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LIII
Recobra o bom Gupeva um novo alento,
Sentindo a grata mão, que à vida o chama;
Nem pode duvidar pelo experimento,
De quanto Diogo com fineza o ama;
Mas sempre com receio do instrumento
Teme que outra vez lance a horrível chama;
E deixa-o no erro Diogo, a fim que incerto,
Nenhum pelo pavor se chegue ao perto.
LIV
Mas por deixar incerta a Gente infida,
Dá-lhe astuto o arcabuz, que não tem carga;
E quem (diz) é fiel, pode com vida
Tê-lo na mão sem hórrida descarga;
Porém se algum faltasse à fé devida,
Sentirá da traição por pena amarga,
Com próprio dano seu, com mortal risco,
Relâmpago, e trovão, fogo, e corisco.
LV
Que eu acordado esteja, ou que adormeça,
Vigia em guarda minha o fogo oculto,
E a traição pagará com a cabeça,
Quem tentasse fazer-me um leve insulto.
Porém se eu mal não quero, que aconteça,
Pode um menino, como pode o adulto,
E o mais fraco, que houver na vossa Gente,
Ter o trovão nas mãos, sem que arrebente.
LVI
Porém guardai-vos vós, que só no peito,
Só n’alma, que tenhais tenção malina,
Vereis que trovão faz por meu respeito,
E que vem no estampido a vossa ruína.
Treme Gupeva, ouvindo este conceito,
E humilde a fronte ao grão-Diogo inclina:
Certo de não faltar na fé que rende,
Donde o raio, e trovão crê que depende.
LVII
Convoca em tanto o Principal temido
As esquadras da turba, então dispersa,
E ao grão-Caramuru pede rendido
Que eleja casa no País diversa:
E que a gruta deixando, suba unido,