- Porque ela só pensa no Estanislau: é uma viúva inconsolável. Engordou, tomou
cores, goza saúde, mas aposto que não admite que lhe falem noutro casamento.
- Deixe-a comigo; vou sondá-la.
O velho sondou-a, efetivamente, e reconheceu que D. Henriqueta calculava bem.
- Não me fale em casamento, papai! Eu considerar-me-ia uma mulher indigna se
desse um substituto ao meu pobre Estanislau!
Mas o velho que não era peco, não se deixou vencer e insistiu, lançando mão de
quanto argumento lhe sugeriu a sua longa experiência do mundo.
- Minha filha, numa terra de maldizentes como este Rio de Janeiro, a reputação
de uma viúva moça e bonita corre tantos perigos, que a melhor resolução que
tens a tomar, para fazer respeitar a memória honrada do teu Estanislau, é
casares-te em segundas núpcias. Uma única dificuldade haveria para isso: o
marido; mas neste particular, minha filha, foste de uma fortuna fenomenal. O
Miranda caiu-te do céu! Olha, eu, se tivesse que escolher um genro, não
escolheria outro -, e tu, se te casares com ele, darás muito prazer a tua mãe, e
tornarás feliz a minha velhice.
Essas palavras, que acabaram molhadas de lágrimas de enternecimento,
calaram no ânimo de Adelaide, e na mesma noite, como a família se achasse
reunida na sala de jantar, e o Miranda presente, ela dirigiu-se a este nos
seguintes termos:
- Meu amigo, sei que o senhor gosta muito de mim e deseja ser meu marido; sei
que o nosso casamento daria muita satisfação a meus pais; mas devo dizer-lhe
que ainda amo o Estanislau como se ele estivesse vivo, e não posso amar dois
homens ao mesmo tempo.
Os velhos morderam os beiços; o Miranda remexeu-se na cadeira, sem
responder.
- Sei também que o senhor é um perfeito cavalheiro e que nada lhe falta para ser
um marido ideal; aprecio o seu caráter, a sua bondade, a sua inteligência; mas,
se nos casarmos, não poderei levar-lhe o sentimento que todo o homem tem o
direito de exigir no coração da sua noiva. Se depois desta declaração leal e
honesta, persiste em querer ser meu esposo, aqui tem a minha mão.
- Aceito-a! respondeu prontamente o Miranda, tomando a mão que lhe estendeu
Adelaide. Aceito-a, porque - perdoe a minha vaidade - tenho alguma confiança
no meu merecimento, e espero conquistar o seu amor!