- Muito...
- Estou te achando assim a modo que...
- É a surpresa... a comoção... a alegria...
- Como vamos ser felizes! Mas olha, peço-te que não te exponhas nestes
primeiros tempos... O Mendes é ciumento e brutal e, mesmo antes de ter
certeza de que eu o enganava, andava armado de revólver!
O Fulgêncio, que não tinha sangue de herói, viveu dali por diante em transes
terríveis. Saía de casa o menos possível, e nas ruas só andava de tilburi,
recomendando aos cocheiros que fossem depressa. Quando via ao longe um
sujeito qualquer parecido com o Mendes, punha-se a tremer que nem varas
verdes.
Um dia, tendo descido de um tílburi no Largo da Carioca, para comprar
cigarros, encontrou na charutaria o Mendes, que comprava charutos. Ficou de
repente muito pálido e trêmulo e quis fugir, mas o outro agarrou-o por um
braço, dizendo-lhe com muita brandura:
- Faça favor... venha cá... não se assuste... não trema... não lhe quero mal...
ouça-me... é para o seu bem...
O Fulgêncio caiu das nuvens. O marido continuou:
- Eu sei que o sr. tem medo de mim que se péla: receia que eu o mate, ou que
lhe bata... Tranqüilize-se: não lhe farei o menor mal. Pelo contrário!
O pobre Fulgêncio não conseguiu articular um monossílabo.
As maxilas batiam uma na outra.
- Matá-lo? Bater-lhe? Seria uma ingratidão! O Sr. Prestou-me um relevante
serviço: livrou-me de Bárbara! E não era meu amigo, sim, porque em geral são
os amigos que têm a especialidade desses obséquios...
O Fulgêncio continuava a tremer.