Já que da testa não sai, vejamos se tiro do crânio! Ah! sim; agora aparece uma; e que bela;
que interessante; que agradável; que bonita; que delicada; que mimosa - é a comparação que
vou fazer da Sra. D. Linda! ~ mesmo tão linda como ela! Tão formosa, como a flor mais
mimosa! Tão rica, como a jorrosa bica! Tão fina, como a ignota si na! Tão... tão... tão... Quer
mais? Quer melhor? não lhe dou; não lhe faço; não quero! (A correr em roda dela:) Não lhe
dou; não lhe faço; não lhe dou; não lhe faço; não quero; não posso; já disse. (Repete duas
vezes esta última negativa.)
LINDA - Este menino é o diabinho em figura humana! Dança, salta, pula, brinca... Faz o
diabo! Sim, se não é o diabo em pessoa, há ocasiões em que parece o demônio; enfim, o que
terá ele naquela cabeça!? (Lindo medita
em pé e com uma mão encostada no rosto.) Pensa
horas inteiras, e nada diz! Fala como o mais falador, e nada expressa! Come como um
cavador, e nada obra! Enfim, é o ente mais extraordinário que meus olhos têm visto, que
minhas mãos têm apalpado, que meu coração tem amado!
LINDO - Senhora: vou me embora (Voltando-se rapidamente para ela, com aspecto muito
triste, e salpicado de indignação:) Vou; vou, sim! Não a quero mais ver; não sou mais seu!
LINDA - (com sentimento) Cruel! Tirano! Suíço! Lagarto! Bicho feio! Mau! Onde queres ir?
Por que não te casas, inda que seja com uma negra quitandeira?
LINDO - Também eu direi; Cruel! Ingrata! Má! Feia! Por que não te ligas ainda que seja a um
preto cangueiro?
(Entra um rapaz todo paramentado, bengala, 6culos, etc.)
O RAPAZ - (para um, e depois para a outra) Vivam, madamas; mais que todos!
LINDO - (pondo-lhe as mãos, e empurrando) O que quer pois aqui!? Não sabe que esta
mulher é minha esposa!?
O RAPAZ - Dispense, eu não sabia! (Voltando-se para Linda:) Mas Sra., parece-me...
LINDA - O que mais?! Não ouviu já ele dizer que sou mulher dele!? O que mais quer agora?
Agora fique solteiro, e vá casar com uma enxada! Não quer acreditar que não há direito; que
ninguém faz caso de papéis borrados;
que isso são letras mortas; que o que serve, o que
vale, o que dá direito – é a aquisição da mulher!? Que quem se pega com uma, essa tem, e
tudo o que lhe pertence! Sofra agora no isolamento, e na obscuridade! Seja solitário! Viva
para Deus! Ou meta-se num convento, se quiser companhia. Não vá mais à reunião de outros
homens.
O RAPAZ (muito admirado) Esta mulher está doida! Casou comigo o ano passado, foram
padrinhos Trico e Trica; e agora fala esta linguagem! Está; está! Não tem dúvida!
LINDO - Já lhe disse (muito formalizado) que fiz esta conquista! Agora o que quer?!
Conquistei - é minha! Foi meu gosto: portanto, safe-se, senão o mato com este estoque!
(Pega em uma bengala e arranca
um palmo de ferro.)
LINDA - Não precisa tanto, Lindo! Deixai-o cá comigo... Eu basto para nos deixar tranqüilos!
O RAPAZ - O Sr. tem estoque, pois eu tenho punhal e revólver! (Mete a mão na algibeira da
calça, puxa e aponta um revólver.) Agora, de duas uma: ou Linda é minha, e triunfa o Direito,
a Natureza, a Religião ou é tua, e vence a barbaria, a natureza em seu estado brutal, e a
irreligião!