal-mecânico
tende, cada vez mais, a se localizar em países com boa dotação de recursos naturais, incluindo
tanto a matéria-prima mineral quanto a disponibilidade de energia, uma vez que os setores de
insumos empregam intensivamente esses recursos. Assim, nota-se a presença de países menos
desenvolvidos como grandes produtores mundiais de insumos básicos: Austrália e Brasil dominam
o mercado mundial de minério de ferro; Austrália, Brasil e China são grandes produtores de
alumínio primário: e Brasil, China e Coréia são grandes produtores da indústria siderúrgica. Em
alguns países desenvolvidos, a siderurgia, por exemplo, é considerada uma indústria em declínio,
sendo objeto de políticas de redução da oferta. De forma semelhante, após a crise do petróleo, na
década de 70, países como os Estados Unidos e o Japão reduziram a produção de alumínio
primário, permitindo que países menos desenvolvidos assumissem maior importância no comércio
mundial desses insumos. Este movimento demonstra a importância da dotação de fatores na
produção de commodities. Por outro lado, os países desenvolvidos passaram a investir no
exterior, através da constituição de joint-ventures, objetivando o suprimento cativo desses
insumos.
Nos casos do minério de ferro e do alumínio primário não existem, no plano internacional,
barreiras ao comércio. Já para os produtos siderúrgicos verifica-se o contrário, isto é, existem
fortes barreiras ao comércio internacional através, geralmente, de acordos de restrição voluntária
de exportações. Estas barreiras justificaram investimentos na forma de joint-ventures, sobretudo
nos Estados Unidos, privilegiando o acabamento, como forma de contornar a dificuldade de
acesso ao mercado norte-americano. Portanto, a constituição de joint-ventures no segmento de
insumos é uma prática comum dos países mais desenvolvidos, seja para garantir suprimento
estável, seja para penetrar em mercados protegidos, como é o caso da siderurgia.
Apesar do deslocamento parcial da produção de insumos para os países menos
desenvolvidos, alguns países industrializados ainda mantêm a posição de liderança mundial. Este é
o caso dos Estados Unidos na produção de alumínio primário e do Japão e da Alemanha na
siderurgia.
Em função dessa reestruturação do segmento de insumos, ocorreu maior instabilidade de
preços, sobretudo no caso de commodities. A expansão da capacidade produtiva mundial é grande
responsável pelo excesso de oferta de insumos que se verifica atualmente, trazendo como
consequência queda dos preços internacionais desses produtos, inclusive daqueles com maior
24
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
valor agregado. Dado esse quadro, não se prevê para a década de 90 grandes investimentos em
ampliação da capacidade produtiva de insumos. Isto é mais verdadeiro para o caso da siderurgia,
que não deve ampliar significativamente a produção, apesar do aumento de capacidade produtiva
que deverá ocorrer nos países asiáticos; é também verdadeiro para o setor de extração de minério
de ferro, que, segundo as estimativas disponíveis, deverá ter sua produção incrementada em cerca
de 1% ao ano ao longo da presente década.
Como tendência internacional, os países mais desenvolvidos têm alterado suas estratégias
passando a investir mais pesadamente na otimização de processos e na alteração do mix de
produtos. Esta tendência não é apenas resultado da estagnação do mercado de insumos e o
surgimento de novos materiais, como substitutos dos insumos básicos, mas também reflete um
adensamento do nível de produto, em direção ao atendimento de demandas mais específicas por
parte de seus compradores. Portanto, reflete uma tendência de maior aproximação e cooperação
entre os elos da cadeia produtiva para fazer frente ao acirramento da concorrência entre capitais,
que acontece com maior intensidade na economia globalizada. Por outro lado, fabricar produtos
mais nobres permite maior rentabilidade e se constitui em uma alternativa para enfrentar as
grandes oscilações de preços nos mercados de commodities.
Para concretizar a estratégia de enobrecimento da pauta de produção, não apenas é
importante os esforços continuados de otimização dos processos produtivos, mas também o
desenvolvimento de capacitação tecnológica na área de controle do processo é uma variável
estratégica. É a capacidade de controle do processo que propicia a especificação detalhada do que
se está produzindo e garante a qualidade dos produtos. Este capacidade de controle fino do
processo é viabilizado pela adoção de automação microeletrônica, que conferem maior
flexibilidade aos procedimentos produtivos. A flexibilidade é fundamental para o atendimento de
demandas específicas por parte dos setores usuários de insumos do complexo metal-mecânico.
Por outro lado, os países mais desenvolvidos também têm investido intensamente em
atividades tecnológicas de desenvolvimento dos insumos metalúrgicos. Muitas vezes, e cada vez
mais, essas atividades são desenvolvidas em conjunto pelas partes interessadas, isto é, os setores
produtores de insumos e seus demandantes. Esta cooperação tecnológica se faz necessária tanto
para se assegurar o cumprimento dos objetivos em termos das características dos produtos,
quanto como forma de compartilhar os elevados investimentos e riscos associados a esse tipo de
atividade tecnológica.
Portanto, nota-se um deslocamento das prioridades de investimento: de ampliação de
capacidade produtiva para a modernização de processo e fabricação de produtos mais nobres. É
também nesta direção que tem ocorrido o maior dinamismo tecnológico. Dos setores estudados
neste trabalho, apenas o de extração de minério de ferro apresenta uma trajetória diferente em
25
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
termos de tendência de enobrecimento de produtos; apesar do segmento de pelotas, que é o
produto de maior valor agregado da indústria, apresentar tendência positiva de crescimento, esta
não supera a dos produtos de menor valor agregado. Dessa forma, as indústrias metalúrgicas, que
tinham nas economias de escala uma importante fonte de competitividade, agora passam a ter no
grau de enobrecimento do mix de produtos um fator adicional, e decisivo, para o sucesso
competitivo.
1.2. Fatores Determinantes da Competitividade
A análise realizada na seção anterior leva a constatação de que ocorreu um
aprofundamento da segmentação no mercado internacional de insumos no período recente.
De uma parte, ainda permanece o mercado de commodities, no qual a escala de produção
é muito importante e a concorrência se estabelece em função dos preços. No entanto, cabe
observar que a tendência ao estabelecimento de joint-ventures nesses mercados, ao garantirem
mercados cativos, têm amenizado a concorrência internacional em preços. De outra parte, o
domínio do mercado de produtos mais nobres, além de requerer elevadas escalas das unidades
produtivas, depende também da capacidade das empresas desenvolverem produtos e atenderem às
especificações técnicas determinadas.
Todavia, permanece o elevado volume de investimento requerido, em ambos mercados,
como uma barreira à entrada nos setores produtores de insumos. Os investimentos no setor de
extração de minério de ferro abrangem a exploração da mina e o sistema de transporte (ferrovias e
portos). Na siderurgia ainda prevalecem as usinas integradas a coque, reforçando os investimentos
na laminação e acabamento. E na indústria do alumínio existem situações distintas abarcando
desde a produção completamente integrada (da exploração da bauxita até a produção de
transformados) até a compra dos insumos básicos para transformação. De qualquer forma, são
setores caracterizados por elevada escala de capital e forte integração vertical da produção.
Além dos fatores empresariais e estruturais já mencionados, a competitividade do
segmento de insumos depende, ainda, de uma série de fatores de ordem sistêmica.
Um primeiro bloco de fatores sistêmicos diz respeito à infra-estrutura física, na qual
pontificam dois elementos como mais importantes: energia e transportes. Como os setores
produtores de insumos se caracterizam por elevada intensidade no uso de energia, a
disponibilidade deste insumo a preços competitivos pode determinar a competitividade da
indústria. Neste aspecto o setor mais característico é o de alumínio: estima-se que o custo de
energia seja responsável por cerca de 40% do custo de produção do alumínio primário. No caso
26
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
da produção de minério de ferro em pelotas, o custo da energia corresponde de 15 a 20% do
custo de produção. E na siderurgia, o custo de energia é o principal dentre os outros insumos que
não as matérias-primas básicas. Consequentemente, para que as empresas sejam competitivas,
além de empregarem processos que utilizem menos energia elétrica e otimizarem seus consumos
de energia, é necessário que o custo da energia seja relativamente baixo.
No caso da indústria do alumínio, nota-se maior cooperação entre os produtores de
alumínio e as empresas fornecedoras de energia elétrica, como forma de contornar o problema do
elevado peso da energia na estrutura de custos. Atualmente, 30% da produção de alumínio
primário em nível mundial são viabilizados através de contratos que vinculam as tarifas energéticas
ao preço do metal. Além disso, torna-se cada vez mais comum o compartilhamento de riscos entre
produtores de alumínio e fornecedores de energia, através, por exemplo, de participações
societárias cruzadas. A implementaçãod de esquemas deste tipo são cada vez mais relevantes para
a manutenção da competitividade no setor.
A infra-estrutura de transporte também é um fator relevante da competitividade no
segmento de insumos. Por exemplo, estima-se que o custo de transporte, incluindo ferrovias e
portos, alcance de 40 a 60% do preço de venda do minério de ferro. Ainda neste setor, as
empresas dos dois países líderes mundiais, Austrália e Brasil, controlam a infra-estrutura
portuária, isto é, as empresas mineradoras operam portos próprios, como forma de reduzir os
custos de embarque. Nesse sentido, contar com uma infra-estrutura de transportes eficiente e
competitiva é estratégico.
Outros fatores sistêmicos importantes para a competitividade das empresas no segmento
de insumos dizem respeito a taxa de câmbio e ao regime tributário. Como são setores com
elevados coeficientes de exportação, são muito sensíveis a variações cambiais e a prática mais
comum entre os países é de não onerar as exportações com tributação.
27
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
2.1. Desempenho
O Brasil é grande exportador de insumos básicos do complexo metal-mecânico. O setor de
extração de minério de ferro possui coeficiente de exportação de aproximadamente 75%, o que
corresponde a cerca de 32,6% do comércio mundial transoceânico. No caso do minério de ferro
sob a forma de pelotas, a participação do Brasil no comércio mundial é um pouco maior, 35,2%.
O setor de siderurgia exporta mais da metade da sua produção, correspondendo a cerca de 7,6%
das exportações mundiais de aço. Mas a participação brasileira é muito maior em semi-acabados
(cerca de 30,9% das exportações mundiais de aços planos) do que em produtos com maior valor
agregado, como as chapas galvanizadas (1,4%). Finalmente, no setor de alumínio, o coeficiente de
exportação de alumínio primário chega a 69%, sendo insignificantes as exportações de produtos
transformados. Os três setores, em conjunto, geram para o Brasil uma receita de exportação
próxima de US$ 7 bilhões/ano.
Portanto, o Brasil se qualifica como um grande exportador de insumos, com baixo valor
agregado. Nesse mercado, a instabilidade de preços internacionais tem sido grande, sendo que,
atualmente, o mercado se encontra com excesso de oferta e preços em declínio.
Consequentemente, as taxas de rentabilidade se encontram deprimidas. Além disso, a
determinação dos preços no mercado internacional normalmente difere da determinação de preços
para o mercado interno. Nestes setores é comum a realização de exportações que não cobrem os
custos totais e o principal fator de concorrência é o preço do produto. Sendo assim, a existência
de um significativo mercado interno é um fator importante na definição da rentabilidade das
empresas.
No caso brasileiro, o mercado interno se encontra extremamente retraído. Os indicadores
de consumo desses insumos, em termos per capita, demonstram não só que o Brasil apresenta um
baixo consumo em relação aos países mais desenvolvidos, como também que esse valor vêm
decrescendo ao longo dos anos. Desta forma, pode-se dizer que o elevado nível atual de
exportações é decorrente, em grande parte, da recessão da economia brasileira. Isto é
particularmente verdadeiro para o setor de siderurgia que foi planejado para exportar cerca de
10% da sua produção, com o objetivo de manter uma balança comercial equilibrada, em função da
necessidade de importação de carvão mineral. Diante desse quadro, é provável que uma retomada
do crescimento da economia brasileira venha a reduzir significativamente o saldo exportador
destes setores. Dentre eles, claramente o setor de extração de minério de ferro detém um
superávit comercial estrutural; o setor de alumínio em menor medida; e o de siderurgia não
apresenta superávit estrutural.
28
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Em termos de indicadores técnicos de produtividade, a situação do segmento de insumos é
razoável no Brasil, não se encontrando distante dos padrões internacionais, embora algumas
qualificações devam ser feitas em cada setor. Na extração de minério de ferro, o Brasil apresenta
menor indicador de produtividade, medido pela produção por trabalhador, do que o seu principal
concorrente, que é a Austrália. Todavia, esse dado deve ser relativizado em função da estrutura
produtiva australiana apresentar maior terceirização e menor beneficiamento de produto, não
realizando, por exemplo, produção de pelotas. No caso da siderurgia, o mesmo indicador de
produtividade mencionado acima não demonstra um bom comportamento, o que se deve a baixa
difusão de automação microeletrônica, sobretudo nas fases finais do processo de produção.
Mesmo assim, a produção por trabalhador tem aumentado em função de ajustes no quadro de
funcionários realizados pelas empresas. Essa adequação é motivada tanto por estratégias
empresariais quanto pelo "enxugamento" administrativo promovido pelo processo de privatização
do setor siderúrgico. Por outro lado, o setor demonstra um razoável índice de rendimento
integrado, que relaciona a quantidade de produto final com o aço bruto, sendo um indicador de
eficiência do processo e do aproveitamento de materiais. Embora esse índice seja razoável no
Brasil, está distante daqueles obtidos pelo Japão e pela Coréia do Sul (esta comparação deve ser
relativizada pelas diferentes pautas de produção de cada país). No caso do alumínio primário, os
indicadores técnicos mostram que a produção brasileira é comparável aos padrões internacionais.
Se os indicadores técnicos de produção apresentam bom desempenho, os custos de
produção passam a depender dos preços dos insumos, das matérias-primas e da mão-de-obra. De
uma forma geral, tanto o custo da mão-de-obra como das matérias-primas contribuem para
manter baixos custos operacionais. Em relação aos insumos, o custo da energia merece destaque,
na medida em que são setores que utilizam intensivamente a energia elétrica. Nos últimos anos, as
tarifas de energia têm se elevado em termos reais, introduzindo uma dificuldade para esses
setores. Mesmo assim, as tarifas ainda estão dentro de padrões internacionais, sobretudo para as
plantas de alumínio instaladas na região norte do país, voltadas à exportação. De qualquer forma,
a tarifa de energia elétrica é um item de custo que preocupa grande parte das empresas do
segmento de insumos.
Mesmo com essas qualificações, conclui-se que os custos operacionais do segmento de
insumos no Brasil são competitivos internacionalmente. Todavia, deve se destacar o caso da
siderurgia que, apesar de possuir um baixo custo operacional, apresenta o maior custo financeiro
entre os principais países produtores. Esse problema tende a ser amenizado com o recente
processo de privatização que, inclusive, realizou o saneamento financeiro de várias empresas do
setor. Por outro lado, a gestão privada confede maior agilidade às empresas e melhores condições
de financiamento do que o setor público dispõe atualmente.
29
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Concluindo, a disponibilidade e os baixos custos das matérias-primas e da mão-de-obra
são fatores que contribuem para a competitividade do segmento de insumos. O setor de extração
de minério de ferro apresenta competitividade revelada incontestável, a siderurgia demonstra
competitividade apenas nos semi-acabados e a indústria de alumínio primário possui força
competitiva, embora a sua manutenção dependa da evolução futura das tarifas de energia elétrica.
2.2. Capacitação
As escalas técnicas de produção sob as quais opera o segmento de insumos no Brasil
mostram-se adequadas ao padrão internacional. As unidades fabris foram constituídas ao longo da
última grande onda de investimentos da economia brasileira e, em alguns casos, como no
alumínio, os investimentos são ainda mais recentes. O grau positivo de atualização das plantas é
uma das principais razões para a obtenção de índices técnicos de desempenho produtivo
favoráveis.
As tecnologias de processo para a produção de insumos foram adquiridas no exterior,
sendo que as empresas instaladas no Brasil já as absorveram, possuindo capacitação suficiente
para operação e otimização desses processos. Mas esta capacitação é insuficiente para gerar
inovações em direção a novos processos produtivos. Desta forma, a trajetória dos setores de
insumos mostra que sempre que há necessidade de novos investimentos em capacidade produtiva,
se requer novos licenciamentos de tecnologia do exterior.
Dentre os setores que constituem o segmento de insumos no Brasil, a siderurgia é o que
apresenta maior relação entre investimento em atividades tecnológicas e faturamento, alcançando
cerca de 0,3%, enquanto o nível dos países líderes é de 0,6%. As atividades tecnológicas
basicamente objetivam a otimização de processo, procurando incrementar o rendimento dos
processos e reduzir custos. Apesar desta tônica, ainda há grande espaço para as empresas
melhorarem seus indicadores de desempenho. Por outro lado, os dispêndios com atividades
tecnológicas que objetivam o desenvolvimento de produtos são muito baixos.
Dada a grande heterogeneidade tecnológica existente no interior de cada setor, o que
implica problemas tecnológicos diferenciados entre as empresas, é grande a dificuldade de
cooperação entre elas. Geralmente, as atividades tecnológicas são desenvolvidas internamente nas
empresas, com reduzida cooperação, inclusive com organismos públicos de pesquisa. Uma
exceção a esta regra é o caso da Cosipa que mantém alguns convênios de cooperação com o IPT.
No caso do alumínio, as atividades estão muito ligadas à própria operação das plantas e não se
dispõe de estruturas formalizadas para a realização de pesquisas tecnológicas. No caso da
extração de minério de ferro, os gastos com tecnologia são muito reduzidos, porém é mais
30
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
importante o esforço na área de pesquisa geológica, na qual se dispende cerca de 1,8% do
faturamento setorial.
Mesmo no setor que realiza esforços mais intensos em desenvolvimento tecnológico, a
siderurgia, a quase totalidade dos recursos investidos na atividade são alocados para a folha de
pagamento de pessoal. Isto significa que são reduzidos os recursos para compra de equipamentos
e materiais. Com relação aos recursos humanos, é baixo o nível de qualificação formal dos seus
funcionários, quando comparados com outros países. Segundo a pesquisa de campo do ECIB
(1993), apenas 37,8% do pessoal ocupado em atividades de P&D em 1992 era de nível superior.
Em relação à capacitação produtiva, ela é maior nas fases iniciais do processo de
produção, embora exista heterogeneidade entre as empresas. No setor de alumínio, não é
desprezível a heterogeneidade entre as plantas mais antigas e as mais modernas, instaladas na
década de 80. As unidades mais antigas apresentam problemas de escala e de tecnologia
ultrapassada, que implica em maior consumo de energia por tonelada de produto. Todavia,
quando são realizados novos investimentos, mesmo nas plantas mais antigas, a tendência é a
opção por processos mais modernos. As unidades mais modernas, por outro lado, apresentam
escalas e rendimentos técnicos de nível internacional. Essas observações são válidas para a etapa
de redução; quando se avança no processo em direção a laminação e produção de transformados,
onde há grande número de empresas independentes, a heterogeneidade entre empresas é muito
mais significativa, exigindo grandes esforços de modernização produtiva.
No caso da siderurgia, a capacitação também é maior no início do processo produtivo. Na
etapa de redução, quando se transforma o minério de ferro em metal líquido, o Brasil tem bom
desempenho, apresentando índice técnico de produtividade próximo ao do Japão, que é um dos
líderes mundiais do setor. A próxima etapa do processo produtivo é o refino, que tem três
equipamentos principais: a aciaria (que é a produção do aço propriamente dita), a metalurgia de
panela ou refino secundário (processo que visa melhorar as características estruturais do aço e
reduzir o tempo de corrida da aciaria) e o lingotamento contínuo. Na aciaria, o Brasil não se
encontra defasado. No refino secundário, a defasagem brasileira é grande, refletindo o seu mix de
produtos pouco nobre. O uso de lingotamento contínuo, que gera maior rendimento, é mais
compacto e consome menos energia, também é menos difundido no Brasil do que na média
mundial. Finalmente, na etapa de laminação é grande a defasagem do Brasil, novamente
demonstrando a pauta de produção pouco nobre. O uso de automação microeletrônica também
está pouco difundido, o que limita o processo em termos de compactação e flexibilidade,
contrariando a tendência que se verifica nos países mais desenvolvidos. Apenas duas em onze
empresas siderúrgicas consultadas pelo ECIB (1993) utilizavam dispositivos microeletrônicos com
alta intensidade (mais da metade das operações industriais) em 1992.
31
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Em relação aos produtos dos setores de insumos, além da observação de que se
concentram na categoria de commodities, pode se afirmar que são de boa qualidade. O minério de
ferro possui dos mais altos teores de ferro e o alumínio tem ótimo nível de pureza, 99,9%. Mas há
atraso tecnológico no que diz respeito à produção de novos produtos, inclusive aqueles que
envolvem ligas com outros metais.
Sob o ponto de vista do gerenciamento da qualidade, o segmento de insumos tem
demonstrado bom dinamismo, sendo dos setores que mais avançaram neste aspecto. O fato de
serem setores com elevados coeficientes de exportação os obrigou a se esforçarem na adoção de
procedimentos visando a implementação das normas de qualidade prevista pela série ISO 9000.
Apesar desses avanços, nota-se duas dificuldades: envolvimento dos fornecedores e treinamento
da mão-de-obra. Em relação aos fornecedores, os produtores de insumos não demonstraram
agilidade para pressioná-los no sentido de se voltarem a programas de qualidade. Neste aspecto, é
reconhecido que o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade - PBQP - tem sido
importante pelo seu efeito didático para os fornecedores. De outra parte, são muito recentes
iniciativas setoriais de qualificação de fornecedores. Em relação à mão-de-obra, as empresas
devem reconhecer que programas de qualidade e produtividade dependem, em grande medida, do
envolvimento do conjunto de seus trabalhadores e do estabelecimento de novas relações entre
capital e trabalho. Neste aspecto ainda há muito que se avançar no Brasil. Basta verificar que, para
o êxito desses programas, devem ser investidos recursos no treinamento dos trabalhadores, o que
não tem acontecido de forma adequada; pelo contrário, com as dificuldades financeiras que as
empresas enfrentam, elas têm reduzido as atividades de treinamento. Nenhuma das empresas
pesquisados pelo ECIB (1993) nos três setores de insumos fornece treinamento sistemático à
totalidade de seus empregados.
As relações entre capital e trabalho diferem muito entre empresas de um mesmo setor e
entre setores, variando entre dois extremos. Em um dos polos está o setor de extração de minério
de ferro, onde não se tem verificado grandes conflitos nas relações trabalhistas. Os trabalhadores
não realizam movimentos de paralisação da atividade produtiva, o que contrasta com a situação
da Austrália, onde são constantes as greves. No outro extremo está a siderurgia, onde as empresas
tem enfrentado várias greves de trabalhadores, com motivação reivindicatória, gerando
significativos impactos sobre a produção.
A necessidade de modernização produtiva dos setores de insumos básicos, passa pela
maior difusão de equipamentos de automação eletrônica, o que irá gerar impactos negativos sobre
o nível de emprego. Neste sentido, é necessário que os agentes envolvidos estejam preparados
para negociar compensações aos trabalhadores, a partir dos ganhos esperados de produtividade.
32
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Finalmente, a capacitação em controle ambiental também é muito díspar entre empresas e
entre setores. Por exemplo, na produção de alumínio primário, apesar de persistirem alguns
problemas no tocante ao controle das emissões das plantas mais antigas, os resultados obtidos
pelos produtores nacionais em termos da implementação de sistemas de gerenciamento ambiental
são bastante positivos. No setor de extração de minério de ferro, não se dispõe de dados que
avaliem os resultados das atividades de controle ambiental, mas existem informações sobre o
esforço que tem sido realizado pelas empresas. Elas gastam cerca de 1,7% do faturamento com
preservação ambiental, envolvendo barragens de rejeitos e de contenção, reflorestamentos,
estabilização de taludes e coleta de lamas. Enquanto as pequenas empresas estão dando os
primeiros passos para a sistematização de seus esforços, as grandes mineradoras já desenvolveram
programas amplos e de longa duração.
2.3. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade
O segmento de insumos do complexo metal-mecânico está muito próximo da exploração
de recursos naturais, cujas reservas brasileiras são muito boas tanto em quantidade como em
qualidade. Além disso, as condições de exploração são favoráveis, o que implica disponibilidade
de matérias-primas a preços competitivos. Por outro lado, os investimentos realizados nos setores
de insumos são relativamente recentes, configurando um segmento produtivo com plantas
atualizadas em termos de tecnologia, permitindo a obtenção de bons índices técnicos de produção.
De modo geral, os setores do segmento de insumos do complexo metal-mecânico
brasileiro apresentam elevada concentração da produção entre empresas, seguindo a tendência
internacional. Porém, o grau de verticalização das empresas é distinto entre os setores.
No setor de extração de minério de ferro, a verticalização exige elevados investimentos
porque envolve a exploração da mina, o transporte ferroviário e o sistema portuário. No Brasil, as
empresas contam com adequada verticalização neste setor, indo da matéria-prima básica até o
porto, onde se instalam algumas usinas de pelotização.
Na siderurgia, predominam as usinas integradas a coque, porém existem unidades que
produzem apenas semi-acabados, como a CST e a Açominas. Como a tendência internacional é de
elevação do valor agregado da produção, estas usinas mostram-se deficientes quanto a este
aspecto.
Na indústria do alumínio, existem diferentes situações quanto à verticalização. Existem
empresas que são totalmente integradas, produzindo desde a matéria-prima básica - bauxita - até
produtos transformados. Outras empresas só produzem o alumínio primário e necessitam adquirir
33
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
a alumina de terceiros. Como o país não é auto-suficiente na produção de alumina, apesar de deter
expressivas reservas de bauxita, algumas empresas dependem da importação da alumina. Um
terceiro conjunto de empresas fabrica apenas produtos transformados. É neste conjunto que se
verifica grande heterogeneidade entre os produtores tanto ao nível de capacitação tecnológica de
produtos e de processos, quanto desempenho em termos de produtividade, qualidade dos
produtos e presença no comércio internacional. Portanto, é no setor de alumínio que são mais
necessários os investimentos de adequação da estrutura produtiva.
Apesar das observações anteriores, pode se considerar que as escalas de produção são, no
geral, adequadas, seguindo também o padrão internacional. Da mesma forma no que diz respeito à
estrutura patrimonial. Tanto no setor de extração de minério de ferro como no de alumínio, são
comuns as joint-ventures entre empresas nacionais e estrangeiras, o que concede mercados cativos
para várias empresas, correspondendo à tendência internacional.
Porém, no Brasil, a produção do segmento de insumos se concentra fortemente em
commodities. Neste aspecto, tanto na siderurgia como no indústria do alumínio, esta característica
contraria a tendência internacional que tem prevalecido nos países que são líderes mundiais nesses
setores.
Esse perfil de produção define os contornos da inserção brasileira no comércio mundial.
Em suma, a escala das plantas e a escala empresarial podem ser consideradas boas para o
Brasil competir internacionalmente, porém existem problemas quanto ao grau de verticalização
das empresas. Esses problemas não existem na extração do minério de ferro, são relativamente
menores na siderurgia, destacando-se a necessidade de investimentos na CST e na Açominas, e
são maiores na produção de alumínio, setor onde coexistem empresas não integradas, pouco
integradas à frente e empresas totalmente integradas. Neste setor o problema de verticalização
mais sério diz respeito à grande pulverização na fabricação de produtos transformados.
O segmento de insumos demonstra competitividade naqueles produtos que são
commodities, onde é relativamente baixo o valor agregado, portanto apresenta um mix de
produção pouco nobre. As razões para esta característica são tanto de ordem empresarial como
estrutural. As empresas gastam poucos recursos com atividades tecnológicas, e mesmo assim
concentrados em atividades voltadas à otimização de processos produtivos. Quase nada se investe
em P&D de produtos. Para avançar na direção de enobrecimento de produtos, as atividades
tecnológicas são necessárias mas não suficientes: há necessidade de modernização produtiva,
sobretudo através da maior incorporação de equipamentos eletrônicos de automação nas etapas
finais dos processos produtivos.
34
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Como razão de ordem estrutural deve ser apontada a ausência de práticas de cooperação
no tecido produtivo nacional, que conduzam à geração de produtos específicos para cada cliente,
de acordo com suas necessidades. Também não é desprezível o efeito da recessão que inibe
investimentos dos clientes de insumos básicos e a sua modernização em termos de equipamentos,
utilização de insumos e produtos fabricados.
Diante dessas circunstâncias, as estratégias empresariais de investimento, no passado,
privilegiaram o aumento da capacidade produtiva. Mas a orientação para o futuro deve ser o
investimento na alteração da pauta de produção, enobrecendo os seus produtos.
Como foi visto anteriormente, a capacitação tecnológica e produtiva em processos de
fabricação pode ser considerada de bom nível, ressaltando-se a necessidade de modernização
produtiva, que permitirá ganhos de produtividade, flexibilidade e compactação de processos. A
modernização necessariamente passa pela necessidade de maior difusão de equipamentos de
automação eletrônica. Para se apropriar de todos os ganhos possíveis desta modernização também
há necessidade de se avançar em termos da relação entre capital e trabalho, seja através de
programas de treinamento e qualificação da mão-de-obra, seja através de maior envolvimento dos
trabalhadores nos programas de produtividade e qualidade, ou seja através de adoção de novas
posturas entre os agentes, melhorando, assim, o nível de relacionamento e cooperação entre eles.
Em todos os setores de insumos, identificou-se que os salários baixos têm sido
responsáveis por parcela significativa da competitividade, juntamente com a disponibilidade e os
baixos custos das matérias-primas. A modernização desses setores, ao elevar a produtividade da
mão-de-obra, abre espaço para negociações no sentido de distribuição destes ganhos entre capital
e trabalho.
Por outro lado, como são setores com elevados coeficientes de exportação, a rentabilidade
das empresas também depende de alguns fatores macroeconômicos. Um deles é o câmbio, isto é, a
rentabilidade das empresas é extremamente sensível às variações cambiais; existem empresas no
segmento de insumos que exportam mais de 90% da sua produção. Portanto, é fundamental o
realismo cambial.
Outro fator diz respeito à estrutura tributária. O principal problema tributário enfrentado
pelo segmento de insumos é o ICMS que incide sobre as exportações de semi-acabados. Este
imposto atinge todos os setores que compõem o segmento de insumos. Enquanto a prática
internacional é de não tributar as exportações, o Brasil com este imposto acaba reduzindo as
condições de competitividade das empresas brasileiras. Além disso, o setor de extração de minério
de ferro mantém um contencioso fiscal com relação a este imposto, referente ao início do período
de recolhimento, e mesmo questionando se ele é aplicável ao setor. Em função disto, as empresas
não estão recolhendo o imposto e sim fazendo depósitos em juízo ou provisões para pagamento.
35
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
De qualquer forma, esta situação não é favorável nem ao governo nem às empresas, havendo
necessidade de rápida solução.
Ainda em relação ao ICMS há outro problema que se refere às alíquotas distintas que
incidem sobre os serviços de energia elétrica entre diferentes unidades da federação. Para setores
que utilizam intensivamente energia elétrica, esta disparidade tributária entre estados da União
gera distorções nas condições de concorrência.
Outros fatores importantes para a competitividade do segmento de insumos são os custos
e as condições de operação da infra-estrutura física. Em primeiro lugar, destaca-se o problema da
energia elétrica. Conforme já mencionado, este insumo tem um grande peso na estrutura de custos
das empresas, sobretudo no caso da indústria de alumínio. As tarifas de energia têm crescido em
termos reais nos últimos anos, exercendo uma pressão de custo para as empresas. Além disso,
podem surgir dificuldades de suprimento de caráter regional. Por outro lado, existem restrições à
geração própria de energia por parte das empresas. Enfim, os custos e a disponibilidade de energia
são fatores importantes para o segmento de insumos e vêm sendo fonte crescente de preocupação
para as empresas.
Em segundo lugar, estão os custos e as condições de operação do sistema portuário no
Brasil. Não só os custos são muito mais elevados do que em outros portos do mundo, como as
condições de operação geram um sistema ineficiente. A recente legislação de modernização dos
portos foi um passo a frente no sentido de melhorar essa infra-estrutura, mas ainda há muito que
se conquistar em termos de gestão dos portos.
A política de liberalização comercial não afetou o segmento de insumos. Os produtos
básicos desses setores têm uma alíquota de zero, como são os casos do minério de ferro, do ferro-
gusa, do ferro-manganês, da sucata e do alumínio primário. Outros produtos, semi-
manufaturados, têm alíquotas de 10% e os transformados de alumínio e alguns produtos especiais
da siderurgia contam com uma proteção de 20%. Uma única observação que se faz com relação a
esta estrutura tarifária, é que ela não diferencia suficientemente os produtos semi-acabados
daqueles que possuem maior conteúdo tecnológico e valor agregado.
O Mercosul não representa grandes oportunidades de mercado adicional, seja porque os
mercados domésticos dos países membros não são muito significativos, seja porque o Brasil já tem
uma presença importante nas importações de insumos desses países. De forma análoga, o mercado
comum tampouco representa ameaças à competitividade da indústria brasileira produtora de
insumos. As possibilidades de integração produtiva também são muito pequenas. A questão mais
relevante em relação ao Mercosul é a unificação tarifária que deverá ocorrer no futuro próximo.
Para alguns produtos, como é o caso da siderurgia, a estrutura tarifária argentina é contrária à
brasileira. Em outras palavras, enquanto que no Brasil se protege mais alguns produtos mais
36
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
nobres, na Argentina a maior proteção está nos produtos semi-acabados. Como se postula que a
proteção tarifária deva incentivar a estratégia de enobrecimento de produtos, a unificação tarifária
do Mercosul deve ser negociada de forma a não comprometer esse esforço de modernização da
indústria brasileira.
Finalmente, deve ser analisado o impacto da privatização do setor siderúrgico sobre a sua
competitividade. Independente da forma e do cronograma do processo de privatização, que não
levaram em conta uma possível reestruturação do setor siderúrgico no Brasil, a privatização gerou
efeitos positivos sobre as empresas em várias dimensões. Numa perspectiva mais geral, a
privatização permitiu maior agilidade administrativa para as empresas, gerando efeitos positivos
sobre a competitividade. Foram implementadas algumas ações no sentido de aumentar a
produtividade da mão-de-obra, embora com efeitos perversos sobre o nível de emprego no setor,
e sanear financeiramente as empresas. Além disso, algumas empresas recém privatizadas já
definiram e estão implementando novos investimentos em modernização e enobrecimento de
produtos, assim como estão diversificando suas áreas de negócio.
Mas, por outro lado, a privatização tem aumentado o grau de centralização do capital no
setor, privilegiando alguns grupos privados. Para evitar possíveis efeitos negativos desse
movimento, como a prática de preços abusivos para esses produtos, sobretudo os de baixo valor
agregado, há necessidade de adequação do aparelho de Estado para a defesa da concorrência,
além da manutenção da liberalização das importações.
37
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
3.1. Diretrizes Gerais
De acordo com a metodologia do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira, as
proposições de políticas de aumento da competitividade para o segmento de insumos do
complexo metal-mecânico estão agrupadas em três conjuntos: políticas de reestruturação setorial,
políticas de modernização produtiva e políticas relacionadas aos fatores sistêmicos.
O conjunto de políticas mais estratégico para esses setores se refere à modernização
produtiva, sinalizando a forte necessidade do segmento avançar em termos de modernização e
enobrecimento de produtos. As políticas de competitividade para o segmento de insumos devem
objetivar o aumento da produtividade, diversificação da pauta de produção, enobrecendo o mix de
produção, e a ampliação e diversificação da presença brasileira no comércio mundial desses
produtos.
As políticas relacionadas aos fatores sistêmicos também mostram-se importantes, em
particular, aquelas relacionadas a variáveis macroeconômicas, que podem gerar impactos mais
imediatos sobre a competitividade do segmento. Ações voltadas para o aperfeiçoamento da infra-
estrutura energética e de transportes também devem ser contempladas.
Em terceiro lugar, por ordem de importância, estão as políticas de reestruturação setorial,
uma vez que o segmento não apresenta grandes problemas neste aspecto, a exceção do setor de
alumínio que necessita de maior integração da cadeia produtiva, tanto para trás, na obtenção de
matérias-primas, como para a frente, na direção de produtos transformados.
As recomendações de política apresentadas a seguir resultam de um esforço de
generalização das proposições setoriais. Procurou-se identificar as políticas que são mais
pertinentes para o segmento de insumos como um todo, evitando-se a excessiva particularização
setorial. Contudo, quando essa particularização for indispensável, ela será apresentada. O
detalhamento das proposições ao nível setorial pode ser encontrado nos respectivos documentos
setoriais.
3.2. Políticas de Reestruturação Setorial
Os setores do segmento de insumos apresentam uma situação diferenciada quanto ao nível
de integração vertical. O setor de extração de minério de ferro não apresenta problemas de
38
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
estrutura industrial, possuindo uma integração que inclui a exploração da mina e o sistema de
transporte
__
ferrovias e portos.
Na siderurgia prevalecem as usinas integradas. Contudo, duas empresas
__
CST e
Açominas
__
produzem apenas semi-acabados, exigindo investimentos para aumentar o mix de
produtos. Deve ser ressaltado que muito mais importante do que a ampliação da capacidade
produtiva destas empresas é o enobrecimento de produtos. Portanto, devem ser reanalisadas os
projetos de expansão de capacidade produtiva, buscando-se direcionar os programas de
investimento para a consolidação e otimização da capacidade produtiva já existente.
De um ponto de vista setorial, a consolidação de grandes grupos siderúrgicos competitivos
internacionalmente implica aumento da concentração industrial. Por essa razão, cabe ao governo
monitorar o setor, não com o objetivo de evitar o processo de concentração, mas sim de coibir
eventuais abusos do poder de mercado, através de lei de defesa da concorrência e da fixação de
tarifas alfandegárias baixas ou nulas para mercados concentrados e de baixo valor agregado.
O setor de alumínio apresenta maior variedade de situações no que respeita ao grau de
verticalização das empresas. Para sanar a lacuna de suprimento local de alumina é necessário
retomar os investimentos no projeto da Alunorte, identificando-se novos parceiros para a CVRD
neste empreendimento. O conjunto de empresas que são pouco ou não integradas para a frente
(produção de transformados), necessita avançar nesta direção como estratégia para compensar a
instabilidade de preços do alumínio primário e propiciar a atuação em mercados com margens de
rentabilidade superiores. Neste sentido, estas empresas devem procurar a participação acionária
em produtores independentes de transformados.
Desta forma, também se estaria promovendo elevação do porte empresarial do parque
transformador, que atualmente não dispõe de competitividade em termos de escala e de
capacitação técnica e produtiva. O governo pode estimular este processo de reestruturação,
articulando os vários agentes envolvidos e concedendo recursos financeiros para a reestruturação.
As empresas mais capacitadas devem ser utilizadas como foco de aglutinação visando a montagem
e fortalecimento de grupos setoriais por segmento de transformados. Adicionalmente, nichos
dinâmicos do mercado de transformados, como o de embalagens para bebidas e de componentes
automotivos, apresentam potencial de exportação, cuja efetivação pode constituir estímulos ao
processo de integração setorial.
Outras empresas do setor já se encontram totalmente verticalizadas, com atividades
produtivas desde a exploração da bauxita até a produção de transformados. Para estas empresas
não há necessidade de políticas de reestruturação.
39
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
3.3. Políticas de Modernização Produtiva
Este bloco de políticas se constitui na maior prioridade para o segmento de insumos
porque propõe a sua modernização e o enobrecimento de produtos. Cabe observar que, devido a
excelência da capacitação produtiva e gestão de suas empresas, o setor de minério de ferro
prescinde de políticas dessa natureza.
Modernizar a indústria produtora de insumos implica investimentos em equipamentos (por
exemplo, lingotamento contínuo na siderurgia) e, sobretudo, na difusão de equipamentos de
automação, principalmente, nas fases finais do processo. Para estimular esses investimentos,
devem ser concedidos financiamentos em condições adequadas e a possibilidade de depreciação
acelerada dos equipamentos para efeitos de imposto de renda.
Para possibilitar a maior automação também há necessidade de se contornar alguns
constrangimentos existentes atualmente. Em primeiro lugar, há que se conscientizar o corpo
técnico das empresas da necessidade e importância da introdução de equipamentos de automação
na obtenção de maiores flexibilidade e produtividade. Em muitos casos, a automação se encontra
pouco difundida pelo desconhecimento do próprio setor a respeito de todas as suas vantagens e
pela desatualização do seu corpo técnico. Em segundo lugar, uma força de resistência à
automação são os trabalhadores, que temem pela perda do emprego. Essa percepção é válida,
porém a redução do emprego poderia ser compensada por distribuição dos ganhos de
produtividade ou retreinamento de trabalhadores e reaproveitamento em outras atividades. Enfim,
há que se negociar com o conjunto dos trabalhadores para conquistar o seu apoio à modernização
industrial. Fundamental, ainda, é o desenvolvimento de programas de normalização e
padronização de equipamentos de automação, com o objetivo de assegurar a
intercomunicabilidade entre eles.
Nunca é demais lembrar que o governo pode exercer um papel importante na articulação
do segmento de insumos com os setores produtores de bens de capital e de equipamentos de
automação eletrônica. Esta articulação poderia resultar na identificação dos equipamentos a serem
ofertados pela indústria brasileira e aqueles necessários de serem importados.
Independentememte da modernização de equipamentos, as empresas devem manter o seu
esforço de otimização de processos produtivos, visando melhorar os parâmetros operacionais,
sobretudo no que diz respeito ao consumo energético. Também visando a produtividade e a
qualidade, devem ser intensificadas as práticas modernas de gerenciamento da produção, com
maior envolvimento dos trabalhadores em programas de produtividade e qualidade. Este maior
envolvimento pressupõe treinamento dos trabalhadores e novas relações entre capital e trabalho.
40
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Para aumentar o nível tecnológico dos produtos, várias políticas devem ser adotadas.
Devem ser definidos programas de normalização e certificação de produtos, exigindo melhorias
técnicas dos produtos ofertados. Esses programas devem ser definidos com a participação de
empresas produtoras, empresas demandantes e governo. Por outro lado, as empresas produtoras
de insumos devem aumentar e intensificar o seu esforço no desenvolvimento de novos produtos.
A princípio não se propõe que haja um grande esforço no lançamento de novos produtos em nível
mundial. Pesquisas nesse sentido são muito custosas e envolvem elevados riscos. Mas há um
grande espaço no sentido de introduzir internamente produtos já conhecidos no mercado
internacional mas que demandam adaptações, em função das especificidades de cada mercado.
Para tanto, é fundamental maior aproximação do setor de vendas das empresas em relação às
necessidades de seus clientes e em relação à área de desenvolvimento de produtos das próprias
empresas. O governo pode estimular essa mudança no mix de produção do segmento de insumos,
através da política tarifária, concedendo maior proteção a produtos de maior valor agregado.
Portanto, haveria necessidade de se rever a atual estrutura tarifária, criando maior diferenciação de
alíquotas, segundo o valor agregado contido nos produtos. O governo também pode estimular a
mudança na pauta de produção concedendo financiamento a programas de desenvolvimento de
produtos, que envolvam produtores e usuários de insumos.
Na realidade, as proposições de modernização de equipamentos e enobrecimento de
produtos são complementares. A possibilidade de enobrecer produtos depende da modernização
produtiva. E a modernização produtiva se justifica, sobretudo, pela necessidade de enobrecimento
dos produtos.
3.4. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
Este terceiro bloco de políticas é pertinente, com algumas qualificações, a todo o conjunto
do segmento de insumos.
Dados os elevados coeficientes de exportação dos setores que compõem o segmento de
insumos, é fundamental o realismo cambial. Conforme já mencionado anteriormente, esses setores
operam com pequenas margens de lucro, de modo que pequenos atrasos cambiais podem
comprometer seriamente a rentabilidade, em particular, das muitas empresas do setor que se
voltam basicamente para o mercado internacional.
Em segundo lugar, são necessários alguns ajustes na estrutura tributária. O principal
problema se refere ao ICMS incidente sobre as exportações de semimanufaturados. Como esta
não tem sido uma prática comum entre os demais países, cabe definir formas de desonerar as
exportações brasileiras desse imposto. Um segundo problema diz respeito às diferentes alíquotas
41
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
de ICMS sobre os serviços de energia elétrica, que são cobradas pelos diversos estados da União.
Apesar de se reconhecer que esta diferenciação faz parte de iniciativas estaduais de atração de
investimentos, na realidade gera uma guerra fiscal entre estados, que introduz distorções no
processo de concorrência entre empresas. Portanto, a proposta de política é que sejam equalizadas
as alíquotas do ICMS sobre energia elétrica em todo território nacional.
Em relação à infra-estrutura, dois elementos são mais importantes. O primeiro deles é o
sistema portuário, que ainda tem se demonstrado ineficiente e representado um elevado custo para
os setores que são grandes exportadores. A recente lei dos portos é insuficiente para resolver a
ineficiência do sistema, sendo necessário que se promova grandes mudanças na gestão portuária.
O setor de minério de ferro não é afetado por essa situação do sistema portuário nacional, na
medida em que as empresas dispõem de terminais próprios. Inclusive, com a atual legislação, será
possível reduzir a ociosidade desses terminais, através da operação de cargas de terceiros.
O segundo elemento referente à infra-estrutura é o setor de energia. Nos últimos anos, as
tarifas de energia elétrica têm crescido em termos reais, onerando os custos de produção do
segmento de insumos. Além disso, a falta de investimentos em geração e distribuição pode gerar
problemas de suprimento de energia. Nesse sentido, é necessário que se resolva o problema
financeiro das concessionárias de energia e se invista em modernização dessas empresas para
melhorar a gestão e a produtividade. No caso do setor de alumínio, em que a influência dos custos
de energia elétrica sobre a competitividade é decisiva, deve ser estudada a possibilidade de
reestruturar o sistema de tarifação, buscando, na medida do possível, o atrelamento das tarifas à
evolução do preço internacional do metal, como é praxe em outros países. Isso poderia ser
alcançado pelo equacionamento dos subsídios implícitos nas tarifas, através da adoção de
sistemáticas de deferimento, pela renogociação da penalização no caso de ultrapassagem do valor
contratado, pela adoção de tarifas mais baixas para energia não garantida, etc.. Também como
ocorre em muitos países, deve-se buscar o aumento da cooperação entre produtores de alumínio e
concessionárias de energia, através da participação societária minoritária dos segundos nos
primeiros com base na energia contratada ou em projetos de auto-geração.
No que diz respeito ao meio ambiente, as empresas, ao investirem em otimização e
modernização de processos, devem contribuir para a maior preservação do meio ambiente. Por
outro lado, o Estado deve estabelecer um aparato regulatório, de caráter preventivo, que evite a
agressão ao meio ambiente.
Finalmente, em relação ao Mercosul, o Estado deve garantir que prevaleçam os interesses
nacionais na negociação da tarifa externa comum, no sentido de que seja concedida maior
proteção àqueles produtos de maior valor agregado. Essa gradação tarifária é essencial não só
42
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
para viabilizar a estratégia de enobrecimento de produtos como para a regulação da concorrência
no mercado interno nos mercados de insumos em que a concentração da produção é elevada.
43
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Dentre todos os segmentos do complexo metal-mecânico, os setores de insumos são os
que contam com melhor base de dados e informações estatísticas, devido a maior homogeneidade
dos produtos.
Os indicadores de competitividade mais significativos para o segmento de insumos são os
referentes à dimensão técnica. Deve ser estruturado um sistema de indicadores de eficiência
técnica por etapas dos respectivos processos de produção setoriais. Além desses indicadores
parciais, que permitem avaliar a eficiência técnica de cada etapa do processo produtivo, também
se deve avaliar o nível de competitividade por um indicador de rendimento integrado, que indica a
eficiência do processo como um todo. Este último indicador, deve ser estruturado para os
principais produtos do segmento de insumos.
Um outro indicador importante é o mix de produção do segmento, que permite avaliar o
grau de enobrecimento dos produtos.
Indicadores de desempenho exportador também são úteis, apesar de que devam ser
relativizados, na medida em que, para alguns setores, existem fortes barreiras não-tarifárias. Além
disso, as práticas de determinação de preços internacionais são distintas em relação à
determinação de preços domésticos. Mesmo assim, devem ser acompanhados os indicadores de
comércio exterior para o segmento, tais como: coeficiente de exportação, participação das
exportações brasileiras no comércio mundial, mix de produtos exportados e grau de
enobrecimento dos produtos exportados. Esses indicadores devem ser analisados em conjunto.
44
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
PARTE II - SEGMENTO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS
Os setores do segmento de máquinas e equipamentos estudados neste trabalho foram os de
máquinas-ferramenta (MF), máquinas e implementos agrícolas (IMA) e bens de capital sob
encomenda para o setor elétrico (BCESE).
O segmento de máquinas e equipamentos é muito heterogêneo em várias dimensões. Em
relação aos produtos, o segmento fabrica tanto bens padronizados quanto bens sob encomenda;
nestes últimos, a demanda é mais descontínua; é maior a necessidade de capacitação no
desenvolvimento de projetos; é importante a proximidade com o cliente; e é maior o tempo de
produção dos equipamentos, sendo que alguns deles demandam até 2 anos para serem fabricados.
A heterogeneidade também está presente na base tecnológica incorporada aos produtos:
alguns produtos utilizam, principalmente, tecnologias de base eletro-mecânica, enquanto outros
integram a eletrônica à mecânica, constituindo-se em equipamentos de automação eletrônica da
manufatura, portadores, portanto, do novo paradigma tecnológico.
Quanto às empresas, também é grande a heterogeneidade intra e inter-setorial. Dentro de
alguns setores convivem empresas de diversos tamanho, de capacitação produtiva, técnica e
gerencial muito distintas, com variadas pautas de produção, etc. O mesmo se verifica entre
setores, alguns deles formados por grandes empresas, outros por maioria de pequenas empresas.
Praticamente em todos eles existem empresas de capital nacional e estrangeiro, sendo a origem do
capital um fator importante de diferenciação das empresas.
Por fim, há a heterogeneidade da demanda. A produção de bens de capital sob encomenda
tem nas empresas estatais e nas grandes empresas privadas o seu maior mercado. A produção de
bens seriados é destinada a pequenas, médias e grandes empresas. A maior parte das máquinas se
destina ao setor industrial, mas também o setor agrícola é demandante de bens de capital.
Portanto, dada esta heterogeneidade, é muito difícil a realização de uma análise global para
todo o segmento de máquinas e equipamentos. Este texto é uma tentativa nesta direção, apesar de
estar muito embasado nos estudos setoriais mencionados acima.
Dentre todos os setores da indústria de transformação, os produtores de bens de capital
foram os que mais sofreram com a crise da economia brasileira na década de 80. A redução da
taxa de investimento da economia retraíu o mercado interno, fazendo surgir elevada ociosidade na
capacidade instalada. A partir do final da década de 80, a crise se agravou e, no início dos anos
90, o governo brasileiro iniciou o processo de abertura do mercado interno. Portanto, o setor de
bens de capital vem enfrentando maior concorrência das importações, num momento de retração
45
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
do mercado. Essa combinação, não favorável para a indústria brasileira, tem gerado impactos nas
empresas, que estão tomando uma série de medidas no sentido da redução de custos. Por outro
lado, como o setor vem enfrentando um ambiente de crise há vários anos, os seus equipamentos se
encontram relativamente desatualizados, na medida em que as empresas reduziram seus
investimentos. Esses movimentos acontecem numa conjuntura internacional de maior difusão do
paradigma eletrônico no setor de bens de capital e, atualmente, há um excesso de oferta no
mercado internacional, em função das baixas taxas de crescimento da economia mundial.
Neste cenário, nada positivo para a indústria de bens de capital, a política industrial
brasileira voltada para este segmento, deve conter instrumentos tanto de reestruturação setorial,
como de modernização produtiva e outros relacionados aos fatores sistêmicos.
46
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
1.1. Características Estruturais
De modo geral, Japão, Estados Unidos e Alemanha são os principais países produtores de
bens de capital no plano internacional. Outros países, tais como Suécia, França, Itália, Inglaterra e
Coréia do Sul, apesar de não serem líderes mundiais, têm importância como produtores de
máquinas e equipamentos.
Algumas empresas líderes, sobretudo dos principais países produtores, têm grande
diversificação de negócios, atuando em vários setores de bens de capital. Contudo, em cada setor
essas empresas são relativamente especializadas numa gama restrita de produtos, observando-se
grande especialização produtiva a nível de plantas. Mas também não são raros os casos de
empresas independentes, atuando em setores específicos de bens de capital, com grande
competitividade internacional. Estas características gerais do segmento de máquinas e
equipamentos demonstram que as economias de escala e de escopo são importantes fatores para o
sucesso competitivo das empresas.
Dada a grande heterogeneidade de equipamentos e dadas as características mencionadas
acima, a indústria de máquinas e equipamentos, inclusive nos países líderes mundiais, apresenta
elevados coeficientes de exportação e de importação. Talvez a exceção a esta regra seja o Japão,
que é grande exportador de bens de capital mas possui apresenta pequeno coeficiente de
importação.
O comércio internacional de alguns bens de capital é controlado por restrições não-
tarifárias. Este é o caso, por exemplo, do setor de máquinas-ferramenta no qual vários países
negociam acordos de restrição voluntária, principalmente com Japão e Coréia. No caso da
indústria produtora de bens de capital sob encomenda para o setor elétrico, também são comuns
as políticas de proteção do mercado interno nos principais países.
Os principais fatores de concorrência no comércio internacional dependem muito do tipo
de equipamento. Para as máquinas padronizadas, o principal fator de concorrência é o preço.
Neste caso, as economias de escala e de escopo são um importante fator que define a
competitividade das empresas. Neste segmento de mercado também se nota uma tendência à
globalização, sobretudo no que diz respeito ao suprimento de partes, peças e componentes. Para
as máquinas sob encomenda, que, geralmente, apresentam maior complexidade tecnológica, o
principal fator de concorrência é a tecnologia, ou, em outros termos, a qualidade do produto, no
sentido de atender às especificações técnicas exigidas por seus clientes. Neste caso é
47
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
extremamente importante a empresa deter boa capacitação no desenvolvimento do projeto do
equipamento, além de deter boa capacitação na manufatura.
Cada vez mais, a indústria de máquinas e equipamentos tende a se constituir numa
indústria montadora. Isto equivale a dizer que é estratégico deter a tecnologia de produto e contar
com uma eficiente rede de fornecedores de partes, peças e componentes. Desta forma, os laços
que se estabelecem entre produtores e fornecedores são significativos, tanto no campo comercial
como no tecnológico. Por outro lado, para vários setores de bens de capital, é fundamental dispor
de um denso tecido industrial, que alavanca a produção e a capacitação dos fabricantes de
máquinas e equipamentos. Ou seja, neste segmento industrial é extremamente importante a relação
entre os elos da cadeia produtiva, envolvendo o fornecedor de insumos, o produtor e o cliente de
máquinas e equipamentos. A relação de cooperação entre cliente e produtor é mais importante
ainda no caso de bens de capital sob encomenda.
A tendência tecnológica no plano internacional aponta para a maior difusão das
tecnologias de base microeletrônica tanto nos produtos como nos processos de produção. Nos
produtos é crescente a utilização de componentes eletrônicos, que permite maior velocidade de
operação das máquinas, maior precisão, maior controle do processo de produção por parte dos
usuários e reduz a necessidade de mão-de-obra nas empresas que são usuárias desses
equipamentos. Portanto, esses produtos proporcionam maior produtividade, melhor qualidade e
maior flexibilidade na produção dos setores que incorporam essas máquinas nos seus respectivos
processos produtivos.
No processo de produção da indústria de bens de capital, também tem ocorrido maior
difusão de equipamentos de automação da manufatura, pelas mesmas razões apontadas acima.
Não só é maior o número de equipamentos eletrônicos na produção, como também é crescente o
uso integrado desses equipamentos, o que eleva o nível de automação da produção e potencializa
os seus efeitos. A automação de base eletrônica também se difunde na área de projetos, com a
utilização de sistemas CAD (projeto assistido por computador), que, além de reduzir a
necessidade de pessoal, permite melhor e mais rápida especificação dos equipamentos. Em
algumas empresas líderes, há integração da área de desenho com a manufatura (CAD/CAM).
Ainda em relação aos processos produtivos, nota-se maior difusão das novas técnicas
gerenciais, que procuram reduzir custos, aumentar produtividade e melhorar a qualidade dos
produtos. Para tanto, são desenvolvidas novas relações dentro das unidades produtivas entre
trabalhadores, gerência e executivos. Em decorrência destas mudanças, não só os processos de
produção mas as próprias empresas têm se tornado mais flexíveis. Esta tendência é mais forte no
Japão, que desenvolveu essas novas técnicas gerenciais, do que nos Estados Unidos e Alemanha,
que têm encontrado dificuldades de adaptação a este novo sistema de gestão.
48
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Portanto, o aumento da produtividade é a tendência mais forte que se verifica na indústria
de bens de capital a partir dos anos 80. Todavia, nos últimos anos a indústria vem passando por
um período de excesso de oferta, decorrente das baixas taxas de crescimento dos países
desenvolvidos. Esta conjuntura tem levado ao acirramento da concorrência, tornando mais
comuns as práticas de dumping no comércio internacional, cada vez mais globalizado.
1.2. Fatores Determinantes da Competitividade
A competitividade na indústria de máquinas e equipamentos é definida pela capacitação no
desenvolvimento de produtos, pela atualização tecnológica dos processos produtivos, pelas
economias de escala e de escopo, pela existência de relações intensas e sinérgicas entre
fornecedores, produtores e usuários
__
sendo a produção da máquina, cada vez mais, uma
atividade de montagem
__
, pela prestação de eficientes serviços de pré e pós-venda, pela
especialização das plantas, pelo aprendizado obtido com o próprio processo de produção, o que
permite a geração de inovações incrementais e aperfeiçoamento dos processos produtivos.
Além desses fatores, a competitividade do segmento de máquinas e equipamentos é
fortemente influenciada por uma série de fatores sistêmicos, cujo principal é, sem sombra de
dúvida, o financiamento. Ele afeta a indústria, tanto na sua produção
__
pois são elevados os seus
investimentos e longos os períodos de produção, sobretudo no caso dos bens de capital sob
encomenda
__
quanto na comercialização, pois são bens de investimento para o comprador e de
elevado valor unitário. A disponibilidade de financiamento em condições competitivas pode definir
a escolha de compra de um equipamento, numa concorrência internacional. Portanto, o
financiamento é importante em relação ao mercado interno e mais ainda em relação ao mercado
externo.
Para as exportações, são comuns as políticas que procuram estimulá-las, principalmente
através de mecanismos financeiros. Vários países dispõem de mecanismos de financiamento ao
comprador externo de equipamentos, em condições muito favoráveis. Por exemplo, no caso da
indústria de bens de capital sob encomenda para o setor elétrico, que é uma das mais protegidas
nos países desenvolvidos, conta-se com financiamento de longo prazo para exportação (de 10 a
12 anos, com 5 anos de carência) e com taxas de juros variando entre 5 e 5,5% ao ano. A França
chega a conceder financiamentos com taxas de juros de 3,5%. Além do apoio financeiro, os países
também auxiliam as suas indústrias, identificando oportunidades de negócios no exterior.
Outro fator sistêmico importante diz respeito à tributação. A prática mais comum entre os
países mais desenvolvidos, é de não tributação dos bens de capital, como forma de estimular os
investimentos internos. Em hipótese alguma há tributação indireta sobre os bens exportados.
49
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Finalmente, cabe destacar a relevância de políticas protecionistas. Conforme já
mencionado acima, a indústria de máquinas e equipamentos é objeto de uma série de restrições
não-tarifárias às importações, desde a negociação de restrições voluntárias, até a existência de
legislação de salvaguardas comerciais. Isto se deve ao fato de que os países mais desenvolvidos
consideram estratégico dispor de uma indústria nacional de bens de capital, na medida em que ela,
além do seu próprio dinamismo, é transmissora de progresso técnico para os demais setores da
economia. Mais ainda, como o aprendizado com a produção é um importante fator para a maior
capacitação dessa indústria, procura-se manter um certo nível de atividade produtiva. É neste
mesmo sentido que se procura garantir demanda interna para a indústria de máquinas e
equipamentos, principalmente para os bens de capital sob encomenda, que, naturalmente, sofrem
maior instabilidade de demanda.
50
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
2.1. Desempenho
Além da dificuldade intrínseca para se analisar a indústria de bens de capital, em função da
sua grande heterogeneidade, as estatísticas disponíveis sobre a indústria brasileira são muito
precárias. Com esta ressalva, para a análise do desempenho da indústria brasileira foram utilizados
os dados fornecidos pela ABIMAQ/SINDIMAQ sobre os bens de capital mecânicos. A tabela 1
mostra o consumo aparente neste setor e os seus coeficientes de exportação e de importação.
TABELA 1
BRASIL - CONSUMO APARENTE DE BENS DE CAPITAL MECÂNICOS
1980 - 1992
em US$ bilhões constantes de 1992
ANO PRODUÇÃO
(1)
EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO CONSUMO APARENTE COEF. COEF.
(A CUSTO DE FATOR) EXP. IMP.
1980 24,89 1,76 2,75 25,88 7,1 10,6
1981 22,19 1,81 3,20 23,58 8,2 13,6
1982 18,19 1,30 2,06 18,95 7,1 10,9
1983 14,90 1,24 1,25 14,91 8,3 8,4
1984 15,63 1,54 1,06 15,15 9,9 7,0
1985 18,40 1,74 1,17 17,83 9,5 6,6
1986 21,04 1,55 1,51 21,00 7,4 7,2
1987 21,59 1,77 2,02 21,84 8,2 9,2
1988 20,96 2,34 2,55 21,17 11,2 12,0
1989 20,10 2,44 1,99 19,65 12,1 10,1
1990 18,34 2,18 2,60 18,76 11,9 13,9
1991 15,19 2,08 2,47 15,58 13,7 15,9
1992 13,69 2,19 2,31
(2)
13,81 16,0 16,7
(1)
Valor da produção atualizado pelo IPA da Indústria Mecânica e convertido para dólar pela taxa média de 1992.
(2)
Estimativa
Fonte: ABIMAQ-SINDIMAQ
Na tabela 1 pode se observar o comportamento da indústria de bens de capital ao longo da
década de 80 e nos primeiros anos da década de 90. A produção e o consumo aparente desta
indústria seguem o comportamento da economia brasileira, mais especificamente, a sua taxa de
investimento. Assim, entre 1981 e 1983, quando a economia brasileira apresentou desempenho
medíocre, obtendo taxas de crescimento negativas, o mesmo ocorreu com a indústria de bens de
capital. Observa-se, porém, que as oscilações na indústria de bens de capital são muito maiores do
que as observadas na taxa de crescimento do produto interno bruto. Esta é uma característica
específica deste setor, que reproduz de forma amplificada as oscilações da economia.
A indústria de bens de capital no Brasil, assim como a maioria dos setores industriais, foi
estruturada para o atendimento do mercado interno. Nota-se que o valor das exportações eram
muito limitados, no início da década de 80, apesar de crescentes, desde o final dos anos 70. Nesta
época, os principais mercados da indústria de máquinas e equipamentos estavam localizados na
51
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
América Latina, que, assim como o Brasil, enfrentaram uma forte crise interna. Portanto, as
exportações não compensaram a retração do mercado interno; pelo contrário, o nível das
exportações de 1981 somente foi ultrapassado no ano de 1988. Este desempenho da indústria de
bens de capital demonstra que ela não teve força suficiente para contribuir com o ajustamento
externo da economia na primeira metade dos anos 80.
Todavia, na medida em que outros setores ampliaram os seus coeficientes de exportação,
o que lhes exigiu investimentos em modernização produtiva, houve uma retomada do mercado
interno de bens de capital. A partir de 1984, lentamente, mas com o reforço de demanda gerado
pela euforia do Plano Cruzado, a taxa de crescimento da produção da indústria de bens de capital
mecânicos foi muito elevada, alcançando cerca de 14%, em 1986. Apesar disto, o pico de
produção de 1987 foi 13% inferior ao nível de produção atingido em 1980. As exportações
comportaram-se da mesma forma: voltaram a crescer a partir de 1984, mas não retomaram o nível
do início dos anos 80.
O recrudescimento da crise econômica a partir de 1988, novamente, foi responsável pela
retração do mercado interno e da produção de bens de capital. Os dados da Tabela 1 mostram que
o nível de produção em 1992 era inferior ao do pior ano da crise do início dos anos 80. Além
disso, a crise atual é muito mais severa porque traz maior grau de incerteza e maior instabilidade
econômica.
Contudo, distintamente da crise anterior, no final da década de 80, a indústria passou a
apresentar maior coeficiente de exportação, com diversificação dos seus mercados externos. Este
comportamento recente das exportações demonstra que a indústria de bens de capital tem
realizado um esforço bem sucedido na direção de melhorar sua competitividade no cenário
internacional.
A importação de bens de capital mecânicos normalmente apresenta um comportamento
pró-cíclico, isto é, aumenta em períodos de crescimento da economia e se retrai em períodos de
baixo crescimento econômico. Isto também pode ser observado na Tabela 1, com a exceção do
período mais recente, principalmente a partir de 1990, quando o governo brasileiro iniciou o
processo de abertura do mercado interno. No começo deste processo, a redução das alíquotas de
importação não foi muito significativa, mas o fim das restrições não-tarifárias foi suficiente para
gerar um movimento anti-cíclico das importações. Portanto, atualmente, a indústria brasileira de
máquinas e equipamentos vem enfrentando uma situação de retração do mercado interno
conjugada com maior penetração de importações. Com efeito, o coeficiente de importação é bem
superior àquele que prevalecia no início dos anos 80, quando o comportamento da economia
brasileira e da produção do setor eram mais favoráveis.
52
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
O saldo da balança comercial da indústria de bens de capital mecânicos no Brasil é
estruturalmente deficitário, apesar da obtenção de alguns saldos positivos durante a década de 80.
Este desempenho contrasta com o de outros setores industriais, sobretudo com o do segmento de
insumos do complexo metal-mecânico, que hoje apresenta grandes superávits comerciais. Na
realidade, no Brasil sempre se estimulou a importação de bens de capital, sem similar nacional,
dentro da lógica de viabilização dos investimentos do processo de substituição de importações. O
antigo Conselho de Desenvolvimento Industrial
__
CDI, que foi um dos pilares da política
industrial nos anos 70, concedia incentivos fiscais para a importação de bens de capital, partes,
peças e componentes. Além desse instrumento, ainda havia o Programa BEFIEX, que permitia a
importação de bens de capital, desde que as empresas assumissem compromisso de exportação. É
verdade que os incentivos fiscais do CDI foram reduzidos em 1979, mas ainda havia exceções
setoriais e o Programa BEFIEX, foi extinto em 1990, observando-se os direitos adquiridos. A
partir desse ano, qualquer usuário pode requerer alíquota zero para a importação de bens de
capital, desde que esta solicitação não seja contestada pela indústria brasileira fabricante de
equipamentos similares.
Esta política industrial favoreceu os investimentos, permitindo a importação de bens de
capital, a não ser em momentos de extrema dificuldade no balanço de pagamentos, quando não se
autorizava importações. Mais do que isso, a possibilidade de importação de máquinas e
equipamentos era uma alternativa para modernização do resto da indústria, nos casos em que não
se contava com produção local. Portanto, deve ser relativizada a afirmação de que os outros
setores não se modernizaram porque a indústria nacional de bens de capital era incapaz de atender
a demanda interna em termos de sofisticação de equipamentos. Por outro lado, é verdade que a
proteção à indústria nacional permitiu a obtenção de elevadas margens de rentabilidade, através da
prática de preços elevados dos bens de capital. Todavia, esta não é uma especificidade da indústria
de máquinas e equipamentos.
Conforme demonstrado acima, a indústria de bens de capital mecânicos vem enfrentando,
desde o início dos anos 80, um mercado com tendência declinante, com maior participação das
importações a partir de 1990 e maior crescimento das exportações, que são insuficientes para
compensar plenamente a retração do mercado interno. Comportamento semelhante foi encontrado
por Barrionuevo Filho (1993), ao analisar a indústria de bens de capital sob encomenda, utilizando
os dados da ABDIB.
A tendência à queda do nível de produção também pode ser observada na Tabela 2. Cabe
observar que os dados desta tabela não são comparáveis com os da tabela anterior porque existem
diferenças metodológicas; a Tabela 2 foi construída a partir de dados conjunturais, levantados
junto a uma amostra de empresas do setor.
53
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
TABELA 2
INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BENS DE CAPITAL MECÂNICOS
ÍNDICES DE PRODUÇÃO E EMPREGO - 1978-1992
BASE 1972=100
ANO ÍNDICE DE PRODUÇÃO ÍNDICE DE EMPREGO
1978 136,3 153,3
1979 139,8 155,3
1980 146,3 161,2
1981 133,8 156,1
1982 112,7 136,3
1983 94,9 110,2
1984 102,3 107,8
1985 123,7 126,2
1986 141,4 147,5
1987 145,1 155,4
1988 140,9 151,9
1989 135,1 148,2
1990 123,3 139,6
1991 102,1 112,4
1992 92,1 98,5
Fonte: ABIMAQ-SINDIMAQ
A tabela 2, além de apresentar o índice de produção do setor de bens de capital mecânicos,
traz também o índice de emprego. Observa-se que a queda do nível de emprego no período mais
recente é maior do que do nível de produção, quando comparados com os índices prevalecentes
do início da década de 80. Isto demonstra que a indústria conseguiu obter ganhos de
produtividade ao longo do período, introduzindo novas técnicas de organização e gestão da
produção. Este tipo de inovação, que procura racionalizar a produção e reduzir custos, foi mais
utilizada do que a modernização de equipamentos, que também ocorreu, porém com menor
dinamismo, dada a situação de retração do mercado interno. A queda do nível de emprego só não
é maior porque as empresas deste setor relutam em demitir seus trabalhadores, na medida em que
utilizam mão-de-obra mais qualificada do que a média da indústria e o treinamento dessa mão-de-
obra demanda tempo e recursos financeiros. Deve ser ressaltado que o treinamento não acontece
única e exclusivamente através de programas formais, mas em grande medida no próprio processo
de produção. É neste sentido que pode se afirmar que a retração do mercado, que conduz à
redução da atividade produtiva, limita o processo de aprendizado, tanto dos seus trabalhadores
como da própria capacitação da empresa.
2.2. Capacitação
A análise da capacitação do segmento de máquinas e equipamentos envolve grande
dificuldade em função da grande heterogeneidade existente entre setores e empresas de um mesmo
setor.
54
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
O segmento de máquinas e equipamentos conta com um número relativamente grande de
pequenas e médias empresas nacionais, cuja capacitação produtiva, técnica e gerencial é limitada.
As grandes empresas nacionais e as empresas estrangeiras possuem maior capacitação. Este
conjunto de empresas detém uma capacidade instalada que está acima das possibilidades de
absorção pelo mercado interno ou externo, refletindo o resultado do modelo brasileiro de
substituição de importações, que viabilizou o surgimento de empresas de pequeno porte com
baixa capacitação. O excesso de capacidade instalada é estrutural, não se referindo apenas à
conjuntura atual de retração de mercado. Deve ser lembrado que ao longo dos anos 80, com a
tendência de queda de mercado, várias fusões e incorporações de empresas já foram realizadas e
outras simplesmente deixaram de existir, elevando o grau de concentração da produção. Mesmo
assim, há excesso de capacidade de produção.
A afirmação acima também é verdadeira especificamente para os três setores de máquinas
e equipamentos analisados neste estudo. No setor de bens de capital sob encomenda para o setor
elétrico, apesar de mais concentrado, ainda há um número maior de empresas do que o mercado
comporta, o que significa que a pulverização de empresas ainda permanece. Em decorrência, as
empresas apresentam graus insatisfatórios de utilização da capacidade instalada, reduzindo as
possibilidades de obtenção das economias de escala. Na indústria de máquinas e implementos
agrícolas se observa o mesmo, existindo, atualmente, uma tendência a fusões no seu segmento
mais avançado, que é o de produção de tratores. Na indústria produtora de máquinas-ferramenta,
apesar da maior concentração da produção hoje existente, também há excesso de capacidade
produtiva, evidenciados pelos elevados índices de ociosidade das plantas.
Na medida em que o mercado interno é relativamente limitado e que há excesso de
capacidade produtiva, cada empresa seguiu uma estratégia de diversificação da sua linha de
produtos, contrariando a tendência internacional. A diversificação de forma alguma representa um
estágio avançado da indústria no sentido de proporcionar maior flexibilidade de produção. Ao
contrário, as empresas não demonstram possuir flexibilidade e, na realidade, dispõem de um
grande patrimônio que se encontra ocioso. Além dos problemas decorrentes da falta de escala em
cada linha de produtos, a diversificação acaba se constituindo num obstáculo à maior capacitação
da empresa na medida em que dilui o esforço tecnológico. A especialização, por outro lado,
viabiliza a concentração dos esforços de capacitação tecnológica, com resultados muito mais
positivos.
No período mais recente, as empresas de maior porte têm procurado caminhar em direção
à maior especialização da linha de produtos. Este movimento é muito claro na indústria de bens de
capital sob encomenda para o setor elétrico onde as empresas vêm reduzindo o número de
segmentos de mercado em que atuam, ampliando, porém, o número de produtos dentro de cada
segmento. Esta estratégia objetiva a obtenção de economias de escala e de escopo.
55
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
No setor de máquinas-ferramenta, as empresas estrangeiras têm procurado se especializar
numa gama mais reduzida de produtos, ofertando para o mercado global e, por outro lado,
tendem a complementar a sua oferta de produtos com a importação de equipamentos de outras
empresas do mesmo grupo empresarial. Nestes casos, as empresas procuram obter economias de
escala e de escopo no plano internacional.
Além da diversificação de produtos, as empresas produtoras de máquinas e equipamentos
geralmente apresentam elevado grau de verticalização. Esta última característica também é de
ordem estrutural, estando presente desde as origens da indústria no Brasil. As principais razões
que explicam a verticalização são as seguintes:
. deficiente estrutura de fornecedores: a instalação da indústria de bens de capital no
Brasil não se fez acompanhar da estruturação de uma rede de fornecedores. A política industrial,
ao baratear o investimento, acabou favorecendo a que as empresas produtoras de bens de capital
também produzissem seus componentes. Os fornecedores existentes não têm capacitação
suficiente para garantir qualidade, ser competitivo em preço e cumprir os prazos de entrega
acordados. Desta forma, os produtores de bens de capital, mesmo não tendo escala, conseguem
produzir peças e componentes com menores custos e melhor qualidade. Alguns conjuntos de
componentes se constituem em setores industriais específicos como são os casos dos componentes
hidráulicos, componentes pneumáticos, componentes eletrônicos e motores. A verticalização
existente na indústria de máquinas e equipamentos diz respeito principalmente à fundição e
usinagem.
. mercado limitado e instável: o tamanho relativamente limitado do mercado interno, que
impede a operação em escala ótima, juntamente com o fato de que a base técnica de produção da
máquina e de seus componentes ser a mesma, induz à internalização do suprimento. Além disso, a
instabilidade do mercado e da própria economia desestimula o estabelecimento de maior
cooperação entre produtor e fornecedor. O forte movimento de preços relativos dificulta as
negociações na cadeia produtiva em relação aos preços praticados. A instabilidade do mercado faz
com que, em períodos de aquecimento da demanda, os fornecedores pratiquem preços muito
elevados, não atendam os prazos de entrega, além do problema da qualidade. Em períodos de
retração do mercado, é vantajoso para os fabricantes dos bens de capital produzir eles próprios
seus componentes, visando reduzir a ociosidade do seu parque de máquinas e evitar demitir mão-
de-obra qualificada. Como as oscilações de mercado na economia brasileira são muito frequentes,
os estímulos à verticalização são permanentes.
. política industrial: ao proteger o produto nacional, limitando a importação de similar, e
ao exigir índices mínimos de nacionalização, a política industrial levou a que as empresas de
56
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
máquinas e equipamentos internalizassem a produção de componentes, para poderem ter direitos
aos benefícios concedidos.
Nos anos 90 alguns desses condicionantes mudaram de sentido. Em primeiro lugar, deve
se destacar a abertura do mercado interno, que acabou com as restrições não-tarifárias às
importações e reduziu as alíquotas, viabilizando a importação de partes, peças e componentes. De
outra parte, o governo brasileiro reduziu significativamente os índices mínimos de nacionalização.
Em relação ao comportamento do mercado, a crise atual é tão forte e incerta que tem levado as
empresas produtoras de máquinas e equipamentos a adotarem estratégias de terceirização, para
racionalizar a produção e, principalmente, reduzir custos. O movimento de terceirização ainda é
tímido, sendo que avançou muito mais na área de serviços do que propriamente na área produtiva.
A mesma restrição de mercado tem levado algumas empresas produtoras de máquinas e
equipamentos a realizarem serviços para terceiros, procurando aumentar o grau de utilização da
sua capacidade instalada. Parte dessas empresas pode vir a se constituir apenas num fornecedor no
futuro, retirando-se da produção de máquinas. Desta forma, a indústria de máquinas e
equipamentos apresenta atualmente tendência de reduzir o grau de verticalização e de
nacionalização dos seus produtos. Cabe ao governo estimular e monitorar esse processo.
As empresas produtoras de máquinas e equipamentos também têm introduzido outras
inovações objetivando a redução de custos. Todavia, a viabilidade dessas inovações depende do
tamanho da empresa e da escala de produção. Empresas médias e grandes têm aumentado a
utilização do just in time, interno e externo, para reduzir os custos de estoques. Também é maior
a difusão das células de manufatura, que aumentam a produtividade e reduzem a necessidade de
mão-de-obra e de espaço físico. Sistemas de garantia da qualidade que procuram reduzir a taxa de
defeitos e a necessidade de retrabalho também estão sendo implementados pela indústria na
tentativa de redução de custos.
As empresas pequenas têm demonstrado maior dificuldade na implementação dessas
técnicas de gestão da produção em função do controle direto das áreas estratégicas ainda exercido
pelos seus proprietários, haja vista a estrutura familiar predominante na direção dessas empresas.
Se é verdade que as médias e grandes empresas estão introduzindo inovações tecnológicas
e organizacionais, ainda são bastante tímidas as iniciativas de garantia total de qualidade.
Novamente é importante mencionar que o grau de difusão dessas iniciativas é específico de cada
um dos setores de produção de máquinas e equipamentos e do porte de cada empresa, bem como
do engajamento das empresas no mercado externo. Dos três setores analisados neste estudo é
possível estabelecer uma hierarquização no que diz respeito ao estágio de desenvolvimento das
novas técnicas de garantia de qualidade:
57
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
. o setor de bens de capital sob encomenda para o setor elétrico, que é constituído por
grandes empresas, na sua maioria de capital estrangeiro, e que tem ampliado as suas exportações,
é o que mais avançou na implantação de sistemas de qualidade. Em relação à implantação da ISO
9000, de cinco empresas pesquisadas, duas estavam em processo de implantação das normas ISO
9000, duas já haviam implantado mas ainda não haviam obtido o certificado e uma já possuia o
certificado.
. no setor de máquinas-ferramenta, que é constituído por empresas estrangeiras, grandes e
médias empresas nacionais e por grande número de pequenas empresas nacionais, a difusão das
normas ISO 9000 ocorre lentamente, pois observa-se que a quase totalidade das empresas
pesquisadas ainda realiza estudos visando sua implantação, e são raras as que se encontram em
fase
__
inicial ou adiantada
__
de implementação.
. na indústria produtora de máquinas e implementos agrícolas, também muito segmentada,
sendo que predominam numericamente as empresas de pequeno e médio porte, contata-se maior
tendência ao aperfeiçoamento do controle de qualidade do que à realização de investimentos na
direção da qualidade total. As evidências de defasagem gerencial no setor de máquinas e
equipamentos agrícolas podem ser consideradas surpreendentes, uma vez que na primeira metade
da década de 80 já se delineava claramente um processo de implantação de novas técnicas
gerenciais, disponíveis na época, e uma grande propensão a transformar as estruturas empresariais
familiares em quadros mais profissionalizados, que permitissem um ambiente favorável a essas
mudanças. Os principais fatores que explicam essa situação são de distintas naturezas:
instabilidade do mercado, insuficiente nível de qualificação dos fornecedores, ausência de política
de treinamento de recursos humanos nas empresas e escassez de recursos financeiros.
É interessante observar que as novas técnicas gerenciais que procuram aumentar a
produtividade e melhorar a qualidade demandam grande envolvimento da mão-de-obra. Contudo,
na atual conjuntura recessiva, as empresas de todos os setores do segmento de máquinas e
equipamentos, têm sistematicamente reduzido os recursos destinados à atividade de treinamento
de recursos humanos. De forma análoga, são muito limitadas as iniciativas de maior envolvimento
da força de trabalho na própria gestão da produtividade e qualidade da empresa. O ambiente de
redução da produção, com consequente demissão de funcionários, não tem sido favorável a essas
mudanças. Por outro lado, a forte presença de estruturas de gestão familiares também são
obstáculos. O que se nota na verdade, é que as empresas têm concedido muito maior importância
para a redução de custos do que para programas de qualidade, a não ser naqueles casos em que a
participação da empresa no mercado externo impõe a necessidade desses programas.
A indústria brasileira de máquinas e equipamentos que, ao longo da história de
industrialização deste País, demonstrou possuir boa capacidade de manufatura, corre atualmente o
58
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
risco de perder parte desta capacitação em função, fundamentalmente, da desatualização de seus
equipamentos. Dada a crise de mercado enfrentada pela indústria, o nível de investimentos em
modernização produtiva foi muito reduzido, o que desatualizou o seu parque de máquinas. Ao
mesmo tempo, a indústria de bens de capital internacional acelerou os seus investimentos,
sobretudo em equipamentos de automação microeletrônica, que permitem maior produtividade,
maior controle sobre o processo de produção e maior flexibilidade da manufatura. Assim, a
indústria brasileira, ao não acompanhar a tendência internacional, viu aumentar a defasagem
tecnológica de seus processos produtivos.
Em relação a este ponto, é necessário fazer duas observações. Em primeiro lugar, a
instabilidade do mercado é um fator muito mais importante para a desatualização do parque de
máquinas da indústria de bens de capital do que uma possível restrição por conta da Lei de
Informática. Deve ser lembrado que a reserva de mercado para bens de informática, realmente,
implicou em custos mais elevados para os componentes microeletrônicos, comparativamente ao
mercado internacional. Mas, a reserva de mercado gerou fortes estímulos para a indústria de bens
de capital avançar na sua capacitação em tecnologias de base eletrônica, tanto para o
desenvolvimento da interface entre a eletrônica e mecânica, quanto para o desenvolvimento de
software para suas máquinas. Tanto isto é verdade que a própria indústria produtora de máquinas-
ferramenta conseguiu crescer nos anos 80, produzindo máquinas-ferramenta a comando numérico.
Atualmente, as grandes e médias empresas desse setor possuem máquinas a comando numérico
entre a sua pauta de produção. Deve ser lembrado ainda, que o setor de bens de capital teve a
vantagem de um rápido aprendizado nas tecnologias que integram a eletrônica à mecânica,
inclusive porque é produtor e usuário desses equipamentos. Além de todos esses argumentos, a
importação de bens de capital continuou sendo incentivada, principalmente para aquelas empresas
que se engajaram em programas de exportação. Finalmente, a reserva de mercado atingiu a
produção do comando numérico mas não a máquina a comando numérico.
Uma segunda observação em relação à desatualização dos equipamentos da indústria de
bens de capital se refere ao fato de que o segmento de bens de capital sob encomenda encontrar-
se menos defasado do que o segmento de máquinas seriadas. A razão para isto é que o segmento
sob encomenda realizou grandes investimentos nos anos 70 e até no início dos 80, dispondo,
portanto, de plantas relativamente recentes e atualizadas, apesar de não ter realizado
investimentos de vulto nos últimos anos.
A capacitação no desenvolvimento de produtos também está sendo afetada pela crise
econômica. A história da indústria de bens de capital no Brasil demonstra que, no passado,
prevaleceram duas formas básicas de obtenção de tecnologia de produto: a engenharia reversa e o
licenciamento. A engenharia reversa sempre foi utilizada como forma de capacitação no
desenvolvimento de produtos menos complexos sob o ponto de vista tecnológico. A partir de um
59
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
modelo básico desenvolvido no exterior, a indústria brasileira demonstrou capacidade para realizar
uma série de adaptações e inovações incrementais. Esta estratégia foi muito utilizada para a
capacitação tecnológica no paradigma eletro-mecâncico. Para a produção de máquinas mais
sofisticadas, a indústria recorria ao licenciamento do exterior. É principalmente neste segmento de
mercado que estão as empresas estrangeiras, que transferiram da matriz a concepção básica desses
produtos mais complexos. Mas também, parte das empresas nacionais realizaram contratos de
licenciamento como forma de obtenção de tecnologias de produto. Muitas vezes o licenciamento
não era acompanhado por um esforço endógeno de desenvolvimento tecnológico, o que mantinha
a dependência do exterior. Em outros casos, as empresas se capacitaram a partir do licenciamento
para a realização de atividades tecnológicas que objetivavam o desenvolvimento de produto.
Todavia, a maior parte das empresas da indústria de bens de capital não se encontra capacitada
para realizar bons contratos de licenciamento. O conhecimento técnico e comercial sobre as
empresas no exterior, detentoras de tecnologias, é muito limitado para as pequenas e algumas
médias empresas nacionais.
Quando da maior difusão no mercado internacional da tecnologia eletrônica integrada à
mecânica, a trajetória tecnológica anterior, descrita acima, foi insuficiente para o desenvolvimento
de novos produtos, fazendo do licenciamento de produtos uma imposição natural. À medida em
que várias máquinas, que incorporam dispositivos microeletrônicos, deixam de se constituir numa
grande novidade e tendem a uma maior padronização, a indústria brasileira novamente consegue
retomar a sua trajetória tecnológica anterior.
A possibilidade técnica, e também comercial, de lançamento de novos produtos de bens de
capital depende do comportamento do mercado, e é nesta perspectiva que a crise econômica vem
afetando seriamente a capacitação interna no desenvolvimento de novos produtos. Em
praticamente todos os segmentos de bens de capital nota-se que nos anos 90 tem se ampliado o
período de novos lançamentos de produtos. Em outras palavras, a crise gera um efeito de retardar
e cancelar novos projetos de máquinas. Além disso, a possibilidade de lançamento de novos
produtos depende dos investimentos em modernização nos setores usuários de bens de capital.
Por exemplo, na medida em que é muito baixa e pontual a modernização da indústria têxtil, não se
gera mercado suficiente para a indústria de máquinas têxteis realizar investimentos no lançamento
de novos produtos. Conforme já mencionado, a relação entre fornecedor, produtor e usuário de
bens de capital é um importante fator para a desenvolvimento da indústria de bens de capital e
para a sua competitividade.
Em suma, dentre os três setores produtores de máquinas e equipamentos analisados neste
estudo, identifica-se que o setor de bens de capital sob encomenda é o que encontra-se menos
defasado em termos de processo
__
as plantas são relativamente novas e atualizadas e as empresas
têm investido em programas de produtividade e qualidade
__
e de produto
__
pois os produtos
60
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
podem ser considerados relativamente maduros, à exceção dos disjuntores que têm demonstrado
maior dinamismo tecnológico. Por estas razões, este setor demonstra possuir competitividade,
conforme atestam os indicadores de desempenho. Porém, essa competitividade é muito afetada
por fatores sistêmicos, como será visto em seguida.
Já o desempenho do setor de máquinas-ferramenta demonstra que a sua competitividade é
maior em produtos seriados convencionais, gerados com base no paradigma tecnológico eletro-
mecânico. A defagem na tecnologia de processo deste setor é maior do que no setor de bens de
capital sob encomenda: seus equipamentos estão se defasando rapidamente, é relativamente baixo
o grau de automação eletrônica dos seus processos, são baixos os seus investimentos em
programas de qualidade e ainda se encontram pouco difundidas as novas técnicas gerenciais. As
empresas deste setor que possuem maior coeficiente de exportação são as de origem estrangeira,
que têm adapatado mais rapidamente suas estratégias ao ambiente de globalização. As grandes
empresas nacionais também têm procurado exportar mais. Contudo, o mercado externo se
encontra muito competitivo e a competitividade brasileira é maior em máquinas convencionais,
que é um mercado, que apesar de ainda significativo, vem cresendo a taxas muito moderadas.
No setor de máquinas e implementos agrícolas, também muito segmentado, as empresas
que fabricam os produtos mais complexos
__
tratores, moto-cultivadores e colhetadeiras
__
são as
que demonstram possuir maior competitividade. Mas o segmento de implementos agrícolas é
menos competitivo. É neste setor que as tecnologias mais modernas de processo de produção se
encontram menos difundidas e é também neste setor que se encontram as maiores defasagens de
produto, em relação ao exterior.
2.3. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade
Vários fatores de competitividade já foram mencionados ao longo da análise, sendo que os
mais importantes serão retomados rapidamente. A estes serão agregados outros fatores
importantes de competitividade, ainda pouco explorados neste texto.
Para o segmento de máquinas e equipamentos, dispor de produtos tecnologicamente
atualizados é um importante fator de competitividade. Nos produtos maduros e de menor
complexidade tecnológica, a indústria brasileira demonstrou ter competitividade. No comércio
internacional a demanda por esses produtos tem crescido modestamente, mas ainda representa um
montante absoluto de mercado não desprezível. Contudo este mercado tende a declinar em função
do surgimento de novos produtos. Pela mesma razão, os produtos de concepção mais moderna
chegam a representar uma ameaça à indústria nacional no mercado doméstico.
61
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Conforme já referido, a capacitação das empresas no desenvolvimento de produtos, a
partir da engenharia reversa, é boa para os produtos menos sofisticados. Mas o atraso na
incorporação de novas tecnologias nos processos de produção reduz a força competitiva das
empresas. Nestes mercados a obtenção de economias de escala e de escopo é fundamental para se
ofertar produtos competitivos. O mesmo vale para produtos não convencionais, mas que tendem à
padronização. Desta forma, a retração do mercado interno, conjugada a uma estrutura de oferta
superdimensionada, não viabiliza escala de planta suficiente para as empresas manterem sua
competitividade. Na realidade, somente num mercado protegido era viável a permanência de um
número grande de pequenas e médias empresas, que, atualmente, tendem a se retirar da produção
de máquinas, a não ser que participem de esquemas empresariais que resultem em maior
cooperação na cadeia. Como nesta indústria prevalecem empresas monoplanta independentes, a
obtenção de maiores escalas implica um processo de rearranjo patrimonial.
Portanto, a falta de escala, de produção e empresarial, é um fator que tende a reduzir a
força competitiva das empresas produtoras de máquinas e equipamentos. Este problema assume
maior importância quando se verifica que a maior parte das empresas nacionais são de estrutura
familiar. A gestão familiar no Brasil se constitui num limite para a competitividade por várias
razões. Em primeiro lugar, porque inibe a introdução de novas técnicas de organização da
produção. Os estudos setoriais demonstram que isso somente ocorre quando há uma mudança de
geração da família no comando da empresa. Em segundo lugar, é comum nessas empresas a
centralização do conhecimento técnico na pessoa do proprietário. Em outros termos, estas
empresas tendem a não institucionalizar a realização de atividades tecnológicas, o que se constitui
num obstáculo à capacitação tecnológica da empresa, num momento de aceleração do progresso
técnico do setor. Os estudos setoriais também comprovam que a competitividade é maior nas
empresas que dispõem de estruturas institucionalizadas para a realização de atividades
tecnológicas.
Na maior parte das empresas, o percentual do faturamento destinado a investimentos em
tecnologia é muito baixo. Enquanto o padrão mundial chega, em alguns setores de bens de capital,
a alcançar de 4 a 5%, no Brasil esse esforço é inferior a 2% do faturamento. Geralmente, as
atividades tecnológicas são desenvolvidas internamente às empresas, sendo muito raros os casos
de cooperação técnica de qualquer natureza. A relação técnica com os fornecedores é quase
inexistente, fazendo-se a ressalva para alguns componentes microeletrônicos e desenvolvimento de
software e em relação a poucas empresas de autopeças que são fornecedoras para a indústria de
tratores. A relação de cooperação com outras empresas produtoras de bens de capital também é
muito baixa. Isto ocorre, por um lado, em função de que as empresas superestimam o segredo
industrial, e por outro, porque realizam pouquissimas atividades realmente inovadoras. Mas é
interessante observar que várias empresas introduziram algumas inovações gerenciais a partir do
efeito demonstração de experiências exitosas de outras empresas. Finalmente, a relação das
62
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
empresas com o sistema tecnológico também é muito limitada, se restringindo a testes e ensaios e
certificação de produtos.
Portanto, modernizar a pauta de produção e os processos produtivos são duas
necessidades da indústria produtora de máquinas e equipamentos, para aumentar a sua
competitividade. Isto exige maior esforço tecnológico e gerencial, a estruturação de relações
virtuosas entre os agentes da cadeia produtiva e a reestruturação setorial.
Ainda no campo da capacitação deve ser ressaltada a importância da excelência na área de
comercialização. Em relação às vendas internas, as empresas desenvolveram estruturas adequadas
de comercialização e dispõem de um bom conhecimento do mercado e de seus clientes. Nesta
indústria, além dos canais de distribuição, a prestação de serviços de assistência técnica é um fator
importante de competitividade, não só para os equipamentos mais sofisticados e fabricados sob
encomenda. A pesquisa de campo realizada por este estudo, atesta que no período mais recente,
nos anos 90, as empresas têm dispendido menores recursos e esforços com a assistência técnica,
enquanto têm aumentado os destinados à comercialização. Esta postura empresarial é decorrência
da grave crise de mercado enfrentada pelo segmento de máquinas e equipamentos, sendo uma
estratégia de sobrevivência, mas é muito perigosa porque é de curto prazo. A deterioração dos
serviços pós-venda pode colocar em risco a competitividade da indústria brasileira, principalmente
na atual conjuntura de abertura do mercado interno, ainda mais que dispor de canais de
distribuição e eficiente serviços de assistência técnica é uma importante vantagem com que podem
contar as empresas já instaladas no Brasil para enfrentar as importações.
Em relação ao mercado externo, as empresas brasileiras enfrentam grandes dificuldades
tanto para importar suprimentos como para exportar produtos. No mercado de suprimentos, a
grande maioria das empresas brasileiras não conta com escalas suficientes para se abastecer de
partes, peças e componentes através de importações. Além disso, empresas fornecedoras
estrangeiras que dispõem de filiais no Brasil não fornecem cotações para seus produtos,
transferindo essa tarefa para as filiais locais. Assim, para o segmento produtor de máquinas e
equipamentos, um possível efeito benéfico da abertura do mercado interno, que seria a
possibilidade de importação de componentes a custos mais baixos e com melhor qualidade do que
os nacionais, é amortecido. Quanto à comercialização externa de produtos, os seus custos são
muito elevados, porque além da estrutura comercial, é necessário o estabelecimento de serviços
pós-vendas. Novamente, dispor de escala para participar do mercado internacional é importante
fator de competitividade nesse mercado. Para reduzir esses custos, algumas empresas, que
dispõem de linhas de produtos complementares, estão procurando se associar na comercialização
externa de seus produtos. As empresas estrangeiras e as grandes empresas nacionais do segmento
de máquinas e equipamentos são menos afetadas por esses condicionantes da competitividade, na
medida em que elas têm escala e canais de comercialização bem estruturados. Deve ser feita a
63
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
ressalva que para os setores produtores de bens de capital sob encomenda, dispor de escritórios
para prestação de serviços pré-venda também é importante fator de competitividade.
Além da escala de produção, da escala das empresas e da relação entre fornecedor,
produtor e usuário de bens de capital, existem outros fatores estruturais de competitividade que
são importantes e que têm inibido a o potencial competitivo da indústria brasileira: alta
diversificação de produtos e elevada integração vertical. A maior especialização de plantas
produtivas é uma tendência internacional que permite a concentração dos esforços produtivos e
tecnológicos. No caso da indústria brasileira, as empresas são muito diversificadas na produção de
bens de capital, sobretudo em função do tamanho limitado do mercado interno. Quanto à
verticalização, a tendência internacional é de constituição de empresas montadoras, que
demandam um amplo conjunto de partes, peças e componentes. No Brasil, por razões já
examinadas, as empresas apresentam alta verticalização, principalmente na usinagem, e através da
disponibilidade de fundição própria. Portanto, desverticalizar as empresas deve ser uma prioridade
para aumentar a competitividade da indústria brasileira de máquinas e equipamentos.
Vários fatores sistêmicos também afetam a competitividade do segmento de máquinas e
equipamentos. Um dos fatores mais importantes é a disponibilidade de financiamento para o
mercado interno e para as exportações. O financiamento ao mercado interno é concedido pela
FINAME, tanto para bens seriados como para bens sob encomenda, que demandam maiores
prazos de financiamento. O grande problema da FINAME, atualmente, é o seu percentual de
cobertura. No passado, a FINAME já concedeu financiamento para aquisição de máquinas e
equipamentos de até 80 a 90% do valor desses bens, segundo o tamanho e a região da empresa
compradora. Contudo, desde 1987, as coondições oferecidas pela FINAME têm sofrido várias
alterações, caminhando na direção de reduzir a participação do financiamento na compra dos
equipamentos, até alcançar índices de 50% para médias e grandes empresas instaladas nas regiões
mais dinâmicas do país. Esta política da FINAME é consequência do estrangulamento financeiro
do setor público, que reduziu o montante de recursos disponíveis. A recente elevação desse
percentual ainda não foi suficiente para retomar os níveis praticados no passado. A maioria das
empresas entrevistadas neste estudo manifestou que o percentual de cobertura da FINAME é uma
variável mais importante do que a taxa de juros cobrada nesses contratos de financiamento.
Contar com financiamento em condições competitivas é estratégico para a indústria de
máquinas e equipamentos, mais ainda quando o Brasil abre o seu mercado interno. Conforme já
afirmado anteriormente, vários países apoiam suas exportações de bens de capital, concedendo
financiamento em condições favoráveis. Já se nota no Brasil a importação de máquinas e
equipamentos, em função de que as importações trazem junto consigo esquemas de financiamento
de longo prazo, com menores taxas de juros e com cobertura superior àquela que está sendo
oferecida pela FINAME. Portanto, o financiamento externo concedido para importação de bens
64
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
de capital, tem retirado competitividade da indústria brasileira, mesmo no mercado doméstico,
dadas as condições menos favoráveis oferecidas pela FINAME.
Ainda em relação ao financiamento ao mercado interno de bens de capital, desde 1990 a
FINAME tem reduzido as suas exigências em relação aos índices de nacionalização dos
equipamentos financiados. Até 1990 o índice de nacionalização mínimo, que era de 85%, não
constituía problema na medida em que a maioria das máquinas e equipamentos produzidos
apresentava índices superiores. Atualmente o índice mínimo de nacionalização exigido pela
FINAME é de 60%, o que viabiliza, principalmente para as empresas líderes e maiores, o
suprimento no exterior de componentes, sem que haja restrição quanto ao financiamento. Esta
mudança da FINAME é positiva.
Para os bens de capital sob encomenda, que têm no Estado um grande demandante, além
de melhorar as condições da FINAME também é necessário o saneamento financeiro das
empresas estatais e a maior disponibilidade de recursos financeiros para investimento.
Para o financiamento das exportações das empresas produtoras de máquinas e
equipamentos, as condições existentes não são das mais desfavoráveis. O PROEX e o FINAMEX,
na modalidade pós-embarque, que são os mecanismos existentes, não demonstram
competitividade no mercado internacional. Os principais problemas dizem respeito às condições
do financiamento: taxa de juros e prazo de pagamento. Além disso, não se dispõe de mecanismos
de seguros de crédito às exportações. Para a exportação destinada a alguns países da América
Latina estes problemas não são importantes em função da existência de Convênios de Créditos
Recíprocos. Para as exportações destinadas para os Estados Unidos e Europa, a falta de
financiamento inibe o desempenho exportador da indústria brasileira.
Outro fator sistêmico negativo para a competitividade da indústria brasileira de máquinas e
equipamentos é o sistema tributário. As exportações desta indústria ainda não são completamente
desoneradas da tributação indireta (PIS e COFINS), o que contraria a tendência internacional. No
mercado interno, os bens de capital estão isentos do IPI, mas ainda são tributados pelo ICMS,
enquanto que nos países mais desenvolvidos os bens de capital não são tributados, como forma de
estimular os investimentos. Além disso, há o problema dos créditos relativos aos impostos
indiretos, mesmo no caso dos bens de capital se encontrarem isentos. O problema é que os
créditos somente são ressarcidos, sem correção monetária, após um período de tempo em relação
às compras das empresas, implicando forte desvalorização numa conjuntura inflacionária. Este
problema é mais sério para os bens de capital sob encomenda, que são produtos de ciclo longo de
produção, onerando o capital de giro das empresas.
Um terceiro fator sistêmico relevante diz respeito à infra-estrutura, principalmente ao
sistema portuário, apesar de que as condições e os custos do transporte rodoviário também
65
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
tenham sido apontados como onerosos pelo setor de máquinas e implementos agrícolas. O sistema
portuário brasileiro é considerado ineficiente e caro. Os custos portuários chegam a onerar as
exportações em até 5%. Além disso, é grande a demora para liberação das mercadorias e não são
raros os casos de equipamentos danificados na movimentação. Este mesmo fator foi apontado
pelo segmento de insumos do complexo metal-mecânico como um elemento que dificulta as
exportações brasileiras e a atual legislação dos portos é insuficiente para resolver os problemas
existentes. Por outro lado, o mesmo sistema onera as importações de máquinas e equipamentos
que concorrem com a produção nacional.
Em relação aos fatores sistêmicos de ordem internacional, além da já mencionada ausência
de uma política de exportação, dois outros fatores merecem ser comentados. O primeiro deles se
refere à política de comércio exterior. Apesar das empresas menos competitivas temerem a
abertura do mercado interno, no geral, as empresas não se posicionam contrarimente a esse
processo. Todavia, há necessidade de alguns aperfeiçoamentos da política de comércio exterior.
Por exemplo, o setor produtor de máquinas-ferramenta se ressente da falta de harmonia na
estrutura tarifária, na medida em que para importar comando numérico a alíquota é de 35% mas a
alíquota do seu produto, a máquina-ferramenta a comando numérico (universal) é de 20%,
seguindo a negociação realizada no âmbito do GATT. Como o comando numérico é um
importante item de custo das máquinas-ferramenta que o utiliza, a importação do equipamento
completo tem vantagens em relação à produção nacional que, ademais, tende cada vez mais a
importar o comando numérico na medida em que este está se constituindo numa commodity.
Ainda em relação à política de comércio exterior, foi visto que vários países desenvolvidos
protegem seus mercados através de mecanismos não-tarifários. No caso do Brasil, o sistema de
salvaguardas comerciais ainda é muito precário. Deve ser feito o registro de que o problema não é
apenas de legislação, mas também do desaparelhamento do Estado para tomar iniciativas e apoiar
as empresas brasileiras nesta área.
No âmbito do Mercosul é importante que os países negociem políticas comuns de
comércio exterior. Neste sentido é importante a definição de uma política cambial, como
demonstra o exemplo do setor de máquinas-ferramenta. A posição do câmbio argentino e a
sobrevalorização do cruzeiro contribuíram para que o Brasil realizasse significativas importações
de máquinas argentinas em 1989 e 1990. A situação se inverteu nos anos seguintes, novamente
muito em função das posições cambiais. O setor de bens de capital sob encomenda para o setor
elétrico também está exportando com vantagens para a Argentina, dada a sobrevalorização do seu
câmbio. É verdade que no caso deste setor, algumas empresas já tomaram iniciativas no sentido de
otimizar a sua capacidade produtiva, visando o mercado regional, através de acordos de produção
com empresas sediadas na Argentina.
66
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
De uma forma geral, o Mercosul não representa grande adicional de mercado para as
empresas brasileiras, na medida em que esse mercado já é relativamente ocupado por exportações
do Brasil. No entanto, em função da grave crise de mercado interno, as exportações para os países
do Mercosul, principalmente para a Argentina, têm se constituído numa importante fonte de
negócios.
Além da política cambial, outros elementos são importantes para a consolidação do
mercado regional no segmento de máquinas e equipamentos: definição de uma política de
importação comum entre os países e definição dos certificados de origem. Recentemente, a
Argentina reduziu a zero as suas alíquotas para importação de bens de capital, o que
descaracteriza o direito de preferência para o mercado regionall; as máquinas brasileiras estariam
competindo no mercado argentino em igualdades de condições com importações de outros países.
Este problema tem que ser resolvido rapidamente para não inviabilizar a continuidade das
negociações do Mercosul. Mais do que isto, é necessário que se estabeleça uma estrutura de
alíquotas de importação comum entre os países signatários do acordo. Em relação ao certificado
de origem, que é uma preocupação das empresas brasileiras, ela deve ser rígida para evitar
triangulação entre países.
Nunca é demais lembrar que num mercado comum se torna importante uma certa
harmonia entre as políticas macroeconômicas. Para o segmento de máquinas e equipamentos, além
da política cambial, também é importante a política de financiamento, fator estratégico de
competitividade para esta indústria. Condições de financiamento muito desiguais podem ser
responsáveis por saldos comerciais positivos a favor de um ou outro país. É verdade que a
indústria argentina de bens de capital também está passando por uma conjuntura muito difícil,
perdendo competitividade, mas os fatores macroeconômicos não devem ser descuidados para
consolidar o Mercosul.
Outro fator sistêmico importante é a infra-estrutura tecnológica. Conforme exposto
anteriormente, a atividade tecnológica no segmento de máquinas e equipamentos é
fundamentalmente desenvolvida pelas próprias empresas. A demanda existente por serviços
tecnológicos é muito reduzida e se concentra em testes e ensaios, e, em alguns casos, na
certificação de produtos. Todavia, o objetivo de melhorar a competitividade da indústria brasileira
impõe a necessidade de aumentar a relação entre empresas e institutos tecnológicos. É comum na
indústria de bens de capital a utilização de normas de diversas origens, seja em função da
existência de empresas estrangeiras na indústria brasileira, seja em função dos mercados de destino
dos produtos, seja ainda como decorrência da origem da tecnologia de produto. Portanto, além de
normas internacionais, também são utilizadas normas nacionais, principalmente na aferição e
calibração, nos testes e ensaios e na qualificação de insumos. Outras normas internas às empresas
são utilizadas no manuseio de materiais, na especificação de produtos, na operação de
67
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
equipamentos etc. Desta forma, apesar dos esforços recentes de normalização da indústria
brasileira de bens de capital, é necessário intensificar esta linha de atuação e, para tanto, já existe
uma infra-estrutura montada, que se encontra subutilizada, sofrendo de falta de recursos
financeiros e relativamente isolada das empresas.
Por fim, cabe mencionar como fator de competitividade a disponibilidade de recursos
humanos. A indústria de máquinas e equipamentos tradicionalmente utiliza mão-de-obra com
níveis de qualificação bem acima da média da indústria de transformação. Até recentemente, a
disponibilidade interna de recursos humanos qualificados e versáteis sempre foi um fator positivo
para a competitividade das empresas desta indústria. A produtividade da mão-de-obra na indústria
de máquinas e equipamentos também é maior do que a média da indústria brasileira, mas é inferior
à da indústria de bens de capital nos países mais desenvolvidos em função da desatualização dos
processos produtivos. Contudo, com a difusão das inovações de processo, os requisitos relativos à
mão-de-obra são de natureza distinta, o que requer investimentos em treinamento de recursos
humanos e melhoria no próprio sistema educacional.
Quanto aos salários, se reconhece que os seus níveis são bem inferiores aos praticados em
outros países produtores de máquinas e equipamentos, sendo responsáveis por grande parte das
vantagens de custos dos produtos brasileiros. Isto também é verdade para os serviços de
engenharia, no caso de produtos em que são elevados os custos desses serviços, tais como os bens
de capital sob encomenda. Várias empresas afirmam que a baixa difusão de equipamentos de
automação no desenvolvimento de produto e na produção se deve, em parte, aos baixos salários
praticados no Brasil. É preciso mudar essa estrutura para que as empresas sejam mais
competitivas, sem a necessidade de praticar salários baixos. Na mesma direção, as empresas
devem desenvolver novos mecanismos para aumentar o envolvimento dos trabalhadores em
programas de produtividade e qualidade, inclusive através da maior distribuição dos ganhos
obtidos.
68
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
3.1. Diretrizes Gerais
Assim como para os demais segmentos do complexo metal-mecânico, as proposições de
políticas estão agrupadas da seguinte forma: políticas de reestruturação setorial, políticas de
modernização produtiva e políticas relacionadas aos fatores sistêmicos. Dada a importância do
segmento de máquinas e equipamentos para a estrutura industrial, dada a heterogeneidade do
segmento e dada a grande diferenciação dos mercados e das empresas, com estágios distintos de
competitividade, é muito difícil se eleger prioridades entre as políticas porque, na realidade são
conjuntos de políticas de diferentes naturezas, todas elas importantes mas com diferentes
horizontes de tempo para implementação e maturação.
Apesar desta observação, nota-se que na indústria de máquinas e equipamentos são muito
importantes os fatores de competitividade relativos à estrutura da indústria e são justamente estes
os fatores mais difíceis de serem ajustados. Por esta razão, as políticas de reestruturação setorial
podem ser consideradas como de maior prioridade dentre as proposições feitas. No campo da
modernização produtiva, algumas empresas, sobretudo as líderes, já estão promovendo
adaptações em função da abertura do mercado interno e, principalmente, como resposta à retração
do mercado. Contudo, a intensificação da modernização produtiva tende a depender da retomada
do mercado interno, estimulando os investimentos nos processos produtivos e em lançamento de
novos produtos. As políticas relacionadas aos fatores sistêmicos formam outro conjunto de
prioridades para a indústria de máquinas e equipamentos porque a maior parte delas pode ser
implementada mesmo num ambiente de crise econômica, desde que o governo entenda que o
segmento mereça alguma prioridade de política. Este é o entendimento deste texto pois a indústria
brasileira de máquinas e equipamentos tem condições para ofertar bens que venham a contribuir
para a modernização produtiva de outros setores, sem a necessidade do país dispender divisas,
através de importações. Mesmo assim, importações de bens de capital sempre serão necessárias,
sobretudo daqueles bens com maior complexidade tecnológica, para os quais não haja capacitação
interna e escala de produção rentável. Nestes casos, deve se manter o atual sistema de concessão
de alíquota zero de importação. Portanto, a visão implícita é de que deve haver uma relação de
complementariedade entre a produção nacional e a importação de bens de capital, assim como foi
no passado da industrialização brasileira, mas sem que haja necessidade de se retomar os velhos
instrumentos de política industrial. A viabilidade dessa política depende da capacidade de resposta
da indústria às políticas de reestruturação setorial e de modernização produtiva.
Portanto, o objetivo deste conjunto de políticas é constituir uma indústria de bens de
capital, com boa capacidade de produção e com capacidade para gerar novos produtos,
69
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
adequados às necessidades do mercado. Dada a necessidade de escala e como elemento
importante de indução de inovações, é importante que o segmento tenha parcela significativa de
sua produção destinada ao mercado externo.
Proposições mais específicas e detalhadas para os três setores, do segmento de máquinas e
equipamentos, analisados neste estudo, encontram-se nos respectivos estudos setoriais.
3.2. Políticas de Reestruturação Setorial
Conforme identificado pelo diagnóstico do segmento de máquinas e equipamentos, a
indústria dispõe de uma potencial de oferta superior ao da demanda, o que inibe as possibilidades
de obtenção de economias de escala, assim como de economias de escopo. Grande parte dos bens
de capital fabricados no Brasil pode ser considerada como produtos maduros, que exigem
economias de escala de produção para reduzir os custos unitários. Neste sentido, as empresas e o
governo devem se empenhar em programas que possibilitem aumentar as escalas de produção, ao
mesmo tempo em que as maiores escalas viabilizem investimentos em capacitação tecnológica. Os
arranjos possíveis são distintos, de acordo com as especificidades de cada segmento da indústria e
das suas respectivas empresas.
Onde o Estado é um grande demandante, como no caso da indústria de bens de capital sob
encomenda para o setor elétrico, ele pode usar o seu poder de compra para incentivar a redução
da pulverização de empresas em cada segmento deste setor. Neste caso, não se trata de promover
reestruturação patrimonial das empresas mas de reforçar uma tendência já existente no sentido das
empresas reduzirem o número de segmentos de mercado em que atuam, procurando maior
especialização produtiva.
Em outros setores produtores de máquinas e equipamentos, dois arranjos setoriais podem
ser propostos para situações distintas. Uma possibilidade é a constituição de joint-ventures entre
empresas estrangeiras ainda não sediadas no Brasil e empresas nacionais de médio porte já
atuantes na indústria. Para as empresas nacionais, este arranjo pode significar o acesso a
tecnologias de produto; seria o caso de empresas nacionais que dispõem de tradição no mercado
mas que têm dificuldades para atualizar a sua linha de produtos. Para as empresas estrangeiras, a
constituição da joint-venture pode ser importante na medida em que na indústria de máquinas e
equipamentos são elevados os custos de comercialização e assistência técnica. O conhecimento do
mercado detido pelas empresas nacionais constitui-se, em realidade, em um patrimônio da
empresa que deve ser utilizado em negociações deste tipo. Para que isto se concretize é
necessário, fundamentalmente, que as empresas nacionais tomem a iniciativa de buscar identificar
70
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
possíveis parceiros. Ao governo cabe apoiar essas iniciativas empresariais concedendo, por
exemplo, financiamentos para a constituição de uma nova empresa.
Outro arranjo seria a fusão ou incorporação de empresas já presentes nos setores de
máquinas e equipamentos, explorando linhas de produtos complementares, mas com faixa de
atuação restritas aos mesmos segmentos de mercado. Neste caso, fusões ou incorporações que
envolvam empresas de capital estrangeiro são difíceis de serem viabilizadas porque envolvem
decisões estratégicas das respectivas matrizes. Quando estes esquemas envolvem empresas
nacionais, o governo poderia estimulá-las através de financiamentos. Caso as empresas se
encontrem endividadas, o passivo existente não pode contaminar a captação de novos recursos
para a sua adequação produtiva. Porém, centralizar o capital de empresas nacionais, de pequeno
ou médio porte, de estrutura familiar, não é uma tarefa fácil. O sentimento de propriedade e a
história de controles muito rígidos exercidos pelos proprietários dessas empresas são fatores que
inibem iniciativas deste tipo. Portanto, além de financiamento, o governo deve atuar no sentido de
facilitar as negociações entre as empresas, demonstrando as vantagens das fusões e incorporações
nesta indústria. O que parece ser inevitável é a reestruturação do setor de bens de capital, seja
realizada pelo mercado
__
neste caso, de profundidade imprevisível, podendo até conduzir a uma
desindustrialização
__
ou então negociada a partir da vontade política das empresas e do governo.
A reestruturação setorial do segmento de máquinas e equipamentos envolve outros
elementos que não esse ajuste patrimonial. Ainda em desacordo com a tendência internacional,
prevalecem empresas com elevada diversificação de produtos e elevada verticalização. A
reestruturação patrimonial, ao viabilizar maior escala de produção por planta, contribui para que
as empresas decidam pela maior especialização produtiva, o que também irá permitir concentração
do esforço tecnológico. Além disso, as decisões empresariais quanto a novos investimentos devem
se concentrar em um número limitado de produtos. Várias empresas estrangeiras já estão
adotando o procedimento de reduzir a sua linha de produtos, numa estratégia adequada à
globalização da economia. Algumas poucas empresas nacionais também estão definindo
estratégias neste sentido. Portanto, este processo deve ser estimulado e, como princípio, deve ser
adotado pelo governo na análise de projetos de financiamento concedidos para a indústria de
máquinas e equipamentos.
Quanto à desverticalização, este processo também já se iniciou, embora muito lentamente.
As empresas têm procurado aumentar a terceirização de suas atividades, mas de forma ainda está
muito na área de prestação de serviços. Algumas empresas que fabricam produtos mais
sofisticados tendem a aumentar as importações de componentes por razões de preço e qualidade.
Porém, a desverticalização pressupõe a existência de uma eficiente rede de fornecedores, com
capacitação técnica, econômica e gerencial. É na constituição desta rede que a política industrial
pode contribuir através de programas específicos de capacitação. Algumas empresas menores,
71
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
ainda fabricantes de máquinas e equipamentos, podem vir a se constituir em fornecedores de
componentes com capacitação adequada, abandonando a fabricação de máquinas acabadas.
Para a capacitação de fornecedores é necessária a modernização de equipamentos, que
pode ser apoiada com financiamento concedido pela FINAME em condições especiais. Programas
de gestão empresarial devem ser vistos como forma de difusão das novas técnicas gerenciais, o
que também pode ser realizado com o apoio de empresas de consultoria, mobilizadas pelos órgãos
de classe empresariais. As empresas produtoras de máquinas e equipamentos, que intencionam se
desverticalizar, podem prestar assessoria a novos fornecedores, no sentido de treinar as empresas
a produzir com qualidade e com baixos custos. A experiência recente da GM no Brasil de
desenvolvimento de fornecedores no setor automobilístico é uma prática a ser multiplicada.
A relação entre produtor e usuário de máquinas e equipamentos também precisa ser
estreitada para que a indústria consiga produzir dentro das especificações necessárias para seus
clientes. Desta forma se criam condições mais favoráveis e menos incertas para o lançamento de
novos produtos. No caso do setor de bens de capital sob encomenda, na medida em que o
governo é o seu grande demandante, esta relação é mais fácil de ser desenvolvida. No outro
extremo está a indústria de máquinas e implementos agrícolas, que tem a sua demanda muito
atomizada, envolvendo um grande número de produtores rurais. Neste caso, as cooperativas
agrícolas têm condições de exercer um papel extremamente importante, constituindo-se em elos
entre o produtor rural e a indústria produtora de máquinas e implementos agrícolas. As
cooperativas podem contribuir na especificação técnica dos equipamentos, permitindo a geração
de produtos mais adequados às condições sociais do produtor e às condições edafoclimáticas da
produção agrícola. Podem ainda sinalizar o volume de demanda existente e até vir a se constituir
em prestadoras de serviços de assistência técnica aos produtores rurais, principalmente para os
implementos de tração mecânica, através de acordos de cooperação com a indústria produtora de
máquinas e implementos agrícolas. Esta é apenas uma proposição que deve ser estudada para se
verificar a possibilidade de maior cooperação do produtor com o usuário de bem de capital. Para
o segmento de máquinas e equipamentos, esta articulação será tanto mais profícua quanto maior
for a capacitação técnica do usuário e, evidentemente, quanto mais intensas forem as interações
tecnológicas estabelecidas.
3.3. Políticas de Modernização Produtiva
A proposta de estimular a cooperação entre produtor e usuário de bens de capital tem
como um de seus objetivos contribuir para a modernização dos produtos fabricados e para o
lançamento de novos produtos. Mas o desenvolvimento de produtos requer outras iniciativas.
Uma delas é melhorar o sistema de informação tecnológica, inclusive para facilitar o licenciamento
72
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
de produtos. Outra é facilitar a aquisição de tecnologia externa e se criar mecanismos de apoio à
empresa nacional na identificação de empresas detentoras de tecnologia que estejam dispostas a
fazer o licenciamento. Uma terceira medida é estimular a cooperação técnica nacional e
internacional, através da prestação de serviços de consultoria. E, finalmente, deve se procurar
estimular a cooperação entre empresas para o desenvolvimento de produtos, através da concessão
de financiamento, em condições favoráveis, e incentivos fiscais para projetos conjuntos de
desenvolvimento de produtos. Parcerias entre empresas, envolvendo atividades tecnológicas nas
fases pré competitivas, tais como nas áreas de materiais, ótica e eletrônica, são viáveis e
necessárias, dado o volume de recursos requeridos e a baixa disponibilidade de recursos
financeiros das empresas.
A modernização também passa por investimentos no processo produtivo, visando a
incorporação de inovações na gestão da produção. Estas inovações não demandam elevado
volume de investimento e produzem efeitos significativos tanto sobre a produtividade quanto
sobre a qualidade dos produtos. Todavia, os resultados plenos destas inovações demandam tempo
e, em alguns casos, escala de produção. Por essas características das novas técnicas
organizacionais, a sua maior difusão pode ser alcançada com a prestação de serviços de
consultoria às empresas e treinamento do corpo gerencial, técnico e dos trabalhadores ligados
diretamente à produção. O governo pode contribuir, fornecendo financiamento a essas atividades.
Outras inovações de processo requerem maior volume de capital porque implicam na
modernização dos equipamentos, principalmente no que diz respeito a equipamentos de
automação eletrônica. Em função dos baixos investimentos realizados na década de 80 pela
indústria de máquinas e equipamentos, o grau de difusão da nova tendência de automação da
manufatura se encontra em níveis muito baixos. A utilização de máquinas-ferramenta a comando
numérico e de sistemas flexíveis de produção ainda está limitada a um conjunto restrito de
empresas. Também na área de projeto, é reduzida a utilização de sistemas CAD. A retomada do
mercado interno deve gerar as condições para que as empresas elevem os seus investimentos em
equipamentos, mas o governo deve, desde já, estimular a modernização concedendo
financiamento, através da FINAME, com maior percentual de cobertura. Dada a atual restrição
financeira da FINAME, eventualmente, poderia ser estudada a possibilidade de diferenciar o
percentual de cobertura do financiamento de acordo com o grau de sofisticação tecnológica do
equipamento. Este procedimento também poderia ajudar as próprias empresas brasileiras
produtoras de equipamentos a realizar um up-grading de produtos. Assim, a indústria de
máquinas e equipamentos por ser produtora e usuária desses bens seria duplamente beneficiada.
A modernização produtiva não será alcançada apenas através da modernização de
equipamentos se esta não vier acompanhada por investimentos na formação e qualificação de
recursos humanos. Há necessidade de treinar a mão-de-obra nas novas práticas gerenciais, em
73
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
programas que visem a qualidade e na operação de equipamentos que envolvam automação
eletrônica. Esta iniciativa deve ser de responsabilidade das próprias empresas, em colaboração
com o SENAI, e com apoio das entidades de classe, que podem produzir materiais de treinamento
adequados e formar agentes multiplicadores. Ao governo cabe investir no sistema educacional
básico e formar recursos humanos de nível superior, capacitados para as atividades de produção e
principalmente para as atividades de desenvolvimento tecnológico.
A infra-estrutura industrial básica, apesar de não ser suficiente, é extremamente necessária
para contribuir para estruturação de uma indústria de bens de capital competitiva
internacionalmente. Neste sentido devem ser alocados recursos para melhorar a prestação de
serviços tecnológicos, com ênfase nas áreas de testes e ensaios, normalização técnica, certificação
de qualidade e informação tecnológica.
3.4. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
O principal fator sistêmico para a competitividade da indústria de máquinas e
equipamentos é o financiamento. Como analisado no diagnóstico deste segmento, as atuais
condições de financiamento para a aquisição de equipamentos no mercado interno não são
favoráveis nem em relação às condições existentes no passado, nem em relação aos
financiamentos concedidos em outros países, inclusive para as suas exportações para o Brasil.
O mecanismo de financiamento existente no Brasil é ofertado pela FINAME e o seu
principal problema diz respeito à participação máxima do financiamento no valor da compra. A
proposta é de aumentar esse percentual para os níveis praticados no passado, isto é, de 80 a 90%,
segundo as regiões e o tamanho das empresas. Esta proposta esbarra na restrição orçamentária da
FINAME, mas ela é muito necessária para alavancar o mercado interno. O ideal seria que o setor
financeiro privado também desenvolvesse mecanismos de financiamento de longo prazo para a
aquisição de máquinas e equipamentos. Contudo, esta proposta depende da estabilização
econômica e de mudanças no sistema financeiro nacional.
Para os bens de capital sob encomenda, demandados pelas empresas estatais, é necessário
a retomada dos investimentos e, no caso do setor elétrico, o saneamento financeiro das
concessionárias de energia. O saneamento financeiro realizado nas empresas siderúrgicas, também
estatais recém privatizadas, demonstra que havendo vontade política ele pode ser viabilizado.
Em relação à tributação as propostas são as seguintes: definir alíquota zero para os
impostos indiretos incidentes sobre bens de capital, como meio de estimular os investimentos e
permitir as empresas produtoras de máquinas e equipamentos se creditar de impostos pagos nas
74
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
compras de insumos; em segundo lugar, os créditos fiscais devem ser devolvidos imediatamente,
ou com correção monetária. Deve ser registrado que sobre as exportações não deve incidir
nenhum tributo em cascata, como atualmente acontece com o PIS e COFINS.
O coeficiente de exportação do segmento de máquinas e equipamentos é relativamente
baixo quando comparado com outros países. Os impostos sobre exportações não são o principal
fator que inibe as exportações. Além de fatores estruturais e empresariais, no nível sistêmico o
principal obstáculo está na ausência de uma política de exportação mais agressiva. Esta política
deveria incluir, no mínimo, os seguintes pontos: realismo cambial, financiamento às exportações e
seguro de crédito às exportações. As oscilações do câmbio têm efeitos imediatos sobre a
competitividade das empresas, sendo um fator importante numa situação, como a atual, de
acirramento da concorrência no comércio internacional. O financiamento existente no Brasil para
exportações de bens de capital tem se mostrado não competitivo, dadas as condições de prazo e
taxas de juros. E quanto ao seguro de crédito às exportações ele á praticamente inexistente. O
governo brasileiro também poderia colaborar, colocando seus escritórios de representação no
exterior para identificar oportunidades de negócio.
A política de importação deve manter a estrutura tarifária, corrigindo apenas algumas
distorções existentes, que são mais localizadas. É necessário criar mecanismos de salvaguardas
comerciais, assim como fizeram vários países em relação a esta indústria em especial. No
comércio exterior são comuns as práticas de restrições voluntárias de exportações, restrições de
ordem técnica e de especificação técnica, direitos compensatórios, anti-dumping etc. Por outro
lado, as empresas produtoras de máquinas e equipamentos devem procurar se associar para
aumentar a escala de pedidos de importação de peças e componentes.
Em relação à infra-estrutura, é urgente a necessidade de melhorar os serviços e reduzir os
custos portuários. Novamente deve ser registrado que a atual política de regulamentação dos
portos é insuficiente, sendo necessárias medidas de modernização de equipamentos e de gestão do
sistema portuário.
Finalmente, o sistema educacional deve ser fortalecido e alterado no sentido de fornecer a
formação básica para adequar os recursos humanos aos novos requisitos de conhecimento
exigidos pelas mudanças no paradigma técnico-social de organização da produção.
75
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
É muito difícil se propor indicadores de competitividade para um segmento tão
heterogêneo quanto o de máquinas e equipamentos.
A seguir são propostos alguns indicadores, ressaltando-se que aqueles de ordem técnica
devem ser utilizados em comparações realizadas especificamente para cada tipo de máquina, em
função da grande heterogeneidade de equipamentos existentes. É assim que devem ser
empregados indicadores tais como: número de horas necessárias para a produção de um tipo de
equipamento; grau de sofisticação técnica dos equipamentos produzidos; número de defeitos e
necessidade de retrabalho no processo de produção; tempo de operação das máquinas produzidas,
sem paradas imprevistas; grau de automação dos processos produtivos; e tempo necessário para o
desenvolvimento de um projeto.
Outros indicadores podem demonstrar a competitividade do segmento em termos de
desempenho: nível de produtividade da mão-de-obra; investimentos em atividades tecnológicas;
coeficiente de exportação e pauta de produtos exportados; coeficiente de importação e pauta de
produtos importados; e número absoluto, e percentual, de concorrências vencidas, para o caso de
bens de capital sob encomenda. Como o segmento de máquinas e equipamentos é muito protegido
internacionalmente, grande parte destes indicadores devem ser utilizados com reservas.
76
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
PARTE III - SEGMENTO AUTOMOTIVO
O segmento automotivo é constituído pela indústria montadora de veículos e pela indústria
de autopeças. No Brasil e no mundo este segmento é responsável por um valor de produção
extremamente expressivo; a indústria montadora mundial fatura cerca de US$ 700 bilhões por ano
e o faturamento das autopeças supera a US$ 500 bilhões. No Brasil, estimativas da ANFAVEA e
do SINDIPEÇAS mostram que as empresas do segmento automotivo faturam mais de 15% do
valor da produção total da indústria de transformação.
A importância do segmento automotivo não decorre apenas dos valores de produção ou
do emprego gerados. Este segmento tem apresentado grande dinamismo sob o ponto de vista
tecnológico, introduzindo uma série de inovações, posteriormente empregadas em outros setores
industriais. O segmento ainda está passando por um período de grande transformação, com a
introdução das novas técnicas de produção que caracterizam a produção enxuta. Além disso, o
segmento automotivo tem grande efeito multiplicador sobre a atividade industrial, sendo um
importante demandante de bens de capital e de insumos básicos.
Sob o ponto de vista da estrutura do segmento, a indústria montadora é muito concentrada
enquanto a indústria de autopeças, apesar de dominada por um conjunto relativamente restrito de
grandes empresas, é composta por um grande número de pequenas e médias empresas. Em
relação à gama de produtos, a indústria de autopeças também é muito mais heterogênea,
produzindo mais de 10.000 itens.
Economias de escala e de escopo, automação da manufatura, produção enxuta e novas
relações que se estabelecem entre as montadoras e seus fornecedores de autopeças caracterizam o
estágio atual do segmento automotivo no mundo. Com o grande avanço da indústria japonesa,
gerou-se uma grande onda de inovações, alterou-se a estrutura da indústria, e os países foram
levados a adotar políticas protecionistas em relação aos seus mercados domésticos. Ao mesmo
tempo, fortalece-se a tendência de globalização do mercado.
No caso do Brasil, este segmento foi muito importante na estruturação do setor industrial
mas, nos anos 80, passou por um período difícil, no qual o volume de produção manteve-se
estagnado. Nestas circunstâncias, as montadoras e as empresas de autopeças passaram a ampliar
as suas exportações, implicando, para várias delas, a necessidade de realização de investimentos
em modernização produtiva. Esta trajetória recente ampliou a heterogeneidade existente no
segmento, sobretudo na indústria de autopeças.
Nos anos recentes o cenário para a indústria automotiva se alterou profundamente. Em
primeiro lugar, a abertura do mercado interno tornou visível o atraso da indústria brasileira
77
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
montadora de veículos. Em segundo lugar, os agentes envolvidos com o segmento automotivo
inauguraram uma nova fase de relações industriais, através de acordos estabelecidos no âmbito da
Câmara Setorial.
Em decorrência das transformações que estão acontecendo na indústria mundial e das
mudanças ocorridas no cenário nacional, o segmento automotivo tem tomado algumas iniciativas
no sentido da sua modernização, como demonstra a aceleração do lançamento de novos modelos
de automóveis no Brasil. Todavia, a importância crescente das economias de escala e de escopo, a
globalização e o acirramento da concorrência internacional, colocam grandes desafios para a
indústria brasileira que, apesar de ter iniciado um processo em direção à modernização, ainda
necessita de grandes mudanças, inclusive de ordem estrutural, para conseguir ser competitiva
internacionalmente, pelo menos em alguns nichos de mercado.
78
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
1.1. Características Estruturais
Uma das características do segmento automotivo é dispor de grandes empresas
pertencentes a fortes grupos econômicos mundiais. Segundo a revista Fortune, dos dez maiores
grupos econômicos do mundo, em 1991, quatro eram pertencentes à indústria automobilística,
demonstrando que a indústria montadora é caracterizada por elevado volume de investimento. A
concentração da produção na indústria montadora é muito elevada, sendo que 10 empresas são
responsáveis por 75% da produção mundial, enquanto que na autopeças, caracterizada por um
número muito grande de pequenas e médias empresas, 30 empresas representaram mais de um
terço da produção mundial. Portanto, economias de escala também caracterizam o segmento
automotivo.
Desde os anos 70, a indústria automotiva tem passado por um processo de grandes
mudanças, a partir do crescimento da indústria japonesa, que conseguiu obter significativos e
crescentes ganhos de produtividade e qualidade, produzindo com alta flexibilidade, com reduzido
tempo para lançamento de novos produtos, de curto ciclo de vida, e desenvolvendo um novo tipo
de relacionamento com seus fornecedores. O expressivo crescimento da indústria automobilística
japonesa a conduziu à posição de maior produtor mundial de veículos já há 12 anos consecutivos.
Esta expansão da produção foi acompanhada pelo crescimento das exportações japonesas de
veículos, sobretudo para os Estados Unidos, levando este país a estabelecer restrições às
importações a partir da definição de cotas voluntárias negociadas com a indústria japoneses. A
resposta japonesa foi a realização de investimentos diretos nos Estados Unidos, constituindo uma
importante base produtiva nesse país, em alguns casos sob a forma de joint-ventures.
As empresas norte-americanas, procurando retomar a sua liderança mundial, também
investiram na sua modernização, adaptando o esquema japonês de produção e a relação que as
montadoras japonesas desenvolveram com seus fornecedores. Os resultados da maior difusão do
padrão de produção japonês entre empresas americanas é a elevação da produtividade e a
melhoria na qualidade dos produtos. Com isto, tende a se reduzir a defasagem entre a indústria
japonesa e a norte-americana, apesar do ainda claro predomínio japonês. Estima-se que até 1995,
o Japão deterá cerca de um terço do mercado dos Estados Unidos e 15% do mercado da Europa
Ocidental.
Com os investimentos realizados ao longo dos anos 80, a produção mundial de veículos
chegou a 50 milhões de unidades, em 1990. Nos dois anos seguintes, a produção ficou abaixo
deste montante, confirmando a tendência atual da indústria de estagnação do seu mercado. Nesta
79
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
conjuntura, acirra-se a concorrência mundial, exigindo permanentes reduções de custos de
produção.
O objetivo de redução de custos é um dos elementos mais importantes na relação entre as
montadoras e os fornecedores de autopeças. Todavia, esta relação tende a se basear em princípios
mais amplos, desenvolvidos pela indústria automobilística do Japão. A indústria de autopeças
japonesa está estruturada de forma semelhante a uma pirâmide, constituída por vários níveis de
fornecedores. Apenas os fornecedores do primeiro nível fornecem diretamente para as
montadoras, geralmente, sub-montagens prontas para serem instaladas na linha de produção dos
veículos. Os fornecedores de segundo nível fornecem peças e componentes para os fornecedores
de primeiro nível e assim sucessivamente até o terceiro ou quarto nível da pirâmide.
Com isto, as montadoras japonesas conseguiram reduzir significativamente o número de
fornecedores diretos. Enquanto uma empresa montadora japonesa realiza compras de cerca de
300 fornecedores, a empresa norte-americana se relaciona com aproximadamente 1.000
fornecedores. Desta forma, as empresas japonesas podem se manter menos verticalizadas, mais
ágeis e flexíveis, e reduzem suas estruturas de compras. Para cada conjunto de itens de autopeças,
as montadoras japonesas dispõem de um ou dois fornecedores, o que não chega a resultar em
práticas monopolistas de preços porque as montadoras acompanham os custos dos fornecedores e
a qualidade do seu fornecimento, além de, em muitos casos, as empresas terem participações
societárias cruzadas, entre montadoras e empresas fornecedoras. Nas negociações entre estas
empresas também existem acordos de redução permante de custos. Como as autopeças chegam a
representar de 60 a 80% do valor de um veículo montado, a possibilidade de redução de custos
das montadoras depende da redução de custos da indústria de autopeças.
Geralmente, os fornecedores ficam com a responsabilidade de realizar o desenvolvimento
de produtos, em cooperação ou de forma articulada com as montadoras. No caso de componentes
estratégicos, as próprias montadoras fazem o desenvolvimento dos produtos de autopeças. De
qualquer forma, estabelece-se uma relação estreita entre montadoras e fornecedoras fundada em
princípios de confiança e de longo prazo.
Os fornecedores, ao se especializarem, conseguem reduzir custos através da introdução
das inovações de gestão e da obtenção de economias de escala. Fornecem, com qualidade, em
sistemas de just in time, o que contribui para a redução de custos para as montadoras. Estas
também estão incrementando o global sourcing, objetivando a redução de custos, naqueles
componentes que cada vez mais se constituem em commodities e que não representam peças
estratégicas na montagem de um veículo. A GM é a empresa que tem mais avançado nesta
estratégia. As montadoras européias estão demonstrando que a preocupação com custos,
tecnologia de produto e qualidade são suficientemente fortes para não exigir que seus
80
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
fornecedores estejam localizados geograficamente próximos das montadoras; mesmo assim, exige-
se o fornecimento em just in time.
Esta estrutura de relacionamento entre montadoras e fornecedores de autopeças
desenvolvida no Japão, está sendo adaptada pelos norte-americanos e pelos europeus. Mas ainda é
grande o diferencial de competitividade a favor da indústria fornecedora de autopeças do Japão,
que acompanhou o processo de internacionalização das japonesas. Juntamente com os
transplantes de montadoras japonesas realizados nos Estados Unidos, durante a década de 80,
alguns fornecedores de autopeças seguiram as montadoras, efetuando investimentos diretos no
exterior. O movimento do capital produtivo mais recente em direção à Europa, tem sido feito sob
a forma de constituição de joint-ventures, aproveitando a relativa capacitação tecnológica
existente nas empresas de autopeças européias. Nos Estados Unidos a atividade de
desenvolvimento de produto estava muito centralizada nas montadoras.
Atualmente, o Japão exporta cerca de 43% da sua produção de veículos, sendo os Estados
Unidos o principal destino das exportações. Em 1990, o Japão exportou 2,2 milhões de unidades
para os Estados Unidos; em 1991, 2,0 milhões de unidades. Em 1992, caíram as exportações
totais do Japão, mas o seu valor médio foi maior, demonstrando que é maior o percentual de
exportação de veículos mais luxuosos. Neste mesmo ano, o mercado interno japonês se retraiu
7,5%.
Além das exportações para os Estados Unidos, o Japão ainda produz cerca de 2 milhões
de unidades dentro daquele país. Este predomínio japonês fez com que os Estados Unidos
negociassem restrições voluntárias de exportação com o Japão: desde 1986, as exportações
japonesas para os Estados Unidos estão limitadas em 2,3 milhões de unidades. Este mesmo
mecanismo de proteção é utilizado pela Europa em relação ao Japão. Alguns países europeus e a
Argentina dispõem de quotas de importação; o Japão impõe uma proteção estrutural ao seu
mercado, inclusive com a utilização de normas técnicas; e o NAFTA estabeleceu regras de
origem, definindo um índice de nacionalização mínimo de 62,5% por veículo, como forma de
proteger o mercado comum. Portanto, o comércio internacional da indústria automobilística é
muito controlado por mecanismos não-tarifários.
Os coeficientes de importação da indústria automobilística diferem muito entre os países.
Os países da Comunidade Européia apresentam maiores coeficientes de importação porque é
intenso o mercado regional. Itália e Reino Unido apresntam coeficientes de importação superiores
a 50%; na Alemanha e na França os coefificentes estão próximos de 40%. Nos Estados Unidos ele
é de 25% e no Japão 5%.
81
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
1.2. Fatores Determinantes da Competitividade
Tecnologia de produto, alta qualidade e baixo preço são as atuais exigências das
montadoras em relação às empresas fornecedoras de autopeças. O sucesso competitivo da
indústria automobilística japonesa está centralmente embasado nesta trilogia.
É interessante observar que o segmento automotivo apresenta tendências aparentemente
contraditórias: proteção de mercado interno, regionalização e globalização. Na realidade, são três
tendências que caminham na direção da garantia de mercado e de redução de custos.
Sob o ponto de vista tecnológico, além da grande mudança nos processos de produção,
intensifica-se a tecnologia de produto. Algumas tendências já são claras:
. maior utilização de componentes de base microeletrônica, como a injeção eletrônica, os
freios ABS, os computadores de bordo etc;
. utilização de novos materiais: novas ligas metálicas, cerâmica fina, polímeros, plástico,
mateirais compostos e alumínio. A utilização destes materiais objetiva tornar os produtos mais
fortes, mais duráveis, mais leves e menos poluidores; objetiva também reduzir custos e permitir
maior diferenciação de produtos;
. desenvolvimento de produtos que objetiva menor agressão ao meio ambiente. As
empresas têm procurado desenvolver produtos que reduzam o consumo de combustível, menos
poluidores e que reduzam a utilização de recursos naturais não renováveis. Além disso,
atualmente já se projeta um veículo considerando também a sua reciclabilidade;
. desenvolvimento de produtos com dispositivos que aumentem a segurança.
Como já comentado, o comércio internacional da indústria automobilística é muito
controlado por mecanismos não-tarifários. Nestas circunstâncias, as alíquotas de importação são
menos relevantes. Os Estados Unidos definiu sua alíquota para importação de automóveis em
2,5%, mas restringe as importações do Japão por mecanismos não-tarifários. Este ponto é
importante para ser considerado por países menos desenvolvidos que procuram estimular a sua
indústria automobilística.
Em suma, o segmento automotivo está passando por uma grande transformação:
incorporação de inovações de produto e de gestão do processo de produção, maior difusão de
equipamentos de automação de processo, acirramento da concorrência internacional, prática de
políticas restritivas de comércio exterior, nova estrutura da relação entre montadoras e
fornecedores, globalização, importância das economias de escala e de escopo etc. Para a indústria
82
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
brasileira, que precisa aumentar a sua competitividade no segmento automotivo, este cenário
internacional demonstra o grande desafio que está colocado para as empresas brasileiras.
83
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
2.1. Desempenho
O pico da produção brasileira de autoveículos foi atingido em 1980, quando se produziu
1.165 mil unidades. A partir de então, a produção se manteve em níveis inferiores, refletindo a
estagnação do mercado interno. Como alternativa, as empresas passaram a aumentar o seu volume
de exportação. Em 1978 e 1979, as exportações representaram pouco mais de 9% do volume de
produção; a partir de 1980 essa relação cresce, mostrando uma relação inversa entre crescimento
da produção e desempenho exportador. Tomando-se o período de 1980 a 1989, as exportações
representaram cerca de 23,2% das unidades produzidas, constrastando com o coeficiente
verificado no final dos anos 70. Portanto, estagnação da produção, em função do comportamento
do mercado interno, e crescimento das exportações marcam o desempenho da indústria
automobilística no Brasil, na década de 80.
Nos anos de 1990 e 1991 esse coeficiente se mantve em torno de 20%, voltando a subir
em 1992, quando alcançou cerca de 31,5%. Neste mesmo ano, a produção de autoveículos foi de
1.070 mil unidades, ficando 8% inferior ao pico verificado em 1980. Mesmo com o forte
crescimento das exportações em 1992, totalizando 337 mil unidades, não se alcançou o pico de
exportações de 1987, que foi de 346 mil unidades. Além disso, em 1992 a Argentina foi o grande
mercado de exportação para as montadoras brasileiras: 59% em unidades e 32% em valor. Este
desempenho foi condicionado, em parte, pela posição da taxa de câmbio argentina, apesar das
negociações no âmbito do Mercosul envolvendo a troca de veículos completos e o fornecimento
de componentes, que objetivam manter equilibrado o saldo da balança comercial setorial entre o
Brasil e a Argentina. Os mercados de países mais desenvolvidos, como Estados Unidos e Itália,
têm demandado menor número de veículos brasileiros já há três anos consecutivos. Sendo assim, a
possibilidade da indústria brasileira elevar suas exportações não é muito favorável.
Ainda com relação às exportações, deve ser lembrado que o comércio internacional é
controlado por barreiras não-tarifárias. Nestas condições, o desempenho futuro da indústria
automobilística continuará dependendo do desempenho do mercado interno. Em 1992, o mercado
interno de carros contraiu-se em 4%, mas a queda foi muito maior no segmento de veículos
pesados: caminhões (38%) e ônibus (18%). No ano de 1993, as informações disponíveis mostram
o crescimento do mercado, estimulado pela diminuição dos impostos e pelo bom desempenho de
vendas dos carros populares. Por outro lado, aumenta a importação brasileira de veículos, na
medida em que se estrutura a rede de distribuição e assistência técnica. Atualmente, as
importações representam cerca de 3% do mercado interno.
84
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
A indústria de autopeças, assim como a indústria montadora, reagiu à crise do mercado
interno dos anos 80 elevando o seu coeficiente de exportação. Todavia, o desempenho geral da
indústria de autopeças apresenta diferenças significativas em relação ao da indústria montadora:
. em termos de faturamento, as montadoras não obtiveram bons resultados da década de
80. Na medida em que o seu nível de produção física decaiu e estagnou, comportamento
semelhante observa-se em relação ao seu faturamento. Nos primeiros anos da década de 90, o
faturamento das montadoras representava apenas de 50 a 60% do nível obtido em 1980, ano
correspondente ao seu pico de produção. Em contraposição, o faturamento das empresas
fornecedoras de autopeças mostra uma tendência de crescimento, principalmente, a partir de 1984
e 1985. Desta forma, o faturamento das montadoras, em 1980, equivalia a 2,5 vezes o
faturamento da indústria de autopeças, enquanto que no início dos anos 90, o faturamento de
ambos segmentos do complexo automotivo já se equivaliam;
. em parte, o crescimento do faturamento da indústria de autopeças é decorrente do seu
esforço exportador. Enquanto que em 1980, o seu coeficiente de exportação era inferior a 6%, em
1991 ele foi de 13,5%. Observando-se os dados de exportação de autopeças, realizadas tanto por
indústrias de autopeças quanto pelas próprias montadoras, nota-se que há claramente uma
tendência de crescimento das exportações, mudando de patamar a cada 4 anos, aproximadamente.
Esta mudança de patamar, provavelmente, reflete o tempo necessário para que as empresas
fornecedoras conquistem a confiança dos importadores, ao mesmo tempo em que se renova a
frota dos países importadores, aumentando a possibilidade de novos negócios para a indústria
brasileira de autopeças;
. dentre o total de exportação de autopeças, aumenta significativamente a participação das
empresas da indústria de componentes em detrimento da participação das montadoras de veículos.
No início dos anos 80, as montadoras exportavam valores de autopeças muito superiores do que
faziam as próprias empresas do setor; esta relação se inverte no início dos anos 90, isto é,
atualmente as empresas da indústria de autopeças exportam mais do que as montadoras;
. as montadoras demonstram uma relativa incapacidade de fazer crescer constantemente as
exportações de veículos. Conforme já foi afirmado anteriormente, a exportação de veículos
montados somente foi superior a 300 mil unidades nos anos de 1987 (346 mil unidade), 1988 (321
mil unidades) e 1992 (337 mil unidades). Isto permite especular no sentido de que se a indústria
montadora não realizar um esforço de reestruturação e modernização, as suas exportações não
devem superar os níveis já atingidos no passado;
. o desempenho exportador da indústria de autopeças é resultado de um esforço de
modernização realizado ao longo dos anos 80. Isto não permite afirmar que a indústria brasileira
de autopeças é muito competitiva no mercado internacional, mas é uma demonstração de que
85
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
realizou investimentos em modernização, que, sem dúvida, aumentaram a sua competitividade
externa. Esta mesma estratégia não foi seguida pelas montadoras, nos anos 80;
. portanto, a permanecer o atual cenário da economia brasileira e internacional nos
mercados de veículos montados e de autopeças, a possibilidade de crescimento das exportações é
maior para a indústria de autopeças do que para as montadoras de veículos. Isto é tanto mais
verdade quando se considera que o volume de investimento necessário para modernizar as
montadoras é muito maior do que para as autopeças; além disso, a possibilidade de incrementar
significativamente a produtividade na indústria montadora depende da instalação de novas plantas,
o que somente ocorrerá se houver confiança de que o atual crescimento do mercado interno é
duradouro;
. o melhor desempenho em termos de faturamento da indústria de autopeças, nos anos 80,
também é decorrente do crescimento do mercado de reposição. A estagnação do mercado interno
de veículos tem por consequência alongar a vida útil desses produtos, o que gera mercado
adicional para a indústria de autopeças voltada para o segmento de reposição;
. por fim, cabe observar que a indústria de autopeças tem gerado um volume de emprego
direto maior do que as montadoras. Em 1991, as montadoras geraram cerca de 125 mil empregos,
enquanto que a indústria de autopeças empregou aproximadamente 194 mil trabalhadores
horistas.
As considerações acima apontam para o fato de que atualmente, no Brasil, a indústria de
autopeças tem uma importância estratégica maior do que no passado. Ela continua tendo nas
montadoras o seu principal mercado, mas demonstrou conseguir um desempenho mais favorável
do que as montadoras, numa conjuntura econômica desfavorável.
Todavia, a heterogeneidade da indústria de autopeças é muito grande em várias
dimensões. Em primeiro lugar, em relação aos produtos fabricados, além de incluirem um
conjunto muito grande de itens, são produtos de diferentes naturezas, tais como material elétrico,
produtos fundidos e forjados, produtos de borracha, produtos plásticos, motores etc. Em segundo
lugar, na estrutura setorial prevalecem as empreasas de pequeno e médio porte. Em terceiro lugar,
em relação à capacitação técnica, produtiva e gerencial. Em quarto lugar, em relação à origem do
capital, convivendo empresas estrangeiras com empresas nacionais.
Esta heterogeneidade também está refletida no desempenho exportador da indústria,
descrito acima. As 15 principais empresas exportadoras são responsáveis por cerca de 75% do
total das exportações. Dentre estas empresas, somente 5 são nacionais, demonstrando a força das
empresas estrangeiras nesta indústria.
86
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Ainda com relação às exportações, em 1992 os principais mercados de destino foram os
Estados Unidos (37,6%), a Argentina (17,9%), o México (11,0%) e a Alemanha (9,2%). Em
termos de tendência, as exportações são crescentes para a Alemanha, para o México e,
principalmente, para a Argentina. Em contraposição, Estados Unidos, Reino Unido e Itália estão
demandando menos autopeças brasileiras. O grande destaque do comércio exterior de autopeças é
a Argentina, em função do Mercosul. Mas este acordo leva também a aumentar as importações de
autopeças da Argentina, na medida em que as empresas estão realizando uma divisão do trabalho
para manter o equilíbrio no saldo comercial do setor automotivo dos dois países.
Finalmente, um último ponto em relação ao desempenho da indústria de autopeças. A
relação entre faturamento e número de empregados tem crescido ao longo do tempo. Isto se deve
a ganhos de produtividade, ao movimento existente de terceirização e a uma mudança na estrutura
do setor, no sentido de que tem se reduzido o número de empresas fabricantes de autopeças, em
virtude do encerramento de atividades de algumas delas e a retirada deste setor de outras
empresas não especializadas na produção de autopeças.
2.2. Capacitação
A indústria automobilística brasileira é responsável por cerca de 2% da produção mundial
de veículos. O nível de capacitação desta indústria, no início da década de 90, era considerado
muito defasado em relação aos países mais desenvolvidos, e mesmo em relação a alguns países de
industrialização recente.
A linha de produtos nacionais era muito defasada. Os produtos fabricados no Brasil tinham
sido desenvolvidos há muitos anos, constituindo uma média de idade de projetos muito elevada
em relação a outros países. O problema da idade dos projetos não apenas significava produtos
defasados para os consumidores como também o desenho dos veículos não permitia grandes
ganhos de produtividade, isto é, o desenho não era adequada para a implantação das novas
técnicas de processo de produção, que estavam gerando grandes saltos de produtividade e
qualidade em outros países.
Os processos produtivos também eram defasados. Numa primeira dimensão, em relação
aos equipamentos utilizados, que, no caso da indústria brasileira, eram muito menos
automatizados do que outros países. O grau de automação eletrônica, medido pelo número de
equipamentos automatizados utilizados ou pelo percentual de atividades automatizadas, era muito
baixo, contribuindo para níveis baixos de produtividade. Numa segunda dimensão, enquanto os
países desenvolvidos tentavam incorporar as novas técnicas de produção desenvolvidas pelos
japoneses, e o próprio Japão fazia investimentos vultosos nos Estados Unidos para garantir sua
87
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
participação no maior mercado do mundo, utilizando empregados americanos num sistema de
produção japonês, as montadoras instaladas no Brasil ainda se encontravam muito distantes do
sistema de produção enxuta. A dificuldade das montadoras no Brasil refletia, em parte, as
dificuldades das matrizes em lidar com um novo paradigma de produção.
Como resultado das defasagens de produto e de processo, não só a produtividade no
Brasil era baixa, como também os indicadores de qualidade eram muito desfavoráveis. Os
consumidores brasileiros pagavam caro por um produto de baixa qualidade. O nível de conflito
entre os agentes envolvidos no complexo automotivo também era muito grande. As relações entre
fornecedores e montadoras e entre tabalhadores e empresas eram marcadas pelo conflito; as
montadoras praticamente não cooperavam com seus fornecedores e exigiam custos baixos
enquanto que os impasses eram frequentes nas negociações com os trabalhadores.
Além disso, as montadoras tinham limitações de ordem estrutural: mercado estagnado, alto
nível de verticalização, falta de escala, grande diversificação de modelos de veículos, por empresa,
sem dispor de um sistema flexível de produção etc. Nestas circunstâncias, as perspectivas das
montadoras no Brasil não eram favoráveis, dada inclusive a perspectiva de retração do mercado
interno e a constituição de um mercado externo cada vez mais competitivo e administrado.
A grande necessidade de modernização da indústria, para obter melhor desempenho em
termos de produtividade e qualidade, a dificuldade em se manter as margens aos níveis em que
estavam, que poderiam ser consideradas elevadas para a situação de mercado retraído, e a
possibilidade real da abertura do mercado interno às importações forçaram a indústria montadora
a realizarem algumas mudanças nas suas estratégias a partir de 1990.
Uma das mudanças mais significativas foi a reestruturação da sua linha de produtos. Até
1995, as montadoras estarão alterando os seus modelos de veículos, através de novos desenhos
para veículos já produzidos internamente ou então através da introdução de novos modelos. Com
isto, a idade média dos projetos de veículos no Brasil, que era três vezes à média mundial, deverá
se reduzir para duas vezes a média mundial. Os modelos ainda se encontrarão defasados, porém
em menor grau. Por outro lado, intensificou-se a estratégia de lançamento dos chamados carros
populares, que têm respondido por parcela muito significativa da produção atual da indústria
automobilística.
Outra mudança nas montadoras foi a adoção de programas de redução de custos e
aumento da produtividade. Em relação aos custos das autopeças, as montadoras, e
destacadamente a GM, têm procurado se aproximar dos fornecedores, principalmente daqueles
fornecedores de componentes estratégicos, visando a melhoria da qualidade dos produtos e a
redução de custos. No caso da GM, se estruturou um programa de desenvolvimento de
fornecedores, com objetivo de redução de custos de autopeças, no qual a montadora presta uma
88
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
espécie de consultoria para o fornecedor. Além disso, as montadoras estão procurando intensificar
o suprimento de autopeças em sistema de just in time e a terceirização, sobretudo de serviços.
Como consequência destas mudanças, nos últimos três anos, houve uma redução de pessoal de
cerca de 30%. As montadoras também reduziram o número de fornecedores diretos em 30%.
Uma terceira mudanças diz respeito à melhoria de qualidade. As empresas estão
difundindo conceitos e práticas mais avançadas de qualidade total, conseguindo reduzir o número
de defeitos nos veículos e os desperdícios no processo produtivo. Esta estratégia implica no
envolvimento de fornecedores e distribuidores.
Uma última linha de mudanças se referem às relações trabalhistas. As empresas têm
aumentado o treinamento dos recursos humanos, procurando aumentar a qualificação para a
produtividade e qualidade. O nível do relacionamento entre capital e trabalho também melhorou,
principalmente através das negociações desenvolvidas no âmbito da Câmara Setorial. Mas ainda
existem muitas resistências de ambas as partes para a definição de uma nova relação capital-
trabalho.
No caso da indústria de autopeças, a capacitação existente é muito distinta entre as
empresas, seguindo a heterogeneidade da própria indústria. A indústria é constituída por cerca de
1200 empresas que atuam em segmentos distintos do mercado de autopeças. A maior parte destas
empresas são de pequeno e médio porte; segundo informações do SINDIPEÇAS, referentes a 440
empresas do setor, cerca de 73% delas tinha menos de 500 empregados. Deste conjunto de
empresas predominam as de capital nacional, que compõem 86% das empresas. Todavia, as
empresas estrangeiras e as grandes nacionais concentram parcela significativa do faturamento do
setor.
De uma forma geral, a capacitação técnica das empresas estrangeiras é maior do que a das
empresas nacionais. Mas nem todas empresas estrangeiras têm capacitação técnica própria, sendo
dependentes das matrizes. Conforme já exposto, as empresas estrangeiras são as que mais
exportam, contando para tanto com o apoio técnico e comercial de suas matrizes. O esforço
tecnológico das empresas nacionais deve ser muito maior, na medida em que não dispõem deste
tipo de apoio. Nestes casos, as empresas nacionais maiores também recorrem ao licenciamento de
tecnologia no exterior.
Como característica geral do setor de autopeças tem-se a elevada verticalização das
empresas. Esta verticalização conduz a custos elevados, por falta de escala na produção de
componentes e contribui para a dispersão do esforço tecnológico. Esta característica contraria
uma das tendências internacionais do setor, pois a globalização exige empresas especializadas com
grande escala de produção e boa qualidade dos produtos fabricados.
89
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Apesar destas características estruturais, a indústria brasileira de autopeças iniciou, desde
os anos 80, um processo de modernização. Deste processo destaca-se a modernização produtiva,
através da compra de equipamentos automatizados. A crise do mercado interno na primeira
metade dos anos 80, a necessidade de expansão das exportações e um mercado internacional em
crescimento apontavam a necessidade de modernização da indústria brasileira para a conquista de
novos mercados. Desta maneira, as empresas investiram na compra de máquinas-ferramenta a
comando numérico para modernizar o seu processo produtivo. Esta demanda contribuiu
significativamente para a retomada do mercado interno de máquinas-ferramenta a partir de 1984.
Todavia, este processo de modernização não foi geral em dois sentidos. Primeiro, no sentido de
que nem todas as empresas investiram em modernização; as informações mostram que foram as
empresas voltadas à exportação aquelas que mais investiram em novos equipamentos. Num outro
sentido, porque a automação eletrônica não foi muito difundida dentro de cada empresa, tendo se
concentrado em alguns pontos críticos do processo e na ferramentaria.
Em função disso, ainda é relativamente baixo o grau de difusão da automação eletrônica
nas empresas produtoras de autopeças. Alguns analistas não imputam uma conotação negativa a
este problema na medida que julgam as inovações organizacionais mais importantes, devendo ser
incorporadas previamente ao aumento do índice de automação.
Uma outra linha de modernização da indústria brasileira de autopeças se refere à difusão
de programas de qualidade e novas formas de organização da produção. Estão mais difundidos o
controle estatístico da produção, o controle de qualidade total, o just in time, a redução dos níveis
hierárquicos das empresas, a terceirização (que também é maior na área de serviços do que na
área produtiva), as células de manufatura e as novas formas de gestão. As montadoras de veículos
têm auxiliado as empresas fornecedoras de autopeças neste processo de modernização, mas ainda
é muito heterogênea a capacitação técnica, produtiva e gerencial das empresas do setor de
autopeças.
As empresas produtoras de componentes centrais, tais como motores, transmissões,
suspensões, sistemas de freio etc, são tecnologicamente mais avançadas, produzem com qualidade
e desenvolvem suas atividades em sistemas integrados. Neste segmento a tecnologia de produto é
muito importante, exigindo investimentos pesados em P&D. As empresas que produzem estes
componentes são as próprias montadoras e alguns fornecedores cativos.
Outro segmento de autopeças é constituído por produtos fundidos e forjados, nos quais o
Brasil apresenta competitividade. Ela é decorrente de uma boa capacidade de manufatura das
empresas, dos baixos custos do ferro e do aço, dos baixos custos da mão-de-obra (é um segmento
que utiliza intensivamente mão-de-obra) e da pouca necessidade de suprimento externo à empresa.
90
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Por outro lado, no segmento de produtos de plástico e de borracha a competitividade da indústria
brasileira é menor devido a problemas de custos e qualidade (no caso dos produtos de borracha).
Enfim, o estágio de capacitação de cada segmento do setor de autopeças é distinta.
Contudo, é importante notar que, cada vez mais, uma série de componentes estão se tornando
commodities, num cenário de globalização dos mercados, o que exige que as empresas tenham
escala de produção, tecnologia de produto e qualidade.
Por fim, também deve ser mencionado que as empresas do setor de autopeças, assim como
as montadoras, têm procurado investir na formação de recursos humanos para qualificá-los para o
trabalho dentro da nova concepção da produção. Mas, por outro lado, tanto as montadoras como
as empresas de autopeças ainda não difundiram práticas de envolvimento dos trabalhadores em
programas de produtividade e qualidade através de maior participação dos trabalhadores nos
ganhos de produtividade decorrentes.
2.3. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade
Apesar dos avanços realizados pelo segmento automotivo descritos acima, e da existência
de alguns segmentos de autopeças que são competitivos, a competitividade da indústria
automotiva ainda é muito limitada. Vários fatores, de diferentes naturezas, condicionam esta
situação.
É relativamente baixo o percentual do faturamento investido em atividades tecnológicas.
Nesta indústria, que tem demonstrado um ritmo acelerado de incorporação de progresso técnico e
de geração de novos produtos, investir em tecnologia é um fator básico de competitividade. Na
indústria automobilística e em alguns segmentos de autopeças a tecnologia de produto é
fundamental. As empresas brasileiras, ao investirem pouco em atividades tecnológicas, não
ampliam o seu poder competitivo. As empresas estrangeiras, geralmente se beneficiam do esforço
tecnológico desenvolvido pelas suas matrizes, mas as empresas nacionais não têm esta
possibilidade. São poucas as empresas nacionais, do setor de autopeças, que consideram a sua
estratégia tecnológica como essencial para a estratégia empresarial competitiva.
Há uma possibilidade de que o o acesso à tecnologia externa se restrinja em função da
ampliação do global sourcing, da abertura do mercado interno e do acirramento da concorrência
internacional. Nestas condições é possível que a indústria brasileira encontre dificuldades para
realizar a reestruturação do seu segmento automotivo, visando reduzir a sua defasagem em termos
internacionais. Neste caso, as montadoras tenderim a se especializar em carros populares, de baixa
sofisticação tecnológica, levando também as autopeças a se limitarem a produtos pouco
91
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
sofisticados, importando aqueles mais estratégicos. Para evitar esta possibilidade, há necessidade
de aumentar os investimentos em tecnologia de produto e modernizar a indústria brasileira.
Em relação ao processo de produção, apesar da modernização já efetuada, ela ainda
precisa acontecer de forma mais acelerada. Em primeiro lugar, é necessário que se intensifique a
adoção das novas técnicas organizacionais e de programas de produtividade e qualidade,
principalmente entre as empresas de autopeças, que constituem um tecido muito heterogêneo. Em
segundo lugar, o nível de automação eletrônica dos processos e da área de projeto ainda é muito
baixo, comparativamente a outros países.
A gestão familiar presente eme número expressivo de empresas fornecedoras de autopeças
tem se tornado um obstáculo à modernização das empresas e ao estabelecimento de novas
relações entre capital e trabalho. Por outro lado, a participação dos sindicatos na Câmara Setorial
da indústria automobilística tem demonstrado o interesse dos trabalhadores para com questões
relativas à competitividade da indústria. O nível de conflito entre capital e trabalho está reduzido,
seja devido à crise econômica que limita o espaço para reivindicações, seja como decorrência das
negociações efetivadas no âmbito da Câmara Setorial. A mão-de-obra no Brasil é relativamente
bem qualificada e versátil, mas o padrão de remuneração está bem abaixo ao de outros países.
Em termos da estrutura do segmento automotivo, existem alguns fatores que inibem a sua
competitividade. As empresas, tanto montadoras como de autopeças, são verticalizadas. A
verticalização não viabiliza escala ótima de produção de uma série de componentes, o que
significa produzir com custos mais elevados e dispersa o esforço tecnológico. O movimento de
terceirização observado no setor ainda não atingiu as atividades produtivas na dimensão
necessária.
Além de verticalizadas, as empresas também apresentam elevada diversificação da linha de
produtos, demonstrando a falta de escala competitiva. Apesar da crescente automação e
flexibilidade da indústria automobilística internacional, a escala de produção ainda mantém
importância significativa para a competitividade, quanto mais num mercado globalizado. Diante
desta tendência internacional, a falta de escala verificada no Brasil é um dos maiores problemas do
segmento automobilístico.
As escalas de produção também dependem do mercado. Na hipótese de se manter o
mercado interno estagnado, o segmento automotivo necessita promover grande reestruturação da
oferta para conquistar maior competitividade internacional em termos de escala de planta. Na
hipótese de expansão do mercado interno, é necessário que os novos investimentos sejam melhor
dirigidos, no sentido da especialização produtiva e da obtenção de escalas de produção. Em
nenhuma das duas hipóteses se supõe que as exportações tenham papel tão significativo que
justifiquem, por si só, a reestruturação setorial.
92
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
Desta forma, não se pode omitir a importância do crescimento da demanda para o
segmento automotivo. A obtenção de escala, a possibilidade de desverticalização produtiva, a
maior especialização da linha de produtos e a própria modernização da indústria, através de novos
investimentos, dependem do crescimento do mercado interno. A estagnação do mercado interno
foi um fator que prejudicou a competitividade da indústria brasileira. Neste sentido, não se deve
descuidar das propostas de expansão da demanda setorial.
Mas, mesmo num cenário de retomada da demanda interna, o segmento automotivo
necessita enfrentar outra insuficiência estrutural que é a relação entre as montadoras e as
fornecedoras de autopeças. Já foram citados neste texto alguns exemplos de maior relacionamento
entre as montadoras e a indústria de autopeças no Brasil, fato que deve ser incentivado e
ampliado. Todavia, essas iniciativas não devem estar exclusivamente voltadas a questões de curto
prazo, visando a redução de custos de produção. A redução de custos, é sem dúvida necessária
mas as empresas do segmento automotivo necessitam desenvolver novos padrões de
relacionamento, baseados em maior confiança e capacitação técnica de ambas as partes. A
indústria mundial tem colocado na construção dessas sinergias um dos seus pilares de sustentação
da competitividade.
O desempenho do mercado interno tem sido afetado por alguns fatores de ordem
sistêmica. O mais importante deles é o financiamento. Não é possível se desenvolver uma indústria
automobilística sem mecanismos adequados de financiamento ao consumo. O desequilíbrio
financeiro da economia brasileira não tem permitido que se estruture um sistema de financiamento
em condições de alavancar a demanda interna. Os consórcios têm sido importantes para evitar
maior retração do mercado mas também demonstram ter esgotado suas possibilidades de
ampliação.
Em relação à carga tributária incidente no segmento automotivo, normalmente a ela é
atribuída parcela significativa da retração do mercado interno. Infelizmente não se dispõe de
estudos mais cuidadosos sobre os efeitos da incidência da estrutura tributária sobre a indústria. A
contração de cerca de 4% do mercado interno em 1992 ocorreu a despeito da redução dos
impostos ocorrida nesse ano. Por outro lado, em 1993, com redução adicional e o lançamento dos
carros populares, a indústria montadora aproximou-se da plena utilização da capacidade instalada.
Quanto à proteção do mercado interno, ela foi inibidora da modernização setorial no
passado. Com custos elevados de produção e falta de qualidade dos produtos, as empresas
obtinham boa lucratividade muito em função do fato do mercado interno se encontrar fechado às
importações. A abertura do mercado interno A partir de 1990 vem acontecendo de forma gradual,
pela redução das alíquotas de importação de veículos de 85% para 35% e a eliminação de
93
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
barreiras não-tarifárias. Com a nova política de comércio exterior, aumentou o coeficiente de
importação do segmento automotivo, mas ainda ele é relativamente baixo.
Alguns analistas defendem que a abertura do mercado interno e a maior exposição da
indústria à concorrência internacional são um fator estatégico para induzir à modernização das
empresas. Nesta direção, propõem maior redução tarifária, pois o nível que prevalece atualmente
(35%) ainda é um dos mais elevados do mundo. Todavia, deve ser lembrado que nesta indústria
são significativas as barreiras não-tarifárias de importação (vide seção 1.1). No Brasil, uma
redução adicional das alíquotas de importação deve ocorrer conjugada a novos mecanismos de
salvaguardas comerciais. Mantendo-se a atual estrutura de alíquotas, a definição de restrições não-
tarifárias às importações somente deve ser efetivada condicionada à otenção de indicadores de
desempenho técnico e econômico.
Nos últimos anos, o Mercosul foi um fator importante para o desempenho do segmento
automotivo brasileiro. As empresas estão redefinindo as suas estratégias para manter um saldo
equilibrado entre Brasil e Argentina. A consolidação do Mercosul, entretanto, depende de
negociações de algumas políticas comuns tais como, política cambial, alíquotas de importação e
mecanismos de salvaguardas etc.
Finalmente, deve ser destacado que, apesar da qualificação e versatilidade da mão-de-obra,
as inovações técnico-sociais estão exigindo um perfil distinto da mão-de-obra. Parte desta
necessidade de adequação pode ser realizada pelas empresas, através de programas de
treinamento de recursos humanos. Mas outra parte deve ser alcançada através do sistema
educacional brasileiro, que dada a sua precariedade tem dificultado o bom desempenho dos
trabalhadores.
94
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS
3.1. Diretrizes Gerais
Da mesma forma que para os demais segmentos do complexo metal mecânico, as
proposições de políticas estão reunidas segundo os seguintes conjuntos de políticas: políticas de
reestruturação setorial, políticas de modernização produtiva e políticas relacionadas aos fatores
sistêmicos.
Assim como para o segmento de máquinas e equipamentos, as políticas de modernização
produtiva tendem a acontecer na medida em que haja sustentação do nível de atividade
econômica. Algumas destas políticas já vêm sendo implementadas pelas empresas, mesmo num
cenário de crise econômica e retração do mercado. O que seria necessário é a readequação dessas
medidas, no sentido de ultrapassarem os objetivos de redução de custos, no curto prazo, para
representarem um outro estágio de produtividade e qualidade da produção industrial.
A principal diretriz da política de competitividade para o segmento automotivo deve
envolver o redesenho das relações entre fornecedores e montadoras, baseadas em políticas de
reestruturação cujos resultados tendem a aparecer num horizonte de tempo mais longo. A
reestruturação do segmento automotivo implica o estabelecimento de uma nova relação entre o
setor de autopeças e as montadoras de veículos, na reestruturação do setor de autopeças visando
capacitá-lo a participar de sistemas de global sourcing e na reestruturação das montadoras, no
sentido de reduzir sua verticalização e a diversificação da linha de produtos. Além destes
objetivos, espera-se que o segmento automotivo tenha condições de produzir veículos modernos
com preços competitivos, sem que haja a necessidade de se especializar na produção de "carros
populares", com baixo grau de evolução tecnológica. De forma análoga, deseja-se que o setor de
autopeças consiga participar de esquemas de suprimento em escala mundial, o que requer escala
de produção, eficiência produtiva, qualidade e tecnologia de produto.
As propostas de política visam, em primeiro lugar, estimular o segmento para não
permanecer muito defasado em relação às tendências internacionais. Especificamente para o setor
de autopeças procura evitar que o Brasil se especialize na produção de componentes de baixo
valor agregado e de baixo conteúdo tecnológico, nos quais a manutenção de baixos salários seja
necessária para a competitividade do setor. Além disso, se deseja estruturar um segmento
automotivo que tenha condições de enfrentar a concorrência num ambiente de globalização do
mercado. Isto implica, por exemplo, que o setor de autopeças se estruture para participar de
esquemas de suprimento baseados no global sourcing. Para o setor montador de veículos, se
95
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
deseja que a indústria brasileira produza com qualidade e preços competitivos, que lhe permita
conviver com importações de veículos, sem se desestruturar.
A seguir encontram-se os três conjuntos de políticas para o segmento automotivo. Maiores
detalhes podem ser encontrados nas respectivas notas técnicas setoriais.
3.2. Políticas de Reestruturação Setorial
A reestruturação necessária para o segmento automotivo pressupõe o crescimento do
mercado interno, viabilizador de uma nova onda de investimentos. Neste sentido, devem ser
definidos novos mecanismos de financiamento à demanda de veículos, com taxas de juros mais
baixas e prazos de pagamento compatíveis com a capacidade de pagamento do consumidor.
Aparentemente, a redução da incidência tributária tem demonstrado efeitos positivos sobre o nível
de demanda. Entretanto, esse expediente não pode ser utilizado indefinidamente. Pelo contrário,
passado um período de ajuste, propõe-se que, a partir de 1995 as alíquotas do IPI para os carros
populares sejam elevadas e se reduza as alíquotas incidentes sobre os demais veículos. Uma
diferenciação de alíquotas entre os veículos deve ocorrer, mas com menor desvio padrão. Além
disso, o incentivo fiscal deve ser concedido contra a obtenção de indicadores técnicos e de
desempenho econômico. Por exemplo, para "modelos populares" que incorporem determinados
componentes que representem qualidade de produto poderia ser concedido um benefício fiscal.
A ampliação da demanda também pode ser obtida a partir da redução dos preços reais.
Nesse sentido, a redução de custos joga um papel extremamente importante para a reestruturação
setorial.
Além da maior demanda, a maior exposição da indústria automobilística à concorrência
externa também pode contribuir para a reestruturação setorial. A abertura do mercado interno
deve viabilizar a fabricação de produtos com bom desempenho e qualidade, para o consumo de
massa no Brasil. Neste sentido, a atual estrutura de alíquotas de importação deve ser
gradualmente reduzida para que as montadoras se adequem à concorrência externa. Uma
possibilidade é de redução das alíquotas de automóveis para o nível de 20% até o ano 2.000. Em
compensação, o Estado deve estruturar mecanismos ágeis de defesa do comércio exterior, tais
como medidas de salvaguardas comerciais, para defender os investimentos internos de uma grande
concorrência externa predatória. Isto pressupõe um Estado com legitimidade e suficientemente
estruturado e capacitado para enfrentar negociações internas e no plano internacional.
96
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
A indústria de autopeças também necessita de reestruturação em duas linhas básicas. Por
um lado, no que diz respeito às relações com as montadoras. De outra parte, para fazer frente ao
processo de crescente globalização do mercado.
Para atender a este segundo condicionante a indústria brasileira de autopeças necessita
aumentar a sua escala de produção. O fornecimento em escala global privilegia o baixo custo de
componentes que se tornaram commodities. Nestes casos, dispor de escala de produção e
qualidade de padrão internacional são dois pré-requisitos. Para a obtenção de escala é necessária a
reestruturação empresarial do setor no sentido de constituir empresas com volume de negócios
significativo e de padrão internacional bem como dispor de empresas modernas sob os pontos de
vista técnico, produtivo e gerencial. Desta forma, várias empresas de autopeças no Brasil,
poderiam ser fornecedoras de segundo nível nas estruturas hierarquizadas de suprimento da
indústria automobilística internacional.
Por outro lado, a relação entre fornecedoras de autopeças e montadoras deve ser
reestruturada visando a implantação da estrutura de hierarquização de fornecedores. Em grande
parte, esta estrutura somente é viável a partir das decisões das montadoras. Por exemplo, é
necessário que os veículos sejam desenhados na perspectiva de fornecimento de sub-sistemas
montados, prontos para instalação na linha de montagem dos veículos. Mas, as empresas de
autopeças têm alguma autonomia relativa na estruturação desta sistema, definindo de forma
consistente um modelo para seus subfornecedores e começando a se preparar para o fornecimento
de sub-montagens.
Visando a estruturação futura de uma rede de suprimento hierarquizada, deve ser montado
um grupo de trabalho envolvendo representantes das montadoras, da indústria de autopeças e do
BNDES. Este grupo de trabalho deve identificar os passos necessários para a hierarquização de
fornecedores. O governo, através do BNDES, pode contribuir facilitando o articulação entre os
agentes privados e concedendo financiamento para melhor capacitação técnica, produtiva e
gerencial das empresas fornecedoras.
3.3. Políticas de Modernização Produtiva
Para melhorar a qualidade dos produtos devem ser efetivadas as seguintes medidas. As
montadoras devem continuar a sua recente estratégia de modernizar a sua linha de produtos.
Conforme mencionado anteriormente, esta modernização não se limita ao lançamento de veículos
considerados populares, mas deve seguir a trajetória internacional de elevado conteúdo
tecnológico de produtos. A atual linha de modelos fabricados no Brasil já é bem mais nova do que
a que prevalecia há alguns anos atrás, porém ainda se encontra defasada em relação a outros
97
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
países. Na medida em que ocorra maior incorporação de tecnologia aos veículos, a indústria de
autopeças deve ter condições de acompanhar o ritmo de modernização das montadoras, lançando
também novos produtos.
Além disso, a melhor qualidade dos produtos do segmento automotivo exige a maior
difusão de novos sistemas de qualidade. Para tanto, os órgãos de classe podem contribuir
difundindo conceitos e articulando serviços de consultoria técnica, principalmente para as
pequenas e médias empresas do setor produto de autopeças. Também o SEBRAE deve contribuir
nesse processo.
Por fim, deve aumentar o investimento em treinamento da mão-de-obra em diversos níveis.
O SENAI e os órgãos de classe empresariais podem preparar material didático e agentes de
difusão para as empresas utilizarem em seus programas de treinamento de recursos humanos. A
qualidade e produtividade dependem de treinamento da mão-de-obra e do estabelecimento de
novas relações de trabalho nas unidades produtivas. Um pressuposto básico é o maior
envolvimento dos trabalhadores, o que requer estímulos pecuniários e a disposição de aceitar
sugestões do pessoal da linha de produção. Isto requer uma nova estruturação social dentro das
unidades produtivas. Apesar de um possível apoio externo, esta política depende
fundamentalmente das decisões do nível empresarial.
Um outro objetivo da modernização é o aumento da produtividade. As novas técnicas de
organização da produção, o treinamento e o envolvimento da mão-de-obra e um novo
relacionamento entre montadoras e autopeças contribuem para o alcance deste objetivo.
Entretanto, tanto as montadoras como as empresas de autopeças necessitam modernizar o seu
parque de equipamentos, principalmente incorporando equipamentos automatizados. Para tanto, o
governo pode contribuir concedendo financiamento através da FINAME, em condições mais
favoráveis do que as praticadas atualmente. A prioridade a este respeito é aumentar o percentual
de participação do financiamento nas compras de equipamentos. Dadas as dificuldades financeiras
da FINAME, poderia ser estudado um mecanismo de diferenciar a cobertura da FINAME,
segundo a sofisticação tecnológica dos equipamentos: para as máquinas e equipamentos mais
sofisticados seria concedido um financiamento com maior percentual de cobertura.
Para aumentar a capacitação técnica é necessário que as empresas invistam mais recursos
no desenvolvimento de atividades tecnológicas. A aprovação recente de lei de concessão de
incentivos fiscais para o desenvolvimento tecnológico deve estimular esta iniciativa das empresas.
Outra prioridade inicial deve ser a formação e capacitação de recursos humanos, através da
concessão de treinamento e preparação de material didático.
Esforços dessa natureza são particularmente importantes para a modernização dos
fabricantes de autopeças, em boa parte constituidos por empresas de pequeno e médio porte, que
98
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
requerem suporte da infra-estrutura tecnológica e de formação profissional. Com esse objetivo, é
necessário fortalecer as instituições já existentes e facilitar o acesso dos usuários potenciais,
revendo o conteúdo dos programas de treinamento visando a inclusão das novas tecnologias. A
criação de entidades tecnológicas de cunho não-operacional, voltadas para a difusão de
informações sobre as capacitações já existentes em Centros de P&D, Institutos de Pesquisa e
outros elos da infra-estrutura tecnológica prestadores de serviços para esses setores seria de
grande valia para acelerar esse processo de modernização. Sendo positiva a experiência deste
centro, as suas atividades podem evoluir no sentido de contribuir para o desenvolvimento de
tecnologia de produto e de processos produtivos, propriamente ditos, assemelhando-se ao Centro
de Desenvolvimento Tecnológico Setorial, cuja proposta de criação foi aprovada pela Câmara
Setorial.
3.4. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos
Além das políticas sistêmicas apontadas como instrumentos de reestruturação setorial,
devem também ser efetivadas as seguintes políticas para aumentar a competitividade do segmento
automotivo:
. em relação à infra-estrutura deve ser melhorado o sistema de transporte rodoviário e o
sistema portuário. Neste último caso, os seus custos também devem ser reduzidos.
. o sistema educacional deve receber recursos não apenas para sua ampliação como
também para sua adequação aos condicionantes do novo paradigma técnico-social. Os estudos
desta área mostram que há necessidade de formação de recursos humanos com maior capacidade
de raciocínio lógico e abstrato e com maior capacidade de comunicação.
. devem ser estabelecidas políticas de preservação do meio ambiente. O Estado deve
estabelecer legislação preventiva e as empresas devem produzir e incorporar componentes e peças
que reduzam a emissão de poluentes atmosféricos e maior reciclagem dos produtos.
. o Mercosul deve ser consolidado através da definição de uma estrutura de alíquotas
comum para os países membros. Sugere-se que as alíquotas devam permanecer próximas do nível
de 20%, para garantir a exposição da indústria à concorrência externa; não deve ser adotado o
mecanismo de estabelecimento de quotas para proteger o mercado comum e sim mecanismos de
salvaguardas comerciais.
. com relação à concessão de benefícios fiscais para a exportação, algumas modificações
devem ser incorporadas ao projeto de Lei em tramitação no Congresso, uma vez que na sua forma
atual, a indústria de autopeças fica muito vulnerável. Procurando reduzir esta vulnerabilidade e
99
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
entendendo que o projeto de lei deve atender ao conjunto do segmento automotivo, propõe-se as
seguintes alterações ao projeto de lei:
. a base de cálculo para os incentivos fiscais deve ser o acréscimo de exportações e não o
seu valor absoluto, tal como proposto. A idéia é de que devam ser premiados os esforços
adicionais de conquista de mercado externo e não premiar as conquistas já realizadas. Para
operacionalizar essa modificação deve ser estudado qual o coeficiente mais adequado a ser
aplicado sobre a base de cálculo, para se obter o montante de importação possível com isenção do
imposto de importação;
. deve ser abolido o parágrafo que permite a transferência de crédito de incentivo da
indústria de autopeças para as montadoras, quando estas servirem de intermediárias na exportação
de autopeças. O projeto de lei deve incentivar a produção e não a comercialização;
. para obter os direitos definidos pelo projeto de Lei, também a indústria de autopeças
deve respeitar índices mínimos de nacionalização;
. os índices de nacionalização devem ser mistos, isto é, devem se referir não somente ao
conjunto da produção da empresa mas também a percentuais mínimos por produto. O objetivo
desta recomendação é permitir que as empresas tenham flexibilidade de ação para compor os seus
índices de nacionalização, evitando, no entanto, que seja estimulada a produção de veículos e
autopeças pouco sofisticados, com elevados índices de nacionalização, e para os produtos mais
sofisticados seja feita apenas a montagem no Brasil, importando-se os seus componentes.
Finalmente, a Câmara Setorial da indústria automobilística deve ser aperfeiçoada. Para
tanto, se recomenda a estruturação de um sistema de monitoramento da indústria automotiva.
Para que isto seja efetivado, é necessário que o aparelho de Estado se capacite no
acompanhamento das tendências internacionais e acompanhe a evolução da indústria brasileira.
Isto requer a qualificação do pessoal do Estado, o levantamento de informações estatísticas, o
sistemático acompanhamento do setor, entre outras medidas.
100
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE
Embora o conjunto do segmento automotivo seja muito heterogêneo podem ser definidos
os seguintes indicadores de competitividade:
. nível de produtividade: número de horas trabalhadas por veículo, no caso das
montadoras, e valor médio de faturamento por empregado, para a indústria de autopeças;
. nível de qualidade: número de defeitos por veículo, percentagem de peças retrabalhadas e
percentagem de peças rejeitadas;
. atualização dos produtos: idade dos projetos dos produtos, número de novos
lançamentos a cada período;
. nível de automação: percentagem das atividades automatizadas; número de equipamentos
com automação eletrônica;
. práticas gerenciais de recursos humanos: número de sugestões por trabalhador,
percentagem de trabalho em grupo, horas de treinamento médio por trabalhador.
101
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABIMAQ/SINDIMAQ. Indicadores Conjunturais, vários números
BARRIONUEVO Fº, A. Indústria de Bens de Capital sob Encomenda. Relatório de Pesquisa do
Projeto "Desenvolvimento Tecnológico e Competitividade da Indústria Brasileira",
SCTDE/FECAMP/ UNICAMP-IE. Campinas, 1993.
BRITTO, J.N.P. Competitividade da Indústria de Alumínio. Nota técnica setorial do Estudo da
Competitividade da Indústria Brasileira. Consórcio IE-UNICAMP/ IEI-UFRJ/ FDC/
FUNCEX. Campinas. 1993.
DAHAB, S. Competitividade da Indústria de Máquinas Agrícolas. Nota técnica setorial do
Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira. Consórcio IE-UNICAMP/ IEI-UFRJ/
FDC/ FUNCEX. Campinas. 1993.
FERRO, J. R. Competitividade da Indústria Automobilística. Nota técnica setorial do Estudo da
Competitividade da Indústria Brasileira. Consórcio IE-UNICAMP/ IEI-UFRJ/ FDC/
FUNCEX. Campinas. 1993.
MENDES DE PAULA, G. Competitividade da Indústria de Minério de Ferro. Nota técnica
setorial do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira. Consórcio IE-UNICAMP/
IEI-UFRJ/ FDC/ FUNCEX. Campinas. 1993.
MENDES DE PAULA, G. Competitividade da Indústria Siderúrgica. Nota técnica setorial do
Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira. Consórcio IE-UNICAMP/ IEI-UFRJ/
FDC/ FUNCEX. Campinas. 1993.
NOGUEIRA DA CRUZ, H. Competitividade da Indústria de Máquinas-Ferramenta. Nota
técnica setorial do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira. Consórcio IE-
UNICAMP/ IEI-UFRJ/ FDC/ FUNCEX. Campinas. 1993.
POSTHUMA, A. Competitividade da Indústria de Autopeças. Nota técnica setorial do Estudo da
Competitividade da Indústria Brasileira. Consórcio IE-UNICAMP/ IEI-UFRJ/ FDC/
FUNCEX. Campinas. 1993.
STRACHMAN, E. Competitividade da Indústria de Equipamentos para Energia Elétrica. Nota
técnica setorial do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira. Consórcio IE-
UNICAMP/ IEI-UFRJ/ FDC/ FUNCEX. Campinas. 1993.
102
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IEI/UFRJ-IE/UNICAMP-FDC-FUNCEX
RELAÇÃO DE TABELAS
TABELA 1
BRASIL - CONSUMO APARENTE DE BENS DE CAPITAL
MECÂNICOS1980 - 1992 ............................................................................................50
TABELA 2
INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BENS DE CAPITAL MECÂNICOSÍNDICES
DE PRODUÇÃO E EMPREGO - 1978-1992................................................................53
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo