cento e quarenta, duzentos,
trezentos, e quatrocentos,
quinhentos e cinqüenta,
seiscentos... — Que nota antiga!
Não estará recolhida? (Guarda pressurosa o dinheiro, por ouvir bater à
porta.)
Quem está aí?
GUSTAVO (Fora.) — Sou eu, querida!
VALENTINA (Erguendo-se.) — Gustavo?
GUSTAVO (Fora.) — Sim, minha amiga.
(Valentina vai abrir a porta a Gustavo, que entra.)
Cena III
Valentina, Gustavo
VALENTINA (Apertando-lhe a mão)
— Não te esperava já, palavra de honra!
GUSTAVO — Já?
Querias que eu ficasse eternamente lá?
VALENTINA — Deste-te bem?
GUSTAVO — Então? Não vês como estou nédio?
Para o blazé não há mais eficaz remédio
do que passar um mês de vida regular
onde os prazeres são difíceis de encontrar.
O físico e o moral a roça purifica:
tens precisão também da roça, minha rica.
(Repoltreando-se na poltrona.)
Dize-me cá: tem vindo o deputado?
VALENTINA (Encostando-se ao espaldar da poltrona.)— Tem.
GUSTAVO — O João Ramos?
VALENTINA — E o Pimenta?
VALENTINA — Também.
GUSTAVO — Que bons amigos tens! Sou eu que tos arranjo!
Em consideração deves tomar, meu anjo...
VALENTINA (Descendo à cena.)
— Pois queres mais dinheiro?! És exigente.
GUSTAVO — Sou;
mas vê lá também a roda que te dou!
VALENTINA (Sentando-se à direita.)
— Não trouxeste o melhor dos que aqui vêm agora.
GUSTAVO — Quem é? Não é segredo?
VALENTINA — Um tipo que me adora!
Um fazendeiro rico e velho que supõe
ser ele só que os pés em minha casa põe.
GUSTAVO (Com interesse.)
— E onde foste encontrar esse tesouro raro?
VALENTINA — No Prado Fluminense. Eu vi-o, deu-me o faro,
sorri-lhe, ele sorriu-me... Eu dei-lhe o meu cartão..
Veio. Adora-me e... crê que tenho coração.
GUSTAVO — Um fazendeiro é mina; e quanto mais se explora,
mais ouro dá!... Pois bem, caríssima senhora,
- não é por me gabar - acredito que o seu
é muito bom, mas tenho um ótimo!
VALENTINA — Tu?
GUSTAVO — Eu.