Não a lastimem compadecidas leitoras: com 10 dias de Caxambu Angelina tinha
se esquecido completam ente do namorado. Isso não foi devido aos efeitos das
águas, que não servem para o coração como servem para o fígado, mas à
presença de um rapaz que estava hospedado no mesmo hotel que a família
Seabra e, em correção e elegância, nada ficava a dever ao outro.
Era um médico do Rio de Janeiro, recentemente formado, moço de talento e de
futuro, que, de mais a mais, tinha fortuna própria.
O Seabra, que estava satisfeito da vida, porque o seu fígado melhorava a olhos
vistos, acolheu com entusiasmo a idéia de um casamento entre Angelina e o
jovem doutor, e era o primeiro a meter-lhe a filha à cara.
Em conclusão, o casamento foi tratado lá mesmo, sob o formoso e poético céu
do sul de Minas, para realizar-se, o mais breve possível, na Capital Federal.
* * *
Regressando das águas, onde se demorou um mês, Angelina viu passar o
primeiro namorado, que olhou para ela com uma expressão de surpresa e de
alegria, mas a moça fechou o semblante. O semblante e a janela. E, para nunca
mais ver passar o importuno, deixou dali em diante de debruçar-se no peitoril.
* * *
No dia do casamento, os noivos, as famílias dos noivos, as testemunhas e os
convidados lá foram para a pretoria.
- Tenham a bondade de esperar - disse-lhes o escrivão. - O doutor não tarda aí.
Sentaram-se todos em silêncio, e pouco depois o pretor fazia a sua entrada
solene.
Angelina, ao vê-lo, tornou-se lívida e esteve a ponto de perder os sentidos. Ele
estava atônito e surpreso. Era o primeiro namorado.
O mísero disfarçou como pôde a comoção, e resignou-se ao destino singular que
o escolhia, a ele, para unir a outro à mulher que o seu coração desejava.
* * *
Quando todos os estranhos se retiraram, ficando na sala da pretoria apenas o
juiz e o escrivão, este perguntou àquele: