a análise convém tomar o efeito de ambos os fatores como saldo, isto é, a diferença
entre os lucros e juros do capital estrangeiro menos a entrada líquida de novos
capitais do exterior. Entre 1900 e 1930, o segundo título representou 70% do
primeiro; em outras palavras, uma cifra equivalente a 70% dos lucros e juros do
capital estrangeiro foi destinada a aumentar o montante do capital estrangeiro
radicado no país, e outra parte, equivalente a 30%, foi remetida ao exterior. Em
todo o período citado, produziu-se portanto como resultado uma redução da renda
disponível para ser gasta internamente e/ou para realizar importações. Uma
proporção das rendas geradas pelas exportações (aproximadamente 11%) foi
absorvida a esse título, reduzindo o efeito expansivo que o aumento das exportações
em toda a etapa havia produzido.
Os lucros e juros do capital estrangeiro e os investimentos líquidos do exterior
tinham relação com a poupança e o investimento, e não com o consumo. Os lucros e
juros eram a remuneração do capitalista estrangeiro e praticamente a totalidade de
seu montante estava disponível para poupança e investimento, e não se destinava a
satisfazer seu consumo. As entradas de capital estrangeiro tinham três destinos
principais: financiamento de importações de maquinaria e equipamento para
projetos de investimento (por exemplo, a compra de locomotivas para uma empresa
ferroviária), o pagamento de gastos locais vinculados a projetos de investimento
(por exemplo, a construção de prédios e galpões para a mesma empresa ferroviária)
e a compra de títulos públicos que o governo, por sua vez, destinava ao
financiamento de gastos correntes (administração, defesa, etc.) mas preferivelmente
a investimentos públicos (edifícios, serviços públicos, etc.). Os investimentos de
capital estrangeiro se destinavam, portanto, em sua grande maioria, a financiar
direta ou indiretamente
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, o investimento em maquinaria, equipamento, prédios, etc.
E
m conseqüência, a incidência do saldo entre lucros e juros do capital
estrangeiro, por um lado, e os investimentos líquidos do exterior, por outro, se
refletia na acumulação de capital no país, e assim efetivamente ocorria. Quando os
lucros e juros superavam amplamente as novas entradas de capital estrangeiro, a
acumulação de capital no país se debilitava, e vice-versa. Assim revelam os
algarismos estudados pela CEPAL para o período 1900-1930.
A proporção do produto bruto dedicada à acumulação de capital, ou seja o
coeficiente de capitalização, sofreu grande flutuação em toda a etapa. Em 1907 o
coeficiente alcançou um máximo de 57,8% e em 1918 um mínimo de 18,4%. A
média para os trinta anos considerados foi de 32%. Nessas três décadas podem-se
distinguir dois períodos: o primeiro, de 1900 a 1914, durante o qual os investimentos
líquidos do exterior superaram os lucros e juros do capital estrangeiro existente no
país. O segundo, de 1915 a 1929, no qual esse lucros e juros foram sensivelmente
superiores aos investimentos líquidos do exterior. No primeiro período (1900-1914)
os investimentos líquidos foram 10% superiores ao montante de lucros e juros; no
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Mesmo no caso em que todos os recursos captados pelo governo no exterior se destinassem a financiar
gastos correntes, isso liberava outros recursos para serem destinados a investimentos. No caso do
financiamento de gastos locais vinculados a projetos de investimento, o investidor estrangeiro vendia
divisas no país para receber pesos e pagar o pessoal e os fornecedores argentinos, e essas divisas podia
finalmente ser gastas em importações de bens de consumo. Mas o investimento estrangeiro financiava o
emprego de mão de obra e outros fatores internos de produção que, na ausência daquela, teriam ficado
desocupados ou empregados na produção d ebens ou serviços de consumo.