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Tal desafio requer uma revisão profunda no entendimento
que temos admitido de comunicação pública. Até aqui, no âmbito
dos governos, a comunicação tem sido concebida como a forma
de promover valores ou conceitos de interesse dos governantes.
A comunicação é entendida, em poucas palavras, como
ferramenta para o convencimento ideológico. Agora, para o
período em que vivemos, essa concepção é anacrônica, além de
desastrosa. A democracia contemporânea, tanto no plano nacional
como no plano regional, exige de seus dirigentes um novo grau
de desprendimento. Em lugar de promover autoridades ou
bandeiras partidárias – hábito, ou melhor, vício que nos vem das
piores heranças patrimonialistas –, em lugar de vender respostas
doutrinárias a problemas imaginários, a comunicação deve cuidar
de informar com objetividade, de refletir e promover a
diversidade cultural, de assegurar as condições para que o cidadão
reflita e decida com autonomia. Uma nova comunicação pública
não é aquela que está em guerra contra esta ou aquela concepção
de mundo, mas a que encontra maneiras criativas de entender as
diversas visões, reportá-las, dar-lhes voz, buscando pontes de
diálogo com elas. Uma nova comunicação pública deve cuidar
de fornecer os dados necessários para que as pessoas, em seus
diversos níveis de escolaridade, de poder aquisitivo e de
informação, construam livremente a sua visão das coisas, a sua
opinião sobre os fatos e a sua vontade política. Essa nova
comunicação pública não ambiciona angariar seguidores ou
convertidos; ao contrário, alimenta-se da confiança prévia de que
América do Sul:
da divisão prematura à integração que amadurece