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secundária, no quadro global. No contexto brasileiro, o problema do negro está
indissoluvelmente ligado ao processo de transição das relações de trabalho e
permanece, ainda que transfigurado, em nossos dias. Se essa preferência é
compreensível - dado o peso e a dramaticidade da questão da escravatura no
Brasil - ela resultou no fato de que o “tardio interesse”, bem assinalado por Devoto,
foi ainda mais tardio no Brasil do que na Argentina.
Devemos acrescentar outro elemento explicativo do retardamento dos estudos
brasileiros sobre a imigração. A importância do tema parece ter sido obscurecida
pelo impacto de uma questão correlata, mas diversa, ou seja, a das migrações
internas. Estas desempenharam um papel essencial em muitas das transformações
históricas, vividas pelo Brasil, nos últimos cem anos: a abolição da escravatura, a
expansão da economia cafeeira, a urbanização, a industrialização, a formação da
classe trabalhadora.
Um indicador curioso desta constatação, se me permitem um depoimento
pessoal, é o fato de que ainda hoje, quando discorro sobre algum tema da história
da migração internacional para um público amplo, surge quase sempre uma
pergunta, em velado tom acusatório: “Por que o senhor não fala dos nordestinos?”
Apesar desses limites, o certo é que os estudos sobre a imigração, sob as
mais diferentes formas e conteúdos, ganharam crescente impacto, nos últimos
quinze anos. Entre outras razões que explicam esse florescimento, destaco a crise
dos grandes modelos explicativos do processo histórico, deixando espaço para
novas perspectivas. O fenômeno migratório surgiu como terreno particularmente
fecundo, ao abrir caminho para a elucidação do comportamento dos
agentes sociais, despertando também questões em torno de sensibilidades, do
imaginário etc.
Por vários anos, no âmbito da América Latina e não só nele, o apontado
avanço dos estudos sobre a imigração se deu de forma compartimentada. Os
especialistas limitaram-se ao esforço - em si mesmo considerável - de desenvolver
os estudos no marco de seus respectivos países. Só recentemente, o isolamento
começou a romper-se, tanto em razão das possibilidades geradas pela ampliação
institucional, quanto por força do entendimento de que é indispensável inserir a